placa oclusal miorrelaxante

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49 R. Un. Alfenas, Alfenas, 4:49-53, 1998 PLACAS MIORRELAXANTES:CONFECÇÃO E AJUSTE NO LABORATÓRIO ADRIANA SUZART DE PÀDUA (*) CARLOS ROBERTO DE ALMEIDA (*) EVANDRO DOS SANTOS (**) JOÃO MARCOS PEREIRA ALVES (**) MARCUS BUENO OLIVEIRA (**) PATRÍCIA KIYOE KAKIDA (**) RESUMO As desordens temporomandibulares, mal que atinge grande parte da população, estão relacionadas com fatores oclusais, distúrbios funcionais do sistema mastigatório, bem como o estresse. Essa patologia tem como principal terapêutica a instalação de placas miorrelaxantes. O objetivo deste trabalho foi discutir as vantagens e desvantagens das placas miorrelaxantes prensadas e apresentar suas fases de confecção visando a agilidade dos trabalhos laboratoriais. A montagem do modelo superior pela técnica do modelo dividido agiliza os procedimentos laboratoriais. A utilização da pasta pesada da silicona de moldagem proporciona maior rapidez para confecção da muralha. A possibilidade de voltar o modelo ao articulador após a acrilização da placa para confirmar os contatos obtidos, diminui o tempo clínico do dentista e tempo de cadeira do paciente. DESCRITORES: Desordens temporomandibulares; placas miorrelaxantes. SUMMARY OCCLUSALSPLINT:CONFECTION ARE ADJUSTMENT IN THE LABORATORY Temporomandibular disorders reach an expressive portion of population and are related to three important causes: Occlusal factors, masticatory system functional disturbances and stress. The placing of installing occlusalsplint is the main treatment for such a disease. This text intends to discuss the gains and disadvantages off cured occlusalsplint and to introduce their preparing stages, in order speed up laboratory proceedings. The use of the weighed paste of the molding silicona provides larger speed for making of the wall. The possibility to return the model to the articulador after the acrilização of the plate to confirm the obtained contacts, decreases the dentist's clinical time and time of the patient's chair. KEY WORDS: Temporomandibular disorders, occlusalsplint. *Professores do Instituto de Odontologia da UNIFENAS, C.P. 23, CCEP. 37130-000, Alfenas-MG **Acadêmicos do Curso Superior de Prótese Odontológica da UNIFENAS. 1. INTRODUÇÃO As desordens temporomandibulares (D.T.M.s.) são cada vez mais freqüentes hoje, devido ao estresse da vida moderna, combinado ao acentuado grau de maloclusão decorrente da evolução do ser humano, que ingere uma dieta mais pastosa e que não promove o desenvolvimento adequado do Sistema Estomatognático. Vários tratamentos vêm sendo experimentados na tentativa de sanar ou mesmo minimizar os sintomas de dor de cabeça, dor de ouvido, dificuldade de abrir a boca, cansaço muscular, entre outros. Estes tratamentos são aplicados ao fator que é visto como o principal responsável pela desordem que é o fator oclusal. No entanto, sempre que o paciente não for visto de maneira holística, o problema será resolvido parcialmente, uma vez que a desordem temporomandibular se caracteriza principalmente por ser multifatorial. O tratamento com uso de placas oclusais miorrelaxantes permite que o paciente seja tratado dessa forma, uma vez que não causa alterações irreversíveis e permite que o paciente receba o tratamento de outras áreas envolvidas na terapêutica das desordens, como por exemplo, a fisioterapia, a fonoaudiologia e a psicanálise. As placas miorrelaxantes podem ser confeccionadas com material resistente, resina acrílica ativada termo ou quimicamente, ou com material resiliente, silicone. Todas elas tentam diminuir a hiperatividade muscular, estabilizar a mandíbula simulando condições ideais de oclusão, descomprimir a articu1ação temporomandibular (A.T.M.), funcionando ainda muitas vezes como diagnóstico diferencial no momento de traçar a terapêutica mais acertada para cada caso. As placas miorrelaxantes confeccionadas com resina ativada quimicamente, segundo Okeson (1992 ), tem como principal vantagem a possibilidade de serem instaladas na mesma consulta em que se realizou a moldagem, tendo assim um caráter emergencial importante. Contudo, esta placa tem tempo de vida limitado, uma vez que o acrílico ativado

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Page 1: placa oclusal miorrelaxante

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R. Un. Alfenas, Alfenas, 4:49-53, 1998

