petição incial-alfredo

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE TERESINA-PI “Quando você se sente um perfeito idiota está começando a deixar de sê-lo." Millôr Fernandes EMENTA : AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - TRANSPORTE RODOVIÁRIO - VEÍCULO ESTACIONADO NO TERMINAL RODOVIÁRIO PERTENCENTE A LINHA DIVERSA DA CONTRATA, AINDA QUE COM DESTINO FINAL IDÊNCTICO - NÃO EMBARQUE DO PASSAGEIRO - ATUAÇÃO REGULAR - AUSÊNCIA DE CUMPRIMENTO DOS DEVERES ANEXOS DO CONTRATO - DANO MORAL E MATERIAL - REPARAÇÃO DEVIDA. - Se o veículo que estacionou no terminal rodoviário, no dia do transporte contratado pelo autor pertencia a outra linha que não aquela adquirida pelo requerente, o não embarque deste no coletivo, se revela como exercício regular de um direito, mormente ausente o cumprimento dos deveres anexos do contrato por parte da requerida, especialmente, o de informação e cuidado, pelo que, se do fato foram verificados evidentes danos morais, com a angustia gerada, bem como os danos materiais, com os dispêndios realizados para minimizar os efeitos do ato, devida sua reparação. - A fixação do quantum deve guardar perfeita correspondência e deve ser fixada em termos razoáveis, não se justificando que a reparação venha a constituir-se em enriquecimento indevido, devendo o arbitramento operar-se com moderação, proporcionalmente ao porte empresarial das partes, às suas atividades comerciais revelando-se ajustada ao princípio da eqüidade e à orientação pretoriana segundo a qual a eficácia da contrapartida pecuniária está na aptidão para proporcionar tal satisfação em justa medida. APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0024.09.738526-4/001 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - Relator do Acordão: Des.(a) Otávio Portes Data do Julgamento: 12/09/2012 ALFREDO VASCONCELOS LIMA , brasileiro, solteiro, advogado inscrito na OAB/PI sob o N. 4989, inscrito no CPF sob o nº 659.014.013-87, residente e domiciliado na Rua João Cabral, N. 2560, Pirajá, nesta Capital, CEP 64002-900, advogando em causa própria, com Escritório Profissional situado na Av. Campos Sales, N. 760-a, Centro-Norte, nesta Capital, onde recebe avisos e intimações judiciais, vem à presença de V. Exa. propor a presente AÇÃO INDENIZATÓRIA COM PEDIDO DE COMPENSAÇÃO PELOS DANOS MORAIS SOFRIDOS E RESSARCIMENTO DOS DANOS MATERIAIS

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Page 1: petição incial-Alfredo

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE TERESINA-PI

“Quando você se sente um perfeito idiotaestá começando a deixar de sê-lo."Millôr Fernandes

EMENTA : AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - TRANSPORTE RODOVIÁRIO - VEÍCULO ESTACIONADO NO TERMINAL RODOVIÁRIO PERTENCENTE A LINHA DIVERSA DA CONTRATA, AINDA QUE COM DESTINO FINAL IDÊNCTICO - NÃO EMBARQUE DO PASSAGEIRO - ATUAÇÃO REGULAR - AUSÊNCIA DE CUMPRIMENTO DOS DEVERES ANEXOS DOCONTRATO - DANO MORAL E MATERIAL - REPARAÇÃO DEVIDA.

- Se o veículo que estacionou no terminal rodoviário, no dia do transporte contratado pelo autor pertencia a outra linha que não aquela adquirida pelo requerente, o não embarque deste no coletivo, se revela como exercício regular de um direito, mormente ausente o cumprimento dos deveres anexos do contrato por parte da requerida, especialmente, o de informação e cuidado, pelo que, se do fato foram verificados evidentes danos morais, com a angustia gerada, bem como os danos materiais, com os dispêndiosrealizados para minimizar os efeitos do ato, devida sua reparação.

