percepÇÃo sobre os determinantes de saÚde em … · apesar de não possuir um núcleo central...
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE
MESTRADO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE
ADRIANA MARIA FIGUERÊDO BATISTA
PERCEPÇÃO SOBRE OS DETERMINANTES DE SAÚDE EM
CAMINHONEIROS DO ESTADO DE SERGIPE: UM ESTUDO
QUALIQUANTITATIVO
ARACAJU
2017
ADRIANA MARIA FIGUERÊDO BATISTA
PERCEPÇÃO SOBRE OS DETERMINANTES DE SAÚDE EM
CAMINHONEIROS DO ESTADO DE SERGIPE: UM ESTUDO
QUALIQUANTITATIVO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Ciências da Saúde da Universidade
Federal de Sergipe como requisito parcial à obtenção
do grau de Mestre em Ciências da Saúde.
ORIENTADORA: Profª Drª Kiriaque Barra Ferreira
Barbosa
COORIENTADORA: Profª Drª Andhressa Araújo
Fagundes
ARACAJU
2017
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
B333p
Batista, Adriana Maria Figuerêdo. Percepção sobre os determinantes de saúde em caminhoneiros
do estado de Sergipe: um estudo de caso. / Adriana Maria Figuerêdo Batista ; orientadora Kiriaque Barra Ferreira Barbosa. – Aracaju, 2017.
116 f..
Dissertação (mestrado em Ciência da Saúde)– Universidade Federal de Sergipe, 2017.
1. Indicadores de saúde. 2. Riscos ocupacionais. 3. Transportes. I. Barbosa, Kiriaque Barra Ferreira, orient. II. Título.
CDU 616-057(813.7)
ADRIANA MARIA FIGUERÊDO BATISTA
PERCEPÇÃO SOBRE OS DETERMINANTES DE SAÚDE EM CAMINHONEIROS
DO ESTADO DE SERGIPE: UM ESTUDO QUALIQUANTITATIVO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Ciências da Saúde da Universidade
Federal de Sergipe como requisito parcial para
obtenção do grau de Mestre em Ciências da Saúde.
Aprovada em: ___/___/_____
______________________________________________________________
Orientadora: Profª. Drª. Kiriaque Barra Ferreira Barbosa
______________________________________________________________
1º Examinador: Profª. Drª. Divaldo Lira Pereira Júnior
______________________________________________________________
2º Examinadora: Profª. Drª.Deborah Mônica Machado Pimentel
AGRADECIMENTOS
Todo mundo tem um sonho. E eu quando era criança sonhava em ser escritora e também
professora. Com a finalização desse trabalho acabo realizando, pelo menos parcialmente, os
dois desejos, apesar de ter sonhado um pouco diferente... queria ser escritora de livros e
professora de ensino infantil. Diante tantas páginas escritas, mesmo com a colaboração de tanta
gente (outros pesquisadores, orientadoras, alunas de iniciação científica), essa “obra” me
pertence. Então esse é o meu primeiro “livro”, ora! Além disso, ser mestre sedimenta ainda
mais meu desejo de continuar como professora, aprofundando meus conhecimentos para que
possa colaborar com a formação de outros nutricionistas. Então, é preciso agradecer!
Agradeço a Deus, supremo e onipotente, que me deu a vida e me dá todas as oportunidades que
devo merecer. O Senhor sempre esteve em minha vida como Pai, Filho e Espirito Santo, Amém!
“E a chamei, Auxiliadora mãe, minha coragem na caminhada! ”, nesse Ano Mariano Católico,
sinto sua presença me inspirando e fortalecendo.
Agradeço aos meus pais pelo brilho de satisfação todas as vezes que conquisto algo importante
na minha vida. Pai e mãe, desde sempre, minha alegria é fazê-los felizes! Meus irmãos lindos
apenas por serem irmãos, me tratando com carinho e respeito, estarão sempre em minha mente.
Ao meu esposo, Marcílio, pelo amor, apoio e suporte nos momentos ausentes (e de estresse).
Minha filha Mariana, amada e desejada, luz de minha vida, motivo principal de meus atrasos,
largo tudo para ficar com você! Amo profundamente todos vocês!
Às queridas orientadoras, amigas, doutoras em paciência e em responder e-mails, Prof.ª Dr.ª
Kiriaque e Prof.ª Dr.ª Andhressa. Vocês são maravilhosas! Kiki, sempre quando
conversávamos, você me dava uma força tão grande que nem imagina, tomava fôlego e reduzia
a culpa da minha lenta caminhada. Andhressa, suas ideias fizeram o trabalho incrível de me
permitir ir além, através do que mais me conquistou: a pesquisa qualitativa. Serei sempre sua,
pesquisa quali...
Aos amigos de caminhada acadêmica Valter, Jamille e todos da turma de Mestrado em Ciências
da Saúde 2015.1, incríveis em responder mensagens com dúvidas, apoio e compartilhando
ansiedade e medos.
Meus amigos do NASF, em especial à Viviane, Tiana, Ériko, Alana e Larissa. Lista de contatos,
ligações, leva e traz de documentos e, principalmente, companheirismo e incentivo (vai lá, você
consegue!). Vocês são maravilhosos na arte da amizade e em fazer Saúde Coletiva!
Às alunas de PIBIC Ketlin, Leidiane e Marília, sem vocês seria muito mais difícil conquistar
os participantes pela insistência, resignação e sorriso amarelo no rosto. Foram tantas ligações e
conversas para convencê-los, hein?! Tenho certeza de que colheram bons frutos de experiência
profissional nessa jornada.
A todos do curso de Nutrição da Faculdade Estácio de Sergipe, meus queridos colegas e minha
coordenadora mais que bem-humorada Carla Bamberg, pela torcida. Somos uma equipe dez!
À Secretaria de Saúde do município de Itabaiana pelo suporte e por ter abraçado a ideia em prol
da saúde dos caminhoneiros, minha pesquisa passou por duas gestões com todo apoio sem
distinção. Ao povo brasileiro que por meio das agências de apoio à pesquisa CNPQ e CAPES
tornou viável financeiramente este trabalho.
Aos professores que aceitaram participar da banca examinadora, contribuindo sobremaneira na
ampliação do olhar sobre as nuances desse trabalho.
Finalmente, aos amigos caminhoneiros pela disposição e paciência. Gratidão!
Percepção sobre os determinantes de saúde em caminhoneiros do estado de Sergipe: um estudo
qualiquantitativo. BATISTA, A. M. F. Universidade Federal de Sergipe, Programa de Pós-
graduação em Ciências da Saúde, 2017.
RESUMO
Diante da rotina laboral extenuante do motorista de caminhão, agregado aos hábitos de vida
adversos à saúde, este estudo visa conhecer os determinantes de saúde entre caminhoneiros do
estado de Sergipe, bem como a sua percepção acerca do tema. Trata-se de um estudo
transversal, com abordagem qualiquantitativa. Foram avaliados os determinantes de saúde
relativos às características socioeconômicas, condições de saúde e de trabalho, e escolhas
alimentares. Para abordagem qualitativa, utilizou-se a técnica da livre evocação, entrevistas
individuais e grupos focais, analisados por meio do software EVOC®, análise do conteúdo e
discurso do sujeito coletivo, respectivamente. Participaram 146 caminhoneiros apresentando,
de modo geral, baixa escolaridade (7,0±2,9 anos de estudo), excesso de peso (86,8%),
hipertrigliceridemia (57,7%), sedentarismo (74,7%), com rotina laboral determinada por
extensas rotas (mediana de 700 km), percorridas por longos períodos sem descanso (mediana
de 12h), e uso frequente de anfetaminas para inibir o sono (72,6%). Por outro lado, os resultados
indicam uma boa percepção sobre a importância das escolhas alimentares adequadas. As
informações qualitativas monstraram uma autopercepção satisfatória sobre a saúde (notas
7,5±1,4), denotada pela ‘ausência de doenças’. Apesar de não possuir um núcleo central
definido, a representação social sobre a saúde apontou para atitudes preventivas como
autocuidado e a referência ao risco imposto pelas condições de trabalho. Os resultados sugerem
perfil de morbimortalidade para enfermidades crônicas e relativa compreensão sobre hábitos
saudáveis, no entanto, com dificuldades para colocar em prática, alegando limitações devido às
condições de trabalho.
Descritores: Determinantes de saúde. Riscos ocupacionais. Transportes. Autopercepção em
saúde.
Truck drivers´s perception on determinants of health: a quantitative and qualitative study.
BATISTA, A. M. F. Universidade Federal de Sergipe, Programa de Pós-graduação em Ciências
da Saúde, 2017.
ABSTRACT
Faced with the strenuous work routine of the truck driver, added to the life habits adverse to
health, this study aims to know the determinants of health among truck drivers in the state of
Sergipe, as well as their perception about the theme. This is a cross-sectional study with a
qualitative and quantitative approach. The health determinants related to socioeconomic
characteristics, health and work conditions, and food choices were evaluated. For a qualitative
approach, we used the free evocation technique, individual interviews and focus groups,
analyzed through EVOC® software, content analysis and discourse of the collective subject,
respectively. There were 146 truck drivers with low schooling (7.0 ± 2.9 years of schooling),
overweight (86.8%), hypertriglyceridemia (57.7%), sedentary lifestyle (74.7%), (median of 700
km), followed by long periods without rest (median of 12 hours), and frequent use of
amphetamines to inhibit sleep (72.6%). On the other hand, the results indicate a good perception
about the importance of adequate food choices. Qualitative information showed a satisfactory
self-perception about health (notes 7.5 ± 1.4), denoted by 'absence of disease'. Although it does
not have a defined core, the social representation on health pointed to preventive attitudes such
as self-care and the reference to the risk imposed by working conditions. The results suggest a
morbidity and mortality profile for chronic diseases and a relative understanding of healthy
habits, however, with difficulties to put into practice, alleging limitations due to working
conditions.
Descriptors: Determinants of health. Occupational risks. Transports. Health perception.
LISTA DE QUADROS, FIGURAS E TABELAS
Figura 1. Processo de concepção do percurso metodológico do estudo.................................. 29
Figura 2. Fluxograma de delineamento do estudo .................................................................. 31
Figura 3. Figura 3. Frequência (%) das categorias da pergunta “qual a relação entre a profissão
de caminhoneiro e a saúde? ” ................................................................................................... 56
Figura 4. Frequência (%) das categorias da pergunta “o que ocês entendem por cuidados à
saúde?” ..................................................................................................................................... 60
Quadro 1. Classificação dos parâmetros antropométricos, clínicos e bioquímicos enquanto
determinantes de risco à saúde ................................................................................................. 33
Tabela 1: Características sociodemográficas dos caminhoneiros do estado de Sergipe (n=146)
.................................................................................................................................................. 41
Tabela 2: Condições de trabalho de caminhoneiros do estado de Sergipe (n=146) ................ 43
Tabela 3: Determinantes de saúde de caminhoneiros do estado de Sergipe (n=146) ............. 45
Tabela 4: Escolhas alimentares entre caminhoneiros do estado de Sergipe (n=146) .............. 51
Tabela 5: Quadrantes das palavras evocadas em resposta ao termo ‘risco à saúde’ pelos
caminhoneiros do estado de Sergipe (n=29) ............................................................................ 55
Tabela 6: Quadrantes das palavras evocadas em resposta ao termo ‘cuidado com a saúde’ pelos
caminhoneiros do estado de Sergipe (n=29) ............................................................................ 59
Tabela 7: Frequência das categorias de análise temática entre caminhoneiros do estado de
Sergipe (n=15) .......................................................................................................................... 64
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CC Circunferência da Cintura
CT Colesterol Total
DCNT Doenças Crônicas Não Transmissíveis
DCV Doenças Cardiovasculares
DM Diabetes Mellitus
DP Desvio-Padrão
DSC Discurso do Sujeito Coletivo
DSS Determinantes Sociais em Saúde
DST Doenças Sexualmente Transmissíveis
ECH Expressões-Chave
HAS Hipertensão Arterial Sistêmica
HDL-c Lipoproteína de Alta Densidade
IC Ideia Central
IMC Índice de Massa Corporal
LDL-c Lipoproteína de Baixa Densidade
OME Ordem Média de Evocação
OMS Organização Mundial de Saúde
PAD Pressão Arterial Diastólica
PAS Pressão Arterial Sistólica
RS Representações Sociais
SINDICAM-SE Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens do
Estado de Sergipe
SNC Sistema Nervoso Central
SPSS® Statistical Package for Social Sciences
TG Triglicérides
TRS Teoria das Representações Sociais
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 12
2 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 14
2.1 Geral .................................................................................................................................. 14
2.2 Específicos ......................................................................................................................... 14
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................................... 15
3.1 Determinantes de saúde: condições de saúde, trabalho e escolhas alimentares ......... 15
3.1.1 Conceito de determinantes de saúde e modelos explicativos .......................................... 15
3.1.2 Condições de saúde ......................................................................................................... 16
3.1.3 Condições de trabalho ..................................................................................................... 17
3.1.4. Escolhas alimentares ...................................................................................................... 18
3.2 Determinantes de saúde entre caminhoneiros ............................................................... 19
3.3 Autopercepção dos sujeitos quanto aos determinantes de saúde ................................. 24
4 CASUÍSTICA E MÉTODOS ............................................................................................. 28
4.1 Concepção do estudo ........................................................................................................ 28
4.2 Desenho, período e local do estudo ................................................................................. 28
4.3 População e critérios de elegibilidade ............................................................................. 30
4.5 Questões éticas .................................................................................................................. 30
4.5 Fase 1 ................................................................................................................................. 31
4.5.1 Delineamento ................................................................................................................... 31
4.5.2 Procedimento de coleta de dados .................................................................................... 32
4.5.3 Análise dos dados ............................................................................................................ 34
4.6 Fase 2 ................................................................................................................................. 34
4.6.1 Delineamento ................................................................................................................... 34
4.6.2 Procedimento de coleta de dados .................................................................................... 35
4.6.3 Análise dos dados ............................................................................................................ 38
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 41
5.1 Fase 1: Artigo 1 ................................................................................................................. 41
5.1.1 Caracterização sociodemográfica ................................................................................... 41
5.1.2 Determinantes de saúde relativos às condições de saúde e trabalho ............................. 42
5.1.3 Escolhas alimentares ....................................................................................................... 50
5.2 Fase 2: Artigos 2 e 3 .......................................................................................................... 54
5.2.1 Artigo 2: Evocação e Grupos Focais .............................................................................. 54
5.2.2 Artigo 3: Entrevista individual ........................................................................................ 63
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 71
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 73
APÊNDICE A – MARCO LÓGICO .................................................................................... 87
APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ........... 88
APÊNDICE C – TERMO DE AUTORIZAÇÃO DA VOZ ................................................ 89
APÊNDICE D – QUESTIONÁRIO DE PESQUISA ESTRUTURADO ........................... 90
APÊNDICE E – FOOD CHOICES INDEX .......................................................................... 92
APÊNDICE F – ROTEIRO PARA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA .................. 93
APÊNDICE G – QUESTÕES NORTEADORAS PARA O GRUPO FOCAL ................. 94
APÊNDICE H – ARTIGO 01 SUBMETIDO ...................................................................... 95
ANEXO 1 – COMPROVANTE DE SUBMISSÃO AO PERIÓDICO CADERNOS DE
SAÚDE PÚBLICA (ARTIGO 01) ....................................................................................... 111
ANEXO 2 – INSTRUÇÕES AOS AUTORES PARA PUBLICAÇÃO DO ARTIGO ... 112
12
1 INTRODUÇÃO
O motorista de caminhão é uma categoria profissional importante para a economia
brasileira sendo responsável por mais de 60% do transporte de cargas (CNT, 2017).
Determinantes de saúde, como rotina laboral e estilo de vida, podem favorecer a prevalência
elevada de morbimortalidade encontrada nesta população. Longas jornadas de trabalho
ininterruptas ou com poucos momentos de folga para recuperação física e mental caracterizam
condições de trabalho extenuantes (MASSON; MONTEIRO, 2010). Ademais, possuem hábitos
de vida adversos à saúde, tais como alimentação não saudável, sedentarismo, uso
indiscriminado de álcool e tabaco, além do uso de drogas a fim de se manterem acordados,
exposição a doenças transmissíveis e insuficiente controle periódico em saúde (ALESSI;
ALVES, 2015).
O Brasil vivencia a modificação dos padrões de saúde e doença, como o aumento da
prevalência de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), principal causa de morte
atualmente, e com etiologia multifatorial (BARROS et al., 2013). As condições de vida e de
trabalho dos indivíduos estão relacionadas com sua situação de saúde, associadas aos
comportamentos para o desenvolvimento das Doenças Crônicas Não-Transmissíveis (DCNT)
(BUSS; PELEGRINE FILHO, 2007; ALBUQUERQUE; SILVA, 2014). Nesse contexto, é
necessário compreender as relações entre a maneira como se organiza e se desenvolve
determinado grupo populacional e a situação de saúde de seus indivíduos (BARROS et al.,
2013).
O monitoramento da prevalência dos componentes de risco para DCNT, tanto os de
natureza comportamental (dieta, sedentarismo, dependência química de tabaco, álcool e outras
drogas), quanto, os fatores socioeconômicos da população, é uma das ações mais importantes
da vigilância à saúde. As evidências observadas possibilitam implementar ações preventivas
mais eficazes (MALTA et al., 2006).
A literatura aponta a existência de ligações entre indicadores de morbimortalidade e a
percepção de saúde em diferentes populações (REICHERT; LOCH; CAPILHEIRA, 2012;
CUREAU et al., 2013; MEIRELES et al., 2015; THEME FILHA et al., 2015). A análise da
autopercepção de saúde vem sendo frequentemente utilizada para a compreensão do elo entre
saúde, determinantes sociodemográficos e DCNT (BORGES et al, 2014). A partir do
entendimento da autopercepção de saúde pode-se evidenciar a subjetividade do estado físico e
mental e, quando somado à análise das representações sociais, possibilita conhecer o que
13
pensam os atores sociais, neste caso os caminhoneiros, acerca dos cuidados e riscos à saúde
(VINTÉM, 2008).
Os estudos de prevalência com caminhoneiros se propõem a avaliar os componentes do
risco à saúde sem aprofundar quanto aos seus determinantes, principalmente no que concerne
à subjetividade dos indivíduos. No Brasil são inexistentes análises das representações sociais
dos caminhoneiros a respeito dos determinantes do cuidado e risco à saúde. Na literatura
mundial, estudos mostram que estes profissionais reconhecem as condições de trabalho
adversas, bem como as barreiras ocupacionais para a aquisição de um estilo de vida saudável
(MCDONOUGH et al., 2014; BOEIJINGA; HOEKEN; SANDERS, 2016; GREENFIELD et
al., 2016).
Diante da importância dos determinantes de saúde e sua relevância para o contexto de
qualidade de vida entre motoristas de caminhão, o objetivo do presente estudo foi conhecer os
determinantes de saúde entre caminhoneiros do estado de Sergipe, bem como a percepção dos
mesmos em relação ao processo de saúde.
14
2 OBJETIVOS
2.1 Geral
Conhecer os determinantes de saúde entre caminhoneiros.
2.2 Específicos
1. Caracterizar os determinantes de saúde relativos às condições de saúde, trabalho e
escolhas alimentares;
2. Conhecer a autopercepção dos sujeitos relativa às suas condições de saúde e de trabalho.
15
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1 Determinantes de saúde: condições de saúde, trabalho e escolhas alimentares
3.1.1 Conceito de determinantes de saúde e modelos explicativos
A reflexão sobre os determinantes de saúde deve ter como ponto de partida a concepção
de saúde e doença e suas correlações, inclusive os diferentes fatores que podem interferir nessas
condições (ALBUQUERQUE; SILVA, 2014).
A história dos modelos explicativos de saúde demonstra a sua compreensão sob
diferentes pontos de vista. A perspectiva de saúde e doença possui na cosmologia um misto de
religião e magia; a existência do equilíbrio no organismo está expressa na compreensão da visão
holística; e o meio ambiente passou a ser avaliado nessa relação de equilíbrio, através da
concepção hipocrática (BARROS et al., 2013). Ainda predominante na nossa sociedade, o
modelo biomédico se pauta na lógica unicausal ou linear, tendo um agente causador para cada
doença e definindo saúde como ausência de doenças (PUTTINI; PEREIRA JUNIOR;
OLIVEIRA, 2010).
A partir da constituição da Organização Mundial de Saúde, no final da década de 40,
definiu-se saúde de uma maneira ampliada, sendo “o estado de completo bem-estar físico,
mental e social e não mera ausência de moléstia ou enfermidade” (OMS, 1946). Deste modo,
privilegia o entendimento da saúde como um processo, por meio do conhecimento acumulado
do campo científico, numa lógica multicausal, que se baseou no modelo da História Natural da
Doença (PUTTINI; PEREIRA JÚNIOR; OLIVEIRA, 2010). No entanto, segundo Almeida
Filho e Rouquayrol (2006), a história natural das doenças não é tão somente natural. Existir
com ou sem saúde não se circuscreve, portanto, como um estado de equilíbrio, mas relaciona-
se profundamente às peculiaridades de cada conjuntura sociocultural, e mais, aos sentidos que
cada sujeito atribui ao seu processo de viver (DALMOLIN et al., 2011).
Relativo a definição dos determinantes sociais em saúde (DSS), Buss e Pelegrini Filho
(2007, p. 79) colocam que "o conflito entre saúde pública e a medicina entre os enfoques
biológico e social do processo saúde e doença coloca-se no centro do debate sobre a
configuração de um novo campo de conhecimento, de prática e de educação".
Encontram-se diversos significados de DSS, entretanto todos convergem ao pressuposto
de que as condições de vida e trabalho dos indivíduos e de grupos da população estão
relacionadas com sua situação de saúde (BUSS; PELEGRINI FILHO, 2007). Segundo a
16
Comissão Nacional sobre os Determinantes Sociais da Saúde (2008), estes se encontram
conectados aos comportamentos individuais e às condições de vida e trabalho, bem como, à
macroestrutura econômica, social e cultural.
O modelo proposto por Dahlgren e Whitehead, adotado no Brasil, explica os DSS
dispostos em cinco diferentes camadas de maneira abrangente e simplificada (BARROS et al.,
2013). Esta disposição tenta explicar a complexa rede de DSS, onde os determinantes
individuais situados na base do modelo exercem força sobre as condições de saúde, no entanto,
encontram-se permeados pelas influências das redes sociais e comunitárias, bem como, das
condições de vida e de trabalho, e, em maior nível, das condições socioeconômicas, culturais e
ambientais gerais (BUSS; PELEGRINI FILHO, 2007).
3.1.2 Condições de saúde
Segundo Prata (1992), "o perfil de morbimortalidade pode ser considerado um
indicador, relativamente, sensível às condições de vida e ao modelo de desenvolvimento de
uma população, sendo o resultado da interação de diversos fatores interdependentes". Nesse
contexto, o governo e os profissionais de saúde, antes de atuar, precisam compreender as
relações entre a maneira como se organiza e se desenvolve uma determinada sociedade e a
situação de saúde de sua população (BARROS et al., 2013).
No Brasil, os processos de transição demográfica, epidemiológica e nutricional, a
urbanização e o crescimento econômico e social contribuem com uma profunda modificação
dos padrões de saúde e doença, que interagem com fatores demográficos, econômicos, sociais,
culturais e ambientais (SZWARCWALD; SOUZA-JÚNIOR; DAMACENA, 2010). Esta
modificação se caracteriza pela relativa redução da mortalidade por doenças infecciosas com a
coexistência de DCNT (BARROS et al., 2013).
As DCNT, principalmente as doenças cardiovasculares, o câncer, as doenças
respiratórias crônicas e o diabetes são as principais causas de morte no mundo. Em 2012, as
DCNT foram responsáveis por cerca de 38 milhões de mortes por ano, representando 68% das
mortes em todo o mundo; e entre as mortes prematuras (≤ 70 anos), estima-se que 52% eram
devidos às DCNT (WHO, 2016a). No Brasil, as DCNT representaram em 2013, uma taxa de
51,3 óbitos para cada 100.000 habitantes, e no estado de Sergipe a taxa de 34,1 (BRASIL,
2011a; MALACHIAS et al., 2016).
As DCNT apresentam etiologia multifatorial e entre os seus determinantes sociais são
apontadas as desigualdades sociais, as diferenças no acesso a bens e serviços, a baixa
17
escolaridade e as desigualdades no acesso à informação (BRASIL, 2011b). No entanto o
modelo explicativo mais utilizado é o que enfatiza os fatores de risco (CESSE, 2007). Assim,
entre os fatores de risco considerados de maior importância destacam-se a hipertensão arterial
sistêmica (HAS), as dislipidemias, a obesidade, o diabetes mellitus (DM) e alguns hábitos
relacionados ao estilo de vida, como tabagismo, dieta inadequada, sedentarismo e ingestão de
bebida alcoólica (WHO, 2016b).
Em 2013, a Assembleia Mundial da Saúde aprovou o “WHO Global Action Plan for the
Preventionand Control of NCDs 2013-2020”, fornecendo aos países membros, aos parceiros
internacionais e à Organização Mundial de Saúde (OMS) algumas opções políticas que
contribuirão para o progresso em nove metas globais de DCNT a serem alcançadas em 2025.
O documento considera como metas globais a melhoria de alguns fatores de risco como
sedentarismo, tabagismo, DM e obesidade; todavia, direciona a discussão das causas das DCNT
para além. Dentre os princípios expostos, o documento reconhece que o arranjo diferenciado
das DCNT entre populações e indivíduos é, explicitamente, devido à distribuição desigual dos
DSS e que as políticas de saúde devem ser incluidas nas ações em todos os setores, como a
agricultura, a comunicação, a educação, o emprego, entre outros (WHO, 2013).
Como resposta ao desafio das DCNT, o Ministério da Saúde do Brasil tem
implementado importantes políticas de enfrentamento dessas doenças, além de apoiar as
políticas públicas de promoção à saúde (BRASIL, 2011b). Adotando medidas de prevenção
primária e secundária de forma enfática, é possível que o cenário epidemiológico das DCNT
possa ser modificado nas próximas décadas (POLANCZYK; ALEGRE, 2005).
3.1.3 Condições de trabalho
Recentemente, a literatura tenta apresentar que as condições particulares de existência
influenciam os comportamentos (de risco), infligindo limites no modo de vida dos diversos
grupos sociais (ALBUQUERQUE; SILVA, 2014). Os estudos sobre as condições de vida e
trabalho, um dos níveis de determinantes de saúde, indicam que "as pessoas em desvantagem
social estão susceptíveis a um risco diferenciado, determinado por condições habitacionais mais
humildes, exposição a condições mais perigosas ou estressantes de trabalho e acesso limitado
aos serviços de saúde" (BUSS; PELEGRINI FILHO, 2007, p. 84).
A fim de garantir a integralidade da atenção à saúde, incluindo abordagens coletivas e
individuais, tornam-se necessárias ações destinadas a controlar determinantes, riscos e danos à
saúde de populações que vivem em territórios definidos (BRASIL, 2010). Portanto, aspectos
18
relativos ao trabalho, presentes na vida dos indivíduos, famílias e conjunto da população, devem
ser incorporados nesse processo (BRASIL, 2002).
Em relação aos trabalhadores, há que se considerar os diversos riscos ambientais e
organizacionais aos quais estão expostos, em função de sua inserção nos processos de trabalho.
Minayo-Gomez; Thedim-Costa (1997, p. 24) analisam que "não restam dúvidas de que as
inserções diferenciadas dos indivíduos nos processos produtivos, quer no meio urbano, quer no
rural, definem padrões também diversificados de morbimortalidade". As autoras também
reconhecem que tais padrões de morbimortalidade podem ter a contribuição de outros fatores
decorrentes das condições de vida aos quais os trabalhadores estão submetidos.
As doenças relacionadas ao trabalho fazem referência a um "conjunto de danos ou
agravos que incidem sobre a saúde dos trabalhadores, causados, desencadeados ou agravados
por fatores de risco inerentes aos locais e contexto de trabalho" (BRASIL, 2002, p. 20).
Ademais, além das doenças, deve-se considerar o processo de desgaste que é constituído pelos
diferentes problemas de saúde dos trabalhadores, integrando os campos da saúde mental e
ocupacional, de maneira mais abrangente (PINA; STOTZ, 2014).
Desgaste pode ser entendido como o prejuízo da aptidão potencial e/ ou efetiva corporal
e psíquica (PINA; STOTZ, 2014). Segundo Seligmann-Silva (1994), o desgaste do trabalhador
pode ser explicado por três dimensões: a primeira, em termos orgânicos, decorrente dos
acidentes de trabalho ou da ação de substâncias tóxicas; uma segunda, pela fadiga crônica; e a
terceira, pelo desgaste da esperança, que afeta a identidade do trabalhador, atinge seus valores
e crenças e pode ferir sua dignidade.
3.1.4. Escolhas alimentares
De acordo com Buss e Pelegrini Filho (2007), o estilo de vida dos indivíduos, muitas
vezes julgados apenas como responsabilidades pessoais, estão situados no limiar entre os
fatores individuais e DSS, posto que podem também ser considerados parte dos DSS. Segundo
esses autores, as opções de comportamentos individuais "estão fortemente condicionadas por
determinantes sociais - como informações, propaganda, pressão dos pares, possibilidades de
acesso a alimentos saudáveis e espaços de lazer" (BUSS; PELEGRINI FILHO, 2007, p. 83).
Em concordância, Rothes e Cunha (2016, p. 46) explicam que "a alimentação humana, enquanto
ato sociocultural se traduz, numa multiplicidade de sistemas alimentares para os quais
contribuem fatores distintos, de ordem social e cultural, mas, também, ecológica e econômica".
19
Lima, Ferreira Neto e Farias (2015) referem que as escolhas alimentares se relacionam
com a disponibilidade de alimentos aos indivíduos e ainda ao potencial técnico que possuem
para processá-los. Delormier, Frohlich e Potvin (2009) defendem que o processo de escolha
alimentar é influenciado pelo convívio social cotidiano (relações familiares, local de trabalho e
escola), zonas de coexistência que permitem trocas e auxiliam a moldar o sistema alimentar dos
indivíduos.
Poulain, Proença e Diez-Garcia (2012) definem as práticas e comportamentos
alimentares como procedimentos pertinentes às escolhas alimentares de grupos humanos
associados a atributos socioculturais, ou seja, aos aspectos subjetivos, individual e coletivos
referentes ao comer e à comida. Esses autores avaliam que o diagnóstico das práticas e
comportamentos alimentares se torna etapa necessária para o desenvolvimento de programas e
intervenções na área de educação nutricional.
A OMS reconhece que o tipo de alimento, bem como, sua quantidade define, em grande
medida, a saúde dos indivíduos, contribuindo para o desenvolvimento das DCNT,
reconhecidamente grandes problemas de saúde pública (WHO, 2016b). Assim, permanece o
empenho pra conhecer os determinantes da seleção de alimentos buscando maneiras mais
eficazes de prover orientação alimentar para indivíduos e populações a fim de melhorar sua
saúde e qualidade de vida (LARSON; STORY, 2009).
Deste modo, entende-se a relevância de conhecer o processo de escolhas alimentares
entre os diferentes grupos sociais. Segundo Contreras e Gracia (2011, p. 147), deve ser
considerada a “dupla natureza biossocial, que funciona com estreita vinculação, especialmente
por aqueles que, por meio de suas orientações e prescrições, pretendem intervir para modificar,
nas pautas alimentares praticadas por determinado grupo humano”.
3.2 Determinantes de saúde entre caminhoneiros
O setor de transporte de cargas rodoviário contribui com mais de quatro milhões de
trabalhadores no Brasil (KNAUTH et al., 2012) e participa em mais de 60% do transporte de
cargas (CNT, 2017), caracterizando-se como um setor do qual todos os outros são dependentes
(MASSON; MONTEIRO, 2010). No entanto, a literatura destaca prevalência elevada de
morbimortalidade nesta população, demonstrando muitas vezes múltiplas condições de saúde
associadas com hábitos de vida inadequados, fatores de risco relevantes para o desenvolvimento
e evolução das DCNT (ALESSI; ALVES, 2015).
20
Estudos entre caminhoneiros brasileiros demonstram a presença simultânea de diversos
fatores de risco. Em uma rodovia em São Paulo, entre 258 motoristas de caminhão, 37%
possuíam HAS, além de outros fatores de risco associados: 46% de sobrepeso, 35% de
obesidade, elevada carga horária de trabalho, em média 10,0 ± 4,0 horas por dia, 55% ingeriam
bebida alcoólica, 19% eram tabagistas, e 57% relataram o uso de medicamentos para manterem-
se acordados (CAVAGIONI; PIERIN, 2010). Outra pesquisa sobre fatores de risco
modificáveis e não modificáveis para o desenvolvimento da HAS demonstrou que 54,1%
possuíam parentes diretos hipertensos; 49,4% e 23,7% relataram uso de bebida alcoólica e
tabaco, respectivamente; e em relação aos hábitos alimentares, 39,3% informaram ingerir,
preferencialmente, alimentos processados, 13,2% consumiam alimentos fritos e 26,8%
acrescentavam sal à alimentação depois de preparada (GUEDES et al., 2010).
