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Page 1: PESQUISA Referencial de cuidar em Enfermagem Psiquiátrica · PESQUISA RESEARCH - INVESTIGACIÓN ... Pesquisa Qualitativa. Palabras clave: Cuidado de enfermeria. Educación. Enfermería

Escola Anna Nery Revista de Enfermagem

ISSN: 1414-8145

[email protected]

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Brasil

Cardoso Fontes dos Santos, Anna Cristina

Referencial de cuidar em enfermagem psiquiátrica: um processo de reflexão de um grupo de

enfermeiras

Escola Anna Nery Revista de Enfermagem, vol. 13, núm. 1, enero-marzo, 2009, pp. 51-55

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Rio de Janeiro, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=127715321008

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Referencial de cuidar em Enfermagem PsiquiátricaReferencial de cuidar em Enfermagem PsiquiátricaReferencial de cuidar em Enfermagem PsiquiátricaReferencial de cuidar em Enfermagem PsiquiátricaReferencial de cuidar em Enfermagem PsiquiátricaSantos ACCFEsc Anna Nery Rev Enferm 2009 jan-mar; 13 (1): 51-55

REFERENCIAL DE CUIDAR EM ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA: UMPROCESSO DE REFLEXÃO DE UM GRUPO DE ENFERMEIRAS

Psychiatric Nursing Care Reference: A Reflective Process of aGroup of Nurses

Esc Anna Nery Rev Enferm 2009 jan-mar; 13 (1): 51-55

RESUMOEstudo qualitativo que teve como objetivo construir, em conjunto com seis enfermeiras chefes de uma instituição psiquiátricapública no Rio de Janeiro, um referencial teórico-filosófico a ser implantado por elas próprias, no desenvolvimento do processode cuidar de pacientes psiquiátricos. Realizou-se um processo de reflexão sobre dinâmica de grupo, buscando autoconhecimentoe amadurecimento. Tal processo desenvolveu-se durante a construção de dissertação de Mestrado desta autora, orientada pelaDrª Eloita Pereira Neves. Utilizaram-se conceitos das Teorias Humanística e Cuidado Burocrático, diretrizes da Reforma Psiquiátricae Políticas de Saúde Mental. Os dados obtidos foram gravados, transcritos e analisados de acordo com a análise de conteúdo.Dos resultados emergiram categorias de concepções sobre: Ser Humano; Cuidado Profissional de Enfermagem; CuidadorProfissional; Processo Educativo e Institucional; e Descuidado, que permitiram formular uma proposta de referencial para aprática do Cuidar em Enfermagem para pacientes psiquiátricos de longa permanência institucionalizados.

Abstract Resumen

Qualitative research that had as purpose to construct inconjunction with six head nurses, of a public PsychiatricInstitution located in Rio de Janeiro, a theoretical-philosophicalreference to be implemented by themselves, in the developmentof the psychiatric patients’ care process. It was made a reflexionprocess on group dynamics looking for self-knowledge andmaturity. This occurred during the development of masterthesis (1), advised by Dr. Eloita Pereira Neves. It was usedconcepts of Humanistic (2) and Bureaucratic Care Theories (3),directives of the Psychiatric Reform and Politics of MentalHealth. The data collected were recorded, transcribed, andanalyzed according to the content analysis (4). The resultspointed to categories of Conceptions related to: Human Being;Professional Nursing Care; Care of the Professional Caregiver;Caring as an Educational Process; Institutional and Carelessness.These allowed formulating a reference proposal for the NursingCare practice in institutionalized psychiatric patients of longpermanence.

Keywords: Beware of Nursing. Education. PsychiatricNursing. Qualitative Research.

¹ Enfermeira, Mestre em Enfermagem, especialista em Administração em Serviços de Saúde, Gerência em Enfermagem e MBA em Gestãoem Saúde, Professora da UNESA, Coordenadora Administrativa e Financeira, Vice-diretora do IMAS Juliano Moreira. Brasil. E-mail:[email protected]

PESQUISARESEARCH - INVESTIGACIÓN

Anna Cristina Cardoso Fontes dos Santos¹

Referencial de Cuidar en Enfermería Psiquiátrica: un procesode reflexión de un grupo de enfermeras

