pital da república jornal do - ministério da saúde · 2013-09-06 · reportagem e redação...

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Tuberculose: “O Descalabro Consentido” Uma doença que atormentou a humanidade no começo do século, matando poetas e artistas famo- sos. Aparentemente vencida pela ciência, hoje renasce como um pesadelo moderno. É certo que já foi vencida a travessia para o tratamento e a cura, mas surpreendentemente a doença mata 1 brasileiro a cada 90 minutos. Essa situação foi descrita como “O Descalabro Consentido”, pelo Coordenador Nacional de Pneumologia Sanitária............................................................Página 08 Jornal do Jornal do Conselho Nacional de Saúde Conselho Nacional de Saúde O Mercado de planos privado de saúde não pode ser selvagem Os 40 milhões de consumidores de planos e seguros de saúde tem sido as vítimas do atual mercado privado, que sempre funcionou livre, sem regras e leis claras. O Ministério da Saúde entra nessa arena, com a vontade de participar da definição de novas regras do jogo. O Novo Diretor do Departamento de Saúde Suplementar do Ministério da Saúde, João Luis Barroca, garante a defesa dos consumidores, com uma regulamentação claras dos seus direitos e deveres......Páginas 06 e 07 Política de Medicamentos: Novas Perspectivas O Conselho Nacional de Saúde aponta a política dos medicamentos genéricos como instrumento seguro e eficaz para combater os problemas enfrentados nessa área. Em suas diretrizes, encon- tram-se armas eficazes contra a falsificação de remédios e a grave exclusão social no consumo e no acesso aos medicamentos essenciais.............................................................................Página 04 Organizações Sociais inconstitucionalidade na lei de privatização da saúde pública .........................................Página 03 Financiamento da Saúde por uma fonte de financiamento estável e suficiente para a saúde ........................................Página 05 Mobilização 2 mil conselheiros mobilizam a ca- pital da República .........................................Página 10 Ano I n° 1 Setembro/Outubro de 1998

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Page 1: pital da República Jornal do - Ministério da Saúde · 2013-09-06 · Reportagem e Redação Fernando Cartaxo Cristiana Rodrigues (colaboradora) Jornalista Responsável Sônia Rocha

Setembro/Outubro de 1998

Conselho Nacional de Saúde

Tuberculose: “O Descalabro Consentido”Uma doença que atormentou a humanidade no começo do século, matando poetas e artistas famo-sos. Aparentemente vencida pela ciência, hoje renasce como um pesadelo moderno. É certo que jáfoi vencida a travessia para o tratamento e a cura, mas surpreendentemente a doença mata 1brasileiro a cada 90 minutos. Essa situação foi descrita como “O Descalabro Consentido”, peloCoordenador Nacional de Pneumologia Sanitária............................................................Página 08

Jornal doJornal doConselho Nacional de SaúdeConselho Nacional de Saúde

O Mercado de planos privado de saúdenão pode ser selvagemOs 40 milhões de consumidores de planos e seguros de saúde tem sido as vítimas do atual mercadoprivado, que sempre funcionou livre, sem regras e leis claras. O Ministério da Saúde entra nessaarena, com a vontade de participar da definição de novas regras do jogo. O Novo Diretor doDepartamento de Saúde Suplementar do Ministério da Saúde, João Luis Barroca, garante a defesados consumidores, com uma regulamentação claras dos seus direitos e deveres......Páginas 06 e 07

Política de Medicamentos: Novas PerspectivasO Conselho Nacional de Saúde aponta a política dos medicamentos genéricos como instrumentoseguro e eficaz para combater os problemas enfrentados nessa área. Em suas diretrizes, encon-tram-se armas eficazes contra a falsificação de remédios e a grave exclusão social no consumo e noacesso aos medicamentos essenciais.............................................................................Página 04

Organizações Sociaisinconstitucionalidade na lei de

privatização da saúde pública.........................................Página 03

Financiamento da Saúdepor uma fonte de financiamento

estável e suficiente para a saúde........................................Página 05

Mobilização2 mil conselheiros mobilizam a ca-

pital da República.........................................Página 10

Ano I n° 1 Setembro/Outubro de 1998

Page 2: pital da República Jornal do - Ministério da Saúde · 2013-09-06 · Reportagem e Redação Fernando Cartaxo Cristiana Rodrigues (colaboradora) Jornalista Responsável Sônia Rocha

Setembro/Outubro de 1998

Conselho Nacional de Saúde

Expediente

EditorialEditorial

0202

Sistema de Cadastro de Conselheiros e Conselhos de SaúdeSistema de Cadastro de Conselheiros e Conselhos de SaúdePreencher e enviar para o Conselho Nacional de Saúde - Endereço: Esplanada dos Ministérios, Bloco G - Anexo - Ala B,

1° Andar, Sala 128. CEP: 70058-900. Fax.: (061) 315 2414 ou 315 2472

Jornal do Conselho Nacional de Saúde é umapublicação bimestral do Conselho Nacional de Saúde.

Presidente do Conselho Nacional de SaúdeMinistro de Estado da Saúde José Serra

Conselho EditorialElisabeth Costa - Comissão de Comunicação

e Saúde do CNSMário Scheffer - Plenário do Conselho

Nacional de SaúdeNélson Rodrigues dos Santos - Coordenador

Geral da Secretaria Executiva/CNSSolón Magalhães - Comissão de Coordenação

Geral do CNS

Coordenação EditorialFernando Cartaxo - Assessoria de Comunicação

Social do CNS

Reportagem e RedaçãoFernando Cartaxo

Cristiana Rodrigues (colaboradora)

Jornalista ResponsávelSônia Rocha

DRT-RJ 18.782

FotosNehil Hamilton

Gustavo AlexandreLucas Clavijo Erazo

Editoração eProjeto Gráfico

Ars venturaArs venturaArs venturaArs venturaArs venturaImagens & ProduçõesImagens & ProduçõesImagens & ProduçõesImagens & ProduçõesImagens & Produções

www.arsventura.com.br(061) 328 6404

ImpressãoAthalaia Gráfica e Editora Ltda.

Conselho Nacional de SaúdeEsplanada dos Ministérios – Bloco “G”

Anexo – Ala B – 1º AndarSalas 128 a 147 – CEP 70 058-900

Brasília-DFFones: (061) 2256672 – 226 8803

315 2150 – 315 2151Fax: (061) 315 2414 e 315 2472

e-mails: [email protected] e [email protected]://conselho.saude.gov.br

As matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores.

Tiragem: 8.000 exemplares

Este primeiro número de Jornal do Con-selho Nacional de Saúde marca o início de suacomunicação pública escrita, cujos conteúdos eforma irão se ajustando às suas finalidades e ca-racterísticas, novamente fazendo caminho ao ca-minhar. Não nasce pronto, mas marca seu nasci-mento ao destacar o lema do II Encontro Nacionalde Conselheiros de Saúde em 2,3 e 4/julho/1998:“Efetivando o Controle Social”.

Nas experiências de Controle Social vi-vidas pelos Conselhos de Saúde até o presentemomento, o que deve ser controlado? Os gover-nos municipais, estaduais e federal, certamente.As empresas privadas de Saúde? Os hospitais eambulatórios públicos e privados? Os serviços devigilância sanitária e vigilância epidemiológica? Arede de centros de saúde? Os laboratórios e clíni-cas privadas?

O Controle social deve ser efetivado emduas direções apontadas pela Lei 8142/90: formu-lando estratégias e fiscalizando a execução daspolíticas. Nas experiências vividas pelos Conse-lhos e Conselheiros, quais as estratégias que fo-ram bem formuladas e bem sucedidas a favor dapopulação e do SUS? E quais as fiscalizaçõesrealizadas e bem sucedidas? Que avanços e queimpedimentos vem acontecendo ao controle soci-al através dos Conselhos de Saúde? Quais as pri-oridades e direções de avanços que transmitemestímulos, garra e otimismo, mas também quaisas confusões e desvios que devem ser evitados?

Um outro ângulo para se encarar o pa-pel e as experiências dos Conselhos de Saúde, éa clareza de quais são os objetos do ControleSocial: a gestão e o financiamento dos serviçosde saúde, no momento, talvez sejam os mais im-portantes. No entanto, há questões políticas comoa da alimentação e nutrição, saneamento, saúdedo trabalhador, saúde da mulher e várias outras.Para isso tudo, não só os Gestores do Governo,mas também as Entidades da sociedade organi-zada, devem ser também objeto de controle pelosConselhos de Saúde?

Com relação à gestão dos serviços desaúde, é sempre oportuno lembrar que sob a com-petência gestão encontram-se as atividades de pla-nejamento, orçamentação, normatização, progra-mação, direção, execução, avaliação e controle.

Mesmo nas gestões mais democráticas eparticipativas, estas atividades são típicas de ges-tão. A competência controle social através dosconselhos de saúde deve exercer de alguma ma-neira essas atividades? Ou deve apenas conhecê-las e acompanhá-las o mais de perto possível parapoder controlá-las? Cabe aos Conselhos planejare orçamentar, ou conhecer, discutir e aprovar oplano, o orçamento e norma básica da gestão?

Um outro ângulo ainda para se encararo papel dos Conselhos e Conselheiros, é a capa-cidade de cada conselheiro, representando enti-dades da sociedade, categorias e governo, de con-seguir articular-se com os demais conselheiros, econstruir consensos e resoluções a favor da popu-lação e do SUS, o que exige a clareza de nãocolocar os conflitos de interesses corporativistasacima dos interesses do conjunto da população.

Por final, cabe lembrar que aParticipação da Comunidade é a terceira diretrizdo SUS, consagrada na Constituição Federal, apósas duas primeiras: Descentralização eIntegralidade. Assim não podemos deixar de nospreocupar de como os Conselhos e Conselheirosentendem a Descentralização e a Integralidade. Ecomo aplicam esse entendimento no seu exercíciorotineiro de Controle Social da Gestão dos Serviçosde Saúde?

Da mesma maneira nos preocupamoscom referência aos princípios do SUS,consagrados na Lei 8080/90: Universalidade,Equidade, Municipalização com Regionalização eHierarquização dos serviços e outros. Concluindo:como os conselhos e conselheiros entendem osartigos da Seção Saúde da Constituição Federal,das Leis 8080/90 e 8142/90, e da NormaOperacional Básica 01/96 e Portarias que amodificaram. E como aplicam esse entendimentono seu exercício rotineiro de Controle Social daGestão dos Serviços de Saúde?

As interrogações que fizemos estãodirecionadas para estimular e instigar a constru-ção do perfil dos Conselhos e Conselheiros, cons-trução esta que vem avançando a passos largos einusitados, tanto através das reuniões dos Conse-lhos como nas Plenárias de Representações eEncontros de Conselheiros, nas regiões, nos Es-tados e ao Nível Nacional.

