jurisprudência marítima kincaid

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Jurisprudência Marítima

Kincaid

2020

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Jurisprudência Marítima

Kincaid

- 2020 -

Coordenação:

Godofredo Mendes Vianna

Camila Mendes Vianna Cardoso

Lucas Leite Marques

Organização:

Lucas Leite Marques

Rodrigo Figueiredo da Silva Cotta

Carolina Paes Costa de Oliveira

Contribuição:

Equipe de Contencioso Marítimo do Kincaid | Mendes Vianna Advogados

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HOMENAGEM

(1ª Edição, 2014; 2ª Edição, 2019)

Já faz cinco anos que nosso grande amigo e colega de trabalho nos deixou. Como o tempo passa! Lembro-me claramente que após um dia de trabalho habitualmente agitado, trocamos algumas risadas e comentários descontraídos antes que o meu companheiro de sala deixasse o escritório às pressas para ministrar sua aula em um curso de especialização em direito marítimo. Foi esta a última vez que o vi e, assim, no dia 05 de setembro de 2013, nosso amigo Leandro Souza de Oliveira deixou o escritório. Difícil descrever o impacto de sua súbita ausência, especialmente na sala que dividíamos, cuja mesa antes tão ocupada de livros, pastas e peças processuais, de repente se mostrava vazia. Somente o tempo, a continuidade das Rotinas e o dia a dia de trabalho foram capazes de amenizar a angústia e, mais do que isso, fazer refulgir algumas lições e frutos dos trabalhos que realizava no escritório com tanto entusiasmo. Seja como for, sua figura jamais deixou ou deixará de ser lembrada e seu nome continua vibrante no timbre de nosso Escritório. A presente obra compõe-se, portanto, de uma compilação de decisões e excertos jurisprudenciais extraídos das teses, arrazoados e materiais de estudo sobre temas atinentes ao direito marítimo com os quais nosso estimado amigo lidava com maestria. Esta coletânea de julgados de Direito Marítimo tem como objetivo facilitar a atuação forense no ramo e, além

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disso, manter viva a influência do nosso saudoso amigo como inspiração aos colegas de escritório, que continuarão a defender com afinco as teses pelas quais ele tanto se dedicou. Renovamos, assim, a nossa homenagem ao amigo e grande advogado, Leandro Souza de Oliveira.

LUCAS LEITE MARQUES Sócio do escritório Kincaid | Mendes Vianna

Advogados

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PREFÁCIO

Este livro é uma homenagem a Leandro Souza de Oliveira, que faleceu no dia 21 de outubro de 2013. Conheci o Leandro ainda estagiário aqui no Escritório e acompanhei de perto o seu crescimento profissional. Compareci ao seu casamento, chá de bebê e presenciei toda a sua alegria com o nascimento de sua filha Julia. Foi uma perda não anunciada, daquelas difíceis de absorver. Fugiu do esperado e contrariou a ordem natural, nos fazendo lembrar que a vida não segue rumos precisos e que cada dia deve ser vivido de forma plena. Este livro, portanto, dedicamos à Julia, sua filha adorada, para que possa contemplar alguns dos trabalhos realizados pelo seu talentoso Pai e apreciar sua inteligência. Não posso deixar de mencionar também todo nosso carinho e admiração pela sua esposa Renata. Elegância rara de se encontrar nos dias de hoje. Discreta, digna e com certeza foi uma grande companheira. Jovem e admirável mulher, de rara inteligência, ingressou bem jovem na magistratura entre as primeiras colocadas no concurso para juíza federal. Algumas decisões aqui compiladas são oriundas de processos judiciais que o Leandro cuidou e bem sabemos o que isto significa. A busca da tese adequada, da redação e tom coerentes, a escolha da melhor estratégia, tudo sob a pressão de cumprir os exíguos prazos judiciais. Foram noites mal dormidas, almoços perdidos, compromissos desmarcados, longas viagens e uma dedicação total. Mas surpreendentemente, nós, advogados, esquecemos todo este desgaste diante de nossa satisfação na leitura de uma decisão acertada, acolhendo o bom direito e os interesses que estamos a defender. Satisfação que reverbera ainda mais quando somos capazes de identificar nossa influencia nas decisões judiciais, refletidas nos pontos que ressaltamos, enfim, no convencimento do juiz e na justa aplicação do Direito. Leandro vibrava e era apaixonado pelo seu trabalho de advogado e talvez por esta razão o fizesse tão bem.

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Foi um grande amigo e as amizades nascem das afinidades nas ideias, nas inclinações, na escolha livre daqueles que nos são semelhantes ou nem tão semelhantes assim. Os amigos representam a família que escolhemos para caminhar e compartilhar a vida. Este trabalho de compilação de jurisprudência foi realizado pela dedicada equipe de contencioso com a qual trabalhava. Era um desejo antigo do Leandro poder reunir em um livro diversas decisões interessantes acerca da área marítima, pois, afinal, temos pouco material jurisprudencial no Brasil sobre este tema, fatos estes que certamente inspiraram a equipe neste árduo trabalho. Faço um especial parêntesis aqui para enaltecer os nobres Julgadores, de todo o país, que proferiram os julgados citados nesta obra. No Rio de Janeiro, especialmente, temos juízes aos quais a competência das varas Empresariais atribui uma especialização às causas relacionadas ao direito marítimo e também temos o privilégio de contar com excelentes juízes no Tribunal Marítimo. Leandro sempre comentava como era muito bem recebido por estes juízes, que se dedicam a estudar e aplicar o direito marítimo. Espero que este trabalho seja útil para aqueles que militam na área marítima e possa deixar uma mensagem de admiração e carinho ao nosso Leandro.

CAMILA MENDES VIANNA CARDOSO Sócia do escritório Kincaid | Mendes Vianna

Advogados

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SUMÁRIO

1. Abalroamento e Colisão ................................................................................ 29

a) Abalroamento entre embarcações – Culpa concorrente atribuída pelo Tribunal Marítimo – Ação Judicial – Reconhecimento de culpa exclusiva pelo Judiciário – Teoria da causalidade adequada ................................................ 29

b) Abalroamento entre embarcações – Cruzamento de canal de acesso ao porto ............................................................................................... 32

c) Abalroamento entre embarcações – Culpa concorrente ...................... 33

d) Abalroamento entre embarcações – Inaplicabilidade de Prescrição Ânua – Manutenção da decisão proferida pelo Tribunal Marítimo ............... 34

e) Abalroamento entre embarcações – Legitimidade Ativa – Manutenção da decisão proferida pelo Tribunal Marítimo ................................................. 35

f) Abalroamento entre embarcações – Insuficiência de provas – Sentença mantida – Conflito probatório resolve-se em favor da improcedencia ......... 35

g) Abalroamento entre embarcações – Força maior ................................ 36

h) Abalroamento entre embarcações – Falha de sistema - Caso fortuito 37

2. Afretamento .................................................................................................. 39

a) Afretamento – Responsabilidade subsidiária da afretadora por débitos trabalhistas do armador ................................................................................. 39

b) Afretamento – Distinção entre afretamento e transporte – Não incidência de ICMS .......................................................................................... 40

c) Afretamento – Acordo de Cooperação Marítima e troca de espaço – Disputa contratual – Inaplicabilidade da prescrição ânua ............................. 42

d) Afretamento – Disputa contratual – Prescrição quinquenal ................. 43

e) Afretamento – Cobrança de Sobrestadia e frete morto – Inaplicabilidade do CDC .................................................................................. 44

f) Afretamento – Disputas contratuais – excesso de consumo de combustível ..................................................................................................... 45

g) Afretamento – Disputas contratuais – fornecimento de combustível contaminado ................................................................................................... 50

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h) Afretamento – Disputas contratuais – Certificado De Autorização De Afretamento (CAA) – indisponibilidade/rescisão antecipada ......................... 51

i) Afretamento – Disputas contratuais – aplicação de multa contratual ........................................................................................................ 89

3. Agente Marítimo ......................................................................................... 105

a) Agente Marítimo – Relação jurídica com natureza de mandato – Ilegitimidade passiva para responder por ato do armador/transportador ................................................................................ 105

b) Agente Marítimo – Inexistência de solidariedade com o armador/transportador ................................................................................ 111

c) Agente Marítimo – Ausência de nexo causal por dano ambiental atribuível ao armador ................................................................................... 113

d) Agente Marítimo – Impossibilidade de responsabilização por infração sanitária cometida pelo armador – Ausência de previsão legal .................. 117

e) Agente Marítimo – ISS – Não Incidência .............................................. 118

4. Arresto ......................................................................................................... 119

a) Arresto de embarcação – Direito de continuar navegando ................ 119

b) Arresto de embarcação – Navio estrangeiro – Danos provocados em território brasileiro – Garantia ...................................................................... 120

c) Arresto de embarcação – Dívida de Bunker – Crédito privilegiado ..... 127

d) Arresto de embarcação – Crédito líquido e certo ................................ 130

e) Arresto de embarcação – Dívidas contraídas pelo agente marítimo em nome do armador estrangeiro ...................................................................... 131

f) Arresto de embarcação – Abandono – Risco de perecimento e danos ambientais – Alienação antecipada da embarcação ................................... 131

g) Arresto de embarcação – Violação de direito líquido e certo do proprietário da embarcação ......................................................................... 133

h) Arresto de embarcação – ausência de jurisdição para arresto no Brasil ......................................................................................................... 134

5. Atraso .......................................................................................................... 137

a) Atraso – Previsão de chegada do transporte não implica em certeza – Ausência de responsabilidade do transportador .......................................... 137

b) Atraso – Demora excessiva - Responsabilidade do transportador ...... 140

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c) Atraso – Demora na liberação da carga por falta do conhecimento de transporte – Ausência de responsabilidade do transportador .................... 142

d) Atraso – Transporte marítimo de carga - Impossibilidade de responsabilização do agente ........................................................................ 142

e) Atraso – Trâmites alfandegários – Ausência de responsabilidade ..... 143

f) Atraso – Transporte Marítimo – Hipótese equiparada a caso fortuito – Exclusão de responsabilidade do transportador .......................................... 143

6. Avaria Grossa ............................................................................................... 145

a) Avaria grossa – Varação ...................................................................... 145

b) Avaria grossa – Rateio das despesas extraordinárias ......................... 146

c) Avaria grossa – Incêndio ...................................................................... 147

d) Avaria grossa – Inexistência de litisconsórcio necessário entre a consignatária e a seguradora da carga ........................................................ 148

e) Abalroamento entre embarcações – Inexistência de avaria grossa ... 149

7. Carga Refrigerada – Divergência de Temperatura ...................................... 151

a) Transporte marítimo – Carga refrigerada – Avaria – Ausência de prova de incorreção na temperatura do contêiner – Ausência de responsabilidade do transportador ........................................................................................... 152

b) Avaria de carga refrigerada – Carga perecível – Ausência de variação de temperatura durante o transporte – Falha do embarcador ................... 153

c) Avaria de carga refrigerada – Carga perecível – Inexistência de variação de temperatura durante o transporte – Falta de provas do momento de ocorrência do dano ................................................................. 153

d) Avaria de carga refrigerada – Carga perecível – Vício de origem da mercadoria – Ausência de responsabilidade do transportador ................... 154

8. Cláusula Arbitral .......................................................................................... 157

a) Sentença arbitral estrangeira – Cláusula compromissória – Ausência de impugnação .................................................................................................. 157

b) Arbitragem – Cláusula compromissória – Pressuposto processual negativo – Competência do juízo arbitral .................................................... 157

c) Arbitragem – Cláusula compromissória – Validade – Extinção do processo ........................................................................................................ 158

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d) Arbitragem – Cláusula compromissória no contrato firmado pelo segurado – Eficácia perante a seguradora subrogada – Extinção do processo ......................................................................................................... 158

e) Arbitragem – Cláusula compromissória – instituição do procedimento arbitral ........................................................................................................... 159

9. Clube de P&I ................................................................................................ 161

a) Clube de P&I – Natureza do P&I - Solidariedade do clube de proteção e indenização (P&I Club) e o armador integrante da associação - Descabimento ................................................................................................ 161

10. Código de Defesa do Consumidor .............................................................. 167

a) Transporte Marítimo – Reclamação por Avaria de Carga – Inaplicabilidade do CDC ................................................................................. 167

b) Código de Defesa do Consumidor – Aplicação da Teoria Finalista ..... 172

c) Demurrage de contêiner – Relação contratual – Inaplicabilidade do CDC ........................................................................................................... 177

d) Código de Defesa do Consumidor – Inaplicabilidade em favor de empresa seguradora – Ausência de vulnerabilidade .................................... 178

11. Construção Naval ........................................................................................ 181

a) Contrato de construção naval – Natureza de empreitada .................. 181

12. Consumo Excessivo de Combustível ........................................................... 183

a) Medida Cautelar – Excesso de consumo de combustível – Inocorrência – impossibilidade de compensação ou desconto .......................................... 183

13. Contêiner Lacrado / FCL .............................................................................. 187

a) Estufagem realizada pelo embarcador – Contêiner desembarcado em bom estado e com lacre intacto – Ausência de responsabilidade do transportador ................................................................................................ 188

b) Falta de mercadoria – Contêiner lacrado – Ausência de responsabilidade do transportador .............................................................. 190

c) Carga lacrada – Vício próprio da mercadoria – Ausência de responsabilidade do transportador .............................................................. 191

d) Mau acondicionamento da mercadoria – Ausência de responsabilidade do transportador ........................................................................................... 192

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14. Contêiner x Mercadoria - Distinção ............................................................ 195

a) Carga abandonada – Contêiner e mercadoria não se confundem – Impossibilidade de retenção do contêiner .................................................... 195

b) Perdimento de mercadoria – Inexistência de relação de acessoriedade entre contêiner e mercadoria – Impossibilidade de retenção do contêiner .................................................................................................. 201

c) Carga abandonada – Impossibilidade de retenção do contêiner – Dever da Administração de acautelar as mercadorias – Impossibilidade de atribuir-se o ônus ao transportador ........................................................................... 207

d) Contêiner não é mercadoria – Invólucro transportador não coberto pelo contrato securitário ...................................................................................... 210

15. Demurrage / Sobrestadia de Contêiner ...................................................... 211

a) Demurrage de contêiner – Direito de cobrança por parte do transportador ................................................................................................ 211

b) Cobrança de demurrage – Prazo prescricional quinquenal ou decenal ..................................................................................................... 215

c) Cobrança de demurrage – Prazo prescricional quinquenal ................ 218

d) Demurrage – Termo inicial do prazo prescricional após a devolução do contêiner ....................................................................................................... 223

e) Demurrage – Natureza Jurídica ........................................................... 224

f) Demurrage – Cobrança que independe de disposição contratual ...... 228

g) Demurrage – Contrato de adesão – Possibilidade .............................. 231

h) Demurrage – Legitimidade da cobrança em face do NVOCC ............. 231

i) Retenção do contêiner pela Receita Federal – Demurrage devido – Inexistência de caso fortuito ......................................................................... 233

j) Demurrage – Atuação do despachante aduaneiro para a liberação da mercadoria – Responsabilidade da consignatária da carga pelas sobrestadias devidas .......................................................................................................... 236

k) Demurrage – Responsabilidade solidária entre importador e despachante aduaneiro ................................................................................ 237

l) Ação de cobrança de demurrage – Pedido liminar de antecipação dos efeitos da tutela objetivando a devolução do contêiner .............................. 239

16. Eleição de Foro, Jurisdição e Competência ................................................. 247

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a) Competência internacional – Competência concorrente do Judiciário brasileiro – Obrigação a ser cumprida no Brasil – Inexistência de litispendência internacional .......................................................................... 247

b) Negócio jurídico realizado no exterior – Empresas estrangeiras – Incompetência da Justiça Brasileira .............................................................. 248

c) Jurisdição – O termo “agência” no art 88, p. único do CPC/1973 não se refere ao agente marítimo para fins de jurisdição – Significado de agência apenas para filial ou sucursal da pessoa jurídica estrangeira ...................... 251

d) Contrato internacional – Cláusula de eleição de foro estrangeiro – Validade – Incompetência da Justiça Brasileira – Art. 25 NCPC ................... 252

e) Competência internacional – Sentença estrangeira não homologada pelo STJ – Inexistência de litispendência internacional – Impossibilidade de extinção de demanda no Brasil ..................................................................... 255

f) Disputa contratual – Cláusula de eleição de foro não disposta no contrato de transporte .................................................................................. 256

g) Direito Marítimo – Competência absoluta em razão da matéria ....... 257

h) Poluição provocada por navio – Ação Civil Pública – Competência da justiça estadual ............................................................................................. 263

i) Cruzeiro marítimo – Trabalhador embarcado – Navio estrangeiro – Competência e lei aplicável ........................................................................... 264

j) Cláusula de eleição de foro – Contrato de transporte – Validade ....... 265

k) Cláusula de eleição de foro – Contrato de adesão – Validade ............ 266

17. Falta de Protesto – Decadência .................................................................. 269

a) Transporte de carga – Avaria – Ausência de protesto quando do recebimento – Decadência ............................................................................ 270

b) Transporte Marítimo Internacional – Avaria de carga – Ausência de protesto quando do recebimento – Decadência – Prescrição também configurada ................................................................................................... 274

c) Contrato de Transporte – Avaria de carga – Multimodalidade na cadeia de serviço de transporte – Avarias não denunciadas – Indenização paga por uma das partes – Impossibilidade de regresso contra os demais transportadores – Decadência que afeta toda a cadeia .............................. 275

d) Transporte Marítimo – Avaria de carga – Protesto efetivado após a fluência do prazo legal – Decadência ........................................................... 276

Page 16: Jurisprudência Marítima Kincaid

e) Transporte Marítimo – Avaria de carga – Protesto efetivado após a fluência do prazo legal – Decadência que atinge a seguradora subrogada ..................................................................................................... 277

f) Transporte Marítimo – Extravio de carga – Ausência de protesto em face do transportador – Decadência do direito de ação contra o transportador – Responsabilidade do operador portuário .......................... 281

g) Transporte Marítimo – Descarga no exterior – Ausência de protesto por vício na mercadoria entregue – Decadência do direito de ação contra o transportador ................................................................................................ 281

18. Força Maior .................................................................................................. 283

a) Transporte Marítimo de carga – Perda de mercadoria – Tempestade em grau de furacão – Caso fortuito – Ausência de responsabilidade do transportador ................................................................................................ 283

b) Transporte Marítimo de carga – Perda de mercadoria no mar – Tempestade de força 11 na escala Beaufort – Caso fortuito – Ausência de responsabilidade do transportador .............................................................. 286

c) Transporte Marítimo – Perda de contêineres – Temporal com força 8 na escala Beaufort – Caso fortuito – Ausência de responsabilidade do transportador ................................................................................................ 288

d) Transporte Marítimo – Atraso – Hipótese equiparada a caso fortuito – Exclusão de responsabilidade do transportador .......................................... 288

e) Transporte Marítimo – Extravio de carga decorrente de naufrágio – Caso fortuito – Exclusão de responsabilidade do transportador ................. 288

f) Transporte Marítimo – Contêiner com defeitos imperceptíveis – Irresistibilidade equiparada a caso fortuito – Exclusão de responsabilidade do transportador ................................................................................................ 289

g) Força Maior – Risco do seguro ............................................................ 289

h) Caso fortuito – Matéria fática e probatória - Súmulas 5 e 7 STJ ........ 289

i) Tribunal Marítimo – Abalroação entre embarcações – Marola – Caso fortuito .......................................................................................................... 290

j) Tribunal Marítimo – Naufrágio – Mudança brusca das condições climáticas – Caso fortuito ............................................................................. 291

19. Furto / Roubo de Carga ............................................................................... 295

a) Transporte de Carga – Furto de mercadoria – Ausência de responsabilidade da transportadora ............................................................ 295

Page 17: Jurisprudência Marítima Kincaid

b) Transporte de Carga – Roubo – Força maior – Ausência de responsabilidade da transportadora ............................................................ 295

c) Transporte de Carga – Roubo – Direito de regresso da seguradora desde que demonstrada culpa ou dolo da transportadora .......................... 298

20. Granel – Quebra Natural ............................................................................. 301

a) Transporte de carga a granel – Pesagem em terra x draft survey ...... 302

b) Transporte de carga a granel – Quebra natural – Tolerância de 5% ............................................................................................................. 305

c) Transporte de carga a granel – Quebra natural – Tolerância de 1% ............................................................................................................. 306

d) Transporte de carga a granel – Quebra natural – Tolerância de 0,6% – Franquia ......................................................................................................... 307

e) Transporte de carga a granel – Quebra natural – Rateio ................... 307

f) Transporte de carga a granel – Divergência de peso – Requerimento de entrega de BL limpo ...................................................................................... 281

21. Greve ........................................................................................................... 311

a) Greve – Mandado de segurança – Certificado de livre prática ........... 311

b) Greve – Mandado de segurança – Liberação de mercadorias ............ 314

22. Hipoteca Marítima ...................................................................................... 319

a) Hipoteca Marítima ............................................................................... 320

23. Liberação da Carga – Apresentação do BL Original ................................... 321

a) Transporte Marítimo – Demanda para liberação de carga sem apresentação do conhecimento original – Improcedência .......................... 322

b) Transporte Marítimo – Retenção de mercadorias em virtude da não apresentação do conhecimento de embarque original – Possibilidade ....... 326

24. Limitação de Responsabilidade .................................................................. 301

a) Transporte Marítimo – Cláusula Limitativa de responsabilidade do transportador – Validade .............................................................................. 329

25. Mau Acondicionamento / Má Estiva / Vício de Embalagem ...................... 337

a) Transporte de carga – Avaria – Estivagem inadequada da carga dentro do contêiner – Ausência de responsabilidade do transportador .................. 337

Page 18: Jurisprudência Marítima Kincaid

b) Transporte marítimo – Embalagem inadequada – Ausência de responsabilidade do transportador .............................................................. 338

c) Transporte marítimo – Vício próprio da mercadoria – Ausência de responsabilidade do transportador .............................................................. 339

26. Nexo Causal ................................................................................................. 341

a) Transporte de carga – Ausência de comprovação do momento de ocorrência das avarias – Ausência de nexo causal – Auência de responsabilidade do transportador marítimo .............................................. 341

b) Transporte marítimo – Molhadura de carga decorrente de furo no contêiner – Avaria que não decorreu do transporte – Ausência de nexo causal – Ausência de responsabilidade do transportador ........................... 345

c) Transporte de carga – Avaria causada pelo deslocamento da carga no interior do contêiner – Acondicionamento que não competia ao transportador – Ausência de nexo causal – Ausência de responsabilidade do transportador ................................................................................................ 346

d) Transporte marítimo – Avaria após a descarga – Ausência de responsabilidade do transportador .............................................................. 347

27. NVOCC ......................................................................................................... 349

a) Transporte marítimo – Avaria de carga – Ação contra o transportadora marítimo – Denunciação contra o NVOCC – Responsabilidade do NVOCC pelo mau acondicionamento da mercadoria ....................................................... 349

b) Transporte marítimo – Não devolução dos contêineres no prazo convencionado –Responsabilidade do NVOCC pelo pagamento de sobrestadia .................................................................................................... 350

c) Transporte marítimo – Avaria de carga – Responsabilidade do NVOCC pelo mau acondicionamento da mercadoria ............................................... 352

d) Transporte marítimo – Extravio/avaria de mercadoria – Responsabilidade do NVOCC que perdura até a finalização da desconsolidação dos bens ............................................................................. 353

28. Poluição ....................................................................................................... 355

a) Poluição ambiental – Competência administrativa – Competência da capitania dos portos para lavratura de auto de infração ............................ 355

b) Poluição ambiental – Competência administrativa – Ilegitimidade do agente marítimo ........................................................................................... 356

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c) Poluição ambiental – Responsabilidade – Ilegitimidade do agente marítimo ........................................................................................................ 357

c) Poluição ambiental – Responsabilidade – Ilegitimidade do proprietário da carga ......................................................................................................... 359

d) Responsabilidade civil – Poluição ambiental – Ausência de prova do dano .............................................................................................................. 360

e) Responsabilidade civil – Poluição ambiental – CLC-69 – Aplicação em caso de poluição decorrente do transporte marítimo de óleo a granel ....... 361

29. Prescrição .................................................................................................... 363

a) Reclamação por avaria de carga em transporte marítimo – Prescrição ânua ............................................................................................. 363

b) Reclamação por avaria de carga em transporte marítimo – Prescrição ânua – Inaplicabilidade do CDC .................................................................... 367

c) Ação regressiva da seguradora – Prescrição ânua – termo a quo desde a data da descarga do navio ......................................................................... 371

30. Protesto Marítimo ....................................................................................... 375

a) Protesto marítimo – Caso fortuito – Elemento de Prova ..................... 375

b) Ratificação de protesto marítimo – Competência do juízo do local do primeiro porto de atracação do navio .......................................................... 376

c) Ratificação de protesto marítimo – Ajuizamento posterior ao primeiro porto de atracação do navio – Extinção ....................................................... 376

d) Ratificação de protesto marítimo – Competência da Justiça Estadual377

e) Ratificação de protesto marítimo – Oitiva do comandante por carta precatória itinerante ..................................................................................... 377

f) Ratificação de protesto marítimo – Desnecessidade de citação de terceiros interessados ................................................................................... 378

g) Ratificação de protesto marítimo – Sentenças de Ratificação ............ 378

31. Responsabilidade do Operador Portuário – Recebimento sem Ressalva .. 381

a) Transporte de Carga – Avarias em contêiner – Ausência de ressalva ou protesto no ato do desembarque do navio – Responsabilidade do operador portuário que recebeu a carga desembarcada –Ineficácia de ressalva ou protesto feito a posteriori ............................................................................. 381

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b) Avaria de carga verificada após o término do transporte marítimo – Desembarque sem ressalvas – Responsabilidade exclusiva do operador portuário – Ausência de responsabilidade do transportador marítimo ...... 382

c) Transporte Marítimo - Avarias de carga – Perda que se deu após o desembarque do navio – Responsabilidade do operador portuário ............ 385

32. Salvamento .................................................................................................. 389

a) Salvatagem Marítima – Litígio Internacional visando detenção de carga para obtenção de garantia – Competência concorrente do Judiciário Brasileiro ....................................................................................................... 389

b) Salvamento– Medida Cautelar de Arresto para obtenção de garantia por prejuízos e prêmio de salvamento. ........................................................ 390

c) Salvamento Marítimo – Definição do preço pela prestação do socorro .......................................................................................................... 393

33. Sobrestadia de Navio ................................................................................... 395

a) Contrato de Afretamento – Atraso no embarque/desembarque da carga – Sobrestadia de navio – Responsabilidade ....................................... 395

b) Sobrestadia de navio – Prazo prescricional – Aplicação da regra do Código Comercial vigente à época ............................................................... 397

c) Sobrestadia de navio – Remessa de pagamentos para o exterior – Imposto de renda – Não incidência .............................................................. 398

d) Sobrestadia de navio – Contrato que prevê aplicação de lei inglesa – Ação judicial no Brasil – Aplicação da Lei Brasileira ..................................... 398

34. Subrogação – Comprovante de Pagamento - Ausência de Apólice / Averbação .................................................................................................... 399

a) Ação regressiva de seguradora – Subrogação não aproveita as normas do Código de Defesa do Consumidor ............................................................ 400

b) Ação regressiva de seguradora – Subrogação não gera mais direitos do que o credor primitivo possuia ..................................................................... 401

c) Transporte Marítimo – Ação regressiva de seguradora – Subrogação transfere os direitos e também os deveres – Cláusula compromissária assumida entre a segurada e a transportadora – Eficácia contra a seguradora .................................................................................................... 402

d) Seguro de Transporte Marítimo – Ação regressiva de seguradora – Subrogação que só se torna eficaz mediante a prova do pagamento na

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forma do contrato de seguro – Necessidade de apresentação da apólice completa ........................................................................................................ 403

e) Seguro de Transporte Marítimo – Apólice aberta – Ausência de averbação prévia dos embarques – Perda do direito à indenização securitária ...................................................................................................... 407

f) Seguro de Transporte Marítimo – Subrogação da seguradora – Necessidade de prova da existência do contrato de seguro, apólice ou averbação ...................................................................................................... 409

35. Tribunal Marítimo ....................................................................................... 411

a) Disputa judicial – Incidente submetido a prévio julgamento perante o Tribunal Marítimo – Prova técnica – Valor probatório com presunção de certeza – Aproveitamento pelo Judiciário ..................................................... 411

b) Decisão do Tribunal Marítimo – Possibilidade de revisão pelo Judiciário ........................................................................................................ 414

c) Ação judicial independe do prévio pronunciamento do Tribunal Marítimo – Impossibilidade de suspensão do feito ...................................... 419

d) Ação judicial com pedido de liminar – probalidade do direito pela necessidade de se aguardar o término do processo em que se apura a responsabilidade quanto ao acidente no Tribunal Marítimo ....................... 421

36. Visto - Tripulação ........................................................................................ 423

a) Tripulação estrangeira - Embarcação estrangeira em operação temporária no Brasil – Desnecessidade de visto temporário – Validade da carteira de marítimo ..................................................................................... 423

b) Tripulantes estrangeiros – Situação irregular em território nacional – Multa que não pode recair sobre o agente marítimo .................................. 426

c) Navegação de cabotagem – Embarcação estrangeira – Visto para tripulantes estrangeiros – Responsabilidade da empresa transportadora estrangeira – Ausência de responsabilidade da empresa brasileira contratante .................................................................................................... 426

37. Vistoria ........................................................................................................ 429

a) Transporte de Carga – Avaria – Ausência de vistoria – Inexistência de prova em face do transportador ................................................................... 429

b) Transporte Marítimo – Avaria de carga – Ausência de vistoria – Ausência de prova do momento de ocorrência do dano - Inexistência de responsabilidade do transportador .............................................................. 430

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c) Transporte Marítimo – Avaria de carga – Inexistência de vistoria ou ressalva no ato da entrega – Ineficácia de vistoria unilateral realizada no depósito da consignatária tempos após a descarga – Ausência de responsabilidade do transportador .............................................................. 432

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NOTA DOS COORDENADORES

Ao contrário do sistema do Common Law no Direito Inglês, a jurisprudência sobre matérias atinentes ao Direito Marítimo em nossos tribunais não é tão farta, não obstante mais de 90% do comércio exterior brasileiro ser realizado por via marítima. Dentre os julgados a seguir citados, selecionamos uma coletânea diversificada com mais de 500 decisões de nossas Cortes, subdivididas em tópicos distintos, incluindo-se acórdãos dos Tribunais Superiores, dos Tribunais de Justiça e Tribunais Regionais Federais, decisões de Primeira Instância e também decisões do Tribunal Marítimo sobre determinados aspectos do direito marítimo. Para facilitar a consulta, organizamos os julgados a partir da matéria neles versada e subdividimos os julgados em subtópicos por nós mesmos ementados. Ora transcritas na íntegra, ora apenas em parte e por vezes inclusive com a citação de trechos dos votos dos julgadores, a exposição dos julgados na forma a seguir disposta teve como intuito refletir com maior precisão o ponto central da matéria atinente ao Direito Marítimo ali tratada. Além disso, a título ilustrativo, destacamos no início de cada tópico algumas breves considerações acerca da matéria versada ou das controvérsias porventura existentes, algumas das quais refletiam colocações e teses do nosso saudoso colega Leandro Souza de Oliveira, a quem esta obra é dedicada. Esperamos que esta obra possa servir de auxílio a todos os apaixonados pelo Direito Marítimo e, sobretudo, servir de inspiração e estímulo aos advogados e estagiários de nosso escritório que tanto tempo dedicam aos estudos das normas de Direito Marítimo no Brasil e sua aplicação pelos Tribunais.

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Jurisprudência Marítima

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1. Abalroamento e Colisão

O Brasil, juntamente com outros 158 países, representando mais de 99.19% de todo o transporte marítimo mundial em termos de tonelagem, é signatário da ‘Convenção Sobre O Regulamento Internacional Para Evitar Abalroamentos No Mar’, também conhecido por RIPEAM (COLREG 1972). Com isso, grande parte dos litígios envolvendo abalroamento entre embarcações, usualmente de considerável monta e complexidade, podem ser solucionados através da aplicação das regras estabelecidas no RIPEAM, instrumento internacionalmente reconhecido que regula o tráfego de embarcações.

a) Abalroamento entre embarcações – Culpa concorrente atribuída pelo Tribunal Marítimo – Ação Judicial – Reconhecimento de culpa exclusiva pelo Judiciário – Teoria da causalidade adequada

1.1 Voto: 1. A questão a ser resolvida no âmbito destes embargos infringentes opostos pela autora-apelada GLOBAL TRANSPORTES OCEÂNICOS é a que toca ao aspecto da responsabilidade pelos danos decorrentes do abalroamento entre embarcações de grande porte; o navio-tanque “Global Rio”, da referida empresa, e o navio graneleiro “NorSul Tubarão”, esta da ré-apelante-embargada COMPANHIA DE NAVEGAÇÃO NORSUL. (...) 4. As provas dos autos conduzem à manutenção do voto-vencido, porque foram produzidas duas perícias técnicas em juízo e ambas convergiram pela culpa exclusiva do comando do navio da embargada “NorSul Tubarão” pelo abalroamento ocorrido, sendo desinfluente aqui a conclusão atingida na esfera administrativa do Tribunal Marítimo a esse respeito, conforme o preceito do art. 18 da Lei que o rege (Lei nº 2.180/1954) (...) 12. Por outro lado, argumentar, como faz a ora embargada NORSUL, desde a contestação (fls. 312 - 339 – vol. 2) que o navio “Global Rio”, posto em situação de perigo pela negligência de preposto na condução de seu navio “NorSul Tubarão”, teria a responsabilidade pelo abalroamento ocorrido porque não conseguiu safar-se a tempo de evitar o choque, é totalmente despropositado e, sem dúvida, completamente irrazoável, máxime em nosso

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País em que é francamente prevalente a já clássica doutrina da causalidade adequada (...) “O que se deve indagar é, pois, qual dos fatos, ou culpas, foi decisivo para o evento danoso, isto é, qual dos atos imprudentes fez com que o outro, que não teria conseqüências, de si, determinasse, completado por ele, o acidente. Pensamos que sempre que seja possível estabelecer inocuidade de um ato, ainda que imprudente, se não tivesse intervindo outro ato imprudente, não se deve falar de concorrência de culpa. Noutras palavras: a culpa grave necessária e suficiente para o dano exclui a concorrência de culpas. ” 14. Ora, como se depreende do conjunto da prova, a embarcação que detinha a preferência de trânsito (o n/t “Global Rio”), se conduziu dentro da regra nº 15, do Regulamento Internacional para Evitar Abalroamento no Mar, específica para situação de rumo cruzado, e isto é comprovado nos autos. (...) 16. Também o Desembargador SERGIO CAVALIERI FILHO refere a aplicabilidade do princípio da confiança para a resolução de questões de responsabilidade civil, mormente em se tratando de circulação de veículos, verbis: (...) 17. Esta lição de SERGIO CAVALIERI FILHO veste o caso presente como se luva fosse, tamanha a sua pertinência, já que era dever do navio graneleiro “NorSul Tubarão” manobrar, saindo da rota do “Global Rio” que, sem dúvida, detinha a preferência de passagem e este legitimamente confiou que aquela embarcação saísse do seu rumo, como determina a regra inserta no RIPEAM. (...) o comando do graneleiro “NorSul Tubarão”, durante todo o desenrolar dos antecedentes do choque entre as embarcações quedou-se absolutamente inerte, como se tratasse de um “navio fantasma”, enquanto que o outro, o “Global Rio” procedendo conforme seu direito de passagem preferencial, nos termos do RIPEAM, esforçou-se para que o abalroamento não ocorresse e, já em situação de estado de necessidade causada pela omissão completa da outra embarcação, tentou manobrar última e desesperada, fazendo girar o navio, não logrando, porém sucesso, findando por ser atingido no terço final, no setor da casa de máquinas. 21. A bem da razoabilidade, considerando a total inércia do graneleiro “NorSul Tubarão”, ao arrepio das regras de navegação, ainda que se enxergue alguma culpa da pilotagem do navio-tanque “Global Rio”, esta se torna inapta a produção da compensação de culpas, frente à culpa legal ou contra a legalidade, de caráter indubitavelmente grave do navio oponente. 22. As conclusões de ambas as perícias judiciais se coadunam com o depoimento de fls. 163, no qual o piloto da embarcação da embargada (NorSsul) confirma que não havia nenhum tripulante no passadiço ou na

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ponte de comando da embarcação no momento do acidente e que sequer notou a presença do outro navio. (...) 38. Portanto, tal conduta omissiva e culposa da tripulação do navio “NorSul Tubarão”, ao deixar que o navio navegasse sem vigilância e não tendo efetuado a manobra imposta pelo Regulamento Internacional para Evitar Abalroamento em Alto Mar foi, sem dúvida, a causa adequada e determinante para a ocorrência da abalroação e os danos dele decorrentes, estando caracterizado o nexo de causalidade, na forma do art. 186 do Código Civil. (...) 41. Pelo exposto, DOU PROVIMENTO AOS PRESENTES EMBARGOS INFRINGENTES (...) no sentido de CONDENAR a ré-apelante, ora embargada COMPANHIA DE NAVEGAÇÃO NORSUL, conforme os termos da d. Sentença do Juízo da 41ª Vara Cível da Comarca da Capital (...). (TJRJ, Embargos Infringentes 0169888-62.2000.8.19.0001, Des. Pedro Saraiva De Andrade Lemos, 10ª Câmara Cível, DJ 08.11.2010, p. 231/237) 1.2 A questão principal da demanda está na verificação da culpa pelo acidente envolvendo dois navios, um de propriedade da ré, ora apelante, e outro de propriedade de empresa segurada pelas autoras, ora apelada. Pleitearam as autoras o ressarcimento do valor pago à segurada em razão do dito acidente, já que alegaram que o navio por elas segurado, o “GLOBAL RIO” foi abalroado pelo navio da ora apelante, o “NORSUL TUBARÃO”. Pois bem, a questão envolve valores expressivos e deve ser apreciada com a cautela devida. Ademais, por se tratar de matéria bastante especializada, que envolve questões náuticas, manobras marítimas, etc, torna-se de suma importância os laudos periciais acostados aos autos. (...) De acordo com as conclusões do expert, pautadas no Regulamento Internacional para Evitar Abalroamentos no Mar (RIPEAM), a embarcação “GLOBAL RIO” tinha o direito de passagem segura no caso de rumos cruzados, como ocorreu na presente hipótese. Já a embarcação “NORSUL TUBARÃO” tinha a obrigação de manobrar para dar passagem aquela embarcação preferencial. Contudo, nada fez. Manteve seu curso, sem realizar qualquer tipo de manobra a fim de evitar o choque, sendo que a embarcação “GLOBAL RIO”, que tinha o direito de passagem e não tinha obrigação de manobra foi prudente e manobrou para evitar a colisão. Outro ponto constatado pelo perito diz respeito à vigilância náutica (fl. 1290), a embarcação da apelante não se encontrava em conformidade com a vigilância visual, auditiva e de radar. Já a embarcação segurada pelas

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apeladas estava de acordo com as vigilâncias visual e auditiva, tanto é que avistou as luzes da embarcação “NORSUL TUBARÃO” e tentou contato por rádio, como dito anteriormente. (...) A navegação, mormente de embarcações de grande porte, é uma atividade de risco. Enseja cautela, cuidados essenciais que não podem ser ignorados, visto que se colocam em risco vidas humanas, cargas valiosas e o meio ambiente. A partir do momento que se constata que o navio da apelante navegava sem o mínimo de cautela, não tendo noção do que o rodeava nem da rota que percorria, muito menos que se encontrava em situação de rumo cruzado, torna-se inafastável a conclusão acerca da sua culpa exclusiva pelo choque ocorrido com o navio segurado pelas apeladas. (...) Nesse diapasão, não se sustenta a tese da Apelante acerca de culpa concorrente, tão somente porque a manobra realizada pelo navio “GLOBAL RIO” não foi capaz de evitar o acidente. Este navio apenas tentou, através da manobra, amenizar os danos, evitando maiores impactos, estragos e avarias. Certo é que sequer tinha o dever de realizar manobras, não podendo imputar-lhe culpa concorrente com o navio da apelante, mesmo porque quem tinha o efetivo dever de desviar do trajeto era o navio “NORSUL TUBARÃO” e não o navio “GLOBAL RIO”. (...) Ante o exposto, conheço do recurso e NEGO-LHE PROVIMENTO, mantendo integralmente a sentença recorrida. (TJRJ, AC 2007.001.08541, Des. Teresa De Andrade Castro Neves, 5ª Câmara Cível, DJ 23.11.2009, p. 162/176) b) Abalroamento entre embarcações – Cruzamento de canal de acesso

ao porto 1.3 Apelação cível. Reparatória a danos materiais (acidente marítimo), inacolhida 'a quo'. Apelo: afastamento a tese imprimida por recorrente ao lume encontrar-se a embarcação 'iracema v' realizando a faina de desembarque na draga 'recreio dos bandeirantes' no momento do sinistro, engajada em operação de dragagem, ao comando do comandante da draga, sob proteção dos arts. 3.g - 3.g.ii - 3.g. Iii e 18.a. Do ripeam (regulamento internacional para evitar abalroamentos no mar), não conhecido sobre avento contrário, diante inovação recursal. Culpa da recorrente no evento, diante evidenciado cruzamento de sua embarcação ao canal de acesso ao porto, pela transposição de via preferencial - sentença mantida ao aspecto.

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Embargos de declaração inacolhidos 'a quo', sob reportados fundamentos (...). (TJPR, AC: 4043876 PR, Relator Des. Arno Gustavo Knoerr, 8ª Câmara Cível, Data de Julgamento: 20/08/2009) c) Abalroamento entre embarcações – Culpa concorrente 1.4 APELAÇÕES CÍVEIS SIMULTÂNEAS – AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS E MORAIS – ACIDENTE DA NAVEGAÇÃO ABALROAMENTO DE EMBARCAÇÃO – CULPA CONCORRENTE VERIFICADA – AUSÊNCIA DE HABILITAÇÃO DO CONDUTOR DA CATRAIA FERRY BOAT OPERADO POR CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO – INQUÉRITO ADMINISTRATIVO DA MARINHA DO BRASIL QUE SE MOSTRA ELUCIDATIVO QUANTO AO ACIDENTE CERCEAMENTO DE DEFESA POR NÃO OUTIVA DE TESTEMUNHAS – INEXISTÊNCIA - LUCROS CESSANTES E SUA QUANTIFICAÇÃO – INEXISTÊNCIA DE PROVAS DA RENDA MENSAL INFORMADA NO MOMENTO DO ACIDENTE – FIXAÇÃO EM UM SALÁRIO MÍNIMO – CORREÇÃO DANOS MATERIAIS CONFIGURADOS E IDENTIFICÁVEIS PELOS DOCUMENTOS DOS AUTOS - DANOS MORAIS FIXADOS DENTRO DA RAZOABILIDADE DE ACORDO COM A PROVA DOS AUTOS MAJORAÇÃO DE VALORES PLEITEADA PELA AUTORA – INDEFERIMENTO - APELOS IMPROVIDOS 1. A prova dos autos e as conclusões do inquérito realizado pela Marinha do Brasil e juntados aos autos demonstram a existência de culpa concorrente na medida em que o condutor da catraia não possuía habilitação, não sendo este, entretanto, motivo ensejador do acidente. 2. Não há que se falar em cerceamento de defesa tendo sido a decisão proferida de acordo com a prova documental inequívoca dos autos inafastável pela prova testemunhal, máxime porque os envolvidos e testemunhas foram ouvidas durante o inquérito procedido pela Marinha do Brasil. 3. Termos do depoimento do condutor/timoneiro do ferry boat que demonstra só ter sido adotada manobras para evitar a colisão após ter sido o mesmo chamado atenção pelo comandante do navio, ainda que sob condições de mar e vento que demandavam ainda maior atenção do condutor no exercício da função. Confissão. 4. Ferry boat em exercício de concessão de função pública de transporte de passageiros. 5. Lucros cessantes fixados em um salário mínimo que se mantém por ausência de prova nos autos dos valores declinados na exordial como de renda mensal, em que pese restar comprovado ser a parte autora pescador devidamente registrado junto a órgão de classe. 6. Danos morais que se reconhece oriundo da própria ofensa e cuja quantificação se mostra razoável dadas as condições

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do acidente. 7. Danos materiais devidamente comprovados pelos recibos de compra da embarcação e do motor que a impulsionava e pelos orçamentos de itens básicos necessários para o exercício da pesca. 8. Apelos improvidos para manter a sentença em todos os seus termos. (Classe: Apelação,Número do Processo: 0081230-66.2011.8.05.0001, Relator (a): Maurício Kertzman Szporer, Segunda Câmara Cível, Publicado em: 04/08/2016 )

(TJBA, APL: 00812306620118050001, Des. Maurício Kertzman Szporer, Segunda Câmara Cível, Data de Publicação: 04/08/2016) 1.5 ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL. ABALROAMENTO DE NAVIOS. CULPA RECIPROCA. - A PROVA DOS AUTOS EVIDENCIA A OCORRENCIA DE CULPA RECIPROCA DA AUTORA E DA UNIÃO FEDERAL. Se o oficial de serviço no navio patrulha da marinha de guerra se houve com inexperiência, na ocasião do abalroamento, em contrapartida o barco pesqueiro não estava com iluminação ou qualquer sinal que denunciasse sua presença naquelas águas e, além do mais, seu comandante não se achava habilitado como patrão, infringindo, assim, o artigo 349 do regulamento para o trafego marítimo. - Apelação e remessa oficial providas, em parte, para reduzir pela metade a indenização a cujo pagamento foi a apelante condenada. (TRF-5, AC: 2135 CE 89.05.02413-0, Relator Des. Federal Orlando Rebouças, Primeira Turma, Data de Publicação: 27/03/1990) d) Abalroamento entre embarcações – Inaplicabilidade de Prescrição

Ânua – Manutenção da decisão proferida pelo Tribunal Marítimo 1.6 Reparacao de danos. Abalroamento de navios. Prescrição. Nao se tratando de ação de avaria simples, mas de ação de reparacao pelo perecimento total do navio abalroado, que afundou, nao se aplica o prazo de prescrição anua, previsto pelo art 449, 3, do código comercial. Ação civil. Merito. Navio, abalroado por outro, quando fundeado em local permitido. Responsabilidade da empresa armadora do navio causador do abalroamento. Merece acolhida a decisao do tribunal maritimo que, revestindo-se com roupagem de prova tecnica qualificada, nao resultou contrariada pela prova trazida aos autos. Recurso provido em parte, para excluir da indenizacao os lucros cessantes, por nao comprovados. Declaracao de voto quanto a prescrição.

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(TARS, Apelação Cível Nº 184021665, Relator: Luiz Fernando Koch, Terceira Câmara Cível, Data de Julgamento: 05/09/1984) e) Abalroamento entre embarcações – Legitimidade Ativa – Manutenção

da decisão proferida pelo Tribunal Marítimo 1.7 Responsabilidade civil. Abalroamento entre embarcações. Afundamento de uma embarcação. Pedido visando indenização por danos materiais e lucros cessantes. Preliminar de ilegitimidade ativa argüida em razão do autor não ser proprietário da embarcação. Acatamento. Extinção, sem julgamento de mérito. Apelação cível. Embarcação adquirida pelo autor, mas não transferida para o seu nome. Irrelevância, em face da comprovação de ter adquirido a embarcação em data anterior ao acidente. Legitimidade ativa para propor ação de indenização. Sentença reformada. Matéria de fato e de direito. (...) Acidente envolvendo embarcações. Causa do acidente. Depoimentos conflitantes durante a instrução. Decisão baseada na conclusão do tribunal marítimo, que entendeu que o sinistro ocorreu devido à imprudência do autor. Possibilidade. (TJSC, AC: 183238 SC 1999.018323-8, Relator: Jorge Schaefer Martins, Segunda Câmara De Direito Civil, j. 04/11/2004) f) Abalroamento entre embarcações – Insuficiência de provas –

Sentença mantida – Conflito probatório resolve-se em favor da improcedencia

1.8 INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS – Abalroamento de embarcações. Insuficiência de provas. Aplicação do artigo 252 do regimento interno. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO IMPROVIDO. “É que, não custa acrescentar, que o apelante tenta explorar a aparente contradição probatória para reverter o resultado da demanda. Contudo, o inquérito aberto pela Marinha tem conteúdo técnico suficiente para amparar o decreto de improcedência, como aconteceu. Ainda que o IMESC e afirmações pontuais colhidas nos depoimentos possam alimentar dúvidas no espírito do julgador, o certo é que o conflito probatório, como se sabe, resolve-se em favor da improcedência.” (TJSP, Apelação 0004102-36.2012.8.26.0587; Des. José Joaquim dos Santos; 2ª Câmara de Direito Privado; Data de Registro: 17/05/2016)

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g) Abalroamento entre embarcações – Força maior 1.9 N/M “ZHEN HUA 27”, N/M “KYLA”, N/T “AMALTHIA”, N/M “UBC TAMPICO”, Terminal de Granéis do Guarujá, TGG, e Terminal Santos Brasil. Abalroações e colisões. Danos materiais de grande monta. Ocorrência de ventos de grande intensidade, com rajadas de vento e chuva de granizo, imprevisível e irresistível que provocou o rompimento da amarração do N/M “ZHEN HUA 27”, que seguiu à vante, à deriva, ao longo do Terminal Santos Brasil, com visibilidade zero, até colidir com o píer do TGG, após abalroar a popa do N/M “KYLA”, que teve seus cabos de amarração parcialmente rompidos pelo abalroamento, seguindo a vante, à deriva, com visibilidade quase a zero, colidindo com a sua asa debombordo com as torres de carregamento do TGG – Terminal de Granéis do Guarujá, e com seu costado colidindo com o píer do TGG e com sua proa abalroando o N/M “UBC TAMPICO” atracado no píer à frente e provocando o rompimento dos cabos de amarração do N/T “AMALTHIA” e o rompimento do mangote de abastecimento. “Fortuna do Mar”, Força maior. Exculpar os Representados das três Representações de Parte, acolhendo em parte os argumentos da manifestação por Arquivamento promovido pela D. Procuradoria Especial da Marinha. Arquivamento. Com pedido de arquivamento. 1ª Representação de Parte: com desistência dos autores, de acordo com o Art. 46 da Lei nº 2.180/54, contra Shang Wei (Comandante do N/M “ZHEN HUA 27”) (Adv. Dr. Luiz Roberto Leven Siano – OAB/RJ nº 94.122). 2ª Representação de Parte: Autor: Terminal de Granéis do Guarujá S.A. (Adv. Dr. Artur R. Carbone – OAB/RJ nº 1.295-A), contra Shang Wei (Comandante do N/M “ZHEN HUA 27”) (Adv. Dr. Luiz Roberto Leven Siano – OAB/RJ nº 94.122). Assistente do TGG –Kyla Shipping Co Ltd., (Adv. Dr. Antonio Francisco Sobral Sampaio – OAB/RJ nº 63.503). 3ª Representação de Parte: Autores: Shang Wei (Comandante do N/M “ZHEN HUA 27”) e Zhen Hua 27 Shipping Hong Kong (Adv. Dr. Luiz Roberto Leven Siano – OAB/RJ nº 94.122), contra Eduardo Morante Salvio (Comandante do N/M “KYLA”), Kyla Shipping Co Ltd. (Armadora) e Kyla Shipping Enterprises (Operadora) (Adv. Dr. Antonio Francisco Sobral Sampaio – OAB/RJ nº 63.503) e Terminal de Granéis do Guarujá S.A. (Adv. Dr. Flávio de Freitas Infante Vieira – OAB/RJ nº 50.692). ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à natureza e extensão dos acidentes da navegação: abalroamento envolvendo a proa, por boreste, do N/M “ZHEN HUA 27” e a popa por bombordo do N/M “KYLA”, abalroamento envolvendo o N/M “KYLA” e os navios “AMALTHIA” e “UBC TAMPICO” e as colisões com o píer do TGG envolvendo o N/M “ZHEN HUA 27” e o N/M “KYLA”, com danos materiais de grande monta, descritos no Laudo de Exame Pericial e na Carta de Protesto do N/M “UBC TAMPICO”, mas sem registro de danos pessoais ou ambientais; b) quanto às causas determinantes: causa primária, força maior, causada pela ocorrência de ventos de grande intensidade, com rajadas de vento e chuva de granizo,

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imprevisível e irresistível que provocou o rompimento da amarração do N/M “ZHEN HUA 27”, que seguiu à vante, à deriva, com visibilidade zero, até colidir com o píer do TGG, após abalroar a popa do N/M “KYLA”, causa derivada, que teve seus cabos de amarração parcialmente rompidos pelo abalroamento, seguindo a vante, à deriva, com visibilidade quase a zero, colidindo com a sua asa de bombordo com as torres de carregamento do TGG e com seu costado colidindo com o píer do TGG e com sua proa abalroando o N/M “UBC TAMPICO” atracado no píer à frente e provocando o rompimento dos cabos de amarração do N/T “AMALTHIA” e o rompimento do mangote de abastecimento; e c) decisão: julgar os acidentes da navegação, tipificados no art. 14, letra “a” (abalroamentos e colisões), da Lei nº 2.180/54, como decorrentes de força maior, exculpando todos os Representados de Parte, Shang Wei, Comandante do N/M “ZHEN HUA 27”, Eduardo Morante Sálvio, Comandante do N/M “KYLA”, KYLA Shipping Co Ltd, armadora deste navio, KYLA Shipping Enterprises, operadora deste navio, e o Terminal de Granéis do Guarujá S.A., acolhendo em parte a promoção por arquivamento da D. Procuradoria Especial da Marinha, mandando arquivar os presentes autos. (...).

(Tribunal Marítimo, Processo 24.962/2010, Relator Juiz Fernando Ladeiras, Data do julgamento 27/11/2018) h) Abalroamento entre embarcações – Falha de sistema - Caso fortuito 1.10 Navio supridor “SANTOS SUPPORTER” e o navio sonda “CAROLINA”. Abalroamento. Danos materiais. Falha no sistema de posicionamento dinâmico devido a perda do MCP de BB do navio supridor, em virtude do desacoplamento da redutora do MCP de bombordo, derivando em direção ao navio sonda. Caso fortuito. Arquivamento. ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por maioria, nos termos do voto do Exmo. Sr. Juiz Fernando Alves Ladeiras: a) quanto à natureza e extensão dos acidentes da navegação: abalroação entre um supridor e um navio sonda, em faina de transferência de calcário por mangote, provocando avarias em ambas as embarcações, sem danos pessoais e sem danos ambientais; b) quanto à causa determinante: falha no sistema de posicionamento dinâmico devido a perda do MCP de BB; e c) decisão: julgar o acidente da navegação, tipificado no art. 14, alínea “a” (abalroamento), da Lei nº 2.180/54, como decorrente de caso fortuito, exculpando os representados, sendo acompanhado pelos Exmos. Srs. Juízes Nelson Cavalcante e Silva Filho, Sergio Bezerra de Matos, Marcelo David Gonçalves e Maria Cristina de Oliveira Padilha. O Exmo. Sr. Juiz-Relator julgava o acidente da navegação, previsto no art. 14, alínea “a”, da Lei nº 2.180/54, como decorrente de imperícia do CLC Luis Gonzaga Pinto Teixeira e do 2º ON Felipe Ferreira e Silva, condenando-os à pena de repreensão, de

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acordo com o art. 121, inciso I e art. 139, inciso II, da Lei nº 2.180/54, com a redação dada pela Lei nº 8.969/94 e ao pagamento das custas processuais igualmente divididas, no que foi vencido. Publique-se. Comunique-se. Registre-se. Rio de Janeiro, RJ, em 13 de setembro de 2018. (Tribunal Marítimo, Processo 30.748/2016, Relator Juiz Geraldo de Almeida Padilha, Data do julgamento 13/09/2018).

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2. Afretamento

A exploração comercial de uma embarcação pode envolver uma gama de relações jurídicas normalmente instrumentalizadas por meio de um ou mais contratos de fretamento. Além da liberdade contratual das partes e da normatização estabelecida pelo Código Comercial Brasileiro para contratos de tal natureza, muitas vezes utiliza-se contratos padronizados, organizados conforme as particularidades de cada operação, chancelados por comitês internacionais, dos quais participam representantes de afretadores, fretadores e outros setores, e que nem por isso deixam de ser negociáveis, facilitando o dinamismo das relações.

a) Afretamento – Responsabilidade subsidiária da afretadora por débitos

trabalhistas do armador 2.1 RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DA PETROBRAS. Verifica-se que o prazo de duração do contrato era de 3.650 dias (10 anos), com início da vigência em 25/07/2008. Por certo que o prazo do contrato sendo superior a 24 meses afasta o caráter temporário e eventual dos serviços prestados. Além disso, os serviços contratados são de afretamento de unidade de perfuração e/ou avaliação e/ou completação e/ou manutenção de poços de petróleo, que afastam a hipótese da OJ. 191 da SDI-1 do C TST, por não se tratar de empreitada de construção civil, mas sim de serviços inerentes à sua operação industrial e voltada à sua finalidade econômica. Por fim, nada há nos autos que infirme a prestação de serviços à Petrobras durante todo o contrato de trabalho do autor. Aliás, tivesse a recorrente fiscalizado o contrato, teria condições de saber, sem qualquer dúvida, o período de prestação de serviços do reclamante. Desta forma, merece reforma a sentença para condenar como responsável subsidiária a segunda reclamada Petrobras, ao pagamento de todas as verbas deferidas. Recurso provido. (TRT-1, RO: 01003829620165010483, Des. José Luis Campos Xavier, Data de Julgamento: 05/04/2017, Sétima Turma, Data de Publicação: 09/05/2017)

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2.2 RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DA TOMADORA DE SERVIÇOS - CONTRATO DE AFRETAMENTO DE EMBARCAÇÃO - MARÍTIMO. Não obstante o obreiro ter sido contratado pela primeira demandada, proprietária da embarcação, o trabalho por ele desenvolvido revertia-se em favor da locadora do navio, a qual prestava serviços técnicos especializados em poços de petróleo para a PETROBRAS. Correta, portanto, a sentença que reconheceu a responsabilidade subsidiária da locadora pelos créditos trabalhistas decorrentes da presente demanda. (TRT20, Proc 0119900-81.2006.5.20.0002, Des. Relator: Carlos Alberto Pedreira Cardoso, Data de Publicação: 09/01/2008) b) Afretamento – Distinção entre afretamento e transporte – Não

incidência de ICMS 2.3 APELAÇÃO CÍVEL. Ação pelo procedimento comum ordinário com pedido de repetição de indébito, ajuizada contra o Estado do Rio de Janeiro, ao argumento de inexigibilidade de ICMS, em razão de operação de admissão temporária de embarcação pelo regime aduaneiro especial de exportação e de importação de bens destinados às atividades de pesquisa e de lavra das jazidas de petróleo e de gás natural - REPETRO. Sentença de procedência, condenando o réu à devolução dos valores indevidamente recolhidos. Irresignação do Ministério Público, sob alegação de formulação de pedido genérico e de repasse do impacto financeiro do imposto ao tomador do serviço. Pedido que não se apresenta genérico, estando lastreado em suposta ilegalidade da cobrança do tributo referenciado, identificados a causa de pedir e o fundamento jurídico da pretensão. Contratos de afretamento celebrados pela Petrobrás com as sociedades empresárias Hornebck Offshore Services - LLC e a ora apela para prestação de serviços de embarcações nas áreas em que a Petrobrás for cessionária ou concessionária para apoio marítimo às atividades de pesquisa e de lavra das jazidas de petróleo e gás natural. Ausência de transferência do domínio e de prática de importação na espécie. Aplicação do entendimento firmado no Supremo Tribunal Federal, em acórdão submetido ao regime da repercussão geral, no sentido de incidência do ICMS somente se de fato houver circulação de mercadoria, caracterizada pela transferência do domínio (Recurso Extraordinário nº 540.829. Relator: Ministro Gilmar Mendes. Relator designado para acórdão: Ministro Luiz Fux. Tribunal Pleno. Julgamento: 11/9/2014). Ausência de fato gerador que motive a incidência do tributo. Precedentes. Previsão contratual expressa de exclusão dos encargos

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tributários sobre o preço dos serviços contratados. Repetição do indébito que se impõe. Sentença mantida. Parecer da Procuradoria de Justiça em consonância. RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. (TJRJ, Apelação 0191765-33.2015.8.19.0001, Des(a). Patrícia Ribeiro Serra Vieira, Décima Câmara Cível, Julgamento: 08/11/2017) 2.4 Apelação cível. Ação declaratória de inexistência de obrigação tributária. ICMS. Importação. Regime de admissão temporária. Contrato de afretamento internacional de embarcação. Ausência de transferência da propriedade do bem. ICMS. Não incidência. Entendimento firmado em sede de repercussão geral pelo supremo tribunal federal e também consolidado no âmbito do superior tribunal de justiça sob o regime dos recursos repetitivos. Precedentes desta corte de justiça. Honorarios que atendem aos principios da razoabilidade e proporcionalidade. Sentença mantida. Desprovimento do recurso. (TJRJ, 0128937-06.2012.8.19.0001 - APELAÇÃO Des(a). Valéria Dacheux Nascimento - Julgamento: 03/10/2017 - Décima Nona Câmara Cível) 2.5 APELAÇÃO CÍVEL. MANDADO DE SEGURANÇA. CONTRATO DE AFRETAMENTO. IMPORTAÇÃO DE EMBARGAÇÃO SOB O REGIME DE ADMISSÃO TEMPORÁRIA (REPETRO). ICMS. NÃO INCIDÊNCIA. A jurisprudência do STF e do STJ já se consolidou no sentido de que não incide o ICMS na operação de arrendamento mercantil internacional, salvo na hipótese de antecipação da opção de compra, quando configurada a transferência de titularidade do bem. Idêntica solução deve ser aplicada ao contrato de afretamento de embarcação em regime de admissão temporária, que não se enquadra na hipótese de incidência prevista na LC 87/96 e tampouco na norma do art. 155, § 2º, IX, 'a', da CF. Inocorrência de pedido normativo. Direito líquido e certo caracterizado. Preliminares rejeitadas. Sentença que concedeu a ordem mantida. Reexame necessário e recurso fazendário não providos. (TJSP, Reexame Necessário 1050091-30.2014.8.26.0053; Des. Osvaldo de Oliveira; 12ª Câmara de Direito Público; Data de Registro: 17/06/2016). 2.6 ICMS – Afretamento por tempo. Alegação de que a natureza jurídica do serviço prestado é a de transporte de carga, incidindo ICMS por se cuidar

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de operação interestadual. Descabimento. Hipótese em que o afretamento por tempo é negócio complexo, mas com núcleo na locação de bem móvel, sendo vedada a cisão para fins de tributação dos acessórios. RECURSOS NÃO PROVIDOS. (TJSP, Apelação / Reexame Necessário 0006497-35.2011.8.26.0587; Des. Jarbas Gomes; 11ª Câmara de Direito Público; Data de Registro: 04/02/2016) 2.7 APELAÇÃO – REEXAME NECESSÁRIO – EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL – ICMS – TRANSPORTE DE PETRÓLEO E DERIVADOS – Contrato de afretamento marítimo que se caracteriza pela locação da embarcação tripulada e não se confunde com contrato de transporte de carga, estando a salvo da incidência do ICMS – Precedentes – Atuação fiscal baseada na desconsideração de negócio jurídico – Contratos que foram nomeados de afretamento marítimo por tempo – A interpretação das cláusulas confirma o afretamento – As Responsabilidades assumidas pela TRANSPETRO estão dentro das características do contrato – Inexistência de transporte – Não incidência do ICMS – Sentença de acolhimento dos embargos à execução que deve ser mantida – Recurso desprovido e reexame necessário desacolhido. (TJSP, AC 0006496-50.2011.8.26.0587, Des. Relator: João Carlos Garcia, 8ª Câmara de Direito Público, j. 11/06/2014). c) Afretamento – Acordo de Cooperação Marítima e troca de espaço –

Disputa contratual – Inaplicabilidade da prescrição ânua 2.8 APELAÇÃO. DIREITO CIVIL E COMERCIAL. CONTRATO MARÍTIMO. ACORDO OPERACIONAL TENDO POR OBJETO COOPERAÇÃO MARÍTIMA, CESSÃO E TROCA DE ESPAÇO. 1. Não configura pedido juridicamente impossível a cobrança de dívida ajustada em dólar, desde que o pagamento se efetive pela conversão em moeda nacional ao câmbio vigente na data do efetivo pagamento (recurso especial 680543/RJ, 3ª t., DJ 04/12/2006). 2. Não incidência da prescrição ânua do art. 449, “3”, do código comercial, eis que o contrato não se amolda a qualquer das modalidades de contrato típico de afretamento. 3. empresas do segmento de transporte marítimo que, em empreendimento de cooperação que muito se assemelha a joint venture contratual, firmam cláusulas prevendo a troca de alocação de espaço em serviço regular de transporte de cargas containerizadas com a máxima

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utilização de seus 4. Navios e equipamentos de transportes correlatos, com o declarado propósito de obter redução dos custos ao transportar cargas, racionalizando os espaços ociosos nos respectivos navios, maximizando a capacidade de cada um dentro do limite de 50% da capacidade disponível, com o fim de obter economias de custo através da racionalização de serviços, características essas que divergem daquelas próprias do contrato típico de fretamento ou afretamento. 5. Apelação da ré. 6. Conjunto probatório, em especial documentos de notas de débitos anexados pelas partes e laudo do perito do juízo, apontando créditos em favor da autora. Procedência parcial da apelação da ré para acrescer duas outras deduções em prol da mesma, a serem compensadas do crédito apontado na sentença em favor da ré-apelante. Apelação da empresa ré, a que se dá parcial provimento. (TJRJ, AC 0104709-45.2004.8.19.0001, Des. Relator Juarez Fernandes Folhes, 14ª Câmara Cível, j. 14/11/2012) d) Afretamento – Disputa contratual – Prescrição quinquenal 2.9 APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA. CONTRATO DE AFRETAMENTO DE EMBARCAÇÃO. MULTA POR INFRAÇÃO CONTRATUAL. DÍVIDA LÍQUIDA. INSTRUMENTO PARTICULAR. APLICAÇÃO DO ARTIGO 206, §5º, INCISO I, DO CÓDIGO CIVIL. PRESCRIÇÃO. OCORRÊNCIA. 1. Prescreve em cinco anos a pretensão de cobranças de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular, artigo 206, §5º, inciso I, do Código Civil. 2. Na espécie, o prazo prescricional da ação de cobrança surgiu no momento da infração contratual, precisamente quando a embarcação "MERCURIO DEL GOLFO" ficou indisponível para o serviço contratado. Doutrina. 3. Documentos que instruem os autos indicam as horas, dias e motivos da indisponibilidade da embarcação (30/09/2007 a 29/09/2008), bem como o valor da taxa diária, o percentual da multa a ser aplicada e todos os demais dados para o cálculo de multa por infração contratual. Assim, com a realização de simples cálculo aritmético chega-se ao valor da multa devida. 4. Nesse diapasão, não há dúvidas de que o valor cobrado na inicial representa uma dívida líquida e está pautada em instrumento particular, de modo que forçoso reconhecer a ocorrência da prescrição, porquanto a ação de cobrança somente foi proposta em 10/01/2014, após decurso do prazo quinquenal, previsto no inciso I do § 5º do artigo 206 do Código Civil. 5. Por fim, a demandante não se desincumbiu de provar a ocorrência de quaisquer das causas de interrupção da prescrição previstas no artigo 202 do Código Civil. 6. Apelo que não segue.

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(TJRJ, Apelação 0008664-27.2014.8.19.0001, Des(a). José Carlos Paes, Décima Quarta Câmara Cível - Julgamento: 27/03/2015) e) Afretamento – Cobrança de Sobrestadia e frete morto –

Inaplicabilidade do CDC 2.10 APELAÇÃO CÍVEL - TRANSPORTE MARÍTIMO DE MERCADORIAS - CONTRATO DE AFRETAMENTO MARÍTIMO NA MODALIDADE CHARTER PARTY (CARTA PARTIDA) - REGRAMENTO PRÓPRIO EM CONSONÂNCIA COM A PARTE AINDA VIGENTE DO CÓDIGO COMERCIAL - INAPLICABILIDADE DO CDC - AQUISIÇÃO DE BENS PARA IMPLEMENTAR A ATIVIDADE EMPRESARIAL - COBRANÇA LEGÍTIMA FUNDAMENTADA NA EXISTÊNCIA DE SOBRESTADIAS (DEMURRAGE) E FRETE MORTO (DEAD FREIGHT) - APELAÇÃO CONHECIDA E PROVIDA. 1 - "A aquisição de bens ou a utilização de serviços, por pessoa natural ou jurídica, com o escopo de implementar ou incrementar a sua atividade negocial, não se reputa como relação de consumo e, sim, como uma atividade de consumo intermediária". (Precedente STJ - REsp nº 541.867 - BA). 2 - Nos contratos charter party são dispostas todas as regras e condições para o afretamento, como o objeto do transporte, as obrigações dos contratantes, o preço do frete, os prazos e demais elementos essenciais, sendo comum em tais avenças, embora não se ignore a liberdade contratual, que as partes recorram a contratos padronizados, chancelados por comitês internacionais (compostos por representantes de afretadores e fretadores) e organizados por modelos conforme as particularidades de cada transporte ou carga. No caso dos autos as partes utilizaram um contrato modelo GENCON 94 elaborado por um conselho internacional denominado Baltic and International Maritime Council - BIMCO, exatamente um dos modelos com mais larga aplicação para os ajustes de afretamento por viagem ou Voyage charter party, instrumento que não sustenta qualquer dissonância com a legislação brasileira pertinente, vez que observa os elementos exigidos pelos artigos 566 e 567 da parte ainda vigente do Código Comercial. (...). 4 - A documentação carreada aos autos, mormente a cláusula 16, itens a e b, da carta partida, demonstra que efetivamente houve demurrage tanto no embarque quanto no desembarque da carga, operações cuja responsabilidade era da afretadora, pois enquanto foi acertado para o carregamento o prazo, a partir do aviso de "pronto para operar" pelo navio, de 4 (quatro) dias, 2 (duas) horas e 11 (onze) minutos, a operação levou 4 (quatro) dias, 4 (quatro) horas e 26 (vinte e seis) minutos para ser concluída, gerando um atraso de 2h15min (duas horas e quinze minutos), da mesma forma ocorreu no descarregamento, isto é, restou estipulado o prazo,

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contado do aviso de "pronto para operar", de 5 (cinco) dias, 2 (duas) horas e 44 (quarenta e quatro) minutos, mas a operação foi concluída em 9 (nove) dias e 45 (quarenta e cinco) minutos, resultando no atraso de 3 (três) dias 22 (vinte e duas) horas e 01 (um) minuto. 5 - Constatada a efetiva existência de frete morto e sobrestadias é legítima a cobrança dos valores prévia e contratualmente ajustados. 6 - Apelação conhecida e provida. (TJCE, APELAÇÃO CÍVEL nº. 1065-09.2000.8.06.0092/1, Relator: Des. Manoel Cefas Fonteles Tomaz, 6ª Câmara Cível, j. 26/02/2013) f) Afretamento – Disputas contratuais – excesso de consumo de

combustível 2.11 CIVIL. EMPRESARIAL. CONTRATO. AFRETAMENTO. EMBARCAÇÃO. COMBUSTÍVEL. EXCESSO DE CONSUMO. Ação revisional cumulada com repetição de indébito porque as partes celebraram contrato de afretamento marítimo e a Ré cobra por inexistente excesso de consumo de combustível. Não há cerceamento do direito de defesa pela não intimação da Ré para se manifestar sobre os esclarecimentos se o Dr. Perito apenas ratifica o laudo anteriormente elaborado. Para determinar seu crédito, a Apelante lançou mão de expediente unilateral, com base em supremacia na relação contratual que não existe. Agora, em sede judicial, reclama de cerceamento ao direito de defesa que ela não soube ou não quis respeitar na execução do negócio jurídico. De todo inviável desconstituir as conclusões da perícia que atestam a ausência de excesso de consumo passível de restituição se a Ré se limita a criticar o laudo pericial sem apresentar elemento técnico ou prova capaz de se contrapor às conclusões do laudo pericial. Assentado o erro na fixação inicial do consumo das embarcações, competia à Ré demonstrar o excesso com base no patamar real de consumo definido pela prova técnica a fim de justificar os descontos dos valores devidos às Autoras. Apesar da ampla oportunidade, a Ré não se desincumbiu de provar qualquer fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito reclamado na inicial, ônus que lhe competia nos termos do artigo 333, II, do Código de Processo Civil. Recurso desprovido. (TJRJ, Apelação Cível nº. 0241838-14.2012.8.19.0001, Relator: Des. Henrique Carlos de Andrade Figueira, 5ª Câmara Cível, j. 02/02/2016)

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2.12 Apelação. Ação Declaratória de Inexistência de Débito com Pedido de Antecipação dos Efeitos da Tutela. Contratos de afretamento marítimo por tempo (time charter party “TCP”). Obrigação da Apelante em fornecer combustível e água a serem utilizados pelas embarcações contratadas, ou seja, os Saveiros “FRAGATA” e “GAIVOTA”, durante o cumprimento das avenças, nomeadamente o apoio marítimo à exploração de petróleo na plataforma continental brasileira. Excesso no gasto com insumo (óleo diesel) pela Recorrida. Controvérsia sobre a possibilidade de desconto dos valores apresentados pela Apelante, bem como as quantias apuradas e o mais conexo. R. Sentença de procedência do pedido autoral. Prova técnica pericial produzida na fase instrutória, sujeita ao crivo do contraditório e da ampla defesa, concluindo pela irregularidade da aplicação do excesso de consumo à Autora. Precedentes deste Colendo Sodalício conforme transcritos na fundamentação. Insurgência da Parte Ré sustentando a necessidade de dedução do valor depositado em sede de tutela antecipada. Descabimento. Procedência do pedido autoral que se afigura como exaurimento da prestação jurisdicional, confirmando os efeitos da tutela deferida e acolhendo a pretensão, porém não implicando em nova restituição de valores, eis que já houve cumprimento da obrigação a que foi condenada a Empresa Ré, sendo certo que não resta autorizado a Parte Vencedora (Apelada) exigir o valor novamente. Sentença merecendo prestígio. Honorários advocatícios sucumbenciais majorados, em cumprimento ao § 11 do artigo 85 da Lei de Ritos Civil. Negado Provimento. (TJRJ, Apelação Cível nº. 0274622-44.2012.8.19.0001 - Relator: Des. Reinaldo Pinto Alberto Filho, 4ª Câmara Cível, j. 12/04/2017) 2.13 Direito marítimo. Afretamento por tempo certo. Competência das varas empresariais para dirimir conflitos decorrentes do contrato. Rol exemplificativo do artigo 91, l, g, do Código Judiciário Estadual. Precedente do Órgão Especial. Controvérsia sobre os parâmetros de aferição do excesso de consumo de combustível pela fretadora. Cláusula contratual que impõe a fixação do consumo teórico (inicial) pelas contratantes. Erro grosseiro na elaboração da tabela inicial da fretadora, que trouxe prejuízos posteriores quando da aferição do consumo real. Dever de fiscalização da afretada/petrolífera. Aplicação dos princípios e objetivos constitucionais. Obrigação contratual que tem cunho solidário de evitar futuros prejuízos aos contratantes. Ausência de boa-fé objetiva, que permite rever o contrato, para aplicar novo parâmetro de acordo com o consumo real do combustível. Inexistência de excessos verificada em perícia judicial. Descontos descabidos.

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Sentença de procedência, mantida pela sua conclusão. Agravo retido não conhecido. Apelação da petrolífera conhecida e desprovida. (TJRJ, Apelação Cível nº. 0032874-45.2014.8.19.0001 - Relator: Des. Bernardo Moreira Garcez Neto, 10ª Câmara Cível, j. 04/10/2017) 2.14 APELAÇÃO. Medida cautelar inominada e ação ordinária. Julgamento conjunto. Preliminar de impossibilidade de conhecimento do apelo por suposta ausência de impugnação específica, que se rejeita. Inexistência de violação ao art. 1.010, III, do CPC/15. Contrato de afretamento e contrato de prestação de serviços de operações náuticas, envolvendo a embarcação "Sea Kiowa". Previsão contratual, dentre outras obrigações, de que competia à ré (afretadora) fornecer água e combustível necessários à operação da embarcação e à autora (fretadora) arcar com o excedente do consumo básico, a ser definido no início do contrato pela Petrobrás, no período composto pelas quatro primeiras sondagens da embarcação, com o fim de definir os parâmetros máximos de consumo, em litros/hora, para cada tipo de operação. Obrigação de caráter excepcional. Medição que deixou de ser realizada ao tempo estabelecido no contrato. Sentença que acolhe o pleito autoral para declarar inexistente qualquer débito da autora a título de consumo excessivo de combustível pela embarcação "Sea Kiowa", amparada pela prova técnica, que socorre as alegações autorais no sentido do descabimento da cobrança almejada pela Petrobrás a título de excesso de consumo de combustível. Litigância de má-fé não caracterizada. Recurso a que se nega provimento, com a consequência de elevarem-se os honorários advocatícios para 15% sobre o valor atribuído à causa, na forma do art. 85, § 11, do CPC/15.

(TJRJ, Apelação Cível nº. 0057279-82.2013.8.19.0001 - Relator: Des. Jessé Torres Pereira Júnior, 2ª Câmara Cível, j. 23/11/2016) 2.15 (...) A presente demanda está relacionada a contrato de afretamento marítimo. Em síntese, a celeuma gira em torno da legalidade de desconto de valor equivalente a 703.709 litros de óleo diesel (R$ 2.201.905,46) que teriam sido consumidos em excesso pela embarcação “TOISA SERENADE” no período compreendido entre 10/07/2014 a 13/05/2015. Com efeito, nos contratos de fretamento marítimo time charter (TCP), as relações negociais estabelecidas entre a fretadora a afretadora marítima decorrem de autêntica praxe marítima, na qual a primeira zela pela funcionalidade da embarcação

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aprestada, e a segunda assume o dever de suportar as despesas incidentes às viagens. Assim, a gestão náutica (operacional) fica por conta do fretador, que entrega o navio armado e tripulado à afretadora, a quem compete a gestão comercial da embarcação, operando-a durante o período previsto contratualmente. Via de rega, nos contratos TCP, a cobrança do combustível da embarcação é efetivada por intermédio de notas de débito expedidas pela afretadora - e em se tratando da PETROBRÁS, com base nos preços tabelados pela Agência Nacional do Petróleo. Embora não se configure um contrato de adesão, sabe-se que as empresas majors ditam os contratos que serão padrão no mercado. Os contratos standart são utilizados devido à dinâmica da negociação no mercado de afretamento, evitando-se a confecção de um novo contrato a cada navio fechado. No caso dos autos, a PETROBRÁS sustenta que primeiramente fornece combustível à SEALION e depois, caso o consumo ultrapasse a média de consumo, a fretadora deve pagar pelo excesso, cujo valor pode ser compensado com o que a afretadora teria a pagar pelo serviço; além do que, o parâmetro de consumo de combustível, enquanto não fixado, é definido pela própria PETROBRÁS. De acordo com os contratos firmados, a obrigação da fretadora, no que tange ao consumo de combustível, era de arcar apenas com o custo do óleo que excedesse ao consumo básico - consumo básico esse que seria definido no período composto pelas quatro primeiras sondagens de cada embarcação. Da leitura das avenças celebradas, extrai-se a cada quatro sondagens seriam calculadas as diferenças entre o somatório dos consumos máximos permissíveis e o somatório dos consumos reais dos períodos entre sondagens. Sendo a diferença negativa, a mesma seria levada a débito da SEALION, salvo fato considerado superveniente e aceito pela PETROBRÁS. Em linhas gerais, a obrigação de providenciar combustível seria da PETROBRÁS, ao passo que a obrigação da SEALION se limitaria ao excesso de consumo básico. E nem seria de outra forma, já que o ônus do fornecimento de combustível pela afretadora decorre não apenas do contrato em epígrafe, mas da própria praxe marítima nos contratos de afretamento marítimo, nos quais somente em situações excepcionais a fretadora assume o custeio do combustível da embarcação. Pois bem, a autora, de posse da comunicação da PETROBRÁS do pagamento do combustível excedente, ajuizou a presente ação por discordar do método de aferição utilizado. Para tanto, juntou diversos documentos, dentre eles o contrato acertado entre as partes, as comunicações acerca da cobrança em comento e laudo técnico por empresa especializada no ramo. Cabe ao réu, em sede de peça de bloqueio, impugnar todos os fatos que entende controversos, não sendo admitida formulação de defesa genérica. (...) Note-se que o contrato assegura à PETROBRÁS o direito de deduzir do pagamento devido à fretadora, importâncias correspondentes a débitos a

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que tiver dado causa. Mas a prova da causa cabe à própria PETROBRÁS. Fincada tal prefacial, importa aferir a forma prevista para fixação dos parâmetros de consumo básico de combustível. O parâmetro de consumo de embarcação encontra-se no Anexo III-A do contrato de afretamento. Entretanto, conforme a Carta 1268/2015 (fl. 121), enviada pela Ré, informando a realização de dedução dos recebíveis da Autora, utilizou-se parâmetro em quantitativos inferiores aos parâmetros de consumo previstos no supracitado anexo. Logo, o resultado imputado pela PETROBRÁS apresenta distorção. Não há, no caso, excesso de consumo de combustível, mas sim erro na apuração por parte da Ré. Ademais, frise-se que, em momento algum, a PETROBRÁS juntou qualquer documento comprovando o alegado consumo em excesso de combustível. De posse de tal fato, a dedução incidente nos créditos titularizados pela fretadora é abusiva, tanto no contrato em questão, como em outros firmados com a estatal. Isso porque a dedução carece de informação e comprovação detalhada que justifique sua exigibilidade. Portanto, a PETROBRÁS não se desincumbiu do ônus de demonstrar qualquer fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor, na medida em que não provou o consumo em excesso de combustível na embarcação afretada. E como os descontos promovidos pela PETROBRÁS por supostos débitos de consumo em excesso pelas embarcações são indevidos, lícito se afigura o pedido de declaração de inexistência de qualquer débito a título de consumo excessivo de combustível. Permitir que a autora venha a arcar com os custos do combustível referentes a esse período configura verdadeira violação à boa-fé contratual. O princípio da boa-fé, previsto no ordenamento jurídico no art. 422 do Código Civil, sempre permeou todas as relações jurídicas. Considerando a premissa de que o contrato faz lei entre as partes, há a necessidade de que essa lei seja exercida dentro dos ditames da boa-fé, que se traduz como uma verdadeira norma de conduta entre as partes. (...) Ora, se a parte ré falha no cumprimento de uma de suas obrigações e imputa à autora o pagamento de combustível devido à sua própria falha, está caracterizado o comportamento contraditório em desrespeito aos deveres anexos da boa-fé contratual. Com efeito, não cabe à autora arcar com prejuízos aos quais não deu causa e que nem ao menos restaram comprovados nos autos. Dessa feita, o pedido autoral encontra abrigo e deve ser julgado procedente. III - DISPOSITIVO Isso posto, JULGO PROCEDENTE a pretensão autoral para: (i) declarar a inexistência dos débitos a título de consumo de combustível correspondente 703.709 litros de óleo diesel não consumidos em excesso pela embarcação ´TOISA SERENADE´ no período compreendido entre 10/07/2014 a 13/05/2015; (ii) confirmar a antecipação de tutela, a fim de que a Petrobrás se abstenha de efetuar qualquer dedução

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ou desconto nas faturas em desfavor da autora, a título de excesso de consumo de combustível da embarcação TOISA SERENADE, ou, no caso de já ter realizado algum desconto/dedução, proceda sua devolução integral no prazo de 24 horas, sob pena de multa diária de R$ 10.000,00 (dez mil reais); (iii) havendo qualquer desconto sobre recebíveis da Autora ou cobrança referente ao combustível correspondente 703.709 litros de óleo diesel não consumidos em excesso pela embarcação ´TOISA SERENADE´ no período compreendido entre 10/07/2014 a 13/05/2015, seja a mesma condenada a restituir o montante eventualmente descontado/cobrado, devidamente acrescido de juros e correção monetária a contar da data da realização do desconto/cobrança. Condeno a demandada ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios da parte adversa, que fixo em 10% (dez por cento) sobre o valor corrigido atribuído à causa. PRI. (RJ. 0418985-85.2016.8.19.0001 – 7ª Vara Empresarial. Juiz Fernando Cesar Ferreira Viana. Data: 20/02/2018) g) Afretamento – Disputas contratuais – fornecimento de combustível

contaminado 2.16 APELAÇÃO CÍVEL. EMPRESA ESTRANGEIRA. CAUÇÃO. DESNECESSIDADE NO CASO CONCRETO. CONTRATO DE AFRETAMENTO E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. CONTAMINAÇÃO DO ÓLEO TRANSPORTADO. RESPONSABILIDADE PELOS PREJUÍZOS. PARTE AUTORA QUE SE DESINCUMBIU DO ÔNUS DE COMPROVAR FATO CONSTITUTIVO DE SEU DIREITO. PROVA TÉCNICA. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. MANUTENÇÃO. 1. Rejeição da preliminar de irregularidade processual, por falta de caução exigida pelo artigo 83 do CPC. Além das exceções previstas no dispositivo legal, a jurisprudência do STJ flexibiliza a rigidez desta regra, principalmente nos casos em que a sociedade estrangeira vem obtendo êxito em sua pretensão. Precedentes. 2. As partes celebraram contrato de afretamento e prestação de serviços referentes a mesma embarcação para transporte de óleo diesel. Contaminação do produto que restou incontroversa, estando a presente demanda dirigida a averiguar de quem é a culpa em relação à contaminação dos combustíveis do barco afretado. 3. A fim de comprovar suas alegações, observando o que dispõe o artigo 373, inciso I do CPC, as autoras acostaram laudo pericial que averiguou as condições da embarcação e o produto transportado. Por outro lado, a apelante não se desincumbiu do ônus imposto pelo inciso II do citado dispositivo legal. 4. Ausência de certificado de origem do óleo transferindo para a embarcação. Fato

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declarado por funcionário da própria ré. 5. Detectada a irregularidade no produto transportado, a embarcação dirigiu-se ao terminal da Petrobrás em Macaé para que fossem realizadas as investigações preliminares. Apesar da oportunidade, não se realizou a inspeção na embarcação das apelantes, tendo sido apenas recolhidas amostras do produto contaminado. 6. Verifica-se pelos documentos que instruem o feito, em especial o laudo pericial acostado pelas apeladas, que a contaminação do óleo diesel não ocorreu por falha na embarcação, já que não constatada nenhuma irregularidade nesta. Por outro lado, constatou-se o descuido da apelante, que recebeu óleo diesel de terceira embarcação, sem a devida certificação de procedência. 7. Confirmada a tutela de urgência que determinou a abstenção da ré de promover qualquer compensação em recebíveis das autoras acerca da questão discutida neste feito, uma vez que tais créditos não restaram confirmados. 8. Fixados honorários recursais. DESPROVIMENTO DO RECURSO. (TJRJ, Apelação Cível nº. 0470124-13.2015.8.19.0001 - Relator: Des. Carlos Santos De Oliveira, 22ª Câmara Cível, j. 07/11/2017)

h) Afretamento – Disputas contratuais – Certificado De Autorização De

Afretamento (CAA) – indisponibilidade/rescisão antecipada 2.17 Apelação cível. Ação ordinária. Contrato de afretamento de embarcações da autora, ora apelada, de bandeira estrangeira por petróleo brasileiro s/a petrobras, ora apelante, para apoio marítimo à atividade exploratória de petróleo e gás natural, alegação de descumprimento da obrigação de efetuar o pagamento de taxas diárias devidas referentes ao frete e de renovar periodicamente a autorização necessária junto ao órgão competente, por meio da obtenção de certificados de autorização de afretamento - CAAs - expedidos pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários - ANTAQ. Irresignação quanto à cobrança do combustível consumido pelas embarcações de bandeira estrangeira enquanto aguardavam a renovação dos certificados de autorização de afretamento - CAAs. Sentença de procedência dos pedidos deduzidos na exordial, condenando a ré, ora apelante, ao pagamento de R$ 3.902.407,97 (três milhões e novecentos e dois mil e quatrocentos e sete reais e noventa e sete centavos) referentes às taxas diárias devidas pela disponibilização das embarcações "er tromsoe" e "er haugesund", condenando-se a ré, ora apelante, a restituir R$ 152.629,71 (cento e cinquenta e dois mil e seiscentos e vinte e nove reais e setenta e um centavos) retidos a título de combustível

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consumido pelas embarcações. Irresignação da ré. Recurso conhecido. O apelo interposto atende o princípio processual da dialeticidade visto que da sua fundamentação infere-se a argumentação lógica destinada a evidenciar o equívoco da sentença impugnada. Requisitos de admissibilidade recursal previstos no art. 1.010, inc. III, do NCPC verificados. Contrato de afretamento por tempo. Modalidade definida no art. 2º, inc. II, da lei nº 9.432/97. A legislação de regência condiciona o afretamento de embarcações estrangeiras na modalidade contratada à autorização do órgão competente, qual seja, a agência nacional de transportes aquaviários ANTAQ (arts. 21 e 27 da lei nº 10.233/2001) concedida na hipótese de inexistência ou indisponibilidade de embarcação de bandeira brasileira do tipo e porte adequados para o transporte ou apoio pretendido. Art. 9º da lei nº 9.432/97. Na cláusula quarta dos instrumentos contratuais firmados entre as partes verifica-se que a ré, ora apelante, assumiu a obrigação de providenciar e renovar periodicamente a autorização para o afretamento das embarcações contratadas, nos termos exigidos na legislação de regência, obtendo em favor da autora, ora apelada, os certificados de autorização de afretamento - caa - das embarcações contratadas junto à agência nacional de transportes aquaviários - antaq. A verificação da inexistência ou indisponibilidade de embarcação de bandeira brasileira do tipo e porte adequados para o transporte ou apoio objeto dos instrumentos contratuais, nos moldes previstos no art. 9º da lei nº 9.432/97, e a consequente expedição do certificado de autorização de afretamento (caa) o qual a demandada, ora recorrente, se obrigou a providenciar é feita por meio de procedimento de circularização - previsto tanto na resolução normativa nº 01-antaq, de 13/02/2015, quanto na resolução normativa nº 495-antaq, de 13/09/2005, vigente na época em que os instrumentos contratuais foram firmados -, no qual se admite que a empresa brasileira de navegação realize o bloqueio de embarcação estrangeira contratada. Responsabilidade civil contratual, impondo-se àquele que descumpre os termos firmados no instrumento contratual a reparação dos danos causados. Art. 397 do cc. Infere-se da cláusula quarta dos referidos instrumentos contratuais, que a ré, ora apelante, se obrigou a providenciar junto a antaq a emissão do certificado de autorização de afretamento (caa) e não a entregar os referidos documentos à autora, ora apelada, até porque a expedição dos referidos documentos está condicionada à inexistência de bloqueio da embarcação estrangeira por embarcação de bandeira brasileira, em sede de procedimento de circularização (art. 3º, inc. Vii da resolução normativa nº 495-antaq de 13/09/2005 e art. 2º, inc. Xvii da resolução normativa nº 01-antaq de 13/02/2015). Obrigação de meio e não de resultado. Alegação de caso fortuito, força maior ou fato exclusivo de terceiro afastada. Previsibilidade do

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bloqueio de embarcação estrangeira por empresa brasileira de navegação interessada no afretamento e, por conseguinte, da não expedição do certificado de autorização de afretamento (caa) prevista na lei de regência Lei nº 9.432/97 e nas resoluções normativas nº 495-antaq de 13/09/2005 e nº 01-antaq de 13/02/2015 expedidas pelo órgão competente, todas vigentes na época em que os instrumentos contratuais foram entabulados, exsurgindo a conexidade da eventual impossibilidade da expedição dos referidos documentos com as peculiaridades e a natureza do serviço contratado. Precedente do e. Stj. Na impossibilidade da obtenção do certificado de autorização de afretamento (caa), cabia à ré, ora apelante, nos termos previstos na cláusula 2.2.6, encerrar antecipadamente o contrato, por óbvio notificando a autora, ora apelada, o que, à mingua de comprovação nos autos, não foi providenciado. Ainda que a hipótese versasse sobre qualquer uma das hipóteses de rompimento do nexo causal, remanesceria o descumprimento contratual da ré, ora apelante, diante da inexistência de notificação da autora, ora apelada, quanto à sua ocorrência, providência não observada pela ré, ora apelante, nos termos consignados na cláusula décima quarta dos instrumentos contratuais. A despeito de a cláusula terceira “Das obrigações da fretadora”, item 3.11.1, imputar à autora, ora apelada, o ônus de arcar com o custo do combustível consumido nos períodos de inoperância das embarcações contratadas, o fato delas terem permanecido disponíveis à ré, ora apelante, sem que esta última tenha notificado a autora, ora apelada, da impossibilidade de providenciar o certificado de autorização de afretamento (caa) e, por conseguinte, da impossibilidade da continuidade dos contratos, nos termos consignados da cláusula segunda, item 2.2.6, impõem que as despesas com combustível consumido pelas embarcações da autora, ora apelada, sejam suportadas pela ré, ora apelante. Imposição dos princípios da boa-fé objetiva e da probidade, arts. 113 e 422, ambos do cc, sob pena de configuração de venire contra factum proprium, visto que a ré, ora apelante, deixando de notificar a autora, ora apelada, do encerramento antecipado dos contratos, contribuiu para a inoperância das embarcações da autora, ora apelada, e para as despesas de combustível das embarcações da autora, ora apelada, durante o período de sua inutilização. Honorários advocatícios de sucumbência majorados para 15% do valor dado à causa, na forma do § 11 c/c § 1º do art. 85 do cpc. Sentença mantida. Recurso desprovido.

(TJRJ, Apelação Cível. 0481830-90.2015.8.19.0001 – Des. Fernando Cerqueira Chagas. 11ª Câmara Cível. J. 19/07/2017)

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2.18 (...) No que toca ao mérito, tem-se que a Lei nº 9.432/97, a qual dispõe sobre a ordenação do transporte aquaviário, com evidente intuito de proteger a economia e mercado nacional, trouxe como exigência à contratação de afretamento de embarcações estrangeiras a obtenção de autorização do órgão competente, in casu, a ANTAQ. A referida Agência Reguladora, por sua vez, criou um procedimento para a emissão de autorização, denominada Certificado de Autorização de Afretamento (CAA), pela qual serão seguidas uma série de formalidades para se assegurar a inexistência ou indisponibilidade de embarcações brasileiras a substituírem a embarcação estrangeira. Assim, a Empresa Brasileira de Navegação que tenha embarcação de bandeira brasileira com as mesmas características da estrangeira e que tenha interesse de assumir o contrato, deve exercer seu direito de privilégio/preferência através do bloqueio. Inicia-se, assim, uma negociação entre a Empresa Afretadora e a interessada para se averiguar se, de fato, a embarcação nacional atende os mesmos requisitos que a estrangeira. Durante essa negociação, não poderá ser ultrapassado o prazo de 24h de envio de respostas na negociação à ANTAQ para que, em caso de recusa, julgue o bloqueio. Em não se efetivando o bloqueio, é fornecido o CAA à embarcação estrangeira. Como já salientado anteriormente, a controvérsia principal gira em torno da responsabilidade da Ré em obter o CAA perante ANTAQ e os desdobramentos de seu inadimplemento. De tal controvérsia, desdobram-se dois pedidos: (i) o primeiro relativo à pretensão de que a Ré se abstenha de aplicar penalidades às Autoras por supostos descumprimento de obrigações contratuais que só teriam ocorrido em razão de um descumprimento anterior da própria Ré; (ii) já o segundo refere-se à pretensão de condenação da Ré a ressarcir pelos danos decorrentes do término antecipado dos contratos firmados entre as partes. Outro dado relevante a ser pontuado é que não há qualquer prova de que os princípios da Lei 9.432/1997 tenham sido cumpridos, uma vez que não consta nos autos prova de ter ocorrido a contratação de nenhuma das embarcações brasileiras que efetuaram o bloqueio da circularização em substituição à embarcação operada pelas Autoras, como reconhecido pela Ré na reunião realizada e confirmado pela ANTAQ. Independente de tais fatos, há que se considerar que, enquanto pendente o processo de obtenção da CAA, as Autoras ficaram impossibilitadas de dar continuidade ao contrato. A indisponibilidade da embarcação decorreu única e exclusivamente pela pendência na CAA, que era da responsabilidade da Ré, não podendo ser atribuída multa às Autoras. Consequentemente, em sendo culpa da Ré a pendência do processo de CAA, não podem ser as Autoras compelidas a arcarem com os custos do óleo diesel pelo tempo que a embarcação ficou parada - indisponível - à disposição da Ré. Assim é que, pela barreira da

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pendência do processo de obtenção do CAA, não podiam prestar efetivamente o serviço à Ré, também é que estavam à sua disposição, sem poderem usar a embarcação para outros serviços remunerados, não sendo justo que tenham de arcar com esse prejuízo se a ele não deram causa. A cláusula contratual que permite a aplicação de multa por indisponibilidade e a possibilidade de cobrança do óleo diesel durante o período de indisponibilidade deve ser interpretada não só a partir das normas de Direito Marítimo, mas também à luz dos princípios constitucionais que regem todas as relações jurídicas nacionais (Constituição da República Federativa do Brasil e o Código Civil). Desse modo, numa visão consentânea ao princípio da boa-fé objetiva, a previsão contratual de punição por indisponibilidade e responsabilidade em arcar com custos só poderia ser aplicada nos casos em que as Autoras tivessem dado causa à indisponibilidade e não quando isto ocorre por fato da responsabilidade da Ré. Ex positis, RATIFICO a tutela de urgência deferida e, no mérito, JULGO PROCEDENTE O PEDIDO AUTORAL, para: 1) AFASTAR, definitivamente, a responsabilidade das Autoras em arcar com o valor do combustível consumido pela embarcação ´TOISA SERENADE´, no período de 18/12/2015 até 16/03/2016, condenando a Ré a REEMBOLSAR os valores pagos pelas Autoras, devidamente atualizados e acrescidos de juros legais, a partir do débito indevido; e 2) CONDENAR a Ré a pagar às Autoras: 2.1) o valor de R$ 8.607.289,29 (oito milhões seiscentos e sete mil duzentos e oitenta e nove reais e vinte e nove centavos), corrigido monetariamente e acrescido de juros legais, referente às taxas diárias devidas pela embarcação ´TOISA SERENADE´, nos termos da cláusula 4.6 dos Contratos de Afretamento e Serviços, referente ao período de 18/12/2015 a 16/03/2016, enquanto a embarcação permaneceu em contrato aguardando que a Ré cumprisse com sua obrigação contratual e renovasse seu Certificado de Autorização para Afretamento - CAA; e 2.2) as diárias referentes aos Contratos de Afretamento e Serviços, a título de perdas e danos, desde a data em que o contrato foi rescindido de forma imotivada (16/03/2016) até seu termo final (15/10/2016), uma vez que a Ré não comprovou a contratação da embarcação brasileira em substituição à embarcação ´TOISA SERENADE´. CONDENO, ainda, a Ré ao pagamento de custas e de honorários advocatícios de sucumbência, que fixo em 15% (quinze por cento) sobre o valor da condenação, na forma do art. 85, § 2º, do Código de Processo Civil. Transitada em julgado, sem requerimento em até 60 dias, dê-se baixa na distribuição e arquivem-se os autos. Publique-se. Intimem-se. (RJ. 0246906-03.2016.8.19.0001– 6ª Vara Empresarial. Juiza Maria Cristina de Brito Lima. Data: 20/03/2018)

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2.19 (...) Na peça inicial, narram as autoras que celebraram com a ré, na data de 23/05/2012, Contrato de Afretamento nº 2050.0074687.12.2 (fls. 33/76) e Contrato de Prestação de Serviços nº 2050.0074686.12.2 (fls. 77/117) referentes à embarcação ´HIGHLAND SCOUT´, que arvora bandeira do Panamá. Afirmam que nesse contrato, dentre as principais obrigações da ré, destacam-se: o pagamento das taxas diárias de US$ 11.000,00, referente ao Contrato de Afretamento, e R$ 19.867,10, referente ao Contrato de Serviços (Anexo II dos contratos). Além da obrigação principal de efetuar o pagamento das taxas diárias, obrigou-se a Ré, nos termos das Cláusulas 4.3.1 e 4.3.2 do Contrato de Afretamento, à obtenção da Autorização de Afretamento da Embarcação e do Certificado de Autorização de Afretamento (CAA), junto à Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ). Em contrapartida, caberia às autoras como principal obrigação a manutenção da embarcação em boas condições de navegabilidade, disponível para realizar as fainas determinadas pela Ré, 24 horas por dia, 7 dias por semana. Entretanto, afirmam as autoras que em 28/05/2015, a Ré deixou de obter tempestivamente o CAA da embarcação e durante o período em que aguardavam o cumprimento da obrigação contratual de renovação do CAA pela ré, as Autoras mantiveram a embarcação integralmente disponível à Ré, e adimplentes quanto a sua obrigação principal, nos termos dos contratos. Narram que em razão da não renovação do CAA, a Ré deixou de pagar as taxas diárias de afretamento e serviços devidas em razão dos contratos a partir de 28/05/2016. Além disso, a ré apresentou cobrança às autoras pelo combustível consumido pela embarcação a partir da referida data, bem como multa por alegada indisponibilidade da embarcação no referido período, tendo rescindido os contratos em 16/12/2015. Afirmam, ainda, que foram tentadas comunicações com a ré para a resolução da questão, entretanto, foram em vão. As autoras alegam que a ré não observou as disposições contratuais, sendo improcedente a cobrança pretendida por violação dos princípios de probidade e boa-fé. Por fim, pedem as autoras que seja julgada procedente a presente ação para: (i) declarar indevida qualquer cobrança pela Ré referente ao combustível consumido pela embarcação ´HIGHLAND SCOUT´ ou multa por indisponibilidade referente ao período compreendido entre 28/05/2015 a 16/12/2015 quanto ao combustível consumido pela embarcação ´HIGHLAND SCOUT´, condenando-a a devolver, com correção monetária e juros de mora, qualquer valor que tenha sido cobrado ou pago pelas Autoras a este título no curso desta demanda; (ii) condenar a Ré na obrigação de pagar às Autoras o valor de R$ 12.359.493,72 (doze milhões trezentos e cinquenta e nove mil quatrocentos e noventa e três reais e setenta e dois centavos), corrigido monetariamente e acrescido de juros

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legais, referente às taxas diárias devidas pela embarcação ´HIGHLAND SCOUT´, nos termos da cláusula 4.6 dos Contratos de Afretamento e Serviços, referente ao período de 28/05/2015 a 16/12/2015, enquanto a embarcação permaneceu em contrato aguardando que a Ré cumprisse com sua obrigação contratual e renovasse seu Certificado de Autorização para Afretamento - CAA; (iii) condenar a ré no pagamento de custas e honorários. Com a inicial vieram os documentos de fls. 21/161. Realizada a audiência de mediação às fls. 228 sem possibilidade de acordo. A parte ré apresenta sua peça de bloqueio às fls. 231/257. Preliminarmente alega a incompetência absoluta do juízo empresarial para julgar a demanda. No mérito, em síntese, alega que não poderia ser responsabilizada pelo pagamento das taxas diárias e combustível relativas à embarcação no período de inoperância por ter buscado renovar o CAA dentro do prazo legal. Afirma que o bloqueio da embarcação ocorreu por fato de terceiro e, por isso, arcar com as custas relativas a esse período perante as autoras consistiria em enriquecimento sem causa. No mais, argumenta que todas as suas ações foram baseadas em cláusulas do contrato de afretamento, seguindo o princípio da boa-fé. Requer a improcedência do pedido autoral. Com a contestação vieram os documentos de fls. 258/563. Réplica das autoras às fls. 576/592. Autos conclusos. É o relatório. Passo a decidir. II- FUNDAMENTAÇÃO Na forma do art. 355, I CPC/2015, encontra-se o feito maduro para o julgamento, sendo desnecessária a produção de outras provas. Da Preliminar Inicialmente, a parte ré alega a incompetência absoluta do juízo. Argumenta que a questão trazida aos autos não versaria sobre Direito Marítimo, mas sim sobre pretensão reparatória da parte autora em razão da não renovação dos certificados das suas embarcações, bem como a cobrança do combustível consumido por elas quando da inoperância da embarcação ´HIGHLAND SCOUT´. Não prospera a explanação da parte ré. A competência para processar e julgar a demanda é do Juízo Empresarial. Apesar de o caso em comento refletir pretensão estritamente contratual, trata-se de contrato inserido na temática do Direito Marítimo. A causa de pedir versa sobre cobrança por excesso de consumo de combustível de acordo com cláusulas do contrato de afretamento marítimo firmado entre as partes. Embora a matéria em exame decorra de relação obrigacional, não há dúvidas que está adstrita ao tema Direito Marítimo, conforme art.50, I, h da Lei nº 6956/2015 (LODJ). Portanto, afasto a preliminar de incompetência do Juízo Empresarial. Do Mérito Em síntese, a celeuma gira em torno da cobrança pela parte ré do valor referente ao combustível utilizado na embarcação HIGHLAND SCOUT, bem como as taxas diárias de embarcação em relação ao período de 28/05/2015 a 15/06/2015. Com efeito, nos contratos de fretamento marítimo time charter (TCP), as relações negociais estabelecidas entre a

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fretadora marítima e a afretadora marítima decorrem de autêntica praxe marítima, na qual a primeira zela pela funcionalidade da embarcação aprestada, e a segunda assume o dever de suportar as despesas incidentes às viagens. Assim, a gestão náutica (operacional) fica por conta do fretador, que entrega o navio armado e tripulado à afretadora, a quem compete a gestão comercial da embarcação, operando-a durante o período previsto contratualmente. Via de rega, nos contratos TCP, a cobrança do combustível da embarcação é efetivada por intermédio de notas de débito expedidas pela afretadora - e em se tratando da PETROBRÁS, com base nos preços tabelados pela Agencia Nacional do Petróleo. Embora não se configure um contrato de adesão, sabe-se que as empresas majors ditam os contratos que serão padrão no mercado. Os contratos standart são utilizados devido à dinâmica da negociação no mercado de afretamento, evitando-se a confecção de um novo contrato a cada navio fechado. Pois bem, para que uma empresa possa operar nas navegações de longo curso, cabotagem, apoio marítimo e apoio portuário, faz-se necessário solicitar e obter autorização da ANTAQ para este fim. Considerando a narrativa dos fatos e os documentos trazidos pelas autoras, é possível verificar que cabe à afretadora, ora ré, segundo cláusula contratual 4.3.3, a responsabilidade de providenciar a Autorização de Afretamento e o Certificado de Autorização de Afretamento - CAA. Havendo, portanto, essa obrigação por parte da ré, seu descumprimento ou atraso não poderá basear a cobrança de taxas e combustível pelo período em que a embarcação esteve indisponível. Diferente da premissa da ré em sua contestação, o combustível não é de responsabilidade das autoras, mas sim da própria ré, como consta na cláusula 4.1: a providência de água, combustível necessários à operação da embarcação. E, ainda, a previsão contida na cláusula 4.6: deve a afretadora efetuar o pagamento das taxas diárias pelo período em que a embarcação permaneceu disponível. No que tange à responsabilidade da fretadora pelo combustível, conforme consta no contrato, tem-se que é excepcional e prevista nas cláusulas 3.11.1 (responsabilidade da fretadora arcar com o consumo do combustível nos períodos em que estiver a embarcação inoperante); cláusula 3.11.5 (quando exceder o consumo básico) e cláusula 3.11.6 (embarcação inoperante). Pelo narrado nos autos, a embarcação HIGHLAND SCOUT esteve impossibilitada de operar no período de 28/05/2015 a 16/12/015, contudo, tal fato somente ocorreu porque a referida embarcação esteve bloqueada. Tal bloqueio do afretamento de embarcação é previsto pela legislação brasileira na hipótese de existir embarcação nacional nas mesmas condições. A priorização de embarcações nacionais tem previsão legal, de conhecimento da ré, logo, a possibilidade de ocorrer o bloqueio não é estranha à afretadora. Pretende a ré furtar-se de sua obrigação contratual enquanto a fretadora cumpriu com o

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contrato. Ora, as autoras cumpriram com suas obrigações contratuais ao manter a embarcação disponível para a ré, entretanto a ausência de renovação do CAA impediu que pudessem ser por ela utilizadas. A problemática se inicia a partir da premissa equivocada tomada pela PETROBRÁS. A demandada considera que a ausência de renovação de CAA acarreta a indisponibilidade da embarcação e, consequentemente, o não pagamento das taxas diárias e do combustível. Tal entendimento não deve prosperar. A embarcação encontrava-se em plena condição de utilização, sendo que a obrigação das autoras estava cumprida. Frise-se que não há cláusula contratual que preveja a responsabilização da fretadora por ausência de CAA. Permitir que as autoras venham a arcar com os custos do combustível e das taxas diárias, bem como multa por indisponibilidades referentes a esse período configura verdadeira violação à boa-fé contratual. O princípio da boa-fé, previsto no ordenamento jurídico no art. 422 do Código Civil, sempre permeou todas as relações jurídicas. Considerando a premissa de que o contrato faz lei entre as partes, há a necessidade de que essa lei seja exercida dentro dos ditames da boa-fé, que se traduz como uma verdadeira norma de conduta entre as partes. Conforme preleciona Maria Helena Diniz: ´A boa-fé objetiva (...) é alusiva a um padrão comportamental a ser seguido baseado na lealdade e na probidade (integridade de caráter), proibindo o comportamento contraditório, impedindo o exercício abusivo de direito por parte dos contratantes, no cumprimento não só da obrigação principal, mas também das acessórias, inclusive do dever de informar, de colaborar e de atuação diligente´ (2014, p. 418). Ora, se a parte ré falha no cumprimento de uma de suas obrigações e imputa às autoras o pagamento de combustível devido à sua própria falha, está caracterizado o comportamento contraditório em desrespeito aos deveres anexos da boa-fé contratual. Com efeito, não cabe às autoras arcar com prejuízos aos quais não deu causa. Dessa feita, o pedido autoral encontra abrigo e deve ser julgado procedente. III - DISPOSITIVO Isso posto, JULGO PROCEDENTE a pretensão autoral para: (i) Declarar a inexistência dos débitos a título de consumo de combustível por indisponibilidade da embarcação HIGHLAND SCOUT no período de 28/05/2015 a 16/12/2015 - Contrato de Afretamento nº 2050.0074687.12.2 e do Contrato de Prestação de Serviços nº 2050.0074686.12.2, bem como quaisquer descontos em períodos subsequentes em decorrência do bloqueio da embarcação por ausência de Certificado de Autorização de Afretamento -CAA; (ii) Condenar a Ré na obrigação de pagar às Autoras o valor de R$ 12.359.493,72 (doze milhões trezentos e cinquenta e nove mil quatrocentos e noventa e três reais e setenta e dois centavos), corrigido monetariamente e acrescido de juros legais, referente às taxas diárias devidas pela embarcação ´HIGHLAND

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SCOUT´, nos termos da cláusula 4.6 dos Contratos de Afretamento e Serviços, referente ao período de 28/05/2015 a 16/12/2015. Condeno, ainda, a demandada ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios da parte adversa, que fixo em 10% (dez por cento) sobre o valor corrigido atribuído à causa. PRI. (RJ. 0409040-74.2016.8.19.0001 – 7ª Vara Empresarial. Juiz Fernando Cesar Ferreira Viana. Data: 20/02/2018) 2.20 (...) as autoras, em resumo, que são tradicionais empresas de navegação, armadora e operadora de embarcações dedicadas à navegação de apoio marítimo, que, nos termos do art. 2º, da Lei 9.432/1997, se qualifica como a realizada para o apoio logístico a embarcações e instalações em águas territoriais nacionais e na Zona Econômica, que atuem nas atividades de pesquisa e lavra de minerais e hidrocarbonetos. Afirmam que foram convidadas, por meio do Convite Internacional nº 1019965118, para participar de procedimento licitatório, através do qual a ré ofereceu ao mercado internacional contratos de afretamento de embarcação do tipo PSV 1.500, com prazo de vigência de 4 (quatro) anos, prorrogáveis por igual período. Aduzem que se sagraram vencedoras no certame realizado, apresentando a melhor oferta, o que gerou a assinatura dos Contratos de Afretamento 2050.0074224.12.2 e 2050.0074220.12.2 e Contratos de Prestação de Serviços 2050.0074225.12.2 e 2050.00742221.12.2, referentes às embarcações ´SEA VIXEN´ e ´SEA STOAT´, que arvoram bandeira estrangeira. ´SEA VIXEN´ e ´SEA STOAT´, que arvoram bandeira estrangeira. Asseveram que as referidas embarcações iniciaram suas operações de apoio às atividades de extração petrolífera desenvolvidas pela ré, na Plataforma Continental Brasileira, na data de 06 de setembro de 2012 e que, nos termos da cláusula 2.2 e do item 1, do Anexo I, os Contratos tinham prazo de 1.460 dias corridos, com possibilidade de prorrogação por igual período. Argumentam que, nos termos da cláusula 3.2 dos Contratos de Afretamento, tinham como principal obrigação a manutenção das embarcações em boas condições de navegabilidade, disponíveis para realizar as fainas determinadas pela Ré, 24 horas por dia, 7 dias por semana. Dizem que a ré, na qualidade de afretadora das embarcações, tinha como obrigação principal o pagamento das taxas diárias referentes ao afretamento e à prestação de serviços náuticos. Sustentam que, além da obrigação principal de efetuar o pagamento das taxas diárias, obrigou-se a ré, nos termos das Cláusulas 4.3.1 e 4.3.2 dos Contratos de Afretamento, à obtenção da Autorização de Afretamento da Embarcação e do Certificado de Autorização de Afretamento

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(CAA), junto à Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ). Alegam que, no mesmo sentido, com amparo na cláusula 4.3.3 dos referidos contratos, era obrigação da ré providenciar a renovação do CAA antes de sua expiração. Afirmam que, nos termos da Lei 9.432/2015, em especial seu artigo 9º, inciso I, o afretamento por tempo de embarcações de bandeira estrangeira por empresas brasileiras de navegação como a ré apenas é possível quando verificada a inexistência ou indisponibilidade de embarcações de bandeira brasileira de tipo e porte adequado a atender o escopo do contrato de afretamento. Aduzem que a contratação da embarcação estrangeira demanda autorização do órgão competente - in casu, a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ) -, a qual é obtida após consulta realizada ao mercado, em procedimento conhecido como ´circularização´, atualmente disciplinado pela Resolução nº 01/2015, da ANTAQ. Asseveram que a autorização para o afretamento da embarcação estrangeira é materializada pelo Certificado da Autorização de Afretamento (CAA), cuja obrigação de obtenção nos termos dos contratos de afretamento ora em discussão é exclusiva da ré e que o CAA tem validade de até 12 (doze) meses, o que explica a obrigação assumida pela Ré na cláusula 4.3.3 dos contratos, de renovar periodicamente o CAA das embarcações. Argumentam que no último ano do termo original dos contratos, a ré falhou, em algumas oportunidades, em cumprir sua obrigação prevista na cláusula 4.3.3 dos contratos, não obtendo, de forma tempestiva, a renovação dos CAAs das embarcações, deixando-as sem o CAA durante alguns períodos. Sustentam que nos períodos em questão as embarcações permaneceram disponibilizadas à ré, em perfeitas condições de navegabilidade e devidamente tripuladas, prontas, portanto, a realizar as fainas de apoio marítimo às atividades de pesquisa e lavra de minerais e hidrocarbonetos realizadas pela ré. Dizem que em razão da falha oponível unicamente à ré em obter a autorização tempestivamente para a continuidade dos afretamentos (CAAs) as suas embarcações ficaram impossibilitadas de operar. Alegam que a ré não se limitou a descumprir sua obrigação contratual de renovar os CAAs das embarcações, mas também se negou a pagar pelas diárias contratualmente devidas pela disponibilização das embarcações durante os referidos períodos, ou seja, a ré descumpriu sua obrigação contratual e ainda lhes puniu privando-as dos recebíveis líquidos e certos decorrentes dos contratos. Requereram, ao final, a procedência do pedido, além das cominações de estilo. A inicial veio instruída com os documentos de fls. 20/322. Determinada a redistribuição do feito (fls. 329/330), foi designada audiência de mediação (fls. 343/344), ocorrendo na mesma o que consta da respectiva assentada (fls. 381). A ré ofereceu contestação (fls. 384/418), alegando, em preliminar, a incompetência absoluta das Varas Empresariais

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da Justiça Comum Estadual para processar e julgar o presente feito, e, no mérito, que nos termos dos contratos livremente pactuados pelas partes, resta estabelecido, na cláusula 4.3.1, como obrigação da Afretadora/contestante a obrigação de providenciar a Autorização de Afretamento da embarcação junto à Agência Nacional de Transportes Aquaviário (ANTAQ), conforme legislação vigente; que, no mesmo sentido, o instrumento dispõe caber à Afretadora/contestante a obrigação de providenciar o Certificado de Autorização de Afretamento (cláusula 4.3.2), bem como providenciar, antes da data de vencimento da validade do Certificado de Autorização de Afretamento (CAA), nova autorização de Afretamento e o respectivo CAA, conforme a legislação vigente e de acordo com prazo contratual cláusula 4.3.3; que segundo previsão constante na Lei nº 9.432/1997, o afretamento de embarcação estrangeira, por tempo, para operar na navegação de apoio marítimo depende de autorização do órgão competente e só pode ocorrer em determinados casos; que a Lei nº 9.432/97 determina que o afretamento de embarcação estrangeira, por tempo, para operar na navegação de apoio marítimo, depende de autorização do órgão competente; que para as embarcações de bandeira estrangeira operarem em águas jurisdicionais brasileiras, é necessária a prévia obtenção do Certificado de Autorização de Afretamento - CAA junto à ANTAQ; que, a Autorização de afretamento tem o prazo de até 12 (doze) meses, a contar da data de entrega da embarcação; que o órgão regulador da atividade marítima exige que, antes de expirar o prazo da AA, o afretador torne a consultor o mercado para verificar se já existiria, neste momento, embarcação de bandeira brasileira capaz de atender a demanda da afretadora; que neste procedimento, é feita consulta a outras empresas de navegação sobre a disponibilidade de embarcação de bandeira brasileira; que nos casos das embarcações, após o vencimento do CAA junto à ANTAQ e posterior providencia da ré para sua renovação, foi feita a circularização junto ao mercado nacional e empresas nacionais que possuíam embarcações semelhantes àquelas contratadas se manifestaram se atendiam às exigências contratuais; que no caso concreto, a ré assumiu, contratualmente, a obrigação de providenciar perante a ANTAQ a obtenção de nova Autorização de Afretamento, o que permitiria que o afretamento da embarcação estrangeira subsistisse, pelo menos, pelo prazo no novo CAA; que não pode a ré assegurar à fretadora estrangeira que o novo CAA será, efetivamente, obtido, justamente em razão da possibilidade de bloqueio pela embarcação brasileira, o que de fato ocorreu e inclusive é reconhecido na inicial; que a ré, quando do prazo de vencimento dos CAA ?s referentes às embarcações afretadas, realizou circularização seguindo o que determina a normativa reguladora; que não lhe é imputável a responsabilidade pelo pagamento das

