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EDUCAO FSICAFUNDAMENTOS PARA INTERVENO DO PROFISSIONAL PROVISIONADO

ORGANIZADORES Mrcio de Moura Pereira Alexandre Fachetti Vaillant Moulin

Conselho Regional de Educao Fsica da 7 Regio CREF7 Endereo: SGAN 604 conjunto C Clube de Vizinhana Norte CEP: 70840040 - Braslia-DF Tel: (61)3321-1417 (61)3322-6351 Site: www.cref7.org.br

CONSELHEIROS: Alexander Martinovic Alexandre Fachetti Vaillant Moulin Alfim Nunes de Souza Andr Almeida Cunha Arantes Cristina Queiroz Mazzini Callegaro Joo Alves do Nascimento Filho Jos Paulo Santos Jos Ricardo Carneiro Dias Gabriel Leandro Carrieri de Macedo Lcio Rogrio Gomes dos Santos Luiz Antnio Burato Marcelo Boarato Meneguim Mrcio de Moura Pereira Maria Aparecida Germano Bouzada Osris Moema Aquere de Cerqueira e Souza Paulo Roberto da Silveira Lima Ricardo Jac de Oliveira Waldir Delgado Assad Wylson Phillip Lima Souza Rego SUPLENTES: Luiz Guilherme Grossi Porto Mrcia Ferreira Cardoso Carneiro Telma de Oliveira Pradera

Presidente Alexandre Fachetti Vaillant Moulin Vice-presidente 1 Alexander Martinovic 2 Paulo Roberto da Silveira Lima 1 Secretrio Marcelo Boarato Meneguim 2 Secretrio Alfim Nunes de Souza 1 Tesoureiro Jos Ricardo Carneiro Dias Gabriel 2 Tesoureiro Waldir Delgado Assad

COMISSO DE ENSINO SUPERIOR: Mrcio de Moura Pereira Alexandre Fachetti Vaillant Moulin Maria Aparecida Germano Bouzada Paulo Roberto da Silveira Lima

PIPEF-DF/EAD PROGRAMA DE INSTRUO PARA PROFISSIONAIS PROVISIONADOS EM EDUCAO FSICA DO DISTRITO FEDERAL - EDUCAO A DISTNCIA

EDUCAO FSICAFUNDAMENTOS PARA INTERVENO DO PROFISSIONAL PROVISIONADO

ORGANIZADORES Mrcio de Moura Pereira Alexandre Fachetti Vaillant Moulin

Braslia-DF 2006

Editor CREF7 Organizadores Mrcio de Moura Pereira CREF 001243-G/DF Alexandre Fachetti Vaillant Moulin CREF 000008-G/DF Ilustrador Aderson Peixoto Ulisses de Carvalho Editorao Eletrnica Aderson Peixoto Ulisses de Carvalho Impresso CREF7 Tiragem 1.500 exemplares

Autores dos contedosUNIDADE 1: HISTRIA DA EDUCAO FSICA

Lcio Rogrio Gomes dos Santos CREF 000001-G/DFUNIDADE 2 DIDTICA

Marisete Peralta Safons CREF 004265-G/DF Mrcio de Moura Pereira CREF 0001243-G/DFUNIDADE 3 SOCORROS DE URGNCIA

Elzio Teobaldo da Silveira CREF 000230-G/DF Alexandre Fachetti Vaillant Moulin CREF 000008-G/DFUNIDADE 4 MOVIMENTO HUMANO

Maria Aparecida Germano Bouzada CREF 000205-G/DFUNIDADE 5 TICA

Jos Ricardo Carneiro Dias Gabriel CREF 000375-G/DF Arlindo Pimentel CREF 001714-G/DF

Conselho Regional de Educao Fsica da 7 Regio Educao Fsica Fundamentos para Interveno do Profissional Provisionado / Mrcio de Moura Pereira, Alexandre Fachetti Vaillant Moulin (Organizadores). Braslia: CREF7, 2006. 241 p. il. ISBN 85-60259-00-7 1. Educao fsica. 2. Esporte e educao. 3. Didtica e esporte. 4. Movimentos humanos. 5. Histria educao fsica. 6. tica e educao fsica. I Ttulo. CDU 796Ficha elaborada pela bibliotecria Erika Monteiro da Silva (Biblioteca FAFICH, Goiatuba-GO) ndices para catlogo sistemtico: 1 Didtica e esporte 796:37.02 2 Educao fsica 796 PEREIRA, MM; MOULIN, AFV. Educao Fsica para o Profissional Provisionado. Braslia: CREF7, 2006. p. 4

APRESENTAO

Voc comear o estudo de contedos bsicos para a interveno do Profissional de Educao Fsica, na modalidade distncia. Os assuntos apresentados contribuem para a sua formao, pois voc necessita destes conhecimentos sempre atualizados para o bom desempenho de seu papel profissional junto sociedade. Este no , com certeza, seu primeiro curso e nem dever ser o ltimo: um profissional comprometido com a sade dos alunos e com a qualidade de seus servios est sempre estudando e se aperfeioando. Para se realizar um curso a distncia preciso disciplina e perseverana. Sem estas duas atitudes corre-se o risco de no atingir as metas. A disciplina necessria porque voc ser a nica pessoa que determinar onde, quando e por quanto tempo voc vai estudar. Portanto, voc quem determina quanto tempo o curso vai durar. E a que entra a perseverana: preciso seguir em frente, sem desistir ao esbarrar em dificuldades. preciso superar o cansao e fugir das desculpas que nos afastam da leitura e entendimento do texto. Se voc estudar um pouquinho todos os dias, sem faltar, sem interromper, sem se distrair, terminar o curso no menor prazo possvel para as suas prprias condies de tempo e energia. Por isso, desenvolva seu prprio mtodo de estudo e observe as dicas apresentadas neste material que podero ajudar voc a alcanar bons resultados nos estudos.

PEREIRA, MM; MOULIN, AFV. Educao Fsica para o Profissional Provisionado. Braslia: CREF7, 2006. p.

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Este mdulo apresenta os fundamentos tericos e prticos para o trabalho de orientao de atividades fsicas e esportivas para a populao em geral e est previsto para ser realizado em 200 horas, distribudas ao longo de seis meses de estudo. Isto equivale a aproximadamente uma hora por dia de dedicao leitura e reflexo sobre os contedos propostos. Voc ter uma hora por dia para ler em pensar a respeito do contedo de, no mximo, duas pginas deste livro por vez. Neste material introduzem-se noes da Histria da Educao Fsica e da tica Profissional. Revisam-se aspectos bsicos da anatomia, cinesiologia e fisiologia do exerccio, voltadas para o movimento. Discute-se a aplicao dos Socorros de Urgncia na aula de educao fsica e revisam-se os fundamentos didticos e metodolgicos da prtica de ensino que voc j utiliza. A perspectiva deste curso a de uma educao fsica inclusiva e da atividade fsica e esportiva como direito social de todo cidado, por isso voc sempre encontrar o convite a repensar a prtica no sentido de proporcionar uma educao de qualidade e que ajude a resolver alguns dos grandes problemas da atualidade como a incluso dos idosos e das pessoas portadoras de necessidades especiais, o combate excluso social, a promoo da paz, a defesa do meio ambiente e a educao para a cidadania, democracia, convivncia com a diversidade (tnica, sexual, cultural, religiosa, etc.). Sucesso em seus estudos.

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SUMRIOUNIDADE 1 HISTRIA DA EDUCAO FSICA.................................................................. 9 Histria da Educao Fsica ...................................................................................................... 10 1. O Comeo: Definies ...................................................................................................... 11 2 . Histria da educao fsica no mundo.............................................................................. 14 3. A Educao Fsica no Brasil.............................................................................................. 24 4. Divises da Educao Fsica: ............................................................................................ 30 5. Breve Histrico da Educao Fsica Escolar..................................................................... 32 6. A Verdade sobre a Educao Fsica .................................................................................. 36 7. Bibliografia........................................................................................................................ 37 8. Avaliao ........................................................................................................................... 38 UNIDADE 2 DIDTICA........................................................................................................... 39 Didtica e Metodologia de Ensino em Educao Fsica............................................................ 40 1. Preciso ser Profissional .................................................................................................. 40 2. Planejar preciso............................................................................................................... 42 3. Pilares do Planejamento .................................................................................................... 46 4. A Prescrio em Educao Fsica...................................................................................... 49 5. Mtodos de trabalho .......................................................................................................... 68 6. Recursos Fsicos e Materiais ............................................................................................. 70 7. Bibliografia........................................................................................................................ 73 8. Avaliao ........................................................................................................................... 76 UNIDADE 3 SOCORROS DE URGNCIA............................................................................. 77 Socorros de Urgncia em Atividades Fsicas ............................................................................ 78 1. Introduo ao socorro ........................................................................................................ 78 2. Aspectos legais do socorro ................................................................................................ 80 3. Fases do socorro ................................................................................................................ 86 4. Remoo do acidentado..................................................................................................... 92 5. Leses musculares mais freqentes em atividades fsicas................................................. 96 6. Leses articulares mais freqentes em atividades fsicas.................................................. 98 7. Leses sseas mais freqentes em atividades fsicas ...................................................... 100 8. Hemorragias .................................................................................................................... 108 9. Desmaio e estado de choque............................................................................................ 110 10. Queimaduras, insolao e intermao ........................................................................... 113 11. Asfixia e afogamento..................................................................................................... 118 12. Ressuscitao cardiopulmonar (RCP): .......................................................................... 122 13. Equipamentos para socorros de urgncia ...................................................................... 127 14. Bibliografia.................................................................................................................... 128 15. Avaliao ....................................................................................................................... 130 UNIDADE 4 MOVIMENTO HUMANO ................................................................................ 131 Anatomia, Cinesiologia e Fisiologia em Educao Fsica ...................................................... 132 1. Fundamentos.................................................................................................................... 132 2. Anatomia bsica .............................................................................................................. 132 3. Cinesiologia ..................................................................................................................... 153

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4. Biomecnica de Estruturas Especficas ........................................................................... 169 5. Fisiologia Bsica ............................................................................................................. 198 6. Bibliografia...................................................................................................................... 205 7. Avaliao ......................................................................................................................... 206 UNIDADE 5 TICA ................................................................................................................ 207 5.1. Histria e Introduo tica Profissional ........................................................................ 208 1. Introduo........................................................................................................................ 208 2. A relao entre a moral e a tica...................................................................................... 208 3. O entendimento do que tica ........................................................................................ 210 4. tica profissional ............................................................................................................. 212 5. Bibliografia...................................................................................................................... 213 5.2. Cdigo de tica dos Profissionais de Educao Fsica .................................................... 214 1. Conceito........................................................................................................................... 214 2. Objetivos de um Cdigo de tica .................................................................................... 214 3. Concepo do Cdigo de tica Profissional.................................................................... 215 4. Alcance e Limitaes do Cdigo de tica....................................................................... 216 5. Estrutura do Cdigo de tica........................................................................................... 217 6. Comentrios ao Cdigo de tica dos Profissionais de Educao Fsica ......................... 219 7. Bibliografia...................................................................................................................... 240 5.3. Avaliao .......................................................................................................................... 241

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SANTOS, L.R.G. Histria da Educao Fsica.

