pedro miguel cabral martins carlos - autenticação · vi Índice 1 introdução 1 1.1...

113
Conversor Eletrónico Distribuído para Painéis Fotovoltaicos Granulares Pedro Miguel Cabral Martins Carlos Dissertação para a obtenção do grau de mestre em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores Orientadores: Prof. Doutor José Fernando Alves da Silva Prof.ª Doutora Sónia Maria Paulo Ferreira Pinto Júri Presidente: Prof.ª Doutora Maria Eduarda de Sampaio Pinto de Almeida Pedro Orientador: Prof. Doutor José Fernando Alves da Silva Vogal: Prof. Doutor Victor Manuel de Carvalho Fernão Pires Outubro 2014

Upload: hadat

Post on 08-Nov-2018

222 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

Conversor Eletrónico Distribuído para Painéis

Fotovoltaicos Granulares

Pedro Miguel Cabral Martins Carlos

Dissertação para a obtenção do grau de mestre em

Engenharia Eletrotécnica e de Computadores

Orientadores: Prof. Doutor José Fernando Alves da Silva

Prof.ª Doutora Sónia Maria Paulo Ferreira Pinto

Júri

Presidente: Prof.ª Doutora Maria Eduarda de Sampaio Pinto de Almeida Pedro

Orientador: Prof. Doutor José Fernando Alves da Silva

Vogal: Prof. Doutor Victor Manuel de Carvalho Fernão Pires

Outubro 2014

Page 2: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

ii

Esta Dissertação é redigida ao abrigo do Novo Acordo Ortográfico

Page 3: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

iii

Agradecimentos

Em primeiro lugar gostaria de agradecer ao Professor Fernando Silva, não só por ter aceitado

orientar esta dissertação, mas também por toda a disponibilidade que teve ao longo da sua

elaboração e sem a qual a mesma não teria sido possível. Uma palavra de apreço também para a

Professora Sónia Pinto por ter contribuído decisivamente para o meu interesse e conhecimento na

área da eletrónica de potência, na qual este trabalho se insere.

Uma vez que esta dissertação assinala o fim de um percurso académico, não posso deixar de

mencionar todos os docentes que, com o produto do seu trabalho, contribuíram para a minha

formação tanto a nível profissional como pessoal. Tive também o prazer de trabalhar e conviver com

excelentes colegas, mas gostaria de realçar aqui três, João Castro, André Duarte e Francisco

Marques, que foram os melhores companheiros de viagem que eu poderia ter desejado.

Resta-me ainda agradecer aos meus pais, tanto por me terem dado a oportunidade de

estudar como pelo incansável apoio ao longo destes cinco anos; à minha irmã por me ter orientado e

aconselhado vezes sem conta sem que fosse necessário pedir; e um agradecimento muito especial à

minha namorada, com quem partilhei os bons e os maus momentos desta jornada, tendo-me sempre

ajudado e encorajado a alcançar os meus objetivos.

A todos, o meu mais sincero obrigado.

Page 4: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

iv

Resumo

A presente dissertação tem por objetivo desenvolver uma topologia de conversores

eletrónicos distribuídos para aplicação em sistemas fotovoltaicos, que atue de forma independente

nos módulos dos painéis, otimizando a extração de energia quando os mesmos estão sujeitos a

diferentes níveis de irradiância, ou seja, sombreamento parcial.

Começou-se por realizar um enquadramento das energias renováveis, e em particular da

energia solar, e explanaram-se brevemente o problema abordado e a solução proposta.

De seguida desenvolveu-se um modelo do módulo fotovoltaico que possibilita a sua

representação computacional. Este modelo é parametrizado com base no catálogo de um módulo

comercial real. Além disso, a problemática do fenómeno de sombreamento e as suas consequências

nos sistemas fotovoltaicos atuais foi também explorada.

Por um lado, com o intuito de representar a solução convencional usada atualmente, foi

estudado, dimensionado e simulado um conversor DC-DC elevador. Por outro lado, o mesmo

procedimento foi aplicado à topologia distribuída que se propõe neste trabalho, sendo que em ambas

foi necessário ter em conta a implementação do algoritmo de MPPT. O elemento que completa

ambos os sistemas é um inversor em ponte completa, para o qual foi desenvolvido o controlo da

corrente alternada de saída e tensão contínua de entrada.

Por fim efetuou-se a análise comparativa em termos energéticos dos dois sistemas,

concluindo-se que o conversor eletrónico distribuído para painéis solares granulares, tal com é aqui

apresentado, tem vantagem em instalações que tenham recorrentemente um ou mais módulos

sujeitos a uma irradiância incidente reduzida em comparação com os restantes.

Palavras-chave: Painel fotovoltaico; Sombreamento; Conversor distribuído; Ganho energético.

Page 5: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

v

Abstract

The goal of this thesis is to develop a new topology of distributed electronic converters for

photovoltaic systems, capable of managing each module individually, optimizing the production of

energy when they are subjected to different lighting conditions, such as partial shadowing.

At first, the importance of renewable energies, and solar energy in particular, was described,

and then the problem analyzed in this study and its proposed solution were concisely explained.

Then, a photovoltaic module model was developed, allowing for its computational

representation. The parameters of this model were defined so it could accurately represent a real

commercial module. Moreover, the shadowing problem was described and so were its consequences

in current photovoltaic systems.

On the one hand, intending to represent the conventional solution used nowadays, a boost

DC-DC converter was studied, its components were determined, and its model was simulated. On the

other hand, the same method was applied to the new topology that is proposed in this thesis, knowing

that both configurations must implement the MPPT algorithm. To complete both photovoltaic systems,

it was used a full-bridge inverter for which both current and voltage control were developed.

Finally, a side-by-side analysis in terms of energy produced was carried out for the two

systems. With this analysis was possible to conclude that the distributed electronic converter for

discrete solar panels, as presented in this study, has a better performance in places which frequently

have one or more shadowed modules, while the others are fully illuminated.

Keywords: Solar panel; Shadowing; Distributed converter; Energetic gain.

Page 6: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

vi

Índice

1 Introdução 1

1.1 Enquadramento 1

1.2 Objetivo 1

1.3 Estrutura 2

2 Painel Fotovoltaico 3

2.1 Princípio de Funcionamento de um Sistema Fotovoltaico 3

2.2 Sombreamento 4

2.3 Modelo Matemático de um Módulo Fotovoltaico 6

2.4 Módulos Fotovoltaicos Escolhidos 9

2.5 Simulação 10

3 Conversor DC-DC Elevador 14

3.1 Associação de Módulos Fotovoltaicos 14

3.2 Análise Teórica do Conversor DC-DC Elevador 14

3.3 Dimensionamento e Escolha de Componentes 17

3.3.1 Bobina 18

3.3.2 Resistência de Saída 19

3.3.3 Condensador de Saída 19

3.3.4 Transístor 20

3.3.5 Díodo 21

3.3.6 Rendimento 23

3.4 Controlador Seguidor de Máxima Potência 23

3.5 Simulação 27

4 Conversor DC-DC Distribuído 33

4.1 Análise Teórica do Conversor DC-DC Distribuído 33

4.2 Dimensionamento e Escolha de Componentes 38

4.2.1 Bobina 39

4.2.2 Resistência de saída 39

4.2.3 Condensador de saída 40

4.2.4 Transformador 40

Page 7: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

vii

4.2.5 Condensador de entrada 42

4.2.6 Transístor 43

4.2.7 Díodo 45

4.2.8 Rendimento 46

4.3 Controlador Seguidor de Máxima Potência 47

4.4 Simulação 49

4.4.1 Par módulo-conversor isolado 49

4.4.2 Painel fotovoltaico completo 55

5 Inversor 57

5.1 Controlo do Inversor 57

5.1.1 Controlo da corrente 58

5.1.2 Controlo da tensão 60

5.2 Dimensionamento e Escolha de Componentes 63

5.2.1 Condensador de entrada 63

5.2.2 Filtro de saída 64

5.2.3 Transístores 66

5.2.4 Modelo da rede de BT 68

5.2.5 Rendimento 68

5.3 Simulação 69

6 Avaliação do Ganho Energético 74

7 Conclusões 78

8 Bibliografia 80

Anexo A – Módulo fotovoltaico 82

Anexo B – Díodo de bypass 83

Anexo C – MOSFET do conversor boost 84

Anexo D – Díodo do conversor boost 86

Anexo E – MOSFET do conversor distribuído 88

Anexo F – Díodo do conversor distribuído 90

Anexo G – MOSFET do inversor 92

Anexo H – Esquemático do módulo fotovoltaico 94

Anexo I – Esquemático do conversor boost 95

Page 8: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

viii

Anexo J – Esquemático do conversor distribuído 96

Anexo K – Esquemático do inversor 98

Page 9: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

ix

Lista de Figuras

Figura 2.1 – Diagrama do sistema fotovoltaico ....................................................................................... 3

Figura 2.2 – Díodos de bypass em paralelo com módulos fotovoltaicos ................................................ 5

Figura 2.3 – Circuito equivalente do modelo de um díodo e cinco parâmetros ...................................... 6

Figura 2.4 – Curvas tensão-corrente do módulo fotovoltaico simulado com irradiância variável ......... 11

Figura 2.5 – Curvas de potência do módulo fotovoltaico simulado com irradiância variável ............... 11

Figura 2.6 – Curvas tensão-corrente do módulo fotovoltaico simulado com temperatura variável ...... 12

Figura 2.7 – Curvas de potência do módulo fotovoltaico simulado com temperatura variável ............. 12

Figura 3.1 – Conversor DC-DC elevador .............................................................................................. 14

Figura 3.2 – Representação do conversor com o transístor em condução .......................................... 15

Figura 3.3 – Representação do conversor com o transístor no corte ................................................... 15

Figura 3.4 – Formas de onda ideais das correntes no conversor ......................................................... 16

Figura 3.5 – Formas de onda ideais das tensões no conversor ........................................................... 16

Figura 3.6 – Corrente no MOSFET simplificada ................................................................................... 20

Figura 3.7 – Corrente no díodo simplificada ......................................................................................... 22

Figura 3.8 – Curvas de potência do módulo fotovoltaico simulado com irradiância variável ............... 24

Figura 3.9 – Derivada da potência do módulo fotovoltaico simulado com irradiância variável ............ 24

Figura 3.10 – Comparador de histerese ................................................................................................ 25

Figura 3.11 – Esquema simplificado dos dez módulos fotovoltaicos .................................................... 26

Figura 3.12 – Diagrama do Simulink para o algoritmo de MPPT .......................................................... 27

Figura 3.13 – Corrente na bobina, obtida por simulação ...................................................................... 28

Figura 3.14 – Corrente no MOSFET, obtida por simulação .................................................................. 28

Figura 3.15 – Corrente no díodo, obtida por simulação ........................................................................ 29

Figura 3.16 – Tensão no painel fotovoltaico, obtida por simulação ...................................................... 29

Figura 3.17 – Tensão na bobina, obtida por simulação ........................................................................ 30

Figura 3.18 – Tensão no MOSFET, obtida por simulação .................................................................... 30

Figura 3.19 – Tensão no díodo, obtida por simulação .......................................................................... 31

Figura 3.20 – Tensão de saída do conversor, obtida por simulação .................................................... 32

Figura 4.1 – Esquema de ligação de módulos fotovoltaicos e conversores ......................................... 33

Figura 4.2 – Topologia do conversor DC-DC distribuído ...................................................................... 33

Figura 4.3 – Formas de onda ideais das correntes no conversor ......................................................... 37

Figura 4.4 – Formas de onda ideais das tensões no conversor ........................................................... 38

Figura 4.5 – Esquema equivalente em T do transformador .................................................................. 41

Figura 4.6 – Representação simplificada do transformador ................................................................. 42

Figura 4.7 – Corrente no díodo simplificada ......................................................................................... 45

Figura 4.8 – Regressões polinomiais de α e β ...................................................................................... 48

Figura 4.9 – Constituição do bloco Dynamic Relay .............................................................................. 48

Figura 4.10 – Diagrama Simulink para o algoritmo de MPPT ............................................................... 49

Figura 4.11 – Corrente na bobina, obtida por simulação ...................................................................... 50

Page 10: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

x

Figura 4.12 – Corrente no MOSFET, obtida por simulação .................................................................. 50

Figura 4.13 – Corrente no condensador de entrada, obtida por simulação .......................................... 51

Figura 4.14 – Corrente no díodo, obtida por simulação ........................................................................ 51

Figura 4.15 – Tensão do módulo fotovoltaico, obtida por simulação .................................................... 52

Figura 4.16 – Tensão na bobina, obtida por simulação ........................................................................ 52

Figura 4.17 – Tensão no MOSFET, obtida por simulação .................................................................... 53

Figura 4.18 – Tensão no condensador, obtida por simulação .............................................................. 53

Figura 4.19 – Tensão no primário do transformador, obtida por simulação ......................................... 54

Figura 4.20 – Tensão no secundário do transformador, obtida por simulação ..................................... 54

Figura 4.21 – Tensão no díodo, obtida por simulação .......................................................................... 54

Figura 4.22 – Tensão de saída, obtida por simulação .......................................................................... 55

Figura 4.23 – Tensão de saída, obtida por simulação .......................................................................... 56

Figura 5.1 – Inversor monofásico em ponte completa com filtro LC ..................................................... 57

Figura 5.2 – Comparadores de histerese .............................................................................................. 59

Figura 5.3 – Diagrama de blocos parcial ............................................................................................... 61

Figura 5.4 – Diagrama de blocos completo........................................................................................... 61

Figura 5.5 – Diagrama de blocos do sistema com limitador anti-embalamento ................................... 63

Figura 5.6 – Filtro LC com rede modelada por resistência equivalente ................................................ 65

Figura 5.7 – Aproximação por valores médios dos patamares da tensão na bobina ........................... 66

Figura 5.8 – Modelo da rede ................................................................................................................. 68

Figura 5.9 – Tensão de entrada do inversor, obtida por simulação ...................................................... 69

Figura 5.10 – Corrente de entrada do inversor, obtida por simulação .................................................. 70

Figura 5.11 – Tensão num dos MOSFETs, obtida por simulação ........................................................ 70

Figura 5.12 – Corrente num dos MOSFETs, obtida por simulação ...................................................... 70

Figura 5.13 – Corrente de saída do inversor, obtida por simulação ..................................................... 71

Figura 5.14 – Tensão à saída do inversor, obtida por simulação ......................................................... 71

Figura 5.15 – Pormenor da corrente de saída do inversor, obtida por simulação ................................ 72

Figura 5.16 – Tensão de saída do filtro, obtida por simulação ............................................................. 72

Figura 5.17 – Corrente injetada na rede, obtida por simulação ............................................................ 73

Figura 6.1 – Correntes de saída de módulos com (G=200 W/m2) e sem sombreamento (G=1000

W/m2) ..................................................................................................................................................... 75

Figura 6.2– Correntes de saída de módulos com (G=400 W/m2) e sem sombreamento (G=1000 W/m

2)

............................................................................................................................................................... 76

Page 11: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

xi

Lista de Tabelas

Tabela 2.1 – Dados de catálogo do módulo fotovoltaico escolhido ...................................................... 10

Tabela 5.1 – Estados possíveis do inversor.......................................................................................... 58

Page 12: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

xii

Lista de Variáveis

𝐶𝐷𝐶 Capacidade do condensador de entrada do inversor

𝐶𝑓 Capacidade do condensador do filtro de saída

𝐶𝑖 Capacidade do condensador de entrada do conversor DC-DC distribuído

𝐶𝑜 Capacidade de saída dos conversores DC-DC

𝐶𝑜𝑠𝑠 Capacidade parasita de saída do MOSFET

𝑒 Erro de seguimento do controlador de corrente

𝑓𝑐 Frequência de comutação dos conversores DC-DC

𝑓𝑖𝑛𝑣 Frequência de comutação do inversor

𝑓𝑛 Frequência nominal do transformador do conversor DC-DC distribuído

𝑓𝑟 Frequência nominal da rede elétrica

𝐺 Irradiância incidente

𝐺𝑖𝑛𝑣 Ganho do inversor

𝐼 Corrente de saída do módulo fotovoltaico

𝑖𝐴𝐶 Corrente injetada na rede

𝑖𝐶𝑖 Corrente no condensador de entrada do conversor DC-DC distribuído

𝑖𝐶𝑜 Corrente no condensador de saída dos conversores DC-DC

𝐼𝑐𝑐 Corrente de curto-circuito do módulo fotovoltaico

𝐼𝑐𝑜𝑚 Corrente de comutação do MOSFET

𝑖𝐷 Corrente nos díodos dos conversores DC-DC

𝐼𝐷 Corrente no díodo do modelo do módulo fotovoltaico

𝑖𝑓𝑣 Corrente de entrada no inversor antes do condensador

𝑖𝑖𝑛𝑣 Corrente de entrada no inversor após do condensador

𝑖𝐿𝑖 Corrente na bobina de entrada dos conversores DC-DC

𝐼𝑀𝑃 Corrente de máxima potência no módulo fotovoltaico

𝑖𝑜 Corrente de saída dos conversores DC-DC

𝑖𝑃𝑊𝑀 Corrente de saída do inversor

𝐼𝑅𝑅 Corrente inversa de recuperação do díodo dos conversores DC-DC

𝑖𝑟𝑒𝑓 Corrente de referência do controlador de corrente

𝑖𝑆 Corrente nos MOSFETs do inversor

𝐼𝑆 Corrente gerada pelo feixe luminoso

𝐼𝑠ℎ Corrente na resistência paralela do modelo do módulo fotovoltaico

𝑖𝑄 Corrente no MOSFET dos conversores DC-DC

𝑖𝑇1 Corrente no primário do transformador do conversor DC-DC distribuído

𝑖𝑇2 Corrente no secundário do transformador do conversor DC-DC distribuído

𝑘 Constante de Boltzmann

𝐾𝐼 Ganho integral do controlador de tensão

𝐾𝑃 Ganho proporcional do controlador de tensão

𝑘𝑤 Ganho auxiliar do controlador com limitador anti-embalamento

𝐿𝑓1 Indutância de fugas do primário do transformador do conversor DC-DC distribuído

𝐿𝑓2 Indutância de fugas do secundário do transformador do conversor DC-DC distribuído

𝐿𝑖 Indutância da bobina de entrada dos conversores DC-DC

𝐿𝑚 Indutância de magnetização do transformador do conversor DC-DC distribuído

𝐿𝑟 Indutância do modelo da rede elétrica

𝑚 Fator de idealidade do díodo do modelo do módulo fotovoltaico

𝑚𝑇 Relação de transformação do transformador do conversor DC-DC distribuído

𝑃 Potência de saída do módulo fotovoltaico

Page 13: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

xiii

𝑃𝐷 Potência dissipada no díodo dos conversores DC-DC

𝑃𝐷𝑐𝑜𝑚 Potência dissipada por comutação no díodo dos conversores DC-DC

𝑃𝐷𝑐𝑜𝑛𝑑 Potência dissipada por condução no díodo dos conversores DC-DC

𝑃𝐷𝐶 Potência máxima do módulo fotovoltaico

𝑃𝑖 Potência de entrada nos conversores DC-DC

𝑃𝐿𝑓 Potência dissipada na bobina do filtro de saída

𝑃𝐿𝑖 Potência dissipada na bobina de entrada dos conversores DC-DC

𝑃𝑜 Potência injetada na rede

𝑃𝑄 Potência dissipada no MOSFET dos conversores DC-DC

𝑃𝑄𝑐𝑜𝑚 Potência dissipada por comutação no MOSFET dos conversores DC-DC

𝑃𝑄𝑐𝑜𝑛𝑑 Potência dissipada por condução no MOSFET dos conversores DC-DC

𝑃𝑆 Potência dissipada em cada MOSFET do inversor

𝑃𝑆𝑐𝑜𝑚 Potência dissipada por comutação em cada MOSFET do inversor

𝑃𝑆𝑐𝑜𝑛𝑑 Potência dissipada por condução em cada MOSFET do inversor DC-DC

𝑃𝑇 Potência dissipada no transformador do conversor DC-DC distribuído

𝑞 Carga do eletrão

𝑅𝑎𝑘(𝑜𝑛) Resistência de condução do díodo dos conversores DC-DC

𝑟𝐶𝑖 Resistência parasita do condensador de entrada do conversor DC-DC distribuído

𝑟𝐿𝑓 Resistência parasita da bobina do filtro de saída

𝑟𝐿𝑖 Resistência parasita da bobina de entrada dos conversores DC-DC

𝑅𝐷𝑆(𝑜𝑛) Resistência de condução do MOSFET

𝑅𝑚 Resistência de perdas no núcleo do transformador do conversor DC-DC distribuído

𝑅𝑜 Resistência de saída dos conversores DC-DC

𝑅𝑝1 Resistência de perdas no enrolamento primário do transformador do conversor DC-DC

distribuído

𝑅𝑝2 Resistência de perdas no enrolamento secundário do transformador do conversor DC-DC

distribuído

𝑅𝑟 Resistência do modelo da rede elétrica

𝑅𝑠 Resistência série do modelo do painel fotovoltaico

𝑅𝑠ℎ Resistência paralela do modelo do painel fotovoltaico

𝑆𝑛 Potência nominal do transformador do conversor DC-DC distribuído

𝑇 Período de comutação dos conversores DC-DC

𝑇𝑐 Temperatura das células do módulo fotovoltaico em kelvin

𝑇𝑑 Atraso do inversor

𝑡𝑑(𝑜𝑓𝑓) Atraso de passagem ao corte do MOSFET dos conversores DC-DC

𝑡𝑑(𝑜𝑛) Atraso de passagem à condução do MOSFET dos conversores DC-DC

𝑡𝑓 Tempo de descida na passagem ao corte do MOSFET dos conversores DC-DC

𝑡𝑜𝑓𝑓 Tempo total de passagem ao corte do MOSFET dos conversores DC-DC

𝑡𝑜𝑛 Tempo total de passagem à condução do MOSFET dos conversores DC-DC

𝑇𝑝 Parâmetro do controlador de tensão

𝑡𝑄(𝑜𝑛) Fração do período em que o MOSFET dos conversores DC-DC conduz

𝑡𝑟 Tempo de subida na passagem à condução do MOSFET dos conversores DC-DC

𝑡𝑟𝑟 Tempo de recuperação inversa do díodo dos conversores DC-DC

𝑡𝑠 Tempo de armazenamento do díodo dos conversores DC-DC

𝑇𝑧 Parâmetro do controlador de tensão

𝑈 Tensão de entrada dos conversores DC-DC

𝑉 Tensão de saída do módulo fotovoltaico

𝑣𝐴𝐶 Tensão de saída do filtro

Page 14: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

xiv

𝑣𝐶𝑖 Tensão no condensador de entrada do conversor DC-DC distribuído

𝑉𝑐𝑜𝑚 Tensão de comutação do MOSFET

𝑉𝑐𝑎 Tensão de circuito aberto do módulo fotovoltaico

𝑣𝐷 Tensão no díodo dos conversores DC-DC

𝑉𝐷 Tensão no díodo do modelo do módulo fotovoltaico

𝑣𝐷𝐶 Tensão de entrada do inversor

𝑉𝐹 Tensão de polarização direta no díodo dos conversores DC-DC

𝑣𝐿𝑓 Tensão na bobina do filtro de saída

𝑣𝐿𝑖 Tensão na bobina de entrada dos conversores DC-DC

𝑉𝑀𝑃 Tensão de máxima potência do módulo fotovoltaico

𝑉𝑛1 Tensão nominal do primário do transformador do conversor DC-DC distribuído

𝑉𝑛2 Tensão nominal do secundário do transformador do conversor DC-DC distribuído

𝑣𝑜 Tensão de saída dos conversores DC-DC

𝑣𝑃𝑊𝑀 Tensão de saída do inversor

𝑣𝑄 Tensão no MOSFET dos conversores DC-DC

𝑣𝑟 Tensão da rede elétrica

𝑉𝑟𝑒𝑓 Tensão de referência do controlador de tensão

𝑉𝑅𝑅 Tensão inversa de trabalho do díodo dos conversores DC-DC

𝑉𝑇 Potencial térmico das células fotovoltaicas

𝑣𝑇1 Corrente no primário do transformador do conversor DC-DC distribuído

𝑣𝑇2 Corrente no secundário do transformador do conversor DC-DC distribuído

𝑍𝑇 Impedância do transformador do conversor distribuído vista do primário

𝛼 Limite inferior da derivada da potência de saída do módulo fotovoltaico

𝛽 Limite superior da derivada da potência de saída do módulo fotovoltaico

𝛾 Variável de controlo dos MOSFETs do inversor

𝛿 Fator de ciclo dos conversores DC-DC

𝜂 Rendimento do módulo fotovoltaico

𝜂𝑐𝑜𝑛𝑣 Rendimento dos conversores DC-DC

𝜂𝑖𝑛𝑣 Rendimento do inversor

𝜃 Temperatura das células do módulo fotovoltaico em graus celsius

𝜆 Variável de saída de um dos comparadores de histerese do controlador de corrente

𝜇𝐼𝑐𝑐 Coeficiente de temperatura da corrente de curto-circuito do módulo fotovoltaico

𝜇𝑉𝑐𝑎 Coeficiente de temperatura da tensão de circuito aberto do módulo fotovoltaico

𝜌 Variável de saída de um dos comparadores de histerese do controlador de corrente

𝜎 Variável de controlo do inversor

𝜔𝑐 Frequência angular de comutação dos conversores DC-DC

𝜔𝑟 Frequência angular da rede elétrica

Page 15: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

1

1 Introdução

1.1 Enquadramento

A extraordinária evolução tecnológica que ocorreu no século XX e que tem continuado em

constante aceleração até aos dias de hoje provocou na sociedade desenvolvida uma forte

dependência da energia elétrica. A disseminação generalizada do acesso à energia foi potenciada

pela utilização de combustíveis fósseis, que vieram permitir uma produção ininterrupta e controlável

de grandes quantidades de energia.

