plano de manejo da rppn dona benta e seu caboclo · plano de manejo da rppn dona benta e seu...
TRANSCRIPT
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
1
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
2
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
3
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
4
Uma Unidade de Conservação carece de um Plano de Manejo para nortear suas
ações e ao mesmo tempo cumprir com as exigências legais.
Criar uma RPPN é um “troço” muito complicado, pois precisa-se ter além da
abnegação pela causa, também uma enxurrada de outras virtudes. Só assim se
suportará os obstáculos encontrados pela frente.
Para encarar a confecção de um Plano de Manejo, é necessário duplicar essas tais
virtudes e empregá-las de corpo/alma e coração ao objetivo. Assim é a vida de
quem quer criar um Plano de Manejo. E escute bem “seu moço ou sua dona!” Aqui
quem vós fala é um cabra que tem duas RPPN´s, “ambientalista de tirar raça” e
“roceiro” de formação. Eu tenho conhecimento de causa.
Agora imagine tudo isso que eu falei de dificuldade e acrescente o fato de que em
Sergipe existe somente seis RPPNs. Falta informação e formação. Aqui o
movimento de criação de UC engatinha. Tá saindo do lugar...
Por outro lado, o jargão popular diz que só se preserva aquilo que se conhece.
Então não basta criar uma UC no papel é necessário saber o que ela tem de flora,
fauna e outros recursos. Aí sim, inicia e se aprofunda no princípio da preservação.
Conversando com um “mateiro” integrante da Equipe, ele disse: “Pense num
trabalho dificultoso. Fazer os levantamentos foi um trabalho cansativo e
gratificante. Vi “pé de pau” ser chamado de “espécie” o mesmo com as aves e
outros bichinhos. Vi aves ameaçadas convivendo livremente na RPPN. Vi também
aves que pousam na UC somente para se alimentar. Eu conhecia na RPPN
somente a água da lagoa ou do riacho para tomar banho, conhecia também alguns
cantos de pássaro porém nunca parei para observar direitinho como o bichinho
era, as veredas que se chama de trilha hoje representa mais que um caminho, uma
passagem...”
Então, prezado leitor. Este documento foi elaborado debaixo de muito esforço,
análise e discussão. Se você é técnico, vai saborear muitas informações e com
certeza servirá para embasamento ou crítica para futuro trabalhos. O nosso
objetivo principal foi conhecer o que realmente existe na RPPN, como utilizá-la
com o mínimo impacto e compreender como funciona os sistemas de preservação
existente. Se você não é técnico, também vai encontrar informações em
linguagem popular e compreender um pouco mais sobre a RPPN.
Sinceramente o que eu mais quero é transmitir o meu amor pelas coisas roceiras
pra pessoas, e que elas passem a admirar uma gotinha de orvalho sustentada por
uma folhinha, que ela goste do barulho do vento nas folhagens, de ver pássaro
cantar nas árvores ... É isso que tento fazer com todos.
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
5
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
6
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1) MAPA DE LOCALIZAÇÃO DA RPPN NO ESTADO – FONTE SEPLAN/SE – MOD. P/RAZÃO ............... 23
FIGURA 2) MAPA CLIMATOLÓGICO – FONTE SEPLAN/SE – MOD. P/RAZÃO ...................................................... 25
FIGURA 3) MAPA GEOMORFOLÓGICO – FONTE SEPLAN/SE – MOD. P/RAZÃO ................................................. 27
FIGURA 4) MAPA TEMÁTICO GEOLOGIA – FONTE SEPLAN/SE – MOD. P/RAZÃO .............................................. 28
FIGURA 5) MAPA DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS – FONTE SEPLAN/SE – MOD. P/RAZÃO ................................. 29
FIGURA 6) TIPOS DE VEGETAÇÃO – FONTE SEPLAN/SE – MOD. P/RAZÃO ....................................................... 34
FIGURA 7 - MAPA ILUSTRADO DA FAZENDA CORDEIRO DE JESUS. FONTE: RAZÃO .................................................................... 94
FIGURA 8) MAPA DO ZONEAMENTO - FONTE SEPLAN/SE - MOD. P/RAZÃO .............................. ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.
LISTA DE FOTOS
FOTO 1) FAZENDA CORDEIRO DE JESUS – FONTE: JU ALMEIDA ......................................................................... 15
FOTO 2) VISÃO PANORÂMICA DA RPPN - FONTE: RAZÃO ................................................................................. 17
FOTO 3) RESERVA BIOLÓGICA SANTA ISABEL - PROJETO TAMAR - PIRAMBU/SE – FONTE: EDNALDO ............ 24
FOTO 4) VEGETAÇÃO TÍPICA NA RPPN – FONTE EDNALDO ................................................................................ 33
FOTO 5) PHILANDER FRENATUS (OLFERS, 1818) – FOTO: L.P. COSTA ............................................................ 44
FOTO 6) GAMBÁ ( DIDELPHIS AURITA - FOTO: MAJA KAJIN .................................................................................. 45
FOTO 7) O RATO DA MATA (AKODON CURSOR) – FOTO: L.P. COSTA ................................................................. 45
FOTO 8) GLOSSOPHAGA SORICINA (PALLAS, 1766) – FONTE: ROBERTO LEONAM ............................................ 46
FOTO 9) MORCEGO DAS FRUTAS (ARTIBEUS LITURATUS) – FONTE: ROBERTO LEONAM ................................... 46
FOTO 10) MORCEGO (PLATYRRHINUS LINEATUS) – FONTE: ROBERTO LEONAM ............................................... 46
FOTO 11) CACHORRO-DO-MATO OU GUARAXAIM (CERDOCYON THOUS) MORTO – FONTE: ................................ 47
FOTO 12) CACHORRO-DO-MATO OU GUARAXAIM (CERDOCYON THOUS) ............................................................. 47
FOTO 13) LEOPARDUS TIGRINUS – FONTE: L. P. COSTA .................................................................................... 47
FOTO 14) PSEUDALOPEX VETULUS – FONTE: L. P. COSTA ................................................................................. 48
FOTO 15) CALLITHRIX JACCHUS – FONTE: L. P. COSTA ...................................................................................... 49
FOTO 16) CAVIA APEREA – FONTE: J.CARRARO ................................................................................................. 50
FOTO 17) DASYPROCTA ACOUTI – FONTE: J. CARRARO ..................................................................................... 51
FOTO 18) LAGOA ENCANTADA, SECANDO NO FINAL DO ESTUDO – FONTE: AUGUSTA ....................................... 64
FOTO 19) LAGOA ENCANTADA, CHEIA NO INÍCIO DO ESTUDO – FONTE: AUGUSTA ............................................ 64
FOTO 20) BOLSA CONFECCIONADA PARA COLOCAR AS ESPÉCIES DE FOLHAS – FONTE: AUGUSTA .................. 66
FOTO 21) COM FOLHAS VERDES DENTRO DA LAGOA – FONT: AUGUSTA ............................................................. 66
FOTO 22) : APARELHO UTILIZADO PARA ANÁLISE DA ÁGUA – FONTE: AUGUSTA ................................................. 68
FOTO 23) SAPIUM GLANDULOSUM, UM MÊS APÓS COLETA – FONTE: AUGUSTA ................................................. 75
FOTO 24) SAPIUM GLANDULOSUM, NO MOMENTO DA COLETA – FONTE: AUGUSTA ............................................ 75
FOTO 26) VISITANTE NA TRILHA DA RPPN – FONTE: .......................................................................................... 84
FOTO 25) VISITANTE CADEIRANTE PREPARANDO PARA A TRILHA - , FONTE: ...................................................... 84
FOTO 27) REUNIÃO DO DRP COM AS COMUNIDADES - FONTE: ........................................................................ 102
FOTO 28) REUNIÃO DO DRP COM AS COMUNIDADES - FONTE: ........................................................................ 104
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
7
Sumário
1. INFORMAÇÕES GERAIS .......................................................................................................................17
1.1 - MAPA DE LOCALIZAÇÃO DA RPPN ..............................................................................................17
ação da RPPN – Fonte: Razão ................................................................................................................ 17
1.2 - VIAS DE ACESSO ..............................................................................................................................18
1.3 - TABELA DE DISTÂNCIA PARTINDO DE ARACAJU VIA BARRA DOS COQUEIROS .............18
1.4 - TABELA DE DISTÂNCIA PARTINDO DE ARACAJU VIA JAPARATUBA ..................................18
1.5 - HISTÓRICO DE CRIAÇÃO E ASPECTOS LEGAIS DA RPPN ......................................................19
1.6 - FICHA RESUMO DA RPPN ...............................................................................................................21
1.7 - METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DO PLANO DE MANEJO .............................................22
2. DIAGNÓSTICO ........................................................................................................................................23
2.1 - CARACTERIZAÇÃO DA RPPN .........................................................................................................23
2.1.1 - ASPECTOS CLIMÁTICOS ..............................................................................................................25
2.1.2 - GEOLOGIA .......................................................................................................................................27
2.1.3 - GEOMORFOLOGIA .........................................................................................................................27
2.1.4 - SOLOS ..............................................................................................................................................28
2.1.5 - HIDROGRAFIA .................................................................................................................................29
2.1.6 - ESPELEOLOGIA ..............................................................................................................................31
2.1.6.1 - HISTÓRICO ESPELEOLÓGICOS EM SERGIPE ......................................................................31
2.1.6.2 - METODOLOGIA ............................................................................................................................32
2.1.6.3 - RESULTADOS PRELIMINARES .................................................................................................32
2.1.6.4 - CAVERNAS IDENTIFICADAS .....................................................................................................32
2.1.7 - VEGETAÇÃO....................................................................................................................................33
2.1.7.1 - INTRODUÇÃO ...............................................................................................................................33
2.1.7.2 - METODOLOGIA ............................................................................................................................35
2.1.7.3 - RESULTADOS ..............................................................................................................................36
2.1.7.4 - DISCUSSÃO ..................................................................................................................................39
2.1.7.5 - ESPÉCIES AMEAÇADAS ............................................................................................................39
2.1.7.6 - OCORRÊNCIAS NOVAS, DE RELEVÂNCIA REGIONAL REGISTRADAS E INTERESSE
CIENTÍFICO E CONSERVACIONISTA ......................................................................................................40
2.1.7.7 - ESPÉCIES EXÓTICAS E POTENCIALMENTE DANOSAS ....................................................40
2.1.8 - FAUNA ..............................................................................................................................................42
2.1.8.1 - MASTOFAUNA .............................................................................................................................42
2.1.8.1.1 - METODOLOGIA .........................................................................................................................42
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
8
2.1.8.1.2 - CARACTERIZAÇÃO GERAL DA MASTOFAUNA .................................................................43
2.1.8.1.3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................................43
GLOSSOPHAGA SORICINA (PALLAS, 1766) .........................................................................................46
Hábitos ......................................................................................................................................................... 49
2.1.8.1.4 - DISCUSSÃO ...............................................................................................................................51
2.1.8.1.5 - ESPÉCIES AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO ..............................................................................53
2.1.8.1.6 - ESPÉCIES EXÓTICAS E POTENCIALMENTE DANOSAS ..................................................53
2.1.8.1.7 - ESPÉCIES MIGRATÓRIAS ......................................................................................................53
2.1.8.1.8 - ESPÉCIES INDICADORAS DE QUALIDADE AMBIENTAL .................................................54
2.1.8.2 - AVIFAUNA .....................................................................................................................................55
2.1.8.2.1 - MATERIAL E MÉTODOS ..........................................................................................................55
2.1.8.2.2 - RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................................56
2.1.8.2.3 - CONSERVAÇÃO .......................................................................................................................60
2.1.8.2.4 - ESPÉCIES AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO ..............................................................................61
2.1.8.2.5 - EDUCAÇÃO AMBIENTAL E ECOTURISMO ..........................................................................61
2.1.8.3 - "FAUNA MACROBENTÔNICA ASSOCIADA À MATÉRIA ORGÂNICA ALÓCTONE EM
LAGOAS COSTEIRAS DO LITORAL NORTE SERGIPE". .....................................................................62
2.1.8.3.1 - LAGOAS COSTEIRAS ..............................................................................................................62
2.1.8.3.2 - LAGOAS NO ESTADO DE SERGIPE .....................................................................................62
2.1.8.3.3 - MATERIAIS E MÉTODOS .........................................................................................................64
2.1.8.3.1.1 - CARACTERIZAÇÃO DA LAGOA ESTUDADA. ..................................................................65
2.1.8.3.1.2 - MATÉRIA ORGÂNICA ALÓCTONE DA VEGETAÇÃO DO ENTORNO ..........................65
2.1.8.3.1.3 - Análise dos parâmetros físico-químico da água ............................................................. 67
2.1.8.3.4 - RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................................69
2.1.8.3.4.1 - Caracterização físico, químico e biológica da lagoa ...................................................... 69
2.1.8.3.5 - ANÁLISE DA FAUNA MACRO BENTÔNICA ASSOCIADA .................................................73
2.1.8.3.5 - CONCLUSÕES ..........................................................................................................................76
2.1.8.4 - LEVANTAMENTO ICTIOLÓGICO NA LAGOA ENCANTADA ............................................ 77
2.1.8.4.1 - METODOLOGIA .........................................................................................................................77
2.1.8.4.1.1 - PROCESSAMENTO EM CAMPO .........................................................................................77
2.1.8.4.1.2 - PROCEDIMENTO EM LABORATÓRIO ...............................................................................78
2.1.8.4.1.3 - Capturas por unidade de esforço em número e biomassa de peixes ......................... 78
2.1.8.4.2 - RESULTADOS ...........................................................................................................................79
2.1.8.4.3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................81
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
9
2.1.9 - PATRIMÔNIO CULTURAL MATERIAL E IMATERIAL ................................................................83
2.1.10 - VISITAÇÃO .....................................................................................................................................84
2.1.10.1 - TURISMO DESORDENADO ......................................................................................................86
2.1.10.2 - MONITORAMENTO DO IMPACTO DE VISITAÇÃO ...............................................................86
2.1.11 - CONVÊNIOS ...................................................................................................................................86
2.1.12 - PESQUISA ......................................................................................................................................87
2.1.13 - OCORRÊNCIA DE FOGO .............................................................................................................89
2.1.14 - OUTRAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS EM CONJUNTO COM A RPPN ..........................89
2.1.15 - SISTEMA DE GESTÃO .................................................................................................................90
2.1.16 - PESSOAL .......................................................................................................................................90
2.1.17 - INFRA-ESTRUTURA .....................................................................................................................91
2.1.18 - EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS: .................................................................................................91
2.1.19 - RECURSOS FINANCEIROS:........................................................................................................92
2.1.20 - FORMAS DE COOPERAÇÃO: .....................................................................................................92
2.2 - CARACTERIZAÇÃO DA PROPRIEDADE........................................................................................94
COMO INFRAESTRUTURA DE APOIO A FAZENDA POSSUI: ............................................................95
2.1.1 - USO DA TERRA ...............................................................................................................................95
2.2.2 - ATIVIDADES DESENVOLVIDA COM RISCOS AMBIENTAIS....................................................96
2.2.3 - POTENCIALIDADES .......................................................................................................................96
2.2.5 - CRIADOURO DE ANIMAIS SILVESTRES ....................................................................................97
2.2.6 - CONSTRUÇÃO DE CHALÉS .........................................................................................................98
2.2.7 - REFLORESTAMENTO DO LICURIZEIRO ....................................................................................98
2.3 - CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DO ENTORNO ..............................................................................98
2.3.1 - DADOS QUE CARACTERIZAM O MUNICÍPIO DE PIRAMBU ...................................................99
... 2.3.2 - APLICAÇÃO DO DRP – DIAGNÓSTICO RÁPIDO PARTICIPATIVO PARA A AVALIAÇÃO
ESTRATÉGICA DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO E SEU ENTORNO. ............................ 102
2.3.2.1 - METODOLOGIA .......................................................................................................................... 104
2.3.2.2 - RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................................................... 105
2.3.2.3 - ATIVIDADES LOCAIS ................................................................................................................ 107
2.3.2.4 - POTENCIALIDADES .................................................................................................................. 107
2.3.2.5 - PROBLEMAS .............................................................................................................................. 108
2.3.2.6 - IMPACTOS .................................................................................................................................. 110
2.3.2.7 - AÇÕES E PROJETOS PREVISTOS ......................................................................................... 111
2.3.2.8 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................................... 111
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
10
2.3.3 - PROJETO TAMAR ......................................................................................................................... 112
2.3.4 - SERVIÇOS / EQUIPAMENTOS EXISTENTES ........................................................................... 112
2.4 - POSSIBILIDADES DE CONECTIVIDADE ...................................................................................... 113
2.4.2 - ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL LITORAL NORTE ........................................................... 113
2.4.3 - PARQUE DAS DUNAS .................................................................................................................. 114
2.5 - DECLARAÇÃO DE SIGNIFICÂNCIA .............................................................................................. 114
3. PLANEJAMENTO .................................................................................................................................. 117
3.1 - MÉTODO APLICADO PARA O PLANEJAMENTO ....................................................................... 117
3.2 - DIRETRIZES DO PLANEJAMENTO ............................................................................................... 117
3.4 - ZONEAMENTO .................................................................................................................................. 120
3.3.1 - ZONA SILVESTRE ......................................................................................................................... 121
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
11
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1) MAPA DE LOCALIZAÇÃO DA RPPN – FONTE: RAZÃO ....................................................................... 17
QUADRO 2) MAPA DE LOCALIZAÇÃO DA RPPN NO ESTADO – FONTE SEPLAN/SE – MOD. P/RAZÃO ............. 23
QUADRO 3) MAPA CLIMATOLÓGICO – FONTE SEPLAN/SE – MOD. P/RAZÃO.................................................... 25
QUADRO 4) MAPA GEOMORFOLÓGICO – FONTE SEPLAN/SE – MOD. P/RAZÃO ............................................... 27
QUADRO 5) MAPA TEMÁTICO GEOLOGIA – FONTE SEPLAN/SE – MOD. P/RAZÃO ............................................ 28
QUADRO 6) MAPA DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS – FONTE SEPLAN/SE – MOD. P/RAZÃO ............................... 29
QUADRO 7) TIPOS DE VEGETAÇÃO – FONTE SEPLAN/SE – MOD. P/RAZÃO ..................................................... 34
QUADRO 8) GRÁFICO DAS FAMÍLIAS ENCONTRADAS ............................................................................................ 36
QUADRO 9) FORMAÇÕES VEGETACIONAIS ........................................................................................................... 52
QUADRO 10) GRÁFICO DAS FAMÍLIAS IDENTIFICADAS ........................................................................................ 57
QUADRO 11) MAPA DE LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE PIRAMBU COM DESTAQUE EM VERDE PARA AS ÁREAS
DE ESTUDO - FONTE: ATLAS DIGITAIS-SEMARH ....................................................................................... 64
QUADRO 12) GRÁFICO QUANTO A CPUEN ......................................................................................................... 81
QUADRO 13) CONVÊNIOS MANTIDOS COM INSTITUIÇÕES DE ENSINO ................................................................. 87
QUADRO 14) PARCERIAS RPPN E COMUNIDADES DO ENTORNO ....................................................................... 89
QUADRO 15 - MAPA ILUSTRADO DA FAZENDA CORDEIRO DE JESUS. FONTE: RAZÃO ................................................................ 94
QUADRO 16) COMUNIDADES PARTICIPANTES DO DRP – FONTE SEPLAN/SE – MOD. P/RAZÃO ................... 105
QUADRO 17) INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES DO DRP ....................................................................................... 106
QUADRO 18) ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NAS COMUNIDADES APONTADAS PELOS MORADORES E PELOS
TÉCNICOS DAS INSTITUIÇÕES ..................................................................................................................... 107
QUADRO 19) POTENCIALIDADES EXISTENTES NAS COMUNIDADES APONTADAS PELOS MORADORES E PELOS
TÉCNICOS DAS INSTITUIÇÕES ..................................................................................................................... 108
QUADRO 20) PROBLEMAS EXISTENTES NAS COMUNIDADES APONTADAS PELOS MORADORES E PELOS
TÉCNICOS DAS INSTITUIÇÕES ..................................................................................................................... 109
QUADRO 21) IMPACTOS CONSEQUENTE DE IMPLANTAÇÃO DE PROJETOS APONTADAS PELOS MORADORES E
PELOS TÉCNICOS DAS INSTITUIÇÕES .......................................................................................................... 110
QUADRO 22) ANSEIOS E PREVISÕES DE PROJETOS PARA AS COMUNIDADES APONTADAS PELOS MORADORES E
PELOS TÉCNICOS DAS INSTITUIÇÕES .......................................................................................................... 111
QUADRO 23) MAPA DO ZONEAMENTO - FONTE SEPLAN/SE - MOD. P/RAZÃO ................................................................... 121
LISTA DE TABELAS
TABELA 1) PERCURSO ARACAJU / RPPN VIA BARRA DOS COQUEIROS ............................................................. 18
TABELA 2) PERCURSO ARACAJU / RPPN VIA BR 101 ........................................................................................ 18
TABELA 3) TRANSPORTE RODOVIÁRIO DISPONÍVEL PARA A RPPN ..................................................................... 19
TABELA 4) FICHA RESUMO DA RPPN .................................................................................................................. 21
TABELA 5) ÍNDICE PLUVIOMÉTRICO MENSAL 2010 – FONTE SEPLAN/SE – MOD. P/RAZÃO ............................. 26
TABELA 6) VOLUMES DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS DE SERGIPE – FONTE SEPLAN/SE – MOD. P/RAZÃO ...... 30
TABELA 7) CAVERNAS IDENTIFICADAS EM SERGIPE – FONTE: SEGEO/SE ....................................................... 32
TABELA 8) VALORES DE DENSIDADE (DI), DENSIDADE RELATIVA (DRI) (%), DOMINÂNCIA RELATIVA (DORI)
(%), FREQUÊNCIA RELATIVA (FRI) (%), DIÂMETRO MÉDIO (DIAMI), ÁREA BASAL (ABI), ÍNDICE DE VALOR
DE IMPORTÂNCIA (IVI) E ÍNDICE DE VALOR DE COBERTURA (IVC), PARA AS ESPÉCIES. ........................... 37
TABELA 9) CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS DAS ESPÉCIES ................................................................................. 43
TABELA 10) LISTA DE ESPÉCIES DE MAMÍFEROS REGISTRADAS RPPN E SUAS CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS
...................................................................................................................................................................... 43
TABELA 11) LISTA DE ESPÉCIES DE MAMÍFEROS REGISTRADAS RPPN E LOCAL DE REGISTRO ......................... 52
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
12
TABELA 12) RELAÇÃO DAS ESPÉCIES DE AVES REGISTRADAS NA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO,
ATRAVÉS DE OBSERVAÇÃO DIRETA E VOCALIZAÇÃO, CONFORME LEGENDA: STATUS = ST, RESIDENTE =
R E VISITANTE SAZONAL ORIUNDO DO HEMISFÉRIO NORTE (VN) CONFORME CBRO (2006), E = ESPÉCIE
ENDÊMICA DO BRASIL; E GRAU DE SENSIBILIDADE A DISTÚRBIOS AMBIENTAIS = S: BAIXA SENSIBILIDADE =
L, MÉDIA SENSIBILIDADE = M E ALTA SENSIBILIDADE = H, SEGUNDO PARKER III ET AL. (1996). .............. 57
TABELA 13) ESPÉCIES AMEAÇADAS ..................................................................................................................... 61
TABELA 14) ESPÉCIES COLETADAS DURANTE O ESTUDO NA LAGOA ENCANTADA .............................................. 66
TABELA 15) DISTRIBUIÇÃO DOS VALORES DE PH NA LAGOA ENCANTADA. ......................................................... 69
TABELA 16) DISTRIBUIÇÃO DOS VALORES DE TEMPERATURAS (º C) NA LAGOA ENCANTADA............................. 70
TABELA 17) DISTRIBUIÇÃO DOS VALORES DE SÓLIDOS TOTAIS (PPM) NA LAGOA ENCANTADA - MEDIDOS NO
MULTIPARÂMETRO HANNA HI 9828. ........................................................................................................ 70
TABELA 18) DISTRIBUIÇÃO DOS VALORES EM PORCENTAGEM DE OXIGÊNIO DISSOLVIDO (%) NA LAGOA
ENCANTADA, COM VALORES TEMPERATURA CORRIGIDOS TABELA 9. MULTIPARÂMETRO HANNA HI
9828. ............................................................................................................................................................ 71
TABELA 19) DISTRIBUIÇÃO DOS VALORES DE SALINIDADES (PPM) NA LAGOA ENCANTADA ................................ 71
TABELA 20) DISTRIBUIÇÃO DOS VALORES DE CONDUTIVIDADE ELÉTRICA NA LAGOA ENCANTADA. ................... 72
TABELA 21) DISTRIBUIÇÃO DOS VALORES DE ORP NA LAGOA ENCANTADA. ..................................................... 73
TABELA 22) CONDIÇÕES DO TEMPO NA LAGOA ENCANTADA, DURANTE AS COLETAS REALIZADAS. ................... 73
TABELA 23) IDENTIFICAÇÃO DA FAUNA MACRO BENTÔNICA NA LAGOA ENCANTADA, PIRAMBU - SE ................. 73
TABELA 24) ABUNDÂNCIA DA FAUNA MACRO BENTÔNICA NAS LAGOAS ENCANTADA E NAS LAGOAS B E C. ..... 74
TABELA 25) ANÁLISE QUALITATIVA DA DECOMPOSIÇÃO FOLIAR NA LAGOA ENCANTADA .................................... 75
TABELA 26) ESPÉCIES ENCONTRADAS NA LAGOA ENCANTADA ........................................................................ 79
TABELA 27) ESPÉCIES CAPTURAS POR TIPO DE MALHA E REDE ......................................................................... 79
TABELA 28) RENDIMENTO DAS REDES DE PESCA ............................................................................................... 80
TABELA 29) RELAÇÃO CAPTURA E BIOMASSA .................................................................................................... 80
TABELA 30) EQUIPAMENTOS DE EPI .................................................................................................................... 91
TABELA 31) PARCERIAS E FORMAS DE COOPERAÇÃO ......................................................................................... 92
TABELA 32) REGIONALIZAÇÃO E DIVISÃO ADMINISTRATIVA DE PIRAMBU ............................................................ 99
TABELA 33) DADOS DEMOGRÁFICO DE PIRAMBU ................................................................................................ 99
TABELA 34) DOMICÍLIOS E RENDA ...................................................................................................................... 100
TABELA 35) DOMICÍLIOS E SANEAMENTO ........................................................................................................... 100
TABELA 36) INDICADORES ECONÔMICOS ........................................................................................................... 101
TABELA 37) INDICADORES SOCIAIS - EDUCAÇÃO ............................................................................................... 102
TABELA 38) SERVIÇOS E EQUIPAMENTOS EXISTENTES NO MUNÍCIPIO .............................................................. 112
TABELA 39) ÁREAS DO ZONEAMENTO ................................................................................................................ 120
TABELA 40) ESPÉCIES DE AVES AMEAÇADAS - FONTE: RAZÃO ....................................................................... 139
TABELA 41) PROGRAMA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL ......................................................................................... 145
TABELA 42) CRONOGRAMA FÍSICO FINANCEIRO DOS PROGRAMAS DE MANEJO .............................................. 155
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
13
LISTA DE SIGLAS
ACOPAL Associação das Comunidades participativas de Aningas e Lagoa Redonda
ANA Agência Nacional das Águas
APA Área de Proteção Ambiental
BIRD Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento
CCD Convenção de Combate à Desertificação
CDB Convenção de Diversidade Biológica
CEPF Critical Ecosystem Partnership Fund
CHESF Companhia Hidro Elétrica do São Francisco
CI Conservação Internacional
CITES Comércio Internacional das Espécies da Fauna e Flora em Perigo de Extinção
CNRH Conselho Nacional de Recursos Hídricos
CODEVASF Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba
CONABIO Comissão Nacional de Biodiversidade
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
DMA Domínio Mata Atlântica
EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
EMDAGRO Empresa de Desenvolvimento Agropecuário
FAO Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação
FLONA Floresta Nacional
FUNBIO Fundo Brasileiro para a Biodiversidade
GEF Global Environment Fund
IBAMA Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICMBio Instituto Chico Mendes para a biodiversidade
IFS Instituto Federal de Educação de Sergipe
IUCN União Internacional para a Conservação da Natureza
MaB Programa Homem e a Biosfera
MMA Ministério do Meio Ambiente
MONA Monumento Natural
NEB Nordeste do Brasil
ONG Organização Não Governamental
ONU Organização das Nações Unidas
PARNA Parque Nacional
PIB Produto Interno Bruto
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
14
PMA Pelotão Ambiental da Policia Militar de Sergipe
PNB Política Nacional da Biodiversidade
PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
PROBIO Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira
PRONABIO Programa Nacional da Diversidade Biológica
RBMA Reserva da Biosfera da Mata Atlântica
REBIO Reserva Biológica
RPPN Reserva Particular do Patrimônio Natural
RVS Refúgio de Vida Silvestre
SBE Sociedade Brasileira de Espeleologia
SEMARH Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do Sergipe
SEPLANTEC Secretaria de Estado do Planejamento de Sergipe
SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação
SRH Secretaria de Recursos Hídricos
TNC The Nature Conservancy
TSM Temperatura de Superfície do Mar
UC Unidade de Conservação
UFPE Universidade Federal de Pernambuco
UGR Unidade Gestora Responsável
UNESCO Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura
UNIT Universidade Tiradentes
WCMC Centro de Monitoramento da Conservação Mundial
WWF Fundo Mundial para a Natureza
ZA Zona de Amortecimento
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
15
INTRODUÇÃO
A RPPN Dona Benta e Seu Caboclo está inserida na propriedade
denominada Fazenda Cordeiro de Jesus (Foto 1) localizada no Povoado Lagoa
Redonda Município de Pirambu, litoral norte do Estado de Sergipe. Oriunda do VII
Edital da SOS MATA ATLÂNTICA, teve sua criação através da Portaria do ICMBio
Nº 71, de 27 de agosto de 2010.
Fica em uma área estratégica do ponto de vista de preservação com distância
de apenas 3,5 km da RESERVA BIOLÓGICA SANTA ISABEL (Reserva Biológica) –
Santa Isabel, berçário das tartarugas marinhas e base do Projeto Tamar no Estado.
Sua vegetação predominante é tipo Restinga (campo e mata), possui 2
nascentes (olhos d água) catalogados, 2 lagoas, Riacho Perene, Dunas semimóveis,
dunas fixas, fauna e flora exuberante e totalmente monitorada e preservada.
Diante da riqueza natural existente, Iniciou-se na área que compõe hoje a
RPPN, em 2006, um projeto de diagnóstico para inserção do Ecoturismo com base
comunitária nos moldes do WWF, constado de: Sensibilização Ambiental,
catalogação da fauna/flora e possíveis parceiros e o inventário dos atrativos eco
turísticos da região. Detectou-se que a região possuía todos os requisitos que
auxiliaria a implementação do Projeto. Várias ações foram colocadas em prática e
de forma tímida os resultados esperados iam chegando, porém em contrapartida, o
assédio dos visitantes era maior. Locais antes escondidos e preservados foram
descobertos e degradados. Áreas de restinga exuberante deram lugar a loteamentos
clandestinos. E assim, os benefícios objetivados em médio prazo com o Projeto
Foto 1) Fazenda Cordeiro de Jesus – Fonte: Ju Almeida
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
16
foram esquecidos diante da nova realidade local. Somente uma ação de igual ou
maior intensidade poderia frear os sintomas do avanço descontrolado do turismo
massivo que se vislumbrara. Não enxergando outra alternativa a não ser a criação
de uma Unidade de Conservação e assim foi idealizado. O Sistema Nacional de
Unidades de Conservação (SNUC), Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, no seu
Artigo 27, § 1º, determina que as UC devam dispor de um plano de manejo e define
esse instrumento em seu Artigo 2º como:
“Documento técnico mediante o qual, com fundamentos nos objetivos gerais de uma
Unidade de Conservação, se estabelece o seu zoneamento e as normas que devem
presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação das
“estruturas físicas necessárias à gestão da Unidade.” Portanto, o plano de manejo é
um instrumento de planejamento e gerenciamento das unidades de conservação,
elaborado após a devida análise dos fatores bióticos, abióticos e antrópicos
existentes na UC e em seu entorno, que prevê ações de manejo a serem
implementadas.
Novamente com o apoio da SOS Mata Atlântica e seus parceiros, iniciamos a
elaboração do Plano de Manejo da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo (Janeiro de
2011 a Março de 2012) com os objetivos principais para a Reserva são a pesquisa
científica e a visitação com objetivos turísticos, recreativos e educacionais.
De acordo com o Roteiro Metodológico para Elaboração de Plano de Manejo para Reservas Particulares do Patrimônio Natural, os objetivos do Plano de Manejo da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo são: - Contribuir para que a UC cumpra com os objetivos estabelecidos na sua criação; - Definir objetivos específicos de manejo para cada UC, de maneira a orientar e subsidiar a sua gestão; - Promover o manejo da UC, orientado pelo conhecimento disponível e/ou gerado; - Dotar a UC de diretrizes para o seu desenvolvimento; - Definir ações específicas para o manejo da UC;
- Estabelecer a diferenciação e a intensidade de uso mediante o zoneamento, visando à proteção de seus recursos naturais e culturais;
- Destacar a representatividade da UC no SNUC diante dos atributos de valorização dos seus recursos como biomas, convenções e certificações internacionais;
- Orientar a aplicação de recursos na UC;
- Contribuir para a captação de recursos e a divulgação da UC;
- Fortalecer a figura das RPPN no SNUC.
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
17
1. INFORMAÇÕES GERAIS
A RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO está localizada no litoral norte do Estado
de Sergipe no município de Pirambu (Quadro 1), distante 16 km da zona urbana da
cidade e 48 de Aracaju, capital do Estado. Fica situada a uma distância de 3,5 km da
RESERVA BIOLÓGICA DE SANTA ISABEL.
1.1 - MAPA DE LOCALIZAÇÃO DA RPPN
Quadro 1) Mapa de localização da RPPN – Fonte: Razão
Japa
ratu
ba
OCEANO ATLÂNTICO
2 km
13,6 k
m
15,1 k
m
11,3 km
5, 3 km
3,0 km
0,7 km
RPPN Dona Benta e Seu CabocloComo chegar à
Foto 2) Visão Panorâmica da RPPN - Fonte: Razão
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
18
1.2 - VIAS DE ACESSO
VIA BARRA DOS COQUEIROS: Partindo de Aracaju segue sentido à Cidade de
Barra dos Coqueiros, passando sobre a ponte que corta o Rio Sergipe (Distante 02
km). Segue pela Rodovia SE 100 até o município de Pirambu onde seguindo a
Rodovia SE 204 segue sentido à Cidade de Japaratuba até o Povoado Aguilhadas
onde entra à direita retornando para a Rodovia SE 100 segue em direção ao
Povoado Lagoa Redonda. Ao chegar neste Povoado, visualiza-se uma placa
indicativa para o Povoado Cordeiro de Jesus e segue por 600 metros onde fica a
entrada da RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO.
VIA JAPARATUBA: Partindo de Aracaju segue sentido à BR 101, deixando esta
somente no trevo de acesso à Cidade de Japaratuba, cortando-a pega a SE 204
sentido à Cidade de Pirambu, onde 2 km à frente deixa a SE 204 e segue pela SE
420 sentido ao Povoado Sapucaia. Percorrendo 20 km se encontra o trevo de
acesso ao Povoado Lagoa Redonda, entrando à direita percorre-se cerca de 3 km
pela SE 100 até a entrada da RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO.
1.3 - TABELA DE DISTÂNCIA PARTINDO DE ARACAJU VIA BARRA DOS
COQUEIROS
Tabela 1) Percurso Aracaju / RPPN via Barra dos Coqueiros
CIDADE/POVOADO km PONTO DE REFERÊNCIA
Barra dos Coqueiros Rod. SE 100 02 Ponte sobre o Rio Sergipe
Jatobá Rod. SE 100 18 Porto de Sergipe
Pirambu Rod. SE 204 31 Estuário Rio Japaratuba
Aguilhadas Rod. SE 100 35 Placa indicativa Lagoa Redonda
Lagoa Redonda Rod. SE 100 47 Placa indicativa Cordeiro de Jesus
RPPN Dona Benta e Seu Caboclo 48 Entrada da RPPN
1.4 - TABELA DE DISTÂNCIA PARTINDO DE ARACAJU VIA
JAPARATUBA
Tabela 2) Percurso Aracaju / RPPN via BR 101
CIDADE/POVOADO km PONTO DE REFERÊNCIA
BR 101 06 Ponte sobre o Rio Sergipe
Entrada de Japaratuba Rod. SE
204 48 Porto de Sergipe
Entrada da Sapucaia Rod. SE
420 05 Estuário Rio Japaratuba
Trevo acesso Lagoa Redonda
Rod. SE 100 71 Placa indicativa Lagoa Redonda
RPPN Dona Benta e Seu 73 Entrada da RPPN
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
19
Caboclo
Tabela 3) Transporte rodoviário disponível para a RPPN
LINHA DE ÔNIBUS: Empresa Viação Litoral Norte
Aracaju / Ponta dos Mangues / Aracaju
Aracaju / Alagamar / Aracaju
Aracaju / Lagoa Redonda / Aracaju
A viagem dura aproximadamente 70 minutos partindo de Aracaju.