Nome:

Ocupação:

Conselho: Endereço:

Cidades: UF:

CEP: Telefone: ( ) Fax:

E-Mail: Segmento:

Instituição:

Endereço:

Cidade: UF:

CEP: Início de Mandato: Fim do Mandato:

Efetivando o Controle Social

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Setembro/Outubro de 1998

Conselho Nacional de Saúde

ORORORORORGANIZAÇÕES SOCIAISGANIZAÇÕES SOCIAISGANIZAÇÕES SOCIAISGANIZAÇÕES SOCIAISGANIZAÇÕES SOCIAISUma lei polêmicaUma lei polêmicaUma lei polêmicaUma lei polêmicaUma lei polêmica

Ministério Público discute lega-lidade e constitucionalidade da lei quedispõe sobre as organizações sociais

O parecer da Procuradoria Federal dosDireitos do Cidadão, ligada ao Ministério Público,analisa à luz da Constituição Federal e das LeisOrgânicas da Saúde os critérios de funcionamentodas denominadas “Organizações Sociais”, entidadesque passariam a operar os serviços públicos desaúde, previstos na Lei nº 9.637, de 15 de maio de1998.

O argumento Constitucional é que o direitoà vida, como direito humano básico, é ofundamento primeiro de qualquer Constituiçãodemocrática e pluralista, onde prevaleçam aigualdade e a justiça, como valores supremos dasociedade. Nesse sentido, aponta que a Constituiçãode 1988 estabeleceu com clareza que Saúde éDireito de Todos e Dever do Estado. Entendendo-se que é um direito básico, condição primeira paraexistência de qualquer outro direito. Este postuladoimprime às ações de saúde um caráterimprescindível, e por isso mesmo, um serviçopúblico típico. A natureza essencial deste serviço éque o faz um serviço público.

O texto chama atenção para a Constituição,que no caso específico de um serviço públicoessencial como a saúde, permite a participação deinstituições privadas, sempre de formacomplementar. O sentido é de que o Poder Públicosó faça uso de serviços de terceiros quando nãotiver condições adequadas e suficientes para atenderàs demandas sociais. É papel do poder públicoregular e fiscalizar suas atividades e as do setorprivado, dentro do chamado mercado da saúde.Sendo a saúde um direito universal, cabe ao Estado,prover as condições para que este serviço

0303

PolêmicaPolêmica

O Conselho Nacional de Saúde deliberoupor unanimidade sua posição sobre a criação dasOrganizações Sociais, em maio de 1997. Em seuposicionamento entende que o cerne da questãoé a reforma do Estado, implicando uma novarelação Sociedade-Estado. Essa relação tendo,necessariamente, que refletir os interesses edireitos do conjunto da sociedade.

Flexibilizar - O CNS reconhece que oaparelho de Estado ainda sofre o grave peso doburocratismo, da lentidão administrativa, dosbaixíssimos orçamentos, do clientelismo, queresultam em ineficácia e ineficiência. Defende umamodernização que promova a flexibilização eagilidade gerencial e administrativa do Estado. Asunidades públicas de saúde têm que ser dotadasde autonomia gerencial para que possam cumprirsuas metas, com produtividade e qualidade,sempre em função dos resultados para apopulação.

O SUS é uma reforma moderna do Estado

indispensável à população não implique pagamentocomo condição de atendimento.

Alerta ainda para o fato do Sistema Único deSaúde ser de responsabilidade do Estado e dasociedade organizada. O parecer entende que a lei éprecisa quando especifica que serviços privadospodem ser contratados quando a capacidadeinstalada das unidades públicas for insuficiente.Nestas condições, a preferência deve recair nasentidades filantrópicas e sem fins lucrativos.

A Privatização de Serviços Públicosde Saúde

A Procuradoria dos Direitos do Cidadãoanalisando as experiências da terceirização dosserviços de saúde pública, nos municípios de SãoPaulo e nos Estados de Tocantins, Rio de Janeiro,Bahia, Roraima, observou que tem ocorrido atransferência de bens público para a iniciativaprivada, como hospitais, prédios, móveis,equipamentos, recursos públicos e até servidores.Nesse processo, segundo a procuradoria, a iniciativaprivada passa a condição de gestora, gerente eexecutora de um serviço público, inclusiveefetuando compra de material sem licitação.

O Ministério Público Federal tem apresentadoações civis públicas contra esse processo deterceirização, que tem afastado o Estado da prestaçãode serviços públicos de saúde, transferindo-ostotalmente para a iniciativa privada, sob adenominação de organizações sociais.

“ Na realidade, o sentido da Lei nº 9.637, de15 de maio de 1998, é privatizar os serviçospúblicos, sob a alegação de eficiência, modernidadee eficácia. Busca-se implantar, na AdministraçãoPública, o regime de direito privado, tornando-seletra morta o princípio da legalidade, inerente àadministração. Assim, violenta-se o Estado de

Direito, e quando o Poder Judiciário determina aobservância do referido princípio, os tecnocratasde plantão vêm a público para afirmar que asdecisões judiciais “atrapalham” a modernidade e anecessária reforma do Estado” , analisa o parecer.

A Procuradoria ainda observou a posição doConselho Nacional de Saúde e questionou a nãoobservância do seu legitimo papel de deliberar sobreas diretrizes da política nacional de saúde. Ressaltou,que o CNS analisou criticamente a proposta deterceirização e da criação das chamadas organizaçõessociais, em maio de 1997 por entendê-lapotencialmente lesiva ao patrimônio público e seinserir no campo da ilegalidade einconstitucionalidade. Outro aspecto destacado, foia qualificação e indicação das organizações sociaisser competência exclusiva do ministro da Saúde.

No final de 1997, os “Procuradores daCidadania”, durante o V Encontro Nacional dosDireitos do Cidadão decidiram atuar em defesa doSistema Único de Saúde – SUS, conformeconcebido na Constituição de 1988 e na Lei 8.080/90, adotando as providências administrativas ejudiciais necessárias.

ORORORORORGANIZAÇÕES SOCIAISGANIZAÇÕES SOCIAISGANIZAÇÕES SOCIAISGANIZAÇÕES SOCIAISGANIZAÇÕES SOCIAISUma lei polêmicaUma lei polêmicaUma lei polêmicaUma lei polêmicaUma lei polêmica

Mas observa que a proposta das organizaçõessociais não privilegiou o que seria natural: retirar todosos entraves que o próprio Estado colocou nofuncionamento das autarquias, fundações públicas enos seus órgãos autônomos.

Esta medida não se compatibiliza com o modelode reforma do Estado, que fundamenta o Sistema Únicode Saúde-SUS. As Organizações Sociaisdesconsideram as diretrizes e normas dadescentralização e direção única do sistema e nãoreconhecem as instâncias de controle social (Conselhosde Saúde). Além de serem concebidas numa dimensãoprivada substitutiva e não complementar da redepública de saúde.

Com isso, a saúde que é parte integrante dosdireitos inalienáveis de cidadania, cuja responsabilidadeé dever do Estado, mas cuja execução não é exclusivado Estado, corre sérios riscos de não ser defendida, emsuas ações e serviços, por uma legitima regulação econtrole da parte das entidades da sociedade organi-

zada e por intervenções diretas do próprio Estado.Considerando que o SUS significa um

avanço no processo de reforma do aparelho doEstado, o CNS aponta como alternativa a discus-são e o aperfeiçoamento da estrutura do sistemapúblico de saúde, contemplando os mecanismosde gerenciamento e financiamento.

Grupo de trabalhoO CNS reativará, a partir de outubro, grupo

de trabalho para atualizar e acompanhar a situaçãodas Organizações Sociais.

O primeiro grupo de trabalho foi formadoem dezembro de 1996. Era integrado pelosconselheiros Gilson Cantarino, Paulo Cézar, SérgioPiola, Mozart de Abreu, Rita Barata e Stela Pedreira.Depois de cinco meses de estudos, apresentou relatóriocom as implicações das organizações Sociais no SUS.Este documento subsidiou o posicionamento doplenário do CNS sobre a questão.

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Setembro/Outubro de 1998

Conselho Nacional de Saúde

Conselho aprova diretrizes para uma política demedicamentos genéricos e o documento da política

nacional de medicamentosO plenário do Conselho Nacional de Saúde aprovou

depois de debates, de estudos e de uma oficina de trabalho a“Política Nacional de Medicamentos”, além de diretrizes paraos medicamentos genéricos.

A Política Nacional de Medicamentos, discutida eaprovada pelo CNS, iniciativa do Ministério da Saúde, articuladacom as secretarias estaduais e municipais de saúde e entidades dasociedade, estabeleceu como propósito orientador “garantir anecessária segurança, eficácia e qualidade dos medicamentos, apromoção do seu uso racional e o acesso da população àquelesconsiderados essenciais”.

Esta visão já antecipava um aspecto da realidadeque veio aflorar com a atual crise da falsificação demedicamentos. Situação grave e cruel para a sociedade, queexige maior rapidez na implementação das medidas defiscalização e controle. A ação é contemplada nas diretrizescentrais do documento, que aponta a necessidade da im-plantação de mecanismos eficazes de controle de qualidade esegurança, na produção, distribuição e comercialização deprodutos farmacêuticos.

A desarticulação da assistência farmacêutica foiidentificada como a responsável pela falta de prioridade naadoção de produtos padronizados e da política dos genéricos.Estes devem ser incorporados e permanentemente atualizadosna Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME).Esta lista deve ser o guia da receita médica. Talvez por nãocumprir este objetivo muitos profissionais médicos nãoprescrevam remédios assegurados e constantes na RENAME.Sabe-se que a indústria farmacêutica utiliza-se de expedientespromocionais e pouco éticos para influenciar na indicação deseus produtos nos receituários dos médicos.

O uso inadequado de medicamentos ainda se agravapela prática, bastante difundida no país, da automedicação. Ousuário é presa fácil do jogo irresponsável e ilegal do atendimentonos balcões das farmácias. É freqüente a indicação demedicamentos de riscos à saúde, sem prescrição médica adequada.A regra nas farmácias é burlar a exigência de ter um profissionalfarmacêutico em seus estabelecimentos.

No Brasil, o mercado de medicamentos se transformouem um grande negócio, regido por puro interesse do lucro fácil.A ética e o respeito à vida e ao direito à saúde não conseguemprevalecer diante do total descontrole de um mercado quemovimenta mais de 10 bilhões de dólares anualmente. Estima-se que o setor concentre cerca de 500 empresas, entre produtoresde medicamentos, indústrias farmoquímicas e importadores.

As farmácias espalhadas e mal distribuídas por todo opaís são outra dificuldade no controle do sistema. Cálculos iniciaisindicam a existência de cerca de 50 mil farmácias,comercializando 5.200 tipos de produtos. Caso se considere asvariações de um mesmo produto o número de itens disponíveispode se alcançar a marca dos 10 mil.

