perform at i vida de

29
7/23/2019 Perform at i Vida De http://slidepdf.com/reader/full/perform-at-i-vida-de 1/29 PERFORMATIVIDADE Se a performance é mise-en-scène, a literatura é mise-en-écrit, sua con!ura"#o na contemporanei$a$e contesta a se%uenciali$a$e e a separa"#o escritor-narra$or, artistapersona!em, te&to ccional-te&to- 'io!r(co) uma vez que o texto, para Derrida, remete à produção, à escritura, já que se deve “num só gesto, mas desdobrado, ler e escrever”  !""#$!%&'! (ara )uncl*,nar, quer dizer, para ser leg+vel, uma assinatura dve ter uma )orma reet#vel, iterável, imitável, deve poder separar-se da #ntenção presentee smular da sua produção . a sua mesmidade que, ao lterr sua dent#dade e a sua singularidade, l/e divide o cun/o !cabe# de #nd#0ar /a lllstantes o principio desta análise Derrida 123345 procura debater a teoria de 6 7 !ustin sobre a per)ormatividade, incluindo o conceito de iterabilidade para evidenciar a possibilidade estrutural de todo signo de ser repetido na aus8ncia não somente de seu re)erente, mas tamb9m na aus8ncia de seu signi)icado ou intenção :sse contexto da palavra ;iterabilidade< interessa porque se encadeia com ;rito<, esse elemento tão )undamental nos contextos da palavra ;ato de )ala< * que 9 a iterabilidade= . a propriedade do repet+vel, mas não o repet+vel daquilo que aparece )rancamente como o ;mesmo<, a mesmidade de signi)icado Derrida a)irma que a différance 9 uma modi)icação ontológica da meta)+sica da presença A fun"#o $a assinatura em nossa cultura *ur+$ica é $epen$ente $e $uas proprie$a$es contra$itrias, sua arma"#o nica $o a%ui-e-a!ora $o si!nat(rio, e sua repeti'ili$a$e, reco!ni.a'ilit/ e repro$uti'ili$a$e 0o %ue implica tam'ém a sua for!ea'il-$a$e1) Mais uma 2e., Derri$a esten$e a no"#o $e 3assinatura3 para além $o seu senti$o literal para apreciar a opera"#o $este $uplo imposs+2el em conte&tos muito mais amplos4 ca$a te&to liter(rio, por e&emplo, tem as caracter+sticas $e auto-contra$itria $a assinatura) E como %ual%uer assinatura, n#o e&iste até %ue suscita al!uma resposta %ue arma sua con$i"#o $e assinatura, uma resposta %ue n#o é uma resposta su'*eti2a a um outro assunto, mas %ue tem em si a estrutura $e uma assinatura) 5unca é apenas 3eu3 %ue assina, e 363 so.in7o nunca completa o e2ento $a assinatura8 7( sempre um outro %ue referen$a 0um outro tanto impre2isto e ain$a tornou poss+2el pela assinatura 3primeiro31) O %ue Derri$a enfati.a é %ue a literatura é uma institui"#o8 n#o é $a$o na nature.a ou o cére'ro, mas tra.i$os 9 e&ist:ncia por meio $e processos %ue s#o social, *ur+$ica e pol+tica, e %ue po$e ser mapea$o 7istrica e !eo!racamente) %ue Derri$a $( 9 literatura parecem in$icar uma licen"a perpétua, a-7istrica, pri2ile!ian$o) ;ue um corpo $e te&tos c7ama$o $e 3liter(rio3 po$e, em um $etermina$o con*untura 7istrica, ser2em a propsitos estraté!icos, n#o é o resulta$o $e to$as as proprie$a$es transcen$entais estes te&tos possuem, %ual%uer acesso permanente a 2er$a$e) Pelo contr(rio, é uma oportuni$a$e %ue po$e ser apro2eita$a, assim como %ual%uer te&to in$i2i$ual 0liter(ria ou n#o, 2er'al ou n#o1 po$e ofertar a possi'ili$a$e $e uma inter2en"#o < "#o pro$uti2a e importante) A institui"#o $a literatura, especialmente como o con7ecemos nas $emocracias oci$entais $es$e o século =VII ou =VIII, tem certas caracter+sticas %ue o tornam um mem'ro incomum $o con*unto $e pr(ticas 2er'ais ao nosso re$or 7(, portanto, um funcionamento liter(ria e uma intencionali$a$e literatura e e&peri:ncia ao in2és $e uma ess:ncia $a literatura) a ess:ncia $a literatura se manti2ermos esta pala2ra ess:ncia é pro$u.i$o como um con*unto $e re!ras o'*eti2as em uma 7istria ori!inal $os atos $e inscri">es e leitura) 0Rela"#o $os atos $e fala com os atos $e literatura1

Upload: alessandra-valerio

Post on 18-Feb-2018

221 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Perform at i Vida De

7/23/2019 Perform at i Vida De

http://slidepdf.com/reader/full/perform-at-i-vida-de 1/29

PERFORMATIVIDADE

Se a performance é mise-en-scène, a literatura é mise-en-écrit, suacon!ura"#o na contemporanei$a$e contesta a se%uenciali$a$e e a

separa"#o escritor-narra$or, artistapersona!em, te&to ccional-te&to-'io!r(co)

uma vez que o texto, para Derrida, remete à produção, à escritura, já que se deve “num só gesto, mas desdobrado, lere escrever”

 !""#$!%&'!

(ara )uncl*,nar, quer dizer, para ser leg+vel, uma assinatura dve ter uma )orma reet#vel, iterável, imitável, deve poder separar-se da #ntenção presentee smular da sua produção . a sua mesmidade que, ao lterr sua dent#dade e asua singularidade, l/e divide o cun/o !cabe# de #nd#0ar /a lllstantes o principio desta análise

Derrida 123345 procura debater a teoria de 6 7 !ustin sobre a per)ormatividade, incluindo o conceito de iterabilidade

para evidenciar a possibilidade estrutural de todo signo de ser repetido na aus8ncia não somente de seu re)erente,mas tamb9m na aus8ncia de seu signi)icado ou intenção:sse contexto da palavra ;iterabilidade< interessa porque se encadeia com ;rito<, esse elemento tão )undamental noscontextos da palavra ;ato de )ala<* que 9 a iterabilidade= . a propriedade do repet+vel, mas não o repet+vel daquilo que aparece )rancamente como o;mesmo<, a mesmidade de signi)icado Derrida a)irma que a différance 9 uma modi)icação ontológica da meta)+sica dapresença

A fun"#o $a assinatura em nossa cultura *ur+$ica é $epen$ente $e $uas proprie$a$es contra$itrias, suaarma"#o nica $o a%ui-e-a!ora $o si!nat(rio, e sua repeti'ili$a$e, reco!ni.a'ilit/ e repro$uti'ili$a$e 0o%ue implica tam'ém a sua for!ea'il-$a$e1) Mais uma 2e., Derri$a esten$e a no"#o $e 3assinatura3 paraalém $o seu senti$o literal para apreciar a opera"#o $este $uplo imposs+2el em conte&tos muito mais

amplos4 ca$a te&to liter(rio, por e&emplo, tem as caracter+sticas $e auto-contra$itria $a assinatura) Ecomo %ual%uer assinatura, n#o e&iste até %ue suscita al!uma resposta %ue arma sua con$i"#o $eassinatura, uma resposta %ue n#o é uma resposta su'*eti2a a um outro assunto, mas %ue tem em si aestrutura $e uma assinatura) 5unca é apenas 3eu3 %ue assina, e 363 so.in7o nunca completa o e2ento $aassinatura8 7( sempre um outro %ue referen$a 0um outro tanto impre2isto e ain$a tornou poss+2el pelaassinatura 3primeiro31)

O %ue Derri$a enfati.a é %ue a literatura é uma institui"#o8 n#o é $a$o na nature.a ou o cére'ro, mastra.i$os 9 e&ist:ncia por meio $e processos %ue s#o social, *ur+$ica e pol+tica, e %ue po$e ser mapea$o7istrica e !eo!racamente)

%ue Derri$a $( 9 literatura parecem in$icar uma licen"a perpétua, a-7istrica, pri2ile!ian$o) ;ue um

corpo $e te&tos c7ama$o $e 3liter(rio3 po$e, em um $etermina$o con*untura 7istrica, ser2em apropsitos estraté!icos, n#o é o resulta$o $e to$as as proprie$a$es transcen$entais estes te&tospossuem, %ual%uer acesso permanente a 2er$a$e) Pelo contr(rio, é uma oportuni$a$e %ue po$e serapro2eita$a, assim como %ual%uer te&to in$i2i$ual 0liter(ria ou n#o, 2er'al ou n#o1 po$e ofertar apossi'ili$a$e $e uma inter2en"#o < "#o pro$uti2a e importante) A institui"#o $a literatura,especialmente como o con7ecemos nas $emocracias oci$entais $es$e o século =VII ou =VIII, tem certascaracter+sticas %ue o tornam um mem'ro incomum $o con*unto $e pr(ticas 2er'ais ao nosso re$or

7(, portanto, um funcionamento liter(ria e uma intencionali$a$e literatura e e&peri:ncia ao in2és $euma ess:ncia $a literatura) a ess:ncia $a literatura se manti2ermos esta pala2ra ess:ncia é pro$u.i$ocomo um con*unto $e re!ras o'*eti2as em uma 7istria ori!inal $os atos $e inscri">es e leitura)

0Rela"#o $os atos $e fala com os atos $e literatura1

Page 2: Perform at i Vida De

7/23/2019 Perform at i Vida De

http://slidepdf.com/reader/full/perform-at-i-vida-de 2/29

- A narrati2a é assim constru+$a em um cru.amento $e 2o.es, em'ora nemto$as, ccionais8 o narra$or e os persona!ens, e os seus atos narrati2osrepresenta$os) E a 2o. $o autor ain$a %ue i!ualmente re?eti$a, se!ueconten$o a for"a ilocucion(ria $o ato comunicati2o ori!inal) As con2en">esnarrati2as esta'elecem, atra2és $os 2er'os performati2os %ue os primeiros

atos $e fala s#o miméticos e e&pl+citos, en%uanto %ue o se!un$o se tomapor factual e impl+cito) Pois 'em , atr(s $e %ual%uer manipula"#o $estascon2en">es '(sicas $o persona!em ou narra$or $enuncia mimetismo, ou,pelo contr(rio, %ue o autor fa. a sua participacin@ 2is+2el, aparecer o efeitometac"#o)

Assim, %uan$o in$a Butc7eon %ualica2a a metac"#o como um para$o&o,referin$o-se ao fato $e o leitor se 2er simultaneamente $istancia$o $o relatopela autoconsci:ncia $este, e incorpora$o ao mesmo como uma instanciacria$ora e necess(ria para a constru"#o $a si!nica"#o $o te&to, esta2a

tocan$o em um $os pontos sens+2eis $esta tens#o) Dissociar os planos $o$iscurso e $o relato tal como a%ui propomos, po$o contri'uir para e&plicar opara$o&o8 o en%ua$ramento é pra!m(tico e refor"a o pacto $eccionali$a$e, mas a trans!ress#o $as con2en">es narrati2as impe$e ofuncionamento normal $os mecanismos $e pro$u"#o $e senti$o, ali*an$o oleitor $o uni2erso $a narra"#o)

ARCME5TOS PARA A MA A5ISE PRACMTIA DA ITERATRA

Desde muy diferentes ámbitos de la Poética se reclama el abandono de los accesos

inmanentistas y la consideración, cada vez más urgente, de la lengua literaria comoun sistema complejo de comunicación (...) las teoras iniciales desembocan en laPragmática literaria (tanto teora de la acción como de la recepción) y la Pragmáticaliteraria contin!a necesitando una teora de la producción literaria, de lainterpretación individual y social, etc..."#

$s, pues, esta dimensión pragmática %ue reclamamos con motivo de superar estee&cesivo apego al te&to como producto y objeto de lo literario, la %ue 'a venidosealándose desde el contiguo campo de la filosofa del lenguaje. a teora de los actos

de habla desarrollada a partir de las ideas de *ustin o +earle, %ue 'a abierto el camino

 para la conte&tualización comunicativa del 'ec'o literario, será otra de las referenciasteóricas esenciales en este trabajo.

por eso, si como creemos, la ilocución básica del acto literario narrativo es serreconocido y consumido como ficción, es necesario %ue, para llegar a cerrar el circuitocomunicativo, el te&to contenga una serie de marcas, %ue, con diferentes grados dee&plicitación, reconstruyan una imagen autorial y formulen el pacto de ficcionalidad

ofrecido al lector.

