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XI ANUÁRIO BRASILEIRO DE DIREITO INTERNACIONAL Anuário Brasileiro de Direito Internacional, ISSN 1980-9484, vol.1, n.20, jan. de 2016, pp.172-360. 172 PESQUISA RELATIVA À JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA EM MATÉRIA INTERNACIONAL NO ANO DE 2015 Coordenação Geral de Pesquisas: Bruno de Oliveira Biazatti Pesquisadores Adriana Moura Mattos da Silva Amanda Mineiro de Aguiar Barbosa Pereira Cristiane Helena de Paula Lima Cabral (Coordenadora) Julia Vilela de Carvalho Mariana Rodrigues Leite Ribeiro Ramon Ferreira Lopes A pesquisa do grupo jurisprudências do Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça baseia-se na coleta da jurisprudência do ano de 2015 dos dois tribunais superiores do Brasil sobre matérias relativas ao Direito Internacional. Foram feitas pesquisas relativas às decisões monocráticas do Supremo Tribunal Federal nas matérias que possuem relevância com o direito internacional. Passa-se ao resultado.

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Anuário Brasileiro de Direito Internacional, ISSN 1980-9484, vol.1, n.20, jan. de 2016, pp.172-360.

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PESQUISA RELATIVA À JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA EM MATÉRIA

INTERNACIONAL NO ANO DE 2015

Coordenação Geral de Pesquisas: Bruno de Oliveira Biazatti

Pesquisadores

Adriana Moura Mattos da SilvaAmanda Mineiro de Aguiar Barbosa Pereira

Cristiane Helena de Paula Lima Cabral (Coordenadora)Julia Vilela de Carvalho

Mariana Rodrigues Leite RibeiroRamon Ferreira Lopes

A pesquisa do grupo jurisprudências do Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça baseia-se na coleta da jurisprudência do ano de 2015 dos dois tribunais superiores do Brasil sobre matérias relativas ao Direito Internacional. Foram feitas pesquisas relativas às decisões monocráticas do Supremo Tribunal Federal nas matérias que possuem relevância com o direito internacional.

Passa-se ao resultado.

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SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

DECISÕES DA PRESIDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

AGRAVO EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO

ARE 918360 Julgamento: 26/11/2015Relator(a): Min. EDSON FACHINDecisão: Trata-se de agravo cujo objeto é a decisão que negou seguimento ao recurso extraordinário interposto em face do acórdão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, assim ementado (fls. 301): “Administrativo. Concurso público. Polícia Civil. Deficiência visual. Correção. Revelia 1 – A presunção de veracidade, efeito da revelia, é relativa. Depende do conjunto probatório, de forma que apenas os fatos que não necessitam de prova são atingidos. 2 – Se a deficiência visual da candidata não a impede de exercer a função de policial civil, não se pode considerá-la inapta no exame médico. 3 – Apelação provida.” Os embargos de declaração foram rejeitados (fls. 315-318). No recurso extraordinário, com fundamento no art. 102, III, “a”, do permissivo constitucional, aponta-se ofensa aos arts. 5º, II, e 37, caput e incisos I e II, da Constituição Federal. Nas razões recursais, sustenta-se, em suma, que o acórdão recorrido fere os princípios da isonomia, impessoalidade e legalidade, porquanto afastou regra expressa no edital do concurso público, conferindo à recorrida situação privilegiada em relação aos demais candidatos. Alega também, que todos os candidatos tiveram que observar a relação de condições médicas incapacitantes previstas no edital do certame, de forma que ignorá-la para beneficiar a recorrida, prejudicaria o princípio da isonomia. Registra ainda, que a exigência de acuidade visual dentro dos padrões definidos pela Administração é absolutamente adequada e compatível com a natureza das funções do cargo. A Presidência do Tribunal de origem inadmitiu o recurso extraordinário por entender que a alegada ofensa à Constituição seria indireta ou reflexa e em virtude do óbice da Súmula 282 do STF. (fls. 336v) É o relatório. Decido. A irresignação não merece prosperar. Conforme se depreende da leitura do acórdão recorrido, o TJDFT, com base nos fatos e provas e nas normas do edital do certame, concluiu que deve ser assegurada a nomeação e posse da recorrida no cargo de agente da Polícia Civil do Distrito Federal. De fato, nos termos do art. 1 da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, promulgada pelo Decreto 6.949/2009, o requisito médico é insuficiente para, por si só, determinar a exclusão da recorrida. Nesse sentido, é preciso que o juízo de origem examine a exclusão à luz da evidência dos autos. Nesse sentido, o Tribunal assentou (fl. 303): “A questão que se coloca é se, com deficiência visual, a autora pode desempenhar as atribuições do cargo de agente de polícia para o qual concorreu. O exercício da função policial pressupõe perfeitas condições físicas do candidato, o que, contudo,

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não significa que, candidatos com visão monocular, a exemplo da autora, não possa exercê-la. A limitação da visão não impede o desempenho das atribuições do cargo, incluindo a atividade que a banca considerou que a autora não tem aptidão – dirigir veículos (f. 115). Basta dizer, a propósito, que habilitada, categoria B, dirige veículos (f. 22).” Eventual divergência em relação ao entendimento adotado pelo Tribunal a quo demandaria o reexame de fatos e provas e das normas editalícias, o que inviabiliza o processamento do apelo extremo, tendo em vista a vedação contida nas Súmulas 279 e 454 do STF. Além disso, ressalta-se que o Supremo Tribunal Federal já assentou entendimento de ser a visão monocular deficiência física autorizativa a seu portador de concorrer às vagas destinadas aos deficientes físicos nos concursos públicos: “AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. CONCURSO PÚBLICO. DEFICIENTE FÍSICO. CANDIDATO COM VISÃO MONOCULAR. CONDIÇÃO QUE O AUTORIZA A CONCORRER AS VAGAS DESTINADAS AOS DEFICIENTES FÍSICOS. PRECEDENTES. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal assentou o entendimento de que o candidato com visão monocular é deficiente físico. Ausência de argumentos capazes de infirmar a decisão agravada. Agravo regimental a que se nega provimento” (ARE 760.015-AgR, Relator o Ministro Roberto Barroso, Primeira Turma, DJe 6.8.2014). Ante o exposto, conheço do agravo, para negar seguimento ao recurso extraordinário, nos termos dos arts. 544, § 4º, II, “b”, CPC e 21, §1º, RISTF. Publique-se.

ARE 924575Julgamento: 16/11/2015Relator(a): Min. DIAS TOFFOLIDecisão: Vistos. Trata-se de agravo contra a decisão que não admitiu recurso extraordinário interposto contra acórdão da Segunda Turma Recursal do Estado do Paraná. No recurso extraordinário, sustenta-se violação dos artigos 1º, incisos II, III e IV, 3º, incisos I e IV, 5º, incisos XXXV, LV e LXXVIII e §1º, 6º, 7º, inciso VII, 49, inciso I, 201, §2º, e 230 da Constituição Federal. Decido. Anote-se, inicialmente, que o recurso extraordinário foi interposto contra acórdão publicado após 3/5/07, quando já era plenamente exigível a demonstração da repercussão geral da matéria constitucional objeto do recurso, conforme decidido na Questão de Ordem no Agravo de Instrumento nº 664.567/RS, Tribunal Pleno, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence , DJ de 6/9/07. Todavia, apesar da petição recursal haver trazido a preliminar sobre o tema, não é de se proceder ao exame de sua existência, uma vez que, nos termos do artigo 323 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, com a redação introduzida pela Emenda Regimental nº 21/07, primeira parte, o procedimento acerca da existência da repercussão geral somente ocorrerá “quando não for o caso de inadmissibilidade do recurso por outra razão”. A irresignação não merece prosperar Com exceção do artigo 201, § 2º, da Constituição, os demais dispositivos constitucionais indicados como violados no recurso extraordinário carecem do necessário prequestionamento, sendo

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certo que não foram opostos embargos de declaração para sanar eventual omissão no acórdão recorrido. Incidem na espécie as Súmulas nºs 282 e 356 desta Corte. Colhe-se do acórdão recorrido, a seguinte fundamentação: “Não se pode partir da premissa de que a parte autora nada percebeu do Estado italiano, pois toda a lógica do acordo internacional é a de que ela teria direito ao recebimento de uma parcela do benefício previdenciário que deve ser suportada por aquele Estado. Isso é o suficiente para desonerar o Brasil da obrigação de arcar com essa diferença, porquanto não recebeu a contrapartida na ponta do custeio. Portanto, não se exige que ela tenha efetivamente recebido o quinhão da prestação previdenciária correspondente ao tempo de serviço prestado no exterior, mesmo porque poderia sequer ter postulado esse direito naquele Estado por uma opção pessoal ou impossibilidade. Em suma, cada Estado deve pagar o benefício proporcionalmente às contribuições que recebeu e só quando a soma dessas proporções for inferior ao valor mínimo de benefício é que cabe ao Estado de acolhimento o pagamento da diferença. Esse dado não existe nos autos, visto que o requerente não o apresentou. Essa proporcionalidade, aliás, encontra-se prevista expressamente no art. 9° do Protocolo Adicional ao Acordo de Migração entre Brasil e Itália, de nove de dezembro de mil novecentos e sessenta. In verbis: (…) Em sendo assim, a parte autora tem direito de receber do governo italiano uma prestação previdenciária proporcional aos valores que recolheu aos Cofres daquele Estado no período em que lá trabalhou. O acordo internacional pressupõe que, cumprida a carência com soma de tempos de contribuição, cada Estado pague a fração proporcional correspondente. Não se afigura razoável que o Estado brasileiro seja obrigado a pagar valor maior que o decorrente dessa proporção, arcando assim integralmente com uma obrigação que deveria ser conjunta. (…) Por fim, registro que o art. 35 do Decreto n.º 3.048/1999, ao regulamentar a matéria, determina que: A renda mensal do benefício de prestação continuada que substituir o salário-decontribuição ou o rendimento do trabalho do segurado não terá valor inferior ao do salário mínimo nem superior ao limite máximo do salário-de-contribuição, exceto no caso previsto no art. 45. § 1º A renda mensal dos benefícios por totalização, concedidos com base em acordos internacionais de previdência social, pode ter valor inferior ao do salário mínimo. (destaquei)”. Assim, é certo que o acolhimento da pretensão recursal não prescinde da análise da legislação infraconstitucional pertinente e do conjunto fático-probatório dos autos, o que se mostra incabível em sede extraordinária. Incidência da Súmula nº 279/STF. Sobre o tema: “AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA ESPECIAL. REQUISITOS. IMPOSSIBILIDADE DA ANÁLISE DA LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL E DO REEXAME DE PROVAS. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 279 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. OFENSA CONSTITUCIONAL INDIRETA. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO” (AI nº 806.029/PR-AgR, Primeira Turma, Relatora a Ministra Cármen Lúcia, DJe de 26/11/10). “DIREITO PREVIDENCIÁRIO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO RECEBIDOS COMO AGRAVO REGIMENTAL.

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RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. CONCESSÃO DE AUXÍLIO-DOENÇA OU APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. CUMPRIMENTO DE REQUISITOS. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. REEXAME DE FATOS E PROVAS DOS AUTOS. SÚMULA 279/STF. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL. OFENSA AO ART. 93, IX, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. NÃO CARACTERIZAÇÃO. 1. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é firme no sentido de que matéria relativa ao cumprimento dos requisitos para concessão de benefícios previdenciários não tem natureza constitucional, justamente por tratar-se de matéria infraconstitucional e demandar o reexame do acervo probatório dos autos (Súmula 279/STF). Precedentes. 2. A decisão está devidamente fundamentada, embora em sentido contrário aos interesses da parte agravante. 3. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental a que se nega provimento” (ARE nº 892.296/PB-ED, Primeira Turma, Relator o Ministro Roberto Barroso, DJe de 15/9/15). “AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. AUXÍLIO-ACIDENTE. PERCEBIMENTO EM VALOR INFERIOR AO SALÁRIO-MÍNIMO. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. OFENSA INDIRETA. Controvérsia dirimida à luz de norma infraconstitucional que disciplina a espécie. Agravo regimental a que se nega provimento” (AI nº 743.968/RJ-AgR, Segunda Turma, Relator o Ministro Eros Grau, DJe de 19/6/09). Ante o exposto, conheço do agravo para negar seguimento ao recurso extraordinário. Publique-se.

EXTRADIÇÃO

Ext 1340Julgamento: 25/11/2015Relator(a): Min. LUIZ FUXDECISÃO: CONSTITUCIONAL. EXTRADIÇÃO DEFERIDA. TRâNSITO EM JULGADO. OPÇÃO DA NACIONALIDADE BRASILEIRA CONCEDIDA EM RECURSO DE APELAÇÃO. QUESTÃO PREJUDICIAL à ENTREGA DO EXTRADITANDO. INTERPOSIÇÃO DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO. SEGUIMENTO NEGADO (SÚM. 279/STF). PEDIDO DE MEDIDA CAUTELAR ALTERNATIVA à PRISÃO. MANIFESTAÇÃO FAVORÁVEL DO MPF. EXTRADITANDO PRESO hÁ QUASE DOIS ANOS. CONFIRMAÇÃO DA NACIONALIDADE BRASILEIRA. IMINêNCIA. ACOLHIMENTO DO PARECER MINISTERIAL. TRâNSITO EM JULGADO DO RE. OPÇÃO DE NACIONALIDADE CONFIRMADA. VEDAÇÃO CONSTITUCIONAL à EXTRADIÇÃO DE BRASILEIRO NATO (CF, ART. 5º, INC. LI, C/C ART. 12, INC. I, ALÍNEA C). APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO AUT DEDERE AUT JUDICARE. - PRISÃO PREVENTIVA PARA EXTRADIÇÃO REVOGADA, DEVENDO O JUIZ FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE SANTANA DO LIVRAMENTO/RS FIXAR MEDIDAS CAUTELARES ALTERNATIVAS NECESSÁRIAS à EFETIVIDADE

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DA FUTURA AÇÃO PENAL (ART. 319 DO CPP). - CIÊNCIA AO MINISTRO DA JUSTIÇA, AO PAÍS REQUERENTE, PELA VIA DIPLOMÁTICA, E AO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. - EXTRAÇÃO DE CóPIA INTEGRAL DOS AUTOS E REMESSA AO óRGÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL ATUANTE NO MENCIONADO JUÍZO, EM CONFORMIDADE COM ART. 11, § 3º, DO ACORDO DE EXTRADIÇÃO ENTRE OS ESTADOS PARTES DO MERCOSUL, C/C ART. 7º, INC. II, ALÍNEAS A E B DO CóDIGO PENAL, A FIM DE QUE INSTAURE AÇÃO PENAL PELA PRÁTICA DO CRIME DE TRÁFICO DE ENTORPECENTES ATRIBUÍDA AO EXTRADITANDO (AUT DEDERE AUT JUDICARE). A Primeira Turma desta Corte julgou procedente o pedido de extradição em 03/03/2015, sobrevindo o trânsito em julgado do acórdão em 31/03/2015. Simultaneamente ao processo de extradição, o extraditando ajuizou pedido de Opção de Nacionalidade que restou indeferido pela Justiça Federal da Seção Judiciária de Santana do Livramento/RS, ensejando recurso de apelação que restou provido pelo TRF da 4ª para reconhecer a nacionalidade brasileira. O Ministério Publico Federal interpôs recurso extraordinário. O extraditando destituiu o advogado e pleiteou sua entrega ao Estado estrangeiro a fim de que ali responda pelo crime de que é acusado. Asseverei que “... a sucessão de fatos conduz a que se intime a Defensoria Pública da União para que assuma, caso assim entenda, a defesa do extraditando, porquanto a concessão de nacionalidade brasileira, apesar de recorrida, tem relevância jurídica, podendo culminar com a recusa de sua entrega ao Estado requerente”. A Defensoria Pública da União devolveu os autos em face da superveniente constituição de novo advogado, que formulou requerimento de prisão domiciliar até que se decida a prejudicial de nacionalidade pendente de decisão judicial transitada em julgado (fl. 228). O Ministério Público Federal manifestou-se, in verbis (fls. 238/242): “Trata-se de pedido formulado pelo Governo do Uruguai, com base em tratado de extradição firmado entre os países do Mercosul, promulgado internamento pelo Decreto nº 4.975, de 30/1/2004, para que o extraditando responda a processo pelo crime de tráfico internacional de drogas. A prisão preventiva para fins de extradição foi deferida em 6/2/2014, sendo que ele já se encontrava preso preventivamente na Penitenciária de Santana do Livramento/RS, em razão de crimes praticados no Brasil. Em 3/3/2015, a extradição foi deferida, conforme acórdão de fls. 124/135, embora estivesse em tramitação processo de opção pela nacionalidade brasileira. Em 28/4/2014, o TRF da 4ª Região, nos autos da Apelação Cível nº 5002069-17.2014.404.7106, reformou a setença de primeiro grau e homologou a opção pela nacionalidade brasileira, ocasião em que o extraditando pediu a revogação da prisão preventiva e a extinção do processo. O relator indeferiu o pleito sob o argumento de que a prestação jurisdicional se exauriu com o trânsito em julgado da extradição. Acrescentou que, como o julgamento do TRF da 4ª Região não é definitivo, uma vez que houve a interposição de recurso extraordinário, resta à defesa a faculdade de requerer ao Ministro da Justiça a suspensão da entrega do extraditando (fls. 177/179). Diante disso, este formulou pedido pela sua

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imediata entrega ao Estado requerente. O relator entendeu que ‘a sucessão dos fatos conduz a que se intime a Defensoria Públic da União para que assuma, caso assim entenda, a defesa do extraditando, porquanto a concessão de nacionalidade brasileira, apesar de recorrida, tem relevância jurídica, podendo culminar com a recusa de sua entrega ao Estado requerente”. Inconformada, a defesa pleiteia a prisão domiciliar do extraditando até que se decida em definitivo sobre a prejudicial de nacionalidade, tendo em vista que o recurso extraordinário não tem efeito suspensivo e sua prisão já dura cerca de 1 ano e 8 meses. Consta dos autos da PPE 708 que o juízo da Comarca de Santana do Livramento concedeu liberdade provisória ao extraditando com aplicação de medidas cautelares diversas da prisão, no bojo da Ação Penal nº 0011766-62.2013.8.21.0025, tendo sido expedido alvará de soltura com a ressalva da prisão para fins de extradição decretada pelo STF (fls. 129/134). Diante disso e considerando que atualmente o extraditando se encontra preso unicamente em virtude da presente extradição, além de não haver previsão de data de julgamento do recurso extraordinário onde se discute a opção pela nacionalidade brasileira, o pleito deve ser atendido, mediante a estipulação de medidas cautelares divesas da prisão, eficazes para o propósito do presente feito. Essa Corte endossa a posição assumida: EMENTA: Habeas corpus. 1. Pedido de revogação de prisão preventiva para extradição (PPE). 2. Alegação de ilegalidade da prisão em face da instrução insuficiente do pleito extradicional; nulidade da decisão que decretou a prisão do extraditando por falta de manifestação prévia da Procuradoria-Geral da República (PGR); e desnecessidade da prisão preventiva, sob o fundamento de que a liberdade do paciente não ensejaria perigo para a instrução criminal desenvolvida pelo Governo do Panamá. 3. Suposta insuficiência da instrução do pedido extradicional. Informações prestadas pelo Relator da Extradição nº 1091/Panamá indicam que o pleito está sendo processado regularmente. 4. Alegação de nulidade da decisão que decretou a prisão do paciente por falta de manifestação prévia da PGR. Providência estranha ao procedimento da PPE, pois não há exigência de prévia manifestação da PGR para a expedição do mandado de prisão. 5. Alegação de desnecessidade da PPE. A custódia subsiste há quase quatro meses e inexiste contra o paciente sentença de condenação nos autos do processo instaurado no Panamá. 6. PPE. Apesar de sua especificidade e da necessidade das devidas cautelas em caso de relaxamento ou concessão de liberdade provisória, é desproporcional o tratamento que vem sendo dado ao instituto. Necessidade de observância, também na PPE, dos requisitos do art. 312 do CPP, sob pena de expor o extraditando a situação de desigualdade em relação aos nacionais que respondem a processos criminais no Brasil. 7. A PPE deve ser analisada caso a caso, e a ele deve ser atribuído limite temporal, compatível com o princípio da proporcionalidade; e, ainda, que esteja em consonância com os valores supremos assegurados pelo Estado Constitucional, que compartilha com as demais entidades soberanas, em contextos internacionais e supranacionais, o dever de efetiva proteção dos direitos humanos. 8. O Pacto de San Jose da Costa Rica proclama a liberdade provisória como direito fundamental da pessoa humana (Art. 7º,

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5). 9. A prisão é medida excepcional em nosso Estado de Direito e não pode ser utilizada como meio generalizado de limitação das liberdades dos cidadãos (Art. 5º, LXVI). Inexiste razão, tando com base na CF/88, quanto nos tratados internacionais com relação ao respeito aos direitos humanos e a dignidade da pessoa humana, para que tal entendimento não seja também aplicado às PPE’s. 10. Ordem deferida para que o paciente aguarde em liberdade o julgamento da Extradição nº 1091/Panamá. Precedentes: Ext nº 1008/Colômbia, Rel. DJ 17.8.2007; Ext 791/Portugal, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 23.10.20001; AC n. 70/RS, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de 12.2.2004; Ext-QO nº 1054/EUA, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ de 14.9.2007. (hC 91657, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 13-03-2008 PUBLIC 14-03-2008 EMENT VOL-02311-02 PP-00293 RTJ VOL-00204-03 PP-01235) Ante o exposto, o Ministério Público Federal opina pela conversão da prisão para fins de extradição em medidas cautelares alternativas, se por outra razão o extraditando não estiver preso.” A opção de nacionalidade brasileira adquirida no acórdão da apelação julgada pelo TRF da 4ª Região restou confirmada com o trânsito em julgado, em 13/11/2015, do RE n. 921043, interposto pelo Ministério Público Federal, ao qual o Relator, no STF, negou seguimento com base na vedação de reexame de provas na via eleita. A Constituição Federal veda, em seu art. 5º, inc. LI, a extradição de brasileiro nato, in verbis: “nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei”. O artigo 12, inc. I, alínea c, dispõe, litteris: Art. 12. São brasileiros: (ECR nº 3/94, EC nº 23/99 e EC nº 54/2007) I – natos: …. c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira; [grifei] In casu, o extraditando demonstrou, judicialmente, ser filho de brasileira e teve a opção de nacionalidade acatada em decisão transitada em julgado. Ex positis, revogo a prisão preventiva para extradição, devendo o Juiz Federal da Seção Judiciária de Santana do Livramento/RS fixar medidas cautelares alternativas necessárias à efetividade da futura ação penal (art. 319 do CPP). Determino a remessa de cópia integral dos autos ao órgão atuante do Ministério Público no mencionado Juízo, em conformidade com art. 11, § 3º, do Acordo de Extradição entre os Estados Partes do Mercosul, c/c art. 7º, inc. II, alíneas a e b do Código Penal, a fim de que instaure ação penal pela prática do crime de tráfico de entorpecentes atribuída ao extraditando. Comunique-se. Dê-se ciência ao Ministro da Justiça e ao Estado requerente, este pela via diplomática, e ao Ministério Público Federal. Publique-se.

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AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE

ADI 5357 MCJulgamento: 18/11/2015Relator(a): Min. EDSON FACHINDECISÃO: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. MEDIDA CAUTELAR. LEI 13.146/2015. ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA. ENSINO INCLUSIVO. CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS DA PESSOA COM DEFICIêNCIA. INDEFERIMENTO. 1. A CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS DA PESSOA COM DEFICIêNCIA CONCRETIZA O PRINCÍPIO DA IGUALDADE COMO FUNDAMENTO DE UMA SOCIEDADE DEMOCRÁTICA QUE RESPEITA A DIGNIDADE hUMANA. 2. à LUZ DA CONVENÇÃO E, POR CONSEQUÊNCIA, DA PRóPRIA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA, O ENSINO INCLUSIVO EM TODOS OS NÍVEIS DE EDUCAÇÃO NÃO É REALIDADE ESTRANhA AO ORDENAMENTO JURÍDICO PÁTRIO, MAS SIM IMPERATIVO QUE SE PõE MEDIANTE REGRA EXPLÍCITA. 3. A LEI Nº 13.146/2015 INDICA ASSUMIR O COMPROMISSO ÉTICO DE ACOLhIMENTO E PLURALIDADE DEMOCRÁTICA ADOTADOS PELA CONSTITUIÇÃO AO EXIGIR QUE NÃO APENAS AS ESCOLAS PÚBLICAS, MAS TAMBÉM AS PARTICULARES DEVERÃO PAUTAR SUA ATUAÇÃO EDUCACIONAL A PARTIR DE TODAS AS FACETAS E POTENCIALIDADES QUE O DIREITO FUNDAMENTAL à EDUCAÇÃO POSSUI E QUE SÃO DENSIFICADAS EM SEU CAPÍTULO IV. 4. MEDIDA CAUTELAR INDEFERIDA. Trata-se de Ação Direta de Inconstitucionalidade, com pedido de medida cautelar, proposta pela Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino - CONFENEN, em face do § 1º do artigo 28 e artigo 30, caput, da Lei nº 13.146/2015 (Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência – Estatuto da Pessoa com Deficiência), especialmente pela presença neles do adjetivo “privadas”. A requerente alega violação aos arts. 5º, caput, incisos XXII, XXIII, LIV, 170, incisos II e III, 205, 206, caput, incisos II e III, 208, caput, inciso III, 209, 227, caput, § 1º, inciso II, todos da Constituição da República. O tema nesta Ação Direta de Inconstitucionalidade é a obrigatoriedade das escolas privadas de oferecer atendimento educacional adequado e inclusivo às pessoas com deficiência. Em apertada síntese, a requerente afirma que a Lei nº 13.146/2015 estabelece medidas de alto custo para as escolas privadas, violando os dispositivos constitucionais supra mencionados, o que levaria ao encerramento das atividades de muitas delas. Requer, cautelarmente, a suspensão da eficácia do parágrafo 1º do art. 28, e caput do art. 30 da Lei nº 13.146/2015. O Presidente da Câmara dos Deputados prestou informações acerca da tramitação do projeto de lei que deu origem à norma impugnada (eDOC 17). O Presidente do Senado Federal, em suas informações (eDOC 21), afirma a constitucionalidade da Lei nº 13.146/2015 e sua compatibilidade com a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, o que

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afastaria o fumus boni iuris. Alega a ausência de periculum in mora em virtude da vacatio legis de 180 (cento e oitenta) dias. E, por fim, para evitar o periculum in mora reverso requer o indeferimento da cautelar pleiteada. A Senhora Presidente da República informou (eDOC 23) que com a aprovação da Lei nº 13.146/2015 “a questão da deficiência, que antes era vista como um problema médico, passou a ser encarada como uma questão social, que demanda a adoção de medidas necessárias à eliminação de obstáculos e à garantia da plena inclusão na vida comunitária”. Requereu o indeferimento da medida cautelar e, por fim, a improcedência dos pedidos da petição inicial. A Advocacia-Geral da União (eDOC 34) manifestou-se pelo indeferimento da medida cautelar, sob o argumento de que os dispositivos impugnados são compatíveis com a Constituição da República. Argumenta ainda que as disposições normativas permitem a política de educação inclusiva da pessoa com deficiência, visando à garantia de igualdade de oportunidades. Foram admitidos como amicicuriae a Federação Nacional das Apaes – FENAPAES – (eDOC 31), Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down – FBASD – (eDOC 60), Associação Nacional do Ministério Público de Defesa dos Direitos dos Idosos e Pessoas com Deficiência – AMPID – (eDOC 60), o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – CFOAB – (eDOC 87) e a Associação Brasileira para a Ação por Direitos das Pessoas com Autismo – ABRAÇA (eDOC 87). Foi solicitado pronunciamento da Procuradoria-Geral da República (eDOC 88). É o relatório. Decido. Em questão inicial a ser dirimida para análise deste pedido de medida cautelar, consigno não haver óbice para a propositura desta ação pela Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino – CONFENEN. Este Tribunal chancelou em diversas oportunidades a legitimidade da requerente para acionar a jurisdição constitucional. Nesse sentido confira-se: ADI 3.330 (rel. min. Ayres Britto, DJe 21.03.2013), ADI 3.710 (rel. min. Joaquim Barbosa, DJe 26.04.2007), ADI 1007 (rel. min. Eros Grau, DJ 24.02.2006), ADI 1.266 (rel. min. Eros Grau, DJ 23.09.2005), ADI 2.448 (rel. min. Sydney Sanches, DJ 13.06.2003), ADI 1.472 (rel. min. Ilmar Galvão, DJ 25.10.2002). Ultrapassado o ponto, passo à análise dos pressupostos do pedido cautelar. A busca na tessitura constitucional pela resposta jurídica para a questão somente pode ser realizada com um olhar que não se negue a ver a responsabilidade pela alteridade compreendida como elemento estruturante da narrativa constitucional. A atuação do Estado na inclusão das pessoas com deficiência, quer mediante o seu braço Executivo ou Legislativo, pressupõe a maturação do entendimento de que se trata de ação positiva em uma dupla via. Explico: essa atuação não apenas diz respeito à inclusão das pessoas com deficiência, mas também, em perspectiva inversa, refere-se ao direito de todos os demais cidadãos ao acesso a uma arena democrática plural. A pluralidade - de pessoas, credos, ideologias, etc. - é elemento essencial da democracia e da vida democrática em comunidade. Nessa toada, a Constituição Federal prevê em diversos dispositivos a proteção da pessoa com deficiência, conforme se verifica nos artigos 7º, XXXI, 23, II, 24, XIV, 37, VIII, 40, § 4º, I, 201, § 1º, 203, IV e V, 208, III, 227, § 1º, II, e § 2º, e 244. Pluralidade

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e igualdade são duas faces da mesma moeda. O respeito à pluralidade não prescinde do respeito ao princípio da igualdade. E na atual quadra histórica, uma leitura focada tão somente em seu aspecto formal não satisfaz a completude que exige o princípio. Assim, a igualdade não se esgota com a previsão normativa de acesso igualitário a bens jurídicos, mas engloba também a previsão normativa de medidas que efetivamente possibilitem tal acesso e sua efetivação concreta. Posta a questão nestes termos, foi promulgada pelo Decreto nº 6.949/2009 a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, dotada do propósito de promover, proteger e assegurar o exercício pleno e equitativo de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais por todas as pessoas com deficiência, promovendo o respeito pela sua inerente dignidade (art. 1º). A edição do decreto seguiu o procedimento previsto no art. 5º, § 3º, da Constituição da República, o que lhe confere status equivalente ao de emenda constitucional, reforçando o compromisso internacional da República com a defesa dos direitos humanos e compondo o bloco de constitucionalidade que funda o ordenamento jurídico pátrio. É imprescindível, portanto, a análise do art. 24 da Convenção, que dispõe: “Artigo 24 Educação 1. Os Estados Partes reconhecem o direito das pessoas com deficiência à educação. Para efetivar esse direito sem discriminação e com base na igualdade de oportunidades, os Estados Partes assegurarão sistema educacional inclusivo em todos os níveis, bem como o aprendizado ao longo de toda a vida, com os seguintes objetivos: a) O pleno desenvolvimento do potencial humano e do senso de dignidade e auto-estima, além do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos, pelas liberdades fundamentais e pela diversidade humana; b) O máximo desenvolvimento possível da personalidade e dos talentos e da criatividade das pessoas com deficiência, assim como de suas habilidades físicas e intelectuais; c) A participação efetiva das pessoas com deficiência em uma sociedade livre. 2. Para a realização desse direito, os Estados Partes assegurarão que: a) As pessoas com deficiência não sejam excluídas do sistema educacional geral sob alegação de deficiência e que as crianças com deficiência não sejam excluídas do ensino primário gratuito e compulsório ou do ensino secundário, sob alegação de deficiência; b) As pessoas com deficiência possam ter acesso ao ensino primário inclusivo, de qualidade e gratuito, e ao ensino secundário, em igualdade de condições com as demais pessoas na comunidade em que vivem; c) Adaptações razoáveis de acordo com as necessidades individuais sejam providenciadas; d) As pessoas com deficiência recebam o apoio necessário, no âmbito do sistema educacional geral, com vistas a facilitar sua efetiva educação; e) Medidas de apoio individualizadas e efetivas sejam adotadas em ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e social, de acordo com a meta de inclusão plena. 3. Os Estados Partes assegurarão às pessoas com deficiência a possibilidade de adquirir as competências práticas e sociais necessárias de modo a facilitar às pessoas com deficiência sua plena e igual participação no sistema de ensino e na vida em comunidade. Para tanto, os Estados Partes tomarão medidas apropriadas, incluindo: a) Facilitação do aprendizado do braille, escrita alternativa, modos, meios e

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formatos de comunicação aumentativa e alternativa, e habilidades de orientação e mobilidade, além de facilitação do apoio e aconselhamento de pares; b) Facilitação do aprendizado da língua de sinais e promoção da identidade lingüística da comunidade surda; c) Garantia de que a educação de pessoas, em particular crianças cegas, surdocegas e surdas, seja ministrada nas línguas e nos modos e meios de comunicação mais adequados ao indivíduo e em ambientes que favoreçam ao máximo seu desenvolvimento acadêmico e social. 4. A fim de contribuir para o exercício desse direito, os Estados Partes tomarão medidas apropriadas para empregar professores, inclusive professores com deficiência, habilitados para o ensino da língua de sinais e/ou do braille, e para capacitar profissionais e equipes atuantes em todos os níveis de ensino. Essa capacitação incorporará a conscientização da deficiência e a utilização de modos, meios e formatos apropriados de comunicação aumentativa e alternativa, e técnicas e materiais pedagógicos, como apoios para pessoas com deficiência. 5. Os Estados Partes assegurarão que as pessoas com deficiência possam ter acesso ao ensino superior em geral, treinamento profissional de acordo com sua vocação, educação para adultos e formação continuada, sem discriminação e em igualdade de condições. Para tanto, os Estados Partes assegurarão a provisão de adaptações razoáveis para pessoas com deficiência”. Ou seja, à luz da Convenção Internacional sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, e, por consequência, da própria Constituição da República, o ensino inclusivo em todos os níveis de educação não é realidade estranha ao ordenamento jurídico pátrio. Ao contrário, é imperativo que se põe mediante regra explícita. Mais do que isso, dispositivos de status constitucional estabelecem a meta de inclusão plena, ao mesmo tempo em que se veda a exclusão das pessoas com deficiência do sistema educacional geral sob o pretexto de sua deficiência. Se é certo que se prevê como dever do Estado facilitar às pessoas com deficiência sua plena e igual participação no sistema de ensino e na vida em comunidade, bem como, de outro lado, a necessária disponibilização do ensino primário gratuito e compulsório, é igualmente certo inexistir qualquer limitação da educação das pessoas com deficiência a estabelecimentos públicos ou privados que prestem o serviço público educacional. A Lei nº 13.146/2015 estabelece a obrigatoriedade de as escolas privadas promoverem a inserção das pessoas com deficiência no ensino regular e prover as medidas de adaptação necessárias sem que o ônus financeiro seja repassado às mensalidades, anuidades e matrículas. Analisada a moldura normativa, ao menos neste momento processual, infere-se que, por meio da lei impugnada, o Brasil atendeu ao compromisso constitucional e internacional de proteção e ampliação progressiva dos direitos fundamentais e humanos das pessoas com deficiência. Ressalte-se que, não obstante o serviço público de educação ser livre à iniciativa privada, ou seja, independentemente de concessão ou permissão, isso não significa que os agentes econômicos que o prestam o possam fazê-lo ilimitadamente ou sem responsabilidade. É necessária, a um só tempo, a sua autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Público, bem como o cumprimento das normas gerais de educação nacional - as que se incluem não somente na Lei nº

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9.394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB), como pretende a Requerente, mas também aquelas previstas pela própria Constituição em sua inteireza e aquelas previstas pela lei impugnada em seu Capítulo IV -, ambas condicionantes previstas no art. 209 da Constituição. Não se pode, assim, pretender entravar a normatividade constitucional sobre o tema com base em leitura dos direitos fundamentais que os convolem em sua negação. Nessa linha, não se acolhe o invocar da função social da propriedade para se negar a cumprir obrigações de funcionalização previstas constitucionalmente, limitando-a à geração de empregos e ao atendimento à legislação trabalhista e tributária, ou, ainda, o invocar da dignidade da pessoa humana na perspectiva de eventual sofrimento psíquico dos educadores e “usuários que não possuem qualquer necessidade especial”. Em suma: à escola não é dado escolher, segregar, separar, mas é seu dever ensinar, incluir, conviver. Ademais, o enclausuramento em face do diferente furta o colorido da vivência cotidiana, privando-nos da estupefação diante do que se coloca como novo, como diferente. Esse estranhamento “não pode nos imobilizar em face dos problemas que enfrentamos relativamente aos direitos humanos, isto é, ao direito a ter direitos, ao contrário, o estranhamento deve ser o fio condutor de uma atitude que a partir da vulnerabilidade assume a única posição ética possível, a do acolhimento.” (ChUEIRI, Vera Karamde; CâMARA, heloísa. Direitos humanos em movimento: migração, refúgio, saudade e hospitalidade, Revista Direito, Estado e Sociedade (PUC-RJ), Vol. 45, 2014. p. 174). A Lei nº 13.146/2015 parece justamente assumir esse compromisso ético de acolhimento quando exige que não apenas as escolas públicas, mas também as particulares deverão pautar sua atuação educacional a partir de todas as facetas e potencialidades que o direito fundamental à educação possui e que são densificadas em seu Capítulo IV. Como não é difícil intuir, a capacidade de surpreender-se com, na e pela alteridade, muito mais do que mera manifestação de empatia, constitui elemento essencial para um desarmado - e verdadeiro – convívio e também debate democrático. Nesse sentido e ainda na toada da Professora Vera Karam de Chueiri ao tratar da hospitalidade, parece evidenciar-se que somente “no desestabilizar das certezas – de exclusão – surge a necessidade do encontro, do abraço, de ver os olhos de quem só se vê através da mediação de números” (ChUEIRI, Vera Karamde; CâMARA, heloísa. Direitos humanos em movimento: migração, refúgio, saudade e hospitalidade, Revista Direito, Estado e Sociedade (PUC-RJ), Vol. 45, 2014. p. 174). Para além de vivificar importante compromisso da narrativa constitucional pátria - recorde-se uma vez mais a incorporação da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência pelo procedimento previsto no art. 5º, §3º, CRFB - o ensino inclusivo milita em favor da dialógica implementação dos objetivos esquadrinhados pela Constituição da República. É somente com o convívio com a diferença e com o seu necessário acolhimento que pode haver a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, em que o bem de todos seja promovido sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (Art. 3º, I e IV, CRFB). Esse foi inclusive um dos consideranda da

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celebração da Convenção: “m) Reconhecendo as valiosas contribuições existentes e potenciais das pessoas com deficiência ao bem-estar comum e à diversidade de suas comunidades, e que a promoção do pleno exercício, pelas pessoas com deficiência, de seus direitos humanos e liberdades fundamentais e de sua plena participação na sociedade resultará no fortalecimento de seu senso de pertencimento à sociedade e no significativo avanço do desenvolvimento humano, social e econômico da sociedade, bem como na erradicação da pobreza,” Frise-se o ponto: o ensino privado não deve privar os estudantes - com e sem deficiência – da construção diária de uma sociedade inclusiva e acolhedora, transmudando-se em verdadeiro local de exclusão, ao arrepio da ordem constitucional vigente. De outro canto, impossível não recordar que o elemento constitutivo do compromisso com o outro faz-se presente nas reflexões de Emmanuel Lévinas, nas quais se aponta para uma noção de responsabilidade balizada pela ética. Vale dizer, o comportamento dá-se (e é avaliado) não a partir do “eu” ou do “nós”, mas sim pelas “necessidades do outro” como elemento constituinte. Explicam Álvaro Ricardo de Souza Cruz e Leonardo Wykrota: “O ‘Mesmo’ é inacabado, incompleto, imperfeito. O ‘Mesmo precisa do Outro para subsistir. Ele evade em busca de uma eterna impossibilidade: ser! Porque se fôssemos, o tempo deixaria de ser! Não somos, pois não temos uma essência fixa. Estamos sempre a caminho de ser, sem nunca sermos um ser para além de si. A face do Outro, enquanto legítimo estrangeiro diante de nós, sempre nos remete a um compromisso que nos constitui. É bem simples: se evadirmos para o Outro, porquanto somos incompletos, não podemos eliminar essa possibilidade exterminando o Outro! Então: ‘Não Matarás!’ Logo, um compromisso que em Lévinas não é uma obrigação no sentido tradicional do termo, mas o modo pelo qual nos constituímos como seres humanos. Assim, somente somos livres quando somos responsáveis, e não o contrário.’” (CRUZ, Álvaro Ricardo de Souza; WYKROTA, Leonardo Martins. Nos Corredores do Direito. In: CRUZ, Álvaro Ricardo de Souza. (Coord.) (O) Outro (e)(o) Direito. V. 1. Belo Horizonte: Arraes, 2015. p. 27) Nessa mesma linha, em sede doutrinária se percebeu que “(…) conviver com a diferença não é direito dos diferentes apenas; é direito nosso, da maioria, de poder conviver com a minoria; e aprender a desenvolver tolerância e acolhimento” (ARAÚJO, Luiz Alberto David. Painel sobre a Proteção das Pessoas com Deficiência no Brasil: A Aparente Insuficiência da Constituição e uma Tentativa de Diagnóstico. In: ROMBOLI, Roberto; ARAÚJO, Marcelo Labanca Corrêa de (Orgs.). Justiça Constitucional e Tutela Jurisdicional dos Direitos Fundamentais. Belo Horizonte: Arraes, 2015. p. 510). Diante disso, torna-se imperativo analisar, desde logo, o pedido de concessão urgente de medida cautelar, considerando, a um só tempo, a relevância do tema ora posto à análise e a necessidade de uma imediata resposta desta Corte Suprema aos questionamentos levantados nesta ADI. Assim, se evita que, com a pluralidade de potenciais decisões conflitantes nas instâncias ordinárias, semeie-se insegurança jurídica e violação de direitos fundamentais. Consigno, por oportuno, que o Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal assim dispõe sobre as atribuições

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do Relator: “Art. 21. São atribuições do Relator: (...) IV - submeter ao Plenário ou à Turma, nos processos da competência respectiva, medidas cautelares necessárias à proteção de direito suscetível de grave dano de incerta reparação, ou ainda destinadas a garantir a eficácia da ulterior decisão da causa; V - determinar, em caso de urgência, as medidas do inciso anterior, ad referendum do Plenário ou da Turma”. Como se depreende do dispositivo acima transcrito, cabe ao Relator, constatada a possibilidade de a demora na apreciação do pleito cautelar gerar grave dano a direito, deferir cautelares, ad referendum do Plenário, suficientes para a sua adequada proteção. Dessa forma, e por identidade de razão, não apenas pode, mas deve o Relator, atendendo ao direito fundamental de acesso à jurisdição, apreciar desde logo a medida cautelar para indeferi-la, quando constatar que a própria demora na apreciação do pleito cautelar pelo Plenário poderá, por si só, gerar grave dano, como acima consignei. Ressalte-se que os dispositivos regimentais acima citados jamais foram objeto de questionamento no âmbito de fiscalização abstrata de constitucionalidade nesta Corte, de modo que a eles são aplicáveis a presunção de constitucionalidade dos atos do Poder Público, sendo possível sua aplicação nos excepcionais casos para os quais estão previstos. Conclui-se, portanto, pela possibilidade do exame monocrático da questão atinente ao pedido de medida cautelar em ação direta de inconstitucionalidade, ad referendum do Plenário, com fundamento no próprio art. 21, V, do RISTF, e na jurisprudência da Corte. De outro canto, a presente decisão não ofende aprioristicamente a competência do Tribunal Pleno, consistindo apenas em um diferimento da análise colegiada, dada a excepcionalidade institucional e as peculiaridades empíricas do presente caso. Isso posto, não se vislumbra por ora, no olhar prefacial que caracteriza o juízo cautelar, a fumaça do direito pleiteado, o que igualmente tem reflexos na análise do periculum in mora invocado pela requerente. Tal ocorre no presente caso pelo fato de que não se pode dizer que os estabelecimentos de ensino privados tenham sido surpreendidos por normatividade inconstitucional estabelecida sobre o tema pela lei impugnada. O ensino inclusivo é política pública estável, desenhada, amadurecida e depurada ao longo do tempo em espaços deliberativos nacionais e internacionais dos quais o Brasil faz parte. Não bastasse isso, foi incorporado à Constituição da República como regra. E ainda, não é possível sucumbir a argumentos fatalistas que permitam uma captura da Constituição e do mundo jurídico por supostos argumentos econômicos que, em realidade, se circunscrevem ao campo retórico. Sua apresentação desacompanhada de sério e prévio levantamento a dar-lhes sustentáculo, quando cabível, não se coaduna com a nobre legitimidade atribuída para se incoar a atuação desta Corte. Inclusive o olhar voltado ao econômico milita em sentido contrário ao da suspensão da eficácia dos dispositivos impugnados. Como é sabido, as instituições privadas de ensino exercem atividade econômica e, enquanto tal, devem se adaptar para acolher as pessoas com deficiência, prestando serviços educacionais que não enfoquem a questão da deficiência limitada à perspectiva médica, mas também ambiental. Esta última deve ser pensada a partir dos espaços, ambientes e recursos adequados à superação de barreiras

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– as verdadeiras deficiências de nossa sociedade. Tais requisitos, por mandamento constitucional, aplicam-se a todos os agentes econômicos, de modo que há verdadeiro perigo inverso na concessão da cautelar. Perceba-se: corre-se o risco de se criar às instituições particulares de ensino odioso privilégio do qual não se podem furtar os demais agentes econômicos. Privilégio odioso porque oficializa a discriminação. Por fim, o fato de a própria Lei nº 13.146/2015 - publicada em 07.07.2015 - ter estabelecido prazo de vacatio de 180 (cento e oitenta) dias (art. 127) igualmente afasta a pretensão acautelatória. Diante dos pressupostos teóricos e da moldura normativa esboçados, indefiro, ad referendum do Plenário deste STF, a medida cautelar por não vislumbrar a fumaça do direito pleiteado e, por consequência, periculum in mora. Peço dia para o julgamento do referendo da presente decisão, por mim indeferida, pelo Plenário desta Corte. Publique-se. Intimem-se. Brasília, 18 de novembro de 2015. Ministro Edson Fachin Relator Documento assinado digitalmente

CONFLITO DE COMPETÊNCIA

CC 7930 Relator(a): Min. LUIZ FUXJulgamento: 29/10/2015DECISÃO: CONFLITO DE COMPETÊNCIA ENTRE A JUSTIÇA FEDERAL E O TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALhO. COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL PARA DIRIMIR O CONFLITO. ART. 114, I, DA CRFB/88. RREE 597.368 e 578.543. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALhO, A QUAL, NO ENTANTO, DEVE OBSERVAR A IMUNIDADE ABSOLUTA DE JURISDIÇÃO ATRIBUÍDA AOS ORGANISMOS INTERNACIONAIS, NOS TERMOS DA JURISPRUDÊNCIA DO STF. Decisão: Trata-se de conflito negativo de competência suscitado pelo Juiz Federal da 5ª Vara da Seção Judiciária do Estado do Rio Grande do Sul em face do Tribunal Superior do Trabalho, que se declarou incompetente para processar e julgar ação trabalhista proposta por Andrio de Mello Garcia contra o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD, a Cia de Processamento de Dados do Estado do Rio Grande do Sul - PROCERGS, do Estado do Rio Grande do Sul e da União. A reclamação trabalhista foi ajuizada postulando-se o pagamento de valores relativos a verbas rescisórias decorrentes de vínculo de trabalho temporário. A ação foi processada e julgada perante a 18ª Vara do Trabalho de Porto Alegre/RS, tendo sido os pedidos julgados procedentes. Interposto recurso ordinário pelo PNUD, o Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região rejeitou a insurgência, afirmando a incompetência da justiça trabalhista para processar e julgar o caso, em acórdão assim ementado, verbis: “EMENTA: INCOMPETENCIA DA JUSTIÇA DO TRABALhO. RELAÇõES JURIDICOADMINISTRATIVAS. A Justiça do Trabalho e incompetente para o exame de contrato temporário/emergencial firmado pelo ente publico, uma vez que se trata de

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relação jurídico-administrativa. Reformula-se anterior entendimento em sentido contrario, para conferir interpretação restritiva a competência da Justiça do Trabalho”. A questão chegou à apreciação do Tribunal Superior do Trabalho, que manteve a decisão de incompetência da Justiça trabalhista. Encaminhado o feito ao Juízo suscitante, este argumentou que não haveria natureza administrativa no vínculo discutido, ao fundamento de que teria se dado entre o particular e o indicado organismo internacional, sem qualquer participação de pessoa jurídica de direito público. Aduziu incidir, no caso, o entendimento afirmado por esta Corte na ADI 3.395-MC, suscitando o presente conflito perante o STF. Remetidos os autos à Procuradoria-Geral da República, apresentou-se parecer assim ementado: “CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. CONSTITUCIONAL. TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALhO E JUÍZO FEDERAL DE PRIMEIRA INSTâNCIA. VÍNCULO JURÍDICO-ADMINISTRATIVO. EMPREGADO PÚBLICO TEMPORÁRIO. MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 3.395. EXCLUEM-SE DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALhO AS CAUSAS INSTAURADAS ENTRE O PODER PÚBLICO E SEUS SERVIDORES. 1 – Tem competência a justiça comum federal para processar e julgar reclamação trabalhista proposta por empregado público em face do PNUD – Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento, da PROCERGS – Companhia de Processamento de Dados do Estado do Rio Grande do Sul, do Estado do Rio Grande do Sul e da União, pois, ao ocupar cargo público, o empregado estabeleceu com o poder público vínculo jurídico-administrativo que se mantém incólume, ainda que o estatuto que tenha regido a relação seja a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e se trate de contrato temporário. Precedentes do Supremo Tribunal Federal: ADI 3.395- MC/DF e RCL 11.518. 2 – Não tem competência a Justiça do Trabalho para julgar causas trabalhistas em que figurem como parte organismos internacionais. Precedentes do Supremo Tribunal Federal: RE 578.543, RE 597-368 e RE 599.076. 3 – Parecer pelo conhecimento do conflito, para que seja declarada a competência do juízo suscitante para a causa.” É o relatório. Decido. Preliminarmente, reconheço a competência desta Corte para julgar o presente conflito negativo de competência, estabelecido entre o Tribunal Superior do Trabalho e Juiz Estadual. Com efeito, o Pleno do Supremo Tribunal Federal firmou orientação jurisprudencial no sentido de que pertence a esta Corte a competência originária para processar e julgar os conflitos de competência instaurados entre Tribunal Superior da União, de um lado, e magistrado de primeira instância a ele não vinculado, de outro. Neste sentido: “CONFLITO DE COMPETÊNCIA - TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALhO E JUIZ FEDERAL DE PRIMEIRA INSTâNCIA - COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL PARA DIRIMIR O CONFLITO (...). - Pertence, ao Supremo Tribunal Federal, a competência para dirimir, originariamente , conflitos de competência instaurados entre qualquer Tribunal Superior da União e magistrado de primeira instância que não esteja a ele vinculado. Precedentes” (CC 7.027, Rel. Min. Celso de

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Mello, Pleno, DJ de 01/09/1995). Quanto ao mérito, ressalto que, apesar de a reclamatória trabalhista ter sido proposta também contra a União, o Estado do Rio Grande do Sul e a Cia de Processamento de Dados do Estado do Rio Grande do Sul – PROCERGS, ambos os juízos reconheceram que o vínculo discutido na ação foi estabelecido direta e exclusivamente com Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD, organismo internacional. A propósito, cito os seguintes trechos das manifestações do juízo trabalhista perante o qual proposta a ação e do juízo suscitante, respectivamente: “De forma deficiente, o autor não apresenta qualquer fundamento jurídico para a condenação de 2 °, 3° e 4° réus. Apenas argumenta que tinha essas entidades como tomadoras de serviço. Também não faz requerimento no petitório de que condenações pretende para cada um dos demandados. Nem mesmo no pedido de reconhecimento de vinculo de emprego esclarece com que requerido busca a anotação da relação de trabalho subordinado. Assim, ausente o requisito constante no art. 840, § 1 °, da CLT, correspondente ao art. 282, III, do CPC. Pronuncia-se a inépcia da petição inicial em relação ao pedido aos réus ‘COMPANHIA DE PROCESSAMENTO DE DADOS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL — PROCERGS, UNIAO FEDERAL e ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL’, extinguindo-se o feito sem julgamento de mérito em relação a esses.” “Segundo o que dali consta -não infirmado no acórdão que recusou competência à justiça obreira- o autor foi contratado sob a égide do programa PROMOFAZ, para modernização da Secretaria da Fazenda do ERGS, programa este desenvolvido sob os auspícios do Programa das nações unidas para o desenvolvimento – PNUD. O PROMOFAZ seria operacionalizado em dois segmentos: um administrado pela central de licitações do ERGS; outro pelo organismo de cooperação internacional PNUD, ele próprio realizando contratações de consultorias individuais. É justamente o caso do autor, que foi contratado exclusivamente por aquela instituição internacional. Trata-se portanto de contratação entabulada entre organismo internacional e particular nacional, sem participação de pessoa de direito público interno. Indevida a qualificação jurídica, portanto, e veniaconcessa, emprestada pelo eg. TRT4 ao contrato, que o equiparou a contrato temporário de Direito Administrativo, figura que originou jurisprudência consolidada no eg. STF dando pela competência da Justiça Federal para seu julgamento (ADI 3395/DF e reclamações tiradas contra seu descumprimento).” Com efeito, não se tratando de relação que tenha se dado com a administração direta da União ou do Estado do Rio Grande do Sul, inexiste, pelo que consta dos autos, vínculo jurídico-administrativo a ensejar a competência da justiça federal para apreciar a questão. Destarte, não é de se aplicar o entendimento afirmado por esta Corte no julgamento da ADI 3.395-MC, rel. Min. Cezar Peluso, Pleno, DJ de 10/11/2006, cujo acórdão foi assim ementado: “INCONSTITUCIONALIDADE. Ação direta. Competência. Justiça do Trabalho. Incompetência reconhecida. Causas entre o Poder Público e seus servidores estatutários. Ações que não se reputam oriundas de relação de trabalho. Conceito estrito desta relação. Feitos da competência da Justiça Comum. Interpretação do art. 114, inc. I, da

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CF, introduzido pela EC 45/2004. Precedentes. Liminar deferida para excluir outra interpretação. O disposto no art. 114, I, da Constituição da República, não abrange as causas instauradas entre o Poder Público e servidor que lhe seja vinculado por relação jurídico-estatutária”. Aliás, convém rememorar a disposição do art. 114, I, da CRFB/88, conforme redação dada pela Emenda Constitucional nº 45/2004, que assim dispõe (grifos nossos): “Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;” Desse modo, exsurge a competência da Justiça do Trabalho para apreciar o feito. Não obstante, a título de obter dictum, ressalte-se ao juízo competente, ao qual caberá a análise total do feito, que esta Corte já assentou no sentido de que a Organização das Nações Unidas (ONU) e sua agência Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) possuem imunidade de jurisdição e de execução em relação às demandas trabalhistas, notadamente a partir do julgamento dos RREE 597.368 e 578.543. A propósito, cito os seguintes julgados: “AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇõES UNIDAS (ONU). PROGRAMA DAS NAÇõES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO (ONU/PNUD). PRIVILÉGIOS E IMUNIDADES DAS NAÇõES UNIDAS (DECRETO 27.784/1950). PRECEDENTE DO PLENÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. I – Convenção sobre Privilégios e Imunidades das Nações Unidas, promulgada no Brasil pelo Decreto 27.784/1950: “A Organização das Nações Unidas, seus bens e haveres, qualquer que seja sua sede ou o seu detentor, gozarão de imunidade de jurisdição, salvo na medida em que a Organização a ela tiver renunciado em determinado caso. Fica, todavia, entendido que a renúncia não pode compreender medidas executivas”. II – No âmbito do direito interno, a referida convenção tem natureza equivalente a das leis ordinárias e é aplicável às lides trabalhistas. Constitucionalidade declarada pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal no RE 578.543/MT. III – Agravo regimental a que se nega provimento.” (RE 599.076-AgR, rel. Min. Ricardo Lewandowski, Segunda Turma, DJe de 14/8/2014) “DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO. DIREITO CONSTITUCIONAL. IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇõES UNIDAS (ONU). PROGRAMA DAS NAÇõES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO (ONU/PNUD). RECLAMAÇÃO TRABALhISTA. CONVENÇÃO SOBRE PRIVILÉGIOS E IMUNIDADES DAS NAÇõES UNIDAS (DECRETO 27.784/1950). APLICAÇÃO. 1. Segundo estabelece a “Convenção sobre Privilégios e Imunidades das Nações Unidas”, promulgada no Brasil pelo Decreto 27.784, de 16 de fevereiro de 1950, “A Organização das Nações Unidas, seus bens e haveres, qualquer que seja seu detentor, gozarão de imunidade de jurisdição, salvo na medida em que a Organização a ela tiver renunciado em determinado caso. Fica, todavia, entendido que a renúncia não pode compreender medidas executivas”. 2. Esse preceito normativo, que no direito interno tem natureza equivalente a das leis ordinárias,

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aplica-se também às demandas de natureza trabalhista. 3. Recurso extraordinário provido.” (RE 597.368, rel. Min. Ellen Gracie, redator para o acórdão Min. Teori Zavascki, Tribunal Pleno, DJe de 27/5/2014) Nesse sentido, cito trecho do voto proferido pela Min. Ellen Gracie no julgamento do RE 597.368: “O acórdão recorrido, deixando de lado todas essas normas incorporadas ao nosso ordenamento jurídico e que exprimem compromissos internacionais solenemente assumidos pelo Estado brasileiro, afastou a imunidade jurisdicional da ONU/PNUD asseverando ter a Constituição Federal estabelecido, em seu art, 114, a competência da Justiça do Trabalho para julgar as demandas trabalhistas que envolvam os entes de direito público externo. Esse entendimento contraria, em primeiro lugar, a interpretação que esta Suprema Corte deu, por unanimidade, ao art. 114 da Constituição Federal, por ocasião do julgamento da Apelação Cível 9.696, de que foi relator o eminente Ministro Sydney Sanches. Como já exposto no presente voto, esta Casa constatou, naquele julgado, que o dispositivo constitucional ora em exame promoveu, tão-somente, uma redefinição de competência que, na ordem constitucional pretérita, era atribuída a outro órgão do Poder Judiciário brasileiro, a Justiça Federal comum. Conforme esclareceu, naquela ocasião, o eminente Ministro Francisco Rezek, esse comando ‘não exclui a possibilidade de que essa competência resulte acaso inexercitada’, não tendo, assim, provocado qualquer alteração no campo da imunidade de jurisdição das organizações internacionais. Além disso, a interpretação impugnada do art. 114 da Carta Magna, dada pelo Tribunal Superior do Trabalho, incorre em flagrante equívoco técnico, pois confunde os institutos processuais da competência e da jurisdição. Enquanto esta se define como uma das mais relevantes atribuições do Estado, qual seja, a aplicação do Direito, aquela se constitui numa repartição da função jurisdicional entre os juízes e Tribunais que formam o Poder Judiciário. […] É de ser reconhecer, portanto, diante de tudo que aqui foi exposto, que a Justiça do Trabalho, interpretando de forma equivocada a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal a respeito da relativização da imunidade jurisdicional dos Estados estrangeiros e o texto do art. 114 da Constituição, tem afrontado, como parte do Estado brasileiro que é, relevantes acordos internacionais celebrados pelo País e que garantem a imunidade de jurisdição e de execução de organizações internacionais de importância mundial. Trata-se de assunto da maior gravidade, pois seria ilusão pensar que essas entidades, chamando o País à sua responsabilidade internacional, não reagirão de forma veemente contra tal inadimplência, em patente prejuízo ao desenvolvimento social e econômico do Brasil, em tão grande parte incentivados pela essencial cooperação técnica promovida por tais organismos.” Ex positis, nos termos do art. 120, parágrafo único, do Código de Processo Civil, conheço do presente conflito negativo de competência e declaro a competência da Justiça Trabalhista para processar e julgar a causa, observados os parâmetros assentados por esta Suprema Corte no julgamento dos RREE 597.368 e 578.543. Publique-se.

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MEDIDA CAUTELAR NO HABEAS CORPUS

HC 132418 MC / DF - DISTRITO FEDERALRelator(a): Min. GILMAR MENDESData do julgamento: 31/12/2015Decisão: Trata-se de habeas corpus, com pedido de medida liminar, impetrado em favor de JOhN GERRITSEN contra ato do Ministro Relator da Extradição 1.409. Narra a inicial que o paciente foi preso para fins de extradição em 24/7/2015, encontrando-se sob custódia na carceragem da Superintendência da Lapa em São Paulo. O impetrante afirma que o extraditando é pessoa idosa, residente no Brasil e sofre com problemas cardíacos e tem diabetes. Diz, mais, que o Estado requerente teria perdido o interesse no prosseguimento do feito, pois não se pronunciou quanto ao pedido de informações do Ministro Relator. Considera, ademais, injustificado o prazo de mais de 5 meses em que o paciente se encontra preso, o que, no seu entender, “extrapola qualquer juízo de proporcionalidade ou bom senso”. Informa, na sequência, que JOhN GERRITSEN é apenas investigado pelo crime de falsificação de documentos e lavagem de dinheiro pela Justiça dos Países Baixos, nos termos da legislação penal daquele Estado estrangeiro. Registra, também, que a lei daquele país concede a pena de multa como alternativa à prisão e que ele estaria livre na Holanda ou mesmo no Brasil, considerada tal legislação. Aduz, ainda, que o paciente não representa nenhum risco às investigações ou risco de fuga, o que torna desnecessária sua prisão preventiva. Pede, por fim, a concessão de medida liminar para o relaxamento ou revogação da prisão preventiva, com a expedição de alvará de soltura em favor do paciente. Requer, ainda, a autorização para exame médico, “para diagnóstico e prescrição de medicamentos”, em caráter de urgência. É o breve relatório. Decido. É longa e forte a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido de que a prisão preventiva é condição de procedibilidade para o processo extradicional (EXT 579-QO, Rel. Min. Celso de Mello). É verdade, contudo, que em situações excepcionais a liberdade provisória é admitida (EXT 1.254-QO, Rel. Min. Ayres Britto). No entanto, no perfunctório exame que se faz possível nessa fase processual, não verifico a excepcionalidade capaz de afastar a regra. Registro, de início, que a Primeira Turma deste Tribunal já teve a oportunidade de examinar um requerimento de revogação da prisão preventiva do paciente, tendo indeferido o pedido em acórdão assim ementado: “EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM EXTRADIÇÃO. DECISÃO MONOCRÁTICA. CONVERSÃO EM AGRAVO REGIMENTAL. PEDIDO DE REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA. INDEFERIMENTO. NÃO OCORRÊNCIA DE SITUAÇÃO EXCEPCIONAL. (...) Não vislumbro, por ora, a ocorrência de fatos novos a alterar o entendimento sufragado pela Turma. No que concerne ao suposto não pronunciamento do Estado requerente, anoto que, em 21/12/2015, o Ministério da Justiça encaminhou Nota Verbal pela qual a Embaixada dos Países Baixos enviou os textos legais relativos à prescrição e suas causas de interrupção e suspensão (Petição 66.843/2015). Quanto ao estado

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de saúde do paciente, o impetrante não trouxe maiores informações que sustentem suas alegações, valendo registrar que, em depoimento prestado ao Juízo da 5ª Vara do Fórum Federal Criminal de São Paulo, o paciente afirmou que só teria diabetes e nenhuma outra enfermidade (fls. 110-112 da Extradição). Isso posto, indefiro o pedido de liminar. Solicite-se informações à Superintendência da Polícia Federal em São Paulo a respeito do estado de saúde do paciente. Abra-se vista à Procuradoria-Geral da República. Publique-se. Brasília, 31 de dezembro de 2015. Ministro Ricardo Lewandowski. Presidente.

HC 132359 MC / DF - DISTRITO FEDERALRelator(a): Min. ROBERTO BARROSOJulgamento: 23/12/2015Decisão: Trata-se de habeas corpus, com pedido de medida liminar, impetrado em favor do nacional de Trinidad e Tobago RICARDO KENRICK MOREAU contra suposta ilegalidade perpetrada na PPE 758 e na EXT 1.427, ambas de relatoria do Min. Teori Zavascki. Narra a inicial que o paciente foi preso em decorrência de decisão proferida pelo Ministro Teori Zavascki nos autos da PPE 758, cujo requerente é o Governo dos Estados Unidos da América, tendo a medida prisional sido cumprida em 9/9/2015. Afirmam os impetrantes que a Nota Verbal da Embaixada dos Estados Unidos foi protocolada nesta Corte em 16/11/2015, em desacordo com os requisitos exigidos pelo Artigo IX do Tratado Brasil-EUA para a formalização da extradição, notadamente pelaausência de cópia da norma sobre prescrição vigente no Estado requerente. Aduzem haver discrepância entre as datas lançadas na peça acusatória com aquelas nas quais os atos criminosos teriam sido praticados, o que, segundo entendem, colocaria em dúvida a autoria dos fatos delituosos imputados ao paciente. Alegam, adiante, que o prazo para a apresentação formal do pedido de extradição, constante do Tratado Brasil-EUA, não teria sido cumprido, fato que demandaria o reconhecimento da ilegalidade na hipótese. Sustentam, ademais, que o Artigo IX do Tratado Brasil-EUA determina que o pedido extradicional deve ser acompanhado “de cópia autenticada dos textos das leis aplicáveis do Estado requerente, inclusive as leis relativas à prescrição da ação ou da pena e dados ou documentos que provem a identidade do indivíduo reclamado”, sendo que referida exigência é indispensável ao prosseguimento do processo de extradição. Sintetizam, por fim, os elementos motivadores do presente writ nestes termos: “I – não apresentação do pedido de extradição dentro do prazo estabelecido pelo Tratado Brasil-Estados Unidos; II – não apresentação do pedido de extradição com todas as formalidades atendidas, nos termos do Tratado Brasil-Estados Unidos; III – a incongruência acusatória que atribui fatos impossíveis de terem sido praticados pelo Extraditando”. Requerem, ao final, a concessão de medida liminar para que se determine a expedição de alvará de soltura em favor do paciente, ou, alternativamente, seja colocado em regime de custódia domiciliar. É o breve relatório.

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Decido. (...) “Efetivada a prisão do extraditando em 9.9.2015 (fls. 35 da PPE 758), com a subsequente apresentação do pedido extradicional em novembro de 2015, e atendidas as demais formalidades para processamento do pleito, nos termos dos arts. 81, 82 e 85 da Lei 6.815/1990 e 208 do RISTF, designo para 27 de novembro de 2015, às 16h00m, nas dependências da sede da Seção Judiciária de Santa Catarina, em Florianópolis, audiência para interrogatório do nacional de Trinidad e Tobago, Ricardo Kenrick Moreau, que consta atualmente recolhido na Penitenciária de Florianópolis/SC”. É certo, ainda, que, em breve consulta aos autos eletrônicos da EXT 1.427, verifica-se que o pedido de extradição foi entregue às autoridades brasileiras em 5/11/2015 (pág. 5 do documento eletrônico 11 dos autos da extradição), fato que, em princípio, afasta a alegação quanto ao não cumprimento do prazo previsto no Tratado Brasil-EUA. Assim, nesse exame superficial, próprio dessa fase processual, não se faz possível atestar a presença do fumus boni iuris, indispensável para a concessão da medida de urgência ora pleiteada. Isso posto, indefiro a liminar. Abra-se vista ao Ministério Público Federal. Publique-se. Brasília, 23 de dezembro de 2015. Ministro Ricardo Lewandowski. Presidente

HC 132339 MC / DF - DISTRITO FEDERALRelator(a): Min. GILMAR MENDES Julgamento: 22/12/2015Decisão: Trata-se de habeas corpus, com pedido de medida liminar, impetrado pela Defensoria Pública da União em favor de BERNABÉ CERRO JAIME, contra suposto ato omissivo do Relator da Extradição 1.375/DF, consubstanciado no fato de o paciente não ter sido posto em liberdade a partir de 7 de dezembro de 2015, consoante decisão da Primeira Turma desta Corte. O impetrante narra que o Governo da Espanha formalizou pedido de extradição executória do paciente, tendo o mandado de prisão sido cumprido em 3/4/2015. Afirma que em 25/8/2015 a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal deferiu o pedido de extradição sem a exclusão dos 5 meses de prisão, razão pela qual a defesa opôs embargos declaratórios para suprir tal omissão e, subsidiariamente, ter reconhecida a possibilidade de se executar a extradição apenas até 6/12/2015, quando o saldo da pena imposta ao paciente atingiria exatamente um ano, o que impediria a extradição, nos termos do Artigo II, item 2, do Tratado de Extradição entre a República Federativa do Brasil e o Reino da Espanha. Informa, ademais, que em 24/11/2015, a Primeira Turma deste Tribunal, por maioria de votos, acolheu os embargos de declaração, sem efeitos infringentes, para esclarecer que o paciente apenas poderia ser entregue ao Estado requerente até 6/12/2015. O respectivo acórdão está pendente de publicação. O impetrante alega que houve expedição de comunicação da referida decisão aos Ministros de Estado da Justiça e das Relações Exteriores, bem como ao Diretor-Geral da Polícia Federal, não tendo, no entanto, sido providenciada sua entrega ao Reino da Espanha, razão pela qual o paciente requereu sua soltura, considerado o transcurso do prazo para a concretização da extradição. Aduz, ainda, que o Procurador-

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Geral da República manifestou-se pelo acolhimento do pedido de soltura formulado pela Defensoria Pública, com a imediata liberação do paciente. O impetrante diz mais que os autos foram conclusos ao relator em 15/12/2015, sem que até o momento tenha sido exarada ordem de soltura do paciente que se encontra custodiado na carceragem da Polícia Federal em São Paulo. Entende, assim, haver constrangimento ilegal passível de correção pela via do habeas corpus. Pede, para tanto, o afastamento da Súmula 606, em virtude de tratar-se de flagrante ilegalidade ou abuso de poder, conforme sustenta. Defende em suas razões a presença de fumus boni iuris e do periculum in mora. Requer, assim, a concessão de medida liminar para que “seja o paciente posto em liberdade, expedindo-se alvará de soltura em seu favor, a ser dirigido à carceragem da Polícia Federal em São Paulo/SP, onde se encontra detido” (pág. 7 da inicial). É o breve e suficiente relatório. Decido. (....) Colho do parecer da PGR o seguinte trecho: “3. É certo que a decisão tomada nos embargos de declaração ainda não foi publicada, o que poderia ensejar eventual discussão sobre sua eficácia. 4. No entanto, considerando que foi fixada uma data peremptória para a retirada do extraditando, após a qual o ato não poderia se efetivar em razão da pena a ser cumprida ser inferior a um ano, não há que se cogitar de publicação do acórdão para efeito de cumprimento do que decidido, ainda mais tendo em vista que essa Corte providenciou a comunicação da decisão ao Estado requerente por intermédio do Ministério da Justiça. 5. Ante o exposto, manifesta-se o Ministério Público Federal pelo acolhimento do pedido formulado pela Defensoria Pública, com a imediata libertação do extraditando” (doc. eletrônico 7). Pois bem, posta a situação nestes termos resta caracterizado o constrangimento ilegal suportado pelo paciente. Não cabe a esta Corte aferir as razões pelas quais o Estado requerente não providenciou a retirada do extraditando do País, o que, tal como afirmado no parecer ministerial, inviabilizou, em princípio, a execução da extradição, consoante decisão da Primeira Turma. Isso posto, defiro a medida liminar, para que o paciente seja posto em liberdade, expedindo-se alvará de soltura em seu favor. Comunique-se, com urgência, ao Excelentíssimo Senhor Ministro de Estado da Justiça e ao Diretor-Geral da Polícia Federal. Abra-se vista ao Ministério Público Federal. Publique-se. Brasília, 22 de dezembro de 2015. Ministro RICARDO LEWANDOWSKI

PETIÇÃO AVULSA NA EXTRADIÇÃO

Ext 991 PET-AV / URU - REPÚBLICA ORIENTAL DO URUGUAIRelator(a): Min. ROBERTO BARROSOJulgamento: 28/12/2015Decisão: Ref. Petições 66.540/2015, 66.922/2015 e 67.246/2015. O requerente nas três petições, em suma, relata que o Governo do Uruguai ao não reconhecer o período em que ele esteve preso preventivamente para fins da extradição, nega-lhe o direito à detração de tal período. Pede, assim, providências para afastar a suposta ilegalidade. Analisados os autos, verifico que o caso sob exame não se amolda à hipótese prevista

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no art. 13, VIII, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal. Aguarde-se o retorno do Ministro Relator. Encaminhem-se as petições ao gabinete de Sua Excelência. Publique-se. Brasília, 28 de dezembro de 2015. Ministro Ricardo Lewandowski.

