pela realização dos concursos de apoio direto
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8/12/2019 Pela realizao dos concursos de apoio direto
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PARTIDO COMUNISTA PORTUGUS
Grupo Parlamentar
Projeto de Resoluo n. /XII/3.
Pela realizao dos concursos de apoio direto s artes em 2014
e por um modelo de apoio s artes mais justo e com mais recursos
A criao artstica livre a primeira condio para a livre fruio cultural e artstica. Aimposio de quaisquer entraves na criao significa, inevitavelmente, o bloqueio
parcial ou total s manifestaes culturais e artsticas cuja difuso no seja assegurada
pelos meios de comunicao de massas ou pelo mercado da organizao de eventos. A
aplicao de uma poltica de censura produo artstica, ainda que dissimulada pela
habitual justificao da falta de recursos, claramente contrria ao projeto
constitucional. Tendo em conta que o actual Governo PSD/CDS, seguindo a poltica do
anterior Governo PS, procede a cortes crescentes no apoio s artes, o apoio direto s
artes em Portugal perdeu cerca de 75% do total do valor quando comparado com 2009.Mesmo contabilizando a fatia do financiamento que o Governo afectou aos apoios
tripartidos, o total fica-se pela metade do financiamento disponvel para o apoio s
artes em 2009.
Essa poltica de censura pela via financeira traduz-se numa evidente censura poltica,
na medida em que aplica cultura e s artes uma triagem ideolgica, deixando aos
grupos econmicos e s entidades privadas a capacidade de escolher todos os
contedos culturais disponibilizados s populaes. A supresso da criao artstica
livre, nas vrias disciplinas, desde a literatura dana, passando pelo teatro, implica o
fortalecimento da hegemonia cultural como simples reflexo da hegemonia econmica
e ideolgica. O Estado retira-se no panorama da poltica cultural, margem da
Constituio da Repblica Portuguesa, deixando que toda poltica cultural, a deciso do
que distribudo e difundido, fique na esfera decisria dos grupos econmicos do
setor, bem como nos grupos econmicos monopolistas da distribuio, como o caso
da literatura e do cinema.
A existncia de um apoio s artes, dinamizado atravs de concursos pela DGArtes
constitui a salvaguarda da arte livre e independente em Portugal. A simples existncia
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desses concursos, todavia, no assegura a plenitude dos direitos constitucionais, na
medida em que na ausncia de critrios transparentes e do financiamento adequado,
nenhum resultado inteiramente justo. Neste momento, nenhuma das duas condies
est assegurada. Nem o critrio se mostrou totalmente justo nos ltimos concursos,
dada a incapacidade de os jris aplicarem sem constrangimento os mesmos critrios a
diferentes candidaturas; nem o financiamento se mostrou minimamente suficiente
para manter o nvel de produo artstica das estruturas de criao artstica e ainda
menos suficiente para assegurar o respeito pelos profissionais, tcnicos ou artistas, e
pelos seus direitos laborais. A precariedade e a explorao no setor agravam-se
tambm como consequncia desta poltica, que se junta poltica de constante ataque
ao valor do trabalho e aos direitos dos trabalhadores em geral.
Para corrigir os problemas gritantes introduzidos pela poltica de direita e de abdicaodo interesse nacional do Governo PSD/CDS, urge tomar medidas que possibilitem o
financiamento adequado ao apoio s artes. Isso implica toda uma nova poltica
cultural, o que por sua vez incompatvel com a poltica de direita que entende a
cultura apenas como uma mercadoria e um instrumento de domnio ideolgico. Esse
ser certamente o resultado da luta dos portugueses contra a poltica de submisso
vertida nos memorandos de entendimento com as instituies estrangeiras e nas cartas
de intenes do Governo Portugus. Todavia, a Assembleia da Repblica tem a
possibilidade de corrigir, no mbito do apoio s artes, parte importante dos efeitos dapoltica do Governo e isso mesmo prope o Grupo Parlamentar do Partido Comunista
Portugus atravs do presente Projeto de Resoluo.
Alm de ser urgente a definio do programa do apoio s artes para 2014, necessrio
tomar medidas para garantir a justeza nos concursos e seus resultados. Os concursos
da DGArtes para o apoio s artes nas vrias disciplinas, bem como os concursos da
DGLAB de apoio produo literria - que no se realizam desde 2009 - devem pois
contar com toda uma nova orientao poltica acompanhada de um novo oramento.