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taxas diárias; que ao contrário das alegações das autoras a ré foi, sim, diligente, tendo buscado a regular obtenção dos CAAs para as respectivas embarcações, conforme pode ser observado através dos procedimentos de circularizações realizados; que há que se destacar que nas duas últimas circularizações de 2016, segundo informações prestadas, houve bloqueio total de embarcação brasileira, sendo certo que, mesmo com solicitação de intervenção da ANTAQ, não houve suspensão dos bloqueios e, consequentemente, a não obtenção do CAA; que, aproximadamente, desde agosto de 2015, não só essas embarcações (SEA STOAT e SEA VIXEN), bem como outras também afretadas pela PETROBRAS do tipo PSV 1500 (estrangeiras) já se encontravam bloqueadas por embarcações brasileiras, inclusive, por outras de maior porte, do tipo PSV 4500; que a ré agindo de boa-fé buscou manter a continuidade dos contratos em voga, razão pela qual, conseguiu, ainda durante algum tempo, a renovação dos CAAs, inclusive a realização de ´desbloqueios´ de embarcações nacionais das empresas WILSON SONS e OCEANPACT; que a ré sempre procurou manter as autoras cientes das dificuldades referentes ao processo de renovação dos CAAs junto a ANTAQ, conforme pode ser verificado através das trocas de correios eletrônicos a partir de fevereiro de 2016; que as autoras estavam cientes de todos os processos de circularização; que a situação de bloqueio da embarcação das autoras não lhe é fato imputável, sendo, em verdade, decorrência da legislação reguladora e de alguma embarcação nacional com características similares às embarcações da autora; que se considerarmos que a ré adotou todas as medidas que estavam ao seu alcance para providenciar a renovação da refalada autorização perante o órgão regulador, observando o prazo de antecedência previsto na regulação marítima, bem como houve solicitação de bloqueio da embarcação estrangeira por parte de empresa brasileira possuidora de embarcação semelhante à contratada, torna-se nítida a ocorrência no caso vertente de fato exclusivo de terceiro; que a ré não poderá responder pelo pagamento dos prejuízos decorrentes da não renovação do CAA pela ANTAQ, o que acarretou a indisponibilidade da embarcação e o consequente não pagamento das taxas diárias pleiteadas pela contestada, já que a não renovação da documentação e a indisponibilidade das embarcações teria decorrido exclusivamente de fato de terceiro, qual seja, a existência de embarcação nacional com as mesmas características da embarcação das autoras; que há exclusão do nexo causal entre qualquer conduta da ré e os danos que as autoras alegam ter sofrido, não havendo que se falar, pois, em sua responsabilidade pelos mesmos; que, se, por um lado, as empresas fretadoras de embarcação não exercem qualquer ingerência no processo de obtenção do CAA, por outro, não se pode deixar de reconhecer tratar-se, a possível demora na obtenção do

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documento, notadamente em razão de bloqueios promovidos por empresas brasileiras, de um risco do negócio, devendo, por conseguinte, ser considerado e suportado pelas empresas interessadas; que o evento apontado como causador da indisponibilidade da embarcação relaciona-se ao risco inerente à própria atividade desenvolvida pela contratada, razão pela qual possui a natureza jurídica de fortuito interno, o que, segundo a doutrina civilista mais moderna, impossibilitaria a aplicação da excludente de responsabilidade do caso fortuito e da força maior; que não se afigura razoável que a ré considere a embarcação disponível durante o período compreendido entre o vencimento do CAA e a obtenção de novo CAA, haja vista que esse entendimento não conferiria à Companhia o retorno operacional e/ou econômico esperado com a contratação, até porque, conforme já mencionado, o tipo de contrato (afretamento de embarcação) tratado no presente caso, e que toma como premissa a disponibilidade da embarcação, deve se destinar a conferir proveito econômico/operacionais ambas às partes, o que permitirá evitar a caracterização da prática de ato de liberalidade por parte da Companhia, que poderia sujeitar os seus gestores a questionamentos de órgão censores; que é aplicável à espécie o ditame contido no art. 884, do Código Civil, que veda o enriquecimento sem causa; que o encerramento antecipado dos contratos SEA VIXEN (2050.0074224.12.2 e 2050.0074225.12.2) e SEA STOAT (2050.0074220.12.2 e 2050.0074221.12.2) se deu nos termos explícitos das cláusulas contratuais em total conformidade com o disposto no item 3, do Anexo I do Contrato decorrente da impossibilidade de obtenção do CAA, não havendo obrigação da ré em contratar imediatamente embarcações brasileiras em substituição às embarcações estrangeiras, ; que conforme estabelecido na Resolução Normativa nº 01/2015- ANTAQ, a navegação de apoio marítimo deve ser realizada, em regra, por embarcação de bandeira brasileira e, excepcionalmente, por embarcação de bandeira estrangeira afretada; que, nos termos da regulação incidente, o período do afretamento de embarcação estrangeira para a navegação de apoio marítimo não poderá exceder 12 (doze) meses; que antes do término desse prazo, o afretador deverá realizar nova circularização, caso o mesmo contrato de afretamento tenha sido celebrado com vigência superior, sendo recomendável que conste expressamente a possibilidade de término do contrato caso haja um bloqueio na circularização; que é possível que a circularização ocorra durante a vigência de um contrato de afretamento; que nessa hipótese, caso uma embarcação brasileira realize o bloqueio, a ré ficaria impedida de obter a renovação do CAA da embarcação estrangeira anteriormente afretada; que a não emissão de CAA e a consequente impossibilidade de continuidade do contrato se deu porque os requisitos que permitiam a contratação de

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embarcação estrangeira deixaram de existir; que não há previsão na lei 9432/1997 e nem no contrato firmado entre as partes acerca da obrigação de contratação imediata de embarcações brasileiras; que lhe cabia o fornecimento do combustível às embarcações contratadas, desde que as mesmas estivessem aptas à operação; que, em razão da situação fática acima exposta, restou evidenciado que as embarcações contratadas encontravam-se inoperantes nos períodos em que não obtiveram os CAAs emitidos por meio da exclusiva vontade do órgão regulador federal (ANTAQ); que tendo em vista que o fornecimento do combustível efetivamente ocorreu, resta claro o direito da ré em cobrar pelo custo do fornecimento do diesel fornecido às embarcações contratadas; que a inoperância das embarcações da autora/contestada foi causado exclusivamente em razão da não renovação dos Cães pela ANTAQ, sendo isso gerado pela norma legal que impede às embarcações estrangeiras de operarem quando existirem embarcações nacionais similares em disposição no mercado; que nada mais fez do que cumprir a letra do contrato ao realizar a cobrança da importância devida pelo fornecimento dos combustíveis às embarcações das autoras; que pode realizar a retenção e o consequente recebimento de seus créditos em contratos diversos daquele em que as multas foram geradas; que o procedimento de desconto das multas, assim como a retenção de valores que podem ser deduzidos em outros contratos é procedimento lícito e encontra respaldo legal e contratual, sendo cláusula pactuada de total boa-fé pelas partes em todos os contratos celebrados, tratando-se de previsão com o claro intuito de vedar a ocorrência de danos graves, de difícil ou impossível reparação; e que o Decreto 2.745/98 foi publicado no Diário Oficial da União em 25/8/1998, sendo a legislação que rege as licitações no seu âmbito, não podendo as autoras alegar desconhecimento da legislação federal, quando celebrou o contrato com a ré. As autoras falaram sobre a contestação (fls. 1062/1081). Instadas a se manifestarem em provas (fls. 1083), vieram as partes aos autos (fls. 1091 e 1102/1107). É O RELATÓRIO. DECIDO. Como as partes requereram o julgamento antecipado da lide, a mesma deve ser decidida com as provas aqui existentes. Examinemos a preliminar suscitada pela ré, qual seja, a de incompetência absoluta das Varas Empresariais da Justiça Comum Estadual para processar e julgar o presente feito. Não vejo como lhe dar razão, uma vez que a jurisprudência do TJRJ é tranquila no sentido de que questões relativas a contratos de afretamento são da competência deste juízo. Confiram-se, a título de ilustração, o Conflito de Competência nº 0023432-58.2014.8.19.0000, os Agravos de Instrumento nº 0018545-60.2016.8.19.0000, 0056940-29.2013.8.19.0000 e 0053903-67.2008.8.19.0000 e as Apelações nº 0160829-25.2015.8.19.0001 e 0300431-94.2016.8.19.0001. Desta forma, rejeito a preliminar e passo ao

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exame do mérito. No mérito, alega a ré inicialmente que nos termos dos contratos livremente pactuados pelas partes, resta estabelecido, na cláusula 4.3.1, como obrigação da Afretadora/contestante a obrigação de providenciar a Autorização de Afretamento da embarcação junto à Agência Nacional de Transportes Aquaviário (ANTAQ), conforme legislação vigente. Não há qualquer controvérsia neste ponto. Aduz a ré que, no mesmo sentido, o instrumento dispõe caber à Afretadora/contestante a obrigação de providenciar o Certificado de Autorização de Afretamento (cláusula 4.3.2), bem como providenciar, antes da data de vencimento da validade do Certificado de Autorização de Afretamento (CAA), nova autorização de Afretamento e o respectivo CAA, conforme a legislação vigente e de acordo com prazo contratual cláusula 4.3.3. Sobre tal ponto não há, também, qualquer controvérsia. Afirma a ré que segundo previsão constante na Lei nº 9.432/1997, o afretamento de embarcação estrangeira, por tempo, para operar na navegação de apoio marítimo depende de autorização do órgão competente e só pode ocorrer em determinados casos. Tal argumento é absolutamente irrelevante para o julgamento da lide. Assevera a ré que a Lei nº 9.432/97 determina que o afretamento de embarcação estrangeira, por tempo, para operar na navegação de apoio marítimo, depende de autorização do órgão competente. Também não há qualquer relevância esta alegação. Argumenta a ré que para as embarcações de bandeira estrangeira operarem em águas jurisdicionais brasileiras, é necessária a prévia obtenção do Certificado de Autorização de Afretamento - CAA junto à ANTAQ. Mais uma vez não há qualquer importância neste argumento. Diz a ré que a Autorização de afretamento tem o prazo de até 12 (doze) meses, a contar da data de entrega da embarcação. Não há nenhuma relevância nesta alegação. Sustenta a ré que o órgão regulador da atividade marítima exige que, antes de expirar o prazo da AA, o afretador torne a consultor o mercado para verificar se já existiria, neste momento, embarcação de bandeira brasileira capaz de atender a demanda da afretadora. Não há, igualmente, controvérsia com relação a esta alegação. Alega a ré que, neste procedimento, é feita consulta a outras empresas de navegação sobre a disponibilidade de embarcação de bandeira brasileira. Não vislumbro, como dito anteriormente, nenhuma relevância neste argumento. Aduz a ré que nos casos das embarcações, após o vencimento do CAA junto à ANTAQ e posterior providencia da ré para sua renovação, foi feita a circularização junto ao mercado nacional e empresas nacionais que possuíam embarcações semelhantes àquelas contratadas se manifestaram se atendiam às exigências contratuais. Tal questão, assim como as demais até aqui suscitadas, não traz nenhuma relevância para o julgamento da lide. Assevera a ré que, no caso concreto, assumiu, contratualmente, a obrigação de providenciar perante a

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ANTAQ a obtenção de nova Autorização de Afretamento, o que permitiria que o afretamento da embarcação estrangeira subsistisse, pelo menos, pelo prazo no novo CAA. Apesar da relevância para o julgamento da lide, não há qualquer controvérsia, uma vez que tal afirmação consta da petição inicial, não sendo ponto contraditório. Argumenta a ré que não pode assegurar à fretadora estrangeira que o novo CAA será, efetivamente, obtido, justamente em razão da possibilidade de bloqueio pela embarcação brasileira, o que de fato ocorreu e inclusive é reconhecido na inicial. Não estão as autoras lhe imputando tal obrigação, sendo esta alegação irrelevante. Diz a ré que, quando do prazo de vencimento dos CAAs referentes às embarcações afretadas, realizou circularização seguindo o que determina a normativa reguladora. Igualmente não se está questionando a conduta da ré neste ponto. Sustenta a ré que não lhe é imputável a responsabilidade pelo pagamento das taxas diárias. Este ponto é, de fato, controvertido e sobre o qual deve ser analisada a sua eventual responsabilidade. É fato incontroverso que as embarcações da autora estavam em perfeitas condições de navegabilidade e devidamente tripuladas, prontas para realizar todas as operações a serem determinadas pela ré, aguardando apenas que esta cumprisse sua obrigação contratual e entregasse às autoras os Caras devidamente renovados, que, nos termos das cláusulas 4.3.1, 4.3.2 e 4.3.3 eram de sua responsabilidade, senão vejamos: 4.3.1. Providenciar a Autorização de Afretamento da EMBARCAÇÃO junto à Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ), conforme a legislação vigente. 4.3.2. Providenciar o Certificado de Autorização de Afretamento (CAA), após o cumprimento das exigências constantes dos itens 3.32 e 3.33 deste CONTRATO. 4.3.3 Providenciar, antes da data de vencimento da validade do Certificado de Autorização de Afretamento (CAA), nova Autorização de Afretamento e o respectivo CAA, conforme a legislação vigente e de acordo com o prazo contratual, observando o item 2.2.6 deste CONTRATO. Ora, se assim o é, fica evidente a sua responsabilidade pelo pagamento das diárias. Alega a ré que ao contrário das alegações das autoras foi, sim, diligente, tendo buscado a regular obtenção dos CAAs para as respectivas embarcações, conforme pode ser observado através dos procedimentos de circularizações realizados e que há que se destacar que nas duas últimas circularizações de 2016, segundo informações prestadas, houve bloqueio total de embarcação brasileira, sendo certo que, mesmo com solicitação de intervenção da ANTAQ, não houve suspensão dos bloqueios e, consequentemente, a não obtenção do CAA. Não vejo como lhe dar razão, pois como muito bem lembraram as autoras, ´o bloqueio ao pedido de prorrogação dos CAAs não era inevitável, seja porque a Ré, na qualidade de maior afretadora das embarcações de apoio poderia gerir a frota de forma a

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evitar tais bloqueios, seja porque era a única que detinha meios de negociar o bloqueio com as empresas brasileiras de navegação ou solicitar a prorrogação excepcional do CAA junto à Agência Reguladora´ (fls. 1072). Afirma a ré que, aproximadamente, desde agosto de 2015, não só essas embarcações (SEA STOAT e SEA VIXEN), bem como outras também afretadas pela PETROBRAS do tipo PSV 1500 (estrangeiras) já se encontravam bloqueadas por embarcações brasileiras, inclusive, por outras de maior porte, do tipo PSV 4500 e que agindo de boa-fé buscou manter a continuidade dos contratos em voga, razão pela qual, conseguiu, ainda durante algum tempo, a renovação dos CAAs, inclusive a realização de ´desbloqueios´ de embarcações nacionais das empresas WILSON SONS e OCEANPACT. As outras embarcações de outros contratantes da ré não estão em julgamento neste momento, mas sim o objeto dos contratos mencionados na petição inicial. Aduz a ré que sempre procurou manter as autoras cientes das dificuldades referentes ao processo de renovação dos CAAs junto a ANTAQ, conforme pode ser verificado através das trocas de correios eletrônicos a partir de fevereiro de 2016 e que as autoras estavam cientes de todos os processos de circularização. Tal alegação não isenta a ré da sua responsabilidade, como acima mencionado. Assevera a ré que a situação de bloqueio da embarcação das autoras não lhe é fato imputável, sendo, em verdade, decorrência da legislação reguladora e de alguma embarcação nacional com características similares às embarcações da autora e que se considerarmos que adotou todas as medidas que estavam ao seu alcance para providenciar a renovação da refalada autorização perante o órgão regulador, observando o prazo de antecedência previsto na regulação marítima, bem como houve solicitação de bloqueio da embarcação estrangeira por parte de empresa brasileira possuidora de embarcação semelhante à contratada, torna-se nítida a ocorrência no caso vertente de fato exclusivo de terceiro. Não vejo como lhe dar razão. De acordo com a melhor doutrina, ´o fato de terceiro, para excluir integralmente a responsabilidade do agente causador do dano, há que se vestir de características semelhantes às do caso fortuito, sendo imprevisível e irresistível´ (RODRIGUES, Silvio. Direito civil: responsabilidade civil. v. 4;19ª ed.; São Paulo: Saraiva, 2002, p. 173). No caso concreto, a não renovação não era nem imprevisível, razão pela qual não se pode aceitar a alegação de fato exclusivo de terceiro. Argumenta a ré que não poderá responder pelo pagamento dos prejuízos decorrentes da não renovação do CAA pela ANTAQ, o que acarretou a indisponibilidade da embarcação e o consequente não pagamento das taxas diárias pleiteadas pela contestada, já que a não renovação da documentação e a indisponibilidade das embarcações teria decorrido exclusivamente de fato de terceiro, qual seja, a existência de

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embarcação nacional com as mesmas características da embarcação das autoras. Tal questão já foi acima rechaçada, não havendo necessidade de repetição do já dito. Diz a ré que há exclusão do nexo causal entre qualquer conduta sua e os danos que as autoras alegam ter sofrido, não havendo que se falar, pois, em sua responsabilidade pelos mesmos. Sobre o nexo causal, a melhor doutrina ensina que ´para o ilícito ser fonte da obrigação de indenizar, é preciso uma relação de causa e efeito entre o fato e o dano. A essa relação chama-se nexo causa´ (GOMES, Orlando. Obrigações. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1995, p.273) e que ´uma das condições essenciais à responsabilidade civil é a presença de um nexo causal entre o fato ilícito e o dano por ele produzido. É uma noção aparentemente fácil e limpa de dificuldade. Mas se trata de mera aparência, porquanto a noção de causa é uma noção que se reveste de um aspecto profundamente filosófico, além das dificuldades de ordem prática, quando os elementos causais, os fatores de produção de um prejuízo, se multiplicam no tempo e no espaço´ (SERPA LOPES, Miguel Maria de. Curso de direito civil: fontes contratuais das obrigações e responsabilidade civil. v. 5; 5ª ed., rev. e atual. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2001, p. 218). Fica, desta forma, evidente a relação entre a conduta da ré e os danos sofridos pelas autoras a partir do momento em que ficaram com suas embarcações à disposição daquela sem receber por isso em razão da sua inércia no cumprimento de obrigação contratual. Sustenta a ré que, se, por um lado, as empresas fretadoras de embarcação não exercem qualquer ingerência no processo de obtenção do CAA, por outro, não se pode deixar de reconhecer tratar-se, a possível demora na obtenção do documento, notadamente em razão de bloqueios promovidos por empresas brasileiras, de um risco do negócio, devendo, por conseguinte, ser considerado e suportado pelas empresas interessadas. Tal alegação chega a ser absurda, uma vez que as autoras contrataram com a ré e esta se responsabilizou, como dito acima, a providenciar os CAAs das suas embarcações. Alega a ré que o evento apontado como causador da indisponibilidade da embarcação relaciona-se ao risco inerente à própria atividade desenvolvida pela contratada, razão pela qual possui a natureza jurídica de fortuito interno, o que, segundo a doutrina civilista mais moderna, impossibilitaria a aplicação da excludente de responsabilidade do caso fortuito e da força maior. Como é evidente, é inerente ao exercício de qualquer atividade empresarial a possibilidade de insucesso, em virtude de qualquer fato que eventualmente possa ocorrer, fazendo parte do que se chama de riscos da atividade econômica, pois todos os negócios implicam em riscos, conforme ensina um dos expoentes da doutrina nacional: Uma das características principais da atividade econômica é o risco. Os negócios implicam risco. Na livre iniciativa, a ação do empreendedor está aberta

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simultaneamente ao sucesso e ao fracasso. A boa avaliação dessas possibilidades por parte do empresário é fundamental para o investimento. Um risco mal calculado pode levar o negócio à bancarrota. Mas o risco é dele (NUNES, Luís Antônio Rizzatto. Curso de direito do consumidor: com exercícios / Rizzato Nunes.- 4. ed. - São Paulo: Saraiva. 2009. p. 167). Ocorre que, em primeiro lugar, não se está diante de uma relação de consumo entre as partes, mas sim de uma relação empresarial, e, em segundo lugar, não se trata de um risco do negócio, mas sim da inadimplência contratual da ré, que, em países civilizados, não ocorrem com a frequência que vemos aqui. Afirma a ré que não se afigura razoável que considere a embarcação disponível durante o período compreendido entre o vencimento do CAA e a obtenção de novo CAA, haja vista que esse entendimento não conferiria à companhia o retorno operacional e/ou econômico esperado com a contratação, até porque, conforme já mencionado, o tipo de contrato (afretamento de embarcação) tratado no presente caso, e que toma como premissa a disponibilidade da embarcação, deve se destinar a conferir proveito econômico/operacionais ambas às partes, o que permitirá evitar a caracterização da prática de ato de liberalidade por parte da companhia, que poderia sujeitar os seus gestores a questionamentos de órgão censores. Tal alegação em nada se relaciona com o que se está discutindo, pois, as embarcações estavam à sua disponibilidade, não operando em razão da inércia na obtenção do novo CAA, como já dito e repetido. Aduz a ré que é aplicável à espécie o ditame contido no art. 884, do Código Civil, que veda o enriquecimento sem causa. Não se trata de enriquecimento sem causa, uma vez que o enriquecimento ilícito ou sem causa, também denominado enriquecimento indevido, ou locupletamento, é, de modo geral, todo aumento patrimonial que ocorre sem causa jurídica, mas também tudo o que se deixa de perder sem causa legítima. No caso dos autos, não está havendo enriquecimento sem causa, pois a causa de eventual indenização em favor das autoras é o fato de que suas embarcações estavam à disposição da ré. Assevera a ré que o encerramento antecipado dos contratos SEA VIXEN (2050.0074224.12.2 e 2050.0074225.12.2) e SEA STOAT (2050.0074220.12.2 e 2050.0074221.12.2) se deu nos termos explícitos das cláusulas contratuais em total conformidade com o disposto no item 3, do Anexo I do Contrato decorrente da impossibilidade de obtenção do CAA, não havendo obrigação da ré em contratar imediatamente embarcações brasileiras em substituição às embarcações estrangeiras. Examinemos detidamente os contratos em questão. Conforme estabelecido nos Contratos de Afretamento celebrado entre as partes, a cláusula 2.2.5 (fls. 62/63 e 112/113) permite seu encerramento antecipado nos termos do item 3 do Anexo I, que dispõe que ´decorridos 365 (trezentos e sessenta e cinco) dias do prazo contratual, o

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CONTRATO poderá ser encerrado a critério da PETROBRAS, mediante aviso prévio de 45 (quarenta e cinco) dias´ (fls. 101 e 151). Ocorre que não houve o mencionado aviso prévio, uma vez que a notificação para a rescisão contratual informou que o contrato estava rescindido a partir da data da notificação, o que descumpriu o que estava expressamente estabelecido no contrato, não lhe assistindo razão. Argumenta a ré que conforme estabelecido na Resolução Normativa nº 01/2015- ANTAQ, a navegação de apoio marítimo deve ser realizada, em regra, por embarcação de bandeira brasileira e, excepcionalmente, por embarcação de bandeira estrangeira afretada e que, nos termos da regulação incidente, o período do afretamento de embarcação estrangeira para a navegação de apoio marítimo não poderá exceder 12 (doze) meses, bem como que antes do término desse prazo, o afretador deverá realizar nova circularização, caso o mesmo contrato de afretamento tenha sido celebrado com vigência superior, sendo recomendável que conste expressamente a possibilidade de término do contrato caso haja um bloqueio na circularização. Tal alegação, além de não ser relevante para o julgamento do caso, implica em reconhecer que a ré celebra contratos ilegais, uma vez que todos os contratos foram celebrados com prazo de 1460 dias corridos (fls. 101, 151, 199 e 246), ou seja, bem superiores ao prazo de 12 (doze) meses. Diz a ré que é possível que a circularização ocorra durante a vigência de um contrato de afretamento e que nessa hipótese, caso uma embarcação brasileira realize o bloqueio, ficaria impedida de obter a renovação do CAA da embarcação estrangeira anteriormente afretada. Mais uma vez esta questão não tem relevância para o julgamento da lide. Sustenta a ré que a não emissão de CAA e a consequente impossibilidade de continuidade do contrato se deu porque os requisitos que permitiam a contratação de embarcação estrangeira deixaram de existir e que não há previsão na lei 9432/1997 e nem no contrato firmado entre as partes acerca da obrigação de contratação imediata de embarcações brasileiras. Ocorre que tais questões não dizem respeito ao que foi deduzido pelas autoras na petição inicial. Alega a ré que lhe cabia o fornecimento do combustível às embarcações contratadas, desde que as mesmas estivessem aptas à operação e que, em razão da situação fática acima exposta, restou evidenciado que as embarcações contratadas encontravam-se inoperantes nos períodos em que não obtiveram os CAAs emitidos por meio da exclusiva vontade do órgão regulador federal (ANTAQ), bem como que tendo em vista que o fornecimento do combustível efetivamente ocorreu, resta claro o direito da ré em cobrar pelo custo do fornecimento do diesel fornecido às embarcações contratadas, além do que que a inoperância das embarcações da autora/contestada foi causado exclusivamente em razão da não renovação dos CAAs pela ANTAQ, sendo isso gerado pela norma legal que

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impede às embarcações estrangeiras de operarem quando existirem embarcações nacionais similares em disposição no mercado. Entretanto, todos esses argumentos caem por terra a partir do momento em que as embarcações estavam aptas à operação, não operando pela inércia da ré em obter os CAAs. Afirma a ré que nada mais fez do que cumprir a letra do contrato ao realizar a cobrança da importância devida pelo fornecimento dos combustíveis às embarcações das autoras e que pode realizar a retenção e o consequente recebimento de seus créditos em contratos diversos daquele em que as multas foram geradas, bem como que o procedimento de desconto das multas, assim como a retenção de valores que podem ser deduzidos em outros contratos é procedimento lícito e encontra respaldo legal e contratual, sendo cláusula pactuada de total boa-fé pelas partes em todos os contratos celebrados, tratando-se de previsão com o claro intuito de vedar a ocorrência de danos graves, de difícil ou impossível reparação. Não há dúvida que a ré pode, nos termos do contrato, proceder a tais descontos, retenções e deduções de valores, desde que tais procedimentos sejam corretos, o que não ocorreu no caso dos autos. Finaliza a ré aduzindo que o Decreto 2.745/98 foi publicado no Diário Oficial da União em 25/8/1998, sendo a legislação que rege as licitações no seu âmbito, não podendo as autoras alegar desconhecimento da legislação federal, quando celebrou o contrato com a ré. Não há qualquer alegação de desconhecimento, mas sim de descumprimento contratual. Assim, fica claro que a pretensão das autoras merece prosperar. Por tais fundamentos, JULGO PROCEDENTE O PEDIDO para condenar a ré a pagar às autoras o valor de R$ 11.359.477,56 referente às taxas diárias devidas pelas embarcações ´SEA VIXEN´ e ´SEA STOUT´, nos termos da cláusula 4.6 dos Contratos de Afretamento e Prestação de Serviços, referente aos períodos durante os quais as embarcações permaneceram em contrato aguardando que a mesma cumprisse com sua obrigação contratual e renovasse seus Certificados de Autorização para Afretamento, bem como o valor de R$ 4.621.125,01 referente a indenização pela rescisão antecipada dos Contratos de Afretamento e Serviços referentes às embarcações ´SEA VIXEN´ e ´SEA STOUT´, tudo corrigido monetariamente pelo INPC a partir do vencimento de cada obrigação e acrescido de juros de mora da taxa SELIC a partir da citação, além de declarar indevida qualquer cobrança pela ré referente a combustível consumido pelas embarcações nos períodos em que as mesmas ficaram aguardando a renovação de seus Certificados de Autorização de Afretamento (CAAs). Condeno a ré, finalmente, ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, que fixo em 10% (dez por cento) do valor da condenação, com fundamento no art. 85 § 2º do NCPC. P. I.

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(RJ. 0194213-08.2017.8.19.0001 – 1ª Vara Empresarial. Juiz Alexandre de Carvalho Mesquita. Data: 18/04/2018) 2.21 APELAÇÃO. DIREITO MARÍTIMO. COMPETÊNCIA VARA EMPRESARIAL. CONTRATO DE AFRETAMENTO DE NAVIO ESTRANGEIRO. Competência. A discussão do processo é referente a contrato de afretamento de navio, que é um contrato típico de direito marítimo, logo as varas empresariais possuem competência para a matéria na forma do art. 50, I, h da LODJ. Mérito. Segundo a Lei nº 9.432/97, que dispõe sobre a ordenação do transporte aquaviário e dá outras providências, a definição do afretamento por tempo é: "(...) contrato em virtude do qual o afretador recebe a embarcação armada e tripulada, ou parte dela, para operá-la por tempo determinado". E o conceito de navegação de apoio marítimo, na referida lei, encontra-se definido como: "(...) a realizada para o apoio logístico a embarcações e instalações em águas territoriais nacionais e na Zona Econômica, que atuem nas atividades de pesquisa e lavra de minerais e hidrocarbonetos." O ponto nodal da questão reside na responsabilidade quanto à renovação das autorizações dos afretamentos (CAA) e na rescisão unilateral dos respectivos contratos, que ensejaram o não pagamento das taxas de diárias e nos descontos referentes ao consumo de combustível durante o tempo em que as embarcações ficaram impossibilitadas de dar cumprimento ao contrato, justamente por conta da ausência de renovação das referidas autorizações. A Afretadora (Petrobras), embora tenha reconhecido sua obrigação de providenciar a renovação da autorização, argumenta que não possui ingerência na emissão dos CAAs, a qual compete à ANTAQ, e que houve bloqueio por parte de Empresa Brasileira de Navegação (EBN) quando da circularização, a qual consiste na observância a ato normativo emanado pela ANTAQ (Resolução Normativa 01-ANTAQ/2015), para cientificar às empresas nacionais do ramo, com objetivo precípuo de dar preferência a alguma EBN que por ventura detenha embarcação com as mesma características da estrangeira. Dessa forma, afirma que o bloqueio por EBN configura fato exclusivo de terceiro, excludente da responsabilidade contratual de indenizar, e, ainda, que o não pagamento das diárias reclamadas decorre da indisponibilidade da embarcação, ressaltando que não deu causa a esta. Alega, outrossim, que o cancelamento antecipado dos contratos referentes às embarcações Mary Frances Candies e Olivia Candies se deu em conformidade com as cláusulas contratuais e que é obrigação da contratada arcar com os custos de combustível, enquanto a embarcação permanecer inoperante, sendo certo que há previsão contratual que possibilita a retenção de valores de multas. Contudo, sem razão a Petrobrás. O afretamento de embarcação estrangeira,

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segundo o art. 9º da Lei nº 9.432/97, condiciona-se a: "Art. 9º O afretamento de embarcação estrangeira por viagem ou por tempo, para operar na navegação interior de percurso nacional ou no transporte de mercadorias na navegação de cabotagem ou nas navegações de apoio portuário e marítimo, bem como a casco nu na navegação de apoio portuário, depende de autorização do órgão competente e só poderá ocorrer nos seguintes casos: I - quando verificada inexistência ou indisponibilidade de embarcação de bandeira brasileira do tipo e porte adequados para o transporte ou apoio pretendido; II - quando verificado interesse público, devidamente justificado; III - quando em substituição a embarcações em construção no País, em estaleiro brasileiro, com contrato em eficácia, enquanto durar a construção, por período máximo de trinta e seis meses, até o limite: a) da tonelagem de porte bruto contratada, para embarcações de carga; b) da arqueação bruta contratada, para embarcações destinadas ao apoio. Parágrafo único. A autorização de que trata este artigo também se aplica ao caso de afretamento de embarcação estrangeira para a navegação de longo curso ou interior de percurso internacional, quando o mesmo se realizar em virtude da aplicação do art. 5º, § 3º". Como já dito, para fins de renovação da autorização junto ao órgão competente, faz-se necessário realizar consulta prévia - denominada Circularização - às Empresas Brasileiras de Navegação, dando-lhes ciência e preferência, acaso possuam embarcação apta a substituir a estrangeira, podendo opor bloqueio visando a respectiva substituição no contrato. Decerto, verifica-se que a obrigação contratual da Afretadora, prevista na cláusula quarta (itens 4.3.1 a 4.3.3) dos instrumentos contratuais em tela, no que tange à renovação da autorização do afretamento junto à ANTAQ, é obrigação de meio, e não de resultado, porquanto este independe da vontade do Afretador. Contudo, a alegação de fato exclusivo de terceiro sustentada pela Apelante/Ré não merece acolhida, uma vez que previsível o bloqueio da renovação por EBN que esteja em condições e interessada no afretamento, obstando a expedição do Certificado de Autorização de Afretamento (CAA), como previsto na Lei nº 9.432/97 e nas Resoluções Normativas da ANTAQ. Todavia, como muito bem salientado pela nobre Magistrada sentenciante, certo é que, quando resolveu por rescindir unilateralmente as avenças em 2016, considerando que estas foram firmadas em 2012, a Apelante/Ré poderia lançar mão da faculdade que lhe dispunha na cláusula 2.2.5, a seguir transcrita (fl. 64, doc. 62): Por sua vez, o item 3 do Anexo I - Condições Gerais, reza que (fl. 103, doc. 102): "3- ENCERRAMENTO ANTECIPADO (Subitem 2.2.5 do CONTRATO: Decorridos 365 (trezentos e sessenta e cinco dias do Prazo Contratual, o CONTRATO poderá ser encerrado a critério da PETROBRAS, mediante aviso prévio de 45 (quarenta e cinco) dias". Contudo, em que pese a possibilidade de rescindir a

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avença nos termos acima reproduzidos, a AFRETADORA rompeu o contrato sem notificar previamente os Autores, incorrendo em ilícito contratual. Neste ponto, o juízo a quo deixou de considerar a ausência de aviso prévio, causando, por conseguinte, prejuízo ao Fretador, que foi surpreendido com a extinção do contrato sem prévio anúncio. Dessa forma, a fim de manter o equilíbrio contratual, em razão de tal infração, deverá responder a Afretadora, devendo ser acrescida à sentença a condenação da Ré a pagar à parte autora, a título de indenização por perdas e danos, o valor equivalente à taxa de 45 diárias, correspondentes ao período de aviso prévio não respeitado pela Petrobrás, sendo forçoso, por conseguinte, o acolhimento do pleito recursal dos autores. Neste ponto, oportuno salientar que, embora o pedido de perdas e danos formulado na exordial contenha lapso temporal mais abrangente do que o constante da apelação dos autores, o fato de terem restringido a temporalidade do cômputo das perdas e danos não importa em inovação recursal, devendo ser adotado o prazo previsto em contrato. Afinal, se o pedido feito na inicial abrangia a perdas e danos por um período maior, certamente, o período de 45 dias estava englobado em sua pretensão. No que tange aos descontos realizados por consumo de combustível durante o período em que o Fretador ficou impossibilitado de operar em razão da falta do CAA, é de se dizer que, apesar de haver previsão contratual (Cláusula 3.11.1 - fl. 67 do doc. 62) estabelecendo que o Fretador tem o ônus de arcar com o custo do combustível consumido nos períodos em que estiver inoperante e/ou em reparo, a partir da interrupção do afretamento até o retorno à mesma situação anterior, não se pode deixar de considerar que as embarcações permaneceram disponíveis a` Petrobras, sem que esta tenha informado aos Postulantes acerca da impossibilidade de providenciar os Certificados de Autorização de Afretamento (CAAs) e de manter hígidos os contratos, as despesas com combustível consumido pelas embarcações, devem ser suportadas pela Ré, ora primeira Apelante, até a data em que se deu as rescisões dos contratos. Com propriedade, configuraria afronta aos princípios da boa-fé objetiva e da probidade, previstos no art. 422 do CC, representando, ainda, venire contra factum proprium, visto que a Afretadora, ao deixar de notificar imediatamente o Fretador da rescisão antecipada dos contratos, diante impossibilidade da expedição do Certificado de Autorização de Afretamento (CAA), concorreu diretamente para a indisponibilidade das embarcações contratadas, devendo arcar com as despesas de combustível das embarcações dos autores durante o tempo em que permaneceram impossibilitadas de operar. Desprovimento do recurso do réu. Provimento do recurso dos autores.

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(TJRJ, Apelação Cível. 0398197-50.2016.8.19.0001 – Des. Renata Machado Cotta. 3ª Câmara Cível. J. 25/04/2018) 2.22 “Apelação. Direito Empresarial. Declaratória e indenizatória. Contrato de afretamento mmarítimo. Descumprimento pela contratante da onrogação de renovar tempestivamente os certificados de afretamento das embarcações (CAAs). Pagamento das taxas diárias pela afretadora durante o período. Rescisão unilateral antecipada injustificada. Prévia notificação intempestiva. Dever de indenizar. Cobrança indevida de combustível consumido pelas embarcações no período até a extinção do contrato. Retificação de ofício do índice de correção monetária e juros de mora. Inteligência da súmula 161 deste Tribunal. Inaplicação do INPC e da Taxa SELIC. Juros de 1% ao mês em observância ao disposto no art. 406 do Código Civil C/C art. 161, § 1º, do Código Tributário Nacional. Conversão da moeda estrangeira em moeda nacional. Cotação da data da contratação seguida da atualização com base em índice oficial de correção monetária adotado por este Tribunal. Reforma parcial da sentença de ofício. Desprovimento do Recurso.” (TJRJ, Apelação Cível, 0194213-08.2017.8.19.0001 - Des. Elton Martinez Carvalho Leme, 17ª Câmara Cível, J. 31/10/2018) 2.23 “Apelação – Direito Empresarial – Declaratória e indenizatória – Contrato de afretamento marítimo – Descumprimento pela contratante da obrigação de renovar tempestivamente os certificados de afretamento das embarcações (CAA) – Rescisão unilateral antecipada injustificada -Dever de indenizar – Cobrança indevida de combustível consumido pelas embarcações durante o tempo em que permaneceram à disposição da afretadora até a extinção do contrato – A questão versa sobre contrato de afretamento de navio, típico de direito marítimo, sendo as varas empresariais competentes para a matéria, nos termos do art. art. 91, I, g, e do art. 50, I, ‘h’, do CODJERJ. A responsabilidade pela renovação das autorizações e Certificados dos Afretamentos - CAA cabia exclusivamente à ré apelante. A rescisão antecipada dos contratos pela ré decorreu exclusivamente do inadimplemento da obrigação contratual pela Afretadora, devendo arcar com as despesas de combustível consumido pelas embarcações das autoras durante o tempo em que permaneceram impossibilitadas de operar, aguardando a renovação do CAA, além do pagamento de indenização a título de perdas e danos. Desprovimento do recurso.

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(TJRJ, Apelação Cível, 0246906-03.2016.8.19.0001 – Des. Edson Aguiar de Vasconcelos, 17ª Câmara Cível, J.13/06/2019). 2.24 “(...) As autoras afirmam que, em 10/05/2013, celebraram com a ré os Contrato de Afretamento nº 2050.0081368.13.2 e de Prestação de Serviços nº 2050.00081369.13.2, envolvendo a embarcação "SIEM CARRIER", de bandeira estrangeira; que, nos termos da cláusula 3.2 dos contratos, as autoras tinham como principal obrigação a manutenção da embarcação em boas condições de navegabilidade, disponível para realizar as fainas determinadas pela ré, 24 horas por dia, 7 dias por semana; que, por seu turno, a ré, na qualidade de afretadora da embarcação em comento, tinha como obrigação principal o pagamento das taxas diárias referentes ao Contrato de Prestação de Serviços, além de, nos termos das Cláusulas 4.3.1 e 4.3.2 dos contratos, a obtenção das Autorizações de Afretamento das Embarcações e dos Certificados de autorização de Afretamento (CAAs), junto à Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ) antes de sua expiração. Asseveram que a autorização para o afretamento das embarcações estrangeiras é materializada pelo certificado da Autorização de Afretamento, cuja obrigação de obtenção, nos termos dos contratos, é exclusiva da ré; que o CAA tem validade de até 12 meses, o que explica a obrigação assumida pela ré na cláusula 4.4.3 dos contratos, no sentido de renovar periodicamente o CAA das embarcações. Aduzem que a ré falhou em cumprir com a sua obrigação, não obtendo de forma tempestiva a renovação do CAA, bem como providenciar, a cada ano contratual, suas renovações, adotando as medidas frente à ANTAQ para tanto; que, nos períodos de 28/05/15 a 16/06/15 e 04/09/15 a 16/09/15, a embarcação permaneceu disponibilizada pelas autoras à ré, em perfeitas condições de navegabilidade e devidamente tripulada, porém, em razão da falha da ré, ficou impossibilitada de operar, negando-se a pagar pelas diárias contratualmente devidas. Pleiteiam, ao final, a condenação da ré ao pagamento, a título de perdas e danos, das diárias rreferentes aos Contratos de Afretamento e de Serviços, no valor de R$ 3.229.753,55. Para tanto, acompanham a exordial os documentos acostados às fls. 13/434. Contestação ofertada às fls. 473/491, na qual argui preliminar de incompetência absoluta, posto tratar-se de matéria atinente às Varas Cíveis. No mérito, alega que o afretamento da embarcação depende de autorização do órgão competente; que, ainda, o afretamento de embarcação estrangeira só poderá ocorrer quando verificada a inexistência ou indisponibilidade de embarcação de bandeira brasileira; a ANTAQ estabelece que a EBN interessada em afretar embarcação estrangeira a ser empregada na navegação de apoio marítimo deve realizar o

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procedimento de Circularização, por meio do qual se permite que outra EBN ofereça embarcação brasileira em condições de atender a navegação de apoio pretendida e, assim, bloqueie o afretamento da embarcação estrangeira; que a autorização de afretamento tem o prazo de até 12 meses, a contar da data de entrega da embarcação; que, uma vez ultrapassado o prazo do primeiro CAA, caso a fretadora tenha interesse em continuar com o afretamento da embarcação estrangeira, deverá, necessariamente, instaurar nova circularização perante a ANTAQ, observando antecedência mínima de 60 dias. Assevera que, na hipótese, a ré assumiu contratualmente a obrigação de diligenciar perante a ANTAQ aquilo que necessário para deflagrar o procedimento com vistas à obtenção de nova autorização de afretamento, o que permitiria que o afretamento das embarcações estrangeiras subsistissem, pelo menos pelo prazo no novo CAA, desde que o CAA viesse a ser concedido pela ANTAQ; que, todavia, não pode assegurar que o novo CAA será efetivamente obtido, justamente em razão da possibilidade de bloqueio pela embarcação brasileira; que a ré adotou todas as medidas que estavam ao seu alcance para pleitear a renovação do CAA, observando o prazo de antecedência previsto na regulação marítima; que há exclusão do nexo causal, ante a ocorrência de fato de terceiro; que, portanto, não se afigura razoável que se considere a embarcação disponível durante o período compreendido entre o vencimento do CAA e a obtenção de novo CAA, sob pena de enriquecimento sem causa. Requer, ao final, a improcedência dos pedidos. Réplica às fls. 512/532. Em atendimento ao despacho de fls. 536, as partes informaram não pretender produzir novas provas, conforme fls. 547 e 577. Assim relatados, DECIDO: Inicialmente, cumpre analisar a preliminar arguida em sede de defesa. Considerando que os contratos discutidos na presente demanda se destinam à prestação de serviços relacionados ao afretamento de embarcação, matéria atinente ao Direito Marítimo, a competência para processar e julgar é da Vara Empresarial, conforme assim dispõe o art. 50, I, h, da Lei 6956/15. Com efeito, as matérias relacionadas ao Direito Marítimo elencadas no inciso I, do artigo 50, da Lei de organização e Divisão Judiciárias do Estado do Rio de Janeiro (LODJ) são meramente exemplificativas, o que se extrai do termo "especialmente" que consta na alínea "h" do dispositivo supramencionado. Outro não é o entendimento do Egrégio Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Veja-se: "APELAÇÃO CÍVEL. DECLARAÇÃO DE INEXIGIBILIDADE DE MULTA. CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE APOIO MARÍTIMO RELATIVO À EMBARCAÇÃO. ATRASO NA ENTREGA. SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL. PRINCÍPIO DA ACTIO NATA. INCIDÊNCIA DO DISPOSTO NO ART. 206, § 5º, I DO CÓDIGO CIVIL. LIQUIDEZ DO CRÉDITO. ALEGAÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE CLÁUSULAS DE CONTRATO DE

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AFRETAMENTO. DISCIPLINA ESPECÍFICA DO DIREITO MARÍTIMO É DA COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA VARA EMPRESARIAL, À LUZ DO ARTIGO 50, INCISO I, ALÍNEA "H", DA LEI DE ORGANIZAÇÃO E DIVISÃO JUDICIÁRIAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO - LODJ, CUJO ROL É EXEMPLIFICATIVO. INADIMPLEMENTO QUE RESTOU INCONTROVERSO NOS AUTOS. ICIDÊNCIA DA MULTA CONTRATUAL. PRINCÍPIO PACTA SUNT SERVANDA. CLAUSULA CONTRATUAL PREVENDO A EXCLUSÃO DA MULTA SOBRE A "PARCELA PARA TRIPULAÇÃO DA EMBARCAÇÃO". SENTENÇA QUE MERECE SER MANTIDA NA SUA INTEGRALIDADE. RECURSOS CONHECIDOS E DESPROVIDOS." (APELAÇÃO CÍVEL Nº 0183277-21.2017.8.19.0001 - Relator: Desembargador JAIME DIAS PINHEIRO FILHO - Data de Julgamento: 02/04/2019). "E M E N T A: Agravo de Instrumento. R. Decisão a quo concedendo parcialmente a tutela de urgência requerida pela Agravada para restringir a cobrança do valor relativo à multa ao montante de R$237.237,17, determinando que as Agravantes não descontem da Autora qualquer valor acima até a ultimação do contraditório, sob pena de multa de R$50.000,00 (cinquenta mil reais) por descumprimento. I - Afaste-se a prefacial de incompetência absoluta suscitada, porquanto fundada em sofisma, na medida em que alega não versar a presente ação sobre direito marítimo, mas sim acerca de relação contratual, atraindo a competência das varas cíveis, na forma do artigo 50, inciso I, alínea "h" do CODJERJ. II - Em verdade, a vexata quaestio diz respeito às multas impostas em razão do inadimplemento de avença de afretamento marítimo firmada pelos Litigantes, sendo certo que as referidas sanções são consectário lógico do contrato regido pelo Direito Marítimo, ou seja, dele acessórios. Rol do artigo 50 do CODJERJ não é exaustivo, mas sim exemplificativo, como se denota da expressão "especialmente" contida no dispositivo legal. III - No mérito do Agravo a Recorrente se limita a sustentar o cabimento da retenção e compensação de valores em decorrência, mormente de norma instituída pelo Regulamento do Procedimento Licitatório Simplificado da PETROBRÁS. IV - Tese recursal meritória que não se coaduna com o teor do R. Decisum combatido, que nada menciona acerca da legalidade ou não da retenção de valores, limitando-se a verificação da adequação do montante cobrado, especialmente em razão da inclusão da taxa de tripulação na base de cálculo da sanção. Ausência de dialeticidade evidenciada. V - Aliás, a R. Decisão não impediu o desconto, tão somente limitou a quantia ao valor incontroverso, porquanto reconhecido pela Empresa Autora, ora Agravada. VI - Recurso conhecido em relação a preliminar, negando-lhe provimento. Não conhecimento do Agravo de Instrumento quanto ao seu mérito, ante a ausência de dialeticidade das razões recursais com o fundamento do R. Decisum combatido." (AGRAVO DE INSTRUMENTO N.°: 0057060-96.2018.8.19.0000 - RELATOR: DES. REINALDO

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PINTO ALBERTO FILHO - Data de Julgamento: 05/12/2018) Com efeito, em sendo o Direito Marítimo um conjunto de normas que regem as relações jurídicas da navegação e comércio marítimo, fluvial e lacustre, assim como navios e os direitos e obrigações das pessoas que se dedicam a essa espécie de atividade, resta evidente que demandas que envolvem pretensão contratual relacionada ao direito marítimo atraem a competência das Varas Empresariais. O Contrato de Afretamento por Tempo de embarcação é figura típica do Direito Marítimo e disputas relacionadas a ele são, por óbvio, de natureza especializada a suscitar a competência das Varas Empresariais, posto que não pode ser analisado de forma dissociada das regras afetas à matéria marítima. O Órgão Especial do E. Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, em Conflito de Competência, já teve a oportunidade de analisar o assunto, ressaltando a competência das Varas Empresariais para processar e julgar conflitos atinentes a contrato de afretamento: "Direito processual civil. Conflito de competência. O contrato de time charter, espécie de contrato de afretamento, é um contrato típico de Direito Marítimo. Assim, é da competência das Varas Empresariais, por força do disposto no art. 91, I, g, do CODJERJ, conhecer de causas que versem sobre seu cumprimento. É meramente exemplificativa a enumeração de causas contida no aludido dispositivo legal, o que se afirma por força do vocábulo "especialmente", contido no texto normativo. Competência da Vara Empresarial. Conflito de competência improcedente." (Conflito de Competência n 0023432-58.2014.8.19.0000 - Desembargador Alexandre Freitas Câmara - Data de Julgamento: 16/07/2014) No Conflito de Competência nº 0016817-13.2018.8.19.0000, o E. Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, mais uma vez foi confirmada a competência das Varas Empresariais para processar e julgar os conflitos decorrentes de Contrato de Afretamento, senão vejamos: "CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO CAUTELAR VISANDO QUE A PETROBRÁS SE ABSTENHA DE REALIZAR DEDUÇÕES SOBRE OS RECEBÍVEIS, ORIUNDO DO CONTRATO DE AFRETAMENTO MARÍTIMO CELEBRADO ENTRE AS PARTES, A TÍTULO DE MULTA MORATÓRIA. TRATA-SE DE QUESTÕES RELATIVAS AO CONTRATO DE AFRETAMENTO MARÍTIMO, DE COMPETÊNCIA DA VARA EMPRESARIAL, DE ACORDO COM O ARTIGO 50 DA LEI 6.956, DE JANEIRO DE 2015. PRECEDENTE DESTA CORTE DE JUSTIÇA. PROCEDÊNCIA DO CONFLITO, PARA DECLARAR A COMPETÊNCIA DO JUÍZO SUSCITADO." (Conflito de Competência nº 0016817-13.2018.8.19.0000 - Relator: Desembargador Antonio Carlos dos Santos Bitencourt - Data de Julgamento: 05/09/2018) Portanto, em se tratando de discussão atinente a Contrato de Afretamento, resta evidenciada a competência absoluta das Varas Empresariais para processar e julgar os feitos em razão da matéria. Sobre o tema, destaquem-se, ainda, mais estes julgados: "DIREITO EMPRESARIAL E

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PROCESSUAL. AÇÃO MONITÓRIA. INSTRUMENTO PARTICULAR DE CONFISSÃO DE DÍVIDA. CONTRATOS DE AFRETAMENTO QUE SE PÕEM DENTRO DA SEARA DO DIREITO MARÍTIMO. COMPETÊNCIA DAS VARAS EMPRESARIAIS. DESNECESSIDADE DE CAUÇÃO. EXISTÊNCIA DE CONVÊNIO DE COOPERAÇÃO JUDICIÁRIA. ATA DE REUNIÃO COMO DOCUMENTO SUFICIENTE PARA EMBASAR A AÇÃO MONITÓRIA. CITAÇÃO COMO TERMO INICIAL DE INCIDÊNCIA DOS JUROS E DA CORREÇÃO MONETÁRIA. PROVIMENTO PARCIAL. Recurso contra sentença em ação monitória fundada em instrumento particular de confissão de dívida, celebrado entre as sociedades autoras e a sociedade de economia mista ré, pretendendo aquelas a constituição do título executivo de pleno direito ou, no caso de oposição de embargos, a condenação da ré ao pagamento da dívida. Os contratos de afretamento se põem dentro da seara do Direito Marítimo, devendo as controvérsias deles decorrentes serem dirimidas pelas Varas Empresariais, nos termos do artigo 50, I, h, da Lei de Organização e Divisão Judiciárias deste Estado, conforme por diversas vezes decido por este Tribunal de Justiça. Desnecessária a prestação da caução prevista no artigo 83 do Código de Processo, pois, independentemente da existência ou não de bens imóveis capazes de garantir o pagamento das custas e dos honorários de advogado, incide a exceção prevista no parágrafo primeiro do referido dispositivo, considerando a existência de dispensa em Convênio de Cooperação Judiciária entre Brasil e França. Argumento de inexistência de provas também que não seduz, tendo em vista que a ata de reunião assinada pelos gerentes e representantes da apelante é suficiente para dar base a ação monitória, tendo em vista que comprova o reconhecimento da dívida pelos prepostos da sociedade apelante. Descabida a adoção da data da reunião como termo inicial de incidência dos juros e da correção monetária, visto que nela restou acordada a não incidência da correção monetária e dos juros de mora sobre o crédito, certo que, ante a ausência de termo expresso para a obrigação, há de prevalecer o disposto no artigo 240 do Código de Processo Civil. Recurso parcialmente provido." (Apelação nº 0169721-49.2017.8.19.0001 - Relator: Desembargador Adolpho Correa de Andrade Mello Junior - Data de Julgamento: 11/06/2019) "AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. CONTRATO DE AFRETAMENTO MARÍTIMO. MULTAS CONTRATUAIS. DECLÍNIO DE COMPETÊNCIA. MATÉRIA INSERIDA NA COMPETÊNCIA FUNCIONAL DAS VARAS EMPRESARIAIS. APLICAÇÃO DO ARTIGO 50, I, H, N. 5 DO LODJ. PRECEDENTES. NEGADO PROVIMENTO AO RECURSO." (Agravo de Instrumento nº 0063853-51.2018.8.19.0000 - Relator: Desembargadora Valéria Dacheux Nascimento - Data de Julgamento: 22/02/2019) Ante o exposto, é possível extrair da jurisprudência do Egrégio Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, claramente unânime e incontroversa,

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bem como do cristalino inciso I, do artigo 50, da Lei de Organização e Divisão Judiciárias do Estado do Rio de Janeiro (LODJ), que a competência das Vars Empresariais é impreterível para julgar ações relativas a Direito Marítimo. Rejeito, pois, a preliminar de incompetência do Juízo. Relativamente ao mérito, trata-se de AÇÃO ORDINÁRIA proposta por SIEM OFFSHORE DO BRASIL S/A e SIEM OFFSHORE REDERI AS em face de PETRÓLEO BRASILEIRO S/A - PETROBRAS. Com efeito, as autoras celebraram contratos de afretamento e prestação de serviços pelo prazo inicial de 1460 dias corridos, com previsão de renovação por igual período - 4 anos, envolvendo a embarcação estrangeira " SIEM CARRIER". Negócio oneroso, comutativo e complexo, gerou prestações equilibradas para ambas as partes. A principal prestação das autoras, na posição de FRETADORAS, consistiu em manter as embarcações em boas condições de navegabilidade, assim disponíveis para realizar as fainas inerentes à pactuação fechada com a ré. Já as principais obrigações - ou contraprestações - da Afretadora, a Petrobras, foram o pagamento das taxas diárias e a obtenção dos Certificados de Autorização de Afretamento perante a Agência Nacional de Transportes Aquaviários - ANTAQ, inclusive, no caso de renovação dos contratos, providenciar os novos certificados antes da expiração dos prazos contratuais, conforme mandamento da Cláusula Quarta e subordinação à "legislação vigente". Há outra obrigação da Afretadora, não menos importante, qual seja, a de fornecer combustível às embarcações enquanto elas estiverem disponíveis para o desempenho das atribuições contratuais (cláusula 4.1). A "legislação vigente", a que se refere a cláusula contratual, é, especialmente, a Lei 9432/2015 e a Resolução nº 01/2015 da Agência Nacional de Transportes Aquaviários - ANTAQ. A Lei 9432/15, no art. 9º, I, apenas autoriza o "afretamento por tempo" de embarcação estrangeira por Empresas Brasileiras de Navegação - EBNs quando constatado inexistir no mercado embarcação de bandeira brasileira apta a atender à finalidade da contratação, ou, em existindo, estar indisponível. A Resolução nº 01/15 da ANTAQ, destinada a dar efetividade ao texto legal, regula, exatamente, o procedimento de consulta ao mercado para verificação da existência e disponibilidade de embarcação nacional em condições de cumprir o afretamento em tratativas com o armador estrangeiro, procedimento esse denominado "circularização". O Certificado de Autorização de Afretamento - CAA, visando a contratação de embarcação estrangeira, somente se faz possível quando superada a etapa de "circularização". Estou a notar a grande importância da Cláusula 4.3.1, que dispõe sobre a necessidade de obtenção da Autorização de Afretamento junto à ANTAQ, materializada no CAA, seja para a contratação inicial, seja para a renovação dos contratos, com prazo de 12 meses, porquanto, sem essa "autorização formal", não seria possível às

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Fretadoras cumprirem com efetividade e utilidade as suas obrigações contratuais. E essa obrigação essencial, obter os CAAs, foi assumida e vinculou a ré Petrobras, até porque era ela que detinha a "expertise" necessária para cumprir com êxito aquela etapa negocial. Ao comprometer-se com tal prestação, decisiva para dar viabilidade aos contratos celebrados, sabia de antemão a ré ser possível que, como resultado do procedimento de "circularização", surgisse embarcação brasileira - EBN com a mesma capacitação para o desempenho das fainas assumidas pelas empresas de bandeira estrangeira, impasse que de fato aconteceu e ensejou a apresentação de bloqueio pela EBN habilitada, circunstância causadora do impedimento ou demora quanto à obtenção do CAA destinado a viabilizar a renovação dos contratos. Sendo certo que a ré, quando assumiu a natural obrigação de obter o CAA, já sabia, ou devia saber, da possibilidade de surgimento de embarcação nacional e, consequentemente, do oferecimento de "bloqueio", em vista do inciso I, do art. 9º, da Lei 9432/2015, e que isso causaria um impasse ou dificuldade ao cumprimento da prestação descrita na cláusula quarta ponto três, itens 1, 2 e 3, com essa postura ela, a Petrobras, assumiu o risco do negócio, já tantas vezes lembrado neste processo. Realmente, as Fretadoras, enquanto mantinham a embarcação "SIEM CARRIER" em boas condições de navegabilidade, tripulada, disponível para realizar ou cumprir as prestações contratuais, não tinham que responder pelas consequências do malogro no desempenho da obrigação da Afretadora, de obter os CAAs; não tinham de assumir esse risco. Logo, tendo em vista que os contratos ainda estavam efetivos, e até robustecidos pela iniciação das tratativas para renovação, inclusive com perspectiva de redução de taxas, encontrando-se a embarcação em plenas condições de disponibilidade à Afretadora, conforme já o dissemos, em tais circunstâncias, as taxas de afretamento eram devidas pela ré, e assim haveria de ser enquanto o vinculum juris, ou os efeitos residuais, persistirem. Os riscos pertinentes à obtenção do CAA cabiam unicamente à Afretadora; não há falar-se, pois, em caso fortuito (fortuito interno). De perguntar-se, então: como afastar ou estancar os efeitos desses riscos? De duas formas: primeira, pela inserção de cláusula expressa desoneratória da responsabilidade da afretadora, situação que transferiria os riscos para a fretadora; segunda, pela resolução do contrato ou término do vínculo, caso em que as taxas continuariam devidas, si et quantum. Não tendo ocorrido qualquer dessas hipóteses, e uma vez que os contratos estavam ainda vigentes, a conduta a esperar-se da Afretadora era a de buscar o levantamento do bloqueio perante a ANTAQ, ou não o conseguindo, alcançar, por termo ao contrato e responder pelos créditos constituídos a favor das Fretadoras, as quais, seguramente, não teriam tido nenhuma participação na frustração quanto à

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obrigação da necessária e indispensável CAA. Os períodos em que a embarcação ficou disponível à espera do CAA, vê-se compreendidos entre 28/05/15 a 16/06/15 e 04/09/15 a 16/09/15, assim abarcados pelo tempo dos contratos. Reconheço, pois, a obrigação da Petrobras em obter o CAA e, em consequência, a responsabilidade pelos eventos inerentes à prestação assumida, consistente no pagamento das diárias, enquanto disponível a embarcação em foco, posto caber a ela, por força de cláusula contratual, a obrigação de providenciar a obtenção e renovação periódica do CAA da embarcação junto à ANTAQ, o que afastaria a alegação de fato de terceiro, haja vista a previsibilidade de bloqueio. De fato, os bloqueios de embarcações estrangeiras não possuem o condão de eximir a parte ré de suas obrigações contratuais. A parte autora cumpriu com a sua obrigação de disponibilizar a embarcação, devendo, portanto, ser garantida a contraprestação. A legislação brasileira confere prioridade às embarcações nacionais, o que deve ser cumprido pela parte ré, sem que isso prejudique os direitos da parte autora. Até porque, quando da assinatura do Contrato de Afretamento, a parte ré tinha plena ciência da possibilidade de bloqueio aos pedidos de renovação das CAAs, não podendo valer-se de tal condição para esquivar-se do cumprimento do pactuado, sob pena de ofensa aos princípios da probidade e boa-fé durante a execução do negócio jurídico. O fato é que, ainda que a não autorização não tivesse decorrido de conduta da ré, não haveria como se atribuir à autora os ônus da não renovação do CAA da embarcação..." Este entendimento se demonstra afinado com a jurisprudência atual e prevalecente, tanto entre os Juízos Empresariais da Capital (1ª Vara Empresarial, processo 0077030-79.2018.8.19.0001; 2ª Vara Empresarial, processos nº 0481830-90.2015.8.19.0001 e 0398197-50.2016.8.19.0001; 6ª Vara Empresarial, processo nº 0246906-03.2016.8.19.0001; 7ª Vara Empresarial, processo nº 0409040-74.2016.8.19.0001), como no âmbito superior, em nosso Tribunal de Justiça (3ª Câmara Cível, Apelação Cível 0398197-50.2016.8.19.0001; 11ª Câmara Cível, Apelação Cível 0481830-90.2015.8.19.0001; 15ª Câmara Cível, Apelação Cível 0409040-74.2016.8.19.0001; 17ª Câmara Cível, Apelação Cível, 0194213-08.2017.8.19.0001). Por todo o exposto, JULGO PROCEDENTE a pretensão e condeno a ré ao pagamento das diárias referentes aos Contratos de Afretamento e de Serviços, durante os períodos em que a embarcação permaneceu disponível - 28/05/15 a 16/06/15 e 04/09/15 a 16/09/15 -, totalizando a quantia de R$ 3.229.753,55, acrescida das correções devidas e de juros legais desde a data do vencimento. Condeno a ré, outrossim, no pagamento das custas processuais e de honorários advocatícios de 10% sobre o valor da condenação. P.R.I.

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(RJ, 0302741-39.2017.8.19.0001 – 5ª Vara Empresarial, Juíza Maria da Penha Nobre Mauro, 26/09/2019) 2.25 “APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO MARÍTIMO. AÇÃO INDENIZATÓRIA. CONTRATO DE AFRETAMENTO DE EMBARCAÇÃO ESTRANGEIRA E DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. RESCISÃO UNILATERAL ANTECIPADA DOS CONTRATOS PELA AFRETADORA DEMANDADA. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA DO PEDIDO EXORDIAL ATACADA POR RECURSO DE APELAÇÃO INTERPOSTO PELA EMPRESA RÉ. AFRETAMENTO DE EMBARCAÇÃO ESTRANGEIRA QUE É CONDICIONADO À INDISPONIBILIDADE DE EMBARCAÇÕES BRASILEIRAS APTAS A PRESTAR O SERVIÇO, NOS TERMOS DO ARTIGO 9º DA LEI Nº 9.432/97, SENDO TAL VERIFICAÇÃO E AUTORIZAÇÃO DE COMPETÊNCIA DA ANTAQ, CONFORME DISPÕE O ARTIGO 3º DA RESOLUÇÃO NORMATIVA N° 01/2015. EMPRESA DEMANDADA QUE É RESPONSAVEL POR REALIZAR O PROCEDIMENTO DE CONSULTA, DENOMINADO “CIRCULARIZAÇÃO”, JUNTO À ANTAQ, A FIM DE VERIFICAR A EXISTÊNCIA DE EMBARCAÇÕES BRASILEIRAS DISPONÍVEIS PARA O SERVIÇO. AUTORIZAÇÃO DE AFRETAMENTO QUE É CONCEDIDA PELA AUTARQUIA. AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO QUE É SUFICIENTE PARA RESCISÃO LEGÍTIMA DOS CONTRATOS VINCULADOS AO AFRETAMENTO. TODAVIA, NÃO LOGROU A RÉ COMPROVAR QUE REALIZOU A “CIRCULARIZAÇÃO” REFERENTE À EMBARCAÇÃO OBJETO DO CONTRATO. DEMANDADA QUE NÃO CONSEGUIU DESCONSTITUIR AS ALEGAÇÕES DAS DEMANDANTES, OU ELIDIR SUA RESPONSABILIDADE, ÔNUS QUE LHE CABIA, NOS TERMOS DO ARTIGO 373, INCISO II, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. PATENTE DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL PELA DEMANDADA. AÇÃO DANOSA, NEXO DE CAUSALIDADE E RESULTADO LESIVO COMPROVADOS, QUE RESULTAM NO DEVER DE INDENIZAR AS DEMANDANTES PELAS TAXAS DE DIÁRIAS E PELA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS NO PERÍODO EM QUE AS FRETADORAS MANTIVERAM A EMBARCAÇÃO À DISPOSIÇÃO DA APELADA. PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS DESTE EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA ESTADUAL. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.” (TJRJ, Apelação Cível, 0077030-79.2018.8.19.0001 – Des. Augusto Alves Moreira Júnior, 8ª Câmara Cível, J. 03/12/2019) 2.26 Trata-se de ação ordinária proposta por ER SCHIFFAHRT REEDEREIGESELLSCHAFT MBH E CIE KG, em face do PETROLEO BRASILEIRO S A PETROBRAS, sustentando, que celebrou contrato de afretamento com a ré. A parte autora alega que a ré descumpriu a obrigação de efetuar o

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pagamento de taxas diárias à autora. Afirma ainda que a ré também descumpriu a obrigação de renovar periodicamente a autorização para o afretamento das embarcações por meio da obtenção dos respectivos Certificados de Autorização de Afretamento - CAAs - junto à ANTAQ e, por fim, efetuou cobranças indevidas referente ao combustível que teria sido consumido pelas embarcações, enquanto aguardavam a renovação das CAAs. Assim, requer a condenação da ré na obrigação de pagar o valor de R$ 3.902.407,97 (três milhões novecentos e dois mil quatrocentos e sete reais e noventa e sete centavos) referente às taxas diárias devidas pelas embarcações ´ER TROMSOE´ e ´ER HAUGESUND´, a declaração indevida da cobrança realizada pela ré no valor de R$ 152.629,71 (cento e cinquenta e dois mil seiscentos e vinte e nove reais e setenta e um centavos) a título de combustível consumido pelas embarcações, condenar a ré a restituir esse valor pago a título de consumo de combustível e condenação ao pagamento das custas e honorários advocatícios. A Inicial veio instruída com documentos de fls. 15/235 e comprovante de depósito da caução às fls. 242. Devidamente citada, a parte ré apresentou contestação de fls. 249/277-, arguindo, preliminarmente, incompetência absoluta do juízo em razão da matéria. No mérito, alegou, em síntese, que a não obtenção do certificado de autorização ao afretamento (CAA) das embarcações se deu por circunstâncias alheias às suas forças, bem como o que combustível consumido pelas embarcações seria devido pela autora, em razão das embarcações terem ficado inoperantes durante os períodos em que aguardavam a renovação de seus CAAs pela ré. Assim, pugna pela improcedência dos pedidos. Réplica às fls. 341/390 rebatendo os argumentos da contestação. Despacho saneador às fls. 384, oportunidade em que foi rejeitada a preliminar de incompetência do juízo. Também foram verificadas as condições da ação e os pressupostos processuais. Foi fixado, como ponto controvertido, o descumprimento do contrato de afretamento firmado entre as partes e foi indeferida a produção de prova oral, sendo foi deferia a produção de prova documental suplementar. A parte autora juntou documentos às fls. 386/399. É o relatório. Decido. Sem mais provas a produzir, o feito comporta o julgamento antecipado nos termos do artigo 355, inciso I do CPC/15. Trata-se de demanda em que a autora foi convidada, por meio de Convite Internacional nº 087237710-1, para participar de procedimento licitatório, e que após consagrar-se vencedora, a autora e a Petrobras celebraram Contratos de Afretamento de Embarcação nº 2050.0067082.11.2 e 2050.0067085.11.2, esses que tinham como objetivo a disponibilização, pela Fretadora autora, de embarcações do tipo PSV 3000 à Afretadora ré, para apoio marítimo às atividades de pesquisa e de lavra das jazidas de petróleo e gás natural. Dispõe o item 2.2 dos Contratos de Afretamento (fls. 40 e 84) que o ´prazo

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do presente CONTRATO será aquele mencionado no item 1 do ANEXO I - Condições Gerais, e será contato a partir da data de emissão, pela AFRETADORA, do (TAE) Termo de Aceitação da EMBARCAÇÃO, conforme subitem 3.33´. O item 1 do Anexo I dos referidos contratos (fls. 80 e 122), ´o prazo do CONTRATO é de 1460 dias corridos´. Todavia, item 2.2.5 dos Contratos de Afretamento (fls. 41 e 85) e o item 3 do Anexo I - Condições Gerais (fls. 80 e 122) preveem uma hipótese de encerramento antecipado dos contratos dispondo que ´Decorridos 730 (Setecentos e Trinta) dias do prazo contratual, o CONTRATO poderá ser encerrado a critério da PETROBRAS, mediante aviso prévio de 90 (noventa) dias´. Nesse caso, cabe à FRETADORA, tão somente, ´o direito de receber as importâncias relativas ao afretamento realizado e aceito pela AFRETADORA até o encerramento´. Dá análise dos autos, pode-se verificar que não houve qualquer aviso prévio realizado pela Afretadora no sentido de manifestar sua opção pelo encerramento antecipado do contrato, caso em que não se aplica tal previsão contratual. A não realização do aviso prévio pela Afretadora gerou na Fretadora uma legítima expectativa de manutenção do contrato até o seu termo natural, qual seja, a data de 21/09/2015 e 14/09/2015 (referente às embarcações ER HAUGESUND e ER TROMSOE, respectivamente), conforme fls. 306 e 307. Porém, para a manutenção dos referidos contratos era preciso que a Afretadora cumprisse com a sua obrigação contratual, qual seja, obtivesse junto Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ) a renovação da autorização para o afretamento da embarcação estrangeira da Fretadora, o que não foi feito. Tendo em vista que os contratos celebrados pela sociedade de economia mista ré regem-se pelas normas de direito privado, conforme item 7.1.1 do Decreto nº 2.745/98 e o item 1.1.2 do Manual da Petrobras para Contratação - MPC, incorre a Afretadora em responsabilidade civil contratual, devendo reparar os danos causados pelo descumprimento do pactuado. Ocorreu inadimplemento contratual sem que houvesse caso fortuito ou força maior a se isentar do dever de indenizar. A parte ré/Afretadora alega que a não obtenção do certificado de autorização ao afretamento (CAA) das embarcações se deu por circunstâncias alheias às suas forças, isso porque ´a Resolução Normativa nº 01-ANTAQ/2015 inovou ao prever, expressamente, a possibilidade de bloqueio parcial sem limitação de prazo mínimo, nos afretamentos de embarcações de apoio marítimo. Assim, nos casos em que houver registro ou informação de disponibilidade futura de embarcação nacional, o prazo de autorização do afretamento de embarcação estrangeira será limitado ao período de indisponibilidade de embarcação de bandeira brasileira´ (fls. 260). Porém, não merece prosperar esse argumento, uma vez que a Resolução Normativa não tem o condão de retroagir maleficamente para atingir contratos anteriormente pactuados.

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Nesse sentido, não restou demonstrada caso fortuito ou força maior capaz de isentar a Afretadora de sua responsabilidade. As resoluções normativas e os bloqueios de embarcações estrangeiras não possuem o condão de eximir a parte ré de suas obrigações contratuais, uma vez que a sua possibilidade não foram inseridas no instrumento contratual. Afinal a parte autora cumpriu a sua obrigação de disponibilizar a embarcação devendo a contraprestação ser garantida. A legislação brasileira de priorizar as embarcações nacionais deve ser cumprida pela parte ré, sem que esta prejudique os direitos de terceiros previstos no contrato. A possibilidade de bloqueio é de conhecimento da Afretadora que se pretende se esquivar do cumprimento do contrato pelo referido motivo, deveria tê-lo previsto em cláusula contratual, de modo a cientificar a parte contratada desta possibilidade. Quanto ao consumo de combustível, dispõe o item 4.1 dos Contratos de Afretamento (fls. 52 e 96) que cabe à Afretadora ´providenciar, por sua conta, água e combustível necessários à operação da embarcação´. E mais, o item 3.11.1 dos Contratos de Afretamento (fls. 44 e 88) que cabe à Fretadora ´arcar com o custo do combustível consumido nas mobilizações e desmobilizações da EMBARCAÇÃO para docagem, e nos períodos em que estiver inoperante e/ou em reparo, a partir da interrupção do afretamento até o retorno à mesma situação anterior´. Como as embarcações estrangeiras estavam inoperantes pelo não cumprimento, pela Afretadora, da obrigação de obter as CAAs, isto é, por seu inadimplemento contratual, não pode ela cobrar pelo combustível desse período. Ante o exposto, JULGO PROCEDENTE os pedidos para CONDENAR a ré na obrigação de pagar à Autora o valor de R$ 3.902.407,97 (três milhões novecentos e dois mil quatrocentos e sete reais e noventa e sete centavos), corrigidos monetariamente e acrescido de juros legais, referente às taxas diárias devidas pelas embarcações ´ER TROMSOE´ e ´ER HAUGESUND´. DECLARO inexistente a cobrança realizada pela ré no valor de R$ 152.629,71 (cento e cinquenta e dois mil seiscentos e vinte e nove reais e setenta e um centavos) a título de combustível consumido pelas referidas embarcações nos períodos em que as embarcações ficaram aguardando a renovação de seus CAAs. CONDENO a ré na obrigação de RESTITUIR à Autora o valor de R$ 152.629,71 (cento e cinquenta e dois mil seiscentos e vinte e nove reais e setenta e um centavos), corrigidos monetariamente e acrescido de juros legais, indevidamente cobrados e pagos a título de consumo de combustível. Condeno a ré ao pagamento das custas e honorários advocatícios ora fixados em 10 % sobre o valor da condenação nos termos do artigo 85, parágrafo 2o, do Código de Processo Civil. P.R.I.

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(RJ. 0481830-90.2015.8.19.0001–2ª Vara Empresarial. Juiza Maria Christina Berardo Rucker. Data:13/09/2016) i) Afretamento – Disputas contratuais – aplicação de multa contratual 2.27 DIREITO CIVIL. AÇÃO OBJETIVANDO A INAPLICABILIDADE DA CLÁUSULA PENAL OU A REDUÇÃO EQUITATIVA DO VALOR. CONTRATO DE AFRETAMENTO. CLÁUSULAS CONTRATUAIS QUE DISPÕEM ACERCA DE OBRIGAÇÕES PRINCIPAIS E ACESSÓRIAS. CONTRATAÇÃO DE SEGURO DE VIDA PELA PARTE AUTORA, TENDO COMO SEGURADA A TRIPULAÇÃO. AUSÊNCIA DE CONTRATO DE SEGURO PARA UM COLABORADOR, VERIFICADA QUANDO DA REALIZAÇÃO DA FISCALIZAÇÃO PELA PARTE RÉ. INADIMPLEMENTO DE OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA, QUAL SEJA, A NÃO INCLUSÃO DO COLABORADOR NO SEGURO DE VIDA COLETIVO. O VALOR DO MONTANTE DO CONTRATO DE SEGURO PERFAZ O TOTAL DE R$ 120.000,00 (CENTO E VINTE MIL REAIS) E O PRÊMIO AO EQUIVALENTE A R$ 370,00 (TREZENTOS E SETENTA REAIS). O VALOR FIXADO NA CLÁUSULA CONTRATUAL DA ORDEM DE 280.000,00 (DUZENTOS E OITENTA MIL REAIS) REFERE-SE À EVENTUAL DESRESPEITO DA OBRIGAÇÃO PRINCIPAL. SEGURO QUE VEM A SER CONTRATO ACESSÓRIO. DAÍ, NÃO SE JUSTIFICA O VALOR DA MULTA DE 280.000,00 (DUZENTOS E OITENTA MIL REAIS). NÃO FIXAÇÃO DE CLÁUSULA PENAL PARA DESCUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA, REFERENTE À INCLUSÃO NO CONTRATO DE SEGURO DE UM DOS COLABORADORES. PREVISÃO EM CLÁUSULA CONTRATUAL DE MULTA NO VALOR DE R$ 30.000,00 (TRINTA MIL REAIS) REFERENTE A COLABORADOR ESTRANGEIRO EM SITUAÇÃO IRREGULAR. APLICA-SE O MESMO VALOR DA MULTA PARA O COLABORADOR NACIONAL. VALOR QUE SE AFIGURA EQUITATIVO PARA A HIPÓTESE DOS AUTOS COM FULCRO NO ART. 413 DO CÓDIGO CIVIL. PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO PARA ESTABELECER O VALOR DA MULTA EM R$ 30.000,00 (TRINTA MIL REAIS). (TJRJ, Apelação Cível. 0017250-19.2015.8.19.0001 – Des. Cleber Ghelfenstein. 14ª Câmara Cível. J. 01/02/2017) 2.28 I. (...) Na peça inicial de fls. 03/28, narram as autoras que foram celebrados com a ré, na data de 23/06/2010, o Contrato de Afretamento nº 2050.0057219.10.2 envolvendo a embarcação TBN 152, que tinha como contratadas a OTTO, na qualidade de Armadora, e a FUGRO, como interveniente anuente; e o Contrato de Prestação de Serviços nº

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2050.0057220.10.2, que tinha como contratadas a CANDIES e a OTTO, como interveniente e proprietária da embarcação. Afirmam que, nos termos do Contrato de Afretamento, a principal obrigação da autora OTTO era entregar a embarcação à ré até 20/07/2012. Entretanto, por motivos de força maior, a contratada se viu impossibilidade de cumprir o prazo ajustado e, em 31/08/2012, enviou à ré carta com nova previsão de chegada da embarcação até 26/03/2013. Sustentam que, em outubro de 2012, as partes decidiram alterar alguns termos dos contratos, do modo que, atualmente, apenas a OTTO e a PETROBRAS são partes do Contrato de Afretamento; e a FUGRO, a FAROL e a PETROBRAS são partes do Contrato de Prestação de Serviços. Afirmam que a ré ficara responsável pela elaboração dos aditivos aos contratos, essenciais aos procedimentos de admissão da embarcação ao Brasil e à obtenção de autorizações das autoridades brasileiras para que pudesse operar em águas nacionais. Contam as autoras que a embarcação chegou ao Brasil em 25/03/2013, tendo sido inspecionada pela ANVISA no dia seguinte, com a obtenção do respectivo certificado de livre prática. No entanto, aduzem que a ré apenas entregou os aditivos aos contratos em 03/05/2013, razão pela qual somente em 29/07/2013 foi autorizado o início das operações. Ressaltam as autoras que, no período compreendido entre 25/03/2013 e 29/07/2017, em que a mora seria atribuída à ré, as autoras tiveram que arcar com os custos de manutenção da embarcação. Alegam que, em 06/01/2014, a ré encaminhou cartas às autoras em que informava que aplicaria multa moratória referente ao período de 20/07/2012 (prazo inicialmente combinado entre as partes) a 28/07/2013 (data em que foram efetivamente concluídos os procedimentos autorizativos), por atraso no início das operações da embarcação. Face à impugnação administrativa opostas pelas autoras, a ré teria, mais de dois anos depois, apresentado seu indeferimento sem nenhuma motivação. Por meio da presente ação objetivam as autoras obter a declaração de que a cláusula penal prevista no Contrato de Afretamento, em face da OTTO, deve se limitar ao período compreendido entre 20/07/2012 a 25/03/2013, data de chegada da embarcação no Brasil, o que importa no valor de US$ 2.239.410,31 (dois milhões duzentos e trinta e nove mil quatrocentos e dez dólares americanos e trinta e um centavos); e a declaração de que não é devida cláusula penal com base no Contrato de Prestação de Serviços em face da FAROL e FUGRO, uma vez que era impossível que as referidas empresas prestassem os serviços contratados enquanto a embarcação não fosse recebida pela PETROBRAS. Visam ainda à condenação da ré ao pagamento de cláusula penal nos mesmos moldes da que está cobrando das autoras no período compreendido entre a chegada da embarcação no Brasil (25/03/2013) e a data de sua entrada em operação (28/07/2013), ou, alternativamente, a data

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em que os aditivos foram finalmente entregues às contratadas (03/05/2013). Com a inicial vieram os documentos de fls. 29/301. Em decisão de fls. 310/312, foi deferido o pedido de tutela antecipada formulado pelas autoras, para o fim de determinar a intimação da ré para ciência de que estaria impedida de realizar compensações sobre os recebíveis da OTTO em valor que superasse a quantia de U$ 2.239.410,31, e que se abstivesse de efetuar qualquer compensação sobre os recebíveis das sociedades FAROL e FUGRO. A petição inicial foi emendada às fls. 351/372, requerendo as autoras a confirmação da tutela concedida. Devidamente citada, a ré apresentou contestação às fls. 419/467. Argui preliminarmente a incompetência deste Juízo, alegando que, por tratar a demanda sobre Direito Marítimo, seria competente para julgamento a Vara Cível. No mérito, alega que a apresentação de cronograma com nova data de entrega da embarcação não alteraria a data firmada para início das operações; que as autoras seriam as responsáveis pelo procedimento de importação da embarcação; que a habilitação do REPETRO foi concedida em dois meses, não sendo fator preponderante para o atraso na operação, uma vez que as autoras já estavam em mora contratual; que é certo que a mora contratual provocada pelas autoras justifica a aplicação da multa. Sustenta, ainda, que o Poder Judiciário não poderia adentrar a análise do motivo referente à aplicação da multa moratória - mérito administrativo -, limitando-se ao controle de legalidade do ato. No mais, requer seja acolhida a exceção de incompetência; ou, superada a preliminar, requer sejam julgados improcedentes todos os pedidos formulados na exordial. Às fls. 496/531 as autoras apresentaram réplica. Em síntese, alegam que a ré é a única responsável pelo atraso no início das operações da embarcação (quatro meses após a sua chegada ao Brasil); que foi a mora injustificada de a ré providenciar os aditivos contratuais que impediu as autoras de apresentar habilitação no REPETRO junto à autoridade fiscal brasileira. Por fim, as autoras reiteram o requerimento de procedência da ação. Na decisão saneadora de fls. 704/706, foi rejeitada a preliminar de incompetência em razão da matéria e foi deferida prova documental superveniente. Manifestação das autoras às fls. 723/732. É o relatório. Passo a decidir. II- FUNDAMENTAÇÃO Na forma do art. 355, I CPC/2015, encontra-se o feito maduro para o julgamento, sendo desnecessária a produção de outras provas. Trata-se de demanda por meio da qual pretendem as autoras obter a declaração de inaplicabilidade de cláusula penal sobre período em que teria incorrido em mora a ré, diante de atraso no envio de aditivos contratuais necessários à habilitação ao Regime Aduaneiro Especial. É incontroverso que houve atraso na entrega da embarcação, objeto do Contrato de Afretamento n° 2050.0057219.10.2 ajustado entre a autora OTTO e a ré PETROBRAS. Desse modo, é indiscutível

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o cabimento da multa moratória prevista no item 9.1.2 do referido contrato (à fl. 98), referente ao item 2.2.1 (à fl. 83), que estabelecia a entrega até 20/07/2012. Cinge-se a controvérsia a saber se a multa moratória incide sobre o período compreendido entre 20/07/2012 e 28/07/2013 (data em que foram efetivamente concluídos os procedimentos autorizativos), ou se a mora ensejada pela contratada encerrou em 25/03/2013, com a entrega da embarcação. Além disso, deve-se verificar se as sociedades FUGRO e FAROL podem ser responsabilizadas pela multa moratória, tendo em vista que faziam parte apenas do contrato referente à prestação de serviços. Finalmente, cabe a análise sobre a possibilidade de condenação da ré ao pagamento de multa moratória pelo período em que teria ficado responsável pela demora na habilitação ao REPETRO e consequente atraso no início das operações contratadas. A multa moratória tem como efeito intimidar o devedor para que ele não atrase o cumprimento da prestação, que ainda é útil ao credor. A mora é purgada quando o devedor cessa os efeitos do seu atraso, o que, in casu, ocorreu com a entrega da embarcação no dia 25/03/2013. A partir daí, verifica-se pela análise dos autos que a demora no início das operações passou a ser causado pela ré, que não nega em sua peça de defesa ter entregue os Termos Aditivos após a chegada da embarcação do Brasil, o que impediu a solicitação do REPETRO. Como se extrai da contestação, após a entrega dos aditivos em 03/05/2013, no mesmo dia, ´em 03/05/2013, a empresa FAROL APOIO MARITIMO LTDA formalizou junto à Receita Federal o pedido de habilitação ao Regime Aduaneiro Especial para promover a importação da embarcação; em 05/07/2013, foi deferido o pedido de habilitação ao Regime Aduaneiro Especial; em 29/07/2013, após concluídos os testes de aceitação da embarcação, conforme previsto no item 2.8 da Clausula Segunda do ICJ n° 2050.0057219.10.2, iniciou-se as operações previstas nos contratos´ (fl. 428). O princípio da boa-fé, previsto no ordenamento jurídico no art. 422 do Código Civil, sempre permeou todas as relações jurídicas. Considerando a premissa de que o contrato faz lei entre as partes, há a necessidade de que essa lei seja exercida dentro dos ditames da boa-fé, que se traduz como uma verdadeira norma de conduta entre as partes. Conforme preleciona Maria Helena Diniz: ´A boa-fé objetiva (...) é alusiva a um padrão comportamental a ser seguido baseado na lealdade e na probidade (integridade de caráter), proibindo o comportamento contraditório, impedindo o exercício abusivo de direito por parte dos contratantes, no cumprimento não só da obrigação principal, mas também das acessórias, inclusive do dever de informar, de colaborar e de atuação diligente´ (2014, p. 418). O atraso da parte devedora no cumprimento da sua obrigação não justifica um comportamento moroso por parte da credora, de forma a prejudicar o início das operações objeto do contrato. Nesse

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contexto, entendo que a multa moratória prevista no contrato n. 2050.0057219.10.2 deve ser cobrada apenas em relação ao período entre a constituição da sociedade devedora em mora até a efetiva chegada da embarcação ao Brasil. Passo à análise da responsabilidade das sociedades FAROL e FUGRO no que diz respeito ao atraso no cumprimento da obrigação do contrato n. 2050.0057219.10.2. Mister ressaltar que os contratos de afretamento e de prestação de serviços são conjuntos. Afinal, a entrega da embarcação e o início de suas operações são obrigações intrinsicamente dependentes. Pelo contrato de afretamento, deveria a armadora OTTO trazer a embarcação TBN 152 para águas brasileiras; e, pelo contrato de prestação de serviços, a embarcação, uma vez entregue, passaria a ser operada pelas contratadas FURGO e FAROL, também competentes para desenrolarem os procedimentos de regularização no Brasil. Fica clara a dependência do início do contrato de prestação de serviços ao cumprimento da obrigação de entrega da embarcação da contratada OTTO, que incorreu em mora. Entendo que mora ocorrida no desempenho do contrato de afretamento não enseja a responsabilidade daquelas sociedades contratadas para prestarem serviços que, ao que tudo indica, cumpriram seus deveres assim que possível. Finalmente, no que toca ao pedido de condenação da ré ao pagamento de multa, entendo que a mora da PETROBRAS teve início na data em que a embarcação foi entregue e teve fim no dia em que a sociedade entregou os aditivos. Durante o período entre a solicitação do REPETRO e o início das operações, nos termos das cláusulas 20.4 e 20.5 (fl. 115) do contrato n. 2050.0057219.10.2, o ônus cabia à contratada. Assim, deve incidir a multa moratória entre 25/03/2013 e 03/05/2013. III - DISPOSITIVO Posto isso, JULGO PROCEDENTE a pretensão autoral, extinguindo o feito com resolução do mérito, nos moldes do Art. 487, I, e confirmando a decisão que concedeu a tutela antecipada, para (a) declarar que a cláusula penal prevista no Contrato de Afretamento deve se limitar ao período compreendido entre 20/07/2012 a 25/03/2013, data de chegada da embarcação no Brasil, o que importa no valor de US$ 2.239.410,31 (dois milhões duzentos e trinta e nove mil quatrocentos e dez dólares americanos e trinta e um centavos), valor a ser cobrado da OTTO, parte a qual se atribui a mora contratual; (b) declarar incabível a cobrança de multa moratória face às autoras FUGRO e FAROL, uma vez que o contrato de prestação de serviços só poderia começar a ser adimplido após o fim dos trâmites legais para início das operações da embarcação em território brasileiro; (c) condenar a ré ao pagamento de cláusula penal pelo período em que foi responsável pela mora no cumprimento das obrigações, qual seja, 25/03/2013 (data da chegada da embarcação ao Brasil) a 03/05/2013 (data em que foram entregues os aditivos contratuais, possibilitando a habilitação no REPETRO). Condeno a ré,

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ainda, ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios da parte adversa, que fixo em 10% (dez por cento) sobre o valor corrigido atribuído à causa, nos termos dos artigos 82 §2° e 85, caput, do CPC, respectivamente. PRI.

(RJ. 0240388-94.2016.8.19.0001 – 7ª Vara Empresarial. Juiz Fernando Cesar Ferreira Viana. Data: 21/11/2017) 2.29 (...) Narra a autora que recebeu em cessão o Contrato de Prestação de Serviços de Apoio Marítimo nº2050.0052506.09.2, que foi originalmente firmado entre a ré e uma terceira empresa. Decorrido certo tempo, em 10/03/2012 as partes autora e ré assinaram o Termo de Entrega de Embarcação Afretada, o que pôs fim ao contrato de prestação de serviços sem qualquer ressalva. Aduz que, em 29/05/2013, recebeu uma carta emitida pela ré em que informava que aplicaria à autora Multa Contratual de R$986.493,24 em razão de atraso no início das operações, o que teria ocorrido em agosto/setembro de 2009. Relata, então, que apresentou impugnação à Petrobrás, a qual respondeu somente dois anos e nove dias depois, rejeitando os argumentos expostos e informando que efetuaria a compensação da multa sobre recebíveis líquidos e certos devidos à autora referentes a outros contratos vigentes entre as partes. Diante disso, a parte autora sustenta que a cobrança de tal multa é indevida, uma vez que se encontra prescrita e, subsidiariamente, alega que o atraso no início das operações se deu por fato exclusivo da ré, em momento anterior à cessão de contrato em favor da autora; também afirma que a compensação pretendida é ilegal, pois referente a outro contrato. Pretende, dessa forma, que a ré seja impedida de efetuar qualquer cobrança ou compensação sobre os recebíveis da autora em razão de tal multa, inclusive em sede de tutela antecipada, e que seja declarada inexistente qualquer crédito em favor da ré referente à tal multa. Com a inicial vieram documentos de fls. 21/189. Deferimento da tutela antecipada às fls. 230/231 que determinou, ainda, que a parte autora apresentasse caução consubstanciada em carta fiança ou indicasse recebíveis sobre os quais poderão recair eventual bloqueio, o que foi cumprido às fls. 234. A ré foi citada e apresentou contestação acompanhada de documentos às fls. 281/322, na qual sustenta que o prazo prescricional aplicável é o decenal, pois a multa apenas se tornou definitiva quando a empresa foi notificada da rejeição do recurso, o que se deu em 14/07/2015. Alega, ainda, que o Dec. 2.745/98 (que regulamenta as licitações e contratações da Petrobrás) prevê a possibilidade de retenção de créditos em outros contratos. Réplica às fls. 325/342. As partes foram intimadas para especificar

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provas, sendo que apenas a autora se manifestou pelo julgamento do feito no estado em que se encontra. Manifestação da parte ré às fls. 353, em que não se opõe aos recebíveis indicados pela autora como forma de caução da tutela antecipada. A partir das fls. 346, juntada da decisão do agravo interposto pela parte ré em face da decisão que concedeu a tutela antecipada e posteriores recursos diante da decisão de negar provimento à tal recurso. EIS O RELATÓRIO. DECIDO. O feito enseja julgamento antecipado, na forma do artigo 355, I do Código de Processo Civil, haja vista tratar-se de questão unicamente de fato e sem necessidade de produção de outras provas. A autora pretende que a ré seja impedida de cobrar multa no valor de R$986.493,24 relativa à atraso de cerca de 30 dias para a entrega da embarcação, conforme carta recebida (fls. 123). Sustenta que tal crédito está prescrito, posto que ultrapassado o prazo de 5 anos previsto no artigo 206, §5º, I do Código Civil. Em sua defesa, a ré alega que o prazo a incidir é de 10 anos previsto na regra geral do artigo 205, pois o que se discute nos autos é a atribuição de culpa pelo descumprimento contratual. Quanto à divergência em relação ao prazo a ser aplicado, a jurisprudência do STJ firmou o entendimento de que deve ser aplicado o prazo quinquenal se a multa é prevista no contrato e decenal se a aludida tarifa não foi prevista contratualmente, mostrando-se ilíquida a obrigação. No caso narrado, a carta recebida pela autora juntada às fls. 123 indica a previsão contratual, de modo que por simples cálculo aritmético chega-se ao valor cobrado - que também foi demonstrado pela ré em planilha no mesmo documento. Dessa forma, verifica-se que se trata de cobrança de dívida líquida constante de instrumento particular (o contrato entre as partes que se encontra às fls. 46/119), de modo a incidir o prazo quinquenal do inciso I, §5º do artigo 206 do CC. Quanto ao início do prazo prescricional, a empresa ré, em sua contestação, afirma que ´não se discute que o fato gerador da penalidade tenha ocorrido em agosto de 2009´ (fls. 283), de modo que, em agosto de 2014, tal pretensão foi fulminada pelo prazo prescricional. Note-se que apenas em julho de 2015 a ré enviou nova carta à autora, informando que a defesa por ela apresentada não fora acolhida, e, em 14/09/2015, constou no relatório de multa e deduções emitido pela ré no mês anterior, ratificando que seria realizado o desconto. Por fim, cumpre ressaltar que a ré não demonstrou qualquer fato interruptivo da prescrição previsto no artigo 202 do Cód. Civil. Nesse sentido foi o entendimento do Egrégio TJRJ em caso semelhante: Apelação Cível nº 0008664-27.2014.8.19.0001. DÉCIMA QUARTA CAMARA CIVEL. Relator: DES. José Carlos Paes APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA. CONTRATO DE AFRETAMENTO DE EMBARCAÇÃO. MULTA POR INFRAÇÃO CONTRATUAL. DÍVIDA LÍQUIDA. INSTRUMENTO PARTICULAR. APLICAÇÃO DO ARTIGO 206, §5º, INCISO I, DO CÓDIGO CIVIL.

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PRESCRIÇÃO. OCORRÊNCIA. 1. Prescreve em cinco anos a pretensão de cobranças de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular, artigo 206, §5º, inciso I, do Código Civil. 2. Na espécie, o prazo prescricional da ação de cobrança surgiu no momento da infração contratual, precisamente quando a embarcação ´MERCURIO DEL GOLFO´ ficou indisponível para o serviço contratado. Doutrina. 3. Documentos que instruem os autos indicam as horas, dias e motivos da indisponibilidade da embarcação (30/09/2007 a 29/09/2008), bem como o valor da taxa diária, o percentual da multa a ser aplicada e todos os demais dados para o cálculo de multa por infração contratual. Assim, com a realização de simples cálculo aritmético chega-se ao valor da multa devida. 4. Nesse diapasão, não há dúvidas de que o valor cobrado na inicial representa uma dívida líquida e está pautada em instrumento particular, de modo que forçoso reconhecer a ocorrência da prescrição, porquanto a ação de cobrança somente foi proposta em 10/01/2014, após decurso do prazo quinquenal, previsto no inciso I do § 5º do artigo 206 do Código Civil. 5. Por fim, a demandante não se desincumbiu de provar a ocorrência de quaisquer das causas de interrupção da prescrição previstas no artigo 202 do Código Civil. 6. Apelo que não segue. Além disso, tal entendimento foi mantido pelo C. STJ no Agravo em Recurso Especial nº 775.399 - RJ (2015/0218839-3). Diante o exposto, JULGO PROCEDENTE o pedido inicial, confirmando a tutela antecipada deferida, para declarar inexistente qualquer crédito em favor da Petrobrás referente à multa relativa por atraso na entrega da embarcação ´TRICO MYSTIC´/´POSH PLOVER´, ficando a ré impedida de efetuar qualquer cobrança ou compensação sobre os recebíveis da autora. Assim, fica extinto o processo, resolvido o mérito, nos termos do artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil. Condeno a parte ré, ainda, ao pagamento das custas e despesas processuais e honorários advocatícios que fixo em 10% sobre o valor da causa. P.R.I. (RJ. 0371209-26.2015.8.19.0001 – 4ª Vara Empresarial. Juiz Paulo Assed Estefan. Data: 13/12/2017) 2.30 APELAÇÃO CÍVEL - CONTRATO DE AFRETAMENTO DE EMBARCAÇÃO - "TIME CHARTER" - APLICAÇÃO DE MULTA CONTRATUAL - ALEGAÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DA RESOLUÇÃO NORMATIVA RN 72/2006 DO CONSELHO NACIONAL DE IMIGRAÇÃO (CNIG) QUE DISCIPLINA A CHAMADA DE PROFISSIONAIS ESTRANGEIROS PARA TRABALHO A BORDO DE EMBARCAÇÃO OU PLATAFORMA ESTRANGEIRA - EXIGÊNCIA DE PROPORCIONALIDADE ENTRE TRABALHADORES NACIONAIS E ESTRANGEIROS NÃO RESIDENTES -

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PRELIMINAR DE INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA AFASTADA - COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA VARA EMPRESARIAL - CONTRATO TÍPICO DE DIREITO MARÍTIMO - ART. 50, DA LODJ - ROL EXEMPLIFICATIVO - AUSÊNCIA DE DESIGNAÇÃO DE AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO OU DE MEDIAÇÃO PELO JUÍZO A QUO - PREJUÍZO NÃO DEMONSTRADO - NULIDADE RECHAÇADA - PRINCÍPIO DO PAS DE NULLITÉ SANS GRIEF - POSSIBILIDADE DE COMPOSIÇÃO EXTRAJUDICIAL A QUALQUER TEMPO PELAS PARTES - FASE DE SANEAMENTO DO PROCESSO DISPENSADA PELO MAGISTRADO SINGULAR TENDO EM VISTA A REGRA CONTIDA NO ART. 355, I, DO CPC/2015, A QUAL DETERMINA QUE O JUIZ JULGARÁ ANTECIPADAMENTE O PEDIDO, PROFERINDO SENTENÇA COM RESOLUÇÃO DE MÉRITO, QUANDO NÃO HOUVER NECESSIDADE DE PRODUÇÃO DE OUTRAS PROVAS - PRELIMINARES REJEITADAS - PONTO NODAL PARA DESATE DA CONTROVÉRSIA QUE RESIDE NA PROVA QUANTO AOS FATOS QUE DERAM ENSEJO À APLICAÇÃO DA MULTA PELA APELANTE, ANTES DE SE DISCUTIR EVENTUAL LEGALIDADE DA RETENÇÃO DOS VALORES - AUTORAS APELADAS QUE JUNTARAM À INICIAL PLANILHAS COM A LISTA DE TRIPULANTES, DE MODO A FAZER PROVA QUANTO AO CUMPRIMENTO DA EXIGÊNCIA DE PROPORCIONALIDADE ENTRE TRABALHADORES BRASILEIROS E ESTRANGEIROS - RÉ APELANTE QUE, EM SUA CONTESTAÇÃO, NÃO DECLINOU ONDE SE ENCONTRAVA A ALEGADA DESPROPORCIONALIDADE ENTRE TRABALHADORES NACIONAIS E ESTRANGEIROS QUE JUSTIFICASSE A APLICAÇÃO DAS MULTAS, SIMPLESMENTE DEIXANDO DE IMPUGNAR OS DOCUMENTOS JUNTADOS E A ALEGAÇÃO DAS AUTORAS QUANTO AO CUMPRIMENTO DA RESOLUÇÃO NORMATIVA 72 DO CONSELHO NACIONAL DE IMIGRAÇÃO - CNIG. - ACOLHIMENTO DA PRETENSÃO AUTORAL - ACERTO DA SENTENÇA - HONORÁRIOS BEM FIXADOS EM OBEDIÊNCIA AO COMANDO DO ART. 85, § 2º, DO CPC/2015 (...). SUCUMBÊNCIA RECURSAL - MAJORAÇÃO LEGAL. NEGA-SE PROVIMENTO AO RECURSO.

(TJRJ, Apelação Cível. 0280492-31.2016.8.19.0001 – Des. Marcelo Lima Buhatem. 22ª Câmara Cível. J. 03/10/2017; no mesmo sentido: AC 0300431-94.2016.8.19.0001, J. 03/10/2017; AC 0276558-65.2016.8.19.0001, J. 24/10/2017; AC 0300389-45.2016.8.19.0001, J. 24/10/2017) 2.31 APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA. CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO DE OPERAÇÃO NÁUTICA E AFRETAMENTO DE EMBARCAÇÕES. PRETENSÃO DA EMPRESA AUTORA APELADA, PRESTADORA DO SERVIÇO, DE REEMBOLSO POR PARTE DA RÉ, APELANTE, DAS DESPESAS ATINENTES À PRATICAGEM, COMO PREVISTO NO CONTRATO. AFASTADA A PRELIMINAR DE INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA DO JUÍZO EMPRESARIAL, PORQUANTO A

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MATÉRIA ORA DISCUTIDA SE REFERE A OBRIGAÇÕES DECORRENTES DE CONTRATO DE AFRETAMENTO, INSTITUTO PERTINENTE AO DIREITO MARÍTIMO. INCIDÊNCIA DO ARTIGO 50, I, “H” DA LEI ESTADUAL Nº 6956/2015. DESPESAS EM REFERÊNCIA QUE FORAM PAGAS PELA APELADA, CONFORME ELEMENTOS PROBATÓRIOS ACOSTADOS AOS AUTOS. COMPROVADA, TAMBÉM, A REQUISIÇÃO DE RESTITUIÇÃO DOS RESPECTIVOS VALORES À APELANTE. ALEGAÇÃO DE QUE O RESSARCIMENTO NÃO OCORREU POR INOBSERVÂNCIA DE NORMAS INTERNAS DO PROCEDIMENTO DE REEMBOLSO, BEM COMO DE INDISPONIBILIDADE DAS EMBARCAÇÕES DURANTE O EVENTO DE PRATICAGEM. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA PELA APELANTE DAS FATURAS COLACIONADAS AOS AUTOS. EXCLUSÃO DA COBRANÇA DAS DESPESAS REFERENTES AOS PERÍODOS DE INDISPONIBILIDADE DAS EMBARCAÇÕES. AUSÊNCIA DE PROVA DE QUE A NEGATIVA DE RESTITUIÇÃO SE DEU POR QUALQUER DOS MOTIVOS SUSCITADOS, ÔNUS QUE INCUMBIA AO RECORRENTE, POR FORÇA DO ART. 373, II DO CPC. ALEGAÇÃO DE PRESCRIÇÃO PARCIAL DA DÍVIDA QUE NÃO MERECE ACOLHIMENTO. ARTIGO 206, §5º, I DO CÓDIGO CIVIL. DESPROVIMENTO DO RECURSO.

(TJRJ, Apelação Cível. 0152679-84.2017.8.19.0001– Des. Maria Da Gloria Oliveira Bandeira De Mello - 20ª Câmara Cível. J. 05/06/2019). 2.32 Trata-se de Ação Monitória proposta por FAROL APOIO MARITÍMO LTDA em face de PETRÓLEO BRASILEIRO S.A.- PETROBRAS relativa aos aditivos de cessão contratual formalizados em março e novembro de 2013, cujo objeto é a prestação de serviços de apoio às embarcações afretadas "DEVIN CANDIES" e "KELLY CANDIES". Alega que nos referidos contratos contêm cláusula que imputam a Ré a responsabilidade por custear determinadas despesas que, se pagas pela Autora, deveriam ser posteriormente eembolsadas mediante apresentação das notas fiscais e demais documentos probatórios. Que em razão das inúmeras movimentações efetuadas pelas embarcações afretadas "DEVIN CANDIES" e "KELLY CANDIES" por diversos portos, por força de lei, à obrigatoriedade da contratação dos serviços de praticagem, configuram-se como reembolsáveis pela Ré, assim, após efetuar os pagamentos pelos serviços de praticagem, a autora submeteu à Ré solicitações de reembolso. No entanto, a ré não efetuou o reembolso de algumas despesas, cujo valor atualizado atinge o montante de R$ 419.525,15 (quatrocentos e dezenove mil, quinhentos e vinte e cinco reais e quinze centavos). Destaca que após infrutíferas tratativas de reembolso pela via administrativa, não restou outraalternativa à Autora

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que não ajuizar a presente ação a fim de que seja reembolsada pelo pagamento efetuado, em cumprimento às cláusulas 4.3, 4.3.1 e 8.2.1 dos Contratos. Com a inicial vieram os documentos de fls. 11/982. Citado para pagar ou apresentar Embargos, nos termos do art. 701 do CPC, o réu opôs embargos às fls. 1004/1023, arguindo, preliminarmente, a incompetência absoluta do Juízo, uma vez que a demanda não versa sobre causa relacionada a Direito Marítimo, de competência das Varas Empresariais, conforme o art. 91, I, g, do CODJERJ, requerendo a livre distribuição da demanda a uma das Varas Cíveis desta Comarca. No mérito, aduz em síntese, que é o tramite e a praxe comercial exercida pela PETROBRAS desde sempre, e de pleno conhecimento da autora, inclusive com anuência tácita e expressa por seu representante em diversas ocasiões, denominado FALCÃO EXPRESS, quando da retirada e ciência em relação à disponibilidade dos valores pela ré, mediante a Folha de Registro de Serviços(FRS): 1. todas as contratadas, bem como a ora autora, apresentam as notas fiscais dos serviços de praticagem utilizados, e a este procedimento é designado de Solicitação de Reembolso (SR); 2. o órgão específico da ré analisa de forma minuciosa e confere toda documentação recebida e atesta as praticagens que foram utilizadas nos respectivos períodos; 3. após toda análise e ateste da operação, a gerência específica do contrato relacionado às notas fiscais, e a própria praticagem realizada, requer à gerência de fiscalização dos contratos para que seja efetuado o pagamento dos reembolsos devidos e comprovados; 4. posteriormente, após toda conferência, à fiscalização comunica à contratada que está providenciando o reembolso mediante a Folha de Registro de Serviços (FRS); 5. depois destes tramites, ressalte-se, que sempre foi de pleno conhecimento da autora (e de todas as contatadas que operam com a PETROBRAS), e após das emissões das FRS, a gerência do contrato libera o pagamento com a entrega do documento físico à contratada, com a respectiva comunicação, para que esta protocolize no setor respectivo da ré e efetue o recebimento dos valores que fazem jus. Alega que a empresa FALCÃO EXPRESS, representante da autora, conforme comprovado pela chancela e carimbo nos Relatórios de Reembolso recepcionou e informou a autora quanto à viabilidade de recebimento dos reembolsos, mediante o procedimento exposto, sendo que majoritariamente todos os atestes do citado representante ocorreram em 14/06/2017, e a decisão inicial desta Ação Monitória ocorreu em 13/06/2017. Afirma que a autora era sabedora, desde 14/06/2017 que os valores majoritariamente, conforme oprocedimento comercial de praxe da ré, seriam disponibilizados e reembolsados tempestivamente, dentro da mais estrita e sagrada boa-fé. Talvez, por equívoco ou falha de comunicação entre a autora e seu representante, não obteve tempo hábil para comunicar a referida

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disponibilidade eevitar esta demanda e desgaste de um embate judicial. Manifestação do autor, às fls. 1055/1067, em que salienta não ter a Ré impugnado os cálculos apresentados e nem as datas de vencimento do pagamento reclamado, alegando, no mérito, apenas que os valores pleiteados desde 2013 se encontravam em processamento para pagamento. Requer seja afastada a alegação de incompetência absoluta das Varas Empresariais, uma vez que a presente demanda versa sobre Contrato Marítimo. Alega que a apresentação dos Embargos à Ação Monitória em tela teria sido realizada de forma intempestiva, porque as indisponibilidades no sistema, citadas pela Ré dizem respeito a "dificuldades no peticionamento", de modo que não houve nenhum prejuízo ao acesso aos presentes autos, além de somente haver prorrogação/suspensão quando a indisponibilidade no sistema ocorrer no último dia do prazo processual. Quanto ao mérito da ação, defende que a única alegação da Ré é que a Autora estava ciente da existência de processo administrativo da Petrobras para análise das Solicitações de Reembolso. Contudo, tal alegação beira a má-fé, eis que as despesas ora reclamadas se arrastam desde 2013, sem nenhuma resposta da Petrobrás.É O RELATÓRIO. PASSO A DECIDIR. II – FUNDAMENTAÇÃO DAS PRELIMINARES. De início, no que concerne a competência, verifica-se que a presente ação diz respeito à Direito Marítimo, pois trata-se de Contrato de Afretamento de Embarcação e Reembolso da Contratação dos Serviços de Praticagem, previsto no art. 50, I, h, 7, da LODJ, que fixa competência das varas empresariais. Dessa forma, rejeito a preliminar de incompetência absoluta. Nesse sentido: "CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO CAUTELAR VISANDO QUE A PETROBRÁS SE ABSTENHA DE REALIZAR DEDUÇÕES SOBRE OS RECEBÍVEIS, ORIUNDO DO CONTRATO DE AFRETAMENTO MARÍTIMO CELEBRADO ENTRE AS PARTES, A TÍTULO DE MULTA MORATÓRIA. TRATA-SE DE QUESTÕES RELATIVAS AO CONTRATO DE AFRETAMENTO MARÍTIMO, DE COMPETÊNCIA DA VARA EMPRESARIAL, DE ACORDO COM O ARTIGO 50 DA LEI 6.956, DE JANEIRO DE 2015. PRECEDENTE DESTA CORTE DE JUSTIÇA. PROCEDÊNCIA DO CONFLITO, PARA DECLARAR A COMPETÊNCIA DO JUÍZO SUSCITADO. (0016817-13.2018.8.19.0000 - CONFLITO DE COMPETÊNCIA Des(a). ANTONIO CARLOS DOS SANTOS BITENCOURT - Julgamento: 29/08/2018 – VIGÉSIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL)" "APELAÇÃO CÍVEL. MONITÓRIA. CONTRATO DE AFRETAMENTO. TÍTULO HÁBIL A INSTRUIR A ESPÉCIE DE FEITO. COMPETÊNCIA DAS VARAS EMPRESARIAIS DA COMARCA DA CAPITAL PARA DIRIMIR A CONTROVÉRSIA. PACÍFICO ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL. PREVISÃO NO AJUSTE DE RESPONSABILIDADE DA CONTRATADA POR DESPESAS PORTUÁRIAS E RELATIVAS À LIMPEZA DE TANQUES E SILOS DA EMBARCAÇÃO. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA MANTIDA. DESPROVIMENTO DO RECURSO. (0429312-

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89.2016.8.19.0001 - APELAÇÃO Des(a). EDUARDO DE AZEVEDO PAIVA - Julgamento: 02/05/2018 - DÉCIMA OITAVA CÂMARA CÍVEL)" Quanto a alegação da intempestividade dos Embargos à Monitória suscitada pela parte autora, nada a prover, uma vez que, conforme se verifica à fl. 1076, nos dias 03 e 04 de julho de 2017 houve suspensão dos prazos processuais dos processos eletrônicos nos 1º e 2º graus de jurisdição, em todas as Comarcas do Estado do Rio de Janeiro, na forma dos Atos Executivos TJ nº 189 de 03/07/17 e nº 191 de 04/07/17. DO MÉRITO. A ação monitória, nos termos do art. 700 e seguintes do CPC, é cabível ao credor que, com base em prova escrita, sem eficácia de título executivo, pretende receber quantia em dinheiro ou entrega de coisa fungível ou de determinado bem móvel ou imóvel e o adimplemento da obrigaçãode fazer ou não fazer, cabendo ao réu, com a citação, pagar o valor ou entregar a coisa ou apresentar embargos, impugnando a pretensão, sob pena do crédito se constituir título executivo judicial. O presente feito consiste em Ação Monitória em que o Autor busca satisfazer o seu crédito, no valor de R$ 419.525,15 (quatrocentos e dezenove mil, quinhentos e vinte e cinco reais e quinze centavos). Em razão da expedição do Mandado Monitório, em 27/07/2017, a Ré efetuou o pagamento administrativamente de R$ 255.838,00 (duzentos e cinquenta e cinco mil oitocentos e trinta e oito reais) correspondente ao valor histórico das Solicitações de Reembolso n° 010/2016, 011/2016, 014/2016, 016/2016, 017/2016, 019/2016, 020/2016, 025/2016, 009/2016, 012/2016, 013/2013, 015/2016, 018/2016, 021/2016, 023/2016, 024/2016 e 026/2016, restando o pagamento da quantia de R$190.111,40 (cento e noventa mil cento e onze reais e quarenta centavos), acrescidos de juros legais e honorários advocatícios, decorrentes da correção monetária referente às Solicitações de Reembolso n° 010/2016, 011/2016, 014/2016, 016/2016, 017/2016, 019/2016, 020/2016, 025/2016, 009/2016, 012/2016, 013/2013, 015/2016, 018/2016, 021/2016, 023/2016, 024/2016 e 026/2016; ao pagamento das Solicitações de Reembolso n° 022/2016, 027/2016, 029/2016, 088/2014 e 028/2016; e ao reembolso das custas e despesas processuais. A ré, em sede de Embargos Monitórios, alega, genericamente, que a autora era sabedora, desde 14/06/2017 que os valores majoritariamente, conforme o procedimento comercial de praxe da ré, seriam disponibilizados e reembolsados tempestivamente, dentro da mais estrita e sagrada boa-fé. Como a Ré não impugnou, em seus Embargos, os valores ou os documentos apresentados pela Autora ou mesmo o seu dever de reembolsar os custos com praticagem incorridos durante o período do contrato, alegando apenas que os valores se encontram em processamento. Resta, portanto, incontroversa a obrigação da Ré de reembolsar o montante despendidos pelaAutora, ressaltando-se a demora na efetivação dos pagamentos, vistos

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que foi ultrapassado, em muito, o prazo para o cumprimento da obrigação.III- DISPOSITIVO. Isto exposto, julgo procedente o pedido, constituindo de pleno direito o restante do crédito devido, cujo valor é de R$ 190.111,40 (cento e noventa mil cento e onze reais e quarenta centavos) em título executivo judicial, acrescidos de juros legais e correção monetária. Condeno a ré ao pagamento das custas e honorários advocatícios, fixados em 10% sobre o valor da causa.P.R.I. Após o trânsito em julgado, dê-se baixa e arquive-se.

(RJ. 0144846-15.2017.8.19.0001– 3ª Vara Empresarial. Juiz Luiz Alberto Carvalho Alves. Data: 27/11/2018). 2.33 DIREITO MARÍTIMO. AFRETAMENTO DE EMBARCAÇÃO. RESCISÃO CONTRATUAL. DECISÃO AGRAVADA QUE DEFERIU A SUSPENSÃO DE COBRANÇA DE MULTA CONTRATUAL E EVENTUAL COMPENSAÇÃO EM OUTROS CONTRATOS PACTUADOS ENTRE AS PARTES. ALEGAÇÃO DE INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA DO JUÍZO EMPRESARIAL E NÃO PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS DA TUTELA DE EMERGÊNCIA. DESCABIMENTO. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL E PRESERVAÇÃO DA EMPRESA. É competente o foro da vara empresarial quando se discutem cláusulas e obrigações decorrentes de um contrato de afretamento marítimo celebrado entre as partes. O referido contrato é instituto integrante do ramo da Ciência Jurídica a que se dá o nome de Direito Marítimo. - A cobrança de multa por inadimplemento contratual se estendeu além do prazo da solicitação de rescisão contratual requerida pela agravante. Tal fato, por si só, acarreta flagrante perigo de dano à parte autora/agravada, tendo em vista o alto valor cobrado. - Eventual cobrança indevida de multa contratual poderá afetar seriamente o desenvolvimento da atividade empresarial da agravada, o que viola os princípios da função social e da preservação da empresa. Isto porque, ao contrário do que sustentou a agravante, a ora agravada demonstrou sim, em sua inicial, que a cobrança ilícita de multa contratual no valor de mais de 3 milhões de reais poderia comprometer o bom funcionamento de suas atividades e, principalmente, a manutenção de postos de trabalho e a remuneração de seus empregados (que chegam a quase 400 funcionários). - Nesse contexto, embora implicitamente demarcado na Constituição Federal de 1988 que inaugurou, nos termos do seu art. 170, caput, uma ordem econômica fundada na livre iniciativa e na valorização do trabalho humano (o que demonstra, nitidamente, a importância da manutenção da empresa), importante enfatizar a mudança da perspectiva contratualista para a concepção institucionalista das empresas, após a edição da lei 11.101/05 (lei

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de recuperação e falências). - Cabe anotar, ainda, que o princípio da preservação da empresa não pode ter a sua aplicação restrita tão somente à superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, tal como poderia se concluir da leitura isolada do art. 47 da lei 11.101/05, mas também à ideia de função social da empresa e à capacidade econômica da sociedade empresária, relativa ao exercício da atividade empresarial, assumindo, assim, a feição de nítido limite aos abusos contratuais. NEGADO PROVIMENTO AO RECURSO.

(TJRJ, Agravo de Instrumento. 0066472-85.2017.8.19.0000 – Des(a). Flavia Romano de Rezende - 17ª Câmara Cível. J. 18/04/2018).

2.34 AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DECLARATÓRIA C/C OBRIGACIONAL. CONTRATO DE AFRETAMENTO DE EMBARCAÇÕES REALIZADO COM EMPRESAS QUE NÃO INTEGRAM A LIDE. AGRAVADA QUE CELEBROU CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS PARA OPERACIONALIZAÇÃO DAS EMBARCAÇÕES. NÃO HÁ QUE SE FALAR EM NULIDADE DE DECISÃO. A DISCUSSÃO TEM SEDE NAS CLÁUSULAS E CONDIÇÕES DE CONTRATO DE AFRETAMENTO MARÍTIMO, ATRAINDO, POIS, A COMPETÊNCIA FUNCIONAL DO JUÍZO EMPRESARIAL. AS PRINCIPAIS CONTRATADAS DA SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA PARA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS DE AFRETAMENTO DAS EMBARCAÇÕES ERAM A VARADA MARINE, VEGA AS E MARITIME, AS QUAIS TINHAM POR NECESSIDADE A SUA REPRESENTAÇÃO POR EMPRESA DE NAVEGAÇÃO BRASILEIRA, MOTIVO PELO QUAL CONTRATARAM OS SERVIÇOS PRESTADOS PELA AGRAVADA. COM BASE NA CLÁUSULA DE SOLIDARIEDADE, A PETROBRÁS DIRECIONOU OS DESCONTOS DE EXCESSO DE CONSUMO DE COMBUSTÍVEL DE RESPONSABILIDADE DAS FRETADORAS APENAS EM FACE DA AGRAVADA, QUE ALEGA ABUSIVIDADE DE TAL CONDUTA, POIS A MESMA ESTARIA SE VALENDO DE SEU PODERIO ECONÔMICO PARA IMPOR CLÁUSULAS DESVANTAJOSAS. TUTELA INIBITÓRIA PARA IMPEDIR A REDUÇÃO DOS CRÉDITOS DA EMPRESA AUTORA. DECISÃO NÃO TERATOLÓGICA, NEM CONTRÁRIA À LEI OU À EVIDENTE PROVA DOS AUTOS. NÃO HÁ QUALQUER PREJUÍZO NO FATO DE A AGRAVANTE CUMPRIR A TUTELA DEFERIDA, UMA VEZ QUE, CASO COMPROVE, NO CURSO DO PROCESSO, A REGULARIDADE DO DÉBITO LANÇADO, PODERÁ COBRÁ-LO DA PARTE AGRAVADA PELOS MEIOS PRÓPRIOS. PRECEDENTES DESSA CORTE EM CASOS SIMILARES. RECURSO DESPROVIDO.

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(TJRJ, Agravo de Instrumento. 0065327-91.2017.8.19.0000– Des(a). Odete Knaack de Souza - 20ª Câmara Cível. J. 27/11/2019). 2.35 APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO MARÍTIMO. CONTRATO DE AFRETAMENTO DE UNIDADE DE MANUTENÇÃO E SEGURANÇA. PRELIMINAR DE INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA DO JUÍZO DE ORIGEM. NÃO ACOLHIMENTO. CONTRATO TÍPICO DE DIREITO MARÍTIMO. COMPETÊNCIA DOS JUÍZES DE DIREITO EM MATÉRIA EMPRESARIAL. INTELIGÊNCIA DO ART. 50, I, H DA LEI DE ORGANIZAÇÃO E DIVISÃO JUDICIÁRIAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. MÉRITO. RESCISÃO UNILATERAL PELA CONTRATANTE ANTES DO TERMO FINAL ACORDADO. CONTRATO POR PRAZO DETERMINADO. ENCERRAMENTO DO CONTRATO EM RAZÃO DE LIMITE MÁXIMO DE PAGAMENTO QUE NÃO ENCONTRA AMPARO NO INSTRUMENTO CELEBRADO ENTRE AS PARTES. UNIDADE QUE PERMANECEU À DISPOSIÇÃO DA CONTRATANTE ATÉ O TERMO FINAL DETERMINADO. INDENIZAÇÃO DEVIDA. SENTENÇA MANTIDA.