PET-AV Ext 991 RELATOR: Min. Roberto BarrosoDATA DO JULGAMENTO: 28/12/2015DESPACHO: O procedimento de extradição ostenta natureza jurídica de medida de cooperação jurídica internacional em matéria penal. No ordenamento brasileiro, cumpre a este Supremo Tribunal o controle de legalidade da medida e sua eventual autorização, como se deu no caso concreto. Não se desconhece possa o Tribunal impor ao Estado requerente compromissos que se alinhem com os valores da ordem jurídico-constitucional brasileira; no entanto, em caso de eventual descumprimento destes compromissos, cumpre ao Estado brasileiro, representado no plano internacional pelo Chefe do Poder Executivo - e não ao Supremo Tribunal Federal - a adoção de medidas que entenda cabíveis. Quanto ao pedido de elaboração de certidão pela Secretaria deste Tribunal, tem-se que a diligência pode ser requerida diretamente tanto pela Defensoria Pública da União quanto pelo Ministério Público Federal, observado o direito de certidão consagrado na Constituição Federal (art.5º, XXXIV, b, da CF), de modo que sua obtenção prescinde de intervenção judicial, falecendo, portanto, interesse ao pedido. Por estas razões, nada a prover quanto ao que requerido na presente PET-AV na EXT 991.

PETIÇÃO

Pet 5847 Julgamento: 06/11/2015Relator(a): Min. ROSA WEBERDecisão1. Trata-se de petição ajuizada em 19.10.2015, por Olga Elena Weischtordt, à alegação de afronta ao art. 5º, caput, II, XI, XXII, XXIV, XXXIII, XXXIV, XXXV, LIV, LV, LX e LXXVIII, da Constituição da República, aos arts. 1º e 17 da DeclaraçãoUniversal dos Direitos humanos e aos arts. 8º, 21 e 25 da Convenção Americana de Direitos humanos.Requer seja decretada a nulidade da citação no processo nº 0212200-81.2002.8.26.0100 (583.00.2002.212200), em trâmite na 30ª Vara Cível da Comarca de São Paulo, e “determinada a subsequente restituição do imóvel e de todo o seu conteúdo àPeticionante, da mesma forma como se encontrava anteriormente à expropriação ilegal”.É o relatório.2. Decido.Nos termos do art. 102, I, da Constituição da República, compete ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar, originariamente:“a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal;b) nas

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infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da República;c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas daUnião e os chefes de missão diplomática de caráter permanente;d) o habeas corpus, sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas anteriores; o mandado de segurança e o habeas data contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas daUnião, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal Federal;e) o litígio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a União, o Estado, o Distrito Federal ou o Território;f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta;g) a extradição solicitada por Estado estrangeiro;h) (Revogado pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)i) o habeas corpus, quando o coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou o paciente for autoridade ou funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo Tribunal Federal, ou se trate de crime sujeito à mesmajurisdição em uma única instância;j) a revisão criminal e a ação rescisória de seus julgados;l) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões;m) a execução de sentença nas causas de sua competência originária, facultada a delegação de atribuições para a prática de atos processuais;n) a ação em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente interessados, e aquela em que mais da metade dos membros do tribunal de origem estejam impedidos ou sejam direta ou indiretamente interessados;o) os conflitos de competência entre o Superior Tribunal de Justiça e quaisquer tribunais, entre Tribunais Superiores, ou entre estes e qualquer outro tribunal;p) o pedido de medida cautelar das ações diretas de inconstitucionalidade;q) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição do Presidente da República, do Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do Tribunal de Contas daUnião, de um dos Tribunais Superiores, ou do próprio Supremo Tribunal Federal;r) as ações contra o Conselho Nacional de Justiça e contra o Conselho Nacional do Ministério Público”. A manifesta incompetência deste Supremo Tribunal Federal para, forte no art. 102, I, da Constituição da República, processar e julgar, originariamente, a pretensão veiculada na petição em apreço enseja, desde logo, a negativa do seu seguimento.Observo, à demasia, que as garantias constitucionais do acesso ao Poder Judiciário e da ampla defesa, insculpidas nos incisos XXXV e LV do art. 5º da Carta Política, não eximem as partes de observar a legislação processual vigente, o que em absolutoimplica excesso de formalismo, cerceamento de defesa ou negativa de acesso à jurisdição, por se tratar de exigência cuja observância constitui verdadeira imposição do devido processo legal (art. 5º, LIV, da CF).3. Ante o exposto, forte nos arts. 38 da Lei 8.038/1990 e 21, § 1º, do RISTF, nego seguimento ao presente feito.Publique-se.

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RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS

RHC 130235Julgamento: 03/11/2015Relator(a): Min. ROBERTO BARROSODecisão:PROCESSUAL PENAL MILITAR. RECURSO ORDINÁRIO EM hABEAS CORPUS. APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DO ART. 366 DO CPP. IMPOSSIBILIDADE. 1. Trata-se de recurso ordinário em habeas corpus, com pedido de concessão de liminar, interposto contra acórdão unânime do Superior Tribunal Militar, da Relatoria do Ministro Gen. Ex. Fernando Sérgio Galvão, assim ementado: “hABEAS CORPUS. CITAÇÃO POR EDITAL. VALIDADE. APLICAÇÃO DO ART. 366 DO CPP. SUSPENSÃO DO PROCESSO E DA PRESCRIÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. DECISÃO UNâNIME. hipótese de aplicação subsidiária da regra prevista no art. 366 do CPP, c/c o art. 1º, § 1º, e art. 3º, alínea a, todos do CPPM, para suspender o feito e a contagem do prazo prescricional com a consequente anulação dos atos processuais, desde a citação editalícia. A suspensão do processo e da prescrição, nos termos do art. 366 do CPP, conflita com a disposição contida no art. 292 do CPPM. Esgotadas as medidas legais visando à localização do réu, o CPPM estabelece a decretação da revelia, sem prejuízo do prosseguimento do processo e do lapso prescricional, conforme os arts. 412 e seguintes, inexistindo lacuna a justificar a suspensão do processo com base no art. 366 do CPP. Entendimento jurisprudencial majoritário desta Corte considera inviável a aplicação do art. 366 do CPP à Justiça Militar da União por carecer de amparo legal. Autos não atestam qualquer afronta aos dispositivos da Carta Magna de 88, da Convenção Interamericana de Direitos humanos (Pacto São José da Costa Rica) e do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos. Ordem denegada. Decisão unânime.” 2. Extrai-se dos autos que o paciente, ex-militar do Exército, foi denunciado perante a Auditoria da 6ª Circunscrição Judiciária Militar pela suposta prática do crime previsto no artigo 251, § 3º, c/c o artigo 53, ambos do Código Penal Militar. 3. Citado por edital, o paciente não compareceu nem constituiu advogado, tendo o Juízo de origem decretado a revelia do acusado e determinado o prosseguimento do feito. 4. Na sequência, a defesa peticionou nos autos requerendo a suspensão do processo e do prazo prescricional, nos termos do disposto no artigo 366 do Código de Processo Penal. 5. Indeferido o pedido, foi impetrado habeas corpus no Superior Tribunal Militar. A ordem foi denegada. 6. Neste recurso ordinário, a parte recorrente sustenta a possibilidade da aplicação subsidiária do artigo 366 do CPP no âmbito da Justiça Militar. Requer, assim, a concessão de liminar a fim de suspender o andamento da ação penal e, no mérito, pleiteia a concessão da ordem para “declarar a nulidade dos atos processuais realizados após a citação por edital com relação ao paciente, especialmente dos depoimentos das testemunhas de acusação e defesa”. Decido. 7. A orientação jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal é no sentido da

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impossibilidade da aplicação subsidiária do artigo 366 do CPP no âmbito da Justiça Militar. Isto porque “O artigo 292 do Código de Processo Penal Militar dispõe a propósito da decretação da revelia quando o acusado, citado por edital, não comparecer nem constituir advogado. O artigo 366 do Código de Processo Penal Comum preceitua que ‘se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional’. A transposição de normas mais benéficas de um para outro sub-ordenamento não se justifica. Não se a pode consumar já no plano normativo se ela não foi anteriormente consumada no plano legislativo. No julgamento do hC n. 86.854, a 1ª Turma desta Corte decidiu ‘não ser possível mesclar os regimes penais comum e castrense, de modo a selecionar o que cada um tem de mais favorável ao réu, sob pena de se gerar um hibridismo normativo, incompatível com o princípio da especialidade’” (hC 91.225, Rel. Min. Eros Grau). 8. Diante do exposto, com base no art. 192, c/c o art. 312, ambos do RI/STF, nego provimento ao recurso ordinário em habeas corpus. Publique-se.

DECISÕES MONOCRÁTICAS DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA

ACO 910 / SP - SÃO PAULORelator(a): Min. EDSON FACHINJulgamento: 17/12/2015Decisão: Trata-se, na origem, de ação civil pública, proposta pelo Ministério Público Federal, Fundação ABRINQ pelos Direitos das Crianças e dos Adolescentes, Conectas Direitos humanos, e AMAR – Associação de Mães e Amigos de Crianças e Adolescentes em Risco, em face do Estado de São Paulo e da Fundação Estadual do Bem Estar do Menor – FEBEM, autuada nesta Corte como Ação Cível Originária. Nas razões da petição inicial, narra-se que, em 06.10.2003, a União Federal, por intermédio do Ministério da Justiça, celebrou com o Estado de São Paulo o Convênio MJ 25/2003, cujo objeto era a ‘cooperação dos partícipes na execução de obras de construção da Penitenciária Compacta de Tupi Paulista, com geração de 768 vagas, de acordo com o Plano de Trabalho, Cronograma Físico-Financeiro e Planilha Orçamentária aprovados pelo Departamento Penitenciário Nacional”. Afirma-se que, embora a unidade prisional de elevada segurança tenha sido construída para abrigar presos condenados ao cumprimento de pena privativa de liberdade, em regime fechado, houve mudança de sua finalidade com afetação do prédio à FEBEM, para a transferência de jovens em cumprimento de medida sócio-educativa de internação. Salienta-se que, durante a transferência dos jovens das unidades da FEBEM, localizadas no bairro do Tatuapé, para aquela unidade prisional, os internos foram algemados e submetidos a condições de transporte e alimentação precárias. Sublinha-se que a sua custódia, em regime prisional, não guarda nenhuma relação com as medidas sócio-educativas reguladas

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pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Relatam-se episódios de tortura e morte de adolescentes na penitenciária. Argumenta-se existir interesse da União no feito, quanto ao adimplemento do Convênio MJ 25/2003, e ao cumprimento dos atos emanados do CONANDA, bem como das normas e diretrizes de observância obrigatória a todos os entes da federação que desenvolvem programas de internação de adolescentes, dispostos no art. 2º, I, da Lei 8.242/91. Quanto ao mérito da ação, aduz-se que a transferência e a custódia dos jovens em cumprimento de medida de segurança em sistema prisional contraria a Lei federal 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente), e viola os princípios da legalidade e da dignidade da pessoa humana, assim como os direitos de não ser vítima de tortura ou de tratamento desumano ou degradante, à proteção especial, à convivência familiar, e à integridade física e mental dos internos. Requer-se, liminarmente, que os réus se abstenham de transferir os jovens que cumprem medidas sócio-educativas para a Penitenciária Compacta de Tupi Paulista, ou para qualquer outro estabelecimento prisional, bem como que os réus promovam a imediata transferência dos jovens que estão internados naquela unidade prisional para as unidades da FEBEM, preferencialmente instaladas na mesma ou em localidade próxima ao domicílio de seus pais ou responsáveis. Pugna-se, no mérito, pela condenação dos réus a indenizar todos os jovens que estiveram internados na Penitenciária Compacta de Tupi Paulista, pelos danos morais a eles infligidos, e a confirmação dos provimentos liminares requeridos. A União requereu seu ingresso no feito, na condição de litisconsorte ativo, tendo em vista o interesse no acatamento da medida cautelar internacional, expedida pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos em 21 de dezembro de 2004, e ainda seu interesse no cumprimento do Convênio MJ nº 25 e dos atos normativos expedidos pelo CONANDA (fls. 1.235-1.238). Admitida a União como litisconsorte ativo, a 24ª Vara Cível da Seção Judiciária do Estado de São Paulo determinou a remessa dos autos ao Supremo Tribunal Federal, com fundamento no art. 102, I, f , da Constituição (fls. 1.244). O Ministro Ricardo Lewandowski, então relator, indeferiu o pedido de antecipação dos efeitos da tutela (fls. 1.479/1.481). A Procuradoria-Geral da República manifestou-se pelo não conhecimento da ação, ante a inexistência de conflito federativo, em parecer assim ementado: “Ação Cível Originária. Ação Civil Pública. Transferência de internos da Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor – FEBEM para a Penitenciária Compacta de Tupi Paulista. Ingresso da União como litisconsorte ativa. Excepcionalidade da regra inscrita no art. 102, inciso I, alínea “f”, da Constituição Federal. Inexistência de conflito federativo. Competência da Justiça Federal de Primeiro Grau. Parecer pelo não-conhecimento da ação”. Instadas a se manifestar sobre as provas que desejavam produzir, foi deferida pelo Ministro Relator a oitiva das testemunhas arroladas pela coautora CONECTAS (fls. 3.718). Encerrada a instrução (fls. 3.781), as partes apresentaram alegações finais (fls. 3.787/3.806, 3.810/3.820, 3.825/3.837, e 3.899). O Ministério Público manifestou-se novamente nos autos, para requerer a devolução dos autos ao Juízo de origem (fls. 3.847). Relatado no essencial, decido. O Supremo

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Tribunal Federal, no julgamento da ACO 1.048, Rel. Min. Celso de Mello, Dje 31.10.2007, assentou que o art. 102, I, f, da Constituição, atribui a esta Corte competência originária para dirimir controvérsias com aptidão a vulnerar o pacto federativo. Afirmou ser dever constitucional da Suprema Corte zelar pela intangibilidade do vínculo entre as unidades federativas e dos valores e objetivos que devem ligá-las e pelo equilíbrio entre suas relações políticas. De outro lado, embora seja possível afirmar que a presença dos entes federativos em polos opostos da lide é requisito para a configuração da competência originária desta Corte, tal circunstância não justifica, por si só, a atuação originária do Supremo Tribunal Federal, nos termos do art. 102, I f, da Constituição. Como dito, exige-se que o conflito se mostre capaz de causar risco à estabilidade e à harmonia do pacto federativo, não se configurando na hipótese de a causa versar sobre questão patrimonial, sem cunho institucional ou político. Confiram-se, a propósito, os seguintes precedentes: ACO 1427-AgR, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, Dje 15.04.2015; ACO 2116-AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, Segunda Turma, Dje 06.04.2015; ACO 1684-AgR, Rel. Min. Teori Zavascki, Segunda Turma, Dje 02.03.2015; ACO 1400-AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Pleno, Dje 15.08.2014. Esta ação foi originalmente ajuizada pelo Ministério Público Federal, Fundação ABRINQ pelos Direitos das Crianças e dos Adolescentes, Conectas Direitos humanos, e Amar – Associação de Mães e Amigos de Crianças e Adolescentes em Risco, em face do Estado de São Paulo e da Fundação Estadual do Bem Estar do Menor – FEBEM. A União ingressou no feito como litisconsorte ativo, tendo em vista seu interesse no cumprimento do Convênio MJ nº 25 e dos atos normativos expedidos pelo CONANDA, bem como no acatamento da medida cautelar internacional, expedida pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos em 21 de dezembro de 2004. O tema de fundo proposta nesta ação é a responsabilidade civil atribuída ao Estado de São Paulo e à FEBEM pela transferência irregular de jovens em cumprimento de medida de sócio-educativa de internação à unidade prisional de Tupi Paulista, destinada à custódia de presos condenados a pena privativa de liberdade, em regime fechado. Nesse cenário, a questão não apresenta qualquer projeção de caráter institucional e não afeta as relações políticas entre as unidades federadas, não possuindo densidade suficiente para abalar o pacto federativo. Conforme ponderou a douta Procuradoria-Geral da República, “[n]ão se discute na presente ação civil pública a validade ou possíveis consequências pelo descumprimento do Convênio MJ nº 25/2003 celebrado entre a União e o Estado de São Paulo para a construção da Penitenciária Compacta de Tupi Paulista que possam repercutir em restrições (inscrição no CAUC ou SIAF) à celebração de novos acordos de cooperação, convênios e operações de crédito entre o Estado de São Paulo e entidades federais, mas sim a legalidade, ou não, da transferência de adolescentes maiores de 18 anos e menores de 21 anos de unidades da FEBEM para o referido estabelecimento prisional, bem como se é devida indenização por danos morais aos transferidos em virtude de alegados maustratos e torturas” (fls. 1.475), o que não atrai a competência desta Corte para apreciar a questão. Ante o exposto,

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reconheço a incompetência do Supremo Tribunal Federal para apreciar a ação, ante a inexistência de conflito federativo na espécie (art. 102, I, f, CF), devendo os autos ser devolvidos ao Juízo de origem, para processo e julgamento. Publique-se. Brasília, 17 de dezembro de 2016. Ministro Edson Fachin

RECLAMAÇÃO

Rcl 22471 / PE – PERNAMBUCORelator(a): Min. MARCO AURÉLIOJulgamento: 19/12/2015Decisão: RECLAMAÇÃO – INADEQUAÇÃO – NEGATIVA DE SEGUIMENTO. 1. O assessor Dr. Vinicius de Andrade Prado prestou as seguintes informações: Luiz Everton Reis Moura, atuando em causa própria, afirma haver o Juízo da 17ª Vara Federal da Subseção Judiciária de Petrolina/PE, no Incidente de Insanidade Mental nº 77-13.2015.4.05.8308, olvidado o teor do Verbete Vinculante nº 43 da Súmula do Supremo. Segundo narra, figura como réu na Ação Penal nº 70-21.2015.4.05.8308, na qual é acusado da prática dos crimes previstos nos artigos 138 (calúnia), 139 (difamação), 140 (injúria) e 344 (coação no curso do processo) do Código Penal. Relata a instauração de incidente de insanidade mental, a partir de solicitação do Ministério Público Federal, no que suspensa tramitação do processo criminal. Consoante aduz, determinada a realização de perícia e após sucessivas recusas de médicos designados, foi coercitivamente conduzido a Olinda/PE, onde veio a ser submetido a exame psiquiátrico pelo Dr. Feliciano Abdon de Araújo Lima, o qual requereu a realização de testes neurológicos e de psicodiagnóstico. Apresentados os resultados, foram analisados por aquele profissional. O Juízo reclamado homologou o laudo pericial. Assevera a ausência da própria intimação para se manifestar sobre os mencionados atos. Diz haver sido juntado ao processo de origem o Ofício nº 289/15-SP, do hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico, no qual consignado ser o responsável pelo exame pericial servidor da Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco. Sustenta a inobservância do paradigma, porquanto o laudo citado não teria sido produzido por médico-legista integrante da Gerência Geral de Polícia Científica de Pernambuco. Evoca jurisprudência. Sob o ângulo do risco, realça a necessidade de afastamento da prisão domiciliar considerada a demora na formação da culpa e no saneamento das irregularidades verificadas no processo criminal. Requer, em sede liminar, a suspensão do curso do Incidente de Insanidade Mental nº 77-13.2015.4.05.8308 e da Ação Penal nº 70-21.2015.4.05.8308, a imediata colocação em liberdade e a retirada da tornozeleira eletrônica. Busca, alfim, a anulação do laudo médico-psiquiátrico e da decisão que implicou a subsequente homologação. Por meio da Petição/STF nº 62.501/2015, o reclamante aludiu ao Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (Pacto de Nova Iorque), promulgado pelo Decreto nº 592/92, e à Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica). Articulou com a impossibilidade

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jurídica de reelaboração do laudo pericial, no que cabível o trancamento da ação penal. 2. Atentem para as balizas do caso concreto. O reclamante foi submetido a perícia psiquiátrica no curso de incidente de insanidade mental. Ante o fato de o exame ter sido realizado por profissional não integrante da Gerência Geral de Polícia Científica de Pernambuco, sustenta olvidado o teor do Verbete Vinculante nº 43 da Súmula do Supremo, do seguinte teor: É inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao servidor investir-se, sem prévia aprovação em concurso público destinado ao seu provimento, em cargo que não integra a carreira na qual anteriormente investido. É imprópria a irresignação, uma vez não verificada a identidade material entre o ato impugnado e o paradigma. O pedido formulado na reclamação está direcionado ao reconhecimento de eventual nulidade no curso do incidente de insanidade mental, considerada a atuação de determinado médico, tema não versado no referido enunciado. A controvérsia não se volta à investidura do profissional em cargo público, presente o princípio do concurso público. O verbete vinculante, por comportar exceção aos princípios do juiz natural e do livre convencimento do magistrado e possibilitar o acesso direto ao Supremo, mediante reclamação, merece interpretação estrita. óptica contrária inviabilizaria os trabalhos do Tribunal, já submetido a elevadíssima carga de processos. O inconformismo deve ser veiculado na via própria, descabendo utilizar a reclamação como sucedâneo recursal. 3. Ante o exposto, nego seguimento ao pedido. 4. Publiquem. Brasília, 19 de dezembro de 2015. Ministro MARCO AURÉLIO.

Rcl 20985 MC-AgR / SP - SÃO PAULORelator(a): Min. CELSO DE MELLOJulgamento: 26/11/2015Ementa: RECLAMAÇÃO. ALEGAÇÃO DE DESRESPEITO à AUTORIDADE DO JULGAMENTO PLENÁRIO DA ADPF 130/DF. EFICÁCIA VINCULANTE DESSA DECISÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. POSSIBILIDADE DE CONTROLE, MEDIANTE RECLAMAÇÃO, DE ATOS QUE TENhAM TRANSGREDIDO TAL JULGAMENTO. LEGITIMIDADE ATIVA DE TERCEIROS QUE NÃO INTERVIERAM NO PROCESSO DE FISCALIZAÇÃO NORMATIVA ABSTRATA. LIBERDADE DE EXPRESSÃO. JORNALISMO DIGITAL. PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL. DIREITO DE INFORMAR: PRERROGATIVA FUNDAMENTAL QUE SE COMPREENDE NA LIBERDADE CONSTITUCIONAL DE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO E DE COMUNICAÇÃO. INADMISSIBILIDADE DE CENSURA ESTATAL, INCLUSIVE DAQUELA IMPOSTA PELO PODER JUDICIÁRIO, à LIBERDADE DE EXPRESSÃO, NESTA COMPREENDIDA A LIBERDADE DE INFORMAÇÃO JORNALÍSTICA. TEMA EFETIVAMENTE VERSADO NA ADPF 130/DF, CUJO JULGAMENTO FOI INVOCADO, DE MODO INTEIRAMENTE PERTINENTE, COMO PARâMETRO DE CONFRONTO. PRECEDENTES. SIGILO DA FONTE COMO DIREITO BÁSICO DO JORNALISTA: RECONhECIMENTO, em “obiter dictum”, DE QUE

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SE TRATA DE PRERROGATIVA CONSTITUCIONAL QUALIFICADA COMO GARANTIA INSTITUCIONAL DA PRóPRIA LIBERDADE DE INFORMAÇÃO. RECLAMAÇÃO JULGADA PROCEDENTE. – (...). Precedentes. Decisão: 1. Alegação de ofensa ao julgamento proferido na ADPF 130/DF: a reclamação como meio processual idôneo e a legitimidade ativa de terceiros que não intervieram no processo de controle normativo abstrato Trata-se de reclamação na qual se sustenta que o ato judicial ora questionado – emanado de eminente Desembargador do E. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (Processo nº 2068368-08.2015.8.26.0000) – teria desrespeitado a autoridade da decisão que o Supremo Tribunal Federal proferiu no julgamento da ADPF 130/DF, Rel. Min. AYRES BRITTO. A parte reclamante, ora agravada, para justificar o alegado desrespeito à autoridade decisória do julgamento proferido pelo Supremo Tribunal Federal, afirma, em síntese, o que se segue: “12. A decisão reclamada é um evidente atentado ao quanto decidido na ADPF nº 130, porque consiste na ratificação de odiosa censura e na tentativa de restringir o direito da liberdade de imprensa, bem como a garantia da sociedade de ter acesso a informações e manifestar o seu pensamento. 15. A decisão reclamada, portanto, afronta diretamente o normativo jurídico, com força vinculante, que emerge desse Supremo Tribunal Federal, na medida em que determina a retirada de material noticioso, vale dizer, de material jornalístico produzido e publicado pela Reclamante, no exercício constitucional de sua atividade jornalística, de informar à sociedade assuntos de interesse público, em texto narrativo e pertinente. 16. Constata-se, assim, que a decisão objeto da presente Reclamação contraria a orientação normativa de que, num Estado Democrático de Direito, não é permitida a censura, eis que não há liberdade de imprensa pela metade, sendo mais grave ainda a censura procedente do Poder Judiciário.” (grifei) Registro que deferi o pedido de medida cautelar formulado nestes autos, por vislumbrar ocorrentes os requisitos da plausibilidade jurídica e do “periculum in mora”. (...) Cabe reafirmar, de outro lado, que mesmo terceiros – que não intervieram no processo objetivo de controle normativo abstrato – dispõem de legitimidade ativa para o ajuizamento da reclamação perante o Supremo Tribunal Federal, quando promovida com o objetivo de fazer restaurar o “imperium” inerente às decisões emanadas desta Corte proferidas em sede de ação direta de inconstitucionalidade, de ação declaratória de constitucionalidade ou, como no caso, de arguição de descumprimento de preceito fundamental. É inquestionável, pois, sob tal aspecto, nos termos do julgamento plenário de questão de ordem suscitada nos autos da Rcl 1.880-AgR/SP, Rel. Min. MAURÍCIO CORRÊA, que se revela plenamente viável a utilização, na espécie, do instrumento reclamatório, razão pela qual assiste à parte reclamante, ora agravada, legitimidade ativa “ad causam” para fazer instaurar a presente medida processual. Impende registrar, por oportuno, tal como já precedentemente salientado, que esse entendimento tem prevalecido em sucessivos julgamentos proferidos pelo Supremo Tribunal Federal: “(...) LEGITIMIDADE ATIVA PARA A RECLAMAÇÃO NA hIPóTESE DE INOBSERVâNCIA DO EFEITO VINCULANTE. – Assiste plena

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legitimidade ativa, em sede de reclamação, àquele – particular ou não – que venha a ser afetado, em sua esfera jurídica, por decisões de outros magistrados ou Tribunais que se revelem contrárias ao entendimento fixado, em caráter vinculante, pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento dos processos objetivos de controle normativo abstrato instaurados mediante ajuizamento quer de ação direta de inconstitucionalidade, quer de ação declaratória de constitucionalidade. Precedente.(…).” (RTJ 187/151, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno) Plenamente justificável, assim, a utilização, no caso, do instrumento constitucional da reclamação pela parte reclamante, ora agravada. 2. Liberdade de informação jornalística como expressão de um direito fundamental. Inadmissibilidade da censura estatal, inclusive daquela imposta pelo Poder Judiciário. Sendo esse o contexto, passo ao exame do pedido formulado nesta sede processual. E, ao fazê-lo, reitero os fundamentos que expus ao deferir medida liminar nesta reclamação, eis que o ato judicial ora questionado na presente sede reclamatória está em desacordo com a orientação jurisprudencial que esta Suprema Corte veio a firmar a propósito do tema em análise. Cumpre enfatizar – presente o quadro normativo vigente em nosso País – que, mais do que simples prerrogativa de caráter individual ou de natureza corporativa, a liberdade de informação jornalística desempenha relevantíssima função político-social, eis que, em seu processo de evolução histórica, afirmou-se como instrumento realizador do direito da própria coletividade à obtenção da informação (JOSÉ AFONSO DA SILVA, “Curso de Direito Constitucional Positivo”, p. 246, item n. 15.3, 32ª ed., 2009, Malheiros; JOSÉ CRETELLA JÚNIOR, “Comentários à Constituição de 1988”, vol I/283, item n. 184, 1989, Forense Universitária, v.g.). Tenho assinalado, em diversas decisões que proferi no Supremo Tribunal Federal, que o exercício da jurisdição cautelar por magistrados e Tribunais não pode converter-se em prática judicial inibitória, muito menos censória, da liberdade constitucional de expressão e de comunicação, sob pena – como já salientei em oportunidades anteriores – de o poder geral de cautela atribuído ao Judiciário qualificar-se, perigosamente, como o novo nome de uma inaceitável censura estatal em nosso País. A interdição judicial imposta à empresa reclamante, ora agravada, ordenando-lhe a remoção de matéria ou notícia sobre o fechamento do “Spa hara”, sob pena de incidência de multa cominatória diária, configura, segundo entendo, clara transgressão ao comando emergente da decisão que esta Corte Suprema proferiu, com efeito vinculante, na ADPF 130/DF. Não constitui demasia insistir na observação de que a censura, por incompatível com o sistema democrático, foi banida do ordenamento jurídico brasileiro, cuja Lei Fundamental – reafirmando a repulsa à atividade censória do Estado, na linha de anteriores Constituições brasileiras (Carta Imperial de 1824, art. 179, nº 5; CF/1891, art. 72, § 12; CF/1934, art. 113, nº 9; CF/1946, art. 141, § 5º) – expressamente vedou “(...) qualquer censura de natureza política, ideológica e artística” (CF/88, art. 220, § 2º). Cabe acentuar, ainda, que a repulsa à censura, além de haver sido consagrada em nosso constitucionalismo democrático, representa expressão de um compromisso que o Estado brasileiro assumiu no plano internacional. Com efeito,

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o Brasil subscreveu, entre tantos outros instrumentos de proteção internacional dos direitos humanos, a Declaração Universal dos Direitos da Pessoa humana, promulgada pela III Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948. Esse estatuto contempla, em seu Artigo XIX, previsão do direito à liberdade de opinião e de expressão, inclusive a prerrogativa de procurar, de receber e de transmitir informações e ideias por quaisquer meios, independentemente de fronteiras. O direito fundamental à liberdade de expressão, inclusive à liberdade de imprensa, é igualmente assegurado pelo Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (Artigo 19), adotado pela Assembleia Geral da ONU em 16/12/1966 e incorporado, formalmente, ao nosso direito positivo interno em 06/12/1992 (Decreto nº 592/92). Vale mencionar, ainda, por sumamente relevante, a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do homem, promulgada pela IX Conferência Internacional Americana, realizada em Bogotá, em abril de 1948, cujo texto assegura a todos a plena liberdade de expressão (Artigo IV). A Convenção Americana de Direitos Humanos, também denominada Pacto de San José da Costa Rica, por sua vez, garante às pessoas em geral o direito à livre manifestação do pensamento, sendo-lhe absolutamente estranha a ideia de censura estatal (Artigo 13). É interessante assinalar, neste ponto, até mesmo como registro histórico, que a ideia da incompatibilidade da censura com o regime democrático já se mostrava presente nos trabalhos de nossa primeira Assembleia Geral Constituinte e Legislativa, reunida em 03/05/1823 e dissolvida, por ato de força, em 12/11/1823. Com efeito, ANTONIO CARLOS RIBEIRO DE ANDRADA, ao longo dessa Assembleia Constituinte, apresentou proposta que repelia, de modo veemente, a prática da censura no âmbito do (então) nascente Estado brasileiro, em texto que, incorporado ao projeto da Constituição, assim dispunha: “Artigo 23 – Os escritos não são sujeitos à censura nem antes nem depois de impressos.” (grifei) A razão dessa proposta de ANTONIO CARLOS RIBEIRO DE ANDRADA prendia-se ao fato de que D. João VI editara, então, havia pouco mais de dois anos, em 02 de março de 1821, um decreto régio que impunha o mecanismo da censura, fazendo-nos recuar, naquele momento histórico, ao nosso passado colonial, período em que prevaleceu essa inaceitável restrição às liberdades do pensamento. Preocupa-me, por isso mesmo, o fato de que o exercício, por alguns juízes e Tribunais, do poder geral de cautela tenha se transformado em inadmissível instrumento de censura estatal, com grave comprometimento da liberdade de expressão, nesta compreendida a liberdade de imprensa e de informação. Ou, em uma palavra, como anteriormente já acentuei: o poder geral de cautela tende, hoje, perigosamente, a traduzir o novo nome da censura! Todas as observações que venho de fazer evidenciam, a meu juízo, que a decisão objeto da presente reclamação desrespeitou a autoridade do julgamento plenário invocado pela parte reclamante, ora agravada, como parâmetro de controle, eis que o tema da censura foi efetivamente abordado e plenamente examinado no julgamento plenário da ADPF 130/DF. Enfatizo, por oportuno, que eu próprio, no voto que proferi na ADPF 130/DF, discuti, expressamente, o tema referente à censura estatal, qualquer

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que tenha sido o órgão ou o Poder de que haja emanado esse ato de (inadmissível) cerceamento da liberdade de expressão. Devo relembrar, neste ponto, que o Plenário do Supremo Tribunal Federal, no julgamento final da ADI 869/DF, ao declarar a inconstitucionalidade de determinada expressão normativa constante do § 2º do art. 247 do Estatuto da Criança e do Adolescente, advertiu, em decisão impregnada de efeito vinculante, que a cláusula legal que punia emissoras de rádio e de televisão, bem assim empresas jornalísticas, pelo fato de exercerem o direito de informar mostrava-se colidente com o texto da Constituição da República (art. 220, § 2º). O julgamento em questão restou consubstanciado em acórdão assim ementado: “AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI FEDERAL 8069/90. LIBERDADE DE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO, DE CRIAÇÃO, DE EXPRESSÃO E DE INFORMAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE DE RESTRIÇÃO. 1. Lei 8069/90. Divulgação total ou parcial, por qualquer meio de comunicação, de nome, ato ou documento de procedimento policial, administrativo ou judicial relativo à criança ou adolescente a que se atribua ato infracional. Publicidade indevida. Penalidade: suspensão da programação da emissora até por dois dias, bem como da publicação do periódico até por dois números. Inconstitucionalidade. A Constituição de 1988 em seu artigo 220 estabeleceu que a liberdade de manifestação do pensamento, de criação, de expressão e de informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerá qualquer restrição, observado o que nela estiver disposto. 2. Limitações à liberdade de manifestação do pensamento, pelas suas variadas formas. Restrição que há de estar explícita ou implicitamente prevista na própria Constituição. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente.” (ADI 869/DF, Red. p/ o acórdão Min. MAURÍCIO CORRÊA – grifei) (...) Essencial reconhecer, pois, em face do que se vem de expor, que a liberdade de imprensa, qualificada por sua natureza essencialmente constitucional, assegura aos profissionais de comunicação social o direito de buscar, de receber e de transmitir informações e ideias por quaisquer meios, inclusive digitais, ressalvada, no entanto, a possibilidade de intervenção judicial – necessariamente “a posteriori” – nos casos em que se registrar prática abusiva dessa prerrogativa de ordem jurídica, resguardado, sempre, o sigilo da fonte quando, a critério do próprio jornalista, este assim o julgar necessário ao seu exercício profissional (Inq 870/RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO). 3. O direito do jornalista à preservação do sigilo da fonte: prerrogativa de índole constitucional: observação em “obiter dictum” A Constituição da República, após assegurar a todos o acesso à informação, reconheceu aos profissionais dos meios de comunicação social importantíssima prerrogativa jurídica consistente no direito de ver resguardado o sigilo da fonte quando necessário ao exercício profissional (CF, art. 5º, XIV, segunda parte). Com efeito, nenhum jornalista poderá ser constrangido a revelar o nome de seu informante ou a indicar a fonte de suas informações, sendo certo, também, que não poderá sofrer qualquer sanção, direta ou indireta, quando se recusar a quebrar esse sigilo de ordem profissional e de estatura constitucional. Na realidade, essa prerrogativa profissional qualifica-se como

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expressiva garantia de ordem jurídica que, outorgada a qualquer jornalista em decorrência de sua atividade profissional, destina-se, em última análise, a viabilizar, em favor da própria coletividade, a ampla pesquisa de fatos ou eventos cuja revelação impõe-se como consequência ditada por razões de estrito interesse público. O ordenamento constitucional brasileiro, por isso mesmo, prescreve que nenhum jornalista poderá ser compelido a indicar o nome de seu informante ou a fonte de suas informações. Mais do que isso, e como precedentemente assinalado, esse profissional, ao exercer a prerrogativa em questão, não poderá sofrer qualquer sanção motivada por seu silêncio ou por sua legítima recusa em responder às indagações que lhe sejam eventualmente dirigidas com o objetivo de romper o sigilo da fonte. Para FREITAS NOBRE (“Lei da Informação”, p. 251/252, 1968, Saraiva), “O jornalista, à semelhança de outros profissionais (...), goza do direito ao segredo profissional, podendo (…) não indicar o nome do informante, ou mesmo a fonte de suas informações, isto é, até mesmo o local onde obtém os elementos que lhe permitem escrever a notícia ou comentário”, eis que – tratando-se do profissional de imprensa – “este segredo é exigência social, porque ele possibilita a informação mesmo contra o interesse dos poderosos do dia, pois que o informante não pode ficar à mercê da pressão ou da coação dos que se julgam atingidos pela notícia”. Com a superveniência da Constituição de 1988, intensificou-se, ainda mais, o sentido tutelar dessa especial proteção jurídica, vocacionada a dar concreção à garantia básica de acesso à informação, consoante enfatizado pelo próprio magistério da doutrina (WALTER CENEVIVA, “Direito Constitucional Brasileiro”, p. 52, item n. 10, 1989, Saraiva; MANOEL GONÇALVES FERREIRA FILhO, “Comentários à Constituição Brasileira de 1988”, vol. 1/39, 1990, Saraiva, v.g.). Essa é a razão pela qual a Carta Política, ao proclamar a declaração de direitos, nela introduziu – como pauta de valores essenciais à preservação do Estado democrático de direito – explícita referência à indevassabilidade da fonte de informações, qualificando essa prerrogativa de ordem profissional como expressão de um dos direitos fundamentais que claramente limitam a atividade do Poder Público. A Constituição da República, tendo presente a necessidade de proteger um dos aspectos mais sensíveis em que se projetam as múltiplas liberdades do pensamento – precisamente aquele concernente ao direito de obtenção (e de divulgação) da informação –, prescreveu, em seu art. 5º, n. XIV, que “é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional” (grifei).

(...) Em uma palavra: a proteção constitucional que confere ao jornalista o direito de não proceder à “disclosure” da fonte de informação ou de não revelar a pessoa de seu informante desautoriza qualquer medida tendente a pressionar ou a constranger o profissional de imprensa a indicar a origem das informações a que teve acesso, eis que – não custa insistir – os jornalistas, em tema de sigilo da fonte, não se expõem ao poder de indagação do Estado ou de seus agentes e não podem sofrer, em função do exercício dessa legítima prerrogativa constitucional, a imposição de qualquer sanção penal, civil

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ou administrativa, tal como o reconheceu o Supremo Tribunal Federal (Inq 870/RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO, DJU 15/04/96, v.g.). 4. Precedentes do Supremo Tribunal Federal. Vale registrar, por sumamente relevante, o fato de que, em situações idênticas à que ora se examina, esta Suprema Corte, fazendo prevalecer a eficácia vinculante derivada do julgamento da ADPF 130/DF, tem sustado decisões judiciais que haviam ordenado a interdição, claramente censória, de matérias jornalísticas divulgadas em órgãos de imprensa (Rcl 11.292- -MC/SP, Rel. Min. JOAQUIM BARBOSA – Rcl 16.074-MC/SP, Rel. Min. ROBERTO BARROSO, decisão proferida pelo Ministro Ricardo Lewandowski no exercício da Presidência – Rcl 16.434/ES, Rel. Min. ROSA WEBER – Rcl 18.186-MC/RJ, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, decisão proferida pelo Ministro Ricardo Lewandowski no exercício da Presidência – Rcl 18.290-MC/RJ, Rel. Min. LUIZ FUX – Rcl 18.566-MC/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.): (...) 5. Conclusão: Em suma: a questão em exame, segundo entendo, assume indiscutível magnitude de ordem político-jurídica, notadamente em face de seus claros lineamentos constitucionais que foram analisados, de modo efetivo, no julgamento da referida ADPF 130/DF, em cujo âmbito o Supremo Tribunal Federal pôs em destaque, de maneira muito expressiva, uma das mais relevantes franquias constitucionais: a liberdade de manifestação do pensamento, que representa um dos fundamentos em que se apoia a própria noção de Estado democrático de direito e que não pode ser restringida, por isso mesmo, pelo exercício ilegítimo da censura estatal, ainda que praticada em sede jurisdicional. Sendo assim, e pelas razões expostas, julgo procedente a presente reclamação, para invalidar a decisão ora impugnada, proferida pelo eminente Desembargador do E. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo nos autos do Processo nº 2068368-08.2015.8.26-0000, restando prejudicado, em consequência, o exame do recurso de agravo interposto nesta sede processual. Comunique-se, transmitindo-se cópia da presente decisão ao eminente Senhor Desembargador que figura como autoridade reclamada (Processo nº 2068368-08.2015.8.26-0000). Arquivem-se os presentes autos. Publique-se. Brasília, 26 de novembro de 2015. Ministro CELSO DE MELLO. Relator

RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO

ARE 661720 / PR – PARANÁRelator(a): Min. GILMAR MENDESJulgamento: 18/12/2015Decisões: Trata-se de agravo interposto contra decisão do Tribunal Superior do Trabalho que negou seguimento a recurso extraordinário em face de acórdão que manteve decisão do Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região, a qual, por sua vez, deu provimento parcial a recurso do Ministério Público do Trabalho, em ação civil pública, para declarar a nulidade das despedidas e determinar a readmissão de 680 empregados com 40 anos ou mais que teriam sido dispensados de forma

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discriminatória, mediante adesão a Programa de Desligamento Incentivado (PDI), em 1999. Alega-se, no recurso extraordinário, ofensa ao disposto nos arts. 5º, XXXV, XXXVI, XXXVI, LV; 7 º, I; e 129, III, da Constituição Federal, bem como no art. 10, I, do ADCT. Nas razões recursais, indica-se, em síntese, que as verbas rescisórias devidas foram regularmente pagas, em conjunto com a indenização adicional calculada na proporção dos anos de trabalho na empresa. Esse fato, por si só, já indicaria ser esperado que os trabalhadores com mais tempo de empresa tivessem maior interesse em aderir ao Plano de Desligamento Incentivado. (...) É o relatório. Decido. (...) O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE 590.415, Rel. Min. Roberto Barroso, em sede de repercussão geral (art. 543-B do CPC), firmou entendimento no sentido da validade dos planos de dispensa incentivada, em flagrante valorização da autonomia da vontade e dos princípios da boa-fé e da segurança jurídica. Eis a ementa do referido julgado: “DIREITO DO TRABALhO. ACORDO COLETIVO. PLANO DE DISPENSA INCENTIVADA. VALIDADE E EFEITOS. 1. Plano de dispensa incentivada aprovado em acordo coletivo que contou com ampla participação dos empregados. Previsão de vantagens aos trabalhadores, bem como quitação de toda e qualquer parcela decorrente de relação de emprego. Faculdade do empregado de optar ou não pelo plano. 2. Validade da quitação ampla. Não incidência, na hipótese, do art. 477, § 2º da Consolidação das Leis do Trabalho, que restringe a eficácia liberatória da quitação aos valores e às parcelas discriminadas no termo de rescisão exclusivamente. 3. No âmbito do direito coletivo do trabalho não se verifica a mesma situação de assimetria de poder presente nas relações individuais de trabalho. Como consequência, a autonomia coletiva da vontade não se encontra sujeita aos mesmos limites que a autonomia individual. 4. A Constituição de 1988, em seu artigo 7º, XXVI, prestigiou a autonomia coletiva da vontade e a autocomposição dos conflitos trabalhistas, acompanhando a tendência mundial ao crescente reconhecimento dos mecanismos de negociação coletiva, retratada na Convenção n. 98/1949 e na Convenção n. 154/1981 da Organização Internacional do Trabalho. O reconhecimento dos acordos e convenções coletivas permite que os trabalhadores contribuam para a formulação das normas que regerão a sua própria vida. 5. Os planos de dispensa incentivada permitem reduzir as repercussões sociais das dispensas, assegurando àqueles que optam por seu desligamento da empresa condições econômicas mais vantajosas do que aquelas que decorreriam do mero desligamento por decisão do empregador. É importante, por isso, assegurar a credibilidade de tais planos, a fim de preservar a sua função protetiva e de não desestimular o seu uso. 7. Provimento do recurso extraordinário. Afirmação, em repercussão geral, da seguinte tese: “A transação extrajudicial que importa rescisão do contrato de trabalho, em razão de adesãovoluntária do empregado a plano de dispensa incentivada, enseja quitação ampla e irrestrita de todas as parcelas objeto do contrato de emprego, caso essa condição tenha constado expressamente do acordo coletivo que aprovou o plano, bem como dos demais

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instrumentos celebrados com o empregado” (grifo nosso - RE 590415, Rel. Min. Roberto Barroso, Tribunal Pleno, julgado em 30/04/2015, ACóRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-101 DIVULG 28-05-2015 PUBLIC 29-05-2015)”. Tive oportunidade de assentar no referido julgamento: “Por outro lado, além da cláusula multicitada do art. 7º, XXVI, da Constituição Federal, é muito claro que o texto constitucional valoriza, de forma enfática, as convenções e os acordos coletivos. Veja-se a referência no inciso VI, e talvez aqui se trate de uma situação de exemplaridade, quando se diz que se assegura a ‘irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo’. Veja-se que é uma cláusula de grande importância, mas o próprio constituinte previu que pode haver uma situação em que, para a mantença do emprego, seria necessária a redução. E nós temos inúmeros exemplos disto no plano internacional. Vossa Excelência acompanha tanto a crise europeia, e sabemos que isso vem ocorrendo sistematicamente, porque a grave crise é a crise da falta de emprego. Da mesma forma, no inciso XIII, temos novamente menção à importância do acordo ou convenção coletiva de trabalho, quando se diz: ‘duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação dehorários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho’. Também, no inciso XIV: ‘jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva’. Veja, portanto, que o texto está lavrado com esse enfoque, no que diz respeito ao direito coletivo do trabalho. A decisão do TST, como já foi demonstrado, encaminhou-se num outro sentido, negando, portanto, eficácia à quitação concedida pelo reclamante ao aderir ao Plano de Demissão Voluntária. (...) Trata-se, na verdade, da primazia do postulado da isonomia (art. 5º, caput, da CF), em sua vertente material e na horizontalidade da eficácia dos direitos fundamentais, na medida em que tratou de forma desigual (indenização proporcional) àqueles em situações díspares (maior tempo de serviço), na medida de suas desigualdades (dificuldade em reinserção no mercado de trabalho proporcional à antiguidade). Reconheço, portanto, a validade do Programa de Desligamento Incentivado, restabelecendo a sentença de 1º grau. Ante o exposto, dou provimento ao recurso extraordinário, com base no artigo 557, § 1º-A, do CPC, a fim de considerar válido o Programa de Desligamento Incentivado, nos termos do julgamento do RE 590.415. Publique-se. Brasília, 18 de dezembro de 2015. Ministro Gilmar Mendes. Relator

ARE 929788 / RN - RIO GRANDE DO NORTERelator(a): Min. EDSON FACHINJulgamento: 30/11/2015Decisão: Trata-se de agravo interposto em face de decisão que inadmitiu recurso extraordinário contra acórdão da Turma Recursal do Juizado Especial Federal da 5ª Região, assim ementado: “TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO. REMESSA

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POSTAL INTERNACIONAL. DECRETO Nº. 1.804/80. PORTARIA MF Nº. 156/99. ISENÇÃO. REMETENTE PESSOA FÍSICA. REQUISITO ILEGAL. TAXA DE DESPAChO POSTAL. SENTENÇA PROCEDENTE. NULIDADE PARCIAL. SENTENÇA EXTRA PETITA. RECURSO DA ECT PARCIALMENTE PROVIDO. RECURSO DA FAZENDA NACIONAL IMPROVIDO.” (eDOC 13) Embargos de declaração não providos. (eDOC 16) No recurso extraordinário, interposto com base no art. 102, III, “a”, do permissivo constitucional, aponta-se ofensa aos arts. 2º; 5º, XXXV e LV; 93, IX; 150, §6º; 153, I, § 1º; e 237 da Constituição Federal. Nas razões recursais, sustenta-se que o Decreto-lei 1.804/80 não concedeu isenção de imposto de importação para as remessas postais, de modo que a Portaria 156/1999 não restringiu o alcance do referido Decreto. A Presidência da Turma Recursal inadmitiu o recurso por entender que a controvérsia é de natureza infraconstitucional. É o relatório. Decido. A irresignação não merece prosperar. Inicialmente, ressalto que o Supremo Tribunal Federal já assentou, sob a sistemática da repercussão geral, que eventual ofensa aos princípios do devido processo legal, da ampla defesa, do contraditório e dos limites da coisa julgada, quando a violação é debatida sob a ótica infraconstitucional, não ostenta repercussão geral. Confira-se, a propósito, a ementa do RE-RG 748.371, de relatoria do Ministro Gilmar Mendes, DJe 1º.8.2013: “Alegação de cerceamento do direito de defesa. Tema relativo à suposta violação aos princípios do contraditório, da ampla defesa, dos limites da coisa julgada e do devido processo legal. Julgamento da causa dependente de prévia análise da adequada aplicação das normas infraconstitucionais. Rejeição da repercussão geral.” Em relação ao art. 93, IX, da Constituição Federal, inexiste a alegada violação. Com efeito, o acórdão recorrido está devidamente fundamentado, ainda que divirja dos interesses da parte Recorrente. Nesse sentido, ao julgar o AI-QO-RG 791.292, de relatoria do Ministro Gilmar Mendes, DJe 13.08.2010, o Plenário desta Corte assentou a repercussão geral da matéria, no âmbito do Tema 339, nos seguintes termos: “Questão de ordem. Agravo de Instrumento. Conversão em recurso extraordinário (CPC, art. 544, §§ 3° e 4°). 2. Alegação de ofensa aos incisos XXXV e LX do art. 5º e ao inciso IX do art. 93 da Constituição Federal. Inocorrência. 3. O art. 93, IX, da Constituição Federal exige que o acórdão ou decisão sejam fundamentados, ainda que sucintamente, sem determinar, contudo, o exame pormenorizado de cada uma das alegações ou provas, nem que sejam corretos os fundamentos da decisão. 4. Questão de ordem acolhida para reconhecer a repercussão geral, reafirmar a jurisprudência do Tribunal, negar provimento ao recurso e autorizar a adoção dos procedimentos relacionados à repercussão geral.” No mérito, convém reproduzir o assentado pelo Tribunal de origem: “O Decreto-Lei nº. 1.804/80, em seu art. 2º, inciso II, estabelece que cabe ao Ministério da Fazenda dispor sobre a isenção do imposto de importação dos bens contidos em remessas de valor até cem dólares norte-americanos, ou o equivalente em outras moedas, quando destinados a pessoas físicas. Em atenção ao dispositivo legal, adveio a Portaria nº 15./99, do Ministério da Fazenda, estabelecendo, em seu art. 1º, § 2º, que “os bens que integrem remessa

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postal internacional no valor de até US$ 50.00 (cinquenta dólares dos Estados Unidos da América) ou o equivalente em outra moeda, serão desembaraçados com isenção do Imposto de Importação, desde que o remetente e o destinatário sejam pessoas físicas.” Este Colegiado já teve oportunidade de se manifestar a respeito da controvérsia ora em debate por ocasião do julgamento do processo nº. 0502671-89.2014.4.05.8400 (Sessão de julgamento: 06/08/2014), em que mantida a sentença de procedência por considerar que o ato regulamentar, quando impôs como requisito para gozo do benefício legal tratar-se de remetente pessoa física, transbordou a autorização legal, que não teria delegado a criação de novos requisitos não previstos na lei, mas apenas o poder de regulamentar aqueles já existentes.” (eDOC 13) Assim, constata-se que eventual divergência ao entendimento adotado pelo juízo a quo demandaria o reexame de fatos e provas e o da legislação infraconstitucional, aplicável à espécie, de modo a inviabilizar o processamento do apelo extremo, tendo em vista a vedação contida na Súmula 279 do STF. Nesse sentido, vejam-se os seguintes julgados: ARE 916385, Rel. Min. Roberto Barroso, Dje 20.11.2015 e ARE 917113, Rel. Min. Dias Toffoli, Dje 30/09/2015. Ante o exposto, conheço do agravo para negar seguimento ao recurso extraordinário, nos termos dos arts. 544, § 4º, II, “b”, CPC, e 21, §1º, RISTF. Publique-se. Brasília, 30 de novembro de 2015. Ministro Edson Fachin. Relator

ARE 926380 / RN - RIO GRANDE DO NORTERelator(a): Min. DIAS TOFFOLIJulgamento: 30/11/2015Decisão: Trata-se de agravo contra a decisão que não admitiu recurso extraordinário no qual se alega contrariedade aos artigos 2º, 5º, incisos XXXV e LV, 93, inciso IX, 150, § 6º, 153, inciso I, § 1º, e art. 237, da Constituição Federal. A decisão recorrida se encontra como a seguir ementada: “EMENTA: TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO. REMESSA POSTAL INTERNACIONAL. DECRETO Nº. 1.804/80. PORTARIA MF Nº. 156/99. ISENÇÃO. NULIDADE DA SENTENÇA. AUSÊNCIA. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL. INOCORRÊNCIA. RECURSO INOMINADO DA FAZENDA NACIONAL IMPROVIDO. 1. hipótese em que a parte autora, ora recorrida, requereu o reconhecimento de isenção de Imposto de Importação sobre bem adquirido através de comércio eletrônico, na forma regulamentada pelo Decreto nº. 1.804/80, bem como a respectiva liberação do bem retido. 2. Não há que se falar em nulidade, em razão da sentença não ter abordado todos os argumentos apresentados pelas partes. Encontrando-se a sentença suficientemente fundamentada à luz do entendimento do sentenciante e da legislação em vigor, não há qualquer vício a ser reconhecido. 3. O diploma legal em referência dispõe, em seu art. 2º, inciso II, que cabe ao Ministério da Fazenda dispor sobre a isenção do imposto de importação dos bens contidos em remessas de valor até cem dólares norte-americanos, ou o equivalente em outras moedas, quando destinados a pessoas físicas. 4. Em atenção ao dispositivo legal, adveio a Portaria nº. 156/99, do Ministério da Fazenda, estabelecendo, em seu art. 1º, §

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2º, que “os bens que integrem remessa postal internacional no valor de até US$ 50.00 (cinqüenta dólares dos Estados Unidos da América) ou o equivalente em outra moeda, serão desembaraçados com isenção do Imposto de Importação, desde que o remetente e o destinatário sejam pessoas físicas.” 5. Este Colegiado já teve oportunidade de se manifestar a respeito da controvérsia ora em debate por ocasião do julgamento do processo nº. 0502671-89.2014.4.05.8400 (Sessão de julgamento: 06/08/2014), em que mantida a sentença de procedência por considerar que o ato regulamentar, quando impôs como requisito para gozo do benefício legal tratar-se de remetente pessoa jurídica, transbordou a autorização legal, que não teria delegado a criação de novos requisitos não previstos na lei, mas apenas o poder de regulamentar aqueles já existentes. 6. Considerando que, no caso em tela, a remessa postal internacional teve por objeto bem de valor inferior ao estabelecido na norma ($ 43,87 dólares), destinado à pessoa física, indevida a incidência tributária. 7. Não que se falar em prescrição quinquenal, uma vez que e a remessa postal e a tributação não se deram em data anterior ao quinquênio que antecede o ajuizamento da ação. 8. Recurso inominado improvido. 9. Condenação do recorrente em honorários advocatícios fixados em R$ 724,00 (setecentos e vinte e quatro reais).” Decido. A irresignação não merece prosperar. No que se refere aos artigos 5º, incisos XXXV e LV, 93, inciso IX, e 153, inciso I, da Constituição Federal, apontados como violados, carecem do necessário prequestionamento, sendo certo que não foram opostos embargos de declaração para sanar eventual omissão no acórdão recorrido. Incidem na espécie as Súmulas nºs 282 e 356 desta Corte. Além disso, não procede a alegada violação do artigo 93, inciso IX, da Constituição Federal, haja vista que a jurisdição foi prestada, no caso, mediante decisões suficientemente motivadas, não obstante contrárias à pretensão da parte recorrente. Anote-se que o Plenário deste Supremo Tribunal Federal reconheceu a repercussão geral desse tema e reafirmou a orientação de que a referida norma constitucional não exige que o órgão judicante manifeste-se sobre todos os argumentos de defesa apresentados, mas que fundamente, ainda que sucintamente, as razões que entendeu suficientes à formação de seu convencimento (AI nº 791.292/PE-RG-QO, Relator o Ministro Gilmar Mendes, DJe de 13/8/10). Mesmo que inexistisse tal óbice, a jurisprudência desta Corte está consolidada no sentido de que as alegações de afronta aos princípios da legalidade, do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório, dos limites da coisa julgada e da prestação jurisdicional, se dependentes de reexame de normas infraconstitucionais, podem configurar apenas ofensa indireta ou reflexa à Constituição Federal, o que não enseja reexame em recurso extraordinário. Nesse sentido: “AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO DO TRABALhO. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. ALEGADA VIOLAÇÃO PRINCÍPIOS DA AMPLA DEFESA E DO CONTRADITóRIO. OFENSA REFLEXA. ALEGADA VIOLAÇÃO AO ART. 93, IX, DA MESMA CARTA. ACóRDÃO SUFICIENTEMENTE FUNDAMENTADO. AGRAVO IMPROVIDO. I - O Supremo Tribunal Federal possui entendimento pacífico no sentido de que a violação ao art. 5º,

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XXXV, LIV e LV, da Magna Carta, pode configurar, em regra, situação de ofensa reflexa ao texto constitucional, por demandar a análise de legislação processual ordinária, o que inviabiliza o conhecimento do recurso extraordinário. Precedentes. II - O art. 93, IX, da Constituição, não impõe seja a decisão exaustivamente fundamentada, mas sim que o julgador informe de forma clara as razões de seu convencimento, tal como ocorreu. III – Agravo regimental improvido” (AI nº 812.481/RJ-AgR, Primeira Turma, Relator o Ministro Ricardo Lewandowski, DJe de 1°/2/11). Por fim, ressalte-se que as instâncias de origem decidiram a lide amparadas na legislação infraconstitucional pertinente (Portaria MF 156/1999 e Decreto-Lei nº 1.804/1980). Assim, a afronta aos dispositivos constitucionais suscitados no recurso extraordinário seria, se ocorresse, indireta ou reflexa, o que é insuficiente para amparar o apelo extremo. Ademais, o acolhimento da pretensão recursal demandaria o reexame do conjunto fático-probatório dos autos, o que se mostra incabível em sede extraordinária. Incidência da Súmula nº 279/STF. Sobre o tema: “Recurso extraordinário: descabimento: questão decidida à luz de legislação infraconstitucional e da análise de fatos e provas, ausente o prequestionamento dos dispositivos constitucionais tidos por violados (Súmulas 282 e 279); alegada ofensa que, se ocorresse, seria reflexa ou indireta: incidência, mutatis mutandis, da Súmula 636” (AI nº 518.895/MG-AgR, Primeira Turma, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence, DJ de 15/4/05). “Agravo regimental no recurso extraordinário. Tributário. Contribuição previdenciária. Transportador autônomo. Base de cálculo. Suficiência de sua definição na Lei nº 8.212/91. Contencioso que envolve interpretação da legislação infraconstitucional. Ofensa constitucional indireta. 1. Inviável, em recurso extraordinário, a interpretação da legislação infraconstitucional e a análise de ofensa reflexa à Constituição Federal. 2. Agravo regimental não provido.” (RE 634.315-AgR, Rel. Min. Dias Toffoli) Diante do exposto, conheço do agravo para negar seguimento ao recurso extraordinário. Publique-se. Brasília, 30 de novembro de 2015. Ministro Dias Toffoli. Relator.

ARE 918360 / DF - DISTRITO FEDERALRelator(a): Min. EDSON FACHINJulgamento: 26/11/2015Decisão: Trata-se de agravo cujo objeto é a decisão que negou seguimento ao recurso extraordinário interposto em face do acórdão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, assim ementado (fls. 301): “Administrativo. Concurso público. Polícia Civil. Deficiência visual. Correção. Revelia 1 – A presunção de veracidade, efeito da revelia, é relativa. Depende do conjunto probatório, de forma que apenas os fatos que não necessitam de prova são atingidos. 2 – Se a deficiência visual da candidata não a impede de exercer a função de policial civil, não se pode considerá-la inapta no exame médico. 3 – Apelação provida.” Os embargos de declaração foram rejeitados (fls. 315-318). No recurso extraordinário, com fundamento no art. 102, III, “a”, do permissivo constitucional, aponta-se ofensa aos arts. 5º, II, e 37, caput

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e incisos I e II, da Constituição Federal. Nas razões recursais, sustenta-se, em suma, que o acórdão recorrido fere os princípios da isonomia, impessoalidade e legalidade, porquanto afastou regra expressa no edital do concurso público, conferindo à recorrida situação privilegiada em relação aos demais candidatos. Alega também, que todos os candidatos tiveram que observar a relação de condições médicas incapacitantes previstas no edital do certame, de forma que ignorá-la para beneficiar a recorrida, prejudicaria o princípio da isonomia. Registra ainda, que a exigência de acuidade visual dentro dos padrões definidos pela Administração é absolutamente adequada e compatível com a natureza das funções do cargo. A Presidência do Tribunal de origem inadmitiu o recurso extraordinário por entender que a alegada ofensa à Constituição seria indireta ou reflexa e em virtude do óbice da Súmula 282 do STF. (fls. 336v) É o relatório. Decido. A irresignação não merece prosperar. Conforme se depreende da leitura do acórdão recorrido, o TJDFT, com base nos fatos e provas e nas normas do edital do certame, concluiu que deve ser assegurada a nomeação e posse da recorrida no cargo de agente da Polícia Civil do Distrito Federal. De fato, nos termos do art. 1 da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, promulgada pelo Decreto 6.949/2009, o requisito médico é insuficiente para, por si só, determinar a exclusão da recorrida. Nesse sentido, é preciso que o juízo de origem examine a exclusão à luz da evidência dos autos. Nesse sentido, o Tribunal assentou (fl. 303): “A questão que se coloca é se, com deficiência visual, a autora pode desempenhar as atribuições do cargo de agente de polícia para o qual concorreu. O exercício da função policial pressupõe perfeitas condições físicas do candidato, o que, contudo, não significa que, candidatos com visão monocular, a exemplo da autora, não possa exercê-la. A limitação da visão não impede o desempenho das atribuições do cargo, incluindo a atividade que a banca considerou que a autora não tem aptidão – dirigir veículos (f.115). Basta dizer, a propósito, que habilitada, categoria B, dirige veículos (f. 22).” Eventual divergência em relação ao entendimento adotado pelo Tribunal a quo demandaria o reexame de fatos e provas e das normas editalícias, o que inviabiliza o processamento do apelo extremo, tendo em vista a vedação contida nas Súmulas 279 e 454 do STF. Além disso, ressalta-se que o Supremo Tribunal Federal já assentou entendimento de ser a visão monocular deficiência física autorizativa a seu portador de concorrer às vagas destinadas aos deficientes físicos nos concursos públicos: “AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. CONCURSO PÚBLICO. DEFICIENTE FÍSICO. CANDIDATO COM VISÃO MONOCULAR. CONDIÇÃO QUE O AUTORIZA A CONCORRER AS VAGAS DESTINADAS AOS DEFICIENTES FÍSICOS. PRECEDENTES. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal assentou o entendimento de que o candidato com visão monocular é deficiente físico. Ausência de argumentos capazes de infirmar a decisão agravada. Agravo regimental a que se nega provimento” (ARE 760.015-AgR, Relator o Ministro Roberto Barroso, Primeira Turma, DJe 6.8.2014). Ante o exposto, conheço do agravo, para negar seguimento ao recurso extraordinário, nos termos dos arts. 544,

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§ 4º, II, “b”, CPC e 21, §1º, RISTF. Publique-se. Brasília, 26 de novembro de 2015. Ministro Edson Fachin. Relator

ARE 924575 / PR – PARANÁRelator(a): Min. DIAS TOFFOLIJulgamento: 16/11/2015Decisão: Trata-se de agravo contra a decisão que não admitiu recurso extraordinário interposto contra acórdão da Segunda Turma Recursal do Estado do Paraná. No recurso extraordinário, sustenta-se violação dos artigos 1º, incisos II, III e IV, 3º, incisos I e IV, 5º, incisos XXXV, LV e LXXVIII e §1º, 6º, 7º, inciso VII, 49, inciso I, 201, §2º, e 230 da Constituição Federal. Decido. Anote-se, inicialmente, que o recurso extraordinário foi interposto contra acórdão publicado após 3/5/07, quando já era plenamente exigível a demonstração da repercussão geral da matéria constitucional objeto do recurso, conforme decidido na Questão de Ordem no Agravo de Instrumento nº 664.567/RS, Tribunal Pleno, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence , DJ de 6/9/07. Todavia, apesar da petição recursal haver trazido a preliminar sobre o tema, não é de se proceder ao exame de sua existência, uma vez que, nos termos do artigo 323 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, com a redação introduzida pela Emenda Regimental nº 21/07, primeira parte, o procedimento acerca da existência da repercussão geral somente ocorrerá “quando não for o caso de inadmissibilidade do recurso por outra razão”. A irresignação não merece prosperar. Com exceção do artigo 201, § 2º, da Constituição, os demais dispositivos constitucionais indicados como violados no recurso extraordinário carecem do necessário prequestionamento, sendo certo que não foram opostos embargos de declaração para sanar eventual omissão no acórdão recorrido. Incidem na espécie as Súmulas nºs 282 e 356 desta Corte. Colhe-se do acórdão recorrido, a seguinte fundamentação: “Não se pode partir da premissa de que a parte autora nada percebeu do Estado italiano, pois toda a lógica do acordo internacional é a de que ela teria direito ao recebimento de uma parcela do benefício previdenciário que deve ser suportada por aquele Estado. Isso é o suficiente para desonerar o Brasil da obrigação de arcar com essa diferença, porquanto não recebeu a contrapartida na ponta do custeio. Portanto, não se exige que ela tenha efetivamente recebido o quinhão da prestação previdenciária correspondente ao tempo de serviço prestado no exterior, mesmo porque poderia sequer ter postulado esse direito naquele Estado por uma opção pessoal ou impossibilidade. Em suma, cada Estado deve pagar o benefício proporcionalmente às contribuições que recebeu e só quando a soma dessas proporções for inferior ao valor mínimo de benefício é que cabe ao Estado de acolhimento o pagamento da diferença. Esse dado não existe nos autos, visto que o requerente não o apresentou. Essa proporcionalidade, aliás, encontra-se prevista expressamente no art. 9° do Protocolo Adicional ao Acordo de Migração entre Brasil e Itália, de nove de dezembro de mil novecentos e sessenta. In verbis: (…) Em sendo assim, a parte autora tem direito de receber do governo italiano uma prestação previdenciária

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proporcional aos valores que recolheu aos Cofres daquele Estado no período em que lá trabalhou. O acordo internacional pressupõe que, cumprida a carência com soma de tempos de contribuição, cada Estado pague a fração proporcional correspondente. Não se afigura razoável que o Estado brasileiro seja obrigado a pagar valor maior que o decorrente dessa proporção, arcando assim integralmente com uma obrigação que deveria ser conjunta. (…) Por fim, registro que o art. 35 do Decreto n.º 3.048/1999, ao regulamentar a matéria, determina que: A renda mensal do benefício de prestação continuada que substituir o salário-decontribuição ou o rendimento do trabalho do segurado não terá valor inferior ao do salário mínimo nem superior ao limite máximo do salário-de-contribuição, exceto no caso previsto no art. 45. § 1º A renda mensal dos benefícios por totalização, concedidos com base em acordos internacionais de previdência social, pode ter valor inferior ao do salário mínimo. (destaquei)”. (...) Ante o exposto, conheço do agravo para negar seguimento ao recurso extraordinário. Publique-se. Brasília, 16 de novembro de 2015. Ministro Dias Toffoli. Relator

HABEAS CORPUS

HC 128893 / DF - DISTRITO FEDERALRelator(a): Min. MARCO AURÉLIOJulgamento: 16/12/2015Decisão: DIREITO – ORGANICIDADE E DINâMICA. hABEAS CORPUS – LIMINAR – EXTRADIÇÃO – EXTRATERRITORIALIDADE – INDEFERIMENTO. 1. O assessor Dr. Marcos Paulo Dutra Santos prestou as seguintes informações: O habeas corpus foi formalizado, em favor de José Maria Marin, contra suposta omissão do Presidente da República em formular pedido de extradição do paciente, que estaria preso, sem julgamento, em Estado estrangeiro – República da Suíça –, considerada a nacionalidade brasileira. O impetrante assevera não haver, até a presente data, notícia de sentença condenatória transitada em julgado a autorizar a prisão, quadro que consubstanciaria transgressão ao princípio da não culpabilidade. Articula com o artigo 43, inciso I, da Lei nº 10.741, o qual dispõe sobre a aplicabilidade das medidas de proteção ao idoso em face de violação ou ameaça de direitos decorrente de ação ou omissão do Estado. Salienta ser o Governo brasileiro responsável por requerer a extradição, visando preservar a saúde do paciente. Assinala que a inércia da autoridade apontada como coatora revela lesão a direito fundamental, passível de apreciação pelo Judiciário, conforme previsto no artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal. Pleiteia, em âmbito liminar, a formalização de pedido oficial, encaminhado à República da Suíça, para que o paciente seja extraditado. No mérito, busca a confirmação da providência. 2. Observem a organicidade do Direito. Descabe pretender seja o paciente submetido à jurisdição brasileira, porquanto a aplicação da lei penal, presente suposta prática de delito por brasileiro em território estrangeiro, depende do cumprimento dos requisitos constantes do artigo 7º, incisos I e II e § 2º, do Código Penal. Na situação

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concreta, verifica-se a ausência das balizas fáticas autorizadoras do enquadramento nos casos de extraterritorialidade. Além disso, conforme noticiado pelos meios de imprensa, em ampla cobertura jornalística, o paciente foi entregue pelo Governo da República da Suíça ao dos Estados Unidos da América, onde se encontra em prisão domiciliar, após pagamento de fiança, aguardando julgamento. 3. Indefiro a liminar. 4. Colham o parecer da Procuradoria Geral da República. 5. Publiquem. Brasília, 16 de dezembro de 2015. Ministro MARCO AURÉLIO. Relator

HC 132011 / DF - DISTRITO FEDERALRelator(a): Min. LUIZ FUXJulgamento: 09/12/2015Decisão: Trata-se de habeas corpus preventivo, com pedido de liminar, em que o Ministério Público Federal é apontado como autoridade coatora. Segundo a inicial, o Governo argentino requereu a extradição do paciente a fim de cumprir pena pelos crimes de privação ilegítima de liberdade com coação ilegal, tortura cometida por funcionário público, homicídio criminis-causa com conexão final e impulsiva e associação ilícita agravada” (EXT 1380). O pedido de extradição restou indeferido com fundamento na nacionalidade brasileira ostentada pelo paciente, tendo o acórdão aplicado a regra aut dedere aut judicare (extradite ou julgue), já tendo o paciente se apresentado à autoridade policial no Estado do Paraná para prestar esclarecimentos. Os impetrantes alegam que o paciente é idoso (85 anos) e que sua iminente prisão preventiva é absolutamente desnecessária. Requer, liminarmente e no mérito, a concessão de salvo-conduto. É o relatório, em síntese. DECIDO. O Ministério Público Federal, por seu órgão sujeito à jurisdição do Supremo Tribunal Federal, não tem atribuição para requerer prisão preventiva de quem não possui prerrogativa de foro nesta Corte. In casu, eventual persecução penal contra o paciente será deflagrada na Justiça de Primeiro Grau, sendo certo que suas decisões são insindicáveis no Supremo Tribunal Federal. Ex positis, NEGO SEGUIMENTO ao writ, com fundamento no artigo 38 da Lei n. 8.038/90, por ser manifestamente incabível. Publique-se. Int.. Brasília, 9 de dezembro de 2015. Ministro Luiz Fux. Relator

HC 131646 / SP - SÃO PAULORelator(a): Min. DIAS TOFFOLIJulgamento: 03/12/2015Decisão: Habeas corpus, com pedido de liminar, impetrado em favor de Domingos Raimundo da Paz, apontando como autoridade coatora o Ministro Celso de Mello, que não conheceu do agravo regimental no ARE nº 922.341/SP, em razão da sua intempestividade. O impetrante sustenta, em síntese, que a decisão em questão seria nula, uma vez que a sua publicação no Diário de Justiça eletrônico não fez constar o nome do ora impetrante, patrono do paciente naquele recurso. Afirma, ainda, que essa omissão sepultou a possibilidade de se “Embargar e Recorrer ao Pleno do STF” (fl.