O mercado de consumo: a marca da exclusãoDeste mercado, 15% por cento da população, com

renda acima de 10 salários mínimos, consome 48% dosmedicamentos. O segmento dos de renda de 4 a 10 saláriosmínimos, correspodendo a 34% da população, consome 36%do mercado. O dado significativo é que mais da metade dapopulação, cerca de 51%, consome somente 16% do mercadode medicamentos e tem renda entre zero e 4 salários mínimos.

Este perfil registra uma significativa desigualdade eexclusão social no consumo de medicamentos, razão de serpriorizada na proposta a necessidade de mecanismos para oacesso de medicamentos básicos a todos os segmentos da

A tualidadeA tualidade

POLÍTICA DEPOLÍTICA DEPOLÍTICA DEPOLÍTICA DEPOLÍTICA DEMEDICAMENTMEDICAMENTMEDICAMENTMEDICAMENTMEDICAMENTOS:OS:OS:OS:OS:NONONONONOVVVVVASASASASASPERSPECTIVPERSPECTIVPERSPECTIVPERSPECTIVPERSPECTIVASASASASAS

Depoimento: “ A implementação dessas diretrizes constituirá um grandeapoio para a solução dos atuais problemas enfrentados naárea de medicamentos. O seu enfoque de integralidade nomanejo dos medicamentos genéricos garantirá: regulaçãoe vigilância; dispensação monitorada; educação, comuni-cação e coordenação intersetorial”

Conselheiro Mozart de Abreu e Lima – Repre-sentante no Conselho Nacional de Saúde da Comuni-dade Científica e Sociedade Civil

0404

POLÍTICA DEPOLÍTICA DEPOLÍTICA DEPOLÍTICA DEPOLÍTICA DEMEDICAMENTMEDICAMENTMEDICAMENTMEDICAMENTMEDICAMENTOS:OS:OS:OS:OS:NONONONONOVVVVVASASASASASPERSPECTIVPERSPECTIVPERSPECTIVPERSPECTIVPERSPECTIVASASASASAS

sociedade brasileira.

Registro de medicamentosHá necessidade de recursos humanos tecnicamente

preparados e formação de Comissões Técnicas e GruposAssessores na qualificação do processo de regulamentação dosmedicamentos.

A RENAME deve ser sistematicamente atualizada,observando-se as prioridades nacionais de saúde, as questões desegurança e a eficácia terapêutica comprovada.

Assistência farmacêuticaA prioridade será descentralizar o processo de aquisição

e distribuição de medicamentos. Este processo será pactuadopor representantes das secretarias estaduais e municipais desaúde em conjunto com o setor responsável pela implementaçãoda assistência farmacêutica no Ministério da Saúde.

A compra centralizada de medicamentos básicos pelo

Ministério da Saúde será substituída pela transferência regular eautomática, Fundo a Fundo, de recursos federais, sob a forma deincentivo agregado ao Piso de Atenção Básica – PAB.

Uso racional de medicamentosDesenvolvimento de campanhas de caráter educativo,

buscando a participação das entidades representativas dosprofissionais de saúde, com vistas a estimular o seu uso racional.

Revitalização da vigilância sanitáriaReestruturação da área de Vigilância Sanitária na esfera

federal, com o objetivo de sua revitalização e flexibilização deprocedimentos e a busca por maior consistência técnico-científica. Incorpora-se, ainda, a inspeção preventiva em linhasde produção e serviços e a montagem de um sistema eficaz deinformação, compreendendo o registro dos produtos, controlede qualidade e comercialização e da propaganda dosmedicamentos.

O nome genéricoA política dos medicamentos genéricos é mais complexa

e ampla do que o simples uso do nome genérico. Entretanto, nomercado de medicamentos existem produtos com substânciasidênticas e mesma eficácia terapêutica, mas com marcas e preçosdiferentes. A norma que recomenda os laboratórios destacaremnas embalagens o nome genérico, da substância ativa domedicamento, ainda não é integralmente respeitada.

O consumidor paga os custos desta exploraçãoeconômica, que atinge diferenças de preços de até 400% entreprodutos similares. A indústria farmacêutica investe fortunasna propaganda convencional e na dirigida a classe médica. Estesnomes fantasias acabam por ocultar os princípios ativos dosmedicamentos e os transformam em marcas de apelo deconsumo, impedindo o julgamento sensato entre preço, qualidadee eficácia terapêutica.

Os países do chamado primeiro mundo, europeus enorte-americano, adotam há muito tempo e com sucesso apolítica dos genéricos. Esta política é eficaz, principalmente,para garantir o melhor acesso aos medicamentos para as camadassociais mais empobrecidas, incluindo idosos e aposentados.

Resolução 280 – Medicamentos GenéricosO Conselho Nacional de Saúde aprovou a Resolução

280, em 07 de maio de 1998, no sentido da adoção de diretrizespara uma política de medicamentos genéricos no Brasil. Oargumento é que o genérico promove uma maior racionalidadena utilização, segurança e qualidade dos medicamentos. Além deestimular a concorrência, beneficiando diretamente osconsumidores com preços mais baixos.

A Organização Mundial de Saúde orienta que “umproduto genérico só deve ter autorizada sua comercialização,desde que sua segurança e qualidade tenham sido estabelecidas edocumentadas, devendo ser usado como referência o produtoinovador”.

Nesse sentido, exige-se que os medicamentos genéricos,tanto quanto os medicamentos de marca, inovadores e/ousimilares, tenham segurança, eficácia e qualidade, devidamentedocumentadas e reconhecidas pela autoridade sanitária nacional.

A resolução pontuou ações na supervisão e fiscalizaçãodas boas práticas de fabricação na indústria farmacêutica, nasáreas de armazenamento, de transporte e de distribuição e nocontrole sistemático da qualidade dos medicamentos de mercado.A Resolução agendou para 1999, a realização da PrimeiraConferência Nacional de Assistência Farmacêutica.

Fontes: os dados utilizados na matéria constamnos documentos: Política Nacional de Medicamentos(1998) e “Diretrizes para uma Política de MedicamentosGenéricos (1998)”.

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Setembro/Outubro de 1998

Conselho Nacional de Saúde

As recentes medidas de redução de gastos adotadaspelo governo federal devem penalizar a saúde com corte deaproximadamente R$ 1,5 bilhão, valor equivalente a quase ametade do orçamento disponível do setor para o últimotrimestre deste ano. Na reunião ordinária de outubro, esteassunto será debatido no CNS, onde serão convidadas asprincipais autoridades econômicas do país para discutir aquestão. Com isso, o CNS alerta, mais um vez, para a gravidadede não contarmos com um financiamento estável e suficientepara a saúde.

Sabe-se que o financiamento público da saúde é umdos principais impasses para o avanço da implementação edo aprimoramento do Sistema Único de Saúde (SUS). Emboraa Constituição de 1988 dedique um capítulo específico parasaúde, a conceba como um direto de todos e um dever doEstado e em suas Disposições Transitórias vincule o mínimode 30% do orçamento da seguridade social .

Transformar uma conquista legal em um direito defato exige um conjunto de fatores agindo simultaneamentepara se atingir os objetivos sociais de forma satisfatória. Adescentralização e a municipalização, os mecanismos departicipação e controle social, o combate ao desperdício ecorrupção e a pactuação entre os gestores públicos da saúde,nos âmbitos federal, estadual e municipal são ferramentasindispensáveis na construção e consolidação de um novomodelo de atenção e assistência à saúde.

Para se construir essa nova engenharia de um articuladosistema de promoção, proteção e recuperação da saúde, épreciso um financiamento suficiente e estável.

O Estado é financiado pela sociedade para administrare garantir políticas públicas de interesse coletivo. É seuatributo essencial. A saúde, nesse campo, ocupa umadimensão de relevância pública por ser a expressão maior dodireito de proteção à vida. O intrínseco e inegável valor éticoe social a destaca no conjunto das políticas sociais, fazendocom que seja um patrimônio tanto do indivíduo quanto dacoletividade, além de fonte essencial na composição dosfatores de qualidade de vida.

Investir na saúde pública tem retorno econômico,porque ao se promover o bem-estar social se estimula a

capacidade criativa e produtiva da sociedade. O papel doEstado nesse setor é fundamental e intransferível, principal-mente face a grave desigualdade social vivida no país. Nãopodemos esquecer que o Brasil apresenta uma das maioresconcentrações de renda do mundo, o que torna a situaçãomuito mais grave.

A escassez nas fontes de financiamento

A Constituição de 1988 incorporou o conceito deseguridade social, compreendendo a previdência social, a saúdee a assistência social. E definiu-a como direitos do cidadão edever do Estado assegurá-las.

Os recursos para garantir o financiamento adequadodesses direitos sociais acabaram por se demonstrar, na prática,insuficientes e escassos.

Alguns motivos explicam as razões desta incapaci-dade de financiamento. Entre os principais consta: as altastaxas de sonegação e isenções de impostos e contribuições; odesvio dos recursos previstos para a seguridade e odescumprimento pelo Governo Federal dos princípios cons-titucionais que nortearam a elaboração, aprovação e aplica-ção da leis de diretrizes orçamentárias - LDO.

CPMF: Uma solução parcial e transitória ?

Uma Reforma Fiscal e Tributária progressiva, queaprofunde o caráter federativo do Estado, sempre foi apontadacomo o caminho da racionalização nos mecanismos definanciamento do Estado. A idéia era se buscar um maiorequilíbrio nos impostos e na carga tributária, de forma quequem pague mais sejam àqueles que mais têm.

Esta reforma não foi priorizada e o esperado ajusteno financiamento das políticas públicas não aconteceu. Aalternativa colocada foi a transformação do ImpostoProvisório sobre Movimentação Financeira (IPMF) emContribuição Provisória sobre Movimentação Financeira(CPMF), diante do acelerado colapso no financiamento doSistema Único de Saúde. O CNS defendeu a necessidadedesse financiamento emergencial e a transformação doimposto em contribuição social.

O quadro da realidade de gastos do Ministério daSaúde requeria a obtenção de recursos adicionais para fazerfrente às necessidades de manutenção e ampliação das açõese dos serviços públicos de saúde.

A Contribuição Provisória sobre a MovimentaçãoFinanceira – CPMF, apesar do debate acirrado sobre suaadoção, entrou em vigor no ano de 97, com uma arrecadaçãode R$ 6,7 bilhões. Estes recursos foram destinados à saúde,mas substituindo outras fontes tradicionais de financiamen-to do setor. Com isso, o impacto positivo com a arrecadaçãoda CPMF não se registrou de fato, pois se fosse agregadointegralmente aos valores dos gastos do ano anterior tería-mos uma gasto global aproximado de R$ 22,6 bilhões em 97.Entretanto, os gastos verificados foram da ordem de R$ 18,5bilhões, registrando uma defasagem potencial de cerca de R$4 bilhões nas estimativas previstas.