No entanto, por variados motivos de ordem económica, ambiental e social, a comunidade

internacional tem vindo a procurar e apostar, nas últimas décadas, em outras formas de produção de

energia, nomeadamente as designadas por energias renováveis. Desde o final dos anos 90 que as

instalações de energia solar e eólica têm sido as tecnologias de produção de energia com o mais

acentuado crescimento [1] e no final de 2013 já se registava uma potência instalada de energias

renováveis, exceto energia hídrica, de 560 GW a nível mundial [2].

Em Portugal, de acordo com Estratégia Nacional para a Energia (ENE2020), publicada em

Diário da República, delineou-se o objetivo de reduzir a dependência energética externa para 74%

até 2020 e aumentar a utilização de energias renováveis, fazendo com que elas passem a ser

responsáveis por 60% da energia elétrica produzida e 31% da energia final consumida. Tem-se

verificado uma razoável proliferação de instalações de microgeração doméstica, em paralelo com os

grandes investimentos.

No que diz respeito à energia solar, constata-se que é uma das tecnologias que regista maior

crescimento, tendo aumentado a sua potência instalada a nível global de 100 GW para 139 GW, só

em 2013, quando há dez anos o total de instalações constituía apenas 2% desse valor [2]. Para que

esta tendência se mantenha é imperativo que a tecnologia vá progredindo no sentido de tornar cada

vez mais acessível e mais eficiente o aproveitamento da radiação solar que todos os dias atinge a

Terra.

É neste âmbito que se insere o trabalho aqui desenvolvido, pretendendo explorar uma

filosofia alternativa de conversão da energia produzida pelos painéis fotovoltaicos.

1.2 Objetivo

O objetivo deste estudo prende-se com um problema muito específico que afeta a maioria das

soluções de aproveitamento fotovoltaico convencionais. Em particular, tomar-se-á um exemplo de

uma instalação fotovoltaica que poderia ser utilizada para microgeração doméstica. No entanto, as

Page 16: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

2

características escaláveis das instalações de aproveitamento da energia solar fazem com que a

solução proposta possa facilmente ser adaptada para centrais de maior dimensão.

Como se detalhará no decorrer deste trabalho, um painel fotovoltaico é tipicamente

constituído por várias secções ligadas entre si, designadas por módulos. Contudo, o mecanismo que

assegura que o painel produz a máxima potência possível a cada instante analisa-o como um todo.

Esta estratégia torna-se pouco eficiente quando os módulos estão expostos a níveis de radiação solar

diferentes, fenómeno que se designa habitualmente por sombreamento, e que pode ocorrer devido à

projeção de sombras por parte de objetos nas proximidades (árvores, chaminés, estruturas de

suporte, etc.) ou devido à sujidade (por exemplo de dejetos de pássaros).

O escopo deste trabalho é desenvolver um conversor eletrónico distribuído que tire partido da

granularidade dos painéis fotovoltaicos, ou seja, de estes serem compostos por vários módulos

independentes, para otimizar a energia gerada em cada um.

1.3 Estrutura

No que toca à estrutura do relatório, além deste primeiro capítulo introdutório, apresentam-se

mais sete, onde constam os seguintes conteúdos:

Capítulo 2 – este capítulo é dedicado ao painel fotovoltaico e nele descreve-se o seu princípio

de funcionamento, aprofunda-se a questão do sombreamento, detalha-se o modelo

matemático utilizado para a sua representação computacional, especifica-se o módulo

comercial escolhido e comprova-se a validade do modelo através de simulação;

Capítulo 3 – no terceiro capítulo descreve-se o conversor DC-DC elevador padrão que pode

ser considerado como exemplificativo da solução convencional, efetuando-se a sua análise

teórica e com base nela o dimensionamento e a escolha dos componentes, abordando a

estratégia de controlo utilizada e simulando para testar o seu correto funcionamento;

Capitulo 4 – seguindo os mesmos passos que no anterior, neste capítulo analisa-se o

conversor DC-DC distribuído que se propõe neste estudo;

Capítulo 5 – no quinto capítulo detalha-se o inversor utilizado em ambas as topologias,

particularizando o seu controlo, o dimensionamento e a escolha dos seus componentes e a

sua simulação;

Capítulo 6 – neste capítulo efetuam-se vários testes com o intuito de comparar o desempenho

das duas soluções e, consequentemente, determinar o ganho energético em várias situações;

Capítulo 7 – o sétimo capítulo resume as conclusões do estudo;

Capítulo 8 – no capítulo final são listadas as referências bibliográficas utilizadas.

Após o fim do relatório acrescentam-se ainda alguns anexos que se consideraram pertinentes

para a compreensão e fundamentação da informação presente no corpo de texto.

Page 17: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

3

2 Painel Fotovoltaico

2.1 Princípio de Funcionamento de um Sistema

Fotovoltaico

Entende-se por sistema fotovoltaico aquele cujo objetivo é converter a energia solar recebida

sobre a forma de radiação, em energia elétrica que possa ser usada para os mais variados fins.

Existindo atualmente um grande número de aplicações distintas, este trabalho incide, em particular,

sobre sistemas destinados à produção descentralizada de energia para injeção na rede elétrica. Para

este tipo de aplicação, a tecnologia dominante é a que recorre a painéis fotovoltaicos constituídos por

células de silício cristalino [3].

A célula é o elemento fundamental do sistema fotovoltaico, apresentando aos seus terminais

tensões e correntes reduzidas, associadas à geração de uma pequena quantidade de energia. Os

módulos fotovoltaicos surgem da associação em série e/ou em paralelo de um número variável de

células, tipicamente na ordem das dezenas, podendo gerar potências de algumas centenas de watts.

À ligação de vários módulos fotovoltaicos, que ocorre maioritariamente em série para elevar o nível

de tensão, dá-se a designação de painel fotovoltaico. Para possibilitar a injeção de energia na rede

elétrica são necessários alguns elementos adicionais, como se pode observar no diagrama da Figura

2.1.

Figura 2.1 – Diagrama do sistema fotovoltaico

A característica de saída do painel fotovoltaico a cada instante e, consequentemente, a

máxima potência que ele consegue gerar, estão dependentes das condições de funcionamento que

se verificam nesse momento, nomeadamente a temperatura das células e a irradiância incidente.

Neste contexto, o objetivo do MPPT (Maximum Power Point Tracker) ou seguidor de máxima

potência, é atuar sobre o conversor de contínuo para contínuo de tal forma que as grandezas de

saída do painel (tensão e corrente) sejam as correspondentes ao ponto de máxima potência,

independentemente das condições ambientais. O conversor DC-DC permite ainda que a tensão à

entrada do inversor se mantenha aproximadamente constante, o que é fundamental para o seu

correto funcionamento. O inversor tem como objetivo injetar na rede a potência que recebe, sob a

Page 18: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

4

forma de grandezas sinusoidais que respeitem os padrões de qualidade exigidos. Por vezes o

inversor inclui também um transformador cuja função é efetuar o isolamento galvânico entre o

sistema e a rede.

As células de silício cristalino que compõem os módulos tiram partido do efeito fotovoltaico

para converter a energia solar em energia elétrica. O silício é um elemento semicondutor que possui

quatro eletrões na banda de valência, o que possibilita a formação de uma rede cristalina na qual

cada átomo se liga a outros quatro através de ligações covalentes. Este tipo de ligação faz com que a

banda de valência fique totalmente preenchida e, consequentemente, confere estabilidade aos

átomos. No entanto, é possível fazer com que os eletrões se desloquem, caso seja fornecida uma

quantidade de energia tal que permita que os mesmos passem para a banda de condução. No caso

do átomo de silício, essa energia, designada habitualmente por hiato, é de 1,12 eV. Uma forma de a

fornecer é através da incidência de radiação, ou seja, da absorção de fotões. Assim sendo, caso o

fotão seja suficientemente energético, forma-se um par eletrão-buraco, passando a haver um eletrão

na banda de condução e uma carga positiva (buraco) na banda de valência.

No entanto, recorrendo somente a silício puro, não é possível a produção de energia elétrica

a partir da radiação incidente dado que os eletrões ejetados para a banda de condução acabariam

por se recombinar com os buracos existentes, mantendo a neutralidade do material, ou seja, um

campo elétrico nulo. Para que seja criado um campo elétrico e, consequentemente, uma corrente

elétrica, é necessário que exista uma diferença de potencial entre duas camadas da célula. Essa

diferença de potencial é conseguida alterando ligeiramente as propriedades químicas de cada uma

das camadas através da adição de outros elementos, designados dopantes. Nomeadamente,

introduz-se normalmente boro para criar a camada tipo p, caracterizada por ter excesso de cargas

móveis positivas, e adiciona-se fósforo na camada tipo n, de modo a que fique com excesso de

cargas móveis negativas. Note-se que o boro possui apenas três eletrões na banda de valência

enquanto o fósforo possui cinco.

Com esta composição, perante a exposição a fotões suficientemente energéticos, cria-se na

junção entre as duas camadas, junção p-n, um campo elétrico que acelera os eletrões para o terminal

negativo e os buracos para o positivo. Assim sendo, ligando a célula (ou o conjunto de células) a um

circuito exterior gera-se uma corrente elétrica contínua e unidirecional.

2.2 Sombreamento

Como foi referido brevemente na introdução, um dos problemas que afetam a produção de

energia por painéis fotovoltaicos é a ocorrência do fenómeno de sombreamento. Depois de serem

apresentados alguns conceitos básicos do funcionamento de sistemas fotovoltaicos, pretende-se

nesta secção aprofundar um pouco mais este fenómeno.

Page 19: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

5

A energia que um módulo fotovoltaico produz depende da radiação solar incidente nas suas

células a cada instante. Em particular, pode afirmar-se que a corrente disponibilizada pelo módulo no

seu ponto de máxima potência é tanto maior quanto mais intensa for a irradiância registada. No

entanto, devido à existência de objetos nas imediações que possam projetar uma sombra, resultantes

da presença de sujidade ou algum tipo de danificação, ou por qualquer outro motivo, a radiação nas

várias células do mesmo painel poderá não ser uniforme. Dado que existem sempre células ligadas

em série, elas terão de ser atravessadas pela mesma corrente, que é definida pela que estiver menos

iluminada.

Nalguns casos, quando uma ou mais células conseguem produzir apenas uma pequena

fração da corrente de máxima potência das células vizinhas, as primeiras podem ser forçadas a

operar em modo inverso, sendo sujeitas a uma tensão negativa aos seus terminais. Isto significa que

passam a constituir elementos dissipativos de energia, sob a forma de calor, o que pode conduzir à

sua destruição [4] [5].

A solução convencional para este problema passa por adicionar díodos em paralelo com um

determinado número de células em série, designados na bibliografia anglo-saxónica por díodos de

bypass. Neste trabalho, por limitações computacionais, não se consideram células individuais, mas

apenas módulos, pelo que se admite que cada um tem em paralelo um díodo de bypass, tal como se

exemplifica na Figura 2.2.

Figura 2.2 – Díodos de bypass em paralelo com módulos fotovoltaicos

Isto significa que se um dos módulos estiver à sombra e os restantes não, o excesso de

corrente circula pelo díodo em paralelo com o primeiro, criando uma pequena tensão negativa aos

seus terminais, correspondente à tensão de polarização direta do díodo. Assim sendo, não só esse

módulo não produz energia, como ainda dissipa alguma. O díodo pode ser substituído por um

MOSFET para uma queda de tensão ainda menor [16].

Além disso, o contornamento de um ou mais módulos ou grupos de células devido ao

sombreamento irá afetar a característica corrente-tensão do painel fotovoltaico completo, o que exige

que o algoritmo de MPPT esteja preparado para lidar com essa situação. Caso contrário, o ponto de

funcionamento poderá ficar "preso" num máximo local da curva de potência do painel, o que se traduz

num subaproveitamento das potencialidades do painel [6].

A solução que se propõe neste trabalho consiste na utilização de conversores DC-DC

dedicados a um só módulo fotovoltaico e responsáveis por efetuar o respetivo seguimento do ponto

Page 20: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

6

de máxima potência. Desta forma, mesmo que um dos módulos tenha uma radiação incidente muito

inferior à dos outros, ele continuará a gerar alguma energia, ainda que em menor quantidade. Já os

restantes continuarão a ser aproveitados no máximo das suas capacidades.

2.3 Modelo Matemático de um Módulo Fotovoltaico

Para que o estudo aqui proposto possa ser realizado, é imperativo dispor de um modelo

analítico que descreva de forma aproximada o comportamento de um módulo fotovoltaico, em

particular com recurso a um circuito elétrico equivalente. Para esse efeito, optou-se pela utilização do

modelo de “um díodo e cinco parâmetros” descrito em [3], com uma ligeira simplificação que será

detalhada adiante.

Na Figura 2.3 representa-se o circuito equivalente utilizado pelo modelo de um díodo e cinco

parâmetros para a representação de uma célula fotovoltaica. Em relação aos constituintes deste

circuito atribuem-se os seguintes significados físicos:

Fonte de corrente IS – representa a corrente elétrica gerada pela radiação incidente na célula;

Díodo D – modela a junção p-n da célula que é atravessada por uma corrente interna

unidirecional, ID, dependente da tensão aos seus terminais;

Resistência paralelo Rsh – traduz a existência de correntes de fuga;

Resistência série Rs – representa a queda de tensão que se dá na célula até aos seus

contactos exteriores.

Figura 2.3 – Circuito equivalente do modelo de um díodo e cinco parâmetros

A corrente que atravessa o díodo, 𝐼𝐷, é calculada com base na seguinte expressão:

𝐼𝐷 = 𝐼0 (𝑒𝑉+𝑅𝑠𝐼𝑚𝑉𝑇 − 1) (2.1)

onde 𝐼0 designa a corrente inversa de saturação, 𝑚 é o fator de idealidade do díodo e 𝑉𝑇 é o potencial

térmico, obtido através de:

Page 21: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

7

𝑉𝑇 =𝑘𝑇𝑐𝑞

(2.2)

sendo 𝑘 a constante de Boltzmann, 𝑇𝑐 a temperatura da célula (em kelvin) e 𝑞 a carga elétrica do

eletrão. Assim sendo, pela análise do circuito equivalente obtém-se então a seguinte expressão para

a corrente de saída da célula:

𝐼 = 𝐼𝑆 − 𝐼𝐷 − 𝐼𝑠ℎ = 𝐼𝑆 − 𝐼0 (𝑒𝑉+𝑅𝑠𝐼𝑚𝑉𝑇 − 1) −

𝑉 + 𝑅𝑠𝐼

𝑅𝑠ℎ (2.3)

Atentemos agora em três pontos de funcionamento que serão fundamentais para a

concretização do modelo, considerando que 𝑒𝑉+𝑅𝑠𝐼

𝑚𝑉𝑇 − 1 ≈ 𝑒𝑉+𝑅𝑠𝐼

𝑚𝑉𝑇 :

Curto-circuito (𝐼 = 𝐼𝑐𝑐 , 𝑉 = 0)

𝐼𝑐𝑐 = 𝐼𝑆 − 𝐼0𝑒

𝑅𝑠𝐼𝑚𝑉𝑇 −

𝑅𝑠𝐼𝑐𝑐𝑅𝑠ℎ

(2.4)

Circuito aberto (𝐼 = 0, 𝑉 = 𝑉𝑐𝑎)

0 = 𝐼𝑆 − 𝐼0𝑒

𝑉𝑐𝑎𝑚𝑉𝑇 −

𝑉𝑐𝑎𝑅𝑠ℎ

(2.5)

Ponto de máxima potência (𝐼 = 𝐼𝑀𝑃 , 𝑉 = 𝑉𝑀𝑃)

𝐼𝑀𝑃 = 𝐼𝑆 − 𝐼0𝑒𝑉𝑀𝑃+𝑅𝑠𝐼𝑀𝑃

𝑚𝑉𝑇 −𝑉𝑀𝑃 + 𝑅𝑠𝐼𝑀𝑃

𝑅𝑠ℎ (2.6)

Dos cinco parâmetros que definem o modelo, três já foram aqui mencionados: 𝑚, 𝑅𝑠ℎ e 𝑅𝑠.

Estes são considerados constantes para uma dada célula, independentemente do seu ponto de

funcionamento (radiação e temperatura). Os dois parâmetros restantes são 𝐼𝑆𝑟 e 𝐼0

𝑟, ou seja, os

valores de 𝐼𝑆 e 𝐼0 para as condições nominais de teste (STC)1:

Temperatura da célula 𝑇𝑐𝑟 = 298,16 K (25º);

Irradiância incidente 𝐺𝑟 = 1000 𝑊/𝑚2.

Apesar do modelo descrito estar definido para representar uma única célula, ele mantém a

sua validade para representar um módulo completo, assumindo que o mesmo é composto por um

conjunto de células idênticas ligadas em série e paralelo. Assim sendo, a utilidade do modelo advém

da possibilidade de se poder calcular os respetivos parâmetros com base nos valores definidos pelo

fabricante no catálogo de um determinado módulo fotovoltaico. Como seria expectável, essas

1 Daqui em diante usar-se-á a letra r em índice superior para designar uma dada grandeza definida para as

condições nominais de teste. As condições STC (Standard Test Conditions) contemplam também a distribuição espectral da radiação solar, no entanto este fator não tem influência no modelo utilizado.

Page 22: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

8

grandezas são estabelecidas para as condições de referência e são geralmente 𝑉𝑐𝑎𝑟 , 𝐼𝑐𝑐

𝑟 , 𝑉𝑀𝑃𝑟 e 𝐼𝑀𝑃

𝑟 .

Após alguma manipulação algébrica das expressões apresentadas anteriormente, é possível obter o

seguinte sistema de equações:

𝐼𝑀𝑃𝑟 = 𝐼𝑐𝑐

𝑟 −𝑉𝑀𝑃𝑟 + 𝑅𝑠(𝐼𝑀𝑃

𝑟 − 𝐼𝑐𝑐𝑟 )

𝑅𝑠ℎ− (𝐼𝑐𝑐

𝑟 −𝑉𝑐𝑎𝑟 − 𝑅𝑠𝐼𝑐𝑐

𝑟

𝑅𝑠ℎ) 𝑒

𝑉𝑀𝑃𝑟 +𝑅𝑠𝐼𝑀𝑃

𝑟 −𝑉𝑐𝑎𝑟

𝑚𝑉𝑇𝑟

(2.7)

𝐼𝑀𝑃𝑟 +

−(𝑅𝑠ℎ𝐼𝑐𝑐

𝑟 − 𝑉𝑐𝑎𝑟 + 𝑅𝑠𝐼𝑐𝑐

𝑟 )𝑒

𝑉𝑀𝑃𝑟 +𝑅𝑠𝐼𝑀𝑃

𝑟 −𝑉𝑐𝑎𝑟

𝑚𝑉𝑇𝑟

𝑚𝑉𝑇𝑟𝑅𝑠ℎ

−1𝑅𝑠ℎ

1 +𝑅𝑠(𝑅𝑠ℎ𝐼𝑐𝑐

𝑟 − 𝑉𝑐𝑎𝑟 + 𝑅𝑠𝐼𝑐𝑐

𝑟 )𝑒

𝑉𝑀𝑃𝑟 +𝑅𝑠𝐼𝑀𝑃

𝑟 −𝑉𝑐𝑎𝑟

𝑚𝑉𝑇𝑟

𝑚𝑉𝑇𝑟𝑅𝑠ℎ

+𝑅𝑠𝑅𝑠ℎ

= 0 (2.8)

−(𝑅𝑠ℎ𝐼𝑐𝑐

𝑟 − 𝑉𝑐𝑎𝑟 + 𝑅𝑠𝐼𝑐𝑐

𝑟 )𝑒𝑅𝑠𝐼𝑐𝑐

𝑟 −𝑉𝑐𝑎𝑟

𝑚𝑉𝑇𝑟

𝑚𝑉𝑇𝑟𝑅𝑠ℎ

−1𝑅𝑠ℎ

1 +𝑅𝑠(𝑅𝑠ℎ𝐼𝑐𝑐

𝑟 − 𝑉𝑐𝑎𝑟 + 𝑅𝑠𝐼𝑐𝑐

𝑟 )𝑒

𝑅𝑠𝐼𝑐𝑐𝑟 −𝑉𝑐𝑎

𝑟

𝑚𝑉𝑇𝑟

𝑚𝑉𝑇𝑟𝑅𝑠ℎ

+𝑅𝑠𝑅𝑠ℎ

= −1

𝑅𝑠ℎ (2.9)

Com base num método numérico, neste caso em concreto recorreu-se à função fsolve do

MATLAB, que implementa o algoritmo de Levenberg-Marquardt, extraíram-se os valores de 𝑚, 𝑅𝑠 e

𝑅𝑠ℎ das equações acima enunciadas. Calculados esses parâmetros, podem obter-se 𝐼0𝑟 e 𝐼𝑆

𝑟,

respetivamente, através de:

𝐼0𝑟 = (𝐼𝑐𝑐

𝑟 −𝑉𝑐𝑎𝑟 − 𝑅𝑠𝐼𝑐𝑐

𝑟

𝑅𝑠ℎ) 𝑒

−𝑉𝑐𝑎𝑟

𝑚𝑉𝑇𝑟 (2.10)

𝐼𝑆𝑟 = 𝐼0

𝑟𝑒𝑉𝑐𝑎𝑟

𝑚𝑉𝑇𝑟+𝑉𝑐𝑎𝑟

𝑅𝑠ℎ (2.11)

Para finalizar o modelo, resta perceber como é que as condições de funcionamento do painel,

nomeadamente a temperatura e a irradiância incidente, afetam os valores de 𝐼𝑆 e 𝐼0. A obtenção

dessas grandezas é conseguida por se constatar que 𝐼𝑐𝑐 e 𝑉𝑐𝑎 variam com a temperatura e com

irradiância de acordo com:

𝐼𝑐𝑐 =𝐺

𝐺𝑟[𝐼𝑐𝑐𝑟 + 𝜇𝐼𝑐𝑐(𝑇𝑐 − 𝑇𝑐

𝑟)] (2.12)

𝑉𝑐𝑎 = 𝑉𝑐𝑎𝑟 + 𝜇𝑉𝑐𝑎(𝑇𝑐 − 𝑇𝑐

𝑟) + 𝑚𝑉𝑇 ln (𝐺

𝐺𝑟) (2.13)

onde 𝜇𝐼𝑐𝑐 e 𝜇𝑉𝑐𝑎 se designam por coeficientes de temperatura da corrente de curto-circuito e da tensão

de circuito aberto, respetivamente, e podem ser habitualmente encontrados no catálogo do fabricante.

Page 23: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

9

Com base em 𝐼𝑐𝑐 e 𝑉𝑐𝑎 e nas equações (2.10) e (2.11) é possível então obter 𝐼𝑆 e 𝐼0. Assim sendo,

através da aplicação da equação (2.3) fica o modelo completamente definido.

O modelo permite ainda calcular uma estimativa da corrente e da tensão aos terminais do

módulo no ponto de máxima potência, para um determinado par irradiância-temperatura, e

consequentemente a potência gerada (𝑃𝐷𝐶 = 𝑉𝑀𝑃𝐼𝑀𝑃). Esse cálculo é conseguido aplicando um

método numérico para determinar as incógnitas 𝐼𝑀𝑃 e 𝑉𝑀𝑃 no seguinte sistema de equações:

−(𝑅𝑠ℎ𝐼𝑐𝑐 − 𝑉𝑐𝑎 + 𝑅𝑠𝐼𝑐𝑐)𝑒

𝑉𝑀𝑃+𝑅𝑠𝐼𝑀𝑃−𝑉𝑐𝑎𝑚𝑉𝑇

𝑚𝑉𝑇𝑟𝑅𝑠ℎ

−1𝑅𝑠ℎ

1 +𝑅𝑠(𝑅𝑠ℎ𝐼𝑐𝑐 − 𝑉𝑐𝑎 + 𝑅𝑠𝐼𝑐𝑐)𝑒

𝑉𝑀𝑃+𝑅𝑠𝐼𝑀𝑃−𝑉𝑐𝑎𝑚𝑉𝑇

𝑚𝑉𝑇𝑅𝑠ℎ+𝑅𝑠𝑅𝑠ℎ

= −𝐼𝑀𝑃𝑉𝑀𝑃

(2.14)

𝐼𝑀𝑃 = 𝐼𝑐𝑐 −𝑉𝑀𝑃 + 𝑅𝑠(𝐼𝑀𝑃 − 𝐼𝑐𝑐)

𝑅𝑠ℎ− (𝐼𝑐𝑐 −

𝑉𝑐𝑎 − 𝑅𝑠𝐼𝑐𝑐𝑅𝑠ℎ

) 𝑒𝑉𝑀𝑃+𝑅𝑠𝐼𝑀𝑃−𝑉𝑐𝑎

𝑚𝑉𝑇 (2.15)

No que diz respeito à implementação do modelo em ambiente computacional, recorreu-se à

ferramenta Simulink, do MATLAB, onde o díodo e a fonte de corrente da Figura 2.1 são substituídos

por uma fonte de tensão controlada, que obedece a:

𝑉𝐷 = 𝑚𝑉𝑇ln (𝐼𝑠 − 𝐼

𝐼0+ 1) (2.16)

equação que resulta de (2.3) desprezando a corrente 𝐼𝑠ℎ face às restantes. Esta é a simplificação que

foi referida inicialmente, e que foi efetuada para possibilitar a obtenção de uma expressão analítica

que permitisse calcular diretamente a tensão 𝑉𝐷. Dado o valor normalmente elevado de 𝑅𝑠ℎ, esta

aproximação não terá grande impacto na validade do modelo (como se verá adiante o erro obtido no

cálculo da potência máxima é de apenas 0,13%).