Investigación cualitativa que tuvo como objetivo construir conseis enfermeras jefes, de una Institución Psiquiátrica públicaen Río de Janeiro, una referencia teórico-filosófica a serimplantada por ellas propias, en el desarrollo del proceso decuidar de pacientes psiquiátricos. Se realizó un proceso dereflexión sobre la dinámica de grupo buscando el auto-conocimiento y maduración. Esto se desarrolló durante laconstrucción de mi disertación de Maestría (1), impulsada porla Drª Eloita Pereira Neves. Se utilizó conceptos de las TeoríasHumanística (2) y Cuidado Burocrático (3), directrices de laReforma Psiquiátrica y Políticas de Salud Mental. Los datosobtenidos fueron grabados, transcritos y analizados deacuerdo con la analisis del contenido (4). Los resultadosdestacaron categorías acerca de Concepciones sobre: SerHumano, Cuidado Profesional de Enfermería; Cuidadorprofesional; Proceso Educativo; Institucional y des-cuidadoque permitieron formular una propuesta de referencia para lapráctica del Cuidar en Enfermería a pacientes psiquiátricosinstitucionalizados de larga permanencia.

PPPPPalaalaalaalaalavrvrvrvrvras-cas-cas-cas-cas-chahahahahavvvvveeeee: Cuidado de Enfermagem. Educação. Enfermagem Psiquiátrica. Pesquisa Qualitativa.

Palabras clave: Cuidado de enfermeria. Educación. Enfermeríapsiquiátrica. Investigación Cualitativa.

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Esc Anna Nery Rev Enferm 2009 jan-mar; 13 (1): 51-55

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Referencial de cuidar em Enfermagem PsiquiátricaReferencial de cuidar em Enfermagem PsiquiátricaReferencial de cuidar em Enfermagem PsiquiátricaReferencial de cuidar em Enfermagem PsiquiátricaReferencial de cuidar em Enfermagem PsiquiátricaSantos ACCF

INTRODUÇÃO

As novas políticas de Saúde Mental incitam um movimentoem direção à expansão, à experimentação e ao desempenhodas ações da Enfermagem Psiquiátrica, estimulando mudançasno modo de cuidar, voltadas para a relação humana, através daexperiência vivenciada. A Enfermagem Psiquiátrica deveacompanhar os movimentos de transformação da psiquiatria,em que o profissional não deixa de ter sua especificidade, maspassa a ter um lugar legítimo na equipe multidisciplinar,reorientando sua prática, com propostas de atividadesterapêuticas compartilhadas, voltadas para o hábito de trabalhoem equipe, em que são sociabilizados experiências eenfrentamentos dos problemas; restabelecendo a relação dopaciente psiquiátrico como sujeito ativo, dando-lhe direitos ecapacidade da palavra; diluindo a relação de poder etransformando o modo de viver, cuidando desse ser humano emsofrimento mental, ajudando-o a viver de uma maneira maisdigna. Essas transformações desenvolvem-se também pelareflexão cotidiana das ações realizadas pela Enfermagem epelo desejo de mudar para um saber/fazer/pensar/ser mais emelhor.

A Reforma Psiquiátrica questiona a Instituição Psiquiátrica,o conceito da doença mental e a maneira de lidar com ela.Enfrentar os mitos em relação à doença mental é um desafiodiário de cada enfermeiro individualmente para o rompimentode preconceitos, rótulos e estigmas. Por meio do processoeducativo, podemos possibilitar a conscientização e participaçãoativa e transformadora da prática do Cuidar em Enfermagem apacientes psiquiátricos de longa permanênciainstitucionalizados. Tal prática, permeada pelo respeito,sensibilidade e compromisso autêntico, constitui-se em tentativade desconstrução das bases que por muito tempo têmsustentado a prática assistencial tradicional da EnfermagemPsiquiátrica nas instituições asilares.

Este recorte da dissertação de Mestrado orientada pelaDra. Eloita Pereira Neves faz uma reflexão conjunta sobre asconcepções teórico-filosóficas do grupo de enfermeiras, seusconceitos, valores e crenças que permeiam a prática diária doCuidar em Enfermagem.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

As Teorias de Enfermagem inter-relacionam conceitos ouideias as quais, por meio de definições, expressam formasdiferentes e significativas para se descrever, encarar ou classificarum fenômeno para a prática. Assim, neste estudo, encontram-se articulados alguns conceitos sobre encontro dialógico2, sobrea dialética do cuidar burocrático3 e sobre a Reforma Psiquiátricaque vem ocorrendo na área de Saúde Mental no Brasil. Alémdessas ideias, colaboraram na fundamentação teórica desteestudo diversos autores5-11.

