pedras de verdade 2 (rev)

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Roberto C. P. Junior PEDRAS de VERDADE Tomo 2

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Artigos relevantes sobre os acontecimentos hodiernos, sociais e espirituais.

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Page 1: Pedras de Verdade 2 (rev)

Roberto C. P. Junior

PEDRAS de VERDADE Tomo 2

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● Círculo do Graal

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INTRODUÇÃO

Estes artigos colocam o leitor frente à frente com a realidade, tal como ela

é. Numa linguagem clara, objetiva, por vezes contundente e incisiva, os

textos mostram o mundo sombrio que o ser humano criou para si, com seu

afastamento voluntário da Luz. Desvendam, sem meias palavras, tudo o

que ele perdeu com isso. Mas também indicam o caminho das pedras que

permitirá à alma perscrutadora sair do caos atual, um caminho que só pode

ser percorrido por ela mesma, com suas próprias pernas.

O ser humano tem de acordar de seu milenar sono de chumbo e tomar o

caminho da ascensão espiritual. Agora! Se continuar a sonhar

tranqüilamente, no aconchego de sua indolência espiritual, acabará

dormindo para sempre, por toda a eternidade.

A criatura humana tem de se decidir, de uma vez por todas, a manejar

corretamente o tear da Criação, regido pelas inflexíveis Leis do Universo.

Está nas mãos dela própria tecer para si um belo e colorido tapete do

destino. Essa tarefa está nas mãos de cada um unicamente. Ninguém poderá

fazer isso por outrem.

Roberto C. P. Júnior

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Índice

Introdução

I – Conceito de tempo

II – Conceito de beleza

III – Objetos voadores mal identificados

IV – A Verdade: O que é e onde está I

V – A Verdade: O que é e onde está II

VI – Quando a morte é um direito

VII – As mazelas do falso amor

VIII – Mensagem de Natal

XI – Mensagem de Ano Novo

X – Bestas do Apocalipse

XI – Mensagem de Carnaval

XII – Mensagem de Páscoa

XIII – Vidas sem trabalho e trabalho sem vidas I

XIV – Vidas sem trabalho e trabalhos sem vida II

XV – Ovelhas negras, mães de aluguel

XVI – A falácia da personalidade hereditária

XVII – O que vem depois da morte

XVIII – As chamas que consomem o mundo

XIX – O enigma do homossexualismo

XX – A clonagem ética

XXI – A tragédia dos transgénicos

XXII – Ode aos animais

XXIII – A ilusão esportiva

Epílogo

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I

CONCEITO DE TEMPO

O tempo... Como definir essa grandeza? A

resposta não é óbvia. Requer uma análise mais

aprofundada, coisa que hoje pouca gente se

dispõe a fazer... por falta de tempo. Tempo

consumido quase que inteiramente na luta pela

vida, na batalha diária que se estende durante

anos, décadas, até a gloriosa apoteose: a

autocondecoração com a medalha de

“vencedor”, comenda que outorga ao agraciado o

direito de desfrutar do ócio caseiro com a

consciência do dever cumprido. Abrigado nessa

última trincheira ele poderá então, finalmente, aproveitar o tempo.

Verdade é que durante o desenrolar dessa peleja cotidiana, dessa insana

lufa-lufa, conseguimos reservar algumas horas semanais para o lazer e o

descanso, mas não para meditar nas questões cruciais da vida. Para essas

coisas não dispomos de tempo algum, não podemos absolutamente perder

tempo com isso.

“Assunto de filósofos!”, dirão muitos num estalo e com o passo apertado,

sorriso nos lábios e olhos no relógio. E assim vamos todos nós, os não

filósofos empedernidos, a correr pela vida afora, sem vivê-la, sem vivenciá-

la realmente, sem extrair dela os ensinamentos e reconhecimentos que nos

possibilitariam crescer como espíritos humanos que somos.

Comemos, bebemos e dormimos, exatamente como um rebanho bovino.

Talvez um pouco mais, pois também estudamos compulsoriamente,

trabalhamos mecanicamente e nos divertimos sofregamente. Assim como é

de se esperar de um rebanho humano. Mas será que a vida se esgota nisso?

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Em despender algumas décadas nessas atividades gregárias e só? E o

espírito humano? Que faz ele nesse espaço de tempo tomado integralmente

pelas necessidades corpóreas tão prioritárias?

Antes de responder a essas perguntas vamos tentar compreender a natureza

propriamente do tempo. De acordo com a teoria da relatividade de Einstein,

espaço e tempo estão interligados. Em velocidades próximas à da luz, a

massa de um corpo aumenta de forma perceptível, o espaço se contrai e o

tempo passa mais devagar.

O tempo passa mais devagar? Como é possível isso? Pode o ritmo do

tempo alterar sua pulsação sob determinadas circunstâncias? O tempo,

aliás, pulsa realmente?

Na infância tínhamos a nítida impressão de que o tempo, de fato, passava

mais devagar. Decorria uma eternidade até o período de férias chegar; o

Natal, sempre ansiosamente aguardado, era um evento que se repetia mui

raramente; o dia do aniversário, então, parecia mais um golpe de sorte

quando finalmente despontava.

À medida que crescemos a história se inverte. Parece que o tempo se

acelera. Mal repetimos nossas imutáveis resoluções definitivas de ano novo

e as semanas e meses já iniciam sua desabalada carreira. Quando nos

damos conta já estamos prestes a ultrapassar o primeiro semestre, para logo

em seguida nos surpreendermos com os primeiros acordes natalinos. E

apesar dessa mudança de percepção, sabemos que as intermináveis horas da

infância contêm os mesmos fugazes 60 minutos da fase adulta. Como se

explica isso?

Explica-se pela vivência. É a vivência do ser humano que muda a partir de

certa idade, e não o tempo. O tempo não muda. Os movimentos dos

ponteiros do relógio apenas registram numericamente a nossa passagem

dentro do tempo. O tempo não passa, nós é que passamos dentro dele.

Vamos tomar um exemplo. O registro da passagem de uma pessoa pela

Terra pode ser medido em um bem determinado número de anos. Digamos,

setenta. Mas isso não significa que esta pessoa tenha vivido tanto quanto

uma outra com o mesmo registro de anos. O registro é igual, mas a

vivência é diferente. E o que conta realmente, como verdadeira riqueza,

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como único lucro e substrato da existência terrena, é a vivência. Assim,

com base no que foi vivenciado a primeira pessoa pode ter vivido de fato

mais de cem anos, enquanto que a segunda, talvez, não mais de 30 anos.

Quanto maior mobilidade apresentar um espírito humano, quanto mais

vigilante e atuante for, tanto mais ele vivenciará num mesmo espaço de

registro de tempo. Exteriormente isso se mostra como uma aparente

dilatação temporal, isto é, para determinada pessoa o tempo parece

“esticar”, de forma a permitir que ela faça tudo a que se propusera.

Interiormente, porém, dá-se o contrário. Para aquela mesma pessoa o tempo

parece “voar”, de modo que mal consegue utilizá-lo como gostaria na

consecução de seus objetivos. Contudo, não foi o tempo que voou com

tamanha rapidez, e sim a própria pessoa é que atuou diligentemente dentro

dele. Foi ela que “voou” dentro do tempo, e por isso, somente por isso, ele

pareceu ter passado tão rápido. Conta-se que no fim da vida Leonardo da

Vinci se queixou de não ter tido tempo suficiente para fazer tudo quanto

queria...

Podemos colher um sem-número de outros exemplos dessa relatividade na

percepção do tempo. Basta que estejamos profundamente compenetrados

em alguma atividade importante, ou mesmo absorvidos pelo enredo de um

bom filme, e o tempo “voa” novamente. Por outro lado, enquanto estamos

presos à cadeira do dentista parece que descobrimos ali o conceito de

eternidade.

O tempo está, de fato, indissoluvelmente interligado ao espaço. Tempo-

espaço é o binômio concedido a cada criatura para o seu desenvolvimento,

esteja ela ainda na Terra ou em qualquer outra parte da Criação. Contudo, o

tempo não se altera. Ele permanece parado. O que muda é a percepção que

temos dele, segundo nossa própria mobilidade espiritual e terrena.

Mesmo aqui na Terra notamos, então, uma mudança na velocidade de

assimilação dos fatos a partir da adolescência. A partir daí o tempo parece

correr mais rápido, porque é nessa época que o espírito passa a atuar.

Quando o corpo terreno atinge um determinado estado de maturação, o

espírito dentro dele passa a se fazer valer plenamente, e então as vivências

se intensificam.

O simples início natural e automático da atuação espiritual já é, pois,

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suficiente para alterar a percepção do tempo, mesmo que em escala

reduzida. Contudo, na quase totalidade das pessoas o espírito não atua

como deveria a partir dessa época. Ao invés de se manter no comando da

situação, conforme seria de se esperar e como é, aliás, sua função, o

espírito se curva às imposições do intelecto, excessivamente estimulado e

unilateralmente desenvolvido já no início da segunda década de vida. A

vontade espiritual não consegue se sobrepor à intelectiva, e assim o

espírito, que é tudo no ser humano, que é o próprio ser humano, torna-se

escravo do seu raciocínio, um mero instrumento dado a ele para sua

utilização durante a vida terrena.

Por isso, toda essa correria da vida moderna não constitui nenhuma

vivência para o espírito. Toda essa aparente riqueza de experiências

cotidianas é, tão-só, fruto da atividade cerebral, que naturalmente só pode

encontrar valor em coisas materiais, visíveis e palpáveis, inteiramente

consentâneas com o conceito terreno de espaço e tempo. O que se acha

além do espaço-tempo terreno o cérebro humano, pela sua própria

constituição, não é capaz de compreender, enquanto que o espírito, único

capacitado para isso, encontra-se por demais fraco e sonolento para assumir

esta tarefa.

E assim o ser humano atravessa a vida, celeremente, sem se preocupar em

saber quem ele é, sem saber de onde vem e qual a finalidade da sua

existência. Pior: passa pela vida sem mesmo procurar saber como deve

proceder para poder continuar existindo na Criação. Nada disso tem

importância para ele, o espírito adormecido no esquife intelectual.

Se o espírito do ser humano atuasse como deveria, suas vivências seriam

incomensuravelmente mais ricas. Transformar-se-iam imediatamente em

reconhecimentos duradouros, indeléveis, e com isto em evolução. E a

própria ciência também não precisaria mais esforçar-se paroxisticamente

em esticar a vida em alguns poucos anos, pois poderíamos facilmente

vivenciar séculos durante nossa curta passagem pela Terra.

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II

CONCEITO DE BELEZA

Em nossa época é consenso quase

unânime que para um fenômeno

poder ser plenamente

compreendido é preciso antes

dissecá-lo com o raciocínio. De

outra forma não se concebe o

conhecimento. Só quando

classificado até as minúcias pela

fraseologia acadêmica é que algo

granjeia credibilidade e se torna de

pleno valor, e com isso também digno de reconhecimento.

Estamos tão acostumados com esse “método de avaliação”, tão

convencidos de sua eficácia, que nem nos damos conta de quão restrito ele

é, ou melhor, do quanto nos restringimos ao nos submeter a ele voluntária e

incondicionalmente. Não percebemos, de maneira alguma, quão limitada é

a capacidade analítica do cérebro, absolutamente incapaz – devido à sua

própria constituição material – de compreender fenômenos cuja origem se

acham acima do espaço e do tempo terrenos. Não percebemos essa

limitação exatamente porque fazemos uso do raciocínio para tudo, e este é

nosso maior erro.

Assim, de fenômenos gigantescos só conseguimos perceber míseros

fragmentos, formando imagens desfocadas que nem de longe apresentam

qualquer semelhança com a realidade. Culpa de nós mesmos, que elevamos

o córtex cerebral a ícone máximo da evolução humana, em detrimento do

espírito. Culpa nossa, que somos todos ouvidos às artimanhas do intelecto e

completamente surdos à voz da intuição.

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Tome-se, por exemplo, o conceito existente atualmente a respeito da

beleza. À menção desta palavra surgem nos cérebros das pessoas mais

evoluídas imagens de belas paisagens e sons da natureza, enquanto que nos

de outras formam-se apenas rostos de top-models e de artistas de cinema.

Mais adiante não se vai, só para trás e para baixo, pois a maioria considera

como sendo beleza até mesmo o despudor e a lascívia. Com poucas

variações, o conceito de beleza hoje reduz-se a essas concepções.

Claro que podemos chamar a natureza de bela. Bela ela sempre será, pois

sua formação não está sujeita à influência humana. A natureza, aliás, só se

degrada de algum modo quando o ser humano sobre ela põe a mão,

provocando desequilíbrios em múltiplas formas. Contudo, a beleza da

natureza a nós visível é apenas uma parte diminuta da indescritível beleza

reinante na obra da Criação, da qual a matéria constitui apenas o último e

mais denso plano.

Quanto à beleza física, é de causar espanto a importância desmesurada que

ela desfruta, tão efêmera é. Algumas poucas décadas já são suficientes para

que se desvaneça em meio a rugas, dobras flácidas, pigmentos senis e

cabelos brancos. Que angústia então, absolutamente desnecessária e

desproposital, não traz o processo natural de envelhecimento a tantas

pessoas inconformadas com isso. Uma gente atormentada por si mesma,

que por meio de cremes, poções e plásticas luta ferozmente para trazer de

volta uma juventude que há muito se esvaiu. Quadro triste esse.

Beleza não é isso. Beleza não se restringe a isso. Beleza é algo muito,

muito maior. Ela é o efeito natural e inevitável de todo e qualquer

fenômeno que se processa em conformidade com as leis da Criação. Tudo

o que age e se molda de acordo com essas leis será belo. Sempre. É

impossível não sê-lo. Mesmo aqui na Terra podemos então constatar isso,

ainda que em escala reduzida, observando a beleza sempre renovada da

natureza. Como ela, a natureza, se desenvolve incondicionalmente segundo

essas leis, não estando sujeita à vontade humana, tem necessariamente de

ser bela. Alguém, por acaso, já viu alguma flor feia?

Podemos afirmar, sem medo de errar, que a causa de tudo quanto não é

belo decorre exclusivamente de uma atuação contrária às leis da Criação,

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ou leis naturais. Sofrimento, dor, miséria, fome, doenças não são obras do

acaso, não são golpes do destino nem castigos divinos, mas apenas efeitos

automáticos da vontade humana errada. Jamais esteve previsto que coisas

desse teor pudessem existir aqui na Terra. Foi a própria humanidade que

insistiu em criar para si coisas assim tão feias, ao atuar teimosamente

durante milênios e milênios em sentido diametralmente oposto ao indicado

por essas leis férreas. Ao invés de direcionar seu livre-arbítrio para

incrementar ainda mais a beleza circunjacente, como era de se esperar dela,

a humanidade como um todo fez o inverso disso. E agora se surpreende ao

se ver obrigada a viver em meio ao horror de suas obras falsas.

Quem quiser viver rodeado de beleza tem de construí-la para si. E isso não

é difícil. Basta que a respectiva pessoa se esforce em viver de acordo com

essas poucas e simples leis naturais, procurando direcionar seus

pensamentos, palavras e ações sempre no sentido construtivo, no sentido do

bem. Se perseverar nisso sua vida tornar-se-á novamente bela, e também

ela própria, como resultado da atuação dessas mesmas leis.

Os que pautam suas vidas dessa forma são sempre bonitos. São aquelas

pessoas (poucas) que parecem clarear o ambiente só com a sua presença, e

que atraem magneticamente outras também possuidoras de qualidades

boas. Homens que inspiram confiança e mulheres que irradiam graça. São

belos no verdadeiro sentido da palavra, pouco importando se jovens ou

velhos.

Mas estes, infelizmente, são a exceção, e cada vez mais rara. A maior parte

da humanidade é constituída de almas feias, muitas horríveis mesmo,

deformadas pelo egoísmo, pela mentira, pela inveja e pelo ódio. Seres que

em maior ou menor grau conspurcam o ambiente e talham o ar a seu redor.

São, sim, criaturas horripilantes, mesmo se o reflexo de seus corpos no

espelho possa ser chamado de agradável.

No futuro, quando o conceito de beleza tiver sido endireitado à força, assim

como tudo o mais que essa humanidade torceu em sua cegueira espiritual, a

Terra voltará a ser habitada unicamente por seres humanos belos, na mais

completa acepção deste termo. A vida inteira voltará a ser bela, será tão

maravilhosa e linda como já fora no início. E como deveria ter

permanecido.

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III

OBJETOS VOADORES MAL IDENTIFICADOS

Mal identificados parece ser a expressão mais adequada, porque de uma

maneira ou de outra o fenômeno OVNI é, sim, identificado sob múltiplas

formas por um amplo espectro de especialistas, que vai dos infra-crentes

aos ultra-cépticos. Pessoas e organizações produzem continuamente novas

suposições a respeito, cuja única característica comum é serem todas

aguerrida e apaixonadamente defendidas pelas respectivas faixas do

espectro ufológico. As suposições, bem entendido, não precisam ser

necessariamente compreendidas. O entusiasmo basta.

Mas será razoável, será prudente rotular de uma maneira única os milhares

de testemunhos coletados em todo o mundo sobre aparições de estranhos

objetos e conformações luminosas?

Os mais respeitados estudiosos, que na maior parte são também os mais

respeitáveis, visto que procuram desvendar a realidade dos fatos de

maneira imparcial e sem idéias preconcebidas, estimam que entre 85% a

95% dos relatos sobre discos voadores são alarmes falsos. Ou se trata de

fenômenos atmosféricos perfeitamente conhecidos – ainda que raros – ou

são mistificações abertas.

O pequeno percentual de casos inexplicados ainda precisa ser dividido em

dois grupos distintos: o dos objetos luminosos de formas indefinidas e/ou

mutáveis, e o dos objetos voadores de formas definidas, de aparência

metálica, geralmente com o aspecto de dois pratos superpostos.

Para inconformismo certo do contingente sempre crescente dos fantasistas

astronômicos, pode-se afirmar com segurança que o grupo composto de

objetos luminosos desconhecidos são fenômenos exclusivamente naturais.

E isso por uma razão muito simples, prosaica mesmo: nada do que ocorre

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na natureza ou por seu intermédio pode ser antinatural. Essa hipótese já

fica afastada pela própria etimologia da palavra natureza. Antinatural é

apenas o comportamento de uma parcela não pequena da humanidade, que

quando não compreende um fenômeno qualquer da natureza se outorga o

direito de alimentar sua fantasia mórbida (com perdão do pleonasmo) com

as mais alucinadas explicações. E não só alucinadas como também

aliciantes, pois quanto mais absurda, quanto mais inverossímil for uma tal

explicação, tanto mais interesse despertará num outro grupo de seres

humanos, ainda mais numeroso, que forma uma única, extensa, compacta e

tristemente crédula massa de entusiastas volúveis.

Seria uma atitude muito mais digna nesses casos, aliás a única atitude

digna, afirmar singelamente: “Não sei do que se trata”, ou então: “Com os

conhecimentos e recursos que dispomos não podemos ainda esclarecer a

causa e a finalidade desses fenômenos.” Seria muito mais sensato do que

procurar acobertar a própria ignorância e fomentar a alheia com alguns

disparates pseudo-esotérico-científicos. Não são ares doutorais nem

semblantes de pretensa paz mística que fazem do diletante um sábio.

Esses interessantes fenômenos luminosos, já presenciados por muitos e até

registrados em fotos e filmes, são ocorrências naturais, naturalíssimas, pois

se assim não fossem simplesmente não poderiam ocorrer. Isso as leis

férreas que regem a Criação não permitem.

Essas conformações luminosas são oriundas do próprio planeta Terra, da

natureza terrena, assim como o são outros fenômenos atmosféricos, como a

aurora boreal, o praticamente desconhecido “fogo-de-santelmo” e o

raríssimo “raio-bola”. O fato de a origem e o significado daquelas

conformações ainda não serem compreendidos deveria tão-somente servir

de estímulo para que nos ocupássemos com mais seriedade do planeta em

que vivemos, que nos aprofundássemos na compreensão dos fenômenos

que se desenrolam nele. Deveríamos nos ater à manutenção e preservação

dessa morada que nos foi legada como pátria, sem permitir que nossa

imaginação nos arraste até os confins das galáxias. A imaginação

desenfreada atiça a fantasia, que por sua vez aduba a vaidade e a presunção.

Nossa atuação é aqui, no planeta Terra, pois somente nele podemos nos

desenvolver. A vontade sincera de compreender as leis que regem a

natureza e agir de acordo com elas traz, como primeiro e mais importante

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efeito, a humildade redespertada, que é a condição básica, incontornável,

para a compreensão de qualquer fenômeno na Criação.

Com relação ao segundo grupo de fenômenos estranhos, o das “naves

alienígenas”, o diagnóstico é mais simples, pois só há duas causas possíveis

para isso, capazes de abduzir ingênuos e incautos: mentira deslavada ou

fantasia desbragada. Só quem desconhece por completo as leis da Criação

(e até mesmo as leis da física) pode imaginar que seres de outros planetas

estejam agora sobrevoando sorrateiramente a Terra, oriundos de galáxias

distantes, ou do futuro, ou ainda do além, que são as três possibilidades

consideradas por quem dispõe de tempo para gastar nessas coisas.

Claro que é uma presunção infinita imaginar que apenas este nosso

pequeno planeta seja habitado. Não são poucos, felizmente, os cientistas

que crêem na existência de vida extraterrestre, pois o mais elementar

cálculo de probabilidade demonstra a insustentabilidade dessa concepção

pueril e egocêntrica, de que a vida é um milagre restrito à Terra. Contudo,

não é possível aos habitantes de cada planeta realizar visitas de cortesia

entre si em naves espaciais.

Também a idéia comumente difundida sobre a aparência de seres

extraterrestres, como sendo humanóides verdes, de cabeças grandes e olhos

amendoados, e ainda outras semelhantes aberrações anatômicas, é,

naturalmente, apenas mais um produto dessa doença incurável e contagiosa

chamada fantasia humana. Ela, a fantasia, induz as pessoas a acreditar em

absurdos desse tipo, enquanto que o intelecto, indissoluvelmente atado à

matéria, já há muito se encarregou de extinguir nelas o verdadeiro saber

sobre os seres da natureza, os enteais – estes sim de existência real –

exilando-os para longe, para o reino das mitologias, das lendas e dos contos

de fadas. Em relação ao aspecto dos habitantes de outros mundos, o ser

humano de hoje crê firmemente nas configurações distorcidas geradas pela

sua fantasia delirante, e (ironia das ironias) taxa de fantasia o saber sobre a

existência dos seres da natureza aqui na própria Terra, apenas porque

perdeu, por culpa própria, a capacidade de vê-los e interagir com eles.

Milhões de planetas são, sim, habitados. Mas habitados por seres humanos

como nós. A forma humana, a da criatura surgida segundo a imagem do

seu Criador, é a mesma por toda a parte. E nós, terráqueos, poderíamos até

estabelecer contato com habitantes de outros planetas, se apenas nos

tivéssemos desenvolvido de modo certo. Não desenvolvimento

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tecnológico, mas espiritual. As pessoas que se ocupam com a astronomia,

por exemplo, poderiam hoje ter chegado ao ponto de poder entrar

conscientemente em contato com esses seres humanos de fora da Terra, que

como nós também são seres espirituais. Unicamente o espírito vivo é capaz

de transpor as imensuráveis distâncias do universo material, não a técnica

morta e pesada, que mal consegue fazer um jipinho rodar alguns míseros

centímetros ali em Marte, que está colado à Terra em termos astronômicos.

Contudo, a possibilidade de contato espiritual com seres de outros planetas,

assim como muitas outras coisas mais, está completamente vedada a esta

humanidade terrena, que por vontade própria comprimiu o âmbito do seu

desenvolvimento, o mais que pôde, dentro dos estreitíssimos limites da

matéria.

O ser humano da época atual não pode formar uma idéia, absolutamente,

do quanto ele se restringiu, do quanto ele perdeu ao se manietar

incondicionalmente à matéria perecível. Primeiro ele fechou para si os

portais do Paraíso, depois perdeu o conhecimento que tinha dos seres da

natureza, e por último se isolou totalmente no universo, envolvendo o

planeta numa redoma escura que o mantém inacessível a qualquer

influência mais elevada.

A imagem acalentada por muitos, de naves partindo da Terra para cruzar o

cosmos em missões de exploração ou colonização, é apenas um tímido

resquício do anseio inconsciente de espíritos sufocados pelo raciocínio.

Seres atrofiados por si mesmos, que só conseguem ainda vislumbrar como

progresso a subida de foguetes... e não mais a ascensão do próprio espírito.

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IV

A VERDADE: O QUE É E ONDE ESTÁ

Parte 1

Qualquer um que ousar tratar deste assunto abertamente, dispondo ou não

de algum conhecimento de causa, será imediatamente desacreditado de

antemão, antes mesmo de ter suas idéias analisadas e avaliadas com

isenção. Será rotulado previamente e preventivamente, impiedosamente, de

enganador, de usurpador, de mistificador, e também de sectário, de

estelionatário, de salafrário. Adjetivos que não rimam com mentira, mas

que são todos subprodutos dela.