2.4 Módulos Fotovoltaicos Escolhidos

Dado que se pretende que este estudo seja o mais realista possível, o modelo foi

determinado com base num módulo fotovoltaico comercial do maior fabricante de painéis solares a

nível mundial, a Yingli Solar [7]. O módulo, pertencente à gama YGE 72 Cell NH series, é designado

por YL310P-35b e o respetivo catálogo pode ser observado no Anexo A. As características mais

relevantes deste módulo apresentam-se sumarizadas na tabela abaixo:

Silício Multicristalino

Potência-pico 𝑃𝐷𝐶𝑟 310 𝑊𝑝

Rendimento 𝜂𝑟 15,9%

Page 24: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

10

Corrente de máxima potência 𝐼𝑀𝑃𝑟 8,53 𝐴

Tensão de máxima potência 𝑉𝑀𝑃𝑟 36,3 𝑉

Corrente de curto-circuito 𝐼𝑐𝑐𝑟 8,99 𝐴

Tensão de circuito aberto 𝑉𝑐𝑎𝑟 45,6 𝑉

Coeficiente de temperatura da tensão de circuito aberto 𝜇𝑉𝑐𝑎 −0,146 𝑉/𝐾

Coeficiente de temperatura da corrente de curto-circuito 𝜇𝐼𝑐𝑐 4,50 𝑚𝐴/𝐾

Tabela 2.1 – Dados de catálogo do módulo fotovoltaico escolhido

Com base nos valores apresentados na Tabela 2.1 é possível calcular os parâmetros do

modelo anteriormente explanado, obtendo-se:

𝑚 = 65,38; 𝑅𝑠 = 0,4990 𝛺; 𝑅𝑠ℎ = 2643 𝛺; 𝐼0𝑟 = 14,92 𝑝𝐴; 𝐼𝑆

𝑟 = 8,992 𝐴

Neste trabalho pretende-se analisar uma solução que possa ser encontrada, por exemplo,

numa aplicação doméstica de microgeração, pelo que se considerou a utilização de um painel

constituído por dez módulos idênticos ao descrito acima.

2.5 Simulação

Utilizando o método e os dados descritos nas duas secções anteriores é possível obter uma

estimativa para o valor de potência-pico nas condições de referência, com base nas equações (2.14)

e (2.15), sendo o resultado 𝑃𝐷𝐶𝑟 = 309.62 𝑊 (desvio de apenas 0.02 𝑊 em relação ao valor

catalogado).

Como foi referido anteriormente, o objetivo do desenvolvimento deste modelo é a sua

implementação computacional em ambiente Simulink, o que foi conseguido através do esquemático

presente no Anexo H. De seguida realizar-se-ão alguns testes com o intuito de validar a utilização

desta representação.

Na Figura 2.4 apresentam-se as curvas I-V do módulo, para vários valores de irradiância

incidente e temperatura constante (𝜃 = 25℃). No que diz respeito às características do módulo,

verifica-se que a corrente de curto-circuito, ao contrário da tensão de circuito aberto, é muito sensível

a variações de irradiância, o que é coerente com a dependência linear resultante da equação (2.12).

Já a equação (2.13) prevê apenas uma dependência logarítmica da tensão de circuito aberto em

relação à irradiância, o que explica a menor variação. No que toca a valores numéricos, verifica-se

que, para as condições de referência, se obtém:

𝐼𝑐𝑐𝑟 = 9,007 𝐴 (desvio de 0,19% em relação ao valor de catálogo);

𝑉𝑐𝑎𝑟 = 45,6 𝑉 (igual ao valor de catálogo).

Page 25: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

11

Figura 2.4 – Curvas tensão-corrente do módulo fotovoltaico simulado com irradiância variável

Na Figura 2.5 estão representadas as curvas de potência do módulo, para vários valores de

irradiância incidente e temperatura constante (𝜃𝑟 = 25℃). Pode constatar-se que o pico de potência

decresce fortemente com a redução da irradiância, essencialmente, devido ao acentuado

decrescimento da corrente de máxima potência, dado que a tensão de máxima potência, como se

verifica, se mantém quase constante. Para as condições de referência, o modelo calcula uma

potência-pico de 𝑃𝐷𝐶𝑟 = 310,4 𝑊, constituindo um desvio de apenas 0,13% em relação ao valor de

catálogo.

Figura 2.5 – Curvas de potência do módulo fotovoltaico simulado com irradiância variável

Caso se opte por manter a irradiância incidente de referência (𝐺𝑟 = 1000 𝑊/𝑚2) e se

imponha uma variação na temperatura das células, o resultado que se obtém para as curvas I-V é o

0 10 20 30 40 500

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

X: 0.007403

Y: 9.007

Tensão [V]

Co

rre

nte

[A

]

X: 45.6

Y: 0.009889

G=1000 W/m2

G=800 W/m2

G=600 W/m2

G=400 W/m2

G=200 W/m2

0 10 20 30 40 500

50

100

150

200

250

300

350

X: 36.29

Y: 310.4

Tensão [V]

Po

tên

cia

[W

]

G=1000 W/m2

G=800 W/m2

G=600 W/m2

G=400 W/m2

G=200 W/m2

Page 26: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

12

que se apresenta na Figura 2.6. Através da análise da mesma constata-se que a tensão de circuito

aberto é agora a grandeza que maiores variações sofre, por oposição à corrente de curto-circuito. É

ainda possível concluir que a corrente de máxima potência, que se situa no “cotovelo” das curvas, se

mantém quase constante.

Figura 2.6 – Curvas tensão-corrente do módulo fotovoltaico simulado com temperatura variável

No que diz respeito às curvas de potência, que se apresentam na Figura 2.7, é bastante

evidente a menor sensibilidade da potência-pico a variações de temperatura, comparando com o

verificado para a irradiância. Isto porque a gama de valores de temperatura, em valor absoluto, que

são plausíveis de ocorrer tem uma amplitude consideravelmente mais reduzida.

Figura 2.7 – Curvas de potência do módulo fotovoltaico simulado com temperatura variável

0 10 20 30 40 500

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Tensão [V]

Co

rre

nte

[A

]

=25ºC

=50ºC

=75ºC

0 10 20 30 40 500

50

100

150

200

250

300

350

Tensão [V]

Po

tên

cia

[W

]

=25ºC

=50ºC

=75ºC

Page 27: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

13

Além de produzir menores diferenças nos máximos de potência, a temperatura é também

menos suscetível de apresentar variações abruptas entre os vários módulos do mesmo painel, pelo

que este estudo incidirá fundamentalmente na presença de diferentes níveis de irradiância para

módulos à temperatura de referência.

Page 28: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

14

3 Conversor DC-DC Elevador

Para que possa ser avaliado o ganho em energia disponibilizada e, consequentemente, a

utilidade da topologia de conversores distribuídos para painéis fotovoltaicos granulares, que é

proposta neste trabalho, é necessário definir e avaliar a energia disponibilizada num conversor

representativo da solução convencional, nas mesmas condições de operação. Para esse efeito optou-

se pela utilização de um conversor elevador tal como descrito em [8] e [9].

3.1 Associação de Módulos Fotovoltaicos

O conversor DC-DC elevador será alimentando por um painel fotovoltaico composto por 10

módulos em série, capazes de gerar uma tensão suficiente para um funcionamento correto do

conversor. No seguimento do que foi referido na secção 2.2, cada um dos módulos terá um díodo de

bypass ligado em paralelo.

Tipicamente, os díodos de bypass utilizados em painéis solares são do tipo díodo Schottky,

dado que estes têm tensões de polarização direta inferiores aos usuais. Para a escolha do díodo a

utilizar, considerou-se a tensão de circuito aberto do módulo como a maior tensão inversa que ele

precisa de suportar (45,6 𝑉). Admitiu-se também que a máxima corrente direta que poderá percorrer o

díodo é a corrente de curto-circuito do módulo (8,99 𝐴). Adicionando ainda alguma margem de

segurança, optou-se pelo modelo FYP2006DN da Fairchild, cujo catálogo pode ser consultado no

Anexo B.

3.2 Análise Teórica do Conversor DC-DC Elevador

Esta topologia de conversor, a que se atribui habitualmente, na literatura anglo-saxónica, a

designação de Boost Converter, pode ser esquematizada com base no circuito da Figura 3.1.

Figura 3.1 – Conversor DC-DC elevador

Page 29: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

15

Como o nome indica, este conversor tem como objetivo receber uma tensão contínua,

simbolizada por 𝑈, e convertê-la noutra tensão contínua, 𝑣𝑜, de valor superior. Na realidade, a fonte

de tensão 𝑈 é uma representação ideal da série de módulos fotovoltaicos e a resistência de carga 𝑅𝑜

modela o inversor a que será entregue a potência. Para que a tensão de saída 𝑣𝑜 seja de facto

praticamente contínua, podendo ser aproximada pelo seu valor médio, 𝑉𝑜, é necessária a utilização do

condensador 𝐶𝑜. O interruptor 𝑄 simboliza um dispositivo semicondutor comandado, como um

MOSFET (Metal-Oxide-Semiconductor Field-Effect Transistor) ou um IGBT (Insulated Gate Bipolar

Transistor), cujo comando permitirá a implementação do algoritmo de MPPT.

Consoante o sinal de comando, o transístor 𝑄 poderá ser posto em condução ou ao corte.

Admitindo que o comando tem um período de comutação 𝑇, habitualmente define-se o fator de ciclo

𝛿 = 𝑡𝑄(𝑜𝑛)/𝑇, onde 𝑡𝑄(𝑜𝑛) é a fração do período em que o transístor se encontra a conduzir. Cada

período pode assim ser dividido em:

0 < 𝑡 < 𝛿𝑇: Nesta primeira fase o transístor encontra-se em condução (𝑣𝑄 = 0, 𝑖𝑄 = 𝑖𝐿𝑖) e,

consequentemente, a tensão na bobina, 𝑣𝐿𝑖, assume o valor da fonte de tensão 𝑈, pelo que a

corrente na bobina, 𝑖𝐿𝑖, cresce. O díodo está inversamente polarizado (𝑖𝐷 = 0 e 𝑣𝐷 = −𝑣𝑜)

pelo que 𝐶𝑜 descarrega por 𝑅𝑜 e a tensão de saída decresce.

Figura 3.2 – Representação do conversor com o transístor em condução

𝛿𝑇 < 𝑡 < 𝑇: Na segunda fase o transístor é comandado ao corte (𝑣𝑄 = 𝑣𝑜, 𝑖𝑄 = 0) e a tensão

na bobina passa a ser negativa (𝑣𝐿𝑖 = 𝑈 − 𝑣𝑜), pelo 𝑖𝐿𝑖 decresce. O díodo passa à condução

(𝑖𝐷 = 𝑖𝐿𝑖 e 𝑣𝐷 = 0), permitindo o carregamento de 𝐶𝑜 e, consequentemente, o aumento de 𝑣𝑜.

Figura 3.3 – Representação do conversor com o transístor no corte

Resumidamente, pode concluir-se que a energia é transferida em primeiro lugar da fonte de

tensão para a bobina, e posteriormente desta para o condensador de saída. Esta característica faz

Page 30: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

16

com que este conversor seja também designado por conversor indireto. Na Figura 3.4 e na Figura 3.5

são apresentadas as formas de onda ideais que traduzem as considerações referidas acima. No

entanto, no caso da tensão de saída, assumiu-se que as variações da sua forma de onda são

desprezáveis face ao seu valor médio, pelo que se representa como sendo uma tensão contínua.

Figura 3.4 – Formas de onda ideais das correntes no conversor

Figura 3.5 – Formas de onda ideais das tensões no conversor

Page 31: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

17

A relação entre a tensão de entrada e a tensão de saída pode ser obtida notando que, em

regime permanente, a tensão na bobina tem valor médio nulo, e assim:

𝑉𝐿𝑖 =1

𝑇∫ 𝑣𝐿𝑖

𝑇

0

𝑑𝑡 =1

𝑇[∫ 𝑈

𝛿𝑇

0

𝑑𝑡 + ∫ (𝑈 − 𝑉𝑜)𝑇

𝛿𝑇

𝑑𝑡] = 0 (3.1)

donde resulta:

𝑉𝑜𝑈=

1

1 − 𝛿 (3.2)

Através da equação (3.2) conclui-se que o fator de ciclo controla a relação de conversão entre

a entrada e a saída e, à medida que 𝛿 varia entre 0 e 1, a tensão 𝑉𝑜 toma valores de 𝑈 até +∞. No

entanto, em circuitos reais não é possível aumentar indefinidamente a tensão 𝑉𝑜 uma vez que

relações de conversão superiores a 5 são difíceis de obter devido à utilização de componentes (em

particular da bobina) não ideais, o que provoca o decréscimo do rendimento com o aumento de 𝛿 [9].

3.3 Dimensionamento e Escolha de Componentes

Para que o funcionamento do circuito se assemelhe aos resultados previstos na secção

anterior é necessário efetuar um correto dimensionamento dos vários componentes, tendo em conta

os requisitos do sistema onde este conversor se irá inserir. Neste dimensionamento admitir-se-á que

as condições nominais do conversor são aquelas que derivam do funcionamento do painel

fotovoltaico com as condições de referência.

Em primeiro lugar, é importante determinar o valor do fator de ciclo em condições nominais,

pelo que é necessário definir os valores de 𝑈 e 𝑉𝑜 para o caso concreto em análise. Dado que a fonte

de tensão 𝑈 é uma representação da série de 10 módulos fotovoltaicos, toma-se como valor nominal

o correspondente a admitir o funcionamento no ponto de máxima potência e para as condições de

referência, resultando:

𝑈 = 10𝑉𝑀𝑃𝑟 = 363 𝑉 (3.3)

Quanto à tensão de saída, há que ter em linha de conta que o conversor elevador será

sucedido por um inversor monofásico, cuja tensão de entrada será precisamente 𝑉𝑜. Assim sendo,

optou-se por definir como valor médio nominal 450 𝑉. Com base nestes valores e na equação (3.2)

resulta para o fator de ciclo:

𝛿 = 1 −𝑈

𝑉𝑜= 0,193 (3.4)

Page 32: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

18

3.3.1 Bobina

No que diz respeito à bobina, a sua representação usual através da aproximação de

parâmetros concentrados, como em [10], permite escrever a seguinte relação:

𝑣𝐿𝑖 = 𝐿𝑖𝑑𝑖𝐿𝑖𝑑𝑡

(3.5)

Assumindo que 𝑣𝐿𝑖 pode ser considerada constante durante um intervalo de tempo ∆𝑡 obtém-

se:

𝑣𝐿𝑖 = 𝐿𝑖∆𝑖𝐿𝑖∆𝑡

(3.6)

onde ∆𝑖𝐿𝑖 é a variação da corrente nesse mesmo instante. Observando a forma de onda da tensão 𝑣𝐿𝑖

na Figura 3.5 e em particular o instante de 0 a 𝛿𝑇 conclui-se que 𝑣𝐿𝑖 é constante e igual a 𝑈, pelo que

se pode escrever:

𝑈 = 𝐿𝑖∆𝑖𝐿𝑖𝛿𝑇

(3.7)

de onde se conclui que a indutância da bobina poderá ser determinada com base em:

𝐿𝑖 =𝑈𝛿𝑇

∆𝑖𝐿𝑖 (3.8)

Caso se considerasse o intervalo de 𝛿𝑇 a 𝑇 e se assumisse que 𝑣𝐿𝑖 poderia ser considerada

constante e igual a 𝑉𝑜, tendo em conta a equação (3.2) e o sentido de variação de 𝑖𝐿𝑖, chegar-se-ia ao

mesmo resultado:

𝑈 − 𝑉𝑜 = 𝐿𝑖−∆𝑖𝐿𝑖

(1 − 𝛿)𝑇⇔ 𝐿𝑖 =

(𝑈 − 𝑉𝑜)(1 − 𝛿)𝑇

−∆𝑖𝐿𝑖=𝑈 (1 −

11 − 𝛿

) (1 − 𝛿)𝑇

−(1 − 𝛿)∆𝑖𝐿𝑖=𝑈𝛿𝑇

∆𝑖𝐿𝑖 (3.9)

A equação (3.8) permite concluir que o valor de indutância da bobina estará dependente da

frequência de comutação (𝑓𝑐 = 1 𝑇⁄ ) e do tremor da corrente que forem pretendidos. No que diz

respeito à frequência optou-se pela utilização de um valor na ordem dos 20 𝑘𝐻𝑧. Essa escolha foi

feita de forma a evitar o ruído acústico que se verificaria para a banda do audível, mas tendo também

em atenção que as perdas de comutação crescem com o aumento da frequência. Já o tremor da

corrente foi calculado para equivaler a 5%2 do valor da corrente de máxima potência dos módulos

2 Por simulação computacional verificou-se que a definição de um valor inferior ao estipulado para o

tremor da corrente não se traduz num aumento significativo da potência extraída pelo conversor, tornando infrutífera a utilização de uma bobina de indutância mais elevada.

Page 33: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

19

fotovoltaicos, para as condições de referência, resultando ∆𝑖𝐿𝑖 = 0,427 𝐴. Finalmente, obtém-se para

a indutância da bobina:

𝐿𝑖 =𝑈𝛿

𝑓𝑐∆𝑖𝐿𝑖= 8,23 𝑚𝐻 (3.10)

Até aqui considerou-se a bobina como sendo um elemento ideal, no entanto, a sua realização

física, usualmente com recurso a condutores de cobre, implica necessariamente a dissipação de

energia por efeito de Joule. Para comtemplar essas perdas admite-se a existência de uma resistência

em série com a bobina ideal, designada por 𝑟𝐿𝑖, cujo valor provocará um consumo de 1% da energia

que a atravessa, e que coincide com a aquela que é gerada pelos módulos fotovoltaicos, ou seja:

𝑟𝐿𝑖 =0,01 × 10 𝑃𝐷𝐶

𝑟

𝐼𝑀𝑃𝑟 2 = 0,426 𝛺 (3.11)

Note-se que a expressão anterior traduz uma aplicação direta da lei de Joule, admitindo que a

corrente na bobina pode ser aproximada pelo seu valor médio e que esse valor é o que se regista no

ponto de máxima potência, por atuação do MPPT.

3.3.2 Resistência de Saída

A resistência de saída constitui uma representação da entrada do inversor responsável por

injetar a potência na rede, como tal, deverá ser dimensionada para absorver a potência gerada pelo

painel, mantendo a tensão 𝑉𝑜 no valor escolhido. Assim sendo, admitindo um rendimento do

conversor elevador unitário, resulta a seguinte igualdade entre potências:

10𝑃𝐷𝐶𝑟 =

𝑉𝑜2

𝑅𝑜 (3.12)

pelo que se obtém para 𝑅𝑜:

𝑅𝑜 =𝑉𝑜2

10𝑃𝐷𝐶𝑟 = 65,3 𝛺 (3.13)

3.3.3 Condensador de Saída

Analogamente ao que acontece para a bobina, o dimensionamento do condensador de saída

𝐶𝑜 deverá ser efetuado com base no tremor máximo permitido para a tensão aos seus terminais.

Atente-se novamente no intervalo entre 0 e 𝛿𝑇. Como foi referido anteriormente, durante este

intervalo o díodo está ao corte pelo que se dá a descarga do condensador através de 𝑅𝑜. Recorrendo

mais uma vez à aproximação de parâmetros concentrados, sabe-se que:

Page 34: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

20

𝑖𝐶𝑜 = 𝐶𝑜𝑑𝑣𝑜𝑑𝑡

(3.14)

Admitindo que a corrente 𝑖𝐶𝑜 é aproximadamente constante nesse intervalo e, pela lei das

malhas, dada por:

𝐼𝐶𝑜 = −𝑉𝑜𝑅𝑜

(3.15)

pode escrever-se a seguinte equação, tendo também em linha de conta o sentido de variação de 𝑣𝑜:

−𝑉𝑜𝑅𝑜

= 𝐶𝑜−∆𝑣𝑜∆𝑡

(3.16)

Notando que ∆𝑡 = 𝛿𝑇 e definindo para 𝑣𝑜 um tremor correspondente a 5% de 𝑉𝑜 (∆𝑣𝑜 =

22,5 𝑉), resulta finalmente para 𝐶𝑜:

𝐶𝑜 =𝑉𝑜𝛿𝑇

𝑅𝑜∆𝑣𝑜= 2,96 𝜇𝐹 (3.17)

3.3.4 Transístor

No que toca ao transístor 𝑄 optou-se pela utilização de um MOSFET. A sua escolha deverá

ser coerente com as tensões e correntes que esse componente terá de suportar, pelo que é

imperativa uma análise prévia. Pela análise da forma de onda da tensão 𝑣𝑄, esboçada na Figura 3.5,

conclui-se que a tensão máxima que o transístor terá de suportar será dada por:

𝑣𝑄𝑚𝑎𝑥 = 𝑣𝑜

𝑚𝑎𝑥 = 𝑉𝑜 +∆𝑣𝑜2= 461 𝑉 (3.18)

Note-se ainda que é desejável que os dispositivos semicondutores sejam capazes de

suportar uma margem de segurança adicional de pelo menos 25% [8].

Quanto à corrente no MOSFET é conveniente calcular tanto o seu valor médio como o seu

valor eficaz. Em relação à forma de onda de 𝑖𝑄 apresentada na Figura 3.4 efetua-se a simplificação

de considerar que nos patamares não nulos o seu valor é constante e igual a 𝐼𝐿𝑖, passando a

apresentar o aspeto da Figura 3.6.

Figura 3.6 – Corrente no MOSFET simplificada

Page 35: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

21

Relembrando que o valor de 𝐼𝐿𝑖 é o da corrente de máxima potência do painel para as

condições de referência, o valor médio de 𝑖𝑄 é dado simplesmente por:

𝑖𝑄𝑚𝑒𝑑 =

1

𝑇∫ 𝑖𝑄

𝑇

0

𝑑𝑡 = 𝛿𝐼𝐿𝑖 = 1,63 𝐴 (3.19)

No que diz respeito ao valor eficaz, obtém-se:

𝑖𝑄𝑒𝑓 = √

1

𝑇∫ 𝑖𝑄

2𝑇

0

𝑑𝑡 = √𝛿𝐼𝐿𝑖2 = 𝐼𝐿𝑖√𝛿 = 3,75 𝐴 (3.20)

Com base nestes valores, a escolha do transístor deve ainda contemplar uma margem de

segurança adicional de 50% [8]. Neste caso em concreto, a escolha recaiu sobre o MOSFET

FCP16N60N da Fairchild, cujo catálogo é apresentado no Anexo C.

A partir dos dados do catálogo é possível obter uma estimativa das perdas originadas no

MOSFET. Essas perdas são essencialmente de dois tipos: perdas de condução e perdas de

comutação. No que diz respeito ao primeiro tipo, considera-se que quando o transístor está

comandado à condução pode ser representado por uma resistência equivalente [9], cujo valor típico é

obtido do catálogo do fabricante como 𝑅𝐷𝑆(𝑜𝑛) = 0,17 𝛺. Logo, as perdas de condução vêm dadas por:

𝑃𝑄𝑐𝑜𝑛𝑑 = 𝑅𝐷𝑆(𝑜𝑛)(𝑖𝑄

𝑒𝑓)2= 2,39 𝑊 (3.21)

Quanto às perdas de comutação, o seu valor pode ser estimado recorrendo à equação (3.22),

de acordo com [9].

𝑃𝑄𝑐𝑜𝑚 =

𝑡𝑜𝑛 + 𝑡𝑜𝑓𝑓

2𝑉𝑐𝑜𝑚𝐼𝑐𝑜𝑚𝑓𝑐 +

1

2𝐶𝑜𝑠𝑠𝑉𝑐𝑜𝑚

2𝑓𝑐 = 4,43 𝑊 (3.22)

onde 𝑡𝑜𝑛 = 𝑡𝑟 + 𝑡𝑑(𝑜𝑛) = 31,3 𝑛𝑠, 𝑡𝑜𝑓𝑓 = 𝑡𝑓 + 𝑡𝑑(𝑜𝑓𝑓) = 80,5 𝑛𝑠 e 𝐶𝑜𝑠𝑠 = 70 𝑝𝐹 são grandezas retiradas

do catálogo, designado, respetivamente, o tempo de estabelecimento, o tempo de corte e a

capacidade parasita de saída, e 𝑉𝐷 e 𝐼𝐷 são a tensão e a corrente comutadas, ou seja, são iguais a 𝑉𝑜

e 𝐼𝐿𝑖, respetivamente.

3.3.5 Díodo

Finalmente resta dimensionar o díodo, o que é efetuado por um processo análogo ao seguido

para o MOSFET. No que diz respeito às tensões que o díodo deve suportar, importa atentar na forma

de onda da tensão 𝑣𝐷, na Figura 3.5, para determinar qual a máxima tensão inversa que polariza o

díodo, ou seja, o mínimo da tensão 𝑣𝐷. Constata-se que:

Page 36: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

22

𝑣𝐷𝑚𝑖𝑛 = −𝑉𝑜 −

∆𝑣𝑜2= −461 𝑉 (3.23)

Tal como para o MOSFET, é conveniente considerar uma margem de segurança adicional

superior a 25%, para garantir que o díodo nunca entra em disrupção.

Para o cálculo dos valores médio e eficaz da corrente no díodo, efetua-se também uma

simplificação da forma de onda de 𝑖𝐷, em relação ao apresentado na Figura 3.4, passando a

considerar-se um andamento como esboçado na Figura 3.7.

Figura 3.7 – Corrente no díodo simplificada

Com base neste gráfico, o valor médio de 𝑖𝐷 é dado simplesmente por:

𝑖𝐷𝑚𝑒𝑑 =

1

𝑇∫ 𝑖𝐷

𝑇

0

𝑑𝑡 = (1 − 𝛿)𝐼𝐿𝑖 = 6,88 𝐴 (3.24)

No que diz respeito ao valor eficaz, obtém-se:

𝑖𝐷𝑒𝑓 = √

1

𝑇∫ 𝑖𝐷

2𝑇

0

𝑑𝑡 = √(1 − 𝛿)𝐼𝐿𝑖2 = 𝐼𝐿𝑖√(1 − 𝛿) = 7,66 𝐴 (3.25)

Mais uma vez, é importante não esquecer de se contemplar uma margem de segurança

adicional de 50% em relação aos valores agora determinados. O dispositivo semicondutor que se

escolheu foi o díodo VS-15ETX06PbF da Vishay, cujo catálogo é apresentado no Anexo D.