- A fixação do quantum deve guardar perfeita correspondência e deve ser fixada em termos razoáveis, não se justificando que a reparação venha a constituir-se em enriquecimento indevido, devendo o arbitramento operar-se com moderação, proporcionalmente ao porte empresarial das partes, às suasatividades comerciais revelando-se ajustada ao princípio da eqüidade e à orientação pretoriana segundo a qual a eficácia da contrapartida pecuniária está na aptidão para proporcionar tal satisfação em justa medida.APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0024.09.738526-4/001 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - Relator do Acordão: Des.(a) Otávio PortesData do Julgamento: 12/09/2012

ALFREDO VASCONCELOS LIMA ,

brasileiro, solteiro, advogado inscrito na OAB/PI sob o N. 4989, inscrito no CPF sob o

nº 659.014.013-87, residente e domiciliado na Rua João Cabral, N. 2560, Pirajá,

nesta Capital, CEP 64002-900, advogando em causa própria, com Escritório

Profissional situado na Av. Campos Sales, N. 760-a, Centro-Norte, nesta Capital,

onde recebe avisos e intimações judiciais, vem à presença de V. Exa. propor a

presente

AÇÃO INDENIZATÓRIA COM PEDIDO DE COMPENSAÇÃO PELOS DANOS

MORAIS SOFRIDOS E RESSARCIMENTO DOS DANOS MATERIAIS

em face de Expresso Guanabara S/A., inscrita no CNPJ sob o nº.

42.550.112/0007-99, sita na Rod. BR- 343, 3011, Dirceu- Teresina-PI, CEP: 64076-

130,  sociedade empresária, concessionária de serviço público de

transporte rodoviário nos termos do disposto no artigo 21, inciso XII, alínea c,

combinado com o artigo 37, § 6º, da Constituição Federal de 1.988, pelos motivos

de fato e de direito a seguir alinhavados:

Page 2: petição incial-Alfredo

Preliminarmente:

I. DO BENEFICIO DA JUSTIÇA GRATUITA

Nos termos do artigo 14,§1° da Lei n°5584/70, das Leis

n°1060/50 e 7111/83 e do artigo 790, §3° CLT, o Reclamante declara para os

devidos fins e sob as penas da lei, ser pobre, encontra-se em estado de

necessidade, não tendo condições de arcar com custas ou quaisquer despesas

processuais, sem comprometimento de seu sustento e de sua família, pelo que

requer o benefícios da justiça gratuita.

II – DOS FATOS

O Autor em virtude de seus pais e irmãos morarem em São

Luís-MA, viaja com muita frequência, sobretudo em épocas festivas, sendo cliente

da Ré há muito tempo e portador do Cartão Afetividade da empresa requerida.

Em dezembro de 2012, o requerente iniciou minucioso planejamento de viagem de feriado de natal e ano novo para São Luis-Ma. O requerente, então, contratou os serviços da requerida ao adquirir passagem rodoviária.

Comprada, paga, emitida e confirmada a passagem em 19/12/2012, portanto com antecedência de 3 dias, com data de embarque confirmada para 22 de dezembro de 2012 (doc, em anexo), com previsão de 06h 30min de viagem, tranquilizou-se o Requerente, posto que acreditava estar contratando com empresa de transporte rodoviário séria e idônea. Contudo, estava enganado, conforme restará demonstrado.

Finalmente, chegou o dia marcado para a viagem, depois de longa espera e de um ano de árduo trabalho.

No entanto, iniciava-se a mais desagradável e penosa "jornada" a começar pelo fato de ser véspera de feriado prolongado e a movimentação na rodoviária ser bastante tumultuada.

Chegando ao terminal rodoviário com antecedência de quase meia hora e executados os procedimentos regulares, o requerente seguiu para a área de embarque onde deveria aguardar a chamada para adentrar ao ônibus da Requerida que, conforme estipulado, partiria às 13:30 horas.

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O Autor tentou embarcar num primeiro ônibus da empresa Guanabara que estacionou no terminal de embarque no horário previsto em seu bilhete, mas recebeu informação do bagagista da empresa que o ônibus no qual deveria ir a bordo era o próximo. No entanto, esta informação não era correta. 