Page 3: Perform at i Vida De

7/23/2019 Perform at i Vida De

http://slidepdf.com/reader/full/perform-at-i-vida-de 3/29

-om o advento das teorias da escritura e, mais especificamente, com as teorias pósestruturalistas, principalmente com os estudos de /art'es e Derrida, uniramse, nomesmo te&to e no mesmo tempo, a no01o de ler, escrever, reler, reescrever, teorizar ecriticar. 2, analogicamente, nesta óptica, %ue a no01o de 3dobra4 de 5illes Deleuze,

 principalmente em Leibniz e o Barroco nos é !til6. 7 te&to dobrase em si mesmo para

%uestionar seus processos inerentes de constru01o e de problematiza01o do %ue seria3real4 ou 3mimético4.écriture"", é uma no01o 'ermética dotada de um vazio e de um espa0o aberto %uesempre e&igirá um suplemento a partir da convoca01o ativa do leitor no jogo te&tual.$ssa modifica01o nos modos de leitura e na atribui01o de sentidos é análoga ao %ue8obert +c'oles ("69:) entende como ato de cria01o literária feita pelos

 fabulators;fabuladores<. $stes seriam a%ueles autores %ue transformariam o ato daleitura em uma e&peri=ncia mágica. +c'oles ("69:, p. >) e&plica %ue a crtica tradicional

 presumia maneiras de como ler e interpretar uma obra literária. * mudan0a, a partir dos3fabuladores4 e mais intensamente com a metafic01o pósmoderna, se daria a partir domomento em %ue o leitor fizesse parte da própria estrutura da obra, integrandoa.

7s sentidos n1o est1o na luz, mas noescuro. ?1o est1o na realidade, mas nas possibilidades de realiza01o de agrupamentodoscódigos. * desconstru01o de Derrida retira a dicotomia saussuriana entre significante esignificado e de toda a sua lógica referencial@ 3a e&terioridade do significante é ae&terioridade da escritura em geral e ;...< n1o 'á signo lingustico antes da escritura.+em essa

e&terioridade, a própria ideia de signo arrunase4. (D$88AD*, BCC, p. ":)

*s cr+ticos literários adotaram a noção de per)ormativa como algoque ajuda a caracterizar o texto literário >á muito tempo os teóricosa)irmam que devemos atentar para o que a linguagem literária )aztanto quanto para o que ela diz e o conceito de per)ormativa o)ereceuma justi)icativa lingu+stica e )ilosó)ica pra isso? /á uma categoria de

elocuç@es que, sobretudo, )azem algo 0omo a per)ormativa, aelocução literária não se re)ere a um estado anterior de coisas enão 9 verdadeira ou )alsa ! elocução literária tamb9m cria umestado de coisas

:m resumo, a per)ormativa traz para o centro do palco um uso dalinguagem anteriormente considerado marginal - um uso ativo,criador domundo, da linguagem, que se assemel/a E linguagem literária - e

nos ajuda a conceber a literatura como ato ou acontecimento !noção de literatura

Page 4: Perform at i Vida De

7/23/2019 Perform at i Vida De

http://slidepdf.com/reader/full/perform-at-i-vida-de 4/29

como per)ormativa contribui para uma de)esa da literatura? aliteratura não 9 uma pseudodeclaração )r+vola mas assume seulugar entre os atos de linguagem que trans)ormam o mundo,criando as coisas que nomeiam

:ssa possibilidade de ser repetida em circunstAncias novas 9essencial para a natureza da linguagemBpossibilidade de repetição 9 básica para a linguagem e asper)ormativas em particular só podem )uncionar se )oremrecon/ecidas como vers@es ou citaç@es de )órmulas regulares, taiscomo C"imC, C(rometo? 1"e o noivo dissesse C*EC em vez de C"imC,ele poderia não conseguir se casar5C"erá que uma elocução per)ormativa poderia ser bem-sucedidaC,pergunta Derrida, Cse sua )ormulação não repetisse uma )ormaCcodi)icadaC ouiterável Frepet+velG, em outras palavras, se a )órmula que pro)iro paraabrir uma reunião, batizar um barco ou realizar um casamento não)osse identi)icável como estando de acordo com um modelo iterável,se não )osse portanto identi)icável como uma esp9cie de citação=C

%anto o ato pol+tico quanto o literário dependem de umacombinação complexa, paradoxal, da per)ormativa e da constativa,em que, para "0#

bem-sucedido, o ato deve convencer, re)erindo-se a estados decoisas cm que o sucesso consiste em criar a condição à qual sere)ere !s *l6lCBl"literárias a)irmam )alar-nos sobre o mundo, mas, se são bem-sucedir6BGeC o são atrav9s da criação dos personagens eacontecimentos que r0#BHIBlll#

"e cada elocução 9 tanto per)ormativa quanto constativa, incluindopelo menos uma a)irmação impl+cita de um estado de coisas e um

ato lingJ+stico, a relação entre o que uma elocução diz e o que ela)az não 9 necessariamente /armoniosa ou cooperativa

$esse estágio da /istória da per)ormativa, o contraste entreconstativa e per)ormativa )oi rede)inido? a constativa 9 linguagemque a)irma representar as coisas como elas são, nomear as coisas que já estão aqui, e aper)ormativa são as operaç@es retóricas, os atos de linguagem, queminam essa

Page 5: Perform at i Vida De

7/23/2019 Perform at i Vida De

http://slidepdf.com/reader/full/perform-at-i-vida-de 5/29

a)irmação impondo categorias lingJ+sticas, criando as coisas,organizando o mundo em lugar de simplesmente representar o queexiste

:ssa di)erença, de )ato, nos leva de volta ao problema da naturezado acontecimento literário, em que /á tamb9m duas maneiras depensá-#ocomo sendo per)ormativo (odemos dizer que a obra literária realizaum ato singular, espec+)ico :la cria aquela realidade que 9 a obra,e suas sentenças realizam algo em particular naquela obra (aracada obra, pode-se tentar especi)icar o que ela e suas partesrealizam, da mesma maneira que se pode tentar explicitar o que 9prometido num ato espec+)ico de promessa #sso, poder-se-ia dizer,9 a versão austiniana do acontecimentoliterário Kas, por outro lado, tamb9m poder+amos dizer que umaobra 9 bem sucedida, se toma um acontecimento, atrav9s de umarepetição maciça que adota normas e, possivelmente, muda coisas"e um romance acontece, isso ocorre porque, em suasingularidade, ele inspira uma paixão que dá vida a essas )ormas,em atos de leitura e rememoração, repetindo sua in)lexão dasconvenç@es do romance e, talvez, e)etuando uma alteração nasnormas ou nas )ormas atrav9s das quais os leitores vão con)rontar

o mundo &m poema pode muito bem desaparecer sem deixarvest+gio, mas tamb9m pode ser rastreado na memória e dar origema atos de repetição "ua per)ormatividade não 9 um ato singularrealizado de uma vez por 

((:'L*'K!%#M#D!D:

FG a ambigJidade re)erida resulta do seguinte? sob o regime do N

ccional a palavra remete a outra coisa, ie, tem uma vertentealegórica, ao mesmo tempo que permanece per)ormativa, ie valepelo que realiza e não só pelo que re)ere :ssa ambigJidade criauma tensão interna que seatualiza no ato de leitura e recebe soluç@es variáveis de obra paraobra, de per+odo para per+odo17#K!, 23OO, pPQR5

Male aqui salientar um )ato /á muito en)atizado pelos geneticistas eintrinsecamente ligado a uma visão per)ormativa da linguagem? a

literatura 9 um )azer, 9 algo que se )az, constrói, inventa : mais doque isso? ao inventar, construir, )azer 9 o próprio ato de escrita que

Page 6: Perform at i Vida De

7/23/2019 Perform at i Vida De

http://slidepdf.com/reader/full/perform-at-i-vida-de 6/29

está em jogo . como se, ao tomarmos contato com osmanuscritos, tiv9ssemos que acrescentar mais um eixo na análiseda literatura? ao lado do enunciador e do enunciatário 1ou seja, daspartes constitutivas do interior da enunciação5, ter+amos o processo

de escrita S o ato de escrever S e seu correlato, o ato de leituraDessa visão per)ormativa da escrita, ligada à própria constituição daNccionalidade, decorrem ao menos duas possibilidades de inter-relação entre as práticas de escrita e a construção )ormal quecaracteriza a literatura? 25 uma visada mais tradicional ligada àpassagem da produção escrita à )orma e R5 outra que escancara opróprio processo enquanto )orma 7embramos desde já que, comomostraremos, em ambos os casos, estamos diante de um processomim9tico já que o ato não está mais lá e só pode ser reconstru+dopela leitura atenta à especiNcidade dos procedimentos de cadatexto, isto 9, à sua singularidade

:m outras palavras, c/amamos a atenção para o )ato de aprodução escrita estar ligada à construção de um processo deleitura $a instigante aN rmação de &mberto :co 123OQ, pQT5, “FG otexto 9 um produto cujo destino interpretativo deve )azer parte dopróprio mecanismo gerativo”:ssa construção de uma outra temporalidade S a da 'evista de

7etras, "ão (aulo, UT 1R5? P3-VQ, julWdez R44T UT leitura S )az comque os vários atos de escrita possam ser reorganizados numaseqJ8ncia totalmente distinta da sua produção :ssa reorganizaçãoque constitui a )orma que será atualizada 1e tamb9m reorganizada5pelo ato de leitura

0om esse exemplo, vemos que a per)ormatividade do processopode se conN gurar )ormalmente 1para 6onat/an 0uller oper)ormativo torna-se uma maneira particular de pensar a )orma?

pelo que ela )az5 * per)ormativo permeia o processo, mas 9enquanto )orma que ele possibilita pensar as tens@es em jogo naconN guração )ormal de um objeto que projeta as práticas deprodução para al9m delas mesmas

. como se o processo de escrita envolvesse um constante “diálogointerior” em que reiteradamente /á um engajamento no do escritorpor meio de atos de linguagem ligados aos verbos per)ormativosexpl+citos de que trata !ustin 123345 1prescritivos, promissivos e

declaratórios5?

