plano aguapé - um projeto para mudar o brasil

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TODOS OS DIREITOS RESERVADOS PROIBIDA A REPRODUÇÃO PARA QUAISQUER FINS

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Um projeto contendo ideias formuladas por um administrador de empresa como solução para alguns problemas brasileiros.

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TODOS OS DIREITOS RESERVADOS PROIBIDA A REPRODUÇÃO PARA QUAISQUER FINS

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Pequena biografia do autor

Asclar Stampa Senior

Nascido no Rio de Janeiro em 16-03-1952, no bairro do Grajaú, cursou o ensino básico no Colégio Pedro II – seção Tijuca, turma de 1970, sendo formado em administração de empresas pela Faculdade Moraes Junior/Instituto Mackenzie, turma de 1975.

Casado, 1 filho, kardecista, morou, além do Rio de Janeiro, em Vitória-ES e em Imperatriz-MA.

Fundamentou sua carreira profissional no grupo Vale, como executivo e posteriormente consultor,tendo criado a AKL Serviços Administrativos Ltda – Me em dezembro de 2000.

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RELEASE

“Divulgar idéias voltadas para a resolução de problemas brasileiros não parece, a princípio,

nada original, tantas foram as entrevistas e os discursos das autoridades públicas a respeito

do assunto ao longo do tempo, nos dando a noção de que nada diferente poderia mais ser

dito.Mas o conteúdo do livro que lanço agora tem exatamente o propósito de levar ao público

um enfoque realmente novo.O Plano Aguapé é um projeto de consultoria para o Brasil,escrito

por um administrador de empresa com mais de 30 anos de mercado,tentando levar à

sociedade idéias novas de transformação, respaldadas por fundamentos técnicos extraídos

das ciências administrativas, e, portanto, livres do teor político que costuma envolver

discursos de mudanças. Por isso,penso existir um forte motivo para a leitura da obra, e,

inclusive, provocar a pergunta de capa, lançada a quantos quiserem respondê-la: "Alguém

tem idéias melhores que estas para mudar o Brasil?".

O livro está segmentado em 7 temas, sendo cada um deles representativo de uma solução

que proponho, tendo o conjunto a missão de posicionar o país em um patamar superior de

qualidade de vida.

O primeiro tema do livro trata do sistema tributário, onde procuro situar a arrecadação fiscal

em algo próximo a 28% do PIB, que hoje está em torno de 40% e com forte tendência para

aumentar.Além disso, estabeleci através dos seus mecanismos a possibilidade real do

crescimento econômico constante com plena garantia do controle permanente da inflação,

sendo a impossibilidade, até então, desta conciliação, o inimigo número um da política

econômica praticada a partir do Plano Real e que vige até os dias atuais.A principal

conseqüência prática do modelo de tributação proposto é a criação das condições

necessárias para promover o tão esperado espetáculo do crescimento sustentável e

conseqüentemente gerar empregos em grande escala no país.Benefícios subjacentes

importantes também poderão ser viabilizados,como o impedimento sistêmico da

sonegação,das operações fantasmas e da comercialização de mercadorias provenientes do

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contrabando e do roubo de cargas,e a migração automática dos que hoje trabalham na

informalidade para a base ativa de contribuintes de impostos.

O segundo tema estabelece uma nova estratificação de administração, miscigenando a

atuação pública e privada em torno do binômio cidadão-habitante.A idéia básica é criar três

atividades de assistência à população,a saber: tutela pública,para apoiar os direitos de

cidadania e destinar assistencialismo direto aos mais carentes; a zeladoria pública,para

melhorar a qualidade dos locais onde moram os cidadãos; a edição de um jornal de

utilidades,para disseminar cultura e informação útil à população em doses diárias.As

demandas não seriam estabelecidas pelo poder público,mas coletadas pelos tutores e

zeladores,que seriam cidadãos comuns remunerados e respaldados funcionalmente pelo

Ministério Público, e repassadas ao poder público para execução,sem privilégios a bairros ou

a pessoas com maior poder aquisitivo,como hoje geralmente acontece.Todos os programas

assistencialistas dos governos convergiriam para este tipo de administração.

O terceiro tema sugere uma solução para a população excluída,situada principalmente nos

grandes centros urbanos, cujo efeito final para toda a economia será o alcance do pleno

emprego no país, devendo ser o pioneiro no Mundo.Todo dia a mídia relata a existência de

disponibilidade de empregos no interior do país em contrapartida a uma escassez crônica de

vagas nas principais metrópoles.Este é um quadro que certamente representa a mais remota

conseqüência do Milagre Brasileiro,que nas décadas de 70 e 80,principalmente,moveram um

contingente de pessoas,igual ou maior que a população de muitos países,do campo para as

cidades.O país precisa promover um novo êxodo,invertendo o fluxo original,porém,sem

cometer os erros passados,quando permitiu a migração em excesso pela falta de uma política

de retenção minimamente atrativa.O projeto em questão sugere uma espécie de Colonização

de 2º geração no país,de forma planejada e cuidadosa,ajustando o remanejamento

populacional através da oferta de um modelo secundário de economia,mais barato e simples

que o modelo convencional,e por isso viável ante recursos limitados, basicamente a partir da

criação de um Sistema Nacional de Cooperativas,cobrindo todo o território nacional,dando um

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novo desenho aos objetivos da reforma agrária e iniciando um processo efetivo de

desfavelização.

O quarto tema dá uma quebra em tantos assuntos espinhosos e desvia a atenção para a

maior paixão nacional: o futebol.Minha proposta parte da idéia de que é possível estabelecer

um mercado real para o esporte da ordem de 20 milhões de pessoas,aumentando em muitas

vezes o PIB do segmento,que seria dividido equitativamente entre clubes e tv,diferente de

hoje,quando os clubes recebem a menor parte.As conseqüências podem ser tão

favoráveis,que não seria surpresa o novo modelo viabilizar a volta da maioria dos nossos

craques que migraram tão jovens para o mercado internacional e ainda estancar a saída dos

que iriam futuramente.No entanto,atrai-los requer a mudança do sistema de remuneração

para um modelo misto,combinando salário fixo com participação na arrecadação, segundo

critérios coletivos e individuais de produtividade.

O quinto tema retrata o esboço de uma nova ordem político-administrativa no país,ao

redirecionarmos o objetivo dominante do Estado para os aspectos

desenvolvimentistas,compatibilizando a estrutura de governo ao regime vigente no país e

vivenciado no seu cotidiano pela população,que é o capitalismo.Para tal,é preciso reavaliar o

foco sobre as atividades-fim e meio que serão exercidas pelo poder executivo,principalmente

o federal.Não adianta acharmos que existirão diferenças substanciais,mesmo com a

alternância de partidos no poder,quando o foco é a inflação,previdência,segurança,saúde e

educação,pois são atividades-meio,que podem estar muito bem ou muito mal,não guardando

compatibilidade com o status sócio-econômico do país,que deve sintetizar o objetivo das

atividades-fim de governo.Um belo exemplo é o da contenção da inflação,conseguida em

meados da década de 90,mas que nem por isso nos legou até hoje um país próspero nos

campos social e econômico.Em relação às atividades-meio,algumas já descritas,o papel de

cada governo diante da população seria apresentar resultados de evolução em cada aferidor

de desempenho mundialmente utilizado,como por exemplo,o IDH,que sintetiza

saúde,educação e renda.Nas campanhas bastaria dizer sua meta futura deste e dos demais

índices,sem muita conversa fiada.A partir do nosso modelo,as campanhas deverão pautar-se

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nas atividades-fim,ou seja,que protótipos de país,de estados e de municípios serão

idealizados por cada coligação partidária.Poderemos,então, escolher,dentre opções

qualitativas e quantitativas de cenários econômicos planejados para o nosso futuro sustento e

obtenção de capacidade social correlata.Como estrutura ideal para promover a gestão do

elenco das atividades-fim de governo,ou seja,desenvolvimentistas,aponto a criação de Blocos

Econômicos Brasileiros,um por cada região,visando subsidiariamente reduzir as diferenças

sócio-econômicas existentes ao longo do território e introduzir uma espécie de potencialização

do nosso sistema produtivo interno para atuar com melhores condições de competitividade no

mercado global mundial.

O sexto tema se refere ao sistema educacional brasileiro, que precisa de muitas correções,

mas principalmente de motivação e atratividade para os alunos multiplicarem o interesse e a

consciência de responsabilidade pelos estudos e pela formação profissional bem sucedidos. É

preciso entender que desde a iniciação dos estudos até o ingresso de um jovem no mercado

de trabalho o caminho a percorrer significa o engajamento em um projeto integral,que deve ter

os seus diversos estágios convergindo para um único objetivo: a carreira profissional.Sobre

este aspecto,uma característica que minimiza a qualidade do nosso ensino é a quantidade

absurda de estudantes que não sabem que profissão escolher ou que refazem a opção após

a descoberta de erro na escolha original,ou ainda,aqueles que conseguem se formar sem

uma base adequada de conhecimento para legar aos seus clientes ou patrões um

desempenho com qualidade adequada.É necessário redirecionar o foco do ensino,formatar

módulos integrados ao objetivo dominante de carreira,aumentar o nível crítico das avaliações

de conhecimento e multiplicar a capacidade qualitativa e quantitativa de quem ensina,para o

bem de todos.

O último tema fala do sistema penal,como o instrumento final de solução global que o livro

pretende implementar.Atualmente muito se fala em violência e realmente chegou-se ao limite

da tolerância.Mas combatê-la somente com as mesmas ferramentas com que ela nos

submete tem custado muitas vidas,sejam de populares,policiais e também de

criminosos,alguns adolescentes e crianças,convergindo para um quadro de carnificina,cujas

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estatísticas são equivalentes a de um estado de guerra de fato.Todos os projetos e programas

propostos no livro,e vinculados aos temas relatados anteriormente, possuem a propriedade de

combater preventivamente a violência,que é a fase que menos as autoridades dão atenção e

aplicam recursos.Desta forma,o nosso projeto específico sobre o assunto desvia-se para um

outro problema grave que temos,que é o modelo penal brasileiro,que acirra a criminalidade ao

invés de recuperar socialmente o recluso.Não há outra solução que não seja a imposição do

cumprimento de penas através do trabalho,e melhor ainda,se for exercida em colônias

agrícolas situadas em regiões afastados de áreas residenciais. No nosso modelo,estamos

sugerindo a implantação de um sistema de amortização das penas por dia trabalhado,ou

seja,pena de 10 anos equivale a 10 anos de trabalho efetivo,e não apenas de reclusão.Outra

providência é sobre a questão das fugas,que demandariam retroatividade da pena ao seu

momento inicial,anulando o tempo já cumprido.E ainda,no caso de roubo, a obrigatoriedade

da devolução do objeto do delito,além do cumprimento da pena,impondo uma perspectiva de

fato de prisão perpétua para que possamos pressionar o criminoso potencial a não iniciar uma

carreira que geralmente começa por este tipo de crime.Por outro lado,caberá ao Estado

algumas tarefas que hoje não cumpre,como a obrigatoriedade de alfabetizar os presos que

entram analfabetos na cadeia e a criação de um programa de empregabilidade para os

recém-saídos do regime penal fechado.

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ALGUÉM TEM IDÉIAS MELHORES QUE ESTAS PARA MUDAR O BRASIL?

ÍNDICE página

Prefácio 9

Capítulo 1 – Onde Tudo Começa 12

Capítulo 2 - Sistema Inteligente de Arrecadação de Impostos 17

Perguntas e Respostas 41

Capítulo 3 – Administração Pública Local 61

Perguntas e Respostas 69

Capítulo 4 – PIB Secundário 80

Perguntas e Respostas 87

Capítulo 5 – Pay- Per- View Fidelizado Para o Futebol 100

Perguntas e Respostas 110

Capítulo 6 – MERCOBRASIL 120

Perguntas e Respostas 130

Capítulo 7 – Ensino Voltado Para a Cultura,o Mercado de 138

Trabalho e a Cidadania

Perguntas e Respostas 150

Capítulo 8 – Recuperação Social dos Apenados 158

Perguntas e Respostas 177

Epílogo 186

9

PREFÁCIO

Caros leitores,a partir de agora os convido para uma viagem literária,onde

iremos percorrer cenários de idéias construídos pela motivação de um

brasileiro,administrador de empresa,inconformado diante das dificuldades por

que passa quase um terço da população brasileira,algumas tão basais,como a

fome e o analfabetismo,e vivenciadas em um território abençoado pela

natureza,de tão rico e diversificado que é.

Esta situação não faz bem ao país,pois o faz apequenar-se em termos de

mercado interno,base de arrecadação tributária e mão-de-obra produtiva,ao

mesmo tempo em que se agiganta como demanda de assistência social e de

usina de violência.Em verdade, precisamos readequar o seu tamanho social e

econômico,preenchendo vazios e aparando arestas.

Valho-me da condição de consultor de empresas,acostumado a diagnosticar

problemas e a construir modelos de soluções administrativas,para pedir um

crédito de confiança para as propostas do livro,que representam,em síntese,um

convite que faço a toda a sociedade e às autoridades para mudarmos o Brasil,e

principalmente,resolver as agruras de tantos brasileiros,hoje excluídos e

marginalizados do circuito formal e produtivo do país.

“UMA NAÇÃO É EDIFICADA PELO ASSENTAMENTO DE TIJOLO SOBRE TIJOLO,

E CADA CIDADÃO(Ã) POSSUI UM, DIFERENTE DE QUALQUER OUTRO.DEIXAR

QUE TODOS PARTICIPEM DA CONSTRUÇÃO,É FORMAR UM CONJUNTO DO

TAMANHO CERTO E DE FORMA E QUALIDADE PERFEITAS”

Asclar Stampa Senior

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Ao conjunto de idéias chamei “PLANO AGUAPÉ”,esperando que simbolicamente o

plano possa também eliminar impurezas,tal qual a planta que lhe inspirou o

batismo.

Esclareço que toda vez que me referir ao momento atual estarei indicando

temporalmente o último trimestre de 2010,sendo esta uma versão revisada em

relação à original,editada no primeiro trimestre de 2004.No entanto,chamo a

atenção para o fato de que muito pouco foi alterado,tendo em vista que

praticamente nenhum problema apontado na edição inicial foi resolvido.

Como mecânica padrão de apresentação estarei dividindo os diversos assuntos

focados no livro em um texto descritivo e outro baseado em perguntas e

respostas, que parece ser mais agradável e pertinente para esclarecer

detalhes,sendo que eu,a partir de agora,tentarei presumir as principais

perguntas que você leitor faria ao longo da leitura.Se faltar alguma,e certamente

há de faltar,espero encontrar futuramente uma oportunidade para elucidá-la.

A minha concepção de público alvo para o livro aponta para todos aqueles que

conseguem entender com razoável clareza os telejornais diários,cujo conteúdo e

linguagem são relativamente similares.Muito embora as notícias do dia-a-dia,com

muita freqüência,nos incomodem,a intenção do livro é antagônica a esta

sensação,pois procuro apresentar,diante de alguns dos nossos problemas

nacionais,soluções factíveis e também interessantes,sendo estas características

fatores que reputo adequados para tornar o livro atrativo e fazer bem ao

leitor,na proporção da esperança que possa suscitar em cada um.

Outro esclarecimento ou lembrete que acho que devo fazer nesta introdução é o

fato de que não sou escritor de profissão,e talvez por isso as abordagens de

cada assunto expressem um tom muito direto,à imagem e semelhança de um

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trabalho de consultoria,próprio de um profissional das ciências administrativas

que às vezes se vale da produção de textos para exercer o seu ofício.

Embora não vá incomodar o leitor com extensas dissertações teóricas,que às

vezes povoam os escritos deste tipo,chamo a atenção para o fato de que o

melhor ritmo a ser imposto à leitura é o de um livro técnico,que dependendo do

pré-conhecimento do leitor sobre cada assunto poderá demandar algumas

releituras de textos até que se façam compreendidos.Por este aspecto, peço-lhes

um pouco de paciência.

Boa Leitura !

O AUTOR

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CAPÍTULO 1

ONDE TUDO COMEÇA

As ações propostas neste livro fluem na direção do redesenho de alguns modelos

que interferem efetivamente na vida nacional,buscando uma forma de

unificar,nivelando por cima, os diversos ”Brasis” que aqui convivem:um próspero

e outro pobre e miserável;um bem culto,outro extremamente ignorante das

letras e da ética;um com muitas oportunidades,outro hermético e injusto;um

feliz,outro amargo.Estas contradições têm sido usadas em prol do oportunismo

político,pois quem está na situação,independente do partido,aponta para o

BRASIL BOM como fruto da sua obra,e quem está na oposição,independente do

partido,relata o perfil do BRASIL RUIM que não recebe a atenção pública que

precisa para melhorar.Como os BRASIS relatados pelas partes realmente existem

ao mesmo tempo,ambas têm razão e isso tem confundido os próprios políticos,a

população e muitas vezes a imprensa.

Algumas questões já foram resolvidas definitivamente,como a inserção do Brasil

no mundo globalizado.Outras,paliativamente,como a inflação,que tem sido

controlada a fórceps pela transferência de recursos do setor produtivo e da

renda para o sistema financeiro,através dos juros,e para o governo,através da

carga tributária,presenteando o país com taxas situadas no pico do mundo para

estas duas ferramentas de controle inflacionário.E algumas, como o desemprego

e a violência,estão longe de serem solucionadas e até se agravaram nas últimas

décadas.

Não penso que posso ser necessariamente o idealizador das melhores idéias,mas

a provocação da pergunta da capa serve para despertar as pessoas para o fato

de que é preciso posicionar o nosso desenvolvimento em outros trilhos,se não as

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crises e as diferenças sócio-econômicas continuarão,apesar de alguns sinais

positivos vez ou outra.

E as soluções que estarão sugeridas neste livro,serão algo similares as que já

foram tentadas ou aventadas até aqui?Certamente que não.Vislumbro a

oportunidade de lançá-las à apreciação popular porque são diferentes e

cercadas de um grau significativo de ineditismo,nascidas todas a partir da

VISÃO SISTÊMICA.Este é o meu diferencial e a razão principal para o título do

livro.

Quando falo em visão,quero me referir à filosofia que deve ser aplicada a cada

situação do cotidiano,ou seja,a nossa convicção sobre o modo de pensar e agir.A

teoria sistêmica surgiu no início do século passado a fim de suceder a visão

linear.Infelizmente, ainda consta do rol das teorias,porque a troca,na

prática,ainda não se deu.

Um conceito sintético de linearidade implica dizer que o todo é o somatório das

suas partes individuais,e,portanto,o universo,através dos seus fenômenos

tangíveis e intangíveis,deve ser reconhecido de forma fragmentada e

particularizada por elemento,cada qual circunscrito à sua auto-definição e auto-

suficiência funcional.

A visão sistêmica postula que o universo é uma cadeia de relacionamentos,

cumprindo cada componente um duplo papel:o de sistema próprio e o de

subsistema de um sistema maior.Diz ainda,que a união entre os elementos se dá

pela complementaridade de funções,que interagindo entre si, dão cabo a cada

processo ou fenômeno.

Enquanto na visão linear o foco é o elemento e a marca a individualidade,na

visão sistêmica o foco é o processo e a marca a interação.

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Uma outra diferença capital relaciona-se ao padrão temporal:na visão linear,

passado e futuro não importam, e os julgamentos são definitivos com base na

instantaneidade do presente.Na visão sistêmica, o estado em que cada

fenômeno é analisado é tomado apenas como intermediário,pois existe o

reconhecimento de um processo evolutivo passado e da perspectiva de um outro

futuro.Na visão sistêmica, o presente não define irremediavelmente alguma

coisa,mas simplesmente o estágio em que se encontra.

Um outro ponto de divergência é que na visão linear a verdade está contida

apenas em uma teoria ou hipótese.Um exemplo disso é o sentido excludente que

se dá ao capitalismo e ao socialismo ou ao presidencialismo e ao

parlamentarismo.A visão sistêmica compreende que a verdade pode estar diluída

em várias hipóteses ou teorias e opera com modelos híbridos.

Transportando esta configuração para a temática do livro,a visão linear procura

soluções individualizadas para problemas específicos.Assim é que sugestões e

propostas de solução são lançadas separadamente para a educação, violência,

inflação,desemprego,etc...

Visualizar estes problemas através do foco sistêmico significa alterar

substancialmente o modo de pensar e agir.Por exemplo,uma solução linear para

a violência resulta em aumentar a força policial e expandir a capacidade

penitenciária.Na visão sistêmica,por mais paradoxal que possa parecer,a meta

passa pela redução do contingente policial e a desativação de presídios.Não se

trata se loucura,mas de enfoque.No primeiro caso, nota-se que nenhuma

providência consciente será tomada contra as origens da violência,porque a visão

linear reduz o problema a uma ótica limitada ao presente e circunscrita aos

fatos,e,portanto,atuando nos efeitos.Nela,quanto maior a violência, maior o

aparato que deseja combatê-la,adequando-se ao seu perfil e submetendo-se a

ela.A visão sistêmica procura compreender a gênese de cada problema,criando

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antídotos para cada fase do seu processo de formação e evolução,dissolvendo,

uma a uma,suas fontes de vida.A visão sistêmica atua nas causas.

A visão linear deixa que o problema exista para depois corrigi-lo,custeando em

dobro seu ciclo.A visão sistêmica acompanha o seu surgimento para extingui-lo

ou torna-lo débil já como produto final.A própria diferença de conceituação torna

a visão linear,que é corretiva,muito mais onerosa do que a sistêmica,que é

preventiva.Para aqueles que assimilaram as diferenças não causa surpresa o

volume de recursos necessários para o equacionamento de tantos problemas

surgidos no país,fruto da visão linear sempre praticada.Esta é uma das razões

para a carga tributária brasileira requerer uma arrecadação que beira 40% do

PIB.Com certeza,se não houver a mudança de foco, este número será cada vez

maior,determinando conseqüências nefastas para o país.

Da mesma forma,soluções para o caos social não podem ater-se a ações

específicas de natureza social.Insisto no exemplo:quanto maior a fome,mais se

doa alimentos,perpetuando-se o problema,e com a agravante de revigorá-lo a

cada dia que passa.E ainda pior,recolher impostos e devolver parte à uma

camada específica da população em espécie,sob à luzes dos refletores e títulos

idealizados por marqueteiros,me parece até ilegal.Aliás fica muito fácil e

descompromissado:não se realiza nenhuma obra,não se estrutura nenhum

serviço,mas se emprega amigos,se ganha eleitores incautos e se transforma

miséria em status obrigatório,ensejando discursos de que se um governo

atendeu a 5 milhões de famílias e o seguinte a 10 milhões houve evolução do

desempenho governamental.Será que perdemos a lucidez?

Outro exemplo é o desemprego.Criar-se frentes de trabalho desprovidas de

perspectivas de continuidade é apenas fazer com que os trabalhadores

envolvidos percam tempo e oportunidades,porque este tipo de alocação de mão-

de-obra é uma singularidade.Vide Brasília,cercada por cidades satélites sem

vocação econômica,abrigando uma população originária das famílias dos peões

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da sua construção,sem que tenha havido qualquer plano de ocupação do

entorno, pós-inauguração.Aliás, o Brasil do norte e nordeste foi muito castigado

pelas singularidades,como a exploração dos ciclos econômicos da borracha e da

cana-de-açúcar,respectivamente,que ao findarem legaram abandono e miséria

aos que deles participaram como trabalhadores. O mesmo não aconteceu com o

sul e o sudeste,principalmente nas cidades interioranas,onde muitas foram

colonizadas por imigrantes que fixaram naquelas terras suas novas raízes,

promovendo o progresso em prol das suas gerações sucessoras.

Ensaiar um Brasil novo e viável,encubado no cenário sistêmico,me dá a sensação

de reviver Júlio Verne.E assim cabe-me instruir a seqüência da leitura:se sonho

ou ficção,que seja prazerosa e sedutora;se futura realidade,que se faça bandeira

de uma esperança desejada.

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CAPÍTULO 2

SISTEMA INTELIGENTE DE ARRECADAÇÃO DE IMPOSTOS

O SISTEMA INTELIGENTE DE ARRECADAÇÃO DE IMPOSTOS,ou

simplesmente SIAP,é um instrumento que visa atuar sobre a economia como

uma espécie de harmonizador quantitativo e qualitativo,cumprindo vários

papéis,entre eles o de estancar a concentração de renda e de criar um sistema

de garantias para lastrear um modelo de desenvolvimento mais distributivo.

O novo sistema prima pela simplicidade e objetividade,já que decorre de uma

relação do Estado com toda a sociedade,devendo ser,por princípio,matéria de

domínio público.E é desta forma,ou seja,para todo mundo entender, que

pretendo explicar como deverá funcionar o modelo arrecadador de impostos

proposto.

Sua mecânica básica é muito simples:consiste em criar uma espécie de moeda

fiscal que irá acompanhar toda e qualquer transação comercial que envolva a

troca de propriedade da moeda corrente,ou seja,toda vez que reais trocarem de

mãos de uma forma definitiva.

São exemplos de transações que caracterizam a troca de propriedade da

moeda:compra e venda de qualquer produto,pagamento de carnês ou compra de

ingressos de qualquer natureza.São exemplos de operações que não

caracterizam a troca de propriedade da moeda:depósitos bancários,aplicações no

mercado financeiro ou empréstimos.

O modelo prevê que,quando se caracterizar a troca de propriedade do real,

haverá a incidência do imposto,que será único,substituindo todos os vigentes.O

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direcionamento dos recursos arrecadados para as esferas federal,estadual e

municipal se dará por distribuição percentual única.

A lógica do modelo preceitua que nos momentos da troca de propriedade é que

se consumam os lucros,que são os alvos da tributação,embora existam

exceções,como o recebimento de salário,onde o dinheiro deixa a propriedade do

empregador e vai para um novo proprietário,o empregado,mas sem caracterizar

a obtenção de lucro,e que,por isso, serão tributadas na fonte.

Em toda transação comercial quem entregar reais será considerado “beneficiário”

e quem receber os reais será considerado “contribuinte”.Qualquer pessoa saberá

distinguir,portanto,que papel estará cumprindo.

A moeda fiscal do sistema se chamará bônus fiscal,ou simplesmente BF,e será

devida por todo contribuinte a todo beneficiário no exato montante da

operação.Ou seja,se um produto for comprado pelo beneficiário por 5 reais,o

contribuinte,no ato,deverá entregar 5 bônus fiscais.

A fiscalização do sistema será automática:a cada real pago corresponderá 1 BF

recebido.A realização desta contrapartida irá presumir,no sistema,que o

contribuinte reconheceu,calculou e recolheu o imposto,também de forma

automática,servindo os bônus como uma espécie de recibo do imposto quitado.

A fórmula para o cálculo do imposto é descomplicada.Vamos supor que um

supermercado tenha vendido a uma dona-de-casa um pacote de sabão em pó

por R$4,00.Para obter o produto para revenda o supermercado adquiriu do

fornecedor o mesmo pacote que vendeu por,digamos,R$2,80,sendo nesta

operação beneficiário,pois deu 2,8 reais pela compra e recebeu 2,8 bônus.

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Como deveria entregar 4 bônus na venda,teria que adquirir a diferença

justamente por ter agregado uma margem de lucro de 1,20 reais.No momento

da compra dos bônus suplementares houve o pagamento do imposto.

Para adquirir os bônus suplementares o contribuinte deverá estimar um valor de

obrigação fiscal,ou seja,um montante presumido de receitas,que após 90 dias da

compra dos bônus deverá provar através de notas fiscais ou recibos,que se

manterão na economia tal qual são hoje,para servir de lastro no cálculo final da

operação de compra dos bônus.

O preço de aquisição dos bônus deverá obedecer a seguinte tabela:

1º lote - 10% da obrigação fiscal, obrigatórios, a R$0,20

2º lote - até 10% da obrigação fiscal,opcionais,a R$0,30

3º lote - até 10% da obrigação fiscal,opcionais,a R$0,40

4º lote - em qualquer quantidade a R$1,30

No exemplo anterior do supermercado teríamos:

-valor da obrigação fiscal = 4,00(equivalentes ao preço de venda)

-bônus fiscais possuídos = 2,8(equivalentes ao custo de aquisição)

-necessidade de bônus suplementares = 1,20(equivalentes ao lucro da operação)

-valor da aquisição dos bônus suplementares

0,40 bônus x R$0,20 =R$0,08 (1º lote)

0,40 bônus x R$0,30 =R$0,12 (2º lote)

0,40 nônus x R$0,40 =R$0,16 (3º lote)

1,20 bônus R$0,36 (soma de todos os lotes)

-demonstrativo do lucro líquido:

R$4,00(preço) – R$2,8(custo) – R$0,36(imposto) = R$0,84

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Portanto,quando o supermercado entregou à dona-de-casa os 4 bônus já havia

sido consumada a quitação do imposto,no valor de R$0,36,tendo a beneficiária

fechado o ciclo da tributação ao exigir a sua contrapartida em bônus fiscais.

A margem de lucro embutida no preço de venda era de 30%.Vejamos agora o

que aconteceria com o valor do lucro se a margem fosse,por exemplo,de 50%.

Preço de venda R$5,60

Custo de aquisição R$2,80

Total de bônus a adquirir 2,80(50% do preço,como lucro)

Quantidade de bônus do 1º,2º e 3º lotes 0,56 (10% do valor da receita)

Valor do imposto do 1º lote R$0,11 (quantidade x R$0,20)

Valor do imposto do 2º lote R$0,17 (quantidade x R$0,30)

Valor do imposto do 3º lote R$0,22 (quantidade x R$0,40)

Quantidade de bônus do 4º lote 1,12 (quantidade residual)

Valor do imposto do 4º lote R$1,46 (quantidade x R$1,30)

Valor total do imposto(soma dos 4 lotes) R$1,96

Lucro Líquido(preço-custo-imposto) R$0,84

Notem que o lucro é o mesmo,independente do preço de venda ser R$4,00 ou

R$5,60.O modelo estabelece que a partir de determinada margem o lucro se

mantém constante,conforme os exemplos demonstraram e poderá ser testado

através da simulação de lucro para quaisquer preços superiores aos dos

exemplos,sendo a parcela especulativa dos preços de venda incorporada sempre

ao valor do imposto,impedindo,portanto,os velhos arroubos inflacionários.

Da margem mínima até a que representa o limite de crescimento do lucro(ponto

a partir do qual a presunção de excesso de margem migraria automaticamente

para o imposto) é o campo próprio para as disputas concorrenciais.

21

A contrapartida fiscal é a regra geral do sistema,válida para pessoas jurídicas e

físicas.

Existem,porém,casos especiais de troca da propriedade da moeda onde o

modelo estabelece que a tributação deva acontecer na fonte.São eles:

-quando houver vínculo empregatício – alíquotas conforme tabela própria

-no recebimento de proventos previdenciários – mesma tabela acima

-no recebimento de dividendos – 25%

-no recebimento de pró-labore – mesma tabela de salário

-no recebimento de prêmios,sorteios e jogos oficiais – 30%

-nos rendimentos auferidos junto ao sistema financeiro – 25%

Para o cálculo do imposto na fonte sobre rendimentos assalariados e

assemelhados,pró-labore e proventos previdenciários,deverá ser utilizada a

tabela abaixo.

primeiros 1.000 reais alíquota de 5%

próximos 1.000 reais alíquota de 10%

próximos 1.500 reais alíquota de 15%

próximos 2.000 reais alíquota de 20%

próximos 5.000 reais alíquota de 25%

demais recebimentos alíquota de 30%

A incidência deverá ser calculada em cascata,conforme exemplos adiante,e

aplicada sobre o valor bruto sem descontos,não havendo também mais faixas

isentas.Ninguém deve se preocupar com a suspensão do dispositivo que isentava

determinado patamar de remuneração,pois a carga fiscal no país será menor do

que a atual para todo mundo,pois lembrem-se que no SIAP o imposto é

único,substituindo os demais.

22

Exemplos: reais

FAIXAS SALARIAIS 1.000 2.000 5.000 10.000 30.000

VALOR DO IMPOSTO

alíquotas incidência

5% 1.000 50 50 50 50 50

10% 1.000 - 100 100 100 100

15% 1.500 - - 225 225 225

20% 2.000 - - 300 300 300

25% 5.000 - - - 1.125 1.125

30% - - - - 5.850

TOTAL 50 150 675 1.800 7.650

PERCENTUAL S/SALÁRIO 5% 8% 14% 18% 26%

O valor de R$1.000,00 refere-se a minha sugestão de salário mínimo

real,válido,como juízo de valor, para o ano de 2011,correspondendo,no

momento,a mais ou menos US 590,00.

Este é um componente dos mais importantes na vida da grande maioria da

população brasileira,devendo ser tratado com o máximo de atenção e

respeito,pois a cada definição do seu valor determina-se o grau de dignidade

com que milhões de pessoas vão viver em exatos 365 dias,o que não é pouco.

Até aqui acho que tem sido tratado sem as qualificações que aponto acima,ou

seja,atenção e respeito,pois simplesmente definir se é X ou Y é muito fácil e

descompromissado.

Proponho que o seu valor seja atribuído a partir de uma composição racional de

poder de consumo,definindo-se um perfil qualitativo para o salário mínimo.

23

Outro fator importante é atribuirmos um salário que corresponda às

necessidades de uma família.Sugiro apontarmos para uma composição de 2

adultos e 2 crianças/adolescentes.

