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BLOQUEIO DA MEIOSE COM BUTIROLACTONA I EM OVÓCITOS BOVINOS: EFEITOS SOBRE A MATURAÇÃO NUCLEAR E CITOPLASMÁTICA PAULO ROBERTO ADONA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO – UENF CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ MARÇO – 2006

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  • BLOQUEIO DA MEIOSE COM BUTIROLACTONA I EM OVÓCITOS BOVINOS: EFEITOS SOBRE A MATURAÇÃO NUCLEAR E CITOPLASMÁTICA

    PAULO ROBERTO ADONA

    UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO – UENF

    CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ MARÇO – 2006

  • BLOQUEIO DA MEIOSE COM BUTIROLACTONA I EM OVÓCITOS BOVINOS: EFEITOS SOBRE A MATURAÇÃO NUCLEAR E CITOPLASMÁTICA

    PAULO ROBERTO ADONA

    Tese apresentada ao Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como parte das exigências para obtenção do título de Doutor em Produção Animal.

    Orientadora: Profª. Drª. Cláudia Lima Verde Leal CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ

    MARÇO – 2006

  • FICHA CATALOGRÁFICA

    Preparada pela Biblioteca do CCTA / UENF 028/2006

    Adona, Paulo Roberto

    Bloqueio da meiose com butirolactona I em ovócitos bovinos : efeitos sobre a maturação nuclear e citoplasmática / Paulo Roberto Adona. – 2006. 78 f. il.

    Orientador: Cláudia Lima Verde Leal Tese (Doutorado em Produção Animal) – Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias. Campos dos Goytacazes, RJ, 2006. Bibliografia: f. 55-67.

    1. Butirolactona I 2. Embrião 3. Maturação 4. Meiose 5. Ovócito bovino I. Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias. II. Título.

    CDD 636.2082

  • BLOQUEIO DA MEIOSE COM BUTIROLACTONA I EM OVÓCITOS BOVINOS: EFEITOS SOBRE A MATURAÇÃO NUCLEAR E CITOPLASMÁTICA

    PAULO ROBERTO ADONA

    Tese apresentada ao Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como parte das exigências para obtenção do título de Doutor em Produção Animal.

    Aprovado em 10 de março de 2006. Comissão Examinadora: ___________________________________________________________________

    Profª. Drª. Gisele Zoccal Mingoti (Doutorado em Fisiologia) UNESP ___________________________________________________________________

    Profª. Drª. Maria Clara Caldas Bussiere (Doutorado em Fisiologia) UENF ___________________________________________________________________

    Profº Dr. Reginaldo da Silva Fontes (Doutorado em Fisiologia) UENF ___________________________________________________________________ Profª. Drª. Cláudia Lima Verde Leal (Doutorado Reprodução Animal) USP/FZEA

    (Orientador)

  • ii

    AGRADECIMENTOS

    Em especial à minha mãe, meu irmão e às minhas irmãs.

    Gostaria de expressar minha profunda gratidão e carinho, em especial:

    À Rosângela A. Queiroz;

    À Cláudia L. V. Leal;

    À Margot A. N. Dode;

    À Maineide Z. Velasques.

    À todos meus amigos pelo carinho e companheirismo. Sem cada um de vocês

    nada disso seria possível e a vida não teria sentido.

    Alexandre Barreto; Aline S. M. César; Amanda de A. Rocha; Aparecida Mandella; Bethania Lopes; Bruno Fagundes; Camila Cortez; Fabiana Bressan; Felipe C. Braga; Fernando Biaze; Flávio P. Júnior; Giovana K. F. Merighe; Gustavo (Sancho); Hebinho (Baby Sauro) Isabele P. Emanuelli; Kátia L. Schwartz; Kelen S. Viana; Lígia Garcia Mesquita; Marcos R. Chiaratti; Mariene (Bitoca); Moysés S. Miranda; Nilton P. dos Santos; Norma Clea Rodovalho; Patrícia M. Porciúncula; Paula Ripamonte; Pedro Ratto; Roberto Carneiro; Rosemary Bastos; Sílvia G. Matta; Sylvia S. Cortezzi; Tiago H. C. De Bem; Vanessa G. Ueno;

  • iii

    Aos Professores: Maria Clara C. Bussiere, Flávio Vieira Meirelles, Reginaldo

    Fontes, Gisele Zoccal Mingoti.

    Àqueles que contribuíram direta ou indiretamente para a realização desse

    trabalho.

    À Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy R. (UENF/CCTA/LMGA);

    À Universidade de São Paulo (USP/FZEA/ZAB);

    À FAPESP, pelo financiamento do projeto de pesquisa;

    À CAPES, pela concessão da bolsa de estudo.

  • iv

    BIOGRAFIA

    PAULO ROBERTO ADONA, filho de Ivo Adona e Maria Boniatti Adona,

    nasceu em 26 de agosto de 1966, na cidade de Campinas do Sul – RS.

    Em março de 1995, ingressou no curso de Biologia da Universidade Católica

    Dom Bosco (UCDB), em Campo Grande – MS. Submeteu-se à apresentação de

    monografia para conclusão do curso em dezembro de 1998.

    Foi selecionado em março de 1997 como estagiário do setor de Reprodução

    Animal da Embrapa – CNPGC, sob orientação da Pesquisadora Drª. Margot A. N.

    Dode.

    Foi aprovado em agosto de 2000 no curso de Pós-graduação em Produção

    Animal, a nível de mestrado, da Universidade Estadual do Norte Fluminense

    (UENF), Campos dos Goytacazes – RJ, submetendo-se à defesa de tese para a

    conclusão do curso em abril de 2002.

    Foi aprovado em março de 2002 no curso de Pós-graduação em Produção

    Animal, a nível de doutorado, da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy

    Ribeiro (UENF), Campos dos Goytacazes – RJ, submetendo-se à defesa de tese

    para a conclusão do curso em março de 2006.

  • v

    CONTEÚDO LISTA DE ABREVIATURAS------------------------------------------------------------------- viii RESUMO ------------------------------------------------------------------------------------------- x ABSTRACT ---------------------------------------------------------------------------------------- xii

    1. INTRODUÇÃO ----------------------------------------------------------------------------- 01 2. REVISÃO DE LITERATURA ----------------------------------------------------------- 03

    2.1. Ovogênese e foliculogênese ----------------------------------------------------- 03

    2.2. Maturação ovocitária --------------------------------------------------------------- 04

    2.2.1. Maturação nuclear ----------------------------------------------------------- 05

    2.2.2. Maturação citoplasmática ------------------------------------------------- 06

    2.2.3. Organização estrutural na maturação ---------------------------------- 07

    2.2.3.1. Citoesqueleto --------------------------------------------------------- 07

    2.2.3.2. Organelas -------------------------------------------------------------- 08

    2.2.3.2.1. Mitocôndrias ----------------------------------------------------- 08

    2.2.3.2.2. Grânulos corticais --------------------------------------------- 09

    2.2.4. Mudanças moleculares e bioquímicas --------------------------------- 10

    2.2.4.1. Cinases dependentes de ciclinas (CDKs) --------------------- 11

    2.2.4.2. Fator promotor da maturação (MPF) --------------------------- 12

    2.2.4.3. Proteína cinase ativada por mitógenos (MAPK) ------------- 13

    2.3. Competência ovocitária ------------------------------------------------------------ 15

    2.4. Bloqueio meiótico-------------------------------------------------------------------- 17

    3. OBJETIVOS -------------------------------------------------------------------------------- 20

  • vi

    4. MATERIAL E MÉTODOS --------------------------------------------------------------- 21 4.1. Coleta de ovários e ovócitos ----------------------------------------------------- 21

    4.2. Solução estoque do inibidor ------------------------------------------------------ 22

    4.3. Bloqueio da meiose com butirolactona I --------------------------------------- 22

    4.4. Determinação do estádio da meiose ------------------------------------------- 22

    4.5. Maturação in vitro ------------------------------------------------------------------- 23

    4.6. Microtúbulos -------------------------------------------------------------------------- 24

    4.7. Microfilamentos ---------------------------------------------------------------------- 24

    4.8. Grânulos corticais ------------------------------------------------------------------- 25

    4.9. Mitocôndrias -------------------------------------------------------------------------- 25

    4.10. Fecundação e cultivo in vitro --------------------------------------------------- 25

    4.11. Delineamento experimental ----------------------------------------------------- 27

    4.11.1. Experimento 1. Avaliação de concentrações decrescentes de

    BL I em meio suplementado com BSA -----------------------------------------------------

    27

    4.11.2. Experimento 2. Avaliação de concentrações crescentes de BL

    I em meio sem suplementação de BSA ----------------------------------------------------

    27

    4.11.3. Experimento 3. Efeito do bloqueio da meiose na maturação

    nuclear ----------------------------------------------------------------------------------------------

    28

    4.11.4. Experimento 4. Cinética da maturação nuclear pós-bloqueio

    da meiose ------------------------------------------------------------------------------------------

    29

    4.11.5. Experimento 5. Efeito do bloqueio da meiose na organização

    dos microtúbulos e dos microfilamentos ---------------------------------------------------

    29

    4.11.6. Experimento 6. Efeito do bloqueio da meiose na distribuição

    dos grânulos corticais e das mitocôndrias -------------------------------------------------

    30

    4.11.7. Experimento 7. Efeito da BL I no desenvolvimento

    embrionário in vitro -------------------------------------------------------------------------------

    31

    4.12. Análise estatística ----------------------------------------------------------------- 32

    5. RESULTADOS ----------------------------------------------------------------------------- 33 5.1. Experimento 1. ----------------------------------------------------------------------- 33

    5.2. Experimento 2. ----------------------------------------------------------------------- 34

    5.3. Experimento 3. ----------------------------------------------------------------------- 35

    5.4. Experimento 4. ----------------------------------------------------------------------- 36

    5.5. Experimento 5. ----------------------------------------------------------------------- 38

  • vii

    5.7. Experimento 6. ----------------------------------------------------------------------- 40

    5.9. Experimento 7. ----------------------------------------------------------------------- 43

    6. DISCUSSÃO ------------------------------------------------------------------------------- 45 7. CONCLUSÕES ---------------------------------------------------------------------------- 54 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ------------------------------------------------- 55

    APÊNDICE ----------------------------------------------------------------------------------------- 68

  • viii

    LISTA DE ABREVIATURAS μg – micrograma;

    μL – microlitro;

    μM – micromolar;

    AI – anáfase I;

    AMPc – monofosfato de adenosina cíclica;

    ATP – trifosfato de adenosina;

    B199 – TCM-199, sais de Earle e 20 mM de bicarbonato de sódio;

    BL I – butirolactona I;

    BSA – albumina sérica bovina;

    CDK – cinase dependente de ciclina;

    CIV – cultivo in vitro;

    CO2 – dióxido de carbono;

    CSF – fator citostático;

    DMSO – dimetilsulfóxido;

    DNA – ácido desoxirribonucléico;

    ERK – cinase regulada por sinal extracelular (MAPK);

    FITC – isotiocianato de fluoresceína;

    FIV – fecundação in vitro;

    FSH – hormônio folículo estimulante;

  • ix

    GDP – guanosina difosfato;

    GTP – guanosina trifosfato;

    H199 – TCM -199, sais de Earle, 20 mM de bicarbonato de sódio e 25 mM de Hepes;

    LH – hormônio luteinizante;

    MAPK – proteína cinase ativada por mitógenos;

    MAP2K, MAP3K, MAP4K – cinases ativadoras de cinases ativadas por mitógenos

    MAT – metáfase I, anáfase I e telófase I;

    MBP – proteína básica de mielina;

    MEK – cinase regulada por sinal extracelular (MAP2K);

    MI – metáfase I;

    MII – metáfase II;

    Miss – MAPK de interação e estabilização do fuso meiótico;

    MIV – maturação in vitro;

    mL – mililitro;

    mos – oncogene c-mos;

    MPF – fator promotor da maturação;

    Myt1, Wee1 e CDC25 – proteínas cinases envolvidas na atividade do MPF;

    P90RSK – proteína cinase ribossomo S6;

    PBS – tampão fosfato salina;

    PIV – produção in vitro;

    PKA – proteína cinase A;

    PKC – proteína cinase C;

    PVA – álcool polivinílico;

    Raf-1 – MAP3K;

    Ras – MAP4K;

    RNAm – ácido ribonucléico mensageiro;

    SFB – soro fetal bovino;

    SOF – fluido de oviduto sintético;

    TALP – meio tyrode’s com albumina, lactato e piruvato;

    TCM-199 – meio de cultura de tecidos 199;

    TI – telófase I;

    VG – vesícula germinativa.