1.5 - HISTÓRICO DE CRIAÇÃO E ASPECTOS LEGAIS DA RPPN
De acordo com o disposto no art. 21 da Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, que
instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, e o Decreto
nº 5.746, de 05 de abril de 2006, que regulamenta a categoria de unidade de
conservação de uso sustentável - Reserva Particular do Patrimônio Natural - RPPN -
e, Considerando as proposições apresentadas no Processo IBAMA/MMA - ICMBio
n° 02070.001445/2009-55, dão suporte para o nascimento da RPPN DONA BENTA
E SEU CABOCLO, que foi instituída através da Portaria do ICMBio Nº 71 de 27 de
agosto de 2010/2000.
Possui uma área de 24,7 hectares e foi a 4ª RPPN criada no Estado de Sergipe
A Averbação da Unidade de Conservação encontra-se no Cartório de Registro
Imobiliário de Japaratuba sob nº 2.925, registro nº 1, livro 2-L, fls. 68.
Historicamente, toda a área do litoral norte do Estado sofre com os impactos
negativos causados pelo homem. Desde os primórdios das capitanias hereditárias
com a tomada da faixa litorânea e as depredações dos recursos naturais e quase
extinção da Mata Atlântica até os nossos dias com a desenfreada especulação
imobiliária.
Nesse contexto, estava inserida a propriedade denominada Lagoa do Avô que foi
adquirida pelo roceiro Manoel Elielson Cordeiro de Jesus e sua Esposa Jucélia
Almeida Matos de Jesus com o objetivo de manter a preservação daquele pedaço
de Restinga quase intocável, das Lagoas e de todo seu ambiente.
Seguindo uma tradição familiar, muda-se o nome para FAZENDA CORDEIRO DE
JESUS e inicia-se o planejamento para transformar algumas das suas áreas em
Unidade de Conservação do tipo RPPN e Estrategicamente, com o intuito de frear a
ganância de veranistas no Povoado Lagoa Redonda, resolve-se transformar em UC
a área da Fazenda que se encontra mais próxima desse Povoado. E assim, 4 anos
mais tarde o sonho se realizara com o apoio da SOS Mata Atlântica e seus
parceiros.
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
20
Os proprietários informaram que se iniciou então uma verdadeira via crucis em
busca de apoio não somente financeiro, mas principalmente de parceiros que
somassem os mesmos ideais. Procuraram então as Universidades e as Faculdades,
as empresas estatais, as empresas privadas e o “não” era sempre a resposta.
Relatam que as pessoas físicas demonstravam uma maior sensibilidade pela causa
do que as instituições. Informam que inúmeras vezes foram chamados de loucos e
surrealistas, até mesmo por funcionários de Órgãos cujo objetivo é incentivar a
preservação. E foram colecionados frases e fatos que vale a pena destacar com o
objetivo de fortalecer a todos ambientalistas:
“você é louco, pegar terra para doar para o governo”
“O que você vai ganhar com isso...?”
“Você tá apaixonado pela causa e quando a pessoa fica apaixonada não enxerga
direito”
“Pense nos seus filhos, você tá tirando deles...”
“você quer é enriquecer porque eu sei que o governo dar muito dinheiro...”
“você pode fazer extrativismo na sua RPPN, por isso a gente tem que analisar o
processo com cuidado...”
“no setor público tudo é demorado mesmo... você tá cobrando por um processo que
não tem 60 dias que deu entrada...”
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
21
1.6 - FICHA RESUMO DA RPPN
Tabela 4) Ficha Resumo da RPPN
FICHA RESUMO DA RPPN
NOME DA RPPN Dona Benta e Seu Caboclo
DATA E NÚMERO DO ATO LEGAL DE CRIAÇÃO Portaria do ICMBio Nº 71 de 27 de agosto de 2010
ENDEREÇO DA RPPN Povoado Lagoa Redonda, s/n – Zona Rural – Pirambu / SE
ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Rua 08, Nº 133 – Conj. Fernando Collor – CEP.: 49160-000 – Nossa Senhora do
Socorro / SE
NOME DO IMÓVEL Fazenda Cordeiro de Jesus
Registrado sob a matricula nº 2.925, registro nº 1, livro 2-L, fls. 68, no dia 30 de junho de 2008, no Registro de Imóveis da Comarca de Japaratuba - SE.
NOME DOS PROPRIETÁRIOS Manoel Elielson Cordeiro de Jesus e Jucélia Almeida Matos de Jesus
NOME DO REPRESENTANTE Manoel Elielson Cordeiro de Jesus
CONTATO Fones: (79) 3254-6259 / 8822-6948 / 9135-
5234 / 9998-8776 [email protected]
ÁREA DA RPPN (ha) 23,6
ÁREA DA FAZENDA CORDEIRO DE JESUS (ha) 97,1
PRINCIPAL MUNICIPIO DE ACESSO À RPPN Pirambu
MUNICIPIOS E ESTADOS ABRANGIDOS
Pirambu / Sergipe
COORDENADAS GEOGRÁFICA UTM, E:743059,677 e N:8821219,507
LIMITES E CONFRONTANTES Sr. Pedro dos Santos - Sr. Romeu dos Santos – Fazenda Cordeiro de Jesus
BIOMAS E/OU ECOSSISTEMAS Mata Atlântica e Ecossistema Restinga
DISTANCIAS DOS CENTROS URBANOS MAIS PRÓXIMOS 1 km para o Povoado Lagoa Redonda/Aningas
15 para a Cidade de Pirambu
MEIO PRINCIPAL DE CHEGADA À UC Transporte Terrestre – Rodovia SE 100
ATIVIDADES OCORRENTES: - Visitação turísticas - Educação Ambiental - Levantamento de fauna e flora
ATIVIDADES CONFLITANTES - Caça – Corte e retirada de vegetação nativa
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
22
1.7 - METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DO PLANO DE MANEJO
O Plano de Manejo da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo utilizou como diretriz geral,
a publicação do IBAMA “Roteiro Metodológico para Elaboração de Plano de Manejo
para Reservas Particulares do Patrimônio Natural” (FERREIRA et.al., 2004),
principalmente no que se refere ao conteúdo, nível de detalhamento e estrutura do
plano, e etapas de desenvolvimento.
Para todo processo de análise e definição da proposta de zoneamento e dos
programas do plano de manejo, considerou-se como fundamento metodológico a
teoria sistêmica. De acordo com Ross (1995), dentro dessa concepção, o ambiente
pode ser analisado sob o prisma da Teoria Geral dos Sistemas, que de acordo com
Christofoletti (1979) foi desenvolvida inicialmente nos Estados Unidos por R. Defay
em 1929 e por Ludwig Bertalanffy a partir de 1932, e no âmbito da geomorfologia, o
ponto de partida é atribuído a Strahler (1950), baseado na descrição de Bertalanffy
(1950).
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
23
2. DIAGNÓSTICO
2.1 - CARACTERIZAÇÃO DA RPPN
A RPPN Dona Benta e Seu Caboclo (Figura 1) possui uma área de 23,60 ha (vinte e
três hectares e sessenta ares), nasceu a partir da propriedade denominada Fazenda
Cordeiro de Jesus no município de Pirambu/SE, inserido no Bioma Mata Atlântica, e
Quadro 2) Mapa de Localização da RPPN no Estado – Fonte Seplan/SE – mod. p/RAZÃO
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
24
abrigando áreas de restingas, dunas móveis e fixas e campos de dunas.
É uma Unidade de Conservação - UC de uso sustentável porém como parte da
iniciativa particular o domínio publico não prepondera , assim como as prerrogativas
de utilização da mesma para visitação pública, atividades de educação ambiental e
pesquisa científica poderão acontecer mediante autorização dos proprietários.
A RPPN Dona Benta e Seu Caboclo está inserida em um contexto regional do
município de Pirambu/SE. Para a confecção deste documento utilizou-se do material
produzido por especialistas responsáveis pelas áreas temáticas através de
levantamentos e análise de dados secundários e primários. Utilizou-se também os
dados de documentos técnicos publicados através da REBIO e da Universidade
Federal de Sergipe.
Localiza-se no entorno da Reserva Biológica de Santa Isabel
Segundo o SNUC, a Zona de Amortecimento (ZA) é definida como “o entorno de
uma Unidade de Conservação, onde as atividades humanas estão sujeitas a normas
e restrições específicas, com o propósito de minimizar os impactos negativos sobre
a Unidade” (Lei nº 9.985/00). A RPPN Dona Benta e Seu Caboclo encontra-se
distante apenas a 3 km da Reserva Biológica de Santa Isabel, o que exigiu dos
profissionais uma maior preocupação com as variáveis ecológicas e sociais do
Foto 3) Reserva Biológica Santa Isabel - Base do Projeto Tamar - Pirambu/SE – Fonte: Ednaldo
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
25
entorno. Cabe salientar aqui que a Zona de Amortecimento da RESERVA
BIOLÓGICA SANTA ISABEL ainda não foi instituída.
2.1.1 - ASPECTOS CLIMÁTICOS
O Estado de Sergipe localizado entre as latitudes 9° 31‟ 00‟‟ e 11° 35‟ 52‟‟ sul e as
longitudes 36° 25‟ 08‟‟ a 34° 14‟ 40‟‟ oeste, é influenciado durante o ano todo pelo
anticiclone do Atlântico Sul, principal gerador de tempo estável e das estações secas
de primavera e verão (figura 2). As invasões dos sistemas de circulação atmosférica
de instabilidade como as Ondas de Leste (E.W.), Frente Polar Atlântica (F.P.A.) e
Linhas de Instabilidade (L.I.) ocorrem periódica e sazonalmente, e são importantes
na manutenção de um regime de chuvas de outono-inverno.
Quadro 3) Mapa Climatológico – Fonte Seplan/SE – mod. p/RAZÃO
Sendo o litoral de Sergipe influenciado diretamente pelas correntes perturbadoras
que modificam o clima, há o predomínio das chuvas de outonoinverno.
A ocorrência de chuvas nesse período representa o aumento das precipitações
caracterizando um regime de chuvas marcadas por duas estações: a chuvosa e a
menos chuvosa. A primeira tem início em março e se prolonga até agosto, enquanto
a segunda tem início em setembro, quando passa a ocorrer déficit hídrico ambiental,
prolongando-se até fevereiro. Conforme a Tabela 5, a região onde se encontra a
RPPN possui a mais alta precipitação do Estado.
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
26
A máxima pluviosidade anual ocorre nos meses de abril/maio que chega a
concentrar 46% da precipitação total. O período mais chuvoso corresponde aos
meses de abril a julho, caracterizando as chuvas de outono e inverno.
A área da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo em decorrência de sua posição
geográfica, situada numa zona de clima quente e de latitudes e altitudes baixas, está
sujeita à ação estabilizadora do oceano. Este oferece uma situação mais estável,
não havendo, por essa razão, variações térmicas significativas durante o ano como
mostra o Quadro 2.
Tabela 5) Índice pluviométrico mensal 2010 – Fonte Seplan/SE – mod. p/RAZÃO
POSTO JAPARATUBA Latitude 10º36´S - LONGITUDE 36º 57´W
MÊS JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ TOTAL
TOTAL mm
51,0 100,4 88,4 426,1 324,2 101,9 212,1 138,5 62,8 53,6 82,4 10,8 1652,3
TOTAL %
3% 6% 5% 26% 20% 6% 13% 8% 4% 3% 5% 1% 100%
MÉDIA Histórica mensal
40,1 44,5 88,3 166,2 245,5 203,1 190,9 119,7 70,6 53,2 40,1 35,8 1298,0
Pela análise da curva ombro térmica (Figura 2), podemos observar que no período
analisado, a área de estudo apresenta aproximadamente quatro meses com déficit
hídrico no ano, correspondendo aos meses de novembro, dezembro, janeiro e parte
de fevereiro.
A análise sobre a direção dos ventos está associada à dinâmica geral dos sistemas
atmosféricos atuantes na costa sergipana e reflete as condições meteorológicas em
nível macro.
Decorrente da posição semifixa do Anticiclone do Atlântico Sul, o regime de ventos
predominante na costa oriental do Nordeste fica condicionado à atividade desse
centro de ação. O deslocamento da Massa Tropical Atlântica (M.T.A.) mais para o
norte, favorece a direção dos ventos de sudeste, os quais são predominantes e
podem atingir velocidades superiores a 8 m/s (Quadro 3).
São ventos considerados moderados a fortes e influenciam a migração de dunas e
transporte de areia.
O posicionamento central da M.T.A. favorece o direcionamento de ventos de leste,
que ocorrem com mais frequência no período de abril a agosto, com velocidades
médias de 3 a 8 m/s, podendo atingir velocidades superiores a 12 m/s. São
considerados ventos moderados a fortes e contribuem no transporte de areia e
modelamento das dunas.
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
27
Decorrente da ação da Zona de Convergência Intertropical ocorre o surgimento de
ventos de NE que atuam com maior frequência no período de março a maio.
No período de junho a setembro, com as incursões da F.P.A., há o surgimento dos
ventos de sul.
2.1.2 - GEOLOGIA
O Estado de Sergipe se localiza entre as regiões de três províncias estruturais
definidas por Almeida et al. (1977): a Província São Francisco, a Província
Borborema e a Província Costeira e Margem Continental.
A RPPN Dona Benta e Seu Caboclo está inserida na Província Costeira e Margem
Continental, constituída pelas bacias sedimentares costeiras mesocenozóicas e
suas extensões na margem continental, desenvolvidas a partir do Jurássico. No
Estado de Sergipe, esta província inclui a Bacia Sedimentar de Sergipe e segmentos
restritos da Bacia do Tucano, além de formações superficiais terciárias e
quaternárias continentais, e os sedimentos quaternários da plataforma continental.
2.1.3 - GEOMORFOLOGIA
O Estado de Sergipe possui como característica geomorfológica (Figura 3) altitudes
Quadro 4) Mapa geomorfológico – Fonte Seplan/SE – mod. p/RAZÃO
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
28
relativamente baixas e regulares. Algo em torno de 86% da área coberta pelo Estado
não ultrapassa os 300 m de altitude. A morfologia encontrada na área da RPPN
Dona Benta e Seu Caboclo é formada pela unidade geomorfológica da Planície
Litorânea e tabuleiros costeiros: localizada ao longo da costa, se caracteriza pela
vegetação de restingas e dunas, cuja altitude não ultrapassa 50 metros.
2.1.4 - SOLOS
O solo é a parte externa do globo terrestre a qual está em contato com as massas
gasosas e líquidas. A formação do solo depende de seu material de origem, que
sofre influência do clima (chuvas), dos organismos presentes no solo e do relevo. O
resultado da decomposição da rocha de origem pode ocorrer como areia, silte e
argila.
Os solos são bem distribuídos ao longo das áreas de cada compartimento geológico
de origem sendo predominantes na área da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo os
Quadro 5) Mapa temático Geologia – Fonte Seplan/SE – mod. p/RAZÃO
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
29
solos podzólicos enquanto que na região central do estado predomina os solos
litólicos, com ocorrências de planosolos conforme figura 4.
2.1.5 - HIDROGRAFIA
Segundo a compartimentação hidrográfica do Brasil, determinada pela Resolução do
CNRH nº 32 de 15/10/2003, a RPPN Dona Benta e Seu Caboclo está inserida na
Região Hidrográfica do Atlântico Leste, que é constituída por diversas bacias
hidrográficas que desaguam diretamente no Oceano Atlântico.
Quadro 6) Mapa das Bacias Hidrográficas – Fonte Seplan/SE – mod. p/RAZÃO
Fonte: SEMARH/SRH - Atlas Digital sobre Recursos Hídricos v.2011.1 - Adaptado por Manoel ElielsonNo
contexto estadual, a SEMARH divide o estado em seis bacias hidrográficas (figura
5), porém duas outras possíveis bacias apresenta-se no mapa ainda sem estudos
aprofundados que comprove sua existência. Assim sendo, a RPPN insere-se no
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
30
contexto da bacia do Rio Japaratuba. A bacia hidrográfica do rio Japaratuba é
constituída pelo rio que lhe empresta o nome e tem como principais afluentes: o rio
Japaratuba Mirim, Lagartixo, Siriri, Cancelo e riacho do Prata. Tem sua nascente na
Serra da Boa Vista na divisa entre os municípios de Feira Nova e Graccho Cardoso
e deságua no Oceano Atlântico, no município de Pirambu.
A RPPN, na sua parte Oeste, é margeada pelo Riacho do Sangradouro conhecido
assim pelos moradores, porém na verdade trata-se do Rio Sapucaia que se origina
próximo ao Povoado Sapucaia no município de Japaratuba/SE. O Rio Sapucaia
nasce a 4 Km do Rio Japaratuba, porém entre eles existe um divisor de águas
fazendo com que eles tomem rumos diferentes. Já próximo ao oceano mais
precisamente nas formações dos campos de restinga e pós-praia, o Rio Sapucaia se
encontra com o Rio Aningas formando a Bacia Costeira I, conforme demonstrada no
mapa, porém tal bacia ainda não tem o reconhecimento acadêmico tal qual a bacia
Costeira II.
Tabela 6) Volumes das Bacias hidrográficas de Sergipe – Fonte Seplan/SE – mod. p/RAZÃO
BACIAS ÁREAS
(km2)
Participação
(%)
Potencialidade
de água de
superfície
hm3/ano
Quant.
de
Municípios
(abrangência)
São Francisco 7.230,41 33,0 40.335,0 13
Piauí 4.150,00 19,0 6,8 15
Sergipe 3.659,03 16,7 6,6 26
Vaza -Barris 2.559,00 11,6 15,5 15
Real 2.568,00 11,6 42,1 8
Japaratuba 1.734,59 7,65 13,8 20
Dentro da RPPN, existe uma Lagoa perene (Lagoa do Avô / Encantada) rica em
nutrientes, que oferecem condições para a frequência de aves aquáticas de hábitos
continentais e aves limícolas que, em suas movimentações de rotas migratórias, as
têm como refúgio natural de sustentação.
Do mesmo modo, a fauna aquática encontra habitat propício ao seu ciclo biológico,
conferindo a esses ambientes uma peculiar característica única para manutenção da
vida silvestre. Ainda na UC, existem três minadouros onde um deságua diretamente
na lagoa e os outros deságuam no Riacho Sangradouro ainda dentro da UC.
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
31
2.1.6 - ESPELEOLOGIA
Em Sergipe, de acordo com Santos & Menezes (2003), existem 22 cavernas
espalhadas pelo Estado, sendo que destas, somente 12 estão cadastrados junto a
Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE). Estão elas distribuídas principalmente
pelos municípios de Simão Dias, Itabaiana, São Domingos, Riachuelo e Laranjeiras.
Mesmo contendo um número considerável de cavidades naturais, o carste sergipano
apresenta dimensões reduzidas quando comparados com as potencialidades
cársticas brasileiras. O endocarste é visualizado em quase toda a sua totalidade, no
entanto, já foi verificada a ocorrência de dolinas, sendo mais restrita.
Apesar dos registros já existentes, e de novos indícios sobre a ocorrência de
condutos cársticos em Sergipe, até o momento ainda não foi realizado de forma
sistemática o levantamento e caracterização das cavernas existentes no Estado.
O Estado de Sergipe encontra-se inserido na Região Cárstica do Supergrupo
Canudos, composto pelos grupos Estância e Vaza-Barris, que possuem em suas
formações rochas graníticas, areníticas, quartzíticas e calcárias.
Todos os jazimentos do grupo Sergipe são tipicamente sedimentares e estão
referidos como calcário, calcário calcítico, calcário dolomítico e dolomito.
Apesar de termos notícias de cavidades naturais em Sergipe desde 1888, e desde
1980 Sergipe estar inserido em uma “área espeleológica” (LYNO & ALLIEVI, 1980)
de importância nacional, existem poucos estudos e apenas duas cavernas foram
registradas junto à Sociedade Brasileira de Espeleologia, (SBE).
2.1.6.1 - HISTÓRICO ESPELEOLÓGICOS EM SERGIPE
Os primeiros registros de cavidades naturais em Sergipe conhecidos até o momento,
foram apresentados por Branner (1888), onde são referenciadas as cavernas do
Urubu e da Pedra Furada, situadas nos município de Riachuelo e Laranjeiras
respectivamente.
Em 1950 o IBGE, em sua Enciclopédia dos Municípios Brasileiros volume XIX, que
abrange os municípios de Sergipe e Alagoas, faz referência às cavernas sergipanas
citando-as como “curiosidades naturais” (FERREIRA, 1950).
Na década de 1970, José Augusto Garcez, um “famoso amador” (Prous, 1992)
sergipano interessado por pré-história, contribuiu para o levantamento espeleológico
em Sergipe, pois explorou e fotografou a Caverna da Pedra Branca, município de
Laranjeiras, às margens da BR 101.
A partir de 1990 as cavernas sergipanas se tornaram um assunto de relevante
interesse para alguns grupos de estudantes e escoteiros, que passaram a fazer
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
32
“expedições” em alguns locais do estado em busca de novas cavernas, mas que por
sua vez, também não transformaram suas “expedições” em estudos científicos.
2.1.6.2 - METODOLOGIA
O registro inicial de cavidades naturais em Sergipe foi obtido a partir da soma de
registros espeleológicos anteriores (pesquisas bibliográficas), depoimentos orais,
análise de mapas geológico-geomorfológicos do estado e principalmente de
prospecções in loco nas áreas onde as evidências se mostraram mais propícias ao
aparecimento de tais cavidades.
Depois de confirmada a existência de tais cavidades foi feitas fotografias internas e
externas, mapas de acesso, localização e distribuição espacial das cavidades no
estado de Sergipe.
2.1.6.3 - RESULTADOS PRELIMINARES
Desde 1999, o CAIS4 e a equipe ESPELEO-SE5 , vem explorando e fazendo de
forma ponderada registros preliminares de cavidades naturais do estado, onde foram
exploradas 14 cavidades até o momento, o que corresponde aproximadamente a
60% do potencial espeleológico de que se tem notícia em Sergipe (Tabela 7).
2.1.6.4 - Cavernas Identificadas
Tabela 7) Cavernas identificadas em Sergipe – Fonte: SEGEO/SE
NOME MUNICÍPIO LOCALIZAÇÃO LITOLOGIA
Abismo de Simão Dias Simão Dias Fazenda São José Calcário
Casa de Pedras Itabaiana Povoado Ribeira Calcário
Casa do Caboclo Japaratuba Pov. São José Calcário
Caverna da Arara Macambira Fazenda Capitão Quartzito
Caverna da Fumaça Lagarto Faz. Quebra do Silva Calcário
Caverna da Miaba São Domingos Fazenda das Araras Calcário
Caverna da Pedra Branca Laranjeiras Pov. Pedra Branca Calcário
Caverna do Urubu Riachuelo Faz. São Joaquim Calcário
Gruta dos Aventureiros Laranjeiras Próximo à Igreja da Comandaroba Calcário
Gruta do Encantado Itabaiana Serra de Itabaiana Quartzito
Gruta da Pedra Furada Laranjeiras Próximo à Igreja da Comandaroba Calcário
Toca do Índio Macambira Fazenda Jacoca Quartzito
Toca da Raposa Laranjeiras Próximo à Igreja da Comandaroba Calcário
Toca da Raposa II Simão Dias Faz. Manoel Roque Calcário
Na RPPN Dona Benta e Seu Caboclo ainda não se descobriu cavidades naturais,
todavia, sua existência não é descartada devido existir cavidade catalogadas em
locais próximo à UC. A “Casa do Caboclo” no Município de Japaratuba/SE é um
exemplo.
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
33
2.1.7 - VEGETAÇÃO
2.1.7.1 - Introdução
Na RPPN Dona Benta a vegetação predominante é de restinga arbustiva, ocupando
praticamente toda a área da reserva e desenvolvendo-se a sotavento das dunas,
representado por grupamentos de arbustos e palmeiras.
O termo restinga, encontrado na literatura desde 1785 (Reys 1997) é utilizado por
geólogos, historiadores, botânicos ou ecólogos, designando elementos diferentes
(Suguio & Tessler 1984).
Sugiyama (1998) apresenta revisão sobre a utilização do termo restinga em sentido
botânico, considerando “vegetação de restinga” o conjunto de comunidades vegetais
fisionomicamente distintas, sob influência marinha e flúvio-marinha, distribuídas em
mosaico e que ocorrem em áreas com grande diversidade ecológica.
Segundo Freire (1990), a restinga é ambiente geologicamente recente e as espécies
que a colonizam são principalmente provenientes de outros ecossistemas (Mata
Atlântica, Tabuleiros e Caatinga), porém com variações fenotípicas devido às
Foto 4) Vegetação típica na RPPN – Fonte Ednaldo
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
34
condições diferentes do seu ambiente original. Essa vegetação possui importante
papel na estabilização do substrato (Lamêgo 1974; Pfadenhauer 1978; Costa et al.
1984). As plantas colonizam a areia logo à linha de maré alta, amenizando, no caso
de planícies arenosas, a ação dos agentes erosivos sobre o ecossistema (Lamêgo
1974), protegendo o substrato principalmente da ação dos ventos, importante agente
modificador da paisagem litorânea.
Nesse contexto, o presente estudo visa descrever os tipos vegetacionais de restinga
na RPPN Dona Benta e Seu Caboclo (figura 6).
No decorrer dos trabalhos foram encontradas espécies como a Davilla flexuosa (cipó
caboclo), Tetrecera breyniana, Espécies diversas e importantes como Syagrus
schizophyla (palmeira orobeira), Croton sp. (velame), Lantana camara (chumbinho),
Bonisteriopsis sp. (melissa), Pilosocereus catingola (facheiro-da-praia), Schinus
terebinthifolius (aroeira da praia) e o Anacardium occidentale (cajueiro) também
foram catalogados.
Nos ambientes interdunares, devido à redução da ação eólica que esses ambientes
proporcionam desenvolve-se uma vegetação de maior porte e nela ocorrem
espécies, normalmente só identificadas para as áreas mais protegidas porém
observou-se exemplares em toda a área da UC. As espécies catalogadas que se
constituem nos principais representantes arbóreos e arbustivos da restinga na UC
Quadro 7) Tipos de vegetação – Fonte Seplan/SE – mod. p/RAZÃO
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
35
são a Couepia impressa (oiti da restinga), Byrsonima sericea (murici da mata), Ficus
sp. (gameleira), Protium heptaphyllum (amescla), Capparis flexuosa (feijão de jacu),
Cepropia pachystachya (umbaúba), Clusia memorosa (mangue doce), Pera glabrata
(sete cascos), Myrcia sp. (murta), Emmotum nitens (louro da restinga), Psidium sp.
(araçá), Annona sp. (araticum) e Hancornia speciosa (mangabeira), Eschweilera
ovata (biriba), Manikara salzmani (maçaranduba), Tabebuia avellande (pau d‟arco
amarelo), Cariniana sp. (sapucaia), Andira fraxinifolia (angelim), Tapirira guianenses
(pau pombo), Pisonia tomentosa (pau piranha) e Ocotea aciphilla (louro).
A floresta estacional semidecídua ou floresta de tabuleiros é integrante do domínio
da Floresta Atlântica que ocorre na vegetação ciliar do riacho do Sangradouro que
margeia parte da RPPN.
Epífitas ocorrem nas árvores mais altas, principalmente bromélias e orquídeas. Os
solos são cobertos por uma camada não muito espessa de serapilheira.
2.1.7.2 - METODOLOGIA
Foi utilizado o método de parcelas para a amostragem que se restringiu às espécies
de forma arbustivo/arbórea, excluindo-se indivíduos de caule subterrâneo, como a
palmeira anã (Allagoptera arenaria), e da família Cactaceae.
Nove parcelas de 100 m2 (10m x 10m) foram alocadas, sendo três na vegetação
ciliar margeando o Riacho do Sangradouro, três a 300 m do limite da RPPN
abrangendo formações de mata de restinga e três a 600 m, também em formações
de mata de restinga porém mais próximo de uma lagoa perene denominada Lagoa
do Avô.
Todos os indivíduos lenhosos com diâmetro do tronco à altura do solo (DAS) igual
ou superior a 2, 5 cm foram marcados e numerados com plaquetas de alumínio. O
DAS dos indivíduos perfilhados foi obtido somando o diâmetro de cada perfilho.
Além do DAS anotou-se a espécie (quando reconhecida ainda no campo) e a altura
do indivíduo.
Os parâmetros fitossociológicos estimados foram:
.
100; Dominância Relativa, (DoRi) = ABi / AB .
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
36
100; Frequência .
100; Diâmetro Médio (DiaMi), média do diâmetro do tronco das árvores a altura do
solo;
Índice de Valor de Cobertura, (IVC) = DRi + DoRi;
Índice de Valor de Importância, (IVI) = FRi + DRi + DoRi, onde: Ni = número de
indivíduos da espécie i; N = número total de indivíduos; Np = número de parcelas;
ABi = área basal por hectare, ocupada por cada espécie, dada em m2;
AB = área basal total. A comparação estatística dos dados de riqueza de espécies,
número de indivíduos e área basal entre as três faixas de distância amostradas foi
realizada através de ANOVA „one way‟ (Zar 1996).
Os cálculos dos parâmetros fitossociológicos da Formação Mata de Restinga - FMR
foram realizados através do programa para computador FITOPAC 2.1.2. Foram
determinados também, os índices de diversidade de Shannon, na base neperiana
(H‟), diversidade máxima (H‟max) e equitabilidade (J‟) (Brower & Zar 1977). Para a
determinação da diversidade ao longo do transecto, foi calculada a diversidade de
Routledge (Magurran 1988).
2.1.7.3 - RESULTADOS
Ao longo de cada transecto foram encontradas 37 espécies (n=37) distribuídas por
21 famílias. Desse total, quatro espécies não foram identificadas sendo que o
restante foram determinadas ao nível de família, sendo as de maior riqueza
específica: Myrtaceae com 27%, Clusiaceae, Leguminosae, Malpighiaceae e
Sapotaceae cada uma com 5% das espécies, indeterminada com 11% e o restante
42% (Quadro 2).
Quadro 8) Gráfico % das famílias encontradas
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
Ce
last
race
ae
An
acar
dia
ceae
An
no
nac
eae
Bo
mb
acac
eae
Bu
rser
ace
ae
Cap
par
ace
ae
Clu
siac
eae
Eben
acea
e
Eryt
hro
xyla
ceae
Eup
ho
rbia
ceae
Ind
eter
min
ada
Legu
min
osa
e
Mal
pig
hia
ceae
Myr
sin
acea
e
Myr
tace
ae
Nyc
tagi
nac
eae
Po
lygo
nac
eae
Rh
amn
acea
e
Ru
bia
ceae
Sap
ind
acea
e
Sap
ota
ceae
% FAMÍLIAS
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
37
Os valores do índice de diversidade de Shannon foram maiores nas formações mais
distantes do mar (H‟= 1,74 na Formação Praial Graminóide (FPG); 1,35 na
Formação Praial com Moitas (FPM); 2,52 na Formação de Clusia (FC) e 2,81 na
Formação mata de Restinga (FMR). Entretanto, os valores da diversidade medida ao
longo do transecto mostraram redução da diversidade de FC para a FMR (FPG/FPM
= 27.6, FPM/FC =33.3, FC/FMR = 22.8).
Desse total de espécies, 37 (21 famílias) foram amostradas dentro das nove
parcelas, ou seja, considerando apenas os indivíduos lenhosos do estudo
quantitativo. Maytenus obtusifolia apresentou o maior IVC (32,28), seguida por Pera
glabrata (30,63), Protium heptaphyllum (22,55), Coccoloba alnifolia (17,55), Capparis
flexuosa (10,93), Sideroxylon obtusifolium (10,50) e Schinus terebinthifolius (10,03).
Não foram observadas diferenças significativas (p>0,05) nos parâmetros estruturais
(área basal e densidade) e no número de espécies no trecho de mata entre as faixas
de distância analisadas, indicando homogeneidade da mata para estes parâmetros.
Nos três transectos analisados apresentaram variações quanto à altura do dossel.
Na parte de vegetação ciliar a maior parte dos indivíduos (53%) estava na classe
compreendida entre 10 a 15 m de altura, enquanto que nos outros a maioria dos
indivíduos (36% e 38% respectivamente) encontrava-se na classe de 4 a 10m alt.
Tabela 8) Valores de Densidade (Di), Densidade Relativa (DRi) (%), Dominância Relativa (DoRi) (%), Frequência Relativa (FRi) (%), Diâmetro Médio (DiaMi), Área Basal (ABi), Índice de Valor de Importância (IVI) e Índice de Valor de Cobertura (IVC), para as espécies.
Espécie Nome
popular Família Local Di Dri DoRi Fri DiaMi Abi IVI IVC
(100 m2)
(cm) (m2)
Maytenus
obtusifolia Papagaio Celastraceae II 9,42 20,29 11,02 7,38 7,48 0,41 40,66 32,28
Pera glabrata Calombo Euphorbiaceae III 2,44 4,79 24,84 5,28 20,57 0,79 34,92 30,63
Protium
heptaphyllum Almécega Burseraceae I 5,86 11,89 9,65 5,28 8,36 0,31 24,83 22,55
Coccoloba
alnifolia Bolo Polygonaceae II 4,88 10,58 8,37 3,19 8,69 0,28 22,15 17,55
Capparis
flexuosa ---- Capparaceae I 4,28 9,13 2,79 7,38 5,28 0,08 18,31 10,93
Sideroxylon Quixaba Sapotaceae III 1,96 3,63 7,87 7,38 11,99 0,23 18,88 10,50
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
38
obtusifolium
Schinus
terebinthifolius Aroeira Anacardiaceae II e III 1,58 3,76 7,27 5,28 13,75 0,24 16,32 10,03
Diospyros
inconstans ---- Ebenaceae I e II 2,94 5,95 2,36 5,24 6,60 0,10 15,54 10,31
Eugenia
pluriflora Aperta-cu Myrtaceae I e II 1,96 4,13 3,23 7,38 7,81 0,10 14,25 6,87
Eugenia
ovalifolia
Aperta-cú
vermelho Myrtaceae I e II 2,08 4,42 1,00 1,05 4,73 0,03 5,97 4,92
Campomanesia
sp. ---- Myrtaceae II e III 0,36 0,87 2,31 1,05 15,95 0,10 4,23 4,18
Myrciaria tenella Cambuí Myrtaceae
I , II e
III 0,86 2,02 1,55 3,15 8,91 0,04 5,72 3,01
Manilkara
subsericea ---- Sapotaceae II e III 0,36 0,87 2,48 1,05 15,95 0,08 4,40 3,34
Eugenia uniflora
Pitanga
lagarto Myrtaceae II e III 0,36 0,87 2,40 2,09 16,06 0,07 5,36 3,27
Cupania
emarginata ---- Sapindaceae II 0,24 0,58 2,65 1,05 22,77 0,08 4,28 3,23
Erythroxylum
passarinum ---- Erythroxylaceae
I , II e
III 0,74 1,74 1,21 4,02 8,25 0,03 7,18 2,95
Guapira
pernambucensis
Folha-
miúda Nyctaginaceae I e II 0,86 2,02 0,91 4,54 5,50 0,02 8,17 2,94
Scutia arenicola Quixabinha Rhamnaceae II e III 0,74 1,74 0,51 2,09 5,17 0,01 4,33 2,20
Eugenia sulcata Pitanga Myrtaceae II e III 0,74 1,74 0,41 2,09 4,62 0,01 4,25 2,15
Tocoyena
bullata Rubiaceae I 0,62 1,45 0,36 3,15 5,39 0,01 4,95 1,80
Byrsonima
sericea Murici Malpighiaceae I e II 0,24 0,58 1,10 2,09 11,99 0,03 3,77 1,68
Rapanea
parvifolia Capororoca Myrsinaceae I 0,24 0,58 0,98 1,05 11,66 0,03 2,61 1,56
Pseudobombax
grandiflorum Bombacaceae I e II 0,12 0,29 1,10 1,05 21,34 0,03 2,44 1,40
Inga laurina Ingá mirim Leguminosae I e II 0,12 0,29 1,07 1,05 20,90 0,03 2,40 1,35
Heteropteris sp. Malpighiaceae I e II 0,36 0,87 0,21 2,09 5,28 0,01 3,18 1,08
Marlierea sp. Myrtaceae II e III 0,24 0,58 0,48 1,05 8,80 0,01 2,11 1,07
Clusia hilariana Abaneiro Clusiaceae I 0,24 0,58 0,31 2,09 7,04 0,01 2,98 0,89
Oxandra nitida Annonaceae I e II 0,12 0,29 0,61 1,05 15,73 0,02 1,94 0,89
sp. 4 Indeterminada I 0,24 0,58 0,22 1,05 6,71 0,01 1,85 0,80
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
39
Machaerium
lanceolatum Leguminosae I e II 0,24 0,58 0,21 1,05 6,60 0,01 1,84 0,79
Garcinia
brasiliensis Clusiaceae
I, II e
III 0,24 0,58 0,09 1,05 4,18 --- 1,72 0,66
Eugenia aff.
bimarginata Myrtaceae
I, II e
III 0,12 0,29 0,21 1,05 9,35 0,01 1,55 0,51
Psidium
cattleianum Araçá Myrtaceae
I, II e
III 0,12 0,29 0,10 1,05 6,27 --- 1,43 0,39
Eugenia aff.
arenaria Myrtaceae
I, II e
III 0,12 0,29 0,04 1,05 4,40 --- 1,39 0,34
sp. 6 Indeterminada I 0,12 0,29 0,03 1,05 3,85 --- 1,38 0,33
sp. 8 Indeterminada I 0,12 0,29 0,03 1,05 3,85 --- 1,38 0,33
sp. 7 Indeterminada I 0,12 0,29 0,02 1,05 2,75 --- 1,36 0,31
Total 46,42 100,00 100,00 100,00 ----- 3,23 300,00 200,00
2.1.7.4 - DISCUSSÃO
Devido à escassez de trabalhos sobre o levantamento dos tipos vegetacionais de
restinga no Estado de Sergipe, o estudo realizado na RPPN Dona Benta e Seu
Caboclo não pode ser comparado com outros a fim de se discutir melhor os
resultados obtidos. Sabe-se, que nos Estados vizinhos de Alagoas e Bahia existe
estudos semelhantes, porém optou-se em não utilizar estes para fins comparativos
devido não se conhecer in loco as áreas estudadas.