UNIDADE 1 HISTRIA DA EDUCAO FSICA

Apresentao

Nesta unidade visitaremos os principais eventos histricos

ligados ao nascimento e desenvolvimento da educao fsica, como rea de conhecimento e como profisso. Verificaremos que muitas crenas e valores ligadas prtica desportiva e de exerccios fsicos encontram suas razes em momentos histricos especficos. A partir deste conhecimento possvel analisar de forma crtica a maneira como um professor planeja, organiza e dinamiza sua prtica. Conhecendo a histria possvel contextualizar uma determinada prtica pedaggica e situa-la na linha evolucionria da disciplina. Isso no nos permitir julgar se uma prtica est certa ou errada, mas nos dar argumentos para afirmar se ela est desatualiza ou aplicada fora de contexto.

Ao trmino do estudo desta Unidade, voc dever ser capaz de: Entender que a educao fsica como conhecimento foi historicamente construda; Saber que a prtica pedaggica dentro da educao fsica teve uma evoluo; Entender que o processo de construo do conhecimento dentro da educao fsica no linear: passou por diversas fases e continuar em permanente evoluo.

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SANTOS, L.R.G. Histria da Educao Fsica.

Histria da Educao FsicaLcio Rogrio Gomes dos Santos11. CREF 000001-G/DF. Formado em Educao Fsica e ps graduado em Psicomotricidade, Professor do Ensino Especial do GDF, fundador do Sistema CONFEF/CREFs e Presidente do CREF 7. Autor de livros em Educao Fsica. Agradecimento especial: Profissional Paulo Roberto da Silveira Lima, pelas contribuies.

Proposio especial: QUE TAL ESTE TEMA COMO CONTEDO NA ESCOLA?

CONHECER A HISTRIA DE NOSSA PROFISSO CRUCIAL, E NOS REMETE A IMPORTNCIA DO SABER, NOS FAZ APOIAR NA POSTURA DO GRANDE HISTORIADOR, FILSOFO E SOCILOGO, SCRATES (469 a 399 AC), QUE PREGAVA A TICA DO CONHECIMENTO. Lcio Rogrio

HISTRIA DA EDUCAO FSICA

DO COMEO AT OS NOSSOS DIAS!

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1. O Comeo: DefiniesTudo comeou quando o homem primitivo sentiu necessidade de:

LUTAR; CONQUISTAR; FUGIR; CAAR PARA SOBREVIVNCIA.

Assim executa os seus movimentos corporais mais bsicos e naturais desde que se colocou de p:

CORRER SALTAR ARREMESSAR TREPAR EMPURRAR PUXAR NADAR

DEFINIES:

HISTRIA: relatos de acontecimentos, podendo ser imaginrio e/ou real. EDUCAO: ato de aprendizagem de algo por meio de... Educar por meio de... FSICA: em relao ao fsico. Estudo do corpo em toda a sua dimenso.

ENTO, O QUE ? Educar o fsico EDUCAO FSICA

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Mas, o que ATIVIDADE FSICA?

todo o movimento corporal voluntrio humano, que resulte, num gasto energtico acima dos nveis de repouso. No mbito da Interveno do Profissional de Educao Fsica, compreende a totalidade de movimentos corporais, executados atravs de Exerccios Fsicos no contexto de diversas prticas, como: Ginstica, Lutas, Capoeira, Artes Marciais, Ioga e etc.

E o que EXERCCIO FSICO?

Seqncia sistematizada de movimentos de diferentes segmentos corporais,

executados de forma planejada, segundo um determinado objetivo a atingir inclusive para o Esporte.

Uma das formas de atividade fsica planejada, estruturada, repetitiva, que

objetiva o desenvolvimento da aptido fsica, do condicionamento fsico, de habilidades motoras ou reabilitao orgnico-funcional, definida de acordo com diagnstico de necessidades ou carncias especficas de seus praticantes, em contextos sociais diferenciados.

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Ento, o que ESPORTE ou DESPORTO?

Atividade

competitiva,

institucionalizada,

realizada

conforme

tcnicas,

habilidades e objetivos definidos pelas modalidades desportivas, determinada por regras pr-estabelecidas que lhe d forma, significado e identidade, podendo tambm, ser praticado com liberdade e finalidade ldica estabelecida por seus praticantes, realizado em ambiente diferenciado, inclusive na natureza (jogos: da natureza, radicais, de orientao, de aventuras e outros). A Atividade Esportiva aplica-se ainda, na promoo da sade e em mbito Educacional de acordo com diagnstico e/ou conhecimento especializado, em complementao a interesses voluntrios e/ou organizao comunitria de indivduos e grupos no especializados.

Portanto, o que EDUCAO FSICA?

O conjunto das atividades fsicas e desportivas; A profisso constituda pelo conjunto dos graduados e demais habilitados

no Sistema CONFEF/CREF, que ministram atividades fsicas e/ou desportivas; O comportamento curricular obrigatrio em todos os nveis e modalidades

do ensino bsico; rea de estudo e/ou disciplina no ensino superior; O corpo de conhecimento, entendido como o conjunto de conceitos,

teorias e procedimentos empregados para elucidar problemas tericos e

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prticos, relacionados esfera profissional e ao empreendimento cientfico, na rea especfica das atividades fsicas, desportivas e similares.

AGORA QUE J SABEMOS BEM O QUE ...

Atividade Fsica, Exerccio Fsico e Educao Fsica,

Vamos :

2 . Histria da educao fsica no mundoCHINA: Como educao fsica as origens mais remotas da histria falam de 3000 a.C. Certo imperador guerreiro, HOANG TI, pensando no progresso do seu povo pregava os exerccios fsicos com finalidades higinicas e teraputicas, alm do carter guerreiro. NDIA: No comeo do primeiro milnio, os exerccios fsicos eram tidos como uma doutrina por causa das LEIS DE MANU uma espcie de cdigo civil, poltico, social e religioso. Eram indispensveis s necessidades militares alm do carter fisiolgico. Buda atribua aos exerccios o caminho da energia fsica, pureza dos sentimentos, bondade e conhecimento das cincias para a suprema felicidade do Nirvana (no budismo, estado de ausncia total de sofrimento).

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A EDUCAO MILITAR NO ORIENTE

Objetivo: a defesa marcial dos Nobres e seus Reinos. Alguns pesquisadores afirmam o nome de Bodhidharma, (28 Patriarca do Budismo, Prncipe do Sul da ndia), como tendo sido o mais distante que conseguiram chegar buscando a origem (com registros) das Artes Marciais, ou de boa parte delas. Suas prticas esto associadas Ioga e escola Shaolin de Artes Marciais. O Estilo de luta de Bodhidharma era o Vajramushti, comum no currculo de formao militar de membros das altas castas hindus. VAJRA = Sol, Real, Basto, Cetro, etc. MUSHTI = Soco, Punho, Golpe de punho, etc. VAJRAMUSHTI = Pode ser, portanto, Punho Real, Punho do Sol, Golpe de Punho Real e etc.

O PRINCIPIO BLICO PARALELO AO PRINCPIO DE SADE

Bodhidharma viajou china, em torno de 525 d.C., a p, para tentar recuperar aos dogmas ancestrais o Budismo chins. No Reino de Wei, finalmente foi acolhido e se instalou no templo Shaolin, onde os Monges se dedicavam exclusivamente meditao e tinham um estado fsico totalmente depreciado. Bodhidharma pregava a unio do corpo com o esprito e ensinava o que acreditava ser ideal para sade: os 18 movimentos bsicos do Vajramushti, afirmando

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que ... a unio do corpo com a alma indivisvel, para chegarmos verdade, ao equilbrio e paz interior.... Mas tarde surgiram os estilos de Kung fu e o Kempo, que alguns chamam de Karat Chins. A Ioga tem suas origens nesta mesma poca (princpio do 1 milnio, no sc. II a.C.), retratando os exerccios ginsticos no livro YAJUR VEDA que alm de um aprofundamento da Medicina, ensinava manobras massoterpicas e tcnicas de respirar.

JAPO: a histria do desenvolvimento das civilizaes sempre esbarra na importncia da Educao Fsica, quase sempre ligados aos fundamentos mdicohiginicos, fisiolgicos, morais, religiosos e guerreiros. A civilizao japonesa tambm tem sua histria ligada ao mar devido posio geogrfica, (embarcaes, remos, vela...), alm das prticas guerreiras feudais: OS SAMURAIS.

EVOLUO NATURAL DAS ARTES MARCIAIS

Vrios estudos falam da origem das Artes Marciais de forma um pouco diversa, mas bem prximas, pode-se conceituar, s como exemplo, na origem do Karat-d, (o caminho das mos vazias), que o Okinawa-te seria o ancestral mais prximo, tendo este ltimo surgido a partir de estilos que se originaram do Kempo, que por sua vez originado a partir do Kung fu.

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Certo mesmo, que o nosso respeitado exemplo historicamente, mais recente do que o Kung fu ou o Ju Jutsu, pois foi no arquiplogo de Okinawa, entre os sculos 17 e 18 d.C. que nasceu o karat-d.

Da Guerra ao Esporte, mas sempre caracterizado como atividade fsica!