Diante da demora na chegada do ônibus, procurou a demandada, sendo informado de que, por um equívoco, não houve a disponibilização de informação no verso da passagem dando conta que outra empresa faria o trajeto contratado, sendo que a ré terceirizou os serviços e não forneceu as informações adequadas, situação que ocasionou a perda do ônibus, ou seja uma outra empresa de nome General Viagens, estava estacionada no terminal de embarque, terceirizada pela Ré, entretanto esta não informou o requerente de tal substituição, fazendo com que perdesse o embarque.

Ou seja o Autor ficou sabendo que o ônibus que deveria ter pego, seria da "General viagens", uma empresa terceirizada que estava à serviço da Expresso Guanabara. Em momento algum, antecipadamente, fora informado disso, somente sendo informado depois que o ônibus partiu e mesmo assim porque teve a curiosidade de saber o motivo da demora do ônibus esperado.

Isso é um absurdo, perder o embarque de um ônibus previamente contratado por falta de informação da Expresso Guanabara, falta de respeito com o consumidor.

O Requerente solicitou a presença de superior hierárquico com o fito de esclarecer a situação imposta. Quando de sua chegada, o mesmo, de forma totalmente despreparada para sua "qualificação", informou que o requerente “deveria saber“ que a empresa Guanabara em épocas de grande demanda contrata de forma terceirizada a empresa General viagens e que por conta disso não restava outra solução senão agendar a viagem para o próximo dia, pois todos os ônibus com destino a São Luís, naquele dia, estavam com sua capacidade esgotada.

 

Mesmo com a insistência do Requerente para que a passagem fosse endossada para outra empresa, o Supervisor da Requerida se negava a proceder tal ato, se limitando a reportar que iria até o guichê de vendas ver a possibilidade de haver vaga em um próximo ônibus que tivesse o mesmo destino, o que restou infrutífero.

A empresa requerida negou-se a providenciar uma forma de resolver o impasse se limitando a dizer que como havia pouco mais de vinte minutos que o ônibus partira e que o ônibus faria uma parada para embarque de

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passageiros na cidade de Timon-MA , que é próxima a Teresina, era recomendável que se deslocasse até a citada cidade na esperança de encontrar o ônibus e conseguir embarcar para o seu destino.

Como seria difícil encontrar transporte que o levasse para São Luís, já que era véspera de feriado prolongado, a única alternativa encontrada foi seguir o conselho da preposta da ré, entretanto tal alternativa se restou prejudicada, já que ao chegar em Timon, ficou sabendo que o ônibus da General Viagens, com destino a são Luís, já havia partido.

Sensibilizado com a situação ora imposta ao Requerente e testemunha da aflição e transtorno pelos quais o autor passou, um funcionário de uma outra empresa de transporte , Auto Viação Progresso S/A, ofereceu uma ajuda , alertando-o que não raro acontece de haver vaga nos seus ônibus por conta de desistência ou perda de viagem por passageiro , entretanto que não era certo de haver vagas , mas era um risco a se correr e esperar o dito ônibus que por sinal não tinha horário certo pois estava em transito.

Com a confirmação de que o próximo ônibus da Auto Viação Progresso S/a disponibilizava uma vaga, o Autor viu-se obrigado a efetuar a compra de uma nova passagem de uma outra empresa para que pudesse seguir viagem.

Embarcando em um outro ônibus de uma outra empresa às 16h , não suficiente o atraso, foi surpreendido com um trajeto “pinga-pinga”, viajando durante aproximadamente 09h30min e a chegada ao seu destino final com quase 7 horas de atraso, bem como a perda de compromissos.

Ora Exa., o Requerente programou sua viagem para que chegasse à capital por volta das (18 horas), o que lhes daria tempo para descansar e se preparar para curtir mais a família . Não contava, porém com a desorganização e despreparo da empresa Requerida que permitiu que o mesmo só chegasse ao destino programado, totalmente estafado, fatigado e humilhado, tendo frustrada toda sua programação de lazer e eventos sociais.