Conforme as considerações anteriores,apresento abaixo a composição do valor

que estou sugerindo:

DISCRIMINAÇÃO QUALITATIVA DO SALÁRIO MÍNIMO

R$300,00 -alimentação

R$400,00 -moradia

R$100,00 -serviços e taxas públicas

R$100,00 -transporte eventual,vestuário,lazer e aparelhamento da casa

R$900,00 -SALÁRIO REAL

R$ 50,00 -imposto único(conforme tabela de retenção na fonte do SIAP)

R$ 50,00 -INSS(contribuição mínima proposta para a Previdência)

R$1.000,00 -SALÁRIO NOMINAL

CONDIÇÕES VINCULADAS

São premissas apenas teóricas, sobre as quais se apóia a idéia de que o novo

valor proposto pode ser considerado suficiente para o fim a que se destina.

- o adulto que trabalhar precisa ter vale-transporte e ticket alimentação

- toda a família deve usufruir de educação e saúde públicas,bem como de

medicamentos gratuitos fornecidos pelo Estado

- na locomoção até a escola deve ser utilizado o transporte gratuito ou que a

escola,bem como o posto de saúde, se localizem próximos da residência

24

As despesas com imposto e contribuição previdenciária devem estar sempre

embutidas no valor total do salário(salário nominal),pois como transferências

obrigatórias não podem ser consideradas como parcelas voltadas ao poder

aquisitivo do salário(salário real).

O novo valor deve ser implementado somente após o início da vigência do

SIAP,que é um instrumento tributário que inibe o aumento dos preços,evitando-

se abusos de remarcações em função do novo patamar de salário mínimo.

O valor de R$50,00 reais, indicado como contribuição para a Previdência,foi

extraído de uma tabela padrão que compõe proposta para o sistema de

seguridade social,cujo escopo sugestivo segue adiante.

Cada trabalhador irá contribuir conforme tabela própria,adiante apresentada,

tomando por base a faixa que corresponder ao valor do seu salário ou do

rendimento declarado dos autônomos e profissionais liberais.

Para efeito de construção da tabela foi criada a figura do VALOR DE REFERÊNCIA

PARA A PREVIDÊNCIA – VRP,que serve para calcular as faixas de incidências

das alíquotas,sendo equivalente ao valor do salário mínimo.

O valor considerado em cada faixa é também o valor do benefício a ser pago.

25

ALÍQUOTA VRP FAIXA CONTRIBUIÇÃO

% unidades reais reais

5,00 1,00 1.000,00 50,00

6,00 1,10 1.100,00 66,00

6,50 1,20 1.200,00 78,00

6,75 1,30 1.300,00 87,75

7,00 1,40 1.400,00 98,00

7,25 1,50 1.500,00 108,75

7,50 1,60 1.600,00 120,00

7,75 1,70 1.700,00 131,75

8,00 1,80 1.800,00 144,00

8,25 1,90 1.900,00 156,75

8,50 2,00 2.000,00 170,00

8,75 2,20 2.200,00 192,50

9,00 2,40 2.400,00 216,00

9,25 2,60 2.600,00 240,50

9,50 2,80 2.800,00 266,00

9,75 3,00 3.000,00 292,50

10,00 3,75 3.750,00 375,00

10,50 4,50 4.500,00 472,50

11,00 5,25 5.250,00 577,50

11,50 6,00 6.000,00 690,00

12,00 6,75 6.750,00 810,00

12,50 7,50 7.500,00 937,50

13,00 8,25 8.250,00 1.072,50

14,00 9,00 9.000,00 1.260,00

15,00 10,00 10.000,00 1.500,00

26

Completam a perspectiva de formulação da Previdência:

1- O sistema será único para qualquer classe de trabalhadores,sejam

funcionários públicos ou da iniciativa privada;sejam civis ou militares

2 - Os benefícios serão pagos tomando-se por base o número de VRP’s apurados

pela média das 150 últimas contribuições.

Exemplo de memória de cálculo das 150 últimas contribuições:

50 contribuições sobre a faixa correspondente a 2,0 VRP’s

50 contribuições sobre a faixa correspondente a 2,6 VRP’s

50 contribuições sobre a faixa correspondente a 3,75 VRP’s

Cálculo da média das 150 últimas contribuições:

(50 x 2,0) + (50 x 2,6) + (50 x 3,75) = (100 + 130 + 187,5)/150= 2,78 VRP’s

Valor do benefício = 2,78 VRP’s x R$1.000,00 = R$2.780,00

Uma vantagem da nova proposição é o fato fundamental de que qualquer um

poderá não só saber fazer o cálculo da sua própria aposentadoria como calcular

o valor do reajuste a cada ano em função da variação do salário mínimo.

No nosso exemplo acima,suponhamos que o último salário recebido foi de

R$3.750,00.Desta forma,ocorreu uma redução nominal de 26%.

No entanto,como não estamos prevendo contribuição para quem se aposenta o

correto seria calcular o redutor sobre os valores líquidos de salário e

benefício,conforme abaixo:

27

Salário bruto = R$3.750,00

Imposto único = R$425,00(calculado em cascata)

Contribuição p/ o INSS na faixa de 3,75 VPR’s = R$375,00

Salário líquido = R$2.950,00

Benefício bruto = R$2.780,00

Imposto único= R$267,00(cálculo em cascata)

Benefício líquido = R$2.513,00

Redutor real=100%-((2.513/2.950))x100)= 15%

Isto não quer dizer que o redutor será sempre de 15%,pois cada trabalhador

tem um histórico de contribuições diferente,devendo cada valor final de benefício

espelhar isto individualmente.

Temos que entender que enquanto estamos na vida ativa é o segmento

de mercado em que atuamos que estabelece o quanto vale nossa mão-

de-obra.Ao aposentar,certamente migramos para um segmento

diferente da economia de mercado,que paga menos,porque só assim

será possível pagar a todos. E tal qual o primeiro argumento,também

faz parte da lei inexorável de mercado.

Mesmo assim, não é necessariamente obrigatório existir um redutor,pois se um

trabalhador mantiver o seu salário atrelado à mesma faixa pelos últimos 150

meses receberá como benefício seu salário integral acrescido do valor que

contribuía,na ativa,para a Previdência.

28

É preciso também encarar o fato de que devemos tentar a formação de uma

poupança particular ou adquirirmos algum produto da previdência privada

durante a nossa vida ativa com o objetivo de suplementar o valor da

aposentadoria quando houver necessidade ou desejo.

3 - Cada novo pedido de aposentadoria deverá demarrar um processo de

interpretação,a fim de se estabelecer um juízo sobre que faixas as contribuições

feitas no regime anterior corresponderiam no novo sistema da Previdência.

4 - Os atuais beneficiários não estariam sujeitos a qualquer mudança

restritiva,pelo fato consagrado do direito adquirido.Porém,a alteração do valor do

salário mínimo iria assegurar um aumento significativo do piso.

5 - Para alguém solicitar aposentadoria,seriam estas as condições necessárias

para o reconhecimento do direito e as regras básicas,sem exceções,quer por

motivos da natureza da atividade exercida,quer por prerrogativas da função

ocupada.

1º-terem como faixa etária mínima,homens e mulheres,60 anos de idade,sem

possibilidade de antecipação voluntária por qualquer motivo

obs:os casos compulsórios de antecipação,em função de invalidez ou restrição da

capacidade física, deverão ser transferidos para a esfera dos programas

assistenciais,cujo financiamento ocorrerá através de outras fontes.

2º-possuírem um mínimo de 420 contribuições mensais

O novo regime permite que o futuro aposentado possa planejar com segurança a

melhoria do valor a receber,bastando estender a sua vida útil de trabalho e as

correspondentes contribuições.

29

Voltando ao nosso exemplo de cálculo do benefício,bastaria a pessoa continuar

contribuindo na faixa de 3,75 VRP’s por mais sete anos e meio para receber o

valor integral.

3º-A atualização dos benefícios se dará automaticamente toda vez que houver

variação do salário mínimo.

Outra situação muito peculiar e que foge da regra geral é a tributação sobre as

operações do sistema financeiro,onde o imposto será cobrado na fonte,pois não

existe ativo real ou produto para receber lastro fiscal.Ou seja,não há hipótese de

alguém receber bônus pelos reais que possui.

O modelo postula que mais importante do que estipular a alíquota de imposto

sobre os ganhos financeiros é estabelecer algumas regras vinculadas a prazos e

faixas de juros,tornando o sistema produtivo e os poupadores clientes de um

mercado financeiro parceiro,que obviamente continuará a buscar seus objetivos

de lucro,mas ocupando um espaço prévia e preferencialmente delineado para os

interesses de crescimento do país.

Outro fator que justificará nossa proposta de sugerir um teto de taxa de juros

bem mais adequado ao momento contemporâneo mundial é que o próprio SIAP

é um instrumento de inibição inflacionária,garantindo de forma concreta e não

intervencionista o controle automático dos preços.

Presumimos que a inflação anual, a partir do SIAP, gire em torno de –3% e

+3%,oscilando apenas em função da disputa competitiva.

30

Nestes termos,qualquer taxa de juros acima de 3% torna-se positiva e factível

para gerar atratividade em relação às aplicações no mercado financeiro

brasileiro.

Configurado este novo perfil de sistema financeiro é preciso também dar um

novo tratamento ao dólar.

Quando se deixa que o “mercado” fixe seu valor flutuante,a taxa de conversão

passa a cumprir papéis que não lhe cabem:

1º-para o Banco Central passa a ser um título,resgatado com ágio,muitas vezes

na alta - no momento em que o Banco “compra” os dólares das exportações - e

com deságio,muitas vezes na baixa - quando o Banco “vende” os dólares das

importações.

2º-para os consumidores passa a ser um produto,travestido de fertilizante,

trigo,remédio,bacalhau,etc...,cujos preços não são mais regulados pela lei da

oferta e da procura,mas pelos movimentos especulativos do setor financeiro

nacional e internacional

3º-para as empresas passa a ser uma commodity agrícola,como se uma simples

taxa referencial pudesse sofrer oscilações tão violentas quanta aquelas

provenientes das circunstâncias de uma safra agrícola,sujeita a intempéries e

pragas

O único papel que deveria ter é o de referência para o comércio exterior e para

o fluxo em moeda estrangeira.O governo possui a maior parte das reservas

cambiais,pelo menos as oficiais,e com este status hegemônico tem o legítimo

direito,sobre o qual eu acrescentaria dever, de estabelecer por qual valor vai

vender ou comprar dólares,fixado de acordo com o peso sazonal das exportações

31

e importações e das captações e pagamentos em moeda estrangeira, e

considerando uma flutuação atrelada ao comportamento da variação

inflacionária nacional e internacional.

Voltando aos juros,entendo que devam ser sempre pré-fixados e atualizados

conforme as circunstâncias do país e da influência externa,quando couber.Além

disso,sugiro que existam apenas 3 patamares vinculados a tempo.

Existiria uma tabela única de juros no país,acessível a qualquer cidadão,

indicando taxas mínimas e máximas,devendo cada banco ou financeira disputar

clientes dentro destas faixas,sendo cada operação obrigatoriamente registrada

pelo agente financeiro na Receita Federal,pois a entrega de bônus nos casos de

pagamento de juros será de responsabilidade da própria Receita.Aos bancos

caberá entregar aos clientes os bônus relativos às suas receitas de serviços

bancários convencionais de mercado.

TABELA PADRÃO DE JUROS

prazos tx mínima tx máxima

3 meses 0,90% 1,02%

6 meses 2,12% 2,38%

12 meses 5,22% 5,87%

Embora possam parecer taxas muito baixas,o são se compararmos com os

patamares praticados no Brasil,porque em nível internacional ainda podem ser

consideradas altas.Esta observação é para nos darmos conta do absurdo que se

permite aqui,em se tratando de taxa de juros.Em certo termo,a definição da taxa

referencial de juros torna-se a decisão mais importante tomada no país,pois irá

influenciar o valor do superávit primário necessário para o cumprimento dos

encargos financeiros da dívida,determinando,portanto,o perfil dos gastos

32

públicos,bem como será fator fundamental para determinar o ritmo dos

investimentos privados e a temperatura do mercado consumidor.E esta decisão

não está nas mãos do Presidente,do Ministro da Economia ou do Congresso,mas

de pessoas que quase ninguém sabe quem são.Você,meu caro leitor,saberia

dizer um só nome? Definitivamente,a gestão dos juros brasileiros é algo muito

estranho.

A diferença entre as taxas mínimas e máximas equivale ao spread bancário –

ganho dos bancos na intermediação das operações financeiras – fixado na

tabela em 12,5%.

Sobre os ganhos incidiria uma alíquota padrão de 25%,recolhida na fonte, para

todas as operações.

Os dados de qualquer operação superior a 1 ano seriam parametrizados pela

indicação do número de períodos anuais,sendo os juros capitalizados em cada

reaplicação e pagos somente no resgate.

Se alguém,por exemplo,quisesse aplicar R$10.000,00 pelo período de 2

anos,teria os seguintes resultados:

Ao final do primeiro ano = R$10.000 X 1,0522 = R$10.522,00(a)

Imposto único = 25% de (R$10.522,00 – R$10.000,00) = R$130,50(b)

Montante a ser reaplicado para o segundo período anual = R$10.391,50(a-b)

Ao final do 2º ano = R$10.391,50 X 1,0522 = R$10.933,94(c)

Imposto único = 25% x (R$10.933,94 – R$10.391,50,00) = R$135,61(d)

33

Valor final a ser resgatado = R$10.933,94 – R$135,61 = R$10.798,33(c-d)

Neste exemplo,o banco que acatou a aplicação ganharia a diferença entre as

taxas de 5,22%(que ofereceu ao poupador) e 5,87%(que reaplicou em títulos do

governo).

Importantes fontes de financiamento popular,o cartão-de-crédito e o cheque

especial,também devem estar enquadrados e praticar juros trimestrais,

semestrais ou anuais, de acordo com a linha de financiamento que

concederem,constantes da tabela.Comparem os juros praticados hoje sobre

estes financiamentos com os da proposta e constatem o absurdo que se comete

sobre a classe média,principalmente.

Ainda sobre juros,há que se ressaltar que são os grandes vilões da nossa dívida

pública interna,que por si só não representa perigo para a economia.É preciso

entender que o país precisa de algum estoque de dívida pública para que

qualquer um de nós possa aplicar recursos em renda fixa,pois são os títulos

mobiliários do governo que basicamente remuneram as aplicações financeiras.

Dito isto,vamos divagar sobre a questão do saldo da dívida interna brasileira,que

hoje monta a cerca de 40% do PIB.

Esta comparação percentual é algo frágil,pois bastaria que a rolássemos

eternamente,provocando ao mesmo tempo o crescimento regular do PIB para

termos percentuais cada vez menores todo ano.

A questão principal é outra:o elevadíssimo custo dos juros,que priva o Estado de

aplicar recursos mais significativos em atividades sociais e em investimentos

públicos e atrofia a capacidade de expansão da economia.

34

Combate-se o problema através de duas providências:a primeira, é a redução

das taxas nominais dos juros,já sugerida pela criação da tabela oficial com

patamares e prazos pré-fixados;a segunda, é a redução do saldo da dívida, que

é a base de valor sobre a qual as taxas de juros incidem.

O saldo desejável da dívida interna,na minha opinião, deveria ser algo em torno

de 20% do PIB,dando lastro a um sistema financeiro redirecionado para abrigar

somente poupança líquida(valor que sobra das receitas, deduzidas as despesas e

os investimentos).O modo de alcançar tal patamar é refazer o perfil de execução

do serviço da dívida,redirecionando a redução dos juros,proveniente da tabela

padrão (pelos indicadores atuais a economia seria de R$ 70,0 bilhões/ano),para

amortizar o principal da dívida,que hoje é no máximo rolado.A partir daí, deve-se

manter a relação constante,de forma que o lastro financeiro possa acompanhar o

crescimento do PIB.

Antes,porém,deveria ser tentado um processo de compensação de dívidas

escriturais mútuas,evitando-se a produção desnecessária de juros.

Por exemplo:uma empreiteira deve 80.000 reais a uma prefeitura,que deve

100.000 reais a um governo de Estado,que por sua vez deve 120.000 reais à

mesma empreiteira.

Cada dívida estanque gera obrigações de juros anuais,por exemplo, da ordem de

10%,fazendo com que as despesas financeiras totais sejam de 30 mil

reais(8+10+12),na nossa simulação.

Se estabelecêssemos um sistema de compensação,o perfil de uma nova dívida

líquida seria o seguinte:

35

em reais

Débito Crédito

situação da empreiteira 0 40 mil - Estado

situação da prefeitura 20 mil -Estado 0

situação do governo estadual 40 mil – empreiteira 20 mil – Prefeitura

DÍVIDA LÍQUIDA 60 mil 60 mil

Nesta nova situação,os encargos passariam de R$30 mil(10% de um montante

de dívida de R$300 mil) para R$6 mil(10% de uma dívida total de R$60 mil).

Outra providência desejável seria a transformação de parte da dívida entre as

instâncias federal,estadual e municipal em participações societárias minoritárias

do credor nas empresas públicas do devedor,de forma a manter-se a

caracterização de direitos e deveres,mas promovendo a troca dos juros pelos

dividendos.

Aproveitando o mesmo exemplo,se o Governo de Estado transformasse o crédito

que tinha em ações de determinada empresa da Prefeitura,o novo perfil da

dívida líquida seria o seguinte:

em reais

Débito Crédito

situação da empreiteira 0 40 mil - Estado

situação do governo estadual 40 mil – empreiteira

36

A nova despesa com juros passaria de R$6 mil para R$4 mil,lembrando que o

valor no início das compensações era de R$30 mil.

Para encerrar a parte descritiva do sistema,vamos falar do FUNDO DE

PARTICIPAÇÃO DO CONSUMIDOR,que se propõe a redistribuir renda da forma

mais direta e universal possível.

Pense em você fazendo as compras do mês no supermercado,toda manhã indo à

banca de jornal e depois ao açougue,tomando um chope nos finais de

semana,fazendo ginástica na academia do seu bairro,andando de metrô ou de

ônibus,colocando gasolina no carro,pagando o aluguel no fim do mês,indo ao

cinema e usando o estacionamento próximo,enfim,todas as atividades do seu

cotidiano.Sempre que houver desembolso da sua parte há a obrigação de quem

recebeu o seu dinheiro de lhe entregar bônus fiscais no mesmo valor.

No final de um período de tempo,qualquer período,você estará cheio(a) de

bônus,tendo,creio,já entendido,que eles serviram para garantir que todos os

contribuintes que se relacionaram comercialmente com você pagaram

devidamente seus impostos.

E você,tanto por exercer o papel de “fiscal” como pelo fato de consumir,

aquecendo o ciclo produtivo,irá,no modelo,receber um abono anual em dinheiro.

Para isso,toda pessoa física terá aberta pelos operadores do sistema,que serão

os bancos comerciais instalados no país,uma conta específica para depósito dos

bônus fiscais que tiver recebido.Estes depósitos serão apenas escriturais,ou

seja,não significam dinheiro,mas direitos.

37

Os direitos se materializarão através do recebimento de um abono de 5%,aí

sim,em espécie, sobre o saldo de cada depositante.

Se fôssemos,no entanto, calcular o saldo somente pelos depósitos próprios de

cada um,manteríamos as diferenças econômicas existentes antes da implantação

do FUNDO e o propósito não é esse.

De uma forma muito direta,o maior objetivo é iniciar um processo concreto de

redistribuição de renda,partindo-se do cálculo dos saldos individuais das contas,

conforme o exemplo a seguir:

Obs:cada parcela depositada corresponde em bônus ao montante em reais que o

consumidor gastou.

- depósito da pessoa A – 10 parcelas de 3.000 bônus = 30.000

- depósito da pessoa B – 10 parcelas de 1.500 bônus = 15.000

- depósito da pessoa C – 10 parcelas de 300 bônus = 3.000

Total depositado= 48.000 bônus ; média = 48.000/3 = 16.000

No exemplo,cada um tem o seu saldo específico em bônus,mas foi calculado

também o saldo médio do total de depósitos.

A base para o cálculo do abono será 50% do saldo individual mais 50% do saldo

médio,promovendo,portanto,uma distribuição que procura corrigir parte das

diferenças de poder econômico.

Calculando o valor do abono em dinheiro para cada depositante,teríamos:

38

Depositante A : saldo em bônus = 8.000(médio) + 15.000(individual) = 23.000

Abono = 5% de 23.000 = R$1.150,00

Depositante B : saldo em bônus = 8.000 (médio) + 7.500(individual) = 15.500

Abono = 5% de 15.500 = R$775,00

Depositante C : saldo em bônus = 8.000(médio) + 1.500(individual) = 9.500

Abono = 5% de 9.500 = R$475,00

No exemplo,o depositante C, que pertence à classe menos favorecida dentre os

grupos representados,receberá um valor de abono maior(3 vezes mais) do que

teria se fosse considerado somente o seu saldo individual(5% de

R$3.000,00=R$150,00),atendendo,portanto, à redistribuição apregoada.E quanto

menos favorecido o consumidor,mais este abono lhe será útil,significando para

muitos o 14º salário.

Lembro que a redistribuição estará sendo feita no momento de uma espécie de

devolução de impostos anteriormente pagos,o que não penalizará o consumidor

que receber um abono menor do que o valor que seria calculado se a base fosse

o seu saldo individual,pois o programa tem o caráter de uma liberalidade.Além

disso,é extensivo a todos e o juízo dos valores a serem redistribuídos é oferecido

pelos próprios consumidores através de depósitos espontâneos,de forma que as

injustiças e/ou omissões, que muitas vezes permeiam as ações de redistribuição

corretiva de renda,inexistam.

A principal fonte de recursos públicos para financiar o mecanismo do FUNDO é a

reversão de impostos recolhidos,devendo uma parte deles ser contingenciada

para este fim.Como fonte subsidiária indicamos todo e qualquer valor de multa

recebida pela administração pública direta,inclusive para moralizar esta prática.

39

Para fechar o circuito do Fundo de Participação do Consumidor,você deverá

indicar na sua declaração fiscal de ajuste,aquela que você faz todo ano,um

demonstrativo do quanto você recebeu no ano-base,deduzidos os valores do

imposto cobrado na fonte e da contribuição previdenciária,e de quanto você

depositou no Fundo de Participação no mesmo período,devendo o depósito em

bônus ser de no mínimo 80% do valor da sua renda líquida.Se o percentual for

menor do que o padrão,haverá a incidência de uma alíquota extra de 15% sobre

a diferença em reais,indicando que seus rendimentos terão uma taxação

adicional por você estar sendo considerado pelo sistema ,naquele ano,um

contribuinte com uma condição de super capacidade contributiva.Vamos a um

exemplo:

Suponha que você depositou no Fundo de Participação 12.000 bônus fiscais e

que seu rendimento bruto foi de R$19.500,00.

Demonstrativo (simplificado e aproximado)

Rendimento bruto anual R$19.500,00(R$1.500,00 x 13)

Imposto cobrado na fonte R$ 1.300,00(R$100,00 x 13)

Contribuição previdenciária R$ 1.414,00 (R$108,75 x 13)

Rendimento Líquido R$16.786,00(R$19.500,00-R$1.300,00-R$1.414,00)

80% dos rendimentos R$13.428,00(80% de R$16.786,00)

Saldo da conta em bônus 12.000,00(consumo de R$12.000,00)

Diferença em reais R$1.428,00(R$13.428,00 – R$12.000,00)

Imposto adicional R$214,32(15% de R$1.428,00)

Se no mesmo exemplo, o saldo no Fundo fosse de 14.000 bônus,portanto 83%

do valor dos rendimentos líquidos,não haveria a taxação adicional,nem tão pouco

qualquer devolução,pois a regra apenas determina um marco (80%) para servir

de gatilho para o imposto adicional.

40

Ressalto que a maior virtude do novo modelo arrecadador de impostos é

estender a sua atuação por toda a economia,quando procura redistribuir

renda,gerar emprego,migrar os informais para a formalidade,dificultar as

operações fraudulentas e a sonegação,estabelecer uma carga tributária bastante

dependente da capacidade contributiva de cada um,controlar automaticamente a

inflação e dar consistência a um sistema de garantias,cujas principais expressões

são:o baixo custo do dinheiro e o incentivo obstinado pelo aquecimento do setor

produtivo, apoiado pelo suporte de um segmento financeiro convergente para o

desenvolvimento dos ativos reais no Brasil.

41

PERGUNTAS E RESPOSTAS

1-Por que chamar de inteligente o sistema?

Considero o termo inteligente tal qual é conceituado nos sistemas mecânico e

eletro-eletrônico de um carro de fórmula 1,quando produzem ajustes e

indicações automaticamente,sem interferência manual.

O SIAP é assim.Ele autofunciona.

-percebe-se o fato gerador do imposto,sem que seja preciso conhecimento em

matéria tributária

-a atribuição dos papéis de beneficiário e contribuinte não deixa nenhum tipo de

dúvida para qualquer das partes

-o valor do imposto pode ser planejado pelo próprio contribuinte,segundo a

política de preços e perfil de gestão que adotar

-é o próprio contribuinte que estabelece as datas em que vai quitar o

imposto,de acordo com a sua disponibilidade de caixa e oportunidades de venda

-a fiscalização fica assegurada por um regime perfeito de descentralização,

envolvendo todo o território nacional

2-Como migrar para o novo regime?

As antigas regras cessarão e as novas passarão a vigorar,simplesmente.É

preciso,no entanto,normatizar sobre um fato em que haverá interação

42

obrigatória entre os dois sistemas:a venda,já no regime novo, de bens e direitos

adquiridos durante a vigência do regime anterior.

Neste caso, será preciso criar procedimentos para conceder ao vendedor um

lastro fiscal em bônus, inexistente no regime anterior,como forma de viabilizar a

transação segundo as regras de contrapartida fiscal próprias do novo regime.As

normas para esta ocorrência são as seguintes:

a - O proprietário,por ocasião da venda,deverá comparecer à Receita Federal

para comprovar documentalmente a propriedade e a existência do bem ou

direito na sua última declaração do imposto de renda,como pré-condição para

auferir o direito ao lastro fiscal,a ser materializado pela aquisição dos bônus

correspondentes ao valor corrigido do bem ou direito,ao preço unitário de

R$0,02.Esta cobrança visa inibir possíveis idas à Receita para regularizar vendas

simuladas.

b - No ato do pagamento, a receita irá carimbar o documento comprobatório da

propriedade,identificando que os itens nele constantes já estão regularizados

para o novo regime,além de impedir que a operação possa ser repetida de forma

fraudulenta.

c - Somente haverá estes procedimentos para bens e direitos cujo valor corrigido

seja superior a R$1.000,00.

3-Como fica enquadrada a economia informal?

No SIAP, não será preciso este tipo de identificação,pois todos serão

contribuintes ou beneficiários segundo um único fato gerador:a troca da

propriedade de reais.

43

Desta forma,em relação ao modelo atual,fica configurada a possibilidade de

extensão da arrecadação fiscal a 100% da base possível,e sem qualquer

burocracia para tal.

4-Isto quer dizer que não será preciso abrir empresas formais para explorar

qualquer atividade econômica?

Correto,pois o que irá interessar para a economia é a sujeição do empreendedor

às regras do SIAP.Por exemplo:

-os clientes devem receber seus bônus pela aquisição dos produtos ou

serviços,cumprindo-se o dispositivo da contrapartida fiscal

-o empreendedor deverá emitir nota(pessoas jurídicas) ou recibo( pessoas

físicas) para servir de lastro nas comprovações da declaração antecipada de

receita(obrigação fiscal)

Se o pequeno empreendedor irá ou não abrir uma empresa formal dependerá

somente dele,ao estudar as possibilidades fiscais,que são diferentes para

pessoas físicas e jurídicas.

Em tempo:a partir de determinada escala de negócio a melhor opção é a pessoa

jurídica.

5-Existirão casos de isenção da obrigação de entregar bônus fiscais ao

beneficiário?

Sim,quando a natureza conceitual da operação descaracterizar a presunção de

lucro.

Podemos citar alguns exemplos:

44

1 - pagamento de sanções pecuniárias

2 - saques do FGTS

3 - recebimento de heranças

4 - transferências provisórias de moeda,como depósitos bancários,principal de

aplicações,empréstimos e financiamentos

5 - conversão de moeda em operações de comércio exterior

6 - compra de bônus fiscais

7 - recebimento do abono do Fundo de Participação do Consumidor

8 - recebimento de salário

9 - distribuição de verbas públicas orçamentárias

10 -recebimento de pensões da Previdência

11 -recebimento de indenizações judiciais

12 -aportes de capital

13 -prática de atividades paralegais(capítulo 8 do livro)

6-Os órgãos governamentais também serão enquadrados no novo regime?

No novo regime tributário qualquer desembolso representa o direito de receber

bônus do agente contribuinte.Portanto,todo gasto público deverá também estar

lastreado pelos BF’s recebidos dos fornecedores,prestadores de serviço,etc...

Como o repasse de verbas governamentais estará isento de tributação,os bônus

possuídos por qualquer órgão da administração pública deverão servir para

prestação de contas dos recursos já recebidas,inclusive nos casos de obras.

A prestação se dará por trimestre,segundo o mais elementar raciocínio

matemático:recebeu X reais tem que apresentar X bônus fiscais,ou bônus em

menor quantidade mais as sobras de caixa para fechar o montante recebido.

45

Desta forma,muitas operações que hoje se presume fraudulentas,como por

exemplo,algumas guias de prestação de serviços fantasmas que podem estar

sendo cobradas no SUS,não serão mais possíveis,pois o benefício dos bônus

somente será concedido a quem efetivamente incorrer em desembolsos,já que o

regime aplicado ao SIAP é o de caixa.

7-Como serão fisicamente os bônus?

Os bônus serão impressos em cédulas,com tamanhos e cores diferentes das do

real.

8-Quais serão os valores de face dos BF’s?

Serão praticamente os mesmos do real,com a inclusão de cédulas de 500 e

1.000 bônus.

9-Poderão ser utilizadas contas bancárias para a movimentação dos bônus?

Sim,cada conta bancária existente no momento da implantação do SIAP será

duplicada,sendo uma expressa em reais e outra em bônus,inclusive com a

possibilidade da utilização de talonário similar ao de cheques.Para as pessoas

físicas existirá ainda uma terceira conta,também aberta automaticamente,para

abrigar os depósitos no Fundo de Participação do Consumidor.Nesta última conta

os bônus depositados não poderão ser mais retirados.

10-A quem competirá emitir e vender bônus?

Tal qual o real,a emissão será privativa da União.

46

No caso das vendas,os bônus serão comercializados fisicamente nas agências

bancárias sob a tutela administrativa da receita federal.

11-Dispensar a recepção de bônus será crime?

Não,mas sonegar a entrega será,cabendo pena pecuniária automática

equivalente a 3 vezes o montante sonegado.Se algum consumidor fizer questão

de não receber os bônus,o que seria a mais completa prova de alienação,deverá

lembrar,no entanto,que na declaração anual de ajuste poderá arcar com

impostos adicionais de 15%,se a relação depósito em bônus/rendimento líquido

for inferior a 80%.

Cada cidadão tem que vislumbrar a grande oportunidade que todos terão de

consertar séculos de fraudes em matéria tributária,tendo consciência de que se

alguém sonega, a parcela que deixou de entrar nos cofres públicos é

imediatamente repartida com quem paga corretamente.Por isso,exigir a

contrapartida em bônus será uma questão de autodefesa que qualquer cidadão

terá.

12-O sistema poderá ajudar na geração de empregos?

Efetivamente sim,pois estão previstos vários incentivos neste aspecto.

Quando o empregador recolher o imposto retido na fonte,o FGTS sobre a folha

de pagamento e a guia do INSS dos empregados e do empregador,receberá os

bônus correspondentes diretamente da receita federal,com os seguintes

incentivos aplicáveis sobre os montantes recolhidos:

-Imposto na Fonte - acréscimo de 5%

Exemplo:a cada R$1.000,00 que recolher receberá 1.050 bônus

47

-FGTS – acréscimo de 50%

Exemplo:a cada R$800,00 que recolher receberá 1.200 bônus

-INSS do empregador– acréscimo de 10%

Exemplo:a cada R$2.800,00 que recolher receberá 3.080 bônus

-INSS dos empregados– acréscimo de 50%

Exemplo:a cada R$1.000,00 que recolher receberá 1.500 bônus

Obs:1-no exemplo acima consideramos uma folha salarial de R$10.000,00

2-os recolhimentos sobre o pró-labore também serão incentivados

Estes incentivos representam redução do valor total do imposto a ser pago,pois

com os números utilizados no exemplo a empresa deixaria de adquirir 1.230

bônus, que seriam agregados gratuitamente ao seu lastro fiscal,redundando em

uma necessidade real menor de suplementação de bônus.

Outro incentivo previsto para este campo é a possibilidade da implantação de

uma folha especial para abrigar pessoas acima dos 45 anos(que não recebam

pensão ou aposentadoria,e que também não sejam ex-empregados da empresa

contratante),estagiários,menores aprendizes,deficientes físicos e ex-

presidiários,cujo valor não poderá ultrapassar a 10% da folha regular,e que

proporcionará os mesmos incentivos qualitativos,mas em dobro.

Os bancos comerciais receberão todos estes incentivos com bonificação de

10%,como contrapartida pela operação do sistema.

