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PATRÍCIA PEREIRA DE LIMA INFLUÊNCIA DA SALINIDADE E TEMPERATURA DA ÁGUA NAS RESPOSTAS COMPORTAMENTAL E FISIOLÓGICA DE CAMARÕES MARINHOS Litopenaeus vannamei (BOONE 1931) Tese apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte, para obtenção do título de Doutor do Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia. NATAL 2011

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PATRÍCIA PEREIRA DE LIMA

INFLUÊNCIA DA SALINIDADE E TEMPERATURA DA ÁGUA NAS RESPOSTAS

COMPORTAMENTAL E FISIOLÓGICA DE CAMARÕES MARINHOS Litopenaeus

vannamei (BOONE 1931)

Tese apresentada à Universidade Federal do Rio

Grande do Norte, para obtenção do título de

Doutor do Programa de Pós-Graduação em

Psicobiologia.

NATAL

2011

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PATRÍCIA PEREIRA DE LIMA

INFLUÊNCIA DA SALINIDADE E TEMPERATURA DA ÁGUA NAS RESPOSTAS

COMPORTAMENTAL E FISIOLÓGICA DE CAMARÕES MARINHOS Litopenaeus

vannamei (BOONE 1931)

Tese apresentada à Universidade Federal do Rio

Grande do Norte, para obtenção do título de

Doutor do Programa de Pós-Graduação em

Psicobiologia.

Orientadora: Maria de Fátima Arruda

NATAL

2011

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Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do Centro de

Biociências

Lima, Patrícia Pereira de.

Influência da salinidade e temperatura da água nas respostas

comportamental e fisiologia de camarões marinhos Litopenaeus vannamei

(BOONE 1931) / Patrícia Pereira de Lima. – Natal, RN, 2011.

96 f. : Il.

Orientadora: Profa. Maria de Fátima de Arruda

Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Centro de Biociências. Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia.

1. Camarões – Tese 2. Comportamento – Tese. 3. THC – Tese. I.

Arruda, Maria de Fátima de. II. Universidade Federal do Rio Grande do

Norte. III. Título.

RN/UF/BSE-CB CDU 639.512

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TÍTULO: Influência da salinidade e temperatura da água nas respostas comportamental e

fisiológica de camarões marinhos Litopenaeus vannamei (Boone 1931)

AUTORA: Patrícia Pereira de Lima

DATA/LOCAL DA DEFESA: 25/02/2011 – 09:00 h

Anfiteatro das Aves – Centro de Biociências/ UFRN

BANCA EXAMINADORA:

___________________________________________________

Prof. ALBERTO JORGE PINTO NUNES

Universidade Federal do Ceará, UFC

___________________________________________________

Prof. SÍLVIO RICARDO MAURANO PEIXOTO

Universidade Federal Rural de Pernambuco, UFRPE

___________________________________________________

Profª. CIBELE SOARES PONTES

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, UFRN

___________________________________________________

Profª. ANA CAROLINA LUCHIARI

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, UFRN

___________________________________________________

Profª. MARIA DE FÁTIMA ARRUDA

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, UFRN

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AGRADECIMENTOS

Muitas conquistas e aprendizados ao longo do meu doutorado, que não se restringiram

ao comportamento dos camarões, foram muito mais além e permitiram que eu compreendesse

um pouco mais do comportamento humano. Muitas pessoas se fizeram presentes, sendo

alguns encontros breves e outros duradouros. O mais importante foi o enriquecimento que

cada um desses encontros me proporcionou. A vocês, só tenho a agradecer. Obrigada!!!

A Deus pela iluminação e pela força, não permitindo que eu tropeçasse no meio do

caminho, fossem quaisquer os obstáculos encontrados.

À minha família, cujo incentivo foi essencial para alcançar essa conquista, sempre me

apoiando e compreendendo minhas ausências, especialmente meus pais, irmãs, cunhado, tios

(as), primos (as)... Em especial, à minha mãe que participou ativamente na concretização

desse meu projeto de vida, me ajudando na alimentação dos camarões durante os finais de

semana e até mesmo na extração da hemolinfa. Não foram poucos os finais de semana e

feriados passados no laboratório. Seu companheirismo foi fundamental! À Safira e Binka,

minhas companheiras em todos os plantões noturnos.

À Profª. Maria de Fátima Arruda, minha orientadora, que me acompanhou em mais

uma jornada. Obrigada pelos ensinamentos e amizade, valeu pelos momentos partilhados, que

nos fizeram crescer como seres humanos.

Ao pessoal do Laboratório de Estudos do Comportamento de Camarão que

participaram de alguma (s) etapa do meu projeto: Siomara, Fábio, Priscila e Fernanda. Em

especial, gostaria de agradecer a Melquieges pela amizade conquistada nesse período e pela

disponibilidade em sempre me ajudar.

À Ana Karinne e Victor Shiramizu pela amizade desinteressada, que muitas vezes

foram mão estendida, coração pulsante e ombro amigo.

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À Milena Clementino, pela amizade sempre presente, pelo companheirismo e pela

ajuda nos momentos de maior necessidade. Valeu, amiga!!!

Ao meu amigo Ronaldo Costa, pela amizade, dedicação e pela torcida pelo meu

sucesso.

À Profª. Fabiana e ao profº Hugo que me acolheram de braços abertos em seus

laboratórios, sempre disponíveis a tirar minhas dúvidas.

Ao Profº Arrilton, pela descontração proporcionada nos intervalos das observações,

que tornaram o trabalho de pesquisa um pouco mais leve.

Ao Prof° Alexandre Lara, exemplo de profissional, pela competência e dedicação

disponibilizadas.

À Profª. Hélderes Peregrino, pela colaboração em minha formação.

À Profª. Cibele Pontes, que me acolheu desde a graduação, por compartilhar bons

momentos e por me incentivar em vários momentos.

À Profª Margherita Barracco (UFSC) por ter contribuído com o desenvolvimento da

minha pesquisa, pela atenção e disponibilidade. Obrigada!

Ao pessoal do BIOPOL, especialmente Jailma, Nednaldo, Mariana e Leandro, pela

ajuda durante a pesquisa.

Aos colegas Wall, Felipe e Altay pela atenção e ajuda na estatística.

Aos motoristas Gilvan e Seu Everaldo, que me acompanharam nas coletas dos

animais, me ajudando no que fosse preciso.

À CAMANOR por disponibizar os animais necessários para o desenvolvimento da

pesquisa.

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Ao CNPq, pela bolsa de estudos concedida a mim durante o doutorado.

À Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia da UFRN, demais

professores, alunos e funcionários, em especial Ana Cláudia e Graça pela atenção.

A todas as demais pessoas que participaram dessa importante etapa da minha vida.

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“O que vale na vida não é o ponto de

partida e sim a caminhada. Caminhando e

semeando, no fim terás o que colher.”

Cora Coralina

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SUMÁRIO

1 – RESUMO.............................................................................................................................9

2 – ABSTRACT...................................................................................................................... 10

3 - LISTA DE ILUSTRAÇÕES ......................................................................................... 11

4 - APRESENTAÇÃO ....................................................................................................... 12

5 - INTRODUÇÃO GERAL .............................................................................................. 13

6 - OBJETIVOS ................................................................................................................. 22

6.1 – Objetivo geral............................................................................................................22

6.2 – Objetivos específicos................................................................................................22

7 – HIPÓTESES E PREDIÇÕES..........................................................................................23

8 – METODOLOGIA GERAL..............................................................................................24

8.1 – Local de observação..................................................................................................24

8.2 – Material biológico.....................................................................................................24

8.3 – Unidades experimentais............................................................................................24

8.4 – Resposta imune.........................................................................................................25

9 - MANUSCRITO 1: Resposta comportamental e fisiológica de camarões Litopenaeus

vannamei (Boone 1931) mantidos em laboratório sob diferentes temperaturas.......................26

10 – MANUSCRITO 2 – Comportamento de camarões marinhos Litopenaeus vannamei em

diferentes salinidades da água e sua relação a contagem dos hemócitos..................................60

11 –DISCUSSÃO GERAL......................................................................................................84

12 – REFERÊNCIAS..............................................................................................................92

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1 - RESUMO

Camarões Litopenaeus vannamei tem sido cultivados em ambientes bastante variáveis,

especialmente no que se refere à salinidade e à temperatura da água. O ajuste dos animais a

tais condições implica em modificações principalmente no comportamento, na fisiologia e em

particular na resposta imune, podendo trazer prejuízos ao bem estar desses animais. Apesar da

ampla utilização dessa espécie, pouco se conhece sobre suas respostas comportamentais e

fisiológicas em condições estressantes. Dessa forma, o objetivo da pesquisa foi verificar a

influência de diferentes salinidades e temperaturas no comportamento do camarão marinho L.

vannamei, buscando sua relação com a contagem total dos hemócitos. Em laboratório,

camarões juvenis foram mantidos em aquários com sistema fechado de recirculação de água,

aeração e filtração contínua, substrato formado por areia fina e ciclo claro/escuro 12:12 h. As

observações ocorreram 1, 4 , 7 e 10 h após o início de cada fase (de claro ou de escuro) do

período de 24 h. Para avaliar a influência da salinidade, os camarões foram aclimatados a 2,

30 ou 50 ppm, enquanto as temperaturas testadas foram 18, 28 e 33 °C. No final de cada

bateria de observações (30 dias), foi realizada a coleta da hemolinfa dos camarões para

posterior contagem total dos hemócitos (THC), parâmetro usado para avaliar o estresse. De

um modo geral, o comportamento alimentar foi modificado na salinidade e temperatura mais

baixa, encontrando-se valores reduzidos na alimentação, na exploração e no índice de

enchimento do trato digestivo. A inatividade e o enterramento foram preponderantes nas

condições extremas: 2 e 50 ppm e 18 e 33 °C, encontrando-se também menor frequência de

rastejamento nessas condições. Com relação ao ciclo claro/escuro, os camarões apresentaram

maior atividade na fase de escuro (rastejamento e natação), enquanto o enterramento foi maior

na fase de claro, independente da salinidade ou temperatura da água em que foram mantidos.

Apenas a inatividade não variou em função do ciclo claro/escuro. Além disso, a contagem

total dos hemócitos (THC) foi menor em 2 e 50 ppm e em 18 °C. Dessa forma, o cultivo de

L. vannamei em salinidades muito baixas ou elevadas e temperaturas inferiores aparentemente

é crítico, sugerindo-se cultivar essa espécie em salinidades mais próximas àquelas do mar,

bem como em temperaturas elevadas, o que parece ser ideal para um manejo voltado para o

bem estar dos camarões, resultando, portanto, na obtenção de animais mais saudáveis.

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2 – ABSTRACT

The shrimp Litopenaeus vannamei has been grown in highly variable environments,

especially in relation to salinity and water temperature. The adjustment to such conditions

mainly involves changes in behavior, physiology, particularly in the immune response. This

may consequently reduce the welfare of these animals. Despite the widespread farming of the

species, little is known about their behavioral and physiological responses under stressful

conditions. Thus, the objective of this study was to assess the influence of different salinities

and temperatures in the behavior of the marine shrimp L. vannamei, and its relation to the

total hemocytes count. In the laboratory, juvenile shrimp were kept in glass aquaria with a

closed water recirculation system, continuous aeration and filtration, and under a 12:12 h

light/dark cycle. Behavioral observations occurred 1, 4, 7 and 10 h after the start of each

phase (light or dark). To assess the influence of salinity, shrimp were first acclimated and then

observed at 2, 30 or 50 ppm salinity water, while temperatures tested were 18, 28 and 33 ° C.

At the end of each experiment (30 days), shrimp hemolymph was collected for subsequent

total hemocytes count (THC), a parameter used to assess stress. In general, feeding behavior

was modified under lower salinity and temperature, with reduced values in feeding,

exploration and digestive tract filling. Inactivity and burrowing were prevalent under extreme

conditions water salinity and temperature, respectively: 2 and 50 ppm and 18 and 33 ° C;

crawling was also less frequent under these conditions. In regards to light/dark cycle, shrimp

were more active during the dark phase (crawling and swimming), while burrowing was

higher during the light phase, regardless of salinity or temperature of the water. Inactivity

behavior did not vary according to the light/dark cycle. Moreover, the total hemocytes count

(THC) was reduced under 2 and 50 ppm salinity and 18 ° C temperature. Farming of L.

vannamei under extremely low or high salinities and low temperatures is harmful. This

suggests the species must be cultivated in salinities closer to those of the sea as well as at high

temperatures, which seems to be ideal for a management focused on animal welfare,

therefore, producing healthier shrimp.

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3 - LISTA DE ILUSTRAÇÕES

INTRODUÇÃO GERAL

Figura 1 – Evolução da produção mundial de camarão cultivado, mostrando a participação

das principais espécies..............................................................................................................13

Figura 2 - Ciclo de vida dos camarões peneídeos silvestres (Hendricks, 2001).....................15

METODOLOGIA GERAL

Figura 3 – Camarão marcado com anel de silicone no pedúnculo ocular para identificação

individual.............................................................................................................................. ....24

Figura 4 – Aquários na fase de claro (A) e de escuro (B) do período de 24

h.................................................................................................................................................25

Figura 5 – Extração da hemolinfa dos camarões.....................................................................25

MANUSCRITO 1

Figura 1 – Padronização visual da situação do trato digestivo de L. vannamei a partir da

quantidade de alimento presente no proventrículo dos animais................................................33

Tabela I – Parâmetros de qualidade da água durante os experimentos (média ± desvio

padrão)......................................................................................................................................37

Tabela 2 – Desempenho zootécnico de camarões L. vannamei juvenis em diferentes

temperaturas (média ± desvio padrão)......................................................................................38

Figura 2 – Comportamento alimentar do camarão Litopenaeus vannamei em diferentes

temperaturas (18, 28 e 33 ºC) e fases do ciclo claro/escuro......................................................42

Figura 3 – Comportamentos do camarão Litopenaeus vannamei em diferentes temperaturas

(18, 28 e 33 ºC) e fases do ciclo claro/escuro...........................................................................45

Figura 4 – Contagem total dos hemócitos (THC) nas diferentes temperaturas (18, 28 e 33

ºC).............................................................................................................................................46

MANUSCRITO 2

Figura 1 – Comportamentos do camarão Litopenaeus vannamei em diferentes salinidades (2,

30 e 50 ppm) e fases do ciclo claro/escuro...............................................................................71

Figura 2 – Contagem total dos hemócitos (THC) nas diferentes salinidades (2, 30 e 50

ppm)...........................................................................................................................................72

DISCUSSÃO GERAL

Tabela I – Hipóteses, predições e resultados obtidos..............................................................84

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4 - APRESENTAÇÃO

Essa tese está organizada no formato de manuscritos científicos. Inicialmente tem-se

uma introdução geral, seguida pelos objetivos, hipóteses, predições e metodologia geral, os

quais abrangem os temas que são comuns aos manuscritos apresentados. A seguir, têm-se os

manuscritos a serem publicados, finalizando com a discussão geral.

São apresentados dois manuscritos científicos:

- No primeiro manuscrito, mostra-se a influência da temperatura da água sobre o

comportamento do camarão marinho Litopenaeus vannamei, que é posteriormente

relacionado com a contagem total dos hemócitos (THC), parâmetro usado para avaliar o

estresse. São apresentados também os resultados referentes à qualidade de água e desempenho

zootécnico dos camarões nas temperaturas testadas.

- No segundo manuscrito, os camarões são submetidos a diferentes salinidades da

água, com o comportamento e a contagem total dos hemócitos (THC) avaliados em função

dessa variável.