Alguns autores afirmam que cuidar é um processo interativoentre ser o cuidado e cuidador, sendo necessário envolvimento

para compreensão do seu significado5, 6, 10. Cuidar do outro éantes de tudo cuidar de si11. O cuidar deve levar a pessoa aalcançar o conforto enquanto cuida, e conforto envolverelacionamento humano6. Cuidado é um processo em que seajuda o outro a crescer, através da confiança mútua e de umatransformação qualitativa no relacionamento5.

A Teoria da Enfermagem Humanística2 inspira-se nafenomenologia existencialista, na qual se enfatiza a construçãode um mundo melhor, o viver no mundo, o significado da vidacomo ela é vivida, o campo perceptivo, a natureza do diálogo, opotencial humano, a intersubjetividade, o encontro, a presença,o relacionar-se, que corresponde a estar com e fazer com, arelação Eu-Tu (sujeito-sujeito), o modo de ser e de fazer algo,o estar peculiar do indivíduo na luta do ser e vir-a-ser, a estarcom, ser mais, ser melhor e o compromisso autêntico. A filosofiaexistencialista alude, com ênfase, que o homem se faz por suasescolhas. Ele é um vir-a-ser constante sem nunca atingi-lo nasua plenitude, engajado consigo mesmo, trilhando o caminhoque leva ao Ser. O enfermeiro engajado aceita sua situaçãocomo um ser-no-mundo, será uma presença para os outros enão se contentará em exercer um papel sem compromisso.

A Enfermagem Humanística2 valoriza a naturezaintersubjetiva do Ser, enfatizando a Enfermagem como umamaneira especial de relacionamento humano, e o significadoda vida como ela é vivida, a natureza do diálogo, o ser mais/melhor, o viver melhor no mundo. Essas enfermeiras foraminfluenciadas em seus trabalhos pelos existencialistas,humanistas e fenomenólogos. As autoras Stefanelli12 eTravelbee13 falam da comunicação interpessoal, quecomplementa, com dados significativos, fatores da relaçãointerpessoal13. Ambas, com suas próprias denominações,abordam a relação dialógica/terapêutica/ajuda/interpessoal detornar-se uma pessoa melhor no encontro – Cuidar, da mesmaforma que Paterson & Zderad2 abordam, em sua teoria, suasbases filosóficas.

A Teoria do Cuidado Burocrático3 discute a luta de forçasantagônicas em uma instituição burocrática, como o hospital,que podem facilitar ou dificultar o cuidado. Esta síntese dialéticado cuidar burocrático tem como tese o cuidar humanístico,educacional, ético e espiritual e como antítese (burocracia) ocuidar econômico, político, legal e tecnológico. Essescomponentes fazem parte do gerenciamento organizacionalde uma instituição.

A Reforma Psiquiátrica é um processo de reflexão etransformação nos diferentes níveis assistenciais, culturais,políticos, econômicos e conceituais que por mais de dez anosvem num crescente movimento de desmistificar o estigma dadoença mental e, principalmente, garantir o direito da cidadaniaa essas pessoas para que possam viver melhor no mundo. Asforças antagônicas da Teoria do Cuidado Burocrático3 estarãosempre presentes na instituição asilar, porém, a fundamentaçãopara a prática do Cuidar em Enfermagem dos pacientes delonga permanência institucionalizados deverá unir conceitos

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Referencial de cuidar em Enfermagem PsiquiátricaReferencial de cuidar em Enfermagem PsiquiátricaReferencial de cuidar em Enfermagem PsiquiátricaReferencial de cuidar em Enfermagem PsiquiátricaReferencial de cuidar em Enfermagem PsiquiátricaSantos ACCFEsc Anna Nery Rev Enferm 2009 jan-mar; 13 (1): 51-55

da Teoria Humanística2, diretrizes da Reforma Psiquiátrica eas novas Políticas de Saúde Mental - de uma práticatransformadora e com participação ativa do sujeito nestas trêsáreas conceituais.

