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O Governo Bíblico da Igreja. CEP – CENTRO DE ESTUDOS PRESBITERIANO O GOVERNO BÍBLICO DA IGREJA Rev. João França

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  • O Governo Bblico da Igreja.

    CEP CENTRO DE ESTUDOS PRESBITERIANO

    O GOVERNO BBLICO DA IGREJA

    Rev. Joo Frana

  • Rev. Joo Ricardo Ferreira de Frana.

    2

    CENTRO DE ESTUDOS PRESBITERIANO www.centrodeestudospresbiteriano.blogspot.com

    Rev. Joo Ricardo Ferreira de Frana.

    O GOVERNO

    BBLICO DA IGREJA

    Piripiri - PI, Abril de 2015.

  • O Governo Bblico de Igreja

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    SUMRIO INTRODUO .....................................................................................................................................4

    I A BBLIA E OS OFICIAIS GOVERNANTES DA IGREJA...... ...............................................6

    1.1 O Governo Por meio dos Presbteros. ............................................................................. 7

    1.1.1 Definio do termo Presbtero: .................................................................................... 7

    1.1.2 O ofcio de Presbtero no Antigo e Novo Testamento ................................................. 8

    1.2 Os Presbteros: Os Oficiais Qualificados para governarem a Igreja de Cristo. .............. 8

    1.2.1 - Devem ser homens qualificados na vida moral. .......................................................... 9

    a) Irrepreensvel: ...................................................................................................................... 9

    b) Possuir uma relao monogmica: ...................................................................................... 9

    c) Deve possuir qualidades que o notabilize como agente da graa de Deus .......................... 9

    1.2.2 Devem Possuir conhecimento doutrinrio: .................................................................. 9

    1.2.3 Devem possuir uma famlia estvel: .......................................................................... 10

    II A BBLIA E A PLURALIDADE DE PRESBTEROS NO GOVERNO ECLESISTICO.11

    2.1 A Pluralidade de Presbteros. ........................................................................................ 11

    2.2 As distines entre os Presbteros. ................................................................................ 11

    2.3 As Distines entre os Presbteros e Pregao da Palavra: .......................................... 12

    2.3.1 A Posio dos Smbolos de F do perodo da Reforma Protestante .......................... 12

    2.3.1.1 - Confisso Helvtica (1536) ..................................................................................... 12

    2.3.1.2- Artigos de Lausanne (1536 Suia) ........................................................................ 12

    2.3.1.3- A Confisso de Genebra (1536 escrita por Joo Calvino) .................................... 12

    2.3.1.4- Confisso de F Francesa (1559) ............................................................................. 12

    2.4 A Posio Presbiteriana: O Catecismo Maior de Westminster [1643-1648] .............. 13

    2.4.1 Evidncias Bblicas para a Posio Confessional da Igreja ...................................... 15

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS..................................................................................................17

  • Rev. Joo Ricardo Ferreira de Frana.

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    INTRODUO:

    Em nossos dias existe uma crise de identidade na Igreja evanglica atual. Crise do ponto de

    vista doutrinria, os evanglicos de modo geral no sabem mais no que creem, no existe mais a pre-

    ocupao com um credo, ou com uma confessionalidade estrita e clara.

    A eroso da f tem sido presente em nosso tempo. A negao da suficincia da Palavra de

    Deus patente em nossos dias, e esta negao, no est vinculada a questo do pentecostalismo so-

    mente, mas tambm a questo do governo eclesistico da igreja; pois, se tem aceitado que este tema

    um campo perifrico da teologia e que no devemos debater ou contender sobre este valioso assun-

    to.

    Um escritor d-nos uma alerta crucial sobre isto, ao dizer:

    muito comum os crentes professos fazerem distino entre o essencial e o no essecial em religio e inferir que, se algum fato ou doutrina pertence exatamente a esta ltima classe, de-ve ser uma questo de pouca importncia, e pode na prtica, ser seguramente relegada a um plano secundrio. A maioria das pessoas tira concluses sem um exame prvio; no querem pagar o preo de pensar, pesquisar, de raciocinar sobre nada e um dos expedientes mais fre-quentes adotados por elas para se livrarem da responsabilidade de usar a mente e desprezar algum fato que se julgue desagradvel dizer: Esse problema no essencial para salvao; portanto, no precisamos nos preocupar muito com isso.1

    As palavras deste pastor presbiteriano nos alerta para um fato importante que a marginaliza-

    o de temas teolgicos que so fundamentais para a igreja de Cristo, e assim, a negligncia sobre a

    temtica do governo da Igreja de Cristo torna-se mais evidente. Concentramo-nos em temas como:

    Revelao, Expiao, Justificao, Regenerao; todavia, quando se vai tratar de governo eclesisti-

    co achamos algo se proveito, e somos at acusados de dogmatizadores quando somos enfticos neste

    assunto, mas uma vez Witherow nos alerta dizendo se todas as outras verdades reveladas so irrele-

    vantes porque no so essenciais para a salvao, o resultado que o que o que se est sendo negado

    a importncia da prpria Palavra de Deus.2

    Quando se omite e julga-se irrelevante tais assuntos ataca-se a doutrina da Suficincia das

    Escrituras. O Sola Scriptura e o Tota Scriptura so desprezados nas consideraes teolgicas sobre

    esta temtica. Por isso, o nosso estudo aqui visa apresentar a importncia, a atualidade e a necessida-

    de deste tema importantssimo na vida da Igreja de Cristo.

    1 WITHEROW, Thomas. A Igreja Apostlica Que significa Isto? Traduo: Francisco Cardoso. So Paulo: Os Purita-nos, 2005, p.9

    2 Ibid, p. 10.

  • O Governo Bblico de Igreja

    5

    Sabemos que o tema Governo Eclesistico no sugere nada atraente3. Isto devido a falta de

    literatura, de interesse e de disponibilidade dos pastores em ler, produzir e ensinar sobre a eclesiolo-

    gia. Algum poderia perguntar: por que importante estudar este assunto? A resposta est no fato

    de que o ministrio e a forma de governo constituem um dom de Deus para a igreja4. E esta a

    razo suficiente para estudarmos a natureza do governo bblico da igreja.

    Tudo isso nos leva para necessidade da Igreja em nossa vida, estamos cientes de que existe

    em nossos dias protestos contra a Igreja e que vivemos tempos no qual as pessoas dizem queremos

    Deus, no uma instituio5; embora tal declarao seja preocupante para ns o nosso estudo no se

    concentrar nesta problemtica, mas focalizar toda a ateno na questo do governo bblico da Igre-

    ja de Cristo.

    3 REED, Kevin. Governo Bblico de Igreja. Traduo: Adelelmo Fialho. So Paulo: Os Puritanos, 2002, p. 7.

    4 LEITH, John H. A Tradio Reformada Uma Maneira de ser a Comunidade Crist. Traduo: Eduardo Galasso Faria e Gerson Correia de Lacerda. So Paulo: Associao Evanglica Literria Pendo Real, 1997, p. 244.

    5 DE YOUNG, Kevin & KLUCK, Ted. Porque amamos a Igreja. Traduo: Emirson Justino. So Paulo: Mundo Cristo, 2010, p.14.

  • Rev. Joo Ricardo Ferreira de Frana.

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    I A BBLIA E OS OFICIAIS GOVERNANTES DA IGREJA

    A discusso sobre a eclesiologia comea quanto se procura responder a seguinte questo:

    quem deve governar a Igreja de Cristo? A resposta que damos a esta pergunta apresentar as nossas

    concepes sobre o governo bblico da Igreja. Se dissermos que a Igreja deve ser governada por um

    pastor-presidente, ou por um nico homem estaremos adotando uma postura de governo conhecida

    como Episcopal.

    A estrutura de governo Episcopal adotada pela Igreja Romana onde o sistema de bispo

    introduzido, isto porque para eles o supremo bispo da Igreja o Papa! Mas, este sistema no est

    presente apenas na Igreja Romana, ela se encontra em muitas igrejas evanglicas e protestantes. On-

    de se adota a figura do bispo, apstolo, e at do pastor presidente.

    Agora, se a nossa resposta for que o povo governa junto o sistema ai o congregacional. No

    sistema congregacional todos tomam parte das decises; e os erros tambm so mais frequentes,

    pois, nem todos esto preparados para atuar em todos os nveis de deciso6. H um adgio popular

    que diz casa onde todo mundo manda, ningum manda, est a implicao lgica do congregacio-

    nalismo. As igrejas que sustentam este sistema so as Igrejas Independentes ou Congregacionais e as

    Igrejas Batistas.

    6 NASCIMENTO, Ado Carlos e MATOS, Alderi Souza de. O que todo Presbiteriano Inteligente deve Saber. So Pau-lo: Socep, 2007, p.75.

  • O Governo Bblico de Igreja

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    Uma terceira reposta tem sido dada a respeito de quem deve governar a igreja de Cristo? A

    resposta que alguns governam sobre todos como representantes. O sistema conhecido como re-

    presentativo, ou sistema presbiteriano de governo. As Igrejas Reformadas e Presbiterianas sustentam

    este sistema de governo.

