pedagogia da presença: quando se importar faz a diferença · 2020. 6. 9. · a pedagogia da...
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Pedagogia da Presença: quando se importar faz a diferença
Paulo Bezerra de Farias Filho 1
Amanda Micheline Amador de Lucena2
Ana Paula Bezerra de Farias1
Jusseny Ferreira Rodrigues¹
RESUMO
A pedagogia da presença é um tema em (re)construção no nosso dia a dia como educadores. Acreditamos que ser presença pedagógica na vida de nossos educandos faz a diferença na realidade de um ser em dificuldade, modifica seu perfil individual, na família, na escola, no trabalho, como cidadão. Diante disso objetivou-se analisar a percepção de estudantes do 3º Ano do Ensino Médio, quanto aos aspectos que envolve a presença pedagógica no âmbito escolar. Para isso uma pesquisa de caráter descritivo com abordagem qualiquantitativa foi desenvolvida com os estudantes do 3º Ano de uma Escola Estadual, situada no interior de Pernambuco. Constatou-se que os alunos reconhecem a atuação que seus(suas) professores(as) desenvolvem na escola. Contudo, a presença pedagógica não é um fim em si mesma. Constitui-se como um meio de se estimular os(as) alunos(as) a quebrar barreiras, superar limites e levantar outras possibilidades no convívio entre as pessoas. A escola promove o exercício do protagonismo, reconhece a dinâmica social, fomenta a mudança estrutural pela diversidade e comunhão das ideias, aflora o senso crítico, a leitura e questionamento da realidade como fatores de progresso cultural.
Palavras - chave: Educação Humanizadora; Empatia; Formação Integral.
ABSTRACT
The pedagogy of presence is a subject under (re) construction in our daily lives as educators. We believe that being a pedagogical presence in the life of our students makes a difference in the reality of a being in difficulty, changes their individual profile, in the family, at school, at work, as a citizen. In view of this, the objective was to analyze the perception of students of the 3rd year of high school, regarding the aspects involved in the educational presence in the school environment. For this, a descriptive research with a qualitative and quantitative approach was developed with the students of the 3rd Year of a State School, located in the interior of Pernambuco. It was found that students recognize the performance that their teachers develop at school. However, the pedagogical presence is not an end in itself. It is a means of encouraging students to break barriers, overcome limits and raise other possibilities in the interaction between people. The school promotes the exercise of protagonism, recognizes social dynamics, fosters structural change through the diversity and communion of ideas, touches on the critical sense, reading and questioning reality as factors of cultural progress.
Keywords: Humanizing Education; Empathy; Integral Education.
1 Doutorando(a) em Ciências da Educação Veni Creator Chistian University 2 Professora da Veni Creator Chistian University
1 . Introdução
Este artigo trata da presença pedagógica na educação como instrumento
que ao fazer a diferença, modifica a vida dos estudantes. Numa realidade escolar
marcada pela ausência familiar, desinteresse da juventude, indisciplina e
violência, acreditamos na presença pedagógica como ferramenta capaz de
ressignificar a prática e construir resultados mais significativos para a educação
escolar.
Para Costa (2001), a pedagogia da presença deve possibilitar ao
profissional melhorar seu desempenho pessoal, construir novas motivações,
novas visões, novas atitudes.
Fazer-se presença construtiva na vida de um adolescente em dificuldade pessoal e social é, pois, a primeira e mais primordial das tarefas de um educador que aspire assumir um papel realmente emancipador na existência de seus educandos. (COSTA, 2001.p.27)
Assim sendo, conforme Gutierrez (1988) a consciência de que o ato de
ensinar é também um ato político e que o professor é um agente social
formador/transformador, a atuação docente deve ser capaz de levantar
hipóteses, questionar conceitos e ressignificar as verdades, mediante a
problematização dos fatos que atestam as experiências do educando. Dentro de
uma perspectiva libertadora deve enxergar o educando para além de um ser
passivo, forjado na uniformidade dos comportamentos e na harmonização das
relações sociais. Notá-lo sujeito que está inserido num “processo contínuo de
construção da realidade, envolto nas contradições, desejos e potencialidades”.
(FREIRE, 1997. p.42).