Além desses conceitos, foram formuladas algumas crenças,adotando como base as próprias conjeturas desta autoraformuladas a partir de reflexões originadas da experiênciapessoal, da literatura e da discussão com a orientadora. Estascrenças, que corroboraram a fundamentação deste estudo eforam compartilhadas com as participantes dos seminários,incluem os conceitos de: Ser Humano, Saúde/Doença/SaúdeMental, Ambiente/IMASJM/Sociedade, Enfermagem e Cuidar,Cuidado Humano, Cuidar em Enfermagem, Educação/ProcessoEducativo e Cuidar em Enfermagem Psiquiátrica.

A REFLEXÃO EM DINÂMICA DE GRUPO: UM CAMINHOCRIATIVO PARA O ENVOLVIMENTO DAS PARTICIPANTESNO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO

Este estudo foi realizado através de uma abordagemqualitativa de natureza metodológica viabilizada pelo processode reflexão em dinâmica de grupo. Participaram do estudo seisenfermeiras chefes de unidades hospitalares de uma instituiçãopsiquiátrica hospitalar pública, de pacientes psiquiátricos delonga permanência (anteriormente conhecida como ColôniaJuliano Moreira), localizada no Rio de Janeiro.

O processo reflexivo desenvolvido foi inspirado emPaganini11, com acréscimo da dinâmica de grupo. Facilitadorae participantes ponderaram em conjunto sobre a essência docuidar em enfermagem; foram proporcionadas às integranteschances para manifestarem seus sentimentos, algumas vezesainda desconhecidos ou não declarados, guiando-as para umaprendizado compartilhado e dividindo emoções, o que as fezrefletir sobre si mesmas, buscando o autoconhecimento e,naturalmente, amadurecimento. A dinâmica de grupo é umamaneira de confrontar e suplantar o afastamento e alheamentodo indivíduo. O homem, enquanto membro da sociedade, estásempre participando e convivendo em atividades sociais grupais,seja na família, escola ou trabalho, onde lhe infligem respostasque restringem ou incrementam. Através da dinâmica de grupo,desenvolvemos ponderação, escuta e relação dialógica em quea enfermeira deve se basear [...] para fazer algo mais, parafazer melhor e de modo diferente, o estar próximo, o estar-junto, a presença [...]2, e são formas de cuidado que semanifestaram durante o processo de construção do marcoreferencial, pois trabalhando juntos abrem-se novos caminhos.

Atendo-se aos preceitos da ética (Resolução 196/96),elaboramos o Consentimento Livre e Esclarecido, e cadaenfermeira autorizou por escrito o documento. A partir daautorização, foram realizadas a gravação em fita magnética eposterior transcrição de suas falas ocorridas durante osencontros. Os textos transcritos foram submetidos à validaçãode cada uma das participantes. A fim de preservar o anonimato,as participantes foram identificadas por codinomes de flores

diversas. Somente a autora deste estudo teve acesso aosdocumentos originais, a fim de acompanhar o processo, em umperíodo relativamente longo, que exigia a identificação. Para acoleta de dados, foram realizados nove seminários no horáriode trabalho, com duração média de cento e vinte minutos cadaum. Os temas discutidos foram previamente estabelecidos.Denominaram-se seminários os encontros agendados com asparticipantes e que se realizaram em ambiente apropriadopara facilitação da discussão dos temas que fundamentaram aconstrução do referencial teórico-filosófico. Os temasselecionados para serem desenvolvidos nos seminários tiveramcomo base as crenças, a prática e a vivência dos sujeitos,combinadas aos conceitos previamente estabelecidos eanteriormente mencionados, além de outras ideias que surgirama partir de vários autores5,6-10, 14).

Na pesquisa foram buscados caminhos alternativos,estabelecendo a relação dialógica, visando o chamamento dogrupo para interação, discussão e reflexão em um processocontínuo que permeou todos os momentos vividos durante oprocesso. O apoio no referencial adotado trouxe comoconsequência a necessidade individual de desenvolver e exercitarnovos hábitos e postura profissional.