Sangaleti et al. (2014), em estudo conduzido com 227 caminhoneiros que trafegavam
na BR 277, demonstraram que predominava a inatividade física, 72,8%; consumo de bebidas
alcoólicas, 66,8%; uso rotineiro de algum tipo de estimulante durante as atividades de trabalho,
19,2%; tabagismo, 29%. Apenas 20,8% tinham peso saudável e 58,2% tinham circunferência
abdominal superior a 102 cm. O diagnóstico de hipertensão arterial foi confirmado em 45,2%
e os níveis anormais de glicose foram detectados em 16,4%. A análise de regressão logística
mostrou que as chances de hipertensão e níveis anormais de glicose foram aumentadas em
motoristas de caminhão com obesidade abdominal.
Entendendo que a sonolência compromete a qualidade de vida do trabalhador, Mansur
et al. (2015) analisaram a relação entre obesidade e síndrome metabólica e a prevalência de
sonolência em 2228 motoristas de caminhão brasileiros entre 2006 e 2011. No período
observou-se aumento de: circunferências cervical (p = 0,011) e abdominal (p < 0,001);
colesterol total (p < 0,001); níveis séricos de triglicerídeos (p = 0,014); sonolência (p < 0,001).
A análise de regressão linear mostrou correlação íntima de sonolência com índice de massa
corporal (p = 0,031), circunferência abdominal (p = 0,021), hipertensão (p = 0,002) e
triglicerídeos (p = 0,022).
A tendência de presença dos diferentes fatores de risco nas amostras de motoristas pode
também ser encontrada entre estudos internacionais. Dabrh et al. (2014) publicaram uma
revisão sistemática com 32 estudos de diferentes países sobre avaliação de saúde envolvendo
151.644 motoristas comerciais (98% homens). A prevalência de diversas condições de saúde
foi elevada: obesidade (45%), DM (33%), HAS (23%) e distúrbios do sono (19%). Sharma e
Ganguly (2014) demonstraram que dos 59 caminhoneiros indianos entrevistados, 54% sofreram
de lombalgia, 16,9% de problemas visuais, 45,7% de HAS, 8,4% de anemia e 30,5% tinham
21
Índice de Massa Corporal (IMC) de alto risco. Apresentaram também comportamentos de risco:
44,1% fumantes crônicos, 47,5% utilizando produtos de tabaco mascável e 57,6% utilizavam
álcool com frequência. Sieber et al. (2014) evidenciaram que 61% entre os 960 caminhoneiros
americanos avaliados relataram ter dois ou mais fatores de risco: HAS, obesidade, tabagismo,
colesterol alto, sedentarismo, seis ou menos horas de sono por dia.
Um estudo que avaliou as relações entre o IMC e comorbidades entre 88.246 motoristas
americanos, utilizando dados de relatórios médicos entre 2005 e 2012, evidenciou que a
maioria dos motoristas estava obesa (53,3%) e com obesidade mórbida (26,6%), superior aos
relatórios anteriores. Os condutores obesos eram mais propensos a reportar doença cardíaca,
hipertensão, diabetes mellitus, distúrbios nervosos, distúrbios do sono e dor lombar crônica
(todos p <0,0001). A prevalência de obesidade mórbida aumentou 8,9% e a prevalência de três
ou mais condições múltiplas aumentou quatro vezes entre 2005 e 2012 (THIESE et al., 2015).
Revisão sistemática que incluiu artigos publicados em inglês entre 2005 e 2015, apontou
que a obesidade abdominal afetava até 70% dos motoristas de caminhões, enquanto que o
sobrepeso e obesidade obteve variação de 35-46% e 15-70%, respectivamente. Dentre os
demais componentes a prevalência variou em: 5-41% para HAS, 17-22% dislipidemia e até
16% de DM (MABRY et al., 2016).
Moulatlet et al. (2010) analisaram a prevalência de fatores associados a HAS entre
motoristas de caminhão de uma transportadora de cargas brasileira, num total de 470
indivíduos, majoritariamente do sexo masculino. Concluíram que os resultados da análise
conjunta dos motoristas mostraram associação estatisticamente significante entre HAS e idade,
IMC, nível de escolaridade e vínculo empregatício, sugerindo que fatores sociodemográficos,
antropométricos e ocupacionais tenham influência sobre a HAS.
Outros fatores de risco relevantes refere-se ao consumo de estimulantes, como
anfetaminas, álcool e outras drogas, frequentemente associados à presença de distúrbios do
sono entre caminhoneiros (KNAUTH et al., 2012; GIROTTO et al., 2014; GIROTTO et al.,
2015; OLIVEIRA et al., 2015).
No Rio Grande do Sul, em pesquisa com 854 motoristas de caminhão, o uso de “rebite”
(medicamento estimulante) era frequente em 12,7% da amostra e mais de 70% desta consumiam
bebidas alcoólicas (KNAUTH et al., 2012). Revisão sistemática sobre a prevalência do uso de
substâncias psicoativas entre motoristas de caminhão incluiu 36 estudos de países diversos,
mostrando o álcool (n = 25), anfetaminas (n = 17), maconha (n = 16) e cocaína (n = 13) como
as substâncias mais estudadas. Apesar das variações relativas ao tipo de substância e ao método
22
de coleta de informações, concluiu-se que a frequência de uso de substâncias psicoativas por
motoristas de caminhão foi elevada (GIROTTO et al., 2014).
Entre 670 caminhoneiros no Porto de Paranaguá, Paraná, observou-se a prevalência de
consumo de substâncias psicoativas no último mês de 10,9% (principalmente anfetaminas),
além de, aproximadamente, 29,1% e 25,2% dos entrevistados terem relatado consumo de álcool
excessivo e tabagismo, respectivamente (GIROTTO et al., 2015). Oliveira et al. (2015)
demonstraram que, entre 684 motoristas de caminhão que trafegavam em três rodovias de São
Paulo, 29,0% relataram ter usado anfetaminas nos doze meses anteriores às suas entrevistas.
Outra revisão incluiu 12 estudos que avaliaram fatores associados ao consumo de
substâncias psicoativas, destacando-se: faixa etária mais jovem, viagens mais longas, consumo
de álcool, condução no turno da noite, rotas interestaduais itinerantes, sono longo ou curto,
menos horas de repouso, pouca experiência do motorista, conexão com pequenas e médias
empresas, renda abaixo dos níveis determinados por acordos trabalhistas, ganhos baseados na
produtividade e envolvimento prévio em acidentes (GIROTTO et al., 2014).
Numa amostra de 670 caminhoneiros no Porto de Paranaguá, Paraná, observou-se que,
após o ajuste por características de trabalho, variáveis sociodemográficas e de estilo de vida, as
condições de trabalho associadas ao consumo de substâncias psicoativas foram: condução na
maior parte à noite (OR= 3,91;), dirigir cansado (OR= 2,26) e receber maior renda mensal (OR=
2,08). Os condutores com 39 anos de idade ou menos (OR= 2,11) e que não viviam com um
parceiro (OR= 2,22) também eram mais propensos a consumir substâncias psicoativas
(GIROTTO et al., 2015).
Oliveira et al. (2015) conduziram um estudo com 684 motoristas de caminhão que
trafegavam em três rodovias de São Paulo avaliando a relação entre as condições de trabalho e
o risco para o uso de anfetaminas. Os resultados mostraram que 29,0% dos motoristas relataram
ter usado anfetaminas nos doze meses anteriores às suas entrevistas. Os determinantes que
indicaram o uso de anfetaminas entre caminhoneiros foram: ter menos de 38 anos (odds ratio:
OR = 3,69), ter passado menos de nove anos na escola (OR= 1,76), ser autônomo (OR= 1,65),
turnos noturnos de trabalho ou horários irregulares (OR= 2,05), trabalhar por mais de 12 horas
diárias (OR= 2,14) e consumo de álcool (OR= 1,74).
As condições e rotina de trabalho dos motoristas de caminhão provocam impactos sobre
a sua qualidade de vida, demonstrando um determinante de saúde relevante nesse grupo. Longas
jornadas com rotina estressante e ausência de autonomia, implicam na falta de repouso
adequado, má alimentação, tabagismo, uso de álcool e outras drogas, além da exposição a
doenças transmissíveis. Essa possível relação pode ser demonstrada tanto em revisões de
23
literatura (MARQUEZE; ULHÔA; MORENO, 2012; GIROTTO et al., 2014), quanto entre
estudos nacionais (GIROTTO et al., 2015; OLIVEIRA et al., 2015; GIROTTO et al., 2016) e
entre motoristas em outros países (NEOPHYTOU et al., 2014; BIRDSEY et al., 2015; ROSSO
et al., 2015; GUAN et al., 2016).
Revisão sobre a relação entre horários de trabalho irregulares e desordem metabólica
entre motoristas de caminhão, demonstrou que o trabalho por turnos tem influência negativa
substancial sobre as funções fisiológicas, mediada pelo desalinhamento do ciclo circadiano. As
prevalências elevadas de obesidade e distúbios metabólicos, especificamente, entre motoristas
de caminhão, estiveram relacionadas ao trabalho por turnos irregulares, onde a inadequada
organização do trabalho determinou as condições desfavoráveis de sono e de alimentação
(MARQUEZE; ULHÔA; MORENO, 2012).
Estudo conduzido com 665 motoristas de caminhão no Paraná observou que as
condições de trabalho podem ter contribuído para o aumento da prevalência de alguns agravos,
favorecendo o uso contínuo de medicamentos. Este estudo demonstrou que 74,4% possuem
turno alterado de trabalho, 63,3% algum problema de saúde, destacando-se dores crônicas em
geral (braços, pernas ou costas) (35,6%), além do relato de HAS (16,2%), dislipidemias
(12,6%), hemorroidas (8,7%) e DM (7,5%). As características profissionais que se associaram
com o uso de medicamentos foram o tempo de experiência como motorista igual ou superior a
16 anos; caminhão do próprio motorista; e não ter vínculo empregatício (sem registro em
carteira de trabalho) (GIROTTO et al., 2016).
Neophytou et al. (2014) avaliaram o efeito do trabalho como motorista de longa
distância na mortalidade por doença isquêmica cardíaca em uma coorte de 30.448 homens,
empregados na indústria sindicalizada de caminhões dos Estados Unidos da América entre 1985
e 2000. Os resultados indicaram que trabalhar como condutor de longa distância eleva em 1,2
o risco de mortalidade por doença isquêmica cardíaca.
Nos Estados Unidos, o National Survey of US Long-Haul Truck Driver Health and
Injury entrevistou amostra nacional representativa de motoristas de caminhão de longa distância
(n = 1265) em paradas de caminhões. Este estudo constatou que, em comparação com outros
trabalhadores norte americanos, os motoristas de caminhão de longa distância tiveram
prevalência significativamente maior de obesidade, principalmente, relativa à obesidade de
grau II ou mais, entre homens (31,3% versus 9,1%). Os caminhoneiros também apresentaram
maior exposição ao cigarro, comparado com indivíduos com outro tipo de trabalho (46,2% para
os homens e 54,9% para as mulheres versus 20,6% e 17,4%, respectivamente) (BIRDSEY et
al., 2015).
24
Entre motoristas profissionais italianos, 61% dos 497 participantes tinham excesso de
peso ou eram obesos de acordo com o índice de massa corporal. Dentre os fatores preditivos
para a obesidade estavam: viajar mais de 40.000 milhas por ano (OR =4,20) e horas de viagem
por dia (OR = 1,27). Além disso, evidenciou-se associação inversa entre o nível de escolaridade
e a obesidade (OR=0,32) (ROSSO et al., 2015).
Guan et al. (2016), avaliaram dados antropométricos de 1.950 de motoristas de
caminhão americanos (1.779 homens e 171 mulheres) mostrando que nesse público a
prevalência de obesidade é maior do que a população geral dos Estados Unidos, com uma
diferença no peso corporal médio de 13,5 kg para homens e 15,4 kg para mulheres.
Somando-se às condições de saúde e de trabalho dos caminhoneiros, a literatura
demonstra poucas atitudes concernentes aos cuidados à saúde nesse grupo. Muitos relatam que
quando em rota de viagem não usam os serviços de saúde e referem que, em função da sua
rotina de trabalho, não tem tempo para cuidar da saúde (GUEDES et al., 2010; MASSON;
MONTEIRO, 2010).
Birdsey et al. (2015) demonstraram que os motoristas americanos possuem menor
prevalência de vacinação anual contra a gripe e, cerca de 25% nunca tiveram seus níveis de
colesterol aferidos. Sangaleti et al. (2014) demonstrou que embora alguns dos motoristas de
caminhão estivessem cientes do diagnóstico clínico de condições crônicas (HAS, 45,2% e
níveis alterados de glicose entre 16,4%), a maioria não estava tomando medicamentos
específicos. O acesso aos cuidados em saúde minimizam os fatores de risco para o
desenvolvimento das DCNT, favorecendo a prevenção e controle de tais desfechos
(SANGALETI et al., 2014).
3.3 Autopercepção dos sujeitos quanto aos determinantes de saúde
A autopercepção de saúde é um indicativo importante para a avaliação global da
situação de saúde do indivíduo. Cada vez mais, por sua relevância, este fator recebe destaque
em estudos epidemiológicos (CUREAU et al., 2013). Desse modo, a autopercepção de saúde
vem sendo frequentemente utilizada para o entendimento da relação entre saúde, determinantes
sociodemográficos e doenças crônicas (BORGES et al., 2014).
Indicadores de mortalidade em diferentes populações e sua relação com a percepção de
saúde têm sido referidos na literatura (REICHERT; LOCH; CAPILHEIRA, 2012).
Compreender a percepção pessoal de saúde traz à luz a subjetividade do estado físico e mental,
25
independente das interpretações médicas dos sintomas, tornando-se um importante preditor da
utilização dos serviços de saúde (VINTÉM, 2008).
Os fenômenos sociais podem ser analisados de forma quantitativa, considerando as
análises de frequência e regularidades, mas também podem ser analisados de maneira
qualitativa, descrevendo relações, histórias, representações, pontos de vista e lógica interna dos
sujeitos em ação (MINAYO, 2010).
Analisando a saúde sob a perspectiva de fenômeno social, recomenda-se o uso da
exploração através das Ciências Sociais, que possuem instrumentos e teorias capazes de fazer
uma aproximação da grandiosidade da existência dos seres humanos em sociedade. Para isso,
“aborda-se o conjunto das expressões humanas constantes nas estruturas, nos processos, nas
representações sociais, nas expressões da subjetividade, nos símbolos e significados”
(MINAYO, 2016, p. 14).
A Teoria das Representações Sociais (TRS), formulada em 1961, por Serge Moscovici,
adquiriu notoriedade a partir de 1976, baseando-se na heterogeneidade da sociedade
contemporânea. Situando-se dentro da psicologia social, Moscovici teorizou que as
Representações Sociais (RS) não são representações apenas de indivíduos e sim de grupos sobre
um objeto, transpondo o campo da análise individual para o campo da análise social
(FERREIRA; BRUM, 2000).
O fenômeno das RS pode ser entendido como as teorias que são concebidas no senso
comum, ou seja, “como as pessoas e os grupos sociais, no curso de suas vidas cotidianas,
constroem saberes sobre si mesmas, sobre os outros e sobre os diversos objetos sociais que lhe
são relevantes” (FÉLIX et al., 2016, p.199). Envolvem a esfera social dos indivíduos com os
encadeamentos afetivos e normativos, com as internalizações de experiências, práticas,
modelos de conduta e pensamento, socialmente embutidos ou transmitidos. Por isso seu estudo
constitui uma contribuição decisiva para a abordagem da vida mental individual e coletiva
(JODELET, 2001).
Um indivíduo pode assumir diferentes papéis sociais, cada um origina RS comuns,
através das quais a pessoa se auto representa, herdando a história desse papel que assume
(VALSINER, 2015). Através da noção de RS pode-se entender, de maneira ampliada, como se
produzem os saberes sociais em determinados grupos e como esses saberes se manifestam
cotidianamente nas relações destes grupos (FERREIRA; BRUM, 2000).
Optar pelo uso de diferentes métodos de análise contribui para envolver a multiplicidade
do objeto, considerando o nível de complexidade dos fenômenos investigados. Busca-se “dar
atenção ao contexto do estudo, mas também à diversidade de olhares e vozes que caracterizam
26
os grupos sociais relevantes para o estudo de determinadas representações” (NASCIMENTO-
SCHULZE; CAMARGO, 2000, p. 288).
As técnicas de evocação e a uti1ização de textos produzidos de modo ''mais natural"
(falas durante uma entrevista, depoimentos, relatos) são os dois procedimentos mais
empregados no estudo das RS. Complementam-se e fornecem critérios objetivos para a análise
dos materiais textuais (NASCIMENTO-SCHULZE; CAMARGO, 2000).
Em relação à saúde, as práticas que os homens apresentam podem contribuir para
reforçar significados existentes na sociedade atual ou podem auxiliar na descoberta de novas
significações da representação e prática social sobre a saúde masculina. Para contribuir com a
investigação das práticas de saúde do homem, a TRS mostra-se valiosa, uma vez que possibilita
o entendimento dos significados que permeiam tais práticas, relacionando-as com elementos do
cotidiano (MENDONÇA; MENANDRO; TRINDADE, 2011).
No Brasil, revela-se a ausência de estudos sobre autopercepção de saúde entre
caminhoneiros em atividade laboral. Avaliações qualitativas envolvendo esse grupo limitaram-
se a descrever questões referentes aos significados e vulnerabilidades para doenças sexualmente
transmissíveis (SOUSA; SILVA; PALMEIRA, 2014; SOBRINHO-SANTOS et al., 2015;
MAGNO; CASTELLANOS, 2016).
Apenas um estudo brasileiro investigou a concepção de saúde e as interferências das
atividades laborais entre caminhoneiros. Delfino e Moraes (2015) avaliaram as percepções
sobre o adoecimento em entrevistas com 13 motoristas afastados da atividade laboral. Dentre
outros achados, encontraram que o entendimento sobre o estado de saúde aparece,
intrinsicamente, associado à capacidade para o trabalho, corroborando com comportamentos de
adiamento do cuidado à saúde. Este achado chama a atenção para a concepção de saúde como
ausência de doenças, onde os conceitos que perpassam pela qualidade de vida são exíguos.
Na literatura mundial encontram-se alguns estudos que se propõem a realizar uma
abordagem qualitativa com os caminhoneiros compostos por diferentes objetivos
(MCDONOUGH et al., 2014; BOEIJINGA; HOEKEN; SANDERS, 2016; GRENNFIELD et
al., 2016). Em comum, estes trabalhos mostram, claramente, que os profissionais consentem
em relação às condições de trabalho adversas, bem como as barreiras ocupacionais para a
aquisição de um estilo de vida saudável.
McDonough et al. (2014) conduziram quatro grupos focais com motoristas de caminhão
e gestores de transportadoras em Ontário, Canadá, para identificar a experiência vivida dos
condutores em relação aos riscos evitáveis para a saúde e bem-estar. Os temas predominantes
descritos foram: o estresse, o local de trabalho, a comunicação, o estilo de vida, a cultura de
27
condução, a família e as preocupações relacionadas à fadiga. Em termos de ambiente de
trabalho, motoristas e gestores estavam conscientes do potencial da profissão para promover
doenças crônicas relacionadas ao estilo de vida, e descreveram desafios em tornar a profissão
mais acessível a um estilo de vida saudável.
Boeijinga et al. (2016) conduziram e analisaram 20 entrevistas semi-estruturadas e sete
casos de observações participantes com caminhoneiros holandeses. Os resultados ilustraram
que os indivíduos desejam melhorar seu estilo de vida, mas têm associações improdutivas com
conceitos de vida saudável, bem como, tendência a subestimar os riscos à saúde aos quais estão
sujeitos. Além disso, experimentam barreiras dentro de seu trabalho e ambiente pessoal que os
impedem de traduzir suas intenções em mudanças reais de estilo de vida.
Greenfield et al. (2016) utilizaram de grupo focal com 36 caminhoneiros americanos
para avaliar as necessidades e atitudes no que diz respeito às intervenções de promoção da saúde
e, em particular, a sua percepção sobre o uso de wearable devices (relógios e pulseiras
inteligentes) para monitoramento de sinais vitais e outros dados enviados pelo corpo, para
melhoria da sua saúde. Nesse estudo, a maioria deles percebeu sua saúde como "boa" e seu
estilo de vida como "saudável". No entanto, os motoristas estavam cientes de seu estilo de vida
composto por dietas inadequadas e sedentarismo, tendo interesse em modificá-lo, mas
perceberam-no como um resultado inerente e inevitável de sua ocupação. Os participantes
estavam geralmente dispostos a usar wearable devices como uma medida preventiva para evitar
a morbidade, contudo, demonstraram preocupação quanto à privacidade e o risco do
monitoramento contínuo pelo empregador.
Portanto, investigar sobre o que é socialmente construído e valorizado, tanto pelos
sujeitos quanto pela coletividade, pode auxiliar no conhecimento das dimensões da escolha e
adesão ao estilo de vida saudável (MASSIMO; SOUZA; FREITAS, 2015). A investigação dos
significados de saúde e doença entre os indivíduos, grupos e sociedade, propicia obter uma
abordagem das suas diversidade de saberes e necessidades, corroborando para a garantia de
alguns dos princípios da saúde pública brasileira, como a regionalização e participação popular.
Deste modo, é possível propor políticas que possam atender melhor, e mais especificamente, o
grupo em questão (RIBEIRO; BRANT; PINHEIRO, 2015).
28
4 CASUÍSTICA E MÉTODOS
4.1 Concepção do estudo
O percurso metodológico está apresentado na Figura 1. Em um procedimento interligado
foram definidos a pergunta, os objetivos da pesquisa e o referencial teórico, permitindo a
delimitação do tema e, por fim, foram escolhidos os métodos. Optou-se por desenvolver a
pesquisa em duas fases complementares, apresentadas e detalhadas a seguir. Para melhor
delineamento do estudo foi elaborado o marco lógico da pesquisa (APÊNDICE A).
A motivação para este trabalho se deu pelo fato do município de Itabaiana, interior do
estado de Sergipe, ser considerado a capital nacional do caminhão, concentrando famílias de
indivíduos caminhoneiros.
4.2 Desenho, período e local do estudo
Tratou-se de um estudo observacional de caráter transversal, de seleção de amostra de
conveniência, de abordagem multimétodo, qualiquantitativo. Nas propostas de métodos mistos
são identificadas cinco finalidades: triangulação, complementaridade, desenvolvimento,
iniciação e expansão (WORTHEN; SANDERS; FITZPATRICK, 2004). O presente estudo foi
realizado em conformidade com a finalidade de complementaridade, onde procurou melhorar,
exemplificar e esclarecer os resultados de um método com os resultados de outro método,
analisando mais elementos sobre o objeto de estudo. A junção dos métodos quantitativos e
qualitativos tem o objetivo de alcançar uma representação mais completa do fenômeno de
interesse, conferindo validade ao método (WORTHEN; SANDERS; FITZPATRICK, 2004).
A coleta de dados foi realizada de novembro/2015 a fevereiro/2017, no município de
Itabaiana, Sergipe
29
Concepção do estudo
1. Definição da
pergunta da pesquisa
e dos objetivos
2. Concepção do
percurso
metodológico
3. Fundamentação
teórica
1. Definição da pergunta da pesquisa e dos objetivos
Revisão da
literatura
Construção do
marco lógico
2. Concepção do percurso metodológico
FASE 1
Responder aos objetivos específicos 1 e 2
Caráter quantitativo
Coleta de dados: aplicação dos questionários, aferição das
medidas antropométricas e pressão arterial; e encaminhamento
para coleta de sangue (glicemia e lipidograma)
Análise estatística
dos dados (SPSS®)
Revisão da
literatura
Submissão ao Comitê de
Ética em Pesquisa/UFS
FASE 2
Responder ao objetivo específico 3
Caráter qualitativo
Evocação
livre
Entrevistas
semiestruturadas
Grupos
focais
Análise de
Evocação
(EVOC)
Análise de
Conteúdo
Análise de
Discurso do
Sujeito
Coletivo
Figura 1: Processo de concepção do percurso metodológico do estudo.
Artigo 1
Artigo 2
Artigo 3
30
4.3 População e critérios de elegibilidade
A população do presente estudo foi composta por caminhoneiros que trafegavam
e residiam no estado de Sergipe, associados ou não ao Sindicato dos Transportadores
Rodoviários Autônomos de Bens do Estado de Sergipe (SINDICAM-SE), sediado no
município de Itabaiana, Sergipe.
Foram considerados como critérios de inclusão: ter acima de 20 anos, dirigir
veículo de transporte de cargas rodoviário atualmente e possuir Carteira Nacional de
Habilitação nas categorias C, D ou E, de acordo com o artigo 143 do Código de Trânsito
Brasileiro (BRASIL, 1997).
4.5 Questões éticas
Em conformidade com os princípios da declaração de Helsinki, bem como das
Resoluções nº466/12 e nº 510/16 do Conselho Nacional de Saúde, e após explicação clara
sobre o protocolo do estudo, cada participante assinou o termo de consentimento livre e
esclarecido (APÊNDICE B), permitindo sua participação voluntária, além do termo para
autorização da gravação e do uso da voz (APÊNDICE C), necessário para a avaliação
qualitativa (entrevista semiestruturada e/ou grupos focais).
O voluntário foi informado sobre os métodos e técnicas a serem utilizados para a
coleta de dados, os possíveis benefícios e inconveniências, a forma de divulgação dos
resultados e a voluntariedade da participação. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê
de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Sergipe, sob
Parecer nº 1275680.
As classificações do estado nutricional e da pressão arterial foram informadas logo
após a avaliação. Os pesquisadores entraram em contato com os participantes depois da
realização dos exames laboratoriais para marcação de um novo encontro onde foram
realizadas as orientações nutricionais relativas aos eventuais desvios do estado nutricional
apresentados. Caso o participante não pudesse comparecer, as orientações foram
realizadas pelo telefone.
Os resultados desta pesquisa serão divulgados por um relatório para a gestão da
Secretaria Municipal de Saúde da Prefeitura Municipal de Itabaiana, além da utilização
de meios midiáticos (emissoras de rádio) no município.
31
4.5 Fase 1
4.5.1 Delineamento
Foi composto um banco de dados cadastrais por meio da coleta dos contatos
telefônicos de 312 indivíduos. Estes registros foram colhidos entre as informações
fornecidas pelo Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens do
Estado de Sergipe (SINDICAM-SE), lista de presença durante evento com caminhoneiros
promovido pela Prefeitura Municipal de Itabaiana e da abordagem dos indivíduos em
estabelecimentos de maior fluxo desta população, como postos de gasolina, oficinas
mecânicas, lojas de autopeças e fábricas de carroceria no referido município. As técnicas
de coleta de dados serão descritas a seguir.
Os motivos para não adesão, em geral, foram o fato de não estarem na cidade nos
dias das entrevistas (107 cadastros) ou telefone indisponível nos momentos das ligações
(55 cadastros). Aderiram ao estudo 150 indivíduos, havendo perda amostral para algumas
variáveis devido ao não comparecimento para a aferição dos parâmetros antropométricos,
pressão arterial e/ou não realização dos exames bioquímicos, além da omissão de outras
informações (Figura 2).
Figura 2: Fluxograma do delineamento do estudo (Fase 1).
312 indivíduos cadastrados
Adesão
150 indivíduos Assinatura do Termo
de Consentimento
Livre e Esclarecido
Não adesão: 162
indivíduos
Excluídos: 04 indivíduos
03 questionários incompletos
01 questionário duplicado
Amostra: 146 indivíduos
Antropometria:
Válidos=134; Perda=12
Aferição de Pressão Arterial:
Válidos=84; Perda=62
Exames bioquímicos:
Válidos=51; Perda=95
32
4.5.2 Procedimento de coleta de dados
Os dados foram coletados de duas maneiras: encontros agendados na Unidade
Básica de Saúde por meio de contatos telefônicos ou abordagem direta dos indivíduos
nos locais descritos. Após a inclusão dos participantes foram aplicados os questionários
estruturados, aferidas as medidas antropométricas e pressão arterial, em seguida os
mesmos foram encaminhados ao laboratório conveniado ao serviço de saúde do
município para a coleta de sangue e realização dos exames laboratoriais.
Com o objetivo de facilitar a adesão, o laboratório conveniado para a coleta se
encontrava no centro da cidade, em local de fácil acesso e conhecido pela população.
Ademais, o encaminhamento recebido garantia ao indivíduo prioridade de atendimento
de segunda a sexta-feira, a partir das sete horas da manhã. Os resultados dos exames foram
entregues a pesquisadora, que agendava com os participantes a consulta de retorno para
esclarecimentos e orientações.
(A) Características demográficas e socioeconômicas
Os motoristas responderam a um questionário estruturado (APÊNDICE D) sobre
características demográficas (idade e sexo) socioeconômicas (estado civil, escolaridade e
renda), elaborado pelo pesquisador, baseado em estudo prévio (MARQUEZE, 2012).
(B) Determinantes de saúde
A estatura foi aferida utilizando estadiômetro (Altura Exata, Minas Gerais,
Brasil), com escala em milímetros. Para a aferição do peso corporal foi utilizada balança
digital eletrônica (Líder, P 180M, São Paulo, Brasil) com capacidade máxima de 180
quilogramas e escala de 100 gramas. O Índice de Massa Corporal (IMC) foi calculado
pela razão entre o peso corporal (quilogramas) e a estatura ao quadrado (metros). A
circunferência da cintura (CC) foi aferida na menor curvatura entre a última costela e a
crista ilíaca utilizando-se fita métrica flexível e inelástica, subdividida em milímetros
(BRASIL, 2011c).
Os níveis de pressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD) foram aferidos
mediante esfignomamômetro mecânico de coluna de mercúrio, com aproximação de 2
mmHg, conforme técnica descrita por Perloff et al. (1993).
33
Para a determinação dos parâmetros bioquímicos de colesterol total (CT),
lipoproteína de baixa intensidade (LDL-c), lipoproteína de alta densidade (HDL-c),
triglicerídeos (TG) e glicemia de jejum, os participantes foram encaminhados em jejum
de 12 horas ao laboratório conveniado ao serviço de saúde do município para a coleta de
amostra sanguínea e posterior análise laboratorial.
A classificação dos determinantes de risco à saúde foi considerada segundo os
critérios apresentados no Quadro 1.
Quadro 1: Classificação dos parâmetros antropométricos, clínicos e bioquímicos enquanto
determinantes de risco à saúde.
Fator de risco Critérios
diagnósticos Referência
Sobrepeso/Obesidade IMC ≥ 25kg/m² Norma Técnica do Sistema de
Vigilância Alimentar e Nutricional
(BRASIL, 2011c) Obesidade
abdominal CC> 94 cm
Dislipidemia
CT
LDL-c
HDL-c < 40 mg/dL
TG ≥ 150 mg/dL
V Diretriz Brasileira de Dislipidemias
e Prevenção da Aterosclerose
(XAVIER et al., 2013)
Pressão arterial
sistólica ≥ 121 mmHg 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão
Arterial, 2016
(MALACHIAS et al., 2016) Pressão arterial
diastólica ≥ 81 mmHg
Glicemia em jejum ≥ 100 mg/dL
Diretrizes da Sociedade Brasileira de
Diabetes 2015-2016
(OLIVEIRA et al., 2016) IMC: índice de massa corporal; CC: circunferência da cintura; CT: colesterol total; LDL-c: lipoproteína de
baixa intensidade; HDL-c: lipoproteína de alta intensidade; TG: triglicérides.
Em relação aos problemas de saúde, os caminhoneiros foram questionados se
possuíam alguma patologia dentre as opções dadas (HAS, DM, dislipidemia ou se já
haviam sofrido infarto ou derrame) ou referir outro problema de saúde. Caso o
participante não soubesse da existência de alguma das doenças citadas, poderia responder
a opção "não sabe". Da mesma forma, os entrevistados foram interrogados quanto ao uso
de algum medicamento para o controle de doenças (anti-hipertensivo, antidiabético oral
ou insulina, anticoagulantes e estatinas), referir outro não listado, e ainda se não fazia uso
de medicamentos.
O questionário estruturado (APÊNDICE D), elaborado pelo pesquisador baseado
em estudo prévio (MARQUEZE, 2012), continha perguntas sobre condições de trabalho:
34
tempo que dirige por dia, quilômetros percorridos ao dia, horas de sono por dia, uso de
drogas para inibir o sono.
Para caracterizar as escolhas alimentares, utilizou-se o Food Choices Index
traduzido e adaptado (APÊNDICE E) de um estudo que avaliou as escolhas alimentares
saudáveis entre caminhoneiros de longa distância (JACOBSON; PRAWITZ;
LUKASZUK, 2007). Foram selecionadas oito afirmações, utilizando uma escala de
concordância de um a cinco (1=discordo totalmente; 2=discordo em parte; 3=nem
discordo, nem concordo; 4=concordo em parte e 5=concordo totalmente). Maiores
pontuações indicavam maior percepção da importância de escolhas alimentares
saudáveis.
