pensarcompleto0402

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VITÓRIA, SÁBADO, 4 DE FEVEREIRO DE 2012 www.agazeta.com.br Pensar Galeria de talentos Entrelinhas PROFESSORA VERA TOLEDO COMENTA BEST-SELLER DA CHEF GABRIELLE HAMILTON. Página 3 Moda SILVANA HOLZMEISTER ESCREVE SOBRE A CÉLEBRE DIANA VREELAND . Página 4 Música A VOZ E A GRAÇA DE DORIS MONTEIRO , POR OSWALDO OLEARI. Página 5 Ficção O AMOR E SUAS VARIÁVEIS INSPIRAM CONTO DE TAVARES DIAS . Página 12 HOMERO MASSENA COMPLETA 35 ANOS COMO VITRINE PARA ARTISTAS DO ESTADO Páginas 6, 7 e 8 VAI GANHAR O VOTO POPULAR... Livro de especialista em marketing político analisa a influência dos jingles sobre as campanhas eleitorais. Páginas 10 e 11 DIVULGAÇÃO Instalação Brasil”, de Nenna, apresentada no espaço situado na Cidade Alta, em 2005 SIDNEY CORRALLO/AG. ESTADO Em 1985, Chico Buarque adaptou a música Vai passar” para a campanha de Fernando Henrique Cardoso à Prefeitura de São Paulo

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Page 1: PensarCompleto0402

VITÓRIA, SÁBADO, 4 DE FEVEREIRO DE 2012www.agazeta.com.brPensar

Galeria de talentos

EntrelinhasPROFESSORAVERA TOLEDOCOMENTABEST-SELLERDA CHEFGABRIELLEHAMILTON.Página 3

ModaSILVANAHOLZMEISTERESCREVESOBRE ACÉLEBREDIANAVREELAND.Página 4

MúsicaA VOZ E AGRAÇA DEDORISMONTEIRO,POR OSWALDOOLEARI.Página 5

FicçãoO AMOR E SUASVARIÁVEISINSPIRAMCONTO DETAVARES DIAS.Página 12

HOMERO MASSENA COMPLETA 35 ANOS COMOVITRINE PARA ARTISTAS DO ESTADO Páginas 6, 7 e 8

VAI GANHAR OVOTO POPULAR...Livro de especialista em marketing políticoanalisa a influência dos jingles sobre ascampanhas eleitorais. Páginas 10 e 11

DIVULGAÇÃO

Instalação “Brasil”, de

Nenna, apresentada

no espaço situado na

Cidade Alta, em 2005

SIDNEY CORRALLO/AG. ESTADO

Em 1985, Chico Buarque adaptou a música “Vai passar” para a campanha de Fernando Henrique Cardoso à Prefeitura de São Paulo

Documento:AGazeta_04_02_2012 1a. SABADO_CP_Pensar_1.PS;Página:1;Formato:(274.11 x 381.00 mm);Chapa:Composto;Data:02 de Feb de 2012 21:41:23

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2PensarA GAZETAVITÓRIA,SÁBADO,4 DE FEVEREIRODE 2012

marque na agenda prateleiraquempensa

Vera Márcia Soares de ToledoéprofessoradeLiteraturaeHistó[email protected]

SilvanaHolzmeisteré jornalistaemestreemModa,CulturaeArtepeloSenac (SP). [email protected]

OswaldoOleariéeditorchefãodoPortalDonOleariPontoCom.donoleari.com

Nennaéartista.www.nenna.com

NayaraLimaéescritoraegraduandaemPsicologiapelaUfes.www.nayaralima-versoeprosa.blogspot.com

FláviaDallaBernardinaéadvogada,bailarinaeescritora.www.tubodeensaios.com.br

ÍtaloCamposépsicanalistaeescritor.MembrodaAcademiaEspírito-SantensedeLetras. [email protected]

SandroPennaé [email protected]

TavaresDiasé jornalista, escritoremestreemEstudosLiteráriospelaUfes. [email protected]

Caderno Afegão: UmDiário de ViagemAlexandra LucasCoelhoNeste relato sobre a suatemporada no Afeganistão,como correspondente dojornal “Público”, a jornalista

portuguesa vai além dos conflitos e abordaquestões como espiritualidade, alimentaçãoe vida doméstica –minúcias que semostram reveladoras da condição afegã.

312 páginas. Tinta Negra. R$ 39,90

A Rosa de SarajevoMargaret MazzantiniA autora envolve osleitores em uma tramaemocionante sobre amaternidade e ainevitável arte da perda,que se inicia na antiga

Iugoslávia, nos anos 1980, e desembocana convulsão política da Guerra daBósnia, entre 1992 e 1995.

496 páginas. Companhia das Letras. R$ 59

A Vida está emOutro LugarMilan KunderaNeste romance de 1973,reeditado em formatopocket, o autor tchecodescreve os sonhos de umjovem que cresceu na

Tchecoslováquia ocupada pelos nazistas,e que passa a usar seu dom para a poesiaa serviço da revolução socialista.

336 páginas. Companhia das Letras. R$ 26

Perspectivas daCidadania noBrasil ImpérioAdriana P. Campos eJosé Murilo deCarvalho (org.)Reflexões sobre o Brasil doséculo XIX, tendo como

eixo a questão da cidadania.

532 páginas. Civilização Brasileira. R$ 62,90

Encontro musicalClube do Vinil promove luau em CariacicaA primeira confraria do grupo em 2012 acontece hoje, apartir das 20h, na praça central de Cariacica-Sede. Naprogramação, bolachões dos colecionadores Géo e Léo Cobal.

UniversidadeUfes oferece mestrado em PsicologiaAs inscrições estão abertas até 13 de fevereiro, para ingresso noinício de 2012. Serão oferecidas três linhas de pesquisa: ProcessosPsicossociais, Processos de Desenvolvimento e Psicologia Social eSaúde. Mais informações pelo e-mail [email protected].

07de fevereiroCurso de Filosofia à maneira clássicaNos dias 7 e 8 de fevereiro, às 20h, a Associação CulturalNova Acrópole de Vitória realiza a abertura de mais umaturma do curso de Filosofia à maneira clássica. As aulas, emJardim Camburi e na Praia do Suá, buscam equilibrar oconhecimento teórico com a vivência filosófica através de trêsfrentes de estudo: Ética, Sociopolítica e Filosofia da História.Informações: (27) 3058-0255 e (27) 3057-2272.

1ºde marçoExposição de cartuns em CachoeiroO Salão de Artes Levino Fanzeres, em Cachoeiro de Itapemirim,receberá nesta data a exposição de cartuns “À Santa Causa, comHumor”, do cartunista Ricardo Ferraz, baseada no livrohomônimo, publicado pelo autor no ano passado.

José Roberto Santos NeveséeditordoCaderno Pensar, espaço para adiscussão e reflexão cultural que circulasemanalmente, aos sábados.

[email protected] ESPAÇO DOS ARTISTAS

A história recente de um bairro, de uma cidade, de umEstado pode ser contada através dos seus espaços culturais.É o caso da Galeria Homero Massena, que completa 35 anosde atividades em março. Situada na Cidade Alta, no coraçãodo Centro de Vitória, essa charmosa galeria nasceu juntocom o boom industrial do Espírito Santo, em 1977, e foi oponto de partida para diversos talentos que militam até hojeno cenário local. Pioneiro da arte contemporânea no Estado,Nenna acompanhou de perto toda essa movimentação erelata nas páginas 6, 7 e 8 a importância da gHM, como ele

gosta de chamar o espaço que homenageia o pintor HomeroMassena (1886-1974). Nenna revê o passado com olhosvoltados para o futuro: ao mesmo tempo em que elencanomes importantes que passaram pela galeria, adianta ocalendário de exposições de 2012, que novamente aposta naprodução local. Nesta edição, o leitor também confereresenhas literárias, música, crônicas, poesia, ficção inédita deTavares Dias e uma interessante análise do jornalista SandroPenna sobre a influência dos jingles nas campanhas elei-torais. Desfrutem do nosso Pensar e bom fim de semana!

