personagens tipo
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Personagens-tipo
Encontramos, na obra, um desfile de
personagens, cuja caracterização nos permite
classificá-las como personagens-tipo. Elas
representam um determinado grupo social e
funcionam como forma de criação da crónica de
costumes, interessando, não as suas
características individuais, mas sim aquelas que
revelam o retrato de um determinado grupo e
contexto social específico. São de salientar:
- Alencar, que simboliza o Ultra-Romantismo.
Através desta personagem, é criticada a
estagnação intelectual portuguesa, fechada às ideias novas que floresciam no estrangeiro,
e que se traduzia numa literatura sentimentalista e alheada da realidade, enraizada em
valores tradicionais e obsoletos;
- Eusebiozinho representa as vítimas de uma educação tradicional portuguesa, em que
imperam os valores morais atrofiantes e caducos e um ensino que não desenvolve a
agilidade física e a destreza intelectual do indivíduo, mas que o aniquila e corrompe
espiritualmente. Devido à educação que recebe torna-se um indivíduo socialmente
apagado e um fraco, incapaz de revelar uma atitude crítica ou analítica, manifesta-se
imaturo do ponto de vista afetivo, cobarde e influenciável;
- O Conde de Gouvarinho representa o Portugal velho e conservador. É politicamente
incompetente e simboliza a imagem do homem mesquinho e medíocre, que vive segundo
as convenções sociais, apesar de um casamento atribulado. Avesso ao progresso, utiliza
um discurso empolgado, mas vazio, e defende acerrimamente a cultura decadente como
elemento conquistador e civilizacional dos povos das colónias. O que sobressai, nesta
personagem, é a sua completa incapacidade de análise política e a sua inconsequente
C o l é g i o A m o r d e D e u s – C a s c a i s P o r t u g u ê s 1 1 º a n o A n o l e t i v o 2 0 1 3 / 2 0 1 4
ausência de visão histórica, que se traduz, sobretudo, na sua futilidade mental e na sua
vaidade extrema;
- Steinbroken é a representação da impressão dos estrangeiros face à “complexidade”
nacional. Não emite opiniões e assume-se como um observador um tanto confuso e
distante do panorama nacional;
- Sousa Neto é um membro da Administração Pública. Caracterizam-no a falta de cultura e
a incapacidade de análise e a sua vaidade social;
- Jacob Cohen é o diretor do Banco Nacional e o representante da alta finança nacional.
Simboliza a burguesia que se encontra em lugares de poder, sem, no entanto, possuir a
inteligência e a flexibilidade mental para compreender e analisar o mundo que a rodeia.
Não apresenta uma consciência forte do estado financeiro do país e é dominado por uma
certa inércia;
- Taveira representa a ociosidade da aristocracia social;
- Dâmaso Salcede representa a vaidade imbecil, o egoísmo, a cobardia e a falta de
integridade moral. Simboliza, pela deformação moral que apresenta, a maior vítima da
sociedade portuguesa;
- A Condessa de Gouvarinho e Raquel Cohen simbolizam as mulheres portuguesas, com
uma educação romântica e um casamento pouco atraente, que procuram no adultério uma
forma de dar algum interesse e emoção às suas vidas;
- Palma Cavalão e Neves representam o meio jornalístico decadente de Lisboa. Palma
Cavalão é desonesto e encara o jornalismo como uma forma de ganhar dinheiro,
deixando-se corromper e subornar. Representa o jornalismo barato, escandaloso e sem
escrúpulos. Neves, o diretor do jornal A Tarde, aproveita a sua situação para influenciar
politicamente os seus ouvintes/leitores ignorantes, revelando parcialidade.