4.5.3 Análise dos dados
Para a análise dos dados quantitativos foi utilizado o software Statistical Package
for Social Sciences (SPSS®) versão 21.0. As variáveis categóricas foram apresentadas em
frequências absoluta (n) e relativa (%) e os dados contínuos em média e desvio-padrão
e/ou mediana e valores máximos e mínimos da distribuição.
4.6 Fase 2
4.6.1 Delineamento
A segunda etapa do estudo foi de caráter eminentemente qualitativo, com o
objetivo de conhecer a autopercepção dos sujeitos quanto aos determinantes de saúde
relativos às características demográficas e socioeconômicas, condições de trabalho e de
saúde, e hábitos alimentares, aprofundando questões levantadas na primeira fase do
estudo. A obtenção das informações foi realizada mediante o contato direto e interativo
do pesquisador com os sujeitos do estudo.
Foram utilizadas as seguintes técnicas de coleta de dados: (A) livre evocação, (B)
entrevistas individuais semiestruturadas e (C) grupos focais. Cada uma das técnicas será
descrita a seguir, segundo seus aspectos teóricos, o objetivo e a forma como foram
desenvolvidas.
35
4.6.2 Procedimento de coleta de dados
Os sujeitos participantes desta etapa foram escolhidos de maneira aleatória por
meio do banco de dados da fase 1 do estudo, de acordo com a disponibilidade do indivíduo
para as datas propostas. Foram realizados contatos telefônicos prévios com os sujeitos
para marcação do encontro, sendo proposta uma agenda inicial pela pesquisadora,
contemplando cinco dias úteis para as entrevistas individuais e para a técnica da livre
evocação e duas datas para os grupos focais.
A coleta dos dados para todas as técnicas foi conduzida em uma Unidade Básica
de Saúde do município de Itabaiana, Sergipe, em ambiente privado e livre de
interferências (consultório ou sala de reuniões), durante o turno matutino. Antes de cada
sessão da entrevista individual semiestruturada e do grupo focal, foi solicitado aos
participantes a assinatura do termo de gravação de voz (APÊNDICE C).
(A) Técnica da Evocação Livre
A técnica de evocação livre incide em apresentar um termo de associação aos
sujeitos e solicitar que pronunciem as quatro primeiras palavras, expressões ou adjetivos
que relacionem a partir deste (NASCIMENTO-SCHULZE; CAMARGO, 2000). Possui
o objetivo de compreender a estrutura da representação do coletivo sobre determinado
tema, bem como distribuição e frequência dos termos evocados pelos sujeitos
(BARCELLOS et al., 2005).
A coleta dos dados foi realizada pela pesquisadora e mais duas entrevistadoras
treinadas previamente para a técnica. Inicialmente, foi esclarecido ao participante que a
entrevistadora diria uma frase e foi solicitado que o mesmo dissesse as quatro primeiras
palavras ou expressões que viessem a sua mente. Os participantes responderam à duas
questões: (1) “Considerando o dia-a-dia do seu trabalho como caminhoneiro, o que vem
na sua cabeça quando você pensa em ‘risco à saúde’? ”; (2) “Considerando o dia-a-dia do
seu trabalho como caminhoneiro, o que vem na sua cabeça quando você pensa em
‘cuidado com sua saúde’? ”.
Foi ofertado um tempo livre a cada indivíduo para que pudesse responder,
individualmente, a cada pergunta, e o pesquisador anotava na ficha cada palavra na
mesma ordem em que foi evocada. O pesquisador não pôde fornecer maiores informações
36
sobre o assunto além do que constava na ficha de avaliação. Caso o indivíduo tivesse
dúvida, o termo era repetido, respeitando o tempo proposto de resposta.
(B) Entrevistas Individuais Semiestruturadas
Consiste em técnica privilegiada de comunicação, destinada a construir
informações pertinentes para um objeto de pesquisa, sendo a estratégia mais utilizada no
processo de trabalho de campo em pesquisa qualitativa (MINAYO, 2010). A entrevista
semiestruturada deve ser direcionada por um roteiro previamente elaborado, composto
geralmente por questões abertas, o qual permite uma organização flexível e possibilidade
de inserção de novos questionamentos à medida que as informações vão sendo ofertadas
pelos entrevistados (BELEI et al., 2008).
O roteiro semiestruturado elaborado para a entrevista (APÊNDICE F) contou com
duas questões que permitiram esclarecimento e aprofundamento de aspectos relevantes
para o estudo. A primeira questão abordou a avaliação pessoal do sujeito quanto a sua
saúde, estabelecendo uma classificação numérica (de zero a dez) entre não saudável e
totalmente saudável. A segunda pergunta abordou a percepção do sujeito em relação aos
determinantes de saúde e suas condições de trabalho.
As entrevistas foram conduzidas pela pesquisadora em ambiente calmo e sem
interferências externas, com a gravação do áudio dos diálogos, os registros das linguagens
corporais e das interações.
(C) Grupos focais
Foram planejados dois grupos focais com os sujeitos disponíveis nas datas
propostas. Para ocorrer melhor interação para abertura e exploração do tema, a
metodologia recomenda grupos de indivíduos que possuem características semelhantes
ou aspectos em comum (FAGUNDES, 2013). Portanto, todos os convidados eram
caminhoneiros, classificados nos critérios de inclusão desse estudo.
A técnica de grupo focal consiste em reuniões com um pequeno número de
interlocutores podendo ser utilizado para subsidiar as entrevistas quando o pesquisador
destaca um tema que julgue importante aprofundar e o traz para o debate em grupo
(MINAYO, 2016). Segundo Fagundes (2013, pág. 52), "além de ser útil para investigar o
que os participantes pensam, o grupo focal é fundamentalmente importante para
37
desvendar por que pensam e como pensam", permitindo a formação de consonâncias
sobre o tema ou de discordâncias com as devidas argumentações.
O maior interesse era que os indivíduos debatessem sobre as questões relativas
aos cuidados com a saúde e a interação entre os determinantes de saúde e rotina de
trabalho. Deste modo, foi possível propiciar um maior aprofundamento tanto para o
estudo, quanto para os próprios participantes sobre o tema em questão.
Foram debatidas duas questões abrangentes, com inserção de questões
motivadoras, visando à saturação dos temas junto a esse subgrupo. Os objetivos
específicos relacionados foram considerados, sendo adicionados no decorrer do debate,
de acordo com a necessidade (CRUZ NETO; MOREIRA; SUCENA, 2002), para que as
sessões fossem bem direcionadas (APÊNDICE G).
Para aqueles participantes que interagiram menos, questões motivadoras também
foram aplicadas, assegurando a oportunidade de falas para todos. Além de responder às
perguntas, os participantes puderam sugerir novos tópicos ou descrever condições que
apresentassem problemas, percepções, opiniões, experiências, necessidades, ideias e
observações.
O primeiro grupo foi dirigido pela coorientadora desse estudo e o segundo pela
pesquisadora, com a gravação do áudio dos diálogos e os registros das linguagens
corporais e interações realizado por uma observadora (estudante de graduação treinada).
Por questões logísticas e financeiras, não foi possível contar com a participação de dois
pesquisadores no segundo grupo focal.
Todos os cuidados foram tomados para captação das informações, segundo Cruz
Neto, Moreira e Sucena (2002), como assentos organizados em forma circular, utilização
de dois gravadores, escolhendo local mais apropriado para situá-los, realização de testes
antes do início da sessão, e certificação de material suficiente para anotar todos os pontos
relevantes do debate.
Inicialmente, a cada encontro, apresentaram-se aos participantes os objetivos da
pesquisa e a técnica do grupo focal, esclarecendo as dúvidas e criando um ambiente
favorável. Todos foram identificados, visando facilitar o contato do pesquisador e entre
os participantes durante o processo.
Foi enfatizado que era um momento de debate, sem necessidade de consenso, onde
divergências também eram positivas. Foi solicitada a participação de todos os presentes,
sendo uma conversa de caráter informal, onde poderiam ficar à vontade. Os instrumentos
38
referentes ao Comitê de Ética também foram cuidadosamente apresentados aos
participantes, com posterior solicitação do consentimento mediante assinatura.
4.6.3 Análise dos dados
Utilizou-se para este estudo a abordagem estrutural das RS, que, segundo
Nascimento et al. (2011, pág. 185), "exige a identificação empírica de elementos
nucleares e periféricos, bem como de um conjunto de informações diretamente
relacionadas a esses elementos". Para cada técnica de coleta, utilizou-se um tipo de
análise de dados.
A técnica de evocação livre foi analisada por meio do software EVOC®, que a
partir da análise prototípica (ou análise de evocações), permitiu a avaliação de evocações
por meio da verificação da frequência e da ordem média de evocação das palavras, com
posterior identificação da RS do coletivo sobre o tema. A análise prototípica implica que
as informações da representação social com relevância em sua estrutura são mais
prototípicos, isto é, mais inteligíveis à consciência (WACHELKE; WOLTER, 2011)
Para tanto, foram utilizadas as etapas recomendadas no software EVOC®:
construção da tabela de quatro quadrantes (representação da análise prototípica), que
possibilitou identificar o núcleo central (1º quadrante), os elementos intermediários (2º e
3º quadrantes) e o sistema periférico (4º quadrante) da RS desse coletivo. As palavras
foram organizadas previamente, agrupando as expressões semelhantes ou por
aproximação temática, com a finalidade de estabelecer as categorias de análise para a
descrição e compreensão das evocações (MANTOVANI et al., 2013).
Conforme Franco (2004, p. 174) “estudar uma RS é de início, e antes de qualquer
coisa, buscar os constituintes de seu núcleo central”, portanto, o conhecimento de um
conteúdo não é suficiente. Utilizando a Teoria do Núcleo Central direciona-se a atenção
às extensões cognitivas e estruturais das RS, onde o sentido e o arranjo interno da RS se
compõem em torno de um núcleo central determinante, conferindo solidez e sustentação
a essa representação e, principalmente, seu sentido (ABRIC, 2001).
O sistema periférico (ancoragem) também se configura como elemento
fundamental para o entendimento da RS. Segundo Franco (2004, pág. 175), a ancoragem
“se constitui na parte operacional do núcleo central e em sua concretização”, uma vez que
é assimilada de maneira individual e personalizada por parte de diferentes atores
representantes de grupos sociais distintos. Portanto “é o sistema periférico que permite a
39
elaboração de representações relacionadas à história e às experiências pessoais do sujeito”
(FRANCO, 2004, pág. 176).
Quanto ao tratamento dos dados para as entrevistas e grupos focais, ao final de
cada uma das sessões os dados foram ouvidos, com o intuito de averiguar a adequação do
áudio, a qualidade da gravação e se os objetivos tinham sido atingidos. As informações
gravadas tiveram dupla transcrição literal: uma pela pesquisadora e outra por uma
estudante de iniciação científica, com confrontamento dos dados.
A análise de conteúdo foi a técnica utilizada para as entrevistas individuais. Esta
é definida por um conjunto de técnicas de análise de comunicações, que busca identificar
o sentido contido no texto (semântica) (CAMPOS, 2004). Segundo Fagundes (2013, pág.
55), "um dado sobre determinado conteúdo, por exemplo, é sem valor até que seja
vinculado a outro, produzindo inferências embasadas em pressupostos teóricos".
Para Campos (2004), a produção de inferências sobre o texto é o agente da análise
de conteúdo, conferindo relevância teórica ao método. Demanda fazer comparações, visto
que a informação meramente descritiva sobre o conteúdo é de pouca utilidade. Neste
estudo, as comparações e análises foram realizadas com base nas informações coletadas
na fase 1 e nos diferentes métodos qualitativos.
Dentre as modalidades da análise de conteúdo encontra-se a análise temática, que
consiste em encontrar os núcleos de sentido que arranjam o corpus do trabalho, cuja
presença ou frequência denotem algo para o objeto analítico estudado (MINAYO, 2010).
Inicialmente, ocorreu a pré-análise das transcrições, com leitura flutuante do texto
e constituição do corpus (conjunto de respostas). Em seguida, ocorreu a exploração do
material de pesquisa, obtendo a categorização das unidades de registro com posterior
classificação. Por fim, foi possível o tratamento dos resultados por meio das análises em
percentuais de frequência que os temas ocorreram dentro do corpus. Comumente, a
análise de conteúdo permite um tratamento quantitativo, como o cálculo de frequências e
percentagens, que não desvia a interpretação qualitativa e comporta estabelecer a
relevância dos elementos analisados (RICHARDSON, 1999).
A TRS possibilita identificar os diversos fatores psicológicos e socioculturais
envolvidos em muitos eventos em saúde. Esta possibilidade leva em consideração que o
desenvolvimento das RS se efetiva no momento em que as pessoas dialogam e debatem
entre si o seu cotidiano, seus mitos, sua herança histórica e cultural (FREITAS; SOUZA;
ARAÚJO, 2011).
40
Para a análise qualitativa do grupo focal foi utilizada a técnica do Discurso do
Sujeito Coletivo (DSC), de característica qualiquantitativa, proposta por Lefèvre e
Lefèvre (2012), por meio do software QualiQuanti Soft®. Esta metodologia foi capaz de
qualificar as ideias dos sujeitos entrevistados, fazendo emergir o semelhante e o diverso,
com possibilidades de generalizações a partir do compartilhamento e distribuição das
ideias do grupo (LEFÈVRE; LEFRÈVRE, 2012). Permitiu o resgate dos significados
deste grupo social, desejando-se saber o que pensam os atores sociais, os caminhoneiros,
acerca dos determinantes de saúde associados às características laborais e hábitos de vida.
A análise do DSC personaliza uma dada RS, permitindo descrevê-la de modo a ser
favorável aos resultados, fazendo com que auxilie de modo eficaz para a intervenção
social (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2014).
A metodologia exigiu o desenvolvimento de dois operadores para a formação dos
Discursos: as (1) Expressões-Chave (ECH), um ou mais trechos das respostas obtidas,
contínuos ou não, que contém a essência do depoimento de cada sujeito; e a (2) Ideia
Central (IC), que é mais concisa, formulando o sentido das ECH. A partir dessas
operações, realizadas no referido software, foi possível obter os discursos sínteses para
cada ideia central (LEFÈVRE; LEFRÈVRE, 2012).
A análise dos dois grupos foi realizada de forma congregada, atendendo a
recomendação do método e o pressuposto de conhecer a percepção desse coletivo a partir
das opiniões individuais. Para a tabulação dos dados, inicialmente foi lido o corpus,
posteriormente lida cada resposta em particular, com vistas a identificar as ECH e/ou as
IC, em seguida agrupadas às IC semelhantes em categorias, que foram nomeadas e, por
fim, construídos os respectivos discursos, no software QualiQuanti Soft® (LEFÈVRE;
LEFRÈVRE, 2012).
41
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com a concepção do estudo (Figura 1), os resultados e discussão serão
apresentados na forma de capítulos, referentes às duas fases do estudo. Os artigos
submetidos constam em anexo.
5.1 Fase 1: Artigo 1
5.1.1 Caracterização sociodemográfica
A Tabela 1 apresenta as características sociodemográficas dos participantes do
estudo.
Tabela 1: Características sociodemográficas dos caminhoneiros do estado de Sergipe (n=146).
X±DP1 Mediana Mínimo Máximo
Idade (anos) 44,5±11,3 44,0 25,0 75,0
Anos de estudo2 7,0±2,9 6,0 1,0 13,0
Renda Per Capita (Salários Mínimos) 1,2±1,2 0,8 0,2 10,6
Renda Mensal (Salário Mínimo) 3,1±1,8 2,5 0,6 10,6
1dados apresentados em média e desvio padrão (X±DP) ou frequência absoluta e relativa [n(%)] 2foram considerados anos completos
Os caminhoneiros estudados tinham média de idade similar a encontrada em
outros estudos nacionais e internacionais (PYLKKÖNEN et al., 2015; CHEN et al., 2016;
GIROTTO et al., 2016) com predominância de adultos (87,7%; dado não apresentado em
tabela). Os dados apresentaram grande amplitude, entre 25 a 75 anos, expressando a
variação de idade dos caminhoneiros ativos do estado.
Trata-se de um público com baixa escolaridade, apresentando, em média, nível
escolar referente ao Ensino Fundamental incompleto (7,0±2,9 anos de estudo). A baixa
escolaridade foi corroborada por outros estudos, nacionais e internacionais, realizados
com motoristas de caminhão (MASSON; MONTEIRO, 2010; KNAUTH et al., 2012;
MAGNO; CASTELLANOS, 2016).
Em sua maior parte, tinham poucos dependentes (valor de média para situar),
caracterizando a configuração atual da maioria das famílias brasileiras (IBGE, 2010), com
apenas 10,3% morando sozinho (dado não apresentado em tabela). Quanto aos valores de
renda, apresentam um elevado desvio padrão, refletindo a ampla variação. A mediana de
42
renda mensal caracteriza a amostra como baixa renda (até três salários mínimos), em
contrapartida, ao se considerar a mediana de renda per capita acima de meio salário
mínimo a amostra encontra-se acima dessa classificação. Foram incluídos no estudo
caminhoneiros assalariados ou motoristas proprietários de seu veículo ou empresa de
transporte.
Alvarez-Galvez et al. (2013) apontaram a relevância dos fatores como renda,
educação e ocupação para explicar as diferenças nos estados de saúde dos indivíduos nos
países europeus. Para esses autores, as condições econômicas individuais são fatores
básicos que contribuem para um bom estado de saúde, mas a educação pode ser ainda
mais relevante para preservá-la. No Brasil, Pavão, Werneck e Campos (2013), baseados
em um inquérito de abrangência nacional, analisaram que possuir baixos níveis de
escolaridade e renda estavam entre os principais fatores associados à autoavaliação do
estado de saúde ruim. Indivíduos com maiores níveis de escolaridade tendem a adotar,
mais frequentemente, hábitos de vida saudáveis, como: a prática de atividade física, a
manutenção de peso adequado, o consumo moderado de álcool e o hábito de não fumar.
Em geral, os profissionais caminhoneiros começam a trabalhar ainda jovens,
abdicando dos estudos. Deste modo, são expostos, precocemente, aos riscos para a
ocorrência de doenças cardiovasculares (DCV), doenças sexualmente transmissíveis
(DST), acidentes automobilísticos, ingestão de bebidas alcoólicas e uso de anfetaminas
(RUAS; PAINI; ZAGO, 2010). O comprometimento da capacidade de leitura e
interpretação pode limitar o acesso às informações, afetando negativamente o
autocuidado (RODRIGUES et al., 2012).
5.1.2 Determinantes de saúde relativos às condições de saúde e trabalho
A Tabela 2 descreve as condições de trabalho encontradas nessa população. De
modo geral, trabalham há muito tempo como motoristas, declarando percorrer,
rotineiramente, longas distâncias o que acarreta em horas insuficientes de sono durante a
jornada de trabalho, bem como, poucos dias por mês de folga em casa com a família. Os
desvios-padrão (DP) elevados mostraram, mais uma vez, a dispersão dos dados, relativos
tanto a profissionais que trafegavam em rotas regionais quanto os de rota longa.
43
Tabela 2: Condições de trabalho de caminhoneiros do estado de Sergipe (n=146).
X±DP1 Mediana Mínimo Máximo
Tempo de profissão (anos)2 20,2±11,4 19,5 0,0 53,0
Tempo que dirige (horas/dia) 13,1±6,0 12,0 1,5 40,0
Tempo que dirige sem interrupção
(horas)
4,5±3,7 3,5 1,0 28,0
Distância percorrida (Km/dia) 790,4±725,6 700,0 70,0 5.500,0
Folga do trabalho (dias/mês) 11,1±8,1 8,0 1,0 30,0
Horas de sono (horas/dia) 6,1±2,2 6,0 0,0 12,0
n (%)1
Distúrbio do sono3 34 (23,3)
Se já usou drogas para inibir o sono4 106 (72,6)
Diariamente 34 (23,3)
Semanalmente 27 (18,5)
Mensalmente 9 (6,2)
Algumas vezes 1 (0,7)
Ex-usuário 35 (24,0)
Consumo de bebida alcoólica5 22 (15,1)
Diariamente 1 (4,5)
Semanalmente 3 (13,6)
Mensalmente 3 (13,6)
Não faz uso 15 (68,2)
1 dados apresentados em média e desvio padrão (X±DP) ou frequência absoluta e relativa [n(%)] 2foram considerados anos completos 3 apnéia ou insônia 4 “rebite” ou cocaína 5relativos a alguma vez na vida durante jornada de trabalho
Merece destaque os valores máximos relativos ao tempo que dirigem e a distância
percorrida por dia. Para alguns caminhoneiros, o tempo e a distância que trafegam em um
dia se confundem com o tempo que é necessário ficar sem dormir, considerando “dia”
como o período entre os descansos, superando as 24 horas. Este fato pode estar associado
também ao considerável percentual de distúrbios do sono (23,3%), corroborado por
outros estudos (FERREIRA; ALVAREZ, 2013; SHARMA; GANGULY, 2014;
ZHANG; CHAN, 2014).
44
Percebe-se discrepância entre a jornada de trabalho observada e a Lei nº 13.103,
de 02/03/2015, conhecida como “Lei do Caminhoneiro”, que regulamenta o exercício da
profissão de motorista (BRASIL, 2015a). Esta lei normatiza a jornada de trabalho para
oito horas diárias e os períodos de descanso. A cada cinco horas e meia na condução do
veículo é obrigatório um momento para repouso e alimentação de 30 minutos.
Entende-se que o trabalho é um dos principais determinantes sociais da saúde. A
maneira de inclusão dos homens nos espaços de trabalho colabora, inevitavelmente, para
formas típicas de adoecimento, sendo assim, a saúde e a doença como processos
dinâmicos estão estreitamente articulados com os modos de desenvolvimento produtivo
(BRASIL, 2002). Portanto, as ações de saúde do trabalhador devem contemplar as
relações saúde-trabalho em toda sua complexidade, focando em mudanças nestes
processos.
Relativo às questões da jornada de trabalho associadas aos distúrbios do sono,
observou-se que grande parte da população admitiu ter utilizado drogas para inibir o sono
(72,6%) no intuito de auxiliar no cumprimento de suas atividades laborais, apresentando
frequência elevada de uso. Os indivíduos também referiram utilizar essas substâncias com
média de anos de uso de 8,4±10,3, apresentando amplitude de zero a 50 anos (dado não
apresentado em tabela). Vale ressaltar que o “rebite”, nomenclatura popular para as
anfetaminas, foi relatado por todos os caminhoneiros entrevistados que admitiram o uso
de drogas inibidoras de sono.
O uso de anfetaminas é um achado frequente entre os caminhoneiros (LEYTON
et al., 2012; OLIVEIRA et al., 2012; TAKITANE et al., 2013; OLIVEIRA et al., 2015).
Nas rodovias brasileiras, tais substâncias são adquiridas com facilidade, sem receita
médica. Seu consumo tem sido relacionado a sérios problemas de saúde e acidentes de
trânsito (LEYTON et al., 2012).
As anfetaminas exercem efeito no Sistema Nervoso Central (SNC) estimulando o
trabalho em ritmo mais acelerado, fazendo com que o indivíduo dirija por mais tempo
que o normal, sem a necessidade da pausa, efeito entendido como uma vantagem pelo
condutor. Entretanto, o desempenho do motorista é reduzido à medida que a concentração
plasmática de anfetaminas diminui. Uma vez diminuído o efeito da substância, um
resultado do tipo “rebote” ocorre sobre o SNC, que submete a indução de depressão,
fadiga e sono (TAKITANE et al., 2013). Isto pode levar ao uso de doses sucessivas e
frequentes para manutenção do efeito estimulante, cuja associação com bebidas
alcoólicas se torna ainda mais deletéria.
45
Alguns caminhoneiros (15,1%) admitiram o consumo de bebidas alcoólicas
durante a jornada de trabalho. Presume-se que este baixo percentual seja reflexo, em
parte, de um avanço nas políticas públicas relacionadas ao consumo de bebidas alcoólicas
entre motoristas. A aprovação da Lei nº 11.705/2008, em consonância com a Política
Nacional sobre o Álcool, regulamenta a proibição da venda e do consumo de substâncias
psicoativas nas rodovias do país (BRASIL, 2008). Assim, pode ter havido, por parte dos
entrevistados, um sub relato mediante receio à consequência da subscrita lei.
Estudo de revisão sistemática revelou que o uso de substâncias psicoativas entre
caminhoneiros apresenta ampla variação: álcool (0,1-91,0%); anfetaminas (0,2-82,5%),
maconha (0,2-29,9%), cocaína (0,1-8,3%). Os autores concluíram que a frequência de uso
foi menor nos estudos que investigaram a presença dessas substâncias em amostras
biológicas do que naqueles baseados em autorrelato (GIROTTO et al., 2014). Os estudos
conduzidos com amostras biológicas necessitam da concordância para a coleta, o que
poderia implicar numa baixa adesão entre aqueles que estão sob efeito das substâncias.
Referente aos determinantes de saúde avaliados, os dados são apresentados na
Tabela 3.
Tabela 3: Determinantes de saúde de caminhoneiros do estado de Sergipe (n=146).
n (%)1
Sobrepeso/Obesidadea 118 (86,8)
Obesidade abdominalb 99 (73,9)
Hiperglicemiac 12 (23,5)
Hipertrigliceridemiad 30 (57,7)
Colesterol total elevado (mg/dL)e 32 (64,0)
HDL-c reduzidod 14 (26,9)
LDL-c elevado (mg/dL)f 11 (22,9)
Pressão arterial sistólica elevadag 39 (46,4)
Pressão arterial diastólica elevadag 29 (34,5)
Sedentarismo2 109 (74,7)
Hábito de fumar 15 (10,3)
Ex-fumante 24 (16,4)
HDL-c, Lipoproteína de alta densidade; LDL-c, lipoproteína de baixa densidade. 1dados apresentados em média e desvio padrão (X±DP) ou frequência absoluta e relativa [n(%)] 2prática de atividade física sendo considerada como mínimo de 30 minutos/dia pelo menos duas
vezes/semana an= 136; bn= 134;cn= 51;dn= 52;en= 50;fn= 48;gn= 84
46
Esta população se encontra, majoritariamente, em estado nutricional de sobrepeso
e obesidade, índice mais elevado do que a média da população brasileira (BRASIL,
2015b), no entanto, similar a outros estudos com caminhoneiros no Brasil (FERREIRA;
ALVAREZ, 2013; ALESSI; ALVES, 2015; MANSUR et al., 2015) e no mundo
(APOSTOLOPOULOS et al., 2013; SHARMA; GANGULY, 2014; ROSSO et al., 2015).
Fatores laborais foram associados ao aumento do sobrepeso e obesidade entre
caminhoneiros. Mansur et al. (2015) notaram associação entre sonolência e IMC elevado
entre 2.228 caminhoneiros nas rodovias brasileiras. Paris et al. (2013) mostraram que
existe uma tendência a obesidade entre aqueles que dormem menos de seis horas por
noite, possivelmente, por interferir no apetite e saciedade. Rosso et al. (2015)
relacionaram a obesidade entre condutores com a distância percorrida por ano, bem como,
o tempo gasto dirigindo por dia. Cavagioni e Pierin (2010) ressaltam que, em geral, esses
profissionais se alimentam em restaurantes, que na sua maior parte, ofertam alimentos de
alto valor calórico e baixo valor nutritivo.
Doenças debilitantes causadas pelo aumento da prevalência de sobrepeso e
obesidade e suas comorbidades podem afastar os trabalhadores da sua atividade laboral
temporária ou permanentemente (ARAÚJO et al., 2010). Deste modo, combater o
excesso de peso entre trabalhadores pode auxiliar na redução de afastamentos por licenças
médicas.
Evidenciou-se um contingente expressivo de obesidade abdominal nesse estudo
(73,9%), superando os achados de base populacional no Brasil (PINHO et al., 2013;
SIQUEIRA et al., 2015). Atualmente, é reconhecido que o tecido adiposo, sobretudo o
visceral, produz numerosos fatores secretores que influenciam diretamente tecidos
próximos ou remotos. O tecido adiposo visceral funciona como um órgão endócrino que
regula vários processos fisiopatológicos nas complicações da obesidade (OUCHI, 2016).
A gordura visceral, cujo indicador indireto é a circunferência da cintura, está associada a
resistência insulínica, HAS, DM, dislipidemias e outras alterações metabólicas
decorrentes da obesidade (CARVALHO et al., 2015).
As prevalências de PAS (46,4%) e PAD (34,5%) referem-se aos ponto de corte
para pré-hipertensão (PAS ≥ 121 mmHg e PAD ≥ 81 mmHg), pois entende-se que esta
circunstância já se configura como um risco à saúde, corroborado por estudo de base,
onde a prevalência de pré-hipertensão entre adultos foi de 36,1% (SILVA; PETROSKI;
PERES, 2012). Utilizando diagnóstico com medidas de PAS >140 mmHg e/ou PAD >90
mmHg, entre caminhoneiros no estado do Pará, 45,2% estavam hipertensos segundo
47
Sangaleti et al. (2014), e entre os condutores estudados por Cavagioni e Pierin (2010),
37% possuíam HAS. Mostrando que a presença de HAS é fortemente encontrada entre
indivíduos desta categoria, inclusive associada a fatores sociodemográficos,
antropométricos e ocupacionais (MOULATLET et al. , 2010).
Altas taxas de dislipidemia (45-63%) foram encontradas em estudos americanos
entre caminhoneiros, evidenciados na revisão proposta por Apostolopoulos, Lemke e
Sonmez (2014). O perfil lipídico é um marcador importante no prognóstico de DCV e
este, se define através das dosagens séricas CT, TG, LDL-c e HDL-c. Aumento das
dosagens séricas de CT, TG e do LDL-c, associado com a redução dos níveis de HDL-c,
constituem elevado fator de risco para o desenvolvimento de DCV.
Relativo à atividade física, 74,7% referiram ser sedentários. Destaca-se que os
fisicamente ativos nesse estudo foram caracterizados pela prática de algum tipo de
atividade física, nos últimos seis meses, por pelo menos 30 minutos, duas vezes por
semana. Este critério foi adotado de estudo prévio, referente a avaliação da prevalência
de risco cardiovascular entre caminhoneiros no sul do país, que encontrou 72,8% de
motoristas sedentários (SANGALETI et al., 2014).
É reconhecido o benefício atrelado à prática regular de atividade física
concomitante a uma adequada alimentação para o controle de peso e, consequentemente,
prevenção de DCNT e promoção de hábitos de vida saudáveis (ROCHA-BRISCHILIARI
et al., 2014). No entanto, Masson e Monteiro (2010), evidenciaram que a rotina laboral e
as condições exaustivas de trabalho desses profissionais foram fatores limitantes para tais
práticas saudáveis. Marqueze, Ulhôa e Moreno (2014) afirmam que a atividade física de
lazer de nível moderado é insuficiente para atenuar o aumento do IMC quando associado
ao tipo de trabalho irregular em motoristas de caminhão. Alegaram também que o IMC
elevado foi associado a níveis altos de leptina e reduzidos de grelina nesta categoria
profissional com turno irregular, estimulando o apetite e favorecendo a obesidade.
O tabagismo teve baixa frequência (10,3%), embora tenham sido encontradas
elevadas médias relativas aos anos que fuma (26,4±16,2) e números de cigarro por dia
(16,6±9,2), dados não apresentados na tabela. Valores similares foram encontrados em
estudo de base populacional e em avaliação de tendência temporal relativo ao uso do
tabaco, ambos conduzidos no Brasil (MALTA et al., 2013; MALTA et al., 2015).
O Brasil é referência mundial no combate ao tabagismo e desenvolve ações por
meio do Programa Nacional de Controle do Tabagismo e outros Fatores de Risco de
Câncer (PNCTOFR), executado pelo Mistério da Saúde. Silva et al. (2014) realizaram
48
uma avaliação identificando as evidências da eficácia dessa política na redução da
prevalência do tabagismo no Brasil. A restrição da disponibilidade, controle do marketing
e comercialização, atividades educativas nas escolas, atendimento na atenção primária à
saúde a profissionais da área e à população em geral, controle do consumo em locais
públicos e de trabalho são algumas das ações que contribuíram para esta redução.
O tabagismo aumenta o risco para mais de 25 doenças, incluindo as DCV. O
hábito de fumar é apontado como fator negativo no controle de hipertensos, no
desconhecimento do diagnóstico de HAS e na interrupção do uso de medicamentos anti-
hipertensivos (MALACHIAS et al., 2016).
Fica evidente a grande perda amostral relativa aos exames bioquímicos neste
estudo, realizados apenas por 14,4% da totalidade. Este comportamento reflete as
características de baixa adesão discutidas entre caminhoneiros e no público masculino,
como também pelo receio de realizar os exames laboratoriais devido ao uso de substâncias
estimulantes.
Em relação a presença autorreferida de problemas de saúde, prevaleceram a HAS
(13,0%) e o DM (8,2%) (dados não apresentados em tabela), similar a outros estudos com
caminhoneiros (CAVAGIONI; PIERIN, 2010; GUEDES et al., 2010; MOULATLET et
al., 2010; TAKITANE et al., 2013; SANGALETI et al., 2014; SHARMA; GANGULY,
2014). Corroboraram ainda com estudo de prevalência de base populacional que indicou,
na capital sergipana, 22,9% de hipertensos e 7,2% de diabéticos, também utilizando dados
autorreferidos (BRASIL, 2015b).