O bilhete de passagem, em anexo, não traz maiores informações, exceto que o inicio da viagem seria na cidade de Teresina, às 13:30 horas. O fato relevante está é na informação inexata do lugar do embarque, e quanto a isso o bilhete não só é omisso, mas, mais grave ainda é que está rasurado, onde o agente da requerida riscou com caneta.

Para melhor elucidar os fatos, a empresa reclamada, terceirizou a prestação do serviço por ela assumida para outra empresa com identificação visual totalmente diferente da sua, sem informar o requerente do

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ocorrido, levando-o a erro, pois esperava um ônibus com determinada características no terminal rodoviário, sendo que outro ônibus com características totalmente distintas é que estava no terminal rodoviário, conforme se passa a ilustrar abaixo:

*fotos meramente ilustrativas

Além de todos os danos, transtornos, cansaço e incômodo, os danos financeiros causados são:

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Reembolso do valor da passagem comprada junta a Ré objeto da presente celeuma, no valor de R$ 58,35 (cinquenta e oito reais e trinta e cinco centavos);

Gasto com gasolina para que a namorada do requerente fosse deixa-lo do percurso de sua residência à Rodoviária de Teresina, no valor de R$ 15,00 (quinze reais);

Gasto na compra de uma nova passagem de ônibus pela Viação Progresso, partindo de Timon-MA para São Luís após a perda do primeiro ônibus, no valor de R$ 51,35 (cinquenta e um reais e trinta e cinco centavos);

Gasto com despesa de taxi referente ao deslocamento da rodoviária de Teresina-PI a rodoviária de Timon-MA, no valor de R$ 50,00(cinquenta reais).

Portanto, há de se concluir, que o requerente teve lesado o patrimônio material e moral, sendo digna a devida compensação, em decorrência das lesões materiais, psicológicas e morais sofridas.

III DO DIREITO

Como cediço, a responsabilidade do fornecedor pela adequada prestação de serviços é objetiva, sendo auferida independente da existência de culpa.

Os artigos 14 e 20 do CDC dispõem que:

"Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.'

(...)

§ 3º O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:

(...)

II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro."

"Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:

(...)

§ 2º. São impróprios os serviços que se mostrem inadequados para os fins que razoavelmente deles se esperam, bem como aqueles que não atendam as normas regulamentares de prestabilidade."

A parte ré deixou de observar seus deveres anexos ao contrato, especialmente, o de informação, cuidado e proteção, posto que o requerido ficou desamparado no terminal rodoviário, sem qualquer informação por parte da requerida.

DO DANO MORAL

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Como sabido, os danos morais se conceituam como todo aquele sofrimento humano que não é causado por uma perda pecuniária, sendo que a Constituição Federal, em seu art. 5º, V e X, consagra esse direito como garantia fundamental, e, portanto, imutável, nos estritos termos do art. 60, § 4º, da Lei Fundamental.

"São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação" (art. 5º, X, da CF/88).

No caso em tela, não se trata, os fatos, de meros aborrecimentos. O atraso de uma viagem devidamente programada é capaz de ensejar perturbação psíquica, em razão da inegável frustração, decepção e angústia provocada, além, da quebra de legítima expectativa, o que fere cláusula geral de boa-fé, pelo que evidente o dever de indenizar da parte ré.

Nesse sentido, a lição de CAIO MÁRIO DA SILVA PEREIRA: "A vítima de uma lesão a algum daqueles direitos sem cunho patrimonial efetivo, mas ofendida em um bem jurídico que em certos casos pode ser mesmo mais valioso do que os integrantes de seu patrimônio, deve receber uma soma que lhe compense a dor ou o sofrimento, a ser arbitrada pelo juiz, atendendo às circunstâncias de cada caso, e tendo em vista as posses do ofensor e a situação pessoal do ofendido. Nem tão grande que se converta em fonte de enriquecimento, nem tão pequena que se torne inexpressiva." (Responsabilidade Civil 49, p. 67).