Page 7: Perform at i Vida De

7/23/2019 Perform at i Vida De

http://slidepdf.com/reader/full/perform-at-i-vida-de 7/29

25 auto-injunç@es 1)órmulas do tipo “eu me propon/o a escrever x”,como “usar metá)oras mais sutis no poema”, “! cena na estaçãodeve ocorrer numa tarde ensolarada”5B R5 auto-interrogaç@es1“Kanter as rimas tão acentuadas=”, “0omo a personagem

viajará=”5B P5 auto-avaliaç@es 1“está bom”, “cortar esta parte”5 ! /ipótese de Xr9sillon 9 de que a distAncia entre manuscritos epublicaç@es encurtou, tornando os textos muito próximos daquiloque antes aparecia apenas nos manuscritos #sto )az com quepensemos que assim como a N ccionalidade 9 constitutiva dosmanuscritos, o ato de escrever passa a constituir o universo Nccional tamb9m nas obras publicadas

 ! per)ormatividade, na medida em que a m+mesis dos atos deprodução permeia a leitura, )az com que ten/amos de pensar emnovos modos de inteligibilidade que se constroem a partir dessesatos ! cr+tica não pode responder a eles senão per)ormativamente,isto 9, valendo-se dos procedimentos da escrita literária queanalisa &ma cr+tica que )az mais do que diz, que se constróitamb9m )ormalmente? uma cr+tica que sedesdobra em escrever sobre escrever

“!o )alar, não só indico coisas e aç@es mas já realizo atos queasseguram uma relação com o interlocutor com nossas situaç@es

respectivas? mando, interrogo, prometo, rogo, emito ;atos de )ala<1speec/ acts5” 1D:7:&Y:, 233T, pOV, gri)o do autor5

0entral a essas quest@es está o problema do per)ormativo, oenunciado 0&6aenunciação já 9 um )azer 7evantada primeiramente por !ustin 1#

3TV5, a questão do per)ormativo insere-se nas discuss@es do)ilóso)o ingl8s sobre os atos de )ala e tem ocupado um lugar nadamarginal nos estudos que se v8m desenvolvendo no Ambito dapragmática lingJ+stica e para al9m deles Diversos gestos deinterpretação do conceito de Cato de )alaC podem ser veri)icados emtrabal/os no campo dos estudos culturais, da antropologia, dosestudos )eministas, da psicanálise* que se percebe nas quest@es levantadas em tais estudos,respeitada a singularidade de cada abordagem, 9 que elas

ultrapassam o conceito de comunicação, em sentido estrito,estendendo-se à experi8ncia /umana de uma maneira mais geral

Page 8: Perform at i Vida De

7/23/2019 Perform at i Vida De

http://slidepdf.com/reader/full/perform-at-i-vida-de 8/29

$a leitura de Derrida dateoria dos atos de )ala, por exemplo, comunicar, nos termos doper)ormativo, 9 comunicar uma )orça por impulsão de uma marca

1Derrida, 2332, pPQP5 !contece que impl+citas a toda marca estãoa aus8ncia 1do destinatário e, tamb9m, do emissor5 e aiterabilidadeT :sse apagamento e essa possibilidade de repetição,para Derrida, podem ser estendidos àtotalidade da Cexperi8nciaC, na medida em que esta não se separada marca, a qual, nesse sentido, )unciona na cadeia de suarepetição )ace à alteridade, na esteira do apagamento eda di)erença1 5 :sta possibilidade estrutural de ser privada do re)erente ou dosigni)icado 1portanto da comunicação e do seu contexto5 parece-me)azer de qualquer marca, seja ela oral, um gra)ema em geral, querdizer, como se viu, a perman8ncia não-presente de uma marcadi)erencial separada da sua pretensa CproduçãoC ou origem :estenderei mesmo esta lei a qualquer Cexperi8nciaC em geral se )oradquirido que não existe experi8ncia de pura presença mas apenascadeias de marcas di)erenciais 1pPV35Kas não se entenda essa repetição como uma manutenção estávelou )ixa do signi)icante ! repetição inscrita na iterabilidade 9, naverdade, uma re-petição $ela se delineia o território do outro, que,

no ato mesmo de re-pedir, na sua re-petitio, instaura a novidade, justamente porque Cnão /á incompatibilidade entre a repetição e anovidade do que di)ereC 1Derrida, FR444GR44U?PP2 5 $os termos deDerrida, o singnlar Cc/egaC, de modo imprevis+vel, por meio darepetição

Derrida declara sua paixão pela expressão de uma vez por todasFune )ois pour toutes G, que revela a natureza singular e irrevers+veldaquilo que só acontece uma vez e, por isso mesmo, não se repete

mais Kas que, ao mesmo tempo, articula-se a substituiç@esmeton+micas que a levarão para outro lugar (ara Derrida, o in9ditoemerge, inelutavelmente, da repetição - o que p@e em xequeoposiç@es ing8nuas como Ctradição e renovação, memória e porvir,re)orma e revoluçãoC 1pPPR5

$os textos da )ilóso)a americana 6udit/ Zutler 1eg Zutler, 233T eR44P5, podemos veri)icar um movimento de interpretação ere)ormulação da teoria dos atos de )ala que tem apresentado

implicaç@es cruciais para o estudo do sujeito, do g8neroO e dapol+tica ! per)ormatividade 1aqui entendida, numa leitura derridiana,

Page 9: Perform at i Vida De

7/23/2019 Perform at i Vida De

http://slidepdf.com/reader/full/perform-at-i-vida-de 9/29

como o processo ou marca iterável, pass+vel de ser repetida naaus8ncia de seu re)erente, do seu signi)icado ou de suaintenção5, nos termos de Zutler, 9 o que permite e obriga o sujeito ase constituir enquanto tal #nvestindo na id9ia de que o ato de )ala 9

tamb9m um ato corporal e de que seu )uncionamento se dá numacadeia de iterabilidade e citacionalidade, Zutler de)ende que osujeito reivindica sua identidade 1ou que ela 9 reivindicada para ele5por meio de atos de)ala que iteravelmente tematizam a sua própria exist8ncia2Q ! 1promessa de uma5 teoria dos atos de )ala"/os/ana Lelman 123O45 quali)ica de nietzsc/eano o es)orçoempreendido por

 !ustin, no >o[ to do t/ings [it/ [ords, em desmisti)icar a ilusão deque o que os)en\menos lingJ+sticos podem ser investigados, em sua totalidade,segundo crit9rios deverdadeiro e )also De acordo com !ustin, existem enunciados quenão podem seranalisados a partir de uma semántica vericondicional %rata-se dosenunciados per)orrnativos, como Ceu aceito 1esta mul/er comomin/a leg+tima esposa5C, Caposto quec/overá aman/ãC, que, di)erentemente dos enunciados constativos,não descrevem uma

situação no mundo real, de modo verdadeiro ou )alsoB ao contrário,eles são a realização

uma a"#o, %ue po$e ser feli. ou infeli., 'em ou mal suce$i$a) Austin a$ota,portanto,

con$i">es $e felici$a$e como critério $e an(lise $e tais enuncia$os) Operformati2o 3eu

aceito3 ser( feli. se certas circunstGncias forem apropria$as, na situa"#oconcreta e

con2encional em %ue os interlocutores se en!a*am8 so're esse e&emplo,Austin lem'ra %ue,

em um pa+s crist#o, para me casar, n#o posso *( estar casa$o com umamul7er 3%ue ain$a 2i2e, %ue é s# e n#o-$i2orcia$a3 06HJ8K-H1HL

Vericamos em Austin uma an(lise 3em constante transforma"#o,fre%entemente

mais fecun$a no recon7ecimento $os seus impasses $o %ue nas suasposi">es3, conforme

Page 10: Perform at i Vida De

7/23/2019 Perform at i Vida De

http://slidepdf.com/reader/full/perform-at-i-vida-de 10/29

in$ica Derri$a 06HH6 8NN1) A $i2is#o entre enuncia$os constati2os eperformati2os,

proposta no in+cio $a o'ra, n#o prosse!ue até o m) 5uma in2esti!a"#ointeressa$a,

so'retu$o, em in$icar 3os senti$os em %ue $i.er al!o é fa.er al!o3 0p)l N,na tra$u"#o

'rasileira1, Austin p>e em suspenso, em 2(rios momentos, a $istin"#o entreas $uas classes

$e enuncia$os) O fato $e os critérios lin!+sticos estipula$os por Austin nai$entica"#o $e

2er'os performati2os 0primeira pessoa $o presente $o in$icati2o, 2o. ati2a8e)!) 3Eu or$eno

%ue 2oc: saia31 n#o serem sucientes para $ar conta $as situa">es em %ueo $i.er opera um

fa.er 0e)!) a or$em no e&emplo anterior po$eria ser efetua$a $i.en$o-se3Saia $a%uiQ31 se

trata $e um forte in$+cio, na ar!umenta"#o 3em constante transforma"#o3$e Austin, $e %ue

no lu!ar $e uma $istin"#o entre constati2o e performati2o o %ue se fa.necess(rio é uma

teoria %ue conce'a a lin!ua!em em seu car(ter eminentemente

performati2o, uma teoria!eral $os atos $e fala, anal 0c Felman, 6HK1) A proposta $e classica"#o$os atos $e fala

em termos $e atos locucion(rios, atos ilocucion(rios e atos perloeucion(rios,a partir $a

confer:ncia VII, sur!e eomo resposta 9 $eman$a por tal teoria 0Felman,6HK1) O ato

locucion(rio correspon$e a uma no"#o $e si!nica$o, conforme sua$eni"#o em l!ica

como senti$o e refer:ncia4 o ato ilocucion(rio correspon$e 9 for"a $oenuncia$o, isto é, 9

a"#o %ue é reali.a$a ao se $i.er al!o 0 e)!) informar, or$enar, prometer1,consi$eran$o a

situa"#o concreta $e intera"#o4 o ato perlocucion(rio correspon$e aosefeitos pro$u.i$os

por um enuncia$o no interlocutor, trata-se $a a"#o reali.a$a por%ue$i.emos al!o 0 e)!)