Pensar na webConfira fotosdaGaleriaHomeroMassena,gravaçõesdeDorisMonteiro, vídeosdejingles famosose trechosde livroscomentadosnestaedição,nowww.agazeta.com.br

PensarEditor: José Roberto Santos Neves;EditordeArte:Paulo Nascimento;Textos:Colaboradores;Diagramação:Dirceu Gilberto Sarcinelli;Fotos:Editoria de Fotografia e Agências; Ilustrações:Editoria de Arte;Correspondência: Jornal

A GAZETA, Rua Chafic Murad, 902, Monte Belo, Vitória/ES, Cep: 29.053-315, Tel.: (27) 3321-8493

ColetivoPeixariareú[email protected]

Documento:AGazeta_04_02_2012 1a. SABADO_CP_Pensar_2.PS;Página:1;Formato:(274.11 x 381.00 mm);Chapa:Composto;Data:02 de Feb de 2012 21:29:54

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3PensarA GAZETAVITÓRIA,SÁBADO,

4 DE FEVEREIRODE 2012

entrelinhaspor VERA MÁRCIA SOARES DE TOLEDO

A RECEITA DE VIDA DEUMA CHEF DE COZINHA

Gabrielle Hamilton relata sua vivência, da infância em área rural ao êxito profissional

SANGUE, OSSOSE MANTEIGA:A Educação Involuntáriade uma Chef RelutanteGabrielle Hamilton. Trad.:Lucas Murtinho. Rocco. 379páginas. Quanto: R$ 39,50

Sangue, Ossos eManteiga: A Educa-ção Involuntária deuma Chef Relutan-te” é, certamente,uma das mais im-

portantes aparições do mercado edi-torial, ocorrida em 2011. Lançado pelaRandom House com o título original de“Blood, Bones and Butter”, em princípiosdo ano passado, continua, desde então,na lista dos mais vendidos do “The NewYork Times”. Editado, no Brasil, pelaRocco, quase imediatamente após suaestreia no mercado americano, reve-lou-se uma grata surpresa também parao público brasileiro.Gabrielle Hamilton, uma já aclamada

chef nova-iorquina, proprietária do Pru-ne, no East Village, restaurante no qual aspessoas fazem fila por uma vaga, re-solveu, além de suas crônicas em revistasespecializadas de culinária, fazer sua au-tobiografia. Achou que tinha o que contare acertou. Segundo Anthony Bourdain,chef e autor de “Cozinha Confidencial”, olivro de Hamilton é “o melhor relato deuma chef de todos os tempos.”Alémdele,vários outros famosos e consagrados co-zinheiros, como Mario Batali e DanielBoulud, corroboraram a aclamação. Ape-sar de ser um livro sobre cozinhas eexperiências em torno delas, não há umasó receita nele porque ele mesmo seconstitui em uma receita. Porém não depratos, mas de vida.Gabrielle, aos 45 anos, mostra sua

vivência, desde a infância à fase adulta,apresentando um processo de idas evindas, crescimento, amadurecimentopessoal e descoberta profissional. Suainfância foi passada em área rural daPensilvânia, entre florestas, fazendas,riachos, celeiros e casas centenárias. Eladescreve a casa onde viveu como “umcastelo selvagem construído sobre ruínascarbonizadas de uma fábrica de seda doséculo XIX.” (p. 9).Em um cenário rústico, mas encan-

tador, esta filha caçula de cinco irmãosdescreve sua relação com o pai ex-hippiemeiodoidãoe construtor de cenários parafilmes, a mãe francesa, cozinheira ama-dora excepcional, os amigos dos pais, queestavam sempre por perto, familiares va-riados e habitantes dos vilarejos próximosà propriedade de sua família, comer-ciantes e conhecidos. Também descrevecomo seus sentidos foram aguçados, des-de bem cedo, pela natureza grandiosa desua região e pelos passeios com a mãe nafloresta para recolher o que fosse co-mestível: de cogumelos a frutos e raízes.Seu percurso foi marcado também pelaseparação repentina dos pais que pro-

vocouuma reviravolta inoportuna em suavida e na de seus irmãos. Obrigou-a alutar e a trabalhar para sobreviver etambém a se descobrir como pessoa eprofissional.Passou por apertos que fariam perder

muitos adolescentes e jovens: drogas,noites em claro, desamparo, solidão,experiências sexuais frustradas, bebe-deiras e relações malresolvidas com fa-miliares. Em meio a tudo isso, Gabrielleoptou por seguir trabalhando (onde des-se e sem que fosse uma decisão cons-ciente) naquilo que a havia impregnadodesde a infância remota: fazer comida

para alimentar os outros. Escolha (mes-mo que involuntária) acertada e re-dentora, pois acumulou, aos trancos ebarrancos (na alturados trinta epoucos),20 anos de experiência na cozinha como:lavadora de pratos, bartender, garçonete,ajudante de cozinha, cozinheira em bu-fês, colônias de férias e restaurantes. Atéque resolveu retomar uma carreira uni-versitária formal, interrompida anos an-tes. Tornou-se mestre em Literatura pelaUniversidade de Michigan, o que explicaparte de sua bem-sucedida investida li-terária. A outra parte corresponde ao seugenuíno talento para a escrita.

Seu ciclo se fecha (ou se abre) com acompreensão do que, na verdade, bus-cava, no fundo de suas experiências mar-cadas por mais baixos que altos: umaforma de realização “na” experiência enão foradela. Foi entãoqueabriuoPrune,construindo-o passo a passo, limpando-o,montando-o e o tornando um dos maiscaracterísticos restaurantes da cena no-va-iorquina atual, segundo grande parteda crítica gastronômica especializada.Daí ser esta obra um legítimo bil-

dungsroman. Um romance de apren-dizagem, de formação e desenvolvimento.Como na tradição alemã, de Goethe, e natradição inglesa, de Dickens e Joyce. Lem-brando o importante estudo da professoraCristina Ferreira Pinto (“O Bildungsromanfeminino: quatro exemplos brasileiros”.São Paulo: Perspectiva, 1990), no qual elaapresenta e analisa quatro autoras bra-sileiras de belíssimos romances de apren-dizagem, percebe-se “uma forma de rea-lizar essa dupla revisão histórica e li-terária”, neste romance de Hamilton.A personagem Gabrielle caminha em

direção ao seu próprio amadurecimentoe, em seu caso, particularmente, descobrequeméequepapel pode cumprir.Dáumavontade imensa de aprender como ela ecom ela – devido a sua genuinidade, suaclareza, sua abordagem firme e direta.Segundo Mario Batali: “Gabrielle Ha-milton aumentou e elevou o nível doslivros sobre comer e cozinhar. Vou ler estelivro para os meus filhos e queimar todosos que escrevi por não serem nada pró-ximos deste aqui. Depois vou tentar umavaga como lavador de pratos no Prunepara aprender com minha nova rainha.”Ao final deste belo relato de formação,

ficamosmesmocomuma imensa vontadede nos tornarmos “lavadores de pra-tos” de Gabrielle Hamilton.

TRECHOSem nenhuma decisão ou desejode minha parte, eu haviaacumulado quase vinte anos deexperiência na cozinha, contadosa partir do bico lavando pratos noThe Canal House naquele verãoadolescente. E ficara boa naquilo.Na Faculdade, conheci a escritorasulista Jo Carson, que me disse:‘cuidado com o que você aprendea fazer bem, porque é o que vaifazer pelo resto da vida’. E aquiloficou na minha cabeça parasempre.” (p. 118).

