peter brown_história da vida privada_antiguidade tardia_a igreja.pdf

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Page 1: Peter Brown_História da Vida Privada_Antiguidade Tardia_A Igreja.pdf

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Dados de C2~o na PubUaçio (cp) InrcrmcioD21

C1Jn2ra B...u<lado UVIQ, 51. Bnsil

Históriad..;.kpri-la.-SioPaulo:Co..p..m.c!uLetru. ~8~ .

CoI~ cIiriP.iã por PbilippcArl<s e Geo1JeDuby. BibJioplia, . . CoÓbcúdo:v: LDolmpérioRollWlOaoanomil/cnpniza· .

çio Paul Vcyne: aodUçio Hildqttd FCist. ISBN 8~·7164·082·3 (oh,. comple .. ). - ISBN 85-:n64-08J.l (v.I) .'

L Civilizaçio. Hist<Srls2. FtmJIia· A.pecmssociais 3. Fi· míIia· HisoSria 4. Usos • """"""' L 'limIo: Do Impéáo RDma­tI!Oaoano mil.

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Copyright:© Éditions du Seuil, 1985

I TItulo original: Histoir~le Itz lIie prillée, 101. .1: De I'E1I;pire' romam iJ l'an mil

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"Revisão: A11I1 f4míg de O. M BarboIII

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i, 1994

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Pr~ácio (George! Duby), 9

InfIodução (Paul Veyne), 1~

1. O Império Romano (Paul Veyn~). 19

2. AntipIid~de tardia (Peler Brow~), 225

3. Vida pri~a e arquitetura doméstica na ÁfriCa romana (Yvo~ Thébert), 301

4. Alta ldad~ Média ocidental (Michel Rouche), 399

5. Bizâncio: séculos X·XI (ElIelyne Patlagean), 531

Bibliografia, 619

.. Í!l4!ce remissivo, 629

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A IGREJA

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I A d d· d h lib _. I - . - ÚB' I I : ascensão a ommação o omem ce atano na greJa costa O NOVO ESPAÇO P LICO. I nos leva ao reinado de Constantino e além. O que as diversas for-I í mas de celibato têm em comum desde o primeiro período é a von­i / tade de criar um espaço .•• público" f!:.rmemente ~çado n~ s:io da I, vaga federação de famílias que compoem a comurudade cnsta. Um

espaço "público" criado no próprio corpo dos dirigentes. De qual­quer' modo que se estabeleça, o celibato significa para a comuni­dade cristã a supressão do que ela considera uma das fontes mais

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íntimas de motivações e a que desmantela os laços sociais mais pri­vados dos quais dependem a c~ntinuidade e a coesão de uma so­ciedade normal. Tem como efeito situar a sociedade na Igreja, di­rigida e representada em público por homens celibatários, peran­te a 'sociedade "do mundo", na qual imperam o orgulho dos hom~ns,de "coração dividido"" a ambição e as solidariedades te-nazes . de família e parentesco. ,

celibato freqüentemente assume a forma da abstinência emal dos cônjuges. Em geral é adotado em idade madura e mais

tarde será imposto aos padres com mais de trinta anoso É sob essa forma que o celibato se torna a norma esperada do clero citadino médio no período da Antiguidade tardia. Não se trata de uma re­núncia excessivamente impressionante. Os homens da Antiguida­de consideram a energia sexual como uma substância -VOlátil, rapi­damente esgotada nos "calores" da juventude. As duras realida­des da mortalidade numa sociedade antiga asseguram uma reserva permanente de viúvos sérios, disponíveis desde o início da idade madura e livres para se entregar, "esgotada toda paixão", às ale­

Constantino e seu compllnheiro ideal, Alexandre, o Grrznde, MetÚllhio de 01J1O, por volta de 330. AutoCTl1l4 que _dou matar u.m de se/tS filhos e uma de suas mulheres, comportou-se como o chefe supremo da Igreja. Nalléspem de s1Iallit6rit1, os cmtilos nio passavam de uma minoritl, porém ativa e centraliz4áa. Além de suas convicções crislis . confusas mas sinceras, Constantino viu na Igreja uma forfa que em melhor ter sob se1l controle que ' contra ele.

grias mais públicas do cargoderical. Assim, o celibato designa de O papa Silvestre (314-35). modo inequívoco a existência de uma claSse de pessoas que ocu- Contempordneo de Constantino, viu pamo centro da vida "pública" da Igreja, precisamente porque esse im1!eraáor assegurar o lTÍunfo

b - ' defini . - °d d .. da IgreJa e fundar Silo Pedro de se su tralIam em t1VO ao que e cons! era o como o mrus pn- RDma. Afresco do século IX (Roma, o 'na vida do leigo médio "no mundo' '_ Inspirado por uma lem- , M/tSeu de Silo Pedro Além Muros)

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" f60 ANTI~"'DE TARDIA

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Vidro com fundo de ouro, da éPo cristã. 'úata-se de uma lembran'gl de fomília que nada tem de relig. os esposos em trajes de gála são coroados como lIencedo"~s, o que augura S1I4 prospentlade ..

brança errônea do Pastor de Rermas, um século mais tarde Oóge­nes compara o. homem "casado" - e não mais simplesmente o homem rico -+ à madeira sólida e estéril ao ··redor da qual se en­rosca a vinha da Igreja.

No sentido estrito da entrada num estado de abstinência se­xual permane~te, o celibato não é habitual aos homens públicos do mundo romano. Em Milão, pensando em si mesmo como um homem fi() vi~or da' idade, cuja posição social naturalmente lhe dá acesso à sat1Sfaç~o. sexual, Agostinho admite que, não obstante a enorme inflqência e, o acesso aos grandes, que inveja em Ambró­sio, o bispo cristão, • 'seu estado de celibatário parecia a coisa mais dura de suportar".' Para que homens ativos venham a criar um es­paço' 'público" em seu próprio corpo renunciando ao casamento, esse espaço deve ser concreto e até atraente, e a necessidade que a comunidade sente de um espaço público definido de maneira tão caracterizada na pessoa de seus dirigentes deve realmente ser muito forte.

Certwente foi o caso da Igreja cristã do sécUlo m .. Por volta do ano 300 de nossa era, a Igreja torna-se uma instituição à qu~ só falta essa denominação. Em 248, a Igreja de Roma dispõe de um clero de 155 membros e mant~m cerca de 1500 viúvlI.S:e po­bres. Thl grupo, independentemente dos religiosos regulares, é tão numeroso como a mais importante corporação da cidade. É na Ver­dade um grupo enorme numa cidade em que as agreiniações cul- '" turais e as confrarias funerárias contam seus membros às dúzias. Mais revelador, talvez, o papa Comélio apresenta essas estaósticas . impressionantes como uma das justificações de seu direito a ser con­siderado como o bispo da cidade. Ciprillflo, seu partidário,. tem o

. cuidado de sublinhar "a delicadeza moral da castidade virginiU" de Comélio, que se repugna de conservar um alto cargo. Estando em jogo em cada grande cidade do Império responsabilidades e reéursos: tão ililpressionantes, Q celibato e a lingU~gem dd 'poder

evem se aliar ostensivamente na cena mais vasta 'da vida tiibaóa totnana.LPor~e são celibatários e por isso "desligados 'do i:ntib.­dt)' " nóflnal <do :sêculo m os bispos cristãos e o clero tómarD.-se, aos olhosdestus idmiradores, uma elite iguàl. em presógi1~ eli-teis. trádicionáÍls dós notáveis citadinos. _; ; ,r 1 .1 ;

"?'E:aessa I~rej~ conduzida comfrnneza por tais dirigentes, que ~(tonversão'dt imperador Constailtino em 312 comerbinii'pósi­ção' inteirameb.te:pública, que serevelará··decisiVi e ureve'rSiVeFio lOl'lgo do séa:to -'IV.\-Mas primeiro voltemos ~tráspàÍa éonsidehJ a transfbrrp.açã~ das dites cívicas é de sUas cidadés'ao 1óngó; âõ p~­nooop.recedelhe, que culmina durante os longosfeitiádos dt!lCollS-tantilio',ê séui filhos. ,., . . JT;., ,.

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li IGRF.JA 261

o Império que Constantino governa como cristão declarado UMA NOBREZA de 312 a 337 difere profundamente da sociedade citadina ,. clássi- DE SERVIÇO ca" da época antonina. A realidade esmagadora de um império de porte mundial, sensível desde as origens, torna-se sensível de-mais às cidades. Depois de 130, os consideráveis aumentos dos im-postos são necessários para manter a unidade. e a defesa do Impé-rio. Nas economias da Antiguidade, tais aunientos representavam muito mais que um aumento da proporção 40 excedente do qual o governo imperial se apropriava. A classe superior deve ser reestru-

para obter livre acesso a tal excedente. As antigas exonerações locais e a velha repugnância em comprometer a posição dos ricos

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Milusoléu, século IIL A grande propriedade: no alto, o ócio dos nobres (o .senhor 1/olta da caça iJ lebre); embaixo, a administração do domínio (o senhor consulta seu grande li1/ro diante do tesoureiro e de um meeiro). (úier. Landesmuseum)

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, 62 ANTlG~ADE '/ARDIA

Jíptico de mármore (parte direzia), 'erca de 400, Altura: 3 O em, Ao <ceder a uma alta dignidade, um enhor mandava grtJllar; como embnznça, pequenas placas de nármore como esta. No alto, Rufio 'robiano, nomeado viee,prefttio (de Zoma?) senta·se no trono entre dois 'eere/ários; foz com a mão o "gesto 10 orador': indicando que fala ou' 'em o direito de falar; enquanto aos 'utros só resta o direito de ouvir. ~mbaixo, dois senhores como ele Ílzem um gesto de felieitafiio, 'Berlim, .Stttatsbibliothek)

com impostos diretos são rejeitadas, A intervenção direta nos ne­gócios das cidades torna-se a norma para a administração imperial.

Esses impo§tosno entanto não significam o deSaparecimento cidades e mehos ainda a eliminação das elItes tradicionais; São ~

essaS elites que lÍiudam de estruturas, Agora os que desejam do­minar sua sociedade o fazem acrescentando à sua posição ante.ribr ' de notáveis locais novos papéis de servos do imperador. Sustetita­

imeuW vantagens do aceSso à administràção imp~al, homens selconsideram doravante muito menos como "cob­

cidadãos" que iivaliZam num círculo de igtlais, segUndo a vélti.a tradição, para aliméntar "sua dulcíssima cidade",; São os pi!Jten­tes, os poderoso~ que controlam a cidade em nome 'do impefador distante, de modb espalhafatoso e berh estranho ao comportam~nto reservado do g~o dos pares "bem~nascidos". Notamos na época' antonina as enormés pressões ex:ercidâs sobre o cidadã,o notávH'mé­dio pela epgênóa de uma cultuti 'dividida e sobretudo de 'uriii mora:t da ajstârfcia~~ocial. Ai:rÍbuindo tanta importância àS 'dife~ ren.Çis inirahspobívels entre sua classe e qualquer cruira, os ','beml

nasddos" da éBbca wtonina eram tapazes de se considerar cOmo; parte do grupo ae 'r&mbros intercaihbiávéis 'dei uma elite. No de:: cor"ter dós lsécul6s fI 'e m essa exigência efetivamente masó.rara as desiguáid'ad,e's des~éntes no interiót 'das classes superiores e 'à lf.m::) caabriiliiaç'ão, ri> interior dadassehlperior,' daqueles cuja po~gão: . dep'éi:úlikB:o seEviç&Cl.o irtlperadot.'No fU1aldo Século m,'é'áde-! tail.%, ~ss~s fat~ ~ô :ii:eitos comó'ô' esquema de base segtiàà(fo quih sticiedad~ rom:ina deve se organizar pa!rá sobreviver, d.Im~· péoo Rofu.~61~dhé uma sociedade dominaClá expllCit'ainente Pu!' i.un:a'~aliàiJ.çà éntfe oúervidores do imperador e os grandes proprie­táriós de terras que éolaboram para controlar os camponeses. sUjei~ tos ao imposto ê para impor a lei e a ordem nas cidades. A franca dominação de alguns à custa de seus pares "bem-nascidos" é um fato estabelecid,? sem ambigüidade pelos potentes dos reinados de Constantino e sl!us sucessores. Os códigos de 'conduta do hõnj.em público mudan:tde maneira espetacular. Visto por Um moderlitlo que gosta de s,er!embrar dos velhos códigos, b bomêm púbucp,: o potens, desabrdt:ha. com indecência. A veste discreta e Unifunhe da época clássic«, comum a todos os membros das classes su~e'~io­res - a toga delhàrmoruoso drapeado, símbolo da dominaç~ m~ conreste de umO: classe de nobiles [nobres,] interdi.mbiávei~ ....:: é abandonada er.dl favor de uma roupa concebida como uma hhál­dica, criada: par~ expressar as divisões hierárquicas no seio d~ dás­ses superiores, Ais n'Ovas indumentárias se escalonam da ·ondulàn.te veste de seda dd$ senadores e da roupa, próxima doimiformef'dos servidores do imperador, bordada de motivos que indicam sua'exata posiÇão oficial, áté átúruca voluntariamente anônin1iqué de ;-iiôdó

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não menos explícito usa o bispo cristão, Antes era o corpo que por seu porte, incluída a nudez no interior dos baphos públicos, me­lhor simboliza\7a a participação natural numa:cl?sse específica. Do­ravante o corpo reflete o nível social de seu pr?prietário, sob a for, ma de vestes pesadas e adequadas em que caçl8; ornamento traduz uma posição 11.a hierarquia que culmina natorte imperial.

,uanto à cidade, na maioria das regiõeS'po Império, as con­dições econômicas impedem que se tome ~)ugar de expansão, um cenário no qual os impulsos competitivos dos notáveis possam se expressar sob forma de edifrcios, espetáculQ~ e outras suntuosas prodigalidades públicas. Entretanto tais aspectos não desaparecem,

'7 São mantidos, e muitas vezes esplendidamente, nas grandes resi­! dências imperiais - Trier, SirmJ.um e sobretudo Constantinopla I - e nas granaes cidades como Roma, Cart~, Antióquia, Ale­i xandria e Éfeso. Mas o esplendor urbano agora é mantido pelo im-

UI pera~or e, em seu nome, pelos potentes. Dep~is de ter sido a cena

deslumbrante'e autônoma em que se desdobravam as energias 10-eais,. a cidade torna-se um IJ:1j.crocosmo da ordem: e da Segurança do Império em seu conjunto.