Page 11: Perform at i Vida De

7/23/2019 Perform at i Vida De

http://slidepdf.com/reader/full/perform-at-i-vida-de 11/29

persua$ir, con2encer, surpreen$er1)

Po$emos armar %ue o mo2imento $e Austin é o $e prometer ao leitor umateoria,

como *( in$icia$o no prprio t+tulo $a o'ra, Bo to $o t7in!s it7 or$sL

;ueres sa'ercomo fa.er coisas com pala2rasU Eis um manual, uma proposta, umapromessa, enm)

 Trata-se $e uma teoria %ue, ao mesmo tempo em %ue $esconstri uma série$e cren"as

tra$icionais, como a $e %ue a 2er$a$e $e um o'*eto e&istein$epen$entemente $o

con7ecimento %ue se tem $esse o'*eto, se sustenta em torno $a promessa,%ue nem sempre

ser( cumpri$a8

Disse %ue tentaria al!uma classica"#o !eral preliminar e %ue faria al!umaso'ser2a">es a respeito $as classes $e for"as ilocucion(riasW propostas)Xem, ent#o comecemos) S le2arei os leitores para uma 2oltin7a, oumel7or, para al!uns trope">es) 0p)lYY-6YN, :nfase acresci$a1

omo $e costume, n#o me so'rou tempo suciente para mostrar %ual ointeresse $e tu$o isso %ue aca'o $e $i.er) Darei, porém, um e&emplo) 0p)6N6 , :nfase no ori!inal1

;uanto 9 $imens#o $a promessa no tra'al7o $e Austin, S7os7ana Felmanapro&ima

os !estos tericos $e Austin 9 ati2i$a$e se$utora $e Don Zuan) A lin!ua!empara Don Zuan

é o $om+nio por e&cel:ncia $a se$u"#o) E a promessa $e amor $on*uanescapressup>e uma

%ue'ra em $uplo senti$o8 ao mesmo tempo em %ue seu $iscurso amorosole2a as mul7eres

se$u.i$as por ele a romperem relacionamentos anteriores 0Don Zuan asensina a %ue'rarem

suas prprias promessas1, pressup>e %ue a promessa $e amor n#o se*acumpri$a) A ep+tome

$a ati2i$a$e $on*uanesca po$e ser encontra$a no $i.er $e lau$el $e%ue3 eWsta promessa %ue o meu corpo te fe. eu sou incapa. $e cumprir30apu$ Felman, 6HK8 J1) Don Zuan tem

na lin!ua!em o campo $o pra.er4 o uso %ue ele fa. $ela é, so'retu$o,performati2o8 ele

promete, con2i$a, se$u. ))) E o %ue se 2erica em Austin, n#o apenas no$i.er $e sua teoria,

Page 12: Perform at i Vida De

7/23/2019 Perform at i Vida De

http://slidepdf.com/reader/full/perform-at-i-vida-de 12/29

mas tam'ém nos !estos $e sua escrita, em sua maneira $e tratar a l+n!ua,é %ue a lin!ua!em

tem uma $imens#o eminentemente performati2a 0cf Ottoni, 6HHK1)

F elman apresenta ain$a outros $es$o'ramentos $a teoria $o performati2o

0ou seriateoria $a promessaU1 e $a promessa $e uma teoria $e Austin) Se, emAristteles, a

ontolo!ia $o 7umano remete ao fato $e o 7omem ser um animal pol+tico, o%ue e2i$encia

uma $eni"#o $e 7omem ten$o em 2ista a especici$a$e $e seus atos, em5iet.sc7e, o

passo 2ai mais além8 é o 7omem um animal promete$or)

riar um animal %ue po$e fa.er promessas - n#o é esta a tarefa para$o&al%ue a nature.a se imp[s, com rela"#o ao 7omemU 5#o é este o 2er$a$eiropro'lema $o 7omemU 05iet.sc7e, 6HHK8\1

Sen$o a promessa um ato $e fala por e&cel:ncia, tem-se a%ui uma posi"#o%ue

encara o 7umano n#o apenas especicamente a partir $e seus atos, mas apartir $os atos $e

lin!ua!em) A promessa e, em senti$o mais amplo, a lin!ua!em 0toma$a emsua $imens#o

performati2a1 in$iciam a intera"#o entre um 3mesmo3 e um 3outro3 num *o!o em %ue

am'os est#o comprometi$os, $e certo mo$o, com as conse%:ncias $e suaa"#o)

Felman $ireciona os %uestionamentos niet.sc7eanos 9 an(lise lin!+stica e 9l!ica8

3em %ue me$i$a a promessa constitui um para$o&o, um pro'lemaU De %uemaneira a l!ica

mesma $a promessa é o si!no $e uma contra$i"#o fun$amental, %ue éprecisamente a

contra$i"#o $o 7umanoU3 06HK8 6 1) Se!un$o a autora, tais %uest>es,implica$as na

%uest#o $o performati2o, n#o po$em ser a$e%ua$amente a'or$a$as numaan(lise lin!+stica

formal) Ao contr(rio, ela prop>e uma an(lise %ue encontre no te&to liter(rioum ponto $e

articula"#o entre a psican(lise e o performati2o, o %ue $esem'oca no3escGn$alo $a rela"#o

Page 13: Perform at i Vida De

7/23/2019 Perform at i Vida De

http://slidepdf.com/reader/full/perform-at-i-vida-de 13/29

incon!ruente mas in$issoci(2el entre a lin!ua!em e o corpo3 e tam'ém o3escGn$alo $e um

animal promete$or na me$i$a em %ue este promete, *ustamente, o %ue n#opo$e ser

manti$o3Retoman$o o tema $as rela">es e&istentes entre se$u"#o e per2ers#o, éimportante armar %ue o ato %ue marca a se$u"#o $on*uanesca como um$iscurso per2erso é a 2iola"#o repetiti2a $a institui"#o $o casamento) 5#o épor acaso %ue o $iscurso se$utor $e Don Zuan é sempre um $iscurso $apromessa $e casamento) O mito $e Don Zuan relem'ra %ue e&iste umarela"#o etimol!ica entre as pala2ras esposar e prometer e %ue os a$*eti2osprometi$o, prometi$a si!nicam noi2os, noi2as 0Felman, 6HK, p) \\1)Apesar $e Don Zuan $e Molière nunca preten$er cumprir %uais%uerpromessas feitas, ele aposta na capaci$a$e %ue as mul7eres t:m $e

fantasiarem a partir $as pala2ras $itas por ele e $e acre$itar nas promessas$e casamento %ue ele l7es fa.) 5o entanto, ele mesmo n#o acre$ita emsuas promessas) Don Zuan n#o as esposa, ele as toma como amantes) Ele

 *amais tem por o'*eti2o se$u.i-las para $ormir com elas, como o$on*uanismo su!estiona 0Men$on"a, Y, p) 6\1) A Don Zuan pouco importao !o.o f+sico, ele s est( interessa$o em ]e&i'ir suas con%uistas^0Men$on"a, Y, p) 6H1)

Em Se$u"#o8 o amor inconsciente, ao $iscorrer so're as apostas $e Don Zuan $e Molière no %ue se refere 9 capaci$a$e $as mul7eres fantasiarem a

partir $e pala2ras e promessas, Si'on/ 06HK61 insiste %ue, para ele, o %ue é$esperta$o pela se$u"#o é a fantasia, %ue ]instaura uma c"#o _real` em%ue n#o é poss+2el 6 $istin!uir o %ue acontece e o %ue é ima!ina$o^ 0i'i$)p) N1)

])))W n#o se po$e ac7ar %ue Don Zuan fal7a %uan$o tenta con%uistar umamul7er falan$o) Ao in2és $o ]!olpe fal7o^, o mito $a se$u"#o irresisti2+2el$e Don Zuan n#o $ramati.a na$a além $o sucesso $a lin!ua!em, afelici$a$e $o ato $a pala2ra) A amea"a como forma $e promessa ne!ati2a^)0p)NJ1

]A %uest#o $o erotismo para o 7omem se coloca, atra2és $o mito $e Don Zuan, como a %uest#o $o relacionamento $o erotismo e $a lin!ua!em so'reo teatro $o corpo falan$o, on$e o $estino se ale!ra como a%uele %ue,atra2és $esse corpo falante, reali.a o ato) O mito $e Don Zuan, em outrostermos, $ramati.a a no"#o $e ato 7umano como a %uest#o $orelacionamento entre o ato se&ual e o ato $e lin!ua!em) 0p)N1

] A retrica $a se$u"#o po$e assim ser resumi$a pela e&cel:nciaperformati2a8 3Eu prometo3, uma $eclara"#o na %ual to$a a for"a $o

$iscurso $e Don Zuan est( su'meti$o, e %ue se op>e, por outro la$o,ao si!nica$o $o $iscurso $e outros persona!ens na pe"a)

Page 14: Perform at i Vida De

7/23/2019 Perform at i Vida De

http://slidepdf.com/reader/full/perform-at-i-vida-de 14/29

] ]O $i(lo!o entre Don Zuan e os outros é assim um $i(lo!o entre $uasor$ens %ue, na reali$a$e, n#o se comunicam8 a or$em $o ato e aor$em $o si!nica$o, o re!istro $o pra.er e o re!istro $ocon7ecimento) ;uan$o ele respon$e _Eu prometo^ para ]ns temos$e sa'er a 2er$a$e` a estraté!ia $e se$u"#o é para$o&almente

cria$a, no espa"o $a lin!u+stica %ue ele mesmo controla) m diálogode surdos)^ 0p)6, 2ers#o em in!l:s1

] Assim como $iscurso se$utor e&plora a capaci$a$e $a lin!ua!empara re?etir so're ele mesmo, por meio $a auto-referenciali$a$e $os2er'os performati2os, ele tam'ém e&plora um mo$elo paralelo $eauto-referenciali$a$e $o $ese*o narcisista $o interlocutor, e seu 0ousua1 capaci$a$e para pro$u.ir, por sua 2e., uma ilus#o re?e&i2aespecular)

] O se$utor esten$e 9s mul7eres o espel7o narc+sico $e seu prprio$ese*o $e si mesmas) Dessa forma Don Zuan $i. a 7arlotte8

  ]Voc: n#o é uma o'ri!a"#o para mim 0)))1, 2oc: $e2e isso inteiramentea sua prpria 'ele.a))) sua 'ele.a é sua se!uran"a^)

] Isso si!nica %ue a $escri"#o constati2a $a mul7er tam'ém inclui um2oca'ul(rio $e compromisso4 os 2er'os 0o'ri!ar, asse!urar1 s#operformati2os, mas eles n#o est#o mais na cate!oria $e atos $elin!ua!em eca.es)

] En%uanto o se$utor parece estar comprometen$o-se, sua estraté!iaconsiste em criar a refexiva, dívida auto-reerencial, tal como, n#oenfrent(-la) Desse mo$o, o escGn$alo $a se$u"#o consiste na

e&plora"#o 7('il e lci$a, por Don Zuan, $a estrutura especular $osi!nica$o e capaci$a$e re?e&i2a $a lin!ua!em) 0p)6K, 2ers#o emin!l:s1

