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PCP e Bloco deixam passar, na generalidade, o Orçamento de Costa, mas avisam que no debate na especialidade serão mais exigentes Primeiro Plano PS Centeno diz que OE é prova de alternativa O ministro das Finanças não se tem cansado de usar adjetivos para classificar a proposta orçamental do PS. "É responsável, dialogante, equilibrada". Acima disso, reiterou Mano Centeno, no fim de semana, em Vila Real, "pretende demonstrar que existe uma alternativa" "Não aceitaremos recuos do PS" em 2017 O BE aprovou, este sábado, um aviso aos socialistas , ''Não aceitamos que a UE seja usada como álibi dos seus re- cuos e cedências". O texto foi assinado pela fação em que se incluem João Se- medo, Francisco Louçã, Catarina Mar- tins, Mariana Mortágua, Jorge Costa, Mansa Matias e José Manuel Pureza. Parlamento Proposta de Orçamento do Estado é debatida hoje na generalidade e votada amanhã. PCP e BE já anunciaram voto favorável Esquerda aprova OE sem o aplaudir OE quer virar a página da austeridade e aumentar o rendimento disponível das famílias Helena Teixeira da Silva helenasiivarajn ut O debate sobre a proposta do Or- çamento do Estado para 2016 (ol:2016) começa hoje, na Assem- bleia da República, com o Governo minoritário socialista convencido de que conseguiu controlar. por antecipação, os danos que PCP, Verdes e Bloco de Esquerda (BE) poderiam causar amanhã na vota- ção do documento. A confirmação chegou ontem, ao fim da tarde: os partidos de Esquerda que susten- tam o PS no Governo votarão favo- ravelmente o 0E2016. O partido ecologista até já o tinha dito an- teontem. Todos aprovam, mas não aplaudem. Os avisos são mais do que muitos e, no que depender de - les, António Costa terá rédea curta. "Na sua generalidade, o OE vai de encontro ao que foram as negocia- ções feitas com o BE e permite a re- cuperação de rendimentos pela pri- meira vez em cinco anos a quem tra- balha ou trabalhou toda a vida em Portugal. Portanto, vamos fazer este debate para viabilizar o Orçamen- to". anunciou Catarina Martins. numa sessão pública sobre "0 que traz o Orçamento, o que quer o Blo- co?", realizada em Torres Novas. O secretário-geral do PCP tam bém assegurou que os comunistas votarão a favor na generalidade do 0E, mas avisou que na especialida- de a conversa será diferente. "0 PCP vai intervir com determinação no debate na especialidade, para que o Orçamento possa corresPon- der, o melhor possível, às necessi- dades. expectativas e aspirações dos trabalhadores", ressalvou lerá- nimo de Sousa, em conferência de imprensa. após o Comité Central. No mínimo, o PCP tentará que haja uma descida da taxa do imposto municipal sobre imóveis (IMO e o congelamento das propinas. O aviso é idêntico ao de Os Ver- des, que também prometem apre- sentar propostas na especialidade, e ao de Catarina Martins. Ou seja, há voto favorável, mas não há lou- vor nem inibição na crítica. A diri- gente garantiu que "não falha aos compromissos", mas fez questão de acrescentar que será "extraordi- nariamente exigente. para que. na especialidade, se dê mais resposta onde ela está a faltar" e se prossiga na recuperação de rendimentos. A coordenadora do BE - que pretende lutar pela introdução do alargamento da tarifa social de energia e por um valor fixo para as deduções de educação em sede de IRS - esclareceu que o 0E2016 "não é o Orçamento do BE", mas, sim, do Governo socialista. Nada que a direção do PS não ti- vesse previsto que pudesse acon- tecer. Por isso, no encerramento das jornadas parlamentares do PS. em Vila Real. Ana Catarina Mendes, secretária-geral-adjunta, frisou que "o acordo à Esquerda não tem a ver com coligações ou acordos do passado". Mas, continuou, "sem dramas, cada partido prosseguirá a sua agenda no que não for incom- patível com o apoio ao Governo". • 0E2016 Ninguém se revê totalmente nele. Nem o PS Ninguém se revê totalmente no Orça- mento que será debatido hoje e votado amanhã na generalidade no Parlamento. Nem o próprio PS, cujo ministro das Finan- ças tem repetidamente dito que preferia a proposta original. A proposta final é dife- rente da que foi levada a Bruxelas, diferente da que foi apresentada no inicio do més, di- ferente da errata acrescentada a 12 de fe- vereiro com 46 páginas. Entre outras dife- renças, o PS doseou o otimismo: a econo- mia passa a crescer 1,8% e não 2,1%.