No ambiente escolar a presença pedagógica tem se manifestado de forma
a não levar em conta a realidade dos educandos. Num contexto de famílias
desestruturadas, violência e indisciplina escolar, falta de perspectiva dos jovens
e apoio dos pais. De acordo com Costa (2001) é crescente entre nós, o número
de adolescentes que necessitam de uma efetiva ajuda pessoal e social para a
superação dos obstáculos ao seu pleno desenvolvimento como pessoas e como
cidadãos. Sob essa perspectiva, o olhar do professor sobre o aluno tem sido
fundamental. Costa (2000) destacava em entrevista que é necessário virar o nosso
olhar, ver o adolescente como solução e não como problema. Trazia a foco que quando
se reúne os adolescentes numa escola e fala em resolver os problemas que temos.
Nem precisa perguntar: Quais são? O que fazer? Como fazer? Quando fazer? Onde
fazer? Quando começar? Basta montar um plano e envolver os jovens nisso, assim se
caracteriza a prática do “protagonismo juvenil”. O jovem como solução de problemas
reais na escola, na comunidade e na vida social mais ampla.
É recorrente dentro das escolas, crianças e adolescentes cometendo
infrações que se caracterizam por agressões verbais, físicas, pichações, bullying
e furtos, sem nenhuma causa aparente que justifique tais ações ou
comportamentos. No cotidiano de muitas escolas públicas do Brasil a presença
pedagógica ainda não é uma realidade. Porém, muitos professores tem adotado
práticas individuais que fazem a diferença na vida de muitos estudantes. Por
isso, o presente estudo parte da seguinte problemática: De que forma a atuação
docente pela presença pedagógica é capaz de modificar a realidade de vida de
seus alunos? Acredita-se que ser presença pedagógica é por em prática a
empatia, a solidariedade. É comprometer-se, enquanto profissional, com o outro.
Neste caso, com o adoslescente em formação, muitas vezes, de família
desestruturada, que dispõe na vida, unicamente da escola como espaço de
transformação e, dos professores, que o enxerga, como agente motivador para
fugir do anonimato e se encontrar na vida.
Costa(2001) enfatiza que fazer-se presente na vida de um educando é o
gesto fundamental da ação educativa direcionada ao adolescente em situação
de dificuldade pessoal e social. Defende a presença como conceito central, o
instrumento chave e o objetivo maior da pedagogia.
Nessa perspectiva, este artigo tem por objetivo verificar a percepção dos
alunos do 3º ano quanto aos aspectos que envolve a presença pedagógica no
âmbito escolar e qual a influência dessa presença na vida intra e extra escolar
desses estudantes. Neste sentido justifica-se estudos que promovam a formação
integral dos jovens estudantes, envolvendo aspectos importantes da formação
cidadã numa relação de ser/estar no mundo.
2. MARCO TEÓRICO
A escola enquanto organização social não pode fugir das mudanças que
acontecem na sociedade. E, quanto à essas mudanças que aconteceram no
âmbito educacional, Banaletti e Dameto (2015) afirmam que:
Ao refletir sobre as mudanças que aconteceram na instituição Escola, pode-se constatar evidentemente que estas vêm acompanhadas de transformações sociais, econômicas, políticas e culturais. A escola, assim como a sociedade, sofreu mudanças quanto a sua legislação, seus valores, sua cultura. As mudanças no mundo do trabalho e na gestão política, em grande medida inseridas naquilo que se pensa como “globalização”, originou novas formas de pensar e fazer a educação, tendo em vista a constituição de um novo sujeito. (BANALETTI e DAMETTO 2015, p.5)
As causas que podem estimular ou desencadear comportamentos de
indisciplina e violência são diversas e complexas. Vários estudos têm apontado
para o desempenho pessoal e profissional do professor ao se pensar saídas para
estes problemas na escola atualmente. Para fundamentar está ideia a proposta
de Costa (2001) cita “... o desempenho que devemos esperar de um educador
emocional e tecnicamente preparado é que ele use o bom senso, para evitar
situações que venham a requerer mobilizações extremas de habilidades e
sentimentos”. Em outras palavras, o bom senso deve ser capaz de:
Refletir sobre os acontecimentos comuns do dia a dia nos parece o melhor dos caminhos. Quando incorporamos este tipo de atitude, já não somos vítimas do tédio e do aborrecimento, porque continuamente estaremos fazendo descobertas sobre nossos educandos e sobre nós mesmos, Sem isso, nos condenamos à rotina, à auto complacência e ao desinteresse. (COSTA, 2001, p. 18)
Sob esse ponto de vista, alinhar domínio técnico e emocional ao diálogo
frente a história de vida dos alunos ajuda a identificar as teias de problemas que
compõe cada perfil.