 T7e r7etoric of se$uction ma/ in t7is a/ 'e summari.e$ '/

t7e performati2e utterance par e&cellence8 ]I promise,^ an utterance

in 7ic7 all t7e force of Don Zuan`s $iscourse is su'sume$, an$

7ic7 is oppose$, on t7e ot7er 7an$, to t7e meanin! of t7e $iscourse

of t7e ot7er c7aracters in t7e pla/, a $iscourse t7at, for its

part, is 'etter summe$ up '/ 7arlotte`s $eman$t7e constati2e

$eman$ par e&cellence8 ]be 7a2e to no t7e trut7^ 0III, iii1) T7e

$ialo!ue 'eteen Don Zuan an$ t7e ot7ers is t7us a $ialo!ue 'eteen

to or$ers t7at, in realit/, $o not communicate8 t7e or$er

of t7e act an$ t7e or$er of meanin!, t7e re!ister of pleasure an$

t7e re!ister of nole$!e) b7en 7e replies ]I promise^ to ]e

7a2e to no t7e trut7,^ t7e se$ucer`s strate!/ is para$o&icall/ to

Page 15: Perform at i Vida De

7/23/2019 Perform at i Vida De

http://slidepdf.com/reader/full/perform-at-i-vida-de 15/29

create, in a lin!uistic space t7at 7e 7imself controls, a $ialo!ue of 

t7e $eaf) For, '/ committin! speec7 acts, Don Zuan literall/ escapes

t7e 7ol$ of trut7) Alt7ou!7 7e 7as no intention 7atsoe2er

of eepin! 7is promises, t7e se$ucer, strictl/ speain!, $oes notlie, since 7e is $oin! no more t7an pla/in! on t7e self-referential

propert/ of t7ese performati2e utterances, an$ is edecti2el/ accomplis7in!

t7e speec7 acts t7at 7e is namin!) T7e trap of se$uction

t7us consists in pro$ucin! a referential illusion t7rou!7 an utterance

t7at is '/ its 2er/ nature self-referential8 t7e illusion of a

real or e&tralin!uistic act of commitment create$ '/ an utterance

t7at refers onl/ to itself)

A retrica $a se$u"#o po$em $esta forma ser resumi$o por

a e&cel:ncia enuncia$o performati2o par8 3Eu prometo,3 um enuncia$o

em %ue to$a a for"a $o $iscurso $e Don Zuan é su'sumi$o, e

%ue é oposta, por outro la$o, para o senti$o $o $iscurso

$os outros persona!ens $a pe"a, um $iscurso %ue, por sua

parte, é mel7or resumi$o por $eman$a $e 7arlotte-o constati2ae&i!ir e&cel:ncia8 3Temos $e sa'er a 2er$a$e3 0III, iii1) o

$i(lo!o entre Don Zuan e os outros é, assim, um $i(lo!o entre

$uas or$ens %ue, na reali$a$e, n#o se comunicam8 a or$em

$o ato e $a or$em $e si!nica$o, o re!isto $e pra.er e

o re!isto $e con7ecimento) ;uan$o ele respon$e8 3Eu prometo3 para 3ns

tem %ue sa'er a 2er$a$e, 3a estraté!ia $o se$utor é, para$o&almente, a

criar, em um espa"o lin!u+stico %ue ele prprio controla, um $i(lo!o $e

os sur$os) Para, por cometer atos $e fala, Don Zuan, literalmente, escapa

o por#o $e 2er$a$e) Em'ora ele n#o tem %ual%uer inten"#o

$e manter suas promessas, o se$utor, estritamente falan$o, n#o fa.

mentira, *( %ue ele est( fa.en$o n#o mais $o %ue *o!an$o na auto-referencial

proprie$a$e $esses enuncia$os performati2os, e é efeti2amente reali.ar

a atos $e fala %ue ele é nomear) A arma$il7a $e se$u"#o

Page 16: Perform at i Vida De

7/23/2019 Perform at i Vida De

http://slidepdf.com/reader/full/perform-at-i-vida-de 16/29

portanto, consiste em pro$u.ir uma ilus#o referencial atra2és $e umenuncia$o

%ue é, por sua prpria nature.a auto-referencial8 a ilus#o $e uma

ato real ou e&tralin!u+stico $e compromisso cria$o por um enuncia$o

%ue se refere apenas a si mesmo)

 Zust as se$ucti2e $iscourse e&ploits t7e capacit/ of lan!ua!e to

re?ect itself, '/ means of t7e self-referentialit/ of performati2e

2er's, it also e&ploits in parallel fas7ion t7e self-referentialit/ of t7e

interlocutor`s narcissistic $esire, an$ 7is 0or 7er1 capacit/ to pro$uce

in turn a re?e&i2e, specular illusion8 t7e se$ucer 7ol$s out to

omen t7e narcissistic mirror of t7eir on $esire of t7emsel2es)

 T7us Don Zuan sa/s to 7arlotte8 ]ou are not o'li!e$ to me for

7at I sa/, /ou oe it entirel/ to /our on 'eaut/) ) ) ) our 'eaut/

is /our securit/^ 2otre 'eaut/ 2ous assure $e toutW 0II, ii1) It is si!nicant

t7at t7e constati2e $escription of t7e oman also inclu$es a

2oca'ular/ of commitment4 t7e 2er's 0o'li!es, assures1 are performati2e,

'ut t7e/ are no lon!er in t7e rst person present in$icati2e,

t7us t7e/ are no lon!er in t7e cate!or/ of edecti2e lan!ua!e

acts) T7e source of o'li!ation is $isplace$ 7ere from t7e rst to t7e

secon$ an$ t7ir$ persons8 ]ou are not o'li!e$ to me ) ) ) /our

'eaut/ is /our securit/)^ T7e constati2e itself, in Don Zuan`s mout7,

appears to 'e t7e statement of a promise, of a commitment un$ertaen)

b7et7er constati2e or performati2e, se$ucti2e $iscourse

commits an$ en$e'ts4 'ut since t7e $e't is contracte$ 7ere on t7e'asis of narcissism, t7e to parties to t7e $e't are t7e oman an$

7er on self-ima!e) ]our 'eaut/ is /our securit/)^ T7e specular illusion

of self-reference allos Don Zuan to elu$e t7e status of referent)

b7ile t7e se$ucer appears to 'e committin! 7imself, 7is

strate!/ is to create a re?e&i2e, self-referential $e't t7at, as suc7, $oes

not en!a!e 7im) T7us 7arlotte`s se$uction '/ Don Zuan $oes not

$ider in essence from t7at of Monsieur Dimanc7e8 ]It`s true, 7epa/s me so man/ courtesies an$ compliments t7at I coul$ ne2er

Page 17: Perform at i Vida De

7/23/2019 Perform at i Vida De

http://slidepdf.com/reader/full/perform-at-i-vida-de 17/29

as 7im for mone/^ 0IV, iii1) T7e scan$al of se$uction t7us consists

in a sillful an$ luci$ e&ploitation, '/ Don Zuan, of t7e specular

structure of t7e meanin! an$ re?e&i2e capacities of lan!ua!e)

Assim como $iscurso se$utor e&plora a capaci$a$e $a lin!ua!em para

re?etir-se, por meio $a auto-referenciali$a$e $a performati2a

2er'os, mas tam'ém e&plora $e forma paralela 9 auto-referenciali$a$e $a

$ese*o narcisista $e interlocutor, e $ele 0ou $ela1 capaci$a$e $e pro$u.ir

por sua 2e., uma re?e&i2a, ilus#o especular8 o se$utor esten$e para

mul7eres o espel7o narc+sico $e seu prprio $ese*o $e si mesmos)Assim Don Zuan $i. a 7arlotte8 3Voc: n#o é o'ri!a$o a mim para

o %ue eu $i!o, 2oc: $e2e isso inteiramente a sua prpria 'ele.a) ) ) ) Sua'ele.a

é a sua se!uran"a 32ous 'ele.a 2otre asse!urar $e toutW 0II, ii1) si!nicati2o

%ue a $escri"#o constati2a $a mul7er inclui tam'ém um

2oca'ul(rio $e compromisso4 os 2er'os 0$irecti2a o'ri!a, !arante1 s#o

performati2a,mas *( n#o na primeira pessoa $o presente $o in$icati2o s#o,

portanto, eles n#o est#o mais na cate!oria $e lin!ua!em eca.

atua) A fonte $e o'ri!a"#o a%ui é $esloca$o a partir $o primeiro para o

se!un$a e terceira pessoas8 3Voc: n#o é o'ri!a$o a mim) ) ) seu

'ele.a é a sua se!uran"a) 3O constati2a si, na 'oca $e Don Zuan,

parece ser a $eclara"#o $e uma promessa, $e um compromisso assumi$o)

Se o $iscurso constati2a ou performati2o, se$utore compromete en$e'ts4 mas uma 2e. %ue a $+2i$a é contra+$a a%ui no

'ase $e narcisismo, as $uas partes para a $+2i$a é a mul7er e

sua prpria auto-ima!em) 3Sua 'ele.a é a sua se!uran"a)3 A ilus#oespecular

$a auto-refer:ncia permite %ue Don Zuan para ilu$ir o status $o referente)

En%uanto o se$utor parece estar comprometen$o-se, o seu

estraté!ia é criar, uma $+2i$a auto-referencial re?e&i2a %ue, como tal, fa.n#o en2ol2:-lo) Assim se$u"#o $e 7arlotte por Don Zuan n#o fa.

Page 18: Perform at i Vida De

7/23/2019 Perform at i Vida De

http://slidepdf.com/reader/full/perform-at-i-vida-de 18/29

$iferem em ess:ncia $a%uela $e Monsieur Dimanc7e8 3 2er$a$e, ele

pa!a-me tantas cortesias e elo!ios %ue eu nunca po$eria

pe$ir-l7e $in7eiro 30IV, iii1) O escGn$alo $e se$u"#o consiste, assim,

em uma e&plora"#o 7('il e lci$a, por Don Zuan, $a especularestrutura $o si!nica$o e capaci$a$es re?e&i2as $e lin!ua!em)

] Essa intera"#o $e si!nica$o entre _promessa` e _casamento` torna-seain$a mais impressionante %uan$o notamos %ue Austin na sua$eni"#o $e _comissi2os` g a cate!oria $o ato ilocucion(rio $ecompromisso g est#o especica$os $ois tipos $e atos $ecompromisso8 por um la$o, promessa a$e%ua$a, e por outro la$o, o%ue ele escol7e, curiosamente, c7amar $e _$esposrio` 0espousals1)

] ]Se ca$a casamento é uma promessa, ca$a promessa é até certoponto uma promessa $e casamento - na me$i$a em %ue ca$apromessa promete constGncia, e acima $e tu$o, prometeconsist:ncia, continui$a$e no tempo entre o ato $e compromisso e aa"#o futura) ];ual%uer ato $e fala^ $i. Austin conrma-nosW, pelomenos para a consist:ncia) Don Zuan é, naturalmente, apenas

 *o!a$or, atra2és $a multiplici$a$e $a sua promessa $e casamento,com a ilus#o $e constGncia inerente 9 promessa0)))1) por isso %ue eleé, miticamente falan$o, a !ura $e inconstGncia, $e in$eli$a$e)^0p)Y6, 2ers#o em in!l:s1

Este racioc+nio n#o é sem rele2Gncia, e ain$a assim ele $esen7a falseimplica">es $o pensamento $e Austin) O performati2o é $e fato

auto-referencial, mas para Austin, isso n#o si!nica %ue ele se refere a

specularit/ um e&austi2o ou para uma simetria perfeita entre a $eclara"#o

e enuncia"#o) Pelo contr(rio, é $e %ue a assimetria

Pensamento proce$e $e Austin, a partir $o e&cesso $e enuncia$o comrespeito

a $eclara"#o, $e 3for"a $a e&press#o3 como-referencial $e res+$uos

$e $eclara"#o e si!nica$o)