    Neste sistema os membros elegem os seus oficiais que so representantes pactuais. Estes ofi-

    ciais eleitos formam seus conclios, que so assembleias formadas por pastores e presbteros. a

    defesa deste sistema que o nosso estudo procura fazer.

    1.1 O Governo Por meio dos Presbteros.

    1.1.1 Definio do termo Presbtero:

    No Novo Testamento os oficiais regentes da Igreja so chamados de presbteros. Antes de

    falarmos sobre a importncia e o papel deles na vida da Igreja precisamos esclarecer o que o termo

    significa.

    O nome presbiterianismo derivado da palavra grega Presbyteros que significa ancio ou

    presbtero. Em Atos 20.17 vemos que Paulo chama os presbteros [presbyterous]. O

    vocbulo indica aquele que tem experincia. Como algum j colocou que este termo indica que o

    presbtero um homem menos moo, com mais idade do que o comum dos de um grupo ou con-

    gregao.Idade, no sentido de vida mental, vida moral e vida espiritual, experincia, mais mesmo, do

    que vida no tempo.7

    7 MARTINS, Francisco. O Ofcio de Presbtero Origens, histria, evoluo e funes. So Paulo: Casa Editora Presbi-teriana, 1970, p. 15.

  • Rev. Joo Ricardo Ferreira de Frana.

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    1.1.2 O ofcio de Presbtero no Antigo e Novo Testamento.

    No Antigo Testamento encontramos os presbteros como lderes do povo pactual. Moiss

    quando convocado por Deus para libertar o povo se depara com a realidade presente dos presbte-

    ros / ancies do povo de Israel naquele tempo. Em xodo 3.16; em Nmeros 11.16,24-25 temos a

    mesma tnica presente. Por todo, o Antigo Testamento se ver os ancies/ presbteros presente na

    vida religiosa e civil do povo de Israel no Antigo Testamento. [Dt.21.19; x 24.1; Lv.4.15; Jz.8.14]

    No Novo Testamento encontramos uma classe variada de lderes. os ancies, governado-

    res e principais ou chefes da sinagoga8 sabemos que durante o tempo de Cristo que a liderana

    judaica era corrupta a mesma no deixou o oficio de presbtero desaparecer.9 [ Mt.15.2; Mc. 7.3;

    Jo.3.1; 7.26,48; Mc.5.22; Lc.8.41]. Este governo tem suas razes desde o Antigo Testamento por isso

    o Governo Presbiteriano essencialmente bblico.

    1.2 Os Presbteros: Os Oficiais Qualificados para governarem a Igreja de Cristo.

    Nesses dias de imediatismo tendemos a escolher como nossos lderes pessoas no qualifica-

    das para tamanha responsabilidade; muitas das nossas escolhas, neste particular, esto motivadas

    pela simpatia, amizade, coleguismo ou por ser algum que sabe falar bem, e assim, julgamos ser ne-

    cessrio para ocupar o lugar de lder na igreja.

    Outro ponto que muitas pessoas pensam que todo e qualquer homem pode ser lder da Igreja

    de Cristo. Kevin Reed nos diz que no basta haver homens meramente nomeados com o ttulo de

    presbteros. Eles devem antes ser qualificados para governar, como demonstram os critrios das Es-

    crituras para os oficiais.10 Desde o Antigo Testamento os lderes eclesisticos deveriam ser qualifi-

    cados para ocupar tal ofcio. Tinha que ser:

    a) Sbios e Experientes (Dt.1.13)

    b) Homens ntegros e verdadeiros (x 18.21).

    No Novo Testamento essas exigncias ficaram mais intensas. Essa cobrana e intensidade se

    v presente nas cartas de Paulo ao jovem pastor Timteo e a Tito. So qualificaes indispensveis

    8 REED, Kevin. Governo Bblico de Igreja. Traduo: Adelelmo Fialho. So Paulo: Os Puritanos, 2002, p. 14.

    9 Idem.

    10 REED, Kevin. Governo Bblico de Igreja. Traduo: Adelelmo Fialho. So Paulo: Os Puritanos, 2002, p. 16.

  • O Governo Bblico de Igreja

    9

    para os presbteros da Igreja de Cristo Jesus. O apstolo apresenta trs reas importantes na vida de

    um homem qualificado para o presbiterato, estas qualificaes precisam ser enfatizadas para que a

    igreja no sofra no futuro.

    1.2.1 - Devem ser homens qualificados na vida moral.

