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  • O PENSAR EDUCAO EM PAULO FREIRE

    Para uma Pedagogia de mudanas

    Sandra Cristina Schram

    Marco Antonio Batista Carvalho

    O propsito deste estudo refletir sobre a escola, a educao atravs da ao

    docente no processo de ensino e de aprendizagem, oferecendo espao para uma releitura sobre

    o papel social da escola, o currculo, a formao docente, a proposta pedaggica, aspectos da

    avaliao, tendo como referencial os pressupostos tericos do educador Paulo Freire.

    Uma reflexo necessria e de certa forma ousada, visto que hoje enfrentamos

    inmeras dificuldades no sistema educacional brasileiro. Assim, a proposta refletir a partir

    do desenvolvimento histrico em que apoiada a autores diversos, apresentamos algumas

    consideraes sobre a educao, o pedagogo, e nesse intuito o papel social da escola na atual

    sociedade.

    A escola precisa redimensionar o seu pensar, reformulando suas aes pela

    compreenso do que a comunidade escolar (entendida aqui os alunos, pais, professores,

    equipe pedaggica, direo, funcionrios) espera dela enquanto funo social. Ao que nos

    deparamos freqentemente com inmeras instituies tentando descrever e delinear as

    mazelas da escola, no entanto, ns educadores nos reservamos muitas vezes a apenas ouv-los

    sem definir publicamente nossos anseios, interesses e preocupaes. Tem-se permitido que

    diferentes profissionais interfiram no processo de direo da escola, ao que entendemos ser

    necessrio aos profissionais da educao assumir esse espao de afirmao e

    responsabilidade. Trazer a pblico, o que de fato a escola e a que ela se prope j que

    precisa reformular sua ao definindo prioridades frente as diferentes exigncias do contexto

    social em que encontra-se inserida.

    Professora Pedagoga da Rede Pblica Estadual/Ncleo Regional de Educao/Cascavel/PR. Professora do Programa de Desenvolvimento Educacional PDE /SEED/IES PR. Especialista em Alfabetizao; Didtica: Fundamentos tericos da Prtica Pedaggica; Administrao, Superviso e Orientao Educacional; Educao Especial; Psicopedagogia. [email protected] Professor Orientador do PDE e Docente do Curso de Pedagogia da UNIOESTE/CASCAVEL/PR. Mestre em Educao. [email protected]

  • 2

    Nosso maior interesse refletir a presena da escola na sociedade, sabendo que ela

    se destina promoo do homem. O que necessariamente requer um educador que seja um

    profundo conhecedor do prprio homem. Portanto compreendemos que a formao dos

    docentes a base para a escola de qualidade, pois no basta apenas equipamentos

    tecnolgicos, espao fsico, mobilirios, antes, docentes capacitados para fazer o seu trabalho,

    em ao coletiva com os educandos compreendendo o seu estar no mundo, o seu fazer,

    fazendo-se.

    Queremos uma escola capaz de trabalhar um currculo significativo, preparada

    para que o ensino e a aprendizagem de fato se efetivem, em que a proposta poltico

    pedaggica esteja alicerada a uma pedagogia crtica, capaz de desafiar o educando a pensar

    criticamente a realidade social, poltica e histrica, e que o educador, na concepo de Paulo

    Freire, seja aquele que ensina os contedos de sua disciplina com rigor e com rigor cobra a

    produo dos educandos, mas no esconde a sua opo poltica na neutralidade impossvel de

    seu que-fazer (2000, p. 44).

    A escola que compreendemos ser necessria, aquela que investe na formao de

    seus docentes e por essa razo, compreende o educador e a educadora progressista, de acordo

    com Paulo Freire, como aquele que:

    No se permite a dvida em torno do direito, de um lado, que os meninos e as meninas do povo tm de saber a mesma matemtica, a mesma fsica, a mesma biologia que os meninos e as meninas das zonas felizes da cidade aprendem mas, de outro, jamais aceita que o ensino de no importa qual contedo possa dar-se alheado da anlise crtica de como funciona a sociedade. (2000, p. 44).

    Queremos sem dvidas, que a escola possa, com seus educadores, trazer as

    mudanas desejveis para uma sociedade justa e igualitria. Isso no ser possvel se a escola

    no tiver clareza de seu currculo, de sua proposta pedaggica, de seu sistema de avaliao no

    processo de ensino e de aprendizagem, com compromisso, capacidade de agir e refletir sobre

    a realidade.

    De acordo com Paulo Freire, se o meu compromisso realmente com o homem

    concreto, com a causa de sua humanizao, de sua libertao, no posso por isso mesmo

    prescindir da cincia, nem da tecnologia, com as quais me vou instrumentando para melhor

    lutar por esta causa (2007, p. 22).

    Nossa preocupao estabelecer sobre a escola, a partir de seu projeto histrico, a

    reflexo crtica sobre a realidade, permitindo o cumprimento e a insero de todos. Sobre isto,

    Paulo Freire, afirma a necessidade de o educador assumir o compromisso com os destinos do

  • 3

    pas. Compromisso com seu povo. Com o homem concreto. Compromisso com o ser mais

    deste homem (2007, p. 25).

    A partir das releituras de Paulo Freire, acreditamos no professor capaz de

    coordenar a ao educativa; no educando como agente sujeito participante; na escola como

    currculo de cultura; e na sala de aula como espao de dilogo. em funo desses

    pressupostos que queremos participar das reflexes para a construo da escola que oferece

    uma educao em que as pessoas vo se completando ao longo da vida, uma educao capaz

    de ouvir as pessoas, participando dessa realidade, discutindo-a, e colocando como perspectiva

    a possibilidade de mudar essa realidade.

    Paulo Freire expressa que a escola deve ser um lugar de trabalho, de ensino, de

    aprendizagem. Um lugar em que a convivncia permita estar continuamente se superando,

    porque a escola o espao privilegiado para pensar. Ele que sempre acreditou na capacidade

    criadora dos homens e mulheres, e pensando assim que apresenta a escola como instncia da

    sociedade. Paulo Freire diz que no a educao que forma a sociedade de uma determinada

    maneira, seno que esta, tendo-se formado a si mesma de uma certa forma, estabelece a

    educao que est de acordo com os valores que guiam essa sociedade (1975, p. 30).

    Reconhece a presena do oprimido e do opressor, ao que convida-nos a essa libertao,

    inicialmente pela libertao do opressor que reside em cada um, para ento conseguirmos pela

    marcha popular libertar todos os homens.

