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  • 8/4/2019 Pesquisa Tecnologia da Informao

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    Instituto de Economia da UFRJInstituto de Economia da UNICAMP

    Tecnologiasde Informao

    09Sistema Produtivo

    Perspectivas do Investimento em

    Verso Final para Editorao - Documento No Editorado

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    Aps longo perodo de imobilismo, a economia brasileira vinha apresentando rmes

    sinais de que o mais intenso ciclo de investimentos desde a dcada de 1970 estava

    em curso. Caso esse ciclo se conrmasse, o pas estaria diante de um quadro eeti-

    vamente novo, no qual nalmente poderiam ter lugar as transormaes estruturais

    requeridas para viabilizar um processo sustentado de desenvolvimento econmico.

    Com a ecloso da crise nanceira mundial em ns de 2008, esse quadro altamente

    avorvel no se conrmou, e novas perspectivas para o investimento na economia

    nacional se desenham no horizonte.

    Coordenado pelos Institutos de Eco nomia da UFRJ e da UNICAMP e realizado com o

    apoio nanceiro do BNDES, o Projeto PIB - Perspectiva do Investimento no Brasil tem

    como objetivos:

    Analisar as perspectivas do investimento na economia brasileira em um

    horizonte de mdio e longo prazo;

    Avaliar as oportunidades e ameaas expanso das atividades produtivas

    no pas; e

    Sugerir estratgias, diretrizes e instrumentos de poltica industrial que

    possam auxiliar na construo dos caminhos para o desenvolvimento

    produtivo nacional.

    Em seu escopo, a pesquisa abrange trs grandes blocos de investimento, desdobrados

    em 12 sistemas produtivos, e incorpora refexes sobre oito temas transversais, con-

    orme detalhado no quadro abaixo.

    ESTUDOS TRANSVERSAIS

    Estrutura de Proteo EetivaMatriz de Capital

    Emprego e Renda

    Qualicao do Trabalho

    Produtividade, Competitividade e Inovao

    Dimenso Regional

    Poltica Industrial nos BRICs

    Mercosul e Amrica Latina

    ECONOMIA

    BRASILEIRA

    BLOCO SISTEMAS PRODUTIVOS

    INFRAESTRUTURA EnergiaComplexo UrbanoTransporte

    PRODUO AgronegcioInsumos BsicosBens SalrioMecnicaEletrnica

    ECONOMIA DOCONHECIMENTO

    TICsCulturaSadeCincia

    Verso Final para Editorao - Documento No Editorado

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    COORDENAO GERAL

    Coordenao Geral - David Kupfer (IE-UFRJ)

    Coordenao Geral Adjunta - Mariano Laplane (IE-UNICAMP)

    Coordenao Executiva - Edmar de Almeida (IE-UFRJ)

    Coordenao Executiva Adjunta - Clio Hiratuka (IE-UNICAMP)

    Gerncia Administrativa - Carolina Dias (PUC-Rio)

    Coordenao de BlocoInra-Estrutura - Helder Queiroz (IE-UFRJ)

    Produo - Fernando Sarti (IE-UNICAMP)

    Economia do Conhecimento - Jos Eduardo Cassiolato (IE-UFRJ)

    Coordenao dos Estudos de Sistemas Produtivos

    Energia Ronaldo Bicalho (IE-UFRJ)

    Transporte Saul Quadros (CENTRAN)

    Complexo Urbano Cludio Schller Maciel (IE-UNICAMP)

    Agronegcio - John Wilkinson (CPDA-UFFRJ)

    Insumos Bsicos - Frederico Rocha (IE-UFRJ)

    Bens Salrio - Renato Garcia (POLI-USP)

    Mecnica - Rodrigo Sabbatini (IE-UNICAMP)

    Eletrnica Srgio Bampi (INF-UFRGS)

    TICs- Paulo Tigre (IE-UFRJ)

    Cultura - Paulo F. Cavalcanti (UFPB)

    Sade - Carlos Gadelha (ENSP-FIOCRUZ)

    Cincia - Eduardo Motta Albuquerque (CEDEPLAR-UFMG)

    Coordenao dos Estudos Transversais

    Estrutura de Proteo Marta Castilho (PPGE-UFF)

    Matriz de Capital Fabio Freitas (IE-UFRJ)

    Estrutura do Emprego e Renda Paul Baltar (IE-UNICAMP)

    Qualifcao do Trabalho Joo Sabia (IE-UFRJ)

    Produtividade e Inovao Jorge Britto (PPGE-UFF)

    Dimenso Regional Mauro Borges (CEDEPLAR-UFMG)

    Poltica Industrial nos BRICs Gustavo Brito (CEDEPLAR-UFMG)

    Mercosul e Amrica Latina Simone de Deos (IE-UNICAMP)

    Coordenao TcnicaInstituto de Economia da UFRJ

    Instituto de Economia da UNICAMP

    APOIO FINANCEIROREALIZAO

    Este trabalho realizado com recursos do Fundo de Estruturao de Projetos do BNDES (FEP). O contedo dos

    estudos e pesquisas de exclusiva responsabilidade dos autores, no refletindo, necessariamente, a opinio do

    BNDES. Informaes sobre o FEP esto disponveis em http://www.bndes.gov.br

    Verso Final para Editorao - Documento No Editorado

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    Verso Final para Editorao Documento No Editorado

    Este relatrio est em fase de editorao no formato de livro. Para fazercitao ou referncia a este material:

    TIGRE, P. (Coord.) Perspectivas do investimento em tecnologias de informaoe comunicao. Rio de Janeiro: UFRJ, Instituto de Economia, 2008/2009. 207 p.Relatrio integrante da pesquisa Perspectivas do Investimento no Brasil, em

    parceria com o Instituto de Economia da UNICAMP, financiada pelo BNDES.Disponvel em: http://www.projetopib.org/?p=documentos . Acesso em 10 out.2009.

    FICHA CATALOGRFICA

    P467 Perspectivas do investimento em tecnologias de informao ecomunicao / coordenador Paulo Bastos Tigre; equipe MarioRiper... [et al.] Rio de Janeiro: UFRJ, 2008/2009.207 p.: 30 cm.

    Bibliografia: p. 200-203.Relatrio final do estudo do sistema produtivo Tecnologia de

    Informao e Comunicao, integrante da pesquisa Perspectivas doInvestimento no Brasil, realizada pelo Instituto de Economia daUniversidade Federal do Rio de Janeiro em convnio com o Institutode Economia da Universidade Estadual de Campinas, em 2008/2009,financiada pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econmico eSocial.

    1. Tecnologia da informao Investimentos. 2. Comunicao

    Tecnologias. 3. Economia industrial. 4. Relatrio de pesquisa(UFRJ/UNICAMP/BNDES). I. Tigre, Paulo Bastos. II. Ripper, Mario.III. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de Economia.IV. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Economia. V.Perspectivas do investimento no Brasil: relatrio de pesquisa.

    CDD 303.4833

    http://www.projetopib.org/?p=documentoshttp://www.projetopib.org/?p=documentos
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    VERSO FINAL PARA EDITORAO DOCUMENTO NO EDITORADO

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    PROJETO PERSPECTIVAS DO INVESTIMENTO NO BRASIL

    BLOCO: ECONOMIA DO CONHECIMENTO

    SISTEMA PRODUTIVO:

    UUUTECNOLOGIAS DA INFORMAO E

    COMUNICAO

    Coordenador:

    Prof. Dr. Paulo Bastos Tigre (IE/ UFRJ)

    Equipe:

    Mario Dias Ripper (Consultor)

    Ricardo Miyashita (UERJ)

    Jos Eduardo Roselino (UNISAL e Facamp)

    Antonio Carlos Diegues (Doutorando em Economia - IE/ Unicamp)

    Fabiano Silvestre Bellati (Mestrando em Administrao UNISAL)

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    SUMARIO

    Introduo

    Captulo 1 - Dinmica dos investimentos no mundo e no Brasil

    1. Desafios e oportunidades associados s mudanas tecnolgicas1.1. Desafios e oportunidades associados s mudanas nos padres de

    concorrncias e regulao

    1.2. Desafios e oportunidades associados s mudanas nos padres dedemanda mundial e nacional.

    Captulo 2 Dinmica dos investimentos no setor de servios detelecomunicaes

    1. A dinmica global do investimento

    2. A dinmica do mercado de servios de telecomunicaes no Brasil

    3. Foras motrizes do cenrio brasileiro e seus impactos no setor serviosde telecomunicaes

    4. Proposio de polticas

    Captulo 3 Dinmica dos investimentos no setor de software e servios deinformao no Brasil

    1. Dinmica global do investimento

    2. Panorama da Indstria Brasileira de Software: Dimenso, Porte eInsero Externa

    3. Tendncias do Investimento no Brasil

    4. Perspectivas de Mdio e Longo Prazos para os Investimentos naIndstria Brasileira de Software

    5. Propostas de polticas setoriais

    Captulo 4 Cenrios e Polticas para o desenvolvimento do sistema produtivo

    estudado.1. Foras motrizes do Cenrio Brasileiro e seus impactos no Setor de TICs

    2. Cenrio Possvel em Mdio Prazo (2012)

    3. Cenrio Desejvel em Longo Prazo (2022)

    4. Polticas Pblicas

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    0B0B0BIntroduo

    As tecnologias da informao e da comunicao (TIC), alm de

    constiturem um setor de crescente importncia econmica, representam uma

    tecnologia genrica de grande importncia para toda a economia. Para asempresas e organizaes, as TIC abrem novas trajetrias de inovaes

    organizacionais, caracterizadas pelo desenvolvimento de modelos de gesto

    mais intensivos em informao e conhecimento. A possibilidade de integrar

    cadeias globais de suprimentos, aproximar fornecedores e usurios e acessar

    informaes online em multimdia onde quer que elas se encontrem

    armazenadas, alimenta o desenvolvimento de uma nova infra-estrutura, o

    aumento da produtividade e a criao de novos modelos de negcios

    intensivos em conhecimento. As TIC constituem no apenas uma nova

    indstria, mas o ncleo dinmico de uma revoluo tecnolgica. Ao contrrio

    de muitas tecnologias que so especficas de processos particulares, as

    inovaes derivadas de seu uso tm a caracterstica de permear,

    potencialmente, todo o tecido produtivo.

