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Discurso Dia do Ipl, 25 de Março 2013, Escola Superior de Música de Lisboa 1 O Instituto Politécnico de Lisboa comemora 27 anos de um percurso de sucesso, tendo alcançado um prestígio incontestável em diferentes domínios científicos através da ação e do esforço de todos os que com o seu profissionalismo, aliado a uma enorme dedicação e empenho, têm ajudado a consolidar este projeto educacional de enorme importância para a formação e qualificação dos portugueses. Nesse sentido, queremos, neste ato solene, agradecer a todos os que, no passado e no presente, deram e continuam a dar um contributo inestimável para a construção deste projeto, prestando homenagem aos que, por motivo de aposentação, nos vão deixar. Permitam-me, que faça uma exposição sumária da situação atual do Instituto e vos convide a acompanhar-me numa breve reflexão, sobre alguns temas que considero relevantes no contexto atual do ensino superior. Ao nível do processo administrativo, o Instituto Politécnico de Lisboa mantém desde 2007 a certificação internacional de qualidade da norma ISO 9001-2000 e iniciou em 2010 a criação do Sistema Interno de Garantia de Qualidade, para dar resposta ao processo de avaliação e acreditação desenvolvido pela A3ES-Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior em Portugal. Contamos ainda este ano submeter o nosso Sistema Interno de Garantia de Qualidade à certificação da referida agência. Apresenta uma oferta formativa de 38 licenciaturas e 51 mestrados, nos domínios científicos da engenharia, contabilidade e gestão, tecnologias da saúde, educação, comunicação, música, dança, teatro e cinema. No último concurso nacional de acesso ao ensino superior, às 2490 novas vagas propostas a concurso, concorreram 10834 candidatos na primeira fase do concurso nacional de acesso, o que correspondeu a uma procura cerca de quatro vezes e meia superior à oferta. De realçar também que preenchemos 45% das vagas com

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Discurso Dia do Ipl, 25 de Março 2013, Escola Superior de Música de Lisboa 1

O Instituto Politécnico de Lisboa comemora 27 anos de um percurso de sucesso,

tendo alcançado um prestígio incontestável em diferentes domínios científicos

através da ação e do esforço de todos os que com o seu profissionalismo, aliado a

uma enorme dedicação e empenho, têm ajudado a consolidar este projeto

educacional de enorme importância para a formação e qualificação dos

portugueses.

Nesse sentido, queremos, neste ato solene, agradecer a todos os que, no passado e

no presente, deram e continuam a dar um contributo inestimável para a construção

deste projeto, prestando homenagem aos que, por motivo de aposentação, nos vão

deixar.

Permitam-me, que faça uma exposição sumária da situação atual do Instituto e

vos convide a acompanhar-me numa breve reflexão, sobre alguns temas que

considero relevantes no contexto atual do ensino superior.

Ao nível do processo administrativo, o Instituto Politécnico de Lisboa mantém desde

2007 a certificação internacional de qualidade da norma ISO 9001-2000 e iniciou em

2010 a criação do Sistema Interno de Garantia de Qualidade, para dar resposta ao

processo de avaliação e acreditação desenvolvido pela A3ES-Agência de Avaliação e

Acreditação do Ensino Superior em Portugal. Contamos ainda este ano submeter o

nosso Sistema Interno de Garantia de Qualidade à certificação da referida agência.

Apresenta uma oferta formativa de 38 licenciaturas e 51 mestrados, nos domínios

científicos da engenharia, contabilidade e gestão, tecnologias da saúde, educação,

comunicação, música, dança, teatro e cinema.

No último concurso nacional de acesso ao ensino superior, às 2490 novas vagas

propostas a concurso, concorreram 10834 candidatos na primeira fase do concurso

nacional de acesso, o que correspondeu a uma procura cerca de quatro vezes e

meia superior à oferta. De realçar também que preenchemos 45% das vagas com

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candidatos em primeira opção e que a média dos estudantes colocados foi de 14

valores. O número atual de alunos em frequência nas oito unidades orgânicas do IPL

totaliza 14350 estudantes.