Para tanto, Freire (1989, p.43) nos faz compreender que educar deve ser
um ato de amor. A força do amor que perpassa a relação entre quem educa e
quem aprende gera condições para que se cultive a autoestima e a coragem em
ambos. Este amor deve ser manifestado quando o profissional se propor ser
presença pedagógica na vida de seu aluno.
Ser presença pedagógica é reconhecer e questionar a influência que as
mídias têm exercido sobre a nova geração. Suas programações muitas vezes
incluem desvio de valores que são apresentados como algo normal pelas
emissoras, que buscam apenas por uma elevada audiência sem levar em conta
a formação cidadã do ser.
Neste cenário alguns pesquisadores, no entanto, defendem a construção
de uma educação humanizadora para a sociedade contemporânea. Preto e
Zitkoski (2016, p.46 e 47) consideram que deve ter como meta a construção dos
fundamentos de uma pedagogia crítico-humanizadora voltada para as
transformações da cultura e da vida humana em sociedade. Em outras palavras,
a ação docente deve ser capaz de contestar para modificar os valores. Construir
vínculos afetivos que estimulem o combate as situações adversas por meio da
interação social. Nesta perspectiva, em diálogo com Libâneo ( 2003),
acreditamos ser o professor responsável por mediar a relação ativa do aluno com
a matéria, levando em conta os conteúdos próprios de sua disciplina, assim
como, os conhecimentos, a experiência e os significados que estes trazem à sala
de aula.
A mediação na relação professor/aluno e de ensino/aprendizagem, pela
pedagogia da presença, fazendo uso da empatia, poderá brotar o fim da
dominação e da opressão quando pela correção das desigualdades na
sociedade, pelo fim das mazelas sociais e pela liberdade os profissionais junto a
seus alunos conseguirem construir novos significados.
3. MARCO METODOLÓGICO
O presente trabalho configura-se como pesquisa básica de caráter
descritivo que envolve levantamento bibliográfico e pesquisa de campo. De
acordo com Triviños (2008), as pesquisas que envolvem os estudos descritivos
são bastante comuns no campo da educação e geralmente objetivam descrever
de forma mais aprofundada as pessoas inseridas em uma determinada
realidade.
A pesquisa de campo foi desenvolvida na Escola Estadual EREM Manoel
Gonçalves de Lima, que, oferece Ensino Integral e EJA, fica localizada a Rua
João de Moura Borba, 306, Centro, Cumaru-PE. O total de alunos matriculados
em 2019 contabilizou 544 alunos, sendo 120 alunos nos 3º anos, turmas que
foram selecionadas para nosso estudo.
A amostra pesquisada foi representada por 26 alunos do 3º ano do Ensino
Médio, que se disponibilizaram, mediante retorno dos termos de
permissão/participação assinados pelos pais ou responsáveis. É importante
pontuar que os sujeitos que participaram do estudo foram previamente
orientados quanto aos objetivos da referida pesquisa. Para preservar a
identidade dos respondentes, optou-se por codificar por letras e número cada
sujeito participante.
Os instrumentos de pesquisa utilizados foram, questionários
semiestruturados. Os dados obtidos através dos questionários foram abordados
de forma quali-quantitativa sendo considerada a análise das ações do dia-a-dia
de práticas e concepções pedagógicas, e de relações interativas que envolvem
o âmbito escolar.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
De acordo com Preto e Zitkoski (2016, p.46 e 47) uma educação
humanizadora é aquela que é comprometida com a defesa de um humanismo
no mundo contemporâneo. Deve ter como meta a construção dos fundamentos
de uma pedagogia crítico-humanizadora voltada para as transformações da
cultura e da vida humana em sociedade. Neste sentido a EREM Manoel
Gonçalves, traz em sua proposta pedagógica a perspectiva de uma educação
humanizadora e, sendo assim, foi indagado aos estudantes do 3º ano do Ensino
Médio se realmente eles se sentem acolhidos por seus professores. As
respostas dos referidos estudantes são apresentadas no Gráfico1.
Gráfico 1. Percepção dos alunos quanto aos professores da EREM Manoel
Gonçalves estarem sempre dispostos a acolher suas necessidades. Cumaru-
PE, 2020.