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5 - INTRODUÇÃO GERAL

A aquicultura é definida como o cultivo de organismos aquáticos (peixes, moluscos,

crustáceos e plantas aquáticas) em áreas interiores, costeiras e mar aberto, envolvendo a

intervenção do homem no processo de criação para aumentar a produção desses organismos

(FAO 2003). Apesar de uma queda na taxa de crescimento nos anos recentes, a aquicultura

permanece como o setor de produção de alimento de origem animal que mais cresce no

mundo, com a produção de menos do que 1 milhão de toneladas no início de 1950

aumentando para 55,1 milhões de toneladas em 2009 (FAO 2010).

No Brasil, a produção aquícola e pesqueira alcançou um volume de 1.156.423

toneladas em 2008, sendo a participação da aquicultura de 35,94% desse total (415.649

toneladas). A produção aquícola marinha no Brasil em 2009 foi basicamente formada por

camarões (83,3%), enquanto em menor escala foram produzidos mexilhões (14,1%), ostras

(2,6%) e vieiras (0,02%) (MPA 2010). Dentre os camarões há uma predominância do

camarão marinho Litopenaeus vannamei (Crustacea, Decapoda, Penaeidae). Essa espécie é

endêmica do Oceano Pacífico, sendo encontrada desde Sonora (México) até Tumbes (norte do

Peru) (Brock & Main 1994).

A evolução no cultivo de L. vannamei demonstra o seu potencial em nível mundial. L.

vannamei representava apenas 19% de todo camarão cultivado em 1997, tendo sua produção

elevada para 67% em 2009 (Figura 1) (FISHSTAT 2011).

Figura 1 – Evolução da produção mundial de camarão cultivado, mostrando a participação das principais espécies.

19%

5%

52%

17%7% 1997

67%

4%

22%

4% 3%2009

L. vannamei F. merguiensis

P. monodon F. chinensis

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L. vannamei também se destaca em termos de produção significativa para a

aquicultura das Américas, sendo atualmente responsável por mais de 95% da produção total,

onde a importância de Litopenaeus stylirostris também é enfatizada, uma vez que esta espécie

já respondeu por quase 20% da produção desse hemisfério (Lightner 2011).

Especificamente no Brasil, L. vannamei é a única espécie cultivada comercialmente,

com vantagens competitivas em relação às espécies nativas (Ostrensky et al. 2007). Embora

essa espécie tenha sido introduzida no Brasil em meados da década de 80, somente a partir de

1994/95 começou a ser produzida comercialmente. Nesse contexto, a região Nordeste e, em

particular, o Estado do Rio Grande do Norte, oferecem condições excepcionais para o

crescimento no cultivo de camarões, destacando-se como pontos positivos a disponibilidade

de área adequada, temperatura ambiente, água de boa qualidade, mão-de-obra e localização

geográfica estratégica em relação aos mercados externos.

O sucesso no cultivo de L. vannamei vem sendo atribuído também a alguns fatores

como o crescimento rápido apresentado pela espécie, um requerimento proteico na dieta

relativamente baixo, além da tolerância a altas densidades de estocagem (Main & Van Wyk

1999). Outro fator que contribui para o sucesso no cultivo dessa espécie é sua capacidade de

adaptação às mais variadas condições locais de cultivo, dentre elas a salinidade e a

temperatura da água.

No ambiente natural, a maioria dos peneídeos passa por três fases durante seus ciclos

de vida, se ajustando na fase larval às salinidades oceânicas e às temperaturas da superfície;

na fase juvenil, às salinidades do estuário e aos padrões da temperatura litorânea e na fase

adulta, às salinidades oceânicas e temperaturas inferiores (Lester & Pante 1991) (Figura 2).

Em tais condições, ocorrem flutuações diárias e sazonais da salinidade e temperatura da água.

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Figura 2 - Ciclo de vida da maioriados camarões peneídeos silvestres (Hendricks, 2001)

Dessa forma, a salinidade e temperatura são apontadas como os principais fatores

abióticos que influenciam a vida dos organismos aquáticos, com as respostas variando em

função do estágio do ciclo de vida e espécie utilizada (Chen et al. 1995; Ye et al. 2009).

A tolerância dos camarões peneídeos às rápidas e amplas flutuações nos níveis de

salinidade da água é o resultado da capacidade de osmorregulação adquirida ao longo do

processo evolutivo desses animais. Como hiper-hipo-osmorreguladores, ou seja, eurihalinos,

os peneídeos mantêm a concentração interna menor do que a concentração do meio em altas

salinidades ou maior do que a do meio em baixas salinidades (Charmantier 1987). Sendo

assim, durante o processo de osmorregulação em água salgada, os camarões marinhos retêm

água do meio e excretam sais. Isto visa evitar o acúmulo excessivo de íons em seus fluidos

corporais e consequentemente a desidratação celular. Em ambiente completamente doce, o

animal tenderia a perder quantidades excessivas de água, retendo muitos íons durante a

osmorregulação (Nunes 2001).

Além da salinidade, a importância da temperatura da água para os camarões ocorre

devido a esses animais serem pecilotérmicos, o que significa que a temperatura do corpo varia

Pós-larvas

ESTÁGIOS

LARVAIS

Juvenis

Adultos

Ovos

Náuplio Protozoea

Mysis

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em função da temperatura ambiente. Assim, quando a temperatura do corpo cai, o processo

metabólico diminui e há redução na quantidade de energia que o animal deveria usar para

realização de suas atividades e reprodução. Enquanto isso, em temperaturas elevadas há um

aumento no metabolismo, que leva a uma maior demanda por energia (Hickman et al. 2001;

Hewitt & Duncan 2001).

Dessa forma, alterações na salinidade e/ou temperatura podem resultar em impactos

significativos na eficiência metabólica dos animais cultivados, no consumo de alimento e

oxigênio, na excreção de amônia, na concentração de nitrito na água, na muda, provocando

também alterações no crescimento, na sobrevivência e na resistência desses animais (Staples

& Heales 1991; Chen et al. 1995; Vijayan & Diwan 1995; Rosas et al. 1999; Van Wyk &

Scarpa 1999; Le Moullac & Haffner 2000; Lemos et al. 2001; Coman et al. 2002; Lin & Chen

2003; Villarreal et al. 2003; Wasielesky et al. 2003; Cuzon et al. 2004; Li et al. 2007; Zhang

et al. 2009). Apesar da grande quantidade de pesquisas avaliando o efeito da salinidade,

temperatura ou a interação de ambos os fatores, a maior parte dos resultados apresentados é

baseada principalmente na sobrevivência e crescimento dos camarões.

No caso de camarões L. vannamei juvenis, Hernández et al. (2006) indicam uma

preferência salina de 14,7-31,1 ppm associada à temperaturas maiores do que 26 °C, com a

faixa de preferência termal de 27-30 ºC.

Entretanto, na prática, o cultivo de L. vannamei no Brasil (de pós-larvas a juvenis) vai

desde ambientes com águas praticamente doces (próximas a 0 ‰) até águas hipersalinas

(chegando a 60 ‰). As temperaturas em que os camarões são cultivados também podem

variar bastante nesses ambientes. Embora, L. vannamei seja uma espécie tolerante às

mudanças na salinidade e temperatura da água, o ajuste necessário para que os animais se

mantenham nesses ambientes implica em custos energéticos, que poderão influenciar

diretamente o comportamento, a fisiologia e a imunidade dos camarões cultivados.

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No que se refere ao comportamento animal, a etologia aplicada aparece como uma

ferramenta importante, podendo responder questões sobre as necessidades de bem estar

animal (Gonyou 1994). De acordo com Millman et al. (2004), a etologia aplicada tem

contribuído para o entendimento dos mecanismos do comportamento em relação ao estresse

animal, bem como investigado as práticas de manejo que melhor atendem às necessidades dos

animais. Assim, o conhecimento das atividades realizadas pelos camarões em resposta ao seu

ambiente pode trazer informações importantes para aplicação no cultivo dos camarões em

viveiros, o que acarretaria em melhoras no manejo praticado nas fazendas. Além disso,

Hartsock (1982) acredita que o conhecimento prévio do comportamento de um animal poderia

reduzir consideravelmente os problemas encontrados pelos produtores de animais.

No entanto, são poucas as pesquisas desenvolvidas com ênfase no comportamento de

camarões, embora haja uma necessidade iminente de mais conhecimento na área da etologia

aplicada. A grande maioria dos trabalhos realizados com diferentes espécies de camarão

indica apenas se os animais encontram-se ativos ou inativos, não havendo diferenciação entre

as atividades (Fuss & Ogren 1966; Aldrich et al. 1968; Hindley 1975; Vance 1992;

Wassenberg & Hill 1994; Park & Loneragan 1999). Especificamente com relação à

alimentação, alguns dos trabalhos desenvolvidos avaliam principalmente as respostas dos

camarões aos atrativos da ração (Costero & Meyers 1993; Pittet et al. 1996).

Com relação à L. vannamei, apesar da ampla utilização da espécie, ainda pouco se

conhece sobre seu comportamento (Moctezuma & Blake 1981; Pontes & Arruda 2005a;

Pontes et al. 2006; Lima et al. 2009). Embora o comportamento alimentar dessa espécie já

tenha sido observado em função das fases de claro e de escuro do período de 24 h (Pontes &

Arruda 2005b) e em relação a diferentes frequências de alimentação (Pontes et al. 2008), não

há registros sobre sua resposta comportamental em condições de estresse térmico.

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Nesse sentido, a etologia aplicada juntamente com a anatomia, a fisiologia e a

imunologia dá uma visão abrangente e completa sobre a biologia desses indivíduos (Sambraus

1998). O comportamento é utilizado como um indicador do bem estar dos animais pela

etologia aplicada (Gonyou 1994), de modo que alterações no comportamento podem sinalizar

estresse nas condições de manejo envolvidas.

O estresse é definido como a soma de todos os efeitos inespecíficos que podem agir

sobre o corpo e aumentar significativamente o consumo de energia acima do nível basal,

promovendo alterações na homeostase (Nelson 2000).

Sornom et al. (2010) afirmam que sob condições de estresse, a alocação de energia

deve favorecer funções essenciais como a osmorregulação em contraposição às não vitais,

como a locomoção. Alterações no comportamento tais como letargia, desorientação,

diminuição no consumo de alimento, bem como mudanças na aparência e na cor de órgãos

como brânquias, apêndices, cutícula e músculo abdominal dos camarões podem ainda ser

indicativas de estresse (Main & Laramore 1999).

Com o crescimento exponencial da carcinicultura e exploração dos recursos naturais,

grandes problemas com relação às doenças começaram a surgir, prejudicando o bem estar das

espécies cultivadas. Main & Laramore (1999) apontam o ambiente como responsável por

impactos significativos no crescimento, produção e saúde dos camarões, uma vez que esses

animais não se alimentam bem, crescem mais lentamente e com isso, tornam-se mais

suscetíveis às doenças em condições adversas. De acordo com Sánchez et al. (2001),

condições ambientais e estresse são fatores importantes que podem provocar o aparecimento

de doenças virais, causando mortalidades elevadas e sério impacto econômico. Le Moullac et

al. (1998) também acreditam haver uma ligação clara entre as condições ambientais e as

doenças, com as flutuações nas condições ambientais normais (oxigênio, temperatura,

salinidade) tendo um efeito significativo.

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Segundo Blecha (2000), a hipótese que o estresse influencia a imunidade do

hospedeiro origina-se de observações em que a ocorrência de doenças aumentou em animais

expostos a ambientes estressantes. Condições ambientais extremas e práticas de manejo

estressantes influenciam a saúde e bem estar de animais cultivados.

Atualmente, a profilaxia e o controle de doenças nos cultivos restringem-se

basicamente às práticas adequadas de manejo e à redução das condições de estresse (Barracco

et al. 2008). A contagem total dos hemócitos (THC) é um dos parâmetros utilizados para

avaliar o nível de estresse e a partir daí inferir o estado de saúde em crustáceos.

Os crustáceos são dotados apenas de um sistema imune inato, que está intimamente

relacionado com a hemolinfa. A hemolinfa dos crustáceos é composta por uma fração celular,

representada pelas células circulantes ou hemócitos e por uma fração líquida, constituída pelo

plasma que contém diferentes fatores humorais. As respostas imune celulares e humorais

atuam de forma integrada nos crustáceos, protegendo-os contra a invasão de microorganismos

e parasitas, além de garantir a integridade corpórea e homeostática (Barracco et al. 2008).

Existem três tipos morfologicamente distintos de hemócitos em crustáceos: as células

hialinas (HC), semigranulares (SGC) e granulares (GC) (Johansson et al. 2000). O critério de

classificação desses tipos celulares é baseado na sua morfologia, ou seja, na presença de

grânulos citoplásmaticos e no tamanho relativo desses grânulos (Zhang et al. 2006).

As respostas imune celulares estão relacionadas com os hemócitos e incluem a

fagocitose de microorganismos, a formação de nódulos e cápsulas em torno de partículas

estranhas e os mecanismos citotóxicos e/ou degradativos intracelulares utilizados para

degradar e eliminar os agentes invasores (Barracco 2004). Muitas dessas moléculas

microbicidas encontram-se armazenadas dentro de vesículas ou grânulos de certas populações

de hemócitos, enquanto outras são constitutivamente secretadas para a hemolinfa, atuando em

diferentes cascatas imunológicas. Além de atuarem nas respostas de defesa, os hemócitos

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ainda participam no reparo de ferimentos, esclerotização da cutícula e acredita-se ainda que

estejam envolvidos no metabolismo e transporte de carboidratos (Jiravanichpaisal et al. 2006).

O número dos hemócitos circulantes é um indicador de estresse (Le Moullac &

Haffner 2000). Embora os hemócitos sejam produzidos constantemente, a taxa em que esse

processo ocorre é alterada rapidamente pela influência de diferentes fatores ambientais

(Jiravanichpaisal et al. 2006). Em condições de estresse geralmente há uma redução na

resistência imunológica, com conseqüente diminuição no número de hemócitos (Perazzolo et

al. 2002). No caso de hipoxia severa (1 mg/l) durante 24 h, camarões da espécie L. stylirostris

apresentaram uma diminuição significante na contagem de células totais (THC) devido a uma

redução nas células semigranulares e hialinas (Le Moullac et al. 1998).

Nas injúrias e processos infecciosos, a THC usualmente diminui durante as primeiras

horas, devido provavelmente à migração e infiltração de hemócitos nas regiões invadidas,

havendo em seguida um aumento de seus valores, possivelmente devido à liberação de novas

células a partir dos órgãos hematopoiéticos (Van de Braak et al. 2002). Andrezza et al. 2009

verificaram uma redução significativa na contagem total dos hemócitos (THC) de camarões L.

vannamei infectados por IMNV (Vírus da Mionecrose Infecciosa) no estágio avançado da

doença. Os autores observaram ainda que houve uma redução nos hemócitos granulares

concomitantemente com um aumento dos hemócitos hialinos. Tais pesquisadores apontam

como causas da redução no número de hemócitos, além da infiltração nos tecidos infectados,

baixa reposição de células pelos órgãos hematopoiéticos ou morte dos hemócitos por

apoptose.

Nesse sentido, pesquisas avaliando o comportamento e a resposta imune de camarões

submetidos a condições estressantes são importantes e devem ser ampliadas, especialmente

com relação à espécie L. vannamei. Apesar da ampla utilização dessa espécie, pouco ainda se

sabe sobre seu comportamento, especialmente em condições de estresse. Acredita-se que a

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etologia aplicada possa contribuir de forma significativa para melhoria das condições de

manejo em ambientes desfavoráveis, haja vista a ênfase dada ao bem-estar no cultivo de

espécies animais.

