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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ PEDRO VIEIRA GALERIA SEM LICENÇA: SUPORTE E IMAGENS FOTOGRÁFICAS NA RUA Curitiba 2014

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

PEDRO VIEIRA

GALERIA SEM LICENÇA: SUPORTE E IMAGENS FOTOGRÁFICAS

NA RUA

Curitiba

2014

  2  

PEDRO VIEIRA

GALERIA SEM LICENÇA: SUPORTE E IMAGENS FOTOGRÁFICAS

NA RUA

Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito para aprovação no curso de pós-graduação lato-sensu “Fotografia: processos de criação de imagens” da Universidade Tuiuti do Paraná. Orientadora: Profª Drª Maria Cristina Mendes.

Curitiba

2014

  3  

TERMO DE APROVAÇÃO

PEDRO VIEIRA

GALERIA SEM LICENÇA: SUPORTE E IMAGENS FOTOGRÁFICAS

NA RUA

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para a obtenção do título de

Especialista no curso de pós-graduação lato-sensu: Fotografia: processos de criação de

imagens, da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, 16 de dezembro de 2014

____________________________________________

Especialização “Fotografia: processos de criação de imagens”

Universidade Tuiuti do Paraná

Orientadora: Profª Drª Maria Cristina Mendes

UTP

Profª Ms. Ana Emília Jung

UTP

  4  

Para as ruas, as pessoas e as cidades

  5  

RESUMO

Este trabalho de conclusão de curso está dividido em três capítulos. No primeiro discorro acerca da fotografia e da linguagem fotográfica, enfatizando questões sobre as diversas possibilidades de técnicas fotográficas, história e relação/construção da identidade da fotografia. No segundo dirijo a reflexão para a arte de rua, evidenciando a repercussão do movimento no âmbito das artes visuais e a construção desta mirada estética em centros urbanos do Brasil. Os dois primeiros capítulos fundamentam a discussão proposta no terceiro, onde trago a experiência e a construção do discurso da Galeria Sem Licença e suas especificidades, valorizando a proximidade com o público e a criação de um espaço de encantamento. Inicio o texto apresentando o projeto Galeria Sem Licença. A Seguir, no segundo capítulo reflito sobre a história da fotografia a partir de alguns dos seus principais criadores e do pensamento de François Soulages. Em seguida, analiso a partir de Tadeu Chiarelli e Rubens Fernandes Junior as possibilidades da fotografia expandida. Na última parte do trabalho abordo questões sobre a arte de rua, sua relação com a fotografia e relato minhas experiências com a Galeria Sem Licença.

Palavras-chave: fotografia, arte de rua, suporte, fotografia expandida, galeria

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LISTA DE FIGURAS  FIGURA 1 – MONTAGEM DA GALERIA SEM LICENÇA 11  FIGURA 2 – IMPRESSÃO DAS IMAGENS DA GALERIA SEM LICENÇA 26  FIGURA 4 – EXPOSIÇÃO MONTADA EM QUITO- EQUADOR 27  FIGURA 3 – MONTAGEM DA EXPOSIÇÃO, SEM LICENÇA PARA A LIBERDADE 28  FIGURA 5 – SEM FRONTEIRAS PARA SEM LICENÇA. QUITO, 2014 34  FIGURA 6 – SEM LICENÇA PARA BEIJAR/2012 35  FIGURA 7 – SEM LICENÇA PARA O CARNAVAL 36  FIGURA 8 – SEM LICENÇA PARA A LIBERDADE 37  

  7  

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 11

2 HISTÓRIA, SUPORTES E POSSIBILIDADES FOTO-GRÁFICAS

16

2.1 A FOTOGRAFIA 19

2.2 A FOTOGRAFIA EXPANDIDA 20

3 ARTE DE RUA E A GALERIA SEM LICENÇA 22

3.1 GALERIA SEM LICENÇA: MUROS E RUAS COMO SUPORTE

25

3.2 A GALERIA SEM LICENÇA E A IDEIA DE ENCANTA-MENTO

27

3.3 ETAPAS DE PRODUÇÃO E REALIZAÇÃO DO PROJETO 28

CONSIDERAÇÕES FINAIS   32

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 34

ANEXOS 35

  8  

1. INTRODUÇÃO

A escolha do tema de pesquisa se deu devido às experiências pessoais relacionadas a

fotografias e projetos fotográficos. Tive uma relação muito estreita com a fotografia e suas

áreas de atuação. Mudei-me para Curitiba com dois anos por causa da fotografia, nessa época

não em função da minha fotografia, mas a de meus pais. Sou filho de fotógrafo publicitário,

que durante as últimas três décadas vem trabalhando com fotografia de produtos na cidade de

Curitiba e de fotógrafa que no início dos anos dois mil foi professora em cursos de graduação

em Comunicação. Posso afirmar que talvez por essa proximidade, experimentei fases em que

tive muito contato com a produção de imagens e outras ocasiões em que procurei me

distanciar de tal influência.

Cresci em um estúdio fotográfico, lembro que criança a casa de meu pai era no

segundo andar do local onde ele trabalhava e uma das janelas do meu quarto era na verdade

como um aquário, de lá tinha a visão perfeita do estúdio e das cenas e produtos que ali eram

fotografados. Porém muitas vezes ter esta vista privilegiada trazia um pequeno problema,

noites não tão bem dormidas pelo incômodo de disparos de flashes sem hora para acabar.

Ainda criança o fundo infinito do estúdio, quando não usado para a fotografia se tornava

rampa de patins ou skate para terror de meu pai. O laboratório fotográfico sempre foi lugar de

experiência com químicos, suas temperaturas e também prática de permanecer na escuridão.

Os cheiros do laboratório da minha infância e adolescência e seus químicos ainda marcam

minha memória olfativa.

Adolescente, na década mil novecentos e noventa, com a intenção de começar a

ganhar dinheiro, fui trabalhar como assistente, fotografando produtos e ambientes. Penso que

foi a fotografia de ambiente que despertou minha curiosidade em relação ao processo

fotográfico. Lembro que no estúdio as imagens eram feitas com câmeras de médio e grande

formato. Porém, para os ambientes sempre eram utilizadas as câmeras de grande formato, o

que tornava o processo mais demorado, mas com uma matriz maior, que possibilitava ampliar

bastante a imagem e preservar uma maior quantidade de detalhes. Muitos fatores técnicos

deviam ser pensados e variavam de acordo com o equipamento utilizado: câmera, filme ou

mesmo o tipo de lâmpada usada. Tudo tinha que ser pensado exaustivamente para se chegar

em um resultado aceitável para o fotógrafo.

Nessas câmeras de estúdio, de médio e grande formato, as imagens aparecem no visor

de cabeça para baixo e devíamos imaginar a cena desta forma, era uma construção muito

interessante, pensar a imagem invertida. Não só pensar a imagem invertida, mas entender a

  9  

física e a matemática por trás disso. Conhecer a regra de três para a realização de uma

fotografia, a relação que existe entre obturação, abertura de diafragma e a sensibilidade do

filme era uma equação complicada. Hoje entendo um pouco melhor o que isso significa e

como resolver essa relação, mas naquela época de assistente gostava de imaginar a magia da

fotografia e o fotógrafo como um maestro na captação da luz, um pensamento mais lúdico que

permeava uma alegoria mágica.

