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A14 entrevistada2ª SEGUNDA-FEIRA, 6 DE JULHO DE 2009 ef ‘Sem Ronaldo, ganhar a Copa do Brasil teria sido impossível’ ENTREVISTA MANO MENEZES Técnico do Corinthians exalta astro, defende Lula, assume ser marqueteiro e fala em dirigir o Brasil na Copa-2014 Ricardo Nogueira/Folha Imagem ......................................................................................................................................................................................................... MARTÍN FERNANDEZ DA REPORTAGEMLOCAL Em um ano e meio no Corinthians, Luiz Antônio Venker Menezes disputou cinco competições e ga- nhou três títulos. O mais importante deles na semana passada, a Copa do Brasil. Antes, conquistou a Série B do Brasileiro e o Paulista. À Folha o treinador falou sobre Ronaldo, por que criticou e agora elogia Dun- ga e do “acordo” que tem com o presidente Lula. FOTO 4.0 82.00 Ronaldo tem a chance de criar o filho na Espanha. Eu pude mandar minha filha estudar na Inglaterra. Mas respeito muito o brasileiro, não se pode desistir do Brasil O Carlos Leite é meu agente, mas isso não o impede nem o ajuda a fazer negócios com o Corinthians. Isso não me envolve Técnico tem que entender como funciona o mercado, quanto custa um jogador. Mas nunca se envolver na negociação, no salário de um atleta Talvez ele [Lula] não dê sugestão sobre o time para não permitir que eu fale sobre o ministério. É um acordo implícito Fui contra a escolha do Dunga porque ele nunca havia sido técnico. Mas ele fez tudo certo: recuperou o respeito pela seleção, renovou o time e trouxe resultados MANO MENEZES técnico do Corinthians FOLHA - O que esse título acrescen- tou à sua carreira? MANO MENEZES - Faltava um tí- tulo nacional. Era necessário ganhar uma competição como a Copa do Brasil para que as ou- tras pessoas considerassem o meu um trabalho de ponta. FOLHA - Qual foi a importância do Ronaldo para a conquista? MANO - Ele é uma referência. Saber que com a camisa 9 do teu time está um jogador com a trajetória do Ronaldo passa muita confiança. E tem o efeito disso para o adversário. Ter que marcar o maior goleador da história das Copas não é fácil. FOLHA - Haveria título sem ele? MANO - É subjetivo. Muitas equipes já foram campeãs sem o Ronaldo. Mas hoje, no estágio em que nos encontramos, sem ele seria impossível. FOLHA - Você disse que pretende ganhar o Campeonato Brasileiro. Mas o Corinthians quer disputar jo- gos fora do país. Não há conflito aí? MANO - Estou sendo consulta- do. Vamos tentar escolher as datas menos prejudiciais. O fu- tebol vive de receita. Na medida em que o clube está faturando, os compromissos são cumpri- dos e isso se reflete em campo. FOLHA - Então vale a pena sacrifi- car o Nacional por uma excursão? MANO - Vale. É importante pa- ra o Corinthians e para os joga- dores participar de jogos maio- res, que tenham repercussão internacional. FOLHA - Qual foi sua reação quan- do contrataram o Ronaldo? MANO - Incredulidade. Falei: “Vocês estão de brincadeira”. Depois fui buscar informações sobre ele, para saber se havia chance de transformar o proje- to em sucesso dentro de campo. Era a minha parte. FOLHA - Como foi a condução da volta do Ronaldo ao gramado? MANO - Tem duas partes esse processo. A primeira foi que o comando do clube deixou tudo na mão da comissão técnica. Ouvi muito que a direção e o marketing iriam escalar o Ro- naldo quando quisessem. Isso nunca aconteceu. A outra parte é técnica. Aí é preciso elogiar a parte médica, de fisiologia, fi- sioterapia, preparação fisica. Ele está muito perto do ideal. FOLHA - No episódio de Presidente Prudente (Ronaldo foi a uma boate e chegou de manhã à concentração), o Antônio Carlos (diretor de futebol) foi demitido. Qual foi o seu papel? MANO - Todo mundo atribui a saída do Antônio Carlos a mim. Mas ele ocupava um cargo su- perior ao meu. O que houve foi um entendimento da direção do clube sobre a postura que deve ter um executivo. No fute- bol, um acontecimento isolado nunca é responsável pela saída de um profissional. Certamen- te já existiam outras coisas, que eu não sei dizer quais. FOLHA - Você já falou com ele [An- tônio Carlos] depois disso? MANO - Não. Não tive oportu- nidade. Mas, se encontrá-lo, não vou ter dificuldade para conversar com ele. FOLHA - Andres Sanchez disse que, enquanto for presidente do Corin- thians, não vai permitir a sua saída. MANO - Se eu fosse o presiden- te, com o Andres de treinador, e em cinco campeonatos o meu time tivesse chegado a quatro finais e conquistado três títu- los, eu não o deixaria sair. FOLHA - Você vai ter um aumento ao renovar o contrato? MANO - [hesita] Eu ganho bem. Estou feliz com minha remu- neração. É normal, quando se faz uma renovação de contrato, ter uma valorização. Mas isso não é o mais importante para um técnico do meu nível. FOLHA - Onde se vê em cinco anos? MANO - Não sei. O Dunga falou uma frase com a qual concordo literalmente: “O futebol não tem futuro”. Me perguntam de seleção, Europa, mas eu só pen- so em seguir no Corinthians. FOLHA - Você não quer dirigir a se- leção na Copa de 2014? Mano - Ih! Esse cargo vai ser muito disputado. Vou trabalhar muito para estar entre os prin- cipais do país até lá. Dizem que eu sou melhor técnico quando jogo em casa. Então minha chance aumenta [risos]. FOLHA - Como avalia o Dunga? MANO - Muito bem. Embora eu tenha me manifestado con- tra a escolha dele, que ainda não era treinador quando assu- miu a seleção. Ele foi chamado para fazer dois trabalhos: reto- mar o sentimento de respeito pela seleção e renovar o time. Ele fez isso e trouxe resultados. FOLHA - Ronaldo quer o filho dele criado na Europa, para ter uma edu- cação melhor. Você concorda? MANO - Felizmente, o Ronaldo tem essa opção para a educação do filho dele. Eu tive, minha fi- lha estudou na Inglaterra. Mas respeito muito a condição do brasileiro, acho que não se pode desistir do Brasil. FOLHA - O que você achou das brin- cadeiras com o Joel Santana? MANO - Brasileiro adora criti- car o brasileiro que sai de um padrão considerado chique. O Joel [técnico da África do Sul] é uma grande personalidade. Se o inglês dele não é maravilhoso, ao menos ele tenta se comuni- car. O trabalho dele é brilhante. FOLHA - Você tem Twitter, site. Técnico tem que ser marqueteiro? MANO - Não acho que seja fun- damental. Aceitei a sugestão da minha filha, até para valorizar determinadas situações, me- nosprezar outras, expor pensa- mentos. A resposta é boa. Te- nho o cuidado de só falar ali o que já tratei com a imprensa. Não publico informação privi- legiada no Twitter. FOLHA - Como foi encontrar o Lula? MANO - Nunca imaginei que o encontraria. Me senti privile- giado. No futebol, isso é raro. FOLHA - Você votou nele? MANO - [hesita] Votei, duas ve- zes. Na eleição e na reeleição. FOLHA - Como você o avalia? MANO - Bom governo, que tem possibilitado a descoberta de aspectos que viviam escondi- dos. Todo mundo acha que a corrupção nasceu agora. Mas sempre existiu e está sendo co- locada para que a sociedade analise e avalie. E ele tem con- seguido dar estabilidade econô- mica e melhorado a condição de uma parte da população que não tinha essa possibilidade. FOLHA - Ele já lhe deu sugestões para o Corinthians? MANO - Não, não, nunca. FOLHA - Nem você a ele? MANO - Nunca. Talvez ele não tenha falado sobre a minha equipe para não permitir que eu fale sobre o ministério dele. Temos esse acordo implícito. Fabio Braga - 20.jun.09/Folha Imagem Mano, duas vezes campeão em 2009, durante treino O treinador do Corinthians, que manteve ao longo da carreira o apelido que ganhou da irmã quando criança, concede entrevista VITÓRIA EM ‘BATALHA’ NO RECIFE FOI VITAL O treinador não esquece o dia 26 de novembro de 2005. Com sete atletas em campo, o Grêmio que ele dirigia venceu o Náutico por 1 a 0 e levantou a taça da Série B. A vitória épica ficou conhecida como “Batalha dos Aflitos” e virou filme e livro. “Se eles [o Náutico] tivessem feito aquele gol de pênalti no 2º tempo, eu não teria concedido esta entrevista.” Luiz Antônio Venker Menezes 47 anos Nasceu em Passo do Sobrado (RS) RAIO-X >> Foi zagueiro do Guarani de Venâncio Aires (RS) >> Virou técnico em 1997 e dirigiu o Grêmio entre 2005 e 2007. Foi bicampeão gaúcho, ganhou a Série B e foi finalista da Taça Libertadores >> Desde janeiro de 2008, é técnico do Corinthians, pelo qual venceu a Série B, o Paulista e a Copa do Brasil