Fonte (dados da pesquisa de campo)
Constata-se no Gráfico 1 que a maioria (57,7%) dos estudantes
consideram que seus professores realmente estão dispostos a acolher suas
necessidades, o que dá indícios que estes promovem uma educação voltada
para a transformação dos seres em desenvolvimento. Conforme Costa (2001,
p.99) o acolhimento do educando começa
desde “as instalações e o material existentes ... sejam dispostas e mantidas de tal forma que essa disposição, esse arranjo cuidadoso, seja, em si mesmo, uma mensagem para o educando. A mensagem de que ele é importante, de que alguém se preocupa com o que ele sente, de que alguém quer que ele se sinta bem naquele lugar.”
O espaço organizado, já na acolhida, tematizado de acordo com a
proposta pedagógica a quem se quer atingir, limpo, acolhedor – reflete toda
missão pedagógica e didática para o(a) aluno(a). Constrói laços efetivos e é
capaz de suscitar o diálogo. Quebra barreiras, supera as hierarquias e levanta
outras possibilidades no convívio entre pessoas, pois, permite, por exemplo, na
maioria das vezes, aos jovens compreenderem a necessidade do esforço em
prol de sair de suas zonas de conforto, aceitar desafios, despertar para outros
desejos.
Por outro lado,em um espaço de pouca troca entre os atores da educação,
onde os laços não se estreitam, os alunos ainda jovens não se sentem à vontade
para demonstrar sentimentos. Por vergonha ou medo. Afirmam não trazer
Sim Não Parcialmente
57,70%
0%
42,30%
Professores sempre dispostos à acolher o aluno
“problemas pessoais para escola”. Outros, fazem questão de relatar nos espaços
sugeridos suas situações vivenciadas:
A1 (dezesseis anos): “Perceberam (os professores) a mudança de
comportamento e me chamaram para uma conversa. Inclusive, isso deveria
acontecer mais vezes, independentemente da situação”.
A2 (dezessete anos): “Estava triste e o professor percebeu, ele me
chamou para conversar e consegui resolver o meu problema”.
A3 ( dezoito anos): “Quando estava passando por problemas em casa
com meus pais”.
Por fim, A4, (dezessete anos), contribui dizendo: “Tem professores que
também são amigos e quando nos vêm tristes, conversam e procuram nos ajudar
da maneira que pode”.
Estes depoimentos vêm contribuir para um dos aspectos mais marcantes
da docência, a percepção do outro. Perceber aquele(a) a quem ninguém até
então notara. Importar-se com aquele(a) que jamais manifestou-se ou esboçou
qualquer reação na aula, e conquistá-lo(a). Levá-lo(a) a refletir sobre sua
condição e convencê-lo(a) a ousar para mudar.
Costa (2001) colabora com nossa pesquisa quando coloca que é
crescente entre nós, o número de adolescentes que necessitam de uma efetiva
ajuda pessoal e social para a superação dos obstáculos ao seu pleno
desenvolvimento como pessoas e como cidadãos. Argumenta que o papel do
professor que consegue enxergar com o coração seu aluno é primordial para o
adolescente. Da interação brotará a atitude política cidadã que produz resultados
muito ricos para o ser humano e a sociedade. E, nos contempla ainda com os
passos que esse adolescente deve seguir para vencer as dificuldades pessoais.
Defende a reconciliação do jovem consigo mesmo e com os outros.
Gráfico 2: A percepção dos(as) alunos(as) quanto a importância do afeto, do
carinho e da preocupação dos professores ao ensinar na EREM Manoel
Gonçalves. Cumaru – PE, 2020.
Fonte (dados da pesquisa de campo)
O afeto, o carinho e a empatia aparece como fator presente na escola
Manoel Gonçalves num percentual de 92,3% dos alunos que se submeteram ao
questionário. Entre os questionários analisados pudemos assinalar que os(as)
alunos(as) se sentiram importantes e estimulados quando foram abordados
sobre algum problema ou em dificuldade.
A1, (dezesseis anos), destaca que é uma “forma de descobrirmos amor
pela pessoa, além da diferença que faz demonstrar sentimentos”. Nesta fala nós
encontramos o pensamento de Paulo Freire que fundamenta-se na construção
da pedagogia do diálogo, do afeto, da conscientização, de reconhecimento à
historicidade de cada ser humano e do amor pelo outro. Uma conversa franca e
aberta, é capaz de destruir barreiras emocionais e superar obstáculos e
situações de conflitos pessoais e familiares. No momento que os(as) alunos(as)
são chamados (as) para falarem de si, adquirem força e coragem, alegria e
entusiasmo.