Girotto et al. (2016) encontraram um percentual maior de autorrelato de problemas
de saúde (63,3%) entre caminhoneiros, no entanto esse índice elevado em grande parte
referiu-se à dor crônica em braços, pernas ou costas (35,6%). O questionário do presente
estudo não deixou explícita a opção para relato desse tipo de problema de saúde.
Destaca-se o elevado percentual dos caminhoneiros que afirmaram desconhecer a
presença de algum problema de saúde (26,7%), indicando que os indivíduos não haviam
realizado nenhum tipo de exame clínico e/ou consulta médica recente que o permitisse
deter esta informação. Ressalta-se a subnotificação usualmente ocorrida em casos de
diagnósticos autorreferidos, pelo não entendimento da própria condição ou opção por não
relatar a doença.
O desconhecimento com relação à presença de DCNT pode estar associado a
baixa escolaridade. Arokiasamy et al. (2017) evidenciaram que na China, Gana, Índia,
México, Rússia e África do Sul, níveis menores de escolaridade determinaram maiores
49
probabilidades de existência de condições clínicas não diagnosticadas e não tratadas,
associadas às DCNT. A precisão das estimativas de prevalência autorrelatadas é
influenciada pelo conhecimento sobre saúde, acesso a cuidados de saúde e fatores
culturais.
As condições de saúde de um indivíduo ou população estão ligadas com a
qualidade do acesso aos serviços de saúde (VIACAVA; BELLIDO, 2016). Ao longo do
tempo, o conceito de acesso à saúde tornou-se mais complexo, incorporando outros
elementos além do acesso físico, podendo ser determinado pelo contexto socioeconômico
e cultural em que o indivíduo está inserido (SANCHEZ; CICONELLI, 2012).
Almeida et al. (2013) revelaram a presença de desigualdades no acesso aos
serviços de saúde no país, embora tenha ocorrido uma redução nos últimos anos. A
utilização de plano de saúde privado, a educação e a renda são os principais contribuintes
para as desigualdades identificadas. Essas disparidades foram mais evidentes para
cuidados preventivos, onde indivíduos com menores rendas procuraram menos os
cuidados preventivos em relação aos mais ricos.
A literatura demonstra que os caminhoneiros encontram dificuldades para o
acesso à saúde, o que pode refletir em níveis mais baixos de prevalências das DCNT
autorrelatadas (GUEDES et al., 2010; MASSON; MONTEIRO, 2010; GIROTTO et al.,
2016). Dentre as barreiras para o acesso aos serviços de saúde são referidas: rotina de
trabalho, a falta de tempo entre viagens e a dificuldade de se locomover com o caminhão
dentro das cidades. Ademais, o público masculino possui menor adesão aos serviços e
ações de saúde devido às questões socioculturais e institucionais (MACHIN et al., 2011).
De modo geral, para os homens a enfermidade é avaliada como um sinal de fragilidade,
tendo dificuldade de reconhecê-la como intrínseca à sua própria condição biológica. O
homem julga-se invulnerável, o que acaba por contribuir para que cuide menos de si
mesmo (BRASIL, 2009).
Referente ao uso regular de medicamentos os mais citados pelos caminhoneiros,
assim como pela população em geral, foram os anti-hipertensivos e antidiabéticos orais.
Importante salientar que os tratamentos de doenças crônicas possuem, em geral, menor
adesão, visto que os esquemas terapêuticos exigem a tomada de medicamentos de uso
contínuo (BRASIL, 2009).
50
5.1.3 Escolhas alimentares
A Tabela 4 apresenta questões que permitiram aos entrevistados demonstrarem
suas percepções relativas às escolhas alimentares adequadas. Os resultados retrataram que
os motoristas de caminhão, de modo geral, estavam em concordância com a escolha de
bons hábitos alimentares.
Dentre as respostas, merecem destaque as que obtiveram maiores percentuais de
discordância (questão 01 e 02). Este resultado demonstrou que parcela significativa dos
motoristas não pensa na saúde ou no peso quando escolhem os alimentos que irão comer.
Entre as questões que obtiveram maiores percentuais de concordância, versam sobre a
identificação do teor de gordura dos alimentos (questões 03 e 05) e sobre opções de
escolha dos alimentos nos restaurantes da estrada (questões 06 e 07). Percebe-se que
parcela significativa gostaria que os produtos menos gordurosos fossem identificados
como tal e que os restaurantes da estrada oferecessem melhores opções de alimentos.
Com mediana de resposta abaixo de cinco, a questão 08 aborda sobre a
palatabilidade dos alimentos menos gordurosos. Dentre os caminhoneiros, 25,4%
possuem algum nível de discordância sobre o fato dos alimentos com menos gordura
serem saborosos.
Jacobson, Prawitz e Lukaszuk (2007) utilizaram o Food Choices Index entre
caminhoneiros e também encontraram escores altos, independente da classificação
antropométrica, indicando uma maior percepção da importância das escolhas alimentares
adequadas. Entretanto, os autores observaram uma contradição quando constataram que
os motoristas tinham um consumo abaixo do recomendado para frutas e verduras.
Comentam que este achado pode ser explicado por diversos fatores: escassez de frutas e
vegetais oferecidos em restaurantes na estrada, falta de conhecimento nutricional,
aumento dos preços de produtos frescos ou percepções de que esses alimentos têm baixa
palatabilidade.
51
Tabela 4: Escolhas alimentares entre caminhoneiros do estado de Sergipe (n=146).
Discordo
totalmente
(1)
Discordo
em parte
(2)
Nem discordo
nem concordo
(3)
Concordo
em parte
(4)
Concordo
totalmente
(5)
Mediana
de resposta
n (%)1
1 Você pensa na sua saúde quando escolhe os
alimentos que vai comer.
43 (29,5) 2 (1,4) 2 (1,4) 17 (11,6) 82 (56,2) 5,0
2 Você pensa no seu peso quando escolhe os
alimentos que vai comer.
56 (38,4) 3 (2,1) 3 (2,1) 17 (11,6) 67 (45,9) 4,0
3 Se as informações da quantidade de gordura dos
alimentos estivessem disponíveis, você
consideraria essa informação para escolher os
alimentos com menos gordura a
20 (13,8) 1 (0,7) 4 (2,8) 8 (5,5) 112 (77,2) 5,0
4 Comer alimentos saudáveis é importante para
você.a
1 (0,7) 2 (1,4) 4 (2,8) 7 (4,8) 131 (90,3) 5,0
5 Você gostaria que os alimentos com pouca
gordura fossem rotulados para que você
soubesse identificá-los.b
10 (6,9) 2 (1,4) 3 (2,1) 7 (4,9) 122(84,7) 5,0
6 Os restaurantes da estrada deveriam ter mais
opções de alimentos saudáveis, com pouca
gordura.b
2 (1,4) 1 (0,7) 7 (4,9) 4 (2,8) 130 (90,3) 5,0
7 Se tivesse mais opções de alimentos com pouca
gordura nos restaurantes da estrada, você
escolheria estes alimentos.a
8 (5,5) - 6 (4,1) 3 (2,1) 128 (88,3) 5,0
8 Você acha que alimentos com pouca gordura
são gostosos.
28 (19,2) 9 (6,2) 12 (8,2) 31 (21,2) 66 (45,2) 4,0
1dados apresentados em frequência absoluta e relativa [n(%)] a n= 145; b n= 144
52
O padrão alimentar é um fator preponderante, com influência direta na saúde dos
caminhoneiros. Na maioria dos casos, este é inadequado, acarretando em problemas de saúde
em médio e longo prazo (MASSON; MONTEIRO, 2010). Devido às dificuldades relatadas, a
alimentação dos motoristas caminhoneiros é baseada nos restaurantes das estradas, nos quais,
em sua maioria, são ofertadas preparações desbalanceadas nutricionalmente, ricas em gordura
saturada, açúcar e sódio limitando a oferta de alimentos necessários para um padrão adequado
(ALESSI; ALVES, 2015; HAMILTON; VAYRO; SCHWARZER, 2015).
Estudo realizado também com caminhoneiros, mostrou que esse público admite que o
consumo de gordura saturada, sal e açúcar em excesso e o estilo de vida sedentário são
prejudicais à saúde. Mas a acessibilidade, disponibilidade e tempo para a compra de alimentos
adequados são as maiores dificuldades referidas (MCDONOUGH et al., 2014).
Segundo Jomori, Proença e Calvo (2008, p. 67) “os motivos da escolha e das práticas
alimentares são justificados por diversas variáveis, inseridas em uma ordem lógica, que
escapam à consciência do indivíduo”, submergindo um processo complexo que envolve fatores
socioculturais e psicológicos. A múltipla perspectiva do processo de escolha alimentar existe
em três grandes componentes: o curso de vida, as influências e o sistema pessoal. Neste, os
recursos disponíveis, a estrutura social e o contexto alimentar formam umas das bases para as
influências no momento da escolha alimentar, demonstrando, desse modo, a relevância da
relação socioeconômica e cultural com o ato de comer (JOMORI; PROENÇA; CALVO, 2008).
A ambiguidade demonstrada pelo momento da escolha alimentar é comum ao perfil do
comensal contemporâneo, demonstrado por Fonseca et al. (2011), em que o alimento continua
tendo sua função fisiológica, no entanto com o disfarce de novos sentidos. O indivíduo moderno
procura realizar a escolha ideal para o seu consumo alimentar, preocupando-se com uma
alimentação saudável e com a composição nutricional daquilo que ingere. Ademais, os autores
demonstram que o tempo disposto para alimentar-se influencia o consumo de alimentos no
contexto da vida moderna, onde a “competitividade imposta pelo mercado e a fragilidade dos
vínculos de trabalho levam a uma nova organização do tempo e à eleição de prioridades”
Entendendo que a conformação da categoria profissional em questão implica em extensos
períodos longe do lar, alimentando-se fora do domicílio, o que determina a adesão a um padrão
alimentar de risco. Bezerra et al. (2016) constataram, em artigo de revisão, diversas
características da alimentação fora do domicílio que contribuem para o ganho excessivo de peso
como: a elevada densidade energética, o elevado teor de gorduras e açúcares, baixo conteúdo
de fibras e cálcio, grandes porções de alimentos altamente palatáveis e ofertados em grande
variedade e o consumo elevado de refrigerantes e doces.
53
A literatura aponta também que os ambientes de trabalho podem ter influência sobre as
dietas dos adultos. Os trabalhadores em tempo integral gastam, pelo menos, metade de suas
horas de vigília no trabalho e consomem uma proporção substancial de calorias diárias em
ambientes de trabalho e nas mediações (LARSON; STORY, 2009). Portanto, as escolhas e
comportamentos alimentares são influenciados pela disponibilidade de alimentos no local de
trabalho e vizinhança, políticas de local de trabalho, apoio organizacional para programas de
saúde e normas sociais entre colegas de trabalho (LARSON; STORY, 2009).
Estudos mostram a influência do trabalho por turnos (diurno e noturno) na qualidade da
alimentação ingerida, principalmente à noite (NEA et al., 2015; BONHAM; BONNELL;
HUGGINS, 2016; BONNELL et al., 2017). A atividade laboral de grande parte dos
caminhoneiros caracteriza-se em dirigir por longos períodos, usualmente a noite, com reduzido
tempo para descanso, cuja jornada de trabalho pode exceder 12h.
Em revisão narrativa sobre os efeitos do trabalho por turnos sobre o estilo de vida e o
risco para a saúde dos trabalhadores, Nea et al. (2015) mostraram que, embora a ingestão total
de energia não pareça ser afetada, o trabalho contínuo pode ter um impacto na qualidade da
dieta. Foram observadas alterações na ingestão de macronutrientes após o início do trabalho
por turnos, tais como: o aumento da ingestão de gorduras saturadas e diminuição das
poliinsaturadas e fibra alimentar.
Bonham, Bonnell e Huggins (2016) publicaram uma revisão sistemática com meta-
análise de 12 estudos, incluindo 10.367 trabalhadores diurnos e 4.726 trabalhadores por turnos
(diurno e noturno). Concluíram que os consumos energéticos relatados não foram diferentes
entre os trabalhadores, sugerindo que outros fatores como o desalinhamento circadiano, o tempo
de refeição, a escolha de alimentos e a variação do metabolismo energético à noite podem ser
responsáveis pelo aumento das taxas de obesidade observadas nos indivíduos que também
trabalham durante esse período.
Bonnell et al. (2017) compararam as escolhas alimentares de bombeiros australianos
trabalhadores de turno durante o dia versus o turno da noite, utilizando métodos qualitativos
(grupos focais) e quantitativos (recordatório alimentar de 24h). A análise temática destacou
como determinantes da ingestão dietética: horário de turnos; atitudes e decisões de colegas de
trabalho; tempo e acessibilidade; e conhecimento da relação entre alimentação e saúde.
Relataram consumir mais alimentos arbitrários e disponibilidade limitada de escolhas
alimentares saudáveis aqueles trabalhadores do turno da noite. A ingestão de energia não diferiu
entre os dias que incluíram um turno diurno ou noturno, mas a maior densidade energética da
dieta foi observada no turno noturno.
54
Essas questões procuram elucidar as influências do contexto de um grupo social,
incluindo seu ambiente de trabalho, podendo caracterizar uma escolha alimentar. Deste modo,
não se pode excluir a corresponsabilização nesse contexto dos empregadores e do poder público
os quais devem melhorar o acesso a alimentos adequados para os motoristas, indivíduos
vulneráveis a padrões alimentares de risco.
5.2 Fase 2: Artigos 2 e 3
5.2.1 Artigo 2: Evocação e Grupos Focais
Para a técnica da evocação livre participaram 29 caminhoneiros, com idade entre 33 e
75 anos e média de 50,8±11,4, com mais de dez anos de profissão, de rotas curta ou longa
distância, e escolaridade de 6±2,8 anos de estudo.
Os relatórios obtidos pelo software EVOC® forneceram dados relativos à frequência (f)
e à Ordem Média de Evocação (OME), computando um total de 146 palavras evocadas como
respostas para os termos de associação ‘risco à saúde’ (79) e ‘cuidado com a saúde’ (67). As
evocações foram agrupadas conforme processo de lematização (tratamento de equivalência).
Devido ao número da amostra, foram incluídas todas as palavras evocadas, independente da sua
frequência de evocação.
Se cada participante conseguisse expressar as quatro palavras solicitadas, seriam 116
evocações para cada termo de associação. O quantitativo reduzido de palavras evocadas
demonstra que o coletivo apresentou dificuldade de expressar as suas percepções quanto às
questões alusivas à saúde.
Referente ao grupo focal, os participantes tiveram idade entre 31 e 54 anos e média de
idade de 41(±8), com mais de quatro anos de profissão, predominantemente viajando por longa
distância (média de 817km/dia), e escolaridade variando de 5 a 12 anos de estudo.
Foram realizados dois grupos focais, com tempo médio de duração das sessões de uma
hora. No total compuseram os grupos nove caminhoneiros, participantes das fases anteriores
desse estudo, sendo o primeiro com cinco participantes e o segundo com quatro. Embora não
exista consenso na literatura sobre o quantitativo de integrantes para a realização de grupo focal
(KIND, 2008), ressalta-se a dificuldade de conseguir agendar um horário em comum entre os
profissionais, tendo em vista as características dessa população de ficar pouco tempo em casa,
não possuindo dias pré-determinados de folga, além do encontro ser marcado em horário
comercial, de acordo com o funcionamento da unidade básica de saúde, local dos encontros.
55
Risco à saúde
A análise prototípica que caracteriza a estrutura da RS a partir do termo de associação
“risco à saúde” encontra-se na Tabela 5. Sem casos omissos, houveram 79 menções para a
indagação. Alusivo aos pontos de corte para as coordenadas dos quadrantes, foi empregado o
critério da ordem de evocação de 1,5 e para o critério de frequência, optou-se por considerar a
mediana da frequência de 3,0.
Tabela 5: Quadrantes das palavras evocadas em resposta ao termo ‘risco à saúde’ pelos caminhoneiros
do estado de Sergipe (n=29)
f ≥ 3,0
OME < 1,5
1º quadrante
f ≥ 3,0
OME ≥ 1,5
2º quadrante
Evocações f OME Evocações f OME
Prevenção 3 1,3 Álcool e drogas 18 2,8
Acidente 10 2,1
Gordura 10 1,7
Adoecimento 09 2,0
Sono 06 3,5
Má alimentação 05 2,0
Fumo 04 2,2
Estresse 03 2,6
Assalto 03 2,3
f < 3,0
OME < 1,5
3º quadrante f < 3,0
OME ≥ 1,5
4º quadrante
Açúcar; DST;
Excesso de trabalho;
Sedentarismo
02
2,0 Nenhuma palavra
presente
f: frequência de evocação; OME: Ordem Média de Evocação.
DST= Doenças Sexualmente Transmissíveis.
No primeiro quadrante, que corresponde ao Núcleo Central da TRS, observa-se que os
sujeitos tiveram como identidade coletiva a palavra ‘prevenção’. As palavras evocadas ‘álcool
e drogas’, ‘acidente’ e ‘gordura’, no entanto, embora não façam parte do núcleo central por
terem sido pronunciadas mais tardiamente, merecem atenção adentrando a primeira periferia
(2º quadrante). Tais evocações podem estar relacionadas ao risco laboral, emergindo também
nas discussões dos grupos focais, referente a relação entre profissão e saúde, obtendo o maior
número de respostas entre as questões propostas (Figura 3).
56
Figura 3: Frequência (%) das categorias da pergunta “qual a relação
entre a profissão de caminhoneiro e a saúde? ”
No que diz respeito à alimentação, eles referem que a qualidade depende da região do
país que estão rodando (qualidade dos restaurantes nas rodovias), sendo, muitas vezes, os únicos
disponíveis. Acrescentam que:
DSC.3.A. Nem todos os alimentos por aí é saudável igual a comida em
casa. Depende da rota e do horário que gente chega nos lugares. Então
você roda para poder você chegar num lugar e dá certo e mesmo assim
não é o adequado, mas cê tem que comer aquilo mesmo. Se tá com a
carga de horário almoça que nem mastiga, come em pé no balcão.
Muitas das vezes você passa fome porque não tem onde comer.
Diversos estudos apontam para a má qualidade da alimentação entre caminhoneiros.
Alessi e Alves (2015) mostraram que, em geral, os caminhoneiros de rota de longa distância se
alimentam em restaurantes à beira das estradas, com oferta de alimentos de alto valor calórico
e baixo valor nutritivo, assim como calorias vazias, provenientes, especialmente, através do
consumo de álcool. Ademais, a grande maioria dos motoristas prepara a comida em local
adaptado como cozinha na parte externa do caminhão, notando-se uma composição de refeições
simples e sem variedade, além do pouco tempo para as refeições.
Muito além de uma atitude biológica, a alimentação assume também um comportamento
cultural, onde “as escolhas alimentares estão relacionadas às possibilidades de alimentos
disponibilizados pelo meio e ao potencial técnico que possuem” (LIMA; FERREIRA NETO;
FARIAS, 2015, p. 508). Os caminhoneiros identificam as dificuldades e diferenças na
29,1%
33,3%
25,0%
12,5%
0,0%
5,0%
10,0%
15,0%
20,0%
25,0%
30,0%
35,0%
Alimentaçãoruim na estrada
Estressecausando
desgaste físico emental
Sono e descansoinsuficiente
Uso de drogas
57
comensalidade do seio familiar e do trabalho, onde o ritmo imposto traz precárias condições
para alimentar-se tranquilamente.
A realização de refeições fora do domicílio se associa com menor qualidade da dieta,
incluindo baixo consumo de frutas, verduras e grãos integrais. Esse tipo de alimentação também
costuma possuir elevada densidade energética e teor de gorduras e açúcares, baixo conteúdo de
fibras e cálcio, grandes porções de alimentos altamente palatáveis e ofertados em grande
variedade e o consumo elevado de refrigerantes e doces (BEZERRA et al., 2016). Estas
características descritas contribuem para o ganho excessivo de peso e, consequentemente, para
o aumento de DCNT nos indivíduos.
A palavra evocada ‘acidente’ pode se relacionar com algumas falas nos grupos sobre
desgaste físico e mental, pois quanto maior o cansaço maiores as chances de envolver-se em
incidentes de trânsito (LEYTON et al., 2012; CHEN; XIE, 2014; DABRH et al., 2014).
Para os caminhoneiros, o ofício causa esgotamento devido às preocupações inerentes à
profissão, como o tipo rota, fiscalizações, compromisso da entrega das cargas e situação do
caminhão.
DSC.3.B. A nossa profissão dá desgaste da nossa saúde. Tem que tá ali
atento a tudo. Tem que trabalhar consciente que tá com uma ferramenta
de trabalho que é caro, com o compromisso de levar a mercadoria
intacta, a preocupação de arrumar outra carga, se preocupar em si e com
os outros, com os guarda, com o pneu... O estresse é muito alto. É a vida
de caminhoneiro.
A atuação dos motoristas de caminhão é marcada por uma organização do trabalho
cansativa e estressante, considerado como origem de adoecimento físico e mental (BEZERRA,
et al., 2016). O estresse contribui de forma independente para as patologias do sistema
cardiovascular, exacerba a angústia associada a esses problemas e impede o progresso para um
estilo de vida mais saudável (STULTS-KOLEHMAINEN, 2013).
Ademais, para os entrevistados, a ausência de repouso adequado mostra-se como
característica, sobretudo, para os que dirigem em longos trechos, podendo gerar mais estresse
e desânimo.
DSC.3.C. Dormir pôco não faz bem. Para quem roda longe dormir nós não
dorme não. Você passa muito tempo sentado, dorme em banco sentado. Cê
desanima mais também, estressa mais. Eu cansei de dormir na direção quando
parar para abastecer, mas com vinte minutos eu tocava novamente.
58
Ainda que ‘álcool e drogas’ tenha sido o termo mais evocado para ‘risco à saúde’, essa
questão emergiu de forma tímida durante os grupos. Mesmo entendendo que o ‘arrebite’
(sinônimo para ‘rebite’, anfetamina utilizada como estimulante) prejudique a saúde, eles
acreditam que seu uso é legitimado porque é necessário para “chegar em casa”, ou seja, para
fins laborais.
DSC.3.D. Eu acho que de tudo (o pior) ainda é o arrebite. O arrebite é
uma droga igual a cachaça, faz mal demais. Mas a gente usa arrebite é
pra chegar em casa que ninguém gosta de ficar drogado não. Quando
nós está com dor de cabeça aí toma arrebite.
Outros estudos com caminhoneiros destacam a rotina da profissão marcada por
distúrbios do sono e abuso de substâncias estimulantes (KNAUTH et al., 2012; GIROTTO et
al., 2014; GIROTTO et al., 2015; OLIVEIRA et al., 2015). A conjuntura do ambiente de
trabalho é fator que deve ser levado em consideração porque se configura como um
determinante social que exerce influência sobre as condições de saúde do indivíduo (BUSS;
PELEGRINE FILHO, 2007). Para os entrevistados, a dimensão do desgaste relatado pode ser
explicada pela fadiga crônica ligada ao estresse que as atividades laborais impõem, levando ao
uso de álcool e drogas para alívio e cumprimento dos prazos.
Cuidados com a saúde
Relativo ao ‘cuidado com a saúde’ a análise prototípica está expressa na Tabela 6.
Exceto por um indivíduo que não conseguiu evocar nenhuma palavra, houve 67 evocações.
Para determinação do ponto de corte para OME, foi empregado o mesmo critério para o termo
indutor anterior. Referente ao critério de frequência, optou-se por considerar a mediana da
frequência de 3,0.
59
Tabela 6: Quadrantes das palavras evocadas em resposta ao termo ‘cuidado com a saúde’ pelos
caminhoneiros do estado de Sergipe (n=29)
f ≥ 3,0
OME < 1,5
1º quadrante
f ≥3,0
OME ≥ 1,5
2º quadrante
Evocações f OME Nenhuma palavra presente Alimentação saudável 21 1,6
Descanso 14 2,6
Evitar álcool 09 2,7
Prevenção 07 1,8
Atividade física 05 2,4
f < 3,0
OME < 1,5
3º quadrante
f < 3,0
OME ≥ 1,5
4º quadrante
Família 03 2,3
Nenhuma palavra presente Evitar drogas; sossego 02 3,0
Não fumar 02 2,0
Viver mais 02 1,5 f: frequência de evocação; OME: Ordem Média de Evocação.
O Núcleo Central constitui elemento importante da RS e é determinado a partir da
natureza do objeto ou pelo tipo de afinidade existente entre este e o grupo social, estabelecendo
um sistema de valores e normas que particularizam a forma de pensar e agir do grupo social
(ABRIC, 2001).
A ausência de núcleo central “desestruturaria a representação ou daria uma significação
completamente diferente à representação em seu conjunto” (ABRIC, 2001, p. 163). Portanto,
nesse grupo, existe uma relação enfraquecida no que se refere aos cuidados à saúde. No entanto,
nota-se através dos discursos nos grupos focais, que os caminhoneiros apresentam
determinantes que dificultam tais cuidados, tanto por questões individuais quanto
socioculturais.
No 2º quadrante, elementos periféricos mais importantes da representação estudada, a
palavra ‘alimentação saudável’ foi a que apresentou maior frequência, seguida de ‘descanso’ e
‘evitar álcool’, mostrando que atitudes que se referem à promoção da saúde e prevenção de
doenças são importantes no cuidado.
As falas dos caminhoneiros durante os grupos focais reforçam o que se encontra no 2º
quadrante, ao serem questionados sobre o entendimento por ‘cuidados com a saúde’. Emergiu
do debate questões referentes à desmotivação pessoal quanto ao autocuidado, dificuldade do
acesso à saúde, e alguns exemplos de cuidados à saúde, conforme Figura 4.
60
Figura 4: Frequência (%) das categorias da pergunta “o que vocês entendem por
cuidados à saúde? ”
Conforme apresentado no discurso a seguir, os caminhoneiros alegam que apenas
procuram o serviço de saúde quando realmente precisam, conotação da doença instalada, sem
a prevenção que apareceu nas evocações.
DSC.1.A. Mas de vez em quando cuido sim, vai ficando mais velho,
vai cuidando. Mas eu para falar a verdade atualmente nada. Falta de
esforço mesmo da gente, por falta de tempo. Quando adoece é que
procura. Que a gente se acomoda um pouco ao chegar em casa.
Caminhoneiro só vai para o médico quando tá ruim.
O autocuidado sendo deixado para segundo plano é achado comum em outros estudos
entre motoristas (MASSON; MONTEIRO, 2010; KNAUTH et al., 2012). Essa é característica
presente entre os homens de modo geral, cuja resistência à busca dos serviços de saúde pode
ser influenciada pelas barreiras institucionais e socioculturais (SIQUEIRA et al., 2014). Gomes
et al. (2007) encontraram como motivos para a baixa procura dos homens por serviços de saúde:
a representação do cuidar como tarefa feminina, as questões relacionadas ao trabalho, a
dificuldade de acesso aos serviços e a falta de unidades especificamente voltadas para a saúde
do homem.
Pautada pela perspectiva de gênero, os homens frequentemente podem se afastar das
características consideradas femininas, dentre elas o cuidado, nas conjunturas sociais onde ao
ser masculino são atribuídos os quesitos referentes ao poder, sucesso e força (GOMES, 2008).
Deste modo, eles somente procuram o serviço nas situações de intercorrências graves ou quando
se veem incapacitados de exercer a atividade laboral, não podendo desempenhar seu papel de
provedor, aumentando a vulnerabilidade aos problemas de saúde (MOURA et al., 2014).
Pesquisa qualitativa com relatos de experiências de saúde do homem na atenção
primária, demonstrou que a captação do usuário masculino passa pelas trocas sociais,
encontrando novamente o vínculo como um meio promotor de saúde ou de cuidado à saúde.
44%
31%25%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
Desmotivação com oautocuidado
Acesso ao serviço de saúde Definição de cuidados àsaúde
61
Garantias de retorno, agendamentos e oferta de exames tornam-se artifícios de contentamento
com os serviços prestados (MOREIRA; GOMES; RIBEIRO, 2016). O longo tempo de espera
é tratado pelos profissionais de saúde como agravante ao problema do absenteísmo masculino,
sendo a agilidade do atendimento uma das estratégias para aumentar a adesão (MOREIRA;
GOMES; RIBEIRO, 2016).
Na tentativa de melhorar esta realidade, em 2009 foi criada a Política Nacional de
Atenção à Saúde Integral do Homem, por meio da Portaria GM/MS nº 1.944. Esta política
orientou a articulação de diretrizes e ações constituídas essencialmente para a atenção integral,
visando a prevenção e promoção da saúde, a qualidade de vida e a educação, como eixos
estratégicos para o estímulo às mudanças de hábitos (BRASIL, 2009).
Medrado, Lyra e Azevedo (2011) apresentam princípios e diretrizes, originalmente
publicados pela Rede de Homens pela Equidade de Gênero, que consideram fundamentais para
a formulação de políticas de atenção integral aos homens. Dentre estas, destacam-se: a
importância de se reconhecer que as necessidades dos homens em relação à saúde não se
limitam aos males da próstata ou outras enfermidades; os serviços de saúde precisam acolher
as necessidades, não apenas responder as demandas; e é preciso ir onde os homens estão,
desenvolvendo estratégias aos espaços coletivos.
Outro discurso também reforçou as dificuldades para o acesso ao serviço de saúde,
principalmente quando estão trabalhando. Entretanto, para os participantes dessa pesquisa, a
melhoria desse acesso é vislumbrada quando se encontram em uma estrada privatizada, uma
vez que garante um ponto de apoio para o cuidado quando existe a necessidade extrema de
saúde.
DSC.1.B. Com dificuldade mais consegue na rede pública. Mas tem
muita falta de acesso. Na estrada é pior. Quando é uma estrada privativa
é bom, tem muitos que tem uns pontos de apoio de saúde, mas quando
não é, é rezar que não precise.
Esta realidade de dificuldade ao acesso à saúde acontece em boa parte da população.
Em artigo de revisão sobre a temática, Barbiani et al. (2014) referem que “a representação do
direito à saúde é de sua não efetivação pela dificuldade de acesso aos serviços, facilitado apenas
para alguns”. Essa perspectiva compromete as ações resolutivas, principalmente, nas doenças
crônicas que se relaciona à responsabilização clínica e sanitária dos territórios e de suas regiões.
Para quem está em rodovias privatizadas, existe o serviço de atendimento gratuito e
equipes de resgate, contando com profissionais de saúde que realizam atendimentos pré-
hospitalar em caso de acidente e doença súbita (casos clínicos) no trecho da concessão
62
(VEDOVATO et al., 2015). A visualização da melhoria do acesso à saúde pela presença da
garantia do atendimento em casos de urgência e emergência demonstra a concepção limitada
de saúde como ausência de doença, centrada no modelo biomédico.
Em contrapartida, surgiu no debate também, os cuidados à saúde limitando-se a
realização de exames e consultas periódicas (checkup) ou alimentação adequada ou realização
de atividade física. O sentido alternativo denota a percepção de que o cuidado à saúde não
precisa ser um conjunto de elementos, conforme discurso:
DSC.1.C. Prolonga o tempo de vida, é fazer checkup ou é se alimentar bem
ou é fazer exercício. Alimentação, né, ajuda muito porque às vezes num pode
praticar o exercício.
Destaca-se que o discurso versa sobre as práticas de prevenção, referentes ao
autocuidado, mesmo que não o façam com regularidade e de forma associada. Nascimento et
al., 2011 encontrou entre homens de Belo Horizonte, Minas Gerais, a percepção mais geral do
cuidar da saúde como uma conjuntura de práticas individuais que possuem o desígnio do ‘bem-
estar’, sugerindo uma progressiva individualização do encargo pela saúde. Ademais, o fato da
pesquisadora ser nutricionista acredita-se que pode ter influenciado as respostas dos indivíduos,
onde se percebe um reforço às questões da boa alimentação como referência ao cuidado à saúde.
Quando questionados sobre quais seriam as facilidade e dificuldades para os cuidados à
saúde, novamente as relações de trabalho e questões pessoais de interesse para o autocuidado
geraram as maiores reflexões. Foi citada a ausência de leis punitivas e fiscalização contra as
empresas que dificultam o acesso à saúde.
DSC.4.A. Só se existisse uma lei exigindo que todo motorista teria que
fazer um checkup. Se tivesse uma punição para a empresa? A lei vem
para ajudar, mas cadê a fiscalização? E também conscientização dos
patrão né? Tem muitos patrão aí que nem tá ligando pra você, ele quer
saber se tomou prejuízo. Mesmo você estando meio doente aí o patrão
"não... tem que viajar" e você para não perder o emprego sai. Ele só vai
se importar se a pessoa num tiver condição de ir, aí vai ser obrigado
você procurar um médico.
Segundo Silva et al. (2016, p. 161), “o trabalho precário caracteriza-se pela
imprevisibilidade na qual os empregadores isentam-se de responsabilidades e os riscos são
assumidos pelos próprios trabalhadores”. Existe o comprometimento das condições de trabalho
e saúde provocadas pela informalidade e a precarização das relações presentes nessa profissão.