Propostas de financiamento estável e seguro

O problema do financiamento público da saúde vemsendo discutido há vários anos no setor saúde e no CongressoNacional. O ministro da Saúde, José Serra pronunciou, durante

A tualidadeA tualidade

Financiamentoda Saúde éobra inacabada

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Posição do Conselho e anegociação no Congresso

A posição do Conselho Nacional de Saúde estáconsubstanciada na Resolução 281, de 01 de julho de1998, que propõe que o financiamento público da saú-de seja de no mínimo 30% do Orçamento da SeguridadeSocial e o mínimo de 7 a 13%, progressivamente, paraEstados, Municípios e Distrito Federal. Esta propostaveio fortalecer e confluir com o parecer do DeputadoUrsicino Queiroz. O CNS ressaltou a necessidade demecanismos de segurança e de plena garantia paraque esses recursos sejam exclusivamente gastosem saúde.

Esta medida busca evitar, por exemplo, que se-jam destinados recursos da saúde para pagamento dedívidas e dos inativos, que devem ser pagos com re-cursos de fontes própria de impostos.

Outro item destacado é quanto ao repasse derecursos da União para Estados, Distrito Federal eMunicípios, destinados às despesas de custeio e in-vestimento das ações e dos serviços de saúde. Essesdeverão ser transferidos de forma automática, Fundo aFundo, sendo utilizados segundo os planos de saúdeaprovados pelos Conselhos de Saúde e assegurem aprestação de contas à sociedade, ao legislativo e aostribunais de contas dos estados e municípios.

O parecer foi aprovado, no dia 01 de julho, por21 votos a favor e 5 votos contrários, com a incorpora-ção de algumas sugestões formuladas pelo plenáriodo Conselho Nacional de Saúde.

No momento, se articulam novos avanços naproposta parlamentar e esforços para sua votação emplenário ainda este ano, para que se assegure no orça-mento de 1999 recursos mais próximos das necessida-des da sociedade brasileira.

o II Encontro Nacional de Conselheiros e em audiência públicana Câmara dos Deputados, sua defesa por um financiamentoestável e vinculado para saúde. Destacamos as principaispropostas :

- A Proposta de Emenda Constitucional -PEC 169/93 do deputado Eduardo Jorge/ PT-SP que defende 30% dasContribuições Sociais da Seguridade e 10% dos impostos daUnião, Estados e Municípios. O Relator da Emenda Consti-tucional, deputado Darcísio Perondi/ PMDB-RS modificoua proposta para 30% do Orçamento da Seguridade e 10% dosimpostos de Estados e Municípios.

- O Deputado José Pinotti/ PSB-SP defende nomínimo 5% do Produto Interno Bruto do ano anterior.

- A PEC 82/95 do deputado Carlos Mosconi/PSDB-MG defende a destinação integral daCOFINS(contribuição sobre o faturamento) e daCSLL(contribuição sobre o lucro líquido) para a saúde. ORelator da Emenda, deputado Ursicino Queiroz/ PFL-BA,modificou a proposta com a inclusão de 100% da CPMF,64% da CSLL e COFINS e 12% no mínimo dos impostosdos Estados e 15% no mínimo dos Municípios.

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Setembro/Outubro de 1998

Conselho Nacional de Saúde

“O Mercado de planos privados de saúd

0606

A proposta do Conselho Nacional de Saúdefoi referência fundamental não só para as discussõesdos parlamentares mas também para a mobilização dasociedade civil organizada, durante toda a tramitaçãoda regulamentação dos planos e seguros privados desaúde no Congresso Nacional. As diversas entidadesde defesa dos usuários e consumidores defenderamos principais pontos deliberados pelo CNS: coberturade todas as doenças, incluindo as preexistentes, ascrônicas e as de alta complexidade; atendimento deemergência e urgência; proibição das carências e rea-justes de mensalidades em razão da faixa etária; livreescolha dos médicos pelos usuários; fiscalização dasatividades do setor pelo Ministério da Saúde e ressar-cimento ao SUS quando o beneficiário de planos forematendidos na rede pública de saúde.

Na Câmara Federal, mesmo com a atuação doCNS e a pressão das entidades da sociedade, o textofinal ficou muito aquém do reivindicado pelos consu-midores. O texto aprovado foi bastante semelhante aodefendido pela ABRAMGE, entidade privada da Me-dicina de Grupo. A proposta do CNS, embora vencida,foi apresentada na íntegra à votação no Plenário daCâmara, em forma de substitutivo.

No Senado, as propostas do CNS e a mobilizaçãoem sua defesa tiveram maior visibilidade. Após váriasaudiências públicas com a participação de represen-tantes do CNS, operadoras, entidades médicas e deconsumidores o relator da matéria na Comissão de

Assuntos Sociais, senador Sebastião Rocha(PDT-AP) propôs, em seu parecer, mudan-

ças a favor dos usuários, como, porexemplo, a suspensão da ex-

clusão nos atendi-mentos das

doenças preexistentes e de alta complexidade.As limitações regimentais - uma vez que o Se-

nado nesta fase da tramitação pode apenas suprimir enão alterar o texto aprovado pela Câmara - juntamentecom as pressões dos interesses em conflito das opera-doras de planos e seguros privados, do governo e dasentidades de defesa do consumidor, fez com que ossenadores aprovassem uma lei que avançou em rela-ção ao texto aprovado na Câmara, mas que manteverestrições aos interesses dos consumidores.

O curioso é que a proposta inicial da regula-mentação dos planos e seguros privados de saúde foido Senado Federal, em 1993. Iniciativa do então sena-dor Iram Saraiva que propunha, em três parágrafos, acobertura universal de todas as patologias pelos pla-nos, seguros e convênios privados de saúde. Apóslonga tramitação de cinco anos na Câmara do Deputa-dos, retorna ao Senado, completamente alterada e con-frontando com os princípios originais.

Mobilização

O CNS, assim como o movimento pela regula-mentação dos planos de saúde, continuam firmes emseus princípios e irão acompanhar de perto os traba-lhos do Conselho de Saúde Suplementar (CONSU) eda Câmara de Saúde Suplementar (CSS), instâncias cri-adas para atuar na regulamentação da Lei.

Os atos públicos em diversas capitais do país,as caravanas à Brasília em momentos estratégicos pre-cedentes às votações, a criação em São Paulo do FórumPermanente pela Regulamentação dos Planos de Saú-de foram exemplos de manifestações organizadas queproporcionaram alguns avanços - poucos - até agoraobtidos.

O manifesto “Saúde não é mercadoria”, na oca-sião da votação da lei no Senado, assinado por mais de300 entidades representativas e reproduzido por veí-culos de comunicação nacional, foi considerado um

O DESAFIO É GARANTIR OS DIREITOS DO CONSUMIDOR

PropostasPropostas

Preexistência- As operadoras poderão adotarpreços diferenciados para a cobertura de doençaspreexistentes. Exames clínicos e laboratoriais prévios asidentificarão. Esta regra é questionada por exigir a quebrada ética e do sigílo profissional do médico em relação àsinformações sobre a saúde do paciente. Outra dúvida é so-bre o uso inadequado da preexistência, como instrumentode exclusão e aumento das mensalidades, inclusive com orepasse dos custos dos possíveis exames prévios.

Ressarcimento- Clientes de planos de saúdecustam, segundo estimativas iniciais, 2 bilhões ao SUS. Es-tes custos deverão ser reembolsados pelas operadoras, dire-tamente ao gestor local do SUS. As operadoras resistem aoressarcimento e devem criar dificuldades para suaoperacionalização.

Cadastro- As operadoras terão que fornecer in-formações dos seus consumidores e dependentes e as denatureza assistencial e gerencial de sua rede de atendimen-

PONTOS POLÊMICOS

Roteiro das Decisões :

8 a 11 de Setembro: A Câmara de SaúdeSuplementar definiu sua proposta final a ser apreciadapelo Conselho de Saúde Suplementar.

4 de Novembro: Data prevista para que anova regulamentação entre em vigor, depois de definidapelo Conselho de Saúde Suplementar. As operadoras pres-sionam o governo para que as novas regras só entremem vigor no próximo ano.

dos atos mais articulados e significativos. O manifestoera um repúdio ao Projeto de Regulamentação dos pla-nos de saúde aprovado pela Câmara Federal e um aler-ta à sociedade brasileira do desrespeito com os princí-pios básicos de proteção ao usuário e consumidor, porexcluir do atendimento diversas doenças, por não ga-rantir o exercício ético da medicina e transformar a saú-de em mercadoria, estimulando e não coibindo o lucrofácil. E nesse sentido, conclama a todos para a promo-ção de um ampla discussão nacional, como instrumen-to legitimo para se corrigir as distorções na regulamen-tação do mercado privado de saúde no país.

A posição do Ministério Público também mere-ce destaque por manifestar, através dos ProcuradoresGerais de Justiça de 20 estados, em um parecer quecriticava o texto, aprovado pela Câmara e enviado aoSenado Federal. Alegavam, em novembro de 1997, queo projeto permitiria a continuidade e até o aumento dosabusos praticados pelas empresas e operadoras dosplanos privados de saúde.

Novo cenário

Hoje o clima é mais favorável às negociaçõesa favor dos consumidores e usuários. Com a ediçãodas Medidas Provisórias foi corrigido um dos maio-res absurdos da lei. Antes a regulamentação se atre-lava apenas à SUSEP e ao Ministério da Fazenda,hoje também está a cargo do Ministério daSaúde(MS). Dentro da estrutura organizacional doMS foi criado o Departamento de Saúde Su-plementar, que aponta para a existênciade um novo espaço de discus-sões e ações anteriormenteinexistente.

to. Estas informações permitirão avaliar e controlar o funcio-namento e desempenho do mercado privado de saúde no país,além de operacionalizar o sistema de ressarcimento.

Preço e Faixa Etária- Oreajuste das mensalidadesserá feito por faixas etárias: até 17 anos; de 18 a 44 anos; de 45a 59 anos e 60 anos ou mais. A variação máxima entre aprimeira (até 17 anos) e a última (60 anos ou mais) não pode-rão ultrapassar seis vezes o seu valor inicial. O mercado temadotado um sistema de aumento progressivo, pressionando comvalores elevados as pessoas acima de 60 anos que mais usam eprecisam de assistência.

Transplantes- Os planos referência e hospitalar sãoobrigados a cobrir transplantes de córnea e rim. Estes trans-plantes sendo regulados pela Central de Notificação, Captaçãoe Distribuição dos órgãos, sujeitos a fila de espera e seleção.

Alta Complexidade- Cobertura ampla, conforme anatureza dos planos ambulatoriais e hospitalares, para o diag-

nóstico e tratamento da alta complexidade: procedimen-tos de custos mais elevados, como o câncer e hemodiálise.Parte das operadoras tranferiam estes tratamentos para oSUS e resistirão a ampliação de cobertura, com ameaça deaumento nas mensalidades.

