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    SOBRE UMANOVA LISTA

    DE CATEGORIAS

    Charles S. PEIRCE

    Tradutor:Anabela Gradim

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    SOBRE UMA NOVA LISTA DE

    CATEGORIAS

    Charles S. PEIRCE

    Sec. 1. Este estudo baseia-se na teoria, j estabelecida, de quea funo dos conceitos reduzir a multiplicidade das impresses sen-sveis unidade, e de que a validade de uma concepo consiste naimpossibilidade de reduzir o contedo da conscincia unidade sem asua introduo.

    Sec. 2. Esta teoria d origem a uma concepo da gradao entre

    aqueles conceitos que so universais. Pois um desses conceitos podeunificar a pluralidade das impresses dos sentidos, e contudo um outropode ser necessrio para unir o conceito e a multiplicidade qual aplicado; e assim por diante.

    Sec.3. Que o conceito universal que est mais prximo dos senti-dos o do presente em geral. Trata-se de um conceito, porque univer-sal. Mas, como o acto da ateno no possui qualquer conotao, mas o puro poder denotativo da mente isto , o poder que dirige a mentepara um objecto, distinguindo-se assim do poder de pensar algum pre-

    dicado desse objecto assim, a concepo do que presente em geral,que nada mais do que o reconhecimento geral do que est contido naateno, no possui qualquer conotao, e portanto no possui unidade

    Proceedings of the American Academy of Arts and Sciences 7 (1868), pp. 287-298.

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    prpria. Desta concepo de presente em geral, de ISSO em geral,d conta a linguagem filosfica atravs da palavra substncia numdos seus sentidos. Antes que qualquer comparao ou discriminaopossa ser feita entre o que est presente, o que est presente tem de tersido reconhecido como tal, como isso, e subsequentemente as partesmetafsicas que so reconhecidas por abstraco so atribudas a esteisso, mas o isso no pode ele prprio ser transformado num predi-cado. Este isso no ento nem predicado de um sujeito, nem est

    num sujeito, e consequentemente idntico concepo de substncia.

    Sec. 4. A unidade qual o entendimento reduz as impresses aunidade de uma proposio. Esta unidade consiste na ligao do pre-dicado com o sujeito; e, logo, aquilo que implicado na cpula, oua concepo de ser, o que completa o trabalho dos conceitos de re-duzir a multipicidade unidade. A cpula (ou antes o verbo que cpula num dos seus sentidos) significa existncia actual ou possvel,tal como nas duas proposies no existe qualquer grifo e um grifo um quadrpede alado. O conceito de ser contm apenas aquela jun-

    o de predicado a um sujeito no qual estes dois verbos concordam.Consequentemente, a concepo de ser, claramente, no tem contedo.

    Se dizemos o forno negro, o forno a substncia, da qual anegritude no foi diferenciada, e o , enquanto deixa a substncia talcomo foi vista, explica a sua indiferenciao, aplicando-lhe a negritudecomo um predicado.

    Embora o ser no afecte o sujeito, implica uma indefinida determi-nabilidade do predicado. Pois se algum pudesse conhecer a cpulae o predicado de qualquer proposio, como ... um homem comcauda, saberia que o predicado aplicvel a alguma coisa suposta,

    pelo menos. De acordo com isto, temos proposies cujos sujeitos sointeiramente indefinidos, como existe uma bela elipse, onde o sujeito meramente algo actual ou potencial; mas no existem proposiescujo predicado inteiramente indeterminado, pois no teria sentido di-

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    zer A tem caractersticas comuns a todas as coisas, pois no existemtais caractersticas comuns a todas as coisas.

    Assim a substncia e o ser so o princpio e o fim de todo o conceito.A substncia inaplicvel a um predicado, e o ser -o igualmente emrelao a um sujeito.