Silva et al. (2016) encontraram no seu estudo relatos recorrentes sobre as dificuldades (trabalho
informal e precário e condições dos postos de parada e das rodovias) e a imprevisibilidade
63
presentes no exercício da profissão de caminhoneiros tanto entre os autônomos, quanto os
contratados.
Como dificuldade para o cuidado, surgiu outra vez as questões referentes ao acesso aos
serviços de saúde, onde a marcação de consultas e de exames também se constitui como
limitadora para o autocuidado, uma vez que a rotina diferenciada e dias de trabalho muitas vezes
não delimitados.
DSC.4.B. O acesso mais rápido seria melhor. Até na rede particular
você leva dias e pela rede do SUS também, justamente no dia que
marcou você está viajando. A não ser que não tivesse marcado você
chegar no posto tem um médico naquela rota. Só se tivesse uma
exclusividade para o caminhoneiro.
O acesso aos serviços de saúde possui relação direta com a oferta e sua dificuldade se
relaciona, por sua vez, às particularidades dos sistemas e serviços de saúde, em que a
possibilidade de utilizar um serviço de saúde regularmente pode ser considerada porta de
entrada ao sistema de saúde (STOPA et al., 2017). De acordo com Sanchez e Ciconelli (2012,
p. 261), uma das dimensões do acesso à saúde é a disponibilidade, medida pela “representação
da existência ou não do serviço de saúde no local apropriado e no momento em que é
necessário”.
Diante do exposto, as atitudes demonstradas entre este público são preocupantes, uma
vez que as DCNT se desenvolvem de maneira silenciosa e possuem relevante impacto
socioeconômico. Por se tratar de uma categoria profissional importante para a economia
brasileira, é impreterível que as políticas governamentais se direcionem para estes profissionais,
considerando todos os entraves para a adoção de práticas saudáveis. Durante as entrevistas,
surgiram diversas orientações e proposições que poderiam colaborar com a reversão desse
quadro de descuido e descaso, tais como controle das relações de trabalho e a melhoria do
acesso à saúde com desenvolvimento de estratégias diferenciadas para esse público.
Destaca-se como limitações o quantitativo reduzido de sujeitos para ambas as técnicas
de coleta de dados. Dentre as dificuldades encontradas está a questão do tempo disponível dos
indivíduos para as entrevistas e do horário disponibilizado (comercial).
5.2.2 Artigo 3: Entrevista individual
Foram entrevistados 15 caminhoneiros com idade entre 30 e 75 anos (50±13), com mais
de sete anos de profissão, de curta e longa rota, e escolaridade variando de 1 a 11 anos de estudo.
64
A partir dos relatos, foi possível apreender diversas representações sociais relacionadas à saúde.
Visando aprofundar a análise, a partir do corpus de respostas, foram identificadas três categorias
temáticas com as respectivas subcategorias, conforme apresentado na Tabela 7.
Tabela 7: Frequência das categorias de análise temática entre caminhoneiros do estado de Sergipe
(n=15).
Categorias Subcategorias %Respostas %Entrevistados
(1) Autopercepção
de saúde
(A) Presença de doença 7,2 40,0
(B) Ausência de doenças 4,6 26,7
(C) Autocuidado 4,6 26,7
(2) Determinantes
de risco laboral
(A) Rotina de trabalho/ estresse 17,0 73,3
(B) Alimentação 15,5 86,7
(C) Uso de drogas 14,4 93,3
(D) Rotina de trabalho/ sono e descanso 12,4 80,0
(E) Sedentarismo 4,0 26,7
(3) Cuidados com a
saúde
(A) Motivos pessoais 16,5 73,3
(B) Motivos laborais 3,6 33,3
Autopercepção de saúde: se eu continuo trabalhando, estou bem
A autopercepção da saúde mostrou-se satisfatória, obtendo-se em média notas de 7,5 ±
1,4 e mediana de 8 pontos. Ao serem questionados sobre a justificativa para a nota autorreferida,
emergiram duas categorias: (i) a ausência ou a presença de doenças (nota alta e nota mais baixa,
respectivamente); e (ii) a presença ou ausência de cuidados à saúde (nota alta e nota mais baixa,
respectivamente), tais como alimentação, atividade física, descanso e idas ao médico.
Dentre aqueles que responderam com notas mais baixas (entre cinco e sete) a
justificativa foi, predominantemente, a ausência de cuidados à saúde. Estes tinham a
escolaridade acima da média, com mais de nove anos de estudo, caracterizando uma percepção
de saúde mais ampliada do que apenas a ausência da doença. Para aqueles com notas mais
elevadas, a escolaridade era mais baixa (menos de cinco anos de estudo) e também
apresentaram maior média de idade (54,7±12,6).
Quanto aos cuidados que esse grupo possui em relação à própria saúde, surgiram
apontamentos como o autocuidado por meio da alimentação, recomendações médicas e prática
de atividade física. Apesar disto, metade dos participantes desse estudo afirmou não cuidar da
saúde de maneira suficiente, alegando falta de tempo ou acomodação pessoal.
Em relação à autopercepção de saúde, para os caminhoneiros se faz presente a
concepção de saúde em torno da presença ou não de doenças, além da incorporação de práticas
65
que caracterizam o cuidado, determinado como “comportamentos saudáveis” (alimentação
saudável, prática de atividade física e rotinas médicas). Entre os mais velhos, a idade mais
avançada também foi um fator determinante para a autoavaliação da saúde. Ao se compararem
com pessoas mais idosas, estes indivíduos sentem-se bem por estarem ainda em atividade
laboral, ou seja, livre de incapacidades físicas que prejudiquem o trabalho.
A maioria dos caminhoneiros amigos meus... são tudo doente... (...)só
vejo gente reclamando disso aí... eu, graças a Deus, minha pressão é
boa... não tenho diabetes... não tenho esse problema de colesterol que
(...) deu um pouquinho alto, mas isso é fácil de resolver né... só... mudar
um pouco a alimentação fazer mais um pouquinho de exercício que
resolve né?... (Entrevistado 02, 65 anos)
A saúde, segundo a OMS, é um estado de completo bem-estar físico, mental e social
(CZERESNIA, 2009). Esse conceito ampliado vem atrelado à ideia de que é um produto de
uma série de fatores relacionados à qualidade de vida, onde interferem não apenas os
determinantes biológicos. No entanto, o processo saúde-doença em sua complexidade, tem
gerado uma tendência natural, entretanto, reducionista, de se pensar na saúde como a ausência
de doença (DALMOLIN et al., 2011), questão que emergiu das entrevistas.
Quando foram questionados sobre a existência da relação entre a própria saúde e a
profissão de caminhoneiro, surgiram como fatores laborais de risco à saúde o descanso
insuficiente, a alimentação irregular, o estresse do trabalho e o uso de drogas para inibir o sono.
No entanto, mais da metade (53,3%) discordou desta relação, referindo motivos como estar, no
momento, em um bom emprego, viajar para perto, não estar doente e cuidar da saúde. De um
modo geral, os participantes alegaram que possuem adversidades no trabalho que dificultam o
equilíbrio de uma boa saúde e seus cuidados.
Algumas análises demonstrarem maior prevalência da percepção negativa de saúde
entre sujeitos com a baixa qualidade de vida (estresse, sono insuficiente, sedentarismo) e
ambiente social desfavorável (FONSECA et al., 2008; MEIRELES et al., 2015). Entretanto,
pôde-se analisar a percepção positiva da saúde entre os entrevistados sob a perspectiva da
negação da doença. A necessidade da presença do indivíduo no trabalho apesar de doente ou
com algum problema físico ou psicológico, pode fazer com que o mesmo não perceba os seus
problemas de saúde, ou mesmo minimizem seus efeitos, retornando mais brevemente ao
trabalho (PASCHOALIN, et al., 2013). Este fato nomeado como “presenteísmo” é apresentado
principalmente entre trabalhadores com vínculos empregatícios precários (IRIART et al.,
2008).
66
Numa análise qualitativa com caminhoneiros sobre condições de trabalho e saúde,
mediante as modalidades de vínculos empregatícios, Silva et al. (2016) evidenciaram a
informalidade e a precarização como características dessa profissão. A remuneração do trabalho
relacionando-se com a produtividade proporciona que esse público permaneça mais tempo no
volante a fim de ganhar mais, ocasionando maiores impactos à saúde.
Determinantes de risco laborais: não existe horário programado
Foram evidenciadas as questões acerca dos determinantes de risco laborais, mostrando
como o modo de trabalhar pode interferir na sua qualidade de vida. A rotina de trabalho intensa
implica em más condições de alimentação, dificuldades com horários e rotina, impossibilidade
da prática regular de atividade física, pressão sofrida para o cumprimento de prazos e
interferências no ciclo circadiano, implicando no uso de medicamentos inibidores do sono.
“(...) o ofício não existe um horário programado como outro trabalho
qualquer (...) a gente trabalha... às vezes fica trinta e seis horas num
volante quarenta horas num volante... sem poder sair a num ser numa
parada num posto alguma coisa para fazer necessidade” (Entrevistado
03, 33 anos)
É por conta da rotina (...) porque acaba também sendo viciante né (...)
chega atrasado aí "ah hoje eu faço um lanche"... aí quando chega o outro
dia... vai acontece a mesma coisa e acaba criando um vício... você acaba
abdicando daquelas coisas que você sabe que... é importante para o
corpo mas... não faz (Entrevistado 04, 53 anos)
O uso de drogas foi temática presente em quase todas as entrevistas. De modo geral, o
uso de substâncias para inibir o sono é prática recorrente entre os caminhoneiros. Alguns dos
entrevistados negaram o uso, no entanto, admitiram sua presença entre a categoria profissional,
seja o “rebite” ou mesmo drogas ilícitas.
Quase que uma necessidade na estrada assim né... porque é... pessoa sai
de São Paulo .... para chegar aqui (...) tem que ser através de remédio
porque o cara só... naturalmente ele não consegue chegar... (...) tem que
ser com droga para não dá sono (Entrevistado 02, 65 anos)
Poucos trabalhos brasileiros investigaram a concepção de saúde e as interferências das
atividades laborais entre caminhoneiros. Delfino e Moraes (2015) entrevistaram 13 motoristas
afastados da atividade laboral, encontrarando que o entendimento sobre o estado de saúde
aparece, intrinsicamente, associado à capacidade para o trabalho, corroborando com
67
comportamentos de adiamento do cuidado à saúde. Este achado chama a atenção para a
concepção de saúde como ausência de doenças, onde os conceitos que perpassam pela qualidade
de vida são exíguos. Entre pessoas mais idosas, Borges et al. (2014) referem que a percepção
de estar doente relaciona-se mais fortemente com a presença de incapacidades do que ser
portador de doenças crônicas. Nesse estudo, os caminhoneiros ainda se encontram em atividade
laboral, o que pode justificar uma percepção mais positiva da saúde.
Pesquisas apontam para a amplitude das conjunturas de vulnerabilidade vivenciadas por
caminhoneiros, destacando os diferentes aspectos no âmbito social, individual e laboral
(KNAUTH et al., 2012; ALESSI; ALVES, 2015; MAGNO; CASTELLANOS, 2016). Dirigir
caminhão é um tipo de trabalho com elevado nível de desgaste físico e mental, características
que comprometem o desempenho necessário à atividade (FERREIRA; ALVAREZ, 2013). Para
os entrevistados, a representação social sobre sua própria saúde permeia a dimensão do desgaste
causado pela fadiga crônica associada a rotina estressante que as atividades laborais impõem,
levando à alimentação inadequada e ao uso de álcool e drogas para alívio do estresse e
cumprimento dos prazos.
Estudos internacionais de cunho qualitativo também revelam a influência das atividades
laboriais na saúde dos indivíduos. Boeijinga et al. (2016) conduziram e analisaram 20
entrevistas semi-estruturadas e sete casos de observações participantes com caminhoneiros
holandeses. Ressaltaram que os indivíduos desejavam melhorar seu estilo de vida, mas não
conseguiam assimilar conceitos de vida saudável, bem como, subestimavam os riscos à saúde.
Além disso, experimentavam barreiras de cunho laboral e pessoal que os impediam de traduzir
suas intenções em mudanças reais no estilo de vida. McDonought et al. (2014) conduziram
quatro grupos focais com motoristas de caminhão e gestores de transportadoras em Ontário,
Canadá, para identificar a experiência vivida dos condutores em relação aos riscos evitáveis
para a doença. Os temas predominantes descritos foram: o estresse, o local de trabalho, a
comunicação, o estilo de vida, a cultura de condução, a família e as preocupações relacionadas
à fadiga. Em termos de ambiente de trabalho, motoristas e gestores estavam conscientes do
potencial da profissão em determinar doenças crônicas relacionadas ao estilo de vida.
O padrão alimentar é um fator preponderante com influência direta na saúde dos
caminhoneiros. Na maioria dos casos, este é inadequado, acarretando em problemas de saúde
em médio e longo prazo (MASSON; MONTEIRO, 2010). A alimentação dos caminhoneiros é
baseada nos restaurantes das estradas, nos quais, em sua maioria, são ofertadas preparações
desbalanceadas nutricionalmente, ricas em gordura saturada, açúcar e sódio limitando a oferta
de alimentos necessários para um padrão adequado (FERREIRA; ALVAREZ, 2013; ALESSI;
68
ALVES, 2015). McDonough et al. (2014) apontaram que os caminhoneiros têm conhecimento
de que o consumo de gordura saturada, sal e açúcar em excesso e o estilo de vida sedentário
são prejudicais à saúde. Contudo, a acessibilidade, a disponibilidade e o tempo para a compra
de alimentos adequados são as maiores dificuldades referidas por este público.
A atividade laboral de grande parte dos caminhoneiros caracteriza-se em dirigir por
longos períodos, com reduzido tempo para descanso, cuja jornada de trabalho pode exceder
12h. Os trabalhadores em tempo integral gastam, pelo menos, metade de suas horas de vigília
e consomem uma proporção substancial de calorias diárias nos ambientes de trabalho e ao redor
(LARSON; STORY, 2009). Estudos demonstram a influência do trabalho por turnos (diurno e
noturno) na qualidade da alimentação ingerida, principalmente à noite (NEA et al., 2015;
BONHAM; BONNELL; HUGGINS, 2016; BONNEL et al., 2017).
Estes resultados demonstram que muito além de uma atitude biológica, a alimentação
assume também um comportamento cultural, onde as escolhas alimentares estão relacionadas
às alternativas de alimentos ofertados pelo meio e ao potencial técnico que os indivíduos
possuem (LIMA; FERREIRA NETO; FARIAS, 2015). Os caminhoneiros identificam as
dificuldades e diferenças na comensalidade do seio familiar e do trabalho, onde o ritmo imposto
traz precárias condições para alimentar-se tranquilamente. Sendo assim, o diagnóstico das
práticas e comportamentos alimentares se torna etapa necessária para o desenvolvimento de
programas e intervenções na área de educação nutricional (POULAIN; PROENÇA; DIEZ-
GARCIA, 2012).
A temática recorrente do uso de drogas entre os entrevistados corrobora que
determinantes ocupacionais estão fortemente associados ao uso de anfetaminas, corroborando
com outros trabalhos (GIROTTO et al, 2015; OLIVEIRA et al., 2015). A precarização no
trabalho e os curtos prazos de entrega estão relacionados ao consumo de drogas,
comprometendo as condições de saúde dos caminhoneiros (SILVA et al., 2016).
Cuidados com a saúde: uma opção de cada pessoa
Quanto aos cuidados que esse grupo possui em relação à própria saúde, a representação
social girando em torno da alimentação, recomendações médicas e prática de atividade física,
achado comum a outros trabalhos (HEMMI; CONCEIÇÃO; SANTOS, 2015; OROZCO-
SOLIS et al., 2017).
69
“Sempre que ele (o médico) manda eu faço (...) cada um... cabeça é um
mundo, né? (...) uma opção de cada pessoa. ” (Entrevistado 08, 65 anos)
“Eu tenho vários (cuidados com a saúde)... na alimentação (...) quem
tem preguiça aí é por isso que às vezes que é eles mesmos que
descuidam da saúde deles mesmos.”(Entrevistado 09, 50 anos)
Contudo, é relevante a percepção mais ampliada dos determinantes do autocuidado
quando emerge dos discursos a influência das condições de trabalho nesse contexto. Essas
práticas idealizadas não se apresentam como ações concretas para a maior parte deles e a
execução de tais recomendações parece incompatível com a árdua e extenuante rotina de
trabalho.
Você está sempre cansado... caminhoneiro não sabe nem o dia... o dia
após o outro você perde até a noção da semana... você não sabe nem...
se é sexta, sábado, domingo... naquele mundão ali é... só aquilo mesmo
(Entrevistado 08)
De acordo com Arenas-Monreal, Jasso-Arenas e Campos-Navarro (2011), o
autocuidado se constrói a partir de dois eixos: ações intencionais, efetuadas sem reflexão prévia
nem questionamentos, e ações deliberadas, influenciadas pela reflexão e experiências de vida
significativas. No entanto, essas ações diferem entre os sujeitos de acordo com seus
determinantes sociais como classe social, ocupação, sexo e família, onde a medida em que
existam condições de vida adequadas, há oportunidades para incorporar práticas que promovam
a saúde.
A concepção da promoção da saúde é caracterizada com ênfase na percepção do papel
protagonista dos determinantes sociais sobre as condições de saúde (CZERESNIA, 2009). Tais
cuidados estariam pautados em políticas públicas e de ambientes saudáveis, contrariando a
tendência contemporânea da visão reducionista da responsabilidade individual sobre o processo
de saúde (NASCIMENTO et al., 2011). Portanto, sob o prisma do princípio de integralidade do
Sistema Único de Saúde é preciso contemplar ações e políticas intersetoriais que levem em
consideração os determinantes de saúde, compondo níveis de prevenção primária, secundária e
terciária (GOMES; NASCIMENTO; ARAÚJO, 2007).
Relativo aos caminhoneiros, deve-se considerar a perspectiva de gênero como
influenciador na compreensão do cuidado. Gomes, Nascimento e Araújo (2007) afirmam que a
identidade do ser masculino se confronta com o fato de evitarem os espaços de saúde no sentido
da prevenção, pois estaria relacionado ao aspecto de fragilidade, frequentemente associado às
representações do universo feminino. Mendonça, Meandro e Trindade (2011) relatam que, nas
70
representações e práticas de saúde entre homens, as ações preventivas são apontadas como
opções relevantes para a manutenção da saúde, embora o discurso seja discrepante da prática.
Essa perspectiva de gênero pode estar ainda relacionada a autopercepção positiva da saúde entre
os caminhoneiros no presente estudo, onde falar sobre seus problemas pode significar uma
possível demonstração de fraqueza (GOMES; NASCIMENTO; ARAÚJO, 2007).
71
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Evidenciou-se entre os caminhoneiros determinantes de risco à saúde. Quanto às
características sociodemográficas foram aobservadas baixa escolaridade e renda. Relativo às
condições de saúde destacam-se o excesso de peso, dislipidemias e sedentarismo. Acerca das
condições de trabalho, caracterizam-se como motoristas percorrendo extensas rotas por longos
períodos sem descanso e o uso frequente de anfetaminas para inibir o sono, por mais de dez
anos de profissão. De modo geral, apresentaram concordância com a escolha de bons hábitos
alimentares através da percepção de que os produtos menos gordurosos devessem ser
identificados como tal e que os restaurantes da estrada oferecessem melhores opções de
alimentos.
Relativo à autopercepção de saúde quantificada pelos indivíduos, fez-se presente a
concepção de saúde em torno da ausência de doenças, entre aqueles com notas mais elevadas,
e a insuficiência do autocuidado, nos indivíduos com notas mais baixas. Os caminhoneiros
demonstraram relativa compreensão sobre os bons hábitos de saúde, entretanto, não conseguem
pôr em prática. Embora percebam a influência dos determinantes laborais sobre a sua saúde e
quais ações preventivas devem adotar, mostraram-se pouco estimulados quanto ao autocuidado
alegando questões pessoais, de acesso à saúde e limitações devido à rotina laboral.
Concordaram que possuem adversidades no trabalho que dificultam o equilíbrio de uma boa
saúde e de seus cuidados, dentre as quais, a necessidade de ficarem longos períodos na estrada
com baixa oferta de alimentos adequados, o desgaste físico e mental, o sono e descanso
insuficiente, e o uso de drogas inibidoras de sono, objetivando o cumprimento dos prazos.
As duas fases da pesquisa apresentaram resultados complementares, confirmando a
importância do aprofundamento da utilização de multimétodo. Ademais, acredita-se que a
autopercepção de saúde pôde proporcionar aos indivíduos uma reflexão mais aprofundada sobre
seu processo de saúde e doença, contribuindo para a mudança de hábitos e contextualização
social desse processo.
Esses resultados permitiram conhecer o perfil dos motoristas dessa região, entendendo
melhor o seu contexto de vulnerabilidade à saúde determinada pela rotina laboral. A partir disso,
espera-se que possa contribuir no direcionamento de verbas públicas aplicadas à saúde do
homem e do trabalhador. Almeja-se que a divulgação do presente estudo possa servir de
fomento ao planejamento de ações no que concerne às atuações direcionadas para a prevenção,
controle e tratamento das doenças crônicas nesta categoria, como oferta de serviços de saúde
diferenciados com facilidade de acesso. Além disso, que também levante discussões sobre a
72
necessidade de reformulação e cumprimento das políticas trabalhistas para o setor de transporte
de cargas rodoviário com intuito de reduzir os impactos ocupacionais na saúde dos
caminhoneiros.
73
REFERÊNCIAS
ABRIC, J. C. O estudo experimental das representações sociais. In: JODELET, D. (Org.). As
representações sociais. Rio de Janeiro: EdUERJ. 2001. p. 155-172.
ALBUQUERQUE, G. S. C. de; SILVA, M. J. de S. e. Sobre a saúde, os determinantes da saúde
e a determinação social da saúde. Saúde em Debate, v. 38, n. 103, p. 953–965, 2014.
ALESSI, A.; ALVES, M. K. Hábitos de vida e condições de saúde dos caminhoneiros do Brasil:
uma revisão de literatura. Ciência & Saúde, v. 8, n. 3, p. 129–136, 2015.
ALMEIDA FILHO, N.; ROUQUAYROL, M.Z. Introdução à epidemiologia. Rio de Janeiro:
Editora Médica e Científica, 2006.
ALMEIDA, G.; SARTI, F. M.; FERREIRA, F. F.; DIAZ, M. D. M.; CAMPINO, A. C. C.
Analysis of the evolution and determinants of income-related inequalities in the Brazilian health
system, 1998 - 2008. Revista Panamericana de Salud Pública, v. 33, n. 2, p. 90–97, 2013.
ALVAREZ-GALVEZ, J.; RODERO-COSANO, M. L.; MOTRICO, E.; SALINAS-PEREZ, J.
A.; GARCIA-ALONSO, C.; SALVADOR-CARULLA, L. The impact of socio-economic
status on self-rated health: Study of 29 countries using European social surveys (2002-2008).
International Journal of Environmental Research and Public Health, v. 10, n. 3, p. 747–
761, 2013.
APOSTOLOPOULOS, Y.; LEMKE, M.; SÖNMEZ, S. Risks endemic to long-haul trucking in
North America: strategies to protect and promote driver well-being. New solutions, v. 24, n.1,
2014.
APOSTOLOPOULOS, Y.; SÖNMEZ, S.; SHATTELL, M. M.; GONZALES, C.;
FEHRENBACHER, C. Health survey of U.S. long-haul truck drivers: work environment,
physical health, and healthcare access. Work, v. 46, n. 1, p. 113–23, 1 jan. 2013.
ARAÚJO, M. S.; COSTA, T. H. M. Da; SCHMITZ, B. a S.; MACHADO, L. M. M.; SANTOS,
W. R. a Dos. Factors associated with overweight and central adiposity in urban workers covered
by the Workers Food Program of the Brazilian Amazon Region. Brazilian Journal of
Epidemiology, v. 13, n. 3, p. 425–433, 2010.
ARENAS-MONREAL, L.; JASSO-ARENAS, J.; CAMPOS-NAVARRO, R. Autocuidado:
elementos para sus bases conceptuales. Global Health Promotion, v. 18, n. 4, p. 42-8, 2011.
AROKIASAMY, P; UTTAMACHARYA; KOWAL, P.; CAPISTRANT, B. D.; GILDNER, T.
E. et al. Chronic Noncommunicable Diseases in 6 Low- and Middle-Income Countries:
Findings From Wave 1 of the World Health Organization’s Study on Global Ageing and Adult
Health (SAGE). American Journal of Epidemiology, v. 185, n. 6, p. 414–428, 2017.
BARBIANI, R.; JUNGES, J. R.; NORA, C. R. D.; ASQUIDAMINI, F. A produção científica
sobre acesso no âmbito do Sistema Único de Saúde do Brasil: avanços, limites e desafio. Saúde
e Sociedade, v. 23, n. 3, p. 855–868, 2014.
74
BARCELLOS, O. A. de O.; JUNIOR, S. M. de A.; MUSIS, C. R. de; BASTOS, H. F. B. N.
Social representations about mangrove held by the teachers and students from the Karla Patrícia
Municipal School, Recife, Pernambuco. Ciência & Educação, v. 11, n. 2, p. 213–222, 2005.
BARROS, D. C.; ENGSTROM, E.; BAGNI, U. V.; BAIÃO, M. R. Determinantes de saúde e
nutrição da população brasileira. In: BARROS, D. C. et al. (orgs.). Alimentação e nutrição:
contexto político, determinantes e informação em saúde. Rio de Janeiro: Fiocruz: EAD/
ENSP, 2013. 285p.
BELEI, R. A.; GIMENIZ-PASCHOAL, S. R.; NASCIMENTO, E. N.; MATSUMOTO, P. H.
V. R. O uso de entrevista, observação e videogravação em pesquisa qualitativa. Cadernos de
Educação - FaE/PPGE/UFPel Pelotas, v. 30, p. 187–199, 2008.
BEZERRA, K. A. Ser caminhoneiro: a análise das condições de trabalho e suas relações
com a temporalidade laboral. 2016. 114f. – Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal
do Ceará, Programa de Pós-graduação em Psicologia, Fortaleza, 2016.
BEZERRA, N.; CAVALCANTE, B.; MOREIRA, V.; MARIA, T.; MOTA, C. Alimentação
fora de casa e excesso de peso: uma análise dos mecanismos explicativos. Revista Brasileira
em Promoção da Saúde, v. 29, n. 3, p. 455–461, 2016.
BIRDSEY, J.; SIEBER, W.; CHEN, G.; HITCHCOCK, E.; LINCOLN, J. E.; NAKATA, A.;
ROBINSON, C. F.; SWEENEY, M. H. National Survey of US Long-Haul Truck Driver Health
and Injury: Health Behaviors. Journal of Occupational and Environmental Medicine, v. 57,
n. 2, p. 210–216, 2015.
BOEIJINGA, A.; HOEKEN, H.; SANDERS, J. Health promotion in the trucking setting:
Understanding Dutch truck drivers’ road to healthy lifestyle changes. Work, v. 55, n. 2, p. 385–
397, 17 out. 2016. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27689592>. Acesso
em: 23 jan. 2017.
BONHAM, M. P.; BONNELL, E. K.; HUGGINS, C. E. Energy intake of shift workers
compared to fixed day workers: A systematic review and meta-analysis. Chronobiology
International, v. 528, n. June, p. 1–15, 2016.
BONNELL, E.; HUGGINS, C.; HUGGINS, C.; MCCAFFREY, T.; PALERMO, C.;
BONHAM, M. Influences on Dietary Choices during Day versus Night Shift in Shift Workers:
A Mixed Methods Study. Nutrients, v. 9, n. 3, p. 193, 2017. Disponível em:
<http://www.mdpi.com/2072-6643/9/3/193>.
BORGES, A. M.; SANTOS, G.; KUMMER, J. A.; FIOR, L.; MOLIN, V. D.; WIBELINGER,
L. M. Autopercepção de saúde em idosos residentes em um município do interior do Rio Grande
do Sul. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, v. 17, n. 1, p. 79–86, 2014.
BRASIL. Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997. Institui o Código de Trânsito Brasileiro.
Diário Oficial da União, Brasília, 24 de setembro de 1997. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9503.htm>. Acesso em: 25/03/2017.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Saúde do Trabalhador.
Brasília: Ministério da Saúde, 2002. (Cadernos de Atenção Básica, nº 05).
75
BRASIL. Lei nº 11.705, de 19 de junho de 2008. Altera a Lei no 9.503, de 23 de setembro de
1997, que ‘institui o Código de Trânsito Brasileiro’, e a Lei no 9.294, de 15 de julho de 1996,
que dispõe sobre as restrições ao uso e à propaganda de produtos fumígeros, bebidas alcoólicas,
medicamentos, terapias e defensivos agrícolas, nos termos do § 4o do art. 220 da Constituição
Federal, para inibir o consumo de bebida alcoólica por condutor de veículo automotor, e dá
outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 20 de junho de 2008. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11705.htm>. Acesso
em: 14/04/2017.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações
Programáticas e Estratégicas. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem:
princípios e diretrizes. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. 92 p.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Atenção à
Saúde. Diretrizes Nacionais da Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2010.
(Série B. Textos Básicos de Saúde) (Série Pactos pela Saúde 2006, 13)
BRASIL. Ministério da Saúde. Indicadores de Mortalidade - Sergipe – 2011a. Disponível
em: <http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?idb2011/c08.def>. Acesso em: 15/12/2016.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise
de Situação de Saúde. Plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças
crônicas não transmissíveis (DCNT) no Brasil, 2011-2022. Brasília: Ministério da Saúde,
2011b.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção
Básica. Orientações para a coleta e análise de dados antropométricos em serviços de
saúde: Norma Técnica do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional - SISVAN. Brasília:
Ministério da Saúde, 2011c. 76 p.
BRASIL. Lei nº 13.103, de 02 de março de 2015. Dispõe sobre o exercício da profissão de
motorista; altera a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei
no 5.452, de 1o de maio de 1943, e as Leis nos 9.503, de 23 de setembro de 1997 - Código de
Trânsito Brasileiro, e 11.442, de 5 de janeiro de 2007 (empresas e transportadores autônomos
de carga), para disciplinar a jornada de trabalho e o tempo de direção do motorista profissional;
altera a Lei no 7.408, de 25 de novembro de 1985; revoga dispositivos da Lei no 12.619, de 30
de abril de 2012; e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 03 de março de
2015a. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13103.htm>. Acesso em: 08/05/2017.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância
de Doenças e Agravos não Transmissíveis e Promoção da Saúde. Vigitel Brasil 2014:
vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico. Brasília:
Ministério da Saúde, 2015b. 170 p.
BUSS, P.; PELEGRINE FILHO, A. A Saúde e seus Determinantes Sociais. Physis: Revista de
Saúde Coletiva, v. 17, n. 171, p. 77–9377, 2007.
76
BUSS, P. M. Uma introdução ao conceito de promoção da saúde. In: CZERESNIA, D.;
FREITAS, C. M. (org.). Promoção da saúde: conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro:
Editora Fiocruz, 2009. 229p.
CAMPOS, C. J. G. MÉTODO DE ANÁLISE DE CONTEÚDO: ferramenta para a análise de
dados qualitativos no campo da saúde. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 57, n. 5, p. 611–
4, 2004.
CARVALHO, C. A. et al. Associação entre fatores de risco cardiovascular e indicadores
antropométricos de obesidade em universitários de São Luís, Maranhão, Brasil. Ciência &
Saúde Coletiva, v. 20, n. 2, p. 479-490, 2015.
CAVAGIONI, L. C.; PIERIN, A. M. G. Hipertensão arterial e obesidade em motoristas
profissionais de transporte de cargas. Acta Paulista de Enfermagem, v. 23, n. 4, p. 455–460,
2010.
CESSE, E. Â. P. Epidemiologia e Determinantes Sociais das Doenças Crônicas Não
Transmissíveis no Brasil. 2007. 296 p. Tese (Doutorado em Saúde Pública) – Fundação
Oswaldo Cruz, Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães, Recife, 2007.
CHEN, C.; XIE, Y. The impacts of multiple rest-break periods on commercial truck driver’s
crash risk. Journal of Safety Research, v. 48, p. 87–93, 2014.
CHEN, G. X.; FANG, Y.; GUO, F.; HANOWSKI, R. J. The influence of daily sleep patterns
of commercial truck drivers on driving performance. Accidents Analysis & Prevention, v. 91,
n. june, p. 55–63, 2016.
CNT. Confederação Nacional do Transporte. Boletim estatístico fevereiro 2017. Disponível
em:< http://www.cnt.org.br/Boletim/boletim-estatistico-cnt>. Acesso em: 10/02/2017.
COMISSÃO NACIONAL SOBRE OS DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE. As causas
sociais das iniquidades em saúde no Brasil. 2008. Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/causas_sociais_iniquidades.pdf. Acesso em:
14/09/2017.