Preparar a cena de um ambiente para ser fotografado demorava uma média de dois

dias, esses espaços eram literalmente construídos no estúdio, com paredes, portas e janelas

falsas, decorados, pintados e devidamente iluminados. Toda a luz que incidia no ambiente era

medida e corrigida, e então era finalmente feita uma chapa. Repito: uma chapa!. O processo

dessas fotografias era extremamente interessante. Eu era um dos três assistentes do estúdio na

época, e para fotografar os ambientes cada um de nós ficava com uma régua de luz com uma

média de quatro fontes ligadas. Todas com marcação dos segundos que elas deveriam ser

desligadas. Nós, os assistentes, sentados em frente às réguas com as anotações, esperávamos o

fotógrafo abrir o obturador e retirar a proteção da chapa que ficava no back da câmera para

que assim a luz pudesse alcançar a lâmina emulsionada. Neste instante começava a contagem:

sem relógios, os segundos passavam pelo estalar dos dedos do fotógrafo e quando chegava no

tempo de cada foco de luz, estes eram desligados até que o estúdio estivesse no escuro total e

o protetor da chapa fosse colocado novamente. Cada back dessas câmeras de grande formato

comportava no máximo duas chapas. A revelação demorava uma média de quarenta minutos,

feita ali mesmo no estúdio; depois deveríamos esperar de quinze a vinte minutos para a chapa

secar na secadora, um armário com uma resistência onde as lâminas emulsionadas eram

penduradas. E aí a verificação era realizada, se a foto estava com a exposição correta,

passávamos para o próximo ambiente, caso contrário corrigíamos os erros e fazíamos outra

chapa até que o resultado fosse satisfatório.

Depois de alguns anos trabalhando como assistente em estúdio fotográfico me cansei,

pedi a conta e fui trabalhar com outra paixão, a gastronomia. Dos dezoito aos vinte e dois

anos não quis saber de fotografia, de laboratório e nada relacionado a isso. Porém durante um

período morando fora do país1, resolvi comprar uma câmera fotográfica nova, digital. Então

comecei uma nova fase de proximidade à fotografia que segue até hoje.

Algumas experiências além dos citados acima durante minha infância e adolescência,

foram de extrema importância e marcantes para definir a linha que sigo hoje junto a

                                                                                                               1  Em  2006  fui  morar  nos  EUA  para  trabalhar  em  um  Cassino.  Morei  durante  dez  meses  na  cidade  de  Norwich  no  estado  de  Connecticut.    

  10  

fotografia. Dentre eles, destaco três expedições fotográficas, a primeira delas, Da América

para as Américas, que teve duração de seis meses e foi realizada em 2006/2007. Essa

expedição teve o intuito de retratar os movimentos sociais latino-americanos utilizando

fotografias e o audiovisual como forma de documentação. A segunda, Fronteiras da

Latinidade, teve duração de dois meses e foi realizada em 2012/2013 por países da Europa

mediterrânea e norte da África e buscou retratar as relações entre os países colonizadores,

suas colônias e o conceito de latinidade. A terceira, Entre mim e a Linha do Equador, teve

duração de 2 meses e foi realizada em 2014, uma expedição que culminou em uma residência

artística na cidade de Quito, capital do Equador. Essas experiências me trouxeram a

possibilidade de um olhar ampliado sobre o questionamento do mundo em que vivemos, suas

realidades sociais e as dicotomias existentes: periferia versus centro, colônia versus império,

pobres versus ricos, desenvolvidos versus permanentemente em desenvolvimento.

Além dessas experiências, é importante citar uma graduação inacabada2 nas Ciências

Sociais, 2004/2008, que me fez ter contato direto com metodologias de pesquisa ligadas à

antropologia, etnografia e discussões relacionadas ao contexto social em que vivemos. Essa

vivência fomentou ainda mais as questões supracitadas e acredito que tenha direcionado a

minha visão de mundo. Na pesquisa para a especialização Fotografia: Processos de produção

de imagens busco como escopo a arte urbana, e como recorte da arte urbana as exposições

fotográficas nas ruas. Meu objeto de estudo é a Galeria Sem Licença e a as interlocuções

entre arte e espectador, técnica e suporte, público e galeria.

A Galeria Sem Licença (GSL) é uma galeria de rua que organiza exposições coletivas

com fotógrafos de diferentes partes do país e do mundo. Imagens fotográficas são ampliadas

em grandes dimensões e coladas em forma de lambe-lambe, umas ao lado das outras nas ruas

das cidades. Junto de cada intervenção é posicionado um qrcode3 com as informações sobre

os artistas participantes, ativando assim a curiosidade do público.

                                                                                                               2 Entre 2005 e 2009 cursei o curso de ciências sociais na Universidade Federal do Paraná. Entretanto, por conjunturas do destino e questões profissionais abandonei o curso. Entre 2011 e 2012 cursei e conclui a graduação de tecnólogo em gastronomia. 3Código QR (sigla do inglêsQuick Response) é um código de barras bidimensional que pode ser facilmente esquadrinhado usando a maioria dos telefones celulares equipados com câmera. Esse código é convertido em texto (interativo), um endereço url, um número de telefone, uma localização georreferenciada, um e-mail, um contato ou um sms (fonte wikipedia)  

  11  

Figura 1: Montagem da Galeria Sem Licença

Fonte: acervo do fotógrafo

A Galeria de rua (fig. 1) surgiu gradativamente, por meio de ações de ocupação do muro

do antigo Clube Operário no centro histórico de Curitiba. A ocupação teve início em meados

de 2011, mas foi em 2012 que a ação ganhou um novo caráter, pois passou a constituir uma

proposta de curadoria e consolidar-se como galeria.

Durante o pré-carnaval de rua4 a polícia entrou em choque com os foliões que estavam

no centro histórico de Curitiba. Foi após este evento que a primeira exposição coletiva foi

organizada ao redor de uma curadoria intitulada: “Sem Licença para o Carnaval”. Desde de

então a Galeria Sem Licença ampliou seus limites e vem ocupando muros e espaços em

outras cidades, como o Centro de Arte Contemporânea de Quito (Equador), o centro de Juiz

de Fora durante o FESTIVAL FOTO 12, o Centro Cultural Fábrica Braço de Prata em Lisboa

(Portugal), os muros de uma escola pública em San Martin de Los Andes na Patagonia

(Argentina) e Morretes no Paraná (Brasil) durante o festival de fotografia Stop Fotográfico.

A Galeria Sem Licença tem como proposta principal não pedir licença para a arte, para

debater publicamente assuntos do cotidiano das pessoas e com isso atingir o público que passa

pelas ruas e acompanha o movimento da cidade. As exposições são organizadas com temas

definidos, são efêmeras e ganham novos significados por meio da interação que ocorre entre

obra, artista e público. As pessoas que passam pelas ruas vêem, fotografam, refotografam,

rasgam, desenham, pintam e alteram as obras.

A Galeria Sem Licença promove a fotografia como estratégia para ativar reflexões                                                                                                                4O  pré  carnaval  de  rua  de  Curitiba  é  realizado  pelo  bloco  Garibaldis  e  Sacis  nos  quatro  domingos  que  antecedem  o  carnaval  desde  1999.    

  12  

sobre o espaço urbano e construir outras visões sobre o mesmo. Ao colocar os trabalhos na

rua eles passam a fazer parte da cidade e criam lugares de encantamento onde antes havia

apenas um muro vazio. A Galeria não pede licença para criar esses desvios em meio ao caos

urbano, ao mesmo tempo em que suspende a realidade por alguns minutos, criando um espaço

público e aberto para se pensar imagens. Dessa maneira são criadas novas condições para o

conhecimento, por meio da ocupação de paredes que não “deveriam” ter fotografias expostas.

Nas próximas páginas pretendo apontar algumas das questões que envolvem os

processos de construção do projeto Galeria Sem Licença e questões que surgiram no decorrer

do processo de especialização. Assim, inicio o texto com algumas breves questões da história

da fotografia para em seguida debater as possibilidades de uma fotografia expandida, a arte de

rua e em um último momento irei resumir o processo de construção da Sem Licença.