,A. cidade' do século IV não constitui um pálido reflexo de sé' passado clássiéo. Grande parte da decoração pública foi cuidado- i ou O PALÁao samente mandda, inclusive as imponentes fachàdas dos velhos tem­plos pagãos. Efn numerosos tentros urbanos o governo imperial con­tinua a prover distribuições 1,e alimentos - limitadas, como nos séculos precedentes, aos cid~dãos, independentemente de sua ri-queza ou pobreza pessoais. lA. mesma autoridade , mantém vastos banhos públicos em todas as grandes cidades. O Circo, o teatro - muitas vezes remanejado nessa época para receber espetáculos ainda maiS grandiosos, como batalhas navais e caça a feras - e o célebre hipódromo de Constantinopla substituem os espaços anti- ' gos tradicionalmente associados à idolatria pagã, lugares nos quais a lealdade da cidade para com seus dirigentes' e sua própria sobre­vivência se expressa de modo solene. As assot';Íações culturais, que fazem questão de que as cerimÔnias sérias se: realizem conforme o ritual, reúnem-se para assistir a elas com tahto fervor como anti­gamente, por ocasião das cerimônias religiosás~os templos pagãos, Em Trier, em Cartago ou em Roma, três cidades ameaçadas e mas~ sacradas pelos bárbaros ao longo do século\f. o povo permanece convencido de que a realização, dentro das notmas, dos jogos sole­nes do Circo assegura a sobrevivência da cidade, graças a seu mis-

A lGREfA 263

~o poder oculto.,. '~ . Os potentes aparecem no fo. ro c.om men. 'or freqüência. ~_ Fnzgmento de taça gf'tlIIada: corrida

d d ·"" 'a d d al' . 1 de Circo, século Iv. Sob as tribunas, em agora a omlUar sua C1 a e e seus p aC10S opu ento um carro contorna a btJTTeira de três de suas villas; um pouco afAstados do centrO tradicional da vida balizar. (Iiier; Landesmuseum)

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Um EaIte/aMosaico, séÍ1llo. ' IV. Aqui um senhor mlint/41t represenll1r uma de suÍJs '. ". villas. AcirlllZ de um p~ifc) :' centrl1/, tlUi1s torres ! .C majlStoSl1m4l1te enq1llilirtzm uma'longa'fiWa. O • do etlijido 'tem como . . cobertul7l pequenar cúp'u/as' de cimento, tomo t/as;'Fm!= tIi1 CIIfIf, etI1; tepeis. (bftisf~' do Batrlo)' .

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[J'U[JUI:a. Palác.i~ e ~~/as não são lugaresge retii:~,"~. as, rui. ~~s(:J .• , o que se tornViu pnvado . .As peças reservadas dos, apartamen~

mulheres têin ao lado grandes salas para as recépções de teli- " , mônía, e muitaslvezes possuem n~a extremidade uma absi~~;~~

os pequenos banquetes . .AssembleJ.as solenes do grupo de J..Olcra­.: dos que dirige icidade, essas recepções diferem muito dos rilagrií:

, .'", ~~'i~ ~cos banquetes .cívicos ab~rtos sem discriminação aos ~entes, aos . ~::-",;~--q libertos; aos amtgOs e concrdadãos, como aqueles em CUJO decorrer

. '. - "." . Plínio, o Jovem,' três séculos antes, prodigalizava aos amigos e li.: remplo dito de Baco, ~Í" Ba;aJbek, bertos suas reservas de vinho medíocre. Muitas obras-primas da es-~etade ~ ré~ IL O:~Jemplo de tarufria ~ica iJ.ue ourrora se erguiam ao redor ou no interiór (Io '11 se mta e tio Itpo T01/t{!nq, 1IZI1S ar fo,i.f.i,;n,*<>l g"'d " d' da d 'O/unar são de U11lll tzltUTl11 ~araJP- )~ 1p.~1 .ente nos vastos panos e enrra ,es-xçepciontzl. Talvez fosse ~obertó de seS1f!.l~· In-.: Q direlto dos potentes de tomar e presetV'ar, Im tet7'l1f,0. p/ano, co~o fItI1is de u.m. segund~;~,p m'i~,tondições, O melhor da cidade cláSsica. ,Será emplo nno? A I1TqUlteJura de JtTII1 . • " '.,. .. ",," h' " b dinad d .. '. vma1ll1 IImill pelo gigantismo, pelo n~f~ar~:·conv., _.: '~.;. es . ome.D.S;:e, ~eus su 0:.. os.~ que' sp,le::eio.r e (exulO em PtzImira) pell1 b~P», ~~o e f1~ ,c~urudade, r~osa em' rapl~O' cresctm:en:t, 'ngintzlitlllde. ~~9.deml>mrecer um espetaq\lo de ummundú urban« tes-

lta~ .. · .... O;f .. ; .. ~.m.0:á.rn.r.~.ao ex:er~.·~ s~ceró. de. seu p. odeÚ~ do Q~ de ~~u:s <ic, o lmperadOL 'Nao e certo que, aolongp do sécúto:~<ino grejiCristã impo~à cidade antiga: suas próprias noçQ'és:.,<h<~.oom -. de na última cena cuidadosaolente restaura. da'ae suaJon - existência.'· :",.!:",

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Na nova cena urbana o bispo cristão e sua Igreja não passam de uni elemento. Agora pode-se construir numerosas e magníficas igrejas graças às doações imperiais e segundo o novo modelo im­perial, a basílica, edifício muito semelhante à "sala de audiência" do imperador e ao rrono do juízo de Deus, o imperador invisível da cidade. O cléro pode se beneficiar com exonerações e alocações de alimento a título de privilégio. O bispo tem acesso aos governa­dores .e aos potentes; intervém sobretudo em favor dos pobres e oprimidos. Agdstinho nota, porém, que muitas vezeS o fazem es­perar na antecâmara dos grandes e que gente mà.is importante en­rra antes dele. Por impressionante que pareça, a Igreja do século IV continua marginal em relação ao saeculum, a um "mundo" cujas esrruturas·principais evoluem sob as fortes pressões do poder e da necessidade de segurança e hierarquia. O cristianismo é peri­féricoa esse saeculum, mesmo que agora seja a f~ nominal dos po­derosos~ .--..,;-...

comunidade cristã permanece unida att:àvés de uma mira­gem muito particular: a da solidariedade, q1.le doravante pode exprimir-se abertamente no decorrer de cerimôffias na basílica do bispo. Assim, conquanto não constitua realmeç~e uma "assembléia ,dos santos", a basílica cristã é um lugar do quaJ estão francamente ausentes as esuuturas do saeculum. A hierarq~ do sééulo E me­nos nítida na basílica do que nas ruas da cida~e. Apesar da nova ímportância do clero, apesar da cuidadosa se~gação de homens e mulheres - o mais das vezes apartados de um lado e ourro das grandes naves da basillca -, apesar da consUmada habilidade dos poderosos paradesracarem-se da massa obscuça,.dos inferiores com suas espetaculares vestes domingue~ bordadas. ç:óm cenas dos Evari­gelho~, as basílicas cristãs perma.ó.ecem uma 'reunião de homens e mulheres e pessoas de todas as classes, igualmente expostos, sob a tribuna do bispo na abside, ao olhar inquisidor de Deus. Sabe-

õs que João Crisóstomo, quando estava em Constantinopla,· tornou-se deliciosamente imp(lpular graças a seu hábito de acom­panhar com os olhos cada um" dos grandes proprietários de terras e os cortesãos que deambulavam denrro e fora da basillca durante os sermões; seu, olhar penetrante os designava publicamente como os autores dos pecados e das injustiças sociais que ele denunciava do alio de sua tribuna. É a velha "liberdade de expressão" do fi­lósofo, crítico dós grandes, que dQravante pesa sobre toda uma co- '

. munidade urbâna, reunida por seu clero na "salà de audiência"

{Je Deus. Uma c .. omunidade COPdUZ. ida d. essa maneira e por tais pes­soas não podia .deixar de tent~ triUlsformar a cidade antiga numa

~C~~:'dade m9ldada.segundó uma iinagem, insólita, que lhe fosse

o olhar de seus dirigentes, a Igreja é uma nova comunidad~ ública unida pda ex:traordinária importância atribuída a uês temas)

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lo. IGREJA 265

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266 ANTiGUIDADE TARDIA .. '

o Vatictino nll Idade Média, , Maquete de Morcelliani, O g1'llnde ediftcio que compõe 11 metade· esquerda é iJ basílica pnmiti1l11 de são Pedro, iniciada por 1IOltll de 325. Cada cidade tinhll/lO menos uma "basflica"'ou sala de ;eunilJes oficiais; os palácios também. Os santu4rios em que se reuniam OI cristãos foTlJm conrt17Jídos de modo a merecer também o n01n6 de bllSíliça, pllra não parecer com temploI e levar uma denomi1ll1fão Iolene,

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if~dos ~d". urna acuidadeité entãó inexistente: no m~itdo , ~g4?!'ifpç~dó: ia pobreza, a in~ne.EsSes trêS',sOmbrios fo~cei­i6S;lipãreiíí:'erlentt abstratos e emitamenr2 interligidos; hib~iàm ó~liotiZql1te d~ cti§tão da Antiguidade tardilL Apenãs àfrdríí:aiido­dr'de·IIÍiÚ'leir. definida já sem équívocos lielo der6, ê .qJifd'ilo­JU6n'e'li'mulher comuns poderão ganhata "cidade de p~üS". &jasHelícias' prazerésfiancamente sensuáÍS os mosaicos qistãos da Antiguidadetardia evocam. Neles os cristãos dessa épo~a con­templam o rosto eternamente beló e tranqüilo dos santos, dos ho­mens e mulhe{es agradáveis a Deus, que os colocou não no "além"

. asséptico e etéieo, nascido da imaginação moderna, mas no antigo "paraíso das ~elícias", "um lugar fertilizado pelas águas refres~ cantes e de on~e desapareceram a dor, o sofriment<1 e as lágWnas' '.

-AbasiliJ cri$tã abriga uma"assembléia de pecador~s. i~ai;' em sua neceJdade da miseric6rdia de Deus. As Jronteirás mais flrmes no inteiior:ao grupo são aquelas que o pecado traça. NãQ, se deve Su.best!m~ o e~em~nto de:novigade ~e ~~a tal depnJçãO da;comttP.1dadl~ Questoes tao profundamente lnt1Q,),as como os mo-

, rej}[ cõStú.mes ~'bÓiais ou as opiniões pessoais sobceo do~ ,cris- ' , tã? p?êJ.~ .setllulgadas pelo: me!Jibr~s dÓ,,<:l~o ~~tificar.~ ~to publico e vlbrfute,t:le exclusao claI~~eJa C!1Sta: UmplStema lnteua­m~te públic<tdepenitência impe1,á nesse períodô.?f\ exc<1~imhão acaiteta-~ exclJsãopúbli~a àa eucaftstia e seus efe.,tos:sq pód~ ser

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revogados por um ato igualmente público de reconciliação com o bispo. Assim. na basílica do século Iv, a soli43,fiedade pública es­ta norrna1men~e ligada à conseqüência do pe~do e ao "crime pensamento" de heresia, com uma nitidez que desaparecerá épocas posteriores. O acesso à eucaristia implka uma série de

lenamente visíveis de separação e adesão. O ~ebanho dos cakLU- J

m'enos é expulso do edifício ao iniciar-se a liturgia principal da

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istia. A ceriinônia começa pelo m~iment.odos cre~tes que c~­locam suas oferendas no altar. Por ocasião da solene sub1da dos fie1S para parriciparem do "alimento místico", evidencia-se. a hierarquia estabelecida no grupo cristão: os:bispos e o clero são os primeiros a se adiantar, seguidos pelos fiéis castos dos dois sexos; os últimos de todos são os leigos casados. Num espaço eSpecialmente desig­nado no fundo da basílica, muito longe da abside, ficam os "pe­J;litentes", cujos pecados os eXcluíram dos atos de participação tão concretos. Moralmente humilhados, vestidos com mais simplici­dade do que sua posiçãO autoriza e com a barba por fazer, espe­ram, sob o olhar da assistência, o gesto público de reconciliação e seu bispo. Às vezes a hierarquia do saecu/um e a igualdade (e:

rante o pecado se chocam, e as conseqüências são memoráveis: em Cesaréia, Basilio recusa as oferendas do imperador heréticoValen te; em Milão, Ambrósio coloca o 'imperador Teodósio no meio do penitentes - 'o senhor do mundo despojado de seu manto e do,

, \ ~;de.ma - por haver ordenado o ~assacre da população de Tes-~~ônica. - :Os pobres também chamam a atenção. Estropiados, indigen-

'tes, vagabundos e imigrantes de campos muitas vezes assolados. aglomeram-se às porras da basílica e dormem sob os p6rticos que rodeiam seus páttosinternos. Sempre se fala dos pobres no plural, em termos que não têm mais relação nenhuma com a classificação "cívica" precedente da sociedade dividida em cidadãos e não ci­dadãos. São o anônimo rebotalhó humano ;d~ economia antiga. Tal anonimato precisamente os transforma eriíotemédio para os pe cados dos meinbros mais afortunados da coniúnidade cristã. Po a esmola aos pobres c~nstitui uma parte e~setiêial da lonia reparal

ção dos penitentes e o remédio normal,para os'pecados "veniais", como a preguiça, e o~ pensamentos impuros é 'fúteis, que não de-mandam penitência pública. ' .

A condição miserável dos pobres recebé pesada carga de sig­Ílificados religiosos. Eles representam o estaao'ü,o pecador que dia­riamente precisa do perdão de Deus. A eqúàÇão simbólica entre o pobre e o pecador miserável e abandonado por Deus retorrta com insistênCia na linguagem dos Salmos que formam a coluna verte­bral da literatUra da Igreja e es'pedalmente das 'cerimônias peniten-

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A TGRGJA 267

tl JejimtoJ C01llJllinia, século IV ou V. EsSII figunz que TeU na atitude cristã (e pagã) da ortlÇíio é /lO mesmo tempo Comminia, sua alma imortal

11 própria prece. (NáPoles, catfICumbllS de são Januário)

A POBREZA

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Roma, catacumba ~e san!a Domitila, ci~. Tal sim~lismo era indispensável par~. desp,ertar a ç:&p,atia tumba de um [eTTelro, seculos 1v..V. graças à qual a citadino, habiruadá a ver essas desagradáveis ruínas O uso da gmvuTtl, menos cam : _ . que o rele~o, con~litui uma . hum:mas cO,mr exceç.oes ameaçadoras para a regra .d~ ~~ga. co-"democmhZlJfão'.dtI:. artefun~ ~Ilrudade ClVia de cld~dãOS, conce~e ao pobre ap~lvileg~4a,Jlo-(Roma, Museu Crutilo do Latrão) ~SIÇãO de ,Símb@.".od,amISeráVel condição ~a hum~~.,.ldade d, ~ q, u~

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Tner, pintum de umel sala de recepção ("basílica") imperial, antes de 326, A auréola ou nimbo revela uma princesa ou, antu, uma alegoria; pois, coroada de louros, ela mostm jóias em sinal de prosperidade. ([rier; Museu Episcopal) ,

lmpemlriz, cef'CIZ de 380? Ó aspecto bem fJCIJbado deve-se não só ao mármore e a uma ilusão de escala (trata-se de uma estatueta). Sob o manto de pregas helenizantes, vê-se a longa echarpe de brocado de ouro que as impemlrizes já usfl1lam no século lII. (paris, Biblioteca, Nacionfl/, Gabinete das Medalhas)

participa, seu ~ q,ue é pecador. A esmol,a torna~~e uma ~~~~gla oclerosa da rªação de Deus com o homem peca~or. Os ge~dos

que os mendip dirigem aos fiéisjlue entram na basílica P~P: re­zai pre1uâiam,"lJs apelos desesperaqos dos fié~ à misericórdt~ divi­na:: "Quando~sti~eres cansadod~rezíU"e p.ão r~Ç:eber"~ di~J.oão CrisóstOl;no, "'ep.si no nÚffiero,de\iezes em que êspitaste,qfnJ10-bre pédir e nã!} 1.l1e deste ouvidos.': "Não é erguep.~o as Illi~s.[ r;J.a atii;ude de rezlr dó orans suplicante] que serás ouvido. Estende a

~oparato qéu, mas para o:pobre." . " O anomirtatodo pobre efetivamente ajuda a manter o.,senti­

mento da solidariedade indiferenciada dos pecadores na Igreja. O

'<ie&~~!i,'c~,' 'StJUP~o. '. o qual os g.ra.o.des Sãl? ,~bri~do: a dar, ~e~e­'~~~Íl~f,-je~~pç~a un: pa~el",ruante 1lf tgre}a c~, po~ lID­

~>~~a:J~~em!9.1.!:_~prodi.galid~&es estab~le~ a evidência do ~t~~dgs P?dtr~s~~e contro~~sua ~IIl.Jlfi1dade.Afin~"p~u­c~bis1!iÇ~ te~ab?-Sldo constrU1~:sem tâ!fttorno. & maIS espe­ti~~~sro recidas pelo impe~dor oup~Ios didgentes1do de- ' r~jãq}1f#Í:6s e h~p1ens muito d~josos dej>rovar à 1llan~~a).n­ti~:qli~;~~ -dir~itode "alimeli,far" e PQ~to de Q>ntr~l* as CÓ}l~t~'&,~~s . ~ãs que ali se reÚfiem. Os nl)mes dos que levam ai\~fe.r9jJ.çlas a t!tf ~o lidos em voz alta durànte as oraçõef sole­ne~queprece m,~ ~ucaristla e muitas vez~ '-clamados, C9rD.O na ~~ épOca da ~, cência ávicà. G.raças à noÇto de pecado, pode-; esperar reduzir F.audaciosa pirâinide de pal:fonato e dependência.