Alguns alunos ressaltam o trabalho de profissionais que apareceram pra
somar e fizeram a diferença em suas vidas. Outros destacam o desejo de se
espelhar em seus(suas) professores(as), para um dia poder contribuir tanto
quanto eles.
Deve ser dito aqui que a prática docente é também uma atitude política.
Quando levamos o(a) educando(a) a pensar e mudamos o foco da vida de
92,30%
0%7,70%
Sim Não Parcialmente
Demonstração de preocupação, afeto e carinho pelo(a) professor(a) é importante para o aluno
alguém em sala de aula, criamos nele a condição de mudar sua história e a
possibilidade de atuação em todo contexto de sua vivência.
Neste ponto a dialética freiriana aprofunda o conceito da teoria
psicanalítica de Fromm(1970) que defende a importância das relações
interpessoais, da percepção intuitiva, dos sentimentos e da capacidade cognitiva
do ser humano na construção de sua própria história e de um mundo mais
socializado. Fromm(1970) renova a psicanálise através de sua visão de
humanismo ao reconhecer que as relações sociais e a cultura de um
determinado grupo social ou sociedade são atributos imprescindíveis para
esclarecer o comportamento do ser humano e de seu psiquismo.
Quando o profissional consegue falar de seus sentimentos ele alcança um
espaço maior na vida do estudante, melhora a socialização e consegue tornar a
escola, a aula e seu trabalho mais significativo. A exposição dos dramas
pessoais familiariza os estudantes. A medida que o profissional da educação
medeia o encontro de várias realidades, traumáticas ou não, passa impressões
positivas de fortalecimento e apoio. Para Libâneo esse gesto caracteriza a
função do professor, que, é de ajudar o aluno, num processo de mediação
pedagógica. “O professor medeia à relação ativa do aluno com a matéria,
inclusive, com os conteúdos próprios de sua disciplina, mas considerando os
conhecimentos, a experiência e os significados que os alunos trazem à sala de
aula” (LIBÂNEO, 2003, p. 29).
Esta passagem faz lembrar a fala de vários profissionais da educação nos
conselhos de classe. A satisfação dos professores pela mudança de
comportamento do aluno. O entusiasmo e a alegria pelas conquistas de alunos
com histórias de vida tão duras. Mas que alcançaram a superação.
Faz-se notar a escola como oportunidade de mudança de vida e de
crescimento pessoal e profissional. Em seus escritos na nossa pesquisa, quando
questionados sobre a participação dos professores em suas vidas, pudemos
detectar a preocupação em ser reconhecidos pelo que lhes demonstra ser mais
importante. A honradez da profissão, a determinação, a capacidade de
superação das dificuldades, ser bom profissional, o exemplo de luta, de pessoa
de bem e profissional comprometido, de exercer a empatia e buscar vencer os
objetivos.
Gráfico 3: A percepção de respeito dos alunos pelos professores da EREM
Manoel Gonçalves. Cumaru-PE, 2020.
Fonte (dados da pesquisa de campo)
No Gráfico 3, nos deparamos com um intenso debate entre ter autoridade
ou ser autoritário. Ser amigo ou ser bonzinho. Ser flexível ou ser frouxo. É
importante pensar de que maneira deve a escola e todos seus atores devem se
apresentar para construir com harmonia o conhecimento. É preciso pensar nos
padrões de famílias que temos e percebermos e, sobretudo respeitar as
questões culturais que estão atreladas a cada família,.
Nesta perspectiva, podemos questionar qual é a escola ideal? Qual é o
professor ideal? Qual é a regra que devemos submeter nossos filhos na escola
e na rua? Quais são os limites de minha educação na escola e na família? A
própria escola parece não ter respostas para estas indagações e isso pode ser
constatado nos argumentos apresentados pelos sujeitos que participaram da
pesquisa, e destacamos a ideia de: . A1, sobre os professores acolherem as
dificuldades – “nem todos realmente se preocupam conosco, muitas vezes
querem saber de nossas vidas”. Uma reposta que remete a invasão da
intimidade dos(as) alunos(as), incide na questão ética dos profissionais. Noutro
53,80%
34,60%
11,50%
50%
23,10%
Mantém suaautoridade
Se mostra flexível,acessível e
democrático
Ministradisciplinas mais
importantes
Professores quetêm mais dominio
do conteúdo
Outro
Os(as) alunos(as) têm respeito ao professor quando ...
ponto, sobre transmitir mensagem de otimismo e estímulo, A1, também, deixa
transparecer, a falta de sensibilidade e ética, “ nem todos fazem isso, às vezes,
com palavras nos desestimulam”.