    Sec. 5. Os termos presciso e abstraco, que eram anteri-ormente aplicados a todo o tipo de separao, esto agora limitados,no meramente separao mental, mas quilo que brota da atenopara um elemento negligenciando outro. A ateno exclusiva consistenum conceito ou suposio definida de uma parte de um objecto, semqualquer suposio de outra. A abstraco ou presciso deve ser cuida-dosamente distinguida de dois outros modos de separao mental, quepodem ser chamados discriminao e dissociao. Discriminao tema ver meramente com os sentidos dos termos, e apenas traa uma dis-tino no significado. A dissociao aquela separao que, na ausn-cia de uma associao constante, permitida pela lei de associao deimagens. a conscincia de uma coisa, sem a necessria simultnea

    conscincia da outra. A abstraco ou presciso, consequentemente,supe uma separao maior que a discriminao, mas uma separaomenor que a dissociao. Assim, posso discriminar o vermelho do azul,o espao da cor, e a cor do espao, mas no o vermelho da cor. Possoabstrair o vermelho do azul, e o espao da cor (como manifesto dofacto de que acredito que existe um espao incolor entre a minha facee a parede); mas no posso abstrair a cor do espao, nem o vermelhoda cor. Posso dissociar o vermelho do azul, mas no o espao da cor, acor do espao, nem o vermelho da cor.

    A presciso no um processo recproco. Sucede frequentemente

    que, enquanto A no pode ser prescindido de B, B pode ser prescindidode A. D-se conta desta circunstncia da seguinte forma. Os conceitoselementares apenas surgem por ocorrncia da experincia; isto , soproduzidos pela primeira vez de acordo com uma lei geral, da qual condio a existncia de certas impresses. Agora, se um conceito

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    no reduz as impresses s quais se segue unidade, uma mera adi-o arbitrria a estas ltimas; e os conceitos elementares no surgemassim arbitrariamente. Mas se as impresses pudessem ser definida-mente compreendidas sem o conceito, este ltimo no as reduziria unidade. Donde as impresses (ou conceitos mais imediatos) no po-dem ser claramente concebidas ou objecto de ateno, negligenciandoum conceito elementar que as reduz unidade. Por outro lado, quandotal conceito foi obtido, no h, em geral, razo para que as premissas

    que o ocasionaram no devam ser negligenciadas, e consequentementeo conceito explicativo pode frequentemente ser prescindido dos con-ceitos mais imediatos e das impresses.

    Sec. 6. Os factos agora coligidos constituem a base para um m-todo sistemtico de pesquisa com vista a descobrir quaisquer conceitosuniversais elementares que possam intermediar entre a pluralidade dasubstncia e a unidade do ser. Foi mostrado que a ocasio da introdu-o de um conceito universal elementar , ou a reduo da pluralidadeda substncia unidade, ou a juno substncia de outro conceito. E

    foi ainda mostrado que os elementos conjuntos no podem ser supos-tos sem o conceito, enquanto o conceito pode geralmente ser supostosem estes elementos. Agora, a psicologia emprica descobre a ocasiode introduo de um conceito, e apenas temos de averiguar que con-ceito j reside nos dados que so unidos ao de substncia pelo primeiroconceito, e que no pode ser suposto sem este primeiro conceito, paraencontrar o conceito seguinte na ordem ao passarmos do ser substn-cia.

    Pode observar-se que, ao longo deste processo, no se recorre in-trospeco. Nada se assume a respeito dos elementos subjectivos de

    conscincia que no possa ser seguramente inferido a partir dos ele-mentos objectivos.

    Sec. 7. O conceito de ser surge na formao de uma proposi-o. Uma proposio tem sempre, alm de um termo para expressar a

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    substncia, um outro para expressar a qualidade dessa substncia; e afuno do conceito de ser unir a qualidade substncia. Consequen-temente, a qualidade, no seu sentido mais amplo, o primeiro conceitona ordem, ao passarmos do ser substncia.