    O texto de 1 Timteo assegura que aquele que deseja ser presbtero necessrio (1

    Tim.3.2). Ele deve ser um exemplo no carter, pois a qualificao que seja algum:

    a) Irrepreensvel:

    Ele noi deve ser algum que vivemos corrigindo por suas falhas de carter ou de com-

    portamento isso que o grego exige daquele que se diz qualificado para tal ofcio seja

    algum livre de reprovao [anepilepton].

    b) Possuir uma relao monogmica:

    O ser esposo de uma s mulher. Aponta para a realidade que naquela igreja havia muitos

    homens que vieram do paganismo com suas mulheres [ eram membros com mais de uma es-

    posa ], mas Paulo alerta a Igreja que o oficial da igreja, o lder deve ser um exemplo de mari-

    do fiel para com sua esposa, tendo uma relao monogmica.

    c) Deve possuir qualidades que o notabilize como agente da graa de Deus:

    temperante, sbrio, modesto, hospitaleiro, aqui o apstolo Paulo mostra que o presbtero

    deve ser algum pacificador, algum que no gosta de intrigas ele usa a ideia de ser temperan-

    te; outra qualidade expressa a da sobriedade algum que no dominado pelo vinho. Algum

    modesto que no ostenta ser alguma coisa, algum que procura parecer, e por fim, deve ser hos-

    pitaleiro. Um presbtero deve ser acolhedor, deve receber em casa, e receber bem os membros,

    viajantes e os que carecem de acolhida, pois, se assim no for, no deve ser eleito para o oficio de

    presbtero.

    1.2.2 Devem Possuir conhecimento doutrinrio:

    O segundo requisito para ser oficial da Igreja de Cristo que este homem deve ser apto para

    ensinar (1 Timteo 3.2) e para admoestar com a s doutrina como para convencer os contradi-

    zentes(Tito 1.9). O homem que chamado para exercer o dom do presbiterato na Igreja deve ser

    acima de tudo um telogo, um homem com uma mente aguada em temas teolgicos; deve ser al-

    gum que ama ler livros, estudar teologia. O presbtero tem por obrigao refutar as heresias e os

    falsos ensinos.

  • Rev. Joo Ricardo Ferreira de Frana.

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    1.2.3 Devem possuir uma famlia estvel:

    O apstolo Paulo 1 Timteo 3.5 aquele que almeja a obra do episcopado deve possuir uma

    famlia modelo; uma famlia que ele governe bem para que possa saber como lidar com a Igreja de

    Deus em questes cruciais. Ele deve saber conduzir sua famlia no reino de Deus. Pois, um homem

    que falha em influenciar piedosamente sua famlia, no est apto ao cargo pblico de oficial da igre-

    ja11.

    Este oficial no pode ser um nefito na f (1 Timteo 3.6) porque o tempo e a experincia

    devem ser os aliados daqueles que so chamados para o santo ofcio do presbiterato. A igreja deve

    procurar essas qualidades nos seus futuros oficias para que no escolham o candidato errado para

    ocupar o oficio eclesistico da Igreja (1 Timteo 5.22)

    11 REED, Kevin. Governo Bblico de Igreja. Traduo: Adelelmo Fialho. So Paulo: Os Puritanos, 2002, p. 17.

  • O Governo Bblico de Igreja

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    II A BBLIA E A PLURALIDADE DE PRESBTEROS NO GOVERNO

    ECLESISTICO.

    O segundo aspecto de nosso estudo tem haver com a seguinte questo: Quantos presbteros

    deve haver em cada congregao? Outra pergunta importante sobre a relao entre o pastor e pres-

    btero? O Pastor maior que o presbtero? Essas so perguntas pertinentes ao nosso assunto.

    2.1 A Pluralidade de Presbteros.

    No sistema presbiteriano caracterizado pela pluralidade de presbteros12; esta pluralidade

    fundamentada nas Escrituras Sagradas, pois, -nos ensinado na Palavra de Deus que em cada Igreja

    formada por Paulo deveria haver mais de um presbtero.

    No livro de Atos de imediato descobrimos a figura do presbtero eleito pela comunidade cris-

    t (Atos 14.23). No texto grego temos a palavra [cheirotonesantes] que tem o sen-

    tido de fazer uma escolha pblica levantando a mo. Sem contar que ainda em Atos 20.17 o Apsto-

    lo Paulo havia chamado os presbteros [nota-se que no plural] para que os mesmos se encarregassem

    de seus deveres de supervisores e pastores da igreja de Cristo conforme vemos em Atos 20.28.

    Na sua Carta a Tito Paulo designa-o para que estabelecesse presbteros [plural] em cada cida-

    de. [Tito 1.5]; ento, nas igrejas deve haver mais de um presbtero para governar a Igreja de Cristo.

    2.2 As distines entre os Presbteros.

    Outra questo que precisa ser considerada diz respeito s distines dentro da classe de ofici-

    ais chamada de presbteros.