Com isso, espera-se que os resultados encontrados com essa pesquisa possam servir de

subsídios para que os produtores otimizem as principais condições ambientais (salinidade e

temperatura) durante o cultivo de L. vannamei. Assim, o estresse sofrido pelos animais

poderia ser diminuído, reduzindo consequentemente a probabilidade de doenças, que hoje é o

maior problema encontrado nas fazendas de cultivo de camarão.

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6- OBJETIVOS

6.1 - Geral

- Verificar a influência de diferentes salinidades e temperaturas no comportamento e

fisiologia do camarão marinho Litopenaeus vannamei (Boone 1931) em condições

laboratoriais de cultivo.

6.2 - Específicos

- Avaliar o comportamento dos camarões em diferentes salinidades e temperaturas da

água;

- Verificar a influência do ciclo claro/escuro do período de 24 h no comportamento

dos camarões;

- Determinar a influência da salinidade e temperatura da água na contagem total dos

hemócitos (THC);

- Relacionar o comportamento com a THC dos camarões mantidos nas diferentes

salinidades e temperaturas.

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7 – HIPÓTESES E PREDIÇÕES

Para se atingir os objetivos, as seguintes hipóteses e predições serão avaliadas:

HIPÓTESE 1: O comportamento de camarões L. vannamei é um indicador do estresse

causado pela salinidade e temperatura da água.

Predição 1.1: A alimentação dos camarões é mais frequente nas salinidades extremas (2 e 50

ppm) devido a um maior gasto energético (Manuscrito 2).

Predição 1.2: Para conservar energia, os camarões enterram-se mais em 2 e 50 ppm

(Manuscrito 2).

Predição 1.3: A frequência alimentar é menor em 18 °C devido ao metabolismo reduzido

nessa temperatura (Manuscrito 1).

Predição 1.4: A atividade locomotora é reduzida em 18 e 33 °C (Manuscrito 1).

HIPÓTESE 2: O ciclo claro/escuro influencia o comportamento de L. vannamei, sendo

independente da temperatura e da salinidade da água.

Predição 2.1: A natação e o rastejamento são maiores na fase de escuro (Manuscritos 1 e 2).

Predição 2.2: Há predomínio do enterramento na fase de claro (Manuscritos 1 e 2).

HIPÓTESE 3: A contagem total dos hemócitos (THC), parâmetro indicador de estresse, é

influenciada pela salinidade e temperatura da água.

Predição 3.1: Há uma redução no nº de hemócitos em 2 e 50 ppm (Manuscrito 2).

Predição 3.2: O número de hemócitos é menor em 18 e 33 °C (Manuscrito 1).

HIPÓTESE 4: A sobrevivência e o ganho de peso de camarões L. vannamei sofre

modificações devido à temperatura da água.

Predição 4.1: Há uma menor sobrevivência de L.vannamei em 18 °C (Manuscrito 1).

Predição 4.2: O ganho de peso dos camarões é menor em 18 °C (Manuscrito 1).

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8 - METODOLOGIA GERAL

8.1 - Local de observação

As observações ocorreram no Laboratório de Comportamento de Camarões do

Departamento de Fisiologia, Centro de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande

do Norte.

8.2 - Material biológico

Durante as observações, foram utilizados camarões juvenis da espécie Litopenaeus

vannamei, que foram adquiridos em fazendas de cultivo do Rio Grande do Norte. Após

chegarem ao laboratório, esses animais foram marcados com anéis de silicone colorido

colocado no pedúnculo ocular para identificação individual durante as observações (Figura 3).

Figura 3 – Camarão marcado com anel de silicone no pedúnculo ocular para identificação individual.

8.3 - Unidades experimentais

As unidades experimentais consistiram de 10 aquários de vidro transparente medindo

0,5 x 0,4 x 0,3 m, com sistema fechado de recirculação de água, aeração e filtração contínua,

tendo como substrato areia fina. Cada aquário possuía um filtro biológico externo formado

por camadas de diferentes granulometrias de areia, conchas de ostras quebradas e lã de vidro.

Esses aquários foram submetidos a um ciclo claro/escuro 12:12 h, sendo que em cinco

deles a fase de claro ocorreu de 6:00 às 18:00 h, enquanto a fase de escuro ocorreu das 18:00

h às 6:00 h (fotoperíodo natural). Paralelamente, outros cinco aquários foram submetidos a

ciclo invertido (fase de claro das 18:00 às 6:00 h e fase de escuro das 6:00 às 18:00 h). Isso foi

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feito mediante o controle de um interruptor horário (Timer), o que possibilitou a observação

dos comportamentos dos camarões nas fases de claro e de escuro do período de 24 h. A

iluminação dos aquários foi realizada por duas lâmpadas fluorescentes brancas de 20 W para a

fase de claro e uma lâmpada incandescente vermelha de 15 W para a fase de escuro. A

iluminação vermelha simulou a fase de escuro, permitindo a visualização dos camarões pelo

observador e também foi escolhida por não interferir no comportamento dos animais (Pontes,

2003) (Figura 4).

(A) (B)

Figura 4 – Aquários na fase de claro (A) e de escuro (B) do período de 24 h.

8.4 - Resposta imune

Após o período de observações (30 dias), foi realizada a extração da hemolinfa dos

camarões que foi usada posteriormente para contagem dos hemócitos totais (THC) (Figura 5).

Figura 5 – Extração da hemolinfa dos camarões.

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9 - MANUSCRITO 1: Resposta comportamental e fisiológica de camarões Litopenaeus

vannamei (Boone 1931) mantidos em laboratório sob diferentes temperaturas

Patrícia Pereira de Lima1,2

, Maria de Fátima Arruda1 & Fabiana Lima Bezerra

1

1Universidade Federal do Rio Grande do Norte, UFRN

2 Correspondência: Caixa Postal 1511, Campus Universitário, Natal, RN, Brasil, 59078-970

E-mail: [email protected]

RESUMO

A temperatura da água é um dos mais importantes fatores abióticos para a aquicultura,

com implicações diretas principalmente no comportamento, na fisiologia e na resposta imune

dos camarões. Nesse contexto, a etologia aplicada é uma ferramenta importante na avaliação

dos requerimentos de bem estar animal nas diferentes condições de manejo. Camarões L.

vannamei juvenis foram colocados em aquários com sistema fechado de recirculação de água,

aeração constante, filtração contínua e ciclo claro/escuro 12:12 h, onde foram submetidos às

temperaturas de 18, 28 ou 33 ºC. O registro dos comportamentos ocorreu durante 30 dias.

Após esse período, a hemolinfa dos animais foi coletada para realização da contagem total dos

hemócitos (THC). Observou-se que, em geral, a alimentação, o índice de enchimento do trato

digestivo (escuro) e a exploração (claro e escuro) foram reduzidos em 18 °C. O enterramento

foi mais frequente em 18 °C (claro) e 33 °C (escuro), sendo a inatividade também mais

elevada em 18 °C (escuro). A THC também foi menor em 18 °C. Em 33 °C, a taxa de

crescimento específico e o ganho de peso foram mais elevados. O rastejamento foi mais

frequente em 28 °C (escuro). Dessa forma, o cultivo de camarões L. vannamei juvenis

aparentemente é crítico nas temperaturas mais baixas, sugerindo-se que esses animais sejam

mantidos em temperaturas mais elevadas, visando seu bem estar.

PALAVRAS-CHAVE: Temperatura, comportamento, camarão, L. vannamei, THC

(Manuscrito a ser submetido ao periódico internacional: Aquaculture)

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1 - INTRODUÇÃO

O camarão marinho Litopenaeus vannamei é uma espécie de distribuição tropical,

exótica ao litoral brasileiro, sendo a única espécie cultivada comercialmente e que apresenta

vantagens competitivas em relação às espécies nativas (Ostrensky et al. 2007). Parte do

sucesso no cultivo deve-se à sua capacidade de se ajustar às mais variadas condições

ambientais, principalmente no que se refere à salinidade, ao oxigênio dissolvido e à

temperatura da água.

A temperatura da água é um dos fatores abióticos mais importantes para a aquicultura

porque afeta diretamente a vida dos organismos aquáticos. Nos camarões, em particular, pode

influenciar o metabolismo através de modificações na atividade enzimática, no consumo de

alimento e oxigênio, na excreção de amônia e na muda, provocando também alterações no

crescimento, na sobrevivência e na resistência desses animais (Staples & Heales 1991; Chen

et al. 1995; Van Wyk & Scarpa 1999; Le Moullac & Haffner 2000; Hewitt & Duncan 2001;

Coman et al. 2002; Cuzon et al. 2004).

Sob temperaturas baixas, o processo metabólico dos camarões diminui e há redução na

quantidade de energia que o animal deveria usar para realização de suas atividades e

reprodução. Enquanto isso, em temperaturas elevadas há um aumento no metabolismo, o que

leva a uma maior demanda por energia (principalmente na forma de alimento) e oxigênio

(Hickman et al. 2001; Hewitt & Duncan 2001).

Em ambiente natural, a maioria dos camarões peneídeos passa por três fases durante

seu ciclo de vida, se ajustando na fase larval às temperaturas da superfície; na fase juvenil, aos

padrões da temperatura litorânea e na fase adulta, às temperaturas inferiores (Lester & Pante

1991). No ambiente de cultivo (viveiros), as temperaturas em que os camarões são mantidos

também podem variar bastante, alterando-se sazonalmente ou podendo mudar em função da

localização das fazendas de cultivo em regiões geográficas diferentes.

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Apesar da capacidade de algumas espécies de camarão se ajustar às variações

ambientais, como é o caso de L. vannamei, é importante observar como os animais respondem

a tais mudanças, especialmente quando mantidos em condições extremas (temperaturas muito

baixas ou elevadas), a fim de evitar prejuízos ao bem estar desses animais.

Hernández et al. (2006) sugerem que juvenis de Litopenaeus vannamei sejam

cultivados em temperaturas acima de 25 ºC, com a faixa de preferência termal de 27-30 ºC. O

conforto ambiental é crítico para otimização da resposta comportamental dos camarões ao seu

ambiente, trazendo consequências para o manejo.

Domecini et al. (2007) afirmam que as limitações físicas do ambiente aquático podem

afetar o comportamento. Nesse contexto, a etologia aplicada surge como uma ferramenta

importante, podendo responder questões sobre as necessidades de bem estar animal (Gonyou

1994). De acordo com Millman et al. (2004), a etologia aplicada tem contribuído para o

entendimento dos mecanismos comportamentais em relação ao estresse animal, bem como

investigado as práticas de manejo que melhor atendem às necessidades dos animais. Assim, o

conhecimento das atividades realizadas pelos camarões em resposta ao seu ambiente pode

trazer informações importantes para aplicação no cultivo dos camarões em viveiros, o que

acarretaria em melhoras no manejo praticado nas fazendas.

Embora haja uma necessidade iminente de mais conhecimento na área da etologia

aplicada, ainda são poucas as pesquisas desenvolvidas com ênfase no comportamento de

camarões, mesmo para espécies de ampla utilização como é o caso de L. vannamei

(Moctezuma & Blake 1981; Pontes & Arruda 2005a; Pontes & Arruda 2005b; Pontes et al.

2006; Pontes et al. 2008; Lima et al. 2009). Não há ainda registros sobre a resposta

comportamental de L. vannamei em condições de estresse térmico.

Sornom et al. (2010) afirmam que o estresse ambiental pode prejudicar a

sobrevivência e a fisiologia dos animais mantidos em tais condições, bem como outras

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funções relacionadas ao comportamento, embora os prejuízos variem de acordo com o gênero

e/ou idade desses animais. Dantzer & Mormède (1983) asseguram ainda que em condições de

manejo, o estresse usualmente se expressa através de uma reação reflexa que ocorre quando

os animais são expostos a condições ambientais adversas. Isso tem implicações diretas no

bem estar desses animais, com consequências desfavoráveis que variam do desconforto à

morte.

Nesse sentido, a temperatura da água pode gerar estresse, o que influencia o sistema

imune dos camarões, assim favorecendo o estabelecimento de doenças.

O sistema imune dos crustáceos está intimamente relacionado com a hemolinfa, que é

composta por uma fração celular (hemócitos) e por uma fração líquida, onde estão dissolvidos

os diferentes fatores humorais. As respostas imune celulares e humorais atuam de forma

integrada na proteção dos crustáceos contra a invasão de microorganismos e parasitas, além

de garantir a integridade corpórea e homeostática (Söderhäll & Cerenius 1992; Roch 1999;

Barracco et al. 2008).

A contagem total dos hemócitos (THC) é um dos parâmetros mais usados para inferir

o estado de saúde de crustáceos, sendo o número de hemócitos circulantes um indicador de

estresse (Le Moullac & Haffner 2000; Barracco 2004). De acordo com Jiravanichpaisal et al.

(2006), os hemócitos são produzidos constantemente, embora a taxa em que esse processo

ocorre possa ser alterada rapidamente pela influência de diferentes fatores ambientais, entre os

quais tem-se a temperatura da água. Uma diminuição na THC é frequentemente relatada em

crustáceos marinhos expostos a condições estressantes (Perazzolo et al. 2002).

Nesse contexto, um maior conhecimento acerca do comportamento aliado à análise da

THC de L. vannamei submetidos a condições de temperatura que estejam fora do seu ótimo

ambiental são ferramentas importantes que podem beneficiar o manejo praticado nas fazendas

de cultivo. Uma observação mais detalhada do comportamento desses animais pode levar à

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identificação de camarões estressados, que podem estar com o número de hemócitos

alterados, o que compromete a defesa contra patógenos e favorece o estabelecimento de

doenças.

Nesse sentido, o objetivo desse trabalho foi avaliar as respostas comportamentais e

fisiológicas (THC), bem como o desempenho zootécnico de camarões L. vannamei juvenis

mantidos em diferentes temperaturas sob condições laboratoriais. Espera-se que a

alimentação e a atividade locomotora sejam reduzidas, bem como haja uma diminuição na

THC desses animais nas temperaturas extremas (18 e 33 °C).

2 - MATERIAL E MÉTODOS

2.1 - COMPORTAMENTOS DE CAMARÕES L. vannamei EM DIFERENTES

TEMPERATURAS

O experimento foi realizado em laboratório utilizando-se camarões juvenis da espécie

Litopenaeus vannamei (N = 150), obtidos em fazendas de cultivo do Rio Grande do Norte

(NE do Brasil).

Os animais foram mantidos em 10 aquários de vidro (0,5 x 0,3 x 0,4 m), cada aquário

contendo aproximadamente 30L de água do mar, sistema fechado de recirculação de água,

aeração e filtração contínua e substrato formado por uma camada de areia fina de

aproximadamente 7 cm. Além disso, cada aquário possuía um filtro biológico externo

formado por camadas sobrepostas de areia de diferentes granulometrias, conchas de ostras

quebradas e lã de vidro.

Esses aquários foram submetidos a um ciclo claro/escuro 12:12 h, sendo que em cinco

deles a fase de claro ocorreu de 6:00 às 18:00 h, enquanto a fase de escuro ocorreu das 18:00

h às 6:00 h (fotoperíodo natural). Paralelamente, outros cinco aquários foram submetidos a

ciclo invertido (fase de claro das 18:00 às 6:00 h e fase de escuro das 6:00 às 18:00 h). Isso foi

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feito mediante o controle de um interruptor horário (Timer), o que possibilitou a observação

dos comportamentos dos camarões nas fases de claro e de escuro do período de 24 h. A

iluminação dos aquários foi realizada por duas lâmpadas fluorescentes brancas de 20 W para a

fase de claro e uma lâmpada incandescente vermelha de 15 W para a fase de escuro. A

iluminação vermelha simulou a fase de escuro, permitindo a visualização dos camarões pelo

observador e também foi escolhida por não interferir no comportamento dos animais (Pontes,

2003).