    Nas consideraes de Paulo Freire

    Voc, eu, um sem-nmero de educadores sabemos todos que a educao no a chave das transformaes do mundo, mas sabemos tambm que as mudanas do mundo so um quefazer educativo em si mesmas. Sabemos que a educao no pode tudo, mas pode alguma coisa. Sua fora reside exatamente na sua fraqueza. Cabe a ns pr sua fora a servio de nossos sonhos . (1991, p. 126)

    Reconhecemos o papel que tem a escola para homens e mulheres, sabendo

    tambm, que no ser ela a nica responsvel pelas transformaes da sociedade, pois vem

    orientada muitas vezes para a manuteno das estruturas sociais e econmicas dominantes,

    que impedem a prpria transformao. Citado por Moacir Gadotti, nesse sentido que Paulo

    Freire enftico ao afirmar que a transformao da educao no pode antecipar-se

    transformao da sociedade, mas esta transformao necessita da educao (1991, p. 84).

    Tal afirmativa conduz a realizao de uma prtica pedaggica no apenas ao nvel

    da escola, mas tambm, da comunidade de insero dos sujeitos, portanto a valorizao da

    experincia cotidiana como forma de transformao na medida em que se torna capaz de

    responder s necessidades, nas prprias especificidades culturais, resultado da vida do povo.

  • 4

    Assim, a educao compreendida como instrumento a servio da

    democratizao, contribuindo pelas vivncias comunitrias dos grupos sociais, no dilogo,

    para formar pessoas participantes. A reforma da educao e a reforma da sociedade andam

    juntas, sendo parte do mesmo processo.

    Nesse sentido, Paulo Freire, apresenta-se como o educador que ao pensar o

    homem, a sociedade e suas relaes, preocupou-se em discutir a educao brasileira e pensar

    meios de torn-la melhor mediante o compromisso e a participao de todos, na perspectiva

    de uma educao libertadora capaz de contribuir para que o educando torne-se sujeito de seu

    prprio desenvolvimento, diante da presena orientadora que tem o educador.

    Para este educador, a educao ato de amor e coragem, sustentada no dilogo, na

    discusso, no debate. O que requer o olhar para os saberes dos homens e mulheres, j que no

    ignoramos tudo, da mesma forma que no dominamos tudo. Cabe a ns a compreenso de que

    a histria um processo de participao de todos, e neste sentido na escola que encontramos

    mais um lugar privilegiado para o ensino e a aprendizagem. Local que deve ser constitudo

    pela sua natureza e especificidade.

    Segundo ele, preciso que seja conferido ao homem o direito de dizer sua

    palavra, o que significa sua iniciao quanto a compreender-se e aos demais, homens no

    mundo, e seu papel no processo de transformao. Compreender que o homem um ser

    histrico e, portanto capaz de construir sua histria participando ativamente com os outros no

    mundo, lembrando sempre que Paulo Freire se reporta ao mundo imediato dos sujeitos, isto ,

    o local onde vivem, criam, produzem, sonham.

    Em todo o seu trabalho, Paulo Freire busca a coerncia entre a razo humana e a

    conscincia, pela qual o homem pode transformar-se e transformar o seu contexto social. Para

    o que necessrio a formao do homem realmente livre. Por ser livre, vai a origem das

    coisas, no deixando manipular-se, j que submete sua ao reflexo, no permitindo

    massificar-se, ou seja, pela formao da conscincia crtica, em que o ato de educar conduz a

    liberdade, combatendo a alienao dos homens atravs da compreenso do indivduo como

    ser ele mesmo, desenvolvendo suas potencialidades, humanizando-se no exerccio da

    responsabilidade que tem frente as mudanas sociais.

    Exige-se, portanto, exerccio consciente da ao, o que requer reflexo do prprio

    ato de existir. Para Paulo Freire, exercer a conscincia ter clareza sobre o aspecto dialtico

    da educao, onde

    A conscientizao implica, pois, que ultrapassemos a esfera espontnea de apreenso da realidade, para chegarmos a uma esfera crtica na qual a realidade se d

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    como objeto cognoscvel e na qual o homem assume uma posio epistemolgica. (2006, p. 30)

    Nesse sentido, o homem passa a reconhecer suas tarefas fundamentais, o que s

    possvel quando deixa de ser dominado pelos mitos, onde a razo passa a predominar sobre a

    emoo. Pois, quanto mais o homem for capaz de refletir sua realidade, maiores condies

    ter de agir sobre ela, comprometendo-se assim em mud-la, pelo fato de sentir-se inserido,

    partcipe, produtivo nela. Assim, o trabalho educativo ser expresso da conscincia crtica,

    quando os homens que o fazem, manifestam a capacidade de dilogo orientada para a prxis.

    Evidentemente o conceito de prxis aqui utilizado no aquele que evoca a pura e

    simples prtica, antes, porm, constitui-se como apresenta Vsquez (1977) em atividade

    pensada, organizada. Ao que Paulo Freire afirma, a prxis, porm, reflexo e ao dos

    homens sobre o mundo para transform-lo. Sem ela, impossvel a superao da contradio

    opressor-oprimido. (1997, p. 38)

    A educao crtica orientada para a tomada de decises e o exerccio da prtica

    de uma responsabilidade social e poltica. Modificando-se assim, a prpria relao entre

    professor e aluno, a qual marcada pelo pressuposto bsico que Paulo Freire estabelece para

    esta relao, a saber, a prtica do dilogo enquanto dimenso essencial no trabalho de

    compreenso da realidade a partir das experincias do sujeito ensinante, assim como do

    sujeito aprendente.

    Portanto, a comunicao entre educador e educando, na partilha de suas

    experincias pelo dilogo, abre caminhos para uma participao responsvel. O dilogo

    implica reconhecimento do outro, atravs do respeito a sua dignidade, o que s possvel

    entre pessoas, e o qual se fundamenta na democracia.

    Paulo Freire traz para a escola o princpio da relao professor-aluno. Muitas

    vezes, como em nossa vida social, tem se apresentado tambm, envolvida pelo autoritarismo,

    a ausncia do dilogo, exigindo de todos, a aprendizagem da democracia, atravs da

    dialogao entre alunos, pais e professores, transformando a vida escolar em assunto de todos

    os envolvidos, assim como a vida poltica assunto de toda a sociedade.

    Para tanto, prope uma educao transformadora, educao para a democracia

    pela participao de todos, calcada no homem livre, racional, capaz de promover mudanas

    atravs do consenso entre grupos e classes sociais, por meio de reformas histrico-culturais,

    ou seja, no pensar a realidade do trabalho humano como uma obra de cultura, um ato cultural.

  • 6

    Assim, compreender a cultura como processo histrico pelo qual o homem se

    relaciona com o mundo transformando-o com os outros homens, reconhecendo e

    transformando a natureza e a si prprios. Representando a somatria de toda a experincia,

    criao e recriao ligada ao homem no seu espao de hoje e na sua vivncia de ontem,

    configurando-se como a real manifestao do homem sobre e com o mundo. Portanto,

    compreendendo que a cultura tudo o que criado pelo homem.