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOSNa análise dos dados, articularam-se três áreas conceituais

empregadas no suporte teórico do estudo, representadas naFigura 1. As forças antagônicas da Teoria do CuidadoBurocrático3 estavam presentes na instituição asilar, porém, afundamentação para a prática do Cuidar em Enfermagem parapacientes de longa permanência institucionalizados uniuconceitos da Teoria Humanística2, diretrizes da ReformaPsiquiátrica e novas Políticas de Saúde Mental - de uma práticatransformadora e com participação ativa do sujeito.Figura 1: Art iculação das três áreas conceituaisFigura 1: Art iculação das três áreas conceituaisFigura 1: Art iculação das três áreas conceituaisFigura 1: Art iculação das três áreas conceituaisFigura 1: Art iculação das três áreas conceituaisutil izadas no suporte teórico.util izadas no suporte teórico.util izadas no suporte teórico.util izadas no suporte teórico.util izadas no suporte teórico.

Fonte: Neves (2002).

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Referencial de cuidar em Enfermagem PsiquiátricaReferencial de cuidar em Enfermagem PsiquiátricaReferencial de cuidar em Enfermagem PsiquiátricaReferencial de cuidar em Enfermagem PsiquiátricaReferencial de cuidar em Enfermagem PsiquiátricaSantos ACCF

Os resultados destacaram categorias acerca de: Concepçõessobre o Ser Humano – ser humano é um complexo de emoções,uma pessoa em permanente crescimento, desenvolvimento eaprimoramento. Possuiu suas próprias crenças, valores econhecimentos, tornando-se único, integral e total; Concepçõessobre o cuidado profissional de Enfermagem – cuidar é garantirassistência integral, dando o melhor de si, e o cuidado humano,enquanto ato e atitude humana surgem das interaçõessubjetivas de nutrir, ajudar o outro a crescer, crescer com ooutro, buscar o autoconhecimento, unir, confiar, amparar o sercuidado, resgatar autonomia, estimular o autocuidado, respeitarindividualidade, vontade, desejo, interagindo, sendo um agenteterapêutico, valorizando os sentimentos, crenças e valores;Concepções sobre o cuidado ao cuidador profissional - oenfermeiro, enquanto facilitador do cuidado, ao relacionar-se,utiliza habilidades clínicas de maneira terapêutica para percebersignificados, através de gestos, olhares e toque, numa visãocompleta do ser. Nesse papel, ele pode possibilitar a criaçãode um espaço onde a equipe de enfermagem tem possibilidadede colocar seus problemas e angústias já que a relação docuidar é uma troca de sentimentos, um compartilhar, umatransação subjetiva em que são respeitados conceitos,pensamentos, valores e culturas, em suas diferenças. Para isso,podemos lançar mão da relação de ajuda, construída efundamentada na interação do enfermeiro com a equipe deenfermagem, despontando como processo de transformaçãomútua pautada em ações participativas e enriquecedoras;Concepções sobre o cuidar como processo educativo – noambiente institucional, individual ou coletivamente, o processoeducativo pode ser um instrumento de capacitação parafortalecimento das relações entre as pessoas, aumentando acapacidade de enfrentar situações com mais autonomia esegurança; Concepções sobre o cuidado institucional – oscuidadores há algum tempo atrás, consideravam o paciente delonga permanência institucionalizado um ser passivo quemeramente recebia cuidado. Entretanto, com as mudançasadvindas da Reforma Psiquiátrica e dos novos projetosdesenvolvidos na Instituição, vislumbra-se maiorconscientização por parte desse grupo para um cuidado dequalidade, respeitando o espaço e as escolhas do paciente,com vistas a estimular qualquer grau de autonomia possível eainda existente para realização do autocuidado, num processoconstrutivo; Concepções sobre o descuidado ao cliente – nainstituição onde a estrutura organizacional não é bemdelimitada, a indefinição de papéis, sobrecarga burocrática(sinônimo de preenchimento de papéis, fichas) e apegoexagerado às rotinas e procedimentos levam ao cerceamentodo potencial de criatividade do enfermeiro, afastando-o docuidado direto. Assim, o enfermeiro assume a posição de gerenteda assistência de enfermagem e da organização burocráticainstitucional, controlando e gerenciando os que vão executá-lo.Todavia, tem sua participação reduzida nos novos dispositivosterapêuticos (passeios, reuniões de miniequipe, tardesdançantes, oficinas, assembleias, entre outros).

Os pressupostos teórico-filosóficos da Teoria Humanística2

guiaram e auxiliaram na fundamentação do cuidado, já quesabemos o que estamos fazendo e por que, ajudando na trocade experiências, através do autoconhecimento e dos nossoslimites.