Do territrio Indiano, ao Chins, indo ao Japons, as lutas foram usadas com conceito blico, Dinastias, guerreavam e os perdedores se refugiavam nos templos, acrescendo o uso de armas e tcnicas blicas novas, ao uso do corpo como arma e defesa, mas tambm para a manuteno do fsico e elevao do esprito. Os estilos foram variando atravs da observao de animais, o tigre, a gara, a cobra e etc. Alm de estar pronto para defender-se e ao Pas, os praticantes passavam a ter melhor sade, conforme o encontrado em escritos da poca. Saltemos na Histria e no tempo, para mostrar a evoluo da arte marcial ao ESPORTE, mantendo o exemplo no Karat-D: Em 1957, foi realizado o primeiro campeonato esportivo no Japo. E em 1987,

fundada a Confederao Brasileira de Karat, j em 1999 o Karat reconhecido como Modalidade Esportiva Olmpica.

VOLTEMOS, AGORA, S LOCALIZAES HISTRICAS, MIGRANDO AO OCIDENTE.

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EGITO: dentre os costumes egpcios estavam os exerccios Gmnicos revelados nas pinturas das paredes das tumbas. A ginstica egpcia j valorizava o que se conhece hoje como qualidades fsicas tais como: equilbrio, fora, flexibilidade e resistncia. J usavam rudimentos de materiais de apoio tais como tronco de rvores, pesos e lanas.

GRCIA: civilizao que mais marcou e desenvolveu a Educao Fsica. Nomes como Scrates, Plato, Aristteles e Hipcrates contriburam e muito para a Educao Fsica e Pedagogia, atribuindo conceitos at hoje aceitos na ligao corpo e alma atravs das atividades corporais e da msica. Na msica a simplicidade torna a alma sbia; na ginstica d sade ao corpo (SCRATES). de Plato o conceito de equilbrio do corpo e esprito ou mente. Os sistemas metodizados e em grupo, assim como os termos halteres, atleta, ginstica, pentatlo entre outros, so uma herana grega. As atividades sociais e fsicas eram praticados at velhice, lotando os estdios destinados a isso.

ROMA: a derrota militar da Grcia para Roma, no impediu a invaso cultural grega nos romanos, que combatiam a nudez da ginstica. Sendo assim, a atividade fsica antes destinada s prticas militares, passa a ter motivao cultural e para o lazer.

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A clebre frase MENS SANA IN CORPORE SANO, de Juvenal, vem desse perodo romano.

IDADE MDIA: a queda do imprio romano tambm foi muito negativo pra a Educao Fsica, principalmente com a ascenso do Cristianismo que perdurou por toda a Idade Mdia. O culto ao corpo era um verdadeiro pecado sendo por isso a idade mdia tambm chamada por alguns autores de IDADE DAS TREVAS.

A RENASCENA: como homem sempre teve interesse no seu prprio corpo, o perodo da Renascena fez explodir novamente a cultura fsica, as artes, a msica, a cincia e a literatura. A beleza do corpo, antes pecaminosa, novamente explorada surgindo grandes artistas como Leonardo da Vinci (1452-1519), responsvel pela criao, utilizada at hoje, das regras proporcionais do corpo humano. Consta desse perodo o estudo da anatomia e a escultura de esttuas famosas como, por exemplo, a de Davi, esculpida por Michelngio Buonarroti (1475-1564). Considerada to perfeita que os msculos parecem ter movimento. A dissecao dos cadveres humanos deu origem Anatomia e escritos como a obra clssica De Humani Corporis Fbrica de Andrea Vesalius (1514-1564). A introduo da Educao Fsica na escola, no mesmo nvel das disciplinas tidas como intelectuais, se deve nesse perodo a Vittorino R. da Feltre (1378-1466) que, em

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1423, fundou a escola LA CASA GIOCOSA onde o contedo programtico inclua os exerccios fsicos.

ILUMINISMO: o movimento contra o abuso do poder no campo social chamado de iluminismo surgido na Inglaterra no sculo XVII deu origem a novas idias. Jean-Jaques Rousseau props a Educao Fsica como necessria educao infantil. Ao mesmo tempo, Pestalozzi foi precursor da escola primria popular e sua ateno estava focada na execuo correta dos exerccios.

IDADE CONTEMPORNEA: a influncia na nossa ginstica localizada comea a se desenvolver na Idade Contempornea, onde quatro grandes escolas foram as responsveis por isso: a alem, a nrdica, a francesa e a inglesa. A ESCOLA ALEM, influenciada por Rousseau e Pestalozzi, teve como

destaque Jhann Cristoph Friederick Guts Muths (1759-1839) considerado pai da GINSTICA PEDAGGICA MODERNA. A derrota dos alemes para Napoleo deu origem a outra ginstica. A Turnknst, criada por Friederick Ludwig Jahn (1788-1849) cujo fundamento era a fora. Vive Quem Forte, era seu lema e nada tinha a ver com a escola. Foi ele quem inventou a BARRA FIXA, AS BARRAS PARALELAS E O CAVALO, dando origem Ginstica Olmpica. A escola voltou a ter seu defensor com Adolph Spiess (1810-1858) introduzindo definitivamente a Educao Fsica nas escolas alems, sendo inclusive um dos primeiros defensores da ginstica feminina.

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A ESCOLA NRDICA escreve a sua histria atravs de Nachtegall (1777-1847)

que fundou seu prprio instituto de ginstica e o Instituto Civil de Ginstica para formao de professores de educao fsica (1808). Por mais que um profissional de Educao Fsica seja desligado da histria, pelo menos algum dia j ouviu falar em ginstica sueca, um grande trampolim para tudo o que se conhece hoje como ginstica. Per Henrick Ling (1766-1839) foi o responsvel por isso, levando para a Sucia as idias de Guts Muths aps contato com o instituto de Nachtegall. Ling dividiu sua ginstica em quatro partes: a pedagogia voltada para a sade evitando vcios posturais e doenas, a militar incluindo o tiro e a esgrima, a mdica baseada na pedagogia, evitando tambm as doenas e visando ainda a esttica preocupada com a graa do corpo. A ESCOLA FRANCESA teve como elemento principal o espanhol naturalizado

Francisco Amoros Y Ondeano (1770-1848). Inspirado em Rabelais, Guts, Jahn e Pestalozzi, dividiu sua ginstica em: CIVIL e INDUSTRIAL, MILITAR, MDICA e CINCIA. Outro nome francs importante foi G. Dmy (1850-1917). Organizou congresso, cursos (inclusive o Superior de Educao Fsica), redigiu o Manual do Exrcito e tambm era adepto da ginstica lenta, gradual, progressiva, pedaggica, interessante e motivadora. O MTODO NATURAL foi defendido por Georges Herbert (1875-1957): CORRER, TREPAR, NADAR, SALTAR, EMPURRAR, PUXAR e etc.

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A nossa Educao Fsica a brasileira teve grande influncia na Ginstica Calistnica criada em 1829 na Frana por Phoktior Heinrich Clias (1782-1854) ESCOLA INGLESA: baseava-se nos jogos e nos esportes tendo como principal

defensor Thomas Arnold (1795-1842) embora no fosse o criador. Essa escola tambm ainda teve a influncia de Phoktior H. Clias, no treinamento militar.

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Agora, parando um pouco a histria: O que Calistenia? , por assim dizer, o verdadeiro marco do desenvolvimento da ginstica moderna com fundamentos especficos e abrangentes destinada populao mais necessitada: os obesos, as crianas, os sedentrios, os idosos e tambm s mulheres. Calistenia, segundo Marinho (1980) vem do grego KALLOS (BELO), STHENOS (FORA) e mais o sufixo ia. Com a origem na ginstica sueca, apresenta-se com uma diviso de oito grupos de exerccios localizados associando a msica ao ritmo aos exerccios que so feitos mo livre usando pequenos acessrios para fins corretivos, fisiolgicos e pedaggicos. Os responsveis pela fixao da Calistenia foram o Dr. Dio Lewis e a (A.C.M.) Associao Crist de Moos com proposta inicial de melhorar a forma fsica dos americanos que mais precisavam. Por isso, deveria ser uma ginstica simples, fundamentada na cincia e cativante. Em funo disso o Dr. Lewis era contra os mtodos militares sob alegao que os mesmos desenvolviam somente a parte superior do corpo e os esporte atlticos no proporcionavam harmonia muscular. Em 1860, a Calistenia foi introduzida nas escolas americanas. Apareceu o Dr. Willian Skarstrotron, americano de origem sueca, dividiu a Calistenia em oito grupos diferentes do original: braos e pernas, regio pstero superior do tronco, pstero inferior do tronco, laterais do tronco, equilbrio, abdomn, ombros e escpulas, os saltitos e as corridas.

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No Brasil, anos 60, a calistenia foi implantada em poucas academias pelos professores da ACM ganhando cada vez mais adeptos nos anos 70 sempre com inovaes fundamentadas na cincia. Nos anos 80 a ginstica aerbica invadiu as academias do Rio de Janeiro e So Paulo abafando um pouco a calistenia. No final dos anos 80, a ginstica localizada surge e desenvolvida com fundamentos tericos dos mtodos da musculao e o que ficou de bom da Calistenia. A ginstica aerbica de alto impacto, causou muito microtraumatismos por causa dos saltitos em ritmos musicais quase alucinantes. A musculao surgiu com uma roupagem nova ainda nos anos 70, para apagar o preconceito que algumas pessoas tinham com relao ao Halterofilismo. Hoje, h quem defenda, que sob pretexto da criatividade, a ginstica localizada passa por uma fase ruim com alguns professores ministrando aleatoriamente, aulas sem fundamentos especficos com repeties exagerada, fato que a cincia j reprovou, se o pblico alvo for o cidado comum.

3. A Educao Fsica no BrasilOS NDIOS: No Brasil colnia, os primeiros habitantes, os ndios, deram pouca contribuio educao fsica, a no ser os movimentos rsticos naturais tais como nadar, correr atrs da caa e o arco-e-flecha. Nas suas tradies incluem-se as danas, cada uma com significado diferente: homenageando o sol, a lua, os Deuses da guerra e da paz, os casamentos etc.