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Os bispos, portanto, insistem no fato de que cada membro da co­munidade cristã, homem ou mulher, é pecador e que toda esmo­la, por modesta que seja, é bem-vinda para os verdadeiros pobres. Por conseguinte, o a.spectCl ostensivo do patronato dos grandes, que se expressa em 'pedras, mosaicos, tapeçarias de seda e candelabros reluzentes, de cima para baiJço à maneira da antiga munific~ncia ávica, é veladÓ pela garoa leVe mas persistenté das esmolas coti­dianas do cristão pecador aos desgraçados anônimos .

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Com efeito, a miséria real dos pobres os toma clientes ideais para um grupo desejoso de eVitar as tensões éiusadas por relações de patronato com uma verdadeira clientela: De·todas as formas de patronato às quais o clero notoriamente foi eXposto durante mui­to tempo a mais perigosa e aviltante aos olhos dos pagãos é a es­treita dependência com relação i mulheres ricas. Desde Cipriano, ãpobreza e o papel das mulheres influentes n'a. Igreja são preocu­pações estreitarilente ligadas. A fortuna de numoêrosas virgens, viúvas e diaconisas cria laços, de patronato e de obriglição humilhante en­tre o clero e as mulheres que, no ftnal do séMo Iv, são membros dirigentes da aristocracia senatorial. Tal riqueia e o patronato que lhe é associado tocarão de modo muito mais certo os pobres, que, como todos sabem, não podem retribuir prestando serviço, e sua clientela não vale nada. Ademais, códigos estritos de segregação entre os sexos vetaram o acesso das-mulheres a(}poder público dentro da Igreja. Toda infração a esses códigos provoQ!, um escând3.Io que se procura alimentar desde que desponte aiuD.eaça de mulheres virem a exercer influ~ncia na Igreja graças a su~ 'fortuna, culrura ou

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A IGRFJA 269

,RES RICAS

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270 ~Gm~ADE~M

" . coragem superior. Esses tabus, no entanto, não seaplicarn ~ pa­el público d6luma mulher que socorre pobres farrapos hurilaI,.os. omo pmtetotb dos pobres, através da esmola e dos cuidadôs oom s doentés e 0\ e~geiros nos hospitais, as mullleres ab~as

desfrutaín de 1lm3. verdadeira posição pública ~cidades\ii re­gi["o med.\terrliea; posição excessiyamente fara nos Outro~'Upec­tos-,daviâa pú~licádos poderoso.s'Sob o Ii:np~ri(Hàrdi6, vi~'hie-rarquizada e dOrrlinada pelos h~etlS, .,' , ':;~ r •

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. ~ Pâtrbno dbs:wbl:es e prótetor:das mulheres-:iafluent~/ C\l}as energias ,e:- fortima coloca a serviço 'da Igreja, diret~respiritual-de ~s grUpos de vidvas e virgens, ,o bispo adquireimporrância na cidade dt> séctilo l'f, deliberadamehte se associa em público; ares­sâs:êategorias de peSsoas cuja existência fotaignorada pelq antigo n:iõdeiÓ'~t!=ívic( 'tltlsnotáveis urbanos. Segundo os termosdo~::Câ-

Parte de um díptico de mnon. nanes;M::sant,~ 1\.~io: "Umb.iilpo que ama j:)spobreséhico, Altu~: 29 cm. ~o~em~ra o e'1l:cid1~e SUli tif-C\lnscrição o h:onrarão~';:Dificiimente se"podia. consulado de FlaVIO Felzx em 426; d' . ~,"'" ,. " . ..: ",. d' . , '. ,. "h este segura um cetro coroado, por ~)ar:llm codtr~~f!1~ agu ~;Ç9m a lffiagemc .CIVIca ,'it:re os uma águia, insígnia de sua .n9"tãvé~;çsten~vaIl'liâoIS séculos~tes. !J i;':,' .. ,~\:~ dignidade, ,e. usa um~ túnica longa ',~:A:~l;Jnídadécristã' que crebite paralel~~ cidade anti~ 4l1'1.

fi:;:""::~:!;;:::~ ~oga d~!~.~.J1ge !e ~ dorr:in~te ti~'s~culo IV, piou, todav~.atr@., brocado, Passou-se da era das stes v~desu'Mcer'nMlas publicas, Set,l tipO pes$oalrde uma npY\l1<>..t:-• 'k'-,_ ~, • -. • .~, "

Jogadas so.!m o corpo para a ma,tieeSpaço "úb:lico, dominado ,Ç9m segura:p.ça por'llrP. n~,' Q, r~~ vestes condas e com bordados de .,,-~ - "', , ~"bl' . 'd ç; '~"tJ.,;. ouro e prata. A liturgia católica p,o:.?~~eFona~..pu , l~OS: ~~01a, os com .orfmeza por .~r!!s cOnJ:17Ia os /raços. da ,!,o.da cortesã ceJib, atllrJ.as," ,~ lSpOS c,eli.batano~fP., ndame~1:ílll s, eu.prest~glo; S9:-do s~culo V. rP,ans, Bibltoteca bresua c~paC1 .. de.de ' alunentar ",uma nova categona de p~so~ NaCIonal, Gabtnete das Medalhas) a càtegoqa an . 'a e profundamente antiõvica ~os pobtes,i.eni Mosaico, retrato de santo Ambrósio, raízes e aband ados. No século V, as cidades:do Mediterrâriêo'pas~ século ~ .Eis esse homem .de ação sam por novas frises. As gerações que precedem e seguem imedia-mef~ncoltCo: esse homenzt'f,ho ctÚfo tamente O ano 400 conhecem imporrantes catástrofes urbanas co-e dtItante que santo Agosttnho so • • • ' , via aos domingos na igreja; esse mo o saque de Roma pelos v1Slgodos em 410, e o surgImento de bispo cuja política era feita de bispos influenq:s: Ambrósio em Milão, Agostinho em Hipona, o violé,!cias planejadas para pa!"ecerem papa Leão em !loma, João Crisóstomo em Constantinopla e o im-capnchos (peter Brown, Lt Vle de 1 " 1'] 'fil", , 'Ai d' A - . 1 "-",,,, saint Auguscin, Paris, Éd. du SeuiJ, P acave eo I O em exan na. 'questao que se to oca P:ulltalS 1971). Jlr!ifão, Igreja de Santo ' gerações é a dct.saber como a fachada restaurada da antiga cl<l'ãde

Ambrono) ~ r~m'"ana,C,O,'rre O'~isào,", de de~~or?,na:,,) d;~~O, ,0, bi.SP, •• o,~ris,t,â<f.,>,;~~U, ~ mdo por sua p~ptla deBruça0 nao ClVlca da comunldadeHivre pata intervir c<ln? o único ator representativo da !idà urb~ ~as margenS do M!diterrâneo. ; : " ..,;., , ' ~~ , :

.. .. },"" "':'. ' .:..:. A MORTE < No eÍ!:teridi: das cidades estende-se a solidariedade maiS'tràn-

qüila ê definititatl{)stúrnulós cristãos. E~' qualqh'érmusêtt mo­derno,pa5Sar d:à salâs pagãs àS cristãS equivale aperlHrar nUIil1Iniã· dd!tle dam,s sighifi&.dos gerais. A diversidade poúcb dara d"s' sar-' cófagós di das* sotial sUperior dos séculos'n' e m ~ós et/ldií:ós

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A IGREJA 271

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272 :ISrICI'ID,1DE TARDIA

Mosaico de tumba, século V? Na Espanha e na ÁfriCII mosaicos cobrem IJSsim a coloCllfão da tumba

. até o chão. Aí lemos o nome do defunto, sua idade, o dia e o mês de sua" morte. mas não o ano, que nem sempre figura no túmulo: o importante era o aniversário do falecimento. (Museu do Bardo)

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não acabaram de int-qrogá-Ios --~9.eixa luga.r a Um. repert~Qde ceI$ &.cilmenie recónhecíveis, inswitas, coPl pouças variaçõ~, , em tGdàSl',~b;rs cristãs. A surpreçi1dente Víi.,cieda,~: ~C;~~ ~~pag~ eda arte funer~ pagã ~~1l).un4~~1-f~q~-. d;Ule~litêa riei etn.opiniões com\UlS referenJÇs à mprte,e a9W~. kitwn!l~ era ~tão um lugar privado porém privilegiado. A, p~" SÓ~;;hi0l1ii; su*ntadapor seus grupos tradicionais...,.., a ~ osp~,;os as~ciados funerários e;'no caso gos grandes,a ~pria ciela.de -'=, devta. em sua linguagem peculiar;, explicar aoú,i,vós o sentidoqe suatnorte. Daí a extraordinária p~~life~ção de aSs~ia'" ções funeráriaJentre os humildes, o papel crutial:"do mausoléJ;i de família entre Os abastados e a bizarra diversidade-das declarações do defunto ou ~ propósito do defunto. Pensamos num notável<grego, Opramoas, que cobriu seu túmulo com carcis degovemadot~s ro­manos elogianC!o-lhe as generosidades cívicas, e ·na mensagetn de um humilde ~dreiro que pede desculpa pela qulrlidade doS ver­sos de seu epitlfio! Esses túmulos constituem a alegria dos leit0res de 'epitáfios gregose.romanos, mas o desespero dórustoriadÓr1ias reljgiões que gostaria de retirar deles uma' doutrinaicoerente:sábre o além. No m~do pagão dos séculos II e m nenhl%ma comunidà­de'í:eligio$a ~plainente difundidà interferiu para:s\JÍocar·t\iD.tas vo~priVàdas*ê @ diferentes, surgidas do álém-túmulo.·' .

Com a asfensao da cristandaâe, a Igreja se introduz entre o individuo, a f:Ihúliá e' a cidade.' 6 clero afirma seI;· ti grupo I mais capaidi!preséha11a memória dos, mortos. Uma:"~lidil. ®uttina criStã soJ:)fe o à1.ém:; pregada pelodero, esclai:ec6ios vivos 5óbrê> o s~#tidóda moiedo defunto. As âlebrações tradicionais na.:temi­tenb pef.m.ane~ habituais, porém já não:b:tstam. Oferendàs,tl'lo rilohiçnto da ebcà.ciStia, garantem que durante as"orações b'nome dóS' niói:tóssert lértíbrado em toela.a comúnidade cristã apresenta:­da tomo amais vaSta parentela artificial do crente. Festas anuais em memória dosmôrtos e em benefício de suas almas - ofereci­d~, c-ottw se~rri, 'em favor dos p~bres (esSe etêtno preteXtb) ''::';'' deseni:olám-se hos átrios das bas'tlii:as e mesníO:erri: seu 'interiót PoiS argréflfi~~nã(jlmais a cidade, cel~bra a glôrià dos'r.désâpar~âos. EF.ruái:vez· inir6duziela. no recinté dá .baSíliCa. a:' denicicia~~dó p'eeado:~end~se }lara, além do mmulo de modo incónqebíifipa­ra''os pagãos; () clero pode recusar-lÍS ofereIl~is fei~:enindk~ sIe llÍ:~mbios;não '(anvertidos da familia, de pecadores não arre~eIidi-dos e·de ·suiciiaS;~. ·i)·

. ~ . I.l'i~·": ~ ,,",' uml1. n~acepção da expressão "terra consagrada" pérsiSten­tementeattai ~s mortos à sombra das basflicas. Grandes temité­rios cristãos, adm.in.istrados pelo clero, existiram em Roma desde o inicio do sécWo m. Comportavam galerias subterrâneas cuidado-

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amente construídas e concebidas de tal modo que grande núme­ro de pobres eo,contravam sepultura. Talhados em nichos super­postos nas catac;Umbas, tais túIpulos constituem.ainda hoje os tes­temunhos silenciosos da deterininação do clero-üe agir como pa­trono dos pobres. Até na morte os pobres são mobilizados: as fileiras de túmulos huniildes situadas a uma distância decente do mauso­léu dos ricos testemunham a solicitude e a solid.,~iedade da comu ~e cristã. .:~~.

- No ftnal do século IV, à d.ifüsão da prátiª" da depositio ad sanetos - o privilégio de ser enterrado perto dQ' túmulo dos már­tires -.garante que, se a comurudade cristã 04:lia uma hierarquia de estima entre seus membros, o c\.ero, que cÔlltrolava o acesso a esses lugares consagrados, erigia-se em árbi®.~pe tal hierarquia. Virgens, monges e membros do clero são agru~dos mais perto de numerosas tutribas de mártires nbs cemitériosiije Roma; Milão e outros lugares. Essas novas elites ela. Igreja urb#a são seguidas de leigos humildes, admitidos ali em recompensai~e sua boa condu­ta cristã. "Probiliano [ ... ] a Hilaritas, uma mUJ,her cuja castidade e bondade natural eram conhecidas de todos o~vizinhos [ ... ]. Em minha ausência ela permaneceu casta durant4ii.bito anos; por isso

lu " ~trr reDo~a neste , gar santo. . {.:{i· .

Integrado~ de modo bem v.is'íyel nas Igre'fa8 cnstãs, os mortos são imperceptitelmente retirados~e sua cida~: A fim de assegU­rar o repouso e' a permanente rep~tação de se~ defuntos, a famí­lia cristã dora~te trata apenas com o clero. As formas cívicas de testemunho paSsam a segundt> p~o. É só ~ pequenas cidades italianas tradiqonais que o aniverSário de um personagem público . ainda constitui ocasião para um 'grande bariqúete cívico para os . notáveis e seus concidadãos. No século IV a corte imperial celebra publicamente o luto do "primeiro cidadão", Pet!Ônio Probo, o maior dos potentes de Roma. Mas, em seguida, sua memória é con­fiada à tumba de são Pedro. Um esplêndido sarcófago de mármo­re proclama a certeza da nova intimidade de Probo com Cristo na corte celeste. O grande hom~m repousou a alguns metros de são Pedro até que, no século xv, ~ operários encontram seu sar­cófago cheio dos fios de ouro com os quais fqra tecida sua veste

~erradeira. Qúanto ao clero e aos cristãos mo .. ·.nos santamente, os

mosaicos os mostram longe da cidade antiga,'auninhando sobre a relva verde do patlÚsO de Deus, sob as palniéifas orientais, certa­dos de um grupo de pares de Plodo nenhuri;l clássico:

E agora [de vive] entre os patriarcas, ·i entre os profetas que claramente vêem ~ futuro, na companhia dos apóstolos < ,: ;)

ie dos mártires, homens de grande podeI.