Para este díodo é também possível calcular uma estimativa as perdas de condução e

comutação, a partir dos dados do catálogo. No que diz respeito às perdas de condução, considera-se

que quando o díodo está diretamente polarizado pode ser representado por uma resistência

equivalente em série com uma fonte de tensão [9]. Estes dois parâmetros são obtidos de forma

aproximada com base na característica do díodo, apresentada no catálogo do fabricante. Esta

estimativa admite como válida uma linearização da característica apresentada em torno do ponto de

funcionamento com polarização direta, resultando para a resistência 𝑅𝑎𝑘(𝑜𝑛) = 0,1 Ω e para a fonte de

tensão 𝑉𝐹 = 1,15 𝑉. Assim sendo, as perdas de condução vêm dadas por:

𝑃𝐷𝑐𝑜𝑛𝑑 = 𝑅𝑎𝑘(𝑜𝑛)(𝑖𝐷

𝑒𝑓)2+ 𝑉𝐹𝑖𝐷

𝑚𝑒𝑑 = 13,8 𝑊 (3.26)

Page 37: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

23

Quanto às perdas de comutação, o seu valor pode ser estimado recorrendo à equação (3.27),

de acordo com [9].

𝑃𝐷𝑐𝑜𝑚 =

𝑡𝑟𝑟 − 𝑡𝑠𝑇

𝑉𝑅𝑅𝐼𝑅𝑅 = 0,238 𝑊 (3.27)

onde 𝑡𝑟𝑟 = 22 𝑛𝑠 é o tempo de recuperação inversa, retirado do catálogo, 𝑡𝑠 é o tempo de

armazenamento, que se estima que seja aproximadamente metade de 𝑡𝑟𝑟, 𝑉𝑅𝑅 é a tensão inversa de

trabalho, que no caso do díodo é 𝑉𝑜 e 𝐼𝑅𝑅 é a corrente inversa de recuperação, que toma o valor de

2,4 𝐴 de acordo com o catálogo.

3.3.6 Rendimento

O rendimento deste conversor para as condições de referência pode ser estimado

compilando os desempenhos estabelecidos anteriormente para os elementos individuais. Designando

a potência de entrada por 𝑃𝑖 = 10𝑃𝐷𝐶𝑟 , de forma resumida, têm-se as seguintes perdas por

componente:

Bobina: 𝑃𝐿𝑖 = 1%𝑃𝑖 = 31 𝑊

Transístor: 𝑃𝑄 = 𝑃𝑄𝑐𝑜𝑚 + 𝑃𝑄

𝑐𝑜𝑛𝑑 = 0,220%𝑃𝑖 = 6,82 𝑊

Díodo: 𝑃𝐷 = 𝑃𝐷𝑐𝑜𝑚 + 𝑃𝐷

𝑐𝑜𝑛𝑑 = 0,453%𝑃𝑖 = 14,0 𝑊

Com base nestes valores, o rendimento é dado por:

𝜂𝑐𝑜𝑛𝑣 =𝑃𝑖 − 𝑃𝐿𝑖 − 𝑃𝑄 − 𝑃𝐷

𝑃𝑖= 0,983 ⇒ 98,3% (3.28)

3.4 Controlador Seguidor de Máxima Potência

Como já foi referido anteriormente, o conversor DC-DC desempenhará um papel fundamental

no contexto do sistema fotovoltaico, uma vez que será responsável por assegurar que o painel se

encontra a funcionar no ponto de máxima potência, independentemente das condições elétricas do

circuito a que está ligado. Para cumprir esse objetivo é necessário definir um algoritmo de MPPT que,

com base na medição da tensão e da corrente do painel a cada instante, atue sobre o MOSFET do

conversor de tal forma que essas grandezas apresentem o valor desejado. É a análise desse

processo que se pretende desenvolver de seguida, tendo por base o método descrito em [11].

Comece-se por atentar nas curvas de potência do módulo fotovoltaico e das suas derivadas,

representadas na Figura 3.8 e na Figura 3.9, respetivamente, e obtidas a partir do modelo

computacional descrito no capítulo 2. Note-se que, assumindo que os módulos são todos iguais e que

Page 38: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

24

se encontram sujeitos às mesmas condições, as curvas de potência do painel completo (série de

módulos) variará apenas num fator de escala das aqui apresentadas.

Figura 3.8 – Curvas de potência do módulo fotovoltaico simulado com irradiância variável

Figura 3.9 – Derivada da potência do módulo fotovoltaico simulado com irradiância variável

Imediatamente se conclui que todas as curvas 𝑃(𝐼), independentemente da irradiância, são

funções concavas, e em particular, têm derivada monotonamente decrescente e positiva antes do

máximo e negativa após o mesmo. Assim sendo, o algoritmo tirará partido desta propriedade,

calculando em cada instante a derivada 𝑑𝑃 𝑑𝐼⁄ , e em particular o seu sinal, e atuando sobre o

semicondutor comandado de maneira a aumentar ou reduzir a corrente.

No entanto, não basta atuar no MOSFET com base unicamente no sinal da derivada uma vez

que se assim fosse, quando o ponto de funcionamento se encontra-se no máximo de potência,

0 2 4 6 8 100

50

100

150

200

250

300

350

Corrente [A]

Po

tên

cia

[W

]

G=1000 W/m2

G=800 W/m2

G=600 W/m2

0 2 4 6 8 10-5

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

Corrente [A]

De

riva

da

da

Po

tên

cia

[W

/A]

G=1000 W/m2

G=800 W/m2

G=600 W/m2

Page 39: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

25

haveria uma comutação sempre que fosse calculado um novo valor, pelo que a frequência seria

incomportável. Em vez disso, fixa-se um intervalo ]𝛼, 𝛽[, com 𝛼 < 0 e 𝛽 > 0, no qual a derivada pode

variar sem que se provoquem comutações.

Defina-se a variável binária de controlo do MOSFET 𝛾, que assume valor unitário quando o

semicondutor é comandado à condução e valor nulo quando é colocado ao corte. Relembre-se

também que com o dispositivo em condução a corrente de entrada do conversor tendia a aumentar,

variando no sentido contrário em caso de corte. Surgem assim três situações possíveis:

𝑑𝑃

𝑑𝐼< 𝛼: A derivada da potência é mais negativa que o limite imposto, pelo que é necessário

diminuir o valor da corrente. MOSFET é comandado ao corte (𝛾 = 0);

𝑑𝑃

𝑑𝐼> 𝛽: A derivada da potência é maior que o limite definido, pelo que é necessário aumentar

o valor da corrente. MOSFET é comandado à condução (𝛾 = 1);

𝛼 <𝑑𝑃

𝑑𝐼< 𝛽: A derivada da potência encontra-se entre os valores desejados, ou seja, em torno

do ponto de máxima potência, pelo que se permite que a corrente mantenha a tendência de

variação atual. Não é efetuada nenhuma alteração no comando do MOSFET.

Este processo pode ser implementado com base num comparador histerético, de acordo com

o diagrama da Figura 3.10.

Figura 3.10 – Comparador de histerese

Como foi dito inicialmente, o objetivo é definir o controlo do MOSFET com base nas

grandezas medidas do painel. Como tal, é necessário estimar a derivada da potência a cada instante

com base em 𝐼 e 𝑉. Por definição têm-se:

𝑃 = 𝑉𝐼 (3.29)

Derivando, vem:

𝑑𝑃

𝑑𝐼= 𝑉 + 𝐼

𝑑𝑉

𝑑𝐼≈ 𝑣(𝑡) + 𝑖(𝑡)

𝑣(𝑡) − 𝑣(𝑡 − ∆𝑡)

𝑖(𝑡) − 𝑖(𝑡 − ∆𝑡) (3.30)

onde ∆𝑡 é o passo de cálculo computacional utilizado pelo algoritmo, e que deverá ser

consideravelmente inferior ao período das grandezas do conversor. Assim sendo, com o auxílio de

uma memória para guardar os estados anteriores das variáveis de entrada, é possível estimar a

derivada da potência através de um simples cálculo algébrico.

Page 40: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

26

Para que o controlador fique completo resta calcular os valores de 𝛼 e 𝛽. Dado que

anteriormente se dimensionou a bobina para obter o tremor de corrente desejado à frequência

definida, é necessário determinar os valores da derivada da potência que se obtêm para os limites

inferior e superior da corrente.

Tendo em conta a expressão (2.16) pode admitir-se o esquema representado na Figura 3.11

para a série dos dez módulos fotovoltaicos, de onde se extrai a seguinte relação:

𝑉 = 10𝑉𝐷 − 10𝑅𝑠𝐼 = 10𝑚𝑉𝑇ln (𝐼𝑠 − 𝐼

𝐼0+ 1) − 10𝑅𝑠𝐼 (3.31)

Figura 3.11 – Esquema simplificado dos dez módulos fotovoltaicos

Derivando a expressão (3.31) em ordem à corrente obtém-se:

𝑑𝑉

𝑑𝐼= −10𝑚𝑉𝑇

1

𝐼𝑠 − 𝐼+𝐼0− 10𝑅𝑠 (3.32)

Com base neste resultado vem para a derivada da potência:

𝑑𝑃

𝑑𝐼= 𝑉 + 𝐼

𝑑𝑉

𝑑𝐼= 10𝑚𝑉𝑇ln (

𝐼𝑠 − 𝐼

𝐼0+ 1) −

10𝑚𝑉𝑇𝐼

𝐼𝑠 − 𝐼+𝐼0− 20𝑅𝑠𝐼 (3.33)

A expressão (3.33) pode ser utilizada para calcular os valores de 𝛼 e 𝛽, tendo em conta que

se pretende que correspondam a 𝐼𝐿𝑖𝑚𝑎𝑥 = 𝐼𝑀𝑃 + ∆𝑖𝐿𝑖 e 𝐼𝐿𝑖

𝑚𝑖𝑛 = 𝐼𝑀𝑃 − ∆𝑖𝐿𝑖, ou seja:

Page 41: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

27

𝛼 =𝑑𝑃

𝑑𝐼|𝐼=𝐼𝐿𝑖

𝑚𝑎𝑥= 10𝑚𝑉𝑇ln (

𝐼𝑠 − 𝐼𝐿𝑖𝑚𝑎𝑥

𝐼0+ 1) −

10𝑚𝑉𝑇𝐼𝐿𝑖𝑚𝑎𝑥

𝐼𝑠 − 𝐼𝐿𝑖𝑚𝑎𝑥+𝐼0

− 20𝑅𝑠𝐼𝐿𝑖𝑚𝑎𝑥 (3.34)

𝛽 =𝑑𝑃

𝑑𝐼|𝐼=𝐼𝐿𝑖

𝑚𝑖𝑛= 10𝑚𝑉𝑇ln (

𝐼𝑠 − 𝐼𝐿𝑖𝑚𝑖𝑛

𝐼0+ 1) −

10𝑚𝑉𝑇𝐼𝐿𝑖𝑚𝑖𝑛

𝐼𝑠 − 𝐼𝐿𝑖𝑚𝑖𝑛+𝐼0

− 20𝑅𝑠𝐼𝐿𝑖𝑚𝑖𝑛 (3.35)

A implementação computacional do algoritmo de MPPT descrito nesta secção é feita com

base no diagrama do Simulink da Figura 3.12.

Figura 3.12 – Diagrama do Simulink para o algoritmo de MPPT

3.5 Simulação

Nesta secção pretende-se testar a validade do modelo Simulink criado para representar o

conversor DC-DC elevador, comparando os resultados da simulação com as formas de ondas e

valores ideais que foram estabelecidos anteriormente. Para esse efeito concebeu-se o esquemático

que pode ser visualizado no Anexo I.

No que diz respeito à corrente na bobina, que é simultaneamente a corrente de saída do

painel fotovoltaico e a corrente de entrada do conversor DC-DC elevador, o resultado que se obtém

por simulação é o que se pode visualizar na Figura 3.13. Através desta forma de onda e dos pontos

assinalados é possível imediatamente tirar várias conclusões. Em primeiro lugar, constata-se que o

andamento da corrente é bastante similar ao que se tinha previsto na Figura 3.4, ou seja, uma forma

triangular com valor médio não nulo.

Em termos de valores concretos, verifica-se que o período é cerca de 58 𝜇𝑠, o que

corresponde a uma frequência de comutação de 17,2 𝑘𝐻𝑧. No que diz respeito ao fator de ciclo, o

valor obtido é de 0,216. Efetuando uma média aritmética pode concluir-se que o valor médio deverá

rondar os 8,55 𝐴. Pode ainda ser estimado o valor do tremor da corrente, obtendo-se um resultado de

0,516 𝐴, constituindo cerca de 6% do valor médio da corrente.

Recordando que a frequência estabelecida foi de 20 𝑘𝐻𝑧, verifica-se aqui um desvio de -14%,

que pode ser explicado essencialmente pelo atraso na comutação introduzido pelo bloco Zero-Order

Page 42: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

28

Hold (Figura 3.12). Este bloco tem como objetivo evitar comutações intempestivas provocadas por

erros numéricos na forma de cálculo da derivada da potência, mas tem como consequência uma

ligeira transposição dos limites da corrente, sendo também responsável pelo desvio de 20,8% no

tremor da corrente e de 11,9% no fator de ciclo. Já o valor médio da corrente é praticamente igual à

corrente de máxima potência do módulo, constituindo um desvio de apenas 0,23%.

Figura 3.13 – Corrente na bobina, obtida por simulação

Na Figura 3.14 apresenta-se a evolução da corrente no MOSFET. Comparando com o

andamento ideal esboçado na Figura 3.4 verifica-se que o resultado obtido é o expectável. Note-se

também que os instantes em que o transístor conduz, ou seja, em que a corrente é não nula,

correspondem aos intervalos em que a corrente na bobina cresce, tal como previsto. Existe apenas

um pico quase impercetível na transição do corte para a condução, constituindo um transitório

causado pelos circuitos auxiliares de comutação (snubbers) do MOSFET e do díodo, no entanto a

sua influência é diminuta e a corrente rapidamente passa a corresponder à corrente na bobina, como

seria expectável.

Figura 3.14 – Corrente no MOSFET, obtida por simulação

À semelhança do que se registou no caso anterior, na Figura 3.15 pode constatar-se que a

forma de onda da corrente no díodo, obtida através da simulação, é em tudo semelhante à que tinha

sido prevista para as condições ideais, excluindo as considerações já referidas para a corrente na

0 1 2 3 4 5 6 7 8

x 10-4

8

8.2

8.4

8.6

8.8

9

X: 0.0001545Y: 8.298

tempo [s]

Co

rre

nte

[A

]

X: 0.0006825Y: 8.294

X: 0.000167Y: 8.813

0 1 2 3 4 5 6 7 8

x 10-4

0

2

4

6

8

10

tempo [s]

Co

rre

nte

[A

]

Page 43: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

29

bobina, e que, necessariamente, têm repercussões aqui. Nomeadamente, pode verificar-se que o

díodo conduz de forma intercalada com o MOSFET, sendo que quando conduz a sua corrente iguala

a da bobina.

Figura 3.15 – Corrente no díodo, obtida por simulação

No que diz respeito às tensões, convém relembrar que na análise teórica se tinha

considerado a tensão de entrada do conversor como uma fonte de tensão de valor constante e igual à

soma das tensões de máxima potência dos módulos. No entanto, ao substituir essa fonte de tensão

pelo modelo da série de módulos fotovoltaicos, e tendo em conta que a corrente deverá oscilar em

torno do valor de máxima potência, então, necessariamente, a tensão também sofrerá variações em

torno do valor ideal. Essa oscilação pode ser visualizada na Figura 3.16.

Uma vez que a variação da corrente é quase triangular e que a tensão no condensador de

saída é o integral dessa corrente, então a tensão terá variações quase quadráticas. Verifica-se, de

facto, uma variação em torno do valor pretendido (10𝑉𝑀𝑃𝑟 = 363 𝑉). O tremor que se regista tem uma

amplitude de cerca de 25,8 𝑉, ou seja, 7,12% do valor médio. Conclui-se assim que a tensão

apresenta uma maior variação que a corrente.

Figura 3.16 – Tensão no painel fotovoltaico, obtida por simulação

0 1 2 3 4 5 6 7 8

x 10-4

0

2

4

6

8

10

tempo [s]

Co

rre

nte

[A

]

0 1 2 3 4 5 6 7 8

x 10-4

340

350

360

370

380X: 0.0004445Y: 371.3

tempo [s]

Te

nsã

o [V

]

X: 0.000457Y: 345.5

Page 44: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

30

Na Figura 3.17 pode ser observada a tensão na bobina. A sua forma de onda é consistente

com a previsão feita na Figura 3.5, sendo conveniente realçar que nos patamares positivos a tensão

deixa de ser constante, devido ao que foi referido nos dois parágrafos anteriores. Note-se que esta

variação implica que nestes troços a evolução da corrente na bobina não seja linear, ao que acresce

ainda a existência de resistências parasitas na bobina e no MOSFET, no entanto, esse efeito é

reduzido, como se pôde ver na Figura 3.13. No que diz respeito ao patamar negativo, apesar do valor

ser próximo do esperado (𝑈 − 𝑉𝑜 = −87 𝑉), existe um alisamento superior ao esperado. Isto verifica-

se porque nesses instantes as tensões de entrada e saída do conversor variam no mesmo sentido

(crescem), pelo que a diferença faz com que esse efeito seja parcialmente anulado.

Figura 3.17 – Tensão na bobina, obtida por simulação

No que toca à tensão no MOSFET, apresentada na Figura 3.18, a diferença mais visível a

apontar em relação à forma de onda ideal da Figura 3.5, é o facto do seu patamar positivo não ser

constante. Esta discrepância já era expectável uma vez que nesse esboço inicial se considerou a

tensão de saída constante, o que não é rigorosamente verdade. De facto, quando o MOSFET está ao

corte assume o valor da tensão de saída, acrescida da queda de tensão no díodo diretamente

polarizado. Quando está a conduzir, a tensão é quase nula, havendo apenas uma pequena queda de

tensão na resistência parasita do semicondutor.

Figura 3.18 – Tensão no MOSFET, obtida por simulação

0 1 2 3 4 5 6 7 8

x 10-4

-100

0

100

200

300

400

tempo [s]

Te

nsã

o [V

]

0 1 2 3 4 5 6 7 8

x 10-4

0

100

200

300

400

500

tempo [s]

Te

nsã

o [V

]

Page 45: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

31

Tal como no caso anterior, a tensão no díodo, representada na Figura 3.19, é consistente

com a previsão feita através da análise teórica, excetuando o efeito não contemplado da variação da

tensão de saída. Quando o díodo está a conduzir verifica-se a existência de uma pequena tensão

positiva aos seus terminais, resultado da sua modelação como fonte de tensão em série com

resistência. Nos instantes em que o díodo está ao corte verifica-se que suporta uma tensão negativa

que é o simétrico da tensão de saída do conversor, tal como esperado.

Figura 3.19 – Tensão no díodo, obtida por simulação

Por fim, apresenta-se na Figura 3.20 o gráfico da tensão de saída do conversor, ou seja,

aquela que é suportada pelo condensador e pela resistência de saída. Em relação ao que foi

considerado na análise teórica e no dimensionamento existem dois aspetos principais que devem ser

analisados. Considerando que a forma de onda agora apresentada é aproximadamente linear por

troços, conclui-se que o seu valor médio deverá rondar 445 𝑉. O pequeno desvio em relação aos

450 𝑉 pretendidos fica-se a dever à existência de perdas nos elementos do conversor, ou seja, ao

facto de o rendimento não ser unitário. De facto, com base neste valor de tensão, estima-se que se

obtenha uma potência de saída de 3025 𝑊, o que equivale a um rendimento de 97,6%, sendo

próximo do previsto na secção 3.3.6, embora um pouco inferior, dado que o valor teórico para a

potência de saída seria 3047 𝑊.

No que diz respeito ao tremor, que se pretendia que fosse de 5% do valor médio, perfazendo

22,5 𝑉, verifica-se que o valor obtido é na verdade 27,3 𝑉, registando-se um desvio de 21,3%. Tendo

em linha de conta aquilo que foi referido para a corrente na bobina, este desvio é uma consequência

da alteração dos valores da frequência e do fator de ciclo.

0 1 2 3 4 5 6 7 8

x 10-4

-500

-400

-300

-200

-100

0

tempo [s]

Te

nsã

o [V

]

Page 46: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

32

Figura 3.20 – Tensão de saída do conversor, obtida por simulação

0 1 2 3 4 5 6 7 8

x 10-4

420

430

440

450

460

470X: 0.0007485Y: 458.4

tempo [s]

Te

nsã

o [V

]

X: 0.000701Y: 430.7

Page 47: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

33

4 Conversor DC-DC Distribuído

Em oposição à estratégia utilizada no capítulo anterior, a nova abordagem que é proposta

neste trabalho implica a utilização de um conversor DC-DC para cada um dos dez módulos

fotovoltaicos. Esta opção faz com que seja desnecessário o díodo de bypass, utilizado quando se

colocam vários módulos em série.

No que diz respeito à associação dos conversores, optou-se pela configuração

esquematizada na Figura 4.1. Como se pode observar, esta topologia corresponde à série de dois

conjuntos de cinco módulos em paralelo (10=5*2). Note-se que no esquema apresentado se omitem

os controladores que garantirão o seguimento do ponto de máxima potência.

Figura 4.1 – Esquema de ligação de módulos fotovoltaicos e conversores

4.1 Análise Teórica do Conversor DC-DC Distribuído

A topologia adotada para o conversor em questão pode ser designada por SEPIC (Single-

Ended Primary Inductor Converter) isolado, e a sua constituição é a que se apresenta na Figura 4.2.

Figura 4.2 – Topologia do conversor DC-DC distribuído

Mais uma vez começa-se por admitir que os módulos fotovoltaicos podem ser representados

por fontes de tensão contínuas, com o valor da tensão de máxima potência para as condições de

referência, no entanto, neste caso, cada fonte de tensão 𝑈 representa apenas um módulo.

Page 48: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

34

Dado que se pretende obter a mesma tensão de entrada no inversor (450 𝑉), os cinco

conversores em paralelo de cada fila deverão ter na saída uma tensão que tenha em média metade

desse valor, ou seja, 𝑉𝑜 = 225 𝑉. No entanto, para a análise teórica do conversor supõe-se que o

mesmo está isolado e só posteriormente se considera a ligação de acordo com a Figura 4.1.

Uma vez que a tensão de entrada do conversor é de apenas 36,3 𝑉, é conveniente a

utilização de um transformador de alta frequência para a obtenção dessa relação de conversão mais

elevada. Além disso, o transformador permitirá ainda efetuar o isolamento galvânico entre os vários

módulos, o que será vantajoso em caso de avaria.

À semelhança do que acontecia para o conversor DC-DC elevador, a malha de entrada é

composta por uma bobina e por um semicondutor comandado, que será atuado pelo controlador

seguidor de máxima potência, pelo que haverá algumas semelhanças no controlo. Desde logo é

possível manter o mesmo significado para 𝛿, ou seja, que a fração de período 𝛿𝑇 corresponde ao

instante em que o transístor 𝑄 conduz. Para que possam ser traçados os gráficos é conveniente

estabelecer algumas relações fundamentais entre as grandezas identificadas na Figura 4.2.