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12 da inicial). Assevera, ainda, que “foram impugnados com todos os fundamentos e prequestionamentos, cujas razões estão expressas exatamente em dois pontos contundentes, quais sejam: hÁ FALTA DE JUSTA CAUSA, pois, hÁ AUSÊNCIA DA MATERIALIDADE e DAS PROVAS, ou seja, NÃO hÁ NOS AUTOS PROVAS contra o paciente, portanto, impingir condenação por falta de provas, com certeza resultará em imensuráveis prejuízos e graves danos, de difícil ou incerta reparação” (fl. 15 da inicial – grifos do autor). Requer, liminarmente, a concessão da ordem para que se reconheça a nulidade da ação penal na qual restou condenado o paciente, com a consequente expedição de contramandado de prisão em seu favor. Examinados os autos, decido. No julgamento do hC nº 127.483/SP, de minha relatoria, o Tribunal Pleno, em razão do empate na votação, conheceu daquele habeas corpus, impetrado contra ato de Ministro desta Suprema Corte (Informativo/STF nº 796). Portanto, reconheço o cabimento desta impetração, que, todavia, não merece seguimento. Com efeito, o impetrante não demonstrou que a tese a respeito do suposto equívoco na publicação da decisão ora questionada foi submetida ao eminente Ministro Celso de Mello, Relator da ARE nº 922.341/SP. Frustrando, portanto, a possibilidade de Sua Excelência pronunciar-se sobre a questão ora suscitada nos autos daquele processo. Essa provocação prévia, a meu ver, consubstancia condição de cognoscibilidade do habeas corpus impetrado contra ato de membro deste Supremo Tribunal, por analogia ao enunciado da Súmula nº 692/STF , segundo o qual não se conhece de habeas corpus contra omissão de relator de extradição, se fundado em fato ou direito estrangeiro cuja prova não constava dos autos, nem foi ele provocado a respeito. De outra parte, a tese a respeito da nulidade da ação penal, embora tenha sido objeto do recurso manejado pelo paciente nesta Corte, como se sustenta, não foi analisada pelo Ministro Celso de Mello, o que veda a sua apreciação, de forma originária, nesta impetração que, a meu ver, deve ter aderência estrita ao conteúdo da decisão questionada. Ante o exposto, nos termos dos arts. 38 da Lei nº 8.038/90 e 21, § 1º, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, nego seguimento ao presente habeas corpus, ficando, por consequência, prejudicado o pedido de liminar. Dê-se ciência desta decisão ao eminente Ministro Celso de Mello. Publique-se. Brasília, 3 de dezembro de 2015. Ministro Dias ToffoliRelator

HC 132031 / SP - SÃO PAULORelator(a): Min. DIAS TOFFOLIJulgamento: 17/12/2015Decisão: Habeas corpus, com pedido de liminar, impetrado em favor de Paulo Ricardo da Silva, apontando como autoridade coatora a Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, que não conheceu do hC nº 335.151/SP, Relator o Ministro Reynaldo Soares da Fonseca. Narra a impetração que o paciente foi preso em flagrante por infração ao art. 33 da Lei nº 11.343/06 e que, apesar de não integrar organização criminosa, de ser primário e ostentar bons antecedentes, foi convertida a sua prisão em flagrante

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em prisão preventiva, sem que fosse realizada a audiência de custódia, como exige o art. 7º, 5, da Convenção Americana sobre Direitos humanos e o art. 9º, I, do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, o que deve importar no relaxamento de sua prisão em flagrante. Sustenta o impetrante ainda a ausência de fundamentação idônea para a prisão preventiva, lastreada na suposta necessidade de se garantir a ordem pública. Defende que o paciente deve ser colocado em regime domiciliar, uma vez que é usuário de drogas e se encontrava sob tratamento, ou, alternativamente, que lhe sejam impostas medidas cautelares diversas da prisão (art. 319, CPP), ante a presença de circunstâncias judiciais favoráveis. Requer, liminarmente, a concessão da ordem para que seja revogada a prisão preventiva do paciente e, no mérito, a confirmação da liminar. Alternativamente, “[c]aso não seja o entendimento adotado, requer seja deferida prisão domiciliar para o paciente, ainda que de forma humanitária, haja vista que se trata de usuário de entorpecente. Caso não seja esse o entendimento, que se aplique o artigo 319 do CPP, impondo ao Requerente as medidas cautelares diversas da prisão”. Examinados os autos, decido. Transcrevo a ementa do acórdão ora impugnado: “hABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRóPRIO. TRÁFICO DE DROGAS. PRISÃO PREVENTIVA. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. GRAVIDADE CONCRETA. PERICULOSIDADE SOCIAL. NECESSIDADE DA PRISÃO PARA GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. SEGREGAÇÃO JUSTIFICADA. CONDIÇõES PESSOAIS FAVORÁVEIS. IRRELEVâNCIA. MEDIDAS CAUTELARES DO ART. 319 DO CPP. INVIABILIDADE. AUSÊNCIA DE AUDIÊNCIA DE CUSTóDIA. FALTA DE PREVISÃO LEGAL. SUBSTITUIÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA EM PRISÃO DOMICILIAR. NECESSIDADE NÃO COMPROVADA. COAÇÃO ILEGAL NÃO DEMONSTRADA. (...) Essa é a razão por que se insurge o impetrante. É flagrante o constrangimento ilegal imposto ao paciente. Para se chegar a essa conclusão, basta uma simples leitura, a olhos desarmados, da decisão que determinou a conversão da prisão em flagrante do paciente em preventiva: “Cuidando-se de crime equiparado a hediondo, inviável a concessão de fiança, nos termos do art. 323, II, do Código de Processo Penal. Em síntese, informam os milicianos que receberam informações dando conta de que dois homens e uma mulher estavam comercializando drogas em imóvel localizado na Rua Sussumo Suguihura, nº 206. Na oportunidade foram averiguar o dito endereço, ocasião em que o autuado Rafael Alexandre Lopes da Silva Silva, vulgo ‘trovão’, ao perceber a aproximação da viatura policial, correu para dentro do imóvel, bem como jogou algo por cima do muro. Foi constatado que se tratavam de 22 (vinte e duas) porções de maconha. Em seu poder também foi encontrada a quantia de R$ 51,00 (cinquenta e um reais). O segundo indiciado, Paulo Ricardo da Silva, vulgo ‘Paulinho’, encontrava-se na sala da residência e, alertado pela movimentação, pegou algo que estava em um prato e atirou no vaso sanitário. Em seguida deu descarga e empurrou com as mãos o produto para que entrasse pelo encanamento. Neste mesmo cômodo foram encontrados vários recortes de plástico, idênticos aos que embalavam as porções de maconha. Indagado pela D. Autoridade Policial, o autuado Rafael negou

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os fatos e alegou ser usuários de maconha. Paulo Ricardo também negou os fatos e afirmou que os recortes plásticos são utilizados para fazer ‘’gelinho’. Alegou não ser usuário de drogas e negou qualquer envolvimento com o tráfico. Cópias dos laudos periciais de constatação prévia às fls. 15/18. Os elementos de convicção produzidos até o presente momento demonstram comprovada a materialidade e indícios suficientes de autoria. Diante de todo o exposto, verifico que as porções, os recortes plásticos e o numerário apreendidos, indicam à princípio, a possibilidade da prática do nefasto comércio. Embora os autuados não ostentem antecedentes criminais, em caso de eventual condenação, deverão iniciar o cumprimento da pena privativa de liberdade em regime fechado, mostrando inadequada a fixação de medidas cautelares alternativas à prisão. Anoto que inexiste informação segura e idônea de que os autuados desempenhem atividade lícita que lhes garantam o sustento. Assim, não há qualquer excepcionalidade a justificar o afastamento da regra do artigo 44 da Lei nº 11.343/06. Nesse sentido julgado do E. Tribunal de Justiça de São Paulo: (...) Não se desconhece e nem se ignora recente decisão do Pretório Excelso por maioria de votos - que entendeu possível a concessão de liberdade provisória em se cuidando de tráfico de drogas, refutando a aplicação automática da vedação contida no artigo 44 da Lei de Drogas. Todavia, referida decisão não possui efeito erga omnes, porque não proferida em sede de controle concentrado de constitucionalidade. Por conta do exposto, para garantia da ordem pública CONVERTO a prisão em flagrante de RAFAEL ALEXANDRE LOPES DA SILVA, vulgo ‘Trovão’ e PAULO RICARDO DA SILVA, vulgo ‘Paulinho’ em PRISÃO PREVENTIVA, com fulcro nos artigo. 310, inciso II, 312 e 313, todos do Código de Processo Penal” (grifei). Por sua vez, ao indeferir o pedido de liberdade provisória formulado pelo paciente, o juízo de primeiro grau, mais uma vez, assentou não haver “(...) qualquer excepcionalidade a justificar o afastamento da regra do artigo 44 da Lei nº 11.343/06. Cuida-se de crime de extrema gravidade, equiparado a hediondo, o qual coloca em constante desassossego a sociedade ordeira, contribuindo para a instabilidade das relações de convivência social, estando, pois, presente o motivo da garantia da ordem pública, autorizador da manutenção da prisão. Adicione-se que, embora o indiciado não ostente a condição de reincidente criminal, em caso de eventual condenação deverá iniciar o cumprimento da pena privativa de liberdade em regime fechado, mostrando inadequada a fixação de medidas cautelares alternativas à prisão”. Como se observa, foi decretada a prisão preventiva do paciente para garantia da ordem pública, aos fundamentos de que, “em caso de eventual condenação”, deverá iniciar o cumprimento de pena em regime fechado e de que o crime a ele imputado seria de extrema gravidade. (...) Com essas considerações, nos termos do art. 192, caput, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, concedo a ordem de habeas corpus para revogar a prisão preventiva do paciente, sem prejuízo de o juízo de primeiro grau, mediante motivação idônea, verificar a possibilidade de aplicação das medidas cautelares previstas no art. 319 do Código de Processo Penal. Publique-se. Brasília, 17 de dezembro de 2015. Ministro Dias Toffoli Relator

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HC 132108 / DF - DISTRITO FEDERALRelator(a): Min. ROBERTO BARROSOJulgamento: 17/12/2015Decisão: Processual penal militar. habeas corpus. Prisão em flagrante. Inversão do momento processual do interrogatório. Supressão de instância. Materialidade delitiva. Análise de fatos e provas. 1. Trata-se de habeas corpus, com pedido de concessão de liminar, impetrado contra acórdão unânime do Superior Tribunal Militar, da Relatoria do Ministro Gen. Ex. Luis Carlos Gomes Mattos, assim ementado: “EMENTA: APELAÇÃO. CRIME PREVISTO NO ARTIGO 290 DO CóDIGO PENAL MILITAR. AVENTADA INCONVENCIONALIDADE DO ARTIGO 290 DO CóDIGO PENAL MILITAR EM FACE DOS TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS hUMANOS. LEI Nº 11.343/06. DESPROVIMENTO. O bem jurídico penalmente tutelado no artigo 290 do Código Penal Militar não se restringe à saúde do próprio agente, alcançando, destarte, a de seus colegas de Caserna, bem como a regularidade das instituições militares e a própria operacionalidade e segurança da tropa. Improcedência da tese defensiva de inconvencionalidade do artigo 290 do Código Penal Militar em face dos tratados internacionais de direitos humanos, uma vez que, como visto, a sua objetividade jurídica difere substancialmente daquela preconizada nos delitos de tóxicos previstos na legislação penal comum (precedentes do Superior Tribunal Militar e do Supremo Tribunal Federal). Inaplicação da Lei nº 11.343/06 na órbita da Justiça Militar sob os mesmos fundamentos, em razão do que prevalece o princípio da especialidade sobre o critério da retroatividade da lei penal mais benigna (precedentes do Superior Tribunal Militar e do Supremo Tribunal Federal. Hipótese em que o delito recortado no artigo 290 do Código Penal Militar encontra-se delineado e provado em todas as suas elementares, inexistindo, por outro lado, causas excludentes de qualquer natureza. Desprovimento do apelo. Unânime.” 2. Extrai-se dos autos que o paciente, militar à época dos fatos, foi preso em flagrante em 05.05.2014, ao ser surpreendido com 3 (três) papelotes de maconha. 3. Em 09.05.2014, o Juízo da 2ª Auditoria da 11ª Circunscrição Judiciária Militar relaxou a prisão cautelar. 4. Concluída a instrução criminal, o paciente foi condenado à pena de 1 (um) ano de reclusão, em regime aberto, pelo crime previsto no artigo 290, caput, c/c o artigo 72, inciso I, ambos do Código Penal Militar, tendo sido concedido o benefício do sursis pelo prazo de 2 (dois) anos e o direito de recorrer em liberdade. 3. O Superior Tribunal Militar negou provimento à apelação da defesa. 4. Neste habeas corpus, a parte impetrante alega a nulidade da prisão em flagrante do paciente, tendo em vista que a prisão não teria sido comunicada à Defensoria Pública, nos termos do artigo 306 do Código de Processo Penal. Sustenta a possibilidade da aplicação subsidiária do rito estabelecido na atual redação do artigo 400 do Código de Processo Penal à Justiça Militar. Afirma que, no caso, não teria sido comprovada a materialidade delitiva. Daí o pedido de concessão da ordem a fim de que seja declarada a nulidade do processo e, em consequência, para que se permita a absolvição do paciente. Decido. 5. O habeas corpus não deve ser deferido. 6. De

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início, verifico que as questões referentes à eventual nulidade da prisão em flagrante e da possibilidade da aplicação subsidiária do rito estabelecido na atual redação do artigo 400 do Código de Processo Penal à Justiça Militar não passaram pelo crivo do Juízo de origem e do Superior Tribunal Militar. De modo que o imediato exame da matéria acarretaria indevida supressão de instâncias (v.g HC 116.350-AgR, Relª Minª Rosa Weber, e hC 114.166, Rel. Min. Ricardo Lewandowski). 7. Ademais, observo que o paciente foi preso em flagrante em 05.05.2014, tendo sido a prisão revogada em 09.05.2015. Nessas condições, está prejudicada a alegação de nulidade da custódia. 8. Por outro lado, este Supremo Tribunal Federal consolidou o entendimento de que “A alegação de ausência de autoria e materialidade é insuscetível de deslinde em sede de habeas corpus, que, como é cediço, não comporta reexame de fatos e provas” (RhC 117.491, Rel. Min. Luiz Fux). 9. No caso de que se trata, o Juízo de origem assentou que “a materialidade restou comprovada pelo Laudo de fls. 71/75, que comprovou que as substâncias que portava o acusado se tratavam do vegetal Cannabis Sativa L., popularmente conhecida como maconha, assim como a autoria, ratificada pelo Auto de prisão em flagrante delito e pelo interrogatório do réu”. 10. Diante do exposto, com base no art. 38 da Lei nº 8.038/1990 e no art. 21, §1º, do RI/STF, nego seguimento ao habeas corpus. Publique-se. Brasília, 17 de dezembro de 2015. Ministro Luís Roberto Barroso

EXTRADIÇÃO

Ext 1375 / DF - DISTRITO FEDERALRelator(a): Min. LUIZ FUXJulgamento: 15/12/2015Decisão: EXTRADIÇÃO. SALDO DE PENA A CUMPRIR INFERIOR A UM ANO. VEDAÇÃO LEGAL à EXTRADIÇÃO, NOS TERMOS DO ACóRDÃO DA PRIMEIRA TURMA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. EXPEDIÇÃO DE ALVARÁ DE SOLTURA. Decisão: A Defensoria Pública da União requer a expedição de alvará de soltura sob o fundamento de que exauriu o prazo para a entrega do extraditando. Em acórdão proferido no dia 24 de novembro de 2015, no julgamento de embargos de declaração interpostos pela defesa, a Primeira Turma deste Supremo Tribunal Federal restringiu os efeitos da autorização para extradição de BERNABÉ CERRO JAIME, considerando-a lícita somente se efetivada até a data de 6 dezembro do ano corrente, tendo em vista o disposto no Título II, Artigo II, n. 2, do Tratado Bilateral de Extradição entre Brasil e Espanha, que assim disciplina a matéria: “Título II Casos que Autorizam a Extradição ARTIGO II 1. Autorizam a extradição os fatos a que as Leis do Estado requerente e do Estado requerido imponham pena privativa de liberdade superior a um ano, independentemente das circunstâncias modificativas e da denominação do delito. 2. Se a extradição for solicitada para execução de uma sentença, será necessário que a parte da pena ainda não cumprida seja superior a

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um ano”. O Ministério Público Federal manifestou-se no sentido do acolhimento do pedido da Defensoria Pública da União. Deveras, o Extraditando encontra-se preso para fins de extradição desde novembro de 2014, tempo este que deve ser descontado para fins de detração da pena a ser cumprida no Estado requerente, conforme disposto no Título IV, Artigo VI, n. 1, do Tratado bilateral, verbis: “Título IV Das Garantias à Pessoa do Extraditando [...] ARTIGO VI 1. A extradição não será concedida sem que o Estado requerente dê garantias de que será computado o tempo da prisão que tiver sido imposta ao reclamado no estado requerido, por força da extradição”. In casu, nos termos do acórdão proferido pela Primeira Turma desta Corte, a partir da presente data não mais existe saldo de um ano de pena a ser cumprida no Estado Requerente, a obstaculizar a extradição requerida. Do exposto, acolho o pleito formulado pela defesa do Extraditando. Expeça-se alvará de soltura, a ser cumprido imediatamente, se por al não estiver preso. Publique-se. Comunique-se. Cumpra-se com urgência. Brasília, 15 de dezembro de 2015. Ministro Luiz Fux. Relator

Ext 1405 / DF - DISTRITO FEDERALRelator(a): Min. LUIZ FUXJulgamento: 11/12/2015Decisão: Decisão: A defesa do extraditando peticionou nestes termos: “PASQUALE SCOTTI, devidamente qualificado, vem à presença de V. Exa., por seu defensor infra-assinado, nos autos da EXTRADIÇÃO requerida pelo GOVERNO DA ITÁLIA, requerer o quanto segue. O julgamento do pedido extradicional ocorrera em 20 de outubro de 2015, tendo sido publicado da [sic] imprensa oficial em 28 de outubro de 2015. A parte requerente constituiu advogado que fora igualmente intimado conjuntamento com a defesa na data supracitada. Neste flanco, com a decorrência de 41 (quarenta e um) dias sem nenhum procedimento por parte da requerente para extraditar o extraditando, inconteste o direito de ser posto em liberdade. Diante do exaurimento do lapso temporal previsto no artigo 14.3 do Tratado bilateral celebrado entre a parte requerente, o extraditando deve ser libertado incontinenti. EM FACE DO EXPOSTO, requer nos termos do artigo 14.3 do Decreto 863/93, seja deferido [sic] a expedição de alvará de soltura para o Presídio da Papuda ( PDF 1 ), por ser medida de direito que ora se impõe.” O artigo 14, invocado pelo ilustre advogado, dispõe sobre a entrega do extraditando, litteris: ARTIGO 14 Decisão e entrega. 1. A Parte requerida informará sem demora à Parte requerente sua decisão quanto ao pedido de extradição. A recusa, mesmo parcial, deverá ser motivada. 2. Se a extradição for concedida, a Parte requerida informará à Parte requerente, especificando o lugar da entrega e a data a partir da qual esta poderá ter lugar, dando também informações precisas sobre as limitações da liberdade pessoal que a pessoa reclamada tiver sofrido em decorrência da extradição. 3. O prazo para a entrega será de 20 dias a partir da data mencionada no parágrafo anterior. Mediante solicitação fundamentada da Parte requerente, poderá ser prorrogado por mais 20 dias. 4. A decisão de concessão da extradição perderá

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a eficácia se, no prazo determinado, a Parte requerente não proceder à retirada do extraditando. Neste caso, este será posto em liberdade, e a Parte requerida poderá recusar-se a extraditá-lo pelo mesmo motivo. A comunicação ao Ministério da Justiça e ao Ministério das Relações Exteriores, objetivando dar ciência à representação diplomática do país requerente para que retire o reclamado no prazo previsto no Tratado, é feita após o trânsito em julgado do acórdão que autorizou a extradição, que, como é elementar, ocorre após o transcurso prazo recursal. Ex positis, por ser manifestamente improcedente, indefiro o pedido. Publique-se. Int.. Brasília, 11 de dezembro de 2015. Ministro Luiz Fux. Relator

Ext 1340 / DF - DISTRITO FEDERALRelator(a): Min. LUIZ FUXJulgamento: 25/11/2015Decisão: Constitucional. Extradição deferida. Trânsito em julgado. Opção da nacionalidade brasileira concedida em recurso de apelação. Questão prejudicial à entrega do extraditando. Interposição de recurso extraordinário. Seguimento negado (Súm. 279/STF). Pedido de medida cautelar alternativa à prisão. Manifestação favorável do MPF. Extraditando preso há quase dois anos. Confirmação da nacionalidade brasileira. Iminência. Acolhimento do parecer ministerial. Trânsito em julgado do RE. Opção de nacionalidade confirmada. Vedação constitucional à extradição de brasileiro nato (CF, art. 5º, inc. LI, c/c art. 12, inc. I, alínea c). Aplicação do princípio aut dedere aut judicare. - Prisão preventiva para extradição revogada, devendo o Juiz Federal da Seção Judiciária de Santana do Livramento/RS fixar medidas cautelares alternativas necessárias à efetividade da futura ação penal (art. 319 do CPP). - Ciência ao Ministro da Justiça, ao País requerente, pela via diplomática, e ao Ministério Público Federal. - Extração de cópia integral dos autos e remessa ao órgão do Ministério Público Federal atuante no mencionado Juízo, em conformidade com art. 11, § 3º, do Acordo de Extradição entre os Estados Partes do Mercosul, c/c art. 7º, inc. II, alíneas a e b do Código Penal, a fim de que instaure ação penal pela prática do crime de tráfico de entorpecentes atribuída ao extraditando (aut dedere aut judicare). Decisão: A Primeira Turma desta Corte julgou procedente o pedido de extradição em 03/03/2015, sobrevindo o trânsito em julgado do acórdão em 31/03/2015. Simultaneamente ao processo de extradição, o extraditando ajuizou pedido de Opção de Nacionalidade que restou indeferido pela Justiça Federal da Seção Judiciária de Santana do Livramento/RS, ensejando recurso de apelação que restou provido pelo TRF da 4ª para reconhecer a nacionalidade brasileira. O Ministério Publico Federal interpôs recurso extraordinário. O extraditando destituiu o advogado e pleiteou sua entrega ao Estado estrangeiro a fim de que ali responda pelo crime de que é acusado. Asseverei que “... a sucessão de fatos conduz a que se intime a Defensoria Pública da União para que assuma, caso assim entenda, a defesa do extraditando, porquanto a concessão de nacionalidade brasileira, apesar de recorrida, tem relevância jurídica,

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podendo culminar com a recusa de sua entrega ao Estado requerente”. A Defensoria Pública da União devolveu os autos em face da superveniente constituição de novo advogado, que formulou requerimento de prisão domiciliar até que se decida a prejudicial de nacionalidade pendente de decisão judicial transitada em julgado (fl. 228). O Ministério Público Federal manifestou-se, in verbis (fls. 238/242): “Trata-se de pedido formulado pelo Governo do Uruguai, com base em tratado de extradição firmado entre os países do Mercosul, promulgado internamento pelo Decreto nº 4.975, de 30/1/2004, para que o extraditando responda a processo pelo crime de tráfico internacional de drogas. A prisão preventiva para fins de extradição foi deferida em 6/2/2014, sendo que ele já se encontrava preso preventivamente na Penitenciária de Santana do Livramento/RS, em razão de crimes praticados no Brasil. Em 3/3/2015, a extradição foi deferida, conforme acórdão de fls. 124/135, embora estivesse em tramitação processo de opção pela nacionalidade brasileira. Em 28/4/2014, o TRF da 4ª Região, nos autos da Apelação Cível nº 5002069-17.2014.404.7106, reformou a setença de primeiro grau e homologou a opção pela nacionalidade brasileira, ocasião em que o extraditando pediu a revogação da prisão preventiva e a extinção do processo. O relator indeferiu o pleito sob o argumento de que a prestação jurisdicional se exauriu com o trânsito em julgado da extradição. Acrescentou que, como o julgamento do TRF da 4ª Região não é definitivo, uma vez que houve a interposição de recurso extraordinário, resta à defesa a faculdade de requerer ao Ministro da Justiça a suspensão da entrega do extraditando (fls. 177/179). Diante disso, este formulou pedido pela sua imediata entrega ao Estado requerente. O relator entendeu que ‘a sucessão dos fatos conduz a que se intime a Defensoria Pública da União para que assuma, caso assim entenda, a defesa do extraditando, porquanto a concessão de nacionalidade brasileira, apesar de recorrida, tem relevância jurídica, podendo culminar com a recusa de sua entrega ao Estado requerente”. Inconformada, a defesa pleiteia a prisão domiciliar do extraditando até que se decida em definitivo sobre a prejudicial de nacionalidade, tendo em vista que o recurso extraordinário não tem efeito suspensivo e sua prisão já dura cerca de 1 ano e 8 meses. Consta dos autos da PPE 708 que o juízo da Comarca de Santana do Livramento concedeu liberdade provisória ao extraditando com aplicação de medidas cautelares diversas da prisão, no bojo da Ação Penal nº 0011766-62.2013.8.21.0025, tendo sido expedido alvará de soltura com a ressalva da prisão para fins de extradição decretada pelo STF (fls. 129/134). Diante disso e considerando que atualmente o extraditando se encontra preso unicamente em virtude da presente extradição, além de não haver previsão de data de julgamento do recurso extraordinário onde se discute a opção pela nacionalidade brasileira, o pleito deve ser atendido, mediante a estipulação de medidas cautelares divesas da prisão, eficazes para o propósito do presente feito. Essa Corte endossa a posição assumida: EMENTA: Habeas corpus. 1. Pedido de revogação de prisão preventiva para extradição (PPE). 2. Alegação de ilegalidade da prisão em face da instrução insuficiente do pleito extradicional; nulidade da decisão que decretou a prisão do extraditando por falta de manifestação

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prévia da Procuradoria-Geral da República (PGR); e desnecessidade da prisão preventiva, sob o fundamento de que a liberdade do paciente não ensejaria perigo para a instrução criminal desenvolvida pelo Governo do Panamá. 3. Suposta insuficiência da instrução do pedido extradicional. Informações prestadas pelo Relator da Extradição nº 1091/Panamá indicam que o pleito está sendo processado regularmente. 4. Alegação de nulidade da decisão que decretou a prisão do paciente por falta de manifestação prévia da PGR. Providência estranha ao procedimento da PPE, pois não há exigência de prévia manifestação da PGR para a expedição do mandado de prisão. 5. Alegação de desnecessidade da PPE. A custódia subsiste há quase quatro meses e inexiste contra o paciente sentença de condenação nos autos do processo instaurado no Panamá. 6. PPE. Apesar de sua especificidade e da necessidade das devidas cautelas em caso de relaxamento ou concessão de liberdade provisória, é desproporcional o tratamento que vem sendo dado ao instituto. Necessidade de observância, também na PPE, dos requisitos do art. 312 do CPP, sob pena de expor o extraditando a situação de desigualdade em relação aos nacionais que respondem a processos criminais no Brasil. 7. A PPE deve ser analisada caso a caso, e a ele deve ser atribuído limite temporal, compatível com o princípio da proporcionalidade; e, ainda, que esteja em consonância com os valores supremos assegurados pelo Estado Constitucional, que compartilha com as demais entidades soberanas, em contextos internacionais e supranacionais, o dever de efetiva proteção dos direitos humanos. 8. O Pacto de San Jose da Costa Rica proclama a liberdade provisória como direito fundamental da pessoa humana (Art. 7º, 5). 9. A prisão é medida excepcional em nosso Estado de Direito e não pode ser utilizada como meio generalizado de limitação das liberdades dos cidadãos (Art. 5º, LXVI). Inexiste razão, tando com base na CF/88, quanto nos tratados internacionais com relação ao respeito aos direitos humanos e a dignidade da pessoa humana, para que tal entendimento não seja também aplicado às PPE’s. 10. Ordem deferida para que o paciente aguarde em liberdade o julgamento da Extradição nº 1091/Panamá. Precedentes: Ext nº 1008/Colômbia, Rel. DJ 17.8.2007; Ext 791/Portugal, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 23.10.20001; AC n. 70/RS, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de 12.2.2004; Ext-QO nº 1054/EUA, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ de 14.9.2007. (hC 91657, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 13-03-2008 PUBLIC 14-03-2008 EMENT VOL-02311-02 PP-00293 RTJ VOL-00204-03 PP-01235) Ante o exposto, o Ministério Público Federal opina pela conversão da prisão para fins de extradição em medidas cautelares alternativas, se por outra razão o extraditando não estiver preso.” A opção de nacionalidade brasileira adquirida no acórdão da apelação julgada pelo TRF da 4ª Região restou confirmada com o trânsito em julgado, em 13/11/2015, do RE n. 921043, interposto pelo Ministério Público Federal, ao qual o Relator, no STF, negou seguimento com base na vedação de reexame de provas na via eleita. A Constituição Federal veda, em seu art. 5º, inc. LI, a extradição de brasileiro nato, in verbis: “nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na

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forma da lei”. O artigo 12, inc. I, alínea c, dispõe, litteris: Art. 12. São brasileiros: (ECR nº 3/94, EC nº 23/99 e EC nº 54/2007) I – natos: …. c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira; [grifei] In casu, o extraditando demonstrou, judicialmente, ser filho de brasileira e teve a opção de nacionalidade acatada em decisão transitada em julgado. Ex positis, revogo a prisão preventiva para extradição, devendo o Juiz Federal da Seção Judiciária de Santana do Livramento/RS fixar medidas cautelares alternativas necessárias à efetividade da futura ação penal (art. 319 do CPP). Determino a remessa de cópia integral dos autos ao órgão atuante do Ministério Público no mencionado Juízo, em conformidade com art. 11, § 3º, do Acordo de Extradição entre os Estados Partes do Mercosul, c/c art. 7º, inc. II, alíneas a e b do Código Penal, a fim de que instaure ação penal pela prática do crime de tráfico de entorpecentes atribuída ao extraditando. Comunique-se. Dê-se ciência ao Ministro da Justiça e ao Estado requerente, este pela via diplomática, e ao Ministério Público Federal. Publique-se. Int.. Brasília, 25 de novembro de 2015. Ministro Luiz Fux. Relator

PRISÃO PREVENTIVA PARA EXTRADIÇÃO

PPE 769 / DF - DISTRITO FEDERALRelator(a): Min. CELSO DE MELLOJulgamento: 01/12/2015Decisão: DECISÃO: O Senhor Ministro de Estado da Justiça, acolhendo representação que a Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal) dirigiu-lhe nos termos do § 2º do art. 82 do Estatuto do Estrangeiro, na redação dada pela Lei nº 12.878/2013, requer a decretação da prisão cautelar de WANPU JIANG, nacional chinês, a fim de extraditá-lo, para ser submetido a processo penal na República Popular da China pela suposta prática de delito previsto no Código Penal chinês (art. 176), que, em tese, encontraria correspondência típica no art. 16 da Lei nº 7.492/86, que define o crime de operação não autorizada de instituição financeira, ou, até mesmo, no art. 171 do Código Penal brasileiro, que prevê o estelionato. Cabe observar, a título de mero registro, que atos de captação de recursos junto a pessoas físicas a pretexto de investi-los no mercado financeiro, com promessa de rendimentos, podem configurar delito contra o sistema financeiro nacional, nos termos da legislação brasileira, conforme assinala JOSÉ PAULO BALTAZAR JUNIOR (“Crimes Federais”, p. 381, 6ª ed., 2010, Livraria do Advogado Editora). Registro, de outro lado, que o extraditando acha-se adequadamente identificado, cumprindo acentuar que o fato delituoso pelo qual o súdito chinês em questão está sendo acusado parece satisfazer, ao menos em princípio, como precedentemente salientado – e ressalvada a análise ulterior dessa questão –, a exigência imposta pelo critério da dupla tipicidade. O ilícito penal em causa, por

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sua vez, não parece incidir nas restrições que, estabelecidas pela lei brasileira (Lei nº 6.815/80, art. 77) e pelo tratado bilateral existente entre o Brasil e a República Popular da China (artigo 3º), impediriam, caso ocorrentes, a efetivação da própria entrega extradicional. Impende destacar, finalmente, em face do contexto ora em exame, um aspecto que se mostra juridicamente relevante, concernente à indispensabilidade da imposição de prisão para efeitos extradicionais, pois – como se sabe – “Nenhum pedido de extradição terá andamento sem que o extraditando seja preso e colocado à disposição do STF. Essa prisão de natureza cautelar destina-se, em sua precípua função instrumental, a assegurar a execução de eventual ordem de extradição” (RTJ 149/374-375, Rel. Min. CELSO DE MELLO). Assim sendo, decreto a prisão cautelar para efeitos extradicionais de WANPU JIANG, devidamente qualificado a fls. 04/05. Expeça-se, em consequência, o respectivo mandado de prisão. A execução dessa ordem judicial, tão logo efetuada, deverá ser comunicada a esta Suprema Corte. 2. Comunique-se o teor desta decisão ao Senhor Ministro da Justiça, ao Senhor Diretor-Geral do Departamento de Polícia Federal e ao Senhor Delegado de Polícia Federal em atuação no Escritório Central Nacional da Interpol no Brasil, bem assim, para efeito de cientificação formal da Missão Diplomática da República Popular da China, ao Senhor Ministro das Relações Exteriores. Os ofícios em questão deverão ser encaminhados com cópia desta decisão. 3. A presente decisão somente deverá ser publicada depois de efetivada a prisão do súdito estrangeiro em questão. Brasília, 01 de dezembro de 2015. Ministro CELSO DE MELLO. Relator

MEDIDA CAUTELAR EM MANDADO DE SEGURANÇA

MS 33882 MC / DF - DISTRITO FEDERALRelator(a): Min. EDSON FACHINJulgamento: 09/12/2015Decisão: DECISÃO: Trata-se de mandado de segurança impetrado pela Deputada Federal ÉRIKA JUCÁ KOKAY, contra ato emanado pela Presidência da Câmara dos Deputados que deferiu requerimento de criação de Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a investigar a atuação da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e do Instituto Nacional de Colonização Agrária (INCRA) na demarcação de terras indígenas e de remanescentes de quilombos. Sustenta que o deferimento do Requerimento nº 16/2015 e a consequente criação da CPI violam o art. 58, §3º, da Constituição da República, em virtude da inobservância dos requisitos fato determinado e prazo certo. Afirma que o requerimento de criação da referida CPI, apresentado na data de 22 de abril do ano corrente pelos Deputados Federais Alceu Moreira, Marcos Montes, Nilson Leitão, Valdir Colatto, Luiz Carlos Heinze, dentre outros, busca, em realidade, a criação de uma Comissão de Investigação ampla e irrestrita, sem limitação, foco, objetivos, de todo o processo de demarcação de terras indígenas e de quilombos já ocorridos no País, numa verdadeira devassa ao trabalho que vem sendo realizado há anos pelo

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Poder Executivo Federal, pelo Poder Judiciário e pelo Ministério Público Federal, em afronta, além do artigo 58, também do artigo 2º da Constituição Federal. Discorre acerca das justificativas trazidas pelos parlamentares no requerimento, buscando demonstrar a arbitrariedade e o desbordamento dos limites constitucionais da atuação fiscalizatória parlamentar. Defende que isso ocorre na medida em que se propõe investigação sobre fatos indeterminados e abstratos. Nesse sentido, considera abusivo o despacho da autoridade coatora que reconheceu a existência de fato determinado e aprovou o requerimento de criação da CPI. Assinala, ainda, o não cumprimento do requisito constitucional de temporariedade de CPI, visto que a ausência de prazo certo de funcionamento da CPI conduzirá a que a Comissão Parlamentar de Inquérito, se eventualmente instalada (...) se transforme numa Comissão Permanente de Investigação, com o objetivo de revisão e modificação dos atos administrativos e quiçá judiciais que consolidaram direitos das comunidades indígenas e quilombolas, em grave afronta à ordem constitucional instituída. Aponta, por fim, a existência de ofensa ao princípio da separação dos poderes (art. 2º, CRFB) ante a submissão ao crivo do Poder Legislativo, via investigação parlamentar, de decisões democráticas e independentes adotadas pelos poderes Judiciário e Executivo. Postula a concessão de liminar alegando a fumaça do bom direito e a configuração de perigo de demora tendo em vista a proximidade da data de instalação da CPI. Intimada para prestar informações, a autoridade coatora sustentou a inexistência de direito líquido e certo na espécie. Discorreu acerca da presença dos requisitos constitucionais de apuração de fatos determinados e de prazo certo para funcionamento da CPI, bem como rechaçou as alegações de que a comissão teria o intento de revisar decisões dos demais Poderes, afirmando que as comissões parlamentares de inquérito não reformam nem anulam ato algum do Poder Executivo, menos ainda do Poder Judiciário. Apresentou, ainda, cópia do Relatório Final da CPI destinada a investigar a atuação da FUNAI, que teve sede na 51ª Legislatura, bem como de sentença proferida pelo Juízo da 1ª Vara Federal de Erechim/RS nos autos de ação ordinária nº 5004427-72.2012.404.7117/RS e de prospecto elaborado pelos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais de Osório e de Maquiné (eDOC 16). A Procuradoria-Geral da República, em manifestação de 07/12/2015, (eDOC 24) discorre acerca das justificativas apresentadas no requerimento de criação da CPI, sustentando a impossibilidade de identificação de fato determinado. Nesse sentido, afirma que “Além da competência legislativa e da relevância social, são imprescindíveis a concretude e a individualização suficientemente objetivas dos fatos indicados. Diversos dados coligidos no requerimento, como a concentração de poderes e funções no âmbito da Funai e do Incra e as irregularidades e as deficiências nos processos demarcatórios de terras indígenas ou dos remanescentes de quilombolas, não comungam de elementos ou fatos comuns que pudessem ser averiguados por uma comissão que é, em essência, investigativa” (eDOC 24, p. 36). Opina pelo deferimento do pedido de medida liminar para a paralisação dos trabalhos da CPI e a sustação dos efeitos dos atos já praticados e, quanto ao mérito, pela anulação do requerimento

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de criação, do respectivo ato de instituição e de todos os atos praticados no âmbito da comissão parlamentar de inquérito. (...) Diante do exposto, indefiro o pedido de liminar, nos termos do art. 7º, III, combinado com o art. 16, da Lei n. 12.016/2009, sem embargo de reservar-me para novo exame da matéria em ocasião futura, especialmente na análise do mérito da ação em pauta. Defiro o ingresso da União no feito, determinando a intimação da Advocacia-Geral da União, na forma do artigo 7º, inciso II, da Lei 12.016/09. Oficie-se à autoridade impetrada, facultando prestar novas informações, observando o prazo previsto no artigo 7º, I, da Lei 12.016/09. Na sequência, vista ao Procurador-Geral da República (art. 12 da Lei n. 12.016/2009 e art. 52, inc. IX, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal). Brasília, 09 de dezembro 2015. Ministro EDSON FACHIN. Relator

MEDIDA CAUTELAR NO HABEAS CORPUS

HC 131753 MC / DF - DISTRITO FEDERALRelator(a): Min. CELSO DE MELLOJulgamento: 18/12/2015Decisão: Trata-se de “habeas corpus”, com pedido de medida liminar, impetrado contra decisão que decretou a prisão cautelar para efeitos extradicionais do ora paciente (PPE 757/Itália, Rel. Min. ROBERTO BARROSO). Impõe-se analisar, preliminarmente, se se revela cabível, ou não, a utilização do remédio constitucional do “habeas corpus” contra atos atribuídos a Ministros desta Corte, como sucede na espécie. Cumpre ter presente que a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal entendia possível o ajuizamento desse “writ” em face de decisões monocráticas proferidas pelo Relator da causa (hC 84.444-AgR/CE, Rel. Min. CELSO DE MELLO – hC 85.099/CE, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, v.g.), muito embora inadmissível, para o Pleno, impetração de “habeas corpus” contra decisão colegiada de qualquer das Turmas desta Suprema Corte, ainda que resultante do julgamento de outros processos de “habeas corpus” (Súmula 606/STF) ou proferida em sede de recursos em geral, inclusive aqueles de natureza penal (RTJ 88/108). Ocorre, no entanto, que essa diretriz jurisprudencial modificou-se, pois o Plenário deste Tribunal não mais tem admitido “habeas corpus” quando impetrado contra Ministros desta Suprema Corte (HC 91.207/RJ, Red. p/ o acórdão Min. EROS GRAU – hC 100.397/MG, Red. p/ o acórdão Min. CÁRMEN LÚCIA – hC 100.738/RJ, Red. p/ o acórdão Min. CÁRMEN LÚCIA – hC 104.843-AgR/BA, Rel. Min. AYRES BRITTO – hC 107.325/PR, Red. p/ o acórdão Min. CÁRMEN LÚCIA – hC 124.860- -AgR/RR, Rel. Min. ROSA WEBER, v.g.): “‘hABEAS CORPUS’. Ação de competência originária. Impetração contra ato de Ministro Relator do Supremo Tribunal Federal. Decisão de órgão fracionário da Corte. Não conhecimento. hC não conhecido Aplicação analógica da súmula 606. Precedentes. Voto vencido. Não cabe pedido de ‘habeas corpus’ originário para o tribunal pleno, contra ato de ministro ou outro órgão fracionário da Corte.” (hC 86.548/SP, Rel. Min.

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CEZAR PELUSO – grifei) “AGRAVO REGIMENTAL. ‘hABEAS CORPUS’. PROCESSUAL PENAL. IMPETRAÇÃO DIRIGIDA CONTRA DECISÃO SINGULAR DE MINISTRO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. APLICAÇÃO ANALóGICA DA SÚMULA 606. NEGATIVA DE SEGUIMENTO DO ‘WRIT’. DECISÃO RECORRIDA EM SINTONIA COM A JURISPRUDÊNCIA DESTE NOSSO TRIBUNAL. AGRAVO DESPROVIDO. 1. A recente orientação jurisprudencial desta nossa Casa de Justiça é no sentido do descabimento da impetração de ‘habeas corpus’ contra ato de Ministro Relator do próprio Tribunal, por aplicação analógica da Súmula 606/STF. (Cf. hC 100.738/RJ, Tribunal Pleno, redatora para o acórdão a ministra Cármen Lúcia, DJ 01/07/2010; hC 101.432/MG, Tribunal Pleno, redator para o acórdão o ministro Dias Toffoli, DJ 16/04/2010; hC 91.207/RJ, Tribunal Pleno, redator para o acórdão o ministro Eros Grau, DJ 05/03/2010; hC 99.510-AgR/MG, Tribunal Pleno, da relatoria do ministro Cezar Peluso, DJ 16/10/2009; hC 97.250-AgR/SP, Segunda Turma, da relatoria da ministra Ellen Gracie, DJ 07/08/2009; hC 86.548/SP, Tribunal Pleno, da relatoria do ministro Cezar Peluso, DJ 19/12/2008.) 2. Agravo regimental desprovido.” (hC 103.193-AgR/RJ, Rel. Min. AYRES BRITTO – grifei) Cabe destacar, por relevante, que o Plenário do Supremo Tribunal Federal, em julgamento ocorrido em 25/04/2013, deliberou, uma vez mais, não conhecer de “habeas corpus” nos casos em que esse remédio constitucional seja impetrado contra o Relator da causa (hC 97.009/RJ, Red. p/ o acórdão Min. TEORI ZAVASCKI), tal como sucede na espécie ora em exame. Cumpre ressaltar, no ponto, que tal orientação tem sido reiterada por eminentes Juízes desta Suprema Corte (HC 124.476/PE, Rel. Min. GILMAR MENDES – hC 127.472/DF, Rel. Min. LUIZ FUX – hC 127.586/DF, Rel. Min. ROSA WEBER – hC 129.552/DF, Rel. Min. ROSA WEBER – hC 130.098/SP, Rel. Min. ROBERTO BARROSO – hC 130.673/SP, Rel. Min. ROBERTO BARROSO, v.g.): “‘hABEAS CORPUS’. PENAL E CONSTITUCIONAL. PRISÃO PARA EXTRADIÇÃO. IMPETRAÇÃO CONTRA MINISTRO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.SÚMULA N. 606 DO SUPREMO TRIBUNAL. INVIABILIDADE DA IMPETRAÇÃO. PRECEDENTES. ‘hABEAS CORPUS’ AO QUAL SE NEGA SEGUIMENTO.” (hC 128.916/DF, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA – grifei) É certo que o Plenário do Supremo Tribunal Federal, ao julgar o hC 127.483/PR, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, ensaiou revisão de sua jurisprudência na matéria ora em exame. Ocorre, no entanto, que, em função do resultado, não se formou maioria absoluta favorável à tese da possibilidade de impetração originária, perante esta Corte, de “habeas corpus” contra ato emanado, monocraticamente, de Ministro do Supremo Tribunal Federal, a significar, portanto, que ainda subsiste a orientação segundo a qual não se revela admissível ação de “habeas corpus”, quando ajuizada contra membro integrante desta Suprema Corte. É por essa razão que, mesmo após o julgamento plenário do hC 127.483/PR, o Supremo Tribunal Federal continua a aplicar a diretriz jurisprudencial que torna incognoscível o remédio heroico quando utilizado contra Ministro desta Corte (hC 129.802/CE, Rel. Min. EDSON FAChIN – hC 130.122/SP,

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Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA – hC 130.639/PR, Rel. Min. GILMAR MENDES – hC 130.699/MG, Rel. Min. ROBERTO BARROSO – hC 130.915/DF, Rel. Min. EDSON FAChIN – hC 131.309/SP, Rel. Min. ROBERTO BARROSO – hC 131.839/DF, Rel. Min. ROSA WEBER, v.g.). Não obstante a minha posição pessoal em sentido contrário, exposta, em voto vencido, no julgamento do HC 91.207/RJ, no qual admitia a possibilidade de impetração de “habeas corpus” contra decisão singular de Ministro desta Corte, devo observar o princípio da colegialidade, considerando, para tanto, essa nova diretriz jurisprudencial firmada – e reafirmada – pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal. Impõe-se, finalmente, uma outra observação, considerada a inviabilidade da presente ação de “habeas corpus”: no desempenho dos poderes processuais de que dispõe, assiste ao Ministro Relator competência plena para exercer, monocraticamente, o controle das ações, pedidos ou recursos dirigidos ao Supremo Tribunal Federal, legitimando-se, em consequência, os atos decisórios que, nessa condição, venha a praticar. Cumpre acentuar, neste ponto, que o Pleno do Supremo Tribunal Federal reconheceu a inteira validade constitucional da norma legal que inclui na esfera de atribuições do Relator a competência para negar trânsito, em decisão monocrática, a recursos, pedidos ou ações, quando incabíveis, estranhos à competência desta Corte, intempestivos, sem objeto ou que veiculem pretensão incompatível com a jurisprudência predominante do Tribunal (RTJ 139/53 – RTJ 168/174-175). Nem se alegue que esse preceito legal implicaria transgressão ao princípio da colegialidade, eis que o postulado em questão sempre restará preservado ante a possibilidade de submissão da decisão singular ao controle recursal dos órgãos colegiados no âmbito do Supremo Tribunal Federal, consoante esta Corte tem reiteradamente proclamado (RTJ 181/1133-1134, Rel. Min. CARLOS VELLOSO – AI 159.892-AgR/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.): “PODERES PROCESSUAIS DO MINISTRO-RELATOR E PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE. – Assiste ao Ministro-Relator competência plena para exercer, monocraticamente, com fundamento nos poderes processuais de que dispõe, o controle de admissibilidade das ações, pedidos ou recursos dirigidos ao Supremo Tribunal Federal. Pode, em conseqüência, negar trânsito, em decisão monocrática, a ações, pedidos ou recursos, quando incabíveis, intempestivos, sem objeto ou, ainda, quando veicularem pretensão incompatível com a jurisprudência predominante na Suprema Corte. Precedentes. – O reconhecimento dessa competência monocrática deferida ao Relator da causa não transgride o postulado da colegialidade, pois sempre caberá, para os órgãos colegiados do Supremo Tribunal Federal (Plenário e Turmas), recurso contra as decisões singulares que venham a ser proferidas por seus Juízes.” (MS 28.097-AgR/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO) Sendo assim, tendo em vista as razões ora expostas, e considerando, notadamente, a orientação jurisprudencial agora prevalecente nesta Suprema Corte, não conheço da presente ação de “habeas corpus”, restando prejudicado, em consequência, o exame do pedido de medida liminar. Comunique-se o teor desta decisão ao eminente Relator da PPE 757/Itália. Arquivem-se os presentes autos. Publique-se. Brasília, 18 de dezembro de 2015. Ministro CELSO DE MELLO Relator

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CONFLITO DE COMPETÊNCIA

CC 7930 / RS - RIO GRANDE DO SULRelator(a): Min. LUIZ FUXJulgamento: 29/10/2015Decisão: CONFLITO DE COMPETÊNCIA ENTRE A JUSTIÇA FEDERAL E O TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALhO. COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL PARA DIRIMIR O CONFLITO. ART. 114, I, DA CRFB/88. RREE 597.368 e 578.543. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALhO, A QUAL, NO ENTANTO, DEVE OBSERVAR A IMUNIDADE ABSOLUTA DE JURISDIÇÃO ATRIBUÍDA AOS ORGANISMOS INTERNACIONAIS, NOS TERMOS DA JURISPRUDÊNCIA DO STF. Decisão: Trata-se de conflito negativo de competência suscitado pelo Juiz Federal da 5ª Vara da Seção Judiciária do Estado do Rio Grande do Sul em face do Tribunal Superior do Trabalho, que se declarou incompetente para processar e julgar ação trabalhista proposta por Andrio de Mello Garcia contra o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD, a Cia de Processamento de Dados do Estado do Rio Grande do Sul - PROCERGS, do Estado do Rio Grande do Sul e da União. A reclamação trabalhista foi ajuizada postulando-se o pagamento de valores relativos a verbas rescisórias decorrentes de vínculo de trabalho temporário. A ação foi processada e julgada perante a 18ª Vara do Trabalho de Porto Alegre/RS, tendo sido os pedidos julgados procedentes. Interposto recurso ordinário pelo PNUD, o Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região rejeitou a insurgência, afirmando a incompetência da justiça trabalhista para processar e julgar o caso, em acórdão assim ementado, verbis: “EMENTA: INCOMPETENCIA DA JUSTIÇA DO TRABALhO. RELAÇõES JURIDICOADMINISTRATIVAS. A Justiça do Trabalho e incompetente para o exame de contrato temporário/emergencial firmado pelo ente publico, uma vez que se trata de relação jurídico-administrativa. (...) Quanto ao mérito, ressalto que, apesar de a reclamatória trabalhista ter sido proposta também contra a União, o Estado do Rio Grande do Sul e a Cia de Processamento de Dados do Estado do Rio Grande do Sul – PROCERGS, ambos os juízos reconheceram que o vínculo discutido na ação foi estabelecido direta e exclusivamente com Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD, organismo internacional. A propósito, cito os seguintes trechos das manifestações do juízo trabalhista perante o qual proposta a ação e do juízo suscitante, respectivamente: “De forma deficiente, o autor não apresenta qualquer fundamento jurídico para a condenação de 2 °, 3° e 4° réus. Apenas argumenta que tinha essas entidades como tomadoras de serviço. Também não faz requerimento no petitório de que condenações pretende para cada um dos demandados. Nem mesmo no pedido de reconhecimento de vinculo de emprego esclarece com que requerido busca a anotação da relação de trabalho subordinado. Assim, ausente o requisito constante no art. 840, § 1 °, da CLT, correspondente ao art. 282, III, do CPC. Pronuncia-se a inépcia da petição inicial em relação ao pedido

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aos réus ‘COMPANHIA DE PROCESSAMENTO DE DADOS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL — PROCERGS, UNIAO FEDERAL e ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL’, extinguindo-se o feito sem julgamento de mérito em relação a esses.” “Segundo o que dali consta -não infirmado no acórdão que recusou competência à justiça obreira- o autor foi contratado sob a égide do programa PROMOFAZ, para modernização da Secretaria da Fazenda do ERGS, programa este desenvolvido sob os auspícios do Programa das nações unidas para o desenvolvimento – PNUD. O PROMOFAZ seria operacionalizado em dois segmentos: um administrado pela central de licitações do ERGS; outro pelo organismo de cooperação internacional PNUD, ele próprio realizando contratações de consultorias individuais. É justamente o caso do autor, que foi contratado exclusivamente por aquela instituição internacional. Trata-se portanto de contratação entabulada entre organismo internacional e particular nacional, sem participação de pessoa de direito público interno. Indevida a qualificação jurídica, portanto, e venia concessa, emprestada pelo eg. TRT4 ao contrato, que o equiparou a contrato temporário de Direito Administrativo, figura que originou jurisprudência consolidada no eg. STF dando pela competência da Justiça Federal para seu julgamento (ADI 3395/DF e reclamações tiradas contra seu descumprimento).” (...) […] É de ser reconhecer, portanto, diante de tudo que aqui foi exposto, que a Justiça do Trabalho, interpretando de forma equivocada a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal a respeito da relativização da imunidade jurisdicional dos Estados estrangeiros e o texto do art. 114 da Constituição, tem afrontado, como parte do Estado brasileiro que é, relevantes acordos internacionais celebrados pelo País e que garantem a imunidade de jurisdição e de execução de organizações internacionais de importância mundial. Trata-se de assunto da maior gravidade, pois seria ilusão pensar que essas entidades, chamando o País à sua responsabilidade internacional, não reagirão de forma veemente contra tal inadimplência, em patente prejuízo ao desenvolvimento social e econômico do Brasil, em tão grande parte incentivados pela essencial cooperação técnica promovida por tais organismos.” Ex positis, nos termos do art. 120, parágrafo único, do Código de Processo Civil, conheço do presente conflito negativo de competência e declaro a competência da Justiça Trabalhista para processar e julgar a causa, observados os parâmetros assentados por esta Suprema Corte no julgamento dos RREE 597.368 e 578.543. Publique-se. Brasília, 29 de outubro de 2015. Ministro Luiz Fux. Relator

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MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE

ADI 5357 MC / DF - DISTRITO FEDERALRelator(a): Min. EDSON FACHINJulgamento: 18/11/2015Decisão: Ementa: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. MEDIDA CAUTELAR. LEI 13.146/2015. ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA. ENSINO INCLUSIVO. CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS DA PESSOA COM DEFICIêNCIA. INDEFERIMENTO. 1. A Convenção Internacional sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência concretiza o princípio da igualdade como fundamento de uma sociedade democrática que respeita a dignidade humana. 2. à luz da Convenção e, por consequência, da própria Constituição da República, o ensino inclusivo em todos os níveis de educação não é realidade estranha ao ordenamento jurídico pátrio, mas sim imperativo que se põe mediante regra explícita. 3. A Lei nº 13.146/2015 indica assumir o compromisso ético de acolhimento e pluralidade democrática adotados pela Constituição ao exigir que não apenas as escolas públicas, mas também as particulares deverão pautar sua atuação educacional a partir de todas as facetas e potencialidades que o direito fundamental à educação possui e que são densificadas em seu Capítulo IV. 4. Medida cautelar indeferida. R E L A T ó R I O O Senhor Ministro Edson Fachin (Relator): Trata-se de Ação Direta de Inconstitucionalidade, com pedido de medida cautelar, proposta pela Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino - CONFENEN, em face do § 1º do artigo 28 e artigo 30, caput, da Lei nº 13.146/2015 (Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência – Estatuto da Pessoa com Deficiência), especialmente pela presença neles do adjetivo “privadas”. A requerente alega violação aos arts. 5º, caput, incisos XXII, XXIII, LIV, 170, incisos II e III, 205, 206, caput, incisos II e III, 208, caput, inciso III, 209, 227, caput, § 1º, inciso II, todos da Constituição da República. O tema nesta Ação Direta de Inconstitucionalidade é a obrigatoriedade das escolas privadas de oferecer atendimento educacional adequado e inclusivo às pessoas com deficiência. Em apertada síntese, a requerente afirma que a Lei nº 13.146/2015 estabelece medidas de alto custo para as escolas privadas, violando os dispositivos constitucionais supra mencionados, o que levaria ao encerramento das atividades de muitas delas. Requer, cautelarmente, a suspensão da eficácia do parágrafo 1º do art. 28, e caput do art. 30 da Lei nº 13.146/2015. O Presidente da Câmara dos Deputados prestou informações acerca da tramitação do projeto de lei que deu origem à norma impugnada (eDOC 17). O Presidente do Senado Federal, em suas informações (eDOC 21), afirma a constitucionalidade da Lei nº 13.146/2015 e sua compatibilidade com a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, o que afastaria o fumus boni iuris. (...) A Senhora Presidente da República informou (eDOC 23) que com a aprovação da Lei nº 13.146/2015 “a questão da deficiência, que antes era vista como um problema médico, passou a ser encarada como uma questão social, que demanda a adoção de medidas necessárias à eliminação de obstáculos e à garantia da

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plena inclusão na vida comunitária”. Requereu o indeferimento da medida cautelar e, por fim, a improcedência dos pedidos da petição inicial. A Advocacia-Geral da União (eDOC 34) manifestou-se pelo indeferimento da medida cautelar, sob o argumento de que os dispositivos impugnados são compatíveis com a Constituição da República. Argumenta ainda que as disposições normativas permitem a política de educação inclusiva da pessoa com deficiência, visando à garantia de igualdade de oportunidades. (...) Diante dos pressupostos teóricos e da moldura normativa esboçados, indefiro, ad referendum do Plenário deste STF, a medida cautelar por não vislumbrar a fumaça do direito pleiteado e, por consequência, periculum in mora. Peço dia para o julgamento do referendo da presente decisão, por mim indeferida, pelo Plenário desta Corte. Publique-se. Intimem-se. Brasília, 18 de novembro de 2015. Ministro Edson Fachin Relator

PETIÇÃO

Pet 5847 / DF - DISTRITO FEDERALRelator(a): Min. ROSA WEBER Julgamento: 06/11/2015Decisão: Vistos etc. 1. Trata-se de petição ajuizada em 19.10.2015, por Olga Elena Weischtordt, à alegação de afronta ao art. 5º, caput, II, XI, XXII, XXIV, XXXIII, XXXIV, XXXV, LIV, LV, LX e LXXVIII, da Constituição da República, aos arts. 1º e 17 da Declaração Universal dos Direitos humanos e aos arts. 8º, 21 e 25 da Convenção Americana de Direitos Humanos. Requer seja decretada a nulidade da citação no processo nº 0212200-81.2002.8.26.0100 (583.00.2002.212200), em trâmite na 30ª Vara Cível da Comarca de São Paulo, e “determinada a subsequente restituição do imóvel e de todo o seu conteúdo à Peticionante, da mesma forma como se encontrava anteriormente à expropriação ilegal”. É o relatório. 2. Decido. Nos termos do art. 102, I, da Constituição da República, compete ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar, originariamente: a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal; b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da República; c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente; d) o habeas corpus, sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas anteriores; o mandado de segurança e o habeas data contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal Federal; e) o litígio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a União, o Estado, o Distrito Federal ou o Território; f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a

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União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta; g) a extradição solicitada por Estado estrangeiro; h) (Revogado pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) i) o habeas corpus, quando o coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou o paciente for autoridade ou funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo Tribunal Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma jurisdição em uma única instância; j) a revisão criminal e a ação rescisória de seus julgados; l) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões; m) a execução de sentença nas causas de sua competência originária, facultada a delegação de atribuições para a prática de atos processuais; (...) A manifesta incompetência deste Supremo Tribunal Federal para, forte no art. 102, I, da Constituição da República, processar e julgar, originariamente, a pretensão veiculada na petição em apreço enseja, desde logo, a negativa do seu seguimento. Observo, à demasia, que as garantias constitucionais do acesso ao Poder Judiciário e da ampla defesa, insculpidas nos incisos XXXV e LV do art. 5º da Carta Política, não eximem as partes de observar a legislação processual vigente, o que em absoluto implica excesso de formalismo, cerceamento de defesa ou negativa de acesso à jurisdição, por se tratar de exigência cuja observância constitui verdadeira imposição do devido processo legal (art. 5º, LIV, da CF). 3. Ante o exposto, forte nos arts. 38 da Lei 8.038/1990 e 21, § 1º, do RISTF, nego seguimento ao presente feito. Publique-se. Brasília, 06 de novembro de 2015. Ministra Rosa Weber Relatora

ACÓRDÃOS

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE

ADI 5240Relator(a): Min. LUIZ FUXórgão Julgador: Tribunal PlenoJulgamento: 20/08/2015Ementa: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. PROVIMENTO CONJUNTO 03/2015 DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO. AUDIÊNCIA DE CUSTóDIA. 1. A Convenção Americana sobre Direitos do homem, que dispõe, em seu artigo 7º, item 5, que “toda pessoa presa, detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença de um juiz”, posto ostentar o status jurídico supralegal que os tratados internacionais sobre direitos humanos têm no ordenamento jurídico brasileiro, legitima a denominada “audiência de custódia”, cuja denominação sugere-se “audiência de apresentação”. 2. O direito convencional de apresentação do preso ao Juiz, consectariamente, deflagra o procedimento legal de habeas corpus, no qual o Juiz apreciará a legalidade da prisão, à vista do preso que lhe é apresentado, procedimento esse instituído pelo Código de Processo Penal, nos seus artigos 647 e seguintes. 3. O habeas corpus ad subjiciendum, em sua origem remota, consistia na determinação do

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juiz de apresentação do preso para aferição da legalidade da sua prisão, o que ainda se faz presente na legislação processual penal (artigo 656 do CPP). 4. O ato normativo sob o crivo da fiscalização abstrata de constitucionalidade contempla, em seus artigos 1º, 3º, 5º, 6º e 7º normas estritamente regulamentadoras do procedimento legal de habeas corpus instaurado perante o Juiz de primeira instância, em nada exorbitando ou contrariando a lei processual vigente, restando, assim, inexistência de conflito com a lei, o que torna inadmissível o ajuizamento de ação direta de inconstitucionalidade para a sua impugnação, porquanto o status do CPP não gera violação constitucional, posto legislação infraconstitucional. 5. As disposições administrativas do ato impugnado (artigos 2º, 4° 8°, 9º, 10 e 11), sobre a organização do funcionamento das unidades jurisdicionais do Tribunal de Justiça, situam-se dentro dos limites da sua autogestão (artigo 96, inciso I, alínea a, da CRFB). Fundada diretamente na Constituição Federal, admitindo ad argumentandum impugnação pela via da ação direta de inconstitucionalidade, mercê de materialmente inviável a demanda. 6. In casu, a parte do ato impugnado que versa sobre as rotinas cartorárias e providências administrativas ligadas à audiência de custódia em nada ofende a reserva de lei ou norma constitucional. 7. Os artigos 5º, inciso II, e 22, inciso I, da Constituição Federal não foram violados, na medida em que há legislação federal em sentido estrito legitimando a audiência de apresentação. 8. A Convenção Americana sobre Direitos do homem e o Código de Processo Penal, posto ostentarem eficácia geral e erga omnes, atingem a esfera de atuação dos Delegados de Polícia, conjurando a alegação de violação da cláusula pétrea de separação de poderes. 9. A Associação Nacional dos Delegados de Polícia – ADEPOL, entidade de classe de âmbito nacional, que congrega a totalidade da categoria dos Delegados de Polícia (civis e federais), tem legitimidade para propor ação direta de inconstitucionalidade (artigo 103, inciso IX, da CRFB). Precedentes. 10. A pertinência temática entre os objetivos da associação autora e o objeto da ação direta de inconstitucionalidade é inequívoca, uma vez que a realização das audiências de custódia repercute na atividade dos Delegados de Polícia, encarregados da apresentação do preso em Juízo. 11. Ação direta de inconstitucionalidade PARCIALMENTE CONhECIDA e, nessa parte, JULGADA IMPROCEDENTE, indicando a adoção da referida prática da audiência de apresentação por todos os tribunais do país.