    Dentro dessa classe de oficiais, existem duas ordens (1Tm 5.17). Aos presbteros regentes confiada, especificamente a tarefa de administrar a ordem e a disciplina em uma igreja espe-cfica; alm disso, eles so conclamados a cultivar zelosamente sua prpria aptido para en-sinar a Bblia e devem aproveitar cada oportunidade de assim fazer (BCO 8-90). Os Presb-teros Docentes so aqueles que, alm da responsabilidade de administrar a igreja, tm ainda funo de alimentar o rebanho pela leitura, explanao e pregao da Palavra de Deus e a ministrao dos sacramentos (BCO 8-50). Os presbteros docentes s vezes so chamados ministros da Palavra. Os presbteros docentes, como tambm os regentes, so duas ordens dentro da mesma classe de oficiais; ambos possuem a mesma autoridade e elegibilidade pa-ra atuar nos conclios da igreja (BCO 8-9)13

    12 Ibid, p.19.

    13 LUCAS, Sean Michael. O Cristo Presbisteriano Convices, Prticas e Histrias.Traduo: Elizabeth Gomes. So Paulo: Cultura, 2011, p. 141.

  • Rev. Joo Ricardo Ferreira de Frana.

    12

    Calvino comentando o texto de 1 Timteo 5.17 nos diz o seguinte:

    luz desta passagem podemos inferir que h dois tipos de presbteros, visto que nem todos so ordenados para a docncia. O significado cristalino das palavras est no fato de que havia alguns que governavam bem e de forma honrosa, no entanto, no eram detentores da funo pedaggica. Elegiam-se homens solcitos e bem preparados, os quais, juntamente como os pastores num conclio comum, e investidos de autoridade delegada pela Igreja, se destinavam a ministrar a disciplina e a agir como censores com vistas disciplina moral.14

    A distino dentro do presbiterado tem sido reconhecida pela igreja de Cristo desde muito

    cedo, o presbtero docente tambm conhecido como Pastor, ministro da palavra.

    2.3 As Distines entre os Presbteros e Pregao da Palavra:

    Diante disso tudo surge uma pergunta: se h duas classes de presbteros na Igreja de Cristo

    quem deve pregar a Palavra? O presbtero regente pode pregar a Palavra Congregao?

    2.3.1 A Posio dos Smbolos de F do perodo da Reforma Protestante:

    Na Reforma Protestante se debateu muito sobre isso, e os telogos reformados apresentaram

    uma resposta sobre o tema em seus smbolos de F.

    2.3.1.1 - Confisso Helvtica (1536):

    [...] que os mistrios das Escrituras sejam diariamente expostos e explicados por ministros quali-

    ficados [...]

    2.3.1.2- Artigos de Lausanne (1536 Suia):

    Dita Igreja no reconhece outro ministro exceto aquele que Prega e administra os sacramentos

    2.3.1.3- A Confisso de Genebra (1536 escrita por Joo Calvino):

    Ns no reconhecemos a outros pastores na Igreja seno aos pastores fiis da Palavra de Deus,

    que alimentam as ovelhas de Cristo [...] Ns cremos que os Ministros da Palavra de Deus e os

    Presbteros e Diconos, devem ser eleitos aos seus respectivos ofcios mediante uma eleio legal

    da Igreja [...]

    2.3.1.4- Confisso de F Francesa (1559):

    [...] ns cremos que a ordem da Igreja, estabelecida por sua autoridade, deve ser sagrada e invio-

    lvel, e que, portanto, a Igreja no pode existir sem pastores para a instruo, a quem devemos res-

    14 CALVINO, Joo. As Pastorais. Traduo: Valter Graciano Martins. So Paulo: Parakletos, 1998, p.148.

  • O Governo Bblico de Igreja

    13

    peitar e escutar reverentemente, quando eles tem sido chamados de maneira apropriada e exercem

    seu ofcio fielmente.

    Todas as confisses aqui de forma incontestvel estabelecem que o pastor o nico ministro

    da Palavra que possui a prerrogativa de proclamao como de ministrao dos sacramentos [ Batis-

    mo e Eucaristia].

    2.4 A Posio Presbiteriana: O Catecismo Maior de Westminster [1643-1648]:

    PERGUNTA 158: Por quem deve ser pregada a Palavra de Deus?

    RESPOSTA: A Palavra de Deus deve ser pregada somente pelos que foram suficientemente dotados

    e devidamente aprovados e chamados para tal ofcio.

    O nosso catecismo reconhece que apenas os Ministros da Palavra devem pregar. O ponto

    fundamental aqui que muitas de nossas igrejas fazem escalas da pregao para que os presbteros

    regentes preguem, um dicono, um seminarista e assim por diante, mas os padres de Westminster,

    de modo particular, o catecismo Maior reconhece que a Palavra de Deus deve ser pregada SOMEN-

    TE PELOS QUE FORAM suficientemente dotados e devidamente aprovados e chamados para tal

    ofcio.