(TJRJ, Apelação Cível 0087928-88.2017.8.19.0001– Des.Luiz Fernando Pinto -25ª Câmara Cível. J. 27/02/2018).

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Presentes em todo e qualquer porto, os agentes marítimos prestam assistência e proveem às necessidades dos navios que ali fazem escala, atuando como agentes do armador sob a natureza de um mandato. Não são raras as vezes em que o agente marítimo acaba sendo equivocadamente apontado como sujeito passivo de autuações administrativas, fiscais, sanitárias ou mesmo demandas judiciais por atos que somente poderiam ser atribuíveis ao armador. É importante se ter cautela ao se definir o sujeito que deverá ocupar o pólo passivo de determinada causa ou autuação, posto que a ilegitimidade do agente marítimo para responder por atos do armador é hipótese de extinção do feito, conforme já preconizado pela Jurisprudência.

a) Agente Marítimo – Relação jurídica com natureza de mandato –

Ilegitimidade passiva para responder por ato do armador/transportador

3.1 AGRAVO DE INSTRUMENTO. PENHORA DE EMBARCAÇÃO. POSTERIOR SUBSTITUIÇÃO POR CAUÇÃO DOS CRÉDITOS DETIDOS PELA RÉ COM A AMERICAN EXPRESS. 1. O agravante alega que a responsabilidade pelo pagamento do serviço prestado pela agravada é do agente marítimo contratado. 2. O agente marítimo atua como mandatário mercantil do proprietário do navio, do armador, do gestor ou do afetador/transportador, recebendo poderes para, em nome daqueles praticar atos e administrar seus interesses de forma onerosa. (REsp 246107/RJ). 3. A natureza jurídica desta relação é de mandato mercantil. 4. A responsabilidade perante terceiros é do mandante, ressalvado o direito de regresso. 5. Nesse contexto, a alegação de ilegitimidade passiva não merece prosperar. 6. Ademais, ao apreciar as provas coligidas nos autos, o juízo a quo, atento ao princípio do livre convencimento motivado, entendeu que ficou comprovada a existência da dívida e a relação jurídica entre as partes, além do perigo na demora do provimento jurisdicional diante do fato de não ter a requerida bens no Brasil que possam garantir futura cobrança ou

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execução do crédito. 7. Exame perfunctório próprio da via estreita do presente recurso, no qual se verificam presentes os requisitos necessários à concessão da liminar possessória. 8. Súmula n° 58 do E. TJRJ. RECURSO DESPROVIDO. (TJRJ, Agravo De Instrumento: 0013173-33.2016.8.19.0000, Relator Des(a). Fernando Cerqueira Chagas, Décima Primeira Câmara Cível - Julgamento: 13/07/2016) 3.2 APELAÇÃO. AÇÃO DE RESSARCIMENTO POR SUB-ROGAÇÃO. TRANSPORTE MARÍTIMO. AGENTE MARÍTIMO. ILEGITIMIDADE PASSIVA. EXTINÇÃO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO. Extravio de parte da mercadoria transportada. Seguradora que pleiteia, em ação regressiva, o pagamento da quantia despendida por força do contrato de seguro, pois sub-rogada nos direitos da segurada. Ré que atuou como agente marítimo, em decorrência de substabelecimento a ela conferido pela representante legal da transportadora estrangeira no Brasil. Havendo representante legal da transportadora estrangeira no Brasil, a ré, agente marítimo e simples mandatária com poderes específicos para atendimento ao navio no Porto de Santos, não é parte legítima para figurar no pólo passivo Ilegitimidade passiva ad causam reconhecida. Extinção sem resolução do mérito. Sentença mantida. Apelo improvido. (TJSP, AC: 0036398-94.2009.8.26.0562, Relator: Salles Vieira, 24ª Câmara De Direito Privado, Data de Publicação: 17/12/2013) 3.3 APELAÇAO CÍVEL. PRELIMINAR DE NULIDADE DA SENTENÇA REJEITADA. DIREITO MARÍTIMO. RESPONSABILIDADE DO AGENTE MARÍTIMO PELAS DESPESAS DECORRENTES DO INGRESSO DA EMBARCAÇAO AO PORTO. INEXISTÊNCIA. MERO MANDATÁRIO DO ARMADOR A QUEM DEVE SER IMPUTADA A RESPONSABILIDADE. RECURSO PROVIDO. (...) 2- O conceito de agente marítimo se encaixa nos moldes da figura do mandato, posto que sua atuação é a de representar uma atividade empresarial. Assim, entende-se por agente marítimo aquele que em representação do proprietário, armador, do gestor ou do afretador, ou de alguns destes simultaneamente, se encarrega de despachar o navio em porto e das operações comerciais a que o mesmo destina, bem como assistir o capitão na prática dos atos jurídicos e materiais necessários à conservação do navio e a continuação da viagem. 3- O agente marítimo não é o afretador do navio, não manuseia a carga, não

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executa o transporte e muitos menos tem poder de ingerência sobre a navegação atividade afeta exclusivamente ao armador, razão pela qual não pode ser responsabilizado por atos praticados no exercício de seu ofício nem pelos atos do armador. Antes, exerce atividade estritamente mandatária e como tal fala e age em nome e por conta do armador (mandante). Logo, é o armador quem irá contrair obrigações e adquirir direitos como se pessoalmente tivesse tomado parte no negócio jurídico. 4- O agente marítimo não pode ser responsabilizado pelos atos do armador, dentre os quais está o pagamento pelos serviços portuários, ainda mais quando inexistentes nos autos prova de ter sido ele quem requisitou em seu nome e por sua conta e risco os serviços cujos débitos estão sendo cobrados. (TJES, AC: 24990055709 ES, Relator: Catharina Maria Novaes Barcellos, Quarta Câmara Cível, Data de Publicação: 04/08/2009) 3.4 RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE DO AGENTE MARÍTIMO. ART. 2º, INCISO VII, DO DECRETO Nº 19.473/30. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 211/STJ. DIREITO COMERCIAL. MANDATO MERCANTIL. AGENTE MARÍTIMO COMO MANDATÁRIO DO ARMADOR (MANDANTE). ART. 140 DO CÓDIGO COMERCIAL. RESPONSABILIDADE DO MANDATÁRIO PERANTE TERCEIROS. IMPOSSIBILIDADE. DESFIGURAÇÃO DA NATUREZA JURÍDICA DO MANDATO MERCANTIL. AFASTADA A RESPONSABILIDADE DO AGENTE MARÍTIMO PERANTE TERCEIROS. (...) 2. O agente marítimo atua como mandatário mercantil do armador e tem confiada a ele a função de armador, recebendo poderes para, em nome daquele, praticar atos e administrar seus interesses de forma onerosa (art. 653 do Código Civil). Assim, a natureza jurídica da relação entre o agente marítimo perante o armador é a de mandato mercantil. 3. O mandatário não tem responsabilidade pelos danos causados a terceiros, pois não atua em seu próprio nome, mas em nome e por conta do mandante. 4. O agente marítimo, como mandatário mercantil do armador (mandante), não pode ser responsabilizado pelos danos causados a terceiros por atos realizados a mando daquele, quando nos limites do mandato. Precedentes do STJ. (...) 6. Recurso especial não provido. (STJ, REsp: 246107 RJ 2000/0006240-5, Relator: Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma, Data de Publicação: DJe 07/03/2012)

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3.5 PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO – RECURSO ESPECIAL – NÃO-INDICAÇÃO DOS DISPOSITIVOS DE LEI FEDERAL VIOLADOS – SÚMULA 284/STF – INFRAÇÃO SANITÁRIA COMETIDA A BORDO DE NAVIO – AGENTE MARÍTIMO – INEXISTÊNCIA DE RESPONSABILIDADE – PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. (...) 2. As conseqüências advindas da imposição de multa administrativa devem, em regra, recair sobre a pessoa do infrator. Apenas excepcionalmente se admite a transmissibilidade da multa, fenômeno cuja ocorrência depende de autorização legal. 3. O agente marítimo, embora seja representante do navio em terra, não exerce qualquer tipo de controle sobre o armador ou capitão. 4. Conquanto tenha, a princípio, o poder de coagir seu representado ao pagamento da multa, valendo-se, para tanto, das garantias legais e contratuais eventualmente estabelecidas, não pode o agente marítimo ser responsabilizado por infração sanitária cometida pelo armador ou capitão, porque, para isso, não existe previsão legal. 5. Dever de observância do princípio da legalidade pela Administração Pública na aplicação de penalidades administrativas. 6. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido. (STJ, Resp 731226/PE, Relator: Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, Data de Julgamento: 20/09/2007) 3.6 ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. AGENTE MARÍTIMO. INFRAÇÃO TRABALHISTA. RESPONSABILIZAÇÃO DO AGENTE MARÍTIMO POR INFRAÇÃO SANITÁRIA COMETIDA PELO ARMADOR. DESCABIMENTO. 1. O agente marítimo, na condição de responsável pela intermediação de contratos de transporte, não tem poder de gestão sobre a embarcação e não possui responsabilidade pelos negócios do armador, que explora comercialmente uma embarcação mercante, sendo ou não seu proprietário. 2. A infração trabalhista apurada no interior de navio não pode ser imputada ao agente, pois inexiste nexo de causalidade entre a sua conduta e o resultado danoso. Aplicação analógica do art. 3º da Lei 6.437/77. 3. A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça firmou orientação no sentido de não admitir a responsabilização do agente marítimo por infração administrativa cometida pelo descumprimento de dever que a lei impôs ao armador. 4. Recurso especial não provido. (STJ, REsp: 1217083 RJ, Relator: Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 04/03/2011)

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3.7 APELAÇÃO. Ordinária. Indenizatória. Apelo que foi ratificado após decisão proferida nos embargos declaratórios. Intempestividade que se afasta. Agravos retidos que se rejeitam: apresentada contradita e indagado às testemunhas acerca do alegado impedimento, embora houvessem admitido anterior vínculo com a ré, negaram que ainda o mantivessem; diante da negativa, à apelante incumbia, a teor do art. 414, § 1º, do CPC, provar a contradita, o que não fez. Nulidade da sentença que também se afasta, dado que atendeu aos requisitos do art. 458 do código de ritos; embora sucinta, a fundamentação evidencia a razão de decidir adotada. Do objeto social da apelante não se extrai que exercesse a atividade de representante comercial. Contrato de agenciamento marítimo que não se confunde com o de representação comercial, dado que naquele a relação estabelecida entre o armador e o agente marítimo é a de mandato. Inaplicabilidade da Lei nº 4.886/65, que prevê indenização para os casos de resilição unilateral. Verba honorária fixada em consonância com o art. 20, § 4º, do CPC. Desprovimento de ambos os recursos. (TJRJ, Apelação nº 0262352-27.2008.8.19.0001, Relator Des. Jesse Torres, Segunda Câmara Cível, Data de Publicação: 20/09/2011) 3.8 Por outro lado, insuperável a preliminar de ilegitimidade passiva, porque a empresa brasileira ré figura como simples agente marítimo e o fundamento do pedido da autora é defeito na prestação de serviços do transporte efetivado pela empresa estrangeira “CMA CGM S/A”. (TJSP, Processo nº 0032212-23.2012.8.26.0562, Juiz Dario Gayoso Junior, 8ª VARA CÍVEL, j. 05/07/2013) 3.9 Comercial. O agente marítimo representa o transportador marítimo, tendo mandato legal para receber citação contra este dirigida, relativamente a carga despachada ou descarregada no porto em que se situa. Doutrina assente nesse sentido. Interpretação razoavel da lei. (...) o que se tem que distinguir é que o agente marítimo não pode ser acionado ele próprio, como responsável pela indenização. Responde a ação em nome do comitente. As vezes cometem-se enganos nesse ponto, por se pretender acionar o agente marítimo em nome próprio. Isso não é possível. (STF, RE 87.138, Rel. Ministro Décio Miranda, Data de Julgamento: 15.05.79, RTJ 90/1.008)

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3.10 ADMINISTRATIVO. INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS (IBAMA). AUTO DE INFRAÇÃO. DERRAMAMENTO DE ÓLEO. AGÊNCIA MARÍTIMA. RESPONSABILIDADE DO MANDANTE, PROPRIETÁRIO DO NAVIO. 1. Existindo contrato (mandato mercantil) firmado entre a impetrante e o proprietário do navio, no qual a mandatária age em nome do mandante, como mera representante do dono da embarcação, não pode ser a agência marítima responsabilizada por danos decorrentes de derramamento de óleo pelo navio. 2. Sentença confirmada. 3. Remessa oficial desprovida. (TRF1, REOMS: 0004154-54.2000.4.01.3700, Relator: Desembargador Federal Daniel Paes Ribeiro, Sexta Turma, e-DJF1 06/09/2010, p.26) 3.11 ILEGITIMIDADE AD CAUSAM. Execução fiscal. Multa. Poluição Ambiental. Derramamento de óleo por navio. Demanda proposta contra mero agente marítimo. Inadmissibilidade. Ausência de qualquer participação com o sinistro. Responsabilidade que deve ser atribuída ao proprietário. Em ação de execução fiscal, deve ser responsabilizado pelo pagamento da multa decorrente de poluição ambiental o proprietário do navio de onde foi derramado o óleo poluidor. O mero agente marítimo é parte ilegítima para responder à demanda, tendo em vista que não teve qualquer participação direta com o sinistro. (TJSP, Apelação nº 834.209-4, Relator Cardoso Neto, 9ª Câmara Cível, j. 09/04/02) 3.12 ADMINISTRATIVO – MULTA – AUTUAÇÃO PELA ENTRADA IRREGULAR DE ESTRANGEIRO NO PAÍS – AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE DO AGENTE MARÍTIMO – INFRAÇÃO COMETIDA PELO ARMADOR. 1. Não se pode apenar o agente marítimo por irregularidade praticada pelo armador, já que aquele age apenas como mandatário deste, sem qualquer confusão de papéis. 2. Conclui-se, portanto, que a agravante não trouxe a esta Corte qualquer argumento capaz de infirmar o entendimento proferido pela decisão agravada. Agravo regimental improvido. (STJ, AgRg no REsp 1055650/RJ, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 11/05/2009)

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3.13 Agravo de instrumento Medida cautelar de arresto Decisão agravada que deferiu liminarmente o arresto de navio de propriedade da agravante em razão de suposta dívida oriunda de contrato de prestação de serviços pactuado pelas partes na Romênia. Partes estrangeiras sem domicílio no Brasil. Obrigação a ser cumprida no exterior. Ação que não se origina de ato ou fato praticado no país. Inteligência dos incisos do art. 88, do CPC. Reconhecimento, de ofício, da incompetência absoluta da justiça brasileira para o exame da causa por ser matéria de ordem pública (art. 267, inc. IV, do CPC). Agente marítimo que não se qualifica como filial, sucursal ou agência da empresa ré por não ser um de seus estabelecimentos comerciais. Agente marítimo que é contratado para prestar serviços relativos à adequada permanência da embarcação no porto, à contratação de carga e seu transporte. Ausência, ademais, de convenção internacional ratificada pelo Brasil que preveja a possibilidade da justiça brasileira conhecer de ação de arresto de navio estrangeiro decorrente de dívidas assumidas no exterior por partes estrangeiras. Incidência, no presente caso, do art. 482, do Código Comercial. Ademais, ainda que não reconhecida a incompetência, seria caso de extinção da demanda sem julgamento do mérito em virtude da existência de cláusula compromissória de arbitragem no contrato firmado entre as partes (art. 267, inc. VII). Recurso provido. (TJSP, Agravo de Instrumento 0150246-91.2012.8.26.0000; Relator Morais Pucci; 27ª Câmara de Direito Privado; Data do Julgamento: 31/07/2012;) b) Agente Marítimo – Inexistência de solidariedade com o

armador/transportador 3.14 Apelação – Transporte marítimo – Avaria de carga – Ação regressiva ajuizada por seguradora – Legitimidade passiva – Agente marítimo – Personagem que atua como mero mandatário do transportador marítimo e que, nessa condição, exerce a representação do mandante, em sendo ele pessoa jurídica estrangeira, nos termos do art. 75, X, do CPC – Representação essa que, a toda evidência, não traduz solidariedade do agente marítimo, nem tampouco o faz substituto processual do representado – Consequente ilegitimidade do agente marítimo para figurar no polo passivo de ações em que se reclame a responsabilidade do armador – Sentença de procedência da demanda reformada, com a proclamação da extinção do processo sem resolução do mérito – Julgamento não unânime. Dispositivo: Deram provimento à apelação, por maioria de votos.

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(TJSP, Apelação 1025766-79.2015.8.26.0562; Des. Ricardo Pessoa de Mello Belli; 19ª Câmara de Direito Privado; Julgamento: 27/11/2017) 3.15 DIREITO MARÍTIMO - APELAÇÃO CÍVEL RESPONSABILIDADE CIVIL - SINISTRO EM TRANSPORTE INTERNACIONAL DE BOBINAS DE AÇO DO BRASIL PARA OS ESTADOS UNIDOS. - AVARIAS DE PEQUENA MONTA COM REDUÇÃO DO PREÇO DA MERCADORIA - INDENIZAÇÃO PAGA PELO SEGURADOR - SUBRROGAÇÃO - AÇÃO EM FACE DO AGENTE MARÍTIMO - INEXISTÊNCIA DE SOLIDARIEDADE - A solidariedade não se presume, decorre da Lei ou da vontade das partes. - Ausência de norma legal ou acordo entre as partes quanto à responsabilidade solidária. - RESPONSABILIDADE DO TRANSPORTADOR RECURSO PROVIDO - SENTENÇA REFORMADA - EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO. (TJRJ, Apelação 2009.001.19203, 18ª Câmara Cível, Relator JDS. DES. Claudio Dell Orto, Data de publicação: 03/07/2009) 3.16 Direito Marítimo. Responsabilidade Civil. Sinistro em transporte marítimo internacional. Trigo a granel oriundo da Argentina. Avaria que torna o produto imprestável, em decorrência de vazamento de óleo no porão do navio. Indenização paga pelo segurador. Subrrogação. Ação movida em face do agente marítimo. Ilegitimidade passiva ad causam. Inexistência de responsabilidade solidária com o transportador, eis que esta não se presume, decorre da Lei ou da vontade das partes. Ausência de norma legal ou acordo entre as partes quanto à responsabilidade solidária. Responsabilidade do transportador. Não se concebe responsabilizar o agente marítimo pelas obrigações decorrentes do contrato de transporte internacional, sobretudo porque no caso em tela o transportador estrangeiro - WORTHINGTON BULK LTD. é representado no Brasil pela OCEANFREIGHT SERVICES LTDA, pessoa jurídica regularmente constituída e com sede no território nacional. Provimento do 1º apelo para julgar extinto o processo, sem apreciação do mérito, com esteio no art. 267, inciso VI do CPC, por ilegitimidade passiva ad causam da demandada, condenando-se o autor ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, arbitrados no percentual de 5% (cinco por cento) sobre o valor atribuído à causa. Desprovimento do 2º apelo. (TJRJ, Apelação n° 0025690-82.2007.8.19.0001, Relator: Des. Marcos Bento De Souza, Décima Segunda Câmara Cível, Data de Julgamento: 12/04/2011).

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c) Agente Marítimo – Ausência de nexo causal por dano ambiental atribuível ao armador

3.17 RECURSO ESPECIAL. ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIZAÇÃO DO AGENTE MARÍTIMO POR FALTA ADMINISTRATIVA ATRIBUÍDA AO PROPRIETÁRIO DO NAVIO. IMPOSSIBILIDADE. RECURSO ESPECIAL A QUE SE NEGA SEGUIMENTO. 1. Trata-se de Recurso Especial interposto pelo INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS IBAMA, com fundamento na alínea a do permissivo constitucional contra acórdão proferido pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região, assim ementado ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA SUPERINTENDENTE DO IBAMA. POSSIBILIDADE. AUTO DE INFRAÇÃO. DERRAMAMENTO DE ÓLEO. AGÊNCIA MARÍTIMA. RESPONSABILIDADE DO MANDANTE, PROPRIETÁRIO DO NAVIO 1. É parte legítima para figurar no pólo passivo de mandado de segurança a autoridade que executa, bem como a que pode desconstituir o ato impugnado. Sendo o Superintendente do IBAMA agente de hierarquia superior aos fiscais, cediça é a sua legitimidade/competência para desconstituir o auto de infração lavrado. 2. O contrato social jungido pelo Impetrante ratifica que ao mesmo somente cabem os serviços de agenciamento de navios de longo curso ou cabotagem nos portos brasileiros ou estrangeiros, administração de serviços de carga e descarga, estiva e desestiva de cargas de navios nacionais e estrangeiros, no serviço de longo curso e cabotagem, representação e proteção dos interesses de armadores e/ou fretadores e afretadores de navios nacionais e estrangeiros, peritagens marítimas em embarcações e cargas nacionais e estrangeiras, vendas de passagens aéreas e marítimas, de conformidade com a legislação vigente, não se inserindo, dentre os serviços prestados pelo Impetrado, a limpeza do tanque de slop. 3. O contrato celebrado entre o Impetrado e o proprietário do navio, cujo objeto deve estar inserido no contrato social do Impetrante, é um mandato mercantil, no qual a mandatária age em nome do mandante como mera representante do dono da embarcação. A agência marítima faz apenas a intermediação de contratos entre os navios e os terceiros sendo mandatária do proprietário, além de auxiliar a embarcação no porto, no que se refere a relações jurídicas que envolvem o armador, não podendo ser a agência marítima responsabilizada por danos decorrentes de derramamento de óleo pelo navio. 4. Sentença confirmada. (STJ, REsp: 1415094 – MA (2013/0362327-4), Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, 23.05.2017)

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3.18 (...) A Apelante alega sua ilegitimidade para responder pela autuação já que não dera causa ao VAZAMENTO DE ÓLEO, E TENDO ESTE SE DERIVADO DE NAVIO ESTRANGEIRO, a imputação deveria ser dirigida ao seu armador, sendo ela mera agente marítima. (...) O fato gerador da alegada infração não pode ser imputado ao agente marítimo, pois inexiste nexo de causalidade entre a sua conduta e o resultado danoso (...) Não se admite a responsabilidade do agente marítimo por infração administrativa cometida pelo descumprimento de dever que a lei impôs ao armador. Trata-se, a rigor, de matéria pacífica no âmbito do STJ (...) (TJRJ, Apelação nº 0084704-31.2006.8.19.0001, Des. Mário Dos Santos Paulo, 4ª Câmara Cível, Data de Julgamento: 03/08/2010) 3.19 EMBARGOS INFRINGENTES. DEGRADAÇÃO AMBIENTAL. NAVIO. DERRAMAMENTO DE ÓLEO. MULTA. COMPETÊNCIA LEGISLATIVA CONCORRENTE DO ESTADO E DA UNIÃO. COMPETÊNCIA ADMINISTRATIVA COMUM A TODOS OS ENTES DA FEDERAÇÃO. RESPONSABILIZAÇÃO DO AGENTE MARÍTIMO POR ATO DO ARMADOR. IMPOSSIBILIDADE. Sentença conjunta de improcedência da pretensão cautelar e da declaratória de nulidade da multa administrativa, reformada, por maioria, sob o fundamento de que a aplicação de multa ao agente marítimo pelo Estado, quando já aplicada multa ao armador pela União, configura indevida dupla punição. Voto vencido que entendia pela confirmação da sentença, uma vez que possível a cumulação das penalidades aplicadas pela União e pelo Estado, havendo responsabilidade solidária entre a apelante e o armador. (...) A competência para legislar sobre matéria ambiental é concorrente, por força do art. 24, inc. VI, da CRFB, sendo comum a competência para atuação administrativa na defesa do meio ambiente, nos moldes do art. 23, inc. VI e VII, da CRFB. Logo, induvidoso que o Estado do Rio de Janeiro é competente para a aplicação da multa ora impugnada. Precedente do eg. STJ a confirmar que o órgão estadual de fiscalização do meio ambiente tem competência para lavrar autos de infração e aplicar multas no caso de responsabilidade por derramamento de óleo no mar territorial brasileiro. No que pertine à possibilidade de responsabilização do agente marítimo pelo ato do armador, todavia, não resta melhor sorte ao embargante, pois aquele age apenas como mandatário do armador, não exercendo qualquer tipo de controle sobre ele, não havendo nexo de causalidade entre a sua conduta e o resultado danoso oriundo do derramamento de óleo, eis que fato estranho às suas atividades. Agente marítimo que não deu causa à infração ambiental, que foi praticada por preposto do armador, não pode ser por ela

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responsabilizado. Uníssona jurisprudência do eg. STJ no sentido do descabimento da transferência da responsabilidade do armador ao agente marítimo, quando o ato não lhe é próprio, mas sim cometido pelo armador. Específico precedente do eg. STJ acerca da impossibilidade de aplicação de multa ao agente marítimo em razão de derramamento de óleo ocasionado por embarcação marítima. Ausência de responsabilidade do agente marítimo por infração cometida pelo armador, a demonstrar que a sentença não merecia ser mantida. (...). (TJRJ, EI n° 0068328-38.2004.8.19.0001, Relator: Des. Celia Meliga Pessoa, Decima Oitava Camara Civel, Data de Julgamento: 17/11/2009) 3.20 PROCESSUAL CIVIL. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC. INOCORRÊNCIA. ADMINISTRATIVO. PODER DE POLÍCIA. INFRAÇÃO SANITÁRIA. EMBARCAÇÃO ESTRANGEIRA. AGENTE MARÍTIMO. AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE OBJETIVA. RECURSO PROVIDO. 1. A responsabilidade por infração sanitária cometida no interior de embarcação estrangeira atracada em Porto situado no Brasil não pode ser imputada ao agente marítimo se indemonstrado o nexo de causalidade entre a conduta e o resultado danoso, uma vez que, nos termos do art. 3º da Lei n.º 6.437/77, por não versar caso de responsabilidade objetiva, revela-se indispensável para a configuração do ilícito sanitário que o agente tenha dado causa ou concorrido para a prática da infração. 2. O Princípio da Legalidade estrita, que rege o Poder Sancionatório da Administração, impede a responsabilização do agente marítimo por infração sanitária apurada em decorrência do descumprimento de dever imposto por meio de lei ao armador ou proprietário do navio. 3. Precedentes das Primeira e Segunda Turmas do E. STJ: AgRg no REsp 1165103/PR, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 18/02/2010, DJe 26/02/2010; AgRg no REsp 1042703/ES, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 17/09/2009, DJe 23/09/2009; AgRg no REsp 981.545/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 18/08/2009, DJe 27/08/2009; AgRg no Ag 1039595/SC, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 09/09/2008, DJe 24/09/2008; AgRg no REsp 860.149/PB, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 18/10/2007, DJ 06/11/2007 p. 160; REsp 731.226/PE, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 20/09/2007, DJ 02/10/2007 p. 229; REsp 641.197/PE, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, julgado em 18/04/2006, DJ 04/09/2006 p. 232; REsp 640.895/PR, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 09/11/2004, DJ

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29/11/2004 p. 255. (...) 5. O agente marítimo, na condição de responsável pela intermediação de contratos de transporte, não tem poder de gestão sobre a embarcação e não possui responsabilidade pelos negócios do armador, que explora comercialmente uma embarcação mercante, sendo ou não sue proprietário. 6. Deveras, a infração sanitária apurada no interior do navio não pode, portanto, ser imputada ao agente uma vez que inexistente o nexo de causalidade entre a sua conduta e o resultado danoso, uma vez que ele não dá causa ou sequer concorre para infração como exige explicitamente o art. 3º, da Lei n.º 6.437/77: "O resultado da infração sanitária é imputável a quem lhe deu causa ou para dela concorreu". 7. É que a multa, como qualquer outra espécie de sanção administrativa, é instrumento de que se vale a Administração Pública para desestimular e punir a prática de condutas consideradas lesivas ao interesse da coletividade, motivo pelo qual, tal como ocorre com as infrações penais, deve recair sobre a pessoa do infrator que deverá suportar as consequências dela advindas. 8. A responsabilidade pela infração, só excepcionalmente, poderá recair sobre pessoa diversa sendo necessário, nestes casos, autorização legal neste sentido, albergando, assim, o fenômeno da transmissibilidade que, segundo Celso Antônio Bandeira de Mello (in “Curso de Direito Administrativo”., 22ª ed. São Paulo, Malheiros, p. 827), pode se dar quando "o sujeito a ser configurado como responsável dispõe de controle sobre o infrator, e precisamente por não havê-lo exercido de modo satisfatório é que foi possível a prática da infração" ou, nos casos em que "o sujeito qualificável como responsável dispõe de meios para constranger o infrator a se submeter ao pagamento da multa" 9. É cediço na Corte que: O agente marítimo, relata Danielle Machado Soares (SOARES, Danielle Machado. O agente marítimo e sua responsabilidade jurídica. In: Revista de Direito do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, n.º 63, abril/junho 2005, p. 52), surgiu como mero auxiliar dos capitães dos navios nos portos estrangeiros. Nessa função, apenas facilitava o trâmite e os despachos diante das autoridades locais e dos comerciantes. Com a evolução do comércio marítimo e o aumento da rotatividade das embarcações, passou a praticamente substituir os capitães no tocante às questões técnicas provenientes do negócio marítimo, tornando-se seu representante para atuar em seu nome, por sua conta e nos seus interesses. Hoje, a expressão agente marítimo ou ship broker denomina: ... pessoas encarregadas pelos armadores, ou por quem as suas vezes faça em cada caso particular, temporária ou permanentemente, do mandato de realizar as operações comerciais que originalmente corresponderiam ao capitão ou armador, nos portos de carga ou descarga, de ajudar o capitão em qualquer operação e de cuidar dos interesses do navio e da carga, não só perante as autoridades, mas também nas relações privadas (SOARES, Luiz

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Dantas de Souza Soares. Agente de navegação - responsabilidade civil. In: Revista de direito mercantil, n.º 34, abril/junho 1979, p. 54). O agente marítimo compromete-se a representar o navio em terra, praticando em nome do armador ou capitão os atos que esse teria de realizar pessoalmente. Vale-se, para isso, de contrato consensual, bilateral e oneroso que corresponde perfeitamente à ideia do mandato profissional, figura jurídica tratada no art. 658 do CC de 2002. Do exposto, fica evidenciado que, por meio do contrato de agenciamento, não exerce o agente qualquer tipo de controle sobre o armador ou capitão do navio, antes, do contrário, o armador e capitão do navio, na qualidade de "mandantes" são quem exerce "poderes" sobre o agente marítimo ("mandatário"), a partir dos poderes outorgados. Exclui-se, assim, a primeira hipótese de transmissibilidade da sanção administrativa. Por outro lado, seria possível ao agente coagir seu representado ao pagamento de eventual multa? A princípio, a resposta é afirmativa se se toma em conta que, como condição para a prestação do serviço de agenciamento, reveste-se o agente marítimo de algumas garantias, tais como a abertura de crédito bancário, ou o direito de retenção, pelo mandatário, do quanto baste do objeto da operação que lhe foi cometida para pagamento de tudo que lhe for devido em consequência do mandato, conforme previsão do art. 664 do CC. (RESP n.º 731.226/PE): 10. A inexistência de norma prevendo a obrigação do agente marítimo de exigir do armador ou capitão o cumprimento das normas sanitárias, não enseja descumprimento do dever de agir ou de omissão. (...) 12. Recurso especial parcialmente provido para reconhecer a nulidade do auto de infração sanitário lavrado em desfavor do agente marítimo. (STJ, REsp: 993712 RJ, Relator: Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, DJe 18/11/2010) d) Agente Marítimo – Impossibilidade de responsabilização por infração

sanitária cometida pelo armador – Ausência de previsão legal

3.21 TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIZAÇÃO DO AGENTE MARÍTIMO POR INFRAÇÃO SANITÁRIA COMETIDA PELO ARMADOR. DESCABIMENTO. I - O agente marítimo é contratado pelo armador de um navio mercante para atuar como intermediário entre este e a praça onde vai atracar. Já o armador é aquele que explora comercialmente uma embarcação mercante, sendo ou não seu proprietário. II – A aplicação de qualquer penalidade, seja tributária, seja administrativa, obedece ao princípio da legalidade, assim, não é admissível

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que o agente marítimo responda pelas infrações sanitárias cometidas pelo armador, por falta de previsão legal. III - Agravo regimental improvido. (STJ, AgRg no REsp: 584365 PE, Ministro Francisco Falcão, 1ª Turma, DOU 28.04.2004) e) Agente Marítimo – ISS – Não Incidência 3.22 Apelação. Repetição de indébito tributário. ISS. Serviços de agenciamento marítimo. Não incidência, no regramento normativo anterior à Lei Complementar nº 116, de 2003. Pacífica jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça. Solução monocrática (CPC, art. 557, § 1º-A). PROVIMENTO DO RECURSO. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. (TJRJ, Apelação nº 0051300-91.2003.8.19.0001, Relator Des. Marcos Alcino A Torres, Décima Nona Câmara Civel, Data de Julgamento: 17/12/2010)

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4. Arresto

Um dos mais graves ônus que se pode infligir a um armador de navios é o arresto de sua embarcação, medida esta que pode gerar graves consequências inclusive a terceiros, proprietários e seguradores das cargas que se encontram a bordo do navio embargado. Desse modo, extrema cautela é necessária pelo julgador e também pela parte demandante, ante o grave risco de periculum in mora inverso e de grandes prejuízos que podem advir de um arresto indevido ou abusivo.

a) Arresto de embarcação – Direito de continuar navegando 4.1 CAUTELAR. ARRESTO. Prestação de serviços de praticagem de navio e antecipação de outras despesas. Pretensão de garantia do pagamento de valores, antes que a embarcação das rés deixe o país. "Fumus boni iuris" e "Periculum in mora". Tutela antecipada deferida, para que as rés prestassem caução em dinheiro, impedindo-se a saída do país até comprovação. Caução demonstrada. Levantamento da ordem e liberação do trânsito. (...) (TJSP, Apelação 1001182-11.2016.8.26.0562; Relator: Sebastião Flávio; 23ª Câmara de Direito Privado; Data do Julgamento: 21/06/2017)

4.2 MEDIDA LIMINAR. ARRESTO. EMBARCACAO. DIREITO DE NAVEGACAO. SEGURO MARITIMO. ART. 679, ART. 821 C.P.C. Arresto de navio. Direito de continuar navegando. Seguro contra risco efetuado. O arresto ou penhora de navio não obsta a que continue navegando desde que o devedor prove ter feito seguro contra os riscos. Segurança concedida. (TJRJ, MS 1995.004.01123, Des. Sergio Cavalieri Filho, 2ª Câmara Cível, Data da Publicação: 12/03/1996)

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b) Arresto de embarcação – Navio estrangeiro – Danos provocados em território brasileiro – Garantia

4.3 APELAÇÃO – Cautelar de Arresto e Caução para Liberação do Navio seguida de Ação de Indenização – Autora dedicada à produção, industrialização e comercialização de produtos agrícolas no mercado interno e externo - Exportação de granéis sólidos (soja) como arrendatárias de instalações da CODESP no Porto de Santos/SP. (Armazém 42 e 38) - Acidente no 'Berço 38 do Porto' quando do carregamento do Navio Yusho Regulus, de propriedade e armado pela ré Satsuma Shipping S/A. - Danos nos equipamentos portuários do aludido corredor de exportação com avarias nos "Shiploaders" nºs 12 e 13, que ficaram inoperantes. 01- Preliminares: a- Incompetência absoluta de Justiça Estadual: Afastamento - a.1- Competência da Justiça Federal para apreciar causas envolvendo Tratado Internacional - Convenção de Colisão de 1910 - Acidente ocorrido em território nacional, envolvendo navio atracado e em operação de carregamento de soja no Corredor de Exportação do Porto de Santos/SP - Questão de natureza nitidamente patrimonial - Teoria da tríplice identidade estabelecendo casos de jurisdição concorrente segundo qualidades atribuída a uma das partes (réu domiciliado no Brasil), ao pedido (obrigação a ser cumprida no país) ou à causa de pedir (relativa a fato ocorrido ou ato praticado em território nacional) - Dicção dos artigos 88, inc. III do CPC/1973 e 21, inc. III do CPC/2015 - a.2- Ação na Justiça Federal objetivando limitar sua responsabilidade civil com base em Convenção Internacional - Liminar indeferida em Conflito de Competência pelo E. STJ, considerando que as ações indenizatórias foram julgadas no Juízo Estadual de Santos, o que impede a reunião dos processos por conexão e sinaliza a inexistência de risco de decisões conflitantes (Conflito de Competência nº 144.591 - SP). (...). b.2- Obrigatoriedade da juntada da decisão final do Tribunal Marítimo - Suspensão do processo em harmonia com a regra do art. 313, inc. VII do CPC/2015 - Incidência na hipótese do mesmo regime jurídico dado pelos §§ 4º e 5º do aludido artigo - Processo que permaneceu suspenso por prazo superior a um ano - Pretendida suspensão autônoma do processo afastada. (...) 02- Mérito: 2.1- Responsabilidade do réu - Objetiva pelo risco da atividade configurada - Equilíbrio contratual a ser preservado sendo evidente a hipossuficiência técnica das autoras - Ainda que assim não fosse a conclusão do Laudo Pericial Direto elaborado na ocasião dos fatos pela Marinha do Brasil (Capitania dos Portos de São Paulo) aponta como causas determinantes do acidente: a- estar a embarcação com a amarração folgada, ocorrendo a ruptura dos cabos tributada à imprudência do Oficial encarregado da vigilância e manutenção; b- ter o Comandante do navio, por

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negligência, ordenado máquinas adiante de forma desproporcional e dando causa a colisão, tirando o dever de indenizar - Culpa reconhecida - Novas provas carreadas aos autos que não tiveram o condão de infirmar o bem elaborado Laudo Pericial da Capitania dos Portos, contemporâneo ao acidente, igualmente roborado por prova técnica de igual quilate - Manutenção da procedência das ações. 2.2- Incontroversos os fatos relacionados com a colisão do navio Yusho Regulus com os dois equipamentos do 'Berço 38 do Porto de Santos', os danos (lucros cessantes e danos emergentes) efetivamente experimentados pelas autoras, o nexo de causalidade, gerando o dever de indenizar - Culpa exclusiva da vítima não demonstrada - Adoção do princípio da reparação integral do dano o que afasta a tese da limitação da responsabilidade civil. 2.3- Indenização - Inicial contendo pedido certo e determinado, bem como genérico ligado às perdas e danos decorrentes do acidente - Reconhecimento da impossibilidade de mensuração total dos danos à época do acidente - Com base no que demonstrado nos autos correta a condenação ao pagamento de indenização correspondente ao valor de todas as perdas e danos (lucros cessantes) e danos emergentes) efetivamente experimentados pelas autoras e decorrentes do acidente observada, por óbvio, eventual cota parte de cada interessado considerando as peculiaridades das atividades portuárias. Entretanto, para melhor balizar a fase de cumprimento de sentença, desde já determino: 2.3.a- Os danos nos equipamentos deverão ser apurados em liquidação por arbitramento, baseando-se a perícia técnica nos documentos existentes nos autos e percentuais de cada quotista; 2.3.b- as perdas e danos (lucros cessantes e danos emergentes) deverão ser apurados em liquidação por arbitramento, limitada a perícia técnica prevista na sentença aos elementos concretos existentes nos autos e respectivos percentuais, quando for o caso; 2.3.c- Perdas e danos diretamente ligadas aos fatos dos autos e até o momento impossibilitadas de mensuração, que poderão ser exigidas, mas, por meio de liquidação de sentença pelo procedimento comum (CPC/2015, art. 509, inc. II – no CPC/1973 – liquidação por artigos). (...). 2.4- Embargo do navio em desacordo com o art. 479 do Código Comercial - Cautelar necessária para a garantia do resultado útil do processo principal (matéria decidida em anterior Agravo de Instrumento) - Oferecida e aceita a caução, sobreveio a homologação a pedido das partes (...) 03- Decisão preservada, rejeitados pedidos principais e subsidiários. AGRAVO RETIDO DE FLS. 2466/2478 DESPROVIDO. PRELIMINARES REJEITADAS. RECURSO IMPROVIDO, COM DETERMINAÇÃO. (TJSP, Apelação 0043296-21.2012.8.26.0562; Relator (a): Egidio Giacoia; 3ª Câmara de Direito Privado; Data do Julgamento: 06/06/2017).

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4.4 Trata-se de medida cautelar ajuizada pela Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina - CIDASC em face da Sea Queen Shipping Corp e Victória Ship Management Inc., visando, em suma, o embargo do navio "Aston Trader II" no Porto de São Francisco do Sul. Alega, em suma, que o ship loaders/pórticos de sua propriedade fazia o carregamento de soja para o porão no navio supramencionado quando houve, de forma inesperada, o fechamento do tampo, ocasionando danos no equipamento. Aduz que, mesmo sendo a parte requerida notificada para que agilizasse o conserto ou pagamento do estrago, esta até o presente momento não apresentou resposta. Com a inicial, juntou instrumento de procuração, boletim de ocorrência do OGMO-SFS e fotografias ilustrando os estragos no tubo do pórtico. Este é o breve relato. Passo ao exame do pedido liminar. Pretende a requerente a detenção do navio "Aston Trader II", de propriedade da requerida, no porto francisquense até que seja depositado em Juízo valor referente ao prejuízo sofrido no equipamento ship loaders/pórtico. Afirma que por se tratarem de empresas com sede nas Filipinas, o único bem das requeridas é o navio atracado junto ao Porto de São Francisco do Sul. É cediço que, para a concessão da liminar nas medidas cautelares, imprescindível se torna a demonstração do fumus boni juris e do periculum in mora, que no caso dos autos, entendo estarem presentes: o primeiro ante a juntada dos documentos comprovando o dano sofrido no equipamento que o deixou inoperável, bem como o fato das empresas proprietárias do navio não serem brasileiras, o que torna difícil a reparação do dano por parte destas. Outrossim, conforme previsto no Código Comercial: Art. 482 -Os navios estrangeiros surtos nos portos do Brasil não podem ser embargados nem detidos, ainda mesmo que se achem sem carga, por dívidas que não forem contraídas no território brasileiro em utilidade dos mesmos navios ou da sua carga; salvo provindo a dívida de letras de risco ou de câmbio sacadas em país estrangeiro no caso do artigo nº. 651, e vencidas em algum lugar do Império. No caso em tela, considerando que o dano ao equipamento pertencente à autora ocorreu em território brasileiro, mais especificamente no Porto de São Francisco do Sul, pode o navio ser embargado. Desta forma, pretende-se impedir a concessão do passe de saída do navio do porto, enquanto não for prestada a caução idônea, garantindo o Juízo por eventual condenação que venha a ser imposta às requeridas no curso da ação principal. É o quanto basta, em sede de cognição sumária, para aferir a configuração das hipóteses legais mencionadas. Nesse sentido, mutatis mutandis: "ARRESTO. E ADMISSIVEL O DE NAVIO ESTRANGEIRO EM CASOS EXCEPCIONAIS, COMO O DE RECUSA DO PAGAMENTO DE DIVIDAS EM PROVEITO DE SUA CARGA E AVIAMENTO. SUBSTITUIÇÃO DO ARRESTO POR FIANCA." (STF, AI n. 39272/PR, rel. Min. ALIOMAR BALEEIRO). Ante o exposto,

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DEFIRO, liminarmente, o embargo (detenção no porto) do navio "Aston Trader II" no Porto de São Francisco do Sul, até que seja depositado em Juízo o valor do dano, bem como o valor referente aos prejuízos dele advindo, conforme mencionado na exordial. Expeça-se o competente mandado. Oficie-se à Capitania dos Portos do Estado de Santa Catarina, cientificando que não deverá conceder o "passe de saída" ao navio "Aston Trader II". (...) (TJSC, Medida Cautelar 0300657-46.2014.8.24.0061, Juiz Fernando Seara Hickel, 2ª Vara Cível, Data da Publicação: 11/07/2014) 4.5 DIREITO COMERCIAL E PROCESSUAL CIVIL. MEDIDA CAUTELAR EQUIVALENTE AO ARRESTO. NAVIO ESTRANGEIRO QUE COLIDE COM TERMINAL PORTUÁRIO. AÇÃO CAUTELAR QUE BUSCA OBTER GARANTIA DO RESSARCIMENTO. SAÍDA IMINENTE DO NAVIO DO TERRITÓRIO NACIONAL. EFEITOS. Cabível a concessão de medida liminar para compelir o armador e o operador de navio estrangeiro a caucionarem o Juízo para garantia de eventuais prejuízos causados por colisão do navio no terminal portuário, independentemente da existência de título executivo que autorize o arresto. Princípio fundamental da garantia ao resultado prático da ação. Provimento parcial do recurso para deferir a medida, impedindo a concessão de passe de saída do navio do porto enquanto não prestada caução idônea. (TJRJ, Agravo de Instrumento nº 0007762-24.2007.8.19.0000, Relator Des. Arthur Eduardo Ferreira, 13ª Câmara Cível, Data de Julgamento: 02/04/2008)

4.6 Trata-se de medida cautelar inominada ajuizada por OGX Petróleo e Gás Ltda em face de General Ore Carrier Corp e de Blue Ocean Ship Management Ltda, a primeira ré sociedade estrangeira, armadora de no navio de nome ´Margot N´ de bandeira Liberiana e a segunda ré, empresa estrangeira exploradora da referida embarcação, com sede no Estado da Califórnia, Estados Unidos da América. Consta, em síntese, na petição inicial, que a autora é uma empresa que atua no ramo de exploração de petróleo e gás natural no litoral do Estado do Rio de Janeiro, atividade exercida através de plataformas específicas, as quais são afretadas e gerenciadas por ela, autora. Nesse sentido, informa que no último dia 22, por volta das 14:00 uma de suas plataformas - Ocean Lexigton, recebeu aviso de emergência a respeito de um navio que navegava em condições de risco, estando supostamente à deriva e em rota de colisão com a plataforma. Iniciada as investigações foi apurado pela autora que tratava-se do navio ´Margot N´ de

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bandeira da Ibéria, que, de fato, estava à deriva e em iminente rota de colisão com a plataforma/sonda ´Ocean Lexigton´, a qual encontrava-se em plena atividade. Relata a autora que foi tentado diversos contatos com o navio ´Margot N´, não sendo possível qualquer resposta, motivo pelo qual foi iniciado complexo procedimento de emergência a fim de que fosse evitada a iminente colisão. Com isso, foi necessário a imediata paralisação das operações na plataforma/sonda ´Ocean Lexigton´, notadamente para a urgente retirada dos funcionários que ali estavam trabalhando. Além disso, diversas embarcações gerenciadas pela autora e outras locadas foram imediatamente requisitadas para o local com o propósito de impedir a colisão, havendo a utilização de cabos, que foram presos ao navio desgovernado e graças a toda essa logística foi possível impedir a colisão e os conseqüentes danos pessoais e ambientais. Acontece, segundo narra a autora, após ter sido evitada a colisão o navio evadiu-se sem prestar qualquer tipo de informação ou auxílio à autora, especialmente em relação à operação de salvamento, vindo a ancorar-se em um porto particular nesta cidade. Alega a autora inúmeros prejuízos de ordem material em razão da operação de salvamento, citando, na espécie as diversas normas internas e internacionais que se aplicam ao caso, requerendo, a concessão de medida liminar a que as autoridades competentes se abstenham de emitir o passe de saída do navio Margot N, com a adoção das medidas necessárias a fim de que a referida embarcação não deixe o local em que esteja atracada ou fundiada até que seja prestada garantia idônea em valor não inferior a R$ 2.549.207,94 pelos prejuízos direitos acrescidos de garantia de indenização pelo salvamento em percentual a ser fixado pelo Juízo em patamar não inferior a 5% da embarcação, equivalente a R$ 1.937,520. É o sucinto e necessário relatório. Passo a decidir. Inicialmente faço observar que as chamadas condições da ação e os pressupostos processuais encontram-se presentes, o que permite, em um primeiro momento, o conhecimento da demanda cautelar. As partes, em princípio são legítimas, aplicando-se na hipótese a teoria da asserção em relação à parte ré, sobretudo, diante da complexidade aparente do caso. O interesse de agir encontra-se demonstrado na medida em que a parte autora alega diversos prejuízos e conduta ilícita por parte dos responsáveis pelo navio. O pedido, portanto, se revela juridicamente possível, já que se postula a garantia de futura reparação de danos, garantia esta que não será possível com o retorno do navio Margot N ao seu país de origem. Quanto aos pressupostos processuais genéricos, estes também se mostram presentes já que o Juízo da Vara Única da Mangaratiba, inicialmente, possui competência quanto à matéria para conhecer do pedido, sendo certo que a questão atinente à competência territorial deve ser objeto de provocação pela parte contrária em sede de via

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impugnativa específica. De toda forma, em razão da natureza do pedido não há maiores controvérsias quanto à competência do Juízo, visto que a embarcação em que se visa obter a garantia encontra-se ancorada em território de jurisdição deste Juízo de Mangaratiba. As partes são capazes, não havendo como se aferir tal requisito a fundo em relação à parte ré neste momento, o que não afasta a presença dos pressupostos mínimos ao regular desenvolvimento do processo. A demanda foi regularmente proposta, uma vez que a petição inicial preenche os requisitos mínimos exigidos pela lei processual. Segundo a doutrina mais autorizada, medida cautelar é o provimento judicial capaz de assegurar a efetividade de uma futura atuação jurisdicional (Lições de Direito Processual Civil - Alexandre Freitas Câmara, 12ª. Edição, ed. Lúmen Iuris). Partindo desta definição, é ponto pacífico de que a medida cautelar visa precipuamente a efetividade do processo, revelando, portanto, o caráter meramente instrumental da medida cautelar. Aqui não se discute o mérito do direito da parte que foi alegado como violado, como no caso dos autos, em que se alega danos patrimoniais. O que se pretende com a cautelar é justamente garantir à parte o direito de ver tal direito discutido em sede própria e com as exigências formais do processo civil, discussão esta que não será possível caso algumas providências não sejam conhecidas. Garante-se assim a efetividade do processo, o que absolutamente não se confunde com o direito alegado e que será objeto principal deste futuro e eventual processo. Logo, em se tratando de cautelar, estar-se-á diante de uma decisão precária e que pode ser revogada, como, aliás acontece com as medidas antecipatórias do artigo 273 do Código de Processo Civil. Feitas essas pequenas, porém, importantes observações, passa-se ao exame dos requisitos para a concessão da medida liminar requerida. Início pelo fumus boni iuri. Para a configuração da fumaça do bom direito o juiz deve-se conter com a demonstração da aparência do direito alegado, não havendo a necessidade de certeza absoluta, visto encontramos em sede de cognição sumária, em que não há sequer contraditório ainda instituído. Por isso, o caráter da revogabilidade da medida liminar. Nesse sentido, partindo-se das alegações da parte autora, dos documentos que instruem a petição inicial e das diversas legislações citadas no texto da inicial, há de se concluir pela probabilidade do direito alegada pela parte autora. De fato, dentre as diversas normas incidentes ao caso, há de se destacar a Convenção Internacional sobre Salvamento Marítimo, da qual o Brasil é signatário e que passou a integrar o ordenamento jurídico através do Decreto Legislativo nº 263/09. O artigo 21, item 3 da convenção determina o seguinte: Artigo 21. 1. A pedido do salvador, o responsável pelo pagamento devido, nos termos desta convenção deverá prover garantia satisfatória à reclamação, incluindo juros e custas. (...) 3. O navio salvador e qualquer outro

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bem não deverão, sem autorização do salvador, ser removidos do porto ou local onde chegaram depois de concluídas as operações de salvamento marítimo, até que seja providenciada uma garantia satisfatória à reclamação desta, contra o referido navio ou bem. A norma em questão deve ser aplicada, uma vez ter restado sumariamente demonstrado nos autos que a parte autora foi a responsável pelo salvamento do navio Margot N, o que permite a adequação do fato à norma, conforme demonstrado. Com efeito, os diversos documentos dos autos indicam, repita-se, sem análise do mérito, que houve a necessidade de inúmeras providências visando impedir que o navio colidisse com a plataforma da autora. Logo, os procedimentos positivos da autora foram eficazes no salvamento do patrimônio da ré. Ressalte-se, por fim, que todo o incidente está igualmente sendo apurado pela autoridade brasileira, através do Ministério da Marinha, conforme comprovado nos autos. Por tais razões, presente o requisito da fumaça do bom direito. Quanto ao requisito do periculum in mora, o mesmo resta comprovado nos autos. Valho-me, novamente dos ensinamentos do professor Alexandre Freitas Câmara (obra já citada), que bem analisa este requisito, in verbis: Como dito anteriormente, o fumus boni iuris não é requisito suficiente para a concessão da medida cautelar. Outro requisito é exigido, e a ele se dá, tradicionalmente, o nome de periculum in mora (ou seja, perigo na demora). Isto porque, como sabido, a tutela jurisdicional cautelar é modalidade de tutela de urgência, destinada a proteger a efetividade de um futuro provimento jurisdicional, que está diante da iminência de não alcançar os resultados práticos dele esperados. É esta situação de perigo iminente que recebe o nome de periculum in mora, sendo sua presença necessária para que a tutela cautelar possa ser prestada pelo Estado-Juiz. Como alegado e comprovado nos autos, trata-se de um navio de bandeira estrangeira, Ibéria, cujo país não há necessárias informações quanto às relações diplomáticas com o Brasil. Ademais, a autora informa que o navio salvado, após evitada a colisão, retomou sua força motor e partiu sem qualquer aviso, vindo a ancorar em porto particular nesta cidade, situação que somente faz reforçar a idéia que caso venha a retornar ao seu país de origem sem a necessária e devida garantia à autora, haverá risco iminente de futuro processo de reparação de danos tornar-se totalmente ineficaz. Busca-se com a cautelar, justamente essa garantia, para que os prejuízos alegados e que deverão ser comprovados, possam ser efetivamente discutidos em uma ação própria nos limites do contraditório e da ampla defesa como prevê o ordenamento constitucional brasileiro. O documento de fls. 122 indica que o navio encontra-se com data e hora de partida para seu destino às 13:00 do dia 30 de agosto, portanto, amanhã, sendo que tenha sido prestado até o momento qualquer garantia dos prejuízos alegados ou mesmo uma satisfação ou

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explicação formal quanto ao evento descrito na petição inicial, que poderia ter tomado proporções graves. Os valores mínimos quanto aos alegados prejuízos estão suficientemente demonstrados e justificados, para fins de cognição sumária, sendo que em relação ao arbitramento do valor do salvamento, valho-me das razões da autora, visto a urgência do caso e a necessidade de perícia a esse respeito. Diante do exposto, DEFIRO PARCIALMENTE a medida liminar requerida para determinar a imediata expedição de ofício à Delegacia da Capitania dos Portos de Itacuruça e também À Capitania dos do Rio de Janeiro, para que não emitam o ´passe-de-saída´ do Navio de Bandeira da Ibéria, de nome ´Margot N´, adotando-se todas as medidas necessárias no sentido de que a referida embarcação não deixe o local em que está atracada ou fundeada, por enquanto o terminal da Companhia Vale S/A, na Ilha Guaíba, nesta cidade, sob pena responsabilidade, até que seja prestada caução idônea no valor de R$ 2.549.207,94 (dois milhões quinhentos e quarenta e nove mil duzentos e sete reais e noventa e quatro centavos) relacionados aos prejuízos direitos alegados na petição inicial e mais R$ 1.937.520,00 (um milhão novecentos e trinta e sete reais) relativo ao arbitramento do salvamento do navio, totalizando a quantia mínima de garantia de R$ 4.486.727,94 (quatro milhões quatrocentos e oitenta e seis mil setecentos e vinte e sete reais e noventa e quatro centavos), sendo que a questão atinente aos honorários advocatícios e custas serão objeto de análise quando do julgamento do mérito desta cautelar. Cite-se e intime-se o Comandante do navio ´Margot N´ e o agente marítimo responsável pela embarcação, Brazshipping Marítima Ltda, com endereço na Rodovia RJ 014, nº 14, apartamento 102, Bairro Ibicuí, nesta cidade, com telefones indicados na petição inicial. Oficie-se à Capitania dos Portos e à Delegacia de Itacuruça, via fax, comprovando-se nominalmente o nome do agente responsável pelo recebimento dos ofícios. (TJRJ, Medida Cautelar Inominada nº 0002837-50.2011.8.19.0030, Juiz Rafael de Oliveira Fonseca, Vara Única da Comarca de Mangaratiba, j.29/08/2011) c) Arresto de embarcação – Dívida de Bunker – Crédito privilegiado 4.7 A/S DAN-BUNKERING LTD, DEVIDAMENTE QUALIFICADA NOS AUTOS, POR INTERMÉDIO DE ADVOGADO HABILITADO, AJUIZOU O(A) PRESENTE PROCEDIMENTO ORDINÁRIO EM DESFAVOR DE PESQUEIRA NACIONAL LTDA., IGUALMENTE QUALIFICADO, ADUZINDO EM SÍNTESE QUE: A) Em 29/02/2012 foi contratada pela ré para realizar o fornecimento de combustível para as

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embarcações "NUEVO RODRIGO DURAN" e "DORADA", que se encontravam no porto de Natal, Pier Dunas; B) não obstante ter atendido prontamente ao pedido da ré, sendo emitido ao final a fatura de nº 202930 e nº 201887, no valor total de USD 206.593,84 (duzentos e seis mil quinhentos e noventa e tres dólares norte-americanos e oitenta e quatro centavos), esta última não cumpriu com sua obrigação de pagamento do combustível fornecido as duas embarcações acima referidas, mesmo tendo confessado seu débito junto a autora, através de e-mails trocados entre si. C) diante da inadimplência da ré, mesmo sendo notificada extrajudicialmente para pagamento, esta permaneceu inerte, motivo pelo qual recorreu a parte autora ao Judiciário para fazer valer seu direito de crédito. Ao final, além dos requerimentos de estilo, pediu medida liminar de detenção das embarcações, expedindo-se para tanto oficio via fax ou e-mail, em caráter de urgência, a Capitania dos Portos do Rio Grande do Norte, a fim de que se abstenha de emitir o passe de saída aos preditos navios, a fim de evitar que as mesmas deixem o local onde estão atracadas, sem prévia permissão deste juízo, até que seja prestada garantia idônea pela empresa ré, no valor da dívida de R$ 499.347,91 ou alternativamente, que seja determinada a impossibilidade das embarcações deixarem as águas territoriais Brasileiras, oficiando-se ao Tribunal Marítimo para averbação do presente crédito privilegiado perante os registros das referidas embarcações. Com a inicial juntou documentos. É o breve relato. DECIDO. Trata-se de medida liminar incidental tendente a deter a circulação de dois navios da ré, na tentativa de resguardar direito autoral, enquanto se discute o mérito da causa, consistente no direito ao recebimento da quantia de R$ 499.347,91, concernente ao fornecimento de combustíveis a duas embarcações da ré nominadas NUEVO RODRIGO DURAN e DORADA em 29/02/2012. Permite o art. 804 do CPC que o juiz conceda liminarmente ou após justificação prévia a medida cautelar, desde que presente seus requisitos, sem ouvir a parte contrária, quando verificar que está a citação desta torná-la-á ineficaz. Todavia não se pense que de uma liminar representa um prejulgamento da demanda. A medida liminar é meio acautelatória de possível direito do requerente, tendo em vista a iminência de lesão. Para sua concessão dois são os requisitos necessários: o fumus boni iuris, retratado pela existência de um direito aparente; e o periculum in mora, que significa o perigo de dano derivado do retardamento da medida definitiva, ou seja, um risco que corre o processo principal de não ser útil ao interesse demonstrado pela parte. No caso dos autos, verifico presente a fumaça do bom direito, haja vista existir a plausibilidade do direito autoral, conforme os delineamentos que passo a expor.

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As documentações anexadas aos autos apontam de fato, o fornecimento do combustível às duas embarcações nominadas "NUEVO RODRIGO DURAN" e "DORADA" (doc. II), em 29/02/2012. O DOC. V informa ainda a notificação extrajudicial da ré para pagamento da dívida de combustível emitida pelo 5º Ofício de Registro e Títulos e Documentos da Cidade do Rio de Janeiro ocorrida em 03/01/2013. De outra banda, os e-mails trocados pelas partes apontam ainda que há uma tentativa frustrada da ré em pagar a dívida, reforçando a plausibilidade do direito autoral. O Código Comercial Brasileiro leciona no item 8 do art .470 que os créditos privilegiados são dentre outros, as dívidas contraídas pelo proprietário da embarcação para o conserto e custeio do navio, durante a última viagem. Assim, a dívida em comento enquadra-se nas chamadas dívidas privilegiadas que conforme ensina o art. 479 do mesmo diploma legal, autoriza o embargo e detenção da embarcação por obrigações privilegiadas, vejamos: "Art. 479 - Enquanto durar a responsabilidade da embarcação por obrigações privilegiadas, pode esta ser embargada e detida, a requerimento de credores que apresentarem títulos legais (artigo nºs 470, 471 e 474), em qualquer porto do Império onde se achar, estando sem carga ou não tendo recebido a bordo mais da quarta parte da que corresponder à sua lotação; o embargo, porém, não será admissível achando-se a embarcação com os despachos necessários para poder ser declarada desimpedida, qualquer que seja o estado da carga; salvo se a dívida proceder de fornecimentos feitos no mesmo porto, e para a mesma viagem". O perigo da demora também resta presente, haja vista que estando as embarcações no Porto de Natal, a saída das mesmas para outros locais ou águas estrangeiras dificultará a localização das referidas e ainda a possibilidade de garantia de ter o débito adimplido pelo réu. Ressalte-se, mais uma vez, que a decisão do processo cautelar é sempre provisória, por repousar sobre fatos mutáveis. A permanência de seus efeitos fica subordinada à continuidade do estado de coisas no que se assentou, o que permite a revogação ou modificação da medida concedida, caso esses fatos sejam alterados. Diante do exposto, face as razões alinhadas supra, DEFIRO a medida liminar pleiteada, com fulcro nos arts. 798, 799 e 804, todos do CPC, c/c art. 470 e 479 do Código Comercial Brasileiro, para o fim de que as embarcações NUEVO RODRIGO DURAN" e "DORADA" sejam detidas, em virtude de obrigações privilegiadas, devendo ser oficiado a Capitania dos Portos do Rio Grande do Norte, de imediato, enviando-o por meio de fax, a fim de que NÃO seja emitido o passe de saída das embarcações NUEVO RODRIGO DURAN" e "DORADA", ou que seja adotada as medidas necessárias a fim de evitar que os referidos navios deixem o local onde estão atracados/fundeados. Caso a parte ré efetue o depósito judicial do valor do débito, autorizo, desde que comprovado o depósito, a expedição, com

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urgência, do mandado/ofício de liberação dos navios, a fim de que a Capitania dos Portos de Natal autorize o passe de saída destes. Caso a parte ré ofereça um outro bem de sua propriedade livre e desembaraçado voltem-me os autos conclusos para verificar acerca da admissibilidade do bem ofertado como caução, de modo que neste caso a liberação das embarcações ficará aguardando novo pronunciamento judicial. Para o caso de descumprimento da medida, arbitro multa diária, de R$ 1.000,00 (Um mil reais), a ser revertida em favor do Autor, limitada ao teto de 100.000,00 (cem mil reais). Intime-se a ré sobre o teor da presente medida e ato contínuo, cite-a para, requerendo, responder a presente ação no prazo de (15) dias, sob pena de revelia, nos termos do art. 285, parte final, do Código de Processo Civil. (TJRN, Processo n° 0118559-27.2013.8.20.0001, Juiza Amanda Grace Diógenes Freitas Costa Dias, 7ª Vara Cível de Natal, DJE 20/05/2013) 4.8 Do exame das alegações da requerente, em cotejo com os documentos juntados à inicial, em especial o de fls. 111/115, que atesta o fornecimento do combustível, e, considerando que as rés, notificadas, não pagaram o valor da dívida privilegiada, convenci-me de que estão presentes os requisitos autorizadores à concessão da medida requerida. Ante o exposto, defiro a liminar, com fulcro nos artigos 798 e 799, ambos do CPC, para determinar a detenção do navio SÃO LUIZ, com o fim de evitar que o mesmo se utilize do combustível fornecido pela Autora sem o devido pagamento mesmo. Expeça-se ofício, via fax ou e-mail, em caráter de urgência, à Capitania dos Portos do Rio de Janeiro, para que se abstenha de emitir o passe-de-saída do navio ¨SÃO LUIZ¨ e/ou seja adotada providência de maneira a evitar que a referida embarcação deixe o local onde esta atracada/fundeada, sem prévia permissão expressa deste Juízo, mediante prestação de caução idônea, que fixo em R$ 420.000,00 (quatrocentos e vinte mil reais). Cite-se e Intime-se. (TJRJ, Processo nº 0147747-92.2013.8.19.0001, Juiz Maria Isabel Paes Gonçalves, 6ª Vara Empresarial, Data de Julgamento: 06.05.13) d) Arresto de embarcação – Crédito líquido e certo 4.9 AGRAVO DE INSTRUMENTO. Requerimento de tutela cautelar em caráter antecedente. Deferimento liminar de arresto de embarcação

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nominada Cidade Ouro Preto, de propriedade da agravante, em razão de existência de dívida líquida e certa comprovada pelo requerente, para que permaneça em lugar certo e sabido. Medida que se legitima por sua referibilidade (tutela cautelar que recai sobre direito de crédito) e temporariedade (impossibilidade de revogação, porque inocorrente qualquer alteração na situação fática apresentada). Artigo 864 do Código Processo Civil. Comprovação de dívida líquida e certa. Arresto de navio que se impõe na espécie, sobretudo na fase processual em que se encontra a execução (artigo 829 do CPC de 2015). RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. (TJRJ - 0060543-08.2016.8.19.0000 - Agravo De Instrumento - Des(A). Patrícia Ribeiro Serra Vieira - Julgamento: 05/04/2017 - Décima Câmara Cível) e) Arresto de embarcação – Dívidas contraídas pelo agente marítimo em

nome do armador estrangeiro 4.10 Do exame das alegações da requerente, em cotejo com os documentos juntados à inicial, em especial os de fls. 532/549 e fls. 227/251, consistentes em mensagens eletrônicas trocadas entre os litigantes e planilha indicando o montante devido pela requerida a título de despesas com custeio da embarcação, convenci-me de que estão presentes os requisitos autorizadores à concessão da medida liminar requerida. Ante o exposto, CONCEDO A LIMINAR para determinar que a requerida se abstenha de ausentar o navio ´ATREK´ de águas territoriais brasileiras sem autorização deste juízo, sob pena de multa diária de R$ 100.000,00 (cem mil reais), até que a requerida preste caução idônea no valor de R$ 3.641.421,91 (três milhões seiscentos e quarenta e um mil quatrocentos e vinte e um reais e noventa e um centavos). (TJRJ, Cautelar Inominada nº 0464487-86.2012.8.19.0001, 6ª Vara Empresarial da Capital, Juíza Maria Cristina de Brito Lima, em 04/12/2012) f) Arresto de embarcação – Abandono – Risco de perecimento e danos

ambientais – Alienação antecipada da embarcação 4.11 Vistos, etc. A nobre magistrada prolatora da decisão de fls. 2245, entendeu que não havia elementos de convicção para autorizar a alienação antecipada da embarcação, considerando o perigo da irreversibilidade da medida, e a incerteza quanto à propriedade do bem. Todavia, após a

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prolação da decisão, surgiu nos autos fato novo que justifica, no mínimo, o reexame da questão. Com efeito, a Autoridade Portuária de Maceió, onde se encontra atracada e arrestada a embarcação ATREK, veio aos autos para comunicar a situação irregular em que se encontra o navio, visto que a tripulação abandonou a embarcação, e o agente marítimo deixou de honrar os compromissos relativos à permanência na instalação portuária, por conta da inadimplência da armadora, de bandeira ucraniana. Informou, ainda, a Autoridade Portuária que há sérios riscos de se causar danos incalculáveis ao patrimônio e, sobretudo, ao meio ambiente do Porto de Maceió. De plano, ainda que se entenda que não se encontra devidamente comprovada a propriedade da embarcação, tal questionamento não pode impedir a adoção de medida constritiva e conservatória do patrimônio público. Isto porque as despesas relacionadas à embarcação acompanham o bem independentemente de sua propriedade ou posse, e preferem a qualquer outra dívida contraída em seu favor - sem olvidar a solidariedade existente entre o dono da embarcação e os demais personagens intervenientes na relação marítima, tais como o embarcador, fretador e afretador. No que diz respeito à eventual irreversibilidade da medida, entendo que, ante o grave fato novo surgido, a irreversibilidade maior agora a ser obstada seria a ocorrência de grave dano ambiental, na medida em que a rejeição da venda antecipada da embarcação, ensejará a sua permanência no porto onde se encontra atracado, com risco de deterioração e naufrágio, com vazamento de óleo diesel e dejetos tóxico no mar. Por outro lado, não há restrição processual para a venda excepcional da coisa arrestada, já que o pleito está amparado no art. 670 do CPC, que prevê a autorização judicial para alienação antecipada de bem penhorado (ou arrestado - art. 821 do CPC), quando sujeito à deterioração ou depreciação, e houve manifesta vantagem. Com efeito, o bem arrestado está abandonado, em estado de depreciação agravado pelas forças das intempéries do ambiente portuário, sem qualquer tripulação, sem vigilância ou manutenção, gerando despesas portuárias, e com potencial risco de afundar e causar grave prejuízo ao patrimônio público e meio ambiente. Não faltam precedentes para lembrar que, via de regra, os bens constritos judicialmente sofrem com a ação do tempo e se deterioram, deixando de preservar os valores garantidos, e se finaliza com seu sucateamento e venda por preço vil, frustrando-se a execução, e causando prejuízo às partes. Ora, se a lei autoriza a venda antecipada quando o bem arrestado está sujeito à depreciação, com mais razão deve ser autorizada a venda quando o bem, além de sujeito ao perecimento progressivo, é também causa de perigo de grave acidente ambiental. Assim, no exercício do juízo de retratação, invoco o poder geral de cautela, na forma do art. 798 do CPC, já que presente o perigo de dano ambiental irreparável, para o fim de

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deferir a alienação antecipada da embarcação ATREK, com depósito do preço de venda em conta judicial. A alienação há de observar o preço mínimo de avaliação, e, para tanto, nomeio perito avaliador a empresa SEASIDE MARINES SURVAILS, na pessoa do engenheiro Paulo Henrique Pinto Amaral, tel. 2613-5448, independentemente de termo. Intime-se o expert para orçar honorários, e desde já fixo o prazo de 72 horas para apresentação do laudo. Oficie-se à Administração do Porto de Maceió, à Capitania dos Portos de Alagoas e ao Chefe da Divisão de Cooperação Jurídica Internacional para que transmita ao Consultado da Ucrânia em São Paulo, dando conta da presente decisão. (RJ, Cautelar Inominada nº 0464487-86.2012.8.19.0001, 6ª Vara Empresarial, Juiz Fernando Cesar Ferreira Viana, em 06/08/2014) g) Arresto de embarcação – Violação de direito líquido e certo do

proprietário da embarcação 4.12 MANDADO DE SEGURANÇA - Ato emanado da Câmara de Férias deste Tribunal - Agravo de instrumento - Concessão de efeito ativo, com o consequente arresto de embarcação pertencente a empresa internacional, diversa das demandadas - Violação de direito líquido e certo - Ocorrência - Nulidades rejeitadas - Ordem concedida. Em mandado de segurança, a existência de litisconsortes passivos necessários obriga-lhes a citação, pena de nulidade do processo. Todavia, comparecendo os litisconsortes necessários espontaneamente nos autos, ofertando-os ampla manifestação sobre a matéria versada, eventual ausência de citação vê-se suprida, ex vi do art. 214, § 1o do CPC, aplicável na hipótese. Segundo a letra do art. 816, II do CPC, a prestação de caução é indispensável para a concessão do arresto, independemente de prévia justificação. Não é ela condição sine qua non, entretanto, à revogação, via mandado de segurança, da decisão concessiva da constrição. Viola direito líquido e certo do proprietário de embarcação que a tem arrestada, via decisão concessiva de efeito ativo a agravo de instrumento proposto pelas litisconsortes passivas contra a decisão monocrática indeferitória da medida, quando, tratando-se da asseguração do resultado útil de ação de indenização prestes a ser intentada, a medida recai sobre bem alheio e aparentemente sem qualquer vinculação com as agravantes. (TJSC, MS nº 2002.002016-8, Relator: Trindade Dos Santos, Órgão Especial, Data de Julgamento: 21/08/2002)

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h) Arresto de embarcação – ausência de jurisdição para arresto no Brasil 4.13 Trata-se de requerimento de tutela provisória, formulado antes da remessa da apelação – contra sentença que extinguiu o processo diante da falta de jurisdição nacional para processar a demanda – a este órgão julgador, a fim de que seja concedido o embargo (arresto) de embarcação da requerida. A requerente alega que as requeridas contraíram dívida para abastecimento do navio objeto do embargo e que não efetuou o pagamento. Sustenta que se trata de crédito privilegiado (arts. 2º e 8º da Convenção de Bruxelas de 1926, ratificada pelo Decreto nº 351/1935), com natureza jurídica de obrigação propter rem, que permite o arresto da embarcação (arts. 470 e 479 do Código Comercial). Afirma que, para o preenchimento dos requisitos do arresto, são irrelevantes a bandeira do navio, o local em que foram contraídas as despesas e o domicílio ou nacionalidade das partes envolvidas, por força da isonomia entre pessoas nacionais e estrangeiras estabelecida na Constituição e da Convenção Internacional de Bruxelas de 10 de abril de 1926. Também defende que a competência para a análise da medida é do porto onde se encontra a embarcação e que o Brasil possui jurisdição em decorrência da inexistência de outro Estado perante o qual se possa requerer o arresto – por força da transitoriedade do navio –, não sendo taxativo o rol dos arts. 21 e 23 do CPC. Alega que há risco de ineficácia da medida, uma vez que o navio pode sair das águas brasileiras a qualquer momento Este relator determinou que a requerente prestasse caução idônea, nos termos dos arts. 83 e 300, § 1º, do CPC (fl. 29 dos autos eletrônicos). Contra essa decisão, foi formulado requerimento de reconsideração, sob o fundamento de que o navio sairá do porto de Itaguaí em 27.03.18, às 15:30h (fls. 30/34 dos autos eletrônicos), que foi indeferido, sob o fundamento de que a caução deveria ter sido prestada desde o ajuizamento da demanda, de modo que a requerente dispunha de tempo hábil (fls. 35/36 dos autos eletrônicos). A requerente, então, prestou caução idônea, mediante depósito bancário (fls. 37/38 dos autos eletrônicos). É o relatório. Passa-se a decidir. Em primeiro lugar, impõe-se destacar que a causa não se enquadra em qualquer uma das hipóteses dos arts. 21 a 23 do CPC, que estabelecem os limites da jurisdição nacional. Com efeito, não se desconhece o entendimento do STJ0F

1 e da doutrina no sentido de que o rol do art. 21 do CPC não é taxativo. Entretanto, tal como sustenta o Professor José

1 REsp 1366642/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 11/10/2016, DJe 07/11/2016; RO 64/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 13/05/2008, DJe 23/06/2008

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Carlos Barbosa Moreira no artigo citado pela requerente,1F

2 este relator também já se manifestou no sentido de que a ampliação desse rol deve ocorrer quando existir risco de “denegação de justiça” (art. 10 da Declaração dos Direitos do Homem; art. 5º, XXX, da CRFB/88).3 No presente caso, não obstante a decisão tenha que produzir efeitos no Brasil – já que o navio arrestado está atracado em porto nacional –, não há qualquer situação de denegação de jurisdição, já que não há qualquer elemento nos autos que indique a impossibilidade de se obter a medida perante os Estados que ordinariamente teriam competência internacional para apreciar a questão: seja o de domicílio da requerente ou das requeridas; ou o do local onde foi contraída a obrigação. Após a obtenção da decisão que determina o arresto da embarcação, sua efetivação pode ocorrer no Brasil em razão da cooperação internacional (art. 27 do CPC), mediante utilização de carta rogatória (arts. 36, 40 e 237, II, do CPC). Portanto, tendo em vista que o presente caso não se enquadra em qualquer das hipóteses dos arts. 21 a 23 do CPC e que não há denegação de jurisdição à requerente, não se constata a presença do fumus boni iuris para a concessão da tutela provisória requerida. Ademais, com relação à possibilidade de embargo do navio, não obstante seja possível combinar o art. 470 do Código Comercial com o art. 2º da Convenção de Bruxelas de 1926 (ratificada pelo Brasil mediante o Decreto nº 351/1935) para tratar o crédito da requerente como privilegiado, o art. 482 do Código Comercial veda expressamente o embargo de navio estrangeiro, afastando o art. 479: “Art. 482 - Os navios estrangeiros surtos nos portos do Brasil não podem ser embargados nem detidos, ainda mesmo que se achem sem carga, por dívidas que não forem contraídas no território brasileiro em utilidade dos mesmos navios ou da sua carga; salvo provindo a dívida de letras de risco ou de câmbio sacadas em país estrangeiro no caso do artigo nº. 651, e vencidas em algum lugar do Império.” Pela leitura do dispositivo, é possível verificar a existência de duas exceções a essa regra: dívidas privilegiadas contraídas no território brasileiro ou “letras de risco ou de câmbio sacadas em país estrangeiro no caso do artigo nº. 651, e vencidas em algum lugar do Império”. Entretanto, essas exceções não se verificam no presente caso, já que a dívida foi contraída em Cingapura e não tem previsão

2 “Sob certas circunstâncias, pode acontecer que falte base legal para afirmar-se a competência internacional seja da Justiça brasileira, seja da Justiça de qualquer outro Estado. O interessado não teria, assim, onde pleitear a providência judicial de que necessita. Tal impossibilidade, que configura denegação de justiça, é intolerável à consciência jurídica contemporânea. Por isso tem-se admitido, no Brasil, que a Justiça nacional deva dar-se por competente, em hipóteses do gênero, desde que exista algum elemento de ligação entre a causa e o nosso país, notadamente quando a decisão a ser proferida haja de produzir efeitos no território brasileiro, ou de qualquer modo se mostre praticamente útil que ela seja proferida no Brasil.” (MOREIRA, José Carlos Barbosa. Problemas relativos a litígios internacionais, in: Temas de direito processual – quinta série. Rio de Janeiro: Saraiva, 1994, p. 144-145.)

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do Brasil como lugar do pagamento, o que atrai a incidência da vedação supracitada e afasta a existência do fumus boni iuris. Diante do exposto, INDEFERE-SE A TUTELA PROVISÓRIA requerida. (TJRJ, Requerimento de Tutela Provisória nº. 0014379-14.2018.8.19.0000 - Relator: Des. Alexandre Freitas Câmara, 2ª Câmara Cível, j. 27/03/2018) 4.14 Agravo de instrumento Medida cautelar de arresto Decisão agravada que deferiu liminarmente o arresto de navio de propriedade da agravante em razão de suposta dívida oriunda de contrato de prestação de serviços pactuado pelas partes na Romênia. Partes estrangeiras sem domicílio no Brasil. Obrigação a ser cumprida no exterior. Ação que não se origina de ato ou fato praticado no país. Inteligência dos incisos do art. 88, do CPC. Reconhecimento, de ofício, da incompetência absoluta da justiça brasileira para o exame da causa por ser matéria de ordem pública (art. 267, inc. IV, do CPC). Agente marítimo que não se qualifica como filial, sucursal ou agência da empresa ré por não ser um de seus estabelecimentos comerciais. Agente marítimo que é contratado para prestar serviços relativos à adequada permanência da embarcação no porto, à contratação de carga e seu transporte. Ausência, ademais, de convenção internacional ratificada pelo Brasil que preveja a possibilidade da justiça brasileira conhecer de ação de arresto de navio estrangeiro decorrente de dívidas assumidas no exterior por partes estrangeiras. Incidência, no presente caso, do art. 482, do Código Comercial. Ademais, ainda que não reconhecida a incompetência, seria caso de extinção da demanda sem julgamento do mérito em virtude da existência de cláusula compromissória de arbitragem no contrato firmado entre as partes (art. 267, inc. VII). Recurso provido. (TJSP, Agravo de Instrumento 0150246-91.2012.8.26.0000; Relator Morais Pucci; 27ª Câmara de Direito Privado; Data do Julgamento: 31/07/2012;)

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A atividade de transporte marítimo é recheada de intempéries e circunstâncias internas e externas que as influenciam, riscos estes que se consubstanciam na expressão internacionalmente consagrada ‘aventura marítima’. Em virtude de tais fatores, os contratos de transporte marítimo, em regra, não estipulam datas precisas de chegada das embarcações ou entrega das mercadorias no destino, mas sim previsões ou estimativas, que não implicam em certeza ou exatidão. Tal imprecisão, conhecida de antemão tanto pelos armadores e transportadores, como também pelos embarcadores, consignatários e seguradores de carga, não é apta a gerar pretensões e reclamações por eventuais atrasos, desde que, logicamente, dentro do limite do razoável.

a) Atraso – Previsão de chegada do transporte não implica em certeza –

Ausência de responsabilidade do transportador 5.1 COMPRA E VENDA. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR PERDAS E DANOS MATERIAIS (...). TRANSPORTE MARÍTIMO QUE POSSUI PECULIARIDADES PRÓPRIAS E ESTÁ SUJEITO A VÁRIOS FATORES CAPAZES DE ALTERAR SUA EXECUÇÃO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO AJUSTE DE DATA CERTA E DEFINIDA PARA A CHEGADA DO PRODUTO EXPORTADO AO PORTO DE DESTINO OU MESMO DE CIÊNCIA, PELAS RÉS, ACERCA DA NATUREZA DA MERCADORIA TRANSPORTADA. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO, PELA AUTORA, DOS FATOS CONSTITUTIVOS DO SEU DIREITO (ART. 333, I, CPC/1973; ART. 373, I, NCPC). SENTENÇA MANTIDA. AGRAVO RETIDO NÃO PROVIDO. RECURSO PRINCIPAL NÃO PROVIDO. (…) Além disso, a manutenção dos referidos documentos nos autos em nada socorre a tese da apelante. É que, ao revés do alegado nas razões do apelo, os e-mails trocados entre as partes, especialmente aquele de fls. 128/129, mencionado pela recorrente, faz apenas referência a previsão de chegada das mercadorias ao porto de destino, inclusive com a resposta da autora no

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sentido de aguardar novas previsões, dada as peculiaridades do contrato firmado. Neste contexto, conforme bem argumentado pela litisdenunciada MSC e ponderado pelo magistrado sentenciante “o transporte contratado possui natureza distinta dos demais contratos de transporte, além de peculiaridades próprias, especialmente porque sujeito a vários fatores capazes de alterar sua execução, que vão desde às condições climáticas e ao congestionamento dos portos até os mais variados problemas de ordem operacional. No conhecimento de transporte objeto desta lide, vale ressaltar, não se encontra data certa e definida para a chegada (fls. 87/88). As previsões lançadas ao longo da viagem estão sujeitas aalteração, sendo que a cláusula oito das condições gerais do contrato prevê a isenção de responsabilidade do transportador por atraso nas chegadas programadas, com menção expressa de que o transportador não garante ou se compromete a carregar, transportar ou descarregar mercadoria em determinada data. E mais: “Saídas e chegadas anunciadas são apenas datas estimadas e tais itinerários poderão ser adiantados, atrasados ou cancelados sem aviso” (fl. 293). Quanto aos métodos e rotas de transporte, a cláusula 9.1 faculta ao transportador a transferência da carga para outro navio, inclusive com transbordo, prosseguir por qualquer rota (fls. 293/294). A transportadora comprovou a necessidade de transbordo (conforme links das reportagens citadas a fl. 230), da alteração de rotas e de portos, sendo certo que o navio não está obrigado a partir sem que se tenha carregado uma carga mínima. Não se comprovou, assim, a ação ou omissão involuntária, negligência ou imprudência pela ré ou pela denunciada a justificar a responsabilização delas pela entrega das mercadorias em data posterior ao Natal, pois sequer há prova de que no momento da cotação do frete pela ré ou do embarque do contêiner pela denunciada houvesse ciência da natureza da mercadoria transportada.” (fls. 332/333, destaquei). Ademais, é clara a comprovação da atividade empresária por ela desenvolvida, conforme se extrai do seu contrato social, cláusula 2.ª, “DO OBJETIVO SOCIAL, fls. 12. Neste sentido, “a autora se dedica ao ramo de importação e exportação de alimentos, não podendo alegar ignorância quanto às peculiaridades de cada meio de transporte utilizado nas suas relações comerciais no exterior.” Além disso, “O documento de fl. 153 demonstra que a autora já havia contratado o transporte por navio para o mesmo destino. Esse mesmo documento demonstra que a autora solicitou a cotação de frete padrão alimento, sem especificar o gênero alimentício e a necessidade de entrega em data certa. E diferentemente do sustentado pela autora, não consta em qualquer documento emitido pela denunciada data certa e nem definida para a chegada ao destino das mercadorias transportadas pela via marítima” (fls. 332, destaquei), ressaltando-se que a ré

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Norge “apenas cientificada sobre a natureza da carga e necessidade de entrega quando já iniciada a viagem.” (fls. 333). E, uma vez que “o ramo de atividade da autora está ligado à exportação e importação de vários produtos alimentícios, estando, por isso, invariavelmente afeita ao comércio que explora e habituada aos meandros da importação e do transporte marítimo”, o “risco pela falta de entrega da mercadoria ao comprador no prazo acordado entre a autora e o último, assim, deve ser assumido somente pela autora que elegeu o transporte marítimo que, sabidamente, não contém garantia de prazo de entrega.” (fls. 333, destaquei). Desse modo, nada há nos autos a comprovar ter a ré assumido a obrigação de entrega dos produtos exportados antes das festividades natalinas, ônus que, ademais, impendia à autora demonstrar, a teor do disposto no art. 333, I, do CPC de 1973, vigente à época (art. 373, I, NCPC). Como se vê, a sentença deve ser mantida por seus próprios e bem deduzidos fundamentos, os quais ficam inteiramente adotados como razão de decidir pelo não provimento do recurso, nos termos do artigo 252 do Regimento Interno deste Egrégio Tribunal de Justiça que estabelece que "Nos recursos em geral, o relator poderá limitar-se a ratificar os fundamentos da decisão recorrida, quando suficientemente motivada, houver de mantê-la". Ante o exposto, nega-se provimento agravo retido e ao recurso principal. (TJSP, Apelação 1077648-79.2013.8.26.0100, Des. relator Alfredo Attié, 26ª Câmara de Direito Privado, j. 23/11/2017) 5.2 Trata-se de Ação de indenização por danos materiais e lucros cessantes movida pela empresa autora contra as empresas acionadas. (...) Inicialmente, examino as preliminares de Ilegitimidade de parte ativa e passiva, suscitadas pela segunda acionada. Da análise dos documentos de fls. 116, 118, 158/160 e 166/167 constata-se que a parte autora estabeleceu relação contratual com a primeira requerida - UTC - International Logístics Ltda, não havendo celebrado contrato com a segunda demandada - ALIANÇA NAVEGAÇÃO E LOGÍSTICA LTDA - portanto, a requerente e esta requerida são partes ilegítimas para figurar no pólo ativo e passivo da presente ação. Deste modo, acolho as preliminares suscitadas na contestação de fls. 128/142 pela ALIANÇA NAVEGAÇÃO E LOGÍSTICA LTDA e julgo extinto o feito, sem resolução de mérito, em relação a esta demandada. Vale esclarecer que são inaplicáveis, no presente caso, as normas contidas na Lei n° 8.078/90 - Código de Defesa do Consumidor - por tratar-se de relação jurídica decorrente de Contrato de Transporte, regulamentada pelo novo Código Civil - Lei 10.406/02, em seus artigos 743 e seguintes. Da análise dos autos

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constata-se que inexiste qualquer prova de ter a primeira ré se comprometido junto à autora a entregar o bem transportado exatamente no dia 16 de abril de 2004, contrariando, assim, a narrativa constante da exordial. O documento de fls. 30/31 traduz uma proposta elaborada pela UTC - International Logistics Ltda e encaminhada à acionante com cotações de preços e de datas de saída e de chegada da mercadoria, relativos ao transporte marítimo que a autora pretendia contratar, porém não contém a opção escolhida e convencionada entre as partes. O extrato de fls. 78 traz em seu bojo a informação que a entrega do bem objeto do contrato de transporte tinha data prevista para o dia 20/04/2004 e não para o dia 16/04/2004. Sabe-se, todavia, que previsão não significa certeza, exatidão, não sendo apta a gerar pretensão. O dicionário da língua portuguesa traz a definição do verbo prever. Vejamos: Prever. Ver antecipadamente; calcular; pressupor (Dicionário da Língüa Portuguesa. Silveira Bueno). Grifo nosso. De outra maneira, o contrato de conhecimento celebrado entre as partes contratantes constante das fls. 116/117, cuja tradução se encontra às fls. 118/126, não estipula datas de chegada da mercadoria adquirida pela parte autora, ao contrário, dispõe na cláusula 13 que "A transportadora não garante as datas de chegada. A Transportadora não se responsabiliza pelo atraso..." Nestas condições, não restou evidenciado ter a parte ré agido de má-fé ou mesmo descumprido o quanto se obrigou mediante ajuste. A UTC - International Logistics Ltda, ressalte-se, apenas forneceu à contratante/autora uma data provável de execução total do contrato. De outro modo, a data prevista de entrega do bem foi frustrada por razões alheias à vontade da empresa acionada, conforme restou demonstrada através da prova carreada aos autos (...) (TJBA, Proc. 644289-8/2005, Juíza Maria De Fátima Silva Carvalho, 2ª Vara Cível, j. 30/09/2008)

b) Atraso – Demora excessiva - Responsabilidade do transportador 5.3 Apelação cível. Ação ordinária pretendendo a condenação das rés ao pagamento de indenização a título de dano material e moral, em razão do atraso na entrega da mudança contratada pela autora com a empresa ré. Contrato de transporte marítimo do brasil para os estados unidos. Excessivo atraso na entrega da mudança. Inexistência de dano material a ensejar a pretendida indenização. Caracterização de dano moral, entretanto, decorrente de falha no cumprimento do contrato de transporte, considerando que a mesma somente foi entregue quase 04 (quatro) meses

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após a contratação do serviço. Sentença que merece ser mantida em todos os seus termos e fundamentos, inclusive no tocante ao valor da verba indenizatória fixada a título de dano moral e bem assim dos ônus da sucumbência. Desprovimento de ambos os recursos. (TJRJ, AC 0002126-63.2006.8.19.0210, Des. Luiz Felipe Francisco, 8ª Câmara Cível, j. 17/06/2008) 5.4 Apelações cíveis – indenização por danos – transporte internacional marítimo - sentença monocrática que julgou parcialmente procedente os pedidos - aplicação do cdc - impossibilidade - empresa autora que venderia mercadoria, visando lucro, tratando-se de atividade de consumo intermediário - inexistência de prazo acordado ou estipulado em contrato - inocorrência - conjunto probatório que respalda o prazo em previsões razoáveis, não justificando o atraso por mais de 03 (três) meses - indenização por dano material na modalidade de lucro cessante e dano emergente - incabível - negociação de mercadoria ciente do atraso - efetivo prejuízo comprovado e deferido resarcimento pelo juízo a quo - dano moral não caracterizado - sentença inalterada. Apelo 1 - recurso desprovido. Apelo 2 - recurso desprovido. (TJPR, Apelação nº 786116-5, Des. Marco Antônio Massaneiro, 8ª Câmara Cível, j. 25/08/2011) 5.5 CIVIL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS - TRANSPORTE DE CARGA - INAPLICABILIDADE DO CDC - INSUMO - ATRASO DESARRAZOADO DA TRANSPORTADORA - INTELIGÊNCIA DA LEI 9.611/98 - RESPONSABILIDADE PELOS DANOS MATERIAIS EMERGENTES CAUSADOS 1.SE, CONQUANTO, NÃO AVENÇADO PRAZO PARA A CONSECUÇÃO DO TRANSPORTE DE CARGA E A ENTREGA DA MERCADORIA DESPACHADA, A EMPRESA TRANSPORTADORA ATRASA O SEU ENVIO POR TEMPO ALÉM DO RAZOÁVEL – MAIS DE UM MÊS (LEI Nº 9611/98, ARTS. 8º, E; 14) SE ESTE COMPORTAMENTO NEGLIGENTE TRAZ INDISCUTÍVEL INUTILIDADE DA MERCADORIA TRANSPORTADA - MATERIAL DE PROPAGANDA PROMOCIONAL, CUJO ATRASO LHE RETIROU A FINALIDADE PARA A QUAL SE DESTINAVA - EMERGE DAÍ A RESPONSABILIDADE CIVIL DA EMPRESA TRANSPORTADORA PELOS DANOS MATERIAIS QUE CAUSOU À CLIENTE. [...] 4.SE INCONTROVERSO O ATRASO NA REMESSA DA MERCADORIA, EM VERDADEIRO DESCUMPRIMENTO DO PRAZO RAZOÁVEL PARA SUA ENTREGA

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PELA TRANSPORTADORA, TEM O CONDÃO DE CAUSAR TRANSTORNOS E ABORRECIMENTOS AOS DIRIGENTES DA EMPRESA QUE CONTRATOU O TRANSPORTE, COM ÓBVIO REFLEXO NA SUA ATIVIDADE COMERCIAL - CAUSANDO-LHE DANOS MATERIAIS EMERGENTES (...) (TJDF, AC 20010110359788, Des. Benito Tiezzi, DJU 19/01/2006, p. 50)

c) Atraso – Demora na liberação da carga por falta do conhecimento de

transporte – Ausência de responsabilidade do transportador 5.6 TRANSPORTE MARITIMO. RESPONSABILIDADE CIVIL. ENTREGA DA MERCADORIA. AVARIA. DOCUMENTO ESSENCIAL. FATO SUPERVENIENTE. PROPRIEDADE COMPROVADA. Bagagem. Conhecimento de transporte. Deposito. Fato superveniente. Entregando a afretadora, a mercadoria transportada no "Porto", sem que o proprietário tenha providenciado cópia do conhecimento marítimo, cessa a responsabilidade do consignatário. A demora dessa entrega, em razão de fato superveniente, de alguma seriedade, devidamente esclarecido por documentação, e independente da vontade das partes, não pode acarretar qualquer responsabilidade, pelo atraso, salvo perda de mercadoria. O ajuizamento de ação sem qualquer comprovação, acarreta a condenação do autor, no pagamento das custas e honorários advocatícios. Recursos não providos.

(TJRJ, Apelação nº 0004341-12.1996.8.19.0000 (1996.001.02576), Relator: Des. Luiz Carlos Perlingeiro, 9ª Câmara Cível, Julgamento: 15/08/1996) d) Atraso – Transporte marítimo de carga - Impossibilidade de

responsabilização do agente 5.7 Ação com pedido de indenização por danos morais, materiais (lucros cessantes e emergentes), em decorrência de atraso na entrega de mercadorias adquiridas em comércio internacional, cujo transporte ocorreu através de navio mercante. Data de desembarque que ultrapassou o período de 30 dias da contratualmente avençada pelas partes. Necessidade de aquisição de novos produtos com entrega via transporte aéreo. Atraso do navio que ocorreu face problemas mecânicos. Incidência do código de defesa do consumidor. Normativo não aplicado à espécie. Incidência da teoria finalista. Interpretação restritiva da legislação consumerista e do conceito de “destinatário final”. Autora que não se qualifica como consumidora face a

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atividade de mercância que exerce. Produtos adquiridos internacionalmente que seriam repassados a outra empresa exploradora de atividade comercial. Precedentes. Responsabilidade atribuída ao agente marítimo. Impossibilidade. Atuação como mero mandatário do armador/agente. Artigo 653 do cc/02. Responsabilidade que não lhe pode ser imputada pelos danos causados a terceiro. Imposição legal. Precedentes do stj. Ilegitimidade passiva confirmada em sede recursal. Extinção do feito, sem resolução do mérito. Artigo 267, inciso vi, do cpc. (...) (TJPR, Apelação nº 886.563-6, Relator: Des. Fagundes Cunha, 8ª Câmara Cível, j. 13/06/2013) e) Atraso – Trâmites alfandegários – Ausência de responsabilidade 5.8 Compra e venda de produto importado. Alegação de atraso na entrega, modo a viabilizar o pleito indenizatório. Hipótese em que o atraso se deu em razão de trâmites alfandegários, sendo que se encontrava presente a cláusula no contrato firmado entre as partes que viabilizava a dilatação do interstício inicialmente previsto. Tão logo ocorreu o desembaraço aduaneiro no brasil o produto foi entregue à parte autora, razão pela qual não se fala em indenização por danos materiais sofridos. Apelo desprovido. (Apelação Cível Nº 70057161994, Décima Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Elaine Harzheim Macedo, Julgado em 28/11/2013) f) Atraso – Transporte Marítimo – Hipótese equiparada a caso fortuito –

Exclusão de responsabilidade do transportador 5.9 Apelação cível - ação de indenização por danos morais - transporte marítimo - atraso ao destino designado - responsabilidade civil - hipóteses de exclusão. Caso fortuito ou força maior. 1. A empresa prestadora de serviços de transportes marítimos não pode ser responsabilizada se o fato ocorrera de forma alheia a sua vontade. 2. Defeito oriundo de fatos naturais e extremamente corriqueiros desta atividade comercial. 3. Não caracterização da culpabilidade da empresa prestadora do serviço. (TJPA, AC: 2004300-24302, Relator: Maria Rita Lima Xavier, Data de Publicação: 27/09/2004.

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6. Avaria Grossa

As Regras de York-Antuérpia, internacionalmente incorporadas aos contratos de comércio marítimo, disciplinam as avarias grossas. Em contraposição às avarias simples (ou particulares), as avarias grossas (ou comuns) caracterizam-se pela adoção de uma conduta voluntária no intuito de preservar o bem comum e os demais interesses que permeiam aquela aventura marítima diante de uma situação de risco, mesmo que tal ato implique no sacrifício de determinados interesses particulares. Dentre muitos atos que podem se enquadrar no contexto de avaria grossa, podemos citar o alijamento voluntário de cargas ao mar para preservar a segurança do navio e das demais cargas quando por algum motivo a navegabilidade da embarcação tenha sido afetada. Outro exemplo, a varação, consistente no ato de encalhe voluntário da embarcação para evitar um mal maior, como um naufrágio, poluição e perda de vidas humanas e demais cargas que se encontrem a bordo. Em situações tais, onde se verifica a ocorrência de uma avaria grossa, todos os interessados na expedição marítima devem contribuir proporcionalmente com as indenizações e despesas, podendo o armador inclusive pleitear garantias junto aos consignatários e seguradores de carga para assegurar o futuro pagamento de tais indenizações que serão arbitradas pelos reguladores de avaria grossa.

a) Avaria grossa – Varação 6.1 AÇÃO REGRESSIVA - CONTRATO DE SEGURO DE TRANSPORTE MARÍTIMO INTERNACIONAL - AVARIA GROSSA. 1. Contrato de transporte marítimo. Sub-rogação da seguradora. Pagamento indenização ao segurado. 2. Navio operacionalizado por três empresas distintas - proprietária, afretadora e subafretadora/transportadora. Demanda ajuizada em face de todas. 3. Encalhamento da embarcação. Alijo de mercadorias para salvação comum. 4. Declaração de "Avaria grossa". Exoneração parcial da responsabilidade do transportador, mediante rateio do prejuízo entre os

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envolvidos. 5. Culpa do transportador não demonstrada. Mera alegação de não ocorrência de avaria grossa que se mostra insuficiente a afastá-la, notadamente em tendo sido acostada prova obtida de forma unilateral. 6. Mercadoria recebida sem ressalvas, trazer a ausência de dano. 7. Recurso desprovido. (TJRJ, Apelação 0062625-24.2007.8.19.0001 - Des(a). Ricardo Couto De Castro - Sétima Câmara Cível - Julgamento: 16/08/2017) 6.2 Avaria grossa. Configuração. Enquanto a sentença entendeu que, quando deliberado o encalhe, consumados ja se achavam os danos, o acórdão tem como certo que a mercadoria se deteriorara devido a ação de água salgada, durante o longo tempo em que o navio ficou encalhado. E, tendo o encalhe sido deliberado, para salvar o navio e a carga, teve como configurada a avaria grossa. A conclusão quanto ao direito esta baseada em matéria de fato, sobre cuja apreciação divergiram a sentença e o acórdão (...) (STF, RE 52803, Relator: Min. Luiz Gallotti, Terceira Turma, DOU: 20/11/1967)

b) Avaria grossa – Rateio das despesas extraordinárias 6.3 APELAÇÃO – TRANSPORTE MARÍTIMO – AVARIA GROSSA – SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. TRANSPORTE MARÍTIMO – Avaria grossa verificada quando da explosão de contêiner em navio em que transportadas mercadorias de propriedade da autora da ação – Necessidade de realização de esforços extraordinários para salvamento da carga - Recusa da autora ao pagamento da contribuição exigida de todos os proprietários de carga, insurgindo-se contra a retenção dos conhecimentos de transporte – Recusa injustificada – Regras do comércio marítimo que impõem o dever de pagamento ou ofertar garantia, sob pena de retenção das mercadorias, o que foi deferido em favor da ré em diversas ações ajuizadas – Valor preliminar da garantia apurado por empresa especializada, sem elementos que evidenciem abuso – Valor definitivo que poderá ser contestado oportunamente. SENTENÇA MANTIDA – RECURSO DESPROVIDO. (TJSP; Apelação 1032282-49.2015.8.26.0002; Relator Sergio Gomes; 37ª Câmara de Direito Privado; Data do Julgamento: 07/02/2017)

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6.4 Avaria grossa. Caracterização. Rateio das despesas extraordinarias. Desnecessidade de regulação para configuração da avaria. Recursos extraordinários não conhecidos. (STF, RE 57591, Relator: Min. Amaral Santos, 1ª Turma, Data de Publicação: 09/05/1969)

c) Avaria grossa – Incêndio 6.5 Agravo de instrumento. Direito marítimo. Transporte de equipamentos em navio cargueiro. Acidente em alto mar com explosão e incêndio. Cargas transportadas danificadas. Declaração de avaria grossa. Decisão que deferiu o pedido liminar determinando a retenção das cargas dos réus no terminal de contêiners de sepetiba, até que sejam prestadas as garantias de avaria grossa. – (...) -decisão que se mantém. - Recurso conhecido e desprovido. (TJRJ, AI 0042939-68.2015.8.19.0000 - Des(a). Maria Regina Fonseca Nova Alves - Décima Quinta Câmara Cível - Julgamento: 26/01/2016)

6.6 COMÉRCIO MARÍTIMO. TRANSPORTE DE MERCADORIAS. CÓDIGO COMERCIAL. INCÊNDIO. INEXISTÊNCIA DE VÍCIO DO NAVIO OU CULPA DA TRIPULAÇÃO. HOMOLOGAÇÃO DE AVARIA GROSSA. A autora pretende a repartição de avaria grossa ocorrida em seu navio entre os responsáveis pela carga e as respectivas seguradoras, procedimento previsto no art. 772 Código Comercial. Afirmou a autora que durante a viagem houve um incêndio no navio, o qual trouxe danos ao mesmo. O acidente foi submetido à sociedade reguladora de avarias marítimas, a qual concluiu pela existência de avaria grossa, procedendo-se ao rateio do prejuízo. O art. 761 do Código Comercial traz o conceito de avaria como sendo "todas as despesas extraordinárias feitas a bem do navio ou da carga, conjunta ou separadamente, e todos os danos acontecidos àquele ou a esta, desde o embarque e partida até a sua volta e desembarque." Prossegue a Lei Comercial, em seu art. 763, afirmando que avaria grossa ou comum é aquela que é repartida proporcionalmente entre o navio, seu frete e a carga. Afirme-se que tais normas atinentes ao transporte marítimo, continuam vigentes no nosso ordenamento jurídico porquanto o art. 2045 do Código Civil de 2002 revogou, apenas, a primeira parte do Código Comercial, mantendo-se as disposições referentes à segunda parte da Lei Comercial, a qual disciplina o comércio marítimo. Da análise da

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legislação comercial, percebe-se que toda a regulação das eventuais avarias ocorridas no âmbito do transporte de cargas marítimo, estão disciplinadas na lei, cabendo ao julgador a análise dos fatos e condições que envolveram o acidente, submetendo à perícia eventuais questões técnicas. Em sua defesa, as rés argumentam que houve, em verdade, avaria simples, ou seja, o incêndio foi causado por vício exclusivo do navio mercante, bem assim, apontam a imperícia da tripulação no combate ao incêndio, de modo que as despesas ficam a cargo tão-somente do navio mercante, tal como o preceitua o art. 765 do Código Comercial Submetida a questão à prova pericial, em especial, em relação à existência de vício interno do navio como causa do incêndio e à culpa da tripulação no combate ao incêndio, concluiu o expert que tais hipóteses não ocorreram, cuidando-se de típico caso de avaria grossa, levando-se, consequentemente à repartição das despesas. DESPROVIMENTO DOS RECURSOS. (TJRJ, APL 0158935-63.2005.8.19.0001, Relator: Desembargador Roberto De Abreu E Silva, Nona Câmara Cível, Data de Julgamento: 25/10/2011)

d) Avaria grossa – Inexistência de litisconsórcio necessário entre a consignatária e a seguradora da carga

6.7 COBRANÇA. HOMOLOGAÇÃO DE REPARTIÇÃO DE AVARIA GROSSA. INÉPCIA DA INICIAL. LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO. PRELIMINARES REJEITADAS. PERITO. ESPECIALIDADE. A apresentação tão-somente da tradução do extrato de Regulação de Avaria Grossa produzida por tradutor público já se mostra suficiente para o deslinde da controvérsia, uma vez que, este sim, se consubstancia em documento necessário e indispensável à propositura da demanda, nos termos do art. 157 do CPC, sendo certo que o tradutor juramentado possui fé pública, estando resguardada a higidez do documento. Assim, a peça literal, redigida em língua estrangeira, consubstancia-se em documentação facultativa, sendo obrigatória apenas a apresentação da tradução firmada por tradutor juramentado. Também não há que se falar em litisconsórcio passivo necessário entre a agravante - 3ª ré e seguradora da 1ª ré - e a sociedade empresarial Mitsui Sumitomo Seguros S/A. Como se infere da alegação da própria agravante, o contrato de co-seguro foi celebrado entre partes sem qualquer relação de direito material com a autora. Logo, eventual direito de regresso entre réus e terceiros será resolvido por vias próprias, em nada atingindo a autora que sequer foi parte no negócio jurídico avençado. O mesmo que se diga em relação ao ressegurador - IRB Brasil Resseguros S.A. Nos termos do art. 47 do CPC,

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haverá litisconsórcio necessário por disposição expressa de lei ou pela natureza da relação jurídica de direito material, não se verificando nenhuma dessas hipóteses nos autos. O d. Juízo ao nomear o ilustre perito observou art. 145 e seguintes do CPC. O diploma processual previu a possibilidade de indicação de assistente técnico pelas partes, visando, justamente, evitar tais ingerências na atividade jurisdicional de direção do processo. RECURSO A QUE SE NEGA SEGUIMENTO. (TJRJ, AI nº 0027312-68.2008.8.19.0000, Relator: Desembargador Roberto De Abreu E Silva, Nona Câmara Cível, Data de Julgamento: 02/10/2008) e) Abalroamento entre embarcações – Inexistência de avaria grossa 6.8 Transporte marítimo. Abalroação de navios. Culpa contratual do transportador. Dever de indenizar os danos sofridos pela carga transportada. Procedência do pedido. Inconformismo da Seguradora. Direito de regresso. Provimento do recurso. Inconformismo do réu. Verba de sucumbência. Recurso prejudicado. No contrato de fretamento tem o fretador o dever de transportar a carga de um porto a outro, livre de qualquer dano. Em sendo descumprida essa obrigação, deve ressarcir o afretador nos prejuízos a que deu causa, uma vez que inexistente, na espécie, a prova de que a inexecução do contrato deu-se por fatos a ele não imputáveis (vicio próprio da mercadoria) ou de ocorrência de caso fortuito ou forca maior, originários de forças naturais impeditivas. Descabida a invocação da existência de avaria grossa, considerando que a perda da mercadoria decorreu de abalroação de dois navios, sendo que, em caso de culpa reciproca, o transportador paga o valor integral dos prejuízos, por forca do contrato respectivo, atuando, regressivamente, se configurada essa hipótese, contra o armador do outro navio, para cobrar, em proporção, o quinhão que a ele corresponda. Em havendo sucumbência, o vencido deve suportar os ônus daí decorrentes (TJRJ, AI nº 1996.001.04808, Relator: Des. Nilton Mondego, Nona Câmara Cível, Data de Julgamento: 25/09/1996)

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7. Carga Refrigerada – Divergência de Temperatura

O risco de perecimento de mercadorias no curso de um transporte de cargas refrigeradas certamente deve ser considerado. Seja pela natureza perecível da própria carga ou por fatores externos, como temperatura e umidade, diversas podem ser as causas de avarias a esse tipo de carga no curso de um transporte. É importante verificar-se, em casos tais, a condição em que a carga foi acondicionada para transporte; a temperatura ideal indicada pelo embarcador para aquele transporte; se a unidade de transporte já se encontrava refrigerada quando as mercadorias foram postas dentro do container evitando assim o chamado ‘hot stuffing’; a permanência da unidade refrigerada e conectada a uma fonte de energia durante todos os modais de transporte; o bom funcionamento do container; e um controle e monitoramento de adequado durante toda a jornada. Os containers reefer possuem mecanismos de registro da temperatura e umidade em seu interior durante toda a jornada, informações estas que se tornam um ótimo elemento para a constatação do momento em que teria ocorrido eventual variação de temperatura, proporcionando, consequentemente, que se possa identificar a parte responsável pela custódia da mercadoria naquele instante. Em regra, uma vez afetada a temperatura de uma carga perecível que deveria ser mantida sob uma atmosfera controlada e refrigerada, o procedimento de maturação da carga iniciado não poderá mais ser interrompido, ainda que se retorne posteriormente à temperatura ao nível adequado. Portanto, apesar de a maior parte das avarias à carga serem constatadas apenas no destino, após o desembarque e a abertura dos containers, importante se faz identificar-se o momento em que de fato ocorreu a relevante variação de temperatura da carga apta a desencadear a maturação da mesma, para se poder identificar qual a parte que deve, consequentemente, responder pelos danos.

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a) Transporte marítimo – Carga refrigerada – Avaria – Ausência de prova de incorreção na temperatura do contêiner – Ausência de responsabilidade do transportador

7.1 Transporte marítimo. Danos nas mercadorias transportadas. Não demonstração de que houve oscilação de temperatura acima do zero grau durante o transporte marítimo do contêiner. Pedido indenizatório improcedente. Recurso desprovido. (TJSP, AC: 0004792-48.2009.8.26.0562, Rel.Luis Carlos de Barros, 20ª Câmara, DJ 27/03/2013)

7.2 Recursos de apelação tirado em ação de indenização por danos materiais proposta por empresa que contratou exportação de 14 "conteiners" de vegetais frescos para os usa - indevida prestação dos serviços contratados- embarque de apenas 13 dos "conteiners", tendo um destes permanecido em terra- não entrega da totalidade da mercadoria gerando prejuízos a autora - recurso da recorrente world, dando conta de que não concorreu para os prejuízos noticiados - mera agenciadora de cargas - responsabilidade que deve ser integralmente atribuída a co-re hapag, posto que funcionou como operadora portuária e, assim provocou o "overbooking" que implicou na falha de trasporte contratado - valor de condenação incorreto - supervalorização do prejuízo - despesas cuja indenização é pretendida, que não se viram comprovadas - pedido de reforma, com sua exclusão da lide - recurso da co-ré hapag, pelo qual sustenta responsabilidade tanto da co-ré, quanto como de libra terminais, no que toca a indenizar a autora que, por seu turno, também colaborou para o ocorrido - insuficiente fiscalização / indevido reconhecimento da prescrição em relação a libra - matéria regida pela lei 6.830/93 - prescrição trienal - recusa de embarque decorrente da indevida armazenagem, esta de responsabilidade de libra - dever de indenizar que emerge do conjunto dos autos -parcial adequação da r.sentença na apreciação das matérias pelo juízo - adequado afastamento de lide secundária suscitada por co-ré, que implicou no reconhecimento da prescrição quanto a aplicação do dec. 1.102/1903, que não se encontra revogado - farta jurisprudência nesse sentido -preliminares corretamente afastadas - indevido reconhecimento, no entanto, de aplicação da legislação consumerista ao caso concreto -não aplicação do c.d.c. ao caso - mercadoria que, a bem da verdade não pereceu, posto que negociada posteriormente - indevida demonstração de que o embarque não se operou por falha no armazenamento - inexistência de prova da incorreta

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temperatura do 'conteiner' - dever de indenizar presente, no entanto, por valores diversos daqueles pretendidos -valor das cebolas superestimado pela autora -despesas com advogado não demonstradas -importancias assim pretendidas que devem ser excluídas do montante indenizatório - recurso de world log parcialmente provido (...) (TJSP, AC: 0154471-87.2008.8.26.0100, Relator: Simões de Vergueiro, 16ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 19/08/2013)

b) Avaria de carga refrigerada – Carga perecível – Ausência de variação

de temperatura durante o transporte – Falha do embarcador 7.3 INDENIZAÇÃO. Contrato de transporte - Carga perecível (frutas) Conhecimento de transporte não faz menção à necessidade de abertura do sistema de ventilação necessária para conservação da mercadoria. Tempo de duração da viagem compatível com o limite tolerável para conservação das frutas. Temperatura no interior do “container” adequada e de acordo com a recomendação do exportador. Causas prováveis da avaria, apuradas pela perícia, consistiram em infestação fúngica e polpa com consistência mole, bem como falta de ventilação, para troca de gases no interior do ‘’contêiner’’. Frutas foram embarcadas em provável processo de maturação - Exportador, que não instruiu, adequadamente, os funcionários da transportadora, no sentido de ser acionado sistema de ventilação no interior do contêiner para conservação das frutas - Responsabilidade objetiva do transportador excluída Recurso da autora improvido. (TJSP, AC: 9096749-19.2006.8.26.0000, Relator: Plinio Novaes de Andrade Júnior, 24ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 24/11/2011)

c) Avaria de carga refrigerada – Carga perecível – Inexistência de variação de temperatura durante o transporte – Falta de provas do momento de ocorrência do dano

7.4 Indenização de lucros cessantes por depreciação no va-lor da mercadoria c/c danos morais. Transporte marítimo de frutas. Nulidade da sentença. Impugnação quanto a qualificação do perito nomeado. Alegação extemporânea, após a entrega do laudo. Código de Defesa do Consumidor que não se aplica ao caso. Situação descrita que implica na responsabilidade objetiva do transportador marítimo, que somente é elidida quando

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comprovada excludente de responsabilidade. Prova pericial conclusiva que a Ré não teve responsabilidade pelo evento descrito. Sentença de improcedência mantida. Preliminar rejeitada e recurso não provido. (TJSP, Apelação 0006095-97.2009.8.26.0562; Relator (a): João Pazine Neto; 37ª Câmara de Direito Privado; Julgamento: 26/01/2016;) 7.5 AÇÃO DE INDENIZAÇÃO TRANSPORTE MARÍTIMO - IMPROCEDÊNCIA. Apelação. Avaria em carga Alegada maturação de peras durante o transporte marítimo, por acondicionamento em temperatura inadequada. Falta de provas nesse sentido, inclusive do momento em que ocorreu a avaria Impossibilidade de se reconhecer a responsabilidade da apelada. Sentença mantida. Art. 252 do Regimento Interno do TJ/SP - A sentença deve ser confirmada por seus próprios e bem deduzidos fundamentos, os quais ficam inteiramente adotados como razão de decidir, nos termos do art. 252 do Regimento Interno deste Egrégio Tribunal de Justiça. Recurso não provido. (TJSP, AC: 0053367-24.2008.8.26.0562, Relator: Marino Neto, 11ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 27/02/2013)

7.6 AÇÃO DE INDENIZAÇÃO TRANSPORTE MARÍTIMO - IMPROCEDÊNCIA. - Apelação Avaria em carga Alegada maturação de peras durante o transporte marítimo, por acondicionamento em temperatura inadequada Falta de provas nesse sentido, inclusive do momento em que ocorreu a avaria Impossibilidade de se reconhecer a responsabilidade da apelada Sentença mantida. Art. 252 do Regimento Interno do TJ/SP - A sentença deve ser confirmada pelos seus próprios e bem deduzidos fundamentos, os quais ficam inteiramente adotados como razão de decidir, nos termos do art. 252 do Regimento Interno deste Egrégio Tribunal de Justiça. (TJSP, AI nº 0174988-11.2011.8.26.0100, Relator Correia Lima, 20ª Câmara De Direito Privado, Data de Julgamento: 07/04/2014).

d) Avaria de carga refrigerada – Carga perecível – Vício de origem da

mercadoria – Ausência de responsabilidade do transportador 7.7 Transporte marítimo. O conhecimento prova o recebimento, a bordo, da mercadoria, conforme a qualidade, quantidade, marcas, e números, nele

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registrados. Não diz expressamente qual o estado em que a carga se encontra, segundo a Lei Comercial Brasileira. No contrato de transporte marítimo, vige, entre nós, o princípio da responsabilidade com culpa (C.Com., art. 529). Admitido vício de origem da mercadoria e não provada culpa do transportador marítimo, não há como atribuir a esta responsabilidade pela deterioração de castanhas trazidas de Portugal, em condições do navio tecnicamente favoráveis. (STF, RE 74443, Min. Relator: Djaci Falcão, DJ 29.06.73)

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8. Cláusula Arbitral A arbitragem como forma de resolução de conflitos se mostra uma alternativa eficaz para se evitar litígios judiciais. Não obstante não ser muito usual para a solução de disputas relacionadas ao transporte marítimo de cargas no Brasil, a arbitragem é largamente prestigiada nos contratos internacionais. De toda forma, conforme preconizado tanto pela Lei de Arbitragem como pelo Código de Processo Civil Brasileiro, as cláusulas arbitrais constituem hipótese de extinção de eventual demanda judicial oriunda de um contrato que a preveja.

a) Sentença arbitral estrangeira – Cláusula compromissória – Ausência

de impugnação 8.1 Sentença arbitral estrangeira. Cláusula compromissória. Contrato não assinado pela requerida. Comprovação do pacto. Ausência de elementos. 1. Tem-se como satisfeito o requisito da aceitação da convenção de arbitragem quando a parte requerida, de acordo com a prova dos autos, manifestou defesa no juízo arbitral, sem impugnar em nenhum momento a existência da cláusula compromissória. 2. Descabe examinar o mérito da sentença estrangeira no presente requerimento, na esteira de precedentes do Supremo Tribunal Federal. 3. Homologação deferida. (STJ, SEC: 856 EX 2005/0031430-2, Relator: Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, Corte Especial, Data de Publicação: 27.06.2005) b) Arbitragem – Cláusula compromissória – Pressuposto processual

negativo – Competência do juízo arbitral 8.2 CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA. PREVISÃO EM CONTRATO. SOLUÇÃO DO LITÍGIO. COMPETÊNCIA DO JUÍZO ARBITRAL. CONVENÇÃO DE ARBITRAGEM. PRESSUPOSTO PROCESSUAL NEGATIVO. RECONHECIMENTO JUDICIAL. POSSIBILIDADE. (...) 1. Cláusula compromissória

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é o ato por meio do qual as partes contratantes formalizam seu desejo de submeter à arbitragem eventuais divergências ou litígios passíveis de ocorrer ao longo da execução da avença. Efetuado o ajuste, que só pode ocorrer em hipóteses envolvendo direitos disponíveis, ficam os contratantes vinculados à solução extrajudicial da pendência. Precedente do STJ (Resp 606.345/RS). É defeso às partes, portanto, pleitear judicialmente direitos fundados em questões já resolvidas por arbitragem. 2.Havendo cláusula compromissória, futuras divergências decorrentes de contrato de salvamento marítimo devem ser encaminhadas à arbitragem. 3.Não é nula sentença arbitral estrangeira por falta de fundamentação, eis que a validade formal deve obedecer a forma exigida no sistema jurídico do respectivo país. 4.Em sendo a convenção de arbitragem um pressuposto processual negativo, a ausência do exequatur não impede o reconhecimento judicial de que a controvérsia já foi solucionada através da arbitragem. (...) 6. Apelação parcialmente provida. (TJES, Apelação nº 0004840-12.2005.8.08.0024, Rel. Des. Samuel Meira Brasil Junior, 2ª Câmara Cível, Data de Julgamento: 09/09/2008) c) Arbitragem – Cláusula compromissória – Validade – Extinção do

processo 8.3 Apelação cível. Ação de cobrança. Penas contratuais em contrato de operações portuárias. Réplica juntada após a sentença. Inexistência, no caso, de prejuízo. Nulidade do feito não decretada. Aplicação do artigo 249, § 1º, do cpc. Representação processual da autora niver lines devidamente regularizada. Existência de mandato entre aquela e a atlas maritime, segunda autora, esta na condição de mandatária, inclusive com poderes para propositura de ações. Mérito. Existência, no contrato, de cláusula compromissória, válida e eficaz. Pacto de caráter paritário e não de adesão. Obrigatoriedade de submissão à arbitragem. Extinção do processo nos moldes do artigo 267, vii, docpc. Sentença mantida. Recurso conhecido e desprovido. (TJSC, Apelação nº 2005.026560-1, Des. Sérgio Izidoro Heil, 2ª Câmara De Direito Civil Data do Julgamento: 02/12/2009) d) Arbitragem – Cláusula compromissória no contrato firmado pelo

segurado – Eficácia perante a seguradora subrogada – Extinção do processo

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8.4 APELAÇÃO CÍVEL. CONTRATO DE SEGURO. AÇÃO REGRESSIVA. REPARAÇÃO DE DANOS. CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA ASSUMIDA ENTRE A SEGURADA E A RÉ. EFICÁCIA TAMBÉM EM FACE DA SEGURADORA. SUB-ROGAÇÃO QUE NÃO ATINGE SOMENTE OS DIREITOS, MAS TAMBÉM OS DEVERES CONTRATUALMENTE ASSUMIDOS PELA SEGURADA. Cláusula contratual da qual a seguradora tinha pleno conhecimento no momento da emissão da apólice de seguro, e dela não pode se furtar. (...). (TJRJ, APL: 01607455820148190001, Relator: Marília De Castro Neves Vieira, Vigésima Câmara Cível, Data de Publicação: 21/03/2017) 8.6 SEGURO - Transporte marítimo de mercadorias - Ação regressiva - Cláusula compromissóna assumida entre a beneficiária dona da carga transportada e a responsável pelo transporte - Eficácia também em face da empresa seguradora dada a subrogação não somente dos direitos mas também dos deveres contratualmente assumidos por sua segurada - Causa de extinção do processo da ação de cobrança - Inteligência do disposto inciso VII do art. 267 do Cód de Proc Civil - Sentença de procedência reformada - Processo extinto - Apelação provida . (TJSP, AC 7307457000 SP, Relator: José Tarciso Beraldo, 14ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 12/03/2009) e) Arbitragem – Cláusula compromissória – instituição do procedimento

arbitral 8.7 CAPITULO III – COMPROMISSO ARBITRAL 9. O Termo de Compromisso Arbitral, firmado entre as Partes em 02 de setembro de 2015 (“Termo de Compromisso”), é o fundamento para a instituição desta Arbitragem, e juntamente com o Termo de Arbitragem assinado pelas Partes em 04 de setembro de 2017, constitui o Anexo I desta Sentença, dela fazendo parte integrante. CAPÍTULO IV – JURISDIÇÃO DO TRIBUNAL ARBITRAL 10. De acordo com o item III, do Termo de Compromisso, as Partes submeteram as controvérsias apontadas no documento à solução arbitral, conduzida pelo CAM/CCBC, localizado na Rua do Rocio, nº 220, 12º andar, conjunto 122, São Paulo, SP, CEP: 04552-000, tel.: (11) 4058-0400, e-mail: [email protected]. CAPÍTULO V – IDIOMA, LOCAL DA ARBITRAGEM E DIREITO APLICÁVEL 11. As Partes acordaram, conforme itens VI, VII e X, do Termo de Compromisso e itens VI e VII do Termo de

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8 Cláusula Arbitral

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Arbitragem, que a Arbitragem seria conduzida em português; o local da Arbitragem seria a cidade de São Paulo, SP; o direito aplicável seria o brasileiro; e que o Tribunal Arbitral julgaria a controvérsia segundo as normas de direito material estabelecidas pela legislação brasileira aplicável, não sendo autorizado o julgamento por equidade, conforme o item 7.1 do Termo de Compromisso e do art. 3º, I, do Decreto nº 8.465/2015. (...)