  • x

    RESUMO

    ADONA, Paulo Roberto, Dr. S., Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy

    Ribeiro: março de 2006; Bloqueio da meiose com butirolactona I em ovócitos

    bovinos: efeitos sobre a maturação nuclear e citoplasmática; Orientador: Profª. Drª.

    Cláudia Lima Verde Leal. Conselheiro: Profª. Drª. Maria Clara Caldas Bussiere.

    O presente estudo teve por objetivo avaliar o efeito do uso da butirolactona I

    (BL I) na pré-maturação sobre a progressão da meiose, estruturas celulares e

    desenvolvimento de ovócitos bovinos cultivados in vitro. Ovários bovinos foram

    coletados em frigoríficos e os folículos de 2-6 mm de diâmetro foram aspirados para

    a obtenção dos ovócitos. Inicialmente, foram avaliadas diferentes concentrações de

    BL I em meio suplementado ou não com BSA. Houve diferença (P < 0,05) nas taxas

    de vesícula germinativa (VG) entre os grupos C/24 (0,0%), 25 (65,1%), 50 (84,4%) e

    100 μM (97,4%) de BL I suplementados com BSA, mas não houve diferença (P >

    0,05) entre os tratados com 10 (94,7%), 15 (97,2%), 20 (98,7%) e 25 μM (98,7%) de

    BL I em meio sem BSA. As taxas de maturação (MII) não diferiram (P > 0,05) entre o

    controle (91,1%) e os tratados com 10 (B10 = 91,5%) e 100 μM (B100 = 92,4%) de

    BL I. Em relação à cinética de MIV pós-bloqueio, observou-se que às 6h de MIV os

    grupos B10 (71,4%) e B100 (74,3%) apresentaram taxas de VG inferiores (P < 0,05)

    ao controle (97,3%). Com 12h de MIV a maior parte dos ovócitos estava em estádios

    intermediários da meiose (MAT) (77,9; 83,1 e 86,4% para controle, B10 e B100,

    respectivamente, P > 0,05). Com 18h de MIV as taxas de MII não diferiram (P >

  • xi

    0,05) entre controle (72,0%), B10 (73,7%) e B100 (78,9%). Com relação aos

    microtúbulos não foram observadas alterações no fuso meiótico quanto à

    organização e formação da placa metafásica nos diferentes grupos de ovócitos

    (controle, B10 e B100) e horários (0, 6, 12, 18 e 24h) avaliados. Também não foi

    observada nenhuma alteração no arranjo dos microfilamentos no citoplasma dos

    ovócitos avaliados nas mesmas condições. Em 100% dos ovócitos não maturados

    independente do grupo (C/0h, B10 e B100), os grânulos corticais apresentavam-se

    dispersos pelo citoplasma (P > 0,05) dos ovócitos. Após 24h de MIV, 98% dos

    ovócitos apresentavam migração dos grânulos corticais para a região periférica do

    citoplasma em todos os grupos (P > 0,05). As mitocôndrias nos ovócitos não

    maturados dos grupos tratados encontravam-se em sua maioria na periferia dos

    ovócitos (81,5 e 86,9%, P > 0,05), mas foi inferior (P < 0,05) ao controle (100%).

    Após 24h de MIV, as mitocôndrias migraram por todo o ovócito, sendo o grupo C/24

    (81,5%) inferior (P < 0,05) aos grupos B10M (95,2) e B100M (98,2%) que não

    diferiram entre si (P > 0,05). As taxas de clivagem (81-87%) não diferiram (P > 0,05)

    para os ovócitos submetidos à FIV nos grupos controle, B10 e B100. Com relação à

    percentagem de blastocisto no D7, os grupos controle (38,3%) e B10 (41,6%) não

    diferiram entre si (P > 0,05), mas ambos foram superiores (P < 0,05) ao grupo B100

    (33,0%). A taxa de blastocisto eclodido foi similar (P > 0,05) entre os grupos controle

    (19,2%), B10 (17,7%) e B100 (11,0%) no D8. Também não foi observada variação

    (P > 0,05) no número médio de células dos blastocistos no D8, entre o controle

    (138), B10 (136) e B100 (150). A pré-maturação com BL I não aumentou os índices

    de desenvolvimento, porém também não induziu alterações estruturais e não

    comprometeu (B10) o desenvolvimento embrionário, sugerindo a possibilidade de

    sua aplicação em biotécnicas de PIV de embriões e de clonagem.

    Palavras-chave: butirolactona I, embrião, maturação, meiose e ovócito bovino.

  • xii

    ABSTRACT

    ADONA, Paulo Roberto, Dr. S., Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy

    Ribeiro: março de 2006; Meiosis block using butyrolactone I in bovine oocytes:

    Effects on nuclear and cytoplasmic maturation; Supervisor: Prof. Dr. Cláudia Lima

    Verde Leal. Counselor: Prof. Dr. Maria Clara Caldas Bussiere.

    The present study aimed to assess the effects of butyrolactone I (BL I) in pre-

    maturation on meiosis progression, cellular structures and development of bovine

    oocytes cultured in vitro. Bovine ovaries were collected in abattoirs and 2-6mm

    follicles were aspirated to obtain oocytes. Initially, different BL I concentrations were

    evaluated in B199 medium supplemented or not with BSA. Germinal vesicle (GV)

    rates were different (P < 0.05) among the groups C/24 (0.0%) 25 (65.1%), 50

    (84.4%) and 100 μM (97.4%) BL I in medium supplemented with BSA. However, no

    difference (P>0.05) was observed when oocytes were cultured with 10, 15, 20 and 25

    μM BL I (94.7, 97.2, 98.7 and 98.7%, respectively) in medium without BSA.

    Maturation rates (MII) were similar (P > 0.05) between controls (91.1%) and treated

    oocytes (91.5 and 92.4% for B10 and B100, respectively). Regarding maturation

    kinetics, VG rates at 6h IVM in controls (97.3%) were superior (P < 0.05) to treated

    oocytes (71.4 and 74.3% for B10 and B100, respectively). At 12h most of the oocytes

    were at intermediate stages of meiosis (77.9, 83.1 and 86.4%, for control, B10 and

    B100, respectively, P>0.05). After 18 h IVM, MII rates were similar (P > 0.05) among

    groups (72.0, 73.7 and 78,9% for control, B10 and B100, respectively). Regarding

  • xiii

    microtubules no alterations in meiotic spindle were observed for organization and

    formation of metaphase plate in different groups (control, B10 and B100) and IVM

    periods (0, 6, 12, 18 and 24h). No alterations in microfilament arrangement were

    observed either under the same conditions. All immature oocytes (100%) presented

    cortical granules (CG) dispersed throughout the cytoplasm, irrespective of oocyte

    group (C/0h, B10 and B100, P > 0.05). After 24 h IVM, also irrespective of oocyte

    group, 98% of the oocytes had the CG migrated to the periphery of the cytoplasm (P

    > 0.05). Immature oocytes in treated groups presented mitochondria mostly in the

    periphery of the oocytes (81.5 and 86.9%, P > 0,05), although at a lower rate than in

    control oocytes (100%, P < 0.05). After 24 h IVM, mitochondria migrated throughout

    the cytoplasm, but in both treated groups the migration rates were superior (95.2 and

    98.2% for B10 and B100, P > 0.05) to controls (81.5%, P < 0.05). Cleavage rates

    were not affected (81-87%, P > 0.05) in oocytes fertilized in vitro. However,

    blastocyst rates in day 7 were reduced in the B100 group (33.0%, P < 0.05). Controls

    and B10 had similar rates (38.3 and 41.6%, respectively, P >0.05). Day 8 hatching

    rates (19.2, 17.7 and 11.0% for control, B10 and B100, P > 0.05) and blastocyst cell

    numbers (138, 136 and 150 B100 for control, B10 and B100, P > 0.05) were

    unaffected. Pre-maturation using BL I did not increase blastocyst rates, but also did

    not affect cell structures and development (B10), suggesting the possibility of its use

    for in vitro embryo production and cloning.

    Palavras-chave: butyrolactone I, embryo, maturation, meiosis and oocyte bovine.

  • 1. INTRODUÇÃO

    Os mecanismos pelos quais os ovócitos adquirem a competência para

    desenvolverem-se até o estádio de blastocisto ainda não estão totalmente

    compreendidos. Há evidências de que a aquisição da competência está

    correlacionada com moléculas de RNAs e de proteínas estocadas e processadas

    durante as fases de crescimento, “capacitação” (pré-maturação) e maturação do

    ovócito. Essas moléculas são usadas para sustentar as fases iniciais da

    embriogênese até que a transcrição do DNA do embrião se torne ativa (DE LA

    FUENTE e EPPIG, 2001).

    Apesar dos muitos esforços para melhorar a produção in vitro (PIV) de

    embriões para fins científicos e/ou comerciais, a sua eficiência ainda é relativamente

    baixa. Apenas 35-40% dos ovócitos bovinos maturados in vitro (MIV) desenvolvem-

    se até o estádio de blastocisto (MAYES e SIRARD, 2001; SIRARD et al., 2006), e

    ainda desses, somente 30% chegam a termo após a transferência (WARD et al.,

    2002; PARK et al., 2005). Essas baixas taxas são determinadas por vários fatores

    decorrentes das etapas que constituem o sistema de PIV de embriões. As condições

    de cultura para maturação nuclear e citoplasmática do ovócito certamente têm um

    papel fundamental, e uma maturação completa é essencial para o desenvolvimento

    embrionário. Portanto, para a obtenção de um sistema que possibilite a produção de

    um maior número de embriões é necessária a compreensão dos mecanismos

    envolvidos na maturação.