Associada à questão da docência importa referir a qualificação e formação

avançada do corpo docente do Instituto Politécnico de Lisboa.

O corpo docente do IPL totaliza 966 docentes em ETI, dos quais 27% têm o grau de

Doutor, 40% têm o grau de Mestre e 29% têm o grau de Licenciado. O incremento

do número de doutores nos últimos cinco anos sofreu um acréscimo substantivo

passando de 146 para 263 em ETI, o que representou um aumento de mais 117

novos doutores, a que corresponde um crescimento de 80%. O objetivo do IPL é

atingir a curto prazo a meta de 40% de doutorados.

Para alcançar este desígnio, continuaremos a garantir o esforço financeiro dos

últimos anos de apoio aos professores que se candidataram ao programa PROTEC,

cujo sucesso tem sido evidente com mais de 35 % de candidatos do primeiro

programa já titulados. Queremos manter as parcerias de doutoramentos conjuntos

que já tínhamos com a UL e com o ISCTE. De salientar os dois recentes projetos de

doutoramentos em artes aprovados pela A3ES em 2012, que resultaram da parceria

das escolas de artes do IPL com a Universidade de Lisboa e com a Universidade Nova

de Lisboa.

No panorama da internacionalização

O financiamento comunitário ao programa ERASMUS para o ano letivo 2012/2013

foi de 413 mil euros, o que representou um acréscimo relativamente ao período

anterior de 57%. Este aumento deve-se ao reconhecimento, por parte da Agência

Nacional para a Gestão do Programa de Aprendizagem ao Longo da Vida (PROALV),

do bom desempenho do Instituto Politécnico de Lisboa, que, em parceria com 290

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instituições europeias de ensino superior, tem projetado, para este ano, enviar 250

estudantes portugueses e receber 243 estudantes do espaço europeu.

Também o número de docentes em mobilidade tem aumentado, prevendo-se, para

o mesmo período, um intercâmbio de 70 professores, dos quais 31 são do IPL em

saídas internacionais e 39 são de instituições europeias em atividades letivas nas

nossas escolas.

Contamos igualmente preencher as 119 vagas para estudantes brasileiros atribuídas

ao Instituto Politécnico de Lisboa no âmbito do “Programa sem Fronteiras”, que

resulta da parceria dos Institutos Politécnicos Portugueses com os Institutos

Federais do Brasil, em que ficou acordada a mobilidade de 1500 estudantes

brasileiros a ter início já no próximo ano letivo.

Entre as questões da atualidade que não posso deixar de fazer referência está,

desde logo, a problemática do financiamento.

Desde 2006 que o financiamento pelo orçamento de Estado das instituições de ensino

superior sofreu um corte cumulativo, por via direta e indireta, superior a 40%, já

deduzido o aumento verificado em 2009 com o então designado “contrato de

confiança”. De recordar que este programa representava uma estratégia fundamental

na formação e qualificação dos portugueses com o objetivo de aproximar Portugal

dos valores médios de formação superior dos países da União Europeia. Infelizmente

o seu incumprimento, que não é imputável às instituições de ensino superior, fazem

dele um nado morto.

Mas, ao olhar-se para o corte global de 40%, em que 22% resulta de um corte de

perda de financiamento direto e o restante resulta de gastos adicionais com

impostos e outros encargos, - saliente-se que só na componente de massa salarial

houve um aumento de 20% para a Caixa Geral de Aposentações, - algumas pessoas,

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menos avisadas, poderão questionar a apregoada boa gestão das instituições de

ensino superior, pelo menos, até 2006.

E há, infelizmente, quem pense que se fazia e, ainda se faz, muito má gestão na

utilização do dinheiro público atribuído ao ensino superior. Nada mais injusto!