CONTRERAS, J.; GRACIA, M. Alimentação, sociedade e cultura. Rio de Janeiro: Editora
Fiocruz, 2011. 496 p.
CRUZ NETO, O.; MOREIRA, M.R.; SUCENA, L.F.M. Grupos Focais e Pesquisa Social
Qualitativa: o debate orientado como técnica de investigação. In: XIII Encontro da
Associação Brasileira de Estudos Populacionais (ABEP); 2002; Nov 4-8; Ouro Preto; 2002.
Disponível em: <http://www. abep.nepo.unicamp.br>. Acesso em: 22/03/2017.
CUREAU, F. V.; DUARTE, P. M.; DOS SANTOS, D. L.; REICHERT, F. F. Autopercepção
de saúde em adolescentes : prevalência e associação com fatores de risco cardiovascular.
Revista Brasileira de Atividade Física & Saúde, v. 18, n. 6, p. 750–760, 2013.
CZERESNIA, D. O conceito de saúde e a diferença entre prevenção e promoção. In:
CZERESNIA, D.; FREITAS, C. M. (orgs.) Promoção da saúde: conceitos, reflexões e
tendências. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2009. 229 p.
77
DABRH, A. M. A.; FIRWANA, B.; COWL, C. T.; STEINKRAUS, L. W.; PROKOP, L. J.;
MURAD, M. H. Health assessment of commercial drivers: a meta-narrative systematic review.
BMJ Open, v. 4, n. 3, p. e003434, 2014.
DALMOLIN, B. B.; BACKES, D. S.; ZAMBERLAN, C.; SCHAURICH, D.; COLOMÉ, J. S.;
GEHLEN, M. H. Significados do conceito de saúde na perspectiva de docentes da área da
saúde. Escola Anna Nery - Revista de Enfermagem, v. 15, n. 2, p. 389–394, 2011.
DELFINO, L. G.; MORAES, T. D. Percepções sobre adoecimento para caminhoneiros
afastados pelo sistema de previdência social. Estudos Interdisciplinares em Psicologia, v. 6,
n. 2, p. 113, 2015.
DELORMIER, T; FROHLICH, K.L.; POTVIN, L. Food and eating as social practice:
understanding eating patterns as social phenomena and implications for public health.
Sociology of Health & Illness, v. 3, n. 2, p. 215-228, 2009.
FAGUNDES, A. A. A atuação do nutricionista nos Núcleos de Apoio à Saúde da Família
(NASF). 2013. 204 f. Tese (Doutorado em Nutrição Humana) - Faculdade de Ciências da
Saúde, Departamento de Nutrição, Programa de Pós-Graduação em Nutrição Humana,
Universidade de Brasília, Brasília, 2013.
FÉLIX, L. B.; ANDRADE, D. A. de; RIBEIRO, F. S.; CORREIA, C. C. G.; SANTOS, M. de
F. D. S. O conceito de Sistemas de Representações Sociais na produção nacional e
internacional: uma pesquisa bibliográfica. Psicologia e Saber Social, v. 5, n. 2, p. 198–217,
2016.
FERREIRA, S. R. S.; BRUM, J. L. R. As Representações Sociais E Suas Contribuições No
Campo Da Saúde. Revista Gaúcha de Enfermagem, v. 20, n. especial, p. 5–14, 2000.
FERREIRA, S.; ALVAREZ, D. Organização do Trabalho e Comprometimento da Saúde: Um
Estudo em Caminhoneiros. Sistemas & Gestão, v. 8, n. 1, p. 58–66, 2013.
FONSECA, S. A.; BLANK, V. L.; BARROS, M. V.; NAHAS, M. V. Self-perceived health and
associated factors in industrial workers from Santa Catarina State, Brazil. Cadernos de Saúde
Pública, v. 24, n. 3, p. 567-76, 2008.
FONSECA, A.B; SOUZA, T.S.N.; FROZI, D.S.; PEREIRA, R.A. Modernidade alimentar e
consumo de alimentos: contribuições sócio-antropológicas para a pesquisa em nutrição.
Ciência & Saúde Coletiva, v.16, n.9, 2011.
FRANCO, M.L.P.B. Representações sociais, ideologia e desenvolvimento da consciência.
Cadernos de Pesquisa, v. 34, n. 121, p. 169-86, jan./abr. 2004.
FREITAS, N. O. de; SOUZA, J. C. de; ARAÚJO, E. C. de. As representações sociais. Revista
de Enfermagem UFPE on line, v. 5, n. 2spe, p. 505–513, 2011.
GIROTTO, E.; ANDRADE, S. M. de; MESAS, A. E.; GONZALEZ, A. D.; GUIDONI, C. M.
Working conditions and illicit psychoactive substance use among truck drivers in Brazil.
Occupational and Environmental Medicine, v. 72, n. 11, p. 764–769, 2015.
78
GIROTTO, E.; GUIDONI, C. M.; GONZÁLEZ, A. D.; MESAS, A. E.; ANDRADE, S. M. de.
Uso contínuo de medicamentos e condições de trabalho entre motoristas de caminhão. Ciência
& Saúde Coletiva, v. 21, n. 12, p. 3769–3776, 2016.
GIROTTO, E.; MESAS, A. E.; DE ANDRADE, S. M.; BIROLIM, M. M. Psychoactive
substance use by truck drivers: a systematic review. Occupational and environmental
medicine, v. 71, n. 1, p. 71–6, 2014.
GOMES, R.; NASCIMENTO, E. F. do; ARAÚJO, F. C. de. Por que os homens buscam menos
os serviços de saúde do que as mulheres? As explicações de homens com baixa escolaridade e
homens. Cadernos de Saúde Pública, p. 565–574, 2007.
GOMES, R. Sexualidade masculina, gênero e saúde. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ,
2008.184 p. (Coleção Criança, Mulher e Saúde)
GREENFIELD, R.; BUSINK, E.; WONG, C. P.; RIBOLI-SASCO, E.; GREENFIELD, G.;
MAJEED, A.; CAR, J.; WARK, P. A. Truck drivers ’ perceptions on wearable devices and
health promotion: a qualitative study. BMC Public Health, v. 16, p. 1–10, 2016.
GUAN, J.; HSIAO, H.; BRADTMILLER, B.; KAU, T.-Y.; REED, M. R.; JAHNS, S. K.;
LOCZI, J.; HARDEE, H. L.; PIAMONTE, D. P. T. U.S. truck driver anthropometric study and
multivariate anthropometric models for cab designs. Human Factors, v. 54, n. 5, p. 849–871,
2016.
GUEDES, H. M.; BRUM, K. de A.; COSTA, P. A.; ALMEIDA, M. E. F. de. Fatores de risco
para o desenvolvimento de hipertensão arterial entre motoristas caminhoneiros. Cogitare
enferm. (Impr.), v. 15, n. 4, p. 652–658, 2010.
HAMILTON, K.; VAYRO, C.; SCHWARZER, R. Social cognitive antecedents of fruit and
vegetable consumption in truck drivers: A sequential mediation analysis. Journal of Nutrition
Education and Behavior, v. 47, n. 4, p. 379–384.e1, 2015.
HEMMI, A. P. A.; CONCEIÇÃO, J. A.; SANTOS, D. D. M. Social Representations of Men
About Health and Illness : Contributions To Care. Revista de Enfermagem do Centro Oeste
Mineiro, v. 5, n. 1, p. 1457–1468, 2015.
IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pequisa de orçamentos familiares 2008-
2009. 2010. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/xml/pof_2008_2009.shtm Acesso
em: 14/09/2017.
IRIART, J. A. B.; OLIVEIRA, R. P.; XAVIER, S. S.; COSTA, A. M. S.; ARAÚJO, G. R.;
SANTANA, V. S. Representações do trabalho informal e dos riscos à saúde entre trabalhadoras
domésticas e trabalhadores da construção civil. Ciência & Saúde Coletiva, v. 13, n. 1, p. 165-
74, 2008.
JACOBSON, P. J. W.; PRAWITZ, A. D.; LUKASZUK, J. M. Long-Haul Truck Drivers Want
Healthful Meal Options at Truck-Stop Restaurants. Journal of the American Dietetic
Association, v. 107, n. 12, p. 2125–2129, dez. 2007.
79
JODELET, D. Representações sociais: um domínio em expansão. In: JODELET, D. (Org.). As
representações sociais. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2001. p. 17-44.
JOMORI, M.M.; PROENÇA, R.P.C.; CALVO, M.C.M. Food choice factors. Revista de
Nutrição, v. 21, n. 1, p. 63-73, 2008.
KIND, L. Notes for the work with focus group technique. Psicologia em Revista, v. 10, n. 15,
p. 124–138, 2008.
KNAUTH, D. R.; LEAL, A. F.; PILECCO, F. B.; SEFFNER, F.; TEIXEIRA, A. M. F. B.
Manter-se acordado: A vulnerabilidade dos caminhoneiros no Rio Grande do Sul. Revista de
Saúde Pública, v. 46, n. 5, p. 886–893, 2012.
LARSON, N.; STORY, M. A review of environmental influences on food choices. Annals of
Behavioral Medicine, v. 38, n. SUPPL., p. 56–73, 2009.
LEFÈVRE, F.; LEFÈVRE, A. M. Pesquisa de Representação Social: um enfoque
qualiquantitativo. Brasília: Liber Livro Editora, 2. Ed. 2012. 224p. (Série Pesquisa)
LEFÈVRE, F.; LEFÈVRE, A. M. C. Discurso do Sujeito Coletivo: representações sociais e
intervenções comunicativas. Texto & Contexto Enfermagem, v. 23, n. 2, p. 502–507, 2014.
LEYTON, V.; SINAGAWA, D. M.; OLIVEIRA, K. C. B. G.; SCHMITZ, W.;
ANDREUCCETTI, G.; DE MARTINIS, B. S.; YONAMINE, M.; MUNOZ, D. R.
Amphetamine, cocaine and cannabinoids use among truck drivers on the roads in the State of
Sao Paulo, Brazil. Forensic Science International, v. 215, n. 1–3, p. 25–7, 10 fev. 2012.
LIMA, R. de S.; FERREIRA NETO, J. A.; FARIAS, R. de C. P. Alimentação, Comida E
Cultura: O Exercício Da Comensalidade. DEMETRA: Alimentação, Nutrição & Saúde, v.
10, n. 3, p. 507–522, 2015.
MABRY, E. J.; HOSIG, K.; HANOWSKI, R.; ZEDALIS, D.; GREGG, J.; HERBERT, W. G.
Prevalence of metabolic syndrome in commercial truck drivers: A review. Journal of
Transport and Health, v. 3, n. 3, p. 413–421, 2016.
MACHIN, R.; COUTO, M. T.; SILVA, G. S. N. da; SCHRAIBER, L. B.; GOMES, R.;
SANTOS FIGUEIREDO, W. dos; VALENÇA, O. A.; PINHEIRO, T. F. Concepções de
gênero, masculinidade e cuidados em saúde: estudo com profissionais de saúde da atenção
primária. Ciência & Saúde Coletiva, p. 4503–4512, 2011.
MAGNO, L.; CASTELLANOS, M. E. P. Meanings and vulnerability to HIV/AIDS among
long-distance truck drivers in Brazil. Revista de Saúde Pública, v. 50, p. 76, 2016.
MALACHIAS, M.; SOUZA, W.; PLAVNIK, F.; RODRIGUES, C.; BRANDÃO, A.; NEVES,
M.; BORTOLOTTO, L.; FRANCO, R.; POLI-DE-FIGUEIREDO, C. 7a Diretriz Brasileira De
Hipertensão Arterial. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 107, n. 3, p. 1–83, 2016.
MALTA, D. C.; ISER, B. P. M.; SÁ, N. N. B. de; YOKOTA, R. T. de C.; MOURA, L. de;
CLARO, R. M.; LUZ, M. G. C. da; BERNAL, R. I. T. Tendências temporais no consumo de
tabaco nas capitais brasileiras, segundo dados do VIGITEL, 2006 a 2011. Cadernos de Saúde
Pública, v. 29, n. 4, p. 812–822, 2013.
80
MALTA, D. C.; MORAIS NETO, O. L. De; CEZÁRIO, A. C.; SILVA JUNIOR, J. B. Da;
MOURA, L. De. A construção da vigilância e prevenção das doenças crônicas não
transmissíveis no contexto do Sistema Único de Saúde. Epidemiologia e Serviços de Saúde,
v. 15, n. 3, p. 47–65, 2006.
MALTA, D. C.; OLIVEIRA, T. P.; VIEIRA, M. L.; ALMEIDA, L.; SZWARCWALD, C. L.
Uso e exposição à fumaça do tabaco no Brasil: resultados da Pesquisa Nacional de Saúde 2013.
Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 24, n. 2, p. 239–248, 2015.
MANSUR, A. P.; ROCHA, M. A. B. S.; LEYTON, V.; TAKADA, J. Y.; AVAKIAN, S. D.;
SANTOS, A. J.; NOVO, G. C.; NASCIMENTO, A. L.; MUNOZ, D. R.; ROHLFS, W. J. Risk
Factors for Cardiovascular Disease, Metabolic Syndrome and Sleepiness in Truck Drivers.
Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 105, n. 6, p. 560–5, 2015.
MANTOVANI, A. M.; FREGONESI, C. E. P. T.; PELAI, E. B.; MANTOVANI, A. M.;
SAVIAN, N. U.; PAGOTTO, P. A comparative study of social representations of diabetes
mellitus and diabetic foot. Cadernos de Saúde Pública, v. 29, n. 12, p. 2427–2435, 2013.
MEIRELES, A. L.; XAVIER, C. C.; ANDRADE, A. C. S; FRICHE, A. A. L.; PROIETTI, F.
A.; CAIAFFA, W. T. Autoavaliação da saúde em adultos urbanos, percepção do ambiente físico
e social e relato de comorbidades: Estudo Saúde em Beagá. Cadernos de Saúde Pública, v.
31(Sup.), p. S120-35, 2015.
MARQUEZE, E. C. Alterações cardiometabólicas e de sono em motoristas de caminhão.
2012. 217 f. Tese (Doutorado em Ciências) - Faculdade de Saúde Pública, Universidade de
São Paulo, São Paulo, 2012.
MARQUEZE, E. C.; ULHÔA, M. A.; MORENO, C. R. C. Irregular working times and
metabolic disorders among truck drivers: a review. Work, v. 41 Suppl 1, p. 3718–25, jan. 2012.
MARQUEZE, E. C.; ULHÔA, M. A.; MORENO, C. R. C. Leisure-time physical activity does
not fully explain the higher body mass index in irregular-shift workers. International Archives
of Occupational and Environmental Health, v. 87, n. 3, p. 229–239, 2014.
MASSIMO, E. D. A. L.; SOUZA, H. N. F. de; FREITAS, M. I. D. F. Chronic non-
communicable diseases, risk and health promotion: social construction of VIGITEL
participants. Ciência & Saúde Coletiva, v. 20, n. 3, p. 679–688, 2015.
MASSON, V.; MONTEIRO, M. Life style, health aspects and work among truck drivers.
Revista Brasileira de Enfermagem, v. 63, n. 4, p. 533–540, 2010.
MCDONOUGH, B.; HOWARD, M.; ANGELES, R.; DOLOVICH, L.; MARZANEK-
LEFEBVRE, F.; RIVA, J. J.; LARYEA, S. Lone workers attitudes towards their health: views
of Ontario truck drivers and their managers. BMC Research Notes, v. 7, n. 1, p. 297, 2014.
MEDRADO, B.; LYRA, J.; AZEVEDO, M. 'Eu não sou só próstata, eu sou um homem!' Por
uma política pública de saúde transformadora da ordem de gênero. In: GOMES, R. (org.) Saúde
do Homem em Debate. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2011. 228 p.
81
MEIRELES, A. L.; XAVIER, C. C.; ANDRADE, A. C. de S.; FRICHE, A. A. de L.;
PROIETTI, F. A.; CAIAFFA, W. T. Autoavaliação da saúde em adultos urbanos, percepção do
ambiente físico e social e relato de comorbidades: Estudo Saúde em Beagá. Cadernos de Saúde
Pública, v. 31, n. Sup., p. S120–S135, 2015.
MENDONÇA, V. S.; MENANDRO, M. C.; TRINDADE, Z. A. Entre o fazer e o falar dos
homens: representacoes e praticas sociais de saúde. Revista de Estudios Sociales (Santa Fe
de Bogota), n. 38, p. 155–164, 2011.
MINAYO-GOMEZ, C.; THEDIM-COSTA, S. M. da F. A construção do campo da saúde do
trabalhador: percurso e dilemas. Cadernos de Saúde Pública, v. 13, n. Supl. 2, p. 21–32, 1997.
MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 12ª edição.
São Paulo: Hucitec, 2010.
MINAYO, M. C. S. (Org.); DESLANDES, S. F.; GOMES, R. Pesquisa social: teoria, método
e criatividade. Petrópolis: Vozes, 2016. (Série Manuais Acadêmicos).
MOREIRA, M. C. N.; GOMES, R.; RIBEIRO, C. R. E agora o homem vem?! Estratégias de
atenção à saúde dos homens. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 32, n. 4, p. 1–10,
2016.
MOULATLET, E. M.; CODARIN, M. A. F.; NEHME, P. X. S. A.; ULHÔA, M. A.;
MORENO, C. R. D. C. Systemic arterial hypertension in truck drivers. Cadernos de Saúde
Coletiva, v. 18, n. 2, p. 252–8, 2010.
MOURA, E. C.; SANTOS, W.; NEVES, A. C. M.; GOMES, R.; SCHWARZ, E. Atenção à
saude dos homens no âmbito da Estratégia Saúde da Família. Ciência & Saúde Coletiva, v.
19, n. 2, p. 429–438, 2014.
NASCIMENTO-SCHULZE, C. M.; CAMARGO, B. V. Psicologia social, representações
sociais e métodos. Temas em Psicologia, v. 8, n. 3, p. 287–299, 2000.
NASCIMENTO, A. R. A.; TRINDADE, Z. A.; GIANORDOLI-NASCIMENTO, I. F. Homens
brasileiros jovens e representações sociais de saúde e doença. Psico-USF, v. 16, n. 2, p. 203–
213, 2011.
NASCIMENTO, A. R. A. do; TRINDADE, Z. A.; GIANORDOLI-NASCIMENTO, I. F.;
PEREIRA, F. B.; SILVA, S. A. T. da C.; CERELLO, A. C. Masculinidades e práticas de saúde
na região metropolitana de Belo Horizonte - MG. Saúde e Sociedade, p. 182–194, 2011.
NEA, F. M.; KEARNEY, J.; BARBARA, M.; LIVINGSTONE, E.; KIRSTY POURSHAHIDI,
L.; CORISH, C. A. Dietary and lifestyle habits and the associated health risks in shift workers.
Nutrition Research Reviews, v. 28, n. 2, p. 143–166, 2015.
NEOPHYTOU, A. M.; PICCIOTTO, S.; HART, J. E.; GARSHICK, E.; EISEN, E. A.;
LADEN, F. A structural approach to address the healthy-worker survivor effect in occupational
cohorts: an application in the trucking industry cohort. Occupational and Environmental
Medicine, v. 71, n. 6, p. 442–447, 2014.
82
OLIVEIRA, J. E. P.; VENCIO, S.(orgs.). Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes
2014-2015. São Paulo: AC Farmacêutica, 2015. 390 p.
OLIVEIRA, L. G.; SOUZA, L. M. A.; BARROSO, L. P.; GOUVÊA, M. J. C.; ALMEIDA, C.
V. D.; MUÑOZ, D. R.; LEYTON, V. Occupational conditions and the risk of the use of
amphetamines by truck drivers. Revista de Saúde Pública, v. 49, n. 61, 2015.
OLIVEIRA, L. G. De; YONAMINE, M.; ANDREUCCETTI, G.; PONCE, J. D. C.; LEYTON,
V. Uso de álcool e outras drogas por motoristas brasileiros de caminhão. Revista Brasileira de
Psiquiatria, v. 34, n. 1, p. 116–117, 2012.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Constituição da Organização Mundial
da Saúde (OMS/WHO) - 1946. Disponível em:
<http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/OMS-Organiza%C3%A7%C3%A3o-
Mundial-da-Sa%C3%BAde/constituicao-da-organizacao-mundial-da-saude-omswho.html>.
Acesso em: 18 maio 2014
OROZCO-SOLIS, M. G.; COLUNGA-RODRÍGUEZ, C.; PRECIADO-SERRANO, M. L.;
ÁNGEL-GONZÁLEZ, M; VÁZQUEZ-COLUNGA, J. C.; COLUNGA-RODRÍGUEZ, B. A.
Representación del autocuidado de la salud en el trabajo de conductores de autobús urbano de
Guadalajara, México. Cadernos de Saúde Pública, v. 33, n. 3, 2017.
OUCHI, N. Adipocytokines in Cardiovascular and Metabolic Diseases. Journal of
Atherosclerosis and Thrombosis, v. 23, n. 6, p. 645–54, 2016.
PARIS, P. De; GRANDI, G.; SIVIERO, J.; PEREIRA, F. B. Sleep , nutritional status and life
habits of truckers. Ciência & Saúde, v. 6, n. 3, p. 197–205, 2013.
PASCHOALIN, H.C.; GRIEP, R.H.; LISBOA, M. T. L.; MELLO, D. C. B. Adaptação
transcultural e validação para o português brasileiro do Stanford Presenteeism Scale para
avaliação do presenteísmo. Rev Latino-Am Enferm [Internet], v. 21, n. 1, 08 telas, 2013.
Disponível em: www.eerp.usp.br/rlae. Acesso em: 02/07/2017.
PAVÃO, M. R.; WERNECK, G. L.; CAMPOS, M. R. Autoavaliação do estado de saúde e a
associação com fatores sociodemográficos, hábitos de vida e morbidade na população: um
inquérito nacional. Cadernos de Saúde Pública, v. 29, n. 4, p. 723–734, 2013.
PERLOFF, D.; GRIM, C.; FLACK, J.; FROHLICH, E.D.; HILL, M.; MCDONALD, M.;
MORGENSTERN, B.Z. Human blood pressure determination by sphygmomanometry.
Circulation, v. 88(5 Pt 1), p. 2460-70, 1993.
PINA, J. A.; STOTZ, E. N. Intensificação do trabalho e saúde do trabalhador: uma abordagem
teórica. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, v. 39, n. 130, p. 150–160, 2014.
PINHO, C. P. S.; DINIZ, A. da S.; ARRUDA, I. K. G. de; BATISTA FILHO, M.; COELHO,
P. C.; SEQUEIRA, L. A. de S.; LIRA, P. I. C. de. Prevalência e fatores associados à obesidade
abdominal em indivíduos na faixa etária de 25 a 59 anos do Estado de Pernambuco, Brasil.
Cadernos de Saúde Pública, v. 29, n. 2, p. 313–324, fev. 2013.
83
POULAIN, J. P.; PROENÇA, R. P. C; DIEZ-GARCIA, R. W. Diagnóstico das práticas e
comportamento alimentares: aspectos metodológicos. In: DIEZ-GARCIA, R. W; CERVATO-
MANCUSO, A. M. Mudanças alimentares e educação nutricional. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2012. p. 149-163.
POLANCZYK, C. A.; ALEGRE, P. Cardiovascular Risk Factors in Brazil : The Next 50
Years ! Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 84, n. 3, p. 199–201, 2005.
PRATA, P. R. A Transição Epidemiológica no Brasil. Cadernos de Saúde Pública, v. 8, n. 2,
p. 168–175, 1992.
PUTTINI, R. F.; PEREIRA JUNIOR, A.; OLIVEIRA, L. R. De. Modelos explicativos em
Saúde Coletiva abordagem biopsicossocial e auto-organização. PHYSIS: Revista de Saúde
Coletiva, v. 20, n. 3, p. 753–767, 2010.
PYLKKÖNEN, M.; SIHVOLA, M.; HYVÄRINEN, H. K.; PUTTONEN, S.; HUBLIN, C.;
SALLINEN, M. Sleepiness, sleep, and use of sleepiness countermeasures in shift-working
long-haul truck drivers. Accident Analysis and Prevention, v. 80, p. 201–210, 2015.
REICHERT, F. F.; LOCH, M. R.; CAPILHEIRA, M. F. Self-reported health status in
adolescents, adults and the elderly. Ciência & Saúde Coletiva, v. 17, n. 12, p. 3353–3362,
2012.
RIBEIRO, L. P.; BRANT, F. L. C.; PINHEIRO, T. M. M. Health, work, and illness: work as
the mediator of social representations of family farmers. Revista Médica de Minas Gerais, v.
25, n. 4, p. 493–501, 2015.
RICHARDSON, R. J. Pesquisa social: métodos e técnicas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
ROCHA-BRISCHILIARI, S. C.; AGNOLO, C. M. D.; GRAVENA, A. A. F.; LOPES, T. C.
R.; CARVALHO, M. D. de B.; PELLOSO, S. M. Doenças Crônicas não Transmissíveis e
Associação com Fatores de Risco. Revista Brasileira de Cardiologia, v. 27, n. 1, p. 531–538,
2014.
RODRIGUES, F. L.; ANTÔNIO, M.; REGINA, C.; TEIXEIRA, D. S.; GONELA, J. T.;
ZANETTI, M. L. Relação entre conhecimento , atitude , escolaridade e tempo de doença em
indivíduos com diabetes mellitus. Acta Paulista de Enfermagem, v. 25, n. 2, p. 284–290,
2012.
ROSSO, G. L.; PEROTTO, M.; FEOLA, M.; BRUNO, G.; CARAMELLA, M. Investigating
obesity among professional drivers: the high risk professional driver study. American Journal
of Industrial Medicine, v. 58, n. 2, p. 212–9, fev. 2015.
ROTHES, I. A.; CUNHA, S. Dimensão simbólica e afetiva da alimentação. Escolha alimentar:
uma experiência multidimensional. In: PAIS, S. C.; FERREIRA, P. (orgs.) A redução das
assimetrias sociais no acesso à alimentação e à saúde: Políticas e prática. Porto, Portugual:
Mais Leituras, 2016. p. 41-54.
84
RUAS, A.; PAINI, J. F. P.; ZAGO, V. L. P. Detecção Dos Fatores De Risco Para O
Desenvolvimento De Doenças Cardiovasculares Dos Profissionais Caminhoneiros : Prevenção,
Reflexão E conheceimento. Perspectiva Erechim, v. 34, n. 125, p. 147–158, 2010.
SANCHEZ, R. M.; CICONELLI, R. M. Conceitos de acesso à saúde. Revista Panamericana
de Salud Pública, v. 31, n. 3, p. 260–268, 2012.
SANGALETI, C. T.; TRINCAUS, M. R.; BARATIERI, T.; ZAROWY, K.; LADIKA, M. B.;
MENON, M. U.; MIYAHARA, R. Y.; RAIMONDO, M. I.; SILVEIRA, J. V.;
BORTOLOTTO, L. A.; LOPES, H. F.; CONSOLIM-COLOMBO, F. M. Prevalence of
cardiovascular risk factors among truck drivers in the South of Brazil. BMC Public Health, v.
14, p. 1063, jan. 2014.
SELIGMANN-SILVA, E. Desgaste mental no trabalho dominado. Rio de Janeiro: Editora
UFRJ/Cortez, 1994.
SHARMA, P. K.; GANGULY, E. Morbidity profile of long distance truck drivers in Hyderabad
city, India. Journal of Dr. NTR University of Health Sciences, v. 3, n. 4, p. 234–237, 10 dez.
2014.
SIEBER, W. K.; ROBINSON, C. F.; BIRDSEY, J.; CHEN, G. X.; HITCHCOCK, E. M.;
LINCOLN, J. E.; NAKATA, A.; SWEENEY, M. H. Obesity and other risk factors: the national
survey of U.S. long-haul truck driver health and injury. American Journal of Industrial
Medicine, v. 57, n. 6, p. 615–26, jun. 2014.
SILVA, D. A. S.; PETROSKI, E. L.; PERES, M. A. Prehypertension and hypertension among
adults in a metropolitan area in Southern Brazil : population-based study. Revista de Saúde
Pública, v. 46, n. 6, p. 988–98, 2012.
SILVA, S.T.; MARTINS, M. C.; FARIA, F. R.; COTTA, R. M. M. Combate ao Tabagismo no
Brasil: a importância estratégica das ações governamentais. Ciência & Saúde Coletiva, v.19,
n. 2, p. 539-552, 2014.
SILVA, L. G.; LUZ, A. A.; VASCONCELOS, S. P.; MARQUEZE, E. C.; MORENO, C. R. C.
Vínculos empregatícios, condições de trabalho e saúde entre motoristas de caminhão. Revista
Psicologia, Organizações e Trabalho, v. 16, n. 2, p. 153–165, 2016.
SIQUEIRA, B. P. J.; TEIXEIRA, J. R. B.; VALENÇA NETO, P. F.; BOERY, E. N.; BOERY,
R. N. S. O.; VILELA, A. B. A. Men and health care in the social representations of health
professionals. Escola Anna Nery - Revista de Enfermagem, v. 18, n. 4, p. 690–696, 2014.
SIQUEIRA, D. G. B.; DE SOUZA, R. K. T.; MESAS, A. E.; DOS SANTOS, H. G.;
BORTOLETTO, M. S. S. Diferenças entre sexos nos determinantes da obesidade abdominal
em adultos de 40 anos ou mais: Estudo de base populacional. Revista de Nutrição, v. 28, n. 5,
p. 485–496, 2015.
SOBRINHO-SANTOS, C. K.; SILVA, A. V. da; MALHEIROS, A. F.; TRINDADE, R. A. da;
PAGAN, A. A. Relatos de caminhoneiros sobre a prevenção do HIV e o material educacional
impresso: reflexões para educação em saúde. Ciência & Educação (Bauru), v. 21, n. 4, p.
1011–1030, 2015.
85
SOUSA, L.M.S.; SILVA, L.S.; PALMEIRA, A.T. Representações sociais de caminhoneiros de
rota curta sobre VIH/AIDS. Psicologia & Sociedade, v. 26, n. 2, p.:346-55, 2014.
STOPA, S. R.; MALTA, D. C.; MONTEIRO, C. N.; SZWARCWALD, C. L.; GOLDBAUM,
M.; CESAR, C. L. G. Acesso e uso de serviços de saúde pela população brasileira, Pesquisa
Nacional de Saúde 2013. Revista de Saúde Pública, v. 51, n. suppl 1, p. 1S–11S, 2017.
STULTS-KOLEHMAINEN, M. A. The interplay between stress and physical activity in the
prevention and treatment of cardiovascular disease. Frontiers in Physiology, v. 4, p. 27–30,
nov., 2013.
SZWARCWALD, C. L.; SOUZA-JÚNIOR, P. R.; DAMACENA, G. N. Socioeconomic
inequalities in the use of outpatient services in Brazil according to health care need: evidence
from the World Health Survey. BMC Health Services Research, v. 10, n. 217, p. 1–7, 2010.
TAKITANE, J.; OLIVEIRA, L. G.; ENDO, L. G.; OLIVEIRA, K. C. B. G.; MUÑOZ, D. R.;
YONAMINE, M.; LEYTON, V. Amphetamine use by truck drivers on highways os Sao Paulo
State: a risk for the occurrence of traffic accidents? Ciência & Saúde Coletiva, v. 18, n. 5, p.
1247–1254, 2013.
THEME FILHA, M. M.; SOUZA JUNIOR, P. R. B.; DAMACENA, G. N.; SZWARCWALD,
C. L.; THEME FILHA, M. M.; SOUZA JUNIOR, P. R. B.; DAMACENA, G. N.;
SZWARCWALD, C. L. Prevalence of chronic non-communicable diseases and association
with self-rated health: National Health Survey, 2013 Prevalência. Revista Brasileira de
Epidemiologia, v. 18, n. suppl 2, p. 83–96, dez. 2015.
THIESE, M. S.; MOFFITT, G.; HANOWSKI, R. J.; KALES, S. N.; PORTER, R. J.;
HEGMANN, K. T. Commercial Driver Medical Examinations: Prevalence of Obesity,
Comorbidities, and Certification Outcomes. Journal of Occupational and Environmental
Medicine, v. 57, n. 6, p. 659–65, jun. 2015.
VALSINER, J. A. A. N. Hierarquias de signos: representação social no seu contexto dinâmico.
In: JESUÍNO, J. C.; MENDES, F. R. P.; LOPES, M. J. (orgs.). As representações sociais nas
sociedades em mudança. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015.
VEDOVATO, C.A.; BOAVENTURA, A.P.; ARAUJO, I.S.M.; MONTEIRO, M.I. Logística
do atendimento dos serviços pré-hospitalar móvel das concessionárias de rodovias. Revista de
Enfermagem UFPE, v. 9, n. 4, p. 7213-20, abr. 2015.
VIACAVA, F.; BELLIDO, J. G. Condições de saúde, acesso a serviços e fontes de pagamento,
segundo inquéritos domiciliares. Ciência & Saúde Coletiva, v. 21, n. 2, p. 351–370, 2016.
VIEIRA, C. M.; TURATO, E. R. Perceptions of patients with metabolic syndrome disease : a
qualitative study. Revista de Nutrição, v. 23, n. 3, p. 425–432, 2010.