Estes incentivos não só abrirão novas oportunidades de trabalho quanto

incentivarão a assinatura das carteiras-de-trabalho e o recolhimento regular do

imposto único,do FGTS e das guias do INSS,pois o não recolhimento implicará

em aumento auto-aplicável da carga tributária.

48

13-Haverá também incentivos para as exportações?

Sim.A obrigação fiscal proveniente das receitas de exportação será desonerada

em 15%.

Além deste,outros incentivos poderão ser criados,não só em relação às

exportações,mas também aqueles que venham contribuir para o fortalecimento

e/ou a expansão do mercado interno,procurando fomentar o PIB nacional

independente do destino das vendas.

14-Como será o fluxo de bônus nas operações de comércio exterior?

As figuras do beneficiário nas exportações e do contribuinte nas importações

estarão no exterior,e obviamente não participarão da entrega ou recepção de

bônus,visto que o sistema é privativo da economia brasileira.Em se tratando de

comércio exterior, a própria receita federal cumprirá os papéis,recebendo bônus

nas exportações e entregando nas importações.

15-Haverá uma fiscalização formal da receita federal sobre o sistema?

Sim,através de uma rede de auditores fiscais,que,no entanto,existirão também

para orientar o contribuinte e atuar de forma preventiva como consultores

virtuais.

Cada auditor será responsável pela tutela fiscal de 20 CNPJ’s e de 300 CPF’s,

com revezamento semestral por sorteio e fiscalização sobre o auditor sucedido.

As despesas mensais com cada auditor serão de R$15.000,00,compreendendo

salário + encargos.Para subsidiar as despesas será criada uma taxa mensal de

49

serviço da ordem de R$ 8,00 para as pessoas físicas e de R$32,00 para cada

empregado das pessoas jurídicas.

A preferência para ocupar as vagas será dos técnicos com função similar no

regime anterior e que estariam desmobilizados em razão da implantação do

SIAP.

Estima-se uma necessidade total de 200.000 auditores,abrindo-se uma nova e

ampla frente de trabalho para pessoal especializado.

16-A perspectiva de existirem bônus sobrando para uns e faltando para outros

não poderá desencadear um mercado paralelo e ilegal?

Sim,esta hipótese não pode ser descartada,embora algumas regras do sistema

tentem inibir isto.

A fiscalização se dará em 2 instâncias:uma informal ,com os contribuintes

exigindo seus bônus e a outra formal,através dos auditores.Não haverá,

portanto,contribuinte no país sem acompanhamento fiscal,dificultando,e

muito,também as tentativas de sonegação.O objetivo,no entanto, não é o

controle pelo controle,mas garantir que todos se obriguem igualmente,evitando a

sobrecarga de alguns pela inadimplência de outros.

A compra de bônus somente poderá ocorrer sob a supervisão da receita e os

depósitos de bônus no Fundo de Participação do Consumidor ocorrerá em conta

bancária,também sob as vistas do fisco.

No caso das pessoas jurídicas,ainda terão que prestar contas sobre o valor da

obrigação fiscal declarada em cada aquisição de bônus,e as pessoas físicas terão

que demonstrar o saldo em bônus no Fundo de Participação do Consumidor na

50

declaração de ajuste, para a verificação da necessidade de taxação adicional ou

não.

Além disso,o que se espera é um verdadeiro banho de ética e cidadania com o

novo regime,de forma que estes mecanismos de controle possam um dia,mesmo

existindo,tornarem-se supérfluos.

17-O contrabando e o roubo de carga continuarão existindo?

Em teoria não.Cada mercadoria para ser vendida tem que ter um lastro de bônus

que corresponda aos custos de aquisição,o que será impossível nos dois casos.E

não adianta comprar bônus sem possuir lastro,pois isto irá significar,na prática,

pagar de imposto o mesmo valor que vai receber pelas vendas.Vamos ao

exemplo?

Suponha que alguém roubou mercadorias que pretende vender por

R$1.000,00.Como não tem bônus provenientes do custo de aquisição,terá que ir

ao banco comprar 1.000 bônus que lhes serão solicitados por ocasião da venda.

Eis o valor da sua compra:

1º lote=100 bônus a 20 centavos=20 reais

2º lote=100 bônus a 30 centavos=30 reais

3º lote=100 bônus a 40 centavos=40 reais

4º lote=700 bônus a 1 real e trinta centavos=910 reais

Total da compra:1.000 bônus=1.000 reais

18-Que dispositivo garantirá que a parcela especulativa da margem de lucro

migre automaticamente para os impostos?

51

O grande regulador do sistema é o último lote da tabela de aquisição de

bônus,pois seu preço a R$1,30,ou seja,mais caro do que o contribuinte

desembolsou para conseguir seu lastro,que pelo regime de contrapartida fiscal

será sempre de R$1,00, é quem absorve o lucro especulativo.

E é esse dispositivo que garantirá sistemicamente a estabilização dos preços e o

controle automático da inflação,permitindo que o país cresça de forma

sustentável e segura.

19-Como deverão proceder profissionais liberais,como médicos e advogados?

Todo profissional liberal deverá agir respeitando o regime de contrapartida

fiscal,entregando bônus pela prestação dos seus serviços.Poderão utilizar como

lastro para compor as suas cargas fiscais,além dos bônus provenientes das

despesas com a atividade profissional,também aqueles recebidos através dos

seus gastos pessoais.

Deverão emitir recibo toda vez que auferirem receitas,pois este será um

documento imprescindível e obrigatório nos procedimentos de aquisição de

bônus.

No SIAP,o interesse pela emissão de nota ou recibo é do fornecedor ou

prestador, e não mais do consumidor.

20-E os prestadores de serviços caseiros,como eletricista,bombeiro-

hidraúlico,pintor,faxineira e passadeira,por exemplo?

Tudo o que foi falado acima vale integralmente para esses profissionais

também.Aliás,devo ressaltar que deverão criar o hábito,hoje desprezado,de

emitir recibo para poder também viabilizar as suas compras de bônus e atender

52

ao beneficiário em relação ao seu direito de contrapartida no ato de qualquer

pagamento.

21-Se alguém vender seu carro ou apartamento, deverá também entregar bônus

ao comprador?

Sim,sempre deverá se cumprir o regime de contrapartida fiscal.

Sobre os bens em questão,haverá as seguintes peculiaridades:

No caso do carro,normalmente o valor de venda é menor do que o valor de

compra,pelo menos quando o vendedor não é comerciante de veículos,

acarretando a obrigação de entregar menos bônus do que recebeu quando

comprou o mesmo bem.Neste caso,não precisará pagar qualquer

imposto,podendo depositar os BF’S excedentes na sua conta do Fundo de

Participação.

Já no caso dos imóveis dá-se exatamente o contrário,pois os bens sofrem

valorização em relação ao último preço pago.Neste caso,o vendedor deverá usar

o seu lastro de bônus,que deve corresponder ao montante em reais que pagou

pela aquisição do mesmo bem,para adquirir os bônus suplementares e

conseqüentemente pagar o seu imposto conforme o sobrepreço que negociou

com o novo interessado pelo imóvel.

22-Existem alguns bens,como os imóveis tratados anteriormente,que o

mercado,pela lei da oferta e procura, pode atualizar os valores de uma forma

muito significativa,fazendo com que os bônus possuídos representem um lastro

muito pequeno em relação ao novo preço de venda,aumentando em muito a

53

margem de lucro e conseqüentemente o imposto a ser pago.O sistema prevê

algum ajuste para estes casos?

Não,inclusive pelo fato de que às vezes o mercado é extremamente especulativo

ao fixar preços,principalmente dos imóveis.Quem quiser revender um

apartamento ou casa por um valor muito acima daquele que desembolsou

deverá arcar com o imposto proporcional,sendo outra faceta do SIAP frear as

orgias da especulação.

23-Como proceder nas compras a prazo e por cartão-de-crédito?

Nas compras a prazo,os bônus serão recebidos por etapas,cada vez que houver

a quitação de uma prestação.Neste caso,o cômputo das vendas deverá se basear

também por prestação recebida.

Nas compras por cartão-de-crédito,os bônus deverão ser entregues pela

operadora quando a fatura for paga. O agente vendedor ao receber da

operadora do cartão deverá também lhe entregar os bônus correspondentes.

24-Como receber bônus quando o pagamento de uma conta qualquer for feita

na rede bancária ou pela internet?

Todo documento que representar obrigação de pagamento deverá conter,na via

do sacado/devedor,uma autorização para saque de bônus da conta, identificada,

do favorecido/credor.Desta forma,o caixa do banco ao mesmo tempo em que

autentica o pagamento faz a transferência dos bônus da conta do credor para a

do devedor,lembrando que sempre existirá uma conta em bônus secundária à

conta em reais.

54

Quando o pagamento for efetuado pela internet aparecerá uma tela, após a

efetiva quitação do débito,indicando a autorização prévia de transferência dos

bônus da conta do credor para a do devedor,bastando confirmar a operação.Este

dispositivo vale para contas de concessionárias de serviço público,carnês e

boletos bancários.

25-Como serão enquadradas as entidades filantrópicas?

Deverão funcionar como qualquer outro agente econômico,recebendo e

entregando bônus.Provavelmente continuarão a não pagar imposto,pois toda vez

que qualquer operação não embutir lucro o lastro de bônus possuídos já será

suficiente para o cumprimento do dispositivo de contrapartida fiscal.O que não

pode é haver a dispensa por parte do beneficiário de receber seus bônus quando

pagar ou doar qualquer quantia,sendo o contribuinte entidade filantrópica ou

não.Mesmo porque,os valores recebidos das doações custeiam gastos e

financiam investimentos,que,por sua vez,demandam direitos de recepção de

bônus,inclusive pelas entidades filantrópicos,que por isso terão lastro suficiente

para respeitar o regime de contrapartida por ocasião das doações que

receberem.

26-Qual o efeito esperado nos preços após a implantação do novo sistema de

arrecadação de impostos?

Espera-se imediatamente uma redução significativa dos preços,tanto pela

extinção dos impostos sobre o consumo,como ICMS e ISS,quanto pela

necessidade de ajustes nas margens de lucro,provavelmente para baixo.

Esta tendência deverá atingir,inclusive,as concessionárias de serviços

públicos,cujos contratos de privatização lhes asseguraram nos últimos anos

55

reajustes anuais aviltantes,ou seja,muito acima dos índices divulgados para a

inflação.

Aliás,certos segmentos irão sofrer ajustamentos bastante significativos,

diretamente proporcionais à distância econômica entre os preços de venda e de

custo que praticam,sem que se quebre qualquer cláusula contratual.

27-Qual deverá ser a arrecadação total de impostos no novo regime?

Em termos relativos algo em torno de 28% do PIB.Em números absolutos talvez

um montante maior do que se arrecadava no regime antigo,pois o PIB oculto até

então, da informalidade, estará somado na base futura de cálculo.

28-Como será distribuída a arrecadação para a União,Estados e Municípios?

Existirá uma matriz de distribuição baseada na arrecadação de cada instância e

de cada membro de cada instância no exercício imediatamente anterior ao da

implantação.À medida que os efeitos do novo sistema possam configurar um

novo perfil de demanda pública a matriz poderá sofrer ajustes.

Paralelo a esta matriz existirá outra,a ser operada pelos bancos,que deverá

distribuir, via on line , a arrecadação de cada membro de cada instância para os

agentes públicos de varejo,como hospitais,escolas e fundações,de forma que o

recurso público seja distribuído de forma automática e em tempo real,evitando-

se desvios de objetivos e retenções,tão afeitos a alguns mandatários públicos.

29-A emissão e manutenção de uma segunda moeda,mesmo sem valor de troca,

não sairá caro para os cofres públicos?

56

A emissão será tal qual ocorreu nas diversas mudanças de moeda que o país

experimentou ao longo das décadas de 80 e 90,sendo o custo, o trabalho e as

turbulências os mesmos,aliás,muito bem assimilados pela sociedade,diga-se de

passagem.

Quanto à manutenção, irá representar realmente um custo regular em

dobro,mas que diante dos benefícios do novo regime e da redução dos

desembolsos da União,principalmente proveniente dos juros,será facilmente

absorvido.

30-Juntando-se os valores do imposto e da contribuição previdenciária, não se

consumará aumento substancial dos encargos legais das pessoas físicas?

Não,porque o imposto passará a substituir todos os vigentes,que embutem uma

enorme carga fiscal sobre o consumo,que a população paga achando que é

preço.Quanto à contribuição para a Previdência, é uma questão de se viabilizar a

autosuficiência do sistema e a isonomia de direitos entre os trabalhadores.Vamos

exemplificar a carga tributária e previdenciária no regime antigo e novo para um

salário de R$1.500,00.

Em reais

Antigo Novo

Imposto sobre a renda(1 dependente) 5 100

Contribuição previdenciária 135 109

Impostos sobre o consumo(20%) * 272 0

TOTAL 412 209

% sobre o salário bruto 28% 14%

Redução da carga 50%

* calculado sobre o salário líquido

57

31-Mas com a extinção da isenção para quem ganha até determinada

faixa,aqueles que recebem menos que o valor do exemplo acima também serão

beneficiados?

Sim,vamos fazer a mesma simulação para um salário de R$600,00.

Em reais

Antigo Novo

Imposto sobre a renda(1 dependente) 0 30

Contribuição previdenciária 48 50

Impostos sobre o consumo(20%) * 110 0

TOTAL 158 80

% sobre o salário bruto 26% 13%

Redução da carga 50%

*calculado sobre o salário líquido

32-Mas só para checar tudo,vamos examinar o mesmo exemplo para um salário

de R$20.000,00.Será que serão os maiores beneficiados?

Em reais

Antigo Novo

Imposto sobre a renda(1 dependente) 4.837 4.650

Contribuição previdenciária 381 1.500

Impostos sobre o consumo(*) 2.956 0

TOTAL 8.174 6.150

% sobre o salário bruto 41% 31%

Redução da carga 24%

* calculado sobre o salário líquido

58

33 -E no caso das empresas,haverá também redução da carga fiscal?

Nas empresas o conceito é outro e dependerá da atitude empresarial e do perfil

de gestão de cada uma,impondo elas mesmas o tamanho da sua carga.

Como ilustração,indicamos que sobre um lucro apurado de 30% incidirá uma

alíquota de imposto único também de 30%.Caso a margem aumente o

percentual de imposto também aumentará.

34-Que tipo de empresa poderá se beneficiar mais do SIAP?

Aquelas que aumentarem seus lucros através do incremento da capacidade

instalada e não dos preços;aquelas que mantiverem um número ótimo de

colaboradores,considerando que às vezes empregar mais significará maiores

lucros;aquelas que se utilizarem do incentivo da folha complementar de

pessoal;aquelas que recolherem com toda a regularidade os impostos na fonte,o

FGTS,a guia do INSS;aquelas que assinarem as carteiras de trabalho de todos os

seus empregados;aquelas que investirem continuamente.

35-A proposição de um novo teto da Previdência,comum para o setor privado e

público, da ordem de R$10.000,00, não inviabilizará o sistema?

Não,porque a Previdência não funciona sob o regime de capitalização,mas de

conta corrente,ou seja,o dinheiro que entra no mês é a fonte de financiamento

dos benefícios a serem pagos naquele mesmo mês.O que interessa é o giro das

contribuições sobre os benefícios,que será menor pela nova proposição,

aumentando a liquidez do sistema.Vamos dar um exemplo.

59

Hoje a contribuição máxima é de R$381,00 e o teto de benefício

R$3.467,00,resultando em um giro de 9,1.Com a nova proposição,o giro passa

para 6,7,dividindo-se o teto de R$10.000,00 pela contribuição máxima de

R$1.500,00.Isto quer dizer, em síntese,que precisaríamos de 6,7 contribuintes

ativos para compor o benefício de cada inativo,contra uma relação de 9/1 no

regime antigo.

Em termos finais a relação é outra,mais confortável,pois devemos agregar ao

denominador a contribuição dos empregadores,que se manterá inalterada e é

bastante significativa,e sobre o numerador aplicar o fator de redução que o

modelo propõe.Além disso,a base de contribuintes será muito maior que a

atual,através da migração dos informais para a formalidade,dando outra

ponderação ao giro médio.

36-Por que os que anteciparem as aposentadorias por invalidez deverão ser

pagos por fontes diferentes das arrecadadas pela Previdência?

Porque o sistema só será saudável financeiramente se mantiver as regras de

pagamento do benefício por determinada faixa de tempo,que deve começar

pelos 60 anos de idade e ir até a média de expectativa de vida do país,em torno

de 73 anos.

Com a implantação do Plano Aguapé espera-se estender a expectativa de

vida,aumentando o tempo de pagamento dos benefícios.Se além disso,fossemos

custear os benefícios a partir de uma faixa etária anterior a prevista,iríamos

sobrecarregar em muito a liquidez do sistema.

As antecipações compulsórias passando para outra esfera administrativa,mesmo

que mantenhamos a necessidade real de desembolso,possibilitará um

tratamento operacional e financeiro mais adequado,inclusive percebendo casos

de fraude,pois os beneficiários serão acompanhados como doentes crônicos ou

60

deficientes,com maior visibilidade pessoal se inseridos em um outro

sistema,menor e específico.

61

CAPÍTULO 3

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA LOCAL

Este programa tem como propósito atuar em todo o território nacional,sob a

égide do Ministério Público Federal,direcionando a atenção pública para as

questões mais diretas e práticas do cotidiano da população,através da atuação

local permanente e prestada em tempo real,entendendo o modelo cada pessoa

como representativa do binômio habitante/cidadão.

Terá como papel público garantir permanente e ininterruptamente, em nome de

uma representação popular especial e prevalente sobre as vontades e intenções

das administrações regionais que se revezam ao longo do tempo,benefícios que

resultam do seu escopo de atuação,estendendo a sua influência às ações de

fiscalização,orientação e execução.

São objetivos práticos do programa:

-concorrer para que as ações públicas possam ser distribuídas de forma

equânime por local habitado e correspondente estratificação sócio-econômica

residente,evitando privilégios a regiões de maior poder aquisitivo ou

representativa de nichos eleitorais

-criar uma quantidade significativa de novos cargos,configurando o conjunto uma

reserva Institucional Especial de Empregos Públicos

-destinar assistência complementar do Estado a segmentos específicos da

população,priorizando os de menor renda,como instrumento direto de retorno

social dos tributos arrecadados

62

-intermediar,oficial e diretamente,demandas da população junto aos órgãos

públicos prestadores de serviço,garantindo a eficácia da atuação pública

financiada pelo cidadão

Fazem parte do programa os seguintes serviços:

1-TUTELA PÚBLICA

1.1-Estrutura

Será executado por tutores públicos, que deverão possuir,preferencialmente,

formação superior em qualquer área,devendo cada um atender a 400 famílias.

Estima-se uma necessidade de 100 mil tutores em todo o território

nacional,devendo a remuneração ser de R$5 mil.

1.2-Atividades a serem desenvolvidas

-apoio para a extração de documentos,tais como:certidões de

casamento,nascimento e óbito,carteira de identidade,carteira de

trabalho,certificado de reservista,título de eleitor e CPF ,fazendo com que todo(a)

cidadão(ã) possa ter a identificação e o reconhecimento do seu histórico civil

-o encaminhamento de questões de direito,na esfera administrativa,junto aos

órgãos do poder público,incluindo-se também as concessionárias de

serviços,representando civilmente seus tutelados

63

-o encaminhamento das pessoas para a rede escolar e hospitalar

pública,garantindo, sempre, vaga para as de menor renda,evitando as

humilhações das filas para as matrículas escolares e os atendimentos nos

corredores dos hospitais

-o acompanhamento dos menores de 15 anos,no que tange à saúde física e

psicológica e à moradia e suficiência alimentar,priorizando a destinação de

assistência complementar do Estado aos filhos de pais com menor renda e aos

abandonados pela família,evitando que estes menores possam carecer dos

elementos vitais para um crescimento saudável,elevando os índices de

expectativa de vida no país e minimizando os desvios para uma vida de

crimes,de prostituição infantil e de entrega às drogas

-o acompanhamento dos maiores de 60 anos,no que tange à saúde física e

psicológica e à moradia e suficiência alimentar,priorizando a destinação de

assistência complementar do Estado aos de menor renda e aos abandonados

pela família,garantindo a estes brasileiros da 3º idade um complemento de vida

monitorado pelo Estado,para que nada os humilhe ou falte na hora em que mais

estão dependentes de apoio

-o acompanhamento dos deficientes físicos e doentes crônicos,no que tange aos

tratamentos para recuperação e demandas de aparelhagem,priorizando a

destinação de assistência complementar do Estado aos de menor renda

familiar,para que,por exemplo,possam usufruir de uma simples muleta ou de

uma preciosa cadeira de rodas quando precisarem

-a organização de um programa de erradicação do analfabetismo,procurando

voluntários e analfabetos dentro do seu próprio grupo de tutelados, para

organizar e produzir as aulas de acordo com as possibilidades de ambos

64

-a manutenção de campanhas permanentes de esclarecimento,como por

exemplo, a respeito da importância e necessidade do planejamento

familiar,minimizando os problemas decorrentes de uma família com prole

numerosa,e que muitas das vezes é apenas uma questão de falta de informação

quanto aos métodos contraceptivos,ou ainda,sobre práticas básicas de

atendimento domiciliar para a diarréia,através de uma simples dose de água,sal

e açúcar,cuja ignorância tem levado absurdamente a vida de tantas crianças

2-ZELADORIA URBANA

2.1-Estrutura

Será executado por zeladores públicos,que deverão possuir, preferencialmente,

escolaridade de 2º grau,guardando cada um o raio de ação que cubra 400

domicílios.

A assistência se dará em tempo integral,através de 3 turnos de 8 horas

cada.Estima-se a necessidade de 300 mil zeladores,sendo 100 mil para cada

turno.A remuneração será de R$2.800,00.

2.2-Atividades a serem desenvolvidas

-atuar preventivamente na segurança pública,mantendo rondas constantes

dentro do espaço físico de atuação,em harmonia e colaboração com o poder de

polícia institucionalizado

-manter a limpeza das ruas,calçadas e bueiros,em regime complementar ao

serviço dos garis

65

-encaminhar pedidos de manutenção das vias de acesso,iluminação pública e

sinais de trânsito, junto às empresas públicas

-orientar o trânsito nos horários de fluxo intenso,quando não houver

representante institucional no local

-encaminhar pedidos de rampas de acesso para deficientes físicos

-fiscalizar o atendimento do transporte coletivo aos usuários

-fiscalizar obras públicas e privadas e o funcionamento dos estabelecimentos

comerciais,verificando o cumprimento da lei do silêncio e a necessidade de

solicitação de inspeção sanitária e de segurança do trabalho

-encaminhar pedidos de obras de saneamento e iluminação pública onde houver

carência

-implementar um programa de arborização das vias públicas

3-JORNAL DE UTILIDADES

3.1-Estrutura

Será operacionalizado por distribuidores institucionais,que deverão possuir,

preferencialmente,escolaridade de 1º grau,sendo cada um responsável pela

comercialização de 100 jornais diários.

Estima-se uma necessidade de 200 mil distribuidores,que serão remunerados à

base de 70% do valor da venda de cada exemplar,cujo preço será de

R$0,70.Portanto,ao dia,cada distribuidor se vender a totalidade da sua cota irá

66

receber R$49,00,devendo perfazer mensalmente uma receita de R$1.225,00.Os

demais 30% arrecadados com a venda servirão para financiar os custos

operacionais de cada edição.

3.2-Conteúdo diário do jornal

-listagem dos serviços de utilidade pública disponíveis para a população

-artigos da constituição federal

-artigos dos códigos penal e civil

-artigos do código de trânsito

-artigos da CLT

-história do Brasil

-língua portuguesa

-perfil econômico,social e turístico de estados e cidades brasileiras

-concursos públicos

-síntese da biografia de personagens nacionais e estrangeiros

-pratos típicos e folclore brasileiros

-pesquisas científicas nacionais

-artigos,contos e poemas de autores amadores e voluntários

Os serviços de tutela pública e zeladoria urbana deverão ser subsidiados por uma

taxa pública mensal a ser cobrada por família/domicílio,tendo como parâmetro a

metodologia de cálculo utilizada atualmente para o IPTU.

A empregabilidade no programa deve ser respaldada por uma legislação

especial,cujas principais especificidades deverão ser:

-o recrutamento e a seleção baseados nos seguintes critérios:

-escolaridade

-análise das 5 últimas declarações de renda

67

-idade

-disponibilidade

A idéia não é empregar quem aparentemente sabe mais,se utilizássemos o

dispositivo do concurso público,mas quem precisa mais,embora haja uma reserva

de conhecimento ao atribuirmos níveis de escolaridade específicos para cada

cargo.

-a manutenção de um nível mínimo de vagas,que poderão estar preenchidas ou

não, da ordem de 600 mil,ou +- 1 vaga para cada 330 habitantes,a qualquer

tempo,para assegurar à população uma válvula de escape diante de momentos

circunstanciais de desemprego

No momento da implantação todas as vagas deverão ser preenchidas.No

decorrer do programa,no entanto,o número de vagas em aberto sempre será

flutuante.

-as relações trabalhistas deverão ser regidas pelo regime de cooperativas,onde

não há a incidência de encargos sobre a remuneração,tanto para minimizar

custos quanto para caracterizar o teor provisório das funções,pois trata-se de um

Banco de Empregos com fins majoritariamente sociais.

A implantação deste regime de atuação pública deverá ocorrer de forma

acoplada ao vigente,sem que haja qualquer solução de continuidade para o

ESTADO.Ao mesmo tempo cria uma possibilidade extraordinária para o

levantamento estatístico do perfil sócio-econômico da população e para a coleta

de opinião,em tempo real.

68

A administração local estabelece uma prestação efetiva de serviços

úteis,permitindo que o representante estatal viva par e passo o cotidiano da

população,interferindo a seu favor conforme as necessidades mais primárias do

dia-a-dia.

Produz uma geração adicional de empregos públicos direcionados a um espectro

amplo de qualificações,abrangendo escolaridades superior,média e fundamental,

podendo ainda absorver a mão-de-obra de aposentados,donas-de-casa e

estudantes,como forma de complementarem a renda familiar,e de ex-

presidiários,com o objetivo de ser o primeiro passo para reintegrá-los à

sociedade,além,é claro,de absorver um grande contingente de pessoas

desalojadas atualmente do mercado de trabalho.

A tutela aos menores de 15 anos e aos maiores de 60 anos garantirá ao país a

formação de novas gerações com menor grau de sujeição a problemas como a

mortalidade infantil,a desnutrição e os maus tratos,e à geração da 3º idade a

certeza de um tratamento digno e de que não serão descartados pelo país ao

qual entregaram seus esforços e dedicação.

A prioridade para os casos de assistência complementar do Estado é para os de

menor renda,entendendo-se que aqueles mais afortunados poderão financiar a

mesma assistência com seus próprios recursos.E somente assim,fazendo-se a

escolha de Sofia e juntando-se esforços e recursos públicos e privados em

parcerias com fins sociais é que o país como um todo poderá dar um salto de

qualidade.

69

PERGUNTAS E RESPOSTAS

1-O que diferencia,na verdade,a administração pública local da administração

pública convencional?

A administração convencional procura focar a sua atuação pelo vetor da

oferta,concebendo o que levar de utilidade pública para o cidadão,segundo a

sensibilidade e convicções de cada mandatário.Já a administração pública local

tem como objetivo atuar sobre a demanda das pessoas,identificando o que

precisam de real,e mais ainda,quem precisa mais.

No fim das contas,estamos propondo um modelo de administração pública

compartilhada, que busque alcançar um grau maior de sinergia em torno do

mesmo objetivo:o cidadão e seu habitat.

2-Por que a administração pública local será da competência do Ministério

Público Federal e quais as vantagens?

O Ministério Público é o órgão próprio para zelar pelo cumprimento legal das

funções públicas.Sendo assim,e como a administração pública local estará

demandando formas de atuação pública junto aos órgãos públicos

competentes,é a instância que melhor se adequa ao modelo.

O fato de ser o MP Federal,é em função da extensão do modelo para todo o

território nacional,e portanto,padronizando o perfil de atuação.

Quanto a vantagens,diria eu que são duas as principais:

70

-a fiscalização insofismável e a pressão legal para que as administrações

convencionais atuem dentro das melhores práticas.

-a introdução de um pouco de informalidade na forma pública de atuar,através

da identificação individual do beneficiário e do relacionamento direto e pessoal

entre ele e o Estado.

3-Mas a existência de tutores para cada habitante,não parece controle total

sobre a população?

Em hipótese alguma.Ninguém vai precisar dar satisfação da sua vida para

nenhum tutor,que somente deverá ser acionado nos momentos em que a pessoa

precisar de alguém para interferir a seu favor,considerando os limites de atuação

que o modelo prevê para o serviço de tutela.

Devem ser vistos como uma espécie de assessores para assuntos específicos,e

com certeza,serão muito bem aceitos e utilizados,principalmente por aqueles

com menor poder de comunicação,quer pela condição física,quer pela falta de

conhecimento sobre determinados temas.

4-Se alguém estiver muito satisfeito com o seu tutor e mudar de

endereço,poderá mantê-lo?

Para facilitar o acesso e o diálogo pessoal o bom senso indica que os tutores

deverão estar o mais próximo possível dos seus tutelados.Assim sendo,se a

pessoa mudar-se para perto poderá manter o mesmo tutor,caso contrário não.

71

5-Os tutores serão representantes da população em substituição aos vereadores?

Não.Os tutores irão representar as pessoas nas questões administrativas junto

aos órgãos e empresas públicas,na defesa como consumidores e nos seus

direitos de serem assistidas,conforme as novas regras.Os vereadores continuarão

a representar a população na fiscalização do executivo e na elaboração das leis

municipais.Um complementa a atuação do outro em benefício da população e a

justiça fecha o circuito dos meios possíveis de alguém ter acesso aos seus

direitos plenos.

6-Se alguém não está satisfeito com a atuação do seu vereador pode substitui-lo

a cada eleição.Como farão no caso dos tutores e zeladores públicos?

É mais fácil ainda.Mensuramos em 400 famílias e 400 domicílios a perspectiva do

universo de atuação em cada caso.Basta um abaixo-assinado com 75% de

assinaturas dos beneficiários para possibilitar a substituição dos agentes públicos

em questão.

7-Os empregos no programa da administração pública local serão fixos?

Não.A idéia é que se possa formar um Banco de Empregos que tenha como

função conceitual suceder o dispositivo do auxílio desemprego.Porém,através de

determinados diferenciais,tais como:

-não presumir antecipadamente um tempo finito de duração do benefício,de

forma que o tutor, o zelador ou o distribuidor de jornais possam se manter ativos

enquanto precisarem,sendo até possível,se a oferta superar em muito a

demanda,se transformarem em ocupações definitivas até se aposentarem.

72

Obs:sobre o aspecto aposentadoria,como o regime trabalhista será o de uma

cooperativa,e,portanto,sem a incidência de encargos,o próprio trabalhador

deverá recolher a sua contribuição previdenciária como autônomo.

-substituir o caráter assistencialista por uma efetiva ocupação produtiva

-oferecer como contrapartida para a sociedade serviços de altíssima utilidade

pública

8-Se um tutor for para a iniciativa privada e precisar voltar mais tarde,pois foi

demitido,e só havendo vaga para zelador,com remuneração menor,poderá

ocupar este cargo?

Sim.Novamente lembramos que o objetivo é social,e, portanto,será alocado onde

for possível obter qualquer remuneração para auxiliá-lo em um momento de

necessidade,devendo,no entanto,ter o preparo necessário para o exercício da

função. É importante,em relação a isso,ressaltar que embora exista uma

preferência de escolaridade para cada cargo do programa,os de melhor preparo

poderão ocupar cargos,se as circunstâncias pedirem,de menor valor intelectual.

9-Em que grau os serviços de tutela e zeladoria irão melhorar a vida dos

cidadãos?

Estes serviços estarão criando uma espécie de instância complementar,ou

seja:se a sociedade organizada ou o poder público convencional não atenderem

aos cidadãos,a instância criada deverá fazê-lo,atuando com a responsabilidade

de fórum final e derradeiro para reparar falhas e promover uma justiça social

corretiva.

73

10-Estes serviços vão gerar uma carga fixa de 600 mil empregos.Mas se alguém

repentinamente for despedido e não houver mais vagas disponíveis?

Estimamos que este número consiga absorver uma parcela significativa da

população que perdeu emprego nos últimos anos.São postos de trabalho que

não dependem de aquecimento da economia ou de investimentos,não utilizam

recursos dos impostos,pois o financiamento se dará através de taxas de serviço

ou venda direta, e se somam a muitos outros que serão gerados pelos demais

projetos e programas que o Plano Aguapé prevê.Nossa expectativa é de que com

a implantação de todos,este banco de empregos seja suficiente para garantir

sempre vaga a quem precisar.

11-Mas toda vez que houver cargos não preenchidos vai faltar gente para

executar estes serviços tão importantes,como resolver a questão?

Quando existirem vagas em aberto, o raio de ação dos zeladores,o número de

tutelados per capita e a cota diária de jornais a serem vendidos por distribuidor

serão ampliados.Ou seja,os fatores que dão materialidade aos serviços serão

quantitativamente flexíveis.