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Entre os jogos incluem-se as lutas, a peteca, a corrida de troncos entre outras que no foram absorvidas pelos colonizadores. Sabe-se ainda que os colonizadores achavam que os ndios no eram muito fortes e no se adaptavam ao trabalho escravo.

OS NEGROS E A CAPOEIRA: sabe-se que os negros africanos foram trazidos para o Brasil para o trabalho escravo e que as fugas para os Quilombos os obrigaram a lutar sem armas contra os capites-do-mato, homens a mando dos senhores de engenho que entravam mato adentro para recapturar os escravos. Nestes embates, instintivamente, os escravos descobriram ser o prprio corpo uma arma poderosa e o elemento surpresa durante a luta. A inspirao para a criao da capoeira veio da observao da briga dos animais e das razes culturais africanas. O nome capoeira veio do mato onde os escravos se entrincheiravam para treinar, em pequenas clareiras. "Um estranho jogo de corpo dos escravos desferindo coices e marradas, como se fossem verdadeiros animais indomveis": so algumas das citaes de capites-do-mato e comandantes de expedies descritas nos poucos alfarrbios que restaram. Rui Barbosa mandou queimar tudo relacionado escravido.

O BRASIL IMPRIO: O ano de 1834, se constitui no marco inicial da formao em Educao fsica no Brasil, pois o primeiro Brasileiro, de um grupo que totalizou trs dezenas, ao longo de quase um sculo, ingressou no Philantropinium sede da Alemanha, onde ensinavam os grandes Mestres da Educao Fsica da poca.

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Em 1851 o Governo Imperial, atravs da lei n0 630 de 17/09 inclui a ginstica no ensino das escolas primrias. 1876 surge uma medida legal referida explicitamente formao de professores: o Decreto n 6370 que introduziu no municpio da Corte (Rio de Janeiro), em suas duas Escolas Normais, o ensino de ginstica e de princpios gerais da Educao Fsica. Embora Rui Barbosa no quisesse que o povo soubesse da histria dos negros, preconizava a obrigatoriedade da Educao Fsica nas escolas primrias e secundrias praticada 4 vezes por semana durante 30 minutos. Em 1882, o Deputado Ruy Barbosa, na qualidade de relator, apresentou Cmara dos Deputados, no Rio de Janeiro, em sesso realizada em 12 de setembro, a Reforma do Ensino Primrio e Vrias Instituies Complementares da Instruo Pblica. O Parecer e o Projeto foram obras da Comisso de Instruo Pblica, composta pelos Deputados Ruy Barbosa, Thomas do Bonfim Espnola e Ulysses Machado Pereira Viana. O captulo que tratava da Educao Fsica enfatizava que a comisso desejaria propor-vos a fundao de uma escola normal de ginstica, na qual se formassem professores para as escolas deste municpio e para as provncias que o solicitassem. Limitou-se, porm, a instituir, em cada escola normal, uma seo especialmente consagrada a esse ensino. O Projeto ainda previa: a obrigatoriedade da ginstica na formao dos professores e professoras; a incluso, nos programas escolares, da ginstica como matria de estudo; a equiparao dos professores de ginstica aos de outras disciplinas.

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O BRASIL REPBLICA: Em 21 de setembro de 1905, o Deputado Jorge de Morais, representante do Estado do Amazonas, apresentou, na Cmara dos Deputados, no Rio de Janeiro, o seu projeto sobre Educao Fsica. O projeto definia: O Congresso Nacional resolve: Art. 1. Ficam criadas duas escolas de Educao Fsica, sendo uma militar e outra civil. Art. 2. Fica o poder executivo autorizado a adquirir terrenos para que a mocidade das escolas superiores possa, em espaos apropriados, dar-se prtica dos jogos ao ar livre. Com referncia escola civil, segundo a proposta de sua criao, fornecer os professores de Educao Fsica para todos os colgios existentes no Pas, e enfatizava: o professor de ginstica necessita de uma soma regular de conhecimentos que s um curso bem organizado pode fornecer. E, entre esses conhecimentos, citava a anatomia, a fisiologia, princpios gerais de higiene, a histria e evoluo da Educao Fsica, alm de outros necessrios ao fim a ser atingido. 1906 - 1939 Nos primeiros meses de 1906 chegou a So Paulo uma Misso Militar, contratada na Frana para instruir e reorganizar a Fora Pblica do Estado de So Paulo. Entre os integrantes da Misso, os capites Delphim Balancir e Louis Lemaitre eram especialistas em Educao Fsica. A Misso Militar props a criao de um rgo para habilitar mestres e monitores de Ginstica e Esgrima, envolvendo oficiais e sargentos. Em 3 de maro de 1910, o Secretrio da Justia e da Segurana Pblica do Estado de So Paulo, Washington Luis Pereira de Souza, enviou ao Comandante Geral da Fora Pblica o expediente que versava fica criado, nessa corporao, um Curso de Esgrima e Ginstica, destinado aos oficiais e elementos da Fora Pblica, devendo

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ser tomadas as providncias para a instalao de respectivo aparelhamento em sala adrede preparada. A Seo de Educao Fsica da Fora Pblica do Estado de So Paulo, no ano de 1914, passou a denominar-se Escola de Educao Fsica, segundo consta do Relatrio Interno do Batalho Escola. Em 11 de janeiro de 1930, o Ministro da Guerra, Nestor Sezefredo dos Passos, baixou Instrues com o fim de organizar o Centro Militar de Educao Fsica, em substituio a um Curso Provisrio que havia sido realizado em 1929. O Centro era destinado aos oficiais subalternos e aos sargentos, para preparar Instrutores e Monitores de Educao Fsica, assim como difundir, unificar e intensificar o ensino da Educao Fsica no Exrcito. Poderiam participar dos Cursos do Centro Militar de Educao Fsica oficiais e sargentos das foras auxiliares, professores federais, estaduais ou municipais e civis. Ficou o Centro instalado na Fortaleza de So Joo, na Urca. Os Cursos seriam realizados duas vezes no ano, com cinco meses de durao, cada Curso. Em 1931 foi o Centro desligado da Fortaleza de So Joo, tornando-se autnomo, passando direo do Major Newton de Andrade Cavalcanti. Em 28 de maio de 1936, por Decreto do Governo do Estado de So Paulo, foi a Escola de Educao Fsica regulamentada, com o fim de formar Instrutores e Monitores de Educao Fsica Geral e Desportiva; formar Mestres de Armas e Monitores de Esgrima; proporcionar, aos mdicos, conhecimentos especializados em Educao Fsica e formar Massagistas Desportivos. Em 1939, vrios artigos do Regulamento da Escola foram alterados. Enfim, a Escola de Educao Fsica da Polcia Militar do Estado de So Paulo, pioneira que foi, prosseguiu a sua longa trilha em favor da formao de pessoal na rea de Educao Fsica.

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1939, o Ministro Gustavo Capanema enviou ao Presidente Getlio Vargas, em janeiro, o Projeto de Decreto-Lei para a criao da Escola Nacional de Educao Fsica e Desportos. Em sua Exposio de Motivos, Capanema referia-se, inicialmente, obrigatoriedade da Educao Fsica nas escolas primrias, normais e secundrias, e que ela seria aconselhvel em todos os estabelecimentos de ensino. Ressaltava, o Ministro, a necessria formao de professores instrudos, possuidores da cincia e da tcnica dos exerccios fsicos, bem como a necessidade de elevar o nvel dos desportos em nosso pas. Afirmava Gustavo Capanema: Em suma, professores de Educao Fsica, tcnicos em desportos, mdicos

especializados em Educao Fsica e desportos, tais so os elementos essenciais e bsicos de que necessitamos para desenvolver e aperfeioar entre ns a Educao Fsica e os desportos. Perodo em que comeou a profissionalizao da Educao Fsica: Nas polticas pblicas, at os anos 60, o processo ficou limitado ao desenvolvimento das estruturas organizacionais e administrativas especficas tais como: Diviso de Educao Fsica e o Conselho Nacional de Desporto. Os anos 70, marcado pela ditadura militar, a Educao Fsica era usada, no pra fins educativos, mas de propaganda do governo sendo todos os ramos e nveis de ensino voltados para o esporte de alto rendimento. Nos anos 80, a Educao Fsica vive uma crise existencial procura de propsitos voltados sociedade.

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No esporte de alto rendimento a mudana nas estruturas de poder e os incentivos fiscais deram origem aos patrocnios e empresas podendo contratar atletas funcionrios, surgindo uma boa gerao de campees das equipes Atlntica Boa Vista, Bradesco, Pirelli entre outras. Nos anos 90, o esporte passa a ser visto como meio de promoo de sade acessvel a todos manifestada de trs forma: Esporte Educao , Esporte participao e esporte de performance. A Educao Fsica finalmente regulamentada de fato e de direito uma profisso a qual compete mediar e conduzir todo processo. LEI 9696 de 1o de Setembro de 1998.

Os passos decisivos da profisso: 1946 Fundada a Federao Brasileira de Professores de Educao Fsica. 1950 a 1979 Andou meio esquecida com poucos e infrutferos movimentos. 1984 Apresentado o 1 projeto de lei visando a regulamentao da profisso. 1998 Finalmente a 1 de Setembro assinada a lei 9696 regulamentando a profisso com todos os avanos sociais fruto de muitas discusses de base e segmentos interessados.

4. Divises da Educao Fsica:

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E.F. Higienista: at 1930 - a prtica da EF enxergada como necessria para a sade, a assepsia social e saneamento pblico, na busca de uma sociedade livre de doena, atravs da disciplina escolar. E.F. Militarista: entre 1930 1945 nesta poca a EF tinha o papel de formar indivduos obedientes e adestrados. O objetivo maior era o aperfeioamento da raa ou forjar mquinas

humanas por meio do desporto. Nesta poca foram criados os grandes centros de cultura fsica, ginstica

olmpica, treinamentos especiais de artes marciais para o adestramento do homem para as batalhas. E.F. Pedagogista: 1945 1964 uma nova fase da educao fsica que busca integrar uma disciplina educativa por excelncia por meio da escola. A Ginstica, a dana e o desporto so meios da educao do alunado com a finalidade de ensinar regras de convvio democrtico e de preparar as novas geraes para o altrusmo, o culto a riquezas nacionais, etc. E.F. Competitiva: ps 1964 nesta poca a EF colocada como apndice de um projeto que privilegia o treinamento desportivo para o Esporte de alto nvel. E.F. Popular: aps II guerra mundial nesta poca iniciaram as preocupaes com as reivindicaes dos partidos populares e dentre elas entrou a EF em funo da ludicidade, da solidariedade e a organizao e mobilizao dos trabalhadores na tarefa de construo de uma sociedade efetivamente democrtica.