O %ue temos %ue enten$er so're a 'ase $o pensamento $e Austin

so're o status $o referente é %ue, em ltima an(lise, o performati2o

tem a proprie$a$e $e su'2erter a alternati2a, a oposi"#o,

entre referenciali$a$e e auto-referenciali$a$e) Se o i$ioma

$o performati2o refere-se a si mesma, pro$u. a si mesmo como sua prpriarefer:ncia,

este efeito l+n!ua n#o $ei&a $e ser uma a"#o, uma a"#o %ue

Page 19: Perform at i Vida De

7/23/2019 Perform at i Vida De

http://slidepdf.com/reader/full/perform-at-i-vida-de 19/29

e&ce$e lin!ua!em e mo$ica o real8 auto-referenciali$a$e n#o é nem

perfeitamente simétrico nem e&austi2a especular, mas pro$u. um e&cessoreferencial, um e&cesso $e 'ase na %ual a sua fol7as reais

tra"ar um si!nica$o)

omo Don Zuan, Austin est( interessa$o-atra2és $a tica $o

performati2a somente no e&cesso referencial $a auto-referencial

opera"#o, assim como ele $esconstri a oposi"#o entre os $ois)

E Xen2eniste repreen$e, a%ui no2amente, por sua Don*uanism,

propon$o para e&cluir a partir $a teoria $o performati2o

critério-a-critério $e *usti"a Don*uanian o 3resulta$o o'ti$o,3

%ue é a 3fonte $e confus#o38

O mito $e Don Zuan $i. e&atamente a mesma coisa) Se Don Zuan

a'usa $o performati2as, e&ploran$o a capaci$a$e $e auto-referencial

$e lin!ua!em, a m $e pro$u.ir ilus>es referencial por meio $e

auto-referenciali$a$e, o prprio ato $e se pro$u.ir ilus>es referenciais

so're ?u&os e c7e!a para referenciali$a$e) E sem $2i$a o

resulta$o $o mito, a prpria !ura $a est(tua %ue le2a Don

 Zuan em sua pala2ra, é uma maneira sim'lica $e e&pressar o 7ol$-império$e-

o referencial so're e $entro $iscurso Don*uanian, o

impressionar ou o tra"o %ue o real si!nica$o $ei&a em cima)

A%ui, no2amente, a psican(lise est( $o la$o $e Austin, e Don Zuan $e)

O status $ial!ica $o referente anal+tico eo fato $e %ue uma 3e&press#o2ocal

nunca ser( re$u.i$o a $eclara"#o $e %ual%uer $iscurso 3$estruir

a oposi"#o entre a proprie$a$e auto-referencial $a lin!ua!em

e sua proprie$a$e referencial, o %ue n#o é constati2a mas performati2a)

O real n#o é o re?e&o-o ne!ati2o simétrico oposto $e-

a especular8 os $ois est#o *untos ata$o) Mas a especular

Page 20: Perform at i Vida De

7/23/2019 Perform at i Vida De

http://slidepdf.com/reader/full/perform-at-i-vida-de 20/29

n#o es!ota o real) A auto-re?e&i2i$a$e $a consci:ncia, o

lin!u+stica autorreferenciali$a$e $a su'*eti2i$a$e n#o se referir a umai$enti$a$e,

mas a um res+$uo $e refer:ncia, a um e&cesso performati2o)

O primeiro marco aparece, como mostrei antes, em 6H6, com a pu'lica"#o

$a confer:ncia Si!nature é2énement conte&te 0Derri$a, 6HH'1) Em sua$iscuss#o so're a oposi"#o sucessofracasso $o ato $e fala, Derri$a 06HH'1arma %ue a ela'ora"#o $e Austin é $eri2a$a $a i$éia $e um su*eitointencional consciente $a totali$a$e $o seu ato $e fala) Se!un$o Derri$a06HH'1, a intencionali$a$e parece or!ani.ar as confer:ncias iniciais $eAustin, en%uanto ele procura um o con$utor para e&plicar o ato $e fala) Aoposi"#o sucessofracasso se sustenta pelo %ue oa falante intenciona parao enuncia$o %ue elea pro$u., tratan$o as con2en">es rituali.a$as $oenuncia$o como um conte&to poss+2el $e ser satura$o, $e ser $a$o comototalmente $etermin(2el) Se é 2er$a$e %ue o lsofo in!l:s se esfor"a paratra.er elementos %ue cer%uem o enuncia$o performati2o e !arantam seu

sucesso, é tam'ém 2er$a$e %ue ele mesmo $ene seu percurso como ]a$outrina $as coisas %ue po$em e 2#o $ar erra$o 0Austin, 6H86\1) 5a sualeitura $este percurso, Derri$a 06HH'1 e2i$encia a possi'ili$a$e estrutural$e to$o si!no $e ser repeti$o na aus:ncia n#o somente $e seu referente,mas tam'ém na aus:ncia $e seu si!nica$o ou inten"#o $etermina$a) Essaaus:ncia é a $idérance, ]uma mo$ica"#o ontol!ica $a presen"a^, %uetorna le!+2el to$a lin!ua!em muito $epois $o $esaparecimento emp+rico $eseus $estinat(rios ou $e seus pro$utores g ]essa aus:ncia n#o é amo$ica"#o cont+nua $a presen"a, é a ruptura $a presen"a, a hmorte ou apossi'ili$a$e $a hmorte inscrita na estrutura $a marca^ 0Derri$a,6HH'8Y-YK1) Derri$a 06HHa86J1 mostra isso com precis#o, $iscutin$o ano"#o $e rito como fun$a$ora $a no"#o $e ato) a itera'ili$a$e prpria aorito %ue aciona a citacionali$a$e necess(ria para o funcionamento $osi!nicante8

A itera'ili$a$e sup>e uma so'ra m+nima 0como uma i$eali.a"#o m+nimaem'ora limita$a1 para %ue a i$enti$a$e $o mesmo se*a repet+2el ei$entic(2el na, atra2és e mesmo ten$o em 2ista a altera"#o) Pois aestrutura $a itera"#o, outro tra"o $ecisi2o, implica ao mesmo tempoi$enti$a$e e $iferen"a)

O ato $e fala atuali.a sua for"a no momento em %ue ele acontece 0nesse

senti$o, ele n#o é um re!istro1, mas isso n#o si!nica %ue ele é $estitu+$o$e 7istria4 ao contr(rio, sua for"a 2em $o rito, $a 7istria repeti$a $e sua

Page 21: Perform at i Vida De

7/23/2019 Perform at i Vida De

http://slidepdf.com/reader/full/perform-at-i-vida-de 21/29

frmula) A cita"#o é, para Derri$a 06HH'1, a proprie$a$e %ue fa. funcionaro si!no, rompen$o a presen"a 0$a fala, $a inten"#o, $a consci:ncia, $osenti$o, $a 2er$a$e etc)1 e mostran$o-a como efeito 7istrico) ]Operformati2o n#o tem seu referente fora $ele ou antes $ele ou $iante $ele0)))1 ele pro$u. ou transforma uma situa"#o, ele opera^ 0Derri$a, 6HH'8N1)

5este ponto, po$emos perce'er %ue o performati2o tem lu!ar, é umacontecimento %ue n#o espera a $eli'era"#o, a consci:ncia ou aor!ani.a"#o $o su*eito) Ao contr(rio $o %ue se po$eria esperar $as $uasprimeiras confer:ncias $e Austin, Derri$a mostra %ue o ato $e fala n#o é umrito plane*a$o e re!ula$o *uri$icamente atra2és $e re!ras pre2iamenteacor$a$as entre falantes 0o contrato social14 o ato $e fala é, como rito, umacontecimento, na me$i$a em %ue sua for"a é iter(2el, e sua repeti"#oinstaura sempre uma $iferen"a) o !esto $e leitura $erri$iano, ]um !esto$uplo, uma ci:ncia $upla, uma $upla escritura^, pratican$o ]uma in2ers#o$a oposi"#o cl(ssica e um $eslocamento !eral $o sistema^ 0Derri$a6HH'8J1 %ue 2ai c7amar a aten"#o $e tantas estu$iosas so're as

potenciali$a$es $a no"#o $e performati2o) Derri$a 06HHa8K1 se $eclara]muito pr&imo, interessa$o e em $+2i$a com sua $e A partir $o ato $eprometer, Felman 06HK86N1 articula teoricamente psican(lise eperformati2o, a'rin$o a $iscuss#o para

um escGn$alo 0ao mesmo tempo terico e emp+rico, 7istrico1 $a rela"#oincon!ruente, mas in$issoci(2el, entre a lin!ua!em e o corpo4 o escGn$alo$a se$u"#o $o corpo 7umano en%uanto ele fala)

O escan$aloso para Felman é %ue, en%uanto corpo, o ato n#o po$e sa'er o%ue est( fa.en$o, nem controlar sua a"#o g a%uele ou a%uela %ue fala éce!oa para o a!ir $o seu corpo g

 Zoana Pla.a Pinto

6Y

e&atamente como a $icul$a$e $e Austin 06H86-6Y1 para $enir oslimites $os atos ilocucion(rio e perlocucion(rio e suas rela">es com atosf+sicos 0Pinto, YN4 Y1) oncor$an$o com Derri$a 06HH'8NK1, Felman06HK86H1 consi$era a a'or$a!em $e Austin niet.sc7iana e perse!ue, 9 suamaneira, os mesmos temas $o lsofo franc:s) O sucesso $o ato $e fala emDon Zuan $e Molière é o e&emplo fun$amental8 para Felman, Don Zuan se$u.suas interlocutoras com o sucesso $e seus atos $e fala, %ue, ao in2és $e

$i.erem a 2er$a$e ou a inten"#o $e %uem fala 0presen"as ontol!icas1,operam um efeito so're %uem escuta) ]O mito $e Don Zuan $ramati.a ano"#o $e ato 7umano como a %uest#o $a rela"#o entre ato se&ual e ato $elin!ua!em^ 0Felman, 6HK8N1) Para a autora, o ato $e fala consiste numaarma$il7a se$utora, pois pro$u. uma ilus#o referencial, a ilus#o $e umreferente real e fora $a lin!ua!em, escon$en$o o fato $e %ue, como operformati2o $e Austin, é a prpria lin!ua!em %uem fa. g e na$a e&iste fora$ela) E Don Zuan e&prime a ruptura entre a inten"#o e o ato, entre oconstati2o e o performati2o g como o prprio Austin ao a'rir m#o $aoposi"#o constati2operformati2o, %ue, nas pala2ras $o autor, ]ter($icul$a$e para so're2i2er^ 0Austin, 6HHK866H1) Felman 06HK1 conclui %ue

essa ruptura se$utora é a lem'ran"a $e %ue falar é um ato corporal) Oa'an$ono $a $icotomia performati2o constati2o coloca to$a a lin!ua!em

Page 22: Perform at i Vida De

7/23/2019 Perform at i Vida De

http://slidepdf.com/reader/full/perform-at-i-vida-de 22/29

no espa"o $a performati2i$a$e, portanto a con$i"#o $o fa.er é transiti2a g eo su*eito e o o'*eto $o ato é o corpo) A partir $esse ponto, a rela"#o entrecorpo e ato $e fala, %ue apenas po$eria ser ima!ina$a nas entrelin7as $oste&tos $e Derri$a 06HH'1 9 lu. $o $e Austin 06H1, torna-se cate!rica)

