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PAULO FREIRE, A UFPE E O MOVIMENTO DE CULTURA POPULAR Alessandra Maria dos Santos UFPE [email protected] Palavras-chave: Movimento de Cultura Popular, Paulo Freire e UFPE Introdução Este estudo tem por objetivo apresentar as ações do Movimento de Cultura Popular e da Universidade do Recife, atualmente UFPE, por meio do Serviço de Extensão Cultural, juntamente com a atuação de Paulo Freire em ambos os movimentos. Além disso, expressar as práticas cotidianas inerentes às atividades extensionistas da UFPE e como tais práticas e seus autores se relacionam com o MCP, pretende-se também possibilitar às presentes políticas de extensão da universidade balizar-se pelos acertos e equívocos do passado. Para tais finalidades utiliza-se o caminho metodológico de análise de fontes documentais e registro oral de atores envolvidos nos objetos propostos. Recontar o passado cabe basicamente à História. No entanto, a forma de reconstruir o passado encontra diversas correntes dentro desta. A História Cultural se propõe investigar aspectos do cotidiano e analisar toda simbologia revestida em situações aparentemente comuns, desafia-se a contar a história por elementos de quem a vivenciou. Por isso, ao pretendermos recontar a história de Paulo Freire e sua atuação no MCP e SEC subsidiamo-nos em depoimentos orais, fontes documentais e registros históricos. A instigação que nos motiva é compreender a dinamicidade histórica que atuou sobre a cidade recifense e a dimensão extensionista da UFPE, saindo de seu distrito educacional e estendo-se até as classes populares numa atuação de extensão que promovia o diálogo entre o saber científico e o popular e como esta construção histórica é materializada na vida cotidiana. Em meados da década de 1950, o Brasil presencia a esperança de transformação da realidade econômica do país. Juscelino Kubistchek à frente da liderança do país lança o projeto nacional-desenvolvimentista, o qual pretende avançar “50 anos em 5”. Neste governo houve a tentativa de harmonizar o embate de forças distintas, como afirma Romanelli (2005). Buscou-se abraçar uma política para as massas, mas também o progresso industrial com apoio do capital externo. Recursos estrangeiros, por meio de empréstimos, adentram no solo brasileiro para auxiliar o progresso da nação. Construção de estradas, abertura para o desenvolvimento do setor industrial e a criação de uma cidade planejada para sediar a nova capital brasileira, em meio ao cerrado Brasília - são algumas obras visando o progresso. No entanto toda pretensão de desenvolvimento da nação esbarravam-se nos diversos problemas sociais, dentre estes a Educação. Com elevados níveis de analfabetismo e necessidade de mão-de-obra para os novos campos de trabalho, o governo de JK retoma discussões sobre campanhas de combate ao analfabetismo. Assim, a CEAA (Campanha de Educação de Adultos e Adolescentes), a CNER (Campanha Nacional de Educação Rural), o ISEB (Instituto Superior de Estudos Brasileiros) e outros órgãos educacionais passam a desenvolver ações e pesquisas voltadas para a educação popular e consequente diminuição do analfabetismo.

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PAULO FREIRE, A UFPE E O MOVIMENTO DE CULTURA POPULAR

Alessandra Maria dos Santos

UFPE

[email protected]

Palavras-chave: Movimento de Cultura Popular, Paulo Freire e UFPE

Introdução

Este estudo tem por objetivo apresentar as ações do Movimento de Cultura

Popular e da Universidade do Recife, atualmente UFPE, por meio do Serviço de

Extensão Cultural, juntamente com a atuação de Paulo Freire em ambos os movimentos.

Além disso, expressar as práticas cotidianas inerentes às atividades extensionistas da

UFPE e como tais práticas e seus autores se relacionam com o MCP, pretende-se

também possibilitar às presentes políticas de extensão da universidade balizar-se pelos

acertos e equívocos do passado.

Para tais finalidades utiliza-se o caminho metodológico de análise de fontes

documentais e registro oral de atores envolvidos nos objetos propostos. Recontar o

passado cabe basicamente à História. No entanto, a forma de reconstruir o passado

encontra diversas correntes dentro desta.

A História Cultural se propõe investigar aspectos do cotidiano e analisar toda

simbologia revestida em situações aparentemente comuns, desafia-se a contar a história

por elementos de quem a vivenciou. Por isso, ao pretendermos recontar a história de

Paulo Freire e sua atuação no MCP e SEC subsidiamo-nos em depoimentos orais, fontes

documentais e registros históricos.

A instigação que nos motiva é compreender a dinamicidade histórica que atuou

sobre a cidade recifense e a dimensão extensionista da UFPE, saindo de seu distrito

educacional e estendo-se até as classes populares numa atuação de extensão que

promovia o diálogo entre o saber científico e o popular e como esta construção histórica

é materializada na vida cotidiana.

Em meados da década de 1950, o Brasil presencia a esperança de transformação

da realidade econômica do país. Juscelino Kubistchek à frente da liderança do país lança

o projeto nacional-desenvolvimentista, o qual pretende avançar “50 anos em 5”. Neste

governo houve a tentativa de harmonizar o embate de forças distintas, como afirma

Romanelli (2005). Buscou-se abraçar uma política para as massas, mas também o

progresso industrial com apoio do capital externo. Recursos estrangeiros, por meio de

empréstimos, adentram no solo brasileiro para auxiliar o progresso da nação.