    A qualidade parece, primeira vista, ser dada na impresso. Taisresultados da introspeco no so fiveis. Uma proposio asserta aaplicabilidade de um conceito mediato a um conceito mais imediato.Uma vez que isto asserido, o conceito mais mediato claramente en-

    carado independentemente desta circunstncia, pois de outro modo osdois conceitos no se distinguiriam, mas um seria pensado atravs dooutro, sem que este ltimo fosse de todo objecto de pensamento. Oconceito mediato, ento, para que possa ser asserido que aplicvel aooutro, tem primeiro de ser considerado sem relao a esta circunstn-cia, e tomado imediatamente. Mas, tomado imediatamente, transcendeo que dado (o conceito mais imediato), e a sua aplicabilidade ao l-timo hipottica. Tome-se, por exemplo, a proposio Este forno negro. Aqui o conceito de forno o mais imediato, e o de negro a maismediato, sendo que este ltimo, para ser predicado do primeiro, tem de

    ser discriminado dele e considerado em si1 , no como aplicado a umobjecto, mas simplesmente como incorporando uma qualidade, negri-tude. Agora, esta negritude uma espcie pura ou abstraco, e a suaaplicao a este forno inteiramente hipottica. Significa-se a mesmacoisa com o forno negro e com h negritude no forno. Incorporara negritude o equivalente de ser negro. A prova esta: estes conceitosso indiferentemente aplicados precisamente aos mesmos factos. Se,consequentemente, fossem diferentes, aquele que foi primeiro aplicadopreencheria toda a funo do outro; de forma que um deles seria supr-fluo. Agora, um conceito suprfluo uma fico arbitrria, enquanto os

    conceitos elementares surgem apenas da exigncia da experincia; deforma que um conceito elementar suprfluo impossvel. Mais ainda,o conceito de uma abstraco pura indispensvel, porque no pode-

    1 Isto concorda com o autor de De Generibus et Speciebus, Ouvrages InditsdAblard, p. 528.

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    mos compreender um acordo de duas coisas, excepto como um acordoa respeito de algo, e este respeito uma abstraco to pura como anegritude. Uma abstraco to pura, referncia qual constitui umaqualidade ou atributo geral, pode ser chamada um fundamento.

    A referncia a um fundamento no pode ser prescindida do ser, maso ser pode ser prescindido dela.

    Sec. 8. A psicologia emprica estabeleceu o facto de que apenaspodemos conhecer uma qualidade por meio do seu contraste ou seme-lhana com outra qualidade. Por contraste e acordo uma coisa referidaa um correlato, se este termo for utilizado num sentido mais abrangenteque o habitual. A ocasio da introduo do conceito de referncia a umfundamento a referncia a um correlato, e este , consequentemente,o conceito seguinte na ordem da passagem do ser substncia.

    A referncia a um correlato no pode ser prescindida da refe-rncia a um fundamento; mas a referncia a um fundamento pode serprescindida da referncia a um correlato.

    Sec. 9. A ocasio de referncia a um correlato obviamente feitapor comparao. Este acto no tem sido suficientemente estudado pelospsiclogos, e ser necessrio, consequentemente, aduzir alguns exem-plos para mostrar em que consiste. Suponhamos que desejamos com-parar as letras p e b. Podemos imaginar que uma delas virada sobre alinha de escrita que funciona como um eixo, e depois sobreposta ou-tra, e finalmente que se torne transparente de forma a que a outra possaser vista atravs dela. Deste modo, formaremos uma nova imagem quemedia entre as imagens das duas letras, enquanto representa uma delascomo sendo (quando voltada) a semelhana da outra. Novamente, su-

    ponhamos que pensamos num assassino como estando em relao comuma pessoa assassinada; neste caso concebemos o acto do assassnio,e nesta concepo representado que correspondendo a todo o assas-sino (bem como a todo o assassnio) existe uma pessoa assassinada; eassim recorremos novamente a uma representao mediadora que re-