Documento:AGazeta_04_02_2012 1a. SABADO_CP_Pensar_3.PS;Página:1;Formato:(274.11 x 381.00 mm);Chapa:Composto;Data:02 de Feb de 2012 21:19:08

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4PensarA GAZETAVITÓRIA,SÁBADO,4 DE FEVEREIRODE 2012

“Glamour”, de Diana Vreeland, traz seleção de 170 imagens pontuadas por comentários daeditora que reinventou a forma de ver a realidade, a partir de sua criatividade sem limites

livrospor SILVANA HOLZMEISTER

MODA E ELEGÂNCIA PELOOLHAR DE UMA PIONEIRA

REPRODUÇÃO DO LIVRO “GLAMOUR”, DE DIANA VREELAND

GLAMOURDiana Vreeland. Tradução deCláudio Marcondes comprefácio de Marc Jacobs.Cosac & Naify. 208 páginas.Quanto: R$ 79.

Trecho(...) “Para mim, a coisa maisenfadonha que existe na Terra éficar preso ao mundo daquilo quese faz. Isso significa que aspessoas só esperam de você o queelas acham que vão conseguir.

Para mim, isso está longe de serum Grande Momento.Este livro não é sobre o passado.Estou em busca de outra coisa. Oque me interessa é a sugestão...de algo que nunca vi.”

Mick Jagger e Marilyn Monroe são alguns dos ícones do século XX analisados pela ex-editora da “Vogue” e da “Harper’s Bazaar”

uando perguntavam aDiana Vreeland a diferençaentre moda e elegância – enãoforampoucasvezesqueisso aconteceu – ela semprerespondia: “Moda é algopassageiro, que tem a ver

com a fantasia e o sentimento. Já aelegância é inato. Não tem nada a ver comestar bem-vestido. É uma qualidade quepossuem certos pensamentos e certos ani-mais.” Esse ponto de vista fez escola, assimcomotudoqueaprimeiraeditorapoderosadas revistas “Vogue” e “Harper's Bazaar”fez. Entender a lógicade seupensamento échave para compreender muitas das ques-tões que permeiam a moda, um universofascinante e cheio de caprichos. Pois está aíum dos grandes trunfos de “Glamour”.O livro lançado em outubro do ano

passado, pela Cosac & Naify, foi ori-ginalmente encomendado por Jacque-line Kennedy Onassis, nos anos 80,quando estava à frente da editora Dou-bleday. Foi batizado de Allure, que emfrancês significa “o modo de olhar”,termo bastante empregado quando sequer expressar a elegância de uma pes-soa. O título da versão emportuguês nãoo traduz fielmente, mas explica, de certamaneira, a evolução desse conceito.Com 170 imagens, é basicamente um

livro de fotos pontuadas por comentáriosfeitos pela editora, paginado como se elaestivesse preparando a edição de uma desuas revistas. Entre as mais impactantesestão as de uma cirurgia plástica depálpebra feita por Elliott Erwitt, que nãochegaram a ser publicadas. “Forammos-tradas para vários membros da equipe.Um deles saiu para vomitar, outros fi-caramenjoados e incomodados, outros...e eram mulheres profissionais... e nãoum bando de donas de casa”, critica ela.Somente Vreeland pôde comparar Bri-gitte Bardot e Mick Jagger: “Os lábiosdela tornaram possíveis os lábios deJagger”, explica.Com Vreeland nasceu o arquétipo e o

estereótipo da editora de moda excên-trica, capaz de mudar regras de estilo einfluenciar o comportamento das lei-toras. “Esse tipo de olhar contestador, e acapacidade de vislumbrar a beleza emtudo, é o que havia de mais extraor-dinário nela”, diz o estilista Marc Jacobs,no prefácio da edição brasileira. Se vocêassistiu à “Cinderela em Paris” (Funny

Face), dirigido por Stanley Donen, develembrar-se da editora de moda que de-creta que o pink era a nova moda e quetransforma a vendedora de uma livrariaem modelo. Essa personagem não só foiinspirada nela como traduz bastante seujeito de ser e de trabalhar.Reiventar os outros não deve ter sido

tarefa difícil para quem o fez consigo.Explico: nascida Diana Dalziel, em Paris,em 1903, filha de mãe americana e paiinglês, foi criada em Nova York. Desdecedo, tinhaa consciênciadequeera feia.Omais complicado era que a família con-

tribuía – a irmã era linda e a mãe achamava de “meu pequeno monstro”.Imagine... é bem provável que esse tenhasido o impulso que precisava para en-contrar outrosmeios de chamar a atenção:a inteligência, a facilidade em se co-municar e o cuidado com a imagem.Seu parceiro ideal não poderia ter sido

ninguém melhor do que o atraente ebem-vestido Reed Vreeland, com quem secasou em 1924 e teve dois filhos. Aindarecém-casado, o casal mudou-se para aEuropa, onde ela fez amizade com váriosmembros da aristocracia. Foi em Paris que

moldou sua personagem. Quando voltouaos Estados Unidos, seu visual repaginadocausou impacto e lhe valeu o convite, em1936, para assinar a coluna Why don'tyou?, na “Harper's Bazaar”.Em pouco tempo, virou editora de

moda e, durante 25 anos, fez história aolado da diretora Carmel Snow e do diretorde arte Alexey Brodovitch. As imagensfantásticas que criava a levaram para a“Vogue”, em 1962. Nessa altura, já erauma celebridade e uma profissional co-nhecida por seu comprometimento com otrabalho. Nem mesmo a morte de Reed,quatro anos mais tarde, interferiu no tra-balho.Diana ficouumadécadana “Vogue”até ser demitida. E, aos 68 anos, tornou-seconsultora do Costume Institute do Me-tropolitan Museum de Nova York. Suaprimeira exposição foi a deBalenciaga, em1973. Em1984, depois da retrospectiva deYves Saint Laurent, ela começou a terproblemas de saúde e a perder a visão.Dois anos mais tarde, afastou-se com-pletamente da vida pública. Morreu em 2de agosto de 1989. Sua allure, en-tretanto, continua viva e inspiradora.

Q

Documento:AGazeta_04_02_2012 1a. SABADO_CP_Pensar_4.PS;Página:1;Formato:(274.11 x 381.00 mm);Chapa:Composto;Data:02 de Feb de 2012 21:18:10

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5PensarA GAZETAVITÓRIA,SÁBADO,

4 DE FEVEREIRODE 2012

MINHAS MÚSICASDoris Monteiro. Microservice.29 faixas. CD duplo.Quanto: R$ 29,90, em média

falando de músicapor OSWALDO OLEARI

DORIS MONTEIRO,TRANÇAS E TALENTO

Orádio brasileiro podia seracompanhado pela “Re-vista do Rádio”, de An-selmoDomingos, cujas ca-pas privilegiavam celebri-dades dos anos 1940 e

1950. Dalva de Oliveira, Marlene, ElizeteCardoso, Hebe Camargo, Emilinha Bor-ba, as irmãs Linda e Dircinha Batista,Ademilde Fonseca, Isaurinha Garcia, Ze-zé Gonzaga, Helena de Lima, CarméliaAlves – a Rainha do Baião –, ClaudetteSoares, apelidada de Princesinha doBaiãopor LuizGonzaganoprograma “NoMundo do Baião”, nas tardes da RádioTamoio, do qual era ouvinte assíduo.Mal entradona idadeda aborrecência,

“nitinga” (*) de rádio, ouvindo tudo, decerta forma nossas carreiras embalaramsimultaneamente. Ela,menina de trança,e D. Ana, mãe de segurar pelo braço,cantando, o locutor que vos fala – assimfalavam os locutores – ouvindo, cole-cionando, didjeisando.Vozesmelodramáticas, carregadasnos

errrrres e agudos do gran finale. Não eraum chegado, diga-se, meiqui mais li-gadaço nos regionais de Canhoto, Ro-gério Guimarães, violão de Garoto, LuizGonzaga, Luiz Vieira, José Menezes, Ca-rolina Cardoso de Menezes, bons ins-trumentais que já curtia, sem feicibu-qui, nas Rádio Nacional, Mayrink Veiga,Tupi, Tamoio, as de Minas, Pernambuco,Porto Alegre, Bahia, São Paulo.Aquela voz, um tom mais baixo, deu

pra notar. Uma barreira sonora trans-posta por uma guria de quase 17 pintouno Telefunken de olho mágico, nome decantora gringa, Doris Monteiro. O abo-lerado “Se Você se importasse” (Peter-pan) revelava algo diferente das outrasvozes.No78 rpmela gravou “Fechomeusolhos, vejo você” (José Maria de Abreu).