(CAM/CCBC, Arbitragem Libra Terminais e Outra x Codesp e União Federal; j. 07/01/2019, em www.agu.gov.br/page/content/detail/id_conteudo/643200)

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9. Clube de P&I

Os Clubes de P&I – Protection and Indemnity Clubs – são uma das figuras mais importantes do mercado marítimo internacional, mas, não obstante sua enorme importância para a atividade, pouco são comentados pela doutrina e jurisprudência pátria. Os Clubes de P&I funcionam como associações de mútuo-socorro, sem fins lucrativos, historicamente caracterizada pela autogestão constituídas por armadores ou operadores, e afretadores, denominados “membros”, cujo objetivo precípuo consiste na proteção mútua contra prejuízos inerentes à navegação, decorrentes de responsabilidade civil perante terceiros. Como corolário dessa dinâmica, no âmbito da proteção do P&I, pressupõe-se a contribuição de todos os membros do Clube destinada à diluição dos prejuízos suportados por apenas um. As particularidades desse ramo foram criadas e desenvolveram-se visando a atender um ramo específico, o que resultou num modelo com características próprias de atuação. Reconhecendo tal situação, a melhor doutrina e jurisprudência reconhece a impossibilidade de manejo de ação direta por parte de terceiro prejudicado contra os Clubes de P&I.

a) Clube de P&I – Natureza do P&I - Solidariedade do clube de proteção e indenização (P&I Club) e o armador integrante da associação - Descabimento

9.1 APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO MARÍTIMO. AÇÃO DECLARATÓRIA. SEGURADORA. PEDIDO DE RECONHECIMENTO DE SOLIDARIEDADE DO CLUBE DE PROTEÇÃO E INDENIZAÇÃO (P&I CLUB) DEMANDADO E O ARMADOR INTEGRANTE DA ASSOCIAÇÃO. IMPROCEDÊNCIA. 1. Ação declaratório proposta pelo ora apelante, pleiteando o reconhecimento de solidariedade entre o ora apelado e o armador integrante da associação-Ré, em virtude de sinistro ocorrido durante o transporte marítimo de carga. Ação de regresso anteriormente ajuizada pela seguradora do destinatário da carga em face do armador, na qual restou reconhecida a responsabilidade deste pelos danos

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causados. Pretensão da sociedade de advogados patrocinadora dos interesses da seguradora de ver reconhecida a solidariedade obrigacional entre o causador do dano e a Ré, associação de mútuo auxílio da qual é integrante, e que, segundo o Autor, funciona como seguradora do armador. (...) 2.5 De mais a mais, a sentença proferida nos autos da ação promovida pela Itapu Seguros, da qual não fez parte a apelada, não pode-lhe ser imputada. Isto porque, a coisa julgada só se opera entre as partes, via de regra. É o que estabelece a regra do 506 do NCPC. 3. Entretanto, deve-se adentrar no mérito, pois há casos excepcionais em que se permite terceiro responder por uma obrigação da qual não tem vínculo direto. Não é a extensão do que lá foi decidido, até porque aqui se veria apenas a relação existente ou não entre a apelante e a apelada. 3.1. O cerne da controvérsia reside em definir se a Ré, assim entendida como associação de mútuo auxílio formada por armadores/transportadores, pode ser considerada devedora solidária de um de seus membros em condenação judicial oriunda de sinistro envolvendo o transporte marítimo de cargas. Com efeito, busca a parte Autora ver reconhecida a qualidade de seguradora da Ré e, assim, obter a sua responsabilização direta pelas obrigações inadimplidas pelo segurado. 4. P&I Club. Clube de proteção e indenização de natureza associativa dirigida ao mútuo auxílio econômico-financeiro formada por armadores/transportadores de carga por via marítima, que tem por objeto segurar, mutuamente, responsabilidades, perdas, custos e despesas incorridos pelos membros com relação direta à operação das embarcações registradas na associação e participar de outras atividades relacionadas. De outro lado, a relação jurídica que se pretende ver reconhecida tem sua origem numa relação jurídica de direito processual, surgida no processo nº 07212934-07.2000.8.06.0001, entre a Autor e um dos membros do clube de proteção e indenização constituído pela Ré. Trata-se de um direito de crédito originado de ônus processual imposto ao armador membro do clube de P&I e Réu naquela ação, em decorrência de sua sucumbência nos autos da demanda regressiva movida pela cliente da sociedade de advogados-Autora. 5. Em primeiro lugar, sob o aspecto processual, afigura-se inadmissível reconhecer, ainda que por meio de uma ação judicial de natureza declaratória, o dever de terceiro, ainda que garantidor, assumir para si o ônus de processo que sequer foi parte. Some-se a isso o fato de que, partindo da premissa de que a Ré eventualmente funcionasse como espécie de seguradora, não haveria óbice à sua participação na demanda movida pela vítima do sinistro em face do causador do dano no caso, o armador segurado na qualidade de litisdenunciada, conforme art. 70, III, do CPC/73, vigente à época da propositura da ação, ocasião em que esta atuação estaria limitada à lide secundária formada a partir de sua denunciação à lide. Como é cediço, os

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honorários sucumbenciais nessa espécie de demanda estariam delimitados por sua eventual resistência na lide principal, (...) os honorários advocatícios decorrem de uma relação jurídico-processual. Não há relação direta com o sinistro em que se fundamenta a ação de regresso. 6. Ademais, ainda partindo do pressuposto de que a Ré poderia ocupar a posição de seguradora, o fato de que, para se admitir o ajuizamento da demanda em face da seguradora do causador do dano a fim de se ressarcir pelos prejuízos sofridos, a jurisprudência exige a participação deste último na demanda. Este é o teor do julgamento do REsp nº 962.230/RS, apreciado sob a sistemática dos recursos repetitivos, cristalizado na súmula nº 529 da Corte Superior. Daí a impossibilidade de se pretender transferir ao terceiro-segurador, via ação judicial própria e sem a participação do armador-segurado, obrigações impostas apenas a este. Cuida-se de verdadeira extensão indevida dos limites subjetivos da coisa julgada a quem não participou da demanda. 7. Por fim, como já descrito alhures, o vínculo jurídico que liga o armador (causador do dano) e a Ré não constitui liame contratual bilateral, como ocorre nos contratos de seguro, entre a seguradora e o segurado. Antes, cuida-se de vínculo associativo entre particulares que constituem uma corporação de mútuo auxílio. Resulta dessa forma de organização algumas regras próprias que se distinguem sobremaneira daquelas vigentes nos contratos de seguro de dano tradicionais. A primeira delas diz respeito à forma de contribuição para a associação, que diversamente das prestações pagas nos contratos de seguro, servem exclusivamente para constituir um fundo garantidor, que eventualmente, pode ser suplementado pelas designadas chamadas ou calls (regra 13 do estatuto da Ré fl. 380), no caso de necessidade de cobrir eventos que superem o montante do fundo. Uma vez que caso tais contribuições superem o sinistro, os valores aportados pelos membros são reembolsados (regra 17 do estatuado da Ré fl. 381). Por seu turno, no caso dos prêmios pagos à seguradora, além de remunerarem a própria atividade desempenhada pela seguradora, vige o princípio da indivisibilidade do prêmio, que preconiza que os riscos devem ser considerados não isoladamente tal como no caso dos P&I Clubs mas no seu conjunto, pois os riscos não se distribuem igualmente por todo período de vigência do contrato. (...). De outro lado, nos P&I Clubs, a regra associativa consubstancia-se no dever de ressarcimento do membro integrante do clube. A norma cristaliza-se a partir do axioma pay to be paid, ou em tradução livre, pague para ser pago, isto é, o dever de ressarcir institui-se em relação ao próprio integrante do clube e somente a partir do momento em que ele efetua o pagamento da indenização ao terceiro, terá direito ao reembolso. Regra 87 do estatuto da associação. Como se pode notar, sob qualquer

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aspecto que se analise a questão, a pretensão autoral está fadada ao insucesso. 9. Sentença mantida. 10. Recurso desprovido.

(TJRJ, Apelação Cível 0189045-59.2016.8.19.0001, Órgão julgador 6ª Câmara Civel; Des Relatora Teresa de Andrade, data do julgamento: 23/05/2018) 9.2 Transporte marítimo internacional – Agente marítimo, consignatário ou comissário – Condição de representante legal da companhia de navegação, do armador dono, ou do arrendatário do navio utilizado na operação de transporte – Atuação na qualidade de mandatário e intermediário da companhia internacional na praça do porto de destino – Legitimação extraordinária para a causa e o processo, autorizado ao recebimento da citação em nome da pessoa jurídica estrangeira – Art. 12, VIII e § 3.º, do Código de Processo Civil, combinado com os arts. 513 e 515, da Parte Segunda, do Código Comercial, em vigor por força do art. 2.045 do Código Civil, e arts. 115 e 116 do Código Civil – Desnecessidade de denunciação da lide, para a formação do suposto litisconsórcio com a transportadora – Facultatividade da medida – Inexistência de óbice ao posterior exercício do direito de regresso contra o causador direto do dano – Ilegitimidade para a causa da empresa representante da companhia seguradora, P&I Club – Inexistência de responsabilidade solidária – Ausência da apólice de seguros comprovando a relação jurídica com a seguradora – Qualidade de mera intermediária e correspondente comercial dos clubes seguradores para indenização e proteção aos seguros de transporte marítimo – Avaria e inutilidade integral da carga pela queda do contêiner ao mar durante a vigência do contrato – Inexistência da demonstração de preexcludentes – Ônus do exclusivo do operador e seus subcontratados – Previsibilidade e evitabilidade das variações climáticas – Responsabilidade objetiva das companhias – Infração dos deveres de custódia, vigilância e conservação segura do bem – Indenização devida – Perda patrimonial configurada – Dano concreto – Devolução integral do valor das mercadorias inutilizadas – Lucros cessantes não comprovados – Ausência de demonstração real ou de especificação do prejuízo – Mera expectativa de comercialização dos produtos – Prejuízos extrapatrimoniais não verificados – Intercorrência obrigacional e adversidade negocial do cotidiano que não trouxe reflexo na personalidade jurídica da companhia – Recurso do autor provido, em parte, provido integralmente o da associação de seguradoras Proinde e não provido o recurso do réu Agência de Vapores Grieg.

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(TJSP, Apelação Cível 0120913-85.2012.8.26.0100, 38ª Câmara de Direito Privado; Desembargador Relator César Peixoto; j. 16/09/2018). 9.3 Agravo de instrumento – Ação ordinária de indenização - Cumprimento de sentença – Pretensão da credora de redirecionamento da execução – Descabimento - Clube de P&I que se caracteriza como associação de armadores/transportadores marítimos que atuam no sentido de dar proteção mútua aos associados no exercício de suas atividades de transportadoras de cargas via marítima – Não verificada a existência de vínculo jurídico entre as partes que pudesse autorizar sua inclusão no polo passivo, a fim de ser responsabilizado pelo pagamento do débito – Ademais, não há como estender a coisa julgada para parte que sequer figurou na demanda original - Decisão mantida - Recurso desprovido. (TJSP, Agravo de Instrumento 2254137-84.2018.8.26.0000; Relator (a): Sergio Gomes; 37ª Câmara de Direito Privado; j. 31/01/2019;) 9.4 A autora no desempenho de sua atividade empresarial no Porto de Santos preparava-se para iniciar o carregamento de açúcar a granel no navio de armação da primeira ré e afretamento da segunda ré (a terceira ré é agente marítima da segunda e a quarta é P&I). No entanto, por falha na amarração do navio que receberia a referida carga de açúcar a granel, houve o seu deslocamento por mais de oito metros, danificando o aparelho de carregamento que estava posicionado na boca do porão da embarcação. Para o conserto, por sua vez, são necessários R$ 145.315,23 (valor atualizado para o ajuizamento). Defendendo a responsabilidade civil solidária das quatro rés, segundo a posição que ostentam, pretende a condenação delas no pagamento dessa quantia. As quatro rés apresentam contestação (fls. 353/382; fls. 383/409; fls. 426/432; fls. 433/439), arguindo-se preliminares de ilegitimidade passiva e formulando-se alegação de mérito de improcedência do pedido, basicamente porque a autora se precipitou ao posicionar o aparelho de carregamento na boca do porão (tudo conforme consta das peças de defesa, enfim). Pugnam, assim, pela rejeição do pedido, caso o processo não seja extinto. (...) No regime P&I não existe elo de direito material entre o terceiro em tese vítima de dano praticado pelo associado e o respectivo Club, seja por sub-rogação ou por estipulação a favor de terceiro, menos ainda diretamente. Assim, essa ré (fls. 426) não tem legitimidade passiva. (...) Ante o exposto, JULGO EXTINTO em parte o processo, por falta

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de legitimidade passiva do P&I Club (fls. 426) e do agente marítimo (fls. 353) (...). (Ação Ordinária 0042376-18.2010.8.26.0562, 5ª Vara Cível de Santos, Juiz José Wilson Gonçalves; pub. 13/07/2012).

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Não há dúvida de que o CDC representa um marco na proteção dos interesses dos consumidores. No entanto, não parece que o público alvo merecedor dessa tutela especial, tal qual definido pelo legislador consumerista, seria as grandes empresas e seguradoras multinacionais. Outro não pode ser o foco do Código de Defesa do Consumidor senão a proteção do consumidor final, parte hipossuficiente e vulnerável, dentro de uma relação comercial havida com um profissional, fornecedor de produtos ou serviços. De tal modo, parece um extremismo exagerado pretender-se aplicar a tutela protecionista do CDC às grandes empresas e seguradoras envolvidas em contratos de transporte internacionais. Em casos tais, o que se verifica é uma relação comercial entre profissionais, na qual todos os personagens envolvidos tem intuito eminentemente lucrativo, sobretudo quando a empresa contratante do transporte acaba repassando todos os custos ao verdadeiro consumidor final do produto que comercializa no mercado. Aplicar-se a proteção do CDC a torto e a direito acabaria por tornar regra uma tutela que deveria ser especial e acabaria por desvirtuar o próprio caráter protetivo àquele consumidor final e hipossuficiente que a Lei Consumerista visou proteger.

a) Transporte Marítimo – Reclamação por Avaria de Carga –

Inaplicabilidade do CDC 10.1 RECURSO ESPECIAL. TRANSPORTE MARÍTIMO DE CARGAS. AVARIAS. RESPONSABILIDADE CIVIL. PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA. NÃO INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. - Ação ajuizada em 10/02/2006. Recurso especial interposto em 24/07/2012 e distribuído a este gabinete em 25/08/2016. - Inaplicabilidade do CDC, como regra geral, aos contratos de transporte marítimo pela dificuldade de enquadramento como consumidor das partes contratantes. - Ausência de demonstração de

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vulnerabilidade de uma das partes para a aplicação da legislação consumerista. - Recurso especial conhecido e provido. (STJ, 1.391.650/SP, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 18/10/2016, DJe 21/10/2016) 10.2 APELAÇÃO – REGRESSO SECURITÁRIO – TRANSPORTE MARÍTIMO DE CARGAS – AVARIAS – CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR – Sub-rogação da seguradora demandante no crédito da segurada com o mesmo regramento legal aplicável – Inaplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor, uma vez que o transporte marítimo de mercadoria integrou etapa do processo produtivo da segurada – Perfil que não se enquadra no conceito de consumidor nos termos do art. 2º do CDC – Inexistência, ademais, de elementos que revelem hipossuficiência técnica da segurada em relação à transportadora (...) (TJSP, APL: 1018491-73.2016.8.26.0100, Relator: Jonize Sacchi de Oliveira, 24ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 24/02/2017) 10.3 Apelação – Transporte marítimo – Carga avariada – Ação regressiva ajuizada por seguradora – Sentença de rejeição do pedido – Confirmação, diante do exame da matéria de mérito – Fixados honorários recursais. 1. Qualificação jurídica do contrato de transporte em que se fundamenta a demanda – Típico contrato empresarial – Inexistência de desproporção de forças entre os participantes do negócio – Inaplicabilidade do CDC – Incidência, sim, do Código Civil. (...) 4. Nexo causal – Elementos dos autos não positivando que a autoria do dano seja imputável às transportadoras marítimas – Cenário de provas em que não se pode descartar a hipótese de os danos terem sido produzidos no desembarque da carga ou no considerável período em que esteve ela armazenada no terminal portuário – Circunstância assentada no laudo da vistoria realizada por empresa constatada pela própria contratante do transporte/segurada – Sentença de rejeição do pedido confirmada por tal fundamento. Dispositivo: Negaram provimento à apelação. (TJSP, APL: 1010129-85.2016.8.26.0002, Relator: Ricardo Pessoa de Mello Belli, 19ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 20/06/2017)

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10.4 RECURSO ESPECIAL – TRANSPORTE MARÍTIMO - AVARIAS NAS CARGAS TRANSPORTADAS - AÇÃO DE REGRESSO PROPOSTA PELA SEGURADORA NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL - ALEGAÇÃO GENÉRICA - APLICAÇÃO, POR ANALOGIA, DA SÚMULA N. 284/STF - PRESCRIÇÃO - INAPLICABILIDADE DO CDC À ESPÉCIE - PRAZO ANUAL APLICÁVEL – ACÓRDÃO RECORRIDO EM DESACORDO COM O ENTENDIMENTO DESTA CORTE - RECURSO PROVIDO (ARTIGO 557, § 1º-A, DO CPC). (...) Contudo, na espécie, não há como se reconhecer relação de consumo no contrato de transporte de mercadoria firmado entre transportador e o profissional da indústria e do comércio que visa agregar a mercadoria à sua atividade principal. Ao contrário, trata-se de contrato com natureza tipicamente comercial. (...) (STJ, REsp 1.221.880, Rel: Min. Massami Uyeda, Terceira Turma, Data de Julgamento: 13/06/2012) 10.5 EMBARGOS INFRINGENTES – Transporte marítimo internacional – Inaplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor – O prazo prescricional para ajuizar ações referentes às avarias da carga transportada é de 01 (um) ano, contado a partir do descarregamento das mercadorias – Inteligência do artigo 8º do Decreto-lei nº 116/67 – Decisão mantida – Recurso improvido. (TJSP, Embargos Infringentes nº 0015523-43.2009.8.26.0000/50000, Relator: Carlos Alberto Lopes, 18ª Câmara de Direito Privado, Julgamento: 15/06/11) 10.6 APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REGRESSIVA DE RESSARCIMENTO. CONTRATO DE SEGURO NO RAMO DE TRANSPORTE MARÍTIMO INTERNACIONAL. PRETENSÃO FULMINADA PELA PRESCRIÇÃO. 1. Inobstante a extensa polêmica que permeia a temática acerca do prazo prescricional para a cobrança regressiva, já ressaltei o meu entendimento a respeito da inaplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor ao caso em análise, por considerar que o contrato de transporte marítimo possui nítido caráter mercantil, não podendo se submeter à égide das relações de consumo. 2. Ademais, ambos os contratantes são pessoas jurídicas que não podem alegar qualquer espécie de vulnerabilidade, sendo paritária a relação jurídica firmada entre eles, de modo que não carece da especial proteção conferida pelo ordenamento jurídico às relações de consumo. 3. Portanto, há que se aplicar o prazo prescricional de 01 ano, previsto tanto no art. 8º do Decreto Lei nº 116/67, como no art. 206, § 1º, inciso II, ‘a’, do Código Civil. 4. Por fim, cabe destacar o verbete sumular nº 151 do STF, não revogado, que

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estabelece o prazo prescricional de um ano para a propositura da ação do segurador sub-rogado para haver indenização por extravio ou perda de carga transportada por navio. 5. Assim é que, tendo a presente ação sido ajuizada aos 27/06/2008, quase dois anos após o pagamento da indenização securitária (realizado aos 13/07/2006) e quase três anos após a descarga da mercadoria (ocorrida aos 04/08/2005), deve-se reconhecer que a pretensão deduzida em juízo restou efetivamente fulminada pelo instituto da prescrição. (TJRJ, Apelação nº 0164828-30.2008.8.19.0001, Relator Benedicto Abicair, 6ª Câmara Cível, Data de Publicação: 25/10/12) 10.7 DIREITO DO CONSUMIDOR E INTERNACIONAL PRIVADO. INAPLICABILIDADE DO CDC AO CONTRATO DE TRANSPORTE INTERNACIONAL DE MERCADORIA DESTINADA A INCREMENTAR A ATIVIDADE COMERCIAL DA CONTRATANTE. Para efeito de fixação de indenização por danos à mercadoria ocorridos em transporte aéreo internacional, o CDC não prevalece sobre a Convenção de Varsóvia quando o contrato de transporte tiver por objeto equipamento adquirido no exterior para incrementar a atividade comercial de sociedade empresária que não se afigure vulnerável na relação jurídico-obrigacional. Na hipótese em foco, a mercadoria transportada destinava-se a ampliar e a melhorar a prestação do serviço e, por conseguinte, aumentar os lucros. Sob esse enfoque, não se pode conceber o contrato de transporte isoladamente. Na verdade, a importação da mercadoria tem natureza de ato complexo, envolvendo (i) a compra e venda propriamente dita, (ii) o desembaraço para retirar o bem do país de origem, (iii) o eventual seguro, (iv) o transporte e (v) o desembaraço no país de destino mediante o recolhimento de taxas, impostos etc. Essas etapas do ato complexo de importação, conforme o caso, podem ser efetivadas diretamente por agentes da própria empresa adquirente ou envolver terceiros contratados para cada fim específico. Mas essa última possibilidade – contratação de terceiros –, por si, não permite que se aplique separadamente, a cada etapa, normas legais diversas do incidente sobre o ciclo completo da importação. Desse modo, não há como considerar a importadora destinatária final do ato complexo de importação nem dos atos e contratos intermediários, entre eles o contrato de transporte, para o propósito da tutela protetiva da legislação consumerista, sobretudo porque a mercadoria importada irá integrar a cadeia produtiva dos serviços prestados pela empresa contratante do transporte. Neste contexto, aplica-se, no caso em análise, o mesmo entendimento adotado pelo STJ nos casos de

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financiamento bancário ou de aplicação financeira com o propósito de ampliar capital de giro e de fomentar a atividade empresarial. O capital obtido da instituição financeira, evidentemente, destina-se, apenas, a fomentar a atividade industrial, comercial ou de serviços e, com isso, ampliar os negócios e o lucro. Daí que nessas operações não se aplica o CDC, pela ausência da figura do consumidor, definida no art. 2º do referido diploma. Assim, da mesma forma que o financiamento e a aplicação financeira mencionados fazem parte e não podem ser desmembrados do ciclo de produção, comercialização e de prestação de serviços, o contrato de transporte igualmente não pode ser retirado do ato complexo ora em análise. Observe-se que, num e noutro caso, está-se diante de uma engrenagem complexa, que demanda a prática de vários outros atos com o único escopo de fomentar a atividade da pessoa jurídica. Ademais, não se desconhece que o STJ tem atenuado a incidência da teoria finalista, aplicando o CDC quando, apesar de relação jurídico-obrigacional entre comerciantes ou profissionais, estiver caracterizada situação de vulnerabilidade ou hipossuficiência. Entretanto, a empresa importadora não apresenta vulnerabilidade ou hipossuficiência, o que afasta a incidência das normas do CDC. Dessa forma, inexistindo relação de consumo, circunstância que impede a aplicação das regras específicas do CDC, há que ser observada a Convenção de Varsóvia, que regula especificamente o transporte aéreo internacional. Precedentes citados: REsp 1.358.231-SP, Terceira Turma, DJ de 17/6/2013; e AgRg no Ag 1.291.994-SP, Terceira Turma, DJe de 6/3/2012. (STJ, REsp 1.162.649-SP, Rel. Rel. para acórdão Min. Antonio Carlos Ferreira, j.13/5/2014) 10.8 AÇÃO REGRESSIVA — Transporte Marítimo Inaplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor, posto que não há relação de consumo entre as partes — Inocorrência de afronta a legislação internacional própria — O transporte foi feito com as regras determinadas pelo Código Internacional de Marinha — Ademais, somente após a constatação do sinistro, é que se passou a tomar outras providencias no sentido de evitar acidentes como o que deu causa ao descrito nos autos — Ação improcedente — Recurso da autora improvido (...). (TJSP, Apelação nº 9107281-18.2007.8.26.0000, Rel. Des. Heraldo De Oliveira, 13ª Câmara De Direito Privado, Data de Julgamento: 10/12/07)

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10.9 DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. SEGURO DE TRANSPORTE DE MERCADORIA. FATOS OCORRIDOS ANTES DA VIGÊNCIA DO CÓDIGO CIVIL DE 2002, QUE PASSOU A REGULAR O TRANSPORTE DE PESSOAS E COISAS. SINISTRO. INDENIZAÇÃO. SUB-ROGAÇÃO. SEGURADORA ASSUME A POSIÇÃO DA SEGURADA. RELAÇÃO MERCANTIL. INAPLICABILIDADE DAS REGRAS DO CDC. 1. A seguradora, arcando com a indenização securitária, está sub-rogada nos direitos de sua segurada, podendo, dentro do prazo prescricional aplicável à relação jurídica entabulada por esta, buscar o ressarcimento do que despendeu, nos mesmos termos e limites que assistiam à segurada. 2. No entanto, a relação jurídica existente entre a segurada e a transportadora ostenta nítido caráter mercantil, não podendo, em regra, ser aplicada as normas inerentes às relações de consumo, pois, segundo apurado pela instância ordinária, "o segurado utilizou a prestação de serviço da ré transportadora como insumo dentro do processo de transformação, comercialização ou na prestação de serviços a terceiros; não se coadunando, portanto, com o conceito de consumidor propriamente dito, mas sim pretendendo a exploração da atividade econômica visando a obtenção do lucro". 3. O Código Civil de 2002 regula o contrato de transporte de pessoas e coisas nos artigos 730 a 756. No entanto, a referida relação jurídica era anteriormente regulada pelo Decreto-Lei 2.681/1912, aplicando-se a prescrição ânua, conforme dispunha o art. 9º do mencionado Diploma. Precedentes do STF e desta Corte. 4. Recurso especial não conhecido. (STJ, REsp nº 982.492 - SP, Ministro Luis Felipe Salomão, 4ª Turma, j. 27/09/2011) b) Código de Defesa do Consumidor – Aplicação da Teoria Finalista 10.10 PROCESSUAL CIVIL. CONTRATO DE MÚTUO. CAPITAL DE GIRO. CDC. INAPLICABILIDADE. TEORIA FINALISTA. MITIGAÇÃO. VULNERABILIDADE. COMPROVAÇÃO. AUSÊNCIA. IMPOSSIBILIDADE. COMPETÊNCIA CÍVEL. DECLINAÇÃO. MANUTENÇÃO. I – A competência material tem caráter absoluto, não admite prorrogação e impõe o reconhecimento até mesmo de ofício da incompetência correlata, conforme se infere do disposto nos art. 62 e 64, § 1º, ambos do CPC. II – A teor do disposto no art. 2º do CDC, consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. III – A pessoa jurídica que celebra contrato de mútuo bancário com a com a finalidade de obtenção de capital de giro não se enquadra no conceito de consumidor final. Precedente do STJ. IV – A aplicação da teoria finalista somente pode ser mitigada quando o contratante

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demonstrar a sua vulnerabilidade frente ao contratado, o que não se comprovou na hipótese, razão da manutenção da decisão. RECURSO NÃO PROVIDO. (TJBA, AI: 00135855120168050000, Relator: Adriana Sales Braga, Quarta Câmara Cível, Data de Publicação: 08/02/2017) 10.11 APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CIVIL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO ORDINÁRIA. CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO. APLICAÇÃO DO CDC. IMPOSSIBILIDADE. TEORIA FINALISTA. PESSOA JURÍDICA. DESTINATÁRIO FINAL. NÃO OCORRÊNCIA. CRÉDITO UTILIZADO PARA INCREMENTO DAS ATIVIDADES EMPRESARIAIS. TARIFA DE LIQUIDAÇÃO ANTECIPADA. LEGALIDADE. PACTA SUNT SERVANDA. ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA. INVERSÃO. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. SENTENÇA REFORMADA. 1. Alegislação consumerista (Lei 8.078/90) consagrou a teoria finalista, de modo que, considera-se consumidor aquele que, pessoa física ou jurídica, utiliza o produto ou serviço como destinatário final. Assim, não se considera consumidora a pessoa jurídica que celebra contrato de concessão de crédito junto à instituição financeira para incremento de suas atividades. 2. Avedação para cobrança de tarifa de liquidação antecipada se restringe tão somente às pessoas físicas, microempresas e empresas de pequeno porte, nos termos do art. 1º da Resolução 3516/07 do Banco Central do Brasil. 3. Se não apontado vício no contrato e existindo expressa previsão contratual, deve ser prestigiado o princípio da obrigatoriedade do contrato, pacta sunt servanda, não subsistindo a pretensão de declaração de nulidade da cláusula impugnada. 4. Recurso conhecido e provido. Sentença reformada. (TJDF, 20150110500385 0014421-98.2015.8.07.0001, Relator: Romulo De Araujo Mendes, 1ª Turma Cível, Publicado no DJE: 25/04/2017) 10.12 1 - A jurisprudência desta Corte sedimenta-se no sentido da adoção da teoria finalista ou subjetiva para fins de caracterização da pessoa jurídica como consumidora em eventual relação de consumo, devendo, portanto, ser destinatária final econômica do bem ou serviço adquirido. (REsp 541.867/BA) 2 - Para que o consumidor seja considerado destinatário econômico final, o produto ou serviço adquirido ou utilizado não pode guardar qualquer conexão, direta ou indireta, com a atividade econômica por ele desenvolvida; o produto ou serviço deve ser utilizado para o atendimento de uma necessidade própria, pessoal do consumidor." (CC 92.519/SP, Rel. Ministro

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Fernando Gonçalves, Segunda Seção, DJE 04/03/2009). Na espécie, o Tribunal de origem afirmou que: "sendo a primeira mutuária pessoa jurídica, milita a presunção não elidida de que tenha se utilizado do crédito como insumo para sua atividade, por conseguinte, não se tratando de destinatária final do crédito, ela, a rigor, não se enquadra propriamente no conceito de consumidora"(fls. 790). Assim, o crédito concedido ao emitente do título, destinou-se ao custeio da atividade por ele desenvolvida, ou seja, serviu de insumo ao desenvolvimento às atividades do recorrente pessoa jurídica, restando descaracterizado o conceito de consumidor inscrito no artigo 2º, da Lei n. 8.078/90, motivo pelo qual afasta-se, por conseguinte, a incidência do CDC em face da descaracterização do conceito de consumidor final. 5. Diante do exposto, com fundamento no artigo 557, caput, do Código de Processo Civil, nego seguimento ao agravo de instrumento. (STJ, Ag: 1205189, Relator: Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, Data de Publicação: 26/05/2010) 10.13 CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA - CONTRATO DE VENDA COM RESERVA DE DOMÍNIO - EQUIPAMENTOS MÉDICOS - RELAÇÃO DE CONSUMO NÃO CARACTERIZADA - HIPOSSUFICIÊNCIA INEXISTENTE - FORO DE ELEIÇÃO - PREVALÊNCIA - ADITAMENTO AO INCIDENTE - AUTORIDADE JUDICIAL DIVERSA - INADMISSIBILIDADE. (...) 2. Na assentada do dia 10.11.2004, porém, ao julgar o REsp nº 541.867/BA, a Segunda Seção, quanto à conceituação de consumidor e, pois, à caracterização de relação de consumo, adotou a interpretação finalista, consoante a qual reputa-se imprescindível que a destinação final a ser dada a um produto/serviço seja entendida como econômica, é dizer, que a aquisição de um bem ou a utilização de um serviço satisfaça uma necessidade pessoal do adquirente ou utente, pessoa física ou jurídica, e não objetive a incrementação de atividade profissional lucrativa. 3. In casu, o hospital adquirente do equipamento médico não se utiliza do mesmo como destinatário final, mas para desenvolvimento de sua própria atividade negocial; não se caracteriza, tampouco, como hipossuficiente na relação contratual travada, pelo que, ausente a presença do consumidor, não se há falar em relação merecedora de tutela legal especial. Em outros termos, ausente a relação de consumo, afasta-se a incidência do CDC, não se havendo falar em abusividade de cláusula de eleição de foro livremente pactuada pelas partes, em atenção ao princípio da autonomia volitiva dos contratantes. (...) 5. Conflito conhecido, para declarar a competência do d. Juízo de Direito da 10ª Vara Cível da Comarca de São Paulo/SP.

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(STJ, CC 46747, Min. Jorge Scartezzini, Segunda Seção, DJ 20/03/2006 p. 189) 10.14 (...) No presente caso, a Companhia Brasileira de Meios de Pagamento ajuizou exceção de incompetência territorial em desfavor de Gênesis Vídeo e Games Ltda., objetivando a remessa do feito à Comarca de São Bernardo do Campo - SP, asseverando não haver relação de consumo entre as partes, o que justificaria o provimento do recurso e a consequente remessa dos autos para uma das varas cíveis da comarca paulista. O especial foi interposto contra acórdão assim ementado:"AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA. RELAÇÃO DE CONSUMO.I - O Código Consumerista, em seu art. 2º, estabelece que consumidor é 'toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final', sendo este o que usufrui, goza ou absorve bem, colocando fim na cadeia produtiva sem intermediação. II - Provada a relação de consumo, o foro de competência é o domicílio do autor, conforme disposição do art. 101 do CDC. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO". Aduz a recorrente que o Tribunal a quo violou os arts 2º e 3º do CDC, visto que a recorrida não se enquadra na condição de consumidora, pois não é destinatária final do serviço. Aponta ainda ocorrência de dissídio jurisprudencial. Passo, pois, à análise das proposições deduzidas. I - Violação dos arts. 2º e 3º do CDC A Segunda Seção deste STJ superou a discussão acerca do alcance da expressão "destinatário final" constante do art. 2º do CDC, consolidando a teoria subjetiva (ou finalista) como aquela que indica a melhor diretriz para a interpretação do conceito de consumidor. Ao mesmo tempo, foi reconhecida a necessidade de mitigação do critério para atender situações em que a vulnerabilidade na relação jurídica encontra-se demonstrada, pois a relação, por ser de consumo, não se caracteriza por ter pessoa física ou jurídica em seus polos, mas sim pela presença de uma parte vulnerável de um lado, e de um fornecedor, de outro. Há ainda a jurisprudência do STJ que admite excepcionalmente a aplicação do CDC a pessoa jurídica empresária quando evidenciada sua vulnerabilidade no caso concreto. Precedentes: Quarta Turma, AgRg no REsp n. 821.935/SE, rel. Min. Aldir Passarinho Junior, DJ de 21.8.2006; e Quarta Turma, REsp. 661.145/ES, rel. Min. Jorge Scartezzini, DJ de 28.3./2005. Constata-se, dessa forma, que a definição de pessoa jurídica como consumidora só é possível diante de um confronto fático bem delineado, que demonstre sua vulnerabilidade no caso concreto. Dessa forma, in casu, para que possa ser realizado o exame do especial, o STJ teria de reexaminar o contexto fático probatório para afastar a análise feita pelo Tribunal de origem, o que demanda, portanto, reexame de fatos e provas constantes nos autos, procedimento que encontra óbice na Súmula n. 7 do

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STJ. II - Dissídio jurisprudencial A parte recorrente, limitando-se a transcrever trechos dos julgados tidos por divergentes, não promoveu o necessário cotejo analítico entre o aresto recorrido e os paradigmas, de forma que não há como verificar a ocorrência dos elementos necessários à comprovação do dissídio jurisprudencial deduzido, quais sejam, semelhança entre as bases fáticas dos acórdãos confrontados e teses jurídicas divergentes conferidas a um mesmo contexto. III - Conclusão Ante o exposto, nego provimento ao agravo de instrumento. (STJ, Ag: 1108334, Ministro João Otávio De Noronha, 4ª Turma, DOU 04/12/2009) 10.15 AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. (...). IMPORTAÇÃO DE MERCADORIA PARA REVENDA. INAPLICABILIDADE DO CDC. (...) 3.- A aquisição de bens ou a utilização de serviços para implementar ou incrementar a atividade negocial descaracteriza a relação como de consumo. Precedentes da Corte. 4.- Agravo Regimental improvido. (STJ, AgRg no REsp nº 860.080 RJ; Rel. Min. Sidney Beneti; DJ 17/08/2010). 10.16 DIREITO DO CONSUMIDOR. PESSOA JURÍDICA. NÃO OCORRÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC. UTILIZAÇÃO DOS PRODUTOS E SERVIÇOS ADQUIRIDOS COMO INSUMOS. AUSÊNCIA DE VULNERABILIDADE. NÃO INCIDÊNCIA DAS NORMAS CONSUMERISTAS. (...) 2. O art. 2º do Código de Defesa do Consumidor abarca expressamente a possibilidade de as pessoas jurídicas figurarem como consumidores, sendo relevante saber se a pessoa - física ou jurídica - é "destinatária final" do produto ou serviço. Nesse passo, somente se desnatura a relação consumerista se o bem ou serviço passa a integrar a cadeia produtiva do adquirente, ou seja, torna-se objeto de revenda ou de transformação por meio de beneficiamento ou montagem, ou, ainda, quando demonstrada sua vulnerabilidade técnica, jurídica ou econômica frente à outra parte. 3. No caso em julgamento, trata-se de sociedade empresária do ramo de indústria, comércio, importação e exportação de cordas para instrumentos musicais e afins, acessórios para veículos, ferragens e ferramentas, serralheria em geral e trefilação de arames, sendo certo que não utiliza os produtos e serviços prestados pela recorrente como destinatária final, mas como insumos dos produtos que manufatura, não se verificando, outrossim, situação de vulnerabilidade a ensejar a aplicação do Código de Defesa do Consumidor. (...)

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(STJ, REsp 932557 / SP, Relator: Min. Luis Felipe Salomão, 4ª Turma, DJ 23/02/2012) c) Demurrage de contêiner – Relação contratual – Inaplicabilidade do

CDC 10.17 TRANSPORTE MARÍTIMO – ação de cobrança - sobreestadia de contêineres – inaplicabilidade do CDC (Lei 8078/90) ao caso – farta documentação comprobatória do negócio - submissão da requerida a todos os termos da avença e à prática de usos e costumes – assinatura de "Termo de Compromisso", que obriga a ré ao pagamento da sobreestadia – conversão da moeda estrangeira na data do pagamento - demanda procedente - confirmação da solução singular, inclusive com aplicação do art. 252 do RITJSP – recurso improvido.* (TJSP, APL: 1001436-81.2016.8.26.0562, Relator: Jovino de Sylos, 16ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 08/06/2017) 10.18 Transporte — Frete Marítimo — ‘Containers’ — Sobrestadia — CDC inaplicável — Direito Marítimo Consuetudinário — Cobrança Procedente — Contrato em Moeda Estrangeira — Conversão em moeda nacional no momento do efetivo pagamento — Jurisprudência do STJ — Apelação parcialmente provida. (TJSP, Apelação nº 7.334.375-0, Rel. Souza Geishoffer, Data de Julgamento: 19/05/09)

10.19 AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE COBRANÇA. FASE EXECUTÓRIA. CONTRATO DE TRANSPORTE MARÍTIMO. COBRANÇA DE SOBREESTADIA. DEMURRAGE. Decisão que acolheu em parte a impugnação da executada, ora agravante, para fixar o valor da execução em R$ 123.416,58 (cento e vinte e três mil, quatrocentos e dezesseis reais e cinquenta e oito centavos). Transporte de mercadorias com o fornecimento de contêineres. Contrato firmado no exercício da atividade empresarial, o que afasta a incidência da Lei nº 8.078/90. Precedentes. Competência do Juízo. Fixação segundo o local dcumprimento da obrigação, que não só conta com fundamento contratual, mas também legal. Incidência do art. 100, inciso IV alínea d, do CPC/73, repetido no art.

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53, inciso III alínea d do CPC/15. Suposta divergência de identificação dos contêineres nas notas que instruem a ação. Matéria que sequer foi abordada na decisão agravada. Questão que se encontra sob o manto da coisa julgada. Inoportuna e descabida rediscussão de matéria preclusa. Recurso improvido. (TJRJ, Agravo de Instrumento nº 0022965-74.2017.8.19.0000 Des. Cherubin Helcias Schwartz Júnior, Data de Julgamento: 25/07/2017). d) Código de Defesa do Consumidor – Inaplicabilidade em favor de

empresa seguradora – Ausência de vulnerabilidade 10.20 APELAÇÃO – REGRESSO SECURITÁRIO – TRANSPORTE MARÍTIMO DE CARGAS – AVARIAS – CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR – Sub-rogação da seguradora demandante no crédito da segurada com o mesmo regramento legal aplicável – Inaplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor, uma vez que o transporte marítimo de mercadoria integrou etapa do processo produtivo da segurada – Perfil que não se enquadra no conceito de consumidor nos termos do art. 2º do CDC – Inexistência, ademais, de elementos que revelem hipossuficiência técnica da segurada em relação à transportadora – ILEGTIMIDADE PASSIVA "AD CAUSAM" – A empresa de navegação estrangeira faz-se representar no Brasil por meio da agência (...) (TJ-SP - APL: 1018491-73.2016.8.26.0100, Relator: Jonize Sacchi de Oliveira, 24ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 24/02/2017) 10.21 Apelação Cível. Contrato marítimo. Ação regressiva de seguradora em face de transportadora apontada como responsável por danos causados a mercadoria transportada. Recurso distribuído para Câmara especializada em Defesa do Consumidor. Competência absoluta em razão da matéria. Inteligência do art. 3º, § 1º da Lei Estadual 6375/12. Apesar do sub-rogado assumir a posição jurídica do segurado e com isso passar a fazer jus aos mesmos mecanismos jurídicos oferecidos ao consumidor originário, tal situação não o coloca na posição de consumidor pelo fato de não ser tecnicamente destinatário final e de inexistir vulnerabilidade. Declínio de competência para uma das Câmaras Cíveis não especializadas.

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(TJRJ, AC 0478425-85.2011.8.19.0001, Rel. Peterson Barroso Simão, 2ª Câmara Cível, DJ 25/10/2013).

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11. Construção Naval

Tantas são as relações complexas que existem no mundo jurídico, e os contratos de construção de embarcação não fogem à regra. Questões envolvendo prazos, projetos, financiamentos, garantias, formas e momentos de transferência dos riscos e propriedade, registros, importação de peças, tributação, entre outras, são apenas das algumas nuances que envolvem os contratos de tal natureza. Com investimentos do BNDES, projetos de incentivos do Governo, encomendas por parte da Petrobras, aquecimento do setor offshore brasileiro e grandes descobertas do pré-sal, a indústria naval brasileira em dado momento ganhou novo fôlego após quase duas décadas de ostracismo e, com isso, renovaram-se as carteiras de encomendas dos nossos estaleiros.

a) Contrato de construção naval – Natureza de empreitada

11.1 APELAÇÃO. Ação ordinária de cobrança, cumulada com perdas e danos. Reconvenção. Contrato de construção naval. Armadora e estaleiro que o firmaram em duas versões, na mesma data, com valores distintos: o de maior valor, que previa financiamento pelo BNDES, cujo crédito foi aberto na mesma data, tendo sido levado ao registro público competente; o de menor valor não foi registrado, nem aludia ao financiamento do BNDES, todavia foi aquele efetivamente norteador da execução das obrigações avençadas, inclusive quanto ao valor efetivamente pago, ao prazo de entrega do navio e à repactuação de prazos e formas de pagamento. O registro não constitui requisito de validade do contrato de construção naval em face da legislação de regência; não se trata de transferência de propriedade de embarcação, mas de construção de embarcação nova. Prevalência do contrato efetivamente observado pela conduta das partes. Nada obstante a existência de dois termos contratuais, não se configura a litigância de má-fé aventada pelo julgado de piso, dado que, em princípio, ambas as partes pretenderiam beneficiar-se dessa dualidade com o fim de obter-se o financiamento, ao passo que a litigância de má-fé pressupõe o uso do processo por uma das

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partes em detrimento da outra. Natureza jurídica do contrato de construção naval ajustado entre as partes: contrato de empreitada, também nominado de contrato por escopo, cujo prazo cumpre função meramente moratória, não induzindo a extinção da obrigação se, esgotado o seu termo final, o escopo não se aperfeiçoou integralmente; prorrogação que se impõe, para que se alcance o escopo, no caso, a construção e entrega do navio encomendado, o que não afasta as cominações decorrentes da mora, sindicada a participação de cada contraente para dar-lhe causa. Conjunto probatório exaustivo, integrado por documentos, perícia e testemunhos, a demonstrar atraso de pagamento pela empresa armadora contratante, financiadora da construção, e atraso de execução pelo estaleiro contratado, sem provocar lesão à honra objetiva deste, mas a produzir efeitos patrimoniais atraentes das penalidades moratórias, bem aplicadas pela sentença. Pleitos principal e reconvencional parcialmente procedentes (...). (TJRJ, AC, 0003873-97.2005.8.19.0205, Des. Jessé Torres, 2ª Câmara Cível, j. 24/08/2011) 11.2 RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA. CONSTRUÇÃO NAVAL. ART. 455, DA CLT. Embora a 2ª ré negue o contrato de empreitada, o conjunto probatório pende em favor do reclamante, pois sua testemunha confirmou que ele trabalhava em seu benefício, na construção de navios. Enquadra-se o caso no art. 455, da CLT, primeira terceirização prevista legalmente na área trabalhista, cujo dispositivo é expresso quanto à preferência de ordem, o que torna a 2ª ré responsável subsidiária pelos créditos deferidos em sentença. (TRT1, RO: 00016626220125010054 RJ, Relator: Volia Bomfim Cassar, Segunda Turma, Data de Publicação: 10/04/2014)

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12. Consumo Excessivo de Combustível3

Determinados contratos de afretamento impõem ao fretador o ônus de providenciar, previamente, informações sobre o consumo esperado da embarcação. Entretanto, tal estimativa, não pode necessariamente ser tida como uma verdade absoluta a ponto de vincular o resultado e a performance da embarcação. É importante que as partes tenham a possibilidade de realizar inspeções e medições regulares, para apurarem conjuntamente os níveis de consumo de combustível dentro das mais diversas condições em que a embarcação é posta a operar. Sem tais inspeções efetivas e sem uma análise conjunta, não parece razoável que o afretador venha a impor unilateralmente cobranças por suposto consumo excessivo de combustível da embarcação, muito menos realizar descontos automáticos no pagamento do ‘hire’ que deve ao fretador. Em hipóteses tais, haveria uma clara e indevida inversão do ônus probatório, posto que a afretadora realizaria, de forma unilateral e arbitrária, a retenção das taxas diárias de afretamento sem comprovar sua condição de credora e sem conferir qualquer chance de defesa à fretadora, baseada em uma ficção contratual, utilizando-se da cláusula que transfere a obrigação do custeio de combustível na hipótese de consumo em excesso como verdadeira fonte de lucro.

a) Medida Cautelar – Excesso de consumo de combustível – Inocorrência

– impossibilidade de compensação ou desconto 12.1 Agravo de instrumento. Ação ordinária. Deferimento de liminar, para o fim de determinar que a agravante se abstenha de efetuar qualquer dedução ou desconto nas faturas em desfavor da agravada, a título de

3 V. Cap 2 “Afretamento”

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excesso de consumo de combustível ou, no caso de já ter realizado algum desconto/dedução, proceda sua devolução integral no prazo de 24 horas, sob pena de multa diária. Aplicação do verbete nº 58, da súmula da jurisprudência dominante neste tribunal de justiça que estabelece que: "somente se reforma a decisão concessiva ou não de liminar, se teratológica, contrária à lei ou à evidente prova dos autos", o que não se verifica na hipótese dos autos. Manutenção da decisão agravada. Desprovimento do recurso. (TJRJ, AI: 00186145820178190000, Relator: Luiz Felipe Miranda De Medeiros Francisco, Data De Julgamento: 13/06/2017, Nona Câmara Cível) 12.2 APELAÇÃO CÍVEL. MEDIDA CAUTELAR. DIREITO EMPRESARIAL. PRESENTES OS REQUISITOS AUTORIZADORES, ENSEJANDO A PROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS. 1. Cuida-se de medida cautelar, pretendendo a empresa autora compelir a ré a restituir o valor unilateralmente descontado/retido, bem como se abster de efetuar futuros descontos sobre aos valores contratualmente devidos, apurados a título de ´despesa de combustível´ das embarcações Normand Hunter, Normand Neptun e Normand Borg. 2. No caso concreto, inexiste qualquer controvérsia quanto à existência de negócio jurídico entabulado entre as partes, limitando-se a discussão no que concerne à compensação de valores realizados unilateralmente pela parte ré, baseados no excesso de consumo de combustível. 3. Para o cabimento da medida cautelar tem devem estar presentes o fumus boni iuris e o periculum in mora, na forma preconizada pelo art. 801, CPC. 4. A autora celebrou com a ré contratos de afretamento envolvendo as embarcações Normand Hunter, Normand Borg e Normand Neptum, em 25/10/2004, 19/12/2005 e 09/09/1996, respectivamente, com prazo de vigência já encerrado, destinados às atividades na Plataforma Continental Brasileira, tendo como objeto o apoio marítimo à exploração de petróleo na plataforma continental brasileira. 5. Por meio da avença, a afretadora/ré se obrigou ao fornecimento de combustível, que não exceder ao consumo básico a ser definido no início da avença, e da água a serem utilizados pelas embarcações em caráter principal, ou seja, quando estiver sendo cumprido o objeto do contrato. 6. A ré sustenta que houve excesso de consumo de combustível, hipótese em que a autora deverá arcar com os respectivos custos, tendo efetuado a compensação na forma de descontos sobre os valores a serem recebidos por ela enquanto prestadora do serviço, por força de novos contratos. 7. Com efeito, ao compulsar os autos depreende-se que a ora apelante realizou um desconto de R$ 480.362,51 do valor a ser recebido pela apelada em

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setembro de 2011.8. Presente o fumus boni iuris nas alegações autorais, uma vez que o desconto, proveniente dos contratos com prazos de vigência já expirados, ocorreu sobre crédito a ser recebido pela apelada por novas avenças, o que não foi acordado pelas partes. 9. Conforme bem asseverado pelo juízo sentenciante às fls. 347, não está em debate nesta demanda a legalidade da compensação realizada pela apelante, mas sim a ameaça de riscos irreparáveis ou de difícil reparação ao interesse tutelado pelo processo principal. 10. Correta a sentença que julgou parcialmente procedentes os pedidos para determinar que a ré se abstenha de praticar novos descontos com base no alegado “excesso de consumo” apurado no período compreendido nos contratos já findos. 11. Da mesma forma, o periculum in mora se encontra evidenciado, haja vista os prejuízos que podem ser causados com o desconto de elevada quantia (R$ 480.362,51) e de outros eventualmente maiores que possam vir a ocorrer, afetando a atividade empresarial. 12. Por último, impende salientar que não haverá prejuízo irreversível para a ora recorrente, que na hipótese de improcedência do pedido formulado na ação principal, poderá reaver o valor descontado e continuar procedendo a compensação se assim entender, mormente por ter sido prestada caução pela recorrida, por força da liminar concedida. 13. Recurso desprovido. (TJRJ, Apelação nº 0330407-25.2011.8.19.0001, Relator Monica Maria Costa Di Piero, Oitava Câmara Cível, Data do Julgamento: 06/12/2012) 12.3 Apelação cível. Medida Cautelar. Contratos de afretamento e prestação de serviços marítimos. Descontos referentes ao consumo excessivo de combustível pelas embarcações, previstos contratualmente e promovidos de forma unilateral pela afretadora - Petrobrás S.A. –, com base em informações incorretas prestadas pela própria fretadora, em relação ao consumo real. Sentença que julgou parcialmente procedentes os pedidos e limitou os descontos em 30% do valor do eventual excesso apurado e o levantamento pelas fretadoras de 70% do valor depositado. Inconformismo das demandantes sob o fundamento de que já teriam corrigido as informações antes prestadas, postulando o levantamento dos 100% do valor depositado e que fique a afretadora impedida de efetuar qualquer desconto a esse título até o deslinde da ação principal. Presença do fumus boni iuris e do periculum in mora. Juízo de probabilidade. Caução idônea no valor do litígio que garante o processo principal. Possibilidade para o levantamento integral das quantias depositadas. Afretadora que deve se abster de efetuar os descontos programados ante a necessidade de instrução probatória

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exauriente na ação de conhecimento, para efeito de se verificar se os mesmos são devidos. Recurso conhecido. Dado provimento. (TJRJ, Apelação nº 0330407-25.2011.8.19.0001, Relator: Des. Mônica Maria Costa, Oitava Câmara Cível, Data do Julgamento: 04/12/2012) 12.4 Apelação cível. Medida cautelar. Contratos de afretamento e prestação de serviços marítimos. Descontos referentes ao consumo excessivo de combustível pelas embarcações, previstos contratualmente e promovidos de forma unilateral pela afretadora - petrobrás s.a. –, com base em informações incorretas prestadas pela própria fretadora, em relação ao consumo real. Sentença que julgou parcialmente procedentes os pedidos e limitou os descontos em 30% do valor do eventual excesso apurado e o levantamento pelas fretadoras de 70% do valor depositado. Inconformismo das demandantes sob o fundamento de que já teriam corrigido as informações antes prestadas, postulando o levantamento dos 100% do valor depositado e que fique a afretadora impedida de efetuar qualquer desconto a esse título até o deslinde da ação principal. Presença do fumus boni iuris e do periculum in mora. Juízo de probabilidade. Caução idônea no valor do litígio que garante o processo principal. Possibilidade para o levantamento integral das quantias depositadas. Afretadora que deve se abster de efetuar os descontos programados ante a necessidade de instrução probatória exauriente na ação de conhecimento, para efeito de se verificar se os mesmos são devidos. Recurso conhecido. Dado provimento. (TJRJ, Apelação nº 0163248-23.2012.8.19.0001, Relator Maria Regina Fonseca Nova Alves, Quinta Câmara Cível, Data do Julgamento: 21/05/2013).

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13. Contêiner Lacrado / FCL2F

4

Muitas são as formas pela qual o transporte de uma carga pode ser contratado. Na maioria das vezes, o próprio embarcador, contratante do transporte, se encarrega de acondicionar e pear as suas mercadorias dentro do contêiner a ser utilizado no transporte e, com isso, entrega o contêiner à transportadora já devidamente carregado e lacrado. Seja para evitar custos adicionais com a contratação do serviço de estiva, seja pela própria expertise que o fabricante/embarcador da carga possui quanto à melhor forma de acondicionamento e peação do seu produto, fato é que na maior parte das vezes a transportadora marítima não fica encarregada de realizar a chamada ovação do contêiner. Assim, a transportadora, ao receber o container fechado, carregado e lacrado pelo embarcador, não tem acesso ao estado interno das mercadorias ali acondicionadas ou à peação realizada na carga e, por assumir a obrigação de um depositário, deve manter o contêiner da forma como foi recebido. Em função desta impossibilidade de verificação do estado da carga lacrada pelo próprio embarcador, a transportadora marítima normalmente faz consignar no conhecimento de transporte determinadas ressalvas, tais como as cláusulas ‘FCL/FCL’, ‘said to contain’, ‘particulars furnished by shippers’, entre outras. Tais ressalvas indicam justamente que a carga já foi entregue lacrada para transporte e que a transportadora marítima não possui qualquer ingerência sobre o estado da mercadoria no interior do contêiner e não pode ser responsabilizada por eventuais vícios de qualidade, quantidade ou de má peação da mesma, posto que nesse caso estaria ausente o nexo causal.

4V. Cap. 25 “Mau Acondicionamento / Má Estiva / Vício de Embalagem”

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a) Estufagem realizada pelo embarcador – Contêiner desembarcado em bom estado e com lacre intacto – Ausência de responsabilidade do transportador

13.1 Ação regressiva – Ressarcimento – Seguro – Decadência – Não ocorrência – Transporte marítimo – Avarias na carga – Danos causados em razão do mau acondicionamento no interior do contêiner – Ciência pela segurada da forma empregada na fixação da mercadoria – Culpa in elegendo e in vigilando – Seguradora que não estava contratual e nem legalmente obrigada a promover o pagamento – Sentença de improcedência – Decisão correta – Recurso improvido. (TJSP, APL: 1028954-80.2015.8.26.0562, Relator: Souza Lopes, 17ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 24/10/2018) 13.2 RESPONSABILIDADE CIVIL – Transporte marítimo – Ação regressiva – Sentença que julgou improcedentes os pedidos com relação à MSC (...) TRANSPORTE DE CARGAS – Avarias - Responsabilidade das requeridas pelos danos verificados na carga transportada - Descabimento – Falha na preparação do contêiner - Hipótese em que a causa do sinistro foi a movimentação da carga dentro do contêiner – Falha na preparação do contêiner, o que afasta a responsabilidade das rés – Recurso não provido. (TJSP, APL: 1005356-63.2016.8.26.0562, Relator: Helio Faria, 18ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 13/03/2017)

13.3 INÉPCIA DA PETIÇÃO INICIAL – ILEGITIMIDADE ATIVA – ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM – INÉPCIA DA PETIÇÃO INICIAL – PRESCRIÇÃO – TRANSPORTE MARÍTIMO. (...) A primeira corré trata-se de transportadora não operadora de navio, denominada "NVOCC - Non-vessel operating common carrier" – Necessidade de contratação da transportadora de fato – Ambas as empresas integram a cadeia prestadora dos serviços de transporte marítimo – Incidência do artigo 756 do Estatuto Substantivo Civil – Preliminar afastada. (...) Demanda proposta pela seguradora sub-rogada contra transportadora para ressarcimento pela perda/avaria da carga (...) TRANSPORTE MARÍTIMO – Responsabilidade objetiva da transportadora – Necessidade de nexo de causalidade entre a conduta das corrés e os danos sofridos – Suscitado vício de origem – Constatação – Provas dos autos que indicam para o mau

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acondicionamento da mercadoria – Ausência de impacto externo comprovado – Demais peças que foram entregues em perfeitas condições – Dever de indenizar não configurado – Litigância de má-fé não caracterizada – Ação julgada procedente – Sentença reformada – Recursos parcialmente providos . (TJSP, 10102678320158260100, Relator: Carlos Alberto Lopes, 32ª Câmara Extraordinária de Direito Privado, Data de Publicação: 10/10/2017) 13.4 Transporte marítimo. Seguro. Ressarcimento por sub-rogação. (...) Responsabilidade da transportadora ré não configurada. Estufagem, contagem e lacre realizados pelo exportador ou embarcador. Container transportado e desembarcado com lacre de origem intacto. Recurso provido em parte. Improcedência mantida, sob outro fundamento. (TJSP, AC 991070349194 SP, Rel. Cauduro Padin, 13ª Câmara, DJ 23/08/2010) 13.5 Responsabilidade civil. Transporte marítimo. Demanda regressiva ajuizada por seguradora, sub-rogada nos direitos da proprietária da carga, contra a transportadora, dada por responsável por danos na mercadoria. Ilegitimidade passiva ad causam não caracterizada. (...) Segurada da autora, por essa indenizada, que confiou o transporte da mercadoria a um NVOCC (non vessel owner contractual carrier transportador contratual não proprietário do navio), perante o qual a responsabilidade pela inexecução do transporte poderia ser discutida, sem excluir a responsabilidade em tese da efetiva transportadora. Ré, transportadora real, que, de qualquer forma, não pode ser responsabilizada no caso concreto, dada a inadequada amarração da carga no interior do contêiner. Embarcadora, contratada pela segurada, responsável pelo devido acondicionamento da carga, por força do contrato de transporte pelo sistema FCL (full container load). Mau tempo que não explica o evento, não tendo provocado a queda, rompimento ou movimentação de outros containers transportados pelo navio. Inexistência de conduta culposa ou de fato do transporte imputável à transportadora. Responsabilidade exclusiva da embarcadora. Sentença de procedência reformada. Demanda em face da transportadora improcedente. Apelação da ré provida para tal fim. (TJSP, AC 0034881-49.2012.8.26.0562, Rel. Sérgio Rui, 22ª Câmara de Direito Privado, j. 15/05/2014)

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13.6 Responsabilidade civil. Ação regressiva da seguradora. Transporte de mercadorias. Recurso adesivo – honorários de advogado. O transportador não responde por perda ou avaria de carga estivada defeituosamente pelos prepostos do remetente (aplicação do decreto legislativo nº 2.681/12, art. 1º, 4º, primeira parte. Improcedente o pedido, é razoável a fixação de honorários em percentual sobre o valor da causa não impugnada pelo recorrente adesivo. (TJRJ, AC 8.867/94, Des. Asclepíades Rodrigues, 3ª Câmara Cível, j. 10/11/94) b) Falta de mercadoria – Contêiner lacrado – Ausência de

responsabilidade do transportador 13.7 RECURSO - Agravo retido - Não reiteração em contra-razões de apelação -Não conhecimento. CONTRATO DE TRANSPORTE MARÍTIMO - Ação regressiva - Falta de mercadoria - Responsabilidade da transportadora - Inocorrência - Aplicação do Decreto Lei 116/1967 - Responsabilidade da transportadora começa com o recebimento da mercadoria a bordo e cessa com a sua entrega à entidade portuária ou trapiche municipal, no porto de destino, ao costado do navio -Prova da entrega do container lacrado, sem ressalvas (...). (TJSP, AC 9129094-04.2007.8.26.0000, Rel. Álvaro Torres Júnior, 20ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 13/09/2011) 13.8 DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR - TRANSPORTE DE MERCADORIAS EM CONTAINER LACRADO - FALTA DE PEÇAS - AUSÊNCIA DE CULPA DO TRANSPORTADOR - AÇÃO PROCEDENTE - APELAÇÃO DESPROVIDA. Embora seja presumida a culpa do transportador por perdas ou avarias dos bens durante o transporte, na forma prevista pelo art. 103 do Código Comercial, neste caso em que as mercadorias estavam acondicionadas em container lacrado, sem prova de sua violação, não pode ser responsabilizado o transportador por falta de algumas peças dessa mercadoria. (TJPR, Apelação Cível 0154022-9, Relator: Domingos Ramina, Terceira Câmara Cível, Data de Julgamento: 12/09/2000)

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13.9 Transporte marítimo de mercadorias. Transporte de “containers”, no qual deveria conter mercadorias declaradas pelo exportador, responsável pelo estufamento do mesmo. Cofre de carga recebido fechado e lacrado pelo transportador que não teve acesso ao seu conteúdo. Decurso de tempo entre a movimentação do equipamento do terminal ao costado do navio. Chegada e descarregamento no porto de destino, onde lá permaneceu sob os cuidados da autoridade portuária. Posterior retirada pelo transportador para entrega ao destinatário final. Constatação então de que se encontrava sem as mercadorias então declaradas conter. Lacres sem sinais de violação. Pretensão da segurada em ressarcir-se daquilo que pagou ao exportador. Sentença de improcedência que se prestigia. Transporte de “container”, que possui certas peculiaridades. Conhecimento expedido com ressalvas em relação ao eventual conteúdo, ao qual não tem acesso o transportador. Possibilidade do desaparecimento das mercadorias enquanto o “container” esteve sob a guarda e vigilância das autoridades portuárias nos portos de Rio Grande e no de Genova na Itália. Recurso Improvido. (TJRJ, Apelação n. 2006.001.13707, Des. Rel. José Carlos Varanda, 10ª Câmara Cível, Data de Publicação: 12/05/2008) c) Carga lacrada – Vício próprio da mercadoria – Ausência de

responsabilidade do transportador 13.10 Transporte marítimo. O conhecimento prova o recebimento, a bordo, da mercadoria, conforme a qualidade, quantidade, marcas, e números, nele registrados. Não diz expressamente qual o estado em que a carga se encontra, segundo a Lei Comercial Brasileira. No contrato de transporte marítimo, vige, entre nós, o princípio da responsabilidade com culpa (C.Com., art. 529). Admitido vício de origem da mercadoria e não provada culpa do transportador marítimo, não há como atribuir a este responsabilidade pela deterioração de castanhas trazidas de Portugal, em condições do navio tecnicamente favoráveis. (STF, RE 74443, Min. Djaci Falcão, DJ 29.06.73) 13.11 RESPONSABILIDADE DO TRANSPORTADOR MARÍTIMO: Caso de inocorrência. Vício próprio da coisa. Embora seja presumida a responsabilidade do transportador marítimo relativamente a mercadoria embarcada, é de ter-se como exonerado ele de tal responsabilidade se a

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prova dos autos revela que a deterioração do produto decorreu de vício próprio. Sentença que se mantém. (TFR, Ac. 36.113/SP, DJU de 13.10.72) d) Mau acondicionamento da mercadoria – Ausência de

responsabilidade do transportador 13.12 Presume-se a culpa do transportador por quaisquer danos na mercadoria transportada, salvo hipóteses expressamente previstas no aludido diploma legal. Pois bem, UMA DAS RESSALVAS PREVISTAS EM LEI DIZ RESPEITO AO DEFICIENTE ACONDICIONAMENTO DA MERCADORIA. (1.TACivSP, AC 507750-3, Juiz Campos Mello, 12ª CC., RT 715/167) 13.13 No contrato de transporte de mercadoria por via terrestre a culpa do transportador pela avaria na mercadoria é presumida e exclui-se, dentre outros motivos, pelo seu mau acondicionamento (art 1º, Item 4º) (TJRJ, AC 16015/2000, Des Milton Fernandes de Souza, 08/05/2001) 13.14 TRANSPORTE MARÍTIMO - A transportadora responde pela falta, salvo quando decorre do mau acondicionamento da mercadoria. (TFR, Ac. 26.928, DJU de 02.12.69) 13.15 A ação improcede. Assim é porque, ao contrário do que sustenta a autora, o fato decorreu não de falha no transporte, mas sim de acondicionamento irregular das mercadorias, providência não efetivada pela ré, mas pela embarcadora. Nestas condições, incabível a indenização, que não se confunde com a cláusula de não indenizar, vedada pela Súmula n. 161, do STF. (...) Da dinâmica do evento depreende-se que não se tratou de defeito relativo ao transporte, mas sim do próprio acondicionamento (...). Assim, o acondicionamento irregular constituiu o fator preponderante para o sinistro, o que exclui a responsabilidade da transportadora para o sinistro. Com esta orientação, em hipóteses semelhantes: INDENIZAÇÂO – Contrato de transporte – Avaria na carga – Seguradora sub-rogada pleiteando o valor

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pago à segurada – Alegação de responsabilidade objetiva do transportador – Inadmissibilidade in casu, pois o sinistro ocorreu em função do acondicionamento, que era de responsabilidade da segurada, e não do transporte – Recurso não provido. (AC 034.146-4 – Santo André – 7ª Câm. Dir. Priv. – Rel. Benini Cabral – 29.04.98 – v.u.) RESPOSABILIDADE CIVIL – Transporte rodoviário – Regressiva de indenização securitária – Adernamento e quebra de volumes – Responsabilidade pela estiva assumida pela seguradora – Culpa exclusiva da própria dona da carga ou de terceiro – Configuração – Negligência no acondicionamento da mercadoria – Excludente de responsabilidade da transportadora devidamente caracterizada – Improcedência – Recurso Improvido (AC 7.048.545-5 – São Paulo – 20ª Câm.Dir. Priv. – Rel. Correia Lima – 28.11.06 – v.u. – voto n. 11614) Logo, tendo sido o fato causado pela conduta negligente da própria embarcadora, o que caracteriza a força maior, impõe-se o afastamento da responsabilidade da transportadora. Ante o exposto, JULGO IMPROCEDENTE a ação (...) (TJSP, Proc 583.02.2008.108690-1, J. Antonio Carlos S. Filho, 5ª Vara Cível de Santo Amaro/SP, j. 02.09.2008).

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O contêiner não se confunde com a mercadoria nele transportada, de forma que não é uma embalagem daquela, mas sim uma unidade de transporte, representando um acessório do próprio navio. Ao contrário das mercadorias, os contêineres não serão internalizados e, após o transporte e desunitização da carga, devem ser devolvidos à transportadora marítima, para que possam ser explorados em outros transportes, dentro de uma cadeia logística e comercial da transportadora. Portanto, é incabível pretender-se reter o contêiner como instrumento para armazenar uma carga que fora abandonada ou apreendida por desídia do embarcador ou consignatário. Contêiner e carga não se confundem e os fatos atribuíveis à carga não podem prejudicar o transportador na exploração e uso de seu contêiner, sobretudo quando os terminais devem destinar espaços próprios para a armazenagem de cargas abandonadas ou retidas pela Receita.

a) Carga abandonada – Contêiner e mercadoria não se confundem –

Impossibilidade de retenção do contêiner 14.1 ADMINISTRATIVO. DESEMBARAÇO ADUANEIRO. DESUNITIZAÇÃO DE CARGA E DEVOLUÇÃO DE CONTÊINERES. APLICAÇÃO DA PENALIDADE DE PERDIMENTO DAS MERCADORIAS TRANSPORTADAS EM RAZÃO DE ABANDONO DAS MERCADORIAS IMPORTADAS. LEGITIMIDADE PASSIVA DA AUTORIDADE ALFANDEGÁRIA. CONTÊINERES DE PROPRIEDADE DE SOCIEDADE DE TRANSPORTE MARÍTIMO. RETENÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. (...) 5 - Em relação ao mérito, a controvérsia cinge-se em verificar a legalidade ou não do ato perpetrado pelo Inspetor Chefe da Alfândega do Porto do Rio de Janeiro, consistente na retenção de contêineres de propriedade da impetrante, sociedade do ramo de transporte marítimo, em razão do abandono das mercadorias transportadas contidas em seu interior pelo

5 V. “Contêiner Retido”

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importador. 6 - Na hipótese dos autos, após as mercadorias acondicionadas nos contêineres de propriedade da impetrante terem sido descarregadas no Porto do Rio de Janeiro, não foi iniciado pelo importador, dentro do prazo legal, o desembaraço aduaneiro, de modo que as mercadorias foram consideradas abandonadas, sujeitando-se a procedimento administrativo fiscal para aplicação da penalidade de perdimento, o que não justifica a retenção dos contêineres. 7 - O contêiner possui como finalidade a realização de transporte de cargas, não se confundindo com a própria carga ou com a embalagem das mercadorias transportadas, de maneira que não há que falar em identidade entre o contêiner e sua carga, tampouco em existência de relação de acessoriedade entre eles, conforme se depreende do disposto no artigo 24, da Lei nº 9.611/98. 8 - Mostra-se, pois, ilegal a conduta da autoridade impetrada em penalizar o proprietário da unidade de carga, com a retenção do equipamento, uma vez que a infração foi cometida pelo proprietário da mercadoria importada, devendo apenas este último sujeitar-se aos prejuízos decorrentes da apreensão da carga. 9 - Remessa necessária e recurso de apelação desprovidos.” (TRF2, AC: 0105719-79.2012.4.02.5101, Relator: Julio Emilio Abranches Mansur, Data De Julgamento: 17/11/2016, 5ª Turma Especializada) 14.2 AGRAVO DE INSTRUMENTO. MANDADO DE SEGURANÇA. RETENÇÃO DE CONTAINER. DESCABIMENTO. RECURSO PROVIDO. 1. É iterativa a jurisprudência do Colendo Superior Tribunal de Justiça no sentido de que o contêiner não é acessório da mercadoria importada e, verificado o abandono ou a perda da carga por infração aduaneira, não se justifica sua manutenção no recinto alfandegado. 2. O fato de o Poder Público não possuir condições para o adequado armazenamento da mercadoria não pode acarretar privação de bens particulares, a não ser que expressamente autorizado por lei. 3. Com efeito, é de exclusiva responsabilidade do importador o desembaraço aduaneiro da mercadoria importada, não se podendo imputar ao transportador ônus decorrente de sua omissão ou das limitações físicas de espaço da agravada em comportar as mercadorias importadas, mesmo porque o artigo 3º do Decreto-Lei nº 116/67 evidencia que "a responsabilidade do navio ou embarcação transportadora começa com o recebimento da mercadoria a bordo e cessa com a sua entrega à entidade portuária ou trapiche municipal, no porto de destino, ao costado do navio". 3. Ademais, o responsável pela manutenção e guarda da mercadoria é o recinto alfandegado, o qual inclusive é remunerado para tanto, e não a

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transportadora. A desunitização no interior do recinto alfandegado em nada prejudica eventual procedimento administrativo. (....) (TRF3, AI: 00096396120164030000 SP, Relator: Desembargador Federal Marcelo Saraiva, Quarta Turma, Data de Publicação: 10/03/2017) 14.3 ADUANEIRO. ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. LIBERAÇÃO DE CONTÊINER. POSSIBILIDADE. UNIDADE DE CARGA DISTINTA. RETENÇÃO ATÉ DECISÃO ADMINISTRATIVA DE PERDIMENTO. IMPOSSIBILIDADE. RECURSO PROVIDO. 1. O contêiner não constitui embalagem das mercadorias transportadas e com elas não se confunde. A responsabilidade da transportadora termina com a entrega da carga ao porto, não podendo ser prejudicada pela data indefinida da declaração de perdimento ou pela inércia do importador quanto aos procedimentos do despacho aduaneiro. 2. Impossibilidade de retenção da unidade de carga até a declaração de perdimento da mercadoria, cabendo ao recinto alfandegado da carga o seu armazenamento em local adequado à sua conservação, após desunitizado. 3.Agravo de instrumento provido. (TRF3, AI: 00190840620164030000 SP, Relator: Desembargador Federal Nelton Dos Santos, Terceira Turma, Data de Publicação DATA:10/07/2017) 14.4 MANDADO DE SEGURANÇA. ADMINISTRATIVO. LIBERAÇÃO DE CONTÊINER. UNIDADE DE CARGA DISTINTA. DESUNITIZAÇÃO. LEGALIDADE. APELAÇÃO PROVIDA. 1. O contêiner não constitui embalagem das mercadorias transportadas e com elas não se confunde. 2. A responsabilidade da transportadora termina com a entrega da carga ao porto, não podendo ser prejudicada pela data indefinida da declaração de perdimento ou pela inércia do importador quanto aos procedimentos do despacho aduaneiro, considerando o fato de que as mercadorias chegaram ao porto de Santos há mais de sete anos. 3. Cabe ao recinto alfandegado o armazenamento da carga em local adequado para evitar sua deterioração após a desunitização. 4. Apelação provida. (TRF3, AMS: 00098470820124036104 SP, Relator: Desembargador Federal Nelton Dos Santos, Terceira Turma, Data de Publicação: 18/01/2017)

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14.5 MANDADO DE SEGURANÇA. ADMINISTRATIVO. LIBERAÇÃO DE CONTÊINER. POSSIBILIDADE. UNIDADE DE CARGA DISTINTA. 1. O contêiner não constitui embalagem das mercadorias transportadas e com elas não se confunde. 2. A responsabilidade da transportadora termina com a entrega da carga ao porto, não podendo ser prejudicada pela data indefinida da declaração de perdimento ou pela inércia do importador quanto aos procedimentos do despacho aduaneiro. 3. Cabe ao recinto alfandegado o armazenamento da carga em local adequado para evitar sua deterioração após a desunitização. 4. Remessa oficial e apelação, desprovidas. (TRF3, AMS: 00093612320124036104 SP, Relator: Desembargador Federal Nelton Dos Santos, Terceira Turma, Data de Publicação: 03/05/2017) 14.6 ADMINISTRATIVO. APREENSÃO DE CARGA ABANDONADA. RETENÇÃO DE CONTAINER. LEIS NºS 6.288/75 E 9.611/98.1. Segundo o art. 24 da Lei nº 9.611/98, os containers constituem-se em equipamentos que permitem a reunião ou unitização de mercadorias a ser transportadas, não podendo ser confundidos com embalagem ou acessório da mercadoria transportada. 2. Inexiste amparo jurídico para a apreensão de containers, os quais, pela sua natureza, não se confundem com a própria mercadoria transportada.3. Recurso especial improvido. (STJ, REsp 908.890/SP, Rel. Ministro Castro Meira, Segunda Turma, DJ 23/04/2007) 14.7 MANDADO DE SEGURANÇA. ABANDONO DE CARGA. PERDIMENTO. APREENSÃO DO CONTAINER. DESCABIMENTO. DEFINIÇÃO. ANÁLISE DA LEI Nº 9.611/98 EM CONJUNTO COM OUTRAS. PRECEDENTE.I - O abandono da carga por seu dono é fato sujeito a procedimento administrativo fiscal com vistas à aplicação da pena de perdimento da respectiva mercadoria, mas não induz à apreensão do container que a embalou, uma vez que este tem existência concreta para atingir sua finalidade, conforme se depreende da análise conjunta Lei nº 9.611/98, com o artigo 92, do Código Civil/02 e artigo 3º, da Lei nº 6.288/75. Precedente: REsp nº 526.767/PR, Rel. Min. DENISE ARRUDA, DJ de 19/09/05. II - Recurso especial improvido. (STJ, REsp: 914700/SP, Relator: Ministro Francisco Falcão, Primeira Turma, DJE: 07/05/2007)

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14.8 ADMINISTRATIVO – ABANDONO DE MERCADORIA – RETENÇÃO DE CONTAINER – IMPOSSIBILIDADE – PRECEDENTES. 1. O container não se confunde com a mercadoria transportada, pelo que é ilegal a sua retenção no caso de abandono de carga. (STJ, Resp 1049270/SP, Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, DJe 22/09/08) 14.9 TRIBUTÁRIO. MERCADORIA LEGALMENTE ABANDONADA. APREENSÃO DE CONTÊINER. IMPOSSIBILIDADE. 1. A jurisprudência desta Corte tem firmado o entendimento de que o contêiner não é acessório da mercadoria transportada, não se sujeitando, pois, à pena de perdimento aplicável àquela. Precedentes. 2. Recurso especial não provido. (STJ, REsp: 1114944 SC, Relator: Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, DJe 14/09/2009) 14.10 ADMINISTRATIVO – ABANDONO DE MERCADORIA – RETENÇÃO DE CONTAINER – IMPOSSIBILIDADE – PRECEDENTES.1. O container não se confunde com a mercadoria transportada, pelo que é ilegal a sua retenção no caso de abandono de carga.2. Recurso Especial não provido. (...)O container nada mais é do que um dispositivo destinado a viabilizar o transporte de mercadorias, desempenhando o papel de mero recipiente, que não possui qualquer vínculo com o conteúdo nele transportado. Não se deve estabelecer uma relação de dependência entre o container e a mercadoria. Encerrado o contrato de transporte, o container terá desempenhado o seu papel, tornando-se ilegal condicionar a sua liberação à destinação da mercadoria – retirada pelo importador ou aplicação da pena de perdimento. Nesse sentido é tranqüila a jurisprudência desta Corte: “ADMINISTRATIVO. APREENSÃO DE CARGA ABANDONADA.RETENÇÃO DE CONTAINER. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. (STJ, AgRg no Ag 932.219/SP, Min. Teori Albino Zavascki, 1ª Turma, DJ 22.11.2007 p. 203) 14.11 ADUANEIRO. MANDADO DE SEGURANÇA. RETENÇÃO DE CONTÊINERES PARA DEPÓSITO DE MERCADORIAS ABANDONADAS. LEI 6.288/75. LIBERAÇÃO. É ilegal a retenção de contêineres pelo fato de não ter o importador efetuado o despacho das mercadorias neles contidas no prazo

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hábil, uma vez que, nos termos da Lei n.º 6.288/75, o contêiner é considerado um equipamento ou acessório do veículo do transportador, e não parte integrante da mercadoria, nem embalagem da mesma. (TRF4, Reexame Necessário 5001135-81.2013.404.7008, Relatora Luciane Amaral Corrêa Münch, 2ª Turma, Data do Julgamento: 13/02/2014) 14.12 ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. ABANDONO DE CARGA PELO IMPORTADOR. RETENÇÃO DO CONTÊINER. DESCABIMENTO. RAZÕES REFERENTES AO PROCESSO DE IMPORTAÇÃO DE MERCADORIAS NÃO PERMITEM RETENÇÃO PELA FISCALIZAÇÃO ALFANDEGÁRIA DAS UNIDADES DE CARGA (CONTÊINERES). 1. O Superior Tribunal de Justiça já delineou que "A autoridade coatora, para fins de impetração de mandado de segurança, é aquela que pratica ou ordena, de forma concreta e específica, o ato ilegal; ou, ainda, que detém competência para corrigir a suposta ilegalidade; não a configurando o mero executor do ato impugnado. Precedentes". (AR 1488, Relatora Ministra Laurita Vaz, 3ª Seção, DJe 01.02.2010). No caso em apreço, a figura de tal autoridade recai sobre o Inspetor da Alfândega da Receita Federal no Porto do Rio de Janeiro, visto que o contêiner de propriedade da impetrante acabou retido por conta de processo administrativo de perdimento das mercadorias nele contidas, abandonadas pelo importador. Precedentes desta Corte e do STJ. (REsp 526767/PR, Primeira Turma, Relatora Ministra DENISE ARRUDA, DJ 19/09/2005; AgRg no AI 949.019/SP, Segunda Turma, Relator Ministro CASTRO MEIRA - STJ). 2. O titular da unidade da Receita Federal do Brasil responsável pelo procedimento fiscal e pela guarda das mercadorias apreendidas deve comunicar ao operador portuário autorização para a desunitização da carga importada e liberação do contêiner antes mesmo do término do procedimento fiscal de perdimento. 3. As unidades de carga (contêineres) não se confundem com as mercadorias que acondicionam, não podendo ser retidas pela fiscalização alfandegária em razão de questões referentes ao processo de importação das mercadorias nelas acondicionadas. (STJ - REsp 1056063/SC, Segunda Turma, Relator Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, DJe 01/09/2010; REsp 1114944/SC, Segunda Turma, Relatora Ministra ELIANA CALMON, DJe 14/09/2009 - STJ). 4. Ato Declaratório n° 1, de 22 de fevereiro de 2013, da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (DOU de 01/03/2013 - n° 41, Seção 1, pág. 24) reconhece o direito ora discutido. 5. Deve-se reformar a sentença, de modo que seja concedida a pretendida segurança. 6. Apelação conhecida e provida.

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(TRF2, AC 609679, Juiz Federal Convocado José Arthur Diniz Borges, Sétima Turma Especializada, E-DJF2R - Data: 05/02/2014) b) Perdimento de mercadoria – Inexistência de relação de acessoriedade

entre contêiner e mercadoria – Impossibilidade de retenção do contêiner

14.13 DIREITO ADMINISTRATIVO. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. APREENSÃO DE CONTAINERS. MERCADORIAS ABANDONADAS E COM DECRETO DE PERDIMENTO. UNIDADE DE CARGA QUE NÃO SE CONFUNDE COM A MERCADORIA NELA CONTIDA. INEXISTÊNCIA DE RESPONSABILIDADE. MERO TRANSPORTADOR. DESUNITIZAÇÃO E LIBERAÇÃO DAS UNIDADES DE CARGA. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. REMESSA OFICIAL IMPROVIDA. (...) De acordo com o entendimento jurisprudencial do Egrégio Superior Tribunal de Justiça e desta Colenda Corte Regional, o "container" não guarda grau de paridade com a mercadoria nele transportada, não se sujeitando, pois, à pena de perdimento, colhendo-se como ilegal a sua apreensão por infrações relacionadas, exclusivamente, à própria carga ou ao importador. A falta de condições do Poder Público para o adequado armazenamento da mercadoria não pode acarretar privação de bens particulares, a não ser que expressamente autorizado por lei. Com efeito, é de exclusiva responsabilidade do importador o desembaraço aduaneiro da mercadoria importada, não se podendo imputar ao transportador ônus decorrente de sua omissão ou das limitações físicas de espaço da agravada em comportar as mercadorias importadas, uma vez que o artigo 3º do Decreto-Lei nº 116/67 evidencia que "a responsabilidade do navio ou embarcação transportadora começa com o recebimento da mercadoria a bordo e cessa com a sua entrega à entidade portuária ou trapiche municipal, no porto de destino, a costado do navio". O responsável pela manutenção e guarda da mercadoria é o recinto alfandegado, remunerado para tanto e não a transportadora. (TRF3, Reoms 00127784720134036104, Quarta Turma, Desembargadora Federal Mônica Nobre, e-DJF3 Judicial 1 Data: 30/01/2017). 14.14 AGRAVO DE INSTRUMENTO. TRIBUTÁRIO. ADUANEIRO. CONTÊINER. DESUNITIZAÇÃO. 1. De acordo com remansoso entendimento jurisprudencial do Egrégio Superior Tribunal de Justiça e desta Colenda Corte Regional, o contêiner não guarda grau de paridade com a mercadoria nele transportada,

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não se sujeitando, pois, à pena de perdimento, colhendo-se como ilegal a sua apreensão por infrações relacionadas, exclusivamente, à própria carga ou ao importador. 2. Agravo de instrumento provido. (TRF3, AI: 00134303820164030000 SP, Relator: Juiz Federal Convocado Marcelo Guerra, Quarta Turma, Data de Publicação: 30/01/2017) 14.15 ADUANEIRO. REMESSA OFICIAL EM MANDADO DE SEGURANÇA. ILEGITIMIDADE ATIVA. ABANDONO DE CARGA. PENA DE PERDIMENTO. RETENÇÃO DE CONTÊINER. IMPOSSIBILIDADE. - Ao contrário do alegado pela autoridade coatora, não subsiste a afirmação de ausência de capacidade postulatória da impetrante ao argumento de que o contêiner e as mercadorias contidas em seu interior são de sua propriedade, pois a parte na condição de agente de cargas tem responsabilidade contratual pela unidade de carga. - De acordo com os artigos 3º da Lei n.º 6.288/75 e 24 da Lei n.º 9.611/98, o contêiner não se confunde com a mercadoria transportada, razão pela qual é ilegal a sua retenção no caso de abandono de carga ou de aplicação de pena de perdimento. Precedentes do STJ. - Preliminar rejeitada. Remessa oficial desprovida. (TRF3, REOMS: 00036113520154036104 SP, Relator: Desembargador Federal Andre Nabarrete, Quarta Turma, Data de Publicação:08/08/2017) 14.16 ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. ATO ADMINISTRATIVO. LEGITIMIDADE PASSIVA DO CHEFE DA ALFÂNDEGA DO PORTO DO RIO DE JANEIRO. DESUNITIZAÇÃO DE CARGAS. DEVOLUÇÃO DE CONTÊINERES. ART. 24 LEI 9.611/98 E ART. 642 DO DECRETO 6.759/2009. REMESSA DESPROVIDA. (...) A Lei 9.611/98, em seu art. 24, define contêiner como qualquer equipamento adequado à unitização de mercadorias a serem transportadas. Assim, mostra-se indevida a retenção do contêiner junto com as mercadorias consideradas abandonadas, visto que os equipamentos devem ser utilizados apenas no transporte e não no armazenamento de mercadorias nos depósitos alfandegários, razão por que a impetrante não pode ser punida ou privada de acesso à sua propriedade em decorrência de omissão do importador, que não efetuou o despacho aduaneiro das mercadorias no prazo correto, estando estas sujeitas à pena de perdimento. Ademais, não estando obrigada a empresa proprietária do contêiner, por lei ou contrato, a suportar prejuízos atinentes ao desembaraço aduaneiro, razão não há para

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se vedar a liberação do respectivo contêiner. -Remessa necessária desprovida. (TRF2, REOAC: 00496753520154025101 RJ 0049675-35.2015.4.02.5101, Relator: Vera Lúcia Lima, Julgamento: 08/09/2016, 8ª Turma Especializada) 14.17 PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. MANDADO DE SEGURANÇA. PERDIMENTO DE MERCADORIA. APREENSÃO DO CONTÊINER (UNIDADE DE CARGA). ALEGADA VIOLAÇÃO DO ART. 24, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI 9.611/98. NÃO-OCORRÊNCIA. INEXISTE RELAÇÃO DE ACESSORIEDADE ENTRE O CONTÊINER E A MERCADORIA NELE TRANSPORTADA. EXEGESE DO ART. 92 DO CÓDIGO CIVIL. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. 1. A questão controvertida consiste em saber se o contêiner utilizado no transporte de carga é acessório da mercadoria nele transportada e, por conseqüência, deve sofrer a pena de perdimento aplicada à mercadoria apreendida por abandono. 2. O Tribunal a quo entendeu que o contêiner não se confunde com a mercadoria nele transportada, razão pela qual considerou ilícita sua apreensão em face da decretação da pena de perdimento da carga. A recorrente, em vista disso, pretende seja reconhecido o contêiner como acessório da carga transportada, aplicando-se-lhe a regra de que o acessório segue o principal. 3. "Principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou concretamente; acessório, aquele cuja existência supõe a do principal” (CC/02, art. 92). 4. Definido, legalmente, como qualquer equipamento adequado à unitização de mercadorias a serem transportadas e não se constituindo embalagem da carga (Lei 9.611/98, art. 24 e parágrafo único), o contêiner tem existência concreta, destinado a uma função que lhe é própria (transporte), não dependendo, para atingir essa finalidade, de outro bem juridicamente qualificado como principal. 5. Assim, a interpretação do art. 24 da Lei 9.611/98, à luz do disposto no art. 92 do Código Civil, não ampara o entendimento da recorrente no sentido de que a unidade de carga é acessória da mercadoria transportada, ou seja, que sua existência depende desta. Inexiste, pois, relação de acessoriedade que legitime sua apreensão ou perdimento porque decretada a perda da carga. 6. Recurso especial conhecido e desprovido. (STJ, REsp: 526767 PR, Relator: Ministra Denise Arruda, Primeira Turma, DJ 19/09/2005 p. 186)

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14.18 ADMINISTRATIVO. PODER DE POLÍCIA. PENA DE PERDIMENTO. APLICADA EM RELAÇÃO A MERCADORIAS. RELAÇÃO DE ACESSORIEDADE COM O CONTÊINER QUE AS TRANSPORTA/ARMAZENA. INEXISTÊNCIA. 1. Pacífico nesta Corte Superior o entendimento segundo o qual não existe relação de acessoriedade entre o contêiner e as mercadorias nele armazenadas/transportadas para fins de pena de perdimento. Neste sentido, confiram-se os seguintes precedentes: REsp 908.890/SP, Rel. Min. Castro Meira, Segunda Turma, DJU 23.4.2007, e REsp 526.767/PR, Rel. Min. Denise Arruda, Primeira Turma, DJU 19.9.2005. 2. Recurso especial não provido. (STJ, REsp: 1056063 SC, Relator: Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 01/09/2010)

14.19 ADMINISTRATIVO. PERDIMENTO DE MERCADORIA. APREENSÃO DO CONTÊINER. UNIDADE DE CARGA. INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO DE ACESSORIEDADE ENTRE O CONTÊINER E A MERCADORIA NELE TRANSPORTADA. Ante a completa inexistência de acessoriedade entre o contêiner utilizado no transporte das mercadorias e estas propriamente ditas, deve aquele ser devolvido à parte impetrante, pois sobre ele não recai a pena de perdimento. (TRF4, APELREEX: 1546 SC 2008.72.08.001546-8, Relator: Alexandre Gonçalves Lippel, 4ª Turma, Data de Julgamento: 27/05/2009) 14.20 ADMINISTRATIVO. PERDIMENTO DE MERCADORIA. APREENSÃO DO CONTÊINER. UNIDADE DE CARGA. INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO DE ACESSORIEDADE ENTRE O CONTÊINER E A MERCADORIA NELE TRANSPORTADA. Ante a completa inexistência de acessoriedade entre o contêiner utilizado no transporte das mercadorias e estas propriamente ditas, deve aquele ser devolvido à parte impetrante, pois sobre ele não recai a pena de perdimento. (TRF4, AMS: 1608 PR 2006.70.08.001608-3, Relator: Marga Inge Barth Tessler, Quarta Turma, D.E. 03/12/2007) 14.21 ADMINISTRATIVO – APREENSÃO DE CONTÊINER – UNIDADE DE CARGA – NÃO APLICAÇÃO DA PENA DE PERDIMENTO DE MERCADORIA – INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO DE ACESSORIEDADE ENTRE O CONTÊINER E A

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MERCADORIA NELE TRANSPORTADA. 1. A internalização de mercadoria importada deve se submeter às regras aduaneiras que protegem mais do que a arrecadação fiscal, isto é, protegem a segurança das fronteiras, a hígida relação comercial e o salutar trânsito de pessoas. 2. Os contêineres constituem unidade de carga, não se confundindo com a mercadoria neles transportada. De fato, são acessórios dos navios, não se submetendo à destinação dada à mercadoria em eventual decretação de pena de perdimento, pelo que seria de se proceder à sua liberação, conforme pleiteado. Artigos 24 a 26 da Lei nº 9.611/98. 3. A não-liberação do contêiner no qual ainda são armazenadas mercadorias, submetidas ou não à pena de perdimento, tem o mesmo efeito, não podendo a impetrante ser privada do acesso ao contêiner de sua propriedade, uma vez que não deu causa à situação irregular das mercadorias. 4. Remessa oficial improvida. (TRF2, REOMS: 68997 RJ 2006.50.01.007737-4, Relator: Desembargador Federal Frederico Gueiros, Sexta Turma Especializada, DJU - Data: 05/08/2008 - Página: 268) 14.22 ADMINISTRATIVO. MERCADORIAS IMPORTADAS. APREENSÃO PELA RECEITA FEDERAL. EXORBITÂNCIA NO TEMPO DE PERMANÊNCIA NO PORTO PARA ANÁLISE DA CARGA E SUA DESTINAÇÃO. DESUNITIZAÇÃO DAS MERCADORIAS. LIBERAÇÃO DOS CONTÊINERES. INEXISTÊNCIA DE ACESSORIEDADE. LEIS 9.611/98 E 6.288/75. VASTIDÃO DE PRECEDENTES DO STJ E DESTA CORTE. 1. A sentença concedeu a segurança para determinar a desunitização das cargas e devolução dos respectivos contêineres à impetrante. 2. Vasta e pacífica a jurisprudência do STJ e desta Corte na linha de que: - "não existe relação de acessoriedade entre o contêiner e as mercadorias nele armazenadas/transportadas para fins de pena de perdimento" (REsp 1056063/SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques); - "segundo o art. 24 da Lei 9.611/98, os contêineres constituem equipamentos que permitem a reunião ou unitização de mercadorias a serem transportadas. Não se confundem com embalagem ou acessório da mercadoria transportada. Inexiste, assim, amparo jurídico para a apreensão de contêineres"(AgR/Ag 949019/SP, Rel. Min. Castro Meira); -"nos termos do art. 3º da Lei 6.288/75 'o container, para todos os efeitos legais, não constitui embalagem das mercadorias, sendo considerado sempre um equipamento ou acessório do veículo transportador'. 'A unidade de carga, seus acessórios e equipamentos não constituem embalagem e são partes integrantes do todo' (art. 24, parágrafo único, da Lei 9.611/98)" (AgR/Ag 950681/SP, Rel. Min. José

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Delgado). 3. Acolhimento do pedido de desunitização da unidade de carga e conseqüente liberação dos contêineres. 4. Remessa oficial não-provida. (TRF5, REO: 168133820124058300, Relator: Desembargador Federal Marcelo Navarro, Terceira Turma, Data de Publicação: 20/09/2013) 14.23 ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO. MERCADORIA IMPORTADA NÃO NACIONALIZADA. CONFIGURAÇÃO DE ABANDONO. PENA DE PERDIMENTO. INCIDÊNCIA SOBRE OS CONTÊINERES UTILIZADOS NO TRANSPORTE DAS MERCADORIAS. IMPOSSIBILIDADE. REMESSA OFICIAL IMPROVIDA. 1. "Definido, legalmente, como qualquer equipamento adequado à unitização de mercadorias a serem transportadas e não se constituindo embalagem da carga, o contêiner tem existência concreta sobre si, destinado a uma função que lhe é própria (transporte), não dependendo, para atingir essa finalidade, de outro bem juridicamente qualificado como principal. [...] Inexiste, pois, relação de acessoriedade que legitime sua apreensão ou perdimento porque decretada a perda da carga, uma vez que não se deve confundir contêiner com a mercadoria nele transportada" (REsp 526.767/PR, Rel. Ministra DENISE ARRUDA. PRIMEIRA TURMA. Unânime. DJ 19.09.2005). 2. Remessa oficial improvida. (TRF5, REOMS: 97427 PE 0006580-89.2006.4.05.8300, Relator: Desembargador Federal Edílson Nobre, Primeira Turma, DJ 13/12/2007)

14.24 PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. MANDADO DE SEGURANÇA. PERDIMENTO DE MERCADORIA. APREENSÃO DE CONTAINER (UNIDADE DE CARGA). ALEGADA VIOLAÇÃO DO ART. 24, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI 9.611/98. NÃO OCORRÊNCIA. INEXISTE RELAÇÃO DE ACESSORIEDADE ENTRE O CONTAINER E A MERCADORIA NELE TRANSPORTADA. EXEGESE DO ART. 92 DO CÓDIGO CIVIL. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.1. A questão controvertida consiste em saber se o contêiner utilizado no transporte de carga é acessório da mercadoria nele transportada e, por conseqüência, deve sofrer a pena de perdimento aplicada à mercadoria apreendida por abandono.O Tribunal a quo entendeu que o contêiner não se confunde com a mercadoria nela transportada, razão pela qual considerou ilícita sua apreensão em face da decretação da pena de perdimento da carga. A recorrente, em vista disso, pretende seja reconhecido o container como acessório da carga transportada, aplicando-se-lhe a regra de que o acessório segue o principal.3. Principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou

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concretamente; acessório, aquele cuja existência supõe a do principal (CC/02, art. 92).4. Definido, legalmente, como qualquer equipamento adequado à unitização de mercadorias a serem transportadas e não se constituindo embalagem da carga (Lei 9.611/98, art. 24 e parágrafo único), o container tem existência concreta, destinado a uma função que lhe é própria (transporte), não dependendo, para atingir essa finalidade, de outro bem juridicamente qualificado como principal.5. Assim, a interpretação do art. 24 da Lei 9.611/98, à luz do disposto no art. 92 do Código Civil, não ampara o entendimento da recorrente no sentido de que a carga é acessório da mercadoria transportada, ou seja, que sua existência depende desta. Inexiste, pois, relação de acessoriedade que legitime sua apreensão ou perdimento porque decretada a perda da carga.6. Recurso especial conhecido e desprovido. (STJ, REsp. 526.767 – PR, Rel. Ministra Denise Arruda, Primeira Turma, publicado em 19/09/2005) c) Carga abandonada – Impossibilidade de retenção do contêiner –

Dever da Administração de acautelar as mercadorias – Impossibilidade de atribuir-se o ônus ao transportador

14.25 DIREITO ADMINISTRATIVO. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. APREENSÃO DE CONTAINER. UNIDADE DE CARGA QUE NÃO SE CONFUNDE COM A MERCADORIA NELA CONTIDA. INEXISTÊNCIA DE RESPONSABILIDADE. MERO TRANSPORTADOR. DESUNITIZAÇÃO E LIBERAÇÃO DA UNIDADE DE CARGA. REMESSA OFICIAL E APELAÇÃO IMPROVIDAS. (...) De acordo com o entendimento jurisprudencial do Egrégio Superior Tribunal de Justiça e desta Colenda Corte Regional, o "container" não guarda grau de paridade com a mercadoria nele transportada, não se sujeitando, pois, à pena de perdimento, colhendo-se como ilegal a sua apreensão por infrações relacionadas, exclusivamente, à própria carga ou ao importador. A falta de condições do Poder Público para o adequado armazenamento da mercadoria não pode acarretar privação de bens particulares, a não ser que expressamente autorizado por lei. Com efeito, é de exclusiva responsabilidade do importador o desembaraço aduaneiro da mercadoria importada, não se podendo imputar ao transportador ônus decorrente de sua omissão ou das limitações físicas de espaço da agravada em comportar as mercadorias importadas, uma vez que o artigo 3º do Decreto-Lei nº 116/67 evidencia que "a responsabilidade do navio ou embarcação transportadora começa com o recebimento da mercadoria a bordo e cessa com a sua

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entrega à entidade portuária ou trapiche municipal, no porto de destino, ao costado do navio". O responsável pela manutenção e guarda da mercadoria é o recinto alfandegado, remunerado para tanto e não a transportadora. A desunitização no interior do recinto alfandegado em nada prejudica eventual procedimento administrativo. Apelação e remessa oficial improvidas. (TRF3, Ap: 00057883520164036104 SP, Relator: Desembargadora Federal Mônica Nobre, Quarta Turma, Data de Publicação: e-DJF3 09/11/2017) 14.26 DIREITO ADUANEIRO. AGRAVO INOMINADO. APELAÇÃO E REMESSA OFICIAL. RETENÇÃO DE CONTÊINERES. MANDADO DE SEGURANÇA. ADMINISTRATIVO. TRIBUTÁRIO. INDEPENDÊNCIA ENTRE UNIDADE DE CARGA (CONTÊINER) E OS BENS NELA ACONDICIONADOS. LIBERAÇÃO DO CONTÊINER. POSSIBILIDADE. 1. Traduzindo-se os contêineres em equipamentos hábeis a reunir ou unitizar mercadorias a serem transportadas, art. 3º, Lei 6.288/75 e art. 24, Lei 9.611/98, cristalino tenham vida própria, com utilização efêmera no tema ao fim a que destinados, de molde a não se confundirem como se fossem embalagens ou acessórios dos bens transportados. 2. Cediça a jurisprudência do Colendo Superior Tribunal de Justiça no sentido de que o contêiner não é acessório da mercadoria importada e, verificado o abandono ou a perda da carga por infração aduaneira, não se justifica sua manutenção no recinto alfandegado. Precedentes. 3. O fato de o Poder Público não possuir condições para o adequado armazenamento da mercadoria não pode acarretar privação de bens particulares, a não ser que expressamente autorizado por lei. 4. É de exclusiva responsabilidade do importador o desembaraço aduaneiro da mercadoria importada, não se podendo imputar ao transportador ônus decorrente de sua omissão ou das limitações físicas de espaço da agravada em comportar as mercadorias importadas, mesmo porque o artigo 3º do Decreto-Lei nº 116/67 evidencia que "a responsabilidade do navio ou embarcação transportadora começa com o recebimento da mercadoria a bordo e cessa com a sua entrega à entidade portuária ou trapiche municipal, no porto de destino, ao costado do navio". 5. O responsável pela manutenção e guarda da mercadoria é o recinto alfandegado, o qual inclusive é remunerado para tanto, e não a transportadora, de modo que a desunitização no interior do recinto alfandegado em nada prejudica eventual procedimento administrativo. 6. Apelação e remessa oficial desprovidas.

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(TRF3, ApReeNec: 00080078920144036104 SP, Relator: Desembargador Federal Marcelo Saraiva, Quarta Turma, Data de Publicação: 21/11/2017) 14.27 ADMINISTRATIVO - LIBERAÇÃO DE CONTÊINERES - MERCADORIA ABANDONADA PELO IMPORTADOR - DECRETO Nº 6.759/2009 - DESUNITIZAÇÃO DE CARGA. I - Contêineres enquadram-se no conceito jurídico-legal de unidades de carga, ex vi do disposto no art. 24 da Lei nº 9.611/98, segundo o qual "considera-se unidade de carga qualquer equipamento adequado à unitização de mercadorias a serem transportadas, sujeitas a movimentação de forma indivisível em todas as modalidades de transporte utilizadas no percurso". Neste contexto, unidade de carga e mercadoria transportada não se confundem, recebendo, cada uma, tratamento específico por parte da legislação de regência. II - Compete à Administração adotar as medidas necessárias ao acautelamento de mercadorias que, de acordo com o art. 642, inciso I, do Decreto nº 6.759/2009 (Regulamento Aduaneiro), foram abandonadas pelo importador, não sendo razoável transferir-se este mister ao proprietário do contêiner onde se encontram acondicionadas, visto que, na condição de transportador marítimo, necessita do referido equipamento para o regular desenvolvimento de suas atividades comerciais. III - Nos termos do art. 29, § 4º, do Decreto-Lei nº 1.455/76, cabe à Secretaria da Receita Federal a administração e alienação das mercadorias apreendidas. IV - Remessa oficial desprovida. (TRF2, REO: 201151010052491, Relator: Desembargador Federal Sergio Schwaitzer, Oitava Turma Especializada, Data de Publicação: 05/12/2012) 14.28 DIREITO ADUANEIRO. AGRAVO INOMINADO. APELAÇÃO E REMESSA OFICIAL. RETENÇÃO DE CONTÊINERES. MERCADORIAS ABANDONADA. LIBERAÇÃO. ALEGAÇÃO DE INFRAÇÃO DIVERSA. FALTA DE COMPROVAÇÃO DA RESPONSABILIDADE DO TRANSPORTADOR. AGRAVO DESPROVIDO. 1. Consolidada a jurisprudência no sentido de que a mera unidade de carga não se confunde com as mercadorias nela transportadas, como revelam os precedentes do Superior Tribunal de Justiça que, objetivamente, fixam tal distinção, inclusive para os fins da Súmula 50, não se aplicando, pois, à movimentação dos contêineres, em si, o tratamento próprio da movimentação de mercadorias, exegese esta que, por consonância, fundou a jurisprudência federal, mesmo e inclusive desta Corte, firme quanto à ilegalidade da apreensão de tais equipamentos de carga, por infrações

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relacionadas às próprias mercadorias, em especial na hipótese de mero abandono de cargas pelo importador. 2. A alegação fazendária de que a apreensão do contêiner ocorreu não por abandono, como descrito na impetração, mas por divergência na declaração da quantidade da importação, o que tornaria impertinente a jurisprudência citada, contraria todas as evidências dos autos e não encontra qualquer lastro probatório. A própria autoridade impetrada, diretamente envolvida nos fatos, em suas informações, em momento algum, referiu-se à apreensão por força de divergência na declaração de importação, para fins de atribuição ao transportador de responsabilidade pela infração. O agravo fazendário, buscando narrar fato diverso do admitido nas próprias informações da autoridade impetrada, sem apoio fático em qualquer prova nos autos, revela a manifesta impertinência e improcedência do pedido de reforma, sob todos os aspectos, inclusive porque outras alegações, no sentido da existência de ficção legal da unidade mercadoria-equipamento e de que houve mera retenção provisória, buscam apenas atender à conveniência da fiscalização de não arcar com a responsabilidade da guarda da importação, por ela mesma retida, com a transferência de todo o encargo e custo ao transportador pelo tempo necessário à conclusão do procedimento aduaneiro, o que se revela, nos termos da jurisprudência consolidada, solução sem respaldo legal, além de injusta, até porque inexistente responsabilidade específica do transportador pela infração a que responde o importador e destinatário das mercadorias. 3. Agravo inominado desprovido. (TRF3, AMS: 2390 SP 2000.61.04.002390-5, Relator: Desembargador Federal Carlos Muta, Terceira Turma, Data de Julgamento: 26/11/2009) d) Contêiner não é mercadoria – Invólucro transportador não coberto

pelo contrato securitário 14.29 APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE COBRANÇA C/C PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA - NÃO ENQUADRAMENTO DE CONTÊINERES COMO MERCADORIA OU BEM - INVÓLUCRO TRANSPORTADOR NÃO COBERTO PELO CONTRATO SECURITÁRIO - RECURSO DESPROVIDO "Contêiner não é mercadoria, cuja movimentação não faz incidir o ATP" (REsp n. 250010/RJ, 1ª Turma, DJ de 25/6/01, Rel. Min. HUMBERTO GOMES DE BARROS). (TJSC, AC: 2002.018685-1, Relator: José Volpato de Souza, Terceira Câmara de Direito Civil, Data de Julgamento: 20/02/2004)

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15. Demurrage / Sobrestadia de Contêiner

O contêiner não se confunde com a mercadoria nele transportada e não pode servir como mera embalagem desta. O contêiner consiste em uma unidade de transporte, utilizada dentro da cadeia logística e comercial da transportadora. Portanto, após o término do transporte marítimo, o consignatário da mercadoria possui um período de tempo, denominado ‘free-time’, para desunitizar o contêiner e devolvê-lo à transportadora marítima. Excedido o prazo sem que o contêiner tenha sido devolvido ao transportador, este terá direito à cobrança de uma taxa diária de sobrestadia ou demurrage em face do consignatário, cobrança esta que possui lastro contratual e natureza de indenização pré-fixada em razão de indevida retenção do contêiner, por prazo excedente ao lapso do ‘free time’.

a) Demurrage de contêiner – Direito de cobrança por parte do

transportador 15.1 TRANSPORTE MARÍTIMO – AÇÃO DE COBRANÇA – SOBREESTADIA – NATUREZA JURÍDICA – CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. 1. NÃO SE VISLUMBRA POSSÍVEL A INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, QUANDO A CONSIGNATÁRIA DA CARGA IMPORTADA VIA TRANSPORTE MARÍTIMO NÃO SE ENQUADRA NO CONCEITO DE DESTINATÁRIA FINAL, NOS TERMOS DO ART. 2º DO REFERIDO ESTATUTO. 2. A TARIFA DE SOBREESTADIA POSSUI CARÁTER INDENIZATÓRIO. REMUNERA O PROPRIETÁRIO PELO PERÍODO EM QUE ELE NÃO DISPÕE DOS CONTÊINERES E EVITA O ENRIQUECIMENTO INDEVIDO. 3. A DEMONSTRAÇÃO DA OCORRÊNCIA DE ATRASO NA DEVOLUÇÃO DE CONTÊINERES ACARRETA, POR SI SÓ, A RESPONSABILIDADE PELO PAGAMENTO DAS TARIFAS RESPECTIVAS. AÇÃO PROCEDENTE. RECURSO PROVIDO. Por tal razão, diferentemente do quanto alegado pela ré, entende-se que a tarifa de sobreestadia possui caráter indenizatório, eis que remunera o proprietário pelo período em que ele não dispõe do container, com o intuito de se evitar o enriquecimento

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indevido. Sendo assim, a responsabilidade pelo pagamento das tarifas de sobreestadia, em verdade, independe de culpa, somente podendo ser elidida em razão de caso fortuito ou de força maior, o que não ocorreu no caso ora em análise, eis que eventual paralisação das atividades pelas autoridades portuárias (o que a ré sequer soube afirmar) representaria fato previsível e corriqueiro, integrante do próprio risco da atividade de importação. Portanto, tendo em vista que os contêineres concedidos pela autora somente foram devolvidos após o decurso do “free time”, o que restou incontroverso nos autos, deve a ré responder pelo pagamento do débito referente à respectiva tarifa de sobreestadia, eis que sua responsabilidade independe de culpa. (TJSP, Apelação 1034478-24.2016.8.26.0562, Des. Relator Itamar Gaino, 21ª Câmara de Direito Privado, j. 18/12/2017) 15.2 AÇÃO DE COBRANÇA – SOBRESTADIAS – DEVOLUÇÃO DE CONTÊINERES UTILIZADOS NO TRANSPORTE MARÍTIMO INTERNACIONAL DE MERCADORIAS FORA DO PERÍODO DE LIVRE UTILIZAÇÃO OU FREE TIME – RECONHECIDA A LEGITIMIDADE DA COBRANÇA ANTE A EFETIVA DEMONSTRAÇÃO DA EXISTÊNCIA DO DÉBITO – APELAÇÃO IMPROVIDA. 1 – O contêiner é considerado equipamento ou acessório do veículo transportador, logo a sua utilização integra o próprio contrato de transporte, regendo-se, obviamente, pelas mesmas disposições legais a ele atinentes. 2 – A natureza jurídica das sobrestadias é de indenização, fulcrada em um pacto acessório ao contrato de transporte que previa a devolução dos contêineres em prazo previamente estipulado, vencido o qual incidiria a indenização a fim de compensar o transportador pelo tempo em que ficou privado da utilização do equipamento. 3 – À recorrente incumbia devolver os contêineres utilizados no transporte dentro do período de livre utilização, o chamado free time, cujo prazo fora devidamente estipulado na quinta cláusula de cada um dos contratos, dispositivo contratual que também cuidou em disciplinar de forma explícita o valor diário das sobreestadias decorrentes de eventuais atrasos na entrega dos contêineres, de modo que comprovada a extrapolação dos períodos de livre utilização acordados entre as partes, isto é, a superação do prazo para a devolução dos equipamentos, surgiu a obrigação para a ora recorrente de efetivar o pagamento dos valores previamente ajustados pelas sobreestadias. 4 – O pagamento das sobreestadias ou “demurrage”, além de amparado por expressa pactuação estipulada entre as partes, constitui prática costumeira nos contratos marítimos, empregada nos casos de demora na devolução dos contêineres

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utilizados no transporte de mercadorias, sendo plenamente aceita pela doutrina e jurisprudência. 5 – Apelação conhecida e improvida. (TJCE, Apelação 0054185-02.2007.8.06.0001, 6ª Câmara Cível, Desa. Relatora Sérgia Maria Mendonça Miranda, j. 10/06/2015) 15.3 Apelação civel. Direito empresarial. Transporte marítimo. Cobrança de sobrestadia de containers (demurrage). Sentença de procedência. Recurso do réu. Alegada prescrição que se afasta. Aplicação do artigo 206, § 5º, i do código civil, conforme entendimento sedimentado no superior tribunal de justiça. A prova documental comprova a devolução dos containers após o prazo fixado. Inadimplemento contratual caracterizado. Devido o pagamento de sobreestadia pela devolução dos containers após o decurso do "free time". Sobreestadia de containers (demurrage). Utilização de containeres para transporte de mercadorias que devem ser devolvidos imediatamente após a descarga. Excedido o tempo estipulado responde o contratante pelo pagamento da demurrage. Sentença que se mantem por seus próprios fundamentos. Recurso que se nega provimento. (TJRJ, Apelação n° 0145375-15.2009.8.19.0001, Des. Ines Da Trindade, 6ª Câmara Cível, j. 04/06/2014) 15.4 AÇÃO DE COBRANÇA CONTRATO DE TRANSPORTE MARÍTIMO TARIFA DE SOBRE-ESTADIA DE CONTÊINER (DEMURRAGE) Sentença que julgou improcedente a ação, porque entendeu que a taxa de sobre-estadia possui nítida natureza de cláusula penal e que é necessária a demonstração de culpa do devedor, nos termos do artigo 408 do Código Civil. INADMISSIBILIDADE: Inaplicável ao caso o disposto no artigo 408 do Código Civil, uma vez que a cobrança de sobre-estadia de contêiner ou "demurrage" se refere a uma taxa diária ajustada entre as partes, a ser paga pela utilização dos contêineres por período superior ao contratado. Não se trata de cláusula penal, mas sim de indenização pelo descumprimento contratual, cuja finalidade é a de compensar o proprietário do contêiner por eventuais prejuízos suportados pela devolução tardia. In casu, as partes firmaram termo de compromisso de devolução de contêineres e a ré é responsável pela sobre-estadia em razão de ter excedido o prazo livre. Inadimplemento contratual. Sentença reformada. ALEGAÇÃO EM CONTRARRAZÕES - PRESCRIÇÃO ÂNUA. Pretensão da requerida de que a prescrição seja regulada pelo artigo 449 do antigo Código Comercial. INADMISSIBILIDADE: Nas ações de cobrança de tarifas de

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sobre-estadias de containers aplica-se o prazo prescricional de dez anos, previsto no artigo 205 do Código Civil, em razão de falta de previsão legal de prazo menor. RECURSO PROVIDO. (TJSP, AC 4013992-69.2013.8.26.0562, Des. Israel Góes dos Anjos, 37ª Câmara de Direito Privado, j. 05/08/2014)

15.5 APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA. DIREITO MARÍTIMO. SOBREESTADIA DE "CONTAINERS" (DEMURRAGES). RECONHECIMENTO DA LEGITIMIDADE ATIVA DA PARTE AUTORA E PASSIVA DA RÉ. TEORIA DA ASSERÇÃO. NATUREZA DE INDENIZAÇÃO PRÉ-FIXADA. UTILIZAÇÃO DOS CONTÊINERES ALÉM DO TEMPO DE FRANQUIA.EXCEDIDO O TEMPO ESTIPULADO PARA EMBARQUE OU DESCARGA DO NAVIO, RESPONDE O CONTRATANTE PELO PAGAMENTO DA SOBREESTADIA. IRRESIGNAÇÃO RECURSAL QUE NÃO MERECE ACOLHIDA. INEXISTÊNCIA DE NULIDADE A SER DECLARADA. ALEGAÇÕES ENFRENTADAS PELO JULGADOR DE FORMA CLARA E ABRANGENTE. TESES RENOVADAS NO APELO. CERCEAMENTO DE DEFESA. INOCORRÊNCIA. PROVAS INDICADAS PELO RÉU QUE SE MOSTRAM INÚTEIS E PROTELATÓRIAS PARA O DESLINDE DO CASO. PROVA ORAL QUE EM NADA CONTRIBUIRIA PARA AFASTAR O CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO FORMADO NOS AUTOS. RESPONSABILIDADE DO TRANSPORTADOR QUE CESSOU COM A ENTREGA DOS CONTÊINERES AO IMPORTADOR NO PORTO DE DESTINO. AO DEMANDADO CABIAM AS PROVIDÊNCIAS NECESSÁRIAS AO DESEMBARAÇO ADUANEIRO E A DESCARGA DAS MERCADORIAS, TUDO A SER EFETIVADO DENTRO DO PERÍODO DE LIVRE ESTADIA (FREE TIME). POR NÃO TER O IMPORTADOR CUMPRIDO A SUA OBRIGAÇÃO E EXCEDIDO O PRAZO DE ENTREGA DOS CONTÊINERES, DEVE PAGAR PELO PERÍODO DA SOBRE-ESTADIA. CONTRATO FIRMADO EM MOEDA ESTRANGEIRA. CONVERSÃO QUE DEVE SER PROMOVIDA DE ACORDO COM O CÂMBIO VIGENTE NO MOMENTO EM QUE OCORRE A DEVOLUÇÃO DO CONTAINER, CONFORME ASSENTADO NA JURISPRUDÊNCIA PÁTRIA. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA MANTIDA. RECURSO QUE SE NEGA PROVIMENTO. FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS RECURSAIS EM 5%, COM BASE NO § 11 DO ARTIGO 85 DO CPC.

