pelo amor do jogo
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Pelo amor do jogo: Peter Sloterdijk e o debate pblico em Biotica[1]
Mary V. Rorty[1]
I. Introduo
No vero de 1999, um proeminente filsofo alemo proferiu um comentrio a respeito daCarta sore o !umanismo" de !eide##er para uma pe$uena confer%ncia internacional de
&ilosofia em 'lmau, na (leman)a. ( audi%ncia era limitada* o conte+do e o tom, elevados* ocenrio, remoto mas )avia uma vasta e indi#nada discusso na imprensa alem.
'ste arti#o discute de modo reve o Re#ras para o Mensc)enpar-" de eter /loterdi0-,oserva al#umas diferenas vias nas rea2es nacionais 3s mesmas $uest2es io4ticas e levanta
al#umas outras $uest2es sore o a funo da 5io4tica e dos io4ticos no deate p+lico.
II.
!"lmauer #ede$
/e o !umanismo 4 a tradio de cartas 6escritas7 para ami#os poss8veis" $ue /loterdi0-afirma, ento, como ele i#ualmente atesta, o !umanismo ou est morrendo ou 0 est morto, 0
$ue menos e menos pessoas leem ou se importam com o cnone clssico: os livros $ueconstitu8ram a fonte principal de educao dos )omens do passado. 'le en;er#a na incurso da
m8dia de massas o fim da instruo educacional como a con)ecemos. /ua analo#ia 4 umcontraste entre os livros dos filsofos e os 0o#os de anfiteatro do passado de um lado e, de outro,
esses mesmo livros e a viol%ncia dos video#ames de )o0e um tendendo para a domesticao"*o outro, para a estialio, a al#o muito similar ao deus $ue ele estava tentando sustituir, etam4m por afast>lo ruscamente de seu eu animal e corporificado. No lu#ar, /loterdi0- prefere
a metfora do auto pastoreio. = )omem no 4 o pastor do /er, mas 4 o pastor edomesticadorBcriador do )omem.
/e somos primariamente dependentes de ns mesmos para a nossa pacificao emel)oria, o $ue podemos esperar em termos de t4cnicas e auto>mel)oria = $ue e como
podemos ensinar se os livros esto fora de moda e dois mil%nios de tradio )uman8stica, comoa !istria recente su#ere, t%m se provado in+til
Voltando>se para o D)us /po-e Earat)ustra" de Niet
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!eide##er distin#ue os )omens e os outros animais de forma cate#rica ao enfatitecnol#ica $ue as pessoas tendam para o lado ativo ou
su0etivo da seleo, sem nimo de ter sido foradas a assumir o papel de selecionadores. @Como
evid%ncia, pode>se notar $ue ) um desconforto com o poder de voto, e em reve se tornar uma
opo de inoc%ncia se as pessoas e;plicitamente se recusarem a e;ercitar o poder de escol)a $ue
elas con$uistaram.A or4m, to rapidamente $uanto o con)ecimento definitivo @Jissenmac)tA
tem positivamente se desenvolvido numa rea, muitas pessoas so consideradas menores se
como nos tempos passados e mais inocentes elas permitem a um poder maior, se0a ele ou deus
ou sorte ou $ual$uer outro, a#ir em seus lu#ares. ?esde $ue a simples recusa ou omisso tende a
revelar sua esterilidade, pode muito em acontecer de, no futuro, o prolema ser ativamente
confrontado pela formulao de um cde; de antropo>tecnolo#ia. Dal cde; poderia tam4m
alterar retroativamente o si#nificado do !umanismo clssico para, assim, tornar>se p+lico e
oficial $ue o conte+do do !umanismo 4 no s a aliana do )omem com o )omem* ele poder
tam4m implicar, e fatecnolo#ia". No curso do dilo#o, ele afirma, as
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re#ras de comportamento", a$uelas pelas $uais a#entes racionais livres voluntariamente
#overnariam a si mesmos, so #radualmente sustitu8das por um cde; de consentimento",
caracter8sticas de indiv8duos, por $uem eles podem ser criados por correspond%ncia criteriosa
$ue os fara cidados produtivos de um estado em #overnado.