  13  

2 HISTÓRIA, SUPORTES E POSSIBILIDADES FOTOGRÁFICAS

Para compreendermos algumas das rupturas e propostas da Galeria Sem Licença,

penso ser importante retomar algumas questões históricas. A fotografia surge através da

possibilidade química de fixar uma imagem exposta através da luz por um determinado

período de tempo em um suporte. As primeiras experiências bem sucedidas datam das

primeiras décadas do sec. XIX. São reconhecidos como uns dos primeiros a utilizar a luz para

gravar uma imagem Niepce e Daguerre.

O primeiro era um litógrafo em busca de automatizar o processo de copiar desenho e

traço. “Ele sabia que um certo tipo de asfalto, chamado betume da Judéia, endurecia quando

exposto à luz.” (TIME-LIFE, 1976, p.10). Foi através de uma solução deste betume da Judeia

e outros componentes químicos que Niepce desenvolveu uma fórmula que exposta ao sol

endurecia apenas as partes que tinham contato direto com a luz, fazendo assim uma matriz

queimada que poderia ser copiada. Este processo foi chamado por ele de Héliogravure, do

grego Helios – sol e do francês gravure. Mas Niepce queria mais e utilizando uma câmara

escura e uma de suas placas preparadas com a solução de betume da Judéia, deixou a câmara

apontada para a janela que estava aberta e tinha vista para alguns telhados. A imagem

resultante desse processo é hoje considerada a fotografia mais antiga. Alguns outros processos

e químicos foram testados por Niepce, mas nenhum deles trazia resultados muito melhores

que o primeiro, que ainda tinha uma imagem de baixa qualidade em termos de fixação e

compreensão do conteúdo da fotografia.

Daguerre que era pintor e cenógrafo na época, sabendo dos estudos de Niepce foi

procura-lo e através de diálogos entre eles, criou o Daguerreotipo. Infelizmente, Niepce

morreu antes de ver o resultado dos estudos compartilhados. O processo do daguerreotipo

trazia uma gama de tonalidades de cinza impressionante e foi utilizado amplamente por mais

de uma década depois de seu lançamento.

Porém este processo já foi lançado estando obsoleto, pois no daguerreotipo existia um

grande problema, a imagem fixada na placa metálica dependendo do angulo de visão do

observador poderia ser vista como um negativo (como conhecemos hoje), como uma imagem

positiva, ou ainda ser metade negativa e metade positiva. Este problema foi solucionado por

Talbot no ano de lançamento do Daguerreotipo.

Em 1839, Talbot – cientista que utilizava a câmara – apresentou uma forma de

transformar a imagem negativa em positiva, fazendo o que conhecemos hoje como cópia de

contato. Assim, em 1840, Talbot apresentou para o mundo uma formula revolucionaria que

  14  

ele chamaria de Calotipia, do grego Kalos, beleza e typos, impressão. Neste processo a

imagem só apareceria depois de revelada quimicamente.

Nos anos seguintes, Talbot introduziu inúmeros melhoramentos no seu calótipo. Aumentando a sensibilidade da camada sensível, foi capaz de reduzir o tempo de exposição, o que tornou possível fotografar pessoas. Mas havia uma falha no negativo de papel: suas fibras bloqueavam parte da luz durante a operação de copiagem, produzindo assim uma fotografia suave e ligeiramente borrada (TIME-LIFE, 1980, p.8).

Esse problema foi solucionado quando Abel Niepce de St. Victor, primo de Niepce,

apresentou seu processo em 1847, usando como suporte uma chapa de vidro emulsionada com

um composto de prata suspenso em clara de ovo. A chapa de vidro não causava alteração

química ao processo e também não trazia interferências como as fibras do papel. Apesar de

ser de difícil manuseio e frágil, e ter de ser usada com a emulsão ainda úmida, pois perdia

parte de suas propriedades fotossensíveis quando seca, foi utilizada durante muito tempo

pelos fotógrafos.

Uma inovação tecnológica transformou o processo fotográfico e permitiu com que a

fotografia fosse popularizada e fosse possível de ser realizada por qualquer pessoa mesmo que

sem conhecimentos químicos: a criação do filme. A partir da invenção de uma solução a base

de gelatina, que mesmo seca não perdia as propriedades fotossensíveis e ainda podia ser

aplicada em um suporte flexível, na década de 1880, foi criado o filme em rolo. Assim, já não

era mais necessário o domínio de todas as formulas químicas, apenas uma câmera, que passou

a ser barata, leve e portátil. O homem que uniu essas duas inovações é conhecido com George

Eastman, o criador da Kodak.

É interessante entender que além da fotografia ter surgido como a primeira imagem

técnica, a sua história demonstra sua relação com outras áreas artísticas e de produção de

imagem. Dois dos seus criadores aqui citados, por exemplo, vieram de áreas criativas que

buscavam encontrar nessa tecnologia inovadora novas possibilidades. Segundo Flusser “As

imagens técnicas são produzidas por aparelhos. Como primeira delas foi inventada a

fotografia. O aparelho fotográfico pode servir de modelo para todos os aparelhos

característicos da atualidade e do futuro imediato” (FLUSSER, 1985, p.13). Esse modelo da

caixa escura “mágica” vem passando por diversas transformações, mas a expansão da

fotografia para além de certas restrições técnicas é algo tanto quanto recente.

A crescente automatização trouxe a popularização da câmera fotográfica. A partir do

momento que a Kodak inventou uma câmera que já vinha pronta, com um filme emulsionado

  15  

e o único trabalho do fotógrafo era fotografar com a exposição e velocidade corretas, o

profundo conhecimento da química e da física deixaram de ser fatores estritamente

necessários para a produção de uma imagem fotográfica. A partir de entãoqualquer pessoa

poderiafotografar e a Kodak faria o resto. Em um espaço muito curto de tempo a imagem

fotográfica se democratizou. Até então, as câmeras fotográficas eram construídas

artesanalmente e quando levadas para fotografar lugares ou situações distantes deveriam

acompanhar um laboratório para que o processo de revelação fosse feito enquanto a placa

emulsionada ainda estivesse húmida.Na atualidade do século XXI a mudança é ainda mais

radical, pois as câmeras estão em todos os lugares, acopladas a celulares, as imagens podem

ser colocadas na rede de internet e visualizadas instantaneamente após serem realizadas. Tudo

isso sem processo de revelação.

Desde o seu início a imagem fotográfica representou um ponto de vista e um recorte

no qual ao mesmo tempo em que a realidade é reiterada também é questionada. O frame

construído pelo fotógrafo nada mais é que um quadro com suas arestas, o que está dentro,

assim está por sugestão ou intenção daquele que realiza a imagem. Essa mágica, da

possibilidade de construir uma imagem através de um aparelho, é um elemento quevem

trazendo uma ampla discussão teórica para o campo da fotografia.

No início do século XXI, com o processo de digitalização das imagens, celulares com

câmeras, notebooks, entre outros, podemos perceber a ampliação de uma cultura voltada para

as imagens, mas que pouco reflete sobre a mesma. É claro que, como mencionei, espaços

específicos como a academia vêm apontando questões sobre o tema. Vivemos em um mundo

construído por imagens onde o conhecimento não se faz necessário e sim a informação. Existe

aqui um paradoxo construído, a análise não é necessária somente o reconhecimento do fato.

Segundo Villen Flusser: “O homem, ao invés de se servir das imagens em função do mundo,

passa a viver em função de imagens. Não mais decifra as cenas da imagem como significados

do mundo, mas o próprio mundo vai sendo vivenciado como conjunto de cenas.” (FLUSSER,

1985, p.7)

Esse breve percurso da produção técnica em fotografia nos traz para a

contemporaneidade e para a reflexão sobre trabalhos atuais. Quais seriam algumas das

possibilidades de se pensar a fotografia na atualidade? Estaria ela presa aos espaços

expositivos como arte, aos computadores como entretenimento, ou pode estar criando outros

tipos de relações como o público? Gostaria de pensar algumas dessas questões nas próximas

páginas antes de discutir com maior ênfase os processos e objetivos da Galeria Sem Licença.