A composição florística da restinga na RPPN parece estar sujeita às influências de
formações florestais adjacentes, como a mata atlântica de baixada e a mata de
tabuleiro. Freire (1990) e Fabris & Cesar (1996) ressaltaram a importância de
ecossistemas adjacentes para a composição florística das restingas por eles
estudadas.
2.1.7.5 - Espécies ameaçadas
As atividades humanas impactam negativamente com as formações vegetais da
restinga ocasionando uma constante ameaça. Durante o trabalho de campo, não foi
observada qualquer espécie categorizada como ameaçada de extinção segundo a
Lista Oficial das Espécies da Flora Brasileira Ameaçada de Extinção – 2008 do
Ministério do Meio Ambiente, entretanto este fato não pode ser interpretado como
inexistência destas espécies. A dificuldade de identificação e coleta de material
botânico de árvores e das epífitas mais altas pode ter mascarado a existência de
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
40
espécies ameaçadas. Somente com um número mais elevado de coletas podemos
definir precisamente esta situação
2.1.7.6 - Ocorrências Novas, de Relevância Regional
Registradas e Interesse Científico e Conservacionista
As espécies encontradas não puderam ser comparadas por motivo de deficiência de
estudos nas áreas de restinga localizada ao norte do Estado de Sergipe. Quanto a
espécies de relevância regional, identificou a Hancornia speciosa, popularmente
conhecida como mangabeira. Dessa espécies, além do seu fruto também se retirava
o látex. Como este segundo produto acabava matando a árvore, foi praticamente
abolido seu uso. Recentemente, a medicina descobriu que a folha e casca da
mangabeira são muito eficazes para o tratamento da hipertensão.
Deve-se ressaltar ainda a necessidade de ampliação das coletas em busca de
espécies menos frequentes, de distribuição mais restrita ou ainda não descritas.
2.1.7.7 - Espécies Exóticas e Potencialmente Danosas
Ao contrário de muitos problemas ambientais que geralmente tendem a se amenizar
com o decorrer do tempo, a invasão biológica se multiplica ou se expande, causando
impactos em longo prazo, não permitindo que os ecossistemas afetados se
recuperem naturalmente. A invasão biológica é caracterizada quando um organismo
ocupa, desordenadamente, um espaço fora de sua área de dispersão geográfica. É
frequentemente relacionada à influência do ser humano, intencional ou não, como
também a processos naturais (Conservação Internacional do Brasil, 2009). Abaixo
listamos as espécies exóticas encontradas no entorno da RPPN Dona Benta e Seu
Caboclo:
Jaqueira Artorcapus heterophyllus, é uma espécie arbórea com grandes frutos que
são amplamente consumidos pela população do Nordeste in natura ou na fabricação
de doces ou geléias. Ocupa áreas florestais e substitui vegetação natural, inibindo a
germinação de sementes de espécies nativas por alelopatia. Adapta-se facilmente a
uma grande diversidade de ambientes, principalmente em sub-bosque de florestas;
Mangueira (Mangifera indica), originária da Ásia. Esta espécie se adaptou
facilmente ao clima do Nordeste brasileiro e devido aos diversos usos derivados dos
seus frutos foi amplamente disseminado seu cultivo, havendo ainda muitas culturas
que sofreram melhoramento genético para maior produção e aclimatação. A invasão
por esta espécie pode causar graves alterações no Ph das águas e solos das áreas
próximas a córregos e riachos, dificultando a regeneração natural da área;
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
41
Amendoeira (Terminalia catappa), introduzida no Brasil como árvore ornamental
compete com a vegetação nativa no processo de sucessão natural. Pode prejudicar
o desenvolvimento da regeneração natural em função de sombreamento causado
pela sua copa. Espécie encontrada nas margens da Unidade, próximos a estradas e
agrovilas, e;
O coqueiro (Cocos nucifera) é um membro da família Arecaceae (família das
palmeiras). É a única espécie classificada no gênero Cocos. É uma árvore que pode
crescer até 30 m de altura, com folhas pinadas de 4-6 m de comprimento, com pinas
de 60-90 cm. Seu fruto posui inúmeras utilidades que vão desde a culinária,
cosmético e artesanato. O coqueiro representa uma grave ameaça para as restingas
brasileiras. Ele prospera em solos arenosos e salinos nas áreas com luz solar
abundante e pancada de chuva regular (75-100 cm anualmente), características
típicas da restinga o que as torna como locais proprícios para a colonização.
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
42
2.1.8 - FAUNA
2.1.8.1 - Mastofauna
Populações estão continuamente se modificando ao longo do tempo devido a processos como nascimento, morte e dispersão e a regulação desses depende de interações dos indivíduos tanto com o ambiente como entre si (Ricklefs, 1996). Entender esse comportamento dinâmico e como os processos afetam as populações, principalmente a possibilidade de predizê-los e controla-los, são ferramentas indispensáveis para a conservação das espécies (Townsend et al., 2006). A mastofauna das formações de restinga é formada aparentemente por um subconjunto da fauna da Floresta Atlântica, não havendo uma fauna particular ou endêmica (Cerqueira et al. 1990). Isto parece ser o quadro geral para a fauna de restingas (Cerqueira, 1984). Em Sergipe, a escassez de publicações e estudos relacionados ao litoral norte do Estado demonstra a falta de interesse dos centros de pesquisas/pesquisadores pela região. Sabe-se que nessa região existem importantes fragmentos de mata atlântica, inclusive abrigando espécie pouco conhecida como o primata, Callicebus coimbrai, o macaco Guigó, com registros de incidência no município de Pirambu, Pacatuba e Japoatã. Consta como criticamente em perigo. Há de salientar que o nível de conhecimento sobre a biodiversidade é proporcionalmente bem melhor para a Mata Atlântica do que para os demais biomas (Lewinsohn & Prado, 2002), repercutindo assim também nos Ecossistemas.
2.1.8.1.1 - METODOLOGIA
Foram realizadas seis viagens de campo com uma equipe composta de três
pesquisadores e um funcionário da Fazenda Cordeiro de Jesus que permaneceu de
um a três dias em cada uma das incursões. A necessidade de se colocar um
“mateiro” (conhecedor prático da região) numa equipe de trabalho viabiliza a
logística e torna eficaz e eficiente a busca e as paradas estratégicas.
Todos os habitats foram percorridos, inclusive a área alagada mirando vestígios de
jacaré, capivara e preá, além de outros animais de hábito aquático.
As saídas a campo na RPPN foram realizadas principalmente durante o amanhecer
e o entardecer por serem estes os melhores horários de avistamento de mamíferos.
Também foram realizadas três saídas noturnas.
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
43
Nas saídas à campo percorreram-se trilhas para identificar local de abrigo, moradia
ou alimentação dos espécimes e registrar por observação direta ou por método
indireto (através de pegadas, fezes e restos mortais), as espécies que ocorrem na
área, utilizaram-se também ratoeiras para coleta de pequenos mamíferos que após
a identificação foram soltos no mesmo local de coleta.
2.1.8.1.2 - Caracterização Geral da Mastofauna
Entre as várias formas de se caracterizar a mastofauna, optou-se por avaliá-la
segundo três critérios, que sobejamente possuem interações recíprocas. São elas a
massa corporal, a locomoção e a alimentação. Um resumo de todas estas
informações é apresentado na tabela 9 e 10.
Tabela 9) Características Biológicas das espécies
Tabela 10) Lista de espécies de mamíferos registradas RPPN e suas características biológicas
2.1.8.1.3 - RESULTADOS e DISCUSSÃO
Características biológicas das espécies encontradas na RPPN
QUANTO AO PESO HÁBITO (HA)* LOCOMOÇÃO(LO)*
I .... >= 100 g II 101 >= 500 g III 501 >= 1000 g IV 1001 >= 5000 g V 5001 > …
pol = polínivoro ins = insetívoro omn = omnívoro car = carnívoro her = herbívoro fru = frugívoro hem = hematófago PIS = piscívora
arb = arborícola ter = terrestre saq = semi-aquático voa = voador fos = semi-fossorial esc = escansorial
NOME DA ESPÉCIE NOME POPULAR CP HÁ LO
Didelphis aurita Micoureus Travassosi Philander frenatus (Olfers, 1818)
gambá cuíca cuica
III/IV III / IV III / IV
fru / omn fru / omn fru / omn
esc esc esc
Nectomys squamipes Akodom cursor. Cavia aperea Dasyprocta agouti
rato de água rato da mata Preá Cutia
I / II I / II II / III IV / V
ins / omn ins / omn her Her / fru
saq ter saq fos
Glossophaga soricina Artibeus lituratus Platyrrhinus lineatus
morcego morcego
I I I
fru fru / ins
voa voa voa
Cerdocyon thous Pseudalopex vetulus
Cachorro do mato Raposa do campo
IV / V IV / V
omn omn
ter ter
Leopardus tigrinus Gato do mato IV car esc
Callithrix jacchus Sagui II / III omn esc
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
44
Os marsupiais identificados na RPPN, como o
gambá (Didelphis aurita) (Foto 5), o Micoureus
Travassosi (cuíca) e o Philander frenatus
(Olfers, 1818), pouco diferem entre si na
aparência, no tamanho e no uso das
diferentes „camadas‟ da mata (chão, sub-
bosque e copas). Necessita de estudos mais
aprofundados sobre os seus comportamentos.
No Brasil existem em torno de 46 espécies
desse grupo, distribuídas nos diferentes
biomas terrestres nacionais. Somente na mata
atlântica podem ser encontradas 23 espécies
de marsupiais, em função da complexa e
heterogênea estrutura desse bioma, que apresenta grande diversidade de micro-
hábitats, ou seja, áreas com características físicas e biológicas particulares.
As espécies de marsupiais são importantes na dinâmica das comunidades da mata
atlântica. Alguns desses animais, como o gambá ( Didelphis aurita ), a cuíca-lanosa
( Caluromys philander ) e a cuíca Micoureus travassosi , são eficientes dispersores
de sementes. Outros, entre eles o gambá, podem atuar como controladores das
populações de roedores silvestres.
A principal característica que diferencia esse grupo dos mamíferos placentários
(como o homem) é a gestação, que dura apenas alguma dias porque uma placenta
verdadeira não é formada. Os filhotes nascem em um estágio precoce de formação
e completam seu desenvolvimento em uma bolsa (denominada „marsúpio‟) ou em
pregas de pele que a fêmea tem no ventre. Existem diferenças também em aspectos
fisiológicos, morfológicos, ecológicos e evolutivos.
O gambá, possui um líquido fétido produzido por glândulas odoríferas que é
utilizado como meio de defesa quando perturbado. Outra estratégia para escapar
dos perigos é o comportamento de fingir-se de morto até que o atacante desista.
Alguns gambás são imunes ao veneno de serpentes, incluindo as jararacas,
cascavéis e corais, podendo atacá-las e ingeri-las. A maioria das espécies possui
hábitos noturnos e uma dieta onívora, que pode incluir frutos, artrópodes, néctar e
pequenos vertebrados.
Foto 5) Philander frenatus (Olfers, 1818) – Foto: L.P. Costa
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
45
Estes marsupiais podem pesar até 3 kg.
Apresentam garras em todos os dedos,
exceto no dedo opositor das patas
posteriores usado para agarrar e escalar
galhos. Apresentam vibrissas (pelos
sensoriais) bastantes desenvolvidas. A
cauda é geralmente longa e preênsil.
Sua ocorrência na RPPN Dona Benta e
Seu Caboclo foi anotada através de
visualização na área de mata ciliar e próximo a Lagoa do Avô. Sabe-se também da
sua ocorrência em regiões próximas a habitações humanas, entrando em chácaras,
quintais e até mesmo sobrevive em grandes centros urbanos. São ainda
confundidos por vezes com o cangambá ou zorrilho.
Rato d'água (Nectomys squamipes)
É um roedor pertencente ao gênero Nectomys. Tem coloração marrom escuro com
barriga de tom mais claro espesso e macio. A cauda é mais longa que o
comprimento do corpo e da cabeça. Os membros anteriores são mais curtos que os
posteriores e suas patas apresentam membrana interdigital.
É normalmente encontrado nas margens do Riacho do Sangradouro. Esta espécie
nada com bastante agilidade e constrói ninhos no chão junto a vegetação densa. É
hospedeiro de muitos parasitas perigosos para o homem. Desta forma, a presença
destes roedores nas áreas endêmicas deve sempre ser considerada nos programas
de controle da esquistossomose.
O rato da mata (Akodon cursor) (Foto 6) é uma espécie de roedor silvestre brasileiro
que habita a Mata Atlântica, estendo-se do
Paraná (Sudeste) até a Paraíba
(Nordeste). Geneticistas da Universidade
Federal do Espírito Santo realizaram
estudos de variabilidade genética e
cariotípica e sugerem que existe distinção
genética entre as populações do nordeste
e sudeste. No momento, não existem
evidências de se tratar de mais de uma
espécie, mas acredita-se que este seja um
caso de uma espécie em pleno processo de especiação. Possui hábitos terrestres,
insetívoro-onívoros, incluindo em sua dieta artrópodes e sementes.
Foto 6) gambá ( Didelphis aurita - foto: Maja Kajin
Foto 7) O rato da mata (Akodon cursor) – Foto: L.P. Costa
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
46
Sua identificação na RPPN ocorreu próximo à vegetação ciliar do Riacho do
Sangradouro e em parte da mata de restinga.
Glossophaga soricina (Pallas, 1766)
Glossophaga soricina é um morcego de tamanho
pequeno (Foto 8) que apresenta hábitos nectarífago.
Suas fêmeas são maiores que os machos. Esta
espécie se distribui do México ao Paraguai. Ele pode
ser encontrado numa vasta gama de habitats, que
vão de áreas áridas sub-tropicais à florestas tropicais,
estando presentes até em 2.600 metros a cima do
nível do mar. São conhecidos registros fósseis desta espécie do fim do Pleistoceno.
Morcego das frutas (Artibeus lituratus)
Uma de suas espécies em maior abundância de morcegos no Brasil. Possui grande porte, tendo relatos desde a região central do México até o nordeste do Brasil. Geralmente vivem em grupos compostos por 1 único macho e várias fêmeas e atuam no período nortuno. Procuram se refugiar-se nas folhagens ou em pequenas encostas. Na RPPN foram encontrados grupos na área de mata de restinga distante 100 metros da vegetação ciliar. A base da sua alimentação são frutos. Possui coloração parda com 4 listras brancas na cabeça, acima e abaixo dos olhos (Foto 9).
Morcego (Platyrrhinus lineatus) Como característica morfológica externa, apresenta as listras faciais e a dorsal brancas; pelagem de coloração geral cinza escuro e marrom-chocolate; orelhas arredondadas do mesmo tamanho da cabeça; folha nasal desenvolvida e lanceolada. Embora predominantemente frugívora, está espécie também se alimenta também de insetos, néctar, pólen e folhas (Willig & Hollander, 1987; Zortéa,
1993). Abriga-se em grutas e também sob a folhagem densa da floresta, incluindo folhas de palmeiras e outras plantas (Willig & Hollander, 1987). Na espécie já foi diagnosticada com o vírus rábico, a raiva (Foto 10).
Foto 8) Glossophaga soricina
(Pallas, 1766) – Fonte: Roberto
Leonam
Foto 9) Morcego das frutas (Artibeus lituratus) – Fonte: Roberto Leonam
Foto 10) Morcego (Platyrrhinus lineatus) – Fonte: Roberto Leonam
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
47
Na RPPN Dona Benta e seu Caboclo todas as três espécies foram identificadas em encosta e árvores próximo à vegetação ciliar.
O cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) é um mamífero da família dos canídeos, amplamente distribuído pela América do Sul. Tais animais, noctívagos, medem cerca
de 65 cm de comprimento, com pelagem cinza-clara de base amarelada, e faixa dorsal negra, que se estende da nuca à ponta da cauda.
São onívoros e oportunistas, e sua dieta consiste
de frutas, ovos, artrópodes, répteis,
pequenos mamíferos e carcaças de animais mortos. Também são conhecidos pelos nomes de aguaraxaim, cachorro-do-mato, graxaim, graxaim do mato e lobinho.
É comum avistar o animal na RPPN Dona Benta e Seu Caboclo ao entardecer (Foto 11). Não se avistou nenhum animal nas incursões realizadas na madrugada, ao que parece ser um animal que não utiliza toda a noite à procura de alimento. Ele também foi visto por diversas vezes nos povoados do entorno da RPPN geralmente à procura de presas domésticas mais fácil de capturar como galinhas, assim sendo, sua permanência em áreas urbanas constitui ameaça para sua vida pois o hábito dos moradores é proteger sua criação e com isso quase sempre acabam matando o cachorro-do-mato (Foto 12)
Gato-do-mato (Leopardus tigrinus)
Embora semelhante à jaguatirica, com a qual é
confundido, o gato-do-mato se distingue pelo pequeno
tamanho (Foto 13); é o menor dos felinos
silvestres brasileiros, e pelas manchas em
sua pelagem, rosetas parecidas com as da onça, porém
sem o desenho completo, mantendo geralmente um
lado aberto algo que realmente faz o gato-do-mato se
diferenciar da onça, por exemplo enquanto a
jaguatirica tem manchas alongadas, que dão à sua pele
a impressão de possuir listras.
Existem ocorrências de gatos-do-mato inteiramente negros, melânicos, ou seja, há
várias variações de coloração, e algo curioso é que uma gata de pelagem normal,
pintada por exemplo, pode ter filhotes negros, ou até de outras cores, que por sua
Foto 11) cachorro-do-mato ou guaraxaim (Cerdocyon thous) morto
– Fonte:
Foto 12) cachorro-do-mato ou guaraxaim (Cerdocyon thous)
Foto 13) Leopardus tigrinus – Fonte: L. P. Costa
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
48
vez tem descendência de pelagem normal, num processo que os cientistas ainda
não entendem muito bem sobre, mas também acontece com outros felinos como a
onça-pintada e a pantera, que também podem nascer negras (pantera-negra).
Se alimentam de ratos, pássaros e insetos, e medem cerca de 50 centímetros.
Sua gestação dura 70 dias, a prole consistindo de um a dois filhotes. Na RPPN pode
registrar duas vezes a visualização direta dessa espécie, porém não sendo possível
identificar se era o mesmo animal. Não é raro ouvir testemunhos de ataques desses
animais a galinheiro localizados nas propriedades no entorno da RPPN.
Raposa do Campo
Uma raposa pode viver até 10 anos, mas a maioria
sobrevive por apenas 2 ou 3 anos devido à caça,
atropelamentos e doenças. São canídeos ligeiramente
menores que um cão de tamanho médio (Foto 14). Os
machos pesam, em média, 5,9 kg e as fêmeas pesam
um pouco menos, por volta de 5,2 kg. Suas características físicas mais marcantes
são seu focinho fino e alongado, a cauda peluda e as orelhas eretas. Outras
características variam segundo as adaptações ao habitat onde esses animais vivem.
O feneco (uma raposa do deserto), por exemplo, possui corpo pequeno, pelagem
curta e orelhas grandes, que ajudam a irradiar o calor. Por outro lado, a raposa do
ártico, habitante da tundra e do gelo polar, desenvolveu pelagem branca e densa,
além de orelhas curtas.
As raposas são caçadoras oportunistas e apanham suas presas vivas. A técnica de
caça mais comum, aprimorada desde a juventude, é pular sobre a presa para matá-
la rapidamente. A dieta da raposa é ampla e variada e inclui, além de pequenos
mamíferos (como roedores e coelhos), répteis, anfíbios, insetos, aves, peixes, ovos
e frutas silvestres. O excesso de alimento é armazenado pela raposa para consumo
posterior, geralmente enterrado no solo, sob folhas ou sob a neve. Por caçarem
apenas o suficiente para alimentar um animal, as raposas são predadoras solitárias
e não se reúnem em grupos. Ainda pouco se sabe da sua convivência com o
cachorro do mato, porém registraram-se visualmente na RPPN, indivíduos das duas
espécies no mesmo dia ao entardecer distante cerca de 100 metros um do outro.
Foto 14) Pseudalopex vetulus – Fonte: L. P. Costa
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
49
O sagüi-de-tufos-brancos (Callithrix jacchus) é uma espécie de macaco do Novo
Mundo. Sua origem é do nordeste do Brasil, mas atualmente é encontrado também
no sudeste e demais áreas, além de criado em cativeiros em diversos países.
Caracterização
É o sagui mais conhecido e comum.
São animais de pequeno porte com
peso entre 350 e 450 gramas,
pelagem estriada na orelhas e
mancha branca na testa. Coloração
geral do corpo acinzentado-claro com
reflexos castanhos e pretos. A cauda
é maior do que o corpo e tem a
função de garantir o equilíbrio do
animal (Foto 15).
Habita a caatinga e o cerrado, em formações arbóreas baixas. Mas se adaptam
muito bem em outras formações florestais e em áreas urbanas. São animais
agitados e curiosos, podendo se tornar agressivos caso se sintam ameaçados.
Podem se contaminar com doenças comuns a animais domésticos nas áreas
urbanas, inclusive havendo a possibilidade de se tornarem agentes transmissores de
raiva.
Hábitos
Tem hábitos diurnos e costumam viver em grupos. Raramente descem ao solo. São
adaptados à vida saltatória arbórea, com locomoção vertical pelos troncos.
O tamanho da área ocupada por seu bando varia 0,005-0,065 km ² (0,002-0,03 km ²)
e é selecionado com base nas densidades de árvores de goma. Embora eles não
viajem grandes distâncias durante o dia, saguis estão ativos por 11 a 12 horas por
dia, geralmente de 30 minutos após o nascer do sol até cerca de 30 minutos antes
do por do sol (Stevenson & Rylands, 1988; Kinzey 1997). Depois de deixar seu local
de sono, saguis alimentam intensamente durante cerca de uma hora e depois
passam o resto do dia alternando entre alimentação, descanso e socialização
(Stevenson & Rylands, 1988). Eles passam cerca de 35% do seu tempo em
movimento e á procura de alimentos, 10% nas atividades sociais, 12% alimentação
e em 53% de seu tempo permanecem parados (Kinzey 1997). O grupo dorme unido,
em um local em segurança dos predadores.
Alimentação
Alimentam-se de insetos, aranhas, pequenos vertebrados, ovos de pássaros, frutos
e são também gumívoros (alimentam-se da goma exsudada de troncos que roem
com seus incisivos inferiores, de árvores gumíferas). Esta goma serve de fonte
Foto 15) Callithrix jacchus – Fonte: L. P. Costa
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
50
de carboidratos, cálcio e algumas proteínas. Dispende cerca de 25 a 30% de seu
tempo ativo, procurando por alimentos.
Reprodução
Nas fêmeas a maturidade sexual é atingida aos 18 meses e nos machos aos 24. O
período de gestação varia entre 140 a 160 dias, depois de um ciclo estral de cerca
de 15 dias. Nascem dois filhotes a cada gestação. Os filhotes são grandes. Com
duas semanas de vida começam a experimentar frutas maduras, sem deixar a
amamentação (até os 2 meses). O pai, como em outros saguis, ajuda carregando os
filhotes que agarram-se muito bem para qualquer um dos pais, sendo transferidos
para a mãe na hora da alimentação. Aos 21 dias, os jovens começam a explorar um
pouco, mas andam nas costas de seus pais até a idade de 6-7 semanas.
Manifestações sonoras
Quando é ameaçado, emite guinchos muito agudos, alertando o grupo. Protegem o
território de outros grupos com sons fortes.
É comum a presença da espécie em grupo nas áreas da RPPN como também
próximos aos Povoados do entorno. Os animais observados diretamente
apresentavam comportamentos ariscos evitando a aproximação de qualquer
membro da equipe.
O preá (Cavia aperea)
É um roedor de ampla distribuição
na América do Sul, do gênero Cavia,
família dos caviídeos. Mede cerca de 25
cm de comprimento. Possuem pelagem
cinzenta, corpo robusto, patas e orelhas
curtas, incisivos brancos e cauda ausente.
Também é conhecido pelo nome de bengo
(Foto 16). É aparentado com o porquinho-
da-índia (Cavia porcellus).
É predada por aves de rapina, cobras, canídeos e felinos selvagens, bem como cães
e gatos domésticos de propriedades rurais. A base da sua alimentação constitui-se
de gramíneas. Foi registrados próximos a Lagoa do Avô e utilizam bromélias como
refúgio-moradia.
Foto 16) Cavia aperea – Fonte: J.Carraro
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
51
Cutia (Dasyprocta acouti)
O gênero Dasyprocta recebe vários nomes
populares: cutia, acuchi, acouti, aguti e acuti.
São mamíferos roedores de pequeno porte, medindo
entre 49 e 64 centímetros. Sete espécies de cutias
habitam o território brasileiro (Foto 17).
As cutias têm apenas vestígio de cauda,
extremidades anteriores bem mais curtas que as
posteriores, e pés compridos com cinco dedos, sendo três desenvolvidos,
com unhas cortantes equivalentes a pequenos cascos e o quinto dedo muito
reduzido. Herbívoras, as cutias se alimentam de sementes e frutos. Costumam fazer
uma coleta cuidadosa na época de abundância para utilização em épocas de
escassez. Sua coloração é variável entre as espécies.
A sua pelagem apresenta um efeito especial, aparentando ser dourada. Cada pelo
possui zonas de várias cores, desde branco a castanho escuro. Este efeito de
zonagem, comum em muitos outros animais tais como o lobo-cinzento, é causado
por uma substância chamada eumelanina, que, durante o crescimento do pelo, é
produzida de forma intermitente, dando origem a esse efeito. Por esta razão, é
usada a designação "aguti" para se referir genericamente a este efeito na pelagem
dos animais. Sua identificação na RPPN se deu de forma direta e indireta sendo que
todos os registros foram anotados próximos a Lagoa do Avô, indicativo que a
espécie utiliza daquela fonte para saciar a sede.
2.1.8.1.4 - DISCUSSÃO
O inventário e os estudos realizados sobre os mamíferos na RPPN enfatizaram
roedores, marsupiais, morcegos, canídeos e felinos, cobrindo toda a sua área e
abrangendo também uma zona de aproximadamente 100 metros pós-limites da
reserva. Tal avanço ocorreu devido à equipe se concentrar em pontos estratégicos
(áreas altas e com boa visibilidade) para possibilitar uma melhor visualização da
área de vegetação ciliar, mata de restinga e vegetação aquática, sendo esta última
em parte na Lagoa do Avô.
Foram identificadas 14 espécies, pertencentes a oito famílias de cinco ordens
(QUADRO 3.25). Entretanto, este número está subestimado, já que faltam coletas
sistematizadas com maior abrangência na RPPN (BERGALLO et al., 2004).
A formação onde se encontrou maior riqueza de espécies (12) foi a mata de
restinga, resultado que reflete a complexidade e heterogeneidade desse ambiente,
que proporciona um maior número de nichos. Em seguida a vegetação ciliar com 10
Foto 17) Dasyprocta acouti – Fonte: J. Carraro
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
52
registros e a vegetação aquática com 3. Acredita-se que uma das prováveis causa
da semelhança de riqueza de espécies da vegetação ciliar com a mata de restinga
seja a preservação das duas formações e a não existência de nenhum separador
entre elas, fazendo uma única formação vegetacional quando vista numa escala
maior.
No Quadro 3, encontram-se os principais tipos de vegetação analisadas e na tabela
11 a lista de todas as espécies de mamíferos registradas até o momento na RPPN.
Quadro 9) Formações Vegetacionais
Formações vegetacionais
vc = vegetação ciliar mr = mata de restinga va = vegetação aquática
Tabela 11) Lista de espécies de mamíferos registradas RPPN e local de registro
Ordem Família Nome da espécie Nome Popular Formação vegetal
Didelphimorphia Didelphidae Didelphis aurita Micoureus Travassosi Philander frenatus
Gambá Cuíca Cuíca
vc + mr vc + mr vc + mr
Rodentia Muridae Caviidae Dasyproctidae
Nectomys squamipes Akodom cursor Cavia aperea Dasyprocta agouti
Rato de água Rato da mata Preá Cutia
va vc + mr mr + va mr
Chiroptera Phyllostomidae
Glossophaga soricina Artibeus lituratus Platyrrhinus lineatus
Morcego morcego
vc + mr vc vc + mr
Carnívora Canidae Felidae
Cerdocyon thous Pseudalopex vetulus Leopardus tigrinus
Cachorro do mato Raposa do campo Gato do mato
vc + mr + va vc + mr mr
Primatas Callitrichidae Callithrix jacchus Mico estrela vc + mr
Na RPPN Dona Benta e Seu Caboclo, foram capturadas três espécies de morcegos pertencentes à família Phyllostomidae que possuem ampla distribuição geográfica (BERGALLO et al., 2004). Sendo assim, a região constitui não apenas uma área de interesse para
conservação devido à presença de espécies endêmicas ou de distribuição restrita,
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
53
mas ainda como um importante reservatório de espécies de mamíferos terrestres da
Mata Atlântica.
Desta forma, ainda que a capacidade de dispersão e a geralmente vasta extensão de área de vida das espécies que compõe este grupo (Ordens Carnívora, Artiodactyla, Perissodactyla, Xenarthra, Lagomorpha e parte de Rodentia) torne possível sua presença nesta área, a pressão de caça e ocupação humana pode levá-las à extinção local.
2.1.8.1.5 - Espécies Ameaçadas de Extinção
A espécie encontrada e identificada em perigo de extinção foi o carnívoro
Leopardus trigrinus (Schreber, 1775) Gato-do-mato, conforme consta na Portaria no-
444, de 17 de dezembro de 2014.
Esta espécie apresenta indícios de que sua população está decrescendo pelo
excesso de exploração e destruição extensiva de habitats ou por outro distúrbio
ambiental, podendo inclusive reduzir a ponto de não apresentarem condições de
recuperação sem a intervenção humana.
2.1.8.1.6 - Espécies Exóticas e Potencialmente
Danosas
As espécies exóticas e cosmopolitas devem ser entendidas aqui como aquelas de
caráter doméstico ou sinantrópico, ou seja, cuja existência na área de estudo tem
haver com a presença humana. Cabe destaque a maciça presença do cachorro
doméstico Canis familiaris, não apenas nas áreas urbanas vizinhas, como no interior
da RPPN. Esta espécie tem sido apontada como uma das principais pragas em
áreas florestais, decorrente de cães que invadem áreas florestais sozinhos ou em
pequenas matilhas (v. Oliveira et al., 2008), quando não conseguem atacar grandes
espécies de animais silvestres, os acuam, causando estresse e fazendo com que se
movimentem para outras áreas, tornando-os mais expostos à caça e atropelamento.
2.1.8.1.7 - Espécies Migratórias
Existem indícios, no entanto, de que os mamíferos neotropicais realizam algum tipo
de deslocamento sazonal, como tem sido suspeitado no caso de espécies de
morcegos. Para a área de estudo, variações populacionais sazonais podem ser
esperadas para algumas espécies de morcegos da família Phyllostomidae por
exemplo o Platyrrhinus lineatus, como já observado para outras regiões do Brasil
(Bianconi, 2003; Bianconi et al., 2004).
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
54
2.1.8.1.8 - Espécies Indicadoras de Qualidade
Ambiental
Os mamíferos podem ser divididos segundo sua capacidade de tolerância as
alterações ambientais em espécies estenóicas/aloantrópicas e
eurióicas/sinantrópicas. No grupo das espécies estenóicas, estão os mamíferos
dependentes do ambiente natural, não tolerando grandes alterações no mesmo, por
sua vez as aloantrópicas não toleram a presença humana, quando essa se traduz na
alteração do ambiente; ambos são indicadores de boa qualidade do meio em que
vivem.
No segundo grupo, o das espécies eurióicas e sinantrópicas, estão os táxons com
grande “plasticidade ecológica”, que não só toleram a alteração ambiental como
podem se favorecer da mesma, aumentando suas populações. Este é o caso de
alguns marsupiais, por exemplo o. gambá (Didelphis albiventris) e até mesmo de
carnívoros mais generalistas, como exemplo o cachorro-do-mato (Cerdocyon thous);
em geral muito comuns e abundantes em ambientes secundários.
Contudo, é importante frisar que não é a presença ou ausência de determinadas
espécies que podem indicar a boa ou má qualidade do ambiente, mas sim a
composição do conjunto ao ser comparada com outras áreas, sabidamente melhor
preservadas, ou com histórico de alteração menos intenso.
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
55
2.1.8.2 - AVIFAUNA
Diversas espécies de aves, migratórias e residentes, utilizam a faixa litorânea
durante seu ciclo de vida, para obtenção de alimento, reprodução e ponto de pouso,
sendo estas indicadoras de condições ambientais (ELLENBERG 1981, HAHN etal.
1989). Apesar de já existir trabalhos sobre as aves do nordeste brasileiro, (e.g.
COELHO 1978), ainda é bastante escasso os estudos avifaunísticos no estado de
Sergipe.
Dentre os ambientes que compõem a faixa litorânea, a avifauna da restinga é
caracterizada por elementos que se encontram também em outras paisagens
abertas e meio abertas.
A RPPN Dona Benta e Seu Caboclo não possui uma listagem de suas aves. Neste
sentido, o principal objetivo deste trabalho foi a elaboração da listagem da avifauna
desta unidade de conservação, através da visualização e/ou vocalização,
contribuindo assim, para subsidiar políticas de conservação desses recursos.
2.1.8.2.1 - MATERIAL E MÉTODOS
Área de Estudo:
As atividades de campo foram realizadas na Área da RPPN Dona Benta e Seu
Caboclo e visualmente no seu entorno. A RPPN envolve 24,6 ha, onde ocorrem
diversos ambientes caracterizados pela presença de dunas, vegetação ciliar, mata
de restinga e charcos em expansão. As dunas formam uma barreira de 500 metros
com a largura variando entre 200 e 400 metros. Segundo a classificação de Koppen,
apresenta clima tropical chuvoso com verão seco, seguido por regime pluviométrico
caracterizado por irregularidades tanto mensal quanto anual. O regime de ventos
tem uma orientação E-SE no inverno e NE no verão (MARRA 1989).
Esta pesquisa teve duração de seis meses, compreendendo as estações seca e
chuvosa, com expedições mensais de dois dias cada, entre março de 2011 a
agosto/2011.