Uma reação, diga-se, bastante natural e previsível, considerando-se que a

mentira já desde muito foi entronizada como a tirana planetária das nações,

o farol que ilumina o proceder dos povos e dos indivíduos – e que com isso

determina também os seus destinos, o poderoso pajé mundial, que fez da

quase totalidade da humanidade uma tribo globalizada de zumbis, sem

discernimento nem vontade própria.

Tudo, mas tudo mesmo na vida humana de hoje está impregnado de

mentira. Regimes políticos e profissões, religiões e ciências, artes e

literatura, crenças esotéricas e filosofias multifacetadas, nada pôde

permanecer livre dela. E muita coisa nem mesmo quis. Vivemos sob o

império da mentira. É como se toda a Terra tivesse sido envolta por um

único e denso lodaçal repugnante, que fez submergir sem resistência toda a

raça humana juntamente com suas obras de que tanto se orgulha,

impedindo qualquer um de chegar à tona por mais que se esforce, e muito

menos ainda de voltar a ver com clareza e respirar ar puro.

Mentem entre si diuturnamente pais e filhos, professores e alunos, patrões e

empregados, governantes e governados. A mentira é o esteio da vida

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moderna, a base dos relacionamentos familiares, profissionais e públicos.

A primeira lição que uma criança aprende, ainda no berço, é como mentir e

enganar, com os seguidos exemplos dados pelos pais e parentes. Nos

Estados Unidos, nada menos que 90% dos executivos mentem

rotineiramente em suas relações de trabalho, conforme indicou uma recente

pesquisa; os outros 10%, provavelmente, mentiram quando responderam à

enquete... A chamada linguagem diplomática, esse idioma hipócrita com

que os chefes de Estado falam uma coisa querendo dizer outra, é a própria

mentira institucionalizada.

Que se pode esperar então, como resposta, ao se procurar falar sobre

verdade a quem tem a mentira como sustentáculo e conselheira? Ao se

tentar discorrer sobre as propriedades da água pura, cristalina, em meio ao

lodaçal? Ao se querer decantar os valores perenes da sinceridade e da

franqueza aos discípulos de Pinóquio? Erigimos em nosso íntimo um altar

para a mentira, e por isso divisamos sempre com cerrada desconfiança

qualquer vislumbre de verdade.

Contudo, vivemos numa época em que esse tristíssimo estado de coisas

está prestes a mudar. Não por obra e graça do ser humano, que já deu

provas mais do que suficientes de ser absolutamente incapaz de administrar

a sua própria casa, tendo utilizado a dádiva do seu livre-arbítrio unicamente

para transformar este planeta, outrora paradisíaco, num chiqueiro em

escombros. A intervenção se dá presentemente através de uma Vontade

superior, contra a qual a criatura humana é completamente impotente. Uma

Vontade que não mendiga uma conversão para o bem, mas que a impõe.

Para os seres humanos, que sempre insistiram em fazer o papel de areia no

mecanismo da engrenagem universal, só existem agora duas alternativas,

na última bifurcação da sua existência: integrar-se finalmente – e rápido –

às leis universais que regem a Criação, o que equivale a obedecer

voluntariamente a essa Vontade superior, ou… perecer.

Não varremos também nossas casas, para lançarmos fora toda a sujeira

acumulada? Não fazemos questão de conservá-la limpa? Não retiramos as

crostas mais aderentes, mais escondidas? Em nossa época a grande casa

Terra também está sendo limpa, até em seus últimos recônditos. E é por

essa razão que surge agora tanta imundície, proveniente dos locais mais

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insuspeitados. O ar ainda ficará sujo e empoeirado durante algum tempo,

com a limpeza que se processa agora vigorosamente, antes de começar a

clarear pouco a pouco. Terminada a limpeza, também o lodaçal da mentira

terá sido removido por completo, e a verdade ocupará novamente o lugar

que lhe cabe, voltando a imperar como única e legítima soberana mundial.

Para quem for capaz de represar os adjetivos mencionados no início deste

ensaio até completar sua leitura, quero tratar aqui do tema da verdade, sem

a mínima pretensão nem intenção de abrangê-lo e muito menos de esgotá-

lo, nem mesmo parcialmente. O propósito é tão-só indicar um rumo a quem

traz consigo, como bússola própria, o anseio sincero de encontrar, por si

mesmo, respostas sem lacunas às questões primordiais da vida humana.

Que é, pois, a verdade? Existiria uma verdade única, intangível e absoluta?

Será que alguma das milhares de religiões e seitas em funcionamento hoje

no mundo detém o conhecimento da verdade integral, o saber sem lacunas

sobre todo o existir e atuar universais?

Gerações de estudiosos, filósofos, místicos e religiosos se debruçaram

sobre a questão da verdade ao longo de milênios. O resultado desse esforço

(muito mais antagônico do que harmônico) foi uma miríade de correntes de

pensamento lançadas em todas as direções. Não surgiu daí uma visão clara,

nem mesmo um vislumbre do que efetivamente existe, e muito menos

ainda uma certeza inquestionável. Vejamos as principais delas:

Há uma corrente de pensamento, bem conhecida e que ostenta considerável

número de adeptos, que sustenta não haver nenhuma verdade além daquilo

que se pode perceber com os órgãos sensoriais do corpo e instrumentos

técnicos, sendo, por essa razão, uma completa perda de tempo esforçar-se

em sua busca. Uma outra concepção admite existir uma verdade que tudo

abrange, mas considera o ser humano incapacitado para descobri-la e

assimilá-la. Uma terceira corrente advoga então que cada qual tem a sua

própria verdade, que seria assim múltipla, não existindo, portanto, uma

verdade única. A quarta suposição crê na verdade revelada por alguma

religião, considerando-a como a única legítima, de modo que as verdades

sustentadas por outras crenças são tidas como falsas ou distorcidas. Uma

quinta suposição é a defendida por inúmeros movimentos esotéricos, que

afirma que uma pessoa pode atingir níveis cada vez mais elevados de

consciência (ou algo semelhante) e assim aproximar-se mais e mais de uma

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verdade, desde que iniciada nas práticas secretas da respectiva agremiação.

Também aqui, cada uma dessas entidades possui a sua própria verdade.

Há ainda uma outra linha, muito pouco conhecida e considerada, que

afirma existir, sim, uma verdade única e absoluta, e que o ser humano pode

obtê-la até um certo grau desde que preencha determinados requisitos

próprios, requisitos esses que nada têm a ver com exterioridades, como

nível cultural ou condição social, mas que dizem respeito, exclusivamente,

ao seu âmago, isto é, ao próprio espírito humano. Como tudo no mundo

hoje está obscurecido pela teia da mentira, é de se esperar logicamente que

a concepção mais pura, a que mais se aproxime da realidade, seja

justamente a menos considerada. E assim é. A mais verdadeira das

concepções sobre a verdade é exatamente esta última, e vamos ver porque

na segunda parte deste ensaio.

Muitíssimos pesquisadores acreditam que para se encontrar a verdade é

preciso renunciar ao mundo e viver no ascetismo, enquanto que outros

tantos estão convencidos de que é imprescindível estudar muito, talvez até

obter um phD em Teologia. A verdade, porém, é a própria simplicidade, a

própria singeleza, a própria lógica natural. Tudo o mais é produto exclusivo

do cérebro humano, que, como visto, é em nossa época impulsionado,

nutrido e conduzido pela mentira.

Assim, de forma absolutamente lógica e natural, tudo quanto é engendrado

exclusivamente pelo raciocínio humano tem, necessariamente, de estar

muito afastado da verdade, quando se trata de coisas que estão acima dos

conceitos terrenos de espaço e tempo. Nessas circunstâncias, nada pode

estar mais longe da verdade do que as concepções oriundas do ponderar

intelectivo, que jamais podem elevar-se do âmbito estreito da matéria,

mesmo quando ornadas com as mais fantásticas – e pueris – configurações

de fantasia. A compreensão acertada deste fato constitui o primeiro passo

do pesquisador em seu caminho na busca da verdade.

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V

A VERDADE: O QUE É E ONDE ESTÁ

Parte 2

Na primeira parte deste ensaio eu disse que a concepção sobre a verdade

que mais se aproxima da realidade é aquela que afirma que o ser humano

pode, sim, obter o conhecimento da verdade até certo grau, o

reconhecimento de como as coisas realmente são na Criação, e que para

tanto são necessários determinados requisitos próprios, determinadas

condições. Essas condições, porém, nada têm a ver com exterioridades,

como cultura, nível econômico, vinculação a alguma religião ou seita, etc.,

mas dizem respeito tão-somente ao íntimo do ser humano, ao seu

verdadeiro estado de alma, que na maior parte dos casos é muitíssimo

diferente da idéia que ele mesmo tem de si.

Para analisar esta concepção sobre a verdade, considerada a mais correta,

vamos estabelecer como premissa única que todo o Universo é regido por

leis muito bem determinadas. E reconhecer isso não é difícil, pois basta

contemplar com imparcialidade a própria natureza circunjacente. Em tudo

se observa a atuação de leis inflexíveis, perfeitas, que não falham nunca,

que não apresentam exceções. São de tal modo perfeitas que têm,

necessariamente, de ser abrangentes, isto é, traspassar toda a Criação,

portanto o que mais ainda houver acima do plano material a nós visível. E

se perpassam tudo quanto existe, devem originar-se de um ponto comum.

Quem então não estiver ainda totalmente obliterado pelo raciocínio, não

encontrará nenhuma dificuldade em conceber um Ser supremo, um

Criador, como ponto de origem dessas leis. Os que não podem atingir um

tal estágio de maturidade, que lhes dê essa convicção inabalável, já se

excluem por si mesmos de reconhecimentos mais elevados. Eles mesmos

fecham o portal do saber sobre si. E na maior parte das vezes fecham-no,

como é notório, com grande estrondo, para que todos percebam como são

absolutos e superiores em suas idéias, para que ouçam todos claramente

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com que firmeza estão decididos a afundar na estupidez e a medrar na

mediocridade.

Assim, já nesse estágio inicial do reconhecimento fica para trás,

automaticamente, toda uma legião de filósofos materialistas com seus

séquitos deslumbrados, hipnotizados pela ilusão de saber das ciências.

Absolutos e superiores são eles lá no seu mundinho que podem ver, cheirar

e apalpar, e que consideram como o único existente. E que para eles de fato

é, já que não passam de espíritos atrofiados, indissoluvelmente chumbados

à matéria. Deixemo-los lá embaixo, desfrutando prazerosamente o seu

"saber" em simpósios e seminários, comovendo suas seletas platéias com

um escambo sem fim de teorias e hipóteses. Prossigamos.

Jamais esteve previsto que o desenvolvimento do ser humano aqui na Terra

tivesse que se processar no escuro, às apalpadelas, sem uma compreensão

clara de sua origem e missão na Criação. Muito pelo contrário. Desde o

nascimento do primeiro ser humano na Terra, já estava determinado que ele

teria informações crescentes sobre o sentido da vida e de seu papel na

engrenagem universal. Mas isso sempre e somente quando ele atingisse,

por si mesmo, um determinado grau de maturidade. Nunca antes, pois o

solo precisa estar adequadamente preparado para a semeadura, caso

contrário ela não vinga. Isso é um efeito sobejamente conhecido também

aqui, na matéria visível.

Essa contingência espiritual de o ser humano ter de se esforçar para

amadurecer remonta, pois, aos primórdios da humanidade, e desde então

ela não mudou de maneira alguma. Permaneceu sempre a mesma, porque

faz parte integrante de uma lei da Criação. E uma lei da Criação é, por

definição, imutável, pois o que é perfeito não pode, evidentemente, estar

sujeito a aperfeiçoamentos. É contingência indesviável que o ser humano

tem de amadurecer por si mesmo, através das vivências que encontra em

suas peregrinações nas materialidades, caso quiser ascender. Atingido um

certo grau de maturidade, torna-se-lhe então possível acolher

reconhecimentos algo mais elevados, que levantam um pouco mais para ele

o véu da atuação do mecanismo da Criação.

De tempos em tempos, ao longo de centenas de milhares de anos, chegaram

então à Terra novas revelações da verdade, sempre em consonância com a

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respectiva maturidade atingida pelos povos.

A verdade foi sendo assim desvelada paulatinamente, exatamente como

fora previsto. O que, porém, nunca esteve previsto era que o próprio ser

humano, a partir de um determinado ponto, interrompesse bruscamente o

seu desenvolvimento espiritual. Inesperadamente ele começou a dar valor

apenas à matéria perecível, esquecendo-se pouco a pouco de que era, por

essência, um ser de espírito. E para abafar a voz acusadora da sua intuição,

que naquela época longínqua ainda se fazia ouvir nitidamente, ele criou

para si a mentira, que até então não existia em parte alguma da Terra. Ele

fechou sua alma para a verdade que brilhava radiosamente acima dele,

obscurecendo-a com ridículos penduricalhos moldados pelo seu intelecto, o

qual já se encontrava excessivamente desenvolvido, e que devido à sua

própria constituição material só podia mesmo divisar valores unicamente

em coisas materiais, as únicas para ele compreensíveis.

A partir daí as revelações do Alto passaram a chegar entremeadas de

advertências e exortações, para que aquelas criaturas se modificassem

ainda em tempo e pudessem retomar o caminho do reconhecimento da

verdade, com a concomitante – e conseqüente – evolução de seus espíritos.

Caso contrário, as sementes espirituais humanas, que até então se

desenvolviam maravilhosamente no grande campo de cultivo da matéria,

acabariam se perdendo, por imprestáveis e nocivas. Exatamente como se dá

também numa lavoura, quando sementes estragadas não conseguem

germinar ou dão origem a plantas fracas e improdutivas. Datam dessa

época os vários textos de profetas antigos, invariavelmente repletos de

severas advertências e admoestações.

As doutrinas trazidas por espíritos preparados, em épocas para isso bem

determinadas, eram em todos os sentidos puras e verdadeiras, malgrado

diferenças de forma entre elas, consentâneas às características dos povos a

que eram destinadas. Mas depois que a humanidade como um todo se

desviou do caminho ascendente, acontecia invariavelmente algo insólito:

decorrido um certo tempo da morte do respectivo preceptor, os dirigentes

então responsáveis pela doutrina começavam a imiscuir coisas estranhas a

ela, de modo que esta acabava se transformando em algo muito diferente e

até mesmo contrário aos ensinamentos originais. Os sucessores envolviam

a verdade das doutrinas, originalmente puras, com suas mentiras

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inventadas, consciente ou inconscientemente. Isso acontecia sempre, como

uma infeliz conseqüência natural do avanço crescente e ininterrupto da

mentira por toda a Terra, em todos os campos da vida humana. Até mesmo

com os ensinamentos trazidos por Jesus, o Filho de Deus, não se deu

diferentemente.

A maior prova de que as atuais religiões não correspondem às doutrinas

originais é a hostilidade mútua entre elas, velada ou não. Nunca poderia

acontecer que doutrinas provenientes da verdade pudessem fomentar a

discórdia entre os povos. Se as chamadas religiões tivessem permanecido

puras, elas até poderiam ter hoje formas diferentes, mas seriam

complementares entre si, convergentes, já que os ensinamentos originais

provieram da mesma fonte. Jamais poderiam ser incompatíveis entre si, e

muito menos ainda antagônicas.

O nível de conhecimento da verdade que a humanidade chegou a possuir

num passado remoto perdeu-se na noite dos tempos. Uma noite

terrivelmente longa, de espesso negrume, criada pela mentira, que manteve

assim durante milênios esta Terra imersa em trevas e cuidou para que o Sol

da verdade não mais brilhasse sobre ela.

Agora, nesta época crucial da história humana, a mais crucial que já

existiu, quando todas as estruturas geradas e nutridas pelo até então

onipotente raciocínio estão ruindo indisfarçavelmente por toda a parte,

fragorosamente, quando cada um tem de decidir sobre a sua própria

subsistência como espírito humano, a verdade está novamente na Terra.

Chegou aqui moldada para a época atual, para os seres humanos atuais. Os

requisitos para encontrá-la, porém, não mudaram, permanecem exatamente

os mesmos de outrora, como não poderia deixar de ser. Como sempre, é

preciso uma determinada maturidade de espírito, que só pode ser obtida por

esforço ascensional próprio, exclusivamente pessoal. Somente isto torna o

anseio espiritual legítimo, vivo, e não a mera curiosidade mental.

Quem possui esse anseio legítimo, ardente, e traz em si a humildade em

forma pura, atingiu também as condições necessárias para encontrar e

reconhecer a verdade nesta nossa época. Este terá efetivamente de

encontrá-la. Os outros não. Passarão por ela sem vê-la nem reconhecê-la,

pois não estão aptos para isso, mesmo que seu raciocínio lhes convença do

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contrário. A verdade integral está na Terra. Cabe ao espírito humano a

tarefa de encontrá-la e reconhecê-la, livre de idéias pré-concebidas de

sofismas cerebrinos.

Conhecer realmente a verdade significa vivê-la, vivenciá-la, viver dentro

dela e nela. É ter todas as dúvidas existenciais sanadas. É esforçar-se

continuamente em ascender espiritualmente. Saber a verdade significa

conhecer a Criação até o ponto de origem do ser humano. Conhecer a

Criação, porém, é o fundamento para reconhecer o caminho que vai se

abrindo à medida que se progride na escalada espiritual.

Essa possibilidade está ao alcance de cada um que ainda traz dentro de si

uma fagulha de verdade. Não é a erudição, não é o ocultismo nem o

misticismo, não é a crença cega que conduzem à verdade. O caminho para

lá só pode ser aberto pela condição interior do indivíduo, formada pela sua

própria vontade pura. Por nada mais no mundo.

A verdade provém do Criador. Ela nutre e revigora o espírito humano, e é

para ele a escada da ascensão espiritual. Já o seu antônimo, a mentira, é

uma invenção exclusiva da criatura humana degenerada. Ela corrói a alma,

suga as últimas forças do espírito e é para ele o poço que o conduz com a

máxima segurança até as profundezas da perdição espiritual.

O ser humano tem a escolha. Ainda.

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VI

QUANDO A MORTE É UM DIREITO

Ainda crianças aprendemos que ninguém tem o direito de tirar a vida de

outrem, e nem mesmo a sua própria. Os preceitos religiosos e as leis das

nações proíbem-no expressamente, e o caráter de muitas pessoas de bem

cuida de manter essa proibição firmemente sedimentada no âmago mais

profundo da consciência individual. Consciência esta na maior parte das

vezes moldada dolorosamente de choque em choque desde a primeira

idade, quando a criança e o pré-adolescente são forçados a constatar, com

perplexidade e incompreensão, que esse preceito tão básico, tão sagrado – o

da proibição de provocar a extinção da vida – é desrespeitado neste mundo

a cada fração de segundo, e sob múltiplas formas.

Para essas pessoas de boa índole, o horror evocado por latrocínios e

chacinas é tal, que elas simplesmente não podem admitir que o Estado

promova um horror semelhante, sob o amparo da lei; isso sem contar que

muitas estatísticas demonstram que a criminalidade não se tornou

significativamente menor nos países em que a pena capital foi adotada. É

este, no fundo, o principal argumento contra a pena de morte, sustentado

ainda pela assertiva contundente de que apenas Aquele que doou a vida tem

a prerrogativa de tirá-la, ou seja, tratar-se-ia de um ato fora das atribuições

de uma criatura humana. É uma argumentação poderosa essa, merecedora

de respeito, porque testemunha uma vontade sincera no sentido do bem.

Contudo, há nessa concepção uma falha fundamental, uma falha que

apenas não é reconhecida em virtude da falta de visão sobre as verdadeiras

conexões que determinam a vida humana.

É perfeitamente compreensível a aversão de uma pessoa boa ante a

possibilidade de tirar a vida de um ser humano. Mas essa aversão só existe

porque ela julga que todas as pessoas que como ela vivem na Terra são

também seres humanos. O erro está aí. Os chamados criminosos

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irrecuperáveis por exemplo, psicopatas que matam, estupram e promovem

toda a sorte de sevícias em seus atos criminosos não são mais, realmente,

seres humanos. Exteriormente eles ainda têm, sim, uma aparência humana,

mas isso não faz deles seres humanos absolutamente, pois o corpo humano

terreno é apenas uma ferramenta do espírito, e unicamente um espírito vivo

pode ser denominado de ser humano. O corpo material não é nenhuma

garantia de que dentro dele ainda vive um ser humano.

Os espíritos dessas ex-pessoas já estão mortos, e a aparência de suas almas

não têm mais a mínima semelhança com a forma humana. São monstros no

mais profundo e verdadeiro sentido da palavra, aberrações inomináveis que

conspurcam a Terra com sua presença asquerosa. Encontram-se muito, mas

muito abaixo do degrau ocupado por qualquer inseto, por mais

insignificante que seja. São menos do que um vírus patogênico, o qual tem

uma função a cumprir e a cumpre integralmente, enquanto que uma

aberração dessa estirpe, que apenas externamente se assemelha a um ser

humano não é nada, não passa de um amontoado de lixo em decomposição,

que somente aqui na Terra, sob a proteção do corpo terreno, ainda é capaz

de praticar suas atrocidades.

Muitas dessas “coisas” admitem que voltarão a matar e a estuprar caso

consigam fugir da prisão. Então vamos nós cuidar delas durante anos,

alimentá-las e tratá-las até que consigam seu intento? Que faríamos nós se

por ventura nos deparássemos em nossas casas com um aglomerado de lixo

fétido no meio da sala? Cobriríamo-lo com uma redoma para que não se

espalhasse ou o jogaríamos imediatamente na lata de lixo?

Direitos humanos, como o próprio nome já diz, são destinados a seres

humanos. Tão-somente seres humanos merecem usufruir direitos humanos.

Os outros não, porque humanos eles não são mais. E nunca mais voltarão a

ser. Dê-se a um assassino em série todas as condições necessárias para uma

reabilitação, todo o apoio, toda a assistência social que se pode imaginar, e

nada disso surtirá efeito. Ele continuará não sendo um ser humano. Não

pode mais sê-lo.

Sob esse ponto de vista, a própria denominação “pena de morte” não é

adequada. Não se trata propriamente de uma pena, mas sim de um direito.

É um direito de morte da sociedade, que não tem porque ser constrangida a

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viver acuada pela imundície.

Mas também não se justifica, de maneira alguma, o desejo de vingança

como estímulo a esse direito de morte. Vingança e ódio são sentimentos

muito negativos, que na reciprocidade só podem trazer desgraça

multiplicada a quem os alimenta dentro de si, mesmo quando dirigidos a

criminosos. O direito de morte é apenas o direito de viver sem lixo na sala.

Quando se analisa a vida hodierna sob uma ótica mais abrangente, não

restrita ao meramente terrenal, as aparentes incongruências se dissipam

automaticamente, enquanto que alguns conceitos tidos e havidos como

sólidos mostram toda a sua vacuidade com assustadora nitidez. Veja-se

então o aborto. Como o direito de morte mencionado anteriormente é a

única justificativa válida para se tirar a vida terrena de um ser maléfico, já

que não se trata mais de um ser humano, é inconcebível que uma mulher se

sinta no direito de praticar o aborto, com a idéia de que pode dispor do seu

corpo como bem entender. Uma gravidez, voluntária ou não, equivale a um

“pedido de vida” segundo as leis da natureza, e não a um direito de morte.

O aborto não passa de um crime, que sujeita a mulher que o pratica a

graves conseqüências anímicas, das quais ela só se tornará ciente quando

tiver deixado essa vida. Exceção aí apenas em caso de estupro, pois não é

difícil imaginar a espécie de criatura que pode se encarnar numa concepção

desse tipo.

Pela mesma razão nenhum ser humano tem o direito de tirar a própria vida.

Aliás, é preciso ser especialmente covarde para se praticar o suicídio. O

suicídio é a própria covardia, é a mais vergonhosa derrota imposta pela

preguiça espiritual, é a confissão da absoluta fraqueza interior, da

incapacidade de suportar os efeitos retroativos da atuação errada, é a

admissão da total incompetência em obter o amadurecimento pessoal

através da vivência indispensável. O suicida é uma criatura deplorável, que

com seu ato escarnece da dádiva da vida presenteada pelo seu Criador.

E a eutanásia? Seria também um crime ou mais um direito de morte? É

preciso diferençar. Há, na realidade, dois tipos: a ativa e a passiva.

Eutanásia ativa significa estabelecer procedimentos, inclusive ministrar

drogas, que abreviem a vida de um doente tido como desenganado. Já a

eutanásia passiva limita-se a deixar de oferecer recursos técnicos capazes

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de esticar artificialmente a vida de um paciente terminal, como por

exemplo aparelhos que substituem parte das funções vitais do corpo.