Os danos morais, não resultam de diminuição patrimonial, mas de dor, de desconforto. Comenta o jurista Carlos Alberto Bittar, citado pelo Desembargador Hyparco Immesi, relator do acórdão proferido pela Quarta Câmara Cível, no âmbito da Apelação Cível nº 1.0000.00.335350/000, verbis:

"Qualificam-se como morais os danos em razão da esfera da subjetividade, ou do plano valorativo da pessoa na sociedade, em que repercute o fato violador; havendo- se, portanto, como tais, aqueles que atingem os aspectos mais íntimos da personalidade humana (o da intimidade e da consideração pessoal), ou o da própria valoração da pessoa no meio em que vive e atua (o da reputação ou da consideração social)."

E mais adiante conclui:

"Com isso, os danos morais plasmam-se no plano fático, como lesões às esferas da personalidade humana situadas no âmbito do ser como entidade pensante, reagente e atuante nas interações sociais, ou conforme os Mazeaud, como atentados à parte afetiva e à parte social da personalidade."

Sobre o assunto, convém destacar a seguinte jurisprudência, que é assente em reconhecer a ocorrência do abalo moral decorrente do descumprimento de deveres anexo ao contrato e consequente perda de uma viagem, se não vejamos:

EMENTA : AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - TRANSPORTE RODOVIÁRIO - VEÍCULO ESTACIONADO NO TERMINAL RODOVIÁRIO PERTENCENTE A LINHA DIVERSA DA CONTRATA, AINDA QUE COM DESTINO FINAL IDÊNCTICO - NÃO EMBARQUE DO PASSAGEIRO - ATUAÇÃO REGULAR - AUSÊNCIA DE CUMPRIMENTO DOS DEVERES ANEXOS DOCONTRATO - DANO MORAL E MATERIAL - REPARAÇÃO DEVIDA.

Page 8: petição incial-Alfredo

- Se o veículo que estacionou no terminal rodoviário, no dia do transporte contratado pelo autor pertencia a outra linha que não aquela adquirida pelo requerente, o não embarque deste no coletivo, se revela como exercício regular de um direito, mormente ausente o cumprimento dos deveres anexos do contrato por parte da requerida, especialmente, o de informação e cuidado, pelo que, se do fato foram verificados evidentes danos morais, com a angustia gerada, bem como os danos materiais, com os dispêndiosrealizados para minimizar os efeitos do ato, devida sua reparação.

- A fixação do quantum deve guardar perfeita correspondência e deve ser fixada em termos razoáveis, não se justificando que a reparação venha a constituir-se em enriquecimento indevido, devendo o arbitramento operar-se com moderação, proporcionalmente ao porte empresarial das partes, às suasatividades comerciais revelando-se ajustada ao princípio da eqüidade e à orientação pretoriana segundo a qual a eficácia da contrapartida pecuniária está na aptidão para proporcionar tal satisfação em justa medida.APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0024.09.738526-4/001 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - Relator do Acordão: Des.(a) Otávio PortesData do Julgamento: 12/09/2012

A ré é uma empresa de grande porte, com recursos suficientes para tomar cautelas para impedir que circunstâncias como essas ocorram. Logo, a condenação por danos morais não deverá ser fixada em quantia irrisória, sob pena da requerida não modificar os seus atos, porque seria melhor pagar pelo ato ilícito acontecido, do que investir na melhoria dos serviços prestados.

Assim, a vítima de lesões a direitos de natureza não patrimonial deve receber soma que lhe compense a dor e a humilhação sofrida, e arbitrada segundo as circunstâncias. Não deve ser fonte de enriquecimento, nem ser inexpressiva.

Tratando-se de dano moral, o conceito de ressarcimento abrange duas forças: uma de caráter punitivo, com vistas a castigar o causador do dano pela ofensa praticada e outra de caráter compensatório, destinada a proporcionar à vítima algum benefício em contrapartida ao mal sofrido. É cediço que os danos morais devem ser fixados ao arbítrio do juiz, que, analisando caso a caso, estipula um valor razoável, que não seja irrelevante ao causador do dano, dando azo à reincidência, nem exorbitante, de modo a aumentar consideravelmente o patrimônio do lesado.