    Desta forma, relevante considerar o homem inserido na cultura por ele

    constituda, compreendendo as relaes que se estabelecem na escola. Em que o professor

    perceba que cada indivduo, deve despertar para a conscincia de sentido do seu existir,

    devendo a ele o respeito com a necessria competncia e compromisso pedaggico, o que

    deve servir de referncia na organizao e valorao do quefazer escolar. Perceber a

    existncia de duas culturas, a do educando e a do educador, numa sociedade competitiva e de

    contradies.

    essa leitura da realidade dos sujeitos que ir possibilitar a passagem da

    conscincia ingnua para a conscincia crtica. Onde a conscincia ingnua caracterizada

    por Paulo Freire pela simplicidade da interpretao dos problemas, julgando como tempo

    melhor ser o tempo passado, busca pelas explicaes da realidade em mitos, fragilidade na

    argumentao, o envolvimento emocional em detrimento da razo, a ausncia da prtica de

    dilogo. E conscincia crtica, como a representao das coisas e dos fatos, na racionalidade,

    o domnio das emoes pela razo, capacidade de dilogo, aceitao de mudanas,

    objetividade na percepo do real.

    Assim, trabalhar para a criticidade a possibilidade de ao e de participao que

    s se efetiva na transformao consciente do meio, o qual s pode ser transformado com

    recursos que implicam a participao de todos para a conquista da educao libertadora. Cabe,

    portanto ao educador, a explicitao do seu projeto poltico. A explicitao da sua proposta

    educacional, compreendendo a educao como uma ferramenta metodolgica que traa a luta

    poltica ao sistema educativo. Sabendo que sozinha no ir revolucionar, mas sim, se todos

    estiverem conscientes do compromisso pela transformao, aproximando posturas a fim de

    melhorar a sociedade, num consenso orientado pela autoridade, em que todo homem traz

    consigo uma forma de ver e pensar o mundo, a partir de suas experincias com o universo

    circundante, pelas idias que orientam sua presena no mundo. Desse pressuposto que se

    pode pensar a relao oprimido e opressor, como afirma Paulo Freire no sou se voc no ,

    no sou, sobretudo, se probo voc de ser. (2006, p. 100)

  • 7

    A sociedade contraditria e, portanto apresenta nela prpria, situaes de

    opresso, reflexo de atos de injustia marcado pelas desigualdades sociais, prprios da

    sociedade capitalista, j que existe aquele que oprime e aquele que oprimido, gerando um

    contexto de violncia. Violncia que se percebe tambm no contexto escolar. Seja pelos

    conflitos da sociedade excludente, injusta e desigual, seja pelo discurso autoritrio, ou mesmo

    pela permissividade. Nesse sentido, requer repensar a formao de homens capazes de

    transformar, onde o fazer torna-se ao e reflexo, prxis pedaggica, caracterizada pela ao

    transformadora do mundo. Buscando a libertao do homem, no contexto de reflexo, pela

    compreenso de ser no mundo, com o mundo e para o mundo.

    Paulo Freire aborda os aspectos da relao educadores - educando, em que refere

    a existncia de relaes centradas unicamente na funo do educador atravs de atitudes

    narradoras e dissertadoras presentes no meio educacional, onde os contedos so apresentados

    como retalhos da realidade, desconectados da totalidade em que se engendram e em cuja

    viso ganhariam significao (1997, p. 57), parte do pressuposto de que uma prtica

    pedaggica desvinculada da reflexo, no tender a libertao e a transformao do homem,

    porque este concebido como uma vasilha, na qual depositado saberes tidos como

    essenciais por aqueles que no pensam a ao pedaggica. Por no ver no ato educativo um

    ato de criatividade, ato de transformao, no pode acontecer o saber. Saber que reflexo da

    inveno, da busca incessante, impaciente e freqente que os homens fazem no mundo, com o

    mundo e com os outros.

    Compreender a educao como transformao social, pressupe ver o homem no

    como mero reservatrio, depsito de contedos, mas sujeito construtor da prpria histria e

    em conseqncia, capaz de problematizar suas relaes com o mundo.

    A relao professor aluno para Paulo Freire, deve partir do reconhecimento das

    condies sociais, culturais, econmicas dos alunos, suas famlias e o seu entorno.

    A ao educativa acontece na relao educador e educando, mas permeada pelo

    desejo incessante que agua a curiosidade, que traz a dinmica de aprender com significado,

    em que o educador saiba o que vai ensinar e, portanto, estimula o aluno a perguntar, a

    conhecer, pois de acordo com Paulo Freire:

    Antes de qualquer tentativa de discusso de tcnicas, de materiais, de mtodos para uma aula dinmica assim, preciso, indispensvel mesmo, que o professor se ache repousado no saber de que a pedra fundamental a curiosidade do ser humano. ela que me faz perguntar, conhecer, atuar, mais perguntar, re-conhecer. (2007, p. 86)

  • 8

    Para Paulo Freire, o papel do professor e da professora ajudar o aluno e a aluna

    a descobrirem que dentro das dificuldades h um momento de prazer, de alegria (2003, p.

    52). Para tanto, torna-se prioritrio a prtica do dilogo em que ambos, educador e educando,

    atravs da realizao de seus objetivos chegam ao acesso do saber historicamente elaborado

    pelo exerccio cultural da humanidade. Ainda de acordo com Paulo Freire, O educador ou

    educadora como um intelectual tem que intervir. No pode ser um mero facilitador (2003, p.

    177), o que traduz a exigncia da formao docente para o exerccio pleno de sua funo

    pedaggica, enquanto articulador do processo ensino e aprendizagem.

    Ao considerar aspectos do ensino e aprendizagem, Paulo Freire fala da sua

    incansvel natureza de amar o saber, ao que retoma o necessrio domnio que o educador

    precisa para ensinar, no sendo possvel uma relao permissiva e evasiva frente ao contedo

    de ensino. Sobre isto ele diz:

    Para mim impossvel compreender o ensino sem o aprendizado e ambos sem o conhecimento. No processo de ensinar h o ato de saber por parte do professor. O professor tem que conhecer o contedo daquilo que ensina. Ento para que ele ou ela possa ensinar, ele ou ela tem primeiro que saber e, simultaneamente com o processo de ensinar, continuar a saber por que o aluno, ao ser convidado a aprender aquilo que o professor ensina, realmente aprende quando capaz de saber o contedo daquilo que lhe foi ensinado. (2003, p. 79)

    Portanto, o grande desafio do educador , pela formao permanente, buscar

    subsdios terico-prticos, para o exerccio da docncia, para a compreenso de que o

    contedo a ser trabalhado uma sntese da humanidade, e que ao ser considerado relevante,

    conduz o aluno a transitar por ele, provocando inquietaes que o fazem avanar ainda mais.