Saúde Mental- Os transtornos mentais serão co-bertos pelo plano hospitalar e de forma mais restrita peloplano ambulatorial.

(Mais informações na página 11).

Setembro/Outubro de 1998

Conselho Nacional de Saúde

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Setembro/Outubro de 1998

Conselho Nacional de Saúde

Por Fernando Cartaxo

O médico João Luis Barroca assumiu em junho, hápouco mais de dois meses, a direção do novo Departamento deSaúde Suplementar do Ministério da Saúde. A missão será parti-cipar, pelo lado da saúde, da regulamentação do mercado priva-do de saúde, que cresceu vertiginosamente na última década.Com a mesma intensidade cresceu a pressão e permanentesconflitos de interesses entre consumidores e operadoras de ser-viços. Este mercado não regulado pela saúde, é um campo deguerra. Não existem regras claras dos direitos e deveres de cadaum. Reina uma lei selvagem onde o que vale é levar vantagem.O consumidor tem pago o preço da desordem e liderado o índicede reclamação nos Procons de todo o país.

A tarefa não é fácil. O psiquiatra João Luis Barroca, 41anos e funcionário de carreira do Ministério da Saúde, templena consciência da epopéia a ser enfrentada. A sua experiên-cia profissional foi talhada na Caixa de Assistência do Banco doBrasil, uma entidade de autogestão que atende cerca de 600 milusuários, entre funcionários e dependentes da instituição. Foinela gerente estadual, regional e nacional, tendo sido um dosprincipais responsáveis pela atual modernização do seu modelode assistência à saúde.

Em meio a intensas negociações e faltando 12 diaspara a apresentação da proposta de regulamentação, Barrocarecebeu o Jornal do CNS para esta entrevista, em sua sala detrabalho, no sétimo andar do Ministério da Saúde.

O Sr. poderia apontar a importância da criaçãodo Departamento de Saúde Suplementar?

- O Ministério da Saúde nunca tinha tido um entendi-mento expresso de que deveria participar da regulação do mer-cado privado de assistência à saúde. Predominava uma visão li-mitada da saúde no Brasil. Hoje, o entendimento não é mais ode que nós temos um sistema público de saúde e desconhecemoso sistema privado. Este tem uma importância muito grandepara 40 milhões de brasileiros. O Ministério da Saúde não podedesconhecer esta realidade, inclusive porque a Constituição Fede-ral conferiu, desde 1988, aos ser-viços de saúde, públicos e pri-vados, o caráter de RelevânciaPública, portanto sujeito à regu-lação pelo Poder Público, a favordos usuários e consumidores.

Qual a função desteórgão no processo deregulação?

- O Departamento foicriado em fevereiro deste ano esó veio efetivamente funcionarcom a minha nomeação a cercade dois meses. Com a entrada do ministro José Serra, foireformulado o entendimento inicial de sua competência, dei-xando de ser um órgão secundário para ter um papel central naregulação. A constituição do Conselho de Saúde Suplementarsimboliza o novo enfoque de atuação, ao incorporar atribuiçõesnão só normativas mas de fiscalização dos interesses da saúdedo consumidor. O que antes era feito com exclusividade peloConselho Nacional de Seguros Privados e SUSEP – órgãos doMinistério da Fazenda, passa a ter um contraponto na área dasaúde.

Como fica o consumidor, já que vive numpermanente conflito com as operadoras privadas desaúde?

- Entendemos que o Ministério da Saúde tem que funci-onar numa rede de defesa do consumidor. Os conflitos existen-tes são gerados por um mercado que opera num regime de des-confiança mútua: todos desconfiam de todos. O contrato comletras pequenas não vai mais existir. O consumidor tem que terabsoluta clareza daquilo que ele está comprando.

O que deve fazer o consumidor para se defender?- Quando uma operadora determina ou exclui alguma

cobertura, o consumidor hoje procura o Procon. Nós queremosque continuem procurando. Estamos realizando parcerias comos Procons, no sentido de dar sustentação técnica na melhoria

de não pode ser selvagem”

“Sabemos que muitasempresas trabalham comuma margem elevada de lu-cro e ineficiência.”

0707

EntrevistaEntrevista

e no aumento do nível de defesa do consumidorjunto às operadoras.

No primeiro momento foi ques-tionada a possibilidade de se acentuar, oque já existe hoje no mercados, planosque só atendem situações específicas dedoenças, consultas ou lesões. Qual orisco de se manter planos restritos, comamplas exclusões no atendimento?

- Entendemos que se criou um pro-fundo avanço em relação as possíveis ex-clusões. O que vinha acontecendo antes eraque o consumidor comprava um produto semsaber o que estava verdadeiramentecomprando. Ele era parcialmente sa-tisfeito, até o momento que precisa-va de atendimento. Daí surge a gran-de maioria dos conflitos e reclama-ções. Acreditamos ser fundamentalao consumidor que ele possa comparar um produto com outro,um plano com outro. E que tenha exata clareza daquilo que eleestá comprando. O consumidor não pode escolher que doençavai ter no futuro, mas o que ele está comprando sim.

Quais serão as opções de cobertura disponíveispara o consumidor?

- O consumidor terá a opção de comprar uma cobertu-ra apenas ambulatorial, apenas hospitalar ou as duas juntas.Então, ele vai ser atendido em toda e qualquer patologia dentrodestes níveis de cobertura.

Quando será fixada a definição precisa dosprodutos e planos de cobertura pelo Departamento?

- É equivocado se alegar que o governo teria adiado aentrada da obrigação de novos produtos no mercado, porqueestaria querendo retirar o debate da época eleitoral. Apresenta-mos as nossas propostas à Câmara de Saúde Suplementar, que

reune representantes dasentidades de consumidores,médicas, operadoras eprestadores de serviço. Es-taremos colocando a públi-co, para críticas, toda anossa proposta de regula-mentação. Uma regula-mentação romântica, di-zendo aos consumidoresque os preços estão tabela-dos ou congelados e que acobertura será integral, se-ria de apelo eleitoral. A

nossa posição é não colocar a discussão em tom eleitoral, masfazê-la de forma séria e aberta.

Como está sendo construída a proposta deregulamentação?

- Contamos com uma equipe bastante grande de cola-boradores e nos aproximamos das autogestões, que são entida-des sem fins lucrativos. O parceiro natural do governo são asautogestões, que têm nos fornecidos preciosos e importantessubsídios. Mas outras entidades empresariais e as de defesa doconsumidor também têm contribuído muito. Acreditamos po-der apresentar propostas que sejam adequadas e possam garantira maior cobertura possível com o menor impacto de custo.Sabemos que muitas empresas trabalham com uma margem ele-vada de lucro e ineficiência. Não contam com um sistema deinformação e gerenciamento de custos. Tudo aparentemente éfeito no papel de padaria: recebo tanto, gasto tanto. Lógico queassim a composição de custos é absurda.

Como está sendo pensado o controle de gastos?- É uma tarefa de todos, do governo e da sociedade. O

sistema de saúde americano, que não é um exemplo, encontra-se em crise a vários anos. O gasto médio em saúde é de 4 mildólares/ano per capita, mas tem 40 milhões de pessoas comple-tamente excluídas. Isto demonstra que só ter muito dinheironão garante e nem significa eficiência.

Quais serão os mecanismos para se coibir o abusonos preços das mensalidades?

- O aspecto econômico e financeiro está vinculado aoMinistério da Fazenda e a SUSEP. O Ministério da Saúde nãotem competência legal nesta área. É preciso ter bastante sensa-tez para entender que os planos são um produto comercializado,uma relação de consumo e não uma cobertura do Estado. Noentanto, o mercado não pode ser selvagem, não pode venderqualquer coisa quando se trata de saúde. Nós precisamos ébalizar o mercado com uma regulamentação clara e queos produtos sejam oferecidos à uma competição ética emrelação ao consumidor.

O Sr. acredita que o mercado funcione, muitasvezes, movido pela exploração?

- No caso da saúde, tem que ter balizadores. Por exem-plo, acreditamos não fazer sentido uma prática de mercado emque acima dos 60 ou 70 anos, as pessoas, além do reajuste anual,o chamado componente de custo, tenham reajuste de 5% porfaixa etária a cada ano. Não existe nenhum argumento que dêsustentação a isso.

Como serão incorporados os custos na mensali-dade no caso de ampliação das coberturas?

- Na medida em que se ampliam as coberturas as opera-doras começam a ter um entendimento que podem exercer a suaprática de mercado. A nossa intenção é que este compromissoseja mais com a saúde e menos centrado no gasto com a saúde.É preciso se construir uma lógica de investimento na preven-ção. Muita gente opera no mercado repassando para o SUS aalta complexidade, os tratamentos mais caros. Nisso nós temoscompetência para interferir.

Como será o ressarcimento para os cofrespúblicos de pessoas cobertas por planos ou seguros desaúde atendidas no sistema público?

- Nós entendemos que se foi vendida uma cobertura e oserviço público é quem realiza o serviço, este deve receber devolta os custos. Vamos fazer a negociação de qual tabela seráadotada. A lei aponta que não pode ser menor que a tabela doSUS e nem maior que a tabela das operadoras.

Por que a sociedade não participa do processo dedeliberação no Conselho de Saúde Suplementar(CONSU)?

- O CONSU é um conselho de governo. A sociedadeparticipa no momento em que escolhe o governo. Existemoutros conselhos de governo similares, como os de segurosprivados e o da previdência. Esses são conselhos executivos.No entanto, a Câmara de Saúde Suplementar é uma câmaratécnica, consultiva e de representação pluralista, incluindo usu-ários e consumidores, e que pode ser acionada para subsidiar asdecisões. Além disso, não podemos esquecer a precedência doControle Social exercido pelos Conselhos de Saúde vinculadosàs três esferas de governo, por possuírem atribuições legais deformulação de estratégias e fiscalização da execução das políti-cas de saúde.

Ministério da Saúde busca civilizar um mercado que envolve 40 milhões de consumidores

e movimenta cerca de 18 bilhões por ano.

Setembro/Outubro de 1998

Conselho Nacional de Saúde

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Setembro/Outubro de 1998

Conselho Nacional de Saúde

Há tratamento e cura, mas mata 1 brasileiroa cada 90 minutos

A situação da tuberculose no Brasil foi descritacomo “o descalabro consentido”, pelo CoordenadorNacional de Pneumologia Sanitária, Antônio RuffinoNetto, em sua exposição durante a 78ª Reunião Ordiná-ria do Conselho Nacional de Saúde, em julho de 1998.