]A literatura é pensa$a por Derri$a como acontecimento e sin!ulari$a$e,como ]i$ioma^^) 0I$em,p)661) 5s c7amamos ]literatura^ as pr(ticas $eescritura %ue $esconstroem as institui">es liter(rias e loscas por suai$iomatici$a$e e sua irre$uti'ili$a$e e acontecimento) A $esconstru"#osempre c7e!a para a literatura, $ito $e outro mo$o, pela sin!ulari$a$eintra$u.+2el e uni2ersal $a l+n!ua $e um te&to) Mas o %ue $etermina aescritura liter(riaU Sua estrutura $e a$estina"#o 0$eni$a pela carta postal,%ue nunca c7e!a ao seu $estino1, e sua remarca, inscrita nos seus te&tos os

]limites e&teriores^ $o te&to) Essa estrutura $e o'ser2a"#o constituti2a $aess:ncia liter(ria $a escritura é analisa$a no te&to $erri$iano ;u`est-ce%u`un tra$uction rele2anteU) O te&to liter(rio $ei&aria se o'ser2ar nasimultGnea possi'ili$a$eimpossi'ili$a$e $e tra$u"#o) A literatura tem lu!ar,portanto, além $a $istin"#o entre o ]real^ e o ]ccional^, e o te&to liter(rioporta o testemun7o $e uma sin!ulari$a$e uni2ersali.(2el) A literatura se$ene como o $ireito $e $i.er tu$o %ue n#o c7e!a a se apa!ar, ela porta umtestemun7o sin!ular e uni2ersali.(2el $o acontecimento %ue ela ar%ui2a noseu te&to

E tal2e. o aspecto mais importante $a literatura, no terreno $erri$iano, seriaa a'ertura para a alteri$a$e) 5este senti$o8

E se a literatura é a $esconstru"#o, ou se*a, a li!a"#o para$o&al entre o$etermina$o e a in$etermina"#o, entre um acontecimento 0)))1 e o fato $eseu 2ir a ser, ent#o é poss+2el $i.er %ue a $ita literatura é oin$esconstrut+2el $a $esconstru"#o8 a literatura é o ponto em %ue a$esconstru"#o $esconstri-se por si mesma, 9 re2elia $e sua for"apensante, aporeticamente situa$a entre a $emonstra"#o $a l!ica $oacontecimento e a $+2i$a, a cren"a ou o in2estimento em rela"#o 9

literatura 0I$em, p)J1)

 Zonat7an uller 0Y\1, em seu arti!o Derri$a an$ t7e sin!ularit/ ofliterature, relaciona a sin!ulari$a$e $o te&to liter(rio 0*( a'or$a$a nestetra'al7o1 com o acontecimento, ou mel7or, o pensa como acontecimento etam'ém o pensa como performati2o8

Pensar o te&to liter(rio como sin!ulari$a$e, uma sin!ulari$a$e %ue $esaa a

!enerali$a$e $a 2er$a$e, %ue é, no entanto, torna poss+2el, 2ai *unto com apensar nele como um e2ento, o %ue po$e ser consi$era$o a se!un$a

Page 23: Perform at i Vida De

7/23/2019 Perform at i Vida De

http://slidepdf.com/reader/full/perform-at-i-vida-de 23/29

$imens#o $e in?e&#o $a cultura liter(ria $e Derri$a) Mais uma 2e., este émal sem prece$entes, mas a no"#o $e itera'ili$a$e $e Derri$a $(-l7e umaconcep"#o $o tra'al7o como um e2ento temporal a ser i$entica$o n#ocom a e&peri:ncia $o leitor, n#o com o ato $e um autor 7istrico, mas comuma lin!u+stica e2ento cu*a nature.a é para repetir) O conceito $e

itera'ili$a$e, %ue é crucial para a conta $e Derri$a $o performati2o - tal2e.o aspecto $o pensamento $e Derri$a $a literatura %ue se tornou maiscon7eci$o 0ER, Y\, p(!)KY) Tra$u"#o nossa)1)

Em Acts of iterature, Derri$a 06HHY1 re?ete so're as rela">es sempresuplementares entre literatura e losoa, e come"a a colocar a %uest#o $aauto'io!raa nas mar!ens $e am'as) Deste mo$o, a sin!ulari$a$e $aliteratura é o nico e2ento $e uma assinatura insu'stitu+2el, $ata e

inscri"#o4 e ao mesmo tempo isso é sempre $a$o pela 2ia $e umaitera'ili$a$e potente, uma capaci$a$e transformati2a para um futuro %uepermanece, precisamente, ain$a-a-ser-$etermina$o) omo Derri$a coloca,literatura fa. um tra"o $iferencial, $iferente $ela mas no interior $ela, isso amarca insistentemente, a%ui e a!ora, como uma promessa $o por-2ir)

Assim como na $esconstru"#o se li!a ao acontecimento, e tam'ém aoperformati2o, tam'ém a literatura o fa., o %ue $emonstra mais umaani$a$e entre elas) Apresentaremos a se!uir cinco temas %ue escol7emos$a o'ra $erri$iana 0per$#o, $om, psican(lise, $idérance e espectros1, para

ilustrar como se $( a $esconstru"#o $e ca$a um $eles) Mas, nessaopera"#o, a $esconstru"#o n#o $ei&ou $e ser tam'ém uma opera"#o $ee&tra"#o, ent#o, nesta opera"#o utili.amos e&emplos e situa">es nas %uaisDerri$a se fe. 2aler $a literatura como ferramenta para uma opera"#o $ee&tra"#o-$esconstru"#o $os temas) Por e&emplo8 no per$#o Derri$a usou oMerca$or $e Vene.a 0S7aespeare1, no $om Derri$a utili.ou A Moe$a Falsa0Xau$elaire1, na psican(lise, A arta Rou'a$a 0E$!ar Alan Poe1, na$idérance, o M+mico 0Mallarmé1, e nalmente, nos espectros, Bamlet0S7aespeare1)

 T7inin! t7e literar/ te&t as sin!ularit/, a sin!ularit/ t7at c7allen!es t7e!eneralit/ of trut7 t7at it ne2ert7eless maes possi'le, !oes alon! it7t7inin! of it as an e2ent4 t7is mi!7t 'e consi$ere$ t7e secon$ $imension ofDerri$a`s in?ection of literar/ culture) Once a!ain, t7is is scarcel/ it7outprece$ent, 'ut Derri$a`s notion of itera'ilit/ !i2es 7im a conception of t7eor as a temporal e2ent, to 'e i$entie$ not it7 t7e e&perience of area$er, nor it7 t7e act of a 7istorical aut7or, 'ut it7 a lin!uistic e2ent7ose nature is to repeat) T7e concept of itera'ilit/, 7ic7 is crucial toDerri$a`s account of t7e performati2e, !i2es us a notion of literature as

performati2e per7aps t7e aspect of Derri$a`s t7inin! of literature t7at 7as'ecome 'est non, in t7at 7is t7eori.ation of t7e performati2e t7rou!7

Page 24: Perform at i Vida De

7/23/2019 Perform at i Vida De

http://slidepdf.com/reader/full/perform-at-i-vida-de 24/29

itera'ilit/ 7as resonate$ ell 'e/on$ t7e realm of literar/ criticism)66Derri$a`s account of t7e performati2it/ of literature speas of an e&perienceof ritin! t7at 7e calls ]su'*ect^ to an imperati2e8 to !i2e space for sin!ulare2ents, to in2ent somet7in! ne in t7e form of acts of ritin! 7ic7 nolon!er consist in a t7eoretical nole$!e, in ne constati2e statements, to

!i2e oneself to a poetico-literar/ performati2it/ at least analo!ous to t7at ofpromises, or$ers, or acts of constitution or le!islation 7ic7 $o not onl/c7an!e lan!ua!e or 7ic7, in c7an!in! lan!ua!e, c7an!e more t7anlan!ua!e)6Y Anot7er a/ to t7in of t7is oul$ 'e t7at since literature, asction, $oes not presume a realit/ alrea$/ !i2en an$ to 'e represente$ 'utinstea$ posits its on trut7, it inscri'es its on conte&t, institutes its onscene, an$ !i2es us to e&perience t7at institutin!) T7e openin! of Mo'/Dic, ]all me Ismael,^ is onl/ a $ramatic 2ersion of t7at performati2einstitutin!, 7ere'/ rea$ers simultaneousl/ participate in an$ o'ser2e t7einstitutin! of t7e literar/ scene) b7at is sai$ is t7e sa/in! itself) 5ot onl/ arec7aracters an$ e2ents 'rou!7t into 'ein! '/ lan!ua!e 'ut t7is performati2e

institutin! is fore!roun$e$, as e2ent, an e2ent $epen$ent upon ction an$t7us a performance of lin!uistic poer) b7ereas e treat muc7 lan!ua!einstrumentall/ an$ ma/ e&perience it as an e2ent, in literar/ rea$in! ee&perience not *ust t7e e2ent itself 'ut its 7appenin! as lin!uistic e2ent, in as7o of lin!uistic poer) A crucial $imension of Derri$a`s t7inin! of t7isperformati2e institutin! is t7e $epen$ence of 7at e call real e2ents ont7e structure of ctionalit/ illustrate$ in suc7 literar/ e2ents) I

A conta $e Derri$a $a performati2i$a$e $a literatura fala $e umae&peri:ncia $e escrita %ue ele c7ama $e

3Assunto3 a um imperati2o8 $ar espa"o para e2entos sin!ulares, a

in2entar al!o no2o na forma $e atos $e escrita %ue *( n#o

consistem em um con7ecimento terico, em no2as $eclara">esconstatati2os, a

$ar-se a uma performati2i$a$e poético-liter(rio, pelo menos, an(lo!o ao

%ue $e promessas, pe$i$os ou atos $e constitui"#o ou le!isla"#o %ue

n#o s mu$am i$ioma ou %ue, na mu$an"a $e i$ioma, mu$an"a

mais $e i$ioma)

Outra maneira $e pensar $isso seria %ue, $es$e a literatura, como

c"#o, n#o pressup>e uma reali$a$e *( $a$a e fa.er-se representar

mas em 2e. $isso coloca sua prpria 2er$a$e, %ue inscre2e seu prprioconte&to, institutos sua

prpria cena, e $(-nos a e&peri:ncia %ue instituinte) A a'ertura $e

Mo'/ Dic, 3Me c7ame $e Ismael,3 é apenas uma 2ers#o $ram(tica $o %ue

Page 25: Perform at i Vida De

7/23/2019 Perform at i Vida De

http://slidepdf.com/reader/full/perform-at-i-vida-de 25/29

instituinte performati2o, em %ue os leitores participem simultaneamente em

e o'ser2ar a instaura"#o $a cena liter(ria) O %ue se $i. é o

$i.en$o-se) 5#o s#o apenas os persona!ens e os e2entos tra.i$os 9e&ist:ncia por

l+n!ua, mas esta instituinte performati2a é em primeiro plano, como e2ento,um

e2ento $epen$ente $e c"#o e, assim, um $esempen7o $e lin!u+stica

po$er)