A primeira forma de eutanásia é um suicídio disfarçado, enquanto que a

segunda é um legítimo direito de morte.

A eutanásia passiva é o direito que cabe ao doente de morrer

condignamente. Só mesmo os mais empedernidos, enrijecidos e

“emburrecidos” materialistas podem encontrar alguma justificativa em se

manter uma pessoa em coma durante meses e até anos, através de

aparelhos. É preciso ser muito tapado mesmo para chamar uma tal situação

de “vida”. Como para o materialista só existe a vida terrena, ele acha então

preferível “viver” dessa forma a simplesmente morrer naturalmente.

Também tem grande peso aí um egoísmo exacerbado dos parentes e

responsáveis pelo moribundo, que dessa forma exigem que ele permaneça

neste mundo a qualquer preço, mesmo que seja como um vegetal.

Eutanásia passiva e eliminação de criminosos irrecuperáveis são duas

situações em que se configura o direito de morte. Contudo, quando estiver

findo o atual processo de depuração sobre a Terra, quando um novo tempo

tiver sido implantado, também essas duas situações terão desaparecido.

Doenças terríveis como as que assolam a pecaminosa humanidade de hoje

terão deixado de existir, porque nenhum dos seres humanos então

remanescentes precisará ser atingido por elas. E os chamados crimes

hediondos serão apenas uma triste recordação na memória desses seres

humanos purificados, lembrança amarga de uma era em que monstros

habitavam o planeta, da época em que os vivos andavam entre os mortos...

Vivos espiritualmente e mortos espiritualmente, pois outros não há.

Todavia, essa reminiscência angustiosa será logo suplantada pela alegre e

tranqüilizadora certeza de que toda a gama de mortos, aí incluído o grupo

dos ainda hoje denominados errônea e eufemisticamente de “seres humanos

de índole criminosa”, terá sido varrida para sempre da obra maravilhosa da

Criação.

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VII

AS MAZELAS DO FALSO AMOR

Dentre todos os conceitos originalmente puros que a humanidade como um

todo torceu ao longo de sua milenar decadência espiritual, talvez nenhum

outro tenha sido mais vilipendiado, mais achincalhado do que o expresso

na palavra amor.

Vamos começar pelo amor ao próximo. No que se transformou hoje esse

sentimento que é condição necessária e suficiente para o modo correto de

vida? Para, até mesmo, usufrui-la alegremente? Virou sinônimo de apatia,

de fraqueza e de moleza, de condescendência imprópria, confortável, para

com os erros e falhas dos semelhantes.

O amor ao próximo é hoje um amor complacente, falso, que com palavras

doces anestesia, sim, temporariamente a dor daquele que errou, mas o

impede de reconhecer a causa do sofrimento, o que infalivelmente força a

repetição futura desse mesmo sofrimento. Um amor que proporciona, sim,

um alívio momentâneo, mas ao preço da infelicidade perene; que

magnanimamente distribui esmolas aos desvalidos, mas não sem antes lhes

subtrair o tesouro da dignidade. Um amor que enxuga, sim, prontamente as

lágrimas do sofredor, mas apenas para que este possa divisar mais

nitidamente o sorriso beatificado a emoldurar o semblante compadecido de

seu amoroso consolador.

Amor ao próximo não pode ser isso. Amor, amor verdadeiro ao próximo é

dar a ele, antes de mais nada, aquilo que lhe é útil, independentemente se

isso lhe causa ou não alguma alegria efêmera. É mostrar de forma clara, até

mesmo contundente, os erros cometidos, os quais sempre retornam ao

gerador na forma de sofrimento contínuo. É dar apoio irrestrito, sólido, a

quem realmente se esforça em suplantar suas fraquezas; é ampará-lo na

travessia do árduo caminho do reconhecimento do erro, mesmo que seja

entre soluços e lágrimas de ambos. Pois unicamente o reconhecimento

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pessoal da atuação errada, implacável e abrangente, é capaz de fazer

alguém mudar de modo radical a sua sintonização interior. E tão-somente a

voluntária mudança dessa sintonização pode interromper de vez o ciclo

aparentemente sem fim do sofrimento intermitente.

O amor verdadeiro, severo, abre a duras penas o portal para a conquista da

felicidade, enquanto que o falso amor passa sobre ele, sem esforço, um

ferrolho intransponível. A atuação do primeiro é permeada de obstáculos,

dificultada por forte incompreensão e intensa crítica, enquanto que a do

segundo é aplainada com carinho, incentivada por aprovações sorridentes e

elogios inconseqüentes.

Essa nefasta concepção de falso amor se disseminou como uma pandemia

incurável, acabando por imiscuir-se em todos os campos da vida humana.

Mesmo o amor entre homem e mulher sucumbiu a esse engodo.

Muitíssimos casamentos exibem como esteio para uma vida em comum

apenas a atração física e instintos exacerbados, e chama-se então essa

contingência unilateral de “amor”. E com isso os casais, ou melhor dito os

parceiros de hoje, apenas ainda se esmeram em “fazer amor”, como se

fosse possível tal coisa em relação ao amor verdadeiro. Um amor

verdadeiro, puro, entre um homem e uma mulher não está sujeito

oscilações aleatórias de performances corpóreas. Ele é uma ligação

espiritual de irradiações, totalmente independente de meras exterioridades

físicas; por isso mesmo também não envelhece com os anos, não se torna

mais fraco ou menos interessante e nem mesmo pode se extinguir. Pelo

contrário. O verdadeiro amor se fortalece ainda mais com o tempo e, a tal

ponto, que pode reunir sempre de novo as almas enlaçadas por ele, para

uma nova vida em conjunto aqui na Terra ou em outros planos da Criação.

A morte terrena não representa nenhum obstáculo para o verdadeiro amor.

Nenhum túmulo é capaz de confiná-lo, porque ele não é formado de

matéria nem está sujeito a ela.

E o amor maternal? E o filial? Também ambos, originalmente naturais e

belos, foram irremediavelmente impregnados de falso amor. Durante

séculos o amor materno foi decantado como o mais nobre dos sentimentos

da mulher, como se a principal missão da feminilidade fosse gerar filhos

para poder fazer jus a esse sentimento. Ninguém se lembrou aí de que o ser

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humano, homem ou mulher, é essencialmente um ser espiritual, e como tal

tem de atuar em primeira linha. A procriação não é a principal função do

casal humano; considerá-la como tal é promover um rebaixamento

intencional do verdadeiro papel, da real missão do espírito humano na

Criação. É uma abjeção voluntária, indigna da espécie humana, decorrente

também da crônica indolência espiritual, que descarta de pronto a intuição

em toda deliberação e invariavelmente suprime qualquer tentativa de

reflexão mais aprofundada. Não foi por outro motivo, aliás, que o “crescei

e multiplicai-vos” foi alegremente recebido como uma revelação toda

especial, e posto em prática com espantoso afinco e admirável empenho

desde então.

As odes seculares erguidas em louvor ao amor materno, como se a mulher

não fosse mais do que uma graciosa espécie reprodutora bípede,

transformaram-no num fardo doentio que solapa o livre desenvolvimento

espiritual, tanto da mãe quanto dos filhos. Àquela faz crer que possui

direitos absolutos e permanentes sobre a prole, enquanto que a esta última

impõe a obrigatoriedade da gratidão eterna, mesmo que freqüentemente sob

o manto da hipocrisia. Isso, sem falar do asqueroso mercantilismo desse

“amor” filial. A americana Anna Jarvis, que no início do século

inadvertidamente criou o “dia das mães”, e que se empenhou pessoalmente

para que essa comemoração fosse adotada em outros 43 países, chegou ao

fim da vida, no ano de 1948, completamente amargurada com a sua

“invenção”. Morreu reclusa, remoída de desgosto e sofrimento, tendo de

presenciar como o seu propósito inicial, aparentemente inócuo e bem-

intencionado, se transformara numa aberração comercial de alcance global.

O falso amor inseriu-se de tal forma nas concepções humanas, ao longo de

milênios, que mesmo os esforços em compreender acertadamente a atuação

do nosso Criador foram por ele torcidos irremediavelmente. Imagina-se

hoje, pois, que o próprio Jesus tenha sido também complacente e

condescendente, buscando-se ver nisso uma prova inconteste da atuação do

Amor divino. Ele, que foi o Amor de Deus encarnado na Terra, e que por

isso mesmo foi particularmente severo com as criaturas cerebrinas daquela

época, é apresentado como exemplo máximo de atuação do falso amor, o

qual foi gerado exclusivamente pela indolência do espírito humano e

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conservado pela sua cegueira. Chegou-se mesmo a ponto de considerar a

sua morte na cruz como tendo sido um sacrifício voluntário, um holocausto

desejado e programado com antecedência pelo Alto, para a redenção

automática dos habitantes dessa Terra aqui, enquanto que na verdade tal

pavoroso acontecimento, fruto do livre-arbítrio da humanidade pecaminosa,

não foi mais do que um brutal assassinato. Passou-se assim ao largo de sua

Palavra, única via de salvação, para a cândida aceitação dessa concepção de

uma morte inevitável do Filho de Deus. O falso amor venceu mais uma

vez, e obteve aqui o seu maior triunfo. Ele envolveu a cristandade inteira

no aconchego de uma falsa esperança, deixando em segundo plano as

próprias palavras do Mestre, cujo cumprimento incondicional era a única

possibilidade de alcançar a almejada salvação.

Mas assim como tudo o mais que ainda é e está errado, também o falso

amor acha-se com os seus dias contados. No futuro, quando tivermos sido

forçados a reaprender o real significado da palavra amor, iremos

certamente pensar duas vezes, dez vezes, antes de ousarmos pronunciá-la

novamente.

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VIII

MENSAGEM DE NATAL

“— Sabes, Maria, que a estrela brilha sobre

o telhado que nos cobre?

— Eu sei, José!

— E sabes também o que esta estrela

anuncia?

— O Messias!”

Há pouco mais de dois mil anos, mais

precisamente em 12 a.C. segundo a nossa

contagem de tempo, a Terra foi palco do

mais extraordinário acontecimento de todos

os tempos. Ocorreu aqui um evento

excepcional, de inimaginável amplitude,

único desde o existir do Universo inteiro.

Numa determinada noite do final daquele ano, uma parte do Amor de Deus

– o Criador de Todos os Mundos, nasceu em nosso planeta. No céu, um

cometa de brilho intenso anunciava o cumprimento de antigas profecias, a

efetivação de uma graça incomensurável para toda a humanidade e

inconcebível à sua compreensão: o nascimento terreno de Jesus, o Filho de

Deus.

Durante pouco mais de três décadas, as atenções nas muitas moradas da

Casa do Pai, isto é, nos vários planos da gigantesca obra da Criação,

estiveram voltadas diretamente para cá. Desde aquela singela noite em

Belém, num estábulo de carneiros, até o terrível desfecho do Gólgota.

Nunca, em tempo algum, em lugar algum, um espírito humano chegará a se

aproximar da compreensão integral do fenômeno, de saber efetivamente

quão ampla, quão imensamente ampla foi a graça outorgada outrora à

humanidade com o nascimento daquela criança. Quando muito, poderá ele

adquirir – na medida exata de sua sinceridade – um tênue vislumbre do real

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significado da vinda de Jesus de Nazaré. Saberá então, humildemente, que

Ele desceu das alturas máximas para os confins da Criação, até o plano das

mais densas materialidades, com a missão de oferecer à transviada

humanidade terrena a possibilidade de salvação, através do cumprimento

de Sua Palavra.

O efeito subseqüente de divisão dos períodos históricos em antes e depois

do Seu nascimento, apesar de globalmente abrangente, foi a menor das

conseqüências de Sua passagem pela Terra, meramente exterior. As

conseqüências espirituais foram muito maiores, muitíssimo mais incisivas

para o gênero humano. Jesus concedeu novamente aos seres humanos a

possibilidade de se salvarem através do indispensável reenquadramento às

Leis vigentes na Criação. Por meio de parábolas Ele explicou então,

repetidamente, com toda a paciência, a atuação dessa Leis, de cujo saber a

própria humanidade já se privara há muito, em razão de seu

incompreensível afastamento da Luz, voluntário e persistente. Ficamos

sabendo assim que se tratavam de Leis que jamais poderiam ser

derrubadas, mas apenas cumpridas.

Sem a vinda de Jesus exatamente naquela época, nenhum ser humano

lograria chegar ao tempo presente com o seu espírito ainda vivo. A Sua

Palavra, dirigida a todos os povos indistintamente, foi uma bóia de salvação

para os seres humanos bons, permitindo-lhes atravessar com segurança,

sem se perderem, o espaço de tempo existente até o exame final da

humanidade.

E quando a odienta vontade da maior parte dessa humanidade, através de

seus asseclas, O cobriu de sofrimentos e por fim O crucificou, Ele, a

Palavra encarnada, rejeitando assim com escárnio a salvação oferecida pela

Palavra, tão premente para ela, foi unicamente a Sua inavaliável intercessão

“Pai, perdoai-lhes, pois não sabem o que fazem!” que ainda manteve

aberta, até os dias de hoje, uma possibilidade de salvação a quem se

mostrar digno dela.

Se a humanidade como um todo não tivesse construído tão diligentemente a

estrada larga do mal, nem enveredado tão cheia de si por ela rumo ao

abismo, a vinda de Jesus não teria sido necessária. Mas, para que os poucos

bons não acabassem sendo arrastados conjuntamente no sorvedouro das

trevas, para que suas centelhas espirituais se conservassem acesas até a

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época do Juízo Final, O Amor de Deus se dispôs a vir até essa pequenina

Terra. Chegou até aqui para desobstruir e indicar novamente a eles o

estreito caminho que conduzia às alturas, o qual se achava por demais

maltratado, muito mal cuidado, em virtude de ter sido escassamente

utilizado até então, porque fora já completamente esquecido e abandonado

por todos.

Nenhum espírito humano, que através das palavras de Cristo pôde chegar

vivo à nossa época, tem idéia do quanto deve ao seu Salvador. Nenhum.

Não há um sequer desses filhos pródigos que possa avaliar com acerto o

alcance da graça a ele concedida, de lhe ter sido mostrado o caminho de

volta para casa, para o Paraíso. Pois agora lhe é novamente possível

ascender até lá por esforço próprio, como espírito purificado e plenamente

consciente, depois de ter feito seu talento dar juros sobre juros.

A bem dizer, só existe uma maneira de retribuir, por pouco que seja, o

maravilhoso presente dado por Deus à humanidade naquela longínqua noite

primeva de Natal: procurar viver integralmente os ensinamento ministrados

por Seu Filho, independentemente de como se compõem as formas

exteriores dos múltiplos ritos religiosos. Transformar em vida as palavras

do Mestre, esforçando-nos em reconhecer as Leis que regem a Criação e a

finalidade de nossa existência dentro dela, pois só quem procura...

encontrará! E só quem ama o próximo como a si mesmo estará em

condições de festejar o Natal da maneira certa: com a alma preenchida de

alegria e o coração a transbordar de gratidão.

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IX

MENSAGEM DE ANO NOVO

(Artigo escrito em janeiro de 2001)

Começa o último ano do milênio. Ou será o

penúltimo? Polêmicas à parte, 1999 surge no

hodômetro temporal humano carregado de

expectativas, de muitas esperanças. E de

desesperanças também. Dir-se-ia até de um certo

receio indefinido, talvez mesmo de um medo

indisfarçável. O que nos trará o ano novo?

Há poucos dias apenas e aquele renovado anseio de

fim de ano por melhores dias parecia de novo tão

factível, tão real dessa vez, tão ao alcance das

mãos de todos nós, que ajudamos a moldá-lo

novamente com nossa cota cíclica de otimismo

forçado, anestesiados que estávamos pela alegria

contagiante do réveillon, felizes no embotamento

de abraços e votos mútuos, fossem ambos sinceros

ou não.

Mas... e agora? Agora, quando os pés estão novamente firmes no chão já

limpo das rolhas de champanhe, quando o mundo, indiferente ao rogo

exigente de seus filhos, mostra novamente sua verdadeira face, cruel –

limpa também da maquiagem hipnótica dos fogos de artifício, é justamente

agora que ressurge a pergunta angustiante: O que nos trará o ano novo?

Aturdido por um emaranhado de profecias cabalístico-escatológicas e

vaticínios econômico-ambientalistas, o ser humano comum se esforça em

levantar um pouco o véu do futuro, pelo menos do seu: “O que me trará,

pois, este ano novo?”

Em relação à humanidade como um todo não é difícil, realmente, fazer

previsões. Ela continuará a colher e saborear compulsoriamente os frutos

amargos de sua maléfica semeadura dos últimos milênios. Apenas com a

diferença, bastante notória aliás, de que a quantidade e intensidade desses

retornos serão cada vez maiores, como já vem ocorrendo ao longo das

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últimas décadas. Quem tiver olhos para ver, que veja.

Guerras fratricidas, crimes hediondos, doenças terríveis, desequilíbrios

psíquicos, crises políticas e sociais globais, descalabro econômico-

financeiro generalizado, múltiplas catástrofes da natureza, alterações

climáticas incisivas, medo e insegurança disseminados por todos os

quadrantes... Os companheiros fiéis da humanidade neste século de horror

continuarão a sê-lo no ano que se inicia, continuarão sendo seus mais

aguerridos acompanhantes, no fechamento do ciclo de sua existência. E

ainda outros se juntarão ao séquito nesse trajeto final do féretro, como

recentemente já o fizeram os buracos na camada de ozônio e as alterações

solares. Tudo vai tomando forma como ela mesma sempre quis, como

continuamente fez questão de forjar para si com tanto empenho, através de

sua inacreditável, incompreensível desobediência coletiva às Leis

incontornáveis da Natureza.

Em relação a um único indivíduo, porém, a um ser humano cujo espírito

ainda esteja vivo, o futuro só a ele pertence. Somente a ele. Tão-somente

ele é senhor do seu destino. É ele mesmo quem molda para si o seu próprio

futuro, de acordo com sua maneira de viver no presente. Pode, assim,

preparar para si tanto um lugar repleto de alegria e felicidade, imerso em

luz, como um local de máximo sofrimento e dor, imerso nas trevas da mais

aterradora desesperança. A decisão é dele. Sempre e unicamente dele.

Por isso, ao invés de cismar inutilmente acerca de seu futuro, o ser humano

de espírito vivo deveria cobrar ânimo e agir. Agir agora, no presente! Ele

tem de arregimentar todas as suas forças unicamente no sentido do bem,

sem descanso, se quiser de fato construir um belo futuro para si. É ele

mesmo quem tem de colocar mãos à obra, com infatigável afinco! Cabe a

ele, exclusivamente, transformar de modo radical a sua vontade interior, o

que naturalmente acaba se exteriorizando também em seus pensamentos,

palavras e ações. E o pensamento purificado, a palavra verdadeira e a ação

correta constituem justamente o material de construção com que ele molda,

de modo inteiramente automático, um futuro radiante para si mesmo.

Repito: de modo inteiramente automático. Sem estafas intelectuais, sem

algemas dogmáticas e sem malabarismos místico-ocultistas.

Agindo dessa forma ele terá de formar um belo futuro para si, por nem ser

possível diferentemente segundo a Lei natural de causa e efeito, ou Lei da

reciprocidade. Como se vê, não é nada que a boa vontade e a perseverança

não possam conseguir. As pedras que aqui e acolá surgem nessa sua

empreitada, como se viessem do nada, e que ainda podem fazê-lo tropeçar

e se machucar, só lhe serão úteis na verdade. Elas também foram formadas,

lapidadas e colocadas no tapete do seu destino por ele mesmo, em

decorrência de sua sintonização errada de outrora. Não devem incutir-lhe

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medo ou desânimo, ao contrário, devem servir, sim, para ele conhecer os

erros que ainda lhe pendem e retemperar sua tenacidade em prosseguir para

cima, colhendo sempre novos reconhecimentos espirituais. Com isso ele

notará, pouco a pouco, que as pedras tornam-se paulatinamente menores e

mais raras à medida que sobe, até que um dia também elas terão

desaparecido por completo. Desse modo, a escalada lhe é facilitada a cada

dia, na medida direta do seu esforço em progredir. E, ao atingir

determinada altura, poderá divisar então nitidamente o belo futuro

acalentado, o porvir que ele mesmo formou para si, que ele mesmo

conquistou.

Sem esforço próprio ninguém ascende, ninguém progride. Sequer um

milímetro. É uma ilusão desmedida imaginar que a crença cega seja um

elevador espiritual, a desobrigar seus passageiros do esforço contínuo em

melhorar como seres humanos. Os que chamam de “orar aos céus” a litania

cotidiana de reclamar da vida e choramingar misérias, não passam de

mendigos preguiçosos. Desprezíveis como estes. Com essa indolência

inaudita, o futuro que tais “deserdados do destino” formam para si mesmos

é pavoroso. São suicidas espirituais, que voluntariamente enfraquecem seus

espíritos com essa inatividade forçada e, a tal ponto, que estes se tornam

por fim incapazes de se movimentar por si mesmos, acabando por morrer

de inanição espiritual, completamente paralisados, sem dispor mais de

forças para encontrar o Pão da Vida e se alimentar dele.

Só aquele que, através de esforço próprio, mantiver sempre acesa a chama

do seu espírito, ardendo em prol do bem e voltada para a Verdade, poderá

resistir aos próximos vendavais purificadores. Já os outros, os indolentes

espirituais crônicos, cuja única tarefa a que se dispõem realizar é a de

manter seus espíritos eternamente mergulhados num sono de chumbo,

verão, desconcertados, suas chamas fracas e bruxuleantes se apagarem já

nas primeiras rajadas.

O espírito humano dispõe do livre-arbítrio para o seu desenvolvimento. E é

por meio dessa dádiva que ele pode escolher seus próprios caminhos,

ficando, porém, incondicionalmente sujeito às conseqüências dessa sua

escolha. Por isso, é ele quem forma o seu próprio destino, e até mesmo o

seu destino final como espírito humano. Aí não se trata mais de uma

simples resolução de ano novo, mas de uma decisão que abrange toda uma

existência, a sua existência inteira, e não apenas essa atual vida terrena.

Vida eterna ou morte eterna estão nas mãos do próprio ser humano, pois o

seu futuro, o seu destino, somente a ele pertence. Este novo ano poderá ser

para ele então o primeiro de uma vida completamente nova, integrada às

Leis da Criação. E será... se ele quiser.

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X

BESTAS DO APOCALIPSE

Estão todos aí de novo, e trabalhando

como nunca. Gurus, enviados, avatares,

mediadores... Todos anunciando o fim do

mundo, com dia e até mesmo hora

marcada. O clube já superlotado dos

falsos profetas dessa nossa época

continua a admitir novos e competentes

profissionais a cada dia, no mundo

inteiro. Guias dos mais variados matizes

escatológicos surgem de repente, por toda

a parte, como cogumelos numa manhã

úmida. Cogumelos grandes, coloridos,

vistosos todos eles... e todos venenosos. Arregimentam um sem-número de

incautos seguidores e vão logo cumprir, conscientemente ou não, mas

sempre fielmente, suas missões: desviar a atenção das pessoas boas, o mais

possível, do significado real da incisiva transformação pela qual está

passando o nosso planeta e toda a humanidade.

Desviar, sim, e a qualquer preço, pois quem em seu juízo perfeito, e com

um pouco de discernimento, não rejeitaria de pronto as “revelações”

outorgadas por essas perfeitas bestas do apocalipse? Realmente, é preciso

atingir um grau supremo de estupidez para acreditar, por exemplo, que

seria possível fugir das responsabilidades espirituais suicidando-se, para

poder ascender até a estrela Sirius ou escapar lépido e fagueiro a bordo de

um disco voador escondido na cauda de um cometa. Ou, então, que se

poderia sobreviver ao fim do mundo bebendo da água do banho do sr.

Asahara, venerável líder da seita japonesa “Verdade Suprema” (aquela do

atentado no metrô de Tóquio), que dizia ser a reencarnação de Buda e

ostentava o humilde título de “Salvador do Século”.

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É de se questionar também a integridade encefálica dos seguidores do sr.

David Koresh, que afirmava ser o próprio Criador e levou setenta dos seus

a morrer gloriosamente queimados num confronto com o governo

americano; ou dos discípulos de Jim Jones (914 suicídios); ou ainda dos

membros da seita americana “Cristãos Preocupados”, que há poucos dias

apenas resolveram dar início ao apocalipse por conta própria em Jerusalém.

E não teve também um grupo numeroso que recentemente se aglomerou

num subúrbio de Dallas para esperar a chegada do Criador? Não parece

incrível? Nem tanto, considerando-se que Jesus Cristo em pessoa já está

reencarnado em vários lugares, segundo testemunhos contundentes (e

excludentes) deles próprios.

A lista é infindável. Mas além de fornecer material de primeira qualidade

para programas humorísticos, e eventualmente eliminar também alguns de

seus tolos seguidores, os dirigentes desses movimentos-de-fim-de-mundo

desencadeiam uma tragédia muito maior, muito mais grave para o gênero

humano do que faz crer as batidas de seus gongos místicos ou as trombetas

anunciadoras de suas ridículas performances teatrais.