12-Qual o critério para enquadrar uma família como de baixa renda,visando

receber assistência especial?

Estariam nesta classificação todas as famílias que vivem com renda mensal de

até 2 salários-mínimos, já considerado o novo valor sugerido.

74

13-O que um tutor poderá fazer se alguém precisar de um hospital público para

uma operação sobre a qual vai depender a sua vida e não houver vaga

imediata,como hoje muitas vezes acontece,pois a rede pública há muito tempo

não amplia suas instalações apesar do crescimento da população urbana a cada

dia?

A resposta a esta pergunta tem que ser diferente de tudo o que se fala hoje.As

demandas de intervenção hospitalar serão divididas em categorias,sendo a mais

importante aquela que representa risco de vida para o paciente.Cada categoria

terá um tempo padrão para atendimento,sob pena da cirurgia passar para o

plano privado às expensas da unidade pública que descumpriu as regras.Os

tutores terão,por pertencerem ao Ministério Público,força coercitiva sobre os

demais agentes públicos,obviamente que amparados pelas leis vigentes.Uma das

funções da administração pública local será atuar como uma espécie de

corregedoria das administrações convencionais.

14-Mas os tutores serão normalmente desempregados ocupando

temporariamente cargos importantes.Será que serão respeitados?

Não será o indivíduo quem estará cumprindo papéis pertinentes à administração

pública local,mas o ocupante legal de um cargo com a devida autoridade dentro

do sistema vigente,e portanto,não poderá interessar ao agente público a

condição pessoal do tutor.

15-Como os tutores poderão destinar assistência aos menores de 15 anos?

Em primeiro lugar, às futuras mães,já a partir da necessidade de um

acompanhamento pré-natal.Depois,a partir do nascimento,administrando um

Boletim de Acompanhamento,que será o documento oficial de prova do

75

cumprimento das obrigações do Estado,onde deverão constar datas e locais de

consultas médicas,odontológicas e psicológicas regulares,itens e quantidades de

alimentos e remédios a serem retirados de locais próprios pelos responsáveis,

pais ou mães,datas e locais para vacinação compulsória,número de matrícula em

escola pública e campos próprios para anotações da evolução de altura,peso e

demais itens importantes.

Lembro que somente se integrarão neste programa os menores considerados

como pertencentes a famílias de baixa renda.Porém,dependendo da situação do

país,que se espera extremamente favorável,poderão passar a ser atendidas,

desta forma, as famílias cuja renda ultrapasse os 2 salários-mínimos que foram

convencionados inicialmente como de baixa renda.

16-E aos idosos,deficientes físicos e doentes crônicos?

Também através de um Boletim de Acompanhamento,com as datas e locais das

consultas médicas e da retirada de cestas básicas e de remédios.Adicionalmente,

cada grupo terá apoio em demandas específicas,como de moradia para os

idosos,quando for o caso,equipamentos para os deficientes e tratamento perene

para os doentes crônicos.

17-Os tutores vão atuar em um espectro multidisciplinar de funções.Estarão

preparados?

Parte deste preparo já virá com eles,presumindo-se que possuir escolaridade

superior significa ter um nível de informação mínimo para atuar desta forma.O

complemento virá com treinamento específico e assistência de técnicos das

diversas áreas de atuação lotados na máquina pública.

76

18-Se não vai haver concurso para os cargos do programa,não poderá haver

pistolão na hora de se escolher os ocupantes do cargo?

Esta possibilidade sempre existirá,por força da natureza humana.De qualquer

forma,através dos critérios anunciados de seleção será possível submeter à

prova quem se qualificou.O que não podemos é deixar de utilizar o critério da

necessidade como o principal fator de colocação das pessoas nos cargos,haja

vista que o programa pressupõe ser o sucessor conceitual do atual seguro-

desemprego.

19-Por que os zeladores,em função das suas atividades,não trabalham somente

em 1 turno,por exemplo,das 9:00 às 18:00 horas,barateando a taxa de serviço?

Porque é importante a presença local destes agentes públicos o tempo todo.Por

exemplo,em horário de pouco movimento ,irão fiscalizar a lei do silêncio,tão

desrespeitada atualmente;estarão disponíveis para acompanhar aqueles que,por

necessidade de trabalho,chegam tarde ou saem cedo demais;ou poderão ajudar

aqueles que necessitam de um transporte para ir a um hospital em regime de

urgência,a qualquer hora.

20-A atuação dos zeladores prevê fiscalização de obras,lei do silêncio,higiene de

estabelecimentos,tratamento dos motoristas aos passageiros nos pontos de

ônibus,etc...Isto não poderá acarretar um clima de hostilidade por parte

daqueles que sofrerem sansões por causa da intervenção dos zeladores?

Poderá ocorrer sim,mas esperamos que quando isto acontecer,as demais

pessoas envolvidas na situação,como partícipes ou testemunhas, ajudem a

convencer o faltoso sobre o quanto está errado e atrasado em relação a uma

nova ordem de valores que estará sendo praticada no país:a do respeito à

ordem,às leis e ao próximo.

77

21-Não haverá conflito entre as prefeituras e os zeladores públicos?

Não,porque ambos devem, por força dos seus papéis institucionais, servir à

população de forma específica.Os zeladores irão apontar hiatos e deficiências do

serviço público nos seus locais de atuação,e as administrações,sob estas

orientações qualitativas e quantitativas,irão executar o que precisa ser feito.Caso

haja qualquer dúvida,os zeladores deverão encaminhar representação ao próprio

Ministério Público para as providências cabíveis.

Na prática,estamos aperfeiçoando o modelo de orçamento participativo.

22-Será que as pessoas vão aceitar o propósito e comprar diariamente o jornal

de utilidades?

Até por saberem que estarão garantindo o sustento de pessoas que precisam,

acho que sim.Trata-se de veículo público,cujo conteúdo primará pela utilidade,

que é uma segunda razão muito forte para aderirem à compra,além de servir,por

exemplo,para uma leitura rápida e objetiva durante a locomoção das suas casas

para o trabalho e vice-versa,período em que ficam completamente à toa.

23-As áreas rurais também serão beneficiadas por algum serviço análogo ao das

zeladorias urbanas?

As demandas rurais são diferentes das urbanas,demandando principalmente

ações de infraestrutura,aplicadas em estradas,energia e comunicação,

principalmente,cujo escopo foge da atenção direcionada para o dia-a-dia,sendo

itens de maturação de médio e longo prazos.

78

No entanto,estou prevendo que as funções de uma espécie de zeladoria rural

possam ser exercidas pela própria polícia rodoviária,quando além do

cumprimento das funções tradicionais,possam também levantar informações,

através de observação direta e de contato com os proprietários rurais,

catalogando demandas de melhoria em estradas,inclusive privatizadas,como

pavimentação,iluminação e sinalização,e de expansão das redes de eletrificação

e comunicação,praticando o que chamamos de “job combination”.

Para tal fim,deverá ser expandido o quadro atual de policiais,edificados novos

postos nas rodovias,adquiridas novas viaturas e criada uma gratificação salarial

pelo exercício específico desta nova função,sendo que este conjunto de

providências concorreria também para aumentar a capacidade de atuação nas

funções originais de policiamento e fiscalização.

O financiamento viria de uma taxa pública,similar à cobrada nas cidades,tendo

como parâmetro a metodologia de cálculo utilizada atualmente para o

ITR(imposto territorial rural).

O conteúdo descritivo do trabalho deveria ser encaminhado para um setor

específico do Ministério Público Federal,que iria acionar os executores públicos

para a tomada das providências necessárias.

24-E os sindicatos,poderiam agregar força a esta nova instância de

representatividade popular,que é a administração pública local?

Sim e muito.Todos os trabalhadores deveriam ser sindicalizados,para haver a

equiparação de forças entre as empresas,públicas ou privadas, e os órgãos de

representação das classes.Nenhum trabalhador precisaria se indispor

individualmente e nem se subjugar,cometendo atos,muitas vezes condenáveis,

que o medo de perder o emprego os obriga.

79

Por exemplo,se o sindicato dos aeroviários,fruto de avaliação técnica dos

pilotos,notificasse as companhias aéreas que não mas haveria pousos em

Congonhas com o reverso travado em dias de chuva,o acidente fatal ocorrido em

17 de julho de 2007 talvez pudesse ter sido evitado.E como o ato partiria do

sindicato,não poderia haver contra-ordem ou qualquer tipo de retaliação aos

pilotos.Outra coisa:se a ANAC e a INFRAERO erraram por terem permitido o

pouso naquelas condições e a liberação da pista sem as ranhuras,

respectivamente,o sindicato evitaria o erro,atuando em prol da população.

Outro exemplo é o da ordem que muitas empresas de transporte urbano dão aos

seus motoristas para evitar cumprir a lei de gratuidade,não parando nos pontos

para os idosos e alunos uniformizados.O sindicato dos motoristas teria que

interpor notificação de que os seus representados,cumprindo lei em vigor,iriam

desconsiderar a recomendação ilícita.

Mais um: o crime que se comete por enviar contas de água para locais onde há

muito não existe abastecimento ou contas de luz com erros grosseiros nos

medidores,que somente são considerados quando o usuário vai à justiça.Os

próprios trabalhadores,que sabem das irregularidades,deveriam informar aos

seus sindicatos para que pudessem agir.

Estas atitudes poderiam consertar os erros que a população se submete pela

falta de respeito de quem até aqui teve um poder absoluto,preservado pela

instalação do medo da perda do emprego.

80

CAPÍTULO 4

PIB SECUNDÁRIO

Este projeto está direcionado para combater as diferenças sócio-econômicas da

população brasileira e aumentar o tamanho do nosso mercado interno.

Há décadas seguidas vem o país experimentando o êxodo da sua população

rural para a área urbana,começando pelo chamado Milagre Brasileiro,que

incentivou a mecanização e a especialização da agropecuária para que

pudéssemos competir no mercado internacional.Este fato em si foi muito

benéfico para o comércio externo do Brasil,pois os nossos produtos hoje são

altamente competitivos e provocam,não raro,reações de protecionismo nos

países importadores.

O que faltou,na verdade,foi a aplicação de uma política paralela para reter o

homem no campo,pois a mão-de-obra rural,dotada apenas de qualificação

artesanal,viu-se excluída do processo produtivo,migrando,como decorrência,

para os grandes centros urbanos,que àquela altura,impulsionados

subjacentemente pelo gigantismo do Milagre,empregavam nas indústrias e na

construção civil,multiplicando rapidamente as populações urbanas,sem que o

ritmo de expansão da oferta pública de serviços tivesse qualquer chance de

acompanhar o novo tamanho da demanda que a cada ano ia se formando,tanto

pelo movimento migratório incessante quanto pelo crescimento natural das

famílias já instaladas.

O final desta história está contado através das grandes concentrações

demográficas nas favelas e guetos das periferias,que são verdadeiros mananciais

de miséria,pobreza e violência,e representam a herança ruim daqueles tempos.

81

Infelizmente o Brasil é hoje uma mistura de riqueza e miséria,transformado em

um país que possui uma das piores distribuições de renda do Mundo.É

impressionante como o último marco importante da nossa economia foi o Milagre

Brasileiro,pois de lá para cá,desde o final da década de 70,nada foi feito de

concreto para reverter a situação.

A tradicional estratificação de outrora das classes –rica,média e pobre – já não

cabe mais para refletir o quadro brasileiro.Alguns fatores referenciavam esta

antiga classificação:

- os ricos,eram os capitalistas,comerciantes,industriais

- os médios,os assalariados com qualificação superior e técnica,os profissionais

liberais,oficiais militares,juízes,funcionários públicos

- e os pobres eram,geralmente,os que não possuíam estudo e se empregavam

em atividades pouco ou não qualificadas.

Esta classificação, tão linear,era respaldada pelo acervo instrução/ profissão/

posição social,perfeitamente atreladas e seqüenciais.Nos dias de hoje,estas

variáveis se individualizaram tanto,que o fato de alguém possuir curso superior

não garante emprego ou renda,nem sequer a inserção da pessoa na classe

média.

Hoje existe uma outra classificação de fato.

No primeiro grupo, estariam os inseridos na economia formal,tendo como pontos

comuns,entre outros:um emprego fixo(capitalistas ou assalariados),condições

oficiais de trabalho(carteira assinada),amparo das leis trabalhistas e

previdenciárias(férias,aposentadoria,licença médica remunerada),acesso

82

automático ao sistema bancário e creditício,acesso regular à alimentação,

moradia,educação e saúde,embora em graus diferenciados e individualizados.

Constituem,na verdade, o contingente oficial do país e eram a esmagadora

maioria de um Brasil de tempos atrás,e que da sua totalidade se extraía a antiga

estratificação.São os que constituem o PIB e a Renda nacionais.

No segundo grupo, estariam aqueles inseridos na economia informal,a maioria

dissidentes da formal,e que nela não conseguiram fixar-se mais voluntariamente

ou foram expelidos compulsoriamente.São os desempregados,geralmente

pessoas maduras que montaram negócios fora da sua área de especialização

para sobreviver;são os sacoleiros,os flanelinhas,os camelôs,os assalariados sem

carteira assinada,os prestadores de serviços para os quais não foram

convenientemente preparados,os possuidores de carrocinhas de cachorro quente

e de churrasquinho,e tantos outros inseridos em atividades variadas.O acesso

aos bens essenciais é duvidoso,dependentes que são de um mercado que eles

mesmos têm que fazer emergir,sem a ajuda da mídia oficial.Têm como

característica comum a falta total das garantias do trabalhador da economia

formal,e,em alguns casos,o interrompimento do trabalho pela própria condição

extra oficial em que estão enquadrados.São geradores de um PIB e de uma

Renda que não aparecem nas estatísticas.Pior situados que os do primeiro grupo

e melhor que os do terceiro,encontram nesta condição os seus mecanismos de

defesa e sobrevivência.

E finalmente os do terceiro grupo,formado por aqueles que não conseguiram

fixação nos dois anteriores e estão completamente à margem do processo

produtivo do país e do acesso aos bens sociais,embora alguns poucos possam

ter acervo cultural e profissional.Não possuem trabalho fixo ou regular,não se

alimentam sistematicamente,têm enorme dificuldade com moradia,alguns até se

valendo de logradouros públicos para ali assentarem seus habitats;não têm,na

83

sua maioria,acesso à educação,sendo muitos analfabetos;não dispõem de meios

regulares de assistência médica,e por isso muitos morrem precocemente.

Não sei se existe uma estatística que espelhe verdadeiramente a quantidade de

pessoas que constitui cada grupo,mas por sensibilidade e lógica,diria eu que a

mensuração em que acredito é a seguinte:150 milhões no 1º grupo,incluindo os

aposentados,30 milhões no 2º grupo e 20 milhões no terceiro.

Através do tempo foi demarrado um processo de empobrecimento da população,

que se não for interrompido e estancado irá custar ao país mais perda de mão-

de-obra produtiva,mercado interno e talentos multidisciplinares,que certamente

estão representados junto aos informais(2º grupo) e excluídos(3º grupo).Ou

alguém duvida disso?

Desta forma, temos que 50 milhões de brasileiros precisam de ações públicas e

privadas para retornarem ou ingressarem pela primeira vez na economia formal

do país,através da criação por atacado de novos postos no mercado oficial de

trabalho,novas vagas na rede escolar e hospitalar,novos acessos à alimentação

e moradia.

Para se ter uma idéia,por analogia,isto quer dizer que teríamos que

construir,praticamente do nada, estrutura adicional para abrigar um pouco mais

que 3 Holandas(população aproximada de 15 milhões de pessoas),e num tempo

tal que ainda pudéssemos recuperar de 2 a 3 gerações que encontram-se

misturadas nos dois grupos.

Nenhum país do Mundo,nem os do Primeiro,teriam condições financeiras e

operacionais para tal façanha.O que fazer então?

84

Quando disse faltar condições a qualquer país para implementar uma

solução,queria me referir a uma ação convencional,que faria a economia crescer

a taxas tais que no médio prazo pudéssemos redividir convenientemente o

bolo.Aliás ,se este procedimento não surtiu efeito em condições e ritmo antes

normais,imaginem a chance em um cenário de emergência.

A solução que proponho é a criação de um PIB secundário no país,preparado

convenientemente para absorver o contingente de informais e excluídos, fluindo

através de um modelo de desenvolvimento próprio,mais simples e mais barato,e

estruturado de acordo com as possibilidades do contingente para o qual se

destina.

Este PIB secundário surgiria através da implantação de núcleos populacionais

espalhados pelo país,agregando um modelo híbrido de assentamento,unindo os

objetivos da reforma agrária e da desfavelização das grandes cidades.Nestas

últimas,não percebo como a aplicação de ações locais,que hora ou outra são

aventadas,possam significar solução. O projeto indica como caminho definitivo

uma espécie de colonização de segunda geração no país,que é, em síntese, a

missão operacional dos núcleos.

Os núcleos serão formatados através de quadras,constituídas de área para

pequenas criações,pequenos módulos de industrialização,oficinas para trabalhos

artesanais,horta comunitária,área geral para cultivo comercial,área para

recreação,vila residencial,posto médico,escolas,área para recreação,centro

administrativo,poços artesanais,galpões de armazenagem,redes de energia, de

água,de esgoto e de comunicação

Cada quadra terá 8 mil habitantes,sendo cada núcleo composto por 6 quadras.

Cada quadra deverá ser instalada no espaço de 8 hectares,perfazendo uma área

total por núcleo de 48 hectares.

85

A população dos núcleos deverá ser composta por 80% de pessoas remanejadas

das cidades(+- 38 mil) e 20% arregimentadas na própria região em que serão

implantados(+-10 mil).

A idéia é que cidades de pequeno e médio porte venham a aderir ao

projeto,solicitando a implantação de um ou mais núcleos vinculados ao

município.Os municípios que aderirem estarão reforçando no médio e longo

prazos a captação de receitas fiscais e de melhorias em infraestrutura,além de

multiplicarem o mercado consumidor local,proporcionando a expansão da

economia nativa.Na outra ponta,nas grandes cidades,que irão exportar

excedentes de população,o efeito imediato será a melhoria da qualidade de vida,

pelo simples fato de passarem a contar com menor densidade demográfica e ao

mesmo tempo com a expansão da oferta”per capita” de serviços públicos,ou

seja,mantém-se a mesma estrutura pública para atender a uma demanda menor.

O financiamento da implantação ocorreria através da criação de um Fundo

Especial vinculado a cada núcleo,que somente seria implantado após a formação

do lastro de recursos e da disponibilização das terras,devendo a estrutura de

aporte ser constituída da seguinte forma:

5% - recursos orçamentários do município

20% - captação junto à iniciativa privada,através de incentivos fiscais

25% - endividamento federal(50%),estadual(30%) e municipal(20%)

50% - recursos orçamentários da União

terras – governo Estadual,através de cessão ou desapropriação

Estimamos que o custo da implantação,excluídos os de terras,montem a R$100

milhões por núcleo,devendo o custeio anual consumir R$50 milhões,que serão

subsidiados com verba orçamentária do governo federal.

86

Presume-se que a partir do sexto ano de implantação os núcleos já possam ser

autosuficientes.Até lá,além dos subsídios,estarão isentos de impostos e taxas.

Os núcleos serão montados como instrumentos de expansão das cidades que os

hospedarão,funcionando em regime de cooperativa,produzindo para o próprio

consumo e comercializando os excedentes.

Todo o processo de recrutamento deverá ocorrer por adesão espontânea,através

da formação de um cadastro inicial,cabendo ao governo criar um plano de

marketing para atrair as pessoas.

87

PERGUNTAS E RESPOSTAS

1-O que é,em síntese,o PIB secundário?

É um tipo de economia diferenciada,estruturada para fins de reintegração dos

informais e excluídos ao processo produtivo do país,de forma mais barata,prática

e rápida do que se conseguiria se utilizados os padrões da economia

convencional.

A principal diferença é que nos padrões convencionais o ciclo de vida do cidadão

– preparo educacional e profissional – passagem pelo sistema produtivo –

conquista dos bens sociais – é percorrido de forma seqüencial e gradativa,

envolvendo valores compatíveis com o grau de sofisticação desejado ou

possível,e vinculado a um cenário de competição individual exigido pela

economia global. No PIB secundário,as fases que compõem o ciclo são vividas de

maneira superposta e consolidadas através de procedimentos simples e

subsidiados,e vinculados a um regime de associação e parceria entre os

beneficiários,formando uma economia fundamentada em cooperativas.

De uma forma geral,mais a futuro,todas as pessoas poderão até

escolher,respeitado um certo limite de disponibilidade,em que tipo de economia

gostariam de estar inseridas,buscando aquela em que mais se sentirão à

vontade.

2-Como serão reconhecidas as ações do projeto?

Através da implantação de núcleos populacionais espalhados pelo

país,organizados em cooperativas,para que a comunidade com seu próprio

88

trabalho possa subsistir e conseguir renda permanente através da venda de

excedentes de produção,que serão principalmente de alimentos.

3-A quem vender estes excedentes?

Parte deles o próprio governo irá assegurar a compra,com garantia de preços

mínimos,para utilizar no rancho das Forças Armadas,merenda escolar e

alimentação dos hospitais públicos e penitenciárias.

4-A quem é dirigido o projeto?

Principalmente às pessoas carentes que vivem nos grandes centros urbanos e à

população rural remanescente do êxodo.

Desta forma,esperamos reduzir a população favelada e criar atrativos para quem

permaneceu ou deseja retornar à sua terra natal.

5-Muitas cidades que receberão núcleos possuem recursos materiais e humanos

muito precários em matéria de saúde,como poderão atender a uma demanda

maior?

Em cada quadra está previsto o funcionamento de um posto de saúde com

recursos materiais e humanos suficientes para atender à população

residente.Portanto,os recursos da região serão somados e não divididos.

89

6-Mas o que seria efetivamente oferecido nesses núcleos?

As terras para o assentamento das famílias,assistência à saúde e à educação,a

infraestrutura de energia,água,saneamento e comunicação, equipamentos e

apoio material e profissional para a construção de moradias e para o

desenvolvimento da produção local.

7-Isto seria dado gratuitamente,por que?

Qualquer governo que bancasse o projeto iria gastar menos no médio e longo

prazos,além de ser uma ação que não pode ser mais adiada,tendo em vista a

capacidade extraordinária do país em gerar riqueza,faltando apenas iniciativas

proativas como esta.

Além disso,o projeto objetiva fomentar a independência econômica de boa parte

daqueles que hoje se utilizam de verbas públicas de cunho assistencialista para

viver,sendo este um dos motivos da carga fiscal excessiva praticada no país.

8-Mas não sairá muito caro?

Cada núcleo terá um investimento de implantação da ordem de R$100

milhões,devendo ser edificado e aparelhado com o grau de simplicidade,mas

também de abrangência,que estes recursos permitirem.Se todo o contingente

alvo,50 milhões de pessoas,aderir ao programa,teremos que implantar cerca de

1.000 núcleos, com investimentos totais de R$100 bilhões,que hoje representam

um montante menor do que o desembolsado com o serviço da dívida em apenas

um ano.Se destinarmos a participação anual da União(50% da implantação e

100% do custeio),conforme a tabela a seguir,cuja fonte principal deve ser a

90

própria redução nominal da taxa de juros,estaremos concluindo todo o projeto

em apenas 15 anos,conforme demonstrativo:

PARTICIPAÇÃO DE RECURSOS DA UNIÃO NO PROJETO

Em reais

Nº de núcleos Implantação Custeio Total

1º ano 100 5,0 bi 5,0 bi 10,0 bi

2º ano 100 5,0 bi 10,0 bi 15,0 bi

3º ano 100 5,0 bi 15,0 bi 20,0 bi

4º ano 100 5,0 bi 20,0 bi 25,0 bi

5º ano 100 5,0 bi 25,0 bi 30,0 bi

6º ano 100 5,0 bi 25,0 bi 30,0 bi

7º ano 100 5,0 bi 25,0 bi 30,0 bi

8º ano 100 5,0 bi 25,0 bi 30,0 bi

9º ano 100 5,0 bi 25,0 bi 30,0 bi

10º ano 100 5,0 bi 25,0 bi 30,0 bi

11º ano - - 20,0 bi 20,0 bi

12º ano - - 15,0 bi 15,0 bi

13º ano - - 10,0 bi 10,0 bi

14º ano - - 5,0 bi 5,0 bi

TOTAL 1.000 50,0 bi 250,0 bi 300,0 bi

Obs:o período anual computado para os gastos de manutenção poderá abranger

parte do ano da implantação e parte do ano seguinte,daí porque o programa

somente permitirá o reconhecimento da autosustentabilidade plena no 15º ano.

Além disso,os recursos aplicados são investimentos e não custos,tendo em vista

que a recuperação do montante investido certamente virá com a expansão da

base de contribuintes de impostos e com a redução drástica da destinação de

recursos sob a forma de assistência social.

91

9-Se os núcleos forem anexados aos municípios que aderirem ao programa,quer

dizer que poderão ser implantados em locais muito distantes de onde as pessoas

vivem hoje.Tem gente que não vai por isso,como resolver?

Primeiro vamos lembrar que muitos já vieram para onde estão hoje de lugares

muito distantes,principalmente do norte e nordeste para o sudeste.Em segundo

lugar,o programa permitirá uma certa liberdade de escolha ante as alternativas

que serão oferecidas.Certamente existirão várias opções em cada região do

país,atendendo provavelmente a todos os gostos.Em terceiro lugar,as pessoas

não estarão sendo deslocados para o meio do mato,pois haverá cidades em

torno dos núcleos,com infraestrutura de comércio,serviço e lazer.

As pessoas em dúvida poderão também acompanhar o resultado dos que se

comprometeram como pioneiros,para subsidiar,com maior respaldo,suas

decisões.

10-Mas se poucos municípios aderirem,como ficará o programa?

As pessoas que irão habitar os núcleos representarão um reforço significativo

para as economias locais,incluindo a arrecadação fiscal do município.Além

disso,os novos habitantes não chegarão sob a forma de bandos desorganizados,

causando turbulência para a população nativa.Chegarão sob a tutela das três

instâncias do Executivo, trazendo um lastro de recursos novos,a perspectiva de

expansão da infraestrutura existente e uma certa necessidade de consumo de

bens e serviços,beneficiando a economia da cidade que aderir ao programa.

Mas se mesmo assim a adesão for tênue,o governo que implantar o projeto terá

que rever os locais dos assentamentos,provavelmente selecionando áreas onde

poderá criar Distritos Especiais,abrigando legislação própria e pertinente ao

projeto.

92

11-E as casas,quando as pessoas chegarem lá,já existirão?

Não,porque provavelmente os recursos não permitirão.A idéia é abrigá-las

provisoriamente em acampamentos,à imagem e semelhança dos armados nos

canteiros de obra, treinamento das forças armadas,MST,camping,etc...Há muita

gente com know how para dar assessoria neste tema.Esta é uma pequena

adaptação que no princípio se faz necessário,até que os ganhos da cooperativa

possam financiar as moradias definitivas.Muitos moram hoje em condições sub-

humanas e sem perspectivas de melhoria.Nos núcleos,terão infraestrutura de

saneamento e abastecimento de água,entre outras.Além disso,este primeiro

momento é apenas a fase inicial de um ciclo novo de vida.

12-E o que deverão fazer com casas,móveis e aparelhos que alguns possam ter?

Quem morar em regiões classificadas como sujeitas à restrição para

habitar,como favelas verticais ou horizontais,alagados ou outras formas

impróprias,a administração do projeto irá remover a habitação do local,criando

um espaço público onde não seja permitido reconstruir mais,para que a cada

adesão o governo possa tentar refazer as condições naturais e originais do

local,acrescentando ao projeto ações importantes relacionadas ao meio

ambiente.

Quem mora em locais sem restrição,ficará a seu critério alugar ,vender ou

manter a sua moradia.

Quanto aos móveis e aparelhos,poderão mantê-los com parentes e amigos,até o

dia em que houver condições de buscá-los para equipar a sua residência

definitiva nos núcleos.

93

13-Muitos não têm profissão,que trabalho farão nos núcleos?

Está previsto um programa pós-assentamento que visa capacitar as pessoas com

conhecimento multidisciplinar, como: marcenaria,reparos elétricos e hidráulicos,

construção civil,processos de industrialização, artesanato, agricultura,

armazenamento,jardinagem,primeiros-socorros,entre outros,servindo para

lastrear tecnicamente o funcionamento operacional e comercial dos núcleos.

14-Como o dinheiro conseguido pela venda da produção será dividido?

Cada família terá uma cota na cooperativa que será igual para cada uma.Todos

os recursos conseguidos serão divididos igualmente.

15-E se alguém quiser ficar no projeto somente por uns 4 anos para juntar um

dinheiro,poderá vender tudo que tiver lá,inclusive a sua casa?

Tudo que a pessoa comprou ou poupou decorrente das suas retiradas como

participação nos lucros da cooperativa é de sua propriedade pessoal,

independente do tempo em que ficar no projeto.Agora,toda a estrutura dos

núcleos,como terras,máquinas,semoventes,instalações e casas, pertencerá ao

governo,que foi quem fez os investimentos iniciais e viabilizou os núcleos,por um

período de 10 anos.Durante este prazo o governo permitirá o usufruto de todo

este patrimônio,visando o sustento dos cooperativados e garantindo os seus

direitos integrais sobre os lucros,exigindo somente esforços no sentido do

desenvolvimento e da manutenção dos núcleos.Findo este prazo,o patrimônio

será automaticamente transferido para as cooperativas e será de propriedade

dos cotistas.

94

Se não fosse estabelecida uma carência,poderia haver um surto de especulação

e o projeto perderia o seu caráter social.Além disso,teriam que ser construídos

cada vez mais núcleos,com mais gastos, ao invés da substituição das famílias

que desistissem no meio do caminho.

16-Por que 10 anos?

Porque é um tempo razoável para a maturação operacional do projeto,de forma

a que, ao deixar a tutela do governo,já capacitadas,as cooperativas possam

funcionar de forma autônoma.

17-Durante este prazo os cooperativados vão manter e desenvolver os núcleos.E

se no 9º ano o governo quiser expulsá-los,que garantias terão?

O governo vai assinar um contrato formal com cada cotista,estabelecendo

regras.Só existem 2 maneiras de alguém deixar o projeto:ou por iniciativa

própria ou por descumprimento das regras.Estas regras são basicamente

voltadas para o desenvolvimento e manutenção dos núcleos,prioridade do

governo na compra dos excedentes de produção,pagamento regular de impostos

após o 5º ano de implantação,integração ao trabalho cooperativado e

comportamento não violento e não criminoso.

18-As pessoas vão investir 10 anos do seu trabalho para só depois serem donos

do que ele rendeu,qual a garantia de que o projeto vai dar certo?

É que o projeto vai poder oferecer condições de vida bem melhores das que

qualquer participante terá no momento da adesão.Só irá aderir quem achar

isto,obviamente.Portanto,logo no início estarão estabelecendo que o projeto é a

95

sua melhor opção.Com o desenvolvimento dos núcleos a tendência das

condições inicias é melhorar paulatinamente.

19-Alguém pode desistir do projeto e meses ou anos depois solicitar a sua

reintegração por se arrepender ou voltar a ter as mesmas dificuldades do

momento em que aderiu pela primeira vez?

Havendo vaga em algum núcleo poderá voltar sem problema,pois a intenção é o

bem estar da pessoa em qualquer período da sua vida,sem a preocupação de

retaliá-la com atitudes mesquinhas por ter saído uma ou mais vezes do projeto.

Agora,existem algumas restrições,mas de caráter operacional e de direitos.Por

exemplo:não poderá voltar para núcleos já emancipados,ou seja,com mais de 10

anos de funcionamento.Outra restrição é quanto ao seu direito de cotista,que

será proporcional ao tempo que resta para a emancipação do núcleo a partir da

sua inserção.Por exemplo:se alguém se reintegrar a um núcleo que tenha ainda

5 anos de carência,o seu direito de cotista será de apenas 50%,pois a cota

integral será somente daqueles que contribuíram para a formação e consolidação

do núcleo durante o tempo integral previsto,ou seja,10 anos.Porém,se conseguir

voltar em um núcleo que estiver ainda sendo formado,estas restrições

desaparecem e fará jus novamente aos direitos integrais.

20-É sempre inquietante deixar tudo para trás:amigos,hábitos e ambiente,para

recomeçar em lugares totalmente desconhecidos.Não existe uma outra solução

para as pessoas melhorarem de vida diferente da que está sendo proposta?

Se existe ainda não foi revelada.Vamos pensar no projeto através de uma

analogia.

96

Imagine alguém vivendo em uma casa com quartos,salas,banheiros,cozinha e

jardins,construída para abrigar 10 pessoas.A vida é tranqüila e organizada,

porque o espaço,as acomodações,a produção de comida e a disponibilidade de

banheiros estão compatíveis com o número de habitantes presumidos.Pense

agora o que aconteceria se chegassem para morar na casa mais 5 pessoas.É

claro que os banheiros ficariam mais usados,os quartos teriam que ter camas

extras,a sala ficaria menor,os jardins menos espaçosos.

E se vierem mais 7 pessoas,o que aconteceria?A cozinha já não atenderia;os

banheiros ficariam insuficientes;seria preciso armar redes nos jardins para que as

pessoas pudessem dormir.Tudo ficaria muito apertado e desorganizado.

