pelo amor do jogo

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  • 7/25/2019 Pelo Amor Do Jogo

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    Pelo amor do jogo: Peter Sloterdijk e o debate pblico em Biotica[1]

    Mary V. Rorty[1]

    I. Introduo

    No vero de 1999, um proeminente filsofo alemo proferiu um comentrio a respeito daCarta sore o !umanismo" de !eide##er para uma pe$uena confer%ncia internacional de

    &ilosofia em 'lmau, na (leman)a. ( audi%ncia era limitada* o conte+do e o tom, elevados* ocenrio, remoto mas )avia uma vasta e indi#nada discusso na imprensa alem.

    'ste arti#o discute de modo reve o Re#ras para o Mensc)enpar-" de eter /loterdi0-,oserva al#umas diferenas vias nas rea2es nacionais 3s mesmas $uest2es io4ticas e levanta

    al#umas outras $uest2es sore o a funo da 5io4tica e dos io4ticos no deate p+lico.

    II.

    !"lmauer #ede$

    /e o !umanismo 4 a tradio de cartas 6escritas7 para ami#os poss8veis" $ue /loterdi0-afirma, ento, como ele i#ualmente atesta, o !umanismo ou est morrendo ou 0 est morto, 0

    $ue menos e menos pessoas leem ou se importam com o cnone clssico: os livros $ueconstitu8ram a fonte principal de educao dos )omens do passado. 'le en;er#a na incurso da

    m8dia de massas o fim da instruo educacional como a con)ecemos. /ua analo#ia 4 umcontraste entre os livros dos filsofos e os 0o#os de anfiteatro do passado de um lado e, de outro,

    esses mesmo livros e a viol%ncia dos video#ames de )o0e um tendendo para a domesticao"*o outro, para a estialio, a al#o muito similar ao deus $ue ele estava tentando sustituir, etam4m por afast>lo ruscamente de seu eu animal e corporificado. No lu#ar, /loterdi0- prefere

    a metfora do auto pastoreio. = )omem no 4 o pastor do /er, mas 4 o pastor edomesticadorBcriador do )omem.

    /e somos primariamente dependentes de ns mesmos para a nossa pacificao emel)oria, o $ue podemos esperar em termos de t4cnicas e auto>mel)oria = $ue e como

    podemos ensinar se os livros esto fora de moda e dois mil%nios de tradio )uman8stica, comoa !istria recente su#ere, t%m se provado in+til

    Voltando>se para o D)us /po-e Earat)ustra" de Niet

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    !eide##er distin#ue os )omens e os outros animais de forma cate#rica ao enfatitecnol#ica $ue as pessoas tendam para o lado ativo ou

    su0etivo da seleo, sem nimo de ter sido foradas a assumir o papel de selecionadores. @Como

    evid%ncia, pode>se notar $ue ) um desconforto com o poder de voto, e em reve se tornar uma

    opo de inoc%ncia se as pessoas e;plicitamente se recusarem a e;ercitar o poder de escol)a $ue

    elas con$uistaram.A or4m, to rapidamente $uanto o con)ecimento definitivo @Jissenmac)tA

    tem positivamente se desenvolvido numa rea, muitas pessoas so consideradas menores se

    como nos tempos passados e mais inocentes elas permitem a um poder maior, se0a ele ou deus

    ou sorte ou $ual$uer outro, a#ir em seus lu#ares. ?esde $ue a simples recusa ou omisso tende a

    revelar sua esterilidade, pode muito em acontecer de, no futuro, o prolema ser ativamente

    confrontado pela formulao de um cde; de antropo>tecnolo#ia. Dal cde; poderia tam4m

    alterar retroativamente o si#nificado do !umanismo clssico para, assim, tornar>se p+lico e

    oficial $ue o conte+do do !umanismo 4 no s a aliana do )omem com o )omem* ele poder

    tam4m implicar, e fatecnolo#ia". No curso do dilo#o, ele afirma, as

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    re#ras de comportamento", a$uelas pelas $uais a#entes racionais livres voluntariamente

    #overnariam a si mesmos, so #radualmente sustitu8das por um cde; de consentimento",

    caracter8sticas de indiv8duos, por $uem eles podem ser criados por correspond%ncia criteriosa

    $ue os fara cidados produtivos de um estado em #overnado.