    Observou-se que in vivo, os ovócitos, ao final de seu período de crescimento,

  • 2

    mas antes do período de maturação propriamente dito, passam por um período

    chamado de “capacitação”, o qual parece ser importante para o desenvolvimento

    pleno de sua competência. Nesse período ocorrem modificações estruturais e

    moleculares que são importantes para o desenvolvimento embrionário (HYTTEL et

    al., 1997, DIELEMAN et al., 2002).

    Os ovócitos utilizados no sistema de PIV de embriões normalmente já

    concluíram sua fase de crescimento e entraram no período de “capacitação”

    ovocitária (HYTTEL et al., 1997). Porém, ao serem removidos do ambiente folicular

    reiniciam a meiose (KUBELKA et al., 2000) e uma parte dessa população ainda não

    concluiu a “capacitação” ovocitária.

    Uma das alternativas que vários pesquisadores vêm analisando para estudar

    a competência de desenvolvimento dos ovócitos in vitro é o bloqueio da retomada da

    meiose antes da maturação. No entanto, pouco se sabe do que ocorre nesse

    período. De toda forma, o bloqueio da meiose serviria como ferramenta para estudar

    os possíveis fatores envolvidos na indução da “capacitação” após a remoção dos

    ovócitos do ambiente folicular, e que poderiam ter efeitos positivos sobre o

    desenvolvimento embrionário subseqüente. A obtenção de conhecimento nesse

    sentido, por sua vez, poderá contribuir para um melhor embasamento no

    desenvolvimento de procedimentos mais eficientes para a PIV de embriões bovinos.

  • 3

    2. REVISÃO DE LITERATURA

    2.1. Ovogênese e foliculogênese

    A ovogênese refere-se à seqüência de eventos em que as células

    germinativas primordiais diferenciam-se em ovogônias, ovócitos primários e

    secundários, findando com a fecundação do ovócito maturo (GONSALVES et al.,

    2002; VAN DEN HURK e ZHAO, 2005). Já a foliculogênese inicia-se com a

    formação dos folículos

    primordiais,

    progredindo para

    folículos primários,

    secundários e

    terciários, finalizando

    com a ovulação de um

    ovócito maturo

    (GONSALVES et al.,

    2002; VAN DEN

    HURK e ZHAO, 2005)

    (Figura 1). A

    diferenciação das

    células da linhagem

    germinativa feminina ocorre totalmente ou quase totalmente na fase

    embrionária/fetal dependendo da espécie (MOORE e PERSAUD, 2000;

    GONSALVES et al., 2002) (Tabela 1). Estudos recentes, porém, sugerem que possa

    Figura 1. Diagrama simplificado da ovogênese e foliculogênese. Fonte: adaptado de Gonsalves et al., (2002) e Van den Hurk e Zhao (2005).

    C. germinativas primordiais

    Endoderma

    Ovogônia

    Ovócito 1°

    Folículo primordial Folículo 1º

    Folículo 2º

    Folículo ovulatório

    Meiose IIOvulação

    Fecundação

    Zigoto

    Mitose

    FO L I C U L O G Ê N E S E

    Blastocisto

    O V O G Ê N E S

    Dictióteno

    Início da meiose I

    Prófase I

    Prófase I

    Folículo 3º Folículos pré-antrais

    Folículos antrais

    E

    Ovócito 2°

    Término da meiose I

    Término da meiose II

  • 4

    haver diferenciação dessas células também em adultos, embora a maior parte das

    evidências ainda indique que folículos primários sejam formados apenas na vida

    fetal (BUKOVSKY et al., 2005).

    Ao nascer, os bovinos dispõem de um número determinado de ovócitos

    primários, cada um dos quais com o material genético duplicado (GONSALVES et

    al., 2002). O processo de

    diferenciação dos ovócitos

    primários (imaturo) para

    secundários (maturo) é iniciado

    na maturidade sexual quando, a

    intervalos médios de 21 dias

    (bovinos), um ovócito (2n)

    conclui a primeira meiose

    iniciada na fase fetal. Agora, o ovócito secundário ou maturado (n) encontra-se apto

    para a fecundação. Com a fusão do espermatozóide, o ovócito finaliza sua segunda

    divisão meiótica (extrusão do segundo corpúsculo polar). Desse modo o material

    genético do ovócito é reduzido à metade por meio de duas divisões meióticas

    sucessivas. A ploidia retorna à sua conformação original (2n) com a interação

    (singamia) do material genético do espermatozóide com o do ovócito, formando

    assim o zigoto, que originará o embrião (MOORE e PERSAUD, 2000; GONSALVES

    et al., 2002; HAFEZ, 2002).

    Tabela 1. Cronologia da ovogênese e foliculogênese em bovinos e ovinos.

    Eventos Dias de gestação Bovinos Ovinos Células germinativas primordiais 35 23 Ovogônias 60 48 Ovócitos primários 75-80 55 Folículo primordial 90-130 90 Folículos primários 140 95 Folículos secundários 210 103 Folículos terciários 230-250 150 Nascimento 280 150

    Fonte: McNatty et al., 2000; Gonsalves et al., 2002; Fair, 2003

    2.2 . Maturação ovocitária

    Durante todo o período do desenvolvimento, desde a formação e crescimento

    dos ovócitos e dos folículos, até após o período da dominância folicular, os ovócitos

    bovinos permanecem em estádio de prófase da primeira meiose. In vivo, o reinício

    da meiose ocorre com o surgimento do pico pré-ovulatório de LH (hormônio

    luteinizante) e se dá somente nos ovócitos inteiramente crescidos e meioticamente

    competentes dos folículos pré-ovulatórios (FAIR, 2003; RODRIGUEZ e FARIN,

    2004). A competência dos ovócitos tem uma estreita relação com as multicamadas

    de células do cumulus que os cercam, mantendo uma importante via de

  • 5

    comunicação através das junções comunicantes (gap), antes e durante o pico pré-

    ovulatório de LH (RODRIGUEZ e FARIN, 2004; GILCHRIST et al., 2004). Logo após

    o pico de LH, começa a ocorrer o desaparecimento dessas vias de comunicação

    entre o ovócito e as células do cumulus (HYTTEL et al., 1997).

    A progressão do ciclo celular do ovócito até o estádio de metáfase da

    segunda meiose (metáfase II), tanto in vivo quanto in vitro, é marcada por uma série

    de transformações bioquímicas e estruturais no núcleo e no citoplasma do ovócito,

    eventos esses que caracterizam a maturação ovocitária (MACHATKOVA et al.,

    2004; DE SOUSA et al., 2004). Na transição da prófase I à metáfase II, estabelece-

    se uma complexa cascata de fosforilações e desfosforilações de uma série de

    proteínas envolvidas no reinício e na regulação da meiose (DEKEL, 2005; DUMONT

    et al., 2005). Entre as proteínas que mais se destacam no período da maturação

    estão as proteínas do complexo MPF (fator promotor da maturação) e da família

    MAPK (proteína cinase ativada por mitógenos). Para efeito de estudo, a maturação

    será dividida em maturação nuclear e citoplasmática, apesar desses eventos

    ocorrerem concomitantemente.

    2.2.1. Maturação nuclear

    A diferenciação do ovócito imaturo em maturo envolve uma série de

    alterações que são estimuladas principalmente por hormônios gonadotróficos

    (MERTON et al., 2003). Sob a influência dos hormônios, o ovócito recomeça seu

    ciclo celular progredindo da fase de diplóteno da prófase da primeira meiose

    (prófase I), passando pelos estádios de metáfase I, anáfase I, telófase I (término da

    primeira divisão meiótica) e progredindo até o estádio de metáfase da segunda

    divisão meiótica (MEINECKE et al., 2001). No intervalo que compreende os estádios

    de prófase I a metáfase II, os cromossomos condensam e o envelope nuclear é

    desfeito marcando o início da maturação nuclear (MEINECKE et al., 2001; JONES,

    2004). Dando seqüência, os cromossomos homólogos são divididos em dois grupos,

    com a metade do número original de cromossomos. Ao término da primeira divisão

    meiótica o citoplasma é dividido assimetricamente (CAN et al., 2003), gerando duas

    células de tamanhos diferentes: uma pequena chamada de corpúsculo polar e outra

  • 6

    grande, o ovócito secundário. Ao término da maturação nuclear o ovócito permanece

    nesse estádio do ciclo celular (metáfase II) até a fecundação (MAYES e SIRARD,

    2001) ou ativação partenogenética (YI e PARK, 2005).

    Os fatores da ativação (natural ou artificial) dos ovócitos maturos vão

    promover o término da segunda divisão meiótica, que se caracteriza pela progressão

    da metáfase II até a telófase II com a liberação do segundo corpúsculo polar. Após a

    ativação, o futuro embrião prossegue seu ciclo celular por divisão mitótica. In vitro, a

    maturação nuclear de ovócitos bovinos de folículos > 2 mm de diâmetro em

    condições apropriadas requer de 18 a 24 horas de cultivo (KHATIR et al., 1998;

    DODE e ADONA, 2001; ADONA e LEAL, 2004).

    2.2.2. Maturação citoplasmática

    A competência de desenvolvimento do ovócito em embrião em estádio

    adiantado de desenvolvimento é basicamente dependente das modificações

    bioquímicas, moleculares e estruturais do citoplasma. Essas alterações na

    maturação do ovócito são processos altamente complexos que envolvem vários

    eventos simultâneos como síntese de proteínas (KHATIR et al., 1997; SIRARD et al.,

    1998), modificações moleculares (KUBELKA et al., 2000) e migração e

    reorganização de organelas no citoplasma (STOJKOVIC et al., 2001). Se

    compararmos as taxas de

    maturação (Tabela 2),

    observaremos que a maturação

    citoplasmática (taxa de

    blastocistos) in vitro está aquém

    da maturação nuclear (taxa de

    metáfase II) (HASHIMOTO et al., 2002; OYAMADA et al., 2004; ADONA e LEAL

    2004). Por outro lado, in vivo, as taxas de blastocistos são de aproximadamente 80%

    (RIZOS et al., 2002).

    Tabela 2. Comparação entre maturação nuclear e citoplasmática.

    Nuclear1 Citoplasmática2

    81,0% 33,5% 81,4% 22,2% 90,9% 34,8%

    1 Taxa de ovócitos em estádio de metáfase II; 2 Taxa de embriões em estádio de blastocisto, após sete dias de cultivo in vitro. Fonte: Hashimoto et al., 2002; Oyamada et al., 2004; Adona e Leal, 2004

  • 7

    2.2.3. Organização estrutural na maturação

    2.2.3.1. Citoesqueleto

    Microtúbulos, um dos componentes do citoesqueleto, são filamentos

    altamente dinâmicos e sua dinâmica se dá pela adição (polimerização) ou remoção

    (despolimerização) constante de novas unidades de tubulina α e β. Na transição do

    ciclo celular durante a maturação de ovócitos de mamíferos ocorre uma intensa

    reorganização dos microtúbulos (KIM et al., 2000).