Considerando o cuidar como uma relação interpessoal,principalmente na área psiquiátrica, é importante evidenciar ereconhecer esses comportamentos, compreender as ações ereações da equipe de enfermagem envolvidas no cuidado eestabelecer uma relação de confiança mútua para reflexão etroca de informações, resgatando o equilíbrio nos momentosde necessidade, que facilitarão a interação no processo decuidar.

É necessário estimular, como fator motivacional, atransformação da própria prática. Ao atuarmos na áreapsiquiátrica, necessitamos ter iniciativa, acesso aoconhecimento, reflexão sistematizada, autoconhecimento econhecimento do outro para estabelecimento de relação consigoe com o outro.

O movimento de mudança iniciou-se no campo da prática(local da pesquisa), fundamentou-se com o suporte teórico dasteorias Humanística e do Cuidado Burocrático2, 3 e em diversosautores contemporâneos que abordam o cuidar (busca deconhecimento), na realização deste estudo (produção deconhecimento), para posterior retorno e aplicabilidade naprática (intervenção – ação terapêutica).

É importante salientar que o estado de saúde do sujeito vaidepender do seu estilo de vida, das condições ambientais,psicológicas e biológicas, assim como das instituições em quese opera o cuidado15.

ALGUNS PONTOS PARA REFLEXÃO

Durante o processo de reflexão em dinâmica de grupo,surgiram vários questionamentos, que levaram o grupopesquisado e esta autora a refletir sobre crenças pessoais,valores e experiências a respeito do ser humano – pacientepsiquiátrico, saúde/doença/saúde mental, IMASJM/ambiente/sociedade, cuidado humano, enfermagem, educação/processoeducativo, cuidar e o modelo que permeava a práticadesenvolvida pela Enfermagem na Instituição. Ainstrumentalização para o cuidar, além de outros aspectos incluio fortalecimento da habilidade em estabelecer relação de ajuda.Esta, estabelecida pelo o grupo, ocorreu a partir do estímulodesta autora e facilitadora, favorecendo a interação, através deum diálogo estruturado. Foram abordados assuntosdeterminados (cuidado humano), com objetivos específicos(humanização da prática pelo cuidado).

Para que a relação de ajuda se desenvolvesse de formaadequada, foi necessário ocorrer empatia e estabelecer elo deconfiança entre o grupo. Com a empatia, a facilitadora/autoraconseguiu perceber adequadamente o sentimento individualdos elementos do grupo no desconectar de valores, crenças eopiniões pessoais para ajudar recíproca. A partir deste processo

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Referencial de cuidar em Enfermagem PsiquiátricaReferencial de cuidar em Enfermagem PsiquiátricaReferencial de cuidar em Enfermagem PsiquiátricaReferencial de cuidar em Enfermagem PsiquiátricaReferencial de cuidar em Enfermagem PsiquiátricaSantos ACCFEsc Anna Nery Rev Enferm 2009 jan-mar; 13 (1): 51-55

de reflexão do grupo de enfermeiras, da fundamentação emconceitos da Teoria da Enfermagem Humanística2, da leiturade alguns autores que abordam o cuidar e da análise dos dados,foi construído um marco de referência, submetido à validaçãodas enfermeiras do estudo.

Entendo como referencial teórico-filosófico umarepresentação que propõe alternativas que fundamentam e dãosustentação ao caminhar, capaz de orientar o processo para aprática do Cuidar em Enfermagem.

Esse referencial teórico-filosófico aspira propor subsídiospara atingir a desejada e idealizada transformação ehumanização do cuidar de pacientes psiquiátricos de longapermanência institucionalizados. Esse cuidar, ao mesmo tempo

REFERÊNCIAS

em que se apresentava sem concepções teórico-filosóficas eoperacionais formais, também se constituía, por parte dasenfermeiras, em preocupação, interesse, respeito e valorizaçãoao ser cuidado.

Apresento uma proposta de referencial para a prática doCuidar em Enfermagem a pacientes psiquiátricos de longapermanência institucionalizados, cujos pressupostos seconstituem na expressão da maneira de ser, sentir, pensar eagir do grupo de enfermeiras participantes, reconhecendo odesafio de encontrar formas para estimular as forças queimpulsionam e enfrentar aquelas impeditivas que atuamsimultaneamente no desenvolvimento do processo de trabalhona instituição.

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Recebido em 12/08/2008Reapresentado em 04/11/2008

Aprovado em 11/01/2009