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2.1 A FOTOGRAFIA It is the artist who is truthful and it is photography which

lies, for in reality time does not stop […] Auguste Rodin

A monografia aqui apresentada compreende a fotografia como campo amplo,

pertencente as artes visuais. Entretanto, apesar deste assunto ser parte das discussões teóricas

desde a criação da fotografia esta é uma discussão bastante presente ainda na

contemporaneidade por conta das especificidades da técnica fotográfica e sua luta histórica

em afirmar-se enquanto arte. François Soulages pergunta:

Será que a fotografia nos pode dar o objeto a ser fotografado? Será ela, verdadeiramente, a prova de um acontecimento, de um fenômeno ou de uma existência, ou então não será sempre, antes de tudo, uma encenação? Alguns responderiam: “a fotografia é uma prova da existência efetiva de um acontecimento; é mesmo o seu reflexo; nisso, ela tem relação com a objetividade”. Essa opinião é um dos principais preconceitos relativos a fotografia e indica uma das suas principais funções (SOULAGES, 2010, p.22).

Soulages segue o texto sinalizando cinco campos nos quais podemos perceber o que

ele chama de preconceito: o primeiro: a afirmação sobre “isso existiu”, o segundo: a

fotografia de reportagem, o terceiro: a fotografia doméstica, o quarto: a fotografia erótica ou

pornográfica e o quinto: a fotografia publicitária. Cada um desses espaços de circulação das

imagens fotográficas traz diferentes entendimentos sobre a mesma e remete a uma espécie de

“função sociocultural das imagens” baseada em supostas verdades sobre a imagem.

Conforme apontado na breve história da fotografia aqui citada, durante os primeiros

anos do seu desenvolvimento técnico era o operador – fotógrafo –quem explorava as

possibilidades de suportes que podiam ser usados. Uma visão técnica e conhecimento

aplicado em física e química eram necessários para a realização de uma imagem fotográfica.

Talvez por isso, o status de um fotógrafo era o de técnico e até mesmo cientista. Isso

contribuiu para a ideia de uma imagem fotográfica como representante de um documento,

uma suposta verdade que permeou cada uma das áreas acima citadas.

Porém, como defendido por Soulages, penso que a imagem fotográfica é construída e

que a fotografia pode ser duplamente enganosa: “enganosa de um lado antes da tomada da

imagem por uma encenação, e, de outro lado, após a tomada da imagem, no momento da

revelação e da cópia” (SOULAGES, 2010, p.25). O que quero dizer é que a imagem

fotográfica é construída a partir de uma determinada perspectiva para se alcançar um

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resultado desejado. Nesse sentido podemos estabelecer uma aproximação direta entre uma

imagem que poderia ser percebida apenas como uma “janela para o mundo” e as demais

esferas da produção artístico-visual reconhecidas pelas suas possibilidades de construção e

reflexão criativas.

A divisão entre fotografia e artes visuais pode ser entendida como uma falsa

polarização. Desde os momentos em que as suas longas histórias se cruzaram e pareciam

conflituosas, podemos perceber diversos paralelos e possibilidades por esses encontros. Como

bem aponta o historiador Giulio Carlo Argan (1998):

É difícil dizer se era maior o interesse do fotógrafo por aqueles pintores ou dos pintores pela fotografia; o que é certo, em todo caso, é que um dos móveis da reformulação pictórica foi a necessidade de redefinir sua essência e finalidades frente ao novo instrumento de apreensão mecânica da realidade (ARGAN, 1998, p.75).

Entendo que as esferas e os processos de produção de imagens fotográficas ou não

fotográficas não caminharam em separado. O desenvolvimento das técnicas específicas

ocorreram em momentos distintos e apesar de terem fundado especificidades de campos de

atuação também criaram outras tantas zonas de encontro e diálogo. A partir dessa concepção

que penso o conceito de fotografia expandida, como uma possibilidade de pensarmos a

imagem fotográfica para além do aparato técnico, encontrando outras linguagens como a arte

urbana, por exemplo e estabelecendo diferentes possibilidades de relação com a produção

artística.

2.2 A FOTOGRAFIA EXPANDIDA

A fotografia expandida é uma forma de se pensar a linguagem fotográfica na arte

contemporânea. Porém, segundo Rubens Fernandes Junior: “Da mesma maneira que

percebemos o ir além, o ultrapassar de todos os limites, a contaminação das técnicas, o

hibridismo dos suportes, verificamos o quanto é difícil e impreciso articular uma

nomenclatura para a produção contemporânea” (2006, p.10). A grande questão da fotografia

expandida está no processo de criação do artista e a relação da imagem criada a partir desse

processo com as superações das possibilidades impostas pelos aparelhos.

Segundo Rubens Fernandes Junior em seu artigo: Processos de Criação na Fotografia,

cita as estratégias propostas por Andreas Müller-Pohle, para a criação e execução da

fotografia expandida, existem três níveis de intervenção: a primeira é uma intervenção

  18  

realizada entre o artista e o objeto (o fator determinante é a construção da imagem, a locação e

a determinação do espaço e dos “atores” e/ou objetos que integram a cena); a segunda é uma

intervenção realizada entre artista e câmera (explora as possibilidades do aparelho, fato que

define a imagem)5 e a terceira é uma intervenção entre o artista e a imagem (uso de softwares

para tratamento ou alteração das imagens) (FERNANDES JUNIOR, 2006, p.17).

De fato, o conceito de fotografia expandida aparece também como “fotografia

contaminada”, discutido por Tadeu Chiarelli, o qual afirma que:

Uma fotografia contaminada pelo olhar, pelo corpo, pela existência de seus autores e concebida como ponto de interseção entre as mais diversas modalidades artísticas, como o teatro, a literatura, a poesia e a própria fotografia tradicional. Assim os autores aqui citados não seriam vistos propriamente como fotógrafos, mas como artistas que manipulam o processo e o registro fotográficos, contaminando-os com sentidos e práticas oriundas de suas vivências e do uso de outros meios expressivos (CHIARELLI, 1999)

Penso que a proposta de Chiarelli é apresentar argumentos que corroborem com a

ideia de que uma imagem fotográfica é construída através de uma determinada perspectiva. O

ponto de vista do artista não só está presente na construção da fotografia, mas suas

experiências e vivências regem o caminho que este segue. Pode-se dizer que a fotografia na

arte contemporânea não busca um momento decisivo, um instante mágico como aquele que

um dia foi proposto pela fotografia clássica de Cartier-Bresson. Na atualidade, a imagem

fotográfica é construída através de conceitos e narrativas.

Assim, é possível afirmar que a produção contemporânea em fotografia não está presa

à caixa escura, nem mesmo aos ditames da tradição clássica bressoniana. Ela é expandida

desde o momento em que é pensada enquanto imagem, nos processos de execução e também

no momento em que é apresentada ao público. Para o projeto que aqui estou apresentando:

Galeria Sem Licença, é esse terceiro ponto um dos que mais me interessa.

Expandir os limites do cubo branco, do espaço de exposição é um dos objetivos da

arte de rua, a qual será apresentada e analisada nas próximas páginas. A presença da imagem

fotográfica no espaço público e aberto é em si uma expansão. Além disso, de modo similar às

questões invocadas no que se refere à produção de arte urbana, questiono também os limites

da autoria ao pensar um projeto que tem sua relevância não na assinatura individual daquele

que o produz, mas no conjunto que é formado pelos indivíduos.

                                                                                                               5Aqui exemplos como câmeras estenopeicas, lomografia entre outras possibilidades de construção de imagens sem ou com distorções de foco e suas funcionalidades são o que de fato importam.  