Tensão na bobina

Só pela análise do circuito é imediato concluir que o seu patamar positivo, que ocorre quando

o transístor conduz, é igual à fonte de tensão 𝑈. Sabe-se também que, devido às suas características

indutivas, o valor médio da tensão na bobina é nulo em regime permanente, caso contrário, a

respetiva corrente cresceria ou decresceria indefinidamente. Assim sendo, o valor do seu patamar

negativo é dado em média por:

𝑣𝐿𝑖𝑚𝑒𝑑 =

1

𝑇∫ 𝑣𝐿𝑖

𝑇

0

𝑑𝑡 = 0 ⇔ 𝛿𝑈 + (1 − 𝛿)𝑉𝐿𝑖𝑚𝑖𝑛 = 0 ⇔ 𝑉𝐿𝑖

𝑚𝑖𝑛 = −𝛿𝑈

1 − 𝛿 (4.1)

Corrente no transístor

Outra relação que se pode retirar da análise do circuito é:

𝑖𝐿𝑖 = 𝑖𝐶𝑖 + 𝑖𝑄 (4.2)

Utilizando o operador valor médio em ambos os termos da equação, tendo em conta que

esse é um operador linear, e notando que, por razões duais às do caso anterior, a corrente média no

condensador em regime permanente é nula, conclui-se que o patamar de corrente no transístor é

dado, em média, por:

𝑖𝑄𝑚𝑒𝑑 =

1

𝑇∫ 𝑖𝑄

𝑇

0

𝑑𝑡 = 𝐼𝐿𝑖 ⇔ 𝛿𝐼𝑄𝑚𝑎𝑥 = 𝐼𝐿𝑖 ⇔ 𝐼𝑄

𝑚𝑎𝑥 =𝐼𝐿𝑖𝛿

(4.3)

Page 49: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

35

Tensão no transístor

Observando a malha de entrada do conversor, é possível retirar a seguinte relação:

𝑈 = 𝑣𝐿𝑖 + 𝑣𝑄 (4.4)

de onde se conclui imediatamente que, aplicando o valor médio, se obtém:

𝑣𝑄𝑚𝑒𝑑 = 𝑈 (4.5)

Esta expressão permite determinar o valor médio da tensão do transístor quando este está ao

corte, obtendo-se:

𝑣𝑄𝑚𝑒𝑑 =

1

𝑇∫ 𝑣𝑄

𝑇

0

𝑑𝑡 = 𝑈 ⇔ (1 − 𝛿)𝑉𝑄𝑚𝑎𝑥 = 𝑈 ⇔ 𝑉𝑄

𝑚𝑎𝑥 =𝑈

1 − 𝛿 (4.6)

Corrente no condensador de entrada

No que toca à corrente que atravessa o condensador 𝐶𝑖, sabendo que o seu valor médio é

nulo e que quando o transístor está ao corte a sua corrente é igual à da bobina, obtém-se para o

patamar negativo de 𝑖𝐶𝑖:

1

𝑇∫ 𝑖𝐶𝑖

𝑇

0

𝑑𝑡 = 0 ⇔ 𝛿𝐼𝐶𝑖𝑚𝑖𝑛 + (1 − 𝛿)𝐼𝐿𝑖 = 0 ⇔ 𝐼𝐶𝑖

𝑚𝑖𝑛 = −(1 − 𝛿)𝐼𝐿𝑖

𝛿 (4.7)

Tensão no condensador de entrada

Circulando na malha exterior do primário do conversor da Figura 4.2 chega-se à seguinte

relação:

𝑈 = 𝑣𝐿𝑖 + 𝑣𝐶𝑖 + 𝑣𝑇1 (4.8)

Aplicando o valor médio de ambos os lados da equação, pode escrever-se:

𝑈 = 𝑣𝐿𝑖𝑚𝑒𝑑 + 𝑣𝐶𝑖

𝑚𝑒𝑑 + 𝑣𝑇1𝑚𝑒𝑑 (4.9)

Dado que o transformador, à semelhança da bobina, é um componente de caracter indutivo, o

valor médio da tensão aos seus terminais terá de ser nulo em regime permanente, razão pela qual se

conclui que:

𝑣𝐶𝑖𝑚𝑒𝑑 = 𝑈 (4.10)

Page 50: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

36

Tensões no transformador

No que diz respeito à tensão do primário, quando o díodo conduz esta é simplesmente o

inverso da tensão em 𝐶𝑖, tendo valor médio −𝑈 nesses intervalos. Uma vez que o valor médio num

período inteiro em regime permanente é nulo, resultando para o patamar positivo:

𝑣𝑇1𝑚𝑒𝑑 =

1

𝑇∫ 𝑣𝑇1

𝑇

0

𝑑𝑡 = 0 ⇔ −𝛿𝑈 + (1 − 𝛿)𝑉𝑇1𝑚𝑎𝑥 = 0 ⇔ 𝑉𝑇1

𝑚𝑎𝑥 =𝛿𝑈

1 − 𝛿 (4.11)

Analogamente, para a tensão do secundário sabe-se que quando o díodo conduz existe uma

igualdade com a tensão de saída, pelo que o valor médio do patamar negativo é dado por:

𝑣𝑇2𝑚𝑒𝑑 =

1

𝑇∫ 𝑣𝑇2

𝑇

0

𝑑𝑡 = 0 ⇔ 𝛿𝑉𝑇2𝑚𝑖𝑛 + (1 − 𝛿)𝑉𝑜 = 0 ⇔ 𝑉𝑇2

𝑚𝑖𝑛 = −(1 − 𝛿)𝑉𝑜

𝛿 (4.12)

A análise do transformador permite também efetuar a ponte entre as grandezas do primário e

do secundário, uma vez que as tensões nos dois enrolamentos variam apenas de um fator de escala

designado por relação de transformação e simbolizado por 𝑚𝑇. Esta afinidade permite determinar o

fator de ciclo com base nos valores médios das duas tensões em qualquer uma das fases do período,

ou seja, pode escrever-se:

−𝑈𝑚𝑇 = −(1 − 𝛿)𝑉𝑜

𝛿 (4.13)

𝑚𝑇

𝛿𝑈

1 − 𝛿= 𝑉𝑜 (4.14)

sendo que de qualquer uma delas resulta:

𝛿 =𝑉𝑜

𝑈𝑚𝑇 + 𝑉𝑜 (4.15)

Corrente no díodo

Do lado do secundário, a corrente no díodo pode ser determinada de forma análoga ao que

até aqui se tem feito, notando que do circuito resulta:

𝑖𝐷 = 𝑖𝐶𝑜 + 𝑖𝑜 (4.16)

e como o valor médio da corrente em 𝐶𝑜 em regime permanente é nulo, conclui-se que:

𝑖𝐷𝑚𝑒𝑑 = 𝐼𝑜 =

𝑉𝑜𝑅𝑜

(4.17)

Page 51: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

37

Assim sendo, quando o díodo conduz, o que acontece entre 𝛿𝑇 e 𝑇, a corrente toma o valor

dado por:

𝑖𝐷𝑚𝑒𝑑 =

1

𝑇∫ 𝑖𝐷

𝑇

0

𝑑𝑡 =𝑉𝑜𝑅𝑜

⇔ 𝐼𝐷𝑚𝑎𝑥 =

𝑉𝑜(1 − 𝛿)𝑅𝑜

(4.18)

Tensão no díodo

Circulando na malha do secundário obtém-se:

𝑣𝑇2 = 𝑣𝐷 + 𝑣𝑜 (4.19)

pelo que, aplicando valores médios, e com a anulação da tensão do secundário do transformador, a

tensão de bloqueio do díodo é dada por:

𝑣𝐷𝑚𝑒𝑑 =

1

𝑇∫ 𝑣𝐷

𝑇

0

𝑑𝑡 = −𝑉𝑜 ⇔ 𝛿𝑉𝐷𝑚𝑖𝑛 = −𝑉𝑜 ⇔ 𝑉𝐷

𝑚𝑖𝑛 = −𝑉𝑜𝛿

(4.20)

Com base em todas estas considerações, as formas de onda ideais para o circuito podem ser

esboçadas como na Figura 4.3 e na Figura 4.4. Analogamente ao que se estipulou para o conversor

boost as tensões aos terminais dos condensadores (tanto de entrada como de saída) são esboçadas

como constantes, considerando a sua variação desprezável face ao valor médio.

Figura 4.3 – Formas de onda ideais das correntes no conversor

Page 52: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

38

Figura 4.4 – Formas de onda ideais das tensões no conversor

4.2 Dimensionamento e Escolha de Componentes

À semelhança do que foi efetuado para o conversor boost, é necessário dimensionar os

vários componentes do conversor, tendo por base a análise teórica que foi efetuada na secção

Page 53: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

39

anterior. Para esse efeito, também aqui se considera o funcionamento do módulo fotovoltaico para as

condições de referência, pelo que desde logo se obtém:

{𝑈 = 𝑉𝑀𝑃

𝑟 = 36,3 𝑉

𝐼𝐿𝑖 = 𝐼𝑀𝑃𝑟 = 8,53 𝐴

(4.21)

No que diz respeito à saída do conversor, considera-se a existência de uma série de dois

grupos de conversores em paralelo, pelo que cada um terá apenas de suportar metade da tensão de

entrada do inversor, pelo que se considera 𝑉𝑜 = 225 𝑉.

Outro parâmetro que deve ser estabelecido logo à partida é a relação de transformação do

transformador, uma vez que o seu valor influenciará o dimensionamento da maioria dos componentes

através do fator de ciclo. Neste caso, dada a relação entre a tensão de entrada e de saída do

conversor, optou-se por utilizar 𝑚𝑇 = 5. Com base nestes valores e na equação (4.15), o fator de ciclo

que se obtém é 𝛿 = 0,554.

4.2.1 Bobina

Para a bobina, o raciocínio que foi feito na secção 3.3.1 para o conversor elevador mantém-

se válido, pelo que se pode voltar a utilizar a expressão (3.10) obtendo-se:

𝐿𝑖 =𝑈𝛿

𝑓𝑐∆𝑖𝐿𝑖= 2,36 𝑚𝐻 (4.22)

onde se mantiveram os valores da frequência de comutação (𝑓𝑐 = 20 𝑘𝐻𝑧) e do tremor da corrente

(∆𝑖𝐿𝑖 = 0,05𝐼𝑀𝑃𝑟 = 0,427 𝐴).

No que diz respeito às perdas por efeito de Joule, continua-se a assumir que a bobina será

responsável pela dissipação de 1% da energia que a atravessa, sendo que neste caso essa energia

será produzida por apenas um módulo fotovoltaico. Assim sendo, obtém-se:

𝑟𝐿𝑖 =0,01 × 𝑃𝐷𝐶

𝑟

𝐼𝑀𝑃𝑟 2 = 42,6 𝑚𝛺 (4.23)

4.2.2 Resistência de saída

Como já foi referido, inicialmente considerar-se-á o funcionamento de um par módulo-

conversor isolado, pelo que a resistência de saída deverá receber a potência proveniente de um

único módulo, ainda que dimensionada para operar com uma tensão média 𝑉𝑜 = 225 𝑉. Assim sendo,

analogamente à equação (3.13) obtém-se:

Page 54: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

40

𝑅𝑜 =𝑉𝑜2

𝑃𝐷𝐶𝑟 = 163 𝛺 (4.24)

4.2.3 Condensador de saída

No que diz respeito ao dimensionamento do condensador de saída, existem muitas

semelhanças em relação ao raciocínio explanado na secção 3.3.3. Nomeadamente, também no

circuito da Figura 4.2 se verifica que quando o díodo está bloqueado, o que continua a ocorrer nos

intervalos similares ao entre 0 e 𝛿𝑇, o condensador 𝐶𝑜 descarrega através da resistência de saída.

Com base nestas semelhanças é possível recuperar a equação (3.17) para obter:

𝐶𝑜 =𝑉𝑜𝛿𝑇

𝑅𝑜∆𝑣𝑜= 3,39 𝜇𝐹 (4.25)

onde se continua a estabelecer um tremor para a tensão de 5% do seu valor médio, ou seja, ∆𝑣𝑜 =

11,3 𝑉.

4.2.4 Transformador

Além da relação de transformação, cujo valor escolhido já foi referido e é de 𝑚𝑇 = 5,

parametrizou-se um transformador de alta frequência com as seguintes características:

Potência nominal: 𝑆𝑛 = 350 𝑉𝐴

Frequência nominal: 𝑓𝑛 = 𝑓𝑐 = 20 𝑘𝐻𝑧

Tensão nominal do primário: 𝑉𝑛1 = 40 𝑉

Tensão nominal do secundário: 𝑉𝑛2 = 𝑚𝑇 𝑉𝑛1 = 200 𝑉

Indutâncias de fuga do primário e secundário: 𝐿𝑓1𝑝𝑢 = 𝐿𝑓2

𝑝𝑢 = 0,01 𝑝𝑢

Resistência de perdas do primário e do secundário: 𝑅𝑝1𝑝𝑢 = 𝑅𝑝2

𝑝𝑢 = 0,005 𝑝𝑢

Indutância de magnetização: 𝐿𝑚𝑝𝑢 = 100 𝑝𝑢

Resistência de magnetização: 𝑅𝑚𝑝𝑢 = 500 𝑝𝑢

Note-se que esta parametrização corresponde à modelação do transformador pelo seu

esquema equivalente em T [12], como pode ser constatado na Figura 4.5.

Page 55: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

41

Figura 4.5 – Esquema equivalente em T do transformador

Um transformador tem, tipicamente, dois tipos fundamentais de perdas [12]:

Perdas no cobre: perdas que ocorrem nos enrolamentos por efeito de Joule, representadas

pelas resistências 𝑅𝑝1 e 𝑅𝑝2;

Perdas no ferro: perdas que ocorrem no núcleo devido ao fenómeno da histerese e às

correntes de Foucault, representadas por 𝑅𝑚;

Assim sendo, com base no esquema da Figura 4.5, é possível estimar as perdas totais no

transformador, de forma aproximada, através de:

𝑃𝑇 ≈ (𝑖𝑇1𝑒𝑓)

2𝑅𝑝1 + (𝑖𝑇2

𝑒𝑓)2𝑅𝑝2 +

(𝑣𝑇1𝑒𝑓)2

𝑅𝑚 (4.26)

Para o cálculo dos valores eficazes das grandezas do transformador simplificam-se os

gráficos da Figura 4.3 e da Figura 4.4 assumindo que os patamares dessas formas de onda são

constantes e iguais aos respetivos valores médios. A corrente no enrolamento primário corresponde à

corrente no condensador de entrada, pelo que, de acordo com (4.7) e com a definição de valor eficaz,

vem:

𝑖𝑇1𝑒𝑓 = 𝑖𝐶𝑖

𝑒𝑓 = √1

𝑇∫ 𝑖𝐶𝑖

2𝑇

0

𝑑𝑡 = √𝛿(𝐼𝐶𝑖𝑚𝑖𝑛)

2+ (1 − 𝛿)𝐼𝐿𝑖

2 = 𝐼𝐿𝑖√1 − 𝛿

𝛿= 7,66 𝐴 (4.27)

Já a corrente no secundário é igual à corrente no díodo, logo, relembrando o resultado de

(4.18), é possível concluir:

𝑖𝑇2𝑒𝑓 = 𝑖𝐷

𝑒𝑓 = √1

𝑇∫ 𝑖𝐷

2𝑇

0

𝑑𝑡 = √(1 − 𝛿)(𝐼𝐷𝑚𝑎𝑥)2 =

𝑉𝑜

𝑅𝑜√(1 − 𝛿)= 2,06 𝐴 (4.28)

No que diz respeito ao valor eficaz da tensão no primário, de acordo com a equação (4.11),

vem:

Page 56: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

42

𝑣𝑇1𝑒𝑓 = √

1

𝑇∫ 𝑣𝑇1

2𝑇

0

𝑑𝑡 = √𝛿𝑈2 + (1 − 𝛿)(𝑉𝑇1𝑚𝑎𝑥)2 = 𝑈√

𝛿

1 − 𝛿= 40,4 𝑉 (4.29)

Resta então determinar os valores absolutos das resistências equivalentes do transformador,

a partir dos valores por unidade estabelecidos. Assim sendo, atendendo à definição de impedância

base [12], vem:

𝑅𝑝1 = 𝑅𝑝1𝑝𝑢 𝑉𝑛1

2

𝑆𝑛= 22,9 𝑚𝛺 (4.30)

𝑅𝑝2 = 𝑅𝑝2𝑝𝑢 𝑉𝑛2

2

𝑆𝑛= 571 𝑚𝛺 (4.31)

𝑅𝑚 = 𝑅𝑚𝑝𝑢 𝑉𝑛1

2

𝑆𝑛= 2,29 𝑘𝛺 (4.32)

Substituindo os respetivos valores na expressão (4.26) obtém-se 𝑃𝑇 = 4,48 𝑊.

4.2.5 Condensador de entrada

No caso do condensador de entrada, optou-se por realizar o seu dimensionamento com

objetivo de minimizar a ressonância a que o circuito está sujeito a cada comutação. Esse fenómeno

terá tendência para ocorrer devido à ligação, neste caso em série, entre o condensador e o

enrolamento primário do transformador, que tem um caracter indutivo.

Em relação à representação do transformador exposta na Figura 4.5, efetua-se a

simplificação de o representar simplesmente pelas indutâncias de fugas, ambas referidas ao primário,

resultando o esquema da Figura 4.6.

Figura 4.6 – Representação simplificada do transformador

Em primeiro lugar, convém notar que 𝐿′𝑓2 equivale a 𝐿𝑓2 referida ao primário, o que, de acordo

com [12], permite escrever:

Page 57: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

43

𝐿′𝑓2 =𝐿𝑓2

𝑚𝑇2

(4.33)

Tendo este resultado presente e também o procedimento utilizado nas expressões (4.30) a

(4.32), o valor da impedância vista do primário pode ser calculado por:

𝑍𝑇 = 𝑗𝜔𝑐(𝐿𝑓1 + 𝐿′𝑓2) = 𝑗𝜔𝑐 [𝐿𝑓1𝑝𝑢 𝑉𝑛1

2

𝑆𝑛+

1

𝑚𝑇2(𝐿𝑓2

𝑝𝑢 𝑉𝑛22

𝑆𝑛)] (4.34)

onde 𝜔𝑐 = 2𝜋𝑓𝑐 é a frequência angular de comutação.

O objetivo do dimensionamento de 𝐶𝑖 será anular a impedância 𝑍𝑇, ou seja:

𝑍𝑇 +

1

𝑗𝜔𝑐𝐶𝑖= 0 ⇔ 𝐶𝑖 =

1

𝜔𝑐2 [𝐿𝑓1

𝑝𝑢 𝑉𝑛12

𝑆𝑛+

1𝑚𝑇

2 (𝐿𝑓2𝑝𝑢 𝑉𝑛2

2

𝑆𝑛)]

= 87,0 𝜇𝐹 (4.35)

Tendo o valor da capacidade do condensador de entrada é possível obter uma estimativa

para o tremor da tensão aos seus terminais, atentando no gráfico da Figura 4.3. Sabe-se que entre os

instantes 𝛿𝑇 e 𝑇 a corrente que atravessa 𝐶𝑖 é em média 𝐼𝐿𝑖, pelo que vem:

𝑖𝐶𝑖 = 𝐶𝑖𝑑𝑣𝐶𝑖𝑑𝑡

⇔ 𝐼𝐿𝑖 = 𝐶𝑖∆𝑣𝐶𝑖

(1 − 𝛿)𝑇⇔ ∆𝑣𝐶𝑖 =

(1 − 𝛿)𝐼𝐿𝑖𝑓𝑐𝐶𝑖

= 2,19 𝑉 (4.36)

Dado que este valor corresponde apenas a 6,03% de 𝑈, que é o valor médio da tensão no

condensador, conclui-se que este dimensionamento é aceitável deste ponto de vista. No entanto,

poderia admitir-se outro objetivo no dimensionamento para o valor deste condensador em que se

admitiria um certo tremor e a partir deste se calcularia 𝐶𝑖 usando a equação anterior.

Dado que este condensador é atravessado pela totalidade do fluxo de energia, considerou-se

conveniente admitir a sua não idealidade através da colocação de uma resistência em série,

representativa das perdas por efeito de Joule. Neste caso considerou-se a dissipação de 1% da

potência transitada, pelo que se obtém:

𝑟𝐶𝑖 =

0,01 𝑃𝐷𝐶𝑟

(𝑖𝐶𝑖𝑒𝑓)

2 = 52,8 mΩ (4.37)

4.2.6 Transístor

À semelhança do que foi feito para o conversor boost, admite-se a utilização de um MOSFET

para a concretização do transístor 𝑄. Assim sendo, o procedimento de dimensionamento será

análogo, embora os valores sejam diferentes. Comece-se por determinar o máximo de tensão que o

Page 58: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

44

transístor terá de suportar. Quando 𝑄 está comandado ao corte, a tensão aos seus terminais sofre

uma variação que é dada, de acordo com a Figura 4.4, por:

∆𝑣𝑄𝑜𝑓𝑓 = ∆𝑣𝐶𝑖 +

∆𝑣𝑜𝑚𝑇

(4.38)

pelo que o valor máximo de 𝑣𝑄, recuperando o resultado de (4.6), por ser obtido de:

𝑣𝑄𝑚𝑎𝑥 = 𝑉𝑄

𝑚𝑎𝑥 +∆𝑣𝑄

𝑜𝑓𝑓

2= 83,2 𝑉 (4.39)

Convém ainda relembrar que é conveniente considerar uma margem de segurança adicional

de pelo menos 25% em relação a este valor.

No que toca ao cálculo dos valores médio e eficaz da corrente, a simplificação da forma de

onda da corrente no transístor apresentada na Figura 4.3 produz o mesmo resultado da Figura 3.6,

pelo que as expressões (3.19) e (3.20) mantém-se válidas, ou seja:

𝑖𝑄𝑚𝑒𝑑 = 𝛿𝐼𝐿𝑖 = 4,72 𝐴 (4.40)

𝑖𝑄𝑒𝑓 = 𝐼𝐿𝑖√𝛿 = 6,34 𝐴 (4.41)

Será ainda conveniente considerar uma margem de segurança adicional de 50%, o que é

largamente assegurado pelo dispositivo escolhido: um MOSFET fabricado pela Fairchild, com a

referência FDH055N15A e cujo catálogo se apresenta no Anexo E.

No que toca à análise das perdas, comece-se por considerar novamente que o transístor em

condução pode ser modelado por uma resistência, com o valor 𝑅𝐷𝑆(𝑜𝑛) = 4,8 𝑚𝛺 retirado do catálogo.

Desta forma, as perdas de condução são dadas por:

𝑃𝑄𝑐𝑜𝑛𝑑 = 𝑅𝐷𝑆(𝑜𝑛)(𝑖𝑄

𝑒𝑓)2= 0,193 𝑊 (4.42)

Quanto às perdas de comutação, o seu valor pode ser estimado recorrendo à equação (4.43):

𝑃𝑄𝑐𝑜𝑚 =

𝑡𝑜𝑛 + 𝑡𝑜𝑓𝑓

2𝑉𝑐𝑜𝑚𝐼𝑐𝑜𝑚𝑓𝑐 +

1

2𝐶𝑜𝑠𝑠𝑉𝑐𝑜𝑚

2𝑓𝑐 = 0,654 𝑊 (4.43)

onde 𝑡𝑜𝑛 = 𝑡𝑟 + 𝑡𝑑(𝑜𝑛) = 102 𝑛𝑠, 𝑡𝑜𝑓𝑓 = 𝑡𝑓 + 𝑡𝑑(𝑜𝑓𝑓) = 92 𝑛𝑠 e 𝐶𝑜𝑠𝑠 = 664 𝑝𝐹 são retirados do catálogo,

e 𝑉𝐷 e 𝐼𝐷, são iguais a 𝑉𝑄𝑚𝑎𝑥 = 𝑈/(1 − 𝛿) e 𝐼𝐿𝑖, respetivamente.

Page 59: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

45

4.2.7 Díodo

À semelhança do que se verificou para o MOSFET, o comportamento do díodo também

apresenta grandes similaridades com o que foi descrito na secção 3.3.5 para o conversor elevador,

pelo que o processo de dimensionamento será idêntico. No que diz respeito ao valor mais negativo

de tensão que o díodo terá de suportar, convém, em primeiro lugar, notar que, de acordo com a

Figura 4.4, a variação de tensão que ele sofre quando está inversamente polarizado é dada por:

∆𝑣𝐷𝑜𝑓𝑓 = 𝑚𝑇∆𝑣𝐶𝑖 + ∆𝑣𝑜 (4.44)

pelo que o valor mais negativo de 𝑣𝐷, relembrando o resultado de (4.20), por ser obtido de:

𝑣𝐷𝑚𝑖𝑛 = 𝑉𝐷

𝑚𝑖𝑛 −∆𝑣𝐷

𝑜𝑓𝑓

2= 416 𝑉 (4.45)

Tal como para o MOSFET, é conveniente considerar uma margem de segurança adicional

superior a 25%, para garantir que o díodo nunca entra em disrupção.

No que toca ao cálculo dos valores médio e eficaz da corrente, a simplificação da forma de

onda da corrente no díodo apresentada na Figura 4.3 produz o resultado da Figura 4.7, onde 𝐼𝐷𝑚𝑎𝑥

toma o valor que resulta de (4.18).

Figura 4.7 – Corrente no díodo simplificada

Com base neste gráfico, semelhante ao apresentado na Figura 3.7, os valores médio e eficaz

de 𝑖𝐷 vêm dados simplesmente por:

𝑖𝐷𝑚𝑒𝑑 = (1 − 𝛿)𝐼𝐷

𝑚𝑎𝑥 =𝑉𝑜𝑅𝑜

= 1,38 𝐴 (4.46)

𝑖𝐷𝑒𝑓 = 𝐼𝐷

𝑚𝑎𝑥√1 − 𝛿 =𝑉𝑜

𝑅𝑜√1 − 𝛿= 2,06 𝐴 (4.47)

Mais uma vez, é importante não esquecer de se contemplar uma margem de segurança

adicional de 50% em relação aos valores agora determinados. O dispositivo semicondutor que se

escolheu foi o díodo VS-HFA08SD60SPbF da Vishay, cujo catálogo é apresentado no Anexo F.

No que diz respeito às perdas de condução, novamente assume-se que o díodo pode ser

modelado por resistência equivalente em série com uma fonte de tensão quando está diretamente

Page 60: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

46

polarizado. Utilizando o mesmo procedimento da secção 3.3.5, estimam-se a partir da curva

característica do díodo fornecida no catálogo do fabricante os valores 𝑅𝑎𝑘(𝑜𝑛) = 0,11 Ω e 𝑉𝐹 =

0,77 𝑉. Assim sendo, as perdas de condução vêm dadas por:

𝑃𝐷𝑐𝑜𝑛𝑑 = 𝑅𝑎𝑘(𝑜𝑛)(𝑖𝐷

𝑒𝑓)2+ 𝑉𝐹𝑖𝐷

𝑚𝑒𝑑 = 1,53 𝑊 (4.48)

Quanto às perdas de comutação, o seu valor pode ser estimado recorrendo à equação (4.49).

𝑃𝐷𝑐𝑜𝑚 =

𝑡𝑟𝑟 − 𝑡𝑠𝑇

𝑉𝑅𝑅𝐼𝑅𝑅 = 0,526 𝑊 (4.49)

onde 𝑡𝑟𝑟 = 37 𝑛𝑠 é retirado do catálogo, 𝑡𝑠 estima-se que seja aproximadamente metade de 𝑡𝑟𝑟, 𝑉𝑅𝑅 é

|𝑉𝐷𝑚𝑖𝑛| = 𝑉𝑜/𝛿 e 𝐼𝑅𝑅 é a corrente inversa de recuperação, que toma o valor de 3,5 𝐴 de acordo com o

catálogo.

4.2.8 Rendimento

Também para este conversor é possível estimar o rendimento para as condições de

referência, com base nos desempenhos estabelecidos anteriormente para os elementos individuais.