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A IGREJA 273

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Detalhe de um s=6fogo cristão, século Iv. Fazia séculos que a arte funerititz moSlra1la espoms meio voltados um para o outro e para o especf4dor. M4s o sentido de U111l1

itmzgem "aritI com IJS éPocas; um século cristão vüs nest4 "duas alf1ZIII que, em nome de Deus, não tinham mais que um s6 espírito'; como lemos num anel bizJmtino. (Roma, Museu do Latrão)

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o MONASTICISMb v

Um dia Constantino escreveu a santo Antônio, sem impressio- O MODElO ,

nar em nada o velho. Antônio havia deixado sua cidade de Fayum DO SOLITÁRIo

na época em que nascia o imperador e desde-algum tempo estava instalado no deseno da Tebaida. Pacômio também ~ara seus pri-meiros mosteIros antes que Constantino se tOrnasse, imperador do Oriente. O édito de Constantino, tão familiarãs cidades, constitui novidade para o mundo dos ascetas. Os monges, os monachot" -quer dizer, os "homens solitários" -, prolongam uma tradição cristã muito diferente que quase se poderia qualifi~ de arcaica. Suas ati-tudes espirituais e morais inspiram-se na experiêp.cia de um ambiente sobretudo rural, muito diverso daquele dosçristãos citadinos. No século IV os dtonges do Egito ,e da Síria corih"6cem um sucesso de estima e escândalo no mundo mediterrâneo,. 'A Vt"da de Antônio, de Atanásio, aparece imediatamente após a rn,bne do santo, em 356. Entre 380 e 383,João Crisóstomo se retira - o tempo de um perío-do cuno porém formador - para viver com os ascetas nas colinas R ", '" u. ' . d A _ • ~ • U • • . oma, Jllnlll mtmll "uJggIOre, ceTCII que rucun am Il.lltloqUla. ma VIagem em pensamento rumo ao de 435. Só o piJo, o baldllquim e o cume da montanha na qual Cristo se transfigurou" é o sonho pun- altar siio recentes; o telo imita o gente de João Crisóstomo, O mais citadino dos retóricos cristãos. Em IIntigo. De uma gt'IIfII ffZIJÜ imperial

d 3 ' 6 hist~· d A -' • b A que slIgmdo, POdeM pllSJtJr por uma ~sto e 8 a . ooa e s~to ~toru~ ~ente ~~. gos- basíliCII civil pagã. É uma obra-prima tinho de seus projetos matrunorualS e o unpele a uma traJetona que illlntigll: pelll precÍJiio hatmonioSII ao cabo de alguns anos o leva a ser ordenado. bispo de Hipona, on- dtzs p'roporç(jes (P?r 110/111 de 1440 os ' de viveu dUrante seus últimos 3' anos. No filial do século IV o p0 tJrq'}l!etos fI~renhnos restaunz:iio .essa

I d I -'. 'd d ~ ecli d' d l~' eslehCII do ngor, achllndo IIS 'greJIIS pe a, greJa énstã nas Cl a es e psa o ~or um mo e ora. cal "góficllS" im~recisfJS demais e com mente novo dll, natureza humana e da,soCledade humana, criadO 'ullos acréSCImos), Outram, entre elos;'homens do deseno"; colu11III e janellls, UfIZII m?",um em

O ~. d ' "'d fa d "h ~relevo rodell11l1 - moSIllCO: : presnglO O monge tesi e no to e ser um omem 50- pensllndo nisso, sentiremos 11 zinho". Em SUa pessoa ele resume o velho idéal da "simplicidade necessidade desses rele1los, que ' do coração". A isso chegou através de dois caminhos. Primeiro re- 1I111itw_ 11 supetfoie pillnll dllS

• • •• ~ partes allIIS, sem cortá-III em dois nunclOu resolutamente ao mundo e' da maneIra maiS v1S1vel. Por bor UfIZII smiêndll horizontal um. ato de anachôrést"s, retirou-se para a vida no deserto:, é

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276 ANiiGUlDfDE moIA

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São Paulo, o Simpler{;!feno/6gio de Basílio lI, século W. (Roma, Biblioteu Vaiicana) ~"

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. \>Íomcrn ddinido"po, ""'#"" d~ ~~;~~:;t;;r:~~~~:é:~~;fe~t~~,:t; ~.,' ~:; aS~âitáMe oslll~eJós do ºnente?ro~o; ~aoeon4e~d~

is, do deserto -::"f'erenutas'~. Essedeserto~re C;~LC;VC:C:Ill viollnw conttast~ com a vi<h. '~n:itindana". ps~~~ .. á{i

vezes permanecem ao al~clt:J;lav1Sta:e ~il>e­Ul~la.llLf d~ comunidad:~ estab:leciJ~ 9.JJi,abandb~if~

11ij.Jldatnent$e tornrun os herolfe guIas dplrltU~ dos ~d~e5; , . . . .';. .~~' ,. .~ f( :.'1 !-,Ultanro, numa tona:iD.arginal,~~­d~ definições e su~~éntáculos }tbi­

em,socIedade. Estabel~cem,', -se no.eqHI,, ,(onpnente ártIco, um espaço consld~do vazIO n~d

fmem riais no mapa da sociedade meditefrânea; e~4 no l. fora da cidad, c: e quedespre~{>a cultur~",ga­

opção outra.que não a de uq, existên~~-dis'p~da nas aldei.~ supetpovoa~<:l/ . '~l+':-'.

Hmo>:/,>(rniJ" ;"'é·im agindo; o41onge indi.yid~ficou litt.rpa-, diante:'aPDeus.ê.eritre;~WicoJD.m~· ei-

·~pllC1dade46~ção".U~erti'~aS~ '~~ ~uClc:<pdeestabelecida, lçnta e pénQS~te:PUf,' !lo

d,ij,'su~~es $sSurra~ pelos de~ônio.s, o.~o~;Umeja:Jjí# " " lUtato, tãoliyre dos nodulqs..;das monyaç&es

~~tPrópljas qpcoração div~ilo cOI,Ao.,ci n~~çq sõli4~,~,j.~t-

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Os admiradores do monge estão convencidos de que agindo dess~ forma o "solitário" reconquistou, fora dá sociedade estabe­lecida, uma parte da majestàde original do homem, Séculos de es­pecu1ação sobre a "glória de Adão" cristalizam-se ao redor de sua

. pessoa. Como ;Adão, ele se ergue na adoração sincera de Deus no paraíso. A melancólica paisagem não social do deserto constitui uma imagem remota do paraíso, a primeira, a verdadeira casa da hu­manidade, o lugar onde Adão e Eva moravam em toda a sua ma­jestade antes do assalto sutil e todo-poderoso das egoísticas preo­cupações da v~da humana na sociedade estabelecida: antes que o casamento, a àvidez carnal, o trabalho da terra e as preocupações esmagadoras da sociedade humana presente fossem arrancá-los d eu deslumb$nento. Totalmente simples de.,coração e, por essa

rãzão, unida ã legião dos anjos no louvor ini~terrupto e indiviso de Deus, a vida do monge é um'espelho na'1l:rra da vida dos an­

. jos. Ele é um "homem angélico": "Muitasv~es Ele me mostra­va", diz o velho Anub, "as legiões de anjos('que se perfilavam a sua frente; mUitas vezes percebi a> companhi~~loriosa dos justos, dos mártires e dos monges que outro objetivp\hão têm senão o de"

o MONAS170SMO 277

Mosteiro capta de são Simeão, a oeste de A..rm4, no deserto. As celas são estreitamente agrupadas num I7!cinto fortifiUdo. Fundado no sécti/o Iv, o ediftcio tal como o vemos aqui é o reru/ku/o de quim:8 séculos de amscimos e I7!forma.r.

~nrar e louvar a Deus com toda a simplidélide de coração". O

paradigma monástico não é novo., Engloba Qs.,' ,:,'\lSpectos. mais radi": cais da contracultura filosófica pagã, em partitwar o estilo de vida

. magnifiqunente não so~ dos cínicos e o l~~o passado judaico~

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Page 12: Peter Brown_História da Vida Privada_Antiguidade Tardia_A Igreja.pdf

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.~ ioril~idade do paradi~a r~ideaht~:~sua ml1d~ça <1y.ponçp de i~ta{a~c~, Ele ~si~N~a d "munclW;;;~. um fe~e­

.278 . ilN7TúUIDADE 'úlRDIA

al1l. ente.l~!#lt1?Eave1.~qocl;daci.e e~tabe~$, t:ijiffj~O pres4nté - e atraves delave trailspareceh'()rde~ddi-

~~I~i;jjA!~jv ~í~~~~~;l:;~!~r~i ~;j; •• """~~ su1 visão de uma raÇà,.humana postáda: no lililiar de l:l1Jll(~;êr:lAvida de uma cidade comO Antióquia, :as~dii­- , ~i&ua1ii.ad~ do casamentQ:-t do n:ascirnento,poq)Q~rbsas

Catedral de AquiJéia, detalhe de um mosaico de piso, século Iv. Niío é o dittbo mostrando a língUll, como dizem os guias, mIM um lr.Into, cujo frescor é niío menos ptmzdúÍIZl:o que as flores, IM águIM ou a plenitude disponível de um vaso, que se pode ver em outra parte deste mosllÍco.

ALÉM DA CIDADE ANTIGA

~.

parec~:.at~aqs!pJhos ,de cristãos i:lissi­como um,·ttbilhãOiÇpnfuso e muito'secuo­

"9r~ettç'c;tú1: rapidame~ rola ~;p'arafso para a: Ressur­~fltlaQ.t e a na:tu~eza §limana; }i~ como a ~odel~ os

sOCleda~ c0!lS~ltt~m UIl). :a(;1de.o.j:e.~Ul­~nã*~ijnanente da histgria. "Oj~mpo.pre~entet:~qga

Ressurre~o agO~a. ~tãopr6ximas: ':m>.4as jJlÍll~as, todas asSHciedadéS:bumanas, "as ~ese

. e-as c~" e até ~ própria d.efuri~ ;0-mulheres :Çbmo ser~,sexuados dest#l~dos

, ~<iProdução estão p'restesa. s~ imob.ilizar na ~nsa :<1~ presJnç?-' de I?eus. ~s qye ;tdo~ a :v,ida dos nt.0nges

:na da CIdade antecIPF. a,aurora da verda­d~a.nàÇüiez.do .. p.omem. Estão. :.:.:. pront~s ... para receber o ~enho. r

0lru.tànte de adoraçãO extasIaqa, no momentQrorte tal como é~lebrada em Ap.tióquia, q~do

o;reI,l~c;s.unetsUàs vozes às dos ap.jos para cantar:' "Santo, ~to, tto!"ao Re oS reis, enquanto Ele mesmo, inv~ível, se a,Wmci-

ma do altar, r la durante um instante fugaz o verdadeiro eStado indiviso do hoinetÍl.. Cidade, casamento e culturâ; os "supétfluos ne.cess~os" ~ vida estabe~eci~a são ape~as um ~terlúdiopa,ssa­gelto, diante <bse estado límpIdo, despOjado das "preocupações cOlh esta,vi4a'! O~monges nas c~~as fo~a df ci~a~de esfor~7se p~ que, tal10Ill.fnto dure to~*um~Yld,a., .,,"" f;~:~;'; }.~~~di&Íná,thonástico efeti~ente tios ~pr~{tI~ iun~M&

df,õJ1d9: de suas. ~t~ruras co~~?das. 0~enclã~ainelÍt9s;c~ h:IérarqtijàS e ai diStinções preClSasp.as quars contió.lla a baseat~se a}ld~.4~9;de fojam ~~rad~]e .n!~~entr~t~~~~' ~* Ç~~o$~pr d~tes ntuats cOn\iUlltartós que sc'desearo$i ~ ~Íli~~1t~- 1 C~tudo es;~ b~íli~coiiti?uaíIl send~ e~p.iç~~ engastidosna$, esttururas solidas '-dá Cldade. l\.s estruturas: SdCllils pb,?eAis~',Sús~eIÍsàs durante os momentos dé cr~; porém dii~d, sã.w~~e1el~.das do C:SPílito do~ cr~tes! -que,: ao s:fif1l;~ b~ci! àpos lênIfifiO da cenm~ se eh~ontrarão 4e nq.vo no

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tomo desejam que elas se dissipem no crescente esplendor da nova era. A aurora das "coisas da ResSurreição" já ie ergue sobre os pe~ quenos estabelecimentos de "homens angélicos" nas colinas ao redor de Antióquia. Pode espalhar-se e banhaú cidade adormeci- ' da. Tal é o sonho de João Crisóst9ffiO, que morreu no exílio em 407, alquebrado pelo poder go "mundo". Entretanto a acolhida ao paradigma:monástico e a suaS, numerosas variantes por tantas altas figuras cristãs trai o sentimento da vulnetabilidade das cida- . des tais como se reestruturaram durante a geração de Constantino. O século v é a époEa das invasões bárbaras no Ocidente, do refor­ço dá organização social, do crescimento da população e, por con­seguinte, da miséria no Oriente. As estruturas recém-criadas'das cidades romar\.as da AntiguieJade tardia são expostas a dissoluções ainda mais graves. O paradigma monástico radical'faz os dirigen­tes clarividentes da comunidade cristã preverem as destruições li­gadas ao defulitivo desaparecimento do perfil clássico da cíd~de. Os monges'e ~eus admiradores são, com efeito, os primeiros cris­tãosdo Mediterrâneo a olharem deIibeiadanlente além dá cidade, antiga. Os monges vêem uma sociedade nova; e sua preocupação pessoal com novas formas de disciplina pessoal;' que compreendem .a renúnciá ~ sexualidade, garante que um saóor muito diferente impregnará a. vida privada da família cristã nessa sociedade.

, No paradigma monástico a cidade perd~ ~a preeminência en-, quanto unidàde social e cultural distinta. Eth numerosas regiões

do Oriente Próximo, o avanço do monasci4$.plO marca o fim do esplêndido is<;>lamento da cidade helenístid,i:om relação 'ao cam­po circundante. Agora os citadinos que partem áOS bandos para buscar o COIlS'elho e a bênção dos santos homens estabelecidos na

, vizinhança o mais das vezes encontram robustos aldeões iletrados que quançlo muito falam um dialeto grego. Na região do Mediter­râneo os monges unem-se aos pobres anônimos para formar uma nova' 'classe universal", sem ligação com o campo ou a cidade, mas igualmente dependente da miseticórdia dívin~, seja qual for o am-biente. ..