CalourosAdelina Doris Monteiro (21 de outubro

de1934) surgira aos15anosnoprogramade calouros de Renato Murce, “PapelCarbono”, gravouem7deagostode1951,fez sucesso com a primeira música. Su-perou errrres e melodramas, tornando-serequisitada por novos compositores.Foi o que não faltou. Numa coletânea

pra registrar os sessentinha do primeirodisco, juntandooscincoprimeirosanosdeatuação, vê-se uns tais Luiz Bonfá, An-tonio Maria, Vinicius de Moraes, DoloresDuran, Antonio Carlos Jobim, FranciscoAnysio (Chico), Fernando Cesar. Destegravaraem1954 “GraçasaDeus”, sucessodimontão, e “Joga a rede no mar”, deFernando e Nazareno de Brito, que este

didjei usou como BG nos primórdios dovelho “Clube da Boa Música”, na RádioCapixaba, num solo de piano do maestroHenrique Simonetti. No mesmo 1954,Doris casou-se com Carlos Ruy Menezes,um promotor capixaba.Óia aí a gente se cruzando traveiz.

Três anos depois desse sucesso, conheciFernando Cesar, dono da Carlos PereiraIndústrias Químicas, fabricante de pro-dutos de limpeza. Estava no Rio mon-tando a discoteca da Rádio Carioca – domesmo grupo então dono da Rádio Ca-pixaba, onde eu era didjei, programadorda rádio, redator de comerciais, produtor,apresentador. Quem não ouviu progra-mas patrocinados pelo Sabão Platino nasgrandes emissoras cariocas nos fifties ousixties? Já era bacana ingleisá a escrita.Doris gravou muitas coisas de Fernando:“Conhece?”, perguntou ele. “Conheço deouvido”, respondi, “programomuita coisadela”. Ele me presenteou um LP de 10

A LETRAMOCINHO BONITOMocinho bonito,Perfeito improvisoDo falso grã-finoNo corpo é atletaNo crânio é meninoQue além do ABCNada mais aprendeuQueimado de solCabelo assanhadoCom muito cuidadoNa pinta de condeSe esconde um coitadoUm pobre farsante que a sorteesqueceu

Trecho da música de Billy Blanco,gravada por Doris Monteiro

polegadas com composições suas, queguardei com toda a reverência. Afinal, oprimeiro LP de 10 polegadas da DorisMonteiro presenteado pelo autor dasmú-sicas, didjei nenhum sisquece.Filha de zelador de prédio, Doris Mon-

teiro tornara-se artista muito solicitadacom seus fulminantes primeiros cincoanos, desde a gravação de agosto de1951. “Às custas do próprio talento”,testemunha o veterano jornalista e par-ceiro do Portal Don Oleari Ponto Com(donoleari.com), Rubens Pontes. Comodiretor de programação da TV Itacolomi,de Belzonte, Rubens viveu de perto os 8anos em que Doris foi estrela de umprograma da TV Tupi, também dos Diá-rios Associados: “Era recomendada pelobig boss Assis Chateaubriand, tinha tra-tamento vip, mas seu prestígio não sedevia a isso”, diz Rubens.Em 1951, chegava à buate do Co-

pacabana Palace – lugar de artistas top delinha – uma menina top veneno de tran-ças e voz amena. Dois anos depois, em1953, o cinema, no filme de Alex Viany,“Agulha no Palheiro”, tema de Cesar Cruze Vargas Júnior. Levou o prêmio de me-lhor atriz. Em1954, Viany chamariaDorispara outro, “Rua sem Sol”. Outro registroimportante: fez ao vivo e gravou o pri-meiro comercial da Coca Cola para atelevisão, em 1955, reunindo-se ao his-tórico grupo vocal Os Cariocas.No chipi do escriba, ficou registrado

como marco da carreira de Doris Mon-teiro a gravação de “Mocinho Bonito”, doeterno Bily Blanco, em 1956. Ao ouvir agravação, restou aquele senso de queestaria ela mudando de rota, de tons,amaciando mais e partindo pro seu de-finitivo. Afunilouo repertório e encontroua sua. Ano também em que Doris viveuepisódio que fez a delícia das vendas da“Revista do Rádio” e da imprensa mar-rom. Sim, meninos, nos anos 1950/60existiaumacoisa chamada imprensamar-rom. Maus tempos, aqueles...Quemsedeliciouquinemquinois coma

leitura de “Chatô, o Rei do Brasil”, deFernando Morais, conheceu a história daeleição de DorisMonteiro para Rainha doRádio. Assis Chateaubriand gastou 5 mi-lhões de cruzeiros em encalhes da “Re-vista doRádio”para elegerDoris aRainhade 1956. A história está no livro.Doris Monteiro e este cronicascateiro

foram dos discos de 78 rpm até astecnologias atuais da mudernidadi. Doriscontinua cantando. O autor destas bemtraçadas, programandoDoris e afins. Mú-sica boa não tem idade.(*) musquitim quinum dis-

gruda da pessoa

DIVULGAÇÃO

Em comemoração aos60 anos do primeirodisco de Doris Monteiro,coletânea reúne faixasgravadas pela cantoraentre 1951 e 1956

Documento:AGazeta_04_02_2012 1a. SABADO_CP_Pensar_5.PS;Página:1;Formato:(274.11 x 381.00 mm);Chapa:Composto;Data:02 de Feb de 2012 21:04:03

Page 6: PensarCompleto0402

7PensarA GAZETAVITÓRIA,SÁBADO,

4 DE FEVEREIRODE 2012

6PensarA GAZETAVITÓRIA,SÁBADO,4 DE FEVEREIRODE 2012

artes plásticaspor NENNA

UM ESPAÇOONDE A ARTEFEZ HISTÓRIA

O início das atividades da galeria, em 1977, se confunde com um período de transformações urbanas em Vitória, resultado da implantação dos grandes projetos industriais no Espírito Santo

ARTISTA VOLTA NO TEMPO PARA DESCREVEROS 35 ANOS DA GALERIA HOMERO MASSENA

DIVULGAÇÃO 27/09/2004

Situado na Cidade Alta, o local abrigou diversos modelos de produção artística em mais de três décadas de atividades, misturando a quase vanguarda e o estabelecido

ACERVO DEC

O artista Elpídio Malaquias com o coordenador Delton Souza em janeirode 1980; abaixo, Ivanilde Brunow expõe no local em maio do mesmo ano

Um espaço de arte possívelde ser adjetivado como“simpático”, mítico mes-mo, é a Galeria HomeroMassena. A proximidadedo aniversário de 35 anos

de suas atividades, em março, me pro-vocou uma rápida, sentimental e agra-dável viagem memorial, circulando en-tre os acertos e equívocos de uma tra-jetória que desde o início “permitiu” aapresentação de linguagens contempo-râneas em seu espaço e hoje continua aalimentar a arte praticada no Estadocom jovialidade e esperança.O início das atividades da galeria, em

1977, se confunde com o cotidiano daprovíncia em transformação. Muito de-sejada pelos artistas, a materialização dosonho do “cubo branco” – mesmo com opiso e o teto pretos (!) – foi resultado dasmudanças socioeconômicas ocorridas naimplantação dos grandes projetos indus-triais. Antes, as exposições eramrealizadasem locais improvisados, principalmenteno foyer do Teatro Carlos Gomes, com aestética da decoração interferindo radi-calmente na apresentação das obras e norelacionamento com os espectadores.Para algumas mostras, como nos sa-

lões nacionais organizados pelo MAMdo ES, ainda nos anos 60, as cadeiras naplateia eram retiradas e as montagensocupavam todo o teatro numa misturacaótica que incluía os camarotes e cor-redores, como pude vivenciar na ado-lescência. Pois é, tivemos um Museu deArte Moderna. Mas aí já é outra his-tória... que acabou na polícia!