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    presenta o relacionado como estando por um correlato com o qual arepresentao mediadora est ela prpria em relao. Novamente, su-ponhamos que vamos procurar a palavra homme num dicionrio fran-cs; encontraremos oposta a ela a palavra homem, que assim colocada,representa homme como representando a mesma criatura bpede que oprprio homem representa. Por uma posterior acumulao de exem-plos, descobrir-se- que toda a comparao requer, para alm da coisarelacionada, do fundamento, e do correlato, tambm uma representao

    mediadora que representa o relacionado como sendo uma representa-o do mesmo correlato que esta representao mediadora ela prpriarepresenta. Tal representao mediadora pode ser chamada interpre-tante, porque desempenha a funo de um intrprete, que diz que umestrangeiro diz a mesma coisa que ele prprio diz. O termo represen-tao deve aqui ser tomado num sentido muito extenso, que pode serexplicado por exemplos muito melhor que por uma definio. Nestesentido, uma palavra representa uma coisa para o conceito na mente doouvinte, um retrato representa uma pessoa pessoa a quem pretendecriar o conceito de reconhecimento, um catavento representa a direc-

    o do vento para o conceito daquele que o compreende, um advogadorepresenta o seu cliente para o juiz e o jri que ele influencia.

    Toda a referncia a um correlato, ento, reune substncia o con-ceito de referncia a um interpretante; e este , consequentemente, oconceito seguinte na ordem da passagem do ser substncia.

    A referncia a um interpretante no pode ser prescindida da refe-rncia a um correlato; mas a ltima pode ser prescindida da primeira.

    Sec. 10. A referncia a um interpretante tornada possvel e justi-ficada por aquilo que torna possvel e justifica a comparao, e isso

    claramente a diversidade das impresses. Se s possussemos apenasuma impresso, esta no requeriria ser reduzida unidade, e no neces-sitaria, consequentemente, de ser pensada como referida a um interpre-tante, e o conceito de referncia a um interpretante no surgiria. Mascomo existe uma pluralidade de impresses, temos um sentimento de

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    complicao ou confuso, que nos conduz a diferenciar esta impressodaquela, e ento, tendo sido diferenciadas, elas exigem ser conduzidas unidade. Agora elas no so conduzidas unidade at que as conce-bamos conjuntamente como sendo nossas, isto , at que as refiramosa um conceito que seja seu interpretante. Assim, a referncia a uminterpretante surge a partir da juno de diversas impresses, e conse-quentemente no rene um conceito substncia, como as outras duasreferncias fazem, mas une directamente a pluralidade da prpria subs-

    tncia. , consequentemente, o ltimo conceito na ordem da passagemdo ser para a substncia.

    Sec. 11. Os cinco conceitos assim obtidos, por razes que serosuficientemente bvias, podem ser chamados categorias. Isto ,

    SER

    Qualidade (Referncia a um Fundamento),Relao (Referncia a um Correlato)

    Representao (Referncia a um Interpretante)

    SUBSTNCIA

    Os trs conceitos intermdios podem ser chamados acidentes.

    Sec. 12. Esta passagem do mltiplo para o uno numrica. Oconceito de um terceiro o de um objecto que est de tal forma re-lacionado a dois outros, que um destes tem de ser relacionado com ooutro da mesma forma que o terceiro relacionado com esse outro.Agora, isto coincide com o conceito de um interpretante. Um outro claramente equivalente a um correlato. O conceito de segundo diferedo de outro, ao implicar a possibilidade de um terceiro. Do mesmomodo, o conceito de si prprio implica a possibilidade de um outro. OFundamento o eu abstrado da concretude que implica a possibilidadede um outro.

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    Sec. 13. Uma vez que nenhuma das categorias pode ser prescin-dida das que lhe so superiores, a lista de objectos supostos que elascomportam ,

    O que .

    Quale - aquilo que se refere a um fundamentoRelate - aquilo que refere a um fundamento e a um correlato

    Representamen - aquilo que refere a um fundamento, a um correlato,e a um interpretante.

    Isso.

    Sec. 14. Uma qualidade pode ter uma determinao especial queimpede que seja prescindida da referncia a um correlato. Donde hdois tipos de relao.