  19  

3 ARTE DE RUA E A GALERIA SEM LICENÇA

O artista produtor de arte pública não é um

espectador da vida social; torna-se um sujeito produtor, dilacera tensões, conecta fragmentos

descontínuos, expõe as contradições e a historicidade dos lugares e da arte.

Mariza Veloso

A arte de rua, seja ela o graffiti, o pixo, a fotografia ou o lambe, é uma das formas que

artistas encontraram de expor suas ideias e trabalhos em espaços abertos e de grande

visibilidade. Segundo Mariza Veloso:

[...] a arte pública tem fundamentalmente endereçado suas críticas à descontextualização da arte, ou mesmo à sua institucionalização e presença exclusiva em museus e galerias. Propõe como uma de suas diretrizes a ênfase na relação entre o artista, o espectador e o lugar onde estão situados (VELOSO, 2012, p.312).

As cidades com seus prédios, muros, pontes e toda a parafernália que as compõem

permitem o surgimento de zonas que acabam se tornando espaços expositivos. Não

necessariamente espaços contínuos, ou que ocupem a cidade como um todo, mas sim partes

como: becos, ruas, ou até mesmo bairros. Essas ocupações e exposições possuem um formato

normalmente livre nos quesitos de criação, ocupação e suporte. Contudo, restrições

estipuladas pela urbe, pessoas ou poder público criam fatores limitadores para as exposições

em espaços externos. É sobre esse processo de colocar obras nas ruas que irei versar a seguir.

Gostaria de ressaltar que esse é um relato livre que parte diretamente da minha experiência

nos últimos anos com a Galeria Sem Licença.

Muitas vezes os espaços de ocupação da arte urbana são cedidos pelos donos dos

imóveis para que parte de sua propriedade passe a ter uma obra. Outras vezes, as intervenções

são autorizadas pelo poder público, e outras são realizadas sem autorização nenhuma. Assim,

mesmo que por um curto período de tempo, as intervenções transformam estes espaços em

galerias de arte, exposições permanentes ou em trabalhos em constantes transformações. Pois,

uma vez que o trabalho está pronto e exposto na rua, está suscetível as transformações que o

clima, tempo e pessoas que passam pelo trabalho possam vir a realizar neles, como o desgaste

do sol, o estrago de uma enxurrada ou um transeunte com tinta, caneta ou qualquer outro

instrumento que possa intervir no trabalho.

  20  

Como já citado no início da monografia, a relação que as intervenções artísticas

estabelecem com a trama das cidades contemporâneas produz trocas distintas das experiências

fechadas que acontecem em galerias e museus tradicionais. As relações de artistas, obras e

espectadores são permeadas por fatores e variam de acordo com trabalhos, técnicas, suportes,

materiais utilizados, tamanhos, etc. Faço uma análise de tais relações com o intuito de

evidenciar singularidades na fruição da trabalhos artísticos expostos nas ruas.

O primeiro ponto que abordo é o fato de que a relação do artista com o trabalho

quando executado diretamente no espaço público se torna mais complexa, pois o período de

gestação da obra, que costuma acontecer nos ateliês é suprimido e no momento da execução,

sem a chance do arrependimento do artista, o trabalho já está diante do público que costuma

atribuir juízos de valor. Dependente de fatores externos para ser realizada (como clima,

acessibilidade e suporte), a obra estabelece diálogo imediato com o entorno. Lembro ainda

que, muitas vezes, os trabalhos são colados, pintados ou desenhados em espaços sem

autorização o que inclui a adrenalina entre os componentes do trabalho. O artista deve estar

atento e muitas vezes pensar na ação imediata em detrimento da completude do processo de

execução, pois a obra pode ter que ser terminada às pressas, interrompida e assim até mesmo

permanecer incompleta. O trabalho realizado na rua sem autorização está sujeito às sansões

impostas pelas autoridades e previstas nas leis. Isso também ocorre no caso de espaços que

estão sob a custódia do governo, como pontes, viadutos e praças.

O segundo ponto que enfatizo é a relação entre espectador e artista. O contato de

ambos pode acontecer de forma espontânea, possibilitando um diálogo que alimente os

processos de produção e fruição estética. A relação com o artista, por se tornar mais livre, não

depende de mediações burocráticas nem da colaboração de galeristas, diretores de museus ou

demais componentes das correntes de contatos que caracterizam as instituições artísticas e

culturais. Ressalto que, muito embora os trabalhos possam ser realizados durante muitos dias

ou noites, a presença física do artista durante a execução da obra aumenta a participação

afetiva do espectador, que, ao ver “acontecer” a obra, se sente parte do trabalho. Em trabalhos

realizados na rua, não existe a necessidade de um espectador pagar entrada ou mesmo receber

convite para vernissages ou encontros formais com o artista.

O terceiro ponto que observo refere-se à relação do espectador e do trabalho. Segundo

Mariza Veloso em seu texto “Arte Pública e Cidade”, esta relação deve levar em conta o

espaço público e seu papel:

  21  

O espaço público não deve ser compreendido como presença passiva de consumidores e espectadores. Porém, é preciso perguntar pelas possibilidades da arte como referência à lembrança de que o espaço público é predominantemente um espaço social, portanto construído pelos sujeitos que dele participam (VELOSO, 2012, p.312).

Acredito que esta seja a relação mais solta e que mais difere entre a arte exposta em

galerias ou museus e a rua. A linha que separa a obra e o espectador é tênue, e muitas vezes

ultrapassada pelo espectador com a possibilidade de interação com o trabalho como ele bem

quiser, pois nesta situação está na rua. Neste sentido aparece uma relação diferente de autoria,

pois a arte passa a fazer parte do movimento da cidade. O trabalho passa a ser “os trabalhos”,

uma espécie de work in progress por meio de intervenções de outras pessoas e da apropriação

em outros suportes ou mesmo como referencia geográfica da cidade. Está lá para o

espectador, sem pudor e sem problema de ser tocado e alterado. Aliás, isso faz parte da obra

exposta na rua, o contato direto e sem proteção com o espectador, e a possibilidade de acesso

sem restrição aparente.

A ocupação do espaço urbano com arte, como conhecemos e vemos hoje, em paredes

de prédios, viadutos, muros, portões, fachadas de casas, etc. surgiu com este formato durante

a década de 1960 e 1970 com o movimento hip hop. A ideia de trazer discussões sociais e

políticas para a cidade foi o gatilho para esse tipo de intervenção artística. Segundo Mariza

Veloso:

A arte pública tem procurado estar atenta à permanência real da democracia, buscando escutar vozes de grupos sociais silenciados, questionando as “imagens sociais” estereotipadas, criando novas visibilidades e inserindo a discussão sobre os espaços urbanos, a cidade e sua organização no debate sobre espaço público e as formas de legitimidade e participação possíveis dos diferentes grupos sociais que habitam a cidade (VELOSO, 2012, p.310).

O trabalho exposto na rua discute a sociedade e seus pilares, tem origem na tentativa

de dar visibilidade a questões propostas por parte da trama social que costuma ser ignorada.

Na arte urbana existe uma ação frequente de se utilizar o anonimato para com a sociedade,

mas não para com seus pares. O artista de rua implanta sua assinatura em seus trabalhos, mas

não para todos e sim para aqueles que dividem os mesmos signos. A obra está para todos, mas

alguns níveis da sua leitura necessita o conhecimento de determinadas especificidades.

A ocupação de determinada área e a disputa territorial dentro das cidades, são fatores

determinantes para muitos grupos e a ação destes grupos em territórios da cidade. Assim o

  22  

espaço geográfico é de extrema relevância para o artista de rua e a sua área de atuação. As

cidades são divididas em zonas e as zonas são ocupadas por grupos diferentes. Existem regras

para essa ocupação, fronteiras e modo de operação.