A solução natural e óbvia não seria a retirada da casa das pessoas que ali

chegaram representando excesso?Só que retirá-las simplesmente não resolve a

questão global.É preciso construir outras casas para abrigá-las também,mas de

uma forma muito bem distribuída,para que não seja repetido o problema do

excesso em outros lugares.

A descrição acima não é exatamente a versão do nosso projeto em função da

superlotação das grandes cidades?

21-Mas não se poderia destinar recursos para melhorar a infraestrutura das

favelas,melhorando as condições de vida local e permitindo que as pessoas

permanecessem onde estão?

Até poderia haver certa dose de melhoria nas condições habitacionais,embora

certos locais sejam totalmente inadequados para suportar quaisquer tipos de

construção.Mas a questão principal não é esta.De que adiantaria melhorar as

condições locais se a capacidade das cidades grandes,onde está localizado o

97

excesso populacional excluído,não consegue gerar emprego ou aumentar a

oferta de serviços públicos,pela escassez de recursos?

No PIB secundário,iremos utilizar esta mesma capacidade financeira para

viabilizar núcleos populacionais e produtivos baratos e simples,procurando

abrigar o máximo possível de famílias,que além da moradia,terão acesso à

infraestrutura,educação,capacitação profissional,assistência à saúde,ocupação

produtiva e renda.

Além disso,estaremos criando uma contrapartida importante ao fortalecermos as

economias das cidades que adotarem o projeto,espalhando sementes de

desenvolvimento de uma forma horizontalizada por todo o território nacional.

22-A saída de um contingente grande de pessoas das capitais e a chegada de

outro em cidades pequenas,não poderá desestruturar tanto os locais de origem

quanto os de destino?

A mudança de cidade é algo importante na vida de qualquer família,que para

acontecer precisa de reflexão, com a conclusão de que é a melhor saída.Por

isso,quem vai aderir ao projeto deverá estar,presumi-se,à época,sem emprego e

vivendo em condições muito difíceis de subsistência.Tal contingente não faz

parte do cenário produtivo local e ainda utiliza com muita freqüência a saúde

pública e os programas assistencialistas.Portanto,o efeito da retirada destas

pessoas será benéfico,tanto para eles quanto para a população residual,

somando-se o aspecto do arrefecimento da violência,que muitas das vezes está

por trás das limitações de viver que apontei.

Na outra ponta,as cidades que receberão os contingentes remanejados não terão

que dividir o que possuem,como por exemplo,água,energia ou emprego,pois os

núcleos chegarão,digamos assim,levando isto consigo.

98

Nenhum destino sofrerá tal qual as cidades de veraneio,que recebem nos meses

de pico,três ou quatro vezes o tamanho da sua população nativa,mantida a

mesma capacidade de oferta.

23-Mas precisará haver reforço pelo menos da força policial?

Também não,porque os núcleos,como zonas de ocupação estatal,terão uma

guarda própria para atuar internamente,embora subordinada à atuação da força

policial institucional local.

Esta guarda é necessária também para fiscalizar o comportamento dos

assentados,que é um item contratual de avaliação para permanência no projeto.

24-E quem vai gerir internamente os núcleos?

Haverá um administrador de núcleo,nomeado pelo governo,para organizar as

suas atividades,complementar a sua conformação patrimonial,fiscalizar as regras

contratuais e dar conseqüência comercial aos objetivos das cooperativas.

25-Muitos irão para os núcleos solteiros e lá se casarão e constituirão famílias

mais numerosas;outros somente terão filhos após estarem assentados e também

aumentarão o número de pessoas em relação ao contingente que iniciou o

assentamento.Como resolver esta questão para que não se constituam novos

excessos populacionais?

Esta primeira geração de filhos, nascidos após o assentamento, deverá ser

perfeitamente absorvida,tanto pelo aspecto habitacional quanto pelo de recursos

99

para prover a subsistência,pois a capacidade econômica das cooperativas

permitirá refazer,sempre que for necessário,as cotas de consumo próprio e as

cotas a serem comercializadas como excedentes.Esta situação certamente há de

fazer com que durante o período em que o projeto se conserve sob a

responsabilidade do governo não exista problema algum gerado pela existência

de famílias maiores.

Após a emancipação dos núcleos espera-se que o bom senso,o nível de

escolaridade e educação repassado aos assentados,a boa situação econômica

vivida por cada família e o medo de se configurarem novas favelas,assegure que

a expansão da área ocupada originalmente pelos núcleos possa ocorrer da forma

correta e que não se repitam, no local, os erros que os próprios núcleos

tentaram resolver.

100

CAPÍTULO 5

PAY – PER - VIEW FIDELIZADO PARA O FUTEBOL

Este projeto está voltado para a captação de recursos pelos clubes de futebol do

Brasil e para a formação de uma base Olímpica que eleve o país a uma das

futuras potências esportivas mundiais.

Devemos entender que o nível de competição nos esportes de um país,de certa

forma,identifica a pujança e a força do seu povo.Este projeto tem essa

conotação,quando penso que devemos demonstrar o nosso real valor.

Hoje o país ainda vive momentos de penúria no cenário desportivo,precisando de

patrocínios e de seletividade,às vezes decididas erradamente,para aplicar

recursos escassos.

Por outro lado,penso que somos aproximadamente 200 milhões de brasileiros,

dos quais pelo menos 10% completamente envolvidos com o futebol e demais

esportes populares,estando aptos a representar demanda efetiva,ou seja,são

economicamente capazes de consumir produtos vinculados aos esportes.

Comecemos daí o nosso projeto:o tamanho do mercado brasileiro para o futebol

é de 20 milhões de pessoas,segmentado por torcedores de todos os clubes do

país.

Devemos também considerar que se queremos potencializar este mercado em

nível nacional temos que buscar um parceiro fundamental:a televisão.Não

podemos prescindir da sua alocação no projeto,pois um país com as nossas

dimensões só pode ser unido comercialmente por este veículo de comunicação.

101

O detalhe,porém, é o seguinte: a tv deverá ser parceira no projeto,diferente de

hoje,quando é patrocinadora e de acordo com as suas conveniências e metas de

lucro.Hoje o futebol se remunera tendo como parâmetro o quanto as tvs

desejam lucrar,sendo as cotas que pagam aos clubes o principal item dos seus

custos.É obvio que quanto menores os custos maiores os lucros.Eis uma causa

importante para a penúria,somada a uma arrecadação medíocre nas bilheterias

e a uma equação predadora dos patrocinadores na hora de calcular a relação

custo-benefício para o patrocínio que oferecem aos clubes de futebol e aos

esportes olímpicos.Se fizéssemos uma conta simples: multiplicar o preço do

minuto de propaganda na televisão pelo tempo que um clube expõe a imagem

do patrocinador na sua camisa durante os jogos em cada mês,chegaríamos a

números infinitamente maiores do que aqueles que os clubes recebem.

Ou seja,as tvs e os patrocinadores,que hoje sustentam os esportes no país,são

os maiores ganhadores,porque os clubes não vislumbraram outra saída,

principalmente pela falta de administrações profissionais.Esta caracterização não

se limita a trocar um profissional que não recebe nada por um outro

remunerado,mas a contratar gente de mercado acostumada a lidar com

captação de receitas,gestão de custos,análise da viabilidade de investimentos e

outras variáveis do mundo dos negócios.Por que?Porque o futebol é um

negócio,aliás muito bem explorado pela tv e patrocinadores.

Vamos começar a dar forma ao nosso modelo,lembrando que o produto(time de

futebol) e o mercado(20 milhões de torcedores) pertencem aos clubes e que a

televisão estará trocando o papel de provedor pelo de sócio paritário no projeto.

A idéia básica é criar um produto para este mercado,o PAY – PER - VIEW

FIDELIZADO PARA O FUTEBOL,através do nosso parceiro.

Consiste em comercializar adesões de tv por assinatura somente para pacotes de

pay – per - view do futebol,devendo cada cliente escolher o clube a que estará

102

fidelizado.A compra dará direito ao torcedor de assistir a todos os jogos do clube

nas competições oficiais vinculadas ao pacote,devendo constar os campeonatos

Estadual e Nacional,a Copa do BRASIL,a Libertadores,entre outros.

O valor da assinatura especial seria de apenas R$25,00 mensais,devendo ser

distribuído da seguinte maneira:R$10,00 para o clube fidelizado;R$10,00 para a

tv;R$3,00 para o Comitê Olímpico Nacional;R$1,00 para a CBF; R$1,00 para a

formação de um Fundo que irá redistribuir os recursos arrecadados para os

adversários enfrentados em cada mês pelos clubes inseridos na fidelização,

visando uma espécie de redistribuição de renda no futebol.

Vamos a um exemplo.

Suponhamos o Flamengo tendo uma adesão de torcedores-expectadores em

todo o Brasil da ordem de 2 milhões de pessoas,jogando em determinado mês

contra o Coríntians,o Grêmio,o Vasco e o Cruzeiro.A distribuição dos recursos

neste mês seria a seguinte:

Arrecadação do Flamengo R$20 milhões (2 milhões x R$10,00)

Arrecadação da TV R$20 milhões (2 milhões x R$10,00)

Arrecadação do COB R$ 6 milhões (2 milhões x R$3,00)

Arrecadação da CBF R$ 2milhões(2 milhões x R$1,00)

Arrecadação de cada adversário R$500 mil (1/4 de 2 milhões x R$1,00)

TOTAL ARRECADADO R$50 milhões(2 milhões x R$25,00)

São números efetivamente inimagináveis nos dias de hoje,mas concretamente

factíveis.Além disso,são exemplos vinculados a apenas um clube.Lembremos

que estamos presumindo um mercado de 20 milhões de consumidores,

envolvendo o exemplo valores representativos de apenas 10% deste mercado.Ao

mês e considerando a arrecadação proveniente de 100% das mensalidades,o

103

COB iria receber R$60 milhões(20 milhões x R$3,00),a CBF R$20,0 milhões(20

milhões x R$1,00) e a tv R$200 milhões(20 milhões x R$10,00).

O próprio Flamengo receberia ainda a parte que lhe coubesse sobre a

arrecadação direta do pay – per - view dos seus adversários também

fidelizados.

Ao parceiro,a tv,caberia também a oportunidade de comercializar pacotes com a

sua programação fechada convencional,tendo em vista que o decodificador ou a

antena já estariam instalados na residência do potencial cliente ao “up grade”.

Sugiro oferecer embutido no pacote do futebol a liberação,por exemplo,das

imagens da TV Senado e da TV Câmara,o que faria muito bem ao público.Além

disso,a qualidade de imagem dos canais abertos melhoraria sensivelmente,sendo

este também um reforço de argumento para aumentar a atratividade do projeto

para fins de adesão.

Aqueles que já fossem assinantes e optassem pelo regime de fidelização

deveriam pagar o mesmo valor mensal adicional nas suas mensalidades.Quem

quisesse poderia fidelizar-se a mais de um clube,pagando o mesmo valor de

R$25,00 por opção.O pacote integral com a transmissão dos jogos de todos os

clubes,como é hoje,seria extinto.

Aos clubes caberia também um espaço específico para veicular publicidade nas

transmissões,redimensionando a seu favor o que hoje chamamos de Patrocínio,

e retirando da camisa nomes que a tradição de cada um deles não reconheceria.

Com tantos recursos sendo gerados, caberia mais do que nunca a contratação de

profissionais em gestão, para que o status de prosperidade não se deteriora-se

com más administrações,sendo,inclusive,necessário mais adiante, a criação de

empresas vinculadas ao futebol dos clubes, funcionando como entidades com

fins lucrativos.

104

Um fator correlato e totalmente dependente seria a necessidade,quase que

indispensável,de se montar times com alto padrão competitivo,haja vista que um

mercado do porte que estamos propondo precisaria constantemente ser mantido

através da atratividade dos seus produtos.

Ainda falando em atratividade,deveríamos organizar o nosso campeonato

nacional nos moldes de um espetáculo com altíssimo apelo competitivo, para dar

a sustentação de negócio à atividade futebol.

A seguir,apresentamos modelo sugestivo,cuja principal característica é a disputa

em módulos progressivos,abandonando o péssimo regime dos pontos corridos,

que com 10 rodadas já nos apontam os 3 prováveis campeões e as 6 equipes

que provavelmente cairão para a divisão inferior.E ainda insistem em dizer que é

um evento repleto de emoções.Quais?

Nossa proposição é:

-haveria uma 1º fase,compondo o MÓDULO DE CLASSIFICAÇÃO, disputado por

24 clubes,divididos em 2 chaves de 12 cada,em regime de turno e returno

-desta fase,os 4 primeiros colocados de cada chave iriam compor o MÓDULO DE

DISPUTA DO TÍTULO;os que se posicionassem entre o 5º e o 8º lugar de cada

chave iriam compor o MÓDULO DE DISPUTA DA ÚLTIMA VAGA PARA A

LIBERTADORES; e os 4 últimos de cada chave iriam compor o MÓDULO DE

DISPUTA DA ÚLTIMA VAGA PARA A SUL-AMERICANA.

Cada módulo acima teria o seguinte desdobramento:

105

MÓDULO DE DISPUTA DO TÍTULO

- Os 8 clubes classificados jogariam em regime de 2 turnos independentes,

com os vencedores de cada turno disputando o título em 2 partidas,com

mando de campo no último jogo do clube com maior pontuação em toda a

competição.

- Computando-se o somatório de pontos dos 2 turnos finais,os 3 primeiros

estariam classificados para a LIBERTADORES,e os que se posicionassem do

4º ao 6º lugar estariam classificados para a SUL-AMERICANA.

MÓDULO DE DISPUTA DA ÚLTIMA VAGA PARA A LIBERTADORES

- Os 8 clubes classificados jogariam em regime de 2 turnos independentes,

com os vencedores de cada turno disputando a última vaga da

LIBERTADORES em 2 partidas,com mando de campo no último jogo do clube

com maior pontuação em toda a competição.

MÓDULO DE DISPUTA DA ÚLTIMA VAGA PARA A SUL-AMERICANA

- Os 8 clubes classificados jogariam em regime de 2 turnos independentes,

com os vencedores de cada turno disputando a última vaga da SUL-

AMERICANA em 2 partidas,com mando de campo no último jogo do clube

com maior pontuação em toda a competição.

-Os 2 últimos colocados,computando-se os dois turnos finais,seriam

rebaixados.

106

Esta fórmula procura manter acirrada a disputa ao longo de todo o campeonato

e equilibrar o número de jogos por participante,que será o mesmo(36),exceto

para os finalistas(38) de cada Módulo.

Embora possa parecer prematuro alijar da disputa pelo título 1/3 dos

participantes após a 22º partida,lembro que todos teriam disputado até então 66

pontos,fazendo com que matematicamente esta seleção também estivesse

configurada em um modelo por pontos corridos.Por isso,acho interessante

segregar os participantes em módulos diferenciados,refazendo a motivação

destes clubes,do que assistirmos a jogos que não valerão absolutamente nada

por muitas rodadas ainda,e que torna a disputa extremamente cansativa e

chata.Além disso,poderiam ser criadas TAÇAS para os vencedores dos módulos

paralelos ao da disputa do título de Campeão Brasileiro,para aumentar a

motivação de jogadores e torcedores.

Um mercado redimensionado e a garantia de equipes fortes seriam as novas

marcas do nosso futebol.Mas ainda falta uma atitude preventiva para que o

excesso de recursos envolvidos não canibalize o próprio modelo.Falo da

remuneração dos profissionais do futebol,em especial os jogadores.

Sob este aspecto,devemos trazer as experiências contemporâneas do mundo

empresarial,quando introduziu um regime misto de remuneração,composto por

uma parcela fixa e outra variável.Não se pode pagar somente salários fixos como

hoje acontece no futebol,pois mesmo com recursos abundantes esta prática em

pouco tempo poderia desfazer as perspectivas de viabilidade do negócio.

É bom,porém,deixar claro,que aplicar o regime misto de remuneração não

significa pagar pouco;uma coisa não tem nada a ver com a outra.Significa,

simplesmente,que os riscos serão de todos e não mais apenas dos clubes,e que

os jogadores terão uma participação na arrecadação de acordo com um sistema

107

de produtividade,devendo a parcela fixa representar um valor que garanta a

subsistência do atleta,independente da sua situação no time,e a parcela variável

um valor representativo do mérito de cada um e da equipe.

Como remuneração variável sugiro um sistema de pontuação para calcular o

montante a ser pago a cada um,conforme segue:

A primeira definição é a do percentual de participação dos jogadores na

arrecadação,que eu fixaria em 50%.No exemplo do Flamengo, dado

anteriormente,teríamos,portanto,de uma arrecadação mensal de R$20 milhões,a

metade sendo destinada aos jogadores e a outra metade ao clube.A parcela do

clube serviria para pagar a folha fixa,incluindo toda a comissão técnica,

departamento médico e demais profissionais de apoio,financiamento dos

esportes olímpicos,custeio das atividades administrativas,incluindo a folha salarial

dos empregados do clube,amortização de passivos e reinversões patrimoniais.A

maneira de saber quanto cada jogador iria receber da parcela variável seria a

seguinte:

-Primeiro passo – atribuir um fator de atratividade relacionado a cada

jogador,conforme discriminação e critérios de enquadramento abaixo:

FATOR 10 – jogadores diferenciados,com passagens regulares pelas seleções de

países que ocupam posição de destaque no ranking da FIFA e que têm fácil

penetração nos principais mercados europeus

FATOR 7 – jogadores diferenciados em relação aos mercados brasileiro e

internacional

FATOR 5 – jogadores diferenciados em relação ao plantel dos seus respectivos

times

108

FATOR 4 – jogadores que compõem regularmente a equipe titular dos seus

respectivos times

FATOR 3 – jogadores considerados os principais reservas dos seus respectivos

times

FATORES 2 e 1 – jogadores de complemento de plantel

-Segundo passo – estabelecer em cada mês a produtividade alcançada pela

equipe,calculando-se o percentual de pontos alcançados em relação ao total

possível:Exemplo:18 pontos em 24 disputados = produtividade de 75%

-Terceiro passo – estabelecer o montante a ser distribuído no mês em função da

produtividade.Exemplo:75% de R$10 milhões(parcela de 50% da arrecadação do

clube destinada aos jogadores) = R$7,5 milhões

-Quarto passo – estabelecer a quantidade de pontos alcançados por todo o

plantel,ponderados por fator.Exemplo:2.400 pontos(20 jogadores x média de 12

pontos x 5,0 de fator médio)

-Quinto passo – estabelecer o valor de cada ponto.

Exemplo:R$7,5 milhões/1.200 pontos =R$6.250,00

-Sexto passo – calcular o valor de pontos por jogador.

Exemplo:

Suponhamos um jogador com fator 10,e que tenha no mês participado de 7

jogos dos 8 possíveis,tendo,dentro da sua participação,alcançado 5 vitórias,1

empate e 1 derrota, contribuindo, portanto,para somar 16 pontos dos 18

alcançados pela equipe.A sua remuneração variável seria a seguinte:

109

R$6.250,00 x 16 pontos x 10 de fator = R$1,0 milhão

A remuneração total deste jogador seria o valor acima mais o seu salário fixo

contratual.

Note-se que é uma remuneração de padrão internacional,podendo ser paga pelo

clube sem o menor perigo de se expor a uma situação de risco financeiro ou de

inadimplência,que é uma prática usual nos dias de hoje.

Certamente este nível de remuneração atrairia jogadores que hoje encontram-se

em equipes do exterior e ganhando menos,além do modelo misto de

remuneração afastar qualquer perigo de algum dia as despesas suplantarem a

arrecadação,como hoje acontece.

Faltou ainda dizer o que fazer com os R$2,5 milhões(R$10 milhões – R$7,5

milhões) restantes que não foram distribuídos aos jogadores em função da

produtividade ter sido inferior a 100%.Cada real não distribuído deverá constituir

um Fundo de Premiação por Campeonato Específico,devendo ser repassado

100% se o clube for o campeão ou 20% se for vice nas disputas daquele

ano.Caso termine em outra colocação nos sucessivos campeonatos,os recursos

ao final do ano serão capitalizados para investimentos obrigatoriamente no

plantel ou no patrimônio esportivo do clube.

110

PERGUNTAS E RESPOSTAS

1-Por que a Tv aceitará participar do projeto se ela hoje é uma das maiores

beneficiadas?

Basicamente porque irá se engajar em um projeto de cunho popular e que trará

muitas vantagens financeiras para os seus participantes,incluindo a televisão,que

poderá agregar cerca de R$2,4 bilhões de faturamento anual a partir de uma

base de 20 milhões de novos clientes.

2-Com o pay – per - view fidelizado restrito à tv fechada como ficarão os jogos

transmitidos ao vivo em canal aberto?

Não existirão mais,por uma questão de mercado,exceto os da seleção

brasileira.Quem quiser assistir aos jogos do seu time deverá aderir ao projeto ou

comparecer aos estádios.

3-Mas isso não é injusto para quem não pode pagar uma mensalidade?

Primeiro vamos argumentar que o valor proposto é bem módico,justamente para

viabilizar a adesão de um grande número de torcedores.

Outro argumento é que estamos falando de um momento em que sugerimos um

aumento substancial do salário-mínimo,assinalamos a oportunidade da geração

em massa de empregos e contamos com a melhoria do poder aquisitivo da

111

população.Aderir será,inclusive,uma forma de comemorar a nova situação de

país e comprovar que uma nova era de prosperidade estará se configurando

através da força de uma das maiores paixões nacionais.

Por outro lado,a formação de equipes fortes somente poderá ocorrer através

desta verdadeira revolução de modelo,sendo inevitável a cobrança da

mensalidade.Como se diz:as coisas boas têm um preço.

Finalizando,pagar R$25,00 significa, em mês de 5 jogos, desembolsar apenas

R$5,00 por jogo.Não é bem razoável?

4-Pelo projeto os clubes vão faturar muito dinheiro,não poderá haver desvios?

Em qualquer lugar do Mundo ou situação onde se envolver o ser humano haverá

esta possibilidade.Mas isto não deve reprimir iniciativas vinculadas a aumentar o

nível de prosperidade de qualquer segmento.

O que se deve fazer é rapidamente transformar a atividade futebol dos clubes

em pessoas jurídicas, para serem enquadradas em regimes universais de

controle,sendo,portanto,sujeitas a menores riscos deste tipo.

5-O projeto irá repercutir um aumento significativo da arrecadação de clubes

com grande torcida,mas para os clubes pequenos,quais as perspectivas?

Foi criado um dispositivo que destina R$1,00 por jogo para formar um Fundo de

Redistribuição de Recursos a ser repassado “pro rata” para os adversários dos

clubes envolvidos no projeto.

112

Por exemplo,se no campeonato Paulista, o Juventus,que tem uma torcida

pequena,jogar em um determinado mês com o Corinthians e o Palmeiras,irá se

beneficiar deste repasse,aproveitando a força popular dos adversários citados.

6-O valor destinado ao Comitê Olímpico Brasileiro(COB) é bem menor do que o

que será repassado aos clubes e à tv.Não poderia haver uma distribuição mais

favorável ao desenvolvimento do nosso poderio olímpico?

Devemos lembrar que a formação dos atletas começa geralmente nos clubes,e

em grande número naqueles que praticam o futebol.Portanto,estará

indiretamente existindo uma aplicação maior nos esportes olímpicos,só que de

forma indireta.

Quanto aos recursos diretamente destinados ao COB,devem ser considerados

como um reforço de caixa bastante substancial,podendo ser utilizados na

melhoria sistêmica dos esportes olímpicos.

7-Formar uma equipe com jogadores de alto valor de mercado sairá muito

caro.O que se pode falar desta limitação,apesar de dar água na boca pensar em

campeonatos do quilate de outrora?

Não é impossível não,porque a lei em vigor estabelece passe livre para os

jogadores a partir dos 24 anos.Creio que a maioria das boas equipes irão utilizar

jogadores que têm o próprio passe,sendo o valor de um suposto aluguel já

integrado na remuneração variável do atleta.

Compra e venda como antigamente somente deverão existir envolvendo o

mercado externo,que,no entanto,não levará mais jogadores na quantidade e

113

pelos valores de hoje.Estas transações serão raras,porque jogar aqui poderá

representar maior remuneração para os atletas.

8-Com o novo modelo o que se deve esperar do público nos estádios?

Com a popularização da tv fechada no futebol a presença de público nos estádios

será duvidosa.Por outro lado,não adianta o Brasil todo ver um jogo pela tv e os

estádios ficarem às moscas.Isto não pode acontecer,pois craque precisa de

palmas,incentivo e vibração,como formas de energia que capta e incorpora na

atuação.

A melhor providência é reduzir o valor médio dos ingressos para algo em torno

do valor per capita do pay – per - view,que é de R$5,em média, e produzir

campanhas publicitárias cultuando o clima exacerbado de emoção que se pode

vivenciar quando se assiste “in loco” as partidas.

9-Com os novos valores de remuneração no Brasil não poderá haver um fluxo

migratório de jogadores de fora vindo para atuar no país,principalmente os sul-

americanos,que não despertam muita atratividade por aqui?

Sim, isto é possível,e devemos nos acostumar a possibilidades e a situações

que serão novas para nós.De qualquer forma,os intercâmbios podem ser

positivos,ainda mais que poderemos utilizar uma boa dose de seletividade para

escolher os imigrantes.

Por outro lado,quem sabe se não poderemos ver por aqui,de volta,craques

brasileiros já consagrados na Europa e que saíram do país ainda muito novos.

114

10-A partir do projeto a remuneração de jogador de futebol no Brasil será muito

melhor do que hoje e a inadimplência sobre os salários não mais existirá. Porém,

esperar a volta de quem está se consagrando na Europa é sonhar demais, pois

estes jogadores recebem salários ainda muito acima dos que possivelmente

poderão ser pagos no Brasil.Não será uma bela utopia querer contar com eles

por aqui novamente?

Quando exemplifiquei no texto a hipótese de uma remuneração da ordem de

mais de R$1,0 milhão mensais,era em função de um fator de atratividade 10,que

poderá ser maior a critério do clube,melhorando a perspectiva de remuneração

de jogadores de exceção.

Utilizando os mesmos números do exemplo da remuneração variável,mas

considerando para qualquer dos jogadores de que estamos falando a atribuição

de um fator 40,teríamos (se você não está entendendo nada,volte ao texto

e recupere o fio da meada) como remuneração variável R$4,0 milhões,

(R$6.250,00 x 16 pontos x fator 30)equivalentes a 2,4 milhões de dólares ou a

1,6 milhão de euros,aproximadamente.

Acho que, com os números do novo exemplo, teríamos sim chances de importar

muita gente que hoje só vemos de longe,jogando nos campeonatos europeus.

Se ainda for pouco e a vontade grande demais para desistir,há também a

possibilidade de aumentar o percentual do montante de arrecadação do clube a

ser distribuído aos jogadores,que no exemplo foi de 50%.

Apesar destas muitas possibilidades para se alavancar a remuneração dos

jogadores de futebol,cada clube deve pensar em estabelecer um teto para que

não haja focos de descontentamento dentro dos elencos,que muitas vezes são

levados para dentro de campo,prejudicando a harmonia do conjunto.

115

11-Como a mensalidade do pay – per - view,que será repartida,poderá se

enquadrar no regime de contrapartida fiscal do SIAP?

A TV é quem vai receber a mensalidade,entregando os bônus ao

consumidor.Quando repassar o valor que cabe aos outros envolvidos deverá

receber também os bônus a que tem direito,fechando os seus papéis de

contribuinte e beneficiária que fará nesta operação casada.

12-Se tomarmos o exemplo do faturamento e dos gastos do Flamengo de acordo

com os valores utilizados,iremos verificar que o imposto a ser pago vai ser muito

alto também.Isto é correto?

Seja um clube de futebol,uma entidade filantrópica ou uma empresa com fins

lucrativos,sempre deverá haver uma diferença máxima entre os recebimentos e

os desembolsos para que o imposto não seja exorbitante.

Se os clubes cumprirem as regras como devem,o tamanho dos lucros e dos

impostos serão perfeitamente satisfatórios.

Em tempo: a questão de uma entidade operar com ou sem fins lucrativos

passará da esfera teórica e convencionada para um cenário objetivo de

enquadramento com base na justa realidade de cada uma,sem brechas para

contestação.

13-Um pacote de tv fechada custa atualmente,na média,algo em torno de

R$100,00 por mês,e se alguém quiser assistir a todos os jogos em pay-per-view

paga adicionalmente algo em torno de R$50,00 mensais.Supondo que uma

pessoa no Rio de Janeiro adquira os dois pacotes,pagará ao todo

116

aproximadamente R$1.800,00((12 meses x R$50,00) + (R$100,00 x 12

meses),mas assistirá aos jogos de todos os times.Com a introdução do pay- per-

view fidelizado sua despesa anual passará a ser de R$1.500,00(12 meses x

R$100,00) + (12 meses x R$25,00),porém,só assistirá aos jogos do time ao qual

se fidelizou.Qual a vantagem?

A primeira é que estará gastando R$300,00 anuais a menos(R$1.800,00 –

R$1.500,00) para ajudar a financiar um excelente time para o qual

torce,aumentado em muito a sua satisfação e alegria ao torcer,e provavelmente,

eliminando os custos de possíveis remédios que deve andar tomando pelos

sustos e desgostos provenientes da má qualidade da maioria dos times das

principais regiões do país.

A segunda vantagem é que estará contribuindo para a montagem de equipes

olímpicas muito mais potentes,ajudando a elevar o interesse pelo Brasil no

exterior,o que poderá repercutir maiores exportações e conseqüentemente mais

empregos no país.

O fato de perder a oportunidade de assistir aos jogos dos clubes pelos quais não

torce é um ônus que poderá ser compensado quando estes clubes jogarem

contra o seu,ou se preferir,poderá também fidelizar-se a outros times,embora

isto venha a acarretar custos suplementares aos que estimamos neste caso.

Não há mudança que produza só vantagens para todos.O que se deve considerar

é que o novo modelo trará possivelmente algumas perdas para uns,mas

proporcionará a formação de equipes que nunca poderiam ser formadas se fosse

mantido o regime atual.

117

14-Além do pagamento mensal da assinatura,existem custos iniciais de

instalação de decodificadores e antenas.Estes custos não irão reduzir o interesse

pela adesão?

Estes custos deverão ser minimizados pela própria filosofia comercial do

projeto,cujo interesse maior será a perenização de uma pequena mensalidade

sustentada por uma grande quantidade de consumidores.Por isso,os custos

iniciais,além de menores que os de hoje, deverão ser financiados em algumas

parcelas.

Outra hipótese, para o caso de poucas adesões ou dificuldade na viabilização de

tantos pontos individuais de transmissão, é se implementar a idéia de Pontos de

Arena,que promoveriam a transmissão dos jogos em telões instalados nos

estádios de futebol,de qualquer lugar do país,que tivessem uma capacidade

mínima de 5 mil torcedores.A transmissão seria vendida por R$25,00

multiplicados por 20% da capacidade do estádio,sendo a divisão entre os

participantes a mesma do pay – per – view.O clube,dono do estádio,venderia

ingressos pelo valor que quisesse para a população local,auferindo seus lucros e

proporcionando uma extraordinária oportunidade de movimentação das

economias locais.Por exemplo,um Flamengo e Vasco no Maracanã,no Rio de

Janeiro,iria influenciar o comércio em torno do estádio da cidade de Imperatriz,

no Maranhão,como se o evento estivesse sendo realizado localmente.E esta

mesma situação se multiplicaria pelo país,aquecendo mais ainda a economia

brasileira,podendo o modelo ser estendido para outros espetáculos artísticos,

como peças de teatro,shows musicais e apresentações circenses,massificando e

democratizando a cultura sem que seja precisa qualquer investimento público.

15-Todos os clubes do Brasil poderão se utilizar do pay- per- view fidelizado para

bancar suas equipes?

118

Não,pois há limitações de mercado e de possibilidade de transmissão de jogos.

O sistema tem como ponto forte a escala,e apenas os clubes com uma

quantidade significativa de torcedores poderá viabilizar a participação.Eu

mensuro em 300 mil o número mínimo de adesões para um clube poder se

inserir no sistema.Ao mesmo tempo esta seletividade é imprescindível para que o

número de jogos a terem a imagem gerada e transmitida seja possível,

matematicamente falando.

De qualquer forma,os clubes que não estiverem participando do sistema também

serão beneficiados pecuniariamente toda vez que jogarem com os que estiverem

inseridos,através do Fundo criado para redistribuição de parte da arrecadação do

sistema.

16-Como poderão ainda os clubes se beneficiarem da publicidade nas

transmissões?

Este é outro ponto muito positivo,pois a publicidade não estará mais nas

camisas,passando os clubes a ter direito de inserções nas transmissões do pay-

per-view.Além de poder vender este espaço para mais de um anunciante,o farão

por jogo e a preço de mercado,maximizando o ganho através da lei da oferta e

procura.

17-E os adversários,como se enquadrarão neste caso?