Construção de estradas, abertura para o desenvolvimento do setor industrial e a criação

de uma cidade planejada para sediar a nova capital brasileira, em meio ao cerrado –

Brasília - são algumas obras visando o progresso.

No entanto toda pretensão de desenvolvimento da nação esbarravam-se nos

diversos problemas sociais, dentre estes a Educação. Com elevados níveis de

analfabetismo e necessidade de mão-de-obra para os novos campos de trabalho, o

governo de JK retoma discussões sobre campanhas de combate ao analfabetismo.

Assim, a CEAA (Campanha de Educação de Adultos e Adolescentes), a CNER

(Campanha Nacional de Educação Rural), o ISEB (Instituto Superior de Estudos

Brasileiros) e outros órgãos educacionais passam a desenvolver ações e pesquisas

voltadas para a educação popular e consequente diminuição do analfabetismo.

A CEAA surgira, em 1947, atendendo aos apelos do INEP (Instituto Nacional de

Estudos Pedagógicos) às autoridades governamentais para redução dos índices de

analfabetismo, e segundo Vanilda Paiva (2003), o objetivo maior era a criação de

medidas que viabilizassem a oferta de ensino supletivo. As atividades da CEAA

desenvolviam-se baseadas no ensino elementar de técnicas de leitura e escrita,

alfabetização em curto tempo – três meses – e supressão do curso primário em pouco

mais de um semestre.

Em 1952, cria-se a CNER, esta se dedica à educação rural e ao desenvolvimento

de comunidades que demonstravam problemáticas bem diferentes das urbanas.

Contudo, esta campanha não alcançou seus objetivos, como afirma Paiva (2003), diante

da percepção de administradores municipais da instabilidade de poder que se

proporcionaria a organização de comunidades rurais, assim as atividades da campanha

de alfabetização submetiam-se aos interesses destes.

O ISEB surge a partir de aspirações de intelectuais em discutir e pesquisar sobre

o problema educacional da realidade brasileira como Sérgio Buarque de Hollanda,

Nelson Werneck Sodré e Álvaro Vieira Pinto. Logo após sua criação Kubistchek chega

à presidência nacional. Porém, neste período governamental, mesmo ante a emergência

de combate ao analfabetismo, as campanhas de alfabetização já apresentam indícios de

fracasso devido, especialmente, a ausência de recursos financiadores.

Embora enfrentasse dificuldades as campanhas educacionais continuavam suas

ações. No ano seguinte à posse de JK, atrela-se à CEAA atividades de rádio-educação

pelo SIRENA (Sistema Rádio-educativo Nacional) a fim de atingir maior quantitativo

de analfabetos. Paiva (2003) ressalta: “Os recursos da Campanha [CEAA], entretanto,

se fizeram cada vez mais escassos em face dos precários resultados de sua principal

atividade: a alfabetização dos grandes contingentes populacionais” (p. 219).

Enquanto Brasília avançava a passos largos sua construção, a Educação também

avança nos debates e pesquisas a nível nacional. Então, em 1958, no Rio de Janeiro,

acontece o II Congresso Nacional de Educação de Adultos, o anterior a este havia

ocorrido há 11 anos. As altercações do congresso pautaram-se sobre: a decadência da

CEAA e busca de possíveis soluções para a problemática. Paiva, assim, afirma em

relação ao congresso: Seu objetivo seria o estudo do problema da educação dos adultos em seus múltiplos aspectos, visando seu aperfeiçoamento. Tratariam os

congressistas de dar um balanço nas realizações brasileiras bem como

de estudar as finalidades, formas e aspectos sociais da educação dos adultos, seus problemas de organização e administração, além dos

métodos e processos pedagógicos mais adequados a esse tipo de

educação (2003, p. 235).

Para realização do II Congresso Nacional de Educação de Adultos aconteceram

previamente Seminários Regionais, a fim de se apresentar e questionar as diversas

realidades e dificuldades nos aspectos educacionais em âmbito nacional.

Neste congresso, um jovem professor, aos seus 36 anos, apresenta um relatório

com título: “A educação de adultos e as populações marginais: o problema dos

mocambos”. Este professor chamava-se Paulo Freire. A constituição do trabalho por ele

proposto teve o auxílio de três professoras, sendo uma desta sua esposa Elza Freire, e

ainda a ajuda de um estudante e baseou-se nas leituras do isebiano Álvaro Vieira Pinto e

existencialistas cristãos.

A fundamentação deste trabalho era, segundo Veras (2010), defender “um

processo de alfabetização onde o alfabetizando surgia como sujeito produtor do

aprendizado e de sua consciência política, esta dinamizadora de sua situação de

marginalização” (p. 100). Assim, Freire lança a base do que no futuro seria um sistema

de alfabetização de sucesso nacional. O relato apresentado no congresso era fruto de

pesquisas que Freire já desenvolvia desde quando era professor de jovens e adultos no

SESI de Recife e permitiu-se aprofundar a temática quando foi contratado como

professor da Universidade do Recife. Anos depois, vai auxiliar o Movimento de Cultura

Popular e posteriormente criar o Serviço de Extensão Cultura da Universidade do

Recife. No entanto, nada foi tão simples e rápido. Por isso, é relevante compor o cenário

histórico por meio de fatos que marcaram a história da educação popular no Brasil.