    Primeiro. Aquela de relacionados cuja referncia a um fundamento

    uma qualidade prescindvel ou interna.Segundo. Aquela de relacionados cuja referncia a um fundamento uma qualidade no-prescindvel ou relativa.

    No primeiro caso, a relao uma mera concorrncia dos correlatosnuma caracterstica, e o relacionado e correlato no so distinguidos.No ltimo caso o correlato colocado contra o relacionado, e existe,num certo sentido, uma oposio.

    Os relacionados do primeiro tipo so postos em relao simples-mente pelo seu acordo. Mas o mero desacordo (no reconhecido) noconstitui relao, e consequentemente relacionados do segundo tipo sopostos em relao por correspondncias de facto.

    Uma referncia a um fundamento pode tambm ser tal que no podeser prescindida de uma referncia a um interpretante. Neste caso podeser chamada uma qualidade imputada. Se a referncia de um relacio-nado ao seu fundamento puder ser prescindida da referncia a um inter-pretante, a sua relao ao seu correlato uma mera concorrncia ou co-

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    munidade na posse de uma qualidade, e consequentemente a refernciaa um correlato pode ser prescindida da referncia a um interpretante.Segue-se que h trs tipos de representaes.

    Primeiro. Aquelas cuja relao aos seus objectos uma mera comu-nidade nalguma qualidade, e estas representaes podem ser chamadasSemelhana.

    Segundo. Aquelas cuja relao aos seus objectos consiste numacorrespondncia de facto, e estas podem ser chamadas ndices ou Sig-

    nos.Terceiro. Aquelas nas quais o fundamento da relao com os seus

    objectos uma caracterstica imputada, que so o mesmo que signosgerais, e estas podem ser chamadas Smbolos.

    Sec. 15. Mostrarei agora como os trs conceitos de referncia aum fundamento, referncia a um objecto, e referncia a um interpre-tante so os conceitos fundamentais de pelo menos uma cincia uni-versal, a cincia da Lgica. A Lgica trata das segundas intenes en-quanto aplicadas s primeiras. Conduzir-me-ia demasiadamente longe

    do assunto em apreo discutir a verdade desta afirmao; irei portantoadopt-la simplesmente como uma que me parece compreender umaboa definio do objecto desta cincia. Agora, as segundas intenesso os objectos do entendimento considerados como representaes, eas primeiras intenes s quais se aplicam so os objectos dessas repre-sentaes. Os objectos do entendimento, considerados como represen-taes, so smbolos, isto , signos que so pelo menos potencialmentegerais. Mas as regras da lgica mantm-se para quaisquer smbolos,para aqueles que so escritos ou enunciados como para aqueles que sopensados. Elas no tm aplicao imediata semelhana ou aos ndi-

    ces, porque nenhuns argumentos podem ser construdos a partir destessozinhos, mas aplicam-se a todos os smbolos. Todos os smbolos, naverdade, so, num certo sentido, relativos ao entendimento, emboraapenas no sentido em que tambm todas as coisas so relativas ao en-tendimento. Por causa disto, consequentemente, a relao ao entendi-

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    mento no necessita ser expressa na definio da esfera da lgica, umavez que no determina qualquer limitao dessa esfera. Mas pode serfeita uma distino entre os conceitos que so supostos no terem exis-tncia excepto enquanto esto actualmente presentes ao entendimento,e os smbolos externos, que ainda retm o seu carcter de smbolosconquanto sejam passveis de serem entendidos. Como as regras dalgica se aplicam a estes ltimos tanto como aos primeiros (e emboraa aplicao apenas atravs dos primeiros, contudo esta caracterstica,

    uma vez que pertence a todas as coisas, no uma limitao) segue-se que a lgica tem por objecto todos os smbolos, e no meramenteconceitos 2 . Chegamos, portanto, a esta concluso, que a lgica tratada referncia dos smbolos em geral aos seus objectos. Nesta viso,constitui um ramo de um trivium de cincias concebveis. A primeiratrataria das condies formais dos smbolos que tm significado, isto ,da referncia dos smbolos em geral aos seus fundamentos ou caracte-rsticas imputadas, e poderia ser chamada gramtica formal; a segunda,a lgica, trataria das condies formais de verdade dos smbolos; e aterceira trataria das condies formais da fora dos smbolos, ou do

    seu poder de apelar a uma mente, isto , da sua referncia em geral aosinterpretantes, e esta poderia ser chamada retrica formal.