    = $ue lato p2e na oca do 'stran)o 4 o pro#rama de uma sociedade )uman8stica $ue 4

    incorporado em um +nico (lto>!umanista @!i#)>!umanistA, o sen)or do r4#io pastoreio. (

    tarefa desse /uper>!umanista @Ler>!umanistA seria no menos $ue o plane0amento das

    caracter8sticas de uma elite, cu0os memros devem ser nutridos para o em de todos. [(]

    ( tarefa do !umanismo 4 a domesticao" do )omem, reprimir a estialidade e

    encora0ar a civilidade* mas o fim da cultura literria dei;a apenas a compan)ia da leitura e a

    criao como meios restantes dispon8veis para o avano da civili

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    ( se#unda ami#uidade repousa na sua atitude em relao a essas novas possiilidades

    cintilando no nosso )orise ler a 'lmauer Rede" como su#erindo $ue a nova #en4tica

    oferece possiilidades positivas para o futuro )umano. Mas o lado escuro dessa interpretao

    positiva 4 $ue ela nos fora a ponderar se ele realmente acredita $ue a$uelas possiilidades

    podem somente ser alcanadas aandonando o mundo de si#nificado pelo mundo da iolo#ia efase do tom am8#uo de sua descrio, acusam>no de t%>lo feito. Dam4m

    no, de $ual$uer maneira ele e;plicitamente desacredita essa afirmao. ( aus%ncia de uma

    mensa#em clara, a suspeita de $ue ele pretendia lidar com amos os camin)os, foi uma das

    cr8ticas mais repetidas nas respostas a sua palestra.

    I,. -entica e debate pblico

    / na (leman)a o deate seria to erudito $uanto o #erado por /loterdi0-. Classicistas,

    fillo#os, filsofos, #eneticistas e intelectuais de cada canto da (leman)a culta responderam.

    /loterdi0- foi massacrado por sua interpretao de !eide##er, de Niet

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    mensa#em dos mila#res $ue se encontram no futuro atrav4s da ci%ncia #en4tica no prefi#ura a

    transformao mais uma ve< do termo eu#enia de modo a $ue ele volte a ocupar o mesmo lu#ar

    positivo, o mesmo papel positivo $ue possu8a no in8cio deste s4culo6P7. @(t4 19PQ, eu#enia era

    no s um termo aceitvel como tam4m um nore e amplamente recon)ecido pro0eto

    cient8fico.A lu< dessa possiilidade, no se podia esperar outra coisa $ue no a reao p+lica

    veemente como se deu na (leman)a. 'ntretanto, parece no ter )avido clamor p+lico no usodo termo por Me# Greener# na The New York Times e isso apesar do fato de $ue a !istria

    dos 'stados Lnidos no 4 livre de suas prprias instncias proiitivas de eu#enia ne#ativa.

    ! deates p+licos ao redor da nova #en4tica nos 'stados Lnidos tam4m, mas eles

    diferem do recente deate alemo de vrios modos. rimeiro, eles raramente so to eruditos e

    no podem ser diri#idos a uma audi%ncia to inte#rada. ( discusso p+lica se ifurca nas

    discuss2es sem compromisso e fre$uentemente conciliatrias dos pros e contras dos eruditos,

    levadas adiante em letras mi+das por revistas esot4ricas profissionais e pela imprensa de

    massas, em $ue manc)etes prometendo mila#res #en4ticos futuros alternam com manc)etes

    assustadoras i#ualmente no realistas de $uimeras e cior#ues iminentes. rofessores de

    &ilosofia raramente merecem arti#os de opinio em 0ornais americanos.

    /e#undo, nossos deates parecem estran)amente a>)istricos por comparao. s ve

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    prescritores morais [1']. = deate p+lico, ento, lana lu< sore a opinio p+lica a respeito da

    5io4tica e do seu papel mais apropriado, considerada pelos diversos constituintes.