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Page 1: Plano anunciaram voto favorável Esquerda aprova OE sem o … · Orçamento do Estado para 2016 po-derão conhecer ajustamentos ao longo do ano. Outras, mais polémi-cas, poderão

PCP e Bloco deixam passar, na generalidade, o Orçamento de Costa, mas avisam que no debate na especialidade serão mais exigentes

Primeiro Plano

PS Centeno diz que OE é prova de alternativa

O ministro das Finanças não se tem cansado de usar adjetivos para classificar a proposta orçamental do PS. "É responsável, dialogante, equilibrada". Acima disso, reiterou Mano Centeno, no fim de semana, em Vila Real, "pretende demonstrar que existe uma alternativa"

"Não aceitaremos recuos do PS" em 2017

O BE aprovou, este sábado, um aviso aos socialistas, ''Não aceitamos que a UE seja usada como álibi dos seus re-cuos e cedências". O texto foi assinado pela fação em que se incluem João Se-medo, Francisco Louçã, Catarina Mar-tins, Mariana Mortágua, Jorge Costa, Mansa Matias e José Manuel Pureza.

Parlamento Proposta de Orçamento do Estado é debatida hoje na generalidade e votada amanhã. PCP e BE já anunciaram voto favorável

Esquerda aprova OE sem o aplaudir

OE quer virar a página da austeridade e aumentar o rendimento disponível das famílias

Helena Teixeira da Silva helenasiivarajn ut

► O debate sobre a proposta do Or-çamento do Estado para 2016 (ol:2016) começa hoje, na Assem-bleia da República, com o Governo minoritário socialista convencido de que conseguiu controlar. por antecipação, os danos que PCP, Verdes e Bloco de Esquerda (BE) poderiam causar amanhã na vota-ção do documento. A confirmação chegou ontem, ao fim da tarde: os partidos de Esquerda que susten-tam o PS no Governo votarão favo-ravelmente o 0E2016. O partido ecologista até já o tinha dito an-teontem. Todos aprovam, mas não aplaudem. Os avisos são mais do que muitos e, no que depender de - les, António Costa terá rédea curta.

"Na sua generalidade, o OE vai de encontro ao que foram as negocia-ções feitas com o BE e permite a re-cuperação de rendimentos pela pri-meira vez em cinco anos a quem tra-balha ou trabalhou toda a vida em Portugal. Portanto, vamos fazer este debate para viabilizar o Orçamen-to". anunciou Catarina Martins. numa sessão pública sobre "0 que traz o Orçamento, o que quer o Blo-co?", realizada em Torres Novas.

O secretário-geral do PCP tam bém assegurou que os comunistas votarão a favor na generalidade do 0E, mas avisou que na especialida-de a conversa será diferente. "0 PCP vai intervir com determinação no debate na especialidade, para que o Orçamento possa corresPon-der, o melhor possível, às necessi-dades. expectativas e aspirações dos trabalhadores", ressalvou lerá-nimo de Sousa, em conferência de imprensa. após o Comité Central. No mínimo, o PCP tentará que haja uma descida da taxa do imposto municipal sobre imóveis (IMO e o congelamento das propinas.

O aviso é idêntico ao de Os Ver-

des, que também prometem apre-sentar propostas na especialidade, e ao de Catarina Martins. Ou seja, há voto favorável, mas não há lou-vor nem inibição na crítica. A diri-gente garantiu que "não falha aos compromissos", mas fez questão de acrescentar que será "extraordi-nariamente exigente. para que. na especialidade, se dê mais resposta onde ela está a faltar" e se prossiga na recuperação de rendimentos.

A coordenadora do BE - que pretende lutar pela introdução do alargamento da tarifa social de energia e por um valor fixo para as

deduções de educação em sede de IRS - esclareceu que o 0E2016 "não é o Orçamento do BE", mas, sim, do Governo socialista.

Nada que a direção do PS não ti-vesse previsto que pudesse acon-tecer. Por isso, no encerramento das jornadas parlamentares do PS. em Vila Real. Ana Catarina Mendes, secretária-geral-adjunta, frisou que "o acordo à Esquerda não tem a ver com coligações ou acordos do passado". Mas, continuou, "sem dramas, cada partido prosseguirá a sua agenda no que não for incom-patível com o apoio ao Governo". •

0E2016 Ninguém se revê totalmente nele. Nem o PS

Ninguém se revê totalmente no Orça-mento que será debatido hoje e votado amanhã na generalidade no Parlamento. Nem o próprio PS, cujo ministro das Finan-ças tem repetidamente dito que preferia a proposta original. A proposta final é dife-rente da que foi levada a Bruxelas, diferente da que foi apresentada no inicio do més, di-ferente da errata acrescentada a 12 de fe-vereiro com 46 páginas. Entre outras dife-renças, o PS doseou o otimismo: a econo-mia passa a crescer 1,8% e não 2,1%.