O levantamento da avifauna foi realizado por análise qualitativa através de
observações visuais e sonoras, de acordo com (ALMEIDA et al. 1999), com o auxílio
de binóculo (Samsung 10 X 25 mm), entre os horários das cinco às dez horas da
manhã e três as seis da tarde, durante caminhadas pela área da RPPN ou nos
pontos construídos para observação.
Para avaliar a diversidade da avifauna da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo,
utilizaram-se os Índices de Shannon-Wiener e de Eqüitabilidade, de acordo com
MAGURRAN (1988).
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
56
Quanto ao grau de sensibilidade a distúrbios ambientais, as espécies foram
classificadas segundo PARKER III et al. (1996).
As aves migratórias foram identificadas de acordo com HARRISON (1983) e
HAYMAN et al. (1986) e, as demais, foram registradas utilizando SICK (1997). A
listagem das espécies está apresentada conforme o Comitê Brasileiro de Registros
Ornitológicos – CBRO (2006), a ordem filogenética segue SICK (1997).
2.1.8.2.2 - RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram registradas 17 famílias e 83 espécies para a RPPN Dona Benta e Seu
Caboclo (Quadro 4). Espécies observadas em, no máximo, quatro das doze visitas
perfizeram um percentual de 64,7% do total observado, sendo a grande maioria.
A diversidade da avifauna da RPPN foi de (H´= 3,2) e a equitabilidade (E = 78,2%).
Segundo MAGURRAN (1988) o Índice de Shannon-Wiener varia de 1,7 a 3,7,
podendo raramente ultrapassar o valor de 4,5, e a eqüitabilidade varia entre 0 e
100%, onde 100% indica espécies igualmente abundantes no ambiente. Os valores
revelam uma alta diversidade de espécies, as quais apresentam distribuição
relativamente equilibrada.
As espécies migrantes apresentaram um percentual de 17,7% (n=14) do total de
espécies registradas, sendo elas: Pluvialis squatarola (Linnaeus, 1758); Charadrius
semipalmatus (Bonaparte, 1825); Actitis macularius (Linnaeus, 1766); Arenaria
interpres (Linnaeus, 1758); Tringa melanoleuca (Gmelin, 1789); Catoptrophorus
semipalmatus (Gmelin , 1789); Calidris pusilla (Linnaeus, 1766); Calidris alba (Pallas,
1764); Numenius phaeopus (Linnaeus, 1758); Limnodromus griséus (Gmelin, 1789);
Stercorarius parasiticus (Linnaeus, 1758); Sternula antillarum (Lesson, 1847); Sterna
hirundo (Linnaeus, 1758) e Thalasseus sandvicensis (Latham, 1787).
ALEIXO & VIELLIARD (1995) consideram o status de vagante (com registro em
apenas uma visita) para Fregata magnifi cens (Mathews, 1914), Actitis macularia
(Linnaeus, 1766), Tringa melanoleuca (Gmelin, 1789), Numenius phaeopus
(Linnaeus, 1758), Limnodromus griseus (Gmelin, 1789), Stercorarius parasiticus
(Linnaeus, 1758), Sternula superciliaris (Vieillot, 1819) e Sternula antillarum (Lesson,
1847).
PARKER III et al. (1996), explicam que taxas considerados vagantes ou ocasionais,
com baixa frequência de ocorrência, podem estar relacionadas à sensibilidade
dessas espécies a possíveis alterações ambientais, levando a um registro
esporádico; a baixa densidade populacional na área e espécies com vocalizações
pouco conspícuas.
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
57
Os dados obtidos sugerem a importância da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo para
manutenção dessas aves, sendo ainda, sítio de invernada para migrantes boreais,
sua conservação é de extrema importância para estas populações (Tabela 12).
Quadro 10) Gráfico % das famílias identificadas
Tabela 12) Relação das espécies de aves registradas na RPPN Dona Benta e Seu Caboclo, através de observação direta e vocalização, conforme legenda: status = ST, residente = R e visitante sazonal oriundo do hemisfério norte (VN) conforme CBRO (2006), E = espécie endêmica do Brasil; e grau de sensibilidade a distúrbios ambientais = S: baixa sensibilidade = l, média sensibilidade = m e alta sensibilidade = h, segundo PARKER III et al. (1996).
Especies Nome Vulgar ST S
Anatidae
Dendrocygna viduata (Linnaeus, 1766) irerê R l
Anatinae
Amazonetta brasiliensis (Gmelin, 1789) pé-vermelho R l
Anas bahamensis (Linnaeus, 1758) marreca-toicinho R l
Procellariidae
Calonectris diomedea (Scopoli, 1769) bobo-grande R l
Fregatidae
Fregata magnificens (Mathews, 1914) tesourão R h
Ardeidae
Butorides striata (Linnaeus, 1758) socozinho R l
Bubulcus ibis (Linnaeus, 1758) garça-vaqueira R l
Ardea alba (Linnaeus, 1758) garça-branca-grande R l
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10 QUANTIDADE FAMÍLIAS
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
58
Egretta thula (Molina, 1782 ) garça-branca-pequena R l
Tigrisoma fasciatum (Such, 1825) socó-boi-escuro R
Cathartidae
Cathartes aura (Linnaeus, 1758) urubu-de-cabeça-vermelha R l
Cathartes burrovianus (Cassin, 1845) urubu-de-cabeça-amarela R m
Coragyps atratus (Bechstein, 1793) urubu-de-cabeça-preta R l
Falconidae
Caracara plancus (Miller, 1777) carcará R l
Falco sparverius Linnaeus, 1758 quiriquiri R l
Rallidae
Porphyrio martinica (Linnaeus, 1766) frango-d‟agua-azul R l
Charadriidae
Vanellus chilensis (Molina, 1782) quero-quero R l
Pluvialis squatarola (Linnaeus, 1758) batuirucu-de-áxila-preta VN l
Charadrius semipalmatus (Bonaparte,
1825)
batuira-de-bando VN m
Charadrius wilsonia (Ord, 1814) batuira-bicuda R m
Charadrius collaris (Vieillot, 1818) batuira-de-coleira R h
Haematopodidae
Haematopus palliatus (Temminck, 1820) piru-piru R m
Scolopacidae
Actitis macularius (Linnaeus, 1766) maçarico-pintado VN l
Arenaria interpres (Linnaeus, 1758) vira-pedras VN h
Tringa melanoleuca (Gmelin, 1789) maçarico-de-perna-amarela VN l
Catoptrophorus semipalmatus (Gmelin,
1789)
maçarico-de-asa-branca VN m
Calidris pusilla (Linnaeus, 1766) maçarico-rasteirinho VN m
Calidris alba (Pallas, 1764) maçarico-branco VN m
Numenius phaeopus (Linnaeus, 1758) maçarico-galego VN m
Limnodromus griseus (Gmelin, 1789) narceja-de-costas-brancas VN h
Jacanidae
Jacana jacana (Linnaeus, 1766) jaçanã R l
Stercorariidae
Stercorarius parasiticus (Linnaeus, 1758) mandrião-parasitico VN l
Sternidae
Sternula superciliaris (Vieillot, 1819) trinta-réis-anão R h
Sternula antillarum (Lesson, 1847) trinta-réis-miudo VN m
Sterna hirundo (Linnaeus, 1758) trinta-réis-boreal VN m
Thalasseus sandvicensis (Latham, 1787) trinta-réis-de-bando VN h
Columbidae
Columbina passerina (Linnaeus, 1758) rolinha-cinzenta R l
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
59
Columbina minuta (Linnaeus, 1766) rolinha-de-asa-canelada R l
Columbina squammata (Lesson, 1831) fôgo-apagou R I
Leptotila rufaxilla (Richard & Bernard,
1792)
juriti-gemedeira R
Psittacidae
Aratinga solstitialis (Linnaeus, 1766) Jandaia-amarela R m
Amazona amazônica Papagaio do mangue R h
Forpus xanthopterygius (Spix, 1824) tuim R l
Cuculidae
Crotophaga ani (Linnaeus, 1758) anum-preto R l
Guira guira (Gmelin, 1788) anum-branco R l
Accipitridae
Rostrhamus sociabilis (Vieillot, 1817) gavião-caramujeiro R l
Rupornis magnirostris (Gmelin, 1788) gavião-carijó R l
Buteo albicaudatus (Vieillot, 1816) gavião-de-rabo-branco R l
Buteo brachyurus (Vieillot, 1816) gavião-de-cauda-curta R m
Trochilidae
Glaucis hirsutus (Gmelin, 1788) balança-rabo-de-bico-torto R l
Chlorestes notata (Reich, 1793) beija-flor-de-garganta-azul R l
Chlorostilbon lucidus (Shaw, 1818) besourinho-de-bico-
vermelho
R l
Eupetomena macroura (Gmelin, 1788) beija-flor-tesoura R l
Phaethornis ruber (Linnaeus, 1758) rabo-branco-rubro R m
Amazilia fimbriata (Gmelin, 1788) beija-flor-da-garganta-verde R l
Alcedinidae
Ceryle torquatus (Linnaeus, 1766) martim-pescador-grande R l
Chloroceryle amazona (Latham, 1790) martim-pescador-verde R l
Chloroceryle americana (Gmelin, 1788) martim-pescador-pequeno R l
Picidae
Picumnus fulvescens (Stager, 1961) pica-pau-anão-canela R h
Thamnophilidae
Taraba major (Vieillot, 1816) choro-boi R l
Furnariidae
Furnarius figulus (Lichtenstein, 1823) casaca-de-couro-da-lama R l
Tyrannidae
Capsiempis flaveola (Lichtenstein, 1823) marieninha-amarela R l
Fluvicola nengeta (Linnaeus, 1766) lavadeira-mascarada R l
Arundinicola leucocephala (Linnaeus,
1764)
frierinha R l
Pitangus sulphuratus (Linnaeus, 1766) bem-te-vi R l
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
60
Myiozetetes similis (Spix, 1825) bentevi-de-penacho-
vermelho
R l
Tyrannus melancholicus (Vieillot, 1819) suiriri R l
Conopias trivirgatus (Wied, 1831) bem-te-vi-pequeno R m
Hemitriccus zosterops (Pelzeln, 1868) maria-de-olho-branco R h
Todirostrum cinereum (Linnaeus, 1766) ferreirinho-relógio R l
Empidonomus varius (Vieillot, 1818) peitica R l
Hirundinidae
Tachycineta albi venter (Boddaert, 1783) andorinha-do-rio R l
Mimidae
Mimus gilvus (Vieillot, 1807) sabiá-da-praia R l
Fringillidae
Cyanocompsa brissonii (Lichtenstein,
1823)
Azulão R I
Coerebidae
Coereba flaveola (Linnaeus, 1758) cambacica R l
Thraupidae
Thraupis sayaca (Linnaeus, 1766) sanhaçu-cinzento R l
Thraupis palmarum (Wied, 1823) sanhaçu-do-coqueiro R l
Compsothraupis loricata (Lichtenstein,
1819)
carretão R l
Emberezidae
Ammodramus humeralis (Bosc, 1792) tico-tico-do-campo R l
Volatinia j acarina (Linnaeus, 1766) tziu R l
Cardinalidae
Saltator maximus (Statius Muller, 1776) têmpera-viola R l
Strigidae
Athene cunicularia (Molina, 1782) coruja-buraqueira R l
COTINGINAE
Carpornis melanocephala (Wied, 1820) sabiá-pimenta R E
2.1.8.2.3 - Conservação
A fragmentação da região onde localiza-se RPPN Dona Benta e Seu Caboclo
representa perda de habitats e grande ameaça à fauna (Sick 1997; Pizo 2001), visto
que os fragmentos restantes podem ser pequenos demais para conter uma área
suficientemente viável que garanta a sobrevivência das espécies originalmente
presentes na região (Ricklefs 2003). Isto pode ser observado na área estudada pela
ausência de espécies indicadoras de equilíbrio ambiental. A expansão da
monocultura do coqueiro juntamente com a falta de alternativa para as comunidades
locais em utilizar sustentavelmente os recursos oferecidos pelo ambiente restinga
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
61
são os principais fatores que geram o desmatamento e consequentemente a
fragmentação na região.
2.1.8.2.4 - Espécies ameaçadas de extinção
Foram identificadas 3 espécies ameaçadas (Tabela 13) na área de estudo (CBRO e
Bird Life International / IUCN - 2010):
Tabela 13) Espécies ameaçadas
ESPÉCIE NOME POPULAR GRAU DE AMEAÇA
Aratinga solstitialis (Linnaeus, 1766) Jandaia-amarela Em perigo
Carpornis melanocephala (Wied,
1820)
sabiá-pimenta Vulnerável
Picumnus fulvescens (Stager, 1961) pica-pau-anão-
canela
Quase ameaçada
2.1.8.2.5 - Educação Ambiental e Ecoturismo
Vale salientar que a maioria das espécies identificadas é de fácil observação, o que
estimula o visitante a procurar pelas aves. Sugere-se que pode-se incluir a atividade
de observação das aves em um roteiro de visitação ou até mesmo em paradas
estratégicas nas trilhas dentro da RPPN. Do ponto de vista ornitológico, a RPPN
possui potencial turístico, porém agregando este potencial aos outros atrativos
presentes na área enriquece o roteiro como um todo.
Segundo Souza (1991), a Várzea é constituída por um mosaico avifaunístico, pois
além das espécies comuns nas áreas úmidas alagadas e nas matas de restinga
também encontramos espécies da caatinga e da mata atlântica, o mesmo autor
destaca para o endemismo de Mimus gilvus (sabiá da praia), espécie que poderá
desaparecer do local caso as matas de restingas sejam destruídas.
A área também é parada obrigatória para aves migratórias (devido ao seu conjunto
de ambientes: lagoa, mata de restinga e vegetação ciliar.
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
62
2.1.8.3 - "FAUNA MACROBENTÔNICA ASSOCIADA À
MATÉRIA ORGÂNICA ALÓCTONE EM LAGOAS COSTEIRAS DO LITORAL
NORTE SERGIPE".
Os ecossistemas da Zona Costeira de maior relevância são: os estuários os
manguezais e as lagoas costeiras, bem como os banhados e as áreas úmidas
costeiras. Dentre eles podemos citar os estuários como extensões de água costeira
com uma comunicação livre como mar, portanto fortemente afetados pela atividade
das marés. Neles se misturam água do mar (em geral de forma mensurável) e água
doce de drenagem terrestre (ODUM et al, 1988).
Segundo Cunha (1999), Zona Costeira é o espaço geográfico de interação do ar, do
mar e da Terra, seus recursos ambientais, aquáticos e terrestres, compreendem
uma grande variedade de ecossistemas, que se apresentam na transição entre
ambientes terrestres e marinhos.
A Zona costeira de Sergipe é caracterizada pela presença de um costão arenoso de
baixa declividade, constantemente batido pelas ondas, com ausência de formações
rochosas.
2.1.8.3.1 - Lagoas Costeiras
No Brasil, lagoas próximas ao litoral apresentam na composição química da água
uma influência marinha, carregada de íons oriundos da evaporação marinha. Lagoas
costeiras demonstram concentrações maiores de Na+, Mg+ e Cl-, em relação aos
lagos interiores. Lagos litorâneos, que recebem aporte de água do mar nos períodos
de marés altas, estão ainda mais concentrados.
No geral as lagoas costeiras possuem pequena taxa de renovação de águas, com
longo tempo de residência, são efêmeras na escala de tempo geológico e sua
existência depende principalmente das flutuações do nível do mar e da interferência
humana (FERNANDEZ, 1994). Existem diversas formas de lagoas em nosso país,
algumas são abertas para o oceano e por isso são lagoas com características de
águas salobras, outras são corpos fechados que, mesmo costeiros, são de água
doce, (NASCIMENTO, 2010).
Para Esteves (1998a), “Lagoas costeiras são ecossistemas presentes em todos os
continentes sendo áreas de acentuada importância para as populações humanas em
função dos recursos alimentares através da pesca e, também, por apresentarem
excelentes áreas de lazer”.
2.1.8.3.2 - Lagoas no Estado de Sergipe
Embora as lagoas costeiras sejam das feições mais típicas do litoral brasileiro,
raramente têm sido estudadas de forma científica.
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
63
Os principais estudos foram realizados em lagoas do litoral fluminense (OLIVEIRA,
1948, Oliveira et al, 1955a, b), mas sem incluir aspectos cíclicos de nutrientes. Mais
recentemente estudos abordando aspectos geoquímicos (AZEVEDO, 1984,
PATCHINEELAM et al, 1984) e biogeoquímicos (ESTEVES et al, 1983-84) tem sido
realizados nessas lagoas. São estes últimos trabalhos os primeiros a abordar a
ciclagem de nutrientes nestes ambientes.
Esteves et al (1983-84), ao partir de levantamentos realizados em 14 lagoas
costeiras do litoral norte do Estado do Rio de Janeiro, propôs um modelo para a
ciclagem de nutrientes nesses ecossistemas. Segundo o modelo proposto, a
pequena profundidade das lagoas, as altas temperaturas e o regime de ventos,
resultariam na não estratificação da coluna d‟ água e na mineralização acelerada
dos nutrientes incorporados biologicamente, diminuindo a acumulação de matéria
orgânica nos sedimentos e aumentando a produtividade fitoplanctônica. Resultados
obtidos em outros estudos de sistemas lagunares, tem demonstrado a grande
variabilidade destas condições, de acordo com as características hidrográficas da
lagoa.
Knoppers et al (1984), estudaram a distribuição de matéria orgânica e suspensão de
nutrientes na Lagoa da Conceição em Santa Catarina. Resultados mostraram
grande variação espacial dos parâmetros dosados, indicando a grande influência da
morfologia lagunar sobre a distribuição e também sobre a ciclagem de nutrientes
nestes ecossistemas. Resultados reforçaram a restrição à generalização quanto ao
padrão de ciclagem de nutrientes em lagoas costeiras.
Fazem parte desse estudo, a lagoa A, Encantada, localizada na Unidade de
Conservação RPPN Dona Benta e Seu Caboclo e duas lagoas, citadas como Lagoa
B (Tamar) e C (Rebio) que estão localizadas na sede da Reserva Biológica de Santa
Isabel em Pirambu e base do Projeto Tamar. Nossa hipótese de estudo verifica se a
oferta de matéria orgânica alóctone (folhas) da flora nativa do entorno das lagoas é
uma oferta recurso que disponibiliza refúgio ou alimento (energia) aos macro
invertebrados bentônicos.
Objetivo geral - Avaliar a composição fauna macro bentônica associada à matéria
orgânica alóctone na Lagoa Encantada localizada na RPPN Dona Benta e Seu
Caboclo, no município de Pirambu litoral Norte Sergipe.
Objetivos específicos
- Medir e avaliar os parâmetros físicos – químico da qualidade na Lagoa Encantada.
- Identificar a fauna macro bentônica associada ao processo de decomposição de
matéria orgânica.
- Avaliar o consumo da matéria orgânica alóctone.
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
64
2.1.8.3.3 - MATERIAIS E MÉTODOS
Localização e caracterização da Área de Estudo
O estudo foi realizado na Lagoa A, Encantada, da RPPN, situada a 10° 38‟51”S e
36º 46‟19,3” W, com altitude de 7.6 metros, (Figura 1), mapa de localização do
município de Pirambu.
A lagoa em estudos são consideradas como: uma lagoa permanente ou perene, de
águas claras, conhecida como lagoa Encantada, localizada na Reserva Particular do
Quadro 11) Mapa de localização do Município de Pirambu com destaque em verde para as áreas de estudo - Fonte: Atlas Digitais-SEMARH
Foto 19) Lagoa Encantada, cheia no início do estudo – Fonte: Augusta
Foto 18) Lagoa Encantada, secando no final do estudo – Fonte: Augusta
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
65
Patrimônio Nacional Dona Benta e Seu Caboclo, no Povoado Lagoa Redonda
município de Pirambu.
2.1.8.3.1.1 - Caracterização da lagoa estudada.
A Lagoa Encantada (Foto 19 e 20) é uma lagoa permanente, localizada no povoado
de Lagoa Redonda, no entorno da Reserva Biológica de Santa Isabel e dentro da
RPPN Dona Benta e Seu Caboclo.
A lagoa, A, Encantada, assim chamada pelos habitantes do povoado de Lagoa
Redonda, Município de Pirambu possui uma maior área aquática, mais distante do
mar entre as lagoas existentes. Essa lagoa é uma das belas lagoas perenes que
existem na região, considerada um dos cartões postais do município.
No entorno da Lagoa Encantada temos grandes dunas e mata nativa preservada. Os
impactos ambientais observados in loco foram: plantação semi-irrigada de
coqueiros, algumas construções e moradias, estrada vicinal de pouco movimento, e
ocorrência de banhistas turistas. A área é pouco frequentada para banhos e há
ocorrência de introdução de uma espécie exótica da Amazônia, o tambaqui.
Para parametrizar os dados encontrados pesquisou-se também em mais duas
lagoas só ambas temporárias situadas na Reserva Biológica de Santa Isabel.
2.1.8.3.1.2 - Matéria orgânica alóctone da
vegetação do entorno
Para a realização desta atividade dividiu-se em procedimentos de coleta e
identificação das folhas da vegetação do entorno da lagoa, inseridas em 5 bolsas de
telas verdes com malhas de 2 mm por lagoa. Nas coletas de curta duração 1 bolsa
era retirada e repostas novas folhas em nova bolsa em intervalos de 30 dias, nas
bolsas de longa duração a cada intervalo de 90 dias era retirada uma bolsa para
análise das folhas.
Para o experimento, foram utilizados sacos de malha plástica de 20×50 cm, com 2,0
mm de abertura, seguindo as recomendações de Pompêo; Moschini-Carlos (2003),
costurados com nylon e com cinco furos de mais ou menos 3cm em um dos lados
para facilitar o acesso dos macros invertebrados (Foto 20 e 21).
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
66
Foram coletadas dez folhas de espécies vegetais diferentes (n=10), presentes no
entorno da lagoa.
Os sacos foram colocados em cada lagoa separados a uma distância de 4 metros
da margem da lagoa e fixados numa estaca a uma profundidade de 30 cm da
superfície. Entre os meses de maio a novembro de 2011, os sacos foram coletados.
Na lagoa foram colocadas três bolsas com as folhas selecionadas, uma sendo
substituída cada trinta dias nos meses de junho a novembro, com novas folhas
verdes, uma bolsa retirada com três meses e a outra com seis meses.
A cada coleta foi realizada a avaliação do consumo e a identificação e quantificação
da fauna macro bentônica associada, (Tabela 14).
Tabela 14) Espécies coletadas durante o estudo na Lagoa Encantada
Planta Nome Científico Nome Popular
01 Curatela americana Cajueiro bravo, caimbé
02 Kielmeyera rugosa Leiteira
03 Tetracera breyniana
04 Sapium glandulosum
05 Coccoloba laevis
06 Manilkara salzmanni Maçaranduba vermelha
07 Myrciasp Murta
08 Lafoensia pacari
09 Harcornia speciosa Mangaba
10 Anonna sp
Bolsa com folhas verdes dentro da lagoa (Fonte:
Augusta)
Foto 21) com folhas verdes dentro da lagoa – Font: Augusta
Foto 20) Bolsa confeccionada para colocar as espécies de folhas – Fonte: Augusta
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
67
2.1.8.3.1.3 - Análise dos parâmetros físico-
químico da água
Nos locais onde foram colocadas as bolsas com as folhas também realizou as
medições de pH, temperatura, oxigênio dissolvido e salinidade, condutividade,
sólidos totais e potencial redox (ORP), com o Multiparâmetro HANNA HI 9828. Após
obtenção de dados, foram inseridos em tabelas previamente elaboradas.
A salinidade é um dos mais importantes fatores ambientais que determinam a
colonização e a biodiversidade nas lagoas costeiras devido à introdução de água da
chuva nesses ambientes, fazendo com que a salinidade presente nas mesmas tenha
uma variabilidade estacional, a salinidade também irá variar em função da
contribuição da água costeira (durante a maré alta) por meio de canais abertos
natural ou artificialmente, ou por meio da contribuição de ventos (spray marinho).
Para realização das análises foi utilizado o Laboratório de Conservação e
Biodiversidade da Universidade Federal de Sergipe.
Potencial hidrogeniônico – pH - A medida do pH representa a concentração de
íons hidrogênio em uma solução. Este parâmetro é de grande importância, na
colonização de seres vivos nos ambientes pesquisados e em processos de
tratamento de água.
Temperatura - A variável temperatura tem significativa relevância no estudo da
qualidade da água, influenciando nos processos físicos, químicos e biológicos. A
temperatura afeta as comunidades bióticas. A alteração da temperatura se dá
através de vários fatores, o vento é um fator de grande influência, atua sobre a
superfície da água, transferindo energia para as camadas inferiores das lagoas.
Sólidos Totais-Tds/PPM - Os sólidos se referem a materiais em suspensão ou
dissolvidos no corpo hídrico.
Oxigênio dissolvido – OD - O OD é um parâmetro de grande importância
especialmente por ser o principal elemento no metabolismo dos micro-organismos
aeróbios. Tanto na legislação de classificação das águas naturais como na
composição de índices de água (IQAs). Esse parâmetro foi utilizado para a
determinação da concentração de oxigênio dissolvido em águas.
Salinidade - É um parâmetro indicador da influência marinha ou da abundância de
cloretos decorrentes de processos poluentes.
Condutividade Elétrica - A condutividade elétrica é um parâmetro que fornece uma
relação íntima de sólidos dissolvidos adicionados às águas nos mananciais. Valores
elevados podem indicar a presença de elevadas concentrações de sais na água.
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
68
ORP (Potencial OX-REDOX) - Potencial Redox é a habilidade de uma molécula,
átomo ou íon perder elétrons para outra molécula, átomo ou íon ganhar elétrons.
Redox é uma relação entre oxigênio e nutrientes dissolvidos na água. Um agente
oxidante (no caso, oxigênio) oxida nutrientes; isto significa que o oxigênio será
reduzido, ou seja, ganhará elétrons enquanto que os nutrientes serão oxidados,
perdendo elétrons.
O Potencial Redox é uma medida em milivolts (Mv) da concentração de oxidantes;
em sistemas marinhos deve ser entre 300 e 500 Mv.
Em água salgada quanto mais alta for a temperatura e salinidade, menor será a taxa
de oxigênio dissolvido ; aquários em boas em condições podem apresentar taxas de
oxigênio até 8 mg/l.
Todas as análises foram realizadas através do equipamento HI 9828 Multiparameter
Water Quality Portable Meter, da HANNA Instruments (Foto 22).
Para as análises dos dados coletados foram
aplicados testes estatísticos (ANOVA) e Kruskal-
Wallis.
Análise da fauna macro bentônica associada
Outro procedimento foi realizado no laboratório,
triagem dos vegetais para identificação e
quantificação da fauna macro bentônica
associada, observada nas folhas coletadas nas
lagoas. As triagens dos vegetais foram
realizadas manualmente, lavados com água corrente para a remoção de sedimentos
e de outros detritos aderidos, particularmente nas folhas.
Para essa finalidade foram utilizadas luvas, bandejas rasas, peneiras de malha,
pinças, caixa quadrada de madeira com vidro na superfície e luz dentro, e com uma
bandeja de plástico em cima para separação da fauna, envolvida no processo de
decomposição das folhas coletadas mensalmente. (POMPÊO & MOSCHINI-
CARLOS 2003).
A fauna macro bentônica foi selecionada, quantificada e posteriormente
acondicionada em álcool a 70º para fixação, rotulada com data de coleta, local de
amostragem e unidade amostral (POMPÊO & MOSCHINI-CARLOS 2003).
Foto 22) : Aparelho utilizado para análise da água – Fonte: Augusta
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
69
2.1.8.3.4 - RESULTADOS E DISCUSSÃO
2.1.8.3.4.1 - Caracterização físico, químico e
biológica da lagoa
A cobertura vegetal permite a redistribuição da água da chuva no meio físico pois,
influencia no amortecimento, no direcionamento e retenção das gotas das chuvas
que chegam ao solo, afetam a dinâmica do escoamento superficial e o processo de
infiltração (ARCOVA; CICCO,1999).
Na Lagoa Encantada o leito é coberto por espécies de juncos. Observou-se que os
valores de pH ao longo das coletas (Tabela 15), apresentou variação nos valores
mínimos de 6,64 e máximo de 7,81, para Lagoa A. O valor está dentro dos padrões
exigidos para e qualidade de água Portaria nº 518/2004 do Ministério da Saúde para
consumo humano e animal. Recomenda que o pH da água esteja na faixa de 6,0 a
9,5 no sistema de distribuição. Já na classe I, águas doces da Resolução CONAMA
357/05 deve manter-se dentro da faixa favorável para o desenvolvimento da biota
conforme estudos realizados por Esteves (1998b), entre 6,0 a 9,0.
Tabela 15) Distribuição dos valores de pH na Lagoa Encantada.
Mês / Valor
Jun Jul Ago Set Out Nov Média Desvio Padrão
6,75 6,64 7,29 7,81 7,61 7,36 7,24 0,46
A qualidade de um ambiente aquático pode ser definida como um conjunto de
concentração de substâncias orgânicas e inorgânicas, além da composição e o
estado da biota aquática encontrada no corpo d´água em termos espaciais e
temporais (MEYBECH e HELMER, 1992). Considerando que a qualidade da água
refere-se a padrão tão próximo possível ao natural, torna-se imprescindível a
determinação de parâmetros indicadores de qualidade (BRANCO 1991). Outros
valores tais como temperatura, oxigênio dissolvido, potencial redox, sólidos totais
são variáveis que conferem parâmetros de qualidade da água para a fauna aquática,
(Callixto 2002).
Temperatura
Valores de temperatura das lagoas nos dias de coletas: na A variou de (25,38º C a
29,42º C). Estes valores são característicos para os períodos de coleta e confere
com os dados de literatura do Nordeste do Brasil, ou seja, não possui características
peculiares em relação a sua parte do litoral, conforme valores da temperatura
(Tabela 16).
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
70
Todavia, temperaturas elevadas são típicas dos corpos aquáticos tropicais
(KLEEREKOPER, 1994; TUNDISI, 1995; CALIJURI, 1998). De forma semelhante
aos demais corpos aquáticos do Nordeste Brasileiro e aos ambientes lenticos
tropicais em geral. A variação pode ser explicada, conforme Payne (1986), quando
este fenômeno associa-se principalmente à temperatura ambiente, a qual exerce
considerável efeito no metabolismo do corpo aquático, favorecendo o crescimento e
reprodução da biota aquática, proporcionando maior rapidez na reciclagem de
nutrientes e decomposição da matéria orgânica. (ESTEVES et al., 1998; TUNDISI et
al, 1999).
Tabela 16) Distribuição dos valores de temperaturas (º C) na Lagoa Encantada
Mês / Valor
Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Média Desvio Padrão
27,68 27,89 25,72 25,58 25,38 29,04 29,42 27,24 1,69
Sólidos Totais - Tds/ppm
Em relação aos sólidos totais, o valor encontrado na Lagoa A Encantada variou de
24,0 ppm em maio, inicio do inverno, e máximo de e 50,0 ppm no verão, (Tabela 17).
Em estudos realizados por Albertone e Esteves (1999), demonstraram que a
decomposição da matéria orgânica vegetal que gera composto (ácidos húmicos e
fúlvicos) estes são mineralizados mais lentamente e, portanto são mais solúveis em
água. Isto ocorre, principalmente, em lagoas cuja alimentação origina-se
basicamente do lençol freático das Dunas, como é o caso da Lagoa Encantada.
Tabela 17) Distribuição dos valores de Sólidos Totais (ppm) na Lagoa Encantada - medidos no Multiparâmetro HANNA HI 9828.
Mês / Valor
Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Média Desvio Padrão
24 28 29 30 50 35 34 32,86 8,41
Oxigênio Dissolvido
Na tabela 10 observa-se que as porcentagens dos valores de oxigênio dissolvido
variaram de 59,5 a 66,5 na Lagoa A, 22,4a 50,3 na Lagoa B e 43,1 a 104,6 na Lagoa
C, quando avaliou os valores médios da lagoa A 62 (%), indicam que há
produtividade e solubilidade de oxigênio atmosférico, enquanto as lagoas B e C há
um comprometimento na produção de oxigênio e dissolução, este dado é reforçado
uma vez que as temperaturas e pH estão estáveis (Tabela 18). Há um outlier no
mês de julho, relacionado há possível erro de medição e calibração do
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
71
Multiparâmetro. Ao eliminarmos estes outliers as variações desaparecem, indicando
que devemos descartar estas medições.
Tabela 18) Distribuição dos valores em porcentagem de Oxigênio Dissolvido (%) na Lagoa Encantada, com valores temperatura corrigidos tabela 9. Multiparâmetro HANNA HI 9828.
Mês / Valor
Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Média Desvio Padrão
62,4 61,0 65,4 66,5 59,5 60,1 61,1 62,29 2,68
Através do teste de Kruskal-Wallis, uma vez que os dados não apresentaram
variâncias iguais, onde, H= 8,66, Graus de Liberdade= 2 e (P)= 0,01, sendo
significativo. Sua diferença existe nas lagoas A e B, recomendando a retirada dos
outliers, referente às medições de julho.
O oxigênio é um elemento de grande importância para o homem como também para
toda fauna e flora que dele utiliza-se para a sua sobrevivência e manutenção do
meio.
Uma das características mais importantes da água é a capacidade de solubilização
de gases, especialmente o oxigênio, cujas concentrações influem decisivamente no
funcionamento dos ecossistemas aquáticos, em suas comunidades e no balanço de
vários nutrientes (SCHÄFER, apud NASCIMENTO, 2006).
Salinidade - Os valores de salinidade nas lagoas variaram durante o período de
amostragem, com pequena flutuação (Tabela 19). Os valores de salinidades foram
0,02 e 0,05 na Lagoa A, 0,05 e 0,20 na Lagoa B, 0,06 e 0,14 na Lagoa C, segundo a
Resolução CONAMA n° 357/2005 as águas doces devem ter salinidade igual ou
inferior a 0,5 ppm.
Tabela 19) Distribuição dos valores de salinidades (ppm) na Lagoa Encantada
Mês / Valor
Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Média Desvio Padrão
0,02 0,02 0,03 0,03 0,05 0,03 0,03 0,03 0,01
Através do teste de Kruskal-Wallis, uma vez que os dados não apresentaram
variância, iguais, onde, H = 10,44, Graus de Liberdade = 2 e (P) = 0,005, é
significativo. Sua diferença existe nas lagoas A e B, A e C.
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
72
As características naturais da Lagoa A, com grande contribuição do lençol freático
como também a evaporação, precipitação e isolamento total do mar, sem influência
da maré favorecem baixos valores de salinidades.
Condutividade Elétrica (CE) - Uma determinada solução aquosa tem capacidade
de conduzir corrente elétrica. Essa habilidade pode ser medida que é a
condutividade elétrica, que representa a capacidade da água em conduzir corrente
elétrica.
Segundo Esteves (1998b) a condutividade elétrica está relacionada à capacidade de
uma solução conduzir corrente elétrica, sendo que esta pode variar em função da
concentração de íons presentes na água. Conforme a tabela 20, as Lagoas A,
Encantada, B, Tamar e C, Rebio em suas amostragens apresentaram valores de
condutividade elétrica que variaram de 48 a 100µS/cm, na Lagoa A, 114 a 425,
Lagoa B e 134 a 295, na Lagoa C, esses valores foram crescentes no decorrer das
coletas, porém, não foram muito elevados.
Tabela 20) Distribuição dos valores de condutividade elétrica na Lagoa Encantada.
Mês / Valor
Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Média Desvio Padrão
48 56 59 61 100 70 68 66 16,7
Através do teste de Kruskal-Wallis, uma vez que os dados não apresentaram
variância, iguais, onde, H = 10,52, Graus de Liberdade = 2 e (P) = 0,005, é
significativo. Sua diferença existe nas lagoas A e B, A e C.
A redução destes valores pode estar relacionada à contribuição das chuvas como
também do lençol freático ali encontrado nas dunas que estão ao redor do
manancial. O acúmulo da água da chuva serve como contribuinte direto para a
lagoa.
A Lagoa B, Tamar apresentou os maiores valores, isto pode estar relacionado a
reduzida profundidade da mesma, essa maior concentração dos íons ali presentes
pode estar relacionado a influência da margem e os aportes de sedimentos que
contribuem para o aumento dos íons na coluna d´água.
Os valores de CE e Cl-, também podem estar relacionados a ação dos ventos, pois
a região onde localiza-se a lagoa é litorânea, precisamente a poucos metros do meio
marinho que usualmente esta carregado com íons Na+, Mg2+e Cl-, são arrastados
pela interferência das precipitações marinhas e através do spray marinho chegam ao
continente (Esteves, 1998b).