Foram estocados cinco camarões por aquário, os quais foram marcados no pedúnculo

ocular com anéis de silicone de cores diferentes para identificação individual durante as

observações. Tal marcação ficava com folga no pedúnculo ocular dos camarões para não

afetar o comportamento e ao mesmo tempo permitia que a marcação permanecesse no animal

após a muda.

O experimento foi realizado em três etapas, tendo como base cada uma das

temperaturas estabelecidas, respectivamente 18, 28 ou 33 °C. Após chegarem ao laboratório,

cada lote de animais (N = 50) foi gradualmente aclimatado durante 7 dias à temperatura

prevista para aquela etapa experimental. A temperatura mais baixa (18 ºC) foi alcançada e

mantida através de ajustes no ar condicionado local, enquanto as temperaturas mais elevadas

(28 e 33 ºC) foram mantidas com o auxílio de um aquecedor com termostato, que permitiu a

manutenção da temperatura da água ao longo do experimento. Os aquários em 28 ºC foram

utilizados como controle. No decorrer do experimento, a temperatura da água foi monitorada

diariamente e quando necessário, ajustada, mantendo a variação dentro de ± 1 ºC.

A alimentação dos animais era restrita à fase de observação (de claro ou de escuro),

com a oferta do alimento ocorrendo a cada 3 h, ao longo das 12 h daquela fase, imediatamente

antes das observações. A quantidade ofertada era equivalente a 10% da biomassa de camarões

estocada/dia, utilizando ração peletizada própria para camarão (Camaronina 35 – Avialis do

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Brasil Nutrição Animal Ltda). A ração foi ofertada em bandejas de acrílico transparente (11,5

x 6,0 x 3,5 cm) e retirada após uma hora para evitar problemas com a qualidade da água dos

aquários.

Durante o final de semana, os animais eram alimentados normalmente, mas não eram

realizadas observações comportamentais.

Foram realizadas quatro janelas de observação com registros ocorrendo 1, 4, 7 e 10 h

após o início de cada fase (de claro ou de escuro) do período de 24 h. As janelas de

observação tinham duração de 15 minutos para cada aquário, começando imediatamente após

a introdução do alimento artificial com registros simultâneos na fase de claro e de escuro.

Para que os registros dos comportamentos ocorressem de forma simultânea nas fases de claro

e de escuro, enquanto um observador realizava a observação de um aquário na fase de claro,

outro fazia o registro dos comportamentos em um aquário na fase de escuro e assim

sucessivamente, até que os 10 aquários fossem observados (cinco na fase de claro e cinco na

fase de escuro). Os seguintes comportamentos foram registrados usando o método focal

instantâneo com registros a cada 60 segundos (método em que a observação é dividida em

intervalos amostrais curtos, sendo que em cada ponto amostral o observador registra se o

comportamento está ou não ocorrendo) (Martin & Bateson 2007a):

a) Alimentação: introdução de peletes de ração ou partes da muda na cavidade bucal

do camarão com posterior ingestão.

b) Exploração: inserção e retirada contínua dos pereiópodos quelados do substrato

com o cefalotórax levemente inclinado.

c) Natação: o animal mantém-se suspenso na coluna d’água, ou ainda, deslocando-se

vertical ou horizontalmente através da movimentação dos pleópodos.

d) Rastejamento: o animal desloca-se sobre o substrato, utilizando seus pereiópodos.

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e) Inatividade: o animal fica estático, podendo ocorrer movimentação dos

pereiópodos, pleópodos ou ambos.

f) Enterramento: o camarão enterra-se parcial ou totalmente no substrato, através de

movimentos dos pereiópodos e/ou pleópodos.

Além disso, foram feitos registros pelo método focal contínuo da latência de chegada

do animal à bandeja e da latência de consumo do alimento ou de partes da muda, seja na

bandeja ou fora dela. Através do método focal contínuo, cada comportamento é registrado

junto com a informação sobre seu tempo de ocorrência; as latências são determinadas

considerando o tempo gasto desde a apresentação do estímulo (ração) até a chegada do animal

à bandeja (latência de chegada) ou início da ingestão do alimento ou muda (latência de

consumo) (Martin & Bateson 2007a e 2007b).

A situação do trato digestivo dos animais no início e final das observações também foi

verificada, a partir da padronização visual da quantidade de alimento presente na parte inicial

do trato digestivo (proventrículo) do animal, sendo atribuídos valores às diferentes situações

verificadas: 0 = vazio, 1 = pouco alimento, 2 = quantidade média de alimento e 3 = cheio

(Pontes & Arruda 2005b; Pontes et al. 2008) (Figura 1). A partir destes valores, o índice de

enchimento do trato digestivo (IETD) foi calculado através da diferença entre a situação do

trato digestivo do camarão no final e início das observações, respectivamente.

Figura 1 – Padronização visual da situação do trato digestivo de L. vannamei a partir da quantidade de alimento

presente no proventrículo dos animais (A = vazio, B = pouco, C = médio, D = cheio). Fonte: Pontes & Arruda

2005b; Pontes et al. 2008.

A B C D

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Foi realizado também o cálculo da taxa de crescimento específico, que foi baseado na

fórmula: TCE (%/dia) = (Log peso final – Log peso inicial)/Tempo x 100.

Ao final do experimento, foi feito o cálculo do ganho de peso através da fórmula:

Ganho de peso (%) = (peso final + peso inicial)/peso inicial x 100.

Além disso, a sobrevivência dos animais nas diferentes temperaturas foi avaliada

mediante a seguinte fórmula: Sobrevivência (%) = número final de camarões/ número inicial

de camarões X 100

Além da temperatura, a qualidade da água dos aquários foi monitorada durante todo o

experimento com medições diárias da salinidade, oxigênio dissolvido e pH e medições

semanais da amônia total e nitrito em todos os aquários, sempre realizadas pela manhã (9:00

h).

Um total de cinco repetições para cada temperatura testada em cada fase de

observação (de claro ou de escuro) foi realizada. Cada repetição teve duração de quatro

semanas, com as observações realizadas cinco vezes por semana, totalizando 20 dias de

registro dos comportamentos para cada unidade experimental (aquário), o que resultou em

200 h de observação por temperatura.

2.2 - CONTAGEM TOTAL DOS HEMÓCITOS (THC) DOS CAMARÕES EM

DIFERENTES TEMPERATURAS

Extração da hemolinfa e contagem dos hemócitos

A extração e coleta da hemolinfa foram realizadas após os animais (n = 50 para cada

temperatura) serem mantidos por 30 dias nas diferentes temperaturas (18, 28 ou 33 ºC) para

realização das observações comportamentais.

A hemolinfa dos camarões (10 pools de 5 animais para cada temperatura) foi coletada

a partir da inserção de uma agulha de 30 x 8 mm (21G) acoplada a uma seringa de 1 ml na

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região ventral do primeiro segmento abdominal de cada camarão, com posterior punção do

líquido.

A hemolinfa coletada foi colocada diretamente em uma solução fixadora constituída

de 4% de formaldeído em solução anticoagulante (27 mM citrato de sódio, 336 mM cloreto de

sódio, 115 mM glicose, 9 mM EDTA, pH 7,2) a uma diluição conhecida (1:1), sendo mantida

a 4 ºC até ser usada. Posteriormente, a contagem total dos hemócitos (THC) foi realizada em

câmara de Neubauer, usando um microscópio óptico (Andrezza et al., 2009).

3 - ANÁLISE ESTATÍSTICA

Através dos testes de Shapiro-Wilks e Levene pode-se constatar respectivamente a não

aderência dos dados à distribuição normal e a inexistência de homogeneidade das variâncias

para os parâmetros de qualidade de água, desempenho zootécnico e os seguintes

comportamentos: alimentação, exploração, natação, rastejamento, inatividade, enterramento e

para o índice de enchimento do trato digestivo. Dessa forma, a análise desses dados foi feita a

partir de testes não paramétricos, utilizando-se o teste de Kruskal-Wallis e, quando diferenças

significativas foram observadas, aplicou-se o T2 de Tamhane. Para as latências de chegada e

consumo do alimento, bem como para análise da THC, as premissas para análise paramétrica

dos dados foram cumpridas, adotando-se a ANOVA e post hoc Bonferroni. O nível de

significância adotado foi p < 0,05.

4 - RESULTADOS

4.1 - PARÂMETROS DE QUALIDADE DA ÁGUA

4.1.1 – OXIGÊNIO DISSOLVIDO

Foram encontradas diferenças significativas para o oxigênio dissolvido na água dos

aquários mantidos nas diferentes temperaturas testadas (H = 463,61; gl = 2; p < 0,001),

encontrando-se uma maior concentração de oxigênio em 18 °C em relação a 28 °C (p <0,001)

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e 33 °C (p < 0,001). Na comparação entre 28 e 33 °C verificou-se a existência de uma maior

concentração de oxigênio em 33 °C em comparação aos aquários mantidos em 28 °C (p <

0,001) (Tabela 1).

4.1.2 – SALINIDADE

A salinidade da água não variou significativamente nos aquários mantidos sob

diferentes temperaturas (H = 5,32; g = 2; p = 0,070) (Tabela 1).

4.1.3 – pH

O pH variou em função da temperatura da água dos aquários (H = 178,27, gl = 2, p <

0,001), com os aquários mantidos em 33 °C apresentando pH menor do que em 18 °C (p

<0,001) e 28 °C (p < 0,001). Entre 18 e 28 °C, as diferenças não foram significativas (p =

0,210) (Tabela 1).

4.1.4 – AMÔNIA TOTAL

Não foram verificadas diferenças significativas na concentração de amônia total nas

diferentes temperaturas (H = 3,83; gl = 2; p = 0,148) (Tabela 1).

4.1.5 – NITRITO

Foram encontradas diferenças significativas quanto à concentração de nitrito nas

diferentes temperaturas (H = 75,74; g = 2; p < 0,001), encontrando-se maior concentração de

nitrito em 28 °C do que entre 18 °C (p < 0,001) e 33 °C (p < 0,001). As diferenças não foram

significativas entre 18 e 33 °C (p = 0,986) (Tabela 1).

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Tabela I – Parâmetros de qualidade da água durante os experimentos (média ± desvio padrão).

Temperatura (°C)

Oxigênio dissolvido (mg/L)

Salinidade (ppm) pH

Amônia total (mg/L)

Nitrito (mg/L)

18 9,16 ± 0,40a 30,77 ± 1,10a 7,79 ± 0,16a 0,19 ± 0,19 0,07 ± 0,02a

28 5,76 ± 0,47b 30,70 ± 1,14a 7,83 ± 0,12a 0,01 ± 0,004 0,73 ± 0,36b

33 6,48 ± 0,71c 30,73 ± 0,87a 7,31 ± 0,08b 0,16 ± 0,12 0,07 ± 0,02a

4.2 – DESEMPENHO ZOOTÉCNICO

4.2.1 - TAXA DE CRESCIMENTO ESPECÍFICO (TCE)

As diferenças foram significativas para a taxa de crescimento específico dos camarões

nas diferentes temperaturas (H = 37,04; gl = 2; p < 0,001), verificando-se uma maior taxa de

crescimento específico em 33 °C do que em 18 °C ( p < 0,01) e 28 °C (p < 0,01). Não foram

registradas diferenças significativas entre 18 e 28 °C (p = 0,300) (Tabela 2).

4.2.2 - GANHO DE PESO

O ganho de peso dos camarões apresentou diferenças significativas nas temperaturas

testadas (H = 37,04; gl = 2; p < 0,01), com os animais mantidos em 33 °C apresentando ganho

de peso maior do que aqueles em 18 °C (p < 0,01) e 28 °C (p <0,01). Não foram encontradas

diferenças significativas entre 18 e 28 °C (p = 0,271) (Tabela 2).

4.2.3 - SOBREVIVÊNCIA

Foram encontradas diferenças significativas para a sobrevivência dos camarões nas

diferentes temperaturas (H = 12,25; gl = 2; p = 0,002), com os camarões mantidos em 18 ºC

apresentando maior sobrevivência do que aqueles em 28 (p < 0,001) e 33 °C (p < 0,001).

Entre 28 e 33 °C, as diferenças não foram significativas (p = 0,969) (Tabela 2).

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Tabela 2 – Desempenho zootécnico de camarões L. vannamei juvenis em diferentes temperaturas (média ± desvio padrão)

Temperatura (°C)

Peso médio inicial (g)

Peso médio final (g)

Ganho de peso (%)

TCE* (%/dia)

Sobrevivência (%)

18 6,75 ± 0,29a 7,16 ± 0,69a 205,97 ± 8,49a 0,08 ± 0,12a 98 ± 0,52a

28 6,86 ± 0,24a 7,52 ± 0,76b 209,63 ± 10,53a 0,13 ± 0,14a 91,33 ± 7,49b

33 6,84 ± 0,26a 8,67 ± 1,23c 226,79 ± 17,70b 0,33 ± 0,21b 90,6 ± 6,52b

*TCE = taxa de crescimento específico

4.3 - COMPORTAMENTOS DE CAMARÕES L. vannamei EM DIFERENTES

TEMPERATURAS

Os resultados são apresentados inicialmente a partir das comparações feitas entre as

três temperaturas em ambas as fases (de claro/ de escuro) do período de 24 h. A seguir, as

análises foram realizadas comparando as fases de iluminação em cada temperatura.

4.3.1 – COMPORTAMENTO ALIMENTAR

4.3.1.1 - ALIMENTAÇÃO

Nas três temperaturas testadas, não foram encontradas diferenças significativas para a

alimentação dos camarões na fase de claro (H = 3,61; gl = 2; p = 0,165). Entretanto, na fase

de escuro, houve variação da alimentação nas diferentes temperaturas (H = 20,44; gl = 2; p <

0,001), verificando-se uma menor frequência de alimentação em 18 ºC em relação a 28 ºC (p

= 0,003). As diferenças não foram significativas entre 18 e 33 ºC (p = 0,530), nem entre 28 e

33 ºC (p = 0,067).

Considerando as fases de iluminação do período de 24 h em cada temperatura, apenas

em 28 ºC foram encontradas diferenças significativas, com a alimentação mais frequente na

fase de escuro (U = 147,50; z = -3,36; p = 0,001). As diferenças não foram significativas em

18 ºC (U = 301,50; z = -0,24; p = 0,807) e 33 ºC (U = 289,50; z = -0,49; p = 0,624) (Figura

2a).

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4.3.1.2 - EXPLORAÇÃO

Na avaliação das três temperaturas utilizadas, a atividade exploratória apresentou

diferenças significativas nas fases de claro (H = 15,69; gl = 2; p < 0,001) e de escuro (H =

18,24; gl = 2; p < 0,001). Na fase de claro, houve menor exploração do substrato em 18 ºC do

que em 28 ºC (p = 0,002) e 33 ºC (p < 0,001). As diferenças não foram significativas para a

exploração entre 28 e 33 ºC (p = 0,983). Também na fase de escuro, a exploração foi menos

frequente em 18 ºC do que em 28 ºC (p < 0,001) e 33 ºC (p < 0,001). Entre 28 e 33 ºC, não

houve diferença significativa quanto à exploração (p = 0,999).