    Atribuir sentido ao programa curricular, organizando, criticando, relacionando o objeto de

    conhecimento e a realidade. Exigir dos integrantes do processo a relao dialgica, a busca

    comum por uma sociedade diferente, a qual passa pelo respeito ao outro, pelo exerccio

    contnuo do dilogo. Para Paulo Freire, professor e aluno devem vivenciar a liberdade com

    relao autoridade do professor, sendo ela absolutamente necessria para o desenvolvimento

    da liberdade dos alunos, porm, afirma que sem os limites do professor e da professora, os

    alunos e alunas no podem saber. Isso , o professor tem que impor os limites (2003, p. 146).

    O professor, segundo Paulo Freire, no precisa saber apenas o contedo, mas

    tambm como ensinar aquele contedo. O que requer ateno e disciplina para no dar nfase

    apenas aos problemas sociais e polticos deixando de lado o contedo, ou o inverso,

    enfatizando um contedo desvinculado das questes polticas e sociais do meio.

    Sobre isto, Vasconcellos afirma que:

  • 9

    O professor deve se assumir como sujeito de transformao no sentido mais radical (novos sentidos, novas perspectivas e dimenses para a existncia, nova forma de organizar as relaes entre os homens), e se comprometer tambm com a alterao das condies de seu trabalho, tanto do ponto de vista objetivo (salrio, carreira, instalaes, equipamentos, nmero de alunos por sala, etc.), quanto subjetivo (proposta de trabalho, projeto educativo, relao pedaggica, compromisso social, vontade poltica, abertura para a mudana, disposio democrtica, etc.). (2003, p. 77).

    Pensar a democracia no mbito educacional pressupe compreender o que seja

    educao, seus limites e suas instncias. Para Paulo Freire a educao sempre implica

    programa, contedo, mtodo, objetivos, o respeito ao saber circundante, direito que as

    pessoas tm de saber melhor aquilo que elas j sabem. Seu conceito de saber explicitado

    quando afirma que:

    Saber melhor significa precisamente ir alm do senso comum a fim de comear a descobrir a razo de ser dos fatos [...] comeando de onde as pessoas esto, ir com elas alm desses nveis de conhecimento sem transferir o conhecimento (2003, p. 159).

    Com esse propsito que desejamos a efetivao da educao popular, definida

    por Paulo Freire, enquanto esforo de mobilizao, organizao e capacitao das classes

    populares; capacitao cientfica e tcnica (2005, p. 19). Compreender que ela vem

    permeada da relao entre vida e poltica. Cabe, portanto, pensar essa ao como politizao.

    No tem o propsito de apenas socializar, mas antes politizar. Sabendo que esse evento se d

    amparado na participao das camadas populares para mover os obstculos na superao dos

    problemas pela descoberta das necessidades que devem e podem ser satisfeitas. Pois a

    educao popular nasce da cultura que os movimentos populares usam e criam em suas lutas.

    Precisamos sim brigar pela educao para a liberdade, que d sentido s relaes

    humanas, mobilizando para os caminhos de acesso ao conhecimento, associada a cultura.

    Cultura essa, usada nas lutas, por melhor viver.

    Neste contexto fundamental explicitar a compreenso de Paulo Freire quanto a

    especificidade e natureza pedaggica da Escola, para ele:

    uma escola em que realmente se estude e se trabalhe. Quando criticamos, ao lado de outros educadores, o intelectualismo de nossa escola, no pretendemos defender posio para a escola em que se dilussem disciplinas de estudo e uma disciplina de estudar. Talvez nunca tenhamos tido em nossa histria necessidade to grande de ensinar, de estudar, de aprender mais do que hoje. De aprender a ler, a escrever, a contar. De estudar histria, geografia. De compreender a situao ou as situaes do pas. O intelectualismo combatido precisamente esse palavreado oco, vazio, sonoro, sem relao com a realidade circundante, em que nascemos, crescemos e de que ainda hoje, em grande parte, nos nutrimos. Temos de nos resguardar deste tipo de intelectualismo como tambm de uma posio chamada antitradicionalista que reduz o trabalho escolar a meras experincias disso ou daquilo e a que falta o exerccio duro, pesado, do estudo srio, honesto, de que resulta uma disciplina intelectual. (2003, p. 114)

  • 10

    Porm, o que temos atualmente uma inquietao entre alunos e docentes, visto

    que parecem estabelecer alianas, mas ao mesmo tempo revelam desconforto e insatisfaes,

    um por no encontrar-se no desejo de aprender, e o outro por no compreender como

    apresentar, para o trabalho realizado, resultados de qualidade, traduzido na aprendizagem e na

    participao.

    Paulo Freire, colocando-se como aprendiz da prpria experincia chama a ateno

    ao processo de ensinar e aprender, propondo refletir as formas de abordagem com os

    educandos, trazendo para as discusses a importncia do educando reconhecer-se como tal e,

    portanto, compreender sua tarefa no processo de aprendizagem:

    O educando precisa assumir-se como tal, mas assumir-se como educando significa reconhecer-se como sujeito que capaz de conhecer o que quer conhecer em relao com o outro sujeito igualmente capaz de conhecer, o educador e, entre os dois, possibilitando a tarefa de ambos, o objeto de conhecimento. Ensinar e aprender so assim momentos de um processo maior o de conhecer, que implicar re-conhecer. (2003, p. 47)

    Desta forma, exige-se a compreenso da sociedade em que se est inserido,

    buscando a permanente anlise da estrutura social, poltica e econmica, a compreenso da

    educao no contexto de crianas, adolescentes, jovens e adultos trabalhadores. No desejo por

    uma educao de qualidade, exigindo a intencionalidade de uma educao democrtica, sria,

    comprometida com as expectativas da educao popular. Capaz de permitir, antes da leitura

    da palavra, a leitura do mundo pelo reconhecimento crtico da realidade. Ler o mundo , para

    Paulo Freire, a possibilidade de decifrao, interpretao crtica e analtica das situaes

    limites, a partir da percepo do indivduo e da maneira como este aprendeu a se relacionar no

    mundo e com o mundo.

    Gadotti afirma que Paulo Freire caracterizava como qualidade, no a

    concorrncia ou a competitividade entre as pessoas, mas antes a qualidade como forma de

    acesso ao saber e isto feito de forma alegre para todos (2001, p. 35).

    Assim, para Paulo Freire (2007), pensar o educando e o educador a partir do seu

    contexto real, da sua atmosfera social, na necessria participao para a conquista de um

    ensino comprometido com a aprendizagem, deve estar no discurso dos educadores, em que se

    faz necessria a ao de ensinar na exigncia rigorosa, metdica, na exigncia pela pesquisa,

    no respeito aos saberes dos educandos, na exigncia de criticidade, de esttica e de tica, na

    exigncia do exemplo das palavras em atos, na exigncia do risco, aceitao do novo e

    rejeio a qualquer forma de discriminao, na exigncia de reflexo crtica sobre a prtica,

    no reconhecimento e a assuno da identidade cultural, em que requisitava-se ensinar no

  • 11

    como ato mecnico, de mera transmisso do conhecimento, mas ensinar como uma tarefa

    especificamente humana. Educao que Paulo Freire apresentou e viveu na intensidade de seu

    tempo.