Por isso, importa responder. Afinal o que foi que mudou, que fez com que as

instituições de ensino superior suportem estes cortes orçamentais tão

significativos?

Efetivamente, desde 2006 mudou muita coisa:

- Mudou, desde logo, o valor da captação de receita privativa das instituições. No

nosso caso, o aumento de receita não proveniente do orçamento de Estado que,

em 2012, representou cerca de 35% do orçamento global do IPL, teve um

crescimento, desde 2006, de 57%.

- Mudou, também, o conceito de que as propinas e o respetivo aumento se

justificavam para financiar o desenvolvimento de um ensino superior de

qualidade. Todavia, neste pressuposto não estava incluído o pagamento de

salários. Hoje, mais de dois terços do valor das propinas do Instituto Politécnico de

Lisboa são para pagamentos de salários;

- Mudou, com o processo de Bolonha, o tempo das formações do primeiro e

segundo ciclos. As licenciaturas passaram, de forma mais ou menos generalizada,

de 5 para 3 anos letivos.

- Mudaram as cargas horárias letivas semanais dos planos curriculares dos cursos.

Passaram, em valores médios, de aproximadamente 30 para cerca de 20 horas,

representando, assim, em muitos casos, reduções de cerca de um terço de carga

horária letiva.

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- Está a mudar o número de estudantes por turma, com um aumento de alunos

que, em algumas situações, já ultrapassa os limites físicos dos espaços letivos.

- Reduziu-se drasticamente o reinvestimento em instalações, equipamentos e

laboratórios. Como consequência, há cada vez menor incidência de formação

prática nas formações de ensino politécnico, tendo como contraponto um

aumento das componentes de formação teórica, menos consumidora de recursos

financeiros.

Estes são apenas alguns exemplos do que tem vindo a acontecer desde 2006 em

virtude dos cortes orçamentais. E, por isso, é legítimo e oportuno questionar, se são

estes os objetivos pretendidos; se deve ser esta a política a seguir para o ensino

superior. Naturalmente não tenho respostas para estas questões, mas talvez seja o

momento para os investigadores e pedagogos/técnicos que trabalham nas áreas do

ensino produzirem trabalho sobre estas matérias para ser objeto de reflexão e

discussão no espaço público.

Há contudo, algo que eu sei e que posso afirmar perentoriamente. O ensino que

estamos a fazer, condicionado pelos cortes financeiros a que estamos sujeitos desde

2006, é seguramente um ensino diferente, que vai tendo cada vez menor incidência

de formação de natureza experimental e prática e maior ocorrência de conteúdos

de formação com orientação teórico/científica.

Portugal vive uma crise económica e financeira com reflexos negativos em todos os

setores de atividade. Poderíamos apontar várias causas e culpados para este

momento dramático que vivemos. Todavia, o mais importante é desenvolver e

implementar políticas capazes de vencer e ultrapassar as dificuldades do presente.

É universalmente aceite, e está comprovado, que os investimentos na formação e

qualificação de ativos sempre foram, e continuarão a ser, investimentos

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reprodutivos que contribuem de forma ímpar para o desenvolvimento

socioeconómico das sociedades, quer a curto, médio, ou, longo prazo. Talvez a isso

se devam o sentido de responsabilidade, a vontade e o esforço heróico das famílias

portuguesas, que continuam estoicamente a manter os filhos no ensino superior,

apesar dos imensos sacrifícios porque estão a passar.

Esta constatação responsabiliza ainda mais as instituições de ensino que têm a

obrigação de dar respostas eficientes e eficazes com vista a adequar os curricula às

solicitações e exigências dos mercados e às suas dinâmicas. Responsabilidade, que

passa não só pela procura constante de qualidade nos aspetos pedagógicos e

científicos, mas que obriga também, e cada vez mais, a complementar os planos

estruturados de formação formal, com formação não formal, que habilite os

estudantes com competências adicionais capazes de gerar uma matriz de

competitividade diferenciadora em valências tão importantes, como são, por

exemplo, o empreendedorismo, a assunção de risco ou aquisição de experiências

de vida em ações de liderança e atividades de grupo, entre tantas outras.