Meu primeiro contato com o projeto,ainda manuscrito, foi em conversa comBeatriz Abaurre, então presidente da Fun-dação Cultural (a Secult da época...), quebatalhou e viabilizou politicamente a ideiade transformar o espaço destinado a umagaragem e subestação elétrica, numa ga-leria de arte. A inauguração, já na ad-ministraçãodeMarienCalixte, apresentouuma coletiva com artistas locais em ati-vidadenaqueleperíodo.Enfimestava con-cretizado o sonho de todos e terminado oprazo de validade do pedido/manifestoque lancei na instalação “Triste Trópico”,quatro anos antes, no Teatro Carlos Go-mes: “É necessário e urgente – nessaCapital – algo que se possa realmenteidentificar como uma galeria de arte”.Ocubonasceu “CentrodeArtesHomero

Massena”, um projeto claramente inde-finido do ponto de vista conceitual, outalvez totalmente definido, pois teria queabrigar todosos “tipos”deprodução,numaperspectiva ampla que incluía além dasdiversas áreas das artes plásticas, tambémo artesanato, o folclore, os concursos e oque mais pintar... misturando a quasevanguardaeoestabelecido.Obatismocomonomede umdos nossosmais conhecidospintores foi polêmico. Para mim, virouapenas “gHM”, que Homero Massena me-rece algo que lhe faça sentido.Em quase quinhentas exposições (!),

a galeria teve seus períodos de altos ebaixos no quesito “qualidade”, em fun-ção da personalidade e “gosto” do ad-ministrador de plantão. Inicialmentesob o comando de Delton Souza, pas-sando pelo poeta e crítico Carlos Che-nier, depois sob os cuidados de MariaHelena Lindenberg... o espaço quasesempre foi dirigido por artistas, comoBernadette Rubim, atual responsável.Lá se iniciaram ou se confirmaram

praticamente todos os talentos que com-põem a nossa história recente. De umalonga lista, quase interminável, tempe-rando a conversa, vamos destacando al-guns, por ordem de aparição: Nice, FredaCavalcanti, Kleber Galvêas, Dan Mendon-ça, Vilar, Hilal, CarmemCó,Wagner Veiga,AlbertoHarrigan, Celina Rodrigues, AttilioColnago, Marian Rabelo, Penithência...Nos anos 80,mesmo residindo no Rio,

provoquei a coletiva “Pinturas e o quePintar” em parceria com o BalãoMágico,o grupo iconoclasta da Ufes. Com TelmaGuimarães, Sáskia Sá, Deborah..., pi-chando paredes e provocando. E a listacontinua: Ivanilde Brunow, Ilária Rato,Marien Calixte, Lando, Regina Chulam,Neusa Mendes, Celso Adolfo, GilbertoChaudanne, Mac... e até Homero Mas-sena, num evento comemorativo de seucentenário de nascimento!No início dos anos 90, após reforma

ampla em sua estrutura, a galeria di-minuiu, acertadamente, o número demostras por ano. E a lista continuouaumentando: Ronaldo Barbosa, RosanaPaste, Rosi Ludovico, Raquel Bael-les, Fátima Nader, Marcos Neme...

Documento:AGazeta_04_02_2012 1a. SABADO_CP_Pensar_6.PS;Página:1;Formato:(548.22 x 382.06 mm);Chapa:Composto;Data:02 de Feb de 2012 20:56:59

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8PensarA GAZETAVITÓRIA,SÁBADO,4 DE FEVEREIRODE 2012

+ artigo de capapor NENNA

DIVULGAÇÃO

O gestor Marien Calixte com Frans Krajcberg em maio de 1978: intercâmbio

GALERIA RECEBEU MOSTRAS NACIONAISFrans Krajcberg, Carybé, Burle Marx e Sebastião Salgado fizeram exposições na HomeroMassena, que hoje destina sua programação quase que exclusivamente aos artistas locais

Atualmente, a programa-ção da galeria está fo-cada quase que exclu-sivamente nos artistaslocais, o que é um ca-minho correto em fun-

ção da composição com os outrosespaços disponíveis na Capital, masno período anterior alguns artistasvisitantes frequentaram a galeria.Entre eles Krajcberg, que teve seuprimeiro contato com a cidade emuma individual a partir de um con-vite do saudoso jornalista AlvinoGatti. E ainda Carybé, Burle Marx...e dois capixabas residentes e ematividade no Rio: Paulo Herkenhoff,quando ainda dublê de artista em1980, e o genial escultor MaurícioSalgueiro, na mostra “Sólido-Insó-lito”, que ocupou também outrosespaços na cidade.Sebastião Salgado foi outro visi-

tante de uma área sempre prestigiadapela gHM: a fotografia. Por lá pas-saram Pedro Fonseca, fotógrafo muitoativo nos anos 50 e 60; Rogério Me-deiros, Érico Hauchid, Walace Neves,Paulo Bonino, Annie Cicatelli, Hum-berto Capai, Tom Boechat...Com a virada do século, a lista

continua: Fernando Accarino, Julio Ti-gre, Jeveaux, Nortton... destacando-sea instalação de Elisa Queiroz, um dosmelhores aproveitamentos do espaço,com a obra “Wonderbra”, um múltiploe enorme “soutien” preenchido combolas, que ocupava toda a galeria.Também Luciano Boi, Luciano Car-doso, Carlos Crepaz, Yvana Belchior,Alex Vieira, Molécula Hna...O “Coletivo Maruípe” realizou, em

2004, uma bem animada interven-ção que ultrapassou o espaço damostra, desenvolvendo atividades epossibilidades em todo o prédio, e

Marcelo Gandini foi responsável poroutro clássico, com “Projéteis”, emque a partir de um fato pessoaldesdobrou a violência urbana emarte vigorosa.Hoje, a “simpatia” tradicional do

espaço se amplia também no apoio aeventos, como as edições do “tram-polim_”, doMarcus Vinícius, e a outrosprojetos importantes no desenvolvi-mento de uma arte não acomodada.Quando convidado para fechar o

calendário de 2005, com a instala-ção/eletropajelança “Brasil”, me deiconta da paixão graciosa que tenhopela galeria. Percebi que tinha rea-lizado individuais em todas as dé-cadas de sua existência: “Taru”, em1979; “Noturnos”, em 1981; “Vydeo”,em 1993; e agora, em maio, mais umaeletropajelança: “Tempo”! Virou pro-messa a ser cumprida a cada década,festejando os novos talentos e ab-sorvendo um pouco da energia de umespaço único em nossa história. Issonão tem preço...Sobre o futuro da galeria, relembro

uma palestra, do início de 2007,“gHM: destino e arredores”, em que,além de chamar a atenção para alocalização estratégica, com seu en-torno de equipamentos culturais exis-tentes e previstos, defendi tambémuma ampliação física do espaço, co-mo duplicar a altura do pé direito eocupar outros andares no edifícioabandonado. São possibilidades ain-da reais. Um rumor ventilado na épo-ca foi o de que o prédio seria im-plodido, juntamente com o edifíciodo Tribunal de Justiça, e a área trans-formada num belo parque para aCidade Alta. Gostei da ideia, mas coma gHM ocupando uma galeria sub-terrânea. Persistindo!Como o vento sul...