PLACAS MIORRELAXANTES:CONFECÇÃO E AJUSTE NO LABORATÓRIO

ADRIANA SUZART DE PÀDUA(*)

CARLOS ROBERTO DE ALMEIDA(*)

EVANDRO DOS SANTOS(**)

JOÃO MARCOS PEREIRA ALVES(**)

MARCUS BUENO OLIVEIRA(**)

PATRÍCIA KIYOE KAKIDA (**)

RESUMO

As desordens temporomandibulares, mal que atinge grande parte da população, estão relacionadas com fatoresoclusais, distúrbios funcionais do sistema mastigatório, bem como o estresse. Essa patologia tem como principal terapêuticaa instalação de placas miorrelaxantes. O objetivo deste trabalho foi discutir as vantagens e desvantagens das placas miorrelaxantesprensadas e apresentar suas fases de confecção visando a agilidade dos trabalhos laboratoriais. A montagem do modelosuperior pela técnica do modelo dividido agiliza os procedimentos laboratoriais. A utilização da pasta pesada da silicona demoldagem proporciona maior rapidez para confecção da muralha. A possibilidade de voltar o modelo ao articulador após aacrilização da placa para confirmar os contatos obtidos, diminui o tempo clínico do dentista e tempo de cadeira do paciente.

DESCRITORES: Desordens temporomandibulares; placas miorrelaxantes.

SUMMARY

OCCLUSALSPLINT:CONFECTION ARE ADJUSTMENT IN THE LABORATORY

Temporomandibular disorders reach an expressive portion of population and are related to three important causes:Occlusal factors, masticatory system functional disturbances and stress. The placing of installing occlusalsplint is the maintreatment for such a disease. This text intends to discuss the gains and disadvantages off cured occlusalsplint and to introducetheir preparing stages, in order speed up laboratory proceedings. The use of the weighed paste of the molding siliconaprovides larger speed for making of the wall. The possibility to return the model to the articulador after the acrilização of theplate to confirm the obtained contacts, decreases the dentist's clinical time and time of the patient's chair.

KEY WORDS: Temporomandibular disorders, occlusalsplint.

*Professores do Instituto de Odontologia da UNIFENAS, C.P. 23, CCEP. 37130-000, Alfenas-MG**Acadêmicos do Curso Superior de Prótese Odontológica da UNIFENAS.

1. INTRODUÇÃO

As desordens temporomandibulares(D.T.M.s.) são cada vez mais freqüentes hoje, devidoao estresse da vida moderna, combinado ao acentuadograu de maloclusão decorrente da evolução do serhumano, que ingere uma dieta mais pastosa e que nãopromove o desenvolvimento adequado do SistemaEstomatognático.

Vários tratamentos vêm sendoexperimentados na tentativa de sanar ou mesmominimizar os sintomas de dor de cabeça, dor deouvido, dificuldade de abrir a boca, cansaço muscular,entre outros. Estes tratamentos são aplicados ao fatorque é visto como o principal responsável peladesordem que é o fator oclusal. No entanto, sempreque o paciente não for visto de maneira holística, oproblema será resolvido parcialmente, uma vez que adesordem temporomandibular se caracterizaprincipalmente por ser multifatorial.

O tratamento com uso de placas oclusaismiorrelaxantes permite que o paciente seja tratado

dessa forma, uma vez que não causa alteraçõesirreversíveis e permite que o paciente receba otratamento de outras áreas envolvidas na terapêuticadas desordens, como por exemplo, a fisioterapia, afonoaudiologia e a psicanálise.

As placas miorrelaxantes podem serconfeccionadas com material resistente, resina acrílicaativada termo ou quimicamente, ou com materialresiliente, silicone. Todas elas tentam diminuir ahiperatividade muscular, estabilizar a mandíbulasimulando condições ideais de oclusão, descomprimira articu1ação temporomandibular (A.T.M.),funcionando ainda muitas vezes como diagnósticodiferencial no momento de traçar a terapêutica maisacertada para cada caso.

As placas miorrelaxantes confeccionadas comresina ativada quimicamente, segundo Okeson(1992 ), tem como principal vantagem a possibilidadede serem instaladas na mesma consulta em que serealizou a moldagem, tendo assim um caráteremergencial importante. Contudo, esta placa temtempo de vida limitado, uma vez que o acrílico ativado

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quimicamente é menos resistente e sofre ação dasaliva, resultando em uma superfície porosa, propensaa gerar gosto e cheiro desagradáveis, alem decoloração modificada.