Designado novamente a potência de entrada por 𝑃𝑖 = 𝑃𝐷𝐶𝑟 , têm-se as seguintes perdas por

componente:

Bobina: 𝑃𝐿𝑖 = 1%𝑃𝑖 = 3,1 𝑊

Transformador: 𝑃𝑇 = 1,45%𝑃𝑖 = 4,48 𝑊

Condensador de entrada: 𝑃𝐶𝑖 = 1%𝑃𝑖 = 3,1 𝑊

Transístor: 𝑃𝑄 = 𝑃𝑄𝑐𝑜𝑚 + 𝑃𝑄

𝑐𝑜𝑛𝑑 = 0,273%𝑃𝑖 = 0,848 𝑊

Díodo: 𝑃𝐷 = 𝑃𝐷𝑐𝑜𝑚 + 𝑃𝐷

𝑐𝑜𝑛𝑑 = 0,663%𝑃𝑖 = 2,06 𝑊

Com base nestes valores, o rendimento é dado por:

𝜂 =𝑃𝑖 − 𝑃𝐿𝑖 − 𝑃𝑇 − 𝑃𝐶𝑖 − 𝑃𝑄 − 𝑃𝐷

𝑃𝑖= 0,956 ⇒ 95,6% (4.50)

Como seria expectável, o rendimento obtido para este conversor é um pouco inferior ao do

boost devido, essencialmente, à adição do condensador de entrada e do transformador. No entanto,

um conversor boost teria um rendimento muito inferior ao deste conversor para elevar a tensão de

36,3 𝑉 𝑝𝑎𝑟𝑎 225 𝑉.

Page 61: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

47

4.3 Controlador Seguidor de Máxima Potência

No que diz respeito ao algoritmo de MPPT, o método que será utilizado não será muito

diferente do que se descreveu na secção 3.4 para o conversor boost. Isto porque as considerações aí

efetuadas em relação às curvas características do módulo mantêm-se válidas, dado que se recorre

ao mesmo modelo. Além disso, a atuação sobre o semicondutor comandado produz efeitos

semelhantes na variável de controlo, ou seja, quando o MOSFET conduz a corrente no painel cresce

e quando está ao corte decresce.

Resumindo, pode referir-se que a derivada da potência continua a ser calculada com base

em:

𝑑𝑃

𝑑𝐼≈ 𝑣(𝑡) + 𝑖(𝑡)

𝑣(𝑡) − 𝑣(𝑡 − ∆𝑡)

𝑖(𝑡) − 𝑖(𝑡 − ∆𝑡) (4.51)

cujo resultado constitui a entrada de um comparador de histerese semelhante ao da Figura 3.10.

Note-se que aqui a tensão e a corrente referem-se a um único módulo e não a uma série de dez,

como anteriormente.

A maior diferença em relação ao caso anterior reside nos pontos de comutação do

comparador histerético, a que se atribuíram as designações de 𝛼 e 𝛽. Neste caso, dado que o

controlador analisa as grandezas de um único módulo é possível efetuar um controlo mais adaptativo,

o que é conseguido através da regulação dinâmica do intervalo ]𝛼, 𝛽[, com base no valor da corrente.

Quer isto dizer que se pretende que, a cada instante e para condições ambientais variáveis, 𝛼 e 𝛽

sejam tais que permitam que o tremor da corrente mantenha aproximadamente constante a

proporção com o valor médio.

Para concretizar esse objetivo recorreu-se ao modelo de um díodo e cinco parâmetros,

descrito na secção 2.3, com o intuito de tentar prever melhor o funcionamento do módulo fotovoltaico

real. Como se concluiu nesse capítulo, o fator ambiental que provoca as alterações mais significativas

no desempenho do módulo é a irradiância incidente. Como tal, em primeiro lugar aplica-se o modelo

para vários níveis de irradiância diferentes e com base nos resultados estimam-se os valores de 𝛼 e 𝛽

necessários para obter um tremor de 5% na corrente.

Relembrando o raciocino efetuado na secção 3.4, conclui-se da equação (3.33) que a

expressão da derivada da potência em ordem à corrente, para um único módulo, pode ser dada por:

𝑑𝑃

𝑑𝐼= 𝑚𝑉𝑇ln (

𝐼𝑠 − 𝐼

𝐼0+ 1) −

𝑚𝑉𝑇𝐼

𝐼𝑠 − 𝐼+𝐼0− 2𝑅𝑠𝐼 (4.52)

Assim sendo, para cada valor de 𝐺, utiliza-se a expressão (4.52) para determinar os valores

de 𝛼 e 𝛽 que correspondem, respetivamente, a 𝐼𝐿𝑖𝑚𝑎𝑥 = 𝐼𝑀𝑃 + ∆𝑖𝐿𝑖 = 1,05𝐼𝑀𝑃 e 𝐼𝐿𝑖

𝑚𝑖𝑛 = 𝐼𝑀𝑃 − ∆𝑖𝐿𝑖 =

0,95𝐼𝑀𝑃. Uma vez que não se considera plausível uma medição direta da irradiância para a

Page 62: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

48

concretização do algoritmo, associam-se os valores de 𝛼 e 𝛽 à corrente de máxima potência

correspondente, ou seja, admite-se que é possível estimar 𝛼 e 𝛽 em função de 𝐼𝑀𝑃. Essa estimativa é

feita com base na representação dos dados recolhidos por regressões polinomiais de mínimos

quadrados, de quarta ordem [13]. O resultado pode ser visualizado na Figura 4.8.

Figura 4.8 – Regressões polinomiais de α e β

Convém notar que o valor em que o algoritmo se vai basear é o da corrente instantânea do

painel, que mesmo em regime permanente não é constante e igual a 𝐼𝑀𝑃, mas sim oscilante em torno

desse valor. Assim sendo, ao determinar 𝛼 e 𝛽 como funções de 𝐼, os seus valores estarão sujeitos

igualmente a oscilações, no entanto, a sua reduzida amplitude fará com que a sua influência não seja

significativa.

A implementação computacional do algoritmo de MPPT descrito nesta secção é feita com

base no diagrama do Simulink da Figura 4.10, onde o bloco denominado Dynamic Relay foi

desenvolvido para concretizar o comparador de histerese dinâmico, tal como se pode constatar na

Figura 4.9.

Figura 4.9 – Constituição do bloco Dynamic Relay

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9-40

-30

-20

-10

0

10

20

30

Corrente [A]

De

riva

da

da

Po

tên

cia

[W

/A]

(I)

(I)

Page 63: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

49

Figura 4.10 – Diagrama Simulink para o algoritmo de MPPT

4.4 Simulação

4.4.1 Par módulo-conversor isolado

Nesta secção pretende-se testar a validade do modelo Simulink criado para representar o

conversor SEPIC isolado descrito neste capítulo, comparando os resultados da simulação com as

formas de ondas e valores ideais que foram estabelecidos anteriormente. Esta simulação tem por

base um único par módulo-conversor, sendo que posteriormente se estudará o efeito de adotar uma

topologia concordante com a Figura 4.1 para o conjunto dos dez módulos. O esquemático utilizado

pode ser visualizado no Anexo J.

Na Figura 4.11 apresenta-se o resultado da simulação obtido para a corrente na bobina, que

é simultaneamente a corrente de saída do painel fotovoltaico e a corrente de entrada do conversor.

Constata-se, desde logo, que o andamento da corrente é bastante similar ao que se tinha previsto na

Figura 4.3, ou seja, uma forma triangular com valor médio não nulo. Este resultado é também

semelhante ao que se obteve para o conversor elevador, embora seja notória a diferença de fator de

ciclo.

Verifica-se que o período médio ronda os 5,33 𝜇𝑠, o que corresponde a uma frequência de

comutação de 18,8 𝑘𝐻𝑧. No que diz respeito ao fator de ciclo, o valor obtido é de 0,563. Efetuando

uma média aritmética pode concluir-se que o valor médio deverá rondar os 8,53 𝐴. Pode ainda ser

estimado o valor do tremor da corrente, obtendo-se um resultado de 0,476 𝐴, constituindo cerca de

5,6% do valor médio da corrente.

Page 64: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

50

Dado que a frequência pretendida era 20 𝑘𝐻𝑧, verifica-se aqui um desvio de -6,25%, que mais

uma vez é maioritariamente causado pelo atraso na comutação introduzido pelo bloco Zero-Order

Hold (Figura 4.10). Esta não idealidade tem também repercussões no tremor da corrente que

apresenta um desvio de 11,6%. Ainda assim, o efeito no fator de ciclo é pouco notório dado que o

desvio verificado é de apenas 1,6%. Já o valor médio da corrente, obtido de forma aproximada, é

igual ao que era pretendido.

Figura 4.11 – Corrente na bobina, obtida por simulação

No que toca à corrente no MOSFET, o resultado obtido encontra-se na Figura 4.12.

Comparando com o andamento ideal esboçado na Figura 4.3 verifica-se que o resultado obtido é

semelhante ao expectável, sendo que o valor médio dos patamares não nulos deverá ser próximo

dos 15,4 𝐴 previstos. Mais uma vez é possível também notar que os instantes em que o transístor

conduz correspondem aos intervalos em que a corrente na bobina cresce, tal como seria expectável.

A diferença mais significativa prende-se com a existência de um pico de corrente na transição

do corte para a condução. Este fenómeno transitório está relacionado com questões de convergência

do algoritmo computacional, nomeadamente devido aos circuitos auxiliares de comutação (snubbers),

e propagar-se-á pelas várias formas de onda, tanto de correntes como tensões. Ainda assim, a sua

influência é diminuta e a corrente rapidamente passa a corresponder ao previsto.

Figura 4.12 – Corrente no MOSFET, obtida por simulação

0.03 0.0301 0.0302 0.0303 0.0304 0.0305 0.0306 0.0307 0.03088

8.2

8.4

8.6

8.8

9

X: 0.03016Y: 8.308

tempo [s]

Co

rre

nte

[A

]

X: 0.03064Y: 8.286

X: 0.03019Y: 8.762

0.03 0.0301 0.0302 0.0303 0.0304 0.0305 0.0306 0.0307 0.03080

5

10

15

20

tempo [s]

Co

rre

nte

[A

]

Page 65: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

51

À parte dos picos de corrente nos instantes de comutação, a corrente no condensador de

entrada obtida por simulação e representada na Figura 4.13 é bastante similar à que foi prevista na

análise teórica. Nomeadamente, verifica-se que o valor médio do patamar negativo ronda os −6,87 𝐴

que decorrem de (4.7), sendo igual à corrente na bobina nos patamares positivos.

Figura 4.13 – Corrente no condensador de entrada, obtida por simulação

Na Figura 4.14 apresenta-se o resultado da simulação para a corrente no díodo. É possível

concluir que o patamar de corrente não nulo é próximo dos 3,09 𝐴 que decorrem da análise teórica e

que a condução do díodo ocorre de forma intercalada com o MOSFET. De facto, desprezando os

picos de corrente, o resultado obtido é muito semelhante ao da forma de onda ideal da Figura 4.3.

Figura 4.14 – Corrente no díodo, obtida por simulação

No que diz respeito às tensões, comece-se por observar a registada à saída do módulo, e

consequentemente à entrada do conversor, reproduzida na Figura 4.15. Como seria expectável, a

tensão não é constante, como se tinha assumido na análise teórica, mas contém uma variação

relativamente pequena em torno do valor da tensão de máxima potência do módulo, como

consequência da variação da corrente.

A amplitude de oscilação ronda os 1,99 𝑉, ou seja, 5,48% do respetivo valor médio, sendo

semelhante ao tremor da corrente.

0.03 0.0301 0.0302 0.0303 0.0304 0.0305 0.0306 0.0307 0.0308-15

-10

-5

0

5

10

15

tempo [s]

Co

rre

nte

[A

]

0.03 0.0301 0.0302 0.0303 0.0304 0.0305 0.0306 0.0307 0.0308-1

0

1

2

3

4

tempo [s]

Co

rre

nte

[A

]

Page 66: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

52

Figura 4.15 – Tensão do módulo fotovoltaico, obtida por simulação

Na Figura 4.16 apresenta-se a tensão registada aos terminais da bobina. A sua forma de

onda é consistente com a previsão feita na Figura 4.4, sendo conveniente realçar que nos patamares

positivos a tensão deixa de ser constante, uma vez que a tensão no módulo também não o é. Já no

patamar negativo, verifica-se que o valor médio deverá ser próximo dos 45,1 𝑉 que resultam de (4.1).

Outra constatação que é evidente é a presença de um pico negativo de tensão nas transições dos

patamares positivos para os negativos, que correspondem às passagens ao corte do MOSFET. Isto

porque nesses instantes a bobina de entrada do conversor é colocada e série com a bobina de fugas

do primário do transformador e a momentânea desigualdade entre as correntes dá origem ao referido

pico de tensão, que pode ser igualmente visualizado em algumas das formas de onda seguintes.

Figura 4.16 – Tensão na bobina, obtida por simulação

No que toca à tensão no MOSFET, o resultado obtido por simulação é o da Figura 4.17, e

constata-se que além do pico de tensão nas passagens ao corte não existem diferenças muito

significativas em relação à forma de onda ideal. De notar que quando o transístor conduz existe

apenas uma queda de tensão muito reduzida na respetiva resistência e quando está bloqueado

apresenta uma tensão média que ronda os 81,4 𝑉 que resultam da aplicação da expressão (4.6).

Analogamente ao conversor boost, o patamar positivo de tensão não é constante como esboçado nas

formas de onda ideais, mas apresenta uma tendência crescente resultante das variações de tensão

aos terminais dos condensadores. Esta discrepância é comum às restantes tensões.

0.03 0.0301 0.0302 0.0303 0.0304 0.0305 0.0306 0.0307 0.030834

35

36

37

38X: 0.03043Y: 37.16

tempo [s]

Te

nsã

o [V

]

X: 0.03046Y: 35.17

0.03 0.0301 0.0302 0.0303 0.0304 0.0305 0.0306 0.0307 0.0308

-100

-50

0

50

tempo [s]

Te

nsã

o [V

]

Page 67: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

53

Figura 4.17 – Tensão no MOSFET, obtida por simulação

Na Figura 4.18 pode ser visualizada a tensão no condensador de entrada. Verifica-se que

apresenta um andamento aproximadamente triangular, apesar de apresentar algumas distorções nas

extremidades. O seu valor médio, estimado por média aritmética, é cerca de 36,0 𝑉. Note-se que este

valor é apenas ligeiramente inferior ao previsto teoricamente (que é o da tensão de máxima potência

do módulo 𝑉𝑀𝑃𝑟 = 36,3 𝑉) devido à presença de resistências parasitas no circuito. No que diz respeito

ao tremor da tensão, regista-se um valor de 3,26 𝑉, ou seja, 9,06% do valor médio, o que é

consideravelmente superior aos 6,03% previstos teoricamente, devido às não idealidades presentes

patentes nas extremidades da forma de onda.

Figura 4.18 – Tensão no condensador, obtida por simulação

Na Figura 4.19 e na Figura 4.20 apresentam-se as tensões no primário e no secundário do

transformador, onde se constatam muitas semelhanças com as formas de onda ideais da Figura 4.4.

No primário os valores médios dos patamares de tensão são próximos dos previstos (−36,3 𝑉 e

45,1 𝑉) e o mesmo acontece para os valores previstos para o secundário que são o quíntuplo dos

anteriores, devido à relação de transformação. Quanto a esta última verifica-se que se obtém um

valor de cerca de 4,98, o que é muito próximo do ideal.

No caso da tensão do secundário, o pico que se verifica corresponde a ressonância que

ocorre com os snubbers na passagem do díodo ao corte.

0.03 0.0301 0.0302 0.0303 0.0304 0.0305 0.0306 0.0307 0.03080

50

100

150

tempo [s]

Te

nsã

o [V

]

0.03 0.0301 0.0302 0.0303 0.0304 0.0305 0.0306 0.0307 0.030834

35

36

37

38

X: 0.03034Y: 37.59

tempo [s]

Te

nsã

o [V

]

X: 0.03037Y: 34.33

Page 68: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

54

Figura 4.19 – Tensão no primário do transformador, obtida por simulação

Figura 4.20 – Tensão no secundário do transformador, obtida por simulação

Tal como registado até aqui, a tensão no díodo, representada na Figura 4.21, é consistente

com a previsão feita através da análise teórica. Quando o díodo está a conduzir verifica-se a

existência de uma pequena tensão positiva aos seus terminais, resultado da sua modelação como

fonte de tensão em série com resistência. Nos instantes em que o díodo está ao corte verifica-se que

suporta uma tensão negativa cujo valor é consistente com o que resulta da expressão (4.20)

(−406 𝑉), embora apresente uma variação crescente.

Figura 4.21 – Tensão no díodo, obtida por simulação

0.03 0.0301 0.0302 0.0303 0.0304 0.0305 0.0306 0.0307 0.0308-50

0

50

100

X: 0.03048Y: 45.81

tempo [s]

Te

nsã

o [V

]

X: 0.03051Y: -34.81

0.03 0.0301 0.0302 0.0303 0.0304 0.0305 0.0306 0.0307 0.0308-300

-200

-100

0

100

200

X: 0.03051Y: -173.5

tempo [s]

Te

nsã

o [V

]

X: 0.03048Y: 228

0.03 0.0301 0.0302 0.0303 0.0304 0.0305 0.0306 0.0307 0.0308-500

-400

-300

-200

-100

0

tempo [s]

Te

nsã

o [V

]

Page 69: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

55

Por fim, apresenta-se na Figura 4.22 o gráfico da tensão de saída do conversor, para a qual é

conveniente realçar dois aspetos fundamentais. No que diz respeito ao valor médio, com base numa

simples média aritmética, estima-se que deverá rondar os 219 𝑉. O desvio em relação aos 225 𝑉

pretendidos fica-se a dever, mais uma vez, à existência de perdas nos componentes do conversor, ou

seja, ao facto de o rendimento não ser unitário. Em concreto, com base neste resultado estima-se

que a potência de saída seja próxima de 293 𝑊, equivalendo a um rendimento aproximado de 94,8%,

o que é relativamente próximo do valor previsto na secção 4.2.8 (95,6%). No que diz respeito ao

tremor, que se pretendia que fosse de 5% do valor médio, verifica-se é na verdade de 11,9 𝑉, ou seja,

de 5,43% do valor médio.

Figura 4.22 – Tensão de saída, obtida por simulação

4.4.2 Painel fotovoltaico completo

No que diz respeito a considerar a totalidade dos painéis fotovoltaicos, tendo em conta o

esquema da Figura 4.1, é conveniente efetuar algumas adaptações na carga do circuito da Figura

4.2. Nomeadamente, considera-se a existência de dois condensadores 𝐶𝑜, cada um ligado a cinco

conversores em paralelo, e em série entre si, com uma capacidade cinco vezes superior à calculada

em (4.25). Além disso, o circuito fechar-se-á por uma única resistência 𝑅𝑜, que representará o

inversor, sendo que a mesma deverá agora absorver a potência dos dez módulos a uma tensão

nominal de 450 𝑉, pelo que o seu valor será igual ao que foi obtido para o conversor boost na

expressão (3.13), ou seja, 𝑅𝑜 = 65,3 𝛺. Estas alterações possibilitaram a criação do esquemático do

Anexo J.

Através da simulação do referido esquemático constata-se que os resultados obtidos para as

grandezas dos conversores são em tudo idênticos aos que resultaram da simulação do conversor

isolado. No que diz respeito à tensão de saída, suportada pela resistência 𝑅𝑜, o resultado é o que se

observa na Figura 4.23. Pode usar-se novamente uma média aritmética para estimar o valor médio

obtido, sendo o resultado 438 𝑉. Este valor permite concluir que a potência de saída deverá ser cerca

0.03 0.0301 0.0302 0.0303 0.0304 0.0305 0.0306 0.0307 0.0308210

215

220

225

230

X: 0.03034Y: 225

tempo [s]

Te

nsã

o [V

]

X: 0.03032Y: 213.1

Page 70: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

56

de 2939 𝑊, correspondendo a um rendimento do conjunto de conversores de 94,8%, igual ao que se

obteve para o conversor isolado.

No que toca ao tremor da tensão, o valor resultante ronda os 23,9 𝑉, o que corresponde a

5,46% do respetivo valor médio, sendo uma diferença pouco significativa em relação ao valor

pretendido.

Figura 4.23 – Tensão de saída, obtida por simulação

0.03 0.0301 0.0302 0.0303 0.0304 0.0305 0.0306 0.0307 0.0308420

430

440

450

460

X: 0.03032Y: 450.1

tempo [s]

Te

nsã

o [V

]

X: 0.0303Y: 426.2

Page 71: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

57

5 Inversor

Qualquer que seja a forma de ligação e a topologia do conversor DC-DC escolhido será

sempre necessário fazer a conversão das grandezas de contínuas para alternadas, de maneira a que

se cumpram as exigências de injeção na rede. Assim sendo, neste capítulo será descrito o inversor

que será utilizado para esse efeito, assim como o seu controlador e o modelo da rede onde será

injetada a potência.

5.1 Controlo do Inversor

Neste estudo escolheu-se para ambos os sistemas uma topologia comum e habitualmente

designada por inversor monofásico em ponte completa [9], que pode ser esquematizado como na

Figura 5.1.

Figura 5.1 – Inversor monofásico em ponte completa com filtro LC

Como se pode observar na figura anterior, à saída do conversor é colocado um filtro LC, que

será dimensionado posteriormente, e que é fundamental para que as condições de ligação à rede

sejam cumpridas. No que diz respeito à entrada, uma primeira aproximação é considerar que se trata

de uma fonte de tensão contínua com o valor que foi considerado para as saídas dos conversores

(𝑉𝐷𝐶 = 450 𝑉). No entanto, quando que efetuar a ligação entre os conversores DC-DC e o inversor

esta fonte de tensão será substituída por um condensador que deverá ser dimensionado de forma

adequada.

Existem dois objetivos de controlo a ter em conta para o inversor, ambos refletidos na forma

de onda da corrente, 𝑖𝑃𝑊𝑀. Em primeiro lugar pretende-se que a corrente apresente um andamento

aproximadamente sinusoidal e simultaneamente pretende-se controlar a sua amplitude para que a

cada instante seja injetada uma potência ativa média igual à que é produzida pelo painel fotovoltaico

(subtraída das perdas no circuito). Este último objetivo equivale a assegurar que a tensão média no

condensador de entrada se mantém constante. Assim sendo, divide-se o controlo em duas partes:

Page 72: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

58

controlo da corrente na bobina, 𝐿𝑓, assumindo a tensão de entrada constante, e controlo da tensão no

condensador, 𝐶𝐷𝐶, assumindo a corrente 𝑖𝑃𝑊𝑀 sinusoidal.

5.1.1 Controlo da corrente

Comece-se por admitir que a tensão 𝑣𝐷𝐶 é constante e igual a 𝑉𝐷𝐶 = 450 𝑉, e que a tensão de

saída, 𝑣𝐴𝐶 , é igual à tensão padrão da rede, ou seja, sinusoidal e com valor eficaz 𝑣𝐴𝐶𝑒𝑓 = 230 𝑉. Com

base nestes pressupostos pretende-se desenvolver um controlo não linear para a corrente que

assegure que o seu andamento se aproxima do sinusoidal com um determinado valor eficaz que se

designa por 𝐼𝑟𝑒𝑓. Analise-se então a topologia do conversor para perceber de que forma isso poderá

ser realizado.

Os quatro semicondutores podem ser comandados independentemente, pelo que no total

estariam disponíveis 16 combinações diferentes. No entanto, existem restrições topológicas do

circuito que reduzem esse número. Nomeadamente, é necessário evitar causar um curto-circuito aos

terminais do condensador 𝐶𝐷𝐶, o que significa que 𝑆1 e 𝑆2, e 𝑆3 e 𝑆4 não podem ser acionados em

simultâneo. Por outro lado, é imperativo assegurar a continuidade da corrente na bobina 𝐿𝑓, pelo que

tanto 𝑆1 e 𝑆2, como 𝑆3 e 𝑆4 não podem estar simultaneamente comandados ao corte. Ou seja, entre

os pares 𝑆1-𝑆2, e 𝑆3-𝑆4 tem de haver um e só um semicondutor a conduzir. Designando por 𝛾𝑥 a

variável binária de comando do transístor 𝑆𝑥, que toma o valor 1 quando o transístor conduz e 0 caso

contrário, obtêm-se os seguintes estados:

Variáveis de comando 𝑣𝑃𝑊𝑀 Efeito em 𝑖𝑃𝑊𝑀

𝛾1 = 1 𝛾2 = 0 𝛾3 = 0 𝛾4 = 1 𝑉𝐷𝐶 𝑖𝑃𝑊𝑀 cresce

𝛾1 = 1 𝛾2 = 0 𝛾3 = 1 𝛾4 = 0 0 𝑖𝑃𝑊𝑀 tende para 0

𝛾1 = 0 𝛾2 = 1 𝛾3 = 1 𝛾4 = 0 −𝑉𝐷𝐶 𝑖𝑃𝑊𝑀 decresce

𝛾1 = 0 𝛾2 = 1 𝛾3 = 0 𝛾4 = 1 0 𝑖𝑃𝑊𝑀 tende para 0

Tabela 5.1 – Estados possíveis do inversor

Conclui-se assim que existem três modos de funcionamento distintos para o inversor. A

última coluna da tabela resulta da análise da tensão aos terminais da bobina em cada configuração,

sendo dada por:

𝑣𝐿𝑓 = 𝑣𝑃𝑊𝑀 − 𝑣𝐴𝐶 (5.1)

Dado que a tensão 𝑣𝐴𝐶 é sinusoidal com um valor de pico de cerca de 325 𝑉, será a tensão

𝑣𝑃𝑊𝑀, a definir o modo de funcionamento, ficando a taxa de variação de 𝑖𝑃𝑊𝑀 dependente da relação

entre as duas tensões. Quando 𝑣𝑃𝑊𝑀 é nula, a tensão na bobina é o inverso de 𝑣𝐴𝐶 pelo que admitir

que sempre que isso acontece 𝑖𝑃𝑊𝑀 tende para 0 equivale a considerar que 𝑖𝑃𝑊𝑀 e 𝑣𝐴𝐶 estão

Page 73: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

59

praticamente em fase. Esta exigência é consistente com o que se pretende, uma vez que será

desejável que a injeção de potência na rede seja efetuada com fator de potência quase unitário.