Além disso, em nenhuma das temperaturas testadas foram encontradas diferenças

significativas para a exploração quando consideradas as fases de iluminação do período de 24

h (18 ºC (U = 287,00; z = -0,50; p = 0,614); 28 ºC (U = 311,50; z = -0,02; p = 0,984) e 33 ºC

(U = 302,00; z = -0,21; p = 0,835)) (Figura 2b).

4.3.1.3 - LATÊNCIA DE CHEGADA À BANDEJA

Considerando as três temperaturas, as diferenças foram significativas para a latência

de chegada dos camarões à bandeja nas fases de claro (F (2,72) = 12,10; p < 0,001) e de

escuro (F (2,72) = 23,05; p < 0,001). Na fase de claro, os camarões demoraram mais para

chegar à bandeja em 33 ºC do que em 18 ºC (p < 0,001) e 28 ºC (p < 0,001). Entre 18 e 28 ºC,

as diferenças não foram significativas para a latência de chegada (p > 0,999). Os mesmos

resultados foram obtidos na fase de escuro, encontrando-se que a latência de chegada foi

maior em 33 ºC do que em 18 ºC (p < 0,001) e 28 ºC (p < 0,001). Também não foram

encontradas diferenças significativas entre 18 e 28 ºC (p > 0,999).

Apenas em 33 ºC houve variação da latência de chegada em relação às fases de

iluminação no período de 24 h, verificando-se uma latência mais elevada na fase de escuro (F

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(1,48) = 7,96; p = 0,007). As diferenças não foram significativas em 18 ºC (F (1, 48) = 0,92; p

= 0,341) e 28 ºC (F (1, 48) = 0,85; p = 0,360) (Figura 2c).

4.3.1.4 - LATÊNCIA DE CONSUMO

Nas três temperaturas testadas, observamos que a latência de consumo do alimento ou

da muda apresentou diferenças significativas nas fases de claro (F (2,72) = 10,48; p < 0,001) e

de escuro (F (2,72) = 13,57; p < 0,001). Na fase de claro, a latência de consumo foi menor em

18 ºC do que em 28 ºC (p = 0,024) e 33 ºC (p < 0,001). Entre 28 e 33 ºC não foram

constatadas diferenças significativas para a latência de consumo (p = 0,222). Resultados

similares foram encontrados na fase de escuro, com os camarões iniciando o consumo do

alimento ou da muda mais rapidamente em 18 ºC do que em 28 ºC (p < 0,001) e 33 ºC (p <

0,001). Na comparação entre 28 e 33 ºC não houve diferenças significativas (p > 0,999).

Por outro lado, quando consideradas as fases no período de 24 h em cada temperatura,

verificou-se que a latência de consumo variou em 28 ºC (F (1, 48) = 14,21; p = 0,001) e 33 ºC

(F (1, 48) = 6,21; p = 0,016), sendo maior na fase de escuro. Em 18 ºC, as diferenças não

foram significativas (F (1, 48) = 2,00; p = 0,164) (Figura 2d).

4.3.1.5 - ÍNDICE DE ENCHIMENTO DO TRATO DIGESTIVO

Verificou-se que o índice de enchimento do trato digestivo não variou

significativamente dentre as três temperaturas testadas na fase de claro (H = 2,06; gl = 2; p =

0,358). Entretanto, na fase de escuro, as diferenças foram significativas para o índice de

enchimento do trato digestivo (H = 16,22; gl = 2; p < 0,001), encontrando-se um índice menor

em 18 ºC do que em 28 ºC (p = 0,002) e 33 ºC (p < 0,001). As diferenças não foram

significativas na comparação entre 28 e 33 ºC (p = 0,821).

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Considerando as fases no período de 24 h em cada temperatura, o teste de Mann-

Whitney mostrou que o índice de enchimento do trato digestivo variou em 28 ºC (U = 175,00;

z = -3,36; p = 0,001) e 33 ºC (U = 137,00; z = -4,19; p < 0,001), sendo mais elevado na fase

de escuro. Em 18 ºC, as diferenças não foram significativas (U = 287,50; z = -1,43; p = 0,153)

(Figura 2e).

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Figura 2 – Comportamento alimentar do camarão Litopenaeus vannamei em diferentes temperaturas (18, 28 e 33 ºC) e fases do ciclo claro/escuro. As letras A-C indicam a comparação das temperaturas na fase de claro, enquanto a-c a comparação na fase de escuro. Letras diferentes representam diferenças significativas. ← indica diferença significativa entre as fases de iluminação em cada temperatura (p < 0,05), com a direção da seta partindo do valor maior para o menor.

a

b

ab

A

B

B

a

b

b

A A

B

a a

b

A

B

B

a

b

b

a

b

b

(a) (b)

(c) (d)

(e)

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4.3.2 - DEMAIS COMPORTAMENTOS

4.3.2.1 - NATAÇÃO

A natação não apresentou diferenças significativas em relação às temperaturas testadas

na fase de claro (H = 0,56; gl = 2; p = 0,756). Entretanto, houve variação quanto à natação nas

diferentes temperaturas na fase de escuro (H = 19,63; gl = 2; p < 0,001), observando-se uma

maior atividade natatória em 18 ºC do que em 28 ºC (p < 0,001) ou 33 ºC (p < 0,001). Por

outro lado, não foram verificadas diferenças significativas na natação entre 28 e 33 ºC (p =

0,994).

Na comparação entre as fases no período de 24 h, a natação foi mais frequente na fase

de escuro em todas as temperaturas: 18 ºC (U = 19,00; Z = -5,87; p < 0,001); 28 ºC (U =

89,00; Z = -4,60; p < 0,001) e 33 ºC (U = 57,00; Z = -5,24; p < 0,001) (Figura 3a).

4.3.2.2 - RASTEJAMENTO

Embora o teste de Kruskal-Wallis mostre que as diferenças foram significativas para o

rastejamento dos camarões na fase de claro (H = 7,00; gl = 2; p = 0,030), o post hoc T2 de

Tamhane não identificou diferença significativa em nenhuma das comparações feitas nas

diferentes temperaturas (18 e 28 °C (p = 0,132); 18 e 33 °C (p > 0,999) e 28 e 33 °C (p =

0,132)). Esse resultado é coerente com a igualdade das medianas nas três temperaturas

testadas (mediana = 0), indicando que na verdade não se pode considerar a existência de

diferenças significativas para o rastejamento na fase de claro. Na fase de escuro, o

rastejamento apresentou diferenças significativas entre as temperaturas testadas (H = 11,29; gl

= 2; p = 0,004), encontrando-se que o rastejamento foi mais frequente em 28 ºC do que 33 ºC

(p = 0,014). As diferenças não foram significativas entre 18 e 28 ºC (p = 0,072), nem entre 18

e 33 °C (p = 0,811).

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Independente da temperatura testada, o rastejamento foi mais freqüente na fase de

escuro: 18 ºC (U = 36,00; Z = -6,05; p < 0,001); 28 ºC (U = 68,50; Z = -5,06; p < 0,001) e 33

ºC (U = 25,00; Z = -6,44; p < 0,001) (Figura 3b).

4.3.2.3 - INATIVIDADE

Dentre as temperaturas testadas, verificou-se que a inatividade não apresentou

diferenças significativas na fase de claro (H = 2,01; gl = 2; p = 0,367). Na fase de escuro, as

diferenças foram significativas (H = 16,15; gl = 2; p < 0,001), com os camarões mantidos em

18 ºC permanecendo mais inativos do que aqueles em 28 ºC (p < 0,001) e 33 º C (p = 0,002).

Entre 28 e 33 ºC não foram encontradas diferenças significativas (p = 0,983).

Com relação às fases no período de 24 h, não foram encontradas diferenças

significativas para a inatividade dos animais em nenhuma das três temperaturas testadas: 18

ºC (U = 236,00; Z = -1,51; p = 0,131); 28 ºC (U = 268,00; Z = -0,89; p = 0,376) e 33 ºC (U =

306,00; Z = -0,13; p = 0,896) (Figura 3c).

4.3.2.4 - ENTERRAMENTO

O enterramento dos camarões apresentou diferenças significativas com relação às

temperaturas testadas nas fases de claro (H = 10,77; gl = 2; p = 0,005) e de escuro (H = 11,14;

gl = 2; p = 0,004). Na fase de claro, a frequência de enterramento foi maior em 18 do que em

28 °C (p = 0,019). Não foram encontradas diferenças significativas entre 18 e 33 ºC (p =

0,157), nem entre 28 e 33 °C (p = 0,328). Na fase de escuro, as diferenças foram significativas

apenas entre 28 e 33 °C (p = 0,002), com maior enterramento em 33 °C. Não foram

encontradas diferenças significativas entre 18 e 28 ºC (p = 0,174), nem entre 18 e 33 °C (p =

0,892).

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Considerando as fases do ciclo claro/escuro, o enterramento foi maior na fase de claro

em todas as temperaturas (18 ºC (U = 48,00; Z = -5,25; p < 0,001); 28 ºC (U = 88,50; Z = -

4,73; p < 0,001) e 33 ºC (U = 52,00; Z = -5,16; p < 0,001) (Figura 3d).

Figura 3 – Comportamentos do camarão Litopenaeus vannamei em diferentes temperaturas (18, 28 e 33 ºC) e fases do ciclo

claro/escuro. As letras A-C indicam a comparação das temperaturas na fase de claro, enquanto a-c a comparação na fase de escuro. Letras diferentes representam diferenças significativas. ← indica diferença significativa entre as fases de iluminação em cada temperatura (p < 0,05), com a direção da seta partindo do valor maior para o menor.

(c) (d)

a

b b

ab

a

b

a

b

b

A

B

AB

ab

a

b

(a) (b)

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4.4 - CONTAGEM TOTAL DOS HEMÓCITOS (THC) DOS CAMARÕES EM

DIFERENTES TEMPERATURAS

As diferenças foram significativas para a contagem total dos hemócitos nas diferentes

temperaturas (F (2,28) = 7,54; p = 0,003). O número de hemócitos foi significativamente

menor em 18 ºC do que em 28 ºC (p = 0,007) e 33 ºC (p = 0,013). Não foram encontradas

diferenças significativas entre 28 e 33 ºC (p > 0,999) (Figura 4).

Figura 4 – Contagem total dos hemócitos (THC) nas diferentes temperaturas (18, 28 e 33 ºC). Letras diferentes representam

diferenças significativas (p < 0,05).

a

b

b

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5 - DISCUSSÃO

Os resultados apontam para uma modificação no comportamento de L. vannamei em

função das temperaturas em que os camarões foram mantidos. Com relação ao

comportamento alimentar, encontrou-se que a alimentação (escuro), a exploração (claro e

escuro) e o índice de enchimento do trato digestivo (escuro) foram reduzidos em 18 °C. A

taxa de crescimento específico (TCE) e o ganho de peso foram maiores na temperatura mais

elevada (33 ºC).

Quanto às latências, verificou-se que apesar dos camarões terem apresentado menores

latências de chegada e de consumo em 18 ºC (claro e escuro), não houve uma alimentação

mais frequente nessa temperatura. Costero & Meyers (1993) também observaram a chegada

de camarões L. vannamei à fonte de alimento, bem como o início da ingestão desses animais e

verificaram que, em geral, as respostas foram mais rápidas quando os animais passaram mais

tempo sem se alimentar. Em nossa pesquisa, uma vez que a frequência de alimentação dos

camarões mantidos em 18 ºC foi mais baixa (escuro - Fig. 2a), os animais apresentaram uma

resposta ao alimento registrada pelas latências de chegada e de consumo do alimento ou da

muda mais rápida.

Nossos resultados quanto à alimentação dos camarões foram similares aos de outros

pesquisadores que também expuseram L. vannamei a diferentes temperaturas. Ponce-Palafox

et al. (1997) verificaram que a temperatura teve um efeito considerável no consumo de

alimento e no crescimento de pós-larvas de L. vannamei (PL 18) cultivadas em 20, 25, 30 ou

35 ºC durante 40 dias. As pós-larvas apresentaram maior crescimento nas temperaturas mais

altas (30 e 35 ºC), havendo também um maior consumo de alimento em 35 ºC. Em 20 ºC, o

consumo do alimento foi baixo. Nossos resultados corroboram esses dados, visto que

encontramos um maior crescimento dos camarões em 33 ºC, com menor alimentação em 18

ºC (escuro), apesar da idade dos camarões nas duas pesquisas serem diferentes.

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Van Wyk & Scarpa (1999) afirmam que o consumo do alimento por L. vannamei é

ótimo quando as temperaturas estão entre 27 °C e 31 ºC, havendo uma diminuição nesse

consumo em temperaturas acima ou abaixo desses valores. Além disso, eles mencionam que

esse consumo pode ser reduzido em até 50 % quando a temperatura da água cai para 24 ºC,

podendo cessar completamente em temperaturas abaixo de 20 ºC. Em nossa pesquisa, na fase

de escuro, o consumo do alimento foi bastante reduzido em 18 ºC, com um maior consumo

ocorrendo em 28 e 33 ºC.

Zhang et al. (2006) acreditam ainda que, em geral, a faixa ótima de temperatura para

cultivo de camarões encontra-se nas temperaturas mais elevadas, quando há um maior

consumo de alimento. Entretanto, temperaturas muito altas ou muito baixas podem causar

uma redução nesse consumo.

Em viveiros, também é comum a ocorrência de crescimento mais lento dos camarões

no inverno, quando as chuvas são mais frequentes e as temperaturas mais baixas. Segundo

Tian et al. (2004), a capacidade dos camarões se adaptarem às temperaturas mais baixas é

ruim. Além disso, Kumlu et al. (2010) afirmam que L. vannamei parece ser mais sensível a

temperaturas mais baixas do que outras espécies de peneídeos, como P. semisulcatus e F.

merguiensis. Fox, Treece & Sanchez (2001) asseguram que L. vannamei se enterrará no fundo

dos viveiros quando a temperatura da água cair abaixo de 25 ºC. Consequentemente, o

consumo de alimento declinará como resultado do metabolismo diminuído, devendo a

alimentação dos camarões nas fazendas de cultivo ser ajustada em tais condições.

Para algumas outras espécies de camarão, a relação entre menor crescimento em

temperaturas mais baixas se mantém. Ocampo et al. (2000) também verificaram uma

modificação no comportamento geral e alimentação quando expuseram Farfantepenaeus

californiensis (pós-larvas até juvenis) a diferentes temperaturas (19, 23 ou 27 ºC) por 50 dias.

Eles encontraram um menor crescimento em 19 ºC, enquanto houve um maior consumo de

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alimento em 27 ºC. Os pesquisadores afirmam que o crescimento reduzido em 19 ºC parece

ser o resultado da taxa metabólica diminuída, que afeta o consumo de alimento e atividade

geral do animal, visto que nessa temperatura o camarão pareceu mais letárgico; enquanto em

27 ºC, os animais estavam sempre ativos e o consumo de alimento foi mais elevado. Os

pesquisadores afirmam que a temperatura de 19 ºC impede o camarão de manter seu balanço

energético, provavelmente por diminuir tanto o apetite como o movimento do animal. Em

nossa pesquisa, a temperatura de 18 ºC influenciou praticamente todo o repertório

comportamental de L. vannamei havendo uma redução significativa em suas principais

atividades; enquanto em 28 ºC, o rastejamento foi mais frequente (escuro) e o enterramento

foi menor (claro e escuro).