O cotidiano dos primeiros passos de uma prática pedagógica popular em Recife

coincidem historicamente com a constituição do MCP, no sentido de uma maior

participação junto às reais soluções para os problemas da população menos favorecida.

Dessa maneira, nasce em maio de 1960, no Recife, um movimento que aspira a redução

do índice de analfabetismo além de proporcionar a elevação do nível de cultura da

população.

Assim, tanto o MCP quanto o SEC objetivavam a inserção da população à

cidadania, demonstrada no direito ao voto através da alfabetização, e técnicas

inovadoras na educação de adultos, como a relação do contexto sociocultural dos alunos

no processo de ensino e aprendizagem. Com tais práticas, expandi-se consideravelmente

o número de alfabetizandos em curto espaço de tempo.

Paulo Freire destaca-se no cenário nacional com o seu método de ensino que passa a

ser implantado pelo MEC (Ministério da Educação e Cultura) em todo o país, com o

Sistema de Educação Paulo Freire. Assim, como Freire estava à frente do SEC, o

serviço de extensão universitária ganha destaque, com participação de outros

professores, funcionários e alunos, ressaltando a relevância da responsabilidade

acadêmica no auxílio ao desenvolvimento social.

1. Movimento de Cultura Popular e Paulo Freire

Pernambuco tem sua história política relacionada com sua economia agrária,

baseada secularmente na produção de açúcar e algodão. Desse modo, estratificou-se

uma desigualdade de classes e concentração de renda. Cidades como Recife serviam de

refúgio àqueles que fugiam das duras penalidades da vida imposta pelo campo. As

Ligas Camponesas apoiadas pelo deputado estadual socialista, Francisco Julião, e os

sindicatos rurais denunciam tal realidade social e florescem num período de

modificações políticas na cidade.

Paralelamente à campanha eleitoral para presidente, em 1955, fomentavam-se

campanhas municipais nas capitais brasileiras, como Recife. Na instigação de inovar

uma administração atrelada mais aos interesses populares os recifenses elegem o

candidato Pelópidas Silveira1 e este afirma:

A campanha foi meio difícil porque para Presidente da República o Partido Socialista apoiava Juarez Távora e o Partido Trabalhista

apoiava Juscelino Kubistchek. [...] Essa foi uma campanha que

realmente empolgou a cidade. [...] Novamente era o Recife querendo eleger um administrador. Considero que para o cargo de prefeito não

se trata apenas de eleger um administrador, é um cargo político-

administrativo. A campanha empolgou e tivemos dois terços do eleitorado.

Pelópidas Silveira chega ao governo municipal e com isso quebra-se um

paradigma de administrações conservadoras com interesses elitistas e passa-se a

configurar um novo cenário para a cidade que vivia sob alagados e mocambos. Ele

ressalta também as dificuldades enfrentadas em sua gestão como a ausência de recursos

financeiros da União para desenvolver ações de melhoria na cidade, como

pavimentações e abertura de empregos, além da expressa oposição encontrada na

Câmara dos Vereadores. Da Prefeitura saiu para o Palácio do Governo no cargo de vice-

governador do Estado no governo de Cid Sampaio. Sua sucessão no Recife ficaria para

Miguel Arraes, com propostas de administração semelhantes às de sua gestão de

“Governo Popular”.

Barbosa (2009), “como prefeito de Recife, Miguel Arraes já manifestava as

características assumidas em outros momentos em que gerira o executivo no Estado

com ações voltadas para o sertão e sua gente” (p. 35). Debruça-se então no desafio de

combate à pobreza e ao analfabetismo e, assim, cria o Movimento de Cultura Popular.

As raízes desse movimento começaram ainda com Pelópidas Silveira, como

afirma Abelardo da Hora, no Memorial do MCP. O prefeito já havia planejado a

desapropriação de um espaço, Sítio da Trindade, para efetivação de atividades culturais

que envolvessem teatro, música, danças e valorização a cultura regional.

O Plano foi aprovado por unanimidade e toda a imprensa divulgou e

saudou. Entretanto, o preço da desapropriação era bastante alto e a

Prefeitura dispunha de poucos recursos – o Prefeito Pelópidas Silveira não quis tomar posse do Sítio sem fazer o pagamento da

desapropriação e o plano foi engavetado (1986, p. 15).

Miguel Arraes retoma o plano de valorização cultural e oferece todo apoio

necessário para a execução do projeto. Solicitou também que se atrelasse a este o setor

educacional, pois almejava que a área educacional de alfabetização de adultos e crianças

fosse a grande meta de sua gestão. E para isto contaria com apoio de um grupo de

educadores católicos progressistas, dentre estes estava Paulo Freire. E mesmo sem

recursos para pagamento dos colaboradores o MCP contou com a participação de

políticos, artistas, intelectuais e estudantes universitários, de formação e orientação

política diversas.

O responsável por redigir o projeto foi Abelardo da Hora, comunista e presidente

da Sociedade de Arte Moderna de Recife, e que tentou conciliar dentro da minuta

interesses dos diferentes grupos. “Como íamos tratar com grupos heterogêneos do ponto

de vista ideológico, tive o cuidado de fixar uma filosofia, que pudesse unir a todos por

muito tempo, com o objetivo de democratizar o ensino” (HORA, 1986, p.16).