Os apoios quadrienais e bienais tm vindo a ser sucessivamente diminudos, quer no
montante de apoio a cada candidatura, quer no conjunto das candidaturas apoiadas.
Ao mesmo tempo, os apoios pontuais e anuais respondem a cada vez menos
necessidades das estruturas e, para 2014, no existe sequer garantia da sua realizao.
O PCP confrontou o Governo com a necessidade de realizar os concursos para apoios
pontuais e anuais, por vrias vezes, e em momento nenhum o Secretrio de Estado da
Cultura assumiu qualquer espcie de compromisso, apesar de a lei prever a sua
realizao. Tambm os apoios plurianuais esto neste momento numa situao pouco
clara, sendo que as estruturas no conseguem junto da DGArtes desenvolver os
processos necessrios para iniciar as novas transferncias correspondentes s tranches
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desses apoios. Pode, de certa forma, dizer-se que esses processos esto numa
suspenso no declarada.
fundamental que o Estado no se retire do seu papel e que no deixe de cumprir as
suas funes culturais, como vem sucedendo cada vez com maior intensidade, quer na
programao cultural prpria, quer na poltica para os rgaos de comunicao social,
quer no apoio s artes atravs da DGArtes e da produo literria, atravs da DGLAB.
A todos os criadores, a todas as estruturas de criao, independentemente da
disciplina artstica e independentemente da sua vocao mais ou menos
experimentalista deve ser assegurada a possibilidade, atravs do apoio pblico, para o
desenvolvimento do seu trabalho artstico e para a eventual entrega do trabalho s
populaes, democratizando a criao e a fruio. Ao Estado incumbe garantir essesdireitos. Ao Estado incumbe impedir a hegemonizao cultural pelas classes
dominantes, apoiando criadores, formando mais criadores, disponibilizando-lhes os
meios para a produo e distribuio e democratizando o acesso a essa produo. S
uma definio de apoios com o envolvimento das prprias estruturas, com a sua
participao na definio dos critrios, dos programas e objectivos e na prpria
distribuio pode assegurar justeza no apoio. Mas isso no pode ser plenamente
efetivado sem a realizao dos concursos legalmente previstos, nomeadamente para
apoios pontuais e anuais em 2014, sem a concretizao dos programas plurianuais emcurso e sem um substantivo reforo oramental para concursos de apoio s artes e
apoio produo literria.
Assim, a Assembleia da Repblica, nos termos constitucionais e regimentais em vigor,
recomenda ao Governo que:
1. Disponibilize e publicite, atravs da DGArtes, os prazos, requisitos e critrios dos
concursos para os apoios anuais de 2014, que cujo incio deveria ter ocorrido em
Dezembro de 2013.
2. Reactive os procedimentos para a concretizao dos programas de apoios
plurianuais em curso e suspensos sem explicao, sem quaisquer alteraes ao
previamente contratualizado com as estruturas.
3. Inicie um processo de auscultao das estruturas de criao artstica de todas as
disciplinas para desenhar um programa de apoio s artes que contemple o resultado da
participao dessas estruturas na definio dos montantes, critrios e procedimentos.
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4. Que os programas de apoio s artes, anuais, pontuais e plurianuais que se venham a
realizar no futuro contemplem a diferenciao entre a vocao mais ou menos
experimental de cada estrutura, no prejudicando nenhuma em funo de outra.
5. Que o Governo tome desde j as medidas necessrias para repor integralmente a
normalidade legal no que toca aos concursos de apoio s artes e apoio produo
literria, pela DGArtes e pela DGLAB respectivamente, bem como as medidas para o
reforo do financiamento dessas instituies, fixando objetivos gradualmente
crescentes, a partir j de 2014.
Assembleia da Repblica, 14 de maro de 2014
Os Deputados,
MIGUEL TIAGO; PAULA SANTOS; JOO OLIVEIRA; BRUNO DIAS; RITA RATO; FRANCISCO
LOPES; CARLA CRUZ; DAVID COSTA; PAULA BAPTISTA; ANTNIO FILIPE