3.1 GALERIA SEM LICENÇA: MUROS E RUAS COMO SUPORTE só através de sua própria produção é que o

conhecimento do espaço é atingido Milton Santos

A Galeria Sem Licença surgiu da ocupação gradual do muro do antigo Clube

Operário6. Hoje a Galeria, em seu formato e intenção transcende este espaço. Acredito que a

Galeria Sem Licença se aproxima do conceito criado por Hakim Bey de Zonas Autônomas

temporárias que em seu livro TAZ defende que essas zonas são espaços sem a interferência

do governo, ou poder constituído, criados durante um período de tempo para ser um espaço

livre e reflexivo sobre a sociedade que vivemos. Segundo Hakim Bey:

A TAZ é uma espécie de rebelião que não confronta o Estado diretamente, uma operação de guerrilha que libera uma área (de terra, de tempo, de imaginação) e se dissolve para se re-fazer em outro lugar e outro momento, antes que o Estado possa esmagá-la. Uma vez que o Estado se preocupa primordialmente com a Simulação, e não com a substância, a TAZ pode, em relativa paz e por um bom tempo, "ocupar" clandestinamente essas áreas e realizar seus propósitos festivos (BEY, 2001, p.16).

Acredito que a proposta exposta por Bey é a de criação de um espaço, uma área, por

um determinado período de tempo sem influência do poder constituído, mas que transcende

essa perspectiva e cria nas pessoas afetadas por esses espaços realidades diversas e um poder

de encantamento de mundo. Essas zonas autônomas, são segundo Bey, como levantes

populares, não são “permanentes” e por essa característica não podem ser cooptados pelo

poder estabelecido. No meu entendimento, essa é a grande diferença proposta por Bey entre

essas zonas autônomas temporárias e as revoluções, as revoluções são permanentes e quando

executadas passam a ser o estado constituído, já as TAZ, criam espaços de encantamentos

temporários e segundo o autor: “Como os festivais, os levantes não podem acontecer todos os

dias - ou não seriam ‘extraordinários’. (...) - mas algo mudou, trocas e integrações ocorreram -

foi feita uma diferença” (BEY, 2001, p.15).

                                                                                                               6O Clube Operário foi um tradicional espaço da cidade de Curitiba-Pr, o qual realizava famosos bailes de carnaval. Nos últimos anos o espaço foi destituído de suas funções, encontra-se semi-abandonado e funciona como um estacionamento de veículos.

  23  

A troca se dá em diversas etapas da execução da Galeria Sem Licença. A primeira é

quando o tema da próxima mostra é produzido e enviado para os artistas participantes. Neste

momento configura-se uma troca entre a produção e os artistas participantes. Situação que

fomenta uma expectativa em relação aos trabalhos que serão produzidos para a próxima

mostra para a produção e a troca de informações entre os artistas participantes e a produção,

relacionadas as interpretações sobre o tema que será abordado.

Um segundo momento de troca se dá quando a montagem das exposições é feita. Essa

troca considero que seja uma troca entre obra e artistas, artistas e público e o público e obras.

Pois além de acompanhar a montagem o público muitas vezes participa da ação. Colando as

imagens com os artistas, perguntando sobre o projeto ou mesmo fotografando a montagem da

exposição/intervenção. Essa interação é muito importante não só para o público, mas também

para os artistas que participam da mostra. A descoberta das fotografias que estão na exposição

é feita somente na hora da montagem da exposição. Não existe a divulgação do trabalho que

será exposto antes dele ser exposto. A curadoria sim, é realizada antes das fotos serem

abertas, portanto a cada foto aberta e colada na parede uma surpresa para os artistas

participantes e para o público. As primeiras impressões sobre os trabalhos dos artistas, entre

os próprios artistas, se dá neste momento. E essa troca é importante e interessante, pois aí é

feita a primeira análise da exposição como trabalhos individuais, mas também como trabalho

coletivo: exposição montada e apresentada.

Ainda existe uma terceira troca que acontece por meio da relação entre intervenção e

público. Esse é um momento interessante, ocorre quando os transeuntes das cidades, onde os

trabalhos estão sendo expostos interagem diretamente com intervenções no espaço público.

Muitos fotografam, outros censuram, rasgam, pintam, desenham e até arrancam as imagens

das paredes. As pessoas trazem movimento a exposição, os trabalhos expostos na rua vão,

conforme o tempo, se transformando e sendo criados por uma autoria coletiva, perde-se o

sentido da autoria individual. Pois é através da ação de vários indivíduos alterando as obras

que pode-se vir a criar um novo trabalho. Este trabalho interativo que em um determinado

momento se transforma em uma obra sem forma – acarreta também no momento de

abandonar o espaço ou criar uma outra exposição. E isto é importante pois cria ao final,

camadas expositivas no espaço. Quando são realizadas exposições no mesmo espaço as obras

que estavam embaixo e foram alteradas não são completamente arrancadas. São coladas

outras fotos por cima.

A relação entre obra e espectador, abarca também um momento que objetiva a

conexão entre o público e o artista, uma vez que a experiência vivida está apenas na memória

  24  

do criador das imagens, mas ganha uma nova dimensão por meio desses novos lugares de

encantamento criados. Assim, onde antes havia uma edificação tão conhecida que causava

uma confortável relação de familiaridade para aqueles ali passavam, é proposta a criação de

uma nova zona visual.

Por meio da ocupação do espaço urbano a Galeria Sem Licença tem como objetivo

atingir a um amplo e irrestrito público: os transeuntes das ruas interessados em arte/fotografia

e todos aqueles que acessam o site do projeto para acompanhar o processo as exposições e os

fotógrafos que participam das exposições da galeria. As intervenções da Galeria Sem Licença

estão situadas nas fronteiras da produção artística contemporânea, geografia, intervenção

urbana e suportes alternativos para a fotografia. A relevância e inovação do projeto está

sobretudo na problematização do tempo/espaço não apenas por meio da proposta poética da

Galeria, mas também por meio da relação entre a técnica escolhida e o espaço expositivo – as

ruas.

A Galeria Sem Licença é um projeto híbrido e interdisciplinar que possui em sua

fundamentação questões que vêm sendo trabalhadas pela arte contemporânea em diálogo com

diversas áreas como a literatura, a geografia e a sociologia. Assim, uma das principais

importâncias deste projeto encontra-se na utilização da cidade como espaço expositivo, como

uma forma de explorar espaços alternativos, deixar galerias e museus para trabalhar e

encontrar novos espectadores. Cria-se portanto uma interação direta entre espectador/trabalho

exposto com o objetivo de travar diálogos entre obra transeuntes enfrentando dessa maneira

as amarras e burocracias existentes em galerias e museus.

3.2A GALERIA SEM LICENÇA E A IDEIA DE ENCANTAMENTO

O texto de Jorge Luis Borges “O Aleph” foi de extrema importância para fomentar a

ideia e construir o espaço transcendido da paisagem deste projeto. Para o autor, “O Aleph”

constitui uma ideia complexa que abarca a relação entre espaço e tempo na qual o universo

está presente em um ponto. Aleph é também uma construção imagética de todas as referências

já vividas, ouvidas ou assistidas por Borges, onde não existem sobreposições e tudo é visto ao

mesmo tempo: “Nesse instante gigantesco, vi milhões de atos prazerosos ou atrozes; nenhum

me assombrou tanto como o fato de que todos ocupassem o mesmo ponto, sem superposição e

semtransparência” (BORGES, 2008)

Neste texto Borges afirma que “Toda linguagem é um alfabeto de símbolos cujo

exercício pressupõe um passado que os interlocutores compartem [...]”(BORGES, 2008, sem

  25  

número). Em seguida pergunta: “como transmitir aos outros o infinito Aleph, que minha

temerosa memória mal e mal abarca?”(BORGES, 2008, sem número). Aleph é um complexo

emaranhado de imagens que juntas formam uma linguagem visual distinta de qualquer já

experienciada pelo autor e de difícil transmissão tendo em vista que depende de sua memória

para poder transcrevê-la para outra linguagem.