= $ue lato p2e na oca do 'stran)o 4 o pro#rama de uma sociedade )uman8stica $ue 4
incorporado em um +nico (lto>!umanista @!i#)>!umanistA, o sen)or do r4#io pastoreio. (
tarefa desse /uper>!umanista @Ler>!umanistA seria no menos $ue o plane0amento das
caracter8sticas de uma elite, cu0os memros devem ser nutridos para o em de todos. [(]
( tarefa do !umanismo 4 a domesticao" do )omem, reprimir a estialidade e
encora0ar a civilidade* mas o fim da cultura literria dei;a apenas a compan)ia da leitura e a
criao como meios restantes dispon8veis para o avano da civili
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( se#unda ami#uidade repousa na sua atitude em relao a essas novas possiilidades
cintilando no nosso )orise ler a 'lmauer Rede" como su#erindo $ue a nova #en4tica
oferece possiilidades positivas para o futuro )umano. Mas o lado escuro dessa interpretao
positiva 4 $ue ela nos fora a ponderar se ele realmente acredita $ue a$uelas possiilidades
podem somente ser alcanadas aandonando o mundo de si#nificado pelo mundo da iolo#ia efase do tom am8#uo de sua descrio, acusam>no de t%>lo feito. Dam4m
no, de $ual$uer maneira ele e;plicitamente desacredita essa afirmao. ( aus%ncia de uma
mensa#em clara, a suspeita de $ue ele pretendia lidar com amos os camin)os, foi uma das
cr8ticas mais repetidas nas respostas a sua palestra.
I,. -entica e debate pblico
/ na (leman)a o deate seria to erudito $uanto o #erado por /loterdi0-. Classicistas,
fillo#os, filsofos, #eneticistas e intelectuais de cada canto da (leman)a culta responderam.
/loterdi0- foi massacrado por sua interpretao de !eide##er, de Niet
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mensa#em dos mila#res $ue se encontram no futuro atrav4s da ci%ncia #en4tica no prefi#ura a
transformao mais uma ve< do termo eu#enia de modo a $ue ele volte a ocupar o mesmo lu#ar
positivo, o mesmo papel positivo $ue possu8a no in8cio deste s4culo6P7. @(t4 19PQ, eu#enia era
no s um termo aceitvel como tam4m um nore e amplamente recon)ecido pro0eto
cient8fico.A lu< dessa possiilidade, no se podia esperar outra coisa $ue no a reao p+lica
veemente como se deu na (leman)a. 'ntretanto, parece no ter )avido clamor p+lico no usodo termo por Me# Greener# na The New York Times e isso apesar do fato de $ue a !istria
dos 'stados Lnidos no 4 livre de suas prprias instncias proiitivas de eu#enia ne#ativa.
! deates p+licos ao redor da nova #en4tica nos 'stados Lnidos tam4m, mas eles
diferem do recente deate alemo de vrios modos. rimeiro, eles raramente so to eruditos e
no podem ser diri#idos a uma audi%ncia to inte#rada. ( discusso p+lica se ifurca nas
discuss2es sem compromisso e fre$uentemente conciliatrias dos pros e contras dos eruditos,
levadas adiante em letras mi+das por revistas esot4ricas profissionais e pela imprensa de
massas, em $ue manc)etes prometendo mila#res #en4ticos futuros alternam com manc)etes
assustadoras i#ualmente no realistas de $uimeras e cior#ues iminentes. rofessores de
&ilosofia raramente merecem arti#os de opinio em 0ornais americanos.
/e#undo, nossos deates parecem estran)amente a>)istricos por comparao. s ve
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prescritores morais [1']. = deate p+lico, ento, lana lu< sore a opinio p+lica a respeito da
5io4tica e do seu papel mais apropriado, considerada pelos diversos constituintes.