VINTÉM, J. M. Inquéritos Nacionais de Saúde : auto-percepção do estado de saúde : uma
análise em torno da questão de género e da escolaridade. Revista Portuguesa de Saúde
Pública, v. 26, p. 5–16, 2008.
WACHELKE, J.; WOLTER, R. Critérios de Construção e Relato da Análise Prototípica para
Representações Sociais. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 27, n. 4, p. 521–526, 2011.
86
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Global action plan for the prevention and control
of noncommunicable diseases 2013-2020. Geneva: WHO, 2013. Disponível em:
<http://www.who.int/nmh/events/ncd_action_plan/en/>. Acesso em: 13/01/2017.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. World health statistics 2016. Geneva: WHO, 2016a.
Disponível em: < http://www.who.int/gho/publications/world_health_statistics/2016/en/>.
Aceso em: 10/07/2017.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Fiscal Policies for Diet and Prevention of
Noncommunicable Diseases. Geneva: WHO, 2016b. Disponível em:
<http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/250131/1/9789241511247-eng.pdf?ua=1>. Acesso
em: 12/07/2017.
WORTHEN, B. R.; SANDERS, J. R.; FITZPATRICK, J. L. Avaliação de programas:
concepções e práticas. São Paulo: Editora Gente, 2004.
XAVIER, H. T.; IZAR, M. C.; FARIA NETO, J. R.; ASSAD, M. H.; ROCHA, V. Z.;
SPOSITO, A. C. V Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose.
Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 101, n. 4, supl.1, p. 1–20, 2013.
ZHANG, T.; CHAN, A. H. S. Sleepiness and the risk of road accidents for professional drivers:
A systematic review and meta-analysis of retrospective studies. Safety Science, v. 70, p. 180-
88, dec., 2014.
87
APÊNDICE A – MARCO LÓGICO
OBJETIVOS
RESUMO
DESCRITIVO DOS
OBJETIVOS
INDICADORES
VERIFICÁVEIS
OBJETIVAMENTE
MEIOS DE
VERIFICAÇÃO
SUPOSIÇÕES
(RISCOS) ATIVIDADES
PERGUNTA(S)
NORTEADORA(S)
OBJETIVO
SUPERIOR Contribuir para a identificação da percepção sobre os determinantes de saúde dos caminhoneiros.
Como se encontram
os determinantes de
saúde entre os
caminhoneiros?
Quais são as
condições laborais
identificadas? Como
eles percebem esses
determinantes de
saúde?
OBJETIVO
GERAL
Conhecer os
determinantes de saúde
entre caminhoneiros do
estado de Sergipe
Análises, conclusões e
recomendações da
pesquisa
Descrição da
metodologia, dos
principais resultados
e conclusões da
pesquisa
Divulgação inadequada ou
insuficiente dos resultados
e recomendações. Não
aplicação/ utilização das
análises, conclusões e
recomendações da
pesquisa
Levantamento de dados
por meio dos
instrumentos de
pesquisa e avaliação
qualitativa
OBJETIVOS
ESPECÍFICOS
Caracterizar os
determinantes de saúde
relativos às condições
de saúde, trabalho e
escolhas alimentares
Avaliação dos
determinantes de saúde
relativos às condições
de saúde, trabalho e
escolhas alimentares
Aplicação de
questionários
Aferição de medidas
antropométricas e
parâmetros clínicos
Análise de
bioquímicos
Análise dos
resultados
Problemas técnicos na
aplicação dos
questionários, aferição de
medidas antropométricas e
parâmetros clínicos e na
análise bioquímica
Baixa adesão à coleta para
os exames bioquímicos
(1) Elaboração técnica
dos questionários
(2) Treinamento de
equipe para coleta de
dados
(3) Coleta de dados
(4) Análise dos dados
(5) Elaboração de
dissertação e artigo
científico
(6) Divulgação dos
resultados em outros
meios, como
entrevistas na mídia e
em eventos
Como se caracterizam
os determinantes de
saúde entre os
caminhoneiros e suas
condições de trabalho,
bem como as escolhas
alimentares?
Conhecer a
autopercepção dos
sujeitos relativa à sua
rotina laboral e suas
condições de saúde
Percepção do sujeito
Pergunta: qual a
avaliação da sua saúde
e sua relação com a
profissão?
Participação na
pesquisa
Análise dos
resultados
Falta do envolvimento dos
respondentes para a
participação da pesquisa -
baixa taxa de resposta
Como se configura a
percepção do
indivíduo sobre suas
condições de trabalho
e saúde?
88
APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE
Você está sendo convidado a participar da pesquisa “Percepção sobre os determinantes de saúde
em caminhoneiros do estado de Sergipe: um estudo qualiquantitativo”, sob responsabilidade da
pesquisadora Dra. Kiriaque Barra Ferreira Barbosa. O objetivo desse estudo é conhecer os
determinantes de saúde entre caminhoneiros. Você poderá ter todas as informações que quiser
a respeito da pesquisa e poderá não participar da entrevista e atividades ou retirar seu
consentimento a qualquer momento.
Realizaremos medida de peso, altura e circunferência da cintura, pressão arterial e exames
laboratoriais necessitando de 12 horas de jejum para mensurar LDL-colesterol, HDL-colesterol,
triglicerídeos e glicemia de jejum. Serão também realizadas entrevistas para coletas de dados
socioeconômicos, de hábitos alimentares e estilo de vida, além de uma pesquisa de opinião.
Todas essas avaliações não apresentarão nenhum risco para você e todos os seus dados estão
sob garantia de sigilo e privacidade por parte dos pesquisadores com objetivo único de estudo
científico. Estará garantido que receberá todos os resultados das avaliações realizadas e que, de
acordo com os resultados, receberá orientações dietéticas importantes para sua saúde.
Caso concorde em participar, favor assinar abaixo.
Eu, _______________________________________________estou ciente da minha total
liberdade em recusar participar do projeto. Aceito que os resultados obtidos sejam divulgados,
sendo meu anonimato pessoal garantido, e tenho conhecimento que poderei esclarecer minhas
dúvidas a qualquer momento entrando em contato com a pesquisadora (Adriana Maria
Figuerêdo Batista, Telefone: (79) 3044-4286).
________________________________________________
Participante
________________________________________________
Entrevistador
Aracaju, ____ de _______________ de 20__.
89
APÊNDICE C – TERMO DE AUTORIZAÇÃO DA VOZ
AUTORIZAÇÃO PARA USO DE VOZ
Eu, __________________________________________________________________
portador do RG n°: __________________________ e CPF n°: ________________________
residente no(a) ______________________________________________________________,
Cidade/UF: __________________________ Telefone: _______________________, concedo,
única e exclusivamente para contribuição na pesquisa "Percepção sobre os determinantes de
saúde em caminhoneiros do estado de Sergipe: um estudo qualiquantitativo", os direitos sobre
as declarações gravadas numa entrevista semiestruturada da pesquisa, com o som da minha voz
que serão degravadas e utilizadas, de forma agrupada, na tese, em relatórios e artigos, neste ato,
ao Departamento de Nutrição, da Universidade Federal de Sergipe (UFS), a qualquer tempo.
A presente autorização é concedida em caráter irretratável e de forma gratuita, ficando
o qualquer pessoa isenta do pagamento de quaisquer ônus a minha pessoa a qualquer tempo e
sob qualquer pretexto pela utilização das imagens e relatos.
Aracaju, ______ de _______________ de 2016.
90
APÊNDICE D – QUESTIONÁRIO DE PESQUISA ESTRUTURADO
QUESTIONÁRIO SOCIOECONÔMICO E HÁBITOS DE VIDA
“PERCEPÇÃO SOBRE OS DETERMINANTES DE SAÚDE EM CAMINHONEIROS DO ESTADO DE
SERGIPE”
Nº do registro: _____ Data da coleta: ____/______/_____ Entrevistadora: __________________
Nome: ____________________________________________________ DN: ____/______/______
Telefone (s):____________________________________ Procedência: _______________________
Componentes Valor Componentes Valor
Peso (kg) PA 1 (mmHg)
Altura (m) PA 2 (mmHg)
IMC (kg/m²) PA 3 (mmHg)
CC (cm) Média PA (mmHg)
1. Qual sua idade? ______ anos
2. Estudou até que série completa? _______________________ Anos de estudo: _____________
3. Há quanto tempo você exerce a profissão de caminhoneiro? _____ anos
4. Aproximadamente, quanto tempo dirige em um dia? Mín ____ h Máx ____ h Média ____ h
5. Aproximadamente, quanto tempo você dirige sem parar? Mín ____ h Máx ____ h Média ____ h
6. Aproximadamente, qual é a sua distância percorrida diariamente? Mín ____ Máx ____ Média ___
7. Quantos dias você passa em casa por mês ou por semana, em média? _____ □ Mês □ Semana
8. Você dorme, aproximadamente, quantas horas por dia?_________ horas
9. Tem algum distúrbio de sono (apneia do sono ou insônia)? ( ) Não ( ) Sim. Qual?_________
10. Você mora sozinho? ( ) Sim ( ) Não, com quem: ____________________________________
11. Você pratica, nos últimos seis meses, algum tipo de atividade física por, pelo menos 30 minutos,
duas vezes por semana? ( ) Sim ( ) Não
12. Você TEM problemas de saúde como:
( ) Hipertensão ( ) Diabetes ( ) Infarto, derrame ou AVC ( ) Dispilidemia
( ) Não sabe ( ) Outro. Qual?_________________________ ( ) Não tem
13. Você usa algum medicamento para controle de doenças? Que tipo?
( ) Anticoagulante ( ) Anti-hipertensivo ( ) Estatinas ( ) Anti-diabético oral ou insulina
( ) Outro. Qual?________________________________________________________ ( ) Não usa
14. Quanto ao hábito de fumar responda: ( )Fumo diariamente ( )Já fumei, mas parei ( )Nunca
fumei
15. Quantos cigarros você fuma por dia? _______________ cigarros
16. Há quantos anos começou a fumar regularmente? ______ anos (aproximadamente)
17. Qual é a renda familiar por mês? (Média dos últimos 3 meses)? R$ ____________
18. Quantas pessoas dependem dessa renda? _____ pessoas
19. Você já fez alguma vez na sua vida o uso de bebida alcoólica durante sua jornada de trabalho?
( ) Sim ( ) Não (pular para a pergunta 21)
91
20. Atualmente, com que frequência você faz uso de bebidas alcoólicas durante sua jornada de
trabalho? ( ) Diariamente ( ) Semanalmente ( ) Mensalmente ( ) Não faço uso
ATENÇÂO: Para a próxima pergunta, você pode responder mais de uma alternativa.
21. Você já fez alguma vez na sua vida o uso de medicamentos ou drogas para inibir o sono?
( ) Sim, por quanto tempo usou? ___________ De que tipo? ( ) Rebite ( ) Cocaína ( ) Crack
( ) Outro: qual: _____________________ ( ) Não, nunca fiz uso.
22. Atualmente com que frequência você faz uso de medicamentos ou drogas para inibir o sono?
( ) Diariamente ( ) Semanalmente ( ) Mensalmente ( ) Não faço uso
92
APÊNDICE E – FOOD CHOICES INDEX
QUESTIONÁRIO DE ESCOLHAS ALIMENTARES “PERCEPÇÃO SOBRE OS DETERMINANTES DE SAÚDE EM CAMINHONEIROS DO
ESTADO DE SERGIPE: UM ESTUDO QUALIQUANTITATIVO”
Nº: _______ Nome: _____________________________________Data da coleta: ____/____/____
Usando a escala fornecida como guia, indique o grau de concordância com cada uma das seguintes afirmações fazendo um círculo à volta do número correspondente. Dar somente uma resposta para cada afirmação.
Usar a seguinte chave: 1. Discordo totalmente 2. Discordo em parte 3. Nem discordo nem concordo 4. Concordo em parte 5. Concordo totalmente
Discordo
totalmente Discordo em parte
Nem discordo nem concordo
Concordo em parte
Concordo totalmente
1 Você pensa na sua saúde quando escolhe os alimentos que vai comer.
1 2 3 4 5
2 Você pensa no seu peso quando escolhe os alimentos que vai comer.
1 2 3 4 5
3
Se as informações da quantidade de gordura dos alimentos estivessem disponíveis, você consideraria essa informação para escolher os alimentos com menos gordura.
1 2 3 4 5
4 Comer alimentos saudáveis é importante para você.
1 2 3 4 5
5 Você gostaria que os alimentos com pouca gordura fossem rotulados para que você soubesse identificá-los.
1 2 3 4 5
6 Os restaurantes da estrada deveriam ter mais opções de alimentos saudáveis, com pouca gordura.
1 2 3 4 5
7
Se tivesse mais opções de alimentos com pouca gordura nos restaurantes da estrada, você escolheria estes alimentos.
1 2 3 4 5
8 Você acha que alimentos com pouca gordura são gostosos.
1 2 3 4 5
TOTAL
93
APÊNDICE F – ROTEIRO PARA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA
QUESTÕES PARA ENTREVISTA QUALITATIVA DA PESQUISA
“PERCEPÇÃO SOBRE OS DETERMINANTES DE SAÚDE EM CAMINHONEIROS
DO ESTADO DE SERGIPE: UM ESTUDO QUALIQUANTITATIVO”
1. Como você avalia sua saúde de 0 a 10, onde 0 seria não saudável e 10 totalmente
saudável? Fale sobre isso.
Eixos norteadores:
( ) Presença ou ausência de
doenças
( ) Não acha importante cuidar
( ) Cuidados com a saúde ( ) Modificação de hábitos
( ) Falta de tempo ( ) Outra: __________________
( ) Falta de motivação ( ) Outra: __________________
2. Você acredita que sua profissão possui relação com seu estado de saúde? Fale sobre
isso.
Eixos norteadores:
( ) Carga de trabalho (tempo) ( ) Sedentarismo
( ) Sono ( ) Estresse no trânsito e perigos na estrada
( ) Faz uso de drogas ( ) Outra: __________________
( ) Alimentação na estrada ( ) Outra: __________________
94
APÊNDICE G – QUESTÕES NORTEADORAS PARA O GRUPO FOCAL
QUESTÕES PARA GRUPOS FOCAIS DA PESQUISA
“PERCEPÇÃO SOBRE OS DETERMINANTES DE SAÚDE EM CAMINHONEIROS
DO ESTADO DE SERGIPE: UM ESTUDO QUALIQUANTITATIVO”
Etapa de construção do entendimento:
O que você entende por "cuidados à saúde" e qual a importância disso na sua vida?
Etapa da discussão aprofundada:
Qual a relação entre a profissão de caminhoneiro e a saúde?
Quais as razões para justificar a nota que os caminhoneiros atribuíram à saúde?
Quais as facilidades e dificuldades para o cuidado com a sua saúde?
95
APÊNDICE H – ARTIGO 01 SUBMETIDO
Condições de trabalho induzem a autopercepção de saúde em torno da ausência de doenças e
insuficiência no autocuidado entre caminhoneiros de Sergipe, Brasil.
Adriana Maria Figuerêdo Batista1, Andhressa Araújo Fagundes2, Leidiane Teles de Menezes2,
Renata Lopes de Siqueira2, Danielle Góes da Silva2, Kiriaque Barra Ferreira Barbosa2
1 Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde, Universidade Federal de Sergipe
2 Departamento de Nutrição, Universidade Federal de Sergipe
Número de páginas: 15
Número de tabelas: 1
Correspondência:
Adriana Maria Figuerêdo Batista
E-mail: [email protected]
Financiamento:
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/CNPQ)
Programa de Apoio à Pós-graduação (PROAP/CAPES).
Conflito de interesse:
Não há.
96
Resumo:
O objetivo desse estudo foi conhecer a percepção de saúde e sua relação com as atividades
laborais entre caminhoneiros do estado de Sergipe, Brasil. Aplicou-se a metodologia qualitativa
baseada na Teoria das Representações Sociais. A coleta de dados foi realizada por meio de
entrevistas individuais semiestruturadas conduzidas com 15 caminhoneiros adultos do sexo
masculino. O roteiro da entrevista constou de duas perguntas: a primeira solicitou uma
classificação numérica (de zero a dez) sobre a avaliação pessoal do sujeito quanto a sua saúde;
e a segunda abordou a percepção do sujeito em relação aos determinantes de saúde e suas
condições de trabalho. A análise das transcrições foi realizada segundo metodologia da análise
de conteúdo. Os resultados evidenciaram que autopercepção à saúde foi satisfatória (notas
7,5±1,4), no entanto relativa à concepção limitada em torno da ausência de doenças. A
representação social sobre saúde e trabalho orbitou sobre os determinantes de risco laboral,
destacando-se a rotina de trabalho estressante, alimentação inadequada e uso de drogas. Esses
resultados permitiram conhecer a percepção dos motoristas, entendendo melhor o seu contexto
de vulnerabilidade à saúde determinada pela rotina laboral. Acredita-se ainda que a
autopercepção de saúde pôde proporcionar aos indivíduos uma reflexão mais profunda sobre
seu processo de saúde e doença, contribuindo para a mudança de hábitos e contextualização
social desse processo.
Autopercepção de saúde. Saúde ocupacional. Transportes. Autocuidado.
Abstract:
The objective of this study was to know the health perception and its relation with the labor
activities among truck drivers of the state of Sergipe, Brazil. The qualitative methodology based
on the Theory of Social Representations was applied. Data collection was performed through
semi-structured individual interviews conducted with 15 adult male truck drivers. The interview
script consisted of two questions: the first asked for a numerical classification (from zero to ten)
on the subject's personal assessment of their health; and the second addressed the subject's
perception of health determinants and their working conditions. The analysis of the
transcriptions was carried out according to the methodology of content analysis. The results
showed that self-perception of health was satisfactory (grades 7.5 ± 1.4), however, regarding
the limited conception around the absence of diseases. The social representation on health and
work orbited on the determinants of occupational risk, highlighting the routine of stressful
work, inadequate feeding and drug use. These results allowed to know the drivers' perception,
understanding better their context of vulnerability to the health determined by the work routine.
97
It is also believed that the self-perception of health could provide individuals with a deeper
reflection on their health and disease process, contributing to the change of habits and social
contextualization of this process.
Self-perception of health. Occupational health. Transport. Self-care.
Introdução
Os trabalhadores, de modo geral, estão sujeitos a riscos ambientais e organizacionais
em função de sua inserção nos processos de trabalho, entretanto, algumas profissões estão mais
expostas 1,2. Entre os caminhoneiros, as condições de vida e trabalho aos quais estão expostos,
como rotina laboral e estilo de vida, influenciam os comportamentos de risco e favorecem a
elevada prevalência de morbimortalidade 3. Longas jornadas de trabalho ininterruptas ou com
poucos momentos de folga para recuperação física e mental caracterizam condições de trabalho
extenuantes entre caminhoneiros 4. Ademais, possuem hábitos de vida adversos à saúde, tais
como alimentação não saudável, sedentarismo, exposição a doenças transmissíveis, insuficiente
controle periódico em saúde, uso indiscriminado de álcool e tabaco, além do uso de drogas a
fim de se manterem acordados 5.
Dentre os trabalhos conduzidos com essa categoria profissional, grande parte aborda a
perspectiva biomédica, investigando os fatores de risco às doenças 6,5,7,8,9. Estes estudos
apontam para a elevada prevalência de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e
determinantes de risco associados. No entanto, são limitadas atitudes concernentes ao
autocuidado por parte dos caminhoneiros. Muitos relatam que quando em rota de viagem não
usam os serviços de saúde e referem que, em função da sua rotina de trabalho, não têm tempo
para cuidar da sua saúde 4,10. Birdsey et al. 7 evidenciaram que motoristas americanos possuem
menor prevalência de vacinação anual contra a gripe e, cerca de, 25%, nunca tiveram seus níveis
de colesterol aferidos. Sangaleti et al. 11 apresentaram que, embora cientes do diagnóstico
clínico de condições crônicas (45,2% hipertensos e 16,4% com níveis alterados de glicose), a
maioria dos motoristas não estava realizando controle medicamentoso.
A autopercepção é um indicativo importante para a avaliação global da situação de
saúde do indivíduo. Compreender a percepção pessoal traz à luz a subjetividade do estado físico
e mental, independente das interpretações médicas dos sintomas, tornando-se um importante
preditor da utilização dos serviços de saúde 12. Desse modo, a autopercepção vem sendo,
frequentemente, utilizada para a compreensão da relação entre saúde, determinantes
sociodemográficos e doenças crônicas 13.
98
No Brasil, é notória a ausência de estudos sobre autopercepção de saúde entre
caminhoneiros. Avaliações qualitativas envolvendo esse grupo se limitaram a descrever
questões referentes aos significados e vulnerabilidades para doenças sexualmente
transmissíveis 9,14,15,16.
Na literatura mundial foram conduzidos alguns estudos com abordagem qualitativa
entre caminhoneiros 17,18,19. Estes trabalhos são consonantes em evidenciar que os profissionais
reconhecem as condições de trabalho adversas, bem como as barreiras ocupacionais para a
adesão a estilo de vida saudável.
Analisando a saúde sob a perspectiva do fenômeno social, recomenda-se a exploração
por meio das Ciências Sociais, cujos instrumentos e teorias são capazes de expressar a
grandiosidade da existência dos seres humanos em sociedade. Para isso, versa sobre o conjunto
das expressões humanas inscrito nas estruturas, nos processos, nas representações sociais, nas
expressões da subjetividade, nos símbolos e significados 20.
A Teoria das Representações Sociais (TRS), situada na psicologia social, foi formulada,
em 1961, por Serge Moscovici, baseando-se na heterogeneidade da sociedade contemporânea.
Teorizou que não são representações apenas de indivíduos, e sim de grupos sobre um objeto,
transpondo o campo da análise individual para o campo da análise social 21. A TRS é concebida
no senso comum, ou seja, na maneira como os indivíduos e os grupos sociais, no percurso de
suas vidas, constroem saberes sobre si, sobre os outros e sobre os diversos objetos sociais que
lhe são relevantes 22. Assim, seu estudo constitui uma contribuição decisiva para a abordagem
da vida mental individual e coletiva 23.
Diante da vulnerabilidade da categoria profissional em questão e da escassez de estudos
com abordagem qualitativa, o objetivo do presente estudo foi conhecer a percepção de saúde e
sua relação com as atividades laborais entre caminhoneiros do estado de Sergipe.
Métodos
Trata-se de um estudo qualitativo, ancorado na teoria das representações sociais. A
coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas individuais semiestruturadas, de julho a
setembro/2016, durante encontros agendados por meio de contatos telefônicos. Os indivíduos
foram selecionados a partir de um estudo maior, que teve como objetivo avaliar os
determinantes de saúde entre caminhoneiros no município de Itabaiana, Sergipe.
A motivação para este trabalho se deu pelo fato do município de Itabaiana ser
considerado a capital nacional do caminhão mediante Lei nº 13.044, de 19/11/2014 24, receber
99
a rodovia BR-235 e concentrar famílias de caminhoneiros. Ademais, a pesquisadora principal
(A. M. F. B.) é profissional atuante na atenção básica do município, verificando a ausência deste
público na rotina dos serviços de saúde.
Foram considerados como critérios de inclusão: sexo masculino, ter acima de 20 anos,
dirigir veículo de transporte de cargas rodoviário atualmente e possuir Carteira Nacional de
Habilitação nas categorias C, D ou E, de acordo com o artigo 143 do Código de Trânsito
Brasileiro 25.
A entrevista individual semiestruturada consiste em técnica privilegiada de
comunicação, destinada a construir informações pertinentes para um objeto de pesquisa, sendo
a estratégia mais utilizada no processo de trabalho de campo em pesquisa qualitativa 20.
O método foi direcionado por um roteiro previamente elaborado, que permitiu uma
organização flexível e a inserção de novos questionamentos à medida que as informações iam
sendo ofertadas pelos entrevistados 26. O roteiro contou com duas questões abertas: a primeira
abordou a avaliação pessoal do sujeito quanto a sua saúde, estabelecendo uma classificação
numérica (de zero a dez) entre não saudável e totalmente saudável; e a segunda, a percepção do
sujeito em relação aos determinantes de saúde e suas condições de trabalho. As entrevistas
foram conduzidas em uma Unidade Básica de Saúde do município, em ambiente privativo e
livre de interferências externas.
O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos
da Universidade Federal de Sergipe, sob Parecer nº 1275680, em conformidade com as
Resoluções nº 466/12 e nº 510/16 do Conselho Nacional de Saúde. Todas as entrevistas foram
gravadas, mediante consentimento da gravação e do uso da voz. As gravações tiveram dupla
transcrição literal. Foi considerado o critério de saturação das respostas para determinação do
número de participantes.
Foi realizada análise de conteúdo, buscando identificar o sentido contido no texto
(semântica) 27, produzindo inferências embasadas em pressupostos teóricos. Seguindo o
procedimento metodológico descrito por Bardin 28, inicialmente, ocorreu a pré-análise das
transcrições, com leitura flutuante e constituição do corpus do texto (conjunto de respostas). As
unidades de registro foram categorizadas com posterior classificação e análise em percentuais
de frequência. A partir dos resultados, emergiram as seguintes categorias: (1) autopercepção de
saúde; (2) determinantes de risco laboral; e (3) cuidados com a saúde.
100
Resultados
Foram entrevistados 15 caminhoneiros com idade entre 30 e 75 anos (50±13), com mais
de sete anos de profissão, de curta e longa rota, e escolaridade variando de 1 a 11 anos de estudo.
A partir dos relatos dos caminhoneiros entrevistados, foi possível apreender diversas
representações sociais relacionadas à saúde. Visando aprofundar a análise, a partir do corpus
de respostas, foram identificadas três categorias temáticas com as respectivas subcategorias,
conforme apresentado na Tabela 1.
Autopercepção de saúde: se eu continuo trabalhando, estou bem
A autopercepção da saúde mostrou-se satisfatória, obtendo-se em média notas de 7,5 ±
1,4 e mediana de 8 pontos. Ao serem questionados sobre a justificativa para a nota autorreferida,
emergiram duas categorias: (i) a ausência ou a presença de doenças (nota alta e nota mais baixa,
respectivamente); e (ii) a presença ou ausência de cuidados à saúde (nota alta e nota mais baixa,
respectivamente), tais como alimentação, atividade física, descanso e idas ao médico.
Dentre aqueles que responderam com notas mais baixas (entre cinco e sete) a
justificativa foi, predominantemente, a ausência de cuidados à saúde. Estes tinham a
escolaridade acima da média, com mais de nove anos de estudo, caracterizando uma percepção
de saúde mais ampliada do que apenas a ausência da doença. Para aqueles com notas
mais elevadas, a escolaridade era mais baixa (menos de cinco anos de estudo) e também
apresentaram maior média de idade (54,7±12,6).
Quando foram questionados sobre a existência da relação entre a própria saúde e a
profissão de caminhoneiro, surgiram como fatores laborais de risco à saúde o descanso
insuficiente, a alimentação irregular, o estresse do trabalho e o uso de drogas para inibir o sono.
No entanto, mais da metade (53,3%) discordou desta relação, referindo motivos como estar, no
momento, em um bom emprego, viajar para perto, não estar doente e cuidar da saúde. De um
modo geral, os participantes alegaram que possuem adversidades no trabalho que dificultam o
equilíbrio de uma boa saúde e seus cuidados.
Quanto aos cuidados que esse grupo possui em relação à própria saúde, surgiram
apontamentos como o autocuidado por meio da alimentação, recomendações médicas e prática
de atividade física. Apesar disto, metade dos participantes desse estudo afirmou não cuidar da
saúde de maneira suficiente, alegando falta de tempo ou acomodação pessoal.
Em relação à autopercepção de saúde, para os caminhoneiros se faz presente a
concepção de saúde em torno da presença ou não de doenças, além da incorporação de práticas
101
que caracterizam o cuidado, determinado como “comportamentos saudáveis” (alimentação
saudável, prática de atividade física e rotinas médicas). Entre os mais velhos, a idade mais
avançada também foi um fator determinante para a autoavaliação da saúde. Ao se compararem
com pessoas mais idosas, estes indivíduos sentem-se bem por estarem ainda em atividade
laboral, ou seja, livre de incapacidades físicas que prejudiquem o trabalho.
“A maioria dos caminhoneiros amigos meus... são tudo doente... (...) só vejo gente
reclamando disso aí... eu, graças a Deus, minha pressão é boa... não tenho diabetes... não
tenho esse problema de colesterol que (...) deu um pouquinho alto, mas isso é fácil de resolver
né... só... mudar um pouco a alimentação fazer mais um pouquinho de exercício que resolve
né?” (Entrevistado 02, 65 anos)
Determinantes de risco laborais: não existe horário programado
Foram evidenciadas as questões acerca dos determinantes de risco laborais, mostrando
como o modo de trabalhar pode interferir na sua qualidade de vida. A rotina de trabalho intensa
implica em más condições de alimentação, dificuldades com horários e rotina, impossibilidade
da prática regular de atividade física, pressão sofrida para o cumprimento de prazos e
interferências no ciclo circadiano, implicando no uso de medicamentos inibidores do sono.
“(...) o ofício não existe um horário programado como outro trabalho qualquer (...) a
gente trabalha... às vezes fica trinta e seis horas num volante quarenta horas num volante...
sem poder sair a num ser numa parada num posto alguma coisa para fazer necessidade”
(Entrevistado 03, 33 anos)
“É por conta da rotina (...) porque acaba também sendo viciante né (...) chega atrasado
aí "ah hoje eu faço um lanche"... aí quando chega o outro dia... vai acontece a mesma coisa e
acaba criando um vício... você acaba abdicando daquelas coisas que você sabe que... é
importante para o corpo mas... não faz” (Entrevistado 04, 53 anos)
O uso de drogas foi temática presente em quase todas as entrevistas. De modo geral, o
uso de substâncias para inibir o sono é prática recorrente entre os caminhoneiros. Alguns dos
entrevistados negaram o uso, no entanto, admitiram sua presença entre a categoria profissional,
seja o “rebite” ou mesmo drogas ilícitas.
“Quase que uma necessidade na estrada assim né... porque é... pessoa sai de São Paulo
.... para chegar aqui (...) tem que ser através de remédio porque o cara só... naturalmente ele
não consegue chegar... (...) tem que ser com droga para não dá sono”(Entrevistado 02, 65
anos)
102
Cuidados com a saúde: uma opção de cada pessoa
Muitos entrevistados consideraram que o cuidado com a saúde é uma prática que
depende do indivíduo e de sua vontade, apesar de admitirem os determinantes externos, como
o caso das condições de trabalho. Nas respostas da subcategoria “motivos pessoais” esses atores
sociais elencaram um conjunto de práticas entendidas como ideais (alimentação, realização de
check up periódico e atividade física regular), mostrando conhecimento e o ‘saber teórico’.
“Sempre que ele (o médico) manda eu faço (...) cada um... cabeça é um mundo, né? (...)
uma opção de cada pessoa. ” (Entrevistado 08, 65 anos)
“Eu tenho vários (cuidados com a saúde)... na alimentação (...) quem tem preguiça aí
é por isso que às vezes que é eles mesmos que descuidam da saúde deles mesmos.”(Entrevistado
09, 50 anos)
Contudo, no cotidiano dos entrevistados, essas práticas idealizadas não se apresentam
como ações concretas para a maior parte deles. Além disso, a execução de tais recomendações
parece incompatível com a árdua e extenuante rotina de trabalho.
“Você está sempre cansado... caminhoneiro não sabe nem o dia... o dia após o outro
você perde até a noção da semana... você não sabe nem... se é sexta, sábado, domingo...
naquela... naquele mundão ali é... só aquilo mesmo” (Entrevistado 08, 65 anos)
Discussão
A saúde, segundo a OMS, é um estado de completo bem-estar físico, mental e social 29.
Esse conceito ampliado vem atrelado à ideia de que é um produto de uma série de fatores
relacionados à qualidade de vida, onde interferem não apenas os determinantes biológicos. No
entanto, o processo saúde-doença em sua complexidade, tem gerado uma tendência natural,
entretanto, reducionista, de se pensar na saúde como a ausência de doença 30, questão que
emergiu das entrevistas.
Algumas análises demonstrarem maior prevalência da percepção negativa de saúde
entre sujeitos com a baixa qualidade de vida (estresse, sono insuficiente, sedentarismo) 31 e
ambiente social desfavorável 32. Entretanto, pôde-se analisar a percepção positiva da saúde entre
os entrevistados sob a perspectiva da negação da doença. A necessidade da presença do
indivíduo no trabalho apesar de doente ou com algum problema físico ou psicológico, pode
fazer com que o mesmo não perceba os seus problemas de saúde, ou mesmo minimizem seus
efeitos, retornando mais brevemente ao trabalho 33. Este fato nomeado como “presenteísmo” é
apresentado principalmente entre trabalhadores com vínculos empregatícios precários 34.
103
Numa análise qualitativa com caminhoneiros sobre condições de trabalho e saúde,
mediante as modalidades de vínculos empregatícios, Silva et al. 36 evidenciaram a
informalidade e a precarização como características dessa profissão. A remuneração do trabalho
relacionando-se com a produtividade proporciona que esse público permaneça mais tempo no
volante a fim de ganhar mais, ocasionando maiores impactos à saúde.