Essas figurinhas deploráveis provocam um compreensível repúdio em

pessoas boas e sensatas ante qualquer notícia fora do comum em relação à

vida humana, ou de algo extraordinário que esteja prestes a ocorrer na

Terra. Escaldadas, com os dois pés atrás, elas rejeitam logo e de antemão

qualquer asseveração nesse sentido. Rejeitam sem examinar. E assim elas

põem tudo numa panela só, emitindo um veredicto condenatório prévio,

generalizado, sobre qualquer informação com que se deparam a respeito do

apocalipse e do Juízo Final.

É esta a maior tragédia, o mal maior. E é este também o objetivo

verdadeiro, o alvo máximo das trevas, que são na realidade quem

sustentam e impulsionam todos esses risíveis – e todavia tão perigosos –

movimentos armagedônicos. Pois com isso conseguem retirar das pessoas

boas a oportunidade de meditar com seriedade e isenção sobre os

acontecimentos em curso no mundo. Elas deixam de fazer isso com o

receio (a seu ver bem fundado) de despender sua preciosa atenção e escasso

tempo em outras estultices do gênero. E dessa maneira elas mesmas

descartam qualquer possibilidade de analisar sobriamente os

acontecimentos mundiais, de meditar sobre isso com isenção e de chegar

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assim ao reconhecimento do que está ocorrendo efetivamente com a

humanidade e com elas próprias. Perdem, desse modo, a possibilidade de

se enquadrar ainda em tempo às Leis da Criação; perdem, enfim, o prazo

de que dispõem para tanto.

Não atentam, na realidade, à profecia por elas mesmas freqüentemente

aludida sobre o advento de falsos profetas, na qual pode-se depreender

também nitidamente que o certo, o verdadeiro, estará na Terra justamente

nessa época dos falsos profetas. Não se dão ao trabalho de analisar

rigorosamente tudo quanto se lhes apresenta aí, diferençando com o

máximo rigor, com a mais apurada análise, o errado do certo, a pedra do

pão, o chumbo do ouro, o joio do trigo. Não percebem, de modo algum,

que o conceito de “falsos profetas” é muito mais abrangente do que

supõem, incorporando não apenas os mencionados malucos de carteirinha,

mas todo e qualquer dirigente, de toda e qualquer religião, filosofia ou seita

que não guia seus adeptos para o reconhecimento da incondicional

responsabilidade pessoal em cada pensamento gerado, em cada palavra

proferida, em cada ação realizada. Pois o ser humano dispõe do livre-

arbítrio para atuar aqui na Terra, podendo viver da maneira que desejar

portanto, mas permane e sempre integralmente responsável por tudo quanto

dele emana, cujas conseqüências refluem inevitavelmente para ele mesmo

após tempo maior ou menor, na forma de coisas boas ou más, segundo a

espécie do que foi gerado.

E o mundo está, de fato, passando por um gigantesco processo de

transformação. Um processo que vem já de décadas, e que apesar de estar

em sua última fase não tem data conhecida para seu término. Tal processo

de limpeza traz de volta à humanidade e a cada indivíduo, no fechamento

do ciclo, tudo quanto foi formado pela vontade e pela ação, e que ainda não

encontrou remissão através da lei de causa e efeito, ou lei de retorno

cármico. Decorre disso o acúmulo crescente, tanto em quantidade como em

intensidade, de acontecimentos terríveis em todos os campos da vida

humana, pois não é segredo para ninguém que a vontade da quase

totalidade da humanidade sempre pendeu para o mal. A própria História

registra isto com bastante clareza. Agora, todos nós colhemos o que

plantamos. Colhemos todos, quer queiramos ou não, no grande ajuste final

de contas.

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As catástrofes da natureza não estão aumentando em cumprimento a ordens

de profetas de esquina, mas sim como um dos múltiplos efeitos naturais e

inevitáveis da aceleração deste processo de depuração global, o qual, por

fim, deixará a Terra completamente limpa de toda a sujeira, incluindo eles

todos também, naturalmente. Aliás, não há nada de esotérico nesta

afirmação de crescimento contínuo de catástrofes, que pode ser

comprovada facilmente através de dados estatísticos. De acordo com uma

empresa de seguros alemã – uma das maiores do mundo por sinal – está

havendo aumento de ciclones tropicais, ondas de calor, incêndios em

florestas e tempestades de neve; nos últimos dez anos, segundo a empresa,

ocorreram três vezes mais desastres naturais do que os registrados na

década de 60, os quais provocaram nove vezes mais danos do que naquela

época.

Tudo o que nos atinge hoje é efeito retroativo. Conseqüência de nossa

nefasta atuação no passado e também no presente. Quer se trate de

destruições provocadas por catástrofes da natureza ou alterações climáticas,

descalabro econômico ou degenerescência moral, doenças ou crises de

medo, violência ou depressão, tudo é efeito do aceleramento desse retorno

coletivo, que traz de volta o mal semeado outrora, sempre na medida exata

da contribuição de cada um, tanto na forma como no conteúdo.

Atualmente, todo o mal cultivado pela humanidade e nela impregnado por

milênios está sendo forçado a se manifestar com a máxima intensidade, até

se auto-extinguir, se autoconsumir, levando consigo tudo e todos que a ele

estejam aderidos e que não foram capazes (ou não quiseram) se desprender

dele a tempo. Daí o crescimento exponencial das tragédias humanas,

nitidamente reconhecíveis em tudo quanto foi tocado pelo homem.

As pessoas que tomam conhecimento dessas coisas, ou que já estão sendo

obrigadas a constatá-las em seu próximo ou mesmo vivenciá-las em si, são

instadas dessa maneira a refletir seriamente sobre o que está ocorrendo de

extraordinário no mundo e nelas próprias. Têm, assim, o ensejo de chegar a

uma conclusão lógica: que tanto o sofrimento mundial como o individual

só podem ser, na verdade, efeitos do atuar errado dos próprios seres

humanos. A partir daí se lhes tornará clara também a necessidade inadiável

de uma mudança interior radical, de um reenquadramento integral às Leis

inflexíveis que regem esta Criação – as quais só admitem um

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desenvolvimento no sentido do bem – modificando conseqüentemente

também o seu pensar, seu falar e seu agir, contingência incontornável para

subsistir no Juízo.

“Tudo há de se tornar novo!” Desta sentença se depreende que unicamente

seres humanos renovados estarão aptos a viver na época renovada. E é

contra essa tão necessária mudança de sintonização interior das pessoas

boas, que agem, no fundo, as bestas apocalípticas, com o máximo empenho

de que são capazes. Oxalá, a indolência espiritual não triunfe novamente, e

essas pessoas boas possam ainda em tempo chegar ao despertar, e com isso

ao reconhecimento do caminho certo. É o que, com direito, se espera delas.

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XI

MENSAGEM DE CARNAVAL

Mensagem de carnaval?? E desde quando

o carnaval serve de inspiração para

mensagens?

Desde quando compreendemos que

podemos e devemos aprender com tudo o

que ocorre à nossa volta. Pois de tudo se

pode tirar algum proveito, obter algum

ensinamento, mesmo de um evento tão

parcamente revestido de utilidade como o é a festa de carnaval.

Todos os acontecimentos dessa nossa época falam para nós continuamente,

insistentemente, para que reconheçamos suas causas e conseqüências, de

forma a podermos direcionar e manter o leme de nossas vidas sempre no

rumo certo. Pois quem chega a conhecer deveras as causas do viver errado

e, principalmente, a reconhecer as conseqüências disso, este arregimentará

todas as suas forças, com o máximo empenho, para redirecionar sua vida de

até agora. Com toda a certeza.

Realmente, com toda a certeza. Certeza absoluta. Só não se esforçará em

seguir pela senda ascendente aquele que não enxerga onde pisa, ou melhor,

aquele que não quer ver onde pisa, mesmo quando já a afundar no pântano

visguento dos vícios e das paixões. O desconhecimento do funcionamento

das Leis naturais embota o espírito humano, enrijece-o, embaça-lhe a vista

e destrói paulatinamente sua capacidade de discernimento. A voluntária

ignorância sobre as causas e conseqüências de tão múltiplos e significativos

eventos hodiernos atua sobre o cansado espírito, já tomado por uma

inaudita sonolência, como uma aconchegante canção de ninar, que lhe é

muito bem vinda. Uma doce canção, que pouco a pouco se torna para ele

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no canto de cisne, a embalá-lo num seguro sono de morte espiritual.

Há dois aspectos que chamam de imediato a atenção no curto reinado de

Momo, e que merecem portanto ser analisados em maior profundidade.

O primeiro diz respeito às fantasias, ao significado que elas encerram. Qual

seria a motivação real capaz de levar uma pessoa tida como dentro dos

padrões da normalidade a, por exemplo, vestir um manto de plástico

ornado de lantejoulas, meter-se dentro de uma peruca de Luís XVI, cingir a

cabeça com uma coroa de papelão e sair a desfilar por aí, todo soberano no

compasso de cuícas e tamborins?

“Ora, divertir-se, evidentemente! Alegrar-se! Extravasar-se!” Mas por que,

exatamente, alguém se divertiria fazendo o papel de quem não é? Será que

o João Ninguém quer realmente sentir-se Luís XVI por 72 horas,

espargindo uma majestade fictícia entre súditos ilusórios, ou, ao contrário,

o que ele deseja de fato nesse curto período é esquecer-se de que é o João

Ninguém? Não quer ele eximir-se temporariamente de qualquer

responsabilidade, até ser guilhotinado pela realidade?

Vestir uma indumentária espalhafatosa qualquer, esconder o rosto sob uma

máscara, pular e cantar com trejeitos do sexo oposto, no embalo de álcool e

outras drogas, parece muito mais uma fuga do que uma diversão. Três dias

de total descontração, do mais completo alheamento, de folia geral, sem ter

de prestar contas de nada a ninguém, nem a si mesmo. É isto o que se

denomina “alegria” nos salões de carnaval. Irresponsabilidade absoluta,

inebriada de lança-perfume; dignidade sufocada em confete, estrangulada

em serpentina. É precisamente isto o que os foliões desejam. Querem

mergulhar por inteiro no desvario da louca liberalidade geral, ampla e

irrestrita, a qual, todavia, só tornará ainda muito mais amargo o inevitável

despertar na sombria quarta-feira de cinzas.

Insensatos esses todos. Insensatos esses todos e muito mais ainda os que

fazem da própria vida um grande carnaval. Os que fantasiados de castos

imaginam poder conspurcar à vontade o seu próximo, impunemente, com

pensamentos pestíferos; os que em proveito próprio destroem reputações

com algumas poucas palavras ardilosas, acobertados pela máscara da

astúcia; os que vestem sobre ternos bem cortados a fantasia da esperteza,

que os habilita a trazer múltiplos prejuízos a seus semelhantes, para lucro e

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satisfação pessoais, através das mais sórdidas maquinações, sempre

prodigiosamente destruidoras. Em suma, todos os que fazem do hedonismo

e do egocentrismo suas divindades mais sagradas, a quem se prostram

cotidianamente e com quem já há muito negociaram sua almas.

Insensatos, sim, insensatos. Pois já adentramos todos numa inesperada

quarta-feira de cinzas. Chegou o tempo de acordar. Pierrôs e Colombinas

que até hoje levavam a vida na brincadeira, cuidando apenas da cata de

novos prazeres e sensações, pouco ligando se calcados ou não no infortúnio

de outrem, terão as máscaras arrancadas e as fantasias rasgadas de cima a

baixo, para que se mostrem como realmente são. Seu bloco de carnaval,

imenso, se dispersará, e nunca mais poderão agrupar-se novamente para

continuar a usufruir a vida desregrada de até então, apoiada rotineiramente

na dor e no sofrimento infligido ao próximo. A vida carnavalesca de até

agora há de cessar, e com ela o lema luciferiano do “viver até exaurir-se”,

tão ardorosamente cumprido e disseminado por eles até aqui. Terão de

aprender, tarde demais, que a responsabilidade jamais se deixa separar da

atuação de um espírito humano, mesmo decaído.

O segundo aspecto digno de nota em relação ao carnaval é o pudor, ou

melhor dito, a falta dele. Ninguém, por certo, que já tenha visto algo das

festas carnavalescas no Brasil considerará exagerada a afirmação de que

elas não são mais do que orgias consentidas, depravações rítmicas levadas

a efeito por homens pervertidos e abrilhantadas por mulheres degeneradas.

Homens e mulheres que já não são nada além de machos e fêmeas, a se

degradarem mutuamente nesses bacanais sambantes, esforçando-se com

incrível empenho em descer a um nível muito abaixo do ocupado por

qualquer animal, o qual faz uso do sexo sempre e unicamente de forma

sadia e natural.

Menção especial aqui para as mulheres, que utilizam o carnaval como

excelente pretexto para exibir envaidecidas seus corpos nus e seminus,

numa asquerosa prostituição visual coletiva, regiamente paga em cada

olhar masculino de cobiça. Criaturas que transformaram seus corpos –

instrumentos para atuação do espírito – em arapucas voluptuosas, iscas

sedutoras prontas a fisgar para a desgraça legiões de tolos embasbacados e

fracalhões estúpidos.

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Mal sabem elas que com suas contorções sensuais põem à mostra muito

mais do que supostos chamarizes carnais. Pois o pudor é uma medida

direta, exata, infalível, do próprio valor espiritual de uma pessoa. Um ser

humano que tenha afastado de si todo o pudor é um ser vazio

espiritualmente. E um ser vazio espiritualmente deixou de cumprir sua

prerrogativa fundamental, a própria razão de sua existência, que é a

obtenção e manutenção da autoconsciência adquirida através de vivências,

em suas peregrinações pelas materialidades...

Esta medida infalível, naturalmente, é igualmente válida no caso oposto, e

nos dois sentidos. Assim, quanto mais enobrecido for também um ser

humano, tanto mais íntegro e inabalável será da mesma forma o seu

sentimento intuitivo de pudor corporal. E vice-versa.

A metáfora bíblica transmitida no Gênese sobre o “reconhecimento da

nudez” pelo casal humano, e a necessidade que ambos sentiram de cobri-la

quando se lhes despertou a noção do bem e do mal, é uma imagem que

evidencia o início deste processo de conscientização do espírito humano,

objetivo último e fundamental de sua passagem pelas várias partes da

Criação, que lhe possibilita, por fim, o próprio ingresso no Paraíso. Para

um espírito desenvolvido, que já tenha angariado um determinado grau de

autoconsciência, corpo e alma são invólucros absolutamente intangíveis,

invioláveis e incorruptíveis. Jamais uma tal pessoa consentiria ter o corpo

exposto à contemplação pública, nem tampouco a alma desnudada diante

de pretensos especialistas anímicos.

Bailes e desfiles carnavalescos, assim como várias outras contingências

semelhantes, atuam apenas como catalisadores de um longo processo de

degradação interior, em curso no íntimo de inúmeras pessoas que

fracassaram como seres humanos. Constituem meras oportunidades para

uma exacerbação visível do estágio em que se encontra a falta de pudor há

muito latente nelas.

Através dessa medida simples e direta da manifestação do sentimento de

pudor, o leitor pode bem imaginar a real situação espiritual da maior parte

da humanidade terrena.

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Quem surgiu primeiro: o ovo ou a galinha?

Brincadeira de criança à espera de uma solução

adulta. Mais desconcertante do que a pergunta

são as respostas que ela suscita, ou melhor, a falta

delas, invariavelmente substituídas por alguns

sorrisos parvos, amarelos, servindo de escudos

para a ignorância inconfessável.

Uma pergunta assim tão simples e direta, tão

singela e clara, comumente lançada ao ar com

notória perversidade por crianças e jovens, já é capaz de deixar em

péssimos lençóis não poucos pesquisadores e eruditos de qualquer área,

impossibilitados de encontrar, com as análises de seu raciocínio, uma

resposta de igual clareza e simplicidade. As capacitações do intelecto, tão

decantadas pelos círculos acadêmicos, não bastam para fornecer nesse

caso uma resposta convincente.

Mas devemos reconhecer que alguns dentre os doutos homens da ciência,

quando ainda dispõem de um resquício de humildade, ou quando

adquirem o reconhecimento forçado da própria incapacidade, se dignam a

rotular genericamente de enigma ou mistério aquilo para o que não

encontram resposta. Fenômenos que têm sua origem acima do espaço e

tempo terrenos, a eles tão familiares, também se encontram acima de sua

capacidade de compreensão. No entanto, quando até mesmo essa

comedida humildade falta, ou seja, na maioria dos casos, colocam eles

então no lugar a espantosa coragem de defender hipóteses disparatadas,

absurdas, teorias e teoremas de uma puerilidade constrangedora, de um

ridículo atroz, em completa dissonância com as leis inflexíveis que regem

a Criação. É o caso, por exemplo, das suposições em voga a respeito da

origem da vida, que pretensamente seriam capazes de esclarecer todas as

XII

MENSAGEM DE PÁSCOA

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dúvidas sobre o assunto, aí incluída a milenar charada da contínua

sucessão ovo-galinha.

Só mesmo criaturas submissas por inteiro ao intelecto podem considerar

verossímil, e até defender, a ideia de que a vida em nosso planeta surgiu

da fortuita reprodução automática, autônoma, de algumas moléculas

básicas. Sem dúvida uns aglomerados de átomos admiráveis, com vontade

própria, que nada tendo a fazer em meio ao tédio daquela sopa primordial

formada por eles mesmos, servida pelo acaso há uns 4 bilhões de anos,

acharam por bem começar a tirar cópias de si mesmos e... Bingo! Criaram

a vida! Francamente, seria melhor para todo mundo que as sumidades

(prêmios Nobel inclusive) que advogam essa... Digamos, “insensatez”,

tivessem permanecido no primeiro grupo, onde seus colegas

pesquisadores se contentam em classificar de mistério e enigma tudo

quanto jaz além de sua compreensão. Ainda é, sim, uma posição

igualmente tacanha, mas muito mais honesta e infinitamente menos

grotesca.

Enigmas na Criação não existem, tampouco mistérios. Essas

classificações foram criadas pelo cérebro humano como engodo, como

uma espécie de auto-atordoamento, depois que o ser humano terreno se

desvencilhou de todo o verdadeiro saber que chegara a possuir outrora –

numa época em que seu desenvolvimento ainda se processava de modo

normal – e se voltou exclusivamente para a matéria, deixando atrofiar

dentro de si as faculdades de seu espírito. Um crime abominável, e ainda

praticado com uma espécie de orgulho coletivo, o qual crescia na mesma

proporção em que aumentava o grau de miopia espiritual da humanidade,

até chegarem ambos à arrogância e à mais completa cegueira, que

passaram para a história fundidas no nome de materialismo.

A vida é uma dádiva do Amor do Criador, presente em toda a Sua

gigantesca Obra, e assim também neste plano material. Cada esporo, cada

ovo ou óvulo fecundado – os zigotos de seres humanos e animais –

encerram em si a promessa da continuação do grandioso espetáculo da

vida, fornecendo continuamente novos atores a este palco terreno, onde

todos entram prontos a desempenhar os mais variados papéis, em novos

atos descortinados pelo efeito de leis universais, aprendendo com eles na

grande trama do desenvolvimento progressivo. Uma eterna renovação

periódica de vida, num permanente dar e receber, direcionada

exclusivamente para o aperfeiçoamento da própria vida.

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A Páscoa, que não por acaso tem também como símbolo o ovo

(simbologia prodigiosamente surripiada pelo marketing do chocolate), era

de início uma festa para comemorar a chegada da primavera, que

indiscutivelmente traz também a renovação da vida a cada ano,

regularmente, em novas formas virginais. Por isso, Páscoa tem igualmente

o significado de renovação, renascimento, ressurreição. Sobre isso, aliás,

é muito elucidativo um vídeo elaborado pela Editora Ordem do Graal na

Terra.

Renascimento! Ressurreição! Esses são os significados originais da

Páscoa. Ressurreição que se verifica, inclusive, em cada nascimento

terreno. Uma ressurreição na carne, em virtude da nova vida terrena que

se inicia, e não uma ressurreição da carne, pois a alma, o invólucro mais

fino do espírito, é sempre o mesmo. O que muda em cada encarnação é

apenas a vestimenta mais externa, denominada corpo humano terreno,

num processo que se repete várias vezes mas que não é infinito, visto que

para tudo há um tempo determinado, e assim também para o

desenvolvimento previsto para o espírito humano.

Mas o corpo humano é formado de matéria, e em razão disso tem de

permanecer sempre no âmbito material, do qual se originou, nunca

podendo chegar a outros planos da Criação situados acima dele, que são

de espécie e constituição completamente diferentes. Uma decorrência

absolutamente natural e lógica de leis eternas, imutáveis e perfeitas. No

assim chamado “além” só podem estar almas humanas cuja constituição

seja idêntica à do respectivo plano. E no plano mais alto que um ser

humano pode alcançar, no plano espiritual denominado Paraíso, só podem

estar espíritos humanos exclusivamente, sem invólucros de outras

espécies. Jamais um corpo material poderá ascender até o plano espiritual

da Criação, ou mesmo a regiões acima deste. Uma tal coisa, as próprias

leis inflexíveis da Criação não permitem. Se fosse possível

diferentemente, então essas leis não seriam perfeitas e, por conseguinte,

também não o seria o próprio Criador. Certamente nenhum cristão

aceitaria a ideia de que o Filho de Deus tenha descido a essa Terra com a

deliberada intenção de burlar as leis de seu Pai. Muito pelo contrário, pois

ele mesmo asseverou ter vindo para cumpri-las, e não para revogá-las

(Mt5:17).

O que nós, seres humanos terrenos, temos de cuidar, e que constitui nosso

dever máximo nesta época de transição tão incisiva, é de promover a

ressurreição de nosso próprio espírito, fazendo-o renascer da indolência

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mortífera em que está mergulhado, redespertando e fortalecendo suas

capacitações adormecidas. Cada um de nós tem, pois, de promover a sua

própria Páscoa espiritual, e com a máxima urgência! Só assim poderemos

subsistir aos rigores desse final de inverno da existência humana, e chegar

redivivos à primavera da prometida Era de Paz que se anuncia, para

festejar com júbilo a grande Páscoa outorgada pelo Amor do Todo-

Poderoso.

Trata-se de um esforço que cada qual tem de realizar impreterivelmente,

totalmente só. Ele próprio tem de vencer todos os obstáculos internos e

externos, sem se importar com a incompreensão, escárnio ou zombaria

dos que consideram a matéria como realidade última. Realidade que para

eles é, de fato, a última, já que se excluem por si mesmos de

reconhecimentos mais elevados ao confiar integralmente apenas em seu

próprio raciocínio, que não está capacitado a assimilá-los absolutamente,

porque lhe são totalmente estranhos. E como não pode assimilá-los,

compreendê-los, esse raciocínio condena-os como impossíveis... Tão-

somente a intuição, a voz do espírito, pode reconhecer imediatamente

uma verdade quando se depara com ela, sem ter necessidade para tanto de

provas e contraprovas materialmente visíveis e palpáveis.

Apesar de saber que os mesmos sorrisos parvos mencionados no início

deste artigo estarão de volta agora inevitavelmente, quero dizer

simplesmente que foram ovos os que primeiro surgiram em nosso planeta,

há muitos milhões de anos. Nos primórdios, quando a Terra ainda era um

imenso campo de cultivo, preparada e fertilizada pelos incansáveis servos

enteais do Criador, os seres da Natureza, chegaram até aqui – no tempo

para isso determinado – sementes primordiais de vida vegetal e animal.

As sementes de animais eram abrigadas numa espécie de cápsulas, que

poderiam ser denominadas ovos primordiais. Sobre isso, os livros O

Nascimento da Terra e Os Primeiros Seres Humanos, ambos de Roselis

von Sass, fornecemm esclarecimentos incomparáveis.

A atual reprodução das espécies aqui na Terra, que se apresenta hoje na

forma dos óvulos e ovos que conhecemos, são efeitos diretos e distantes

daquela primeira semeadura de vida em nosso planeta, base para o

advento de todas as Páscoas futuras.

Que o ser humano espiritualizado, atualmente soterrado sob o jugo de seu

tirânico intelecto, possa ainda ressuscitar a tempo do caos que ele mesmo

formou e nutriu ao longo de milênios e, assim, festejar de modo vivo, para

sempre, a sua própria Páscoa.

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XIII

VIDAS SEM TRABALHO E TRABALHOS SEM VIDA

Parte 1

“Comerás o pão com o suor de teu rosto!” Parece claro hoje que esta

sentença nunca encerrou maldição alguma, mas uma bênção como poucas.

Mais até do que dignificar o homem, o trabalho é aquilo que dá sentido

propriamente à sua existência, é o que faz dele uma peça útil na

engrenagem da Criação.