Por tudo isto, importa dizer que o desinvestimento no ensino superior português,

que de forma sistemática, e como já referimos, vem acontecendo desde 2006, e que

já representa mais de 40% de cortes do orçamento de Estado, atingiu níveis

mínimos alarmantes face aos valores médios da União Europeia, podendo induzir,

porventura, dinâmicas contrárias àquelas que Portugal precisa para ultrapassar a

crise e apostar no seu desenvolvimento.

Esta realidade evidencia de modo flagrante uma falta de visão estratégica para o

futuro de Portugal, mesmo tendo em atenção a atual crise económico/financeira do

País. É preciso ter a perceção que o nosso maior recurso reside no potencial

humano, que se desenvolve com a aquisição de conhecimento, através de uma

formação terciária ao mais alto nível. Só, deste modo, a União Europeia e,

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consequentemente, Portugal poderão gerar uma força de trabalho competitiva

capaz de fazer face à oferta de mão-de-obra intensiva excecionalmente barata dos

países asiáticos.

O investimento no ensino superior e o objetivo de atingirmos os níveis de população

com formação superior da OCDE, cujos valores rondam os 40% contra os atuais 15%

em Portugal, devem fazer parte de um imperativo nacional de curto/médio prazo, se

quisermos ter uma sociedade competitiva, dinâmica e coesa, capaz de produzir e

transmitir conhecimento, criar riqueza e promover o crescimento económico

alicerçado numa economia de alto valor acrescentado. Este paradigma afigura-se-

nos ser o único modelo sustentável para garantirmos condignamente a qualidade

de parceiros iguais e membros de pleno direito no espaço da União Europeia.

Paralelamente ao financiamento também a autonomia das instituições de ensino

superior merece uma breve referência.

O Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior, Lei nº 62 de 10 de Setembro

de 2007, consagra a estas instituições de ensino um nível razoável de autonomia.

Porém, a execução prática do exercício dessa autonomia tem sido sistematicamente

condicionada através das consecutivas leis de execução orçamental que, de forma

contínua e ao longo dos últimos anos, inibem o exercício pleno da autonomia das

instituições de ensino superior.

Este condicionamento é tanto mais injusto porquanto as instituições de ensino

superior sempre souberam gerir o seu orçamento sem que isso implicasse

derrapagem orçamental, crescimento excessivo de gasto público ou utilização de

recursos financeiros alocados para investimentos improdutivos.

Ao contrário de muitos outros setores públicos, as instituições de ensino superior

administraram os seus orçamentos com racionalidade e parcimónia, gerando,

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tantas vezes, saldos de exercício. Mas, o condicionamento da lei de autonomia

sobre esta matéria penaliza, desde logo, a boa gestão, não permitindo a utilização

dos saldos transitados em exercícios seguintes, de molde a que as instituições

promovam o seu desenvolvimento sem condicionamentos.

Ou seja, o que se incentiva com as restrições impostas pela lei da execução

orçamental, contrariando a autonomia prevista no RJIES para o ensino superior em

matéria de utilização dos saldos, tantas vezes gerados, não por financiamento

público, mas pela capacidade das instituições de captarem orçamento privativo,

representando hoje mais de um terço na constituição dos orçamentos do ensino

superior, traduz-se numa lógica de anti-poupança, de promoção ao gasto e ao

desperdício de recursos públicos, porque, desse modo, ainda se pode ser “premiado”

(entre aspas) com um orçamento complementar para colmatar o deficit gerado.

Mas, não se fica pela gestão e utilização dos saldos o estrangulamento das

autonomias do ensino superior. É também emblemática a obrigatoriedade de

aquisição de bens e serviços à Entidade de Serviços Partilhados da Administração

Pública (ESPAP), situação imposta às instituições de ensino superior e confirmada

pelas ações do Tribunal de Contas.