Na apresentação do projeto aos colaboradores destacaram-se os objetivos

fundamentais: acesso à cultura e educação aos privados destas na cidade recifense. O

professor Germano Coelho, e logo presidente do MCP, ressalta na reunião que a

intenção do plano lembrava-o do movimento “Peuple et Culture” da França. Germano

havia tido contado com o movimento francês quando fora estudar em Paris.

Assim, Miguel Arraes batiza o movimento de promoção de educação e cultura

como “Movimento de Cultura Popular” e, em maio de 1960, entra em funcionamento

tendo como principais objetivos:

Promover e incentivar, com a ajuda de particulares e dos poderes

públicos, a educação de crianças e adultos; atender ao objetivo

fundamental da educação que é o de desenvolver plenamente todas as virtualidades do ser humano, através da educação integral;

proporcionar a elevação do nível cultural do povo, preparando-o para

a vida e para o trabalho; colaborar para a melhoria do nível material do povo, através da educação especializada; e formar quadros

destinados a interpretar, sistematizar e transmitir os múltiplos aspectos

da cultura popular. (MEMORIAL DO MCP, 1986, p. 23-24).

Com os objetivos expostos, organizaram-se os colaboradores em três

departamentos principais: Formação de Cultura, Documentação e Informação e Difusão

da Cultura. O Departamento de Formação subdividia-se em Divisão de: Pesquisa, nesta

o responsável era Paulo Freire; Ensino, Anita Paes Barreto; Artes Plásticas e

Artesanato, Abelardo da Hora; Música, Dança e Canto; Cinema, Rádio, Televisão e

Imprensa; Teatro; Cultura Brasileira; Bem Estar Coletivo; Saúde e Esportes.

Como a prefeitura não possuía recursos financeiros para arcar com as despesas

de expansão da ação de ensino, especialmente pagamento de professores, solicitou

parceria do comércio e indústria para auxiliá-la. Os espaços para salas de aula foram

cedidos por igrejas, centros espíritas, associações de moradores e clubes. As bancas

escolares eram confeccionadas e consertadas nas oficinas da própria Prefeitura do

Recife como afirma Aluísio Falcão (1979, apud BEISIEGEL, 1992).

A ampliação do número de escolas alarga-se rapidamente, chegando aos morros

e alagados. O ex-prefeito de Recife, Pelópidas Silveira2, enxerga o avanço

proporcionado pelo movimento: “Acho que o Movimento de Cultura Popular preencheu

uma lacuna. Eu tinha tentado criar o ensino municipal no Recife3, mas não tinha verba.

Arraes fez o Movimento de Cultura Popular, penetrando nos morros, levando uma

mensagem nova para a população dos bairros mais pobres”.

Mas, para atender ao novo contingente de alunos percebe-se a necessidade de

material pedagógico que servisse de apoio nas aulas. Germano Coelho ressalta no livro

“Movimento de Cultura Popular: impactos na sociedade pernambucana” que assinou

parceria com o MEC para alfabetizar adultos. Assim, ele juntamente com duas

professoras, Maria Antonia MacDowell e Maria José Baltar, analisaram o material

didático do SIRENA que compunha-se de uma cartilha e um disco. A equipe

percebendo a inadequação do material à realidade dos educandos recifenses decidiu

elaborar o próprio recurso didático.

As professoras Norma Coelho, esposa de Germano Coelho, e Josina Godoy

elaboraram pesquisas para a construção de uma cartilha que trouxesse aspectos da vida

dos recifenses. Inicialmente, desenvolveram pesquisas em manuais da UNESCO sobre

experiências exitosas de alfabetização de adultos, posteriormente, as investigações

foram nas áreas populares do Recife a fim de constituir os centros de interesse, que

seriam as temáticas fundamentais a serem discutidas nas aulas. Assim, nascia o “Livro

de Leitura para Adultos” também reconhecido como Cartilha do MCP.

Contudo, a ampliação de unidades escolares e o consequente aumento de

alfabetizados gerou insatisfação aos conservadores da política e sociedade

pernambucana, pois vislumbravam a formação de um novo campo eleitoreiro. E a

intencionalidade do MCP não era apenas ensinar ler e escrever de maneira elementar,

mas promover educação conscientizadora para exercício da cidadania.

A proposta educacional de Arraes unia-se a outras “políticas de massa” com

pretensões de inserir o povo na participação social da vida política, porém com a

consciência da arma que tinham em mãos: o voto. Paulo Cavalcanti, um dos

articuladores da candidatura de Arraes pela Frente do Recife, comenta que a luta de

Arraes desenvolveu-se num âmbito de “revolução branca”, não utilizava armas, mas do

“sufrágio direto e secreto, com objetivos reformadores, redefinindo as relações com a

sociedade tradicional do Nordeste” (1978, p. 305 apud BEISIEGEL, 1992, p. 198).