Page 2: Plano anunciaram voto favorável Esquerda aprova OE sem o … · Orçamento do Estado para 2016 po-derão conhecer ajustamentos ao longo do ano. Outras, mais polémi-cas, poderão

Eduardo Catre'', Economista e ex-ministro das Finanças

"Vamos ter mais um ano de aspirador fiscal"

' Este OE, do ponto de vista macroeconómico, aponta para a redução do défice pú-blico para 2.2% do MB e um saldo primário de 2% positi-vo. Estamos no bom caminho quanto à definição de objeti-vos. Mas a despesa pública continua a subir em valores nominais. A despesa corrente primária vai subir face a 2015, em 2,4 mil milhões de euros. O que é mau. O OE aponta para um aumento da receita corrente e fiscal de 2,9 mil milhões. Assim. percebe-se que o aumento da despesa pública corrente é financiado como aumento de impostos, bem como com os rendi-mentos das empresas (o IRC não desce).

Vamos ter mais um ano de aspirador fiscal, porque. para a redução do défice, o Estado vai absorver os recursos das famílias e das empresas. O que não é bom. Portugal tem urna carga fiscal elevada. O OE também não vai contri-buir para a poupança nacio-nal, nem para a sustentabili-dade das contas públicas e competitividade. Vai agradar apenas a um pequeno seg-mento, dos que têm rendi-mentos inferiores a 1000€ por mês. Defendo que a reto-ma da confiança dos investi-dores e mercados financeiros só poderá acontecer com uma boa execução orçamen-tal sem medidas adicionais.

Proposta para renegociar dívida

O anúncio foi feito por Paulo Sá, de-

putado comunista eleito pelo circulo

de Faro, no "Fórum TSF" da passa-da sexta-feira "Em breve, o PCP

apresentará uma iniciativa legislati-

va no sentido de renegociar à divida, que é uma necessidade urgente do

pais". O PS não comentou.

PSD "Sem austeridade mas com restrição"

Nos últimos dias, o PSD endureceu as criticas ao Governo do PS. Pas-

sos Coelho tem usado expressões como ''retórica infantilizada" ou

"restritivo é a nova palavra para a austeridade", para dizer que a pro-

posta de orçamento "não passa de

uma espécie de intenções".

CDS-PP "Orçamento assente numa fezada"

O CDS não anunciou o sentido de voto para o DE 2016, mas será fácil adivinhá-lo, se se recordar o que disse o seu líder parlamentar, Nono Magalhães, a Antonio Costa, no penúltimo debate quinzenal: "O senhor estampou-se com este orça-mento assente numa fezada e vai levar também o pais a estampar-se".

Medidas Expectativa para ver soluções nas propostas mais polémicas do OE

Ajustamentos na dedução por filho e imposto petrolífero

opinião :

José RIIIS

Prof. da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra

s. Várias medidas da proposta do Orçamento do Estado para 2016 po-derão conhecer ajustamentos ao longo do ano. Outras, mais polémi-cas, poderão ser alteradas durante a discussão que hoje se inicia na As-sembleia.

lis InifFÍCIO NÃO É PARA TODOS O Governo definiu um valor fixo de 5500 de dedução no IRS, para subs-tituir o quociente familiar. Mas o ministro Mário Centeno admitiu que o valor poderá ser ajustado nos próximos meses, referindo-se a um "afinamento posterior, quando for possível calcular o impacto real desta mudança". o que poderá levar a uma dedução superior a 5500.

Com efeito, simulações feitas por consultoras permitiram concluir não haver a garantia de todos os agregados familiares com filhos vi-rem a pagar menos imposto por via da aplicação da dedução fixa. A De-loitte. por exemplo, mostrou que, para casais em que ambos traba-lham e têm um filho, a aplicação da dedução fixa de 550€ só é vantajo-sa se cada um receber menos de 853€ por mês.