Cada jogo do pay – per - view tem que ser visto como uma oportunidade de

captação de recursos,cujo interesse tem que ser repartido pelos adversários de

campo.Desta forma,mesmo que de forma virtual,deve ser formado um consórcio

em torno da arrecadação da publicidade,com regras básicas,que eu sugiro sejam

as seguintes:

119

-quando a partida envolver 2 clubes participantes do sistema,a partilha

dos recursos de publicidade deve considerar o número de adesões de

cada um levantado no início do campeonato:Exemplo:

Atlético Mineiro – 0,8 milhão de adesões Palmeiras – 1,2 milhão de adesões

Valor da venda do espaço publicitário = R$1,00 milhão

Participação: Atlético Mineiro:40% Palmeiras:60%

Valor a ser recebido:Atlético Mineiro:R$400 mil Palmeiras:R$600 mil

-quando a partida envolver somente um clube participante da

fidelização,será sempre destinado 90% para o clube do sistema e 10%

para o adversário:Exemplo:

jogo:Vasco(participante) x Madureira(não participante)

Valor da venda do espaço publicitário = R$ 600 mil

Participação: Vasco:90% Madureira:10%

Valor a ser recebido:Vasco:R$540 mil Madureira:R$60 mil

120

CAPÍTULO 6

MERCOBRASIL

Se deixarmos de lado, momentaneamente, o Brasil real e enveredarmos pelos

campos das potencialidades,iremos encontrar um país altamente viável e

rico.Não é à toa que somos considerados há muito tempo o “país do futuro”.

RECURSOS NATURAIS

Fomos agraciados neste aspecto com terras de dimensões continentais:são 8,5

milhões de quilômetros quadrados, livres de áreas desertificadas, e excetuando-

se a Floresta Amazônica e o Pantanal Matogrossense,que são habitats que

guardam uma biodiversidade extraordinária,são terras extremamente férteis para

a agricultura,inclusive,entrecortadas por bacias hidrográficas portentosas,

facilitando a irrigação e a geração de energia.Além disso,nos valemos de culturas

diversificadas,em função dos climas tropical e temperado distribuídos ao longo

do território.

Soma-se ao potencial dos campos uma costa de 8 mil km,representando um

celeiro adicional absolutamente rico e farto,e as riquezas do subsolo,

diversificadas e de grande porte.

Além da grande capacidade para a geração de alimentos e para a extração

mineral e vegetal,o país possui um perfil excelente para as alternativas de

escoamento da produção,através das estradas,cabotagem,hidrovias e malha

ferroviária.

No aspecto recursos naturais,creio ser o Brasil uma singularidade no Mundo.

121

POVO

Temos na formação étnica da nossa raça a síntese de todos os povos do

Planeta,fruto da miscigenação ocorrida ao longo da nossa história,e se isto nos

fez absorver defeitos,por outro lado,nos legou também as qualidades,presentes

na musicalidade,criatividade,alegria,capacidade para o trabalho,forma pacífica

para resolver problemas e uma grande adaptabilidade para conviver com

dificuldades,mas coragem e perseverança para sair delas.Guarda ainda esta

gente uma riqueza regionalizada de folclore,tradições históricas,artes e

costumes.

Aqui também somos singulares.

Nosso exemplo contraria,graças a Deus,aqueles que pensaram ou pensam em

superioridade pela purificação de uma determinada raça.

ESTADO DE DIREITO

Vivemos em pleno estado de direito,liberdade de expressão e formas

democráticas de escolher os governantes e usufruir da cidadania.

Reconheço,entretanto,que volta e meia há abuso extremado de autoridade por

parte de indivíduos mal preparados e que se sentem acima do bem e do mal.

ECONOMIA

Embora tenhamos um grande contingente de desempregados,como aliás no

Mundo todo,nossa economia formal está inserida entre as 15 maiores,

representada principalmente pelo nosso parque industrial e agrobusiness.

122

Todos estes fatores, que bem determinam o perfil de um país,traçam o contorno

de uma nação altamente privilegiada, que não pode subutilizar tantos

ingredientes, da melhor qualidade, para organizar e produzir o seu cotidiano.

Se temos tanto potencial,por que temos ao mesmo tempo tantos problemas no

campo sócio-econômico?

O cerne da questão,na minha opinião,é que o Brasil dividiu-se cultural,econômica

e socialmente em estratificações muito extremadas,perdendo o sentido de

homogeneidade e proporção.

Duas constatações muito claras sustentam esta tese:

1º- as diferenças regionais

2º- a convivência urbana entre contingentes muito bem situados e outro,no

mesmo espaço,miserável e marginalizado

As ações anteriores já foram concebidas para atacar tais defasagens,mas é

preciso uma nova estrutura administrativa de governo para consolidar a

solução,considerando as dimensões continentais do país.Não pode o Brasil

estruturar-se da mesma forma que países das mesmas dimensões que a maioria

dos nossos estados pequenos e médios.É preciso moldar a nossa atuação pública

no cenário federal de acordo com as nossas características e tamanho.

Uma estrutura que poderia ser tentada vem dos exemplos da globalização,

através da formação de mercados comuns a produtos e serviços originários de

diferentes vocações locais.

O que proponho,neste sentido, é a criação de 5 Vice-Presidências Executivas

Regionais,cada uma vinculada a uma região brasileira – norte,nordeste,centro-

123

oeste,sudeste e sul - a fim de funcionarem como indutores do desenvolvimento

local e segundo as peculiaridades e necessidades de cada região,mas

participando de um mercado global,que eu chamaria de MERCOBRASIL,tendo

como missão aglutinar os Blocos Regionais,de forma que o conjunto organizasse

e potencializasse a economia produtiva brasileira,concorrendo para uma espécie

de lapidação interna para atuar melhor e com maior capacidade de negociação

nos mercados continentais e mundiais.

A própria missão do Presidente da República,muito mais política do que

operacional,requer que existam representantes seus em cada região,cumprindo o

elo entre o desenvolvimento geral e o regional.As superintendências como

SUDENE e SUDAM,circunscritas aos negócios locais de forma estanque e sem

integração com os objetivos nacionais,não devem ser mais utilizadas.

Cada Vice-Presidência iria atuar,em conjunto com o fórum de governadores,

empresários e principais representantes da sociedade local,sobre as deficiências

e potencialidades da sua região,contribuindo para a materialização de um Plano

Nacional de Desenvolvimento,segmentado e customizado(adaptado) por região.

A estrutura proposta iria atuar na execução de planos de ação regionais,voltados

ao seguinte circuito de objetivos:

-Formação e aperfeiçoamento profissional

-Pesquisa e desenvolvimento

-Infraestrutura

-Turismo

-Produção de bens e serviços

-Trading(compra e venda)

Adiante,passo a apresentar alguns exemplos de formulações qualitativas que o

Plano poderia ter.

124

“As regiões nordeste,sul e sudeste devem ter a mesma característica de

economia,ou seja,com forte tendência industrial.Como o sudeste e o sul já são

desenvolvidos neste aspecto,devem ser carreados recursos majoritários para

projetos no nordeste,principalmente voltados para a geração de combustíveis

líquidos,através das culturas da cana-de-açúcar e das palmeiras,como o babaçu.

A região norte deve ser caracterizada como potencialmente propícia aos extratos

medicamentosos,criando-se ali uma importante base de pesquisa,e ao manejo de

madeira,devendo ser incentivada para a extração sustentável e para a

instalação de indústrias correlatas.

A região centro-oeste, altamente propícia à agropecuária,deve ser incentivada a

estabelecer na própria região indústrias de processamento.

Todo o território deve ser mapeado para a otimização operacional e econômica

dos meios de escoamento,através de investimentos em ferrovias,rodovias,

cabotagem e navegação fluvial, da geração e distribuição de energia e da

logística de armazenamento.

A atividade turística no país deve tornar-se ainda mais atrativa ,sabendo-se que

os nossos atuais aspectos negativos,principalmente a miséria visual e a

violência,estarão minimizados pela implementação dos diversos programas e

projetos de cunho sócio-econômico propostos pelo Plano Aguapé.O marco inicial

do fomento ao turismo deve ser a implantação de um complexo de lazer e

cultura,a ser instalado na cidade do Rio de Janeiro,ainda nosso principal cartão

postal.

Este complexo oferecerá ao turista:um Museu do Carnaval,retratando seus mais

importantes personagens e enredos,servindo também para resgatar a memória

cultural desta festa popular;visita aos barracões das escolas de samba,a serem

fixados no local,onde o turista poderá conhecer as técnicas e os materiais

125

utilizados na confecção de alegorias,fantasias e adereços;uma academia do

samba,onde serão ministradas aulas e exibições;desfile diário das escolas de

samba,naturalmente adaptados como show e para os objetivos a que se

destina,inclusive com remuneração para os desfilantes,como forma adicional de

gerar emprego ou complementar renda.

Será ainda reservado um espaço para ser utilizado como uma espécie de show-

room das atrações do restante do país,visando pacotes futuros, compreendendo:

a montagem de vídeos e painéis de fotos sobre os mais importantes espaços

naturais e eventos culturais :Floresta Amazônica,Pantanal Mato-

grossense,circuito de grutas e cavernas,cidades históricas de Minas Gerais, o

Círio de Nazaré,a Festa do Boi em Parintins e os ritmos e danças nativas,como a

lambada, timbalada,frevo e maracatu;infraestrutura gastronômica,oferecendo

nossos pratos típicos mais famosos – feijoada,moqueca,acarajé,pato-no-tucupi;

exposição de obras do artesanato brasileiro,como redes,instrumentos de

percussão e peças de barro,corda e madeira.Este mesmo show-room deverá ser

reproduzido nas principais cidades do exterior e do próprio Brasil,para a venda

local dos pacotes.

A idéia é operar de forma similar à Disney,onde em local fixo eventos são

repetidos no dia-a-dia para cada leva diferenciada de turistas,aproveitando,em

nossa versão,a especial habilidade de milhares de artistas,a grande maioria

composta de anônimos,desde costureiras e artesãos até passistas e ritmistas,que

emolduram a maior ópera popular do Planeta.”

Tópicos deste tipo fariam parte do Plano Global,cujo detalhamento estaria

segmentado por Bloco Regional.

126

No campo das pesquisas temos notável material humano,faltando apenas

incentivo,através de recursos financeiros.Imaginem o avanço que o país dará,por

exemplo,com a alavancagem da atuação da EMBRAPA e das Universidades e

Escolas Técnicas.

Os recursos para financiar a execução das ações contidas nos planos regionais

deveriam ser captados através da formação de Consórcios,com participação

pública,através do BNDES,e privada,através de aportes e financiamentos.

Deveriam ser criados mecanismos também para a captação de recursos dos

pequenos poupadores,que poderiam optar por aplicações no setor produtivo

como alternativa aos investimentos no sistema financeiro.Por exemplo,o público

poderia aplicar sua poupança em pesquisas de biodiesel,auferindo dividendos

posteriores com a exploração do negócio em escala industrial.

Não se pode mais aplicar recursos de forma dispersa e por vontade de

Ministérios estanques.Isto é um erro grave.A maioria dos Ministérios deverá

atuar de forma conseqüente e em apoio ao plano global executado por cada

Vice-Presidência.

Os Ministérios centrais devem atuar nos moldes das áreas adjetivas de uma

empresa,como entes que desenvolvem atividades especializadas, mas em razão

única dos objetivos finais da empresa,que no modelo estariam sendo

representados pela atuação das Vice-Presidências,como se fossem unidades

regionalizadas de produção.Em qualquer empreendimento,com ou sem fins

lucrativos,é preciso que haja atividades meio e fim,identificadas de forma muito

clara,e que as primeiras dependam e se submetam às razões das últimas,o que

não acontece no Brasil e em muitas empresas ditas “bem administradas”.

127

Eu não sei o que cada leitor pensa a respeito,mas fico perplexo quando os

candidatos à Presidência discorrem sobre as suas prioridades de governo:

educação,saúde e segurança,por exemplo.Estas são a própria razão de existir do

poder público,e não podem ser tratadas como metas, porque são obrigações

institucionais de governo.Metas seriam ações do tipo que as Vice-Presidências

iriam executar,pois a população de cada região saberia o que esperar de

concreto e físico para a sua área e o que cobrar depois do eleito,tendo uma

forma,um tamanho, uma descrição e uma função.

Outra falácia é quando os candidatos prometem a geração de milhões de

empregos,mas sem dizer como poderão gerá-los.Com a sugestão de análise dos

programas de governo via o que fazer em cada Bloco Regional,tudo ficará muito

claro para o eleitor e ao mesmo tempo inadiável para quem prometeu.

Por exemplo,o programa de um partido poderia inserir para o nordeste a

transposição das águas do São Francisco e outro não;para o norte,um poderia

apoiar a exploração sustentável da Amazônia e outro a sua preservação como

reserva natural.O país,ao invés de assistir a um espetáculo pobre e tedioso de

briga entre marqueteiros,iria assistir a debates de altíssimo nível e de interesse

público extremo,obrigando a que os partidos elevem o grau de conhecimento

multidisciplinar concentrado em seus quadros,ou seja,prefiram em suas fileiras

entes muito mais técnico-políticos do que somente políticos.

Nestes termos,a tendência para que o acervo de conhecimento possuído por

cada partido tome o espaço de parte da especialização política que vige

majoritariamente nos dias de hoje,poderá representar futuramente um fator

crítico de sucesso para fins eleitorais,elevando o nível de utilidade pública das

ações e da classe política do país.

128

É preciso migrar o foco de governo do cenário político para o cenário

operacional;da atividade meio para a atividade fim.Sem este deslocamento de

foco continuaremos a ser apenas uma esperança,por muito tempo ainda.

É mais do que imprescindível que os ocupantes destas Vice-Presidências sejam

profissionais de gestão e não políticos profissionais,pois serão os responsáveis

pelo desenvolvimento dos Blocos Econômicos Brasileiros.

Sobre o modelo eletivo para Presidente,Governadores e Prefeitos no país,eu

agregaria algumas modificações.É preciso entender que todas terão como

origem a visão de um administrador e não a de um político.Isto é uma diferença

a favor do país e contra a disputa pelo poder,portanto,uma providência

fundamental para repor o foco na direção que interessa à maioria da população.

A primeira seria manter o regime de sufrágio universal apenas para as Vice-

Governadorias Regionais,sendo a coligação vencedora em cada região a

responsável pela nomeação dos governadores e prefeitos.

A segunda seria estender o tamanho dos mandatos para 5 anos, sem limitar o

número de reeleições possíveis.Não tem sentido para a lógica da gestão alguém

ser escolhido para um cargo por tempo determinado.Para os princípios da

administração o tempo deve estar subordinado ao desempenho.

Sobre este aspecto eu proporia a terceira modificação.A introdução de dois

plebiscitos,entre o 2º e o 3º ano e entre o 4º e o 5º ano de cada mandato, para

aferir a qualidade da gestão e perguntar aos eleitores se o governante segue ou

interrompe o seu mandato.Hoje não há mecanismo que dê conseqüência a uma

possível má avaliação,e o mandatário termina seu período independente da

vontade popular de mudar,quando é o caso.Houve no país uma exceção,através

do impeachment de um Presidente,mas isto foi uma singularidade que

129

certamente será difícil de ser repetida.A partir deste novo procedimento,

certamente as administrações seriam cercadas de cuidados maiores e de uma

preocupação real em cumprir as promessas de campanha,pois o mesmo voto

que elegeu poderá destituir,também democraticamente.

A quarta alteração postula que no segundo plebiscito de cada período de 5 anos,

se a avaliação indicar Prosseguimento do Mandato, as eleições não precisariam

ser realizadas para aquele cargo,servindo a indicação do plebiscito para

determinar reeleição automática de mandato,evitando-se gastar recursos e

tempo com campanhas.

Sei que os partidos,enquanto na oposição,em qualquer época,não concordariam

com estas modificações,porque pretendem que o poder gire com muita rapidez

para a ele terem possibilidade de acesso sempre.Mas devo lembrar que a

prevalência de interesses deve ser a do país e não a de qualquer grupo.Isto é

democracia,certo?

130

PERGUNTAS E RESPOSTAS

1-As Vice-Presidências Regionais já deverão ter seus ocupantes definidos antes

das eleições como acontece hoje com o Vice?

Não,estes cargos são de cunho operacional e técnico,tal qual os Ministérios,não

havendo necessidade de anúncio prévio dos futuros ocupantes,a não ser que os

partidos concorrentes entre si resolvam utilizar esta informação como elemento

estratégico de campanha.

2-A criação dos blocos econômicos por região não poderá denotar separatismo?

De jeito algum,pois não existirá separação, mas setorização,sendo esta a melhor

forma de buscarmos realmente a redução das diferenças regionais.

Irão funcionar como se fossem unidades regionalizadas de uma mesma

empresa,customizando (adaptando) seus produtos e serviços em função das

peculiaridades vocacionais e naturais locais,mas atuando comercialmente além

das suas fronteiras,em um mercado global.

3-Quais indicadores poderão monitorar o desempenho dos blocos e aferir se

houve evolução e conseqüentemente redução das diferenças de

desenvolvimento?

Existirão diversos indicadores de desempenho,mas reputo dois deles como os

principais aferidores.

131

O primeiro indicador,que é universal, é o IDH –Índice de Desenvolvimento

Humano,que procura mensurar a situação em que se encontram o nível de

renda,de instrução e de saúde.

O segundo principal indicador é a participação da região no PIB nacional,como

forma de compararmos a fatia de cada região ao longo do tempo.

4-Como as administrações estaduais e municipais se encaixariam no modelo?

Com certeza, replicando para os estados e municípios a criação de blocos

próprios por cidade e por distrito e bairro,respectivamente.

Aliás,as atuações dos governadores e prefeitos serão fundamentais para a

elevação do IDH de cada região.

5-Esta nova ordem poderá provocar o êxodo de pessoas de uma região saturada

para outra que esteja sendo fomentada.Não há o perigo de desequilibrar os

mercados nas duas pontas?

Não,porque diferente do êxodo acontecido em função do Milagre Brasileiro,todas

as regiões serão fomentadas,diferindo apenas de intensidade e especificidade,

pela própria situação de cada uma.Quem estiver bem nas regiões saturadas não

terá motivos para sair.Os que migrarão serão aqueles que carecem de melhores

oportunidades e irão tentar a sorte onde ela lhes aponte com maior atratividade.

6-Como este projeto e o PIB secundário conviverão?

132

Harmonicamente.O PIB secundário é um esforço induzido de remanejamento

populacional assistido pelo governo e próprio para aqueles que hoje se

encontram alijados da economia formal do país.

Já o Mercobrasil irá atuar sobre as diferenças regionais e absorver pessoas em

função do que elas almejam de plus sócio-econômico.

Algumas pessoas poderão se beneficiar dos dois projetos,como por

exemplo,migrarem de uma capital do sudeste para uma cidade do interior do

nordeste que tenha incorporado um núcleo do PIB secundário.

7-Algumas regiões têm melhores condições de infraestrutura do que

outras.Neste aspecto também não ocorre diferenças regionais?

Sim,e o plano deverá se sensibilizar quanto a necessidade de se alocar os

recursos públicos de forma bastante seletiva,dando prevalência às regiões com

maior carência.

8-Também neste aspecto se utilizará a customização(adaptação)?

Sim.Por exemplo,a região nordeste convive com sol e vento o ano todo,podendo

requisitar a viabilização de energia solar e eólica em escala maior que outras

regiões.

A região norte,por sua localização,requer mais que outras investimentos em

ferrovias para interligar-se ao centro sul,já que para o nordeste já existe a

ferrovia Carajás-Ponta da Madeira da Vale do Rio Doce.

133

A região sudeste necessita de reforço na rede de distribuição de energia,já que o

país produz excedentes no norte e no sul que precisam ser transferidos para

onde há déficit pontual.

A região nordeste poderá requerer maiores investimentos em portos, para

usufruir da cabotagem, e a centro-oeste em hidrovias e silos.

9-A intenção de aumentar os investimentos nas regiões nordeste,norte e centro-

oeste em detrimento da sudeste e sul, não poderá provocar desemprego nestas

últimas?

Não,ninguém vai propor desmobilização do nível de atividade ou desaceleração

dos índices de crescimento das regiões mais desenvolvidas.O que se proporá é a

obtenção de recursos adicionais,públicos e privados, aos que naturalmente

estariam disponibilizados se tudo continuasse como está,aplicando-os através de

um mix que concorra para provocar um crescimento das regiões mais carentes a

taxas maiores do que as das regiões mais avançadas economicamente.

Aliás, não se reduzirá nunca as tais diferenças regionais se não for assim.

10-Como os preços dos produtos dentro do Mercobrasil serão configurados,

haverá preços únicos para todo o Bloco?

Não,porque a concorrência precisa entrar como um componente bastante

importante.O que não haverá mais são as diferenças de alíquotas do ICMS,que

influenciavam significativamente os preços.Estes deverão ser atribuídos de

acordo com os custos de produção de cada Bloco,a espécie de frete utilizado e o

valor das despesas de divulgação.

134

11-Qual a vantagem,então,da configuração da economia brasileira através dos

Blocos Regionais?

A maior delas e óbvia é que cada Bloco irá produzir e vender para um mercado

nacional muito maior que o regional.

Estruturalmente,a grande vantagem será a perspectiva de se formar cada

economia regional através do fomento dirigido pelos esforços comuns do poder

público e do empresariado e sociedade locais,de forma planejada e colocada à

discussão pública quando das eleições para Presidente.

12-As sugestões de aumentar o mandato do Presidente e não limitar a

possibilidade de reeleição não serão aceitas pelos partidos políticos.Como fazer

para viabilizá-las?

Estas são modificações que estão intimamente relacionadas com o papel do

Estado na vida nacional.O poder público não pode ter interesses próprios

dissociados dos anseios populares.Se assim não for,estaremos admitindo que o

país possui donos,identificados e em número limitado,apropriando-se

ditatorialmente,de fato, da vontade da maioria.

Delegamos a representatividade,mas não pode ser total e irrestrita.Creio que

todas as cláusulas pétreas da Constituição deveriam ser retiradas de um

plebiscito popular,que eu sugiro contenha,entre outras decisões:tamanho de

mandatos do executivo e respectivas regras para reeleição,avaliação periódica do

mandatário,imposto único e preservação ou extinção dos institutos do foro

privilegiado,da imunidade parlamentar e do desacato à autoridade.

Além disso,sugiro que todos aqueles que estejam incluídos nos programas

assistencialistas do governo sejam excluídos do plebiscito,considerando-se que

135

não teriam condições satisfatórias de discernimento para opinar em igualdade de

condições com aqueles que vivem plenamente o ciclo produtivo do país.Em

alguns casos isto não é verdade,mas prefiro configurar a vedação como

premissa.

13-O modelo de Blocos Econômicos em nível federal,estadual e municipal não vai

gerar confusão?

Pelo contrário,pois suponha que cada instância em determinado local seja

comandada por pessoas de 3 partidos diferentes e antagônicos ideologicamente.

Em situação normal e provável,segundo a história nos demonstra,o governo

federal poderia segurar o repasse de verba para o estado,e este para o

município,além de não haver a menor sinergia em termos de atuação

pública.Com o modelo dos Blocos,as diferenças ideológicas e de estilo se retiram

de cena,passando a existir um objetivo dominante comum,que pode ser uma

ponte,uma ferrovia,uma fábrica ou um pólo petroquímico,por exemplo.

14-Por tudo que irá representar o Mercobrasil,que repercussões terá sobre o

cenário político do país?

Da mesma forma que no SIAP,quando gradua com importância maior o setor

produtivo em relação ao financeiro,o Mercobrasil precisa que prevaleça a visão

desenvolvimentista sobre a política.Enquanto os interesses meramente políticos

prevalecerem,como hoje,pouco será alterado.

Aliás,estas são duas trocas fundamentais para o processo de mudança que

deveria levar o país a um único cenário:o de um país desenvolvido cultural,social

e economicamente,tendo a sustentá-lo, subsidiariamente, sistemas financeiro e

político convergentes e corretamente dimensionados como atividades meio.

136

O projeto procura induzir a que os partidos possam redirecionar os seus vetores

e buscar a justificativa da pluralidade a partir de projetos desenvolvimentistas

diferenciados e concorrentes,pois se nos atermos somente ao escopo político,as

diferenças não justificam tantas representações partidárias.

A partir do Mercobrasil,acho que deveríamos,responsavelmente,promover fusões

partidárias,galgando patamares superiores de maturidade cívica,fazendo de cada

novo grupo um representante de protótipos interessantes e viáveis de

cidades,estados e país,que é o que interessa à população.

Como exercício destas fusões partidárias,poderíamos ter apenas 4 grupos

técnico-políticos,a saber;

- o primeiro com foco no capitalismo progressista,capitaneado pelo PSDB

- o segundo com foco no capitalismo moderado,capitaneado pelo PMDB

- o terceiro com foco no socialismo moderado,capitaneado pelo PT

- o quarto com foco no socialismo progressista,capitaneado pelo PSOL

Cada grupo incorporaria os quadros dos demais partidos atuais,sempre

considerando o enquadramento de cada um nos focos presumidos.

15-Que tipo de político ficaria de fora desta nova concepção de partido político?

Aqueles que não pudessem contribuir nem agregar valor às propostas de

configurações futuras de país,quer porque seus interesses são pessoais ou

corporativistas,quer porque não têm profissão definida que lhes dêem lastro

técnico,quer porque especializaram-se somente nas práticas e procedimentos da

burocracia política,quer porque não querem que nada mude,pois ganham com

isso.

137

16-O Mercobrasil irá organizar e desenvolver o nosso mercado interno.Isto não

iria atrapalhar e atrasar a nossa participação nos mercados continentais e

mundiais?

Fomentar o mercado interno é uma providência que se faz necessário antes de

qualquer presunção da nossa presença em Blocos Econômicos multinacionais,

porque além de fazer emergir milhões de novos consumidores regulares no

país,estará destinando emprego e renda a brasileiros que hoje têm muita

dificuldade para tê-los.

Quanto aos Blocos citados,receberão a nossa participação através de um

parceiro que estará potencializado em relação ao que hoje pode oferecer,tanto

para vender quanto para comprar,o que será melhor para todos.

17- As Vice Presidências terão que alcance de autonomia para planejar e

executar os planos regionais?

Cada plano de ação regional já estará esboçado pelos partidos que formarem a

coligação vencedora,cabendo aos Vices as tarefas de aperfeiçoarem estes planos

de acordo com as dificuldades ou oportunidades que forem surgindo,e

implementarem as ações,de acordo com cada cronograma.

A idéia é que muito pouca coisa mude em relação ao que será exaustivamente

discriminado nas campanhas eleitorais.

138

CAPÍTULO 7

ENSINO VOLTADO PARA A CULTURA,O MERCADO DE TRABALHO

E A CIDADANIA

Falamos tanto em melhorar o país através da educação,mas primeiro devemos

melhorar a educação que o país pratica.Este é o meu diagnóstico.

O êxito completo seria termos todos os brasileiros(as) até os 25 anos de

idade,por exemplo, muito bem formados cultural e profissionalmente.Se assim

não é,devemos todos apoiar mudanças.

Vamos,a partir de agora,procurar diagnosticar as deficiências do modelo

atual,entendendo a educação como o estágio mais importante do circuito de vida

de qualquer cidadão,pois é nele que nos preparamos e definimos,quase que

irremediavelmente,as chances que daremos ao nosso futuro,inclusive, se

seremos cidadãos do “bem ou do mal”,bem como configuramos a qualidade de

sociedade que o país terá.É também a fase inicial da vida produtiva e onde os

recursos públicos deveriam ser majoritariamente aplicados,à luz do conceito

sistêmico,evitando gastos futuros de caráter corretivo,como a ressocialização e o

assistencialismo.

Mas sobre este aspecto não devemos computar como recursos aplicados na

educação: a merenda escolar,o pagamento de serviços de limpeza das escolas,o

salário dos professores ou as despesas de viagem dos formuladores da política

educacional.Por exemplo,se de um ano para o outro houver aumento salarial de

10% para os professores,não se pode,demagogicamente,atribuir maior

distribuição de recursos naquele ano em relação ao ano anterior.Este tipo de

aplicação deve ser considerada como gastos vinculados.

139

Como recursos efetivamente direcionados para a educação,aponto,entre outros,

os investimentos em construção de novas unidades,a remodelação e o

reaparelhamento de unidades já existentes,cursos e seminários de reciclagem

para professores.

Um dos pontos que mais discordo do modelo praticado é a falta de foco do

ensino básico.O modelo procura abrir um leque extensíssimo de matérias,

achando que ao massificar as informações estará preparando o aluno para

qualquer profissão que venha escolher.E que profissão escolher?Baseado em

que?Quantos alunos fazem suas opções profissionais sem a menor certeza do

que querem?Esse é um grande defeito do modelo:não ajuda o aluno a escolher o

seu melhor caminho profissional,aquele que estará compatível com os seus dons

natos e as suas vocações e habilidades.

Outro problema que vejo é a falta de aplicação imediata daquilo que

aprenderam.Imaginem alguém estudando por 15 ou 17 anos para somente ao

final deste período poder fazer uso do conhecimento que adquiriu.É preciso

estabelecer mecanismos práticos durante o período letivo para que os alunos

possam realizar materialmente o que aprenderam.Lembremo-nos também

sempre disto:ninguém se interessa por assunto que não suscite atratividade,

ainda mais quando se trata de crianças e adolescentes.

Como terceiro problema identifico a estrutura docente,representada pelas

instituições e professores.As primeiras,transgredindo de uma forma irresponsável

a lógica de aferição dos alunos,fazendo-os passar de qualquer maneira para não

assumirem a pecha de reprovadores contumazes e assim perderem mercado.Os

segundos,sendo,na média,um misto de despreparados e mal remunerados,

lembrando o dilema de quem nasceu primeiro:o despreparo pela baixa

remuneração ou a baixa remuneração por causa do despreparo?Reconheço,no

entanto,que existem muitos preparados mal remunerados,cujo fato não

caracteriza problema de natureza educacional,mas injustiça,o que é muito mais

140

grave.Também reconheço existirem entidades que são corretas ao aferirem o

conhecimento dos seus alunos,aprovando ou reprovando sem se valerem de

subterfúgios.

Creio que um novo modelo deverá resolver estas três questões fundamentais.Eis

o que proponho.

Primeiro vamos estabelecer o foco do modelo,que será calcado em três

objetivos:a cultura,o mercado de trabalho e a cidadania,sem que haja ordem de

importância envolvida.Ninguém vai mais aprender por aprender,devendo o

sistema oferecer estas metas como elementos de atratividade para o aluno e

este ter esta consciência de objetivos.

Vamos criar três módulos de ensino:o módulo básico,o módulo preparatório e o

módulo formativo,tendo cada um o seguinte perfil:

MÓDULO BÁSICO

Presunção de faixa etária

Dos 8 aos 14 anos

Currículo sugestivo

-português e literatura brasileira

-línguas estrangeiras e literatura mundial

-matemática e matemática financeira

-ciências

141

-história do Brasil e história universal

-geografia descritiva e geografia econômica

-desenvolvimento artístico

-desenvolvimento desportivo

-constituição e demais códigos jurídicos

-saúde preventiva,primeiros socorros e preservação ambiental

-cultura geral e atualidades

Padrão das aulas

-o conteúdo programático por matéria deverá ser racionalizado para que os

itens de cada assunto possam ser melhor explicados e exercitados,priorizando-se

a incidência prática de cada um

-para todas as matérias deverá existir um tipo de trabalho regular a ser feito

pelos alunos, que possa exprimir aplicação real do conhecimento adquirido,tais

como os exemplos a seguir:uma olimpíada de matemática,um jornal de notícias

históricas,um concurso de contos,poemas e artigos,um caderno de turismo,uma

exposição científica,uma audiência musical,a encenação de uma peça teatral,um

recital de poemas,um torneio de esportes olímpicos,debates com a participação

de alunos e convidados,cujo tema tenha mais despertado interesse nas aulas de

cultura geral e atualidades em determinado período

142

-a matéria sobre cultura geral e atualidades deverá ter um caráter

flexível,possibilitando que os alunos escolham também os temas a serem

abordados, segundo seus interesses reais e curiosidade própria do momento que

estiverem vivendo

-as aferições formais deverão ocorrer apenas semestralmente,devendo a nota

mínima de aprovação ser 6(seis)

MÓDULO PREPARATÓRIO

Presunção de faixa etária

Dos 15 aos 17 anos

Currículo sugestivo

Descrição,princípios,principais técnicas e perfil profissional inerentes aos seguintes campos de atuação e atividades:

-comunicação e artes

-engenharia,arquitetura e física -economia,finanças,contabilidade e administração

-direito

-medicina,psicologia,biologia e química

-turismo e hotelaria

143

-indústria e comércio

-informática

-agronomia,botânica e silvicultura

-vendas,marketing e publicidade -moda

-secretariado e cerimonial

-marcenaria e carpintaria

-hidráulica,elétrica e mecânica

-pilotagem -enfermagem

-assistência social

-construção civil

-serviços bancários

-serviços militares

Padrão das aulas

-cada matéria deverá ser passada com forte interação com as práticas de mercado

-deverão ser solicitados trabalhos que exprimam aplicação prática de conhecimento

144

-na medida do possível,deverão ser programadas visitas aos locais onde se exerce cada profissão

-as aferições deverão ser conceituais,sem o instituto da aprovação ou

reprovação,servindo basicamente de parâmetro para a escolha da área a cursar

no próximo estágio

-nos dois primeiros anos deverão ser passadas todas as matérias,ou melhor,

profissões ou campos de atuação,e no último,escolhidas 3 para serem

desenvolvidas com maior aprofundamento

MÓDULO FORMATIVO

Este módulo encerra o ciclo de ensino,compreendendo graduação e pós-

graduação,dividindo-se em ensino técnico e superior,como nos moldes de hoje.