O objetivo de controlo será garantir que a corrente não se afaste mais do que um dado valor

da forma de onda da corrente de referência, a cada instante. Uma forma de realizar esta operação é

através da utilização de dois comparadores de histerese. Note-se que apenas são necessárias duas

variáveis de controlo para os quatro semicondutores uma vez que os pares 𝑆1-𝑆2, e 𝑆3-𝑆4 são

complementares. Na Figura 5.2 apresentam-se as características dos dois comparadores de

histerese, onde 𝑒 = 𝑖𝑟𝑒𝑓 − 𝑖𝑃𝑊𝑀 é o erro da corrente em relação à de referência e ∆𝑖𝑃𝑊𝑀 é o tremor

máximo da corrente que se estipula como sendo 10% do valor eficaz de 𝑖𝑟𝑒𝑓.

Figura 5.2 – Comparadores de histerese

Estas características podem ser relacionadas com os modos de funcionamento da seguinte

forma [14] [15] [16]:

𝜌 = 1, 𝜆 = 1 ⟶ 𝑒 >∆𝑖𝑃𝑊𝑀

2 ⟶ 𝑖𝑃𝑊𝑀 tem de crescer ⟶ 𝑣𝑃𝑊𝑀 = 𝑉𝐷𝐶 ⟶ 𝛾1 = 𝛾4 = 1

𝜌 = 0, 𝜆 = 0 ⟶ 𝑒 < −∆𝑖𝑃𝑊𝑀

2 ⟶ 𝑖𝑃𝑊𝑀 tem de decrescer ⟶ 𝑣𝑃𝑊𝑀 = −𝑉𝐷𝐶 ⟶ 𝛾2 = 𝛾3 = 1

{𝜌 = 0, 𝜆 = 1

𝑜𝑢𝜌 = 1, 𝜆 = 0

⟶ −∆𝑖𝑃𝑊𝑀

2< 𝑒 <

∆𝑖𝑃𝑊𝑀

2 ⟶ 𝑣𝑃𝑊𝑀 = 0 ⟶ {

𝛾1 = 𝛾3 = 1𝑜𝑢

𝛾2 = 𝛾4 = 1

Dado que existem duas configurações possíveis para este último caso, alterna-se entre uma

e outra de maneira a que a utilização dos semicondutores seja mais homogénea. Assim sendo,

define-se uma variável adicional, gerada a partir de 𝜌 e 𝜆 e designada por 𝜎, que permite intercalar a

utilização das duas configurações referidas. Esta informação pode ser condensada num quadro de

Karnaugh, obtendo-se:

𝜆 𝜌 𝜎 𝛾1 𝛾2 𝛾3 𝛾4

0 0 0 0 1 1 0

0 0 1 0 1 1 0

0 1 1 0 1 0 1

0 1 0 1 0 1 0

1 1 0 1 0 0 1

1 1 1 1 0 0 1

1 0 1 1 0 1 0

1 0 0 0 1 0 1

e de onde se retira:

Page 74: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

60

𝛾1 = 𝜎𝜌 + 𝜎𝜆 𝛾2 = 𝛾1̅ 𝛾3 = 𝛾4̅ 𝛾4 = 𝜎𝜌 + 𝜎𝜆

O funcionamento deste processo pode ser melhor compreendido através de um pequeno

exemplo. Suponha-se que a corrente de referência, e consequentemente também a tensão 𝑣𝑎𝑐, estão

a descrever arcadas positivas e que 𝑆1 e 𝑆4 estão a conduzir, ou seja 𝜌 = 𝜆 = 1, pelo que a corrente

𝑖𝑃𝑊𝑀 está a crescer e o erro está a diminuir. Suponha-se também que 𝜎 = 1. A determinada altura o

erro torna-se inferior a −Δ𝑖𝑃𝑊𝑀 4⁄ e 𝜆 passa a 0, o que faz com que se 𝑆2 passe a conduzir em vez de

𝑆1, anulando a tensão 𝑣𝑃𝑊𝑀 e fazendo a corrente tender para 0, ou seja, sendo ela positiva,

decrescer. Essa tendência mantém-se até o erro ultrapassar ∆𝑖𝑃𝑊𝑀 4⁄ , altura em que se regressa à

configuração inicial, o que faz com que 𝜎 passe a 0. Quando o erro voltar a ser inferior a −∆𝑖𝑃𝑊𝑀 4⁄

será 𝑆4 a passar ao corte, fazendo 𝑆3 conduzir.

Este processo repetir-se-á até que se passem para a arcada negativa de 𝑣𝐴𝐶 , o que faz com

que anular 𝑣𝑃𝑊𝑀 deixe de ser suficiente para reduzir a corrente na bobina. Quando isto acontece, o

erro acaba por atingir −∆𝑖𝑃𝑊𝑀 2⁄ e a tensão 𝑣𝑃𝑊𝑀 passa agora a oscilar entre 0 e −𝑉𝐷𝐶, por um

processo análogo ao anterior. O andamento da tensão 𝑣𝑃𝑊𝑀 obtido por este método apresenta um

aspeto semelhante ao que se obtém pelo comando por Pulse Width Modulation (PWM) de três níveis,

daí a sua designação.

5.1.2 Controlo da tensão

Como foi referido anteriormente, o controlo da tensão de entrada do inversor depende do

equilíbrio de potências aos terminais do condensador 𝐶𝐷𝐶, ou seja, é necessário garantir que a

potência média injetada na rede pelo inversor corresponde à que é produzida pelo painel fotovoltaico.

Isto significa que é necessário atuar no valor da eficaz da corrente de referência com o intuito de

garantir que a tensão no condensador apresente um valor médio constante e igual a 𝑉𝐷𝐶.

Convém notar que, embora possa haver uma equivalência das potências ativas médias, não

é possível igualar as potências instantâneas, uma vez que o painel produz energia de forma

aproximadamente constante, enquanto o inversor injeta na rede a potência com características

alternadas sinusoidais. Assim sendo, a diferença terá de ser absorvida pelo condensador, cuja tensão

apresentará uma oscilação em torno do valor médio.

Para o condensador, analisando a Figura 5.1, pode escrever-se:

𝐶𝐷𝐶𝑑𝑣𝐷𝐶𝑑𝑡

= 𝑖𝑓𝑣 − 𝑖𝑖𝑛𝑣 (5.2)

o que, através da aplicação da transformada de Laplace, corresponde a:

𝑠𝐶𝐷𝐶𝑉𝐷𝐶(𝑠) = 𝐼𝑝𝑣(𝑠) − 𝐼𝑖𝑛𝑣(𝑠) (5.3)

Page 75: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

61

A corrente 𝑖𝑖𝑛𝑣 tem um andamento complexo, no entanto, dado que interessa

fundamentalmente efetuar a análise em termos de valores médios, pode estabelecer-se a seguinte

aproximação, supondo conservação de potência:

𝑖𝑖𝑛𝑣𝑚𝑒𝑑𝑉𝐷𝐶 = 𝐼𝑟𝑒𝑓𝑣𝐴𝐶

𝑒𝑓 ⇔ 𝑖𝑖𝑛𝑣𝑚𝑒𝑑 =

𝐼𝑟𝑒𝑓𝑣𝐴𝐶𝑒𝑓

𝑉𝐷𝐶 (5.4)

onde 𝐼𝑟𝑒𝑓 continua a ser o valor eficaz da corrente de referência na bobina 𝐿𝑓. Pode assim definir-se a

constante de proporcionalidade 𝐺𝑖𝑛𝑣 = 𝑣𝐴𝐶𝑒𝑓 𝑉𝐷𝐶⁄ . No domínio da transformada de Laplace vem:

𝑠𝐶𝐷𝐶𝑉𝐷𝐶(𝑠) = 𝐼𝑝𝑣(𝑠) − 𝐺𝑖𝑛𝑣𝐼𝑟𝑒𝑓(𝑠) (5.5)

A equação (5.5) pode ser esquematizada pelo diagrama de blocos da Figura 5.3, onde se

adicionou um atraso 𝑇𝑑 que diz respeito ao funcionamento do inversor.

Figura 5.3 – Diagrama de blocos parcial

Para o controlo deste sistema propõe-se a utilização de uma malha de realimentação com um

controlador proporcional-integral [9], pelo que o diagrama de blocos completo é o representado na

Figura 5.4.

Figura 5.4 – Diagrama de blocos completo

Tendo por base o diagrama da figura anterior, é possível determinar a função de transferência

em cadeia fechada, obtendo-se:

𝐹𝑇𝐶𝐹 =

−𝐺𝑖𝑛𝑣(1 + 𝑠𝑇𝑧)𝑇𝑝𝑇𝑑𝐶𝐷𝐶

𝑠3 +1𝑇𝑑𝑠2 −

𝑇𝑧𝐺𝑖𝑛𝑣𝑇𝑝𝑇𝑑𝐶𝐷𝐶

𝑠 −𝐺𝑖𝑛𝑣

𝑇𝑝𝑇𝑑𝐶𝐷𝐶

(5.6)

O critério que se utilizou para a determinação dos coeficientes do controlador foi o do polo

dominante próximo da origem [9]. Este critério corresponde a considerar que os coeficientes do

polinómio característico obedecem à regra 𝑏𝑘2 = 2𝑏𝑘−1𝑏𝑘+1, pelo que se pode escrever:

Page 76: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

62

{

(

1

𝑇𝑑)2

= −2𝑇𝑧𝐺𝑖𝑛𝑣𝑇𝑝𝑇𝑑𝐶𝐷𝐶

(𝑇𝑧𝐺𝑖𝑛𝑣𝑇𝑝𝑇𝑑𝐶𝐷𝐶

)

2

= −2(1

𝑇𝑑) (

𝐺𝑖𝑛𝑣𝑇𝑝𝑇𝑑𝐶𝐷𝐶

)

(5.7)

resultando:

{𝑇𝑝 = −

8𝑇𝑑2𝐺𝑖𝑛𝑣𝐶𝐷𝐶

𝑇𝑧 = 4𝑇𝑑

(5.8)

No que diz respeito ao valor do atraso do inversor, é necessário ter em atenção que, tal como

foi referido anteriormente, a tensão no condensador vai necessariamente sofrer oscilações em torno

do seu valor médio, resultantes da natureza alternada da tensão da rede. Assim sendo, é desejável

que o controlador atue fundamentalmente no valor médio da tensão, ignorando as oscilações que se

registam. Como tal, optou-se por considerar o atraso igual ao período da rede, ou seja, 𝑇𝑑 = 20 𝑚𝑠.

Para evitar a saturação ou o comprometimento da integridade do inversor, adequa-se ainda a

topologia do controlador para precaver a operação em regime de grandes perturbações. Esta medida

é concretizada através da utilização de blocos não lineares na forma de um compensador

proporcional-integral (PI) com limitador de anti-embalamento [9]. Para esse efeito, redefine-se o

controlador fazendo:

1 + 𝑠𝑇𝑧𝑇𝑝

= 𝐾𝑝 +𝐾𝑖𝑠⇔

{

𝐾𝑖 =

1

𝑇𝑝= −

𝐶𝐷𝐶

8𝑇𝑑2𝐺𝑖𝑛𝑣

𝐾𝑝 =𝑇𝑧𝑇𝑝= −

𝐶𝐷𝐶2𝐺𝑖𝑛𝑣𝑇𝑑

(5.9)

Na Figura 5.5 apresenta-se o diagrama de blocos final onde é ainda necessário definir um

ganho adicional designado por 𝑘𝑤, e que geralmente obedece à relação [8]:

1

𝐾𝑝≤ 𝑘𝑤 ≤ −

𝐾𝑖𝐾𝑝

(5.10)

pelo que se opta por escolher o ponto médio deste intervalo.

Page 77: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

63

Figura 5.5 – Diagrama de blocos do sistema com limitador anti-embalamento

Resta referir que a implementação deste controlador implica que o valor de 𝐼𝑟𝑒𝑓 é enviado

para o controlador de corrente e a tensão 𝑣𝐷𝐶 é medida aos terminais do condensador 𝐶𝐷𝐶, sendo o

valor utilizado para calcular o erro em relação à tensão de referência 𝑉𝐷𝐶 = 450 𝑉.

5.2 Dimensionamento e Escolha de Componentes

5.2.1 Condensador de entrada

O condensador 𝐶𝐷𝐶 deverá ser dimensionado como objetivo de limitar as variações da tensão

aos seus terminais a um determinado valor, pelo que convém perceber de forma mais concreta as

características dessas variações.

Sabe-se que o controlador de corrente atua com o objetivo de garantir que a corrente na

bobina 𝐿𝑓 seja aproximadamente alternada sinusoidal, no entanto a ligação entre entrada e saída do

inversor só é estabelecida em metade das comutações e quando isso acontece s corrente de entrada

do inversor é sempre positiva. Assim esta corrente deverá apresentar um andamento correspondente

a pequenos troços de arcadas sinusoidais positivas intercalados com patamares nulos.

Dado que as arcadas negativas da corrente 𝑖𝑃𝑊𝑀 correspondem a arcadas positivas na

corrente 𝑖𝑖𝑛𝑣, esta última apresenta uma frequência dupla da primeira, o que se reflete nas oscilações

da tensão 𝑣𝐷𝐶. Ou seja, a tensão no condensador apresenta uma oscilação aproximadamente

sinusoidal, com frequência de 2𝑓𝑟 = 100 𝐻𝑧, em torno do seu valor médio.

Este funcionamento tem algumas analogias com o retificador de fator de potência quase

unitário, embora este tenha o trânsito de potência no sentido inverso. Assim sendo, de acordo com

[9], a variação da tensão no condensador pode ser dada por:

∆𝑣𝐷𝐶 =𝑃𝐷𝐶

𝜔𝑟𝐶𝐷𝐶𝑉𝐷𝐶 (5.11)

Page 78: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

64

onde 𝑃𝐷𝐶 é a potência ativa média que transita no lado contínuo, e que se pode admitir que é igual à

potência máxima produzida pelo painel fotovoltaico nas condições de referência (𝑃𝑖𝑛𝑣 = 10𝑃𝐷𝐶𝑟 ), e

𝜔𝑟 = 2𝜋𝑓𝑟 é a frequência angular da rede. Admitindo que a variação da tensão desejável é 5% do seu

valor médio, resulta para a capacidade do condensador:

𝐶𝐷𝐶 =𝑃𝐷𝐶

∆𝑣𝐷𝐶𝜔𝑟𝑉𝐷𝐶= 975 𝜇𝐹 (5.12)

Nos capítulos anteriores utilizaram-se condensadores na saída dos conversores DC-DC

tendo os respetivos dimensionamentos sido feito de forma diferente, porque a potência era entreque

numa carga resistiva. No entanto, quando se efetuar a ligação com o inversor agora em análise, será

este o dimensionamento correto para que seja acautelado a diferença de valores instantâneos de

potências.

Para o caso do conversor boost, explorado no capítulo 3, que apenas necessita de um único

condensador de saída, o valor do condensador a utilizar aquando da ligação ao inversor é o que se

obteve em (5.12). Já para o caso do conversor distribuído, analisado no capítulo 4, em que se

considera a utilização de dois condensadores de saída na simulação, o valor da capacidade de cada

um, obtido pela expressão (5.12), é o dobro da anterior já que a potência transitada em cada

condensador, assim como a sua tensão média e a variação de tensão admitida passam todas para

metade. Convém, no entanto, relembrar que as capacidades dos condensadores reais, colocados à

saída de cada conversor DC-DC, em conformidade com o esquema da Figura 4.1, são cinco vezes

menores, devido à sua colocação em paralelo entre si.

5.2.2 Filtro de saída

Para dimensionar o filtro LC comece-se por considerar que, do ponto de vista da potência

entregue, a rede pode ser vista como uma resistência equivalente dada por:

𝑅𝑒𝑞 =𝑉𝑟𝐼𝐴𝐶

=𝑉𝑟2

𝑃𝑜 (5.13)

onde 𝑉𝑟 = 230 𝑉 é a tensão eficaz nominal da rede, 𝐼𝐴𝐶 é a corrente eficaz injetada na rede e 𝑃𝑜 é a

potência de saída do inversor, que por aproximação se considera igual à produzida pelo painel

fotovoltaico nas condições de referência. Resulta então o esquema da Figura 5.6.

Page 79: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

65

Figura 5.6 – Filtro LC com rede modelada por resistência equivalente

A função de transferência deste filtro é dada por:

𝑉𝐴𝐶(𝑠)

𝑉𝑃𝑊𝑀(𝑠)=

1𝐿𝑓𝐶𝑓

𝑠2 +1

𝑅𝑒𝑞𝐶𝑓𝑠 +

1𝐿𝑓𝐶𝑓

=𝜔𝑐

2

𝑠2 + 2𝜉𝜔𝑐𝑠 + 𝜔𝑐2

(5.14)

onde

𝜔𝑐 =1

√𝐿𝑓𝐶𝑓 (5.15)

𝜉 =1

2𝑅𝑒𝑞√𝐿𝑓

𝐶𝑓 (5.16)

são, respetivamente, a frequência de corte do filtro e o fator de amortecimento. Escolhendo uma

frequência de corte uma década acima da frequência nominal da rede, ou seja, 𝜔𝑐 = 10𝜔𝑟 =

3,14 𝑘𝑟𝑎𝑑/𝑠, e um fator de amortecimento 𝜉 = √2 2⁄ , resulta:

𝐿𝑓 =2𝑅𝑒𝑞𝜉

𝜔𝑐= 7,68 𝑚𝐻 (5.17)

𝐶𝑓 =1

2𝜔𝑐𝑅𝑒𝑞𝜉= 13,2 𝜇𝐹 (5.18)

Através do valor da indutância obtido em (5.17) é possível obter uma estimativa da frequência

de comutação do inversor. Através da relação descrita pela equação (5.1) pôde-se concluir que a

tensão aos terminais da bobina depende do modo de funcionamento dos semicondutores a cada

instante.

Considere-se que a tensão 𝑣𝐴𝐶 é alternada sinusoidal com valor eficaz de 230 𝑉 e atente-se

na metade do seu período que corresponde à arcada positiva. Sabendo que o valor médio de uma

arcada sinusoidal positiva é 2/𝜋 vezes o seu valor de pico, conclui-se que durante esse intervalo o

valor médio desta tensão é 𝑉𝐴𝐶+ = 2√2𝑣𝐴𝐶𝑒𝑓/𝜋 = 207 𝑉. Tomando também o valor médio de 𝑉𝐷𝐶,

pode assim admitir-se que, nesta metade do período, a tensão na bobina oscila entre 450 − 207 =

243 𝑉 e −207 𝑉, como é esquematizado na Figura 5.7.

Page 80: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

66

Figura 5.7 – Aproximação por valores médios dos patamares da tensão na bobina

Sabendo que em ambos os intervalos assinalados na figura anterior ocorre aproximadamente

uma variação da corrente na bobina de ∆𝑖𝑃𝑊𝑀/2, recorrendo à expressão habitual para o

dimensionamento das bobinas resulta:

𝑡1 =∆𝑖𝑃𝑊𝑀𝐿𝑓

2(𝑉𝐷𝐶 − 𝑉𝐴𝐶+)= 21,3 𝜇𝑠 (5.19)

𝑡2 =∆𝑖𝑃𝑊𝑀𝐿𝑓

2𝑉𝐴𝐶+= 25,0 𝜇𝑠 (5.20)

pelo que a frequência de comutação média do inversor é dada aproximadamente por:

𝑓𝑖𝑛𝑣 =1

𝑡1 + 𝑡2= 21,6 𝑘𝐻𝑧 (5.21)

Note-se que para a arcada negativa a aplicação de um raciocínio análogo teria como

consequência o mesmo resultado dado que os patamares de tensão resultantes da simplificação

seriam simplesmente os simétricos aos da Figura 5.7.

Por fim considera-se ainda a presença de uma resistência parasita em série com 𝐿𝑓,

modelando as perdas por efeito de Joule. Admite-se que essas perdas constituem 0,5% de 𝑃𝑜 e que

essa potência é a produzida pelo painel fotovoltaico para as condições de referência. Assim sendo,

vem:

𝑟𝐿𝑓 =0,005 × 10𝑃𝐷𝐶

𝑟

(𝑖𝑟𝑒𝑓𝑒𝑓)

2 = 85,3 𝑚𝛺

5.2.3 Transístores

Para a concretização dos semicondutores comandados optou-se pela utilização de

MOSFETs, cujas tensões e correntes a suportar deverão ser consistentes com as limitações dos

mesmos. A tensão máxima que os dispositivos têm de suportar é a tensão mais elevada que se

regista aos terminais de 𝐶𝐷𝐶. Em regime permanente essa tensão é dada por:

Page 81: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

67

𝑣𝐷𝐶𝑚𝑎𝑥 = 𝑉𝐷𝐶 +

∆𝑣𝐷𝐶2

= 461 𝑉 (5.22)

Não esquecer também aqui uma margem de segurança adicional, à semelhança do que foi

feito para os MOSFETs dos conversores DC-DC.

No que diz respeito à corrente dos transístores, o seu andamento pode ser descrito como

troços de sinusoide intercalados com patamares nulos. Esta forma de onda é demasiado complexa

para descrever analiticamente, mas existem algumas conclusões que podem ser tiradas. Quanto ao

valor médio, dado que se desenvolveu o controlo de corrente para que a utilização dos

semicondutores fosse aproximadamente homogénea e que os transístores funcionam sempre aos

pares, pode admitir-se que cada um processa cerca de metade da potência. Obtém-se então

aproximadamente:

𝑖𝑆𝑚𝑒𝑑 =

𝑃𝐷𝐶2𝑉𝐷𝐶

= 3,44 𝐴 (5.23)

A expressão (5.23) é a mesma que é obtida em [9] para a corrente média nos semicondutores

de um inversor em ponte completa com comando PWM de três níveis. De facto, embora o controlo

seja diferente, existem muitas semelhanças nas formas de onda, nomeadamente da corrente nos

transístores. De forma análoga, poder-se-ia obter o resultado aí derivado para o cálculo do valor

eficaz:

𝑖𝑆𝑒𝑓 =

𝑖𝑟𝑒𝑓𝑒𝑓

√2=

𝑃𝐷𝐶

𝑣𝐴𝐶𝑒𝑓√2

= 9,53 𝐴 (5.24)

O valor máximo instantâneo de corrente que os transístores têm de suportar em regime

permanente corresponde ao valor de pico da corrente 𝑖𝑃𝑊𝑀, que é dado por:

𝑖𝑆𝑚𝑎𝑥 = 𝑖𝑃𝑊𝑀

𝑚𝑎𝑥 = √2𝑖𝑟𝑒𝑓𝑒𝑓 +

∆𝑖

4= √2

𝑃𝐷𝐶𝑣𝐴𝐶

𝑒𝑓+0,1𝑃𝐷𝐶4𝑣𝐴𝐶

𝑒𝑓= 19,4 𝐴 (5.25)

Note-se que o valor de pico de 𝑖𝑆 apenas poderá ser acrescido de ∆𝑖/4 em relação ao de 𝑖𝑟𝑒𝑓

uma vez que o desvio só atinge ∆𝑖/2 nas imediações das passagens por zero, como foi descrito

anteriormente.

Neste caso em concreto, a escolha recaiu sobre o MOSFET FCH47N60N da Fairchild, cujo

catálogo é apresentado no Anexo G. A partir dos dados do catálogo é possível obter uma estimativa

das perdas de condução e de comutação no MOSFET.

No que diz respeito às perdas de comutação, assume-se novamente a representação do

MOSFET por uma resistência equivalente, cujo valor típico é obtido do catálogo do fabricante como

𝑅𝐷𝑆(𝑜𝑛) = 51,5 mΩ. Assim sendo, estas perdas vêm dadas por:

Page 82: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

68

𝑃𝑆𝑐𝑜𝑛𝑑 = 𝑅𝐷𝑆(𝑜𝑛)(𝑖𝑆

𝑒𝑓)2= 4,68 𝑊 (5.26)

Quanto às perdas de comutação, utilizando a mesma expressão que anteriormente resulta:

𝑃𝑆𝑐𝑜𝑚 =

𝑡𝑜𝑛 + 𝑡𝑜𝑓𝑓

2𝑉𝑐𝑜𝑚𝐼𝑐𝑜𝑚𝑓𝑖𝑛𝑣 +

1

2𝐶𝑜𝑠𝑠𝑉𝑐𝑜𝑚

2𝑓𝑖𝑛𝑣 = 10,9 𝑊 (5.27)

onde 𝑡𝑜𝑛 = 𝑡𝑟 + 𝑡𝑑(𝑜𝑛) = 20 𝑛𝑠, 𝑡𝑜𝑓𝑓 = 𝑡𝑓 + 𝑡𝑑(𝑜𝑓𝑓) = 157 𝑛𝑠 e 𝐶𝑜𝑠𝑠 = 200 𝑝𝐹 são retirados do catálogo,

𝑓𝑖𝑛𝑣 é a frequência obtida no dimensionamento do filtro LC e 𝑉𝑐𝑜𝑚 é igual a 𝑉𝐷𝐶. No que diz respeito à

corrente comutada 𝐼𝑐𝑜𝑚, o seu valor varia com a corrente se saída do inversor, que tem um

andamento aproximadamente sinusoidal. Assim sendo utiliza-se o valor médio de uma arcada

sinusoidal, resultando para este caso:

𝐼𝑐𝑜𝑚 =2√2𝑖𝑟𝑒𝑓

𝑒𝑓

𝜋= 12,1 𝐴 (5.28)

5.2.4 Modelo da rede de BT

O modelo da rede que foi considerado é o esquematizado na Figura 5.8.