    No compartil)o a opinio pore daSpeigelsore a 5io4tica an#lo>sa;", nem considero

    $ue um #rupo erudito, multidisciplinar e variado de profissionais atenciosos interessem a

    #rupos de filsofos de casa". or4m, 4 importante para os io4ticos descorir o $ue 4 a

    percepo p+lica para lev>la em considerao ao e;ercer seus variados papeis sociais.

    ,I. 5onclu&o

    eter /loterdi0- est certo $uanto 3s possiilidades eu#%nicas inerentes 3 nova Gen4tica.

    = deate p+lico alemo est certo tam4m, em min)a opinio, na sua sensiilidade $uanto aos

    danos poss8veis $ue podem vir a acontecer. ( vo< da (leman)a 4, ento, +til nas deliera2es

    a#ora em curso sore o se#undo dos dois cdices antropol#icos as declara2es internacionais

    de 5io4tica relacionadas 3 Gen4tica. recisamos de um contrapeso ao otimismo diri#ido por

    interesses comerciais da industria iotecnol#ica multinacional.

    Mas ele est errado sore o fim do !umanismo* ler continua uma arma no arsenal contra

    o ararismo, e a criao no 4 menos peri#osa, nem mais otimista, como um sucessor a ele. (atal)a continua, movendo>se com a )umanidade em novas reas do con)ecimento. /ua

    su#esto de $ue antropotecnolo#ias so m4todos apropriados para a auto>domesticao 4

    seriamente en#anosa. /e @e en$uantoA a en#en)aria #en4tica se tornar uma possiilidade

    )umana, no serei eu $uem pro0etarei a mim mesma. /er o tecnocrtico ns" pro0etando o

    su0eito eles". ( %nfase lieral no individualismo e no consenso informado como sustitutos

    para a tomada de deciso individual no pode esconder esse fato, nem evitar o peri#o. =utro

    alemo, 5ert)old 5rec)t, viu a diferena entre su0eito a#ente e paciente localia de modo

    claro, e;pressando amar#amente no meio do s4culo passado:

    6T7 Und wenn nur einer fresst dann !in "ch es

    Und wenn einer wird gefressen !ist es Du#6S7

    617 'ste paper foi proferido no encontro da (ssociao nternacional de 5io4tica $ue se deu emFondres, dia HH de setemro de HUUU, e eneficiado com a colaorao de Norert aul

    doStanford $enter for %iomedical &thics.

    6H7 eter /loterdi0-,'egeln fuer den Menschenpark, ?ie Eeit WB99, reimpresso na Eeit>!efte

    ?er /treit um den Mensc)en, p. 1H @traduo da autoraA.

    67"!idem, p. 1P @traduo da autoraA

    6P7 ara uma e;celente s8ntese das possiilidades da corrente pes$uisa sore o cde; descritivo,

    ver 6uscar o arti#o $ue Norert atriuiu 3 discusso do livro7

    6S7 Gen>ro0ect Lermensc): !itler, Niet/treit.Der

    Spiegel, H9BU9B99.

    6Q7 ( comparao com a Times Magazine4 in0usta. Na verdade, a /pie#el 4 uma revista mel)or

    e mais informativa, emora escrita com um talento lin#u8stico e inteli#%ncia $ue marcou

    a Timesna sua mel)or 4poca.

    6O7 (ndreJ iper, ro0ect Lermensc): German ntelectuals Confront Genetic

    'n#ineerin#.Lingua Franca, de

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    o (ashington )ost, como tam4m os 0ornalistas doSan *ose Mercur+ Newsesto #arimpando

    aNaturee oNew &ngland *ournal of Medicinepara estrias de capa.

    61U7 Ver nota S, p. 9.

    6117 &ilsofo pol8tico mais eminente da (leman)a, Kur#en !aermas pulicou uma discusso

    sore en#en)aria #en4tica $ue vai de encontro ao crit4rio do Der SpeigelemDie ,unkunft dermenschlichen Natur: B(uf der Xe#