    Haveria uma diviso geral dos smbolos, comum a todas estas cin-cias, nomeadamente em,

    1. Smbolos que apenas determinam directamente os seus funda-mentos ou qualidades imputadas, e no so mais do que somas de mar-cas ou termos;

    2. Smbolos que tambm determinam independentemente os seusobjectos por meio de outro termo ou termos, e assim, expressando a sua

    2 Herbart diz: Unsre smmtlichen Gedanken lassen sich von zwei Seiten betra-

    chten; theils als Thtigkeiten unseres Geistes, theils in Hinsicht dessen, was durchsie gedacht wird. In letzterer Beziehung heissen sie Begriffe, welches Wort, indemes das Begriffene bezeichnet, zu abstrahiren gebietet von der Art und Weise, wie wirden Gedanken empfangen, produciren, oder reproduciren mgen. Mas a diferenaentre um conceito e um signo externo est naqueles aspectos de que a lgica deveria,segundo Herbart, abstrair.

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    prpria validade objectiva, se tornam capazes de verdade ou falsidade,isto , so proposies; e,

    3. Smbolos que tambm determinam independentemente os seusinterpretantes, e assim determinam as mentes s quais apelam, ao co-locarem como premissas uma proposio ou proposies que tal mentedeve admitir. Estes so argumentos.

    E notvel que, entre todas as definies de proposio, por exem-plo, como a de oratio indicativa, como o subsumir de um objecto sob

    um conceito, como a expresso da relao de dois conceitos, e como aindicao do fundamento mutvel da aparncia, no exista, talvez, nemuma na qual o conceito de referncia a um objecto ou correlato noseja o que importante. Do mesmo modo, o conceito de referncia aum interpretante ou terceiro, sempre proeminente nas definies deargumento.

    Numa proposio, o termo que separadamente indica o objecto dosmbolo chamado o sujeito, e o que indica o fundamento chamadopredicado. Os objectos indicados pelo sujeito (que so sempre poten-cialmente uma pluralidade - pelo menos, de fases ou aparncias) so

    consequentemente afirmados pela proposio relacionados uns com osoutros tendo por fundamento a caracterstica indicada pelo predicado.Agora, esta relao pode ser quer uma concorrncia, quer uma oposi-o. As proposies de concorrncia so aquelas que so usualmenteconsideradas em lgica; mas mostrei num trabalho sobre a classifica-o de argumentos que tambm necessrio considerar separadamenteproposies de oposio, se queremos dar conta de argumentos taiscomo o seguinte:

    Tudo o que seja metade de alguma coisa menor que aquilo do qual a metade:

    A metade de B:A menor que B.

    O sujeito de tal proposio separado em dois termos, um sujeitonominativo e um objecto acusativo.

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    referncia a todas as proposies sintticas nas quais os seus objec-tos em comum so sujeito ou predicado, e a isto chamo a informaoque comporta. E como toda a adio ao que denota, ou ao que conota, efectivada por meio de uma proposio distinta deste tipo, segue-se quea extenso e a compreenso de um termo esto numa relao inversa,enquanto a informao permanece a mesma, e que todo o aumento deinformao acompanhado pelo aumento de uma ou outra destas duasquantidades. Pode observar-se que extenso e compreenso so muitas

    vezes tomados noutros sentidos, sentidos esses nos quais esta ltimaproposio no verdadeira.

    Esta uma viso imperfeita da aplicao que as concepes - que,de acordo com a nossa anlise, so as mais fundamentais - encontramna esfera da lgica. Acredita-se, todavia, que suficiente mostrar quealgo de til pode, pelo menos, ser sugerido ao considerar esta cincia aesta luz.

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