Compreenderíamos esta imposição se estivesse comprovado que a compra de um

produto, um serviço ou qualquer outro bem através da ESPAP saísse mais barato,

ou, com o mesmo valor obteríamos um produto ou serviço de maior qualidade face

ao restante mercado. Infelizmente, na maioria dos casos, assistimos a aberrações

graves em que temos de adquirir o mesmo produto a custos mais elevados ou

mesmo, muito mais elevados, aos quais se somam tempos de aquisição muito

morosos, que não se compadecem com as dinâmicas que se exigem a um ensino

superior de qualidade, para dar resposta aos compromissos assumidos, quer num

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quadro de parceria internacional, quer na área de formação, quer ainda nas áreas

de investigação ou prestação de serviços.

Mas tão grave como os custos mais elevados ou os longos tempos para aquisição dos

bens ou serviços é muitas vezes a qualidade dos produtos disponibilizados, para os

quais, face aos condicionalismos das condições dos concursos, somos obrigados a

adquirir sempre ao mesmo fornecedor até fazermos novo concurso. Só, para vos dar um

exemplo, o IPL devolveu em 2012, material no valor de cerca de 6.500 Euros, por falta de

qualidade. Este valor, por si só, não representa propriamente uma exorbitância.

Contudo, contabilizados os prejuízos materiais e de imagem, originados pela falta de

qualidade dos produtos, temos de afirmar que esta situação é intolerável e a ESPAP terá

de tomar medidas urgentes para que situações destas não voltem a acontecer.

Estes dois casos, a não possibilidade de utilização dos saldos transitados nos exercícios

seguintes e a aquisição de bens e serviços via ESPAP, ilustram bem os problemas que se

colocam às instituições de ensino superior pela inibição do exercício da sua autonomia.

Poderíamos referir outras áreas, onde também encontramos violações à autonomia do

ensino superior. São exemplos flagrantes a lei dos compromissos e a contratação de

docentes e funcionários. Estes aspetos associados ao subfinanciamento do ensino superior

estão a criar condições completamente desajustadas e práticas que não contribuem para

o desenvolvimento de uma gestão que promova a qualidade do ensino superior.

O terceiro aspeto que quero aludir diz respeito aos cursos profissionais de ciclo

curto.

Antes, porém, não posso deixar de fazer referência e manifestar uma enorme

consternação pela forma sistematizada e concertada, por parte de alguns setores da

sociedade, de desvalorizarem socialmente o ensino politécnico.

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Já tivemos a oportunidade de transmitir pessoalmente ao Sr. Ministro da Educação e

Ciência, Prof. Nuno Crato, “que não temos memória, nos tempos mais recentes, de

um ataque tão cerrado e violento contra o ensino politécnico como aquele a que

temos assistido ultimamente”. Na altura fundamentámos esta perceção com alguns

exemplos, que não vou reproduzir neste contexto, pois tornar-se-iam fastidiosos,

até porque a maioria de vós já os conhece.

Todavia, não podemos deixar de associar estes factos, mesmo correndo o risco de

ser injusto pela generalização que advém das minhas palavras, a uma estratégia

orquestrada que visa introduzir fatores no sistema de ensino superior português

que inequivocamente pretendem prejudicar o ensino superior politécnico.

Curiosamente o recente relatório da EUA, promovido e encomendado pelo

Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, para fazer a avaliação do

ensino superior português, apresentado recentemente no Conselho Nacional de

Educação, veio liminarmente contrariar esta estratégia. De facto, a visão destes

peritos internacionais, que não foram pagos pelo sistema politécnico, aconselha de

forma inequívoca ao aprofundamento do ensino politécnico, à sua valorização e

promoção social num quadro de competição e flexibilização entre subsistemas.