    Isso tem gerado muito debate nos crculos evanglicos da atualidade a publicaes de livros

    que incentivam a pregao leiga tem abarrotado as livrarias de modo geral. Mas, precisamos dizer

    que a pregao leiga no bblica, no tem apoio da tradio reformada, e no autorizada pelos

    padres confessionais.

    David Martyn Lloyd-Jones nos lembra algo interessante sobre este assunto:

    [...] Quem deve realizar a Pregao? O primeiro princpio que gostaria de afirmar que nem todos os crentes so destinados a fazer isso, nem todos os homens crentes devem pregar, e de maneira alguma as mulheres! Noutras palavras, precisamos considerar o que se chama pregao leiga. Isto j vem sendo praticado de modo bastante comum h cem anos ou mais. Antes, era uma prtica comparativamente rara, mas hoje muito comum. Seria interessante examinamos a histria dessa prtica, mas o tempo impede de faz-lo. Novamente, o mais in-teressante a ser observado que esta mudana resultou de causas teolgicas. Foi a mudana na teologia do sculo passado, de uma atitude reformada e calvinista para uma postura es-sencialmente arminiana, que provocou o aumento da pregao de leigos. A explicao dessa causa e efeito que, em ltima anlise, o arminianismo no-teolgico. Eis porque a maioria das denominaes evanglicas da atualidade so igualmente no-teolgicas. Sendo esse o caso, no deve nos surpreender o fato de que predominem em nossos dias o ponto de vista de

  • Rev. Joo Ricardo Ferreira de Frana.

    14

    que a pregao est aberta a todo homem e posteriormente, a qualquer mulher. Minha asser-o que esta uma perspectiva antibblica sobre a pregao.15

    A pregao leiga homem da igreja, presbtero regente, dicono, seminarista fruto da

    perspectiva arminiana que deseja dar aos novos convertidos o que fazer na igreja, e assim, ignoran-

    do completamente a noo de vocao para o ministrio da Palavra.

    O dr. Vos comentando a pergunta 158 do Catecismo Maior de Westminster lembra-nos que:

    Quem no for ministro ordenado ou licenciado pode testemunhar de Cristo em particular ou em pblico, conforme a oportunidade o permita, mas a pregao pblica oficial da Palavra na Igreja deve ser feita apenas por aqueles devidamente separados para esta obra. Claro est que a pregao da Palavra uma obra de importncia muito grande. So necessrias as qualifica-es apropriadas para que seja feita de maneira adequada. H qualificaes espirituais, inte-lectuais e educacionais sobre as quais se deve insistir para que a igreja tenha um ministrio adequado. 16

    Esta posio confessional da Igreja a posio histrica do presbiterianismo, o Dr. Roger

    Smalling responde a questo do catecismo Maior de Westminster sob os seguintes termos:

    Aparece uma ligeira ambigidade nesta declarao. Tradicionalmente, se tem entendido que o

    Catecismo Maior de Westminster delega aos Presbteros Docentes ordenados, ainda que, o termo

    Pastor ou Ministro no se use aqui. Mas, depois disto tudo, que aconteceria se um Presbtero Regente

    pudesse pregar melhor que um Presbtero Docente qualquer? A Assembleia da PCA17 de 1979 res-

    ponde:

    Recomendao N 4:

    A Assembleia Geral reafirma a posio Presbiteriana histrica conforme expressa no Cate-cismo Maior em sua pergunta 158, que ningum deve pregar o Evangelho seno aqueles que so chamados e dotados por Deus; e que, por conseguinte, somente aqueles homens que so apropriadamente ordenados ou licenciados podem pregar nos plpitos da PCA; e que aos Presbteros Regentes se lhes permite e anima a renovar a prtica histrica de exortar ao povo de Deus. (Adotado, p.457-458).

    Esta recomendao uni-se com a recomendao de Nmero 5 que trata da relao do Pastor com o Conselho. Disto ns vemos que a PCA considera o plpito como o domnio habitual do Presbtero Docente, no obstante, o Presbtero Regente pode exercer qualquer dos dons ministeriais de exortao que possua em outros domnios e circunstncias. Na PCA, no se

    15 LLOYD-JONES, David Martyn. Pregao e Pregadores. Traduo: Joo Bentes Marques. So Paulo: Editora Fiel, 2008, p.97-98

    16 VOS, Johannes Geerhardus. Catecismo Maior Comentado. Traduo: Marcos Vasconcelos. So Paulo: Editora Os Puritanos, 2007, p.508.