(TJRJ, Apelação Cível 0432190-21.2015.8.19.0001, Des. Guaraci Campos Vianna, 18ª Câmara Cível, j. 01 /08/2017)

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b) Cobrança de demurrage – Prazo prescricional quinquenal ou decenal 15.6 AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ALEGAÇÃO DE INÉPCIA DA INICIAL. IMPROCEDÊNCIA. CAUSA DE PEDIR E PEDIDO CORRETAMENTE DEDUZIDOS NA PETIÇÃO INICIAL. DOCUMENTOS NECESSÁRIOS. SOBREESTADIA DE CONTÊINERES. PRAZO PRESCRICIONAL. SÚMULA 83 DO STJ. NATUREZA JURÍDICA DE INDENIZAÇÃO. DECISÃO MANTIDA. 1. No que se refere à suscitada inépcia da inicial, em virtude da ausência de documentos essenciais à propositura da ação, o exame da questão no presente caso envolveria, necessariamente, o disposto na Súmula 7/STJ. 2. A partir do julgamento do REsp 1.340.041/SP, na sessão do dia 24/06/2015, DJe de 04/09/2015, a Segunda Seção pacificou a jurisprudência no âmbito das Turmas de Direito Privado, consolidando o entendimento de que, com a entrada em vigor do novo Código Civil, que revogou o artigo 449, III, do Código Comercial, o prazo prescricional para as ações de cobrança de sobreestadias de contêineres é o quinquenal, quando a cobrança dessa taxa derivar de disposição contratual, e decenal, caso não haja essa previsão no contrato, mostrando-se ilíquida a obrigação. 3. No caso dos autos, consta no acórdão recorrido que o contrato firmado entre as partes é unimodal, ou seja, envolve apenas transporte marítimo, com previsão contratual para cobrança de sobreestadias, de modo que se aplica à espécie o prazo prescricional de cinco anos, previsto no art. 206, § 5º, I, do Código Civil. 4. Estando o acórdão recorrido em consonância com o entendimento desta Corte, é inafastável a aplicação da Súmula 83/STJ. 5. As demurrages têm natureza jurídica de indenização, e não de cláusula penal, o que afasta a incidência do art. 412 do Código Civil (REsp 1.286.209/SP, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA TURMA, julgado em 08/03/2016, DJe de 14/03/2016) 6. Agravo interno a que se nega provimento. (STJ, AgInt no AREsp 842.151/SP, Rel. Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, j. 21/03/2017) 15.7 SOBRE-ESTADIA DE CONTÊINERES (DEMURRAGE). REVOGAÇÃO DO ART. 449 DO CÓDIGO COMERCIAL PELO CÓDIGO CIVIL DE 2002. APLICAÇÃO DO ART. 206, § 5º, I, DO CC. 1. Esta Corte Superior, por ocasião do julgamento do REsp 176.903/PR (publicado no DJ de 9/4/2001), entendeu que há equiparação entre a devolução tardia da unidade de carga (contêiner) à sobre-estadia do navio, aplicando-lhe o mesmo prazo prescricional de 1 ano previsto no art. 449, 3, do Código Comercial, que regulava especificamente o tema, mas que foi revogado pelo Código Civil de 2002. 2. A

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taxa de sobre-estadia, quando oriunda de disposição contratual que estabelece os dados e critérios necessários ao cálculo dos valores devidos, os quais deverão ser aferidos após a devolução do contêiner, pela multiplicação dos dias de atraso em relação aos valores das diárias, gera dívida líquida e certa, fazendo incidir o prazo prescricional quinquenal previsto no art. 206, § 5º, I, do Código Civil. 3. Urge, não obstante, registrar uma importante diferenciação, pois, caso não conste no contrato de afretamento nenhuma previsão acerca da devolução serôdia da unidade de carga, eventual demanda que vise à cobrança dos valores de sobre-estadia obedecerá ao prazo prescricional decenal, haja vista a ausência de disposição legal prevendo prazo menor (art. 205 do Código Civil, ante o seu caráter eminentemente residual). 4. No caso, ressoa inequívoca a não ocorrência da prescrição, uma vez que: (i) as datas de devolução dos contêineres, segundo quadro demonstrativo formulado pela credora à fl. 13, vão de 19/8/2008 a 25/11/2008; e (ii) a ação de cobrança foi ajuizada em 13/5/2010 (fls. 3-11), anteriormente ao decurso do prazo de 5 anos. 5. Recurso especial não provido. (STJ, REsp 1.355.173/SP; Ministro Relator Luis Felipe Salomão; 4ª Turma, Dje. 17/02/2014) 15.8 INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA – Ação de cobrança de sobre-estadia de containers – Prescrição – Suscitação do incidente pelo eminente Desembargador José Araldo da Costa Telles – Existência de quatro teses acerca do prazo prescricional aplicável à espécie – Jurisprudência não pacificada – Prescrição ânua – Art. 22 da Lei nº 9.611/98 ou Decreto-Lei nº 116/67 – Inaplicabilidade – Matéria que era regulada pelo art. 449, 3, do revogado Código Comercial, que coexistia com os referidos diplomas e que não eram aplicados – Impossibilidade de aplicação analógica da Lei nº 9.611/98 que regula o transporte multimodal e não unimodal – Aplicação do Código Civil, inclusive porque foi o diploma que revogou o dispositivo antes aplicável – Art. 206, § 3º, do CC – Inaplicabilidade – Dispositivo incidente apenas nas hipóteses de reparação civil decorrente de ato ilícito – Caracterização da cobrança de sobreestadia como mero descumprimento contratual – Necessidade de interpretação estrita das regras de prescrição – Valores líquidos previstos em contrato – Adoção da regra prevista no art. 206, § 5º, I, do Código Civil, a estabelecer o prazo prescricional de cinco anos – Na hipótese de ausente previsão contratual aplica-se o prazo decenal previsto no art. 205 do Código Civil – Ausência de disciplina específica sobre o tema – Precedente do STJ – Jurisprudência

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uniformizada para fixar a aplicação do prazo quinquenal (art. 206, § 5º, I, do CC) à pretensão de cobrança de sobre-estadia de containers, desde que previstos os valores devidos a esse título em contrato; não havendo tal previsão, o prazo passa a ser o decenal (art. 205 do CC). (TJSP, Incidente de Uniformização de Jurisprudência nº 0127698-38.2013.8.26.0000, Turma Especial – Privado 2, j. 24/04/2014)

15.9 AÇÃO DE COBRANÇA - SOBRE-ESTADIA DE CONTÊINERES (DEMURRAGE) - CONTRATO DE TRANSPORTE MARÍTIMO - PRESCRIÇÃO - INOCORRÊNCIA - PRAZO QUINQUENAL - PREVISÃO CONTRATUAL - ATRASO NA DEVOLUÇÃO DOS CONTÊINERES - COMPROVAÇÃO INDENIZAÇÃO DEVIDA - Cuida a hipótese de Ação de Cobrança de sobre-estadia de contêineres (demurrage) relativa a contrato de transporte marítimo, cuja sentença julgou procedente o pedido. - Prescrição afastada, mas por fundamento diverso da sentença e do trazido pela Apelante. Matéria de ordem pública e cognoscível de ofício. - Em que pese a existência de divergência jurisprudencial no tocante à matéria, não é possível manter a aplicação da prescrição ânua prevista no art. 449, 3, do Código Comercial, ante a revogação do dispositivo pelo Código Civil de 2002. Recente decisão do Superior Tribunal de Justiça sistematizou a questão e esclareceu que quando há previsão contratual para cobrança de demurrage, deve ser aplicado o prazo quinquenal do art. 206, §5º, I, do CC/02, enquanto que, na ausência de estipulação expressa, aplicável o prazo decenal do art. 205 do CC/02 (REsp 1355173/SP, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 15/10/2013, DJe 17/02/2014) - Conhecimentos de Embarque que comprovam expressa convenção do período de 21 (vinte e um) dias de franquia de estadia e das regras para cobrança da demurrage. Ultrapassado esse prazo, exsurge a obrigação da Apelante de indenizar pela utilização indevida dos contêineres de propriedade da Apelada. Precedentes. - Alegação de demora no desembaraço aduaneiro. Ilação sem rastro probatório, ônus que cabia à Ré Apelante, nos termos do art. 333, II, do CPC. Ademais, a burocracia aduaneira constitui res inter alios em relação ao transportador, ora Apelado, que não pode ser prejudicado por ela, sob pena de enriquecimento ilícito da Apelante. - A sobre-estadia se traduz no direito de indenização pelo prejuízo material sofrido pela Apelada em razão da utilização de bens de sua propriedade além do período livre concedido. - Sentença corrigida de ofício somente no que diz respeito à prescrição, que continua afastada, mas por fundamento diverso. (...).

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(TJRJ, AC 0423345-05.2012.8.19.0001, Des. Caetano Fonseca Costa, 7ª Câmara Cível, j. 14/05/2014) 15.10 Cobrança - Transporte Sobreestadia de contêiner de exportação (Detention). Prescrição Devolução de contêiner fora do prazo de franquia (free time) pelo afretador Inaplicabilidade do prazo ânuo Após a vigência do CCivil de 2002, que revogou o art. 449 do CComercial, aplicam-se as disposições do CCivil de 2002, sendo de 5 anos a prescrição da demurrage, existindo disposição contratual no tocante aos dias de free time e respectivo valor da diária, por se tratar de dívida líquida e certa (art. 206, § 5º, I, do CC) ou de 10 anos na hipótese de inexistir no contrato de afretamento previsão sobre a entrega tardia do cofre, incidindo, nesta hipótese, a regra geral do art. 205 do CCivil Jurisprudência do STJ No caso, a prescrição é de 5 anos, não consumada - Sentença mantida Recurso da ré negado. Cobrança Sobreestadia de contêiner de exportação Alegação de caso fortuito/força maior Greve dos auditores da Receita Federal não afasta a responsabilidade da ré de embarcar o contêiner Burocracia para o desembaraço aduaneiro é situação previsível e própria da atividade de exportação desenvolvida pela ré Sentença mantida Recurso da ré negado. Contêiner Sobreestadia de exportação Alegação de excesso da cobrança - "Bill of Landing" comprovando que o contêiner foi embarcado cinco dias após o free time "Conhecimento de embarque" "shipped on board" é documento a evidenciar a data do recebimento da mercadoria a bordo ou da carga pelo transportador Inteligência do art. 744 do Código Civil - Excesso de cobrança reconhecido Sentença reformada Recurso da ré provido. Cobrança Detention - Contêiner Valor estipulado em dólares americanos Possibilidade do pagamento em moeda estrangeira, desde que convertida em moeda corrente nacional, ao câmbio comercial vigente no dia do efetivo pagamento (...) Sentença reformada. (...). (TJSP, AC 0007204-44.2012.8.26.0562; Des. Francisco Giaquinto, 13ª Camara, j. 28/05/2014) c) Cobrança de demurrage – Prazo prescricional quinquenal 15.11 DEMURRAGE OU SOBRE-ESTADIA DE CONTÊINER. AÇÃO DE COBRANÇA. PRESCRIÇÃO. PRAZO QUINQUENAL. ART. 206, §5º, INC. I DO CÓDIGO CIVIL. A pretensão da autora não está prescrita, porque o prazo aplicável à hipótese ora tratada é aquele previsto no art. 206, §5º, inc. I, do

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Código Civil. Inaplicabilidade da legislação consumerista. Relação de insumo. A ré, cujo objeto social é "importação e exportação; logística e prestação de serviços administrativos relacionados à exportação; agenciamento de cargas marítimas; oferecimento de espaços adequados nos respectivos meios de transporte etc." não pode ser considerada consumidora do serviço prestado pela autora. O contrato de transporte dinamizou sua cadeia produtiva, servindo, pois, ao desenvolvimento de sua atividade empresarial. A celebração do negócio jurídico ocorreu em razão exclusiva de sua atividade empresarial, e, portanto, cuida-se de relação de insumo e não de consumo. Termo de compromisso. Validade. Ausência de vício na manifestação de vontade. A ré sabia que seria cobrada pela locação dos cofres, e o valor cobrado não se revela, ao menos a priori, extraordinário, tomando por base a prática desse ramo do mercado. Sobre-estadia comprovada. Fato extintivo, modificativo ou impeditivo do direito da autora não comprovado. O conjunto probatório é farto a respeito da contratação do transporte, da entrega dos contêineres à ré, da assunção da responsabilidade por sua devolução. Nessa toada, o ônus probatório, no caso concreto, recaia sobre a ré, que deveria demonstrar, por meio de recibos, haver devolvido os baús no prazo isento de cobrança, ou, caso achasse que o valor era excessivo, dizer que apenas algumas diárias eram devidas. Comprovação do dano. Desnecessidade. Uma das ramificações da atividade empresária da autora é a locação, e, não, a venda de contêineres. Deve-se considerar, por outro lado, que a ré se beneficiou com a prestação do serviço, e que as atividades relacionadas com a disponibilização de contêineres no mercado envolvem custos que não estão limitados à sua mera aquisição. Ademais, se achava que o valor cobrado pela locação era elevado, deveria haver contratado com outro prestador de serviços, que lhe oferecesse preços mais baixos. Excesso de cobrança não verificado. Os cofres disponibilizados à ré são do tipo "HR-40", e não "HC-40". Os termos de responsabilidade de devolução previam um período gratuito de quatro dias úteis. Do 5º dia ao 11º dia seriam cobrados US$180,00; e a partir do 12º dia, a cobrança diária seria de US$265,00. A autora, por liberalidade, concedeu à ré um período de isenção de 21 dias corridos. Do contrário, o valor da dívida seria ainda maior. Apelação provida.

(TJRJ, Apelação 1009286-89.2016.8.26.0562, Des. Relatora Sandra Galhardo Esteves, 12ª Câmara de Direito Privado, DJe 06/12/2017) 15.12 (...) Quanto à arguição de inépcia da inicial, não merece qualquer respaldo, considerando-se o teor da documentação acostada à inicial, que sequer foi rebatida pela ré com a apresentação de outros documentos que

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corroborassem os fatos lá demonstrados de maneiradiversa, de modo que fica afastada tal preliminar.Sobre a prescrição da pretensão, conforme jurisprudência dominante do TJSP(veja incidente de uniformização de jurisprudência), em relação à sobrestadia de contêiner,havendo previsão contratual, é de cinco anos (art. 206, § 5º, I do CC), não havendo, é de dez anos(art. 205), não se aplicando a Lei n. 9.611/98 nem o Código Comercial, cuja Parte Primeira (arts.1º a 456) foi revogada pelo art. 2.045 do Código Civil. Parece, todavia, que pela natureza da operação, cuida-se sempre de obrigação contratual, diante do que será visto a seguir. Em resumo,porém, porque o contêiner é indispensável ao transporte da carga, de modo que o exportador ou importador (ou consignatário) em razão do transporte passa a utilizá-lo, em um primeiro estágiosem remuneração destacada, mas, em um segundo estágio, com remuneração destacada, de duplafinalidade: coagir à restituição; indenizar pela privação do bem.O prazo prescricional, por sua parte, tem início na devolução do contêiner.Considerando que entre a devolução e o protocolo da inicial no serviço judicial de distribuição nãohouve o decurso de prazo que supere cinco anos, não se há falar, inexoravelmente, em prescriçãoda pretensão para receber pela sobrestadia tratada nestes autos. (...) (TJSP, Processo 1028693-47.2017.8.26.0562, Juiz José Wilson Gonçalves, 5ª Vara Cível do Foro de Santos, DJ 21/06/2018) 15.13 DIREITO COMERCIAL. RECURSO ESPECIAL. PRESCRIÇÃO. SOBRE-ESTADIA DE CONTÊINERES (DEMURRAGE). REVOGAÇÃO DO ART. 449 DO CÓDIGO COMERCIAL. TAXA PREVISTA NO CONTRATO. OBRIGAÇÃO LÍQUIDA. PRAZO PRESCRICIONAL QUINQUENAL. ARTIGO 206, § 5º, I, DO CÓDIGO CIVIL. 1. "A taxa de sobre-estadia, quando oriunda de disposição contratual – que estabelece os dados e critérios necessários ao cálculo dos valores devidos, os quais deverão ser aferidos após a devolução do contêiner, pela multiplicação dos dias de atraso em relação aos valores das diárias -, gera dívida líquida e certa, fazendo incidir o prazo prescricional quinquenal previsto no art. 206, § 5º, I, do Código Civil" (REsp nº 1.335.173/SP, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, DJe 17/02/2014).Recurso especial provido. (STJ, REsp 1.192.847/SP; Ministro Relator Ricardo Villas Bôas Cueva; 3ª Turma, Dje. 01/08/2014)

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15.14 Agravo de Instrumento. Ação de cobrança da demurrage (sobre-estadia). Reconhecimento da prescrição ânua em relação a alguns dos containers. Inaplicabilidade. Precedente do Eg. STJ no sentido de que o lapso extintivo incidente na hipótese é quinquenal. Provimento do recurso. (TJRJ, AI 0060146-51.2013.8.19.0000, Rel. Cesar Felipe Cury, 11ª Câmara, j. 12/03/2014) 15.15 Comercial. Transporte marítimo. Ação de cobrança de sobreestadia pela devolução de contêineres com atraso (demurrage). Sentença de procedência. Pretensão à reforma. Impossibilidade. PRESCRIÇÃO. Prazo ânuo. Inaplicabilidade. O art. 449, 3, do Código Comercial, que previa prazo prescricional de um ano para ação de cobrança de sobreestadia, foi revogado pelo art. 2.045 do Código Civil de 2002, não sendo possível, também, a aplicação analógica do prazo previsto no art. 22 da Lei n. 9.611/98, que trata do transporte multimodal de cargas, uma vez que a hipótese é de transporte exclusivamente marítimo. Incidência, no caso, do prazo quinquenal previsto no art. 206, § 5º, I, do Código Civil, pois a demanda tem por escopo a cobrança de dívida líquida prevista em instrumento particular. Precedente do STJ. (...) RECURSO DESPROVIDO. (TJSP, Apelação 0046635-90.2009.8.26.0562; Des. Rel. Mourão Neto; 15ª Câmara de Direito Privado, j. 27/05/2014)

15.16 Pretensão de que seja reconhecida a prescrição ânua da pretensão de cobrança da sobreestadia dos contêineres Descabimento Hipótese em que o prazo ânuo previsto na lei n. 9.611/98, que regula exclusivamente o transporte multimodal de cargas, é inaplicável Impossibilidade de se aplicar a analogia ou interpretar extensivamente o artigo 22 da referida lei para aplicá-la também aos casos de transporte unimodal de cargas. Aplicação do prazo previsto no Código Civil, que ainda não decorreu - RECURSO DESPROVIDO. (TJSP, Apelação 0035038-90.2010.8.26.0562; Rel. Ana de Lourdes Coutinho Silva da Fonseca; 13ª Câmara de Direito Privado, j. 26/05/2014) 15.17 APELAÇÃO CÍVEL. COBRANÇA DE TARIFA PELO EXCESSO DE PRAZO DE UTILIZAÇÃO DE CONTÊINERES – DEMURRAGE – PARA O TRANSPORTE DE MERCADORIAS. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. MANUTENÇÃO DO

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JULGADO. - Apelante que é parte legítima para figurar no polo passivo da ação. Relação estabelecida entre as partes comprovada através do Conhecimento de carga – “Bill of Lading”, que possui o condão de provar a propriedade da carga, evidenciar um recibo de entrega dos bens ao transportador pelo embarcador e comprovar a existência de um contrato de transporte. - Inobservância do prazo contratado para a carga e descarga do navio que sujeita o importador ao pagamento de sobrestadia, ou demurrage, cláusula contratual penal do “conhecimento de transportes marítimos” (bill of lading), que decorre dos usos e costumes do transporte marítimo. - Recorrente que não afastou as alegações deduzidas na inicial, nos termos do artigo 373, inciso II, do Código de Processo Civil. -RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.

(TJRJ, Apelação Cível nº 0264173-85.2016.8.19.0001 – 15ª Câmara Cível – Des. Maria Regina Fonseca Nova Alves, j. em 18/12/2018.

15.18 APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA DE QUANTIA DEVIDA POR SOBRESTADIA DE CONTÊINER. TRANSPORTE MARÍTIMO. DEMURRAGE. OBRIGAÇÃO CONTRATUALMENTE PREVISTA. INADIMPLEMENTO. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. INSURGÊNCIA DA RÉ. INAPLICABILIDADE DA PRESCRIÇÃO ÂNUA PREVISTA NO ARTIGO 22 DA LEI N° 9.611/98. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL DO ARTIGO 206, §5º, I, DO CÓDIGO CIVIL, NÃO CONSUMADA NO CASO CONCRETO. PRECEDENTES DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. PRELIMINARES DE ILEGITIMIDADE PASSIVA E ATIVA E DE AUSÊNCIA DE CAUÇÃO AFASTADAS. ATRASO NA DEVOLUÇÃO DO CONTÊINER QUE SE MOSTRA INCONTROVERSO. CONTRATO DE TRANSPORTE DE CARGA QUE INTEGRA A DINÂMICA DAS RELAÇÕES EMPRESARIAIS E OSTENTA NATUREZA INDENIZATÓRIA. PECULIARIDADES QUE AFASTAM A PRETENSÃO DE REDUÇÃO COM FUNDAMENTO NO PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE. DESPROVIMENTO DO RECURSO. MAJORO OS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DE 15% PARA 16% (DEZESSEIS POR CENTO) SOBRE O VALOR DA CONDENAÇÃO, ART.85, §§2º, 3.º E 11, TODOS DO CPC.

(TJRJ, Apelação 0425218-35.2015.8.19.0001; Des. Carlos Azeredo de Araujo, 9ª Câmara Cível, j. 19/02/2019).

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d) Demurrage – Termo inicial do prazo prescricional após a devolução do contêiner

15.19 APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO EMPRESARIAL E PROCESSUAL CIVIL. TRANSPORTE MARÍTIMO DE MERCADORIAS. UTILIZAÇÃO DE CONTEINERES. ATRASO NA DEVOLUÇÃO. COBRANÇA DE SOBRESTADIA (DEMURRAGE). CONTRATO DE TRANSPORTE FIRMADO NA MODALIDADE PORT-TO-PORT, CUJA RESPONSABILIDADE DO TRANSPORTADOR SE LIMITA A ENTREGAR A MERCADORIA INCÓLUME NO PORTO DE DESTINO. OBRIGAÇÕES ATINENTES AO DESEMBARAÇO ADUANEIRO QUE CABEM À IMPORTADORA, CONTRATANTE DO SERVIÇO DE TRANSPORTE. ASSIM, EXCEDIDO O PRAZO ESTIPULADO PARA DESCARGA E DESEMBARAÇO, O IMPORTADOR RESPONDE PELO PAGAMENTO DA SOBRESTADIA. PRAZO PRESCRICIONAL QUINQUENAL. PRECEDENTES CITADOS: RECURSO ESPECIAL Nº 1.634.993 - SP E RECURSO ESPECIAL Nº 1.618.048 - SP. SENTENÇA QUE DEU CORRETA SOLUÇÃO À LIDE. RECURSO AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO. Destarte, considerando que o termo inicial para a fluência do prazo prescricional é a data da devolução dos contêineres (REsp 163.897/SP), ocorrida entre os meses de janeiro e fevereiro de 2013, conforme documento de fls. 87 (indexador 41), conclui-se que não se consumou a prescrição até o ajuizamento da ação, em 12/11/2013. Diante dessas considerações, voto no sentido de negar provimento ao recurso. (TJRJ, Apelação 0392578-47.2013.8.19.0001, Des. Relator Myriam Medeiros da Fonseca Costa, 4ª Câmara Cível, j. 19/07/2017)

15.20 COMERCIAL. PRESCRIÇÃO. TERMO INICIAL. SOBREESTADIA DE 'contêineres'. (...) A sobre-estadia de 'contêiner' se equipara, para os efeitos da prescrição, à sobreestadia de navio (REsp nº 176.903, PR), mas o termo inicial do prazo só inicia após a devolução do 'contêiner', porque antes disso o respectivo proprietário não sabe qual a extensão do seu direito. (...) (STJ, REsp 163.897/SP, Rel. Ministro Ari Pargendler, Terceira Turma, DJ 13/08/2001) 15.21 AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. COMERCIAL. SOBREESTADIA DE contêiner. PRESCRIÇÃO. TERMO INICIAL. DEVOLUÇÃO DO CONTÊINER. FALTA DE ELEMENTOS NO ACÓRDÃO PARA AFERIR O PRAZO PRESCRICIONAL. ALTERAÇÃO DO JULGADO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA

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7/STJ. VIOLAÇÃO AO ART. 22 DA Lei 9.611/98. INOVAÇÃO PROCESSUAL. RECURSO IMPROVIDO. I.- O prazo prescricional para a cobrança de sobreestadia inicia-se com a devolução do contêiner, sendo irrelevante a data da entrega da carga (REsp 163.897/SP). Não havendo no Acórdão dados de quando ocorrida a devolução, torna-se impossível a alteração do julgado, como pretendido pela recorrente, uma vez que necessário o revolvimento de matéria de prova dos autos. Aplicação da Súmula 7/STJ. (...). (STJ, AgRg no Ag 1220719/SP, Rel. Ministro Sidnei Beneti, Terceira Turma, DJe 04/11/2010) e) Demurrage – Natureza Jurídica 15.22 (...) Adiante-se que a natureza da sobrestadia não é de cláusula penal, mais se assemelhando a indenização prefixada em que o consignatário já sabe quanto deverá a cada dia de atraso na devolução, a fim de compensar o proprietário do contêiner por eventuais prejuízos suportados pela devolução tardia. O simples atraso faz do agente de cargas credor de sobrestadia, de maneira que é despiciendo a apuração de culpa na ocorrência do atraso. No mais, não se vislumbra abusividade na conduta da autora, à medida que elanão pôde dispor dos contêineres, para o fim de realizar outros transportes. A impossibilidade de fazer uso dos contêineres só pode ser remunerada por meio do pagamento das tais taxas de sobrestadia. Os valores cobrados estão em consonância com os costumes do comérciomarítimo e, principalmente, porque fixados no contrato, que não padece de vícios. (....) (TJSP, Processo 1019827-16.2018.8.26.0562, Juiz Claudio Teixeira Villar, 2ª Vara Cível do Foro de Santos, DJ 22/11/2018) 15.23 (...)Nesse ponto, cumpre mencionar que a cobrança da sobre-estadiatem natureza de indenização pela privação do uso do equipamento, de modo que, afastada a premissa de que se trata de cláusula penal, não se discute a existência de culpa e não se fala emlimitação ao valor do contêiner. Nesse sentido: "Apelação Cível. Transporte marítimo. Ação de cobrança de sobre-estadia de contêineres (demurrage). Sentença de procedência. Nulidade.Sentença citra petita. Inocorrência. Questões debatidas devidamente analisadas. Inconformismo.Prevalência do que foi combinado no "Termo de Responsabilidade" assinado pela ré. Demurrageque não possui

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natureza de cláusula penal, mas, sim, de indenização. Onerosidade excessiva nãoconfigurada. Alteração de valor representaria desequilíbrio contratual. Sentença mantida. Recursonão provido" (Apl. 1001113-13.2015.8.26.0562 - Relator(a): Hélio Nogueira - Comarca: Santos - Órgão julgador: 22ª Câmara de Direito Privado, Data do julgamento: 21/05/2015).Não há nulidade da cobrança de sobre-estadia, que foi aceita pelaspartes e configura praxe nas relações de transporte internacional de cargas. Também não há qualquer irregularidade quanto aos documentos redigidos em língua estrangeiro, vez que sãocomuns às partes (...) (TJSP, Processo 1011730-27.2018.8.26.0562, Juíza Simone Curado Ferreira Oliveira, 7ª Vara Cível do Foro de Santos, DJ 22/10/2018). 15.24 (...) O negócio celebrado pelas partes, transporte internacional, regula-se pelaconferência de fretes, a qual onera os contêineres com taxas de sobreestadias após o decurso do prazo de isenção, contado do descarregamento do navio.Esses prazos e valores, em princípio de responsabilidade do importador, sãopraticados, uniformemente, pelas companhias de navegação, constituindo-se verdadeiros usoscomerciais.Ademais, trata-se de obrigação de expressa previsão contratual, com a qual a ré manifestou anuência quando contratou a autora para o transporte marítimo de cargas (fls. 67/92). Os baús foram entregues à ré, e ficaram em seu poder muito além do prazoregulamentar para devolução. Foram devolvidos fora do prazo (“free time”). Logo, a requerida é obrigada ao pagamento de sobreestadias pelo tempo que ficou com os contêineres indevidamente em seupoder, independentemente de culpa ou consentimento.Os valores cobrados a título de sobreestadias não têm caráter de cláusula penal, e sim de indenização, por eventuais prejuízos que o dono dos contêineres ou armador venha a sofrer,pela retenção indevida além do tempo concedido e pré-fixado nos termos de responsabilidadeassinados livremente pela ré.Competia à empresa requerida, em sua defesa, o ônus de impugnar de maneiraespecífica toda a matéria de fato constante na inicial, o que não ocorreu no caso em questão. (...) (TJSP, Processo 1014302-87.2017.8.26.0562, Juiz Joel Birello Mandelli, 6ª Vara Cível do Foro de Santos, DJ 19/12/2017) 15.25 TRANSPORTE MARÍTIMO. CONTÊINER. DEMURRAGE. 1. Sobreestadia não se confunde com cláusula penal, sendo cobrada a título de indenização

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prefixada em caso de descumprimento da devolução do bem até final de prazo livre. Valor que não guarda relação com valor do contêiner. 2. De maneira que, havendo atraso na entrega, devida a taxa. 3. Recurso provido. (TJSP, Apelação 1011118-26.2017.8.26.0562, Des. Relator Melo Columbi, 14ª Câmara de Direito Privado, DJe 15/12/2017) 15.26 Cobrança - Transporte – Demurrage - Sobreestadia de contêiner – Inaplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor – Inexistência de relação de consumo, mas contrato de transporte celebrado com a transportadora com o nítido escopo de incrementar a atividade comercial da requerida, afastando a incidência da Lei 8.078/90 – Ré revel - Utilização de contêiner por prazo superior ao período livre avençado – Valor devido em razão de sobreestadia, por constar expressamente do termo de responsabilidade de devolução de conteiner – Natureza jurídica da sobreestadia que não é de cláusula penal, mas de indenização fixada em razão de indevida retenção do contêiner, por prazo excedente ao lapso do tempo livre ou free time – Inexistência de abusividade das taxas de sobreestadia – Burocracia alfandegária não caracteriza hipótese de caso fortuito ou força maior - Sentença reformada – Recurso provido. (TJSP, Apelação 0021433-43.2011.8.26.0562; Des. Francisco Giaquinto; 13ª Câmara de Direito Privado; Data do Julgamento: 07/11/2017) 15.27 TRANSPORTE MARÍTIMO - A relação contratual entre as partes, em que intervêm partes empresárias, no exercício de atividade comercial, não está subordinada ao CDC - A sobrestadia ("demurrage") de contêiner tem natureza jurídica de indenização pré-fixada pela não devolução em tempo pré-fixado do equipamento, independentemente de culpa, e sua cobrança não se enquadra dentre as de cobrança de cláusula penal - Como a sobrestadia ("demurrage") tem natureza jurídica de indenização pré-fixada pela não devolução em tempo pré-fixado do equipamento, independentemente de culpa, e não de cláusula penal, a ela não se aplica o estabelecido no art. 412, CC/2002 - Contrato de adesão não é nulo, nem os contratantes estão desobrigados do cumprimento de cláusulas contratuais lícitas - Rejeição da alegação genérica de cobrança abusiva, no que concerne ao valor das sobrestadias, porque a parte ré não indicou fato concreto, com as necessárias discriminações, revelador de existência de discrepância entre o montante exigido em relação ao valor médio praticado no mercado, nas

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mesmas praça e época, como também sequer se propôs a demonstrar aritmeticamente a ocorrência de abuso na exação, no que concerne ao valor em tela, com indicação fundamentada da quantia entendida como correta - Ausente demonstração de desacerto fixa-se valor do débito relativo às sobrestadias objeto da ação, no montante indicado na inicial, ou seja, R$4.407,00, com incidência de correção monetária, pela tabela prática do Tribunal de Justiça de São Paulo, a partir do ajuizamento da ação. Recurso provido. (TJSP, Apelação 0023293-79.2011.8.26.0562; Des. Rebello Pinho; 20ª Câmara de Direito Privado; Data de Registro: 25/10/2017) 15.28 AÇÃO DE COBRANÇA. TRANSPORTE MARÍTIMO. TARIFA DE SOBRESTADIA DE CONTEINERS (DEMURRAGE). SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. APELAÇÃO DA RÉ. PRELIMINARES DE CERCEAMENTO DO DIREITO À AMPLA DEFESA E DE ILEGITIMIDADE PASSIVA AFASTADAS. MÉRITO. ATRASO NA DEVOLUÇÃO DOS CONTEINERS INCONTROVERSO. VALORES COBRADOS QUE SÃO EFETIVAMENTE DEVIDOS. ALEGAÇÕES GENÉRICAS DE ABUSIVIDADE DOS VALORES COBRADOS POR PARTE DA APELANTE QUE NÃO PODEM, À EVIDÊNCIA, SER ACOLHIDAS. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO NÃO PROVIDO. Quanto à alegação de que os valores cobrados são abusivos, razão não assiste à apelante. Não houve impugnação específica quanto ao cálculo apresentado pela autora na petição inicial (fl. 11). São afirmações genéricas acerca da abusividade, sob o argumento de que o contrato firmado entre as partes é de adesão. Assim, tais alegações devem ser rechaçadas. Por tais motivos, a manutenção da r. sentença é medida que se impõe. (TJSP, Apelação 1006935-46.2016.8.26.0562, Desa. Relatora Carmen Lúcia da Silva, 18ª Câmara de Direito Privado, j. 05/12/2017) 15.29 (...) Não se deve confundir, porém, demurrage com damages for detention. Esta expressão é comumente utilizada para significar indenização (a ser fixada) por detenção do navio, e pode ser cobrada adicionalmente à sobreestadia ou em substituição a esta, embora as cortes inglesas e americanas resistam a essa pretensão, o que será detalhado adiante. Em conseqüência do que afirmamos, portanto, podemos concluir que sobreestadia (demurrage) é espécie do gênero indenização (damages for detention). Sobreestadia, então, tanto pode significar o tempo utilizado além

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da estadia permitida, quanto o valor acordado que deve ser pago em compensação pela utilização, ou detenção do navio, além da estadia permitida. No primeiro caso é tempo, ou demora, e, no segundo, de acordo com a jurisprudência inglesa, é indenização (pré-fixada) por quebra de contrato. "Assim, ao contrário do entendimento esposado pelo ilustre magistrado "a quo", a natureza jurídica da demurrage não é de cláusula penal. Trata-se, sim, de indenização por descumprimento contratual, paga pelo afretador, embarcador ou consignatário da carga ao proprietário dos containeres, em razão da utilização destes por tempo além do contratado. Sua finalidade é, pois, a de compensar o proprietário dos containeres por eventuais prejuízos sofridos em razão da retenção indevida destes pelo devedor, por prazo superior ao contratado, independentemente da culpa do devedor no atraso, bastando sua ocorrência." Dessa forma, não resta dúvida de que o vínculo existente entres as partes é contratual, e, no caso dos autos, é perfeitamente cabível a indenização por descumprimento contratual ante a demora na devolução do container, além do prazo pactuado. ...”(...) (TJSP, Processo 0011167-94.2011.8.26.0562, Juiz José Alonso Beltrame Júnior, 10ª Vara Cível do Foro de Santos, DJ 16/11/2011) 15.30 TRANSPORTE MARÍTIMO - USO DE 'CONTEINER' - SOBRESTADIA - COBRANÇA - EXISTÊNCIA DE CONTRATAÇÃO - TAXA CONSAGRADA PELOS USOS E COSTUMES MARÍTIMOS - SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA REFORMADA - SUCUMBÊNCIA INVERTIDA (...) (TJSP, AC 9072924-46.2006.8.26.0000, Des. Souza Geishofer, 16ª Câmara, j. 05/04/2011) f) Demurrage – Cobrança que independe de disposição contratual 15.31 COBRANÇA C.C. OBRIGAÇÃO DE FAZER. Transporte marítimo. Sobreestadia de contêineres (demurrage). Cerceamento de defesa. Inocorrência. Prova documental requerida cuja produção estava ao alcance da ré. Inépcia da petição inicial. Inocorrência. Inicial instruída com conhecimentos de transporte marítimo e prova documental da data de desembarque dos contêineres com carga importada pela ré. Desnecessidade de termo de compromisso/responsabilidade firmado pela ré para viabilizar a cobrança. Indenização que independe de previsão contratual. Usos e costumes do comércio marítimo. Prazos e valores praticados discriminados

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expressamente nas faturas enviadas à ré, permitindo a compreensão do débito. Preliminares rejeitadas. Mérito. Falta de prova da abusividade dos valores e prazos estipulados. Culpa exclusiva da autora pela retenção dos contêineres pela Receita Federal. Inocorrência. Falta de prova de que o perecimento das mercadorias se deu durante o transporte. Desnecessidade de prova da culpa do devedor. Natureza jurídica de indenização, e não de cláusula penal. Burocracia no desembaraço aduaneiro que não exclui a responsabilidade da ré pelo pagamento. Fortuito interno. Ausência de prova de abusividade na cobrança. Longo período de sobreestadia que justifica os altos valores cobrados. Sentença mantida. Recurso não provido. (TJSP, Apelação 1012147-19.2014.8.26.0562, Des. Relator Tasso Duarte de Melo, 12ª Câmara de Direito Privado, Data de Julgamento: 17/11/2015) 15.32 (...) Não se pode olvidar que os contratos de transporte marítimo ostentam forteinfluência dos usos e costumes da região que são entabulados, dado o caráterconsuetudinário inerente ao Direito Marítimo. Dentre estes institutos encontram-se o salvamento, a avaria comum, o fretamento, e, inclusive, a sobreestadia, dentre outros. No direito interno brasileiro apesar de ser pouco conhecida, a sobreestadia está prevista em nosso Código Comercial, sendo certo ser ela cláusula"obrigatória" nos contratos de afretamento. Nesse contexto, a sobreestadia é instituto inerente ao Direito Marítimo, estando ínsito em qualquer contrato desta natureza em razão dos usos e costumes do mar vivenciados ao longo dos anos. Impende registrar, ainda, que a mencionada taxa pelo uso além do tempopactuado (ou sobreestadia) é devida ainda que não prevista contratualmente. O período gratuito ou “free time” exige que os contêineres sejam entregues, obviamente que limpos e com as mesmas condições de quando recebidos. Inviável a pretensão em reconhecer o “free time” apenas com o transporteterrestre, pois que há de ser compreendido como sendo todo o período emque o baú fica à disposição. (TJSP – Processo 1021907-84.2017.8.26.0562, Juiz Frederico dos Santos Messias, 4ª Vara Cível do Foro de Santos, DJ 10/11/2017) 15.33 (...) Deve-se ter em vista a desnecessidade do termo de devolução do contêiner, pois existente o conhecimento de embarque, para que se comprove a contratação dos serviços, apresentando o referido documento o período de free time e os eventuais valores devidos a título de demurrage. O

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termo de devolução é um cuidado a mais adotado pelos armadores ao desembarcar mercadorias acondicionadas em contêineres no Brasil, sendo geralmente assinado pelo despachante aduaneiro no momento da retirada dos documentos necessários ao desembaraço das mercadorias, não sendo essencial para a prova da existênci a de sobre-estadia, ante sua expressa previsão no conhecimento de embarque (Bill of Lading) (...) (TJSP, Processo 1014783-84.2016.8.26.0562, Juiz Carlos Ortiz Gomes, 9ª Vara Cível do Foro de Santos, DJ 08/05/2017) 15.34 APELAÇÃO CIVIL - AÇÃO DE COBRANÇA - SOBREESTADIA NA UTILIZAÇÃO DE CONTAINER - COBRANÇA DE MULTA - DEFESA GENÉRICA - PROVA - LIVRE CONVENCIMENTO DO MAGISTRADO - CONDENÇÃO EM CUSTAS E HONORÁRIOS DE ADVOGADO. RECURSO PROVIDO. 1. A cobrança de multa pela sobreestadia na utilização de container não pode depender de contrato escrito, pois, no caso, ensejaria enriquecimento sem causa à parte faltosa e dano patrimonial à parte lesada. 2. O magistrado pode valorar a prova com base no seu convencimento, indicando os motivos deste. 3. O prazo de devolução do container e a aplicação de multa diária cobrada pela sobreestadia na sua utilização é praxe no transporte marítimo, sendo de conhecimento das partes, que atuam no ramo de comércio exterior. 4. Os honorários de advogado devem ser fixados no mínimo legal (CPC: art. 20, § 3º) quando a demanda exigir pouco tempo e quantidade de trabalho. (TJES, Apelação n° 024050043520, 1ª Câmara Cível, Des. Rel. Frederico Guilherme Pimentel; j. 05/04/2011) 15.35 PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS - TRANSPORTE MARÍTIMO - TAXA DE SOBREESTADIA - DEVOLUÇÃO DE CONTAINERS COM ATRASO - AÇÃO DE COBRANÇA PROCEDENTE. Comprovada a relação jurídica existente entre as partes, bem como a devolução dos containers após o prazo usualmente praticado pelos costumes marítimos, é devida a cobrança de taxa de sobreestadia. PRELIMINARES REJEITADAS - RECURSO IMPROVIDO (TJSP, Apelação n° 9072924-46.2006.8.26.0000, Des. Rel. Souza Geishofer, 16ª Câmara de Direito Privado, j. 05/04/2011)

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g) Demurrage – Contrato de adesão – Possibilidade 15.36 AÇÃO DE COBRANÇA JULGADA PROCEDENTE SOBRESTADIA DE CONTAINER DEMURRAGE circunstância de o contrato ser de adesão não implica automaticamente o reconhecimento de nulidade. Morosidade do desembaraço aduaneiro fato previsível incapaz de afastar a responsabilidade da apelante. Caso fortuito ou força maior não comprovado responsabilidade do importador pela extrapolação do prazo concedido indenização devida por descumprimento contratual, a fim de compensar o proprietário do container pelos prejuízos sofridos em razão da retenção indevida dos objetos por prazo superior ao contratado desnecessidade de aferição de culpa do devedor quanto ao atraso, bastando sua ocorrência sentença de procedência mantida recurso não provido. (TJSP, AC 0125664-23.2009.8.26.0100, Relator: Castro Figliolia, 15ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 25/05/2014) h) Demurrage – Legitimidade da cobrança em face do NVOCC 15.37 TRANSPORTE MARÍTIMO INTERNACIONAL DE MERCADORIAS. SOBREESTADIA DE CONTÊINERES. PEDIDO DE COBRANÇA JULGADO PROCEDENTE. APELAÇÃO DA RÉ. PRELIMINARES DE INCOMPETÊNCIA TERRITORIAL, ILEGITIMIDADE ATIVA E PASSIVA E DE CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA REJEITADAS. COBRANÇA DE SOBREESTADIA QUE NÃO TEM NATUREZA JURÍDICA DE CLÁUSULA PENAL, MAS SIM INDENIZATÓRIA, PELO DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL. DOCUMENTOS REDIGIDOS EM LÍNGUA ESTRANGEIRA. IRRELEVÂNCIA. AUSÊNCIA DE TRADUÇÃO POR TRADUTOR JURAMENTADO QUE NÃO IMPLICOU PREJUÍZO, NEM IMPEDIU O EXERCÍCIO DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA. DOCUMENTOS CONSTANTES DOS AUTOS COMPROVAM QUE OS CONTÊINERES FORAM DEVOLVIDOS COM ATRASO E QUE A RÉ ASSUMIU A RESPONSABILIDADE PELO DÉBITO. RECURSO NÃO PROVIDO. No tocante à alegação de ilegitimidade ativa, as procurações constantes a fls. 12/13 dos autos comprovam, sem sombra de dúvida, que a autora (...) está devidamente representada por sua agente marítima (ECU WORLDWIDE DO BRASIL LTDA.), o que, em termos reais, permite o reconhecimento da legitimidade “ad causam” da demandante. Igualmente, rejeito a preliminar de ilegitimidade passiva arguida pela recorrente, pois é ela a própria consignatária da carga, conforme se verifica dos documentos de conhecimento de transporte marítimo que instruíram a inicial. A cobrança de sobreestadia tem natureza

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jurídica de indenização pré-fixada por descumprimento contratual, a fim de compensar o proprietário do contêiner pela retenção indevida por parte da exportadora, por prazo superior ao convencionado, independentemente de culpa. (TJSP, Apelação 1032516-63.2016.8.26.0562, Desa. Relatora Carmen Lucia da Silva, 18ª Câmara de Direito Privado, j. 05/12/2017) 15.38 APELAÇÃO AÇÃO DE COBRANÇA DEMURRAGE CLÁUSULA FOB (FREE ON BOARD) RESPONSABILIDADE PELO PAGAMENTO DA TAXA DE SOBRE-ESTADIA. Cuidando-se de exportação com a cláusula FOB, o transportador marítimo, com ou sem navio, adere a essa cláusula, também no que diz respeito a demurrages ou danos no destino decorrentes da conduta do importador ou consignatário da carga. Se o importador abandonou a carga no porto de destino, ensejando demurrage pela demora na restituição do contêiner utilizado no seu acondicionamento, cumpria realmente à autora (NVOCC) o pagamento do respectivo montante ao titular do direito de exploração econômica do contêiner, voltando-se contra o causador do dano isto é, o importador , por força da cláusula FOB, visando ao justo ressarcimento. (...) (TJSP, AC: 0022646-50.2012.8.26.0562, Relator: Eduardo Siqueira, 38ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 25/04/2014) 15.39 APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. RESSARCIMENTO DE DESPESAS NOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA QUANDO DO TRANSPORTE DE MERCADORIAS EXPORTADAS PELA EMPRESA RÉ. TRANSMUTAÇÃO DA CLÁUSULA FOB (FREE ON BOARD) EM CLÁUSULA CIF (COST, INSURANCE AND FREIGHT). IMPOSSIBILIDADE. SETENÇA MANTIDA. RECURSO IMPROVIDO. Inteiro teor: Em relação, especificamente, ao "demurrage", tenho que a responsabilidade é, ao fim e ao cabo, do importador, sem dúvidas, mas poderá ser, primeiramente, do transportador NVOCC, por ser ele (o NVOCC) o responsável pela custódia e devolução dos contêineres e, logo, pelo eventual "demurrage". (TJSC, AC 2010.012622-6, rel. Des. Lédio Rosa de Andrade, Data de Julgamento: 18/10/2011)

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i) Retenção do contêiner pela Receita Federal – Demurrage devido – Inexistência de caso fortuito

15.40 Cobrança - Transporte – Demurrage - Sobreestadia de contêiner – Inaplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor – Inexistência de relação de consumo, mas contrato de transporte celebrado com a transportadora com o nítido escopo de incrementar a atividade comercial da requerida, afastando a incidência da Lei 8.078/90 – Ré revel - Utilização de contêiner por prazo superior ao período livre avençado – Valor devido em razão de sobreestadia, por constar expressamente do termo de responsabilidade de devolução de conteiner – Natureza jurídica da sobreestadia que não é de cláusula penal, mas de indenização fixada em razão de indevida retenção do contêiner, por prazo excedente ao lapso do tempo livre ou free time – Inexistência de abusividade das taxas de sobreestadia – Burocracia alfandegária não caracteriza hipótese de caso fortuito ou força maior - Sentença reformada – Recurso provido. (TJSP, Apelação 0021433-43.2011.8.26.0562, Des. Relator Francisco Giaquinto, 13ª Câmara de Direito Privado, j. 07/11/2017) 15.41 Contrato - transporte internacional marítimo - sobreestadia de contêineres inaplicabilidade das disposições do cdc à hipótese em apreço responsabilidade da ré pelo pagamento da “demurrage” firmada em termo de compromisso juntado aos autos ausência de impugnação específica dos dias em que a demandada reteve o contêiner além do príodo livre (“free time”) valor das sobreestadias que consta expressamente do termo de compromisso de devolução de contêiner firmado pela ré burocracia no desembaraço aduaneiro que não pode ser considerada como caso fortuito ou força maior, ante sua previsibilidade precedentes deste e. Sodalício natureza jurídica da “demurrage” reconhecimento de que não se trata de cláusula penal, correspondendo à indenização pelo descumprimento contratual termo inicial para o cômputo da sobreestadia data da descarga do contêiner no porto de destino, conforme previsto no termo de compromisso de devolução firmado pela ré. (...) Recurso improvido. (TJSP, Apelação 1000198-95.2014.8.26.0562, Des. Relator Paulo Roberto de Santana, 29ª Câmara de Direito Privado, j. 03/11/2016)

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15.42 CONTRATO DE TRANSPORTE MARÍTIMO. CLÁUSULA QUE PREVÊ O PAGAMENTO DE SOBRESTADIAS. Alegação da Ré de que a Receita Federal teria retido indevidamente o container, cabendo-lhe a responsabilidade pelo fato. Alegação de caso fortuito. Improcedência das alegações, por ser responsabilidade da Ré o desembaraço das mercadorias, cabendo-lhe obter a liberação do equipamento. Inexistência de caso fortuito. Incidência das sobrestadias(...) (TJRJ, AC 0137501-52.2004.8.19.0001, Des. MAURO MARTINS, 14ª Câmara Civ. j. 31/10/2006) 15.43 APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. SOBREESTADIA DE CONTÊINERES. Quanto à prescrição, importante consignar que a hipótese não é de transporte multimodal, porquanto unicamente veiculado pela via marítima, razão pela qual inaplicável o prazo ânuo contido na lei 9.611/98. Ademais, a pretensão versada nesta ação que não engloba qualquer questionamento acerca das mercadorias negociadas. Não há controvérsia quanto à demora na devolução dos bens, ou que tal dever decorre do contrato firmado entre as partes. Além disso, inobstante qualquer divergência acerca da natureza jurídica do instituto, certo que uma vez demonstrada utilização dos containeres além do tempo franqueado, exsurge o dever de pagar a sobreestadia. Nessa toada, a retenção de mercadorias pela Receita Federal não se revela capaz de descaracterizar o descumprimento da obrigação por parte da ré, porquanto inexiste na hipótese caso fortuito, já que o fato está longe de ser imprevisível à apelante, empresa que atua no comércio internacional. O pedido recursal de limitação da indenização ao valor dos respectivos contêineres não merece acolhida, uma vez que o contrato firmado entre as partes prevê o valor certo da diária pelo atraso na devolução do bem, que não se mostra excessivo. Ademais, o negócio jurídico firmado não se confunde com compra e venda, não cabendo ao Estado-Juiz desnaturar por via transversa a manifestação de vontade das partes, permitindo que a conseqüência da não devolução do contêiner limite-se ao seu valor. (...) (TJRJ, AC nº 0005997-81.2009.8.19.0021, Des. André Ribeiro, 7ª Câmara Cível, j. 10/11/2011) 15.44 (...) COBRANÇA SOBREESTADIA. Obrigações recíprocas firmadas, em atenção ao princípio da autonomia da vontade. O prazo para a devolução do

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container não foi respeitado. O atraso na restituição da mencionada unidade de carga enseja despesas que devem ser ressarcidas à autora. A retenção das mercadorias pela Receita Federal não constitui caso fortuito ou de força maior, pois não representa evento imprevisível. Aplicação do parágrafo único, do artigo 393 do Código Civil Brasileiro. A irresignação quanto aos valores cobrados é descabida. A recorrente tinha ciência inequívoca das tarifas contratadas. (...) (TJSP, AC nº 4007324-82.2013.8.26.0562, Des. Carlos Alberto Lopes, 18ª Câmara De Direito Privado, j. 10/04/2014) 15.45 APELAÇÃO CÍVEL. TRANSPORTE MARÍTIMO. AÇÃO DE COBRANÇA. DIÁRIAS DE CONTÊINERES EM SOBREESTADIA. 'DEMURRAGE'. DEMORA NA LIBERAÇÃO ADUANEIRA. INOCORRÊNCIA DE CASO FORTUITO. 1. Não é abusiva a cláusula contratual que prevê cobrança de sobreestadia (demurrage) de contêineres a contar da descarga do navio. Mormente quando estipulado prazo de franquia (free time) de quinze dias. Prática comum no comércio marítimo que não configura onerosidade excessiva para um dos contratantes. 2. Demora na liberação aduaneira. Fato corriqueiro que não caracteriza caso fortuito a afastar a responsabilidade da recorrente pelos valores pretendidos pela demandante. (...) (TJRS, AC 70032043986, Relator: Luiz Roberto Imperatore de Assis Brasil, Décima Primeira Câmara Cível, Julgado em 11/11/2009) 15.46 TRANSPORTE MARÍTIMO. Cobrança de sobreestadias. A consignatária da carga, embora não integre o ajuste primitivo, responde pelo atraso na devolução de contêineres. Termos de responsabilidade que se mostram legais. Suposta demora da Receita Federal e de terceiros Irrelevância. Caso fortuito/força maior que não se identifica na espécie Percalços portuários que são inerentes à atividade por ela desenvolvida. Recurso desprovido. (TJSP, AC nº 0036173-40.2010.8.26.0562, Rel. Des. Ferreira Da Cruz, 24ª Câmara De Direito Privado, Data de Julgamento: 27/03/2014) 15.47 OBRIGAÇÃO DE FAZER C.C. DECLARATÓRIA. TRANSPORTE MARÍTIMO. CONTAINER. Apreensão de mercadoria na alfândega juntamente com container. Circunstância que não retira a responsabilidade da empresa

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apelante pela liberação do container e pagamento de demurrage para o transportador marítimo. Apelante que possui interesse e legitimidade para requerer junto à Receita Federal a desunitização dos equipamentos que acondicionavam as cargas, e em caso de recusa poderá em ação própria postular ressarcimento dos danos materiais. Sentença mantida. RECURSO DESPROVIDO. (TJSP, AC nº0004590-32.2013.8.26.0562, Rel. Des. Afonso Bráz, 17ª Câmara De Direito Privado, Data de Julgamento: 12/03/2014) j) Demurrage – Atuação do despachante aduaneiro para a liberação da

mercadoria – Responsabilidade da consignatária da carga pelas sobrestadias devidas

15.48 APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE COBRANÇA - TRANSPORTE MARÍTIMO - SOBREESTADIAS (DEMURRAGE) - DEMORA NA DEVOLUÇÃO DOS CONTÊINERES - CONHECIMENTO DE EMBARQUE - BILL OF LADING - IMPORTADORA DESTINATÁRIA DOS PRODUTOS - RESPONSABILIDADE PELO PAGAMENTO - SENTENÇA REFORMADA. Figurando a Requerida no conhecimento de transporte como consignatária da carga, é sua a responsabilidade pelo pagamento da sobreestadia ou demurrage. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. Inteiro teor: Ademais, o despachante aduaneiro atua em nome do importador, assumindo as responsabilidades para que o desembaraço se realize. Desta forma, o simples fato dos emails de cobrança terem sido trocados entre a Apelante e a empresa Konecks Comércio Imp. E Exp. Ltda. não lhe impõe a responsabilidade de arcar com as sobreestadias devidas. (...) (TJPR, AC 1098902-9, Des. Rosana Amara Girardi Fachin, 12ª Câmara Cível, j. 27.11.2013) 15.49 Apelação cível. Transporte marítimo. Importação. Cobrança de serviços prestados e pagos pela agenciadora em valores que a importadora diz serem abusivos. Atribuição de culpa à agenciadora pela não liberação da carga pelo porto por falta do documento necessário, bill of leading, e tarifação pelo tempo em que o container ficou retido no porto, demurrage, que decorre do uso de bem alheio e é devido pela importadora que deveria ter efetuado o pagamento do débito relativo a fretes para obter a liberação do produto importado.. Sentença mantida. Recurso desprovido.

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(TJRS, AC 70043358431, Relator: Ana Beatriz Iser, Décima Quinta Câmara Cível, j. 20/07/2011) k) Demurrage – Responsabilidade solidária entre importador e

despachante aduaneiro 15.50 AÇÃO DE COBRANÇA – TERMO DE COMPROMISSO DE DEVOLUÇÃO DE CONTAINER - TARIFA DE SOBREESTADIA (DEMURRAGE) – Sentença que julgou procedente a ação de cobrança – Pretensão de reforma da sentença. INADMISSIBILIDADE: A cobrança de sobreestadia de contêiner ou "demurrage" se refere a uma indenização pelo descumprimento contratual, cuja finalidade é a de compensar o proprietário do cofre por eventuais prejuízos suportados pela devolução tardia. As partes firmaram termo de compromisso de devolução de contêiner e o apelante é responsável pela sobreestadia em razão de ter excedido o prazo. Inadimplemento contratual. Ausência de impugnação específica. Sentença mantida. PACTUAÇÃO DE PRAZO LIVRE – Pretensão do apelante de que seja reconhecida a contagem do alegado "free time", com a consequente redução do valor da cobrança para US$55,00. INADMISSIBILIDADE: Ausência de comprovação da alegada pactuação de prazo livre. Prevalência do contrato celebrado. PROCESSUAL CIVIL - ILEGITIMIDADE PASSIVA DO APELANTE - Alegação de que é mero despachante aduaneiro - Pretensão de reconhecimento de sua ilegitimidade passiva. NÃO CONFIGURAÇÃO: O Termo de Compromisso de Devolução de Contêineres firmado pelas partes prevê expressamente a responsabilidade solidária do Consignatário e do Despachante Aduaneiro pela devolução do equipamento a contar do dia da descarga do navio. Dessa forma, o apelante Carlos Magno B. de Miranda assumiu a responsabilidade pelo débito cobrado na inicial. Legitimidade configurada. INCOMPETÊNCIA TERRITORIAL – ELEIÇÃO DE FORO - Ação de cobrança - Alegação de que a ação não poderia ter seu processamento na Comarca de Santos/SP porque a corré está sediada em Fortaleza/CE. INADMISSIBILIDADE: Validade da cláusula de eleição de foro – Art. 63, caput e § 1º do CPC/2015. Inexistência da lei de limitação da eleição de foro ao domicílio das partes ou ao local de cumprimento da obrigação. Aplicação da Súmula 335 do STF. RECURSO DESPROVIDO. (TJSP, Apelação 1034881-90.2016.8.26.0562, Des. Relator Israel Góes dos Anjos, 37ª Câmara de Direito Privado, j. 15/08/2017)

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15.51 SOBRE-ESTADIA (Demurrage) - Legitimidade passiva da consignatária manifesta, considerando que seu representante firmou os conhecimentos de embarque - Documentos em língua estrangeira de fácil compreensão, não sendo imprescindível a juntada com tradução juramentada - Inocorrente inépcia da inicial - Precedentes - Preliminares afastadas. SOBRE-ESTADIA (Demurrage) - Solidariedade - Destinatária da carga e despachante aduaneira que atuaram em conjunto, tendo essa, por representante, firmado termo individual de compromisso de devolução de contêineres - Free time, ademais, não celebrado entre as partes, não tendo correspondência eletrônica força probatória superior ao contrato e termos de devolução, que nada dizem a respeito - Conversão da moeda quando do pagamento e não da entrega dos contêineres - Precedentes do STJ e desta Corte (...). (TJSP, Apelação 1029114-08.2015.8.26.0562, Des. Relator Mendes Pereira, 15ª Câmara de Direito Privado, DJe 06/03/2017) 15.52 Apelação. Ação de cobrança. Sentença de procedência. Insurgência. Recursos de apelação das rés. Empresa importadora que admitiu em contestação ter se responsabilizado pela devolução dos contêineres à empresa transportadora da carga. Responsabilidade solidária entre a importadora e a despachante aduaneira. Embora o termo de compromisso de devolução de contêineres tenha sido assinado somente pelo despachante aduaneiro, a empresa despachante deve ser responsabilizada pela demora na devolução dos contêineres, porque, pelas circunstâncias do caso concreto, a contratante do serviço não poderia pressupor não ser ele seu representante. Aplicação da teoria da aparência. A retenção da carga pela Receita Federal não exime a responsabilidade da despachante aduaneira, não configurando caso fortuito ou força maior, por ser um risco inerente à sua atividade profissional. (...). (TJSP, AC nº9244340-14.2008.8.26.0000, Rel. Des. MORAIS PUCCI, 27ª Câmara, j. 05/11/2013) 15.53 APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE COBRANÇA - TRANSPORTE MARÍTIMO INTERNACIONAL – (...) DEVOLUÇÃO DE COMPARTIMENTOS DE CARGA FORA DO PRAZO DE LIVRE UTILIZAÇÃO ("FREETIME") - INCIDÊNCIA DE SOBRESTADIA ("DEMURRAGE") - INDENIZAÇÃO CONVENCIONADA PARA O CASO DE ATRASO NA DESOCUPAÇÃO DOS COFRES DE CARGA IMPEDINDO A REUTILIZAÇÃO PELA TRANSPORTADORA - DEMORA NO DESCARREGAMENTO

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DOS CONTEINERES INCONTROVERSA - CULPA DE TERCEIRO PELO ATRASO NA DEVOLUÇÃO DOS EQUIPAMENTOS NÃO EVIDENCIADA - MULTA DIÁRIA PREVISTA EM COMPROMISSO DE DEVOLUÇÃO DOS CONTÊINERES VAZIOS FIRMADO PELO DESPACHANTE ADUANEIRO RESPONSÁVEL PELO DESEMBARAÇO DAS MERCADORIAS IMPORTADAS - AUSÊNCIA DE NEGATIVA QUANTO AO RECEBIMENTO DA CARGA - INSUBSISTÊNCIA DA ALEGAÇÃO DE DESCONHECIMENTO DA INCIDÊNCIA DE MULTA PELA DEMORA NA DEVOLUÇÃO DOS COFRES DE CARGA - PRÁTICA USUAL E COSTUMEIRA NO COMÉRCIO MARÍTIMO - DEVER DE INDENIZAR OS DIAS EXCEDENTES AO PRAZO COSTUMEIRO - FALTA DE IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA ACERCA DOS VALORES COBRADOS - COBRANÇA CONDIZENTE E DE ACORDO COM OS VALORES DE MERCADO - AUSÊNCIA DE EXCESSO OU INCORREÇÃO - VALORES ESTABELECIDOS EM MOEDA ESTRANGEIRA - CONVERSÃO NA DATA DO VENCIMENTO DA OBRIGAÇÃO - SENTENÇA MANTIDA - RECURSO DESPROVIDO. Inteiro teor: Assim, o despachante aduaneiro se responsabiliza pela liberação da carga no período de livre utilização, agindo em nome do consignatário da mercadoria, representando-o na realização dos trâmites necessários ao pleno desembaraço de mercadorias. Dessa forma, o despachante possui poderes para, em nome do representado, assinar documentos e assumir mercadorias relacionadas com todo o procedimento de retirada e desembaraço da carga, pois o termo de posse e devolução dos contêineres é firmado exatamente no momento do desembaraço aduaneiro efetivado pela figura do despachante. (TJPR, AC 477907-1, Relator: Clayton Camargo, 12ª Câmara Cível, j. 24.09.2008) l) Ação de cobrança de demurrage – Pedido liminar de antecipação dos

efeitos da tutela objetivando a devolução do contêiner 15.54 (...) Os documentos trazidos com a petição inicial, comprovam que os containeresindicados na petição inicial foram realmente utilizados para o transporte das mercadorias.Não há razão plausível para a retenção dos containers, já que eles não podem serconsiderados parte das mercadorias, tampouco embalagem, seja pela própria natureza do equipamento, seja por disposição expressa do artigo 3º,caput, da Lei 6.288/75, e do artigo 24,parágrafo único, da Lei 9.611/98.Nesse sentido, temos decisões do Superior Tribunal de Justiça, no REsp 1049270,no AgRg no REsp 1050277, e no AgRg no Ag 950681, disponíveis para consulta através da internet, no sítio www.stj.jus.Br.Por outro lado, é cediço que a não devolução dos containers

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pode gerar obrigaçãode pagamento da chamada “sobreestadia”, calculada por dia de permanência das unidades.Pelo exposto, havendo elementos que evidenciam a probabilidade do direito e o perigo de dano, concedo liminarmente a tutela específica requerida, com fulcro no artigo 300 do Código de Processo Civil, determinando que a ré entregue à autora os containeres indicados na petição inicial, no prazo de cinco dias, pena de pagamento de multa diária, que fixo em R$ 200,00,em favor da autora.Intime-se a ré para cumprimento da decisão. (...) (TJSP, Processo 1024784-94.2017.8.26.0562, Juiz Gustavo Antonio Pieroni Louzada, 3ª Vara Cível do Foro de Santos, DJe 05/09/2017) 15.55 TUTELA ANTECIPADA – REQUISITOS – AUSÊNCIA - PRETENSÃO EM DESUNITIZAÇÃO DA MERCADORIA PARA LIBERAÇÃO DE CONTÊINER – CONTÊINER QUE NÃO ESTÁ ATRELADO A MERCADORIA, VISTO QUE NÃO CONSTITUI ACESSÓRIO OU EMBALAGEM - PROCEDIMENTO DE DESUNITIZAÇÃO QUE PODE SER DIRETAMENTE SOLICITADO NO RECINTO DEPOSITÁRIO (ORDEM DE SERVIÇO Nº 04/2004) (...) As mercadorias passaram por fiscalização aduaneira, vindo a ser retidas para lavratura de autos de infrações, porém, os contêineres não podem permanecer retidos, pois são elementos que não tem dependência com a conferência aduaneira, já que não são embalagens, retenção esta que resultará em prejuízos à importadora (agravante), em virtude da incidência de demurrage. Preceitua o artigo 294 do atual Código de Processo Civil (CPC) que “A tutela provisória pode fundamentar-se em urgência ou evidência.” Seja qual for a sua natureza da tutela provisória (urgência ou evidência), por óbvio, ambas podem ser concedidas antecipadamente, inclusive, liminarmente, conforme se extrai respectivamente do § 2º, do artigo 300 do CPC e do § único do artigo 311 do CPC. (TJSP, Agravo de Instrumento 2193674-50.2016.8.26.0000, Des. Relator Heraldo de Oliveira, 13ª Câmara de Direito Privado, j. 22/11/2016) 15.56 Trata-se de ação de cobrança entre as partes acima nomeadas e qualificadas nos autos, requerendo o autor a condenação da ré ao pagamento (...), a título de sobreestadias de contêineres, mais os valores diários incorridos até a efetiva devolução de 14 (catorze) contêineres ainda não devolvidos pela ré e a antecipação dos efeitos da tutela, para determinar que a ré tome as medidas necessárias e libere o equipamento da Autora nº

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TGHU 1293153, no prazo máximo de 5 (cinco) dias corridos, sob pena de incidência de multa a ser fixada pelo juízo, bem como restar caracterizado crime de desobediência. Às fls. 839evº, indeferimento do pedido antecipatório, tendo a autora agravado da decisão, consoante razões de fls. 846/855 em cumprimento ao artigo 526 do CPC. (...) Trata-se de pedido de reconsideração formulado pela autora CMA-CGM SOCIETÉ ANONYME da decisão que indeferiu a antecipação da tutela postulada. Inicialmente, registro que esta magistrada após a prolação da decisão agravada, já adotou entendimento diverso em outro processo análogo no sentido de antecipar os efeitos da tutela para determinar a devolução de contêineres, vez que o valor cobrado a título de sobreestadia, por si só não tem se mostrado suficiente para coibir os excessos quanto à retenção dos contêineres. Ademais que as execuções das condenações por sobreestadias vêm se mostrando na maioria das vezes infrutíferas, não se mostrando suficientes a recompor os prejuízos vivenciados pelo transportador, proprietário dos contêineres e que, sem a posse dos bens, fica impossibilitado de utilizá-los novamente. Verifica-se que o contrato de transporte foi firmado entre as partes, mediante as cláusulas e condições inseridas nos conhecimentos de transportes que instruem a inicial, os quais registram as obrigações assumidas pelos contratantes. Os autos apresentam suficientes indícios da responsabilidade da ré, na condição de CONSIGNATÁRIA, as definições de toda a tratativa, nos termos do documento acostado às fls. 215/223 consistente em CONHECIMENTO DE EMBARQUE, constando expressamente descrita a previsão de pagamento pelas sobreestadias de contêineres (TARIFA DA TRANSPORTADORA - fls. 215). Igualmente demonstrado que houve o transporte e que os contêineres utilizados se encontram a disposição da ré, o que autoriza a concessão da medida para que a ré promova a necessária devolução dos equipamentos à autora. A par da existência da previsão de tarifa a ser cobrada no caso de ocorrência da sobreestadia, certo que, conforme acima exposto, o pagamento da sobreestadia por si só não recompõe o prejuízo experimentado pela autora em razão de não dispor do referido contêiner para utilização em outros transportes. Sendo certo que o contêiner é utilizado pela mesma no exercício de sua atividade comercial e como tal se mostra importante e necessário às suas atividades. Razões pelas quais convenci-me da possibilidade e necessidade da concessão da medida postulada, nos termos do artigo 273 inciso I do CPC. Inexistindo, outrossim, perigo de irreversibilidade de que trata o § 2º do mesmo dispositivo. Ante ao exposto, reconsidero a decisão de fls. 839evº e ANTECIPO EM PARTE OS EFEITOS DA TUTELA, para determinar que a ré providencie a devolução dos contêineres nºs. CMAU0010580, CMAU1103950, CMAU1450780, CMAU1599032, CMAU1710953, CMAU1727196, DVRU1515385,

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ECMU1711464, GATU1317323, INBU3445621, TGHU0226715, GHU0336986, TGHU3930055 e XINU1323647 (fls. 15 da inicial) à autora, no prazo de 05 (cinco) dias. Na hipótese do não cumprimento, expeça-se mandado de entrega em favor da autora”. (TJRJ, Processo n° 0257389-68.2011.8.19.0001, Juíza Maria Isabel P. Gonçalves, 6ª Vara Empresarial, DJ 09/11/2011). 15.57 Agravo de instrumento tirado contra decisão que em ação de cobrança de sobreestadias indeferiu antecipação de tutela para a devolução imediata do container. Inconformismo da autora transportadora firme na tese de que estão preenchidos os requisitos dos arts. 273 e 461, do CPC. Acolhimento parcial. Antecipação de tutela que não trará prejuízos para a consignatária da carga. Se container não mais estiver em poder dela, a medida de urgência não será executada. Se estiver, haverá benefício para a consignatária, pela cessação da sua mora. Obrigação de restituir, que está embutida na obrigação de dar, a teor do art. 461-A, do CPC, não admite astreintes Agravo parcialmente provido. (TJSP, AI 0229396-58.2011.8.26.0000, Des. Moura Ribeiro, 11ª Câmara de Direito Privado, j. 24.11.2011) 15.58 Agravo de instrumento interposto contra r. decisão proferida pelo MM. Juiz de Direito Dr. Tom Alexandre Brandão que, em autos de ação de cobrança de sobreestadia de containeres, com pedido de restituição de alguns não devolvidos, indeferiu, quanto a estes, pedido de antecipação de tutela para imediata devolução (sob pena de-pagamento de multa diária), uma vez que "inexiste perigo de dano/irreparavel, pois, na hipótese de procedência da ação, a autora será remunerada pela estadia...". Sustenta a agravante (autora da ação) que estão presentes os requisitos mencionados no art. 273 do Cód. de Proc. Civil, considerando-se expirado o prazo para a devolução das caixas metálicas e, particularmente, o risco de que venha a sofrer prejuízos porque "o contâiner pode, inclusive, perecer ou ser avariado por algum motivo", sem contar os "operacionais/e financeiros gerados até o presente". O inconformismo pode e deve ser apreciado e resolvido desde logo. É de ser acolhido em parte. Como se vê dos autos, há evidências de que a agravada esteja retendo os containeres mencionados no item n° 8 da petição inicial (fls. 16, nos autos de origem fls. 04), uma vez que expirado o prazo de sua utilização. Conclui-se, assim, que estão presentes os requisitos

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mencionados no art. 273 do Cód. de Proc. Civil: constata-se a verossimilhança da alegação a partir dessa constatação e o risco de prejuízos irreparáveis e de difícil reparação por ser notório que, em se tratando de equipamentos para transporte pesado, estão sujeitos, conforme sustenta a agravante, a deterioração, desgaste e até perda por eventuais acidentes. Diante disso, melhor até para a agravada que trate, desde logo, de restituí-los, o que deverá fazer no prazo de dez (10) dias depois de notificada, sob pena de proceder-se a busca e apreensão, providência que, neste momento ainda incipiente do processo, terá mais efetividade do que eventual cominação de astreintes, o que, todavia, não ficará descartado para exame em outra oportunidade, dependendo da evolução dos fatos e de outras circunstâncias que assim o recomende e mediante provocação prévia da agravada ao MM. Juízo de Primeiro Grau.(...) Feitas essas considerações, em face do exposto (...) DOU PARCIAL PROVIMENTO a este AGRAVO DE INSTRUMENTO (...). (TJSP, AI 0025609-05.2011.8.26.0000, Des. José Tarciso Beraldo, 14ª Câmara de Direito Privado, j. 22.02.2011) 15.59 (...) A rigor, a tutela antecipada deve guardar relação com o pedido final pretendido. No caso concreto, o provimento final é a cobrança de sobrestadias, e em sede de tutela antecipada pede a autora a devolução de um container. Tecnicamente, ficaria complicado apreciar tal pedido. Porém, dentro do princípio maior de que acima das regras processuais está a solução do problema, e considerando que a persistência da não devolução do container só agravaria o litígio das partes, entendo que o pedido rotulado como tutela antecipada pode ser acolhido com base no poder geral de cautela. Destarte, defiro liminarmente a medida pretendida a fls. 09, determinando à ré a devolução do container SUDU 1735344, no prazo de 10 dias, sob pena de multa diária no valor de R$ 500,00. Deverá a autora regularizar o recolhimento das custas iniciais, e só a partir dessa regularização é que o Cartório tomará as medidas necessárias ao cumprimento deste despacho. Cite-se. (TJSP, Processo 562.01.2010.045573-0, Juiz Paulo Sergio Mangerona, 1ª Vara Cível de Santos/SP, DJ 18/01/2011) 15.60 “Cobrança – Transporte marítimo de cargas – Uso de contêineres além do prazo previsto no contrato – Sobrestadia caracterizada – Dever de

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indenizar pelo uso dos contêineres no prazo excedente – Desprovimento do recurso.

(TJRJ, Apelação Cível, 0041769-34.2010.8.19.0001, Des. Adriano Celso Guimarães, 8ª Câmara Cível, J. 18/06/2013) 15.61 “Apelação Cível. Ação de Cobrança. Transporte marítimo de cargas. Utilização de containers além do prazo da franquia, free time. Sobrestadia (demurrage). Inadimplemento contratual. Sentença de procedência. Preliminares de ilegitimidade passiva, de ausência de caução e de prescrição corretamente afastadas. Prazo quinquenal. Entendimento assente no STJ. Restando devidamente comprovada a utilização dos containers além do tempo da franquia, nasce a obrigação pelo pagamento da sobrestadia. Natureza indenizatória e não de cláusula penal, segundo a corte superior de justiça. Recurso Desprovido, com a consequente condenação da ré em honorários recursais.

(TJRJ, Apelação Cível, 0504631-34.2014.8.19.0001, - Des. Mauro Pereira Martins, 13ª Câmara Cível, J. 02/08/2017) 15.62 “Apelação Cível. Ação de Conhecimento. Rito ordinário. Obrigação de dar coisa certa. Autora, transportadora marítima internacional, contratada pela ré para realizar transporte de mercadorias entre os portos de Ningbo (China) e Rio de Janeiro (Brasil). Carga devidamente entregue pela transportadora, cujo contêiner, porém, não foi restituído. Demanda objetivando compelir a ré a devolver o contêiner, sob pena de multa. Sentença procedente. Apelo do réu. Preliminar de inépcia da inicial. Rejeição. Manutenção do decisum. No mérito, correta a sentença condenatória. A devolução do contêiner é da natureza do contrato de transporte marítimo internacional. Desídia da ré em restituir o bem cedido em comodato no local designado por seu proprietário. Sentença bem lançada. No caso dos autos, diferentemente da tese recursal, o autor logrou em demonstrar que é o proprietário do contêiner em questão e que o fretador, ora réu/consignatário, não o devolveu depois de concluída a operação da importação (art. 373, I, CPC). Se o réu, consignatário da carga, firmou compromisso de devolução do contêiner, deve fazê-lo a contento, independentemente de notificação ou interpelação judicial ou extrajudicial, dado o dinamismo que esses contratos de fretamento com armadores estrangeiros exigem e, principalmente, em razão da prevalência da clausula geral da boa-fé objetiva em nosso direito pátrio, que relaciona-se com a

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15 Demurrage / Sobrestadia de Contêiner

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honestidade, lealdade e probidade com a qual a pessoa condiciona o seu comportamento, garantindo a promoção do valor constitucional do solidarismo, incentivando o sentimento da justiça social e com repressão a todos a condutas que importem em desvio aos parâmetros sedimentados de honestidade e lisura. Inteligência contida no art. 113 do CCB. APELO CONHECIDO E DESPROVIDO.” (TJRJ, Apelação Cível, 0158036-45.2017.8.19.0001 – Des. Ferdinaldo do Nascimento, 19ª Câmara Cível, J. 03/12/2019)

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16. Eleição de Foro, Jurisdição e Competência

Competência e jurisdição estão dentre os mais importantes elementos a serem observados para cada ação. Tanto o é, que toda petição se inicia com a indicação do órgão competente em seu cabeçalho. Não obstante os elementos de atração da jurisdição brasileira e os critérios de fixação da competência estarem previstos na Lei Processual Civil, as partes podem pactuar em seus contratos a opção por foros de eleição e métodos de resolução de conflitos diversos.

a) Competência internacional – Competência concorrente do Judiciário

brasileiro – Obrigação a ser cumprida no Brasil – Inexistência de litispendência internacional

16.1 COMPETÊNCIA INTERNACIONAL. CONTRATO DE CONVERSÃO DE NAVIO PETROLEIRO EM UNIDADE FLUTUANTE. GARANTIA REPRESENTADA POR "PERFOMANCE BOND"EMITIDO POR EMPRESAS ESTRANGEIRAS. CARÁTER ACESSÓRIO DESTE ÚLTIMO. JURISDIÇÃO DO TRIBUNAL BRASILEIRO EM FACE DA DENOMINADA COMPETÊNCIA CONCORRENTE (ART. 88, INC. II, DO CPC). - O "Performance bond" emitido pelas empresas garantidoras é acessório em relação ao contrato de execução de serviços para a adaptação de navio petroleiro em unidade flutuante de tratamento, armazenamento e escoamento de óleo e gás. - Caso em que empresas as garantes se sujeitam à jurisdição brasileira, nos termos do disposto no art. 88, inc. II, do CPC, pois no Brasil é que deveria ser cumprida a obrigação principal. Competência internacional concorrente da autoridade judiciária brasileira, que não é suscetível de ser arredada pela vontade das partes. - À justiça brasileira é indiferente que se tenha ajuizado ação em país estrangeiro, que seja idêntica a outra que aqui tramite. Incidência na espécie do art. 90 do CPC. Recurso especial não conhecido, prejudicada a medida cautelar. (STJ, REsp: 251438 RJ, Relator: Min. Barros Monteiro, T4 - Quarta Turma, Data de Publicação: DJ 02/10/2000 p. 173)

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16.2 PROCESSO CIVIL INTERNACIONAL. RECURSO ESPECIAL. SALVATAGEM MARÍTIMA. ART. 88 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. COMPETÊNCIA CONCORRENTE DA AUTORIDADE JUDICIÁRIA BRASILEIRA. ART. 7º DA LEI N.º 7.203/84. AUSÊNCIA DE ANTINOMIA. NÃO-CONFIGURAÇÃO DE SEUS REQUISITOS QUE IMPLICA APENAS A AUSÊNCIA DE EXCLUSIVIDADE E NÃO A INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA BRASILEIRA. 1. Verificada qualquer das hipóteses do art. 88 do Código de Processo Civil, é competente a autoridade judiciária brasileira para o processamento e o julgamento de ação que envolva conflito internacional de direito privado. 2. Ausência de antinomia entre o art. 88 do Código de Processo Civil e o art. 7º da Lei n.º 7.203/84, uma vez que não se extrai contradição lógica ou axiológica entre tais dispositivos. Enquanto aquele prevê competência internacional concorrente da autoridade judiciária nacional, este estabelece situação específica de competência internacional exclusiva. 3. Não-configuração dos requisitos necessários à aplicação do art. 7º da Lei n.º 7.203/84 que implica apenas a ausência de exclusividade na competência da Justiça brasileira, e não a sua incompetência, ao contrário do que restou concluído pelo acórdão recorrido. 4. Competência concorrente da Justiça brasileira para analisar cautelar proposta por sociedade de salvatagem marítima visando a impedir a retirada da carga recuperada pelos seus proprietários sem que antes se efetue o pagamento do prêmio a que faz jus em razão do salvamento. 5. Reconhecimento da violação ao art. 88 do Código de Processo Civil e ao art. 7º da Lei n.º 7.203/84. RECURSO ESPECIAL A QUE SE DÁ PROVIMENTO. (STJ, REsp: 772661 SC, Relator: Min. Paulo De Tarso Sanseverino, T3 - Terceira Turma, DJe 16/03/2011) b) Negócio jurídico realizado no exterior – Empresas estrangeiras –

Incompetência da Justiça Brasileira 16.3 COMPETÊNCIA INTERNACIONAL. TRANSPORTE MARÍTIMO. NEGÓCIO CELEBRADO NO EXTERIOR, PARA CUMPRIMENTO TAMBÉM NO EXTERIOR, ENTRE EMPRESAS ESTRANGEIRAS SEM FILIAL NO BRASIL. FORO DE ELEIÇÃO DE JUSTIÇA DE TERCEIRO PAÍS. INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA BRASILEIRA PARA PROCESSAR E JULGAR AÇÃO QUE TEM COMO CAUSA DE PEDIR PERDAS E DANOS DECORRENTES DA ARRIBAÇÃO DE NAVIO A PORTO BRASILEIRO POR FORÇA DE DEFEITO MECÂNICO. DECISÃO QUE SÓ PODE SER UTILMENTE EXECUTADA NO EXTERIOR. AUSÊNCIA DE INTERESSE JURÍDICO NO EXERCÍCIO DA JURISDIÇÃO. APELO DESPROVIDO. O exercício da jurisdição depende da

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efetivação do julgado. Logo, não tem o Estado interesse jurídico no seu exercício em causa cuja sentença não possa executar, sobretudo quando as duas empresas estrangeiras, sem filial no Brasil, elegem o foro de terceiro país para deslindar a contenda. (TJSC, AC 88.060151-3, Des. Relator: Eládio Torret Rocha, Data de Julgamento: 05/03/1997) 16.4 APELAÇÃO CÍVEL Interposição contra sentença que julgou extinta, sem resolução do mérito, com fundamento no artigo 267, inciso IV, do Código de Processo Civil, medida cautelar de arresto e ação de cobrança. Contrato de compra e venda de combustível realizado e cumprido no exterior. Partes estrangeiras com domicílio fora do Brasil. Cláusula de eleição de foro grego. Incompetência da autoridade judiciária brasileira. Inteligência do artigo 88 do Código de Processo Civil. Sentença mantida. Apelação não provida. (TJSP, APL: 0012690-78.2010.8.26.0562, Relator: Mario A. Silveira, Trigésima Terceira Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 28/02/12) 16.5 (...) O feito comporta extinção, sem resolução do mérito, nos termos do artigo 267, inciso IV, do Código de Processo Civil, já que ausente um pressuposto de constituição e desenvolvimento válido e regular do processo, qual seja a competência da justiça brasileira. Apesar de se tratar de questão preliminar, cuja alegação ensejaria a manifestação da parte contrária (CPC 301, II, e 327), a circunstância de ter sido concedida a medida liminar, com impedimento de saída do navio, que gera prejuízo considerável, passo à análise da questão independentemente da providência mencionada. De fato, passou despercebido por este juízo a questão relativa à competência para julgamento do feito quando da concessão da medida liminar. A qualificação apresentada na petição inicial dá conta de que tanto a ré como a autora são pessoas jurídicas com sede em país estrangeiro, não havendo notícia sequer da existência de filial no Brasil. Além disso, conforme narrado na mesma petição inicial (item 1 página 2), o fato que ensejou a lide, qual seja o fornecimento de combustível a navio da ré, não ocorreu no Brasil, mas sim em Singapura. Por fim, não há no contrato celebrado entre as partes qualquer disposição acerca de eleição da jurisdição brasileira para solucionar os conflitos dele decorrentes. Assim, não estão presentes quaisquer das hipóteses previstas no artigo 88 do CPC, não é competente a justiça brasileira

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para conhecer e julgar o pedido formulado pela autora, pelo que a extinção do feito sem resolução do mérito, nos moldes do artigo 267, IV, do CPC é de rigor. Para que não se alegue omissão, pouco importa que o navio cujo arresto é pretendido esteja em águas brasileiras, considerando que é a ação principal que determina a competência para a ação cautelar, e não o inverso, conforme inteligência do artigo 800 do CPC. Isto posto, JULGO EXTINTO o presente processo, sem resolução do mérito, nos termos do artigo 267, inciso IV, do Código de Processo Civil, revogando a medida liminar anteriormente concedida. Expeça-se, com urgência, ofício à Capitania dos Portos, comunicando a revogação da medida, para liberação do navio indicado nos autos. (TJSP, Proc. 4001924-87.2013.8.26.0562, Juiz Gustavo Antonio Pieroni Louzada, 3ª Vara Cível de Santos, j. 05/07/2013) 16.6 (...) Decido. Pontua a demandada que nenhuma das partes possui sede no Brasil, que a obrigação se origina em suposto fornecimento de combustível realizado na República da Costa do Marfim, que deveria deveria ser cumprida na Grécia. Ademais, assevera que a prova do contrato mantido é mera correspondência unilateral de aparente pacto de adesão, sem assinatura ou qualquer confirmação, vinculando a a autora e a empresa Allied Maritime Inc., estranha ao feito. Tenho que o processado inobservou a regra de competência aplicável ao caso. (...) A competência da Justiça Brasileira é fixada em razão do domicílio e nacionalidade das partes, da origem e local de cumprimento da obrigação e da existência de cláusula de eleição de foro estrangeiro, conforme preceituam os artigos 88 e 89 do Código de Processo Civil: Art. 88. É competente a autoridade judiciária brasileira quando: I - o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil; II - no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação; III - a ação se originar de fato ocorrido ou de ato praticado no Brasil. Parágrafo único. Para o fim do disposto no no I, reputa-se domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que aqui tiver agência, filial ou sucursal. (...) Inexiste nos autos a comprovação da existência, em relação a quaisquer dos litigantes, de uma agência, filial ou sucursal com sede no Brasil, circunstância que possibilitaria o ajuizamento da presente ação neste País. Ademais, a obrigação deveria ter sido cumprida na Grécia (fls. 68/69). Destarte, sendo as partes domiciliadas no estrangeiro – uma em território chileno e outra em terras cipriotas –, tendo o fato que deu origem à demanda ocorrido na República da Costa do Marfim, cuja obrigação deveria ter sido cumprida na Grécia, tudo fora do território nacional, não há falar em incidência dos incisos I e III do art. 88 do CPC. Fixado isso, clarividente que a relação jurídica existente entre as

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litigantes não deverá ser dirimida pelo Poder Judiciário brasileiro. Nesse passo, é o entendimento da jurisprudência com a qual coaduno: APELAÇÃO CÍVEL - Interposição contra sentença que julgou extinta, sem resolução do mérito, com fundamento no artigo 267, inciso IV, do Código de Processo Civil, medida cautelar de arresto e ação de cobrança. Contrato de compra e venda de combustível realizado e cumprido no exterior. Partes estrangeiras com domicílio fora do Brasil. Cláusula de eleição de foro grego. Incompetência da autoridade judiciária brasileira. Inteligência do artigo 88 do Código de Processo Civil. Sentença mantida (Apelação n. 0012690-78.2010.8.26.0562, Comarca de Santos, 33ª Câmara de Direito Privado, Des. Rel. Mario A. Silveira, julgado em 27 de fevereiro de 2012). Desse modo, reconheço a incompetência absoluta deste Juízo para processar e julgar a questão, julgando EXTINTO o feito, nos termos do art. 267, IV do Código de Processo Civil. (TJRS, Proc. 0000362-83.2014.8.21.0023, Juíza Cíntia Teresinha Burhalde Mua, 3ª Vara Cível de Rio Grande, j. 10/09/14) c) Jurisdição – O termo “agência” do no art 88, p. único do CPC/1973

não se refere ao agente marítimo para fins de jurisdição – Aplicação do significado de agência apenas para filial ou sucursal da pessoa jurídica estrangeira

16.7 APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO REGRESSIVA DE RESSARCIMENTO - ILEGITIMIDADE PASSIVA DE PARTE - RECURSO PROVIDO - O AGENTE MARÍTIMO PODE SER CITADO PARA ACUDIR A AÇÃO, NA QUALIDADE DE REPRESENTANTE DO ARMADOR - NÃO RESPONDE, ENTRETANTO, PELOS ATOS DE SUA REPRESENTADA, LIMITANDO-SE A ESTA CONDENAÇÃO - A disposição constante do art. 88, I. Parágrafo único, do CPC, ao mencionar agência, não está se referindo ao agente ou representante legal, mas a filial ou sucursal da pessoa jurídica estrangeira. Recurso provido. (TJES, AC 24930084504, Rel. Des. Amim Abiguenem, 4ª Câmara Cível, j. 18.03.2002) 16.8 (...) Cuida-se de medida cautelar de arresto de embarcação e ação de cobrança ajuizada pela apelante contra a apelada diante do inadimplemento de dívida relativa a fornecimento de combustível. Em razão do domicílio e nacionalidade das partes, da origem e local de cumprimento da obrigação e da existência de cláusula de eleição de foro estrangeiro, a autoridade

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judiciária brasileira não é competente para conhecer e julgar o presente feito. Disciplina o artigo 88 do Código de Processo Civil que é competente a autoridade judiciária brasileira quando: I o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade estiver domiciliado no Brasil; II no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação; III a ação se originar de fato ou de ato praticado no Brasil. No caso em tela a ré está sediada na Alemanha e a autora nas Ilhas Cayman (fls. 02). Não há comprovação de que as partes tenham agência, filial ou sucursal no Brasil. O agente marítimo necessário para toda embarcação que aporta no Brasil, não o torna representante ou procurador do navio, mas um agenciador para a devida carga ou descarga deste e a tramitação em terras brasileiras. (...) Dessa forma, correta a decisão do Magistrado que julgou extinto os processos, com fundamento no artigo 267, inciso IV, do Código de Processo Civil, reconhecendo a ausência de pressuposto processual para o desenvolvimento válido e regular do processo. (TJSP, APL: 0012690-78.2010.8.26.0562, Relator: Mario A. Silveira, Trigésima Terceira Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 28/02/12) d) Contrato internacional – Cláusula de eleição de foro estrangeiro –

Validade – Incompetência da Justiça Brasileira – Art. 25 NCPC 16.9 APELAÇÃO – Ação de indenização por danos materiais – Contrato de transporte marítimo internacional – Incompetência da Justiça brasileira arguida em sede de contestação – Sentença que julgou extinta a demanda – Apelo da autora – Cláusula de eleição de foro internacional – Abusividade do contrato não verificada – Empresas multinacionais de considerável porte – Avença firmada no exterior – Danos ocorridos no estrangeiro – Contrato pactuado e ação proposta já na vigência do CPC/2015 – Inteligência do art. 25 do NCPC – Sentença mantida por seus próprios e jurídicos fundamentos, adotados nos moldes do art. 252 do RITJSP – Recurso desprovido. (TJSP, AP 1031100-26.2017.8.26.0562, Rel. Jonize Sacchi de Oliveira, 24ª Câmara de Direito Privado, Julgamento: 09/05/2018) 16.10 Ação de indenização por danos materiais Transporte marítimo de mercadorias Cláusula de eleição de foro exclusivo estrangeiro Sentença de extinção do processo sem resolução do mérito, devido ao reconhecimento da incompetência da justiça brasileira Irresignação da autora, alegando a

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competência concorrente da justiça brasileira, diante da existência de representação da ré no Brasil e da alegada abusividade da cláusula Pretensão recursal improcedente Inteligência do artigo 25 do Código de Processo Civil Autonomia privada das partes contratantes Insuficiência da presença de alguma das situações previstas nos incisos do artigo 21 do diploma processual civil Abusividade não constatada Natureza de contrato de adesão, que não impede o reconhecimento da validade da cláusula, porquanto inexistente dúvida acerca de seus termos Inteligência do artigo 423 do Código Civil Sentença mantida. Recurso desprovido, com majoração da verba honorária. (TJSP, Apelação Cível nº 1119916-75.2018.8.26.0100; 11ª Câmara de Direito Privado do Tribunal; Rel. Marco Fábio Morsello; J. 05/09/2019) 16.11 TRANSPORTE MARÍTIMO DE MERCADORIAS (...) RECURSO DA TRANSPORTADORA Cláusula de eleição de foro internacional Inteligência do art. 25 do CPC Autonomia privada das partes contratantes em sede de contrato interempresarial Insuficiência da presença de alguma dentre as situações previstas nos incisos do art. 21 do diploma processual civil Abusividade não constatada Natureza de contrato de adesão, que não impede o reconhecimento da validade da cláusula, porquanto inexistente dúvida acerca de seus termos Inteligência do art. 423 do CC Incompetência da justiça brasileira para decidir quaisquer questões referentes ao contrato de transporte entre comerciante e transportador (...) Sentença reformada Extinção do feito, sem resolução do mérito, em relação aos pedidos relacionados às avarias e extravio da carga transportada Recurso parcialmente provido. (TJSP, Apelação nº 1132287-71.2018.8.26.0100; 11ª Câmara de Direito Privado do Tribunal; Rel. Marco Fábio Morsello; J. 03/10/2019). 16.12 Agravo inominado contra decisão monocrática que negou seguimento ao recurso, nos termos do art. 557, do cpc. Exceção de incompetência. Contrato internacional de importação. Cláusula contratual prevendo a competência do juízo italiano para dirimir qualquer controvérsia. Instrumento de contrato firmado na itália. Obrigações cumpridas na itália. Cláusula de eleição de foro válida, desde que não acarrete impedimento à parte ao acesso à justiça. Inexistência de hipossuficiência da agravante. A

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súmula do excelso pretório dispõe: “è válida a cláusula de foro para os processos oriundos de contrato”. Incompetência da justiça brasileira. Desprovimento do recurso. (TJRJ, AI 2007.002.24569, Rel. Carlos Eduardo M. Da Silva, 10ª Câmara Cível, 21/05/08) 16.13 A CLÁUSULA DE ELEIÇÃO DE FORO NÃO PODE SER ENTENDIDA COMO LETRA MORTA NO CONTRATO, DEVENDO SEMPRE PREVALECER, exceto em casos em que se verifique manifesta abusividade, o que sequer foi ventilado na hipótese dos autos. (TJSP, 00377232520158260100 Des. Kenarik Boujikian, 34ª Câm. Direito Privado, pub. 01/09/2017). 16.14 APELAÇÃO CÍVEL Transporte marítimo Ação de cobrança 1. CLÁUSULA DE ELEIÇÃO DE FORO VÁLIDA NOS TERMOS DO ARTIGO 63 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL E DA SÚMULA N O 335 DO E. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. ELEIÇÃO DO FORO ENQUANTO EXERCÍCIO DA LIBERDADE CONTRATUAL DAS PARTES. (...) Observância ao princípio pacta sunt servanda. Encargo atribuído à apelante pelos usos e costumes do comércio internacional. (...) (TJSP, AC 1027500-94.2017.8.26.0562; Des. Daniela Menegatti Milano; 19ª Câmara de Direito Privado; j. 13/07/2018) 16.15 Cobrança – Transporte marítimo – Estadias de contêiner – Demurrage – (...) Alegação de incompetência territorial - CLÁUSULA DE ELEIÇÃO DE FORO – VALIDADE – SÚMULA 335, DO STJ – CUIDANDO-SE DE COMPETÊNCIA RELATIVA, PREVALECE O FORO DE ELEIÇÃO LIVREMENTE PACTUADO PELAS PARTES (...) (TJSP, AC 1011528-21.2016.8.26.0562; Des. Francisco Giaquinto; 13ª Câmara de Direito Privado; j. 31/07/2017) 16.16 EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA Foro de Eleição – Ação de Cobrança CONTRATO DE TRANSPORTE MARÍTIMO INAPLICABILIDADE DO CÓDIGO DE

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DEFESA DO CONSUMIDOR AO CASO DEBATIDO VALIDADE DA CLÁUSULA ESTIPULADA LIVREMENTE NO CONTRATO SÚMULA 335 DO STF Decisão mantida. (TJSP, AI 0141427-34.2013.8.26.0000; Des. Airton Pinheiro de Castro; 15ª Câmara de Direito Privado; j. 01/04/2015) 16.17 RECURSO ESPECIAL. EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA. CLÁUSULA DE ELEIÇÃO DE FORO ESTRANGEIRO. CONTRATO INTERNACIONAL DE IMPORTAÇÃO. OFENSA AO ART. 535 DO CPC NÃO CONFIGURADA. INTERPRETAÇÃO DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS. REEXAME DE PROVAS. INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS 05 E 07 DO STJ. AUSÊNCIA DE QUESTÃO DE ORDEM PÚBLICA. (...) 2. A reforma do julgado demandaria a interpretação de cláusula contratual e o reexame do contexto fático-probatório, providências vedadas no âmbito do recurso especial, a teor do enunciado das Súmulas 5 e 7 do STJ. 3. As conclusões da Corte a quo no sentido de que, in casu, é de importação a natureza do contrato entabulado entre as partes e de que é o país estrangeiro o local de execução e cumprimento das obrigações, decorreram da análise de cláusulas contratuais e do conjunto fático-probatório carreado aos autos, pelo que proscrito o reexame da questão nesta via especial. 4. "A eleição de foro estrangeiro é válida, exceto quando a lide envolver interesses públicos" (REsp 242.383/SP, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, TERCEIRA TURMA, julgado em 03/02/2005, DJ 21/03/2005 p. 360). (...) (STJ, Resp 1.177.915, Ministro Vasco Della Giustina, 3ª TURMA, Julgamento: 13/04/2010) e) Competência internacional – Sentença estrangeira não homologada

pelo STJ – Inexistência de litispendência internacional – Impossibilidade de extinção de demanda no Brasil

16.18 Processo civil. Medida cautelar visando a atribuir efeito suspensivo a recurso especial. Ação proposta pela requerente, perante justiça estrangeira. Improcedência do pedido e trânsito em julgado da decisão. Repetição do pedido, mediante ação formulada perante a Justiça Brasileira. Extinção do processo, sem resolução do mérito, pelo TJ/RJ, com fundamento na ausência de jurisdição brasileira para a causa. Impossibilidade. Pedido de medida

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liminar para a suspensão dos atos coercitivos a serem tomados pela parte que se sagrou vitoriosa na ação julgada perante o Tribunal estrangeiro. Indeferimento. Comportamento contraditório da parte violador do princípio da boa-fé objetiva, extensível aos atos processuais. - É condição para a eficácia de uma sentença estrangeira a sua homologação pelo STJ. Assim, não se pode declinar da competência internacional para o julgamento de uma causa com fundamento na mera existência de trânsito em julgado da mesma ação, no estrangeiro. Essa postura implicaria a aplicação dos princípios do 'forum shopping' e 'forum non conveniens' que, apesar de sua coerente formulação em países estrangeiros, não encontra respaldo nas regras processuais brasileiras. - A propositura, no Brasil, da mesma ação proposta perante Tribunal estrangeiro, porém, consubstancia comportamento contraditório da parte. Do mesmo modo que, no direito civil, o comportamento contraditório implica violação do princípio da boa-fé objetiva, é possível também imaginar, ao menos num plano inicial de raciocínio, a violação do mesmo princípio no processo civil. O deferimento de medida liminar tendente a suspender todos os atos para a execução da sentença estrangeira, portanto, implicaria privilegiar o comportamento contraditório, em violação do referido princípio da boa-fé. Medida liminar indeferida e processo extinto sem resolução de mérito. (STJ, MC 15398, Relator: Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, Data de Julgamento: 02/04/2009) f) Disputa contratual – Cláusula de eleição de foro não disposta no

contrato de transporte 16.19 AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS. DIREITO MARÍTIMO. EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA. CONTRATO DE TRANSPORTE. FORO DE ELEIÇÃO. 1. Não cabe interpretação extensiva do termo em comento aos demais pactos que eventualmente foram firmados entre as partes litigantes, principalmente quando a ação original tem por objetivo específico a apuração de responsabilidade da Agravante pelo lançamento de dados incorretos e o bloqueio do Conhecimento de Embarque. 2. A cláusula de eleição de foro (cláusula S) está disposta no Termo de Compromisso de Responsabilidade sobre Contêineres que em nada se assemelha ou muito menos vincula o Contrato de Transporte, sendo apenas um termo referente a um evento específico, qual seja a retirada e devolução de contêineres. (...)

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(TJPE, AI: 0014793-47.2010.8.17.0000, Relator: Francisco Manoel Tenorio dos Santos, 4ª Câmara Cível, Data de Julgamento: 20/01/2011) g) Direito Marítimo – Competência absoluta em razão da matéria 16.20 Agravo de Instrumento. Pedido de Tutela Antecipada em Caráter Antecedente. Civil e Processual Civil. Encerramento de contratos de afretamento de embarcações e de prestação de serviços correlatos antes do término do prazo de vigência. Deferimento da medida pleiteada para suspender os efeitos da carta de rescisão contratual enviada às Requerentes. Insurgência da Requerida. Preliminar de incompetência absoluta do Juízo a quo. Afastamento. Conflito de interesses que, relacionado a negócios jurídicos afetos ao Direito Marítimo, insere-se na esfera de competência das Varas Empresariais. Inteligência do art. 50, I, "h", da Lei Estadual nº 6.956/2015 (Lei de Organização e Divisão Judiciárias do Estado do Rio de Janeiro). Precedentes deste Nobre Sodalício em hipóteses semelhantes. Requerimento formulado pelas Agravadas que não prescindem da demonstração dos requisitos previstos no art. 300 do CPC, quais sejam, a "probabilidade do direito" e o "perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo". Acervo fático-documental a evidenciar que, não obstante a celebração de Aditivos Contratuais para permitir a suspensão das avenças e a consequente postergação dos termos finais, manteve-se hígida a prerrogativa da Agravante de encerrar os pactos antecipadamente, desde que obedecido o aviso prévio de 45 (quarenta e cinco) dias, mencionada não apenas no quadro anexo de condições gerais, como também em cláusula expressa. Aposição de datas para o fim da relação existente entre as litigantes que, a todas as luzes, apenas confirma a inclusão do período de sobrestamento no lapso temporal remanescente, já que este seria o objeto da renegociação. Verossimilhança do direito à continuidade dos contratos que não se vislumbra diante das provas dos autos, juntadas pelas próprias Recorridas. Reforma da decisão combatida que se impõe, para indeferir a antecipação de tutela requerida. Conhecimento e parcial provimento do recurso. (TJRJ, AI: 0049141-56.2018.8.19.0000, Relator: Sérgio Nogueira De Azeredo, Data De Julgamento: 07/11/2018, Décima Primeira Câmara Cível, Data de Julgamento: 08/11/2018)

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16.21 Conflito negativo de competência. Ação cautelar visando que a petrobrás se abstenha de realizar deduções sobre os recebíveis, oriundo do contrato de afretamento marítimo celebrado entre as partes, a título de multa moratória. Trata-se de questões relativas ao contrato de afretamento marítimo, de competência da vara empresarial, de acordo com o artigo 50 da lei 6.956, de janeiro de 2015. Precedente desta corte de justiça. Procedência do conflito, para declarar a competência do juízo suscitado. (TJRJ, Conflito Negativo De Competência: 0016817-13.2018.8.19.0000, Relator: Antonio Carlos Dos Santos Bitencourt, 27ª Câmara, J. 29/08/2018) 16.22 PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. INTERPRETAÇÃO DE CLÁUSULA DE CONTRATO DE AFRETAMENTO DE EMBARCAÇÃO. COBRANÇAS INDEVIDAS. APLICAÇÃO DE MULTA CONTRATUAL. DECLINIO DE COMPETENCIA. CABIMENTO DO AGRAVO DE INSTRUMENTO. ENTENDIMENTO ATUAL DO STJ. DIREITO MARÍTIMO. COMPETÊNCIA DO JUÍZO DAS VARAS EMPRESARIAIS, CONFORME ARTIGO 50, I, H, DA LEI DE ORGANIZAÇÃO E DIVISÃO JUDICIÁRIA. O Superior Tribunal de Justiça veio, no recente julgamento do Resp. 1.679.909/RS, a afirmar que, apesar de não estar prevista expressamente no rol do art. 1.015 do Código de Processo Civil, a decisão que declina da competência pode ser recorrida através de agravo de instrumento, com vista a evitar o risco de invalidar decisões proferidas por juízo incompetente. Competência do Juízo Empresarial para processar e julgar a demanda, considerando que o contrato de afretamento marítimo se insere no rol de matérias da competência do Juízo das Varas Empresariais, conforme artigo 50, I, h, da Lei de Organização e Divisão Judiciária. Conhecimento e desprovimento do recurso. (TJRJ, AI: 00735547020178190000, Relator: Rogério De Oliveira Souza, Data De Julgamento: 07/08/2018, Vigésima Segunda Câmara Cível) 16.23 DIREITO MARÍTIMO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AÇÃO DE COBRANÇA DECORRENTE DE CONTRATO DE TRANSPORTE MARÍTIMO. LEI COMPLR Nº 71/2005. COMPETÊNCIA ABSOLUTA. VARA ESPECIALIZADA EM DIREITO MARÍTIMO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO COM EFEITOS INFRINGENTES ACOLHIDOS. 1. A Lei Complementar nº 71/2005, art. 2ºcriou, na Comarca de Ipojuca, vara competente para julgar ações que versem sobre direito marítimo e fazendário. Cuida-se de competência absoluta em razão da

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matéria. 2. Sob o prisma do direito marítimo deve ser julgada a ação de cobrança de multa por descumprimento de contrato de agenciamento para transporte de cargas pela via marítima. Compõe tal contrato de um período de franquia para utilização de container e sua devolução, mas não ocorrendo, cabe a multa pela sobreestadia (demurrage) de containeres. 3.Embargos de declaração acolhidos. (TJPE, ED: 0149402401, Relator: Francisco Manoel Tenorio dos Santos, Data de Julgamento: 05/02/2009, 3ª Câmara Cível, Data de Publicação: 63) 16.24 (...) Embora a agravante insista em afirmar que o objeto da ação por ela ajuizada não se refere a direito marítimo, basta uma simples leitura do acordo firmado e da petição inicial da referida ação para se verificar, à toda evidência, não lhe assistir razão. O objeto da ação principal é, sem sombra de dúvida, atinente a direito marítimo, cuja competência é da Vara Empresarial, conforme inteligência do artigo 91, I, g, do CODJERJ, com redação dada pela Resolução 19/2001, de 10/01/2002, do Órgão Especial deste Tribunal. (...) A intenção em se deslocar a competência de matéria referente a direito marítimo para as Varas Empresariais foi a de especializar o juízo. (TJRJ, AI 2008.002.30182, Des. Renata Machado Cotta, 9ª Câmara Cível, j. 17/02/2009) 16.25 Na hipótese dos autos, verifica-se que a agravante está movendo a ação de cobrança, sob a alegação de que a agravada levantou quantias que lhe eram devidas, em razão de contrato de agenciamento marítimo celebrado entre as partes. Assim, resta claro que o pedido formulado pela agravante decorreu da relação contratual proveniente do referido contrato de agenciamento marítimo, e, portanto, não se trata de mera ação de cobrança, visto que há que se verificar os termos do referido contrato, sendo certo que a intenção em deslocar a competência de matéria referente a direito marítimo para as Varas Empresariais foi no sentido de especializar o Juízo. (TJRJ, AI 2006.002.00127, Des. Paulo Sérgio Prestes dos Santos, 11ª Câmara Cível, j. 09/03/2006)

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16.26 APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA DE DEMURRAGE. CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO DE TRANSPORTE MARÍTIMO DE MERCADORIAS PARA IMPORTAÇÃO/EXPORTAÇÃO. QUESTÕES AFETAS AO DIREITO EMPRESARIAL. COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR DAS CÂMARAS DE DIREITO COMERCIAL. PRECEDENTES. REDISTRIBUIÇÃO. RECURSO NÃO CONHECIDO. É de competência das Câmaras de Direito Comercial para processar e julgar as ações visando a cobrança de Demurrage decorrente de contrato de prestação de serviços de transporte marítimo de mercadorias para importação/exportação, nos termos do Ato Regimental n. 57/02/TJ, de 13/12/02. (TJSC, AC 2013.072647-2 Relator: Saul Steil, Terceira Câmara de Direito Civil Julgado, Data de Julgamento: 25/11/2013) 16.27 APELAÇÃO CÍVEL. PRESTAÇÃO DE SERVIÇO DE TRANSPORTE MARÍTIMO INTERNACIONAL DE CARGAS. AÇÃO DE COBRANÇA DE TARIFA DE SOBREESTADIA DE CONTAINERS - DEMURRAGE. INCOMPETÊNCIA DAS CÂMARAS DE DIREITO CIVIL. COMPETÊNCIA DAS CÂMARAS DE DIREITO COMERCIAL. INTELIGÊNCIA DOS ARTS. 6º, INC. II, DO AR N. 41/00, ART. 3º DO AR N. 57/02, E, AINDA, DO ART. 2º DO AR N. 85/07. PRECEDENTE DA CÂMARA. RECURSO NÃO CONHECIDO. Versando o recurso sobre questão afeta a prestação de serviços de transporte marítimo e cobrança de tarifa de sobre-estadia (demurrage), a competência para dele conhecer e decidir é de uma das Câmaras de Direito Comercial. (TJSC, AC: 2013.047095-3, Relator: Jorge Luis Costa Beber, Quarta Câmara de Direito Civil Julgado, Data de Julgamento: 21/08/2013) 16.28 COMPETÊNCIA RECURSAL. CONTRATO INTERNACIONAL DE TRANSPORTE MARÍTIMO. AÇÃO DE COBRANÇA DE SOBREESTADIA DE CONTÊINERES. MATÉRIA QUE REFOGE AO ÂMBITO DE COMPETÊNCIA DESTA CÂMARA E AFETA À COMPETÊNCIA DO ANTIGO I TRIBUNAL DE ALÇADA CIVIL.APRECIAÇÃO AGORA INERENTE À COMPETÊNCIA DA 11a À 24a CÂMARAS DA SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO. NÃO CONHECIMENTO E REMESSA. Tratando-se de ação de cobrança fundada em contrato de transporte marítimo, falece competência a esta Câmara para a sua apreciação. Trata-se de matéria de competência do extinto I Tribunal de

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Alçada Civil, que por sua vez agora é inerente a 11a à 24a Câmaras da Seção de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo. (TJSP, CR: 943324002, Relator: Antonio Rigolin, 31ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 23/07/2008) 16.29 DIREITO CIVIL - AÇÃO DE COBRANÇA - DÍVIDA DECORRENTE DE TRANSPORTE MARÍTIMO - MATÉRIA DE DIREITO COMERCIAL - COMPETÊNCIA DAS CÂMARAS DE DIREITO COMERCIAL - APLICAÇÃO DO ARTIGO 3º DO ATO REGIMENTAL N.57/02 - TJSC. Embora o Código Civil de 2003 unifique o Direito Obrigacional, doutrina e jurisprudência entendem que a competência para julgar feitos envolvendo cobrança de dívida decorrente de transporte marítimo de cargas não é das Câmaras de Direito Civil, mas exclusivamente das Câmaras de Direito Comercial. Não tendo sido revogado o artigo 3º do Ato Regimental n. 57/02 - TJSC, devem os presentes autos serem redistribuídos às Câmaras de Direito Comercial do Tribunal de Justiça do Estado. (TJSC, AC: 2007.043978-3, Relator: Monteiro Rocha, Quarta Câmara de Direito Civil, Data de Publicação: 26/03/2008) 16.30 Agravo de instrumento. Declínio de competência em favor da 7ª vara empresarial. Ação de cobrança. Programa de revitalização, urbanização e recuperação ambiental com sustentabilidade do canal do fundão e seu entorno. Prestação de serviço de dragagem. Afretamento de embarcações. Direito marítimo. Competência especializada. Artigo 91, i, alínea “g”, do codjerj. Competência absoluta da vara empresarial. Negativa de provimento ao recurso. (TJRJ, AI: 0056940-29.2013.8.19.0000, Relator: Des. Mônica De Faria Sardas, Vigésima Primeira Camara Civel, Data de Publicação: 07/02/2014) 16.31 “Apelação Cível. Direito Marítimo. Contrato de afretamento. Competência para julgamento das Varas Empresárias. Rol do antigo art. 91, inciso I, alínea g do CODJERJ (atual art. 50, inciso I, letra h, nº 5 da Lei de Organização e Divisão Judiciárias do Estado do Rio de Janeiro) que é exemplificativo. Inexistência de violação ao art. 303, §1º, I e, § 2º do CPC.