    Os dois segmentos das TIC analisados neste estudo software e

    servios de telecomunicaes - embora sejam economicamenteindependentes, mantm grande influencia recproca. Por um lado, os servios

    de telecomunicao constituem a infra-estrutura essencial para o

    desenvolvimento da indstria global de software e servios. Por outro, o

    segmento de software representa uma das principais fontes de inovaes para

    servios de telecomunicaes. Apesar da mtua influncia, os dois setores

    apresentam uma dinmica distinta em relao ao investimento: enquanto o

    setor de telecomunicaes intensivo em capital e caracterizado por grandes

    empresas de infra-estrutura e servios, o segmento de software intensivo em

    recursos humanos qualificados, apresenta uma estrutura industrial mais

    heterognea e no requer grandes investimentos em capital.

    As perspectivas de investimentos para os dois setores no Brasil sero

    analisados com base em suas caractersticas especficas. No segmento de

    software, ser dada nfase as oportunidades para exportaes, modernizao

    da economia, desenvolvimento social e consolidao da indstria de capital

    nacional. Outro foco importante a anlise das tendncias tecnolgicas e suas

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    implicaes para a evoluo do setor, que est gradativamente se movendo de

    produtos para servios, abrindo novas oportunidades de insero internacional

    e gerao de empregos.

    J o setor de servios de telecomunicaes vem sendo fortementeafetado pela convergncia das mdias que permite que empresas operadoras

    atuem nas reas de telefonia (fixa e mvel), banda larga e TV utilizando a

    mesma infra-estrutura. Tal fato tem implicaes regulatrias importantes que

    somente agora esto sendo solucionadas. O setor vem se globalizando e

    regionalizando rapidamente e a dinmica concorrencial fortemente apoiada

    nas inovaes tecnolgicas que permitem o lanamento de novos produtos e

    servios.Diante da crise econmica internacional, as TICs constituem uma

    ferramenta para acelerar a transio do Brasil para um estgio de maior

    desenvolvimento e insero na economia global. No primeiro trimestre de 2009,

    o crescimento da base de computadores, celulares e acessos a Internet

    aumentaram 9,3% em relao ao mesmo perodo do ano anterior. Outro dado

    revelador que tais tecnologias esto deixando de ser utilizadas apenas nas

    grandes cidades e nas regies Sul e Sudeste. Em 2008, segundo o ComitGestor da Internet no Brasil, 10% dos domiclios do Nordeste e 13% da regio

    Norte j contavam com computador de mesa, contra 8,38% e 9,97% em 2006

    respectivamente. No Sudeste, em contraste, o nmero de residncias com

    computador aumentou de 23,83% para 31% no mesmo perodo, indicando que

    a desigualdade no est se reduzindo. Portanto, o ritmo de incluso digital

    ainda precisa ser drasticamente melhorado.

    Da mesma forma, existem grandes desafios para ampliar a formao derecursos humanos, difundir o acesso banda larga, desenvolver a indstria local

    e ampliar o uso das TICs na economia. Apesar dos grandes desafios

    defrontados, os negcios de tecnologias da informao no pas esto

    avanando em uma velocidade muito mais rpida do que nos Estados Unidos,

    Europa e Amrica Latina.

    O estudo est dividido em quatro captulos. O captulo 1 apresenta

    dinmica dos investimentos no mundo e no Brasil enfatizando os desafios eoportunidades associados s mudanas tecnolgicas, nos padres de

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    concorrncias e regulao e nos desafios e oportunidades associadas a estas

    mudanas. Os captulos 2 e 3 analisam detalhadamente os dois segmentos de

    servios estudados: telecomunicaes e software. Por fim, o captulo 4

    apresenta os cenrios desejveis de longo prazo e apresenta sugestes de

    polticas.

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    1B1B1BCaptulo 1

    2B2B2BDinmica dos investimentos no mundo e no Brasil

    3B3B3B1.1. Desafios e oportunidades associados s mudanas

    tecnolgicas

    As tecnologias da informao e da comunicao (TIC) praticamente se

    reinventam a cada dcada, no rastro da difuso de um conjunto interligado de

    inovaes em componentes e sistemas. Novas tecnologias frequentemente

    do origem a novos mercados e empresas lderes destruindo, ao mesmo

    tempo, atividades existentes em um processo tpico de destruio criadoraFFF

    1FFF

    .O desenvolvimento do microprocessador, no final dos anos 70 representou o

    fim do oligoplio global no mercado dos computadores mainframes, abrindo

    caminho para novas empresas de hardware e software para

    microcomputadores. A Internet, nos anos 90, provocou ruptura radical no

    mercado global de informtica e comunicao ao viabilizar a convergncia de

    servios. Apesar dos avanos contnuos, as TICs ainda esto longe de se

    tornarem uma tecnologia madura, podendo evoluir tanto em inovaes

    incrementais quanto radicais. Tais mudanas abrem grandes desafios e

    oportunidades no s para o prprio setor, mas tambm para toda a economia,

    devido pervasividade da aplicao das TICs.

    Nesta sesso vamos rever as principais mudanas tecnolgicas em

    curso nos setores de software e servios de telecomunicaes e discutir seus

    principais desafios e oportunidades para o Brasil. Inicialmente sero revistas

    tendncias comuns aos dois segmentos das TICs estudados, destacado o

    processo de convergncia tecnolgica, as tendncias a cooperao e alianas

    estratgicas e de agregao de contedo e servios aos produtos. Em seguida

    sero sumarizadas as principais mudanas tecnolgicas em cursos nos dois

    segmentos.

    1 Termo popularizado por Joseph Schumpeter.

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    10B10B10B1.1.1. Convergncia tecnolgica

    A digitalizao da informao e o desenvolvimento de padres

    universais de comunicao vm permitindo a convergncia tecnolgica, que

    pode ser definida como um processo pelo qual as telecomunicaes,tecnologias da informao e mdia, setores que originalmente operavam de

    forma independente um do outro, passaram a crescer de forma conjunta. Tal

    processo de j vem ocorrendo h vrios anos e dever se acelerar no futuro,

    graas combinao de inovaes em distintas reas do conhecimento. A

    possibilidade de incorporar dispositivos eletrnicos na maioria dos produtos e

    integr-los ao mundo digital resulta no rompimento dos limites tcnicos,

    regulatrios e mercadolgicos que separam os diferentes segmentos daindstria.

    A convergncia ocorre tanto na infra-estrutura de telecomunicaes

    quanto nos servios. A infra-estrutura de telecomunicaes vem sendo

    desenvolvida de forma a suportar o trfego de qualquer informao digitalizada,

    unificando redes de cabos, satlites e novos tipos de tecnologias sem fio. Por

    meio de uma infra-estrutura comum, a convergncia viabiliza uma ampla

    difuso de equipamentos e servios relacionados portabilidade,entretenimento e comunicao. Os servios tambm tendem a convergir e a

    ganhar mais importncia em sua associao com produtos. A TV digital

    interativa constitui um bom exemplo de integrao de servios. Por meio da

    mudana do sinal analgico para o digital, um sistema inicialmente projetado

    para transmitir apenas imagens unidirecionais agrega funes de servios

    interativos como comrcio eletrnico e informao sob demanda. Apesar dos

    avanos, ainda nos encontramos no incio de um processo de convergncia

    tecnolgica que poder incorporar, alm das TICs, novas reas do

    conhecimento como a nanotecnologia, cincias cognitivas e cincias

    biolgicas.

    A convergncia vem sendo alimentada pelas estratgias de inovao

    adotadas pelas empresas de TICs, que buscam combinar itens tecnolgicos

    distintos para desenvolver novos produtos e servios e criar novos mercados.

    O aperfeioamento integrado de tecnologias distintas permite que terminaisadquiram novas funcionalidades e promovam a convergncia de mercados. A

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    integrao entre diferentes tecnologias promove a emergncia de novos

    produtos que combinam hardware e software de computadores, eletrnica de

    consumo e telecomunicaes. A competio passa a ser mais intensa, na

    medida em que a maioria dos fornecedores de equipamentos passa a disputar

    o mesmo mercado. A possibilidade de combinar componentes e aplicaes de

    diferentes formas quebram barreiras e unificam mercados estanques, por meio

    da interconexo de funes.

    Uma importante conseqncia deste processo a substituio de

    tecnologias existentes. Ao penetrar rapidamente em vrios tipos de aplicao,

    as inovaes vm tornando obsoletas uma ampla gama de tecnologias

    existentes. Os ciclos de vida de produtos e servios esto se tornando cadavez mais curtos, aumentando a rapidez com que so difundidos e

    descontinuados.

    As mudanas tecnolgicas nas TICs geram importantes desafios e

    oportunidades para as empresas do setor. Do ponto de vista da concorrncia, a

    principal conseqncia a concorrncia cruzada e a intensificao das

    alianas estratgicas entre empresas em busca de acesso a ativos

    complementares e sinergias. As alianas entre empresas vo se tornar mais

    importantes porque empresas isoladas no conseguem atender a demanda por

    diversificao e integrao de tecnologias e precisam complementar sua oferta

    de produtos e servios, como veremos a seguir.

    11B11B11B1.1.2. Cooperao e alianas estratgicas

    A convergncia tecnolgica vem dando origem a novas relaes

    competitivas entre empresas anteriormente no relacionadas, afetando

    provedores de servios e fabricantes de equipamentos de telecomunicaes,

    informtica e produtos eletrnicos de consumo.

    Muitas reas da tecnologia esto se movendo para estruturas mais

    cooperativas que tem como foco atender novas demandas do mercado,

    aumentar a flexibilidade e obter custos competitivos ao longo da cadeia de

    valor. Por meio da combinao de esforos de P&D e da eliminao deduplicaes, pode-se chegar mais rapidamente a solues com menores

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    custos e maiores possibilidades de xito no mercado. A colaborao permite o

    acesso a capacitaes tecnolgicas no disponveis internamente nas

    empresas.

    Um exemplo de cooperao em longo prazo o desenvolvimento

    conjunto pela Sony, Toshiba e IBM de Cell processorse high-count multi-core

    chips. Os novos processadores sero usados em supercomputadores, jogos e

    novas aplicaes a serem desenvolvidas. Alm de reunir competncias em

    hardware e software e dividir custos, os projetos colaborativos visam aumentar

    as chances de xito comercial das novas tecnologias por meio do compromisso

    de adoo por grandes empresas com efetivo poder de mercado.