A nota mínima para aprovação deverá ser 8(oito),havendo ao final de cada curso

a necessidade de exame junto ao Ministério do Trabalho,em convênio com os

Conselhos Profissionais e Sindicatos,para a obtenção da habilitação profissional.

As provas do vestibular deverão ser adaptadas para aferir apenas dois fatores:se

o candidato possui pré-cultura para cursar o ensino superior e se possui vocação

específica para a área que pretende cursar.Os cursos técnicos deverão implantar

o mesmo regime.

Quanto aos professores,acho que deveríamos abrir a possibilidade para qualquer

pessoa poder dar aulas,desde que tenha as qualificações que o cargo requer,sem

precisar ser necessariamente professor formado.Aliás, ensinar e aprender é o

que mais fazemos ao longo da vida.

145

Proponho que todos que desejam dar aulas tenham que passar pelo

licenciamento do Ministério da Educação,sejam eles originalmente professores

formais ou não.Sugiro como instrumento de avaliação para o licenciamento o

modelo que uso para avaliar pessoal,desenvolvido a partir de método de

avaliação de negócios.

Consiste em formatar uma matriz,tendo no eixo horizontal uma escala de

graduação competitiva(dominante,forte,favorável,sustentável,fraca) e no eixo

vertical os critérios eleitos para a avaliação(sugiro para o caso os seguintes

fatores:conhecimento específico da matéria,recursos didáticos,fluência de

expressão e grau de relacionamento social),sendo assinalado em cada quadrante

a posição obtida pelo teste de avaliação,cujo resultado é mensurado através de

pontos.O exemplo adiante poderá dar uma idéia do desenho final da avaliação.

Conhecimento Didática Expressão Sociabilidade

Dominante

Forte x

Favorável x

Sustentável x

Fraca x

As posições acima da barra indicam aprovação,sendo mais graduada a posição

dominante,e as posições abaixo da barra indicam reprovação.

O critério sugerido de avaliação irá requerer que o corpo docente habilitado

tenha uma qualidade melhor que a atual,pois muitas vezes alguns destes fatores

sugeridos são extremamente negligenciados.

146

Este gráfico seria uma espécie de “certificado de qualidade” que acompanharia o

professor por toda a sua vida letiva,bem como um documento virtual para

disputar mercado.

Pelos meus critérios o acesso ao exame de licenciamento independeria de

diplomas ou qualquer enquadramento prévio.Vamos criar o país dos professores.

Cada avaliação teria a vigência de 7 anos,havendo a necessidade de novo exame

para viabilizar a renovação.Este critério induzirá certamente a um esforço

constante de atualização dos pretendentes.

As pessoas que possuíssem, antes do novo modelo, formação formal,

continuariam a ser reconhecidas como professores.Os que conseguissem a

habilitação sem terem passado pelos mecanismos formais seriam reconhecidos

como instrutores.Paralelo ao impacto sobre a educação,espera-se abrir novas

frentes de trabalho ou de complementação de renda.Sob este aspecto,os

instrutores do módulo preparatório,principalmente,poderiam conseguir cargas de

aulas perfeitamente adaptadas a uma outra atividade que por ventura

tivessem,exercendo o magistério,por exemplo,por 2 horas diárias.

Se este modelo de educação é o ideal não sei.A única certeza que tenho é a

convicção de que estaremos ajudando o país a ter melhores profissionais, em

todos os campos,e melhores cidadãos,mais cultos e conscientes.

Esta concepção de ensino estaria carreando benefícios diretos sobre as novas

gerações,sem contudo,interferir diretamente na sociedade mais madura.Acho

que as pessoas poderiam acompanhar a perspectiva de evolução cultural no

país,criando hábitos diferentes daqueles que hoje praticam,dedicando-se um

pouco mais à captação de conhecimentos mais úteis e mais nobres,como forma

de melhor aproveitar o tempo.

147

Sobre este aspecto,sugiro a solidificação de uma nova mania nacional que, de

maneira lúdica e informal, poderia proporcionar às pessoas condições para

adquirir novas informações,bem como ampliar a capacidade de entender os

fatos e formular perspectivas.Falo da formação de “grupos para filosofar”,que

lanço agora através do livro,tendo simplesmente o diletantismo como razão

maior para se reunirem.

Seus membros poderiam ser familiares,amigos,companheiros de trabalho,alunos

de uma mesma classe,por exemplo,que se reuniriam uma vez por mês para

dissecar determinado assunto de interesse comum.Esta reunião poderia ser no

dia mais chato da semana,uma segunda-feira,ou no melhor,um sábado,

dependendo do perfil do grupo e do grau de festividade que queiram impor

paralelamente ao evento.

O material para os 8 primeiros meses de atividade estou oferecendo através dos

capítulos do livro,esperando contar com a discussão de cada um por reunião.

Como metodologia,sugiro a seguinte:

-Cada membro deverá ler o capítulo isoladamente,chegando ao dia da reunião

com a sua opinião já formada.Neste dia,o grupo deverá eleger um relator,que

fará a leitura do texto em voz alta e explicará o que entendeu,devendo ser

conseguido um consenso quanto a este entendimento.

-Após ter sido obtida uma interpretação comum sobre o texto,o grupo deverá ser

dividido em 2:os que concordam e os que discordam da proposta apresentada no

capítulo,elegendo-se um expositor para cada grupo.Se não existir discordância

natural,os grupos deverão ser formados por sorteio e assumirem a missão que a

sorte lhes reservou,como uma oportunidade para exercerem a criatividade.

148

-O relator inicial deverá se transformar em mediador e estabelecer um tempo

para a formulação da defesa das teses de cada grupo,que deverão para tal,se

reunir em cômodos separados dentro do local onde estiverem.Após este

tempo,os grupos iniciarão os debates de acordo com as teses formuladas,até

que o mediador considere esgotados os argumentos.

-Se um grupo conseguir convencer o outro a mudar de idéia,todos deverão

consignar o feito,deliberando o consenso e garantindo a cada um a certeza de

que estará muito bem informado a respeito do assunto discutido e pronto para

disseminar a opinião vencedora com grande conhecimento de causa.

-Caso não haja convencimento,os grupos deverão listar que acontecimentos

futuros serão chave para se estabelecer quem tem razão,devendo o mediador

ser o encarregado de monitorar os fatos e voltar ao assunto quando uma

conclusão for estabelecida.

Parece compromisso,e muitos também irão qualificar como um evento chato.Mas

esta prática é a melhor forma de nos dedicarmos um pouco mais ao

desenvolvimento do nosso intelecto e à nossa própria condição de seres

pensantes.Por isso,imagine o que será contabilizado ao final de cada ano em

termos de aquisição de conhecimento e abertura de horizontes culturais.Para

alguns,inclusive, será uma excelente oportunidade para se reciclarem

culturalmente,pois poderão ter tido uma formação cultural superficial até então.

A propósito,o que mais me motiva a sugerir a formação destes grupos é o

discurso que quase todo brasileiro faz,ou seja: “a solução é a educação”.Pois que

seja mesmo.Espero que para isso concorram também as tv’s abertas e os

compositores,principalmente os letristas, nacionais.

A propósito,o meu conceito de educação abrange instrução,cultura

geral,capacidade de conviver socialmente,respeito ao próximo,visão eclética de

149

mundo,capacidade de interpretar fatos e de formular perspectivas,capacidade de

articulação e argumentação, e maturidade para assimilar ofensas, assumir erros

e recomeçar se for preciso.

150

PERGUNTAS E RESPOSTAS

1-Por que estipular o início da vida escolar aos 8 anos?

Não existe uma cronologia padrão que possa ser usada para este fim,

dependendo,acho eu,do grau de maturidade de cada criança.Minha sugestão de

começo aos 8 anos representa a média das idades que variam dos 6 aos 10

anos,que presumo,seja a faixa que comporta a maturidade propícia para o início

da vida escolar.Desta forma,respeitamos tanto os precoces,que deveriam

começar aos 6 anos,quanto os mais infantis,que precisariam começar mais tarde.

2-Mas desta forma haverá o atraso de uns e o adiantamento de outros,

provavelmente prejudicando a todos?

Este raciocínio é o da velha visão linear,que interpreta este caso sem qualquer

flexibilidade,achando que o mais importante é a exatidão,muito embora apenas

presumida.

Veja bem,se você inicia aos 6 anos vai fazer com que durante 4 anos os menos

maduros praticamente não aprendam nada.Se você iniciar aos 10 anos estará

destruindo parte da motivação e energia dos mais maduros,por igual período.

Não se pode pensar em solução,trabalhando pelos extremos.

A média,neste caso,vai arrefecer,sem atrofiar,o ímpeto dos mais maduros,e

antecipar,sem inviabilizar,o potencial dos mais imaturos,e ambos,vão forjar,por

osmose,uma turma coesa e equilibrada.

3-Quais as metas de ensino a serem alcançadas em cada módulo?

151

No módulo básico, a principal preocupação é com a noção de cidadania,a

cultura,a comunicação e o desenvolvimento do raciocínio lógico e dedutivo,que

são os quesitos mais importantes ao longo da vida,quer no trato social,

profissional,familiar ou cívico.

No segundo módulo,estaremos oferecendo a possibilidade dos alunos

conhecerem a maioria dos campos de atuação e profissões,demonstrando os

seus perfis e papéis para a sociedade,visando subsidiar a escolha de uma

profissão,e,conseqüentemente,o direcionamento para o módulo derradeiro.

No módulo formativo,naturalmente queremos formar profissionais com a melhor

capacidade profissional possível,através da nota mínima de aprovação,que é 8,e

das provas de habilitação profissional a serem aplicadas pelo Ministério do

Trabalho.

Por tudo isso entendo que o regime de cotas para qualquer grupo é um erro

gravíssimo para o país.

4-O módulo básico é o único que prevê o ensino de português e matemática.Não

será pouco tempo,já que qualquer profissão escolhida depende estritamente de

um destes conhecimentos ou até dos dois juntos?

Estas duas matérias vão ser desenvolvidas por exatos 7 anos,que é um

tempo,inclusive,maior do que o utilizado no ensino superior para a maioria das

profissões.

Tanto pelo tempo estipulado quanto pelo método de ensino,que irá incorporar

uma rotina de trabalhos práticos para o exercício,em tempo real,do

152

aprendizado,sob uma certa ótica,estaremos formando especialistas nas duas

matérias.

5-As pessoas que conseguirem a habilitação de instrutores não serão rejeitadas

pelos estabelecimentos de ensino e desprezadas pelos professores formais?

Se persistir a prevalência da visão linear,pode ser que sim.

Aos poucos,porém,todos deverão entender que o “saber” não é privilégio de

pessoas especiais,estando acessível a qualquer um através de múltiplas formas

de aquisição e desenvolvimento.O caminho formal é um dos meios,mas não o

único.Alguém pode possuir “saber’ porque estudou nos livros,porque

desenvolveu-se especificamente em determinado campo por causa da atividade

profissional,porque conviveu muito tempo com quem sabia tudo a respeito de

algo,por exemplo.

Por outro lado,ao se exigir um teste de avaliação para poder habilitar,todos se

igualarão e o resultado da avaliação será inquestionável,porque o saber será

provado pelos próprios envolvidos,sendo,a partir daí,qualquer questionamento

fruto de discriminação irracional.Aliás,quem age assim não pode ser responsável

pela educação de ninguém.

6-Hoje os alunos têm dúvidas enormes quanto a escolha da profissão por não

terem um módulo preparatório como sugerido,que abre um leque bem variado

de informações sobre as profissões.Não há,no entanto,o perigo da dúvida

também pelo excesso destas informações?

Há,mas procuramos minimizar esta possibilidade ao criarmos opções da escolha

de apenas 3 profissões ou campos de atuação para serem cursados no último

ano do módulo.Será como uma espécie de prova prática sobre a escolha feita.Se

153

houver arrependimento poderá ser trocada a opção no próprio ano em curso ou

cursado o período outra vez.Neste caso,é melhor atrasar um pouco a

continuidade da vida acadêmica,porém redirecionando o aprendizado para o

destino certo.

7-Por que cursar 3 matérias ligadas a profissões diferentes no último ano do

módulo preparatório,não seria mais produtivo uma só?

Trata-se de uma prevenção,pois é preciso ter certeza de que a escolha de uma

única carreira no módulo formativo estará correta.

Além disso,o módulo preparatório não forma profissionais,trabalhando somente

com informações,visando fornecer ao jovem um juízo de valor sobre a atuação,e

conseqüentemente os desafios e as recompensas daquele campo específico.

8-A nota 8 para alcançar aprovação no módulo formativo não é excessivamente

alta?

Não,talvez esteja até um pouco abaixo do que deveria ser.

Acontece que temos que nos conscientizar de que estaremos formando

profissionais,como médicos,por exemplo,que vão lidar com seres humanos,sendo

em muitos casos,os responsáveis pela vida ou morte de pessoas.

Nesta profissão,como em muitas outras,por exemplo,piloto e mecânico de

avião,não se pode acertar menos que 100%,pois no caso do médico pode

significar a morte de alguém,e nos outros,a morte de muitas pessoas ao mesmo

tempo.

154

Se queremos imprimir seriedade ao país e levar ao pé da letra o culto à

educação,não podemos transigir na severidade das avaliações.Lembro que

mesmo aprovados academicamente,os recém-formados deverão submeter-se à

prova para receberem habilitação para o exercício legal da profissão.

Queremos que a confiança que a população deposita em quem lhe presta serviço

se justifique o máximo possível.

9-A partir do novo modelo os profissionais que terminarem seus cursos,técnico

ou superior,deverão se habilitar através de prova junto ao Ministério do

Trabalho.Haverá também a necessidade de habilitar os profissionais formados

anteriormente ao novo regime?

Os que possuem diploma técnico ou superior não precisam se submeter à

prova,porque o próprio mercado já lhes coloca no lugar que devem estar,através

das avaliações práticas que ocorrem quando se usa os seus préstimos. Deverão,

no entanto,requerer as suas habilitações formais através da apresentação dos

seus diplomas.

A partir daí, sugerimos que as contratações com vínculo empregatício ou em

regime de prestação de serviço se destinem somente para profissionais

legalmente habilitados.

10-O que deverão fazer aqueles com atuação prática em atividades de

graduação técnica,mas que não possuem diplomação formal,que não

conseguirem se habilitar,mesmo tentando várias vezes?

Primeiro, verificar bem se a profissão para a qual tentaram se habilitar é

realmente a melhor opção para as suas vocações e habilidades.

155

Segundo,analisar os seus pontos fracos e que motivaram a reprovação.

Terceiro,procurar um curso onde possam aperfeiçoar as técnicas inerentes aos

seus pontos fracos.

Quarto,refazer o exame,se considerarem que estão melhor preparados do que

estavam quando tentaram o imediatamente anterior.

Se mesmo assim não conseguirem, deverão efetivamente mudar de profissão.

Queremos caçar efetivamente os chamados picaretas,para que a população seja

melhor servida.Quem chegar na quarta tentativa sem êxito,era com certeza um

grande picareta que enganava seus empregadores ou clientes.

11-Este “boom” de educação não poderá acarretar excesso de procura pelos

cursos superiores,em função de uma remuneração melhor,e abandono das

carreiras técnicas?

Claro que existe esta tendência,inclusive hoje,onde anualmente é produzida uma

enorme quantidade de profissionais recém-saídos do 3º grau,muitos deles sem

as qualificações necessárias para o exercício da profissão,acarretando males para

eles,por não conseguirem emprego,e para quem os contrata,muitas das vezes

por engano de avaliação,o que ocorre mais vezes do que se pode imaginar.

No novo modelo,preconizamos a prática de um regime muito mais rígido de

avaliação, tanto durante a vida acadêmica quanto depois dela,em função da

necessidade de habilitação profissional obrigatória.

Assim sendo,querer não significará poder,e quem irá ajustar qualquer

desequilíbrio, próprio do campo das intenções iniciais,será a capacidade de cada

156

um,pois vamos descobrir, com maior probabilidade de acerto,sob que forma de

colaboração profissional as pessoas deverão se apresentar ao mercado pós-

formados,e se a melhor opção for uma carreira que não exija curso superior,o

próprio modelo se encarregará de definir.

12-O critério de provas somente ao final de cada semestre no ensino básico não

será arriscado,pois a aferição se dará sobre uma quantidade enorme de matérias

e haverá somente duas oportunidades para o aluno tentar passar de ano?

Hoje as provas são praticamente mensais,e a matéria de cada uma fica

dispensada das próximas,fazendo com que os alunos estudem quase que

somente para fazer cada prova específica,esquecendo-se depois do que

estudaram.É assim justamente porque não existe comprometimento do aluno

com o aprendizado,mas com a nota e a passagem de ano.Para eles, aprender

mesmo,é secundário.

Com o regime sugerido espero criar este comprometimento,cujos frutos são

indispensáveis para o futuro profissional de cada estudante,bem como para o

país,que dependerá da sua atuação.Quando se estabelece módulos que

espelham o início,o meio e o fim de um projeto,a carreira profissional,está se

consumando a visão de meta e criando o comprometimento.

Quanto à periodicidade das provas é uma questão de bom senso requerer que

ao acumular a matéria de cada semestre o aluno demonstre o quanto tem de

base conceitual sobre cada assunto,o que não seria possível se dividíssemos o

conteúdo da aferição em 6 ou 8 etapas durante o ano,que iriam aferir somente a

mecanicidade das respostas.

157

13-Hoje existem critérios para avaliar as diversas instituições de ensino através

de provas a que se submetem seus alunos.Existe alguma proposta de mudança

no modelo de avaliação?

Qualquer avaliação através da aferição direta de conhecimento é uma boa

fórmula.No entanto,acho que a avaliação das instituições deve ser preventiva,

com a atribuição de notas para fatores que possam ser considerados críticos

para o sucesso da missão.Por exemplo:o exame do corpo docente,que poderá

ser melhor realizada por causa da pré-qualificação que deverão possuir

professores e instrutores;as instalações e equipamentos colocados à disposição

dos alunos;o grau de enquadramento nas normas didáticas do sistema formal de

ensino;o nível de transigência que cada uma pratica para os aspectos

disciplinares e de freqüência;o grau de interação que promove com o mercado;o

tratamento que dispensa aos seus colaboradores no que tange ao pagamento de

salários e recolhimento de encargos;os diferenciais ofertados através de

atividades extra-curriculares.

Fazer realizar uma ou mais provas e daí concluir conceitos genéricos de

qualidade da instituição não me parece a melhor alternativa,até porque há uma

interferência muito forte e pessoal dos alunos,além de fatores importantes que

não são avaliados.

Se para a sugestão apresentada uma instituição for muito bem avaliada, não

deveremos ter dúvida de que cumpre a sua missão da melhor forma,mesmo que

uma checagem via prova não confirme isso.Neste caso, certamente o problema

estará nos alunos,cuja motivação e responsabilidade para aprender devem estar

em níveis mínimos.Isto acontece muito.

158

CAPÍTULO 8

RECUPERAÇÃO SOCIAL DOS APENADOS

Atualmente passamos por um dos períodos mais conturbados da nossa vivência

urbana,agredidos diuturnamente por assaltos,seqüestros e balas perdidas,

principalmente nas capitais,e muito peculiarmente no Rio de Janeiro e em São

Paulo.

Qualquer pessoa bem intencionada sabe que uma das causas é a situação sócio-

econômica do país,vinculada principalmente aos níveis estratosféricas de

desemprego,onde as estatísticas são mais graves justamente nas cidades acima

apontadas.

Uma segunda causa,e talvez a mais difícil de ser extinta,é a indústria que se

formou em torno do crime,através das práticas de corrupção policial e

judicial,jamais vistas como nesta década(2000),fazendo com que parte da

polícia e da justiça ao invés de combater associe-se ao crime.

A terceira causa é a péssima atuação do sistema penitenciário,que não reeduca

ou ressocializa ninguém,e em muitos casos cumpre um papel às avessas,

aumentando a periculosidade dos criminosos enquanto reclusos.

E a quarta grande causa é a má índole de quem pratica crimes.

Se você perguntar às autoridades o que fazer para reverter este

quadro,respondem, como expressão moderna e padrão,a seguinte:investir em

inteligência.

159

Esta resposta me dá a certeza absoluta de que nada mudará.Aliás,se formos

analisar a última década,vamos constatar que o quadro só se agravou:ou alguém

tem estatísticas de recrudescimento da violência de 1990 até hoje?Pelo

contrário,durante os anos 90 ainda se podia ir ao aeroporto do Galeão pela Linha

Vermelha,no Rio de janeiro, com quase 100% de certeza de que nada de ruim

aconteceria durante o trajeto.Hoje o Galeão é um dos destinos mais perigosos.

Sabem por que?Por causa dos tiros que, sem aviso e a qualquer hora do dia ou

da noite, são disparados das favelas existentes ao longo do caminho.A situação é

tão grave,que se transferíssemos um grupo de soldados americanos do Iraque

para fazer ronda na Linha vermelha as chances de morrerem seria maior por

aqui.Alguém duvida?

A “inteligência” tem sim seu papel,mas deve ser acessório e circunscrito a

determinadas situações,principalmente em crimes tipificados como de colarinho

branco,onde vem obtendo resultados animadores.Mas colocá-la como a grande

solução não me parece a melhor avaliação,até pelo fato de representar uma

outra indústria fortemente capitalizada e que precisa da manutenção da violência

para preservar e fortalecer o mercado que adquire seus produtos e serviços.

É óbvio que o volume da violência tem como fator direto a sobreposição de todas

as causas relatadas anteriormente,devendo qualquer plano para reduzi-la

estabelecer ações diretas sobre cada fonte.

Quanto ao desemprego,já tentamos, pelos programas e projetos anteriores,

estabelecer uma nova realidade,criando oportunidades através de várias

alternativas.Acho que se todas forem concretizados se estabelecerá no país algo

único no Mundo:o pleno emprego,ou seja:nenhum brasileiro ficará

desempregado.Na teoria isto é possível pela criação do PIB secundário.

Sobre o segundo aspecto e em relação à corrupção policial,temos que criar

condições que se coloquem de anteparo diante das tentações oferecidas pela

160

criminalidade,como um plano de remuneração e benefícios que compense com

maior atratividade os riscos da profissão.

O valor da remuneração direta das polícias poderia ser revisto,através de

negociação do Estado com os órgãos sindicais dos profissionais da área,a fim de

obter-se um fator de consenso que corrigisse os salários/soldos que são

praticados atualmente.

Quanto aos benefícios,apresento adiante um exemplo do que poderia ser

oferecido,sendo os valores apenas ilustrativos:

-auxílio moradia mínimo de R$400,00

-plano de saúde de mercado,extensivo à família,incluindo tratamento

odontológico e psicológico,mínimo de R$400,00,e aquisição subsidiada de

remédios até R$50,00 mensais

-auxílio alimentação mínimo de R$300,00

-auxílio educação para os filhos até o ensino técnico ou superior, mínimo de

R$200,00 por matrícula em entidade de ensino particular

-seguro de vida vitalício,com indenização mínima de R$100 mil

por morte ou invalidez

-mesmo aposentados ou na reserva,os policiais continuariam a receber,além da

pensão,todos os benefícios da ativa

Não achem que é privilégio:são pessoas,pais de família,filhos,maridos,que

arriscam suas vidas durante os seus expedientes de trabalho,como nenhum

outro trabalhador se submete.

161

Em contrapartida,caso haja qualquer transgressão das regras e/ou desvios de

função,como tortura,extorsão,facilitação de atividade criminosa ou de fuga,por

exemplo,deverá ser aplicada regra geral e sem apelação, que é a expulsão dos

faltosos da corporação,além do enquadramento nas leis previstas para cada

delito.Além disso,diante de fatos que caracterizassem má performance de

ofício,como a omissão de atendimento ou baixa produtividade,estariam sujeitos

a perda de pontos em um sistema próprio de avaliação de desempenho,podendo

ser dispensado aquele que acumular um limite pré-estabelecido de pontos.

Nos casos de conluio com o crime,os maus policiais estarão trocando a certeza e

a garantia de uma assistência quase que completa(salário/soldo dignos;

assistência médica,hospitalar,odontológica e psicológica,subsídio para moradia,

alimentação, educação e remédios;seguro de vida;extensão dos benefícios após

a aposentadoria ou passagem para a reserva) e que representa remuneração

direta e indireta durante os diversos estágios de vida pelos quais passarão,

incluindo esposa ou marido e filhos,por um dinheiro incerto e fugaz,e que

certamente irá causar muita apreensão enquanto durar a sociedade com a

delinqüência e legar dificuldades para as suas famílias quando for desfeita.A

idéia é suscitar uma reflexão mínima diante da possibilidade de desvio de

conduta ,para que uma escolha errada não elimine a possibilidade do policial

usufruir uma vida de classe média com toda a assistência garantida pelo

ESTADO, para que ele e a família subsistam com dignidade.

Como estimo a redução da violência com a adoção das providências sugeridas no

capítulo,os custos da folha de pagamento,que serão altos no início,deverão ser

gradativamente racionalizados, através da reposição de 1 policial para cada 2

que se desligarem, até que o contingente residual se faça condizente com a

relação policial/habitante compatível com um quadro mais ameno de violência.

162

Complementando sobre a atuação policial,acho que deveria ter atitudes mais

proativas,como um plano de ação diário a ser cumprido por turmas operacionais

no trabalho ostensivo de proteção à população.Estas turmas deveriam ser

compostas por 5 membros cada,dificultando ações individuais de corrupção,mas

também reduzindo os riscos nos confrontamentos.

Sugiro 2 operações deste tipo,por exemplo,nas principais capitais do país:

-rondas a pé junto aos meios de transporte coletivo,com a presença diária de

aproximadamente 300 turmas(5 policiais cada) revezando-se ao longo de 24

horas de atuação,entrando nos veículos,sondando os passageiros e saindo

posteriormente para repetir a seqüência em outro veículo,tal qual fazem os

ambulantes que oferecem mercadorias aos passageiros através desta prática de

baldeações sucessivas e ininterruptas

-rondas motorizadas infiltradas no trânsito regular,procurando veículos e

ocupantes suspeitos e verificando a atitude das pessoas que abordam os

motoristas nos sinais de trânsito,com a presença diária de aproximadamente 300

turmas(5 policiais cada) revezando-se ao longo de 24 horas de atuação

Esta mobilização policial, através de um contingente máximo de 3.000 policiais

por cidade que adotasse a rotina sugerida, atuaria na prevenção,que parece ter

sido esquecida,pois veículos e policiais parados em pontos conhecidos da cidade

e blitz fixas em locais onde é possível desviar a rota são ações totalmente

inócuas ou de poucos resultados.Estas novas práticas retribuiriam à delinqüência

um fator importante que usam para nos deixar inseguros o tempo todo:a

surpresa.É preciso repensar e redirecionar o foco policial.

Os custos adicionais envolvidos nestas operações seriam apenas os dos

combustíveis,e com certeza gerando benefícios que determinariam uma relação

totalmente favorável.

163

Sobre a corrupção no campo judicial sugiro que determinadas práticas,como

a concessão de habeas corpus,tenha que ser assinada por pelo menos 2

juízes,fato que irá teoricamente reduzir em 50% as chances de cometimento de

atos de corrupção.

Em relação ao sistema penal, devemos decidir de uma vez por todas:ou os

presos têm mesmo que passar por uma bateria de agruras,como superlotação,

falta de atividade,convivência sem seletividade pelo crime cometido e volta para

a sociedade sem qualquer programa de readaptação ou de emprego,ou devemos

nos preocupar em recuperar socialmente o apenado enquanto estiver sob a

tutela do Estado.

A decisão está entre dois focos:a vingança ou a recuperação.Ninguém pode

duvidar que até aqui foi escolhido o primeiro foco.Se quiserem mantê-lo,

devemos,por uma questão de bom senso e honestidade,mudar a constituição e o

código penal,enfatizando que a única ação proativa do Estado será a guarda e a

tentativa de manter a vida do preso.

Minha sugestão é que se mantenham as regras que falam de recuperação para o

retorno à vida em sociedade e se cumpra efetivamente o escrito.

Em primeiro lugar,acho que a concepção logística das penitenciárias deve ser

mudada para colônias penais agrícolas,onde seria mais viável a instalação de

atividades laborais,como o primeiro e fundamental passo para a dita

recuperação.Não há cristão no Mundo que possa se recuperar embalado pelo

ócio.

A força de trabalho deveria ser carreada principalmente para a agricultura e o

artesanato,pois são atividades que recompensam o autor da ação exatamente

164

com o que mais os apenados precisam :no primeiro caso, a pessoa vai plantar,

dando início a uma nova vida,adubar e irrigar,como atos de preservação desta

vida,e colher,como representação de missão cumprida.No segundo caso,

destinará uma habilidade específica sua para fazer surgir algo inexistente até

então,constituindo um acervo de realizações que demonstrará a sua perfeita

normalidade como ser humano criativo,completamente capaz de produzir e de

oferecer aos outros uma utilidade real, própria e legal.

Estas colônias devem ser instaladas em áreas remotas,e surgirem uma por

estado da federação,com capacidade para abrigar 10 mil detentos cada.A sua

concepção arquitetônica deveria privilegiar muito mais as áreas destinadas ao

trabalho do que a equipamentos antifuga.Os principais obstáculos à fuga

deveriam ser:

- cercas espirais metalizadas em torno do complexo,alinhadas em 4

níveis,criando um labirinto com trânsito obrigatório para entrar e sair,com

guaritas de observação colocadas após o último nível das cercas

- a própria perspectiva de uma vida penal produtiva ,incluindo remuneração

pelo trabalho,alfabetização(acho um absurdo o Estado não alfabetizar

alguém que passou 5,10 ou 20 anos preso,entrando analfabeto e saindo

analfabeto da cadeia),tratamento humano,independente da falta dele em

relação à sua vítima(se quisermos encher a boca para dizer que o país

pratica o “estado pleno de direito”) e a garantia de um programa de

reintrodução na sociedade(sugerimos alguns,como o “jornal de utilidades”

e a criação de uma folha salarial incentivada,abrigando minorias,inclusive

ex-presidiários)

- o regime punitivo para as fugas,que no modelo novo determinaria a

anulação de todo o tempo de pena cumprido até

165

então,e mais ainda, o fugitivo recapturado teria que refazer a paga por

prazo duplicado ao estabelecido na sentença original.Por exemplo,se

alguém estivesse cumprindo 4 anos de reclusão e fugisse quando

completasse 3 anos,ao ser recapturado deveria ser

apenado,automaticamente,pelo mesmo crime,em 8 anos

As penas devem variar de acordo com apenas cinco categorias de delito,que

obviamente deverão ser traduzidas para a linguagem e os ditames das ciências

jurídicas:

-quando houver morte, através de ato intencional,salvo em legítima defesa,

incluindo tanto a prática quanto o mando

-seqüestro,estupro,tortura,tráfico de órgãos e de pessoas

-roubo e estelionato

-tráfico de drogas e de cargas

-cometimento de atitudes violentas contra terceiros,não enquadradas nas

anteriormente listadas,como morte por causa acidental,transgressões ao meio

ambiente e danos causados ao patrimônio público e privado

Se fossem cometidos vários delitos previstos em mais de uma categoria,a pena

deveria ser aplicada conforme o de maior gravidade,cuja graduação é

decrescente na seqüência listada.

166

Como atitude padrão no Brasil,sugiro que a Justiça seja subsidiada durante todo

o tempo,compreendendo desde a fase de julgamento até o efetivo cumprimento

da pena,por um Conselho de Psicólogos,pois são os profissionais que detêm o

mais amplo e específico conhecimento sobre a essência humana. A Justiça,de

per si, não tem preparo técnico para diagnosticar as razões interiores que levam

ao cometimento de crimes,como traumas,rejeições,vinculações a arquétipos,

complexos,frustrações e tantas outras de origem similar.Ao praticar qualquer

crime o indivíduo torna fato na esfera objetiva uma razão subjetiva, cujo

tratamento pertence ao campo das ciências humanas.Além disso, quando se tem

por objetivo recuperar o apenado é preciso em primeiro lugar saber que pessoa

estará entrando no sistema prisional e que outra pessoa deverá sair dele,através

da nova vida penal e da aplicação de terapias específicas que deverão ser

prescritas e executadas pelos psicológicos.Aproveito para lembrar que mais

empregos serão criados com esta nova prática.

Devo chamar a atenção para o fato de que,a partir do modelo proposto,o tempo

de pena para cada caso deve se relacionar ao binômio gravidade do delito

para a sociedade-tempo destinado ao Estado para recuperar o

apenado.Não se trata de estabelecer mais um prazo de vingança,como acho

que acontece nas práticas convencionais.Ao estabelecer as sentenças ,a Justiça

estará ao mesmo tempo determinando ao Estado o prazo que terá para

recuperar o apenado.As penas,com o novo enfoque,deverão variar de 3 meses a

10 anos.

Para as duas primeiras categorias,morte,seqüestro,estupro,tortura,tráfico de

orgãos e de pessoas,claramente enquadráveis como crimes hediondos,sugiro que

os casos de reincidência motivem o cumprimento da pena estabelecida pelo

triplo de prazo.Supondo,por exemplo, que o reincidente tenha cumprido pena de

10 anos,cumprirá esta segunda passagem pelo sistema prisional por exatos 30

anos,não importando,neste caso,um limite menor como prazo de pena

167

máximo,ou seja,os 10 anos convencionados.As regras de reincidência são

prevalentes em relação aos prazos das penas primárias.

