pela areia diminui, e cuidados no manejo de...

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» 40 — setembro 2013 Cuidados no manejo de camas Além do conforto, o tipo de manejo da cama pode ter grande influência sobre a ocorrência de novos casos de mastite e a qualidade higiênica do leite. Quando uma vaca se deita em uma cama limpa, seca e confortável, o risco de mastite é reduzido A s camas utilizadas nos sistemas de confinamento de vacas leiteiras são fatores fundamentais para melhorar o conforto, o bem-estar e, consequente- mente, a produtividade. Isso ocorre em razão das vacas permanecerem deitadas por cerca de 10-12 horas por dia. As con- dições de conforto das vacas em sistemas de confinamentos podem ser avaliadas pelo tempo que a vaca permanece dei- tada ou em pé e a prevalência de lesões de jarrete ou das articulações. Vacas em boas condições de conforto deitam-se por maior período de tempo e apresen- QUALIDADE DO LEITE Marcos Veiga dos Santos Professor Associado Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP www.marcosveiga.net tam menor prevalência de lesões de arti- culação e jarrete. Além do conforto, o tipo de manejo da cama pode ter grande influ- ência sobre a ocorrência de novos casos de mastite e a qualidade higiênica do leite. Considerando os patógenos primários causadores de mastite, o reservatório principal dos agentes ambientais é o local de permanência das vacas. Os patógenos ambientais são oportunistas e os novos casos de mastite ambiental podem ocor- rer quando a pele dos tetos está com alta contaminação ambiental e os tetos apre- sentam algum fator de risco que favoreça a entrada oportunista das bactérias, que pode acontecer durante o período em que a vaca está deitada (vazamento de leite do quarto, canal do teto aberto) ou durante a ordenha. Desta forma, quando a vaca se deita em uma cama feita de ma- teriais orgânicos, que permitem rápido aumento da população microbiana, o que associado com manejo deficiente de lim- peza da cama, causa aumento do risco de novas infecções causadas por patógenos ambientais. Por outro lado, quando uma vaca se deita em uma cama limpa, seca e confortável, o risco de mastite é reduzido. SEGUNDO ESTUDOS, EM CLIMAS MAIS FRIOS A PREFERÊNCIA DAS VACAS PELA AREIA DIMINUI, E A PREFERÊNCIA PELOS COLCHÕES AUMENTA CONTROLE DE MASTITE AMBIENTAL

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— setembro 2013

Cuidados no manejo de camasAlém do conforto, o tipo de manejo da cama pode ter grande infl uência sobre a ocorrência de novos casos de mastite e a qualidade higiênica do leite. Quando uma vaca se deita em uma cama limpa, seca e confortável, o risco de mastite é reduzido

As camas utilizadas nos sistemas de confi namento de vacas leiteiras são

fatores fundamentais para melhorar o conforto, o bem-estar e, consequente-mente, a produtividade. Isso ocorre em razão das vacas permanecerem deitadas por cerca de 10-12 horas por dia. As con-dições de conforto das vacas em sistemas de confi namentos podem ser avaliadas pelo tempo que a vaca permanece dei-tada ou em pé e a prevalência de lesões de jarrete ou das articulações. Vacas em boas condições de conforto deitam-se por maior período de tempo e apresen-

QUALIDADE DO LEITE

Marcos Veiga dos SantosProfessor Associado Faculdade de Medicina

Veterinária e Zootecnia da USPwww.marcosveiga.net

QUALIDADE DO LEITE

Professor Associado Faculdade de Medicina

tam menor prevalência de lesões de arti-culação e jarrete. Além do conforto, o tipo de manejo da cama pode ter grande infl u-ência sobre a ocorrência de novos casos de mastite e a qualidade higiênica do leite.Considerando os patógenos primários causadores de mastite, o reservatório principal dos agentes ambientais é o local de permanência das vacas. Os patógenos ambientais são oportunistas e os novos casos de mastite ambiental podem ocor-rer quando a pele dos tetos está com alta contaminação ambiental e os tetos apre-sentam algum fator de risco que favoreça

a entrada oportunista das bactérias, que pode acontecer durante o período em que a vaca está deitada (vazamento de leite do quarto, canal do teto aberto) ou durante a ordenha. Desta forma, quando a vaca se deita em uma cama feita de ma-teriais orgânicos, que permitem rápido aumento da população microbiana, o que associado com manejo defi ciente de lim-peza da cama, causa aumento do risco de novas infecções causadas por patógenos ambientais. Por outro lado, quando uma vaca se deita em uma cama limpa, seca e confortável, o risco de mastite é reduzido.