    12B12B12B1.1.3. Agregao de contedo e servios aos produtos.

    Uma das tendncias de longo prazo nas TICs a crescente importncia

    dos softwares e servios, em detrimento do custo dos equipamentos e

    instalaes fsicas. A substituio da lgica comercial tradicional de vender

    produtos com servios para um novo foco em servios com produtos uma

    tendncia extensiva a outros setores da economia, mas que nas TICs

    apresentam um potencial relativamente maior, em funo de suascaractersticas tcnicas. Nos prximos 10 anos espera-se um grande aumento

    da participao relativa da rea de software e servios no s na receita das

    empresas de telecomunicaes, mas tambm em fabricantes de

    equipamentos. Em essncia, trata-se de um processo de fuso da tecnologia

    com novas formas de organizao e modelos de negcios, configurando uma

    mudana da viso tradicional centrada na tecnologia para uma viso holstica

    que engloba tanto a tecnologia quanto suas aplicaes no mundo dosnegcios

    FFF

    2FFF. Embora o principal fator determinante desta tendncia seja o

    desenvolvimento tecnolgico das comunicaes, a incorporao de servios

    aos produtos requer capacitaes mltiplas em vrios ramos do conhecimento.

    Alguns casos concretos podem ilustrar o movimento de maior

    incorporao de servios aos produtos. Nas telecomunicaes, as receitas

    ainda so predominantemente de voz, mas observa-se uma migrao para

    2 Paulson, Linda. Service Science: A new field for todays economy.UUUComputer

    UUU, published by

    IEEE Computer Society. August 2006.

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    VERSO FINAL PARA EDITORAO DOCUMENTO NO EDITORADO

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    servios de conectividade que permitem a comunicao multimdia. No futuro

    prximo espera-se que a receita das empresas operadoras se desloque para

    servios interativos como governo eletrnico, servios financeiros, comrcio

    eletrnico, entretenimento, educao e telemedicina, conforme veremos no

    captulo 2.

    Empresas fabricantes de aparelhos celulares, PCs e media players

    pretendem lucrar mais oferecendo servios a seus usurios, como a compra de

    msicas, filmes, jogos, informaes, software, suporte avanado e mecanismos

    de busca do que propriamente pela venda de equipamentos. Iniciativas de

    grandes fabricantes de equipamentos e de software como Apple e Google

    apontam para essa direo. Ser importante criar mecanismos que tornemmais acessvel aos provedores de contedo se aproximar dos clientes, pela

    abertura das plataformas. Certamente haver um crescimento enorme nas

    reas ligadas criao de contedo digital.

    As oportunidades geradas pelas mudanas na demanda por servios,

    entretanto, contrabalanada pelos enormes desafios de competir em

    indstrias digitais onde o custo fixo dominado pela primeira cpia. Os

    produtos que podem ser digitalizados so caros de produzir, porm baratos dese reproduzir, ou seja, possuem altos custos fixos e baixos custos marginais.

    Por isso, ao contrario dos equipamentos, no e necessrio produzi-los, mas

    apenas difundi-los mediante cpias e licenas de uso. O desafio de competir

    com produes milionrias oriundas de pases avanados representa um

    imenso desafio para produtores de software-produto, filmes, msicas, jogos

    digitais, etc., j que os grandes distribuidores tendem a oferecer poucos ttulos

    no mercado. No mercado de jogos digitais, por exemplo, estima-se que menos

    de 2% dos programas desenvolvidos so efetivamente editados e distribudos

    no mercado. Por outro lado, a Internet abre novos canais de comercializao

    ao permitir que produtores independentes tenham acesso aos consumidores

    finais.

    Diante do complexo quadro concorrencial observado na indstria de

    pacotes de software, que induz a concentrao do mercado, as oportunidades

    para empresas brasileiras so mais evidentes na prestao de servios. Issoinclui o desenvolvimento de solues especficas para clientes, servios de

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    suporte a aplicao, integrao de sistemas ou terceirizao das operaes, da

    infra-estrutura, das comunicaes e das atividades de manuteno.

    1.1.4. Tendncias tecnolgicas nas telecomunicaes

    Os servios de telecomunicaes continuam a apresentar grande

    dinamismo tecnolgico dentro de uma trajetria cujos vetores so a

    convergncia de redes, a mobilidade e a banda larga. A convergncia entre

    redes, que tem por base o protocolo IP, vem permitindo avanos em novas

    tecnologias sem fio em banda larga (WIMAX e 3 G) e por fibra tica (FTTH e

    NGN). Tais avanos permitem, por sua vez, o desenvolvimento de novos

    servios mveis de comunicao em alta velocidade.

    O WIMAX (Worldwide Interoperability for Microwave Access) uma

    tecnologia de comunicao que proporciona transmisso de dados sem fio

    utilizando vrios modos de transmisso, desde elos ponto-multiponto at

    acesso mvel a Internet. A tecnologia baseada em padres que permitem a

    transmisso em banda larga sem fio para a ltima milha, como alternativa ao

    cabo tico e DSL.

    A tecnologia WIMAX uma evoluo do WLL (wireless local loop) que

    foi introduzida no Brasil pelas empresas autorizadas no incio da dcada. As

    limitaes apresentadas inicialmente por esta tecnologia (transmitia apenas

    voz) limitaram o xito comercial das chamadas empresas espelho que

    deveriam competir com as concessionrias de telefonia fixa. O WIMAX,

    entretanto, renovou as possibilidades de competio principalmente em regies

    que ainda no dispem de infra-estrutura de banda larga. Em pases menos

    desenvolvidos, onde a telefonia fixa no era muito difundida, a tecnologia

    celular tornou-se uma alternativa mais interessante devido aos baixos

    investimentos iniciais de implantao da rede. No Brasil, a rede fsica atinge

    menos de 50% da populao e a expanso do acesso se d

    preponderantemente pelo celular.

    A tecnologia 3G a terceira gerao de padres tecnolgicos da

    International Telecommunication Union (ITU) para redes mveis. Permite que

    operadores de rede ofeream uma gama mais ampla de servios avanados

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    por meio de uma maior eficincia do uso do espectro de freqncias. A

    tecnologia dever evoluir em uma trajetria de longo prazo definida como

    3GPP (ou super-3G) cujo objetivo reduzir custos para operadores e usurios,

    e melhorar a qualidade dos servios por meio do aumento da cobertura, da

    velocidade de transmisso e da capacidade do sistema. A trajetria evolui da

    atual busca por confiabilidade para se concentrar em solues para o aumento

    da capacidade e menos interferncias (mais segurana) para finalmente se

    concentrar no aumento da inteligncia do sistema (ver Tabela 1).

    Tabela 1: Evoluo tecnolgica da tecnologia 3G

    Gerao 3G Evoluo do 3G Aps 3G FuturoIntroduo

    nomercado

    2003/4 2005~2010 2012~2015 2015~202

    0

    Padres WCDMA

    HSPA/HSPA+/LTE

    IMT-Advanced

    Alm doIMT-Adv

    Velocidade

    384kbit/s

    14/42/65~250Mbit/s

    1Gbit/s >10Gbit/s

    Largurade banda

    5MHz 5MHz/20MHz 20~100MHz

    >100MHz

    Paradigma

    Altaconfiabilidade(maior

    qualidade)

    Alta capacidade(maior velocidade)

    Menosinterferncia

    Altainteligncia

    Mtodo Diversidadeespacial

    Multiplexao espacial Cancelamentoespacial

    Ambienteinteligente

    Fonte: elaborao prpria

    Com relao as tecnologia que utilizam cabos, podemos destacar a

    emergncia do FTTH (Fiber to the Home) que leva a fibra diretamente ao

    usurio final por meio da tecnologia de rede tica passiva.

    O desenvolvimento da banda larga com ou sem fio vem permitindo um

    notvel avano nas aplicaes, abrindo caminho para provedores de servios

    multimdia como udio e vdeo, teleconferncia, jogos interativos e telefonia de

    voz sobre IP (VoIP). Sistemas avanados de acesso a banda larga como o

    FTTH e VDSL (very high data rate digital subscriber loop), permitem aplicaes

    como TV de alta definio (HDTV) e vdeo sob demanda (VoD). Na medida em

    que o mercado de banda larga continue a evoluir, novas aplicaes devero

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    surgir, sendo muito difcil prever quais sero efetivamente bem sucedidas no

    mercado.

    O avano da banda larga sem fio est transformando os aparelhos

    celulares em dispositivos universais com acesso a mltiplos servios. Hoje,

    existem 3,3 bilhes de assinantes de celular no mundo e estima-se que em

    cinco anos ser incorporado mais um bilho de assinantes. Estima-se tambm

    que o acesso banda larga pelo celular ser bastante mais significativo do que

    por meio da rede fixa. Alm da incorporao de novas funes media center,

    TV digital, cmeras os fabricantes de celulares comeam a investir em

    servios interativos e de entretenimento.

    Os servios triple play (oferta conjunta de televiso, telefone e internet

    por um mesmo canal), por exemplo, ensejam disputa, mas tambm cooperao

    entre empresas de telecomunicaes, fornecedores de software, fabricantes de

    equipamentos e provedores de contedo. Campos tecnolgicos importantes

    para o futuro prximo da economia digital, a exemplo da transmisso,

    compresso de sinal, redes, interao homem-mquina, inteligncia artificial,

    segurana e contedos dificilmente podem ser dominados por uma nica

    empresa, tornando as alianas cada vez mais importantes.

    1.1.5. Tendncias tecnolgicas em software

    Apesar do conceito de software como um componente distinguvel de

    um sistema computacional existir desde os anos 1950 com o advento da

    arquitetura de Von Neumann, os programas permaneceram intimamente ligado

    ao hardware. O desenvolvimento de uma indstria de software nos Estados

    Unidos s comeou realmente quando os computadores passaram a ser

    produzidos em grandes quantidades. A adoo generalizada de plataformas de

    linguagens de programao padronizadas como COBOL e Fortran contriburam

    para o crescimento da produo de software por parte dos prprios usurios.

    Ao final dos anos 60 os produtores de computadores passaram a desembutir

    suas ofertas separando o preo e a distribuio do software, fato que estimulou

    a entrada de produtores independentes de programas aplicveis a

    computadores de grande porte (Andrade et al, 2007).