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5. Breve Histrico da Educao Fsica EscolarMas, o que Educao Fsica Escolar? um elemento do processo educacional formal, que tem como meio especfico s atividades fsicas exercidas a partir de uma inteno educativa, possibilitando o desenvolvimento das dimenses cognitiva, afetivo-social e motora de crianas e adolescentes atravs de exerccios ginsticos, jogos, esportes, danas e lutas. Uma definio de partida concerne interpretao temporal do corpo que, pouco valorizado no perodo medieval, reconquistou seu espao no perodo renascentista, tendo o exerccio fsico denominado de ginstica desde o sculo XVIII, recebido maior nfase na escola. 1423: A escola La Giocosa de Mantova foi estabelecida por Vittorino Rambaldoni da Feltre no norte da Itlia, primeiro educador a colocar a educao do corpo no mesmo nvel das disciplinas tidas como intelectuais. Sculo XVII: A Educao Fsica no era considerada como um aspecto essencial da educao para ser tratado, salvo em raras excees. Sculo XVIII: A Educao Fsica j era alvo de ateno qual eram buscadas solues, apesar de que na maioria dos casos, as mesmas se fundamentassem em mero empirismo. 1774: Johann Bernard Basedow (1723-1790), estabeleceu sua escola-modelo Philanthropinum, em Dessau, Alemanha, onde a ginstica estava includa no currculo escolar e possua o mesmo status que as disciplinas intelectuais. Inicialmente, nessa instituio eram praticadas atividades originrias dos tempos

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medievais como a equitao, o volteio, a natao, a esgrima, a dana e os jogos, posteriormente, foram acrescentados exerccios naturais com o correr, saltar, arremessar, transportar e trepar. Sculo XIX: Foram observadas preocupaes metodolgicas do ensino da Educao Fsica, principalmente, na sua primeira metade, em vrios pases europeus. Certamente que este crescimento em interesse pelos problemas da Educao Fsica, em 1800, deu-se com base em experincias pedaggicas dos enciclopedistas, dos filantropos, de Pestalozzi, Frbel entre outros. O

desenvolvimento das escolas pblicas alems para as massas aconteceu no sculo XIX. A Educao Fsica, e em particular a ginstica, passou a ser introduzida nas escolas pblicas, com carter obrigatrio. Entretanto, a imposio legal da obrigatoriedade freqentemente no era atendida por falta de meios adequados para a sua prtica e porque os objetivos pretendidos eram baseados em doutrinas com pouca fundamentao cientfica e orientao pedaggica, como tambm,

metodologia inadequada. Dcada de 1960: Perodo em que a Educao Fsica Infantil se fundamentou nas questes da psicomotricidade, com enfoque re-educativo e aps, teraputico. A

psicomotricidade, alm de incorporar, inicialmente, o mesmo paradigma da Educao Fsica, atravs da ginstica, da dana, do jogo e do desporto, utilizou a primeira, atravs de diferentes grupos de exerccios, no diagnstico de variveis fsico-motoras ou no tratamento re-educativo teraputico de crianas. Observa-se, ento, que a psicomotricidade, como tambm, a Educao Fsica so utilizadas no mbito da Educao Fsica Escolar numa perspectiva educativa. A Educao

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Psicomotora, vertente da psicomotricidade, a ao psicolgica e pedaggica que utiliza os meios da Educao Fsica com o objetivo de normalizar ou melhorar o comportamento da criana. Dcadas de 1960 e de 1970: Os estudos sobre a abordagem desenvolvimentista foram direcionados para a aquisio de padres motores maduros fundamentais. Observou-se, ento, um perodo normativo-descritivo nas investigaes relativas ao desenvolvimento motor. Dcadas de 1980 e 1990: O enfoque das investigaes concentrou-se na compreenso dos processos subjacentes envolvidos no desenvolvimento motor, ao invs de se centralizar no produto do desenvolvimento. Observa-se, ento, a contribuio de Esther Thelen e de Jane Clark e colaboradores na formulao da teoria de sistemas dinmicos de desenvolvimento motor. 1996: A Lei 9.394/96 deu uma nova roupagem Educao Fsica. O artigo 26 deste dispositivo estabelece que a Educao Fsica, integrada proposta pedaggica da escola, um componente curricular da Educao Bsica e dever ser ajustada s faixas etrias e s condies da populao escolar, sendo facultativa aos alunos dos cursos noturnos. Porm, apesar deste avano a LDBE, desobriga a Educao Fsica e deflagra um movimento em vrios estados de se por fim a disciplina de Educao Fsica. 1998: A Lei 9696 sancionada no dia 1 de setembro pelo ento Presidente Fernando Henrique Cardoso, criando o Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Educao Fsica e regulamentando a Profisso de Educao Fsica, publicada no Dirio Oficial da Unio no dia 2 de setembro passa a ser de domnio pblico. No dia

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8 de novembro, no RJ, eleito o primeiro grupo de Profissionais de Educao Fsica, para gerir o CONFEF, presentes na plenria que fez a eleio um crum formado por 80 Instituies de Ensino Superior, pela Federao Brasileira das Associaes de Professores de Educao Fsica e por 25 Associaes de Professores e Profissionais de Educao Fsica. 1999: Criada a Comisso de tica Profissional, em 14 de janeiro, pelo CONFEF, a fim de se iniciar as discusses para elaborao do Cdigo de tica Profissional em Educao Fsica.A Agenda de Berlim vem a pblico depois de uma reunio internacional com mais de 500 representantes de 60 pases, convocada pelo International Council of Sport Science and Physical Education ICSSPE. Este documento listou os problemas comuns diagnosticados em mais de 50 pases quanto prtica da Educao Fsica (pesquisa sob responsabilidade de Ken Hardman da Universidade de Manchester, Inglaterra). De um modo geral foi constatado um estado de retrocesso da Educao Fsica Escolar em escala mundial, em grande parte devido a impossibilidade da escola e dos rgos dirigentes da educao manterem adequadamente as atividades fsicas e jogos nos currculos j saturados por demandas de novos conhecimentos. Sculo XXI: No incio desse sculo, a Educao Fsica, sob o ttulo de Ginstica foi includa nos currculos escolares da Bahia, do Cear, do Distrito Federal, de Minas Gerais, de Pernambuco e de So Paulo. Nesse perodo, a educao brasileira estava sendo influenciada pelo movimento que discutia a reconstruo educacional do Brasil, atravs de uma nova educao voltada para o desenvolvimento integral do

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indivduo. A Educao Fsica como meio para se alcanar o objetivo almejado seria um dos agentes de importncia no processo. 2000: Deciso plenria do CONFEF em 20 de fevereiro homologa a resoluo 025 que Institui o Cdigo de tica Profissional em Educao Fsica, construdo no transcorrer de mais de um ano de debates democrticos e contribuies por especialistas. 2001: Como o artigo 26 estava gerando inquietaes em relao ausncia da obrigatoriedade da Educao Fsica na Educao Bsica, O CONFEF consegue a Lei n. 10.328, de 12 de dezembro de 2001, e introduz a palavra obrigatrio aps os termos componente curricular e ameniza tais preocupaes, tornando a Educao Fsica um componente curricular obrigatrio na Educao Bsica (Educao Infantil, Ensinos Fundamental e Mdio).

6. A Verdade sobre a Educao FsicaPortanto, durante algum tempo, equivocadamente, acreditamos que os centros de atividades fsicas e os complexos esportivos tenham surgido (especialmente no Brasil) na poca militarista, nos quartis, devido aos grandes preparos para as guerras e de onde tudo progrediu para a Educao Fsica atual voltada para diversas reas na vida dos indivduos. Mas, na verdade eles surgiram h muito tempo atrs, mesmo antes de Cristo, em povos e culturas milenares, orientais e ocidentais, desenvolvendo-se lentamente at os

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dias atuais, em que permanece ainda em construo, recebendo contribuies e influncias as mais diversas possveis.

7. BibliografiaDaCosta, L. (org.) Atlas do Esporte no Brasil. Rio de Janeiro: Shape, 2005.

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8. AvaliaoParabns! Voc chegou ao fim da primeira etapa de seus estudos. Aps o contato com estas informaes iniciais, importante, neste momento, parar e tentar perceber qual foi o entendimento que voc teve dos assuntos. Para isso veja se voc j consegue responder s questes propostas na apresentao do mdulo e, enquanto faz isso, analise suas dvidas. Voc consegue entender como se deu a construo histrica do conhecimento

da educao fsica? Voc consegue perceber que a prtica pedaggica dentro da educao fsica

teve uma evoluo? J possvel entender que o processo de construo do conhecimento dentro da

educao fsica passou por diversas fases e continua ainda hoje em evoluo? Se no conseguir resolver sozinho alguma dvida, discuta-a com seus colegas de trabalho ou de estudos: durante uma boa conversa muitas coisas se esclarecem e voc pode acabar descobrindo at que j pode at estar sabendo mais a respeito de alguns assuntos do que seus colegas que no esto se atualizando! Quando sentir-se pronto, marque sua prova. Lembre-se: s precisa contar com a sorte em uma prova quem no se preparou. Voc que est levando a srio seus estudos conta com o conhecimento e sabe que vai ser bem sucedido! Comece agora o estudo da Unidade 2.