ADI 5240 / SP - SÃO PAULO Relator(a): Min. LUIZ FUXJulgamento: 20/08/2015Ementa: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. PROVIMENTOCONJUNTO 03/2015 DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO. AUDIÊNCIA DE CUSTóDIA. 1. A Convenção Americana sobre Direitos do homem, que dispõe, em seu artigo 7º, item 5, que “toda pessoa presa, detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença de um juiz”, posto ostentar o status jurídico supralegal que os tratados internacionais sobre direitos humanos têm

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no ordenamento jurídico brasileiro, legitima a denominada “audiência de custódia”, cuja denominação sugere-se “audiência de apresentação”. 2. O direito convencional de apresentação do preso ao Juiz, consectariamente, deflagra o procedimento legal de habeas corpus, no qual o Juiz apreciará a legalidade da prisão, à vista do preso que lhe é apresentado, procedimento esse instituído pelo Código de Processo Penal, nos seus artigos 647 e seguintes. 3. O habeas corpus ad subjiciendum, em sua origem remota, consistia na determinação do juiz de apresentação do preso para aferição da legalidade da sua prisão, o que ainda se faz presente na legislação processual penal (artigo 656 do CPP). 4. O ato normativo sob o crivo da fiscalização abstrata de constitucionalidade contempla, em seus artigos 1º, 3º, 5º, 6º e 7º normas estritamente regulamentadoras do procedimento legal de habeas corpus instaurado perante o Juiz de primeira instância, em nada exorbitando ou contrariando a lei processual vigente, restando, assim, inexistência de conflito com a lei, o que torna inadmissível o ajuizamento de ação direta de inconstitucionalidade para a sua impugnação, porquanto o status do CPP não gera violação constitucional, posto legislação infraconstitucional. 5. As disposições administrativas do ato impugnado (artigos 2º, 4° 8°, 9º, 10 e 11), sobre a organização do funcionamento das unidades jurisdicionais do Tribunal de Justiça, situam-se dentro dos limites da sua autogestão (artigo 96, inciso I, alínea a, da CRFB). Fundada diretamente na Constituição Federal, admitindo ad argumentandum impugnação pela via da ação direta de inconstitucionalidade, mercê de materialmente inviável a demanda. 6. In casu, a parte do ato impugnado que versa sobre as rotinas cartorárias e providências administrativas ligadas à audiência de custódia em nada ofende a reserva de lei ou norma constitucional. 7. Os artigos 5º, inciso II, e 22, inciso I, da Constituição Federal não foram violados, na medida em que há legislação federal em sentido estrito legitimando a audiência de apresentação. 8. A Convenção Americana sobre Direitos do homem e o Código de Processo Penal, posto ostentarem eficácia geral e erga omnes, atingem a esfera de atuação dos Delegados de Polícia, conjurando a alegação de violação da cláusula pétrea de separação de poderes. 9. A Associação Nacional dos Delegados de Polícia – ADEPOL, entidade de classe de âmbito nacional, que congrega a totalidade da categoria dos Delegados de Polícia (civis e federais), tem legitimidade para propor ação direta de inconstitucionalidade (artigo 103, inciso IX, da CRFB). Precedentes. 10. A pertinência temática entre os objetivos da associação autora e o objeto da ação direta de inconstitucionalidade é inequívoca, uma vez que a realização das audiências de custódia repercute na atividade dos Delegados de Polícia, encarregados da apresentação do preso em Juízo. 11. Ação direta de inconstitucionalidade PARCIALMENTE CONhECIDA e, nessa parte, JULGADA IMPROCEDENTE, indicando a adoção da referida prática da audiência de apresentação por todos os tribunais do país. Decisão: O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, conheceu em parte da ação e, na parte conhecida, julgou improcedente o pedido, vencido o Ministro Marco Aurélio, que preliminarmente julgava extinta a ação e, no mérito, julgava procedenteopedido formulado. Falaram, pelo amicuscuriae

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Defensoria Pública da União, o Dr. Antonio Ezequiel Inácio Barbosa, Defensor Público Federal, e, pelo amicuscuriae Defensoria Pública do Estado do Espírito Santo, o Defensor Público-Geral do Estado, Dr.Leonardo Oggioni Miranda. Ausentes, justificadamente, o Ministro Dias Toffoli, participando, na qualidade de Presidente do Tribunal Superior Eleitoral, da 2ª Assembleia Geral e Conferência Internacional da Associação Mundial de órgãos Eleitorais,organizadas pela Associação Mundial de órgãos Eleitorais (AWEB), e a Ministra Cármen Lúcia, participando do 11º Fórum Brasileiro de Controle da Administração Pública, no Rio de Janeiro/RJ. Presidiu o julgamento o Ministro Ricardo Lewandowski. Plenário,20.08.2015.

ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL

ADPF 347 MCRelator(a): Min. MARCO AURÉLIOórgão Julgador: Tribunal PlenoJulgamento: 09/09/2015CUSTODIADO – INTEGRIDADE FÍSICA E MORAL – SISTEMA PENITENCIÁRIO – ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL – ADEQUAÇÃO. Cabível é a arguição de descumprimento de preceito fundamental considerada a situação degradante das penitenciárias no Brasil. SISTEMA PENITENCIÁRIO NACIONAL – SUPERLOTAÇÃO CARCERÁRIA – CONDIÇõES DESUMANAS DE CUSTóDIA – VIOLAÇÃO MASSIVA DE DIREITOS FUNDAMENTAIS – FALhAS ESTRUTURAIS – ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL – CONFIGURAÇÃO. Presente quadro de violação massiva e persistente de direitos fundamentais, decorrente de falhas estruturais e falência de políticas públicas e cuja modificação depende de medidas abrangentes de natureza normativa, administrativa e orçamentária, deve o sistema penitenciário nacional ser caraterizado como “estado de coisas inconstitucional”. FUNDO PENITENCIÁRIO NACIONAL – VERBAS – CONTINGENCIAMENTO. Ante a situação precária das penitenciárias, o interesse público direciona à liberação das verbas do Fundo Penitenciário Nacional. AUDIÊNCIA DE CUSTóDIA – OBSERVâNCIA OBRIGATóRIA. Estão obrigados juízes e tribunais, observados os artigos 9.3 do Pacto dos Direitos Civis e Políticos e 7.5 da Convenção Interamericana de Direitos Humanos, a realizarem, em até noventa dias, audiências de custódia, viabilizando o comparecimento do preso perante a autoridade judiciária no prazo máximo de 24 horas, contado do momento da prisão.

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MEDIDA CAUTELAR NA ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL

ADPF 378 MC / DF - DISTRITO FEDERAL Relator(a): Min. EDSON FACHINRelator(a) p/ Acordão: Min. ROBERTO BARROSOJulgamento: 17/12/2015Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL. MEDIDA CAUTELAR EM AÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL. PROCESSO DE IMPEAChMENT. DEFINIÇÃO DA LEGITIMIDADE CONSTITUCIONAL DO RITO PREVISTO NA LEI Nº 1.079/1950. ADOÇÃO, COMO LINhA GERAL, DAS MESMAS REGRAS SEGUIDAS EM 1992. CABIMENTO DA AÇÃO E CONCESSÃO PARCIAL DE MEDIDAS CAUTELARES. CONVERSÃO EM JULGAMENTO DEFINITIVO. I. CABIMENTO DA ADPF E DAS MEDIDAS CAUTELARES INCIDENTAIS 1. A presente ação tem por objeto central analisar a compatibilidade do rito de impeachment de Presidente da República previsto na Lei nº 1.079/1950 com a Constituição de 1988. A ação é cabível, mesmo se considerarmos que requer, indiretamente, a declaração de inconstitucionalidade de norma posterior à Constituição e que pretende superar omissão parcial inconstitucional. Fungibilidade das ações diretas que se prestam a viabilizar o controle de constitucionalidade abstrato e em tese. Atendimento ao requisito da subsidiariedade, tendo em vista que somente a apreciação cumulativa de tais pedidos é capaz de assegurar o amplo esclarecimento do rito do impeachment por parte do STF. 2. A cautelar incidental requerida diz respeito à forma de votação (secreta ou aberta) e ao tipo de candidatura (indicação pelo líder ou candidatura avulsa) dos membros da Comissão Especial na Câmara dos Deputados. A formação da referida Comissão foi questionada na inicial, ainda que sob outro prisma. Interpretação da inicial de modo a conferir maior efetividade ao pronunciamento judicial. Pedido cautelar incidental que pode ser recebido, inclusive, como aditamento à inicial. Inocorrência de violação ao princípio do juiz natural, pois a ADPF foi à livre distribuição e os pedidos da cautelar incidental são abrangidos pelos pleitos da inicial. II. MÉRITO: DELIBERAÇõES POR MAIORIA 1. PAPÉIS DA CâMARA DOS DEPUTADOS E DO SENADO FEDERAL NO PROCESSO DE IMPEAChMENT (ITENS C, G, h E I DO PEDIDO CAUTELAR): 1.1. Apresentada denúncia contra o Presidente da República por crime de responsabilidade, compete à Câmara dos Deputados autorizar a instauração de processo (art. 51, I, da CF/1988). A Câmara exerce, assim, um juízo eminentemente político sobre os fatos narrados, que constitui condição para o prosseguimento da denúncia. Ao Senado compete, privativamente, processar e julgar o Presidente (art. 52, I), locução que abrange a realização de um juízo inicial de instauração ou não do processo, isto é, de recebimento ou não da denúncia autorizada pela Câmara. 1.2. há três ordens de argumentos que justificam esse entendimento. Em primeiro lugar, esta é a única interpretação possível à luz da

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Constituição de 1988, por qualquer enfoque que se dê: literal, histórico, lógico ou sistemático. Em segundo lugar, é a interpretação que foi adotada pelo Supremo Tribunal Federal em 1992, quando atuou no impeachment do então Presidente Fernando Collor de Mello, de modo que a segurança jurídica reforça a sua reiteração pela Corte na presente ADPF. E, em terceiro e último lugar, trata-se de entendimento que, mesmo não tendo sido proferido pelo STF com força vinculante e erga omnes, foi, em alguma medida, incorporado à ordem jurídica brasileira. Dessa forma, modificá-lo, estando em curso denúncia contra a Presidente da República, representaria uma violação ainda mais grave à segurança jurídica, que afetaria a própria exigência democrática de definição prévia das regras do jogo político. 1.3. Partindo das premissas acima, depreende-se que não foram recepcionados pela CF/1988 os arts. 23, §§ 1º, 4º e 5º; 80, 1ª parte (que define a Câmara dos Deputados como tribunal de pronúncia); e 81, todos da Lei nº 1.079/1950, porque incompatíveis com os arts. 51, I; 52, I; e 86, § 1º, II, todos da CF/1988. 2. RITO DO IMPEAChMENT NA CâMARA (ITEM C DO PEDIDO CAUTELAR): 2.1. O rito do impeachment perante a Câmara, previsto na Lei nº 1.079/1950, partia do pressuposto de que a tal Casa caberia, nos termos da CF/1946, pronunciar-se sobre o mérito da acusação. Em razão disso, estabeleciam-se duas deliberações pelo Plenário da Câmara: a primeira quanto à admissibilidade da denúncia e a segunda quanto à sua procedência ou não. Havia, entre elas, exigência de dilação probatória. 2.2. Essa sistemática foi, em parte, revogada pela Constituição de 1988, que, conforme indicado acima, alterou o papel institucional da Câmara no impeachment do Presidente da República. Conforme indicado pelo STF e efetivamente seguido no caso Collor, o Plenário da Câmara deve deliberar uma única vez, por maioria qualificada de seus integrantes, sem necessitar, porém, desincumbir-se de grande ônus probatório. Afinal, compete a esta Casa Legislativa apenas autorizar ou não a instauração do processo (condição de procedibilidade). 2.3. A ampla defesa do acusado no rito da Câmara dos Deputados deve ser exercida no prazo de dez sessões (RI/CD, art. 218, § 4º), tal como decidido pelo STF no caso Collor (MS 21.564, Rel. para o acórdão Min. Carlos Velloso). 3. RITO DO IMPEAChMENT NO SENADO (ITENS G E h DO PEDIDO CAUTELAR): 3.1. Por outro lado, há de se estender o rito relativamente abreviado da Lei nº 1.079/1950 para julgamento do impeachment pelo Senado, incorporando-se a ele uma etapa inicial de instauração ou não do processo, bem como uma etapa de pronúncia ou não do denunciado, tal como se fez em 1992. Estas são etapas essenciais ao exercício, pleno e pautado pelo devido processo legal, da competência do Senado de processar e julgar o Presidente da República. 3.2. Diante da ausência de regras específicas acerca dessas etapas iniciais do rito no Senado, deve-se seguir a mesma solução jurídica encontrada pelo STF no caso Collor, qual seja, a aplicação das regras da Lei nº 1.079/1950 relativas a denúncias por crime de responsabilidade contra Ministros do STF ou contra o PGR (também processados e julgados exclusivamente pelo Senado). 3.3. Conclui-se, assim, que a instauração do processo pelo Senado se dá por deliberação da maioria simples de seus membros, a

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partir de parecer elaborado por Comissão Especial, sendo improcedentes as pretensões do autor da ADPF de (i) possibilitar à própria Mesa do Senado, por decisão irrecorrível, rejeitar sumariamente a denúncia; e (ii) aplicar o quórum de 2/3, exigível para o julgamento final pela Casa Legislativa, a esta etapa inicial do processamento. 4. NÃO É POSSÍVEL A APRESENTAÇÃO DE CANDIDATURAS OU ChAPAS AVULSAS PARA FORMAÇÃO DA COMISSÃO ESPECIAL (CAUTELAR INCIDENTAL): É incompatível com o art. 58, caput e § 1º, da Constituição que os representantes dos partidos políticos ou blocos parlamentares deixem de ser indicados pelos líderes, na forma do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, para serem escolhidos de fora para dentro, pelo Plenário, em violação à autonomia partidária. Em rigor, portanto, a hipótese não é de eleição. Para o rito de impeachment em curso, contudo, não se considera inválida a realização de eleição pelo Plenário da Câmara, desde que limitada, tal como ocorreu no caso Collor, a ratificar ou não as indicações feitas pelos líderes dos partidos ou blocos, isto é, sem abertura para candidaturas ou chapas avulsas. Procedência do pedido. 5. A VOTAÇÃO PARA FORMAÇÃO DA COMISSÃO ESPECIAL SOMENTE PODE SE DAR POR VOTO ABERTO (CAUTELAR INCIDENTAL): No impeachment, todas as votações devem ser abertas, de modo a permitir maior transparência, controle dos representantes e legitimação do processo. No silêncio da Constituição, da Lei nº 1.079/1950 e do Regimento Interno sobre a forma de votação, não é admissível que o Presidente da Câmara dos Deputados possa, por decisão unipessoal e discricionária, estender hipótese inespecífica de votação secreta prevista no RI/CD, por analogia, à eleição para a Comissão Especial de impeachment. Em uma democracia, a regra é a publicidade das votações. O escrutínio secreto somente pode ter lugar em hipóteses excepcionais e especificamente previstas. Além disso, o sigilo do escrutínio é incompatível com a natureza e a gravidade do processo por crime de responsabilidade. Em processo de tamanha magnitude, que pode levar o Presidente a ser afastado e perder o mandato, é preciso garantir o maior grau de transparência e publicidade possível. Nesse caso, não se pode invocar como justificativa para o voto secreto a necessidade de garantir a liberdade e independência dos congressistas, afastando a possibilidade de ingerências indevidas. Se a votação secreta pode ser capaz de afastar determinadas pressões, ao mesmo tempo, ela enfraquece o controle popular sobre os representantes, em violação aos princípios democrático, representativo e republicano. Por fim, a votação aberta (simbólica) foi adotada para a composição da Comissão Especial no processo de impeachment de Collor, de modo que a manutenção do mesmo rito seguido em 1992 contribui para a segurança jurídica e a previsibilidade do procedimento. Procedência do pedido. 6. A DEFESA TEM DIREITO DE SE MANIFESTAR APóS A ACUSAÇÃO (ITEM E DO PEDIDO CAUTELAR): No curso do procedimento de impeachment, o acusado tem a prerrogativa de se manifestar, de um modo geral, após a acusação. Concretização da garantia constitucional do devido processo legal (dueprocessoflaw). Precedente: MS 25.647-MC, Redator p/ acórdão Min. Cezar Peluso, Plenário. Procedência do pedido.

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III. MÉRITO: DELIBERAÇõES UNâNIMES 1. IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DAS hIPóTESES DE IMPEDIMENTO E SUSPEIÇÃO AO PRESIDENTE DA CâMARA (ITEM K DO PEDIDO CAUTELAR): Embora o art. 38 da Lei nº 1.079/1950 preveja a aplicação subsidiária do Código de Processo Penal no processo e julgamento do Presidente da República por crime de responsabilidade, o art. 36 dessa Lei já cuida da matéria, conferindo tratamento especial, ainda que de maneira distinta do CPP. Portanto, não há lacuna legal acerca das hipóteses de impedimento e suspeição dos julgadores, que pudesse justificar a incidência subsidiária do Código. A diferença de disciplina se justifica, de todo modo, pela distinção entre magistrados, dos quais se deve exigir plena imparcialidade, e parlamentares, que podem exercer suas funções, inclusive de fiscalização e julgamento, com base em suas convicções político-partidárias, devendo buscar realizar a vontade dos representados. Improcedência do pedido. 2. NÃO hÁ DIREITO A DEFESA PRÉVIA (ITEM A DO PEDIDO CAUTELAR): A apresentação de defesa prévia não é uma exigência do princípio constitucional da ampla defesa: ela é exceção, e não a regra no processo penal. Não há, portanto, impedimento para que a primeira oportunidade de apresentação de defesa no processo penal comum se dê após o recebimento da denúncia. No caso dos autos, muito embora não se assegure defesa previamente ao ato do Presidente da Câmara dos Deputados que inicia o rito naquela Casa, colocam-se à disposição do acusado inúmeras oportunidades de manifestação em ampla instrução processual. Não há, assim, violação à garantia da ampla defesa e aos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil em tema de direito de defesa. Improcedência do pedido. 3. A PROPORCIONALIDADE NA FORMAÇÃO DA COMISSÃO ESPECIAL PODE SER AFERIDA EM RELAÇÃO A BLOCOS (ITEM D DO PEDIDO CAUTELAR): O art. 19 da Lei nº 1.079/1950, no ponto em que exige proporcionalidade na Comissão Especial da Câmara dos Deputados com base na participação dos partidos políticos, sem mencionar os blocos parlamentares, foi superado pelo regime constitucional de 1988. Este estabeleceu expressamente: (i) a possibilidade de se assegurar a representatividade por bloco (art. 58, § 1º) e (ii) a delegação da matéria ao Regimento Interno da Câmara (art. 58, caput). A opção pela aferição da proporcionalidade por bloco foi feita e vem sendo aplicada reiteradamente pela Câmara dos Deputados na formação de suas diversas Comissões, tendo sido seguida, inclusive, no caso Collor. Improcedência do pedido. 4. OS SENADORES NÃO PRECISAM SE APARTAR DA FUNÇÃO ACUSATóRIA (ITEM J DO PEDIDO CAUTELAR): O procedimento acusatório estabelecido na Lei nº 1.079/1950, parcialmente recepcionado pela CF/1988, não impede que o Senado adote as medidas necessárias à apuração de crimes de responsabilidade, inclusive no que concerne à produção de provas, função que pode ser desempenhada de forma livre e independente. Improcedência do pedido. 5. É POSSÍVEL A APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DOS REGIMENTOS INTERNOS DA CâMARA E DO SENADO (ITEM B DO PEDIDO CAUTELAR): A aplicação subsidiária do Regimento Interno da Câmara dos Deputados

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e do Senado ao processamento e julgamento do impeachment não viola a reserva de lei especial imposta pelo art. 85, parágrafo único, da Constituição, desde que as normas regimentais sejam compatíveis com os preceitos legais e constitucionais pertinentes, limitando-se a disciplinar questões interna corporis. Improcedência do pedido. 6. O INTERROGATóRIO DEVE SER O ATO FINAL DA INSTRUÇÃO PROBATóRIA (ITEM F DO PEDIDO CAUTELAR): O interrogatório do acusado, instrumento de autodefesa que densifica as garantias do contraditório e da ampla defesa, deve ser o último ato de instrução do processo de impeachment. Aplicação analógica da interpretação conferida pelo Supremo Tribunal Federal ao rito das ações penais originárias. Precedente: AP 528-AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Plenário. Procedência do pedido. IV. ACOLHIMENTO PARCIAL DO PEDIDO Convertido o julgamento da medida cautelar em definitivo, a fim de promover segurança jurídica no processo de impeachment, foram acolhidos em parte os pedidos formulados pelo autor, nos seguintes termos: 1. Item “f” (equivalente à cautelar ”a”): denegação, de modo a afirmar que não há direito a defesa prévia ao ato de recebimento pelo Presidente da Câmara dos Deputados previsto no art. 19 da Lei nº 1.079/1950; 2. Item ”g” (equivalente à cautelar ”b”): concessão parcial para estabelecer, em interpretação conforme a Constituição do art. 38 da Lei nº 1.079/1950, que é possível a aplicação subsidiária dos Regimentos Internos da Câmara e do Senado ao processo de impeachment, desde sejam compatíveis com os preceitos legais e constitucionais pertinentes; 3. Item “h” (equivalente à cautelar ”c”): concessão parcial para: 1. declararrecepcionados pela CF/1988 os arts. 19, 20 e 21 da Lei nº 1.079/1950 interpretados conforme a Constituição, para que se entenda que as diligências e atividades ali previstas não se destinam a provar a (im)procedência da acusação, mas apenas a esclarecer a denúncia, e 2. para declarar não recepcionados pela CF/1988 os arts. 22, caput , 2ª parte (que se inicia com a expressão “No caso contrário...”), e §§ 1º, 2º, 3º e 4º, da Lei nº 1.079/1950, que determinam dilação probatória e uma segunda deliberação na Câmara dos Deputados, partindo do pressuposto que caberia a tal Casa pronunciar-se sobre o mérito da acusação; 4. Item ”i” (equivalente à cautelar ”d”): denegação, por reconhecer que a proporcionalidade na formação da comissão especial pode ser aferida em relação aos partidos e blocos parlamentares; 5. Item ”j” (equivalente à cautelar ”e”): concessão integral, para estabelecer que a defesa tem o direito de se manifestar após a acusação; 6. Item ”k” (equivalente à cautelar ”f”): concessão integral, para estabelecer que o interrogatório deve ser o ato final da instrução probatória; 7. Item ”l” (equivalente à cautelar ”g”): concessão parcial para dar interpretação conforme a Constituição ao art. 24 da Lei nº 1.079/1950, a fim de declarar que, com o advento da CF/1988, o recebimento da denúncia no processo de impeachment ocorre apenas após a decisão do Plenário do Senado Federal, em votação nominal tomada por maioria simples e presente a maioria absoluta de seus membros; 8. Item ”m” (equivalente à cautelar ”h”): concessão parcial para declarar constitucionalmente legítima a aplicação analógica dos arts. 44, 45, 46, 47, 48 e 49 da Lei nº 1.079/1950, os quais determinam o rito do

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processo de impeachment contra Ministros do STF e PGR ao processamento no Senado Federal de crime de responsabilidade contra Presidente da República, denegando-se o pedido de aplicação do quórum de 2/3 do Plenário do Senado para confirmar a instauração do processo; 9. Item ”n” (equivalente à cautelar ”i”): concessão integral, para declarar que não foram recepcionados pela CF/1988 os arts. 23, §§ 1º, 4º (por arrastamento) e 5º; 80, 1ª parte; e 81, todos da Lei nº 1.079/1950, porque estabelecem os papéis da Câmara e do Senado Federal de modo incompatível com os arts. 51, I; 52, I; e 86, § 1º, II, da CF/1988; 10. Item ”o” (equivalente à cautelar ”j”): denegação, para afirmar que os senadores não precisam se apartar da função acusatória; 11. Item ”p” (equivalente à cautelar ”k”): denegação, para reconhecer a impossibilidade de aplicação subsidiária das hipóteses de impedimento e suspeição do CPP relativamente ao Presidente da Câmara dos Deputados; 12. Cautelar incidental (candidatura avulsa): concessão integral para declarar que não é possível a formação da comissão especial a partir de candidaturas avulsas, de modo que eventual eleição pelo Plenário da Câmara limite-se a confirmar ou não as indicações feitas pelos líderes dos partidos ou blocos; e 13. Cautelar incidental (forma de votação): concessão integral para reconhecer que, havendo votação para a formação da comissão especial do impeachment, esta somente pode se dar por escrutínio aberto. Decisão: O Tribunal acolheu pedido suscitado da tribuna de admissão do Partido Social Democrático na condição de amicuscuriae. Após o voto do Ministro Edson Fachin (Relator), que rejeitava as preliminares suscitadas, conhecia integralmente da arguição e, nomérito, deferia parcialmente os pedidos cautelares, indeferindo os pedidos deduzidos nas medidas cautelares incidentais, o julgamento foi suspenso. Por unanimidade, o Tribunal decidiu prorrogar a eficácia da medida cautelar monocraticamente concedidaaté a conclusão do julgamento. Falaram: pelo requerente Partido Comunista do Brasil, o Dr. Claudio Pereira de Souza Neto; pela Câmara dos Deputados, o Senhor Deputado Miro Teixeira; pela Advocacia-Geral da União, o Ministro Luis Inácio Lucena Adams;pelos amicuscuriae Partido Social Democrático, o Dr. Claudio Lembo; pelo amicuscuriae Partido da Social Democracia Brasileira - PSDB, o Dr. Flávio henrique Costa Pereira; pelo amicuscuriae Democratas - DEM, o Dr. Fabrício Juliano Mendes Medeiros;pelo amicuscuriae Partido dos Trabalhadores - PT, o Dr. Flavio Crocce Caetano; pelo amicuscuriae Partido Socialismo e Liberdade - PSOL, Dr. André Maimoni; pelo amicuscuriae Rede Sustentabilidade, o Dr. Eduardo Mendonça; pela amicuscuriae UniãoNacional dos Estudantes - UNE, o Dr. Pedro Dallari, e, pelo Ministério Público Federal, o Dr. Rodrigo Janot Monteiro de Barros, Procurador-Geral da República. Presidência do Ministro Ricardo Lewandowski. Plenário, 16.12.2015. Decisão: O Tribunal, por unanimidade e nos termos do voto do Relator, rejeitou as preliminares e conheceu da ação. O Tribunal, nos termos do voto do Ministro Roberto Barroso, que redigirá o acórdão: quanto ao item A, porunanimidade, indeferiu o pedido para afirmar que não há direito à defesa prévia ao ato do Presidente da Câmara; quanto ao item B, por unanimidade, deferiu parcialmente o pedido para estabelecer, em interpretação

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conforme à Constituição do art. 38 da Leinº 1.079/1950, que é possível a aplicação subsidiária dos Regimentos Internos da Câmara e do Senado ao processo de impeachment, desde que sejam compatíveis com os preceitos legais e constitucionais pertinentes; quanto ao item C, por maioria, deferiuparcialmente o pedido para (1) declarar recepcionados pela CF/88 os artigos 19, 20 e 21 da Lei nº 1.079/1950, interpretados conforme à Constituição, para que se entenda que as “diligências” e atividades ali previstas não se destinam a provar aimprocedência da acusação, mas apenas a esclarecer a denúncia; e (2) para declarar não recepcionados pela CF/88 o artigo 22, caput, 2ª parte [que se inicia com a expressão “No caso contrário...”], e §§ 1º, 2º, 3º e 4º, da Lei nº 1.079/1950, quedeterminam dilação probatória e segunda deliberação na Câmara dos Deputados, partindo do pressuposto que caberia a tal casa pronunciar-se sobre o mérito da acusação, vencidos os Ministros Edson Fachin (Relator), Dias Toffoli e Gilmar Mendes; quanto aoitem D, por unanimidade, indeferiu o pedido, por reconhecer que a proporcionalidade na formação da comissão especial pode ser aferida em relação aos partidos e blocos partidários; quanto ao item E, por maioria, deferiu integralmente o pedido, paraestabelecer que a defesa tem o direito de se manifestar após a acusação, vencido o Ministro Marco Aurélio; quanto ao item F, por unanimidade, deferiu integralmente o pedido, para estabelecer que o interrogatório deve ser o ato final da instruçãoprobatória; quanto ao item G, por maioria, deferiu parcialmente o pedido para dar interpretação conforme a Constituição ao art. 24 da Lei nº 1.079/1950, a fim de declarar que, com o advento da CF/88, o recebimento da denúncia no processo de impeachmentocorre apenas após a decisão do Plenário do Senado Federal, vencidos, nessa parte, os Ministros Edson Fachin (Relator), Dias Toffoli e Gilmar Mendes, e declarar que a votação nominal deverá ser tomada por maioria simples e presente a maioria absoluta deseus membros, vencidos, nesse ponto, os Ministros Edson Fachin (Relator), Gilmar Mendes e Marco Aurélio; quanto ao item H, por maioria, deferiu parcialmente o pedido para declarar constitucionalmente legítima a aplicação analógica dos arts. 44, 45, 46,47, 48 e 49 da Lei nº 1.079/1950 - os quais determinam o rito do processo de impeachment contra Ministros do Supremo Tribunal Federal e o Procurador-Geral da República - ao processamento no Senado Federal de crime de responsabilidade contra Presidenteda República, vencidos os Ministros Edson Fachin (Relator), Dias Toffoli e Gilmar Mendes; quanto ao item I, por maioria, deferiu integralmente o pedido para declarar que não foram recepcionados pela CF/88 os arts. 23, §§ 1º, 4º e 5º; 80, 1ª parte; e 81,todos da Lei nº 1.079/1950, porque estabelecem os papeis da Câmara e do Senado Federal de modo incompatível com os arts. 51, I; 52, I; e 86, § 1º, II, da CF/88, vencidos, em menor extensão, os Ministros Edson Fachin (Relator), Dias Toffoli e GilmarMendes; quanto ao item J, por unanimidade, indeferiu o pedido para afirmar que os senadores não precisam se apartar da função acusatória; quanto ao item K, por unanimidade, indeferiu o pedido para reconhecer a impossibilidade de aplicação subsidiáriadas hipóteses de impedimento e suspeição do CPP relativamente ao Presidente da Câmara dos Deputados. Quanto à

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cautelar incidental (candidatura avulsa), por maioria, deferiu integralmente o pedido para declarar que não é possível a formação de comissãoespecial a partir de candidaturas avulsas, vencidos os Ministros Edson Fachin (Relator), Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Celso de Mello. Quanto à cautelar incidental (forma de votação), por maioria, deferiu integralmente o pedido para reconhecer que aeleição da comissão especial somente pode se dar por voto aberto, vencidos os Ministros Edson Fachin (Relator), Teori Zavascki, Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Celso de Mello. O Tribunal, por maioria, resolveu questão de ordem suscitada da tribuna parareafirmar o quorum de maioria simples para deliberação do Senado quanto ao juízo de instauração do processo, vencidos os Ministros Edson Fachin e Marco Aurélio, que estabeleciam o quorum de 2/3. Ausente, nesta deliberação, o Ministro Gilmar Mendes. Aofinal, o Tribunal, por unanimidade, converteu o julgamento da medida cautelar em julgamento de mérito. Ausente, nesta questão, o Ministro Gilmar Mendes. Presidiu o julgamento o Ministro Ricardo Lewandowski. Plenário, 17.12.2015.

ADPF 347 MC / DF - DISTRITO FEDERAL Relator(a): Min. MARCO AURÉLIOJulgamento: 09/09/2015Ementa: CUSTODIADO – INTEGRIDADE FÍSICA E MORAL – SISTEMA PENITENCIÁRIO – ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL – ADEQUAÇÃO. Cabível é a arguição de descumprimento de preceito fundamental considerada a situação degradante das penitenciárias no Brasil. SISTEMA PENITENCIÁRIO NACIONAL – SUPERLOTAÇÃO CARCERÁRIA – CONDIÇõES DESUMANAS DE CUSTóDIA – VIOLAÇÃO MASSIVA DE DIREITOS FUNDAMENTAIS – FALhAS ESTRUTURAIS – ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL – CONFIGURAÇÃO. Presente quadro de violação massiva e persistente de direitos fundamentais, decorrente de falhas estruturais e falência de políticas públicas e cuja modificação depende de medidas abrangentes de natureza normativa, administrativa e orçamentária, deve o sistema penitenciário nacional ser caraterizado como “estado de coisas inconstitucional”. FUNDO PENITENCIÁRIO NACIONAL – VERBAS – CONTINGENCIAMENTO. Ante a situação precária das penitenciárias, o interesse público direciona à liberação das verbas do Fundo Penitenciário Nacional. AUDIÊNCIA DE CUSTóDIA – OBSERVâNCIA OBRIGATóRIA. Estão obrigados juízes e tribunais, observados os artigos 9.3 do Pacto dos Direitos Civis e Políticos e 7.5 da Convenção Interamericana de Direitos Humanos, a realizarem, em até noventa dias, audiências de custódia, viabilizando o comparecimento do preso perante a autoridade judiciária no prazo máximo de 24 horas, contado do momento da prisão. Decisão: O julgamento foi suspenso após o voto do Ministro Marco Aurélio (Relator), que deferia parcialmente a medida liminar requerida para determinar: a) aos juízes e tribunais - que lancem, em casos de determinação ou manutenção de prisão provisória, a motivação expressa pela qual não

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aplicam medidas cautelares alternativas à privação de liberdade, estabelecidas no artigo 319 do Código de Processo Penal; b) aos juízes e tribunais - que, observados os artigos 9.3 do Pacto dos Direitos Civis e Políticose 7.5 da Convenção Interamericana de Direitos Humanos, realizem, em até noventa dias, audiências de custódia, viabilizando o comparecimento do preso perante a autoridade judiciária no prazo máximo de 24 horas, contados do momento da prisão; c) aosjuízes e tribunais - que considerem, fundamentadamente, o quadro dramático do sistema penitenciário brasileiro no momento de concessão de cautelares penais, na aplicação da pena e durante o processo de execução penal; d) aos juízes - que estabeleçam,quando possível, penas alternativas à prisão, ante a circunstância de a reclusão ser sistematicamente cumprida em condições muito mais severas do que as admitidas pelo arcabouço normativo; e e) à União - que libere o saldo acumulado do FundoPenitenciário Nacional para utilização com a finalidade para a qual foi criado, abstendo-se de realizar novos contingenciamentos. Falaram, pelo requerente Partido Socialismo e Liberdade - PSOL, o Dr. Daniel Antonio de Moraes Sarmento, OAB/RJ 73.032;pela União, o Ministro Luís Inácio Lucena Adams, Advogado-Geral da União; pelo Estado de São Paulo, o Dr. Thiago Luiz Santos Sombra, OAB/DF 28.393, e pelo Ministério Público Federal, a Dra. Ela WieckoVolkmer de Castilho, Vice-Procuradora-Geral da República. Presidência do Ministro Ricardo Lewandowski. Plenário, 27.08.2015. Decisão: O julgamento foi suspenso após o voto do Ministro Edson Fachin, que concedia a cautelar em relação à alínea “b” da inicial; que, em relação à alínea “g” da inicial, concedia em parte a cautelar para determinar ao ConselhoNacional de Justiça que coordene mutirões carcerários, de modo a viabilizar a pronta revisão de todos os processos de execução penal em curso no país que envolvam a aplicação de pena privativa, mas afastando a necessidade de adequação dos pedidoscontidos nas alíneas “e” e “f”; que, em relação à alínea “h” da inicial, concedia em parte a cautelar para acolher a determinação do descontingenciamento das verbas existentes no Fundo Penitenciário Nacional - FUNPEN, devendo a União providenciar adevida adequação para o cumprimento desta decisão, fixando o prazo de até 60 (sessenta) dias a contar da publicação desta decisão, deixando de conceder a cautelar em relação aos pedidos contidos nas alíneas “a”, “c”, “d”, “e” e “f” da inicial, quepropõe sejam analisadas por ocasião do julgamento do mérito; após o voto do Ministro Roberto Barroso, que, em relação à alínea “b” da inicial, concedia em parte a cautelar, determinando que o prazo para a realização das audiências de custódia sejaregulamentado pelo Conselho Nacional de Justiça; que, em relação à alínea “h”, concedia a cautelar nos termos do voto do Ministro Edson Fachin; que, em relação à alínea “g” da inicial, concedia a cautelar e, de ofício, estendia a condução dos mutirõescarcerários aos Tribunais de Justiça estaduais; que indeferia a cautelar quantos aos demais pedidos; e que concedia cautelar de ofício para determinar ao Governo Federal que encaminhe ao Supremo Tribunal Federal, no prazo de 1 (um) ano, diagnóstico dasituação do sistema penitenciário e propostas de solução dos problemas, em harmonia com os estados membros da Federação, no que foi

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acompanhado pelo Relator; e após o voto do Ministro Teori Zavascki, que concedia em parte a cautelar quanto à alínea “b”da inicial, determinando que o prazo para a realização das audiências de custódia seja regulamentado pelo Conselho Nacional de Justiça; que concedia a cautelar quanto à alínea “h”; que julgava prejudicada a cautelar quanto à alínea “g”, acompanhando oRelator, e indeferia a cautelar quanto às demais alíneas. Ausente o Ministro Dias Toffoli, participando, na qualidade de Presidente do Tribunal Superior Eleitoral, da Conferência Global sobre Dinheiro e Política, promovida pelo Tribunal Eleitoral doMéxico e pelo Instituto Internacional para a Democracia e a Assistência Eleitoral (IDEA Internacional). Presidência do Ministro Ricardo Lewandowski. Plenário, 03.09.2015. Decisão: O Tribunal, apreciando os pedidos de medida cautelar formulados na inicial, por maioria e nos termos do voto do Ministro Marco Aurélio (Relator), deferiu a cautelar em relação à alínea “b”, para determinar aos juízes etribunais que, observados os artigos 9.3 do Pacto dos Direitos Civis e Políticos e 7.5 da Convenção Interamericana de Direitos Humanos, realizem, em até noventa dias, audiências de custódia, viabilizando o comparecimento do preso perante a autoridadejudiciária no prazo máximo de 24 horas, contados do momento da prisão, com a ressalva do voto da Ministra Rosa Weber, que acompanhava o Relator, mas com a observância dos prazos fixados pelo CNJ, vencidos, em menor extensão, os Ministros Teori Zavasckie Roberto Barroso, que delegavam ao CNJ a regulamentação sobre o prazo da realização das audiências de custódia; em relação à alínea “h”, por maioria e nos termos do voto do Relator, deferiu a cautelar para determinar à União que libere o saldoacumulado do Fundo Penitenciário Nacional para utilização com a finalidade para a qual foi criado, abstendo-se de realizar novos contingenciamentos, vencidos, em menor extensão, os Ministros Edson Fachin, Roberto Barroso e Rosa Weber, que fixavam prazode até 60 (sessenta) dias, a contar da publicação desta decisão, para que a União procedesse à adequação para o cumprimento do que determinado; indeferiu as cautelares em relação às alíneas “a”, “c” e “d”, vencidos os Ministros Relator, Luiz Fux, CármenLúcia e o Presidente, que a deferiam; indeferiu em relação à alínea “e”, vencido, em menor extensão, o Ministro Gilmar Mendes; e, por unanimidade, indeferiu a cautelar em relação à alínea “f”; em relação à alínea “g”, por maioria e nos termos do voto doRelator, o Tribunal julgou prejudicada a cautelar, vencidos os Ministros Edson Fachin, Roberto Barroso, Gilmar Mendes e Celso de Mello, que a deferiam nos termos de seus votos. O Tribunal, por maioria, deferiu a proposta do Ministro Roberto Barroso, orareajustada, de concessão de cautelar de ofício para que se determine à União e aos Estados, e especificamente ao Estado de São Paulo, que encaminhem ao Supremo Tribunal Federal informações sobre a situação prisional, vencidos os Ministros Marco Aurélio(Relator), que reajustou seu voto, e os Ministros Luiz Fux, Cármen Lúcia e Presidente. Ausente, justificadamente, o Ministro Dias Toffoli. Presidiu o julgamento o Ministro Ricardo Lewandowski. Plenário, 09.09.2015.

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AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO

ARE 880298 AgR / DF - DISTRITO FEDERAL Relator(a): Min. ROSA WEBERJulgamento: 04/08/2015Ementa: EMENTA DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO. INDENIZAÇÃO. ATO DE GUERRA. IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO. ALEGAÇÃO DE OFENSA AO ART. 5º, II, XXXV, LIV E LV, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. LEGALIDADE. CONTRADITóRIO E AMPLA DEFESA. DEVIDO PROCESSO LEGAL. INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO. DEBATE DE âMBITO INFRACONSTITUCIONAL. EVENTUAL VIOLAÇÃO REFLEXA DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA NÃO VIABILIZA O MANEJO DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. ARTIGO 93, IX, DA CARTA MAGNA. NULIDADE. INOCORRÊNCIA. RAZõES DE DECIDIR EXPLICITADAS PELO óRGÃO JURISDICIONAL. ACóRDÃO RECORRIDO PUBLICADO EM 04.11.2014. 1. O entendimento adotado pela Corte de origem, nos moldes do assinalado na decisão agravada, não diverge da jurisprudência firmada no âmbito deste Supremo Tribunal Federal. 2. Inexiste violação do artigo 93, IX, da Lei Maior. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é no sentido de que o referido dispositivo constitucional exige a explicitação, pelo órgão jurisdicional, das razões do seu convencimento, dispensando o exame detalhado de cada argumento suscitado pelas partes. 3. O exame da alegada ofensa ao art. 5º, II, XXXV, LIV e LV, da Constituição Federal, observada a estreita moldura com que devolvida a matéria à apreciação desta Suprema Corte, dependeria de prévia análise da legislação infraconstitucional aplicada à espécie, o que refoge à competência jurisdicional extraordinária, prevista no art. 102 da Magna Carta. 4. As razões do agravo regimental não se mostram aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada, mormente no que se refere à ausência de ofensa direta e literal a preceito da Constituição da República. 5. Agravo regimental conhecido e não provido. Decisão: A Turma negou provimento ao agravo regimental, nos termos do voto da Relatora. Unânime. Presidência da Senhora Ministra Rosa Weber. 1ª Turma, 4.8.2015.

EXTRADIÇÃO

Ext 1399Relator(a): Min. LUIZ FUXórgão Julgador: Primeira TurmaJulgamento: 08/09/2015 Ementa: Direito Internacional Público. Extradição. Governo do Uruguai. Tráfico de entorpecentes. Requisitos formais (art. 80 da Lei n. 6.815/1980). Inobservância.

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Inviabilidade da análise do pleito. Extinção do processo, sem resolução do mérito. 1. O artigo 80 da Lei n. 6.815/1980 dispõe que “A extradição será requerida por via diplomática ou, na falta de agente diplomático do Estado que a requerer, diretamente de governo a governo, devendo o pedido ser instruído com a cópia autêntica ou a certidão da sentença condenatória, da de pronúncia ou da que decretar a prisão preventiva, proferida por juiz ou autoridade competente. Esse documento ou qualquer outro que se juntar ao pedido conterá indicações precisas sobre o local, data, natureza e circunstâncias do fato criminoso, identidade do extraditando, e, ainda, cópia dos textos legais sobre o crime, a pena e sua prescrição”. 2. In casu, o pleito extradicional veio instruído com duas sentenças interlocutórias, as quais relatam o envolvimento direto de várias pessoas no tráfico de entorpecentes, individualizando condutas, indicando tempo, lugar, modo e circunstância dos crimes, o que não se dá em relação ao paciente. 3. A inobservância dos requisitos formais impossibilita a análise da dupla tipicidade e da prescrição e, consectariamente, conduz ao indeferimento do pleito extradicional. 4. Extradição extinta, sem resolução do mérito. Decisão: A Turma julgou extinto o processo, sem resolução do mérito, nos termos do voto do Relator. Unânime. Presidência da Senhora Ministra Rosa Weber. 1ª Turma, 8.9.2015.

Ext 1351Relator(a): Min. LUIZ FUXOrgão Julgador: Primeira TurmaJulgamento: 18/08/2015Ementa: Direito Internacional Público. Extradição Executória. República Federal da Alemanha. Tráfico e associação para o tráfico de entorpecentes – artigos 33 e 35, c/c artigo 40, I, todos da Lei n. 11.343/2006. Dupla tipicidade. Cidadão alemão. Exequatur de sentença proferida pela Justiça espanhola concedido pela Justiça alemã. Cumprimento da pena na Alemanha. Regularidade formal do pedido. Ausência de tratado suprida pela promessa de reciprocidade. Competência do Estado requerente. Princípio da nacionalidade. Conotação política. Inexistência. Contenciosidade limitada (art. 85, § 1º da Lei n. 6.185/1980). Nulidade do interrogatório por ausência de tradutor juramentado. Inexistência: Tradutor nomeado e compromissado pelo Juiz. Extraditando não fluente em português. Circunstância não comprometedora da validade do interrogatório: Compreensão plena dos fatos imputados. Propósito de acionar o Tribunal Europeu dos Direitos dos Homens para desconstituir a sentença condenatória. Ausência de comprovação de decisão concessiva de efeito suspensivo da execução da pena. Inexistência de prescrição em ambos os ordenamentos jurídicos. Questionamento a respeito da prisão preventiva para extradição. Inviabilidade: condição de procedibilidade do pedido. Residência permanente no Brasil e filho brasileiro: circunstâncias não impeditivas da extradição (Súmula 421/STF). Extradição Deferida. 1. A extradição pressupõe o cumprimento dos requisitos legais extraídos por interpretação a contrario sensu do art. 77 da Lei nº 6.815/80; vale dizer, defere-se o

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pleito se o caso sub examine não se enquadrar em nenhum dos incisos do referido dispositivo e restarem observadas as disposições do tratado específico. 2. A promessa de reciprocidade torna indiferente a ausência de tratado, não impedindo a extradição. 3. Os elementos de convicção embasadores da condenação são insuscetíveis de análise pelo Supremo Tribunal Federal, cuja competência, a teor do artigo 85, § 1º, da Lei n. 6.815/1980, restringe-se ao exame da identidade da pessoa reclamada, defeito de forma dos documentos ou ilegalidade da extradição (Ext 1009, rel. Min. Sepúlveda Pertence). 4. A ausência de tradutor juramentado resta suprida com a nomeação de tradutor não detentor dessa qualificação que firmou o compromisso de traduzir com veracidade e autenticidade as perguntas e respostas, sendo certo ainda que, na linha do parecer ministerial, “a circunstância de o extraditando não ser plenamente fluente em português não chegou a comprometer a validade do interrogatório, ficando claro que ele, coadjuvado pelo intérprete, teve plena compreensão dos fatos que lhe são imputados”. 5. A representação junto ao Tribunal Europeu dos Direitos do homem para desconstituir a sentença condenatória é irrelevante para o julgamento do pedido de extradição, mercê de a defesa não ter colacionado nos autos comprovação de eventual efeito suspensivo da execução da pena concedido por qualquer organismo internacional. 6. Os crimes de tráfico e associação para o tráfico de entorpecentes não prescreveram segundo os ordenamentos jurídicos alemão e espanhol, uma vez que a pena restou fixada, de modo conglobado, em 10 (dez) anos e o artigo 79, ns. 1-3 e 6, do Código Penal alemão prevê prazo prescricional de 20 (vinte) anos. O art. 133 do Código Penal espanhol estipula, por sua vez, o prazo de 15 (quinze) anos; logo, transitada em julgado a sentença em 06/11/2009, marco inicial da prescrição, resta evidente sua inocorrência. 7. A prescrição da pretensão executória também não ocorreu nos termos da legislação brasileira, porquanto apesar de o artigo 119 do Código Penal dispor, no caso de concurso de crimes, que a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de cada um deles, isoladamente, a jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que seja considerada a pena conglobada, uma vez que “viável não se torna formar um terceiro sistema, conjugando as duas leis que, em regra, obedecem a princípios diferentes, para adotar um híbrido e com ele solver a tese da prescrição” (Ext 267/Iugoslávia). Desse modo, tendo em conta o prazo prescricional de 16 (dezesseis) no que tange à pena superior a 8 (oito) anos e não excedente a 12 (doze) anos (art. 109, II, do CP), o trânsito em julgado da sentença, ocorrido em 06/11/2009, e a causa interruptiva da prescrição, caracterizada pela prisão preventiva para extradição, efetivada em 11/07/2014, a ausência da extinção da pretensão executória afigura-se patente, sendo certo ainda que, se fosse considerada a pena mínima de 5 (cinco) anos, isoladamente, para os crimes de tráfico e de associação para o tráfico, a prescrição também não teria ocorrido, por força do art. 109, III, do Código Penal, uma vez que consoante o referido diploma o prazo prescricional para a pena superior a 4 (quatro) anos e não excedente a 8 (oito) anos é de 12 (doze) anos. 8. A prisão preventiva para extradição constitui condição de procedibilidade do processo extradicional (Ext 579-QO, Rel. Min. Celso

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de Mello), tendo, a propósito, pronunciamento do Supremo Tribunal Federal no sentido da constitucionalidade do art. 84, parágrafo único, da Lei n. 6.815/1980, in litteris: “A prisão perdurará até o julgamento final do Supremo Tribunal Federal, não sendo admitidas a liberdade vigiada, a prisão domiciliar, nem a prisão albergue” (Ext 785-QO, Rel. Min. Néri da Silveira, DJ de 06/10/2001). 9. A residência permanente no país e o filho brasileiro, dependente econômico do extraditando, não constituem causas impeditivas da extradição, consoante Súmula 421/STF. 10. Os delitos de tráfico e associação para o tráfico de entorpecentes não expressam, a toda evidência, conotação política. 11. In casu: (i) o extraditando foi condenado, em 30/07/2008, pela Justiça espanhola, à pena de 10 (dez) anos de de reclusão, advindo o trânsito em julgado em 06/11/2009; (ii) a Justiça alemã concedeu exequatur à sentença espanhola, a fim de que o extraditando, alemão, cumpra a pena em seu país, competente para a execução em face do princípio da nacionalidade; (iii) os autos estão instruídos com informações seguras a respeito do local, data, natureza e circunstâncias dos fatos criminosos, identidade do extraditando e cópia dos textos legais sobre os crimes, as penas e os prazos prescricionais, estando satisfeitos os requisitos do art. 80 da Lei n. 6.815/80; e (iv) apesar de a sentença ter sido proferida pela Justiça da Espanha, a Alemanha é competente para a execução da pena em razão do exequatur que concedera à sentença estrangeira e, principalmente, em virtude do princípio da nacionalidade, uma vez que se trata de cidadão alemão. 12. O Estado requerente deverá firmar o compromisso de descontar da pena o tempo de prisão do extraditando no território brasileiro para fins de extradição (Ext 1211/REPÚBLICA PORTUGUESA, rel. Min. Ellen Gracie, Pleno, DJ de 24/3/2011; Ext 1214/EUA, rel. Min. Ellen Gracie, Pleno, DJ 6/5/2011; Ext1226/Reino da Espanha, rel. Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, DJ de 1/9/2011); aliás, como previsto na promessa de reciprocidade. 13. Pedido de extradição deferido. Decisão: A Turma deferiu o pedido de extradição, nos termos do voto do Relator. Unânime. Presidência da Senhora Ministra Rosa Weber. 1ª Turma, 18.8.2015.

Ext 1375Relator(a): Min. LUIZ FUXórgão Julgador: Primeira TurmaJulgamento: 25/08/2015 Ementa: Direito Internacional Público. Extradição Executória. Governo da Espanha. Sonegação fiscal – art. 1º, inc. I, da Lei n. 8.137/90. Regularidade formal do pedido. Dupla tipicidade. Competência da Justiça espanhola: Princípio da territorialidade. Ausência de prescrição em ambos os ordenamentos legais. Conversão da pena de multa em prisão. Impossibilidade: Questão afeta à soberania estatal. Extradição Deferida. 1. A extradição pressupõe o cumprimento dos requisitos legais extraídos por interpretação a contrario sensu do art. 77 da Lei nº 6.815/80; vale dizer, defere-se o pleito se o caso sub examine não se enquadrar em nenhum dos incisos do referido dispositivo e restarem observadas as disposições do tratado específico. 2. In casu, o

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extraditando foi condenado à pena de 2 (dois) anos e 5 (cinco) meses de prisão, pela prática do crime de sonegação fiscal, que restou acrescida de 5 (cinco) meses por conta do inadimplemento da pena de multa, e que restou parcialmente cumprida entre 11/04/2011 e 08/06/2012, resultando o saldo de 1 (um) ano e 9 (nove) meses a cumprir. 3. O pedido atende ao disposto no Tratado de Extradição firmado entre a Espanha e o Brasil (Decreto n. 99.340/1990), há indicações seguras sobre locais, datas, natureza e circunstâncias dos fatos. 4. A omissão de declarações ao fisco espanhol, objetivando a supressão de tributos, corresponde ao crime de sonegação fiscal tipificado no artigo 1º, inc. I, da Lei n. 8.137/1990, satisfazendo a exigência da dupla incriminação, que prescinde da absoluta identidade entre os tipos penais (EXT 1.283, Relator o Min. Marco Aurélio, Primeira Turma, DJe de 17/04/2014 e EXT 908, Relatora a Ministra Ellen Gracie, DJ de 19/11/2004). 5. A ausência de cópia do inteiro teor da sentença condenatória e da certidão do tempo de pena a cumprir não impede a análise do pedido de extradição quando emergem da parte dispositiva da sentença informações seguras sobre o tempo de prisão cumprido e a cumprir. 6. A inexistência de comprovação dos marcos interruptivos do curso prescricional não impossibilita verificar a inocorrência da causa extintiva da pena, mercê de o artigo 133 do Código Penal espanhol dispor que o prazo prescricional da pretensão executória começa a fluir do trânsito em julgado da sentença, ocorrido em 02/02/2011; ou seja, entre o marco inicial e a presente data não transcorreu o lapso prescricional de 5 (cinco) anos previsto na legislação espanhola. Precedentes: EXT 1305, Rel. Min. Rosa Weber, 1ª Turma, DJe de 23/10/2014, e EXT 576, Rel. Min. Moreira Alves, Pleno, DJ de 01/10/1993. 7. A prescrição também não se deu segundo a lei brasileira, que prevê o prazo prescricional de 8 (oito) anos (CP, art. 109, inc. IV) para a pena superior a 2 (dois) anos e não excedente a 4 (quatro) anos. 8. A alegada prescrição da pretensão punitiva é impertinente, porquanto se trata de sentença penal transitada em julgado, vale dizer, de questão afeta à prescrição da pretensão executória. 9. A ausência de legislação a respeito da competência do Estado requerente para o processo e julgamento não tem relevância em face do princípio da territorialidade, aplicável em se tratando de prática delituosa contra o seu fisco (EXT 1094, Rel. Min. Marco Aurélio, Pleno, DJe de 25/04/2009, e EXT 1077, Rel. Ministra Cármen Lúcia, Pleno, DJe de 03/08/2007). 10. A pena foi fixada em 2 (dois) anos e 10 (dez) meses e o paciente cumpriu pouco mais de 1 (um) ano e 1 (um) mês – entre 11/04/2011 e 08/06/2012 -, remanescendo o saldo de 1 (um) ano e 9 (nove) meses, por isso que não incide o óbice à extradição previsto no item 2 do artigo II do Tratado bilateral (Artigo II - […] 2) Se a extradição for solicitada para execução de uma sentença, será necessário que a parte da pena ainda não cumprida seja superior a um ano)”. 11. A impossibilidade da conversão da pena de multa em prisão em decorrência de seu descumprimento é questão não afeta à jurisdição brasileira, sob pena de afronta à soberania do Estado na regulação de seus institutos penais, conforme sustentado no parecer ministerial à luz do precedente firmado na EXT 542, Rel. Min. Celso de Mello, Pleno, DJ de 20/03/1992, o qual se aplica, mutatis mutandis,

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ao presente caso, valendo destacar da ementa do julgado, in verbis: “A questão do reconhecimento, ou não, da ficção jurídica do crime continuado, traduz – enquanto expressão da benignidade estatal no tratamento jurídico-penal das infrações múltiplas cometidas pelo mesmo agente – opção legislativa peculiar ao ordenamento jurídico de cada Estado. Nesse contexto, não se pode impor, no plano das relações extradicionais entre Estados soberanos, a compulsória submissão da parte requerente ao modelo jurídico de aplicação das penas vigente no âmbito do sistema normativo do Estado a quem a extradição é solicitada. O Brasil, consequentemente, não pode, a pretexto de deferir o pedido extradicional, impor, à observância necessária dos demais países o seu modelo legal que, consagrando o instituto da unidade fictícia do crime continuado, estipula regras concernentes à aplicação da pena. A impossibilidade de o Estado brasileiro impor, mediante ressalva, ao Estado requerente, a aceitação de institutos peculiares ao direito penal positivo do Brasil – tal como se dá em relação ao fenômeno jurídico da continuidade delitiva – deriva da circunstância de que, em assim agindo, estaria a afetar a própria integridade da soberania estatal da parte requerente. A força da importação de critérios ou de institutos penais não se legitima em face do Direito da Gentes e nem à luz de nosso próprio sistema jurídico. Cabe, assim, à Justiça do Estado requerente, reconhecer soberanamente – desde que o permita a sua própria legislação penal – a ocorrência, ou não, da continuidade delitiva, não competindo ao Brasil, em obséquio ao princípio fundamental da soberania dos Estados, que rege as relações internacionais, constranger o Governo requerente a aceitar um instituto que até mesmo o seu próprio ordenamento jurídico positivo possa rejeitar.” 12. O Estado requerente deverá firmar o compromisso de descontar da pena o tempo de prisão do extraditando no território brasileiro para fins de extradição (Ext 1211/REPÚBLICA PORTUGUESA, rel. Min. Ellen Gracie, Pleno, DJ de 24/3/2011; Ext 1214/EUA, rel. Min. Ellen Gracie, Pleno, DJ 6/5/2011; Ext 1226/Reino da Espanha, rel. Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, DJ de 1/9/2011). 13. Pedido de extradição deferido. Decisão: Por maioria de votos, a Turma deferiu o pedido de extradição, nos termos do voto do Relator, vencido o Senhor Ministro Marco Aurélio. Falou o Dr. Gustavo Zortea da Silva, Defensor Público Federal, pelo Extraditando. Presidência da Senhora Ministra Rosa Weber. 1ª Turma, 25.8.2015.

Ext 1407 / DF - DISTRITO FEDERAL Relator(a): Min. CELSO DE MELLOJulgamento: 15/12/2015Ementa: E M E N T A: EXTRADIÇÃO PASSIVA DE CARÁTER INSTRUTóRIO – EXTRADITANDO DE NACIONALIDADE FRANCESA – MANDADO DE PRISÃO EXPEDIDO POR REPRESENTANTE DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO ESTRANGEIRO REQUERENTE – VALIDADE – IMPUTAÇÃO PENAL POR SUPOSTA PRÁTICA DE CRIME DE “EXTORSÃO E ChANTAGEM” – DELITO QUE ENCONTRA CORRESPONDÊNCIA TÍPICA NO CóDIGO PENAL

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BRASILEIRO – PEDIDO QUE SE APOIA EM TRATADO DE EXTRADIÇÃO ENTRE O BRASIL E A SUÍÇA – OBSERVâNCIA DOS CRITÉRIOS DA DUPLA TIPICIDADE E DA DUPLA PUNIBILIDADE – INOCORRÊNCIA DA CONSUMAÇÃO DA PRESCRIÇÃO PENAL – INTERROGATóRIO PROCEDIDO POR MAGISTRADA FEDERAL BRASILEIRA – EXTRADITANDO QUE DEMONSTROU CONCORDâNCIA COM O PEDIDO DE EXTRADIÇÃO – IRRELEVâNCIA – EXTRADITANDO QUE TEM COMPANhEIRA BRASILEIRA (UNIÃO ESTÁVEL) – SITUAÇÃO QUE NÃO IMPEDE A EXTRADIÇÃO – COMPATIBILIDADE DA SÚMULA 421/STF COM A VIGENTE CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA – SISTEMA DE CONTENCIOSIDADE LIMITADA – EXIGÊNCIA DE DETRAÇÃO PENAL (ART. 91, II, DA LEI Nº 6.815/80) – ATENDIMENTO DOS PRESSUPOSTOS E REQUISITOS NECESSÁRIOS AO ACOLhIMENTO DO PLEITO EXTRADICIONAL – PEDIDO DE EXTRADIÇÃO DEFERIDO. MANDADO DE PRISÃO EXPEDIDO POR REPRESENTANTE DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO ESTRANGEIRO REQUERENTE – O Estatuto do Estrangeiro, ao dispor sobre os documentos que devem obrigatoriamente instruir o pedido extradicional, refere-se, entre eles, à cópia da decisão “que decretar a prisão preventiva, proferida por juiz ou autoridade competente” (Lei nº 6.815/80, art. 80, “caput”; Tratado de Extradição Brasil/Suíça, Artigo VII). – Em tema de direito extradicional não se pode impor ao Estado requerente, na definição da autoridade competente para ordenar a prisão cautelar de alguém, o modelo jurídico consagrado pelo sistema normativo vigente no Brasil, que – com a só exceção de algumas hipóteses taxativamente discriminadas em sede constitucional (CF/88, art. 5º, LXI, “in fine”, e art. 136, § 3º, I) – atribui aos órgãos do Poder Judiciário (e a estes somente) a prerrogativa extraordinária de decretar a privação da liberdade individual. Doutrina. Precedentes. DUPLA TIPICIDADE E DUPLA PUNIBILIDADE – O postulado da dupla tipicidade – por constituir requisito essencial ao atendimento do pedido de extradição – impõe que o ilícito penal atribuído ao extraditando seja juridicamente qualificado como crime tanto no Brasil quanto no Estado requerente. O delito imputado ao súdito estrangeiro encontra, na espécie em exame, correspondência típica na legislação penal brasileira. – Não se concederá a extradição quando se achar extinta, em decorrência de qualquer causa legal, a punibilidade do extraditando, notadamente se se verificar a consumação da prescrição penal, seja nos termos da lei brasileira, seja segundo o ordenamento positivo do Estado requerente. A satisfação da exigência concernente à dupla punibilidade constitui requisito essencial ao deferimento do pedido extradicional. Inocorrência, na espécie, de qualquer causa extintiva da punibilidade. CONCORDâNCIA DO EXTRADITANDO – CIRCUNSTâNCIA QUE NÃO DISPENSA O CONTROLE DE LEGALIDADE DO PEDIDO EXTRADICIONAL, A SER EFETUADO PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL – O desejo de ser extraditado, ainda que manifestado, de modo inequívoco, pelo súdito estrangeiro, não basta, só por si, para dispensar as formalidades inerentes

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ao processo extradicional, posto que este representa garantia indisponível instituída em favor do próprio extraditando. Precedentes. EXTRADITANDO QUE TEM COMPANhEIRA BRASILEIRA (UNIÃO ESTÁVEL) – SITUAÇÃO QUE NÃO IMPEDE A EXTRADIÇÃO – COMPATIBILIDADE DA SÚMULA 421/STF COM A VIGENTE CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA – A existência de relações familiares, a comprovação de vínculo conjugal e/ou a convivência “more uxorio” do extraditando com pessoa de nacionalidade brasileira constituem fatos destituídos de relevância jurídica para efeitos extradicionais, não impedindo, em consequência, a efetivação da extradição. Precedentes. – Não obsta a extradição o fato de o súdito estrangeiro ser casado ou viver em união estável com pessoa de nacionalidade brasileira, ainda que com ela possua filho brasileiro. – A Súmula 421/STF revela-se compatível com a vigente Constituição da República, pois, em tema de cooperação internacional na repressão a atos de criminalidade comum, a existência de vínculos conjugais e/ou familiares com pessoas de nacionalidade brasileira não se qualifica como causa obstativa da extradição. Precedentes. PROCESSO EXTRADICIONAL E SISTEMA DE CONTENCIOSIDADE LIMITADA: INADMISSIBILIDADE DE DISCUSSÃO SOBRE A PROVA PENAL PRODUZIDA PERANTE O ESTADO REQUERENTE – A ação de extradição passiva não confere, ordinariamente, ao Supremo Tribunal Federal qualquer poder de indagação sobre o mérito da pretensão deduzida pelo Estado requerente ou sobre o contexto probatório em que a postulação extradicional apoia-se. Precedentes. Doutrina. – O sistema de contenciosidade limitada que caracteriza o regime jurídico da extradição passiva no direito positivo brasileiro não permite qualquer indagação probatória pertinente ao ilícito criminal cuja persecução, no exterior, justificou o ajuizamento da demanda extradicional perante o Supremo Tribunal Federal. Precedentes. LEGITIMIDADE DA EXTRADIÇÃO DE CARÁTER INSTRUTóRIO – O fato de não existir condenação penal, mas simples investigação criminal ou processo judicial ainda em curso, desde que comprovada, em qualquer dessas situações, decretação de prisão cautelar, não constitui obstáculo jurídico à formulação de pedido de extradição, que se revestirá, então, de natureza meramente instrutória, que traduz, ao lado da extradição executória, expressivo instrumento de cooperação internacional na repressão aos delitos comuns. Precedente. DETRAÇÃO PENAL E PRISÃO CAUTELAR PARA EFEITOS EXTRADICIONAIS – O período de duração da prisão cautelar do súdito estrangeiro no Brasil decretada para fins extradicionais deve ser integralmente computado na pena a ser cumprida no Estado requerente. – Essa exigência – originariamente estabelecida no Código Bustamante (art. 379), hoje fundada no Estatuto do Estrangeiro ou, quando houver, em tratado de extradição específico – objetiva impedir que a prisão cautelar no Brasil, quando decretada para fins extradicionais, culmine por prorrogar, indevidamente, o lapso temporal da pena de prisão a que estará eventualmente sujeito, no Estado requerente, o súdito estrangeiro cuja entrega foi reclamada ao Governo brasileiro. Decisão: A Turma, por votação unânime, deferiu, sem restrição, exceto a concernente à detração

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penal, o pedido de extradição, em ordem a autorizar a entrega do súdito em causa pelo delito que lhe está sendo imputado, nos termos do voto do Relator. Presente àsessão, em favor do requerente, a Dra. Thais Safe Carneiro. Presidência do Senhor Ministro Dias Toffoli. 2ª Turma, 15.12.2015.

Ext 1346 / DF - DISTRITO FEDERAL Relator(a): Min. DIAS TOFFOLIJulgamento: 15/12/2015Ementa: EMENTA Extradição executória. Governo da Espanha. Pedido instruído com os documentos necessários a sua análise. Atendimento aos requisitos da Lei nº 6.815/80 e do Tratado de Extradição firmado entre a República Federativa do Brasil e o Reino da Espanha, promulgado pelo Decreto nº 99.340/90. Crimes de “estafa”, em continuidade delitiva, e de falsificação de documento comercial (Código Penal espanhol, arts. 251 e 392), em concurso material. Dupla tipicidade. Reconhecimento. Equivalência aos tipos penais de estelionato e de falsificação de documento particular (arts. 171 e 298 do Código Penal). Pena conglobada. Inexistência de individualização das penas aplicadas aos crimes de estafa e falso, bem como de discriminação do acréscimo decorrente da continuidade delitiva. Impossibilidade de se calcular a prescrição pela pena isoladamente imposta a cada crime (art. 119, CP, e Súmula nº 497 STF). Prevalência da interpretação mais favorável ao extraditando, tomando-se por parâmetro a pena mínima cominada ao crime pela legislação alienígena e ao seu equivalente no Código Penal brasileiro. Precedentes. Prescrição da pretensão executória do crime de falso. Ocorrência. Impossibilidade de extradição em relação a esse delito. Reexame de fatos subjacentes à condenação. Impossibilidade. Sistema de contenciosidade limitada. Precedentes. União estável do extraditando com brasileira. Irrelevância. Súmula nº 421 do Supremo Tribunal Federal. Supostos problemas de saúde do extraditando. Fato que não impede a extradição. hipótese, quando muito, de mero adiamento de sua entrega ao Estado requerente. Pedido deferido, em parte, para a execução da pena imposta pela prática de “um crime continuado de estafa” (estelionato). Detração do tempo de prisão a que o extraditando tiver sido submetido no Brasil (art. 91, II, da Lei nº 6.815/80). 1. O pedido formulado pelo Governo da Espanha foi instruído com a decisão condenatória, certidão de seu trânsito em julgado e a ordem de prisão expedida em desfavor do extraditando, havendo indicações seguras a respeito da sua identidade, bem como do local, da data, da natureza, das circunstâncias e da qualificação jurídica dos fatos delituosos. Portanto, em perfeita consonância com o art. IX do Tratado de Extradição firmado entre a República Federativa do Brasil e o Reino da Espanha e o art. 80, caput, da Lei nº 6.815/80. 2. Os crimes imputados ao extraditando – estafa e falsificação de documento comercial - tipificam, no Brasil, os delitos de estelionato e de falsificação de documento particular (arts. 171 e 298 do CP), satisfazendo, assim, ao requisito da dupla tipicidade, previsto no art. 77, II, da Lei nº 6.815/80. 3 As penas impostas ao extraditando foram fixadas de maneira conglobada,

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sem a individualização das penas aplicadas aos crimes de estafa e falso e sem que fosse discriminado o acréscimo decorrente da continuidade delitiva, a impossibilitar que o cálculo da prescrição da pretensão executória tenha por base a pena isoladamente imposta a cada crime (art. 119, CP, e Súmula nº 497 STF). 4. Nesse contexto, há que se optar pela interpretação mais favorável ao extraditando, tomando-se por parâmetro a pena mínima cominada ao crime pela legislação alienígena e ao seu equivalente no Código Penal brasileiro. 5. Sob a óptica da legislação brasileira, a pena mínima cominada aos crimes de estelionato e de falsificação de documento particular é de 1 (um) ano de reclusão (arts. 171 e 298, CP), cuja prescrição se verifica em 4 (quatro) anos, nos termos do art. 109, V, do Código Penal, lapso temporal que não decorreu entre a data do trânsito em julgado da condenação e a data do protocolo, no Supremo Tribunal Federal, do pedido de extensão da extradição. 6. Por sua vez, o Código Penal espanhol comina ao crime de burla, na modalidade imputada ao extraditando, a pena mínima de 1 (um) ano de prisão (art. 251), cuja prescrição da pretensão executória se verifica em 5 (cinco) anos, nos termos do art. 133 daquele diploma legal. 7. O Código Penal espanhol comina ao crime de falsificação de documentos “oficiais e comerciais” a pena mínima de 6 (seis) meses de prisão (art. 392), cuja prescrição da pretensão executória se verifica em 5 (cinco) anos, nos termos do art. 133 daquele diploma legal. 8. Ocorre que essa mesma pena, nos termos do art. 109, VI, do Código Penal brasileiro, com a redação vigente à época dos fatos, prescreve em 2 (dois) anos. 9. Logo, em relação ao crime de falsificação de documento comercial, operou-se, à luz da legislação brasileira, a prescrição da pretensão executória. 10. É irrelevante, para fins de extradição, o fato de o extraditando viver em união estável com brasileira, nos termos da Súmula nº 421 do Supremo Tribunal Federal, que é compatível com a Constituição Federal. Precedentes. 11. O estado de saúde do estrangeiro não é óbice à extradição. Precedentes. 12. No caso de grave enfermidade que coloque em risco a vida do extraditando, poderá, eventualmente, ser adiada sua entrega ao Estado requerente (art. XIII, inciso 3, a, do Tratado de Extradição firmado entre a República Federativa do Brasil e o Reino da Espanha e art. 89, parágrafo único, da Lei n. 6.815/80). 13. Extradição deferida, em parte, para a execução da pena imposta pela prática de um crime continuado de estafa (estelionato). 14. Diante do reconhecimento da prescrição da pretensão executória em relação ao crime de falsificação de documento comercial, o Estado requerente deverá assumir o compromisso de deduzir da condenação total do extraditando a pena concretamente imposta àquele delito. 15. De acordo com o art. 91, II, da Lei nº 6.815/80, o Governo requerente deverá, ainda, assegurar a detração do tempo em que o extraditando tiver permanecido preso no Brasil por força do pedido formulado. Decisão: A Turma, por votação unânime, deferiu, em parte, a extradição, nos termos do voto do Relator. Presidência do Senhor Ministro Dias Toffoli. 2ª Turma, 15.12.2015.