Nas famílias monoparenta is, o ponto de viragem acontece aos 910€ por mês e. nos casais em que apenas um é titular de rendimentos, deixa de ser favorável para rendi-mentos acima dos 1413€. A limita-ção acontece porque, em simultâ-neo, a sobretaxa do IRS foi este ano reduzida, com taxas diferenciadas consoante os escalões de rendimen-to. É por esse motivo que. para quem não tem filhos. 2016 será sempre um ano melhor do que 2015.

AVIONRWIS CARGA PESADA É um dos setores mais penalizados pela atual proposta de OE. Desde logo. por via do aumento do impos-to sobre os produtos petrolíferos

Mário Centeno

(ISP), que até já entrou em vigor, mes-mo sem o OE estar aprovado. O aumen-to foi de seis cêntimos por litro no ga-sóleo e na gasolina. Também aqui o Go-verno admite mudanças.

Esta semana, em entrevista à TVI24. o secretário de Estado dos Assuntos Fis-cais, Rocha Andrade, quantificou o va-lor de uma possível descida dó ISP caso o preço dos combustíveis regresse a uma tendência de subida: "Mais ou me-nos quatro cêntimos de aumento no preço dos combustíveis permitem-nos reduzir um cêntimo do ISP. porque essa diminuição é compensada com um au mento da receita do IVA".

Aliás, o Governo já tinha antecipado que o ISP poderia vir a baixar, mas tam-

bém subir, em função da variação dos preços dos combustíveis, com o objeti-vo de manter a neutralidade fiscal. A meta do Governo é arrecadar 2703 mi-lhões de euros com o ISP, mais 465 mi-lhões face à receita de 2015.

Mas o setor automóvel tem outras penalizações, o que fez levantar cilti cas unanimes dos profissionais do ramo. A compra de veículos novos, por exemplo, vai ser penalizada com o agravamento do imposto sobre veícu-los. E se a compra for feita com recur-so a empréstimo, há a que ter em con-

ta que o Governo também quer subir em 50% o imposto de selo no crédito ao consumo. Mas a opção de compra re-cair num carro elétrico pode também não ser a melhor opção, já que o Go-verno quer cortar em 50% o subsidio atribuído à aquisição deste tipo de veí-culos. O imposto único automóvel. pago anualmente também vai subir.

IMPOSTO PRINKIPAL sesla MÓVEIS UMA CLÁUSULA PARA tom Está previsto um agravamento do IMI em 2,25% para as empresas ligadas ao comércio, à indústria e aos serviços. E há igualmente a intenção de retirar a isenção deste imposto aos fundos imo-biliários proprietários de imóveis.

lá mais ambígua parece ser a medi-da prevista na proposta do OE que pre-vê a reposição da cláusula de salvaguar-da "para que ninguém tenha um au-mento de IMI superior a 75C por ano".

como afirmou o primeiro-ministro. An-tónio. Costa, num dos vídeos explicati-

vos do OE. Só que a cláusula de salva-guarda. que vigorou em 2013 e 2014,

destinou-se a minimizar os efeitos da avaliação geral de imóveis realizada em 2012 e 2013. e que atualizou o valor patrimonial tributário (VPT). Daí de-correram aumentos significativos de IMI. Em 2015, essa cláusula deixou de vigorar e o imposto foi pago por intei-ro, não tendo havido nova atualização do VPT. Analistas duvidam do alcance da medida. TERESA COSTA E LUCILA TIAGO

"Este OE é difícil de executar mas desejaria que resultasse bem" As minhas expectativas para o Orçamento de 2016 são positivas. A elaboração deste OE era um exercido muito difícil, porque o pais vem de um período terrível. com a imposição de urna brutal austeridade, a desor-ganização da economia e, acima de tudo, foi um tem-po que fragilizou a socieda-de, com reflexos na política.

Neste mar de dificulda-des. o documento que vai a aprovação tem uma série de opções que eu desejaria que resultassem bem. São opções em que basicamen-te o Estado reconstrói o mí-nimo de justiça na redistri-buição de rendimentos em Portugal. Ao fazer esse exercício, está a travar a pu-nição que foi feita aos ren-dimentos dos trabalhadores e de todos os que traba-lham por conta de outrem. Tem efeitos positivos para as pessoas, que recuperam parte do que perderam, mas também tem efeitos positivos para a economia que debende do reajusta-mento desses rendimentos.

Outro aspeto fundamen-tal é parar com a paralisia e a fragmentação do Estado, apostando também em po-liticas públicas.

É um documento que vai no bom sentido, para o crescimento da economia de forma sustentável".

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Orçamento Esquerda aprova mas deixa avisos a António Costa Páginas 4 e 5