SEGUNDO ESTUDOS, EM CLIMAS MAIS FRIOS A PREFERÊNCIA DAS VACAS

PELA AREIA DIMINUI, E A PREFERÊNCIA PELOS COLCHÕES AUMENTA

CONTROLE DE MASTITE AMBIENTAL

— setembro 2013

Principais tipos de camaDeve-se considerar uma série de fatores para a escolha do tipo de material utiliza-do na cama das vacas leiteiras, entre os quais: o custo e a disponibilidade na região, o design das instalações, o sistema de ma-nejo de dejetos, a facilidade de transporte e de armazenamento na fazenda.O dimensionamento das instalações de confi namento interferem de forma sig-nifi cativa nas condições de higiene das camas, independentemente do material a ser escolhido. Por exemplo, instalações sem ventilação podem facilitar o aumen-to da umidade e favorecer a multiplica-ção das bactérias na cama, ocasionando mais casos de mastite clínica ou subclí-nica. A superlotação de vacas é outro fator que pode contribuir para a rápida deterioração da cama.Os materiais utilizados em cama podem ser separados em dois grupos principais: orgânicos e inorgânicos. Os materiais or-gânicos mais usados são a palha, ou o feno, a serragem, a maravalha, resíduos de culturas (de milho, espigas, casca de café, e outros), resíduo de polpa de pa-pel e de papel picado, compostagem de esterco seco, e materiais similares. As ca-mas orgânicas apresentam elevado grau de conforto animal, boa capacidade de absorção de umidade, e não interferem de forma signifi cativa nos sistemas de manejo de dejetos. Deve-se, no entanto, considerar que a principal desvantagem das camas orgânicas é a grande facilidade de multiplicação microbiana, a qual tende a se elevar de forma rápida (menos de 24 horas), assim que a cama é contaminada por fezes e aumento da umidade (urina). Os principais patógenos causadores de mastite associados com camas orgânicas são estreptococos ambientais (S. uberis) e coliformes (E. coli e Klebsiella). Tanto E.

coli quanto S. uberis podem sobreviver e se multiplicar em faixas de tempe-ratura parecidas. Por exemplo, estas duas bactérias podem sobreviver, mas multiplicam-se em taxas muito baixas a ≤15°C. Entre 15oC e 45°C ocorre alta taxa de multiplicação, sendo que a temperatura ótima é de 37oC, contudo ≥ 45oC estes microrganismos são eli-minados. Do ponto de vista de pH, E. coli não é viável em pH≥8, enquanto S. uberis pode suportar pH até 9. Quando em condições adequadas de umidade (≥75%), de temperatura e pH, os co-liformes podem se multiplicar a cada 20-30 minutos.Os materiais inorgânicos mais utiliza-dos são a areia e os colchões. Muitos pesquisadores e produtores conside-ram a areia como um dos melhores materiais para cama de vacas leiteiras, pois é inerte e não favorece a multi-plicação de bactérias, mas apresenta limitações de custo e para alguns sistemas de manejo de dejetos. A areia deve ser de boa qualidade e ar-mazenada adequadamente em locais fechados, fora do alcance da chuva (umidade), e com pouca lama ou argi-la. O número de coliformes e estrep-tococos ambientais encontrados na areia é quase sempre menor do que os números encontrados em materiais orgânicos, e a diminuição da contagem bacteriana está associada com taxas reduzidas de novas infecções por pa-tógenos ambientais.Os estudos indicam que a areia é um excelente material de cama, com rela-

A chave para a produção

leiteira é a saúde.

VOCÊ SABIA?

Muitos pesquisadores e produtores consideram a areia como um dos melhores materiais para cama de vacas leiteiras, pois é inerte e não favorece a multiplicação de bactérias, mas apresenta limitações de custo e para alguns sistemas de manejo de dejetos.