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    Com o desenvolvimento dos microprocessadores multiplicou-se a oferta,

    a custos declinantes, da capacidade de armazenamento, processamento e

    transmisso de informao digitalizada, permitindo sustentar uma crescente

    expanso das aplicaes de bens da informao. A rpida difuso de PCs,

    principalmente nos Estados Unidos, permitiu o surgimento de padres

    dominantes na arquitetura dos computadores, criando o primeiro mercado de

    software padronizado.

    A indstria de software naturalmente segmentada entre produtos e

    servios, embora possa haver uma combinao entre as duas modalidades. O

    software-produto uma aplicao preparada previamente que serve a um

    conjunto amplo de clientes. A competitividade neste segmento definida pelacapacidade de desenvolvimento tcnico e de comercializao de produtos em

    massa. O investimento necessrio para desenvolver e lanar o pacote

    elevado e o retorno depende de sua efetiva aceitao pelo mercado. O

    software produto se diferencia dos servios de software em funo de suas

    caractersticas concorrenciais, pois envolve ganhos crescentes de escala.

    Como veremos no captulo 3, o desenvolvimento de software pacote envolve,

    de modo geral, uma menor interao entre a empresa de software e o potencial

    demandante,

    Uma forma de visualizar as tendncias nas TICs imaginar que toda a

    infra-estrutura e informao disponvel estaro em uma nuvem composta por

    uma infra-estrutura global que inclui redes de comunicao, provedores de

    Internet, centros de armazenamento e processamento de dados. Para que esta

    nuvem possa ser acessada e manipulada, necessria uma ampla gama de

    aplicativos (softwares), ferramentas de busca e formatao de contedo. O

    protocolo Internet (IP) constitui a linguagem universal que permite a

    padronizao dos pacotes de diferentes mdias e comporta o trfego indistinto

    de voz, dados e imagens. Produtos devero ganhar cdigos identificveis por

    radio freqncia, permitindo sua identificao, transporte e integrao. Tal

    infra-estrutura acessada por terminais como PC e dispositivos mveis que

    conectam a nuvem ao ser humano.

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    Figura 1: Computao em Nuvem

    A tendncia a computao em nuvem pode ser observada nos

    esforos de empresas como Google, Amazon e Microsoft em investirem em

    solues de computao distribuda, utilizando servidores prprios ou de

    terceiros, remunerados por ceder parte da sua capacidade de processamento e

    de armazenamento de dados. Muitos desses servidores estaro distribudos

    geograficamente, gerando mais necessidade de interligao.

    1.2. Desafios e oportunidades associados s mudanas nos padres

    de concorrncias e regulao.

    1.2.1. Telecomunicaes

    O padro de concorrncia no setor de servios de telecomunicaes

    diretamente afetado pelas normas estabelecidas pelas agncias regulatrias. A

    legislao busca fundamentalmente estimular a competio entre operadoras e

    garantir a universalizao dos servios, incorporando regies isoladas e

    populaes de baixa renda. Diante de um processo acelerado de convergncia

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    tecnolgica, necessrio atualizar sistematicamente o conjunto de regras

    aplicadas ao setor.

    Tradicionalmente, os servios de telecomunicaes se caracterizam

    como monoplio natural, j que a forma mais econmica de prestao deservios reside em uma rede nica e integrada de cabos. A economia das

    redes de telecomunicaes est associada ao seu potencial para gerao de

    economias de escala e escopo. Novos usurios adicionam valor em proporo

    muito superior ao aumento de custos porque os custos fixos de implantao de

    uma rede so altos, mas os custos marginais de adicionar novos clientes so

    relativamente baixos. Os efeitos de rede do origem ao feedback positivo, um

    processo que fortalece ainda mais as operadoras que se tornaram dominantesno mercado.

    Na telefonia fixa, o monoplio natural continua sendo, em todo o mundo,

    um fator que desafia as iniciativas das agencias reguladoras visando o

    aumento da competio. No Brasil, aps mais de dez anos de abertura do

    mercado, as empresas concessionrias continuam dominando amplamente

    seus mercados de origem. A duplicao do acesso ao usurio final via cabo

    continua sendo um investimento pouco atrativo para novos entrantes, a no serquando combinado a servios de TV e banda larga que proporcionem

    economias de escopo, a exemplo do triple play. A difuso de TV a cabo no

    Brasil, entretanto, ainda restrita a poucas grandes cidades.

    A concentrao do mercado de telefonia fixa acaba por restringir o

    crescimento de operadores independentes de outros servios de

    telecomunicaes, em funo do alto custo de acesso ao cliente final. O

    monoplio da ltima milha funciona como uma barreira, apesar da orientaodos rgos reguladores em garantir acesso amplo s redes pblicas por meio

    do unbundling (compartilhamento). Isso significa que empresas

    concessionrias precisam necessariamente garantir o acesso de terceiros a

    suas redes, mediante a cobrana de tarifas imparciais que no inviabilizem os

    servios. Operadoras de longa distncia que necessitam acessar redes

    compartilhadas para chegar ao cliente final geralmente enfrentam problemas

    apelidados de 3D: deny (negao do servio), delay (demora) e degrade(degradao do sinal). Desta forma os donos das redes de ltima milha

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    favorecem seus prprios servios de longa distancia em detrimento de

    concorrentes.

    Como veremos no captulo 2, a ART, o rgo regulador Francs,

    introduziu uma poltica bem sucedida de compartilhamento unbundling. Nasregies mais densas e com maior atratividade econmica, o prprio mercado

    estimulou as operadoras concorrentes a construrem suas prprias infra-

    estruturas. J nas regies menos densas e zonas rurais, onde as perspectivas

    de retorno dos investimentos em redes so menores, as prefeituras tm

    contribudo expressivamente para a desagregao da rede local, por meio de

    parcerias pblico-privadas. Aproximadamente 40% dos acessos desagregados

    envolvem iniciativas pblicas.Diversas agncias reguladoras de pases europeus esto obrigando os

    operadores com poder de mercado significativo a oferecerem suas redes de

    dutos para os concorrentes, como forma de facilitar a concorrncia,

    principalmente na super banda larga (uso de fibra ptica na rede de acesso).

    O custo de instalao de uma rede ptica predominantemente fixo. Estima-se

    que de 50% a 70% do custo total se refere implantao da estrutura de dutos.

    Uma vez realizado o investimento, a tendncia seu proprietrio monopolizar oservio, a no ser que seja obrigado a compartilhar a rede com concorrentes.

    O desenvolvimento de uma infra-estrutura moderna de acesso fixo na

    maioria dos domiclios representa um desafio importante para os rgos

    reguladores. Em longo prazo (2022) a poltica de telecomunicaes tem como

    meta garantir pelo menos duas empresas proprietrias de infra-estruturas em

    todos os mercados competitivos. Onde isso no for possvel, dever haver pelo

    menos quatro empresas compartilhando a rede da empresa principal.

    Inovaes tecnolgicas vm abrindo oportunidades para ampliar a

    competio, mediante o desenvolvimento de redes alternativas sem fio,

    utilizando telefonia celular, satlites, microondas e TV digital aberta. As redes

    sem fio favorecem a competio porque exigem menores investimentos fixos

    em relao s redes fsicas. H, entretanto um limite econmico para o nmero

    de operadores em cada mercado regional. No Brasil, argumenta-se que no

    haveria espao para mais de trs ou quatro operadores de telefonia celular,dada a escala necessria para oferecer cobertura ampla e servios de

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    qualidade. Outros tipos de servios, entretanto, poderiam viabilizar o aumento

    do nmero de participantes no mercado.

    1.2.2. A questo regulatria do software e seus impactos na

    concorrncia.A questo regulatria na indstria de software no tem o mesmo peso

    observado no mercado de telecomunicaes, na medida em que as empresas

    do setor no requerem de autorizaes para operar. No entanto, a ao do

    governo pode influenciar o padro de concorrncia e o desenvolvimento de

    uma indstria local de uma forma mais indireta.

    A principal questo regulatria que afeta a indstria de software est

    relacionada ao regime de proteo propriedade intelectual, em funo desuas implicaes para o processo de inovao e difuso de novas tecnologias.

    Existe um trade-off entre o estmulo a inovao, por meio da proteo

    propriedade intelectual e o estmulo a difuso atravs da maior liberdade de

    circulao de tecnologias.

    Por um lado, assegurar uma forma de retorno aos investimentos no

    desenvolvimento de software importante para estimular os esforos de

    inovao tecnolgica. O valor de uma tecnologia depende das condies deapropriabilidade, ou seja, da possibilidade de se manter o controle monopolista

    sobre esta tecnologia por um determinado perodo de tempo. Tal controle

    geralmente exercido por meio da propriedade intelectual sobre bens imateriais,

    principalmente por meio de patentes ou direitos de autor. Uma tecnologia no

    protegida e facilmente imitvel leva os rendimentos monopolistas de uma

    inovao quase zero.

    Por outro lado, uma apropriao exclusiva e prolongada de direitos

    sobre inovaes pode restringir a difuso do conhecimento. Isso ocorre no

    apenas porque implicam em maiores custos para os usurios, mas

    principalmente pela pouca transparncia tcnica oferecida. O software

    proprietrio constitui uma caixa preta cujo cdigo fonte no est aberto a

    terceiros. Em conseqncia, h pouca troca de conhecimentos e insuficientes

    incentivos para o processo de aprendizado e aperfeioamento por parte dos

    usurios. As tecnologias proprietrias, quando bem sucedidas, constituem ummonoplio natural progressivamente reforado pelas economias de rede que

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    geram para seus usurios. Por meio do processo conhecido como feedback

    positivo(Shapiro e Varian, 1999) onde o mais forte fica cada vez mais forte, o

    proprietrio da tecnologia pode acabar exercendo um considervel poder de

    mercado. (Andrade et al, 2007)

    A guerra de padres tem sido uma das caractersticas mais marcantes

    de alguns segmentos da indstria eletrnica. Padres proprietrios bem

    sucedidos levam ao aprisionamento do cliente e conseqentemente criam

    poder de mercado, alimentando o feedbackpositivo, onde impera a lgica do

    vencedor leva tudo. Por isso, a guerra de padres ocorre com freqncia

    quando novas tecnologias so introduzidas, geralmente combinando grandes

    empresas em disputas acirradas para garantir o mximo de mercado possvelpara uma determinada tecnologia, assegurando assim sua viabilidade futura.