A terceira categoria,roubo e estelionato,motivaria reclusão nas colônias pelo

prazo estabelecido nas penas,além da necessidade de devolução do objeto ou

valor do delito,calculado corretamente pela Justiça.Nos casos de crimes mais

graves,mas onde houvesse também o cometimento de roubo,a pena incorporaria

a obrigação da devolução do valor ou objeto roubado.A cada reincidência o

tempo de pena seria duplicado.Não seria possível sair sem a devolução.

A quarta categoria,tráfico de drogas e de carga,implicaria em reclusão nas

colônias por tempo proporcional ao papel do criminoso na cadeia hierárquica da

atividade ou grupo a que pertencesse.Por exemplo,as mulas,que levam

pequenas quantidades de droga de um lugar para outro,poderiam cumprir 1 ano

de reclusão,sendo cada reincidência marcada por uma pena com tempo

duplicado.Já o traficante do atacado poderia cumprir 5 anos,mantido o

dispositivo de aumento de tempo em cada reincidência.

Na última categoria,cometimento de atos violentos,transgressões ao meio

ambiente e danos ao patrimônio,a reclusão deveria ser de até 6 meses,tempo

suficiente para o condenado esfriar a cabeça e/ou repensar seus conceitos sobre

ecologia,sendo o tempo de pena duplicado a cada reincidência.

O que deve ficar bem claro é que existirão prazos mais brandos dos que os

atuais nas condenações primárias,atendendo ao objetivo da recuperação social

dos apenados.No entanto,estamos propondo um regime de normas penais

relativo às reincidências e à recapturação extremamente rigoroso e

progressivamente severo,a partir do momento em que o Estado percebe o

descaso,que é a mensagem passada por quem foge ou reincide,do próprio

apenado em ser recuperado.

168

Existem ainda uma série de casos que hoje constituem crime ou contravenção,

que sugiro requeiram penas fora do regime de reclusão,como por exemplo,o não

pagamento de pensões de família,as ofensas à honra e o desacato à autoridade

(extremamente subjetivo),que deverão ser tratados muito mais como deslizes

sociais do que criminais,até porque as “ditas” vítimas podem valer-se de extremo

oportunismo.A cadeia deve servir somente para aqueles que,por seus atos

revestidos de maldade e violência,precisem ser retirados momentaneamente do

convívio da sociedade.

Quem já estiver recluso no momento da implantação do novo regime irá passar

obrigatoriamente pela avaliação dos psicólogos,através de uma programação,

cuja cronologia dependerá da apuração do tempo residual de pena segundo os

novos critérios de prazo.Este resíduo de tempo não poderá,no entanto, aumentar

o prazo de pena em relação ao tempo previsto na sentença de origem e

proferida ainda no regime anterior.O inverso poderá ocorrer,com a redução para

o limite de 10 anos.Por exemplo,quem tem um tempo residual de 5

anos,somente cumprirá este prazo;quem tiver 11 anos ou mais,terá a pena

comutada para 10 anos.

Quanto aqueles que à época da implantação estiverem com a prisão decretada,

mas ainda soltos,já seriam julgados pelas novas regras.

No capítulo sobre a administração pública local relatamos a sugestão dos tutores

públicos,que deverão ser nomeados também para os encarcerados.

Espero que a má índole que trazem alguns, possa ser minimizada por um país

melhor,com acesso mais justo aos bens econômicos e sociais,torcendo para que

possam de per si modificarem as suas naturezas,como novos escorpiões que não

mais ferram os sapos que se arriscam a ajudá-los na travessia do lago.

169

A partir da introdução de um modelo penal mais aderente a uma lógica

sistêmica,acho que deveríamos estender a análise que estamos fazendo a um

tipo de violência que tem origem na prática clandestina de um grupo de

atividades consideradas ilegais,mas que são sustentadas por um mercado

consumidor real,formado por uma parcela minoritária da sociedade.

São elas:o consumo de drogas,o jogo-do-bicho,os jogos de cassino,a prostituição

e a prática de abortos.

São atividades combatidas o tempo todo pelo poder instituído,mas que,nem por

isso,acabaram ou até mesmo arrefeceram a sua capacidade de funcionamento,

justamente porque os mercados que lhes dão sobrevida ainda existem e se

renovam.Deles, ainda sabemos que emerge uma indústria subjacente de

corrupção, cujos tentáculos se estendem até os poderes legais,a partir dos

desvios de conduta de alguns poucos dos seus partícipes.

Acho que devemos encarar com maturidade e pragmatismo este assunto,a partir

da constatação de que o caminho escolhido, e até justificável, de se combater

diretamente estas práticas,não tem nos levado aos resultados esperados.

Sugiro,como nova estratégia,que passemos a dar um caráter descriminalizador a

estas atividades,tomando-as como não desejáveis,mas toleradas,sob certas

condições, em função de um mercado consumidor originário da própria

sociedade,entendendo-as como atividades paralegais,em caráter provisório,até

que a sociedade e seus representantes legais decidam mais adiante uma posição

formal baseada nos efeitos da descriminalização.

Eu condeno peremptoriamente o uso das drogas,porque alteram a psique e

podem levar à morte,mas não posso evitar que alguns desprezem esta opinião e

se mantenham como usuários motivados pelo flagelo do vício.E assim também

penso sobre as outras atividades.

170

A descriminalização deve ter como principais focos a retração dos mercados

consumidores e o desmantelamento da indústria correlata de corrupção que se

formou.Esta providência deveria vir acompanhada de intensa campanha

publicitária negativa,informando os males que cada usuário poderá contrair ou

submeter-se.Descriminalizar não significaria concordar,mas reconhecer que se

existem e são utilizadas por parte da população,mesmo que somente por uma

minoria,que se tornem visíveis,regulamentadas,tributadas e que gerem recursos

para assistir os incautos que se tornarem suas vítimas.Com a descriminalização,

as estatísticas a respeito de cada atividade seriam tomadas em melhor

termo,quantitativa e qualitativamente,sendo um importante instrumento de

avaliação de perfil.Através das campanhas de conscientização se faria a contra-

propaganda,caracterizando com toda ênfase a nossa rejeição.

A condição paralegal das atividades as submeteria a regras específicas e oficiais

estipuladas pelo ESTADO,que deveriam ser formuladas por equipes

especializadas em cada assunto,tendo sempre,a assessorá-las,a visão de quem

exercia a repressão até então. Entendamos a proposta como se fosse um

remédio amargo,ministrado sob forma dolorida,mas necessário.

Adiante,utilizando a minha visão generalista de administrador,antecipo sugestões

a respeito:

REGRA GERAL

- As atividades seriam tributadas na fonte,através de CONTRIBUIÇÕES

PARAFISCAIS,devendo o valor arrecadado ser totalmente vinculado a um

Fundo de Assistência ao Usuário/Praticante de Atividades Paralegais, a ser

criado paralelamente à descriminalização,e utilizado em tratamentos nos

hospitais públicos,clínicas especializadas e grupos de apoio, e em

campanhas institucionais de contra-propaganda.O Fundo teria caráter

171

recorrente para minimizar a capacidade instalada das atividades,evitando

qualquer expectativa de progressividade na arrecadação

- A contabilidade das atividades paralegais deveria ser escriturada em livros

próprios e separados de outras atividades,incluindo-se neste aspecto o

regime especial de tributação,que estaria desvinculado do SIAP

CONSUMO DE DROGAS

- as vendas deveriam ser efetuadas somente em clínicas especializadas de

tratamento a viciados,tanto por ser um lugar que preservaria um pouco a

privacidade de que o usuário certamente há de requerer,quanto permitiria que

as condições de aplicação e dosagem ocorressem sob os cuidados de

profissionais da área de saúde,além de tornar-se cenário propício para se manter

campanhas de conscientização, em tempo real,sobre os males das drogas.

- o abastecimento das drogas nas clínicas deveria ser feito através do material,a

ser liberado por tipo e quantidade pela Justiça, apreendido pela polícia junto ao

comércio ilegal,ajudando a desmantelar seus nichos,tanto sob o aspecto material

quanto econômico

- a tributação seria de 50% sobre o faturamento

- seria obrigatória a destinação de pelo menos 10% da arrecadação bruta

para as campanhas internas de contra-propaganda

172

JOGO DO BICHO

- somente poderia ser explorado pelas casas lotéricas legalmente estabelecidas

- caberia imposto a ser recolhido na fonte sobre o pagamento de prêmios da

ordem de 30%

- o movimento de apostas,deduzidos os valores dos prêmios pagos,seria

tributado em 30%

JOGOS DE CASSINO E BINGOS

- somente poderiam ser explorados por pessoas jurídicas legalmente habilitadas

- caberia imposto a ser recolhido na fonte sobre o pagamento de prêmios da

ordem de 30%

- o movimento de apostas,deduzidos os valores dos prêmios pagos,seria

tributado em 30%

PROSTITUIÇÃO

- somente poderia ser exercida por pessoas maiores de idade,reunidas sob a

forma de cooperativas,e em locais fechados e licenciados pelas Prefeituras

- caberia obrigatoriamente a fixação do nome das(os) cooperativadas(os) e de

atestados individuais de saúde,renováveis trimestralmente, nos locais

173

licenciados

- o faturamento das cooperativas seria tributado em 25%

- haveria a necessidade de renovação anual da licença das

cooperativas,mediante seus antecedentes e comprovação de recolhimento

da contribuição previdenciária de todas(os) as(os) associadas(os)

- as cooperativas deveriam manter nos locais de funcionamento campanhas de

esclarecimento sobre a AIDS e as doenças sexualmente transmissíveis,incluindo

as formas de prevenção,destinando para tal fim,obrigatoriamente, 10% da

arrecadação bruta

ABORTO

- primeiramente deveria ser tentada a persuasão em audiência na Justiça,com a

assessoria de psicólogos e dos familiares da mulher,para a desistência do ato de

abortar,sugerindo-se,inclusive,em último caso,a tutela da criança por um

orfanato indicado pelo juiz.

- se não lograr êxito a tentativa,encaminhar a mulher para a operação sob os

cuidados sanitários e médicos hábeis,a ser realizado somente em clínicas

autorizadas pelo CRM(Conselho Regional de Medicina),em regime particular ou

pelo Sistema Único de Saúde

- no caso de menor de idade,deveria ser obrigatória a autorização do

responsável legal.

- o faturamento seria tributado em 50%

174

- seria obrigatória a destinação de pelo menos 10% da arrecadação bruta

para as campanhas internas de contra-propaganda

A liberação destas atividades,mesmo em condição provisória e cercada de

cuidados de toda espécie,parece-me decisão de difícil convencimento,mas é

preciso ser prático e estabelecer uma estratégia diferente da simples

repressão,que há tanto tempo vem tendo a chance de provar-se eficaz,sem

contudo obter êxito.Não se trata de ineficácia dos organismos brasileiros,pois no

Mundo todo a situação é igual,mas das contingências sobre as quais as práticas

das atividades se apoiam, capitaneadas pela clandestinidade e pela inserção em

um vasto e escorregadio submundo.Com a descriminalização,pelo menos se

poderá tratar e ajudar os usuários,destinar garantias formais aos trabalhadores

envolvidos e monitorar o tamanho dos mercados consumidores para balizar a

eficácia da contra-propaganda.Acho que estaremos sendo mais inteligentes,

práticos e sistêmicos.Devo,no entanto, deixar bem claro,que minha proposta

sobre o assunto tem o cunho estritamente administrativo,nascida da intenção de

sugerir um modelo de solução teórico para um problema real.

E para encerrar o capítulo, quero falar um pouco sobre o tempo que a Justiça

leva para julgar os processos,não só criminais,crendo ser senso comum o desejo

de reduzi-lo.Gostaria,a respeito,de apresentar algumas sugestões adicionais à

primeira e óbvia providência que é aumentar o número de juízes.

Dentro das minhas poucas experiências como impetrante,verifiquei que o réu, ao

ver iminente a sua derrota,lança mão de subterfúgios que parecem existir

somente para fins procrastinatórios,que são repetidos,embora variando de

objeto,ao longo do induzido tempo de vigência da ação.Entendo que os juízes

nada podem fazer,já que são movimentos legalmente amparados pelos diversos

175

códigos jurídicos.Creio também, que o método escrito de agir da justiça,

formando extensos volumes de argumentos e ilações,ajuda a solidificar a

morosidade sobre a qual falamos.Outro fator que conta muito é que em cada

adiamento da sentença,terceiros diferentes são envolvidos e instados a participar

do processo.E finalmente, dentro do meu diagnóstico,está a má utilização das

jurisprudências,que se melhor utilizadas racionalizariam enormemente o tempo

de julgamento.Para propor soluções para estas questões novamente é preciso

entender a minha participação como administrador.

Começo pelo dispositivo da jurisprudência,que é o uso das sentenças já

proferidas sobre determinado assunto como referência para causas futuras cujo

objeto seja este mesmo assunto.Nada mais sensato do que universalizar

sentenças vinculadas a objetos definidos e iguais,como talvez seja

operacionalizado através do advento da Súmula Vinculante.Entendo,no

entanto,que os objetos não são padronizados fielmente,podendo cada

advogado,para o mesmo objeto,rebuscar o que pleiteia e confundir a

caracterização do assunto na nova ação.O que proponho neste item,é que se crie

um colegiado de juízes para fins de enquadramento de objetos na jurisprudência

firmada,de modo a que se for deferido o enquadramento,a sentença já seja dada

nesta verdadeira pré-instância.

Uma segunda sugestão,refere-se ao método escrito de julgamento,que

proporciona o surgimento de peças que dão inveja a qualquer roteirista ou

escritor,promovendo uma espécie de conversa a três:juiz e 2 partes.Imagine-se

discutindo com dois outros interlocutores sobre um assunto,obrigatoriamente

polêmico,através de breves mensagens,do tipo:isso que você falou eu não

concordo;mas já vi casos iguais;este valor está muito alto;eu não tive

intenção.Quantos anos você levaria para chegar a algo que poderá parecer uma

conclusão?

176

Embora inusitado,acho que se um julgamento judicial no fundo é uma conversa

a três,esta deveria ser verbal, e gravada,para fins de formalização,resultando em

definições imediatas,sem qualquer necessidade de adiamentos ou novas

sessões.Quanto se conseguiria reduzir de tempo e,tenho certeza,de melhores

condições operacionais para os envolvidos e para o próprio juiz?Meu sentimento

é que 1 ano de conversa escrita signifique ½ hora de conversa falada.Este é o

resultado da redução de tempo que estimo.

Para ajudar ainda mais,quando a ação obrigatoriamente envolvesse terceiros,tipo

peritos e contadores,estes já deveriam ser convocados previamente pela justiça

para comparecer a audiência, contribuindo diretamente com sua participação

específica.Seria também uma fonte adicional de geração de emprego,pois

certamente seria preciso aumentar a oferta destes profissionais.

Resumindo:há um litígio,que deverá ser resolvido como na vida resolvemos os

nossos,ou seja,conversando com a boca.

177

PERGUNTAS E RESPOSTAS

1-Por que não a pena de morte?

O cometimento ou o mando de crime de morte é considerado como hediondo,

não podendo,por analogia,ser imputada como pena a própria morte do

criminoso,por mais ódio ,raiva e indignação que possa provocar na opinião

pública.Lembremo-nos do “estado pleno de direito”.Devemos sempre dizer não a

qualquer iniciativa que seja engendrada para matar alguém,não importa o

motivo, nem as justificativas,nem os carrascos.

Esta é uma resposta pessoal e justificável pelo pensamento sistêmico.

2-Alguns dizem que certos roubos são cometidos movidos pelo desespero da

falta de emprego e conseqüentemente da falta de dinheiro para suprir a comida

ou uma necessidade eventual de um remédio.O que dizer?

Pode ser que alguém roube para suprir necessidades como as descritas.O que

não pode,no entanto,é outra pessoa,que nada tem a ver com isso,perder

dinheiro ou patrimônio de forma fortuita.

Nosso modelo prevê um tutor público para cada brasileiro,e se alguém se

encontrar em situação desesperadora, como no exemplo,deverá acionar

imediatamente o seu tutor,que certamente irá mobilizar as estruturas oficiais

para resolver a questão.

Em resumo,se alguém quiser roubar será por prazer,nunca mais por

necessidade.

178

3-Foi sugerido que os detentos cumpram pena em colônias agrícolas,tendo como

mecanismo básico de recuperação o trabalho.E se algum preso se recusar a

trabalhar?

No novo regime,a regra básica será a de redução diária da pena por dia

trabalhado,ou seja,a pena deverá ser amortizada, tal qual fazemos ao quitarmos

uma dívida em dinheiro.Se alguém estiver cumprindo 3 anos de pena,por

exemplo,poderá ficar recluso por,digamos,3 anos e dois meses,sendo o tempo

excedente ao da pena(2 meses) computado como os dias em que o preso não

quis ou não pode trabalhar.

Aliás,a partir do novo modelo penal as pessoas que se sentirem atraídas pela

delinqüência deverão escolher entre duas únicas opções:trabalhar em liberdade

ou trabalhar reclusos,porém,sempre trabalhar para garantir o seu sustento.

4-Os crimes previstos são muito resumidos,apenas 5, em relação aos que

geralmente existem no código penal.Não irá causar confusão na hora dos

enquadramentos?

Não,porque a idéia é sintetizar para melhor qualificar.É quase que passar a

reconhecer os delitos de uma forma didática.Alguém poderá não entender que

crime foi cometido, tendo como referência as 5 categorias de delito que

listamos?

No código atual se procura qualificar o perfil do crime,e por isso uma tipificação

eclética e numerosa.No novo regime,o perfil que irá interessar é o da pessoa

criminosa,devendo cada uma das 5 categorias de crime representar o nível de

gravidade do mal cometido para com a sociedade.

179

5-Pelas regras de reincidência poderá haver,de fato,a implantação da prisão

perpétua no país,isto é certo?

Sim,mas sem que isso possa ser uma regra de direito constante formalmente do

novo regime.

Se acontecer será pela quantidade de reincidências que houver.Aliás,a cada

uma,estará o criminoso atestando a sua incapacidade para recuperar-se,sem que

alguém precise diagnosticar tal atributo,e conseqüentemente,livrando o Estado

de possíveis erros de avaliação.

6-A pena por roubo incluirá a devolução do objeto ou valor roubado.Se o

criminoso já tiver gasto todo o dinheiro ao ser preso,tendo a Justiça levantado

que era uma quantia até módica,mas inalcançável para os familiares do preso

ressarci-la,certamente por disporem de empregos com baixa remuneração, será

justo esta pessoa ficar reclusa pelo resto da vida,tal qual um estelionatário que

pode ter roubado milhões ou um assassino que ceifou vidas?

É o tipo do problema onde não há outra saída,porque não podemos incentivar a

possibilidade de alguém roubar,a quantia que for,cumprir sua pena e depois

sair,como hoje acontece,pronta para usufruir o resultado do seu delito.

Um sistema de penas deve, como ponto de partida,deixar claro as conseqüências

de cada crime.Neste caso,a pessoa em questão já saberá antecipadamente que

destino estará dando a seu futuro.

Creio que a grande maioria dos delitos cometidos no Mundo todo refere-se ao

roubo,sendo também a forma pela qual os delinqüentes iniciam a sua trajetória

criminosa,e por isso a necessidade de uma regra tão drástica,visando servir de

desestímulo para o início de uma carreira que não desejamos para ninguém.

180

7-Ainda sobre roubo,se alguém for preso por roubar milhões e dividi-los com

seus comparsas,restando sob a sua guarda,por exemplo,apenas 20%,não

podendo,portanto,devolver tudo,como ficará a sua situação?

Sem saída,restando-lhe cumprir sua pena com resignação até o fim da vida e

torcendo para o milagre que seria os seus cúmplices se entregarem com o

restante do dinheiro.

8-E se os comparsas em liberdade resolverem roubar a quantia que falta e

entregá-la a um parente do preso para que se livre da prisão sem maiores

problemas,não se instituirá o regime de roubos compensatórios?

Pela cabeça de alguns criminosos passará realmente esta possibilidade.No

regime sugerido,ninguém poderá apresentar para devolução quantias, vultosas

ou não,sem provar a origem,portanto,todo o esforço só irá acarretar a prisão de

mais gente.

9-A quantidade de vagas a serem geradas nas colônias agrícolas será suficiente?

Primeiro vamos alertar que o novo complexo penitenciário,composto por colônias

agrícolas em todos os Estados,será tratado como um projeto específico e com

financiamento equacionado pela redução dos juros originários da dívida interna,

e,portanto, as construções ocorrerão ao mesmo tempo,fazendo surgir de

imediato 270.000 vagas.

Enquanto as construções estiverem em andamento,o Conselho de Psicólogos

deverá analisar o perfil psicológico dos detentos,podendo sugerir à Justiça a

liberdade daqueles que já parecerem recuperados e que,pelas novas regras,não

181

precisariam estar mais sob o regime fechado,liberando gradativamente um bom

número de vagas.

De qualquer forma,se por um período ainda esta nova oferta de vagas for

insuficiente para abrigar toda a demanda,as atuais penitenciárias deverão

continuar a ser utilizadas.Neste caso,no entanto,será obrigatória a adaptação

destes locais para o exercício de atividades laborais.

10-No primeiro capítulo ficou evidente a afirmação de que uma das metas da

solução sistêmica para a violência é a desativação de presídios,mas agora está

sendo sugerido a construção de um por Estado,não é contradição?

Não,porque o que estamos fazendo é migrar todo o sistema para um regime de

colônias agrícolas,o que seria impossível sem as novas construções. Portanto,

estaremos construindo novas unidades para substituir as atuais,mas sem a

intenção de expandir a capacidade global.Pelo contrário,nossa expectativa é

comemorar a cada ano um índice menor de ocupação,fato que a visão linear

deve estranhar a princípio.

11-Os novos prazos de penas sugeridos são extremamente menores do que os

vigentes.Isto não é um retrocesso,pois a própria população clama por mais

rigidez?

Não,porque,como já dissemos,o objetivo é recuperar.Quando se fala em

ressocialização,fica inconcebível prazos de 20 ou 30 anos,que são

utilizados,como também já assinalamos,como um tempo estipulado para se

perpetrar vingança,além de não se mover uma palha sequer para realizar

qualquer tentativa de recuperação.

182

O que se pensou foi atribuir prazos que se compatibilizem com uma espécie de

aprendizado e conscientização sobre valores desprezados no cometimento dos

delitos,além das atividades laborais obrigatórias,da tutela psicológica permanente

e de um leque de possibilidades reais de trabalho pós cumprimento das penas.

No entanto,todos estes argumentos deverão ficar de lado para os casos de

reincidência ou fuga,que precisam estar enquadrados sob uma outra lógica,a de

índole criminosa,e para a qual não devemos transigir,em nome da nossa paz e

tranqüilidade.

12-As colônias serão locais unos de reclusão,mas seria precisa encarcerar

homens,mulheres e menores,todos,inclusive, com periculosidades

diferentes.Como separá-los?

As colônias deverão abrigar homens e mulheres a serem dispostos em módulos

físicos separados,inclusive,segregados pelo tipo de crime cometido.

Quanto aos menores,aqueles de alta periculosidade serão transferidos para as

colônias,devendo cumprir suas penas em módulos específicos também,

porém,sem se misturarem com os adultos,e tendo um regime de horas de

estudo obrigatório,embora sem se inserirem em qualquer regime especial de

prazo de pena pela condição de menores.Os de periculosidade moderada ou

baixa deverão cumprir suas etapas de recuperação nos estabelecimentos atuais

destinados para o mesmo fim.No entanto,haverá também o dispositivo da

obrigatoriedade de horas mínimas de estudo e a introdução de atividades

laborais.

Aliás,nas colônias,os adultos,homens e mulheres,que quiserem voltar ou

continuar a estudar serão também atendidos.Em matéria de educação não

devemos mais transigir sob qualquer alegação ou situação.

183

13- As colônias serão construídas em uma única cidade de cada estado.Por

isso,familiares dos presos que não moram na cidade onde houver colônias

ficarão com muita dificuldade para visitá-los,já que muitos são pessoas humildes

e que não devem dispor de recursos suficientes para bancar viagens a toda

hora.O que fazer?

As visitas serão permitidas somente a cada trimestre e o Estado irá subsidiar as

passagens para 3 pessoas.

Parte destes recursos deverá ser levantada através da venda de excedentes da

produção das colônias.

14-Se um condenado a crime hediondo cumprir pena de 10 anos e na iminência

da sua soltura demonstrar claramente aos psicólogos que ainda não se

recuperou, devido a atitudes de violência e ameaça de vingança sobre a

sociedade,o que fazer para impedir que volte às ruas?

Pergunto o contrário.Se alguém demonstra completa recuperação no último ano

de cumprimento da pena, só para impressionar favoravelmente,mas

que,intimamente,maquina uma vingança real,alguém poderá impedir?

Esta é uma questão difícil de resolver,pois o apenado,na questão

levantada,cumpriu aquilo que a justiça determinou de forma inquestionável.

Sugiro,quando houver desconfiança,que se estabeleça uma rotina de liberdade

vigiada durante uns 6 meses após a soltura,e que a Justiça decrete um regime

especial de pena se houver a reincidência.

184

15-E o pessoal dos Direitos Humanos,vão falar o que sobre o novo regime?

Tenho certeza de que irão concordar com tudo,porque,em síntese,estamos

multiplicando em muitas vezes o grau de humanidade a ser vivenciado pelos

apenados enquanto reclusos.

16-Com o trabalho nas colônias o preso vai receber salário?

Claro que sim,no valor de 1 salário-mínimo mensal,que poderá ser enviado para

a família custear o sustento.

Caso o preso possua uma especialidade e conseguir parceiros empresariais,

poderá negociar também remuneração adicional por eventual trabalho oriundo

desta parceria.Estas habilidades especiais serão divulgadas em site do Ministério

da Justiça para consulta pública.

Este é outro aspecto diferencial do modelo:tentar não interromper uma possível

vida produtiva do apenado,e que provavelmente nada tem a ver com o seu

status provisório de criminoso.

17-Com a descriminalização das atividades paralegais serão interrompidas as

atitudes de repressão?

As atividades paralegais somente poderão acontecer sob condições especiais

estipuladas formalmente, continuando a sofrer repressão quando praticadas fora

das regras oficiais.

185

18-A igreja não imporá críticas severas e contínuas contra a descriminalização

das atividades chamadas de paralegais?

Acho até que sim,mas por razões de fidelidade institucional.Creio que a

sociedade também não gostaria que estas atividades existissem,principalmente o

consumo de drogas e o aborto,mas infelizmente há um mercado consumidor

relativamente significativo.Esta realidade nem a igreja,nem a sociedade e nem as

autoridades que reprimem podem ignorar.Portanto,a sugestão é a de destinar o

máximo de assistência aos usuários,massificar as campanhas negativas e tentar

reduzir o tamanho dos fornecedores clandestinos e ilegais,para chegar ao único

resultado que serve para determinar o sucesso da empreitada,que seria reduzir o

mercado consumidor a níveis quase que imperceptíveis.

Lembro ainda que todo o programa seria financiado pelos próprios recursos

gerados pelas atividades paralegais.

19-Os juízes aceitarão analisar processos através de procedimentos verbais?

Acho que irão preferir,pois passar extensos períodos de tempo tendo que ler

vastíssimos volumes tende a ser desagradável e tedioso para qualquer um.Na

nova prática proposta,o que seria escrito vai estar gravado e acessível para

consulta,da mesma forma.Sob este aspecto não haverá solução de continuidade.

20-Os processos em andamento, quando da implantação do novo modelo, ainda

estarão sob a forma escrita.Como proceder para agilizá-los também?

Através de audiências mais rápidas do que as tradicionais, mas um pouco mais

demoradas do que as dos processos já nascidos sob a nova fórmula,devendo

exigir, vez ou outra, consulta aos documentos processuais escritos.

186

EPÍLOGO

Do esquartejamento de Tiradentes ao impeachment de 92,da extração primária

de pau- Brasil à 7ª economia do Mundo,melhor posição no ranking já alcançada

pelo país,percorremos um longo caminho evolutivo,próprio das nações

emergentes situadas em um contexto onde outras já trazem história milenar.É

como o jovem cheio de ideais e energia,mas que ainda não pôde sobressair

porque lhe falta o preparo definitivo e o reconhecimento do potencial.Suplantar

estas limitações é o que espero como resultado final do que proponho.O Plano

Aguapé é como uma passagem por um processo final de formação e de

aquisição de maturidade complementar,findo o qual,a luz que o Brasil refletirá

tornar-se-á cada vez mais intensa,e que vista por todos,far-se-á orientadora.

Obviamente são necessários programas suplementares,principalmente voltados

para a melhoria qualitativa dos nossos subsistemas institucionais.Procurei,no

entanto,neste momento,focar soluções para os ajustes que o país,na minha

opinião,precisava com maior urgência,e,como falei no início,colocá-lo em outros

trilhos,o que certamente se conseguiria ao implantar o Plano Aguapé na sua

totalidade.Palavra de administrador.

Algumas idéias já se encontram razoavelmente desenvolvidas como plano de

ação,outras estão ainda embrionárias sob este aspecto,sendo necessário

desenvolvê-las a ponto de deixá-las viáveis para serem implantadas.

Tenho a expectativa de suscitar em todos que tenham acesso a este trabalho

reflexão a respeito dos problemas apontados e das soluções sugeridas.Melhor,no

entanto,será,se além da reflexão eu conseguir a conscientização de que somente

com instrumentos deste tipo é que poderemos caminhar,finalmente, rumo a um

país melhor.Não adianta tentar mais os mecanismos convencionais,próprios da

187

visão linear,por mais que os atuais praticantes argumentem e resistam,porque

eram válidos para outras épocas e situações.Espero,para estes fins,ser

convidado para ministrar palestras.

Muito melhor ainda,se além da reflexão e da conscientização as idéias puderem

ser materializadas.Sugiro,neste sentido,que os programas e projetos passem por

uma etapa de experimentação,criando-se um piloto,aplicável em cidades de

pequeno porte do país,para que ajustes e talvez idéias correlatas possam ser

agregadas,porque a ninguém individualmente pertence o privilégio da

propriedade da verdade.Espero fazer parte das equipes que poderão

implantar e operar o Plano,e,quem sabe,aperfeiçoá-lo.

Sobre novas idéias devo reconhecer que o país está repleto de gente que as

tem,e que precisam ser explicitadas para que se tornem públicas e possam ser

executadas.Acho que estes autores,por enquanto anônimos, deveriam tentar

divulgá-las,tendo já o meu total apoio e incentivo,até como forma de me

solidarizar com meus pares.Além disso, existem também projetos particulares

que já estão em curso,abrangendo de forma eclética os diversos campos da vida

ativa do país e que podem ser multiplicados para outras regiões.Para

aproveitarmos tantas idéias, úteis e oportunas,que habitam o cotidiano oculto da

população,sugiro que o governo mantenha um canal aberto formal para

conhecê-las e aplicá-las,já que ninguém pode ser tão ingênuo e/ou prepotente

ao ponto de achar que uns poucos que representam a população e outros tantos

que administram entes públicos possam ter todas as idéias e soluções

necessárias ao país.

Reconheçamos,porém,todos os esforços dos que tiveram a missão de conduzir

os destinos do país até aqui,muito embora os resultados alcançados não nos

pareçam muito bons.Insisto em que o maior empecilho é a prática da visão

linear,já saturada,envelhecida e entrópica,mas ainda dominante.Este é um forte

argumento para termos passado décadas sem avanços dignos de comemoração,

188

mesmo com todo o país tentando puxar o cabo-de-guerra para o melhor

lado.Acreditem que a nossa sorte só começará a mudar com a troca para o

modelo sistêmico,que norteou a formulação das idéias contidas no livro.

Sinceramente,tenho a impressão que a sociedade brasileira já viveu momentos,

em passado recente, onde os clamores por mudanças estavam mais à flor da

pele.Hoje me passa a sensação de que encontra-se bem mais acomodada e

conformada com o presente que tem,idealizando um futuro sem a menor

criatividade e brilho.Não concordo com esta posição,pois o Brasil, como já

destaquei,é em muitos aspectos uma singularidade no Mundo,ou seja,creio que

nenhum outro país poderá construir futuro tão pródigo e próspero pelo potencial

que tem.Levantemos o nível das nossas esperanças,porque em nenhum

momento pintei,no livro, um quadro brasileiro futuro sustentado por perspectivas

que não fossem viáveis.

Espero poder contar com parte significativa da sociedade a apoiar a implantação

do Plano Aguapé,porque de nada adiantará as idéias se eternizarem em uma

obra literária sem a devida decorrência no campo prático.

Mais do que transmitir minhas idéias,escrever este livro foi uma válvula de

escape ante minha sina impregnada de sentimentos de mudança.Divulgar estes

sentimentos e idéias publicamente assemelha-se a espalhar sementes pelos

campos da perseverança humana,tal qual o agricultor ávido de colheita

farta.Tenho a esperança vívida de que vão germinar e dar frutos imediatos,mas

se o meu desejo precipitar-se na ansiedade do curto prazo,espero que o tempo

cumpra seu papel na maturação da semeadura,e que nossos filhos,netos e

sucessores se fartem de colher.

FIM