Calendário de exposições de 2012:

07.02 a 16.03“ Os Diários de Beatriz ” – Beatriz RamosRibeiro

27.03 a 27.04“Quinquilha-transfiguração iconografiamanufaturada” – Reinaldo Freitas Resende

08.05 a 08.06Nenna – ”TEMPO [ uma eletro-pajelança] –Nenna”

18.06 a 20.07“Duração e Finitude” – Larissa da Rosa Roveré30.07 a 31.08“Íntima idade” – Débora Benaim Cruz

10.09 a 12.10– “Aquilo que se vive enquanto se lembra” –Polliana Dalla Barba

22.10 a 23.11“Deserto Gráfico” – Luciano Barreto Ramos

03.12 a 31.12“A grande justificativa” – Rodrigo Hipólito dosSantos

A Galeria Homero Massena fica na Rua Pedro Palácios, 99,Cidade Alta, no Centro de Vitória. Visitas guiadas: (27)3132-8395.

FLAVIO MATOS/ACERVO DO DEC

Paulo Herkenhoff, na foto com José Augusto Loureiro, expôs no local em março de 1980

Documento:AGazeta_04_02_2012 1a. SABADO_CP_Pensar_8.PS;Página:1;Formato:(274.11 x 381.00 mm);Chapa:Composto;Data:02 de Feb de 2012 20:39:26

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9PensarA GAZETAVITÓRIA,SÁBADO,

4 DE FEVEREIRODE 2012

poesias

SÉC. XXIÍTALO CAMPOSStrike, drive, bruuumm,Ziiip, zooomp, xiii,vivo o tempo do ruído.

Brake, traque, puuf,Rac-rac, pum, trech,O zumbido em meus ouvidos.

Toc-toc, vrooomm, plim,ai, ai coitado de mim.Cansei de ser moderno,agora serei eterno.

crônicas

O QUE NUNCAEXISTIUpor NAYARA LIMANão sei se você já passou por algoparecido, mas descobri há poucos diasque vivi quase a vida inteira acreditandoter existido um conto que descrevia oamanhecer numa cidade distante, entrecasas simples. A imagem que do textoficou em mim não a revelo aqui porinteira. Velo, no entanto, em noite can-sativa: porque o texto nunca existiu. Amemória machuca os pés, cansa osdedos, tenta em vão encontrar aquelatarde na carteira da escola, a professoralendo em voz alta o trecho, aquele,emocionada. Entãome dou conta, aindalá, e me sinto lágrima para a imagembonita. A professora repete: “Percebem?Alguém percebeu o que o conto disse?Meninos, meninos, escutem: é o diaamanhecendo, olha que diálogo bonitoque a autora fez, de um galo para outro:de umpara outro de umpara outro... elaconseguiu que eles todos... e o universo

ali, de bairro em bairro. Meninos, vocêsnão conseguem ver?”Eu havia conseguido. Eu segurava o

choro, tirava o conto das mãos para queele não percebesse que eu o tinha porcompleto, para que ele não percebesseque, sempedirparaver, euoestavavendo.Ocorre que agora minha vista embaça, aspalavras de pouco em pouco deixam deexistir, até que ele mesmo nunca tenhavindo ao mundo. Até que, mais, mais doque a tarde na carteira: até que o sen-timento daquela tarde viva se transformeno espaço vão de entre os seus dedos, nainterrogação de sua boca quieta, na cer-teza que seu corpo tem de mim.O conto invisível me salta aos olhos,

vazio. Despido da poesia, do nome daautora, da data de publicação, do livrode onde estava a página, da voz adultaclamando, eufórica: “Meninos, vocêsprecisam ler de novo até que vejam”.

Talvez fosse engano meu pensar tervisto. Se não existe, não vi. Emboraexista sua dor e eu nunca a tenha visto.Enterrar um conto que não existe échorar à noite pela dor que desconheço,éme despedir do homemque não amei.Do filho que, morto, nunca nasceu.Não louvo o mistério, mas o admito.

Minha fé se sustenta num conto ine-xistente. Ele éodeusminúsculomaiorqueeu. Mas o que via então a professoraeufórica repetindo as palavras como serezasse o terço emdia de livramento?Nãosei. Estou agora com o ombro direitodolorido. Séria, calma, escrevoo fimdessetexto que me torna também uma ilusão.Seus olhosme perdematé que, de palavraem palavra, eu me ausente discreta doparágrafo que você, porque não sou eu,está vendo aqui. Dói mesmo o ombrodireito. Agradeço ao leitor pequeno quemeescreveu: “Meuspais começaramameobrigar a ler. Te vi almoçando no res-taurante e minha mãe falou que vocêescreveparao jornal.Mesmocomfebreeuvim te dizer que seu texto parece men-tiroso igual eu sou, mas nem eu e nem elesomos. Como você consegue ter coragemde comer legumes?”

STELLApor FLÁVIA DALLA BERNARDINA

Sigo rápido, rápido. A vida vem atrás mepedindo para crescer. Eu vejo as coisas.Eu entendo, mas não sei dizer. Acho queaminha compreensão está atrás damen-te. Ou melhor, a mente não participa daminha compreensão.O que acontece comigo é grande, mas

parece bobo. Talvez por perceber que sejagrande, eu diminuo para que não seja tãogrande assim. É assim que vou supor-tando todas as passagens, todas as idades,é assim que vou suportando crescer.É verdade, não adianta diminuir.

Tudo continua grande dentro de mim.Eu sinto muito pelo dia em que co-meçarei a negociar e deixar a menteparticipar de algumas decisões. Porenquanto, tudo é o que é.Penso constantemente em ficar mais

velha. Quem sabe essas angústias acabam.Com a chave do carro na mão e um filho,minhas dúvidas dissiparão, minhas pe-quenezas se tornarão maiores.Ouço e discordo, mas ainda não

tenho voz, ainda não posso falar. Estou

crescendo e como não sei para ondevou, ainda não sou vista. Quem meenxerga está geralmente na mesmaidade que eu. Algumas pessoas maisvelhas que devem ser sensíveis meolham nos olhos e sinto que me veemcomo eu realmente sou. Eu me animo,com esperança, com meus grandesolhos amendoados e minha boca pe-quena, que pouco fala. Elas veem alémdisso. Talvez elas enxerguem a gran-deza das minhas pequenezas.Tenho um amigo com quem gosto de

conversar. Ele admira a minha ino-cência e teme pelo mundo e pelo queele pode fazer comigo. Ele nunca medisse, mas tem medo que eu cresça emude, que perca a pureza.Mas sem a pureza o que sobra em

mim? Eu acho que nada, por isso, desdeagora, vou estar atenta para crescercom destreza, jogo de cintura, olharprofundo e sentimento.Vou me admitir. Vou me admitir na

minha própria vida, com as profun-

dezas que me escolhem para ser eu. Sóconsigo pensar emminhas qualidades edefeitos como meus amigos, porqueeles me escolhem para que eu seja cadavez mais eu – sem ser tanto eu assim.Ainda sigo rápido, mas já desace-

lerei. As músicas e os livros me ajudama perceber as coisas na velocidade dosilêncio. Parece que estou no mesmoritmo, mas não, eles têm a habilidadede me parar para perceber as bonecasna minha estante, que um dia tantogostei, perderem o sentido. Elas po-deriam ir para o lixo,mas está difícil medesfazer delas. Elas olham para mim,mortas. Eu também já morri com elas.Está na hora. Não sei como será,

ainda não tenho chave de carro, nemfilho. Despeço-me explicitamente comum banho de mangueira. Molho minhaamiga, fazemos bagunça. Acho que issovai continuar, com menos frequência,mas deve continuar. Corro, paro, gar-galho. Sinto saudades, mas tenho queir. Chegou a hora.

SÓEu só quero viver de pó...Emas, no meu cerrado sem fim...Ai de mim!Eu sóquero póemas distante do mar assim.Ai, meu Deus, como é ruimas coisas acontecerem no fim...Da viagem, além da bagagem,eu trouxe pó,emas e solidão.

DECERTOMe desertei por uns tempos,sequei meus córregos,regos e veias.Meu coração depileide todo verde,saarizei minha mente.Por uns tempos me areeie nada em cima,talvez vapor de secura,bafo de boca fechada,talvez nada.Me deserdei por todos os tempos etempos.Me desertei.