    Os mecanismos legais disponveis para a proteo de propriedade

    intelectual so a patente, o direito autoral, e num contexto mais restrito, existe

    tambm a proteo de marcas e smbolos de negcio, mediante o seu registro.

    Alm disso, so utilizadas formas tcnicas de proteo de forma a assegurar o

    segredo de negcio como autenticao digital, criptografia, controle de acesso,

    segregao de funes e auditoria de sistemas para proteger seus ativos.

    Freqentemente, um nico produto utiliza mais de uma destas formas de

    proteo.

    Direito de autor

    Tradicionalmente, o software protegido por copyrights. O acordo

    TRIPS da Organizao Mundial do Comrcio (OMC) referendou, em 1994, esta

    interpretao, dispondo no artigo 10 que "programas de computador, emcdigo fonte ou objeto, sero protegidos como obras literrias segundo a

    Conveno de Berna". O copyright o regime de proteo conferido

    especificamente s criaes literrias, artsticas e cientficas. Para a obteno

    de um registro de direito autoral necessrio apenas que o autor declare que o

    objeto constitui uma criao original e independente, sem necessidade de

    exame. Este registro confere ao autor o direito exclusivo de utilizar, fruir e

    dispor da obra literria, artstica ou cientfica, ou seja, basicamente, o deimpedir que terceiros copiem o que foi criado, sem o seu consentimento. O

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    registro do software opcional, j que o direito do autor nasce com a obra e,

    conseqentemente, no se aplica a uma concepo abstrata ou simples idia,

    mas sim a algo escrito, pintado ou esculpido, expressando uma idia, em uma

    forma concreta de criao. O registro de direito autoral protege tanto o cdigo-

    fonte quanto o cdigo-objeto (ou cdigo-executvel) relativo ao software. Tal

    proteo est relacionada forma de expresso da idia e no aplicao

    da idia que o software executa (Andrade et al, 2007).

    O copyright protege uma criao original de software garantindo ao

    criador um controle exclusivo, incluindo o direito de vender e licenciar o

    trabalho e excluindo outros de se apropriar, replicar e vender o programa sem

    permisso. O sistema de proteo no exclui a possibilidade de outros agentesdesenvolverem outros trabalhos semelhantes de forma independente baseado

    nas mesmas idias ou propsitos. O titular original pode tambm manter

    controle sobre trabalhos derivados tais como novas verses. O software

    geralmente licenciado a qualquer usurio, mas a licena pode conter termos e

    condies arbitrrias de uso, pagamento e disseminao, incluindo prazos,

    abrangncia da licena e formas de pagamento.

    No entanto, medida que o software efetivamente comanda todo o

    sistema computacional, levando-o a realizar mltiplas funes, fica claro que

    ele representa muito mais do que literalmente expresso pelo seu cdigo. Sob

    este argumento, as empresas de software incluam, na solicitao de registro

    de direito autoral, aspectos relacionados s funes executadas pelo

    programa. A tutela de direito autoral, por estar relacionada s criaes

    artsticas, cientficas e literrias, uma proteo de forma, de aspectos literais,

    no cabendo qualquer proteo a funcionalidades. Assim, tais artifcios foram

    negados judicialmente, posto que os aspectos funcionais no se enquadravam

    na categoria de direito autoral.

    Segundo o Manual Frascati (OCDE, 2002, p. 46), para um projeto de

    desenvolvimento de software ser classificado como Pesquisa e

    Desenvolvimento, sua consecuo deve depender de avanos tcnicos ou

    cientficos ou o objetivo deve ser a resoluo sistemtica de uma incertezacientfica ou tecnolgica. O uso de um software para uma nova aplicao ou

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    propsito no constitui necessariamente um avano. Desta forma, difcil

    identificar o que de fato uma inovao no setor. Valimaki (2005, p. 69) aponta

    que muitos renomados programadores no se reconhecem como inovadores,

    mas, sim, como autores. Estes comparam o desenvolvimento de um novo

    software escrita e afirmam que um novo software no descoberto, mas

    implementado. Neste contexto, o direito de autor constitui a forma mais

    adequada de propriedade intelectual para o software.

    Na tradio do direito autoral, a lei protege a forma de expresso de um

    programa, e no a sua idia ou utilidade. A interpretao corrente de que as

    telas e relatrios de um programa podem ser copiados sem violao dos

    direitos autorais; o que no pode ser copiado seu cdigo-fonte (Veiga, 1998).Tambm no constitui ofensa aos direitos do titular a ocorrncia de

    semelhanas de um programa a outro, quando se der por fora das

    caractersticas funcionais da aplicao, da observncia de preceitos normativos

    e tcnicos, ou de limitao de forma alternativa para a sua expresso. Existem

    ainda os casos de realizao de uma nica cpia de salvaguarda e da citao

    parcial para fins didticos que so explicitamente permitidos na lei. A lei exclui

    explicitamente os direitos morais do autor, exceto o direito de reivindicar apaternidade do programa e de se opor a qualquer modificao que possa

    prejudicar sua honra ou reputao. Alm disso, so reconhecidos como

    pertencentes, exclusivamente, ao empregador os direitos de propriedade de

    programas desenvolvidos sob o vnculo empregatcio. Para usufruto dos

    direitos de autor decorrentes do desenvolvimento de programas de

    computador, no h necessidade de nenhuma formalidade ou registro.

    Patentes envolvendo software

    As patentes relacionadas aos sistemas de controle dedicado, definidas

    como softwares embarcados sempre foram admitidas pelas instituies de

    registro de patentes. Programas de controle de equipamentos e sistemas como

    freio ABS em automveis, programas embutidos em telefones celulares e

    mquinas de lavar, no tem sido objeto de controvrsias relevantes. Porm,

    observa-se claramente que a maioria dos debates relativos a patenteabilidade

    das invenes implementadas por computador gira em torno do critrio, escopo

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    e forma de proteo em que devem ser concedidas patentes relacionadas a

    software cuja aplicao destina-se a computadores de aplicaes gerais, tais

    como o microcomputador pessoal (Andrade et al, 2007).

    J as patentes de mtodos de fazer negcios que usualmente

    incorporam software aplicativo comearam a concedidas em 1998. Apesar da

    excluso de programas para computador em si da proteo por patente estar

    contemplada no art. 52 da European Patent Convention(EPC), bem como nas

    legislaes nacionais, milhares de patentes tm sido concedidas pelo

    European Patent Office(EPO) e por alguns escritrios de estados membros da

    Unio Europia (UE). Nos Estados Unidos a concesso de patentes tem sido

    ainda mais liberal, tanto no processo de anlise quanto no escopo dasinovaes.

    As criaes envolvendo programas de computador eram consideradas

    uma extenso do pensamento, atos puramente mentais, que no se

    enquadram como invenes. Porm, com o intuito de forar uma proteo mais

    ampla, empresas de TIC passaram a submeter, sistematicamente, depsitos

    de pedidos de patente envolvendo programas de computador. Tal ao rendeu

    frutos, posto que hoje em dia algumas instituies envolvidas em PI j admitem

    que os programas de computador atribuam um carter tcnico ao objeto,

    deixando de ser considerado apenas um ato mental abstrato.

    As grandes empresas de software produto, que vendem pacotes

    padronizados, so as que mais pressionam os escritrios de Propriedade

    Intelectual por uma proteo mais abrangente. Elas procuram criar novas

    condies tcnicas e jurdicas para proteger seus produtos. Entretanto oscritrios de patenteabilidade para as invenes implementadas em computador

    no so claros e, em decorrncia disso, vem sendo interpretados de forma

    diferente nos diversos pases, gerando problemas comerciais transfronteiras.

    O advento da Internet facilitou ainda mais a distribuio e circulao do

    software, acentuando as caractersticas descritas por Lemos (2005) como res

    commune, isto , bens de todos e, ao mesmo tempo, bens de ningum. Evitar

    a circulao de cpias no autorizadas passou a ser mais difcil e a indstria de

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    23

    TIC tem se preocupado em criar novas formas de proteger seus ativos

    intangveis por meios jurdicos (patentes) e tcnicos (protees eletrnicas).

    A concesso de patentes de software pode resultar na concentrao do

    mercado. O poder de inovao da pequena empresa inibido pela patente j

    que o seu alto custo de obteno que varia de 10.000 nos EUA a quase

    50.000 na Europa aumenta o risco de serem excludas do mercado j que

    elas no tm condies de arcar com estes custos. Outra conseqncia das

    patentes de software seria o aumento nos pedidos de patente e

    conseqentemente, no tempo que elas levam para serem concedidas,

    aumentando assim a incerteza legal do sistema. As pequenas empresas no

    seriam capazes de competir em bases iguais com grandes corporaes quepossuem advogados especializados podendo requisitar centenas ou milhares

    de patentes anualmente e iniciar processos legais indiscriminadamente, como

    medida de intimidao.

    Outro argumento contra o patenteamento que produtos de software

    tendem a serem sistemas construdos a partir de vrios subsistemas pr-

    existentes. Permitir a patente destes componentes poderia implicar no

    pagamento simultneo de vrias licenas, de forma a poder comercializar um

    dado produto, resultando em um custo maior para a sociedade. Desta forma,

    as grandes empresas seriam favorecidas devido aos seus grandes portflios de

    patentes e, conseqentemente, poder de barganha para negociar licenas

    cruzadas entre si.

    Os opositores das patentes de software argumentam ainda que os

    bancos de dados utilizados pelos escritrios nacionais de patentes nocontemplam grande parte do estado da tcnica para softwares, dificultando

    significativamente o procedimento de exame de patente na aferio de

    novidade e no-obviedade. Em conseqncia, corre-se o risco de que

    softwares que j fazem parte do estado da tcnica sejam apropriados

    indevidamente por meio de patentes (Valimaki, 2005).

    A principal conseqncia dos desdobramentos do regime de propriedade

    intelectual em software que as oportunidades para o aprendizado e para o

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    desenvolvimento independente de software no Brasil residem no chamado

    software livre onde o padro compartilhado por diferentes usurios e

    fornecedores. Os padres abertos ou softwares livres vm sendo

    desenvolvidos de forma coletiva a partir do conceito de livre circulao do

    conhecimento. Os princpios bsicos do software livre so: (i) liberdade de

    expresso, (ii) livre acesso informao, (iii) carter coletivo do conhecimento

    e (iv) software como bem comum.