    Paulo Freire tornou-se assim, um educador que lutou pela construo da educao

    popular, dedicado e comprometido com a causa dos excludos, deixa um legado de esperana

    para as possveis transformaes sociais.

    Isto pode ser observado de diversas formas em seus escritos, como por exemplo,

    quando diz que:

    preciso que a educao esteja - em seu contedo, em seus programas e em seus mtodos - adaptada ao fim que se persegue: permitir ao homem chegar a ser sujeito, construir-se como pessoa, transformar o mundo, estabelecer com os outros homens relaes de reciprocidade, fazer a cultura e a histria [...] uma educao que liberte, que no adapte, domestique ou subjugue. (2006, p. 45)

    Para ele, a escola se apresenta como local privilegiado libertao, pois pela

    possibilidade de debater, discutir, dialogar que se alcanar a compreenso sobre a realidade

    circundante, e assim, ser possvel, escrever a histria das mudanas e das transformaes.

    Na educao, sua opo terica, traduz a constante necessidade de dilogo, a

    importncia do pensar a prtica como forma de refazer, refazendo-se. Oferece uma leitura da

    ao como ato consciente, capaz de libertar. Como ele mesmo dizia ningum liberta

    ningum, ningum se liberta sozinho: os homens se libertam em comunho. (1997, p. 52)

    De acordo com Paulo Freire, ningum comea a ler a palavra sem antes aprender

    a ler o mundo, o que advm da capacidade de olh-lo e interpret-lo, e desta forma que a

    histria reconta a evoluo do homem para a inveno da escrita, defendendo a necessria

    articulao, comprometida e responsvel, em tornar a educao popular um exerccio de

    democracia, participando, dialogando, construindo o prprio ensino.

    Pensando na necessria participao do povo na escola, Paulo Freire em sua

    vivncia pedaggica como gestor pblico1, prope uma trajetria conferindo um olhar

    dedicado, possvel porque esperanoso, alicerando os rumos para a educao popular

    democrtica, impondo a razo primeira de pensar a escola na perspectiva de participao

    coletiva atravs dos conselhos escolares, porm j advertindo que

    No devemos chamar o povo escola para receber instrues, postulados, receitas, ameaas, repreenses e punies, mas para participar coletivamente da construo de um saber, que vai alm do saber de pura experincia feito, que leve em conta as suas necessidades e o torne instrumento de luta, possibilitando-lhe transformar-se em sujeito de sua prpria histria. (1991, p. 16)

    1 Administrao Petista de So Paulo, em que assumiu a Secretaria da Educao da Cidade de So Paulo, 1989 - 1991.

  • 12

    Desta forma, devemos trazer escola a voz de quem vem escola, porque estes

    trazem para dentro dela um mundo rico em vivncias e saberes, tornando a escola como um

    espao de ensino-aprendizagem ser ento um centro de debates de idias, solues,

    reflexes, onde a organizao popular vai sistematizando sua prpria experincia (1991, p.

    16).

    Portanto as questes que devemos levantar dizem respeito a que escola queremos,

    a servio de quem ela deve estar, qual deve ser a sua preocupao em relao a comunidade a

    que pertence, para ento construir essa escola que acreditamos ser a necessria para a

    sociedade, em que buscar-se- pensar a ao pedaggica do profissional de educao, o

    pedagogo, como organizador das prticas educacionais contribuindo para que a escola cumpra

    o seu papel social, definido por Saviani como atividade nuclear da escola, a saber, a

    transmisso dos instrumentos de acesso ao saber elaborado. (1995, p. 21)

    Saviani contribui para esta discusso quando salienta:

    A escola existe, pois, para propiciar a aquisio dos instrumentos que possibilitam o acesso ao saber elaborado (cincia), bem como o prprio acesso aos rudimentos desse saber. As atividades da escola bsica devem se organizar a partir dessa questo. Se chamarmos isso de currculo, poderemos ento afirmar que a partir do saber sistematizado que se estrutura o currculo da escola elementar. Ora, o saber sistematizado, a cultura erudita, uma cultura letrada. Da que a primeira exigncia para o acesso a esse tipo de saber aprender a ler e escrever. Alm disso, preciso tambm aprender a linguagem dos nmeros, a linguagem da natureza e a linguagem da sociedade. Est a o contedo fundamental da escola elementar: ler, escrever, contar, os rudimentos das cincias naturais e das cincias sociais (histria e geografia humanas). (1995, p. 19)

    Com a preocupao sobre o que fazer, evidenciado nas relaes cotidianas

    escolares, Paulo Freire prope olhar a escola, como espao de ensino e aprendizagem, onde

    debates de idias, solues, reflexes, surjam da organizao do povo, para o povo e com o

    povo, resultado da reflexo conjunta do fazer pela experincia prpria.

    Revela preocupao no apenas com a boniteza da escola, zelo, limpeza,

    alegria, mas, sobretudo a escola da alegria de aprender, em que se faz presente a imaginao

    criadora, que busca a liberdade, a aventura de criar. Busca uma prtica educativa que seja

    capaz de trabalhar contra a excluso, superando os obstculos do processo de conhecer e que

    permite o sonho esperanoso de

    Uma escola democrtica em que se pratique uma pedagogia da pergunta, em que se ensine e se aprenda com seriedade, mas em que a seriedade jamais vire sisudez. Uma escola em que, ao se ensinarem necessariamente os contedos, se ensine tambm a pensar certo. (1991, p. 24)

  • 13

    Assim, sua vida na educao e sua obra trazem presentes em sua formulao

    terica do conhecimento, a preocupao constante com a formao permanente, em que exige

    reflexo sobre a prtica, reflexo sobre o projeto poltico pedaggico que se quer para a

    escola. Clareza e conscincia de a favor de qu e de quem, da mesma forma em que se deve

    pensar contra o qu e contra quem se realiza, por isso a necessria intencionalidade para o ato

    educativo pedaggico, esforo de uma ao eminentemente poltica.

    Paulo Freire traa um caminho de encontro consigo e com o outro, pensa a ao

    educativa valendo-se da necessria postura que deve ter o educador progressista, entendido

    aqui como aquele que estando consciente de sua responsabilidade, com competncia tcnica,

    associa o ensino do contedo leitura crtica da realidade, inquietando os educandos,

    desafiando-os para que percebam que o mundo pode ser mudado, transformado, reinventado.

    No ingenuamente, ou romanticamente, mas esperanosamente na crena de que preciso

    adotar uma postura crtica, pedaggica, sria e competente com a formao das novas

    geraes.