    17 PCA = Igreja Presbiteriana da Amrica.

  • O Governo Bblico de Igreja

    15

    aceita a prtica de programar dentro das agendas de pregao regulares da igreja, aqueles que no so ordenados como Presbteros Docentes.18

    2.4.1 Evidncias Bblicas para a Posio Confessional da Igreja.

    Ser que existe alguma evidncia Bblica para a posio de que apenas os presbteros docen-

    tes [ministros, pastores, bispos] proclamem a palavra de Deus no culto pblico?

    O ponto que a pregao neotestamentria marcada pelo ensino. O verbo grego didaskw

    didask [ensino] usado noventa e sete vezes no Novo Testamento. No uso deste verbo pode-se

    classificar o seguinte: Quando se refere f crist: este verbo didaskw tem como sujeito o Senhor

    Jesus, sendo usado 48 vezes (Marcos.8.31 e 9.31); os apstolos (dezoito vezes), o Esprito Santo

    (Lucas 12.12; Joo 14.26; 1 Joo 2.27); Timteo (1 Timteo 4.11 e 6.2); Joo Batista (Lucas 11.1); o

    cego que havia sido curado por Jesus , o qual foi acusado pelos fariseus de estar querendo ensin-los

    (Joo 9.34); Apolo que ensinava de modo preciso na sinagoga (Atos 18.25)19

    Todas as referncias nas quais este verbo aparece parece indicar ofcio especfico do ministro

    da palavra.

    Agora um vocbulo que aparece na Palavra de Deus que parece ser imperativo nesta questo

    o termo Arauto. No grego temos a palavra khrux- keryx aponta para aquele que leva uma men-

    sagem autorizada um porta-voz oficial. Qual o sentido do emprego desta palavra, era usada para

    descrever o homem que comissionado pelo seu soberano, ou pelo estado, para anunciar em voz

    alta alguma notcia, a fim de torn-la conhecida.20

    O uso do verbo relacionado a esta funo de arauto kerussw- keryss e na leitura que

    fazemos do Novo Testamento ns percebemos o seguinte que o uso deste verbo se aplica:

    a) Apenas a Cristo ou a algum comissionado por Deus para o ministrio da pregao ( Romanos

    10.15; pois, somente estes tm a autoridade divina de se apresentar publicamente para falar em nome

    de Deus.

    18 SMALLING, Roger. As Distines Entre os Presbteros Docentes e Regentes. Traduo: Joo Ricardo Ferreira de Frana. So Raimundo Nonato Piau: Centro de Estudos Presbiterianos, 2011, p. 11.

    19 ANGLADA, Paulo. Introduo Pregao Reformada Uma investigao Histrica sobre o Modelo Bblico-Reformado de pregao. Ananindeua: Knox Publicaes, 2005, p.33.

    20 COENEN, Lothar, khru,ssw. In: Dicionrio Internacional de Teologia do Novo Testamento, vol.3, Ed. Lothar Coe-nen e Colin Brown, Traduo de Gordon Chown. So Paulo: Editora Vida Nova, 1993, p.741.

  • Rev. Joo Ricardo Ferreira de Frana.

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    b) Nos Evangelhos apenas Joo Batista assim apresentado como proclamador enviado da parte de

    Deus(Mt 3.1: Mc. 1.4; Lc.3.3) sendo ele um profeta do antigo pacto.

    c) Jesus apresentado como o proclamador supremo (Mt.4.17,23;9.35;11.1; Mc1.14,38,39; Lucas

    4.18,19,44.8.1)

    d) Os apstolos comissionados por Jesus (Mt.10.7,27; Mc 3.14; 6.12; 16.15,20; Lc.9.2; 12.13.).

    Todos estes textos apresentam que os sujeitos do verbo kerussw- keryss eram comissiona-

    dos pelo Senhor. Paulo Anglada nos lembra:

    Sempre que outras pessoas aparecem como sujeitos do verbo kerussw- keryss nos evan-gelhos, esto desobedecendo a Cristo e, nesses casos, o contedo da pregao deles uma cura. H trs exemplos dessas pregaes desautorizadas nos evangelhos. Um deles em Marcos 1.45, quando o leproso expressamente proibido por Jesus, saiu propalando que ha-via sido curado, de sorte que Jesus acabou impedido de entrar livremente na cidade. Outra ocorrncia encontrada em Marcos 5.20 e Lucas 8.39, onde se ler que o endemoninhado ge-resareno, libertado por Jesus, ao invs de apenas relatar o acontecido ( ;agge,llw [angello], em Marcos e dihge,omai [diegeomai] em Lucas) aos seus familiares (a sua casa), como Jesus ha-via ordenado, saiu a proclamar (kerussw- keryss) como arauto o acontecimento na cidade em que vivia. O ltimo exemplo, em Marcos 7.3, refere-se s pessoas que haviam presencia-do a cura de um surdo mudo, tambm contrariando a ordem expressa de Jesus de no conta-rem (le,gousin - legousin) a ningum o ocorrido.21