    Durante a maturação meiótica, duas populações de centrossomos regulam

    coordenadamente o conjunto de microtúbulos nos eventos nucleares e

    citoplasmáticos, tais como formação do eixo meiótico orientado assimetricamente,

    segregação dos cromossomos durante a meiose, a extrusão do primeiro corpúsculo

    polar e a formação da segunda placa metafásica (ALBERTS et al., 1997; KIM et al.,

    2000; CAN et al., 2003; SUN et al., 2004).

    Os erros de segregação dos cromossomos durante uma ou outra divisão

    meiótica podem resultar em embrião aneuplóide após a fecundação, o que por sua

    vez pode ter grave conseqüência para o desenvolvimento (BRUNET et al., 2003;

    SUN et al., 2004). Especificamente nos mamíferos, a perda ou ganho de um

    cromossomo autossômico resulta em distúrbios fisiológicos e de desenvolvimento

    (ABRUZZO e HASSOLD, 1995).

    Para o sucesso da fecundação, o fuso meiótico no ovócito deve permanecer

    estável e corretamente organizado durante o

    bloqueio do ovócito em metáfase II (TERRET et

    al., 2003). Há evidências de que as proteínas da

    família MAPK (proteína cinase ativada por

    mitógenos) e a PKC (proteína cinase C) são

    responsáveis pela estabilidade dos microtúbulos

    mantendo o fuso meiótico estável em ovócitos de

    ratos (HORNE et al., 2003; TONG et al., 2003).

    Os substratos da MAPK (Figura 2), tais como a

    p90rsk (proteína cinase ribossomo S6) e a MISS

    (MAPK de interação e estabilização do fuso)

    Figura 2. Proteínas envolvidas na estabilidade do fuso meiótico e na atividade do CSF em camundongos. Fonte: Lefebvre et al., (2002).

    mos

    MAPKK

    MAPK

    Miss P90RSK

    Estabilidade do fuso MII CSF bloqueio ?

  • 8

    parecem participar dessa estabilidade via proteínas mos/.../MAPK (LEFEBVRE et al.,

    2002; TERRET et al., 2003).

    A rede de microtúbulos é usada por proteínas motoras (famílias das cinesinas

    e dineínas) para gerar movimentos periódicos das organelas no interior da célula. As

    proteínas motoras dependentes de microtúbulos desempenham uma função

    importante no posicionamento das organelas (ALBERTS et al., 1997).

    Os microfilamentos são os maiores componentes do citoesqueleto em

    ovócitos de mamíferos e fornecem a estrutura para divisão celular (KIM et al., 2000).

    Ficam situados principalmente no córtex celular (camada situada logo abaixo da

    membrana plasmática rica em actina e uma variedade de proteínas) de ovócitos em

    estádio VG (vesícula germinativa) e no eixo meiótico da célula depois do rompimento

    da VG (desestruturação da membrana nuclear) (ALBERTS et al., 1997; KIM et al.,

    2000). Estão envolvidos na incorporação do espermatozóide, na extrusão do

    corpúsculo polar e na migração dos grânulos corticais para o córtex celular durante a

    maturação ovocitária em diferentes espécies de mamíferos (CONNORS et al., 1998;

    KIM et al., 2000; SUN et al., 2001a).

    2.2.3.2. Organelas

    2.2.3.2.1. Mitocôndrias

    As mitocôndrias são a central bioenergética da célula com função claramente

    essencial que define a competência funcional dos ovócitos. São organelas

    especializadas que ocupam uma porção substancial do volume citoplasmático das

    células de origem materna. São responsáveis pela produção da maior parte da

    energia celular em forma de ATP (trifosfato de adenosina), por fosforilação oxidativa

    através do metabolismo dos carboidratos e dos ácidos graxos contidos no

    citoplasma provenientes do meio interno e externo (WILDING et al., 2001;

    CUMMINS, 2004). Nos ovócitos em geral, há uma grande concentração de

    mitocôndrias para suportar uma taxa mais elevada de síntese de moléculas dos

    processos fisiológicos envolvidos no desenvolvimento. A eficiência da matriz

    mitocondrial na conversão do piruvato em ATP é requerida para o processo de

    maturação e divisão celular (WILDING et al., 2001). A inabilidade das mitocôndrias

  • 9

    de aumentarem e/ou acumularem ATP tem sido ligada ao desenvolvimento anormal

    ou ao bloqueio do desenvolvimento embrionário (STEUERWALD et al., 2000).

    Durante a mitose, as mitocôndrias são distribuídas aleatoriamente entre as

    células filhas e no decorrer da ovogênese há um aumento substancial no número de

    mitocôndrias (6000 para 193.000 mitocôndrias no ovócito em humanos) com uma

    variação expressiva entre ovócitos do mesmo estádio de desenvolvimento

    (REYNIER et al., 2001; CUMMINS, 2004). Porém, se os blastômeros embrionários

    não receberem uma população suficiente de mitocôndrias para produção de ATP

    podem tornare-se disfuncionais e fragmentados (CUMMINS, 2004). Há uma

    correlação similar entre o potencial para o desenvolvimento, índice de ATP e função

    mitocondrial tanto nos ovócitos quanto nos embriões bovinos (STOJKOVIC et al.,

    2001).

    Durante a maturação ovocitária as mitocôndrias modificam sua disposição

    dentro do citoplasma celular. Elas são localizadas próximas às gotas de lipídios que

    por sua vez aumentam de tamanho com a progressão da maturação (HYTTEL et al.,

    1997). Em ovócitos de mamíferos em estádio de VG, as mitocôndrias são

    encontradas em maior quantidade na periferia do citoplasma, e com pequenos

    grupos dispersos mais ao centro do ovócito (HYTTEL et al., 1997; SUN et al.,

    2001b). Já nos ovócitos em estádio metáfase II, as mitocôndrias estão mais

    centralizadas no citoplasma (HYTTEL et al., 1997; SUN et al., 2001b).

    2.2.3.2.2. Grânulos Corticais

    Os grânulos corticais (GC) são organelas produzidas a partir do complexo de

    Golgi e estão presentes apenas nos gametas femininos de todos os mamíferos, na

    maioria dos vertebrados e em muitos invertebrados (WESSEL et al., 2001; MAYES,

    2002). São possuidores de uma população de moléculas que incluem proteases,

    glicosidases, enzimas e proteínas estruturais que contribuem para a barreira física e

    bioquímica que bloqueia a polispermia (WESSEL et al., 2001).

    Os GC são vesículas secretoras não renováveis e com advento da

    fecundação o seu conteúdo não é mais sintetizado. Os RNAs que codificam as

    diversas moléculas do conteúdo dos GC são degradados seletivamente no período

  • 10

    da maturação do ovócito e só voltam a ser transcritos e codificados nos novos

    ovócitos do ciclo reprodutivo (WESSEL et al., 2001).

    A principal função do conteúdo presente nos GC é de construir

    (equinodermos – Ex.: ouriço-do-mar) ou de modificar (mamíferos – Ex.: bovinos) a

    matriz extracelular (zona pelúcida) existente nos ovócitos para oferecer uma barreira

    bioquímica e mecânica que impede a entrada de mais de um espermatozóide no

    ovócito (WESSEL et al., 2001). Os GC são formados nos ovócitos em crescimento,

    mas sua redistribuição ocorre no período da maturação (DUCIBELLA et al., 1994; HYTTEL et al., 1997). Primeiramente, os GC podem ser identificados em pequenos

    grupos pelo citoplasma dos ovócitos em estádio de VG. Sua migração para a

    periferia do ovócito vai ocorrendo com o avanço da maturação. Em estádio de

    metáfase II, os GC estão distribuídos no córtex próximo à membrana plasmática

    (CONNORS et al., 1998; WESSEL et al., 2001; VELILLA et al., 2004).

    2.2.4. Mudanças moleculares e bioquímicas

    Durante o crescimento, a “capacitação” e a maturação do ovócito, diversas

    moléculas são sintetizadas e armazenadas. Essas moléculas vão dar suporte à

    maturação e ao desenvolvimento após a fecundação, até que o genoma do embrião

    se torne transcricionalmente ativo e as mensagens derivadas do embrião comecem

    a regular a embriogênese (CHA e CHIAN, 1998; MERMILLOD et al., 2000;

    MEIRELLES et al., 2004). A maioria dos RNAm (ácido ribonucléico mensageiro) no

    ovócito é sintetizada e acumulada durante o período de crescimento do ovócito (DE

    SOUSA et al., 1998). Esse metabolismo no ovócito é caracterizado pela transcrição

    e pela tradução ativa durante o período pré-ovulatório. Entretanto, a transcrição

    gênica bovina cessa antes da ovulação, assim, o ovócito, o zigoto e o embrião com

    menos de 16 blastômeros são dependentes do “pool” dos RNAs e das proteínas

    acumuladas durante o período de crescimento e de maturação do ovócito

    (GANDOLFI e GANDOLFI, 2001; MEMILI e FIRST 2000; LONERGAN et al., 2003).

    Ovócitos de muitas espécies dependem da síntese e da ativação de uma

    variedade de proteínas para que possam ingressar e prosseguir no processo de

    maturação ovocitária. Entre as proteínas mais importantes que regulam o

  • 11

    mecanismo da maturação ovocitária estão as proteínas do complexo MPF e as

    proteínas da família MAPK (SHENG et al., 2002; TIAN et al., 2002; JONES, 2004).

    2.2.4.1. Cinases dependentes de ciclinas (CDKs)

    As CDKs são uma família de serina/treonina cinases envolvidas na regulação

    do ciclo celular (CDK1, 2, 3, 4, 6 e 7), na transcrição (CDK7, 8 e 9) ou na função

    neuronal (CDK5) (SCHANG, 2004; MAPELLI et al., 2005). A atividade da CDK é

    dependente da interação com uma ciclina, cujos níveis são regulados

    seqüencialmente para assegurar que as fases do ciclo celular prossigam na ordem

    correta (ARRIS et al., 2000). Por exemplo, as ciclinas D interagem com as CDKs 4 e

    6 durante a fase G1, a ciclina E com a CDK2 no final da fase G1, a ciclina A com a

    CDK2 na fase S/G2 e a ciclina B com a CDK1 na fase G2/M (Figuras 3 e 4)

    (KNOCKAERT et al., 2002; ARRIS et al., 2000). A falha no controle das CDKs e a

    conseqüente perda da função do ponto de verificação do ciclo celular têm sido

    relacionadas diretamente à patologia

    molecular do câncer (ARRIS et

    al.,2000).

    Figura 3. Diagrama simplificado da atividade das CDKs/ciclinas na regulação do ciclo celular. Fonte: Knockaert et al., (2002) e Arris et al., (2000)

    CDK 2 Ciclina E

    CDK 1 Ciclina B

    CDK 4/6 Ciclina D

    CDK 2 Ciclina A

    Mitose

    Meiose

    ovócito

    Figura 4. CDKs envolvidas na regulação do ciclo celular, na transcrição e na função neuronal. Fonte: Knockaert et al., (2002)

    CDK1 Ciclina B

    Ringo Transição de prófase I para metáfase II Regulação da topoisomerase II

    Transição das fases G1/S e S/G2 Duplicação do centrossomo.