ORP (Potencial OX-REDOX) - Causas para um baixo potencial redox:
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
73
- aquários superpopulados: - grande produção de nutrientes e, alto consumo de
oxigênio no processo de oxidação.
- baixa movimentação da água principalmente na superfície.
- filtros sujos.
- skimmers ineficientes.
- altos níveis de nitrato.
Tabela 21) Distribuição dos valores de ORP na Lagoa Encantada.
Mês / Valor
Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Média Desvio Padrão
129,3 15,1 -9,3 65,0 48,1 55,4 -4,2 42,77 48,05
Através do teste de Kruskal-Wallis, uma vez que os dados não apresentaram
variância, iguais, onde, H = 2,55, Graus de Liberdade = 2 e (P) = 0,27, não é
significativo.
Tabela 22) Condições do tempo na Lagoa Encantada, durante as coletas realizadas.
Mês / Condições do tempo
Mai Jun Jul Ago Set Out Nov
Nublado c/chuvisco
Nublado c/momentos
de sol
Totalmente nublado
Sol Nublado c/muito vento
Sol Sol
2.1.8.3.5 - Análise da fauna macro bentônica
associada
Os macro invertebrados foram identificados e quantificados ao longo das coletas,
realizadas durante os meses de Junho a Novembro nas lagoas estudadas.
As tabelas 23 e 24 a seguir, com a identificação dos macro invertebrados, possuem
na sequência das identificações uma letra significando seu táxon, selecionados por
“C” representando Classe, “O” Ordem, “SF” Super Filo e “SO” Super Ordem,
(BARNES, 2005). A tabela 23 apresenta a abundancia da fauna macro bentônica.
Tabela 23) Identificação da fauna macro bentônica na Lagoa Encantada, Pirambu - SE
Período Jun Jul *Ago Set Out *Nov 3-MESES 6-MESES
Coleoptera (O) -- -- -- -- -- -- 1 --
Crustacea (SF) 1
1 1 1 1 -- 1
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
74
Diptera (O) 15 84 116 75 30 11 88 160
Odonata (O) 3 -- 14 5 2 -- 10 --
Oligoqueta (C) -- -- 4 1 -- -- 4 --
Abundância 19 84 135 82 33 12 103 161
Coleta das folhas que estavam na lagoa durante: * 90 dias -- ** 180 dias
Na lagoa estudada foram identificados macro invertebrados descritos a seguir.
Quantidade de Coleoptera de 01, na coleta de três meses no mês de agosto. As
quantidades de Diptera identificadas apresentaram variação de 11 a 160 na Lagoa.
Em relação aos Odonatas, encontrou-se na Lagoa 02 na quinta coleta e a maior
quantidade de 14 na terceira coleta no mês de agosto, A quantidade de Oligoquetas
identificadas apresentou variação nas quantidades de 01 a 04.
Os macro invertebrados identificados apresentou uma quantidade de Crustacea de
01, na coleta dos meses de junho, agosto, setembro, outubro, novembro e na coleta
de seis meses. Não foi observada a presença de Gastropoda e Hemiptera na Lagoa.
Tabela 24) Abundância da fauna macro bentônica nas Lagoas Encantada e nas Lagoas B e C.
Lagoas Lagoa
Encantada
Tamar
Lagoa B
Rebio
Lagoa C
Diptera (O) 579 541 1662
Oligoqueta (C) 9 466 81
Gastropoda (C) -- 50 62
Odonata (O) 34 52 54
Bivalvia (C) -- 17 34
Coleoptera (O) 1 192 30
Heteroptera (SO) -- -- 19
Hemiptera (O) -- 62 9
Hephemeroptera (O) -- -- 8
Tricoptera (O) -- -- 4
Crustacea (SF) 6 -- 1
Total 629 1380 1964
Em relação à abundância da fauna macro bentônica nas lagoa, observou-se que
apresentou uma valores pequenos com relação a outras Lagoas já estudadas na
região porém mais próximas do oceano. Alguns fatores podem sugerir boas
respostas.
A perenidade, maior volume, maior distância da costa e a presença do cultivo de
uma espécie de peixe exótica são fatores importantes a serem investigados na
Lagoa Encantada. Serem temporárias, maior quantidade de matéria orgânica
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
75
disponível, proximidade com a costa e a presença nos entornos de animais de
criação podem responder o fato da maior abundância nas outras.
Avaliação degradação da matéria orgânica alóctone nas lagoas
O consumo da matéria orgânica, (degradação, decomposição), foi diferente nas três
lagoas avaliadas. Os mesmos fatores responsáveis à maior abundância da fauna
macro bentônica já relatados, podem responder ao maior consumo vegetal nas
lagoas B e C. Como também já citado, uma maior diversidade faunística, representa
mais necessidade tanto alimentar, quanto refúgio de predadores.
A tabelas 25 a seguir, demonstram um menor consumo na lagoa perene e, maior
nas lagoas temporárias, B e C.
As siglas nas tabelas se referem ao nível do consumo de cada espécie vegetal
ofertada, sendo NA (Não Atacada), A (Atacada) e AS (Atacada Superficialmente).
Tabela 25) Análise qualitativa da decomposição foliar na Lagoa Encantada
Planta Nome científico Jun Jul Ago Set Out Nov Ago*
3-meses
Nov**
6-meses
01 Curatela americana NA NA NA NA NA NA NA NA
02 Kielmeyera rugosa NA NA NA NA NA NA NA AS
03 Tetracera breyniana NA NA NA NA NA NA AS AS
04 Sapium glandulosum A A A A A A A A
05 Coccoloba laevis NA NA NA NA NA NA AS AS
06 Manilkara salzmanni NA NA NA NA NA NA NA AS
07 Myrciasp NA NA SA NA NA NA AS AS
08 Lafoensia pacari NA NA NA NA NA NA NA NA
09 Harcornia speciosa NA NA NA NA NA NA AS AS
10 Anonna sp NA NA NA NA NA NA AS AS
Coleta das folhas que estavam na lagoa durante *90 dias -- ** 180 dias
As fotos a seguir demonstram as espécies e seu relativo consumo em cada lagoa
estudada.
Lagoa Encantada - as Fotos 4 e 5, apresentam a espécie Sapium glandulosum
(sapium) da Lagoa A, que foi a mais decomposta nos períodos das coletas.
Foto 24) Sapium glandulosum, no momento da coleta – Fonte: Augusta
Foto 23) Sapium glandulosum, um mês após coleta – Fonte: Augusta
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
76
2.1.8.3.5 - CONCLUSÕES
Os resultados obtidos no estudo das Lagoas Encantada, Tamar e Rebio permitiram
avaliar que os ambientes onde as lagoas estão inseridas, são diversificados em
relação à localização, suas temporariedades e aos impactos relevantes a que estão
sujeitas as lagoas. A Lagoa Encantada, permanente, e próxima ao povoado de
Lagoa Redonda, tem a maior área aquática e está em altitude 60 m.a.n.m. pode ser
classificada com lagoa referência, pois apresentou os melhores valores de OD,
variando entre 59.5 a 66.5, esta variação pode estar relacionada com a grande
quantidade da espécie junco que se encontra submersa em uma grande parte da
lagoa. O junco Eleocarys spp é responsável pela assimilação fotossintética e
produção de oxigênio. Podemos mencionar a presença de nascentes de água dos
complexos dunares que dali emerge, com isso pode haver o aumento da
concentração de oxigênio no meio aquático. Também a agitação dos ventos na
superfície provoca trocas gasosas com a atmosfera, e como o referido manancial
encontra-se a alguns metros da ação marinha, este pode ser fator importante para o
aumento do OD.
A identificação da fauna macro bentônica presente nas amostras estudadas revela
também algumas diferenças entre as lagoas. Na Lagoa Encantada, foi identificado o
menor número de táxons (5) e unidades presentes nas amostras coletadas, 658 no
total, com Dípteras, Odonatas e Crustáceos os mais representativos, observando
também a presença de Oligoquetas e um Coleóptero. Vale citar que 91 % da fauna
macro bentônica identificada, pertence à Ordem Diptera. Foi observado a ausência
de Gastrópodes, Bivalves, Heteroptera, Hemiptera, Hefemeroptera e Tricoptera,
presentes nas outras lagoas pesquisadas. Estudos mais focados poderiam revelar
as conclusões obtidas nesse item, mas a perenidade da lagoa, uma maior qualidade
da água aliada à presença impactante de uma espécie exótica cultivada, possam ser
razões conclusivas quanto à diversidade do ambiente aquático.
Na lagoa Encantada, a espécie Sapium glandulosum, foi a visualmente mais
decomposta nas coletas periódicas. Na lagoa B, Tamar, duas espécies foram mais
consumidas, o popular “grageru” Chrysobalanus icaco e a espécie conhecida
vulgarmente por “feijão branco” a Carpparis flexuosa. Já as espécies de “aroeirinha”
Schinus terebentifolius e a “malva” Sida cordifolia foram, como observado nas
coletas, totalmente consumidas ou decompostas. Na lagoa C, Rebio, a espécie
“grageru” Chrysobalanus icaco demonstrou uma decomposição maior nas coletas
periódicas, e a espécie conhecida como “pororoca” ou “acácia amarela”, Sesbania
virgata, sempre estava totalmente decomposta nas coletas realizadas
periodicamente.
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
77
2.1.8.4 - LEVANTAMENTO ICTIOLÓGICO NA LAGOA
ENCANTADA
O presente trabalho é um levantamento preliminar para caracterização ictiológica da
Lagoa Encantada localizada na RPPN Dona Benta e Seu Caboclo município de
Pirambu no Estado de Sergipe.
A área de estudo, apresenta, devido à proximidade com o mar, clima quente e
úmido, exposto aos alísios do sudeste. As temperaturas médias anuais são
elevadas, com máximas em torno dos 27º C e mínimas em torno de 23º C. O índice
pluviométrico médio é de 1.250 mm (Rodrigues,1996) e o maior período de
precipitação ocorre entre março e agosto.
Na área e no entorno da lagoa há predominância dos campos de várzea, compostos
de plantas higrófilas e plantas hidrófilas como a Montrichardia funifera (Aninga) e
Cyperus articulatus (junco) (Franco, 1983).
Em relação aos solos da área de estudo, verifica-se a presença de Podzol e areais
quartzosas marinhas distróficas (Embrapa, 1999).
Os trabalhos de ictiofauna visam subsidiar a confecção do Plano de Manejo na
RPPN Dona Benta e Seu Caboclo.
2.1.8.4.1 - METODOLOGIA
A captura dos peixes foi realizada com os seguintes petrechos de pesca:
1) Conjunto de redes de emalhar com malhas de 3, 4, 5, 6, 7, 8, 10 cm (entre nós
opostos), visando amostragem quantitativa.
2.1.8.4.1.1 - Processamento em campo
Os peixes capturados foram fixados em solução de formol a 10% e acondicionados
em bombonas plásticas adotando-se os seguintes procedimentos: a) separação dos
peixes para cada tipo de petrecho de pesca, sendo que para as redes de emalhar
isso foi feito para cada tamanho de malha; b) os exemplares pequenos, até cerca de
5-6 cm de comprimento, foram acondicionados inteiros; c) nos exemplares de médio
porte, acima de 6 cm, realizou-se uma incisão abdominal no sentido caudocranial
desde a abertura genital até as brânquias (para facilitar a penetração da solução
fixadora) e ainda procedeu-se a perfuração da bexiga gasosa para se evitar que os
mesmos flutuassem na solução; d) alguns exemplares de porte médio receberam
também injeções com a solução de formol principalmente nas regiões de maior
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
78
massa muscular. Para os procedimentos em campo procurou-se levar em conta as
instruções contidas em Britski (1967) e Oyakawa & Esteves (2004).
2.1.8.4.1.2 - Procedimento em laboratório
Todo material ictiológico coletado foi transportado para laboratório, onde passou
pelos os seguintes procedimentos:
a) Todos os peixes capturados por cada tipo de petrecho de pesca (no caso de
redes de emalhar, por tipo de malha), por local, por data, foram identificados
utilizando e principalmente as chaves de identificação contidas em Britski et al.
(1984) e os nomes científicos atualizados de acordo com Reis et al. (2003);
b) Dos peixes capturados por cada petrecho de pesca (no caso de redes de
emalhar, por tipo de malha), por local, por data, foram anotados a quantidade e o
peso por espécie (em kg).
2.1.8.4.1.3 - Capturas por unidade de esforço em
número e biomassa de peixes
A abundância relativa da pesca com redes de emalhar foi determinada através de
captura por unidade de esforço (CPUE), definida como o somatório do número
(CPUEn) ou biomassa (CPUEb, em kg) de peixes/100 m2 das redes empregadas/13
horas (Santos, 1999), conforme as equações abaixo:
CPUEn = captura em número em 100 m2 por unidade de esforço;
CPUEb = captura em biomassa (kg) em 100 m2 por unidade de esforço;
N = número de peixes capturados para um determinado tamanho de malha;
n = tamanhos de malha empregados (3, 6, 7, 10, 12 e 14);
B = biomassa (kg) dos peixes capturados para um determinado tamanho de malha;
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
79
E = esforço de pesca para um dado tamanho de malha (área de rede empregada)
durante o tempo de exposição.
2.1.8.4.2 - RESULTADOS
Foi capturado um total de 8 espécies, considerando-se todos os tipos de petrechos
utilizados (tabela abaixo):
Tabela 26) Espécies encontradas na Lagoa Encantada
Existe relatos verbais da ocorrência de introdução da espécie exótica da Amazônia,
o tambaqui (Colossoma macropomum), o qual foi introduzido na Lagoa por pessoas
da Comunidade Lagoa Redonda através de orientação dos Técnicos da
CODEVASF, para combate natural do caramujo.
As espécies mais capturadas, por tipo de malha de rede, estão relacionadas abaixo:
Tabela 27) Espécies capturas por tipo de malha e rede
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
80
Os rendimentos das redes de emalhar utilizadas na captura dos peixes foram os
relacionados na tabela abaixo:
Tabela 28) Rendimento das redes de pesca
Em relação às capturas por unidade de esforço do conjunto das redes de emalhar
(malhas 3, 4, 5, 6, 7, 8, 10, 12, 14 e 16 cm), considerando-se o número de peixes
capturados/100 m2 redes/13 horas (CPUEn) e biomassa de peixes capturados/100
m2 redes/13 horas (CPUEb), como mostram a tabela e a figura a seguir, nota-se
que:
Tabela 29) Relação captura e biomassa
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
81
Quadro 12) Gráfico Quanto a CPUEn
a) Quanto a CPUEn, as espécies dominantes foram por ordem decrescente:
Astyanax bimaculatus (piaba Marituba) e Cichlasoma sanctifranciscense (cará).
b) Quanto a CPUEb, as espécies dominantes foram por ordem decrescente:
Astyanax bimaculatus (piaba Marituba) e Hoplias malabaricus (traíra).
2.1.8.4.3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho é um levantamento preliminar para caracterização Ictiológico da
Lagoa Encantada localizada na RPPN Dona Benta e Seu Caboclo.
Das 8 espécies capturadas, 7 eram autóctones, 1 alóctones (Metynnis maculatus) e
1 exótica (Oreochromis niloticus).
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
82
Salientamos que a tilápia (Oreochromis niloticus) e o pacu (Metynis maculatus) já
estão estabelecidos na Lagoa Encantada.
Quanto ao número de indivíduos capturados, as espécies predominantes foram
Astyanax bimaculatus e Hoplias malabaricus.e quanto à biomassa, as espécies
predominantes foram Astyanax bimaculatus e Hoplias malabaricus.
Verifica-se pelos dados apresentados, uma preocupação de que novas espécies
invasoras estejam se estabelecendo na região, podendo competir ou predar as
espécies nativas, desconfigurando o habitat natural da lagoa em estudo.
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
83
2.1.9 - Patrimônio Cultural Material e Imaterial
As áreas do litoral norte do Estado de Sergipe foram ocupadas de modo intensivo
por populações pré-históricas, as quais deixaram vestígios de sua presença em
inúmeros locais, já identificados por pesquisadores. A presença humana remonta-se
à épocas muito anteriores aos registros documentais existentes. Ainda mesmo que
não se tenha descoberto nenhum sambaquis, os sinais da presença de grupos
coletores, pescadores e caçadores, além de horticultores-ceramistas aparecem em
cacos de cerâmicas descobertos em 3 possíveis sítios localizados no pós-praia entre
os Municípios de Pirambu e Pacatuba.
Historicamente, as terras litorâneas que ficavam entre os Rios Japaratuba e São
Francisco eram utilizadas para criação de animais, principalmente bovinos. A RPPN
Dona Benta e Seu Caboclo está contida nessa área.
O primeiro registro de um proprietário da imensa gleba entre os Rios mencionados
cita o nome do Sr. João de Barros Cardoso e sua esposa Beatriz de Lima Barros
que venderam para o Convento do Carmo da Bahia em 26/10/1650 os:
“seis cítios de currais que começão no rio japaratuba na barra delle junto ao
mar, correndo para o Norte, e Rio de São Francisco, a saber: O CITIO DO
CATÚ, O CITIO DE S. ISABEL, o qual é aquele em que esteve o Silveira, o
CITIO DA SUBPESIMA, O CITIO DO TUJUPAR, O CITIO DOS TAPUIAS, O
CITIO DA PPIÓCA...” (SILVA, 2002, p. 47)
Deve ser considerado patrimônio cultural imaterial associado ao Plano de Manejo da
RPPN Dona Benta e Seu Caboclo os saberes mantidos pelas populações locais
sobre práticas tradicionais de manejo ambiental e sobre o uso medicinal, alimentar e
artesanal da flora e fauna protegidas pela UC. Este patrimônio imaterial deve ser
entendido como parte da herança histórica deixada pelos habitantes que interagiram
com os europeus desde o início da colonização deste litoral.
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
84
2.1.10 - VISITAÇÃO
A RPPN Dona Benta e Seu Caboclo permitirá a visitação pública com fins de
educação e interpretação ambiental, de recreação e do Ecoturismo.
A visitação na RPPN será desenvolvida com o objetivo de propiciar ao visitante o
contato com a natureza e a oportunidade de conhecer os atributos e valores
ambientais protegidos pela UC. Além destas motivações, vem crescendo nos últimos
anos a demanda de visitas com objetivos específicos de pesquisa.
Além das construções existentes que darão suporte à visitação (casa sede,
alojamento e área de camping), existem trilhas (fotos 26 e 27) que permitem um
conhecimento mais aprofundado do ambiente de restinga juntamente com o
encantamento das paisagens naturais existentes, onde destacamos:
- O Riacho do Sangradouro;
- a vegetação ciliar;
- a mata de restinga;
- a lagoa do Avô;
- o mirante, e;
- a fauna.
A outra partindo da Fazenda Cordeiro de Jesus e terminando no Riacho do
Sangradouro, dentro da UC. A visitação é desenvolvida desde 2001, sendo a
observação de aves e a caminhada o passeio mais procurado. A média de visitas
Foto 26) Visitante na Trilha da RPPN – Fonte: Ju Almeida
Foto 26) Visitante Cadeirante preparando para a trilha - , Fonte: Ju Almeida
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
85
em 2011 foi de aproximadamente 650 pessoas, na sua maioria acadêmicos
desenvolvendo trabalhos de campo nas áreas afins.
As trilhas foram caracterizadas obedecendo a critérios técnicos como:
- distância;
- obstáculos encontrados;
- o que o visitante deve levar;
- o que o visitante vai observar;
- idade mínima permitida;
- quantidade máxima de pessoas por grupo/dia, e;
- suporte oferecido ao visitante.
A Fazenda Cordeiro de Jesus, mantenedora da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo e
pioneira em recepcionar visitantes na região, oferece serviços diversos e criou
outros atrativos, naturais e artificiais:
- banho de lagoas;
- pescarias;
- trilhas ecológicas;
- interpretação ambiental;
- alimentação;
- hospedagem para trilheiro;
- esquibunda - descida nas dunas sentado em pranchas (sandboard)
- olimpíada ambiental
- eventos acadêmicos relativo ao meio ambiente (seminários)
No entorno da RPPN, os Povoados Aningas, Lagoa Redonda e Santa Isabel
possuem atrativos que agregam ao roteiro proposto pela RPPN:
- cozinha tradicional
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
86
- produtos artesanais como bolsas ou outros utensílios da palha do licurí ou da
taboa,
- apreciar a confecção do artesanato e interagir com as artesãs
- apreciar e interagir em rotinas diária dos moradores como por exemplo, colher
mangaba, pescar, interagir no processo da fabricação da farinha de mandioca, etc.
2.1.10.1 - TURISMO DESORDENADO
A área do entorno da RPPN sofre negativamente com o turismo desordenado e a
especulação imobiliária. Nos últimos 5 anos, a procura para construir casa de
veraneio cresceu muito devido a facilitação do acesso para o litoral norte do Estado
consequência da construção da ponte sobre o Rio Sergipe interligando a Cidade de
Aracaju à Barra dos Coqueiros. Em recentes estudos, uma turma de Ecoturismo do
IFS constatou que 97% dos impactos negativos catalogados nos Povoados do
entorno, tais como: lixo diversos, barulho, acidentes e afogamento foram
ocasionados por visitantes. O restante, ou seja 3% fica a cargo dos nativos.
2.1.10.2 - MONITORAMENTO DO IMPACTO DE VISITAÇÃO
Os atrativos naturais existentes na RPPN, tais como: Riacho do Sangradouro,
vegetação ciliar, mirantes, lagoa e fauna, foram objetos de estudo para
monitoramento do impacto de visitação e tomou-se como base a associação de
vários métodos, sendo um desenvolvido para a elaboração de plano de manejo em
parques nacionais nos Estados Unidos, dois desenvolvidos especificamente para o
manejo dos impactos de visitação em áreas naturais protegidas e um importado da
área de acompanhamento de projetos do IAF:
1 – LAC ou Limites de Mudanças Aceitáveis - EUA
2 – Capacidade de Carga de Visitação Recreativa em Áreas Protegidas – Miguel
Cifuentes
3 – VIM – Manejo de Impacto de Visitação - EUA
4 – Monitoramento e Avaliação de Projetos - IAF
2.1.11 - CONVÊNIOS
A RPPN Dona Benta e Seu Caboclo mantém convênios com as seguintes
instituições de Ensino:
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
87
Quadro 13) Convênios mantidos com instituições de Ensino
INSTITUIÇÃO CURSOS
Universidade Federal de
Sergipe - UFS
Biologia, Ecologia, Engenharia Florestal,
Arqueologia, Geografia e Arte Visuais
Universidade Tiradentes – UNIT Biologia, Turismo e Geografia
Instituto Federal de Sergipe –
IFS
Ecoturismo, Gestão de Turismo e
Saneamento Ambiental.
As atividades desenvolvidas pelos Acadêmicos e Pesquisadores são previamente
programadas com os proprietários da RPPN e executadas em conjunto. Compõem
basicamente de:
- levantamento/caracterização preliminar da fauna e flora;
- sinalização de trilhas;
- condução em trilhas;
- trabalho de campo diverso;
- educação ambiental;
- conhecimento de plantas para uso medicinal;
O apoio que a RPPN Dona Benta e Seu Caboclo oferece aos visitantes conveniados
abrange os aspectos de:
- alojamento
- acompanhamento nas diversas atividades
- palestras
- saber popular
Salienta-se que o apoio oferecido pela RPPN não é cobrado financeiramente porém
em contrapartida a instituição fica obrigada a oferecer posteriormente o resultado /
relatório dos trabalhos realizados.
2.1.12 - PESQUISA
Com a criação da RPPN, começou o despertar da comunidade Acadêmica para o
desenvolvimento de pesquisas na área. A RPPN Dona Benta e Seu Caboclo já
serviu de suporte para Artigos Científicos e Monografias. Também se tem
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
88
conhecimento que outras pesquisas foram executadas antes da criação da UC,
porém sem ainda sem registros. Atualmente as pesquisas científicas na RPPN
somente podem ser realizadas com autorização dos proprietários da mesma.
Dentre as publicações e trabalhos desenvolvidos em 2011, destacam-se:
- Trabalho de monografia realizado pelo Acadêmico de Gestão em Turismo do IFS,
Ednaldo Martins Pinheiro, com o título “atividades Eco turísticas na UC do tipo RPPN
Dona Benta e Seu Caboclo”, tendo como orientadora a Professora Doutora Mary
Nadja Lima Santos e defendida em 01/06/2011.
- Trabalho apresentado no VIII CONECOTUR – 2011 CONGRESSO NACIONAL DE
ECOTURISMO, e IV ECOUC – 2011 – ENCONTRO INTERDISCIPLINAR DE
ECOTURISMO EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO com o título
“PLANEJAMENTO E GESTÃO DO ECOTURISMO: UM ESTUDO DE CASO NA
RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO (SE), forma os autores: Priscila Pereira
Santos, Alessandra Magda dos Santos de Souza, José Wellington Carvalho
Vilar e Manuel Messias Santos-Junior todos do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia de Sergipe
- Trabalho de monografia da Acadêmica do curso de Ciências Biológica da UFS
Maria Augusta Barbosa dos Anjos, intitulado: "FAUNA MACROBENTÔNICA
ASSOCIADA À MATÉRIA ORGÂNICA ALÓCTONE EM LAGOAS COSTEIRAS DO
LITORAL NORTE SERGIPE" e submetida ao Departamento de Biologia da
Universidade Federal de Sergipe como requisito necessário para obtenção do grau
de Ciências Biológicas Bacharelado sob a orientação do Prof. Dr. Adauto de Souza
Ribeiro, 2011.
- Trabalho de monografia do Acadêmico do curso de Pós Graduação da UFS em
Ecologia e Conservação de Ecossistemas Costeiros, Manoel Elielson Cordeiro de
Jesus, Intitulado: O LICURIZEIRO (Syagrus coronata (Mart.) Becc.) como produto
Ecoturístico para comunidades costeiras: um estudo de viabilidade para o Povoado
Alagamar - Pirambu/SE, 2006.
- Trabalho de monografia do Acadêmico do curso de Turismo da Universidade
Tiradentes, Manoel Elielson Cordeiro de Jesus, Intitulado: Ecoturismo, uma
alternativa sustentável e viável para o Vale Cordeiro de Jesus. 2004
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
89
2.1.13 - OCORRÊNCIA DE FOGO
O vento, material combustível (vegetação), topografia (inclinação do terreno),
umidade do ar e do material combustível são os fatores mais comuns que
influenciam no comportamento do fogo. As suas causas podem ser classificadas em
naturais e humanas e essa última é a principal causadora de incêndios florestais.
Seja para fins rudimentar de formação de pastagens, fogueiras, fumantes,
carvoarias, queima de lixo, linhas elétricas, dentre outros, todos contribuem para a
causa.
Na área que é atualmente a RPPN Dona Benta e seu Caboclo, nos últimos 12 anos
tem um registro de incêndio que consumiu cerca de 5% da área que compõe a UC,
tendo como causa a queima de lixo descontrolada por um vizinho.
No caso das áreas de vegetação ciliar conservadas, estas não costumam ser
atingida por incêndios, pois sua vegetação é de difícil combustão e a serapilheira
acumulada no solo permanece úmida durante todo o ano.
A Fazenda Cordeiro de Jesus conta com uma brigada composta de 8 voluntários
oriundos dos Povoados do entorno da RPPN, onde receberam treinamento
preliminar para posteriormente juntamente com os parceiros envolvidos fazerem um
aprofundamento no Órgão Competente. Os brigadistas voluntários estão
comprometidos em auxiliar a RPPN nas ações educativas e nos trabalhos de
sensibilização para se evitar as queimadas ou acompanhá-las nos casos com
autorização.
2.1.14 - OUTRAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS EM CONJUNTO
COM A RPPN
Nos Povoados Aninga e Lagoa Redonda, localizados no entorno da RPPN existe
uma espécie de parceria em assuntos diversos relacionados às comunidades:
Quadro 14) Parcerias RPPN e Comunidades do entorno
INSTITUIÇÃO TIPO DE COOPERAÇÃO
ACOPAL – Associação dos
Povoados Aningas e Lagoa
Redonda
Elaboração de projetos, documentação,
orientação diversas.
Instituto San Rafael Orientação diversas
Grupo de Artesanato Mãos que Orientação diversas, apoio logístico,
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
90
Geram Renda divulgação do artesanato
Restaurante Bom Paladar Direcionar grupos para almoço
Mercearia do Negão Compras de produtos diversos
Banda de Pífano de Vacilon Divulgação, fardamento, logística
2.1.15 - SISTEMA DE GESTÃO
A administração da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo estar sob a responsabilidade
direta dos seus proprietários. Busca-se um envolvimento participativo das lideranças
das comunidades do seu entorno em todas as suas atividades. As parcerias já
existente com as instituições de ensino superior (UFS, UNIT e IFS) auxiliam o
planejamento e implementação de ações envolvendo fauna e flora. Inicialmente a
RPPN não terá conselho consultivo.
A administração da RPPN atua na região no sentido de assegurar a manutenção
dos atributos ambientais da reserva e do seu entorno, promovendo a divulgação na
região e no Estado através das mídias existentes e fazendo sua devida sinalização
com placas informativas e de advertência, inclusive na interpretação das trilhas.
2.1.16 - PESSOAL
A Fazenda Cordeiro de Jesus mantém um funcionário que trabalha diretamente
monitorando a RPPN. Usou-se como pré-requisito admissional os seguintes itens:
- ser de alguma comunidade do entorno;
- conhecer a região principalmente a fauna e flora popular;
- possuir vocação para trabalhar na área rural, e;
- que seja alfabetizado
Assim sendo, foi admitido uma pessoa capaz, com 53 anos de idade, na função de
Auxiliar e recebeu capacitação para:
- monitorar a área da RPPN;
- recepcionar/conduzir o visitante nas trilhas;
- interpretar o ambiente para o visitante, e;
- Noções básicas de preservação.
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
91
No planejamento dos projetos específicos, se prevê a contratação de outros
profissionais de acordo com a necessidade.
2.1.17 - INFRA-ESTRUTURA
A RPPN ainda não possui nenhuma infraestrutura, exceto algumas placas de
sinalização indicando o local da RPPN.
- A sinalização existente é precária, mas todo o projeto de sinalização está em fase
de planejamento e posteriormente será executado através de convênio firmado entre
a RPPN e a Universidade Tiradentes.
- O acesso à RPPN apesar do seu limite ficar próximo à estrada principal ainda é
difícil, pois ela é margeada pelo Riacho do Sangradouro e o espaço da estrada até o
referido Riacho pertence a terceiros. Procurando estes proprietários, obteve-se
autorização para utilização da propriedade a fim de facilitar a entrada para a RPPN.
Sendo que após acessar o Riacho, tem que atravessá-lo com água acima do joelho
para adentrar à RPPN. A outra forma de acessar a UC é via trilha a partir da
Fazenda Cordeiro de Jesus. Encontra-se em fase de negociação para a compra de
um terreno a fim de se fazer um corredor e construir um acesso partindo da estrada
principal e no Riacho construir uma Ponte de madeira.
- 1 Lagoa (Encantada), onde permanece com água durante todo o ano, apropriada
para banho. Semestralmente, são colhidas amostras para análise no laboratório de
microbiologia da UFS, cujo resultados apresentam excelentes para banho e na sua
nascente de ótima qualidade para o consumo humano. Tomou-se o cuidado de
povoá-la com peixe da espécie tambaqui, que mesmo sendo uma espécie exótica é
indicada pelo técnicos da CODEVASF pois são predadores naturais do caramujo.
2.1.18 - EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS:
As infraestruturas presentes em uma UC servem de apoio a serviços e distribuem-se
de acordo com suas finalidades específicas e reais necessidades.
A RPPN Dona Benta e Seu Caboclo ainda não possui uma sede própria e toda a
gestão parte da Fazenda Cordeiro de Jesus. Não existe nenhuma instalação
presente na UC.
Tabela 30) Equipamentos de EPI
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
92
2.1.19 - RECURSOS FINANCEIROS:
A RPPN Dona Benta e Seu Caboclo conta com recursos dos proprietários e apoio
da SOS Mata Atlântica, através de contrato de colaboração para conservação do
PROGRAMA DE INCENTIVO ÀS RESERVAS PARTICULARES DO PATRIMÔNIO
NATURAL DA MATA ATLÂNTICA.
Buscar-se-á apoio e o financiamento dos projetos para implementação do Plano de
Manejo com os Governos, empresas privadas, universidades, escolas e indivíduos
simpatizantes com a luta em prol da construção de um planeta melhor para todos os
seres.
2.1.20 - FORMAS DE COOPERAÇÃO:
Para a elaboração do Plano de Manejo, os proprietários da RPPN buscaram apoios
e parcerias nas diversas esferas governamental e privadas, do tipo formal e informal,
conforme demonstrado na tabela:
Tabela 31) Parcerias e formas de cooperação
INSTITUIÇÃO/PESSOAS TIPO DE
COOPERAÇÃO COMENTÁRIOS
SOS MATA ATLÂNTICA Apoio Financeiro
Juntamente com os parceiros apoiaram
financeiramente o projeto de elaboração do Plano de
Manejo
Fazenda Cordeiro de Jesus
Apoio Financeiro e logístico
Como entidade mantenedora da RPPN ela preenche todas as lacunas
onde existe deficiências em todos aspectos.
UFS / UNIT / IFS Apoio Técnico e
participativo Tanto na fase de criação
da RPPN quanto na
EQUIPAMENTOS DE EPI QT CONSERVAÇÃO LOCALIZAÇÃO
Primeiros socorros 02 Bom Fazenda Cordeiro de
Jesus
Lanterna 05 Bom Fazenda Cordeiro de
Jesus
Maca 01 Bom Fazenda Cordeiro de
Jesus
Facão 03 Bom Fazenda Cordeiro de
Jesus
Chapéu de palha 10 Bom Fazenda Cordeiro de
Jesus
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
93
confecção do Plano de Manejo, essas instituições
de ensino superior se fizeram presentes através dos professores e alunos.
RAZÃO AMBIENTAL
Apoio Técnico Levantamento dos
principais dados para confecção do Plano de
Manejo
Acompanhou todas as etapas do Plano de
Manejo
SEMARH / SE Logístico e Técnico
Participou de vária etapas da construção do Plano inclusive de Oficinas do
DRP.
CODEVASF Logístico e Técnico Participação de oficinas e levantamento ictiológico
DESO Técnico e material Participação de oficinas
IBAMA Técnico participativo Participação de oficinas
ICMBio Técnico participativo Participação de oficinas
POLÍCIA AMBIENTAL Técnico participativo Participação de oficinas
ACOPAL Técnico participativo Participação de oficinas
IGREJA BATISTA Técnico participativo Participação de oficinas
EMDAGRO SE Técnico participativo Participação de oficinas
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
94
2.2 - CARACTERIZAÇÃO DA PROPRIEDADE
A Fazenda Cordeiro de Jesus, sedia e mantém a RPPN Dona Benta e Seu Caboclo
objeto principal desse Plano de Manejo, está escriturada no Tabelionato de Notas e
Registros de Imóveis da Comarca de Japaratuba, Estado de Sergipe, sob a
Quadro 15 - Mapa ilustrado da Fazenda Cordeiro de Jesus. Fonte: Razão
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
95
matricula nº 2.925, registro nº 1, livro 2-L, fls. 68, no dia 30 de junho de 2008, no
Registro de Imóveis da Comarca de Japaratuba - SE. no Livro 08, folha 006 com
data de 26/11/2008 e a RPPN Lagoa Encantada do Morro da Lucrécia.
Como infraestrutura de apoio a Fazenda possui:
- duas casas equipada com mobiliário, utilizada para recepcionar/hospedar
visitantes, totalizando 6 UH, ambas com fossas sépticas instaladas;
- 1 alojamento contendo 2 UH e área coberta para barracas/colchonete;
- 1 área ao ar livre para acampamento;
- Estacionamento para 10 automóveis e 3 ônibus;
- Estrutura para fornecimento de alimentação aos visitantes, composta de cozinha
semi-industrial, mobiliário e utensílios necessários para o preparo do alimento e
pessoal das comunidades que foram previamente selecionados e capacitados
capazes de formar uma equipe na medida da existência da demanda;
- Sistema de captação de água para as casas é via bombeamento da Lagoa
Encantada;
- O lixo produzido é separado em vasilhames adequado e posteriormente aqueles
que não são passíveis de serem reaproveitados são levados para o Povoado Lagoa
Redonda onde é recolhido pela Prefeitura de Pirambu;
- A energia elétrica existente é oriunda da hidrelétrica de Xingó, porém encontra-se
já em fase de estudos a construção de uma mini usina para captação de energia
solar para as etapas de implantação e implementação do Plano de Manejo;
- As estradas são de piçarra, porém durante todo o ano possui um bom nível de
conservação e no inverno a prefeitura utiliza os meios disponível para manter a
acessibilidade às localidades.