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Ext 1384 / DF - DISTRITO FEDERAL Relator(a): Min. CELSO DE MELLOJulgamento: 15/12/2015Ementa: E M E N T A: EXTRADIÇÃO PASSIVA DE CARÁTER EXECUTóRIO – EXTRADITANDO CONDENADO PELA PRÁTICA DO “CRIME AGRAVADO DE APROVEITAMENTO SEXUAL DE MENOR” E DO DELITO DE “PORNOGRAFIA INFANTIL” – DELITOS QUE ENCONTRAM CORRESPONDÊNCIA TÍPICA NO ART. 217-A DO CóDIGO PENAL (ESTUPRO DE VULNERÁVEL) E NO ART. 241-B DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (POSSE DE MATERIAL DE PORNOGRAFIA INFANTIL) – INEXISTÊNCIA DE TRATADO DE EXTRADIÇÃO ENTRE O BRASIL E O REINO DA SUÉCIA – NOTA DIPLOMÁTICA TRANSMITIDA COM PROMESSA DE RECIPROCIDADE – FUNDAMENTO JURÍDICO SUFICIENTE – PENA MÁXIMA COMINADA PARA O CRIME DE “PORNOGRAFIA INFANTIL”, NA LEGISLAÇÃO PENAL SUECA, INFERIOR A 01 (UM) ANO – CIRCUNSTâNCIA QUE NÃO OBSTA, QUANTO A TAL CONDUTA, O ACOLhIMENTO DO PEDIDO EXTRADICIONAL – INQUESTIONÁVEL GRAVIDADE DESSE DELITO PRATICADO PELO EXTRADITANDO, CUJA PENA EM ABSTRATO PREVISTA NO ORDENAMENTO POSITIVO BRASILEIRO (QUATRO ANOS DE RECLUSÃO) SUPERA, EM MUITO, O PATAMAR ESTABELECIDO NO ART. 77, IV, DO ESTATUTO DO ESTRANGEIRO – CONCURSO DE INFRAÇõES – MERA INDICAÇÃO, NO ATO CONDENATóRIO, DA PENA GLOBAL, SEM REFERÊNCIA INDIVIDUALIZADORA DAS SANÇõES PENAIS IMPOSTAS A CADA UM DOS DELITOS EM CONCURSO – POSSIBILIDADE, EM TAL SITUAÇÃO, DE ANALISAR-SE O ATENDIMENTO, OU NÃO, AO POSTULADO DA DUPLA PUNIBILIDADE – CÁLCULO SEPARADO DA PRESCRIÇÃO PENAL EFETUADO COM BASE NA PENA MÍNIMA COMINADA EM ABSTRATO PARA CADA UM DOS DELITOS NA LEGISLAÇÃO PENAL BRASILEIRA (OITOS ANOS PARA O ESTUPRO DE VULNERÁVEL E UM ANO PARA A POSSE DE MATERIAL DE PORNOGRAFIA INFANTIL) – PRECEDENTES DO PLENÁRIO E DE AMBAS AS TURMAS DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL – RESSALVA DA POSIÇÃO PESSOAL DO RELATOR DESTA CAUSA, QUE ENTENDE NECESSÁRIA A DISCRIMINAÇÃO DAS DIVERSAS PENAS APLICADAS AO EXTRADITANDO – PEDIDO DE EXTRADIÇÃO DEFERIDO EM PARTE. INEXISTÊNCIA DE TRATADO DE EXTRADIÇÃO E OFERECIMENTO DE PROMESSA DE RECIPROCIDADE POR PARTE DO ESTADO REQUERENTE – A inexistência de tratado de extradição não impede a formulação e o eventual atendimento do pleito extradicional, desde que o Estado requerente prometa reciprocidade de tratamento ao Brasil mediante expediente (Nota Verbal) formalmente transmitido por via diplomática. Doutrina. Precedentes. EXTRADIÇÃO – DUPLA TIPICIDADE E DUPLA PUNIBILIDADE – O postulado da dupla tipicidade – por constituir requisito

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essencial ao atendimento do pedido de extradição – impõe que o ilícito penal atribuído ao extraditando seja juridicamente qualificado como crime tanto no Brasil quanto no Estado requerente. Delitos imputados ao súdito estrangeiro que encontram, na espécie em exame, correspondência típica na legislação penal brasileira. – Não se concederá a extradição, quando se achar extinta, em decorrência de qualquer causa legal, a punibilidade do extraditando, notadamente se se verificar a consumação da prescrição penal, seja nos termos da lei brasileira, seja segundo o ordenamento positivo do Estado requerente. A satisfação da exigência concernente à dupla punibilidade constitui requisito essencial ao deferimento do pedido extradicional. Inocorrência, na caso, em relação ao delito de estupro de vulnerável, de qualquer causa extintiva da punibilidade. Reconhecimento, no entanto, da consumação da prescrição penal, segundo a legislação brasileira, quanto ao crime de posse de material de pornografia infantil. DETRAÇÃO PENAL E PRISÃO CAUTELAR PARA EFEITOS EXTRADICIONAIS – O período de duração da prisão cautelar do súdito estrangeiro no Brasil decretada para fins extradicionais deve ser integralmente computado na pena a ser cumprida no Estado requerente. – Essa exigência – originariamente estabelecida no Código Bustamante (art. 379), hoje fundada no Estatuto do Estrangeiro ou, quando houver, em tratado de extradição específico – objetiva impedir que a prisão cautelar no Brasil, quando decretada para fins extradicionais, culmine por prorrogar, indevidamente, o lapso temporal da pena de prisão a que estará eventualmente sujeito, no Estado requerente, o súdito estrangeiro cuja entrega foi reclamada ao Governo brasileiro. Decisão: A Turma, por votação unânime, deferiu, em parte, o pedido de extradição, unicamente em relação ao “crime agravado de aproveitamento sexual”, excluído o delito de “pornografia infantil”, porque ausente, em relação a este, o pressuposto da duplapunibilidade, observadas, no mais, as exigências estabelecidas no Estatuto do Estrangeiro (art. 91), notadamente aquela referente à detração penal, considerado, para tanto, o período de prisão cautelar a que o ora extraditando esteve sujeito, em nossoPaís, unicamente por efeito deste processo extradicional, subtraído desse cômputo, em consequência, o período em que ele ficou preso por outros crimes eventualmente cometidos no Brasil, nos termos do voto do Relator. Falou, pelo extraditando, o Dr.Gustavo Zortea da Silva, Defensor Público Federal. Presidência do Senhor Ministro Dias Toffoli. 2ª Turma, 15.12.2015.

Ext 1399 / DF - DISTRITO FEDERAL Relator(a): Min. LUIZ FUXJulgamento: 08/09/2015Ementa: Ementa: Direito Internacional Público. Extradição. Governo do Uruguai. Tráfico de entorpecentes. Requisitos formais (art. 80 da Lei n. 6.815/1980). Inobservância. Inviabilidade da análise do pleito. Extinção do processo, sem resolução do mérito. 1. O artigo 80 da Lei n. 6.815/1980 dispõe que “A extradição será requerida por via diplomática ou, na falta de agente diplomático do Estado que a requerer,

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diretamente de governo a governo, devendo o pedido ser instruído com a cópia autêntica ou a certidão da sentença condenatória, da de pronúncia ou da que decretar a prisão preventiva, proferida por juiz ou autoridade competente. Esse documento ou qualquer outro que se juntar ao pedido conterá indicações precisas sobre o local, data, natureza e circunstâncias do fato criminoso, identidade do extraditando, e, ainda, cópia dos textos legais sobre o crime, a pena e sua prescrição”. 2. In casu, o pleito extradicional veio instruído com duas sentenças interlocutórias, as quais relatam o envolvimento direto de várias pessoas no tráfico de entorpecentes, individualizando condutas, indicando tempo, lugar, modo e circunstância dos crimes, o que não se dá em relação ao paciente. 3. A inobservância dos requisitos formais impossibilita a análise da dupla tipicidade e da prescrição e, consectariamente, conduz ao indeferimento do pleito extradicional. 4. Extradição extinta, sem resolução do mérito. Decisão: A Turma julgou extinto o processo, sem resolução do mérito, nos termos do voto do Relator. Unânime. Presidência da Senhora Ministra Rosa Weber. 1ª Turma, 8.9.2015.

Ext 1375 / DF - DISTRITO FEDERAL Relator(a): Min. LUIZ FUXJulgamento: 25/08/2015Ementa : Ementa: Direito Internacional Público. Extradição Executória. Governo da Espanha. Sonegação fiscal – art. 1º, inc. I, da Lei n. 8.137/90. Regularidade formal do pedido. Dupla tipicidade. Competência da Justiça espanhola: Princípio da territorialidade. Ausência de prescrição em ambos os ordenamentos legais. Conversão da pena de multa em prisão. Impossibilidade: Questão afeta à soberania estatal. Extradição Deferida. 1. A extradição pressupõe o cumprimento dos requisitos legais extraídos por interpretação a contrario sensu do art. 77 da Lei nº 6.815/80; vale dizer, defere-se o pleito se o caso sub examine não se enquadrar em nenhum dos incisos do referido dispositivo e restarem observadas as disposições do tratado específico. 2. In casu, o extraditando foi condenado à pena de 2 (dois) anos e 5 (cinco) meses de prisão, pela prática do crime de sonegação fiscal, que restou acrescida de 5 (cinco) meses por conta do inadimplemento da pena de multa, e que restou parcialmente cumprida entre 11/04/2011 e 08/06/2012, resultando o saldo de 1 (um) ano e 9 (nove) meses a cumprir. 3. O pedido atende ao disposto no Tratado de Extradição firmado entre a Espanha e o Brasil (Decreto n. 99.340/1990), há indicações seguras sobre locais, datas, natureza e circunstâncias dos fatos. 4. A omissão de declarações ao fisco espanhol, objetivando a supressão de tributos, corresponde ao crime de sonegação fiscal tipificado no artigo 1º, inc. I, da Lei n. 8.137/1990, satisfazendo a exigência da dupla incriminação, que prescinde da absoluta identidade entre os tipos penais (EXT 1.283, Relator o Min. Marco Aurélio, Primeira Turma, DJe de 17/04/2014 e EXT 908, Relatora a Ministra Ellen Gracie, DJ de 19/11/2004). 5. A ausência de cópia do inteiro teor da sentença condenatória e da certidão do tempo de pena a cumprir não impede a análise do pedido de extradição quando emergem da parte dispositiva da sentença informações seguras sobre o tempo de prisão cumprido e a cumprir. 6. A inexistência de comprovação dos

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marcos interruptivos do curso prescricional não impossibilita verificar a inocorrência da causa extintiva da pena, mercê de o artigo 133 do Código Penal espanhol dispor que o prazo prescricional da pretensão executória começa a fluir do trânsito em julgado da sentença, ocorrido em 02/02/2011; ou seja, entre o marco inicial e a presente data não transcorreu o lapso prescricional de 5 (cinco) anos previsto na legislação espanhola. Precedentes: EXT 1305, Rel. Min. Rosa Weber, 1ª Turma, DJe de 23/10/2014, e EXT 576, Rel. Min. Moreira Alves, Pleno, DJ de 01/10/1993. 7. A prescrição também não se deu segundo a lei brasileira, que prevê o prazo prescricional de 8 (oito) anos (CP, art. 109, inc. IV) para a pena superior a 2 (dois) anos e não excedente a 4 (quatro) anos. 8. A alegada prescrição da pretensão punitiva é impertinente, porquanto se trata de sentença penal transitada em julgado, vale dizer, de questão afeta à prescrição da pretensão executória. 9. A ausência de legislação a respeito da competência do Estado requerente para o processo e julgamento não tem relevância em face do princípio da territorialidade, aplicável em se tratando de prática delituosa contra o seu fisco (EXT 1094, Rel. Min. Marco Aurélio, Pleno, DJe de 25/04/2009, e EXT 1077, Rel. Ministra Cármen Lúcia, Pleno, DJe de 03/08/2007). 10. A pena foi fixada em 2 (dois) anos e 10 (dez) meses e o paciente cumpriu pouco mais de 1 (um) ano e 1 (um) mês – entre 11/04/2011 e 08/06/2012 -, remanescendo o saldo de 1 (um) ano e 9 (nove) meses, por isso que não incide o óbice à extradição previsto no item 2 do artigo II do Tratado bilateral (Artigo II - […] 2) Se a extradição for solicitada para execução de uma sentença, será necessário que a parte da pena ainda não cumprida seja superior a um ano)”. 11. A impossibilidade da conversão da pena de multa em prisão em decorrência de seu descumprimento é questão não afeta à jurisdição brasileira, sob pena de afronta à soberania do Estado na regulação de seus institutos penais, conforme sustentado no parecer ministerial à luz do precedente firmado na EXT 542, Rel. Min. Celso de Mello, Pleno, DJ de 20/03/1992, o qual se aplica, mutatis mutandis, ao presente caso, valendo destacar da ementa do julgado, in verbis: “A questão do reconhecimento, ou não, da ficção jurídica do crime continuado, traduz – enquanto expressão da benignidade estatal no tratamento jurídico-penal das infrações múltiplas cometidas pelo mesmo agente – opção legislativa peculiar ao ordenamento jurídico de cada Estado. Nesse contexto, não se pode impor, no plano das relações extradicionais entre Estados soberanos, a compulsória submissão da parte requerente ao modelo jurídico de aplicação das penas vigente no âmbito do sistema normativo do Estado a quem a extradição é solicitada. O Brasil, consequentemente, não pode, a pretexto de deferir o pedido extradicional, impor, à observância necessária dos demais países o seu modelo legal que, consagrando o instituto da unidade fictícia do crime continuado, estipula regras concernentes à aplicação da pena. A impossibilidade de o Estado brasileiro impor, mediante ressalva, ao Estado requerente, a aceitação de institutos peculiares ao direito penal positivo do Brasil – tal como se dá em relação ao fenômeno jurídico da continuidade delitiva – deriva da circunstância de que, em assim agindo, estaria a afetar a própria integridade da soberania estatal da parte requerente. A força da importação de critérios ou de institutos penais não se legitima em face do Direito

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da Gentes e nem à luz de nosso próprio sistema jurídico. Cabe, assim, à Justiça do Estado requerente, reconhecer soberanamente – desde que o permita a sua própria legislação penal – a ocorrência, ou não, da continuidade delitiva, não competindo ao Brasil, em obséquio ao princípio fundamental da soberania dos Estados, que rege as relações internacionais, constranger o Governo requerente a aceitar um instituto que até mesmo o seu próprio ordenamento jurídico positivo possa rejeitar.” 12. O Estado requerente deverá firmar o compromisso de descontar da pena o tempo de prisão do extraditando no território brasileiro para fins de extradição (Ext 1211/REPÚBLICA PORTUGUESA, rel. Min. Ellen Gracie, Pleno, DJ de 24/3/2011; Ext 1214/EUA, rel. Min. Ellen Gracie, Pleno, DJ 6/5/2011; Ext 1226/Reino da Espanha, rel. Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, DJ de 1/9/2011). 13. Pedido de extradição deferido. Decisão: Por maioria de votos, a Turma deferiu o pedido de extradição, nos termos do voto do Relator, vencido o Senhor Ministro Marco Aurélio. Falou o Dr. Gustavo Zortea da Silva, Defensor Público Federal, pelo Extraditando. Presidência da Senhora Ministra RosaWeber. 1ª Turma, 25.8.2015.

Ext 1351 / DF - DISTRITO FEDERAL Relator(a): Min. LUIZ FUXJulgamento: 18/08/2015Ementa: Ementa: Direito Internacional Público. Extradição Executória. República Federal da Alemanha. Tráfico e associação para o tráfico de entorpecentes – artigos 33 e 35, c/c artigo 40, I, todos da Lei n. 11.343/2006. Dupla tipicidade. Cidadão alemão. Exequatur de sentença proferida pela Justiça espanhola concedido pela Justiça alemã. Cumprimento da pena na Alemanha. Regularidade formal do pedido. Ausência de tratado suprida pela promessa de reciprocidade. Competência do Estado requerente. Princípio da nacionalidade. Conotação política. Inexistência. Contenciosidade limitada (art. 85, § 1º da Lei n. 6.185/1980). Nulidade do interrogatório por ausência de tradutor juramentado. Inexistência: Tradutor nomeado e compromissado pelo Juiz. Extraditando não fluente em português. Circunstância não comprometedora da validade do interrogatório: Compreensão plena dos fatos imputados. Propósito de acionar o Tribunal Europeu dos Direitos dos Homens para desconstituir a sentença condenatória. Ausência de comprovação de decisão concessiva de efeito suspensivo da execução da pena. Inexistência de prescrição em ambos os ordenamentos jurídicos. Questionamento a respeito da prisão preventiva para extradição. Inviabilidade: condição de procedibilidade do pedido. Residência permanente no Brasil e filho brasileiro: circunstâncias não impeditivas da extradição (Súmula 421/STF). Extradição Deferida. 1. A extradição pressupõe o cumprimento dos requisitos legais extraídos por interpretação a contrario sensu do art. 77 da Lei nº 6.815/80; vale dizer, defere-se o pleito se o caso sub examine não se enquadrar em nenhum dos incisos do referido dispositivo e restarem observadas as disposições do tratado específico. 2. A promessa de reciprocidade torna indiferente a ausência de tratado, não impedindo a extradição.

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3. Os elementos de convicção embasadores da condenação são insuscetíveis de análise pelo Supremo Tribunal Federal, cuja competência, a teor do artigo 85, § 1º, da Lei n. 6.815/1980, restringe-se ao exame da identidade da pessoa reclamada, defeito de forma dos documentos ou ilegalidade da extradição (Ext 1009, rel. Min. Sepúlveda Pertence). 4. A ausência de tradutor juramentado resta suprida com a nomeação de tradutor não detentor dessa qualificação que firmou o compromisso de traduzir com veracidade e autenticidade as perguntas e respostas, sendo certo ainda que, na linha do parecer ministerial, “a circunstância de o extraditando não ser plenamente fluente em português não chegou a comprometer a validade do interrogatório, ficando claro que ele, coadjuvado pelo intérprete, teve plena compreensão dos fatos que lhe são imputados”. 5. A representação junto ao Tribunal Europeu dos Direitos do homem para desconstituir a sentença condenatória é irrelevante para o julgamento do pedido de extradição, mercê de a defesa não ter colacionado nos autos comprovação de eventual efeito suspensivo da execução da pena concedido por qualquer organismo internacional. 6. Os crimes de tráfico e associação para o tráfico de entorpecentes não prescreveram segundo os ordenamentos jurídicos alemão e espanhol, uma vez que a pena restou fixada, de modo conglobado, em 10 (dez) anos e o artigo 79, ns. 1-3 e 6, do Código Penal alemão prevê prazo prescricional de 20 (vinte) anos. O art. 133 do Código Penal espanhol estipula, por sua vez, o prazo de 15 (quinze) anos; logo, transitada em julgado a sentença em 06/11/2009, marco inicial da prescrição, resta evidente sua inocorrência. 7. A prescrição da pretensão executória também não ocorreu nos termos da legislação brasileira, porquanto apesar de o artigo 119 do Código Penal dispor, no caso de concurso de crimes, que a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de cada um deles, isoladamente, a jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que seja considerada a pena conglobada, uma vez que “viável não se torna formar um terceiro sistema, conjugando as duas leis que, em regra, obedecem a princípios diferentes, para adotar um híbrido e com ele solver a tese da prescrição” (Ext 267/Iugoslávia). Desse modo, tendo em conta o prazo prescricional de 16 (dezesseis) no que tange à pena superior a 8 (oito) anos e não excedente a 12 (doze) anos (art. 109, II, do CP), o trânsito em julgado da sentença, ocorrido em 06/11/2009, e a causa interruptiva da prescrição, caracterizada pela prisão preventiva para extradição, efetivada em 11/07/2014, a ausência da extinção da pretensão executória afigura-se patente, sendo certo ainda que, se fosse considerada a pena mínima de 5 (cinco) anos, isoladamente, para os crimes de tráfico e de associação para o tráfico, a prescrição também não teria ocorrido, por força do art. 109, III, do Código Penal, uma vez que consoante o referido diploma o prazo prescricional para a pena superior a 4 (quatro) anos e não excedente a 8 (oito) anos é de 12 (doze) anos. 8. A prisão preventiva para extradição constitui condição de procedibilidade do processo extradicional (Ext 579-QO, Rel. Min. Celso de Mello), tendo, a propósito, pronunciamento do Supremo Tribunal Federal no sentido da constitucionalidade do art. 84, parágrafo único, da Lei n. 6.815/1980, in litteris: “A prisão perdurará até o julgamento final do Supremo Tribunal Federal, não

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sendo admitidas a liberdade vigiada, a prisão domiciliar, nem a prisão albergue” (Ext 785-QO, Rel. Min. Néri da Silveira, DJ de 06/10/2001). 9. A residência permanente no país e o filho brasileiro, dependente econômico do extraditando, não constituem causas impeditivas da extradição, consoante Súmula 421/STF. 10. Os delitos de tráfico e associação para o tráfico de entorpecentes não expressam, a toda evidência, conotação política. 11. In casu: (i) o extraditando foi condenado, em 30/07/2008, pela Justiça espanhola, à pena de 10 (dez) anos de de reclusão, advindo o trânsito em julgado em 06/11/2009; (ii) a Justiça alemã concedeu exequatur à sentença espanhola, a fim de que o extraditando, alemão, cumpra a pena em seu país, competente para a execução em face do princípio da nacionalidade; (iii) os autos estão instruídos com informações seguras a respeito do local, data, natureza e circunstâncias dos fatos criminosos, identidade do extraditando e cópia dos textos legais sobre os crimes, as penas e os prazos prescricionais, estando satisfeitos os requisitos do art. 80 da Lei n. 6.815/80; e (iv) apesar de a sentença ter sido proferida pela Justiça da Espanha, a Alemanha é competente para a execução da pena em razão do exequatur que concedera à sentença estrangeira e, principalmente, em virtude do princípio da nacionalidade, uma vez que se trata de cidadão alemão. 12. O Estado requerente deverá firmar o compromisso de descontar da pena o tempo de prisão do extraditando no território brasileiro para fins de extradição (Ext 1211/REPÚBLICA PORTUGUESA, rel. Min. Ellen Gracie, Pleno, DJ de 24/3/2011; Ext 1214/EUA, rel. Min. Ellen Gracie, Pleno, DJ 6/5/2011; Ext 1226/Reino da Espanha, rel. Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, DJ de 1/9/2011); aliás, como previsto na promessa de reciprocidade. 13. Pedido de extradição deferido. Decisão: A Turma deferiu o pedido de extradição, nos termos do voto do Relator. Unânime. Presidência da Senhora Ministra Rosa Weber. 1ª Turma, 18.8.2015.

Ext 1407Relator(a): Min. CELSO DE MELLOórgão Julgador: Segunda TurmaJulgamento: 15/12/2015 E M E N T A: EXTRADIÇÃO PASSIVA DE CARÁTER INSTRUTóRIO – EXTRADITANDO DE NACIONALIDADE FRANCESA – MANDADO DE PRISÃO EXPEDIDO POR REPRESENTANTE DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO ESTRANGEIRO REQUERENTE – VALIDADE – IMPUTAÇÃO PENAL POR SUPOSTA PRÁTICA DE CRIME DE “EXTORSÃO E ChANTAGEM” – DELITO QUE ENCONTRA CORRESPONDÊNCIA TÍPICA NO CóDIGO PENAL BRASILEIRO – PEDIDO QUE SE APOIA EM TRATADO DE EXTRADIÇÃO ENTRE O BRASIL E A SUÍÇA – OBSERVâNCIA DOS CRITÉRIOS DA DUPLA TIPICIDADE E DA DUPLA PUNIBILIDADE – INOCORRÊNCIA DA CONSUMAÇÃO DA PRESCRIÇÃO PENAL – INTERROGATóRIO PROCEDIDO POR MAGISTRADA FEDERAL BRASILEIRA – EXTRADITANDO QUE DEMONSTROU CONCORDâNCIA COM O PEDIDO DE EXTRADIÇÃO –

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IRRELEVâNCIA – EXTRADITANDO QUE TEM COMPANhEIRA BRASILEIRA (UNIÃO ESTÁVEL) – SITUAÇÃO QUE NÃO IMPEDE A EXTRADIÇÃO – COMPATIBILIDADE DA SÚMULA 421/STF COM A VIGENTE CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA – SISTEMA DE CONTENCIOSIDADE LIMITADA – EXIGÊNCIA DE DETRAÇÃO PENAL (ART. 91, II, DA LEI Nº 6.815/80) – ATENDIMENTO DOS PRESSUPOSTOS E REQUISITOS NECESSÁRIOS AO ACOLhIMENTO DO PLEITO EXTRADICIONAL – PEDIDO DE EXTRADIÇÃO DEFERIDO. MANDADO DE PRISÃO EXPEDIDO POR REPRESENTANTE DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO ESTRANGEIRO REQUERENTE – O Estatuto do Estrangeiro, ao dispor sobre os documentos que devem obrigatoriamente instruir o pedido extradicional, refere-se, entre eles, à cópia da decisão “que decretar a prisão preventiva, proferida por juiz ou autoridade competente” (Lei nº 6.815/80, art. 80, “caput”; Tratado de Extradição Brasil/Suíça, Artigo VII). – Em tema de direito extradicional não se pode impor ao Estado requerente, na definição da autoridade competente para ordenar a prisão cautelar de alguém, o modelo jurídico consagrado pelo sistema normativo vigente no Brasil, que – com a só exceção de algumas hipóteses taxativamente discriminadas em sede constitucional (CF/88, art. 5º, LXI, “in fine”, e art. 136, § 3º, I) – atribui aos órgãos do Poder Judiciário (e a estes somente) a prerrogativa extraordinária de decretar a privação da liberdade individual. Doutrina. Precedentes. DUPLA TIPICIDADE E DUPLA PUNIBILIDADE – O postulado da dupla tipicidade – por constituir requisito essencial ao atendimento do pedido de extradição – impõe que o ilícito penal atribuído ao extraditando seja juridicamente qualificado como crime tanto no Brasil quanto no Estado requerente. O delito imputado ao súdito estrangeiro encontra, na espécie em exame, correspondência típica na legislação penal brasileira. – Não se concederá a extradição quando se achar extinta, em decorrência de qualquer causa legal, a punibilidade do extraditando, notadamente se se verificar a consumação da prescrição penal, seja nos termos da lei brasileira, seja segundo o ordenamento positivo do Estado requerente. A satisfação da exigência concernente à dupla punibilidade constitui requisito essencial ao deferimento do pedido extradicional. Inocorrência, na espécie, de qualquer causa extintiva da punibilidade. CONCORDâNCIA DO EXTRADITANDO – CIRCUNSTâNCIA QUE NÃO DISPENSA O CONTROLE DE LEGALIDADE DO PEDIDO EXTRADICIONAL, A SER EFETUADO PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL – O desejo de ser extraditado, ainda que manifestado, de modo inequívoco, pelo súdito estrangeiro, não basta, só por si, para dispensar as formalidades inerentes ao processo extradicional, posto que este representa garantia indisponível instituída em favor do próprio extraditando. Precedentes. EXTRADITANDO QUE TEM COMPANhEIRA BRASILEIRA (UNIÃO ESTÁVEL) – SITUAÇÃO QUE NÃO IMPEDE A EXTRADIÇÃO – COMPATIBILIDADE DA SÚMULA 421/STF COM A VIGENTE CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA – A existência de relações familiares, a comprovação de vínculo conjugal e/ou a convivência “more uxorio” do extraditando

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com pessoa de nacionalidade brasileira constituem fatos destituídos de relevância jurídica para efeitos extradicionais, não impedindo, em consequência, a efetivação da extradição. Precedentes. – Não obsta a extradição o fato de o súdito estrangeiro ser casado ou viver em união estável com pessoa de nacionalidade brasileira, ainda que com ela possua filho brasileiro. – A Súmula 421/STF revela-se compatível com a vigente Constituição da República, pois, em tema de cooperação internacional na repressão a atos de criminalidade comum, a existência de vínculos conjugais e/ou familiares com pessoas de nacionalidade brasileira não se qualifica como causa obstativa da extradição. Precedentes. PROCESSO EXTRADICIONAL E SISTEMA DE CONTENCIOSIDADE LIMITADA: INADMISSIBILIDADE DE DISCUSSÃO SOBRE A PROVA PENAL PRODUZIDA PERANTE O ESTADO REQUERENTE – A ação de extradição passiva não confere, ordinariamente, ao Supremo Tribunal Federal qualquer poder de indagação sobre o mérito da pretensão deduzida pelo Estado requerente ou sobre o contexto probatório em que a postulação extradicional apoia-se. Precedentes. Doutrina. – O sistema de contenciosidade limitada que caracteriza o regime jurídico da extradição passiva no direito positivo brasileiro não permite qualquer indagação probatória pertinente ao ilícito criminal cuja persecução, no exterior, justificou o ajuizamento da demanda extradicional perante o Supremo Tribunal Federal. Precedentes. LEGITIMIDADE DA EXTRADIÇÃO DE CARÁTER INSTRUTóRIO – O fato de não existir condenação penal, mas simples investigação criminal ou processo judicial ainda em curso, desde que comprovada, em qualquer dessas situações, decretação de prisão cautelar, não constitui obstáculo jurídico à formulação de pedido de extradição, que se revestirá, então, de natureza meramente instrutória, que traduz, ao lado da extradição executória, expressivo instrumento de cooperação internacional na repressão aos delitos comuns. Precedente. DETRAÇÃO PENAL E PRISÃO CAUTELAR PARA EFEITOS EXTRADICIONAIS – O período de duração da prisão cautelar do súdito estrangeiro no Brasil decretada para fins extradicionais deve ser integralmente computado na pena a ser cumprida no Estado requerente. – Essa exigência – originariamente estabelecida no Código Bustamante (art. 379), hoje fundada no Estatuto do Estrangeiro ou, quando houver, em tratado de extradição específico – objetiva impedir que a prisão cautelar no Brasil, quando decretada para fins extradicionais, culmine por prorrogar, indevidamente, o lapso temporal da pena de prisão a que estará eventualmente sujeito, no Estado requerente, o súdito estrangeiro cuja entrega foi reclamada ao Governo brasileiro.

Ext 1346Relator(a): Min. DIAS TOFFOLIórgão Julgador: Segunda TurmaJulgamento: 15/12/2015 EMENTA Extradição executória. Governo da Espanha. Pedido instruído com os documentos necessários a sua análise. Atendimento aos requisitos da Lei nº 6.815/80 e

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do Tratado de Extradição firmado entre a República Federativa do Brasil e o Reino da Espanha, promulgado pelo Decreto nº 99.340/90. Crimes de “estafa”, em continuidade delitiva, e de falsificação de documento comercial (Código Penal espanhol, arts. 251 e 392), em concurso material. Dupla tipicidade. Reconhecimento. Equivalência aos tipos penais de estelionato e de falsificação de documento particular (arts. 171 e 298 do Código Penal). Pena conglobada. Inexistência de individualização das penas aplicadas aos crimes de estafa e falso, bem como de discriminação do acréscimo decorrente da continuidade delitiva. Impossibilidade de se calcular a prescrição pela pena isoladamente imposta a cada crime (art. 119, CP, e Súmula nº 497 STF). Prevalência da interpretação mais favorável ao extraditando, tomando-se por parâmetro a pena mínima cominada ao crime pela legislação alienígena e ao seu equivalente no Código Penal brasileiro. Precedentes. Prescrição da pretensão executória do crime de falso. Ocorrência. Impossibilidade de extradição em relação a esse delito. Reexame de fatos subjacentes à condenação. Impossibilidade. Sistema de contenciosidade limitada. Precedentes. União estável do extraditando com brasileira. Irrelevância. Súmula nº 421 do Supremo Tribunal Federal. Supostos problemas de saúde do extraditando. Fato que não impede a extradição. Hipótese, quando muito, de mero adiamento de sua entrega ao Estado requerente. Pedido deferido, em parte, para a execução da pena imposta pela prática de “um crime continuado de estafa” (estelionato). Detração do tempo de prisão a que o extraditando tiver sido submetido no Brasil (art. 91, II, da Lei nº 6.815/80). 1. O pedido formulado pelo Governo da Espanha foi instruído com a decisão condenatória, certidão de seu trânsito em julgado e a ordem de prisão expedida em desfavor do extraditando, havendo indicações seguras a respeito da sua identidade, bem como do local, da data, da natureza, das circunstâncias e da qualificação jurídica dos fatos delituosos. Portanto, em perfeita consonância com o art. IX do Tratado de Extradição firmado entre a República Federativa do Brasil e o Reino da Espanha e o art. 80, caput, da Lei nº 6.815/80. 2. Os crimes imputados ao extraditando – estafa e falsificação de documento comercial - tipificam, no Brasil, os delitos de estelionato e de falsificação de documento particular (arts. 171 e 298 do CP), satisfazendo, assim, ao requisito da dupla tipicidade, previsto no art. 77, II, da Lei nº 6.815/80. 3 As penas impostas ao extraditando foram fixadas de maneira conglobada, sem a individualização das penas aplicadas aos crimes de estafa e falso e sem que fosse discriminado o acréscimo decorrente da continuidade delitiva, a impossibilitar que o cálculo da prescrição da pretensão executória tenha por base a pena isoladamente imposta a cada crime (art. 119, CP, e Súmula nº 497 STF). 4. Nesse contexto, há que se optar pela interpretação mais favorável ao extraditando, tomando-se por parâmetro a pena mínima cominada ao crime pela legislação alienígena e ao seu equivalente no Código Penal brasileiro. 5. Sob a óptica da legislação brasileira, a pena mínima cominada aos crimes de estelionato e de falsificação de documento particular é de 1 (um) ano de reclusão (arts. 171 e 298, CP), cuja prescrição se verifica em 4 (quatro) anos, nos termos do art. 109, V, do Código Penal, lapso temporal que não decorreu

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entre a data do trânsito em julgado da condenação e a data do protocolo, no Supremo Tribunal Federal, do pedido de extensão da extradição. 6. Por sua vez, o Código Penal espanhol comina ao crime de burla, na modalidade imputada ao extraditando, a pena mínima de 1 (um) ano de prisão (art. 251), cuja prescrição da pretensão executória se verifica em 5 (cinco) anos, nos termos do art. 133 daquele diploma legal. 7. O Código Penal espanhol comina ao crime de falsificação de documentos “oficiais e comerciais” a pena mínima de 6 (seis) meses de prisão (art. 392), cuja prescrição da pretensão executória se verifica em 5 (cinco) anos, nos termos do art. 133 daquele diploma legal. 8. Ocorre que essa mesma pena, nos termos do art. 109, VI, do Código Penal brasileiro, com a redação vigente à época dos fatos, prescreve em 2 (dois) anos. 9. Logo, em relação ao crime de falsificação de documento comercial, operou-se, à luz da legislação brasileira, a prescrição da pretensão executória. 10. É irrelevante, para fins de extradição, o fato de o extraditando viver em união estável com brasileira, nos termos da Súmula nº 421 do Supremo Tribunal Federal, que é compatível com a Constituição Federal. Precedentes. 11. O estado de saúde do estrangeiro não é óbice à extradição. Precedentes. 12. No caso de grave enfermidade que coloque em risco a vida do extraditando, poderá, eventualmente, ser adiada sua entrega ao Estado requerente (art. XIII, inciso 3, a, do Tratado de Extradição firmado entre a República Federativa do Brasil e o Reino da Espanha e art. 89, parágrafo único, da Lei n. 6.815/80). 13. Extradição deferida, em parte, para a execução da pena imposta pela prática de um crime continuado de estafa (estelionato). 14. Diante do reconhecimento da prescrição da pretensão executória em relação ao crime de falsificação de documento comercial, o Estado requerente deverá assumir o compromisso de deduzir da condenação total do extraditando a pena concretamente imposta àquele delito. 15. De acordo com o art. 91, II, da Lei nº 6.815/80, o Governo requerente deverá, ainda, assegurar a detração do tempo em que o extraditando tiver permanecido preso no Brasil por força do pedido formulado.

Ext 1384Relator(a): Min. CELSO DE MELLOórgão Julgador: Segunda TurmaJulgamento: 15/12/2015 E M E N T A: EXTRADIÇÃO PASSIVA DE CARÁTER EXECUTóRIO – EXTRADITANDO CONDENADO PELA PRÁTICA DO “CRIME AGRAVADO DE APROVEITAMENTO SEXUAL DE MENOR” E DO DELITO DE “PORNOGRAFIA INFANTIL” – DELITOS QUE ENCONTRAM CORRESPONDÊNCIA TÍPICA NO ART. 217-A DO CóDIGO PENAL (ESTUPRO DE VULNERÁVEL) E NO ART. 241-B DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (POSSE DE MATERIAL DE PORNOGRAFIA INFANTIL) – INEXISTÊNCIA DE TRATADO DE EXTRADIÇÃO ENTRE O BRASIL E O REINO DA SUÉCIA – NOTA DIPLOMÁTICA TRANSMITIDA COM PROMESSA DE RECIPROCIDADE

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– FUNDAMENTO JURÍDICO SUFICIENTE – PENA MÁXIMA COMINADA PARA O CRIME DE “PORNOGRAFIA INFANTIL”, NA LEGISLAÇÃO PENAL SUECA, INFERIOR A 01 (UM) ANO – CIRCUNSTâNCIA QUE NÃO OBSTA, QUANTO A TAL CONDUTA, O ACOLhIMENTO DO PEDIDO EXTRADICIONAL – INQUESTIONÁVEL GRAVIDADE DESSE DELITO PRATICADO PELO EXTRADITANDO, CUJA PENA EM ABSTRATO PREVISTA NO ORDENAMENTO POSITIVO BRASILEIRO (QUATRO ANOS DE RECLUSÃO) SUPERA, EM MUITO, O PATAMAR ESTABELECIDO NO ART. 77, IV, DO ESTATUTO DO ESTRANGEIRO – CONCURSO DE INFRAÇõES – MERA INDICAÇÃO, NO ATO CONDENATóRIO, DA PENA GLOBAL, SEM REFERÊNCIA INDIVIDUALIZADORA DAS SANÇõES PENAIS IMPOSTAS A CADA UM DOS DELITOS EM CONCURSO – POSSIBILIDADE, EM TAL SITUAÇÃO, DE ANALISAR-SE O ATENDIMENTO, OU NÃO, AO POSTULADO DA DUPLA PUNIBILIDADE – CÁLCULO SEPARADO DA PRESCRIÇÃO PENAL EFETUADO COM BASE NA PENA MÍNIMA COMINADA EM ABSTRATO PARA CADA UM DOS DELITOS NA LEGISLAÇÃO PENAL BRASILEIRA (OITOS ANOS PARA O ESTUPRO DE VULNERÁVEL E UM ANO PARA A POSSE DE MATERIAL DE PORNOGRAFIA INFANTIL) – PRECEDENTES DO PLENÁRIO E DE AMBAS AS TURMAS DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL – RESSALVA DA POSIÇÃO PESSOAL DO RELATOR DESTA CAUSA, QUE ENTENDE NECESSÁRIA A DISCRIMINAÇÃO DAS DIVERSAS PENAS APLICADAS AO EXTRADITANDO – PEDIDO DE EXTRADIÇÃO DEFERIDO EM PARTE. INEXISTÊNCIA DE TRATADO DE EXTRADIÇÃO E OFERECIMENTO DE PROMESSA DE RECIPROCIDADE POR PARTE DO ESTADO REQUERENTE – A inexistência de tratado de extradição não impede a formulação e o eventual atendimento do pleito extradicional, desde que o Estado requerente prometa reciprocidade de tratamento ao Brasil mediante expediente (Nota Verbal) formalmente transmitido por via diplomática. Doutrina. Precedentes. EXTRADIÇÃO – DUPLA TIPICIDADE E DUPLA PUNIBILIDADE – O postulado da dupla tipicidade – por constituir requisito essencial ao atendimento do pedido de extradição – impõe que o ilícito penal atribuído ao extraditando seja juridicamente qualificado como crime tanto no Brasil quanto no Estado requerente. Delitos imputados ao súdito estrangeiro que encontram, na espécie em exame, correspondência típica na legislação penal brasileira. – Não se concederá a extradição, quando se achar extinta, em decorrência de qualquer causa legal, a punibilidade do extraditando, notadamente se se verificar a consumação da prescrição penal, seja nos termos da lei brasileira, seja segundo o ordenamento positivo do Estado requerente. A satisfação da exigência concernente à dupla punibilidade constitui requisito essencial ao deferimento do pedido extradicional. Inocorrência, na caso, em relação ao delito de estupro de vulnerável, de qualquer causa extintiva da punibilidade. Reconhecimento, no entanto, da consumação da prescrição penal, segundo a legislação brasileira, quanto ao crime de posse de material de pornografia infantil. DETRAÇÃO

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PENAL E PRISÃO CAUTELAR PARA EFEITOS EXTRADICIONAIS – O período de duração da prisão cautelar do súdito estrangeiro no Brasil decretada para fins extradicionais deve ser integralmente computado na pena a ser cumprida no Estado requerente. – Essa exigência – originariamente estabelecida no Código Bustamante (art. 379), hoje fundada no Estatuto do Estrangeiro ou, quando houver, em tratado de extradição específico – objetiva impedir que a prisão cautelar no Brasil, quando decretada para fins extradicionais, culmine por prorrogar, indevidamente, o lapso temporal da pena de prisão a que estará eventualmente sujeito, no Estado requerente, o súdito estrangeiro cuja entrega foi reclamada ao Governo brasileiro.

AGRAVO REGIMENTAL NA EXTRADIÇÃO

Ext 1423 AgRRelator(a): Min. TEORI ZAVASCKIórgão Julgador: Segunda TurmaJulgamento: 15/12/2015 Ementa: AGRAVO REGIMENTAL. PRISÃO PARA FINS DE EXTRADIÇÃO. CONSTITUCIONALIDADE. REQUISITO PARA A PRISÃO: DUPLA TIPICIDADE. ATENDIMENTO. 1. É constitucional a prisão preventiva para fins de extradição, sendo ela condição de procedibilidade do processo extradicional. Nessas hipóteses, a liberdade provisória somente é admitida em situações excepcionais, ausentes no caso. 2. Cumpre-se o requisito da dupla tipicidade a partir da análise dos fatos, e não da comparação, em abstrato, dos tipos penais. 3. Agravo regimental a que se nega provimento. DecisãoA Turma, por votação unânime, negou provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do Relator. Presidência do Senhor Ministro Dias Toffoli. 2ª Turma, 15.12.2015.

Ext 1405 AgRRelator(a): Min. LUIZ FUXórgão Julgador: Primeira TurmaJulgamento: 15/12/2015 DECISÃO: AGRAVO REGIMENTAL EM EXTRADIÇÃO. DIFERIMENTO DA ENTREGA DO EXTRADITANDO FUNDADO NA EXISTÊNCIA DE INQUÉRITO NO BRASIL. ATRIBUIÇÃO DO PODER EXECUTIVO. COMPETÊNCIA DO STF RESTRITA AO EXAME DA LEGALIDADE DO PEDIDO DE EXTRADIÇÃO. PRECEDENTES. 1. O diferimento, ou não, da entrega do extraditando constitui atribuição do Poder Executivo, sabido que ao Supremo Tribunal Federal compete apenas o exame da legalidade do pleito extradicional (RCL 11.243 (EDcl), Rel. Min. Gilmar Mendes, red. P/ o acórdão Min. Luiz Fux, Pleno, DJe de 05/11/2011, e EXT. 1197, Tribunal Pleno, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJe de 13/10/2010). 2. A norma extraída do art. 89, c/c art. 67, da Lei n. 6.815/1980, autoriza o Poder Executivo

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a proceder a entrega do extraditando, ainda que haja procedimento penal em curso ou condenação no Brasil. 3. In casu, o diferimento da entrega do extraditando pelo Supremo Tribunal Federal configura usurpação da atribuição do Poder Executivo, que é o destinatário da norma contida no art. 89, c/c art. 67, do Estatuto do Estrangeiro. 4. É que com acerto asseverou o Ministério Público Federal, in verbis: a) É pacífica a jurisprudência dessa Corte no sentido de que a existência de inquérito instaurado em desfavor do extraditando no Brasil, por fatos diversos daqueles que basearam o pedido ora sob exame, não obsta o deferimento da extradição, ficando a execução do pleito condicionada à discricionariedade do Governo brasileiro, nos termos do art. 89 da Lei 6.815/1980 e do art. 15 do Tratado de Extradição; b) a existência de inquérito policial instaurado em desfavor do nacional belga no Brasil, por fatos diversos dos que basearam o pedido de extradição, não obsta o seu deferimento, ficando a execução do pleito condicionada à discricionariedade do Governo brasileiro, nos termos do art. 89 da Lei 6.815/1980 e do art. 15 do Tratado de Extradição (STF – Ext: 1197, Relator: Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Data de Julgamento: 25/11/2010, Tribunal Pleno, Data de publicação: DJe-141 DIVULG 10-12-201 PUBLIC 13-12-2010 EMENT VOL-01449-01 PP-00022); e c) ademais, a alegação de que a transferência do inquérito policial em curso no Brasil trará prejuízos à defesa do extraditando sequer merece discussão nestes casos, em razão de a competência desta Corte Suprema restringir-se ao exame da legalidade do processo extradicional. 5. Agravo regimental DESPROVIDO.

Ext 1405 AgR / DF - DISTRITO FEDERAL Relator(a): Min. LUIZ FUXJulgamento: 15/12/2015Ementa : EMENTA: Agravo regimental em extradição. Diferimento da entrega do extraditando fundado na existência de inquérito no Brasil. Atribuição do Poder Executivo. Competência do STF restrita ao exame da legalidade do pedido de extradição. Precedentes. 1. O diferimento, ou não, da entrega do extraditando constitui atribuição do Poder Executivo, sabido que ao Supremo Tribunal Federal compete apenas o exame da legalidade do pleito extradicional (RCL 11.243 (EDcl), Rel. Min. Gilmar Mendes, red. P/ o acórdão Min. Luiz Fux, Pleno, DJe de 05/11/2011, e EXT. 1197, Tribunal Pleno, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJe de 13/10/2010). 2. A norma extraída do art. 89, c/c art. 67, da Lei n. 6.815/1980, autoriza o Poder Executivo a proceder a entrega do extraditando, ainda que haja procedimento penal em curso ou condenação no Brasil. 3. In casu, o diferimento da entrega do extraditando pelo Supremo Tribunal Federal configura usurpação da atribuição do Poder Executivo, que é o destinatário da norma contida no art. 89, c/c art. 67, do Estatuto do Estrangeiro. 4. É que com acerto asseverou o Ministério Público Federal, in verbis: a) É pacífica a jurisprudência dessa Corte no sentido de que a existência de inquérito instaurado em desfavor do extraditando no Brasil, por fatos diversos daqueles que basearam o pedido ora sob exame, não obsta o deferimento da extradição, ficando a execução do

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pleito condicionada à discricionariedade do Governo brasileiro, nos termos do art. 89 da Lei 6.815/1980 e do art. 15 do Tratado de Extradição; b) a existência de inquérito policial instaurado em desfavor do nacional belga no Brasil, por fatos diversos dos que basearam o pedido de extradição, não obsta o seu deferimento, ficando a execução do pleito condicionada à discricionariedade do Governo brasileiro, nos termos do art. 89 da Lei 6.815/1980 e do art. 15 do Tratado de Extradição (STF – Ext: 1197, Relator: Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Data de Julgamento: 25/11/2010, Tribunal Pleno, Data de publicação: DJe-141 DIVULG 10-12-201 PUBLIC 13-12-2010 EMENT VOL-01449-01 PP-00022); e c) ademais, a alegação de que a transferência do inquérito policial em curso no Brasil trará prejuízos à defesa do extraditando sequer merece discussão nestes casos, em razão de a competência desta Corte Suprema restringir-se ao exame da legalidade do processo extradicional. 5. Agravo regimental DESPROVIDO. Decisão: A Turma negou provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do Relator. Unânime. Presidência da Senhora Ministra Rosa Weber. 1ª Turma, 15.12.2015.

Ext 1423 AgR / DF - DISTRITO FEDERAL Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKIJulgamento: 15/12/2015Ementa: AGRAVO REGIMENTAL. PRISÃO PARA FINS DE EXTRADIÇÃO. CONSTITUCIONALIDADE. REQUISITO PARA A PRISÃO: DUPLA TIPICIDADE. ATENDIMENTO. 1. É constitucional a prisão preventiva para fins de extradição, sendo ela condição de procedibilidade do processo extradicional. Nessas hipóteses, a liberdade provisória somente é admitida em situações excepcionais, ausentes no caso. 2. Cumpre-se o requisito da dupla tipicidade a partir da análise dos fatos, e não da comparação, em abstrato, dos tipos penais. 3. Agravo regimental a que se nega provimento. Decisão: A Turma, por votação unânime, negou provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do Relator. Presidência do Senhor Ministro Dias Toffoli. 2ª Turma, 15.12.2015.

MANDADO DE SEGURANÇA

MS 33751 / DF - DISTRITO FEDERAL Relator(a): Min. EDSON FACHINJulgamento: 15/12/2015Ementa: MANDADO DE SEGURANÇA. DIREITO CONSTITUCIONAL. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO. CPI DO FUTEBOL. ENTIDADE DESPORTIVA. ATOS PRIVADOS. COMPETÊNCIA PARA APURAÇÃO CONFIGURADA. DEVER DE FUNDAMENTAÇÃO. SUBMISSÃO AOS MESMOS LIMITES DAS AUTORIDADES JUDICIÁRIAS. PROVA DISPONÍVEL NA INTERNET. COOPERAÇÃO JURÍDICA INTERNACIONAL EM MATÉRIA

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PENAL. DESNECESSIDADE. QUEBRA DE SIGILO DE MODO INAUGURAL. PECULIARIDADES DO CASO CONCRETO à LUZ DAS hIPóTESES INVESTIGATIVAS. POSSIBILIDADE. DENEGAÇÃO DA SEGURANÇA. 1. As investigações parlamentares podem figurar como ato preparatório ou auxiliar do processo legislativo e das demais ações do Congresso Nacional, na medida em que o direito ao conhecimento constitui pressuposto à realização de suas atividades deliberativas. 2. A Comissão Parlamentar de Inquérito detém atribuição para investigação de atos praticados em âmbito privado, desde que revestidos de potencial interesse público e cujo enfrentamento insira-se, ao menos em tese, dentre as competências do Congresso Nacional ou da respectiva Casa Legislativa que lhe dá origem. 3. A autonomia das Comissões Parlamentares de Inquérito não subtrai os direitos e garantias individuais assegurados na Constituição Federal. Poder instrutório ao qual são oponíveis idênticos limites formais e substanciais impostos ao Poder Judiciário. No caso concreto, a decisão de quebra de sigilo encontra-se razoavelmente fundamentada, com observância do figurino exigido pelo artigo 93, IX, da CF. 4. As provas produzidas em contexto internacional, na hipótese em que amplamente disponíveis ao público em geral, como no caso de publicação na rede mundial de computadores, podem ser utilizadas em âmbito interno. Tratados de cooperação internacional têm como supedâneo a desburocratização da colheita da prova, de modo que, salvo proteção de interesse específico ou disposição expressa em sentido contrário, tais acordos não merecem aplicação, por ausência de interesse público, se consubstanciarem indevido obstáculo à apuração parlamentar. 5. A avaliação da indispensabilidade da medida não se sujeita à mera análise da ordem cronológica da produção probatória. A depender do caso concreto, é possível que ações de cunho invasivo sejam desde logo necessárias e validamente implementadas. 6. Segurança denegada. Decisão: Por maioria de votos, a Turma denegou a segurança, nos termos do voto do Relator, vencido o Senhor Ministro Marco Aurélio. Falou o Dr. Carlos Eduardo Caputo Bastos, pelo Impetrante. Impedido o Senhor Ministro Roberto Barroso. Presidência da Senhora Ministra Rosa Weber. 1ª Turma, 15.12.2015.

MS 33751 Relator(a): Min. EDSON FACHIN órgão Julgador: Primeira TurmaJulgamento: 15/12/2015MANDADO DE SEGURANÇA. DIREITO CONSTITUCIONAL. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO. CPI DO FUTEBOL. ENTIDADE DESPORTIVA. ATOS PRIVADOS. COMPETÊNCIA PARA APURAÇÃO CONFIGURADA. DEVER DE FUNDAMENTAÇÃO. SUBMISSÃO AOS MESMOS LIMITES DAS AUTORIDADES JUDICIÁRIAS. PROVA DISPONÍVEL NA INTERNET. COOPERAÇÃO JURÍDICA INTERNACIONAL EM MATÉRIA PENAL. DESNECESSIDADE. QUEBRA DE SIGILO DE MODO INAUGURAL.

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PECULIARIDADES DO CASO CONCRETO à LUZ DAS hIPóTESES INVESTIGATIVAS. POSSIBILIDADE. DENEGAÇÃO DA SEGURANÇA. 1. As investigações parlamentares podem figurar como ato preparatório ou auxiliar do processo legislativo e das demais ações do Congresso Nacional, na medida em que o direito ao conhecimento constitui pressuposto à realização de suas atividades deliberativas. 2. A Comissão Parlamentar de Inquérito detém atribuição para investigação de atos praticados em âmbito privado, desde que revestidos de potencial interesse público e cujo enfrentamento insira-se, ao menos em tese, dentre as competências do Congresso Nacional ou da respectiva Casa Legislativa que lhe dá origem. 3. A autonomia das Comissões Parlamentares de Inquérito não subtrai os direitos e garantias individuais assegurados na Constituição Federal. Poder instrutório ao qual são oponíveis idênticos limites formais e substanciais impostos ao Poder Judiciário. No caso concreto, a decisão de quebra de sigilo encontra-se razoavelmente fundamentada, com observância do figurino exigido pelo artigo 93, IX, da CF. 4. As provas produzidas em contexto internacional, na hipótese em que amplamente disponíveis ao público em geral, como no caso de publicação na rede mundial de computadores, podem ser utilizadas em âmbito interno. Tratados de cooperação internacional têm como supedâneo a desburocratização da colheita da prova, de modo que, salvo proteção de interesse específico ou disposição expressa em sentido contrário, tais acordos não merecem aplicação, por ausência de interesse público, se consubstanciarem indevido obstáculo à apuração parlamentar. 5. A avaliação da indispensabilidade da medida não se sujeita à mera análise da ordem cronológica da produção probatória. A depender do caso concreto, é possível que ações de cunho invasivo sejam desde logo necessárias e validamente implementadas. 6. Segurança denegada.

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NA PETIÇÃO

Pet 5847 ED / SP - SÃO PAULO Relator(a): Min. ROSA WEBERJulgamento: 15/12/2015Ementa : EMENTA EMBARGOS DE DECLARAÇÃO RECEBIDOS COMO AGRAVO REGIMENTAL. DIREITO CONSTITUCIONAL DE PETIÇÃO. ART. 5º, XXXIV, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. LIMITES. GARANTIAS DO JUIZ NATURAL E DO DEVIDO PROCESSO LEGAL. ART. 5º, LIII E LIV, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. PRETENSÃO NÃO INSERIDA NA COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. ART. 102, I, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. APRECIAÇÃO INVIÁVEL. PRECEDENTES. 1. A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que incabíveis embargos de declaração opostos em face de decisão monocrática. Recebimento como agravo regimental com fundamento no princípio da fungibilidade. Precedentes. 2. É inadmissível, sob pena de afronta à garantia do juiz natural (art. 5º, LIII, da Constituição

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da República), a petição que veicula perante o Supremo Tribunal Federal, em sede originária, pretensão não enquadrada em nenhuma das hipóteses previstas no art. 102, I, da Constituição da República. 3. Os princípios e garantias do direito de petição, do acesso ao Poder Judiciário e da ampla defesa, consagrados na Constituição da República (art. 5º, XXXIV, XXXV e LV) e em instrumentos internacionais reverenciados pelo Estado brasileiro, em absoluto eximem as partes de observar, ao litigar em juízo, os pressupostos processuais e condições da ação. Tal exigência, longe de importar em excesso de formalismo, negativa de acesso ao Poder Judiciário ou cerceamento de defesa, constitui verdadeira imposição do devido processo legal (art. 5º, LIV, da Lei Maior). Embargos de declaração recebidos como agravo regimental, a que se nega provimento. Decisão: A Turma converteu os embargos de declaração em agravo regimental e o desproveu, nos termos do voto da Relatora. Unânime. Não participaram, justificadamente, deste julgamento, os Senhores Ministros Marco Aurélio e Luiz Fux. Presidência da Senhora Ministra Rosa Weber. 1ª Turma, 15.12.2015.

PET5847 EDRelator(a): Min. ROSA WEBERórgão Julgador: Primeira TurmaJulgamento: 15/12/2015 EMENTA EMBARGOS DE DECLARAÇÃO RECEBIDOS COMO AGRAVO REGIMENTAL. DIREITO CONSTITUCIONAL DE PETIÇÃO. ART. 5º, XXXIV, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. LIMITES. GARANTIAS DO JUIZ NATURAL E DO DEVIDO PROCESSO LEGAL. ART. 5º, LIII E LIV, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. PRETENSÃO NÃO INSERIDA NA COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. ART. 102, I, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. APRECIAÇÃO INVIÁVEL. PRECEDENTES. 1. A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que incabíveis embargos de declaração opostos em face de decisão monocrática. Recebimento como agravo regimental com fundamento no princípio da fungibilidade. Precedentes. 2. É inadmissível, sob pena de afronta à garantia do juiz natural (art. 5º, LIII, da Constituição da República), a petição que veicula perante o Supremo Tribunal Federal, em sede originária, pretensão não enquadrada em nenhuma das hipóteses previstas no art. 102, I, da Constituição da República. 3. Os princípios e garantias do direito de petição, do acesso ao Poder Judiciário e da ampla defesa, consagrados na Constituição da República (art. 5º, XXXIV, XXXV e LV) e em instrumentos internacionais reverenciados pelo Estado brasileiro, em absoluto eximem as partes de observar, ao litigar em juízo, os pressupostos processuais e condições da ação. Tal exigência, longe de importar em excesso de formalismo, negativa de acesso ao Poder Judiciário ou cerceamento de defesa, constitui verdadeira imposição do devido processo legal (art. 5º, LIV, da Lei Maior). Embargos de declaração recebidos como agravo regimental, a que se nega provimento. Decisão: A Turma converteu os embargos de declaração em agravo regimental e o desproveu, nos termos do voto da

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Relatora. Unânime. Não participaram, justificadamente, deste julgamento, os Senhores Ministros Marco Aurélio e Luiz Fux. Presidência da Senhora. Ministra Rosa Weber. 1ª Turma, 15.12.2015.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

INFORMATIVOS

Informativo nº 0571Período: 15 a 27 de outubro de 2015. DIREITO CONSTITUCIONAL E INTERNACIONAL PÚBLICO. CONDIÇÃO PARA EXPULSÃO DE REFUGIADO. A expulsão de estrangeiro que ostente a condição de refugiado não pode ocorrer sem a regular perda dessa condição. Inicialmente, cumpre ressaltar que a expulsão é ato discricionário de prerrogativa do Poder Executivo, constitucionalmente responsável pela política externa do país e pela adoção de atos que gerem reflexos às relações internacionais do Brasil com outros países. Não obstante, o reconhecimento da discricionariedade do ato de expulsão não corresponde à afirmação de que tal ato seria insuscetível de apreciação e revisão pelo Poder Judiciário, mas apenas quer significar que, ao analisar o ato, não poderá o Estado-Juiz substituir-se à atuação da chefia do Executivo na avaliação da conveniência, necessidade, oportunidade e utilidade da expulsão, devendo limitar-se à análise do cumprimento formal dos requisitos e à inexistência de óbices à expulsão. Nesse contexto, salienta-se que tanto a Convenção das Nações Unidas relativa ao Estatuto dos Refugiados (art. 32) quanto a Lei 9.474/1997 (art. 36) preveem que o refugiado que esteja regularmente registrado não será expulso do território nacional, salvo por motivos de segurança nacional ou de ordem pública. De fato, não cabe ao Judiciário a avaliação acerca da pertinência da caracterização da condenação do refugiado como motivo de segurança nacional ou ordem pública suficiente para justificar a expulsão. Entretanto, o conjunto de normas que tratam da matéria impõem alguns cuidados adicionais ao Executivo. O primeiro é o relativo à impossibilidade de que o refugiado seja devolvido ao local onde sua vida, liberdade ou dignidade correm riscos. Essa limitação não é só uma decorrência da referida Convenção (art. 33) e da Lei 9.474/1997 (art. 37), mas também dos mais importantes valores tutelados pela nossa Constituição, que elege a dignidade da pessoa humana como fundamento da República Federativa do Brasil (art. 1º, III) e dispõe que, em suas relações internacionais, o Brasil deverá se reger pela “prevalência dos direitos humanos” (art. 4º, II). Outro fator a ser considerado como limitação imanente à atuação do Executivo em matéria de expulsão de refugiados é a garantia do devido processo legal, que constitui direito fundamental assegurado pelo art. 5º, LV, da CF e também encontra previsão expressa na Convenção das Nações Unidas sobre o Estatuto dos Refugiados (art. 32). A Lei 9.474/1997, em seu art. 39, III, prevê que “implicará perda da condição de refugiado: [...] o exercício de atividades contrárias à segurança nacional ou à ordem pública”. Tem-se, assim, que deve ser reconhecido

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como limitação imanente ao poder discricionário conferido ao Executivo para expulsar refugiado por motivos de segurança nacional ou ordem pública a conclusão de processo administrativo em que seja declarada a perda da condição de refugiado. HC 333.902-DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 14/10/2015, DJe 22/10/2015. Informativo nº 0570 Período: 1º a 14 de outubro de 2015. DIREITO ADMINISTRATIVO. REVALIDAÇÃO NO BRASIL DE DIPLOMAS DE UNIVERSIDADES DA AMÉRICA LATINA E CARIBE. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ). TEMA 615. O Decreto n. 80.419/77 - que incorporou a Convenção Regional sobre o Reconhecimento de Estudos, Títulos e Diplomas de Ensino Superior na América Latina e no Caribe - não foi revogado pelo Decreto n. 3.007/99 nem traz norma específica que vede os procedimentos de revalidação dos diplomas que têm respaldo nos artigos 48 e 53, V, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira. Assim, as universidades públicas brasileiras não estão obrigadas a reconhecer automaticamente os diplomas de ensino superior expedidos por universidades da América Latina e do Caribe. Saliente-se que “a Convenção Regional sobre o Reconhecimento de Estudos, Títulos e Diplomas de Ensino Superior na América Latina e no Caribe, incorporada ao ordenamento jurídico nacional por meio do Decreto n. 80.419/77, não foi, de forma alguma, revogada pelo Decreto n. 3.007, de 30 de março de 1999. Isso porque o aludido ato internacional foi recepcionado pelo Brasil com status de lei ordinária, sendo válido mencionar, acerca desse particular, a sua ratificação pelo Decreto Legislativo n. 66/77 e a sua promulgação através do Decreto n. 80.419/77. Dessa forma, não há se falar na revogação do Decreto que promulgou a Convenção da América Latina e do Caribe em foco, pois o Decreto n. 3.007/99, exarado pelo Sr. Presidente da República, não tem essa propriedade” (REsp 1.126.189-PE, Primeira Turma, DJe 13/5/2010). Pela leitura do art. 5º do Decreto 80.419/1977 - segundo o qual os Estados Contratantes se comprometem a adotar as medidas necessárias para tornar efetivo, o quanto antes possível, para efeito de exercício de profissão, o reconhecimento dos diplomas, títulos os graus de educação superior emitidos pelas autoridades competentes de outro dos Estados Contratantes -, vê-se o nítido caráter programático da referida norma. Inexiste, portanto, determinação específica de reconhecimento automático dos diplomas. Além disso, o STJ, quando apreciou a questão da revalidação de diplomas sob o enfoque da Lei 9.394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira), pelo rito do art. 543-C do CPC, concluiu que “o art. 53, inciso V, da Lei 9.394/96 permite à universidade fixar normas específicas a fim de disciplinar o referido processo de revalidação de diplomas de graduação expedidos por estabelecimentos estrangeiros de ensino superior, não havendo qualquer ilegalidade na determinação do processo seletivo para a revalidação do diploma, porquanto decorre da necessidade de adequação dos procedimentos da instituição de ensino para o cumprimento da norma, uma vez que de outro modo não teria a universidade condições para verificar a capacidade técnica do profissional e sua formação, sem prejuízo da responsabilidade social que envolve o ato” (REsp 1.349.445-SP, Primeira Seção, DJe 14/5/2013). Precedentes citados: REsp 1.315.454-PE, Primeira

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Turma, DJe 24/2/2014; AgRg no AgRg nos EDcl no REsp 1.165.265-SC, Segunda Turma, DJe 19/12/2011; EDcl nos EDcl no REsp 1.055.035-RS, Segunda Turma, DJe 24/9/2009; e REsp 939.880-RS, Segunda Turma, DJe 29/10/2008. REsp 1.215.550-PE, Rel. Min. Og Fernandes, Primeira Seção, julgado em 23/9/2015, DJe 5/10/2015.

Informativo nº 0565Período: 1º de julho a 7 de agosto de 2015. DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO. CONVENÇÃO DA HAIA SOBRE ASPECTOS CIVIS DO SEQUESTRO INTERNACIONAL DE CRIANÇAS. O pedido de retorno imediato de criança retida ilicitamente por sua genitora no Brasil pode ser indeferido, mesmo que transcorrido menos de um ano entre a retenção indevida e o início do processo perante a autoridade judicial ou administrativa (art. 12 da Convenção de Haia), na hipótese em que o menor - com idade e maturidade suficientes para compreender a controvérsia - estiver adaptado ao novo meio e manifestar seu desejo de não regressar ao domicílio paterno no estrangeiro. De fato, a autoridade central deve ordenar o retorno imediato da criança quando é acionada no período de menos de um ano entre a data da transferência ou da retenção indevidas e a data do início do processo perante a autoridade judicial ou administrativa do Estado contratante onde a criança se encontrar, nos termos do art. 12 da Convenção da Haia. Contudo, em situações excepcionalíssimas, nos termos da Convenção da Haia e no propósito de se preservar o superior interesse do menor, a autoridade central poderá negar o pedido de retorno imediato ao país de origem, como na hipótese de a criança já se encontrar integrada ao novo meio em que vive e manifestar o desejo de não regressar para o domicílio estrangeiro do genitor. Em tal cenário, deve-se priorizar o conteúdo da valiosa regra posta no art. 13 da referida Convenção, segundo a qual “A autoridade judicial ou administrativa pode também recusar-se a ordenar o retorno da criança se verificar que esta se opõe a ele e que a criança atingiu já idade e grau de maturidade tais que seja apropriado levar em consideração as suas opiniões sobre o assunto”. Cuida-se, certamente, de diretriz de extrema importância e utilidade para a tomada de decisões na área de interesses de pessoas menores de 18 anos, que, aliás, encontrou plena receptividade no âmbito da posterior Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança (ONU/1989), cujo art. 12 assim fez preceituar: “1. Os Estados-parte assegurarão à criança, que for capaz de formar seus próprios pontos de vista, o direito de exprimir suas opiniões livremente sobre todas as matérias atinentes à criança, levando-se devidamente em conta essas opiniões em função da idade e maturidade da criança. 2. Para esse fim, à criança será dada a oportunidade de ser ouvida em qualquer procedimento judicial ou administrativo que lhe diga respeito, diretamente ou através de um representante ou órgão apropriado, em conformidade com as regras processuais do direito nacional”. REsp 1.214.408-RJ, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 23/6/2015, DJe 5/8/2015.

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Informativo nº 0560Período: 17 de abril a 3 de maio de 2015. DIREITO PROCESSUAL PENAL. COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR CRIME COMETIDO A BORDO DE NAVIO. Compete à Justiça Federal processar e julgar o crime praticado a bordo de embarcação estrangeira privada de grande porte ancorada em porto brasileiro e em situação de potencial deslocamento internacional, ressalvada a competência da Justiça Militar. De fato, o art. 109, IX, da CF determina a competência da Justiça Federal para processar e julgar “os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar”. Contudo, em razão da imprecisão do termo “navio”, utilizado no referido dispositivo constitucional, a doutrina e a jurisprudência construíram o entendimento de que “navio” seria embarcação de grande porte - embarcação seria gênero, do qual navio uma de suas espécies - o que, evidentemente, excluiria a competência para processar e julgar crimes cometidos a bordo de outros tipos de embarcações, isto é, aqueles que não tivessem tamanho e autonomia consideráveis que pudessem ser deslocados para águas internacionais (CC 43.404-SP, Terceira Seção, DJe 2/3/2005; e CC 14.488-PA, Terceira Seção, DJ 11/12/1995). Além disso, restringindo-se ainda mais o alcance do termo “navio”, a jurisprudência do STJ também tem exigido que a embarcação de grande porte se encontre em situação de deslocamento internacional ou em situação de potencial deslocamento (CC 116.011-SP, Terceira Seção, DJe 1º/12/2011). Nesse sentido, a par da dificuldade de se delimitar a ideia de “potencial deslocamento”, cuja análise impõe seja feita de maneira casuística, revela-se ponto comum na interpretação dada pela jurisprudência desta Corte o fato de que a embarcação deva estar apta a realizar viagens internacionais. CC 118.503-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 22/4/2015, DJe 28/4/2015.

AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO

AgRg na Rcl 14005 / SPRelator(a): Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONhA (1123)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 16/09/2015Ementa: PROCESSUAL CIVIL. RECLAMAÇÃO. SENTENÇA ARBITRAL ESTRANGEIRA hOMOLOGADA EM 2006. AÇÃO ANULATóRIA. DECISÃO POSTERIOR. VIOLAÇÃO DA COMPETÊNCIA E DA AUTORIDADE DO STJ. 1. A sentença arbitral estrangeira, uma vez homologada pelo Superior Tribunal de Justiça, adquire plena eficácia no território nacional, não podendo, a partir daí, ser objeto de revisão ou modificação por quaisquer órgãos do Poder Judiciário. 2. Eventual concorrência entre sentença proferida pelo Judiciário brasileiro e decisão do STJ que homologa sentença estrangeira sobre a mesma questão resolve-se pela prevalência da que transitar em julgado em primeiro lugar. 3. Agravo regimental desprovido.

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AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ORDINÁRIO

AgRg no RO 68 / RJ - AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO Relator(a): Ministro MARCO BUZZIórgão Julgador: T4 - QUARTA TURMAJulgamento: 02/10/2014Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - BARCO DE PESCA BRASILEIRO AFUNDADO NA COSTA BRASILEIRA, EM PERÍODO DE GUERRA, POR NAVIO ALEMÃO - ESTADO ESTRANGEIRO - IMUNIDADE ABSOLUTA - DECISÃO DO RELATOR NEGANDO SEGUIMENTO AO RECURSO ORDINÁRIO. IRRESIGNAÇÃO DOS AGRAVANTES. 1. A relativização da imunidade da jurisdição conta com o assentimento desta Corte Superior; mas, tão-somente, quando envolve relações natureza civil, comercial ou trabalhista, restando prevalente a imunidade ao se tratar de ato de império, como no presente caso. 2. A jurisprudência do STJ caminha no sentido de que não é possível a responsabilização da República Federal da Alemanha por ato de guerra, tendo em vista tratar-se de manifestação de ato de império. Precedentes: AgRg no RO 110/RJ, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, DJe 24/09/2012); RO 72/RJ, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONhA, DJe 08/09/2009); RO 66/RJ, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, DJe 19/05/2008). 3. Agravo regimental desprovido.

AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL

AgRg no AREsp 737635 / PE - AGRAVO EM RECURSO ESPECIALRelator(a): Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONhA (1123)órgão Julgador: T3 - TERCEIRA TURMAData do Julgamento: 27/10/2015Ementa: PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. INDICAÇÃO ERRÔNEA DA AUTORIDADE COATORA. AUSÊNCIA DE ALTERAÇÃO DA COMPETÊNCIA. POSSIBILIDADE DE EMENDA à PETIÇÃO INICIAL. A jurisprudência desta Corte orienta-se no sentido de que é possível que haja a emenda da petição do feito mandamental para retificar o polo passivo da demanda, desde que não haja alteração da competência judiciária, e se as duas autoridades fizerem parte da mesma pessoa jurídica de direito público. Agravo regimental improvido.

AgRg no Inq 709 / SP - AGRAVO REGIMENTALRelator(a): Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONhA (1123)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 02/09/2015Ementa: PROCESSO PENAL - SIGILOS BANCÁRIO E FISCAL - QUEBRA

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DEFERIDA - AGRAVO REGIMENTAL - RISTJ, ART. 258 - POSSIBILIDADE - DECISAO AGRAVADA - MANUTENÇAO PELOS PRóPRIOS FUNDAMENTOS. - Embora a natureza jurídica do inquérito judicial seja apenas de um procedimento administrativo, desprovido, a rigor, de ampla defesa e contraditório, o art. 258 do Regimento Interno do STJ, assegura à parte que se considerar prejudicada por decisão do relator, a via do agravo regimental, a ser interposto dentro do prazo de cinco dias. - O afastamento dos sigilos bancário e fiscal é medida extrema a ser deferida apenas nas excepcionais hipóteses previstas em lei, diante de relevante interesse público e quando indispensável à apuração dos fatos investigados, como na espécie dos autos. - Agravo regimental improvido.

AgRg no REsp 1498923 / CE Relator(a): Ministro MARCO BUZZI (1149) órgão Julgador: T4 - QUARTA TURMA Data da Publicação/Fonte: DJe 31/03/2016Ementa: ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. SERVIDOR PÚBLICO. GRATIFICAÇÃO DE INCREMENTO DA FISCALIZAÇÃO E ARRECADAÇÃO – GIFA. NATUREZA GENÉRICA. EXTENSÃO AOS SERVIDORES INATIVOS. POSSIBILIDADE. 1. É firme o entendimento desta Corte de que as gratificações de desempenho, ainda que possuam caráter pro labore faciendo, se forem pagas indistintamente a todos os servidores da ativa, no mesmo percentual, convertem-se em gratificação de natureza genérica, extensíveis, portanto, a todos os aposentados e pensionistas. Precedentes. 2. Agravo regimental não provido.

AgRg no CC 121704 / DF - AGRAVO REGIMENTALRelator(a): Ministro LEOPOLDO DE ARRUDA RAPOSO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/PE) (8390)órgão Julgador: S3 - TERCEIRA SEÇÃOData do Julgamento: 13/05/2015Ementa: PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO CONFLITO DE COMPETÊNCIA. 1. CRIME AMBIENTAL. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. PROPRIEDADE DA EMBAIXADA DA UNIÃO EUROPÉIA NO BRASIL. NÃO APLICAÇÃO DO ART. 109, II, DA CF. NORMA QUE SE REFERE A CAUSAS CÍVEIS. 2. COMPETÊNCIA FEDERAL PARA JULGAR CRIMES. EXAME DO BEM JURÍDICO TUTELADO E NÃO DO AUTOR DO FATO. ART. 109, IV, DA CF. NÃO VERIFICAÇÃO DE PREJUÍZO A BENS, SERVIÇOS OU INTERESSE DA UNIÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. 3. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. Embora o art. 109 da Constituição Federal estabeleça a competência da Justiça Federal para processar e julgar as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município

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ou pessoa domiciliada ou residente no país, tem-se que mencionada competência não abrange os processos criminais, mas apenas cíveis. 2. Nos crimes ambientais, a regra é que a competência é da Justiça estadual, ressalvados os casos em que o crime é praticado em detrimento de bens, serviços e interesse da União, ou de suas autarquias e empresas públicas, conforme disciplina o art. 109, inciso IV, da Constituição Federal. Portanto, a competência da Justiça Federal surge não em razão do autor da conduta delitiva, mas sim do bem jurídico tutelado. 3. Agravo regimental a que se nega provimento, mantendo, dessa forma, o entendimento esposado na decisão monocrática, que declarou a competência do JUÍZO DE DIREITO DA 6ª VARA CRIMINAL DE BRASÍLIA/DF, o suscitado.

AgRg no Inq 709 / SPRelator(a): Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONhA (1123)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 02/09/2015Ementa: PROCESSO PENAL. QUESTÃO DE ORDEM. SEDE IMPRóPRIA PARA DISCUSSÃO SOBRE LICITUDE DE PROVA. COOPERAÇÃO INTERNACIONAL. LEGALIDADE RECONhECIDA NA SUÍÇA DA TRANSMISSÃO DE INFORMAÇõES E POSTERIOR ENVIO DE DOCUMENTOS. NÃO COMUNICABILIDADE DE DECLARAÇÃO JUDICIAL DE ILICITUDE DE PROVAS POR DERIVAÇÃO EM INQUÉRITO CONTRA PESSOA DISTINTA DO CONTEXTO INVESTIGATIVO. AUSÊNCIA DE VINCULAÇÃO DO ACóRDÃO SUÍÇO E SOBERANIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA NA APRECIAÇÃO DA DECISÃO ESTRANGEIRA. IMPOSSIBILIDADE DE hOMOLOGAÇÃO OBLÍQUA DE SENTENÇA ESTRANGEIRA PARA OBSTAR INVESTIGAÇÃO LOCAL. QUESTÃO DE ORDEM DENEGADA. 1. Questão de ordem é incidente que visa resolver pendência de direito em outro processo que impede, prejudica ou desvia a marcha processual. Não há questão prejudicial ou “preliminar” a ser resolvida, nos termos dos arts. 92 e 93 do CPP, tampouco se conhece da medida para discutir acervo probatório. Eventual nulidade de prova obtida em fase de inquérito não pode tolher o poder investigatório do Estado de modo genérico. O Ministério Público não está inibido, inclusive, de reunir outras provas de modo independente. 2. É legal a transmissão de informações - sem remessa de provas – do Ministério Público suíço e do Judiciário francês em cumprimento a acordo internacional de cooperação, relatando pagamento de propinas em aditivo contratual nas obras de expansão do metrô de São Paulo. Posterior remessa de provas e sequestro de conta aberta na Suíça por empresa offshore pertencente ao agente público brasileiro em decorrência do acordo de cooperação e no bojo de inquéritos lá abertos para esse fim. Ilegalidade da remessa e sequestro questionada pela empresa de fachada e rejeitada na Suíça. 3. É indevida a pretensão da defesa de vincular o Superior Tribunal de Justiça à ratio decidendi de sentença estrangeira. Impossibilidade de homologação oblíqua. Ofensa

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à soberania da jurisdição local, conforme o direito brasileiro e internacional público. Não é o Superior Tribunal de Justiça instância revisora ou confirmadora de decisões tomadas em outras jurisdições. 4. Primeiro obiter dictum sobre o mérito. Há diferenças acentuadas nas legislações suíça e brasileira quanto ao emprego de agentes infiltrados enquanto meio de prova. Diversidade de parâmetros que torna descabida a apreciação dos fundamentos do acórdão lá exarado. 5. Segundo obiter dictum sobre o mérito. O agravante pretende estender decisão estrangeira de ilicitude de provas tomada em ação penal que não serviu de base para as transmissões espontâneas às autoridades brasileiras. Os inquéritos abertos contra cidadãos franceses e outro contra brasileiro não sofreram censura alguma quanto às provas obtidas. Impossibilidade de se averiguar, nesta sede, a legalidade na abertura dos inquéritos na Suíça que originaram as transmissões e de se estender a decisão tomada na ação penal primeva. 6. Terceiro obiter dictum sobre mérito, relacionado especificamente à ação penal original contra o banqueiro. Pelo direito brasileiro, não há nexo de causalidade entre o emprego de agentes infiltrados para apurar lavagem de dinheiro advindo de cartel de drogas e a espontânea e não provocada entrega de documentos por empregada do banco à empresa de auditoria sem vínculo com a investigação criminal. Mero encontro fortuito e não derivado e linear de provas. Possibilidade de o Superior Tribunal de Justiça valorar o nexo de causalidade - e a ilicitude por derivação - diferentemente do Tribunal suíço. 7. Agravo regimental desprovido.

AgRg na SEC 10885 / EXRelator(a): Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE (1150)órgão Julgador: T3 - TERCEIRA TURMAData do Julgamento: 18/02/2016Ementa: PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. AGRAVO INTERNO CONTRA ACóRDÃO. RECURSO INCABÍVEL. ERRO GROSSEIRO. INAPLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE RECURSAL. AGRAVO REGIMENTAL. OMISSÃO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ACOLhIDOS COM EFEITOS INFRINGENTES. 1. Conforme o entendimento desta Corte, é manifestamente inadmissível o agravo regimental interposto contra acórdão. 2. Presente a omissão, insuperável é o reconhecimento da ofensa ao art. 535 do Código de Processo Civil e, por conseguinte, o acolhimento dos aclaratórios a fim de, sanando o vício apontado, não conhecer do agravo regimental. 3. Embargos de declaração acolhidos com efeitos infringentes.

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AgRg na SE 10333 / EXRelator(a): Ministro FRANCISCO FALCÃO (1116)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 05/08/2015Ementa: hOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA. DIVóRCIO. MANUTENÇÃO DO NOME DE SOLTEIRA. AQUISIÇÃO DE NACIONALIDADE ESPANhOLA. INVERSÃO DOS SOBRENOMES. LIMITES DA hOMOLOGAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE DE EXTENSÃO A CLÁUSULAS NÃO INCORPORADAS FORMALMENTE à DECISÃO hOMOLOGANDA. I- A alteração da ordem dos sobrenomes em decorrência da aquisição de nacionalidade espanhola não foi objeto de deliberação do Juízo alienígena, que nada dispôs sobre a questão. II - Não tendo ocorrido a alteração de nomes quando do matrimônio, conclui-se que a parte deve responder pelo seu nome de solteira após o decreto de divórcio. III - Por se tratar de um juízo meramente homologatório, a análise desta Corte deve se restringir aos exatos termos do conteúdo da sentença estrangeira, não se admitindo extensão de cláusulas não incorporadas formalmente ao seu texto. IV - Eventuais dúvidas quanto ao nome da parte quando do registro do divórcio devem ser sanadas em procedimento próprio. Agravo regimental desprovido.

AgRg na SEC 8285 / EXRelator(a): Ministro MAURO CAMPBELL MARQUESórgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 06/05/2015Ementa: SENTENÇA ESTRANGEIRA. PROCESSO CIVIL. DISCUSSÃO ACERCA DA EXECUÇÃO DA CARTA DE SENTENÇA NO JUÍZO FEDERAL. NÃO CABIMENTO NESTA CORTE SUPERIOR. 1. A competência do Superior Tribunal de Justiça, quanto à homologação de sentença estrangeira, é exercer um juízo de delibação, verificando se a decisão atende aos requisitos previstos nos artigos 216-D e 216-F do Regimento Interno do STJ e do art. 15 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. 2. No presente caso, esta Corte Superior homologou a sentença estrangeira de divórcio, por preenchidos os requisitos legais, atendendo-se aos arts. 5º e 6º, da Resolução STJ nº 9, de 4.5.2005, confirmando os efeitos da antecipação de tutela, que havia sido deferida tão somente para que valesse como título judicial à respectiva execução no que diz respeito aos alimentos e às visitas ao filho (fls. 173). O inconformismo do requerente quanto à exigência da entrega de seu passaporte ao Juízo em que executada a decisão, para fins de visitação de seu filho, não autoriza a interferência desta Corte Superior, que, em tal procedimento, como já dito anteriormente, só exerce juízo de estrita delibação, de contenciosidade limitada. 3. Agravo regimental não provido.

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CONFLITO DE COMPETÊNCIA

CC 121699 / AMRelator(a): Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA (1170)órgão Julgador: S3 - TERCEIRA SEÇÃOData do Julgamento: 24/06/2015Ementa: CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA EM INQUÉRITO POLICIAL. DUPLO hOMICÍDIO QUALIFICADO SUPOSTAMENTE MOTIVADO POR ROUBO DE ENTORPECENTES EFETUADO POR UMA DAS VÍTIMAS EM PREJUÍZO DE QUADRILhA INTERNACIONAL DE TRAFICANTES DE ENTORPECENTES. AUSÊNCIA DE CONEXÃO PROBATóRIA OU TELEOLóGICA COM O TRÁFICO INTERNACIONAL DE ENTORPECENTES. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL PARA APURAR O CRIME PREVISTO NO ART. 121, § 2º, I, III E IV, DO CP. 1. Como os atos preparatórios não são puníveis no Direito Penal brasileiro, ex vi do art. 14, II, do CP, é irrelevante para a identificação do Juízo competente para conduzir o inquérito policial que a ordem para o cometimento do homicídio tenha partido de mandante localizado em país estrangeiro. 2. Não se evidencia conexão entre os crimes de duplo homicídio qualificado e tráfico internacional de entorpecentes unicamente pelo fato de que o primeiro deles teria tido por motivação o roubo de entorpecentes, supostamente perpetrado por uma das vítimas em prejuízo de quadrilha de traficantes colombiana que age também no Brasil. 3. A conexão que justifica a modificação da competência demanda avaliação, caso a caso, da necessidade de julgamento com junto dos delitos para melhor esclarecimento dos fatos ou para prevenir decisões judiciais conflitantes. 4. No caso concreto, não se evidenciaram as hipóteses do art. 76 do CPP. Os crimes foram praticados de forma autônoma, sem que um tivesse repercutido sobre o outro. Assim sendo, a investigação de um delito não contribuirá para a obtenção de provas em relação ao outro. Além disso, não há possibilidade de prolação de decisões conflitantes, caso os crimes sejam julgados em separado, assim como não há interesse da União em que o homicídio seja julgado na Justiça Federal, já que o crime contra a vida não envolve o exercício de função federal. Precedente da Terceira Seção: CC 114.561/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 14/08/2013, DJe 20/08/2013. 5. Conflito conhecido, para declarar competente para a condução do inquérito policial e posterior julgamento da ação penal o Juízo Suscitante da 1ª Vara do Tribunal do Júri da Comarca de Manaus/AM.

CC 144072 / PR – CONFLITO DE COMPETÊNCIARelator(a): Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA (1170) órgão Julgador: S3 - TERCEIRA SEÇÃOData do Julgamento: 25/11/2015Ementa: CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. INQUÉRITO

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POLICIAL. CD’S E DVD’S ADQUIRIDOS NO PARAGUAI E INTRODUZIDOS CLANDESTINAMENTE NO PAÍS. VIOLAÇÃO DE DIREITO AUTORAL (ART. 184, § 2º, DO CP). TRANSNACIONALIDADE DA CONDUTA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL (ART. 109, V, DA CF/88). 1. O art. 109, V, da CF/88 estabelece dois requisitos concomitantes e necessários para que se afete à Justiça Federal a competência para o julgamento do delito: a) a existência de tratado ou convenção internacional à qual o Brasil tenha aderido, que proteja o bem jurídico em questão; e b) a transnacionalidade da conduta, que se configura quando a execução do delito tenha se iniciado no país e o resultado ocorrido (ou que devesse ocorrer, na hipótese de tentativa) no estrangeiro, ou reciprocamente. 2. Em se tratando de direitos autorais, o Brasil é signatário da Convenção de Berna/1886, da Convenção Interamericana/1946 e da Convenção Universal dos Direitos do Autor/1952. 3. Comprovado nos autos que o investigado transportava CD’s e DVD’s gravados, falsificados, adquiridos no Paraguai e introduzidos irregularmente no País, configura-se a transnacionalidade da conduta. 4. A despeito de o crime de violação de direito autoral infringir, em regra, apenas o interesse particular, presente a nota de transnacionalidade na conduta, é de se reconhecer a competência da Justiça Federal para o processamento e julgamento do crime, com base no art. 109, V, da CF/88. 5. Conflito conhecido, para declarar competente para a condução do presente inquérito policial o Juízo Federal da 2ª Vara de Cascavel, Seção Judiciária do Paraná, o suscitado. (CC 144072/PR, Relator o Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, DJe de 01/12/2015) PENAL. CONFLITO DE COMPETêNCIA. CRIME DE VIOLAÇÃO DE DIREITO AUTORAL. CDS E DVDS. PRODUTOS APREENDIDOS NA ALFâNDEGA BRASILEIRA NA PONTE INTERNACIONAL DA AMIZADE. TRANSNACIONALIDADE DO DELITO. CARACTERIZAÇÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. 1. A apreensão de DVDs e CDs falsificados, com violação de direitos autorais (CP, art. 184, § 2º), se ocorrente em Posto de Fiscalização Aduaneira localizada na divisa entre Brasil e Paraguai, confere à conduta delituosa a característica de “crime transnacional”, circunstância determinante da competência da Justiça Federal para processar e julgar a ação penal a ele correspondente (STJ, Terceira Seção, CC 119.105/PR, Rel. Ministro Walter de Almeida Guilherme [Desembargador convocado do TJ/SP], julgado em 08/10/2014; AgRg no REsp 1.376.680/PR, Rel. Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, julgado em 22/04/2014). 2. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo Federal da 2ª Vara Criminal de Foz do Iguaçu da Seção Judiciária do Estado do Paraná, ora suscitado.

CC 138559 / PR - CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIARelator(a): Ministro RAUL ARAÚJOórgão Julgador: S2 - SEGUNDA SEÇÃOData do Julgamento: 27/05/2015Ementa: CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA FEDERAL.

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JUSTIÇA ESTADUAL. PROGRAMA “MAIS MÉDICOS”. ACORDO INTERNACIONAL. CASAMENTO. PROCEDIMENTO DE hABILITAÇÃO. CIDADÃO CUBANO E CIDADÃ BRASILEIRA. DÚVIDA SUSCITADA. MÉDICO CUBANO. IMPEDIMENTO DE CONTRAIR NÚPCIAS. VEDAÇÃO CONSTANTE DE ACORDO PRIVADO. CAUSA DE PEDIR E PEDIDO NÃO PERTINENTES A ACORDO INTERNACIONAL (CF, ART. 109, III). COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. 1. Cuida-se, na origem, de impugnação da habilitação de casamento entre cidadã brasileira e cidadão cubano, médico participante do Programa Mais Médicos do Governo Federal. 2. A contratação de médicos cubanos no âmbito do programa federal referido não é feita de forma direta pelo Governo brasileiro, mas sim através da intermediação da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS/ONU), conforme disposto na Lei 12.871/2013 e nos respectivos acordos internacionais que os governos do Brasil e de Cuba mantêm, de forma autônoma e simultânea, com o indigitado organismo internacional. 3. No caso, o profissional cubano participante do programa “Mais Médicos” contratou diretamente com sociedade empresária cubana avença de direito privado, regida pelas leis de Cuba, na qual consta a proibição de contrair casamento com pessoa estrangeira. 4. Essa proibição de contrair matrimônio imposta ao profissional médico cubano não decorre de tratado internacional celebrado pela União, o que afasta a competência da Justiça Federal (CF, art. 109, III) para o julgamento do feito. 5. Conflito conhecido para declarar competente a Justiça Comum Estadual.

CC 133010 / MG - CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIARelator(a): Ministro MARCO BUZZIórgão Julgador: S2 - SEGUNDA SEÇÃOData do Julgamento: 27/05/2015Ementa: CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA - AÇÃO DE REGULAÇÃO DE GUARDA AJUIZADA NA JUSTIÇA ESTADUAL E DE BUSCA E APREENSÃO FUNDADA EM TRATADO INTERNACIONAL NA JUSTIÇA FEDERAL - INEXISTÊNCIA, NA hIPóTESE, RESPEITADAS AS ESPECIFICIDADES, DE CONEXÃO ENTRE AS DEMANDAS - PRECEDENTE PROFERIDO NO JULGAMENTO DO CC 132.100/RJ PELA SEGUNDA SEÇÃO. 1. Tendo sido fixada a competência dos juízos envolvidos nos exatos limites dos pedidos formulados nas ações intentadas, não há como, aferidas e sopesadas as informações contidas no caso concreto, reconhecer a conexão entre a ação de guarda em trâmite na justiça estadual e a ação de busca e apreensão demandada no juízo federal. Precedente firmado no julgamento do CC n.º 132.100/BA, pela Colenda Segunda Seção. 2. Conflito conhecido para determinar o retorno dos autos da ação de guarda ao juízo estadual que deverá sobrestar o julgamento de mérito (art. 265, inc. IV, do CPC), permitindo-lhe, contudo, decidir sobre eventuais questões urgentes ou incidentais.

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CC 121941 / PR - CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIARelator(a): Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECAórgão Julgador: S3 - TERCEIRA SEÇÃOData do Julgamento: 25/11/2015Ementa: CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. INQUÉRITO POLICIAL. CD’S E DVD’S ADQUIRIDOS NO PARAGUAI E INTRODUZIDOS CLANDESTINAMENTE NO PAÍS. VIOLAÇÃO DE DIREITO AUTORAL (ART. 184, § 2º, DO CP). TRANSNACIONALIDADE DA CONDUTA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL (ART. 109, V, DA CF/88). 1. O art. 109, V, da CF/88 estabelece dois requisitos concomitantes e necessários para que se afete à Justiça Federal a competência para o julgamento do delito: a) a existência de tratado ou convenção internacional à qual o Brasil tenha aderido, que proteja o bem jurídico em questão; e b) a transnacionalidade da conduta, que se configura quando a execução do delito tenha se iniciado no país e o resultado ocorrido (ou que devesse ocorrer, na hipótese de tentativa) no estrangeiro, ou reciprocamente. 2. Em se tratando de direitos autorais, o Brasil é signatário da Convenção de Berna/1886, da Convenção Interamericana/1946 e da Convenção Universal dos Direitos do Autor/1952. 3. Comprovado nos autos que o investigado transportava CD’s e DVD’s gravados, falsificados, adquiridos no Paraguai e introduzidos irregularmente no País, configura-se a transnacionalidade da conduta. 4. A despeito de o crime de violação de direito autoral infringir, em regra, apenas o interesse particular, presente a nota de transnacionalidade na conduta, é de se reconhecer a competência da Justiça Federal para o processamento e julgamento do crime, com base no art. 109, V, da CF/88. 5. Conflito conhecido, para declarar competente para a condução do presente inquérito policial o Juízo Federal da 2ª Vara de Cascavel, Seção Judiciária do Paraná, o suscitado.

CC 132100 / BA - CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA Relator(a): Ministro MARCO BUZZI (1149)órgão Julgador: S2 - SEGUNDA SEÇÃOData do Julgamento: 27/05/2015Ementa: CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA - AÇÃO DE REGULAÇÃO DE GUARDA AJUIZADA NA JUSTIÇA ESTADUAL E DE BUSCA E APREENSÃO FUNDADA EM TRATADO INTERNACIONAL NA JUSTIÇA FEDERAL - INEXISTÊNCIA, NA hIPóTESE, RESPEITADAS AS ESPECIFICIDADES, DE CONEXÃO ENTRE AS DEMANDAS - PRECEDENTE PROFERIDO NO JULGAMENTO DO CC 132.100/RJ PELA SEGUNDA SEÇÃO. 1. Tendo sido fixada a competência dos juízos envolvidos nos exatos limites dos pedidos formulados nas ações intentadas, não há como, aferidas e sopesadas as informações contidas no caso concreto, reconhecer a conexão entre a ação de guarda em trâmite na justiça estadual e a ação de busca e apreensão demandada no juízo federal. Precedente firmado no julgamento do CC n.º 132.100/BA, pela Colenda Segunda Seção. 2. Conflito conhecido

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para determinar o retorno dos autos da ação de guarda ao juízo estadual que deverá sobrestar o julgamento de mérito (art. 265, inc. IV, do CPC), permitindo-lhe, contudo, decidir sobre eventuais questões urgentes ou incidentais.

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM SENTENÇA ESTRANGEIRA

EDcl na SEC 8242 / EXRelator(a): Ministro MARIA ThEREZA DE ASSIS MOURAórgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 06/05/2015Ementa: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NA SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. TRIBUNAL ARBITRAL. VALIDADE DA CLÁUSULA COMPROMISSóRIA. REQUISITOS PREENChIDOS. PEDIDO DEFERIDO. VÍCIOS INEXISTENTES. RECURSO REJEITADO. 1. A contradição que enseja os aclaratórios é aquela verificada entre a fundamentação do julgado e sua conclusão, vício que não ocorre na espécie, sendo certo, outrossim, que a presente via recursal não se presta a rediscussão da causa à luz de novos argumentos. 2. No caso, concluiu-se que as partes convencionaram sobre a arbitragem dentro dos limites legais e elegeram, validamente, o foro por meio de cláusula compromissória, ficando, pois, submetidas ao Tribunal Arbitral quanto a eventual conflito de interesse sobre o contratado. 3. Embargos de declaração rejeitados.

EDcl nos EDcl na SEC 11529Relator(a): Ministro OG FERNANDES (1139)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 06/05/2015Ementa: PROCESSUAL CIVIL. hOMOLOGAÇÃO SENTENÇA ESTRANGEIRA. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. ART. 535, I E II, DO CPC. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE. AUSÊNCIA. 1. Trata-se de embargos de declaração opostos pelo requerido contra acórdão que, em embargos de declaração opostos pelo requerente contra homologação de sentença estrangeira contestada, supriu a omissão para fixar a verba honorária sucumbencial. 2. Os embargos de declaração, conforme dispõe o art. 535, I e II, do CPC, destinam-se a suprir omissão, afastar obscuridade ou eliminar contradição existente no julgado, o que não ocorre na hipótese em apreço. 3. No caso, houve pronunciamento sobre omissão ocorrida em relação a pedido implícito, qual seja, honorários advocatícios de sucumbência. Não houve efeito modificativo do julgado, pois não houve troca de juízo de procedência por improcedência. A homologação da sentença estrangeira permaneceu hígida. Os honorários de sucumbência são consequência lógica da procedência e fixados a critério do juízo. Não há juízo de conveniência, nem intervenção das partes nos critérios já estabelecidos em lei (art. 20 do CPC) e utilizados pelo julgador. Tanto é assim que

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sequer há necessidade de prova técnica para avaliar o valor do trabalho do causídico da parte vencedora. 4. A única possibilidade de dispensa seria o pedido de gratuidade de justiça, que não foi feito no momento oportuno. Percebe-se, pois, que a parte embargante maneja os presentes aclaratórios em virtude tão somente de seu inconformismo com a decisão ora atacada, não se divisando, na hipótese, quaisquer dos vícios previstos no art. 535, II, do Código de Processo Civil, a inquinar tal decisum. 5. Embargos de declaração rejeitados.

EDcl na SEC 10126 / EXRelator(a): Ministro OG FERNANDES (1139)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 17/06/2015Ementa: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. DIREITO INTERNACIONAL. PROCESSUAL CIVIL. SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. PLEITO DE hOMOLOGAÇÃO. INDEFERIMENTO. ART. 535, I E II, DO CPC. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE. AUSÊNCIA. CUSTAS PROCESSUAIS E hONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA. ART. 535, I E II, DO CPC. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE. ACOLhIMENTO. 1. Os embargos de declaração, conforme dispõe o art. 535, I e II, do CPC, destinam-se a suprir omissão, afastar obscuridade ou eliminar contradição existente no julgado. 2. No que diz respeito aos embargos de declaração opostos pelo primeiro Embargante (Requerente), o v. acórdão embargado assinalou, de forma clara e precisa, que a ausência de citação regular da Requerida, por meio de carta rogatória, em razão do fato de que ela já residia no Brasil por ocasião da tramitação do processo alienígena, inviabiliza o pedido de homologação de sentença. Revela-se desnecessária a manifestação sobre a revelia, como anseia o Embargante, já que a sua caracterização pressupõe a citação válida e regular da parte contrária para responder ao processo, o que, como visto, não ocorreu. 3. No que se refere aos embargos de declaração opostos pela segunda Embargante (Requerida), não houve manifestação acerca do pedido implícito de condenação em sucumbência. O acórdão merece integração. 3. Embargos de declaração opostos pelo Requerente rejeitados. Aclaratórios opostos pela Requerida acolhidos, condenando-se o Requerente ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, estes ora fixados em R$ 1.000,00 (mil reais) .

EDcl na SEC 854 / EXRelator(a): Ministro MASSAMI UYEDA (1129)Relator(a) p/ Acórdão: Ministro OG FERNANDES (1139)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 05/08/2015Ementa: PROCESSO CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. hOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA. REDISCUSSÃO DO MÉRITO DAS QUESTõES

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DECIDIDAS. IMPOSSIBILIDADE. hONORÁRIOS. OMISSÃO. EXISTÊNCIA. 1. Os embargos de declaração não são cabíveis para a rediscussão do mérito dos temas já decididos no aresto embargado, pois esse pleito não se amolda às estritas hipóteses contidas no art. 535 do CPC. Precedentes. 2. Na espécie, o aresto embargado examinou todos os pontos necessários à concessão de exequatur, adotando, dentre outros fundamentos, a tese de que, havendo competência concorrente, é possível a homologação, caso a sentença estrangeira tenha transitado em julgado antes da sentença nacional. 3. No tocante à verba honorária, verificada a omissão nesse aspecto, o acórdão merece ser integralizado para que seja fixada a condenação da parte requerida ao pagamento de honorários advocatícios em favor da requerente, nos termos do art. 20, § 4º, do CPC. 4. Embargos de declaração opostos por Tecnimed Paramedics Eletromedicina Comercial Ltda. e Paulo Iran Fagundes Werlang rejeitados. Embargos de declaração manejados por Rayes e Fagundes Advogados Associados acolhidos.

EDcl na SEC 11616 / EXRelator(a): Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONhA (1123)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 02/12/2015Ementa: PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE OMISSõES NO ACóRDÃO. ART. 535 DO CPC. ERROR IN JUDICANDO. INEXISTÊNCIA. PROVAS. MATÉRIA FÁTICA. 1. Afasta-se a alegada violação do art. 535, II, do CPC na hipótese em que o não acatamento das argumentações deduzidas no recurso tenha como consequência apenas decisão desfavorável aos interesses do recorrente. 2. Homologa-se a sentença estrangeira de divórcio na qual também se decide sobre partilha de bens, havendo determinação de que seja vendida propriedade situada em território nacional, já que as disposições do inciso II do art. 89 do Código de Processo Civil aplicam-se às hipóteses de partilha por sucessão causa mortis. 3. Embargos declaratórios rejeitados.

EDcl na SEC 11117 / EXRelator(a): Ministro RAUL ARAÚJO (1143)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 18/11/2015Ementa: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NA SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. OMISSÃO. OCORRÊNCIA. NOME DE SOLTEIRA. UTILIZAÇÃO PELA REQUERIDA. PREVISÃO NA SENTENÇA hOMOLOGADA. VÍCIO SANADO. EMBARGOS DECLARATóRIOS ACOLhIDOS.

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EDcl na SEC 10658 / EXRelator(a): Ministro hUMBERTO MARTINS (1130)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 18/11/2015Ementa: DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO. PROCESSUAL CIVIL. SENTENÇA ESTRANGEIRA. ARBITRAGEM. hOMOLOGAÇÃO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. INTEMPESTIVIDADE. ART. 536 DO CPC. NÃO CONHECIMENTO. Embargos de declaração interpostos em 24.10.2014 contra o acórdão publicado em 16.10.2014 (fl. 320), nos quais se evidencia a intempestividade, uma vez que não observado o prazo de cinco dias, findo em 21.10.2014, em desatenção ao previsto no art. 536 do Código de Processo Civil; assim, impõem-se a negativa de cognição recursal. Embargos de declaração não conhecidos.

EDcl nos EDcl na SEC 9021 / EXRelator(a): Ministro FELIX FISChER (1109)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 07/10/2015Ementa: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NA SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. PEDIDO DE NOVA SUSTENTAÇÃO ORAL. ART. 159 DO RISTJ. NÃO CABIMENTO. PETIÇÃO AVULSA CONTENDO PEDIDO DE ANULAÇÃO DE TODOS OS ATOS DO PROCESSO. AUSÊNCIA DE AMPARO LEGAL. CONTRADIÇÃO, OBSCURIDADE E OMISSÃO. NÃO OCORRÊNCIA. EFEITO INFRINGENTE. REEXAME DA MATÉRIA. INVIABILIDADE. EMBARGOS REJEITADOS. I - Não é cabível pedido de nova sustentação oral em sede de embargos declaratórios, a teor do disposto no art. 159 do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça. II - Os pedidos formulados na petição intitulada de “arguição de nulidade absoluta de atos postulatórios do advogado da Itaipu e dos atos decisórios todos ab initio” não merecem ser conhecidos, uma vez que não encontram qualquer amparo legal. Eventual arguição de suspeição do Relator, por exemplo, demanda instauração de incidente específico próprio, mostrando-se, no ponto, equivocada a forma jurídica ora empregada. III - Os embargos declaratórios são destinados a sanar omissão, obscuridade ou contradição na decisão embargada, que sejam relevantes para o desfecho da causa. Daí o seu caráter integrador. Em regra, não possuem a natureza de recurso de revisão, sendo, por isso mesmo, insuscetíveis de efeitos infringentes. IV - In casu, verifico que a ora embargante, à conta de contradição, obscuridade e omissão no r. decisum, pretende, na verdade, o reexame de matéria já apreciada quando do julgamento do pedido de homologação da sentença e dos embargos precedentes, finalidade para qual não se presta o presente apelo, ressalvadas as hipóteses excepcionais, que não foram evidenciadas na espécie. Pedido de sustentação oral indeferido. Petição de “arguição de nulidade absoluta de atos postulatórios do advogado da Itaipu e dos atos decisórios todos ab initio” não conhecida. Embargos de declaração rejeitados.

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EDcl na SEC 11529 / Relator(a): Ministro OG FERNANDESórgão Julgador: CE – CORTE ESPECIALJulgamento: 06/05/2015Ementa: PROCESSUAL CIVIL. hOMOLOGAÇÃO SENTENÇA ESTRANGEIRA. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. ART. 535, I E II, DO CPC. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE. AUSÊNCIA. 1. Trata-se de embargos de declaração opostos pelo requerido contra acórdão que, em embargos de declaração opostos pelo requerente contra homologação de sentença estrangeira contestada, supriu a omissão para fixar a verba honorária sucumbencial. 2. Os embargos de declaração, conforme dispõe o art. 535, I e II, do CPC, destinam-se a suprir omissão, afastar obscuridade ou eliminar contradição existente no julgado, o que não ocorre na hipótese em apreço. 3. No caso, houve pronunciamento sobre omissão ocorrida em relação a pedido implícito, qual seja, honorários advocatícios de sucumbência. Não houve efeito modificativo do julgado, pois não houve troca de juízo de procedência por improcedência. A homologação da sentença estrangeira permaneceu hígida. Os honorários de sucumbência são consequência lógica da procedência e fixados a critério do juízo. Não há juízo de conveniência, nem intervenção das partes nos critérios já estabelecidos em lei (art. 20 do CPC) e utilizados pelo julgador. Tanto é assim que sequer há necessidade de prova técnica para avaliar o valor do trabalho do causídico da parte vencedora. 4. A única possibilidade de dispensa seria o pedido de gratuidade de justiça, que não foi feito no momento oportuno. Percebe-se, pois, que a parte embargante maneja os presentes aclaratórios em virtude tão somente de seu inconformismo com a decisão ora atacada, não se divisando, na hipótese, quaisquer dos vícios previstos no art. 535, II, do Código de Processo Civil, a inquinar tal decisum. 5. Embargos de declaração rejeitados.

EDcl na SEC 9713 / Relator(a): Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONhAórgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALJulgamento: 04/03/2015Ementa: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NA SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. RECURSO RECEBIDO COMO AGRAVO REGIMENTAL. ALEGAÇÃO DE FATO SUPERVENIENTE: INÍCIO DE EXECUÇÃO PROVISóRIA DA SENTENÇA PROFERIDA NO BRASIL. PRECLUSÃO. 1. Admitem-se como agravo regimental embargos de declaração opostos a decisão monocrática proferida pelo relator do feito no Tribunal. Princípios da economia processual e da fungibilidade. 2. A prestação jurisdicional há de compor a lide como esta se apresenta no momento da entrega. Assim, os fatos supervenientes à propositura da ação só podem ser levados em consideração até o momento do julgamento, e não posteriormente a ele. 3. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental, ao qual se nega provimento.

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EDcl no REsp 1199940 / RJ Relator(a): Ministro MOURA RIBEIRO (1156)órgão Julgador: T3 - TERCEIRA TURMAData do Julgamento: 09/06/2015Ementa: PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO QUANTO à COMPETÊNCIA DESTA SEGUNDA SEÇÃO DO STJ. RECONhECIMENTO. MATÉRIA AFETA à PRIMEIRA SEÇÃO. NULIDADE DOS ATOS DECISóRIOS AQUI PROFERIDOS. REMESSA DOS AUTOS à SEÇÃO COMPETENTE. EMBARGOS ACOLhIDOS. 1. Deve ser reconhecida omissão do julgado no tocante à alegação de incompetência desta Segunda Seção do STJ. 2. Se o processo não versa direito de família, mas sim cooperação internacional na busca e apreensão de adolescente para fins de repatriação, competente para sua apreciação é a Primeira Seção desta Corte (Regimento Interno, art. 9º, § 1º, XIII). Precedentes. 3. São nulos os atos decisórios proferidos em violação de regra de competência interna. 4. Embargos de declaração acolhidos, com efeitos infringentes, determinando-se a remessa dos autos à Primeira Seção desta Corte, para redistribuição.

EDcl na SEC 11616 / EXRelator(a): Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONhA (1123)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 02/12/2015Ementa: PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE OMISSõES NO ACóRDÃO. ART. 535 DO CPC. ERROR IN JUDICANDO. INEXISTÊNCIA. PROVAS. MATÉRIA FÁTICA. 1. Afasta-se a alegada violação do art. 535, II, do CPC na hipótese em que o não acatamento das argumentações deduzidas no recurso tenha como consequência apenas decisão desfavorável aos interesses do recorrente. 2. Homologa-se a sentença estrangeira de divórcio na qual também se decide sobre partilha de bens, havendo determinação de que seja vendida propriedade situada em território nacional, já que as disposições do inciso II do art. 89 do Código de Processo Civil aplicam-se às hipóteses de partilha por sucessão causa mortis. 3. Embargos declaratórios rejeitados.

EDcl na SEC 11117 / EXRelator(a): Ministro RAUL ARAÚJO (1143)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 18/11/2015Ementa: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NA SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. OMISSÃO. OCORRÊNCIA. NOME DE SOLTEIRA. UTILIZAÇÃO PELA REQUERIDA. PREVISÃO NA SENTENÇA hOMOLOGADA. VÍCIO SANADO. EMBARGOS DECLARATóRIOS ACOLhIDOS.

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EDcl na SEC 10658 / EXRelator(a): Ministro hUMBERTO MARTINS (1130)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 18/11/2015Ementa: DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO. PROCESSUAL CIVIL. SENTENÇA ESTRANGEIRA. ARBITRAGEM. hOMOLOGAÇÃO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. INTEMPESTIVIDADE. ART. 536 DO CPC. NÃO CONHECIMENTO. Embargos de declaração interpostos em 24.10.2014 contra o acórdão publicado em 16.10.2014 (fl. 320), nos quais se evidencia a intempestividade, uma vez que não observado o prazo de cinco dias, findo em 21.10.2014, em desatenção ao previsto no art. 536 do Código de Processo Civil; assim, impõem-se a negativa de cognição recursal. Embargos de declaração não conhecidos.

EDcl nos EDcl na SEC 9021 / EXRelator(a): Ministro FELIX FISChER (1109)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 07/10/2015Ementa: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NA SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. PEDIDO DE NOVA SUSTENTAÇÃO ORAL. ART. 159 DO RISTJ. NÃO CABIMENTO. PETIÇÃO AVULSA CONTENDO PEDIDO DE ANULAÇÃO DE TODOS OS ATOS DO PROCESSO. AUSÊNCIA DE AMPARO LEGAL. CONTRADIÇÃO, OBSCURIDADE E OMISSÃO. NÃO OCORRÊNCIA. EFEITO INFRINGENTE. REEXAME DA MATÉRIA. INVIABILIDADE. EMBARGOS REJEITADOS. I - Não é cabível pedido de nova sustentação oral em sede de embargos declaratórios, a teor do disposto no art. 159 do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça. II - Os pedidos formulados na petição intitulada de “arguição de nulidade absoluta de atos postulatórios do advogado da Itaipu e dos atos decisórios todos ab initio” não merecem ser conhecidos, uma vez que não encontram qualquer amparo legal. Eventual arguição de suspeição do Relator, por exemplo, demanda instauração de incidente específico próprio, mostrando-se, no ponto, equivocada a forma jurídica ora empregada. III - Os embargos declaratórios são destinados a sanar omissão, obscuridade ou contradição na decisão embargada, que sejam relevantes para o desfecho da causa. Daí o seu caráter integrador. Em regra, não possuem a natureza de recurso de revisão, sendo, por isso mesmo, insuscetíveis de efeitos infringentes. IV - In casu, verifico que a ora embargante, à conta de contradição, obscuridade e omissão no r. decisum, pretende, na verdade, o reexame de matéria já apreciada quando do julgamento do pedido de homologação da sentença e dos embargos precedentes, finalidade para qual não se presta o presente apelo, ressalvadas as hipóteses excepcionais, que não foram evidenciadas na espécie. Pedido de sustentação oral indeferido. Petição de “arguição de nulidade absoluta de atos postulatórios do advogado da Itaipu e dos atos decisórios todos ab initio” não conhecida. Embargos de declaração rejeitados.

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HABEAS CORPUS

HC 333902 / DF - HABEAS CORPUS Relator(a): Ministra MARIA ThEREZA DE ASSIS MOURA órgão Julgador: Superior Tribunal de Justiça. 6ª Turma Julgamento: 27/10/2015 Ementa: CONSTITUCIONAL. INTERNACIONAL. hABEAS CORPUS. REFUGIADO. EXPULSÃO. VIOLAÇÃO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL. CONVENÇÃO DAS NAÇõES UNIDAS SOBRE O ESTATUTO DOS REFUGIADOS. LEI 9.474/97. ORDEM CONCEDIDA. 1. Trata-se de Habeas Corpus contra decreto de expulsão impetrado por estrangeiro que cometeu crime após a concessão de refúgio, sendo condenado por sentença penal transitada em julgado. 2. A jurisprudência do STF e do STJ pacificou o entendimento de que, ao analisar o ato de expulsão, não poderá o Judiciário substituir-se à atuação da chefia do Executivo na avaliação da sua conveniência, necessidade, oportunidade e utilidade, devendo limitar-se à análise do cumprimento formal dos requisitos e à inexistência de óbices à expulsão. 3. A garantia do devido processo legal constitui direito fundamental assegurado pelo art. 5º, LV, da Constituição Federal aos brasileiros e estrangeiros residentes no país, também encontrando previsão expressa na Convenção das Nações Unidas sobre o Estatuto dos Refugiados e na Lei 9.474/97, pelo que a conclusão de processo administrativo em que seja declarada a perda da condição de refugiado, assegurado o contraditório e a ampla defesa, deve ser reconhecida como limitação ao poder discricionário do Executivo para expulsar um estrangeiro que ostente a condição de refugiado. 4. Hipótese em que a portaria de expulsão foi editada sem que tivesse sido levada em consideração a condição de refugiado do paciente, tendo o próprio impetrado informado estar a medida de expulsão sobrestada, já que “enquanto o interessado detiver o status de refugiado, a expulsão não poderá ser efetivada, sendo condicionada à perda do refúgio, observados o devido processo legal e a ampla defesa” (e-STJ, fl. 58). 5. É nula a portaria de expulsão editada contra refugiado antes de instaurado regular processo administrativo de perda do refúgio, não podendo o ato ter seus efeitos suspensos para ser convalidado por procedimento administrativo posterior. Ordem concedida.

HC 304112 / DF – Habeas CorpusRelator(a): MINISTRO NAPOLEÃO NUNES MAIA FILhO órgão Julgador: Superior Tribunal de JustiçaJulgamento: 14/10/2015Ementa: PENAL. PROCESSUAL PENAL. INTERNACIONAL. hABEAS CORPUS. EXPULSÃO DE ESTRANGEIRA QUE CUMPRIU PENA POR CRIME DE FURTO NO BRASIL. INGRESSO DA UNIÃO. IMPOSSIBILIDADE DE INTERVENÇÃO DE TERCEIROS EM hABEAS CORPUS. PRECEDENTES DA CORTE. PACIENTE COM QUATRO FILhOS NASCIDOS NO PAÍS, UM DELES ANTES

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DO DECRETO EXPULSóRIO. PRESUNÇÃO DA DEPENDÊNCIA ECONÔMICA E AFETIVA EM RELAÇÃO à MÃE, POR SE TRATAR DE FILhOS ENTRE 4 E 14 ANOS. DIREITO CONSTITUCIONAL DA CRIANÇA AO CONVÍVIO FAMILIAR E à PROTEÇÃO INTEGRAL. CONVENÇÃO DA ONU SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA, ENTRE OS QUAIS O DE MANTER RELAÇõES PESSOAIS COM GENITORES. RECONhECIMENTO PELA AUTORIDADE IMPETRADA DE NÃO SER CASO DE EXPULSÃO EM RAZÃO DA EXISTÊNCIA DE PROLE.1. Não cabe intervenção de terceiros, no caso a União, no processo de habeas Corpus, por se tratar de rito célere, sumaríssimo e de proteção urgente ao direito de ir e vir. Precedentes do STJ. 2. Preenche um dos requisitos da não-expulsão a existência de filhos, mesmo que o parto tenha ocorrido depois do decreto expulsório. No presente caso, porém, a primeira filha da paciente nasceu antes do decreto de expulsão.

RECLAMAÇÃO

Rcl 26410 / SPRelator(a): Ministra MARIA ThEREZA DE ASSIS MOURA (1131)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 02/12/2015Data da Publicação: DJe 14/12/2015Ementa: RECLAMAÇÃO. SENTENÇA ESTRANGEIRA hOMOLOGADA. EXECUÇÃO DO TÍTULO JUDICIAL. USURPAÇÃO DE COMPETÊNCIA DESTA CORTE. NÃO OCORRÊNCIA. PEDIDO IMPROCEDENTE. 1. Não usurpa a competência desta Corte a decisão proferida em sede de execução de título judicial oriundo de sentença estrangeira homologada, que determina a inclusão de pessoa física representante da sociedade executada no polo passivo da ação em razão da desconsideração da personalidade jurídica da empresa. 2. Trata-se, na verdade, de mero desdobramento da execução do título judicial homologado, que compete ao juízo da execução, não a esta Corte. 3. Pedido improcedente.

Rcl 26410 / SPRelator(a): Ministra MARIA ThEREZA DE ASSIS MOURA (1131)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 02/12/2015Ementa: RECLAMAÇÃO. SENTENÇA ESTRANGEIRA hOMOLOGADA. EXECUÇÃO DO TÍTULO JUDICIAL. USURPAÇÃO DE COMPETÊNCIA DESTA CORTE. NÃO OCORRÊNCIA. PEDIDO IMPROCEDENTE. 1. Não usurpa a competência desta Corte a decisão proferida em sede de execução de título judicial oriundo de sentença estrangeira homologada, que determina a inclusão de pessoa física representante da sociedade executada no polo passivo da ação em razão da desconsideração da personalidade jurídica da empresa. 2. Trata-se, na verdade, de

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mero desdobramento da execução do título judicial homologado, que compete ao juízo da execução, não a esta Corte. 3. Pedido improcedente.

RECURSO ORDINÁRIO

RO 60 / RJ – RECURSO ORDINÁRIORelator(a): Ministro LUIS FELIPE SALOMÃOórgão Julgador: S2 - SEGUNDA SEÇÃOJulgamento: 09/12/2015Ementa: RECURSO ORDINÁRIO - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - BARCO DE PESCA BRASILEIRO AFUNDADO NA COSTA BRASILEIRA, EM PERÍODO DE GUERRA, POR NAVIO ALEMÃO - ESTADO ESTRANGEIRO - IMUNIDADE ABSOLUTA. 1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, sobre o caso específico, firmou-se no sentido de que não é possível a responsabilização da República Federal da Alemanha por ato de guerra, tendo em vista tratar-se de manifestação de ato de império. 2. Precedentes de ambas as Turmas que compõem a Seção Especializada. 3. Recurso desprovido.

RECURSO EM HABEAS CORPUS

RHC 56005 / SP - RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUSRelator(a): Ministro JORGE MUSSI (1138)órgão Julgador: T5 - QUINTA TURMAData do Julgamento: 21/05/2015Ementa: RECURSO ORDINÁRIO EM hABEAS CORPUS. PRODUÇÃO E FOTOGRAFIA DE CENA PORNOGRÁFICA ENVOLVENDO CRIANÇA, DIVULGAÇÃO DE IMAGENS OU FOTOGRAFIAS COM CONTEÚDO PORNOGRÁFICO INFANTIL E ARMAZENAMENTO DE ARQUIVOS CONTENDO CENAS OU IMAGENS PORNOGRÁFICAS OU DE SEXO EXPLÍCITO ENVOLVENDO CRIANÇAS OU ADOLESCENTES. UTILIZAÇÃO DE FóRUNS NA INTERNET E SITE EM REDE OCULTA NA INTERNET. TRANSNACIONALIDADE DO DELITO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. 1. De acordo com o artigo 109, inciso V, da Constituição Federal, compete aos Juízes Federais processar e julgar “os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente”. 2. No caso dos autos, o crime em tese praticado pelo recorrente consta daqueles cujo combate o Brasil se comprometeu perante a comunidade internacional, ao aderir à Convenção sobre os Direitos da Criança e do Adolescente, promulgada no ordenamento jurídico pátrio pelo Decreto 99.710/1990. 3. Para que a competência da Justiça Federal seja firmada, não basta que o Brasil seja signatário da referida Convenção, sendo

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imprescindível a comprovação da internacionalidade da conduta atribuída ao acusado. Precedente. 4. Na hipótese em apreço, a forma como o recorrente disponibilizaria, transmitiria, publicaria e divulgaria arquivos contendo pornografia ou cenas de sexo explícito envolvendo crianças ou adolescentes permitira o seu acesso por pessoas em qualquer local do mundo, bastando que também participassem dos mesmos fóruns que ele, ou que também acessassem sites na rede oculta chamada deep web, circunstância que revela a transnacionalidade da conduta narrada na exordial acusatória e justifica a competência da Justiça Federal para processar e julgar o feito. PRISÃO PREVENTIVA. REQUISITOS. PREENChIMENTO. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. GRAVIDADE CONCRETA DO DELITO. MODUS OPERANDI. PERICULOSIDADE DO AGENTE. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA E CONSTITUCIONAL. 1. Não há que se falar em constrangimento ilegal quando a custódia cautelar está devidamente justificada na garantia da ordem pública, em razão da gravidade concreta do delito em tese praticado e da periculosidade do agente, bem demonstradas pelo modus operandi empregado. PRISÃO CAUTELAR. INCIDÊNCIA DA LEI 12.403/2011. IMPOSSIBILIDADE. MOTIVAÇÃO IDÔNEA PARA A SEGREGAÇÃO CORPORAL. INSUFICIÊNCIA DAS MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS. ILEGALIDADE AUSENTE. DESPROVIMENTO DO RECLAMO. 1. Inviável a incidência de medidas cautelares diversas da prisão quando há motivação apta a justificar o sequestro corporal. 2. Recurso desprovido.

RHC 58308 / RJ – RECURSO EM HABEAS CORPUSRelator(a): Ministra MARIA ThEREZA DE ASSIS MOURA órgão Julgador: Superior Tribunal de Justiça. 6ª Turma Julgamento: 27/10/2015 Ementa: RECURSO ORDINÁRIO EM hABEAS CORPUS. ART. 37 DA LEI 11.343/06. PRISÃO EM FLAGRANTE. CONVERSÃO EM PREVENTIVA. AUSÊNCIA DE REALIZAÇÃO DE AUDIÊNCIA DE CUSTóDIA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL. INOCORRÊNCIA. PACTO DE SÃO JOSÉ DA COSTA RICA. IMPLEMENTAÇÃO GRADATIVA DO ATO. CUSTóDIA ANTERIOR à RESOLUÇÃO ESTADUAL. DESPROVIMENTO. 1. A Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica) e o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos preveem a realização de audiência de apresentação ou de custódia, determinando a apresentação do preso à autoridade judiciária “sem demora”. O Conselho Nacional de Justiça, em fevereiro de 2015, lançou o Projeto “Audiência de Custódia”, e os Tribunais estaduais têm editado normas visando sua implementação de forma gradativa. O Supremo Tribunal Federal, em 9.9.2015, nos autos da ADPF 347, deferiu medida cautelar para determinar que os juízes e tribunais viabilizem, em até 90 dias, a realização de audiências de custódia, possibilitando a apresentação do preso à autoridade judiciária no prazo máximo de 24 horas. 2. A não realização de audiência de custódia, no caso concreto, não enseja a ilegalidade da prisão cautelar. In casu, a prisão em flagrante

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ocorreu em 14.11.2014, antes da Resolução 29/2015, que disciplina a audiência de custódia no âmbito do estado do Rio de Janeiro, e antes do prazo estabelecido pelo Supremo Tribunal Federal. Dessarte, não há falar em ilegalidade da prisão provisória do recorrente. 3. Recurso ordinário desprovido.

RHC 57763 / PR - RECURSO EM HABEAS CORPUSRelator(a): Ministra MARIA ThEREZA DE ASSIS MOURAPublicação: DJ 06/04/2015Ementa: RECURSO ORDINÁRIO EM hABEAS CORPUS. ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA ARMADA.TRÁFICO E ASSOCIAÇÃO PARA O NARCOTRÁFICO DE ENTORPECENTES COMENVOLVIMENTO DE MENORES. INDÍCIOS DE AUTORIA. PRESENÇA. NEGATIVA DEPARTICIPAÇÃO NO ILÍCITO. INVIABILIDADE DE EXAME NA VIA ELEITA.PRISÃO PREVENTIVA. SEGREGAÇÃO FUNDADA NO ART. 312 DO CPP.CIRCUNSTâNCIAS DO DELITO. QUANTIDADE. NATUREZA DELETÉRIA. FORMA DEACONDICIONAMENTO. GRAVIDADE. POTENCIALIDADE LESIVA DA INFRAÇÃO.hISTóRICO CRIMINAL DO AGENTE. REITERAÇÃO CRIMINOSA. PROBABILIDADECONCRETA. PERICULOSIDADE SOCIAL. NECESSIDADE DE ACAUTELAMENTO DAORDEM PÚBLICA. CONDIÇõES PESSOAIS FAVORÁVEIS. IRRELEVâNCIA. MEDIDASCAUTELARES DIVERSAS. INSUFICIÊNCIA. SEGREGAÇÃO JUSTIFICADA ENECESSÁRIA. COAÇÃO ILEGAL NÃO EVIDENCIADA. RECLAMO IMPROVIDO.1. Para a decretação da prisão preventiva não se exige prova concludente da autoria delitiva, reservada à condenação criminal,mas apenas indícios suficientes desta, que se fazem presentes, tanto que o paciente findou denunciado.2. A análise acerca da negativa de autoria é questão que não pode ser dirimida em sede de habeas corpus, por demandar o reexame a profundado das provas, vedado na via sumária eleita.3. Não há ilegalidade na ordenação e manutenção da prisão preventiva quando demonstrado, com base em fatores concretos, que se mostra necessária, dada a gravidade diferenciada da conduta incriminada, bem como em razão do efetivo risco de continuidade das práticas delitivas.4. Caso em que o recorrente foi denunciado por se associar a dois corréus, de forma estável e permanente, para integrar organização criminosa armada voltada à traficância, na cidade de Belo horizonte, tendo cada integrante uma função específica, circunstâncias que evidenciam a sua periculosidade social, autorizando a preventiva.5. A atuação contínua do grupo criminoso evidencia a habitualidade, revelando a probabilidade concreta de continuidade no cometimento das graves infrações, o que impõe a manutenção da medida de exceção para fazer cessar a prática criminosa, evitando a reiteração.6. O decreto de segregação mostra-se fundamentado e necessário parao bem da ordem e saúde públicas, visando a interromper a atuação dos integrantes da associação criminosa, pois há sérios riscos das atividades ilícitas serem retomadas com a soltura.7. A natureza altamente lesiva e a quantidade

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de porções do material tóxico capturado, somados à forma de acondicionamento - parte do entorpecente estava previamente separado em embalagens individuais, prontas para revenda - e à apreensão de apetrechos próprios para a preparação dos entorpecentes para posterior comercialização, são fatores que revelam dedicação maior à narcotraficância, justificando a preventiva.8. Condições pessoais favoráveis não têm, em princípio, o condão de, isoladamente, revogar a prisão cautelar, se há nos autos elementos suficientes a demonstrar a sua necessidade, consoante ocorre in casu.9. Indevida a aplicação de medidas cautelares diversas da prisão quando a segregação encontra-se justificada na gravidade do delito cometido e na necessidade de se evitar a reiteração delitiva.10. Recurso ordinário improvido.

RHC 59980 / RJ - RECURSO ORDINARIO EM HABEAS CORPUSRelator(a): Ministro GURGEL DE FARIA (1160)órgão Julgador: Superior Tribunal de Justiça. 5ª Turma (T5 - QUINTA TURMA)Julgamento: 24/11/2015 Ementa: PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM hABEAS CORPUS. ASSOCIAÇÃO E TRÁFICO DE DROGAS. PRISÃO PREVENTIVA E EXCESSO DE PRAZO. SUPRESSÃO DE INSTâNCIA. AUSÊNCIA DE AUDIÊNCIA DE CUSTóDIA. INEXIGIBILIDADE NA ÉPOCA DA PRISÃO. CONSTRANGIMENTO NÃO CARACTERIZADO. 1. As teses de excesso de prazo na instrução criminal e ausência de fundamentação na medida extrema não comportam conhecimento, sob pena de indevida supressão de instância, uma vez que não foram suscitadas e, portanto, não examinadas pela Corte estadual. 2. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do pleito de liminar da ADPF 347/DF, proferido em 9/9/2015, nos termos dos arts. 9.3 do Pacto dos Direitos Civis e Políticos e 7.5 da Convenção Interamericana de Direitos Humanos, determinou que os magistrados e tribunais pátrios passassem a realizar, em até 90 dias, audiências de custódia, viabilizando o comparecimento do preso perante a autoridade judiciária no prazo máximo de 24 horas, contadas do momento da prisão. 3. hipótese em que, na época da prisão em flagrante do paciente (08/12/2014) - antes do aludido entendimento firmado pela Suprema Corte - não se exigia a implementação da audiência de custódia. 4. Recurso ordinário desprovido.

RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA

RMS 48316 / MG - RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇARelator(a): Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVAPublicação: DJ 30/06/2015Ementa: RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 48.316 - MG (2015/0106718-5) RELATOR : MINISTRO OG FERNANDES RECORRENTE : VICTOR hUGO ARRUDA RECORRENTE : ELDER CARMO DOS SANTOS RECORRENTE : ANDERSON SANTOS DA SILVA RECORRENTE : MARIO

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FERNANDES VIEIRA ADVOGADO : FERNANDA VIEIRA DE OLIVEIRA E OUTRO (S) RECORRIDO : ESTADO DE MINAS GERAIS PROCURADOR : JULIANA CAMPOS hORTA DE ANDRADE E OUTRO (S) DESPAChO Trata-se de consulta encaminhada pelo eminente Ministro Og Fernandes (e-STJ fl. 30, do expediente avulso) acerca de eventual prevenção tendo em vista a apreciação da MC nº 23.127/MG. É o relatório. DECIDO. Não identifico hipótese de prevenção. Nos termos do art. 71, caput, do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça, “a distribuição do mandado de segurança, do habeas corpus e do recurso torna preventa a competência do relator para todos os recursos posteriores, tanto na ação quanto na execução referentes ao mesmo processo; (...)” (grifou-se). No caso em apreço, os processos que deram origem ao presente recurso ordinário e à MC nº 23.137/MG são oriundos de ações distintas. O recurso ordinário é originário de mandado de segurança que teve seu trâmite perante a 6ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais. Já a MC nº 23.127/MG visava atribuir efeito suspensivo a recurso especial proveniente de ação de reintegração de posse que corre na 15ª Vara Cível da Comarca de Belo Horizonte. Além disso, nota-se que o mandado de segurança que deu origem ao presente recurso ordinário foi impetrado contra atos do Comandante Geral da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais e do Governador do Estado de Minas Gerais que teriam supostamente descumprindo normas administrativas que regulamentam a forma pela qual o reforço policial deve atuar no processo de desalojamento de assentamentos humanos. Cuida-se, assim, de competência da Primeira Seção, conforme o disposto no artigo 9º, § 1º, incisos II e XIV, do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça. Ante o exposto, devolvam-se os autos, com urgência, ao eminente Ministro Og Fernandes. Publique-se. Brasília-DF, 26 de junho de 2015. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA Ministro

RECURSO ESPECIAL

REsp 1362400 / SP - RECURSO ESPECIALRelator(a): Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZEórgão Julgador: T3 - TERCEIRA TURMAData do Julgamento: 28/04/2015Ementa: RECURSO ESPECIAL. DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO. AÇÃO DE SONEGADOS PROMOVIDA PELOS NETOS DA AUTORA DA hERANÇA (E ALEGADAMENTE hERDEIROS POR REPRESENTAÇÃO DE SEU PAI, PRÉ-MORTO) EM FACE DA FILhA SOBREVIVENTE DA DE CUJUS, REPUTADA hERDEIRA ÚNICA POR TESTAMENTO CERRADO E CONJUNTIVO FEITO EM 1943, EM MEIO A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL, NA ALEMANhA, DESTINADA A SOBREPARTILhAR BEM IMóVEL SITUADO NAQUELE PAÍS (OU O PRODUTO DE SUA VENDA). 1. LEI DO DOMICÍLIO DO AUTOR DA hERANÇA PARA REGULAR A CORRELATA SUCESSÃO. REGRA QUE

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COMPORTA EXCEÇÃO. EXISTÊNCIA DE BENS EM ESTADOS DIFERENTES. 2. JURISDIÇÃO BRASILEIRA. NÃO INSTAURAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE DE DELIBERAR SOBRE BEM SITUADO NO EXTERIOR. ADOÇÃO DO PRINCÍPIO DA PLURALIDADE DOS JUÍZOS SUCESSóRIOS. 3. EXISTÊNCIA DE IMóVEL SITUADO NA ALEMANhA, BEM COMO REALIZAÇÃO DE TESTAMENTO NESSE PAÍS. CIRCUNSTâNCIAS PREVALENTES A DEFINIR A LEX REI SITAE COMO A REGENTE DA SUCESSÃO RELATIVA AO ALUDIDO BEM. APLICAÇÃO. 4. PRETENSÃO DE SOBREPARTILhAR O IMóVEL SITO NA ALEMANhA OU O PRODUTO DE SUA VENDA. INADMISSIBILIDADE. RECONhECIMENTO, PELA LEI E PELO PODER JUDICIÁRIO ALEMÃO, DA CONDIÇÃO DE hERDEIRA ÚNICA DO BEM. INCORPORAÇÃO AO SEU PATRIMÔNIO JURÍDICO POR DIREITO PRóPRIO. LEI DO DOMICILIO DO DE CUJUS. INAPLICABILIDADE ANTES E DEPOIS DO ENCERRAMENTO DA SUCESSÃO RELACIONADA AO IMóVEL SITUADO NO EXTERIOR. 5. IMPUTAÇÃO DE MÁ-FÉ DA INVENTARIANTE. INSUBSISTÊNCIA. 6. RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO. 1. A lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro (LINDB) elegeu o domicílio como relevante regra de conexão para solver conflitos decorrentes de situações jurídicas relacionadas a mais de um sistema legal (conflitos de leis interespaciais), porquanto consistente na própria sede jurídica do indivíduo. Em que pese a prevalência da lei do domicílio do indivíduo para regular as suas relações jurídicas pessoais, conforme preceitua a LINDB, esta regra de conexão não é absoluta. 1.2 Especificamente à lei regente da sucessão, pode-se assentar, de igual modo, que o art. 10 da LINDB, ao estabelecer a lei do domicílio do autor da herança para regê-la, não assume caráter absoluto. A conformação do direito internacional privado exige a ponderação de outros elementos de conectividade que deverão, a depender da situação, prevalecer sobre a lei de domicílio do de cujus. Na espécie, destacam-se a situação da coisa e a própria vontade da autora da herança ao outorgar testamento, elegendo, quanto ao bem sito no exterior, reflexamente a lei de regência. 2. O art. 10, caput, da LINDB deve ser analisado e interpretado sistematicamente, em conjunto, portanto, com as demais normas internas que regulam o tema, em especial o art. 8º, caput, e § 1º do art. 12, ambos da LINDB e o art. 89 do CPC. E, o fazendo, verifica-se que, na hipótese de haver bens imóveis a inventariar situados, simultaneamente, aqui e no exterior, o Brasil adota o princípio da pluralidade dos juízos sucessórios. 2.1 Inserem-se, inarredavelmente, no espectro de relações afetas aos bens imóveis aquelas destinadas a sua transmissão/alienação, seja por ato entre vivos, seja causa mortis, cabendo, portanto, à lei do país em que situados regê-las (art. 8º, caput, LINDB). 2.2 A Jurisdição brasileira, com exclusão de qualquer outra, deve conhecer e julgar as ações relativas aos imóveis situados no país, assim como proceder ao inventário e partilha de bens situados no Brasil, independente do domicílio ou da nacionalidade do autor da herança (Art. 89 CPC e § 2º do art. 12 da LINDB) 3. A existência de imóvel situado na Alemanha, bem como a realização de testamento nesse país são circunstâncias

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prevalentes a definir a lex rei sitae como a regente da sucessão relativa ao aludido bem (e somente a ele, ressalta-se), afastando-se, assim, a lei brasileira, de domicílio da autora da herança. Será, portanto, herdeiro do aludido imóvel quem a lei alemã disser que o é. E, segundo a decisão exarada pela Justiça alemã, em que se reconheceu a validade e eficácia do testamento efetuado pelo casal em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial, a demandada é a única herdeira do imóvel situado naquele país (ante a verificação das circunstâncias ali referidas - morte dos testadores e de um dos filhos). 3.1 Esta decisão não tem qualquer repercussão na sucessão aberta – e concluída - no Brasil, relacionada ao patrimônio aqui situado. De igual modo, a jurisdição brasileira, porque também não instaurada, não pode proceder a qualquer deliberação quanto à extensão do que, na Alemanha, restou decidido sobre o imóvel lá situado. 4. O imóvel situado na Alemanha (ou posteriormente, o seu produto), de acordo com a lei de regência da correspondente sucessão, passou a integrar o patrimônio jurídico da única herdeira. A lei brasileira, de domicílio da autora da herança, não tem aplicação em relação à sucessão do referido bem, antes de sua consecução, e, muito menos, depois que o imóvel passou a compor a esfera jurídica da única herdeira. Assim, a providência judicial do juízo sucessório brasileiro de inventariar e sobrepartilhar o imóvel ou o produto de sua venda afigurar-se-ia inexistente, porquanto remanesceria não instaurada, de igual modo, a jurisdição nacional. E, por consectário, a pretensão de posterior compensação revela-se de todo descabida, porquanto significaria, em última análise, a aplicação indevida e indireta da própria lei brasileira. 5. O decreto expedido pelo Governo alemão, que viabilizara a restituição de bens confiscados aos proprietários que comprovassem a correspondente titularidade, é fato ocorrido muito tempo depois do encerramento da sucessão aberta no Brasil e que, por óbvio, refugiu, a toda evidência, da vontade e do domínio da inventariante. Desde 1983, a ré, em conjunto com os autores, envidou esforços para obter a restituição do bem. E, sendo direito próprio, já que o bem passou a integrar seu patrimônio jurídico, absolutamente descabido exigir qualquer iniciativa da ré em sobrepartilhar tal bem, ou o produto de sua venda. Do que ressai absolutamente infundada qualquer imputação de má-fé à pessoa da inventariante. 6. Recurso especial improvido.