    Transição das fases G1/S

    Fase G1

    Apoptose Migração dos neurônios Envolvida em outros eventos celular

    Sinal de tradução e transcrição

    Fase G1, morte de células neurais.

    Ativação da CDK1 e CDK2

    Regulação da DK7/ciclina H

    Processamento de RNA ou transcrição Apoptose

    CDK2

    CDK3 Ciclina E?

    Ciclina E

    Ciclina A

    Ciclina D

    P35, P25

    P39, P29

    Ciclina D

    Ciclina H

    Ciclina C

    Ciclina K

    Ciclina T

    Ciclina L

    CDK4

    CDK5

    CDK6

    CDK7

    CDK8

    CDK9

    CDK11

    Fase G1

    F a s e S

    Fase G2

    F a s e M

  • 12

    2.2.4.2. Fator promotor da maturação (MPF)

    O MPF é um heterodímero composto por uma cinase catalítica (p34cdc2 ou

    CDK1) e uma subunidade de ciclina B regulatória (ABRIEU et al., 2001; JONES,

    2004). Há ao menos três tipos de ciclinas B (B1, B2 e B3), e nos mamíferos parece

    que a ciclina B1 é a principal responsável pela atividade do complexo MPF. Embora

    a ligação da CDK1 com a ciclina B1 seja necessária, não é o suficiente para

    desencadear a atividade do complexo MPF (CASTRO et al., 2001; JONES, 2004),

    que é dependente dos mecanismos subseqüentes: fosforilação da CDK1 nos

    resíduos de tirosina 15 (Y15),

    treonina 14 (T14), treonina 161

    (T161) e a posterior

    desfosforilação dos resíduos

    Y15 e T14 (KIKUCHI et al.,

    2000; VAILLANT et al., 2001;

    JOSEFSBERG e DEKEL,

    2002). Em termos gerais a

    CDK1 é fosforilada em Y15 e

    T14 pelas proteínas cinases

    Myt1 e Wee1, que causam uma

    fosforilação inibitória da CDK1.

    Nesse estádio o complexo MPF

    está formado (pré-MPF), mas

    ainda está inativo (Figura 5). A

    ativação do MPF depende da

    desfosforilação em Y15 e T14

    pela proteína fosfatase CDC25

    (MPF – ativo) (KIKUCHI et al., 2000; JONES, 2004). O aumento da atividade da

    proteína CDC25 e a baixa atividade das proteínas cinases Myt1 e Wee1 são

    necessários para a ativação completa do complexo MPF (JONES, 2004).

    Figura 5. Diagrama simplificado do mecanismo de ativação do MPF. Fonte: Dekel (2005).

    Wee1

    Myt1

    AMPc

    PKC

    Síntese

    Ovócito em VG

    Condensação dos cromossomos Rompimento da VG

    Mos -RMAm poliadenilação

    Mos síntese, MEK MAPK ativação.

    Formação do fuso

    Extrusão do 1ª corpúsculo polar

    CSF estável Metáfase II bloqueada

    Fecundação ou ativação artif. CSF instável

    M E I O S E

    A T I V A D A

    n

    Ciclina B

    A variação da atividade do MPF pode ser detectada nos ovócitos bovinos

    durante a maturação. Sua atividade é baixa em VG passando a ser observada no

    início do rompimento da VG. Alcança um pico no estádio de metáfase I e declina sua

    MPF

    MPF Ativo

    MPF Ativo

    MPF Ativo

    CDK1

    M CDK1 E I O S E

    B L O Q U E A D A

    Ativação

    CDC25

  • 13

    atividade durante a transição entre os estádios de metáfase I e metáfase II

    (KUBELKA et al., 2000), reativando para entrada do ovócito em metáfase II. Sua

    inativação nos ovócitos em estádio de metáfase II é induzida pela fecundação ou

    pela ativação paternogenética (NEBREDA e FERBY, 2000; KUBELKA et al., 2000;

    KIKUCHI et al., 2000; ABRIEU et al., 2001; LEDAN et al., 2001). A inativação

    abrupta do MPF é considerada como um disparador necessário para o escape da

    meiose bloqueada em metáfase II (TAIEB et al., 1997).

    O processo de desorganização do heterodimero do complexo MPF independe

    da sua ativação catalítica, que é causada geralmente pela proteólise da ciclina B.

    Em ovócitos fecundados de camundongos e de suínos, a degradação da ciclina B foi

    claramente relacionada com a inativação do complexo MPF (WINSTON, 1997;

    KIKUCHI et al., 1999).

    O MPF é um dos principais reguladores das alterações morfológicas durante

    a maturação ovocitária, regulando a condensação dos cromossomos, o rompimento

    do envelope nuclear, a reorganização dos microtúbulos e outras organelas

    citoplasmáticas com a participação de outras proteínas (KIM et al., 2000; KANO et

    al., 2000; KRISCHEK e MEINECKE, 2002; KUBELKA et al., 2002; LEFEBVRE et al.,

    2002).

    2.2.4.3. Proteína cinase ativada por mitógenos (MAPK)

    Um segundo grupo importante de proteínas que estão envolvidas na

    progressão da meiose pertencem à família das serina/treonina cinases, as proteínas

    cinases ativadas por mitógenos (MAPK) (KUBELKA et al., 2000). Essas proteínas

    são ativadas dentro de vias específicas de transdução de sinais (Figura 6), por sinais

    extracelulares (NEBREDA e FERBY, 2000). Por esta razão, a MAPK também é

    chamada de ERK (cinase regulada por sinal extracelular – suas variantes, ERK1/2 –

    p44/p42 kDa) (KRISCHEK e MEINECKE, 2002). A via intracelular de transdução de

    sinal consiste na proteína mos (do oncogene c-mos) que ativa a MEK (MAPKK) que

    fosforila a ERK (MAPK) (CHA e CHIAN, 1998; KRISCHEK e MEINECKE, 2002; SUN

    et al., 2002).

  • 14

    A ampla faixa de atuação das MAPKs é mediada pela fosforilação de diversos

    substratos, incluindo fosfolipases, fatores de transcrição e proteínas do

    citoesqueleto. As MAPKs também catalisam fosforilação e a ativação de diversas

    proteínas cinases, denominadas de proteínas cinases ativadas pelas MAPKs, que

    representam um adicional enzimático de vários espectros em diferentes células

    (ROUX e BLENIS, 2004).

    As MAPKs são amplamente ativadas por fatores de crescimento e por soro,

    com uma ativação menor pelo

    estresse, efeito osmótico e pela

    desorganização dos microtúbulos.

    Uma variedade de estímulos

    diferentes pode ativá-las, mas no

    geral a ERK1 e ERK2 são ativadas

    preferencialmente em resposta aos

    fatores de crescimento, enquanto

    as cinases JNK (c-jun amino

    terminal cinase) e p38 cinase são

    mais responsivas aos estímulos de estresse e efeitos osmóticos (CHEN et al., 2001;

    ROUX e BLENIS, 2004).

    MAP4K GDP GTP

    A via MAPK é ativada universalmente durante a maturação meiótica em

    ovócitos de vertebrados. Entretanto, o tempo requerido para sua ativação é díspar

    nas diferentes espécies (NEBREDA e FERBY, 2000). A ativação da MAPK em

    ovócitos bovinos ocorre após 8 horas de cultivo in vitro e apresenta um aumento

    gradual até 12–14 horas e se mantém estável até o final da maturação (KUBELKA et

    al., 2000).

    As duas principais isoformas (ERK1/2) da MAPK são ativadas com a

    proximidade do rompimento da VG em ovócito bovinos (KUBELKA et al., 2000). Isso

    sugere que a MAPK não é requerida para o reinício da meiose, mas é essencial em

    eventos pós-rompimento da VG (KANO et al., 2000; LEFEBVRE et al., 2002).

    Porém, a injeção de MAPK ativa em ovócitos de suíno ou de bovino induz o

    rompimento da VG, indicando que essa proteína promove o reinício da meiose em

    condições especiais (FISSORE et al., 1996; INOUE et al., 1998).

    MAP3K MAPKK MAPK Figura 6. Diagrama simplificado das vias de ativação das MAPKs. Fonte: Cha e Chian 1998; Nebreda e Ferby, 2000; Kubelka et al., 2000; Krischek e Meinecke, 2002; Sun et al., 2002.

    GTP

    Raf-1

    MEK

    ERK

    CSF

    GDP

    mos

    AMPc ⇓

    PKA ⇓

    Ras

  • 15

    2.3. Competência ovocitária

    A competência para a progressão da maturação meiótica em ovócitos de

    mamíferos é adquirida durante o crescimento folicular (PAVLOK et al., 2000;

    MIYANO, 2003). Nesse contexto, para que o ovócito tenha competência para a

    maturação tanto nuclear como citoplasmática esse deve completar sua fase de

    crescimento. Em bovinos foi demonstrado que folículos de diâmetro acima de 3 mm

    de diâmetro contêm ovócitos (110-120 μm de diâmetro) com potencial de

    desenvolvimento mais elevado que os de folículos menores (GANDOLFI e

    GANDOLFI, 2001). Ovócitos obtidos de folículos maiores de 3 mm de diâmetro

    resultam em blastocistos com maior número de células nucleadas, comparados com

    os ovócitos obtidos de folículos menores que 3 mm (AVELINO et al., 1998).

    Ainda não está totalmente compreendido como os ovócitos adquirem a

    competência meiótica durante sua fase de crescimento e se tornam competentes

    para reiniciar e terminar a meiose. Há evidências de que a aquisição da competência

    meiótica nos ovócitos está correlacionada com as moléculas de RNAs e de proteínas

    estocadas durante a fase de crescimento e maturação do ovócito e com o aumento

    da funcionalidade das mitocôndrias (DE LA FUENTE e EPPIG, 2001; STOJKOVIC et

    al., 2001; TOMEK et al., 2002; CHIAN et al., 2003).

    Essas moléculas são usadas para sustentar as fases iniciais do

    desenvolvimento embrionário antes que a transcrição do DNA do embrião se torne

    ativa (DE LA FUENTE e EPPIG, 2001). Os padrões de síntese protéica aumentam

    antes do rompimento da vesícula germinativa em ovócitos durante o cultivo de

    maturação, sugerindo que essa síntese de proteínas possa ser importante para o

    subseqüente desenvolvimento embrionário (TOMEK et al., 2002; CHIAN et al.,

    2003). Isso faz do ovócito uma célula muito especial, completamente diferente das

    células somáticas, onde os RNAs e as proteínas se submetem geralmente a uma

    rápida rotação de estoque. Para permitir o estoque e o uso oportuno de tais

    moléculas armazenadas, vários mecanismos necessitam ser eficaz nesse controle

    no ovócito (GANDOLFI e GANDOLFI, 2001; TOMEK et al., 2002).