O Livro de Leitura para Adultos representa muito bem a inovação numa cartilha

de abordar o contexto vivenciado pelo educando com sua criticidade e defesa àqueles

que lutavam pelos interesses do povo. A técnica utilizada para alfabetização, por meio

da cartilha, iniciava-se com apresentação de palavras e frases relacionadas ao centro de

interesse. Depois, fragmentavam-se as palavras para silabação. Porém, o grande impacto

causado pela cartilha foi o teor crítico contido. A discussão da primeira lição era: povo –

voto, O voto é do povo. Por isso, muitos a consideraram como subversiva.

Paulo Freire não apoiou a confecção da cartilha, embora tenha sido convidado a

colaborar. Negou porque já desenvolvia os primeiros passos do seu método no Centro

D. Olegarinha, no Poço da Panela, em Recife, e afirma em entrevista concedida a

Beisiegel (1992): Eu me lembro que já naquela época eu defendia uma coisa que eu vivo dizendo ainda hoje, a existência de textos de suporte, mas textos

de suporte que sejam tão desafiadores como os slides que eu propus. E

não a cartilha enquanto domesticadora. Eu tive uma conversa com Germano, com Norma (não me lembro se com Josina também), e

disse que não havia razão para divergências, mas que não podia ficar

incoerentemente coordenando um projeto cuja principal coisa, nada

tinha a ver comigo (p. 208-209).

Assim, dentro do MCP desenvolviam-se ações para alfabetização de adultos

com e sem cartilha. Por ser considerada de caráter subversivo o “Livro de Leitura”

recebe muitas críticas, mas também muitos elogios. O mais ilustre destes foi do ministro

da Educação Anísio Teixeira que afirmou:

O livro efetivamente ensina a ler como se iniciasse o analfabeto

nordestino na sua própria vida. As palavras, as sentenças, as frases são

as que fatalmente ocorreriam ao próprio analfabeto se fosse ele

próprio que escrevesse sua cartilha. [...] Aprender a ler deve ser uma simples transposição de sua atual linguagem oral para a escrita. É isto

que realiza, de forma sem precedentes, o Livro de leitura do

Movimento de Cultura Popular, de Recife, de autoria das professoras Josina Maria Lopes de Godoy e Norma Porto Carreiro Coelho. [...]

Por tudo isso é que considero essa cartilha para adultos a melhor que

até agora foi conhecida no Brasil. (Anísio Teixeira concedeu

entrevista ao jornal O Metropolitano, em 17 out. 1962. apud BEISIEGEL, 1992, p. 126).

Com o auxílio do material didático possibilitou-se a expansão da alfabetização

através da Escola Radiofônica. Esta transmitia programas noturnos de 50 minutos de

duração, exceto nas quartas e domingos, por intermédio da Rádio Clube de Pernambuco

e da Rádio Continental, a programação consistia alfabetizar e ofertar também recreação

tendo sempre em vista o foco de conscientização.

Se no campo educacional Recife experimentava grande efervescência, na área

cultural não se diferenciava. Aulas de artes plásticas e artesanato eram ofertadas na sede

do MCP, Sítio da Trindade, por artistas da Sociedade Moderna de Arte de Recife que

ofereciam cursos gratuitos à população. Além das artes o teatro popular encontrou seu

abrigo. A expressão teatral da cultura popular pernambucana foi divulgada em festas

populares, praças e teatros, como o Santa Isabel. Letícia Barbosa salienta a relevância

que o teatro popular proporcionou para apresentar novos artistas e a que a dança servia

como apoio para desenvolvimento deste.

Os autos e folguedos encontraram campos férteis nos bairros recifenses, como verdadeiras manifestações populares de um teatro

não declarado. No entanto, artistas populares dos bumba-meu-boi, dos

pastoris, dos cavalos-marinhos, entre outras manifestações, não

tinham a consciência dos atores e atrizes que eram (ou que são) tampouco eram respeitados como verdadeiros artistas pelas camadas

dirigentes da sociedade (2009, p. 99).

A construção de praças pelo MCP serviu além de um espaço para lazer e

exibições teatrais como também para concertos musicais. O diretor da Divisão de

Música, Mário Câncio, ressalta a sua pretensão de expandir à música aos lugares

privados desta. A minha ideia era, justamente, fazer, realmente, uma escola, formar, ir

nos lugares pobres, nas camadas pobres e de lá descobrir os talentos e

trazê-los para um sistematizado na música. Não tivemos tempo de

fazer isso, porque não nos deram condição, mas a ideia, no fundo, era essa: de fazer músicos, mais conscientes, mais críticos, que puderam

compreender as coisas e também criticá-las melhor. (CÂNCIO, 2006,

apud BARBOSA, 2009, p. 109).

Assim, as ações desenvolvidas pelo Movimento de Cultura Popular divulgaram-

se a nível nacional, tanto que a capital pernambucana recebia diversas visitas de

organizações como CPC (Centro Popular de Cultura) da UNE para conhecer e

reproduzir as experiências de êxito.

O MCP embora recebesse aplausos e angariasse sucesso experimentava também

o amargo das dificuldades que emergiam desde as limitações de recursos financeiros, os

obstáculos enfrentados ao ter que conciliar as distintas posturas e orientações dos

participantes, até calúnias por parte de seus opositores.

2. Paulo Freire e o Serviço de Extensão Cultural

Não concordando com a técnica empregada pelo MCP para alfabetização de

adultos, a qual se apoiava na cartilha, Paulo Freire afasta-se do MCP e investe no SEC

como espaço de aplicação e desenvolvimento de suas ideias e de seu método próprio.