A2, atribuímos a frase: “Ser como um pai, porque a escola é nossa
segunda casa”. Esta frase é curiosa. “Ser como um pai” podemos incorrer de
não caminharmos para uma coisa boa no que diz respeito a educação. Primeiro
é preciso distinguir bem. A escola e a casa. Há coisas da escola, e há coisas de
casa que nós precisamos demarcar bem. Acima de tudo, meu
(minha)professor(a) não é meu(minha) pai(mãe).
O estilo de conivência da família para com o(a) filho(a) muitas vezes
suprime a prevalência do respeito, a necessidade de vencer pelo esforço, da
conquista dos adolescentes e de lidar com situações difíceis. Meninos e meninas
muito protegidos acabam por se tornarem adultos sem iniciativa e dependentes.
Quando chegam na escola “esses(as) meninos(as)” não podem ser
contrariados(as), distraem-se com muitos aparelhos tecnológicos, dispõem de
“tudo” que os pais e/ou responsáveis podem comprar e que contribui para formar
sujeitos que tudo querem e “podem”.,
Quando a educação familiar é muito permissiva isso reflete no
comportamento das crianças e adolescentes que geralmente não se interessam
pelos estudos, não têm um projeto de vida ou plano de futuro para se orientarem
e ao menor sinal de dificuldade sentem-se frustrados e não conseguem tomar
decisões sozinhos e serem cidadãos autônomos. Costa (2001) reforça nosso
pensamento quando afirma que é crescente entre nós, o número de
adolescentes que necessitam de uma efetiva ajuda pessoal e social para a
superação dos obstáculos ao seu pleno desenvolvimento como pessoas e como
cidadãos.
5. CONCLUSÕES
Os alunos reconhecem a importância do trabalho de seus professores e
suas professoras. Destacam que aqueles(as) que demonstram empatia, afeto e
amor constrõem laços mais duradouros e inspiram profissões e mudança de
comportamento. Destacaram aqueles profissionais que buscaram ao longo das
aulas se preocupar com suas histórias de vida.
Muitos profissionais da educação passam a ser referência pessoal e
profissional, para seus alunos(as), pois externam histórias de dificuldades e
superação. Quando socializam suas dificuldades e suas conquistas acabam por
motivá-los a enfrentar suas adversidades.
Há relatos de que em momentos de crise familiar, os alunos puderam
contar com seus professores para superarem questões pessoais. Outros
enfatizaram que tem seu professor de Química como espelho por toda vida.
Assinalaram maior respeito e interesse pelos profissionais quando notaram neles
domínio de conteúdo e disciplina durante as aulas. Posturas que remetem a
comprometimento, respeito e sabedoria. Esta iniciativa de ser presença
pedagógica na vida do aluno não é um fim. Mas constitui-se num meio de
estimular o ser em desenvolvimento a quebrar barreiras, superar limites e
levantar outras possibilidades no convívio entre pessoas, pois, permite, por
exemplo, na maioria das vezes, aos jovens compreenderem a necessidade do
esforço em prol de sair de suas zonas de conforto, aceitar desafios, despertar
para outros desejos.
A pedagogia da presença enquanto instrumento democrático na sala de
aula, promove a autonomia e a inclusão no mundo pela bagagem que transita
da escola para a vida nas falas da juventude; manifesta afeto e altruísmo; prova
de que “se importar” com o outro faz bem.
Diante dos resultados foi importante constatar que o campo em pesquisa
comunga com as ideias de Fromm sobre o papel da escola e a atuação docente
nos dias atuais. Nele, a educação necessária para humanizar esse mundo
materialista movido pela tecnologia é aquela que coloca no centro de sua
proposta pedagógica o ser humano como sujeito histórico e não a mercadoria
por ele produzida. E vai além, defende que não existe apenas educação teórica
e/ou educação prática. Ao se propor formar sujeitos históricos, a escola promove
o exercício do protagonismo, da dinâmica social, da mudança estrutural pela
diversidade e comunhão das ideias. O senso crítico, a leitura e o questionamento
sobre a realidade como fatores de progresso cultural.
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