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A14 entrevistada2ª SEGUNDA-FEIRA, 6 DE JULHO DE 2009 ef

‘Sem Ronaldo, ganhara Copa do Brasil teriasido impossível’

ENTREVISTAMANO

MENEZESTécnico do Corinthians exalta astro,defende Lula, assume ser marqueteiroe fala em dirigir o Brasil na Copa-2014

Ricardo Nogueira/Folha Imagem.........................................................................................................................................................................................................MARTÍN FERNANDEZDA REPORTAGEM LOCAL

Em um ano e meio no Corinthians, Luiz AntônioVenker Menezes disputou cinco competições e ga-nhou três títulos. O mais importante deles na semanapassada, a Copa do Brasil. Antes, conquistou a Série Bdo Brasileiro e o Paulista. À Folha o treinador falousobre Ronaldo, por que criticou e agora elogia Dun-ga e do “acordo” que tem com o presidente Lula.

FOTO4.082.00

RonaldotemachancedecriarofilhonaEspanha.Eu pude mandarminha filha estudarna Inglaterra.Mas respeito muitoo brasileiro, nãose pode desistirdo BrasilOCarlosLeiteémeuagente,masissonãooimpedenemoajudaafazernegócioscomoCorinthians. IssonãomeenvolveTécnicotemqueentendercomofuncionaomercado,quantocustaumjogador.Masnuncaseenvolvernanegociação,nosaláriodeumatletaTalvezele[Lula]nãodêsugestãosobreotimeparanãopermitirqueeufalesobreoministério.ÉumacordoimplícitoFuicontraaescolhadoDungaporqueelenuncahaviasidotécnico.Maselefeztudocerto:recuperouorespeitopelaseleção,renovouotimeetrouxeresultadosMANOMENEZEStécnicodoCorinthians

FOLHA - O que esse título acrescen-touàsuacarreira?

MANO MENEZES - Faltava um tí-tulo nacional. Era necessárioganhar uma competição comoa Copa do Brasil para que as ou-tras pessoas considerassem omeu um trabalho de ponta.

FOLHA - Qual foi a importância doRonaldo paraa conquista?

MANO - Ele é uma referência.Saber que com a camisa 9 doteu time está um jogador com atrajetória do Ronaldo passamuita confiança. E tem o efeitodisso para o adversário. Ter quemarcar o maior goleador dahistória das Copas não é fácil.

FOLHA -Haveriatítulosemele?MANO - É subjetivo. Muitas

equipes já foram campeãs semo Ronaldo. Mas hoje, no estágioem que nos encontramos, semele seria impossível.

FOLHA - Você disse que pretendeganhar o Campeonato Brasileiro.Mas o Corinthians quer disputar jo-

gosforadopaís.Nãoháconflitoaí?MANO - Estou sendo consulta-

do. Vamos tentar escolher asdatas menos prejudiciais. O fu-tebol vive de receita. Na medidaem que o clube está faturando,os compromissos são cumpri-dos e isso se reflete em campo.

FOLHA - Então vale a pena sacrifi-car oNacional porumaexcursão?

MANO - Vale. É importante pa-ra o Corinthians e para os joga-dores participar de jogos maio-res, que tenham repercussãointernacional.

FOLHA - Qual foi sua reação quan-docontrataramoRonaldo?

MANO - Incredulidade. Falei:“Vocês estão de brincadeira”.Depois fui buscar informaçõessobre ele, para saber se haviachance de transformar o proje-to em sucesso dentro de campo.Era a minha parte.

FOLHA - Como foi a condução davoltadoRonaldo aogramado?

MANO - Tem duas partes esseprocesso. A primeira foi que ocomando do clube deixou tudona mão da comissão técnica.Ouvi muito que a direção e omarketing iriam escalar o Ro-naldo quando quisessem. Issonunca aconteceu. A outra parteé técnica. Aí é preciso elogiar aparte médica, de fisiologia, fi-sioterapia, preparação fisica.Ele está muito perto do ideal.

FOLHA - No episódio de PresidentePrudente (Ronaldo foi a umaboateechegou de manhã à concentração),o Antônio Carlos (diretor de futebol)foidemitido.Qualfoi oseupapel?

MANO - Todo mundo atribui asaída do Antônio Carlos a mim.Mas ele ocupava um cargo su-perior ao meu. O que houve foium entendimento da direçãodo clube sobre a postura quedeve ter um executivo. No fute-bol, um acontecimento isoladonunca é responsável pela saídade um profissional. Certamen-te já existiam outras coisas, queeu não sei dizer quais.

FOLHA - Você já falou com ele [An-tônioCarlos]depoisdisso?

MANO - Não. Não tive oportu-nidade. Mas, se encontrá-lo,não vou ter dificuldade paraconversar com ele.

FOLHA - Andres Sanchez disse que,enquanto for presidente do Corin-thians, nãovaipermitir asuasaída.