As placas miorrelaxantes confeccionadas comsilicone, representam uma superfície macia sobre aqual o paciente tende a morder e, ao invés de promoveruma diminuição da hiperatividade muscular, esta sefaz aumentada. Para Henriques (1992 ) que essasplacas devem ser contra-indicadas para pacientesportadores de sintomatologia muscular dolorosa, jáque os resultados da terapia deixam a desejar, opiniãocompartilhada com os autores deste trabalho.

As placas miorrelaxantes confeccionadas comresina acrílica ativada termicamente, apresentam asmesmas indicações e resultados quando comparadascom as placas confeccionadas com resina ativadaquimicamente, com a vantagem de terem um carátermais definitivo, uma vez que o processamento domaterial garante maior resistência e estabilidadeevitando a modificação da cor e o aparecimento degosto e cheiro desagradáveis. O inconveniente destaplaca está na técnica de confecção, que se faz demaneira artesanal e demorada, pois necessita de umafase laboratorial.

O objetivo deste trabalho é apresentar umaforma rápida e precisa da confecção da placamiorrelaxante em laboratório, visando o mínimo deajuste por parte do cirurgião dentista e agilizando ostrabalhos laboratoriais. Além de fazer algumasconsiderações a respeito de outras técnicas e materiaisde confecção e seus resultados.

2.MATERIAL E MÉTODO

2.1.TÉCNICA DE CONFECÇÃO.

A seqüência a seguir, descreve a confecçãode uma placa miorrelaxante prensada, onde não hánecessidade de duplicação do modelo de trabalho,como preconizam Oliveira e Arcuri (1995).

No laboratório, com os modelos superior einferior do paciente em mãos, removam-se asretenções de suas bases. Confeccionou-se guias deorientação em forma de V nas bordas laterais, anteriore posterior do modelo superior, aplicou-se vaselina epassou-se fita crepe em suas bordas como observadona Figura 1.

Figura 1: Dicagem do modelo e guias de orientação.

O modelo superior foi montado emarticulador semi-ajustável com o auxílio do arco facialfornecido pelo dentista e o modelo inferior foimontado com o auxílio de um registro da relaçãocêntrica em cera do paciente, este também fornecidopelo dentista.

Com um lápis delimitou-se no modelosuperior, a área a ser ocupada pela placa: extensãovestibular máxima de 2 mm, 10 a 15 mm da bordagengival dos dentes por palatino e 2 mmposteriormente ao último dente.

Uma lâmina de cera 7 dobrada ao meio foiplastificada, dando-se o formato de ferradura, eacomodada sobre a área demarcada previamente. Oarticulador foi então fechado promovendo a edentaçãona cera para posterior escultura da placa. O excessode cera foi removido com uma lecron, deixandoapenas o fundo das cavidades formadas pelas cúspidesdos dentes inferiores.

Após a escultura da placa, removeu-se a fitacrepe, que segurava o modelo superior e procedeu-sea inclusão do mesmo de maneira convencional. Porémno lugar do gesso pedra usado na confecção da boneca,utilizou-se a pasta pesada da silicona de moldagem.O desceramento e a prensagem da resina tambémforam feitos de maneira convencional. Decorrido as3 horas de polimerização, a mufla foi aberta e omodelo removido.

O modelo superior foi novamente colocadono articulador e os contatos conseguidos no padrãode cera foram checados. Nos locais da placa onde nãose comprovou os contatos através do carbono,procedeu-se o ajuste da mesma com uma broca freza,até serem constatados contatos em todos os dentesem relação cêntrica e desoclusão dos mesmos pelaguia canina nos movimentos excursivos.

Após a checagem dos contatos oclusais,executou-se o polimento final com cuidado de não seremover os mesmos.

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3.RESULTADOS E DISCUSSÃO.

O arco facial utilizado na montagem domodelo superior teve por função localizarcorretamente o eixo de rotação do paciente para que aplaca promovesse estabilização adequada damandíbula, juntamente com a montagem do modeloinferior em relação cêntrica, como recomendaRamijord e Ash (1994) (Figuras 2 e 3).

A finalidade das extensões vestibulares de 2mm, palatina de 10 a 15 mm e posterior de 2 mm, foide promover estabilidade e resistência, sem contudocausar desconforto ao paciente. As bordas da placaforam biseladas pelo mesmo fim.

A lâmina de cera 7 dobrada ao meiopromoveu um levantamento mínimo da dimensãovertical, dando condições para que as marcas dascúspides inferiores ficassem gravadas na mesma paraposterior escultura (Figura 4).