, Também o simbolismo antes ligado aos pobres, tristes espe­lhos da miserável condição humana, é enaltecido desmesuradamente pelas pequenas colônias de pobres voluntários estabelecidos ao re­dor das cidades. Os verdadehos pobres de fato não se beneficiam do avanço do monasticismo. Os 'leigos preferem - e é bastante natural - dar esmolá aos monges, novos "pobres cerimoniais", cujas preces eficazes são conhecidas, e não aos mendigos ruidosos e repulsivos que rodeiam as basílicas. Entretanto os monges fun­cionam como uma solução química no laboratótio do fotógrafo: sua presença destaca com maior acuidade do que antes os novos traços de uma imagem cristã da sociedade. Essa imagem ignora as

o MONASITaSMO 219

POBRES REAIS. POBRES CERIMONIAIS

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280 ANrrGUIfADE TARDIA

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A EDUCAÇÃO MONÁSTICA

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á4aâ~~,jgno~do. às divÍ?ões tra~cionáis' e1iltte 'cidade e #po,

~Jt~~:~;t:~~~tc~~O~ ~~~1~tr:~s~i~:de ~;=Pn~~tb~ ,~ To~e~0a.~ ~emplo claro. :Até o ~ ,do ~culo m~ ,a ,9tda­

det,:prq,v.tp:Clan, egípCl"~ de oxyrhyn,', chos :e 1fen~~,lara, a tltW, , "~, de p,qvilégio, de , '~uição de alimentos. 1àis arroVlSlonamentQ~ ~ d.istri~~,d~S agdos que podiam p,retender ~escender da c,~d8S odadaosj md endentemente de sua fortuna ou,pobreza., 4.~,ge- . n~ogiàs regi adas para estabekcer os direitos ~os cidad~5 r~­móntám os sé OS até o começo da ordem urbana...romana $~ Jlgl­to, No final do século N as antigas estruturas são q.efmiti~ente suplantadas. A cidade é cercada de mosteiros e conventos;~to povoados. Enquanto cristãos, os notáveis rivalizam. agora n~ dol/.­ções caridosasldestinadas aos pobres e aos estrangeiros e,nã~l~áis • ':fmúitQ'respl~descente cidade déOxyrhynchps' 'X?, notávelqistão jáJlão ép phi4pairis, o • 'apaixonMo pOLma Cidade", e sim"olhf­loptôpko$, o .l~p~onado pelospQbres"; contudó'~sempr~ 4~J9Ç­lhos qu:~ o h~erlihumildedevese apr{)ximar"Quanto ,::Ws~6-br~,e?11'ora ila tills~ria tenha sido desàudada"'~+aças ao: #W~­~Oé~ãO dt pecado e de sua re.i'aração; hão d~!lpareéerátÍl; ~t«s tr,~e,rp;'na n~.té ~ia dO'deseno:~ se amó~toan11UtJ.tÓ'à~ ài5,'~~ed(Ír;B.e tiÍnâ t~eição domiriit'al qué !llies sef\Tel'Íl:Os b:tÔri~s <1bp;~We dai ahfias" das "m~;brilha:tltes:fa$ílias~r.qtl~~­~~c~~QI~ a·'qdll.de de [email protected] ?campo :circunÇ!~re. D'ãftáVànte'táis'fâmílias não têm ~ais nec~idadêdeexp:retrupitl :irf{Qi,1i~cult po~?a cidade:étli:tto se~f' '~~se ém al,kd~ é~allfmass 'iild~ta dQS h~jldes qu~ das '~Ontr91an~ ~~~~~5~nt ~<fc~po!' "Ap~nados1~eIos ~ô~res?', o~~~ari­d~ PW~géin 'Os iófelizes sem ~ção, selam nativos da c;tda~e ó1.lJdoYâinpo.~ , .', '. '" . '

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,~: Q.'patadijma monástico não SÓ varreu·~ especificidade p,a d- ' ~qe;l~e ~~a~.qfraquecer sua i4fluência sQbre os notáveiS'rl,hin de, #~I!',é,ct,' os ~ IDcimos. Coloca~m .qU~S~,O,O ~a,~el dos e~~ publicos~-da. ci<Jl.de,como lugares pt,IDC1prus d?soCla!ização dóS !).1e-

ru.n,' ,."os,': Sit, r, ia ~,' g, ··,rave crer que os !llong~s s~,o tOd,.Qs ~erói~ ~~, '_ dos de.uma , c1,ilru,.:a. Entre os cQnverudo~ ao asÇ'etlSmo,rilúitos sã<t'honiens tos:que encontrarain no descjto ";":ou numaridéia do:desé, rio - tma:,sim?~cidade em .oposiçã~ ,à grafide comip!;ão. SGD a tuGe1a d(um Basilio de CesaréIa ou de um Evagro do PQi:}to, técnita$ de edttação moral e modelos de componainento e ~dis­ciplinaespiri* ;antes praticados só pelas elites das cidad$J fio: rescem com noto vigor nos mosteiros. Essa cultura tlão se resr.tmge aos homens mlduios. Na metade do século Nos, estabele.cin::ien­tos monásticos já recrutam rapazes muito jovens. Famílias citàdfuas

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ou aldeãs abastadas consagram seus filhos ao serviço de Deus, o máis dll$ vezes para preservar a herança familiar ameaçada por fi­lhos numerosos demáis e sobretudo pelas filhaS excessivas. Esses monges muito jovens não desaparecem no d~no. Tendem a res-

, surgir anos depois inclusive nas cidades, como, membros de uma nova elite de abades e de eclesiásticos de fomiaQão ascética., -Assim, o mosteiro toma-s.e-a primeira comunidade p#:parada para ofere­cer uma formação plenamente cristã desde a jii'Ventude. Assimila­ção de uma cultura literária inteiramente baSeida na liturgia e na Bíblia, formaçao do comportamento segundq:os códigos de con­duta afInados pela prática monástica e, sobreoido, formação de ra­pazes e moças pelo treinamento monástico e'pela lenta penetra­ção em sua alma da terrível "ceneza da presença do Deus invisí­vel": por seu conteúdo e máis ainda pelas emoções às quáis apela no processo de socialização, o paradigma monfuico significa o flin do ideal da educação pela cidade. Até o final do século N estava implícito que todos os rapazes, cristãos ou pagãos, estariam sujei­tos à instrução publicamente dispensada pelo'retórico nas cerca­nias do foro. ESsa forma de instrução, que apostava no respeito hu­mano e na \competição entre! pares, pode desaparecer.

Na verdade, um paradigma de educação tão deliberadamen­te novo influiú pouco na educação pública d9s jovens membros das dasses superiores nesse período: eis um smi:oma eloqüente do vigor qa cidade antiga tardia., Os ideáis educativos da cidade não são absolutamente eliminados pelos do mosteiro. Entretanto o efeito

- do paradigma monástico consiste em revelar muito claramente uma fenda suscetível de ampliar-s" no futuro entre a cidade e as famí­lias cristãs urbanas. A cidade' antiga, onde as disciplinas íntimas haviam modelado aS identidades pública e privada dos membros de classe superiores ao longo de séculos, ameaça dissolver-se numa

,simples federação de famílias, cada uma das quáis assegura para si mesma, em colaboração com homens da Igreja ou com monges que viVem perto da cidade, a verdadeira eduCáção - quer dizer, cristã,- de seus jovens. Lendo os serm~ de JoãP Crisóstomo, tem-se a impressão de que as ponas das casas cristãs séfecham lentamen­te sobre o jovem crente. Sua adolescência já riã6 penence à cidade. Uma cultura qássica, ferramenta privilegiadii'do intercâmbio en­tre pares das classes superiores, sempre lhe peide vir das escolas do centro tradicional da cidade. Mas já é uma ctiJ~a' 'mona": deri­vada dos textos antigos, é sempre considerada. 'necessária para es­crever e falar corretamente, porém seus laçosc~m a vida cotidiana foram rompidós, pois os códigos de componaiJ?ento dos jovens cris­tãos não derivam máis das mesmaS fontes, como ocorria dois sécu­los antes. O comportamento do crente cristão agora se revela máis claramente através do estilo de vida dos monges; o que conduz a

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o MONA.S71C1SMO 281

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Vaticanus latinus 1202, século XI: . a luxúria que silo Bento de NurIÜI viu em Roma; vendo-lZ, esse umbritmo lJIento ao montlsticismo oriental resolve deixar Roma; de início retira-se pam Subiaco, nas ruínas da villa que Nero ali construíra numa pmagem admirável; depois fontlts um mosteiro fomoso no cume do monte Cassino. A nudez venusiana, que os mirmores ou a prataria celebravam ainda no século VI, é o pecado: voltará a ser um ,alor com Gi01ltmni Pisano, que, em cerca de 1310, esculpiríz na ctJtedral de Pisa umll Vênus encarnando a 1IÍrtude da Temperança.

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i 282 AN77GmDt.DE TARDIA

~dex Sin~peosis sobre folhlJI de ' Fa. ,e4~cai 1).0 te~or a Deus .. pode-se QbSe~.-".nos ár~úI?l.· roo- -purpura.. seculo fi!. O recu~ d~ ~~astlcQs co etr).poraneos que tal educa~ peç,eo:a maJ.!p~ófun-acuermsmo IZT'Cl1t'Zante ttqUl nao .l . :. I alid d d ' ; d 'lo, ~ .·r", . d ,I· • deixou lugar para a inipcÍIJ ou o ,~aIlleJ,l.te a rs?n a e o que o me o', CIV1cb a mo. aantlga fr~sc0!i mtJS para ufl! tafe~to de u,~ "' ,ge int;orre~ ta r~pr?~çã? dQs ",~~m-nas4fos' ': !lli- é traqsWiti~a vlvacidade teatral. A duezta, a pnsao numamblet;ttemais lOtlIDO e estavel dó que aquele qu~'ÓferetJ.a onde se acabou de corfl1T a cabeça de ',.' 'I- ~. ,'~'. :. •• ,;' "',",

são João Batista (ainda reinam aO gtu]?o doSfov~ns da classe supenor. Joao Cnso5tomo ~~ de agitação e li evidêncÍIJ de um fato,.$Ua cidade ~ jO;\Tem de Antióquia para entregá:lo ao me<~b~ sutil :omumado), A esquereia., li cabeça do pC9Ptio IlaLGrande psicólogo do temor reli~oso,JoãoÇris6s-e levada a Herodes AnhplJI, • ,lp' D" instil· d di' 'U- ~ di 1 " . Herodíades e Salomi (elas usam tomo fonsh't'r~ o temor a eu~ -:- a o a ~s a;n?, !peru-peruca), acomo.dados para ° .' no pel,a pes:yla presença do pai cnstão - como:~base dev.m:;novo ban'l.uete. (Pans, Biblioteca código crist4Q de comportamento. De repente percebem9;s ã pri-Naezonal) meira Antiq,quia bizantina tal como já podia se~. Não é m?4uma

cidade heleplstica; a conduta de seus cidadãos didgentéS 'já não é suti1ment~ moldada pelos códigos derivados da vida em seus an­tigos centro~ públicos. Os antigos espaços públiCQs são ignorados,

Vidro pintado, siculo V? Não se sabe quem rão es.r1JI dUIJI damlJI com vestes de corte e esse jovem príncipe, de qualquer modo cristãos. (Museu Cristão de BrefcÍlJ)

.,-'P teal;tQ e fQf& estão at;lSente!). Viasestrei~;e to$lo!;~ lewm

~:t~ca. . :.,.Jqtie aPn~.~.i.·,-. !andes.'; len.'. ni .. ~.~ .. ,. " .... :.*. li.:g. 'ii .. :I.'~biPá-" -'>;~'aà ; ~ . .inun,~in . ':;,: de prÓfc;pda(tp~ , f',t~, -

fi ~·,~e'reli~i~s\~ t~~~D~:~f:~~ -,. L~. I ,I' li:!,; ;:"-'."". L.I ..• ~ ",I li; tU. ' J. ,cidade lSl~,' .. ça.. ,', "é'ÍI.r.. '.-'1.' .' .'; , -(: "f i'II': .. ê.'

,~. ~,Jp~,esbO'ço ~ ;n;anador:ts.<;,?~~~!JS,a,~~ ~es

f,.~~~n ri~~:~~rt!~~t~,~~~r~l~fa~ :~~"\~t~ ~ ~:permanect~ hO$~();~~~iPV~~jSe l~ifR~~5~~.';J-lS.. a?,~na~() por s~C1dad.~":!~::ap~. O'oadó l.l f(d;Fo-

;j[eAs o~ 'apalXonado :~los pob~~ . Com ex~eç~~e::hl-.. ,,_ '. J~ s'~ monges e cl~Iigos,-nio~ inscri~es qt lV~li­':iFé~~ fo~otriz íntima d~ temor ~'llfe~ no crenrt~~o. ;~-:, ."':-: .. ~ " , '!.!!~~~~ ,', .:;;~_. ....~ :.. r,. ,. .): ( ~~'''14 , ,;:~, • ~ '"/~. ~ . "o .. I jIji' : ~

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O leigo cristão cO'ntinuou sendo um homem de outrora, cujo or­gulho permanece visível nos antigos adjetivos que lhe elogiam as relações com seus iguais. Ele se preocupa muito menos em expor à posteridade temas que fariam seus heróis, C\S monges, vibrar e suspirar por t?da a vida num terror salutar. '

De todoSO'S aspectos d~ vida da comunidade estabelecida SO'­bre a qual o paradigma moriásticO' impõe uma carga tão pesada quanto impalpável, o mais íqtimo está ligado ao casamento, às re­lações sexuais no casamento e ao papel da sexualidade na pessoa humana. A família cristã devé se opor a que o foro e o teatro sejam os lugares de educação de seus filhos. Mas ela é intimada a se abrir a uma consciência nova da natureza da sexualidade, tal como des­pontou entre ~s "homens do deserto", adeptqs da castidade . .As diversas reações das :fanúlias a essa injunção ou, para ser mais pre­ciso, as diversas expectativas de seus bispos, clÇrigos e conselheiros espirituais sobre esse ponto estão na origem elo contraste entre a sociedade ~ de B~cio e a do Ocidente cafÔ~co durante a Idade Média. . ' .,'

TeríamO'sdificuldade para compreender~conceito de "inti­midade" da s9ciedade ocidentalmodema, qQC: gravita com tanta insistência ao redor das noções de sexualidade: e casamento, sem a intervenção decisiva do paradigma mO'nástic() que abraçaram as elites ,O'rganiz:idas da Igreja cristã nO' final d~,século IV e começO' do v. O controle da sexualidade, um dos s"lilibolos mais simples e fntimos que existem, toma-se também um aos mais poderosos para traduzir, sob a forma que será finalmentt;á. da Alta Idade Mé­dia, o velho ideal tenaz de uma vida privada que esteja sempre sujeita às injunções públicas da comunidade religiosa.

O casal cristão casado no Ocidente tomou-se permeável, ao menO's em teoria, às sO'mbrias e graves idéias sobre a sexualidade elaboradas por santo Agostinho, um bispo citadino, enquanto no Oriente a família cristã manteve a antiga resistência aos ideais de­senvolvidos com igual rigor té6rico pelos monges do deserto; isso é um fato que marca uma virada decisiva e em grande parte inex· plicável da história da cristandade. O que estava em jogo era nada menos que a autoridade dos dirigentes espirituais da Igreja sobre a vida privada das famílias da comunidade religiosa. Por trás das escolhas feitas nas diferentes regiões do mundo mediterrâneo ao longo dos séculos V e VI pressentem-se os contornos de duas so­ciedades diferentes, com atitudes diferentes com relação à nature­za da vida citadina, com relação a sua antítese, o deserto, e çom relação ao exercicio do poder clerical nas cidades. É por esse con­traste que devemos concluir.