O bacilo da tuberculose já foi desvendado peloconhecimento científico. O seu agente que aterroriza-va os habitantes do começo do século é hoje domina-do pela ciência, com tratamento e controle eficaz. Masnão é suficiente a humanidade erguer o seu saber so-bre as doenças que a intraquiliza. É preciso mais, queas políticas de saúde sejam consistentes.

Esta distância entre o poder da ciência e odescaso das políticas de saúde é que explica apermanência da tuberculose, segundo Ruffino Netto.Por esta razão, não se pode dizer ou pensar que atuberculose foi “erradicada”, principalmente, em paísesem desenvolvimento como o Brasil, explica.

A Organização Mundial de Saúde - 0MS - esti-ma que um terço da população mundial estaria infectadapelo Mycobacterium tuberculosis. Dados de 1995 apon-tam cerca de 9 milhões de doentes com 3 milhões deóbitos anuais. Isto faz com que a tuberculose seja adoença que mata mais pessoas que qualquer outroagente infeccioso sozinho. Ou seja: 25% do total deóbitos evitáveis nos países em desenvolvimento.

O Brasil ocupa o décimo lugar em números esti-mados de casos, correspondendo a cerca de 50 mi-lhões de brasileiros infectados pelo bacilo (doentes ounão), segundo a OMS. A cada ano são estimados quepelo menos 129.000 brasileiros adoecem da tuberculo-se, mas hoje só temos a capacidade de notificar cercade 85.000 casos novos.

Estas notificações não representam o quadrode realidade da doença no país e se mostram bastanteconcentradas nos estados de São Paulo e Rio de Janei-ro. Somadas respondem por cerca de 40% dos casosoficiais notificados, segundo dados de 1996 apresen-tados pelo Coordenador.

Ruffino adianta que a situação da tuberculoseno país tem piorado, segundo revelam os dados doano passado que estão sendo consolidados. “Estamos

trabalhando aproximadamente com 75% dos casos e adistribuição desses registros não é uniforme”, admite.

Miséria e morte

A Organização Mundial de Saúde aponta comoas principais causas para o aumento da incidência datuberculose a pobreza e a desigualdade social, assimcomo a negligência, inadequação da detecção, diag-nóstico e tratamento.

Nesse sentido, conjugamos os dois principaisfatores, os de natureza social com a acentuada desi-gualdade e pobreza e os de contágio pelo inadequadodesempenho das políticas de saúde, do escasso finan-ciamento das ações e do nível precário na organizaçãodos serviços de saúde.

Esta realidade se retrata no nível de mortalida-de de cerca de 6 mil óbitos/ano, segundo dados de1995. O que representa mais de 16 mortes por dia ouum falecimento a cada 90 minutos. Ruffino acentua queestas mortes atingem uma faixa da população econo-micamente ativa, entre os 15 e 50 anos, agravando,assim, o seu impacto social.

Para o Coordenador Nacional de PneumologiaSanitária, apesar da enorme concentração da riquezano país, que agrava a evolução da doença, é possívelobter bons resultados no tratamento da tuberculosemesmo num ambiente de extrema pobreza. Ele citoucomo exemplo o Programa de Controle da Tuberculosedo Peru, reconhecido como modelo eficaz. “A situaçãoepidemiológica é quatro vezes pior a do Brasil. É igual-mente um país de terceiro mundo, com alto índice depobreza”. O Peru investe US$ 0,22 per capita enquantoo Brasil aplica US$ 0,06. A OMS recomenda para ocontrole da tuberculose a destinação de US$ 0,10por habitante.

Razão e sensibilidade

Segundo Ruffino Netto, a doença é fácil de serdetectada. Algumas horas são suficientes para capaci-tar uma pessoa para fazer o exame de baciloscopia.

O Brasil realiza cerca de 270 mil exames para odiagnóstico do bacilo em um população próxima a 160milhões. O Peru, para uma população de apenas 23

TUBERCULOSE:O descalabro consentido

0808

Saúde Pública

CNS APONTA DIRETRIZES PARA O PRO-GRAMA NACIONAL DE CONTROLE DA

TUBERCULOSE

O CNS reconhece ser a tuberculose um pro-blema prioritário de saúde no Brasil. Nesse senti-do, aprovou na 79 Reunião Ordinária, em Agosto,resolução apontando metas e diretrizes estratégi-cas para o setor.

A meta é que em três anos se alcance acapacidade de diagnosticar e tratar pelo menos 92%dos casos esperados e que até o ano 2007 a inci-dência seja reduzida em pelo menos 50%, e a mor-talidade em dois terços.

Nas diretrizes gerais, é identificado o papeldo Ministério da Saúde como o responsável porestabelecer as normas básicas de diagnóstico, tra-tamento, registro e informação, controle de quali-dade e treinamento. Ainda no âmbito de suas res-ponsabilidades consta: aquisição e abastecimentodos medicamentos; os serviços de referêncialaboratorial e de tratamento; pesquisas, comunica-ção social e apoio aos estados e municípios.

Recomenda ainda que as atividades do pro-grama sejam executadas pelas unidades regularesde saúde, no nível primário incluindo o PAB e deforma descentralizada, com apoio dos Estados e acondução geral do Ministério da Saúde. As articu-lações apontam no sentido de se incluir as organi-zações não governamentais de serviço social naampliação do combate à tuberculose.

Ressalta a necessidade de que em um prazode seis meses seja preparado um Plano de Ação deCobertura Nacional, conforme as diretrizes e estra-tégias traçadas, priorizando inicialmente os 230 mu-nicípios que concentram 80% dos casos notifica-dos. Este plano será apreciado pelo CNS, que acom-panhará a sua execução, em parceria com os con-selhos estaduais e municipais de saúde.

milhões realiza cerca de 1 milhão e 400 mil exames.É grave a nossa incapacidade de operacionalizar

um sistema de detecção e diagnóstico da tuberculose.Falta vontade política, acredita o Coordenador Nacio-nal de Pneumologia, para que se faça uma ação maisconseqüente diante do problema.

Ele chamou atenção para os riscos de infecçãoque as pessoas estão sujeitas. Quando um tuberculosotosse espalha no ambiente cerca de 3 mil e 500 partícu-las infectantes. Com o espirro estas partículas chegama 1 milhão.

A descoberta e o tratamento dos casos de tu-berculose reduz a cada ano cerca de 8% o risco deinfecção. A melhoria da qualidade de vida reduz em 5%o risco e a vacinação com a BCG reduz em 1%. Commedidas deste porte, Ruffino calcula que se poderiareduzir o risco de infecção em torno de 12 a 13% noprazo de um ano.

O Programa Nacional de Combate da Tubercu-lose vive uma crise insensata: os recursos financeirosse esvaziaram, sendo a falta de medicamentos um dosseus problemas mais sérios. “ No ano passado, 22estados ficaram com carência de remédios. O Ministé-rio da Saúde não realiza há mais de dois anos a distri-buição da pirazinamida”. Ruffino acrescentou ainda quea OMS recomenda como solução um estoque estraté-gico de medicamentos para 18 meses, evitando-se asuspensão do tratamento por falta detuberculostáticos. A reserva do medicamento está azero, revelou.

O resultado da falta de medicamentos provocaa suspensão e o abandono do tratamento. Com isso, obacilo torna-se resistente e o tratamento vai demandardrogas mais fortes e um custo extremamente elevado.“O tratamento adequado de um caso de tuberculosecusta R$ 70,00. Quando o caso é de multidroga resis-tência o tratamento chega a ser de R$ 3 mil a R$ 4mil,sem levar em consideração o custo com a internaçãodo paciente”, frisou o Coordenador Nacional dePneumologia Sanitária.

Saúde Pública

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Setembro/Outubro de 1998

Conselho Nacional de Saúde

Otávio Mercadante, Chefe de Gabinetedo Ministério da Saúde, destaca importância

dos órgão colegiados do SUS

Ao anunciar as prioridades do Ministério daSaúde para 1998, durante encontro do Conselho Naci-onal de Secretários Estaduais de Saúde(CONASS), naPousada do Rio Quente (Goiás), em julho, o represen-tante do ministro da Saúde, Otávio Mercadante, apon-tou como meta da nova equipe o fortalecimento dasinstâncias colegiadas do SUS. Considerou que se devevencer os eventuais desgastes e incompreensões exis-tentes nos colegiados, especialmente, na Tripartite eno Conselho Nacional de Saúde. “Devemos recuperara credibilidade, o diálogo e o reconhecimento destasinstâncias como fundamentais para a construção doSUS”, esclareceu.

O grande compromisso do ministro da Saúde,José Serra, é garantir o direito de todos à saúde. Comisso, advertiu que o Sistema Único de Saúde( SUS)não vai ser concebido como um sistema para pobres eexcluídos ou da cesta básica para quem não pode pagar.

Para fazer valer os novos horizontes para o SUS,afirmou o empenho em duas frentes prioritárias demudança legislativa. A primeira, se refere ao sistemade financiamento do SUS, que deve ser estável,vinculado e em maior quantia. A preocupação é teruma fonte segura e adequada para financiar a saúde eque sejam vinculados os recursos da União, dosEstados e Municípios. Com isso, acredita que “cadareal que a União aumentar no seu orçamento nãorepresentará diminuição de recursos por parte dosestados e municípios”.

Quanto à regulamentação dos Planos e Segu-ros Privados de Saúde, garantiu que a batalha da apro-vação da lei no Congresso Nacional e a edição da me-dida provisória, foram no sentido da defesa dos seususuários. A idéia é de que se o SUS assegura o direitode todos à saúde, a iniciativa privada não pode sim-plesmente atuar de acordo com as leis do mercado.Neste ponto, se promove o resgate do espírito da Cons-tituição, que considera a Saúde como de relevânciapública. Mercadante sentencia sobre a iniciativa pri-vada no setor saúde: “Ela tem que atuar sob supervi-são, fiscalização e controle do governo”.

MunipalizaçãoHoje, já temos 4.123 municípios que se

habilitaram a alguma forma de gestão (gestão plenado sistema ou gestão plena da atenção básica). Isso

representa cerca de 75% dos municípios brasileiros e a70% da população coberta.

Esse processo será estimulado e, segundo suaavaliação, já “representa uma verdadeira revolução, sepensarmos que isso significa que ¾ do SUS se regesob um sistema de repasse de recursos automático,antecipado, fundo a fundo e com base no valor percapita”.

Novo modelo assistencialOs programas Saúde da Família e Agente Co-

munitário de Saúde representam uma mudança radicalde enfoque da relação serviço-usuário. Até o final doano, assegurou que se pretende chegar a 100.000agentes comunitários e a 3.500 novas equipes de saú-de da família.

Saúde da mulherEstá em curso um programa de investimento

para a melhoria da maternidade, com a alteração databela de procedimentos com relação ao parto normal eà cesária. Sendo maior o aumento nos procedimentosdo parto normal. Foi definido que uma vez que seultrapasse o nível de 40% de partos cesarianos, ohospital deixa de receber por novos partos cesarianosque realizar.