Em camarões Farfantepenaeus paulensis juvenis mantidos em 16, 20, 23, 26, 29 e 32

ºC constatou-se também que o consumo do alimento foi dependente da temperatura. Os

animais em 16 ºC apresentaram um consumo do alimento significativamente menor do que

nas outras temperaturas testadas (Wasielesky et al. 2003).

Por outro lado, camarões Marsupenaeus japonicus (15,6 ± 0,2 g) expostos a 28, 30,

32, 34 e 36 ºC apresentaram um menor consumo do alimento na temperatura mais elevada (36

°C), enquanto o maior consumo ocorreu em 32 ºC dentre as temperaturas testadas (Hewitt &

Duncan 2001). Observamos, em nossa pesquisa, que camarões L. vannamei juvenis

apresentaram uma maior frequência de alimentação em 28 e 33 °C (escuro), além de um

maior ganho de peso e taxa de crescimento específico (TCE) em 33 ºC. Essa diferença na

temperatura ideal para o crescimento dos camarões durante o cultivo pode estar relacionada à

espécie utilizada.

Com relação às fases do ciclo claro/escuro, observamos que a alimentação (28 °C) e o

índice de enchimento do trato digestivo (28 e 33 °C) foram mais elevados na fase de escuro.

Segundo Dall et al. (1990), a maioria dos camarões peneídeos passa o dia enterrado no

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substrato e emerge e se alimenta à noite. Adicionalmente, Wassenberg & Hill (1987)

afirmaram que os camarões alimentam-se continuamente ou frequentemente durante seus

períodos de atividade. Visto que L. vannamei apresenta maior atividade na fase de escuro, sua

alimentação nessa fase de iluminação pode favorecer um maior aproveitamento do alimento

por esses animais.

Entretanto, Pontes & Arruda (2005a) e Pontes & Arruda (2005b) ao analisarem o

comportamento alimentar de L. vannamei juvenis, verificaram que a alimentação e o índice de

enchimento do trato digestivo foram superiores na fase de claro em relação à de escuro. Essa

divergência quanto aos resultados obtidos pode ter ocorrido devido à diferença na

granulometria do substrato utilizado nos experimentos, visto que na presente pesquisa o

substrato utilizado foi areia fina, enquanto as autoras usaram cascalho e conchas de ostra

quebradas. O cascalho e as conchas de ostra quebradas provavelmente dificultaram o

comportamento de enterramento dos animais. Além disso, em nossa pesquisa, a alimentação

incluía a ingestão da muda, enquanto a alimentação registrada por Pontes & Arruda (2005a) e

Pontes & Arruda (2005b) restringia-se à ingestão da ração.

A exploração, comportamento diretamente relacionado à alimentação também foi

reduzida em 18 ºC. Além disso, a exploração apresentou-se como uma atividade que ocorre ao

longo de todo o período de 24 h, uma vez que não foram encontradas diferenças entre as fases

do ciclo claro/escuro. Pontes et al. (2006) e Pontes & Arruda (2005a) observaram o

comportamento de L. vannamei juvenis em laboratório e também verificaram que a

exploração do substrato ocorreu em ambas as fases do ciclo claro/escuro.

Quanto ao enterramento, verificamos que ele foi menos frequente entre os animais

mantidos em 28 °C (claro e escuro).

Alguns pesquisadores constataram uma maior frequência do enterramento em

temperaturas mais baixas. Fuss & Ogren (1966) verificaram que camarões Farfantepenaeus

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duorarum apresentaram uma forte tendência a permanecer enterrado em temperaturas abaixo

de 14 ºC, independente dos níveis de luz ou fase da lua. Esses pesquisadores mostraram ainda

que em temperaturas muito elevadas (acima de 33 ºC), F. duorarum emergiu mesmo durante

o dia. Na presente pesquisa, o enterramento foi mais frequente tanto na temperatura mais

baixa (18 °C – claro), como na temperatura mais alta (33 °C – escuro).

Pós-larvas de Farfantepenaeus aztecus também se enterraram com maior frequência

em temperaturas reduzidas, com 94% dos animais se enterrando nas temperaturas entre 12-

16,5 ºC, enquanto 86% dos camarões emergiram quando as temperaturas aumentaram para

18-21,5 ºC (Aldrich et al. 1968) .

Dessa forma, algumas funções importantes do enterramento em camarões podem ser

destacadas: 1) Esse comportamento é usado para aumentar a sobrevivência dos animais

durante os períodos frios até que temperaturas mais favoráveis para a realização das outras

atividades, alimentação e crescimento predominem; 2) O enterramento também pode servir

para atenuar os impactos das mudanças de temperatura para os animais e protegê-los da

predação quando as temperaturas são tão baixas que eles são incapazes de nadar ou escapar de

predadores (Fuss & Ogren 1966; Aldrich et al. 1968). Sendo assim, as duas principais

vantagens do enterramento são a redução na demanda energética e a defesa contra predadores

(Dall et al. 1990).

Quanto à maior frequência de enterramento na fase de claro, nossos resultados

corroboram os encontrados por outros pesquisadores. Em experimentos realizados por

Moctezuma & Blake (1981), L. vannamei normalmente se enterrou durante o dia e emergiu à

noite, embora esses comportamentos tenham sido dependentes do tamanho dos animais

envolvidos, sendo mais comuns nos animais maiores (100 – 150 mm) e médios (80 mm).

Embora em nossa pesquisa, o comprimento dos animais não tenha sido medido

sistematicamente, os camarões se encontravam dentro dessa faixa de tamanho.

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Esse padrão de enterramento diurno também foi observado em outras espécies de

camarão. Primavera & Lebata (2000) verificaram que Metapenaeus ensis e Melicertus

latisulcatus juvenis se enterraram durante o dia e emergiram do substrato no escuro para se

alimentarem e nadarem ativamente quando mantidos em temperaturas que variaram de 25,5 -

27 ºC, enquanto F. merguiensis permaneceu acima do substrato tanto durante o dia como à

noite nadando, rastejando e se alimentando.

Wassenberg & Hill (1994) verificaram que Penaeus semisulcatus, Melicertus

latisulcatus, Penaeus esculentus, Metapenaeus ensis, Metapenaeus endeavouri e

Metapenaeus bennettae emergiram do substrato à noite (com pouca ou nenhuma emergência

durante o dia) e se enterraram pela manhã. As únicas espécies que apresentaram padrão

diferente foram Melicertus plebejus que não emergiu durante o dia e passou pouco tempo

emerso à noite e Fenneropenaeus merguiensis que permaneceu emerso em qualquer fase do

dia.

Em nossa pesquisa, a inatividade também foi maior em 18 °C (escuro). Tanto quando

estão enterrados como inativos, os camarões têm uma redução no gasto energético. Dall

(1986) lembra que camarões peneídeos enterrados são ainda menos ativos e apresentam uma

taxa metabólica mínima do que quando eles estão emersos, porém parados. Quando os

camarões estão emersos há um maior gasto energético, sendo que a duração da emergência e a

velocidade do movimento são influenciadas pela temperatura da água. Hill (1985) encontrou

que a duração de emergência noturna de camarões P. esculentus esteve diretamente

relacionada à temperatura da água, com o tempo de emergência aumentando linearmente com

a temperatura entre 14 e 26 ºC: na temperatura mais baixa (14 ºC), os camarões emergiram em

apenas 5% das noites e o tempo de emergência foi menor que 10 min/noite; enquanto a

emergência foi menor que 50 min/noite em 16 ºC, aumentando para 350 min/noite entre 24-26

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ºC. Quando observadas as fases de iluminação, verificamos que a inatividade não sofreu

variações entre as fases do ciclo claro/escuro.

Além disso, encontramos que a atividade natatória foi maior em 18 ºC. No entanto,

Zhang et al. (2007) quando expuseram L. vannamei (4,13 ± 0,017 g) a três temperaturas

diferentes (15, 20 e 25 ºC), encontraram que os camarões expostos a 15 ºC apresentaram uma

menor capacidade natatória, a qual estaria relacionada à velocidade e tempo de natação.

De acordo com Dall (1986), a natação requer até três vezes mais a quantidade de

oxigênio necessária nos níveis de repouso, o que demonstra que a natação demanda um alto

custo metabólico. O pesquisador verificou que durante o dia, quando camarões P. esculentus

encontravam-se inativos havia apenas pequenas flutuações no consumo de oxigênio, enquanto

que à noite os camarões tornavam-se ativos e o consumo de oxigênio aumentava bastante.

Além disso, verificou-se que a natação foi mais frequente na fase de escuro independente das

temperaturas da água. Pontes & Arruda (2005a) e Pontes et al. (2006) observando o

comportamento de L. vannamei juvenis também constataram que a natação foi mais elevada

na fase de escuro, enquanto a inatividade foi mais frequente na fase de claro.

Nossa pesquisa também verificou que o rastejamento foi mais frequente em 28 °C

(escuro), sendo preponderante na fase de escuro em todas as temperaturas testadas.

Quanto aos parâmetros de qualidade de água que foram monitorados ao longo da

nossa pesquisa, seus valores estão dentro daqueles recomendados para o cultivo de camarões

(Boyd 2001; Van Wyk & Scarpa 1999), sendo a análise do oxigênio dissolvido

particularmente importante para compreender a relação entre alguns comportamentos e a

temperatura da água. Encontramos uma maior concentração do oxigênio dissolvido em 18 °C,

seguida pelos aquários mantidos em 33 °C. Em 28 °C, observamos a menor concentração de

oxigênio dissolvido, que deve estar relacionada com o camarão mais ativo em tal temperatura.

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Isso sugere que em temperaturas mais elevadas há um aumento na taxa metabólica, o que

consequentemente leva a uma maior demanda por oxigênio dissolvido.

Observou-se ainda que a sobrevivência dos camarões foi mais elevada em 18 °C, com

os animais mantidos em 28 e 33 °C apresentando sobrevivência mais baixa. Em camarões F.

merguiensis mantidos em combinações de cinco temperaturas (15, 20, 25, 30 e 35 °C) e cinco

salinidades (5, 20, 35, 45 e 55 ppm), a sobrevivência foi maior em camarões aclimatados a 20

e 30 °C e a salinidades maiores que 20 ppm (Staples & Heales 1991). Chen et al. (1996)

observaram que quando Penaeus chinensis juvenis foram cultivados em 16 combinações de

salinidade (10, 20, 30 e 40 ppm) e temperatura (12, 18, 24 e 30 °C), a sobrevivência foi mais

elevada em 18 °C e 20 ppm.

Diante do exposto, observa-se que praticamente todo o repertório comportamental de

L. vannamei foi alterado em 18 °C, indicando que a temperatura mais baixa parece ser crítica

para o desenvolvimento dos camarões dessa espécie. Isso pode ser atribuído ao estresse

sofrido por L. vannamei quando mantido em tal temperatura. Morales-Covarrubias (2008)

afirma que o estresse provoca alterações em todos os sistemas, produzindo respostas adversas

no metabolismo, na regulação imunológica e hormonal e na osmorregulação, tornando o

organismo mais susceptível ao ataque de qualquer agente patogênico, o que

consequentemente pode afetar a sobrevivência, a reprodução e o crescimento.

O parâmetro utilizado na presente pesquisa para avaliar o estresse foi a contagem dos

hemócitos, encontrando-se que em 18 °C o número de hemócitos foi menor em relação às

demais temperaturas testadas. Le Moullac & Haffner (2000) também encontraram que a THC

de Litopenaeus stylirostris foi significativamente menor em 18 ºC quando comparada àquela

dos camarões cultivados em 27 ºC. Uma diminuição na THC de L. vannamei adultos

transferidos de 24 ºC para 18, 21, 27 ou 30 ºC foi também observada por Pan et al. (2008).

Cheng et al. (2005) verificaram que quando L. vannamei juvenis (10,36 ± 0,16 g) foram

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transferidos de 28 ºC para 20 ou 24 ºC houve uma redução significativa na THC após 24 h.

Enquanto isso, camarões de água doce Macrobrachium rosenbergii apresentaram uma THC

significativamente menor em 33-34 ºC do que em 27-28 ºC e 30-31 ºC quando a taxa

alimentar foi de 1,5% (Cheng & Chen 2000). O baixo número de hemócitos circulantes em

crustáceos está fortemente correlacionado com uma maior sensibilidade à patógenos (Persson

et al. 1987; Le Moullac et al. 1998).

Dessa forma, nossos resultados indicam que apesar de camarões L. vannamei serem

capazes de se adaptar a diferentes temperaturas, o custo é elevado em temperaturas mais

baixas. Além da alteração em praticamente todo o repertório comportamental dos camarões

em 18 °C, a THC também reduzida nessa temperatura, a torna crítica para o cultivo de L.

vannamei, trazendo prejuízos ao bem estar dos animais mantidos em tais condições. Nossos

dados apontam que o cultivo de L. vannamei em temperaturas mais elevadas é mais vantajoso

para o animal que se alimentará com maior frequência e terá um maior crescimento como

resultado de um ambiente mais adequado para seu cultivo.

6 - AGRADECIMENTOS

Ao Conselho de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ao Departamento de

Fisiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e à Fazenda de Cultivo de

Camarão CAMANOR pelo suporte dado para concretização dessa pesquisa.

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7 – REFERÊNCIAS

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10 – MANUSCRITO 2: Comportamento de camarões marinhos Litopenaeus vannamei

em diferentes salinidades da água e sua relação a contagem dos hemócitos

Patrícia Pereira de Lima1,2

, Fabiana Lima Bezerra1 & Maria de Fátima Arruda

1

1Universidade Federal do Rio Grande do Norte, UFRN

2 Correspondência: Caixa Postal 1511, Campus Universitário, Natal, RN, Brasil, 59078-970

E-mail: [email protected]

RESUMO

O cultivo de L. vannamei no Brasil é realizado em ambientes com salinidades bastante

variáveis: desde águas doces a hipersalinas, de modo que o ajuste feito por esses animais a

tais condições pode provocar modificações em aspectos importantes do comportamento, da

fisiologia e da resposta imune, prejudicando consequentemente o bem estar desses animais.

Em laboratório, camarões juvenis (6,95 ± 0,39 g) foram aclimatados a 2, 30 ou 50 ppm, sendo

mantidos em aquários com sistema fechado de recirculação de água, aeração constante,

filtração contínua e ciclo claro/escuro 12:12 h. As observações ocorreram 1, 4, 7 e 10 h após o

início de cada fase (clara ou escura). Além disso, a coleta da hemolinfa dos animais foi feita

após 30 dias de registro dos comportamentos para posterior contagem total dos hemócitos

(THC). Em geral, houve menor frequência de alimentação (escuro) e maior inatividade dos

animais (claro e escuro) em 2 ppm, enquanto o enterramento foi maior em 50 ppm (claro). O

rastejamento foi reduzido em 2 e 50 ppm (escuro), enquanto a natação não tenha variado em

função das salinidades testadas. Em 2 e 50 ppm, a THC também foi reduzida. Recomenda-se

que o cultivo de L. vannamei juvenis seja realizado em salinidades mais próximas àquelas do

mar, as quais parecem ser menos prejudiciais ao bem estar dos camarões.

PALAVRAS-CHAVES: Salinidade, etologia aplicada, camarão, THC, L. vannamei

(Artigo a ser submetido a um periódico nacional ou internacional)

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1 - INTRODUÇÃO

A capacidade de Litopenaeus vannamei se ajustar às variações no ambiente aquático

foi um fator crucial para o sucesso do cultivo dessa espécie no Brasil, sendo a salinidade da

água um fator importante nesse contexto. A tolerância de L. vannamei a níveis variáveis de

salinidade tem relação direta com sua fisiologia e seu comportamento. Variações na

salinidade podem influenciar desde os aspectos fisiológicos mais relevantes como a

osmorregulação e a eficiência metabólica, o consumo de oxigênio, a excreção de amônia, a

concentração de nitrito na água, as exigências nutricionais e energéticas, além da muda,

podendo consequentemente provocar alterações no crescimento e na sobrevivência desses

animais (Vijayan & Diwan 1995; Rosas et al. 1999; Lemos et al. 2001; Lin & Chen 2003;

Villarreal et al. 2003; Wasielesky et al. 2003; Li et al. 2007; Zhang et al. 2009).