    Faz a advertncia para a necessria reflexo sobre situaes de evaso, ao que

    denomina expulso da escola (1991, p. 35), e o faz nos advertindo da necessidade de olhar

    para a sociedade e suas interferncias no processo de ensino e no processo de aprendizagem.

    A luta hoje to atual contra os alarmantes ndices de reprovao que gera a expulso de escandaloso nmero de crianas de nossas escolas, fenmeno que a ingenuidade ou a malcia de muitos educadores e educadoras chama de evaso escolar, dentro do captulo do no menos ingnuo ou malicioso conceito de fracasso escolar. No fundo, esses conceitos todos so expresses da ideologia dominante que leva a instncias de poder, antes mesmo de certificar-se das verdadeiras causas do chamado fracasso escolar, a imputar a culpa aos educandos. Eles que so responsveis por sua deficincia de aprendizagem. O sistema, nunca. sempre assim, os pobres e miserveis so os culpados por seu estado precrio. So preguiosos, incapazes. (2003, p. 125)

    E ele sugere mecanismos para combat-la, atravs do uso bem feito do tempo

    escolar, pois tempo para aquisio e produo de conhecimento, a formao permanente dos

    educadores, o estmulo a uma prtica educativa crtica, provocadora da curiosidade, da

    pergunta, do risco intelectual (1991, p. 35). Tambm nos faz refletir sobre qual deve ser o

    papel da escola para combater a chamada evaso escolar, ou expulso da escola quando

    afirma que:

    Uma escola democrtica teria de preocupar-se com a avaliao rigorosa da prpria avaliao que faz de suas diferentes atividades. A aprendizagem escolar tem que ver com as dificuldades que eles enfrentam em casa, com as possibilidades de que dispem para comer, para vestir, para dormir, para brincar, com as facilidades ou com os obstculos experincia intelectual. Tem que ver com sua sade, com seu equilbrio emocional.

  • 14

    A aprendizagem dos educandos tem que ver com a docncia dos professores e professoras, com sua seriedade, com sua competncia cientfica, com sua amorosidade, com seu humor, com sua clareza poltica, com sua coerncia, assim como todas as estas qualidades tm que ver com a maneira mais ou menos justa ou decente com que so respeitados. (2003, p. 125 -26)

    Para Paulo Freire necessrio pensar a prtica educativa, o seu momento de

    avaliao, de aferio do saber, valorizando a experincia do educando, aquilo que traz

    consigo, seu vocabulrio, sua prosdia, sua sintaxe, sua competncia lingstica,

    compreendendo que muitas vezes a experincia dos meninos populares se d

    preponderantemente no no domnio das palavras escritas, mas no da carncia das coisas, e

    por isso preciso trabalhar com o propsito de chegar naquilo que a escola considera como

    bom e certo, capaz de contribuir com o educando para a sua formao. necessrio, portanto,

    democratizar os critrios de avaliao do saber, onde a escola preocupe-se em preencher as

    lacunas de experincia das crianas, ajudando-as a superar os obstculos em seu processo de

    conhecer.

    Por isso, no trato para com a educao popular, nos faz compreender a

    necessidade de uma escola dedicada ao ensino e, portanto competente, mas tambm uma

    escola capaz de gerar alegria. E assim pensar a formao permanente dos docentes. Para tanto,

    prope abrir espao de dilogo aos educadores e educadoras, em que possam falar de seus

    problemas, de suas dificuldades. Refletir sobre a prtica com a perspectiva de emergir a a

    teoria necessria para redefinir os caminhos, porque compreende que as solues para as

    questes educacionais no podero chegar por decretos, mas antes pelo desejo e participao

    da prpria gente que faz a educao.

    Paulo Freire faz um convite para pensar um projeto poltico pedaggico centrado

    na construo de uma escola sria, competente, justa, alegre, curiosa (1991, p. 42), uma

    escola em que todos tenham condies de aprender e de criar, de arriscar-se, de perguntar, de

    crescer (idem, ibidem). Para isso requer profissionais, educadores, que lutem pela escola

    pblica, pela melhoria de seus padres de ensino, que defendam a dignidade dos docentes, a

    sua formao permanente, que acreditem na educao popular pela participao de todos e

    com clareza poltica. Que lutem pela reformulao do currculo em que ao ensino dos

    contedos, acrescente-se a leitura crtica sobre a realidade. No apenas para desocult-la, mas

    para agir sobre ela, transformando-a. Um desafio que se apresenta frente a uma transformao

    possvel.

    Em sua trajetria, Paulo Freire, evoca a necessria conscincia de educadores e

    educandos, para o ato de estudo como tarefa sria, difcil, mas tambm prazerosa. Exerccio

  • 15

    constante de sua prtica, vivida intensamente em seu fazer de educador, o qual sempre teve o

    esmero de reler, rever, repensar o dito, reescrever o escrito, refletindo constantemente a sua

    prtica terica. Como ele prprio afirmava pensando criticamente a prtica de hoje ou de

    ontem que se pode melhorar a prxima prtica (2007, p. 39). Sabiamente, numa atitude

    comprometida, faz uma importante advertncia quando diz:

    No podemos alimentar a iluso de que o fato de saber ler e escrever, por si s, v contribuir para alterar as condies de moradia, comida e mesmo de trabalho [...] essas condies s vo ser alteradas pelas lutas coletivas dos trabalhadores por mudanas estruturais da sociedade. (1991, p. 70)

    Isso no significa manter uma atitude de estagnao, desesperana, ao contrrio,

    significa saber que o processo educacional um dos meios de lutas para as transformaes

    sociais. Por isso, prope a busca de uma educao denunciante da opresso e anunciante da

    liberdade, indignando-se, mas, sobretudo construindo-se pela pedagogia da autonomia, que se

    faz pelo respeito cultura do aluno, valorizao do conhecimento que o educando traz,

    articulando conhecimentos coletivos ao saber popular e crtico, cientfico, na relao com o

    mundo.

    No s ao aluno exige-se a tarefa de estudar, muito mais deve ser a permanente

    relao do educador com a pesquisa, o estudo, uma vez que um mnimo de teoria necessrio

    quando se deseja fazer a diferena.

    indispensvel ao educador uma prtica que implica programar, avaliar, portanto

    na perspectiva freireana, ao e reflexo constante do ato pedaggico. Testemunhar aos

    estudantes a forma como se estuda, como se aproxima do objeto de seu conhecimento.

    Comprometer-se com o ensinar e o aprender, engajando-se no processo de conhecer. Sendo

    indispensvel ao educador a coerncia entre o discurso e a prtica.