Uma peça útil! Assim tem de se portar o ser humano dentro do grande Tear

de Deus. Como peça útil e necessária, sujeita a um processo contínuo de

aprimoramento, usinada e lubrificada pelas vivências que o trabalho

condiciona. Uma peça, naturalmente, pequena e limitada quando

comparada ao gigantesco conjunto da engrenagem universal, mas que

dispõe do admirável recurso de poder ajustar a si mesma ao longo de sua

vida útil, de corrigir eventuais falhas de origem e de se autocalibrar, de

modo a contribuir para o funcionamento harmonioso de todo o mecanismo.

Isso, se ela quiser, de fato, ajustar-se adequadamente a este mecanismo, o

que só é possível depois de conhecê-lo em detalhes, caso contrário ela mui

facilmente se deixará desregular e até trincar por qualquer trepidação mais

forte, acabando por tornar-se uma peça estorvante ao invés de útil,

completamente perdida dentro do imenso maquinário. Cabe, portanto, à

própria peça humana proceder ao necessário ajuste contínuo em si mesma,

para adequar-se ao movimento circunjacente. E tem de fazer isto enquanto

executa sua atividade, porque as engrenagens que mantêm tudo em

movimento na Criação jamais alteram seu ritmo sob nenhuma

circunstância, muito menos ainda são desligadas por qualquer motivo.

Peças defeituosas, que não querem mesmo adaptar-se, são simplesmente

lançadas fora de modo automático.

Não fosse essa dádiva chamada trabalho, que sempre teve sobre si o

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encargo de manter a raça humana em permanente movimento aqui na

Terra, em prol de sua subsistência corporal e de seu aperfeiçoamento

espiritual, ela já há muito teria se auto-extinguido, bem antes até do

término do prazo concedido para o seu desenvolvimento. Teria afundado

inteira na indolência mortífera, pela qual, aliás, sempre manifestou

incontestável e indisfarçável pendor. Se a vida pudesse ser realmente como

a maior parte das pessoas gostaria que fosse, ou seja, um “dolce far niente”

perpétuo, adviria logo a estagnação e com ela a doença e a morte, pois

outra coisa não pode surgir com o fim da movimentação. Não é

coincidência nem acaso, por exemplo, a ocorrência de tantas mortes,

aparentemente prematuras, pouco tempo depois da “conquista” tão

acalentada da aposentadoria, nos casos em que esses aposentados realmente

passam a exercer integralmente a profissão de administradores do ócio

remunerado. Ao desejarem “aproveitar” o resto da vida para descansar, eles

sem o saberem a encurtam de vez.

Tudo na vida é movimento. A própria vida o é. Movimento permanente,

ininterrupto, num equilíbrio contínuo entre o dar e o receber. (*) Deixar de

movimentar-se é dar, conscientemente, o primeiro passo para o

enrijecimento progressivo, estágio inicial do processo de morte. Equivale a

praticar um lento suicídio. Sem movimento, sem trabalho portanto,

ninguém pode viver, se pretender usufruir uma vida saudável e útil, em

consonância com as Leis da Criação.

Mas sendo o trabalho algo assim tão indispensável à natureza humana, qual

é a causa então de milhões, centenas de milhões de pessoas em todo o

mundo simplesmente não encontrarem ocupação? Por que o emprego,

pacto de vida e até de sobrevivência entre capital e trabalho, entre produção

e consumo, está em franco declínio em quase todos os países? Qual é, pois,

a causa real dessa tragédia global? O que se esconde atrás dos diagnósticos

e acima dos prognósticos de economistas e sociólogos, e que não é possível

abranger com análises intelectivas? O que provocou essa terrível doença

social, endêmica há poucas décadas e já pandêmica nos dias atuais?

Vamos partir de algumas premissas. Com um pouco de atenção (e isenção)

teremos de reconhecer que em todas as situações de vida em que surge um

desequilíbrio qualquer está sempre por detrás, como agente causador, a

mão do ser humano. Sempre. Em todas essas ocasiões, lá está ela

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despejando areia nas engrenagens perfeitas da Criação. Quer se trate de

fenômenos da Natureza ou relações humanas, onde surge algo perturbador

a causa é uma só: a interferência nefasta da criatura humana, única a dispor

de livre-arbítrio – contingência necessária a seu desenvolvimento espiritual

– e que faz dela também a única responsável por toda a desgraça, por todos

os males que assolam tanto seu ambiente como ela própria, porque utilizou

esta dádiva de poder decidir sempre em sentido diametralmente oposto ao

preconizado por Quem a concebeu e lha concedeu. Cada mal, cada

tragédia, cada descalabro teve sempre uma causa mais profunda, uma falha

anterior de origem espiritual que provocou então a inevitável ruína

subseqüente, visível e perceptível terrenamente.

Por isso, também já sabemos de antemão quem é o único culpado pela crise

de desemprego global e pela miséria sempre crescente. Só não é tão fácil

enxergar o que o ser humano fez de tão errado dessa vez para que as coisas

chegassem ao ponto que estão. Não é assim tão fácil reconhecer a falha

espiritual que acarretou um tal desequilíbrio entre o dar e o receber, a ponto

de tantos não disporem mais sequer do necessário à sua própria

subsistência. É difícil, porque em tudo procuramos ver apenas causas

exclusivamente terrenas, já que só distinguimos atualmente os últimos

efeitos, materialmente visíveis, de um falhar espiritual. As assim chamadas

causas econômicas, sociológicas e até antropológicas do desemprego não

são, na realidade, as verdadeiras causas, mas apenas efeitos de uma causa

primeira, maior e mais abrangente, de cunho espiritual.

Último alicerce a sustentar ainda a tênue paz social em que repousam

nações ricas e pobres, o nível de emprego submerge inexorável nesse

turbilhão pós-moderno e pré-catastrófico da economia globalizada,

afundando titanicamente sob o lastro da excessiva oferta de mão de obra e

da busca do lucro acima de tudo. Gente demais e cobiça demais a fazer

água por todos os lados...

Lucro e lucro! E lucro! Acima de tudo! Nunca, em tempo algum da

história, o Primeiro dos Dez Mandamentos foi tão criminosamente

desobedecido, tão acintosamente menosprezado, tão alegremente

escarnecido por uma criatura, como o foi pelo ser humano contemporâneo.

E, nunca, também, a humanidade inteira experimentou com tamanho

ímpeto e tão concentradamente as conseqüências nefastas de sua

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desoladora passagem pela Terra, frutos amargos que ela é obrigada a

consumir agora, provenientes de sua variegada semeadura má tão contrária

às disposições do seu próprio Criador. O descalabro econômico que ora

vivenciamos é apenas um desses frutos apodrecidos, um apenas, que nos

vemos forçados a deglutir na época atual, a época da ceifa.

O lucro como fim em si mesmo não gera prosperidade, não traz

movimentação benfazeja, pelo contrário, provoca somente estagnação por

toda a parte ao gerar apenas mais lucro ainda, numa absurda espiral ilusória

de riqueza, em tudo semelhante a uma Torre de Babel financeira, cujo fim

não será também mais radiante.

Um tal esforço convulsivo na obtenção do lucro pelo lucro é, no entanto,

apenas uma decorrência absolutamente natural do domínio irrestrito do

intelecto na vida humana, em detrimento do espírito. Como o intelecto é

um produto do cérebro, que nada mais é do que um órgão do corpo

material, ele só está apto a tratar da matéria e das coisa a ela relacionadas,

devido à sua própria constituição. Jamais poderá, portanto, servir como

guia absoluto para o ser humano, que é constituído de espírito

propriamente, e que por isso mesmo possui incumbências muito mais

elevadas, não podendo desperdiçar sua vida unicamente à cata de valores

terrenos, invariavelmente perecíveis e efêmeros.

O ser humano tão cheio de si e seu raciocínio descontrolado assemelham-se

a um garboso cavaleiro montado num cavalo bravio, que ele acredita já ter

domado há muito. O cavaleiro está orgulhoso das qualidades e do porte de

seu cavalo, absolutamente convencido de que este lhe é submisso, estando

sempre pronto a acatar suas ordens. Querendo mostrar então do que o

cavalo é capaz, ele o esporeia com toda a força e o deixa galopar sozinho,

com antolhos e sem rédeas, no caminho escolhido pelo próprio animal.

Todavia, ainda que tal caminho esteja repleto de perigos e leve direto para

um abismo, o cavalo xucro não se deterá diante de nada uma vez iniciada

sua corrida louca, acabando por perecer junto com seu desafortunado dono.

Desafortunado e bastante tolo também, é bom que se diga.

É precisamente isto o que o intelecto faz com o ser humano quando ganha

supremacia na vida dele, quando é por ele coroado e elevado a um trono de

soberano que não lhe cabe, usurpado do espírito. O domínio irrestrito do

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intelecto sobre o espírito, a preponderância do raciocínio frio sobre a voz

da intuição é, em última instância, o motor dessa tresloucada, dessa

desembestada corrida do lucro pelo lucro. É a causa principal, a verdadeira,

dessa competição insana, que jamais reverterá em qualquer progresso e em

nenhum bem estar geral. Muitíssimo pelo contrário. Trata-se de uma

corrida insensata, disputada entre contendores insensatos, que só faz

crescer ainda mais os níveis de desemprego, visto que o produto do

trabalho nunca será páreo para a lucratividade advinda da especulação, na

ótica míope da avaliação imediatista do raciocínio. Corrida gananciosa, de

máxima insensatez, onde só haverá perdedores cruzando a linha de

chegada.

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XIV

VIDAS SEM TRABALHO E TRABALHOS SEM VIDA

Parte 2

Vamos ver agora o que está por detrás da excessiva oferta de mão-de-obra

(tida como a segunda grande causa de desemprego no mundo), e analisar

como deve ser executado um trabalho qualquer em conformidade com as

Leis da Criação, para que o ser humano atue como um elemento

beneficiador e não como um torrão de areia dentro da engrenagem que a

movimenta, o qual, por fim, terá obrigatoriamente de ser lavado também

durante o processo de limpeza ora em andamento, para não danificar o

restante do conjunto da Obra.

À primeira vista parece que a humanidade sofreu aqui um golpe injusto do

destino, pois quem pode culpar quem ou o quê pela necessidade de

sustentar seis bilhões de almas? A quem cabe a culpa pelo número quase

inconcebível de habitantes neste planeta? Existiria, aliás, uma culpa por

esse desequilíbrio tão evidente?...

Naturalmente, existe uma culpa. E portanto também um culpado.

Novamente, e como sempre acontece em todas as distorções que surgem na

Natureza, a culpa cabe à própria humanidade. Uma culpa bem ampla na

realidade, muito mais ampla até do que se pode supor inicialmente,

ultrapassando de muito seus contornos mais exteriores não tão difíceis de

serem reconhecidos, como deficiências de informação, políticas

governamentais equivocadas, falta de educação básica, etc. É uma ampla

culpa, de caráter espiritual.

O completo domínio do intelecto sobre o espírito, desde milênios, fez com

que este último se enfraquecesse paulatinamente, em decorrência do natural

enrijecimento progressivo provocado pela falta de movimentação, a que foi

obrigado pelo seu verdugo racionalista. O espírito enfraquecido foi

perdendo assim, pouco a pouco, as ligações que mantinha com as alturas

luminosas, que era o seu destino final, tornando-se cada vez mais suscetível

a influências baixas. Através do afluxo contínuo dessas influências

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negativas, trevosas, as paixões humanas foram instigadas até não mais

poder, aí incluído o instinto sexual, que cresceu desmesuradamente até

atingir o estágio de doença incurável e contagiosa que se vê hoje. Essa

situação anômala, aliada à nefasta suposição secular de que a maternidade é

o ideal supremo da feminilidade humana (quando não é), aumentou em

muito os nascimentos terrenos.

Só que não ficou nisso. A preponderância da vontade má no ser humano,

decorrente da voluntária manietação do espírito e seu conseqüente

distanciamento da Luz, facilitou às almas que aqui se encarnavam

sobrecarregarem-se com novas culpas, sempre e sempre de novo. Ao invés

de utilizarem a vida terrena como um estágio necessário para a ascensão do

espírito, um degrau para a ascensão que ela de fato é, as almas se atavam

cada vez mais à matéria com suas ações e convicções erradas, e com isso

ficavam impossibilitadas de ascender. Tinham de voltar repetidamente à

Terra, para uma nova encarnação, em razão dos fios de culpa que haviam

adquirido em suas vidas anteriores. Através desse fenômeno antinatural,

não previsto, o planeta foi-se enchendo mais e mais, inclusive com

nascimentos em número cada vez maior de almas profundamente decaídas,

que já haviam sucumbido de todo àquelas influências trevosas e que se

encontravam até então em seus baixios correspondentes. Jamais essas

almas poderiam ter ascendido até esta Terra e a infestado por inteiro como

aconteceu, não fosse a ponte solicitamente estendida a elas pela sempre

crescente vontade má do restante da humanidade. E assim chegamos à

situação presente de superpovoamento global, em que milhões e milhões

estão aqui encarnados em condição de miséria extrema, por culpa própria,

totalmente excluídos da possibilidade de obter o seu próprio sustento.

A humanidade como um todo fez mal uso do livre-arbítrio. Julgou ser em

tudo auto-suficiente com suas limitadas capacitações cerebrinas e só

conseguiu colher desgraça sobre desgraça, como efeito natural e inevitável

de sua desobediência voluntária, consciente, às Leis estabelecidas pela

Vontade de seu Criador, a Quem ela não conhece mais.

Foram igualmente esses dois maiores inimigos da humanidade: o domínio

irrestrito do intelecto e a concomitante indolência do espírito, que cuidaram

de eliminar também todos os impérios que já passaram por aqui, tidos e

havidos como eternos em suas respectivas épocas, mas cujo apogeu nada

mais era no fundo do que uma mistura pútrida de cobiça, crueldade,

imoralidade e várias outras excrescências, encobertas todas com um verniz

de glória aparente, pintado pela violência e lustrado pela arrogância. Acaso

alguém supõe que agora, em nossa época, o processo será diferente? Vale

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lembrar que as Leis da Natureza são as mesmas de outrora, que elas são

imutáveis, eternas.

Essas Leis eternas, porém, sempre impulsionam tudo para o

desenvolvimento e o aperfeiçoamento. Única e exclusivamente. Desse

processo faz parte também a eliminação automática de todo o errado e

insano, seja em nações, povos, coletividades ou no próprio indivíduo. Por

essa razão, mesmo quando somos atingidos dolorosamente pelos seus

efeitos, estamos a receber bênçãos na realidade. Bênção para o espírito, que

é o que conta realmente. Para as pessoas ainda vivas em si, até mesmo a

dificuldade de obter um emprego pode ser útil, quando as obriga a encarar

a vida terrena e a época atual com a seriedade que lhe são devidas. Essas

pessoas boas, porém, podem ter certeza absoluta de que tal situação é

passageira, que não ficarão desamparadas se a sua vontade for realmente

pura, se o seu esforço em encontrar uma saída for incansável e, sobretudo,

se o seu anseio em melhorar como seres humanos for inabalável. Pois

mesmo na difícil situação de desempregado cada qual continua a forjar o

seu próprio destino, o seu futuro, segundo a sua maneira de ser e de atuar

no presente.

Uma vida cômoda é para incontáveis criaturas um enorme risco à

vivacidade de seus espíritos. A comodidade é para elas um veneno, porque

são fracas demais para se manterem ativas no espírito numa situação de

maior conforto, deixando-se de bom grado embalar por ele numa

sonolência entorpecedora. Acontece, porém, que a sonolência espiritual é o

primeiro degrau descendente rumo ao sono letal, à morte espiritual, o que

de mais terrível pode acontecer a um ser humano. Por isso, dificuldades

terrenas de qualquer espécie, mesmo sendo sempre efeitos de uma atuação

anterior contrária às Leis da Criação, são muitas vezes dádivas dos céus

quando atingem uma pessoa ainda boa em si, ao forçá-la a redirecionar seu

modo errado de viver e a se manter em contínua vigilância espiritual e

terrena, através de tão múltiplas e fortes vivências.

E mais importante ainda do que ter uma ocupação, é a maneira pela qual

exercitamos nossas funções dentro dela. Quantas pessoas não há que

possuem uma renda considerável, ou que ainda dispõem de um bom

emprego, de um bom salário, e no entanto executam suas atividades como

mero dever de ofício, mecanicamente, com o olhar e o pensamento

voltados exclusivamente para as horas futuras de lazer, quando então

poderão se ver livres do que consideram um fardo inevitável. São aquelas

eternas insatisfeitas, sempre dispostas a tornar um pouco mais amarga a

vida de seus semelhantes e a delas próprias.

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Com este modo de agir, porém, elas se excluem por inteiro das bênçãos

proporcionadas pelo trabalho. Alijam de si a alegria de executar suas

atividades com presteza e dedicação, pouco importando do que se trate.

Rejeitam a satisfação simples – mas indescritível em sua plenitude – de

contemplar com regozijo um trabalho bem feito. O seu próprio. Se não

podem sempre “fazer o que gostam”, então “não se sentem realizadas”,

conforme lhes ensinam não poucos manuais de auto-ajuda, verdadeiras

pragas escritas contra a felicidade. Sim, porque o verdadeiro lucro advindo

de um trabalho, assim como em tudo o mais, são as vivências

proporcionadas ao espírito humano durante a sua realização, pois

unicamente estas fazem-no amadurecer e ascender. A remuneração pelo

trabalho executado só é de proveito a uma pessoa aqui na Terra, mas as

vivências que adquiriu durante sua consecução ela leva consigo para o

outro lado, como legítimo substrato de sua existência, como verdadeiro

tesouro de sua alma.

Se as pessoas encarassem suas atividades profissionais, quaisquer que

sejam elas, como oportunidades preciosas de crescerem como seres

humanos, cientes de estarem contribuindo para o aperfeiçoamento do

mundo e delas próprias ao executarem-nas com dedicação, então a

insatisfação injustificada desapareceria logo, como que por encanto. A

insatisfação pelo trabalho deve ser creditada também às ponderações

intelectivas que nos assaltam, já que o intelecto só consegue eleger como

alvo máximo coisas pequenas, ínfimas mesmo, como alegrias e prazeres

passageiros. O que não se enquadra nisso ele classifica logo de indesejável

e inútil. E descarta. Por si só nunca chegará a compreender que o

verdadeiro valor de um trabalho está na forma como é executado.

A satisfação obtida pelo trabalho executado com presteza preenche o

espírito humano, faz com que ele se sinta, com todo o direito, uma peça

realmente útil e necessária na engrenagem que movimenta a Criação. Seu

trabalho passa assim a ter vida, torna-se realmente vivo, espiritualizado,

uma fonte de alegria constante para ele e seu ambiente. Uma alegria

genuína, perene, que se constitui na mais bela oração, no maior

agradecimento que ele pode ofertar ao seu Criador pela graça

incomensurável de poder existir.

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XV

OVELHAS NEGRAS, MÃES DE ALUGUEL

Depois do próprio choro, a

segunda coisa que um recém-

nascido é obrigado a ouvir assim

que aporta neste mundo tão

pouco acolhedor, são os

comentários de pais e parentes

sobre sua bagagem hereditária, já

nitidamente reconhecível no

corpo infantil. “Mas é a cara do

pai!”, diz o primeiro fatalmente;

“A boca é da mãe, não há dúvida!”, assevera outro; “Pode ser, mas a orelha

é do tio Fulano!”, retruca um terceiro. E por aí vai.

A partir dos primeiros anos da infância surgem então outras características

mais sutis, próprias do temperamento, reconhecidas igualmente como “de

família”. Um dos filhos, por exemplo, parece ser mais quieto, sempre com

aquele jeito meio taciturno do pai, ao passo que o outro dá mesmo a

impressão de ter saído à mãe, já que é bem mais falante. Ainda outros

aspectos, próprios da personalidade, manifestam-se paulatinamente ao

longo dos primeiros anos de vida.

Embora largamente conhecida e reconhecida, essa regra de hereditariedade

comportamental apresenta uma particularidade um tanto intrigante,

surpreendente mesmo: ela nem sempre funciona. De fato, às vezes

(muitíssimas vezes na realidade) ela falha fragorosamente, sem qualquer

explicação plausível. Quantos casos não há, por exemplo, em que numa

família de pais visivelmente bons, com um ou dois filhos também bons,

normais, surge um terceiro que é uma verdadeira peste, uma autêntica

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praga bíblica? Por quê, num caso desses, apenas os traços físicos

continuam sendo herdados, sem exceção, mas não as peculiaridades do

caráter? O que faz essa lei aparentemente descambar aí sem motivo e

produzir as famigeradas, as temíveis “ovelhas negras”, verdadeiros clones

de desgraça concentrada e de hospedagem compulsória?

Sempre que nos depararmos com alguma aparente incongruência no efeito

de leis naturais, temos de procurar a causa desse malogro em nós mesmos,

em nossa interpretação, e não nas próprias leis, que são absolutamente

perfeitas e que exatamente por isso jamais admitem qualquer falha, a

menor exceção, nenhum desvio.

A hereditariedade está adstrita ao corpo humano. Exclusivamente a este.

Trata-se de uma peculiaridade de ordem material, estritamente física.

Características corpóreas e predisposições genéticas podem, sim, ser

transmitidas de pai para filho, mas não a personalidade, não o caráter. Tais

atributos são exclusivos do espírito humano, angariados por ele mesmo em

sua peregrinação pela Criação, e por essa razão a própria alma já os traz

consigo por ocasião da encarnação.

A alma é o invólucro do espírito, assim como o corpo é o invólucro da

alma. Ambos os invólucros não têm vida autônoma, mas são apenas

vivificados pelo espírito, o único realmente vivo no ser humano, que, aliás,

é o próprio ser humano, aquilo que ele sente como sendo o seu “eu”.

O corpo infantil, portanto, nada mais é do que um invólucro material em

processo de desenvolvimento, que abriga uma personalidade humana já

plenamente formada, cujas características intrínsecas (boas ou más) tornar-

se-ão reconhecíveis quando o espírito se tornar apto a atuar neste mundo

através do corpo terreno já maduro, o que ocorre nos anos da adolescência.

Nesta época surge então o verdadeiro ser humano, como ele realmente é.

Pode-se dizer que é nesta época que o espírito humano nasce propriamente

para a sua atuação aqui na matéria. Antes ele não podia fazer isso, porque o

seu instrumento, o corpo terreno, ainda não estava plenamente

amadurecido, não estava “pronto” por assim dizer.

A hereditariedade é unicamente material. No máximo, pode-se divisar

alguns traços comuns de temperamento entre pais e filhos, mas não mais do

que isso. Traços de temperamento podem ser transmitidos por

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hereditariedade, porque ele, o temperamento, está estreitamente ligado ao

corpo, mais especificamente à composição do sangue. Mas mesmo nesses

casos o respectivo ser humano tem a possibilidade e até o dever de dominar

seus temperamentos, visto que o corpo é e permanecerá sempre apenas uma

mera ferramenta para a atuação do espírito. O espírito tem, pois, de

dominar o corpo, e não o contrário. Por essa razão, quando uma pessoa

afirma, com ar desalentado, não ter como evitar seus rompantes, já que

herdou tal destempero do pai ou da mãe, está na verdade fazendo uma

confissão aberta de preguiça espiritual. Mostra com isso ser

demasiadamente fraca para dominar a si mesma.

E como explicar então o aparecimento das ovelhas negras? Seria uma

loteria da natureza? Um azar do destino? Vamos começar descartando,

como já visto, aquela hipótese de uma falha nas leis da Criação e procurar

aprofundar nosso conhecimento sobre elas, de maneira a obter uma

interpretação correta dos seus efeitos.

Não existem acasos numa encarnação, assim como não existem acasos em

fenômeno algum da natureza. Uma alma não pode se encarnar num

determinado lugar, numa certa condição material e numa família específica

se não tiverem sido satisfeitas as disposições para isso, determinadas por

leis primordiais. Uma encarnação é o resultado final de múltiplas

contingências, determinadas por fios do destino que se sobrepõem e se

entrelaçam, urdidos em vidas terrenas anteriores, assim como pela

concomitante atração da alma pela sua espécie igual. Justamente essa

atração da igual espécie constitui uma lei fundamental da Criação, de

especial importância numa encarnação.

A alma prestes a encarnar é assim atraída para aquele local, para aquela

família cujas pessoas têm afinidades anímicas com ela. Força especial de

atração exercem justamente as fraquezas, porque são elas que precisam ser

dirimidas numa vida terrena. Desse modo, cada vida aqui na Terra é uma

oportunidade sem igual para se corrigir antigos erros, sobrepujar fraquezas

e evoluir espiritualmente. A vida terrena é, portanto, uma autêntica dádiva

dos céus.

Mas exteriormente parece haver realmente uma hereditariedade espiritual,

quando se nota que uma criança puxou uma determinada característica de

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comportamento do pai ou da mãe. Na realidade, porém, foram os pais que

propriamente “puxaram” aquela alma específica para dentro da família,

conforme suas próprias características anímicas. Não é difícil compreender

que a gestante, especialmente, possui uma força incisiva de atração, já que

a alma vai se encarnar no corpo em formação dentro dela.