Esta perspetiva contraria de forma clara a ideia avançada pelo Ministério e,

sistematicamente veiculada pela comunicação social, de introduzir ciclos curtos

profissionais em exclusividade para o ensino politécnico.

É este princípio da exclusividade para o ensino superior politécnico que não

conseguimos entender. Tanto mais que há grandes setores de atividade

profissional inseridos em áreas do conhecimento como Medicina, Medicina

Veterinária, Medicina Dentária, Arquitetura, Direito, entre outras que poderíamos

citar, que não são ministradas no ensino politécnico. E se estes quadros intermédios

são fundamentais para a estruturação de tarefas, embora não exista nenhum

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estudo conhecido que o comprove, então estas são também áreas carenciadas que

precisam de formações de ciclo curto, não cabendo, por falta de competência

científica, ao ensino superior politécnico ministrá-las.

Por isso, o que esperamos é que a Tutela entenda que os cursos de ciclo curto,

sendo considerados uma opção importante para a política educativa do atual

governo, devam ser transversais a todas as formações de ensino superior e não

restringidos em exclusividade ao ensino superior politécnico.

Todavia, os ciclos curtos profissionais têm de satisfazer um conjunto de requisitos

essenciais, alguns dos quais passarei a enumerar:

Tenham o décimo segundo ano completo como habilitação mínima de entrada,

quer o estudante venha da via profissional ou da via científica/humanística;

Sejam considerados cursos superiores de nível cinco não conferentes de grau

académico com 120 ECTS;

Estejam inseridos na estrutura curricular das formações de primeiro ciclo

existentes;

Garantam que o aluno que complete o curso possa prosseguir os estudos

superiores sem restrições;

Tenham financiamento suportado por quadro programa próprio e independente

do financiamento do primeiro e segundo ciclos.

Por último

Desejo manifestar o meu sincero agradecimento à Prof. Maria da Graça Carvalho,

ilustre deputada do Parlamento Europeu, pelo facto de ter aceitado o convite para

estar connosco nesta sessão solene do 27º aniversário do Instituto Politécnico de

Lisboa e nos poder prestar informação privilegiada sobre os fundos comunitários

Discurso Dia do Ipl, 25 de Março 2013, Escola Superior de Música de Lisboa 12

destinados à investigação, no âmbito do próximo quadro comunitário de apoio a

Portugal.

Dizer-lhe que é uma honra enorme a sua presença neste edifício da Escola Superior

de Música de Lisboa, recentemente premiado com o prémio Valmor, cujo contributo

enquanto Ministra da Ciência e do Ensino Superior do XV Governo Constitucional,

foi decisivo para dar início à sua construção. Recordo, a propósito, que nessa altura,

2004, a autorização de construção do edifício já tinha esperado 10 anos pela

assinatura do Ministro da Tutela.

Exma. Sr. Deputada do Parlamento Europeu Profª. Maria da Graça Carvalho, quero

em nome do Instituto Politécnico de Lisboa, prestar-lhe a minha sincera

homenagem e agradecer-lhe publicamente, pela visão estratégica que o ato de

autorização de construção deste edifício representou, não só para a cidade de

Lisboa, mas também para a consolidação e dinamização do património artístico e

cultural do País, protagonizado por professores e estudantes, nacionais e

estrangeiros, que frequentam a Escola Superior de Música de Lisboa.

Em sinal do nosso reconhecimento faremos, no final desta cerimónia, o

descerramento de uma placa alusiva no centro de documentação da Escola, que

passará, a partir de hoje, a designar-se “Centro de Documentação Maria da Graça

Carvalho”. Igualmente, como gesto simbólico da nossa gratidão, não podíamos

deixar de galardoar a Profª. Maria da Graça Carvalho com a nossa maior distinção “A

Medalha de Ouro de Conhecimento e Mérito” do Instituto Politécnico de Lisboa”.

A todos, muito obrigado.