O valor deve, pois, conforme Maria Helena Diniz, ser “Proporcional ao dano causado pelo lesante, procurando cobri-lo em todos os seus aspectos, até onde suportarem as forças do patrimônio do devedor, apresentando-se para o lesado como uma compensação pelo prejuízo sofrido”. (Código civil anotado. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2000. p. 650).

A jurisprudência acompanha:

O quantum da indenização por danos morais ¿ que tem por escopo atender, além da reparação ou compensação da dor em si, ao elemento pedagógico, no intuito de que o ofensor procure ter mais

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cuidado de forma a evitar a reiteração da ação ou omissão danosa ¿ deve harmonizar-se com a intensidade da culpa do lesante, o grau de sofrimento do indenizado e a situação econômica de ambos, para não ensejar a ruína ou a impunidade daquele, bem como o enriquecimento sem causa ou a insatisfação deste (Ap. Civ. n. 2008.073496-1, de Urubici, rel. Des. Marcus Tulio Sartorato, j. em 16-12-2008).

Deste modo, destacado o ato ilícito perpetrado pela requerida e o conseqüente abalo moral experimentado pelos requerentes, o valor fixado deverá servir para que a demandada seja diligente e a não mais incorrer no mesmo erro. Requer-se a indenização seja arbitrada por V.Exa., sugerindo-se o importe de 30 (trinta) salários mínimos a este título.

IV. DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

O Código de Defesa do Consumidor prevê, em seu artigo 6º, inciso VIII, que diante da hipossuficiência do consumidor frente ao fornecedor, sua defesa deve ser facilitada com a inversão do ônus da prova. É o que se postula na presente demanda. NELSON NERY JUNIOR e ROSA MARIA DE ANDRADE NERY lecionam:

"O processo civil tradicional permite a convenção sobre o ônus da prova, de sorte que as partes podem estipular a inversão em relação ao critério da lei (CPC 333 par. ún. a contrario sensu). O CDC permite a inversão do ônus da prova em favor do consumidor, sempre que for ou hipossuficiente ou verossímil sua alegação. Trata-se de aplicação do princípio constitucional da isonomia, pois o consumidor, como parte reconhecidamente mais fraca e vulnerável na relação de consumo (CDC 4º, I), tem de ser tratado de forma diferente, a fim de que seja alcançada a igualdade real entre os partícipes da relação de consumo.

O inciso comentado amolda-se perfeitamente ao princípio da isonomia, na medida em que trata desigualmente os desiguais, desigualdade essa reconhecida pela própria lei." (Código civil anotado e legislação extravagante. 2 ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 914).

Considerando, sobretudo, a hipossuficiência técnica e econômica dos autores, encontram-se caracterizados os requisitos do art. 6º, VIII, do CDC para se impor a inversão do ônus probatório e, por conseguinte, promover o equilíbrio contratual entre os litigantes. Assim, requer-se a inversão do ônus da prova.

V. DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto, o Suplicado vem à presença de Vossa Excelência para requer:

a) a citação da requerida via Correio - Carta Registrada “AR”, para querendo, em audiência a ser designada por V.Exa., apresentem a defesa que melhor lhes convir, sob pena de revelia e confissão;

b) seja condenada a requerida ao pagamento de indenização por danos materiais, no importe de R$ 179,70 (cento e setenta e nove reais e setenta centavos) e indenização por danos

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morais, na quantia a ser arbitrado por V. Exa, sugerindo-se o valor de 30 (trinta) salários mínimos;

c) a inversão do ônus da prova, em conformidade com o artigo 6°, inciso VIII do Código de Defesa do Consumidor;

d) a condenação da requerida ao pagamento das custas processuais, honorários advocatícios e demais emolumentos de estilo;

e) a produção de todos os meios de prova em direito admitidos, notadamente a documental inclusa, bem como outras que se fizerem necessárias.

Dá-se à causa o valor de R$ 20.519,70 (vinte mil e quinhentos e dezenove reais e setenta centavos).

Termos em que pede deferimento.

Teresina, 11 de fevereiro de 2013.

ALFREDO VASCONCELOS LIMA

OAB/PI 4989