2.1.1 - USO DA TERRA
Toda a área vegetativa da Fazenda Cordeiro de Jesus possui feições de restinga
sento que a maior família de espécies catalogada pertence a das Myrtaceae,
características típica desse local. Historicamente, a área que hoje pertence a
Fazenda, antes pertencia ao Sítio de Santa Isabel, por volta de 1650, e era utilizada
na criação de animais. Existe vestígios que todo o litoral norte do Estado fora
habitado por grupos diversos. Desses, os registros mais recentes indica a presença
de pescadores temporais que numa determinada época fixam residência, fundando
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
96
povoados e destes vieram as cidades. Um exemplo desse fato é a Cidade de
Pirambu, município que abriga a Fazenda Cordeiro de Jesus.
Tudo indica, que a partir do pastoreio dos rebanhos estimulou o homem adentrar na
região. O certo é que se descobriu a flora da restinga e a abundância dos seus
frutos e logo serviu de alimentos primeiro para saciar seus exploradores e
posteriormente alimentar os animais. Dente estes frutos, a mangabeira (Hancornia
speciosa) se destacava pela abundância e sabor diferenciado dos seus frutos, muito
apreciado pelos nativos. Não tardou e a indústria descobriu o látex extraído do seu
tronco.
O solo arenoso da restinga possui um alto grau de fragilidade não oferecendo
resistência ao pisoteio de animais de porte (Gado) o qual fez os hábitos dos
descendentes dos primeiros exploradores mudarem em detrimento da perda de
pastagens. Iniciou o ciclo de criação de ovinos e caprinos, por ser de menor porte e
exigir menos cuidados. Como alternativa de renda, a extração do látex aparecia em
primeiro plano, porém exigia muito trabalho pois tinha que percorrer imensas áreas
em busca da planta, acrescentando o lento processo de coleta, além da pequena
quantidade extraída findando com os cuidados na formação da “bola” de borracha
que pesava muito e tinha que ser transportado até o comprador.
Diante de tantos desdobramentos desfavoráveis para os exploradores do látex da
mangabeira, um foi decisivo para acabar com a prática na região: depois de alguns
cortes no tronco para extração a árvore acabava enfraquecida e morria. Atualmente
a mangabeira sustentavelmente explorada na região e faz do Estado o seu maior
produtor, mas, pouco a pouco está cedendo lugar para a monocultura do coco.
2.2.2 - ATIVIDADES DESENVOLVIDA COM RISCOS AMBIENTAIS
Busca-se através da conscientização e da capacitação das pessoas envolvidas,
evitar qualquer prática que venha prejudicar o meio ambiente. Não existe na
Fazenda Cordeiro de Jesus nenhuma atividade que ofereça risco ambiental.
2.2.3 - POTENCIALIDADES
Como já foi anteriormente demonstrada, a Fazenda Cordeiro de Jesus foi planejada
estrategicamente para ser um referencial de preservação primeiramente no litoral
norte e em um segundo plano em todo o Estado de Sergipe. Para isso, as duas UCs
existentes: RPPN Dona Benta e Seu Caboclo e a RPPN Lagoa Encantada do Morro
da Lucrécia, tiveram suas localizações definidas em áreas que estavam sofrendo
grandes antrofisações, devido a fatores como a especulação imobiliária e a
monocultura do coco.
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
97
A Fazenda Cordeiro de Jesus é pioneira na implementação do Ecoturismo de bases
comunitária. Foi diagnosticado tal aptidão através de estudos realizados em
conjunto com a Universidade Tiradentes que apontou vocação nata na região.
Descobriu-se que o pólo de artesanato sustentável da palha do licurizeiro e da taboa
é o maior do estado. E isso foram fatores preponderantes para implementação de
projetos de geração de renda utilizando o artesanato.
O envolvimento comunitário na vida diária da Fazenda faz-se também presente nos
pequenos estabelecimento comerciais dos Povoados (restaurantes, mercearias,
lanchonetes, diaristas, dentre outros) pois trata-se de prática costumeira adquirir
produtos das comunidades ou direcionar grupos de visitantes para algum dos
restaurantes dos povoados ou para visitarem os centros de artesanatos onde na
maioria das vezes acabam comprando alguma peça.
A Emdagro – Empresa de Desenvolvimento de Sergipe, juntamente com a Fazenda
Cordeiro de Jesus planejam estender o projeto de horta orgânica que já está sendo
desenvolvido na Associação dos Moradores de Aningas e Lagoa Redonda para
criação de mais um na Fazenda. Para isso existe algumas facilidades: área plana,
água em abundância e equipe montada para executar as tarefas braçais.
2.2.4 – RPPN LAGOA ENCANTADA DO MORRO DA LUCRÉCIA
A RPPN Lagoa Encantada do Morro da Lucrécia, criada através da Portaria 92/2011,
também está inserida na Fazenda Cordeiro de Jesus e pertence aos mesmos
proprietários da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo.
Como estratégia de conservação, seus proprietários resolveram criar as UCs tendo
como localização os extremos da propriedade pois entende-se que a presença de
uma Unidade de Conservação agrega valores e pode inibir a degradação por parte
das comunidades do entorno.
As RPPNs, mesmo pertencendo ao ecossistema restinga possui fisionomias
diferenciadas. A RPPN Lagoa Encantada do Morro da Lucrécia contém um conjunto
de dunas móveis, semimóveis e fixa enquanto a RPPN Dona Benta e Seu Caboclo
apresenta uma densa vegetação e suas dunas são todas fixas.
A faixa de terra que se encontra entre as duas RPPNs tem aproximadamente 3 Km
de extensão e pertence à Fazenda Cordeiro de Jesus. Sua vegetação possui alto
grau de preservação e serve como corredor ecológico entre as UCs.
2.2.5 - Criadouro de Animais Silvestres
A Fazenda Cordeiro de Jesus abriga o único criadouro de animais silvestres do
Estado para as espécies: preá, mocó, paca, cutia e capivara. Além de possuir
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
98
profundos vínculos preservacionista tornará mais um atrativo para os visitantes.
Através do criadouro, mais uma parceria está em formação com a Faculdade de
Veterinária PIO X, localizada na Cidade de Aracaju.
2.2.6 - Construção de Chalés
Visando o aumento das Unidades Habitacionais diante do aumento da demanda, a
Fazenda está construindo chalés ecologicamente correto para abrigar até 9
pessoas.
2.2.7 - Reflorestamento do Licurizeiro
Sabe-se que a palha do licurizeiro é a principal matéria prima para várias peças
artesanais confeccionadas pelas pessoas das comunidades do entorno da RPPN
Dona Benta e Seu Caboclo. Sabe-se também que a escassez dessa planta é cada
vez mais frequente. Diante disso, a Fazenda Cordeiro de Jesus, reservou uma área
para se fazer o plantio do Licurizeiro visando assim auxiliar a manutenção de uma
centenária tradição da região além da geração de renda.
Neste contexto apresentado, a Fazenda Cordeiro de Jesus, diante de práticas
sustentáveis cria situações favoráveis não somente para a RPPN como também
para as populações do seu entorno.
2.3 - CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DO ENTORNO
O município de Pirambu está localizado no litoral sergipano. Possui uma área
territorial de 218 Km2, sendo 71 Km2 de área urbano e 147 Km2 de área rural. A
sede do município está localizada há 31 Km de distância da Capital Aracaju via
Rodovia SE-100 e 76 Km pela BR-101. Pirambu encontra-se a 2 metros de altitude.
Faz fronteiros com os seguintes municípios: ao Norte com Pacatuba, ao Sul, Santo
Amaro das Brotas e Barra dos coqueiros, a Leste com o oceano Atlântico e a Oeste
Japaratuba e Carmópolis. Sendo que nenhum deles influenciam diretamente com a
RPPN Dona Benta e Seu Caboclo. O município é composto por 9 (nove) povoados
principais: Aguilhadas, Aningas. Lagoa Redonda, Maribondo, Baixa Grande, Pau
Seco (Água Boa), Bebedouro, Santa Isabel (Lagoa Grande) e Alagamar. Apenas os
Povoados Aningas e Lagoa Redonda fazem parte do entorno direto da RPPN,
porém considera-se os Povoados Água Boa e Santa Isabel por estarem no entorno
da Fazenda Cordeiro de Jesus e suas lideranças fazerem estarem arroladas em
projetos comunitários.
O nome Pirambu vem de um peixe que era bastante comum na região, e o Povoado
originou-se de uma pequena colônia de pescadores que viviam basicamente da
cultura da mandioca, do milho, do feijão e da batata-doce, bem como da pesca nos
rios, lagoas e da beira da praia.
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
99
O Município de Pirambu já foi Povoado de Japaratuba, isso explica ainda algumas
dependências administrativa. Porém turisticamente falando, o desmembramento do
Povoado a partir do decreto que o emancipou também foi impiedoso com a sua
Cidade mãe: toda a faixa litorânea ficou pertencendo a Pirambu.
2.3.1 - DADOS QUE CARACTERIZAM O MUNICÍPIO DE PIRAMBU
Tabela 32) Regionalização e divisão administrativa de Pirambu
REGIONALIZAÇÕES E DIVISÃO ADMINISTRATIVA
Código do Município/Pirambu/SE 2805307
Área Oficial Territorial (Km2) 218,084
Território de Planejamento Leste do Estado
Regiões de saúde Nossa Senhora do socorro
Polos Turísticos Costa dos coqueirais
Regionalização de Educação DR4
Comarca (TJ) Japaratuba
Mesorregiões Leste Sergipano
Microrregiões Geográficas Japaratuba
Tabela 33) Dados Demográfico de Pirambu
DEMOGRAFIA
População Absoluta 2000 7255
População Absoluta 2010 8369
População Relativa 2000 0,004065622
População Relativa 2010 0,004689895
População Urbana 2000 4.148
População Urbana 2010 4906
População Rural 2000 3.107
População Rural 2010 3463
Taxa de Crescimento 2000-2010 1,438686053
Taxa de Urbanização 2000 57,17436251
Taxa de Urbanização 2010 58,62110168
Densidade Demográfica 2000 35,23555124
Densidade Demográfica 2010 40,64594463
Razão de Sexo 2000 1,001931567
Razão de Sexo 2010 1,013230695
Taxa Bruta de Natalidade 2000 19,84838043
Taxa Bruta de Natalidade 2010 13,86067631
Taxa Bruta de Mortalidade 2000 5,099931082
Taxa Bruta de Mortalidade 2010 5,854940853
Mortalidade Infantil 2000 4
Mortalidade Infantil 2000 2
Mortalidade Infantil 2010 27,77777778
Mortalidade Infantil 2010 17,24137931
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
100
Tabela 34) Domicílios e renda
DOMICÍLIOS E RENDA
Total de Domicílios Particulares Permanentes (2010) 2218
Total de Domicílios Particulares Permanentes com rendimento
nominal percapita de R$ 1,00 a 70,00 (2010)
289
Total de Domicílios Particulares Permanentes com rendimento
nominal percapita de R$ 70,00 a 140,00 (2010)
416
Total de Domicílios Particulares Permanentes com rendimento
nominal percapita de R$ 140,00 e mais (2010)
1213
Total de Domicílios Particulares Permanentes sem rendimento
nominal percapita (2010)
300
Total de Domicílios Particulares Permanentes com rendimento
nominal percapita (2010)
318,06
Tabela 35) Domicílios e saneamento
DOMICÍLIOS E SANEAMENTO
Total de Domicílios Particulares Permanentes com abastecimento de
água (2010)
1.886
Total de Domicílios Particulares Permanentes com rede de esgoto
(2010)
332
Total de Domicílios Particulares Permanentes com coleta de lixo
(2010)
1549
Total de Domicílios Particulares Permanentes com banheiro de uso
exclusivo (2010)
1955
Total de Domicílios Particulares Permanentes em condição adequada
ao saneamento básico (2010)
319
Total de Domicílios Particulares Permanentes em condição
semiadequada ao saneamento básico (2010)
1.641
Total de Domicílios Particulares Permanentes em condição
inadequada ao saneamento básico (2010)
258
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
101
Tabela 36) Indicadores econômicos
INDICADORES DE ECONOMIA
PIB (2009) 45,362
PIB Percapita (2009) 5.269,79
Valor Adicionado da Administração Pública (2009) 21,368
Valor Adicionado da Agropecuária (2009) 4,506
Valor Adicionado da Indústria (2009) 7,953
Valor Adicionado dos Serviços (2009) 31,470
Imposto (2009) 1.433,36
Receita arrecadada total é igual a receita orçamentária incluindo as
deduções
14.889.133,94
A receita corrente liquida é utilizada para efeito de LRF e refere-se
a: somatório das receitas tributárias, de contribuições, patrimoniais,
industriais, agropecuárias e de serviços, transferências correntes e
outras receitas correntes
15.439.595,58
Impostos + taxas + contribuições de melhoria 683.793,69
Cota parte do ICMS aos municípios 2.246.671,57
Cota parte do FPM repassados aos municípios pela União 4.676.420,53
Participação do ICMS no Total da Receita Arrecadada % 15,089
Participação do FPM no Total da Receita Arrecadada % 31,408
Despesas orçamentárias que equivale a despesas correntes +
despesas de capital + reservas do RPPS + reserva de contingência
14.429.695,69
Receitas tributárias/população 81,70
Gastos públicos do município com pessoal e encargos sociais 7.490.484,83
Indicador da Lei de responsabilidade fiscal dos municípios
sergipano - limite máximo de gastos com pessoal 60% da receita
corrente liquida
48,51
Investimentos públicos Municipais 577.716,61
Participação dos Gastos com Investimentos na receita Arrecadada
%
3,88
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
102
Tabela 37) Indicadores sociais - Educação
2.3.2 - Aplicação do DRP – Diagnóstico Rápido Participativo para a
avaliação estratégica da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo e seu entorno.
Sabe-se que conhecer qualquer realidade não é nada fácil, pois se somam
interpretações, pontos de vista, interesses, métodos, formas, conceitos, objetivos,
prismas, ângulos, anseios, vivências, etc...
Enfim, são muitas interferências, com consequentes efeitos nos resultados finais do
diagnóstico. Tratando-se de comunidades urbanas, este estudo torna-se mais
complexo, porém, mais interessante.
INDICADORES SOCIAIS - EDUCAÇÃO
Taxa de Analfabetismo Geral (pessoas de 15 anos ou mais) (2000) 26,58
Taxa de Analfabetismo Geral (pessoas de 15 anos ou mais) (2010) 20,19
Pessoas maiores de 15 anos que não sabem ler e escrever 1167
Pessoas maiores de 15 anos da cor negra e parda que não sabem ler
e escrever
288
Pessoas maiores de 15 anos da cor branca que não sabem ler e
escrever
861
Pessoas maiores de 15 anos da raça indígena e cor amarela que não
sabem ler e escrever
18
Foto 27) Reunião do DRP com as Comunidades - Fonte:
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
103
O diagnóstico rápido participativo (DRP) é uma ferramenta que tem o objetivo de
auxiliar os interessados em conhecer a complexa teia de relações que permeiam o
cotidiano dos grupos sociais, na medida em que nos permite ter uma visão mais real
dos inúmeros fatores - sociais, econômicos, ambientais e culturais que afetam as
tomadas de decisão nestes sistemas.
Sabemos que não é uma metodologia acabada e completa, mas representa um
avanço em termos de pesquisa socioambiental.
Assim sendo, na busca por uma ferramenta que proporcionasse a coleta de
informações sobre temas diversos em curto espaço de tempo e que auxiliasse o
planejamento estratégico para a construção do Plano de Manejo da RPPN Dona
Benta e Seu Caboclo, optou-se por aplicar o Diagnóstico Rápido Participativo
envolvendo as comunidades do entorno da RPPN, por essa técnica também
apresentar:
- linguagem de fácil assimilação e interatividade com os participantes;
- facilita o diálogo entre equipe e pessoas do local;
- desperta a discussão sobre os problemas e situações do entorno;
- realiza um levantamento de assuntos locais e motiva a análise do coletivo
dos participantes;
- trabalha com percepções locais
- facilita a verificação da informação
- permiti a participação de alfabetizados ou não no mesmo momento
- mobilidade dos elementos conforme a discussão
A Avaliação Estratégica da RPPN considerou os fatores internos e externos, que
impulsionam ou dificultam a execução dos objetivos para os quais a Unidade de
Conservação está sendo proposta.
O objetivo principal desse estudo é fazer um levantamento para identificar os
principais os principais anseios das comunidades do entorno da RPPN e relacionar
aspectos favoráveis ou contrários para o planejamento estratégico para a confecção
do Plano de Manejo da UC.
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
104
2.3.2.1 - METODOLOGIA
Foram convidados moradores das Comunidades de Aningas e Lagoa Redonda,
Povoados do entorno da RPPN, mais as Comunidades de Água Boa e Santa
Isabel que mantém ligação direta com a UC através de outros projetos em
desenvolvimentos. A escolha dos participantes obedeceu alguns critérios:
- posição de liderança nas comunidades;
- representatividade com o poder público municipal / estadual e federal;
- Pessoas diretamente ligadas a RPPN
Convidaram-se também Órgãos públicos e empresas privadas que atuam no
entorno da RPPN e podem influenciar/auxiliar de alguma forma com os projetos
derivados do Plano de Manejo.
O Diagnóstico foi realizado na sede da Fazenda Cordeiro de Jesus, o dia 14 de
junho de 2011, com início às 08 h 30 min., com intervalo para almoço de 1 h e
terminou a parte de levantamento de dados e discussão às 16 h 30 min.
Usou-se como para construção do DRP uma união de técnicas já conhecidas como
a matriz SWOT (Strengths, Weaknesses, Opportunities and Threats) o diagrama de
venn e matriz. Essa combinação nasceu a partir do conhecimento prévio de
resistência das comunidades em outros diagnósticos realizados.
Foto 28) Reunião do DRP com as Comunidades - Fonte:
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
105
2.3.2.2 - RESULTADOS E DISCUSSÕES
A logística para fazer a reunião constou de convite individual e entrego em mãos
para os envolvidos. Utilização do telefone e mensagens via e-mail para reforço do
convite e confirmação de participação até a locação de Van para transporte do
pessoal das Comunidades envolvidas. A reunião contou com a participação de 41
pessoas, sendo que 17 pessoas representaram entidades públicas e 24 às
comunidades.
Fez-se uma explanação sobre a RPPN Dona Benta e Seu Caboclo e informou-se
sobre as características de uma UC do tipo RPPN e da necessidade de ter um Plano
de Manejo. Em seguida foi explicitada a metodologia dos trabalhos:
Confeccionou-se 5 tabelas em folhas de papel tipo cartolina com as seguintes
proposituras:
1 - Atividades locais
2 – Potencialidades
3 – Problemas
4 – Impactos
5 – Ações e projetos previstos.
Foram coladas na parede, em local visível a todos. O moderador conduzia os temas
para os públicos presentes e na medida das interpelações de cada um, o mesmo
sintetizava a fala para um auxiliar que por sua vez escrevia no devido local da tabela
e outro auxiliar transcrevia para o computador.
O DRP foi elaborado em duas etapas: a primeira constou da reunião com as
comunidades e instituições cujo objetivo era de fazer levantamentos de dados. Na
segunda etapa reuniram-se apenas os Moderadores e os Técnicos da Secretaria do
Meio Ambiente de Sergipe para a tabulação dos dados e construção do presente
relatório para posterior apresentação para às Comunidades envolvidas. Quadro 16) Comunidades participantes do DRP – Fonte Seplan/SE – mod. p/RAZÃO
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
106
Quadro 17) Instituições participantes do DRP
COMUNIDADES PARTICIPANTES
ANINGAS LAGOA REDONDA
MORRO DA LUCRÉCIA SANTA ISABEL
INSTITUIÇÕES PÚBLICAS PARTICIPANTES
Instituto Federal de Sergipe – IFS Polícia Ambiental do Estado de Sergipe
Secretaria do Meio Ambiente de
Sergipe
Companhia de Águas e Saneamento – DESO
CODEVASF SOCIEDADE SEMEAR
IBAMA Associação dos Moradores de Aningas e
Lagoa Redonda
Igreja Batista em Lagoa Redonda EMDAGRO
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
107
2.3.2.3 - Atividades locais
A base para um diagnóstico é saber o dia a dia das Comunidades com relação aos
aspectos sociais, econômicos, cultural e ambiental. Passa-se a conhecer os usos e
costumes das pessoas do lugar e o que existe de suporte estrutural. Essas
informações subsidiam os projetos específicos colocados no Plano de manejo. As
atividades descritas pelas comunidades foram acrescidas pelos técnicos das
instituições demonstrando inicialmente que o envolvimento deles abrange outras
esferas além daquelas objeto de vivência ou prestação de serviços nas
comunidades.
Quadro 18) Atividades desenvolvidas nas comunidades apontadas pelos moradores e pelos técnicos das instituições
Atividades locais executadas no dia a dia das comunidades
Apontada pela Comunidade Local
Pesca Artesanato
Coleta da Mangaba Plantação de milho e feijão
Produção do coco Pecuária
Turismo ecológico Pequenas criações ovinos
Produção de farinha de mandioca Agricultura familiar
Amendoim Restaurantes
Atividade industrial (transformação Mercearias
Atividade de pequena produção Pousadas e camping
Atividades culturais (eventos culturais,
festas religiosas e cavalgadas).
Turismo de aventura
Apontada pelos técnicos das Instituições
Pesca artesanal Beneficiamento do coco
Piscicultura Turismo
Apicultura Desenvolvimento
Agricultura familiar Visões ecológicas
Horta comunitária Agricultura Orgânica
Exploração da palha do licurizeiro e
Taboa (artesanato local)
Exploração petrolíferas
2.3.2.4 - POTENCIALIDADES
Na visão da Comunidade, a região apresenta vocação (potencial) para trabalhar com
o turismo. Basicamente todas as falas anotadas se relacionam com alguma
modalidade de turismo ou a algum equipamento ligado diretamente a ele.
Aproveitando o momento, houve diversas interferências por parte de técnicos
enfatizando os benefícios agregados à presença da RPPN quanto à confecção do
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
108
Plano de Manejo, pois ajudariam a acelerar o processo desenvolvimentista das
comunidades já que é um objetivo da UC trabalhar com o Ecoturismo de bases
comunitárias como estratégias de preservação.
Os técnicos institucionais, talvez pelo prisma diferenciado em relação aos moradores
das comunidades, conseguem expor para região um potencial mais abrangente e
objetivo, seguindo uma sequencia mais planejada. Por exemplo, enquanto a
comunidade vê o turismo, a valorização, a preservação e harmonia de uma forma
generalizada, os técnicos visualizam o turismo, seguindo o mesmo exemplo, de
forma mais fragmentada, porém com o mesmo objetivo, quando cita a informação e
sinalização turística.
Quadro 19) Potencialidades existentes nas Comunidades apontadas pelos moradores e pelos técnicos das instituições
Potencialidades existentes nas comunidades apontadas pelos participantes
Comunidade Local
Turismo ecológico Pesque e Pague
Centro cultural de artesanato Exploração dos frutos do mar
Grupos musicais Preservação dos recursos hídricos
Sensibilização ambiental Preservação da Fauna e flora
Valorização cultural e ampliação eco
turísticas
Beneficiamento das frutas locais
Áreas naturais e valorização das
frutas nativas
Harmonia entre as comunidades
Técnicos das Instituições
Informação e Sinalização turística Ampliação do Ecoturismo
Valorização da cultural Criação de novas trilhas ecológicas
Sensibilização ambiental Fortalecimento da culinária regional
Valorizações da cultura local (pífanos,
apresentações culturais, artesanatos,
grupos folclóricos).
Práticas ecológicas e turismo náutico
Ampliação das atividades industriais Preservação da fauna e flora (áreas
naturais)
Potencialidades Recursos hídricos
(rios e lagoas)
Assegurar as justiças socioambientais
Divulgação regional Piscicultura familiar
2.3.2.5 - PROBLEMAS
Conhecer a rotina dos moradores das comunidades e sua percepção quanto às
potencialidades que pode gerar emprego e renda, contribui para a solidificação do
diagnóstico, porém quando se pensa estrategicamente, devem-se considerar
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
109
também os obstáculos existentes e aqueles decorrentes de ações implementadas.
Observou-se que a visão das comunidades acerca dos problemas existentes
perpassa os anseios individuais do Povoado alcançando melhorias para região.
Também ficou configurado a preocupação dos participantes com os problemas
ligados ao ambiente à sua volta.
No cruzamento dessa tabela com a tabela anterior, tem-se um norteador para a
implementação de qualquer ação/projetos do Plano de Manejo que visem o
envolvimento com as comunidades do entorno. Nesse item não se notou diferenças
significativas com as falas dos técnicos.
Quadro 20) Problemas existentes nas Comunidades apontadas pelos moradores e pelos técnicos das instituições
Problemas existentes nas comunidades apontadas pelos participantes
Comunidade Local
Conflitos legais entre a comunidade e
os poderes públicos
Conflitos com propriedades
particulares (ações impactantes)
Falta de infraestrutura - Estrada
inadequada para transportes
Problemas ambientais (entre as fauna
e flora local) – preservação dos rios e
lagos na localidade
Danos ambientais (desmatamento,
queimadas entre outros).
Centro comunitário fechado
Falta de geração de empregos por
causa das empresas
Falta de sistema de abastecimento de
água e esgoto
Tráficos de animais silvestres Falta de coleta adequada dos
resíduos sólidos
Técnicos das Instituições
Sinalização turística Falta de esgotamento sanitário
Divulgação do produto turístico Carência de educação ambiental do
âmbito formal e não formal
Falta de logística Danos ambientais (desmatamento,
queimadas entre outros).
Caça e exploração florestal Falta de projetos e pesquisa na região
Poluição em geral (água, ar entre
outros).
Exploração indevida dos recursos
hídricos
Descontinuidade de projetos
No entorno da Fazenda, a exploração do petróleo representa a atividade de maior
risco em potencial para o meio ambiente. No Povoado Lagoa Redonda, existe 2
poços terrestres, situados no limites da Reserva Biológica Santa Isabel, sendo
explorados por uma empresa privada. Devido uma série de fatores sua produção é
transportada através de caminhões tanques até o terminal localizado em Aracaju a
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
110
cerca de 70 Km de distância. Além do iminente risco de acidente que a atividade de
extração de petróleo representa, é acrescido com o transporte diário, que para
chegar e para sair as carretas cortam todo os Povoados Aningas e Lagoa Redonda.
Em segundo plano, o turismo desordenado representa uma grave ameaça para o
entorno. Existem vários atrativos e frequentemente procurados por visitantes que
querem somente usufruir.
2.3.2.6 - IMPACTOS
Aprofundando na investigação, averiguou-se a percepção dos participantes relativos
aos impactos decorrentes da implementação de algum tipo de projeto,
principalmente daqueles caracterizados sob os critérios da potencialidade das
comunidades (por ex. o Turismo) ou mesmo ações que viesses a sanar problemas
antigos apontados. (por ex. pavimentação asfáltica da estrada). Notou-se também
na tabulação das informações desse tópico, o grau de conscientização local das
devido a facilidade de indicar as potencialidades à sua volta e ao mesmo tempo
enumerar problemas e fazer um aprofundamento dos dois tópicos para as questões
decorrentes dos seus desdobramentos. Observou-se que as falas nasceram com
certo tom de receio já que foram colocados na sua grande maioria impactos
classificados como negativo. Do ponto de vista comunitário pode ser visto como um
aculturamento resistente a pressões externas.
Nesse momento, os técnicos envolvidos puderam colocar diversas intervenções de
cunho informativa/explicativa e esclarecedora, apontando os riscos inerentes ao
desenvolvimento e ao mesmo tempo indicando alternativas que aliava qualquer ação
ou projetos à preservação do meio.
Quadro 21) Impactos consequente de implantação de projetos apontadas pelos moradores e pelos técnicos das instituições
Comunidade Local
Sensibilização e mobilização de
comunidade e visitantes
Impactos sociais (Segurança publica,
aumento das drogas e prostituição,
educação, crescimento urbano, saúde
entre outros).
Impactos e destruições da fauna e
flora
Alteração das dinâmicas ambientais
Técnicos das Instituições
Uso indevido das trilhas Solução de continuidade de projetos e
ações
Expansão imobiliária A melhoria das estradas causará
aumento do fluxo de visitação
Geração de emprego e renda na
comunidade
Aumento da gastronomia e
restaurantes
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
111
2.3.2.7 - AÇÕES E PROJETOS PREVISTOS
Depois de conhecer os aos aspectos sociais, econômicos, cultural e ambiental
apontados pela própria comunidade, as potencialidades para geração de emprego e
renda da região, os problemas e existentes e a percepção dos impactos negativos
decorrentes da implementação e projetos e ações nas comunidades, vislumbrou-se
nessa etapa conhecer as aspirações dos moradores num contexto mais regional.
Observou-se que eles não querem somente trabalhar, sustentar a si e sua família
através da sua própria renda, eles vão além, querem participar da vida política, das
tomadas de decisão e se capacitarem de acordo com o desenvolvimento local.
Nessa fase, as instituições presentes no DRP e representadas por seus técnicos,
foram motivadas não somente a agregar subsídios aos anseios das comunidades,
mas também, fazer uma previsão clara e exequível das ações que cada instituição
pode desenvolver ou acrescentar às já desenvolvidas nas comunidades.
Quadro 22) Anseios e previsões de projetos para as Comunidades apontadas pelos moradores e pelos técnicos das instituições
Comunidade Local
Criação do projeto de fabricas de
polpas e doces
Capacitação da comunidade (geração
de curso e palestras)
Planejamento participativo do turismo Inserção dos moradores nas tomadas
de decisões
Geração de oportunidades Inserção da comunidade nos projetos
nas atividades econômicas
Incentivo as atividades culturais
Técnicos das Instituições
Fortalecimento do associativismo e cooperativismo
Projetos de capacitação profissional
Criação de centro de referencia em educação ambiental
Especiarias (bebidas caseiras, licores)
2.3.2.8 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
A busca pela adaptação de técnicas para a realização do DRP para nortear a
confecção do Plano de manejo da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo mais a
participação da comunidade envolvendo também as instituições que fazem parte do
dia a dia das pessoas nos Povoados através da prestação de serviços direto ou
indireto encaixou-se sincronizadamente no resultado final. A quantidade de dados
obtidos poderão ser trabalhados em diversas áreas do conhecimento científico
gerando informações que poderão ser aproveitadas na confecção do Plano de
Manejo e também serem revertidos em melhorias para a RPPN e todo seu entorno.
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
112
2.3.3 - Projeto Tamar
A Primeira base do Tamar construído no Brasil foi instalada em 1982 em Pirambu
Município do Estado de Sergipe. Com Monitoração de 56 km de praias de
reprodução e alimentação de tartarugas marinhas.
No litoral Sergipano concentram-se a maioria das desovas da tartaruga-Oliva
(Lepidochelys olivacea) existente no Brasil. Em 1988 foi criada uma área da base de
estudo próximo à Cidade de Pirambu e início da Reserva Biológica de Santa Isabel,
que serve de apoio para proteção das importantes classes animais e vegetais, com
destaque as aves e tartarugas marinhas presentes na região, ainda possui um
centro de Educação Ambiental que recebe em média 120 mil visitantes ao ano e
muitos estudantes.
A Base possui quantro tanques com tartarugas marinhas em diversas fases de
desenvolvimento; sala de palestras e projeção de filmes; ante-sala com um aquário
marinho e seis aquários com peixes de água doce, representantes das espécies do
entorno da Reserva; estacionamento e stand de divulgação das atividades culturais
desenvolvidas com as comunidades do entorno; demais materiais educativos. Vale
salientar que atualmente a base encontra-se em fase de reestruturação.
2.3.4 - SERVIÇOS / EQUIPAMENTOS EXISTENTES
Tabela 38) Serviços e equipamentos existentes no Munícipio
SERVIÇOS /PRODUTOS Quant. / LOCALIZAÇÃO
ENTORNO MUNICÍPIO
Hotel -- 7
Pousada 3 11
Posto Médico 2 14
Banco -- 2
Transporte intermunicipal 1 1
Empresa de Táxi -- 1
Restaurante 10 32
Informações Turísticas 1 1
Telefone público 1 55
Operadora telefonia móvel 4 4
Telefonia Fixa 1 2
Resgate / bombeiro 1 1
Centro de artesanato 2 6
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
113
2.4 - POSSIBILIDADES DE CONECTIVIDADE
Sergipe é um dos Estados do Brasil com menor percentual de Unidades de
Conservação de proteção integral e das que existem praticamente todas apresentam
irregularidades quando analisadas criteriosamente. As UCs existentes no Estado em
geral apresentam consideráveis distancia uma das outras.
A RPPN Dona Benta e Seu Caboclo é uma exceção pois está localizada à apenas
3,5 km da Reserva Biológica de SANTA ISABEL, ou seja, no seu entorno, separadas
apenas por 4 propriedades rurais de pequeno porte.
2.4.1 - RESERVA BIOLÓGICA DE SANTA ISABEL
A RESERVA BIOLÓGICA SANTA ISABEL foi criada através do Decreto Nº
96.999/1988 e seu objetivo principal está inserido no artigo 1º e seu limite no artigo
2º conforme descritos abaixo:
Art. 1º Fica criada, no Estado de Sergipe, a Reserva Biológica de Santa Isabel, visando à proteção da fauna local, especialmente as Tartarugas Marinhas que encontram na Praia de Santa Isabel, a sua principal área de reprodução. Art. 2º A Reserva Biológica de Santa Isabel, localizada no litoral do Estado de Sergipe, abrangendo terrenos de marinha e acrescidos, nos Municípios de Pirambu e Pacatuba, com área de 2.766,00ha (dois mil, setecentos e sessenta e seis hectares)...
Embora a Rebio tenha nascida visando à proteção da fauna local, esta, permaneceu
no esquecimento dos gestores que aos poucos se voltaram apenas para a espécie
bandeira que é a tartaruga. Segundo De Jesus (2004), 99% dos pesquisados nos
povoados Aguilhadas, Aningas, Lagoa Redonda, Água Boa, Santa Isabel, Alagamar,
Serigy, Tigre, Junça, Piranhas, Boca da Barra e Ponta dos Mangues desconheciam
outro objetivo da Rebio diferente daquele de proteger as tartarugas. Com isso, a
degradação no entorno da UC se acelerou: especulação imobiliária, desmatamento,
caça predatória, tráfico de animais silvestres, etc. Aliando a todos esses males, eis
que falta ações educativas para a população do entorno e sobra truculência, ameaça
e opressão por parte dos primeiros gestores da Rebio Santa Isabel. Com isso nota-
se ter se criado uma antipatia dos nativos para com tudo que se relacionasse à
Unidade de Conservação.
2.4.2 - ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL LITORAL NORTE
Distante 12 km da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo essa APA foi criada pelo
Governo do Estado e Sergipe através do Decreto nº 22.995 de 09 de novembro de
2004. Compreendendo um perímetro de aproximadamente 473,12 km², a unidade
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
114
situa-se nos municípios de Pirambu, Japoatã, Pacatuba, Ilha das Flores e Brejo
Grande e tem como objetivo geral a promoção do desenvolvimento econômico-
social da área, voltada às atividades que protejam e conservem os ecossistemas ou
processos essenciais à biodiversidade, à manutenção de atributos ecológicos, e à
melhoria da qualidade de vida da população.
2.4.3 - PARQUE DAS DUNAS
A 35 km da RPPN, encontra-se o Parque das Dunas, possuindo as mesmas feições
da área da RESERVA BIOLÓGICA SANTA ISABEL e da RPPN. Ele está localizado
nos municípios de Barra dos Coqueiros e Santo Amaro das Brotas. Embora ainda
esteja em fase final de demarcação do perímetro, o Parque já possui atividades de
sensibilização, é reconhecido pelas comunidades do entorno e também é inserido
nas programações normais da Secretaria do Estado do Meio Ambiente e Recursos
Hídricos Órgão responsável pelo processo de criação.
A possibilidade de conectividade com as UCs já mencionadas, ou em forma de
mosaico ou utilizando qualquer outra estratégia para melhorar a preservação
apresenta-se como elemento inovador e compreende-se que só se terá sucesso
com um planejamento bem articulado entre as UCs envolvidas.
2.5 - DECLARAÇÃO DE SIGNIFICÂNCIA
Os ecossistemas situados nas planícies litorâneas brasileiras estão entre os mais
degradados e ameaçados do país (ALBERTONI & ESTEVES, 1999). Uma das
causas é crescimento desordenado das regiões costeiras e à expansão das áreas
destinadas às atividades agrícolas e pecuárias, embora, na maioria dos casos, os
solos sejam pobres em nutrientes e impróprios tanto para o cultivo, quanto para
pastagem. Além disso, os corpos d‟ água sofrem pressões dos esgotos urbanos e
despejos industriais.