Mas, o seu afastamento das atividades do MCP não implicou inimizades com antigos

companheiros, pois ainda mantinha contato e estabelecia amizades com seus membros.

No entanto, até sua chegada à direção do SEC na universidade imbricaram-se alguns

fatos.

Concomitantemente às aspirações da campanha eleitoral de Miguel Arraes de

chegar à Prefeitura do Recife, a Universidade do Recife recebia o seu novo reitor João

Alfredo. Este fora vice-reitor no reitorado de Joaquim Amazonas e escolhido pelo

presidente da República, Juscelino Kubistchek, para assumir a direção da universidade.

A sucessão do primeiro reitor da Universidade do Recife, Joaquim Amazonas, já

era vislumbrada na confiança e favoritismo do mesmo ao seu vice e também diretor da

Escola de Belas Artes de Pernambuco, João Alfredo, segundo a Revista da EBAP (1959

apud VERAS, 2010, p. 80). Como diretor da EBAP inovou sua unidade de ensino a

partir da composição do corpo docente de grande competência e ofertando cursos de

extensão, embora encontrasse empecilhos burocráticos para realizá-los. Ainda em sua

direção na EBAP, houve a contratação de um professor que devido sua simpatia

conquistou rapidamente seu carisma, este professor era Paulo Freire.

A aproximação maior com o professor deu-se a partir do convite para

participação no conselho editorial de uma revista que em seu lançamento integraria as

festividades comemorativas do vigésimo quinto aniversário da Universidade do Recife.

Paulo Freire aceita.

A partir desta aproximação o vice-reitor passa a ter contato com as pesquisas

realizadas por Paulo Freire a respeito do “processo de transição socioeconômica do

Brasil” e suas implicações educacionais (VERAS, 2010, p. 81). E apropria-se

paulatinamente da ideologia nacional-desenvolvimentista abordadas nos estudos e

projetos do ISEB.

Embora João Alfredo tivesse o favoritismo de Joaquim Amazonas, na

composição da lista tríplice para escolha do novo reitor no Conselho Universitário da

UR seu nome não era um dos mais cogitados. Porém, sua nomeação, conforme Revista

da EBAP, respondeu aos anseios “mais elevados de Pernambuco e não a interesses

partidários” (1959, apud VERAS, 2010, p. 87).

João Alfredo ousou em construir um novo projeto político e pedagógico para a

instituição acadêmica que se adequasse ao momento brasileiro. Promoveu reformas

estruturais nos prédios da UR, contratação de técnicos e professores, eventos como o I

Congresso Brasileiro de Crítica e História Literária, mas seu maior destaque deu-se nos

investimentos no campo cultural. Em sua administração a universidade ganhou a

Revista de Estudos Universitários, o Serviço de Extensão Cultural, a rádio

Universitária, o Centro de Estudos Internacionais e o novo Estatuto da Universidade do

Recife.

Ao lançar pretensiosamente a extensão universitária na UR, que a época

denominava-se extensão cultural, e tentando fugir tanto da burocracia quanto dos

impedimentos conservadoristas que havia no Conselho Universitário, o reitor João

Alfredo imprime uma portaria para criação do SEC e coloca Paulo Freire na direção e

este afirma:

No momento em que o João me chama e discute comigo inclusive as

táticas para chegar à criação do SEC, naquela época era melhor como serviço, porque dependia só dele, e se criasse como departamento teria

de passar pelo Conselho Universitário, e ali podíamos perder... Veja, a

criação do SEC era a realização de um velho sonho, que antecedeu em

pelo menos dois anos à criação do MCP. (FREIRE, 1980 apud BEISEGEL, 1992, p. 210).

A concepção extensionista de João Alfredo tinha cunho assistencialista,

conforme Dimas Veras cita discurso do reitor ao afirmar que a extensão universitária

seria um “instrumento de ação encaixado na comunidade, a serviço dos que não

podendo frequentar as salas de aulas e os laboratórios, trabalham inferiorizados pela

incultura” (1964, p. 76-77 apud VERAS, 2010, p. 91). Mas a concepção extencionista

freiriana distanciava-se desta e pretendia uma ação mais efetiva da universidade na

sociedade. Isto Paulo Freire expressou em anos posteriores em seu livro “Extensão ou

Comunicação?” no qual lança uma crítica às ações de extensão que apenas estendem o

saber acadêmico às comunidades de maneira que não promovem o diálogo. Então, ele

afirma: [...] Verificamos a incompatibilidade entre ele [termo extensão] e uma ação educativa de caráter libertador. Por isto mesmo, a expressão

“extensão educativa” só tem sentido se se toma a educação como

prática da “domestificação”. Educar e educar-se na prática da liberdade, não é de estender algo desde a “sede do saber”, até a sede

da ignorância para salvar, com este saber, os que habitam nesta.

(2006, p. 25).