Figura 3. Registro oclusal em RC.

Figura 2. Modelo superior montado com arco facial

Figura 4. Marcas das cúspides inferiores na cera.

Figura 5. Remoção do excesso de cera com a Lecron

Com uma lecron, removeu-se todo o excessode cera, preservando apenas o fundo das cavidadesfeitas pelas cúspides, pois nessa área e que os dentesinferiores devem manter contato com a placa(Figura 5).

PLACAS MIORRELAXANTES: CONFECÇÃO E AJUSTE NO LABORATÓRIO

Após a escultura da placa, sua superfícieapresentou-se plana, com no máximo 10 mm deextensão vestibulo-palatina, com pelo menos umacúspide vestibular de cada dente inferior tocando suasuperfície e com angulações de 450 na região decaninos, que promoverão a desoclusão dos dentesposteriores durante a protrusão e lateralidade, comopreconizou Dawson (1993) e como mostra aFigura 6. Okeson (1992 ) afirma que este tipo de guiaé a que causa menor hiperatividade muscular, já quequando somente o canino faz parte do movimentolátero-protrusivo, apenas o músculo temporal estáativo.

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Figura 6. Confecção das guias caninas.

Concluída a escultura, a fita crepe foi removidae o modelo foi levado para a mufla para ser incluído(Figura 7). É importante notar que em nenhummomento o padrão de cera foi removido do modelocomo recomenda Oliveira e Arcuri (1995 ), já que talprocedimento poderia causar alterações no padrão eintroduzir distorções após a acrilização da placa.

Figura 7. Inclusão do modelo na mufla.

O modelo foi incluído na mufla de maneiraconvencional, modificando-se apenas o materialutilizado para a fabricação da muralha. Optou-se pelautilização da pasta pesada da silicona para moldagem,porque esta é bem mais fácil de ser removida durantea demuflagem da peça, deixando-a mais limpa,diminuindo os resíduos(Figura 8).

A resina foi polimerizada durante 3 horas,conforme orientação do fabricante. Após oresfriamento da mufla, esta foi aberta e executou-se ademuflagem do modelo.

O modelo juntamente com a placa foireposicionado no articulador com o auxilio das guiasde orientação confeccionadas pela técnica do modelodividido, muito usada na confecção de próteses totais.Dessa forma, pôde-se confirmar os contatos emrelação cêntrica em todos os dentes e a efetividadedas guias caninas na desoclusão dos dentes posteriorestanto nos movimentos de trabalho e balanceio como

no de protrusão (Figuras 9 ,10 e 11).

Figura 8. Muralha de silicone

Figura 9.Contatos em RC confirmados.

Figura 10. Lado de Trabalho

Figura 11. Lado de Balanceio.

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Após o ajuste, a placa foi então removida domodelo e polida de maneira convencional, tomando-se cuidado para que os contatos obtidos não fossemremovidos (Figura 12).

Figura 12. Polimento final da placa miorrelaxante.

4. CONCLUSÃO

A montagem do modelo superior pela técnicado modelo dividido, agiliza os procedimentoslaboratoriais.

A utilização da pasta pesada da silicona demoldagem proporciona maior rapidez para confecçãoda muralha.

A possibilidade de voltar o modelo aoarticulador após a acrilização da placa para confirmaros contatos obtidos, diminui o tempo clínico dodentista e tempo de cadeira do paciente.

5.REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS.

ASH, P.; RAMFJORD, V. - Oclusão. Rio de Janeiro:Guanabara/Koogan. 1994. p.197-203.

DAWSON P. E. Avaliação Diagnóstico e Tratamentodos Problemas Oclusais. São Paulo: ArtesMédicas. l993. p.199-216.

HENRIQUES S. E. F. Efeitos de Placas Oclusais TotaisRigidas e Resilientes Sobre a Atividade MuscularNoturna de Pacientes com DiagnósticoConfirmado de Parafimção. Arquivos do Centrode Estudos do Curso de Odontologia, BeloHorizonte, v.29, n. l, p.35-40, jan./jun., 1992.

OKESON J. P. Fundamentos de Oclusão e DesordensTemporomandibulares. São Paulo: ArtesMédicas, 1992. p.134-135, 322 - 332

OLIVEIRA W.; ARCURI H. Placas Oclusais deRelaxamento: Confecção e Ajuste. Revista daAPCD, v.49, n.5, p.358-362, set./out., 1995.

PLACAS MIORRELAXANTES: CONFECÇÃO E AJUSTE NO LABORATÓRIO