REsp 1485026 / PR – Recurso EspecialRelator(a): MINISTRO MAURO CAMPBELL MARQUES Julgamento: 01/12/2015 Ementa: DIREITO TRIBUTÁRIO INTERNACIONAL. CONTRIBUIÇõES AO PIS E COFINS IMPORTAÇÃO. ART. 7º DO TRATADO DE ASSUNÇÃO (MERCOSUL). DECRETO N. 350/91. INAPLICABILIDADE DA “CLÁUSULA DE OBRIGAÇÃO DE TRATAMENTO NACIONAL” EM RELAÇÃO AO ART. 9º, III E §§ 1º E 2º DA LEI N. 10.925/2004 QUE ESTABELECE A SUSPENSÃO DAS CONTRIBUIÇõES AO PIS E COFINS NAS RECEITAS DE VENDAS INTERNAS. 1.Trata-se na origem de ação ajuizada pela empresa com o objetivo de reconhecer direito de atribuir ao

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produto que importa dos países signatários do tratado de Assunção (MERCOSUL), no caso importação de 1.0000 T (mil toneladas) de milho amarelo, em grãos, de produção paraguaia, adquiridas de empresa sediada no Paraguai, tratamento igual, quanto à incidência das contribuições ao PIS/COFINS - Importação, em relação ao produto similar quando adquirido em território nacional e submetido às contribuições ao PIS/COFINS no mercado interno, por força da cláusula de “Obrigação de Tratamento Nacional” prevista no art. 7º, do Decreto n. 350/91 (Promulga o Tratado para a Constituição de um Mercado Comum entre a República Argentina, a República Federativa do Brasil, a República do Paraguai e a República Oriental do Uruguai - Tratado MERCOSUL ou Tratado de Assunção). 2.O entendimento deste colegiado firmado por ocasião do julgamento do REsp. n.1.437.172/RS, Segunda Turma, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Rel. p/acórdão Min. Herman Benjamin, julgado em 15.09.2015 é no sentido de que a cláusula de Obrigação de Tratamento Nacional não alberga a relação existente entre as contribuições ao PIS/PASEP e COFINS - Importação e as contribuições ao PIS/PASEP e COFINS não-cumulativas internas. 3.Rendo-me à jurisprudência recentemente firmada nesta Turma, contudo registro a ressalva de meu entendimento pessoal. 4.Recurso especial não provido

REsp 1216610 / RJ - RECURSO ESPECIALRelator(a): Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES (1141)órgão Julgador: T2 - SEGUNDA TURMAData do Julgamento: 26/05/2015Ementa: DIREITO TRIBUTÁRIO INTERNACIONAL. ISENÇÃO TRIBUTÁRIA. ACORDO INTERNACIONAL PARA EVITAR A DUPLA TRIBUTAÇÃO EM MATÉRIA DE IMPOSTOS SOBRE A RENDA E O CAPITAL, BRASIL - REPÚBLICA FEDERAL DA ALEMANhA (DECRETO N. 76.988/76). RECIPROCIDADE NÃO DEMONSTRADA. COBRANÇA DE CPMF NO BRASIL. BITRIBUTAÇÃO. NÃO OCORRêNCIA. 1. O objeto do acordo internacional, no que interessa ao presente caso, são os impostos incidentes sobre os lucros provenientes da exploração no tráfego internacional, notadamente o imposto de renda (no Brasil e na Alemanha) e quaisquer outros impostos idênticos ou substancialmente semelhantes que forem posteriormente criados. 2. Para haver uma dupla tributação internacional é indispensável que ocorra a identidade do elemento material do fato gerador. No presente caso, o típico fato gerador da CPMF é o lançamento a débito, por instituição financeira, em contas correntes de titularidade do contribuinte. Sendo assim, a tributação pela CPMF não se trata de tributação sobre a aquisição de lucro ou renda (tributação abrangida pelo acordo), mas sim tributação sobre a circulação, no caso, circulação escritural ou física de valores (tributação não abrangida pelo acordo). 3. Desse modo, não tributando diretamente a renda, mas a movimentação em si, há diversos fatos geradores (elementos materiais diferentes), descabendo falar em bitributação ou dupla tributação internacional quando há a incidência do Imposto de Renda (Alemão), cujo fato gerador é a aquisição de

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renda, situação que, inclusive, ocorre em momento anterior ao envio do valor para o país de bandeira (no caso, Alemanha), muito embora possa ser tributada apenas posteriormente. 4. A diferenciação dessas duas bases imponíveis (movimentação financeira e receita) já foi feita pelo Supremo Tribunal Federal em sede de repercussão geral, in verbis: “A CPMF não foi contemplada pela referida imunidade, porquanto a sua hipótese de incidência - movimentações financeiras - não se confunde com as receitas” (RE n. 566.259/RS, Tribunal Pleno, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Dje 24/9/2010). 5. Quanto à reciprocidade, do acórdão a quo não consta ter ocorrido a demonstração, por parte da CONTRIBUINTE, da existência de tributo semelhante à CPMF (com idêntico fato gerador) na Alemanha para o qual aquele país tenha concedido a isenção para as empresas sediadas no Brasil. 6. Recurso especial não provido.

REsp 1214408 / RJ - RECURSO ESPECIALRelator(a): Ministro SÉRGIO KUKINA (1155)órgão Julgador: T1 - PRIMEIRA TURMAData do Julgamento: 23/06/2015Ementa: DIREITO INTERNACIONAL E PROCESSUAL CIVIL. CONVENÇÃO DE hAIA SOBRE OS ASPECTOS CIVIS DO SEQUESTRO INTERNACIONAL DE CRIANÇAS. DOIS IRMÃOS MENORES ALEGADAMENTE RETIDOS DE MODO INDEVIDO PELA MÃE NO BRASIL. PRIMOGÊNITO QUE JÁ COMPLETOU 16 ANOS. NÃO INCIDÊNCIA DA CONVENÇÃO. MANIFESTAÇÃO DO IRMÃO MENOR QUE CONTESTA SEU RETORNO PARA O DOMICÍLIO ESTRANGEIRO PATERNO. OPINIÃO DEVIDAMENTE CONSIDERADA NOS TERMOS DOS ARTS. 13 DA CONVENÇÃO DE hAIA E 12 DA CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA. MANUTENÇÃO DOS MENORES NO BRASIL. RECURSO ESPECIAL DA UNIÃO CONhECIDO E DESPROVIDO. 1. Ainda que comprovada a conduta da genitora em reter indevidamente seus dois filhos menores no Brasil, deixando de retornar para a residência habitual na Argentina, onde residia o pai das crianças (circunstância rejeitada pelo acórdão recorrido), mesmo assim e em situações excepcionalíssimas, nos termos da Convenção de Haia e no propósito de se preservar o superior interesse dos menores, possível será o indeferimento do pedido de imediato retorno dos infantes. 2. No caso concreto, tal como avaliado pela Corte regional de origem, com base em idôneo acervo probatório, os menores já se encontravam adaptados ao novo meio, contexto confirmado, posteriormente, em audiência de tentativa conciliatória realizada neste STJ, ocasião em que os infantes manifestaram o desejo de não regressar para o domicílio estrangeiro paterno. Filho mais velho que, tendo completado 16 anos, não mais se submete à Convenção de Haia, nos termos de seu art. 4º. 3. Nos termos do art. 13 da Convenção de haia e do art. 12 da Convenção Internacional Sobre os Direitos da Criança, deve-se levar em conta a manifestação da criança que revele maturidade capaz de compreender a controvérsia

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resultante da desinteligência de seus pais sobre questões de seu interesse. 4. Recurso especial do Ministério Público Federal não conhecido. Recurso especial da União conhecido e desprovido.

REsp 1177910 / SERelator(a): Ministro HERMAN BENJAMINPublicação: DJ 25/10/2010Ementa: RECURSO ESPECIAL Nº 1.177.910 - SE (2010/0009495-0) RELATOR : MINISTRO hERMAN BENJAMIN RECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SERGIPE RECORRIDO : RENATO SANTANA DE OLIVEIRA E OUTROS ADVOGADOS : ARIVALDO BARRETO CONCEIÇÃO JUNIOR ARNALDO DE A MAChADO JÚNIOR RECORRIDO : ISAQUE hÉVERTON DIAS CANGUSSU ADVOGADOS : ARIVALDO BARRETO CONCEIÇÃO JUNIOR ARNALDO DE A MAChADO JÚNIOR E OUTRO (S) DECISÃO A matéria tratada no presente recurso — improbidade administrativa de Delegados de Polícia pela prática, em tese, de tortura — está suspensa, aguardando voto-vista (Recurso Especial 1.081.743/SP). Diante do exposto, determino a suspensão do recurso, na forma do art. 2º, § 2º, da Resolução 8/STJ. Publique-se. Intimem-se. Brasília (DF), 18 de agosto de 2010. MINISTRO HERMAN BENJAMIN Relator (STJ - REsp: 1177910, Relator: Ministro HERMAN BENJAMIN, Data de Publicação: DJ 25/10/2010)

REsp 1438876 / SPRelator(a): Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES (1141) órgão Julgador: T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento: 18/08/2015Ementa: PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. INTERNACIONAL. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC. AUSÊNCIA DE CONTRADIÇÃO. IMPOSTO DE RENDA. REMESSA DE RENDIMENTOS AO EXTERIOR. ALTERAÇÃO DA ALÍQUOTA. APLICAÇÃO IMEDIATA DA LEI TRIBUTÁRIA. ART. 105 DO CTN. RETROATIVIDADE MÍNIMA. ART. 6º DA LINDB. APLICAÇÃO DO ART. 8º, DA MEDIDA PROVISóRIA Nº 1.788/98, CONVERTIDA POSTERIORMENTE NA LEI Nº 9.779/99, AOS CONTRATOS DE EMPRÉSTIMOS FINANCEIROS INTERNACIONAIS CELEBRADOS ANTES DA SUA VIGÊNCIA. POSSIBILIDADE. 1. Discute-se nos autos a possibilidade de aplicação do aumento de alíquota do imposto de renda para 25% incidente sobre rendimentos remetidos a países que não tributam a renda ou o fazem a alíquota inferior a 20% perpetrado pela Medida Provisória nº 1.788, de 29.12.1998, convertida posteriormente na Lei nº 9.779/99, em contratos de empréstimos financeiros internacionais celebrados à época da vigência do art. 28 da Lei nº 9.249/95, quando alíquota aplicável aos contribuintes era de 15%, independentemente do tipo de tributação da renda dos países dos beneficiários. 2. Afastada a alegada ofensa ao art. 535 do CPC, tendo em vista que a aparente

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contradição existente no acórdão recorrido se resolve da leitura do voto condutor do julgado, quando fica nítida a fundamentação no sentido do afastamento do caráter extrafiscal da exação na hipótese. Eventual malferimento dos preceitos de ordem constitucional serão enfrentados pelo Supremo Tribunal Federal quando da análise do recurso extraordinário interposto pela recorrente e admitido na origem. 3. Ainda que o contrato de empréstimo financeiro internacional tenha ocorrido na vigência do art. 28 da Lei nº 9.249/95, não há como afastar a aplicação, na hipótese, da Medida Provisória nº 1.788, de 29.12.1998, convertida posteriormente na Lei nº 9.779/99, tendo em vista que, nos termos do art. 105 do CTN, a lei tributária aplica-se imediatamente aos fatos geradores futuros e aos pendentes. Dessa forma, os rendimentos percebidos após a vigência da referida lei, a ela serão submetidos, ainda que referentes a contratos celebrados anteriormente. 4. A possibilidade de aplicação da Medida Provisória nº 1.788, de 29.12.1998, convertida posteriormente na Lei nº 9.779/99, a contratos celebrados antes de sua vigência já foi enfrentada por esta Corte, conforme se verifica dos seguintes precedentes: AgRg no REsp 865.997RJ, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, DJe 30/03/2009; REsp nº 692.748/RJ, Primeira Turma, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, julgado em 07.06.2005; REsp nº 591.357/RJ, Primeira Turma, Rel Min. Luiz Fux, julgado em 24.05.2005; REsp 671.278 / RJ, Primeira Turma, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 06.10.2005; AgRg no REsp 782.747 / RJ, Primeira Turma, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 06.12.2005. 5. Esta Corte já se manifestou sobre a impossibilidade de aplicação retroativa da lei nova para alcançar efeitos presentes e futuros de contratos celebrados anteriormente a sua vigência, afastando, assim, a chamada retroatividade mínima. Contudo, também já houve manifestação desta Corte no sentido de que a lei nova regula os efeitos presentes e futuros de contratos de trato sucessivo, pois o que se discute, em casos tais, não são “os efeitos presentes e futuros de negócio jurídico que era perfeito sob a égide da lei revogada, mas, sim, as conseqüências de negócio jurídico renovado sob os auspícios da lei nova” (REsp nº 735.168/RJ, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, DJe 26/03/2008) 6. Nessa esteira, mutatis mutandis, a novel legislação que alterou a alíquota do imposto deve incidir sobre os novos fatos geradores, a despeito da alíquota vigente à época em que foi realizado o contrato, visto que os fatos geradores do imposto de renda se renovam a cada aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica da renda a ser remetida ao exterior. 7. Recurso especial não provido.

REsp 1272897 / PERelator: Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILhO órgão Julgador: T1 - PRIMEIRA TURMAData do Julgamento: 19/11/2015Ementa: TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. PREVALÊNCIA DOS TRATADOS INTERNACIONAIS TRIBUTÁRIOS SOBRE A NORMA DE DIREITO INTERNO. CONCEITO DE LUCRO. INCIDÊNCIA DO IMPOSTO DE RENDA. EMPRESA

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COM SEDE NA ESPANHA E SEM ESTABELECIMENTO PERMANENTE INSTALADO NO BRASIL. TRATADO TRIBUTÁRIO CELEBRADO ENTRE A REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL E O REINO DA ESPANhA. Decreto 76.975/76. COBRANÇA DE TRIBUTO QUE DEVE SER EFETUADA NO PAÍS DE ORIGEM (ESPANhA). RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. A jurisprudência desta Corte Superior orienta que as disposições dos Tratados Internacionais Tributários prevalecem sobre as normas jurídicas de Direito Interno, em razão da sua especificidade, ressalvada a supremacia da Carta Magna. Inteligência do art. 98 do CTN. Precedentes: RESP 1.161.467/RS, Rel. Min. CASTRO MEIRA, DJe 1.6.2012; RESP 1.325.709/RJ, Rel. Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILhO, DJe 20.5.2014. 2. O Tratado Brasil-Espanha, objeto do Decreto 76.975/76, dispõe que os lucros de uma empresa de um Estado Contratante só são tributáveis neste mesmo Estado, a não ser que a empresa exerça sua atividade no outro Estado por meio de um estabelecimento permanente aí situado. 3. O termo lucro da empresa estrangeira deve ser interpretado não como lucro real, mas como lucro operacional, como o resultado das atividades, principais ou acessórias, que constituam objeto da pessoa jurídica, incluído, o rendimento pago como contrapartida de serviços prestados. 4. Parecer do MPF pelo conhecimento e provimento do recurso. 5. Recurso Especial da IBERDROLA ENERGIA S/A provido para assegurar o direito da recorrente de não sofrer a retenção de imposto de renda sobre a remuneração por ela percebida, nos termos que dispõe o Tratado Tributário firmado entre a República Federativa do Brasil e o Reino da Espanha.

REsp 1215550 / PE - RECURSO ESPECIAL REPETITIVORelator(a): Ministro OG FERNANDESórgão Julgador: S1 - PRIMEIRA SEÇÃOJulgamento: 23/09/2015Ementa: RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. DIREITO ADMINISTRATIVO. CURSO SUPERIOR. DIPLOMA OBTIDO NO EXTERIOR. REGISTRO EM UNIVERSIDADE BRASILEIRA. CONVENÇÃO REGIONAL SOBRE O RECONhECIMENTO DE ESTUDOS, TÍTULOS E DIPLOMAS DE ENSINO SUPERIOR NA AMÉRICA LATINA E CARIBE. VIGÊNCIA. AUSÊNCIA DE REVALIDAÇÃO AUTOMÁTICA. 1. “A Convenção Regional sobre o Reconhecimento de Estudos, Títulos e Diplomas de Ensino Superior na América Latina e no Caribe, incorporada ao ordenamento jurídico nacional por meio do Decreto n. 80.419/77, não foi, de forma alguma, revogada pelo Decreto n. 3.007, de 30 de março de 1999. Isso porque o aludido ato internacional foi recepcionado pelo Brasil com status de lei ordinária, sendo válido mencionar, acerca desse particular, a sua ratificação pelo Decreto Legislativo n. 66/77 e a sua promulgação através do Decreto n. 80.419/77. Dessa forma, não há se falar na revogação do Decreto que promulgou a Convenção da América Latina e do Caribe em foco, pois o Decreto n. 3.007/99, exarado pelo Sr. Presidente da República, não tem essa propriedade” (REsp 1.126.189/PE, Rel. Ministro

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Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJe 13/5/2010). 2. O Decreto n. 80.419/77 não contém determinação específica para revalidação automática dos diplomas emitidos em países abarcados pela referida convenção. 3. “O art. 53, inciso V, da Lei n. 9.394/96 permite à universidade fixar normas específicas a fim de disciplinar o referido processo de revalidação de diplomas de graduação expedidos por estabelecimentos estrangeiros de ensino superior, não havendo qualquer ilegalidade na determinação do processo seletivo para a revalidação do diploma, porquanto decorre da necessidade de adequação dos procedimentos da instituição de ensino para o cumprimento da norma, uma vez que de outro modo não teria a universidade condições para verificar a capacidade técnica do profissional e sua formação, sem prejuízo da responsabilidade social que envolve o ato” (REsp 1.349.445/SP, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, DJe 14/5/2013). 4. Recurso especial a que se nega provimento. Acórdão submetido ao regime do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ n. 8/2008.

REsp 1437172 / RSRelator(a): Ministro MAURO CAMPBELL MARQUESPublicação: DJ 14/05/2015Ementa: RECURSO ESPECIAL Nº 1.516.439 - PR (2015/0032008-1) RELATOR : MINISTRO MAURO CAMPBELL MARQUES RECORRENTE : COOPERATIVA AGROINDUSTRIAL ALFA ADVOGADO : RICARDO ADOLFO FELK E OUTRO (S) RECORRIDO: FAZENDA NACIONAL DESPAChO Trata-se de recurso especial onde se discute a aplicação do art. 7º do Tratado de Assunção (Mercosul - Decreto n. 350/91)às contribuições ao PIS e COFINS Importação, sob a ótica da aplicabilidade da “Cláusula de Obrigação de Tratamento Nacional” em relação ao art. 9º, I e §§ 1º e 2º da Lei n. 10.925/2004, que estabelece a suspensão das contribuições ao PIS e COFINS nas receitas de vendas internas. Informo que o tema está em julgamento no REsp. n.1437172/RS, com vista ao Min. Herman Benjamin, ou seja, o julgamento ainda não foi concluído. Em razão disso, para preservar o interesse das partes e a uniformidade na prestação jurisdicional, determino o sobrestamento do feito até a conclusão daquele julgado. Publique-se. Intimem-se. Brasília (DF), 08 de maio de 2015. MINISTRO MAURO CAMPBELL MARQUES Relator

SENTENÇA ESTRANGEIRA

SEC 13818 / EXRelator: Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES (1141)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 16/12/2015Ementa: SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. AÇÃO DE REGULAÇÃO DAS RESPONSABILIDADES PARENTAIS, ALIMENTOS E GUARDA. PORTUGAL. TRADUÇÃO JURAMENTADA. DISPENSABILIDADE.

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CONVENÇÃO DE NOVA YORK E LEI DE ALIMENTOS. LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. INSTITUIÇÃO INTERMEDIÁRIA. TRADUÇÃO JURAMENTADA E ChANCELA CONSULAR. DISPENSA. TRâNSITO EM JULGADO. COMPROVAÇÃO. REQUISITOS PREENChIDOS. COMPETÊNCIA CONCORRENTE. hOMOLOGAÇÃO DEFERIDA. 1. Nos termos dos artigos 216-D e 216-F do Regimento Interno do STJ e do art. 15 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, constituem requisitos indispensáveis à homologação de sentença estrangeira: haver sido proferida por autoridade competente; terem as partes sido citadas ou haver-se legalmente verificado a revelia; ter transitado em julgado; estar autenticada pelo cônsul brasileiro e acompanhada de tradução por tradutor oficial ou juramentado no Brasil; não ofender a soberania ou ordem pública. No presente caso, os requisitos encontram-se cumpridos. Saliento apenas que inexiste necessidade da sentença estar acompanhada de tradução oficial ou juramentada no Brasil, já que se trata de sentença proferida em Portugal, cujo idioma praticado é o português. Precedentes: SEC 5.590/EX, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, CORTE ESPECIAL, julgado em 09/06/2011, DJe 28/06/2011; SE 4595/PT, Rel. Min. Cesar Rocha. 2. Além disso, a pretensão foi articulada pela Procuradoria-Geral da República, na qualidade de Instituição Intermediária, nos termos do art. 2º da Convenção de Nova York Sobre Prestação de Alimentos no Estrangeiro promulgada pelo Decreto 56.826/1965, bem como da Lei 5.478/1965, que dispõe sobre a ação de alimentos no Brasil. Dessa forma, justifica-se a aplicação da Convenção de Nova York sobre Prestação de Alimentos no Estrangeiro à espécie, bem como a legitimidade ativa da Procuradoria-Geral da República para requerer a homologação da sentença estrangeira, tal como prevista no art. 26 da Lei 5.478/1965. 3. Esta Corte Superior já se posicionou no sentido de que a exigência da tradução da sentença estrangeira por meio de tradutor oficial ou juramentado no Brasil deve ser mitigada quando o pedido de homologação tiver sido encaminhado pela via diplomática, como ocorrido no presente caso. 4. “É dispensada a chancela consular na sentença alienígena no caso de prestação de alimentos, por força da atuação do Ministério Público Federal, como autoridade intermediária na transmissão oficial dos documentos, nos termos da Convenção sobre Prestação de Alimentos no Estrangeiro (Decreto n. 56.826, de 2.12.1965), conforme reconhecido pela jurisprudência do STF: SE 3016, Relator Min. Décio Miranda, Tribunal Pleno, publicado no DJ em 17.12.1982, p. 13,202 e no Ementário vol. 1280-01, p. 148” (SEC 7.173/EX, Rel. Ministro humberto Martins, Corte Especial, DJe 19.8.2013). 5. “Segundo o sistema processual adotado em nosso País em tema de competência internacional (CPC, arts. 88 a 90), não é exclusiva, mas concorrente com a estrangeira, a competência da Justiça brasileira para, entre outras, a ação de divórcio, de alimentos ou de regime de guarda de filhos, e mesmo a partilha de bens que não sejam bens situados no Brasil. Isso significa que “a ação intentada perante tribunal estrangeiro não induz litispendência, nem obsta que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são conexas” (CPC,

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art. 90) e vice-versa” (SEC 4.127/EX, Rel. Ministra NANCY ANDRIGhI, Rel. p/ Acórdão Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, CORTE ESPECIAL, julgado em 29/08/2012, DJe 27/09/2012 ). 6. Pedido de homologação deferido.

SEC 12236 / EXRelator(a): Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES (1141)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 16/12/2015Ementa: SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. SENTENÇA ARBITRAL. ALEMANhA. AUTORIDADE ARBITRAL INCOMPETENTE. hOMOLOGAÇÃO INDEFERIDA. 1. A controvérsia reside na definição do juízo arbitral conforme o Offtake Agreement, firmado em 24 de agosto de 1999 (pretensão da requerente, e-STJ 19 e ss.) ou conforme o Termination of Certain Agreements, firmado em 17 de junho de 2004 (pretensão do requerido, e-STJ 373 e ss.). 2. No Offtake Agreement, constam, entre outras, as seguintes cláusulas: “17. DIREITO APLICÁVEL, DECISÃO DE CONTROVÉRSIAS. 17.1 O presente Contrato será regido e interpretado em conformidade com a lei alemã substantiva. 17.2 Caso uma controvérsia resulte com relação à interpretação ou implementação deste Contrato, as PARTES CONTRATANTES tentarão em primeira instância dirimir tal controvérsia através de conferências amigáveis. Caso a controvérsia não for amigavelmente dirimida dentro de 60 (sessenta) dias após o início das conferências, qualquer PARTE DO CONTRATO poderá apresentar a controvérsia à Câmara Internacional de Comércio, Paris (“ICC”) para ser final e conclusivamente resolvida, sem recurso aos tribunais (exceto para fins de execução de tal sentença), por arbitragem sob seus regulamentos através de um árbitro nomeado em conformidade com isso. O local de arbitragem será Düsseldorf, Alemanha, e o idioma do processo de arbitragem será o inglês. 3. Por sua vez, no Termination of Certain Agreements, constam as seguintes cláusulas: “CLÁUSULA 9 - RESOLUÇÃO DE DISPUTAS 9.1 Qualquer controvérsia ou ação legal que surja de ou esteja relacionado a este contrato, ou a violação, término ou validade deste, será finalmente decidido por arbitragem de acordo as Regras de Arbitragem da Câmara de Comércio Internacional por três árbitros nomeados, de acordo com tais Regras. O Tribunal Arbitral terá total autoridade para conceder remediações provisórias e de decidir por danos pela falha de qualquer parte cm respeitar as ordens do tribunal arbitral para este efeito. A sede da arbitragem será no Rio de Janeiro. O tribunal arbitral poderá, entretanto, a seu próprio critério, conduzir audiências e reuniões, bem como deliberar em qualquer outro local que considere apropriado. Os processos de arbitragem serão conduzidos no idioma Inglês, contanto que a interpretação do Português e Alemão seja permitido, e os documentos em Português ou Alemão poderão ser submetidos acompanhados pelas traduções em Inglês juramentadas para a satisfação do painel arbitrai. Os processos de arbitragem serão confidenciais. 9.1 I As partes deste concordam que para todos os fins legais esta cláusula será compromissória conforme provisionado

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no Artigo 4 da Lei 9.307/97. 4. Em suma: as regras estabelecidas no Offtake Agreement de 1999 foram suplantadas pelas posteriormente determinadas no Termination of Certain Agreements de 2004. Portanto, com razão a parte requerida, quando pugna pelo reconhecimento da incompetência da autoridade arbitral julgadora, já que, conforme a Cláusula 9.1 do Termination of Certain Agreements “qualquer controvérsia ou ação legal que surja de ou esteja relacionado a este contrato, ou a violação, término ou validade deste, será finalmente decidido por arbitragem de acordo as Regras de Arbitragem da Câmara de Comércio Internacional por três árbitros nomeados, de acordo com tais Regras”. 5. A jurisprudência desta Corte Superior de Justiça é no sentido de que, para homologação de sentença estrangeira, a autoridade (ainda que arbitral) deve ser a competente para o ato, no caso, definida em contrato pelas partes: SEC 11.529/EX, Rel. Ministro OG FERNANDES, CORTE ESPECIAL, julgado em 17/12/2014, DJe 02/02/2015; SEC 10.658/EX, Rel. Ministro hUMBERTO MARTINS, CORTE ESPECIAL, julgado em 01/10/2014, DJe 16/10/2014; SEC 854/EX, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, Rel. p/ Acórdão Ministro SIDNEI BENETI, CORTE ESPECIAL, julgado em 16/10/2013, DJe 07/11/2013. 6. No caso em tela, a autoridade arbitral não era competente, pois, de acordo com o distrato, a sentença arbitral deveria ter sido prolatada por três árbitros. 7. Nos termos dos artigos 216-C, 216-D e 216-F do Regimento Interno do STJ e do art. 15 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, é requisito indispensável à homologação de sentença estrangeira ter sido proferida por autoridade competente. 8. Pedido de homologação indeferido.

SEC 11593 / EXRelator(a): Ministro BENEDITO GONÇALVES (1142)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 16/12/2015Ementa: PROCESSUAL CIVIL. SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. ARTIGOS 15 E 17 DA LEI DE INTRODUÇÃO àS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO. FALTA DE ASSINATURA DO CONTRATO. INEXISTÊNCIA DE CLÁUSULA COMPROMISSóRIA. INCOMPETÊNCIA DO JUÍZO ARBITRAL. 1. Nos termos dos artigos 15 e 17 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro e artigos 216-C, 216-D e 216-F do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça, que, atualmente, disciplinam o procedimento de homologação de sentença estrangeira, constitui requisito indispensável haver sido a sentença proferida por autoridade competente. 2. Contrato de frete entre portos brasileiros, negociado e executado no Brasil, não assinado pela parte requerida. Não observância da forma escrita para a cláusula compromissória, exigida pela lei brasileira (art. 4º , § 1º , da Lei 9.307/96), aplicável em primeiro lugar para a verificação da validade da cláusula de lei e foro (art. 9º, § 1º, da LINDB). 3. Não há nos autos, ademais, elementos que comprovem a aceitação do juízo arbitral por parte da requerida.4. Não demonstrada a competência do juízo arbitral que proferiu a sentença estrangeira, resta inviabilizada sua homologação, nos termos do art. 15, “a”, da LINDB. 5. homologação indeferida.

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SEC 11432 / EXRelator(a): Ministro BENEDITO GONÇALVES (1142)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 16/12/2015Ementa: PROCESSUAL CIVIL. SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. ARTIGOS 15 E 17 DA LEI DE INTRODUÇÃO àS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO. ARTS. 216-C, 216-D E 216-F DO RISTJ. REQUISITOS. CUMPRIMENTO. 1. Nos termos dos artigos 15 e 17 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro e artigos 216-C, 216-D e 216-F do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça, que, atualmente, disciplinam o procedimento de homologação de sentença estrangeira, constituem requisitos indispensáveis ao deferimento da homologação, os seguintes: (i) instrução da petição inicial com o original ou cópia autenticada da decisão homologanda e de outros documentos indispensáveis; (ii) haver sido a sentença proferida por autoridade competente; (iii) terem as partes sido regularmente citadas ou haver-se legalmente verificado a revelia; (iv) ter a sentença transitado em julgado; (v) não ofender “a soberania, a dignidade da pessoa humana e/ou ordem pública”. 2. Constam dos autos os documentos necessários ao deferimento do pedido, além de o conteúdo do título não ofender “a soberania, a dignidade da pessoa humana e/ou ordem pública” nem tampouco os bons costumes. 3. Falta de tentativa prévia de acordo entre as partes junto ao Ministério Público Federal não é óbice à homologação da sentença estrangeira. As questões relativas à revisão dos valores fixados e à impossibilidade de adimplemento integral dos alimentos vencidos devem ser levadas, oportunamente, ao juiz de primeiro grau competente para a execução e para a revisão do valor dos alimentos. 4. Não cabe ao Superior Tribunal de Justiça o exame de matéria pertinente ao mérito, salvo para, dentro de estreitos limites, verificar eventual ofensa à ordem pública e à soberania nacional, o que não é o caso. 5. Uma vez homologada na integralidade a sentença estrangeira, passa a ser exequível no Brasil a integralidade do título que ela consubstancia, ou seja, tanto os alimentos já vencidos quanto os vincendos. 6. Sentença estrangeira homologada.

SEC 9877 / EXRelator(a): Ministro BENEDITO GONÇALVES (1142)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 16/12/2015Ementa: PROCESSUAL CIVIL. SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. ARTIGOS 15 E 17 DA LEI DE INTRODUÇÃO àS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO. ARTS. 216-C, 216-D E 216-F DO RISTJ. REQUISITOS. CUMPRIMENTO. OFENSA à ORDEM PÚBLICA. AUSÊNCIA. 1. Nos termos dos artigos 15 e 17 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro e artigos 216-C, 216-D e 216-F do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça, que, atualmente, disciplinam o procedimento de homologação de sentença estrangeira, constituem

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requisitos indispensáveis ao deferimento da homologação, os seguintes: (i) instrução da petição inicial com o original ou cópia autenticada da decisão homologanda e de outros documentos indispensáveis, devidamente traduzidos por tradutor oficial ou juramentado no Brasil e chancelados pela autoridade consular brasileira; (ii) haver sido a sentença proferida por autoridade competente; (iii) terem as partes sido regularmente citadas ou haver-se legalmente verificado a revelia; (iv) ter a sentença transitado em julgado; (v) não ofender “a soberania, a dignidade da pessoa humana e/ou ordem pública”. 2. Constam dos autos os documentos necessários ao deferimento do pedido, além de o conteúdo do título não ofender “a soberania, a dignidade da pessoa humana e/ou ordem pública” nem tampouco os bons costumes. 3. As questões relativas à revisão dos valores fixados em razão da atual condição econômica do requerido desbordam do mero juízo de delibação, relacionando-se ao cumprimento da sentença e a eventual interesse processual na revisão do valor dos alimentos, não cabendo ao Superior Tribunal de Justiça o exame de matéria pertinente ao mérito, salvo para, dentro de estreitos limites, verificar eventual ofensa à ordem pública e à soberania nacional, o que não é o caso.4. Não ofende o art. 89, I, do CPC nem o art. 12, § 1º, da LINDB, a sentença estrangeira que, ao decretar o divórcio, homologa acordo celebrado pelos ex-cônjuges quanto à partilha de bens imóveis situados no Brasil. 5. Sentença estrangeira homologada.

SEC 11969 / EXRelator(a): Ministro RAUL ARAÚJO (1143)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 16/12/2015Ementa: SENTENÇA ARBITRAL ESTRANGEIRA. REQUISITOS PARA hOMOLOGAÇÃO. PREENChIMENTO. 1. É devida a homologação da sentença arbitral estrangeira quando forem atendidos os requisitos previstos nos arts. 34 a 40 da Lei 9.307/96, no art. 15 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro e nos arts. 216-A a 216-N do RISTJ, bem como constatada a ausência de ofensa à soberania nacional, à ordem pública e à dignidade da pessoa humana (Lei 9.307/96, art. 39; LINDB, art. 17; RISTJ, art. 216-F). 2. Não caracteriza ofensa à ordem pública o fato de a sentença arbitral alienígena prever condenação em moeda estrangeira, devendo apenas ser observado que, no momento da execução da respectiva sentença homologada no Brasil, o pagamento há de ser efetuado após a devida conversão em moeda nacional. 3. No juízo de delibação próprio do processo de homologação de sentença estrangeira, não é cabível debate acerca de questões de mérito, tampouco averiguação de eventual injustiça do decisum, conforme aqui pretendido pelas requeridas que visam a rediscutir a responsabilidade solidária da cedente e da cessionária pelo contrato cedido e a data inicial de incidência dos juros moratórios contratuais. 4. Sentença estrangeira homologada.

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SEC 12897 / EXRelator(a): Ministro RAUL ARAÚJO (1143)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 16/12/2015Ementa: SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. AÇÃO DE REGULAÇÃO DO EXERCÍCIO DO PODER PATERNAL CUMULADA COM ALIMENTOS E REGULAMENTAÇÃO DE VISITAS. REQUISITOS PARA hOMOLOGAÇÃO DA SENTENÇA ESTRANGEIRA. PREENChIMENTO. 1. É devida a homologação de sentença estrangeira que atenda os requisitos previstos no art. 15 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro e nos arts. 216-A a 216-N do RISTJ, bem como não ofenda a soberania nacional, a ordem pública e a dignidade da pessoa humana (LINDB, art. 17; RISTJ, art. 216-F). 2. Não há óbice à homologação da sentença estrangeira que disponha apenas sobre guarda de menor e direito à percepção de alimentos e de visitas, sem trazer à discussão imóveis situados no Brasil, por se tratar de causa de competência concorrente (CPC, art. 88), e não exclusiva, da autoridade judiciária brasileira (CPC, art. 89). 3. A competência internacional concorrente, prevista no art. 88, III, do Código de Processo Civil, não induz a litispendência, podendo a Justiça estrangeira julgar igualmente os casos a ela submetidos. Eventual concorrência entre sentença proferida pelo Judiciário brasileiro e a sentença estrangeira homologada pelo STJ, sobre a mesma questão, deve ser resolvida pela prevalência da que transitar em julgado em primeiro lugar. 4. “São homologáveis sentenças estrangeiras que dispõem sobre guarda de menor ou de alimentos, muito embora se tratem de sentenças sujeitas a revisão, em caso de modificação do estado de fato” (SEC 5.736/EX, Corte Especial, Rel. Min. TEORI ALBINO ZAVASCKI, DJe de 19/12/2011). 5. Pedido de homologação de sentença estrangeira deferido.

SEC 13561 / EXRelator(a): Ministro RAUL ARAÚJO (1143)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 16/12/2015Ementa: SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. AÇÃO DE RECUPERAÇÃO DE CRÉDITO. REQUISITOS PARA hOMOLOGAÇÃO DA SENTENÇA ESTRANGEIRA. PREENChIMENTO. 1. É devida a homologação de sentença estrangeira que atenda os requisitos previstos no art. 15 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro e nos arts. 216-A a 216-N do RISTJ, bem como não ofenda a soberania nacional, a ordem pública e a dignidade da pessoa humana (LINDB, art. 17; RISTJ, art. 216-F). 2. A simples verificação da revelia no processo estrangeiro não configura ofensa à soberania nacional ou à ordem pública (LINDB, art. 17; RISTJ, art. 216-F), a obstar a homologação da sentença estrangeira, sobretudo se a citação da pessoa jurídica domiciliada no Brasil foi devidamente realizada por carta rogatória, respeitando-se o contraditório e a ampla defesa no processo alienígena. 3. Pedido de homologação de sentença estrangeira deferido.

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SEC 11850 / EXRelator(a): Ministra MARIA ThEREZA DE ASSIS MOURA (1131)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 16/12/2015Ementa: hOMOLOGAÇÃO. DESTITUIÇÃO DE PÁTRIO PODER. PREENChIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS. NULIDADE DA CITAÇÃO POR EDITAL. INEXISTÊNCIA. ABANDONO CARACTERIZADO. PEDIDO DEFERIDO. 1. Preenchidos os requisitos previstos nos arts. 216-A a 216-N do Regimento Interno deste Tribunal, incluídos pela Emenda Regimental nº 18/2014, impõe-se a homologação da sentença estrangeira de destituição de pátrio poder. 2. Não há falar em nulidade da citação por edital se demonstrado nos autos que a parte requerida encontra-se em lugar incerto e não sabido. 3. Não ofende a ordem jurídica interna o provimento alienígena que destitui o pai do pátrio poder porquanto caracterizado o abandono. 4. Pedido de homologação deferido.

SEC 10963 / EXRelator(a): Ministro hUMBERTO MARTINS (1130)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 02/12/2015Ementa: DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO. ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. DIVóRCIO. REQUISITOS DA LINDB E DA RISTJ. ATENDIMENTO. ChANCELA CONSULAR. PROCEDIMENTOS PREVISTOS NO MANUAL DO SERVIÇO CONSULAR E JURÍDICO DO MINISTÉRIO DAS RELAÇõES EXTERIORES. REGULARIDADE. 1. A homologação de títulos judiciais proferidos no estrangeiro está prevista no art. 15 do Decreto-Lei 4.657/42 (Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro), competente para a apreciação o STJ em razão da Emenda Constitucional 45/2004, com disposições regulamentares fixadas no RISTJ pela Emenda Regimental 18/2014. 2. Pedido de homologação de sentença estrangeira de divórcio proferida em Portugal, no qual se alega, como óbice, que, da chancela consular aposta ao documento, não seria possível verificar a regularidade do procedimento de consularização previsto como requisito de homologabilidade no art. 216-C do RISTJ. 3. Está evidenciado que foram atendidos os requisitos formais para homologação, pois o julgado foi proferido por órgão judicial competente com trânsito em julgado (fl. 34), bem como o processo original contou com a participação das partes (fls. 35-38), além de ter havido citação por carta rogatória neste feito (fl. 83). 4. O selo consular (fl. 34) indica que o documento foi expedido pelo tribunal estrangeiro, com validade naquele país, sendo regular a consularização para atingir não somente a certidão (fl. 34), mas também a sentença que está juntada (fls. 35-38), pois se verifica atendido o previsto no item 4.1.14 do Manual do Serviço Consular e Jurídico do Ministério das Relações Exteriores: “(...) se um documento se compuser de grande número de páginas, além

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do reconhecimento da assinatura da autoridade local, deverá ser aposto o carimbo consular em cada uma delas”. 5. Além de atendidos os requisitos do art. 216-C e do art. 216-D do RISTJ e da LINDB, o título estrangeiro não viola a soberania nacional, a dignidade da pessoa humana ou a ordem pública, não incorrendo, assim, em vedação de homologação. Pedido de homologação deferido.

SEC 5782 / EXRelator(a): Ministro JORGE MUSSI (1138)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 02/12/2015Ementa: QUESTÃO PRELIMINAR. DESPAChO QUE TORNA SEM EFEITO INTIMAÇÃO PARA JUNTADA DE DOCUMENTOS. AUSÊNCIA DE CONTEÚDO DECISóRIO. INEXISTÊNCIA DE PREJUÍZO PARA A PARTE. OPOSIÇÃO DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. NÃO CABIMENTO. 1. Nos termos do artigo 504 do Código de Processo Civil não é cabível recurso contra despacho sem conteúdo decisório. 2. Na espécie, não se verifica ter o despacho embargado conteúdo decisório stricto sensu, pois simplesmente tornou sem efeito anterior intimação para juntada de documento aos autos. 3. Não há se falar em prejuízo à parte embargante na hipótese, porque, nos termos do artigo 216-D do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça, a chancela consular é requisito de admissibilidade para homologação da sentença estrangeira, ponto que será apreciado quando do julgamento do pedido. 3. Embargos de declaração não conhecidos.

SEC 10474 / EXRelator(a): Ministra MARIA ThEREZA DE ASSIS MOURA (1131)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 02/12/2015Ementa: SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. DOIS PROVIMENTOS JUDICIAIS. DIVóRCIO E GUARDA DE FILhO. INEXISTÊNCIA DE CONTROVÉRSIA QUANTO à hOMOLOGAÇÃO DO DIVóRCIO. GUARDA DE FILhO. CITAÇÃO NO PROCESSO ALIENÍGENA NÃO COMPROVADA. PEDIDO DEFERIDO PARCIALMENTE. 1. Não havendo controvérsia sobre a sentença de divórcio e preenchidos os requisitos exigidos, impõe-se sua homologação. 2. Não comprovada a citação no processo alienígena quanto à decisão que alterou a guarda de menor, indefere-se o pedido. 3. No caso, ao que se tem, o requerido já residia no Brasil à época em que tramitou o processo cuja sentença se pretende homologar. Desse modo, era imprescindível sua citação no processo alienígena mediante carta rogatória, o que não ocorreu. 4. Pedido de homologação deferido parcialmente.

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SEC 2515 / EXRelator(a): Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILhO (1133)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 02/12/2015Ementa: PROCESSUAL CIVIL. FAMÍLIA. hOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. DIVóRCIO. PREENChIMENTO DOS REQUISITOS PREVISTOS NOS ARTS. 216-C E 216-D DO RISTJ. PARECER FAVORÁVEL DO MPF. SENTENÇA ESTRANGEIRA hOMOLOGADA. 1. Trata-se de pedido de homologação de sentença estrangeira de divórcio, que visa a dar-lhe eficácia em todo o território nacional. 2. Sentença estrangeira que não viola a soberania nacional, os bons costumes e a ordem pública e que preenche as condições legais deve ser homologada. 3. Comprovado o cumprimento de todos os requisitos previstos nos arts. 216-C e 216-D do RISTJ. 4. Sentença estrangeira homologada.

SEC 7293 / EXRelator(a): Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILhO (1133)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 02/12/2015Ementa: PROCESSUAL CIVIL. FAMÍLIA. hOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. DIVóRCIO. PREENChIMENTO DOS REQUISITOS PREVISTOS NOS ARTS. 216-C E 216-D DO RISTJ. PARECER FAVORÁVEL DO MPF. SENTENÇA ESTRANGEIRA hOMOLOGADA. 1. Trata-se de pedido de homologação de sentença estrangeira de divórcio, que visa a dar-lhe eficácia em todo o território nacional. 2. Alegação de ausência de prova da citação do requerido é afastada pelo documento de fls.113/122. 3. Comprovado o cumprimento de todos os requisitos previstos nos arts. 216-C e 216-D do RISTJ.4. Sentença estrangeira homologada.

SEC 11962 / EXRelator(a): Ministro FELIX FISChER (1109)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 04/11/2015Ementa: SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. ANULAÇÃO DE CASAMENTO RELIGIOSO. INCIDENTE DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 12 DO DECRETO LEGISLATIVO N. 698/2009 E ART. 12 DO DECRETO 7.107/2010. ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE REJEITADA. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. PRELIMINAR NÃO ACOLhIDA. REQUISITOS DA hOMOLOGAÇÃO PRESENTES. PEDIDO DEFERIDO. I - O art. 12 do Decreto Legislativo n. 698/2009, bem como o art. 12 do Decreto Federal n. 7.107/2010 (ambos com a mesma redação) dispõem que a homologação de sentenças eclesiásticas em matéria matrimonial será realizada nos termos da legislação brasileira

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atinente a matéria, de modo que, confirmadas pelo órgão superior de controle da Santa Sé são consideradas sentenças estrangeiras e deverão ser homologadas de acordo com a legislação brasileira vigente. Arguição de inconstitucionalidade que se rejeita. II - Nos termos do art. 216-A, § 1º, do RISTJ, “serão homologados os provimentos não judiciais que, pela lei brasileira, tiverem natureza de sentença”. Preliminar de impossibilidade jurídica do pedido não acolhida. III - Com o advento da Emenda Constitucional n. 45/2004, o processamento e o julgamento dos pedidos de homologação de sentença estrangeira passaram a integrar o rol das competências deste Superior Tribunal de Justiça (art. 105, I, i, da Constituição Federal). IV - Ao promover a homologação de sentença estrangeira, compete a esta Corte verificar se a pretensão preenche os requisitos agora preconizados no seu Regimento Interno (Emenda Regimental n. 18, de 17/12/2014), mais especificamente aos comandos dos artigos 216-C, 216-D e 216-F, o que se verifica, in casu, devidamente atendidos. V - Como bem elucidado pelo d. Subprocurador-Geral da República, “a assinatura do Acordo entre o Brasil e a Santa Sé relativo ao Estatuto Jurídico da Igreja Católica no Brasil tem suporte no art. 19, § 1º, da Constituição, que autoriza a colaboração entre o Estado e confissões religiosas em prol do interesse público [...] vale salientar quanto ao procedimento, que o Código de Direito Canônico assegura plenamente o direito de defesa e os princípios da igualdade e do contraditório”. Arguição de inconstitucionalidade rejeitada. homologação deferida.

SEC 12255 / EXRelator(a): Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILhO (1133)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 21/10/2015Ementa: PROCESSUAL CIVIL. FAMÍLIA. hOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA. DIVóRCIO CONSENSUAL. PREENChIMENTO DOS REQUISITOS PREVISTOS NOS ARTS. 216-A A 216-N DO REGIMENTO INTERNO DESTA CORTE. REGULARIDADE DA CITAÇÃO EDITALÍCIA. PRESUNÇÃO DE OCORRÊNCIA DO TRâNSITO EM JULGADO DECORRIDO GRANDE LAPSO TEMPORAL DA SENTENÇA, NO CASO 25 ANOS. PRECEDENTES: SEC 6.345/EX, REL. MIN. ARI PARGENDLER, CE, DJE 28.2.2013 E AGRG NA SE 3.731/FR, CE, Rel. MIN. CESAR ASFOR ROCHA, DJE DE 1o.3.2010. SENTENÇA DE DIVóRCIO CONSENSUAL hOMOLOGADA. 1. O pedido está em conformidade com os arts. 216-A a 216-N do RISTJ e art. 15 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, pois a sentença de dissolução de casamento foi proferida por autoridade competente, as partes eram, naquela época, domiciliadas no estrangeiro, houve regular citação e comparecimento espontâneo aos atos processuais. 2. Decorrido grande lapso temporal da cessação da convivência matrimonial, no caso 25 anos, é de se reconhecer a alegada ausência de conhecimento do paradeiro do ex-cônjuge, razão pela qual é regular a citação editalícia. Precedentes. 3. A dúvida sobre a ocorrência do trânsito em julgado, a ocorrência desse fenômeno pode ser presumida

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dada a natureza consensual da separação. Precedentes. Nesse caso, ainda, é de ser somado o grande lapso temporal decorrido. 4. Sentença estrangeira homologada.

SEC 12116 / EXRelator(a): Ministro FELIX FISChER (1109)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 07/10/2015Ementa: SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. PEDIDO DE hOMOLOGAÇÃO. REQUISITOS PREENChIDOS EM PARTE. DISSOLUÇÃO CONJUGAL E AUTORIDADE PARENTAL DE FILhA MENOR. EXISTÊNCIA DE DECISÃO SOBRE A GUARDA NA JUSTIÇA BRASILEIRA. hOMOLOGAÇÃO PARCIALMENTE DEFERIDA. I - Trata-se de pedido de homologação de r. sentença proferida pela Justiça francesa, que dissolveu a sociedade conjugal do requerente com a requerida, bem como conferiu ao pai a autoridade parental exclusiva sobre a filha comum do casal, ainda menor. II - Na espécie, o pleito está em conformidade com os requisitos agora elencados no Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça, mais especificamente, aos comandos dos artigos 216-C, 216-D e 216-F, e com o art. 15 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, pois constata-se que a sentença homologanda foi proferida por autoridade competente, traduzida por profissional juramentado no Brasil, ocorreu o trânsito em julgado, houve citação regular da requerida, não havendo que se cogitar em ofensa à soberania nacional ou à ordem pública quanto ao pedido homologatório em relação à dissolução matrimonial. III - Em razão do Acordo de Cooperação em Matéria Civil, celebrado entre os governos do Brasil e a França (Decreto n. 3.598/2000), dispensa-se a chancela consular nos documentos emitidos por autoridade francesa. IV - A jurisprudência desta col. Corte é pacífica no sentido de que a existência de decisão no Judiciário brasileiro sobre a guarda e alimentos de menor, mesmo que em sede de liminar e após o trânsito em julgado da decisão alienígena, impede a homologação, sob pena de ofensa à soberania nacional. Homologação deferida em parte, apenas no que diz respeito à dissolução do casamento.

SEC 4563 / EXRelator(a): Ministro HERMAN BENJAMIN (1132)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 07/10/2015Ementa: SENTENÇA ESTRANGEIRA. hOMOLOGAÇÃO. DESTITUIÇÃO DO PÁTRIO-PODER E ADOÇÃO. REQUERIDO COMPROVADAMENTE REVEL NA AÇÃO JUDICIAL ESTRANGEIRA. REVELIA REPETIDA NA PRESENTE AÇÃO. CUMPRIMENTO DOS REQUISITOS. 1. Trata-se de pedido de homologação de sentença estrangeira de destituição do pátrio-poder do requerido e de adoção da requerente. 2. O requerido foi citado pessoalmente e permaneceu em silêncio, tendo

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a Defensoria Pública da União contestado a presente ação alegando que não foi comprovada a citação do requerido na ação que dá origem à sentença estrangeira. 3. Como corretamente apontado pelo Ministério Público Federal, “averigua-se que, no curso da demanda referente à destituição do pátrio poder, o pai biológico restou revel, o que é comprovado pela declaração de revelia (certificat de défaut) (e-STJ fls. 50/51, com tradução às fls. 47/48)” e que “no trâmite do pedido homologatório, expediu-se a carta de ordem citatória n. 10/2012 (e-STJ fl. 313)” e “o requerido, no entanto, não contestou o feito (e-STJ fl. 318), avivando, assim, seu desinteresse em se manifestar aqui”. 4. Os requisitos para a homologação da sentença estrangeira, previstos nos arts. 5º e 6º da Resolução STJ 9/2005, foram cumpridos. 5. Sentença estrangeira homologada.

SEC 8183 / EXRelator(a): Ministro hUMBERTO MARTINS (1130)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 07/10/2015Ementa: DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO. CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL.SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. INEXECUÇÃO. CONTRATO DE TRANSPORTE. DANOS MATERIAIS. VARIG ESPAÑA (VARIG S.A.). EXCLUSÃO DAS DEMAIS PARTES. LEI DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL (LEI 11.101/2005). PRECEDENTE. SENTENÇA JUDICIAL DA ESPANhA. DESNECESSIDADE DE CONSULARIZAÇÃO. DECRETO 166/91. COOPERAÇÃO JUDICIÁRIA. REQUISITOS FORMAIS DE hOMOLOGAÇÃO. ATENDIDOS. OFENSA. AUSÊNCIA. hOMOLOGABILIDADE. 1. Pedido de homologação de sentença proferida no estrangeiro, de cunho condenatório, relacionada à inexecução de contrato de transporte de carga, firmado por empresa da Espanha com a VARIG ESPAÑA. No caso concreto, a carga transportada houve por torna-se inservível em razão de problemas de transporte e armazenagem, gerando danos materiais. 2. Deve ser extinto o feito, sem exame do mérito, em relação a diversas empresas que foram arroladas pela requerente, na busca pela sucessora da VARIG ESPAÑA, porquanto são apenas adquirentes de unidades produtivas da VARIG S.A. e, pelo teor do art. 60 da Lei n. 11.101/2005 (Lei de Recuperação Judicial), não respondem pelo passivo da empresa em questão. Precedente: AgRg no CC 122.412/RJ, Rel. Ministro Marco Buzzi, Segunda Seção, DJe 16.10.2013. 3. No caso concreto, somente possui leigitimidade a figurar no polo passivo do pleito a VARIG ESPAÑA (VARIG S.A.), que foi citada regularmente por seu administrador judicial (fl. 425) e que foi defendida nos autos por curador especial (fls. 452-454). 4. Em atenção ao fixado no art. 30 do Decreto 166, de 3.7.1991 (Convênio de cooperação judiciária em matéria civil, entre Brasil e Espanha), está dispensada a chancela consular dos títulos judiciais apresentados pelas autoridades judiciárias de um país ao outro. 5. De acordo com o exame dos documentos juntados

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pela parte requerente, mostram-se atendidos os ditames fixados no art. 15 do Decreto-Lei 4.657/1942 (Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro) e no RISTJ, não havendo, ainda, incursão em vedação por ofensa à soberania nacional, à dignidade da pessoa humana ou à ordem pública. Processo judicial extinto sem exame do mérito em relação à TAP - MANUTENÇÃO E ENGENhARIA S.A., à FLEX LINhAS AÉREAS S.A. e à VRG LINhAS AEREAS S.A., bem como pedido de homologação deferido contra VARIG ESPAÑA (VARIG S.A.).

SEC 3555 / EXRelator(a):Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILhO (1133)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 07/10/2015Ementa: SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. DIREITO CIVIL. DIVERGÊNCIAS CONTRATUAIS. COBRANÇA E GARANTIA. CUMPRIMENTO DOS REQUISITOS EXIGIDOS PELOS ARTS. 15 E 17 DA LINDB E 216-A A 216-N DO RISTJ. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE CITAÇÃO VÁLIDA E DE IRREGULAR DECRETO DE REVELIA NA AÇÃO ORIGINÁRIA. MATÉRIA DE DIREITO PROCESSUAL. SOBERANIA NACIONAL. MÉRITO DA AVENÇA. IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE. MERO JUÍZO DE DELIBAÇÃO. SENTENÇA ESTRANGEIRA hOMOLOGADA EM CONCORDâNCIA COM O PARECER MINISTERIAL. 1. O pedido está em conformidade com os arts. 216-A a 216-N do RISTJ e 15 a 17 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, pois a sentença de cobrança foi proferida por autoridade competente, tendo havido regular citação e decretação de revelia, bem como o trânsito em julgado, e ainda não há elementos que possam caracterizar que se cogitar em à soberania nacional ou à ordem pública. 2. A alegação de ausência de comprovação de citação válida e revelia no processo estrangeiro deve ser examinada cum grano salis, pois, por se tratar de instituto de direito processual, encontra-se inserida no âmbito da jurisdição e da soberania de cada país, circunstância que impõe a observância da legislação interna, não sendo possível impor as regras da legislação brasileira para ato praticado fora do país. Nesse sentido: SEC 7.171/EX, Rel. Min. NANCY ANDRIGhI, DJe de 2.12.2013; SEC 7.758/EX, Rel. Min. FELIX FISChER, DJe de 2.2.2015; SEC 9.570/EX, Rel. Min. BENEDITO GONÇALVES, DJe de 17.11.2014; SEC 10.228/EX, Rel. Min. JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, DJe de 3.11.2014. 3. Não cabe nessa seara a análise das cláusulas contratuais a que se submeteram as partes, dentre elas, se houve pagamento parcial, ou qualquer outro elemento sobre o cumprimento ou descumprimento da determinação judicial. 4. A concessão do exequatur deriva de mero juízo de delibação, sendo certo que as matérias referentes à avença serão analisadas por ocasião de sua execução, perante o Juízo competente. 5. Sentença estrangeira homologada.

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SEC 11366 / EXRelator(a): Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONhA (1123)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 16/09/2015Ementa: DIREITO INTERNACIONAL. PROCESSUAL CIVIL. SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. DIVóRCIO. RESOLUÇÃO STJ N. 9/2005. REQUISITOS DE hOMOLOGAÇÃO PREENChIDOS. DEFERIMENTO. 1. Homologa-se a sentença estrangeira quando proferida por autoridade competente, transitada em julgado, autenticada pelo cônsul brasileiro e traduzida por tradutor juramentado no Brasil. 2. Em relação à comprovação do trânsito em julgado de sentença proferida pela Justiça norte-americana, há precedentes específicos no sentido da admissibilidade do carimbo “FILED” aposto à decisão. 3. O desconhecimento do paradeiro do requerido autoriza a citação por edital, segundo a regra do art. 231, II, do CPC, mormente quando evidenciado que a requerente utilizou-se dos meios possíveis para localizá-lo. 4. Pedido de homologação de sentença estrangeira deferido.

SEC 6221 / EXRelator(a): Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONhA (1123)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 16/09/2015Ementa: SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. DIVóRCIO. REQUISITOS LEGAIS NECESSÁRIOS. PREENChIMENTO. TRâNSITO EM JULGADO. CARIMBO DE ARQUIVAMENTO (FILED). 1. homologa-se a sentença estrangeira quando proferida por autoridade competente, transitada em julgado, autenticada pelo cônsul brasileiro e traduzida por tradutor juramentado no Brasil. 2. Em relação à comprovação do trânsito em julgado de sentença proferida pela Justiça norte-americana, há precedentes específicos no sentido da admissibilidade do carimbo “FILED” aposto à decisão. 3. Pedido de homologação de sentença estrangeira deferido em parte.

SEC 11117 / EXRelator(a): Ministro RAUL ARAÚJO (1143)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 16/09/2015Ementa: SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. DISSOLUÇÃO DE CASAMENTO. CITAÇÃO POR CARTA DE ORDEM. NOMEAÇÃO DE CURADOR ESPECIAL. ADEQUAÇÃO. REQUISITOS PARA hOMOLOGAÇÃO DA SENTENÇA ESTRANGEIRA. PREENChIMENTO. ANUÊNCIA DA PARTE REQUERIDA AO PEDIDO hOMOLOGATóRIO. 1. Nos termos do art. 9º, § 3º, da Resolução STJ 9/2005 e do atual art. 216-I do RISTJ, que regulam o procedimento de homologação de sentença estrangeira, uma vez caracterizada a revelia, é devida a nomeação de curador especial, não se fazendo distinção acerca da natureza do direito a

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ser tutelado. 2. É devida a homologação da sentença estrangeira de divórcio, porquanto foram atendidos os requisitos previstos no art. 15 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro e nos arts. 216-A a 216-N do RISTJ, bem como constatada a ausência de ofensa à soberania nacional, à ordem pública e à dignidade da pessoa humana (LINDB, art. 17; RISTJ, art. 216-F). há nos autos, ademais, expressa anuência da parte requerida ao pedido homologatório. 3. Defere-se o pedido de homologação da sentença estrangeira.

SEC 8121 / EX – SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADARelator(a): Ministra MARIA ThEREZA DE ASSIS MOURAJulgamento: 18/03/2015órgão Julgador: CE – CORTE ESPECIALEmenta: SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. ADOÇÃO. PREENChIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS. NULIDADE DA CITAÇÃO. INEXISTÊNCIA. PEDIDO DEFERIDO. 1. Não há falar em nulidade da citação, uma vez que a parte requerida foi devidamente citada por carta rogatória e por edital. 2. A sentença estrangeira preenche os requisitos previstos nos arts. 216-A a 216-N do Regimento Interno deste Tribunal, incluídos pela Emenda Regimental nº 18/2014, devendo, por isso, ser homologada. 3. Pedido deferido.

SEC 7509 / EX – SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADARelator(a): Ministra MARIA ThEREZA DE ASSIS MOURAórgão Julgador: CE – CORTE ESPECIALJulgamento: 18/03/2015Ementa: SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. hOMOLOGAÇÃO. DIVóRCIO CONSENSUAL. CITAÇÃO. CARTA ROGATóRIA. TRAMITAÇÃO PELAS VIAS DIPLOMÁTICAS. VALIDADE DA TRADUÇÃO. DILIGÊNCIA CUMPRIDA. PREENChIMENTO DOS REQUISITOS. PEDIDO DEFERIDO. 1. Tramitando o pedido de citação por carta rogatória pelas vias diplomáticas, deve ser conferida validade à tradução efetuada no exterior. 2. O cumprimento dos requisitos relativos aos institutos processuais no processo alienígeno deve obedecer as regras locais, daí porque não cabe arguição no sentido de que a citação não se deu nos termos da legislação processual pátria. 3. Pedido de homologação deferido.

SEC 8196 / EX – SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADARelator(a): Ministro OG FERNANDESórgão Julgador: CE – CORTE ESPECIALJulgamento: 18/03/2015Ementa:SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. CURADORIA ESPECIAL. DIVóRCIO. CUMPRIMENTO DOS REQUISITOS DOS ARTS. 5º E 6º DA RESOLUÇÃO STJ N. 9/2005. CITAÇÃO POR EDITAL. AUTENTICIDADE DAS

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PEÇAS. 1- Controvérsia que se cinge a apreciar pedido de homologação de sentença de dissolução de vínculo matrimonial proferida pela Justiça dos Estados Unidos da América. 2- Este Tribunal exerce juízo meramente delibatório nas hipóteses de homologação de sentença estrangeira; vale dizer, cabe ao STJ, apenas, verificar se a pretensão atende aos requisitos previstos no art. 5º da Resolução STJ n. 9/2005 e se não fere o disposto no art. 6º do mesmo ato normativo, bem como as disposições da LINDB. 3- As alegações trazidas em contestação pela douta Defensoria Pública da União, de que não se pode verificar, com clareza, na Sentença de Divórcio ou em documento posterior, o trânsito em julgado, não há de prosperar, tendo em vista que há carimbo aposto com a expressão «filed» («arquivado»), sendo suficiente para comprovação. 4- Pedido que consiste, de fato, em mero requerimento de regularização, no Brasil, da condição de estado da requerente. Inexistência de bens a partilhar ou filhos menores a considerar. Precedentes específicos. 5- Pedido de homologação de sentença estrangeira deferido.

SEC 10118 / EX – SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADARelator(a): Ministro OG FERNANDESórgão Julgador: CE – CORTE ESPECIALJulgamento: 18/03/2015Ementa: SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. CURADORIA ESPECIAL. DIVóRCIO. CUMPRIMENTO DOS REQUISITOS DOS ARTS. 5º E 6º DA RESOLUÇÃO STJ N. 9/2005. OFENSA à ORDEM PÚBLICA. INOCORRÊNCIA. ANÁLISE DE MÉRITO. IMPOSSIBILIDADE. 1. Controvérsia que se cinge a apreciar pedido de homologação de sentença de dissolução de vínculo matrimonial proferida pela Justiça da Alemanha. 2. Este Tribunal exerce juízo meramente delibatório nas hipóteses de homologação de sentença estrangeira; vale dizer, cabe ao STJ, apenas, verificar se a pretensão atende aos requisitos previstos no art. 5º da Resolução STJ n. 9/2005 e se não fere o disposto no art. 6º do mesmo ato normativo, bem como as disposições da LINDB. 3. A alegada ofensa à ordem pública e bons costumes, pela suposta coação, ultrapassa o juízo de delibação. Decerto, o nosso sistema determina que não se homologuem sentenças que ofendam princípios fundamentais para se considerar justo um processo, tais como: respeito ao contraditório e à ampla defesa, legalidade dos atos processuais, respeito aos direitos fundamentais humanos, adequação aos bons costumes. Isso, contudo, não quer dizer que caberá a esta Corte Superior analisar o mérito das decisões, adentrando nas questões de prova de fatos que, caso existentes, comprometeriam ditos princípios. 4. Não cabe ao Superior Tribunal de Justiça o exame de matéria pertinente ao mérito, salvo para, dentro de estreitos limites, verificar eventual ofensa à ordem pública e à soberania nacional, o que não é o caso. 5. Pedido que consiste, de fato, em mero requerimento de regularização, no Brasil, da condição de estado da requerente. Inexistência de bens a partilhar ou filhos menores a considerar. Precedentes específicos. 6. Pedido de homologação de sentença estrangeira deferido.

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SEC 10380 / EX-SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADARelator(a): Ministro MAURO CAMPBELL MARQUESórgão Julgador: CE – CORTE ESPECIALJulgamento: 18/03/2015Ementa: hOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA. ALIMENTOS. CONVENÇÃO DE NOVA YORK E LEI DE ALIMENTOS. LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. INSTITUIÇÃO INTERMEDIÁRIA. TRADUÇÃO JURAMENTADA E ChANCELA CONSULAR. DISPENSA. REVISÃO DE ALIMENTOS. AUSÊNCIA DE CITAÇÃO. SENTENÇA PARCIALMENTE hOMOLOGADA. 1. A pretensão foi articulada pela Procuradoria-Geral da República, na qualidade de Instituição Intermediária, nos termos do art. 2º da Convenção de Nova York Sobre Prestação de Alimentos no Estrangeiro promulgada pelo Decreto 56.826/1965, bem como da Lei 5.478/1965, que dispõe sobre a ação de alimentos no Brasil. Dessa forma, justifica-se a aplicação da Convenção de Nova York sobre Prestação de Alimentos no Estrangeiro à espécie, bem como a legitimidade ativa da Procuradoria-Geral da República para requerer a homologação da sentença estrangeira, tal como prevista no art. 26 da Lei 5.478/1965. 2. Esta Corte Superior já se posicionou no sentido de que a exigência da tradução da sentença estrangeira por meio de tradutor oficial ou juramentado no Brasil deve ser mitigada quando o pedido de homologação tiver sido encaminhado pela via diplomática, como ocorrido no presente caso. 3. «É dispensada a chancela consular na sentença alienígena no caso de prestação de alimentos, por força da atuação do Ministério Público Federal, como autoridade intermediária na transmissão oficial dos documentos, nos termos da Convenção sobre Prestação de Alimentos no Estrangeiro (Decreto n. 56.826, de 2.12.1965), conforme reconhecido pela jurisprudência do STF: SE 3016, Relator Min. Décio Miranda, Tribunal Pleno, publicado no DJ em 17.12.1982, p. 13,202 e no Ementário vol. 1280-01, p. 148» (SEC 7.173/EX, Rel. Ministro humberto Martins, Corte Especial, DJe 19.8.2013). 4. Foram observados os pressupostos indispensáveis ao deferimento do pleito em relação ao pedido inicial, mormente em razão de o conteúdo do título não ofender a soberania nacional, a ordem pública nem os bons costumes, consoante a dicção dos artigos 17 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro e artigos 216-D e 216-F do Regimento Interno do STJ. 5. Pelos documentos juntados na inicial, verifica-se que o requerido foi citado, tendo ciência da decisão que lhe foi imputada quanto ao pagamento da pensão alimentícia. Porém, essa conclusão não pode ser repetida quando analisados os documentos juntados com a decisão do juízo polonês que majorou a referida verba (STJ fls.75/106), uma vez que não há qualquer indicação de que o requerido foi citado ou que compareceu espontaneamente no juízo alienígena, tampouco que ocorreu a revelia. Sendo assim, a que tudo indica, ele não foi avisado da demanda, nos moldes legais, e o exercício do contraditório restou prejudicado. 6. Quanto à homologação da segunda sentença em que o Tribunal estrangeiro majorou o valor da pensão alimentícia para cada filha, o pedido não deve prosperar. É que não há

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qualquer indicação de que o requerido foi citado ou que compareceu espontaneamente no juízo alienígena, tampouco que ocorreu a revelia. Sendo assim, a que tudo indica, ele não foi avisado da demanda, nos moldes legais, e o exercício do contraditório restou prejudicado. Ademais, salienta-se que, neste período da tramitação da revisão de alimentos, ele residia no Brasil, o que torna imprescindível sua citação via carta rogatória, o que não ocorreu. 7. Homologação parcialmente deferida.

SEC 9178 / EX-SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADARelator(a): Ministro MAURO CAMPBELL MARQUESórgão Julgador: CE – CORTE ESPECIALJulgamento: 18/03/2015Ementa: hOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA. ALIMENTOS. CONVENÇÃO DE NOVA YORK E LEI DE ALIMENTOS. LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. INSTITUIÇÃO INTERMEDIÁRIA. TRADUÇÃO JURAMENTADA. CITAÇÃO POR EDITAL. VALIDADE. SENTENÇA hOMOLOGADA. 1. A pretensão foi articulada pela Procuradoria-Geral da República, na qualidade de Instituição Intermediária, nos termos do art. 2º da Convenção de Nova York Sobre Prestação de Alimentos no Estrangeiro promulgada pelo Decreto 56.826/1965, bem como da Lei 5.478/1965, que dispõe sobre a ação de alimentos no Brasil. Dessa forma, justifica-se a aplicação da Convenção de Nova York sobre Prestação de Alimentos no Estrangeiro à espécie, bem como a legitimidade ativa da Procuradoria-Geral da República para requerer a homologação da sentença estrangeira, tal como prevista no art. 26 da Lei 5.478/1965. 2. Quanto à tradução da sentença estrangeira por meio de tradutor oficial ou juramentado no Brasil, esta Corte Superior já se posicionou no sentido de que esta exigência deve ser mitigada quando o pedido de homologação tiver sido encaminhado pela via diplomática, como ocorrido no presente caso. Precedentes: SEC 9.953/EX, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONhA, CORTE ESPECIAL, julgado em 20/11/2013, DJe 28/11/2013; SEC n. 2.108/FR, Corte Especial, relator Ministro Ari Pargendler, DJe de 25.6.2009. 3. A citação editalícia foi deferida, porque o Requerido encontra-se em lugar não sabido, não tendo sido encontrado pela Requerente. O requerido foi citado em dois endereços distintos, sendo o segundo descoberto por meio de diligências realizadas pelo Ministério Público Federal, sem, contudo, ser encontrado. Novas diligências foram feitas pelo MP, porém, restaram infrutíferas. Dessa forma, não há razão para deixar de se admitir que o genitor encontra-se em lugar incerto e não sabido, não havendo qualquer ilegalidade na citação por edital. 4. As questões relativas ao início da cobrança dos alimentos desbordam do mero juízo de delibação, relacionando-se ao cumprimento da sentença, não cabendo a esta Corte Superior de Justiça o exame de matéria pertinente ao mérito, salvo para, dentro de estreitos limites, verificar eventual ofensa à ordem pública e à soberania nacional, o que não é o caso. 5. Preenchidos os requisitos do art. 5º da Resolução n.º 9 desta Corte, bem como não ocorrendo as hipóteses do art. 6º da referida Resolução, impõe-se a homologação da sentença estrangeira. 6. Homologação deferida.