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o MONIJ11GSMO 283

o PARADIGMA MONÁSTICO E A CARNE

Arr:a de casamento em prata (detalhe) encontrada em Roma. Entre 379 e 382. Destinada a uma esposa crist4, Pro/ecta, li llT'CIZ i conduzida como prerente de núpcias à bela casa do esposo. (Londres, British lrfusettm)

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. ORIENTE E OCIDENtE: A CARNE

o paradigma monástico colocou um pon.to de interrogação no casamento, na sexualidade e até na diferenciação dos sexos. Pois no paraíso Adão e Eva eram seres ass~ados. Se' perderam seu es­tado "angélico" de adoradores exclusivos de Deus foi porque, ao menos indiretamente, caíram na sexualidade; e dessa queda na se­xualidade começa a deriva de homens e mulheres rumo a um mundo de preocupações próprias dos corações divididos e ligadas ao casa­mento, ao nascimento de crian~ e à dura labuta necessária para alimentar bocas esfaimadas.

Expressa nesses termos, ·a história da queda da humanidade, representada l?or Adão e Eva;' é um espelho fiel da alma dos asceta da época: tremendo diante do envolvimento com as obrigações de­sastrosas da vida "no mundo", ele resolve optar pela vida "angé­lica" do monge. Pois no mundo rígido das aldeias do Oriente Pró­ximo como nas famílias austeras dos cristãos citadinos, a entrada "no mundo" começa na prática por um casamento que os pais arranjam pata os jovens casais desde o início da adolescência.

Expresso de forma radical, como designando o caminho de um "paraíso reconquistado" no deserto, o patadigma monástico ameaça varrer alguns dos mais sólidos sustentáculos da vida' 'mun­dana" no Oriente mediterrâneo. Implica que os cristãos casados não podem esperar entrar no paraíso porque o paraíso só é acessí­vel àqueles que durante toda a vida adotaranú. abstinência sexual de Adão e Eva antes da queda na sexualidade e no casamento. Se a vida do monge pressagia realmente o estaddpatadisíaco de uma natureza humana assexuada, o homem e a mulher, enquanto monge e virgem cuja sexualidade é eliminada pela renúncia, podém vagar juntos pelas sombrias encostas das montanhas da Síria, assim co­mo Adão e Eva outrora viviam nas vertentes floridas do paraíso, preservados da fecundidade e das agitações e dos tormentos do sexo.

o GRANDE MEDO DA CARNE

Sflf'C6fogo de finio BMSO, por volta de 359. Na paisagem PMtorU consagrrztia (cabana) e numa atmosfera de dignidade, E9a e Ad40, consternados, mergulham no sentimento de sua Ia/til. (Roma, CriptM do Vaticano)

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{j' , _ .. . y, .. ~, ... ;~.1tr Cfi de:una an?l~ção. dos; lfJ<lS;,~~~: ~difi:,ên}~fque ' :rt~ face a sexualid~ae tranSfOpnIld~erll3!~ ~~~1 nas tie Qomens e mulh~es, conm19i O ~ê;ri,IedOt~·.tP.un­J}j.i~culo IV. p(~., car .• w~~ ;~tJ}J6rf~ dos dli tt~· Uma v}~!lta.~i~~ÊJ:prlwe~~f:es-l~~moderoo .ó,~~ n~ hlera~~m~ãsR~~pta­riwra.; "Toda carri~ é coni6ile~~t ç' ~te~~~ da Wi<: os homens ê~ mul~F~s, ~~q#.@'sç~~~me-t~ .. '~.ados, são sempre sus. ceUTe1S;d.e;.çô'~.b .. uhtifiit. an­ent~~_do bom mortg; que CU,i#iO:~PtF;e~~pró-IÍ\ ~u ~anto antef;de tomâ-lâ nº$!;btãç~~P~fijaVes­

,chi5;"pôís 1:5 contato da caf$'de umithu~~~mo 'ar; tr~ dos relatos rerinos est4 P des~ó penp#"die de aj:iva radical. Nos grupos d~ asc~ cristãos til6ibis a

~; .~.e. pção,~Y,alO. r do casament.o acomB:\Iili~ ~.'~.~.' a ne~.?,ipr~­iiw~sexullidade;-.a qual, por sua vez, uppli~a ne~Q Â.a d1-(Y~.~.: .. b en' e ~(. 'mundo" ~ o. • .. ·.de~eno'J ?oi~~~queles ~~b§~és lá :~ '~~ ~stas do paralSo,~ma vez<Ple op~ pe~nc1a ?, ":wgeli '40 monge ou da v1Cgern, podem ~vessar c,o.di~s olhos ~ ~9êent d~ 'criança os c~pos, as aldei~ e}s grand~~d~des e '-~tur e ~çm constranglIDento com home.~ e mulli~a S. obre '~pon ~io deve questionar os d.isctpul4$ de Hie~:i>'Egito. ~eflSado ~;tico e respeitad,~' Hie~ se perifotta se as ~Çlàs ca­sadas tê um lugar no paralSO, mas, ao meSI'lJo ternpo~era de

ros,discipulos 9-~e ~am servidos St~perigo~WtcQfnpa­geps. João Cnso~mo pr~ ton~'as •• ~!"~~ es­

p~l .' ~monges e ~~~,naciélad~ dç:4np~tJ~~~ ~ tar-4e a agI çaófdos messaliinos - monges deã'ikdos a _ ~e.rtante e~ ora~ pe!Pétua e notoriámente indiferentes à presetlÇa1i1e mu-

, ·lheies e~ seús bandos misert'Veis - toroou-,seepidêmica 113,0 Síria .. na Ásf MfQQf oriental. .;' . , ~~ ":< (r

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~ Ac:~l;i"~1~~:;::~é I". . __ .•. em t.e~o,$lJ. egenc ... ~a.Uz.~j~çãp.; ••. ;.~~'t!.gO~ .• :~~.:. alo , .'de famílias-tr~ clas~es~pe!io~fê19s he-

. '1;~~o,S • 'io~~ d? deseno~~.todós(l#ím ~atl$;,~w,go de '-~ s~à.l, lOdependé{ltemente:tlíl cl~ç da'p,,~ Em ·,:,~ti6q a, ~or exemplo, J6~o Cris~~0.6U§~iatiàfrllst~inhos

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i?4Jjlico pôfitô de reunião spcial por sr~el~ncia~ Soç;Mf cívi­;o.eit~ª Cl sdso<:w superior. ~ritica o hililitijda:s'mtilli~d1aris­:'.fupracia e ~birem a uma ~tidão d~ ~erV6S '~as-~ Jj~nu­->'~, bbitas apenás depêsadas lói~ que éons'tinJe$~&arca ,1k$Ua da posição. Em Aléxandria dsfà.trapos dos pbbt~)ievem

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provocar no crente visões penurbadoras: medQ'inconcebível nos sé­culos anteriores, em que essa nudez parcial e~ tida como indigna, mas difi~ente como fonte de inelutável perigo moral.

No tocante aos casais cristãos do Oriente mediterrâneo, neste penodo e nos seguintes, deparamos com um paradoxo. Os heróis e os conselheiros espirituais dos kosmikoi, ou "homens no mun­do", muitas vezes são os "homens do deserto". Os kosmikoi gos­tam muito de visitar os "homens do deserto" ou de receber esses homens cujo corpo exala "o doce olor do deserto". Como vimos, a literatura monástica, obra dos' 'homens do deserto", suscitou uma inquietação i:xcepcional no que se refere à abstinência sexual. Apre­senta o implllso sexual como potencialmente atuante no sentido do mal em todas as situaçõe,s sociais que reúnam homens e mu­lheres. ContUdo, apesar disSo, a preocupação aos • 'homens do de­seno' ~ quan.l:o à sexualidade não interferiu com a dos homens ca­sados "no rilUndo".

Os meStres espirituais do deserto, em especial Evagro e João Cassiano, seU intérprete latino, tratam os fatos sexuais como o in­dicador privilegiado da condição espiritual do monge. Às visões sexuais e as 1llanllestações do impulso sexua{através dos sonhos e

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ORJEN7I E OQD1JNTE: A CARNE 287

. Relevo sírio, cem: de 200. A mulher; IÍritI, está invmvel sob os lIéus; IZ

deflSlZ síriIl tornou-se UmtJ VênflS nu No alto, pois, um pflr de IZIionulores: emblZÍxo, Astarte-Vênus, deflSlZ da ntzturezlZ, e seu IImtJnte, Atlônis, deflS oriental da renovlZfão, fIl{ui estiIizodo ÇOfllO her6i grego. Mtdheres lIelatks jigurtlm IIImbém num dintel do templo de Bêl, em Palmm.. À esquerdtZ, tZ f!IflI{uete de um templo redondo oferecido pelo casal; no alto e emblZÍxo, IIS dobrtlS esquemtztizlldtzs dtZ rorti1lfl desse templo. As greglZs levlWtZm o véu em TebllS, 1lfI época helenística, e IIS 1111lfIgT"llS são ,elatks. No Império flSlI-Ie véu 1lfI Turquia do Sul, em 'limo, Pergé .•. A modtZ diferia de UmtJ cidtZde IZ outrll. (paris, Louvre)

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. ."'" l1. if ões noturnas são ~adas ~~m ~a atenç~Ql~agi-t(adições anteriore~ de introspecçâé e sem '~:kvar em

cqpta .0 i~~s eventuais de c.on.tato com o s~o opo~nn~ a ~d e,qessa forma constltu1 uma mu~ revoluC1~ De·

1'. õíSde r $~~ cons~derada .como f9ntede.~:paixões';~.~ inci· tações OQD.aIS podiam romper a harmoruicLda pessQ~.Ql, edu· 'd~a se s~desencadeada Pl!~ objetosd~ d~e,9,sexual~}l()mens

.• , .. e .... ~. ~lhes.se .... ~ .. dutor~ -, .a;}spru. alida~d?rll;.:~.,·. e~.·~ ~2a., .. :ton:o ur;o smt (que traL as Palf~· To,lll1:s~ li. J~e~ PrM1~w:raves aã qual~ 1ii.pnge pode p~~tar as 'regiõet'lpáJs ,priijt~ ide sua à.ijna. Ni. tridiÇão de Evagró,~as visões s~.SãQ ~~1ffiinu­~$amepte, .pois devem revelar de mO,do co~to(ainl!~ !:n~e ver-

NO ORlEN1E: A VIDA CONJUGAL

Placa de marfim. Crirto de bllrba . enlre Pedro e Pardo, cenas do No#o Testamento. (PIlrir, Bibliole&tJ NllCÍond, Gabinete das MedalhllS) "

,~Ohos~) ~presença na alma de impulsos ainda mais mo~ por· '(lI;ie ide tifi~áveis com menor facilidade: o frio agUilhãÓ .da raiva, do'or p ~da avareza. 1?f)1: isso é:quf a)~ção,d~risões 3.s~~s ~iimodificação4as poluçÕ.~ nptWOa$:$ãp;~~s~das ~~~&6Ct c~I!o.um índiced~:progress4S:qu~qi)il'OAg,e w!4i~u ruo

,,:;f.~ão <~~e traosparê~a de~~~ont.ÇãQ.'dcWca~f~lamor ',Jâe'De .' cf'c.fi,'Wróximo.' 'lf~ vós i'pfiú~;Pii~$ ~q4 mais ):~as,', ~t;i1iYe João CassIâoo ao ~i4ar p#ã~~:de!4pl>.~Çhae­~~ºp: 'E ~im será enc~do -i~ite. ~qW9 ªA.e.y dia, :,;!itQ.~~u i~~çomo em oraçãQ.j sozinhp9Y rod~49~jpiIWdão." .~.l.~ ... ~é.nt aeifi .. ' caça .. -0 dos obj~I< .. riVOs inte~ .. ~e~te: .. Jjri~CÍl~"dos .~ so s sexuaIS, proclam~o desa~<;n~A'a;'Ç6~~Jloor. ';~o. o~os muito m~~emíveis.cpjo~p,~s~~p~am :,J;l,.a.~ sQ~;a forma de Vl.s~tes sexu~; Feit9 ISSO. Co. m\lFge'~dou ~~,~tlln',fe~da, fina como up1a l~ique,SJl. bsiscia,:lf.~ r.~'(':!raçãO sl.l1lple~ . :.... .~' ,

A g.outrina da sexualidade como sintoma privilegiado da trans­formaç~ pessoal é a mais importante transferência jaínáisalcan.

... Çjda di;velho e arde~te deSejo, )udeu e c~tão. de \ml,." .. ' . !,córaçâo sunple . Tal qual fOI deseoyolv1da por.um ultelectU~ct1m:o Eva· .gro, é aproximáção mais original da introspecção ~ü~.nós vem . dp mjo .~tigo tardio. Entretanto mal se t<*re à ~jticia dos leigos. s portas da família cristã, que v~se inte~.J!6ilencio. ~en eIltre o jovem cristão e sua cidade, considerad~i»mo fon­

"te,de di:e§~ moral, fechanlt~e também ao~o ~ sentido da'sen+ndade que os "hOlriens do ~erto·tap~~ para seu us~ a:jiloral conjugal '~~exuaJ -dos l>~~ir9s;çrid>s:blzanci.

·,nbs é aéstera, porém n~.tj)loca prohlemai;:Suàsie~j$ecem indicaç~scl~ aos jovens que desejam:peGnanecer '; gd -hidndo".