ESTUDOS INDICAM QUE A AREIA É UM EXCELENTE MATERIAL DE CAMA, COM RELAÇÃO À SAÚDE DO ÚBERE, PARA A LIMPEZA E O CONFORTO DAS VACAS

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QUALIDADE DO LEITE

ção à saúde do úbere, para a limpeza e o conforto das vacas. A areia possui baixa capacidade de retenção de água e uma textura solta que se ajusta ao tamanho e ao peso das vacas, além de evitar lesões e problemas de aprumos. No entanto, a baia requer quantidade considerável de areia e cuidados no manejo de dejetos comparados com outros materiais de cama. Alguns estudos apontaram maior preferência da vaca por superfícies mais macias e pela areia do que pelos col-chões; no entanto, em climas mais frios, a preferência pela areia diminui, e a prefe-rência pelos colchões aumenta.

Uso de aditivosO uso de aditivos nas camas orgânicas tem como objetivo aumentar a vida útil do material e reduzir a contagem bac-teriana. Um dos aditivos mais utilizados é a cal hidratada, a qual tem função de aumentar o pH da cama (alcalinização) e reduzir o teor de água, o que resulta em condições desfavoráveis para a multipli-cação microbiana e aumento da contami-nação. Alguns trabalhos de pesquisa já avaliaram a eficácia do uso da cal como aditivo de camas de maravalha, em siste-mas de confinamento tipo free-stall. Os resultados indicaram que a adição de 0,5 a 1 kg de cal hidratada na região da cama que entra em contato com o úbere da vaca resulta em diminuição da multiplica-ção microbiana na cama, mas os resulta-dos de redução de casos clínicos em nível de rebanho foram variáveis. Os efeitos da adição da cal hidratada são relativamente curtos, pois a manutenção da carga mi-crobiana e da umidade da cama após a adição da cal duram menos que 48 horas, o que significa que efeitos mais significa-tivos são observados com adição da cal a cada dois dias. Resultados similares de redução da contaminação da cama e da pele dos tetos foram encontrados em estudos sobre a adição de cal em calmas de colchões (0,5 kg a cada 48 horas). No entanto, o contato da cal hidratada em excesso com a pele do úbere e do jarrete pode causar irritação no local. Os resul-tados de estudos indicam que a irritação pode ser percebida após cerca de 3 dias de uso da cal em camas de colchões e o uso da cal no longo prazo deve ser moni-torado para evitar ocorrência de lesões.

Desta forma, é possível concluir que para reduzir de forma significativa os efeitos da contaminação ambiental da cama sobre o risco de mastite am-biental, a simples adição de cal ou de outro aditivo não é uma solução defi-nitiva, pois os efeitos são curtos. Além disso, as condições de manejo da cama, o dimensionamento das instalações e a frequência de limpeza são fatores igual-mente importantes para manutenção das condições de higiene e conforto da cama.O manejo da cama em sistemas de confi-namento afeta diretamente as condições de limpeza e o nível de contaminação. Tanto a quantidade, quanto a frequência de colocação de material novo na cama influenciam a velocidade com que a con-taminação da cama aumenta. De forma geral, as camas orgânicas apresentam ní-

veis máximos de contaminação em cerca de 24-48 horas após a colocação de ma-terial novo. Isto indica que manter sob controle a umidade e a contaminação nas camas orgânicas é um desafio diário, pois ocorre grande contaminação por urina e fezes. Sendo assim, recomenda-se que a limpeza das camas (retirada de esterco e locais com alta umidade) deve ser feita diariamente entre as ordenhas e a reposi-ção do material da cama semanalmente.

Não se pode deixar de considerar que a redução da contaminação da cama é ape-nas um dos fatores de risco para reduzir a chance de novos casos de mastite ambien-tal, sendo que outros fatores igualmente importantes são as condições de saúde dos tetos, a capacidade de resposta imune da vaca e o manejo da ordenha.

O uso de aditivos nas camas orgânicas tem como objetivo aumentar a vida útil do material e reduzir a contagem bacteriana. Um dos aditivos mais utilizados é a cal hidratada