Atualmente, é cada vez mais restrita a ocorrência de extensas áreas contínuas de
restinga ao longo da costa do Brasil (ROCHA et al., 2004). Embora ainda não tenha
sido feita a quantificação da área de remanescentes de restingas ao longo da costa,
se sabe que, anualmente, considerável porção de áreas de restinga é perdida por
desmatamento (Fundação SOS Mata Atlântica/INPE, 2001). A taxa de perda das
áreas de restinga pode ser considerada alta pelo grau de destruição que se observa
em cada um dos municípios que as incluem (ROCHA et al., 2004). Esta situação se
agrava devido a que os habitats de restinga são ambientes frágeis, e sua
recomposição é lenta após desmatamento (ROCHA et al., 2004). Na maioria dos
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
115
casos, os atuais remanescentes de restinga, além de fragmentados, também estão
isolados uns dos outros (ROCHA et al., 2003).
Mesmo com a criação da Reserva Biológica Santa Isabel em 1988 compreendendo
uma larga faixa de área do litoral norte do Estado de Sergipe, na sua maioria área
de restinga, observa-se um crescente avanço de desmatamento sentido continente –
praia.
Neste contexto, a RPPN Dona Benta e Seu Caboclo torna-se estratégica para a
região por ser a pioneira na região além do fato de situar-se no entorno de uma
Unidade de Conservação de proteção integral que é a Reserva Biológica de Santa
Isabel. Assim, acresce um grande argumento de significância para justificar a
criação e implementação dos projetos decorridos do seu Plano de Manejo.
A RPPN Dona Benta e Seu Caboclo serve de refúgio para diversas espécies de
animais inclusive algumas aves identificados estão na lista da CBRO e do BirdLife
International / IUCN – 2010: Aratinga solstitialis (Linnaeus, 1766), conhecida como
Jandaia-amarela que se encontra em perigo de extinção, a Carpornis
melanocephala (Wied, 1820) - Sabia-pimenta que está com grau de ameaça
classificada como vulnerável para extinção e o Picumnus fulvescens Stager, 1961
cuja espécie encontra-se quase ameaçada de extinção.
A fragmentação da região onde se localiza RPPN Dona Benta e Seu Caboclo
representa perda de habitats e grande ameaça à fauna, visto que os fragmentos
restantes podem ser pequenos demais para conter uma área suficientemente viável
que garanta a sobrevivência das espécies originalmente presentes na região
(Ricklefs 2003), esse é outro argumento que justifica sua importância ecológica.
A expansão da monocultura do coqueiros juntamente com a falta de alternativa para
as comunidades locais em utilizar sustentavelmente os recursos oferecidos pelo
ambiente restinga foram os principais fatores que geraram o desmatamento e
consequentemente a fragmentação na região. Considerando a atual situação o
turismo sustentável vem como uma das atividades que mais geram oportunidade de
trabalho. Neste contexto, a RPPN Dona Benta e Seu Caboclo já atua como um
instrumento de mudança de paradigma, mostrando o valor natural da região, não
apenas ao turista, mas sobretudo aos próprios moradores locais. Incentivando a
implementação do Ecoturismo e auxiliando o nascimento de novos
empreendimentos na região. Assim, uma das propostas da RPPN é agregar
esforços no sentido de abrir espaço à comunidade para juntos desenvolver
atividades que contribuam com a geração de renda e conservação do ambiente
onde estão inseridos através do Ecoturismo.
Com todo seu potencial ecológico podendo ser explorado de maneira racional e
sustentável, a RPPN enquadra-se como um local propício para atividades de
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
116
pesquisa, turismo sustentável e educação ambiental devido o alto grau de
conservação de toda sua área.
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
117
3. PLANEJAMENTO
A elaboração do Plano de Manejo da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo teve como
diretriz a realização de um diagnóstico ambiental da área e seu entorno executado a
partir de levantamentos de campo e dados secundários, os quais ampliaram o
conhecimento sobre os meios físico, biótico e socioeconômico relacionados.
Para a elaboração do planejamento buscou - se identificar as forças impulsoras e as
restritivas verificadas na Unidade de Conservação e em seu entorno.
Esta etapa contou com os subsídios produzidos nas Oficinas de Planejamento das
quais participaram representantes das comunidades do entorno, bem como
representantes dos setores públicos, privado e sociedade civil que se relacionam
direta ou indiretamente com a RPPN.
O planejamento da UC envolve a definição de objetivos específicos, o zoneamento e
a proposição de programas, abrangendo as ações a serem desenvolvidas pelos
envolvidos a fim de que a RPPN atinja os seus objetivos de criação.
3.1 - Método Aplicado para o planejamento
A elaboração do planejamento do Plano de Manejo da RPPN Dona Benta e Seu
Caboclo tomou como base um diagnóstico ambiental executado a partir de
levantamentos de campo e dados secundários (obtidos na literatura).
3.2 - Diretrizes do Planejamento
O planejamento da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo tem como base,
fundamentalmente, as seguintes premissas:
- Roteiro Metodológico para Elaboração de Plano de Manejo para Reservas
Particulares do Patrimônio Natural (MMA, 2004).
− Discussões e conclusões das Oficinas de Planejamento, promovidas pela Fazenda
Cordeiro de Jesus, que resultou em uma Matriz Estratégica de Planejamento, entre
outros indicativos e conclusões.
Na avaliação estratégica da RPPN, foi feita a identificação das variáveis que envolve
a RPPN e seu entorno, determinando os principais aspectos favoráveis ou contrários
ao alcance dos objetivos do Plano de Manejo.
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
118
A RPPN Dona Benta e Seu Caboclo, tomando como referência a Lei 9.985 de 18 de
julho de 2000, no seu Artigo 4º que institui o Sistema Nacional das Unidades de
Conservação da Natureza:
Art. 4º O SNUC tem os seguintes objetivos:
I - contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos
no território nacional e nas águas jurisdicionais;
II - proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito regional e nacional;
III - contribuir para a preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas
naturais;
IV - promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais;
V - promover a utilização dos princípios e práticas de conservação da natureza no
processo de desenvolvimento;
VI - proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notável beleza cênica;
VII - proteger as características relevantes de natureza geológica, geomorfológica,
espeleológica, arqueológica, paleontológica e cultural;
VIII - proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos;
IX - recuperar ou restaurar ecossistemas degradados;
X - proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa científica,
estudos e monitoramento ambiental;
XI - valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica;
XII - favorecer condições e promover a educação e interpretação ambiental, a
recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico;
XIII - proteger os recursos naturais necessários à subsistência de populações
tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e
promovendo-as social e economicamente.
O artigo 21 que estabelece o conceito e as permissões para manejo de uma RPPN:
Art. 21. A Reserva Particular do Patrimônio Natural é uma área privada,
gravada com perpetuidade, com o objetivo de conservar a diversidade
biológica.
§ 1o O gravame de que trata este artigo constará de termo de
compromisso assinado perante o órgão ambiental, que verificará a
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
119
existência de interesse público, e será averbado à margem da inscrição no
Registro Público de Imóveis.
§ 2o Só poderá ser permitida, na Reserva Particular do Patrimônio Natural,
conforme se dispuser em regulamento:
I - a pesquisa científica;
II - a visitação com objetivos turísticos, recreativos e educacionais;
III - (VETADO)
3.3 - Objetivos específicos de manejo
E nos estudos temáticos que embasaram o diagnóstico, foram definidos como
OBJETIVOS ESPECÍFICOS DE MANEJO para a RPPN Dona Benta e Seu Caboclo:
− Preservar a diversidade biológica do remanescente de Mata Atlântica que faz parte
da RPPN;
− Contribuir para a recuperação e manutenção dos remanescentes da Mata Atlântica
em Sergipe;
− Incentivar o desenvolvimento regional integrado através da realização de
atividades recreativas, do Ecoturismo e de práticas preservacionistas;
− Proteger os recursos hídricos existente na RPPN e no seu entorno;
− Proteger as espécies da fauna e da flora existente na RPPN;
− Disponibilizar os recursos naturais à pesquisa científica;
− Incentivar e dar suporte a pesquisas específicas e interdisciplinares que gerem
conhecimento sobre a região e auxiliem na formulação de estratégias de
conservação da Mata Atlântica;
− Contribuir para a promoção do processo participativo das comunidades do entorno
no desenvolvimento de alternativas econômicas sustentáveis e na prática de
atividades sustentáveis;
− Contribuir para a ampliação da oferta turística regional com base no Ecoturismo,
turismo científico, turismo educativo e de Eventos;
− Propiciar a visitação, lazer e recreação de forma ordenada, voltados para a
sensibilização ambiental e a valorização e conservação do patrimônio natural;
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
120
− Promover a educação ambiental constituindo-se como espaço difusor de práticas
ambientalmente corretas;
3.4 - ZONEAMENTO
O zoneamento de uma unidade de conservação tem o objetivo de proporcionar o
ordenamento por meio de sua organização espacial, definindo o grau de
interferência permitido para as diferentes áreas da unidade. É definido pela Lei
9.985/2000 como: “definição de setores ou zonas em uma UC com objetivos de
manejo e normas específicas, com o propósito de proporcionar os meios e as
condições para que todos os objetivos da Unidade possam ser alcançados de forma
harmônica e eficaz”.
Para Milano (1997), o zoneamento é efetuado ordenando-se porções homogêneas
da UC ou sítio em apreço, sob uma mesma denominação, segundo suas
características naturais ou físicas e com base nos interesses culturais, recreativos e
científicos. Assim, o zoneamento constitui-se em um instrumento de manejo que
apoia a administração na definição das atividades que podem ser desenvolvidas em
cada setor, orienta as formas de uso das diversas áreas, ou mesmo proíbe
determinadas atividades por falta de zonas apropriadas.
Na definição do zoneamento da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo, foram
considerados critérios como: representatividade, riqueza e diversidade de espécies,
grau de conservação da vegetação, suscetibilidade ambiental, relevo, potencial para
visitação e educação ambiental. Baseados nesses critérios e nos objetivos de
manejo da RPPN foram definidas as seguintes zonas: Silvestre, Proteção, Visitação,
Administração e Transição.
Tabela 39) áreas do Zoneamento
ZONA ÁREA (ha) ÁREA (%)
SILVESTRE 18,0 76,27
PROTEÇÃO 0,8 3,38
VISITAÇÃO 3,4 14,41
TRANSIÇÃO 1,0 4,24
RECUPERAÇÃO 0,4 1,70
TOTAL 23,6 100,00
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
121
3.3.1 - ZONA SILVESTRE
Definição e Objetivo Geral
As áreas da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo apresentam-se com um alto grau de
integridade. Como a demanda de pesquisadores e acadêmicos cresceu nos últimos
3 anos, iniciou-se na RPPN um ordenamento espacial destinado essencialmente à
conservação da biodiversidade, delimitando-se algumas áreas. O ZS situa-se em 3
locais na RPPN, porém interligados por corredores abrangendo os locais com maior
fragilidade ambiental. (áreas úmidas, encostas, solos arenosos, margens de cursos
d„água, entre outros), manchas de vegetação única, topo de elevações e outras, que
mereçam proteção máxima. A zona silvestre funciona como reserva de recursos
genéticos silvestres, onde podem ocorrer pesquisas, estudos, monitoramento,
proteção e fiscalização. Ela pode conter infraestrutura destinada somente à proteção
e à fiscalização.
Quadro 23) Mapa do Zoneamento - Fonte Seplan/SE - mod. p/RAZÃO
Descrição e Localização
A Zona Silvestre foi definida considerando-se, principalmente o grau de conservação
da vegetação e presença de fauna. Constituída pelos locais destinados à
conservação in situ de espécies da fauna e flora local. Esta zona contempla 18,0 ha.
equivalente a 76,27% da UC.
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
122
Normas Gerais de Uso
- As atividades humanas permitidas nessa zona são aquelas de fiscalização,
proteção, pesquisa científica, visitação restritiva e de baixo impacto voltadas ao
monitoramento;
- As atividades necessárias para proteger os recursos naturais da zona serão
restritas às de fiscalização e combate a incêndios florestais;
- As atividades permitidas não poderão comprometer a integridade dos recursos
naturais;
- As atividades científicas e de monitoramento serão conduzidas desde que não
promovam alteração nos ecossistemas;
- Somente serão permitidas coletas botânicas, zoológicas, geológicas, pedológicas e
arqueológicas (escavações) desde que não interfiram na estrutura e dinâmica das
espécies, das populações e/ou das comunidades naturais. No caso excepcional das
pesquisas arqueológicas envolverem escavações, a recuperação e reconstituição
dos sítios deverão constar no projeto. Em qualquer caso deverá haver autorização
por escrito do gestor da área, o que não exclui a devida licença concedida pelo
IPHAN, para o caso de pesquisas arqueológicas;
- A infraestrutura fixa permitida limita-se àquelas necessárias para a manutenção de
trilhas para fiscalização e às trilhas para uso científico, as quais devem se utilizar
preferencialmente de caminhos já existentes. Somente poderão ser implantadas
novas trilhas, caso seja comprovadamente necessário, desde que atendam às
condições de segurança, aliadas ao baixo impacto ambiental. Estas trilhas não
devem possuir conexão direta com a trilha utilizada pelos visitantes, ou possuir
acesso camuflado;
- É permitido o enriquecimento com espécies nativas, desde que recomendado por
estudos específicos;
- É proibido o tráfego de veículos, exceto em caso de emergência e necessidade
para proteção;
- A extração de sementes dependerá de projeto de pesquisa aprovado pela gestão
da UC, vinculada a não existência de alternativa locacional para retiradas das
mesmas. As sementes coletadas só poderão ser utilizadas na própria Unidade.
3.3.2 - ZONA DE PROTEÇÃO
A característica principal dessa zona é conter áreas naturais ou que tenham
recebido grau mínimo de intervenção humana. Nela pode ocorrer pesquisa, estudos,
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
123
monitoramento, proteção, fiscalização e formas de visitação de baixo impacto
(também chamada visitação de forma primitiva). Será construído nessa zona um
pórtico de entrada a fim de facilitar o controle, dois postos de
observação/monitoramento. Ela será também composta pela área que margeia toda
a trilha de visitação. As formas primitivas de visitação nessa zona compreendem
exemplos como turismo científico, observação de vida silvestre, trilhas e
acampamentos rústicos (também chamados acampamentos selvagens), ou seja,
sem infraestrutura e equipamentos facilitadores.
Objetivos Específicos
- Desenvolver atividades científicas, recreativas, educativas e de monitoramento de
forma compatível com os objetivos de manejo;
- Proteger amostras da Floresta em estágios de recuperação;
- Promover atividade de educação e interpretação ambiental, através de temas como
os ecossistemas e a recursos hídricos presente na Unidade;
Descrição e Localização
Esta zona abrange uma faixa tampão de 1,5 metros contornando praticamente toda
a área de visitação. Ela 0,8 ha, abrangendo 3,38% da RPPN.
Normas Gerais de Uso
- A manutenção de trilhas e de equipamentos de pesquisa deverá ser realizada de
forma a provocar a mínima descaracterização ambiental e paisagística. Quando da
retirada de um equipamento de pesquisa o ambiente deverá ser restaurado de forma
a recuperar sua constituição original;
- A sinalização admitida é aquela indispensável à proteção dos recursos da RPPN e
à segurança e informação do visitante;
- Todo lixo gerado pelos visitantes e funcionários da RPPN deverá ser depositado
em local adequado e retirado frequentemente da UC;
- Todas as trilhas outrora existentes nessa Zona que não tem uso previsto deverão
ter o processo de recuperação ambiental estimulado;
- As atividades humanas permitidas nessa zona são aquelas de visitação, educação
e interpretação ambiental, fiscalização, proteção e pesquisa científica;
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
124
- As atividades permitidas não poderão comprometer a integridade dos recursos
naturais, devendo ocorrer de maneira a não conflitarem com os objetivos de manejo
desta zona;
- É permitido e incentivado o desenvolvimento de atividades interpretativas e de
educação ambiental, especialmente para facilitar a apreciação e o conhecimento d a
RPPN;
- A sinalização admitida é aquela indispensável à proteção dos recursos da RPPN e
à segurança e proteção do visitante, sendo que as trilhas deverão ser sinalizadas
com informações educativas e/ou interpretativas, bem como sobre os cuidados a
serem tomados pelos visitantes.
3.3.3 - ZONA DE VISITAÇÃO
Na RPPN Dona Benta e Seu Caboclo esta zona compreende uma área que de 3,4
ha. equivalente a 14,40 %. Destinadas à preservação e às atividades de visitação.
Seu trajeto inicia no pórtico central e percorre diversos pontos da RPPN já
catalogados como atrativo turísticos. Serão desenvolvidas atividades de educação
ambiental, conscientização ambiental, turismo científico, ecoturismo, recreação,
interpretação, lazer e outros. Serão instalada infraestrutura, equipamentos,
sinalização interpretativa na trilha, painéis, mirantes, torres, trilhas suspensas,
alojamento simples para apoiar pesquisadores, adotando em todas as etapas
alternativas e tecnologias de baixo impacto ambiental.
Descrição e Localização
Engloba as duas áreas com possibilidade de uso intenso pelos visitantes:
(A) A área do pórtico e alojamento de apoio aos pesquisadores onde inicia a trilha
principal da RPP;
(B) A área localizada próximo à Lagoa do Avô.
Objetivos Específicos
- Proporcionar ao visitante informação e compreensão da importância ambiental da
unidade;
- Propiciar acesso ao público em circuitos previamente determinados na Unidade;
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
125
- Desenvolver atividades educacionais e recreativas de forma compatível com a
conservação do ambiente;
- Estruturar as áreas destinadas a receber os usos recreativos e eco turísticos de
forma a obter o máximo benefício desse uso, com segurança ao visitante, com o
mínimo impacto sobre o meio ambiente e compatível com os objetivos específicos
desta categoria de Unidade de Conservação;
- Viabilizar o uso público na RPPN através da implantação de infraestrutura de lazer
e do ecoturismo, em todas as modalidades compatíveis com a categoria de manejo
da Unidade;
- Propiciar atividade de visitação, lazer, recreação, educação ambiental e
interpretação, fiscalização, proteção e pesquisa científica.
Normas Gerais de Uso
- As atividades humanas permitidas nessa zona são aquelas de educação e
interpretação ambiental, lazer e recreação, fiscalização, proteção, pesquisa
científica;
- Será permitida a visitação de forma mais intensiva, visando ampliar, diversificar e
ofertar atividades de uso público, diminuindo o impacto sobre os recursos naturais
da Unidade;
- As visitas deverão ser agendadas respeitando o número de pessoas e o grupo de
interesse. Os grupos não devem ser maiores que 30 visitantes, sendo que para um
melhor aproveitamento aconselha-se que sejam divididos em 2-3 grupos;
- Todo visitante, para ter acesso às trilhas e os atrativos, deverá passar pelo Centro
de Visitante onde deverão ser instruídos a respeito das normas e regulamentos d a
RPPN;
- O horário de funcionamento da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo será das 8:00 às
17:00h, sendo o último horário permitido para entrada na trilha às 15:00h. No caso
de pesquisa científica o horário poderá ser ajustado de acordo com o tipo de
pesquisa.
- A recepção e a realização de atividades informativas e de educação e
interpretação ambiental com os visitantes deverão iniciar na sede da Fazenda
Cordeiro de Jesus para no segundo momento no pórtico da RPPN.
- Não será permitida a realização de atividades e a implantação de infraestruturas
em conflito com os objetivos da RPPN;
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
126
- Todos os visitantes deverão ser orientados em relação à fragilidade do local, ao
destino adequado do lixo, as normas da UC entre outros procedimentos
necessários, quando de sua recepção no Centro de Vivência e no início do circuito
de visitação;
- Deverão ser instaladas lixeiras nos locais de maior concentração de visitantes,
possibilitando a separação seletiva do lixo (orgânico, recicláveis, comum), à medida
que existam locais para disposição final com essas características. Até o devido
recolhimento, o lixo deverá ser acondicionado e separado em recipientes próprios;
- As trilhas e caminhos deverão ser conservados em boas condições de uso,
fornecendo segurança aos visitantes e aos funcionários;
- As áreas destinadas à permanência de visitantes deverão ser devidamente
sinalizadas;
- Permite-se a instalação de sinalização educativa, interpretativa e/ou indicativa,
desde que atendendo às orientações técnicas dos projetos específicos;
- É vedada a produção de ruídos sonoros artificiais;
- Toda e qualquer construção a ser implantada nesta zona deverá seguir o padrão
de conforto ambiental e estar arquitetonicamente em harmonia paisagística com o
ambiente em que se insere, considerando as condições de fragilidade do solo e o
potencial impacto ambiental;
- Na elaboração e implementação de projeto paisagístico deverão ser utilizadas
apenas espécies nativas componentes dos ambientes locais;
- Será permitida a visitação de forma mais intensiva, visando ampliar, diversificar e
ofertar atividades de uso público, diminuindo o impacto sobre os recursos naturais
da Unidade;
- As atividades permitidas não poderão comprometer a integridade dos recursos
naturais;
- Fica proibido a circulação de veículos particulares de qualquer dentro da RPPN;
- A circulação de pedestres somente poderá ser realizada nas trilhas destinadas a tal
finalidade. Não serão permitidos deslocamentos fora dos locais autorizados;
- A implantação e utilização de infraestrutura será permitida somente quando
necessárias às atividades previstas nos programas e todas as obras e instalações
deverão ter um mesmo padrão arquitetônico, devendo causar mínimo impacto visual
e estar em harmonia com a paisagem e os objetivos da zona;
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
127
- Todas as áreas naturais a serem modificadas deverão receber tratamento
paisagístico com espécies nativas;
- A sinalização admitida é aquela indispensável à proteção dos recursos da RPPN e
à segurança e proteção do visitante;
- O acesso de visitantes às trilhas e caminhos somente será realizado acompanhado
de um guarda-parque ou monitores treinados e credenciados;
3.3.4 - ZONA DE TRANSIÇÃO
Corresponde a uma faixa ao longo do perímetro da RPPN, com área de 1 ha
equivalente a 4,24 % da área da UC, com largura de aproximadamente 2 m, definida
de acordo com os resultados dos estudos e levantamentos durante a elaboração do
plano de manejo. Sua função básica é servir de filtro, faixa de proteção, que possa
absorver os impactos provenientes da área externa e que poderiam resultar em
prejuízo aos recursos da RPPN. Tal zona poderá receber, também, toda a
infraestrutura e serviços da RPPN, quando for o caso. Para o estabelecimento da
Zona de Transição foram considerados os elementos que interferem na proteção
dos recursos naturais da RPPN.
• Localização - A Zona de Transição inicia-se em no pórtico de entrada da RPPN e
percorre todo o perímetro da UC.
3.3.6 - ZONA DE RECUPERAÇÃO
É aquela que contém áreas alteradas pelo ser humano. Tem caráter provisório, pois
uma vez restaurada, será incorporada a uma das demais zonas. As espécies
exóticas introduzidas deverão ser removidas (se comprovada a viabilidade de
remoção) e a restauração deverá ser natural ou estimulada, caso os processos não
sejam eficientes.
Objetivos Específicos
- Promover a recuperação das áreas degradadas;
Descrição e Localização
A Zona de Recuperação compreende uma área de 0,4 ha correspondendo a 1,7 %
da área total da unidade, engloba as áreas de vegetação mais alteradas (estágio
inicial de sucessão). Como consta de uma área degradada, em termos do meio
físico e meio biológico, faz-se necessário a reconstituição tanto de solo, como da
vegetação original com espécies nativas do local, de modo a recompor a paisagem e
os ambientes naturais.
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
128
Normas Gerais de Uso
- Serão permitidas técnicas de recuperação direcionadas, indicadas e apoiadas por
estudos científicos compatíveis com os objetivos desta zona e devidamente
autorizados pelos Gestores da RPPN;
- Caso seja indicada a recuperação induzida ou adensamento, esta só poderá ser
realizada com utilização de espécies nativas, conforme a composição florística
original;
- O acesso a esta Zona será restrito aos pesquisadores, pessoas em visitas técnicas
e educativas, e funcionários d a RPPN;
- Se necessário, será permitida a abertura de trilhas para condução de pesquisas e
ações de monitoramento. Também pode ser avaliada a possibilidade de
implementação de interpretação ambiental. A localização destas trilhas deverá levar
em conta as condições de fragilidade do solo e o potencial impacto ambiental;
- As estradas existentes deverão ser desativadas e recomposta naquelas porções
onde não mais se prevê o uso;
- A visitação com finalidade educacional será permitida desde que autorizada pelos
Gestores em áreas previamente estabelecidas e acompanhada por guarda-parque
ou monitor, sendo que as visitas deverão ser previamente agendadas;
Após a recuperação, as áreas que compõem essa zona deverão ser incorporadas a uma das zonas permanentes;
- A extração de sementes dependerá de projeto de pesquisa aprovado pela gestão
da UC. As sementes coletadas só poderão ser utilizadas na própria Unidade.
3.4 - NORMAS GERAIS DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
As normas citadas a seguir são válidas para a gestão e o manejo da área da RPPN
Dona Benta e Seu Caboclo. Elas servem para nortear a prática das atividades nas
zonas internas da UC:
− A entrada de pessoas, veículos e equipamentos estão condicionados a
autorização dos Gestores da RPPN;
− Será proibida a permanência na RPPN fora do horário de visitação, com exceção
dos funcionários e pessoas autorizadas pela administração da mesma;
− A RPPN permanecerá fechada nas segundas-feiras, para que seja possível
realizar trabalhos internos de manutenção. Quando coincidir com feriado na
segunda-feira, o dia de fechamento é o primeiro subsequente ao feriado;
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
129
− Os funcionários, pesquisadores e visitantes da RPPN deverão tomar
conhecimento das normas de conduta, bem como receber instruções específicas
quanto aos procedimentos de proteção e segurança;
− Todos os trabalhos e pesquisas realizadas na RPPN deverão ser encaminhados
para a gestão da UC no formato de 1 cópia impressa e 1 digital, no mínimo;
− Os produtos das pesquisas científicas, relatórios e publicações, deverão ter uma
versão em português, devendo ser remetida uma cópia para o acervo da RPPN;
− São proibidas as coletas e apanha de espécimes da fauna e da flora, em todas as
Zonas, ressalvadas aquelas com finalidades científicas, desde que devidamente
autorizadas pelos Gestores da RPPN;
− Todos os exemplares de fauna e flora coletados na Unidade, mediante autorização
dos Gestores da RPPN, devem ser depositados em instituições de pesquisa
credenciadas, conforme legislação vigente que regulamenta a pesquisa científica em
Unidades de Conservação;
− Os guarda-parques e monitores deverão ser treinados em primeiros-socorros e
habilitados para enfrentar situações de risco;
− Todo servidor da UC, no exercício de suas atividades, deverá estar devidamente
uniformizado e identificado e portando radiocomunicador;
− Os usuários, sejam visitantes, voluntários ou funcionários da RPPN, serão responsáveis pelas instalações que ocuparem;
− Atividades de terceiros no interior da UC deverão ser cadastradas e autorizadas
pelos Gestores;
− É proibido o ingresso na RPPN, de pessoas portando armas, fogos de artifício,
materiais ou instrumentos destinados à caça, pesca ou quaisquer outras atividades
prejudiciais à fauna e flora locais;
− A fiscalização da RPPN deverá ser permanente e sistemática em todas as Zonas;
− É proibido o uso do fogo, salvo em condições de controle do mesmo, sendo
estritamente proibido quando possa colocar em risco a integridade dos recursos da
RPPN;
− É permitida a venda de produtos artesanais relacionados à imagem da RPPN e
assuntos de interesses ambiental ou cultural no Centro de apoio ao visitante
destinado a esse fim;
− A soltura ou reintrodução de espécies nativas da fauna e flora, somente serão
permitidas quando autorizadas pelos Gestores da UC, desde que orientadas por
projetos específicos;
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
130
− É proibida a permanência e entrada de animais domésticos no interior da Unidade;
− Não é permitido fumar no interior da Unidade;
− É vedada a produção de ruídos artificiais que incomodem os visitantes e a fauna
local.
3.5 - PROGRAMAS DE MANEJO
Os programas de manejo foram estabelecidos de acordo com as recomendações do
Roteiro Metodológico para Elaboração de Plano de Manejo para RPPNs, com o
objetivo de cobrir todas as zonas estabelecidas e fixar normas e diretrizes para o
desenvolvimento dos projetos da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo.
3.5.1 - PROGRAMA DE ADMINISTRAÇÃO
Objetivos - O objetivo dos Programas é garantir a funcionalidade da RPPN Dona
Benta e Seu Caboclo, fornecendo a estrutura e infraestrutura necessária para o
desenvolvimento dos demais programas. Também compõe os objetivos da RPPN:
- Gerir a Unidade de Conservação visando o alcance de seus objetivos de criação e
específicos;
- Dotar a UC de pessoal capacitado e proporcionar o bom funcionamento da RPPN
de acordo com seus objetivos de manejo;
- Efetivar o manejo proposto;
- Dotar a RPPN com o pessoal, as instalações e os equipamentos necessários;
Atividades e Subatividades
1. Planejar a implantação dos demais programas.
2. Gerenciar os recursos humanos necessários para a implantação do Plano de
Manejo.
3. Capacitar os funcionários para melhor atuação nas atividades e propiciar
informações mais adequadas aos visitantes.
4. Realizar reuniões semestrais de planejamento das atividades e reuniões mensais
de avaliação e ajustes.
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
131
5. Elaborar relatórios mensais e semestrais de atividades, além do relatório anual de
avaliação da área temática.
6. Elaborar e implantar um manual de procedimentos de gestão da RPPN, incluindo
as atividades de: manutenção das estruturas e infraestruturas, escala de serviço e
limpeza.
7. Fazer gestão junto aos parceiros para atender à demanda de pessoal necessário
para compor o quadro mínimo de servidores da RPPN, conforme segue:
- 01 guarda-parques;
- 01 agente de educação ambiental;
- 01 monitor de visitação;
- Recrutamento e seleção de voluntários
- Convênios institucionais para estágios
8. Implantar a Brigada de Prevenção e Combate de Incêndios Florestais.
9. Capacitar recursos humanos para garantir a gestão, proteção e visitação da
RPPN:
9.1. Capacitar para as funções administrativas;
9.2. Capacitar para a função de apoio à pesquisa;
9.3. Capacitar em operação e manutenção de equipamentos;
9.4 Capacitar em atendimento de primeiro socorros;
9.5. Capacitar guarda-parques para a função;
9.6. Capacitar e credenciar agentes de educação ambiental com o seguinte
conteúdo mínimo:
a. Noções básicas de meio ambiente e ecologia;
b. Conceitos de ecoturismo e educação ambiental;
c. Técnicas de condução de grupos;
d. Minimização de impactos da visitação;
e. Utilização de equipamentos como GPS, cordas e outros;
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
132
f. Noções de segurança e primeiros socorros.
11. Elaborar e implantar Projeto de Sinalização, tendo como público-alvo a
comunidade, principalmente do entorno da RPPN, visando informar sobre da
mesma, seus atributos, projetos, plano de manejo e normas de manejo, de forma a
estabelecer um canal de comunicação com a comunidade externa; e contribuir para
a proteção do patrimônio natural:
11.1. Definir os locais de implantação das placas de sinalização interna e nos limites
da UC;
11.2. Implantar sinalização em todos os pontos onde há circulação e trânsito de
pessoas na UC e entorno, com placas indicativas e orientativas;
11.3. Instalar placas de sinalização nos limites da UC, identificando-os, bem como
indicando as normas de conduta e circulação no seu interior;
11.4. Implantar placas de sinalização nas rodovias de acesso (SE 100 e SE 400).
12. Adquirir os seguintes equipamentos:
a. Binóculos;
b. Lanternas;
c. Materiais gerais de papelaria;
d. Equipamento audiovisual (filmadora, e aparelho de som);
e. Equipamentos de proteção individual;
f. Ferramentas diversas;
g. Equipamento de radiocomunicação;
h. GPS
i. Outros equipamentos necessários para gestão, fiscalização, proteção entre outros.
13. Implantar marcos de concreto e cercas nos limites da unidade de conservação.
14. Realizar curso para formação de condutores de visitantes (16 h) a ser ofertado
para a comunidade.
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
133
15. Implantar a infraestrutura prevista (marcos, cercas) conforme os projetos
específicos. Para as cercas da divisa, considerar 3 fios de arame liso, sendo que o
primeiro fio deve ter uma altura mínima de 0,60 cm do chão.
16. Implementar o Projeto de Sinalização elaborado para a Unidade.
17. Adquirir equipamentos de proteção e combate aos incêndios florestais, de
resgate e suporte básico de vida.
18. Realizar manutenção periódica da infraestrutura existente na unidade,
providenciando a limpeza e os reparos necessários.
19. Articular com a prefeitura municipal a coleta do lixo da Unidade e dos povoados
do Entorno que ainda não tem esse serviço.
20. Fomentar a coleta seletiva no município.
21. Construir um pequeno depósito de lixo nas imediações da estrada na Fazenda
Cordeiro de Jesus.
22. Montar uma biblioteca na Fazenda Cordeiro de Jesus com as pesquisas e
estudos realizados na RPPN.
23. Implementar as trilhas previstas conforme as especificações técnicas.
norma: Todas as interferências realizadas na trilha deverão ser de mínimo impacto,
tanto visual, quanto ambiental. Preferencialmente as árvores existentes ao longo do
caminho devem ser todas conservadas, adequando a trilha à sua localização.
24. Implantar um sistema de controle de acesso de veículos e visitantes junto à
entrada da Fazenda Cordeiro de Jesus e da RPPN.
27. Efetuar o controle e registro dos visitantes na Fazenda Cordeiro de Jesus, além
de estudos de demanda e satisfação visando subsidiar futuros trabalhos na UC.
28. Implementar exposições sobre diferentes temas, com enfoque na RPPN Dona
Benta e Seu Caboclo.
29. Implantar, quando possível, sistema para sustentabilidade da estrutura física da
RPPN.
3.5.2 - PROGRAMA DE PROTEÇÃO E FISCALIZAÇÃO
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
134
O Programa Temático de Proteção e Fiscalização tem como objetivo implementar
medidas de proteção e fiscalização da UC, levando-a a cumprir com seus objetivos
gerais e específicos. Todos os colaboradores envolvidos com a RPPN receberão
capacitação para atuar como fiscais educadores, levando em consideração:
- Conservar as condições em locais pouco alterados;
- Recuperar as condições naturais em locais degradados;
- Proteger os recursos naturais, culturais e as instalações da unidade;
- Garantir a integridade física do visitante e da unidade.
Atividades, Subatividades:
1. Implementar e coordenar as ações do Programa de Proteção e Fiscalização;
2. Realizar reuniões semestrais de planejamento das atividades e reuniões mensais
de avaliação e ajustes;
3. Elaborar relatórios semestrais de atividades, além do relatório anual de avaliação
da área temática;
4. Elaborar e implementar um manual de procedimentos de fiscalização da RPPN,
incluindo a rotina de fiscalização, a escala de serviço, os responsáveis, e a
programação das operações especiais;
5. Elaborar mensalmente a rotina de fiscalização da UC, compreendendo todos os
dados necessários: responsáveis, escalas mais adequadas, identificação (uniforme)
para os colaboradores; logística necessária, locais prioritários;
6. Formalizar e reforçar parcerias com órgãos públicos, tais como ADEMA, Pelotão
Ambiental, IBAMA, Prefeitura Municipal de Pirambu, para auxiliar na fiscalização e
proteção da RPPN;
7. Promover um Programa de Recuperação Ambiental que contemple a recuperação
de todas as trilhas existentes onde não se prevê utilização; a recomposição
ambiental das áreas de solo exposto existentes e a porção da estrada que não será
mais utilizada.
8. Solicitar que órgãos externos de fiscalização incluam a área em suas rotinas de
modo a que se efetuem vistorias periódicas no local.
9. Manter as linhas de divisa limpas, facilitando a demarcação e delimitação de seus
limites, bem como a fiscalização da unidade.
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
135
10. Implementar Plano de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais (PPCI) da
Unidade:
11. Implantar o sistema de rotinas e procedimentos de fiscalização definidos no
Plano de Fiscalização e Combate a Incêndios.