    O software livre pode ser copiado gratuitamente e modificado, desde que

    o desenvolvedor deixe-o aberto e disponvel para terceiros. Os softwares

    aplicativos podem ser registrados e vendidos, mas devem cumprir

    determinadas regras de abertura para evitar monoplios. O compartilhamentodo conhecimento tecnolgico permite distribuir melhor a alocao de recursos.

    A remunerao dos desenvolvedores de software livre no deriva apenas da

    venda de licenas de uso, mas reside principalmente nos servios prestados ao

    cliente, como a integrao e adaptao do programa as necessidades de

    diferentes usurios, treinamento e suporte tcnico.

    O sistema operacional livre mais conhecido o GNU/Linux desenvolvido

    coletivamente sob a coordenao Linus Torvald e tornado pblico e gratuito

    com apoio de uma rede que j atingiu mais de 150 mil colaboradores. Tais

    iniciativas permitem o compartilhamento dos cdigos fontes, favorecem a

    disseminao do conhecimento e facilita a entrada de novas empresas no

    mercado.

    Apesar das vantagens, o software livre se defronta com importantes

    barreiras para se difundir amplamente e superar os softwares proprietrios napreferncia dos usurios. Trs obstculos de natureza tcnica e econmica

    podem ser destacados:

    O primeiro reside no fato de no existir uma nica instituio que garanta

    sua evoluo em um sentido nico. Enquanto os padres proprietrios

    comandam redes hierarquizadas que asseguram a compatibilidade de seus

    licenciados, o software livre tende a evoluir em diferentes direes.

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    O segundo obstculo est relacionado as dificuldades da oferta. O uso

    de software livre vem aumentando, inclusive com a adeso de grandes

    empresas como a IBM e a Sun que j contam com uma base ampla de

    usurios e querem fugir de padres proprietrios sob os quais tem pouca

    influncia. No entanto, os modelos de negcios adotados por empresas

    menores no garantem a gerao de lucros consistentes. O sistema est

    evoluindo graas ampla rede de indivduos e no por meio da evoluo

    empresarial.

    O terceiro obstculo est associado aos custos de mudana do usurio.

    O aprisionamento do usurio a um padro ou modelo conseqncia dos

    custos de troca de um sistema para outro que podem ser evitados quando semantm o padro existente. A adeso a um novo padro requer investimento

    em ativos especficos visando assegurar a compatibilidade de partes, peas e

    equipamentos perifricos e a adaptao e treinamento do usurio em novos

    equipamentos e sistemas.

    Os custos de mudana para um novo padro tecnolgico costumam ser

    muito maiores do que aparentam, pois esto escondidos em necessidades que

    s aparecero depois. Por exemplo, o custo total de transio para um novo

    sistema integrado de gesto chega a ser onze vezes maior do que o custo das

    licenas de software. Isso ocorre em funo da necessidade de melhorar a

    infra-estrutura computacional, recorrer a consultorias para solucionar

    problemas de implantao, desenvolver programas de treinamento, converter

    programas legados, reestruturar os processos internos da empresa e suas

    interfaces com clientes e fornecedores.

    Em conseqncia, as diferentes esferas de governo tm um importante

    papel a cumprir na difuso de um regime mais aberto de acesso ao

    conhecimento em software. O uso preferencial de software livre pelo governo

    constitui um aspecto muito importante da poltica de reforo a concorrncia.

    Outras medidas so a definio de critrios mais rgidos para a concesso de

    patentes de software, tendo em vista limitar a excessiva restrio do acesso ao

    conhecimento.

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    1.2.3. Polticas de fortalecimento das empresas nacionais

    Outro aspecto importante para a mudana nos padres de concorrncia

    em funo de aes de instituies pblicas o Poltica de Desenvolvimento

    Produtivo que prev diversas aes na rea de software. A principal delas o

    fortalecimento das empresas nacionais por meio do financiamento a fuses e

    aquisies. Tal poltica parte do diagnstico que as empresas de capital

    nacional ainda so muito pequenas quando comparadas aos seus

    competidores globais. Por exemplo, enquanto que o faturamento das maiores

    empresas brasileiras de software no alcana U$ 500 milhes, as grandes

    empresas indianas faturam 10 vezes mais e as americanas atingem um

    faturamento de mais de 100 vezes este valor. O porte das empresas muitoimportante diante das oportunidades de auferir economias de escala e escopo.

    Uma poltica ativa de financiamento a fuses e aquisies entre empresas

    brasileiras de software j vem sendo desenvolvida pelo BNDES e poder

    resultar na formao de empresas brasileiras de porte internacional.

    Cabe lembrar que as empresas de software enfrentam grandes

    dificuldades de obter financiamentos junto a bancos privados, j que

    geralmente no dispem de ativos reais para dar em garantia. Os ativos destas

    empresas so intangveis, formados pelo capital humano, relacionamento com

    clientes e acervo de programas. O BNDES constitui uma das poucas fontes de

    financiamento disponveis, mas relativamente limitada em termos de valores.

    Nas comunicaes se observa uma iniciativa de criao de uma grande

    operadora nacional por meio de mudanas da regulao e financiamento

    pblico a fuso de empresas. Uma mudana recente no PGO permitiu a fusoda Oi e BrT, no mbito desta estratgia. Alm da mudana regulatria, o

    BNDES participa como acionista e financiador na nova empresa.

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    1.3. Desafios e oportunidades associados s mudanas nos padres

    de demanda mundial e nacional.

    1.3.1. Mudanas da demanda internacional e o crescimento dooutsourcing.

    Apesar da crise econmica atual, a demanda internacional por software

    e servios de telecomunicaes segue uma trajetria de crescimento, apoiada

    em inovaes tcnicas e organizacionais. Novos programas de computador,

    servios de banda larga mvel, e contedos digitais vm sofrendo menos os

    efeitos da crise, do que os equipamentos fsicos em si. Alm de enfrentar

    menor elasticidade da demanda, os servios de TIC ganham terreno em funo

    de mudanas no padro de demanda por tecnologia pelas empresas usurias.

    A principal rea de oportunidade associada s mudanas nos padres

    de demanda mundial reside na terceirizao (outsourcing) do desenvolvimento

    de software e servios baseados em tecnologias de informao e da

    comunicao. A terceirizao dos servios de TIC no um fenmeno novo na

    indstria em geral, nem mesmo na indstria de software. Ao contrrio, um

    movimento antigo, mas que apresenta especificidades neste momento, uma

    vez que tem aumentado a demanda pela gesto externa de reas, funes e

    atividades mais complexas nas empresas. As economias proporcionadas pela

    descentralizao so o principal elemento motor do processo de terceirizao.

    A literatura especializada mostra que a subcontratao dos servios vem

    sendo uma prtica cada vez mais utilizada pelas empresas que buscam

    especializao em suas competncias centrais (core competences),

    repassando a responsabilidade e a gesto das demais atividades para

    terceiros. O acirramento da concorrncia global, forando a busca por menores

    custos, maior produtividade e competitividade, um dos motivos mais

    importantes que explicam o crescimento dos contratos de terceirizao de tais

    tipos de servios. Por meio da terceirizao, servios esto migrando para

    pases distantes, que oferecem boa infra-estrutura e baixos custos de mo-de-

    obra qualificada. Isso permite inserir novos pases na oferta global de servios

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    de TI. A ndia lidera amplamente este processo, mas existem oportunidades

    para a diversificao de fornecedores, conforme veremos no captulo 3.

    Os avanos tecnolgicos permitem tambm a viabilizao de novos tipos

    de servios, no propriamente de TICs, mas que usam a mesma comohabilitadora da execuo das atividades. So os chamados Information

    Technology Enabled Services (ITES). Esses servios so providos de forma

    remota, com o auxlio de telecomunicaes e redes de dados (MATTO &

    WUNSCH, 2004; HYDER et al., 2004) FFF3FFF.

    Por outro lado, h diversos aspectos da terceirizao que representam

    um desafio para as empresas nacionais de software e servios de TIC que no

    tem porte adequado e reputao estabelecida no exterior para obter uma maiorinsero no mercado global. Fatores como confiabilidade no agente a ser

    contratado, capacitao, definio de critrios de propriedade intelectual dentre

    outros aspectos so fundamentais quando so terceirizadas atividades mais

    intensivas em conhecimento, envolvendo ativos especficos da empresa

    contratante. Isso explica a importncia das empresas multinacionais no

    mercado global de outsourcing.

    1.3.2. Mudanas na demanda nacional

    No Brasil, a distribuio de renda representa um importante entrave para

    a difuso das tecnologias da informao, principalmente de servios avanados

    de acesso a Internet. Segundo o IBGE (2008), 35,2% da populao tm acesso

    rede, mas observa-se uma grande concentrao em faixas de renda mais

    alta. Em 2007, apenas 6% dos entrevistados da classe A e 27% da classe B

    nunca haviam navegado na Internet. Entretanto, o percentual dos digitalmente

    excludos sobe para 53% na classe C e 83% na E.

    O acesso a servios de voz cresceu significativamente nos ltimos anos,

    em funo de novas tecnologias, reduo nos custos dos equipamentos e

    servios, aumento da oferta e melhoria na renda da populao mais pobre. O

    nmero de domiclios, no Brasil, com acesso a algum servio de telefonia em

    setembro de 2006 era de 74,5%, contra 30% h 10 anos. Atualmente o

    3 Tem-se, portanto, duas categorias de servios: os de TI (IT Services), que incluem osservios de software, e os servios habilitados por TI (ITES).

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    aumento da difuso se deve principalmente ao servio celular e 27,7% dos

    domiclios tm apenas telefonia mvel. A principal razo a do alto custo de

    uma assinatura de telefonia fixa, alm do compromisso mensal de dispndio

    que esse tipo de servio impe. Como veremos no captulo 2, outra motivao

    para o crescimento do acesso pelo celular a disponibilidade de servios

    convergentes (voz e dados) e o perfil demogrfico e social caracterizado por

    com famlias menores onde todos trabalham ou estudam e no sentem mais a

    necessidade de dispor de um servio fixo.