Figura 5.8 – Modelo da rede

A tensão 𝑣𝑟 é a tensão nominal da rede de baixa tensão, ou seja, uma tensão alternada

sinusoidal com valor eficaz de 230 𝑉. Os parâmetros 𝑅𝑟 e 𝐿𝑟 representam o cabo de ligação do

inversor ao posto de transformação. Estes foram calculados com base no estudo desenvolvido em

[17] e considerando um cabo com 500 𝑚 de comprimento, resultando: 𝑅𝑟 = 0,75 𝛺 e 𝐿𝑟 = 320 𝜇𝐻.

5.2.5 Rendimento

O rendimento do inversor pode ser estimado assumindo que a sua potência de entrada, 𝑃𝐷𝐶,

é igual à potência produzida pelo painel fotovoltaico para as condições de referência, ou seja,

𝑃𝐷𝐶 = 10𝑃𝐷𝐶𝑟 . Têm-se então as seguintes perdas por componente:

Bobina: 𝑃𝐿𝑓 = 0,5%𝑃𝐷𝐶 = 15,5 𝑊

Transístor: 𝑃𝑆 = 𝑃𝑆𝑐𝑜𝑚 + 𝑃𝑆

𝑐𝑜𝑛𝑑 = 0,502%𝑃𝐷𝐶 = 15,6 𝑊

Page 83: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

69

Com base nestes valores, o rendimento é dado por:

𝜂𝑖𝑛𝑣 =𝑃𝐷𝐶 − 𝑃𝐿𝑓 − 4𝑃𝑆

𝑃𝑖× 100% = 97,5% (5.29)

5.3 Simulação

Com o intuito de testar o correto funcionamento do inversor isoladamente, recorreu-se a uma

fonte de potência constante a alimentar o seu condensador de entrada. Como é possível constatar no

esquemático de Simulink presente no Anexo K, para esse efeito utilizou-se uma fonte de corrente

controlada. Dado que a tensão aos terminais do condensador é quase constante, este mecanismo faz

com que a fonte de corrente também o seja, para que a potência se mantenha. No entanto, a corrente

proveniente dos conversores DC-DC não será constante, mas ainda assim este método permite

analisar o desempenho do condensador face ao seu principal objetivo: o balanceamento entre a

potência constante do painel e a potência alternada do inversor.

Comece-se por analisar a tensão de entrada do inversor. O andamento que se obtém, em

regime permanente, é o que pode ser visualizado na Figura 5.9. Constata-se que este resultado é

consistente com o que se esperava, sendo clara a oscilação quase sinusoidal de 100 𝐻𝑧 em torno do

valor médio. Concretizando, verifica-se que o valor médio obtido ronda os 450 𝑉, pelo que o

controlador está a cumprir a sua função, e a amplitude de oscilação atinge os 22,6 𝑉, que constitui um

desvio de apenas 0,1 𝑉 em relação ao valor pretendido.

Figura 5.9 – Tensão de entrada do inversor, obtida por simulação

No que diz respeito à corrente de entrada no inversor, obtém-se o gráfico da Figura 5.10,

onde se confirma que o seu andamento é o de uma corrente comutada de troços de arcadas

sinusoidais positivas, tendo igualmente uma frequência de 100 𝐻𝑧.

0.66 0.665 0.67 0.675 0.68 0.685 0.69 0.695 0.7430

440

450

460

470X: 0.6822Y: 461.4

tempo [s]

Te

nsã

o [V

]

X: 0.6872Y: 438.8

Page 84: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

70

Figura 5.10 – Corrente de entrada do inversor, obtida por simulação

Na Figura 5.11 e na Figura 5.12 apresentam-se, respetivamente, a tensão e a corrente que se

obtém para um dos MOSFETs do inversor. Note-se que o método de comando escolhido faz com que

os restantes dispositivos tenham andamentos semelhantes. Quanto à tensão, confirma-se que ela

comuta entre zero e a tensão de entrada, sendo que é possível observar a oscilação provocada por

esta última. Já a corrente apresenta o expectável andamento aproximado de uma sinusoide

comutada.

Figura 5.11 – Tensão num dos MOSFETs, obtida por simulação

Figura 5.12 – Corrente num dos MOSFETs, obtida por simulação

0.66 0.665 0.67 0.675 0.68 0.685 0.69 0.695 0.70

5

10

15

20

tempo [s]

Co

rre

nte

[A

]

0.66 0.665 0.67 0.675 0.68 0.685 0.69 0.695 0.70

100

200

300

400

500

tempo [s]

Te

nsã

o [V

]

0.66 0.665 0.67 0.675 0.68 0.685 0.69 0.695 0.7-20

-10

0

10

20

tempo [s]

Co

rre

nte

[A

]

Page 85: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

71

A corrente de saída do inversor, representada na Figura 5.13, apresenta o andamento

expectável, dado que constitui uma sinusoide com um ligeiro tremor. Comparando com a Figura 5.14,

onde se regista a tensão de saída do inversor, pode também concluir-se que quando a corrente é

positiva a tensão comuta entre zero e a tensão de entrada, e quando a corrente é negativa a tensão

comuta entre zero e o simétrico da tensão de entrada, tal como esperado.

Na Figura 5.15 pode ainda visualizar-se a corrente de saída em pormenor e constatar-se a

clara oscilação entre os limites estabelecidos, comprovando o bom funcionamento do controlador de

corrente. Quanto ao valor máximo da corrente verifica-se um desvio de -6,38% em relação ao valor

teórico de √2𝑖𝑟𝑒𝑓𝑒𝑓 + Δ𝑖𝑃𝑊𝑀 4⁄ . Esta discrepância é originada pelo valor de corrente de referência

definido pelo controlador de tensão. Com base no valor apresentado para o máximo de corrente e

subtraindo a diferença em relação à referência, pode estimar-se que esta corrente apresenta um valor

eficaz de cerca de 12,6 𝐴.

Figura 5.13 – Corrente de saída do inversor, obtida por simulação

Figura 5.14 – Tensão à saída do inversor, obtida por simulação

0.66 0.665 0.67 0.675 0.68 0.685 0.69 0.695 0.7-20

-10

0

10

20

tempo [s]

Co

rre

nte

[A

]

0.66 0.665 0.67 0.675 0.68 0.685 0.69 0.695 0.7-500

0

500

tempo [s]

Te

nsã

o [V

]

Page 86: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

72

Figura 5.15 – Pormenor da corrente de saída do inversor, obtida por simulação

Na Figura 5.16 apresenta-se a tensão de saída do filtro, que como se pode ver é quase uma

sinusoide perfeita. No entanto, o seu valor de pico indica que deverá ter um valor eficaz próximo de

240 𝑉, o que é superior ao que se admitiu na análise teórica, dado que se consideraram 230 𝑉. Ainda

assim, este resultado é expectável já que existe uma queda de tensão na impedância constituinte do

modelo da rede. Este aumento de tensão explica também o facto de a corrente de referência gerada

pelo controlador de tensão ser inferior à esperada. Em concreto, multiplicando os respetivos valores

eficazes, dado que estão praticamente em fase, obtém-se uma potência ativa de cerca de 3019 𝑊, o

que é bastante próximo do valor da potência de entrada (3100 𝑊).

Figura 5.16 – Tensão de saída do filtro, obtida por simulação

Apresenta-se na Figura 5.17 a forma de onda da corrente injetada na rede. Esta corrente

apresenta uma ligeira distorção, principalmente notória nas vizinhanças das suas passagens por

zero, e à qual corresponde uma taxa de distorção harmónica total de 2,42%, sendo maioritariamente

causada pela terceira harmónica.

Recorrendo novamente ao valor de pico obtido, pode deduzir-se que o valor eficaz ronda os

12,6 𝐴, à semelhança da corrente de saída do inversor, pelo que a potência ativa injetada na rede

também deverá ser cerca de 3008 𝑊. Este valor corresponde a um rendimento de 97,1%, o que é

muito próximo do esperado.

0.684 0.6841 0.6842 0.6843 0.6844 0.6845 0.6846 0.6847 0.6848 0.6849 0.68517

17.5

18

18.5

19

X: 0.6847Y: 18.16

tempo [s]

Co

rre

nte

[A

]

iPWM

iref

+iPWM

/4

iref

-iPWM

/4

0.66 0.665 0.67 0.675 0.68 0.685 0.69 0.695 0.7

-300

-200

-100

0

100

200

300 X: 0.685Y: 338.8

tempo [s]

Te

nsã

o [V

]

Page 87: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

73

Figura 5.17 – Corrente injetada na rede, obtida por simulação

0.66 0.665 0.67 0.675 0.68 0.685 0.69 0.695 0.7-20

-10

0

10

20

X: 0.685Y: 17.76

tempo [s]

Co

rre

nte

[A

]

Page 88: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

74

6 Avaliação do Ganho Energético

Neste capítulo pretende-se efetuar uma análise comparativa do desempenho das duas

topologias que têm vindo a ser consideradas, sob condições de sombreamento parcial. Os

esquemáticos utilizados nas simulações do conversor convencional e do distribuído são simples

junções dos que são apresentados em anexo. No entanto, convém notar que nos esquemáticos da

topologia convencional não se considerou a existência de um transformador de isolamento entre o

sistema e a rede, que será necessário para isolamento galvânico e que provocará perdas adicionais.

Note-se que o conversor distribuído já inclui transformadores de isolamento na sua configuração, pelo

que seria dispensável um outro. Assim sendo, traduz a existência desse transformador aplicando um

rendimento de 98% aos resultados obtidos através das respetivas simulações.

Dado que o objetivo é avaliar o ganho energético da solução proposta, nas simulações

efetuadas deu-se particular atenção à medição da potência injetada na rede para as várias situações.

No entanto, paralelamente, foram monitorizadas as formas de onda das várias grandezas de relevo.

De acordo com a descrição elaborada no capítulo 2, as variáveis de entrada dos modelos dos

módulos fotovoltaicos são a irradiância e a temperatura. No contexto do problema atual, a existência

de sombreamento terá influência essencialmente na irradiância incidente, pelo que será esse o

parâmetro que irá ser variado ao longo dos testes. Em rigor, se a intensidade da radiação varia de

uns módulos para os outros, é provável que a temperatura das células também sofra oscilações.

Contudo, essas discrepâncias deverão ser pequenas, pelo que, tendo ainda em conta o reduzido

impacto da temperatura no desempenho do módulo, se admite que a temperatura se mantém igual à

temperatura de referência (𝜃𝑟 = 25℃) em todos os módulos.

Em primeiro lugar, é conveniente efetuar uma análise das duas soluções para o

funcionamento do painel fotovoltaico com as condições ambientais de referência (𝐺𝑟 = 1000 𝑊/

𝑚2, 𝜃𝑟 = 25℃). Para esta situação, as potências injetadas na rede em cada uma das topologias é:

Topologia convencional: 𝑃𝑟𝑒𝑑𝑒 = 2897 𝑊

Topologia distribuída: 𝑃𝑟𝑒𝑑𝑒 = 2834 𝑊

Em condições de iluminação homogénea o desempenho do conversor distribuído é um pouco

inferior dado que é afetado por maiores perdas nos seus componentes, principalmente devido à

presença do condensador de entrada, o que reduz o seu rendimento. Em particular, a topologia

distribuída tem uma redução na potência injetada de 2,17%. Ainda que não seja uma diferença muito

significativa, pode-se concluir que se apenas se tiver em conta a eficiência, a topologia distribuída

será menos vantajosa em locais onde a ocorrência de sombreamento seja muito improvável.

No que toca à qualidade da energia elétrica injetada na rede, é conveniente analisar a

distorção harmónica total (THD) da corrente que lhe é fornecida, obtendo-se:

Topologia convencional: 𝑇𝐻𝐷 = 2,41%

Page 89: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

75

Topologia distribuída: 𝑇𝐻𝐷 = 2,38%

Como se pode constatar, em ambos os casos o valor situa-se abaixo dos valores indicados

pelos fabricantes para sistemas de microgeração ligados à rede, que tipicamente é de 3%.

No que diz respeito aos testes de sombreamento, comece-se por admitir que um dos dez

módulos se encontra, por qualquer motivo, a receber uma irradiância de apenas 200 𝑊/𝑚2, enquanto

os restantes continuam sob as condições padrão. Neste caso, as potências injetadas na rede são:

Topologia convencional: 𝑃𝑟𝑒𝑑𝑒 = 2606 𝑊

Topologia distribuída: 𝑃𝑟𝑒𝑑𝑒 = 2605 𝑊

Desde logo, constata-se que a potência injetada pelas duas topologias é praticamente igual, o

que significa que a potência recuperada do módulo sombreado pelo conversor distribuído é suficiente

para compensar a diferença de rendimento que existe entre as duas topologias. Em particular, para a

topologia distribuída, verificou-se que enquanto os módulos sujeitos às condições de referência

geravam uma potência de cerca de 309 𝑊, o módulo sombreado produzia apenas 61 𝑊.

Na Figura 6.1 podem ser observadas as correntes de saída do módulo sombreado e de um

dos módulos sujeitos às condições de referência. Pode concluir-se que o algoritmo de seguimento do

ponto de máxima potência está a cumprir o seu objetivo de regular o tremor da corrente de acordo

com o valor médio da mesma. Verifica-se também que no caso do módulo sombreado isso provoca

um aumento da frequência do conversor, pelo que as perdas de comutação em termos percentuais

deverão aumentar. Ainda assim, esta solução é preferível dado que conduz a uma maior estabilidade

por parte do conversor.

Figura 6.1 – Correntes de saída de módulos com (G=200 W/m2) e sem sombreamento (G=1000 W/m

2)

De seguida efetuou-se uma simulação novamente com apenas um módulo sombreado, mas

com uma irradiância incidente de 400 𝑊/𝑚2, enquanto os restantes continuam sob as condições de

referência. Nestes moldes, obteve-se o seguinte resultado:

Topologia convencional: 𝑃𝑟𝑒𝑑𝑒 = 2606 𝑊

Topologia distribuída: 𝑃𝑟𝑒𝑑𝑒 = 2667 𝑊

0.48 0.4801 0.4802 0.4803 0.4804 0.4805 0.4806 0.4807 0.48080

2

4

6

8

tempo [s]

Co

rre

nte

[A

]

G=1000 W/m2

G=200 W/m2

Page 90: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

76

Pode concluir-se que, com estas condições, já se verifica uma injeção de potência na rede

superior para a topologia distribuída. Ou seja, apesar da diferença de rendimentos, a potência gerada

no módulo sombreado já faz com que o conversor distribuído seja o mais vantajoso em termos

energéticos. Em particular, o ganho energético com a topologia distribuída é de 2,34%. Verifica-se

também que a potência injetada para a topologia convencional é a mesma que se verificou na

situação anterior, o que é coerente com o bypass do módulo sombreado em ambas as situações.

De acordo com esta simulação, a potência que o módulo sombreado produz quando irradiado

por 400 𝑊/𝑚2 ascende aos 126 𝑊, que são desperdiçados com a utilização da topologia

convencional. Novamente registaram-se as correntes que se verificam para o módulo sombreado e

para um dos módulos sob as condições de referência, como se pode constatar na Figura 6.2. Embora

se registem algumas pequenas irregularidades na forma de onda da corrente do módulo sombreado,

pode-se constatar novamente que o algoritmo de MPPT está a cumprir a sua função, proporcionando

um eficiente extração da potência.

Figura 6.2– Correntes de saída de módulos com (G=400 W/m2) e sem sombreamento (G=1000 W/m

2)

O teste que se optou por efetuar de seguida recorre novamente à irradiância de 200 𝑊/𝑚2,

no entanto considera-se agora que em vez de apenas um módulo em condições sombreamento

existem três, enquanto os restantes se mantêm sob as condições de referência. Com estas

condições, o resultado para as potências injetadas foi o seguinte:

Topologia convencional: 𝑃𝑟𝑒𝑑𝑒 = 2007 𝑊

Topologia distribuída: 𝑃𝑟𝑒𝑑𝑒 = 2151 𝑊

É notório que o ganho energético que se obtém com a topologia distribuída é já bastante

significativo, constituindo um aumento de potência de 7,17% em relação ao método convencional.

Por fim, considerando igualmente a presença de sombreamento em três módulos, mas

sujeitos a uma irradiância de 400 𝑊/𝑚2, os resultados são ainda mais vantajosos:

Topologia convencional: 𝑃𝑟𝑒𝑑𝑒 = 2007 𝑊

Topologia distribuída: 𝑃𝑟𝑒𝑑𝑒 = 2337 𝑊

0.48 0.4801 0.4802 0.4803 0.4804 0.4805 0.4806 0.4807 0.48080

2

4

6

8

tempo [s]

Co

rre

nte

[A

]

G=1000 W/m2

G=400 W/m2

Page 91: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

77

Ou seja, para este caso, o ganho energético que se obtém com a solução distribuída ascende

aos 16,4%, o que constitui um benefício já bastante aliciante e justificativo da adoção desta filosofia.

Page 92: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

78

7 Conclusões

Neste trabalho começou-se por realizar um breve enquadramento das energias renováveis, e

em particular da energia solar. Nesta fase introdutória explanou-se também a nova filosofia que se

propõe neste estudo para melhorar a eficiência e a fiabilidade de sistemas fotovoltaicos em condições

de sombreamento parcial.

Uma vez que este trabalho se baseia em simulação computacional para testar a validade dos

pressupostos adotados, em primeiro lugar foi necessário desenvolver um modelo do painel

fotovoltaico que possibilite a sua representação nesse formato. Além disso, foi ainda tido em conta

que este modelo teria de permitir a simulação de diferentes condições ambientais em simultâneo para

os vários módulos. A parametrização deste modelo foi efetuada com o intuito de que os dez módulos

utilizados no sistema fotovoltaicos representassem um módulo comercial real. Através da sua

simulação pôde-se concluir que os resultados obtidos eram coerentes com os expectáveis e com os

valores de catálogo do módulo comercial, validando-se assim o modelo implementado.

Já que um dos principais objetivos do trabalho era efetuar uma análise comparativa entre a

solução convencional que é utilizada atualmente na maioria dos sistemas fotovoltaicos e a solução

que aqui se propõe, foi necessário estudar e dimensionar um conversor que pudesse ser utilizado

para o primeiro caso. Em particular, optou-se pela utilização de um conversor DC-DC elevador, capaz

de receber a energia proveniente da série de módulos e efetuar o seguimento do ponto de máxima

potência. Este conversor foi simulado isoladamente para condições ideais e pôde-se constatar que as

formas de onda resultantes eram bastante próximas das previstas teoricamente, pelo que se concluiu

que o modelo utilizado era adequado para o objetivo definido.

De seguida avançou-se para o estudo e dimensionamento dos conversores a utilizar para a

topologia distribuída que se propôs neste trabalho. Cada um dos conversores teria de ser capaz de

receber a energia de um único módulo fotovoltaico e entregá-la num condensador com metade da

tensão de entrada do inversor, já que se optou pela implementação de duas séries de cinco

conversores em paralelo. Em simultâneo teria ainda de realizar o algoritmo de MPPT, adaptável a

cada módulo, independentemente das condições ambientais. Este conversor foi testado

computacionalmente de forma isolada e em conjunto com os restantes e os resultados obtidos

validaram a sua utilização, de acordo com o estudo teórico previamente efetuado.

O elemento que completa ambos os sistemas fotovoltaicos é o inversor, que é responsável

pela transformação da tensão contínua, proveniente dos conversores DC-DC, numa tensão alternada

coerente com as exigências da injeção de potência na rede. Além do estudo teórico e do

dimensionamento do inversor em ponte completa utilizado, foi ainda necessário desenvolver o

controlador não linear da corrente de saída e o controlador linear da tensão de entrada. Mais uma vez

simulou-se este componente de forma isolada e para condições ideais e verificou-se que os

resultados obtidos estavam em plena concordância com o previsto, pelo que se confirmou a validade

do modelo desenvolvido.

Page 93: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

79

Efetuou-se a análise comparativa em termos energéticos dos dois sistemas, com o intuito de

verificar em que condições se obtém de facto um ganho apreciável com a solução aqui proposta. Em

primeiro lugar testaram-se as duas topologias submetendo todos os módulos às condições de

referência e verificou-se que neste caso a solução convencional leva uma ligeira vantagem em

termos de rendimento. No que toca ao sombreamento, efetuaram-se quatro testes diferentes dois

com apenas um módulo sombreado com irradiâncias de 200 𝑊/𝑚2 e 400 𝑊/𝑚2, respetivamente, e

outros dois com três módulos sombreados, para as mesmas irradiâncias. Verificou-se que ao longo

destes testes o ganho energético proporcionado pela topologia distribuída foi crescendo, atingindo

mesmo os 16,4% no último caso.

A principal conclusão que se retira é que o conversor eletrónico distribuído para painéis

solares granulares, tal com foi aqui apresentado, tem potencialidade para ser consideravelmente

vantajoso em instalações que tenham frequentemente um ou mais módulos sujeitos a uma irradiância

incidente reduzida em comparação com os restantes.

Trabalhos futuros poderão incidir na melhoria do rendimento do conversor distribuído, até um

ponto em que seja equivalente ou até superior ao do conversor convencional, tornando a sua

implementação ainda mais vantajosa e para um universo mais alargado de situações. Além disso,

seria também de grande interesse científico a concretização física deste sistema em ambiente

experimental, com o intuito de comprovar as conclusões obtidas através das simulações descritas.

Uma outra vertente que pode vir a ser explorada no futuro é a implantação dos conversores

distribuídos ao nível da célula fotovoltaica ou de pequenos conjuntos de células, tornando o processo

de extração de energia ainda mais adaptativo e eficiente, além de aumentar a fiabilidade do painel.

Page 94: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

80

8 Bibliografia

[1] Renewable Energy World, URL: http://www.renewableenergyworld.com/rea/news/article/2011/

08/the-silent-energy-revolution-20-years-in-the-making.

[2] Renewables 2014 Global Status Report, REN21, 2014.

[3] Rui Castro, "Uma Introdução às Energias Renováveis: Eólica, Fotovoltaica e Mini-Hídrica", 2011,

IST Press.

[4] Lee H. Goldberg, "Active Bypass Diodes Improve Solar Panel Efficiency and Performance", 2012,

Digi-Key Corporation.

[5] Francesco Pulvirenti, Amadeo La Scala, Salvatore Pennisi, "Low-Power Cool Bypass Switch for

Hot Spot Prevention in Photovoltaic Panels",2011, ETRI Journal.

[6] Prabhakaran Neelakantan, Soo Siang Yang, Bih Lii Chua, Kenneth Tze Kin Teo, Chia Seet Chin,

"Effect of Partially Shaded Conditions on Photovoltaic Array’s Maximum Power Point Tracking",

2011, International Journal of Simulation Systems, Science & Technology.

[7] Yingli Solar, URL: http://www.yinglisolar.com/.

[8] José Fernando Alves da Silva, "Sistemas de Alimentação Autónomos - Textos de Apoio", 2009,

Instituto Superior Técnico.

[9] José Fernando Alves da Silva, "Electrónica Industrial: Semicondutores e Conversores de

Potência ", 2013, Fundação Calouste Gulbenkian.

[10] J. A. Brandão Faria, "Electromagnetic Foundations of Electrical Engineering", 2008, Wiley.

[11] Seon-Ju Ahn, Joon-Ho Choi, Won-Wook Jung, Sang-Yun Yun, Il-Keun Song, Seok-Il Go,

"Simulation and Analysis of Existing MPPT Control Methods in a PV Generation System", 2011,

Journal of International Council on Electrical Engineering.

[12] José Pedro Sucena Paiva, "Redes de Energia Eléctrica - Uma Análise Sistémica", 2004, IST

Press.

[13] M. Tomé, Maria Teresa Diogo, "Matemática Computacional - Notas de Aulas", 2009, Instituto

Superior Técnico.

Page 95: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

81

[14] J. F. A. da Silva, V. Fernão Pires, S. F. Pinto e J. D. Barros, "Advanced control methods for power

electronics systems", 2003, Mathematics and Computers in Simulation, Vol. 63 (3), pp 281-295.

[15] J. F. A. da Silva, "PWM audio power amplifiers: sigma delta versus sliding mode control", 1998,

International Conference on Electronics, Circuits and Systems, Vol. 1, pp 359-362.

[16] J. F. A. da Silva, "Sliding mode control of voltage sourced boost-type reversible rectifiers", 1997,

Proceedings of the IEEE International Symposium on Industrial Electronics (ISIE'97), Vol. 2, pp

329-334

[17] Filipa Isabel Félix Bernardes, "Compensação de sobretensões originadas por sistemas de

microgeração em redes de baixa tensão", 2014, Instituto Superior Técnico.

Page 96: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

82

Anexo A – Módulo fotovoltaico

Page 97: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

83

Anexo B – Díodo de bypass

Page 98: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

84

Anexo C – MOSFET do conversor boost

Page 99: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

85

Page 100: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

86

Anexo D – Díodo do conversor boost

Page 101: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

87

Page 102: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

88

Anexo E – MOSFET do conversor distribuído

Page 103: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

89

Page 104: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

90

Anexo F – Díodo do conversor distribuído

Page 105: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

91

Page 106: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

92

Anexo G – MOSFET do inversor

Page 107: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

93

Page 108: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

94

Anexo H – Esquemático do módulo fotovoltaico

Page 109: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

95

Anexo I – Esquemático do conversor boost

Conversor boost

Esquemático completo

Page 110: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

96

Anexo J – Esquemático do conversor distribuído

Conversor distribuído

Esquemático completo para um único conversor

Page 111: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

97

Esquemático completo

Page 112: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

98

Anexo K – Esquemático do inversor

Inversor em ponte completa

Controlador da corrente de saída

Page 113: Pedro Miguel Cabral Martins Carlos - Autenticação · vi Índice 1 Introdução 1 1.1 Enquadramento 1 1.2 Objetivo 1 1.3 Estrutura 2 2 Painel Fotovoltaico 3 2.1 Princípio de Funcionamento

99

Controlador da tensão de entrada

Esquemático completo