Com esta concepção dialógica Freire compôs uma equipe no SEC que estava

intimamente ligada com as ambições de seu diretor. Freire vislumbrou a oportunidade

de não apenas aplicar mais uma metodologia de alfabetização, mas de expressar uma

prática que revolucionaria as anteriores com a inclusão e reconhecimento do educando

no processo de aprendizagem. Segundo a professora Maria Solange Lira4, que aplicou a

metodologia de Freire em sua sala, afirma:

[...] Uma das coisas básicas foi essa visão que ele considerou básico foi a aprendizagem do aluno. Ele viu que essa realidade não estava

boa né? Essa realidade dos alunos, e ele percebeu que um grande

contingente da população estava fora da escola, população de, fora da faixa etária que não foi aproveitada pelo sistema educacional e diante

do sistema estava fora e essa preocupação dele eu acho que veio

despertar a atenção pra uma metodologia uma forma que ele não tem

um método né, é uma preocupação com a educação com o processo de alfabetização de jovens e adultos.

As ações desenvolvidas pelo SEC voltadas para Educação, como destaca Veras

(2010) discorriam em ofertar cursos que englobassem a formação nos três níveis:

superior, com debates sobre a realidade brasileira; médio, com cursos para estudantes

ginasiais e colegiais com apresentação de novas técnicas e métodos de ensino; e básico,

com educação de jovens e adultos. Este último foi o grande destaque do SEC.

Freire vê no Serviço de Extensão da Universidade do Recife um caminho para

experimentar o resultado das pesquisas que já vinha desenvolvendo desde o MCP.

Segundo uma das sócias fundadoras do MCP e que também manteve contato com Freire

no SEC, Argentina Rosas, descreve que embora a metodologia de Paulo Freire não

alcançasse um quantitativo de alfabetizandos tão rapidamente quanto as técnicas que

envolviam as cartilhas aquele fomentava a construção do senso crítico e autonomia

proporcionada ao educando no processo de ensino-aprendizagem, sendo este o

diferencial do seu método que depois se percebeu como sistema diante de sua

complexidade e integração do aluno como um todo.

O MCP usava a cartilha e ia muito mais rápido, porque já tinha em

todas as escolas radiofônicas, já tinham estrutura. E o trabalho que

depois ficou a ser conhecido como “método” Paulo Freire não era simplesmente de ensinar a escrever e a ler, era a tomada de

consciência que o sujeito fazia a partir de sua realidade. Isso é um

trabalho mais lento, mais devagar. Agora, quando o sujeito aprendia a ler, aprendia a escrever, ele tinha uma coisa muito maior, que era a

compreensão da criticidade, da análise crítica, de saber um pouco

analisar os eventos sociais. Ele lia os jornais e sabia analisar aquele jornal. Isso para mim que era a grande importância, que ainda hoje é

da metodologia de trabalho de Paulo Freire. (ARGENTINA ROSAS,

2006 apud BARBOSA, 2009, p.136).

Beisiegel (1992) também reitera as afirmações de Argentina Rosas ressaltando

que a grande preocupação de Freire era educar e não apenas alfabetizar e afirma:

Esta preocupação educativa viera sendo desenvolvida sob a convicção de que o homem é um ser de relações, conceito que por sua vez

envolve a temporalidade, a consequência, a reflexibilidade e a

transcendência. [...] Impunha-se elaborar um método educativo que

fosse capaz de ajudar o homem a alcançar esse conhecimento crítico e que auxiliasse no processo de sua humanização. E tal método seria o

diálogo, e quem dialoga , dialoga com alguém sobre algo, e esse algo

seria o conteúdo da programação... E nada melhor do que o conceito

de cultura para levar o homem a descobrir-se como pessoa, como

sujeito, com um papel no mundo, e não como objeto... (p. 259).

Desse modo, Freire constituiu uma metodologia que imbricava na “leitura do

mundo” a partir da apresentação de slides com imagens que se remetiam à realidade dos

alfabetizandos. Nos círculos de cultura, que eram os espaços onde se desenvolviam as

aulas de alfabetização, fomentavam-se diálogos por intermédio da apresentação de

imagens e da palavra geradora, esta relacionada com o universo cultural do aluno.

Um participante do SEC, Marcius Cortez, descreve a euforia de Paulo Freire ao

ter contato com as primeiras imagens que comporiam os slides para aplicação de seu

método. Paulo romanceava um pouco e essa sua dose de imaginação nos soava

como canção do futuro. Os sonhos se alimentam dessas sensações, não é mesmo? Nós, a sua equipe, ganhávamos um salário emocional. O

pintor Francisco Brennand, muito possivelmente fascinado pelo

universo que Paulo nos trazia, se ofereceu para fazer as ilustrações dos

slides iniciais do Sistema Paulo Freire de Educação de Adultos. Cheguei a ver os seus primeiros estudos e tive o privilégio de

compartilhar da alegria do Paulo, para lá e para cá, a saracotear com

os desenhos debaixo do braço e a mostrá-los para quem aparecesse na sua frente. (CORTEZ, 2008, p.15).

Com uma técnica de alfabetização diferenciada das demais, Paulo Freire é

convidado pelo governador do Rio Grande do Norte para experimentar seu método, em

Angicos, cidade interiorana do Estado. A aplicação do método recebe financiamento da

USAID (Agência dos Estados Unidos para Desenvolvimento Internacional) por

intermédio do Governo do Estado norte-rio-grandense.

Paulo Freire não se incomoda com a origem do recurso, apenas faz algumas

solicitações: autonomia para exercício de aplicação da sua metodologia, extinguindo,

dessa forma, qualquer interferência partidária e parceria entre governo do Estado do Rio

Grande do Norte com o SEC da Universidade do Recife.