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UNIDADE 2 DIDTICAApresentao Nesta unidade, verificaremos que um professor eficaz planeja,

organiza e se mantm sempre um passo frente. Comearemos contextualizando a prtica pedaggica de quem trabalha com atividades fsicas e esportivas dentro das dimenses histrica e social das quais os alunos provm. Depois passaremos conceituao dos pilares do planejamento, identificando cada ator ou atividade do processo pedaggico. A seguir estudaremos as bases da prescrio de exerccios fsicos e encerraremos o captulo examinando os aspectos da metodologia de ensino necessrios ao bom desempenho de um profissional de educao fsica em sala de aula. Ao trmino do estudo desta Unidade, voc dever ser capaz de: localizar o ensino de atividades fsicas enquanto prtica pedaggica, visando educao, sade e ao treinamento esportivo dos alunos; entender a importncia do ato de planejar; reconhecer os pilares do planejamento; aplicar os princpios da prescrio em educao fsica. reconhecer os aspectos metodolgicos necessrios ao bom desempenho do profissional de educao fsica.

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SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Didtica e Metodologia de Ensino em Educao Fsica

Didtica e Metodologia de Ensino em Educao FsicaMarisete Peralta Safons1, Mrcio de Moura Pereira21. CREF 004265/G-DF, Dra. Cincias da Sade, Profa. Universidade de Braslia. 2. CREF 001243/G-DF, Ms. Educao Fsica, Prof. Ioga, Tai Chi Chuan e Dana de Salo. GEPAFI Grupo de Estudos e Pesquisas da Atividade Fsica para Idosos FEF/UnB Faculdade de Educao Fsica da Universidade de Braslia

1. Preciso ser ProfissionalO profissional que assume um grupo de pessoas para orientar atividades fsicas precisa saber que seu trabalho est inserido em uma realidade com fortes componentes histricos e sociais. Um dos grandes desafios da Educao Fsica hoje atuar preventivamente na comunidade, combatendo o sedentarismo e elevando os nveis de sade da populao (CONFEF, 2002). De acordo com a Carta Brasileira de Educao Fsica (CONFEF, 2000), o profissional da Educao Fsica dever lanar mo de todos os meios formais e noformais (exerccios, ginsticas, esportes, danas, atividades de aventura, relaxamento, etc.) para educar o ser humano para a sade e para um estilo de vida ativo. Este documento sugere, alm disso, que o trabalho educativo a partir do movimento deve estabelecer relaes tambm com o Lazer, a Cultura, o Esporte, a Cincia e o Turismo e que ele tem compromissos com as grandes questes contemporneas da Humanidade como a incluso dos idosos e das pessoas portadoras

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de necessidades especiais, o combate excluso social, a promoo da paz, a defesa do meio ambiente e a educao para a cidadania, democracia, convivncia com a diversidade (tnica, sexual, cultural, religiosa, etc.). Historicamente, seu aluno faz parte de uma populao que teve poucas oportunidades de praticar atividades fsicas: no Brasil a Educao Fsica sempre foi tratada como um luxo, uma opo e s vezes como obrigao, mas s recentemente ela vem sendo vista como uma necessidade e um direito. Uma necessidade do ponto de vista da sade (pelo seu importante papel na promoo da sade e na preveno ou tratamento de diversas doenas). Tambm do ponto de vista educacional a Educao Fsica j reconhecida como uma necessidade devido ao seu potencial para estimular a adoo de hbitos, valores e contedos importantes em uma sociedade democrtica, tais como incluso, crtica, cidadania, participao, cooperao, disciplina, mtodo, organizao, planejamento, etc. Tudo isso tendo como base o prazer e o senso esttico da livre expresso da corporeidade dentro do esporte ou da atividade fsica preferida. por esse potencial de educao, promoo da sade e de expresso da liberdade, do prazer e da esttica humana que a Educao Fsica se afirma no s como uma necessidade, mas tambm como um direito. O papel do Profissional de Educao Fsica situa-se justamente neste contexto: planejar, promover, orientar, controlar e avaliar a prtica de esportes e atividades fsicas com a intencionalidade explcita de educar e promover a sade dos cidados que lhe confiaram esta misso. Por isso o trabalho do Profissional envolve tcnica (conhecimento profundo da atividade que ensina, de toda a sua linguagem gestual, de suas regras, sua histria, de

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suas dificuldades e de sua importncia para a comunidade); cincia (conhecimento do ser humano do ponto de vista biolgico, psicolgico, social e espiritual: anatomia, fisiologia, psicologia, antropologia, sociologia, filosofia, ensino religioso, etc.) e pedagogia (conhecimento profundo da Arte de Ensinar, que rene todos os aspectos anteriores sob a luz da Didtica, um dos pilares da Pedagogia).

Pare e pense: preciso ter competncias tcnicas: voc contrataria para ensinar futebol a seus filhos um Professor Famoso que estudou tudo de futebol, assistiu a milhares de vdeos e partidas de futebol, colecionou Tudo sobre futebol, MAS nunca pegou em uma bola, nunca fez ou sofreu um gol, nunca fez ou sofreu uma falta, nunca comemorou uma vitria prpria, nem nunca chorou uma derrota? O que ele sabe sobre paixo, sonho, expectativa, medo, raiva, frustrao, dor, limite, exausto? preciso ter competncias cientficas e pedaggicas: voc contrataria para ensinar atletismo a seus filhos um Professor Campeo Olmpico que viveu no corpo todas as alegrias e todas as dificuldades de se dedicar integralmente ao esporte, MAS que nunca parou para estudar a fundo o qu (do ponto de vista fisiolgico, psicolgico e social) faz um indivduo ser bem sucedido ou no na prtica de um determinado esporte? Que jamais passou pela experincia de avaliar um aluno e depois planejar, prescrever, orientar e supervisionar o treinamento at ver os resultados aparecerem? Ou, no caso do resultado no aparecer, saber o qu precisa ser ajustado para que os objetivos possam ser alcanados?

2. Planejar precisoO foco do trabalho na Educao Fsica o ser humano integral abordado a partir do corpo. preciso lembrar que o corpo, principalmente no ocidente, sempre foi objeto de excluso: coisificado pelas cincias da sade, adestrado pela educao, alienado pela poltica, demonizado pela religio. Visto como objeto de trabalho, instrumento de transporte, palco de conflitos, o corpo da maioria de nossos alunos no teve acesso educao fsica escolar na infncia e adolescncia (a educao fsica ainda no obrigatria em todo o currculo

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escolar) e entre adultos este corpo no costuma ter tempo para o exerccio, nem para o jogo, o esporte ou o lazer. O corpo chega ao Profissional de Educao Fsica espoliado, cansado, frgil, com um repertrio pequeno de movimentos (s faz bem movimentos relacionados ao trabalho). Este corpo muitas vezes chega aos sessenta anos portando as doenas do trabalho, da imobilidade, do sedentarismo (obesidade, hipertenso, cardiopatia, colesterol alto, diabetes tipo II, reumatismos) e chega normalmente s aulas de educao fsica com dor, muita dor (na coluna, nas pernas, nos braos, na cabea...). Isso sem contar as outras dores: da solido, do abandono, da pobreza, da falta de atendimento especializado, do desrespeito a direitos bsicos, da violncia onipresente. O professor que assume um grupo para orientar a prtica de exerccios fsicos precisa ter essas realidades bem claras ao propor as atividades. preciso saber que nenhum exerccio proposto se reduz ao ato mecnico de mover um brao ou uma perna. preciso ter claro que cada movimento , na verdade, uma possibilidade de resgate da infncia, redescoberta da corporeidade, liberao de afetos, superao de dores, permisso para o prazer de viver... e, talvez, at de descobrir algum talento esportivo. E a comea uma nova histria, uma histria da qual voc professor faz parte. Uma histria na qual a escola, a academia, o clube, a praa, o hospital, o parque, etc. podem ser adotados como espaos para incluso social, descoberta de talentos, educao para a sade, autonomia e cidadania. Nesta histria a atividade fsica tornase o meio atravs do qual o processo educacional se d em funo desses objetivos e,

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portanto, precisa ser bem planejada sob pena de no se atingirem os resultados, de se desperdiarem recursos e de se frustrarem as expectativas, tanto dos alunos, como do prprio professor. Falhas no planejamento podem acarretar efeitos adversos e bem diferentes de qualquer expectativa baseada em boas intenes ou na f de que tudo vai dar certo: Se no planejamento no foi prevista a socializao bem provvel que os alunos venham ao programa por meses sem estreitarem os laos de amizade e camaradagem (entra mudo, sai calado); Se no planejamento no foi prevista a incluso bem provvel que em cada atividade proposta alguns alunos se sintam excludos (ioga para as mulheres, musculao para homens, no sirvo para correr, branco no consegue sambar...); Se no planejamento no foi prevista a progresso bem provvel que os alunos no percebam vantagem alguma em investir seu tempo em algo que no apresenta resultados visveis ou mensurveis (a distncia ou o tempo da caminhada so os mesmos h um ano, o peso que levanto o mesmo h meses, o que ganhei com tanto trabalho, tempo e suor?); Se no planejamento no forem previstas atividades que levem em conta a sade bem provvel que nenhuma melhora seja verificada neste aspecto (o mdico me disse que com exerccio minha presso - ou a glicose ou a dor - melhoraria, mas j estou praticando h cinco anos e continuo na mesma!); Se no planejamento no foram previstos os riscos bem provvel que os alunos venham a sofrer danos com a atividade proposta (desconforto psicolgico, dor, leso e at morte!).

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Voc sabia que um infarto causado por exerccios mal planejados pode acontecer at vrias horas depois da prtica, podendo levar morte ou invalidez? Voc sabia que uma crise glicmica ou diabtica causada por exerccios mal planejados pode acontecer at vrias horas depois da prtica, muitas vezes noite, caso em que o aluno pode morrer dormindo? Voc sabia que uma crise de dor causada por exerccios mal planejados pode acontecer at vrias horas depois da prtica, quando passa o efeito do aquecimento e das endorfinas, levando o aluno muitas vezes ao leito durante semanas, sob medicao cara e pesada? Um professor que planeja levando em conta a realidade do aluno, procurando proporcionar o mximo de benefcios e ao mesmo tempo prevenir os riscos sabe que muito do progresso de cada aluno se deveu s atividades propostas por ele. Um professor que planeja sabe tambm que os agravos nas doenas dos alunos e at mesmo a morte de algum aluno ao longo do ano podem ter qualquer causa (acaso, progresso natural da doena, acidente...), mas no a sua impercia ou omisso. J um professor que no se preparou e no planejou, jamais saber por que este aluno progrediu e aquele no. E jamais poder afirmar que uma morte no foi causada pelo seu trabalho, s porque no aconteceu durante a aula. Estas reflexes nos levam concluso de que Planejar preciso, no s por motivos tcnicos, mas tambm ticos: conscincia tranqila e certeza do dever cumprido no tm preo. Assim, um bom planejamento: Foca os recursos na direo da conquista dos objetivos;

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Evita que o trabalho se torne rotineiro e repetitivo; Previne os riscos do improviso; Aumenta a segurana das prticas. Em seu planejamento, um professor eficaz deixa claro QUEM faz O QU e POR QUE, PARA QUEM e COMO, determinando ainda procedimentos de AVALIAO para acompanhar o processo. Um professor eficaz sabe que a parte mais importante de seu planejamento ser a tarefa de execut-lo. Ele sabe tambm que o Plano A pode no funcionar na hora, mas como tem tudo planejado, ele tem sempre um Plano B preparado com antecedncia: assim nunca ter que improvisar e, livre deste tipo de preocupaes, pode dedicar-se mais aos alunos e tarefa pedaggica, trabalhando sempre prximo ao ESTADO DA ARTE profissional.