Na natureza, o ciclo de vida de L. vannamei envolve a fase marinha e estuarina. A

reprodução e o desenvolvimento larval ocorrem nas salinidades estáveis das águas marinhas

(30 a 35 ppm); pós-larvas e juvenis são encontrados nas águas dos estuários (Walker et al.

2009), onde são freqüentemente expostos a mudanças repentinas na salinidade da água, como

resultado da influência de marés e rios, da evaporação ou de chuvas. Ambientes de água salobra,

estuarinas e intertidal estão provavelmente entre os biótopos aquáticos mais exigentes e

estressantes, de modo que o estabelecimento de crustáceos em tais ambientes implica em

características fisiológicas altamente adaptadas, estando relacionadas principalmente com a

eficiência de vários tipos de processos envolvidos na manutenção do volume celular (Péqueux

1995). A migração do estuário para o alto mar ocorre quando L. vannamei alcança um

comprimento total de 100-200 mm (Menz & Bowers 1980), que de acordo com Wyban et al.

(1995) corresponde ao peso corpóreo de 8-10 g. Dessa forma, a tolerância de L. vannamei,

bem como de outras espécies de camarão, à salinidade da água varia de acordo com o estágio

do ciclo de vida desses animais, sendo que as mudanças comportamentais e fisiológicas ao

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longo do crescimento estão relacionadas com as pressões ecológicas encontradas nas

diferentes fases de desenvolvimento.

O’Brien (1994) sugere que o crescimento da maioria de peneídeos juvenis é mais

rápido em salinidades entre 25-35 ppm e temperaturas em torno de 30 ºC. No caso de L.

vannamei, Hernández et al. (2006) indicam que a preferência salina para animais juvenis é de

14,7-31,1 ppm em temperaturas maiores do que 26 ºC.

Entretanto, na prática, o cultivo de L. vannamei no Brasil (de pós-larvas a juvenis)

ocorre desde ambientes com águas praticamente doces (próximas a 0 ppm) até águas

hipersalinas (chegando a 60 ppm). Isso ocorre, na maioria das vezes, por desconhecimento

por parte dos produtores dos custos necessários para que os animais se ajustem a tais

condições de salinidade. Laramore et al. (2001) lembram que embora uma espécie possa ser

encontrada em salinidades extremamente altas ou baixas, isso não significa que ela possa

alcançar crescimento e sobrevivência máxima em tais ambientes.

Embora L. vannamei seja uma espécie eurihalina, ou seja, que tolera amplas flutuações

de salinidade, tal processo implica em custos metabólicos para os animais. As variações na

salinidade levam a um desequilíbrio iônico da água de cultivo fazendo com que os camarões

gastem energia para manutenção da homeostase corporal (Peregrino et al. 2005). Como hiper-

hipo-osmorreguladores, os peneídeos mantêm a concentração interna menor do que a

concentração do meio em altas salinidades ou maior do que a do meio em baixas salinidades

(Charmantier 1987).

Nesse sentido, a salinidade da água de cultivo pode constituir-se como um agente

estressor para os camarões. Em condições de estresse, além de mudanças fisiológicas e

comportamentais, o sistema imune dos animais também pode ser comprometido e

consequentemente favorecer o estabelecimento de doenças. As doenças são o resultado final

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de uma interação complexa entre o hospedeiro, seu ambiente e os patógenos (Lightner &

Redman 1998; You et al. 2010).

Quanto ao sistema imune dos crustáceos, sabe-se que ele está diretamente relacionado

com a hemolinfa, a qual é composta por uma fração celular (hemócitos) e por uma fração

líquida, onde estão dissolvidos os diferentes fatores humorais. As respostas imune celulares e

humorais atuam de forma integrada na proteção dos crustáceos contra a invasão de

microorganismos e parasitas, além de garantir a integridade corpórea e homeostática. Nesse

contexto, os hemócitos se destacam por realizarem funções importantes como a fagocitose de

microorganismos, a formação de nódulos e cápsulas celulares em torno de partículas estranhas

e por utilizarem moléculas microbicidas ou citotóxicas para lisar e degradar os patógenos

invasores (Söderhäll & Cerenius 1992; Roch 1999; Barracco et al. 2008).

A contagem total dos hemócitos (THC) é um dos parâmetros mais usados para inferir

o estado de saúde de crustáceos, uma vez que o número de hemócitos circulantes é um

indicador de estresse (Le Moullac & Haffner 2000; Barracco 2004). Perazzolo et al. (2002)

apontam que uma diminuição na THC é frequentemente relatada em crustáceos marinhos

expostos a condições estressantes.

Por sua vez, a etologia aplicada também tem sido utilizada como uma ferramenta para

avaliar o estresse, utilizando os mecanismos do comportamento para entender sua relação com

o estresse animal, bem como investigar as práticas de manejo que melhor atendem as

necessidades dos animais (Millman et al. 2004). Acredita-se, portanto, que a etologia aplicada

possa contribuir de forma significativa para melhoria das condições de manejo em ambientes

desfavoráveis através da análise dos comportamentos realizados pelos camarões nesses locais,

uma vez que algumas modificações no comportamento podem ser indicativas de estresse.

Assim, análises da contagem dos hemócitos e do comportamento dos camarões devem ser

consideradas ferramentas importantes para criação de um ambiente de cultivo que favoreça o

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bem estar dos animais. O objetivo da pesquisa foi analisar o comportamento de camarões L.

vannamei em diferentes salinidades e, posteriormente, relacioná-lo com a contagem total dos

hemócitos (THC) a fim de determinar quais salinidades são mais prejudiciais no cultivo dessa

espécie. Espera-se que em condições de salinidade extrema haja uma redução na atividade

geral de L. vannamei, bem como na THC desses animais.

2 - MATERIAL E MÉTODOS

2.1 - COMPORTAMENTOS DE CAMARÕES L. vannamei EM DIFERENTES

SALINIDADES

O experimento foi realizado em laboratório utilizando-se camarões juvenis da espécie

Litopenaeus vannamei com peso médio inicial de 6,95 ± 0,39 g (N = 150), obtidos em

fazendas de cultivo do Rio Grande do Norte (NE do Brasil).

Os animais foram mantidos em 10 aquários de vidro (0,5 x 0,3 x 0,4 m), cada aquário

contendo aproximadamente 30L de água do mar, sistema fechado de recirculação de água,

aeração e filtração contínua e substrato formado por uma camada de areia fina de

aproximadamente 7 cm. Além disso, cada aquário possuía um filtro biológico externo

formado por camadas sobrepostas de areia de diferentes granulometrias, conchas de ostras

quebradas e lã de vidro.

Esses aquários foram submetidos a um ciclo claro/escuro 12:12 h, sendo que em cinco

deles a fase de claro ocorreu de 6:00 às 18:00 h, enquanto a fase de escuro ocorreu das 18:00

h às 6:00 h (fotoperíodo natural). Paralelamente, outros cinco aquários foram submetidos a

ciclo invertido (fase de claro das 18:00 às 6:00 h e fase de escuro das 6:00 às 18:00 h). Isso foi

feito mediante o controle de um interruptor horário (Timer), o que possibilitou a observação

dos comportamentos dos camarões nas fases de claro e de escuro do período de 24 h. A

iluminação dos aquários foi realizada por duas lâmpadas fluorescentes brancas de 20 W para a

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fase de claro e uma lâmpada incandescente vermelha de 15 W para a fase de escuro. A

iluminação vermelha simulou a fase de escuro, permitindo a visualização dos camarões pelo

observador e também foi escolhida por não interferir no comportamento dos animais (Pontes,

2003).

Foram estocados cinco camarões por aquário, os quais foram marcados no pedúnculo

ocular com anéis de silicone de cores diferentes para identificação individual durante as

observações. Tal marcação ficava com folga no pedúnculo ocular dos camarões para não

afetar o comportamento e ao mesmo tempo permitia que a marcação permanecesse no animal

após a muda.

O experimento foi realizado em três etapas, tendo como base cada uma das salinidades

estabelecidas, respectivamente 2, 30 ou 50 ppm. Após chegarem ao laboratório, cada lote de

animais (N = 50) foi gradualmente aclimatado durante 7 dias à salinidade prevista para aquela

etapa experimental numa proporção de 1 ppm a cada hora. Entretanto, a aclimatação à

salinidade de 2 ppm precisou ser mais lenta devido ao aumento na mortalidade dos camarões.

Os aquários mantidos em 30 ppm foram utilizados como controle por essa salinidade ser a

mais comum para o cultivo de L. vannamei em condição de viveiro no NE brasileiro,

enquanto a salinidade baixa (2 ppm) foi obtida por diluição da água do mar com água doce e a

salinidade alta (50 ppm) a partir de uma mistura de água do mar com sal marinho. No

decorrer do experimento, as salinidades foram monitoradas diariamente com um refratômetro

e quando necessário, ajustadas, mantendo a variação dentro de ± 1,5 ppm.

A alimentação dos animais era restrita à fase de observação (de claro ou de escuro),

com a oferta do alimento ocorrendo a cada 3 h, ao longo das 12 h daquela fase, imediatamente

antes das observações. A quantidade ofertada era equivalente a 10% da biomassa de camarões

estocada/dia, utilizando ração peletizada própria para camarão (Camaronina 35 – Avialis do

Brasil Nutrição Animal Ltda). A ração foi ofertada em bandejas de acrílico transparente (11,5

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x 6,0 x 3,5 cm) e retirada após uma hora para evitar problemas com a qualidade da água dos

aquários.

Durante o final de semana, os animais eram alimentados normalmente, mas não eram

realizadas observações comportamentais.

Foram realizadas quatro janelas de observação com registros ocorrendo 1, 4, 7 e 10 h

após o início de cada fase (de claro ou de escuro) do período de 24 h. As janelas de

observação tinham duração de 15 minutos para cada aquário, começando imediatamente após

a introdução do alimento artificial com registros simultâneos na fase de claro e de escuro.

Para que os registros dos comportamentos ocorressem de forma simultânea nas fases de claro

e de escuro, enquanto um observador realizava a observação de um aquário na fase de claro,

outro fazia o registro dos comportamentos em um aquário na fase de escuro e assim

sucessivamente, até que os 10 aquários fossem observados (cinco na fase de claro e cinco na

fase de escuro). Os seguintes comportamentos foram registrados usando o método focal

instantâneo com registros a cada 60 segundos (método em que a observação é dividida em

intervalos amostrais curtos, sendo que em cada ponto amostral o observador registra se o

comportamento está ou não ocorrendo) (Martin & Bateson 2007a):

a) Natação: o animal mantém-se suspenso na coluna d’água, ou ainda, deslocando-se

vertical ou horizontalmente através da movimentação dos pleópodos.

b) Rastejamento: o animal desloca-se sobre o substrato, utilizando seus pereiópodos.

c) Inatividade: o animal fica estático, podendo ocorrer movimentação dos

pereiópodos, pleópodos ou ambos.

d) Enterramento: o camarão enterra-se parcial ou totalmente no substrato, através de

movimentos dos pereiópodos e/ou pleópodos.

e) Alimentação: introdução de peletes de ração ou partes da muda na cavidade bucal

do camarão com posterior ingestão.

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Um total de cinco repetições para cada salinidade testada em cada fase de observação

(de claro ou de escuro) foi realizado. Cada repetição teve duração de quatro semanas, com as

observações realizadas cinco vezes por semana, totalizando 20 dias de registro dos

comportamentos para cada unidade experimental (aquário), resultando em 200 horas de

observação por salinidade.

2.2 - CONTAGEM TOTAL DOS HEMÓCITOS (THC) DOS CAMARÕES EM

DIFERENTES SALINIDADES

Extração da hemolinfa e contagem dos hemócitos

A extração e coleta da hemolinfa foram realizadas após os animais (n = 50 para cada

salinidade) serem mantidos por 30 dias nas diferentes salinidades (2, 30 ou 50 ppm) para

realização das observações comportamentais.

A hemolinfa dos camarões (10 pools de 5 animais para cada salinidade) foi coletada a

partir da inserção de uma agulha de 30 x 8 mm (21G) acoplada a uma seringa de 1 ml na

região ventral do primeiro segmento abdominal de cada camarão, com posterior punção do

líquido.

A hemolinfa coletada foi colocada diretamente em uma solução fixadora constituída

de 4% de formaldeído em solução anticoagulante (27 mM citrato de sódio, 336 mM cloreto de

sódio, 115 mM glicose, 9 mM EDTA, pH 7,2) a uma diluição conhecida (1:1), sendo mantida

a 4 ºC até ser usada. Posteriormente, a contagem total dos hemócitos (THC) foi realizada em

câmara de Neubauer, usando um microscópio óptico (Andrezza et al., 2009).

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3 - ANÁLISE ESTATÍSTICA

Através dos testes de Shapiro-Wilks e Levene pode-se constatar respectivamente a não

aderência dos dados à distribuição normal e a inexistência de homogeneidade das variâncias

para os seguintes comportamentos: natação, rastejamento, inatividade, enterramento e

alimentação. Dessa forma, a análise desses dados foi feita a partir de testes não paramétricos,

utilizando-se o teste de Kruskal-Wallis e, quando diferenças significativas foram observadas,

aplicou-se o T2 de Tamhane. Para análise da THC, as premissas para análise paramétrica dos

dados foram cumpridas, adotando-se a ANOVA e post hoc Bonferroni. O nível de

significância adotado foi p < 0,05.

4 – RESULTADOS

4.1 - COMPORTAMENTOS DE CAMARÕES L. vannamei EM DIFERENTES

SALINIDADES

Os resultados são apresentados inicialmente a partir das comparações entre as três

salinidades em cada uma das fases (de claro/de escuro) do período de 24 h; a seguir,

comparando as fases de iluminação em cada salinidade.

4.1.1 - NATAÇÃO

A natação não apresentou diferenças significativas em função das salinidades nas fases

de claro (H (2) = 3,03; gl = 2; p = 0,220) ou de escuro (H (2) = 0,13; gl = 2; p = 0,935).

Na comparação entre as fases no período de 24 h, a natação foi mais frequente na fase

de escuro nas três salinidades testadas (2 ppm (U = 84,00; Z = -4,84; p < 0,001); 30 ppm (U =

89,00; Z = -4,60; p < 0,001) e 50 ppm (U = 44,00; Z = -5,50; p < 0,001)) (Figura 1a).

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4.1.2 - RASTEJAMENTO

O rastejamento não apresentou diferenças significativas entre as salinidades testadas

na fase de claro (H = 0,81; gl = 2; p = 0,668). Na fase de escuro, as diferenças foram

significativas (H = 13,13; gl = 2; p = 0,001), sendo o rastejamento mais frequente em 30 ppm

do que em 2 ppm (p = 0,013) e 50 ppm (0,030). Não foram encontradas diferenças

significativas entre 2 e 50 ppm ( p = 0,807).

Comparando as fases no período de 24 h, verificamos que o rastejamento foi mais

frequente na fase de escuro nas três salinidades testadas (2 ppm (U = 85,50; Z = -5,04; p <

0,001); 30 ppm (U = 68,50; Z = -5,06; p < 0,001) e 50 ppm (U = 60,50; Z = -5,62; p < 0,001))

(Figura 1b).