O sucesso da experiência em Angicos foi tão empolgante devido à rápida

alfabetização, em quarenta horas, que até mesmo a imprensa internacional como Le

Monde e New York Times divulgaram a façanha. Disseminou-se pelo país o êxito

alcançado na experiência freiriana em Angicos. Logo chegou ao Ministério da Educação

e o então ministro Paulo de Tarso convida Paulo Freire para participar do Plano

Nacional de Alfabetização, assim, o método que já se considerava sistema, diante de sua

complexidade, espalha-se por todas as regiões do país.

Porém, a efervescência proporcionada pela rápida alfabetização gerou

resistências e críticas por parte daqueles que visualizavam a inovação na educação de

adultos, por meio da conscientização, um instrumento subversivo que poderia “abalar a

segurança nacional”, como afirma Beisiegel (1992, p. 248).

Assim, o temor de que o Brasil pudesse vivenciar uma revolução como Cuba faz

com que os conservadores da política nacional lancem ferrenhas críticas ao governo do

presidente João Goulart e suas respectivas ações. Diante de tantas críticas e

insatisfações o princípio de democracia foi implodido por um grupo de opositores que

promoveram o golpe militar, em 1964, sob a alusão de defender a pátria de uma

“comunização” semelhante a Cuba.

O golpe militar não apenas impediu uma possível revolução social no Brasil,

impediu o país de aspirar uma real revolução na área educacional que diminuiria

expressivamente o quantitativo de analfabetos e dessa forma contribuiria para a

percepção deste como sujeito social com condições de modificar sua realidade, mas

neste tempo este desejo foi silenciado.

Considerações Finais

Vimos, então, que a trajetória inicial de Freire na educação iniciou no SESI de

Recife, perpassou pelo Movimento de Cultura Popular e na Universidade do Recife,

tanto como professor como diretor do SEC, neste teve grande destaque. Percebe-se que

a conjuntura na qual nasceu um florido período da educação popular no Brasil, e

especialmente no Nordeste, foi um momento de ávido desenvolvimento das práticas

educacionais de jovens e adultos, pois se passou a refletir e incluir o universo do

educando no processo de ensino-aprendizagem. Assim, Paulo Freire ousou traçar um

novo caminho na perspectiva de alfabetização.

Embora, tenha se relacionado com objetivos políticos sua aspiração política

debruçou-se no intuito de educar e educando conceder autonomia através de uma

educação conscientizadora para o educando fazer suas próprias escolhas. Além disso, as

ações de Freire, no SEC, serviram para traçar um novo perfil na extensão universitária.

Novas investigações sobre esta temática são possibilitadas sobretudo no que diz

respeito a analogia da concepção conscientizadora da Cartilha do MCP e do “método”

freiriano de alfabetização.

Referências

BARBOSA, Letícia Rameh. Movimento de Cultura Popular. Recife: Ed. do Autor,

2009.

BEISIEGEL, Celso de Rui. Política e Educação Popular: A Teoria e a Prática de

Paulo Freire no Brasil. 3. ed. São Paulo: Ática, 1992.

CORREIA, Maria Solange Lira. Recife: 2010. Entrevista concedida a Cassiana Farias e

Thalita Grazielly da Silva para compor pesquisa de PIBIC da UFPE, sob orientação do

professor Dr. André Ferreira da Silva.

CORTEZ, Marcius. O golpe na alma. São Paulo: Pé-de-chinelo Editorial, 2008.

FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? Trad. Rosisca Darcy de Oliveira. ed. 13.

Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006.

GODOY, Josina; COELHO, Norma. Livro de Leitura para Adultos. In: Memorial do

MCP. Recife: Fundação de Cultura da Cidade do Recife, 1986. (Coleção Recife – Vol.

XLIX).

HORA, Abelardo da. Depoimento. In: Memorial do MCP. Recife: Fundação de

Cultura da Cidade do Recife, 1986. (Coleção Recife – Vol. XLIX).

Memorial do MCP. Recife: Fundação de Cultura da Cidade do Recife, 1986. (Coleção

Recife – Vol. XLIX).

PAIVA, Vanilda. História da Educação Popular no Brasil: educação popular e

educação de adultos. ed. 6. São Paulo: Loyola, 2003.

ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da Educação no Brasil. ed. 29. Petrópolis:

Vozes, 2005.

SILVEIRA, Pelópidas. Recife: 1985. Arquivo CEHIBRA – Fundação Joaquim Nabuco.

Entrevista concedida a Eliane Moury Fernandes e Jorge Zaverucha.

VERAS, Dimas Brasileiro. Sociabilidades letradas no Recife: a Revista Estudos

Universitários (1962-1964). 2010. p. 232. Dissertação (Mestrado em História) –

Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2010.

1 Entrevista – FUNDAJ - CEHIBRA 2 Entrevista – FUNDAJ - CEHIBRA 3 Recife não tinha ensino municipal devido a um decreto do governador do Estado de PE, em 1926, para

transferência do ensino municipal para o Estado, juntamente com os professores, alunos e prédios,

objetivando a unificação do ensino. 4 Entrevista concedida a Cassiana Farias e Thalita Grazielly da Silva, em agosto de 2010.