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SEC 8242 / EX – SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADARelator(a): Ministra MARIA ThEREZA DE ASSIS MOURAórgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALJulgamento: 04/03/2015Ementa: SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. TRIBUNAL ARBITRAL. VALIDADE DA CLÁUSULA COMPROMISSóRIA. OFENSA à ORDEM PÚBLICA. INEXISTÊNCIA. COMPETÊNCIA CONCORRENTE. REQUISITOS PREENCHIDOS. PEDIDO DEFERIDO. 1. No caso, as partes convencionaram sobre a arbitragem dentro dos limites legais elegendo, validamente, o foro por meio de cláusula compromissória, daí porque ficam submetidas ao Tribunal Arbitral quanto a eventual conflito de interesse sobre o contratado. 2. Preenchidos os requisitos para a internalização da sentença arbitral em território nacional, a teor do contido no RISTJ e na Lei nº 9.307/96, impõe-se a homologação do provimento estrangeiro. 3. Pedido deferido.

SEC 9034 / EX - SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADARelator(a): Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONhAórgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALJulgamento: 04/03/2015Ementa: SENTENÇA ESTRANGEIRA. DIVóRCIO DECRETADO PELA JUSTIÇA INGLESA. SENTENÇA hOMOLOGADA NOS LIMITES EM QUE PROFERIDA. 1. Sentença estrangeira que não viola a soberania nacional, os bons costumes e a ordem pública e que preenche as condições legais deve ser homologada. 2. Inexistindo disposição na sentença homologanda quanto ao pedido de alteração do nome da requerente, a homologação não surte efeito nesse particular, visto que deve ser homologada nos limites em que proferida. 3. Sentença estrangeira homologada.

SEC 10558 / EX - SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADARelator(a): Ministro MAURO CAMPBELL MARQUESórgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALJulgamento: 04/03/2015Ementa: SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. DIVóRCIO CONSENSUAL. CITAÇÃO POR EDITAL. AUSÊNCIA DE NULIDADE. ABANDONO. REQUERIDO DESAPARECIDO. REQUISITOS PREENCHIDOS. PEDIDO DEFERIDO. 1. No presente caso, embora não conste da documentação juntada certidão expressa, o trânsito em julgado da sentença de divórcio homologanda pode ser inferido pelas característica do procedimento de divórcio consensual, conforme tem reiteradamente decidido esta Corte Especial. Precedentes: SEC 9.745/EX, Rel. Ministra LAURITA VAZ, CORTE ESPECIAL, julgado em 17/12/2014, DJe 05/02/2015; SEC 352/US, Rel. Ministro NILSON NAVES, DJ de 19/03/2007; AgRg na SE 3731/FR, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROChA, DJe de

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01/03/2010; SEC 6.512/EX, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, DJe 25/03/2013; e SEC 7.746/EX, Rel. Ministro hUMBERTO MARTINS, DJe de 29/05/2013. 2. A citação editalícia foi deferida, nos termos do inciso III do art. 232 do CPC, porque o Requerido encontra-se em lugar não sabido, não tendo sido encontrado pela Requerente, que não teve filhos nem bens a partilhar com o ex-cônjuge. Afinal, passados mais de oito anos desde a sentença até o ajuizamento deste pedido de homologação, é natural e justificável o alegado desconhecimento do endereço atual do ex-cônjuge, até porque, conforme consta na sentença a ser homologada, o divórcio se deu de maneira consensual. Não há, assim, razão alguma que justifique venha a requerente a saber do paradeiro de seu ex-cônjuge, sendo correta, portanto, a citação por edital. 3. Preenchidos os requisitos dos artigos 216-C e 216-D do Regimento Interno deste Superior Tribunal de Justiça, bem como não ocorrendo as hipóteses do art. 216-F do RISTJ, impõe-se a homologação da sentença estrangeira. 4. Pedido de homologação de sentença estrangeira deferido.

SEC 10702 / EX - SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADARelator(a): Ministra LAURITA VAZórgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALJulgamento: 04/03/2015Ementa: hOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA. ARBITRAGEM. CITAÇÃO POR VIA POSTAL. POSSIBILIDADE. REQUISITOS PREENChIDOS. hOMOLOGAÇÃO DEFERIDA. 1. “A citação, no procedimento arbitral, não ocorre por carta rogatória, pois as cortes arbitrais são órgãos eminentemente privados. Exige-se, para a validade do ato realizado via postal, apenas que haja prova inequívoca de recebimento da correspondência” (SEC 8.847/EX, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONhA, CORTE ESPECIAL, julgado em 20/11/2013, DJe 28/11/2013, sem grifos no original). Embora a Requerida tenha sido revel no procedimento arbitral, foi notificada, diversas vezes, em mais de um endereço comercial, por via postal, conforme ressaltado na própria sentença.2. Restaram atendidos os requisitos regimentais, com a constatação da regularidade da citação por via postal para procedimento arbitral instaurado em conformidade com convenção de arbitragem firmada entre as partes em contrato comercial. A sentença, comprovadamente transitada em julgado, foi autenticada pela autoridade consular brasileira e traduzida por profissional juramentado no Brasil, com o preenchimento das demais formalidades legais. 3. Pedido de homologação deferido. Condenação da Requerida ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios.

SEC 9021 / EX - SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADARelator(a): Ministro FELIX FISChERórgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALJulgamento: 04/03/2015Ementa:SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. ALEGADA OFENSA

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AOS ARTS. 216-C, 216-D e 216-F DO REGIMENTO INTERNO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA NÃO CONFIGURADA. TRâNSITO EM JULGADO. COMPROVAÇÃO POR MEIOS DIVERSOS DA PROCESSUALÍSTICA PÁTRIA. CABIMENTO. EXISTÊNCIA DE IDÊNTICA AÇÃO PERANTE A JUSTIÇA BRASILEIRA. AUSÊNCIA DE óBICE. COMPETÊNCIA CONCORRENTE. ARTS. 88 E 90 DO CóDIGO DE PROCESSO CIVIL. hOMOLOGAÇÃO DEFERIDA. I - Trata-se de pedido de homologação de sentença paraguaia que inabilitou a requerida em procedimento licitatório internacional para contratação dos serviços de implantação de linha de transmissão de energia a ser executada em território paraguaio. II - O procedimento de homologação de sentença estrangeira encontra-se agora disciplinado no Regimento Interno desta col. Corte. No caso, foram atendidos todos os requisitos elencados nos arts. 216-C, 216-D e 216-F, não havendo óbice à homologação. III - A jurisprudência desta Corte é uníssona no sentido de que a irrecorribilidade das decisões estrangeiras poderá ser comprovada por qualquer meio, mesmo que diverso do exigido pela processualística pátria (precedentes). IV - Não há ofensa à ordem pública. De fato, os supostos vícios suscitados pela requerida na contestação, em especial acerca da metodologia utilizada pela comissão de licitação para inabilitar o consórcio do qual ela fazia parte, dizem respeito ao mérito da causa na Justiça estrangeira, razão pela qual torna-se impossível a sua análise em sede de homologação de sentença, como preceitua o parágrafo único do art. 216-h do RISTJ (precedentes). V - A existência de idêntica ação proposta perante a justiça brasileira não obsta o procedimento de homologação, por se tratar de competência concorrente, conforme a inteligência dos arts. 88 e 90 do Código de Processo Civil (precedentes). homologação deferida.

SEC 7457 / EX - SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADARelator(a): Ministro HERMAN BENJAMINórgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALJulgamento: 04/03/2015Ementa: PEDIDO DE hOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA DE DIVóRCIO. ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. CONTESTAÇÃO. ACORDO. PARTE INTEGRANTE DA SENTENÇA. CUMPRIMENTO DOS REQUISITOS DO ART. 5º DA RESOLUÇÃO STJ 9/2005. hOMOLOGAÇÃO. 1. Cuida-se de pedido de homologação de Sentença Estrangeira de divórcio prolatada pela Justiça dos Estados Unidos da América. 2. Verifica-se que na sentença de divórcio à fl. 6, consta menção expressa de que o acordo é parte integrante da sentença. 3. O acordo, como parte integrante da sentença, deve ser homologado conjuntamente com ela. 4. Na espécie, não existindo afronta à soberania e tampouco à ordem pública interna ou aos bons costumes, não há óbice à homologação da sentença. 5. Verifica-se que a sentença a ser homologada foi proferida por autoridade competente, devidamente traduzida por tradutor público e possui chancela consular, havendo indicação, ainda, de seu trânsito em julgado. 6. Logo, presentes todos os requisitos indispensáveis à homologação,

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o pleito merece ser deferido. 7. Constata-se que o pedido está instruído com todos os documentos exigidos pela Resolução nº 9/2005-STJ. 8. Sentença Estrangeira homologada.

SEC 10705 / EX - SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADARelator(a): Ministro HERMAN BENJAMINórgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALJulgamento: 04/03/2015Ementa: PEDIDO DE hOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA DE DIVóRCIO. ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. CONTESTAÇÃO. CURADOR ESPECIAL. CUMPRIMENTO DOS REQUISITOS DO ART. 5º DA RESOLUÇÃO STJ 9/2005. hOMOLOGAÇÃO. 1. Cuida-se de pedido de homologação de sentença estrangeira de divórcio que foi prolatada pela Justiça dos Estados Unidos da América. 2. Adoto como razão de decidir o parecer do Parquet Federal exarado pelo Subprocurador-Geral da República Dr. Sady d’Assumpção Torres Filho, que bem analisou a questão. 3. Na espécie, não existindo afronta à soberania e tampouco à ordem pública interna ou aos bons costumes, não há óbice à homologação da sentença. 4. Verifica-se que a sentença a ser homologada foi proferida por autoridade competente, devidamente traduzida por tradutor público e possui chancela consular, havendo indicação, ainda, de seu trânsito em julgado. 5. Logo, presentes os requisitos indispensáveis à homologação e não havendo fundamento indicado pela curadoria que possa ser acolhido, o pleito merece ser deferido. 6. Constata-se que o pedido está instruído com todos os documentos exigidos pela Resolução 9/2005-STJ. 7. Sentença Estrangeira homologada.

SEC 8716 / EX - SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADARelator(a): Ministro HERMAN BENJAMINórgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALJulgamento: 04/03/2015Ementa: PEDIDO DE hOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA DE DIVóRCIO. ALEMANhA. CONTESTAÇÃO. CITAÇÃO DA PARTE NO PROCESSO ESTRANGEIRO NÃO COMPROVADA. INDEFERIMENTO DA hOMOLOGAÇÃO. 1. Cuida-se de pedido de homologação de sentença estrangeira de divórcio prolatada pela Justiça da Alemanha. 2. O Ministério Público Federal, no seu parecer, bem analisou a questão, e opinou pela conversão em diligência: “Ante o exposto, recomenda o Ministério Público Federal a conversão em diligência, no sentido de intimar a requerente para que providencie prova documental de que o requerido foi regularmente citado no processo de divórcio que tramitou perante a Justiça alemã.” (fl. 164). 3. A requerente, apesar de intimada, não cumpriu com a exigência, conforme fl. 170. 4. Constituem requisitos indispensáveis à homologação de sentença estrangeira que tenham sido as partes citadas ou que se tenha legalmente verificado a revelia, no

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processo estrangeiro, conforme o artigo 5º, inciso II, da Resolução 9/2005. 5. No mais, a jurisprudência do STJ é firme no sentido de que, para homologação de sentença estrangeira proferida em processo judicial proposto contra pessoa domiciliada no Brasil, é imprescindível que tenha havido sua regular citação por meio de carta rogatória ou que se verifique legalmente a ocorrência de revelia, o que não é o caso dos autos. 6. Homologação indeferida.

SEC 9390 / EX - SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADARelator(a): Ministro HERMAN BENJAMINórgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALJulgamento: 04/03/2015Ementa: SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. DIVóRCIO. ALIMENTOS. CONVENÇÃO SOBRE PRESTAÇÃO DE ALIMENTOS NO ESTRANGEIRO. DISPENSA DE ChANCELA CONSULAR. TRâNSITO EM JULGADO EVIDENCIADO. JUÍZO DE DELIBAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE DE DISCUSSÃO SOBRE CÁLCULOS DOS VALORES DEVIDOS. 1. Trata-se de pedido de homologação de sentença de divórcio com acordo de alimentos prolatada pelo Quinto Juízo para processos cíveis do Tribunal de Primeira Instância de Roterdã, Reino dos Países Baixos. 2. A demanda foi proposta pela Procuradoria-Geral da República, na qualidade de instituição intermediária, com base na Convenção Sobre Prestação de Alimentos no Estrangeiro. 3. A documentação apresentada preenche os requisitos previstos no art. 5º da Resolução STJ 9/2005. 4. O trânsito em julgado da sentença estrangeira encontra-se comprovado mediante certidão do escrivão do Tribunal de Roterdã, de 17.5.2011, no sentido de que não houve recurso contra a decisão proferida em 21.10.1996 (fls. 134-135). 5. A jurisprudência desta Corte já assentou que “A exigência do trânsito em julgado prevista no art. 5º, III, da Resolução n.º 9/2009, não impõe à parte a sua comprovação por meio de termo equivalente ao previsto na processualística pátria, mas que demonstre, por qualquer meio, ter havido a definitividade da decisão homologanda, que em outras palavras significa, que comprove a consagração induvidosa da coisa julgada” (SEC 3.281/EX, Rel. Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Corte Especial, DJe 19.12.2011). 6. É dispensada a chancela consular na sentença estrangeira relativa à prestação de alimentos, por força da atuação do Ministério Público Federal, como autoridade intermediária na transmissão oficial dos documentos, nos termos da Convenção sobre Prestação de Alimentos no Estrangeiro (Decreto 56.826, de 2.12.1965). Precedentes do STJ. 7. Por fim, não cabe nesse juízo de delibação o debate sobre a higidez dos cálculos dos alimentos devidos, por se tratar de questão meritória afeta à Execução da sentença (SEC 9.952/EX, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Corte Especial, DJe 17.11.2014; SEC 9.600/EX, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Corte Especial, DJe 28.10.2014). 8. Pedido de homologação de Sentença Estrangeira deferido.

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SEC 8507 / EX - SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADARelator(a): Ministro HERMAN BENJAMINórgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALJulgamento: 04/03/2015 Ementa: PEDIDO DE hOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA DE DIVóRCIO. BÉLGICA. CONTESTAÇÃO. CUMPRIMENTO DOS REQUISITOS DO ART. 5º DA RESOLUÇÃO STJ 9/2005. hOMOLOGAÇÃO. 1. Cuida-se de pedido de homologação de Sentença Estrangeira de divórcio prolatada pela Justiça da Bélgica. 2. Adoto como razão de decidir o parecer do Parquet Federal exarado pelo Subprocurador-Geral da República Dr. Nicolao Dino Neto, que bem analisou a questão. 3. “Não há que se falar em ausência de comprovação do trânsito em julgado da decisão judicial se na certidão de averbação do divórcio consta referida situação.”(fl. 258). 4. “O fato de existir, em tramitação, na Justiça brasileira, ação de reconhecimento e de dissolução de união estável, onde se pretende discutir também a partilha de bens, não impede a homologação da sentença estrangeira.”(fl. 258). 5. Na espécie, não ocorrendo afronta à soberania e tampouco à ordem pública interna ou aos bons costumes, não há óbice à homologação da sentença. 6. Verifica-se que a sentença a ser homologada foi proferida por autoridade competente, devidamente traduzida por tradutor público e possui chancela consular, havendo indicação, ainda, de seu trânsito em julgado. 7. Logo, presentes os requisitos indispensáveis à homologação e não havendo fundamento indicado pela recorrida que possa ser acolhido, o pleito merece ser deferido. 8. Constata-se que o pedido está instruído com todos os documentos exigidos pela Resolução 9/2005-STJ. 9. Sentença Estrangeira homologada.

SEC 9386 / EX - SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADARelator(a): Ministro RAUL ARAÚJO (1143)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 04/02/2015Ementa: SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. DIVóRCIO CONSENSUAL. CITAÇÃO POR CARTA ROGATóRIA SEM ÊXITO. CITAÇÃO POR EDITAL. VALIDADE. REQUISITOS PARA hOMOLOGAÇÃO DA SENTENÇA ESTRANGEIRA. PREENChIMENTO. hOMOLOGAÇÃO DEFERIDA. 1. É devida a homologação da sentença estrangeira de divórcio, porquanto atendidos os requisitos previstos no art. 15 da Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro e no art. 5º da Resolução 9/2005 do STJ, bem como constatada a ausência de ofensa à soberania nacional e à ordem pública (LINDB, art. 17; Res. 9/2005, art. 6º). 2. A citação editalícia, nos autos do pedido de homologação de sentença estrangeira, foi realizada com observância das exigências previstas nos arts. 231 e 232 do Código de Processo Civil e apenas após frustrada a citação pessoal, por carta rogatória, e afirmado pela requerente que diligenciou, mas não encontrou o atual endereço do requerido. 3. Rejeita-se a preliminar de nulidade da citação realizada por edital, deferindo-se o pedido de homologação da sentença estrangeira.

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SEC 4678 / EX - SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADARelator(a): Ministro RAUL ARAÚJO (1143)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 04/02/2015Ementa: SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. DIVóRCIO. CITAÇÃO POR EDITAL.VALIDADE. REQUISITOS PARA hOMOLOGAÇÃO DA SENTENÇA ESTRANGEIRA.PREENChIMENTO. hOMOLOGAÇÃO DEFERIDA. 1. É devida a homologação da sentença estrangeira de divórcio, porquanto atendidos os requisitos previstos no art. 15 da Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro e no art. 5º da Resolução 9/2005 do STJ, bem como constatada a ausência de ofensa à soberania nacional e à ordem pública (LINDB, art. 17; Res. 9/2005-STJ, art. 6º). 2. Pode ser considerada válida a citação editalícia quando o natural distanciamento dos cônjuges, após divórcio realizado há mais de 32 anos, dificultar o conhecimento pela requerente do atual endereço do requerido para fins de citação pessoal, por carta rogatória. 3. “A exigência do trânsito em julgado prevista no art. 5º, III, da Resolução n.º 9/2009, não impõe à parte a sua comprovação por meio de termo equivalente ao previsto na processualística pátria, mas que demonstre, por qualquer meio, ter havido a definitividade da decisão homologanda, que em outras palavras significa, que comprove a consagração induvidosa da coisa julgada” (SEC 3.281/EX, Corte Especial, Rel. Min. MARIA ThEREZA DE ASSIS MOURA, DJe de 19/12/2011). 4. Afastada a preliminar de nulidade da citação realizada por edital e observados os requisitos legais, defere-se o pedido de homologação da sentença estrangeira.

SEC 10860 / EXRelator(a): Ministro RAUL ARAÚJO (1143)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 16/09/2015Ementa: SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. DIVóRCIO. CITAÇÃO POR EDITAL. VALIDADE. REQUISITOS PARA hOMOLOGAÇÃO DA SENTENÇA ESTRANGEIRA. PREENChIMENTO. 1. Pode ser considerada válida a citação editalícia quando há natural distanciamento dos ex-cônjuges, após divórcio consensual realizado no estrangeiro há anos, tendo ambos os então cônjuges participado da audiência e não havendo bens a partilhar ou filhos menores a considerar. 2. A citação editalícia, nos autos do pedido de homologação de sentença estrangeira, foi realizada com observância das exigências previstas nos arts. 231 e 232 do Código de Processo Civil. 3. É devida a homologação da sentença estrangeira de divórcio, porquanto foram atendidos os requisitos previstos no art. 15 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro e nos arts. 216-A a 216-N do RISTJ, bem como constatada a ausência de ofensa à soberania nacional, à ordem pública e à dignidade da pessoa humana (LINDB, art. 17; RISTJ, art. 216-F). 4. Afasta-se a preliminar de nulidade da citação realizada por edital, deferindo-se o pedido de homologação da sentença estrangeira.

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SEC 8004 / EXRelator(a): Ministro RAUL ARAÚJO (1143)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 16/09/2015Ementa: SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO TRâNSITO EM JULGADO DA SENTENÇA ESTRANGEIRA. INDEFERIMENTO DO PEDIDO DE hOMOLOGAÇÃO. 1. Desatendido o requisito previsto no art. 216-D, III, do RISTJ, concernente à comprovação do trânsito em julgado, não pode ser homologada a sentença estrangeira. 2. Indefere-se o pedido de homologação de sentença estrangeira.

SEC 10432 / EXRelator(a): Ministra LAURITA VAZ (1120)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 16/09/2015Ementa: hOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA. ARBITRAGEM. POSSIBILIDADE. INEXISTÊNCIA DE OFENSA à SOBERANIA NACIONAL OU à ORDEM PÚBLICA. ARGUIÇõES DE ILEGITIMIDADE. NÃO CABIMENTO NO PROCESSO DE hOMOLOGAÇÃO. REQUISITOS PREENChIDOS. hOMOLOGAÇÃO DEFERIDA. 1. Restaram atendidos os requisitos regimentais, com a constatação da regularidade da citação para procedimento arbitral instaurado em conformidade com convenção de arbitragem firmada entre as partes em contrato comercial. A sentença, comprovadamente transitada em julgado, foi autenticada pela autoridade consular brasileira e traduzida por profissional juramentado no Brasil, com o preenchimento das demais formalidades legais. 2. As arguições propostas pela Requerida não têm lugar no presente requerimento de homologação de sentença estrangeira, mas no próprio âmbito de processamento da sentença arbitral. 3. Ademais, a COMAB possui personalidade jurídica internacional, sendo a parte legítima apontada pela República Federativa do Brasil e República da Argentina para figurar em demandas judiciais levadas aos Tribunais Arbitrais. 4. Pedido de homologação deferido. Condenação da Requerida ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios.

SEC 10697 / EXRelator(a): Ministro RAUL ARAÚJO (1143)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 02/09/2015Ementa: SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. ADOÇÃO. FALTA DE CONSENTIMENTO DO PAI BIOLóGICO, A QUEM SE ATRIBUI ABANDONO DO MENOR. SITUAÇÃO DE FATO CONSOLIDADA EM BENEFÍCIO DO ADOTANDO. ADOÇÃO POR PADRASTO QUE PERDURA hÁ MAIS DE

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DOZE ANOS. MAIORIDADE SUPERVENIENTE. REQUISITOS PARA hOMOLOGAÇÃO DA SENTENÇA ESTRANGEIRA. PREENChIMENTO. hOMOLOGAÇÃO DEFERIDA. 1. O caso em exame traz as seguintes circunstâncias: I) a adoção do menor brasileiro foi deferida, pela sentença estrangeira homologanda, ao atual esposo italiano da brasileira mãe biológica da criança, cuja guarda fora anteriormente outorgada à genitora pela Justiça brasileira; II) tanto no processo estrangeiro como em outro que tramitou no Brasil foi reconhecido o abandono do menor pelo pai biológico; III) a adoção por sentença italiana já perdura por longo tempo - mais de doze anos -, encontrando-se o adotando, também requerente, hoje com mais de 23 anos de idade e apresentando nítido interesse na regularização de seu status familiar. 2. No contexto, está configurada hipótese excepcional de dispensa: do consentimento paterno, sem prévia destituição do pátrio poder, para a adoção do, à época, menor; e da citação pessoal do pai biológico no processo estrangeiro e neste pedido homologatório de sentença estrangeira. 3. É, assim, devida a homologação da sentença estrangeira de adoção, porquanto atendidos os requisitos previstos no art. 15 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro e nos arts. 216-A a 216-N do RISTJ, bem como constatada a ausência de ofensa à soberania nacional, à ordem pública e à dignidade da pessoa humana (LINDB, art. 17; RISTJ, art. 216-F). 4. Defere-se o pedido de homologação da sentença estrangeira.

SEC 11650 / EXRelator(a): Ministro JORGE MUSSI (1138)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 02/12/2015Ementa: QUESTÃO PRELIMINAR. DESPAChO QUE TORNA SEM EFEITO INTIMAÇÃO PARA JUNTADA DE DOCUMENTOS. AUSÊNCIA DE CONTEÚDO DECISóRIO. INEXISTÊNCIA DE PREJUÍZO PARA A PARTE. OPOSIÇÃO DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. NÃO CABIMENTO. 1. Nos termos do artigo 504 do Código de Processo Civil não é cabível recurso contra despacho sem conteúdo decisório. 2. Na espécie, não se verifica ter o despacho embargado conteúdo decisório stricto sensu, pois simplesmente tornou sem efeito anterior intimação para juntada de documento aos autos. 3. Não há se falar em prejuízo à parte embargante na hipótese, porque, nos termos do artigo 216-D do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça, a chancela consular é requisito de admissibilidade para homologação da sentença estrangeira, ponto que será apreciado quando do julgamento do pedido. 3. Embargos de declaração não conhecidos. hOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ARBITRAL ESTRANGEIRA CONTESTADA. ARTIGO 34 DA LEI N. 9.307/1996. INCIDêNCIA INICIAL DOS TRATADOS INTERNACIONAIS, COM EFICÁCIA NO ORDENAMENTO JURÍDICO INTERNO. APLICAÇÃO DA LEI DE ARBITRAGEM NA AUSÊNCIA DESTES. LAUDO ARBITRAL ANULADO NO PAÍS DE ORIGEM, COM SENTENÇA JUDICIAL TRANSITADA

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EM JULGADO. JUÍZO DE DELIBAÇÃO. DESCABIMENTO DO EXAME DO MÉRITO DA SENTENÇA ARBITRAL. IMPOSSIBILIDADE DA ANÁLISE DA DECISÃO JUDICIAL ESTRANGEIRA. INDEFERIMENTO DA PRETENSÃO hOMOLOGATóRIA. 1. O artigo 34 da Lei n. 9.307/1996 determina que a sentença arbitral estrangeira será homologada no Brasil, inicialmente, de acordo com os tratados internacionais com eficácia no ordenamento interno e que, somente na ausência destes, incidirão os dispositivos da Lei de Arbitragem Brasileira. 2. No caso em exame, a sentença arbitral que se pretende homologar foi anulada judicialmente pelo Poder Judiciário Argentino, com decisão transitada em julgado. 3. A legislação aplicável à matéria Convenção de Nova York, Artigo V(1)(e) do Decreto n. 4.311/2002; Convenção do Panamá, Artigo 5(1)(e) do Decreto n. 1.902/1996); Lei de Arbitragem Brasileira, Artigo 38, inciso VI, da Lei n. 9.307/1996; e Protocolo de Las Leñas, Artigo 20(e) do Decreto n. 2.067/1996, todos internalizados no ordenamento jurídico brasileiro não deixa dúvidas quanto à imprescindibilidade da sentença estrangeira, arbitral ou não, ter transitado em julgado para ser homologada nesta Corte Superior, comungando a doutrina pátria do mesmo entendimento. 4. O Regimento Interno deste Sodalício prevê o atendimento do mencionado requisito para a homologação de sentença estrangeira, arbitral ou não, conforme se depreende do caput do artigo 216-D do RI/STJ. 5. O procedimento homologatório não acrescenta eficácia à sentença estrangeira, mas somente libera a eficácia nela contida, internalizando seus efeitos em nosso País, não servindo, pois, a homologação de sentença para retirar vícios ou dar interpretação diversa à decisão de Estado estrangeiro. Precedentes desta Corte Superior e do Supremo Tribunal Federal. 6. Na hipótese sob exame, sendo nulo na Argentina o presente laudo arbitral por causa de decisão judicial prolatada naquele País, com trânsito em julgado devidamente comprovado nos autos , nula é a sentença arbitral no Brasil que, por isso, não pode ser homologada. 7. Pedido de homologação de sentença arbitral estrangeira indeferido.

SEC 11356 / EXRelator(a): Ministro JORGE MUSSI (1138)órgão Julgador: T5 - QUINTA TURMAData do Julgamento: 05/11/2015Ementa: RECURSO ORDINÁRIO EM hABEAS CORPUS. TRÁFICO DE ENTORPECENTES E ASSOCIAÇÃO PARA O NARCOTRÁFICO. PRISÃO PREVENTIVA. PROVAS DA MATERIALIDADE E INDÍCIOS SUFICIENTES DA AUTORIA. PRESENÇA. NEGATIVA DE COMETIMENTO DO DELITO. INVIABILIDADE DE EXAME NA VIA ELEITA. SEGREGAÇÃO FUNDADA NO ART. 312 DO CPP. CIRCUNSTâNCIAS DOS CRIMES. QUANTIDADE E NATUREZA DA DROGA ENCONTRADA. GUARDA DE MAIOR PARTE DO MATERIAL TóXICO NA RESIDÊNCIA DO TERCEIRO ENVOLVIDO. GRAVIDADE. PERICULOSIDADE SOCIAL DA AGENTE. GARANTIA DA

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ORDEM PÚBLICA. CONDIÇõES PESSOAIS FAVORÁVEIS. IRRELEVâNCIA. COAÇÃO ILEGAL NÃO DEMONSTRADA. RECLAMO EM PARTE CONhECIDO E NESSE PONTO IMPROVIDO. 1. Para a decretação da prisão preventiva não se exige prova concludente da materialidade ou da autoria delitivas, reservada à condenação criminal, mas apenas indícios suficientes desta última e comprovação da existência do crime. 2. A análise acerca da negativa de cometimento dos delitos é questão que não pode ser dirimida em sede de recurso ordinário em habeas corpus, por demandar o reexame aprofundado das provas a serem produzidas no curso da instrução criminal, vedado na via sumária eleita. 3. Não há ilegalidade na manutenção da prisão preventiva da recorrente quando demonstrado, com base em fatores concretos, que se mostra necessária, dada a gravidade das condutas incriminadas, a revelar o risco efetivo de continuidade no cometimento da traficância. 4. A quantidade e a natureza das drogas encontradas em poder dos envolvidos, somadas às circunstâncias em que se deram os delitos - em que era utilizado o bar de propriedade da recorrente e de seu marido, também denunciado, local de intensa circulação, para a comercialização do material tóxico, valendo-se ainda do terceiro acusado para guardar a maior parte do tóxico em sua propriedade, visando garantir a impunidade - indicam envolvimento maior com a narcotraficância, autorizando a preventiva. 5. Condições pessoais favoráveis não teriam o condão de revogar a prisão cautelar, se há nos autos elementos suficientes a demonstrar a sua necessidade. 6. Recurso parcialmente conhecido e, nesta extensão, improvido.

SEC 8883 / EXRelator(a): Ministro RAUL ARAÚJO (1143)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 19/08/2015Ementa: SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. DIVóRCIO. REQUISITOS PARA hOMOLOGAÇÃO DA SENTENÇA ESTRANGEIRA. PREENChIMENTO. hOMOLOGAÇÃO DEFERIDA. 1. há de ser rejeitada a preliminar de nulidade da citação por edital, realizada nos presentes autos com observância das regras previstas nos arts. 231 e 232 do Código de Processo Civil, porquanto evidenciada infrutífera a ativa tentativa de localização da parte contrária pelo requerente. 2. É devida a homologação da sentença estrangeira de divórcio, porquanto foram atendidos os requisitos previstos no art. 15 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro e nos arts. 216-A a 216-N do RISTJ, bem como constatada a ausência de ofensa à soberania nacional, à ordem pública e à dignidade da pessoa humana (LINDB, art. 17; RISTJ, art. 216-F). 3. A presença do carimbo com a expressão “filed” é suficiente para a comprovação do trânsito em julgado da sentença norte-americana. Precedentes. 4. Pedido de homologação da sentença estrangeira deferido.

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SEC 11735 / EXRelator(a): Ministro BENEDITO GONÇALVES (1142)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 05/08/2015Ementa: PROCESSUAL CIVIL. SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. ARTIGOS 15 E 17 DA LEI DE INTRODUÇÃO à NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO. ARTS. 216-C, 216-D E 216-F DO RISTJ. REQUISITOS. CUMPRIMENTO. OFENSA à ORDEM PÚBLICA. AUSÊNCIA. 1. Nos termos dos artigos 15 e 17 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro e artigos 216-C, 216-D e 216-F do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça, que, atualmente, disciplinam o procedimento de homologação de sentença estrangeira, constituem requisitos indispensáveis ao deferimento da homologação, os seguintes: (i) a petição inicial deve estar instruída com o original ou cópia autenticada da decisão homologanda e de outros documentos indispensáveis, devidamente traduzidos por tradutor oficial ou juramentado no Brasil e chancelados pela autoridade consular brasileira; (ii) haver sido proferida por autoridade competente; (iii) terem as partes sido regularmente citadas ou haver-se legalmente verificado a revelia; (iv) ter transitado em julgado; (v) não ofender “a soberania, a dignidade da pessoa humana e/ou ordem pública”. 2. Constam dos autos os documentos necessários ao deferimento do pedido, além de o conteúdo do título não ofender “a soberania, a dignidade da pessoa humana e/ou ordem pública” nem tampouco os bons costumes. 3. “A alegação de ausência de comprovação de citação válida no processo estrangeiro deve ser examinada cum grano salis, pois, por se tratar de instituto de direito processual, encontra-se inserida no âmbito da jurisdição e da soberania de cada país, circunstância que impõe a observância da legislação interna, não sendo possível impor as regras da legislação brasileira para ato praticado fora do país” (SEC 7.171/EX, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJe de 02/12/2013). Precedentes: SEC 7.758/EX, Rel. Min. Felix Fischer, DJe de 02/02/2015; SEC 9.570/EX, Rel. Min. Benedito Gonçalves, DJe de 17/11/2014; SEC 10.228/EX, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJe de 03/11/2014; AgRg na CR 8.609/EX, Rel. Min. Francisco Falcão, DJe de 22/10/2014. 4. Sentença estrangeira homologada.

SEC 9800 / EXRelator(a): Ministro BENEDITO GONÇALVES (1142)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 05/08/2015Ementa: PROCESSUAL CIVIL. SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. ARTIGOS 15 E 17 DA LEI DE INTRODUÇÃO à NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO. ARTS. 216-C, 216-D E 216-F DO RISTJ. REQUISITOS. CUMPRIMENTO. OFENSA à ORDEM PÚBLICA. AUSÊNCIA. 1. Nos termos dos artigos 15 e 17 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro e artigos 216-C, 216-D e 216-F do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça, que, atualmente,

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disciplinam o procedimento de homologação de sentença estrangeira, constituem requisitos indispensáveis ao deferimento da homologação, os seguintes: (i) a petição inicial deve estar instruída com o original ou cópia autenticada da decisão homologanda e de outros documentos indispensáveis, devidamente traduzidos por tradutor oficial ou juramentado no Brasil e chancelados pela autoridade consular brasileira; (ii) haver sido proferida por autoridade competente; (iii) terem as partes sido regularmente citadas ou haver-se legalmente verificado a revelia; (iv) ter transitado em julgado; (v) não ofender “a soberania, a dignidade da pessoa humana e/ou ordem pública”. 2. Constam dos autos os documentos necessários ao deferimento do pedido, além de o conteúdo do título não ofender “a soberania, a dignidade da pessoa humana e/ou ordem pública” nem tampouco os bons costumes. 3. O desconhecimento do paradeiro do requerido autoriza a citação editalícia neste processo de homologação, segundo a regra do art. 231, II, do CPC, mormente por inexistir prejuízo face a ausência de prole e de bens a partilhar. Precedentes: SEC 4.678/EX, Rel. Min. Raul Araújo, DJe de 18/02/2015; SEC 9.570/EX, Rel. Min. Benedito Gonçalves, DJe de 17/11/2014; SEC 261/EX, Rel. Min. humberto Martins, DJe de 01/07/2013; SEC 8.678/EX, Rel. Min. Castro Meira, DJe de 01/07/2013; SEC 8.165/EX, Rel. Min. herman Benjamin, DJe de 27/08/2013; SEC 6.345/EX, Rel. Min. Ari Pargendler, DJe de 28/02/2013. 4. Sentença estrangeira homologada.

SEC 10885 / EXRelator(a): Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE (1150)órgão Julgador: T3 - TERCEIRA TURMAData do Julgamento: 18/02/2016Ementa: PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. AGRAVO INTERNO CONTRA ACóRDÃO. RECURSO INCABÍVEL. ERRO GROSSEIRO. INAPLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE RECURSAL. AGRAVO REGIMENTAL. OMISSÃO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ACOLhIDOS COM EFEITOS INFRINGENTES. 1. Conforme o entendimento desta Corte, é manifestamente inadmissível o agravo regimental interposto contra acórdão. 2. Presente a omissão, insuperável é o reconhecimento da ofensa ao art. 535 do Código de Processo Civil e, por conseguinte, o acolhimento dos aclaratórios a fim de, sanando o vício apontado, não conhecer do agravo regimental. 3. Embargos de declaração acolhidos com efeitos infringentes.

SEC 10168 / EXRelator(a): Ministra MARIA ThEREZA DE ASSIS MOURA (1131)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 17/06/2015Ementa: SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. DOIS PROVIMENTOS

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JUDICIAIS. GUARDA DE MENOR E ALTERAÇÃO DE NOME. PREENChIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS APENAS QUANTO à CUSTóDIA. hOMOLOGAÇÃO PARCIAL. 1. A ausência de autenticação consular do provimento relativo à alteração do nome da menor impede a homologação da sentença estrangeira quanto ao ponto. 2. Com relação à guarda da menor, tem-se que a sentença estrangeira preenche os requisitos previstos nos arts. 216-A a 216-N do Regimento Interno deste Tribunal, incluídos pela Emenda Regimental nº 18/2014. 3. Deferido o pedido de homologação de sentença estrangeira apenas quanto à guarda da menor; indeferida a homologação do decisum relativo à alteração do nome.

SEC 10877 / EXRelator(a): Ministra LAURITA VAZ (1120)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 17/06/2015Ementa: hOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA. PORTUGAL. REGULAMENTAÇÃO DE RESPONSABILIDADES PARENTAIS. REQUERIDA RESIDENTE NO BRASIL. NECESSIDADE DE EXPEDIÇÃO DE CARTA ROGATóRIA CITATóRIA. REQUISITOS NÃO PREENChIDOS. INVALIDADE DA CITAÇÃO. INDEFERIMENTO DO PEDIDO. 1. há evidente irregularidade na citação da ora Requerida para a ação alienígena que ensejou a regulamentação de responsabilidades parentais, aí incluído o direito de visitas do Requerente ao seu filho menor de idade, na medida em que, a despeito de ter residência conhecida no Brasil, não houve a expedição de carta rogatória para chamá-la a integrar o processo, mas mera intimação por via postal, forma não admitida pela lei e jurisprudência pátrias. Resta desatendido, pois, requisito elementar para homologação da sentença estrangeira, qual seja, a prova da regular citação ou verificação da revelia. 2. Pedido de homologação indeferido. Condenação do Requerente às custas e honorários.

SEC 6344 / EXRelator(a): Ministro BENEDITO GONÇALVES (1142)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 03/06/2015Ementa: PROCESSUAL CIVIL. SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. ARTIGOS 15 E 17 DA LEI DE INTRODUÇÃO à NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO. ARTS. 216-C, 216-D E 216-F DO RISTJ. REQUISITOS. CUMPRIMENTO. OFENSA à ORDEM PÚBLICA. AUSÊNCIA. 1. Nos termos dos artigos 15 e 17 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro e artigos 216-C, 216-D e 216-F do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça, que, atualmente, disciplinam o procedimento de homologação de sentença estrangeira, constituem requisitos indispensáveis ao deferimento da homologação, os seguintes: (i) a petição inicial deve estar instruída com o original ou cópia autenticada da decisão homologanda

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e de outros documentos indispensáveis, devidamente traduzidos por tradutor oficial ou juramentado no Brasil e chancelados pela autoridade consular brasileira; (ii) haver sido proferida por autoridade competente; (iii) terem as partes sido regularmente citadas ou haver-se legalmente verificado a revelia; (iv) ter transitado em julgado; (v) não ofender “a soberania, a dignidade da pessoa humana e/ou ordem pública”. 2. Constam dos autos os documentos necessários ao deferimento do pedido, além de o conteúdo do título não ofender “a soberania, a dignidade da pessoa humana e/ou ordem pública” nem tampouco os bons costumes. 3. Esta Corte entende ser válida a disposição de partilha de bens imóveis situados no Brasil na sentença estrangeira quando realizada de maneira equitativa e por consenso entre as partes. Precedentes: SEC 1.320/EX, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, DJe de 16.10.2014; SEC 7.201/EX, Rel. Min. herman Benjamin, DJe de 21.11.2014; SEC 5.822/EX, Rel. Min. Eliana Calmon, DJe de 28.02.2013, SEC 8.810/EX, Rel. Min. humberto Martins, DJe de 16.10.2013, SEC 5.528/EX, Rel. Min. Sidney Beneti, DJe de 04.06.2013. 4. Sentença estrangeira homologada.

SEC 12727 / EXRelator(a): Ministra MARIA ThEREZA DE ASSIS MOURA (1131)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 03/06/2015Ementa: SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. PRESTAÇÃO DE ALIMENTOS. FALTA DE CITAÇÃO NO PROCESSO ALIENÍGENA. PEDIDO DE hOMOLOGAÇÃO INDEFERIDO. 1. Ausente um dos requisitos indispensáveis à homologação da sentença estrangeira, qual seja, a citação válida, indefere-se o pedido. 2. No caso, ao que se tem, o requerido já residia no Brasil à época em que tramitou o processo cuja sentença se pretende homologar. Desse modo, era imprescindível a citação do requerido no processo alienígena mediante carta rogatória, o que não ocorreu. 3. Pedido de homologação indeferido.

SEC 11590 / EXRelator(a): Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONhA (1123)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 03/06/2015Ementa: SENTENÇA ESTRANGEIRA. DIVóRCIO DECRETADO PELA JUSTIÇA AMERICANA. SENTENÇA hOMOLOGADA. 1. Sentença estrangeira que não viola a soberania nacional, os bons costumes e a ordem pública e que preenche as condições legais deve ser homologada. 2. Sentença estrangeira homologada.

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SEC 11094 / EXRelator(a) Ministro RAUL ARAÚJO (1143)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 03/06/2015Ementa: SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. DIVóRCIO. CITAÇÃO POR EDITAL. VALIDADE. REQUISITOS PARA hOMOLOGAÇÃO DA SENTENÇA ESTRANGEIRA. PREENChIMENTO. 1. É devida a homologação da sentença estrangeira de divórcio, porquanto foram atendidos os requisitos previstos no art. 15 da Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro e nos arts. 216-A a 216-N do RISTJ, bem como constatada a ausência de ofensa à soberania nacional, à ordem pública e à dignidade da pessoa humana (LINDB, art. 17; RISTJ, art. 216-F). 2. Pode ser considerada válida a citação editalícia quando há natural distanciamento dos cônjuges, após divórcio consensual realizado há anos, tendo ambos os ex-cônjuges participado da audiência e não havendo bens a partilhar ou filhos menores a considerar. 3. A citação editalícia, nos autos do pedido de homologação de sentença estrangeira, foi realizada com observância das exigências previstas nos arts. 231 e 232 do Código de Processo Civil. 4. Afasta-se a preliminar de nulidade da citação realizada por edital, deferindo-se o pedido de homologação da sentença estrangeira.

SEC 10700 / EXRelator(a): Ministro RAUL ARAÚJO (1143)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 03/06/2015Ementa: SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. ADOÇÃO. FALTA DE CONSENTIMENTO DO PAI BIOLóGICO. ABANDONO. SITUAÇÃO DE FATO CONSOLIDADA EM BENEFÍCIO DO ADOTANDO. REQUISITOS PARA hOMOLOGAÇÃO DA SENTENÇA ESTRANGEIRA. PREENChIMENTO. 1. Nos termos do art. 45 do ECA, a adoção depende do consentimento dos pais ou do representante legal do adotando, de modo que tal consentimento pode ser dispensado quando os pais do menor forem desconhecidos ou tenham sido destituídos, por decisão judicial, do pátrio poder familiar. A essas hipóteses de dispensa a jurisprudência desta Corte de Justiça acrescentou mais uma, qual seja, quando, excepcionalmente, for constatada uma situação de fato consolidada no tempo que seja favorável ao adotando, conforme ocorre no caso em exame. 2. É devida a homologação da sentença estrangeira de adoção, porquanto foram atendidos os requisitos previstos no art. 15 da Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro e nos arts. 216-A a 216-N do RISTJ, bem como constatada a ausência de ofensa à soberania nacional, à ordem pública e à dignidade da pessoa humana (LINDB, art. 17; RISTJ, art. 216-F). 3. Defere-se o pedido de homologação da sentença estrangeira.

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SEC 10123 / EXRelator(a): Ministro RAUL ARAÚJO (1143)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 03/06/2015Ementa: SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. CITAÇÃO NO PROCESSO ESTRANGEIRO POR CARTA REGISTRADA. INVIABILIDADE. RÉ: PESSOA JURÍDICA COM SEDE NO BRASIL. CITAÇÃO POR CARTA ROGATóRIA. OBRIGATORIEDADE. PRECEDENTES. INDEFERIMENTO DO PEDIDO DE hOMOLOGAÇÃO. 1. A jurisprudência desta Corte de Justiça, seguindo entendimento já firmado oportunamente pelo Pretório Excelso, orienta-se no sentido de que a citação de pessoa domiciliada no Brasil para responder a processo judicial no exterior deve-se realizar necessariamente por meio de carta rogatória, sendo inadmissível a utilização de outras modalidades. 2. Indefere-se o pedido de homologação de sentença estrangeira.

SEC 8106 / EXRelator(a): Ministro RAUL ARAÚJO (1143)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 03/06/2015Ementa: SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. DIVóRCIO. PARTILhA DE BENS. IMóVEL SITUADO NO BRASIL. ACORDO ENTRE OS EX-CÔNJUGES hOMOLOGADO NO EXTERIOR. REQUISITOS PARA hOMOLOGAÇÃO DA SENTENÇA ESTRANGEIRA. PREENChIMENTO. 1. É devida a homologação da sentença estrangeira de divórcio, porquanto foram atendidos os requisitos previstos no art. 15 da Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro e nos arts. 216-A a 216-N do RISTJ, bem como constatada a ausência de ofensa à soberania nacional, à ordem pública e à dignidade da pessoa humana (LINDB, art. 17; RISTJ, art. 216-F). 2. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, não obstante o disposto no art. 89, I, do CPC e no art. 12, § 1º, da LINDB, autoriza a homologação de sentença estrangeira que, decretando o divórcio, convalida acordo celebrado pelos ex-cônjuges quanto à partilha de bens imóveis situados no Brasil, que não viole as regras de direito interno brasileiro. 3. Defere-se o pedido de homologação da sentença estrangeira.

SEC 11138 / EXRelator(a): Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES (1141)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 03/06/2015Ementa: SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. AÇÃO DE REGULAÇÃO DAS RESPONSABILIDADES PARENTAIS EM RELAÇÃO à MENOR FILhA DO CASAL. ALIMENTOS E GUARDA DE FILhA. PORTUGAL. AUSÊNCIA DE TRADUÇÃO. REQUISITOS PREENChIDOS. COMPETÊNCIA CONCORRENTE. hOMOLOGAÇÃO DEFERIDA. 1. Nos termos dos artigos 216-D e 216-F do

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Regimento Interno do STJ e do art. 15 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, constituem requisitos indispensáveis à homologação de sentença estrangeira: haver sido proferida por autoridade competente; terem as partes sido citadas ou haver-se legalmente verificado a revelia; ter transitado em julgado; estar autenticada pelo cônsul brasileiro e acompanhada de tradução por tradutor oficial ou juramentado no Brasil; não ofender a soberania ou ordem pública. No presente caso, os requisitos encontram-se cumpridos. Saliento apenas que inexiste necessidade da sentença estar acompanhada de tradução oficial ou juramentada no Brasil, já que se trata de sentença proferida pelo Tribunal da Comarca de Alentejo Litoral/Portugal, cujo idioma praticado é o português. Precedentes: SEC 5.590/EX, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, CORTE ESPECIAL, julgado em 09/06/2011, DJe 28/06/2011 ; SE 4595/PT, Rel. Min. Cesar Rocha. 2. “Segundo o sistema processual adotado em nosso País em tema de competência internacional (CPC, arts. 88 a 90), não é exclusiva, mas concorrente com a estrangeira, a competência da Justiça brasileira para, entre outras, a ação de divórcio, de alimentos ou de regime de guarda de filhos, e mesmo a partilha de bens que não sejam bens situados no Brasil. Isso significa que “a ação intentada perante tribunal estrangeiro não induz litispendência, nem obsta que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são conexas” (CPC, art. 90) e vice-versa” (SEC 4.127/EX, Rel. Ministra NANCY ANDRIGhI, Rel. p/ Acórdão Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, CORTE ESPECIAL, julgado em 29/08/2012, DJe 27/09/2012 ). 3. Pedido de homologação deferido.

SEC 11132 / EXRelator(a): Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES (1141)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 03/06/2015Ementa: SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. ESPANhA. DIVóRCIO. CITAÇÃO POR EDITAL. AUSÊNCIA DE NULIDADE. REQUERIDA DESAPARECIDA. REQUISITOS PREENChIDOS. PEDIDO DEFERIDO. 1. A citação editalícia foi deferida, nos termos do inciso III do art. 232 do CPC, porque a Requerida encontra-se em lugar não sabido, não tendo sido encontrada pelo Requerente, que não teve filhos com a ex-cônjuge. Afinal, passados mais de nove anos desde a sentença até o ajuizamento deste pedido de homologação, é natural e justificável o alegado desconhecimento do endereço atual da ex-cônjuge. Não há, assim, razão alguma que justifique venha a requerente a saber do paradeiro de seu ex-cônjuge, sendo correta, portanto, a citação por edital. 2. Preenchidos os requisitos dos artigos 216-C e 216-D do Regimento Interno deste Superior Tribunal de Justiça, bem como não ocorrendo as hipóteses do art. 216-F do RISTJ, impõe-se a homologação da sentença estrangeira. 3. Pedido de homologação de sentença estrangeira deferido.

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SEC 11429 / EXRelator(a): Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILhO (1133)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 03/06/2015Ementa: SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. EXECUÇÃO DE ALIMENTOS FIXADOS NA AÇÃO DE DIVóRCIO EM FAVOR DE FILhA MENOR DE IDADE. CESSAÇÃO DO PAGAMENTO. PREENChIMENTO DOS ARTS. 216-A A 216-N DO REGIMENTO INTERNO DESTA CORTE. hOMOLOGAÇÃO DEFERIDA. 1. O pedido está em conformidade com os arts. 216-A a 216-N do RISTJ e art. 15 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, pois a sentença de dissolução de casamento e fixação de alimentos foi proferida por autoridade competente, as partes eram domiciliadas no estrangeiro, ambas foram citadas e compareceram aos atos necessários e ocorreu o trânsito em julgado, não havendo que se cogitar em ofensa à soberania nacional ou à ordem pública . 2. Dispensável a chancela consular, como tem entendido esta Corte, quando os documentos foram enviados diretamente pela Autoridade Estrangeira, tendo sido traduzidos por tradutor juramentado no Brasil (SEC 2.772/FR, Rel. Min. CASTRO MEIRA, DJe 5/2/2009). 3. Para a homologação de sentença estrangeira apenas se verifica o cumprimento os requisitos objetivos previstos, em mero juízo de delibação. As questões meritórias e óbices ao cumprimento das obrigações podem e devem ser discutidas perante o juízo competente de primeiro grau de jurisdição. 4. Homologação de sentença estrangeira deferida.

SEC 10857 / EXRelator(a): Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILhO (1133)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 03/06/2015Ementa: PROCESSUAL CIVIL. FAMÍLIA. hOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. SEPARAÇÃO CONVERTIDA EM DIVóRCIO. PREENChIMENTO DOS REQUISITOS PREVISTOS NOS ARTS. 216-C e 216-D do RISTJ. SENTENÇA ESTRANGEIRA hOMOLOGADA. 1. A impugnação sobre a dúvida na autenticidade dos documentos estrangeiros foi juridicamente afastada dada a incidência do art. 11 da Lei 11.419/2006, e também pela consolidação do entendimento dessa Corte Superior, conforme os precedentes que menciona. 2. A dúvida sobre o trânsito em julgado pode ser afastada em razão da sentença de divórcio ser posterior à separação; ato confirmado pela autoridade competente dinamarquesa. 3. Comprovado o cumprimento de todos os requisitos previstos nos arts. 216-C e 216-D do RISTJ. 4. Sentença estrangeira homologada.

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SEC 9617 / EXRelator(a): Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILhO (1133)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 03/06/2015Ementa: PROCESSUAL CIVIL. FAMÍLIA. SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. DIVóRCIO. PREENChIMENTO DOS REQUISITOS PREVISTOS NOS ARTS. 216-C e 216-D do RISTJ. PARTILhA DE IMóVEIS. CLÁUSULAS CONSENSUAIS. MÉRITO. QUESTÃO ALhEIA AO JUÍZO DE DELIBAÇÃO. REQUISITOS FORMAIS ATENDIDOS. hOMOLOGAÇÃO DEFERIDA. 1. A documentação apresentada preenche os requisitos dos arts. 216-C e 216-D do RISTJ e do art. 15 da LINDB. 2. O STJ admite a validade de cláusula consensual inserida em sentença estrangeira que verse sobre imóveis situados no Brasil (SEC 7.201/EX, Rel. Min. HERMAN BENJAMIN, CORTE ESPECIAL, Dje 21.11.2014). 3. Não cabe a esta Corte, no ato homologatório apreciar o mérito da sentença estrangeira, restringindo sua análise apenas aos requisitos formais. 4. Sentença Estrangeira homologada.

SEC 12254 / EXRelator(a): Ministro OG FERNANDES (1139)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 03/06/2015Ementa: SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. CURADORIA ESPECIAL. DIVóRCIO.CUMPRIMENTO DOS REQUISITOS DOS ARTS. 5º E 6º DA RESOLUÇÃO STJ N.9/2005. hOMOLOGAÇÃO. 1. Controvérsia que se cinge a apreciar pedido de homologação de sentença de dissolução de vínculo matrimonial proferida pela Justiça da Alemanha. 2. Este Tribunal exerce juízo meramente delibatório nas hipóteses de homologação de sentença estrangeira; vale dizer, cabe ao STJ, apenas, verificar se a pretensão atende aos requisitos previstos no art. 5º da Resolução STJ n. 9/2005 e se não fere o disposto no art. 6º do mesmo ato normativo, bem como as disposições da LINDB. 3. A questão controvertida, trazida pela Defensoria Pública da União, referente à ausência de requisito formal da chancela consular, fora devidamente suprida. 4. Por sua vez, não está obrigada a requerente a conhecer o atual paradeiro do ex-cônjuge, tendo em vista que a relação foi dissolvida há alguns anos. Ademais, o divórcio, na origem, foi celebrado de forma consensual, com ambos os cônjuges presentes. 5. Pedido que consiste, de fato, em mero requerimento de regularização, no Brasil, da condição de estado da requerente. Inexistência de bens a partilhar ou filhos menores a considerar. 6. Pedido de homologação de sentença estrangeira deferido.

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SEC 7570 / EXRelator(a): Ministro HERMAN BENJAMIN (1132)órgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 03/06/2015Ementa: SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. CONVENÇÃO SOBRE PRESTAÇÃO DE ALIMENTOS NO ESTRANGEIRO. PREENChIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS NECESSÁRIOS. CITAÇÃO POR EDITAL. LEGALIDADE. TRADUTOR JURAMENTADO. DISPENSA. VIA DIPLOMÁTICA. 1. Trata-se de pedido de homologação de sentença estrangeira do Sexto Juízo Cível do Tribunal de Amsterdã formulado pela Procuradoria-Geral da República, nos termos da Convenção Sobre Prestação de Alimentos no Estrangeiro (Decreto 56.826/1965). 2. A documentação apresentada preenche os requisitos previstos no art. 5º da Resolução STJ 9/2005. 3. É legítima a citação por edital, uma vez que atendidos os requisitos estabelecidos pelo art. 232 do CPC: afirmação do autor e certidão do oficial quanto às circunstâncias previstas nos incisos I e II do artigo 231. 4. Da mesma forma, não merece acolhida a insurgência quanto à falta de observância de tradução por tradutor juramentado. Conforme definido pela Corte Especial do STJ, “As exigências de que a sentença estrangeira esteja autenticada pelo cônsul brasileiro e de que tenha sido traduzida por tradutor juramentado no Brasil cedem quando o pedido de homologação tiver sido encaminhado pela via diplomática” (SEC 2.108/FR, Rel. Ministro Ari Pargendler, DJe 25.6.2009). 5. Pedido de homologação de sentença estrangeira deferido.

SEC 10076 / EXRelator(a): Ministro OG FERNANDESórgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 20/05/2015Ementa: DIREITO INTERNACIONAL. PROCESSUAL CIVIL. SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. PLEITO DE hOMOLOGAÇÃO. INADIMPLEMENTO DE CONTRATO. SENTENÇA ESTRANGEIRA. DIVISÃO QUEEN´S BENCh DO TRIBUNAL COMERCIAL DO REINO UNIDO DA GRÃ-BRETANhA E IRLANDA DO NORTE. IRREGULARIDADES FORMAIS. AUSÊNCIA. PRESENÇA DOS REQUISITOS DE hOMOLOGAÇÃO. 1. A homologação de sentença estrangeira é procedimento que visa dar executoriedade interna a sentenças proferidas em outro país. Como é cediço, adotamos o “sistema de delibação”, pelo qual se examinam, singularmente, as formalidades da sentença à luz de princípios fundamentais para se considerar justo um processo, tais como: respeito ao contraditório e à ampla defesa, legalidade dos atos processuais, respeito aos direitos fundamentais humanos, adequação aos bons costumes. Em outras palavras, no nosso sistema judicial observa-se, apenas, a obediência aos requisitos formais do processo, não se aprofundando em questões de mérito. 2. A sentença estrangeira de que se cuida preenche adequadamente todos os requisitos referidos nos arts. 3º, 4º, 5º e 6º

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da Resolução n. 9/2005, desta Corte Superior de Justiça, bem como no art. 15 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB). 3. A regularidade formal foi atendida, presentes toda documentação exigida pelas normas de regência. 4. Não há violação à ordem pública, por desrespeito à ampla defesa, quando se verifica regular citação por carta rogatória. 5. Questões meritórias são infensas às possibilidades de análise no âmbito da mera homologação. 6. Pedido de homologação deferido.

SEC 4278 / EXRelator(a): Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILhOórgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 06/05/2015Ementa: PROCESSUAL CIVIL. FAMÍLIA. hOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA. SEPARAÇÃO CONSENSUAL. PREENChIMENTO DOS REQUISITOS PREVISTOS NOS ARTS. 5o. E 6o. DA RESOLUÇÃO STJ 9/2005. CONFLITO MANIFESTADO PELAS PARTES COM RELAÇÃO A TEMAS QUE EXTRAPOLAM O CONTEÚDO DA SENTENÇA hOMOLOGANDA. IMPOSSIBILIDADE DE APRECIAÇÃO. MERO JUÍZO DE DELIBAÇÃO. SENTENÇA DE SEPARAÇÃO CONSENSUAL hOMOLOGADA. 1. Constam dos autos os documentos necessários ao deferimento do pedido, havendo comprovação dos requisitos previstos nos arts. 5o. e 6o. da Resolução STJ 9/2005. 2. Ainda que possa haver dúvida se o documento de fls. 25/26 equivale à certidão de trânsito em julgado, a ocorrência desse fenômeno pode ser presumida dada a natureza consensual da separação e pela ausência de impugnação da parte Requerida quanto a esse requisito. 3. As questões relativas à manutenção do uso do nome de casada pela Requerente, bem como da guarda da filha ainda menor de idade, não constantes da sentença homologanda, desbordam do mero juízo de delibação, relacionando-se ao cumprimento da sentença, não cabendo ao Superior Tribunal de Justiça o exame de matéria pertinente ao mérito, salvo para, dentro de estreitos limites, verificar eventual ofensa à ordem pública e à soberania nacional, o que não é o caso. 4. Sentença estrangeira homologada.

SEC 11939/ EXRelator(a): Ministro MARIA ThEREZA DE ASSIS MOURAórgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 06/05/2015Ementa: SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. DIVóRCIO, GUARDA E ALIMENTOS DE FILhO MENOR. PROCESSOS PENDENTES NA JUSTIÇA BRASILEIRA. IRRELEVâNCIA. COMPETÊNCIA CONCORRENTE. PEDIDO DEFERIDO. 1. Tratando-se de competência internacional concorrente, o fato de haver processos pendentes no Brasil com o mesmo objeto da sentença homologanda não impede a homologação da sentença estrangeira. Não obstante, tendo em vista o caráter

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rebus sic stantibus do decisum relativo à guarda de menor, as decisões proferidas pela Justiça Brasileira sobre o tema deverão ser consideradas em sede de execução do julgado. 2. Pedido deferido.

SEC 9272/ EXRelator(a): Ministro MARIA ThEREZA DE ASSIS MOURAórgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 06/05/2015Ementa: hOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA PROFERIDA NOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. DIVóRCIO LITIGIOSO. PARTILhA DE BENS E ALIMENTOS. 1. A sentença estrangeira, proferida pela autoridade competente, transitou em julgado, está autenticada pelo cônsul brasileiro e traduzida por tradutor juramentado no Brasil. Houve citação no processo alienígena. 2. A sentença homologanda, embora não tenha feito expressa referência a bens situados no Brasil, determinou a partilha de todo o vasto patrimônio adquirido em comum, o que acaba por incluir os imóveis situados no Brasil, não podendo, nesse ponto, ser objeto de homologação. Cumpre registrar que inexistiu acordo entre as partes a respeito. 3. No tocante à pensão alimentícia, o fato de haver ação tramitando no Brasil a respeito do mesmo tema não impede a homologação da sentença estrangeira. 4. Homologação da sentença estrangeira parcialmente deferida, excluída a questão referente à partilha.

SEC 9429/ EXRelator(a): Ministro hUMBERTO MARTINSórgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 06/05/2015Ementa: DIREITO INTERNACIONAL. PROCESSUAL CIVIL. SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. DIVóRCIO CONSENSUAL. DIVERGÊNCIA EM RELAÇÃO AOS ALIMENTOS. POSSIBILIDADE DE REVISÃO FUTURA. PARTILhA DE BENS SITUADOS NO EXTERIOR. AUSÊNCIA DE OFENSA à SOBERANIA. INEXISTÊNCIA DE óBICES. REQUISITOS FORMAIS ATENDIDOS. hOMOLOGAÇÃO. 1. Pedido de homologação de sentença estrangeira de divórcio na qual foram fixados guarda compartilhada, alimentos, obrigações mútuas para educação e despesas de saúde da prole, bem como divididos bens havidos no exterior,. Os únicos óbices trazidos em contestação dizem respeito à condição econômica da parte requerida para o pagamento dos alimentos e remete ao debate da divisão dos bens havidos no estrangeiro. 2. O juízo de delibação, via de regra, não é o meio adequado para postular a revisão dos alimentos, que poderá ser buscada por meio da devida ação revisional em razão da alteração da condição econômica. Precedente: SEC 5.822/EX, Rel. Ministra Eliana Calmon, Corte Especial, DJe 28.2.2013. 3. A partilha de bens havidos e situados no exterior, em sentença de divórcio estrangeira, não configura cláusula que ofenda a ordem jurídica brasileira e, portanto, não configura

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óbice à homologação. 4. Estando presentes os requisitos formais, fixados na Resolução STJ n. 9/2005, bem como nos arts. 15 a 18 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB, Decreto-Lei n. 4.657/1942), deve ser homologada a sentença. Pedido de homologação deferido.

SEC 7804 EXRelator(a): Ministro hUMBERTO MARTINSórgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 06/05/2015Ementa: DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO. PROCESSUAL CIVIL. hOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA. DIVóRCIO CONSENSUAL. PRELIMINAR DE NULIDADE. CITAÇÃO. TENTATIVA POR MEIO DE CARTA ROGATóRIA. CITAÇÃO POR EDITAL. LICITUDE. PRECEDENTES. REQUISITOS ATENDIDOS. DEFERIMENTO. 1. Pedido de homologação de sentença estrangeira de divórcio consensual. É trazida preliminar de nulidade pela curadoria especial em relação à citação por edital, pois argumenta que deveria ter havido mais comprovação de tentativas de localização da parte requerente. 2. Está devidamente comprovada, no caso, a tentativa infrutífera de citação por carta rogatória (fls. 134-368), que deu ensejo à citação por edital. A jurisprudência do STJ tem se firmado no sentido se rejeitar tal preliminar de nulidade se for evidenciada ativa tentativa de localização da parte contrária, sendo lícita a citação por edital, prevista nos arts. 231 e 232 do Código de Processo Civil. Precedentes: SEC 9.386/EX, Rel. Ministro Raul Araújo, Corte Especial, DJe 18.2.2015; SEC 2.845/EX, Rel. Ministro Gilson Dipp, Corte especial, DJe 26.6.2013. 3. Estando atendidos os requisitos da Resolução STJ n. 9/2005, bem como nos arts. 15 e 16 da LINDB (Decreto-Lei n. 4.657/1942), deve ser deferida a homologação. Pedido de homologação deferido.

SEC 5477 EXRelator(a): Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILhOórgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 06/05/2015Ementa: SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. DIREITO CIVIL. DIVERGÊNCIAS CONTRATUAIS. COBRANÇA E GARANTIA. CUMPRIMENTO DOS REQUISITOS EXIGIDOS PELA RESOLUÇÃO 9/STJ. ALEGAÇÃO DE OFENSA à SOBERANIA NACIONAL PELA EXISTÊNCIA DA CLÁUSULA DE ELEIÇÃO DE FORO E DE INEXISTÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO DA SENTENÇA. PARECER DO MPF PELA hOMOLOGAÇÃO. MERO JUÍZO DE DELIBAÇÃO. SENTENÇA ESTRANGEIRA hOMOLOGADA. 1. Nos termos da Resolução STJ 9/2005 para a homologação de sentença estrangeira somente cabe ao STJ verificar a presença dos requisitos, em mero juízo de delibação. 2. Cumpridos os requisitos previstos na Resolução STJ 9/2005, é de ser homologada a sentença

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estrangeira. 3. Não cabe nessa seara a análise das cláusulas contratuais a que se submeteram as partes, dentre elas, se se trata de contrato de adesão ou sobre a validade da cláusula de eleição de foro. 4. A estrutura da sentença estrangeira também não pode ser óbice à sua homologação, pois deve reger-se pela legislação alienígena e não pela lei brasileira. 5. Sentença estrangeira homologada.SEC 11060Relator(a): Ministro OG FERNANDESórgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 06/05/2015Ementa: SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. DIVóRCIO. PREENChIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS NECESSÁRIOS. COMPROVAÇÃO DO TRâNSITO EM JULGADO. CARIMBO DE ARQUIVAMENTO (FILED). EMENDA. JUNTADA ChANCELA CONSULAR. hOMOLOGAÇÃO DEFERIDA. 1. Trata-se de pedido de homologação de sentença de divórcio proferida pela Corte Superior da Califórnia - Estados Unidos da América, em 28 de abril de 1996. 2. Citado por edital, o requerido não ofereceu contestação. Na condição de curadora especial, a Defensoria Pública da União contestou o pedido, sob fundamento de que não se comprovou o trânsito em julgado e que carecia de chancela consular. 3. A documentação apresentada preenche os requisitos previstos no art. 5º da Resolução STJ 9/2005. 4. As alegações trazidas em contestação pela douta Defensoria Pública da União não se mostram mais pertinentes, tendo em vista que houve regularização formal da falhas apontadas, trazendo-se aos autos a devida autenticação da sentença homologanda pela autoridade consular brasileira, com tradução oficial, conforme bem demonstrou o judicioso Parecer ministerial, com o cotejo de toda documentação. 5. Em relação à comprovação do trânsito em julgado de sentença proferida pela Justiça norte-americana, há precedentes específicos no sentido da admissibilidade do carimbo “FILED” aposto na decisão. 6. Pedido de homologação de sentença estrangeira deferido.

SEC 11875 / EXRelator(a): Ministro FELIX FISChERórgão Julgador: CE - CORTE ESPECIALData do Julgamento: 06/05/2015Ementa: SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. REGIME DO EXERCÍCIO DO PODER PATERNAL. ALEGADA AUSÊNCIA DE CONTESTAÇÃO NO PROCESSO ORIGINAL. INOCORRÊNCIA. REVELIA DECRETADA NOS TERMOS DA LEGISLAÇÃO PORTUGUESA. DEMAIS REQUISITOS PREENChIDOS. hOMOLOGAÇÃO DEFERIDA. I - Trata-se de pedido de homologação de sentença estrangeira que alterou o regime do exercício do poder paternal de menor. II - No caso, o pleito está em conformidade com os arts. 216-C, 216-D e 216-F do Regimento Interno desta Corte e com o art. 15 da Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro, pois constata-se que foi apresentada a sentença

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estrangeira proferida por autoridade competente, chancelada por autoridade consular brasileira (fls. 15-21) e com o trânsito em julgado certificado, não havendo se cogitar, pois, em ofensa à soberania nacional ou à ordem pública. III - Ademais, as regras para a decretação da revelia são firmadas de acordo com o sistema processual do país de origem do título judicial sob análise. Precedentes. Homologação deferida.

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