    Apesar da difuso dos celulares, os autores do estudo de

    telecomunicaes alertam sobre a baixa intensidade de uso no Brasil,

    apontando como causa o alto custo da ligao. E a ligao cara devido saltas taxas cobradas pelo valor de remunerao de uso de rede do SMP ou V-

    UM, que remunera uma prestadora de SMP, por unidade de tempo, pelo uso

    de sua rede. A reduo das tarifas de interconexo no fcil de ser feita, pois

    envolve a negociao entre operadoras, tanto de telefonia fixa quanto mvel,

    que vm nas altas taxas cobradas uma oportunidade de amortizar os

    investimentos de expanso da rede. provvel que este cenrio de altos

    preos se mantenha, com redues gradativas ao longo do tempo.

    Em sntese, o padro de demanda por TIC muito influenciado pelo

    custo dos servios e pela prpria renda da populao. H uma grande

    elasticidade tanto em relao ao preo quanto a renda. Todas as classes so

    fortes demandantes potenciais de servios de TIC. Porm, enquanto os mais

    favorecidos economicamente absorvem rapidamente as novidades do

    mercado, as classes de menor renda dependem da melhoria de sua renda e da

    queda nos custos dos servios para se integrar ao mundo digital. Cabe lembrar

    que a Internet constitui um dos principais cones da sociedade do sculo XXI e

    o bem de consumo mais desejado depois do automvel, segundo diferentes

    pesquisas. Levando em considerao o desempenho recente do setor no

    Brasil, podemos estimar que cada ponto percentual de crescimento do PIB leva

    a um crescimento do consumo de TICs de pelo menos o dobro.

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    1.3.3. Mudanas na demanda internacional

    Apesar do mercado de servios de TIC estar se internacionalizando

    rapidamente, as empresas brasileiras atuam pouco no exterior. As exportaes

    de software representam menos de 5% do faturamento das empresas do setor

    e esto muito concentradas em empresas multinacionais que praticam diviso

    de trabalho entre subsidirias.

    J em termos de servios de telecomunicaes, as empresas

    concessionrias atuam apenas localmente. A Nova Oi uma empresa de

    capital nacional que tem planos de atuar no exterior, principalmente na frica e

    Amrica Latina. A experincia de programas de universalizao e sistemas

    voltados ao atendimento de usurios de baixa renda pode servir como base

    tcnica para atuar nestes mercados. Para isso, a empresa precisaria de um

    backbone direto (isso sem passar por Europa / Estados Unidos) ligando o

    Brasil ao mercado africano latino-americano e asitico por fibra ptica. A

    internacionalizao do mercado de telecomunicaes constitui uma tendncia

    forte em longo prazo e a sobrevivncia das operadoras nacionais passa pela

    maior relao com parceiros e mercados no exterior.

    Para a Anatel, necessrio garantir pelo menos trs operadores com

    infra-estrutura mvel de alta capacidade em todo o territrio nacional. A

    competio depende fundamentalmente da forma de regulao da concesso

    de novas licenas, geralmente associadas explorao de novas freqncias e

    tecnologias a exemplo do 3G. A cada licitao de bandas de freqncia

    abrem-se novas oportunidades de entrada no mercado. A intensidade da

    competio entre operadoras tambm afetada por medidas regulatrias. Por

    exemplo, a obrigao de desbloqueio dos celulares permite que usurios

    tenham mais de um chip em seus aparelhos e selecionem a operadora a cada

    ligao. A portabilidade numrica, que permite que o usurio leve seu nmero

    de telefone ao mudar de operadora, outro exemplo importante. Tais regras

    reduzem o nvel de aprisionamento do cliente a um determinado operador,

    favorecendo a competio por preos. O monoplio natural d origem a

    oligoplios nacionais ou regionais respaldados por um regime de concesses

    que assegura certa estabilidade ao mercado.

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    Diante do quadro de convergncia tecnolgica, cresce a necessidade de

    atualizar e articular polticas pblicas de comunicaes. A situao atual da

    regulao adequada para os servios de voz, mas h necessidade de

    avanar a definio de polticas para novos servios como a banda larga e TV

    digital. A competio em servios de telecomunicaes tende a ser cada vez

    menos segmentada, j que as redes podem oferecer servios de voz, dados e

    TV utilizando a mesma infra-estrutura. A rapidez com que esta tendncia vai se

    consolidar depende na natureza e eficcia da regulao. No Brasil a

    concesses ainda so feitas de forma segmentada, segundo a tecnologia e o

    segmento explorado. As concesses ainda so separadas para telefonia fixa,

    celular, radio e TV, mas existe no Congresso Nacional uma ao em curso

    para alterao da regulao de TV por assinatura para permitir a convergncia

    de outros servios (PL29).

    Na Gr-Bretanha, em contraste, a Ofcom (agncia reguladora das

    comunicaes) autoriza as operadoras a transmitirem qualquer tipo de sinal

    digital em suas redes. Ao conceder uma licena nica, o operador pode

    selecionar e integrar mltiplos servios. Este princpio atende ao objetivo de

    adequar polticas as possibilidades tecnolgicas, mas enfrenta grande

    resistncia no Brasil em funo de seu impacto sobe a estrutura do mercado.

    Desenvolver uma infra-estrutura mvel de alta capacidade capaz de

    competir e/ou complementar a estrutura fixa e prover servios ubquos constitui

    outro desafio importante. Para isso, possvel contar com os contnuos

    avanos na tecnologia mvel. A tecnologia WIMAX constitui um exemplo de

    inovao desconcentradora, pois apresenta barreiras entrada mais baixas do

    que outras tecnologias de banda larga. Este fato permite que empresas que

    atuam em outros mercados ofeream servios associados ao WIMAX em

    competio direta com as concessionrias de servios de telecomunicaes

    que investiram volumes muito maiores de recursos no desenvolvimento da

    infra-estrutura de rede. Isso quer dizer que, uma vez autorizada, empresas

    provedoras de Internet, TV a cabo, e pequenas empresas de telecomunicaes

    podem oferecer o servio de banda larga sem fio com investimentos

    relativamente mais baixos do que os realizados por empresas concessionrias.

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    O WIMAX tambm abre oportunidades para outros supridores de aplicaes ao

    facilitar o acesso ao cliente final.

    A Anatel busca definir, por meio de consultas pblicas, as atualizaes

    da regulao (PGR) mais adequadas para curto, mdio e longo prazo. O PlanoGeral de Outorgas, PGO, define entre outras questes, as reas possveis de

    operao das concessionrias de servios fixos.

    A regulao busca tambm promover a universalizao dos servios de

    telecomunicaes, criando obrigaes de atendimento a pequenas cidades e

    populaes de baixa renda. Os objetivos so abrir a possibilidade de acesso

    pela populao infra-estrutura digital com banda larga e maximizar a

    utilizao desse acesso. A banda larga dever ser assegurada a todas asescolas pblicas do pas, promovendo a incluso digital. Porm, at hoje no

    foi regulamentada a aplicao dos recursos do FUST que recolhe 1% das

    contas telefnicas h vrios anos.

    A ampliao do mercado de servios de telecomunicaes por meio de

    modelos de negcio capazes de justificar economicamente o provimento de

    servios de telecomunicaes a preos adequados a populaes de renda

    mais baixa constitui um importante desafio para o Brasil. As operadoraspraticamente ignoram este segmento, em funo da alta carga tributria e

    algumas rigidezes regulatrias. Em conseqncia da falta de uma poltica de

    popularizao e baixos preos, o tempo de uso mdio dos telefones celulares

    no Brasil um dos mais baixos do mundo. Para as pessoas de renda baixa,

    que utilizam servios pr-pagos, esse uso limitadssimo. Mesmo na telefonia

    fixa, menos de 50% dos domiclios brasileiros subscrevem um servio

    domiciliar.

    Parte dos problemas para a ampliao dos servios reside na cultura de

    uso dos equipamentos. Nos pases avanados, a maior parte das aplicaes

    sociais est hoje baseada em servios de mensagens (SMS). O SMS uma

    aplicao pioneira de dados para usurios de voz e como tal um servio

    introdutor ao uso da internet no celular. Apesar disso o uso de SMS no Brasil

    dos mais baixos do mundo, no s pela inabilidade dos usurios com servios

    de texto mas tambm por uma questo de preo. Estimular a reduo do custo

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    desse servio constitui uma deciso empresarial (e tambm regulatria)

    importante para abrir mercado para servios mais avanados.

    O mercado de comunicaes abre amplas oportunidades para a criao

    de contedo (desenvolvimento de programas / idias; msicas filmes;programas de computador; contedos de usurios sejam em forma de texto

    como de vdeo). O estmulo a produo local de contedo constitui um desafio

    diante da tendncia de concentrao global, em um setor onde os custos so

    dominados pela primeira cpia. Alm do contedo em si, existem muitos

    servios que esto sendo transformados de modo significativo pela

    convergncia tais como propaganda, seguros, transaes financeiras, turismo,

    etc. Estimular setores mais tradicionais do setor de servios em seremfornecedores significativos nas cadeias de produo mais afetadas pela

    convergncia representa um objetivo para as polticas pblicas no setor.

    A poltica governamental de universalizao tambm influencia padres

    de concorrncia. Por exemplo, a Anatel recentemente passou a exigir que as

    concessionrias ofeream, at 2010, um ponto de acesso de banda larga

    (backhaul) em todas as sedes dos municpios brasileiros, com prazo at

    2010. Atualmente, dos 5564 municpios, apenas 2 mil possuem este acesso.

    Outra obrigao que as concessionrias disponibilizem tambm um acesso

    em todas as escolas localizadas na sede dos municpios. De acordo com o

    Ministrio da Educao, so 54 mil escolas com essas caractersticas. Uma

    terceira ao foi o leilo 3G, impondo que todos os municpios brasileiros

    devero ter disponibilidade de acesso ao servio celular at 2010. Hoje pouco

    mais de metade dispe desse servio.

    Em sntese, a regulao dos servios de telecomunicaes tem grande

    influncia nos padres de concorrncia. As mudanas tecnolgicas podem

    tanto favorecer quanto dificultar a concorrncia e precisam de novas regras que

    assegurem um equilbrio entre rentabilidade, essencial para assegurar

    investimentos, concorrncia que favorea usurios e universalizao de forma

    a permitir a incluso digital.