12. Instruir os técnicos responsáveis pela fiscalização e controle da Unidade quanto
à observação e primeiras providências a possíveis focos de fogo, principalmente
durante épocas de perigo (verão); Elaborar o PPCI da Unidade, prevendo todas as
medidas e ações de combate ao fogo;
13. Fortalecer a brigada voluntária da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo;
norma: Devem ser indicadas as formas de detecção de incêndios, a rotina de
comunicação, as formas de organização e transporte do pessoal, as alternativas de
abastecimento e transporte de combustíveis, o abastecimento de água, alimentação,
apoio logístico, primeiros socorros, entre outros;
14. Providenciar destinação adequada na Zona de Uso Especial de todo o lixo
recolhido ou gerado na RPPN;
15. Implementar ações de combate à pesca, caça, captura e comércio ilegal de
animais silvestres;
16. Implementar ações de controle de atividades poluidoras.
17. Promover ações para a erradicação de espécies exóticas da fauna e promover
ações para impedir a entrada de animais domésticos no interior da RPPN;
18. Assegurar a recuperação natural ou induzida das áreas inseridas na Zona de
Recuperação;
19. Promover ações para redução dos impactos por atropelamentos no entorno da
RPPN com sinalização preventiva e mecanismos de redução de velocidade no
entorno;
20. Monitorar as atividades das propriedades circunvizinhas à RPPN a fim de
prevenir e minimizar possíveis impactos negativos na RPPN e se preciso for informar
aos Órgãos fiscalizadores externos.
21. Apoiar ciclos de palestras envolvendo Instituições de Pesquisa e Órgãos de
Fomento Agropecuário para que os produtores da região.
22. Implementar medidas de controle de acidentes com óleos, graxas, combustíveis,
etc., dos veículos que trafegam no interior da Unidade;
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
136
23. Articular com o DER/Prefeitura de Pirambu a criação de medidas de controle e
prevenção de acidentes, mortandade de animais, redução de velocidade, entre
outros que sejam significativos para a gestão da Unidade.
24. Articular com o DER/Prefeitura de Pirambu a criação de medidas de controle de
velocidade para as áreas contíguas a Unidade.
3.5.2.1 - Subprograma de Recuperação de Áreas
Degradadas
O Programa tem como objetivo minimizar os efeitos e o desenvolvimento de
processos erosivos, especialmente nos acessos existentes, que possam influenciar
a dinâmica da RPPN.
São propostos como atividades:
1. Recuperar a área marginais ao riacho do Sangradouro com o plantio direto de
espécies arbóreas nativas, principalmente por espécies cujos frutos são utilizados
pelos animais. Esta medida poderá aumentar a oferta de alimento às populações
animais e garantiria a dispersão das espécies plantadas;
2. Realizar estudos para a verificação de como ocorre a regeneração natural, quais
as espécies pioneiras, secundárias e como estas se organizam em comunidade,
integrando os temas solos e vegetação para replicar a maneira mais simples e
eficiente de recuperação das áreas de solos degradados;
3. Avaliar as condições dos solos nas estradas e trilhas do interior da Unidade
visando adotar medidas para minimização de perda do solo.
4. Realizar estudos fitossociológicos e florísticos com o objetivo de identificar as
melhores espécies a serem utilizadas para recuperação e adensamento de áreas
em recuperação;
5. Definir ações para recomposição da flora local prevendo: definição das espécies e
das proporções entre elas para o enriquecimento da zona de recuperação;
6. Na área de solos degradados é maior a dificuldade de recuperação, pois o solo
não possui a capacidade de comportar uma vegetação de grande porte. Nesta área
devem ser realizados estudos para a verificação de como acontece a regeneração
natural, quais as espécies pioneiras, secundárias e como estas se organizam na
comunidade. Somente deste modo poderemos entender e replicar a maneira mais
simples e eficiente de recuperação desta área de solos degradados.
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
137
3.5.2.2 - Subprograma de Controle e Erradicação de
Espécies Exóticas
O objetivo principal deste subprograma é relacionar e ordenar as atividades
necessárias para o manejo de populações de espécies de plantas exóticas
presentes na UC, que interfiram negativamente na manutenção e no processo
natural da sucessão vegetal e da biodiversidade protegida pelo Refúgio.
Para que seja avaliada melhor forma de manejo é necessário realizar as seguintes
atividades:
1. Elaborar projeto específico sobre o manejo de espécies invasoras e exóticas na
Unidade.
1.1 Identificar as espécies exóticas e invasoras;
1.2 Mapear as áreas onde ocorrem espécies invasoras e determinar se são exóticas
ou nativas, assim como seu grau de interferência sobre as comunidades naturais;
1.3 Identificar e monitorar as potenciais vias de dispersão de exóticas como, por
exemplo, estradas, acessos, trilhas de visitação e aceiros.
1.4 Identificar a relação de cultivo de espécies exóticas de flora com as espécies
silvestres de fauna, especialmente o papagaio do mangue;
1.5 Articular com entidades de pesquisa e ensino a realização de estudos sobre o
manejo dessas espécies;
1.6 Avaliar a invasão da borda das áreas florestadas e áreas úmidas próxima ao
riacho do Sangradouro;
1.8 Propor ações que permitam a conservação da área da RPPN o mais próximo
possível das características primárias;
1.9 Monitorar os resultados das ações propostas.
3.5.3 - PROGRAMA DE PESQUISA E MONITORAMENTO
O Programa Temático de Pesquisa e Monitoramento tem como objetivo:
- Conhecer os recursos naturais e criar condições para que a pesquisa científica se
desenvolva, com a finalidade de subsidiar o manejo da RPPN;
- Aprofundar o conhecimento sobre os recursos naturais, arqueológicos e aspectos
histórico-culturais da RPPN, visando otimizar o manejo da área;
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
138
- Obter informações visando embasar ações de manejo e conservação da RPPN e
de seu entorno.
Atividades, Subatividades
1. Implantar e coordenar as ações do Programa Temático de Pesquisa e
Monitoramento;
2. Elaborar relatório anual de atividades e avaliação da Área temática;
3. Estabelecer o cronograma de realização de pesquisas em andamento e as
previstas na UC;
4. Implantar um sistema permanente de fomento à pesquisa científica na UC, por
meio de convênios e acordos de cooperação com universidades, instituições de
pesquisa, organismos nacionais e internacionais, tais como, EMBRAPA, CAPES,
CNPQ, FAPESE, SEDETEC, UFS, UNIT, empresas privadas e fundações, dentre
outros;
5. Zelar pelo cumprimento dos métodos e técnicas de observação e coleta
apontadas no Plano de Pesquisa da instituição/pesquisador;
6. Organizar e manter banco de dados das pesquisas realizadas;
7. Promover oficinas e outros eventos com a participação dos pesquisadores, para a
apresentação da produção científica da RPPN;
8. Organizar informações para divulgação da RPPN como campo de investigação da
Mata Atlântica Nordestina;
9. Temas de Pesquisa e Monitoramento prioritários:
- Identificar os efeitos das atividades produtivas do entorno sobre a qualidade da
água;
- Acompanhar junto a DESO o controle da qualidade da água dos Povoados do
Entorno, utilizando-se parâmetros físicos, químicos e biológicos capazes de
identificar diferentes origens de poluentes responsáveis pela perda da qualidade da
água ou biodiversidade. Tal monitoramento deverá abranger o riacho do
Sangradouro e Lagoa do Avô;
- Estudar os efeitos dos eventos climáticos extremos (vendavais e temporais) sobre
a UC principalmente ao longo da vegetação ciliar;
- Estudo sobre potenciais efeitos do uso de agrotóxicos sobre a fauna aquática e
anfíbia;
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
139
- Estudo da demografia e variabilidade gênica de espécies da flora e da fauna em
perigo, visando a definir estratégias para conservação a serem adotados;
- Estudos sobre a interferência das espécies exóticas sobre a fauna local, a partir da
potencial invasão das mesmas em ambientes aquáticos externos aos represamentos
estabelecidos;
- Inventário da fauna terrestre da UC e seu entorno imediato, com a correlação das
espécies com diferentes fisionomias, estratos da vegetação, solos e recursos
hídricos.
- Estudos sobre biologia e ecologia de organismos aquáticos, com desenvolvimento
de ferramentas para monitoramento da água.
10. Monitorar as condições físicas das trilhas.
3.5.3.1 - Subprograma de Monitoramento das Espécies de
Aves Ameaçadas
A avifauna tem sido usada como um dos parâmetros de qualidade dos ambientes.
São reconhecidas como bioindicadoras dos ecossistemas terrestres, principalmente
os florestais.
O presente subprograma objetiva avaliar o status populacional das espécies
ameaçadas (Tabela 41) de aves registradas para a unidade, a saber:
Tabela 40) Espécies de aves ameaçadas - Fonte: Razão
ESPÉCIE NOME POPULAR GRAU DE
AMEAÇA
Aratinga solstitialis (Linnaeus,
1766)
Jandaia-amarela Em perigo
Carpornis melanocephala (Wied,
1820)
sabiá-pimenta Vulnerável
Picumnus fulvescens Stager, 1961 pica-pau-anão-canela Quase ameaçada
Para tanto, as seguintes atividades são previstas:
1. Formar parcerias com instituições de pesquisa regionais, estaduais e federais
para desenvolvimento do programa;
2. Definir métodos necessários ao desenvolvimento do programa;
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
140
3. Realizar inventário para identificação de espécies de aves com algum grau de
ameaça;
4. Implementar o programa de monitoramento das três espécies ameaçadas de
aves;
5. Estudar a ecologia das espécies, especialmente as relações com a vegetação,
dieta e reprodução;
6. Desenvolver parâmetros para definição de ações de conservação das espécies,
tais como: tamanho mínimo de área em que é possível manter populações viáveis
dessas espécies; principais fontes de alimento e sítios de alimentação; locais de
ninhos de reprodução; quantidade de indivíduos; funcionalidade de corredores
ecológicos para ligação de reservas naturais; permitindo a passagem de exemplares
e troca de material genético;
7. Gerar outras informações que contribuam para conservação das espécies.
3.5.3.2 - Subprograma de Levantamento Arqueológico,
Histórico e Cultural
O Programa tem como objetivo identificar as áreas com vestígios de ocupação e
relevância arqueológica-histórica-cultural existentes RPPN.
São propostos como atividades:
1. Formar parcerias com instituições Públicas para levantamento de sítios
arqueológicos e guarda do acervo encontrado;
2. Realizar levantamento de prospecção arqueológico-histórico-cultural da área e
seu Entorno.
3. Mapear e cadastrar junto ao IPHAN os sítios existentes;
4. Propor ações para conservação ou manejo dos sítios identificados respeitando a
existência da UC e a respectiva zona de inserção;
5. Caso se confirme a existência de sítios, os mesmos poderão ser incluídos em
outros programas como o de educação ambiental e proteção.
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
141
3.5.4 - PROGRAMA DE VISITAÇÃO
A possibilidade de utilização dos recursos naturais da RPPN Dona Benta e Seu
Caboclo, aliados a fatores históricos e culturais regionais, faz com que seu potencial
gerador de visitação seja diversificado. Esta possibilidade, no entanto, está atrelada
à salvaguarda das características de tais recursos, o que se constitui no fio condutor
da proposição de seu Programa de Uso Público.
Analisando suas potencialidades e exemplos de programas de uso público de outras
Unidades de Conservação, buscou-se delinear uma proposta que aliasse a
concretização dos princípios da RPPN à satisfação dos envolvidos (órgão
responsável, município, população residente, visitantes, pesquisadores).
Nos subprogramas propostos são apresentados elementos essenciais como seus
objetivos específicos, público-alvo e principais ações, além de normas baseadas nas
Diretrizes para Visitação em Unidades de Conservação (IBAMA, 2006).
Objetivo Principal
O principal objetivo do Programa é a promoção da compreensão do meio ambiente e
de suas inter-relações na RPPN e no cotidiano da população, de modo a permitir
mudanças em seus hábitos e costumes, além de proporcionar a visitação na
Unidade.
Atividades, Subatividades e Normas
1. Implementar e coordenar as ações do Programa de Uso Público na UC;
2. Realizar reuniões semestrais de planejamento das atividades e reuniões mensais
de avaliação e ajustes;
3. Elaborar relatórios semestrais de atividades;
4. Coordenar a elaboração, produção e distribuição de material educativo e
informativo referentes à UC.
3.5.4.1 - Subprograma de Ecoturismo
Ecoturismo é o “conjunto de atividades turísticas que utilizam, de forma sustentável,
o patrimônio natural e cultural, incentivam sua conservação e buscam a formação de
uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o
bem-estar das populações envolvidas” (EMBRATUR, 2004). A priorização deste
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
142
segmento poderá ser um vetor de atratividade regional, enfatizando programações
de menor impacto negativo.
O público alvo se constitui de turistas, pesquisadores, estudantes, melhor idade,
especial e religiosos.
Os objetivos específicos são:
- Priorizar atividades direcionadas à utilização racional dos recursos naturais e que
estimulem a interpretação e proteção do ambiente;
- Evitar saturação de recursos no interior da UC por meio da implementação de
programação compatível com sua utilização adequada.
Para alcance de tais objetivos são propostas como atividade:
1. Ampliar o uso da trilha interna da RPPN, estudando a possibilidade de
observação noturna da natureza;
2. Divulgar e estimular a adoção dos princípios da Campanha Conduta Consciente
em Ambientes Naturais do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e os princípios de
conduta consciente em ambientes naturais, de acordo com o folheto Excursionismo
de Mínimo Impacto - Programa Nacional de Áreas Protegidas (MMA), como: ser
responsável por sua segurança, cuidar das trilhas, trazer seu lixo de volta, deixar
cada coisa em seu lugar, respeitar animais e plantas, ser cortês com outros
visitantes, entre outros;
3. Contratar monitores e condutores de visitantes, além de pessoal de manutenção
da trilha, conforme programa de Operacionalização;
norma: As atividades de uso público na unidade poderão ser cobradas: havendo
taxa de visitação fixa para entrada na RPPN (o que pode incluir a visita à trilha
interna), mais adicional pelo roteiro.
norma: Moradores da região, mediante apresentação do comprovante de residência,
estudantes mediante apresentação de carteira estudantil, crianças de até dez anos,
maiores de 60 anos e portadores de necessidades especiais poderão não pagar a
taxa de visitação.
4. Utilizar a trilha principal da RPPN para atividades ligadas ao ecoturismo e
educação ambiental;
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
143
5. Instalar, ao longo do percurso interno da RPPN, sinalização informativa sobre
temas importantes relacionados a fauna, a vegetação, recursos hídricos, a geologia,
a topografia, a ocupação regional;
6. Estudar a possibilidade de oportunizar os roteiros para diferentes públicos - de
crianças a melhor idade, incluindo portadores de necessidades especiais;
7. Estudar a viabilidade de implementação um roteiro de hikking (caminhada curta),
utilizando as estradas de acesso do entorno da UC;
8. Analisar a viabilidade de construir mirantes (na estrada de acesso, por exemplo),
como elementos diferenciais e complementares a visitação.
3.5.4.2 - Subprograma de Educação Ambiental e
Comunicação Social
A Lei Federal nº 9.795, de 27 de abril de 1999, em seu artigo primeiro, estabelece
que por educação ambiental “os processos por meio dos quais o indivíduo e a
coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum
do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade“.
De igual modo a Lei Estadual nº 6.882 de 08/04/2010, que dispõe sobre a Educação
Ambiental e institui a Política Estadual de Educação Ambiental estabelece que os
órgãos gestores de UC, promovam a Educação Ambiental, utilizando-a como
instrumento para a proteção dos recursos naturais e culturais associados, garantindo
a oferta de bens e serviços ambientais para as presentes e futuras gerações.
O público-alvo são as escolas públicas (municipais e estaduais) e também as
privadas, a comunidade local, os visitantes e os funcionários da Unidade de
Conservação. São elencados como objetivos específicos para o subprograma:
- Articular a participação cidadã na gestão do meio ambiente, entendido como bem
de uso comum dos brasileiros, essencial à sadia qualidade de vida da população,
seguindo as diretrizes da Fazenda Cordeiro de Jesus para a operacionalização do
Programa Estadual de Educação Ambiental (PRONEA);
- Desenvolver junto a comunidade local a conscientização ambiental como forma de
difundir a importância da RPPN e os benefícios diretos e indiretos advindos dele;
- Promover a divulgação da imagem e das atividades desenvolvidas na RPPN, no
intuito de relacionar-se com a comunidade vizinha bem como a sociedade em geral.
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
144
Para alcance de tais objetivos são propostas as atividades:
1. Realizar articulação interinstitucional com a Secretaria de Educação de Pirambu,
e com a Secretaria Estadual de Educação (SEED) visando estimular a integração da
rede de ensino público regional com a RPPN.
2. Realizar interlocução com as escolas da rede de ensino do entorno (povoados)
visando estimular a visitação escolar a RPPN e a inserção da temática ambiental
nos currículos escolares.
3. Promover o envolvimento da população local em programas de educação
ambiental de diversos temas, tais como: a importância da preservação ambiental, da
conservação da biodiversidade e recursos hídricos, da reciclagem de materiais, o
planejamento e recuperação de áreas degradadas, a produção e plantio de espécies
florestais, entre outros.
4. Divulgar conceitos e práticas de educação ambiental nas questões relativas à
preservação da biodiversidade e recursos hídricos e a Unidade de Conservação nos
povoados do entorno buscando a compreensão por parte da população da
importância da conservação da RPPN no contexto regional.
5. Elaborar e confeccionar cartilhas educativas sobre a importância do
remanescente florestal e sua inter-relação com a fauna e a manutenção dos
recursos hídricos.
6. Trabalhar e difundir as informações sobre a RPPN Dona Benta e Seu Caboclo e
seu entorno através da Literatura de Cordel, abrangendo as informações específicas
sobre os flora, fauna, recursos hídricos e histórico-culturais.
7. Elaborar um vídeo educativo contendo informações sobre a RPPN em português,
inglês e espanhol.
8. Definir as informações educativas a serem repassadas aos visitantes pelos
condutores, sobre a unidade, suas formações florestais, fauna, bem como dos
recursos hídricos e suas características.
9. Resgatar aspectos históricos e culturais da área onde se insere a Unidade,
visando sua divulgação na Fazenda Cordeiro de Jesus.
10. Manter profissionais capacitados para fornecer apoio técnico à população do
entorno da UC quanto à solução de seus problemas diários relativos à questão
ambiental, propiciando uma política interativa e de integração;
O Programa de Educação Ambiental proposto deverá atingir o público alvo, a partir
da realização de atividades de educação ambiental descritas na Tabela 42.
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
145
Tabela 41) Programa de Educação Ambiental
ESTRATÉGIA DE PROGRAMAÇÃO
ATIVIDADE OBJETIVO
ESCOLA
Visitas Programadas
Promover aprendizado através da observação direta em relação ao ambiente, como fauna, flora, recursos hídricos, entre outros.
Escolha do Mascote
Proporcionar uma identidade visual e lúdica para incutir a consciência da preservação ambiental
Teatro Ecológico
Incentivar as crianças a refletirem sobre a importância de se cuidar do meio ambiente e do mundo em que vivemos, investindo em mudanças de conceitos e atitudes conscientes.
Palestras
Incrementar conhecimentos sobre resíduos sólidos e reciclagem, biodiversidade e preservação ambiental.
COMUNIDADE LOCAL
Folders e Cartazes
Ter a atenção constantemente voltada aos temas de educação ambiental.
Ações Comunitárias
Promover ações de cunho ambiental com a comunidade.
VISITANTES
Trilhas Interpretativas Guiadas
Promover aprendizado através da observação direta em relação ao ambiente, como fauna, flora e recursos hídricos, entre outros.
Folders e Cartazes
Ter a atenção constantemente voltada aos temas de educação ambiental.
Centro de apoio ao visitante
Propiciar ao visitante local para a reflexão dos aspectos relacionados ao meio ambiente.
FUNCIONÁRIOS
Capacitação Capacitar os funcionários para o adequado recebimento dos visitantes.
Palestras
Incrementar conhecimentos sobre resíduos sólidos e reciclagem, biodiversidade e preservação ambiental.
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
146
3.5.4.3 - Escolha do Mascote da Unidade
Com o objetivo de envolver as escolas de ensino fundamental (1ª a 9ª séries) e de
gerar uma reflexão sobre o meio ambiente e sua preservação, esta atividade propõe
a realização de um concurso entre as escolas para a criação de um mascote
protetor da RPPN. Este deve ganhar um forte carisma, principalmente entre as
crianças, e atingir os objetivos de proteção ambiental de forma lúdica, sendo que
para a sua eleição sugere-se que ele seja uma espécie nativa da região e conste no
Livro Vermelho da Fauna ameaçada no Estado de Sergipe.
As inscrições, normas, regras e critérios de premiação, como criatividade,
originalidade e coerência com o tema apresentado, serão articuladas pela Fazenda
Cordeiro de Jesus.
3.5.4.4 - Teatro Ecológico
Após a escolha do mascote serão realizadas peças teatrais que buscarão resgatar
histórias da região, tendo como narrador o próprio mascote. Estas serão
organizadas e desenvolvidas pela administração da UC em parceria com a
administração pública dos municípios afetados.
Esta atividade possui o objetivo de incentivar as crianças a refletirem sobre a
importância de se cuidar do meio ambiente e do mundo, investindo em mudanças de
conceitos e atitudes conscientes.
3.5.4.5 - Palestras
Serão ministradas por profissionais tecnicamente qualificados que poderão
desenvolver os seguintes itens:
1. Palestra sobre a Poluição do ar: terá o objetivo de conscientizar o aluno sobre a
importância da qualidade do ar, mostrando que a qualidade do ar está diretamente
ligada a problemas respiratórios, cardiovasculares e os problemas ambientais,
transmitindo informações básicas sobre fontes poluidoras e alternativas para reduzir
a poluição atmosférica.
As sugestões de tópicos a serem abordados são as seguintes:
- A poluição do ar e a saúde;
- A poluição do ar e o meio ambiente;
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
147
- Acidificação ou chuva ácida;
- A ação do ozônio;
- Mudanças climáticas e o efeito estufa;
- Aquecimento global;
- Solução difícil;
- Transporte e consumo de energia;
- O transporte e o lixo;
- O que pode ser feito;
- Atividades.
2. Palestra sobre Lixo: intitulada “O Lixo nosso de cada dia”, terá o objetivo de
discorrer sobre a problemática do lixo nos tempos atuais, tais como superprodução,
doenças causadas, contaminação do solo e água, enchentes, degradação do
ambiente, etc. Além de aspectos como a classificação do lixo e sua origem, tipos de
deposição finais e alternativos para minimizar a quantidade e os impactos causados
pelo lixo.
As sugestões de tópicos a serem abordados são as seguintes:
- Classificação dos resíduos sólidos (lixo);
- Resíduos perigosos;
- Resíduos indesejáveis;
- Como resolver o problema do lixo;
- Reciclagem: a indústria do presente;
- Para onde vai o lixo
- Tratamento e disposição final do lixo;
- Compostagem;
- Incineração;
- Pirólise;
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
148
- Digestão anaeróbica;
- Reuso e reciclagem;
- Aterro sanitário;
- Aterro controlado;
- Unidades de segregação e/ou compostagem;
- Embalagem: quanto mais simples, melhor;
- A responsabilidade é de quem produz;
- O lixo e o consumo;
- O que você pode fazer;
- Atividades.
3. Palestra sobre a Biodiversidade: terá o objetivo de explicar o que é a
biodiversidade, qual a sua relação com os aspectos sociais, econômicos e
ambientais e mostrar a importância de se preservá-la e de como explorá-la
sustentavelmente, instigando o aluno a pensar sobre alternativa para preservar a
biodiversidade a nível local e regional.
As sugestões de tópicos a serem abordados são as seguintes:
- A importância da biodiversidade;
- Funções ambientais;
- Polinização e dispersão das plantas;
- A teia trófica ou cadeia alimentar;
- Variabilidade e adaptação;
- Estabilidade do regime hídrico e amenização climática;
- Funções socioeconômicas;
- Fonte de novos produtos e de energia;
- Sustentabilidade na agricultura e pecuária;
- Produtos florestais;
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
149
- A questão sociocultural;
- Lazer e turismo;
- Ecoturismo: uma forma sustentável de utilização dos recursos naturais;
- Florestas: muito mais do que um conjunto de árvores;
- Os biomas brasileiros;
- Desmatamento;
- Preservar a biodiversidade é um dever de todos.
4. Palestra sobre Água: intitulada “Uma gotinha de água pelo amor de Deus”, terá o
objetivo de conscientizar o aluno sobre a importância da qualidade da água,
relacionando as doenças causadas por águas poluídas. Também deverá explicar
como funciona o ciclo da água e seus diversos usos, assim como métodos de
tratamento e prevenção de doenças causadas por consumo de águas impróprias,
assim como mostrar alternativas para prevenir o desperdício e diminuir o consumo
de água.
As sugestões de tópicos a serem abordados são as seguintes:
- Relevância da conservação da água pela RPPN Dona Benta e Seu Caboclo;
- O ciclo da água;
- A distribuição e o consumo de água doce no mundo e no Brasil;
- Água no Brasil;
- Os usos da água;
- Uso doméstico;
- Saneamento básico;
- Uso industrial;
- Uso agrícola;
- Navegação;
- Pesca e lazer;
- Gestão participativa - comitê Bacia Hidrográfica do Rio Japaratuba.
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
150
3.5.4.6 - Folders e Cartazes
Possuem o intuito de proporcionar a consciência ambiental e informativa do público-
alvo (escolas, visitantes e comunidade), para a preservação da qualidade ambiental.
Os temas principais sugeridos para os cartazes e folders são: a importância da água
e da preservação ambiental; tipos de resíduos e reciclagem e implantação e
zoneamento da Unidade de Conservação.
3.5.4.7 - Guia de Espécies
A partir de pesquisas científicas e inventários já realizados na UC e também que
venham a ser desenvolvidos, serão organizados e publicados guias da fauna e flora:
mamíferos de médio e grande porte, aves, anfíbios, morcegos, peixes e vegetação,
valorizando e divulgando a biodiversidade que ocorre na RPPN. Estes guias serão
utilizados em atividades de educação e interpretação ambiental na UC e em escolas
públicas e privadas da região, incentivando aos estudantes conhecer os animais
silvestres e a vegetação nativa que ocorrem em nossos ecossistemas.
3.5.4.8 - Ações Comunitárias
Através de parcerias com entidades governamentais, promover campanhas
educativas, como o plantio de árvores, oficinas de reciclagem, ações de coleta de
lixos nas áreas naturais, entre outras, que tenham como objetivo a manutenção e
recuperação do meio ambiente.
A adoção de campanhas de cunho ambiental poderá ser realizada, como o Dia da
Árvore (21 de setembro), Dia da Água (22 de março), Dia do Meio Ambiente (5 de
junho), Dia Mundial sem Carro (22 de setembro) e o Dia das Crianças (12 de
outubro).
Assim como campanhas educativas de redução do consumo de água e energia,
separação e reutilização corretas de resíduos, entre outros.
3.5.4.9 - Trilhas Interpretativas Guiadas
Para uma trilha ser considerada como um instrumento para a Educação Ambiental,
ela deve despertar no usuário a curiosidade sobre aspectos ambientais. Para que
isso ocorra, a interpretação deve promover em um determinado público alvo o
sentimento de pertinência a natureza, através de sua transformação íntima em
relação aos recursos naturais, da sua compreensão e de seu entendimento, na
esperança de gerar interesse, sua consideração e seu respeito pela natureza, e
consequentemente pela vida.
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
151
Como consta no diagnóstico a UC já dispõe de trilhas, devendo apenas haver
algumas adequações quanto aos aspectos de capacidade de carga e capacitação
dos guias.
3.5.4.10 - Capacitação dos Funcionários
A capacitação e o treinamento dos funcionários ocorrerão através de reuniões e
palestras ministradas por profissionais tecnicamente qualificados. Estes terão por
função orientar e treinar os funcionários sobre diversos assuntos voltados ao meio
ambiente e sua preservação, além das atividades ambientais ofertadas pela UC,
para que estes possam bem informar os visitantes.
Ainda receberão treinamento acerca das práticas sustentáveis diárias a serem
aplicadas durante a realização dos serviços, como o desperdício zero, uso racional
da energia elétrica, água e bens de consumo em geral, dentre outras.
O treinamento deverá abranger de forma ampla todos os responsáveis pela UC,
envolvendo todos os setores: administrativo, monitoramento, manutenção,
recreação, entre outros. O conteúdo e a abordagem deste subprograma podem ser
expandidos para turismo educativo, visando não apenas a sensibilização quanto ao
meio ambiente, mas a melhor apreensão de temas sobre a realidade local e
regional.
3.5.5 - PROGRAMA DE SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA
Entende-se que a própria sobrevivência da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo
dependerá da boa implementação deste programa. As boas ideias e ações tem
também seus custos para se tornarem viáveis daí a necessidade de se buscar meios
para garantir a sustentabilidade econômica.
Objetivos: Promover o desenvolvimento econômico sustentável da propriedade
através de práticas geradoras de emprego e renda responsáveis.
Atividades e normas:
- desenvolver práticas eco turísticas dentro da RPPN e no seu entorno, promovendo
o desenvolvimento econômico através da valorização da propriedade com a
contemplação das belezas naturais e do conhecimento da biodiversidade;
- Atender aos visitantes com alimentação, hospedagem, guiamento nas trilhas,
sediar eventos diversos;
Ações gerais:
- Elaborar de projetos que buscam captar recursos via editais ou demanda
espontânea, também junto à iniciativa privada que poderão contribuir para a
manutenção da UC e para a implementação do Plano de Manejo;
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
152
- Dar enfoque ao mercado voluntário de carbono, desmatamento evitado,
pagamentos por serviços ambientais e ao ICMS ecológico, já em funcionamento em
alguns estados brasileiros;
- Termos de ajuste de conduta e compensação ambiental poderão ser destinados à
RPPN devido às parcerias e convênios com a iniciativa privada, Ministério Público,
IBAMA, ICMBio, ADEMA, PREFEITURA MUNICIPAL DE PIRAMBU, ONGs, OSCIPs
e quaisquer outras empresa.
3.5.6 - PROGRAMA DE COMUNICAÇÃO
A implementação de todos os programas mencionados neste Plano de Manejo
dependem do envolvimento do programa de comunicação, tanto no âmbito interno
quanto no externo.
Objetivos: divulgar para os públicos internos e externos da RPPN a importância
estratégica de uma Unidade de Conservação do ponto de vista cultural, educacional
e ambiental.
Atividades: buscar e manter parcerias para ampliar e divulgar os resultados do Plano
de Manejo da RPPN em todos os níveis de governo no Estado de Sergipe, nas
comunidades do entorno, a autoridades diversas, instituições de ensino público e
privadas, ONGs, veículos de comunicação, instituições privadas, dentre outras.
Ações gerais:
- produção de um vídeo institucional;
- produção e distribuição do folder da UC;
- participação em congressos e eventos;
- organização de atividades de divulgação nos meios de comunicação (rádio, jornal,
revistas, TV) e projetos de relações públicas.
Normas e ações para a divulgação do Plano de Manejo:
- A apresentação do plano de manejo será através de oficinas e palestras e também
na participação em eventos da região;
- Sua divulgação será através da publicação de um CD e resumo executivo contento
as principais informações deste documento, para que seja do conhecimento da
comunidade em geral as normas que regulam esta UC;
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
153
- Participação em eventos, congressos, divulgação em instituições públicas e
privadas e nos meios de comunicação (rádio, jornal, revistas, TV e internet);
- Tornar as atividades desenvolvidas na RPPN conhecidas pelo público, visitantes e
comunidade em geral como referência para a região;
- Buscar apoio e convênios junto ao poder público, Secretaria do Meio Ambiente do
Estado do Estado de Sergipe, ONGs e Instituições de Ensino para a divulgação e
incentivo dos trabalhos desenvolvidos na UC;
- Criar uma página na internet, dando acesso ao público às informações sobre UCs,
principalmente RPPNs, conservação da natureza e também sobre as atividades e
pesquisas desenvolvidas na RPPN.
Propõem-se ainda as atividades:
3.6.1 - Ambiente Sustentável
Sistema de captação de água da chuva em todas as construções já existente na
Fazenda (sede da RPPN) e canalizada e armazenada em cisternas para serem uso
da propriedade e da UC; coleta seletiva de lixo, com separação total e destinação
dos resíduos para a reciclagem; compostagem com resíduos orgânicos gerados na
UC e na Fazenda.
3.6.2 - Infraestrutura
Adequar as estruturas existentes na Sede da UC para atingir os objetivos propostos
do zoneamento e programas de manejo. Também a construção e implementação de
novas estruturas e equipamentos dentro da RPPN ou na Fazenda, necessários para
o desenvolvimento das atividades previstas no Plano de Manejo.
3.6.3 - Pórtico de entrada
Instalação de um pórtico na entrada da RPPN, que deverá ser construído de
material rústico, preferencialmente com toros de eucalipto tratado. Isso dará mais
resistência e durabilidade à estrutura. Neste pórtico deverão constar as principais
informações da UC como nome e atrativos.
3.6.4 - Torre de observação
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
154
Construção de uma torre em local alto, dentro da Zona de Visitação da RPPN, que
será utilizada para fiscalização e observação de aves. Será executada mediante
projeto com estrutura, materiais e mão de obra especializada, condizente com as
dimensões e objetivos propostos.
3.6.5 - Bancos de descanso
Instalação de bancos em diversos pontos da Zona de Visitação da RPPN que
servirão de descanso e contemplação da natureza para os momentos de atividades
de Educação Ambiental, utilizando material rústico, preferencialmente de toras de
eucalipto que são razoavelmente duráveis e pouco suscetíveis a vandalismo.
3.6.6 - Pinguela e pontilhão
Construção de uma pinguela sobre o Riacho do Sangradouro e entrada da RPPN,
para facilitar o acesso. Será feita de material rústico, porém resistente, propiciando
segurança dos visitantes.
3.6.7 - Centro de apoio aos visitantes
Construção de um centro de apoio aos visitantes logo após o pórtico de entrada da
RPPN, visando propiciar um momento de preparação antes de adentrar
efetivamente na UC.
3.6.8 - Melhorias no alojamento dos pesquisadores, estagiários e
guarda-parque
A casa que servirá de alojamento para pesquisadores, estagiários e guarda-parque
localiza-se vizinho à sede da RPPN, na Fazenda Cordeiro de Jesus e já está pronta
e disponível, sendo necessário somente cuidados de manutenção. Para sua melhor
utilização, deverão ser feitas pequenas melhorias e adaptações, como a instalação
de diversos equipamentos utilizados nas atividades de pesquisa, estágio e
manutenção.
3.6.9 - Centro de Referência para Estudos da Restinga
Construção prédio próximo à sede da RPPN, na Fazenda Cordeiro de Jesus, que
abrigará o Centro de Referencia para Estudos da Restinga – CRER, visando com
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
155
isso recepcionar diversos estudantes e pesquisadores, enriquecendo o
conhecimento sobre a fauna e flora existente.
3.7 - CRONOGRAMA FÍSICO FINANCEIRO
Tabela 42) Cronograma Físico Financeiro dos Programas de Manejo
PROGRAMAS DE MANEJO EXECUÇÃO/ANOS
CUSTOS R$ 1º 2º 3º 4º 5º
PROGRAMA DE ADMINISTRAÇÃO
Contratações 130.000,00
Capacitações 40.000,00
Sinalização 20.000,00
Equipamentos diversos 30.000,00
Cercamento com 3 fios de arame 7.000,00
Construção de depósito de lixo 1.600,00
Montagem da Biblioteca 1.500,00
PROGRAMA DE PROTEÇÃO E FISCALIZAÇÃO
Elaboração do manual de
procedimentos para a fiscalização 400,00
Recuperação ambiental na RPPN 6.000,00
Manutenção das trilhas 12.000,00
PROGRAMA DE PESQUISA E MONITORAMENTO
Implantar sistema de fomento à
pesquisa 6.000,00
Oficinas 6.000,00
Confecção e distribuição de
informações científicas sobre a RPPN 1.000,00
PROGRAMA DE VISITAÇÃO
Elaborar e distribuir material sobre
Educação ambiental na RPPN 1.000,00
Construção de Mirante 5.000,00
Oficinas com estudantes 3.000,00
Construir um painel sobre educação
ambiental 400,00
Elaborar um vídeo educativo sobre a
RPPN 1.200,00
Folhetos de Literatura de Cordel 2.000,00
Confecção da mascote 500,00
Montagem do teatro ecológico 1.000,00
Palestras 3.000,00
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
156
PROGRAMA DE SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA
Melhorias na hospedaria 20.000,00
PROGRAMA DE COMUNICAÇÃO
Produção de um vídeo institucional 1.200,00
Divulgação nas mídias 2.000,00
TOTAL R$ 301.800,00
PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO
157
ANEXOS