A prevenção do câncer docolo do útero deverá serintensificada por umagrande campanha para oexame Papanicolau. OSUS paga mais de 6milhões em exames dePapanicolau/ano, masnão se tem obtido osresultados esperados.Nos últimosdez anos,não sed e c r e s -ceu um

milímetro a taxa de mortalidade. As estimativas apontamem cerca de 20 mil novos casos/ano e uma mortalidadepróxima a 6 mil/ano.

Foi observado que não se dirige com compe-tência os exames para grupos populacionais prioritáriose de maior risco. A meta é privilegiar os exames dePapanicolau entre mulheres na faixa de 35 a 49 anos enaquelas que este exame for realizado a primeira vez.Esta mudança na ação assistencial se acompanha deaumento da tabela destes procedimentos.

Vigilância sanitáriaA vigilância sanitária é considerada uma

questão problemática. No entanto, o ministro Serra estácom o firme propósito de implementar uma AgênciaNacional de Saúde. O objetivo é priorizar uma açãoeficaz de vigilância na área de medicamentos ealimentos.

A falsificação de medicamentos revelou aimportância de ações combinadas e em absolutasintonia, da vigilância sanitária do Ministério da Saúdee as dos Estados. “Não fosse esta articulação nós nãoteríamos caminhado no sentido de realmente estarprendendo os responsáveis pela falsificação demedicamentos”, esclareceu.

Departamento de saúde suplementarCom o novo departamento, a Secretária de

Assistência à Saúde amplia o seu raio de ação. Ou seja,não se limita a cuidar do SUS, mas trata também dosPlanos Privados de Saúde.

A nova competência criada para o SUS seráconhecer a viabilidade dessas empresas, os termos danova legislação, os direitos do consumidor e os meca-

nismos de intervenção governamental nas empre-sas e operadoras.

FUNASAA Fundação Nacional de

Saúde tem a necessidade de queseja garantida a sua força e a suapermanência no contexto dadescentralização como preconiza

o SUS. A FUNASA não pode ficarnuma situação de quadro emextinção, alimentando o senti-mento que irá desaparecer. OMinistério da Saúde trabalhajunto aos estados para se valo-rizar e tornar visível as ações

desenvolvidas pelo órgão.

Estado, conselhos, sindicatos e ONGs: defendendo usuários dos serviços públicos?

CNS e tripartite serãoprioridades da atual gestão

Social e Previdência) e de um representante do Conselho Nacional de Saúde doChile. A discussão foi enriquecida pela presença de lideranças sindicais dosEstados Unidos, da Itália, de Portugal e da Romênia.

A conselheira Ana Maria Barbosa, representante das entida-des de deficientes físicos ressaltou a importância da troca de experiências, comoa do Tribunal dos Direitos dos Doentes, relatado pelo italiano Antônio Gaudioso.Acredita que a iniciativa “foi um marco importante da articulação das centraissindicais com outros segmentos organizados da sociedade, tendo como objetocentral a problemática da saúde.”

O Conselho Nacional de Saúde sediou, nos dias 17 e 18 de agosto, a realiza-ção do Seminário Internacional Estado, conselhos, sindicatos e ONGs: defen-dendo usuários dos serviços públicos, promovido pela Confederação Nacionaldos Trabalhadores em Seguridade Social, vinculada à Central Única dosTrabalhadores e com o apoio da Internacional de Serviços Públicos (ISP),THHY/SASK da Finlândia e do Núcleo de Saúde Coletiva da Universidadede Brasília.

O seminário foi pioneiro em reunir em um debate público re-presentantes dos três conselhos de seguridade do Brasil (Saúde, Assistência

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PrioridadesPrioridades

CNS e tripartite serãoprioridades da atual gestão

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Setembro/Outubro de 1998

Conselho Nacional de Saúde

Um marco na história do movimento de participaçãoe controle social na área da saúde. Esta foi a sensação unanimedos cerca de 2.000 conselheiros estaduais e municipais ,par-ticipantes do II Encontro Nacional de Conselheiros de Saú-de, realizado entre os dias 2 e 4 junho, no Centro de Conven-ções Ulysses Guimarães, em Brasília.

Prestigiaram a abertura do evento parlamentares, oministro da Saúde, José Serra, o presidente do CONASS,Júlio Muller, o presidente do CONASEMS, GilsonCantarino, entre outras autoridade.

Os pontos centrais foram as discussões temáticas e amobilização dos conselheiros no Congresso Nacional, emdefesa da aprovação de emenda constitucional que definarecursos suficientes, estáveis e vinculados para o financia-mento da saúde pública.

A mobilização dos Conselhos Estaduais e Municipaisde Saúde surpreendeu a Comissão Organizadora do evento,tanto pelo número de participantes, que ultrapassou em muitoas expectativas previstas , como pela maturidade como foramenfocados as temáticas nos grupos de trabalhos.

As nove temáticas centrais – Fluxos de Comunica-ção entre os Conselhos e Conselheiros e seus Representan-tes; Capacitação de Conselheiros: Formação, Acesso e Di-vulgação das Informações; Orçamento, Transparência eFidelidade nos Gastos do Setor de Saúde; Avaliação dasResoluções da 10ª Conferência Nacional de Saúde:implementação e como viabilizá-las; Monitoramento e Ava-liação dos Resultados dos Conselhos: infra-estrutura, atua-ção de conselheiros, composição dos conselhos e escolha deconselheiros; Agenda Básica de Assuntos Prioritários paradiscussão nos Plenários dos Conselhos; Ampliação do Con-trole Social: articulação com o Ministério Público,Ouvidorias, Procuradorias de Defesa do Consumidor e Redede Defesa da Cidadania; Operacionalização da NOB 96:Participação dos Conselhos de Saúde e Modelos de Gestão,foram amplamente debatidas nos Conselhos Estaduais e Mu-nicipais e nos encontros estaduais de conselheiros. Vindosdos mais diversos pontos do país, os conselheiros, numarepresentação real de um espaço democrático, enriqueceramas discussões com idéias e propostas concretas, possibili-tando avanços significativos na dinâmica do controle social.

O entusiasmo em trazer contribuições foi marcante,fazendo com que as discussões de cada temática abranges-sem e congregassem aspectos referentes aos outros temas.Mais de 50% das inscrições concentraram-se nos três pri-meiros temas (Fluxo de comunicação, Capacitação de conse-lheiros e Orçamento). Devido ao número expressivo de par-ticipantes, os grupos de trabalhos foram divididos emsubgrupos. Os debates contaram com coordenadores de gru-pos, relatores, especialistas de cada tema abordado ecomunicadores sociais

Os resultados das discussões foram registrados nosrespectivos relatórios consolidados, aprovados pela plenáriafinal do evento. A exemplo da 10ª Conferência Nacional deSaúde, a Comissão Organizadora indicou uma ComissãoRelatora, que está elaborando o relatório final.

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MemóriaMemória

Conselheiros de Saúde mobilizam a capital federal

Os números do evento

Participantes inscritos nos segmentos

Usuários – 972Profissionais de saúde – 442Prestadores de serviço – 200Governo – 279

Grupos de trabalho: 28, que envolveram 28relatores, 18 especialistas para elaboração dostextos de apoio e 9 comunicadores sociais.

Equipe de apoio: 85 pessoas, vinculadas às ins-tituições que colaboraram na organização doevento: Ministério da Saúde, Governo do Dis-trito Federal, Banco do Brasil, Pastoral da Cri-ança, CONASEMS, Aplauso Eventos e Corpode Bombeiros do Distrito Federal.

Como surgiram os EncontrosNacionais de Conselheiros

O I Encontro Nacional de Conselhei-ros de Saúde aconteceu em 1994, em Reci-fe, e contou com a presença de 300 conse-lheiros na condição de delegados de diver-sos conselhos do país. Na ocasião, foi for-mado um grupo de conselheiros com a res-ponsabilidade de organizar o I CongressoNacional de Conselhos, ocorrido no anoseguinte, em Salvador. Uma das decisõesdeste evento foi a constituição de PlenáriaNacional de Conselhos, formada por repre-sentantes indicados por Plenárias Estaduais,que deveriam se reunir periodicamente, comoforma de manter a articulação sistemática en-tre conselhos e conselheiros.

O II Encontro Nacional de Conse-lheiros de Saúde foi convocado durante emdezembro de 1997, durante a III PlenáriaNacional de Conselhos, e sua programaçãofoi aprovada na IV Plenária, em março de1998. Os 1.835 inscritos foram escolhidosdurante Encontros Estaduais e Municipaisrealizados com este objetivo nos meses deabril e maio, como resultado de um grandeesforço de mobilização, em especial dos con-selheiros estaduais representantes das cincoregiões brasileiras. Os nove temas selecio-nados, foram indicados pelos conselheirosparticipantes das Plenárias Nacionais deConselhos de Saúde.

Relatório sai em fins de setembro

Até o dia 30 de setembro, a versão preliminardo Relatório Final do II Encontro Nacional de Con-selheiros de Saúde será encaminhada pela Comis-são Relatora à Comissão Organizadora do evento.

Coordenada por Maria Luiza Jaeger, asses-sora do Conselho Nacional de Saúde, a ComissãoRelatora reúne Áurea Pitta, Flávio Magajewski, Jú-lio César Marchi, Suely Carvalho, Alcindo Ferla eTemístocles Neto.

Uma das primeiras constatações do grupofoi a rique-za das discussões: “cada grupo acaboudiscutindo sobre todos os outros temas e até sobreassuntos mais amplos”, revela Maria Luiza. Diantedessa constatação, o grupo escolheu uma for-matação que abrangesse todos os itens, inclusiveuma parte das quase 30 moções apresentadas à Co-missão Organizadora durante o Encontro. “Aquelasmuito específicas serão colocadas num item especí-fico”, esclarece Jaeger. A primeira versão do conso-lidado geral, elaborada pela reunião da ComissãoRelatora, no último dia 26 de agosto, apresenta qua-se que a mesma formatação do Relatório Final da 10ªConferência Nacional de Saúde. São seis capítulos:Saúde, Cidadania e Políticas Públicas, Efetivan-do o Controle Social, onde estão inseridas todas asquestões relativas ao funcionamento e organizaçãodos conselhos de saúde, comunicação entre conse-lhos e sociedade e sobre conferências de saúde,Gestão e Organização dos Serviços de Saúde, Fi-nanciamento da Saúde, Recursos Humanos para aSaúde e Atenção Integral à Saúde.