    Em bovinos, os RNAs e as proteínas do ovócito conduzem o desenvolvimento

    embrionário inicial após a fecundação até o 4º ciclo celular quando o controle

    genômico (estádio de 8 a 16 células) do embrião torna-se evidente. Muitos dos

  • 16

    produtos derivados dos transcritos maternos são necessários para preparar o

    maquinário biológico do embrião (SIRARD, 2001; DIELEMAN et al., 2002; KAÑKA,

    2003).

    A competência meiótica em ovócitos de Xenopus sp está correlacionada com

    as mudanças no acúmulo e na ativação de moléculas do ciclo celular (JESSUS e

    OZON, 2004). Esses mesmos

    mecanismos foram observados em

    ovócitos em crescimento de suínos

    que começam a acumular

    moléculas CDK1. Já a ciclina B foi

    observada em ovócitos de folículos

    antrais pequenos quando cultivados

    em meio de maturação (Figura 8),

    mas a CDK1 foi negativamente

    fosforilada e assim inativada, talvez

    pela proteína Myt1 (KANAYAMA et al., 2002; MIYANO, 2003). Nos folículos de 1,0-

    1,5 mm de diâmetro, os ovócitos iniciam a meiose, mas param em metáfase I. Eles

    são capazes de ativar o MPF, mas não estabelecem a cascata de proteínas da via

    MAPK (KANAYAMA et al., 2002; MIYANO, 2003). Os ovócitos em crescimento

    desenvolvem primeiramente a habilidade de ativar CDK1 e posteriormente de ativar

    a via MAPK. Somente os ovócitos com o crescimento completo possuem

    competência para ativar efetivamente as duas vias do ciclo celular.

    Folículos 0,5-0,7mm 1,0-1,5 mm 4,0-6,0 mm Ovócitos 104 μm 109 μm 122μm

    0 27 42 0 27 42 0 27 42h

    histona H1 MBP Cultivo (h)

    Figura 8. Mudanças nas atividades da CDK1 e da MAPK durante a maturação de ovócitos de suínos em vários estádios do crescimento folicular. As atividades da CDK1 e da MAPK foram detectadas pela fosforilação de histona H1 e da proteína básica de mielina (MBP), respectivamente. Adaptado a partir de Miyano, 2003.

    Na produção de embriões in vitro, a maioria dos ovócitos bovinos são

    provenientes de folículos de 2 a 6 mm de diâmetro (ADONA e LEAL, 2004; DALVIT

    et al., 2005). A remoção dos ovócitos dos folículos antes de eles finalizarem a

    foliculogênese é, provavelmente, um dos fatores envolvidos na baixa produção de

    embriões in vitro. Assim sendo, a interrupção da foliculogênese seria um fator

    responsável pela redução da competência ovocitária. Para contornar a

    foliculogênese interrompida a que os ovócitos são submetidos, uma alternativa seria

    mantê-los por um determinado período com a mesma configuração nuclear daquela

    encontrada nos folículos. Para tal, os ovócitos seriam submetidos ao bloqueio

    meiótico, evitando a retomada da meiose logo após a sua remoção dos folículos,

    para que tenham o tempo necessário para sofrerem as mudanças necessárias antes

    de serem submetidos à maturação in vitro.

  • 17

    2.4. Bloqueio meiótico

    A maturação espontânea em ovócitos de bovinos ocorre in vitro após sua

    retirada do ambiente folicular, o que se deve, provavelmente, à remoção do sinal

    inibidor proveniente do folículo. Estudos sugerem que o fator inibidor que controla a

    retomada da meiose seja produzido pelas células da teca e/ou granulosa (células

    foliculares) (FOOTE e THIBAULT, 1969; SIRARD et al., 1998). KOTSUJI et al.

    (1994) demonstraram que o fator inibidor da meiose em ovócitos bovinos seria

    sintetizado pelas células da granulosa, mas que as células da teca contribuiriam na

    amplificação desse sinal. O mecanismo que envolve o reinício da meiose também

    está associado a redução nas concentrações de AMPc (monofosfato de adenosina

    cíclica) (CONTI et al., 1998).

    O AMPc é uma molécula sinalizadora intracelular que exerce um importante

    controle na meiose em mamíferos, anfíbios e em alguns invertebrados (BILODEAU-

    GOESEELS, 2003). A redução do AMPc no interior do ovócito parece estar

    envolvida com a ruptura da vesícula germinativa, ao menos in vitro. Assim, os níveis

    elevados da AMPc dentro do ovócito mantêm o bloqueio meiótico, visto que a

    redução do AMPc é um sinal necessário para a maturação ovocitária (CONTI et al.,

    1998; EYERS et al., 2005).

    A regulação nas atividades enzimáticas de uma série de proteínas cinases e

    fosfatases controla a meiose em ovócitos de mamíferos. Dessa forma, a meiose

    pode ser bloqueada por inibidores que mantenham altas concentrações de AMPc no

    interior do ovócito (BILODEAU-GOESEELS, 2003), por inibidores não específicos da

    síntese protéica (MEINECKE et al., 2001), de proteínas cinases (ANDERIESZ et al.,

    2000; DODE e ADONA, 2001) e por inibidores específicos da fosforilação de

    proteínas CDKs (ADONA e LEAL, 2004).

    In vitro, o reinício da meiose ocorre porque o ovócito é liberado da influência

    dos inibidores provenientes do folículo (KOTSUJI et al., 1994). No entanto, a

    maturação in vitro resulta em uma redução na produção de embriões, sugerindo que

    nem todos os ovócitos conseguem maturar adequadamente (maturação

    citoplasmática). Portanto, diferentes protocolos estão sendo usados in vitro para

    permitir que todos (ou a maioria) os ovócitos coletados terminem a maturação

    nuclear sem afetar a qualidade dos mesmos, a fim de maximizar a produção de

  • 18

    embriões (ADONA e LEAL, 2004; SCHOEVERS et al., 2005). O uso de inibidores

    fisiológicos ou farmacológicos pode ser uma alternativa in vitro para um cultivo de

    pré-maturação antes de submeter os ovócitos à maturação, fecundação e ao

    desenvolvimento embrionário.

    A ativação das cinases dependentes de ciclinas (CDKs - MPF) é um ponto

    chave no reinício da meiose em ovócitos. Na tentativa de sincronizar o

    desenvolvimento nuclear nos ovócitos in vitro, alguns estudos demonstraram a

    inibição da ativação do MPF pelo aumento de níveis intracelulares de AMPc com

    dbcAMP ou hipoxantina (SUN et al., 1999; MA et al., 2003), pela inibição não

    específica da síntese protéica com cicloheximida (MEINECKE et al., 2001) ou pela

    inibição não específica de proteínas cinases com 6-dimetilaminopurina

    (ANDERIESZ et al., 2000; DODE e ADONA, 2001). Embora a inibição da ativação do MPF seja bem sucedida com o uso dessas drogas, os efeitos não específicos

    desses inibidores são prejudiciais para o desenvolvimento subseqüente do ovócito.

    As CDKs desempenham um papel central na regulação do ciclo da divisão

    celular, o que lhes faz um alvo promissor para o desenvolvimento de agentes

    terapêuticos do câncer. Um grande esforço foi feito nos últimos anos na busca de

    inibidores específicos de CDKs de baixo peso molecular (BRAÑA et al., 2004). A

    butirolactona I é um inibidor natural isolado do fungo Aspergillus terreus, que exibe

    atividade antiproliferativa, inibindo seletivamente em mamíferos as cinases CDK2 e

    CDK1, que executam um importante papel na progressão do ciclo celular nas fases

    G1/S e G2/M, respectivamente (SCHIMMEL et al., 1998; SCHANG, 2004).

    Entretanto, tem pouco efeito nas proteínas cinases ativadas por mitógenos, proteína

    cinase C, cinases dependentes de AMPc, caseína cinase I e II e no receptor tirosina

    cinase do fator de crescimento epidermal (SCHIMMEL et al., 1998; SAX et al., 2002;

    BRAÑA et al., 2004). A butirolactona I comporta-se como um inibidor competitivo

    pelo local de ligação do ATP na CDK1 (SAX et al., 2002; BRAÑA et al., 2004).

    É possível manter os ovócitos bovinos em estádio de vesícula germinativa in

    vitro por um determinado período de tempo com o uso de inibidores específicos ou

    não de CDKs (butirolactona I, roscovitina, cicloheximida e 6-dimetilaminopurina).

    Essas informações são importantes, pois tornam possível fazer um cultivo de pré-

    maturação para, posteriormente, induzir a maturação final. Assim, permite ao ovócito

    um tempo maior para sofrer as mudanças necessárias à aquisição da competência

    meiótica, visto que estes são submetidos a uma foliculogênese interrompida, sendo

  • 19

    removidos precocemente dos folículos e ocorrendo a retomada espontânea da

    meiose. Entretanto, convém ressaltar que nesse tipo de estudo é importante verificar

    não só a efetividade das substâncias em inibir o reinício da meiose, mas também

    sua eficiência na reversibilidade e ausência de efeitos negativos sobre o

    desenvolvimento embrionário.

  • 20

    3. OBJETIVOS

    O presente estudo teve por objetivo avaliar o efeito da butirolactona I no

    cultivo de pré-maturação sobre a meiose, estruturas celulares e desenvolvimento

    dos ovócitos bovinos cultivados in vitro.

    Mais especificamente foram avaliados:

    1) as condições de redução da concentração de BL I para indução de bloqueio

    meiótico e sua reversão (maturação in vitro);

    2) a cinética de maturação pós-bloqueio;

    3) a organização do citoesqueleto (microtúbulos e microfilamentos) após o

    bloqueio meiótico e sua reversão;

    4) a distribuição de organelas (grânulos corticais e mitocôndrias) após o bloqueio

    meiótico e sua reversão;

    5) o efeito do bloqueio meiótico sobre o desenvolvimento embrionário.

  • 21

    4. MATERIAL E MÉTODOS

    4.1. Coleta de ovários e ovócitos

    Ovários de fêmeas bovinas foram coletados em frigoríficos logo após o abate

    e transportados em solução fisiológica estéril (NaCl 0,9% – Sigma, S9625) acrescida

    de antibióticos (100 UI/mL de penicilina – Sigma, P7794 e 100 ug/mL de

    estreptomicina – Sigma, S9137) a uma temperatura de 30º C. No laboratório, os

    ovários foram lavados em NaCl 0,9% e os folículos com diâmetro de 2 – 6 mm

    foram aspirados com auxílio de uma agulha de 18 “G” (1,20 X 40 mm) conectada a

    uma seringa descartável de 10 mL. O líquido folicular contendo os ovócitos foi

    depositado em tubos cônicos de 50 mL (Cellstar, 227261) e mantido em repouso

    para decantação por 5 minutos. A porção superior do líquido foi retirada e na porção

    restante foram adicionados 3-5 mL de meio H199 (TCM199 com 25 mM de Hepes –

    Gibco, 12340030) acrescido de 100 UI/mL de penicilina e 100 ug/mL de

    estreptomicina; suplementado com 1% de soro fetal bovino – Gibco, 26140-079).