Por isso, também não é difícil entender que mães com características

anímicas negativas não podem absolutamente atrair uma alma muito pura,

um ser humano bom e elevado. Ela e o seu companheiro têm, pois, de

receber em casa um hóspede com vícios e pendores. Com vontade boa

ambos os lados, pais e filhos, têm ensejo de vivenciar seus próprios erros

uns nos outros, nessa convivência difícil, e eventualmente até de remi-los

se estão realmente empenhados em melhorar como seres humanos. Com

vontade má, porém, essa situação os faz angariar ainda novas culpas por

cima das antigas, e conseqüentemente novos sofrimentos. Sofrimentos e

dores renovados, angariados por culpa própria portanto. Sempre e

unicamente por culpa própria.

No caso de ovelhas negras de pais bons, o que acontece é que durante a

gestação a mãe se permitiu rodear de pessoas animicamente pouco limpas

em seu convívio social, consentindo que essas exercessem uma tal força de

atração em volta dela que apenas uma alma turva pôde encarnar-se ali. Esta

consegue então ancorar-se na mãe através da presença constante daquelas

pessoas de características negativas.

A encarnação ocorre no meio da gravidez. Por isso, até essa época a

gestante deve observar o máximo cuidado em suas relações pessoais. Na

verdade deve observar sempre, mas o descuido nisso até a metade da

gestação vingar-se-á amargamente no futuro. O fruto de seu ventre será

também o de sua própria negligência. Quão amargo é, ela saberá na época

da maturação, na adolescência.

Essa força de atração na encarnação, infelizmente desconhecida e por isso

mesmo desconsiderada, explica também as aparentes incongruências no

comportamento de tantas das assim chamadas “mães de aluguel”. Essas

locadoras de úteros oferecem gestação para um casal impossibilitado de ter

filhos, devido a um problema qualquer. O óvulo da mulher que não pode

engravidar é fertilizado “in vitro” com o espermatozóide do companheiro e

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posteriormente implantado na mãe de aluguel.

Para todos os efeitos, a criança assim gerada seria então realmente filha do

casal contratante, já que a carga genética dela provém de ambos. Mas

apenas o corpo, o invólucro da alma, é formado segundo os padrões

genéticos do casal. O espírito que vai se encarnar ali é atraído

infalivelmente pela própria mãe de aluguel, sendo, portanto, filho dela

efetivamente. Pode tratar-se, por exemplo, de um ser humano ligado por

vários fios cármicos àquela mãe de aluguel, sejam eles bons ou ruins,

tecidos em vida anteriores. Por isso, em muitos casos, a mãe de aluguel se

desespera quando se vê obrigada a entregar o seu filho – que está de fato

ligado a ela – a uma estranha, que geralmente não contribuiu no processo

de atração. O contrato terreno, frio, analisado rigorosamente pelo intelecto

restrito, atesta que o filho é do casal, enquanto que a mulher que deu à luz

sente perfeitamente que o filho é seu, pois sua intuição em relação a esta

certeza é muito mais forte do que qualquer argumento legal ou

consideração racional.

Assim como nesses casos de ovelhas negras e mães de aluguel, muitos

outros enigmas da atualidade, tidos como indecifráveis, encontram uma

explicação simples e lógica quando se conhece os efeitos das Leis da

Criação. Uma dessas Leis, a Lei do Movimento, exige que cada qual se

movimente espiritualmente por si, em busca do reconhecimento da atuação

dessas mesmas Leis. Quem então se movimentar realmente, este então tem

de chegar ao reconhecimento dessas leis que regem a Natureza. Nem é

possível diferentemente. Mas somente quem procura, encontrará.

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XVI

A FALÁCIA DA PERSONALIDADE HEREDITÁRIA

Um grupo de pesquisadores da Universidade de Minnesota estudou a vida

de 8 mil pares de gêmeos durante vinte anos, na tentativa de descobrir a

influência da hereditariedade na formação da personalidade humana.

Especial atenção foi reservada aos casos de gêmeos idênticos separados

pouco depois do nascimento, e que na vida adulta acabaram se

reencontrando. Segundo os cientistas, as semelhanças comportamentais

verificadas nesses casos devem ser atribuídas a fatores genéticos e não a

circunstâncias externas, já que ambas as pessoas possuem idêntica carga

genética e sofreram influências ambientais distintas.

O número de vezes que uma determinada característica se repetia nesses

pares de gêmeos, em relação ao total de grupos pesquisados, foi

considerado então como o percentual de influência genética para o

desencadeamento dessa característica. Assim, a felicidade ficou definida

como um sentimento 50% genético, já que do total de pares de gêmeos

pesquisados que se reencontraram, metade se declararam felizes. A

ansiedade e a susceptibilidade, por sua vez, demonstraram ter um padrão

genético de 50% e 60% respectivamente. Já a agressividade apresentou um

componente genético tão preponderante, que o estudo chega a sugerir que a

criminalidade pode, de fato, ser transmitida de pai para filho... Algumas

patologias também foram definidas como hereditárias por esse critério. Os

pesquisadores mostram-se tão seguros dos resultados obtidos que descem a

algumas firulas de extrema ousadia, como a afirmação de que “o hábito de

consumir café é mais facilmente herdado que o de tomar chá”, o que talvez

possa ser explicado pela injustificada ausência de gêmeos ingleses no

universo pesquisado. Em suma, o estudo quer fazer crer que todas as

coincidências encontradas nas personalidades dos gêmeos têm,

necessariamente, de estar relacionadas à atividade de um gene comum.

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Esse “necessariamente” é encontrado com bastante freqüência em trabalhos

científicos, estampado estrategicamente aqui e acolá como um escudo

contra intromissões indesejáveis. Assim como outros escudos adverbiais

semelhantes, também este tem a função de encobrir a ignorância, seja ela

consciente ou não. Trata-se de uma espécie de anteparo protetor, até bem

eficiente para rechaçar alguns tímidos questionamentos ou dúvidas, mas

que se mostra extremamente frágil quando atingido por um olhar indagador

penetrante, que o atravessa como se não existisse e vê com total clareza o

que se esconde por detrás dele: a incrível restrição inerente ao assim

chamado “método científico”.

Um método na verdade por demais limitado, que em tudo só pode

distinguir meros efeitos físicos, que só está apto a discernir e assimilar –

devido à sua própria constituição material – contingências terrenais

unicamente. Um método tão restrito quanto prepotente, pois tudo quanto

está acima dos conceitos terrenos de tempo e de espaço, tudo quanto não é

terrenamente visível e palpável, tudo, enfim, que lhe é de antemão

inatingível por natureza, ele arrasta à força para dentro do seu estreito

campo de atuação e visão, sem medir conseqüências, comprimindo-o nas

suas diretrizes tão limitadas, tão delimitadas, a fim de torná-lo mais ou

menos compreensível.

Pouco importa aí que se incorra em erros crassos, inevitáveis quando se faz

uso desse método para analisar fenômenos que se desenrolam além da

possibilidade de assimilação da ciência terrena. Para os auto-obliterados

seres humanos de raciocínio da época atual, uma tentativa de explicação

superficial já é plenamente suficiente, já lhes basta. Desde que, é claro, ela

esteja necessariamente inserida numa teoria científica qualquer, o que lhe

granjeia imediata credibilidade e a iça ao patamar de “verdade provisória

inquestionável”, titulação necessária e suficiente para fazer jus à admiração

indiscriminada da comunidade científica e à idolatria irrefletida da legião

de adeptos.

No meu artigo “Ovelhas Negras, Mães de Aluguel”, afirmei que diversas

contingências contribuem para a efetivação de um nascimento terreno. O

acaso, porém, não é uma delas.

As muitas coincidências verificadas nas vidas dos gêmeos apenas indicam

que essas pessoas formaram o seu destino de maneira muito semelhante,

através de seu atuar em outras vidas. Por conseguinte, puderam se encarnar

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nas mesmas circunstâncias terrenas nesta atual vida, recebendo

freqüentemente na mesma forma o efeito da reciprocidade de suas ações.

Se 50% dos gêmeos pesquisados são felizes, então significa simplesmente

que metade deles formaram o seu destino de tal forma que puderam ser

felizes nesta atual vida terrena. Será uma lastimável perda de tempo

continuar a desenrolar o DNA humano na tentativa de se encontrar um

gene desencadeador da felicidade. Não se achará nada aí. Somente o

espírito humano, como único realmente vivo, tem a prerrogativa de buscar

e encontrar a felicidade, e não o corpo terreno, que nada mais é do que um

invólucro do espírito, uma simples ferramenta para utilização na vida

terrena. O mesmo se dá com as demais características supostamente

herdadas, apontadas no estudo.

Por isso, ninguém tem motivo para agradecer nem direito de lamentar a

própria carga genética pela manifestação de uma característica boa ou má

da personalidade. Quem quiser conhecer a origem propriamente da

formação da personalidade tem de ir mais fundo em sua busca, acima e

além do mero invólucro material chamado “corpo”, tantas vezes

confundido com o verdadeiro “eu” do ser humano. O sentimento do “eu”

provém do espírito exclusivamente, é o próprio espírito, único responsável

pela formação da personalidade e de tudo quanto atinge a criatura humana,

quer sejam coisas boas ou más, quer se efetivem já aqui na Terra ou

somente no “além”.

Certamente muitos males corpóreos apresentam um grau maior ou menor

de predisposição genética, ou são mesmo integralmente hereditários. Isso,

porém, não significa que padecer ou não deles seja uma loteria, pois nada

existe que possa atingir o ser humano sem que ele mesmo tenha dado a

causa. Não existem acasos nos efeitos das leis que regem a Criação.

Crianças portadoras de doenças hereditárias foram atraídas animicamente

na encarnação justamente para pais capazes de transmitir uma tal doença a

seus descendentes. O carma anímico formou a ponte de atração para

aqueles pais. E muitas vezes a alma encarnada traz no corpo terreno apenas

o risco, herda apenas o perigo de contrair uma determinada doença pela

predisposição genética, a qual pode ou não efetivar-se segundo

determinadas circunstâncias.

Tais circunstâncias, mais uma vez, são estabelecidas pela própria conduta

de vida dessas pessoas. É o caso, por exemplo, da eclosão ou não do câncer

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pela ação dos assim chamados “oncogenes”, eles mesmos podendo ou não

surgir dos “protooncogenes”. A ciência já sabe que quando ativados os

oncogenes desencadeiam o câncer, mas nem desconfia que está nas mãos

da própria pessoa, exclusivamente, permitir ou não que isso ocorra, não

apenas como decorrência do seu modo de vida exterior, mas,

principalmente, pela sua vida interior.

Um carma pesado, pronto a se efetivar integralmente através de uma

doença séria, não precisa abater-se com toda a sua potencialidade sobre

uma pessoa. Mesmo numa situação de perigo como esta a criatura humana

não fica desamparada, não se encontra indefesa. Mesmo aqui é ela própria

a determinar sua senda, a fornecer os fios com que o tear da Criação tece o

tapete do seu destino. Se ela se esforçar realmente em melhorar em tudo,

em purificar a sua vontade, seus pensamentos, suas palavras e ações, se

procurar enobrecer tudo o que com ela entra em contato, então não

concederá mais nenhuma ancoragem para a efetivação integral de um

carma grave.

Como ela melhorou por esforço próprio, como ascendeu espiritualmente de

patamar, então também não tem mais em si a mesma espécie do retorno

cármico ruim. Não pode mais ser atingida integralmente pelo carma ruim a

ela ligado, pelo simples fato de que espiritualmente não se encontra mais lá

em baixo, naquele mesmo nível de quando o gerou por meio de uma

atuação errada qualquer. O efeito cármico danoso só poderá assim atingi-la

de modo muito enfraquecido, bastante atenuado, simbólico até, com o que

então será remido da mesma forma. E carma remido significa culpa

expiada! Outro caminho não há para o perdão dos pecados.

A atração da igual espécie – uma das leis da Criação – co-participa também

aqui automaticamente, cuidando para que o efeito retroativo seja justo até

as minúcias neste processo. Quanto melhor um ser humano tornar-se

interiormente, tanto menos será ele atingido por efeitos cármicos ruins, seja

em quantidade, seja em intensidade.

Mais uma vez se reconhece que tudo, mas tudo mesmo, está sempre nas

mãos do próprio ser humano. Unicamente ele é senhor do seu próprio

destino, unicamente ele decide o que vai encontrar em sua peregrinação:

dor ou alegria, sofrimento ou felicidade, perdição ou salvação. Ele decide,

ele planta, ele colhe.

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XVII

O QUE VEM DEPOIS DA MORTE?

Para quem se

contenta com

respostas prontas

para as questões

fundamentais da

existência humana,

também aqui, como

em tudo o mais, não

precisará fazer

nenhum esforço de

aprofundamento

interior. Só terá o trabalho de escolher. Pois cada religião, seita ou filosofia

já tomou a si esse encargo e pôs a disposição dos interessados uma

concepção toda particular da vida após a morte, a qual acaba valendo

automaticamente para bem determinadas regiões do globo, segundo a área

geográfica em que essa crença se disseminou. Assim, à parte incontáveis

nuances de denominações e interpretações, a maioria dos ocidentais irá

para algum lugar semelhante ao céu ou ao inferno, conforme tenha seguido

ou não as diretrizes de sua crença, enquanto que os orientais se desfarão em

alguma espécie de nirvana ou se encarregarão de velar pelos que ficaram

no mundo dos vivos. Já os materialistas, que apesar de apátridas espirituais

são contados aos milhões em todos os países da Terra, vão ao encontro do

ansiado (por eles) “nada absoluto”.

No extremo oposto estão aqueles que devotam sua vida em busca da

solução dos mistérios insondáveis da vida e da morte, mas que o fazem

apoiados exclusivamente no raciocínio, o que já impossibilita de antemão

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qualquer reconhecimento mais elevado. Como o raciocínio nada mais é do

que um produto do cérebro terreno, ele nunca será capaz – em razão de sua

própria constituição – de perscrutar coisas que estão acima dos conceitos

terrenos de espaço e de tempo. Por isso, os que fazem parte desse grupo

não estão em melhores condições do que os primeiramente mencionados,

que aceitam placidamente, apaticamente, qualquer esclarecimento

transcendental através de terceiros. Nenhum doutorado em teologia serve

de salvo-conduto e muito menos de escolta para o além.

Ambos os grupos, na realidade, comungam do mesmo mal, denominado

“crença cega”. Denominação essa, a bem dizer, apropriadíssima, já que

nenhum dos seus integrantes consegue realmente ver através dos antolhos

impostos por uma crença ou estudo rígido, sem vida, edificados

exclusivamente sobre ponderações intelectivas. Já em relação aos

materialistas não se trata propriamente de antolhos, mas de uma mortalha

espiritual tecida com espantoso afinco por eles mesmos, com a qual se

envolvem dos pés à cabeça para desfilar pela vida com mal contido

orgulho. Não há realmente porque perder tempo nem palavras com esses

tais, que diligentemente cavam a sua própria sepultura espiritual. Que

prossigam, pois, nessa sua tarefa que lhes parece tão importante, tão

edificante, de se enterrarem mutuamente na cova coletiva.

Somente uma parcela ínfima da humanidade encontra-se em condições de

perscrutar realmente o que a aguarda do outro lado da vida. São aqueles

poucos que ao invés de se curvarem às imposições do cérebro seguem

altivos os ditames do coração; são os que procuram ouvir e seguir a voz de

seu íntimo, a intuição, em contraposição às ordens do raciocínio. São os

que em matéria de fé só aceitam aquilo que podem compreender, e que

somente assim permitem que se torne vivo dentro deles. São aqueles

efetivamente donos de si mesmos, de seu próprio destino, mas não escravos

do intelecto ou de dogmas rígidos. E estes assim libertos são poucos.

Infelizmente.

Mas são justamente estes que intuirão, com certeza cristalina, que cada

qual por fim só poderá encontrar do outro lado aquilo que ele mesmo

forjou para si, através de tudo quanto dele emana, quer se trate de

pensamentos, de ações, ou da vontade interior. Nada diferente disso.

Saberão, com toda a clareza, que na outra vida simplesmente não pode

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haver mais nenhuma distinção nem separação de credos de qualquer

espécie, nenhuma diferenciação engendrada pelo raciocínio terreno. Lá não

há mais ideologias, não há mais hinos nem bandeiras, não há mais dinheiro

nem honrarias. Não há mais cristãos, judeus, muçulmanos, espíritas,

hinduístas, budistas ou xintoístas, mas tão-somente almas humanas,

simples almas humanas que têm de prestar contas de como utilizaram o

tempo a elas outorgado aqui na Terra.

Lá não conta mais nenhuma forma exterior de crença cega, mecanicamente

decorada, mas apenas a verdadeira crença interior, e na medida exata em

que esta é realmente viva no respectivo espírito humano. É o conteúdo, e

não a forma, que conta. Naquele mundo o que vale é a legitimidade da

veneração ao Criador e a vivacidade da gratidão para com Ele, e não a

quantidade de orações recitadas durante os anos terrenos. O que tem valor

lá é o verdadeiro amor ao próximo, profundamente intuído, e não o número

ou valor das esmolas distribuídas na Terra, como supõem tantos em sua

tola esperança, não confessada, de que estas lhes devam ser creditadas de

alguma maneira na outra vida, como um investimento metafísico de retorno

garantido.

Unicamente uma crença viva, vivificada pela própria pessoa, pode

transformar-se em convicção, e unicamente a convicção íntima é capaz

impulsioná-la a ascender espiritualmente, a tornar-se um ser humano

sempre melhor, preceito que, aliás, sempre foi o fundamento de toda

doutrina verdadeira. Somente mais tarde, quando os seguidores e dirigentes

dessas puras doutrinas originais resolveram “aperfeiçoá-las” por conta

própria, é que este ensinamento tão fundamental foi relegado para o

segundo ou até terceiro planos, ou mesmo completamente suprimido. Em

seu lugar foram então inseridas as formas vazias de crença cega, que não

exigem nenhum esforço de aperfeiçoamento interior e que por isso mesmo

sempre receberam calorosa acolhida por parte dos adeptos, em razão de sua

crônica indolência espiritual. A cantilena milenar dos dogmas cuidou de

embalar seus espíritos, já semi-adormecidos, num seguro sono de morte

espiritual.

Somos nós, nós mesmos que produzimos o material com que é formado o

mundo em que adentraremos após a nossa morte. Esse material de

construção de que dispomos são as ações, os pensamentos e as intuições.

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São esses os tijolos invisíveis com os quais é construído o tão temido

“além”. E não é possível ascender a outros planos da Criação sem entrar

primeiro neste mundo e lá permanecer durante algum tempo, mundo este

que se encontra mais próximo da nossa Terra de matéria grosseira.

Também só estará apto a prosseguir na ascensão espiritual, até o Paraíso,

quem puder entrar num mundo belo, correspondentemente mais elevado,

construído em conformidade com as leis da Criação, que tudo impulsionam

para o desenvolvimento e o aperfeiçoamento.

Essas leis da Criação, ou leis naturais, são de tal simplicidade, são de

tamanha lógica e clareza, que fogem à compreensão do ser humano

moderno. Sim, são tão simples que ele não é mais capaz de compreendê-

las, impedido que está pelos sofismas de seu raciocínio. E, no entanto, elas

perfluem toda a Criação, atuando por conseguinte também aqui embaixo,

em nosso pequeno planeta, com idêntica inflexibilidade, imperturbáveis,

em seu ritmo eternamente uniforme. Se nos esforçássemos em afastar para

o lado aqueles antolhos, por pouco que fosse, de modo a poder perscrutar

com espírito livre essas leis da Criação, já seria possível reconhecê-las sem

maiores dificuldades.

Sabemos, por exemplo, que numa plantação de arroz não pode brotar

nenhum ramo de trigo, e que numa de feijão jamais surgirá um grão de

soja. Por isso, se semearmos cardos estamos certos de que não poderá

surgir dessa semeadura nem uma única flor sequer. Disso ninguém duvida,

de tão óbvio. Contudo, a mesma lei natural que atua aí de modo tão

implacável, não admitindo o menor desvio em seus efeitos, essa mesma lei

age igualmente sobre o ser humano. Nem poderia ser diferente, já que ele

nada mais é também do que um mero fruto da Criação, como tantos outros.

Quando Jesus pronunciou a sentença: “O QUE O SER HUMANO

SEMEIA, ISSO ELE COLHERÁ”, estava transmitindo o enunciado dessa

lei, denominada “Lei da Reciprocidade”. Essa lei da Criação, que atua tão

inflexivelmente em relação às sementes produzidas pela Natureza, a ponto

de nem nos darmos conta dela, atua também com a mesma inflexibilidade,

com a mesma segurança e implacabilidade em relação às sementes

produzidas pelo próprio ser humano, que são as suas intuições, seus

pensamentos, suas palavras e suas ações.

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Essas sementes humanas são igualmente plantadas no “outro mundo”, de

consistência material diferente, mais fina, produzindo também os

respectivos frutos, que terão de ser colhidos e degustados obrigatoriamente

pelo dono da sementeira, isto é, por quem as gerou. O que este gerador não

colher aqui na Terra, como efeito retroativo dessa mesma Lei da

Reciprocidade, colherá infalivelmente nesse assim chamado “além”. Após

a sua morte ele terá de ir então para o mundo que ele próprio ajudou a

formar, através dos efeitos irretorquíveis das leis da Criação, usufruindo

alegrias ou padecendo tormentos, lado a lado com almas da mesma espécie

que a dele.

Por isso, está nas mãos do próprio ser humano não apenas forjar o seu

destino aqui na Terra, mas também escolher categoricamente que tipo de

mundo irá habitar depois da morte. Ele mesmo cria para si este mundo de

acordo com a sua semeadura, o qual pode ser então agradável, cálido, cheio

de luz e alegria... ou o próprio inferno.

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XVIII

AS CHAMAS QUE CONSOMEM O MUNDO

Para quem cultiva o destemido hábito de

acompanhar com atenção os

acontecimentos mundiais, há de ter

causado espanto observar a lista de títulos

superpostos com que o ano de 2001 foi e

continua sendo laureado. Assim, ele foi o

“ano que entrou para a história”, o “ano-

tragédia”, o “ano que marcou o início do

século XXI”, o “ano-sangrento”, entre

outros epítetos igualmente superlativos.

O espanto não é suscitado propriamente

pelos acontecimentos, sem dúvida

trágicos, que marcaram o fatídico, semi-apocalíptico ano de 2001, e que

abalaram tantos corações e mentes em todo o mundo. O que seguramente

deixou espantado qualquer observador atento foi constatar que essas

classificações só ocorreram agora, em que a nação americana foi tão

duramente golpeada pelo terrorismo e arrastada a um imbróglio político-

religioso-militar de conseqüências francamente inimagináveis, ou, melhor,

que nem queremos imaginar. De fato, tudo indica que o revide de Tio Sam

não se limitará ao desmantelamento de uma rede terrorista, mas que se

voltará agora contra o recém-eleito “Eixo do Mal”, ou então contra outros

Eixos desse mesmo naipe, que de tempos em tempos teimam em se

levantar contra os idolatrados valores democráticos. Sim, é inquestionável:

o ano de 2001 foi realmente um “ano-tragédia”.

Acontece que o ano de 2000 também foi trágico. Foi marcado por guerras

fratricidas que dizimaram milhares e milhares de pessoas em todo o

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mundo; registrou o mais inquietante avanço da AIDS de até então, em sua

sinistra tarefa de varrer nações africanas de seus habitantes; viu países

serem convulsionados por catástrofes climáticas sem precedentes;

constatou o aumento avassalador das doenças ditas psiquiátricas, como a

depressão e a síndrome do pânico, que cuidaram de dilacerar

impiedosamente inúmeras almas angustiadas; observou, impotente, o

metódico crescimento da fome, da miséria e da desesperança no planeta,

assim como o feroz irromper de moléstias que se julgavam extintas há

muito, ou, pelo menos, razoavelmente controladas.

O ano de 2000 foi, portanto, bastante trágico. Assim como o foram, a seu

modo, os anos de 1999, 1998 e 1997. Na verdade, toda a década de 90 foi

trágica. E se fizermos uma retrospectiva rigorosa, verificaremos que a

década de 80 foi igualmente marcada por tragédias sem precedentes até

então. O mesmo se verifica com a década de 70...

O rol das tragédias humanas não deu até agora nenhum sinal de

esgotamento, ao contrário, estas apenas mudaram de patamar,

recrudescendo em quantidade e intensidade ao longo das últimas décadas.

Aqueles que até há pouco ainda defendiam alegremente o ingênuo conceito

de “fim da história” (indisfarçável exteriorização de um anseio íntimo), já

devem estar bem desapontados nessa altura dos acontecimentos. Ao

contrário do que imaginavam, o patético desfecho de uma das grandes

tragédias contemporâneas, o comunismo, não sinalizou o “fim da história

humana”, mas sim o iminente “fim da história da humanidade”. Uma

diferença nada sutil, que não se restringe a uma mera questão de semântica.