3. Pilares do PlanejamentoO planejamento visa ao. Ele um processo dinmico de coordenao de esforos e recursos ao longo do processo de ensino e aprendizagem, que permite ao professor prever e avaliar a direo da ao principal e determinar rumos de aes alternativas, servindo ainda para auxiliar o professor a tomar de decises racionais, tecnicamente embasadas. Ao se planejar de uma aula ou projeto de atividades fsicas preciso especificar claramente: quem vai fazer o qu, para quem e por que, a fim de se determinar o

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como fazer (a metodologia de trabalho). preciso tambm especificar instrumentos de avaliao para acompanhamento e controle da atividade desde o incio. No caso de um programa de atividades fsicas para a populao cada item colocado acima corresponderia a: Quem faz o profissional deO qu faz Como fazer (metodologia) Por que faz

educao fsica; Por que faz so as justificativas tericas e os objetivos para oQuem faz

Para quem faz

programa ou para cada aula (sade, educao, esporte, lazer, etc.); Para quem faz o aluno;

AVALIAO

O qu faz so os contedos de Educao Fsica (atividade fsica, exerccios, esporte, jogos, etc.); Como faz metodologia de trabalho adequada s necessidades do aluno, so as aulas propriamente ditas, prescritas e ministradas dentro dos princpios do treinamento esportivo. Avaliao: instrumentos de acompanhamento e controle do aluno, da atividade e do programa a fim de verificar questes como: quem o aluno? Que atividades podem ser desenvolvidas com ele neste lugar? O treinamento atingiu os objetivos? Por quanto tempo mais sero mantidas as estratgias atuais? So necessrios ajustes? Onde? Por ser dinmico o planejamento no se resume ao plano de curso e aos planos de aula, metodicamente executados e jamais alterados. Na verdade ele se realiza por

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ajustamentos sucessivos, sofrendo influncias o tempo todo da realidade qual est sendo aplicado. Por isso a avaliao est presente o tempo todo, inclusive durante a execuo das tarefas. O planejamento deve expressar os objetivos do programa de exerccios e ele deve prever os meios para se alcanar esses propsitos, racionalizando a utilizao dos recursos e otimizando a tarefa principal da educao que o processo ensinoaprendizagem. Isto deve ser feito por escrito, em um caderno, pasta de planos avulsos ou em qualquer outro meio (em papel ou digitalizado e arquivado em computador) que o professor ache vlido para escrever, guardar, recuperar, estudar e refazer seus planos. No exemplo do caderno, pode-se ter um caderno para cada disciplina que se pretenda ministrar. As pginas iniciais so reservadas para o plano de curso e as seguintes ficam destinadas aos planos de aula. O plano de curso aquele mais geral, que resume os principais pontos que nortearo o desenvolvimento do programa e a confeco dos planos de aula. J o plano de aula mais especfico e deve prever o que acontecer em cada aula. H vrios modelos, voc no precisar seguir exatamente o sugerido neste curso, mas h algumas informaes que no podem faltar em um plano, independente do modelo, por isso segue abaixo um esquema bsico que poder ser utilizado como esboo de planejamento tanto de curso, quanto de aula, que depois ser passada para o caderno de planos.

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Modelo confeco de PlanoModalidade: Professor: Pblico alvo: Objetivos: Contedos: Metodologia: Avaliao: Campo preenchido com o nome da atividade proposta. Campo preenchido com o nome de quem vai ensinar. Campo preenchido com o aluno para quem se vai ensinar. Campo preenchido com por que (motivos) se faz esta proposta. Campo preenchido com o qu ser feito dentro das aulas. Campo preenchido com o como transcorrero as aulas. Campo preenchido com os instrumentos de avaliao que se vai utilizar para aferir se o trabalho est dando resultado.

4. A Prescrio em Educao FsicaA prtica segura de exerccios fsicos sempre pressupe: prescrio (qual modalidade ser praticada por qual aluno ou turma para atingir que objetivo?), orientao e superviso (controle exercido por um professor presente, junto com o aluno ou turma em uma situao pedaggica, facilitando o processo de ensino e aprendizagem: aula). A prescrio, orientao e superviso so importantes porque neste tipo de atividade fsica (exerccio) sempre existe alguma expectativa de benefcio (fsico, psicolgico, social, etc.) que, para ser alcanado, sempre necessita de um mnimo de conhecimento tcnico, pois sempre envolve alguma dose de risco (risco social de excluso; risco psicolgico de frustrao e, principalmente, risco fsico de leso, fadiga e at morte).

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Para se discutir os princpios para a prescrio do exerccio fsico para que o aluno melhore sua aptido fsica e sade, primeiro preciso ter bem claro o que se entende por Aptido Fsica, Atividade Fsica e Exerccio Fsico (ASSUMPO, 2002): APTIDO FSICA: uma srie de atributos fsicos que possibilita a qualquer pessoa o desempenho satisfatrio de suas atividades da vida diria, que vo desde o trabalho e cuidados pessoais at as recreativas, esportivas e de lazer. ATIVIDADE FSICA: qualquer atividade ou movimento que provoque um gasto de energia acima do repouso. So exemplos de atividades fsicas: tomar banho, dirigir, pintar, tocar um instrumento, andar, brincar, passear, fazer compras, trabalhar, danar, jogar, varrer, jardinar e praticar exerccios fsicos. EXERCCIO FSICO: uma atividade fsica praticada regularmente com base numa prescrio que visa o condicionamento fsico ou o desenvolvimento de habilidades esportivas ou a educao atravs do movimento. Todo exerccio fsico possui padres caractersticos de cada modalidade e devem estar ligados aos objetivos propostos, mas alguns esto sempre presentes: freqncia semanal, durao, intensidade, progresso, dentre outros. Estes padres so conhecidos em Fisiologia do Exerccio como Princpios de Prescrio ou Princpios do Treinamento Esportivo.

4.1. Princpios da prescrioDe acordo com NUNES (2000) h sete princpios que norteiam o planejamento e a prescrio de exerccios fsicos. Estes princpios so vlidos desde o planejamento de

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simples atividades fsicas no leito ou na cadeira de rodas para um idoso infartado at o planejamento de um treinamento para um atleta de alto rendimento. Estes DESPORTIVO: princpios so denominados PRINCPIOS DO TREINAMENTO

1. PRINCPIO DA INDIVIDUALIDADE BIOLGICA: Cada indivduo diferente do outro. Algumas pessoas so naturalmente mais flexveis (talento natural para ioga, ginsticas), outras so mais fortes (facilidade para musculao, escaladas) e outras tm maior potncia aerbia (predisposio para corridas, natao). Em um grupo, pessoas diferentes apresentam diferentes nveis iniciais de aptido fsica (morfolgica, cardiorrespiratria, muscular e articular), isto caracterstico de sua individualidade biolgica e precisa ser levado em conta na hora de planejar as atividades de forma a valorizar os talentos naturais e, ao mesmo tempo, melhorar o condicionamento das reas em que o indivduo tenha maior dificuldade. 2. PRINCPIO DA ESPECIFICIDADE: exerccios especficos produzem

incrementos especficos. Treinar flexibilidade melhora a flexibilidade, no a fora. Treinar fora de pernas no melhora a fora dos braos. 3. PRINCPIO DA SOBRECARGA: para produzir melhoras preciso aumentar a carga. A Carga de trabalho o somatrio da quantidade de trabalho (volume = durao + freqncia + repouso) com a qualidade do trabalho (Intensidade = tipo de esforo). Aumenta-se a carga diminuindo-se o repouso ou aumentando-se um ou mais dos seguintes componentes: INTENSIDADE, DURAO e FREQNCIA do exerccio. A INTENSIDADE refere-se a quanto do mximo esforo se situa a prescrio. Exemplo:

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passar de 50% para 55% da Freqncia Cardaca Mxima fazer sobrecarga em um treino aerbio. Passar de 30% para 40% de 1RM (Uma Repetio Mxima) fazer sobrecarga em um treino de fora. A DURAO refere-se a quanto tempo se submeter o corpo ao esforo. Exemplo: aumentar o tempo da sesso de treinamento de 30 para 40 minutos fazer sobrecarga a partir da durao. A FREQNCIA referese ao nmero de sesses semanais. Exemplo: aumentar o nmero de prticas de 3 para 4 vezes na semana fazer sobrecarga a partir da freqncia. 4. PRINCPIO DA ADAPTABILIDADE: o corpo se adapta s cargas a que constantemente submetido. Portanto, depois de algumas semanas levantando 10 vezes um peso 3 kg, o corpo se adapta e passa a levantar o mesmo peso 12, 15 ou mais vezes ou ento passa a ser capaz de fazer as 10 repeties agora com 4 kg. Depois de algumas semanas caminhando 4 km em 1 hora, o corpo se adapta e j consegue percorrer os 4 km em 45 minutos ou ento em 1 hora descobre que j consegue caminhar 5 km. Isso quer dizer que o corpo se tornou mais bem condicionado, mas significa tambm que a partir da, se nada for mudado, ele pra de progredir, ficando em estado de manuteno do que j foi ganho. Para continuar progredindo ser necessria uma sobrecarga. 5. PRINCPIO DA PROGRESSIVIDADE: a sobrecarga deve ser aplicada sem saltos, gradativamente, para garantir os benefcios e prevenir leses ou acidentes. 6. PRINCPIO DA CONTINUIDADE: os benefcios decorrem da prtica. Os resultados para o condicionamento so cumulativos, no ocorrem na prtica intermitente.