No dia 6 de outubro, data da próxima reu-nião da Comissão Organizadora, o texto final seráaprovado por essa Comissão e preparado para apre-sentação durante a V Plenária Nacional de Saúde,prevista para novembro deste ano, quando entãoserá submetido à aprovação final dos conselheiros.Tão logo seja aprovado pela Comissão Orga-nizadora, o Relatório Final do II Encontro Nacionalde Conselheiros de Saúde estará disponívelna homepage do Conselho Nacional de Saúde -http://conselho.saude.gov.br - para apreciação detodos os participantes do evento. Até lá, você podeter acesso aos relatórios consolidados referentes aosnove grupos temáticos.

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Setembro/Outubro de 1998

Conselho Nacional de Saúde

Oficina de recursos humanosO objetivo é definir o campo de recursos humanos no âmbito do SUS, naperspectiva de trabalhar diretrizes para elaboração de uma Norma Operacional parao setor. O CNS está organizando a oficina de trabalho, que ocorrerá nos dias 16 e 17de novembro, durante a realização do XIV Encontro Nacional dos Secretários Mu-nicipais de Saúde, no Centro de Convenções de Goiânia. A oficina envolverá ossetores com responsabilidades na área. A Comissão Intersetorial de Recursos Hu-manos/CNS apresentará em outubro “Documento-Base”, com o roteiro dos princi-pais pontos para as discussões.

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CurtasCurtas

Avaliando o processo de regulamentação dosplanos privados de saúde

“O nosso objetivo é deixar transparente a relação entre os consumidorese operadoras privadas de saúde. Para isso foi muito positivo os debates, ascríticas e as propostas apresentadas na câmara de saúde suplementar. Esseprocesso democrático vai enriquecer o texto final da regulamentação.”

Renílson Rehem (Secretário de Assistência à Saúde do Ministério da Saúde)

XIV Congresso Nacional de Secretários Municipais

de Saúde

Com a temática Descen-tralização: Gestão Local Constru-indo Municípios Saudáveis, os se-cretários municipais realizam seu en-contro nacional nos dias 14 a 18 denovembro no Centro de Convençõese Cultura de Goiânia.

Estarão sendo debatidos te-máticas centrais como: A construçãodo sistema de saúde na lógica dadescentralização, com a participaçãodo secretário de políticas do Minis-tério da Saúde João Yunes, os presi-dentes do CONASS e CONASEMS,Júlio Müller e Gilson Cantarino. Omediador desta mesa será ocordenador do Conselho Nacional deSaúde, Nélson Rodrigues dos Santos.

1 milhão de crianças desnutridas no Brasil

A coordenadora do Programa de assistência Integral à Saúde da Criança,Ana Goreti, admitiu durante exposição na reunião Ordinária do CNS, em setem-bro, que as estimativas apontam 1 milhão de crianças desnutridas no país. Apopulação pobre e rural e os bolsões de miséria urbana são os mais atingidos. OCNS prepara através dos conselheiros Carlyle G. de Macedo, Gilson Cantarino,Rita B. Barata e Zilda Arns, uma agenda de compromissos e metas conjuntasdos Conselhos Nacional, Estaduais e Municipais de Saúde, em defesa dacriança brasileira.

Diretrizes para capacitação de conselheiros

O II Encontro Nacional de Conselheiros, que contou a participação de cerca

de 2 mil conselheiros, consagrou uma reivindicação justa e histórica: uma política

nacional de capacitação. Nesta perspectiva, o CNS formará grupo de trabalho para

formular, a partir de Outubro, as diretrizes desta política. O Conselheiro Jocélio

Drummond, adiantou que o desafio imediato será “sistematizar as experiências exis-

tentes e socializar o que já foi feito com qualidade”.

TV Futura – vídeo sobre conselhosO Ministério da Saúde tem projeto de produção de uma série de vídeos, que serão veiculados na TV Futura. O ProgramaEducação em Saúde, da Secretaria de Políticas de Saúde, coordena a produção destes vídeos, com duração de 15 segundos. OCNS tem colaborado na concepção e roteiro do vídeo que abordará o controle social no SUS.

Reativação da Comissão deAlimentação e Nutrição

O CNS articula a reativação e novacomposição para a ComissãoIntersetorial de Alimentação e Nutrição.Essa comissão foi desarticulada e esva-ziada com a extinção do Instituto Naci-onal de Alimentação e Nutrição – INAN.

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Conselho Nacional de Saúde

Conselho Nacional deConselho Nacional deConselho Nacional deConselho Nacional deConselho Nacional deSaúde Saúde Saúde Saúde Saúde homenageiaOmilton Visconde

Conheça a homepage do Conselho Nacional de Saúde

A página eletrônica (homepage) do Conselho Nacional de Saúde está de cara nova. Disponívelpara acesso na Internet desde novembro de 1997, a homepage do Conselho ganhou também endereçonovo :

http://conselho.saude.gov.br

O objetivo da página é divulgar o trabalho do CNS: atas, pautas das reuniões e eventos doConselho Nacional de Saúde; relatórios e documentos de todas as suas comissões técnicas eintersetoriais; resoluções, recomendações e moções aprovadas pelo Plenário, assim como os no-mes e endereços dos 32 conselheiros podem ser acessados, de forma rápida e prática. A versãoeletrônica do JORNAL DO CNS também se encontra disponível na homepage do Conselho, quepossui conexão direta com as páginas do Ministério da Saúde e da Conferência de Saúde OnLine.

A Conferência On Line foi criada para dar continuidade aos debates da 10ª ConferênciaNacional de Saúde. Lançada à mesma época da homepage do Conselho Nacional de Saúde,apresenta documentos e discussões atuais na área da saúde, legislação sobre o SUS; informestécnicos sobre consórcios de saúde, controle social, fundos de saúde; experiências inovado-ras na implementação do SUS; leis, decretos e portarias, e também o Relatório da 10ª Conferência Nacio-nal de Saúde.

Se sua entidade estiver conectada na rede, faça um link dessas páginas. Participe sugerindodebates e enviando contribuições. Cadastre-se no livro de registros.

A Sala de Reuniões do Conselho Nacional deSaúde passa a se chamar Sala Omilton Visconde. Estadecisão unânime do plenário do Conselho Nacional deSaúde ocorreu ao fim do ato em homenagem à memóriade Visconde, representante da Confederação Nacionalda Indústria no CNS, morto em 7 de junho último, víti-ma de ataque cardíaco. A cerimônia, realizada durantea Reunião Ordinária do CNS de julho, contou com aparticipação do mais velho dos três filhos do ex-con-selheiro e seu sucessor à frente do laboratórioBiosintética que fundara, Omilton Visconde Júnior

Membro atuante do CNS, onde estava desde1993, Visconde foi lembrado pela sua luta em defesa deuma política de medicamentos no Brasil, seu senso dejustiça, pela ajuda que proporcionara a diversas pes-soas e instituições, na condição de industrial mas tam-bém como pessoa humana. No CNS, seu trabalho maisrecente foi a organização, ao lado do conselheiroMozart Abreu, da OMS/OPAS, de oficina de trabalhopara definição de uma política de medicamentos gené-ricos, realizada em março deste ano, que reuniu repre-sentantes de setores da indústria e comércio farma-cêuticos, vigilância sanitária, direito econômico, defe-sa do consumidor, profissionais de saúde, usuários econsumidores. A oficina resultou na discussão e apro-vação da Resolução 280 do CNS.

Durante o ato em homenagem a Visconde, to-dos os 28 conselheiros presentes pediram apalavra. Destacamos a seguir, trechos de doisdestes depoimentos:

Neide Barriguelli, presidente do Fórum dosRenais Crônicos – “Meu convívio com Senhor Omiltonvem de muitos anos. Ele fez em prol do renal crônicoum bem enorme. Trouxe medicamentos do exterior, naépoca em que não havia facilidade para sua importa-ção. Eles não doavam nem as amostras grátis e, umcompanheiro nosso, Leilton, foi mantido pelo senhorOmilton, recebendo medicamento contra anemia du-

rante cerca de três anos até ser trans-plantado. Naquela época a Secretaria nãopagava, e o senhor Omilton fornecia omedicamento sem ganhar nada. Hoje estemedicamento é vendido super barato. Foiuma luta vitoriosa. No caso daciclosporina, ele não conseguiu a apro-vação do produto fabricado no Brasil,mas a multinacional foi obrigada a baixaro preço pela metade para continuar nomercado. Isso para o renal reverteu emqualidade de vida. Sua ajuda foi funda-mental para nossas associações: ele edi-tou material educativo e ajudou de diver-sas formas. Temos nele um exemplo deum empresário que não é fixado no seulucro, um humanista”.

Mozart Abreu, consultor da OPAS/OMS –“Omilton misturava uma coisa difícil de se encontrarhoje dentro do meio social: ética e solidariedade. Comoempresário, eu o conheci há 25 anos atrás. Na época,ele, um jovem industrial, estava lutando, com maisuma dúzia de industriais de São Paulo e do Rio de Ja-neiro, ao lado da então recém-criada Central de Medi-camentos, para criação e implementação de uma políti-ca de medicamentos para o Brasil voltada para os inte-resses de nossa cidadania. Ele representava aqui umconjunto dos empresários brasileiros, a CNI, mas traziaexatamente para cá a tentativa de fazer uma interpreta-ção diferente, capaz de articular os direitos da cidada-nia com as responsabilidades sociais que o empresáriodeve exercer na sociedade. Recentemente, na discus-são da política de medicamentos essenciais, teve umaparticipação forte e ativa, tanto neste Conselho comotambém junto aos segmentos que representava. Eleestava sempre procurando eliminar os conflitos quepudessem existir na interpretação dos conceitos, deregras, até chegar ao documento consensual, aprova-

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Conselho Nacional deConselho Nacional deConselho Nacional deConselho Nacional deConselho Nacional deSaúde Saúde Saúde Saúde Saúde homenageiaOmilton Visconde

do por este Conselho. Eu o conheci em 1973, depoisnos reencontramos aqui no Conselho, com a mesmalógica de trabalho, com a mesma lógica de colocar asua instituição e os interesses do grupo que ele repre-sentava, mas tentando também interpretar as necessi-dades e interesses dos outros grupos que este Conse-lho repercute e representa. Ele tinha essa dupla visão:buscava entender aqui para levar para seu segmento etambém trazia aqui os interesses de seu segmento parainterfacear na construção das políticas e das delibera-ções deste Conselho. Ele vai fazer falta neste Conse-lho pela forma dele atuar: um conselheiro ímpar. Nuncao vi aqui defendendo uma posição corporativa típica,nem ausente sem querer escutar as outras partes en-volvidas. Por outro lado, a participação ativa, inteli-gente, em todos os trabalhos em que ele esteve envol-vido. Todos chegaram a um consenso: trabalhava for-mas alternativas que pudessem somar o conjunto daspessoas e dos interesses das relações destes conse-lheiros. Difícil encontrar isso numa figura humana, so-bretudo que, pela sua condição social, de líder indus-trial, ele poderia estar perfeitamente aqui desempenhan-do outro tipo de papel”.

PersonagemPersonagem