    Fruto de seus estudos, suas experincias com a educao popular, porque

    preocupado com a formao permanente dos educadores, Paulo Freire deixa uma importante

    formulao terico-prtica em sua obra Pedagogia da Autonomia 2 .Neste trabalho dedica-

    se a postular caminhos de reflexo com os educadores, movendo um pensar comprometido e

    dedicado s questes da formao docente, refletindo as exigncias necessrias docncia,

    seja pelo respeito ao discente, j que sem ele no existe a docncia, o rigor metdico, a

    necessidade da pesquisa, o respeito ao saber do educando, a necessria criticidade, a urgente

    presena da eticidade e a esttica, o dizer coerente com o fazer, o ato de ensinar como

    2 FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessrios prtica pedaggica. So Paulo: Paz e Terra, 1996.

  • 16

    forma de competncia profissional, comprometimento, exerccio de liberdade e autonomia, o

    to importante saber escutar, reconhecer a educao como dilogo, como o bem querer aos

    educandos, guiado pela seriedade, pelo compromisso poltico e a competncia tcnica.

    Paulo Freire ao referir-se ao educador, refere-se ao ser politicamente claro,

    tecnicamente competente, que tenha sede por conhecer. Mostra que a teoria

    indicotomizvel da prtica, ou seja, no possvel separar ao da reflexo terica.

    Segundo Paulo Freire, pensando a prtica que se capaz de melhor

    compreender o que se faz e assim preparar-se para uma prtica melhor, percebendo teoria e

    prtica, jamais isolada uma da outra, mas uma relao de processo em que pensar a prtica a

    forma de aproximao do ato de e se pensar certo.

    Paulo Freire representa socialmente a aproximao da postura pedaggica de

    humildade, escuta, respeito, confiana, crtica, interrogao, dilogo na perspectiva da

    transformao. Estabelece a educao como ato amoroso, ao que nos permite a reflexo da

    natureza para a compreenso do ato como prtica, ao para a libertao, e o sentido de

    amoroso como sempre referiu-se ao bem-querer, confiana e a reciprocidade.

    Pela pedagogia de Paulo Freire, podemos participar do processo de transformao

    da escola, atravs da compreenso sobre o ato de conhecer, a importncia de aprender, a

    necessria existncia de uma relao harmoniosa, respeitosa, comprometida. Uma escola onde

    o dilogo seja uma constante, em que a qualidade do ensino seja refletida no desejo e no

    interesse em conhecer mais, buscar superar-se. Compreendendo que a aprendizagem o

    resultado das relaes contidas no intrnseco ato do ensinar e do compromisso com o

    aprender.

    A busca constante e necessria da escola como espao de dilogo, da pergunta, de

    caminho que se faz caminhando, mas na certeza de que sabe por onde se quer caminhar.

    Foi possvel, a partir dessa aproximao de Paulo Freire com o universo

    pedaggico, compreender que educao no se faz em um dia, ou em um ano, nem mesmo em

    um ciclo ou decnio da educao, mas ao longo de uma vida. Entender portanto, que a escola

    um espao de encontro, de concepes de vida, de alunos, de professores, de outros

    igualmente envolvidos e responsveis. Remete todos responsabilidade de trabalhar o

    contedo, os conhecimentos, para alm da educao bancria que tanto criticou, antes requer

    em especial dos professores, que busquem ao trabalhar os conhecimentos acumulados, a

    observncia de sua dimenso poltica e social, e o desenvolvimento de aprendizagens

    significativas.

  • 17

    Destacando a contribuio e caracterizando Paulo Freire no cenrio educacional

    brasileiro, Saviani comenta que:

    Paulo Freire foi, com certeza, um dos nossos maiores educadores, entre os poucos que lograram reconhecimento internacional. Sua figura carismtica provoca adeses, por vezes de carter pr-crtico, em contraste com o que postulava sua pedagogia. Aps sua morte, ocorrida em 1997, a uma maior distncia, sua obra dever ser objeto de anlise mais isentas, evidenciando-se mais claramente o seu significado no nosso contexto. Qualquer que seja, porm, a avaliao a que se chegue, irrecusvel o reconhecimento de sua coerncia na luta pela educao dos deserdados e oprimidos que no incio do sculo XX, no contexto da globalizao neoliberal, compem a massa crescente dos excludos. Por isso seu nome permanecer de uma pedagogia progressista e de esquerda. (2007, p. 333)

    preciso, portanto, conhecer a histria para que possamos aprender com ela,

    alias, por meio de duas de suas obras3 em que ele se apresenta como cidado do mundo ao

    refletir sobre sua prpria histria que, segundo ele, demarcou os limites de sua cultura. Para

    conhec-la necessita-se sem dvidas, estudo srio e dedicado, rigor e disciplina, horas de

    dedicao, vontade de conhecer, aprender e viver.

    A Pedagogia de Paulo Freire expresso do desejo pela vivncia da tica, pelo

    saber que no ignora-se tudo, mas que tambm no se domina tudo e portanto exige

    humildade de quem ensina no respeito com quem aprende. A experincia de que o papel do

    professor no se satisfaz apenas no ensinar os contedos, mas tambm no ensinar a pensar

    certo. O ensino como motivao para a pesquisa, o professor como pesquisador, j que para

    comunicar necessrio conhecer o ainda no conhecido. O freqente estmulo curiosidade,

    que se manifesta inquietamente e de forma indagadora. O olhar para a formao moral do

    educando, em que demanda profundidade na compreenso e na interpretao dos fatos. A

    presena constante do dilogo. O professor que em formao permanente, faz a reflexo

    crtica sobre a prpria prtica. A atitude atenciosa para os gestos que diariamente traduzem-se

    em representaes que estimulam ou implicam, no desestmulo no espao escolar.

    A escola como espao de construo de sentidos, dos desejos e emoes. O ato de

    ensinar pelo professor, que se transforma na possibilidade da sua prpria construo, e da

    construo do aluno enquanto participante. O exerccio da autoridade competente, a prtica

    democrtica, vencendo os preconceitos pelo respeito. A exigncia do assumir o direito e o

    dever de fazer opes, tomar decises, fazer poltica, lutar para melhor viver.

    3 As obras em que destaca a importncia da historicidade so: FREIRE, Paulo e Srgio Guimares. Aprendendo com a prpria histria. Vol. 1. 2 ed.; Paz e Terra, 2001; FREIRE, Paulo e Srgio Guimares. Aprendendo com a prpria histria Vol. 2. 2 ed.; Paz e Terra; So Paulo: 2002.

  • 18

    Compreenso de que o fato do inacabamento faz com que as vivncias sociais se

    tornem aprendizagens constantes, em que o que se desafia a fazer. Que a presena no

    mundo no a de quem a ele se adapta, mas a de quem nele se insere. a posio de quem

    luta para no ser apenas objeto, mas sujeito tambm da Histria (2007, p. 54).