A $imens#o crucial $o pensamento $e Derri$a $este performati2o

instituinte é a $epen$:ncia $o %ue c7amamos $e fatos reais so're aestrutura

$e ccionali$a$e ilustra$o em tais e2entos liter(rias) Em Demeure, Derri$aescre2e, 3a possi'ili$a$e $e c"#o estruturou-mas com uma fratura

Esta estrutura é um constituinte

e&peri:ncia $esestrutura"#o) a con$i"#o %ue é comum a literatura

e n#o-literatura) ) ) 36N) A literatura mostra as fronteiras e $o'ras %ue

manter uma cena, %ue a're um espa"o, %ue instituir as possi'ili$a$es, emse!ui$a,

promul!a$a em e2entos n#o-liter(rios $e nossas 2i$as) Falan$o $o presente

35ecessi$a$e espectral %ue trans'or$a a oposi"#o entre a reali$a$e e

c"#o 3, Derri$a ar!umenta %ue3 n#o 7( um testemun7o %ue n#o fa.

estruturalmente implica em si a possi'ili$a$e $e c"#o, $issimula"#o,

simulacros, mentira e per*rio, isto é, a possi'ili$a$e $e literatura, $e

a literatura inocente ou per2erso %ue inocentemente *o!a em per2erter tu$o

$estas $istin">es) 36\ iteratura, %ue narra ou cita, é o nome

para uma neutrali$a$e antes $a $ecis#o, conceituali$a$e, antes $asoposi">es

entre real e 2irtual, !ra2es e n#o-!ra2es, real e ccional,

mas uma priori$a$e %ue po$emos pensar como uma suspens#o $erefer:ncia

Em A escritura e a $iferen"a,NN Derri$a arma %ue a e&peri:ncia $econ2ers#o %ue instaura o ato liter(rio ]se trata $e uma sa+$a para fora $omun$o, em $ire"#o a um lu!ar %ue nem é um n#o-lu!ar nem um outromun$o, nem uma utopia nem um (li'i^) ]O rumor $a l+n!ua forma uma

Page 26: Perform at i Vida De

7/23/2019 Perform at i Vida De

http://slidepdf.com/reader/full/perform-at-i-vida-de 26/29

Page 27: Perform at i Vida De

7/23/2019 Perform at i Vida De

http://slidepdf.com/reader/full/perform-at-i-vida-de 27/29

A pai&#o pela literatura le2ar( Derri$a a pensar a ética como uma]transa"#o entre o imperati2o $a autonomia e imperati2o $a 7eteronomia^0XORRADORI, Y\, p)6\61) Assim, ele em'aral7a o i$eal $e autonomia, %ueser( insepar(2el $a 7eteronomia, e a literatura ser( o lu!ar $esteem'aral7amento entre a autonomia $o te&to liter(rio e 7eteronomia $ooutro %ue comparece nesta leitura, e s comparecen$o fa. a literatura sercoisa liter(ria) Beteronomia em Derri$a ser( essa lei 2in$a $o outro, orecon7ecimento $e %ue a min7a autonomia é tam'ém e sempre a min7a7eteronomia, é a min7a pai&#o) Assim, interessa a Derri$a pensar aliteratura como o lu!ar em %ue n#o 7( ess:ncia, como a%uilo %ue n#o po$erespon$er pelo ]o %ue é^, n#o se captura numa ontolo!ia, n#o se $ene) Aliteratura n#o é, n#o permanece 0$emeure1 como i$enti$a$e, como ser7istrico i$:ntico a ele mesmo) 5a literatura n#o 7( o prprio $e si, o eumesmo) Sem autoi$enti$a$e, a literatura rece'e sua $etermina"#o $e outracoisa %ue n#o $ela mesma) Sua lei é um se!re$o) Para tornar-se literatura,ela $epen$e $o leitor, $e tal forma %ue a literarie$a$e n#o é umaproprie$a$e intr+nseca) A literatura permanece como uma fun"#o inst(2el e$epen$e $e um estatuto *ur+$ico prec(rio) 5#o tem, assim, casa, mora$a,esta$a, $omic+lio, lu!ar on$e se auto$etermine, n#o encontra um c7e. moion$e se esta'ili.ar ou fun$amentar sua autonomia, %ue passa ent#o semprea estar atra2essa$a pela 7eteronomia) ]5en7um enuncia$o, nen7uma forma$iscursi2a é intrinsicamente liter(ria antes e fora $e sua fun"#o %ue l7easse!ura ou recon7ece um $ireito, %uer $i.er, uma intencionali$a$eespec+ca inscrita num corpo social^ 0DERRIDA, 6HHK1)

a littérature au secret g une liation impossi'le foi pu'lica$o em 6HHH, noli2ro Donner la mort, cu*o primeiro te&to, 7om[nimo ao li2ro, é a leitura $eDerri$a para o sacrif+cio $e A'ra#o) Derri$a est( $iscutin$o o pro'lema $aalteri$a$e, $a responsa'ili$a$e innita g a%ui *( a amplia"#o $aresponsa'ili$a$e le2inasiana em rela"#o ao rosto $o outro) 5#o se trata $erepro$u.ir esta $iscuss#o, %ue n#o ca'eria no curto espa"o $este tra'al7oH,mas apenas resumir o ar!umento $e Derri$a) Ele 2olta ao sacrif+cio $eA'ra#o para apontar $ois se!re$os8 o se!re$o entre A'ra7#o e a suafam+lia, a %uem ele n#o conta as e&i!:ncias $i2inas4 e o se!re$o entre Deuse A'ra7#o, %ue n#o $i. a A'ra7#o por %ue est( e&i!in$o o sacrif+cio $eIsaac) Derri$a ar!umenta %ue A'ra7#o !uar$ou se!re$o por%ue esta2a emse!re$o, ele est( o'ri!a$o ao se!re$o por%ue o pe$i$o $e sacrico $e Isaacé para ele tam'ém um se!re$o) Por isso, é ao !uar$ar se!re$o %ue A'ra7#oassume a responsa'ili$a$e por sua $ecis#o)

$iscutin$o esta passa!em '+'lica %ue a littérature au secret come"a, em!ran$e me$i$a recuperan$o a %uest#o $o se!re$o, para associar osse!re$os $e A'ra#o ao se!re$o $a literatura) O se!re$o $a literatura estarianeste ]%uerer $i.er^ sin!ular, e Derri$a far( uma li!a"#o entre a

Page 28: Perform at i Vida De

7/23/2019 Perform at i Vida De

http://slidepdf.com/reader/full/perform-at-i-vida-de 28/29

responsa'ili$a$e innita e o sil:ncio, o se!re$o e o secreto, %ue fariamparte $a estrutura $a rela"#o com a alteri$a$e 0DERRIDA, 6HHH, p)K1)ontraria, assim, $ois i$eais $a morali$a$e em jant8 o $a autonomia e o $ara.#o p'lica, li!a$a a permanente necessi$a$e $e prestar contas $e seusatos e !estos) 5a tra$i"#o, o se!re$o é !eralmente pensa$o como a%uilo

%ue est( fora $o campo $e 2is#o, como a%uilo %ue é in2is+2el aos ol7os, est(!uar$a$o ou escon$i$o) A'scon$ito, a'scon$itus, escon$i$o, secreto,misterioso) 5a maioria $as 2e.es em %ue a'scon$ito $esi!na se!re$o setorna sin[nimo $e secretum, como a%uilo %ue est( separa$o, retira$o, %ueescapa aos ol7os, num pri2ilé!io $a $imens#o tica) Mas o a'soluto n#o énecessariamente a%uilo %ue n#o 2emos temporariamente e %ue em al!ummomento se tornar( 2is+2el) Derri$a recupera $o lé&ico !re!o a refer:nciaao se!re$o n#o como o %ue escapa $a 2is#o, mas como cripta 0r/pt[,r/ptos1 %ue, além $e si!nicar escon$i$o, tam'ém remete a além $o par2is+2elin2is+2el) A cripta seria um tipo $e se!re$o ile!+2el ou in$ecifr(2el,um se!re$o %ue n#o se tra$u. em al!o nem se torna 2is+2el em al!um

momento, n#o po$e ser re2ela$o, tra.i$o 9 lu. ou posto 9 pro2a, mas umse!re$o %ue resiste a %ual%uer tentati2a $e con7ecimento

O tra'al7o com a lin!ua!em nos $ois romances c7ama a aten"#o para aperformati2i$a$e $a lin!ua!em) Para Z) ) Austin a lin!ua!em po$e serperformati2a %uan$o apresenta opera">es retricas, atos $e lin!ua!em %ue$iminuem o clamor constati2o impon$o cate!orias lin!u+sticas, or!ani.an$oo mun$o e n#o simplesmente representan$o as coisas como s#o) Alin!ua!em performati2a in$ica %ue a emiss#o $o $iscurso 2ai além $osimplesmente $i.er al!o, mas é tam'ém a performance $e uma a"#o)Austin arma %ue ns tam'ém criamos performance $e atos $e elocu"#o,tais como informar, pe$ir, a2isar, empreen$er, e esses atos s#omanifesta">es lin!u+sticas %ue t:m uma certa for"a 0$e con2en"#o1)HPortanto, pela manifesta"#o lin!u+stica $e performance, ns a$entramos na

for"a $e elocu"#o e a'stra+mos $a $imens#o a'soluta $e correspon$:nciacom fatos) 5esse senti$o, as elocu">es $a lin!ua!em performati2a n#opo$em ser a2alia$as no uni2erso $a 2er$a$e ou $a falsi$a$e, pois alin!ua!em performati2a, $eni$a por uller, ]s#o as opera">es retricas, osatos $e lin!ua!em, %ue minam essa arma"#o impon$o cate!oriaslin!+sticas, crian$o as coisas, or!ani.an$o o mun$o em lu!ar $esimplesmente representar o %ue e&iste^)6 Esse tra'al7o performati2o coma lin!ua!em é uma $as caracter+sticas $o %ue nomeio ]poética $a ?ui$e.^)Retoman$o as pala2ras $e uller, %uan$o arma %ue um $os efeitos $alin!ua!em é ser performati2a, pois ela n#o apenas transmite informa"#omas tam'ém cria e apresenta atos por meio $a repeti"#o $e pr(ticas

$iscursi2as esta'eleci$as ou maneiras $e fa.er as coisas,66 as pr(ticas ouatos esta'eleci$os soli$icam pa$r>es lin!u+sticos %ue se tornam

Page 29: Perform at i Vida De

7/23/2019 Perform at i Vida De

http://slidepdf.com/reader/full/perform-at-i-vida-de 29/29

cristali.a$os, impe$in$o outras possi'ili$a$es mltiplas e $istintas $erepresenta"#o) uller ain$a arma %ue a lin!ua!em é ]constati2a^ %uan$oclama representar coisas como elas s#o, nomear coisas %ue *( e&istem)Dessa forma, o constati2o é o sli$o, é o %ue $etermina o %ue as coisas s#o,en%uanto na esfera $a performance, na esfera $o tornar-se, $o ?ui$o, é %ue

no2as possi'ili$a$es $e representa">es po$em ser or!ani.a$as)