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    Captulo 2

    Dinmica dos investimentos no setor de servios de

    Telecomunicaes

    1. Introduo

    Desde meados da dcada de 90, o setor de servios de

    telecomunicaes no Brasil vem passando por grandes modificaes

    tecnolgicas, estruturais e regulatrias. A privatizao do setor, associada a

    uma nova regulao dentro de um contexto de convergncia tecnolgica, vemtransformando a estrutura setor de forma radical, trazendo novos desafios e

    oportunidades. Este captulo tem por objetivo contribuir para a definio de

    uma estratgia de desenvolvimento para o setor de telecomunicaes para o

    Brasil e para o desenho de instrumentos e aes de poltica industrial e

    tecnolgica em um horizonte de mdio e longo prazo voltados a:

    Analisar as perspectivas de investimento em servios de

    telecomunicaes na economia brasileira em um horizonte de

    mdio e longo prazos (2008-12 e 2022, respectivamente);

    Avaliar as oportunidades e obstculos para o desenvolvimento do

    setor no Brasil;

    Propor estratgias, instrumentos e aes de poltica.

    O captulo foi desenvolvido principalmente com base no conhecimento

    prvio dos coordenadores sobre o sistema produtivo, apoiado em dadossecundrios, incluindo a literatura tcnica e econmica internacional e nacional,

    bancos de dados, estatsticas oficiais e relatrios diversos. Entrevistas com

    dirigentes de empresas e especialistas em telecomunicaes foram realizadas

    para complementar a viso dos pesquisadores.

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    2. A Dinmica global do investimento

    2.1. Natureza do crescimento

    Apesar de a dinmica estar mudando, grande parte do faturamento das

    empresas de servios de telecomunicaes ainda de voz. No Brasil,estima-se que tais servios respondam por cerca de 90% da receita

    enquanto que no exterior representem 80%. Entretanto, as atividades que

    esto crescendo mais so relacionadas banda larga, que respondem

    hoje por 15% do faturamento global das empresas de telefonia celular. A

    tendncia que os servios de dados aumentem gradativamente em

    detrimento dos servios de voz.

    Figura 1 - Da voz a banda larga ao contedo: a percepo de valor do

    usurio e as receitas das empresas tendem a migrar na direo do contedo

    Evoluo darelevncia do

    acesso

    Tecnologia IP Alta velocidade

    Alta penetrao de banda larga

    Tecnologia proprietria Baixa velocidade Baixa penetrao de banda larga

    Importncia crescente do contedo

    Voz ContedoConectividade

    ILUSTRATIVOILUSTRATIVO

    Evoluo dacomposio da

    receita dasempresas

    Foco em voz Foco em contedo

    Evoluo doscontedos e

    aplicaesconsumidos

    Comunicaobsica (voz)

    Voz fixaVoz mvel

    Entretenimentomultimdia

    udio e vdeosob demanda

    udio e vdeoem tempo real

    Jogos on-line

    Comunicaomultimdia

    e-mailMensagens de

    texto emultimdia

    Videofone

    Serviosinterativos

    E-GovVirtual bankingComprasEducaoTelemedicina

    Informaoesttica

    Consultasdiversas

    Web browsing

    Notcias

    Fonte: Accenture

    Essa tendncia do crescimento dos servios de contedo est ocorrendo

    lentamente. No est claro se as empresas de telecomunicaes /

    comunicaes iro capturar parte significativa das receitas associadas ao

    contedo, ligadas dinmica de entretenimento e acesso a servios

    interativos.

    No entanto j est clara a importncia da tendncia que se iniciamundialmente, inclusive no Brasil, que o acesso banda larga atravs da

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    telefonia mvel. O celular talvez seja o primeiro dispositivo universal. Hoje,

    existem 3,3 bilhes de assinantes de celular no mundo e estima-se que em

    cinco anos ser incorporado mais 1 bilho de assinantes. Estima-se tambm

    que o acesso banda larga pelo celular ser bastante mais significativo do que

    o atravs da rede fixa.

    Figura 2 - Estimativa de crescimento dos servios de banda larga. A partir

    de 2008 so estimativas.

    Fonte: Ovum (2008)

    Outra dinmica de crescimento importante est relacionada aos pases

    em desenvolvimento. H, aproximadamente, dez anos atrs esses pasesestavam fora do radar do setor industrial de telecomunicaes. Hoje, a maior

    parte do crescimento de servios de telecomunicaes e em particular no

    celular j dos pases emergentes. Esse novo perfil da indstria mais focado

    nos mercados emergentes cria oportunidades significativas para pases como o

    Brasil.

    300

    600

    900

    1200

    1500

    1800

    2100

    05 06 07 08 09 10 1211

    > 1.8 bilho de assinantes em

    Assinantes(milhes)

    BandaLarga Fixa

    BandaLarga Mvel

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    2.2. Mercado e estratgias de pases

    As mudanas para o setor nos pases ricos esto vinculada ao

    crescimento da banda larga e da ultra banda larga baseada principalmente em

    fibra ptica. Pases como os Estados Unidos, Japo, Coria e os pases ricosda Europa priorizam essa estratgia. O investimento em FTH fibra at os

    domiclios ainda muito caro, custando entre US$ 1,2 mil e US$ 1,3 mil por

    residncia. Com esse custo, inviabiliza-se sua implementao de forma

    extensa nos pases de renda mais baixa.

    A China utiliza como instrumento de alavancagem na formulao de suas

    polticas de exportao o acesso ao seu grande mercado interno. As empresas

    de servios de telecomunicaes chinesas so todas controladas pelo Estado,mas com participao privada. A Telefnica, por exemplo, est neste instante

    aumentando sua participao de 5% para 12,8% na China Netcom, e uma vez

    que os planos recm anunciados pelo Governo chins de reestruturao de

    suas empresas seja posto em funcionamento, ela deter 5,5% da nova

    empresa resultante da fuso da China Netcom com a China Unicom, empresa

    est que ser ento a segunda maior empresa chinesa de telecomunicaes.

    Uma estratgia adotada pela China tentar definir padres mundiais, aexemplo do desenvolvimento de um standard chins de 3G. Essa estratgia

    tem tambm por objetivo auxiliar na negociao com fornecedores mundiais.

    Em um aparelho celular com tecnologia CDMA / 3G normalmente a Qualcomm,

    proprietria da tecnologia, cobra entre 6% e 7% do custo por sua tecnologia.

    No passado a China j conseguiu obter reduo desse percentual ao

    implementar uma rede CDMA em um de seus operadores. Aparentemente, um

    objetivo de sua estratgia de desenvolvimento de um standard prprio conseguir redues equivalentes no 3 / 4G.

    A Comunidade Europia tem uma clara definio de objetivos para o setor

    de tecnologias da informao e comunicaes (TICs). O programa i2010

    estabelece trs grandes objetivos: criar um mercado nico, aberto e

    competitivo para a sociedade de informao e servios de mdia da

    Comunidade Europia; ampliar o investimento em pesquisa nas tecnologias de

    TIC e em inovaes baseadas nessas; e promover uma sociedade dainformao inclusiva na Europa.

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    A estratgia utilizada na Coria conduzida pelo Estado, principalmente

    atravs de suas funes estimuladora e reguladora, que define os mercados

    prioritrios e estimula as empresas nacionais a entrarem nestes segmentos

    pr-definidos. Assim, os fornecedores adquirem experincia prtica e

    capacitao e, consequentemente, competncia para exportar. Em resumo, a

    estratgia coreana focada em gerar produtos e servios exportveis.

    O Japo e a Coria tambm tem uma estratgia de super banda larga

    para criar o que chamam de sociedade ubqua, ou seja, uma sociedade onde

    tudo esteja conectado. A dinmica dessa sociedade totalmente integrada

    conduz o desenvolvimento tecnolgico e gera possibilidades de criao e

    acesso a novos mercados.Praticamente todos esses pases ou regies desenvolvidas tm uma viso

    clara de como alavancar o setor, seja atravs de intervenes diretas ou

    indiretas. No entanto, o instrumento mais utilizado tem sido a via regulatria.

    2.3. Mercado e foco na inovao

    A viso de mercado com foco em inovao compartilhada pelos pases

    ricos. Segundo SchavanFFF4FFF, ministra de Educao e Pesquisa Alem, Hoje mais

    de metade da produo industrial e mais de 80% das exportaes alems

    dependem de aplicaes modernas de TICs. Mais de 89% das inovaes na

    indstria automobilstica, tecnologia mdica e logstica conduzida pelas

    TICs. Atualmente, a inovao do setor de telecomunicaes liderada

    principalmente pelas empresas de equipamentos e no pelas de servios.

    Quando comparados, os nveis de investimento em P&D em relao ao

    faturamento, o das empresas mundiais de servios de telecomunicaes so

    bastante menores, que o das empresas de web e de equipamentos. No Brasil,

    esse quadro fica particularmente preocupante, dada a dimenso limitada da

    indstria nacional de equipamentos e de web.

    4Introduo ao Plano de Pesquisa para as Inovaes ICT 2020, lanado em fins de 2007

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    2.4. Motores da evoluo

    Tecnologia

    Uma das principais tendncias da tecnologia para o setor a

    convergncia em rede. At pouco tempo atrs, havia redes independentes paracada tipo de servio: uma rede para voz baseada em telefonia fixa, outra para

    voz em telefonia mvel, outra ainda para dados e uma quarta rede para

    transmisso de vdeo (p.ex. tv). Com a definio de produtos baseados em

    pacotes (IP), essa dinmica comeou a mudar rapidamente de redes

    seccionadas para uma rede nica, ou seja, convergente. Assim, com uma

    nica rede possvel fornecer uma ampla gama de servios.

    H servios integrados do tipo triple play (voz + internet banda larga +

    vdeo) e do tipo quadruple play, que alm dos componentes anteriores ainda

    agrega a telefonia celular.

    Nos pases ricos, nos anos 1990, j havia uma significativa

    universalizao dos servios de voz. No Brasil, somente aps a privatizao do

    setor, principalmente pelas limitaes de investimento colocadas at ento no

    Sistema Telebrs, estatal, que esse avano foi significativo.

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    Figura 3 - Tecnologia: convergncia de redes e servios

    Mundo Tradicional

    Coreda rede Acesso Terminais Usurio

    Voz Fixa Telefonia fixaPar metlico

    Voz Mvel Telefonia mvelRede 2G

    DadosInternet

    Rede d