DE NOVOUm tiro no escuro:barulho.Meu coração caindonoutro mar, obscuro.Instinto, pressinto,será mais um tento,minto que consigo,se não conseguir,invento.

DO AMORTodo amor que contacomeça com era uma vezmetade conto-de-fadasmetade jogo-de-xadrez.

Documento:AGazeta_04_02_2012 1a. SABADO_CP_Pensar_9.PS;Página:1;Formato:(274.11 x 381.00 mm);Chapa:Composto;Data:02 de Feb de 2012 20:32:53

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4 DE FEVEREIRODE 2012

10PensarA GAZETAVITÓRIA,SÁBADO,4 DE FEVEREIRODE 2012

artigopor SANDRO PENNA

A FORÇA DO JINGLE NASCAMPANHAS ELEITORAIS

EVARISTO BORGES/25/11/1990

Perfil

Livro de Carlos Manhanelli aponta as origens das canções publicitárias no país e a suainfluência na eleição de vários políticos brasileiros, de Getúlio Vargas a Dilma Rousseff

JINGLES ELEITORAIS EMARKETING POLÍTICO –UMA DUPLA DO BARULHOCarlos Manhanelli. SummusEditorial. 248 páginas.Quanto: R$ 55,90

Jingles inesquecíveisOuso das redes sociais ga-nha cada vez mais espaçonos debates sobre a co-municação política elei-toral, mas o jingle, umaantiga e eficaz ferramen-

ta, continua sendo peça-chave nas cam-panhas. Além de ditar o ritmo, o bomjingle divulga as qualidades do can-didato, consolida as opiniões favoráveise modifica as adversas.Em “Jingles eleitorais e marketing

político –Umadupla do barulho”, CarlosManhanelli analisa o contexto históricodas eleições presidenciais no Brasil, tra-ça um perfil dos principais candidatos apresidente da República e reproduz le-tras dos jingles mais famosos, anali-sando suas marcas discursivas.O livro é resultado de anos de pesquisa

de um dos mais experientes consultorespolíticos do país. De Getúlio Vargas aDilma Rousseff, Manhanelli mostra a re-lação dos jingles com as campanhas vi-toriosas e aponta erros que comprome-teram o desempenho de candidatos.No capítulo inicial, o leitor conhece os

conceitos do autor sobre marketing po-lítico, um trabalho de longo prazo, e omarketing eleitoral, uma empreitada comhora para começar e acabar. Ao investigaras origens do jingle no Brasil, Manhanelliinicia um passeio pela história do país econecta a história da música política à daindústria fonográfica e à do rádio, res-ponsável por levar os jingles eleitoraispara as massas.Em um dos trechos, o autor destaca a

importância da música na campanha: “Ojingle eleitoral é visto como uma hábilferramenta para atrair a atenção dos elei-tores, além de emocioná-los, sendo capazde ditar a direção discursiva dos caboseleitorais e militantes, ou seja, orientá-lospara que possam transmitir um discursoúnico, objetivo e persuasivo”.Para o neurologista britânico Oliver

Sacks, autor do livro “Alucinações mu-sicais” (Companhia das Letras, 2007, 368págs.), umdosmaiores poderes damúsicaé controlar a emoção, desenvolver e pro-vocar respostas emocionais. Os estudos deSacks apontam que, anatomicamente, al-gumas regiões do cérebro afetadas pelamúsica estariam perto daquelas ligadas àsemoções, envolvidas nas percepções doscheiros que despertam memórias.Manhanelli considera que o sucesso do

jingle eleitoral é favorecido pela escolha

do ritmo edamelodia adequados à regiãoe a sua época, sendo agradável, de fácilassimilação e, principalmente, tendo acapacidade de “grudar como chiclete” noouvido dos eleitores como parte do efeitopersuasivo que se almeja.Aparentemente inofensivos, os jin-

gles são estrategicamente estruturadose elaborados para causar impacto noeleitor, exigem técnica e envolvem, en-

tre outras atividades, uma pesquisasobre o perfil do candidato.Em seu livro “Comunicação e poder -

A emergência do marketing na políticacapixaba” (GSA Gráfica e Editora, 2010,176 págs.), a jornalista Helena de Al-meida transcreve um trecho da entre-vista do ex-governadorAlbuínoAzeredo,em que ele demonstra a força do jinglede sua vitoriosa campanha, em 1990, ao

lembrar a emoção das crianças quandoera recebido nas escolas: “Quando euchegava nas escolas, elas começavam:Albuíno, esse é o homem...”.Entre os jingles apresentados no li-

vro de Manhanelli está o da campanhado ex-governador Max Mauro, em1986. Um dos trechos da música, emritmo de samba-enredo, diz assim:”Quero tudo que tenho direito/Quemvai dar o jeito/É você, doutor.”

Do rádio ao YouTubeGrandes nomes da música popular

brasileira já compuseram jingles parapolíticos. Gravado por Francisco Alves, osamba de Sinhô “Eu ouço falar”, co-nhecido como Seu Julinho, foi criadopara a campanha presidencial de JulioPrestes em 1929. “Ô Seu Toninho/Daterra do leite grosso,/ Bota cerca nocaminho/Que o paulista é um colosso.”Seu Toninho era Antônio Carlos de

Andrada, presidente de Minas Ge-rais, que não aceitava a candidaturade JulioPrestes, deSãoPaulo, emum

rompimento da política do café comleite. Lamartine Babo criou a mar-

chinha “Gê-Gê”, para a campanha deGetúlio Vargas, principal opositor dePrestes. A música foi gravada por Al-mirante, juntamente com o Bando deTangarás e a Orquestra Guanabara.Em 1960, Herivelto Martins e Be-

nedito Lacerda criaram o jingle para acampanha de Adhemar de Barros a pre-sidente, chamado “Caixinha do Adhe-mar”. A música foi gravada por QuincasGonçalves (pseudônimo de Nelson Gon-çalves) comaOrquestraCarioca.O jingletentava mudar no eleitorado o conceitoda famosa caixinha do Adhemar, en-tendida como símbolo de propina.Chico Buarque de Hollanda adaptou a

música “Vai Passar”, feita emparceria comFrancis Hime, para a campanha de Fer-nando Henrique Cardoso à Prefeitura deSão Paulo, em 1985, e Dominguinhosemprestou seu talento aos tucanos in-terpretando os jingles das campanhas deFernando Henrique Cardoso, em 1994 e1998, e de Geraldo Alckmin, em 2006.Nas cidades do interior do país é

Trechos“O jingle eleitoral é visto comouma hábil ferramenta para atraira atenção dos eleitores, além deemocioná-los, sendo capaz deditar a direção discursiva doscabos eleitorais e militantes, ouseja, orientá-los para quepossam transmitir um discursoúnico, objetivo e persuasivo.”

“Fazer um jingle eleitoral exigetécnica e envolve, entre outrasatividades, uma pesquisa sobreo perfil do candidato. Antes decriação do jingle para umacampanha eleitoral, é precisodescobrir o que o povo pensa docandidato, entender o ambienteeleitoral e determinar se o temaserá a mudança ou acontinuidade.”Carlos Manhanelli Autor do livro“Jingles eleitorais e marketing político”

SEU GETÚLIO OU GÊ-GÊ (1929)Autor: LamartineBabo (foto)Intérprete:Almirante com oBanda deTangarás e aOrquestraGuanabara

“Só mesmo comrevoluçãoGraças ao rádio e ao parabélum,Nós vamos ter transformaçãoNeste Brasil verde-amareloGê-e-Gê/t-u-tu/l-i-o-lio/Getúlio”

SEU JULINHO VEM (1929)Autor: SinhôIntérprete:Francisco Alves(foto)

“Ô Seu ToninhoDa terra do leitegrosso,Bota cerca nocaminhoQue o paulista éum colosso.”