    Posteriormente, o material do tubo foi transferido para uma placa de Petri (60 x 15

    mm – Falcon, 353002), onde foi feita a busca dos ovócitos sob estereomicroscópio

    para avaliação e classificação dos mesmos. Somente ovócitos classificados como

    graus I e II (DE LOOS et al., 1991), contendo três ou mais camadas de células do

    cumulus oophorus e citoplasma uniforme, foram utilizados para os experimentos.

  • 22

    4.2. Solução estoque do inibidor

    O inibidor de cinases dependentes de ciclinas (CDKs) butirolactona I (Biomol,

    87414-49-1) foi preparado em solução estoque de 50 mM em dimetilsulfóxido

    (DMSO – Sigma, D5879) e rediluído para 5 mM com B199 [TCM199 com sais de

    Earle e com 20 mM de bicarbonato de sódio (Gibco-11150-067) suplementado com

    10 μg/mL de gentamicina (Sigma, G1272)], aliquotado em tubos para

    microcentrífuga e conservado no freezer a -20º C.

    4.3. Bloqueio da meiose com butirolactona I

    Para o bloqueio da meiose os ovócitos bovinos foram cultivados in vitro com

    butirolactona I (BL I) diluída em meio B199 (suplementado com 0,2 mM de piruvato –

    Sigma, P5280) na concentração apropriada do experimento (descrita

    posteriormente). O cultivo foi feito em gotas de 100 µl de meio de bloqueio (±20

    ovócitos por gota), sob óleo mineral (Sigma, M8410) a 38,5º C em atmosfera de 5%

    de CO2 em ar.

    4.4. Determinação do estádio da meiose

    Para determinação do estádio da meiose, os ovócitos foram desnudados

    (remoção das células do cumulus oophorus) em tubo de 5 mL com 0,3 mL de PBS

    acrescida de 1% de SFB (soro fetal bovino) e agitados no “vortex” por 4 minutos

    (Figura 9). Os ovócitos desnudos foram fixados entre lâmina e lamínula por 24 horas

    em etanol (Synth, A1084.01.BJ) e ácido acético (Synth, A1019.01.BJ) 3:1. Após a

    fixação, foram corados com lacmóide 0,004% (Aldrich, 274720) e observados em

    microscópio de contraste de fase para determinação dos estádios da meiose. Os

    ovócitos foram classificados de acordo com a configuração nuclear em vesícula

    germinativa (VG), metáfase I (M I), anáfase I (A I), telófase I (T I) e metáfase II (M II)

  • 23

    (Figura 10). A taxa de bloqueio foi avaliada como a percentagem de ovócitos em VG

    e a de reversão como a percentagem de ovócitos em M II.

    Figura 9. Procedimentos para fixação e coloração de ovócitos.

    3) Pressionar a lamínula sobre a lâmina suavemente até fazer uma pressão nos ovócitos – pouca pressão os ovócitos ficam soltos entre a lâmina/lamínula; o inverso os ovócitos rompem. 4) Colocar a lâmina no fixador 3:1 (álcool etílico e ácido acético). 5) Deixar fixando por no mínimo 24 h.

    6) coloração com lacmóide ou orceina acética

    a) Colocar a lâmina em um ângulo de 45°, adicionar o corante na parte superior da lâmina; b) Corar por ±5 minutos; c) se for necessário remover o excesso de corante com o próprio fixador; d) Não deixar secar a lâmina – vedar com esmalte. (corante: 40 mL ácido acético, 60 mL água + 0,004% do corante – aquecer para dissolver melhor e filtrar)

    2) Preparação das lâminas para fixação dos ovócitos

    Lâmina: Fazer uma gota de ±4μL

    com ± 25 ovócitos.

    Lamínula: Colocar pequenas gotas

    de cola (silicone) nas bordas.

    1) Procedimento para desnudar os ovócitos

    Em um tubo de 5 mL adicionar 0,3 mL de PBS e os ovócitos. Agitar no vortex (velocidade 6-7) por 4 minutos; lavar a parede do tubo com 2 mL de meio; transferir o conteúdo para uma placa de Petri para seleção dos ovócitos.

    P B S

    A B C D

    400X 400X 200X 200X

    Figura 10. Classificação da meiose de ovócitos bovinos. A) vesícula germinativa; B) metáfase I; C) anáfase I/telófase I; D) metáfase II. Seta vermelha: placa metafásica e seta azul: 1° corpúsculo polar.

    4.5. Maturação in vitro

    Após o período de bloqueio, os ovócitos foram lavados três vezes em meio

    livre de inibidor e transferidos para o meio de maturação [B199 suplementado com

    10% de SFB (soro fetal bovino), 5,0 µg/mL de LH (hormônio luteinizante, Bioniche –

    Lutropin-v), 0,5 µg/mL de FSH (hormônio folículo estimulante, Bioniche – Folltropin-

    v), 0,2 mM de piruvato e 10 μg/mL de gentamicina]. Como controle, um grupo de

    ovócitos foi submetido à maturação sem sofrer cultivo prévio de bloqueio. O cultivo

  • 24

    de maturação in vitro (MIV) foi feito em gotas de 100 µl de meio de maturação (±20

    ovócitos por gota), sob óleo mineral a 38,5 º C e atmosfera de 5% de CO2 em ar.

    4.6. Microtúbulos

    Para avaliação dos microtúbulos os ovócitos foram desnudados e fixados em

    3,7% de paraformaldeído (Sigma, P6148) acrescido de 0,6% Triton X-100 (USB,

    9002-93-1) em PBS (livre de cálcio e magnésio) com 0,1% de PVA (álcool polivinílico

    - Sigma, P8136) por 30 minutos; lavados três vezes em PBS com 0,1% de PVA

    (PP); bloqueados com 3% de soro de cabra (Invitrogen, 16210-064) em PP por 45

    minutos; corados com anticorpo anti-alfa tubulina conjugada com FITC (Sigma,

    F23168) (1:100) em PP por uma hora; lavados por três vezes em PP; corados com

    10 μg/mL de iodeto de propídio (Sigma, P4170) em PP por 15 minutos; lavados três

    vezes em PP e montados entre lâmina e lamínula com glicerol (USB, 56-81-5) para a

    avaliação sob microscópio de epifluorescência.

    4.7. Microfilamentos Para avaliação dos microfilamentos os ovócitos foram desnudados e fixados

    em 3,7% de paraformaldeído mais 0,6% Triton X-100 em PP por 30 minutos; lavados

    três vezes em PP; colorados com 1 μg/mL de faloidina conjugada com FITC (P5282)

    mais 10 μg/mL de iodeto de propídio em PP por 30 minutos; lavados três vezes em

    PP e montados entre lâmina e lamínula com glicerol para a avaliação sob

    microscópio de epifluorescência.

  • 25

    4.8. Grânulos corticais

    Para avaliação dos grânulos corticais os ovócitos foram desnudados e a zona

    pelúcida foi removida com 0,5% protease (Sigma, P8811) em PBS (livre de cálcio e

    magnésio) por ±6 minutos a 38,5 °C; fixados em 3,7% de paraformaldeído em PP

    por 30 minutos; incubados em solução de bloqueio [SB: PBS suplementado com

    0,1% de BSA, 0,751% de glicina (Sigma, G8790) e 0,2% de azida sódica (Research

    Organics, 0939S)] por duas horas; permeabilizados com 0,1% Triton X-100 em SB

    por 5 minutos; lavados três vezes em SB; corados com 1 μg/mL de lectina – Lens

    culinaris (Sigma, L9262) e 10 μg/mL de iodeto de propídio em SB por 15 minutos;

    lavados três vezes em SB e montados entre lâmina e lamínula com glicerol para a

    avaliação sob microscópio de epifluorescência.

    4.9. Mitocôndrias

    Para avaliação das mitocôndrias os ovócitos foram desnudados; corados com

    0,5 µM de Mitotracker red (Molecular probes) e 10 µg/mL Hoechst 33342 (Sigma,

    B2261) em PP por 20 minutos; lavados três vezes em PP e montados entre lâmina e

    lamínula para a avaliação sob microscópio de epifluorescência.

    4.10. Fecundação e cultivo in vitro

    Para a fecundação in vitro (FIV) foi utilizado sêmen congelado de um mesmo

    touro e da mesma partida, o qual foi preparado segundo a técnica de gradiente

    Percoll (Amersham Biosciences, 17-0891-01). Em um tubo cônico de 15 mL (Tedia

    Brazil, 1475-1611.50), foi adicionado 1 mL de Percoll 90% e, em seguida, 1 mL de

    Percoll 45% (Apêndice). O gradiente foi mantido na estufa de CO2 por uma hora

    antes de sua utilização. O sêmen foi descongelado a uma temperatura de 37° C por

    30 segundos e, em seguida, adicionado na porção superior do gradiente de Percoll e

  • 26

    centrifugado por 10-12 minutos a 650 “g”. Após a retirada do sobrenadante foram

    adicionados 4 mL de meio TALP-sp (Apêndice), e uma nova centrifugação de 2

    minutos a 200 “g” foi realizada para remover o excedente do Percoll.

    Os espermatozóides foram adicionados na gota de fecundação a uma

    concentração final de 2 x 106 espermatozóides/mL. A fecundação foi feita em TALP–

    FIV (Apêndice) suplementado com 2 µM penicilamina (Sigma, P4875), 1 µM

    hipotaurina (Sigma, H1384), 250 µM epinefrina (Sigma, E1635) e 20 µg/mL heparina

    (181 UI/mg, USB, 9041-08-1). Os espermatozóides e os ovócitos foram co-

    incubados em gotas de 100 µL de meio sob óleo mineral em placa de Petri (35 x 10

    mm. Corning, 430165) por um período de 18 horas.

    Após as 18 horas de FIV, os ovócitos foram parcialmente desnudados com

    auxílio de um micro-pipetador de 50 µL. Após o desnudamento parcial, os ovócitos

    foram transferidos para o meio de cultivo in vitro SOF (fluido de oviduto sintético -

    Apêndice) em gotas de 100 µL e com 48 horas de cultivo in vitro (D2), foi avaliada a

    taxa de clivagem. Os ovócitos clivados permaneceram no meio de cultivo in vitro e

    os demais foram removidos e descartados. No quinto dia (D5) de cultivo in vitro foi

    feita a troca (feeding) parcial (40%) do meio de cultivo e a partir do sétimo (D7) e do

    oitavo dia (D8) foi feita a avaliação das taxas de formação de blastocisto (D7), de

    eclosão (D8) e a contagem do número de células dos embriões eclodidos (D8). O

    cultivo in vitro dos embriões foi feito em estufa de CO2 a 38,5ºC em atmosfera de 5%

    de CO2 em ar.

    Para a contagem do número de células dos embriões em estádio de

    blastocisto eclodido, eles foram corados com 10 µg/mL de Hoechst 33342 em PP

    por 15 minutos; lavados três vezes em PP e montados entre lâmina e lamínula para

    a avaliação sob microscópio de epifluorescência.