    Ento est claro que apenas os que so chamados para a pregao proclamao so os

    ministros [presbteros docentes] e que ningum mais pode se intrometer neste ofcio e ministrio, se

    no for vocacionado. Mas devemos ressaltar o que diz Samuel Miller em seu livro O Presbtero Re-

    gente que: Deve-se considerar o presbtero regente, no menos que o presbtero docente (i.e., pas-

    tor), age sob a autoridade de Cristo em tudo que legitimamente faz.22

    21 ANGLADA, Paulo. Introduo Pregao Reformada Uma investigao Histrica sobre o Modelo Bblico-Reformado de pregao. Ananindeua: Knox Publicaes, 2005, p.38-39.

    22 MILLER, Samuel. O Presbtero Regente Natureza, Deveres e Qualificaes. Traduo: Marcos Vasconcelos, So Paulo: Os Puritanos, 2001, p.14.

  • O Governo Bblico de Igreja

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    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    1. ANGLADA, Paulo. Introduo Pregao Reformada Uma investigao Histrica sobre o Modelo Bblico-Reformado de pregao. Ananindeua: Knox Publicaes, 2005, p.33.

    2. CALVINO, Joo. As Pastorais. Traduo: Valter Graciano Martins. So Paulo: Parakletos, 1998, p.148.

    3. COENEN, Lothar, khru,ssw. In: Dicionrio Internacional de Teologia do Novo Testamen-to, vol.3, Ed. Lothar Coenen e Colin Brown, Traduo de Gordon Chown. So Paulo: Editora Vida Nova, 1993, p.741.

    4. DE YOUNG, Kevin & KLUCK, Ted. Porque amamos a Igreja. Traduo: Emirson Justino. So Paulo: Mundo Cristo, 2010, p.14.

    5. LEITH, John H. A Tradio Reformada Uma Maneira de ser a Comunidade Crist. Tradu-o: Eduardo Galasso Faria e Gerson Correia de Lacerda. So Paulo: Associao Evanglica Literria Pendo Real, 1997, p. 244.

    6. LLOYD-JONES, David Martyn. Pregao e Pregadores. Traduo: Joo Bentes Marques. So Paulo: Editora Fiel, 2008.

    7. LUCAS, Sean Michael. O Cristo Presbisteriano Convices, Prticas e Hist-rias.Traduo: Elizabeth Gomes. So Paulo: Cultura, 2011,.

    8. MARTINS, Francisco. O Ofcio de Presbtero Origens, histria, evoluo e funes. So Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1970.

    9. MILLER, Samuel. O Presbtero Regente Natureza, Deveres e Qualificaes. Traduo: Marcos Vasconcelos, So Paulo: Os Puritanos, 2001.

    10. NASCIMENTO, Ado Carlos e MATOS, Alderi Souza de. O que todo Presbiteriano Inteli-gente deve Saber. So Paulo: Socep, 2007.

    11. REED, Kevin. Governo Bblico de Igreja. Traduo: Adelelmo Fialho. So Paulo: Os Purita-nos, 2002.

    12. SMALLING, Roger. As Distines Entre os Presbteros Docentes e Regentes. Traduo: Jo-o Ricardo Ferreira de Frana. So Raimundo Nonato Piau: Centro de Estudos Presbiteria-nos, 2011.

    13. VOS, Johannes Geerhardus. Catecismo Maior Comentado. Traduo: Marcos Vasconcelos. So Paulo: Editora Os Puritanos, 2007.

    14. WITHEROW, Thomas. A Igreja Apostlica Que significa Isto? Traduo: Francisco Car-doso. So Paulo: Os Puritanos, 2005.

  • Rev. Joo Ricardo Ferreira de Frana.

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    INFORMAES SOBRE O AUTOR:

    O autor Ministro da Palavra pela Igreja Presbiteriana do Bra-sil. Formado em Teologia Reformada pelo Seminrio Presbiteria-no do Norte (SPN) em Recife PE. Foi professor de lnguas b-blicas (Grego e Hebraico) no Seminrio Presbiteriano Fundamen-talista do Brasil (SPFB) em Recife - PE. o fundador do Centro de Estudos Presbiteriano. Atualmente pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Piripiri PI. casado com Gssica Arajo Soa-res Nascimento de Frana e tem um filho chamado Lucas Luis Nascimento de Frana.

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