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(TJRJ, Apelação Cível, 0255691-51.2016.8.19.0001 – Des. Claudio Brandão de Oliveira, 7ª Câmara Cível, J.21/03/2018) 16.32 “DIREITO EMPRESARIAL E PROCESSUAL. AÇÃO MONITÓRIA. INSTRUMENTO PARTICULAR DE CONFISSÃO DE DÍVIDA. CONTRATOS DE AFRETAMENTO QUE SE PÕEM DENTRO DA SEARA DO DIREITO MARÍTIMO. COMPETÊNCIA DAS VARAS EMPRESARIAIS. DESNECESSIDADE DE CAUÇÃO. EXISTÊNCIA DE CONVÊNIO DE COOPERAÇÃO JUDICIÁRIA. ATA DE REUNIÃO COMO DOCUMENTO SUFICIENTE PARA EMBASAR A AÇÃO MONITÓRIA. CITAÇÃO COMO TERMO INICIAL DE INCIDÊNCIA DOS JUROS E DA CORREÇÃO MONETÁRIA. PROVIMENTO PARCIAL. Recurso contra sentença em ação monitória fundada em instrumento particular de confissão de dívida, celebrado entre as sociedades autoras e a sociedade de economia mista ré, pretendendo aquelas a constituição do título executivo de pleno direito ou, no caso de oposição de embargos, a condenação da ré ao pagamento da dívida. Os contratos de afretamento se põem dentro da seara do Direito Marítimo, devendo as controvérsias deles decorrentes serem dirimidas pelas Varas Empresariais, nos termos do artigo 50, I, h, da Lei de Organização e Divisão Judiciárias deste Estado, conforme por diversas vezes decido por este Tribunal de Justiça. (TJRJ, Apelação Cível, 0169721-49.2017.8.19.0001 – Des. Adolpho Andrade Mello, J. 11/06/2019) 16.33 “Agravo de Instrumento. Ação de Cobrança. Multas por descumprimento de cláusulas. Contrato de afretamento de embarcação e prestação de serviços. Direito Marítimo. Declínio de competência para vara empresarial. Contratos típicos de direito marítimo. Competência dos juízes de direito em matéria empresarial. Inteligência do art. 50, I, “H”, da Lei Estadual nº 6.956/2015 – Lei de organização e divisão judiciárias do Estado do Rio de Janeiro. Rol exemplificativo. Precedentes deste Tribunal. Desprovimento do Recurso. 1. Insurge-se a autora agravante em face da decisão proferida pelo Juízo Cível da Comarca da Capital que, em ação de cobrança de multas com base em contrato de afretamento marítimo, acolheu a preliminar suscitada pela ré de incompetência absoluta em razão da matéria e declinou da competência para uma das varas empresariais da Comarca da Capital, de acordo com o art. 50, I, “h”, da LODJ - Lei de Organização e Divisão Judiciárias. 2. Uma vez que na demanda em questão se

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discutem cláusulas e obrigações decorrentes de um contrato de afretamento marítimo por tempo (time charter party - TCP), que tem natureza jurídica de contrato marítimo, cuja relação, por conseguinte, é regida pelo Direito Marítimo, constituindo matéria afeta à competência das varas empresariais, nos termos do Art. 50, I, “h”, da Lei Estadual nº 6.956/2015, que dispõe sobre a Organização e Divisão Judiciárias do Estado do Rio de Janeiro. 3. Matérias relacionadas ao Direito Marítimo elencadas na alínea “h” do dispositivo mencionado que não são taxativas, como alega a agravante, mas meramente exemplificativas, o que é evidenciado pelo próprio texto normativo ao fazer constar o termo “especialmente”. 4. Competência do juízo empresarial, conforme entendimento jurisprudencial assente neste Tribunal. 5. Desprovimento do recurso.” (TJRJ, Agravo de Instrumento, 0066449-71.2019.8.19.0000, - Des. Elton Martinez Carvalho Leme, 17ª Câmara Cível, J. 30/10/2019). h) Poluição provocada por navio – Ação Civil Pública – Competência da

justiça estadual 16.34 PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO ORDINÁRIA. ACIDENTE DE DERRAMAMENTO DE ÓLEO NA BAÍA DA BABITONGA. CONEXÃO. PRÉVIA AÇÃO CIVIL PÚBLICA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE RESPONSABILIDADE CIVIL EM DANOS CAUSADOS POR POLUIÇÃO POR ÓLEO. 1. Não há prevenção por conexão, pois não há litispendência entre ação civil pública e ações individuais que pleiteiem provimentos assemelhados ou idênticos àqueles requeridos na ação coletiva. As partes não são as mesmas nem a causa de pedir é igual, e não estando arroladas quaisquer entidades de direito público referidas no art. 109, I, CF, a competência para o julgamento da causa pertence à Justiça Estadual (...). 3. Na Convenção Internacional Sobre Responsabilidade Civil em Danos Causados por Poluição por Óleo, de 1969, resta claro que a sua aplicação diz respeito à poluição por óleo decorrente do transporte marítimo de óleo a granel, não alcançando a poluição por óleo decorrente de incidentes com navios cuja carga seja diversa da prevista na Convenção, como é o caso dos autos, que trata de transporte interno, via marítima, de bobinas de aço. (TRF4, AG 0009053-07.2010.404.0000, Rel. Marga Inge Barth Tessler, 4ª TURMA, D.E. 14/06/2010)

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i) Cruzeiro marítimo – Trabalhador embarcado – Navio estrangeiro –

Competência e lei aplicável 16.35 CRUZEIRO MARÍTIMO. TRABALHADOR EMBARCADO. NAVIO ESTRANGEIRO. COMPETÊNCIA E LEGISLAÇÃO APLICÁVEL. Há que se diferenciar entre a competência da jurisdição brasileira sobre o contrato mantido pelo autor, e a legislação aplicável a este mesmo contrato. São questões que não se comunicam: a primeira, de ordem processual, relativa à competência territorial; a segunda, de direito material, atinente ao conflito de lei no espaço. Tanto assim é, que em determinadas circunstâncias pode o juiz brasileiro aplicar legislação estrangeira, competindo à parte que a invoca a prova do texto e da vigência (art. 14, LINDB). Feita a diferenciação, temos que a competência territorial encontra-se regrada nos arts. 12 da LINDB e 88 do CPC. E especificamente em matéria trabalhista, o parágrafo 2º do art. 651 da CLT adota regra que amplifica o disposto no inciso I do 88 do CPC ("Art. 651. (..). parágrafo 2º - A competência das Juntas de Conciliação e Julgamento, estabelecida neste artigo, estende-se aos dissídios ocorridos em agência ou filial no estrangeiro, desde que o empregado seja brasileiro e não haja convenção internacional dispondo em contrário."). E no caso, é incontroverso que a empresa estrangeira com a qual o autor firmou o contrato de trabalho (...) é sócia-proprietária da primeira reclamada, (...), esta estabelecida em território nacional, pelo que é tida como sua agência ou filial, atraindo a incidência do parágrafo 2º do art. 651 da CLT. Assim, a presente lide se submete à jurisdição nacional, merecendo reforma a sentença, neste ponto. Já no que concerne à legislação trabalhista aplicável, como regra, nosso país consagra o critério da territorialidade, enfatizado na Súmula nº 207/TST, que preconiza a adoção da lex loci executiones. Todavia, consoante entendimento do TST em demanda idêntica (RR-127/2006-446-02-00.1, Rel. Min. Maria Cristina IrigoyenPeduzzi), há espaço para interpretação que atenda às peculiaridades de cada caso. Além de pré-contratado no Brasil, em aproximadamente metade do tempo do contrato o reclamante prestou serviços em águas nacionais. E ainda, a ré não trouxe a legislação italiana, que sustentou aplicável. Incide, pois, a legislação pátria. Apelo obreiro provido. (TRT2, RO: 00010393020105020445, Relator: Ricardo Artur Costa E Trigueiros, 4ª Turma, Data de Publicação: 06/09/2013)

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j) Cláusula de eleição de foro – Contrato de transporte – Validade 16.36 APELAÇÃO - Transporte marítimo - Ação de cobrança - Cláusula de eleição de foro válida nos termos do artigo 63 do Código de Processo Civil e da Súmula no 335 do E. Supremo Tribunal Federal. Eleição do foro enquanto exercício da liberdade contratual das partes - Valores devidos a título de sobre-estadia de contêineres (demurrage) - Quantia que não se confunde com o frete - Responsabilidade pelo pagamento da sobre-estadia expressamente atribuída à apelante pelos Conhecimentos de Transporte Marítimo (Bills of Lading) e contrato firmado entre as partes - Encargo atribuído à apelante pelos usos e costumes do comércio internacional - A demurrage enquanto cláusula-padrão do transporte marítimo internacional sob a nova lex mercatoria - Sentença mantida - Recurso não provido. (TJSP, Apelação n° 1038191-07.2016.8.26.0562; 16ª Câmara de Direito Privado; Des. Rel. Daniela Menegatti Milano; Data de Registro: 28/07/2017) 16.37 [...] RECURSO IMPROVIDO NESTE PONTO. APELAÇÃO – EMBARGOS À AÇÃO MONITÓRIA – Verifica-se, através dos instrumentos contratuais juntados aos autos às fls. 51/55, traduzidos às fls. 56/69, que a Cláusula 10 fixou a competência no foro de Nova York, in verbis: 'As leis do Estado de Nova York regerão este Contrato, independentemente da escolha de normas legais pelo referido Estado. Qualquer controvérsia surgida do presente Contrato será solucionada na Corte Distrital dos Estados unidos para o Distrito Sul de Nova York (o 'Tribunal do Foro')' – ART. 252, DO REGIMENTO INTERNO DO E. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO. Em consonância com o princípio constitucional da razoável duração do processo, previsto no art. 5º, inc. LXXVIII, da Carta da República, é de rigor a ratificação dos fundamentos da r. sentença recorrida. Precedentes deste Tribunal de Justiça e do Superior Tribunal de Justiça. – RECURSO IMPROVIDO NESTE PONTO. SENTENÇA MANTIDA – RECURSO IMPROVIDO. (TJSP, Apelação n° 0056109-20.2013.8.26.0506; 38ª Câmara de Direito Privado; Des. Rel. Eduardo Siqueira; Data de Registro: 02/10/2017) 16.38 CONTRATO DE TRANSPORTE. EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA. FORO DE ELEIÇÃO. VALIDADE. Tratando-se de contrato de transporte, livremente

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pactuado entre as empresas, é válida a cláusula que elege o foro para dirimir as controvérsias. (...) (TJRS, AI 70011702859, Rel. Bayard Ney De Freitas Barcellos, 11ª Câmara Cível, j. 17/08/2005) 16.39 AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA. FORO DE ELEIÇÃO. VALIDADE. Tratando-se de contrato de transporte, livremente pactuado entre as empresas, é válida a cláusula que elege o foro para dirimir as controvérsias. Inexistência de abusividade a ensejar a nulidade da disposição. Art. 111 do CPC e Súmula 335 do STF. (...) (TJRS, AI 70010185312, Rel. Orlando Heemann Júnior, 12ª Câmara Cível, j. 10/11/2004) 16.40 COMPETÊNCIA – Transporte marítimo – Rejeição da exceção de incompetência – Empresa internacional com sucursal no Brasil em São Paulo, Capital – Afastamento de qualquer alegação de ausência de domicílio brasileiro – Competência territorial Direito internacional regulada pela vontade das partes – Inaplicabilidade do art. 9 da LICC – Prevalência do foro eleito (Art. 42, CC/16, súmula n. 335 STF e art. 111 do CPC) – Competência da autoridade judiciária inglesa para conhecer e julgar o processo – Inviabilidade da providência do art. 311 do CPC – Ausência de pressupostos processuais – Extinção do processo sem julgamento do mérito (...). (TJSP, AI 7.250.372-7, Rel. Thiers Fernandes Lobo, 22ª Câmara, j. 04/11/08) k) Cláusula de eleição de foro – Contrato de adesão – Validade 16.41 A Segunda Seção desta Corte Superior possui firme o entendimento no sentido de que a cláusula que estipula a eleição de foro em contrato de adesão é válida, desde que não obste o acesso ao Poder Judiciário nem a necessária liberdade para contratar, razão pela qual, para sua anulação, é imprescindível a constatação do cerceamento de defesa e a comprovação da hipossuficiência do aderente (...).

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(STJ, AgInt no AREsp 1011349/BA; Ministro Luis Felipe Salomão; j. 14/05/2019) 16.42 TRANSPORTE MARÍTIMO – Ação de cobrança – Alegação de abusividade de cláusulas impostas unilateralmente – ADESIVIDADE DO CONTRATO QUE NÃO VICIA A MANIFESTAÇÃO DE VONTADE DOS CONTRATANTES – ABUSIVIDADE NÃO RECONHECIDA – RECURSO NÃO PROVIDO, NESTA PARTE. (...). (TJSP, Apelação n° 1031329-54.2015.8.26.0562; 11ª Câmara de Direito Privado; Des. Rel. Renato Rangel Desinano; Data de Registro: 06/02/2017) 16.43 RECURSO ESPECIAL. PROCESSO CIVIL. FORO DE ELEIÇÃO. PREVALÊNCIA. 1. A cláusula do foro de eleição, constante de contrato de adesão, de consignação mercantil, firmado entre empresa montadora de veículos e sua concessionária (distribuidora/vendedora), é eficaz e válida e apenas deve ser afastada quando, segundo entendimento pretoriano, seja reconhecida a sua abusividade, resultando, de outro lado, a inviabilidade ou especial dificuldade de acesso ao Judiciário. 2. Precedente do STJ. (...) (STJ, REsp: 466179, Min Fernando Gonçalves, 4ª Turma, Data de Publicação: 15.12.2003) 16.44 CONTRATO DE ADESÃO. CLÁUSULA DE ELEIÇÃO DE FORO. Não se considera nula a cláusula de eleição de foro apenas por ter sido pactuada em contrato de adesão. Necessário concorram outras circunstâncias, notadamente a dificuldade para defesa. Admite-se como válida, pois, se o acórdão recorrido afirma que se trata de empresa de grande porte, cujos dirigentes tinham perfeita noção do que convencionavam, não se podendo, ainda, afirmar resultasse, da mudança de foro, algum empeço relevante para a defesa do devedor. (STJ, REsp. nº 54.023-2, Rel. Min. Eduardo Ribeiro, 3ª Turma, Data de Julgamento: 17/10/95)

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16.45 APELAÇÃO - PRELIMINAR - COMPETÊNCIA – CLÁUSULA DE ELEIÇÃO DE FORO - Pretensão de reconhecimento da abusividade de cláusula de foro de eleição pactuada em contrato de adesão – Descabimento – Cláusula de eleição de foro que prevalece sobre a regra geral, ainda que estabelecida em contrato de adesão – Hipótese em que não ficaram comprovados prejuízo ao exercício do direito de defesa, hipossuficiência ou desequilíbrio entre as partes (...). (TJSP, 1000775-39.2015.8.26.0562, Relatora: Des. Ana de Lourdes Coutinho Silva da Fonseca, 13ª Câmara de Direito Privado, Publicação: 19/02/2018)

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17. Falta de Protesto – Decadência

Nossa Lei Civil prevê que nos contratos de transporte de coisas o destinatário, ao receber as mercadorias, deve conferi-las e consignar as eventuais ressalvas que tiver, sob pena de decadência dos direitos. Tal regra está insculpida no artigo 754 do Código Civil que também prevê, em seu parágrafo único, que em caso de avarias ou perdas não perceptíveis à primeira vista, o destinatário conserva o direito de ação contra o transportador, desde que denuncie o dano no prazo máximo de 10 dias contados da entrega, sob pena de decadência do direito de ação em face do transportador. Além de clara, tal disposição legal também se apresenta em linha com o princípio constitucional da ampla defesa pois, na ausência de protesto tempestivo, ficará o transportador impossibilitado de realizar vistorias e preservar seus direitos, até mesmo para que possa apurar efetivamente o dano, sua causa, momento de ocorrência, sua extensão e possíveis responsáveis. Seria irrazoável esperar-se longo tempo até que o transportador seja notificado, o que normalmente somente ocorre quando do ajuizamento de demandas às vésperas do lapso prescricional. A esta altura, não mais seria possível garantir ao transportador o direito de investigar, vistoriar ou quantificar as avarias reclamadas com base apenas em informações unilaterais da demandante. A inércia, portanto, do destinatário da carga ao deixar de efetuar o competente e tempestivo protesto no ato do recebimento da mercadoria transportada não apenas gera presunção acerca do bom estado da mercadoria entregue, como também é causa jurídica de perda ao direto de reclamar eventuais avarias. E o raciocínio se aplica não apenas em face do destinatário da mercadoria, como também em face de um segurador sub-rogado, na medida em que a sub-rogação, na forma do art. 786 CC, se dá no limite dos “direitos e ações que competirem ao segurado contra o autor do dano”. Se o segurado não tem direito de ação ante a decadência, também não o terá o segurador. A

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falta de protesto pelo segurado, aliás, deve ser causa de negativa de cobertura do seguro.

a) Transporte de carga – Avaria – Ausência de protesto quando do

recebimento – Decadência 17.1 AÇÃO REGRESSIVA. Contrato de seguro. Transporte de cargas. Alegação de que a mercadoria foi entregue ao destinatário visivelmente avariada. Ausência de formalização de protesto no prazo de dez dias. Art. 754, parágrafo único do CC. Decadência pronunciada pelo juízo a quo. Sentença mantida. Recurso não provido. (TJSP, AC 0257740-14.2009.8.26.0002; Rel. Des. Spencer Almeida Ferreira; 38ª Câmara de Direito Privado, j. 07/12/2011) 17.2 REGRESSIVA - Seguro de transporte de carga - Ausência de vistoria administrativa e de protesto - Carga recebida sem qualquer ressalva - Decadência do direito de reclamar por extravio de parte da carga - Exegese do artigo 754 do Código Civil e do artigo 31, II e IV, da Convenção de Montreal - Cobrança indevida (...). (TJSP, AC 0147127-58.2008.8.26.0002; Des. Tasso Duarte de Melo; j. 31/03/2011) 17.3 DECADÊNCIA – Prazo – Transporte [...] Ausência de comunicação à transportadora das condições das mercadorias quando aportaram no exterior – Art. 754, parágrafo único, CC – Prazo decadencial de dez dias não cumprido – Alegações de regras diferentes no exterior quanto ao protesto – Regras internacionais não demonstradas – Irrelevância dos argumentos quanto às condições do transporte, reconhecida a decadência – Recurso não provido. (TJSP, AC 7.315.422-2, Des. MELO COLOMBI, 14ª Câmara de Direito Privado, j. 18/02/2009) 17.4 Ação ressarcitória. Demanda regressiva da seguradora. Transporte marítimo. Alegação de perda de parte da mercadoria em razão de umidade.

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Sentença de improcedência. Irresignação da seguradora. Desacolhimento. Notificação da perda que não obedeceu ao prazo decadencial do artigo 754, parágrafo único, do cc. Reclamação que extrapolou o prazo legal de dez dias da entrega da mercadoria. (...) (TJSP, AC 0018592-80.2008.8.26.0562; Des. Rel. Erson de Oliveira, 24ª Câmara de Direito Privado; j. 08/08/2013) 17.5 Contrato transporte internacional. Alegação de que as mercadorias foram entregues avariadas. Ausência de comprovação de ressalvas ou de notificação no prazo do artigo 754, parágrafo único, do cc. Ação extinta por decadência. Recurso não provido. O artigo 754, parágrafo único, do cc, estabelece que: “no caso de perda parcial ou de avaria não perceptível à primeira vista, o destinatário conserva a sua ação contra o transportador, desde que denuncie o dano em 10 (dez) dias a contar da entrega”. (sic). Apesar da farta documentação acostada com a inicial, não há nada que demonstre a ressalva no recebimento da mercadoria ou prova de notificação extrajudicial no prazo previsto em lei. (...) A jurisprudência deste e. Tribunal é pacífica no sentido de que, não sendo o dano aparente, teria a compradora o prazo decadencial de 10 dias para notificar a transportadora, denunciando as avarias. (TJSP, AC 0047051-05.2009.8.26.0224; Des Rubens Cury, 18ª Câmara de Direito Privado. j. 20/03/2013) 17.6 COMERCIAL. TRANSPORTE DE MERCADORIAS. AVARIA. PROTESTO. Cabe ao destinatário da mercadoria o protesto em face de avaria, formalizado em cinco dias do seu recebimento, não servindo a suprir a sua falta, certidão da entidade portuária. (STJ, Ag nº 16432, Relator Min. Dias Trindade, 3ª Turma, Data de Publicação: 09/03/1992) 17.7 AÇÃO REGRESSIVA. Seguradora. Contrato de transporte. Avarias de mercadorias. Culpa exclusiva do segurado não elidida. Incidência do art. 252 do Regimento Interno do E. Tribunal de Justiça do estado de São Paulo. Dispositivo regimental utilizado, seja para evitar inútil repetição, seja para cumprir o princípio constitucional da razoável duração dos processos. (...)

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Voto: A r. sentença deve ser confirmada pelos seus próprios e bem deduzidos fundamentos, os quais ficam inteiramente adotados como razão de decidir pelo não provimento do recurso, nos termos do art. 252 do Regimento Interno deste Egrégio Tribunal de Justiça. (...) Como bem obtemperou o nobre magistrado, “Como esclarecido pela ré, como, aliás, ordinariamente acontece em se tratando de tal carga, e como se deduz dos conhecimentos aquaviários de fls. 23 e 24, os contêineres foram recebidos a bordo devidamente lacrados, com as mercadorias já acondicionadas em seu interior, tanto que de ambos os conhecimentos consta a ressalva 'dizendo conter...', a demonstrar que a transportadora recebeu a carga já devidamente acondicionada, tal como sustentado pela ré. Se é certo que, à míngua de qualquer outra ressalva, presume-se tenham eles sido carregados no navio, em perfeito estado, tem-se que, igualmente à falta de reservas por parte da entidade portuária, avaria alguma foi constatada, naqueles volumes, quando da descarga no Porto de Manaus. É o que se depreende de fls. 57v. e 62v.[61v] dos certificados de vistoria, emitidos pela comissária de avarias contratada pela destinatária das mercadorias. Os contêineres permaneceram no terminal até o dia 31.10.2001, data em que dali foram retirados por transportadora rodoviária contratada pela ré e por esta entregues na fábrica da consignatária, que veio a recebê-los também sem fazer menção a qualquer avaria. A consignatária alega ter aberto o contêiner no dia seguinte ao do recebimento e produziu ela própria os chamados laudos de inspeção de fls. 25/48 e 49/50, com isso acionando a seguradora, que veio a providenciar a vistoria apurando danos que foram avaliados e pagos à segurada. Por oportuno, cumpre assinalar que a destinatária das mercadorias produziu dois laudos de inspeção: o de n. 116, a fls. 25, datado de 01 de novembro de 2001; e o de n. 148, a fls. 49, datado de 19 de dezembro de 2001, depois de decorridos mais de mês e meio da abertura dos contêineres. Com o primeiro procurou demonstrar avaria por umidade em bobina de chapas para arruelas, avaliados os danos em R$3.994,35, através de vistoria providenciada pela seguradora, que ressarciu a segurada nesse montante (fls. 74). Com o segundo, o de n. 148, a fls. 49, realizado, como dito, mais de mês e meio depois da abertura do contêiner, teria constatado oxidação em “Placas R”, que estariam no mesmo contêiner em que se achava a bobina antes mencionada e obteve da seguradora nova vistoria, e ressarcimento, este no valor de R$60.423,92 (fls. 71, 72 e 73). Além da falta de ressalvas quando do recebimento dos contêineres, não se preocupou a consignatária em providenciar o protesto a que alude o artigo 756, do Código de Processo Civil, de 1939, e tampouco diligenciou a seguradora nesse sentido. Não se desconhece que outros meios se mostram capazes de substituir o referido protesto, tais como as ressalvas no ato do recebimento, mas nada disso se

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produziu e a tanto não se presta a carta reproduzida a fls. 55, encaminhada à transportadora somente no dia 13 de novembro de 2001, bem depois do prazo de cinco dias previsto no parágrafo, do artigo 756 da lei processual retro mencionada. Acresce que tal carta continha reclamação apenas em relação à chapa para arruelas, acondicionada no contêiner TRLU 178948-3, que teria causado um prejuízo de R$3.994,35, e nada arguiu em relação às “Placas R”, que estariam no mesmo contêiner, o que parece não ser verdadeiro, porquanto a “Placa R”, acha-se descrita na Nota Fiscal n. 001807, retratada a fls. 19, e acondicionada no contêiner CMCU 552116-2, conforme se verifica do conhecimento de fls. 24, cabendo assinalar aqui a inexistência de qualquer menção a danos em tal contêiner, e ainda o fato de ter sido a vistoria nas tais “Placas R” realizada somente em 22 de maio de 2002 [fl. 60], seis meses após o recebimento pela destinatária, não se sabendo nem mesmo em que condições permaneceu a mercadoria ali entregue em 01.11.2001.” (fls. 384/387). Nenhuma dessas circunstâncias conseguiu controverter a apelante, de forma eficaz, não se afigurando suficientes suas razões recursais para combater o que restou decidido na bem lançada sentença. E nem poderia ser diferente, pois, ao contrário do que alega a apelante, por força do art. 1.218, XI, do CPC/73, continua em vigor o art. 756, do CPC/39, in verbis: “Salvo prova em contrário, o recebimento de bagagem ou mercadoria, sem protesto do destinatário, constituirá presunção de que foram entregues em bom estado e em conformidade com o documento de transporte”. A par disso, pela leitura do dispositivo, conclui-se que a primeira parte, “Salvo prova em contrário”, excepciona a regra e permite a substituição do protesto por outros meios, tais como ressalva das mercadorias no momento do recebimento pelo agente portuário ou pela destinatária. Ocorre, porém, que, nos certificados de vistoria de fls. 57/58 e 61/62, há informação de que não houve ressalvas nos conhecimentos de transporte marítimo feitas pela entidade portuária, de modo que era fundamental a destinatária fazer eventuais ressalvas quando do desembarque das mercadorias em sua fábrica em 01/11/2001 (fl. 51) e 07/11/2001 (fl. 60). No entanto, para o primeiro desembarque, a vistoria só foi solicitada em 08/11/2011 e para o segundo somente em 17/05/2002, “não se sabendo nem mesmo em que condições permaneceu a mercadoria ali entregue em 01.11.2001” (fl. 387). Acresça-se, por oportuno, que, tratando-se de seguro, a indenização obedece estritamente à legislação de regência, para viabilizar a atividade exercida pelas companhias seguradoras. Não se pode olvidar que o prêmio cobrado da segurada, dona da mercadoria avariada, resultou de cálculo atuarial, baseado nos princípios da estatística e da probabilidade dos riscos a serem cobertos, excluídas, certamente, as sequelas reclamadas nestes autos. Portanto, outros fundamentos são

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dispensáveis diante da adoção integral dos que foram deduzidos na r. sentença, e aqui expressamente adotados para evitar inútil e desnecessária repetição (...) (TJSP, AC 0010316-63.2009.8.26.0000, Des. William Marinho, 18ª Câmara, j. 19/03/2014) b) Transporte Marítimo Internacional – Avaria de carga – Ausência de

protesto quando do recebimento – Decadência – Prescrição também configurada

17.8 APELAÇÃO CÍVEL. TRANSPORTE INTERNACIONAL DE CARGA. CONTRATO NA MODALIDADE NVOCC. LEGITIMIDADE PASSIVA DO TRANSPORTADOR - ARMADOR DO NAVIO. SEGURO. PRESCRIÇÃO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO TRANSPORTADOR. PROTESTO DO ART. 754, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CC. 1. Legitimidade passiva do transportador: ainda que a contratação realizada tenha sido na modalidade NVOCC (Non-Vessel Operating Common Carrier - transportador não-proprietário do navio), verifica-se, no caso, a legitimidade passiva do transportador, armador do navio, já que a avaria experimentada ocorreu no trajeto. Ademais, entende-se pela responsabilidade solidária entre a armadora e a operadora-armadora (NVOCC), em consonância com o entendimento desta Câmara Cível. 2. Agravo retido. Prescrição da indenização securitária: em se tratando de ação indenizatória decorrente de descumprimento de contrato de seguro, aplica-se o prazo anual previsto no artigo 206, §1º, II, do Código Civil. Quanto ao termo inicial da prescrição, no caso em pauta, levando em conta a alínea "b" do inciso II, §1º, do referido dispositivo legal, a pretensão da autora surgiu no dia em que realizada a vistoria para averiguação de avarias na carga (09/12/2004), interrompendo-se a contagem com a resposta negativa da seguradora (29/03/2005). Após esse marco, iniciou-se novamente a contagem, sem nova interrupção, nos termos do artigo 202 do CC. Assim, considerando que a ação foi ajuizada em 25/10/2006, é de ser reconhecida a prescrição da pretensão, relativa à seguradora. 3. Responsabilidade do transportador, notificação e prazo decadencial - art. 754 do Código Civil: a responsabilidade do transportador é objetiva, à luz do art. 750 do Código Civil, a ele competindo o transporte incólume da mercadoria até o local de destino. Entretanto, na hipótese de perda parcial ou avaria da mercadoria transportada, embora inexista previsão específica da forma de notificação do art. 754 do Código Civil, é preciso que dos autos se extraiam elementos minimamente atuáveis no convencimento do Julgador em torno da regular e

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tempestiva comunicação estabelecida entre os contratantes, o que não restou demonstrado no caso concreto. 4. Standard do agir negocial: competia à demandante se acautelar de procedimentos de gestão de cumprimento de obrigações contratuais, legais e afins, para evitar a superveniência de máculas na defesa de seus interesses - conduta que se espera observar de uma empresa experimentada no âmbito negocial (comércio internacional de mercadorias). (...) apelo da ré Aliança provido. Prejudicado apelo da seguradora. (TJRS, AC 70030094411, Relator: Umberto Guaspari Sudbrack, 12ª Câmara Cível, j. 16/06/2011) 17.9 RESPONSABILIDADE CIVIL - Transporte marítimo internacional - Mercadoria avariada - Falta de protesto - Art. 756. §§ 1º e 3º do CPC/39 - Vistoria realizada por preposto da importadora - Regressiva da seguradora sub-rogada improcedente - Sentença mantida. A ausência de protesto contra avaria, ou falta de mercadoria transportada, é causa jurídica de perda ao direito a ser indenizado - que atinge o destinatário." (...) "Está em vigor a regra jurídica do art. 756, § 1º, do CPC/39 (inspirada no art. 772 do C. Comercial). O protesto é de rigor, em cinco dias da data do recebimento da mercadoria. Certo, não há formalidade especial para o protesto (art. 756, § 3º). Sem ele, contudo, caduca o próprio direito do destinatário. Não diz a lei que o prazo se conte da chegada da mercadoria ao porto. Diz que é do recebimento dela. Evidentemente que uma vistoria poderá demonstrar em tempo hábil que a mercadoria está avariada, ou que faltam elementos ou peças. Essa vistoria foi feita por preposto da importadora (fls. 29-32). Houve também minuciosos exames aduaneiros para fins fiscais. Mas não veio o protesto, nem mesmo depois de chegar a mercadoria à administração da importadora segurada, em Porto Alegre. É um pressuposto formal próprio do direito material (o protesto pode ser feito extrajudicialmente). Pormenor interessante: isto prova que nem toda regra de forma procedimental pertence ao direito processual. (TACSP, APC 405826-2, Rel. Des. Costa de Oliveira, - 4ª Câm. Esp, j. 18/01/89, V.U. RT 116/82) c) Contrato de Transporte – Avaria de carga – Multimodalidade na

cadeia de serviço de transporte – Avarias não denunciadas – Indenização paga por uma das partes – Impossibilidade de regresso

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contra os demais transportadores – Decadência que afeta toda a cadeia

17.10 INDENIZATÓRIA. CONTRATO DE TRANSPORTE. AÇÃO VISANDO O RESSARCIMENTO QUE A TRANSPORTADORA SUPORTOU POR DANOS NA MERCADORIA TRANSPORTADA POR EMPRESA TERCEIRIZADA. DECADÊNCIA. Verificada a decadência de eventual direito da tomadora do serviço de transporte por avarias não denunciadas no prazo do art. 754 do Código Civil, toda a cadeia do serviço de transporte fica afetada aos efeitos da perda do direito, não podendo aquela que espontaneamente indenizou a destinatária da mercadoria exigir ressarcimento da causadora de eventual dano, na medida em que a decadência fixada em lei é irrenunciável. Agravo retido acolhido. Recurso de apelação prejudicado. (TJSP, AC 9170537-95.2008; Des. Walter Fonseca; 11ª Câmara, j. 17/05/2012) d) Transporte Marítimo – Avaria de carga – Protesto efetivado após a

fluência do prazo legal – Decadência 17.11 DECADÊNCIA – Contrato de transporte de carga – Avarias constatadas – Falta de prova de recebimento da denúncia das avarias pela transportadora, ou de que ela tenha tomado ciência inequívoca do protesto da destinatária dos produtos - Decurso in albis do decêndio previsto no parágrafo único do art. 754 do CC – Decadência configurada – Regressiva improcedente – Apelação improvida (TJSP – Processo n° 1007942-44.2014.8.26.0562; 19ª Câmara de Direito Privado; Des. Rel. Ricardo Negrão; j. 05/12/2016) SEGURO - Transporte de carga por meio marítimo - Ação de regresso apresentada pela seguradora - Decadência reconhecida em sentença por falta do protesto previsto no art. 754 do Código Civil - Provas coligidas pela seguradora atestando que os danos na carga eram aparentes, inexistindo, igualmente, prova do pagamento à empresa segurada - Sub-rogação de seguradora que ocorre quando há efetivo pagamento e cumprimento das determinações legais, o que não foi o caso - Sentença mantida - Recurso desprovido. (TJSP - Processo n° 1028676-16.2014.8.26.0562; 15ª Câmara de Direito Privado; Des. Rel. Mendes Pereira; j. 30/08/2016)

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17.12 SEGURO – Transporte internacional marítimo de mercadoria a granel – Ação regressiva de seguradora contra a dona do navio – Constatação de falta de parte da carga que supera o percentual de perda costumeiramente tolerável – Ausência, todavia, de reclamação em tempo hábil, conforme exigido no disposto no art. 754 do Código Civil, com as necessárias ressalvas – Vistoria unilateral feita mais de seis meses após o desembarque – Improcedência da ação por tais motivos que não afronta o direito a inversão ao ônus da prova em razão do CDC – Decisão mantida – Apelação improvida. (TJSP, Apelação nº 7.302.745-5, Relator: José Tarciso Beraldo, 14ª Câmara de Direito Privado, Data de Julgamento: 18/02/09) e) Transporte Marítimo – Avaria de carga – Protesto efetivado após a

fluência do prazo legal – Decadência que atinge a seguradora subrogada

17.13 MATÉRIA PRELIMINAR ARGUIDA EM CONTRARRAZÕES – PEDIDO DE NEGATIVA DE SEGUIMENTO AO RECURSO – recurso interposto que versa sobre outras questões que não estão inteiramente abarcadas pelos enunciados de súmulas e julgamentos de recursos repetitivos – objeção rejeitada. MATÉRIA PRELIMINAR ARGUIDA EM CONTRARRAZÕES – FALTA DE INTERESSE PROCESSUAL – NÃO OCORRÊNCIA – documentação trazida com a inicial que era adequada para o ajuizamento da ação – demonstração de prova de pagamento de indenização – tradução juramentada que não se fazia necessária, dada a inexistência de prejuízo para a formulação das teses de defesa – objeção rejeitada. MATÉRIA PRELIMINAR ARGUIDA EM CONTRARRAZÕES – ILEGITIMIDADE PASSIVA– NÃO OCORRÊNCIA – apeladas Nippon Express e Nippon do Brasil – agências de carga responsáveis pelo transporte das mercadorias – hipótese de solidariedade entre os integrantes da cadeia de transporte – precedentes – objeção rejeitada. AÇÃO REGRESSIVA AJUIZADA POR SEGURADORA SUB-ROGADA VISANDO RESSARCIMENTO DE INDENIZAÇÃO PAGA EM RAZÃO DE SINISTRO – TRANSPORTE DE MERCADORIAS – DECADÊNCIA PRONUNCIADA NA SENTENÇA – ENTENDIMENTO QUE PREVALECE – AVARIA – PROTESTO NÃO REALIZADO NO PRAZO DECADENCIAL DE 10 (DEZ) DIAS PREVISTO NO PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 754 DO CC – incidência do dispositivo legal em referência que não fica restrita à relação havida entre as partes do contrato de transporte – apelante que ajuizou a ação na qualidade de sub-rogada nos direitos e ações que competiriam ao segurado (art. 786 do CC) – direito do segurado que foi alcançado pela decadência – apelante que sub-rogou-se em

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um direito acobertado pela decadência – precedentes – falta de protesto que não pode ser tido como ato do segurado que diminua ou extinga, em prejuízo do segurador, os direitos advindos da sub-rogação – circunstância de o segurador passar a ocupar a posição de credor do causador do prejuízo que não é suficiente para se arredar a necessidade do protesto – ato necessário para que exista o direito de sub-rogação no pagamento de valor correspondente à indenização – apelante, ademais, que não demonstrou a existência das avarias, e tampouco brandiu a ocorrência de cerceamento de defesa por conta do desate antecipado da lide – falta de demonstração a respeito das avarias que não poderia culminar com o decreto de procedência da ação, sob pena de violação dos postulados do contraditório e da ampla defesa – sentença mantida por seus próprios fundamentos nos termos do art. 252 do Regimento Interno do TJSP. Resultado: recurso desprovido. (TJSP, Apelação 1049876-39.2016.8.26.0100; Relator (a): Castro Figliolia; Órgão Julgador: 12ª Câmara de Direito Privado; Julgamento: 21/11/2018) 17.14 AÇÃO REGRESSIVA – Contrato de seguro – Reclamação quanto às avarias na mercadoria transportada realizada quando já consumada a decadência – Demora na retirada da mercadoria que somente pode ser atribuída à segurada na hipótese dos autos – Sentença de improcedência mantida – Recurso não provido. (...) A responsabilidade da transportadora marítima, na hipótese, estava limitada à entrega no porto, razão pela qual deveria a segurada efetuar a verificação quando do desembarque e não cinquenta e um dias após a entrega. (...) A r. decisão muito bem aplicou para dirimir a questão o que estabelece o art. 754 do Código Civil. A reclamação quanto às avarias deu-se muito além do prazo de dez dias contados da entrega do contêiner no píer, quando já consumada a decadência. (...) (TJSP, Apelação 1003531-48.2015.8.26.0068; Relator (a): Paulo Pastore Filho; 17ª Câmara de Direito Privado; Data do Julgamento: 06/12/2017)

17.15 Ação regressiva ajuizada por seguradora sub-rogada visando ressarcimento de valor pago sobre sinistro – transporte de mercadorias - inaplicabilidade do código de defesa do consumidor às relações de consumo – destinatária da mercadoria transportada que não tomou as medidas normais para exame ou recusa, total ou parcial, da mercadoria no momento oportuno para tanto – ausência de vistoria aduaneira e de comprovação da notificação da transportadora aérea quanto às avarias reclamadas no prazo

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decadencial previsto no artigo 754, parágrafo único, do código civil - decadência do direito de indenização da segurada que se estende à seguradora sub-rogada - sentença procedente - dado provimento ao recurso. (TJSP, Apelação 1011427-15.2016.8.26.0002; Relator (a): Lucila Toledo; 15ª Câmara de Direito Privado; Data do Julgamento: 27/06/2017) 17.16 AÇÃO REGRESSIVA. Transporte marítimo de mercadorias. Avaria. Decadência. Ausência de protesto. Exegese do art. 754, parágrafo único, do Código Civil. Caducidade do direito à indenização que se estende à seguradora autora. Sub-rogação. Inteligência do art. 786 do Código Civil. Sentença reformada. Recurso provido. (TJSP, Processo n° 1003772-60.2014.8.26.0002; 12ª Câmara de Direito Privado; Des. Rel. Tasso Duarte de Melo; j. 15/06/2016) 17.17 DIREITO CIVIL. CONTRATO DE SEGURO. TRANSPORTE MARÍTIMO. AÇÃO DE REGRESSO. Ação ordinária deflagrada por seguradora, sub-rogada no direito de sua seguradora, em que objetiva receber da empresa-transportadora o que desembolsara como adimplemento do contrato de seguro, em razão de deterioração da carga transportada pela empresa-ré, por via marítima. Incidência do artigo 754, parágrafo único, do Código Civil/02, o qual prevê o prazo decadencial de dez dias para que o destinatário denuncie o dano, a contar da entrega, e assim, conserve sua ação contra o transportador, no caso de perda parcial ou de avaria não perceptível à primeira vista. Protesto efetivado após a fluência do lapso decadencial. (...) Sentença mantida. Desprovimento dos recursos. (TJRJ, Apelação nº 0052726-05.2007.8.19.0000, Relator: Des. Maria Ines Da Penha Gaspar, 17ª Câmara Cível, Data da Publicação: 09/08/07) 17.18 DIREITO CIVIL. CONTRATO DE SEGURO. TRANSPORTE MARÍTIMO. AÇÃO DE REGRESSO. Ação ordinária deflagrada por seguradora, sub-rogada no direito de sua seguradora, em que objetiva receber da empresa-transportadora o que desembolsara como adimplemento do contrato de seguro, em razão de deterioração da carga transportada pela empresa-ré, por via marítima. Incidência do artigo 754, parágrafo único, do Código Civil/02, o qual prevê o prazo decadencial de dez dias para que o destinatário

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denuncie o dano, a contar da entrega, e assim, conserve sua ação contra o transportador, no caso de perda parcial ou de avaria não perceptível à primeira vista. Protesto efetivado após a fluência do lapso decadencial. Sentença mantida. Desprovimento dos recursos. (TJRJ, Apelação Cível nº 2007.001.36421, Rel. Des. Maria Inês da Penha Gaspar, julg. em 01/09/2007) 17.19 (...) A ação é improcedente. O artigo 754 do Código Civil impõe ao recebedor das mercadorias o dever de comunicar o transportador das possíveis avarias num prazo de 10 dias, sob pena de decadência do direito de reclamar eventual indenização: "Art. 754. As mercadorias devem ser entregues ao destinatário, ou a quem apresentar o conhecimento de transporte endossado, devendo aquele que as receber conferi-las e apresentar as reclamações que tiver, sob pena de decadência do direito. Parágrafo único. No caso de perda parcial ou de avaria não perceptível à primeira vista, o destinatário conserva a sua ação contra o transportador, desde que denuncie o dano em dez dias a contar da entrega." (Destaques acrescentados) E, no caso em tela, a segurada não realizou as reclamações no prazo de 10 dias, uma vez que a avaria alegada somente foi constatada quando a mercadoria chegou em Chicago e não quando do desembarque no porto de Nova York. Assim, diante da falta de protesto específico no prazo de 10 dias, uma vez que a vistoria somente foi realizada em 20 de março de 2007 (fl. 168), mas a mercadoria chegou em Nova York em janeiro de 2007, de rigor se reconhecer a decadência do direito da exportadora de reclamar da transportadora marítima qualquer prejuízo. E, assim, não sendo reconhecido o direito da empresa que contratou o transporte marítimo de reclamar qualquer direito, não há como se reconhecer o direito da sub-rogada, de forma que a ação deve ser julgada improcedente. Isto porque, é sabido que a responsabilidade da transportadora cessa com a entrega da mercadoria à entidade portuária, salvo se realizado o protesto tempestivo nos termos da lei, o que não ocorreu neste caso. Ante o exposto, julgo improcedente a presente ação que ROYAL & SUNALLIANCE SEGUROS (BRASIL) S/A ajuizou em face de HAMBURG SUD (...). (TJSP, Proc. 562.01.2008.028727-0, Juíza Alessandra Teixeira Miguel, 11ª Vara Cível de Santos/SP, j. 02/09/2011)

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f) Transporte Marítimo – Extravio de carga – Ausência de protesto em face do transportador – Decadência do direito de ação contra o transportador – Responsabilidade do operador portuário

17.20 TRANSPORTE MARÍTIMO – EXTRAVIO DE PARTE DA CARGA NO DESEMBARQUE – PAGAMENTO DA INDENIZAÇÃO DO SEGURO – DIREITO DE REGRESSO DA SEGURADORA – FALTA DA EMISSÃO DO CERTIFICADO PELA AUTORIDADE PORTUÁRIA – DECADÊNCIA EM RELAÇÃO AO TRANSPORTADOR – RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA OPERADORA PORTUÁRIA (Art. 11, II, da Lei nº 8.630/93.) A Lei nº 8.630/93, no seu artigo 11, II, estabelece que o operador portuário responde perante o proprietário ou consignatário da mercadoria pelas perdas e danos que ocorrerem durante as operações que realizar ou em decorrência delas. Em caso de extravio ou avaria da carga, o operador portuário responsável está obrigado a lavrar de imediato ou logo após o transbordo o certificado de reclamação denominado “Protesto”, sob pena de decadência do direito em relação ao transportador, consoante estabelece o artigo 754 e seu parágrafo único do Código Civil. Improvimento do recurso. (TJRJ, AC: 2009.001.39669, Des. José Geraldo Antonio, Sétima Câmara Cível, DJ: 24/07/2009) g) Transporte Marítimo – Descarga no exterior – Ausência de protesto

por vício na mercadoria entregue – Decadência do direito de ação contra o transportador

17.21 Apesar de a mercadoria ser entregue no exterior, a autora deveria comprovar que a notificação ou comunicação à transportadora não se deu por razões particulares defensáveis. Ou porque a segurada não a informou a tempo, ou porque a destinatária não soube do estado da mercadoria senão em determinada data, ou qualquer motivo que a impediu de conhecer das circunstâncias senão após o decurso do prazo decadencial. A autora, a destinatária ou mesmo a segurada no Brasil, simplesmente não reclamaram dos vícios dos produtos transportados no prazo de dez dias, como lhes incumbia, nos termos do art. 754, parágrafo único do Código Civil. Reza tal dispositivo legal: "Art. 754. As mercadorias devem ser entregues ao destinatário, ou a quem apresentar o conhecimento endossado, devendo aquele que as receber conferi-las e apresentar as reclamações que tiver, sob pena de decadência dos direitos. Parágrafo único. No caso de perda parcial ou de avaria não perceptível à primeira vista, o destinatário conserva a sua

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ação contra o transportador, desde que denuncie o dano em dez dias a contar da entrega." Se as regras internacionais quanto a protesto são diferentes das do Brasil, incumbia à autora demonstrá-las. Não parece razoável, outrossim, que, quaisquer que sejam as regras prevalecentes no país que recebeu a encomenda, a destinatária simplesmente silenciasse a respeito das condições das mercadorias. E, se o transporte foi adequado ou não, tal matéria não é sequer conhecida quando se proclama a decadência. Não indicando a apelante senão razões de direito que não impedem a ocorrência da decadência, e não demonstrando as regras internacionais vigentes no país em que se receberam as encomendas, o decreto de decadência era medida de rigor. As razões recursais, enfim, não abalaram os sólidos fundamentos da sentença reptada, que prevalece hígida. Posto isso, nega-se provimento ao recurso. (TJSP, Apelação Cível n° 7315422-2, Des. Rel. Melo Colombi, j. 18.02.2009)

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Por melhor e mais moderna que seja a embarcação e por mais experiente que seja sua tripulação, a natureza ainda consegue surpreender o homem, pois não existe tecnologia que preveja com absoluta precisão a possibilidade de mudança repentina das condições climáticas, tempestades, ventos e ondulações. Quiçá a proporção de ocorrência de um risco seja diminuída em razão da tecnologia moderna, mas certo é que este risco nunca é integralmente eliminado. Sejam as severas tempestades, dentro das mais elevadas forças previstas pela escala Beaufort, os furacões ou as chamadas ‘freak waves’ – ondulações raras e com surgimento inesperado no oceano, que podem atingir 30 metros de altura – tais fatos constituem os chamados ‘Acts of God’, hipóteses de caso fortuito que, seja pela sua ocorrência ou mesmo pelo grau de intensidade se mostram irresistíveis, imprevisíveis e inevitáveis, aptos a isentar a responsabilidade do transportador por dicção legal, especialmente quando o comandante do navio lograr demonstrar que os dados meteorológicos prévios não indicavam tais elementos e intensidade; e que uma vez identificada a situação, todas as cautelas devidas foram tomadas para remediar ou mitigar danos, com alteração de rumo e velocidade quando aconselhável.

a) Transporte Marítimo de carga – Perda de mercadoria – Tempestade

em grau de furacão – Caso fortuito – Ausência de responsabilidade do transportador

18.1 INDENIZAÇÃO – Perda da mercadoria por queda de bordo resultante de fortuna do mar – Ressarcimento securitário regressivo – Improcedência – Nulidade inocorrente do procedimento de ratificação do protesto marítimo – Causa excludente de responsabilidade (caso fortuito) bem delineada e comprovada nos autos – Negligência, imperícia ou imprudência na alocação e afixação dos contêineres derrubados ao mar não identificadas - Sentença mantida – Recurso improvido. (...) Deste modo, considerando que a

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embarcação que transportava as mercadorias seguradas pela apelante foi inesperada, invencível e abruptamente acometida por tempestade vultosa, qualificada como furacão, não há como responsabilizar a empresa apelada pelos prejuízos advindos de tal evento, posto que, inequivocamente, caracterizada a hipótese de caso fortuito. (...) Do extinto Primeiro Tribunal de Alçada Civil do Estado de São Paulo colaciona-se aresto em caso análogo, sintetizado in verbis: “TRANSPORTE MARÍTIMO – Sub-rogação – Inadmissibilidade – Avaria decorrente de caso fortuito – Prova de negligência do comandante do navio, inexistente – Hipótese em que o segurador deve tomar para si a fortuna e riscos do mar – Recurso não provido – Votos vencedor e vencido” (JTA-Lex 81/203-207, I TACSP-8ª Câmara, Rel. Juiz NEGREIROS PENTEADO) (...). (TJSP, Apelação nº 1070922-3, Relator Correia Lima, Data de Julgamento: 05/06/2007) 18.2 RESPONSABILIDADE CIVIL – Transporte marítimo – Regressiva de seguradora sub-rogada – Perda de carga em razão de caso fortuito (furacão) – Incidência dos arts. 102 do Código Comercial e 1.058 do Código Civil, excluindo a responsabilidade do transportador – Improcedência da ação em 1º grau – Apelação não provida. “(...) O caso fortuito restou devidamente comprovado, presentes os requisitos da necessariedade e da inevitabilidade. O primeiro conceituado como o acontecimento que impossibilita cumprimento da obrigação e, o segundo, como a inexistência de meios para evitar ou impedir os efeitos do evento extraordinário. (...) A previsibilidade, a que se apegam os apelantes, era dispensável, desde que “se surgiu como força indomável e inarredável, e obstou o cumprimento da obrigação, o devedor não responde pelo prejuízo (...)”. (TJSP, Apelação nº 604283-7, Relator Jorge Farah, 1º Tribunal De Alçada Civil, j. 31/07/93) 18.3 RESPONSABILIDADE CIVIL – Transporte marítimo – Regressiva da seguradora sub-rogada – Mercadoria Avariada em razão de caso fortuito (furacão) – Incidência do artigo 102 do Código Comercial e artigo 1.058 do Código Civil, excluindo a responsabilidade do transportador – Recurso desprovido, confirmando a improcedência da demanda. (...) Embora seja de conhecimento geral a ocorrência de “tufões” na área em questão, inclusive os boletins meteorológicos indicavam a existência de dois novos tufões

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“ORCHIO” e “PAT”, no Pacífico Ocidental, dias antes do início da viagem do navio N/M “FROTARIO”, não se pode, a rigor, afirmar que houve imprudência do Comandante (...) em virtude de que o “risco” assumido pelo Capitão do navio N/M “FROTARIO” considera-se normal e razoável. Assim, (...) os serviços meteorológicos, apesar dos progressos tecnológicos com utilização de satélites meteorológicos e super computadores na análise e previsão dos fenômenos meteorológicos, os furacões continuam sendo um desafio aos cientistas e aos serviços meteorológicos, não tem condições de prever o nascimento e evolução dos furacões; (...) Se os próprios “serviços meteorológicos” não tem condições de fazer previsões sobre os “furacões”, imagine o solitário Comandante do navio que possui instrumentos simples e menores, evidentemente, não tem condições de prever e avaliar qualquer furacão. (...) Considera-se, pois, o tufão “ORCHIO” na situação, como caso “FORTUITO”, nos termos do artigo 102 do Código Comercial e artigo 1.058 do Código Civil. (...) Ensina o Professor Washington de Barros Monteiro que “Para que se configure o caso fortuito, ou força maior, exigem-se os elementos seguintes: (a) o fato deve ser necessário, não determinando por culpa do devedor; (b) o fato deve ser superveniente e inevitável; (c) finalmente, o fato deve ser irresistível, fora do alcance do poder humano.” (...) Elucida o saudoso e insuperável Pontes de Miranda que “excluem-se do âmbito da responsabilidade os danos provocados por fatos naturais (tempestades, naufrágios, terremotos, inundações, incêndios desencadeados por raios, etc.) e os causados imediatamente pelo homem, mas impelidos por forças naturais invencíveis (pessoa ou veículo irresistivelmente projetados por força do vento, da vaga marítima, de uma explosão ou descarga elétrica, da deslocação do ar que o arranque do avião provoca, etc.)” (...) Inobstante vigorar o entendimento de que o transportador marítimo tem responsabilidade objetiva quanto a obrigação de transportar e entregar as mercadorias intactas, o “caso fortuito” exclui, na situação, a responsabilidade da apelada. (...) (TJSP, AC 626965-8, Relator Paulo Hatanaka, 1º Tribunal De Alçada Civil, j. 31/10/95) 18.4 Ação de indenização proposta contra empresa de navegação por danos causados à carga transportada. Comprovado que o fato ocorreu em virtude de violento temporal e não demonstrada a alegação da autora de que houve má estiva, confirma-se a sentença que julgou improcedente a ação sob a excludente de caso fortuito.

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(TAC/RJ, Apelação Cível nº 78.126, Relator Juiz Narciso Pinto, 3ª Câmara Cível, Data de Julgamento: 02/09/82) 18.5 Transporte de mercadorias — via marítima — avaria particular — ocorrência de borrasca no decorrer da viagem — fato que equivale a caso fortuito ou força maior — responsabilidade do transportador afastada — inteligência do art. 766 do c. Comercial — declaração de voto. A tempestade ocorrida no transcurso da viagem isenta o transportador marítimo de responsabilidade por avarias, vez que tal evento equivale a força maior ou caso fortuito. (1º TAC/SP, Ap. Sumária nº 432.903-1, Rel. Juiz Renato Takiguthi, 7ª Câmara Cível, Data de Julgamento: 24/04/90) 18.6 TRANSPORTE MARÍTIMO. ISENÇÃO DECORRENTE DA FORTUNA DO MAR. Confirmando o Diário de Bordo, na forma do artigo 505 do Código Comercial, com a perda no mar de oitenta por cento da carga no convés, e positivado o caso fortuito, não pode ser considerado negligente o transportador, segundo o artigo 104 do Código Comercial. (1º TACSP, Apelação nº 276649, Relator Juiz Fonseca Tavares, 3ª Câmara, Data de Julgamento: 11/03/81) 18.7 TRANSPORTE MARÍTIMO. CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS ADVERSAS. EXONERAÇÃO DO TRANSPORTADOR. O transportador não responde pelos prejuízos decorrentes de caso fortuito ou força maior. (1º TA/RJ, Apelação nº 69519, Relator Juiz Martinho Campos, 8ª Câmara, Data de Julgamento: 02/03/82) b) Transporte Marítimo de carga – Perda de mercadoria no mar –

Tempestade de força 11 na escala Beaufort – Caso fortuito – Ausência de responsabilidade do transportador

18.8 Ação Regressiva de Ressarcimento de Danos, pelo rito sumaríssimo, que Porto Seguro – Companhia de Seguros Gerais move contra Pro Line Limited & Co., decorrente do extravio de mercadoria transportada no navio

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de propriedade da ré, acobertada pela Apólice de Seguros nº 22.01.017.473. (...) Em sua análise de mérito, o MM. Juiz (...) da 2ª Vara Cível da Comarca de Santos, primeiramente distinguiu o caso fortuito da força maior, conceituando o primeiro como um acontecimento natural, derivado das forças da natureza – nele se enquadrando uma inundação, um raio, um terremoto, um temporal – e, a segunda, como a ocorrência em que há um elemento humano na criação do evento, abrangida aí uma revolução, um roubo, um assalto, a ação das autoridades. E, caracterizando a existência de caso fortuito na questão “sub judice”, ponderou (fls. 137/130) que: “A transportadora-ré comprovou que o navio “Pro Atlantica” enfrentou mar tempestuoso no Atlântico Norte, perdendo parte da carga que deveria ser entregue à segurada da autora. O comandante da embarcação lavrou protesto a bordo e este foi ratificado, judicialmente, no primeiro porto alcançado após a tempestade. Pelo protesto lavrado, constatamos que o navio em tela enfrentou tempestade durante sete dias aproximadamente, ficando o mar tempestuoso, com ventos sudoeste de força 11 e mar de força 11 na escala Beaufort. As vagas chegaram de 10 a 12 metros de altura. A força do mar “varreu” o convés, e, entre outros estragos, provocou a queda e perdimento de parte da mercadoria transportada. Isso tudo está comprovado pelos documentos acostados pela ré, cuja força probante não foi afastada pelos argumentos da autora, pois o caso fortuito existiu. (...) A reforçar à exclusão de culpabilidade da transportadora, encontra-se, nas suas contra-razões, a seguinte ementa do venerando acórdão da C. Sétima Câmara deste E. Tribunal, nos autos da Apelação nº 432.903-1, relator o eminente Juiz Renato Takiguthi (RT 654/123): “Transporte marítimo – Avaria – Indenização – Ação Regressiva – Seguradora – Borrasca em alto mar – Ventos de velocidade de cento e dez quilômetros por hora (força 11 na Escala de Beaufort) – Acontecimento inevitável – Caso fortuito ou de força maior – Não responsabilidade da transportadora – Ação improcedente” (fls. 153/154). Por todo o exposto, é de ser mantida a r. sentença impugnada, aplicando-se o art. 102 do Código Comercial, que manda correrem por conta e risco dos proprietários dos bens transportados os prejuízos decorrentes de caso fortuito ou força maior onde o transportador comprovou o sinistro, pela lavratura do protesto acostado aos autos (...). (TJSP, Apelação nº 535219-8, Relator Carlos Alberto Hernández, 1º Tribunal De Alçada Civil, Data de Julgamento: 02/03/94)

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c) Transporte Marítimo – Perda de contêineres – Temporal com força 8 na escala Beaufort – Caso fortuito – Ausência de responsabilidade do transportador

18.9 TRANSPORTE MARITIMO. PERDA DA CARGA. SUB-ROGAÇÃO DA SEGURADORA. TEMPORAL. CASO FORTUITO. Entendido que enfrentando o navio imprevisto temporal com forca 8 e 9 (escala de Beaufort) na costa alemã com balanço e adernamento de cerca de 32 graus, submetido o porta-container a rajadas na escala 9 e 10, provado mais que a Metereologia germânica subestimou a possibilidade da borrasca que sobre a nau se abateu, justifica-se a sua derrota com a perda de alguns containers como caso fortuito ou a chamada fortuna do mar que desobriga o armador de indenizar o segurador que pagou o prejuízo pela perda da carga segurada porque imprevisível e intempérie que se abateu sobre a nau no meio do seu curso. (Tribunal de Alçada Cível SP, Apelação Cível nº 1993.001.11052, Relator: Rudi Loewenkron, 2ª Câmara, Data de Julgamento: 02/12/93) d) Transporte Marítimo – Atraso – Hipótese equiparada a caso fortuito –

Exclusão de responsabilidade do transportador 18.10 Apelação cível - ação de indenização por danos morais - transporte marítimo - atraso ao destino designado - responsabilidade civil - hipóteses de exclusão. Caso fortuito ou força maior. 1. A empresa prestadora de serviços de transportes marítimos não pode ser responsabilizada se o fato ocorrera de forma alheia a sua vontade. 2. Defeito oriundo de fatos naturais e extremamente corriqueiros desta atividade comercial. 3. Não caracterização da culpabilidade da empresa prestadora do serviço. (TJPA, AC: 2004300-24302, Relator: Maria Rita Lima Xavier, Data de Publicação: 27/09/2004) e) Transporte Marítimo – Extravio de carga decorrente de naufrágio –

Caso fortuito – Exclusão de responsabilidade do transportador 18.11 CIVL. PROCESSO CIVIL. APELAÇÃO. AÇÃO INDENIZATÓRIA. DIREITO DE REGRESO EM CONTRATO DE SEGURO. EXTRAVIO DE CARGA. NAUFRÁGIO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA TRANSPORTADORA. EXCLUDENTE. FORÇA MAIOR. COMPROVADA. INDENIZAÇÃO NÃO DEVIDA. RECURSO NÃO

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PROVIDO.1. Embora responsabilidade do transportadora seja objetiva, esta não responderá pelos prejuízos causados à mercadoria, sempre que comprovada ocorrência de motivo de força maior.2. Não identificada a responsabilidade do transportador em razão do naufrágio decore de caso fortuito, o transportador exime-se tanto de entrega-la no destino, quanto de ressarcir eventual prejuízo.3. Apelação conhecida e não provida. (TJAM, Apelação Cível nº 2011.000423-9, Relator: Des. Maria Das Graças Pessôa Figueiredo, 2ª Câmara Cível, Data de Publicação: 25/04/11) f) Transporte Marítimo – Contêiner com defeitos imperceptíveis –

Irresistibilidade equiparada a caso fortuito – Exclusão de responsabilidade do transportador

18.12 TRANSPORTE MARÍTIMO - Contêiner com defeitos imperceptíveis, não detectados sequer por teste de luz, a permitir inundação - Imprevisibilidade e irresistibilidade manifestos, equiparáveis ao caso fortuito ou de força maior - Responsabilidade objetiva do transportador que não alcança essa situação fático-jurídica - Ação regressiva de seguradora desacolhida no primeiro grau - Apelo improvido. (TJSP, APL: 990102574040, Relator: Silveira Paulilo, 21ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 18/08/2010) g) Força Maior – Risco do seguro 18.13 TRANSPORTE MARÍTIMO – Sub-rogação – Inadmissibilidade – Avaria decorrente de caso fortuito – Prova da negligência do comandante do navio, inexistente – HIPÓTESE QUE O SEGURADOR DEVE TOMAR PARA SI A FORTUNA E OS RISCOS DO MAR. (1º TACiv SP, 8ª Câmara, Rel. Negreiros Penteado, JTS-Lex 81/203) h) Caso fortuito – Matéria fática e probatória - Súmulas 5 e 7 STJ 18.14 DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL DO TRANSPORTADOR. OCORRÊNCIA DE FORÇA MAIOR. EXCLUSÃO. AÇÃO DE REGRESSO DA

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SEGURADORA CONTRA O TRANSPORTADOR. INVIABILIDADE. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. ÓBICE DAS SÚMULAS N. 5 E 7 DO STJ. DECISÃO MANTIDA. 1. A responsabilidade do transportador é objetiva, nos termos do art. 750 do CC/2002, podendo ser elidida tão somente pela ocorrência de força maior ou fortuito externo, isto é, estranho à organização da atividade. 2. O recurso especial não comporta o exame de questões que impliquem revolvimento do contexto fático-probatório dos autos, a teor do que dispõe a Súmula n. 7/STJ. 3. No caso, o Tribunal de origem, com base na prova dos autos, concluiu que o naufrágio da embarcação e o extravio da mercadoria transportada se deu em virtude da ocorrência de caso fortuito, alheio à esfera de previsibilidade do comandante da embarcação. Alterar tal entendimento é inviável em recurso especial. 4. Agravo regimental a que se nega provimento. (STJ, AgRg no REsp: 1285015 AM, Relator: Ministro Antonio Carlos Ferreira, Quarta Turma, DJe 18/06/2013) 18.15 Transporte maritimo em "container". Caso fortuito. Precedentes da corte. Prequestionamento. 1. Quando o acordão confina-se a prova da ocorrencia do caso fortuito, ausentes os declaratorios, fica baldio o prequestionamento, o que inviabiliza o especial. 2. De todos os modos, não nega vigencia aos arts. 10, par. Único, e 20 da lei 6.288/1975, a decisão que considera provado o caso fortuito para exonerar a transportadora da responsabilidade, diante da regra do art. 1.058 do cc, sendo certo que a ocorrencia da excludente de responsabilidade provada nas instancias ordinarias compatibiliza a decisão com os precedentes da corte. 3. Recurso especial não conhecido. (STJ, REsp: 70393 RJ, Relator: Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, Terceira Turma, Data de Julgamento: 10/03/1997) i) Tribunal Marítimo – Abalroação entre embarcações – Marola – Caso

fortuito 18.16 MOTOS AQUÁTICAS “BIRIBA” E “LIDER”. ABALROAÇÃO, SEM DANOS MATERIAIS. EQUIPARADO AOS CASOS CUJAS CIRCUNSTÂNCIAS DETERMINANTES NÃO PUDERAM SER APURADAS COM A DEVIDA PRECISÃO, MAS COM INDÍCIOS DE CASO FORTUITO. NÃO RECEBER A REPRESENTAÇÃO

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DA D. PROCURADORIA ESPECIAL DA MARINHA. INFRAÇÃO AO RLESTA. ARQUIVAMENTO. Os Peritos apresentaram a seguinte sequência de acontecimentos: no dia 09 de julho de 2011, o senhor Vinicius e o senhor Bertoldo colocaram as respectivas embarcações na água para passeio. Fizeram manobras o que acabou provocando pequenas marolas e o posterior choque entre as embarcações. Os Peritos consideraram que o fator operacional contribuiu, ao realizar manobras próximas um do outro, provocando o agito da água e o choque entre as embarcações. No Relatório, fls. 40 a 42, o Encarregado do IAFN concluiu que ocorreu um acontecimento possível, mas estranho à ação e à vontade humana, caracterizando um caso fortuito, razão pela qual não apontou possíveis responsáveis. (TM, Juiz Relator Fernando Alves Ladeiras, j. 31/07/2015) 18.17 Abalroamento. Caso Fortuito. Arquivamento. ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à natureza e extensão do acidente: abalroação entre embarcações: b) quanto à causa determinante: força de marola que provocou o embate ligeiro de embarcações atracadas próximas umas das outras; c) decisão: mandar arquivar o inquérito” (TM, Juíza Vera Lucia De Souza Coutinho, j. 22/12/1987) j) Tribunal Marítimo – Naufrágio – Mudança brusca das condições

climáticas – Caso fortuito 18.18 L/M “BIQUARA”. NAUFRÁGIO DA EMBARCAÇÃO EM DECORRÊNCIA DO EMBARQUE DE GRANDE QUANTIDADE DE ÁGUA QUANDO A MESMA SE ENCONTRAVA FUNDEADA. CONDIÇÃO CLIMÁTICA ADVERSA. FORÇA MAIOR. ARQUIVAMENTO. Os peritos asseveraram que não houve falha no sistema de esgoto da embarcação e concluíram que a causa determinante do acidente foi a entrada excessiva de água em virtude das condições meteorológicas no dia do evento, o qual provocou ressaca no mar e por via de consequência provocou o naufrágio da lancha. Os peritos consignaram ainda que as condições meteorológicas do dia do sinistro eram de: “Pancadas moderadas no noroeste da área. Vento SW/SE com intensidade de 04 a 10 nós escala Beaufort junto à costa e SE/E com intensidade de 11 a 21 nós escala Beaufort passando 7 a 16 nós com rajadas no restante da área. Ondas de S/SE com

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amplitude 1,5m a 2,5m. Visibilidade boa, ocasionalmente moderada durante as pancadas. Emitido às 1500 – SAB -10/MAI/2014. Ressaca entre Salvador (BA) e Maceió (AL) a partir de 120000. Ondas de S/SE 2.5 válido até 130900”. Assiste razão a PEM e os autos devem ser arquivados. Diante dos elementos contidos no IAFN, conclui-se que o evento em tela decorreu de fortuna do mar, não havendo, portanto, responsáveis a apontar pelo sinistro. (TM, Juiz Relator Nelson Cavalvante Silva Filho, j. 09/06/2016) 18.19 Bote/baleeira "GORDELA". Emborcamento de bote/baleeira seguido de naufrágio, provocando a morte de um dos tripulantes. Ação de fortes ondas devido a mudança brusca nas condições de tempo. Fortuna do mar. Arquivamento. Vistos os presentes autos.(...) No relatório, o encarregado do inquérito concluiu que o fator que contribuiu para o acidente foi o mau tempo quando do acesso ao corpo central do rio Tietê, sendo que a equipe foi surpreendida por forte temporal, o que impossibilitou o sucesso de qualquer ação da equipe no sentido de evitar o acidente ocorrido e que o fato ocorrido caracteriza-se por fortuna do mar, em razão de ter ocorrido fenômeno natural de caráter excepcional, inevitável e irresistível. Assim, A C O R D A M os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à natureza e extensão do acidente: emborcamento de bote/baleeira seguido de naufrágio, provocando a morte de um dos tripulantes; B) QUANTO À CAUSA DETERMINANTE: AÇÃO DE FORTES ONDAS DEVIDO A MUDANÇA BRUSCA NAS CONDIÇÕES DE TEMPO; c) decisão: julgar o acidente da navegação, previsto no art.14, letra "a", da Lei nº 2.180/54, como decorrente de fortuna do mar, mandando arquivar o inquérito, conforme promoção da PEM. P.C.R. (TM, Juiz Relator Sergio Cezar Bokel, j. 25/08/2005) 18.20 Naufrágio de barco de pesca, posteriormente recuperado, resultando danos materiais, uma vítima fatal, por afogamento, e um desaparecido, sem registro de poluição ao meio ambiente. Caso fortuito. Infração ao RLESTA, contratar tripulantes não habilitados, cometida pelo proprietário da embarcação. Arquivamento. (...) A Douta Procuradoria, fls. 55 e 56, acompanhando o encarregado do inquérito, considerou que os fatos narrados devem ser capitulados no art. 14, letra "a" (naufrágio) e no art. 15, letra "e" (todos os fatos,...), ambos da Lei n.o. 2.180/54, tendo em vista que a embarcação foi colhida por grandes e repentinas vagas e por fortes ventos

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que fizeram a embarcação emborcar e naufragar, caracterizando um caso fortuito, fortuna do mar, pelo que requereu o arquivamento dos autos.(...) A C O R D A M os Juizes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à natureza e extensão do acidente da navegação: naufrágio de barco de pesca, posteriormente recuperado, com danos materiais, uma vítima fatal, menor, morto por afogamento, e outra, maior, desaparecida, sem registro de poluição ao meio ambiente; b) quanto à causa determinante: fortuna do mar; c) decisão: julgar o acidente da navegação, tipificado no art. 14, letra "a" (naufrágio), da Lei nº 2.180/54, como decorrente de grandes e repentinas vagas e fortes ventos que se formaram, levando a embarcação a emborcar e naufragar, caracterizando um caso fortuito, mandando arquivar os autos, conforme promoção da Douta Procuradoria. Oficiar à Diretoria de Portos e Costa a infração ao art. 11, do RLESTA, (contratar tripulantes não habilitados) cometida pelo proprietário da embarcação. (TM, Juiz Relator Fernando Alves Ladeiras, j. em 6/12/2005)

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O roubo e o furto de carga constituem fatos de terceiro desconexos ao contrato de transporte. Uma vez verificado que o transportador não se desviou das cautelas e precauções a que está obrigado, tais situações configuram fortuito externo, desfazendo o nexo de causalidade e afastando a responsabilidade do transportador.

a) Transporte de Carga – Furto de mercadoria – Ausência de

responsabilidade da transportadora

19.1 Responsabilidade civil. Transporte. Furto de mercadoria. Ato de terceiro. Inexistencia de conexidade. Ausencia do dever do ressarcir não ha que se falar em responsabilidade da transportadora, eis que o ato lesivo fora praticado por terceiro e não guarda conexidade com o transporte em si. Demais disso, a prevenção contra eventos danosos como o furto de mercadoria transportada por via terrestre e incumbencia da autoridade pública competente, que tem o poder de policia. Recurso não conhecido. (STJ, REsp: 38891 SP 1993/0026053-7, Relator: Ministro Claudio Santos, Terceira Turma, Data de Publicação: 28/03/1994) b) Transporte de Carga – Roubo – Força maior – Ausência de

responsabilidade da transportadora 19.2 AÇÃO REGRESSIVA – SEGURO – CONTRATO DE TRANSPORTE – Roubo de Carga com emprego de arma de fogo – Ausência de culpa da transportadora – Ocorrência de força maior – Precedentes do STJ e desta Corte – Sentença de improcedência mantida – Recurso desprovido. (TJSP, 0000396-77.2015.8.26.0219, Des. Relator Jacob Valente, 12ª Câmara de Direito Privado, j. 25/07/2016)

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19.3 Transporte de mercadoria. Roubo da carga durante o trajeto do veículo. Responsabilidade do transportador. Força maior. A presunção de culpa do transportador pode ser elidida pela prova da ocorrencia de força maior (decreto n. 2.681/912, art. 1. par.1.). - o roubo da mercadoria em trânsito, uma vez comprovado que o transportador não se desviou das cautelas e precauções a que esta obrigado, configura força maior, suscetivel, portanto, de excluir a responsabilidade, nos termos da regra juridica acima referida. - Recurso não conhecido. (STJ, REsp: 43756 SP 1994/0003360-5, Relator: Ministro Antonio Torreão Braz, Quarta Turma, Data de Julgamento: 13/06/1994) 19.4 CIVIL. INDENIZAÇÃO. TRANSPORTADORA. ROUBO DE CARGA. FORÇA MAIOR. - O roubo de carga durante o transporte constitui força maior a isentar de responsabilidade a transportadora. (STJ, AgRg no Ag 686845, Relator: Ministro Humberto Gomes De Barros, Terceira Turma, Data de Julgamento: 03/10/2006) 19.5 AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. ARTS. 159 E 1.521 DO CÓDIGO CIVIL DE 1916. ENUNCIADO N. 7/STJ. ROUBO DE CARGA. EVENTO DE FORÇA MAIOR. PRECEDENTES. O recurso especial não se presta à reapreciação do suporte fático-probatório da causa, a teor do enunciado n. 7 da Súmula deste Pretório. A jurisprudência desta Corte é assente quanto ao entendimento de que o roubo de carga durante o transporte constitui evento de força maior, excluindo, por conseqüência, a responsabilidade da transportadora. Precedentes. Subsistentes os fundamentos do decisório agravado, nega-se provimento ao agravo. (STJ, AgRg no REsp 703866, Relator: Ministro Cesar Asfor Rocha, Quarta Turma, Data de Julgamento: 13/09/2005) 19.6 Processual civil e civil. Agravo nos embargos no recurso especial. Embargos de declaração. Omissão. Inexistência. Transporte de mercadoria. Roubo. Responsabilidade da transportadora. - O roubo de mercadoria transportada, praticado mediante ameaça exercida com arma de fogo, é fato desconexo ao contrato de transporte, e, sendo inevitável, diante das cautelas exigíveis da transportadora, constitui-se em caso fortuito ou força maior,

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excluindo-se a responsabilidade desta pelos danos causados ao dono da mercadoria. Agravo não provido. (STJ, AgRg nos EDcl no REsp: 772620 MG 2005/0131869-0, Relator: Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, Data de Publicação: 19/12/2005) 19.7 RESPONSABILIDADE CIVIL. TRANSPORTE DE MERCADORIA. ROUBO. FORÇA MAIOR. AÇÃO REGRESSIVA PROPOSTA PELA SEGURADORA. - O roubo da mercadoria em trânsito, uma vez evidenciado que o transportador tomou as precauções e cautelas a que se acha obrigado, configura força maior, suscetível de excluir a sua responsabilidade. Precedentes do STJ. Recurso especial conhecido e provido. (STJ, REsp: 329931 SP 2001/0066829-1, Relator: Ministro Barros Monteiro, Quarta Turma, Data de Publicação: 17/02/2003) 19.8 Perdas e Danos - Transporte de Carga - Roubo - Fortuito Externo - Responsabilidade do Transportador - Ausência - O roubo de cargas configura fortuito externo, não guardando conexidade com o transporte. Sua ocorrência desfaz o nexo de causalidade, isentando o transportador de qualquer responsabilidade. (...) (TJRJ, AC 2004.001.15367, Des. Jair Pontes De Almeida, 4ª Câmara Cível, j. 02/02/2005) 19.9 Apelação - Ação regressiva de ressarcimento, proposta por companhia seguradora contra o transportador de mercadorias seguradas - No transporte de mercadorias o roubo da carga durante o trajeto do veículo não gera responsabilidade do transportador - Ocorrência de força maior Desprovimento do recurso. (TJRJ, AC 2004.001.14353, Des. Marianna Pereira Nunes, 13ª Câmara Cível, j. 29/09/04) 19.10 Responsabilidade civil. Processual Civil. Apelação liminarmente denegada. Agravo do art. 557 do CPC. Seguro. Ação de regresso. Pode e deve o Relator, sempre que o recurso se mostrar manifestamente improcedente,

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negar-lhe seguimento, sem que isso importe quebra do princípio do devido processo legal. O roubo de carga durante o trajeto do veículo constitui força maior, a excluir a responsabilidade objetiva do transportador. Precedentes do STJ. Recurso desprovido. (TJRJ, AC 2001.001.22640, Des. Nametala Machado Jorge, 13ª Câmara Cível, j.: 13/12/01) 19.11 CIVIL - RESPONSABILIDADE CIVIL - TRANSPORTE DE MERCADORIAS - ASSALTO - FATO DE TERCEIRO - ART. 14, § 3º DO CDC. I - Segundo jurisprudência desta Corte assalto ou roubo constitui força maior excludente da responsabilidade do transportador pela perda das mercadorias. II - Aplicável, ao caso, o § 3º do art. 14 do Código de Defesa do Consumidor. III - O seguro a que está obrigado o transportador, referido no art. 10 do Decreto 61.867/67, é de responsabilidade civil e garante o reembolso dos valores que a empresa for obrigada a desembolsar, quando desobedecer ao contratado, por sua culpa. IV - Recurso não conhecido. (STJ, REsp: 164155 RJ, Relator: Ministro Waldemar Zveiter, Terceira Turma, Data de Publicação: 03/05/1999) 19.12 CIVIL. AÇÃO INDENIZATÓRIA REGRESSIVA. TRANSPORTE DE CARGA. ROUBO DE MERCADORIAS. FORÇA MAIOR. ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE. I. O entendimento recentemente uniformizado na Colenda 2ª Seção do STJ é no sentido de que constitui motivo de força maior, a isentar de responsabilidade a transportadora, o roubo da carga sob sua guarda (REsp n. 435.865 - RJ, Rel. Min. Barros Monteiro, por maioria, julgado em 09.10.2002). II. Ressalva do ponto de vista do relator. III. Recurso especial não conhecido. (STJ, Resp 433738, Ministro Aldir Passarinho Junior, 4ª TURMA, j. 12/11/2002)

c) Transporte de Carga – Roubo – Direito de regresso da seguradora

desde que demonstrada culpa ou dolo da transportadora 19.13 RESPONSABILIDADE CIVIL. Transporte. Assalto. Seguradora. Ação de ressarcimento. A seguradora que indeniza o proprietário da carga roubada tem ação regressiva contra a transportadora, mas deverá demonstrar que

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esta agiu com dolo ou culpa, concorrendo para o fato. Sem isso, sua ação é improcedente. Recurso conhecido e provido. (STJ, REsp: 416353 SP 2002/0022060-2, Relator: Ministro Ruy Rosado De Aguiar, Quarta Turma, Data de Publicação: 12/08/2003) 19.14 Ação de regresso de seguradora em face de transportadora em razão de pagamento de seguro de carga roubada. Em regra a seguradora tem ação regressiva contra o causador do dano, pelo que efetivamente pagou, até o limite previsto no contrato de seguro. (Súmula 188 do Supremo Tribunal Federal). O transportador que teve a carga roubada não pode ser considerado "causador do dano" na ação de reembolso da seguradora. É assente a jurisprudência do E. STJ no sentido de que no transporte de mercadoria o roubo da carga durante o trajeto do veículo não gera responsabilidade do transportador, em razão da força maior que se sobrepõe. A presunção de culpa do transportador pode ser elidida pela prova da ocorrência de força maior (Decreto n. 2.681/1912, art. 1º, par. 1º ). O roubo da mercadoria em trânsito, uma vez comprovado que o transportador não se desviou das cautelas e precauções a que está obrigado, configura força maior, suscetível, portanto, de excluir a responsabilidade, nos termos da regra jurídica acima referida. Apelo desprovido. (TJRJ, Apelação nº 1999.001.08515, Des. Luiz Fux, 10ª Câmara Cível, j. 06/02/01) 19.15 RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. TRANSPORTE DE MERCADORIA. ROUBO COM USO DE ARMA DE FOGO. FORÇA MAIOR. AÇÃO REGRESSIVA PROPOSTA PELA SEGURADORA. 1. O seguro a que está obrigado o transportador, constante do artigo10 do Decreto nº 61.867/67, é de responsabilidade civil e garante o reembolso dos valores que a empresa for obrigada a desembolsar, quando descumprir o contratado, por sua culpa. Não engloba, portanto, a obrigação de o transportador contratar seguro para cobrir caso fortuito ou força maior. 2. Na linha de precedentes da corte, na ação regressiva não cabe ao segurador provar a culpa do causador do dano, sendo da responsabilidade do transportador provar que os danos decorrem de vicio próprio da mercadoria, força maior ou caso fortuito. 3. Segundo entendimento consolidado nesta Corte, o roubo de carga constitui força maior, suficiente para excluir a responsabilidade da transportadora perante a seguradora do proprietário da mercadoria transportada. Improcedência da

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ação regressiva de ressarcimento de danos. Precedentes. 4. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, parcialmente provido. (STJ, Resp 663.356, Relator: Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, Data de Julgamento: 19/08/2010) 19.16 RESPONSABILIDADE CIVIL. Transporte de mercadorias. Roubo ou assalto. Seguradora. Na relação entre a seguradora da mercadoria e a transportadora, esta não responde pelo dano decorrente do roubo da carga segurada, salvo se concorreu para o fato com dolo ou culpa. Exame dos precedentes. Recurso conhecido em parte e nessa parte provido, para restabelecer a sentença de improcedência da ação promovida pela seguradora contra a transportadora. (STJ, REsp: 278524 MG, Ministro Ruy Rosado De Aguiar, 4ª Turma, j. 12/06/2001)

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O transporte de cargas a granel, por sua própria natureza, está suscetível a maiores riscos do que o transporte de cargas embaladas, ensacadas ou containerizadas. A cada movimento ou deslocamento a que é exposta a carga, dentro da cadeia logística que pode incluir modais ferroviários, rodoviários, marítimo, armazenagem no porto, entre outros, é inevitável que ocorram perdas de mercadoria. Esta perda, típica da própria natureza da carga transportada a granel, é considerada uma ‘quebra natural’, que pode advir tanto da movimentação das cargas, como também das alterações físicas que os produtos podem vir a sofrer em decorrência de fatores como variação na temperatura entre o porto de embarque e o porto de desembarque, umidade e massa corpórea da carga, características químicas e fisiológicas do produto, entre outros. Portanto, no transporte de cargas a granel é natural que ocorram perdas, quebras estas já reconhecidas pela Jurisprudência e pelas autoridades fiscais e aduaneiras como causa de isenção de responsabilidade do transportador, desde que, logicamente, dentro de um patamar razoável. Parece equivocado pretender-se fixar um percentual absoluto para se estabelecer uma regra geral de qual a quantidade ideal de perda que se enquadraria dentro do contexto de quebra natural. Percentuais de 0,6%, 1%, 2% ou 5% são ordinariamente debatidos na seara administrativa, no âmbito das coberturas securitárias ou nas lides forenses, havendo divergência de entendimento inclusive entre os tribunais dos estados onde se movimenta mais ou menos volume de carga a granel. No entanto, fato é que cada tipo de carga, cada tipo de transporte e, principalmente, cada forma de pesagem – seja por ‘draught survey’, seja pesagem em terra, caminhão por caminhão, balanças particulares dos terminais, etc. – influencia em condições mais, ou menos, propícias à ocorrência de uma quebra. Somente uma análise técnica da carga específica e do tipo de transporte e pesagem realizada

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caso a caso pode indicar qual seria um patamar razoável de perda durante aquele determinado transporte para, somente assim, poder-se definir se haveria alguma responsabilidade do transportador em indenizar o percentual que exceder o limite da quebra natural.

a) Transporte de carga a granel – Pesagem em terra x draft survey 20.1 AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE NULIDADE DE REMARQUE. PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DA TUTELA. INDEFERIMENTO.CONTRATO DE EXPORTAÇÃO. TRANSPORTE DE MERCADORIAS. DIFERENÇA DE PESO ENTRE AS BALANÇAS DE TERRA E AS OBSERVAÇÕES DA ARQUEAÇÃO DO CALADO (DRAFT SURVEY). RECURSO DESPROVIDO. DECISÃO MANTIDA. 1. É de se destacar de início, como bem colocou o eminente Juiz relator Luiz Antonio Barry, Relator quando do julgamento do agravo de instrumento n. 232645-0, ao analisar matéria idêntica a dos autos, a impossibilidade de se "retirar, de um documento oficial, as anotações efetuadas pelo comandante da embarcação, que detém poderes para tanto, o fazendo conforme parâmetros definidos pelo método de observação da arqueação do calado ( draft survey)." Ademais, não se pode olvidar que pelo contrato padrão de exportação ANEC 41, o peso aferido em terra, vincula apenas as partes envolvidas na compra e venda (exportadora e importadora), não tendo qualquer participação o transportador marítimo naquela relação jurídica material. Cabe suscitar, ainda, que não há qualquer regra determinando que o peso aferido em terra deva prevalecer sobre a medição realizada por meio de "draft survey", sendo que o comandante do navio transportador, caso verifique, deve lançar observações sobre a diferença ou falta de mercadoria, sob pena de ser responsabilizado pela falta de carga. 2. Por outro norte, a alegada ausência de oportunidade de fazer a contraprova, conforme prevê o art. 582 do Código Comercial, não restou isenta de dúvidas, pelo contrário, visto que a agravada sustentou que a aferição da diferença se deu na presença da empresa controladora Inspectors, em nome e por conta da agravante, e dos demais exportadores, juntando inclusive declaração do diretor da empresa Linkmilla Services Ltda, corroborando tal assertiva (fl.140-TA), sendo que a agravante mesmo intimada para se manifestar sobre os documentos juntados pela recorrida, silenciou, o que torna a matéria, no mínimo, controversa. 3. Por fim, não merece guarida a afirmação da recorrente, pela qual sem o conhecimento de embarque limpo não poderá receber o valor da exportação. A exigência de embarque limpo é condição

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para pagamento integral, (nos termos da cláusula 11 do contrato padrão ANEC 41), o que não impede o recebimento relativo a mercadoria incontroversa, afastando assim a lesão grave ou de difícil reparação, pressuposto também indispensável para antecipação da tutela. 4. Portanto, sendo insubsistentes os argumentos levantados pela recorrente para concessão da tutela antecipada, é de se negar provimento ao agravo de instrumento interposto, mantendo se a decisão guerreada. (TJPR, AI nº 2655456, Juiz Relator Macedo Pacheco, Décima Câmara Cível (extinto TA), julgado em 02/12/2004) 20.2 AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE NULIDADE DE REMARQUE EM RECIBO PROVISÓRIO DE CARGA - PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA - INDEFERIMENTO - CONTRATO DE EXPORTAÇÃO - TRANSPORTE DE MERCADORIAS - DIFERENÇA DE PESO ENTRE AS BALANÇAS DE TERRA E VISTORIA DOS CALADOS E ARQUEAÇÃO (DRAFT SURVEY) - RECURSO DESPROVIDO - DECISÃO MANTIDA. 1. É impossível se retirar, de um documento oficial, as anotações efetuadas pelo comandante da embarcação, que detém poderes para tanto, que as fez utilizando-se do método de observação da arqueação do calado (draft survey). 2. Necessário suscitar que não há qualquer regra determinando que o peso aferido em terra deva prevalecer sobre a medição realizada por meio de "draft survey", sendo que o comandante do navio transportador, caso verifique, deve lançar observações sobre a diferença ou falta de mercadoria, sob pena de ser responsabilizado pela falta de carga. 3. Não merece guarida a afirmação da recorrente, pela qual sem o conhecimento de embarque limpo, não poderá receber o valor da exportação. A exigência do conhecimento de embarque limpo é condição para pagamento integral, mas nada impede o recebimento relativo à mercadoria incontroversa, afastando, assim, a lesão grave ou de difícil reparação, pressuposto também indispensável para antecipação da tutela. 4. A alegada ausência de oportunidade de se realizar a contraprova, conforme previsto no art. 582 do Código Comercial, igualmente não merece guarida, pois a pesagem realizada pelo método "draft survey" era de conhecimento do carregador, fato que deveria levar a agravante a, imediatamente e quando o navio ainda se encontrava atracado, buscar uma nova contagem e não perseguir tal procedimento quando ele já havia zarpado, impossibilitando, assim, nova pesagem em terra. Deste modo, essa situação torna a matéria, no mínimo, controversa. 5. Portanto, sendo insubsistentes os argumentos levantados pela recorrente para concessão da

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tutela antecipada, é de se negar provimento ao agravo de instrumento interposto, mantendo-se a decisão guerreada. (TJPR, 19ª Câmara Cível, AI 267526-9, Des. Rel. Macedo Pacheco, DJe 29/04/2005) 20.3 APELAÇÃO CÍVEL. TRANSPORTE MARÍTIMO INTERNACIONAL. MERCADORIAS A GRANEL. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. ÔNUS DA PROVA. ART. 333, I, CPC. 1- Responsabilidade objetiva: é de matriz contratual e objetiva a responsabilidade do transportador, e de resultado (não de meio) a obrigação pactuada. 2- Prova das perdas: a pesagem e certificação da carga em terminal privado, de regra, não elidem a responsabilidade do transportador. Entretanto, no caso, a pesagem realizada no Terminal da Yara Fertilizantes, para aferição da carga desembarcada, não pode lastrear a pretensão autoral, pois aquele estava impedido, pelo Ministério da Fazenda, de servir como forma oficial de mensuração de mercadorias a granel importadas. Ônus de comprovar a efetiva perda no transporte que competia à demandante, pois fato constitutivo do seu direito. Ausente prova das perdas alegadas, improcede o pedido. Inteligência do art. 333, I, CPC. Apelo desprovido. (TJRS, AC Nº 70051733400, Rel. Umberto Guaspari Sudbrack, 12ª Câmara Cível, DJ 11/03/2013) 20.4 TRANSPORTE MARÍTIMO. POSSIBILIDADE DA ADOÇÃO DO MÉTODO "DRAFT SURVEY" DE PESAGEM DO MILHO A GRANEL EMBARCADO, COM EMISSÃO DO RESPECTIVO CONHECIMENTO PELO COMANDANTE DO NAVIO, COM RESSALVAS QUANTO À QUEBRA DA MERCADORIA, DESDE QUE POSSÍVEL NOVA CONTAGEM A PEDIDO DO EMBARCADOR, EM OBSERVÂNCIA AO ART. 582 DO CÓDIGO COMERCIAL. OBRIGAÇÃO DO ARMADOR DE FORNECER O CONHECIMENTO "LIMPO" - SEM RESSALVAS - QUANDO A NOVA CONTAGEM NÃO FOI DISPONIBILIZADA. RECURSO NÃO PROVIDO. Após o carregamento do navio com mercadoria a granel- milho em grãos - pode o comandante, conforme lhe autoriza o artigo 582 do Código Comercial, inserir ressalvas no conhecimento, em relação à falta da mercadoria embarcada, constatada através da pesagem pela inspeção do calado do navio - "draft survey"-, desde que ao embarcador seja possibilitada nova contagem. O desatracamento do navio do corredor de exportação do Porto no mesmo dia

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da entrega do conhecimento implica em cerceamento da nova contagem, impondo, por conseguinte, a remoção da ressalva. (TJPR, AC 2233456, Relator Hayton Lee Swain Filho, 1ª Câmara Cível, Publicação em 22/05/2003) 20.5 TRANSPORTE-MARITIMO. DESNECESSIDADE DE VISTORIA, EM FACE DE DOCUMENTO DA ADMINISTRACAO DO PORTO. QUEBRA NATURAL DE CARGA TRANSPORTADA A GRANEL; NECESSIDADE DE PROVA. A EXPRESSAO "AS PER DRAFT SURVEY" NAO TORNA "SUJO" O CONHECIMENTO DE EMBARQUE. EVIDENTE QUE A PRESSAO DA AGUA, SUA PROFUNDIDADE E ONDULACAO, LOCALIZACAO DO PORTO, SÃO ALGUNS DOS FATORES QUE MOSTRAM QUE A RESSALVA NAO PODE SER CONSIDERADA, POIS SEQUER ESSAS CIRCUNSTANCIAS FORAM DEVIDAMENTE ESPECIFICADAS. APELACAO DENEGADA. (TJRS, AC nº 27534, Juiz Relator Alfredo Guilherme Englert, 4ª Câmara Cível, DJ 07/04/1982) 20.6 Transporte maritimo a granel. Falta de mercadoria. Apuracao. Responsabilidade indenizatoria do transportador. A falta de mercadoria pode ser atestada por qualquer meio idoneo, mormente quando emergente de orgao publico, dispensavel vistoria para tanto. A alegacao, pelo transportador, de quebra natural da mercadoria transportada a granel, seja solida, seja liquida, e que tenha ficado no terreno, ou no limite da normalidade, incumbe-lhe prova-la. Nao o fazendo, ou nao o conseguindo, restara em sua plenitude a responsabilidade de indenizar. Acao indenizatoria julgada procedente em primeiro grau de jurisidicao. Confirmacao da sentenca, com desprovimento do apelo da re. (TJRS, AC Nº 598022333, Relator: Osvaldo Stefanello, Sexta Câmara Cível, Julgado em 11/08/1999) b) Transporte de carga a granel – Quebra natural – Tolerância de 5% 20.7 Ação regressiva - Seguro Improcedência - Transporte marítimo - Perda de parte de produto a granel transportado. Tolerância de perda de 5% pela legislação tributária. Percentual que também pode ser aplicado para fins de

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cobrança em ação regressiva pela seguradora. Ilegitimidade de parte. Preliminar rejeitada. Corré que retirou a mercadoria do navio por intermédio de guindastes. (TJSP, Apelação Cível nº 0004396-66.2012.8.26.0562, Juiz Relator Thiago de Siqueira, 14ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 21/03/2014) c) Transporte de carga a granel – Quebra natural – Tolerância de 1% 20.8 REGRESSIVA. Transporte de mercadoria a granel. Quebra natural que é aceitável até o limite de 1% da carga. Lei nº 10.833/03 c.c. Decretos nºs 4.543/02 e 6.759/09. Hipótese em que o teto da sujeição tributária também circunscreve a responsabilidade civil. Precedentes da Corte. Proporção impositiva. (...) Recurso provido. (TJSP, Apelação Cível nº 0046875-50.2007.8.26.0562, Juiz Relator Ferreira da Cruz, 24ª Câmara de Direito Privado, Publicação em 23/05/2014) 20.9 RESPONSABILIDADE CIVIL. Ação regressiva. Transporte marítimo de carga. Extravio de parte da mercadoria. Responsabilidade objetiva do transportador. Ação julgada procedente – Insurgência. Acolhimento. Apelante que é parte passiva legítima para a causa, já que é a responsável pelo navio transportador da carga. Decadência que não se verificou, considerando que a vistoria realizada a pedido da autora e o protesto interruptivo da prescrição deram à ré-apelante plena ciência do ocorrido. Perda da mercadoria, porém, que não decorreu de extravio e sim de "quebra" ou "perda natural" de certa quantidade em decorrência das próprias características da mercadoria transportada (trigo). Laudo realizado pela própria seguradora-autora que atestou que a perda da umidade do trigo durante a viagem fez com que ele reduzisse seu volume e, consequentemente, seu peso. Perda, ademais, que se encontra abaixo do percentual de 1%, que é o máximo tolerado pela legislação, (art. 72 do Decreto nº 6.759/2009 e art. 66 da Lei nº 10.833/2003). Hipótese que afasta a responsabilidade do transportador e, consequentemente, o direito de regresso. Sentença reforma para julgar improcedente a ação, invertidos os ônus da sucumbência Recurso provido. (TJSP, Apelação Cível Nº 0008515-12.2008.8.26.0562, Juiz Relator Jacob Valente, 12ª Câmara De Direito Privado, Publicação em 31/10/2013)

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d) Transporte de carga a granel – Quebra natural – Tolerância de 0,6% – Franquia

20.10 APELAÇÃO CÍVEL. CONTRATO DE TRANSPORTE MARÍTIMO INTERNACIONAL. AÇÃO REGRESSIVA. SEGURADORA. MERCADORIA A GRANEL. DIFERENÇA ENTRE A CARGA EMBARCADA E AQUELA APURADA NA DESCARGA. MARGEM TOLERÁVEL DE QUEBRA 0,6% PARA O CASO DOS AUTOS. RESPONSABILIDADE DO TRANSPORTADOR QUANTO AO EXCESSO. 1. Apólice acostada que demonstra a contratação do seguro para o transporte objeto da demanda. Sub-rogação comprovada. 2. Inexistindo insurgência quanto ao conteúdo ou autenticidade do conhecimento de transporte, revela-se prescindível a juntada do documento original. 3. Inaplicabilidade do percentual de 05% de tolerância de quebra, visto que sua incidência, no passado, decorreu da ausência de critérios. Ademais, a utilização da norma tributária não se coaduna com a pretensão de ressarcimento, pois a seguradora adimpliu com o prejuízo da importadora ao receber quantidade de produto inferior àquela enviada, resultando daí a necessidade de seu ressarcimento. 4. Limite tolerável de quebra natural e operacional de 0,6%, em se tratando de produtos destinados a fertilizantes, conforme precedente paradigmático embasado em prova técnica. Cálculo do montante que já engloba o desconto de referida cifra, porquanto descontado o percentual de 2% a título de franquia obrigatória do seguro. APELO IMPROVIDO. (TJRS, AC Nº 70026391763, Juiz Relator Judith dos Santos Mottecy, Décima Segunda Câmara Cível, Julgado em 02/04/2009) e) Transporte de carga a granel – Quebra natural – Rateio 20.11 TRANSPORTES. INDENIZAÇÃO. DIFERENÇA NA QUANTIDADE DE CARGA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA EMPRESA TRANSPORTADORA. VALIDADE DO PROCEDIMENTO DE RATEIO. 1. Responsabilidade objetiva da transportadora em virtude da relação contratual existente. 2. Validade do rateio, procedimento usualmente utilizado no transporte de mercadorias a granel, objetivando distribuir proporcionalmente entre os importadores os lucros ou prejuízos decorrentes do aumento ou diminuição da quantidade do produto. Inexistência de prova quanto à falsidade das informações constantes na certidão emitida por organização privada. 3. Desembarque em mais de um porto não exime a transportadora de indenizar a diferença apurada entre a quantidade de produto embarcada e a efetivamente entregue. Falta superior ao percentual da quebra natural permitida. 4.

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Desnecessidade da vistoria. Súmula 109 do STJ. 5. Atualização monetária a contar do efetivo prejuízo. Súmula 43 do STJ. Apelo da autora provido e apelo da ré improvido. (TJRS, AC Nº 70002224806, Relator: Orlando Heemann Júnior, Décima Segunda Câmara Cível, Julgado em 06/09/2001)

20.12 APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. CONTRATO DE TRANSPORTE MARÍTIMO INTERNACIONAL. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA TRANSPORTADORA. MERCADORIA A GRANEL. CLORETO DE POTÁSSIO GRANULADO. FALTA PARCIAL DE MERCADORIA. QUEBRA NATURAL. REDUÇÃO DO MONTANTE INDENIZATÓRIO. VISTORIA. DESNECESSIDADE. A relação transportador-importador é contratual, devendo ser regulada pelas disposições do Código Comercial. Conforme se infere do disposto nos arts. 102 e 103 do mencionado diploma, a responsabilidade do transportador é objetiva, somente podendo ser afastada mediante comprovação de que o dano tenha decorrido de vício da própria coisa, caso fortuito ou força maior. O percentual de quebra natural de 0,6 % sugerido pelo extinto TARGS foi objeto de dedução no cálculo apresentado pela requerente. Havendo mais de um importador, a carga constitui-se como pro indiviso, assim, comprovado através do documento de rateio que a importação contou com 42.000.000 Kg, sobre este montante deverá incidir a mencionada franquia o que opera a redução do montante indenizatório, ponto em que deve ser provido o apelo. Por se tratar de relação entre importador e transportador, sendo que a responsabilidade deste último é objetiva perante aquele, não há falar em necessidade da realização de vistoria, seja qual for a espécie, para fins de comprovação do dano. Entendimento este adotado nos Tribunais Superiores, conforme enunciado nº 109 do STJ. A margem de 5% de diferença, sugerida pela apelante e considerada no campo tributário, não é aplicada por analogia no âmbito da indenização decorrente de inadimplemento contratual. Apelo provido em parte. (TJRS, Apelação Cível Nº 70009426826, Relator: Marcelo Cezar Muller, Décima Segunda Câmara Cível, Julgado em 14/10/2004) f) Transporte de carga a granel – Divergência de peso – Requerimento

de entrega de BL limpo

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Ação de obrigação de fazer" - Adiantamento da tutela específica - Pleiteada a entrega de "BL" sem qualquer ressalva – Medição realizada pelo comandante do navio, com indicação de embarque a menor - impossibilidade de se reconhecer, à primeira vista, que tal medição não esteja correta - Documentos apresentados pela agravante que, por si só, não atestam tal equívoco - Efetuadas duas novas medições logo após o término do carregamento - Apurada a diferença apontada pelo comandante - Circunstância que causou incerteza em relação à quantidade de mercadoria realmente embarcada - Peso aferido em terra que não pode ser considera do absolutamente correto - Conhecimento de bordo expedido pelo comandante que deve prevalecer, até que se constate, por meio de completa instrução processual, a diferença de pesagem verificada - Agravo desprovido Tutela antecipada - "Ação de obrigação de fazer" - Pretendida a entrega de "BL" sem qualquer ressalva - Inviabilidade da outorga da liminar - Tema que deve ser dirimido em sentença - "Periculum in mora" que não se mostra nítido - Demora em negociar o conhecimento de transporte, ou em receber a importância pertinente à venda da mercadoria, que constitui um risco inerente à própria natureza da atividade exercida pela agravante - Eventuais prejuízos que poderão ser perseguidos por intermédio das vias apropriadas -Ausentes os pressupostos inseridos no art. 461, § 3o, do CPC - Inadmissível a concessão da tutela almejada mediante prestação de caução - Contracautela que não dispensa a demonstração sumária dos requisitos necessários para a providência antecipatória - Agravo desprovido. Recurso - Agravo de Instrumento - Hipótese em que as peças que instruíram o a- gravo permitem a compreensão da controvérsia - Preliminar de não-conhecimento do agravo rejeitada.

(TJSP, 1º TAC, AI 0024420-70.2003.8.26.0000, Des. Rel. José Marcos Marrone, Julgado em 07.05.2003)

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21. Greve4F

6

Os advogados maritimistas conhecem muito bem os períodos de greve. Quando os servidores de determinada autarquia federal entram em greve, rapidamente os portos brasileiros ficam congestionados, ainda mais do que já estão. De um lado os exportadores e importadores de cargas buscam liberar suas mercadorias, de outro os armadores e transportadores marítimos buscam liberar o acesso de suas embarcações aos portos. Como forma de remediar a ausência de prestação de um serviço público essencial, temos o bom e velho mandado de segurança. Uma força tarefa é organizada no escritório e uma equipe de advogados se encarrega de angariar as informações logísticas dos navios e suas cargas com os clientes, minutar as iniciais, instruí-las com os documentos necessários, recolher as custas judiciais, diligenciar ao forum federal para distribuição em caráter de urgência, despachar o pedido liminar com o juiz da causa, acompanhar a expedição do mandado e a diligência do oficial de justiça para o cumprimento da medida e a intimação da autoridade coatora, rotina esta que chega a se repetir inúmeras vezes por dia, inclusive nos finais de semana, tudo para possibilitar a movimentação das cargas e dos navios e evitar prejuízos comerciais de grande escala aos clientes. De fato, em que pese ser legítimo o direito de greve, não pode o particular ser prejudicado se a atividade pública essencial vem a ser paralisada.

a) Greve – Mandado de segurança – Certificado de livre prática 21.1 ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. REMESSA NECESSÁRIA. ANVISA. CERTIFICADODE LIVRE PRÁTICA. IMPORTÂNCIA ECONÔMICA DA ATIVIDADE. BENS PERECÍVEIS. SERVIÇO PÚBLICO ESSENCIAL. NECESSIDADE DE LIBERAÇÃO. 1. A sentença determinou a fiscalização e, se

6 V. “Desembaraço da Mercadoria”

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preenchidos os requisitos legais, a emissão doscertificados de livre prática dos navios da impetrante, convencido o juízo de que as atividades das autoridades sanitárias são serviço público essencial, sendo ilícita sua interrupção. 2. Diante da mora legislativa, o STF entendeu aplicável, no que couber, a Lei nº 7.783/1989 aos movimentos paredistas no serviço público (MI 708), sempre curvado aos princípios da supremacia do interesse público e da continuidade dos serviços essenciais desenvolvidos pela administração estatal, que não podem ser interrompidos. 3. É essencial e estratégica a atividade da Anvisa nos portos, inclusive quanto à emissão de Certificados de Livre Prática, necessários às operações de carga e descarga, que não podem ser prejudicadas pela paralisação dos grevistas, desde que cumpridas as exigências burocráticas. 4. A Anvisa sequer prestou informações e tampouco apelou, tendo sido a liminar deferida em agosto/2012. A inicial alude a “produtos perecíveis e, inclusive, de natureza perigosa”, mas só há documentos sobre produtos químicos (“chemical/dangerous goods” e líquido corrosivo com hidróxido de sódio), ressaltando-se, contudo, por escrito à mão, ser o “documento meramente exemplificativo relação das cargas”. 5. Apresenta-se legítima a decisão judicial que determinou a adoção dos atos necessários à vistoria sanitária e expedição do respectivoCertificado de Livre Prática dos navios, salvo se outro motivo impedir a sua realização, posto que os administrados não devem suportar os prejuízos decorrentes da greve de servidores públicos. 6. Fosse pouco, a hipótese é de medida liminar satisfativa, confirmada por sentença, ao que tudo indica já cumprida pela Anvisa. 7.Remessa necessária desprovida. (TRF2, REO 201251010433454, Des. Nizete Antonia Lobato Rodrigues, 6ª Turma Especializada, E-DJF2R - Data: 21/07/2014)

21.2 AGRAVO DE INSTRUMENTO. EMISSÃO DE CERTIFICADO DE LIVRE PRÁTICA. LIBERAÇÃO DE MERCADORIAS. PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DO SERVIÇO PÚBLICO. GREVE DE SERVIDORES PÚBLICOS DA ANVISA. PARCIAL PROVIMENTO. 1. Cinge-se a questão em saber se o exercício do direito de greve dos servidores da ANVISA pode acarretar a paralisação total de suas atividades, mais especificamente, de fiscalização das cargas de embarcações. 2. As atividades exercidas pela ANVISA se configuram como serviços essenciais e, portanto, não podem sofrer paralisação total, sob pena de violação ao princípio da continuidade do serviço público. Ademais, não pode o particular ser prejudicado pela paralisação de servidores que exercem verdadeiro poder de polícia da Administração. 3. Nesse sentido, estão presentes os requisitos ensejadores da concessão da antecipação de tutela,

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quais sejam o fumus boni iuris -, porquanto o agravante tem direito à inspeção de suas mercadorias e, se for o caso, à concessão do Certificado de Livre Prática - e o periculum in mora, uma vez que o agravante experimentará prejuízos irreparáveis com eventual perecimento de sua carga, bem como com a impossibilidade de atracar sua embarcação. 4. Por outro lado, que não se pode conceder a antecipação de tutela nos exatos termos em que foi pleiteada. A concessão do referido Certificado é atribuição da ANVISA, não cabendo ao julgador usurpá-la ou suprimi-la, tornando-se impossível a liberação automática da mercadoria. Nesse sentido, a tutela deve ser concedida parcialmente, tão-somente para que a ANVISA proceda à fiscalização da carga e da embarcação e, se for o caso, realize a emissão do Certificado de Livre Prática. (...)

(TRF2, AI 201202010124080, Des. Aluisio Goncalves De Castro Mendes, 5ª Turma Especializada, E-DJF2R - Data: 07/05/2013)

21.3 ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. GREVE DOS SERVIDORES PÚBLICOS. ANVISA. EXPEDIÇÃO DO CERTIFICADO DE LIVRE PRÁTICA. POSSIBILIDADE. PREJUÍZO PARA O USUÁRIO. 1. In casu, a segurança foi concedida para: "determinar que a autoridade impetrada adote as medidas cabíveis - no exercício regular de sua competência, tal como o seria se inexistente o movimento paredista - a fim de que preste os serviços necessários à expedição do certificado de livre prática atinente à solicitação referente à embarcação MV IVER ASPAHALT, desde que atendidas as condições exigidas pela lei e atos normativos da ANVISA e ressalvada a possibilidade de imposição pela fiscalização das medidas legais cabíveis em caso de descumprimento voluntário das obrigações impostas ao impetrante." 2. Não merece reforma a sentença recorrida, uma vez que a impetrante, mesmo estando em situação regular perante a Fazenda Nacional, não conseguiu a expedição do certificado de livre prática pela ANVISA, em razão da greve dos servidores. 3. Na verdade, os interesses jurídicos e econômicos dos particulares devem ser protegidos, o que significa dizer que não pode o particular ser prejudicado pela paralisação dos trabalhadores. 4. Ademais, mesmo considerando o fato de que o direito de greve dos servidores públicos está amparado pela Constituição Federal (art. 37, VI), tal direito não pode causar prejuízos a terceiros. 5. Legítima a determinação judicial, vez que se configura abusiva e injustificada a demora na expedição do certificado de livre prática, em face de greve dos servidores públicos. (...).

(TRF1, REOMS 0028160-44.2012.4.01.3300, Des. Reynaldo Fonseca, 7ª Turma Especializada, E-DJF1 Data:08/11/2013)

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21.4 ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. ANVISA. VISTORIA SANITÁRIA. EMISSÃO DE CERTIFICADOS DE LIVRE PRÁTICA. EMBARCAÇÕES MARÍTIMAS PROVENIENTES DO EXTERIOR. GREVE DE SERVIDORES. CONTINUIDADE DO SERVIÇO PÚBLICO. CONCESSÃO DA SEGURANÇA. ADOÇÃO DA TÉCNICA DE JULGAMENTO PER RELATIONEM. 1. Remessa obrigatória de sentença que, ratificando a liminar anteriormente deferida, concedeu a segurança para confirmar o direito da impetrante à vistoria sanitária e expedição do Certificado de Livre Prática para as embarcações agenciadas pela ALIANÇA NAVEGAÇÃO E LOGÍSTICA LTDA e HAMBURG SÜDAMERIKANISCHE DAMPFSCHIFFAHRTSGESELLSHAFT KG, salvo se motivo outro que não o movimento paredista esteja a obstaculizar o procedimento de emissão do referido certificado. 2. "O Poder Público encontra-se vinculado, dentre outros, aos princípios da legalidade, da impessoalidade, da eficiência e da continuidade do serviço público. Embora legítimo, não pode o movimento paredista de servidores públicos propiciar a descontinuidade dos serviços públicos, com sérios prejuízos para a Administração Pública e para terceiros de boa-fé". 3. "Direito aos procedimentos de fiscalização em embarcações marítimas provenientes do exterior, agenciadas pelas impetrantes, para emissão dos certificados de livre prática". 4. "Em face dos fundamentos expendidos, concedo a segurança requestada, confirmando a liminar concedida para determinar que se procedesse à fiscalização e à inspeção das embarcações marítimas agenciadas pelas impetrantes que atracaram no Porto do Pecém, indicadas na inicial, necessárias à concessão do certificado de livre prática, salvo se motivo outro houver que não o movimento paredista a obstaculizar a referida expedição, observadas as normas e procedimentos legais". 5. Remessa obrigatória não provida (TRF5, REOMS 0108628120124058100, Des. Manoel Erhardt, 1ª Turma Especializada, DJE - Data: 07/11/2013)

b) Greve – Mandado de segurança – Liberação de mercadorias

21.5 ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. DEFERIMENTO DE LIMINAR. LIBERAÇÃO DE MERCADORIAS IMPORTADAS. GREVE DE SERVIDORES. DIREITO AO DESEMBARAÇO ADUANEIRO. VIOLAÇÃO À LEI FEDERAL NÃO CONFIGURADA. Não cabe ao particular arcar com qualquer ônus em decorrência do exercício do direito de greve dos servidores, que, embora legítimo, não justifica a imposição de qualquer gravame ao particular. Devem as mercadorias ser liberadas, para que a parte não sofra prejuízo.

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(STJ, REsp nº 1435, Rel. Min. Franciulli Netto, 2ª Turma, Data de Julgamento: 12/11/2001) 21.6 ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. PRETENDIDA INSPEÇÃO PARA FUTURA LIBERAÇÃO DE MERCADORIAS A SEREM EXPORTADAS. GREVE DE SERVIDORES. LIMINAR E SEGURANÇA CONCEDIDAS. DIREITO À INSPEÇÃO E LIBERAÇÃO RECONHECIDOS. ACÓRDÃO CONFIRMANDO O DECISUM. RECURSO DA FAZENDA NACIONAL ALEGANDO VIOLAÇÃO À LEI FEDERAL – NÃO CONHECIMENTO. Não cabe ao contribuinte arcar com qualquer ônus em decorrência do exercício do direito de greve dos servidores, que, embora legítimo, não justifica a imposição de qualquer gravame ao particular. Efetivamente era de rigor que as mercadorias, de origem vegetal, que seriam exportadas, fossem inspecionadas para posterior liberação. (STJ, REsp nº 179.182, Rel. Min. Franciulli Netto, 2ª Turma, Data de Publicação: 01/07/2002) 21.7 MANDADO DE SEGURANÇA. MERCADORIA IMPORTADA. LIBERAÇÃO. GREVE DOS SERVIDORES. Em casos análogos, a egrégia Primeira Turma consolidou o entendimento consubstanciado nas seguintes ementas: ADMINISTRATIVO. FISCALIZAÇÃO SANITÁRIA. GREVE DOS FUNCIONÁRIOS DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA. 1. Sendo impossível ao particular apresentar documentação exigida pelo poder público, em face da ocorrência de greve no serviço público, ilegítima afigura-se a exigência de tal documentação, “in casu” o certificado fitossanitário. 2. Recurso improvido. (Resp nº 143.135-SP, Rel. Min. José Delgado, DJ de 17.11.97). GREVE. FUNCIONÁRIOS DO MINISTÉRIO DA ECONOMIA E FAZENDA. CERTIFICADO. AUSÊNCIA. O particular não pode ser prejudicado pela paralisação dos serviços públicos. Se não há realização de vistoria para o desembaraço de mercadorias em decorrência de greve dos servidores, devem as mesmas ser liberadas para que o particular não sofra prejuízo. 2. Recurso improvido. (Resp nº 154.603-SP, Rel. Min. Garcia Vieira, DJ de 02.03.98). (STJ, Resp nº 143.134 SP, Rel. Min. Hélio Mosimann, 2ª Turma, Data de Publicação: 11/05/1998)

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21.8 ADMINISTRATIVO. DESEMBARAÇO ADUANEIRO. GREVE DOS SERVIDORES DA RECEITA FEDERAL. NECESSIDADE DA LIBERAÇÃO DAS MERCADORIAS IMPORTADAS. IMPOSTOS DEVEM SER PAGOS NORMALMENTE. Não é admissível restem prejudicados importadores que, necessitando do desembaraço aduaneiro das mercadorias importadas para exercício normal de suas atividades industriais, sejam impossibilitados de fazê-lo por greve de servidores da Receita Federal. II - Embora o direito de greve seja legítimo, cabe à União federal manter pessoal disponível e treinado para tais eventualidades, não cabendo ao particular o ônus decorrente da greve. III - Sentença monocrática mantida. IV - Apelação e remessa a que nego provimento. (TRF1, AMS nº 95.01.02463-6/BA, Rel. Juíza Sônia Diniz Viana, 3ª Turma, Data de Publicação: 23/04/1999)

21.9 ADMINISTRATIVO. MERCADORIA IMPORTADA. GREVE DOS SERVIDORES DA ANVISA. LIMINAR SATISFATIVA. NECESSIDADE DE CONFIRMAÇÃO POR SENTENÇA. PERDA DO OBJETO. IMPOSSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DOS SERVIÇOS PÚBLICOS. (...) II – Embora o direito de greve se afigure como garantia constitucional, prevista no artigo 37, inciso VII, da Constituição Federal de 1988, não se mostra razoável permitir que a parte impetrante seja prejudicada pelo movimento de greve dos servidores da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), considerando-se que a atividade de fiscalização e de vigilância sanitária tem natureza de serviço público essencial, não sendo, portanto, cabível sua interrupção, sob pena de ofensa ao Princípio da Continuidade dos Serviços Públicos. (TRF2, Processo nº 0490146-72.2008.4.02.5101, 5ª Turma, Data de Publicação: 31/05/2012) 21.10 PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. LIMINAR. GREVE DOS SERVIDORES PÚBLICOS DA ANVISA. CONTINUIDADE DO SERVIÇO ADUANEIRO. Coexistência dos requisitos necessários para a concessão da liminar. Presente a verossimilhança do direito alegado, pois a agravante não pode ser prejudicada em função da greve que assola a Administração, fato totalmente alheio a sua vontade e/ou responsabilidade. Risco de danos irreparáveis evidenciado em virtude da possibilidade do inadimplemento contratual de clientes que estão aguardando as mercadorias importadas pela

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agravante, além das despesas decorrentes do armazenamento nos entrepostos aduaneiros. Prequestionamento quanto à legislação invocada estabelecido pelas razões de decidir. Agravo provido. (TRF4, Agravo De Instrumento nº. 2006.04.0.012474-8/SC, Rel. Fernando Quadros da Silva, TERCEIRA TURMA, Data de Julgamento: 28/11/06)

21.11 CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. DIREITO DE GREVE DO SERVIDOR PÚBLICO. EXERCÍCIO SOB RESSALVAS. CONSTITUIÇÃO FEDERAL, ART. 9º, § 1º, E ART. 37, VII. I. Mesmo não disciplinadas as ressalvas ao direito de greve do servidor público, o seu exercício encontra limites nos demais direitos e garantias constitucionais. II. O direito de greve não é um sobredireito, não podendo o seu exercício obstar o livre exercício das atividades econômicas, obstando o despacho aduaneiro de mercadorias. III. Os honorários advocatícios não são devidos no mandado de segurança (súmulas 512 e 105 do STJ). IV. Apelo e remessa oficial parcialmente providos. (TRF1, AMS nº 94.01.26581-0/BA, Rel. Juíza Vera Carla Cruz, 3ª Turma, Data de Publicação: 20/08/1999)

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22. Hipoteca Marítima

Não obstante os navios serem bens de natureza móvel, o registro de hipotecas sobre os mesmos é uma tradição nacional e internacional, proporcionando aos financiadores, investidores e credores de uma embarcação uma garantia aos seus respectivos créditos. Esta garantia, desde que devidamente registrada junto à bandeira do navio, possui inclusive um caráter de privilégio marítimo, conforme reconhecido tanto pelo Código Comercial Brasileiro, como pela Convenção de Bruxelas para a Unificação de Certas Regras Relativas aos Princípios e Hipotecas Marítimas de 1926, ratificada pelo nosso país. Ademais, a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar determina que os navios possuem a nacionalidade do Estado de sua bandeira, devendo este Estado “exercer, de modo efetivo, sua jurisdição e seu controle em questões administrativas, técnicas e sociais sobre navios que arvorem a sua bandeira”. O registro hipotecário promovido por um Estado de bandeira representa, portanto, um ato de soberania do Estado da nacionalidade da embarcação, possuindo eficácia extraterritorial. Considerando a transitoriedade e frequente circulação das embarcações ao redor do mundo, aliado à impossibilidade, por ausência de previsão legal, de registro das hipotecas e gravames sobre embarcações estrangeiras perante o Tribunal Marítimo Brasileiro, merecem ser reputadas válidas e eficazes as hipotecas marítimas devidamente registradas junto ao país de bandeira da embarcação. A esse respeito, brilhante é a lição do Min. Salomão, em verdadeiro leading case decidido pelo Superior Tribunal de Justiça no ano de 2017, no sentido de que “a instabilidade e o risco marítimo oriundos do constante deslocamento [dos navios] se compensa com a estabilidade dos registros em portos de origem”, conforme abaixo citamos.