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7. PRINCPIO DA REVERSIBILIDADE: se no houver continuidade perdem-se os ganhos obtidos. O tempo para voltar ao estgio inicial , em mdia, de 1/3 do tempo de treinamento. Exemplo: O aluno comeou o programa aerbio caminhando 4 km em 1 hora. Em 9 meses j estava caminhando 7 km em 1 hora. Parando o treinamento, aproximadamente em 3 meses ele volta condio inicial.

4.2. Prescrevendo um TreinamentoA melhor maneira de escolher uma atividade para se alcanar objetivos mais especficos do treinamento classific-la de acordo com sua atuao dentro dos Componentes da Aptido Fsica. De acordo com FALLS (1968) so 4 os componentes da Aptido Fsica: o Morfolgico, o Cardiorrespiratrio, o Muscular e o Articular. O trabalho sobre cada componente da aptido fsica exige o desenvolvimento de Qualidades Fsicas especficas. Assim, para melhorar a Aptido Fsica Morfolgica preciso trabalhar sobre as Qualidades Fsicas Percentual de Gordura e Distribuio da Gordura Corporal (que envolve a combinao de dieta alimentar e exerccios aerbios). Para melhorar a Aptido Fsica Cardiorrespiratria preciso trabalhar sobre a Qualidade Fsica denominada Potncia Aerbia. Para melhorar a Aptido Fsica Muscular preciso trabalhar sobre as Qualidades Fsicas denominadas Fora e Resistncia Muscular. E para melhorar a Aptido Fsica Articular preciso trabalhar sobre a Qualidade Fsica denominada Flexibilidade.

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Alm disso, em um programa de condicionamento fsico necessrio tambm acrescentar exerccios que desenvolvam outras Habilidades Fsicas tais como: equilbrio, coordenao, agilidade, velocidade, tempo de reao, potncia.

Potncia Aerbia

As atividades fsicas de natureza aerbia so fundamentais para sade, pois promovem a diminuio dos riscos das doenas cardiovasculares. A atividade fsica regular promove um aumento da capacidade aerbia mxima, devido a um aumento da oferta de oxignio para o trabalho muscular. Desta forma a freqncia cardaca e a presso arterial so proporcionalmente menores para executar uma determinada carga de trabalho. As caractersticas bsicas na prescrio de um treino aerbio so as mesmas para todas as idades. Quando se fala de INTENSIDADE, a FCM (Freqncia Cardaca Mxima) representa o mximo de esforo fisiologicamente possvel. Acima deste valor o sistema cardiorrespiratrio no consegue mais suportar o esforo. Jamais se treinar a 100% da FCM. Mesmo atletas de alto rendimento no trabalham mais que alguns minutos nesta intensidade. Para a maioria das pessoas ativas, com o objetivo de promoo de sade e condicionamento fsico a faixa de trabalho ser de 60% at valores prximos dos 80%. Para pessoas em reabilitao cardaca (depois de um infarto ou de uma internao por fratura, por exemplo) e para aqueles sedentrios, em incio de treinamento, a intensidade deve comear com FCM prxima de 40% em sesses de

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durao inferior a 20 minutos e gradualmente subir tendo como meta a intensidade de 50 a 60% em sesso com 30 a 60 minutos de durao, quando termina a fase teraputica de reabilitao ou adaptao ao exerccio e o aluno passa a treinar com prescries semelhantes aos das pessoas ativas. Para se calcular a FCM podem-se utilizar vrios recursos. O mais comum a Equao de Karvonen (KARVONEN et al., 1957): FCM = 220 idade Por exemplo: Qual a FCM de um indivduo de 30 anos de idade? Utilizando a frmula FCM = 220 idade s substituir a idade por 30 e fazer a conta. Clculo: FCM = 220 30 Resultado: 190 bpm (batimentos por minuto) Como jamais se trabalha na FCM, importante calcular a Freqncia Cardaca de Treinamento para este indivduo. Suponhamos que este aluno, para quem calculamos a FCM de 190 bpm, um indivduo ativo. Sabendo que vamos trabalhar inicialmente com ele em uma faixa que deve comear a 60% da FCM e isto pode chegar a 80% da FCM. Qual ser a faixa de treinamento para este aluno? Para isto, basta calcular quanto 60% e 80% de 190 bpm. Clculo: 60% de 190 = 114 bpm 80% de 190 = 152 bpm Portanto, com este aluno comearemos o treinamento a partir de uma freqncia cardaca de 114 bpm que, ao longo do tempo, poder chegar a 152 bpm.

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Com relao FREQNCIA semanal para o treinamento aerbio, de acordo com o Colgio Americano de Medicina Esportiva (ACSM, 2000) a freqncia ideal vai de 3 a 5 aulas semanais. Treinar 2 vezes, ou menos, aumenta o risco dos problemas ligados ao excesso de carga por intensidade de treinamento (atleta de fim-desemana), sendo os mais srios as leses do aparelho locomotor e os eventos cardiovasculares (infarto, derrame, morte sbita durante ou aps o exerccio). J treinar 6 vezes, ou mais, aumenta o risco dos problemas ligados ao excesso de carga por volume de treinamento, que tambm causa leses do aparelho locomotor e os eventos cardiovasculares (infarto, derrame, morte sbita durante ou aps o exerccio) e ainda acrescenta os distrbios metablicos, cujo resultado mais comum a dor, a fadiga crnica e o estresse fsico e mental. Com relao seleo de atividades para o treinamento aerbio preciso separar as atividades acordo com o nvel de controle sobre a intensidade que cada uma possibilita. Com grupos de iniciantes, sedentrios e em reabilitao melhor escolher atividades que permitam maior controle sobre a intensidade, tais como: caminhar, correr, pedalar, subir e descer escada, alguns tipos de dana aerbia, alguns tipos de ginstica aerbia e exerccios semelhantes, com pouca variabilidade de movimentos e pouca exigncia de preciso e correo da posio a cada instante. J com alunos mais treinados possvel utilizar modalidades mais dinmicas e com maior exigncia de controle motor, pois j estaro condicionados a perceberem a intensidade do esforo e educados para respeitarem seus limites. Como modalidades mais dinmicas entendem-se todos os esportes de grupo e alguns individuais (futebol, voleibol, natao, peteca, tnis, etc), boa parte das danas e boa parte das ginsticas.

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Fora Muscular

O treinamento da fora muscular importante para o indivduo manter a sua capacidade para realizar as tarefas cotidianas, que normalmente necessitam muito mais de fora muscular, resistncia muscular e flexibilidade do que de capacidade aerbia (OKUMA, 1998; SANTARM, 2000). O treinamento resistido, tambm conhecido como treinamento de fora, uma forma de exerccio que requer que a musculatura corporal se mova contra uma fora oponente, geralmente oferecida por algum tipo de equipamento. O objetivo principal desta forma de trabalho promover adaptaes fisiolgicas e morfolgicas no msculo (FLECK & KRAEMER, 1999). Nos exerccios contra-resistncia os msculos se tornam mais fortes em resposta sobrecarga imposta que causa um "estresse" benfico de adaptao: o treinamento de fora aumenta a capacidade oxidativa e promove algumas modificaes estruturais do tecido muscular, desenvolvendo a fora e minimizando o ritmo da perda da massa muscular devido ao sedentarismo ou ao envelhecimento. Isso faz com que o treinamento contra-resistncia seja o meio mais eficiente para aumentar a fora muscular e a massa muscular de idosos, sendo especialmente importante estimular a prtica destes exerccios por parte desta populao (FARO Jr. et al. 1996). A fora muscular definida como a quantidade mxima de fora de tenso que um msculo ou grupamento muscular consegue exercer contra uma resistncia em um esforo mximo.

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A partir desta definio so considerados os dois tipos principais de contraes musculares: a contrao dinmica e a contrao esttica. Na contrao dinmica ou isotnica o msculo encurta-se com tenso varivel ao deslocar uma carga constante. J na contrao esttica ou isomtrica desenvolve-se tenso, porm no existe mudana no comprimento do msculo (WEINECK, 2000). Nas contraes dinmicas observam-se dois tipos bsicos de aes musculares ou fases: ao muscular concntrica na qual o msculo se encurta ao deslocar uma carga e a ao muscular excntrica na qual o msculo se estende de uma forma controlada ao deslocar uma carga. J nas contraes estticas a ao muscular denomina-se ao muscular isomtrica, nela no ocorre movimento da articulao: o msculo desenvolve tenso, mas no existe alterao no comprimento do msculo (FOX & MATHEUS, 1983). Um programa de treinamento resistido, com ou sem pesos, planejado e adequado pode resultar em aumentos significativos na fora, na densidade mineral ssea e na flexibilidade, alm de variados nveis de hipertrofia muscular (MCARDLE et al. 1998). KRAEMER et al. (1996) observam que o protocolo de um programa de exerccio com peso deve considerar a seleo do exerccio, seqncia de exerccios, intensidade utilizada, nmero de sries, o tempo de repouso (entre as sries e entre os exerccios), respeitando dessa forma as adaptaes fisiolgicas. Os princpios fundamentais do planejamento de um programa de treinamento de fora so os mesmos, no importa qual a idade dos participantes. O melhor programa

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o individualizado, para atender as necessidades e as condies de sade de cada pessoa (FLECK & KRAEMER, 1999). Com relao ao aquecimento, ele pode ser feito utilizando-se os mesmos movimentos que sero utilizados durante o treinamento especfico, s que sem a utilizao de pesos. O objetivo aumentar a circulao sangunea de forma a se conseguir um pequeno aumento da temperatura nos msculos, facilitando o metabolismo, melhorando a resposta ao exerccio e diminuindo os riscos. Uma outra estratgia para o aquecimento utilizar nesta fase movimentos de flexibilidade de curta durao, com vrias repeties e dentro dos limites articulares usuais. Isto proporciona uma