A Galeria Sem Licença tenta criar este espaço mágico de memória através da

execução de várias exposições a partir dessa ideia de memória apontada por Borges. As

imagens reproduzidas e ampliadas em determinada parede, muro ou objeto na urbe não

pertencem a esse espaço e representam a transcrição de um lugar remoto, vivido e conhecido

pelos artistas que participam deste projeto. Este lugar já não é mais o mesmo e existe apenas

na mente destes artistas e na imagem formada pela captação da luz. Assim, a ideia é criar

experiências que remetam ao Aleph, a transcendência da imagem-memória fotografada, de

um espaço fantástico possível de ser atingido mesmo que a muitos quilômetros de distância

visual-temporal.

Entende-se que um trabalho exposto na rua está lá para sofrer as alterações que o

espectador e a ação do tempo realizem, é uma obra suscetível a transformações até

praticamente se dissolver a ponto de não ser mais percebida como obra e sim parte integrante

do espaço urbano, completamente transformada e digerida pela urbe. As palavras de Mariza

Veloso, em Arte pública e cidade (2006) ajudam a justificar a importância dessa proposta: “[...] a arte pública tem fundamentalmente endereçado suas criticas à descontextualização da arte, ou mesmo à sua institucionalização e presença exclusiva em museus e galerias. Propõe como uma de suas diretrizes a ênfase na relação entre o artista, o espectador e o lugar onde estão situados” (VELOSO, 2006, p. 310).

3.3 ETAPAS DE PRODUÇÃO E REALIZAÇÃO DO PROJETO

A primeira etapa que envolve a realização da Galeria Sem Licença é a formulação do

tema, contato com os artistas e organização dos arquivos. As exposições são em sua maioria

exposições coletivas e todas possuem um tema pré definido. Os temas são pensados por mim

enquanto curador e procuram relacionar os artistas a produzir materiais ou buscar em seus

arquivos fotografias que se relacionem com a sua interpretação em relação ao tema proposto.

Os temas são propostos para que os artistas reflitam sobre coisas do cotidiano e manifestem

suas críticas em relação a sociedade que vivemos. Alguns temas são mais ilustrativos e outros

abstratos, mas a intenção é sempre fomentar a discussão em relação a construção da imagem

fotográfica e a discussão crítica em relação a fotografia.

  26  

Os temas propostos são sempre relacionados a paráfrase: “Sem Licença para...” A não

ser quando a Galeria é convidada para participar de algum evento, então a paráfrase se torna:

“Com Licença para...” A partir deste ponto o tema/título da exposição é construído e a carta

convite escrita e enviada para os participante.

No convite de participação (carta convite) seguem as especificações que deverão ser

seguidas pelos artistas, como formato e resolução dos arquivos a serem enviados. As

definições que serão seguidas para a impressão, como espaço de cor e tamanho final das

impressões também são apresentadas neste momento. Além disso, um pequeno briefing

relacionado ao tema é encaminhado aos artistas para que exista uma direção básica, além do

título de exposição para ser seguido.

Todos os arquivos devem ser enviados até a data limite colocada na carta convite.

Muitas vezes as despesas com as impressões são rateadas entre os artistas participantes, e

portanto os depósitos dos custos das impressões são feitos pelos artistas no mesmo prazo do

envio das imagens para o meu e-mail. As imagens são impressas em gráficas especializadas

em grandes formatos. O papel utilizado para as ações é o offset com gramatura de 150g.

figura 2: impressão das imagens da Galeria Sem Licença

fonte: arquivo pessoal do fotógrafo

  27  

As montagens das exposições (figura 3) são frequentemente realizadas nos finais de

semana. Todos os artistas participantes da edição são convidados para a montagem. Durante o

processo são utilizados alguns materiais de apoio como vassouras, pinceis e rolos. Utilizamos

também cola branca para a fixação das imagens.

figura 3: Montagem da exposição, Sem Licença para a Liberdade

fonte: fonte: arquivo pessoal do fotógrafo

  28  

figura 4: exposição montada em Quito- Equador.

fonte: fonte: arquivo pessoal do fotógrafo

  29  

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Galeria Sem Licença surgiu da ocupação gradativa de um muro, no centro da

cidade de Curitiba e a partir dessa ocupação foi proposto que esse espaço se transforma-se em

uma espécie de Zona Autônoma Temporária. Hoje acredito que o projeto transcenda este

espaço físico que ocupava no início e que foi durante anos característico de sua existência. O

muro do antigo clube operário de Curitiba continua sendo importante para a manutenção da

Galeria na Cidade, pelo espaço de discussão de imagens que se tornou. Quando começamos a

ocupação não havia no muro nenhuma outra intervenção, e ocupávamos um terço do mesmo.

Hoje, depois de três anos a Sem licença ocupa o mesmo terço do muro, que fica na rua Jaime

Reis, porém as outras duas laterais se tornaram palco de intervenções de outros grupos de

fotógrafos e grafiteiros, além de interações que ocorrem entre esses grupos e a Sem Licença.  

Hoje a Sem Licença ocupa muros de outros bairros de Curitiba, outras cidades e

países. Mas a proposta da Galeria continua a mesma, ocupar espaços onde não se espera ver

exposições fotográficas com a ideia de construção de um imaginário de arte na rua voltado à

fotografia. Artistas de várias cidades do Brasil e de outros países têm participado da Sem

Licença, as exposições são construídas sob um mesmo tema, porém com experiências

distintas sobre este tema e artistas de culturas diferentes. O que torna as exposições da Galeria

interessantes discussões sobre como são construídas as imagens sobre os temas abordados e

como os diferentes processos de construção poética dos artistas trabalha ao redor dos temas

propostos.  

O processo todo da Sem Licença acarretou em uma rede de contatos com artistas já

estabelecidos e emergentes, na qual todos participam do projeto com o mesmo “peso”: com

uma imagem dentro de uma exposição coletiva. Já contamos com a participação de

personalidades tão importantes no mundo da fotografia como David Alan Harvey, fotógrafo

americano da agencia Magnum, o paulistano Waldemir Cunha e a curitibana Vilma Slomp. A

galeria conta com mais de oitenta fotógrafos, que de tempos em tempos participam das

intervenções da Sem Licença.  

Exposições em outros espaços de Curitiba, outras cidades e países já foram

realizadas pela Sem Licença, levando o trabalho de vários artistas para outros lugares com a

possibilidade de interação de diversos públicos. Acredito que a Galeria promova o trabalho de

artistas locais, de outras partes do Brasil e do mundo, trabalha com a ideia de interação entre

artistas e suas visões. Ao mesmo tempo funciona como uma espécie de ponte que relaciona

produções, espaços e processos.  

  30  

Conforme discorrido nesse trabalho, a questão do suporte utilizado para a circulação

da imagem fotográfica é central para o projeto. Ao analisar a história da fotografia pude

perceber que esta questão foi central para os pesquisadores pioneiros e que na atualidade,

quando pensamos uma fotografia expandida, essa questão volta a ser central. Já no que se

refere aos processos de circulação das imagens, as referencias sobre a arte de rua contribuem

para se pensar os processos de criação da Galeria Sem Licença. A rua como espaço de

exposição, provoca importantes e interessantes relações entre os artistas e os espectadores. A

arte volta a criar instantes de magia e apreciação quando ocupa espaços inesperados. Ao

mesmo tempo, os trabalhos incorporam as ações dos transeuntes que interagem com as obras,

as rasgam, escrevem, refotografam, modificam. Assim, é criada uma possibilidade para além

do cubo branco, para além dos suportes tidos como mais tradicionais.