Poucos trabalhos brasileiros investigaram a concepção de saúde e as interferências das
atividades laborais entre caminhoneiros. Delfino e Moraes 16 entrevistaram 13 motoristas
afastados da atividade laboral, encontrarando que o entendimento sobre o estado de saúde
aparece, intrinsicamente, associado à capacidade para o trabalho, corroborando com
comportamentos de adiamento do cuidado à saúde. Este achado chama a atenção para a
concepção de saúde como ausência de doenças, onde os conceitos que perpassam pela qualidade
de vida são exíguos. Entre pessoas mais idosas, Borges et al. 13 referem que a percepção de
estar doente relaciona-se mais fortemente com a presença de incapacidades do que ser portador
de doenças crônicas. Nesse estudo, os caminhoneiros ainda se encontram em atividade laboral,
o que pode justificar uma percepção mais positiva da saúde.
Pesquisas apontam para a amplitude das conjunturas de vulnerabilidade vivenciadas por
caminhoneiros, destacando os diferentes aspectos no âmbito social, individual e laboral 9,5,6.
Dirigir caminhão é um tipo de trabalho com elevado nível de desgaste físico e mental,
características que comprometem o desempenho necessário à atividade 35. Para os
entrevistados, a representação social sobre sua própria saúde permeia a dimensão do desgaste
causado pela fadiga crônica associada a rotina estressante que as atividades laborais impõem,
levando à alimentação inadequada e ao uso de álcool e drogas para alívio do estresse e
cumprimento dos prazos.
Estudos internacionais de cunho qualitativo também revelam a influência das atividades
laboriais na saúde dos indivíduos. Boeijinga et al. 18 conduziram e analisaram 20 entrevistas
semi-estruturadas e sete casos de observações participantes com caminhoneiros holandeses.
Ressaltaram que os indivíduos desejavam melhorar seu estilo de vida, mas não conseguiam
assimilar conceitos de vida saudável, bem como, subestimavam os riscos à saúde. Além disso,
experimentavam barreiras de cunho laboral e pessoal que os impediam de traduzir suas
intenções em mudanças reais no estilo de vida. McDonought et al. 19 conduziram quatro grupos
focais com motoristas de caminhão e gestores de transportadoras em Ontário, Canadá, para
identificar a experiência vivida dos condutores em relação aos riscos evitáveis para a doença.
Os temas predominantes descritos foram: o estresse, o local de trabalho, a comunicação, o estilo
de vida, a cultura de condução, a família e as preocupações relacionadas à fadiga. Em termos
104
de ambiente de trabalho, motoristas e gestores estavam conscientes do potencial da profissão
em determinar doenças crônicas relacionadas ao estilo de vida.
O padrão alimentar é um fator preponderante com influência direta na saúde dos
caminhoneiros. Na maioria dos casos, este é inadequado, acarretando em problemas de saúde
em médio e longo prazo 4. A alimentação dos caminhoneiros é baseada nos restaurantes das
estradas, nos quais, em sua maioria, são ofertadas preparações desbalanceadas
nutricionalmente, ricas em gordura saturada, açúcar e sódio limitando a oferta de alimentos
necessários para um padrão adequado 5,37. McDonough et al. 19 apontaram que os
caminhoneiros têm conhecimento de que o consumo de gordura saturada, sal e açúcar em
excesso e o estilo de vida sedentário são prejudicais à saúde. Contudo, a acessibilidade, a
disponibilidade e o tempo para a compra de alimentos adequados são as maiores dificuldades
referidas por este público.
A atividade laboral de grande parte dos caminhoneiros caracteriza-se em dirigir por
longos períodos, com reduzido tempo para descanso, cuja jornada de trabalho pode exceder
12h. Os trabalhadores em tempo integral gastam, pelo menos, metade de suas horas de vigília
e consomem uma proporção substancial de calorias diárias nos ambientes de trabalho e ao redor
38. Estudos demonstram a influência do trabalho por turnos (diurno e noturno) na qualidade da
alimentação ingerida, principalmente à noite 39,40,41.
Estes resultados demonstram que muito além de uma atitude biológica, a alimentação
assume também um comportamento cultural, onde as escolhas alimentares estão relacionadas
às alternativas de alimentos ofertados pelo meio e ao potencial técnico que os indivíduos
possuem 42. Os caminhoneiros identificam as dificuldades e diferenças na comensalidade do
seio familiar e do trabalho, onde o ritmo imposto traz precárias condições para alimentar-se
tranquilamente. Sendo assim, o diagnóstico das práticas e comportamentos alimentares se torna
etapa necessária para o desenvolvimento de programas e intervenções na área de educação
nutricional 43.
A temática recorrente do uso de drogas entre os entrevistados corrobora que
determinantes ocupacionais estão fortemente associados ao uso de anfetaminas, corroborando
com outros trabalhos 44,45. A precarização no trabalho e os curtos prazos de entrega estão
relacionados ao consumo de drogas, comprometendo as condições de saúde dos caminhoneiros
36.
Quanto aos cuidados que esse grupo possui em relação à própria saúde, a representação
social gira em torno da alimentação, recomendações médicas e prática de atividade física,
achado comum a outros trabalhos 46,47. Todavia, é relevante a percepção mais ampliada dos
105
determinantes do autocuidado quando emerge dos discursos a influência das condições de
trabalho nesse contexto.
De acordo com Arenas-Monreal, Jasso-Arenas e Campos-Navarro 48, o autocuidado se
constrói a partir de dois eixos: ações intencionais, efetuadas sem reflexão prévia nem
questionamentos, e ações deliberadas, influenciadas pela reflexão e experiências de vida
significativas. No entanto, essas ações diferem entre os sujeitos de acordo com seus
determinantes sociais como classe social, ocupação, sexo e família, onde a medida em que
existam condições de vida adequadas, há oportunidades para incorporar práticas que promovam
a saúde.
A concepção da promoção da saúde é caracterizada com ênfase na percepção do papel
protagonista dos determinantes sociais sobre as condições de saúde 29. Tais cuidados estariam
pautados em políticas públicas e de ambientes saudáveis, contrariando a tendência
contemporânea da visão reducionista da responsabilidade individual sobre o processo de saúde
49. Portanto, sob o prisma do princípio de integralidade do Sistema Único de Saúde é preciso
contemplar ações e políticas intersetoriais que levem em consideração os determinantes de
saúde, compondo níveis de prevenção primária, secundária e terciária 50.
Relativo aos caminhoneiros, deve-se considerar a perspectiva de gênero como
influenciador na compreensão do cuidado. Gomes, Nascimento e Araújo 51 afirmam que a
identidade do ser masculino confronta-se com o fato de evitarem os espaços de saúde no sentido
da prevenção, pois estaria relacionado ao aspecto de fragilidade, frequentemente associado às
representações do universo feminino. Mendonça, Meandro e Trindade 52 relatam que, nas
representações e práticas de saúde entre homens, as ações preventivas são apontadas como
opções relevantes para a manutenção da saúde, embora o discurso seja discrepante da prática.
Essa perspectiva de gênero pode estar ainda relacionada a autopercepção positiva da saúde entre
os caminhoneiros no presente estudo, onde falar sobre seus problemas pode significar uma
possível demonstração de fraqueza 51.
Considerações Finais
É notável que as condições de trabalho extenuantes entre os entrevistados estão
provocando influências tanto na autopercepção de saúde quanto aos aspectos relativos ao
autocuidado. Fez-se presente a concepção de saúde em torno da ausência de doenças e
insuficiência nos cuidados, reforçando a responsabilização pessoal no processo de saúde.
Embora percebessem a influência dos determinantes laborais na sua saúde e sobre quais ações
106
preventivas devem adotar, mostraram-se pouco estimulados quanto ao autocuidado alegando
questões pessoais e cansaço somados a falta de tempo e limitações devido à rotina laboral.
Apesar das importantes discussões levantadas para reflexão sobre as relações entre
trabalho e saúde a partir da perspectiva do caminhoneiro, deve-se considerar alguns limitadores.
O horário comercial disponível para as entrevistas trouxe um viés de seleção, no entanto,
destaca-se que as pesquisadoras solicitaram a participação de um quantitativo maior de
caminhoneiros com diferentes datas e horários a fim de incluir todos os que pudessem
comparecer de acordo com sua agenda de trabalho. A não segregação por idade ou escolaridade
pode ser considerado como outro limitante, contudo a heterogeneidade das características de
indivíduos caminhoneiros pode ser encontrada em outros estudos. Deste modo, sugere-se outros
trabalhos que possam ampliar o olhar a respeito da percepção desses sujeitos sobre o seu
processo de saúde e sua relação com a atividade laboral.
A valorização do ponto de vista do indivíduo abre o panorama de como enfrentar a
vulnerabilidade dos caminhoneiros às doenças crônicas, considerando todos os aspectos
envolvidos para a promoção à saúde através da mudança de hábitos e seus condicionantes
sociais. Acredita-se ainda que a autopercepção de saúde pôde proporcionar aos indivíduos uma
reflexão mais profunda sobre seu processo de saúde e doença, contribuindo para a mudança de
hábitos e contextualização social desse processo.
Esses resultados permitiram conhecer a percepção dos motoristas, entendendo melhor o
seu contexto de vulnerabilidade à saúde determinada pela rotina laboral. A partir disso, espera-
se poder contribuir no direcionamento de verbas públicas aplicadas à saúde do homem e do
trabalhador. Além disso, que também levante discussões sobre a necessidade de reformulação
e cumprimento das políticas trabalhistas para o setor de transporte de cargas rodoviário com
intuito de reduzir os impactos ocupacionais na saúde dos caminhoneiros.
Referências
1. Minayo-Gomez C, Thedim-Costa SM da F. A construção do campo da saúde do
trabalhador: percursos e dilemas. Cad Saude Publica. 1997; 13 (Supl. 2): 21-32.
2. Neri M, Soares WL, Soares C. Condições de saúde no setor de transporte rodoviário de
cargas e de passageiros : um estudo baseado na Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios. Cad Saúde Pública. 2005;21(4):1107–23.
3. Albuquerque GSC de, Silva MJ de S e. Sobre a saúde, os determinantes da saúde e a
determinação social da saúde. Saúde em Debate. 2014;38(103):953–65.
107
4. Masson V, Monteiro M. Life style, health aspects and work among truck drivers. Rev Bras
Enferm. 2010;63(4):533–40.
5. Alessi A, Alves MK. Habits of life and health of truck drivers in brazil: a literature review.
Ciência & Saúde. 2015;8(3):129–36.
6. Knauth DR, Leal AF, Pilecco FB, Seffner F, Teixeira AMFB. Manter-se acordado: A
vulnerabilidade dos caminhoneiros no Rio Grande do Sul. Rev Saude Publica
2012;46(5):886–93.
7. Birdsey J, Sieber W, Chen G, Hitchcock E, Lincoln JE, Nakata A, et al. National Survey
of US Long-Haul Truck Driver Health and Injury: Health Behaviors. J Occup Environ Med
2015;57(2):210–6.
8. Girotto E, Guidoni CM, González AD, Mesas AE, Andrade SM de. Uso contínuo de
medicamentos e condições de trabalho entre motoristas de caminhão. Cien Saude Colet
2016;21(12):3769–76.
9. Magno L, Castellanos MEP. Meanings and vulnerability to HIV/AIDS among long-
distance truck drivers in Brazil. Rev Saude Publica 2016;50:76.
10. Guedes HM, Brum K de A, Costa PA, Almeida MEF de. Fatores de risco para o
desenvolvimento de hipertensão arterial entre motoristas caminhoneiros. Cogitare enferm
(Impr). 2010;15(4):652–8.
11. Sangaleti CT, Trincaus MR, Baratieri T, Zarowy K, Ladika MB, Menon MU, et al.
Prevalence of cardiovascular risk factors among truck drivers in the South of Brazil. BMC
Public Health 2014;14:1063.
12. Vintém JM. Inquéritos Nacionais de Saúde : auto-percepção do estado de saúde : uma
análise em torno da questão de género e da escolaridade. Rev Port Saúde Pública.
2008;26:5–13.
13. Borges AM, Santos G, Kummer JA, Fior L, Molin VD, Wibelinger LM. Autopercepção de
saúde em idosos residentes em um município do interior do Rio Grande do Sul. Rev Bras
Geriatr Gerontol. 2014;17(1):79–86.
14. Sousa LMS, Silva LS, Palmeira AT. Representações sociais de caminhoneiros de rota curta
sobre VIH/AIDS. Psicol Soc. 2014;26(2):346–55.
15. Sobrinho-Santos CK, Silva AV da, Malheiros AF, Trindade RA da, Pagan AA. Relatos de
caminhoneiros sobre a prevenção do HIV e o material educacional impresso: reflexões para
educação em saúde. Ciência Educ 2015;21(4):1011–30.
16. Delfino LG, Moraes TD. Percepções sobre adoecimento para caminhoneiros afastados pelo
sistema de previdência social. Estud Interdiscip em Psicol 2015;6(2):113.
17. Greenfield R, Busink E, Wong CP, Riboli-sasco E, Greenfield G, Majeed A, et al. Truck
drivers ’ perceptions on wearable devices and health promotion: a qualitative study. BMC
Public Health 2016;16:1–10.
18. Boeijinga A, Hoeken H, Sanders J. Health promotion in the trucking setting: Understanding
Dutch truck drivers’ road to healthy lifestyle changes. Work 2016; 55(2):385–97.
19. McDonough B, Howard M, Angeles R, Dolovich L, Marzanek-Lefebvre F, Riva JJ, et al.
Lone workers attitudes towards their health: views of Ontario truck drivers and their
managers. BMC Res Notes 2014;7(1):297.
108
20. Minayo MC de S (org.), Deslandes SF, Gomes R. Pesquisa social: teoria, método e
criatividade. Petrópolis, RJ: Vozes; 2016. Série Manuais Acadêmicos. 95 p.
21. Ferreira SRS, Brum JLR. As Representações Sociais e suas contribuições no campo da
saúde. Rev Gaúcha Enferm 2000;20 (No especial):5–14.
22. Félix LB, Andrade DA de, Ribeiro FS, Correia CCG, Santos M de FDS. O conceito de
Sistemas de Representações Sociais na produção nacional e internacional: uma pesquisa
bibliográfica. Psicol e Saber Soc 2016;5(2):198–217.
23. Jodelet D. Representações sociais: um domínio em expansão. In: As representações sociais.
Jodelet D. Rio de Janeiro: Editora da UERJ; 2001. p. 17-44.
24. BRASIL. Lei no 13.044, de 19 de novembro de 2014. Confere ao Município de Itabaiana
no Estado de Sergipe o título de Capital Nacional do Caminhão. 2014. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13044.htm. Acesso em:
31/07/2017.
25. BRASIL. Lei no 9.503, de 23 de setembro de 1997. Institui o Código de Trânsito Brasileiro.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9503.htm. Acesso em:
31/07/2017.
26. Belei RA, Gimeniz-Paschoal SR, Nascimento EN, Matsumoto PHVR. O uso de entrevista,
observação e videogravação em pesquisa qualitativa. Cad Educ - FaE/PPGE/UFPel
Pelotas. 2008;30:187–99.
27. Campos CJG. Método de análise de conteúdo: ferramenta para a análise de dados
qualitativos no campo da saúde. Rev Bras Enferm. 2004;57(5):611–4.
28. Santos FM dos. Análise de Conteúdo: A Visão de Laurence Bardin. Rev Eletrônica Educ.
2012;6(1):383–7.
29. Czeresnia D. O conceito de saúde e a diferença entre prevenção e promoção. In: Promoção
da Saúde: conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2009. p. 43-58.
30. Dalmolin BB, Backes DS, Zamberlan C, Schaurich D, Colomé JS, Gehlen MH. Meanings
of the health concept through the perspective of teachers in the health field. Esc Anna Nery
2011;15(2):389–94.
31. Fonseca SA, Blank VL, Barros M V, Nahas M V. Self-perceived health and associated
factors in industrial workers from Santa Catarina State, Brazil. Cad Saude Publica
2008;24(3):567–76.
32. Meireles AL, Xavier CC, Andrade AC de S, Friche AA de L, Proietti FA, Caiaffa WT.
Autoavaliação da saúde em adultos urbanos, percepção do ambiente físico e social e relato
de comorbidades: Estudo Saúde em Beagá. Cad Saúde Pública 2015;31(Sup.):S120–35.
33. Paschoalin HC, Griep RH, Lisboa MTL, Mello DCB de. Adaptação transcultural e
validação para o português brasileiro do Stanford Presenteeism Scale para avaliação do
presenteísmo. Rev Latino-Am Enferm [Internet]. 2013;21(1):08 telas. Disponível em:
www.eerp.usp.br/rlae. Acesso em: 02/07/2017.
34. Iriart JAB, Oliveira RP de, Xavier S da S, Costa AM da S, Araújo GR de, Santana VS.
Representações do trabalho informal e dos riscos à saúde entre trabalhadoras domésticas e
trabalhadores da construção civil. Cien Saude Colet 2008;13(1):165–74.
35. Ferreira S, Alvarez D. Organização do Trabalho e Comprometimento da Saúde: Um Estudo
em Caminhoneiros. Sist Gestão 2013;8(1):58–66.
109
36. Silva LG da, Luz AA da, Vasconcelos SP, Marqueze EC, Moreno CR de C. Vínculos
empregatícios, condições de trabalho e saúde entre motoristas de caminhão. Rev Psicol
Organ e Trab 2016;16(2):153–65.
37. Hamilton K, Vayro C, Schwarzer R. Social cognitive antecedents of fruit and vegetable
consumption in truck drivers: A sequential mediation analysis. J Nutr Educ Behav
2015;47(4):379–384.e1.
38. Larson N, Story M. A review of environmental influences on food choices. Ann Behav
Med 2009;38(SUPPL.):56–73.
39. Bonnell E, Huggins C, Huggins C, McCaffrey T, Palermo C, Bonham M. Influences on
Dietary Choices during Day versus Night Shift in Shift Workers: A Mixed Methods Study.
Nutrients 2017;9(3):193.
40. Bonham MP, Bonnell EK, Huggins CE. Energy intake of shift workers compared to fixed
day workers: A systematic review and meta-analysis. Chronobiol Int. 2016;528(June):1–
15.
41. Nea FM, Kearney J, Barbara M, Livingstone E, Kirsty Pourshahidi L, Corish CA. Dietary
and lifestyle habits and the associated health risks in shift workers. Nutr Res Rev
2015;28(2):143–66.
42. Lima R de S, Ferreira Neto JA, Farias R de CP. Alimentação, Comida E Cultura: O
Exercício Da Comensalidade. DEMETRA Aliment Nutr Saúde 2015;10(3):507–22.
43. Poulain JP, Proença RPC, Diez-Garcia RW. Diagnóstico das práticas e comportamento
alimentares: aspectos metodológicos. In: Mudanças alimentares e educação nutricional.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2012. p. 149–63.
44. Oliveira LG de, Souza LM de A de, Barroso LP, Gouvêa MJC, Almeida CVD de, Muñoz
DR, et al. Occupational conditions and the risk of the use of amphetamines by truck drivers.
Rev Saude Publica 2015;49:61. p. 1-9.
45. Girotto E, de Andrade SM, Mesas AE, Gonzalez AD, Guidoni CM. Working conditions
and illicit psychoactive substance use among truck drivers in Brazil. Occup Environ Med.
2015;72(11):764–9.
46. Hemmi A P, Conceição JA, Santos, DDM. Social Representations of Men About Health
and Illness : Contributions To Care. R Enfer Cent O Min. 2015;5(1):1457–68.
47. Orozco-Solis MG, Colunga-Rodríguez C, Preciado-Serrano M de L, Ángel-González M,
Vázquez-Colunga JC, Colunga-Rodríguez BA, et al. Representación del autocuidado de la
salud en el trabajo de conductores de autobús urbano de Guadalajara, México. Cad Saude
Publica 2017;33(3).
48. Arenas-Monreal L, Jasso-Arenas J, Campos-Navarro R. Autocuidado: elementos para sus
bases conceptuales. Glob Health Promot 2011;18(4):42–8.
49. Nascimento ARA do, Trindade ZA, Gianordoli-Nascimento IF, Pereira FB, Silva SAT da
C, Cerello AC. Masculinidades e práticas de saúde na região metropolitana de Belo
Horizonte - MG. Saúde Soc 2011;182–94.
50. Barbiani R, Junges JR, Nora CRD, Asquidamini F. A produção científica sobre acesso no
âmbito do Sistema Único de Saúde do Brasil: avanços, limites e desafio. Saude e Soc
2014;23(3):855–68.
110
51. Gomes R, Nascimento EF Do, Araújo FC De. Why do men use health services less than
women? Explanations by men with low versus higher education. Cad Saude Publica
2007;23(3):565–74.
52. Mendonça VS, Menandro MC, Trindade ZA. Entre o fazer e o falar dos homens:
representacoes e praticas sociais de saúde. Rev Estud Soc (Santa Fe Bogota)
2011;(38):155–64.
112
ANEXO 2 – INSTRUÇÕES AOS AUTORES PARA PUBLICAÇÃO DO ARTIGO
CADERNOS DE SAÚDE PÚBLICA
Cadernos de Saúde Pública/Reports in Public Health (CSP) publica artigos originais com
elevado mérito científico, que contribuem com o estudo da saúde pública em geral e disciplinas
afins. Desde janeiro de 2016, a revista adota apenas a versão on-line, em sistema de publicação
continuada de artigos em periódicos indexados na base SciELO. Recomendamos aos autores a
leitura atenta das instruções antes de submeterem seus artigos a CSP.
1. CSP ACEITA TRABALHOS PARA AS SEGUINTES SEÇÕES 1.1 – Perspectivas: análises de temas conjunturais, de interesse imediato, de importância para a
Saúde Coletiva (máximo de 1.600 palavras);
1.2 – Debate: análise de temas relevantes do campo da Saúde Coletiva, que é acompanhado por
comentários críticos assinados por autores a convite das Editoras, seguida de resposta do autor
do artigo principal (máximo de 6.000 palavras e 5 ilustrações);
1.3 – Espaço Temático: seção destinada à publicação de 3 a 4 artigos versando sobre tema
comum, relevante para a Saúde Coletiva. Os interessados em submeter trabalhos para essa
Seção devem consultar as Editoras;
1.4 – Revisão: revisão crítica da literatura sobre temas pertinentes à Saúde Coletiva, máximo
de 8.000 palavras e 5 ilustrações. Toda revisão sistemática deverá ter seu protocolo publicado
ou registrado em uma base de registro de revisões sistemáticas como por exemplo o
PROSPERO (http://www.crd.york.ac.uk/prospero/); as revisões sistemáticas deverão ser
submetidas em inglês (leia mais);
1.5 – Ensaio: texto original que desenvolve um argumento sobre temática bem delimitada,
podendo ter até 8.000 palavras (leia mais);
1.6 – Questões Metodológicas: artigos cujo foco é a discussão, comparação ou avaliação de
aspectos metodológicos importantes para o campo, seja na área de desenho de estudos, análise
de dados ou métodos qualitativos (máximo de 6.000 palavras e 5 ilustrações); artigos sobre
instrumentos de aferição epidemiológicos devem ser submetidos para esta Seção, obedecendo
preferencialmente as regras de Comunicação Breve (máximo de 1.700 palavras e 3 ilustrações);
1.7 – Artigo: resultado de pesquisa de natureza empírica (máximo de 6.000 palavras e 5
ilustrações). Dentro dos diversos tipos de estudos empíricos, apresentamos dois exemplos:
artigo de pesquisa etiológica na epidemiologia e artigo utilizando metodologia qualitativa;
1.8 – Comunicação Breve: relatando resultados preliminares de pesquisa, ou ainda resultados
de estudos originais que possam ser apresentados de forma sucinta (máximo de 1.700 palavras
e 3 ilustrações);
1.9 – Cartas: crítica a artigo publicado em fascículo anterior de CSP (máximo de 700 palavras);
1.10 – Resenhas: resenha crítica de livro relacionado ao campo temático de CSP, publicado nos
últimos dois anos (máximo de 1.200 palavras).
2. NORMAS PARA ENVIO DE ARTIGOS 2.1 – CSP publica somente artigos inéditos e originais, e que não estejam em avaliação em
nenhum outro periódico simultaneamente. Os autores devem declarar essas condições no
processo de submissão. Caso seja identificada a publicação ou submissão simultânea em outro
periódico o artigo será desconsiderado. A submissão simultânea de um artigo científico a mais
de um periódico constitui grave falta de ética do autor.
2.2 – Não há taxas para submissão e avaliação de artigos.
2.3 – Serão aceitas contribuições em Português, Inglês ou Espanhol.
113
2.4 – Notas de rodapé, de fim de página e anexos não serão aceitos.
2.5 – A contagem de palavras inclui somente o corpo do texto e as referências bibliográficas,
conforme item 12.13.
2.6 – Todos os autores dos artigos aceitos para publicação serão automaticamente inseridos no
banco de consultores de CSP, se comprometendo, portanto, a ficar à disposição para avaliarem
artigos submetidos nos temas referentes ao artigo publicado.
3. PUBLICAÇÃO DE ENSAIOS CLÍNICOS 3.1 – Artigos que apresentem resultados parciais ou integrais de ensaios clínicos devem
obrigatoriamente ser acompanhados do número e entidade de registro do ensaio clínico.
3.2 – Essa exigência está de acordo com a recomendação do Centro Latino-Americano e do
Caribe de Informação em Ciências da Saúde (BIREME)/Organização Pan-Americana da Saúde
(OPAS)/Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o Registro de Ensaios Clínicos a serem
publicados a partir de orientações da OMS, do International Committee of Medical Journal
Editors (ICMJE) e do Workshop ICTPR.
3.3 – As entidades que registram ensaios clínicos segundo os critérios do ICMJE são:
• Australian New Zealand Clinical Trials Registry (ANZCTR)
• ClinicalTrials.gov
• International Standard Randomised Controlled Trial Number (ISRCTN)
• Nederlands Trial Register (NTR)
• UMIN Clinical Trials Registry (UMIN-CTR)
• WHO International Clinical Trials Registry Platform (ICTRP)
4. FONTES DE FINANCIAMENTO 4.1 – Os autores devem declarar todas as fontes de financiamento ou suporte, institucional ou
privado, para a realização do estudo.
4.2 – Fornecedores de materiais ou equipamentos, gratuitos ou com descontos, também devem
ser descritos como fontes de financiamento, incluindo a origem (cidade, estado e país).
4.3 – No caso de estudos realizados sem recursos financeiros institucionais e/ou privados, os
autores devem declarar que a pesquisa não recebeu financiamento para a sua realização.
5. CONFLITO DE INTERESSES 5.1 – Os autores devem informar qualquer potencial conflito de interesse, incluindo interesses
políticos e/ou financeiros associados a patentes ou propriedade, provisão de materiais e/ou
insumos e equipamentos utilizados no estudo pelos fabricantes.
6. COLABORADORES 6.1 – Devem ser especificadas quais foram as contribuições individuais de cada autor na
elaboração do artigo.
6.2 – Lembramos que os critérios de autoria devem basear-se nas deliberações do ICMJE, que
determina o seguinte: o reconhecimento da autoria deve estar baseado em contribuição
substancial relacionada aos seguintes aspectos: 1. Concepção e projeto ou análise e
interpretação dos dados; 2. Redação do artigo ou revisão crítica relevante do conteúdo
intelectual; 3. Aprovação final da versão a ser publicada; 4. Ser responsável por todos os
aspectos do trabalho na garantia da exatidão e integridade de qualquer parte da obra. Essas
quatro condições devem ser integralmente atendidas.
6.3 – Os autores mantém o direito autoral da obra, concedendo à publicação Cadernos de Saúde
Pública, o direito de primeira publicação.
114
7. AGRADECIMENTOS 7.1 – Possíveis menções em agradecimentos incluem instituições que de alguma forma
possibilitaram a realização da pesquisa e/ou pessoas que colaboraram com o estudo, mas que
não preencheram os critérios para serem coautores.
8. REFERÊNCIAS 8.1 – As referências devem ser numeradas de forma consecutiva de acordo com a ordem em
que forem sendo citadas no texto. Devem ser identificadas por números arábicos sobrescritos
(p. ex.: Silva 1). As referências citadas somente em tabelas e figuras devem ser numeradas a
partir do número da última referência citada no texto. As referências citadas deverão ser listadas
ao final do artigo, em ordem numérica, seguindo as normas gerais dos (Requisitos Uniformes
para Manuscritos Apresentados a Periódicos Biomédicos). Não serão aceitas as referências em
nota de rodapé ou fim de página.
8.2 – Todas as referências devem ser apresentadas de modo correto e completo. A veracidade
das informações contidas na lista de referências é de responsabilidade do(s) autor(es).
8.3 – No caso de usar algum software de gerenciamento de referências bibliográficas (p. ex.:
EndNote), o(s) autor(es) deverá(ão) converter as referências para texto.
9. NOMENCLATURA 9.1 – Devem ser observadas as regras de nomenclatura zoológica e botânica, assim como
abreviaturas e convenções adotadas em disciplinas especializadas.
10. ÉTICA EM PESQUISAS ENVOLVENDO SERES HUMANOS 10.1 – A publicação de artigos que trazem resultados de pesquisas envolvendo seres humanos
está condicionada ao cumprimento dos princípios éticos contidos na Declaração de
Helsinki (1964, reformulada em 1975, 1983, 1989, 1996, 2000 e 2008), da Associação Médica
Mundial.
10.2 – Além disso, deve ser observado o atendimento a legislações específicas (quando houver)
do país no qual a pesquisa foi realizada.
10.3 – Artigos que apresentem resultados de pesquisas envolvendo seres humanos deverão
conter uma clara afirmação deste cumprimento (tal afirmação deverá constituir o último
parágrafo da seção Métodos do artigo).
10.4 – Após a aceitação do trabalho para publicação, todos os autores deverão assinar um
formulário, a ser fornecido pela Secretaria Editorial de CSP, indicando o cumprimento integral
de princípios éticos e legislações específicas.
10.5 – O Conselho Editorial de CSP se reserva o direito de solicitar informações adicionais
sobre os procedimentos éticos executados na pesquisa.
Artigos qualitativos
As metodologias qualitativas representam um conjunto amplo e diversificado de procedimentos
interpretativos comprometidos com a análise dos significados das ações sociais e das
experiências humanas. Seus métodos atravessam distintos campos disciplinares e, portanto,
apresentam diferentes parâmetros para aferir a qualidade e as "boas práticas" de pesquisa.
Traçamos aqui um roteiro básico das informações e critérios científicos que consideramos
importantes para um artigo que aporte métodos qualitativos. Antes de enviar seu texto reflita
sobre essas indagações. Embora não seja uma listagem de itens universais ou obrigatórios, a
maioria refere a questões muito relevantes.
115
Adequação aos propósitos de análise qualitativa
- O artigo explora os processos sociais a fim de compreender os significados, sentidos das
ações e experiências?
- O objeto de pesquisa é claramente contextualizado?
Quadro teórico
- O artigo apresenta diálogo com alguma teoria ou reflexão teórica das Ciências Sociais e
Humanas em suas interfaces com a Saúde Coletiva?
- Há perguntas que orientem a busca investigativa?
Metodologia
- O artigo explicita o(s) tipo(s) de método(s) empregado(s), seus princípios e sua adequação
ao objeto de estudo?
- Os acervos utilizados em pesquisas qualitativas são muito diversificados (entrevistas,
conversas, observações, fotos, músicas, documentos oficiais etc.). Em qualquer caso, a
justificativa para a eleição da referida fonte e os critérios de seleção estão definidos?
- Os critérios para escolha do campo de pesquisa e dos sujeitos estão demarcados? Tais
critérios são coerentes com os propósitos do estudo?
- As técnicas para a coleta (construção) dos dados são descritas e suas eventuais limitações
explicitadas?
- O critério para definir o número de registros tomados para análise (número de entrevistas, de
observações ou outros documentos) é descrito?
- As relações, posições e mediações entre pesquisador e os sujeitos do estudo e suas possíveis
influências nos resultados são mencionadas (reflexividade)?
- O tratamento do material e os procedimentos de análise são minuciosamente detalhados?
- As etapas do processo interpretativo são assinaladas? São descritas as categorizações,
agrupamentos, comparações etc.?
- As categorias empregadas para análise (caso existam) são apresentadas?
Resultados e Discussão
- Os resultados apresentados são claros e coerentes com os objetivos do estudo?
- Há equilíbrio entre os resultados apresentados e os distintos objetivos listados?
- Os resultados apresentados trazem informações relevantes e contextualizadas?
- São elucidativos para melhor compreender ou "responder" às perguntas do estudo?
116
– Os resultados contribuem para a ampliação do conhecimento ou restringem-se ao nível da
confirmação de estudos anteriores?
- As evidências empíricas para as interpretações feitas são apresentadas (citações, trechos de
diários de campo, entre outros) de forma adequada e suficiente?
- As interpretações são demarcadas, distinguindo-se do nível descritivo?
- As interpretações apresentadas dialogam com a literatura da área de forma adequada,
atualizada e suficiente?
- As conclusões encontram respaldo nos resultados do artigo?