    Paulo Freire afirma que o educando espera, no um professor licencioso, mas

    um educador com bom senso, capaz de orientar as atividades, tomar decises, estabelecer

    tarefas, cobrar as produes individuais e coletivas do grupo, o que manifesta o reflexo da

    autoridade competente e o exerccio da liberdade. Da mesma forma espera-se do professor o

    desejo pelo direito de poder dar suas aulas, de realizar sua tarefa docente, o que lhes impe a

    exigncia de planejar, estudar, pesquisar, ler, escrever, num ato constante de preparao da

    sua ao educativa, na exigncia pelo respeito curiosidade do educando, a amorosidade por

    ele, comprometendo-se com o processo de formao.

    O exerccio da docncia impe ao educador a seriedade da sua formao, de

    acordo com Paulo Freire, na Pedagogia da Autonomia, a incompetncia profissional

    desqualifica a autoridade do professor (2007, p. 92).

    possvel perceber que alunos e professores, constantemente se observam, se

    avaliam, realizam leituras sobre as atividades cotidianas, toda a atividade pedaggica um

    texto que permanentemente se torna leitura, interpretao, escrita e reescrita.

    Paulo Freire traz para a realidade escolar, o pensar educao. Permite o reencontro

    com a esperana de um trabalho comprometido, responsvel. Possvel, se emanado no

    coletivo escolar. Uma necessria compreenso de que a escola lugar de gente,

    Lugar onde se faz amigos, [...]gente que trabalha, que estuda, que se alegra, se conhece, se estima. [...] e a escola ser cada vez melhor na medida em que cada um se comporte como colega, amigo, irmo.[..] nada de ser como a o tijolo que forma a parede, indiferente, frio, s. [...] numa escola assim vai ser fcil estudar, trabalhar, crescer, fazer amigos, educar-se, ser feliz. 4

    essa escola que desejamos construir, uma escola humana, capaz de compreender

    os desafios de seu tempo, e na luta pelo melhor viver, reconhecer fatos, gestos, unir

    conhecimentos, recordar. Uma escola comprometida com as geraes futuras. Para Paulo

    Freire, uma escola em que o direito de saber melhor o que j sabem, ao lado de outro direito,

    o de participar, de algum modo, da produo do saber ainda no existente (2006, p. 111).

    Com os limites prprios, percebemos que esse texto no teve a pretenso de

    esgotar-se, antes, elucidar algumas relaes presentes no cotidiano escolar, compreendendo

    4 Poesia do educador Paulo Freire, disponvel no site do Instituto Paulo Freire (www.paulofreire.org)

  • 19

    que por ele (texto) no se mudar os contextos de vida de cada um, mas ir fomentar o desejo

    de construir prticas educativas nas escolas, em que preciso competncia, afetividade.

    Apresenta-se como um incio de trabalho, ao qual se soma a necessria vivncia pedaggica

    cotidiana, sugere ao leitor que participe dele, pensando alm dele, desafiando-se a um maior

    contato com os pressupostos desse educador. Pretendemos contribuir para as mudanas

    significativas na escola, confrontando o texto com a prpria vivncia e experincia escolar.

    Finalizamos com a certeza de que muito se pode aprender com Paulo Freire, ele

    que se definiu como um homem que viveu, amou e tentou saber. Um homem que nos deixa

    o legado da esperana, da capacidade de sonhar com um mundo melhor, por isso, um mundo

    possvel, para o melhor viver. Uma educao que feita por gente para gente, e que se

    sobressai porque existem educadores e educandos que sonham um mundo possvel, sonham

    com uma escola alegre, uma escola que conhece a sua especificidade e por ela luta.

    E porque no, a insero para a continuidade do sonho de Paulo Freire,

    O sonho de mudar a cara da escola. O sonho de democratiz-la, de superar o seu elitismo autoritrio, o que s pode ser feito democraticamente (1991, p. 74). O sonho que tem que ver com uma sociedade menos injusta, menos malvada, mais democrtica, menos discriminatria, menos racista, menos sexista (1991, p. 118).

    E assim, pensando com Paulo Freire, recordar que: onde quer que haja mulheres

    e homens h sempre o que fazer, h sempre o que ensinar, h sempre o que aprender (2000,

    p. 85).

    Recriar, reinventar Paulo Freire, adaptando algumas de suas idias s novas

    circunstncias do pas colocando suas idias em prtica. Esse o manifesto de Paulo Freire,

    maneira de quem, saindo, fica.

    Referncias

    GADOTTI, Moacir. Convite leitura de Paulo Freire. 2 ed.; So Paulo: Scipione, 1991 ______, Um legado de esperana. So Paulo: Cortez, 2001. FREIRE, Paulo. Ao Cultural para a Liberdade: e outros escritos. 6 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982. ______, A Educao na Cidade. So Paulo: Cortez; 1991. ______, Cartas a Cristina: reflexes sobre minha vida e minha prxis. 2 ed. So Paulo: UNESP, 2003.

  • 20

    ______, Conscientizao: Teoria e prtica da libertao: Uma introduo ao pensamento de Paulo Freire. 3 ed.; So Paulo: Centauro, 2006. ______, Educao e mudana. 30 ed.; Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007. ______,Pedagogia da Autonomia: saberes necessrios prtica educativa. 35 ed. So Paulo: Paz e Terra, 2007. (Coleo Leitura) ______, Pedagogia da esperana. 13 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006. ______, Pedagogia da indignao: cartas pedaggicas a outros escritos. So Paulo: UNESP, 2000. ______, Pedagogia do Oprimido. 24 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. FREIRE, P. & SHOR, Ira. Medo e ousadia: o cotidiano do professor. 11 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006. FREIRE, P. & HORTON, Myles. O caminho se faz caminhando: conversas sobre educao e mudana social. 4 ed. Petrpolis-RJ: Vozes, 2003. FREIRE, P. & GUIMARES, Srgio. Aprendendo com a prpria histria. Vol. 1. 2 ed. So Paulo: Paz e Terra, 2001. ______, Aprendendo com a prpria histria Vol. 2. 2 ed. So Paulo: Paz e Terra, 2002. FREIRE, P.& ILLICH, Ivan. Dilogo. In: Seminario Invitacin A Concientizar y Desescolarizar: Conversacin permamente, Genebra, 1974. Atas. Buenos Aires, Bsqueda-Celadec. 1975, 109 p. FREIRE, Paulo e NOGUEIRA, Adriano. Que fazer: teoria e prtica em educao popular. 8 ed. Petrpolis, RJ: Vozes, 2005. TORRES, Carlos Alberto. Dilogo com Paulo Freire. So Paulo: Loyola, 1979. SAVIANI, Demerval. Pedagogia Histrico Critica: primeiras aproximaes. 5 ed. Campinas, SP: Autores Associados, 1995. ______, Histria das Idias Pedaggicas no Brasil. Campinas, SP: Autores Associados, 2007. VASCONCELOS, Celso dos Santos. Para onde vai o Professor? Resgate do Professor como sujeito de transformao. 10 Ed. So Paulo: Libertad, 2003. VSQUEZ, Adolfo Snchez. Filosofia da Prxis. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.

  • 21

    Leituras complementares

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