Pois não é a história que vai acabar, e sim a própria humanidade, esta

humanidade atual, é que está com seus dias contados...

2001 “entrou para a história” porque, desta vez, uma das inúmeras

tragédias que vêm assolando diariamente o mundo há décadas se abateu no

coração da pátria americana, e não no quintal de seus vizinhos africanos e

asiáticos. Se uma outra tragédia de grandes proporções se abater em algum

dos países da comunidade européia, então o respectivo ano em curso

seguramente também “entrará para a história”, ao lado do pioneiro 2001.

Para a mídia, governos e povos, o que parece ditar a dimensão de uma

tragédia é basicamente o local onde ela ocorre, e não sua magnitude.

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Contudo, os anos que temos pela frente também entrarão para a história, na

concepção primeiro-mundista. Angariarão para si esse duvidoso status ao

retribuírem à humanidade inteira um sofrimento cada vez maior, crescente

ano após ano, o qual não mais poderá ser escamoteado por ninguém. Um

sofrimento coletivo que já vem, sim, aumentando imperturbavelmente há

décadas, como efeito recíproco da conduta errada do ser humano ao longo

de milênios, em sua atuação diametralmente oposta à preconizada pelas

Leis que regem a Criação. Um sofrimento atroz, justo, cada vez mais

intenso, que tal como uma trombeta do Juízo Final ainda procura despertar

uma parte da humanidade de seu profundo sono espiritual. Pois apenas um

ser humano desperto espiritualmente pode transpor conscientemente as mós

da Justiça divina.

Do ponto de vista das Leis naturais, o ser humano é apenas uma criatura

que não deu certo, ou, melhor dito, que não quis dar certo, já que sempre

dispôs de seu livre-arbítrio e de auxílios quase indescritíveis para trilhar o

caminho verdadeiro. A criatura humana, porém, rejeitou invariavelmente

todos os auxílios e prosseguiu cegamente em seu desenvolvimento errado.

Desse modo, ela se apresenta hoje diante da natureza como uma espécie

nociva, que por essa razão necessita ser exterminada, para que a Criação

como um todo não sofra permanentemente.

Trata-se de um processo de limpeza em âmbito planetário. É como se o

mundo inteiro estivesse sendo consumido por um incêndio descomunal,

depurativo, que se alastra por toda a parte de modo devastador,

consumindo impiedosamente todo o mal por meio de chamas trágicas.

Chamas em forma de tragédias. E as labaredas desse incêndio gigantesco

são continuamente reavivadas pelo vendaval do mau querer humano

remanescente. Assim, é a própria humanidade que força sua inevitável

destruição. O fogo queima e destrói o próprio mal que o gerou e que ainda

o nutre. São, portanto, chamas purificadoras, e nada nem ninguém será

capaz de apagá-las. Elas só se extinguirão quando todo o mal tiver sido

erradicado da Terra, seja lá onde for que tiver se aninhado: na política, na

religião, na economia, nos povos, nas comunidades, nas famílias e no ser

humano individualmente.

Somente quando todo o mal tiver sido completamente calcinado, é que a

paz verdadeira poderá emergir finalmente, sem risco de ser novamente

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dilapidada por uma criatura transviada. Será então a época da aurora do tão

ansiado Reino de Paz de Mil Anos... Até lá, porém, muita obra humana

ainda terá de ser reduzida a cinzas.

Quando esse inconscientemente almejado Reino do Milênio estiver

implantado, a Terra estará parcamente habitada. Constituirá morada

unicamente para aquelas pessoas que, voluntariamente e em tempo certo, se

deram ao trabalho de purificar seu querer, seus pensamentos e suas ações,

de modo a poderem suportar as chamas purificadoras do Juízo Final. Quem

sobreviver, verá.

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XIX

O Enigma do Homossexualismo

Assunto delicado este. Sem dúvida um dos mais

incompreensíveis e incompreendidos temas a

reclamar uma explicação coerente.

Vamos deixar de lado as reações extremadas, que

não por acaso são as que mais se afastam de uma

conceituação acertada, justamente porque

equilibrada. Pois é desalentador observar essa

espécie de dicotomia maniqueísta, onde em

alguns países a prática homossexual é punida

com a morte, e não só do corpo como também da

alma, compelida a arder no inferno segundo os doutos inquisidores atuais,

enquanto que em outros, no extremo oposto, os casais homossexuais são

contemplados com bênçãos nupciais estatais, incentivados a “assumir sua

condição” e a usufruir todos os direitos legais. Essas posições tão díspares

entre si apenas comprovam que a incompreensão nesse campo é total.

Vamos, ao contrário, entrar no âmago propriamente do problema, descobrir

as verdadeiras causas que levam uma pessoa a sentir atração por outra do

mesmo sexo. Para tanto é preciso saber, antes de mais nada, que esta não é

a primeira vez que pisamos na Terra. Cada um de nós já esteve várias vezes

aqui, ao longo de múltiplas vidas terrenas, vivenciando alegrias e tristezas,

vitórias e derrotas, aprendendo com ambas, com vistas a um contínuo

aperfeiçoamento espiritual.

Quem não pode aceitar a verdade cristalina da reencarnação, este já afasta

de antemão qualquer possibilidade de um reconhecimento da verdade. Para

este, o homossexualismo continuará sendo um enigma indecifrável, assim

como todas as aparentes injustiças terrenas. Resignado, passa pela vida

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como um auto-míope espiritual, incapaz de discernir as reais conexões que

moldam o destino humano.

E, no entanto, foi ele mesmo que se excluiu da compreensão dos

verdadeiros fenômenos, ao se deixar obliterar por dogmas rígidos, à

semelhança de um escravo que permite ou até insiste que lhe vistam

antolhos. Antolhos de chumbo, forjados na bigorna da indolência espiritual

e mofados durante séculos nas catacumbas da incompreensão religiosa...

Assim é que, vergado pelo peso de seus antolhos dogmáticos, o doutrinado

escravo hodierno se mostra pronto a acolher as mais estapafúrdias

explicações sobre o homossexualismo, tais como: “doença mental”,

“provação divina”, “anomalia genética”, “possessão diabólica” e outras

tolices de nível equivalente. É o que seus antolhos lhe permitem enxergar...

O ser humano é um ente espiritual, que se encarna várias vezes na Terra

com vistas à sua indispensável evolução. Durante esse processo de

encarnações sucessivas ele é genericamente chamado alma. A alma

também pode ser vista, mais apropriadamente, como um corpo mais fino

do espírito, um invólucro especial de que ele se serve no assim chamado

“além”. A alma que se reencarna é, portanto, sempre a mesma; o que muda

nas múltiplas vidas terrenas é apenas o seu manto mais externo, a “roupa”

que ela veste em cada encarnação, a qual denominamos corpo físico.

Como a alma é sempre a mesma, ela leva para cada encarnação as marcas

das vivências anteriores, as quais se farão sentir nitidamente na atual vida

terrena a partir de uma determinada época. Essa época ocorre nos anos da

adolescência, quando o corpo físico se torna completamente formado,

permitindo assim o pleno atuar do ser humano espiritual encarnado nele.

Nessa fase, tudo quanto pende naquela alma, tudo quanto está dependurado

nela por assim dizer, decorrente de vivências angariadas em outras vidas

terrenas, tudo isso se manifestará abertamente de alguma maneira, com

toda a intensidade, quer se trate de características boas ou más.

Vamos supor então que numa vida terrena anterior, uma mulher tenha

começado a desenvolver uma predileção qualquer por assuntos e atividades

mais grosseiras, mais positivas, próprias do mundo masculino. Se essa

predileção se intensificou muito, acabou se transformando então num

“pendor”, isto é, numa característica que efetivamente passou a pender

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naquela alma, a qual ficou assim indelevelmente marcada por essa

inclinação.

A alma feminina assim fortemente marcada por uma vontade espiritual

errônea – poderíamos dizer também “torcida” por essa vontade – encarnará

futuramente num corpo ajustado a essas novas particularidades masculinas

angariadas, particularidades essas, bem entendido, não originais e por

conseguinte não naturais para ela. Assim, na próxima vida terrena, essa

alma originalmente feminina se encarnará, devido à sua voluntária torção,

num corpo masculino.

O ser humano espiritual, o “eu” propriamente daquela personalidade,

continua sendo feminino, porém nessa atual vida terrena se vê encerrado

dentro de um corpo físico masculino. Interiormente ainda sente atração

pelo outro sexo, isto é, o masculino, já que espiritualmente continua sendo

uma mulher. Contudo, se inconseqüentemente der vazão a esse sentimento,

isso se evidenciará exteriormente como um comportamento bem estranho

(para dizer o mínimo), pois o que se consegue observar de fora é apenas

um homem com trejeitos femininos procurando a companhia de outro

homem.

Muitas vezes essa situação acaba sendo remediada involuntariamente,

porque a mulher espiritual encarnada em corpo masculino freqüentemente

se sente atraída por uma outra alma torcida como ela, porém em sentido

oposto, ou seja, por um homem espiritual que, pelas mesmas razões

expostas, se encontra atualmente encarnado num corpo feminino. Com

isso, o espiritual e o material aparentemente se conciliam, porque ambas as

almas que procuram se unir padecem do mesmo tipo de pendor.

Não é difícil perceber que essa situação de almas torcidas não é natural

nem desejável. Mas também não é algo tão grave assim que não possa ser

remediado, desde que a respectiva pessoa encare essa vida atual como uma

importante etapa de aprendizado, e não como sua existência integral como

espírito humano que, como dito, abrange várias vidas, tanto no aquém

como no além. Ela pode perfeitamente vencer sua torção aqui e evitar a

repetição dessa situação no futuro.

Trata-se de uma etapa que tem muito a lhe ensinar, uma etapa sem dúvida

difícil, sofrida, pois praticamente as únicas coisas com que ela se depara

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são incompreensão, desprezo e zombaria. A atual vida terrena é, assim,

uma etapa muito dura, mas também é uma escola insubstituível, que a

ensina a encarar de frente sua torção anímica e vencê-la. Pressuposto que

não alimente a revolta dentro de si, pois dessa maneira só conseguiria

enredar-se ainda mais.

O indivíduo portador de uma alma torcida deve compenetrar-se de que se

vive num corpo não ajustado ao seu âmago mais profundo, então isso se

deve, exclusivamente, à sua própria culpa. Ciente disso, deve manter

sempre uma serena discrição, evitando principalmente estabelecer ligações

com outras pessoas que só poderiam fortalecer ainda mais sua torção. Se

agir sempre com moderação, sem entregar-se a atitudes extremas do tipo

“afirmar sua homossexualidade” e outras condutas semelhantes, que não

são mais do que tentativas ocas de legitimar algo ilegítimo, acabará então

por se desvencilhar desse erro aderido à sua alma. Calmamente vencerá sua

torção anímica e nunca mais se verá outra vez na situação de viver num

corpo que não corresponda ao seu “eu” espiritual. Naturalmente, isso vale

tanto para um espírito humano feminino como para um masculino.

O aqui exposto diz respeito ao homossexualismo intrínseco, que se

manifesta espontaneamente numa determinada época da vida. São aqueles

casos em que, ao chegar na fase da adolescência, a respectiva pessoa se

sente incompreensivelmente atraída pelo mesmo sexo.

É diferente daquelas pessoas que ainda não são almas torcidas, mas que

nesta vida começam a manifestar alguma predileção por atividades e

assuntos afetos ao sexo oposto. Nesse caso então não há desculpa. É

preciso literalmente cortar o mal pela raiz, não permitindo que essa

predileção continue e se transforme em pendor, evitando com isso avançar

o processo de torção anímica. Agindo dessa maneira, essas primeiras

inclinações homossexuais, inicialmente sempre fracas, não serão mais

nutridas e acabarão por secar e se desprender da alma, extinguindo-se por

si mesmas. Pode-se bem imaginar quanto sofrimento futuro tal pessoa

evitará com essa atitude firme, tanto para si como para seu ambiente.

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XX

A CLONAGEM ÉTICA

Apesar de o ser humano atual não necessitar de

nenhum incentivo especial para manter seu

orgulho pairando em alturas orbitais, a ciência

moderna não cessa de supri-lo com novidades

que nutrem continuamente sua presunção

ilusória de “senhor da Criação”.

A chamada clonagem humana tornou-se uma

fonte inesgotável de notícias desse tipo. Fale-se

bem ou fale-se mal, o estratosférico orgulho

humano sempre irrompe dos inúmeros artigos

que abordam o assunto, evidenciando-se nas entrelinhas e também nas

linhas, invariavelmente salpicadas de profícuos pontos de exclamação. E

assim acontece que muitos passam a acreditar realmente que o ser humano

é, de fato, o senhor da Criação e, com um pouco de esforço, já praticamente

igual ao Criador. Praticamente, bem entendido, já que é sempre

conveniente conservar uma certa humildade aparente...

“Clonagem humana é moralmente inaceitável!”, reverberam em uníssona

indignação (quem diria) o papa e o presidente americano. “Ninguém vai

obstruir o progresso humano!”, ameaça em pé de igualdade um médico

quase monstro italiano, secundado por um sem-número de irados

adoradores da ciência. “Ora, já produzimos embriões humanos clonados há

décadas!”, assustam o mundo impassíveis cientistas chineses, escondendo

um sorriso apenas racialmente amarelo diante de tamanho atraso dos seus

colegas ocidentais.

Orgulho, orgulho por toda a parte nesse debate estéril, nesse embate

histérico sobre a clonagem humana. Mesmo os que a combatem não estão

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isentos disso, pois também eles acreditam que, se quiser, o ser humano

hodierno pode realmente tomar para si as atividades afetas ao Criador dos

Mundos.

Centenas de fetos mal formados são necessários para se conseguir um

único animal clonado, aparentemente sadio. Será dessa performance que os

cientistas se orgulham? Do gasto de milhares de horas e dólares para

produzir natimortos em série? Sentem-se talvez poderosos em desempenhar

o papel de serial killers pré-natais? E o que será que um eventual clone

humano adulto pensaria disso? Será que se orgulharia de seu nascimento

fratricida? Ficaria enternecido em saber que um gélido tubo de ensaio num

laboratório qualquer fez as vezes da tradicional figura do pai nervoso na

maternidade?...

É o caso então de se procurar conhecer os pretensos benefícios aguardados

da pesquisa sobre a clonagem humana. Para tanto, temos de descer até as

profundezas abissais da mais crassa vaidade e presunção dessa

humanidade.

No degrau mais fundo da degenerescência clônica, na pré-história da

máxima involução do Homo ex-sapiens, encontramos uma malta feroz de

acadêmicos neandertalescos, empenhada em desenvolver clones humanos

com o único objetivo de fornecer órgãos para transplantes (*). As simiescas

sumidades acocoradas em torno desse projeto insano, idolatrado qual um

totem, grunhem que clones não têm alma, e por conseguinte não são

propriamente seres humanos. Nessa assertiva há, contudo, uma sutil falha

de interpretação. Pois somente quem há muito tempo já despencou do

patamar de ser humano, trazendo em si apenas uma alma corrompida como

núcleo, é que poderia fazer tal afirmação. Essa atitude apenas comprova

que os desprovidos de alma verdadeira são eles mesmos. Os que não são

mais seres humanos são eles próprios. Realmente, não vale a pena o

esforço em procurar adjetivos adequados para qualificar essas ex-pessoas.

No degrau imediatamente superior divisamos os criogênicos, uma gente

aparentemente séria mas de cabeça oca. Literalmente oca. É a turma que

manda congelar amostras de seus corpos após a morte, preferencialmente a

cabeça, com a tola esperança de serem ressuscitados no futuro através de

alguma técnica de clonagem. Acreditam que voltarão a viver no futuro com

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o mesmo corpo de agora, naturalmente na divertida companhia de mamutes

e pterodáctilos, que certamente também voltarão à vida pelo mesmo

simples método replicante. Que dizer desse pessoal? Por mais restritas que

tais pessoas se tenham tornado em sua cegueira intelectiva, por mais

claudicante que se mostre a tosca bengala do materialismo em que ainda se

apóiam, é realmente difícil avaliar com clareza uma conduta desse tipo.

Trata-se de uma espécie de amálgama de estupidez com ridículo, recheado

de vaidade. Deixemos esse degrau, onde não há mais nada para se ver

senão a mais completa ignorância espiritual.

O degrau seguinte mostra um ambiente festivo, alegre, onde a vinda de

clones humanos é aguardada com incontida ansiedade e terna esperança.

São os hedonistas e preguiçosos, que desejam clones humanos para

desempenhar algumas tarefas indignas de seres evoluídos, como: trabalhar,

estudar, calcular impostos, pagar multas, etc. Um admirável mundo novo,

onde os clones seriam uma espécie de robôs com alma, semi-escravos

muito prestativos e alegres. Esse grupo deseja tempo livre para

“desenvolver a criatividade” e usufruir a vida no doce ócio. Os clones que

cuidem do resto, pois já deverão se dar por muito satisfeitos em terem

chegado à vida justamente devido à criatividade humana... Fantasia

mórbida seria um qualificativo bastante atenuado para semelhante estultice.

Mas também aqui vamos nos abster de comentários mais aprofundados, e

essas pessoas tão criativas com certeza também irão preferir assim.

Subindo um pouco mais, em busca de algum vislumbre de ética junto aos

defensores da clonagem humana, deparamo-nos com um agrupamento de

pesquisadores muito atarefados. São os que querem utilizar células-tronco

para reproduzir órgãos sadios. Afirmam eles que, se utilizadas células-

tronco de um embrião clonado do paciente, estaria de antemão solucionado

o problema da rejeição, já que este receberia um órgão novo formado do

próprio material genético.

Ainda antes de poder refutar essa idéia, nossa atenção é atraída para uma

região mais elevada desse mesmo plano. Nesse local mais alto trabalha

uma ala dissidente, compreensivelmente incomodada com a perspectiva de

produzir embriões apenas com esse tétrico objetivo, para logo em seguida

descartá-los como inúteis estepes humanóides. Esses dissidentes planejam

utilizar células-tronco extraídas da medula óssea do próprio paciente e, a

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partir daí, tentar desenvolver um órgão sadio para efetuar o transplante.

Há duas questões aqui. A primeira é saber se as células-tronco realmente se

prestam a assumir as funções de qualquer tecido humano, de músculos a

nervos. Ainda há muita controvérsia a respeito. Estudos recentes têm

despejado um balde de água um tanto gelada nesse entusiasmo

aparentemente sem muito fundamento. A segunda questão é saber se este é

o caminho certo para se obter a cura real de doenças crônicas. Como

sempre, os pesquisadores só conseguem divisar o meramente terrenal

diante de si, incapazes que são de reconhecer as causas anímicas de

inúmeras doenças degenerativas, inclusive o câncer. Naturalmente muitas

outras doenças têm, de fato, sua origem em modos nocivos de vida, como

má alimentação e hábitos perniciosos, figurando em primeira linha o vício

de fumar. O problema é que, mesmo que se mostrem viáveis, as células-

tronco desenvolvidas nunca poderão atuar na causa propriamente de uma

ou de outra, jamais poderão curar males de alma nem modificar hábitos de

vida errôneos. Em ambos os casos, a chave para uma cura efetiva das

doenças está na movimentação ascendente do espírito humano, o que

requer vontade séria e perseverança, qualidades escassas nos dias de hoje.

No flanco místico desse degrau tão movimentado, isto é, no lado oposto de

onde atuam os dois times de pesquisadores celulares mencionados,

encontramos confabulando animadamente mais um grupo de pessoas bem

intencionadas. Bem intencionadas e algo excêntricas. Os membros desse

grupo querem nada mais nada menos do que conseguir uma amostra do

sangue de Jesus impregnado na cruz e providenciar sua clonagem. Seria

essa então a chamada “segunda vinda de Cristo”, ansiosamente aguardada

por tantos fiéis, e que se realizaria de uma maneira um tanto bizarra,

através da inesperada e providencial ajuda da ciência moderna.

É impossível não aludir aqui novamente ao orgulho humano, desta vez

presente em grau máximo, roçando o infinito. Vamos nos dar o trabalho de

tentar destrinchar essa idéia. Na hipótese, de antemão impossível, de se

encontrar uma amostra do sangue de Jesus, e na suposição absurda de que

essa amostra de dois mil anos fornecesse uma célula passível de ser

clonada, e na ilusão de que esse clone se transformasse num embrião

humano, e ainda acreditando que esse embrião se desenvolvesse sem

problemas em algum ventre escolhido e desse origem a uma criança

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normal, e admitindo por fim que essa criança se tornasse um adulto, então

nem por isso Jesus estaria de volta.

O que teria retornado à Terra, através da reencarnação, teria sido um

espírito humano comum, encarnado num corpo terreno humano comum,

desenvolvido numa gestação nada milagrosa. Aliás, como sempre foram,

são e serão todas as gestações humanas: eventos absolutamente regulares,

em estrita concordância com as leis da natureza. A alma que teria se

encarnado nesse corpo terreno clonado – o qual apresentaria as feições

terrenas de Jesus – seria uma alma comum, provavelmente sobrecarregada

de carma e culpa como a maioria de nós, pobres seres humanos. Este

homem poderia abraçar as mais diversas filosofias de vida quando adulto,

sem poder ser contestado pela legião de fariseus do século XXI. Poderia ser

judeu, muçulmano, budista, hinduísta ou mesmo agnóstico. Poderia até ser

cristão. Poderia ser qualquer coisa nesse mundo, tudo, menos Jesus.

Há dois mil anos Jesus Cristo, o Filho de Deus, desceu das alturas máximas

e encarnou num corpo humano terreno para poder trazer à Terra sua

Palavra salvadora. Tão-só esta é capaz de salvar alguém, e isso somente

quando a respectiva pessoa se empenhar em viver realmente segundo essa

Palavra, com todas as fibras do seu ser, isto é, em todo o seu querer, pensar,

falar e agir. Tudo o mais é ilusão desmedida, fruto de devaneios teológicos

de pretensos intérpretes autorizados das Escrituras, que mais não fazem

senão fomentar a indolência espiritual com seus dogmas auto-

entorpecentes.

Podemos, sim, devemos mesmo efetuar a clonagem da legítima Palavra de

Jesus em nossas vidas. Devemos viver de tal modo que nos tornemos

verdadeiros clones dessa Palavra. Esta é a única clonagem capaz de trazer

benefícios à humanidade, a única clonagem ética.

(*) Sobre o crime dos transplantes de órgãos, ver meu artigo “Por Trás dos

Transplantes”.

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XXI

A TRAGÉDIA DOS TRANGÉNICOS

Cientistas versus ambientalistas,

pragmáticos versus idealistas. Uma

luta desigual, com um desfecho bem

previsível. Nem poderia ser diferente,

quando as regras do jogo são

definidas por apenas um dos lados,

como é o caso aqui.

A disparidade de forças entre as

partes é tal, que se evidencia nas

próprias denominações dos

contendores, tecidas pelo grupo mais

forte e vestidas pelo grupo mais fraco, sem questionamento. Realistas

versus utopistas, progressistas versus retrógrados. Do lado “certo” da

guerra, o dos vencedores, acantonam-se impecáveis legiões de

racionalistas, de ajuizados pés-no-chão, com as fardas abarrotadas de

trabalhos científicos, irrefutáveis todos eles. Do lado “errado” da peleja, o

dos perdedores, não se vê mais do que uns grupelhos barulhentos de

sonhadores perdidos, uns visionários mal ajambrados, municiados apenas

de uma indignação visceral e de uma inquietação íntima cujas causas não

se lhes tornam claras.

O alto comando da transgenia sabe que a vitória total é só uma questão de

tempo. Cada novo país que capitula sob o fogo cerrado dos relatórios

tecnicistas, qual obuses certeiros – inatacáveis porque indevassáveis –

constitui uma batalha a mais ganha no front dessa não prevista nova guerra

mundial. Com isso, os generais da genética degenerada ganham cada vez

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mais terreno por toda a parte e consolidam suas posições. Fazendo da

prepotência humana seu quartel-general, eles contemplam satisfeitos o

avanço contínuo das tropas iluministas. O triunfo completo já desponta,

para quem quiser ver, no horizonte sombrio desse nosso mundo, desse

mundo que já foi nosso mas que agora é deles. Parece que nenhuma

oposição oriunda do coração pode fazer frente ao bombardeio de saturação

das ogivas científicas, antecedidas pelo silvo característico de vitupérios e

vilipêndios, de invectivas intelectivas. A vitória esmagadora dos produtos

transgênicos será mais uma a ingressar no rol de tantas outras realizações

do engenho humano, como o lixo radioativo, a poluição em cotas

autorizadas, a pesca predatória, a caça, o extrativismo sustentável, o uso de

cobaias em experimentos, o foie gras, a clonagem de animais... Uma série

de horrores sem fim.