' .. ~ todp o. ('>dente Próximo:bizantino as nqunas da vwa :çQnjugal ~~o· tãoiiaIX}iliares e inab:rláVeis na aparênciá como is :él;truturas ( .... ' C.C. " ;'.1·.' do

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ORIENTE E OaDENTE: A CARNIi 289

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Jla.lei ~daa~o que;,na:é~de;J~91~mpre ,~cerraf1 b,G'rlénte Próxirir~ioo s~tiH1ento;;de~~imi.!d~ com

- ,. fr&nteiris tãô:t"frnnes codfifestáttiaS''tt'e btoilte'~' :,'Fri:;t:i}

~::::a;~~:/:;~s:~n;;:lo°:;, ,,',',:,;,:,~,~;,:,-,,~~,:'~~'o ~,t:~r:!~~;~.;~~~~,:,:,",:O:,·"';.,,:,M,,Ou,',"~,,',~,O,·~,·,I",i~~,,·.ta.et~~ 517, ele segura o lenço que Jogara ',c;',ó', ,,"I'! d .. ;,', d li' ,C" • ",' l'lkihi ' ntJ pista para ,dar início à corrido de , ~~xpo p 0f'casa a e .. no~:un o '0'i\:~e rfn~9l} H. ; r~ que :a;::mTa::~7co01~e:!:sas CO''"; ",~&prpQ e 11J.1.p_r~gne. do d9C,,' e olor. dO,_,' pes:,',~o ',,~ ~ ~a es­substiJmm os gladiadores), Um dos f.Q,!l,J.a dresk,tfeltab~m ced~ TerI1l1O.0,~ a epo~a. dl!S ~~'~osas CI1ÇaIIores é mordido por uma hienp, !;9nverstes damatundade.. Desde o ap.o 500.e u:p.port~e.t<lue o os o~tro~ p,?curam laF leões. _ ,. raPaz. óobretudo a moça optem po~ uma" ou outra via, à favor (pans, Bzblzoteca Naczonm, Gabznete ' , . ,.-das Merlalhas) ou conua o fato de V1ver "no mundo ' como pessoa casada, antes

, que as pesadas obrigações sociais do noivado recaiam sobre elas ao

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redor di idade de treze anos. Passado esse momentô;"Q incerteza 'fitalrodite leva às conseqüências devastàdoraS, que acarie#~ desejo

d,6 desctro insatisfeito ao longo da vida ccójugal qu~:~6 seguirá. Muito 4eqjlentemente a escolha que um dofpaiS pod~ ter feito ~.:a~iadi, PÓ! um~ geração e recai sobre ~;~os ~~! ~ ,séc~o

,'\{,~ aq!.:le>~as cnanç~ sanr,as, dos.re~tasJiúant1S (~'vtdá as~~-~~,,' ~~,Marta, a Pledo, sa,', mãe de Slm~,"P', o J, ,~i~e Anno­qui~ 'ia,p plho de modo qpe ele se tome 0I31p.o~ ,~, em-pple~o '~!D- sua coluna. S~to aos s~t~ aJl,?S, d,e idad~,ABrópria Marta~~aconuaa vo~~ço~umnQV9ric~, <?ilI!~pp.nhei­ro art~o;de seu pai.' Ojové'm Simeão é o Si:fbstittitç ~Wrtegado ék real&ar' Êl desejo de sa,ntidade de Mart":,,,..,: desejooeprimido, ,COlIlO cl(orriHteqÜentemen.te, por um éasa1iltnto,de cÔo.veniência. :,:l' NO:müÍido medite~o oriental,'evit6Ít~se:as m\llli(ffts com 'maior éUidâdo ainda do que: antes. I>: an~ fronteifàs4maginá­riasentte o~'sexos reforçam-se em nunieros~pontOs.lsso exige que

i:~muJ!eres menstruadas sejam exclufdasda eucáriscli. Nas cida­'~~'bizhnti4as, entretanto~·.~ pessoas çO~Í;l~_vivian(em,'~parta-

: ':t:~~;tt1{~~~~sJ~:(e~f~~~~1e~I~~~~~ i. f~~, qâe,preVêuma sepaiiP total dÓs ajJ-9s~ntps dàS,~qIheres, 'n?'~~o:vi,ainda não se ~stà,d~ cidaà~ eijS~{jriente

'~!~~r:ev:!:::tb;:asq:{i~~~~11:r:~ #esse lfbnto a. única contriliuição da: ~di~o as~éti~ :t tcndên­,da a P'gtifitar, mesmo a~j?enitenteslmásCulinos, s~:)lei.deram 'âvirgilJ:lade" e em que cir6mstância$.Trênéculós ai:t~~i.rnesma -pergunta teria parecido muito esuanha a úni. homem'pará quem a "vir~dade" era questão exclusiva de súas irmãfdilhas.

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O ~ento precoce é p*,posto aos j~s de ambos os sexos como um quebra-mar que protege o hom~cristão das vagas agi­tadas da p~omiscuidade adoleScente. Entre$to até um moralista tão penetriOte como João CÓ$óstomo nã~ !!Ílcontra nada de pro­blemático no ato sexual reálizado nas águas tranqüilas da vida con­jugallegal: As antigas restrições sempre limitam as relações, po­rém se referem principalmente ao quando e como se realizam. A norma que se queria manter sobre a menstruação e a gravidez conjuga-se com'a obrigação de conservar a abstinência durante as festas da I$reja. Entretal/-to, quando autorizada, a experiência das relações erlue parceiros casados é considerada, sem nenp.uma re­serva, como implícita. E àiais, os médicosçontinuam afrnnando que só a réalização apaixqnada e agradável para os dois parceiros de um atd de amor voluptuoso pode garantir a concepção, assim como a qualidade do "temperamento" da criança, esse equilibrio entre os humores quentes e frios que faz deh um menino ou uma menina, Um indivíduo doentio ou cheio' de saúde.

Volte!nos pela última vez para a sociediae dos primeiros "ho­mens no mundo" bizantinos; agora cercidõs, mesmo que a uma prudente distância, pelos imponentes "hómens do deserto": uma sociedade:urbana muito antiga vê seus d~radeiros dias.

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ORfEN7E E OClDENTl!: A CARNE 291

A REAI.JDADE BIZ.ANTINA. ..

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Convento de síio Simeíio (QaIa4t Semân), cerca de 470. A uns .50 Iun 11 noroeste de Alepo, era uma obra-prima de gosto severo e monumentalirJade arejada, em que,: ainda vive a linguagem da arqsíjteturtZ antiga.

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• .. ANTIGUIDADE 1XRDIA

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'i For~ das portas da basílica e das paredes <ia casa ~~ a cida­

de per~ece violentam:nte profan; e. ~atmente ~~~plina­dª"- A~Ode ser mantida por notavelS ~os em n~ de um

moças aS das classessoC1~ infenores ~onÇAuamf4âis!o ~ de-im .. '. pe.ra , .. c;r ...... ist. ã. ° ostensivam. ' ..... e.nte ~ie. dO .. 50. ~á'.'.ci .. da ... ~. e, ÇP..·.lil.'. Wp.o, as lí~as d q4adãos das cl~~ sup~rjotes de;q>nst:mçiQ~~ E~ sc:.entre • 'durante os gra,gâes espetácul~,náut1co~ lD1.Antló­qpia, Jasà-e putros Jugit~ Na "çidade btnditá" 'ctêtq~sa, a mhls velha' Cidade cristã do Oriente Prómri6,' as agei!lRitíçárinas

" <' cWpani6nii.rD.a'continuam· WIbilhonabdo n1fieàtró. tJlii~"e~tátua r.l r~r déVênúS riuáergue:se díai& dos banhos pi1'tnicos âe.M~dria; l~. :-f,\' clit-se ql!te(fáz o vestido das ifdúlteras' levantar-sé aCirtilfdJCâbeça;

Roma, Igref~ de SlZ1lta Sabi~, .~~, :fi.ó.a:lment~ será retirada não-:por um ,bispO! máS, peld governador relevos d4s porttlS de ~:m. c~. ,rriu~·l~~'nofim do século VII. AiOda;em63.0emPitldrt1o tre-de 432. Uma d4s matI IZItttgtlS "o''>. .", !s""'""fIUlV !, , '. ',' : imagens da Crucifixão: ainda nãa}'s;;' Z,C!g~ P!O~.~as proVOCatI\,t\.!D mo~ conq~o g~rp.~~rb1Zan-rep'menta a madeira da cruz de;;:~, . ti~9 qUfI1§(Jifte entra nos 1i~os púkUCOS;,~()P.lI~n}es:~~ inci­Cmlo. Q~as~ nu~ca a Cn;z jigu"?,u ' d!mte p~r~u~p governado*,wn bom'~izaQ,ilitó que' ~tà,va do :~=mm;:n':tt!"i:e:f:/~~J4i~ H~r? ql!F 9Ifoprisse se? d~r Para\:ow. a~9~:~tWTz~ia seu a cruz. A:r no~res arquitet1JTtlS dd,~~, ~é~i<}? ,Q.om;eando O bISpO' F o.Wg?; de;lílS~e~o.r ~@ dos fo.ndo. hlIto:zçamente absurd4s, ,~ .13,O'r<ielSlb que lhe valeu um~):eprunen:cla dp pa~.QCM' ~. cho­ttra1ll a realida~: da cena e . ;:t:, c~tfo. orqtiê:i:esta da cidadê')'antiga nq prientdnzaQ. ~ 'lião se representam, alw de modo zneXll{if-..,; c' 4. ,... • . . , • _ ,. •.•. ~;. • , ~} ••

a igreja ~e três por/tIS çon;t;uidalit ~'l,Ua~41>u v1S1velmente, em,tod~s OS ~ctpS,' c/;)~os ,i" ,gF. ~O­Constantzno sobre O CalVflTIO, ~t:' ~ cuJQ< exemplo os mong$ dao aos leIgos: . ,;,,; ~;;:i >é;t

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Deixemos agora o "deserto" e o "mundo" de Bizâncio para considerar esses problemas da se:xualidadedo modo como os vi­ram santo Agostinho e o clero latino que o sucedeJl. Ao longo dos escritos do 'bispo de Hipona, elaborados à4s decênios que prece­dem sua mprte em 430, um espírito de um~:poderosa individuali­dade impoc um sentido novo i sexuàlidadê~ nos faz pressentir os contornos do mundo que sé formará ao re~~ dos bispos da Igreja católica nas províncias do Od,denté após ~Qjf1ffi do Império.

Prime1r0' é evidente que i> paradigm1h.t0náscico, baseado no sentimentO: da glória de um A4ão e de uma ~va anteriores ao mun­do social e à sexualidade, que tanto perturpqp. e torturou os bispos do Orientd mediterrâneo, não atinge o b~Pó do Ocidente latino. Agostinho firmemente afa$ta esse postulado~ A sociedade humana, que compreende ci casamento e a sexualidade, não é de modo ne­nhum a pior de todas, uma etapa tranSitót!á da humanidade que a nostalgia de uma majestade "angélica" e perdida do homem torna

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ORIENIEE OaDliNTE: A CARNE 293

Detalhe de um sfIT'Cófogo, século w. • Adie e ÉI1/t ap6s o Pecado diante de seu deslÍno comum, (VeUetri, Museu Comunai)

... NO OCIDENTE: O PARAÍso RECONQUISTADO

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.. . AN(IGUIDADE llIRDM

;imp.~~~~~. \ara ~le, Adão ~,F ?unc~~~:ser~,~oos . ..~ U~fWraI!{p.o ~~a1S0 uma, exiSf~Cla plerwn;nte ~0!l1~~: ~'ale­~~na,~~_~ep~çtuar por mc:o do~ filhos n::~ fO,l c~~e4i~~s­

. ~,,:~?:o:a? ~f nenhuma razao p~a que taiS filios Da,O . .t ;-,." 'sldo - 'i tonceRl~os [lo ~eco;r.er qe umà~o sexu~~omP~ado; ge ~~­'&~es .. de lntF~ e ser!o prazeL P:u:a o .?lSPO de ~~0!l~; o, ~o W1ao_e;l!maftltese ctntilante da vIda D9 mund.o ,E um lugar '~~ep~e áI rijl.s harmoniosas''', 'não a aujência de uma ~oqedade ,'tstaOelecid c9inQ 9 deserto, ni~, sim, $a soCiedade estabeleci-

P."--- -' - L VI U: J J' -'da coino d~ria. ser, quer dizer,. livre d~tensões inerentc:s a suas f.UÇU .rzna, secuw . m "os "ou .~," ,.

santos Simeão' no alto de sua co/una, '"cond~ões 4uais.O para1so'e ~,~eriên .• a de Adão e Eva no pa~ ao redor da qual se enrosca a;:ra1so fome~m um paradigma de intercâIDbios concretos sociais e Serpente. A esClllÚ simboliza a ."'. oi A'b d' al dI' d ~ 'ui .1. . I dzjíciJ ascensão da filma ao céu. As·sexuâlS. ê n uta sexu os eigos casa os sera J gaua em re a-im~ge~ dos dois estilistas fora,,! ~'Ção~esse Ptd.: !gma e ;onsiderada fraca, p,ois ac.ondição:~l!IDana pnmeuas a ~nll011ler.se de um tmCtO .-decalu. Po se;o pata1S0 pode ser apresentado;como um estado de culto, pau a 1Iencração pe/osi le'- ,L '''''al b d ' .' , ,.' d d .. . santos 1I0ltou-~e a princípio para P _ ~ent .50lf, ,a .s~m . ra o para1S0 J:~con~~ o po e"04s~ VISta personagens lImn ou recentes e .. nao s()' corfo çm BlZanClo, nos vastos silênoo$ do desen\'), Jonge 1UISceu de sua celebridade. (parir,'dé toila vidl 'hUmana organizácla. mas também na soleri~ lüerar­Louvre) L_ ~:' 'l'i.. --~ -~} da autorida4~;nas basíliqs da Igreja càt6li~das

4t>arte desse p~o t~c9~q_do pode ,eSw: liga-

~lesipente ao ab~~íio p6blico e total do ~álnento

1~,é~~'.f~eSe ,p. : .. '~!m.... a?in:6. nsd'Frço' p. riVa ... ·. ~O .. d .. OS cônj .. ~ .. , e5.'.; .~ara :~rem:sua c n~~~se:Xual:a altu~ da harinoniosa.'lnocênGl1 da qual dt~ o çXempl&~om sui ~~alidade conjugai.

:t;~~~~:::,t;;t:o~~.~:;:~ "7""-miJia mÚlto malor q1le represe!lta a queda dG.homem,

:;decaído do,~do "angélico" .. Contrariamente a Evagro'ea João Cassiano, portanto, Agostinho não pode esperar que aséxuaijdade

'desapareça tia imaginação de alguns ~'corações simples'J;educa­dos nas vastas sõlidões do deserto. Agostinho·não pode também

. ç,01f~ê,~ctm?ch~e de famíI.JA bizanM9ie se.1lS:~ ~., ,,'nlll"<tr<l-t'lm lo. s,~dade 0.0 .casam.,,, •. eJ;lto!c~.~o .. :~~~e.~.' '.' de

as. formas tradiClo'Q,;us da II1Qdi:~ao,~o<l1al.~~~<~n-; diante da evidçpcia muit91màis ampla ~~~lte;

~=y.iUlua~c cçloca poucos problemas. AJoão Crispstomo. ttPu- ' os era possível roouzir as re~ações seJUl1Ús a uni,Q!eio

.flC50raenaqp PRrém absoluram~nte nec~áriode assegur~!aocpn-; concepção de fllhos e de .~preseptá-las ~Q~ ~ais.

'-'l.L)U~fll~O até podia considerá-las <pmowna vant'agpm po­Deu~oJ;lcedéra a sexualidade a A~o dçpois da q,u~da para hun(anos,uma vez decaídos de * maj~de "~galça"

pudesse~ao menos perseguir a sOqlQra fu­<:LI::lfluauc gerando filhos semelhantes ~ eles. Pa.f!l.rAgo~-

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tinho, ao contrário, a sexualidade tal com~ se observa atualmente constitui um sintoma tão úttirllo da, queda de Adão e Eva quanto a mortalidade: sua natureza atual incontrolãvel resulta da queda de Adão e Eva tão imediata e seguramente cómo o contato glacial da morte.'