LULA LÁ (1989)Autor: Hilton Acioli

“Lula lá, brilha uma estrelaLula lá, cresce a esperançaLula lá, o Brasil criançaNa alegria de se abraçarLula lá, com sinceridadeLula lá, com toda a certeza pra vocêUm primeiro votoPra fazer brilhar nossa estrela”

AVANÇAR, SEGUIR EM FRENTE(1998)Autores: P.C. Bernardes e NizanGuanaesIntérprete: Dominguinhos

“Levanta a mão e vem com a genteVamos láVamos seguir nosso caminhoVamos láPra avançar, seguir em frenteFernando Henrique presidente”.

Os ex-governadores Albuíno Azeredo e Max Mauro: jingles determinantes na vitória

comum candidatos se apropriarem demúsicas de sucesso para a criação de seusjingles. Foi o caso da pequena Itagipe(MG), conforme conta Manhanelli. Paraalardear seu grande feito na adminis-tração, o de asfaltar quase toda a cidade,o prefeito local colocou carros de sompara circular pelo município de 11 milhabitantes, tocandoo refrão “Poeira, poei-ra, poeira, aqui não tem poeira”, durantesua campanha para a reeleição. O refrãoera um pouco diferente da música “Sortegrande”, sucesso na voz de Ivete Sangalo.A melodia era a mesma.Na eleição de 2010, a campanha a

presidente de Plínio deArruda Sampaio,do PSOL, usou uma vinheta com abatida inicial de “We will rock you”, doQueen, e “Beat it”, de Michel Jackson,virou jingle de Lindolfo Pires, candidatoa deputado estadual na Paraíba. A ver-são da “paródia” do candidato a de-putado se multiplicou no YouTube, maso jingle foi retirado do seu site depois deuma ação judicial da Sony Music, quedetém os direitos das músicas doastro pop americano.

SIDNEY CORRALLO/AE

>

>Chico Buarque adaptou “Vai Passar” para a campanha de Fernando Henrique Cardoso à Prefeitura de São Paulo, em 1985

O autorCarlos Manhanelli é presidente daAssociação Brasileira de ConsultoresPolíticos. Formado em Administração deEmpresas, é mestre em Comunicação pelaUniversidade Metodista de São Paulo eprofessor do curso Master emAssessoramento de Imagem e ConsultoriaPolítica (MAICOP) da UniversidadePontificia de Salamanca (Espanha). Épublicitário, jornalista e radialista. Autorde diversos livros, entre eles “Eleição éGuerra – Marketing para CampanhasEleitorais” e“EstratégiasEleitorais –Marketing Políticoe MarketingPós-Eleitoral”,editados pelaSummusEditorial.

Documento:AGazeta_04_02_2012 1a. SABADO_CP_Pensar_10.PS;Página:1;Formato:(548.22 x 382.06 mm);Chapa:Composto;Data:02 de Feb de 2012 20:19:45

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12PensarA GAZETAVITÓRIA,SÁBADO,4 DE FEVEREIRODE 2012

ficçãopor TAVARES DIAS; ILUSTRAÇÃO DO COLETIVO PEIXARIA

DUETO INACABADO“Quantos tocam a vida sem desfrutar da afinação de tamanha magia?”, pondera o narradordeste conto sobre um encantamento que vem surgindo de leve e, de repente, vira amor

encantamento vem sur-gindo de leve, sem pla-nejamento.Na abertura, uma re-

lação profissional que en-volve criatividade, rapi-

dez de raciocínio, empatia, algumasíntese no falar. E um gestual con-vergente e harmonioso.No interlúdio, entram em cena sor-

risos sociais, gestos de cortesia que en-tremeiam discussões técnicas, críticas,avaliações, retomadas de decisões a par-tir de ideias quase sempre bem-humo-radas. E o amor pelamúsica, pela poesia,pelas artes e pela boa política.Então, um dia, um olhar se demora

no outro sem saber o nome da belezaque a beleza vê.Em reuniões de trabalho a dois,

quem os vê pode notar os troncosinclinados, um na direção do outro, ostoques dela no cabelo, a mão quealcança o braço dele, que o toca emmeio a uma frase, como que a buscaruma ênfase extralinguística.Reuniões intermináveis, porque as

conversas servem, muitas vezes, só desustentação para sentimentos que, oraquase totalmente submersos, ora timi-damente se arriscando à flor-dágua,criam um quantum energético de orgoneque acalma e faz os corações acreditaremem algo já de há muito esquecido: umdesejo de querer sem precisar assumir oquerer, sem desrespeitar antigos con-tratos, sem ousar ameaçar o estabelecido,sem lesar importantes afetos sedimen-tadosque tantoconfortamquantodeixamàs vezes um vazio que sempre haverá emtoda a gente, em todas as gentes.Ambos, íntimos de versos, de semi-

breves, mínimas, semínimas, colcheias,semicolcheias, fusas e semifusas. E pre-nhes da sensibilidade que umdia os levouà música, aos amores já vividos, às pai-xões já desatadas, às dores lancinantesque cicatrizaram com o tempo e trou-xeram maturidade mas também o medode se atirar no vórtice de nova paixão.Do lado dele, o momento é de

autorreconstrução afetiva. O que nãoo impede de tratar aquele encan-tamento como a uma flor.De cada encontro, sai impregnado

dela, de seu perfume, de seu sorriso, seustoques suaves, sua linguagem corporalcuja eloquência encanta porque flui do

inconsciente, sem premeditação, sem se-dução consciente. Insights. Fica assimpor dias, acorda de madrugada pen-sando nela, se possui na intenção dela,como no samba do mestre Martinho.E Ele então lhe mostra, um dia,

num misto de responsabilidade e te-mor do que cresce de allegro paraallegro vivace, como estão envolvi-dos naquele alumbramento.Escolhe não prolongar os breves en-

contros sociais em cafés e confeitarias, as

conversas que seguem na direção dadesejável completude do desejo. Con-forme aprendera exatamente commoçasimportantes comoEla, que ohaviam feitoperder o medo do amor e das mulheres,por conta dos mergulhos fundos que jádera na paixão e no amor, com coragemeintensidade, sente-se no dever de jogarclaro, de não irreverenciar sentimento,nem alegria nem prazer.E Ela então se retrai. Percebe que

Ele se aproximara demais, ainda quecom integrais licença e estímulo, dolimite que Ela se propusera paraaquele momento de sua vida.E então o arco se parte e as cordas

se rompem. Não suportam ser sub-metidos ao denso plano do verbo –onde trafegam signos como semi-tons, culpa e outros pesos.Ambos sabem que agora, quando se

encontram, percebem a amperagem docarinho contido nos gestos de amizade.Está tudo ali. E Ele gosta da con-vivência, da história do encanto queficou pra trás, porque aquele bonitoencantamento ajuda a fazê-la com-preender ou se lembrar de que háhomens que poderiam ser bons aman-tes, e que, mesmo sem terem se in-cendiado na febre das delícias no leitoda amada, conseguem seguir sem as-sediar nem mostrar ressentimento. Epodem guardar silêncio.Sente-se pacificado, mesmo ao pen-

sar nos sorrisos não compartidos; nosolhos que já não se perdem nos olhos;que o pulsar de toda ela, gravada namemória de todos os seus sentidos, nãose repete mais; que nunca compuseramuma música inteira; que os cheirosfêmeos dela, seu suor nem seu calornem suas texturas nem sua umidadenem movimentos estão registrados namemória; que os corpos nunca se per-deram nos corpos até que ambos des-conhecessem, momentaneamente, anoção de onde começasse cada um eterminasse o outro, que é como se dá naunicidade do grande Amor.Faz mal não. Quantos tocam a vida

sem desfrutar da afinação de tama-nha magia?Ele sabe que se a paixão é um salto

no escuro, o Amor é um porto segurosuspenso no ar.E então, bem lá dentro de si,

sorri, porque vivo e inteiro está.

O

Documento:AGazeta_04_02_2012 1a. SABADO_CP_Pensar_12.PS;Página:1;Formato:(274.11 x 381.00 mm);Chapa:Composto;Data:02 de Feb de 2012 20:18:07