  • 27

    4.11. Delineamento experimental

    4.11.1. Experimento 1: Avaliação de concentrações decrescentes de BL I em meio suplementado com BSA.

    Nesse experimento foram avaliadas concentrações decrescentes de BL I

    (100, 50 e 25 μM) em meio de cultivo (B-199) suplementado com albumina sérica

    bovina (BSA, Sigma, A9647) (Figura 11), para avaliar a capacidade da BL I em

    promover o bloqueio meiótico em diferentes concentrações. Os ovócitos foram

    cultivados na presença ou ausência (controle) de BL I por um período de 24 h. Após

    o período de cultivo in vitro, os ovócitos foram desnudados, fixados, corados e

    avaliados sob microscópio de contraste de fase para determinação das taxas de

    bloqueio da meiose (VG). Um grupo de ovócitos foi fixado logo após a aspiração

    (controle zero hora).

    Figura 11. Esquema representativo do delineamento do experimento 1.

    25 μM de BL I

    50 μM de BL I

    100 μM de BL I

    fixados

    Controle C/0

    24 h de cultivo com BSA

    desnudados

    corados

    avaliados

    Controle C/24

    Avaliado logo após a aspiração

    4.11.2. Experimento 2: Avaliação de concentrações crescentes de BL I em meio sem suplementação de BSA

    Nessa avaliação, não foi usada suplementação protéica (BSA) no meio de

    bloqueio (Figura 12). O bloqueio da meiose foi feito em meio B199 com diferentes

    concentrações de BL I (10, 15, 20 e 25 μM) com o intuito de investigar a capacidade

    do inibidor em bloquear a meiose em concentrações ainda mais baixas, porque

    segundo KUBELKA et al., (2000) o inibidor (BL I) poderia interagir com o BSA,

    reduzindo sua disponibilidade no meio. Com base nesse estudo os ovócitos bovinos

  • 28

    foram cultivados na presença ou ausência (controle) do inibidor sem suplementação

    de BSA por um período de 24 horas. Após o cultivo, os ovócitos foram desnudados,

    fixados, corados e avaliados sob microscópio de contraste de fase para

    determinação das taxas de bloqueio da meiose (percentagem de VG).

    Figura 12. Esquema representativo do delineamento do experimento 2.

    10 μM de BL I

    15 μM de BL I

    20 μM de BL I

    25 μM de BL I

    Avaliados

    Controle C/24

    24 h de cultivo sem adição de BSA

    4.11.3. Experimento 3: Efeito do bloqueio da meiose na maturação nuclear

    Para a avaliação da maturação pós-bloqueio da meiose, ovócitos bovinos

    foram cultivados na presença (10 μM em meio sem BSA e 100μM em meio com

    BSA) de BL I por 24 h, conforme definido nos experimentos 1 e 2. Como controle,

    um grupo submetido apenas à maturação in vitro. Após o período de bloqueio,

    ambos os grupos foram maturados in vitro por mais 24 h (Figura 13). A seguir, foram

    desnudados, fixados, corados e avaliados sob microscópio de contraste de fase para

    determinação das taxas de maturação (percentagem de metáfase II).

    Figura 13. Esquema representativo do delineamento do experimento 3.

    10 μM de BL I

    100 μM de BL I

    Avaliados

    24 h de bloqueio

    24 h de MIV

    24 h de MIV

    24 h de MIV

    Controle

  • 29

    4.11.4. Experimento 4: Cinética da maturação nuclear pós-bloqueio da meiose

    Nesse experimento, os ovócitos foram bloqueados por um período de 12

    horas na presença (100 μM de BL I) ou na ausência (10 μM de BL I) de BSA e

    avaliados ao longo da MIV, nos horários de 6, 12 e 18 horas de maturação (Figura

    14). Os períodos de bloqueio da meiose e da maturação (reversão) foram baseados

    no estudo feito por ADONA e LEAL (2006). Após cada período de maturação (6, 12

    e 18 horas), os ovócitos foram desnudados, fixados, corados e avaliados sob

    microscópio de contraste de fase para determinação do estádio de maturação

    nuclear. Um grupo de ovócitos submetido somente à MIV também foi avaliado nos

    mesmos períodos dos tratados com BL I.

    Horários das avaliações Figura 14. Esquema representativo do delineamento do experimento 4.

    12 horas de bloqueio

    10 μM de BL I

    100 μM de BL I

    12 h de MIV

    18 h de MIV

    MIV

    Controle

    Avaliações

    CCiinnééttiiccaa ddaa mmaattuurraaççããoo ppóóss--bbllooqquueeiioo ddaa mmeeiioossee

    6 h de MIV

    4.11.5. Experimento 5: Efeito do bloqueio da meiose na organização dos microtúbulos e dos microfilamentos

    Nesse experimento foram avaliados os efeitos do bloqueio meiótico em

    condições de baixa e alta concentração de BL I (definidos nos experimentos 1 e 2)

    na organização dos microtúbulos e dos microfilamentos. Os ovócitos foram

    bloqueados por 24 horas e posteriormente cultivados em meio de maturação.

    Ovócitos foram coletados às 0, 6, 12, 18 e 24 horas de pós-bloqueio para a

    avaliação da organização dos microtúbulos, microfilamentos. A progressão meiótica

    foi avaliada concomitantemente (Figura 15). O controle foi avaliado nos mesmos

  • 30

    horários ao longo da MIV sem ter sofrido inibição prévia. Um grupo de ovócitos foi

    avaliado logo após a aspiração (controle 0h) e um outro no final das 24 horas de

    bloqueio (antes do início da MIV – controle 24h).

    Figura 15. Esquema representativo do delineamento do experimento 5.

    24 horas de bloqueio

    10 μM de BL I

    100 μM de BL I

    6 h de MIV

    12 h de MIV

    18 h de MIV

    MIV

    Controle

    Avaliações

    Horários das avaliações

    0 h de MIV

    24 h de MIV

    Avaliação dos microtúbulos e dos microfilamentos

    4.11.6. Experimentos 6: Efeito do bloqueio da meiose na distribuição dos grânulos corticais e das mitocôndrias.

    Nesse experimento foi avaliado o efeito da BL I na distribuição dos grânulos

    corticais e das mitocôndrias nos ovócitos tratados com duas concentrações de BL I,

    uma na ausência (10 μM) e outra na presença (100 μM) de BSA. Os ovócitos foram

    bloqueados por 24 horas e após esse período de bloqueio foram divididos em dois

    grupos, uns para avaliação imediata (24 horas de bloqueio) e os demais cultivados

    em meio de maturação e coletados somente depois de 24 horas de MIV (Figura 16),

    para a avaliação do efeito na distribuição dos grânulos corticais e das mitocôndrias

    nos ovócitos tratados com o inibidor do ciclo celular. No grupo controle, a avaliação

    foi feita em dois momentos, um logo após a aspiração (zero hora) e uma outra no

    final da maturação (24 horas de MIV).

  • 31

    Figura 16. Esquema representativo do delineamento do experimento 6.

    24 horas de bloqueio

    Controle

    10 μM de BL I

    100 μM de BL I

    Avaliados

    Bloqueados

    Imaturos

    Maturados

    Avaliados

    Maturados

    Avaliação dos grânulos corticais e das mitocôndrias

    4.11.7. Experimento 7: Efeito da BL I no desenvolvimento embrionário in vitro

    Nesse experimento foi avaliado o efeito de BL I sobre os ovócitos que foram

    expostos (tratados) ou não (controle) a duas concentrações do inibidor, uma na

    ausência (10 μM de BL I) e outra na presença de BSA (100 μM de BL I). Após o

    período de bloqueio (24 horas) e de maturação in vitro (MIV, 21 horas), os ovócitos

    foram submetidos à fecundação in vitro (FIV, 18 horas) seguida pelo cultivo in vitro

    (CIV, 8 dia) (Figura 17). Com 48 horas de CIV (D2), foram avaliados quanto às taxas

    de clivagem. As taxas de desenvolvimento dos embriões em estádio de blastocistos

    foram determinadas no dia 7 (D7) da CIV. No dia 8 (D8) da CIV foram determinadas

    as taxas de eclosão e o número total de células dos blastocistos eclodidos.

    Figura 17. Esquema representativo do delineamento do experimento 7.

    Eclosão

    Nº de células

    Clivagem Blastocistos

    Controle/MIV FIV CIV

    24 horas 21 horas 18 horas D2 D7 D8

    MIV CIVFIV10 μM de BLI

    MIV FIV CIV100 μM de BLI

  • 32

    4.12. Análise estatística

    Os dados foram avaliados utilizando metodologia de quadrados mínimos, por

    meio do procedimento PROC GLM do programa Statistical Analysis System, versão

    9.1.3 (SAS, 1995). As variáveis foram transformadas, de acordo a função arco seno

    (raiz - percentagens), de acordo com as recomendações de Banzatto e Kronca

    (1989). Os dados dos números de células dos blastocistos não foram transformados,

    sendo analisados em escala original. Para os resultados significativos nas análises

    de variância foi utilizado o teste t de Student como procedimento de comparações

    múltiplas entre os grupos. O nível de significância foi de 5% para evidenciar

    diferenças entre os tratamentos.

  • 33

    5. RESULTADOS

    5.1. Experimento 1

    Nesse experimento foram avaliadas diferentes concentrações de butirolactona

    I (BL I) em meio de cultivo B199 suplementado com albumina sérica bovina (BSA),

    visando determinar a concentração mais adequada em estudos de bloqueio meiótico

    em ovócitos bovinos.

    A maioria dos ovócitos tratados nas concentrações de 100 (B100), 50 (B50) e

    25 µM (B25) de BL I permaneceram bloqueados na meiose em estádio de vesícula

    germinativa (VG), nas proporções de 97,4; 84,4 e 65,1%; respectivamente. No grupo

    controle após 24 h de cultivo (C/24) não foram observados ovócitos em estádio de

    VG (0%). Dos ovócitos avaliados logo após a aspiração folicular (controle zero hora

    – C/0), 100% dos mesmos encontravam-se em estádio VG (Tabela 3). Os grupos

    C/24 (0%), B100 (97,4%), B50 (84,4%) e B25 (65,1%) diferiram entre si (P < 0,05)

    para o percentual de ovócitos em VG, com as taxas de bloqueio meiótico diminuindo

    com a redução da concentração do inibidor. O grupo B100 (97,4%) e o C/0 (100%)

    por outro lado, foram similares entre si (P > 0,05).

    Foram observados ovócitos nas fases intermediárias da meiose (MAT,

    metáfase I, anáfase I e telófase I), somente no grupo C/24, no demais tratamentos

    os ovócitos estavam em VG ou MII (metáfase II). A taxa de ovócitos em MAT do

    grupo C/24 (10,4%) diferiu (P < 0,05) dos demais tratamentos (0%).

    Com relação aos percentuais de ovócitos que atingiram o estádio de MII, ou

    seja, que concluíram a maturação in vitro (MIV), houve diferença (P < 0,05) nas

    taxas de MII entre os ovócitos dos grupos C/24 (89,6%), B100 (2,6%), B50 (15,6%) e

  • 34

    B25 (34,9%) após 24 horas de cultivo, com a redução da taxa de MII com o aumento

    da concentração de BL I. Não houve diferença (P > 0,05) entre os grupos C/0 (0%) e

    B100 (2,6%) para o percentual de ovócitos em estádio de MII.

    Tab