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a) Hipoteca Marítima 22.1 RECURSO ESPECIAL. HIPOTECA NAVAL. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE. INEXISTÊNCIA. NULIDADE SEM EXISTÊNCIA DE PREJUÍZO. INVIABILIDADE. TRATADOS INTERNACIONAIS E LEGISLAÇÃO INTERNA. INEXISTÊNCIA DE PRIMAZIA HIERÁRQUICA. PLATAFORMA PETROLÍFERA ESTRANGEIRA. HIPOTECA. DISCIPLINA DO CÓDIGO BUSTAMANTE. REGISTRO REALIZADO NO PORTO DE ORIGEM DO NAVIO. EFICÁCIA NO ÂMBITO NACIONAL. 1. A Corte local perfilhou o entendimento de que os documentos colacionados aos autos nada acrescentaram de novo que já não tivesse sido informado pela própria parte que invoca a nulidade ao Juízo a quo. Com efeito, "[o] sistema processual é informado pelo princípio da instrumentalidade das formas, de modo que somente a nulidade que sacrifica os fins de justiça do processo deve ser declarada (pas de nullité sans grief)" (REsp 1.051.728/ES, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 17/11/2009, DJe 2/12/2009). 2. O STF, à luz da Constituição Federal, sufragou o entendimento, por ocasião do julgamento, pelo Pleno daquela Corte, da ADI 1.480 MC/DF, de que os tratados ou convenções internacionais, uma vez regularmente incorporados ao direito interno, situam-se, no sistema jurídico brasileiro, nos mesmos planos de validade, eficácia e autoridade em que se posicionam as leis ordinárias, havendo, em consequência, entre estas e os atos de direito internacional público, relação de paridade normativa. 3. É da tradição do direito brasileiro e de legislações estrangeiras a admissão da hipoteca a envolver embarcação de grande porte, em razão do vulto dos financiamentos a sua construção e manutenção. A instabilidade e o risco marítimo oriundos do constante deslocamento se compensa com a estabilidade dos registros em portos de origem. 4. No tocante a navio de nacionalidade estrangeira, o art. 278 do Código Bustamante estabelece que a hipoteca marítima e os privilégios e garantias de caráter real, constituídos de acordo com a lei do pavilhão, têm efeitos extraterritoriais até nos países cuja legislação não conheça ou não regule essa hipoteca ou esses privilégios. 5. O registro hipotecário é ato de soberania do Estado da nacionalidade da embarcação, estando sob sua jurisdição as respectivas questões administrativas. Dessarte, o ato tem eficácia extraterritorial, alcançando o âmbito interno nacional. 6. Recurso especial parcialmente provido (STJ, Recurso Especial Nº 1.705.222 – SP; Órgão julgador: Quarta Turma; Relator: Ministro Luis Felipe Salomão; Julgamento: 16/11/2017; Publicação: 01/02/2018)

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23. Liberação da Carga – Apresentação do BL Original

As relações mercantis relacionadas à compra e venda internacional de mercadorias envolvem diversas nuances e elementos que dizem respeito unicamente entre as partes contratantes, o vendedor/exportador e o comprador/importador. Alheio a essa relação de compra e venda, o transportador marítimo é normalmente contratado pelo exportador/embarcador para a realização do transporte da carga até um determinado porto de destino, possuindo obrigação tanto legal como contratual de entregar as mercadorias ao legítimo possuidor do conhecimento de transporte (BL) no destino. Portanto, a transportadora deve exigir a apresentação do conhecimento de transporte original pelo consignatário, como requisito para a liberação da carga. Tal conduta encontra respaldo nos artigos 519, 586 e 587 do Código Comercial, no artigo 554 do Regulamento Aduaneiro e no artigo 754 do Código Civil. De fato, como o conhecimento de transporte possui características de título de crédito, podendo circular livremente por meio de endosso, somente a exibição do conhecimento original poderá preservar os interesses de todos os envolvidos na relação jurídica. Não obstante a clareza das normas legais citadas, muitos importadores de carga, em afronta às normas legais e a partir de uma interpretação equivocada da Instrução Normativa nº 1.356/2013 da Receita Federal, pretenderam exigir junto aos transportadores a liberação de cargas sem a apresentação da via original do conhecimento de transporte. Tal pleito se mostra ilegal e incabível, posto que as instruções normativas emanadas pela Receita Federal regulam apenas os trâmites fiscais e aduaneiros necessários ao desembaraço das mercadorias junto à autoridade administrativa tributária e não se prestam a reger a relação comercial privada estabelecida entre as partes. Aliás, nunca sequer foi de intuito da Autoridade Fiscal a aplicação de tal instrução normativa às relações particulares, especialmente porque as instruções normativas emitidas pela Receita não possuem força de

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lei e não podem contrariar os dispositivos do Código Civil e do Código Comercial que estabelecem expressamente que o transportador somente está obrigado à entrega das mercadorias àquele que lhe apresentar a via original do conhecimento de transporte. Corroborando este raciocínio e visando espancar qualquer dúvida, a Receita Federal revogou a sua normativa de 2013 e tornou a exigir a apresentação do BL original para fins de desembaraço aduaneiro, conforme IN. 1.759/2017.

a) Transporte Marítimo – Demanda para liberação de carga sem

apresentação do conhecimento original – Improcedência 23.1 Ação de obrigação de fazer c.c. indenização – Transporte marítimo – Ilegitimidade passiva – Inexistência – Denunciação da lide – Impossibilidade – Retenção de mercadorias diante da ausência de apresentação da via original do conhecimento de embarque – Admissibilidade, uma vez que se trata de título de crédito passível de endosso – Exercício regular de direito – Análise da jurisprudência – Improcedência da ação como medida de rigor – Recurso provido. (TJSP, 1029394- 70.2016.8.26.0100 SP, Relator: Souza Lopes, 35ª Câmara de Direito Privado, Publicação: 08/05/2018) 23.2 Apelação – Ação de obrigação de fazer c/c pedido de tutela de urgência de natureza antecipada – Transporte de coisas – Carga retida – Título de crédito impróprio representativo de propriedade da mercadoria transportada – Possibilidade de negociação (transferência da propriedade da carga transportada) pelo proprietário por meio de endosso – Exigência de apresentação do conhecimento de embarque original para reconhecimento de posse e liberação das mercadorias transportadas – Conduta lícita – Improcedência mantida – Recurso desprovido. (TJSP, 1016482-13.2016.8.26.0562SP, Relator: Maria Salete Corrêa Dias, 20ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 21/03/2018)

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23.3 AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZATÓRIA. Transporte marítimo. Pedido de liberação de mercadorias sem a apresentação da via original do documento de conhecimento de embarque. Sentença de procedência em parte, afastando a pretensão indenizatória. Irresignação da parte ré. Cabimento. O conhecimento de embarque é título de crédito e pode ser transferido por endosso. Exigência de apresentação do título de crédito original para liberação das mercadorias transportadas. Exercício regular do direito do transportador. Pedido da parte autora inequivocamente direcionado à liberação das mercadorias. Sentença reformada. Ação julgada improcedente. Ônus da sucumbência atribuídos à parte autora. Honorários advocatícios fixados em R$3.000,00. Art.20, §4º, do CPC/73. Recurso provido. (TJSP, Apelação 4005554-54.2013.8.26.0562; Relator (a): Walter Barone; 24ª Câmara de Direito Privado; 11ª Vara Cível; Data do Julgamento: 08/02/2018) 23.4 Apelação – Ação de obrigação de fazer – Transporte Marítimo- Exigência do conhecimento de embarque na versão original para liberação da mercadoria – Prática legítima ante a legislação de regência e a dimensão dos efeitos do documento – Prática comercial realizada mundialmente – Sentença de improcedência confirmada – Recurso desprovido. (TJSP, Apelação 0004814- 62.2016.8.26.0562; Relator (a): Irineu Fava; Órgão Julgador: 35ª Câmara de Direito Privado; Data do Julgamento: 20/092017) 23.5 APELAÇÃO CÍVEL. TRANSPORTE MARÍTIMO. MERCADORIA TRANSPORTADA ENTREGUE AO DESTINATÁRIO SEM APRESENTAÇÃO DO CONHECIMENTO MARÍTIMO. DEMANDA INDENIZATÓRIA. INOBSERVÂNCIA AO STANDARD DO AGIR NEGOCIAL. 1- Responsabilidade do transportador por entrega da mercadoria a pessoa inabilitada: à luz do art. 754 do Código Civil, compete ao transportador a entrega da mercadoria transportada ao possuidor do conhecimento marítimo em seu nome ou a si endossado. A não-conferência do destinatário ou mesmo a entrega sem a apresentação dos documentos necessários apenas poderia ser reputada válida, para fins de isenção de responsabilidade do transportador, caso houvesse apresentação de autorização expressa da empresa exportadora. No caso concreto, o fato de a autora ter manifestado que a remessa dos documentos (conhecimento de embarque - BL) seria realizada diretamente à empresa importadora, não significa que sem a apresentação desses poderia ser retirada a mercadoria. A desnecessidade de apresentação do conhecimento de embarque não restou

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demonstrada nos autos. No entanto, ainda que se entenda viável tal procedimento, imprescindível expressa autorização da exportadora para tanto. Hipótese excepcional não configurada. 2- Standard do agir negocial: competia à demandada zelar pelo cumprimento usual das práticas de transporte marítimo internacional, para evitar a superveniência de máculas no serviço prestado - conduta que se espera observar de uma empresa experimentada no âmbito negocial. Apelo provido. (TJRS, Apelação Cível Nº 70028709111, Relator: Umberto Guaspari Sudbrack, Décima Segunda Câmara Cível, Julgado em 25/11/2010) 23.6 (...) A ação é improcedente. Pretende, a autora, por esta via, que se imponha à requerida a obrigação de entregar a carga importada, sem a apresentação do Conhecimento de Embarque original, ao argumento de que tal exigência seria ilegal. Sem razão, contudo. Isto porque, a exibição do Conhecimento de Embarque original tem por finalidade não só assegurar o direito de crédito do exportador (que só o liberará mediante o pagamento da mercadoria vendida), como o direito do importador ao recebimento da mercadoria importada (somente por meio da apresentação da via original a carga poderá ser retirada). Nos termos dos artigos 575, 586 e 587 do Código Comercial, o conhecimento observará as formalidades lá explicitadas e servirá entre todas as partes interessadas de prova do embarque, de modo a tratar-se de um título de crédito, devendo se observar o princípio da cartularidade e o disposto no artigo 887 do Código Civil. Por fim, não há como se impor a relação comercial estabelecida entre as partes o conteúdo da Instrução Normativa de nº 1.356/2013, que apenas tem relevância para os fins que interessam à autoridade administrativa tributária, a quem a carga não é destinada. Diante do exposto, e pelo mais que consta dos autos, JULGO IMPROCEDENTE a ação. (...). (TJSP, Processo n°. 4005387-37.2013.8.26.0562, Juiz Claudio Teixeira Villar, 2ª Vara Cível da Comarca de Santos/SP, Data de Publicação: 09/10/2013) 23.7 (...) Não há nenhuma ilegalidade na exigência do conhecimento de embarque original para que se efetue a liberação das mercadorias importadas. Como já aduzido na decisão que revogou a liminar, há justo motivo para a retenção da carga até a apresentação do conhecimento original. O conhecimento de embarque possui as características de título de crédito e, por isso, pode circular livremente por meio de endosso. Dessa

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forma, a condição imposta pela ré para a liberação é medida que visa a proteger todos os envolvidos na relação jurídica. Isso evita que a carga seja entregue a quem não é o seu legítimo dono. Caso não houvesse tal exigência, a mercadoria poderia ser entregue a pessoa diversa do proprietário da carga, caso o Bill of Lading tivesse sido transferido a terceiro. Protege-se, também, o exportador, pois se anula o risco de recebimento da carga pelo importador antes do respectivo pagamento, pois aquele somente fornece o conhecimento de embarque original após a quitação total do preço da mercadoria. O conhecimento de embarque representa a própria carga, sendo também recibo e contrato. E a exigência da sua apresentação se mostra salutar e resguarda os direitos de todos os envolvidos na operação. Ademais, a conduta da ré encontra respaldo nos artigos 519, 586 e 587 do Código Comercial, no artigo 554 do Regulamento Aduaneiro e no artigo 754 do Código Civil. Convém ressaltar, ainda, que a apresentação do conhecimento de embarque original está prevista expressamente nas condições pactuadas pelas partes quando da contratação, conforme mencionado na contestação. Portanto, a postura da ré encontra respaldo tanto na lei quanto no contrato, configurando verdadeiro exercício regular de um direito. Frise-se, por fim, que a Instrução Normativa nº 1.356/13 da Secretaria da receita Federal não se aplica ao caso, pois apenas dizem respeito aos interesses da autoridade tributária, e não aos interesses daquele a quem a carga é destinada. (...) JULGO IMPROCEDENTE o pedido (...). (TJSP, Processo nº 4005198-59.2013.8.26.0562, Juiz Frederico dos Santos Messias, 4ª Vara Cível de Santos/SP, Data de Publicação: 28/11/2013) 23.8 (...) A celeuma instaurada nos autos paira acerca da necessidade/obrigatoriedade ou não da apresentação do conhecimento de embarque (bill of landing) para fins de liberação da carga importada. Necessário, antes de adiantar qualquer decisão acerca da manutenção ou reconsideração da decisão liminar concedida nos autos, realizar uma breve consideração acerca do referido documento e as transações de importação de mercadorias para melhor entendimento da problemática. O Bill of Landing ou conhecimento de embarque é "documento emitido pela companhia transportadora que atesta o recebimento da carga, as condições de transporte e a obrigação de entrega das mercadorias ao destinatário legal, no ponto de destino pré-estabelecido, conferindo a posse das mercadorias" (...). Segundo a conduta marítima, o documento se mostra como um recibo de mercadorias e pode ser constituído como um título de crédito e deve ser apresentado seu original para fins de entrega de mercadorias pelo fiel-

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depositário, sob pena de responsabilização. É o que dispõe o art. 71 da Lei n. 10.833/2003: Art. 71 . O despachante aduaneiro, o transportador, o agente de carga, o depositário e os demais intervenientes em operação de comércio exterior ficam obrigados a manter em boa guarda e ordem, e a apresentar à fiscalização aduaneira, quando exigidos, os documentos e registros relativos às transações em que intervierem, ou outros definidos em ato normativo da Secretaria da Receita Federal, na forma e nos prazos por ela estabelecidos. Embora a Receita Federal do Brasil não exija mais a apresentação do original do conhecimento de embarque para fins de retirada das mercadorias do recinto alfandegário, nos termos Instrução Normativa nº 1.356, de 03 de maio de 2013, tem-se que o documento se mostra demasiadamente importante para que o depositário-fiel se libere de qualquer responsabilidade futura. Motivo pelo qual parece ter razão o requerido, até porque se verifica que o único óbice à liberação da mercadoria importada era a apresentação do documento de embarque (Bill of landing). Nessa esteira, necessário que o cumprimento da medida concedida às fls. 64/68 fique condicionado à apresentação do conhecimento de embarque original (Bill of landing) ou à prestação de caução idôneo no valor da mercadorias importadas, sob pena de futuro prejuízo ao transportador. (...). (TJSC, Processo n°. 033.13.015325-0, Juiza Vera Regina Bedin, 1ª Vara Cível da Comarca de Itajaí, Data de Publicação: 16/09/2013) b) Transporte Marítimo – Retenção de mercadorias em virtude da não

apresentação do conhecimento de embarque original – Possibilidade 23.9 Ação de obrigação de fazer c.c. indenização Transporte marítimo – Ilegitimidade passiva – Inexistência – Denunciação da lide – Impossibilidade – Retenção de mercadorias diante da ausência de apresentação da via original do conhecimento de embarque – Admissibilidade, uma vez que se trata de título de crédito passível de endosso – Exercício regular de direito – Análise da Jurisprudência – Improcedência da ação como medida de rigor – Recurso provido.

(TJSP, Processo n°. 1029394-70.2016.8.26.0100, Relator Des. Souza Lopes, 35ª Câmara Extraordinária de Direito Privado, Publicado em 10/05/2018). 23.10 Obrigação de fazer. Transporte marítimo. Retenção de mercadorias pela ré em virtude da não apresentação do conhecimento de embarque

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original. Juridicidade. É necessária a apresentação do documento original, pois ele é transferível e representa a propriedade da carga. Recurso desprovido. Não é injurídica a postura da ré, que está a exigir a exibição do conhecimento de transporte original para liberar a carga. Com efeito, o documento em questão estampa a propriedade da mercadoria. Recorra-se a propósito ao ensinamento de Fernando Netto Boiteux, verbis: 'O conhecimento de transporte, também conhecido como de frete ou de carga, como visto, é o título que representa o direito de receber, do transportador, mediante a apresentação da cártula, determinada mercadoria. A aquisição desse título de crédito importa na aquisição de um direito real, de propriedade, sobre a coisa em trânsito' ('Títulos de Crédito (em conformidade com o novo Código Civil)', Ed. Dialética, 2002, p. 225). Mais ainda; por ser o conhecimento título de crédito, ele é transferível, por declaração no verso, ou por endosso em preto ou em branco. Em consequência, considera-se o proprietário do título 'aquele que o detiver', afirma com precisão Arnaldo Rizzardo ('Títulos de Crédito', Ed. Forense, 1ª ed., 2ª tiragem, 2006, p. 251). O proprietário do título é o proprietário da carga, consoante de há muito dispõem os arts. 576 e seguintes do Código Comercial. Isso significa que a transferência do título significa, em rigor, a transferência da propriedade da carga. E se a ré é a depositária, é evidente que ela deve fazer a entrega ao proprietário. Só será o proprietário quem detiver o conhecimento original e o exibir à depositária. É a apresentação do conhecimento que obriga à pronta entrega da mercadoria. (...) De resto, como bem salientado na resposta, a autora tem ou deveria ter ciência da necessidade de exibição do conhecimento original para a liberação, visto que isso consta do próprio documento (cf. fls. 49). De resto, normatização administrativa de natureza tributária não pode interferir no regime legal e na natureza das relações jurídicas existentes entre a depositária e o proprietário da carga. De qualquer modo, não custa salientar que recentemente o regramento foi alterado, pois em 7.2.2014 foi publicada a Instrução Normativa/RF 1443, que alterou o §3º do art. 55 da Instrução Normativa/RF 680/2006, e que, como não poderia deixar de ser, faz remissões às obrigações do depositário segundo a lei civil. Assim, tendo em vista o regime legal e à luz da prova dos autos, a improcedência foi bem decretada. (TJSP, Processo n°. 4006433-61.2013.8.26.0562, Relator Des. Campos Mello, 22ª Câmara de Direito Privado, Publicado em 30/5/2014) 23.11 Não estão presentes os requisitos para o deferimento. O conhecimento é título de crédito, a emitente possa ser compelida a entregar

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a terceiros de boa-fé que com ele apresente. Por isso, o art. 580 do Código Comercial permite que se exija a caução fidejussória. Como a Autora não a prestou, fica indeferida a liminar. (TJSP, Processo n°. 583.00.2005.213135-3, Juiz: Marcus Vinicius Rios Gonçalves, 14ª Vara Cível de Santos, Publicada em 11/01/06)

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24. Limitação de Responsabilidade

Praticada e aceita no mundo inteiro, a cláusula limitativa de responsabilidade do transportador marítimo sempre foi palco de grande discussão no Brasil. Após, certa divergência entre as Turmas que compõem a Seção de Direito Privado do Superior Tribunal de Justiça, a Segunda Seção daquele Tribunal Superior firmou o entendimento no sentido de ser válida a cláusula limitativa da responsabilidade de indenizar no transporte marítimo. Como bem ponderou o Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira naquela oportunidade, o proprietário da carga tem a oportunidade de declarar o valor dos bens entregues para o transporte e, com isso, paga um preço de frete baseado no valor da carga (ad valorem), limitando-se a responsabilidade do transportador também a tal valor. No entanto, se o proprietário da carga decide não declarar o valor das suas mercadorias no conhecimento de transporte, acaba pagando um frete menor, baseado no volume da carga (ad rem). Com isso, havendo a opção de livre escolha por parte do contratante do transporte e uma vantagem ao mesmo concernente no pagamento do frete menor, deve ser aplicada, em contrapartida, a cláusula de limitação de responsabilidade do transportador estabelecida no contrato, a qual não se confunde com cláusula de não indenizar.

a) Transporte Marítimo – Cláusula Limitativa de responsabilidade do

transportador – Validade 24.1 Transporte maritimo. Responsabilidade. Admissão de clausula limitante da responsabilidade do transportador. Recurso especial conhecido, mas denegado. Maioria. (STJ, REsp: 39082 SP, Relator: Min. Nilson Alves, Segunda Seção, DJ 20/03/1995)

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24.2 RECURSO ESPECIAL - DEMANDA AJUIZADA PELA SEGURADORA EM FACE DA TRANSPORTADORA, POSTULANDO O REEMBOLSO DA INDENIZAÇÃO PAGA À SOCIEDADE EMPRESÁRIA SEGURADA, EM RAZÃO DE AVARIAS CAUSADAS À CARGA OBJETO DE TRANSPORTE MARÍTIMO INTERNACIONAL - SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA MANTIDA PELO ACÓRDÃO ESTADUAL, CONSIDERADA NULA DE PLENO DIREITO A CLÁUSULA LIMITATIVA DA OBRIGAÇÃO INDENIZATÓRIA. INSURGÊNCIA DA TRANSPORTADORA. 1. Ação regressiva intentada em 1998 pela seguradora, na qualidade de sub-rogada nos direitos da sociedade empresária segurada, postulando o reembolso, pela transportadora estrangeira, do valor pago a título de indenização securitária decorrente de danos causados durante o transporte marítimo internacional. Ao contestar, a transportadora pleiteou a observância da cláusula limitativa da responsabilidade (resultante do exercício da opção pelo pagamento de frete reduzido sem menção ao valor da carga), em caso de procedência da pretensão da parte autora. Sentença de procedência confirmada pelo Tribunal de origem, declarada a nulidade da referida disposição contratual, sob o fundamento de que abusiva, por configurar preceito excludente de responsabilidade do fornecedor inserta em contrato de adesão. 2. Validade da cláusula limitativa do valor da indenização devida em razão de avaria da carga objeto de transporte marítimo internacional. Nos termos da jurisprudência firmada no âmbito da Segunda Seção, considera-se válida a cláusula do contrato de transporte marítimo que estipula limite máximo indenizatório em caso de avaria na carga transportada, quando manifesta a igualdade dos sujeitos integrantes da relação jurídica, cuja liberdade contratual revelar-se amplamente assegurada, não sobressaindo, portanto, hipótese de incidência do artigo 6º, inciso VI, do Código de Defesa do Consumidor, no qual encartado o princípio da reparação integral dos danos da parte hipossuficiente (REsp 39.082/SP, Rel. Ministro Nilson Naves, Rel. p/ Acórdão Ministro Fontes de Alencar, Segunda Seção, julgado em 09.11.1994, DJ 20.03.1995). Nada obstante, é de rigor a aferição da razoabilidade e/ou proporcionalidade do teto indenizatório delimitado pela transportadora, o qual não poderá importar em quantia irrisória em relação ao montante dos prejuízos causados em razão da avaria da mercadoria transportada, e que foram pagos pela seguradora. Precedente do Supremo Tribunal Federal: RE 107.361/RJ, Rel. Ministro Octávio Gallotti, Primeira Turma, julgado em 24.06.1986, DJ 19.09.1986. 3. No caso concreto, à luz da orientação jurisprudencial firmada na Segunda Seção, não há que se falar em cláusula estabelecida unilateralmente pelo fornecedor do serviço, na medida em que, como de costume, é oferecida ao embarcador a opção de pagar o frete correspondente ao valor declarado da mercadoria ou um frete reduzido, sem menção ao valor da carga a ser transportada, sendo certo que, na última hipótese, fica a parte vinculada à disposição limitativa da obrigação de indenizar, cuja razoabilidade e proporcionalidade deverá ser aferida pelo

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órgão julgador. 4. Hipótese em que não se revela possível a utilização da técnica de julgamento do recurso especial prevista no artigo 257 do RISTJ (aplicação do direito à espécie). Isto porque não houve pronunciamento, nas instâncias ordinárias, sobre as assertivas formuladas por ambas as partes (no bojo da contestação, da réplica, da apelação e das contrarrazões) atinentes ao tipo de frete pago pela importadora da mercadoria transportada, bem como sobre se configurada, no caso concreto, a irrisoriedade do teto indenizatório estabelecido no contrato de transporte marítimo. 5. Recurso especial da transportadora parcialmente provido para, reconhecida a validade da cláusula limitativa de responsabilidade, determinar o retorno dos autos à origem para rejulgamento da apelação, na parte relativa ao limite da indenização, superado o entendimento contrário ao esposado nesta Corte Superior (STJ, REsp 1.076.465, Rel. Min. Marco Buzzi, 4ª Turma, DJe 25/11/2013) 24.3 Transporte marítimo. Cláusula limitativa de responsabilidade. É válida a cláusula limitativa da responsabilidade de indenizar inserta em contrato do transporte máritimo. Precedentes. Recurso especial conhecido e provido. (STJ, REsp 153787/SP, Rel. Min. Barros Monteiro, 4ª Turma, Data de Julgamento: 18/12/97) 24.4 Transporte maritimo. Clausula limitativa de responsabilidade. Resultando a cláusula limitativa de responsabilidade em transporte maritimo de opção pelo pagamento de frete menor, não ha dize-la inoperante. Em tal contexto, não assume relevo o valor irrisorio da indenização. Recurso não conhecido, aplicando-se quanto ao capítulo do dissidio a sumula n. 83/stj. (STJ, REsp: 67558 SP, Ministro Costa Leite, 3ª Turma, Data de Publicação: 18/09/1995) 24.5 Recurso especial - contrato de transporte marítimo - opção por frete de valor reduzido - cláusula limitativa de responsabilidade da transportadora - validade - decreto-lei n. 19.473/30 - inaplicabilidade, na espécie - precedentes do stj - aferição acerca de eventual pagamento integral do valor do frete e de sobretaxa reputada ilegal - reexame de provas e análise de cláusulas contratuais - impossibilidade - incidência dos enunciados ns. 5 e 7 da súmula/stj - recurso não conhecido.

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(STJ, REsp: 233023 SP, Ministro Massami Uyeda, 4ª Turma, Data de Publicação: 16.06.2008)

24.6 Comercial. Direito maritimo. Transporte. Clausula limitativa de responsabilidade. Validade. Precedente da segunda seção. Recurso desacolhido. É valida a cláusula limitativa da responsabilidade de indenizar inserida em contrato de transporte maritimo. (STJ, REsp: 36706 SP, Relator: Ministro Sálvio De Figueiredo Teixeira, Quarta Turma, Data de Publicação: 09/12/1996)

24.7 Recurso especial indeferido. Ação rescisoria. Transporte maritimo. Clausulas de limitação de responsabilidade. Validade da clausula de limitação da responsabilidade se o embarcador paga apenas o frete normal da mercadoria, correspondente ao valor declarado no conhecimento, sem indicar um valor maior como sendo o real valor da mercadoria transportada. Impossibilidade de, em recurso especial, analisar o conteudo e abrangencia de clausulas contratuais, a fim de aquilatar de sua compatibilidade do transportador. Agravo não provido. (STJ, AgRg no Ag: 27580 RJ, Relator: Ministro Athos Carneiro, Quarta Turma, Data de Publicação: DJ 22.03.1993 p. 4548) ______________________________________________________________ 24.8 CLÁUSULA LIMITATIVA DE INDENIZAR - CONHECIMENTO DE EMBARQUE - BILL OF LADING - TRANSPORTE MARÍTIMO - SEGURO - AÇÃO REGRESSIVA DE INDENIZAÇÃO E EXTINÇÃO DA AÇÃO SECUNDÁRIA - Recurso que objetiva discussão acerca das cláusulas limitativas de indenização que constam dos contratos celebrados entre a segurada e a 2a co-ré e entre esta e a 1a co-ré - Vexata questio resolvida pela interpretação da cláusula 8.4 de fl. 68v° e cláusula 15 de fls. 247-248 - Em documento celebrado entre a importadora "Embraer" e a "Henderson Line", consta da cláusula 8.4, que a indenização do transporte da mercadoria está limitada a US$500 dólares americanos, na hipótese de não haver declaração da carga e de seu valor - Igual previsão contida cláusula 15, trazido aos autos pela 1a co-ré - Documento traduzido por tradutor juramentado - Não obstante a solidariedade, não estão as co-rés, obrigadas a indenizar pelo pagamento de indenização superior àquele valor - Não socorre à autora ora apelante o disposto o art. 1o do Decreto n° 19.473/30 - Disposição legal que não tem o

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condão de afastar cláusula limitativa da responsabilidade das co-rés – Embora a cláusula de não indenizar seja inoperante, nos contratos de transporte, conforme Súmula n° 161, NÃO HÁ SÚMULA OU PRECEDENTE QUE OBSTE A VALIDADE DA CLÁUSULA DE LIMITAÇÃO DE RESPONSABILIDADE - Apelo da autora improvido. (TJSP, AC 7.031.075-7, Relator: Des. Salles Vieira, 24ª Câmara de Direito Privado, Data de Julgamento: 03/07/08) 24.9 YASUDA MARÍTIMA SEGUROS S/A, representada nos autos, ajuizou a presente ação em face de K LINE-KAWASAKI KISEN KAISHA LTD, representada nos autos, UPS SCS TRANSPORTES (BRASIL) S/A, também representada, e UPS SUPPLY CHAIN SOLUTIONS, também representada, narrando que uma empresa segurada da autora contratou as corrés para realizarem o transporte de uma mercadoria desde a Tailândia até o porto de Santos, em São Paulo. (...) A controvérsia limita-se à responsabilidade das rés pela avaria dos produtos transportados, e consequente dever de indenização regressiva à seguradora. Inicialmente, insta salientar que é incontroversa a avaria do contêiner e consequente avaria de todos os produtos lá transportados, como minuciosamente descrito pelos documentos anexados à peça vestibular. A questão nodal desta demanda é, portanto, delimitar a existência dos requisitos da responsabilidade pelo dano causado. Após detida análise documental, conclui-se que a avaria ao contêiner deu-se muito provavelmente durante a etapa de transporte marítimo (...). Finalmente, algumas considerações devem ser feitas em se tratando da indenização pleiteada. Verifica-se que, por força da apólice de seguro firmada entre a seguradora e sua segurada, a autora necessitou despender todo o valor apurado do dano à carga de propriedade da empresa Toyota. O que se discute nos presentes autos, entretanto, é a responsabilidade direta das empresas que realizaram o transporte da carga avariada, tomando-se como base, para a apuração desta, o contrato firmado entre a segurada e as referidas transportadoras. Em síntese, apesar de existir disposição contratual clara quanto à indenização integral na relação seguradora-segurada, inexistia cláusula nesse sentido nos contratos aqui avaliados. Existia, até mesmo, limitação da responsabilidade das transportadoras de acordo com o valor declarado da carga. A parcela dominante da doutrina brasileira e internacional sobre o tema é unânime no reconhecimento da possibilidade de restrição à indenização por danos causados a cargas em transportes interempresariais como os aqui delineados. Assim, só se discute o princípio da reparação integral para os contratos interpessoais. Para tanto, é essencial

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o preenchimento da declaração de valor da carga transportada, pelo cliente, de modo que se possa, em caso de danos, ser paga uma indenização condizente. Estudados os autos, verifico que, talvez com intenção de pagar menos taxas alfandegárias, a segurada da autora omitiu-se quanto ao valor de suas mercadorias. Desse modo, em atenção ao princípio do pacta sunt servanda, é necessário aplicar a disposição contratual própria da situação ora descrita. Como se depreende do documento de fls. 24, o qual, no entendimento do C. STJ, não necessita de tradução juramentada por se tratar de "Bill of Lading", o limite de carga indenizável para a viagem aqui discutida era de 50 centavos de dólar norte americano por libra de carga danificada. Realizada a conversão de libras para quilos, tendo-se por base o peso descrito no documento de fls. 25, tem-se que o peso da mercadoria danificada era de 27.469,60lbs. Tal valor, multiplicado por 0,5, resultou na indenização total devida de US$13.734,80, que, convertido para reais na taxa do presente dia (12/09/2016- 1 Dólar= R$3,27), totaliza o montante de R$44.912,79.Reitera-se a validade da aplicação de tal limite indenizatório, pois é impossível que as regras regentes da apólice de seguros firmada entre a autora e sua segurada possam vincular terceiros; devendo a sub-rogação de direitos pela seguradora respeitar os limites do direito da segurada na relação principal. Nesse sentido: 1. A Seguradora, ao efetuar o pagamento da indenização decorrente do prejuízo advindo pelo desvio da carga, ocorrido por culpa da transportadora, sub-rogou-se nos direitos da segurada em se ressarcir dos valores, acrescidos de juros e correção monetária. A Seguradora assume o lugar de sua cliente, pois honrou integralmente com o pagamento da indenização devida. Nestes termos, recebe os mesmos direitos e deveres da sub-rogada, nos limites da sub-rogação. (STJ, AgRg. no agravo de instrumento 1.291.994SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 28/02/2012) Diante do exposto, julgo PROCEDENTE EM PARTE o pedido desta ação para condenar as rés, solidariamente, no pagamento de indenização no valor de R$44.912,79 à requerente. (...). (SP, 1013396-62.2016.8.26.0100 – 21ª Vara Cível - Foro Central Cível de São Paulo. Juiza Daniela Dejuste de Paula. Data: 19/09/2016)

24.10 TRANSPORTE MARITIMO. RESPONSABILIDADE DO TRANSPORTADOR. CLAUSULA LIMITATIVA DE RESPONSABILIDADE. CLAUSULA DE NÃO INDENIZAR. DEFICIENCIA PROBATORIA. CABIVEL E A LIMITAÇÃO DA RESPONSABILIDADE, SE O EMBARCADOR APENAS PAGOU O FRETE NORMAL RELATIVO A IMPORTANCIA DECLARADA NO CONHECIMENTO DE TRANSPORTE QUANDO LHE ERA POSSIVEL INDICAR VALOR MAIOR, COM

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PAGAMENTO DE MAIOR FRETE. NÃO HA QUE CONFUNDIR TAL CLAUSULA COM A DE "NÃO INDENIZAR" QUE A JURISPRUDENCIA TEM ADMITIDO COMO VEDADA PELO ART. 1. DO DECRETO N. 19.473/30. ENTENDER-SE DIFERENTEMENTE SERIA ONERAR INJUSTIFICADAMENTE O TRANSPORTADOR, POSTO QUE A FIXAÇÃO DO FRETE SE FAZ A BASE, INCLUSIVE, DO VALOR DA CARGA. ENTRETANTO, NÃO SENDO PRODUZIDA PROVA DE QUE A HIPOTESE SE IDENTIFICA COM AQUELAS EM QUE E POSSIVEL HAVER A LIMITAÇÃO DA RESPONSABILIDADE DO TRANSPORTADOR, PELA FACULDADE DE PODER O PROPRIETARIO DE CARGA PAGAR FRETE CORRESPONDENTE AO SEU REAL VALOR, MAS, AO CONTRARIO, HAVENDO MENÇÃO, NO RECURSO, A CLAUSULA EXONERATIVA DE RESPONSABILIDADE, CABE APLICAR-SE AO CASO O PRINCIPIO ENUNCIADO NA SUMULA N. 161 DO STF. (TFR, AC nº 0000466, Relator: Min. Aldir Passarinho, Data de Julgamento: 11/03/81) 24.11 TRANSPORTE DE MERCADORIAS - Via marítima - Cláusula restritiva do valor da indenização - Admissibilidade - Limitação que não se confunde com cláusula de não indenizar - Inaplicabilidade da Lei 6.288/75, que regula o transporte intermodal. TRANSPORTE DE MERCADORIAS - Via marítima -- Extravio de carga - Indenização - Ação regressiva proposta por seguradora contra o causador do dano -- Cláusula contratual prevendo valor fixo por volume - Bens encaixotados e acondicionados em "pallets" - Verba a ser calculada em função do número de caixas, que efetivamente representa a perda sofrida -- Inadmissibilidade, porém, de restituição do valor pago a título de frete marítimo, TRANSPORTE DE MERCADORIAS -- Via marítima - Extravio de carga - Indenização - Ação regressiva proposta por seguradora contra o causador do dano - Correção monetária - Incidência a partir da data da sub-rogação até a liquidação da dívida. (1º TACiv-SP, Ap 282.629, 6ª C, Relator: Jorge Almeida, Data de Julgamento: 15/09/81) 24.12 TRANSPORTE MARÍTIMO INTERNACIONAL. FURTO DE MERCADORIA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. ATO DE VISTORIA. LIMITAÇÃO DA RESPONSABILIDADE. Na ação de regresso o conhecimento de transporte não é documento essencial. A relação transportador-importador é contratual, devendo ser regulada pelas disposições do Código Comercial. Conforme se

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24 Limitação de Responsabilidade

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infere do disposto nos artigos 102 e 103 do mencionado diploma, a responsabilidade do transportador é objetiva, somente podendo ser afastada mediante comprovação de que o dano tenha decorrido de vício da própria coisa, caso fortuito ou força maior. O ato de vistoria aduaneira levada a efeito em 27 de maio de 2002 (fl.27), no Terminal do contêiner S/A em Rio Grande, constatando o extravio, é prova suficiente e idônea do dano. Válida a cláusula de limitação de responsabilidade, devendo corresponder ao valor constante no documento de transporte. Agravo retido e apelo da denunciada não providos. Apelo da ré provido em parte. (TJRS, Apelação nº 70009370792, Relator: Marcelo Cezar Muller, Décima Primeira Câmara Cível, Data de Julgamento: 18/01/2006)

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25 Mau Acondicionamento / Má Estiva / Vício de Embalagem

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25. Mau Acondicionamento / Má Estiva / Vício de Embalagem5F

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Não obstante não serem muitas dentro da legislação brasileira as causas excludentes de responsabilidade do transportador marítimo por avarias ocorridas na carga durante o transporte, o transportador, por óbvio, não pode responder por circunstâncias a que não deu causa. Nesse contexto, dentre as causas excludentes de responsabilidade do transportador se encontram o mau acondicionamento, defeito de estiva ou vício de embalagem da carga, quando atribuíveis ao embarcador, especialmente nas hipóteses em que a carga é acondicionada e lacrada dentro do contêiner pelo embarcador ou seu preposto, não tendo o transportador marítimo condições de abrir a unidade e averiguar o estado da carga ali dentro. O vício de embalagem, aliás, equipara-se inclusive a vício próprio da coisa entregue para transporte, não havendo nexo causal que atribua ao transportador responsabilidade por eventuais avarias decorrente de um evento de tal natureza.

a) Transporte de carga – Avaria – Estivagem inadequada da carga dentro

do contêiner – Ausência de responsabilidade do transportador 25.1 Ação regressiva – Ressarcimento – Seguro – Decadência – Não ocorrência – Transporte marítimo – Avarias na carga – Danos causados em razão do mau acondicionamento no interior do contêiner – Ciência pela segurada da forma empregada na fixação da mercadoria – Culpa in elegendo e in vigilando – Seguradora que não estava contratual e nem legalmente obrigada a promover o pagamento – Sentença de improcedência – Decisão correta – Recurso improvido. (TJSP, Apelação 1028954-80.2015.8.26.0562; Des. Souza Lopes; 17ª Câmara de Direito Privado; Data do Julgamento: 17/10/2018)

7 V. Cap. 13 “Container Lacrado / FCL”

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25 Mau Acondicionamento / Má Estiva / Vício de Embalagem

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25.2 Acidente - Tombamento de caminhão-contêiner - Avarias na mercadoria - Seguradora sub-rogada nos direitos de seu segurado - Insurgência contra sentença de improcedência - Alegação de responsabilidade objetiva - Nexo de Causalidade - Afastamento - Sinistro decorrente de deslocamento interno da mercadoria transportada - Falta de serviço de estivagem ou outra técnica adequada de amarração do produto ao contêiner transportador - Acondicionamento inadequado - Serviço não competia à transportadora-apelada - Caracterizada excludente de responsabilidade -Exegese do art . 14, §3", II, do CDC - Hipótese em que a r. sentença apreciou corretamente os elementos fáticos e jurídicos existentes nos autos, além de estar satisfatoriamente fundamentada - Aplicação do art . 252 do RITJ - Sentença integralmente mantida - Recurso não provido. (TJSP, AC Nº 0003995-77.2006.8.26.0562, Des. Rel. Rubens Cury, 18ª Câmara de Direito Privado, Data de Julgamento : 23/11/11) 25.3 RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO REGRESSIVA DA SEGURADORA. TRANSPORTE DE MERCADORIAS. (...). O Transportador não responde por perda ou avaria de carga estivada defeituosamente pelos prepostos do remetente (aplicação do Decreto legislativo nº 2.681/12, art. 1º, 4º, primeira parte). (...) (TJRJ, AC 8.867/94, Des. Asclepíades Rodrigues, 3ª Câmara Cível, Data de Julgamento: 10/11/94) b) Transporte marítimo – Embalagem inadequada – Ausência de

responsabilidade do transportador 25.4 Transporte maritimo. Embalagem inadequada ou defeituosa, havida como vício próprio da mercadoria para o efeito de excluir a responsabilidade do transportador. Interpretação do art. 102 do código comercial. Inocorrencia de negação de vigencia a dispositivos legais, ou dissidio com a súmula 161. Agravo regimental não provido. (STF, AI-AgR: 54256, Relator: Xavier De Albuquerque, Segunda Turma, Data de Publicação: 11/09/1972)

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c) Transporte marítimo – Vício próprio da mercadoria – Ausência de responsabilidade do transportador

25.5 TRANSPORTE MARÍTIMO – Responsabilidade objetiva da transportadora – Necessidade de nexo de causalidade entre a conduta das corrés e os danos sofridos – Suscitado vício de origem – Constatação – Provas dos autos que indicam para o mau acondicionamento da mercadoria – Ausência de impacto externo comprovado – Demais peças que foram entregues em perfeitas condições – Dever de indenizar não configurado (...) Ação julgada procedente – Sentença reformada (TJSP, Apelação 1010267-83.2015.8.26.0100; Relator: Carlos Alberto Lopes; 32ª Câmara Extraordinária de Direito Privado; Julgamento: 10/10/2017)

25.6 RESPONSABILIDADE DO TRANSPORTADOR MARÍTIMO: Caso de inocorrência. Vício próprio da coisa. Embora seja presumida a responsabilidade do transportador marítimo relativamente a mercadoria embarcada, é de ter-se como exonerado ele de tal responsabilidade se a prova dos autos revela que a deterioração do produto decorreu de vício próprio. Sentença que se mantém. (TFR, Ac. 36.113/SP, DJU de 13.10.72) 25.7 Ação de cobrança de quantia certa. Pagamento de quantia de risco de seguro. Sub-rogação. Incêndio em porão de navio transportador de produtos segurados. Incêndio não culposo. Desobrigação do afretador. Ocorrência de vício do produto. Se o produto cmoprovadamente apresenta vícios que motivaram o sinistro, excluída se encontra a obrigação do afretador, por expressa disposição legal (art. 102 do código comercial). Desprovimento da apelação. (TJRJ, AC 2003.001.04096, des. Francisco José De Asevedo, 17ª Câmara Cível, j. 07/12/2005)

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26. Nexo Causal

Não são raras as vezes que as partes demandantes em determinada causa judicial se perdem em longas teses sobre responsabilidade do transportador e acabam pecando na exposição completa dos fatos e na adequada instrução da causa, chegando inclusive a ver-se ações ajuizadas contra parte que sequer deu causa ao dano reclamado. A cadeia logística de uma importação ou exportação de carga envolve uma série de personagens e agentes distintos e, muitas vezes, em caso de avaria, a parte demandante sequer busca identificar o momento real da ocorrência do dano ou a parte de fato que deu causa ao mesmo, pretendendo amparar-se em alegações de solidariedade que não se sustentam em casos de transportes sucessivos. Vale lembrar que, para a caracterização da responsabilidade civil faz-se necessária a demonstração da prática de um ato ilícito, da existência de dano e do inconteste nexo de causalidade que os una, sem o qual inexiste o dever de indenizar.

a) Transporte de carga – Ausência de comprovação do momento de

ocorrência das avarias – Ausência de nexo causal – Auência de responsabilidade do transportador marítimo

26.1 Ação regressiva - CONTRATO DE SEGURO - TRANSPORTE MARÍTIMO - SEGURADORA - SINISTRO - COMPROVAÇÃO DO PAGAMENTO - SUB-ROGAÇÃO NOS DIREITOS DA SEGURADA - AVARIA DE MERCADORIAS - NÃO DEMONSTRAÇÃO DO MOMENTO DA OCORRÊNCIA - ÔNUS DA PROVA - INCUMBÊNCIA DA AUTORA - INTELIGÊNCIA DO ART. 373, I, DO CPC - TRANSPORTADOR - RESPONSABILIDADE - AFASTAMENTO - IMPROCEDÊNCIA - SENTENÇA - MANUTENÇÃO. (...). (TJSP; Apelação 1006061-61.2016.8.26.0562; Rel. Des. Antonio Luiz Tavares de Almeida; 11ª Câmara de Direito Privado; Julgamento: 26/10/2017)

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26.2 Cuida-se de ação de regresso ajuizada por seguradora contra transportadora marítima de mercadorias, as quais a autora afirma terem experimentado avarias. (...) Na essência, a autora afirma que ressarciu importadora em razão de contrato de seguro, com cobertura para danos decorrentes de avarias durante transporte marítimo. Sabe-se da obrigação de resultado que assume o transportador ao receber as mercadorias na embarcação, as quais devem ser entregues íntegras no local de destino. Verificadas avarias, presume-se a falha na prestação do serviço, suficiente para sua responsabilização em razão inadimplemento da obrigação. No entanto, é indispensável a demonstração de que os danos tenham acontecido com as mercadorias enquanto ainda em poder do transportador marítimo. Não há responsabilidade sem prova de nexo causal entre sua conduta – omissiva ou comissiva – e os danos constatados. No caso, embora existam indícios, outros contra-indícios chamam a atenção e não permitem a formação de juízo seguro a respeito do momento em que verificada as avarias especificamente relacionadas com a mercadoria referida na inicial. É certo que quando da entrega da mercadoria no Terminal Alfandegado, foi lavrado o “Termo de Avaria de Container”, documentado às fls. 62. Porém, suas referências são lacônicas e não especificam o que de fato aconteceu. A menção “suspeita de falta/avaria” não é suficiente para algo identificar com precisão, muito menos para demonstrar a ocorrência dos danos na mercadoria importada pela segurada. A despeito dessa referência por parte do Terminal - nada mais que uma suspeita –, a mercadoria foi retirada do terminal por transportadora terrestre no dia 02 de junho de 2004. Na oportunidade, nenhuma ressalva foi lançada em relação ao equipamento contido no container. O equipamento foi entregue no local de destino em 08 de junho de 2004 (vide conhecimento de fls. 54). O documento de fls. 65 noticia que em tal data se constatou a avaria, então, especificamente no material importado. Somente a partir daí cogitou-se da realização da vistoria documentada às fls. 66 e seguintes. Não consta que em algum momento a transportadora marítima tenha sido de algo comunicada a respeito das avarias no equipamento. Também não consta que tenha sido convidada a participar da vistoria a ser realizada para apuração do que se passou. É no mínimo estranho que tudo tenha se passado à sua revelia. Não se pode perder de vista que se presume estarem as empresas envolvidas na questão (transportadoras, importadora, seguradora) acostumadas aos trâmites relacionados com apuração de responsabilidades fruto das intercorrências nos processos de importação. O natural e razoável, diante da suspeita de avaria decorrente de falha no transporte marítimo, seria ao menos a formalização do convite para que a possível responsável tomasse parte nas investigações. No entanto, inexplicavelmente, nada foi formalizado, e nada

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constando nos autos sugere tentativas de comunicação. (...) É relevante observar que mesmo na hipótese de recusa, haveria ainda a possibilidade de socorro à via judicial para a preservação da prova. Porém, optaram os "interessados" pela falta de cautela, pela produção de prova sem participação ou ciência da possível responsável. Não podem agora opor a vistoria à requerida, contra quem seu valor tem mínima ou nenhuma força probante. A falta de diligência em permitir seu conhecimento a respeito das providências adotadas, evidencia ainda que não é o caso de inversão do ônus da prova, até porque, não se cogita aqui de hipossuficiência de qualquer das partes. (...) Não se desincumbindo a autora do ônus de demonstrar que as avarias aconteceram enquanto a mercadoria estava em poder da ré (art. 333, I, CPC), é o que basta para o decreto de IMPROCEDÊNCIA, dispensada a análise das demais teses suscitadas em defesa. (TJSP, Proc. nº 562.01.2005.017419-1, Juiz José Alonso Beltrame Junior, 10ª V. Cível de Santos/SP, Data de Publicação: 11/10/2007) 26.3 (...) Se é obrigação do transportador levar a carga incólume, ao destino, cumpriu a sua obrigação, que é de resultado. (...) Nenhum indicativo nos autos a revelar com segurança que as avarias tenham ocorrido em razão do transporte marítimo. Ao contrário, a prova demonstra que as avarias teriam ocorrido após o término do transporte e a devida entrega dos bens no destino (...). Incumbe à parte autora o ônus de provar o ato, o dano e o nexo de causalidade entre ato e dano para ensejar o dever de reparação (artigo 333,1, CPC). É sabido que a responsabilidade do transportador marítimo ou rodoviário pelos danos causados às mercadorias transportadas é contratual e objetiva, bastando, à sua configuração, que o destinatário da carga comprove os danos experimentados e a relação de causalidade entre estes e a má execução do serviço contratado. Com efeito, as alegações da apelada, somadas aos elementos de prova constantes nos autos, não são hábeis a comprovar a culpa das transportadoras e o nexo de causalidade entre a conduta (transporte) realizada e o dano (avaria) indenizado pela seguradora. A JURISPRUDÊNCIA EXIGE A PROVA SEGURA DO NEXO DE CAUSALIDADE: "APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REGRESSIVA DE RESSARCIMENTO. SEGURADORA SUB-ROGADA NOS DIREITOS DA SEGURADA. AVARIAS NAS MERCADORIAS TRANSPORTADAS. TRANSPORTE MARÍTIMO. AUSÊNCIA DE RECIBO DA MERCADORIA. PRESUNÇÃO DE PRODUTO EM PERFEITO ESTADO. INEXISTÊNCIA DE RECUSA DA TRANSPORTADORA. RESPONSABILIDADE DA TRANSPORTADORA LIMITADA A ENTREGA DO BEM. CULPA E NEXO DE CAUSALIDADE NÃO COMPROVADOS. RECURSO DESPROVIDO. 1 - Rege-se

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pelas normas da Responsabilidade Civil aquiliana a pretensão de ressarcimento por subrogação deduzida pela seguradora em face da segurada. 2 - Não subsiste obrigação de indenizar quando a parte não se desincumbe do ônus da prova da culpa e do nexo de causalidade entre o transporte e o dano, inteligência do artigo 333, inciso I, do Código de Processo Civil. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO" (TJPR - Apelação Cível n. 440.136-5 - PARANAGUÁ - Rei. Dês. ROSANA AMARA GIRARDI FACHIN - 9a Câmara Cível - unanimidade - j. 13.03.2008 - site: www.tjpr.gov.br). 'TRANSPORTE MARÍTIMO. AVARIA. Ação proposta pela seguradora subrogada (...) demonstrado o dano e o nexo de causalidade, e não comprovada nenhuma causa excludente da sua responsabilidade, tem o transportador o dever de ressarcir a seguradora que, ao cumprir o contrato de seguro, se subrogou nos direitos de seu segurado. Desprovimento ao recurso" (TJRJ - Ap. Cível n.2007.001.20276 - Dês. ROBERTO WIDER -j.26.06.2007 - 5a Câmara Cível). Não basta apenas a comprovação do dano. Há motivo mais que suficiente a isentar a responsabilidade das transportadoras marítimas. Trazemos à baila, ainda, recente decisão deste Tribunal: "TRANSPORTE MARÍTIMO. Cargas. Avarias. Ausência de provas hábeis de que tenham ocorrido enquanto as mercadorias estavam sob a custódia do transportador. Ação improcedente. Se dos próprios documentos juntados pela autora não se consegue definir onde e quando ocorreram as avarias, impossível cogitar da responsabilidade do transportador. Recurso não provido" (TJSP - Ap. Cível n. 7.279.030-6 - 11a Câmara de Direito Privado - rei. Dês. Gilberto dos Santos - j.13.11.2008) No corpo do referido acórdão constou: "Não foi possível precisar "onde e quando tais avarias ocorreram. Inviável cogitar de responsabilidade do transportador por simples "presunção", como pretende a apelante". É exatamente o acontece aqui, pois, diga-se (...), a afirmação da perícia de que o dano teria ocorrido durante o transporte marítimo é desprovida de fundamentação e conhecimento técnico, como já visto alhures. (...) (TJSP, Apelação n° 7141797-3, Des. Gioia Perini, Data de Julgamento: 06/03/2009) 26.4 APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS DE SEGURADORA CONTRA A TRANSPORTADORA DO PRODUTO SEGURADO - FALTA DE MERCADORIA - RECURSO AFORADO CONTRA SENTENÇA QUE JULGOU IMPROCEDENTE O PEDIDO - AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO MOMENTO DA PERDA E DE VIOLAÇÃO DE LACRES DO CONTAINER - IMPOSSIBILIDADE DE RESPONSABILIZAÇÃO DA TRANSPORTADORA – (...). Quando inexistente

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comprovação de que a perda de mercadoria se deu durante o período em que a carga permaneceu sob a custódia do transportador, há carência de subsídios para sua responsabilização. (...) (TJSC, AC 2004.003340-0, Rel. Mazoni Ferreira, 2ª Câmara de Direito Civil, j. 23/09/2009) 26.5 TRANSPORTE MARÍTIMO. Cargas. Avarias. Ausência de provas hábeis de que tenham ocorrido enquanto as mercadorias estavam sob a custódia do transportador. Ação improcedente. Se dos próprios documentos juntados pela autora não se consegue definir onde e quando ocorreram as avarias, impossível cogitar da responsabilidade do transportador. (TJSP, Ap. Cível n.7.279.030-6, Rel. Des. Gilberto dos Santos, 11a Câmara de Direito Privado, Data de Julgamento: 13/11/2008) b) Transporte marítimo – Molhadura de carga decorrente de furo no

contêiner – Avaria que não decorreu do transporte – Ausência de nexo causal – Ausência de responsabilidade do transportador

26.6 (...) Contrato de transporte marítimo internacional. Ação regressiva de contrato de seguro – Contrato de transporte marítimo internacional – Alegação de avaria na mercadoria por molhadura, em decorrência da existência de furos no contêiner – Responsabilidade objetiva do transportador – Inocorrência – Autoridade portuária apontou que o contêiner apresentava amassamento, porém, sem efetiva menção a perfuração que pudesse permitir a entrada de água no cofre de carga – Mercadoria recebida sem qualquer ressalva - Vistoria particular realizada após a entrega da mercadoria e sem a presença da agente marítima da transportadora – Inadmissibilidade – Necessidade de vistoria conjunta para o reconhecimento da responsabilidade da transportadora - Conjunto probatório não permite verificar se as avarias ocorreram enquanto a mercadoria estava em poder da transportadora marítima – Mero amassamento do contêiner em que estava acondicionada a mercadoria não implica avaria por molhadura, sendo possível que os danos tenham ocorrido após a execução do transporte marítimo – Ausência de comprovação dos fatos constitutivos do direito alegado (art. 373, I do CPC/15) – Ação julgada improcedente.

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(TJSP, 1048584-19.2016.8.26.0100; Relator: Francisco Giaquinto; 13ª Câmara de Direito Privado; Data do Julgamento: 19/04/2017) 26.7 EMBARGOS INFRINGENTES - AÇÃO REGRESSIVA -SEGURO -TRANSPORTE MARÍTIMO - AVARIA NA CARGA TRANSPORTADA QUE NÃO DECORREU DO SERVIÇO DE TRANSPORTE - AUSÊNCIA DE NEXO DE CAUSALIDADE ENTRE O DANO E O TRANSPORTE - UMIDADE QUE DANIFICOU OS BONECOS DE PELÚCIA QUE DECORREU DE FURO NO TETO DO CONTAINER E NÃO DO TRANSPORTE EM SI - EMBARGOS REJEITADOS, COM OBSERVAÇÃO. (...) No presente caso, entendo ausente nexo de causalidade a permitir a imputação de responsabilidade pela avaria na carga, ao transportador. Na inicial, consta que os bonecos de pelúcia acondicionados em container objeto de transporte, estavam úmidos provocando aparecimento de mofo, exalando forte cheiro característico, que a contratante-segurada atribui a um furo no teto do container. Como salientado no v. acórdão objeto dos presentes embargos, o aparecimento do mofo é verificado após razoável decurso de tempo para seu aparecimento, circunstância que se mostra incompatível com o período em que a carga ficou com o transportador, visto que o trajeto contratado Santos-São Paulo, especificamente no bairro de Santo Amaro, é de apenas 1OOkm. A umidade que provocou a perda dos bens transportados decorreu de furo no teto do container (item 5 da inicial) e não do transporte do container pela embargada. Não se vislumbra, portanto, o nexo de causalidade entre o dano e o transporte, o que impede a responsabilização do transportador pela avaria na mercadoria transportada. (...) A responsabilidade do transportador inicia-se com o recebimento da mercadoria e termina com sua entrega, responsabilizando-se este pelo que acontecer com a mercadoria durante a viagem e não pelos fatos ocorridos antes do embarque. Assim, rejeito os embargos infringentes, mantendo a improcedência da ação tal como decidido no julgamento da apelação. (TJSP, Embargos Infringentes n°. 9229796-26.2005.8.26.0000, Relator: Des. Heraldo de Oliveira, Julgado em 02/02/2011) c) Transporte de carga – Avaria causada pelo deslocamento da carga no

interior do contêiner – Acondicionamento que não competia ao transportador – Ausência de nexo causal – Ausência de responsabilidade do transportador

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26.8 Acidente - Tombamento de caminhão-contêiner - Avarias na mercadoria - Seguradora sub-rogada nos direitos de seu segurado - Insurgência contra sentença de improcedência - Alegação de responsabilidade objetiva - Nexo de Causalidade - Afastamento - Sinistro decorrente de deslocamento interno da mercadoria transportada - Falta de serviço de estivagem ou outra técnica adequada de amarração do produto ao contêiner transportador - Acondicionamento inadequado - Serviço não competia à transportadora-apelada - Caracterizada excludente de responsabilidade -Exegese do art . 14, §3", II, do CDC (...). (TJSP, AC 0003995-77.2006.8.26.0562, Des. Rubens Cury, 18ª Câmara, j. 23/11/11) d) Transporte marítimo – Avaria após a descarga – Ausência de

responsabilidade do transportador 26.9 AÇÃO REGRESSIVA – Contrato de Seguro – Transporte marítimo – Pedido julgado procedente – Reforma que se impõe – Mercadoria entregue no Porto de Santos/SP – Notícia sobre eventual ressalva no recebimento – Inexistência – Presunção de que recebida em bom estado e em conformidade com o conhecimento de transporte – Art. Io, § Io, DL 116/67 – Constatação de suposta avaria e/ou extravio em vistoria realizada em Sabará/MG, duas semanas após sua nacionalização – Responsabilidade da transportadora – Ausência – Sentença reformada – Recurso provido. Inexistindo notícia sobre ressalva feita no momento do desembarque no porto de destino, presume-se que a mercadoria foi entregue em bom estado e em conformidade com o conhecimento de transporte. (...) AUSENTE QUALQUER PROVA DE QUE A MERCADORIA TENHA SOFRIDO AVARIA OU SIDO EXTRAVIADA DURANTE O TRANSPORTE MARÍTIMO, A PRESTADORA DE SERVIÇO NÃO PODE SER RESPONSABILIZADA. (TJSP, AC 00390286020088260562, Des. Spencer Almeida Ferreira, 38ª Câmara, j. 06/04/2011) 26.10 DIREITO COMERCIAL. TRANSPORTE MARÍTIMO INTERNACIONAL. RECEBIMENTO PELA AUTORIDADE PORTUÁRIA. CERTIFICADO DE AVARIA EMITIDO CERCA DE UM MÊS APÓS A DESCARGA. VISTORIA A DESTEMPO. NÃO RESPONSABILIDADE DA TRANSPORTADORA (...). I - Às entidades

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portuárias, em razão da legislação específica, em princípio compete a responsabilidade pelos bens descarregados sujeitos à sua guarda, pelo que a elas cumpre tomar oportunamente as cautelas previstas em lei. II - A responsabilidade da transportadora cessa com a entrega da mercadoria à entidade portuária, salvo se esta se resguarda nos termos da lei. III - O termo da avaria não tem o condão de substituir a vistoria exigida pelo DL nº 116/67. (STJ, REsp 108.756/SP, Min. Sálvio Figueiredo Teixeira, 4ª Turma, DJ 12/04/1999)

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27. NVOCC

Uma das partes normalmente envolvidas nos transportes internacionais de cargas é o NVOCC (‘Non-Vessel Operating Common Carrier’). O NVOCC consiste em uma empresa transportadora que não possui navio próprio. É normalmente contratado para realizar o transporte de cargas de menor volume, consolidando mercadorias de diversos embarcadores dentro de um ou mais contêineres. Perante o proprietário da carga o NVOCC emite um conhecimento de transporte próprio (House ou Filhote), responsabilizando-se, portanto, pelo transporte da mercadoria. Em contrapartida, uma segunda relação jurídica se forma quando o NVOCC contrata o transporte marítimo junto a um armador tradicional, para que realize o transporte dos contêiners a bordo de um navio. Perante o armador, a parte que figura como embarcadora e contratante do transporte marítimo da carga é o próprio NVOCC. O transportador marítimo não possui relação direta com os proprietários das mercadorias consignadas pelo NVOCC, sequer podendo identificá-los. Portanto, dentro dessa gama de relações, muitas vezes cria-se uma confusão nos conceitos de responsabilidade e relações jurídico-contratuais e pretende-se responsabilizar o transportador marítimo por fato imputável unicamente ao NVOCC, situações às quais a jurisprudência atenta já vem rechaçando.

a) Transporte marítimo – Avaria de carga – Ação contra o transportadora

marítimo – Denunciação contra o NVOCC – Responsabilidade do NVOCC pelo mau acondicionamento da mercadoria

27.1 APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RESSARCIMENTO DOS PREJUÍZOS RESULTANTES DAS AVARIAS NA MERCADORIA HAVIDA SOBRE O CARREGAMENTO DE BOBINAS DE PAPEL SECO MELANÍNICO EMBARCADO NO NAVIO ALIANÇA HAMBURGO, PARA TRANSPORTE DO PORTO DE ANTUÉRPIA, PARA O PORTO DE PARANAGUÁ/PR, ACOLHIDA `A QUO'. SEGURADORA SUB-

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ROGADA NOS DIREITOS DA SEGURADA. TRANSPORTE MARÍTIMO INTERNACIONAL. LIDE SECUNDÁRIA JULGADA PROCEDENTE, RESPONSABILIZANDO A DENUNCIADA `CONFREIGHT MARINE' AO PAGAMENTO DA CONDENAÇÃO IMPOSTA À DENUNCIANTE `SCHENKER STINNES LOGISTICS'. PRESCRIÇÃO AVENTADA CONTRARIAMENTE E, AO ADESIVO, SOB EXAME PRELIMINAR, AFASTADA (ART. 27, CDC) - PRECEDENTES DO STJ. APELO: LEGITIMIDADE DA APELANTE PARA INTEGRAR LIDE PARALELA, MANTIDO RELACIONAMENTO COMERCIAL DIRETO COM A DENUNCIANTE. LEGITIMIDADE DA PARTE DENUNCIANTE, DIANTE VÍNCULO COM A RECORRENTE, AUTORIZANDO EFETIVA DENUNCIAÇÃO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA TRANSPORTADORA, ORA APELANTE - EMISSÃO DE CONHECIMENTO DE EMBARQUE (‘BILL OF LADING’), SEM QUALQUER RESSALVA - RESSARCIMENTO DEVIDO - PRECEDENTE. SENTENÇA MANTIDA QUANTO À LIDE SECUNDÁRIA - DESPROVIMENTO (...). Inteiro teor: O proprietário de carga, que não possui volume suficiente para preencher um contêiner, contrata um NVOCC, que a unitiza juntamente com outras cargas de outros proprietários. Ao armador tradicional, proprietário de navio, não interessa cargas soltas, mas apenas as cargas acondicionadas em contêineres, sendo por isso que mantém contratos com armadores do tipo NVOCC. Estando estabelecido que a causa do sinistro foi o mau acondicionamento da carga dentro do contêiner, deve a denunciada ser condenada ao pagamento do débito, pois foi ela quem realizou a unitização. (TJPR, AC 628062-0, Rel. Des. Arno Gustavo Knoerr, 8ª Câmara Cível, j. 15/04/2010) b) Transporte marítimo – Não devolução dos contêineres no prazo

convencionado –Responsabilidade do NVOCC pelo pagamento de sobrestadia

27.2 DECLARATÓRIA (...) Sobreestadia de contêiner – Autora é transportadora marítima na modalidade NVOCC – Atraso de embarcação - Autora responde pelo tempo ultrapassado após o prazo ajustado, devendo arcar com o ônus do pagamento da tarifa relativa ao período excedente à data estipulada para a devolução – Mantida a r. sentença – Recurso não provido. (TJSP; 1132066-93.2015.8.26.0100; Relator (a): Achile Alesina; Órgão Julgador: 38ª Câmara de Direito Privado; Data do Julgamento: 28/06/2017)

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27.3 Apelação Cível. Direito marítimo. Contrato de transporte de carga. Não devolução dos contêineres no prazo convencionado. Cobrança de sobre-estadia. Sentença de procedência que não se reforma. Ré que, na qualidade de NVOCC, responde como consignatária da carga. Contrato firmado entre o transportador e o agente marítimo. Culpa do importador no desembaraço alfandegário que não exime a ré da responsabilidade pelo atraso na devolução dos contêineres. Precedentes desta Corte de Justiça. Demurrage devidamente ajustada no Conhecimento de Embarque. Pretensão de cobrança que prospera. Sobre-estadia que possui natureza indenizatória, com claro escopo de ressarcir o proprietário do contêiner pelos prejuízos advindos da privação na disposição do bem. Recurso desprovido. (TJRJ, AC: 0254737-78.2011.8.19.0001, Relator: Eduardo Gomes Alves De Brito, 16ª Câmara Cível, Data de publicação: 14/12/2012) 27.4 APELAÇÃO AÇÃO DE COBRANÇA DEMURRAGE CLÁUSULA FOB (FREE ON BOARD) RESPONSABILIDADE PELO PAGAMENTO DA TAXA DE SOBRE-ESTADIA. Cuidando-se de exportação com a cláusula FOB, o transportador marítimo, com ou sem navio, adere a essa cláusula, também no que diz respeito a demurrages ou danos no destino decorrentes da conduta do importador ou consignatário da carga. Se o importador abandonou a carga no porto de destino, ensejando demurrage pela demora na restituição do contêiner utilizado no seu acondicionamento, cumpria realmente à autora (NVOCC) o pagamento do respectivo montante ao titular do direito de exploração econômica do contêiner, voltando-se contra o causador do dano isto é, o importador, por força da cláusula FOB, visando ao justo ressarcimento. A troca de comunicações destinada à obtenção de solução consensual à desavença não constitui assunção de responsabilidade pela exportadora. Descabe mesmo à ré o pagamento da indenização pleiteada, em tese a cargo da importadora, contra quem a Apelante se deve voltar. ART. 252, DO REGIMENTO INTERNO DO E. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO. Em consonância com o princípio constitucional da razoável duração do processo, previsto no art. 5º, inc. LXXVIII, da Carta da República, é de rigor a ratificação dos fundamentos da sentença recorrida. Precedentes deste Tribunal de Justiça e do STJ. (...) (TJSP, AC: 0022646-50.2012.8.26.0562, Rel. Eduardo Siqueira, 38ª Câmara, j. 23/04/2014)

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27.5 (...) ILEGITIMIDADE PASSIVA Preliminar de ilegitimidade passiva Rejeição Hipótese em que os documentos apresentados demonstram a responsabilidade da apelante pela retirada e pelo atraso na devolução dos contêineres, que resultaram na cobrança da “demurrage”, sendo, assim, evidente a legitimidade da ré para figurar no polo passivo da presente demanda PRELIMINAR REJEITADA. COBRANÇA Sobrestadia Pretensão de que seja julgado improcedente o pedido de cobrança Descabimento Hipótese em que a apelante na qualidade de NVOCC assumiu a responsabilidade de transportar as mercadorias de seus clientes, responsabilizando-se, ainda, pela custódia e devolução dos contêineres no prazo estipulado, conforme documentos trazidos aos autos do processo (fls. 69-80) RECURSO DESPROVIDO. (TJSP, AC: 4006557-44.2013.8.26.0562, Relator: Ana De Lourdes Coutinho Silva Da Fonseca, 13ª Câmara de Direito Privado, Julgamento: 21/03/2014) 27.6 TRANSPORTE MARÍTIMO ação de cobrança - sobreestadia de contêineres legitimidade passiva da ré, que se obrigou a devolver os contêineres antes do “free time” e não cumpriu o ajuste - irrelevância do fato de ter atuado como NVOCC (Non-Vessel Operating Common Carrier ou “transportadora sem navio”) demanda procedente confirmação da solução singular, por suas apropriadas e fundamentadas razões aplicação do art. 252 do RITJSP apelo improvido. (TJSP, AC: 9085602-25.2008.8.26.0000, Rel: Jovino De Sylos, 16ª Câmara, j. 19/06/2012)

c) Transporte marítimo – Avaria de carga – Responsabilidade do NVOCC pelo mau acondicionamento da mercadoria 27.7 ILEGITIMIDADE “AD CAUSAM” Legitimidade passiva Ação regressiva de indenização por avaria de carga Transporte marítimo Comprovada a ilegitimidade das ré FRACHT para figurar no pólo passivo da demanda Agente de carga que atuou como mera representante da importadora segurada Legitimidade da corré POWERTRANS, responsável pelo transporte marítimo, ainda que se considerada NVOCC - Non-Vessel Operating Common Carrier (transportador não proprietário de navio) Preliminar arguida pela ré FRACHT DO BRASIL LOGÍSTICA LTDA acolhida Recurso da ré POWERTRANS desprovido e provido o da corré FRACHT DO BRASIL Sentença reformada em parte.

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RESPONSABILIDADE CIVIL - Indenização Dano material Ação regressiva de indenização por avaria de carga Transporte marítimo Laudo pericial realizado por Profissional habilitado para tanto Constatação de que o sinistro não decorreu de caso fortuito, mas sim de mau acondicionamento da mercadoria - Sinistro suficientemente comprovado Sub-rogação da seguradora nos direitos da segurada que se dá com o pagamento do prêmio Dever de indenizar da corré POWERTRANS configurado Recurso da ré POWERTRANS desprovido e provido o da corré FRACHT DO BRASIL Sentença reformada em parte. (TJSP, AC: 0174176-03.2010.8.26.0100, Relator: Ademir Benedito, 21ª Câmara de Direito Privado, Data de Julgamento: 04/11/2013) d) Transporte marítimo – Extravio/avaria de mercadoria –

Responsabilidade do NVOCC que perdura até a finalização da desconsolidação dos bens

27.8 APELAÇÃO – Transporte Marítimo – Ação de regresso ajuizada por seguradora – Danos e avarias na mercadoria transportada – Sentença de procedência – Pleito de reforma – Admissibilidade, em parte – Preliminar de ilegitimidade passiva – Afastamento – Apelantes que atuaram, respectivamente, como agente de carga e transportador NVOCC – Responsabilidade solidária – Agente marítimo que atua como representante do transportador no país, com ele respondendo solidariamente – Transportador NVOCC que, contratado para o transporte das mercadorias até o destino, tem responsabilidade integral pelos danos ocorridos durante o percurso – Necessidade, todavia, de correção do montante da condenação, de modo a evitar o enriquecimento sem causa da autora – Sentença reformada, em parte – Recurso parcialmente provido. (TJSP, 0045102-88.2013.8.26.0002; Relator (a): Claudia Grieco Tabosa Pessoa; Câmara de Direito Privado; Data do Julgamento: 04/07/2016) 27.9 PROCESSUAL CIVIL - Indeferimento da denunciaçâo da lide - Impossibilidade de introdução de fundamento novo (eventual dolo ou culpa de terceiro) estranho à causa petendi originária - Agravo retido improvido. INDENIZAÇÃO REGRESSIVA - Transporte naval internacional de mercadorias importadas - Furto ou extravio de parte da carga - Contratação da cláusula "porto a porto" - Responsabilidade da empresa transportadora da carga sem

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navio (NVOCC) que perdura até a finalização da desconsolidação dos bens - Ilegalidade da cláusula limitativa de responsabilidade - Incidência do principio informador do artigo 51 do CDC -Ressarcimento devido pelo valor das mercadorias desaparecidas - Ação julgada procedente - Recurso improvido. (TJSP, AC: 9160510-97.2001.8.26.0000, Relator: Correia Lima, 20ª Câmara de Direito Privado, Data do Julgamento: 13/03/2007) 27.10 Ação regressiva de ressarcimento - Transporte marítimo Pretensão de indenização por danos causados em equipamentos transportados por navio - Exercício do direito de regresso, pela seguradora, contra as empresas-transportadoras Empresa-ré SCHENKER DO BRASIL TRANSPORTES INTERNACIONAIS LTDA. que, na condição de operadora de transportes sem dispor de navio próprio (NVOCC), também, assumiu a obrigação de transportar a mercadoria incólume a seu destino Danos comprovados Obrigação de ressarcimento, por parte da ambas as empresas-rés, da totalidade do valor pago pela empresa-autora à empresa importadora, reconhecida - Preliminar de ilegitimidade passiva "ad causam" da empresa-ré SCHENKER afastada Ação julgada procedente, em parte Recurso da empresa-autora provido Recurso da empresa-ré SCHENKER não provido. (TJSP, Processo nº 9121710-24.2006.8.26.0000, Relator: Des. Zélia Maria Antunes Alves, 13ª Câmara de Direito Privado, Julgado em 21/05/2014)

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Um dos elementos de maior preocupação tanto para as empresas envolvidas em operações marítimas como para as autoridades públicas consiste na poluição ambiental e as responsabilidades daí decorrentes. De fato, a legislação brasileira confere um tratamento especial à proteção do meio ambiente, a começar pela própria Constituição Federal. Um incidente potencialmente poluidor pode gerar efeitos na seara da responsabilidade administrativa, criminal e civil, inclusive em determinados casos sob a forma objetiva e solidária. No entanto, em muitas ocasiões a pluralidade de agentes envolvidos, como por exemplo a autoridade marítima, a autoridade ambiental, a agência reguladora, o Ministério Público, entre outros, acaba ensejando a ocorrência de múltiplas autuações oriundas de um único incidente e arbitramento de penalidades inconsistentes e discrepantes, dando ensejo também a uma discussão sobre os limites da competência das autoridades públicas envolvidas. Sem dúvida o meio ambiente merece a mais adequada tutela, mas é preciso que as normas legais e seus limites sejam claramente definidos para que se tenha um mínimo de segurança jurídica. A título de exemplo, vide o fato de o Brasil ser signatário da Convenção Internacional sobre Responsabilidade Civil por Danos Causados por Poluição por Óleo – CLC 69, mas, não obstante o compromisso internacional assumido, os Tribunais brasileiros não costumarem aplicar os limites estabelecidos em tal Convenção às demandas que envolvem responsabilidade civil decorrente de poluição por óleo.

a) Poluição ambiental – Competência administrativa – Competência da

capitania dos portos para lavratura de auto de infração 28.1 Constitucional. Processual Civil. Meio ambiente. Naufrágio de embarcação. Vazamento de óleo na baía da Guanabara. Autuação pela

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FEEMA. Execução fiscal. Embargos rejeitados. Apelos recíprocos. (...) Competências, em matéria de meio ambiente, dos entes políticos, concorrentes e suplementares, porém limitadas em relação à União Federal. Inteligência do comando do art. 24, incisos e parágrafos da carta política em vigor. Legislação infraconstitucional que expressamente aponta a Capitania dos Portos como órgão competente para lavratura do auto de infração. Incompetência na atuação do órgão estadual para tal fim. Nulidade do auto de infração da FEEMA e desconstituição da execução fiscal. Provimento do segundo apelo, com inversão da sucumbencial, restando prejudicado o primeiro recurso. (TJRJ, AC 2007.001.64732, Relator: Desembargador Pedro Raguenet, 18ª Câmara Cível, Data de Julgamento: 04/03/2008) b) Poluição ambiental – Competência administrativa – Ilegitimidade do

agente marítimo

28.2 EMBARGOS INFRINGENTES. DEGRADAÇÃO AMBIENTAL. NAVIO. DERRAMAMENTO DE ÓLEO. MULTA. COMPETÊNCIA LEGISLATIVA CONCORRENTE DO ESTADO E DA UNIÃO. COMPETÊNCIA ADMINISTRATIVA COMUM A TODOS OS ENTES DA FEDERAÇÃO. RESPONSABILIZAÇÃO DO AGENTE MARÍTIMO POR ATO DO ARMADOR. IMPOSSIBILIDADE. Sentença conjunta de improcedência da pretensão cautelar e da declaratória de nulidade da multa administrativa, reformada, por maioria, sob o fundamento de que a aplicação de multa ao agente marítimo pelo Estado, quando já aplicada multa ao armador pela União, configura indevida dupla punição. Voto vencido que entendia pela confirmação da sentença, uma vez que possível a cumulação das penalidades aplicadas pela União e pelo Estado, havendo responsabilidade solidária entre a apelante e o armador. (...) A competência para legislar sobre matéria ambiental é concorrente, por força do art. 24, inc. VI, da CRFB, sendo comum a competência para atuação administrativa na defesa do meio ambiente, nos moldes do art. 23, inc. VI e VII, da CRFB. Logo, induvidoso que o Estado do Rio de Janeiro é competente para a aplicação da multa ora impugnada. Precedente do eg. STJ a confirmar que o órgão estadual de fiscalização do meio ambiente tem competência para lavrar autos de infração e aplicar multas no caso de responsabilidade por derramamento de óleo no mar territorial brasileiro. No que pertine à possibilidade de responsabilização do agente marítimo pelo ato do armador, todavia, não resta melhor sorte ao embargante, pois aquele age apenas como mandatário do armador, não exercendo qualquer tipo de controle sobre ele, não havendo nexo de causalidade entre a sua conduta e o

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resultado danoso oriundo do derramamento de óleo, eis que fato estranho às suas atividades. Agente marítimo que não deu causa à infração ambiental, que foi praticada por preposto do armador, não pode ser por ela responsabilizado. Uníssona jurisprudência do eg. STJ no sentido do descabimento da transferência da responsabilidade do armador ao agente marítimo, quando o ato não lhe é próprio, mas sim cometido pelo armador. Específico precedente do eg. STJ acerca da impossibilidade de aplicação de multa ao agente marítimo em razão de derramamento de óleo ocasionado por embarcação marítima. Ausência de responsabilidade do agente marítimo por infração cometida pelo armador, a demonstrar que a sentença não merecia ser mantida. Desprovimento do recurso principal e não conhecimento do recurso adesivo. (TJRJ, Apelação cível n° 0068328-38.2004.8.19.0001, Des. Celia Meliga Pessoa, Decima Oitava Camara Civel, Julgamento: 17/11/2009) c) Poluição ambiental – Responsabilidade – Ilegitimidade do agente

marítimo 28.3 (...) Tratando-se de multa de caráter administrativo, não-tributário, aplicada em razão do DERRAMAMENTO DE ÓLEO POR EMBARCAÇÃO ancorada no porto de Santos, (...) É PACÍFICA A ORIENTAÇÃO DESTA CORTE NO SENTIDO DE NÃO ADMITIR A RESPONSABILIZAÇÃO DO AGENTE MARÍTIMO por infração administrativa cometida pelo descumprimento de dever que a lei impôs ao armador. Precedentes. (...) (STJ, AgResp 609.915/SP, Ministra Denise Arruda, Data de Julgamento: 12/04/2005) 28.4 (...) A Apelante alega sua ilegitimidade para responder pela autuação já que não dera causa ao VAZAMENTO DE ÓLEO, E TENDO ESTE SE DERIVADO DE NAVIO ESTRANGEIRO, a imputação deveria ser dirigida ao seu armador, sendo ela mera agente marítima. (...) O FATO GERADOR DA ALEGADA INFRAÇÃO NÃO PODE SER IMPUTADO AO AGENTE MARÍTIMO, POIS INEXISTE NEXO DE CAUSALIDADE ENTRE A SUA CONDUTA E O RESULTADO DANOSO (...) Não se admite a responsabilidade do agente marítimo por infração administrativa cometida pelo descumprimento de dever que a lei impôs ao armador. Trata-se, a rigor, de matéria pacífica no âmbito do STJ (...)

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(TJRJ, AC 0084704-31.2006.8.19.0001, Des. Mário dos Santos Paulo, j. 03/08/2010) 28.5 ADMINISTRATIVO. INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS (IBAMA). AUTO DE INFRAÇÃO. DERRAMAMENTO DE ÓLEO. AGÊNCIA MARÍTIMA. RESPONSABILIDADE DO MANDANTE, PROPRIETÁRIO DO NAVIO. 1. Existindo contrato (mandato mercantil) firmado entre a impetrante e o proprietário do navio, no qual a mandatária age em nome do mandante, como mera representante do dono da embarcação, não pode ser a agência marítima responsabilizada por danos decorrentes de derramamento de óleo pelo navio. 2. Sentença confirmada. 3. Remessa oficial desprovida. (TRF1, REOMS: 0004154-54.2000.4.01.3700, Relator: Desembargador Federal Daniel Paes Ribeiro, 6ª Turma, Publicação: 06/09/2010) 28.6 ILEGITIMIDADE AD CAUSAM. Execução fiscal. Multa. Poluição Ambiental. Derramamento de óleo por navio. Demanda proposta contra mero agente marítimo. Inadmissibilidade. Ausência de qualquer participação com o sinistro. Responsabilidade que deve ser atribuída ao proprietário. Em ação de execução fiscal, deve ser responsabilizado pelo pagamento da multa decorrente de poluição ambiental o proprietário do navio de onde foi derramado o óleo poluidor. O MERO AGENTE MARÍTIMO É PARTE ILEGÍTIMA PARA RESPONDER À DEMANDA, TENDO EM VISTA QUE NÃO TEVE QUALQUER PARTICIPAÇÃO DIRETA COM O SINISTRO. (TJSP, Apelação 834.209-4, Relator Juiz Cardoso Neto, 9ª Câmara Cível, Data de Julgamento: 09/04/02) 28.7 (...) A EMPRESA (...) QUE ATUOU NA OPERAÇÃO COMO “AGENTE DE NAVEGAÇÃO, NA QUALIDADE DE MANDATÁRIA DO COMANDANTE DO NAVIO (NA TERMINOLOGIA DO DIREITO MARÍTIMO, AGENTE MARÍTIMO), NÃO PODE SER RESPONSABILIZADA PELO DANO AMBIENTAL. Com efeito, atuando como mandatária comercial do armador, não pode a empresa (...) ser responsabilizada por eventos próprios das atividades do dono do navio, pois a atividade de abastecimento não é de sua responsabilidade direta.

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(TRF3, Proc. no. 2001.61.04.006757-3, Juiz Décio Gabriel Gimenez, 4ª Vara Federal de Santos/SP, Data de Julgamento: 31/08/2007)

28.8 RECURSO ESPECIAL. AGENTE MARÍTIMO. RESPONSABILIDADE POR INFRAÇÃO SANITÁRIA COMETIDA PELO ARMADOR. DESCABIMENTO. 1. Um dos princípios basilares do Poder Sancionatório Administrativo é o da Legalidade. Sob esse enfoque, o agente marítimo não pode ser autuado pela vigilância sanitária, posto que não é armador nem proprietário do navio. Ele exerce atividade de representação do armador em um determinado porto, tendo com ele um contrato de mandato regido pelo Direito Civil. 2. O agenciamento marítimo está resumido na intermediação feita pelo armador no sentido de prover todas as necessidades do navio, no porto de destino, por isso que não pode 'dar causa à infração sanitária', como prevêem os artigos 3º e 10 da lei nº 6.437/77. 3. O armador deve ser autuado, porquanto é o proprietário do navio ou o afretador que foi parte num contrato de transporte com um carregador (art. 1º, a, da Convenção de Bruxelas, de 15/08/1924) 4. Incidência da súmula 192/ex-TFR: O agente marítimo, quando no exercício das atribuições próprias, não é considerado responsável tributário, nem se equipara ao transportador para efeitos do Decreto-Lei 37/66'. 5. Recurso especial desprovido. (STJ, RESP 640.895/PR, Rel. Min. Luiz Fux, 1ª Turma, Data de Julgamento: 29/11/2004) c) Poluição ambiental – Responsabilidade – Ilegitimidade do proprietário

da carga 28.9 RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA. RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. DANOS EXTRAPATRIMONIAIS. ACIDENTE AMBIENTAL. EXPLOSÃO DO NAVIO VICUÑA. PORTO DE PARANAGUÁ. PESCADORES PROFISSIONAIS. PROIBIÇÃO TEMPORÁRIA DE PESCA. EMPRESAS ADQUIRENTES DA CARGA TRANSPORTADA. AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE. NEXO DE CAUSALIDADE NÃO CONFIGURADO. 1. Ação indenizatória ajuizada por pescadora em desfavor apenas das empresas adquirentes (destinatárias) da carga que era transportada pelo navio tanque Vicuña no momento de sua explosão, em 15/11/2004, no Porto de Paranaguá. Pretensão da autora de se ver compensada por danos morais decorrentes da proibição temporária da pesca (2 meses) determinada em

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virtude da contaminação ambiental provocada pelo acidente. 2. Acórdão recorrido que concluiu pela improcedência do pedido ao fundamento de não estar configurado, na hipótese, nexo de causal capaz de vincular o resultado danoso ao comportamento de empresas que, sendo meras adquirentes da carga transportada, em nada teriam contribuído para o acidente, nem sequer de forma indireta. 3. Consoante a jurisprudência pacífica desta Corte, sedimentada inclusive no julgamento de recursos submetidos à sistemática dos processos representativos de controvérsia (arts. 543-C do CPC/1973 e 1.036 e 1.037 do CPC/2015), "a responsabilidade por dano ambiental é objetiva, informada pela teoria do risco integral, sendo o nexo de causalidade o fator aglutinante que permite que o risco se integre na unidade do ato" (REsp nº 1.374.284/MG). 4. Em que pese a responsabilidade por dano ambiental seja objetiva (e lastreada pela teoria do risco integral), faz-se imprescindível, para a configuração do dever de indenizar, a demonstração da existência de nexo de causalidade apto a vincular o resultado lesivo efetivamente verificado ao comportamento (comissivo ou omissivo) daquele a quem se repute a condição de agente causador. 5. No caso, inexiste nexo de causalidade entre os danos ambientais (e morais a eles correlatos) resultantes da explosão do navio Vicuña e a conduta das empresas adquirentes da carga transportada pela referida embarcação. 6. Não sendo as adquirentes da carga responsáveis diretas pelo acidente ocorrido, só haveria falar em sua responsabilização - na condição de poluidora indireta - acaso fosse demonstrado: (i) o comportamento omissivo de sua parte; (ii) que o risco de explosão na realização do transporte marítimo de produtos químicos adquiridos fosse ínsito às atividades por elas desempenhadas ou (iii) que estava ao encargo delas, e não da empresa vendedora, a contratação do transporte da carga que lhes seria destinada. 7. Para os fins do art. 1.040 do CPC/2015, fixa-se a seguinte TESE: As empresas adquirentes da carga transportada pelo navio Vicunã no momento de sua explosão, no Porto de Paranaguá/PR, em 15/11/2004, não respondem pela reparação dos danos alegadamente suportados por pescadores da região atingida, haja vista a ausência de nexo causal a ligar tais prejuízos (decorrentes da proibição temporária da pesca) à conduta por elas perpetrada (mera aquisição pretérita do metanol transportado). (...) (REsp 1596081/PR, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Segunda Seção, julgado em 25/10/2017, DJe 22/11/2017) d) Responsabilidade civil – Poluição ambiental – Ausência de prova do

dano

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28.10 PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DERRAMAMENTO DE XILENO MISTO NO MAR. DANO AMBIENTAL. NÃO COMPROVADO. I. Agravo retido não conhecido por ser intempestivo. II- A Constituição Federal adota conceito abrangente de meio ambiente, assegurando a vida da fauna e flora marítima por indissociável à preservação da vida humana, direito fundamental do homem (art. 225). III - O Artigo 225, § 3º, da Carta Magna adverte que as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, afora a obrigação de reparar os danos causados. IV - A reparação dos danos ambientais é objetiva, consoante previsão do art. 14, §1º da Lei 6.938/81, norma recepcionada pelo § 3° do art. 225 da Carta Política. V - Na espécie, não restou comprovada a alegação de ocorrência de dano, por insuficiência de provas. VI - Não provado o suposto evento danoso, de rigor a improcedência da ação. (...) (TRF3, APELAÇÃO CÍVEL Nº 0002882-97.2001.4.03.6104/SP, Des. Federal Alda Basto, 4ª TURMA, Data de Julgamento: 16/02/2012) 28.11 ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. REPARAÇÃO DE DANO AMBIENTAL POR DERRAMAMENTO DE ENXOFRE AO MAR. INDENIZAÇÃO. NÃO COMPROVAÇÃO Da OCORRÊNCIA do dano. Manutenção da sentença de improcedência. Ministério público federal. Honorários advocatícios. I. Demonstrada tão-somente a existência do fato que, segundo o afirmado, teria dado causa ao dano ambiental, faltantes, portanto, dois dos elementos imprescindíveis à responsabilização por dano ambiental, quais sejam, a comprovação de que há dano a ser reparado e do nexo de causalidade entre o fato e o dano. II. Deva-se a falta de prova nos autos à inexistência do prejuízo ambiental, deva-se à distância temporal que entremeou o evento do qual haveria derivado o dano, forçoso concluir pela improcedência do pedido, eis que não se utilizou o MM. Juízo "a quo" da técnica da inversão dos ônus probatórios. (...) V. O Ministério Público Federal não responde pelos honorários advocatícios em ação civil pública julgada improcedente. (TRF3/SP, Apelação Cível nº. 96.03.014268-9, Juiz Relator Baptista Pereira, Terceira Turma, Data de Julgamento: 04/12/2002) e) Responsabilidade civil – Poluição ambiental – CLC-69 – Aplicação em

caso de poluição decorrente do transporte marítimo de óleo a granel

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28.12 PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO ORDINÁRIA. ACIDENTE DE DERRAMAMENTO DE ÓLEO NA BAÍA DA BABITONGA. CONEXÃO. PRÉVIA AÇÃO CIVIL PÚBLICA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE RESPONSABILIDADE CIVIL EM DANOS CAUSADOS POR POLUIÇÃO POR ÓLEO. 1. Não há prevenção por conexão, pois não há litispendência entre ação civil pública e ações individuais que pleiteiem provimentos assemelhados ou idênticos àqueles requeridos na ação coletiva. As partes não são as mesmas nem a causa de pedir é igual, e não estando arroladas quaisquer entidades de direito público referidas no art. 109, I, CF, a competência para o julgamento da causa pertence à Justiça Estadual. 2. Não há conexão, pois quem recebeu o benefício o fez comprovando sua condição de habilitado ao recebimento da indenização, e quem não logrou demonstrar tal condição teve assegurada a possibilidade, de em novo processo autônomo - sem vinculação com a ACP, com contraditório e ampla defesa, tentar demonstrar o seu direito, estando assegurado a todos os requerentes, especialmente aqueles que se sentirem prejudicados, o direito de pleitearem seus direitos, pelas vias próprias, com amplas possibilidades de instrução processual, seja mediante o ajuizamento de ações individuais, seja por outros meios de exercício do direito de ação. 3. Na Convenção Internacional Sobre Responsabilidade Civil em Danos Causados por Poluição por Óleo, de 1969, resta claro que a sua aplicação diz respeito à poluição por óleo decorrente do transporte marítimo de óleo a granel, não alcançando a poluição por óleo decorrente de incidentes com navios cuja carga seja diversa da prevista na Convenção, como é o caso dos autos, que trata de transporte interno, via marítima, de bobinas de aço. (TRF4, AI 0009053-07.2010.404.0000, Des. Federal Marga Inge Barth Tessler, 4ª TURMA, Data de Julgamento: 02/06/2010)

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29. Prescrição

Se o Novo Código Civil veio em regra a reduzir todos os demais prazos prescricionais previstos no Código anterior, não parece fazer sentido pretender-se ampliar o prazo de um ano que desde 1850 já era disciplinado pelo art. 449 do Código Comercial, parte que veio a ser revogada por esta mais recente Lei Civil. Ainda que o Código Civil de 2002 tenha sido omisso quanto ao tema, nem por isso seria razoável aplicar-se uma regra geral de responsabilidade civil e, consequentemente, ampliar-se o prazo prescricional para reclamações por avaria de carga transportada por via marítima – e não me parece ter sido esta a opção do legislador – sobretudo quando legislações especiais como o Decreto-Lei 116/67, a Lei de Transporte Rodoviário de Cargas (Lei n. 11.442/2007) e a lei de transporte multimodal (Lei n. 9.611/98) continuam em vigor, ratificando a mesma previsão de prescrição ânua, já sumulada pelo STF (Súm. 151).

a) Reclamação por avaria de carga em transporte marítimo – Prescrição

ânua 29.1 (...) Extinção do feito em função da prescrição do direito – Pretensão de afastamento da prescrição e redução dos honorários – Inteligência do art. 8°, do Decreto-Lei nª 116/67, e da Súmula 151, do STF, cujo lapso prescricional é anuo (...) o Tribunal a quo aplicou a norma do Decreto-Lei 116/67, tendo como base o princípio da especialidade, segundo o qual a norma especial afasta a incidência da norma geral. Lex specialis derogat legi generali. (...) nego provimento ao agravo de instrumento. (STJ, Ag. em REsp. nº 724007/SP, Min. Rel Vasco della Giustina, Data de Julgamento: 03/08/09) 29.2 (...) Transporte marítimo – Divergência no lacre e no peso do "container" – Insurgência contra a respeitável sentença que julgou extinta

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com fulcro no artigo 269, IV do CPC a ação indenizatória por danos materiais – Inadmissibilidade – Aplicação do artigo 8o do Decreto-Lei n° 116 de 25 de janeiro de 1967 – Prescrição anua configurada – Aplicação do princípio da especialidade, segundo o qual a norma jurídica especial tem prevalência sobre a norma jurídica geral (...) (TJSP, AC no. 991.07.057178-4, Rel. Roque Mesquita, 18ª Câmara de Direito Privado, Data de Julgamento: 26/10/2010) 29.3 (...) Outro aspecto que deve ser salientado é o relativo ao prazo prescricíonal para as ações oriundas do descumprimento ou cumprimento defeituoso desse tipo de contrato de transporte. O prazo é de um ano, segundo o art. 8o do Decreto-lei 116/67 e o art. 22 da Lei 9.611/98. (...) (TJSP, AC no. 7.050.015-3, Des. Relator Itamar Gaino, 21ª Câmara de Direito Privado, Data de Julgamento: 06/12/06) 29.4 CONTRATO DE TRANSPORTE MARÍTIMO INTERNACIONAL. PRESCRIÇÃO ANUA. A CARGA FOI DESCARREGADA NO DIA 25/09/2007 E O TERMO FINDOU EM 25/09/2008. A AÇÃO FOI DISTRIBUÍDA EM 22/10/2008. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO JULGADA EXTINTA, COM A INVERSÃO DA SUCUMBÊNCIA (...). (TJSP, AC 991.09.015523-9, Des. Jurandir De Sousa Oliveira, 18ª Câmara de Direito Privado, j. 21/09/2010) 29.5 (...) O art. 8º, do Decreto no. 64.387/69, que regulamentou o Decreto-lei 116/67 não faz qualquer distinção, apontando o prazo prescricional ânuo de forma geral para as ações por falta de conteúdo, diminuição, perdas e avarias, ou danos à carga. (...) (TJSP, AC no. 938.673-2, Rel. Antônio Marson, 21ª Câmara de Direito Privado, Data de Julgamento: 22/06/05) 29.6 APELAÇÃO CÍVEL. CONTRATO DE TRANSPORTE MARÍTIMO DE CARGAS.INEXISTÊNCIA DE REGRAMENTO ESPECÍFICO NO TOCANTE A PRESCRIÇÃO DAS AÇÕES ORIUNDAS DO CONHECIMENTO DE EMBARQUE

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COMO ÚNICO MODAL. Não há razão para que contrato multimodal de transporte de cargas seja regido pela Lei 9.611/98 e, contrato de transporte de cargas que utiliza apenas um meio seja regulado pelo Código Civil de 2002. AÇÃO AJUIZADA A MAIS DE UM ANO APÓS O RECEBIMENTO DE TODOS OS CONTAINERS. PRESCRIÇÃO ANUA. Aplicação da Lei 9.611/98. RECURSO PROVIDO. (TJRJ, AC 2006.001.46880, Des. Renato Simoni, 9ª CC, Data de Julgamento: 28/11/2006) 29.7 Os autos dão conta de que Armazéns Gerais Colúmbia S/A foi acionada por interamericana – Companhia de Seguros Gerais e American Home Assurance Company para ressarcir, regressivamente, os danos causados ao bem importado por Rigesa – Celulose, Papel e Embalagens Ltda., com base na Apólice de Seguro nº 1.201.581 (fls. 02/18). (...) A disposição do artigo 8° do Decreto-Lei n° 116/67, ao fixar como termo inicial a descarga do navio, logicamente, só pode tratar de ações contra o transportador (...) (STJ, REsp nº 164.165/SP, Relator Ministro Ari Pargendler, 3ª Turma, Data de Julgamento: 16/03/06) 29.8 SEGURO – Ação de seguradora contra transportadora marítima – Prazo prescricional decorrido. Ação de seguradora contra o transportador, para reaver o valor do seguro pago ao segurado pelos prejuízos sofridos no transporte de mercadorias, PRESCREVE EM UM ANO AO TÉRMINO DA DESCARGA. (TJSC, Ap. Civ. 15.221, Rel. Nelson Konrad, Data de Julgamento: 28/08/91) 29.9 AGRAVO DE INSTRUMENTO. TRANSPORTE MARÍTIMO INTERNACIONAL. CONTRATAÇÃO DE ARMADOR SEM NAVIO (NVOCC). AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANOS NA CARGA. PEÇAS METÁLICAS. LEGITIMIDADE PASSIVA DA ARMADORA TRADICIONAL. PRESCRIÇÃO ÂNUA NÃO IMPLEMENTADA. 1.A contratação do serviço de transporte marítimo por NVOCC (armador sem navio responsável por contratar a armadora que executará o transporte) não tem o condão de afastar, desde logo, a responsabilidade da verdadeira executora, no caso a ora agravante. A responsabilidade do transportador é objetiva. Logo, frente ao importador, o

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que é relevante, em um primeiro momento, é que sofreu prejuízo por ter havido deficiente cumprimento do contrato de transporte. Ademais, a manutenção da armadora tradicional na lide mostra-se relevante para apuração dos fatos, considerando a alegação de que os danos nas mercadorias teriam sido causados pelo contato das peças metalizadas com a água salgada, ou seja, na etapa desempenhada pela recorrente. Ausência de prejuízo. Possibilidade de que a ilegitimidade seja proclamada ao final, a partir da prova produzida. 2.Prescrição ânua, de acordo com o Decreto-lei 116/67, legislação específica acerca do transporte marítimo de cargas. Prazo não implementado, mesmo considerando a data do desembarque. Notificação extrajudicial e ajuizamento de ação cautelar de produção antecipada de provas interrompendo o prazo. Afastada a preliminar de ilegitimidade passiva, por maioria. Afastada a prefacial de mérito. Unânime. (TJRS, AI: 70020843017, Relator: Dálvio Leite Dias Teixeira, 12ª Câmara Cível, Data do Julgamento: 29/11/2007) 29.10 Apelação cível. Transporte marítimo. Avarias e extravio de parte da carga. Ação de indenização. Prescrição. Caracterização. Ação proposta além do prazo de um ano previsto no artigo 8º do decreto nº 116/67. (TJPR, AC n° 160.318-7, Rel. Lilian Romero, Data de Julgamento: 13/01/06) 29.11 Apelação Cível. Ação regressiva de ressarcimento. Rito ordinário. Autora que pagou indenização ao segurado por perda de mercadoria em transporte marítimo e busca o ressarcimento dessa quantia, mediante cobrança dos supostos causadores do dano. Sentença que julgou improcedente o pedido. Sub-rogação, nos termos do que dispõe o art. 786 do CC. Questão que diz respeito à prescrição que deve ser examinada de ofício, de acordo com o art. 219 § 5º do CPC. Inocorrência da prescrição, eis que o prazo prescricional foi interrompido pelo ajuizamento de protesto judicial. Relação jurídica que não é de consumo por ausência de vulnerabilidade de qualquer das partes que são empresas que praticam atividade que visa o lucro. Incidência do art. 8º do Decreto-Lei nº116/67, por ser regra especial que trata sobre o transporte de mercadorias nos portos nacionais, onde está previsto o prazo de um ano para o ajuizamento de demandas dessa natureza. Legitimidade passiva das rés, a primeira ré na qualidade de transportadora da carga e a segunda de operadora portuária. Responsabilidade da operadora portuária e não da transportadora, pois

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restou comprovado documentalmente que a perda se deu após o desembarque da mercadoria. Obrigação da operadora portuária, de acordo com o previsto no art. 2º e art. 3º do Decreto-Lei 116/1967 e art. 750 do CC. Na época dos fatos em questão estava vigente a Lei nº 8.630/93. Essa Lei foi revogada pela Lei nº 12.815/13 que, em seu art. 26, II, manteve o mesmo texto da lei revogada quando ao descrito no art. 11, II, que trata da responsabilidade da operadora portuária perante o proprietário da mercadoria. Comprovante que consta dos autos que serve como prova do pagamento do seguro. Aplicação do disposto nos artigos art. 786 e art. 346 do CC. A seguradora, ao pagar a indenização, ocupa o lugar do credor e pode acionar o devedor para o pagamento do que pagou na qualidade de terceiro interessado. Questões referentes ao contrato de seguro, tais como a franquia e que as emissões das averbações se deram após o sinistro que não podem ser opostas à seguradora sub-rogada. Da mesma forma, a perda por “quebra natural”, eis que se trata de matéria inter alios. (...) (TJRJ, AC 0228360-70.2011.8.19.0001, Relator: Carlos José Martins Gomes, 16ª Câmara Cível, Data de Publicação: 30/05/2014) b) Reclamação por avaria de carga em transporte marítimo – Prescrição

ânua – Inaplicabilidade do CDC 29.12 AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. TRANSPORTE MARÍTIMO DE MERCADORIA. SEGURADORA. COBRANÇA. PRESCRIÇÃO CIVIL. AUSÊNCIA DE RELAÇÃO DE CONSUMO. 1. Esta Corte já firmou entendimento de que, ao efetuar o pagamento da indenização ao segurado em decorrência de danos causados por terceiro, a seguradora sub-roga-se nos direitos daquele, podendo, dentro do prazo prescricional aplicável à relação jurídica originária, buscar o ressarcimento do que despendeu, nos mesmos termos e limites que assistiam ao segurado. 2. No caso de não se averiguar a relação de consumo no contrato de transporte firmado, já decidiu esta Corte Superior que é de 1 (um) ano o prazo prescricional para propositura de ação de segurador sub-rogado requerer da transportadora o ressarcimento pela perda da carga. Precedentes. 3. Agravo regimental não provido. (STJ, AgRg 1.169.418, Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma, J. 06/02/2014)

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29.13 EMBARGOS INFRINGENTES – Transporte marítimo internacional – Inaplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor – O prazo prescricional para ajuizar ações referentes às avarias da carga transportada é de 01 (um) ano, contado a partir do descarregamento das mercadorias – Inteligência do artigo 8º do Decreto-lei nº 116/67 – Decisão mantida – Recurso improvido. (TJSP, Embargos Infringentes nº 0015523-43.2009.8.26.0000/50000, Relator: Carlos Alberto Lopes, 18ª Câmara de Direito Privado, Julgamento: 15/06/11) 29.14 RECURSO ESPECIAL – TRANSPORTE MARÍTIMO - AVARIAS NAS CARGAS TRANSPORTADAS - AÇÃO DE REGRESSO PROPOSTA PELA SEGURADORA NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL - ALEGAÇÃO GENÉRICA - APLICAÇÃO, POR ANALOGIA, DA SÚMULA N. 284/STF - PRESCRIÇÃO - INAPLICABILIDADE DO CDC À ESPÉCIE - PRAZO ANUAL APLICÁVEL – ACÓRDÃO RECORRIDO EM DESACORDO COM O ENTENDIMENTO DESTA CORTE - RECURSO PROVIDO (ARTIGO 557, § 1º-A, DO CPC). Contudo, na espécie, não há como se reconhecer relação de consumo no contrato de transporte de mercadoria firmado entre transportador e o profissional da indústria e do comércio que visa agregar a mercadoria à sua atividade principal. Ao contrário, trata-se de contrato com natureza tipicamente comercial. (STJ, REsp 1.221.880, Rel: Min. Massami Uyeda, Terceira Turma, Data de Julgamento: 13/06/2012) 29.15 APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REGRESSIVA DE RESSARCIMENTO. CONTRATO DE SEGURO NO RAMO DE TRANSPORTE MARÍTIMO INTERNACIONAL. PRETENSÃO FULMINADA PELA PRESCRIÇÃO. 1. Inobstante a extensa polêmica que permeia a temática acerca do prazo prescricional para a cobrança regressiva, já ressaltei o meu entendimento a respeito da inaplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor ao caso em análise, por considerar que o contrato de transporte marítimo possui nítido caráter mercantil, não podendo se submeter à égide das relações de consumo. 2. Ademais, ambos os contratantes são pessoas jurídicas que não podem alegar qualquer espécie de vulnerabilidade, sendo paritária a relação jurídica firmada entre eles, de modo que não carece da especial proteção conferida pelo ordenamento jurídico às relações de consumo. 3. Portanto, há que se aplicar o prazo prescricional de 01 ano, previsto tanto no art. 8º do Decreto Lei nº 116/67, como no art. 206, § 1º, inciso II, ‘a’, do Código Civil. 4. Por fim, cabe destacar o verbete sumular nº 151 do STF, não revogado, que

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estabelece o prazo prescricional de um ano para a propositura da ação do segurador sub-rogado para haver indenização por extravio ou perda de carga transportada por navio. 5. Assim é que, tendo a presente ação sido ajuizada aos 27/06/2008, quase dois anos após o pagamento da indenização securitária (realizado aos 13/07/2006) e quase três anos após a descarga da mercadoria (ocorrida aos 04/08/2005), deve-se reconhecer que a pretensão deduzida em juízo restou efetivamente fulminada pelo instituto da prescrição. (TJRJ, Apelação nº 0164828-30.2008.8.19.0001, Relator Benedicto Abicair, 6ª Câmara Cível, Data de Publicação: 25/10/12) 29.16 Direito marítimo. Contrato de transporte marítimo entre pessoas jurídicas exercentes de atividade empresarial de lucro. Mercadorias avariadas e amassadas. Indenização. Ação regressiva intentada pela seguradora. Prescriçào anual configurada. Aplicação do art. 8° do decreto lei 116/67. Não incidência do código de proteção e defesa do consumidor. Inexistência de vulnerabilidade técnica a justificar proteção especial. Honorários de sucumbência corretamente fixados. Sentença mantida. Recursos desprovidos. (TJRJ, Apelação nº 0094803-89.2008.8.19.0001, Relator: Marco Aurélio Bezerra De Melo, Décima Sexta Câmara Cível, Data de Julgamento: 26/01/10) 29.17 DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. SEGURO DE TRANSPORTE DE MERCADORIA. FATOS OCORRIDOS ANTES DA VIGÊNCIA DO CÓDIGO CIVIL DE 2002, QUE PASSOU A REGULAR O TRANSPORTE DE PESSOAS E COISAS. SINISTRO. INDENIZAÇÃO. SUB-ROGAÇÃO. SEGURADORA ASSUME A POSIÇÃO DA SEGURADA. RELAÇÃO MERCANTIL. INAPLICABILIDADE DAS REGRAS DO CDC. 1. A seguradora, arcando com a indenização securitária, está sub-rogada nos direitos de sua segurada, podendo, dentro do prazo prescricional aplicável à relação jurídica entabulada por esta, buscar o ressarcimento do que despendeu, nos mesmos termos e limites que assistiam à segurada. 2. No entanto, a relação jurídica existente entre a segurada e a transportadora ostenta nítido caráter mercantil, não podendo, em regra, ser aplicada as normas inerentes às relações de consumo, pois, segundo apurado pela instância ordinária, "o segurado utilizou a prestação de serviço da ré transportadora como insumo dentro do processo de transformação, comercialização ou na prestação de serviços a terceiros; não se coadunando,

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portanto, com o conceito de consumidor propriamente dito, mas sim pretendendo a exploração da atividade econômica visando a obtenção do lucro". 3. O Código Civil de 2002 regula o contrato de transporte de pessoas e coisas nos artigos 730 a 756. No entanto, a referida relação jurídica era anteriormente regulada pelo Decreto-Lei 2.681/1912, aplicando-se a prescrição ânua, conforme dispunha o art. 9º do mencionado Diploma. Precedentes do STF e desta Corte. 4. Recurso especial não conhecido. (STJ, REsp nº 982.492 SP, Relator: Ministro Luis Felipe Salomão, 4ª Turma, Data de Julgamento: 27/09/2011) 29.18 PROCESSO CIVIL Ilegitimidade passiva Inocorrência Ação indenizatória regressiva Deterioração de mercadorias objeto de transporte marítimo - Ré identificada como transportadora pela alfândega Ainda que seja apenas agente marítimo, permanece legitimada Precedentes. PRESCRIÇÃO Ação indenizatória de regresso ajuizada pela seguradora para ressarcimento de danos ocorridos na mercadoria segurada - Ocorrência Prazo ânuo Art. 8º do decreto-lei nº 116/67. Prazo quinquenal do CDC Inaplicabilidade Direito sub-rogado pela seguradora que não se originou de relação de consumo Prazo expirado em 15-8-2006, um ano depois do desembarque Ação proposta em 13-6-2007 Prescrição consumada Honorários advocatícios Majoração Desnecessidade - Sentença mantida. Recursos desprovidos. (TJSP, AC nº 9086535-61.2009.8.26.0000, Relator: Álvaro Torres Júnior, 20ª Câmara De Direito Privado, Data de Julgamento: 30/07/2012) 29.19 Acao regressiva do segurador sub-rogado nos direitos do segurado. Responsabilidade do transportador. Perda de mercadoria. Inexistencia de relacao de consumo. Prescricao anua. Aplicabilidade do codigo civil. Apelação cível. Transporte marítimo de trigo uruguaio a granel, do porto de nueva palmira, uruguai, para o porto do rio de janeiro. Perda de mercadoria. Indenização paga pela seguradora à segurada. Ação regressiva da seguradora. Sub-rogação de direitos. Perda de 43,732 toneladas durante o transporte marítimo e 171,599 toneladas durante as operações de descarga e armazenamento no porto. Inexistência de relação de consumo. Contrato originário celebrado com empresa produtora de alimentos e a transportadora. Partes que não se enquadram nos conceitos previstos no artigo 2º, e parágrafo único, e artigo 3º do cdc. Contratantes pessoas jurídicas que não podem alegar qualquer espécie de vulnerabilidade, sendo

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paritária a relação jurídica firmada entre eles, de modo que não carecem da especial proteção conferida pelo ordenamento jurídico às relações de consumo. Prescrição ânua. Art. 8º do decreto-lei nº 116/67, 206, §1º, inciso ii, 'a', do código civil e súmula nº 151 do stf. Ação ajuizada quando já prescrita a pretensão deduzida em juízo. Provimento do recurso. (TJRJ, AC: 0091598-47.2011.8.19.0001, Relator: Helena Candida Lisboa Gaede, 18ª Câmara Cível, Data de Julgamento: 02/07/2013)

c) Ação regressiva da seguradora – Prescrição ânua – termo a quo desde a data da descarga do navio

29.20 TRANSPORTE MARÍTIMO INTERNACIONAL. Ação de regresso da seguradora contra empresa responsável pelo transporte em razão de avarias na carga transportada. Sentença de improcedência, reconhecendo a prescrição. Irresignação da parte autora. Descabimento. Prescrição caracterizada. Prazo anual previsto pelo artigo 8º do Decreto-Lei 116/67 e pela Súmula 151 do E. STF, contado a partir da data da descarga do navio, e não da data do efetivo pagamento pela seguradora. A seguradora sub-roga-se nos direitos e ações do segurado, inclusive no que diz respeito ao prazo prescricional, para, assim, buscar o ressarcimento do valor que desembolsou. A prescrição contra a seguradora sub-rogada flui desde a data da descarga do navio, sendo irrelevante a data do pagamento da indenização do seguro. Sentença mantida. Aplicação do art. 252 do RITJSP(...). (TJSP; Apelação 1013840-04.2015.8.26.0562; Relator (a): Walter Barone; 24ª Câmara de Direito Privado; Data do Julgamento: 31/07/2018) 29.21 Ação regressiva – Seguro de transporte marítimo internacional (...)Incidência do art. 8.º do Decreto-Lei n. 116/67 – Termo inicial – Data do término da descarga e não do pagamento da indenização diante da inexistência de previsão legal nesse sentido – Precedentes do Superior Tribunal de Justiça – Protesto judicial e ação regressiva ajuizados de forma extemporânea – Improcedência da ação com resolução do mérito, art. 487, II, do Código de Processo Civil – Inversão do julgado – Recurso do corréu M.T.F. Global Logistics não provido, provido em parte o do réu CMA CGM Société Anonyme para reconhecer a prescrição.