MANO - Se eu fosse o presiden-te, com o Andres de treinador, eem cinco campeonatos o meutime tivesse chegado a quatrofinais e conquistado três títu-los, eu não o deixaria sair.

FOLHA - Você vai ter um aumentoaorenovaro contrato?

MANO - [hesita] Eu ganho bem.Estou feliz com minha remu-neração. É normal, quando sefaz uma renovação de contrato,ter uma valorização. Mas issonão é o mais importante paraum técnico do meu nível.

FOLHA -Onde sevêemcincoanos?MANO - Não sei. O Dunga falou

uma frase com a qual concordoliteralmente: “O futebol nãotem futuro”. Me perguntam deseleção, Europa, mas eu só pen-so em seguir no Corinthians.

FOLHA - Você não quer dirigir a se-leçãonaCopade 2014?

Mano - Ih! Esse cargo vai sermuito disputado. Vou trabalharmuito para estar entre os prin-cipais do país até lá. Dizem queeu sou melhor técnico quandojogo em casa. Então minha

chance aumenta [risos].FOLHA -ComoavaliaoDunga?MANO - Muito bem. Embora

eu tenha me manifestado con-tra a escolha dele, que aindanão era treinador quando assu-miu a seleção. Ele foi chamadopara fazer dois trabalhos: reto-mar o sentimento de respeitopela seleção e renovar o time.Ele fez isso e trouxe resultados.

FOLHA - Ronaldo quer o filho delecriado na Europa, para ter uma edu-cação melhor.Vocêconcorda?

MANO - Felizmente, o Ronaldotem essa opção para a educaçãodo filho dele. Eu tive, minha fi-lha estudou na Inglaterra. Masrespeito muito a condição dobrasileiro, acho que não se podedesistir do Brasil.

FOLHA - O quevocêachoudasbrin-cadeirascomoJoelSantana?

MANO - Brasileiro adora criti-

car o brasileiro que sai de umpadrão considerado chique. OJoel [técnico da África do Sul] éuma grande personalidade. Seo inglês dele não é maravilhoso,ao menos ele tenta se comuni-car. O trabalho dele é brilhante.

FOLHA - Você tem Twitter, site.Técnicotemque sermarqueteiro?

MANO - Não acho que seja fun-damental. Aceitei a sugestão daminha filha, até para valorizardeterminadas situações, me-nosprezar outras, expor pensa-mentos. A resposta é boa. Te-nho o cuidado de só falar ali oque já tratei com a imprensa.Não publico informação privi-legiada no Twitter.

FOLHA -Comofoiencontrar oLula?MANO - Nunca imaginei que o

encontraria. Me senti privile-giado. No futebol, isso é raro.

FOLHA -Vocêvotounele?

MANO - [hesita] Votei, duas ve-zes. Na eleição e na reeleição.

FOLHA -Comovocêoavalia?MANO - Bom governo, que tem

possibilitado a descoberta deaspectos que viviam escondi-dos. Todo mundo acha que acorrupção nasceu agora. Massempre existiu e está sendo co-locada para que a sociedadeanalise e avalie. E ele tem con-seguido dar estabilidade econô-mica e melhorado a condiçãode uma parte da população quenão tinha essa possibilidade.

FOLHA - Ele já lhe deu sugestõesparaoCorinthians?

MANO - Não, não, nunca.FOLHA -Nemvocêaele?MANO - Nunca. Talvez ele não

tenha falado sobre a minhaequipe para não permitir queeu fale sobre o ministério dele.Temos esse acordo implícito.

Fabio Braga - 20.jun.09/Folha Imagem

Mano, duas vezes campeãoem 2009, durante treino O treinador do Corinthians, que manteve ao longo da carreira o apelido que ganhou da irmã quando criança, concede entrevista

VITÓRIA EM‘BATALHA’ NORECIFE FOI VITALOtreinadornãoesqueceodia26denovembrode2005.Comseteatletasemcampo,oGrêmioqueeledirigiavenceuoNáuticopor1a0elevantouataçadaSérieB.Avitóriaépicaficouconhecidacomo“BatalhadosAflitos”eviroufilmeelivro.“Seeles[oNáutico]tivessemfeitoaquelegoldepênaltino2ºtempo,eunãoteriaconcedidoestaentrevista.”

Luiz Antônio VenkerMenezes47 anosNasceu em Passo doSobrado (RS)

RAIO-X

>> Foi zagueiro do Guarani deVenâncio Aires (RS)

>> Virou técnico em 1997 edirigiu o Grêmio entre 2005 e2007. Foi bicampeão gaúcho,ganhou a Série B e foi finalistada Taça Libertadores

>> Desde janeiro de 2008, étécnico do Corinthians, peloqualvenceuaSérieB,oPaulistae a Copa do Brasil