No compartil)o a opinio pore daSpeigelsore a 5io4tica an#lo>sa;", nem considero
$ue um #rupo erudito, multidisciplinar e variado de profissionais atenciosos interessem a
#rupos de filsofos de casa". or4m, 4 importante para os io4ticos descorir o $ue 4 a
percepo p+lica para lev>la em considerao ao e;ercer seus variados papeis sociais.
,I. 5onclu&o
eter /loterdi0- est certo $uanto 3s possiilidades eu#%nicas inerentes 3 nova Gen4tica.
= deate p+lico alemo est certo tam4m, em min)a opinio, na sua sensiilidade $uanto aos
danos poss8veis $ue podem vir a acontecer. ( vo< da (leman)a 4, ento, +til nas deliera2es
a#ora em curso sore o se#undo dos dois cdices antropol#icos as declara2es internacionais
de 5io4tica relacionadas 3 Gen4tica. recisamos de um contrapeso ao otimismo diri#ido por
interesses comerciais da industria iotecnol#ica multinacional.
Mas ele est errado sore o fim do !umanismo* ler continua uma arma no arsenal contra
o ararismo, e a criao no 4 menos peri#osa, nem mais otimista, como um sucessor a ele. (atal)a continua, movendo>se com a )umanidade em novas reas do con)ecimento. /ua
su#esto de $ue antropotecnolo#ias so m4todos apropriados para a auto>domesticao 4
seriamente en#anosa. /e @e en$uantoA a en#en)aria #en4tica se tornar uma possiilidade
)umana, no serei eu $uem pro0etarei a mim mesma. /er o tecnocrtico ns" pro0etando o
su0eito eles". ( %nfase lieral no individualismo e no consenso informado como sustitutos
para a tomada de deciso individual no pode esconder esse fato, nem evitar o peri#o. =utro
alemo, 5ert)old 5rec)t, viu a diferena entre su0eito a#ente e paciente localia de modo
claro, e;pressando amar#amente no meio do s4culo passado:
6T7 Und wenn nur einer fresst dann !in "ch es
Und wenn einer wird gefressen !ist es Du#6S7
617 'ste paper foi proferido no encontro da (ssociao nternacional de 5io4tica $ue se deu emFondres, dia HH de setemro de HUUU, e eneficiado com a colaorao de Norert aul
doStanford $enter for %iomedical &thics.
6H7 eter /loterdi0-,'egeln fuer den Menschenpark, ?ie Eeit WB99, reimpresso na Eeit>!efte
?er /treit um den Mensc)en, p. 1H @traduo da autoraA.
67"!idem, p. 1P @traduo da autoraA
6P7 ara uma e;celente s8ntese das possiilidades da corrente pes$uisa sore o cde; descritivo,
ver 6uscar o arti#o $ue Norert atriuiu 3 discusso do livro7
6S7 Gen>ro0ect Lermensc): !itler, Niet/treit.Der
Spiegel, H9BU9B99.
6Q7 ( comparao com a Times Magazine4 in0usta. Na verdade, a /pie#el 4 uma revista mel)or
e mais informativa, emora escrita com um talento lin#u8stico e inteli#%ncia $ue marcou
a Timesna sua mel)or 4poca.
6O7 (ndreJ iper, ro0ect Lermensc): German ntelectuals Confront Genetic
'n#ineerin#.Lingua Franca, de
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o (ashington )ost, como tam4m os 0ornalistas doSan *ose Mercur+ Newsesto #arimpando
aNaturee oNew &ngland *ournal of Medicinepara estrias de capa.
61U7 Ver nota S, p. 9.
6117 &ilsofo pol8tico mais eminente da (leman)a, Kur#en !aermas pulicou uma discusso
sore en#en)aria #en4tica $ue vai de encontro ao crit4rio do Der SpeigelemDie ,unkunft dermenschlichen Natur: B(uf der Xe#