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(TJSP, Apelação 1069047-45.2017.8.26.0100; Relator (a): César Peixoto; Órgão Julgador: 38ª Câmara de Direito Privado; Data do Julgamento: 29/08/2018) 29.22 TRANSPORTE MARÍTIMO. AVARIA DE CARGAS. AÇÃO REGRESSIVA DA SEGURADORA CONTRA O TRANSPORTADOR. PRESCRIÇÃO. RECONHECIMENTO. AÇÃO PROPOSTA ALÉM DO PRAZO DE UM ANO PREVISTO NO ART. 8º DO DECRETO-LEI Nº 116/67. PRAZO ÂNUO QUE TEM INÍCIO NA DATA DE DESCARREGAMENTO DO NAVIO. PRESCRIÇÃO OPERADA. PRECEDENTES DO STJ E DO STF. Nos termos do art. 8º do Decreto-Lei 116/1967, é de um ano o prazo para a prescrição da pretensão indenizatória, no caso das ações por extravio, falta de conteúdo, diminuição, perdas e avarias ou danos à carga a ser transportada por via d'água nos portos brasileiros. A Súmula 151 do STF orienta que prescreve em um ano a ação do segurador sub-rogado para haver indenização por extravio ou perda de carga transportada por navio. A seguradora sub-roga-se nos direitos e ações do segurado, após o pagamento da indenização securitária, inclusive no que tange ao prazo prescricional, para, assim, buscar o ressarcimento que realizou. A prescrição contra a seguradora sub-rogada flui desde a data do evento danoso, sendo irrelevante a data do pagamento da indenização do seguro. Apelação não provida. (TJSP; Apelação 1049524-55.2014.8.26.0002; Relator (a):Sandra Galhardo Esteves; 12ª Câmara de Direito Privado; Data do Julgamento: 16/05/2018) 29.23 SEGURO – AÇÃO REGRESSIVA – PRESCRIÇÃO ÂNUA – Seguro. Ação regressiva da seguradora contra o responsável pelo dano. Prescrição. Prescreve em um ano a ação regressiva da seguradora contra o responsável pelo dano, para haver o que pagou por força do contrato de seguro. (TJRJ, EI-AC 369/96, Des. Asclepíades Rodrigues, 2º G.C. Cív, Data de Julgamento: 18/12/96) 29.24 CIVIL. CONTRATO DE SEGURO. COBRANÇA DO VALOR SEGURADO. CODIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. ART. 27. PRESCRIÇAO DE CINCO ANOS. INAPLICABILIDADE. AÇAO DE REPARAÇAO DE DANOS POR FATO DE SERVIÇO. DESSEMELHANÇA COM A RESPONSABILIDADE CIVIL DECORRENTE DO INADIMPLEMENTO CONTRATUAL. PRESCRIÇAO ANUA. CODIGO CIVIL,

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ART. 178, § 6º, II. LEI DE INTRODUÇAO. ART. 2º, §2º. RECURSO ACOLHIDO. EXTINÇAO DO PROCESSO. I- A ação de indenização do segurado contra a seguradora, decorrente do contrato de seguro, prescreve em um ano, não tendo aplicação o art. 27 do Código de Defesa do Consumidor, dispondo essa norma a propósito da prescrição em cinco anos nas ações de reparação de danos por fato de serviço, que não guarda relação com a responsabilidade civil decorrente do inadimplemento contratual. II - Na linha do § 2º do art. 2º da Lei de Introdução, a lei nova, no caso o Código de Defesa do Consumidor, ao estabelecer disciplina especial quanto à ação de reparação de danos por fato de serviço, aí incluindo os decorrentes das relações de consumo entre segurado e seguradora, não revogou o art. 178, § 6º, II do Código Civil, sendo esse dispositivo mais amplo, a englobar as demais ações entre segurado e seguradora. (...) (STJ, REsp 232.483, Min. Rel. Sálvio de Figueiredo Teixeira, 4ª Turma, j. 27/03/2000) 29.25 APELAÇÃO CÍVEL. TRANSPORTE INTERNACIONAL DE CARGA. CONTRATO NA MODALIDADE NVOCC. LEGITIMIDADE PASSIVA DO TRANSPORTADOR - ARMADOR DO NAVIO. SEGURO. PRESCRIÇÃO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO TRANSPORTADOR. PROTESTO DO ART. 754, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CC. (...) Prescrição da indenização securitária: em se tratando de ação indenizatória decorrente de descumprimento de contrato de seguro, aplica-se o prazo anual previsto no artigo 206, §1º, II, do Código Civil. Quanto ao termo inicial da prescrição, no caso em pauta, levando em conta a alínea "b" do inciso II, §1º, do referido dispositivo legal, a pretensão da autora surgiu no dia em que realizada a vistoria para averiguação de avarias na carga (09/12/2004), interrompendo-se a contagem com a resposta negativa da seguradora (29/03/2005). Após esse marco, iniciou-se novamente a contagem, sem nova interrupção, nos termos do artigo 202 do CC. Assim, considerando que a ação foi ajuizada em 25/10/2006, é de ser reconhecida a prescrição da pretensão, relativa à seguradora. 3. Responsabilidade do transportador, notificação e prazo decadencial - art. 754 do Código Civil: a responsabilidade do transportador é objetiva, à luz do art. 750 do Código Civil, a ele competindo o transporte incólume da mercadoria até o local de destino. Entretanto, na hipótese de perda parcial ou avaria da mercadoria transportada, embora inexista previsão específica da forma de notificação do art. 754 do Código Civil, é preciso que dos autos se extraiam elementos minimamente atuáveis no convencimento do Julgador em torno da regular e tempestiva comunicação estabelecida

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entre os contratantes, o que não restou demonstrado no caso concreto. 4. Standard do agir negocial: competia à demandante se acautelar de procedimentos de gestão de cumprimento de obrigações contratuais, legais e afins, para evitar a superveniência de máculas na defesa de seus interesses - conduta que se espera observar de uma empresa experimentada no âmbito negocial (comércio internacional de mercadorias). Preliminar de ilegitimidade passiva rejeitada. Agravo retido provido e apelo da ré Aliança provido. Prejudicado apelo da seguradora. (TJRS, AC: 70030094411, Relator: Umberto Guaspari Sudbrack, 12ª Câmara Cível, Data do Julgamento: 16/06/2011)

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30. Protesto Marítimo

Os advogados que militam com o direito marítimo estão acostumados a lidar com normas que, não obstante antigas, ainda possuem aplicação prática no cotidiano forense. Além das regras do Código Comercial de 1850, muitas ainda em vigor, os maritimístas estão também se utilizam das normas processuais relativas à ratificação de protesto marítimo, as quais, antes da entrada em vigor do CPC 2015, ainda estavam disciplinadas expressamente pelo Código de Processo Civil de 1939. O protesto marítimo consiste em uma deliberação lavrada pelo comandante do navio e registrada no diário de navegação sobre qualquer fato ocorrido a bordo relativo a danos ou avarias à embarcação, à carga ou aos tripulantes e passageiros. Tal protesto, tal qual estabelecido pelo Código Comercial, tende a comprovar sinistros, avarias ou perdas ocorridas no curso de uma viagem marítima e, para adquirir eficácia, deve ser ratificado perante a autoridade judicial competente do primeiro porto em que a embarcação atracar, mediante prévia audiência e interrogatório do comandante e tripulantes. Como a ação de ratificação de protesto marítimo possui natureza não-contenciosa e sua decisão não produz coisa julgada, a mesma serve apenas como elemento probatório para preservar os direitos do armador caso venha futuramente a ser demandado pelos eventos ocorridos a bordo, ocasião em que poderá, então, utilizar-se das informações lavradas no protesto marítimo como um elemento de prova.

a) Protesto marítimo – Caso fortuito – Elemento de Prova 30.1 INDENIZAÇÃO - Perda de mercadoria por queda de bordo resultante de fortuna do mar - Ressarcimento securitário regressivo - Improcedência - Nulidade inocorrente do procedimento de ratificação do protesto marítimo - Causa excludente de responsabilidade (caso fortuito) bem delineada e comprovada nos autos - Negligência, imperícia ou imprudência na alocação e

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afixação dos contêineres derrubados ao mar não identificadas - Sentença mantida - Recurso improvido. (TJSP, AC: 9151017-62.2002.8.26.0000, Relator: Correia Lima, 20ª Câmara de Direito Privado, Data de Julgamento: 05/06/2007) b) Ratificação de protesto marítimo – Competência do juízo do local do

primeiro porto de atracação do navio 30.2 Protesto Marítimo - Transporte de carga - Mau tempo no mar - "Contêineres" avariados - Protesto lavrado a bordo de navio - Ratificação judicial - Reconhecimento de oficio da Incompetência absoluta do juízo, por já ter o navio deixado o Porto de Santos para águas estrangeiras - Extinção do processo, sem julgamento do mérito - Alegada impropriedade da extinção, por ser o primeiro lugar de chegada da embarcação e por não ser hipótese de extinção - Acolhimento - Competência da autoridade onde, após a ocorrência, em primeiro lugar chegar o navio - Postulação, ademais, de oitiva das testemunhas por ocasião de sua próxima atracação, prevista para cerca de dois meses - Inteligência do art. 505 do Código Comercial - Recurso provido. Fixada pela lei comercial brasileira a competência do juízo do local onde o navio atracar, pela vez primeira, após a ocorrência do sinistro, avaria ou qualquer perda relativa ao próprio meio de transporte ou à carga que este transportar, para o processamento e homologação do protesto formado a bordo, a fim de que possa fazer prova da ocorrência de força maior ou de "fortuna do mar", nos termos do artigo 102. (TJSP, AC: 9126614-97.2000.8.26.0000, Relator: Vieira de Moraes, 11ª Câmara de Direito Privado, j. 17/08/2006) c) Ratificação de protesto marítimo – Ajuizamento posterior ao primeiro

porto de atracação do navio – Extinção 30.3 Extinção do Processo - Protesto marítimo - Art. 505 do Código Comercial - Pedido de ratificação do protesto, lavrado a bordo, em momento posterior ao primeiro lugar onde o navio chegou - Inadmissibilidade - Feito extinto - Recurso improvido. (TJSP, AC: 9111070-40.1998.8.26.0000, Relator: Franklin Nogueira, 8ª Câmara de Direito Privado, Data de Julgamento: 07/02/2001)

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d) Ratificação de protesto marítimo – Competência da Justiça Estadual 30.4 Conflito negativo de competência. Notificação judicial (cpc, art. 867). Ausência de natureza litigiosa. Precedentes.competência da justiça estadual. (STF, Conflito De Competência Nº 134.372 - SP (2014/0142063-6), Relator: Ministro Marco Aurélio Bellizze, Data da publicação 18/02/2016) 30.5 CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PROTESTO MARÍTIMO. RATIFICAÇÃO. MATÉRIA REGIDA PELO ORDENAMENTO JURÍDICO PÁTRIO. DIREITO COMERCIAL. JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA. AUSÊNCIA DE INTERESSE DE ENTE FEDERAL. A ação de ratificação de protesto marítimo, ainda que guarde certa correlação com as hipóteses previstas nos incisos III e IX do artigo 109 da Constituição da República, determinantes da competência da Justiça Federal, trata de feito de natureza não-contenciosa, onde não se estabeleceu relação jurídica na qual figurassem os entes federais com prerrogativa de foro. Conflito conhecido para declarar a competência do juízo suscitado. (TJPE, CC: 59.018, Relator: Castro Filho, Data da publicação: 19/10/2006) e) Ratificação de protesto marítimo – Oitiva do comandante por carta

precatória itinerante 30.6 Via de regra, observadas as disposições do art. 505 do Código Comercial e art. 727 do Código de Processo Civil de 1939, deveriam ser ouvidos o Capitão, Oficiais e gente da equipagem do navio pela autoridade competente do primeiro lugar onde tivessem chegado, ocasião em que, juntamente com os passageiros, atestariam a veracidade dos fatos e suas circunstâncias, com a apresentação do Diário da Navegação. Entretanto, segundo informações do advogado do Capitão, o navio já seguiu viagem a seu destino final, o que inviabiliza que os interessados sejam ouvidos neste Juízo. Desta maneira, hei por bem autorizar a expedição de Carta Precatória Itinerante para serem colhidos os depoimentos dos mesmos na comarca cujo porto atualmente encontra-se a embarcação, observado o procedimento aplicável à espécie (art. 725 e seguintes do CPC/1939, utilizado por expressa determinação do art. 1218, VIII, do atual CPC. (...) (TJPA, Processo n. 2001111311-4, 16ª Vara Cível, Juíza Eliana Rita Daher Abufaiad, j. 08/05/2001)

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f) Ratificação de protesto marítimo – Desnecessidade de citação de terceiros interessados

30.7 Agravo de instrumento. Homologação de protesto marítimo. Ausência de previsão legal que determine a notificação por edital de terceiros interessados. Agravo conhecido e que se dá provimento. (TJRJ, AI nº 200700217494, Relator: Renato Ricardo, 9ª Câmara Cível, j. 29/01/2008) g) Ratificação de protesto marítimo – Sentenças de Ratificação 30.8 Na data e local acima mencionados, aberta a audiência, apregoadas as artes, compareceram o autor (...). INICIADOS OS TRABALHOS, foi ouvido o depoimento do comandante do navio e inquiridas as testemunhas acima mencionadas, arroladas pelo requerente, sendo que ambos ratificaram os fatos alegados na petição inicial e documentos que a acompanham, sem qualquer ressalva sobre o constante no Diário de Navegação que foi apresentado em audiência e vistado pela MM. Juíza acompanhado do Diário de Bordo, também vistado. A advogada do requerente nada pleiteou, ao passo que o Dr. Curador de ausentes não se opôs à homologação. Em seguida, foi prolatada a seguinte sentença: “Em conformidade com o artigo 1218, do diploma processual civil anterior, HOMOLOGO por sentença, para que produza seus jurídicos e legais efeitos, a presente Ratificação de Protesto Marítimo. (...) (TJSP, Processo n. 5620120070297327, Juíza Simone Curado Ferreira Oliveira, 7ª Vara Cível de Santos, Data de Julgamento: 21/06/2007) 30.9 (...) aberta a audiência de RATIFICAÇÃO DE PROTESTO MARÍTIMO, nos autos da ação e entre as partes supra-referidas. (...) No início dos trabalhos, o Capitação da embarcação apresentou o diário de Navegação, onde se verifica que houve o relato de um problema no motor do navio obrigando a embarcação diminuir a velocidade e tendo que arribar a nave no Porto mais próximo, qual seja, Vitória. Com o diário de bordo nas mãos o magistrado passou a inquirir o comandante da embarcação e os Oficiais de bordo, acima qualificados, e os mesmos RATIFICARAM os termos do protesto lavrado a bordo. Pelo MM. Juiz foi exarado o seu “Visto” nos registros constantes no dia 16.01.2002 (...). Na sequência , pelo MM. Juiz foi

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determinado que o Curador de Ausentes se manifestasse, sendo dito pelo mesmo que nada tinha a opor quanto à homologação da presente ratificação. Dando continuidade aos trabalhos, pelo MM. Juiz foi prolatada a seguinte decisão: “Vistos, diante dos depoimentos prestados em audiência, que fica fazendo parte do presente, bem como da apresentação do diário de navegação onde costa o registro do evento, RATIFICO o presente protesto marítimo para produção de seus jurídicos e legais efeitos, nos termos dos artigos 725 a 729 do Decreto Lei nº 1.608/39, mantido em vigor nesta parte pelo disposto no artigo 1218 do Código de Processo Civil. Entregue-se a Carta Precatória a parte interessada, independente de translado, para encaminhamento ao juízo deprecante. (...) (TJSP, Processo n. 884/2002, Juiz Ramon Mateo Júnior, 2ª Vara Cível de Santos)

30.10 Vistos, etc. (...) por conduto de seu advogado legalmente habilitada, ajuíza a presente a Ratificação de Protesto Marítimo, tendo em vista a avaria ocorrida no navio Global Maceió em alto mar. Anexa documentos de fls. 05/08. Fora nomeada curadora para os ausentes, consoante fls. 12. (...) Considerando o conteúdo dos presentes autos, com fundamento nos artigos 725 e seguintes do CPC de 1939 c/c 1218, VII do CPC, julgo, por sentença a presente ratificação de protesto marítimo, salvo erro ou omissão e ressalvados direitos de terceiros. (...) (TJSE, Processo n. 200790020353, 2º Ofício, Data do Registro: 23/05/2007) 30.11 Cuidam os presentes autos de protesto marítimo, formulado por PAVLIC IGOR, comandante do navio liberiano VERUDA, sendo que após ouvidas testemunhas e cumpridas as formalidades legais, inclusive ouvindo-se o Ministério Público Estadual, ficaram ratificadas as informações de fls. 02/08. Ante o exposto, HOMOLOGO A RATIFICAÇÃO AO PRESENTE PROTESTO MARÍTIMO, a fim de que surjam os devidos e regulares efeitos de direito. Custas pela ré. (...) (TJRJ, Processo n. 2001001040216-1, Juíza Renata Raemy Rangel, 23ª Vara Cível, Data de Julgamento: 28/01/2002)

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31. Responsabilidade do Operador Portuário – Recebimento sem Ressalva

A responsabilidade do transportador marítimo, por dicção legal, começa com o recebimento da mercadoria a bordo e cessa com a sua entrega à entidade portuária no porto de destino (cf. Decreto Lei 116/67). Caso a referida entidade portuária receba a carga desembarcada sem qualquer ressalva quanto a eventuais avarias, a carga é dada por recebida em bom estado e a responsabilidade por quaisquer avarias verificadas a posteriori passa a recair única e exclusivamente em face do operador portuário, na condição de depositário. A Jurisprudência vem reconhecendo ser inviável, portanto, pretender-se atribuir responsabilidade ao transportador marítimo por avaria em carga que foi desembarcada do navio sem qualquer ressalva quanto a eventuais danos.

a) Transporte de Carga – Avarias em contêiner – Ausência de ressalva ou

protesto no ato do desembarque do navio – Responsabilidade do operador portuário que recebeu a carga desembarcada – Ineficácia de ressalva ou protesto feito a posteriori

31.1 Direito aduaneiro. Transporte de mercadorias. Avarias em container. Falta de imediata lavratura do termo de avaria, pela entidade portuária. (...) Responsabilidade da entidade portuária, na qualidade de depositária dos bens. Arts. 470 e 479 do antigo Regulamento Aduaneiro (Decreto 91.030/85). Recurso improvido. - Conforme entendimento pacificado pela Corte Especial, o termo "lei federal' abrange também os decretos, de modo que é possível conhecer de recurso especial interposto com base em sua violação (EREsp 663.562/RJ, Rel. Min. Ari Pargendler, DJ de 18/2/2008). - Os arts. 470 e 479 do antigo Regulamento Aduaneiro (Decreto 91.030/85), ao falarem da necessidade de imediata lavratura de termo de vistoria nas hipóteses de descarga de "volume avariado', referem-se aos danos verificados nos containeres, não nas mercadorias nele contidas. Assim, o momento de lavratura do referido termo é o do desembarque de tais containeres do navio, e não da respectiva abertura, no porto. - Não tendo, a entidade

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portuária, feito qualquer ressalva quanto ao desembarque de container avariado, ela responde pelos danos verificados nas mercadorias importadas, nos termos do art. 2º do Decreto-lei 116/1967. Recurso especial improvido. (STJ, REsp: 958956, Ministra Nancy Andrighi, 3ª Turma, DOU 18/11/2009) 31.2 DIREITO COMERCIAL. TRANSPORTE MARÍTIMO INTERNACIONAL. RECEBIMENTO PELA AUTORIDADE PORTUÁRIA. CERTIFICADO DE AVARIA EMITIDO CERCA DE UM MÊS APÓS A DESCARGA. VISTORIA A DESTEMPO. NÃO RESPONSABILIDADE DA TRANSPORTADORA (...). I - Às entidades portuárias, em razão da legislação específica, em princípio compete a responsabilidade pelos bens descarregados sujeitos à sua guarda, pelo que a elas cumpre tomar oportunamente as cautelas previstas em lei. II - A responsabilidade da transportadora cessa com a entrega da mercadoria à entidade portuária, salvo se esta se resguarda nos termos da lei. III - O termo da avaria não tem o condão de substituir a vistoria exigida pelo DL nº 116/67. (STJ, REsp 108.756/SP, Relator: Sálvio Figueiredo Teixeira, Data da Publicação: 12/04/1999) 31.3 APELAÇÃO CÍVEL - TRANSPORTE MARÍTIMO - FALTA DE MARCADORIAS - VIOLAÇÃO DO CONTAINER - VERIFICAÇÃO APÓS ENTREGA E VISTORIA - RESSALVA INEXISTENTE - RESPONSABILIDADE DA AUTORIDADE PORTUÁRIA - EXEGESE DO ART. 1º, § 3º, DO DECRETO-LEI N. 116/67 - APELO DESPROVIDO E REEXAME NECESSÁRIO PARCIALMENTE PROVIDO. Nos termos do art. 2º do Decreto-lei n. 116/67, "a responsabilidade da entidade portuária começa com a entrada da mercadoria em seus armazéns, pátios ou locais outros designados para depósitos, e somente cessa após a entrega efetiva no navio ou ao consignatário". Ex vi do § 3º, do art. 1º, desse diploma, "os volumes em falta, avariados ou sem embalagem inadequada ao transporte por água, serão desde logo ressalvados pelo recebedor, e vistoriados no ato da entrega, na presença dos interessados" (TJSC, Apelação Cível n°. 00.018983-9, Des.Francisco Oliveira Filho, j.: 12/08/2002) b) Avaria de carga verificada após o término do transporte marítimo –

Desembarque sem ressalvas – Responsabilidade exclusiva do

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operador portuário – Ausência de responsabilidade do transportador marítimo

31.4 AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - TRANSPORTE MARÍTIMO - CERCEAMENTO DE DEFESA - OCORRÊNCIA - NECESSIDADE DE PRODUÇÃO DE PROVA TÉCNICA PARA AUFERIÇÃO DA QUEBRA NATURAL DO PRODUTO TRANSPORTADO - VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA AMPLA DEFESA E DO CONTRADITÓRIO - RECURSO PROVIDO - NULIDADE DA SENTENÇA DECRETADA 1. A responsabilidade do transportador marítimo é objetiva, mas há necessidade do consignatário, fazer prova da existência da falta ou da avaria, na forma de lei. 2. Não é justo nem direito responsabilizar o transportador que faz a entrega da mercadoria, no porto de destino, à entidade portuária, sem vistoria ou ressalva da mercadoria na via própria do. Conhecimento de Transporte. 3. Constitui cerceamento de defesa o julgamento sem o deferimento das provas. A falta de provas de matéria de fato foi a premissa da decisão desfavorável a apelante não tendo aplicação o disposto no art. 330, I do Código de Processo Civil, quando a prova pretendida não era irrelevante. 4. Ao juiz somente é permitido dispensar prova inútil, em relação ao objeto da causa, fatos cuja prova se pretenda fazer, e não ao juízo intimo que possa formar acerca da justiça da pretensão do litigante. (...). Além disso, o v. acórdão também foi expresso ao fundamentar que: "(...) este Tribunal de Justiça já decidiu no sentido da responsabilidade objetiva do operador portuário pela higidez dos produtos armazenados, ainda que por pouco tempo, e embarcados. (...), cabia ao operador portuário realizar as ressalvas que entendesse pertinentes no ato de recebimento da carga, sendo certo que a obrigação de verificar a qualidade da mercadoria é daquele que a recebe, devendo recusá-la se ela estivesse fora do padrão. Entretanto, na hipótese destes autos, a ré recebeu o produto da autora sem qualquer ressalva, presumindo-se, assim, que a carga que ficou sob sua guarda não possuía qualquer problema no ato de entrega e recebimento". (...). (TJSP, Embargos de Declaração 4012686-65.2013.8.26.0562; Relator (a): Artur Marques; 35ª Câmara de Direito Privado; Data do Julgamento: 14/08/2017) 31.5 (...) Transporte marítimo. Avaria de mercadoria exportada da noruega. Dano causado por operador portuário durante o transporte do bem já desembarcado. Responsabilidade exclusiva que não se estende à ré, mera transportadora. Exegese do artigo 11, ii, da lei nº 8.630/93. (...). Recursos conhecidos e desprovido o da autora e parcialmente provido o do réu.

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(TJSC, Apelação Cível n. 2013.001790-2, Relator: Des. Saul Steil, 3ª Câmara, j. 26/03/2013) 31.6 AÇÃO REGRESSIVA – Contrato de Seguro – Transporte marítimo – Pedido julgado procedente – Reforma que se impõe – Mercadoria entregue no Porto de Santos/SP – Notícia sobre eventual ressalva no recebimento – Inexistência – Presunção de que recebida em bom estado e em conformidade com o conhecimento de transporte – Art. Io, § Io, DL 116/67 – Constatação de suposta avaria e/ou extravio em vistoria realizada em Sabará/MG, duas semanas após sua nacionalização – Responsabilidade da transportadora – Ausência – Sentença reformada – Recurso provido. Inexistindo notícia sobre ressalva feita no momento do desembarque no porto de destino, presume-se que a mercadoria foi entregue em bom estado e em conformidade com o conhecimento de transporte. (...) AUSENTE QUALQUER PROVA DE QUE A MERCADORIA TENHA SOFRIDO AVARIA OU SIDO EXTRAVIADA DURANTE O TRANSPORTE MARÍTIMO, A PRESTADORA DE SERVIÇO NÃO PODE SER RESPONSABILIZADA. (TJSP, AC 0039028-60.2008.8.26.0562, Des.Spencer Almeida Ferreira, 38ª Câmara de Direito Privado, j. 06/04/2011) 31.7 (...) CONTRATO DE TRANSPORTE MARÍTIMO - Ação regressiva - Falta de mercadoria - Responsabilidade da transportadora - Inocorrência - Aplicação do Decreto Lei 116/1967 - Responsabilidade da transportadora começa com o recebimento da mercadoria a bordo e cessa com a sua entrega à entidade portuária ou trapiche municipal, no porto de destino, ao costado do navio -Prova da entrega do container lacrado, sem ressalvas - Honorários advocatícios - Redução - Inadmissibilidade - Manutenção da verba arbitrada em primeiro grau: R$ 1.000,00. Agravo retido não conhecido. Apelação desprovida. (TJSP, AC: 9129094-04.2007.8.26.0000, Relator: Álvaro Torres Júnior, 20ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 13/09/2011) 31.8 TRANSPORTE MARÍTIMO – EXTRAVIO DE PARTE DA CARGA NO DESEMBARQUE – PAGAMENTO DA INDENIZAÇÃO DO SEGURO – DIREITO DE

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REGRESSO DA SEGURADORA – FALTA DA EMISSÃO DO CERTIFICADO PELA AUTORIDADE PORTUÁRIA – DECADÊNCIA EM RELAÇÃO AO TRANSPORTADOR – RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA OPERADORA PORTUÁRIA (Art. 11, II, da Lei nº 8.630/93.) A Lei nº 8.630/93, no seu artigo 11, II, estabelece que o operador portuário responde perante o proprietário ou consignatário da mercadoria pelas perdas e danos que ocorrerem durante as operações que realizar ou em decorrência delas. Em caso de extravio ou avaria da carga, o operador portuário responsável está obrigado a lavrar de imediato ou logo após o transbordo o certificado de reclamação denominado “Protesto”, sob pena de decadência do direito em relação ao transportador, consoante estabelece o art. 754 e seu parágrafo único do Código Civil. Improvimento do recurso. (TJRJ, AC: 2009.001.39669, Rel. José Geraldo Antonio, 7ª Câmara Cível, DJ 24/07/2009) 31.9 AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - TRANSPORTE MARÍTIMO - CERCEAMENTO DE DEFESA - OCORRÊNCIA - NECESSIDADE DE PRODUÇÃO DE PROVA TÉCNICA PARA AUFERIÇÃO DA QUEBRA NATURAL DO PRODUTO TRANSPORTADO - VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA AMPLA DEFESA E DO CONTRADITÓRIO - RECURSO PROVIDO - NULIDADE DA SENTENÇA DECRETADA 1. A responsabilidade do transportador marítimo é objetiva, mas há necessidade do consignatário, fazer prova da existência da falta ou da avaria, na forma de lei. 2. Não é justo nem direito responsabilizar o transportador que faz a entrega da mercadoria, no porto de destino, à entidade portuária, sem vistoria ou ressalva da mercadoria na via própria do. Conhecimento de Transporte. 3. Constitui cerceamento de defesa o julgamento sem o deferimento das provas. A falta de provas de matéria de fato foi a premissa da decisão desfavorável a apelante não tendo aplicação o disposto no art. 330, I do Código de Processo Civil, quando a prova pretendida não era irrelevante. 4. Ao juiz somente é permitido dispensar prova inútil, em relação ao objeto da causa, fatos cuja prova se pretenda fazer, e não ao juízo intimo que possa formar acerca da justiça da pretensão do litigante. (TJPR, Processo: 143139-2, Relator: Lauro Augusto Fabrício de Melo, Primeira Câmara Cível (extinto TA), j. 14/03/2000) c) Transporte Marítimo - Avarias de carga – Perda que se deu após o

desembarque do navio – Responsabilidade do operador portuário

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31.10 "AÇÃO REGRESSIVA – Transporte marítimo – Mercadoria que desembarcou no porto de Santos em perfeito estado – Termo de avaria lavrado após o transporte rodoviário, constatando vários danos – Inexistência de responsabilidade da ré – Regressiva proposta por seguradora improcedente – Recurso improvido." (TJSP, Apelação 1001513-87.2017.8.26.0002; Relator (a): J. B. Franco de Godoi; 23ª Câmara de Direito Privado; Data do Julgamento: 27/10/2017)

31.11 AÇÃO REGRESSIVA DE RESSARCIMENTO. TRANSPORTE MARÍTIMO. Seguradora buscou ressarcimento junto às transportadoras por danos sofridos em mercadoria segurada. Hipótese em que as requeridas entregaram a mercadoria sem qualquer avaria no porto de Santos/SP. Eventuais danos ocorreram com o posterior transporte para a cidade de Santo André/SP. Não comprovação de culpa das empresas de transporte marítimo. Sentença mantida, nos termos do artigo 252 do Regimento Interno do TJSP. RECURSO IMPROVIDO. (TJSP, Apelação 0176046-15.2012.8.26.0100; Relatora: Silvia Maria Facchina Esposito Martinez; 24ª Câmara de Direito Privado; Julgamento: 09/03/2017)

31.12 Apelação Cível. Ação regressiva de ressarcimento. Rito ordinário. Autora que pagou indenização ao segurado por perda de mercadoria em transporte marítimo e busca o ressarcimento dessa quantia, mediante cobrança dos supostos causadores do dano. Sentença que julgou improcedente o pedido. Sub-rogação, nos termos do que dispõe o art. 786 do CC. Questão que diz respeito à prescrição que deve ser examinada de ofício, de acordo com o art. 219 § 5º do CPC. Inocorrência da prescrição, eis que o prazo prescricional foi interrompido pelo ajuizamento de protesto judicial. Relação jurídica que não é de consumo por ausência de vulnerabilidade de qualquer das partes que são empresas que praticam atividade que visa o lucro. Incidência do art. 8º do Decreto-Lei nº116/67, por ser regra especial que trata sobre o transporte de mercadorias nos portos nacionais, onde está previsto o prazo de um ano para o ajuizamento de demandas dessa natureza. Legitimidade passiva das rés, a primeira ré na qualidade de transportadora da carga e a segunda de operadora portuária. Responsabilidade da operadora portuária e não da transportadora, pois restou comprovado documentalmente que a perda se deu após o desembarque da mercadoria. Obrigação da operadora portuária, de acordo

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com o previsto no art. 2º e art. 3º do Decreto-Lei 116/1967 e art. 750 do CC. Na época dos fatos em questão estava vigente a Lei nº 8.630/93. Essa Lei foi revogada pela Lei nº 12.815/13 que, em seu art. 26, II, manteve o mesmo texto da lei revogada quando ao descrito no art. 11, II, que trata da responsabilidade da operadora portuária perante o proprietário da mercadoria. Comprovante que consta dos autos que serve como prova do pagamento do seguro. Aplicação do disposto nos artigos art. 786 e art. 346 do CC. (...) Primeiro apelo a que se dá parcial provimento a fim de que seja julgado procedente o pedido formulado em face da segunda ré, FERTIMPORT S.A, operadora portuária (...). (TJRJ, AC 0228360-70.2011.8.19.0001, Relator: Carlos José Martins Gomes, 16ª Câmara Cível, Data de Publicação: 30/05/2014)

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32. Salvamento

Aquele que se empenha na assistência e salvamento de uma embarcação que se encontra em estado de perigo ou fora de suas condições de navegabilidade e logra salvá-la de um infortúnio maior, tem direito a uma indenização como recompensa pelo salvamento. Esta indenização pode ser acordada entre as partes, apurada tecnicamente ou arbitrada ou por meio de um regulador ou uma autoridade arbitral ou judicial, com base em parâmetros específicos dentre os quais se inclui o risco envolvido, o valor do bem salvo, os esforços empregados e, logicamente, o êxito na operação, até o limite do valor do próprio bem.

a) Salvatagem Marítima – Litígio Internacional visando detenção de

carga para obtenção de garantia – Competência concorrente do Judiciário Brasileiro

32.1 PROCESSO CIVIL INTERNACIONAL. RECURSO ESPECIAL. SALVATAGEM MARÍTIMA. ART. 88 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. COMPETÊNCIA CONCORRENTE DA AUTORIDADE JUDICIÁRIA BRASILEIRA. ART. 7º DA LEI N.º 7.203/84. AUSÊNCIA DE ANTINOMIA. NÃO-CONFIGURAÇÃO DE SEUS REQUISITOS QUE IMPLICA APENAS A AUSÊNCIA DE EXCLUSIVIDADE E NÃO A INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA BRASILEIRA. 1. Verificada qualquer das hipóteses do art. 88 do Código de Processo Civil, é competente a autoridade judiciária brasileira para o processamento e o julgamento de ação que envolva conflito internacional de direito privado. 2. Ausência de antinomia entre o art. 88 do Código de Processo Civil e o art. 7º da Lei n.º 7.203/84, uma vez que não se extrai contradição lógica ou axiológica entre tais dispositivos. Enquanto aquele prevê competência internacional concorrente da autoridade judiciária nacional, este estabelece situação específica de competência internacional exclusiva. 3. Não-configuração dos requisitos necessários à aplicação do art. 7º da Lei n.º 7.203/84 que implica apenas a ausência de exclusividade na competência da Justiça brasileira, e não a sua incompetência, ao contrário do que restou concluído pelo acórdão recorrido. 4. Competência concorrente da Justiça brasileira para analisar cautelar proposta por sociedade de salvatagem marítima visando a impedir a retirada

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da carga recuperada pelos seus proprietários sem que antes se efetue o pagamento do prêmio a que faz jus em razão do salvamento. 5. Reconhecimento da violação ao art. 88 do Código de Processo Civil e ao art. 7º da Lei n.º 7.203/84. RECURSO ESPECIAL A QUE SE DÁ PROVIMENTO. (STJ, REsp 772.661/SC, Rel. Ministro Paulo De Tarso Sanseverino, Terceira Turma, Data de Publicação: 16/03/2011) b) Salvamento– Medida Cautelar de Arresto para obtenção de garantia

por prejuízos e prêmio de salvamento.

32.2 Trata-se de medida cautelar inominada ajuizada por OGX Petróleo e Gás Ltda em face de General Ore Carrier Corp e de Blue Ocean Ship Management Ltda, a primeira ré sociedade estrangeira, armadora de no navio de nome ´Margot N´. de bandeira Liberiana e a segunda ré, empresa estrangeira exploradora da referida embarcação, com sede no Estado da Califórnia, Estados Unidos da América. Consta, em síntese, na petição inicial, que a autora é uma empresa que na atua no ramo de exploração de petróleo e gás natural no litoral do Estado do Rio de Janeiro, atividade exercida através de plataformas específicas, as quais são afretadas e gerenciadas por ela, autora. Nesse sentido, informa que no último dia 22, por volta das 14:00 uma de suas plataformas - Ocean Lexigton, recebeu aviso de emergência a respeito de um navio que navegava em condições de risco, estando supostamente à deriva e em rota de colisão com a plataforma. Iniciada as investigações foi apurado pela autora que se tratava do navio ´Margot N´ de bandeira da Ibéria, que, de fato, estava à deriva e em iminente rota de colisão com a plataforma/sonda ´Ocean Lexigton´, a qual encontrava-se em plena atividade. Relata a autora que foi tentado diversos contatos com o navio ´Margot N´, não sendo possível qualquer resposta, motivo pelo qual foi iniciado complexo procedimento de emergência a fim de que fosse evitada a iminente colisão. Com isso, foi necessário a imediata paralisação das operações na plataforma/sonda ´Ocean Lexigton´, notadamente para a urgente retirada dos funcionários que ali estavam trabalhando. Além disso, diversas embarcações gerenciadas pela autora e outras locadas foram imediatamente requisitadas para o local com o propósito de impedir a colisão, havendo a utilização de cabos, que foram presos ao navio desgovernado e graças a toda essa logística foi possível impedir a colisão e os conseqüentes danos pessoais e ambientais. Acontece, segundo narra a autora, após ter sido evitada a colisão o navio evadiu-se sem prestar

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qualquer tipo de informação ou auxílio à autora, especialmente em relação à operação de salvamento, vindo a ancorar-se em um porto particular nesta cidade. Alega a autora inúmeros prejuízos de ordem material em razão da operação de salvamento, citando, na espécie as diversas normas internas e internacionais que se aplicam ao caso, requerendo, a concessão de medida liminar a que as autoridades competentes se abstenham de emitir o passe de saída do navio Margot N, com a adoção das medidas necessárias a fim de que a referida embarcação não deixe o local em que esteja atracada ou fundiada até que seja prestada garantia idônea em valor não inferior a R$ 2.549.207,94 pelos prejuízos direitos acrescidos de garantia de indenização pelo salvamento em percentual a ser fixado pelo Juízo em patamar não inferior a 5% da embarcação, equivalente a R$ 1.937,520. (...) partindo-se das alegações da parte autora, dos documentos que instruem a petição inicial e das diversas legislações citadas no texto da inicial, há de se concluir pela probabilidade do direito alegada pela parte autora. De fato, dentre as diversas normas incidentes ao caso, há de se destacar a Convenção Internacional sobre Salvamento Marítimo, da qual o Brasil é signatário e que passou a integrar o ordenamento jurídico através do Decreto Legislativo nº 263/09. O artigo 21, item 3 da convenção determina o seguinte: Artigo 21. 1. A pedido do salvador, o responsável pelo pagamento devido, nos termos desta convenção deverá prover garantia satisfatória à reclamação, incluindo juros e custas. (...) 3. O navio salvador e qualquer outro bem não deverão, sem autorização do salvador, ser removidos do porto ou local onde chegaram depois de concluídas as operações de salvamento marítimo, até que seja providenciada uma garantia satisfatória à reclamação desta, contra o referido navio ou bem. A norma em questão deve ser aplicada, uma vez ter restado sumariamente demonstrado nos autos que a parte autora foi a responsável pelo salvamento do navio Margot N, o que permite a adequação do fato à norma, conforme demonstrado. Com efeito, os diversos documentos dos autos indicam, repita-se, sem análise do mérito, que houve a necessidade de inúmeras providências visando impedir que o navio colidisse com a plataforma da autora. Logo, os procedimentos positivos da autora foram eficazes no salvamento do patrimônio da ré. Ressalte-se, por fim, que todo o incidente está igualmente sendo apurado pela autoridade brasileira, através do Ministério da Marinha, conforme comprovado nos autos. Por tais razões, presente o requisito da fumaça do bom direito. (...) Outro requisito é exigido, e a ele se dá, tradicionalmente, o nome de periculum in mora (ou seja, perigo na demora). Isto porque, como sabido, a tutela jurisdicional cautelar é modalidade de tutela de urgência, destinada a proteger a efetividade de um futuro provimento jurisdicional, que está diante da iminência de não alcançar os resultados práticos dele esperados. É esta situação de perigo iminente que

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recebe o nome de periculum in mora, sendo sua presença necessária para que a tutela cautelar possa ser prestada pelo Estado-Juiz. Como alegado e comprovado nos autos, trata-se de um navio de bandeira estrangeira, Iibéria, cujo país não há necessárias informações quanto às relações diplomáticas com o Brasil. Ademais, a autora informa que o navio salvado, após evitada a colisão, retomou sua força motor e partiu sem qualquer aviso, vindo a ancorar em porto particular nesta cidade, situação que somente faz reforçar a idéia que caso venha a retornar ao seu país de origem sem a necessária e devida garantia à autora, haverá risco iminente de futuro processo de reparação de danos tornar-se totalmente ineficaz. Busca-se com a cautelar, justamente essa garantia, para que os prejuízos alegados e que deverão ser comprovados, possam ser efetivamente discutidos em uma ação própria nos limites do contraditório e da ampla defesa como prevê o ordenamento constitucional brasileiro. O documento de fls. 122 indica que o navio encontra-se com data e hora de partida para seu destino às 13:00 do dia 30 de agosto, portanto, amanhã, sendo que tenha sido prestado até o momento qualquer garantia dos prejuízos alegados ou mesmo uma satisfação ou explicação formal quanto ao evento descrito na petição inicial, que poderia ter tomado proporções graves. Os valores mínimos quanto aos alegados prejuízos estão suficientemente demonstrados e justificados, para fins de cognição sumária, sendo que em relação ao arbitramento do valor do salvamento, valho-me das razões da autora, visto a urgência do caso e a necessidade de perícia a esse respeito. Diante do exposto, DEFIRO PARCIALMENTE a medida liminar requerida para determinar a imediata expedição de ofício à Delegacia da Capitania dos Portos de Itacuruça e também À Capitania dos do Rio de Janeiro, para que não emitam o ´passe-de-saída´ do Navio de Bandeira da Ibéria, de nome ´Margot N´, adotando-se todas as medidas necessárias no sentido de que a referida embarcação não deixe o local em que está atracada ou fundeada, por enquanto o terminal da Companhia Vale S/A, na Ilha Guaíba, nesta cidade, sob pena responsabilidade, até que seja prestada caução idônea no valor de R$ 2.549.207,94 (...) relacionados aos prejuízos direitos alegados na petição inicial e mais R$ 1.937.520,00 (...) relativo ao arbitramento do salvamento do navio (...) Cite-se e intime-se o Comandante do navio ´Margot N´ e o agente marítimo responsável pela embarcação, Brazshipping Marítima Ltda, (...). Oficie-se à Capitania dos Portos e à Delegacia de Itacuruça, via fax, comprovando-se nominalmente o nome do agente responsável pelo recebimento dos ofícios. (RJ, Proc nº 0002837-50.2011.8.19.0030, Juiz Rafael De Oliveira Fonseca, 29/08/2011)

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c) Salvamento Marítimo – Definição do preço pela prestação do socorro 32.3 CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO. SOCORRO A NAVIO SINISTRADO.PRESTAÇÃO DE SERVIÇO. Inexistindo acordo prévio acerca do preço da prestação de socorro de um rebocador a um navio sinistrado, é razoável que seja fixado segundo a tabela expedida pelo Ministério dos Transportes. Apelo desprovido. (TJRS, AC 36.644, Des. Ruy Ruben Ruschel, 2ª Câmara Cível, Data de Julgamento: 19/11/1980)

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‘Navegar é preciso’! É justamente a partir da exploração desta atividade que os armadores geram sua receita. Enquanto parado, além de deixar de gerar receita, o navio gera despesas necessárias à sua manutenção, que não são modestas. Por tais motivos, os contratos de afretamento de embarcações disciplinam o período em que o armador deverá manter o navio à disposição do afretador ou do consignatário da mercadoria para as operações de carga e descarga, durante o qual não será devido qualquer pagamento. Entretanto, qualquer atraso ou excesso ao período acordado implica na incidência da chamada sobrestadia ou demurrage de navio, na forma das taxas previstas contratualmente. Os que militam no ramo do direito marítimo certamente já ouviram a máxima ‘once on demurrage, always on demurrage’, oriunda dos usos e costumes ingleses e consolidada pela jurisprudência internacional. Apesar da previsão expressa em nosso Código Comercial, o assunto não é muito difundido em nosso ordenamento e na jurisprudência de nossos Tribunais, quiçá porque em sua grande maioria os contratos de afretamento possuem como mecanismos de solução de litígios a aplicação de lei e foro ou arbitragem estrangeiros, primordialmente perante as Cortes Inglesas.

a) Contrato de Afretamento – Atraso no embarque/desembarque da

carga – Sobrestadia de navio – Responsabilidade 33.1 APELAÇÃO CÍVEL - TRANSPORTE MARÍTIMO DE MERCADORIAS - CONTRATO DE AFRETAMENTO MARÍTIMO NA MODALIDADE CHARTER PARTY (CARTA PARTIDA) - REGRAMENTO PRÓPRIO EM CONSONÂNCIA COM A PARTE AINDA VIGENTE DO CÓDIGO COMERCIAL - INAPLICABILIDADE DO CDC - AQUISIÇÃO DE BENS PARA IMPLEMENTAR A ATIVIDADE EMPRESARIAL - COBRANÇA LEGÍTIMA FUNDAMENTADA NA EXISTÊNCIA DE SOBRESTADIAS (DEMURRAGE) E FRETE MORTO (DEAD FREIGHT) - APELAÇÃO CONHECIDA E PROVIDA. 1 - "A aquisição de bens ou a utilização de serviços, por pessoa

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natural ou jurídica, com o escopo de implementar ou incrementar a sua atividade negocial, não se reputa como relação de consumo e, sim, como uma atividade de consumo intermediária". (Precedente STJ - REsp nº 541.867 - BA). 2 - Nos contratos charter party são dispostas todas as regras e condições para o afretamento, como o objeto do transporte, as obrigações dos contratantes, o preço do frete, os prazos e demais elementos essenciais, sendo comum em tais avenças, embora não se ignore a liberdade contratual, que as partes recorram a contratos padronizados, chancelados por comitês internacionais (compostos por representantes de afretadores e fretadores) e organizados por modelos conforme as particularidades de cada transporte ou carga. No caso dos autos as partes utilizaram um contrato modelo GENCON 94 elaborado por um conselho internacional denominado Baltic and International Maritime Council - BIMCO, exatamente um dos modelos com mais larga aplicação para os ajustes de afretamento por viagem ou Voyage charter party, instrumento que não sustenta qualquer dissonância com a legislação brasileira pertinente, vez que observa os elementos exigidos pelos artigos 566 e 567 da parte ainda vigente do Código Comercial. 3 - Na cláusula 12 da carta partida (charter party) restou estabelecido a carga mínima de "20.000 TM mais 5%, a opção pela H. DANTAS, de calcário a granel", isto é, fixou-se 21.000 TM de brita calcária como o mínimo a ser embarcado pela apelada, de modo que o embarque de apenas 20.456 TM, gerou frete morto de 544 TM. 4 - A documentação carreada aos autos, mormente a cláusula 16, itens a e b, da carta partida, demonstra que efetivamente houve demurrage tanto no embarque quanto no desembarque da carga, operações cuja responsabilidade era da afretadora, pois enquanto foi acertado para o carregamento o prazo, a partir do aviso de "pronto para operar" pelo navio, de 4 dias, 2h11min, a operação levou 4 dias, 4h26min para ser concluída, gerando um atraso de 2h15min, da mesma forma ocorreu no descarregamento, isto é, restou estipulado o prazo, contado do aviso de "pronto para operar", de 5 dias, 2h44min, mas a operação foi concluída em 9 dias e 45 minutos, resultando no atraso de 3 dias 22h01min. 5 - Constatada a efetiva existência de frete morto e sobrestadias é legítima a cobrança dos valores prévia e contratualmente ajustados. (TJCE, AC. 1065-09.2000.8.06.0092/1, Des. Manoel Cefas Fonteles Tomaz, 6ª Câmara Cível, j. 26/02/2013) 33.2 Direito comercial. Contrato de transporte internacional. Conhecimento de frete. Desembarque da mercadoria após o depósito da contraprestação pecuniária. Navio da transportadora que aguarda no porto

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de destino o adimplemento da avença para então desembarcar a mercadoria. Gastos (...) com sobrestadia e desestiva. Ônus da remetente. (TJSC, AC 97.005187-5, Des. SILVEIRA LENZI, 3ª Câmara Cível, j. 20/03/2001)

33.3 PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS - AÇÃO DE COBRANÇA - SOBRESTADIA DE NAVIO (DEMURRAGE) - PRESCRIÇÃO ÂNUA (ART. 449, 3 DO CÓDIGO COMERCIAL)- NÃO OCORRÊNCIA - CONTRATO FIRMADO ENTRE AFRETADOR E CONSIGNATÁRIO - INTELIGÊNCIA, NO CASO, DOS ARTS. 449 (PARTE FINAL) E 442 DO CÓDIGO COMERCIAL - SENTENÇA ANULADA EM PARTE - RECURSO DA FERTIKOLA TRADING PROVIDO E PREJUDICADA A APELAÇÃO DE GIRASSOL IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO LTDA. Não se pode jamais aplicar a regra da prescrição de que trata o inc. III do art. 449 do CCo brasileiro, pois esta se aplica especificamente nas relações entre armador e o afretador em decorrência do demurrage. É bom alvitrar que não existe demurrage ente o afretador e o importador. O que pode ser pactuado é o importador, por disposição contratual, assumir o ressarcimento do que o afretador pagar ao armador a título de demurrage (Edson Antonio Miranda). (TJPR, AC 441914-3, Relator: Costa Barros, 12ª Câmara Cível, j. 16.01.2008)

b) Sobrestadia de navio – Prazo prescricional – Aplicação da regra do

Código Comercial vigente à época 33.4 APELAÇÃO. RESSARCIMENTO PELAS DESPESAS COM SOBRESTADIA OU DEMURRAGE. TRANSPORTE MARÍTIMO. PRESCRIÇÃO. ART. 449, 3, DO CÓDIGO COMERCIAL. 1. Sobrestadia ou demurrage é a multa paga pelo contratante, quando o navio contratado demora nos portos, mais do que o prazo acordado. Essa multa cobrada pelo armador pode ser pelo atraso na devolução de containers em embarques em navios regulares, bem como atraso nas operações nos navios afretados. 2. Nos termos da legislação aplicável, vigente à época dos fatos (art. 449, 3, do Código Comercial), o prazo prescricional, referentemente às questões ligadas à sobrestadia ou demurrage, é de um ano, contados da data da entrega da carga. Na espécie, a carga foi entrega pelo transportador em 22/10/1991; e a presente ação judicial foi proposta em março de 2004. Dessarte, estreme de dúvidas a ocorrência da prescrição da pretensão autoral. Precedente citado: REsp nº 678100/SP. 3. Apelo desprovido

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(TRF2, AC. 200451010050040, Des. THEOPHILO MIGUEL, 7ª Turma Especializada, DJU 10/09/2009, p. 154)

c) Sobrestadia de navio – Remessa de pagamentos para o exterior –

Imposto de renda – Não incidência

33.5 Direito tributário - administrativo - marítimo. Imposto de renda na fonte sobre pagamentos efetuados a residentes no exterior referentes a sobrestadia de navio no porto e sobre despesas com supervisão de descarga, pesagem e análise de minério. - Sobrestadia é demora do navio no porto, prevista regular e obrigatoriamente na carta-partida (art. 567, § 5º, código comercial). - Não ultrapassados os prazos fixados, não há infração contratual. - Inocorrência do fato gerador do imposto de renda. - Quanto aos serviços de supervisão de descarga, pesagem e análise do minério, esta eg. Turma não os considera como técnicos, concluindo pela não incidência do imposto. - Sentença mantida integralmente. - Negado seguimento ao recurso voluntário da união, por intempestividade (art.38, § 1º, ii, r.i). - Remessa oficial a que se nega provimento (TRF2, AC. 9002195397, Des. Celso Passos, 3ª Turma, DJU 13/05/1997) d) Sobrestadia de navio – Contrato que prevê aplicação de lei inglesa –

Ação judicial no Brasil – Aplicação da Lei Brasileira

33.6 Ação de cobrança. Transporte marítimo. Sobrestadia. Nulidade do processo. Lei aplicável. Prescrição. Presente a preclusão para a parte interessada, afasta-se a alegação de nulidade do processo pelo indeferimento do pedido de denunciação à lide. A interpretação do contrato e a incidência da regra do art. 628 do Código Comercial indicam a aplicação da lei brasileira. Prazo de prescrição de vinte anos, em face da existência de contrato e relatório de fatos assinado pelo capital do navio. Débito existente, pela sobreestadia do navio carregamento e descarga, como previsto no contrato. APELAÇÃO NÃO PROVIDA. (TJRS, AC. 598371458, Des. Marcelo Cezar Muller, 11ª Câmara Cível, j. 28/11/2001)

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34. Subrogação – Comprovante de Pagamento – Ausência de Apólice / Averbação

O seguro é uma atividade essencialmente de risco. Mais do que qualquer outra. Ao contrário dos transportadores marítimos, que auferem suas receitas dos transportes de carga, as seguradoras geram suas receitas única e exclusivamente sobre o risco. Desse modo, após indenizarem um risco coberto, somente mediante a observância de requisitos práticos e objetivos podem as seguradoras obter direito a um regresso contra outra parte. E tal regresso deve observar os estritos limites do direito originário do segurado, com os mesmos bônus, mas também as mesmas mazelas e limitações. Para que a sub-rogação se opere e fundamente uma demanda regressiva, deve ficar provada não apenas a legitimidade ativa para a causa, mediante a demonstração do contrato de seguro válido, em todas as suas condições, o efetivo pagamento, além da culpa e responsabilidade da parte contra a qual pretende-se regredir. O direito de regresso existe apenas em face do real causador do dano, razão pela qual a seguradora tem o ônus de provar a culpa e responsabilidade daquele contra o qual pretende regredir. Nesse contexto, a responsabilidade do transportador marítimo eventualmente demandado em uma ação regressiva não deve ser regulada pela teoria da responsabilidade objetiva imprópria, mas sim subjetiva. Os requisitos legais e processuais aptos a legitimar que uma seguradora atue em regresso devem ser observados com rigor técnico, não podendo ser baseados em presunções e hipóteses, mas em provas e elementos concretos, mesmo porque, não raras vezes a relação comercial entre segurador e segurado pesa no momento da aceitação da cobertura e uma indenização paga com bases em interesses meramente comerciais não pode gerar direito a sub-rogação alguma.

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a) Ação regressiva de seguradora – Subrogação não aproveita as normas do Código de Defesa do Consumidor

34.1 AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. TRANSPORTE MARÍTIMO DE MERCADORIA. CONTRATO DE SEGURO. MERCADORIA AVARIADA. SEGURADORA. SUB-ROGAÇÃO. AUSÊNCIA DE RELAÇÃO DE CONSUMO ENTRE O SEGURADO E A TRANSPORTADORA. PRAZO PRESCRICIONAL ÂNUO. PRECEDENTES. 1. Nos termos da consolidada jurisprudência desta Corte, quando afastada pela instância ordinária a existência de relação de consumo entre o segurado e a transportadora, não incidirá o prazo prescricional previsto no Código de Defesa do Consumidor, prevalecendo o prazo prescricional ânuo estabelecido em legislação específica, neste caso o art. 8º do Decreto-Lei n. 116/67. Precedentes. (AgRg no AREsp 458.725/SP, Rel. Ministra Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma, julgado em 17/11/2015, DJe 23/11/2015) 34.2 PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. AÇÃO REGRESSIVA. CONTRATO DE SEGURO. TRANSPORTE MARÍTIMO INTERNACIONAL DE EQUIPAMENTO. PAGAMENTO. INDENIZAÇÃO. SUB-ROGAÇÃO. NORMAS DO CDC. NÃO APLICAÇÃO. SINISTRO OCORRIDO ANTES DA VIGÊNCIA DO CÓDIGO CIVIL DE 2002. DECRETO-LEI 2.681/1912 e CÓDIGO COMERCIAL. INCIDÊNCIA. PRESCRIÇÃO ANUAL. 1. O Código de Defesa do Consumidor não se aplica ao contrato de transporte de cargas, no caso, equipamento importado para uso pela empresa importadora no processo industrial de produção de medicamentos. 2. Fatos ocorridos na vigência do Código Civil de 1916. Incidência da prescrição anual (Código Comercial, art. 449 e Decreto-lei 2.681/1912, art. 9º) à relação entre a segurada e a transportadora, que se aplica também à ação de regresso ajuizada pela seguradora na condição de sub-rogada. 3. Embargos de divergência acolhidos para prover o recurso especial. (EREsp 1202756/RJ, Rel. Ministra Maria Isabel Gallotti, Segunda Seção, julgado em 08/11/2017, DJe 23/11/2017) 34.3 Apelação Cível. Contrato marítimo. Ação regressiva de seguradora em face de transportadora apontada como responsável por danos causados a

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mercadoria transportada. Recurso distribuído para Câmara especializada em Defesa do Consumidor. Competência absoluta em razão da matéria. Inteligência do art. 3º, § 1º da Lei Estadual 6375/12. Apesar do sub-rogado assumir a posição jurídica do segurado e com isso passar a fazer jus aos mesmos mecanismos jurídicos oferecidos ao consumidor originário, tal situação não o coloca na posição de consumidor pelo fato de não ser tecnicamente destinatário final e de inexistir vulnerabilidade. Declínio de competência para uma das Câmaras Cíveis não especializadas. (TJRJ, AC 0478425-85.2011.8.19.0001, Relator: Peterson Barroso Simão, 2ª Câmara Cível, Data de publicação: 25/10/2013) b) Ação regressiva de seguradora – Subrogação não gera mais direitos do

que o credor primitivo possuia 34.4 COBRANÇA – Procedência - Ação regressiva – Sub-rogação – Hipótese do art. 346, II, do Código Civil – Dívida da ré paga pelos autores em ação executiva para livrar bem por eles adquirido de penhora - A sub-rogação transfere ao novo credor (autores) todos os direitos, ações, privilégios e garantias do primitivo, em relação à dívida, perante a devedora (art. 349, do CC) – Correção monetária a contar do respectivo desembolso – Valor líquido e certo quitado em ação executiva (art. 1º, parágrafo 1º, da Lei 6.899/81) – Juros de mora a contar da citação (art. 405 do Código Civil) – Recurso parcialmente provido. (TJSP, Apelação 0188793-65.2010.8.26.0100; Relator (a): Salles Rossi; 13ª Câmara Extraordinária de Direito Privado; Data do Julgamento: 14/10/2015) 34.5 CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. FURTO DE VEÍCULO EM ESTACIONAMENTO. SEGURADORA. SUB-ROGAÇÃO LEGAL. REQUISITOS. AUSÊNCIA. BOLETIM DE OCORRÊNCIA. PROVA INSUFICIENTE. INEXISTÊNCIA DE PRESUNÇÃO JURIS TANTUM. PRECEDENTES DA CORTE. RECURSO DESACOLHIDO. I - Na sub-rogação, o sub-rogado adquire o crédito com os seus acessórios, mas também com os seus inconvenientes, não ficando desobrigado de satisfazer as exigências legais para poder recebê-lo. Em outras palavras, não terá o sub-rogado contra o devedor mais direitos do que o primitivo credor. II - Tratando-se de furto de veículo em estacionamento e de sub-rogação, necessária a demonstração da prova da

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sub-rogação, da ocorrência do furto nas dependências da ré e da não-recuperação do veículo, não bastando apenas a prova do pagamento da dívida (art. 985-III, Código Civil). III - Ausente qualquer dos requisitos, impõe-se a improcedência do pedido, por não ter o autor provado fato constitutivo do seu direito (art. 333-I, CPC). IV - O boletim de ocorrência policial não gera presunção juris tantum da veracidade dos fatos narrados, uma vez que apenas consigna as declarações unilaterais narradas pelo interessado, sem atestar que tais afirmações sejam verdadeiras. Em outras palavras, o documento apenas registra que as declarações foram prestadas, sem consignar, todavia, a veracidade do seu conteúdo. (STJ, REsp: 174353, Relator: Ministro Sálvio De Figueiredo Teixeira, Quarta Turma, Data de Publicação: 17/12/1999) c) Transporte Marítimo – Ação regressiva de seguradora – Subrogação

transfere os direitos e também os deveres – Cláusula compromissária assumida entre a segurada e a transportadora – Eficácia contra a seguradora

34.6 AÇÃO DE REGRESSO. Seguro. Transporte multimodal de mercadoria. Acidente. Perda total da carga. Arbitragem. Cláusula compromissória estipulada no contrato de prestação de serviços firmado entre a operadora do transporte (ré) e a empresa segurada. Cláusula que também vincula a seguradora (autora). Precedente deste Tribunal. Sentença reformada para julgar extinto o processo sem resolução do mérito, com base no art. 267, VII, do CPC. Recurso provido. (TJSP, Apelação 0149349-88.2011.8.26.0100; Relator (a): Tasso Duarte de Melo; 12ª Câmara de Direito Privado; Data do Julgamento: 11/02/2015) 34.7 Pretensão regressiva fundada em sub-rogação – Transporte marítimo internacional de cargas – Cláusula compromissória – Sub-rogação legal do segurador, de maneira integral, envolvendo os créditos do qual o credor sub-rogado teria direito, bem como de todas as obrigações, principais e acessórias, decorrentes do contrato – Convenção privada inserida no instrumento por meio da qual as partes se comprometem a submeter previamente à arbitragem os litígios que possam vir a surgir – Competência exclusiva – Arts. 4ª, 8º, 32, I e 33, da Lei 9.307/96 (Lei de Arbitragem) e art.

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853, do Código Civil – Possibilidade de exame pelo Judiciário somente de questões formais, a respeito da validade, existência e nulidade da sentença arbitral (...). (TJSP, Apelação 1009026-77.2015.8.26.0002; Relator (a): César Peixoto; 38ª Câmara de Direito Privado; Data do Julgamento: 17/08/2016) 34.8 SEGURO - Transporte marítimo de mercadorias - Ação regressiva - Cláusula compromissóna assumida entre a beneficiária dona da carga transportada e a responsável pelo transporte - Eficácia também em face da empresa seguradora dada a subrogação não somente dos direitos mas também dos deveres contratualmente assumidos por sua segurada - Causa de extinção do processo da ação de cobrança - Inteligência do disposto inciso VII do art. 267 do Cód de Proc Civil - Sentença de procedência reformada - Processo extinto - Apelação provida . (TJSP, AC: 7307457000 SP, Relator: José Tarciso Beraldo, 14ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 12/03/2009) 34.9 O segurador sub-roga-se na pessoa do segurado, substituindo-o em todos seus direitos e ações – art. 728, do código comercial. Ocupa-lhe o posto, na frase de diorgi: il terzo chi paga prende il posto dal creditore soddlafato. Se logra os mesmos benefícios, sofre, também os mesmos ônus. Por outro lado, o devedor, que é estranho à sub-rogação, não pode ter, por ela, a sua situação agravada. Res inter alios acta, aliis, nee prodest, nec nocot (STF, RE 20.265/DF, Relator Ministro Mario Guimarães, Data de Julgamento: 29/05/52) d) Seguro de Transporte Marítimo – Ação regressiva de seguradora –

Subrogação que só se torna eficaz mediante a prova do pagamento na forma do contrato de seguro – Necessidade de apresentação da apólice completa

34.10 CIVIL. AÇÃO REGRESSIVA DE REPARAÇÃO DE DANOS. SEGURO. ART. 786, CC. SUBROGAÇÃO LEGAL QUE DEPENDE DA PROVA DE EFETIVO PAGAMENTO AO SEGURADO. IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA POR PARTE DA

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CONCESSIONÁRIA. AUSÊNCIA DE COMPLEMENTAÇÃO OPORTUNA. IMPROCEDÊNCIA. 1. A comprovação do efetivo pagamento da seguradora ao segurado é imprescindível para que pleiteie a indenização em regresso, já que sem pagamento não se sub-roga nos direitos e ações que competiriam a aquele. 2. Recurso improvido. (TJSP, Apelação n° 1003817-84.2016.8.26.0296; 35ª Câmara de Direito Privado; Des. Rel. Artur Marques; Data do Julgamento: 05/09/2017)

34.11 Ação regressiva transporte marítimo e depois terrestre contrato de transporte de carga de produtos de cama, mesa e banho adquiridos por empresa varejista apuradas avarias em parte da carga bens eventualmente segurados, porém indenizados seguradora sub-rogada pleiteia ressarcimento do valor pago à segurada ausente relação de consumo inocorrente prescrição anual do Dec. Lei nº 116/67 e Súm. 151/STF legitimidades ativa e passiva não configuradas causalidade e nexo causal não provados demanda sobremaneira improcedente litigância de má-fé não caracterizada providos recursos das rés.(...) À situação concreta, com efeito, não se aplica o CDC, merecendo ser analisada sob a égide do Decreto-Lei nº 116/1967 e o Cód. Civil/02.(...) Desde logo se constata que a apólice de seguro que instrui a inicial a fls. 34/44 encontra-se realmente incompleta, sem prova suficiente da contratação do seguro pela MMARTAN no que toca a assinaturas e ao pagamento do prêmio, encontrando-se ainda em branco o campo destinado ao prazo de vigência da apólice (fls.35). Após mais de quatro anos do começo do procedimento judicial, os termos inicial e final da vigência foram exibidos em telas do sistema interno da própria seguradora a fls. 622/624, que são documentos manifestamente unilaterais e inservíveis como prova neste feito já que facilmente manipuláveis, de modo que o período de vigência da apólice continua faltante com vista aos propósitos de direito. (...) E não há nada no processo sobre a contratação da SAFMARINE BRASIL, incorporada pela corré MAERSK, com vista à realização do transporte de SHANGHAI, na China, até o Porto de SANTOS/SP (fls. 73).(...) Acresce que restou incontroverso no feito que a vistoria das mercadorias transportadas foi realizada fora da zona portuária e primária de fiscalização, inclusive em descumprimento do item 16 da apólice trazida à colação, entre a autora e a segurada (fls.38), e claramente sem a participação das requeridas no procedimento. (...) Nesse contexto, não provada satisfatoriamente a contratação do seguro, tampouco sua vigência à época do evento danoso, não configurada a responsabilidade de nenhuma das requeridas pelas avarias

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acontecidas, inocorrente cadeia contratual ou de serviços, nem cumulativo o transporte, porém claramente sucessivo, ausente a demonstração de nexo causal entre a conduta das rés e os danos suportados pela segurada da autora, acrescendo pagamento indenizatório em desconformidade com os termos da apólice de seguro trazida aos autos, de rigor que a pretensão da requerente seja desacolhida (...)

(TJSP, Apelação 0005955-24.2013.8.26.0562; Des. Jovino de Sylos; 16ª Câmara de Direito Privado; Data de Registro: 03/03/2020) 34.12 Apelação - Ação regressiva de ressarcimento de danos – Ausência de prova do pagamento pela seguradora ao segurado dos bens sinistrados – Cerceamento de defesa – Inocorrência - Prova de pagamento que se faz com o recibo de quitação, nos termos dos artigos 319 e 320 do Código Civil – Seguradora que se sub-roga nos direitos do segurado contra o autor do dano, apenas quando paga a indenização, conforme art. 786 do Código Civil - Inexistência de prova efetiva do pagamento dos bens sinistrados – Extinção da ação mantida – Recurso da autora improvido. (TJSP, Apelação n° 1000483-69.2017.8.26.0114; 14ª Câmara de Direito Privado; Des. Rel. Thiago de Siqueira; Data do Julgamento: 30/08/2017) 34.13 Processo. Nulidade. Ação de regresso fundada no pagamento de indenização ao segurado da autora, para a cobertura de prejuízos causados por descarga elétrica na rede fornecida pela ré. Reforma da r. Sentença para afastar a condenação da ré, diante da falta de prova do efetivo pagamento da indenização ao segurado, ônus que incumbia à autora, nos termos do art. 373, i, do cpc. As imagens de tela de sistema interno do banco de dados, documentos produzidos de forma unilateral, são insuficientes para comprovar a cobertura do seguro. Apesar de ter sido intimada para juntar o comprovante da transferência bancária ou declaração de recebimento do segurado, a autora limitou-se a juntar os mesmos documentos que instruíram a petição inicial. Provimento ao recurso da ré e prejudicado o da autora. (TJSP, Apelação 1083735-46.2016.8.26.0100; 22ª Câmara de Direito Privado; Des. Rel. Alberto Gosson; Data do Julgamento: 17/08/2017)

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34.14 Seguro de transporte maritimo: subrogacao da seguradora. Para exigir do transportador o reembolso da quantia paga ao dono da carga segurada, precisa o segurador provar que efetivamente pagou em cumprimento ao contrato de seguro, nao por simples liberalidade. Não da prova suficiente da sub-rogacao e, portanto, da legitimacao para a causa, a exibicao de apolice incompleta, sem especificacao sequer dos riscos cobertos e do periodo de cobertura, porque, segundo se depreende dos termos do documento, tais detalhamentos constariam de anexos nao exibidos. Assim, nao se exclui a possibilidade de pagamento ex gratia. Sentenca confirmada. (TJRS, AC: 24809 RS, Relator: Adroaldo Furtado Fabrício, Segunda Câmara Cível, Data de Julgamento: 31/03/1981) 34.15 PROCESSO. NULIDADE. INEXISTÊNCIA. QUESTÃO DO PAGAMENTO DA INDENIZAÇÃO É DIRIMIDA COM BASE EM PROVA DOCUMENTAL - APELANTE NÃO PRODUZIU A PROVA DOCUMENTAL NO MOMENTO OPORTUNO - Da simples leitura da sentença, verifica-se que o MM Juiz sentenciante observou a causa de pedir constante da inicial e decidiu a lide nos limites do pedido formulado, e indicou motivo suficiente para demonstrar a razão de seu convencimento e bastante para o julgamento de IMPROCEDÊNCIA DA AÇÃO, CONSISTENTE NA FALTA DE JUNTADA DA APÓLICE DE SEGURO, AVERBAÇÕES E DE DOCUMENTO QUE DEMONSTRASSE O PAGAMENTO LEGÍTIMO À EMPRESA ADQUIRENTE DA MERCADORIA. RECURSO. Inadmissível o conhecimento do documento nominado de "termo de transação" (fls. 332/334), juntado com os embargos de declaração oferecidos contra a r. sentença. RECURSO A questão sobre a transação entre a apelante, a segurada Sab Company International e à terceira Rudolph Usinados de Precisão Ltda., não pode ser conhecida, porque constitui indevida alteração da causa de pedir - Dos termos da inicial, que fixa os limites da demanda e não pode ser alterada, sem o consentimento de réu citado, por força do art. 264, do CPC, verifica-se que a inicial não faz nenhuma referência à transação entre a apelante, a segurada Sab Company International e à terceira Rudolph Usinados de Precisão Litda., sendo certo que a transação objeto do "termo de transação" e até mesmo o nome dessa terceira sequer consta da inicial - Omissões e obscuridades da inicial não podem ser interpretadas em benefício de quem a redigiu, visto que impedem o exato conhecimento da pretensão deduzida, cerceando o direito de defesa do réu e impedindo a prestação jurisdicional - O conhecimento, no julgamento de apelação, de

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alegação que altera o pedido ou a causa de pedir deduzido na inicial, como acontece na espécie, afronta ao princípio do duplo grau de jurisdição e caracteriza julgamento extra-petita, com violação do disposto nos arts. 128, 264, 460, 514, II, e 515, § 1º, e 517, do CPC. (...) julgamento de extinção de processo, sem apreciação do mérito, com base no art. 267, VI, do CPC, por ilegitimidade ativa e falta de interesse de agir (...). (TJSP, Apelação n° 0028728-39.2008.8.26.0562, Relator: Des. Rebello Pinho, 20° Câmara de Direito Privado, Data de Julgamento: 10/09/2012) e) Seguro de Transporte Marítimo – Apólice aberta – Ausência de

averbação prévia dos embarques – Perda do direito à indenização securitária

34.16 Cobrança – Seguro – Contrato de transporte de carga – Roubo da carga – Pretensão da transportadora segurada contra a companhia seguradora – Especificidades da apólice com relação à averbação prévia dos embarques das mercadorias transportadas – Condição implementada extemporaneamente – Descumprimento pela autora de obrigação contratual – Averbação tardia incontroversa, posterior ao início do transporte e ao roubo – Perda de direitos prevista na apólice de seguro – Conhecimento prévio do risco pela seguradora imprescindível – Precedentes do Col. STJ – Isenção da seguradora – Manutenção da improcedência da pretensão (...). (TJSP, Apelação 0033984-18.2013.8.26.0002; Relator (a): Cerqueira Leite; 12ª Câmara de Direito Privado; Data do Julgamento: 08/02/2017) 34.17 Ação regressiva - contrato de seguro de transporte de carga - roubo das mercadorias - descumprimento da cláusula de comunicação de embarque - averbação de embarque feita posteriormente ao fato, sob alegação de problemas técnicos com a internet - problema que poderia ser suprido com a transmissão via fax, o que não foi providenciado pela transportadora - dever de indenizar inexistente - ação julgada improcedente - sentença mantida - recurso improvido. (TJSP, Apelação 0215796-92.2010.8.26.0100; Relator (a): Coutinho de Arruda; 16ª Câmara de Direito Privado; Data do Julgamento: 16/02/2016)

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34.18 CONTRATO DE SEGURO. SEGURO DE TRANSPORTE MARÍTIMO INTERNACIONAL. (APÓLICE - ABERTA. OU DE AVERBAÇÃO) INCENDIO DO NAVIO. PERDA DA MERCADORIA. RECUSA DE PAGAMENTO DA INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA. AVERBAÇÕES NÃO REALIZADAS. Recusa da seguradora a efetuar o pagamento da indenização, sob alegação de descumprimento por parte da segurada de cláusula contratual que determina a averbação de todos os embarques durante a vigência do contrato. Relatório de auditoria demonstrando a ocorrência de diversos embarques sem averbação provisória, que não foram devidamente justificados pela segurada, apesar da conversão do julgamento em diligência com essa finalidade, sendo certo que a ela incumbia o ônus dessa prova. Do descumprimento, de cláusula contratual que impunha à segurada a obrigação de averbação na apólice e na seguradora de todos os embarques ed importação efetuados a partir a vigência da apólice, resulta a perda do direito à indenização. Provimento do recurso para julgar improcedente o pedido inicial. (TJRJ, AC 2002.001.16071, Des. CASSIA MEDEIROS, 18ª Câmara Cível, j. 26/11/2002) 34.19 Responsabilidade civil - transporte maritimo - seguro sub-rogação. Não se presta a legitimar sub-rogação a averbação de seguro efetuada após iniciada a descarga da mercadoria (cod. Comercial art. 677, item 09). Apelo desprovido. Sentença mantida. (TFR, AC nº 0048196, Relator: Ministro FLAQUER SCARTEZZINI, TERCEIRA TURMA, Data de Julgamento: 08/09/83) 34.20 RESPONSABILIDADE CIVIL - TRANSPORTE MARÍTIMO - SEGURO - AVERBAÇÃO. Não gera direito à sub-rogação a averbação do seguro efetivada após a descarga da mercadoria. Precedentes deste Tribunal. (TFR, AC 43.382, Rel. Ministro Flaquer Scartezzini, Data de Julgamento: 29/10/82) 34.21 Seguro - apolice aberta - comunicacao intempestiva para averbacao - indenizacao descabida. A indenizacao e incabivel pela seguradora, em

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comunicacao tardia de averbacao da carga transportada. Sentenca que julgou improcedente a acao, e mantida por seus proprios fundamentos. (TJPR, Processo nº 000000970, Ac. 3416, Des. José Meger, 4ª C. Cível, j. 26/03/86) 34.22 APELAÇÃO CÍVEL. TRANSPORTE. AÇÃO REGRESSIVA. SEGURO “FLUTUANTE” OU “EM ABERTO”. AVERBAÇÃO POSTERIOR AO SINISTRO. INEXISTÊNCIA DE SUB-ROGAÇÃO. RESSARCIMENTO INDEVIDO. Inicial devidamente instruída. Documentos em língua estrangeira que não são imprescindíveis para análise da pretensão. Agravo retido desacolhido. Tratando-se de contrato de seguro “flutuante” ou “em aberto”, indispensável a averbação, que deve ser concomitante ou imediatamente posterior ao embarque da mercadoria a ser segurada. Averbado o seguro dois dias após o sinistro, inexiste dever de indenizar por parte da seguradora e, consequentemente, não há sub-rogação desta nos direitos do segurado. O pagamento gracioso inviabiliza a ação regressiva. Apelo da ré provido. Recurso adesivo da autora prejudicado. (TJRS, Apelação nº 70004271359, Relator: Des. ORLANDO HEEMANN JUNIOR, 12ª Câmara Cível, Data de Julgamento: 13/03/03)

f) Seguro de Transporte Marítimo – Subrogação da seguradora – Necessidade de prova da existência do contrato de seguro, apólice ou averbação

34.23 Direito maritimo. Sub-rogação. Prova da existencia do contrato de seguro. Sem a prova da existencia do contrato de seguro, com a apolice ou sua averbação, desnatura-se a sub-rogação prevista no art.728, do codigo comercial. Improcedencia da ação. Provimento do recurso. Reforma da sentença. (TFR, AC nº 0049689, Ministro Gueiros Leite, Segunda Turma, j. 19/06/81)

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35. Tribunal Marítimo

Órgão auxiliar do Poder Judiciário e vinculado ao Ministério da Marinha, o Tribunal Marítimo assume fundamental importância no julgamento dos acidentes e fatos da navegação e na manutenção dos registros dos armadores brasileiros, da propriedade das embarcações e da hipoteca naval. Não obstante o caráter disciplinar de suas decisões, em prol da segurança da navegação, as mesmas constituem verdadeiras provas técnicas, dotadas de valor probatório com presunção de certeza, e somente podem ser revistas pelo Poder Judiciário se forem cabalmente contrariadas pela prova judicial.

a) Disputa judicial – Incidente submetido a prévio julgamento perante o

Tribunal Marítimo – Prova técnica – Valor probatório com presunção de certeza – Aproveitamento pelo Judiciário

35.1 AGRAVO DE INSTRUMENTO – Ação de indenização por perdas e danos – Decisão que suspendeu o andamento do feito até decisão definitiva do Tribunal Marítimo em face das provas lá reunidas e que trará elementos importantes a este juízo para o seguro desate da causa – Reunião de todos os dados possíveis sobre a causa do acidente que se mostram necessários para o correto desfecho das lides que tiveram origem direta ou indireta no caso concreto –Conclusões do Tribunal Marítimo que não vinculam a prestação jurisdicional mas que poderão servir de subsídios para formar a convicção do julgador – Questão complexa que depende de apuração técnica –Direito à duração razoável do processo – Necessidade de expedição de ofício no prazo de 06 (seis) meses para se aferir o estágio em que se encontra o procedimento administrativo e previsão para o encerramento - Decisão mantida – Recurso improvido, com observação. (TJSP, Agravo de Instrumento 2145626-31.2014.8.26.0000; Relator (a): Egidio Giacoia; 3ª Câmara de Direito Privado; Data do Julgamento: 27/01/2015)

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35.2 APELAÇÃO CIVEL. AÇÃO DE RESSARCIMENTO DE DANOS. CONTRATO DE SEGURO. AÇÃO PROPOSTA POR SEGURADORA OBJETIVANDO O RESSARCIMENTO DO VALOR PAGO AO SEU SEGURADO EM RAZÃO DE NAUFRÁGIO DE EMBARCAÇÃO QUE ESTAVA ATRACADA NO PÍER DE MARINA. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA (...) Não restou comprovado o nexo de causalidade entre a alegada falha no dever de vigilância dos réus e o naufrágio da embarcação. Mesmo na hipótese de responsabilidade objetiva deve restar demonstrado o nexo de causalidade entre a conduta do réu e a lesão sofrida pela parte da autora, requisito indispensável à aferição da responsabilidade, seja na teoria subjetiva ou objetiva. 5- A D. Procuradoria Especial da Marinha em sua promoção no processo nº 20.782/04 do Tribunal Marítimo afirma que não foram as investigações capazes de identificar de um modo claro e objetivo se o ingresso de água do mar no interior da embarcação “mareada rio” ocorreu em virtude do desprendimento do flap de boreste, bem como se tal desprendimento ocorreu por culpa de alguém, não se podendo afirmar que a marina não manteve adequada vigilância pelo simples fato de a embarcação naufragar, ressaltando, inclusive, que as provas constantes nos autos sinalizam em direção diametralmente oposta, isto é, no sentido de que havia vigilância a contento. 6- Tribunal Marítimo promoveu o arquivamento do referido processo, sob o fundamento de que à causa determinante do desprendimento do flap não restou devidamente apurada. 7- As decisões proferidas pelo tribunal marítimo, apesar de não vincularem o judiciário, por possuírem caráter administrativo, têm valor probatório e se presumem certas. Inteligência do disposto no artigo 18 da lei 2.180/54. 8- Provas produzidas nos autos que apontam no sentido de que a utilização da embarcação no mar foi feita por marinheiro do próprio segurado, bem como que o mesmo não fazia qualquer registro de sua entrada e saída e não informava seu plano de navegação. 9- Fortuito externo. Fato imprevisível e inevitável estranho à atividade exercida que exclui o nexo de causalidade entre o serviço prestado e o dano, culminando por afastar o dever de indenizar. (...). (TJRJ, Apelação Cível nº 0003163-62.2009.8.19.0003, Rel. Des. Marco Aurélio Bezerra De Melo - Julgamento: 13/12/2016 - Décima Sexta Câmara Cível) 35.3 As decisões do Tribunal Marítimo, nas matérias de sua competência, têm valor probatório com presunção de certeza, constituindo-se verdadeiros laudos técnicos auxiliadores na decisão do Judiciário. (TFR, AC n.º 44.227, Data de Publicação: 17/11/83)

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35.4 Se o Tribunal Marítimo, órgão competente, segundo a lei, para examinar os fatos e acidentes de navegação, determinando-lhes causa, circunstâncias, extensão, decidiu que o evento proveio de fortuna do mar, não pode a ação judicial estabelecer entendimento diferente, salvo quando a manifestação oficial contrariar a evidência. (TFR, EI na AC nº 26.301, Data de Publicação: 9.10.72) 35.5 (...) A solução da controvérsia está cingida à existência de ato ilícito praticado pela ré. O ato ilícito corresponde a uma ação ou omissão que, ao desprestigiar o dever de cuidado e cautela, viola um direito e causa danos a outrem. Necessário, portanto, examinar os pressupostos da responsabilidade civil. Não há dúvidas ou controvérsias quanto à existência do fato que deu origem ao suposto dano, qual seja, o acidente de navegação entre o barco de pesca do autor - Fala Sério - e a embarcação de propriedade da ré - CBO Campos. Na presente hipótese, há que se buscar a prova de culpa, pois não se está diante de responsabilidade objetiva. No presente caso, o réu produziu prova documental suficiente a demonstrar a culpa exclusiva do preposto do autor, o que exclui sua responsabilidade. Com efeito, apresentou como provas documentais cópias da Representação oferecida pela Procuradoria Especial da Marinha junto ao Tribunal Marítimo na qual Reginaldo Carolina Domingues Junior, condutor da embarcação Fala Sério II foi o responsável pelo acidente. A ata de julgamento (fls. 130) deu procedente à representação, aplicando penalidades. Ainda que as decisões do Tribunal Marítimo não tenham força de coisa julgada e não afastem a reapreciação do caso pelo Poder Judiciário, este Juízo entende desnecessárias novas provas, diante da prova técnica realizada no procedimento em questão, que aponta, da mesma forma, a culpa do condutor do barco do autor. O Laudo de Exame Pericial da Agência da Capitania dos Portos em Cabo Frio, (fls. 97-103), que após tecer análises sobre as embarcações envolvidas, dados do local do acidente e a seqüência dos acontecimentos, concluiu que a causa determinante foi o fato da embarcação FALA SERIO II estar pescando com rede em local proibido e não realizar manobra de afastamento em tempo hábil. Trata-se de ato de natureza administrativa, dotado de veracidade e legitimidade, suficiente a demonstrar a dinâmica do evento. Deste modo, o pedido deve ser julgado improcedente. Isto posto, julga-se extinto o processo com resolução do mérito (...) para declarar improcedentes os pedidos. (...) (TJRJ, Processo nº: 0002167-24.2010.8.19.0005, Juíza: Juliana Goncalves Figueira Pontes, Data de Publicação: 26/07/2013)

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35.6 Seguro maritimo. Naufragio de navio. Ação de cobrança da indenização correspondente a sua perda total. Legitimidade da utilização da prova, das conclusões tecnicas e da decisão do tribunal marítimo administrativo no julgamento da ação pelo tribunal federal de recursos. Tendencia do estado moderno de atribuir o exercício de funções quase-jurisdicionais a órgãos da administração, aliviando os órgãos do poder judiciario do exame de materias puramente tecnicas. Inviabilidade do extraordinário para o reexame de provas (...) (STF, A.I.: 62.811/RJ, Relator: Bilac Pinto, 1ª Turma, Data de Publicação: 26/09/1975) 35.7 Reparacao de danos. Abalroamento de navios. Prescrição. Nao se tratando de ação de avaria simples, mas de ação de reparacao pelo perecimento total do navio abalroado, que afundou, nao se aplica o prazo de prescrição anua, previsto pelo art- 449, 3, do código comercial. Ação civil. Merito. Navio, abalroado por outro, quando fundeado em local permitido. Responsabilidade da empresa armadora do navio causador do abalroamento. Merece acolhida a decisao dotribunal maritimo que, revestindo-se com roupagem de prova tecnica qualificada, nao resultou contrariada pela prova trazida aos autos. Recurso provido em parte, para excluir da indenizacao os lucros cessantes, por nao comprovados. Declaracao de voto quanto a prescrição. (TJRS, AC: 184021665, Rel. Luiz Fernando Koch, 3ª Câmara Cível, j. 05/09/1984) b) Decisão do Tribunal Marítimo – Possibilidade de revisão pelo

Judiciário 35.8 RESPONSABILIDADE CIVIL. DEPÓSITO. COMÉRCIO DE GRÃOS. NAVIO. ARMADORA. PERECIMENTO DO PRODUTO. Responsabilidade que independe das causas do acidente. TRIBUNAL MARÍTIMO. INEXISTÊNCIA DE PREJUDICIALIDADE. Insurgência contra decisão que determinou suspensão do processo até que haja decisão do Tribunal Marítimo, referente ao acidente ocorrido com navio que transportava a carga da agravante. Acolhimento. Decisão da Justiça Estadual não é vinculada à decisão do Tribunal Marítimo. A responsabilidade da agravada como depositária e transportadora independe da determinação das causas do acidente.

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Providências para preservação da carga que poderiam, em tese, ter sido adotadas independentemente da determinação da responsabilidade pelo acidente. Matéria que pode ser aferida no Juízo Cível, independentemente da apuração no Tribunal Marítimo, ainda que tenha fundamento remoto nos mesmos fatos investigados naquele Tribunal. Recurso provido. (TJSP, Agravo de Instrumento 2079571-64.2015.8.26.0000; Relator (a): Carlos Alberto de Salles; 3ª Câmara de Direito Privado; Julgamento: 29/09/2015) 35.9 Administrativo - Responsabilidade Civil - Acidente Com Embarcação - Decisão De Tribunal Marítimo - Coerência Com As Provas Coligidas - Improvimento. 1. A despeito da atribuição conferida ao tribunal marítimo para o julgamento administrativo dos acidentes envolvendo as embarcações, o judiciário pode, e deve, rever as decisões daquele órgão, não merecedendo censura, no entanto, a condenação imposta, quando ela se mostra coerente com as provas coligidas durante a instrução do processo. 2. Recurso improvido. (TRF5, AC: 322010 AL 2002.80.00.000904-2, Relator: Walter Nunes Da Silva Júnior, Turma, Data de Publicação: 17/11/2003) 35.10 CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. TRIBUNAL MARÍTIMO. As decisões do Tribunal Marítimo podem ser revistas pelo Poder Judiciário; quando fundadas em perícia técnica, todavia, elas só não subsistirão se esta for cabalmente contrariada pela prova judicial. (STJ, REsp: 38.082, Relator: Ari Pargendler, Terceira Turma, Data de Publicação: 04/10/1999) 35.11 Embargos Infringentes tempestivos, preparados e dentro da regularidade formal. Direito Marítimo. Responsabilidade Civil Subjetiva. Acidente de Navegação. Abalroamento de navios mercantes no litoral norte de São Paulo. “NORSUL TUBARÃO” X “GLOBAL RIO”. Decisão administrativa do Tribunal Marítimo não-vinculativa do Poder Judiciário. Art. 18 da Lei 2.180/1954. Responsabilidade tout court decorrente da culpa legal ou contra a legalidade da ré por infringência a regulamento específico. Culpa grave e exclusiva da embargada COMPANHIA DE NAVEGAÇÃO NORSUL amplamente comprovada e prevalente de molde a absorver eventual culpa da parte

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contrária. Teoria da causalidade adequada em contraposição a “the last clear chance” inaplicável, em regra, no direito judiciário brasileiro. Voto minoritário que deve prevalecer. EMBARGOS INFRINGENTES PROVIDOS PARA PRESTIGIAR E RESTABELECER A D. SENTENÇA. Voto: (...) 4. As provas dos autos conduzem à manutenção do voto-vencido, porque foram produzidas duas perícias técnicas em juízo e ambas convergiram pela culpa exclusiva do comando do navio da embargada “NorSul Tubarão” pelo abalroamento ocorrido, sendo desinfluente aqui a conclusão atingida na esfera administrativa do Tribunal Marítimo a esse respeito, conforme o preceito do art. 18 da Lei que o rege (Lei nº 2.180/1954) (...) 6. O Tribunal Marítimo, órgão da Administração Pública vinculado ao Ministério da Marinha com a finalidade de analisar os fatos e acidentes de navegação na perspectiva da observância das normas para a segurança da navegação marítima, tendo como base o RIPEAM – Regulamento Internacional para Evitar Abalroamento no Mar, e demais legislação, nos termos da Lei Orgânica do Tribunal Marítimo (Lei nº 2.180/1954), em seu primeiro acórdão se posicionou no sentido da concorrência de culpa na proporção de três para um em desfavor da embarcação do graneleiro “Norsul Tubarão”, conforme fls. 2.455 (vol. 13). 7. Posteriormente, pela via de embargos infringentes, veio a ser declarada a concorrência de culpa em igual proporção entre ambas as embarcações envolvidas, conforme fls. 2.462 (vol. 13), juntado pela ora embargada – NORSUL – cujo enunciado abaixo reproduzido comprova o caráter inteiramente distinto das responsabilidades apuradas lá no âmbito do Tribunal Marítimo, de caráter meramente disciplinar, visando o pessoal da Marinha Mercante e não propriamente as empresas exploradoras das embarcações envolvidas. “ACÓRDÃO os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à natureza e extensão do acidente: xxxx; b) quanto à causa determinante: xxxx; c) decisão: conhecer dos recursos de embargos infringentes, negando-lhes provimento e não conhecer os recursos de embargos infringentes adesivos, devendo prevalecer o voto majoritário, considerando igual grau de culpa do 2º ON José da Silva Lima e do 2º ON José Maria Campelo da Silva. P.C.R. Rio de Janeiro, RJ, em 15 de abril de 2004.” 8. Como se viu do decisum administrativo acima transcrito, nem mesmo o nome das empresas de navegação é referido, o que corrobora o anteriormente afirmado de naquele âmbito o foco é para as pessoas de marinha que comandavam as embarcações ou compunham as respectivas tripulações, enquanto o aspecto de responsabilização civil é de somenos importância. 9. Assim, as decisões definitivas do TRIBUNAL MARÍTIMO não têm o condão de produzir a res iudicata, posto que é um órgão para o exame de acidente e fatos de navegação, ainda que judicialiforme, mas com outra

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perspectiva que não a de atribuir responsabilidades outras que não sejam a de aplicar as punições aos seus “jurisdicionados”, conforme art. 17, da Lei 2.180/54. 10. O entendimento esposado acima encontra repercussão no âmbito deste TRIBUNAL DE JUSTIÇA, conforme os arestos abaixo. 0002731-54.2006.8.19.0001 (2007.001.61676) APELAÇÃO DES. MALDONADO DE CARVALHO – Julgamento: 11/03/2008 – PRIMEIRA CAMARA CÍVEL RESPONSABILIDADE CIVIL. TRANSPORTE MARÍTIMO. DESEMBARQUE. QUEDA DE CONTAINER. DANO À CARGA. SEGURO. TRIBUNAL MARÍTIMO. DECISÃO ADMINISTRATIVA QUE NÃO SE PRESTA AO EXAME DA EXISTÊNCIA DE CULPA OU DOLO DO TRANSPORTADOR. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. LIDE SECUNDÁRIA. ÔNUS DA PARTE VENCIDA. DECISÃO CORRETA. IMPROVIMENTO DO RECURSO. 0010788-95.2005.8.19.0001 (2005.001.49533) – APELAÇÃO DES. AZEVEDO PINTO – Julgamento: 09/08/2006 – DECIMA TERCEIRA VARA CÍVEL Apelação. Indenização. Acidente naval ocorrido com a queda de passageiro. Transporte gratuito. Sentença julga antecipadamente a lide tomando por base julgamento administrativo do Tribunal Marítimo. Recurso do autor. Provimento. A prova emprestada só se presta na busca da verdade real quando obtida licitamente e sob o crivo do contraditório, sob pena de apresentar-se meio inidôneo a servir de supedâneo para decisão final. Inteligência do artigo 322 do CPC. No caso, o julgamento do Tribunal Marítimo, que é órgão administrativo, não se presta para aferir a existência de culpa ou dolo do condutor de veículo náutico. Tendo a parte autora requerido a prova testemunhal claramente e inexistindo prova técnica idônea, leve à sentença vício insanável de ausência de fundamentação. Precedentes jurisprudenciais. Acolhimento da preliminar. Sentença anulada. 0035064-64.2003.8.19.0001 (2004.001.18535) – APELAÇÃO DES. ERNANI KLAUSNER – Julgamento: 01/12/2004- DÉCIMA TERCEIRA CAMARA CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. ACIDENTE MARÍTIMO. ALCANCE DE CONDENAÇÃO. INDENIZAÇÃO DEVIDA A IRMÃO DA VÍTIMA. LEGALIDADE. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS – AÇÃO AJUIZADA POR MÃE E IRMÃO DA VÍTIMA, CUJO FALECIMENTO SE DEU EM NAUFRÁGIO DE EMBARCAÇÃO CONDENADA PELO MESMO FATO EM RELAÇÃO À ESPOSA E FILHOS DA VÍTIMA – RESPONSABILIDADE CIVIL. INQUÉRITO PROMOVIDO PELA CAPITANIA DOS PORTOS, LASTREADO EM PROVA PERICIAL, CUJO RELATÓRIO ATRIBUIU CULPA À EMPRESA-RÉ. – PROVA IDÔNEA. JULGAMENTO DO TRIBUNAL MARÍTIMO – DESINFLUÊNCIA ÓRGÃO ADMINISTRATIVO – DECISÕES NÃO VINCULANTES À PRESTAÇÃO JURISDICIONAL – PRINCÍPIOS DA LIVRE CONVICÇÃO MOTIVADA E DA INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO CULPA DA APELANTE CARACTERIZADA – DEVER DE INDENIZAR, EIS QUE PRESENTES OS ELEMENTOS DA RESPONDABILIDADE CIVIL: DANO, NEXO DE CAUSALIDADE E CONDUTA

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CULPOSA – COMPROVADO VÍNCULO FAMILIAR E AFETIVO ENTRE OS AUTORES E A VÍTIMA – DANO MORAL CONFIGURADO – VALOR INDENIZATÓRIO EXCESSIVO. Recurso a que se dá parcial provimento, para reduzir a condenação nos danos morais. 0014285-33.1999.8.19.0000 (1999.001.19010) – APELAÇÃO DES. AMAURY ARRUDA DE SOUZA – Julgamento: 29/04/2003 – PRIMEIRA CAMARA CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. TRIPULANTE DE EMBARCAÇÃO. DESAPARECIMENTO. RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS. EXCLUSÃO. Responsabilidade Civil. Naufrágio de embarcação do qual resultou o desaparecimento do tripulante, respectivamente, marido e pai das autoras. Inquérito promovido pela Capitania dos Portos, lastreado em prova pericial, cujo relatório, atribuiu culpa à empresa proprietária da embarcação. Prova idônea não infirmada em Juízo. Ao revés, corroborada. Julgamento do Tribunal Marítimo. Desinfluência, por quanto se trata de órgão administrativo, cujas decisões não vinculam a prestação jurisdicional. As verbas relativas às férias não devem ser incluídas na indenização, eis que direito pessoal do trabalhador. Exclusão de responsabilidade dos sócios da empresa ré. Sentença reformada em parte. 0012866-75.1999.8.19.0000 (1999.001-15144) – APELAÇÃO DES. LINDENBERG MONTENEGRO – Julgamento: 29/02/2000. SEGUNDA CAMARA CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. COLISÃO DE BARCOS. VALOR PROBANTE DAS DECISÕES DO TRIBUNAL MARÍTIM. INEXISTENCIA DE COISA JULGADA. Responsabilidade Civil. Abalroamento de navio por outro. Rompimento dos cabos que prendiam o navio da ré ao rebocador. Manobra resultante de imprudência e imperícia do preposto. Obrigação de indenizar os danos causados ao navio da autora. Os julgados do Tribunal Marítimo não fazem coisa julgada na instância civil. Confirmação da sentença que deu pela procedência do pedido. 11. As decisões acima não destoam da orientação qualificada do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, conforme julgamento do REsp 811.767/RJ. (...) 32. Talvez no âmbito restrito do TRIBUNAL MARÍTIMO que tem em mira outro tipo de responsabilização – de caráter disciplinar em prol da segurança da navegação – tendo como destinatários os marítimos que influem na condução das embarcações, conforme sua lei de regência (Lei nº 2.180/1954), a culpa contra a legalidade não prevaleça, como quer a embargada NORSUL. (...) 36. Destarte, sopesando-se as provas dos autos e os elementos de fato parece-me incabível, portanto, valorar-se como causa concorrente a manobra emergencial da embarcação da Embargante em reação a uma omissão prévia e ilegal do navio da Embargada. Esta é, se não a única, a causa determinante, primordial, preponderante e originária do dano reclamado pela ora embargante GLOBAL TRANSPORTE OCEÂNICO S/A. 37. Todas as demais circunstâncias do caso configuram decorrência lógica da conduta

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culposa, posto que derivada da inobservância completa de específica norma regulamentar endereçada ao comando do graneleiro “NorSul Tubarão” explorado pela COMPANHIA DE NAVEGAÇÃO NORSUL, (...) 41. Pelo exposto, DOU PROVIMENTO AOS EMBARGOS INFRINGENTES (...) (TJRJ, Embargos Infringentes 0169888-62.2000.8.19.0001, Des. Pedro Saraiva De Andrade Lemos, 10ª Câmara Cível, DJ 08.11.2010, p. 231/237) 35.12 RESPONSABILIDADE CIVIL. CULPA LEVE DO PREPOSTO DA RÉ. NEGLIGÊNCIA. REPERCUSSÃO DO JULGAMENTO DO TRIBUNAL MARÍTIMO NO CÍVEL. 1. Aquele que, por ação ou omissão, negligência ou imprudência, causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano. 2. Se o dano for causado por preposto de alguém, o patrão é responsável pela reparação civil. 3. Age com negligência o comandante de navio que deixa um prático operar manobra de atracamento em local de difícil acesso e só intervém, tardiamente, quando já se fazia impossível evitar a colisão da nave com outro navio e com guindastes situados próximos ao local da atracação. 4. Os julgamentos do Tribunal Marítimo não fazem coisa julgada no cível, constituindo-se em presunção relativa de verdade em suas conclusões quanto à matéria técnica, sendo suscetíveis de reexame pelo Judiciário quando contrárias a texto expresso de lei; quando lesarem direito individual ou quando houver prova robusta em sentido contrário. (TFR1, AC 01010709, 4ª Turma, Data de Julgamento: 24/09/90) c) Ação judicial independe do prévio pronunciamento do Tribunal

Marítimo – Impossibilidade de suspensão do feito 35.13 RECLAMAÇÃO CONTRA MAGISTRADO DE PRIMEIRO GRAU – Alegação de descumprimento, pelo Magistrado, de acórdão proferido por este Tribunal que manteve a suspensão do processo para aguardar julgamento do Tribunal Marítimo – 1) Agravo Regimental: Interposto contra decisão que indeferiu a suspensão do processo impugnado: Agravo regimental prejudicado em razão do julgamento da Reclamação – 2) Mérito: Magistrado condutor do feito principal que não estava adstrito a aguardar a solução do procedimento junto ao Tribunal Marítimo – Transcorrido o prazo de suspensão de 01 (um) ano do art. 265, §5º do CPC/73 e tendo o Juiz elementos para formar sua convicção não se verifica o alegado descumprimento do v. acórdão proferido por esta C. 3ª Câmara – Utilização

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da Reclamação como sucedâneo de recurso de apelação – Não cabimento – Precedentes deste E. Tribunal – Agravo Regimental prejudicado, Reclamação improcedente. (TJSP, Reclamação 2250888-33.2015.8.26.0000; Relator (a): Egidio Giacoia; 3ª Câmara de Direito Privado; Data do Julgamento: 07/06/2016) 35.14 RESPONSABILIDADE CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. RECURSO MANEJADO SOB A ÉGIDE DO NCPC. AÇÃO REGRESSIVA PROPOSTA PELA SEGURADORA CONTRA SOCIEDADE EMPRESÁRIA FABRICANTE DE IATES. SUSPENSÃO DO PROCESSO. ART. 265, IV, B, DO CPC/73. PREJUDICIALIDADE EXTERNA. PRAZO MÁXIMO DE UM ANO. PRECEDENTES. DESNECESSIDADE DO TÉRMINO DO PROCEDIMENTO EM ANDAMENTO PERANTE O TRIBUNAL MARÍTIMO.RELAÇÃO DE PREJUDICIALIDADE AFASTADA NO CASO CONCRETO.IMPOSSIBILIDADE DE MANUTENÇÃO DA DECISÃO DE SUSPENSÃO DO PROCESSO. PRECEDENTES. PRAZO DE HÁ MUITO ULTRAPASSADO. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA AOS FUNDAMENTOS DA DECISÃO AGRAVADA. RECURSO MANIFESTAMENTE IMPROCEDENTE. INCIDÊNCIA DA MULTA DO ART. 1.021, § 4º, DO NCPC. DECISÃO MANTIDA. AGRAVO NÃO PROVIDO. (...) 3. O agravo interno não impugnou as razões da decisão agravada, pois não infirmou, de forma fundamentada, que o acórdão recorrido encontra-se em dissonância com o entendimento prevalecente no âmbito desta Corte Superior concernente ao art. 265 do CPC/73, bem como pelo patente excesso de tempo de suspensão na espécie - superior a 18 meses. Incidência da Súmula nº 182 do STJ. 4. O acórdão recorrido vai de encontro com a pacífica jurisprudência desta Corte Superior de que consoante o § 5º do art. 265, nos casos enumerados nas letras a, b e c do no IV, o período de suspensão nunca poderá exceder 1 (um) ano. Findo este prazo, o juiz mandará prosseguir no processo (AgRg no REsp 1.367.316/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, Segunda Turma, DJe 4/10/2013). 5. Não sendo a linha argumentativa apresentada capaz de evidenciar a inadequação dos fundamentos invocados pela decisão agravada, o presente agravo interno não se revela apto a alterar o conteúdo do julgado impugnado, devendo ele ser integralmente mantido. (...) (AgInt no REsp 1606542/SP, Rel. Ministro Moura Ribeiro, Terceira Turma, julgado em 23/05/2017, DJe 02/06/2017)

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35.15 AS DECISÕES DO TRIBUNAL MARITIMO ADMINISTRATIVO PODEM SER CONTRARIADAS PELA PROVA DADA EM JUÍZO. A RE FOI CONDENADA A REPARAR O DANO, QUE RESULTOU DE CULPA DO PREPOSTO, NÃO HAVENDO AQUELA CONTRARIADO A PRESUNÇÃO DE QUE FALTARA A SEU DEVER DE VIGILANCIA. A ação do judiciário não está na dependência de prévio pronunciamento do tribunal marítimo. A decisão do Tribunal Marítimo Administrativo, cuja força é meramente supletiva do exame dos peritos, não tem influência sobre o juízo cível da reparação do dano. Sem cabimento, portanto, a tese defendida nestes autos de que se faz mister aguardar a decisão do tribunal marítimo. Para que, pergunto. Para a mesma ser aqui reexaminada sem qualquer propósito, eis que as provas deixam claro que a culpa no acidente foi exclusivamente do preposto da Ré? Não seria espera inútil para procrastinar a solução deste feito, iniciado em 1962, há quase dez anos? (STF, RExt. 7.193 Rel. Min. Hahnemann Guimaraes, 2ª Turma, Data de Publicação: 30/11/1950) d) Ação judicial com pedido de liminar – probalidade do direito pela

necessidade de se aguardar o término do processo em que se apura a responsabilidade quanto ao acidente no Tribunal Marítimo

35.16 AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO ORDINÁRIA COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA EM CARÁTER ANTECEDENTE. 1. Recurso interposto contra decisão que deferiu a antecipação dos efeitos da tutela de urgência para determinar que a mesma suspenda a aplicação da sanção de proibir a Empresa Autora/Agravada, de licitar, sob pena de multa diária de R$50.000,00 (cinquenta mil reais). 2. Alega a parte Autora, ora Agravada, ser uma empresa de navegação dedicada a navegação de apoio marítimo; que a Ré/Agravante, ofereceu ao mercado internacional contratos de afretamento de embarcações do tipo PSV, com prazo de vigência de 2.920 dias, ou seja, 08 (oito) anos; que em razão da ausência de tais embarcações no mercado nacional, se comprometeu a construir uma para a Petrobras/Ré; Em 03/12/2009, após vencer o procedimento licitatório, celebraram contrato de afretamento e de prestação de serviços, tendo como objeto a embarcação "Mar Limpo", do tipo PSV OSRV-750, Que as avaliações da embarcação sempre foram boas, demonstrando compromisso com a segurança da mesma e com toda a tripulação; que no dia 18/12/2017, um tripulante caiu no mar, tendo sua morte presumida sido declarada pelo Juízo da Vara de Registros Públicos desta comarca, tendo no inquérito instaurado sido

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concluído que o acidente decorreu dos atos praticados pelo próprio acidentado e por negligência do Imediato; que a conduta da Ré, ora Agravante, foi suspender as atividades da embarcação acima mencionada e cancelar os contratos de afretamento e de prestação de serviços firmados entre as Partes, objetos da demanda; que posteriormente tomou conhecimento que lhe foi imposta suspensão do seu direito de participar de licitações. 3. Pretende a parte Recorrente, seja acolhida preliminar de incompetência absoluta do Juízo, determinando-se a remessa dos autos a uma das Varas Cíveis desta Comarca e, caso não seja acolhida, seja dado provimento ao Agravo de instrumento no sentido de ser mantida a sanção apontada até julgamento final da ação principal. 4. Decisão que analisa e defere o pedido de antecipação de tutela de urgência é provimento provisório, fundada em cognição sumária e no princípio do livre convencimento do Magistrado. 5. Presença dos requisitos autorizadores da medida, na forma do artigo 300, do C.P.C., quais sejam, a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo. 6. Probabilidade do direito restou evidente, haja vista a necessidade de se aguardar o término do processo em que se apura a responsabilidade quanto ao acidente que se deu na embarcação "Mar Limpo", em curso junto ao Tribunal Marítimo, restando, neste momento, prejudicial a aplicação da penalidade imposta à parte Agravada de impedí-la de participar de processos licitatórios. 7. O perigo da demora, por sua vez, se verifica, em razão da medida imposta à Agravada, poder gerar prejuízos de ordem financeira à mesma, de modo a prejudicar o exercício regular das suas atividades comerciais/financeiras. 8. Súmula nº 59 da Jurisprudência deste Tribunal: "Somente se reforma a decisão concessiva ou não da tutela provisória de urgência, cautelar ou antecipatória, notadamente no que diz respeito à probabilidade do direito invocado, se teratológica, contrária à lei ou à prova dos autos". 9. Deixo de apreciar, neste momento, a preliminar de incompetência arguida pela Agravante, vez que a mesma será analisada oportunamente pelo Juízo originário, sob pena de supressão de instância. 10. Negado provimento ao recurso. Agravo interno prejudicado.

(TJRJ, Agravo de Instrumento 0070824-52.2018.8.19.0000. Órgão julgador: 3ª Câmara Cível, relatora Jds Isabela Pessanha Chagas, julgado em 10/04/2019)

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A Lei do Estrangeiro (Lei nº 6.815/80) e seu decreto regulamentador (Dec. Nº 86.715/81) disciplinavam que nenhum tripulante estrangeiro, de embarcação marítima de curso internacional, poderá desembarcar no território nacional ou descer a terra durante a permanência da embarcação no porto, sem a apresentação da carteira de identificação de marítimo prevista em Convenção da OIT. O Brasil ratificou a Convenção 108 da OIT em 1963 e, mais recentemente, a Convenção 185/OIT em 2010, que dispõe justamente ’sobre os Documentos de Identidade da gente do mar’. Apesar da revogação da Lei nº 6.815/80, a regra geral foi mantida pela nova Lei de Migração (Lei nº 13.445/2017), que prevê que não será exigido do marítimo que ingressar no Brasil em viagem de longo curso ou em cruzeiros marítimos pela costa brasileira o visto temporário que trata a lei, bastando à apresentação da carteira internacional de marítimo. Portanto, aos tripulantes estrangeiros contratados por empresa estrangeira, a serviço de empresa brasileira em portos brasileiros não deve ser exigido visto temporário para seu acesso às cidades portuárias de escala do navio, bastando a apresentação da carteira de identidade de marítimo válida na forma da Convenção OIT.

a) Tripulação estrangeira - Embarcação estrangeira em operação

temporária no Brasil – Desnecessidade de visto temporário – Validade da carteira de marítimo

36.1 AGRAVO REGIMENTAL CONTRA DECISÃO QUE NEGA SEGUIMENTO MONOCRATICAMENTE À APELAÇÃO. ART. 557, CAPUT, DO CPC. PROCESSUAL CIVIL. PETROBRÁS. NAVEGAÇÃO DE CABOTAGEM. VISTO TEMPORÁRIO. ILEGALIDADE DA PENALIDADE IMPOSTA. ENTENDIMENTO PACÍFICO NO ÂMBITO DO TRF DA 1ª REGIÃO. IMPROVIMENTO DO AGRAVO REGIMENTAL. 1. Segundo o caput do art. 557 do CPC, "o relator negará seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou em

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confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior. (Redação dada pela Lei nº 9.756, de 17.12.1998) 2. "Estrangeiros que se encontram a serviço de empresa de navegação estrangeira contratada pela Petrobrás para navegação de cabotagem não precisam de visto temporário, nos termos da legislação especial, bastando a apresentação da carteira de identidade de marítimo válida. (...) Ilegalidade dos atos que culminaram na aplicação de penalidade em razão da falta apresentação de visto temporário pelatripulação não nacional de navios de bandeira estrangeira, por se consubstanciar em exigência não prevista na legislação. Precedentes deste Tribunal" (HC 1998.01.00.095774-0/PA e REOMS 1999.01.00.113611-8/PA). 2. Entendimento pacífico no âmbito do TRF da 1ª Região. 3. Agravo regimental da apelante improvido. (TRF1, AGRAC: 200039000058438, Relator: Marcio Barbosa Maia, Quarta Turma, Data de publicação: 20/08/2012) 36.2 TRIPULANTE DE NAVIO ESTRANGEIRO. EXIGÊNCIA DE VISTO TEMPORÁRIO. ILEGALIDADE. 1. Os "integrantes da tripulação de navio estrangeiro, contratados por empresa estrangeira, a serviço de empresa brasileira em portos brasileiros, não estão obrigados ao visto temporário de que trata a Lei nº 6.815/80 (art. 13, V), bastando para as suas incursões em território brasileiro, nas licenças em terra, dentro dos limites da cidade portuária de escala do navio, a carteira de identidade de marítimo de que trata a Convenção nº 108 da OIT (arts. 4º e 6º) e o Decreto n° 86.715/81 (art. 49)" (REO 1999.01.00.075034-1/BA, rel. Juiz SAULO CASALI). Precedentes desta Corte. 2. Apelação e remessa a que se nega provimento. (TRF1, AMS: 199701000509022, Relator: Leão Aparecido Alves, Terceira Turma, Data de publicação: 11/03/2004) 36.3 TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL -- AFRETAMENTO DE EMBARCAÇÕES ESTRANGEIRAS PELA PETROBRÁS PARA TRANSPORTE (NAVEGAÇÃO DE CABOTAGEM) DE PETRÓLEO E DERIVADOS -TRIPULAÇÃO ALIENÍGENA (DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA): CARTEIRA DE IDENTIDADE DE MARÍTIMO VÁLIDA (CONVENÇÃO Nº 108 DA OIT) - VISTO TEMPORÁRIO: INEXIGÍVEL - MULTA ADMINISTRATIVA INDEVIDA. 1 - Porque prepondera - além da legislação de apoio - a Convenção nº 108 da

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OIT e a teleologia do permissivo constitucional do trabalho estrangeiro na hipótese, é inexigível o visto temporário de tripulantes estrangeiros que, laborando na costa brasileira em embarcações alienígenas, sob o regime de navegação de cabotagem para fins de transporte de petróleo (e derivados), atuam por força de contrato de afretamento efetuado pela Petrobrás S/A; suficiente a apresentação da carteira de identidade de marítimo válida (ilegítima a multa administrativa aplicada). 2 - Precedentes. 3 - Embargos infringentes não providos. 4 - Peças liberadas pelo Relator, em 26/03/2008, para publicação do acórdão. (TRF1, EIAC: 199939000018517, Relator: Rafael Paulo Soares Pinto, Quarta Seção, Data de publicação: 28/04/2008)

36.4 Mandado de Segurança – Administrativo – Fiscalização Marítima, Aeroportuária e de Fronteiras – Carteira de Identidade de Marítimo – Visto de Estrangeiro – Auto de Infração – Convenção 108 da OIT 1. Pretende o recorrente a reforma da r. sentença que denegou a segurança pretendida, em processo no qual buscava a suspensão da obrigatoriedade de multa aplicada, além da anulação das autuações feitas pela autoridade impetrada. 2. Conforme disposto no art. 6o, da Convenção 108, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), promulgada pelo Decreto 58.825/66, “todo membro autorizará a entrada, em um território (...) de qualquer marítimo portador de uma carteira de identidade de marítimos válida, sempre que essa entrada solicitada por motivo por motivo de licença em terra, de duração temporária, durante a escala do navio”. 3. A tripulação de navio estrangeiro, contratada por empresa estrangeira a serviço de empresa brasileira, não necessita de visto temporário para ingresso no território nacional, nos limites da cidade portuária, durante a permanência da embarcação no porto, mas apenas da carteira de identidade de marítimo ou documento equivalente. 4. Os empregados do impetrante não apresentaram a carteira de marítimo, portanto, o ingresso e a permanência no território nacional dependeriam de apresentação de passaporte, com o visto pertinente (Temporário V), a fim de atender as exigências da Lei 6.815/80. 5. Apelação a que se nega provimento. (TRF2, AMAS: 8402, Relator: Raldênio Bonifácio Costa, Oitava Turma, Data de publicação: 02/06/2008)

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b) Tripulantes estrangeiros – Situação irregular em território nacional – Multa que não pode recair sobre o agente marítimo

36.5 CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. VISTO DE ENTRADA DE ESTRANGEIRO. AFRETAMENTO MARÍTIMO. LEI º 6.815/80. AUTUAÇÃO POR ESTADA IRREGULAR DE ESTRANGEIROS EM TERRITÓRIO NACIONAL 1 – Trata-se de remessa necessária e de apelação interposta pela União Federal, nos autos do mandado de segurança, objetivando a Impetrante garantir a anulação da cobrança de débito oriundo de autuação e multa imposta por irregularidades na documentação de marítimos estrangeiros. 2 – A segurança foi concedida a fim de determinar a anulação da inscrição do débito na Dívida Ativa da União, com conseqüente extinção da Execução Fiscal porventura ajuizada em face da Impetrante, sob a fundamentação, em síntese, de que não se pode apenar o agente marítimo por atos praticados pelo armador, já que aquele age apenas como mandatário deste, sem qualquer confusão de papéis. 3 – Com efeito, as figuras do agente marítimo/afretador e armador/transportador são distintas, sendo responsabilidade deste último qualquer irregularidade no transporte de passageiros (art. 11, Lei nº 6.815/80), o que deságua na manutenção da decisão a quo. 4 – Remessa necessária e apelação conhecidas e desprovidas. (TRF2, AC 2007.51.08.000022-1, Relator Des. Federal Poul Erik Dyrlund, Oitava Turma Especializada, Data de Publicação: 24/09/2008) 36.6 ADMINISTRATIVO – MULTA – AUTUAÇÃO PELA ENTRADA IRREGULAR DE ESTRANGEIRO NO PAÍS – AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE DO AGENTE MARÍTIMO – INFRAÇÃO COMETIDA PELO ARMADOR. 1. Não se pode apenar o agente marítimo por irregularidade praticada pelo armador, já que aquele age apenas como mandatário deste, sem qualquer confusão de papéis. 2. Conclui-se, portanto, que a agravante não trouxe a esta Corte qualquer argumento capaz de infirmar o entendimento proferido pela decisão agravada. Agravo regimental improvido. (STJ, AgRg no REsp 1055650/RJ, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, Data de Publicação: 11/05/2009) c) Navegação de cabotagem – Embarcação estrangeira – Visto para

tripulantes estrangeiros – Responsabilidade da empresa

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transportadora estrangeira – Ausência de responsabilidade da empresa brasileira contratante

36.7 TRIBUTÁRIO E ADMINISTRATIVO. NAVEGAÇÃO DE CABOTAGEM POR NAVIO ESTRANGEIRO. NECESSIDADE DE VISTO PARA OS TRIPULANTES ESTRANGEIROS. RESPONSABILIDADE DA EMPRESA TRANSPORTADORA ESTRANGEIRA. CONTRATAÇÃO DE NAVIO ESTRANGEIRO POR EMPRESA BRASILEIRA PARA TRANSPORTE DE PETRÓLEO E DERIVADOS. AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE. MULTA APLICADA SEM A DEVIDA PREVISÃO LEGAL. 1. A Lei n. 6.815/80, por meio do art. 11, prevê a necessidade de a empresa transportadora estrangeira que realiza a navegação de cabotagem obter o visto da respectiva tripulação. 2. A empresa brasileira que contrata tal serviço não pode ser responsabilizada pela ausência do referido visto, uma vez que, neste caso, inexiste norma que preveja a corresponsabilidade. 3. Prestígio do postulado da legalidade, que não autoriza a Administração Pública a agir em desacordo com as normas existentes, válidas e eficazes. Recurso especial improvido. (STJ, RESP: 1173220, Relator: Humberto Martins, Segunda Turma, Data de publicação: 21/10/2010) 36.8 PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO - EXECUÇÃO FISCAL EM VARA FEDERAL - EMBARGOS DO DEVEDOR - MULTA - EMBARCAÇÃO ESTRANGEIRA PRESTANDO SERVIÇOS NO BRASIL - VISTO TRIPULAÇÃO - RESPONSABILIDADE DA EMPRESA BRASILEIRA CONTRATANTE: INEXISTÊNCIA. 1. A empresa brasileira que contrata serviços a serem prestados por embarcação estrangeira não pode ser responsabilizada pela ausência do visto de trabalho para a tripulação, uma vez que, neste caso, inexiste norma que preveja a corresponsabilidade. 2. Precedentes do TRF1 e do STJ. 3. Apelação e remessa oficial não providas. (TRF1, AC: 199839000049494, Relator: Luciano Tolentino Amaral, Sétima Turma, Data de Publicação: 29/11/2013)

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37. Vistoria

Em casos de avarias ocorridas a uma mercadoria que foi objeto de transporte, faz-se essencial que o recebedor da carga imediatamente lavre seu protesto, ressalvando as eventuais avarias, e convoque a realização de uma vistoria conjunta entre todas as partes envolvidas. As próprias apólices de seguro de carga normalmente preveem a obrigatoriedade da realização de uma vistoria conjunta para se preservar o direito de reclamação. De fato, a ausência de uma vistoria conjunta prejudica não apenas o direito de defesa das partes que não foram convocadas a inspecionarem a carga como, consequentemente, prejudica o próprio direito do consignatário da mercadoria de reclamar quaisquer danos, posto que o laudo de vistoria unilateral se torna imprestável como elemento de prova contra uma parte que não foi convidada a participar do ato.

a) Transporte de Carga – Avaria – Ausência de vistoria – Inexistência de

prova em face do transportador 37.1 RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL E MATERIAL - TRANSPORTE RODOVIÁRIO. Avarias em parte das mercadorias transportadas. Pretensão ao reconhecimento da responsabilidade da transportadora. Descabimento. Ausência de vistoria aduaneira que impediu a autora de aferir a situação da carga na chegada ao porto de Santos. Inexistência, outrossim, de provas seguras que impliquem a ré nos danos arguidos. Prova testemunhal que também não serviu para provar a culpa da ré-apelada. Fato que obsta o reconhecimento de responsabilidade e impede o decreto de procedência dos pedidos. Sentença de improcedência mantida, assim como os honorários fixados com critério pelo condutor da lide. Inteligência do art. 252 do Regimento Interno deste Tribunal. Recurso desprovido. (TJSP, AC: 0034857-10.2010.8.26.0071, Relator: Jacob Valente, 12ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 11/04/2014)

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b) Transporte Marítimo – Avaria de carga – Ausência de vistoria – Ausência de prova do momento de ocorrência do dano - Inexistência de responsabilidade do transportador

37.2 Recurso de apelação interposto contra r. Sentença pela qual foi julgada improcedente ação regressiva de ressarcimento em decorrência da indenização de seguro decorrente de avaria de mercadoria, isto no tocante à ré rochamar, tendo sido julgada extinta a demanda, sem apreciação do mérito, no que se refere à ré intertrans - alegação de incorreção – pedido de reforma – agente de cargas – avaria de carga - legitimidade passiva do agente de cargas que figura como contratante do transporte, porque integrante da cadeia de deslocamento de mercadorias – recurso provido nesse tópico - dever de indenizar – inaplicabilidade do código de defesa do consumidor na hipótese dos autos – contrato de transporte em questão que se constitui verdadeira relação comercial - adequada apreciaçao do pedido pela r. Sentença – segurada da recorrente que dispensou a realização de vistoria aduaneira – impossibilidade de verificação do momento em que as avarias teriam efetivamente ocorrido, ou de quais seriam tais avarias, e sua devida extensão - nexo causal não comprovado nos autos – laudo unilateral que não supre tal falta - acerto parcial da r. Sentença - reapreciação pormenorizada de grande parte da r. Sentença que implicará em desnecessária repetição dos adequados fundamentos do pensamento adotado pelo juízo – simples ratificação da maior parte dos termos da r. Decisão de 1° grau, que se mostra suficientemente motivada - recurso parcialmente provido. (TJSP, Apelação 1014189-91.2016.8.26.0361; Relator (a): Simões de Vergueiro; 16ª Câmara de Direito Privado; Data do Julgamento: 28/11/2017) 37.3 AÇÃO REGRESSIVA DE RESSARCIMENTO. CONTRATO DE TRANSPORTE. VISTORIA UNILATERAL. Considerando os elementos fáticos, não é possível inferir o momento em que houve as avarias nas mercadorias transportadas. Ausência de vistoria aduaneira e de vistoria particular conjunta. R. sentença mantida. Recurso de apelação não provido. (TJSP, Apelação 0056334-03.2012.8.26.0562; Relator (a): Roberto Mac Cracken; 22ª Câmara de Direito Privado; Data do Julgamento: 12/02/2015) 37.4 Cuida-se de ação de regresso ajuizada por seguradora contra transportadora marítima de mercadorias, as quais a autora afirma terem

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experimentado avarias. Embora anteriormente determinada a realização de perícia, sem a localização do equipamento avariado, não há como algo de específico a constatar a seu respeito. Por outro lado, impertinente é a perícia para a constatação de validade da prova ou documentação apresentada. Tais aspectos não são da alçada do perito, razão pela qual não é o caso de realização da prova. Outras não foram pleiteadas. Por conseqüência, o processo deve ser julgado no estado em que se encontra. Na essência, a autora afirma que ressarciu importadora em razão de contrato de seguro, com cobertura para danos decorrentes de avarias durante transporte marítimo. Sabe-se da obrigação de resultado que assume o transportador ao receber as mercadorias na embarcação, as quais devem ser entregues íntegras no local de destino. Verificadas avarias, presume-se a falha na prestação do serviço, suficiente para sua responsabilização em razão inadimplemento da obrigação. No entanto, é indispensável a demonstração de que os danos tenham acontecido com as mercadorias enquanto ainda em poder do transportador marítimo. Não há responsabilidade sem prova de nexo causal entre sua conduta – omissiva ou comissiva – e os danos constatados. No caso, embora existam indícios, outros contra-indícios chamam a atenção e não permitem a formação de juízo seguro a respeito do momento em que verificada as avarias especificamente relacionadas com a mercadoria referida na inicial. É certo que quando da entrega da mercadoria no Terminal Alfandegado, foi lavrado o “Termo de Avaria de Container”, documentado às fls. 62. Porém, suas referências são lacônicas e não especificam o que de fato aconteceu. A menção “suspeita de falta/avaria” não é suficiente para algo identificar com precisão, muito menos para demonstrar a ocorrência dos danos na mercadoria importada pela segurada. A despeito dessa referência por parte do Terminal - nada mais que uma suspeita –, a mercadoria foi retirada do terminal por transportadora terrestre no dia 02 de junho de 2004. Na oportunidade, nenhuma ressalva foi lançada em relação ao equipamento contido no container. O equipamento foi entregue no local de destino em 08 de junho de 2004 (vide conhecimento de fls. 54). O documento de fls. 65 noticia que em tal data se constatou a avaria, então, especificamente no material importado. Somente a partir daí cogitou-se da realização da vistoria documentada às fls. 66 e seguintes. Não consta que em algum momento a transportadora marítima tenha sido de algo comunicada a respeito das avarias no equipamento. Também não consta que tenha sido convidada a participar da vistoria a ser realizada para apuração do que se passou. É no mínimo estranho que tudo tenha se passado à sua revelia. Não se pode perder de vista que se presume estarem as empresas envolvidas na questão (transportadoras, importadora, seguradora) acostumadas aos trâmites relacionados com apuração de responsabilidades

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fruto das intercorrências nos processos de importação. O natural e razoável, diante da suspeita de avaria decorrente de falha no transporte marítimo, seria ao menos a formalização do convite para que a possível responsável tomasse parte nas investigações. No entanto, inexplicavelmente, nada foi formalizado, e nada constando nos autos sugere tentativas de comunicação. (...) É relevante observar que mesmo na hipótese de recusa, haveria ainda a possibilidade de socorro à via judicial para a preservação da prova. Porém, optaram os "interessados" pela falta de cautela, pela produção de prova sem participação ou ciência da possível responsável. Não podem agora opor a vistoria à requerida, contra quem seu valor tem mínima ou nenhuma força probante. A falta de diligência em permitir seu conhecimento a respeito das providências adotadas, evidencia ainda que não é o caso de inversão do ônus da prova, até porque, não se cogita aqui de hipossuficiência de qualquer das partes. (...) Não se desincumbindo a autora do ônus de demonstrar que as avarias aconteceram enquanto a mercadoria estava em poder da ré (art. 333, I, CPC), é o que basta para o decreto de IMPROCEDÊNCIA, dispensada a análise das demais teses suscitadas em defesa. (TJSP, Proc. nº 562.01.2005.017419-1, Juiz José Alonso Beltrame Junior, 10ª V. Cível de Santos/SP, Data de Publicação: 11/10/2007) c) Transporte Marítimo – Avaria de carga – Inexistência de vistoria ou

ressalva no ato da entrega – Ineficácia de vistoria unilateral realizada no depósito da consignatária tempos após a descarga – Ausência de responsabilidade do transportador

37.5 Ação de cobrança - transporte marítimo - utilização de contêineres - devolução das unidades - alegação de que constatadas avarias e sujeiras - fato - não comprovação - provas produzidas de forma unilateral - ausência de vistoria conjunta contemporânea - pedido - improcedência - sentença - reforma. Apelo da ré provido. (TJSP, Apelação 1000998-21.2017.8.26.0562; Relator: Antonio Luiz Tavares de Almeida; 11ª Câmara de Direito Privado; Julgamento: 14/12/2017) 37.6 Transporte Marítimo – Responsabilidade do Transportador. A responsabilidade do transportador por avarias ou perda do conteúdo de fazendas transportadas, só pode ser admitida mediante a realização de vistoria, nos termos da Legislação Brasileira. SE A VISTORIA FOI FEITA NOS

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ARMAZÉNS DA CONSIGNATÁRIA, VINTE E CINCO DIAS DEPOIS DA DESCARGA DA MERCADORIA, INEFICAZ É PARA A FIXAÇÃO DAQUELA RESPONSABILIDADE. (STJ, AC n.º 44.359/SP, Min. Carlos Madeira, Data de Publicação: 06/08/80) 37.7 RESPONSABILIDADE CIVIL. Transporte marítimo. Ação de indenização de danos. Segurador subrogado versus transportador. Faltas e avarias. Ressalvas e vistorias. Inexistência. Responsabilidade do transportador. Inconfiguração. O TRANSPORTADOR QUE ENTREGA AS MERCADORIAS AO CONSIGNATÁRIO NÃO RESPONDE PELOS DANOS SOFRIDOS PELA CARGA, SE OS VOLUMES SUPOSTAMENTE AVARIADOS NÃO FORAM RESSALVADOS, PELO RECEBEDOR, E VISTORIADOS, NO ATO DA ENTREGAS, NA PRESENÇA DE TODOS OS INTERESSADOS. NÃO SUPRE A FALTA VISTORIA UNILATERAL, REALIZADA TARDIAMENTE, NOS DEPÓSITOS DO PRÓPRIO CONSIGNATÁRIO, SEM A PRESENÇA DO TRANSPORTADOR, QUE NÃO FOI CONVOCADO PARA ASSISTÍ-LA. Preliminar rejeitada. Recursos: prejudicado, um ; provido, o outro. Sentença reformada. (TAC/RJ, Apelação Cível n.º 4.026/94, 8ª Câmara, Data de Publicação: 09/11/94) 37.8 (...) Como bem argumentou a ré, ela tinha direito de participar da vistoria das mercadorias, constatando se eram reais os alegados danos. A própria autora admite que a prova, agora, é impossível de ser feita. Não pode ser imposto à requerida o laudo pericial de cuja elaboração não teve oportunidade de participar. (...) A requerida não teve oportunidade de ver as frutas, o termógrafo supostamente retirado do contêiner, acompanhar a vistoria. Para isso era fundamental a observância do parágrafo único do art. 754 do Código Civil. Posto isso, JULGO EXTINTO O PROCESSO, com julgamento do mérito, nos termos do art. 269, inciso IV, do Código de Processo Civil, (...) (TJSP, Proc 583.02.2007.110820-0, 4ª V. Cível Santo Amaro/SP, Data de Publicação: 23/01/2008)