É verdade que não se pode negar os resultados dos relatórios científicos.

Eles cumprem exatamente o que deles se espera ou se exige: provam

cientificamente que as sementes transgênicas são seguras, comprovam

cientificamente que não causam danos ao meio ambiente e à saúde das

pessoas. Eles, pois, cumprem tudo isso. Cientificamente.

E essa é a maior de todas as tragédias. Aceitar laudos científicos nesse

assunto equivale a entregar à raposa a chave do galinheiro. Infelizmente,

porém, é isso o que acontece. Como a quase totalidade das pessoas vê na

ciência o supra-sumo da capacidade humana, e os cientistas como

verdadeiros deuses, com poderes tão ou mais espetaculares do que os dos

da mitologia, elas realmente acreditam que a ciência é o árbitro justo e

infalível para essa questão. Com o olhar voltado para cima, sem piscar,

fixado na comunidade científica, elas aguardam sequiosas pela descida da

olímpica luz da sabedoria acadêmica, que iluminará sua ignorância e as

guiará pelos caminhos de um admirável mundo novo. Sustentadas por uma

ingenuidade tocante, estão convencidas de que se a ciência der um parecer

favorável aos produtos transgênicos, então isso será a prova de que estão

aprovados...

Doce e triste ilusão. Por mais bem elaborados, por mais detalhados que

sejam os relatórios científicos e os volumosos estudos de impacto

ambiental, eles nunca poderão prever os efeitos finais nefastos da

transgenia. Simplesmente porque esses efeitos últimos, devastadores, não

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apresentam nenhum sinal, nenhum indício materialmente perceptível, que

pudesse eventualmente ser detectado no código genético alterado. Os

alimentos transgênicos não foram programados para dar um aviso prévio

do que são capazes de provocar; apenas aguardam silentes como as minas,

impassíveis como as bombas-relógio, pelo grito angustiado de uma

sociedade logo perplexa, que ecoará pelos campos e cidades por eles

nutridos. O grito uníssono, entrecortado, de... “tarde demais!”.

As sementes transgênicas comportam uma irradiação alterada, e por essa

razão não mais pertencem à natureza como tal. Elas não fazem mais parte

da natureza, porque não são mais naturais! E o que não é natural traz em si

o germe da morte.

Mas aqui já adentramos num campo que o raciocínio humano não consegue

acompanhar, muito menos assimilar. Essa incapacidade notória, essa

limitação insuperável da razão humana se manifesta então na forma de

descaso e zombaria por parte dos racionalistas. Como o raciocínio não pode

compreender nada do que se encontra além do meramente terrenal, visto

ser apenas um produto do cérebro, ele rejeita tudo o mais como impossível,

porque lhe é de fato impossível discernir a realidade tal como é. No caso

em foco, o raciocínio não faz mais do que infundir nos rostos circunspectos

que recobrem tantos cérebros sagazes, um certo ar de inteligência

guarnecido de um sorriso zombeteiro. Nada mais que isso. A retidão de

caráter, a pureza do coração, a nobreza de alma, a vivacidade do espírito,

não são qualidades que possam ser observadas no DNA, e por isso nunca

lograremos obter um cientista materialista geneticamente modificado para

o bem. Os pouco realmente bons o são por índole própria, e estes jamais

defenderão a transgenia.

Esses escassos pesquisadores íntegros não podem assegurar que os

transgênicos são inócuos, não podem asseverar que só trazem benefícios. E

como poderiam fazê-lo? Como poderiam apregoar as vantagens de uma

planta transgênica resistente a agrotóxicos se ela própria, modificada assim

criminosamente, se lhes apresenta como mais um tóxico no meio agrícola?

Um novo e desconhecido “agro-tóxico”? Como lhes seria possível defender

o envenenamento genético de uma cultura para que resista a venenos?...

Não vamos aqui nem discutir as alegadas vantagens econômicas das

sementes transgênicas, porque isso seria descer ao nível de esterco no trato

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do problema. Nenhum pesquisador razoavelmente lúcido e minimamente

honesto poderia transferir a preocupação com a saúde dos consumidores

para um patamar inferior ao da redução de custos das lavouras.

Uma semente transgênica é um corpo estranho, um antígeno inoculado

num organismo perfeito. Acontece, senhores bem-intencionados, que esse

organismo perfeito, a natureza, tem muito bem como se defender de cepas

patogênicas, e se defende realmente, com resultados invariavelmente

catastróficos para a humanidade. Isso, aliás, ela própria já poderia ter

reconhecido, se sua presunção intelectiva não lhe obstruísse continuamente

a intuição espiritual.

Todos os assim chamados desequilíbrios da natureza não são nenhum

desequilíbrio, mas tão-somente reações automáticas à ação deletéria do ser

humano. Onde quer que essa criatura tenha posto a mão, lá deixou

incubado o germe da destruição, que sempre vingou, após um tempo maior

ou menor. Pragas incontroláveis, secas inclementes, inundações

devastadoras e tantos outros “distúrbios” da natureza são apenas efeitos

recíprocos contra a maior de todas as pragas, o Parasita sapiens, que

presentemente tenta cultivar mais uma excrescência dentro do corpo

outrora sadio da natureza, na forma de sementes e plantas transgênicas. A

espécie humana é a serial killer da vida na Terra, é a maior inimiga da

natureza em todos os tempos. Mas pode estar certa, certíssima, de que já há

muito foi reconhecida por ela como tal, sendo agora tratada

correspondentemente.

Por isso, os hoje ainda mal vistos ambientalistas-idealistas não precisam se

desesperar em sua luta quixotesca contra os produtos transgênicos e seus

patrocinadores. Nada do que é contrário à natureza, portanto contrário às

leis naturais, pode subsistir indefinidamente. Dura algum tempo e

desaparece exemplarmente, sucumbe espetacularmente, como testemunho

do mais profundo malogro da arrogância humana. Arrogância

incompreensível de uma espécie que se atreveu a querer melhorar a

natureza, sem mesmo procurar saber antes do seu legítimo Dono pelas

conseqüências de suas ações e, sobretudo, se tinha acaso permissão para

agir assim.

Contudo, o conhecimento desse descalabro inevitável de tudo quanto foi

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torcido pelo raciocínio humano não significa que os defensores da natureza

devam aguardar sentados, observando de camarote o desenrolar desse

drama trágico sobre o palco claudicante da prepotência humana. Não. Cada

um deles deve ser uma trombeta sonante, conscientemente voltada para a

enorme muralha erguida pela presunção dos racionalistas, a qual com isso

ruirá mais depressa ainda, para alívio e bênção de todas as pessoas de alma

limpa. Não são necessárias mais do que essas trombetas tocadas com o

fôlego do idealismo, sem violências, sem bandeiras partidárias, sem

ideologias tacanhas.

Os ambientalistas podem, devem e têm de lutar com a mais plena

convicção da justeza de sua causa. Não devem avançar cabisbaixos para

dentro do teatro de operações, acabrunhados, temerosos de mais uma

derrota. Seria uma imagem deplorável essa, inclusive aos olhos do

adversário. Mirem-se no exemplo de certas artes marciais, cujo lema vem

escrito em caracteres orientais sob a faixa que prende o quimono do

lutador: “Quem teme perder já está vencido.” Não temamos perder.

Encaremos o adversário com altivez desta vez, resolutos e sem luto.

Encaremo-lo sem medo, sem receio de não poder contrapor a ele nenhum

escudo científico. Nosso paradigma é outro. Bastam-nos os ditames de

nossos corações. Se estes forem justos, se estiverem sintonizados com as

leis que regem a Criação, então a vitória contra a aberração dos

transgênicos é certa. Será essa a primeira grande vitória de uma série. Da

nossa série.

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XXII

ODE AOS ANIMAIS

“Faça-se a Luz!”

E a Luz se fez.

“Fervilhem as águas de seres vivos, voem

pássaros sobre a terra!”

“Produza a terra seres vivos segundo a sua

espécie!”

“Animais domésticos, animais pequenos e

animais selvagens, segundo a sua

espécie!”

E assim se fez.

Feitos pela Vontade do Criador, destruídos pela vontade do homem. Pode

haver algo mais sórdido, mais torpe do que um crime praticado contra uma

criatura indefesa, como é o animal?...

Quem diante dessa pergunta ainda se injuria, quem, indignado,

prontamente expele uma refutação atabalhoada, apenas prova que essa

torpeza também já se alojou em seu coração.

Ao contrário do ser humano, o animal é sempre inocente em todas as

circunstâncias. Jamais sofre por culpa própria, pelo desrespeito a qualquer

uma das leis da Criação, mas tão-somente devido à maldade do bicho

homem e dos muitos desequilíbrios que este provoca no planeta. O Homo

sapiens tornou-se um animal degenerado, provou e comprovou ser uma

espécie que não deu certo, e por isso terá de desaparecer agora de seu

habitat. Assim determina a mãe Natureza contra qualquer coisa que

perturba a harmonia e não se ajusta às suas leis.

Terá de desaparecer na sua quase totalidade, para que as outras espécies

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possam continuar a se desenvolver em paz, sem precisar mais temer esse

monstro ensandecido, que não vê nada diante de si senão seu próprio bem-

estar. Um “bem-estar” freqüentemente refestelado no desrespeito, na

tortura e na morte de animais.

Para que fêmeas vazias dessa espécie humana pudessem se deleitar com

pelugens macias, filhotes de focas são mortos a pauladas diante das mães-

foca desesperadas. Para que machos astutos dessa espécie não precisassem

amargar uma redução de seus lucros no comércio da carne de frango,

pintinhos recém-nascidos são lançados vivos no fogo. E para que um tipo

especialmente sórdido dessa espécie – o Homo politicus – pudesse ficar

bem junto a seus eleitores, tão sórdidos quanto eles, acaba de surgir no

Brasil um projeto de lei que autoriza o sacrifício de animais para fins de

cultos religiosos. Cultos que invocam e pedem proteção aos seres da

natureza...

Um livro inteiro poderia ser produzido apenas para descrever as

atrocidades que o ser “humano”, covarde a não mais poder, já foi capaz de

praticar contra os animais, postos na Terra em confiança, para serem

cuidados, guardados e respeitados pela espécie dominante. E uma

enciclopédia poderia ser montada apenas para registrar a enorme, a

gigantesca indignação que toma conta dos poucos membros da espécie

humana que ainda amam, de todo coração, a Natureza e seus entes.

Verdade é que algumas pessoas ainda se sentem por vezes constrangidas,

meio sem graça, ao terem de admitir, diante de si e de outros, que desejam

muito mais cuidar e tratar de um animal doméstico, do que ajudar ou até

adotar um menino de rua. Afinal de contas, este último é um ser humano...

Não há razão para tal constrangimento. Essas pessoas boas sentem

intuitivamente imediato amor e dedicação pelo animal justamente porque

este não é um ser humano! O animal nunca é dissimulado em suas ações. O

olhar amoroso de um bichinho dirigido ao seu dono será sempre legítimo.

Jamais acobertará a inveja, o inconformismo e o malquerer típicos dos

indivíduos que têm de colher nessa época os frutos podres que semearam

em sua inútil e nociva existência. Indivíduos que nunca sentiram nenhum

amor, nem mesmo carinho pelos animais, mas apenas desprezo. Que nunca

nutriram no íntimo nenhum desejo de oferecer a eles, como agradecimento,

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uma simples ode, mas somente ódio, um ódio sem justificativa e sem

tamanho, do tamanho de sua própria ignomínia.

Eles não sabem, nem desconfiam, mas já há muito também não são mais

seres humanos. Perderam o direito a essa denominação quando suas almas,

desfiguradas pela cobiça, pelo ódio e pela ingratidão, deixaram de ter

qualquer semelhança com os seres surgidos outrora à imagem do Criador.

Desceram muito abaixo do patamar ocupado por qualquer animal da Terra,

que nunca matou por prazer, que nunca se divertiu com o sofrimento de seu

semelhante, que nunca afrontou o Onipotente.

Não vale a pena continuar a discorrer mais sobre o abominável crime

milenar do ser humano contra os animais. Do enorme rosário de culpas que

ele terá de responder diante do trono do Juiz, esse delito, especificamente,

não poderá contar com nenhuma atenuante. Quem pratica ou mesmo dá

apoio a qualquer ação dirigida contra os animais, já não conta mais

espiritualmente. Visto de cima, ele não existe mais na Criação. Apenas

continuará a vegetar mais alguns anos ainda aqui na Terra, até ser varrido

para fora da grande Obra, para alívio de todas as demais criaturas, criadas

pela mesma Vontade do mesmo supremo Deus.

Gostaria apenas de citar um diminuto trecho da conhecida carta que o

cacique Seathl enviou, em 1855, ao presidente dos Estados Unidos, no

ponto em que ele faz menção aos animais:

“Vi milhares de bisões apodrecendo nas pradarias, abandonados pelo

homem branco que os abatia a tiros disparados do trem. Sou um selvagem

e não compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais

valioso do que um bisão que nós, os índios, matamos apenas para

sustentar a nossa própria vida. O que é o homem sem os animais? Se todos

os animais acabassem, os homens morreriam de solidão espiritual, porque

tudo quanto acontece aos animais pode também afetar os homens. Tudo

está relacionado entre si. Tudo quanto fere a terra fere também os filhos

da terra. (…) O homem branco também vai desaparecer, talvez mais

depressa do que as outras raças. Ele continua poluindo a sua própria

cama, e há de morrer numa noite, sufocado em seus próprios dejetos!”

Felizmente, o sábio cacique não viveu para constatar que essa sua previsão,

já tão amarga, não ficaria restrita apenas ao homem branco, mas que se

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estenderia a toda a humanidade do futuro. Ele não precisou ver como o ser

humano, capaz de no seu tempo deixar bisões se decompondo nas

pradarias, estaria ele próprio apodrecido na alma no final dos tempos, rumo

à sua decomposição espiritual. Não teve de assistir como a raça humana

estaria marcada para a extinção, e que não deixaria atrás de si nenhuma

lembrança boa, nenhuma saudade às demais espécies que subsistiriam na

Terra. Disso tudo ele foi poupado.

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XXIII

A ILUSÃO ESPORTIVA

Onde quer que o ser humano deponha o

intelecto à frente do espírito, o

raciocínio por cima da intuição, lá

surgem focos de doenças, porque outra

coisa não pode brotar de uma sementeira

má. Ao invés de atuar como espírito

humano dentro da matéria, enobrecendo

tudo ao seu redor, como é sua missão,

ele age como criatura terrena

exclusivamente, como se nada de

espiritual tivesse dentro de si.

Desse modo, tudo o que é originalmente

bom, útil e bonito, após escorrer por

seus dedos racionalistas torna-se mau,

nocivo e feio. Esse processo aparece com muita nitidez na arte, seja

pintura, escultura ou música. Tudo o que de extraordinariamente belo a arte

nos legou em séculos passados, transmudou-se num amontoado de lixo

informe, cinzelado ao longo do século XX e também no atual, quando o

raciocínio frio atingiu seu apogeu e tudo sobrepujou em sua ânsia de

salientar-se com qualidades que não possui. O raciocínio fez do coração do

homem seu escabelo, e do espírito vivo seu escravo. E com isso reduziu a

aterro sanitário quase toda a arte, outrora magnífica. As formas adquiridas

pela pintura e música contemporâneas, geradas apenas por neurônios,

prescindem de qualificativos. Não porque existam muitos a escolher, mas

porque não se descobre nenhum que lhes faça a devida justiça. Como essas

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“coisas” estão sempre muito abaixo do alcance dos dicionários mais

recentes e perspicazes, é impossível encontrar adjetivos adequados para

qualificar razoavelmente um tal horror.

Contando apenas com o archote bruxuleante do intelecto a iluminar as

picadas trevosas que abriu na materialidade, para desbravá-la a seu modo, o

ser humano hodierno torceu até a lei básica do movimento na Criação, a

qual estabelece que algo só pode ser conservado íntegro e sadio se mantido

em contínua movimentação. Aplicada corretamente ao corpo físico, essa lei

cuidaria de mantê-lo sempre são e vigoroso. Mas o raciocínio transformou

a salutar movimentação física em... esporte. E, com isso, o que era sadio

tornou-se mórbido mais uma vez.

A arte do esporte! Louvada e elevada em toda parte, sempre e sempre, mais

e mais. Exaltada com esperança no mundo todo, decantada com orgulho

entre os povos, divinizada com olímpica emoção pelas nações! Como

poderia ser danosa?... Para quem tem olhos para ver, o enaltecimento

esportivo atual é apenas mais uma amostra aterradora de como os conceitos

de certo e errado estão completamente torcidos em nossa época. De como o

enrijecimento espiritual já envolveu quase toda a humanidade, extinguindo

suas aspirações mais nobres e comprimindo seu campo de visão em limites

cada vez mais estreitos.

O esporte é, sim, danoso, porque se fundamenta na competição. Não visa

em primeira linha angariar e conservar a saúde do corpo, senão mostrar

quem é o “melhor” numa determinada modalidade. “O importante não é

ganhar, e sim competir!”, rebaterão prontamente injuriados discípulos de

Coubertin, arautos do esporte enobrecido. Mas não, de jeito nenhum. Para

qualquer esportista desse planeta o importante é, sim, ganhar. Sempre. E

mesmo se algum deles realmente acreditasse nessa utopia, lá no fundo do

seu coração, e não apenas a murmurasse para si próprio entre soluços e

olhos marejados ao perder o primeiro lugar, então seria igualmente insano.

Competir... Para quê? Para um dia ter a honra de escalar o pódio e divisar

com orgulho a bandeira do seu país tremulando acima das demais? Para se

emocionar ao ver todos os “inimigos” calados ali em volta, forçados a

escutar cabisbaixos o hino de seu país, obrigados a reconhecer o triunfo de

sua nação? Para poder ser ovacionado num carro de bombeiros e verter

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lágrimas de herói? Isso é patriotismo?... É para isso que jovens

desperdiçam os melhores anos de suas vidas em treinamentos? É para isso

que se submetem a cirurgias recorrentes para reparar músculos e tendões

lesionados? É para essa finalidade que se desenvolvem vestimentas

especiais e potentes anabolizantes? É para esse ideal que técnicos famosos,

com suas estratégias de guerra, são contratados a peso de ouro? Doping

então é tática de espionagem? Luxações e distensões são condecorações

por combate, medalhas marcantes por bravura em ação?...

Como é patético ver senhores grisalhos, engravatados, discutir mui

seriamente aspectos futebolísticos num programa de debates,

profundamente compenetrados em analisar lances e emitir diagnósticos e

prognósticos. Coisa mais degradante. Até hilariante seria, não fosse tão

ridículo. Incrivelmente ridículo. Que proveito verdadeiro pode trazer a um

povo a conquista de uma copa do mundo, um título de Fórmula 1, o

cinturão dos peso-pesados? Alegria popular? Orgulho nacional? Triste do

país que precisa dessas quinquilharias para se dar alguma valia, para avivar

sua auto-estima. Triste do povo que separa cuidadosamente parte de seus

minguados rendimentos para poder ver de longe seus ídolos esportivos

nadando em rios de dinheiro.

E triste da humanidade inteira, que caiu espiritualmente tão fundo a ponto

de não mais conseguir enxergar o papel deplorável que exerce ao enaltecer

essas coisas sem nenhum valor, frutos do raciocínio calculista, materialista,

em detrimento do aperfeiçoamento espiritual. Triste das nações desportivas

desse mundo, que podem ver numa maratonista que chega quase

desfalecida à linha de chegada, o maior exemplo da “tenacidade humana

que supera todos os obstáculos”, do “ideal olímpico elevado ao seu mais

alto grau”. Aquela atleta claudicante, até hoje alvo de loas em todo o

mundo, não fez mais do que cometer um grave delito contra seu corpo, ao

levá-lo a um estado de extenuação completo, a ponto de quase sofrer uma

síncope nos braços do médico que a aguardava junto à linha de chegada. O

médico torcia para que a jovem tão valente, corajosa ao extremo,

conseguisse vencer o desafio olímpico traçado à sua frente, o qual poderia

ter-lhe custado somente a vida. Ambos não passam de criminosos, e o

mundo inteiro que torcia em conjunto, cúmplices.

Um argumento poderoso em favor do esporte, repetido vezes sem conta por

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entendidos em educação, é de que ele afasta os jovens carentes da violência

e das drogas. É mesmo? A prática desportiva possui o poder de desviá-los

dos muros da FEBEM, ou de retirá-los de lá e conduzi-los a uma vida

digna e honesta? Quantos jovens delinqüentes e viciados em drogas saem

efetivamente recuperados dos centros de reeducação, onde o esporte é

prática diária? Quantos deles saem de lá tão transformados interiormente, a

ponto de poderem retornar ao convívio em sociedade, interessados no bem-

estar do próximo?... Nenhuma criatura interiormente má, de índole

maléfica, consegue limpar a violência impregnada em sua alma corrompida

com saltos e corridas, nem tampouco é capaz de trocar a seringa pela bola,

seja de que esporte for. Em sua quase totalidade, o viciado não deixa as

drogas pelo esporte, mas continua se esvaindo com ambos os tipos de

entorpecentes.

O esporte competitivo é sempre nocivo, nunca contribuiu para melhorar em

nada o íntimo do ser humano, ao contrário, só fez incutir nele o anseio de

sobressair a todo custo. Essa competitividade continuamente nutrida por

centenas de milhões de terráqueos não ficou sem efeito no ambiente mais

fino que nos envolve. Extrapolou o âmbito dos estádios e passou a exercer

sua influência nefasta num sem-número de almas humanas que trazem em

si um pendor semelhante. Estas passaram a ser então literalmente

assediadas por essas influências, impingindo nelas a necessidade

permanente de competir e competir, para vencer na vida e salientar-se a

qualquer preço.

Os efeitos globais dessa insânia são terríveis. Como, devido a isso, quase

todos os seres humanos se vêem hoje como competidores em tudo, leais ou

não, uma simples rusga de trânsito pode facilmente desembocar numa

tragédia, e o próprio trânsito torna-se pista de competição para os

atarefados pilotos do dia-a-dia. A derrota numa inocente partida de dominó

ou num jogo de cartas tem cacife para infartar qualquer um dos

entusiasmados competidores. Um gol no final do segundo tempo é motivo

para pancadaria e morte entre as grandes massas de competidores,

denominadas “torcidas”. Torcida é bem o termo para essa espécie de gente

belicosa. As empresas, grandes ou pequenas, não visam mais aperfeiçoar

seus produtos e garantir sua sobrevivência, mas principalmente destruir

seus competidores, esmagar a maldita concorrência. Um grande empresário

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afirmou que se um concorrente seu estivesse se afogando, sua primeira

providência seria enfiar uma mangueira de água na sua boca. Declarações

como essas são tidas como ditados de suma sabedoria, máximas de grande

inspiração, e utilizadas em cursos de aperfeiçoamento de executivos. Como

se estes campeões de stress não tivessem sido ensinados, desde tenra

infância, a se preparar para uma luta renhida no assustador mundo

competitivo que os aguardava lá fora, de tocaia, tal qual um bicho-papão

insaciável. “O importante é competir!” Eis é o lema atual da raça humana.

Os países competem loucamente entre si, em corridas armamentistas,

espaciais, comerciais e culturais. Competem e competem. Todos

competem. E ninguém mais vive.

Esse é o resultado da competição e da competitividade desenfreada, o

mundo competitivo em que vivemos, do qual o esporte é seu principal

fomentador e patrocinador. É isso que a humanidade tem a apresentar no

presente, ao término do período concedido para o seu desenvolvimento.

Um grande estádio planetário, com bilhões de competidores infelizes,

vazios espiritualmente, é a taça que ela pode erguer agora em triunfo para o

seu Criador, como fruto máximo de sua evolução.

Contudo, se ela pudesse ver com clareza o que gerou para si mesma com

isso, se pudesse ter um pequeno vislumbre do que a aguarda na

reciprocidade, prontamente mudaria seu lema para: “O importante é

sobreviver!” Sobreviver espiritualmente, poder subsistir agora, na época do

ajuste final de contas.

Sonhar um pouco de vez em quando não é errado, pois isso não acirra

nenhuma competição. Mas enquanto alguns poucos ainda se permitem

sonhar acordados com uma improvável, talvez impossível melhoria da

humanidade, esta vive sonhando com sua própria grandeza, embalada na

ilusão de sua importância e de seus feitos esportivos. Em breve, todos nós

acordaremos.

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Epílogo

Roberto C. P. Junior é espiritualista, mestre em ciências e autor dos

livros: "Vivemos os Últimos Anos do Juízo Final", "Visão Restaurada

das Escrituras", "Capotira", "Jesus Ensina as Leis da Criação" e "O

Filho do Homem na Terra", os dois últimos disponíveis em edição

impressa. Roberto é membro da Ordem do Graal na Terra e autor de

vários artigos de cunho filosófico disponíveis nos sites "Library" e

"SóCultura".