ORIENTE E OCIDENTE: A CARNE 295

Prato de prata. Diâmetro: 29 em. Vinus e Adônis no século VI a.C. O pontilhado de um pendentif repousa sobre a tiudez de VinuSj o prestígio do nu stibsiste., Mas esta Vinus" cujo busto estreito destllCa as ancas largas ("as ancas de Antíopa com ° torso de um imberbe': diz &udelaire), resulta de um gosto pelas realidades 'que Of CQnones clássicos hfJ1lÍam restringido às mes menores. O nu masculino é garboso. O pilar é um meio desajeitado de quebrar a simetria. Falta precisão ao desenho, porém a IlUdQcia se impõej todavia já não estão aí dois seres ideais, e sim dois magníficos exemplares de humanidade, como no cinema. Trabalho bizantino. (parir, BibliOteca Nacional, Gabinete das Meda/ba,r)

A anomalia da sexualidade, por conseguinte. reside nas expe- DESCOBERTA

riências concretas da própria sexualidade. Essas experiências mar- DA CONCUPISctNru

cam com triste precisão o abismo que separa a sexualidade da qual teriam desfrutado Adão e ~va caso não tivessem decaído e a sexua-lidade do casal cristão atu!! e deca1do. Coqt a perspicácia de um velho ret6rito apresentando súas condusõeSi como uma exposição de evidências conhecidas de tOdos os hom.eps de coração e inteli-gência, pa@os e cristãos, Agostinho desve#tla os aspecros do ato sexual que parecem trair umi profunda rtiÍ>tura entre a vontade e o instintQ. A ereção e o orgasmo prend~-lhe a atenção, pois a vontade aParentemente não'a,tua sobre~ e outro: nem o im-potente neàl a frígida podeni~:provocar ~ sensações por ato da vontade e, guando elas se ma.àifestam, n~onseguem fazer com que a vontade as controle. Para Agostinliõ'i-trata-se de sinais evi-dentes e irreversíveis em todos os seres hwh~os - homens e mu-14eres, casados ou castos - da cólera de Dédi frente aQ frio orgulho

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~~. " • d~ A?ãO e Eva, qu, ,an. d? c&ntr, ,ariaram sua vo?t~de. Uma concu .. rp. is-': cencut da ca~, sem Id2fe, ~em rosto e proteiforme, caP!I+ de se m:u:ifestar a~vésp.ess~iiq\omas muito ~~;eciso.s);J.~ :e!aç~es se- ,;:. '~ XUaIS de pessoas CllS1ldasE eq~erendo UIlla,ceostaOte Vlgilânoa mo-:. '" ral por parte~e,p~oas .~~ é o sip,al 'di; ruptura·f!.~ ~. pro-; :: ~': [ funda harmo~qll7_ ant o~ente remava ep.treo 1?-omem~e I?eus,' ... o corpo e a ayJí~q>';liom ~ {aínulher, e .<i~ quál Ad~o e tn~- :'::"

fi fruíram por;~~,emIf> Í1:~.paralso. Ali ~verarn não, como ceU-' :i:"o, ~ . batários assc:madQ~'e s· ~ cbiP.o. um casal há,manópteilaIneote ta- -'.,,~­

, ; sado, tão i:ep~~vold ljIDa'sociedaMhuma.oà'11t nüiecomo ' .. ~, . qualquer chéfe, tléfámflA dó Hipona. A j~taposiçãó ''de u'mestà~l ,L ).'1,t

do humano,caSâdOideaJ. éoma'Vidaconjugal presente de ÚlÍlleígo ,: .• '." era Uma compâraçãô 'efic:á, i:êpetidà sem cesSá! e fotÇósameriie{)ren.- "i; l::.! siva para o Casal médio: { ~ ·'.i" ,;~;..., .~' .' ~. '; ~c';i

Essas idéi'asou,suasl'va.dàl.ites toma.ra.tn~se de tal modóparte. 1:;~". integrante doiuii~l'S()'(~ntal da cristandade ocidental queépre-; ç: i6 ciso recuar un:ipõüt.pPat:« s~tir sua estr~ezae'a~ar a esp~,":~, $\',;'

ficidade da sitlla:ÇãQ que ~ú Agostinho e seus suce~orés a.~qdi- 1f, ~\;~ ficarem de m;ódot~ sigqificativo o paradigx:na mOná$gcoqu<! hçr- ,~ L,ti' daram do Óri.ente=:C'd . '. , ~' ,.,;; -hl j' , . .Para o leigQcristã0fs~:em jogo ~!I,"p.oya iot~tp~retaçãodo"l:~.l .

sIgnificado da sexo..A nf:terpretação Implica tambem .. o desu-". ,', ~ so dos códigoS' de q~mpo .. ento arraigadós num modd? flSioló- . :c gico específicóda p~soa·' umana. Os códigos eafisiologiãhaviam :: 'i.'

conspirado na época ~ nina para submeter as ençrgi~~aa pai- " xão sexual a um modelo 'específico de sociedade. Os;médiéos e os ,'. ' moralistas dessa' ép'oca olociiraram integr~ a sexualidade, na boa' '~i:' ordem da cidide; 4cha~ natural que uriia vigorosa descarga de: '~. " "cruor fecundo", mobil&ado no corpo em seu conjuntó,hO ho- '\1 mem e na mulher, e acompânhado de nítidas sensações de prazer' nsico, fosse a condição fine qua non da concepção: concepção e paixão não podiam ser dissociadas. O único problema para o mo-ralista era que tal paixão não minasse o comportamento l>úblico ' do homem que a ela se ~rt:tregasse de· modo frívolo e excesSivo no . privado. Maisàindar'mutos meditavam qiie as relaçõ~ seXÍláis' de ", acordo com as' riorinas ~ &~oro - que dé algUni Inodó'l:taQ:t o ,; .

p~OlOngarn~,n, .. 'tP'.'.' ,d,~.'.·.~.' .. có~OSt.~,d,e compo#.· ... éoto -.' . prodif.lri~ '~.:, ' crlanças maIS~r:rel~as q à~Jl~as concebld~ em relações p,as qUalS ~i "

se desprez~vatij ~'p.orm ,'ep.tr~do-se a~relimin;jres o~,..ado- : .. ' ,,; tando pOSlçe;~ in,adequidàS:.ou aproximariÔo-se de' tima;.friulher : ....

ii menstruada;.·~~,ó at<f s~al e~ si po~ser ap~f!§~tâàé ço~o~: :;,. , ( : o sinal mais14\~(i~<!a "t~ià1da ~istânciã,'i>~al··,m;~.â II!~u-, ..

, tenção dos ~g9ae'~ef>;ofpúblico espe9#cos dátdasse supe~()r .. '. ,. ,'. Agostltili'o 'q~smon~ p~r completo e~ mode~b, e suas ,cQn~ . ..

cepções impl.itiri{tifua imigém do corpo tQtalmen,t~ novli,. 4. pai- _~ ', .. xão sexual jálnãoÊ~pre~niliaaessencia1iri'?hte com:~ um'. '<tâ,l.ór" ' .

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fisico, difuso e indiferente, que ailtnina nas re4~ões. A atenção, ao contrário, volta-se para as zonas p~ecisas de s~ção especifica­mente sexual: para. os homens, o processo de ereção e o detalhe da ejaculação. São fraquezas que to dós os humanos partilham. Em conseqüência, as formas mais brutais de misogioia se atenuam, ao menos no pensamento de Agostinho, senão na prática cotidiana no Ocidente no começo da ldadg Média. Já não é possível dizer que as mulheres têm mais sexualidade que os homens, ou que elas :minam a razão dos homens provocando-os à sensualidade. Agosti­nho acha evidente que'ps homens são tão 'profundamente passí­veis de fraqueza moral sexual quanto as mulheres., Todos levam em seu corpo insubmisso o sintoma fatal da queda de Adão e Eva. O fato de que num o noutro o espírito consciente seja vencido du­rante o orgasmo eclipsa o velho terror romano da "efeminação", de um enfraquecimento da pessoa pública devido a uma depen­dênci~ passional com relação a mferiores de UJÍl" ou outro sexo.

A crença surpreendentemente tenaz de que ó'Ífecoro das classes sociais superiores observado nas relações sexuaisAontribui parage­!ar crianças "bem concebidas", cheias de saúde,'9óceis e de prefe­rência do sexo masdulioo, reveste-se de uma coné~ção nova do ato sexual como um momento de disjunção inevitávél com os aspectos racionais, ou sociais, da pessoa. A concupiscên~lIa carne, tal co­mo se revela no atO sexual, é um traç(j·da pessoi:p.umaoa que cla-

, cimente desafia uma defmição social e só pode~er alcançado do exterior pela obrigação social. Para o leigo, honi'elI1 ou mulher, as obrigações normais nas relações sexuais, que eram principalmente de natureza exterior e social, devem incluir a concepção nova de uma profunda brecha na textura do próprio ato sexual. Mmal, Deus cria e forma a criança; e o ato sexual, graças ao qual os parceiros lhe fornecem o material de seu ato criador, não deve rigorosamen­te nada às disciplinas sutis e penetrantes da ci4?-de.

Saber se pensamentos tão tristes e origina.iS;muitas vezes en­sombreceram as relações sexuais dos Casais no final do Império Ro­mano do Ocidente é outra questão. Suspeita-se,que não, o que, em si, constitui um silencioso testemUnho da força dos antigos modos de vida diante da dominação cle~ical cristã. Os casais cristãos con­tinuam a crer em seus médicos; de qualquer modo, só um ato de amor caloroso e agradável pode lhes dar as crianças que justificam os fatos sexuais aos olhos do clero <:elibatário. Doravaote os cristãos evitam com cuidado as relações sexuais nos dias proibidos pela Igreja - principalmente o domingo, a vigília das grandes festas religio­sas e durante a quaresma -, pois temem os efeitos genéticos de

ORIENTE E OCIDENTE: A CN1NE 297

o EMBARGO DAIGHEJA

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)BSESSÃO OCIDENTAL DO SEXO

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tais infraçõd ao' fi()V(} c~digo de decoro público. Entretanto a insis-. " " tência de Àgo~tiiWo nOJ>apel'dopecado ~nial nas r~ações sexuais)". " entre pessoaS éasâdas ~ embora descrito-sem a Iiienor lascívia e' ' com muito ritaiS'!01e4cii do que os autQres da AiItiguiclade tat-' dia (que dé)lábi~o corilenavam sem exce~ão todo~QS atos sexuais realizados fora de um jrojeto consciente e sério de Foncçber filhoS "para a cidade' ') - inWlica uma noção de que háálgo in~ecoroso' no próprio âmbito do :boi: coójugal. Unldia. na s~edade inuitô" diferente da Al~ Ida~ Média, pensar-se-á que o amor conjugal pode ser tathbém consclentemente controlado para rnjoi'mjzru: seus' aspectos inadequados, 'inodificando deliberadamente o elemento" de alegria subjeti'Va na::relação, graças ao controle de algumas for­mas de carícias, por exemplo. Então se há de considerar que a dou­trina ~ost~anúbriu.},~as d~es~ da fam1li.a cr~ã uma lirecha tal' que blZant;n0 ~e$4J~W: tena ?usad? ~ag1nar; P?f~~ bre- ~ cha soprar~:um{õrte vent~ fno; tera cotp:o ongemGS canorustas e seUs leitoi~, osJladrei c§f1íessores d~jj~ddvíÊdia: rii.~" ~atdia. '.

i: :/;"""" E:.:,' ," ", (., '.. ,.,,' , As i4#~ <li~Ag0t;· ',impus~ram um rigor ~ um~: ébnsciên~'

cia :S~é~~d~:~àR.. ue {ll.,?ral do hom!~ ~~s huriúl.' ~ ~~:éb.tt:es de famíha 'n~mq~do". le-plesmo reUnlU.o mun4o' ~'Õ "deser~

to" na Ig~~i6~~. ~~.}. 'ponto será ~~do diit3,n. "; ~e!- s~:ncio~ sa ascensllé.'!d#fgkJ2. &tollcana Europa:,()C1dentaiJ~{~ Gália; na Itália e ná'E:Spa;õha,os::bif,pnscatólicos dai:cidades~ e não os ~~po~ mens do d~se$f~toniaxn,~e.os árbitros'~ paradigmamonástito, tal como A~stío)h) o fubdlficou de modv sutif élrrevçtSível:para que englob~até a sexualidade "no mundó". Sob essafonnao"de­seno" pei:#ra ?-cidade pelo cume. "DeSeno'" e "inundq" já nãO se distingú~~tànlent<:, com:o ainda~ o caso em. Bizâncio. Ao: contrário, ~belece-seiuma: nova hierarquia: formad<? com freqüên~ cia, como~~. ~.P.o.~~~stinh:o, nas co~unidades f1~,n~tj~ur­banas, o cIet~ ~ó ma os letgos essenclalmente disciplinàn:ao-os e aconselha'hd6~ckq~tO 'à: anomalia perP~tua e PaÍ:tilha~ ai uriJ.~' sex:ualidaM decaída.;; " , • ! ; "

À partç eSsa;hleJquia clara e única,; vemos nina ~tr.utura s~­ciallaminada sob o othardo velho bispo de Hipqna. º~homei:ís ' e as mulheres,os "b~-'naScldos", seus inferioreS e os '''homens . do deserto", de mane4 menos sinistra porém tão üi~utã~ quanto os homenS, tasados "0<1 mundo", todos pàtticipam de 111l!a fraquez~ universal e primitiva: tma natureza sexual herdada de .t\Clão e EVa sob sua forina desmeqrbiada. Nenhuma renúncia pode ~levar l!1;­guém acima dess,a naqi.reza; nenhum código labori9sam~nte inte­riorizado pode mais dQ q~e contê-la. E ~ desmembraqJ.~nto agp­ra é apreseJ;ltadocomó' um sintoma privilegiado, porque.'singruaJi-

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mente íntimo e apropriado, da condição hUID.afl,.a: o homem, co­mo ser sexual, tomou-se o menor denominador cumum da grande democracia dos pécadores reunidos na Igreja cà!õlica.

Chegando a ésse ponto, encontramo-nos ~te de uma últi­ma encruzilhada. Por volta de 1200 um auto(iÍÍenor de um ma­nual de confissão 'âeclarava: "De todas as ba. dos cristãos, o combate pela castidade é o maior. Aqui a luta e.tt>nstante e a vitó­ria, rara. Com efeito, a contiD.ência 'é' a grande"t!terra. Pois, como disse Oví4io [ ... ],e como nos lembramJuverutlí: Claudiano [ ... ], assim flZeram são. Jerônimo e santo Agostinho!!.

Em todos os escritosulteriorés da Igreja latina,: a brilhante poesia amorosa de Roma 'antiga e as sombrias predições dos escritores cris­tãos de nosso penodo se misturam para comuaicar o sentimento muito singular de que a preocupação prioritária,;o horror e as delí­cias do europeu oçidental, é sobretudo a sexuaijdade, e não, como para os bizan~os sempre aSsombr~dospela rI!#'agem de um pa­raíso reconquistado nas profundez3§ do desertç,;'p orgulho e a vio­lênci~ mais negros e impessoais dq "mundo".,~

E talvez em direção a tais etapas, passando através de tais te­mas - e, de fato, através de muitos outros -, ,que a história da vida privada na Antiguidade tarpia.'pode conduzir os que escolhe­rem estudá-la mais profundameÍltedo que é possível em algumas páginas. Começamos com o homem e a cidade;~ terminamos com a Igreja e "o mundo". Qual dessas antíteses mâis contou na cria­ção da cultura ocid.ental que partilhamos? Deixo ao leitor a decisão.

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, ORIENTE B OaDENTE: Á CARNE 299

Lápide, sér:u/o V. O batismo na ithrJe adulta ertI o =o mais comum; ertI admiflistrrJdo nlJo por imersio completa, f1ItZ! por infosio, l1I{ui tiemJf1IIJIIa pela pomba tio Espírito Santo. Como oconia com freqüência, o btJtizatlo ê ~presentaáo menor que os I(lItroS persontlgens (isso fl&()ntecia mesmo quando se irritava do batismo tie Cristo por slJo Joio). (Aqwéia, M1I!e1l Cristio de M01lflItero)