A Galeria Sem Licença trouxe como experiência pessoal o knowhow para trabalhar

com arte na rua, além de possibilitar uma troca de experiência com diversos artistas e a

exploração de outros espaços para a exposição de fotografias. Também despertou um

interesse relacionado a suportes para exposições fotográficas e estudos relacionados a estes. O

suporte de uma fotografia é um significante para o trabalho realizado, faz parte e interage

diretamente com a imagem. A Sem Licença se encaminha para um desdobramento com um

trabalho pessoal voltado a discussão de suportes venho ao longo do ano de 2014 estudando a

fórmula do Marrom de Von Dyck, para trabalhar com a ampliação de imagens fotográficas

nos espaços urbanos. Este projeto é provisoriamente intitulado de Transcendendo a paisagem.  

Se a Galeria Sem Licença não pediu autorização para levar a reflexão sobre a

fotografia para as ruas também não pediu autorização para abrir portas para novos projetos.

Que venham os próximos desafios.

  31  

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna. Cia das Letras: São Paulo, 1998. BEY, Hakim. TAZ. Zonas autônomas temporárias. São Paulo: Conrad do Brasil, 2001. BUENO, Maria Lucia. Sociologia das artes visuais no Brasil. São Paulo: SENAC, 2012. BORGES, Jorge Luis. O Aleph. Cia das Letras: São Paulo, 2008.

CHIARELLI, Tadeu. A fotografia contaminada. In. CHIARELLI, Tadeu. A arte internacional brasileira. São Paulo: Lemos-Editorial, 1999.

FERNANDES JUNIOR, Rubens. Processos de Criação na fotografia: apontamentos para o entendimento dos vetores das variáveis da produção fotográfica. FACOM, nº16,2006.

LIFE-TIME. Fotografia: manual completo de arte e técnica. Abril Cultural: São Paulo: 1980.

FLUSSER, Vilém. Filosofia da caixa preta: Ensaios para uma futura filosofia da fotografia . Hucitec: São Paulo, 1985. SOULAGES, François. Estética da fotografia. SENAC: São Paulo, 2010. VELOSO, Mariza. Arte pública e cidade. In. BUENO, Maria Lucia. Sociologia das artes visuais no Brasil. São Paulo: SENAC, 2012.

  32  

ANEXOS    

FOTÓGRAFOS  PARTICIPANTES  DAS  EDIÇÕES  DA  GALERIA  SEM  LICENÇA        Adriano  R.  Hultmann  Agustin  Rincon  Ale  Strapasson  Alexandre  Magno  Alexandro  Trindade  Ana  Rodrigues  André  Vieira  Angelo  da  Silva    Ann  Schwaner  Beatriz  Ferrari  Masson  Bruna  Klim  Byron  Toledo  Camila  Marchon  Camila  Zanon  Cecilia  Miranda  Cesar  Brandt  Cibele  Rocha  Daniel  Caron  Daniel  Chiacos  David  Alan  Harvey  Dennys  Rocha  Desirre  Kriegl  Diego  Regalin  Dvid  Alan  Harvey  Ender  Biscaia  Erivan  Morais  Fabricio  Barreto  Fagner  Cesar  Fernão  Paim  Flávio  Carvalho  Francisco  Santos  Gabriel  Gallarza    

     Gabriel  Govoni  Gilson  Camargo  Gio  Soifer  Goya  Cruz  Guiga  Trancozo  Guilherme  Zawa  Gus  Benke  Gustavo  Adriano  Ribeiro  Hans  Georg  Henrik  Nascimento  Javã  Tarsis  Jean  Rodri  João  Castelo  Branco  Johann  Stolmeier  José  Vieira  Juan  Pérez  Herrera  Julian  Carlo  Fagotti  Karla  Keiko  Kauane  de  Moraes  Kris  Foltran  Lari  Lara  Lauro  Andrade  Lauro  Borges  Lina  Faria  Linda  Narvaez  Livia  Deschermayer  Lorena  Lenara  Lucas  Maruo  Lucas  Pontes  Luciana  Berlese  Luiz  Veloso      

     Marcelo  Almeida  Marcelo  De  Angelis  Mari  Braaz  Marlene  Bérgamo  Mauricio  Morais  Mauricio  Savrassoff  Mauricio  Vieira  Mel  Gabardo  Melissa  Andrade  Melvin  Quaresma  Milena  Costa  Nilo  Biazzetto  Neto  Nina  Ribas  Orlando  Azevedo  Pedro  Vieira  Rafael  Dabul  Robert  Amorim  Roberto  Pitella  Rodolfo  Massambone  Rodrigo  Zanasievicz  Roger  Wodzynski  Samuel  Bittencourt  Sandra  Carrillo  Sérgio  Silvestri  Silvio  Moreia  Simone  Ferreira  Tatiana  Carlini  Teo  Pitella  Tiago  Coelho  Valdemir  Cunha  Vilma  Slomp  Vinicius  Ferreira  Xavier  Fernandez  

   

 

 

 

 

  33  

EXPOSIÇÕES  REALIZADAS  PELA  GALERIA  SEM  LICENÇA  

 

Quito,  Equador  fev/14  

Centro  de  Arte  Contemporânea  de  Quito  

Sem  Fronteiras  para  Sem  Licença  

 

Muro  do  Antigo  Clube  Operário.  Curitiba,  Brasil  

Sem  Licença  para  o  Carnaval  –  fev/12  

Sem  Licença  para  Retratar–  abr/12  

Sem  Licença  para  Beijar/Namorar  –  jun/12  

Sem  Licença  para  a  Liberdade  –  set/12  

Sem  Licença  para  Bailar  –  nov/12  

Sem  Licença  para  Falar  Português  –  mar/13  

Sem  Licença  para  a  Mobilidade  Urbana  -­‐  mai/13  

Sem  Licença  para  a  Bienal  –  ago/13  

Sem  Licença  para  o  PhotoMarché  –  out/13  

Sem  Fronteiras  para  a  Sem  Licença  –  fev/14  

Sem  Licença  convida:  Acesso  Exclusivo  –  ago/14  

Sem  Licença  pergunta:  Somos  Todos  Culpados  –  out/14  

 

Corrente  Cultural  de  Curitiba    

Sem  licença  para  Cultura  -­‐  regionais  de  Santa  Felicidade  e  do  Boqueirão  –  nov/14  

 

Juiz  de  Fora,  Brasil  ago/12  

Festival  foto12  –  Com  Licença  para  Entrar  

 

Lisboa,  Portugal  -­‐  dez/12  

Praça  da  Liberdade,  Muro  do  espaço   cultural  da  Fabrica  Braço  de  Prata   –   reedição  da  

Sem  Licença  para  a  Liberdade  

 

 

 

 

  34  

VÍDEOS  DAS  MONTAGENS  DAS  EXPOSIÇÕES  

 

Sem  Licença  para  beijar/namorar    

http://www.youtube.com/watch?v=SFbisjaLRgY  

Sem  Licença  para  retratar  

http://www.youtube.com/watch?v=z1jvdObnK60  

Sem  Licença  para  a  Liberdade  

http://www.youtube.com/watch?v=8-­‐jUH2UrLCI  

  35  

PORTFÓLIO GALERIA SEM LICENÇA

figura 5: Sem Fronteiras para Sem Licença. Quito, 2014

fonte: arquivo pessoal do fotógrafo

  36  

figura 6: Sem Licença para Beijar/2012

fonte: arquivo pessoal do fotógrafo

  37  

figura 7: Sem licença para o Carnaval

fonte: arquivo pessoal do fotógrafo

  38  

figura 8: Sem Licença para a Liberdade

fonte: arquivo pessoal do fotógrafo