4.1.3 - INATIVIDADE

Nas três salinidades testadas, as diferenças foram significativas para a inatividade na

fase de claro (H = 12,00; gl = 2; p = 0,002) e na fase de escuro (H = 16,36; gl = 2; p <

0,001). De acordo com o teste T2 de Tamhane, os camarões ficaram mais inativos em 2 ppm

do que em 50 ppm na fase de claro (p = 0,001). As diferenças não foram significativas entre 2

e 30 ppm (p = 0,082), nem entre 30 e 50 ppm (0,664). Na fase de escuro, a inatividade foi

maior em 2 ppm do que em 30 ppm (p = 0,027) e 50 ppm (p < 0,001). As diferenças não

foram significativas entre 30 ppm e 50 ppm (p = 0,354).

Não foram encontradas diferenças significativas para a inatividade dos animais em

relação às fases de iluminação no período de 24 h em nenhuma das três salinidades (2ppm (U

= 242,00; Z = -1,42; p = 0,156); 30 ppm (U = 268,00; Z = -0,89; p = 0,376) e 50 ppm (U =

228,50; Z = -1,72; p = 0,086)) (Figura 1c).

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4.1.4 - ENTERRAMENTO

Nas salinidades testadas foram encontradas diferenças significativas para o

enterramento na fase de claro (H = 9,96; gl = 2; p = 0,007), registrando-se uma maior

frequência de enterramento em 50 ppm do que em 2 ppm (p = 0,004). Não foram encontradas

diferenças significativas entre 2 e 30 ppm (p = 0,603), nem entre 50 e 30 ppm (p = 0,215). Na

fase de escuro, as diferenças não foram significativas quanto ao enterramento dos camarões

em função das três salinidades (H = 0,64; gl = 2; p = 0,726).

Comparando as fases no período de 24 h, o enterramento foi mais frequente na fase de

claro em todas as salinidades (2 ppm (U = 100,00; Z = -4,62; p < 0,001); 30 ppm (U = 88,50;

Z = -4,73; p < 0,001) e 50 ppm (U = 10,50; Z = -6,16; p < 0,001)) (Figura 1d).

4.1.5 - ALIMENTAÇÃO

Observamos que a alimentação não apresentou diferenças significativas entre as três

salinidades na fase de claro (H = 1,19; gl = 2; p = 0,552). Entretanto, foram encontradas

diferenças significativas na comparação entre as salinidades na fase de escuro (H = 14,70; gl

= 2; p = 0,001), com os animais se alimentando em menor frequência em 2 ppm do que em 30

ppm (p = 0,005) e em 50 ppm (p = 0,001). Não foi registrada diferença significativa entre 30 e

50 ppm (p = 0,958).

Quando consideradas as fases do período de 24 h em cada salinidade, os animais se

alimentaram mais na fase de escuro em 30 ppm (U = 147,50; Z = -3,36; p = 0,001) e em 50

ppm (U = 140,00; Z = -3,59; p < 0,001). Em 2 ppm, as diferenças não foram significativas

entre as fases (U = 291,00; Z = -0,45; p = 0,654) (Figura 1e).

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Figura 1 – Comportamentos do camarão Litopenaeus vannamei em diferentes salinidades (2, 30 e 50 ppm) e fases do ciclo claro/escuro. As letras A-C indicam a comparação das salinidades na fase de claro, enquanto a-c a comparação na fase de escuro. Letras diferentes representam diferenças significativas. ← indica diferença significativa entre as fases de iluminação

em cada salinidade (p < 0,05), com a direção da seta partindo do valor maior para o menor.

(a) (b)

(c) (d)

(e)

a

b

a

A

AB

B

a

b

b

A

AB

B

a

b b

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4.2 - CONTAGEM TOTAL DOS HEMÓCITOS (THC) DOS CAMARÕES EM

DIFERENTES SALINIDADES

Foram encontradas diferenças significativas para a contagem total dos hemócitos

(THC) entre as salinidades testadas (F (2, 28) = 9,817; p = 0,002). A THC foi mais elevada

em 30 ppm do que em 2 ppm (p = 0,003) e 50 ppm (p = 0,027). As diferenças não foram

significativas entre 2 e 50 ppm (p > 0,999) (Figura 2).

Figura 2 – Contagem total dos hemócitos (THC) nas diferentes salinidades (2, 30 e 50 ppm). Letras diferentes representam diferenças significativas (p < 0,05) (média ± desvio padrão).

5 - DISCUSSÃO

Na presente pesquisa, observamos que o comportamento dos camarões L. vannamei

alterou-se principalmente nas salinidades extremas (2 e 50 ‰). A inatividade foi

preponderante em 2 ppm em ambas as fases do ciclo claro/escuro, encontrando-se também

uma alimentação menos frequente em 2 ppm (escuro). Por outro lado, o enterramento foi

maior em 50 ppm na fase de claro. Com relação aos comportamentos envolvidos com a

locomoção dos camarões, observamos que o rastejamento foi menos frequente em 2 e 50 ppm

(escuro), não havendo diferenças significativas para a natação nas salinidades testadas. Dessa

forma, as atividades que demandam um menor gasto energético, como a inatividade e o

enterramento, foram respectivamente mais frequentes em 2 e 50 ppm, o que indica uma

a

a

b

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economia de energia pelos camarões em tais salinidades. Entretanto, a salinidade mais baixa

parece ainda ser mais prejudicial para L. vannamei, visto que a alimentação também foi

reduzida em tal condição na fase de escuro.

Quanto à realização dos comportamentos em função das fases do ciclo claro/escuro, a

natação e o rastejamento foram mais frequentes na fase de escuro, independente da salinidade

testada. A alimentação também foi maior na fase de escuro em 30 ppm e 50 ppm. Em

contrapartida, o enterramento foi preponderante na fase de claro nas três salinidades testadas.

No que se refere à alimentação dos camarões em diferentes salinidades, observamos

que não há um consenso quanto aos resultados obtidos, uma vez que há variação em relação

ao estágio do ciclo de vida, bem como a espécie utilizada. De acordo com Spanopoulos-

Hernández et al. (2005) isso ocorre porque o ajuste de um organismo envolve respostas

integradas às mudanças dos parâmetros ambientais, dependendo de mecanismos de controle

homeostáticos que são espécie-específicos. Tais respostas integradas podem ser exercidas em

diferentes níveis: bioquímicos, fisiológicos e comportamentais.

Com relação à espécie L. vannamei, nossos dados corroboram aqueles encontrados por

Li et al. (2007), que verificaram que camarões juvenis apresentaram um menor ganho de peso

em 3 ppm do que em 17 e 32 ppm. Por outro lado, Bray et al. (1994) demonstraram que L.

vannamei juvenis cresceram extremamente bem na salinidade de 5 ppm, indicando que seu

cultivo em baixa salinidade é vantajoso. Os animais mantidos em 5 e 15 ppm produziram

maiores pesos finais do que aqueles em 25, 35 e 49 ppm. Em 49 ppm, o crescimento foi

menor do que em todos os outros tratamentos. Nossos dados mostram uma alimentação

menos frequente em 2 ppm, com maior alimentação em 30 e 50 ppm na fase de escuro. Talvez

salinidades abaixo de 5 ppm tenham um impacto maior no crescimento dessa espécie,

podendo 5 ppm ser considerada a salinidade limite para um bom crescimento de L. vannamei.

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Para outras espécies de camarão, os resultados também são variáveis quanto à

alimentação em função de diferentes salinidades. Silva et al. (2010) observaram camarões

Farfantepenaeus subtilis juvenis aclimatados a diferentes salinidades (5, 15, 25 e 35 ppm) e

verificaram que os animais cultivados em 5 ppm apresentaram um menor consumo de

alimento e peso, enquanto o consumo do alimento foi maior em camarões cultivados em 25 e

35 ppm. Nossos dados também apontam para uma menor frequência alimentar na salinidade

mais baixa (2 ppm).

O impacto das salinidades mais elevadas na alimentação dos camarões também foi

observado. Camarões juvenis da espécie Farfantepenaeus californiensis foram expostos a 25,

35, 45 e 55 ppm, com os animais mantidos em 55 ppm ficando em geral letárgicos e

apresentando um menor consumo do alimento em relação aqueles cultivados nas salinidades

mais baixas (Villarreal et al. 2003). Deve-se salientar que não foram utilizadas salinidades

muito baixas naquela pesquisa. Contrariando esse estudo, nosso trabalho aponta uma

alimentação mais frequente nas salinidades mais elevadas (30 e 50 ppm).

Mair (1980) sugere que camarões juvenis preferem salinidades maiores e que isso

pode ser um estímulo para eles migrarem dos estuários para o mar. Entretanto, salinidades

muito elevadas podem ser prejudiciais para esses animais, uma vez que a salinidade do mar

varia, em média, de 35 – 37 ppm.

Encontramos também uma alimentação mais frequente na fase de escuro em 30 e 50

ppm. Wassenberg & Hill (1987) apontam que os camarões alimentam-se continuamente ou

frequentemente durante seu período de atividade, o que é coerente com a alimentação durante

a fase de escuro encontrada em nossa pesquisa com L. vannamei, visto que essa espécie é

mais ativa à noite.

Lima et al. (2009), no entanto, registraram que a alimentação de L. vannamei foi maior

na fase de claro, com uma menor quantidade de alimento artificial consumida às 18:00 h.

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Deve-se ressaltar que esse foi o primeiro e único horário da fase de escuro em que os

camarões foram observados. Pontes & Arruda (2005) também observaram juvenis de L.

vannamei ao longo das duas fases do ciclo claro/escuro e encontraram que a alimentação

ocorreu mais intensivamente durante a fase de claro. Porém, em ambos os estudos, o substrato

utilizado era composto principalmente por cascalho e conchas de ostras quebradas, o que pode

ter dificultado o enterramento de L. vannamei durante a fase de claro, fazendo com que os

camarões permanecessem emersos durante ambas as fases do ciclo claro/escuro. Além disso,

em nossa pesquisa, a alimentação incluía a ingestão da muda, enquanto a alimentação

registrada por Pontes & Arruda (2005) e Lima et al. (2009) restringia-se à ingestão da ração.

Entre as atividades realizadas pelos camarões, aquelas que demandam uma menor

quantidade de energia são o enterramento e a inatividade. Dall et al. (1990) apontam que as

duas principais vantagens do enterramento são a redução na demanda energética e a defesa

contra predadores. Encontramos um maior enterramento em 50 ppm (claro), observando-se

maior inatividade em 2 ppm (claro e escuro).

Lakshmi et al. (1976) verificaram que camarões Farfantepenaeus aztecus se

enterraram mais nas salinidades mais baixas (8,5 e 17 ppm) do que em 34 ppm. Além disso, o

crescimento foi maior nessa faixa de salinidades em que os camarões se enterraram mais.

Segundo os pesquisadores, o enterramento reduz a atividade locomotora e conserva energia,

que é utilizada para crescimento. Além disso, os animais confinaram sua alimentação e outras

atividades para a noite, se enterrando nos sedimentos durante o dia. A faixa de salinidades

usadas por esses pesquisadores está dentro daquela encontrada naturalmente pelos camarões

nos estuários enquanto juvenis. Dessa forma, o maior enterramento de L. vannamei em 50

ppm (claro) provavelmente indique que nessa condição, os animais estariam conservando

energia para utilização em processos mais importantes para sua sobrevivência, como a

osmorregulação ao invés de gastar energia na atividade locomotora.

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Quanto à fase do ciclo claro/escuro em que o enterramento é observado com maior

frequência, nossos resultados corroboram os encontrados por outros pesquisadores, com

predomínio do enterramento na fase de claro. Moctezuma & Blake (1981) observaram que

embora o enterramento de L. vannamei seja dependente do tamanho dos animais, camarões de

80 mm ou 100-150 mm de comprimento se enterram durante o dia e emergem à noite. Em

nossa pesquisa, embora o comprimento dos animais não tenha sido medido sistematicamente,

os animais se encontravam dentro dessa faixa de tamanho.

Wassenberg & Hill (1994) também mostram uma maior frequência de enterramento na

fase de claro para diferentes espécies de camarão: Penaeus semisulcatus, Melicertus

latisulcatus, P. esculentus, Metapenaeus ensis, M. endeavouri e M. bennettae.

Hudges (1968) verificou que camarões Farfantepenaeus duorarum juvenis e

subadultos são ativos acima do substrato à noite, mas são inativos e se enterram durante o dia.

Segundo o pesquisador, a luz é provavelmente o fator mais importante para definir quando os

peneídeos estão emersos ou enterrados. Ele acredita ainda que haja um grau de sincronização

entre todos os animais, uma vez que quando expostos ao ciclo claro/escuro natural quase

todos os camarões emergiram do substrato dentro de um período de 20-30 min após o pôr do

sol. A sincronização na emergência desses animais e posterior manutenção dessas agregações

podem ter valor de sobrevivência em termos de proteção contra predadores, podendo também

ser claramente vantajosa para o acasalamento e desova, quando grupos em estágio de

desenvolvimento semelhantes chegarão aos locais adequados para desova juntos. Após a

emergência, os camarões nadaram, procuraram por alimento e voltaram a se enterrar até

várias horas depois.

Com relação à atividade locomotora, Dickinson et al. (2000) afirmam que o

desempenho dos animais quanto à atividade locomotora em seu habitat natural reflete inter-

relações entre diferentes aspectos ecologicamente importantes do comportamento, tais como

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interações presa-predador, captura de alimento, comportamento reprodutivo, migrações para

desova, mudanças de habitat e dispersão (Tuckey & Davison, 2004; Lin et al., 2006), sendo

ainda afetada pelas propriedades físicas do ambiente. Além disso, durante a locomoção dos

animais há uma grande demanda energética. Observamos que a natação não foi afetada pela

salinidade em que os camarões foram mantidos, enquanto o rastejamento foi preponderante

em 30 ppm (escuro).

Zhang et al. (2007) verificaram que a capacidade natatória de L. vannamei de 4 g foi

significativamente maior em 32 ppm do que em 15 e 40 ppm. A salinidade ótima em que se

encontrou um índice de capacidade natatória máximo foi 27, 6 ppm, sendo o índice maior do

que 90% entre 18,5 e 36,7 ppm. Dall (1986) lembra que a natação requer até três vezes mais a

quantidade de oxigênio necessária nos níveis de repouso, o que demonstra que tal atividade

demanda um alto custo metabólico.

Rosas et al. (2001) verificaram que quando camarões L. vannamei juvenis foram

mantidos dentro da faixa natural de salinidade (10 - 30 ppm) e posteriormente expostos a

mudanças de salinidade muito rápidas (5 ppm a cada 0,5 h), a economia de energia foi a

primeira resposta do camarão para realizar os ajustes fisiológicos antes de usar a energia em

outra atividade, como a atividade motora. Uma diminuição do metabolismo e atividade

motora desses animais teria um significado adaptativo importante para colonização de

ambiente de água salobra porque permitiria que o camarão acumulasse glicose que seria usada

nas trocas iônicas, evitando gastos desnecessários em tais atividades. Porém, quando a

salinidade tornou-se menor do que 10 ppm, os camarões exibiram uma maior atividade

motora que foi refletida no aumento do consumo de oxigênio. Essa resposta estaria associada

com o comportamento do camarão de escapar das condições ambientais em que os

mecanismos fisiológicos tornaram-se ineficientes. Dessa forma, L. vannamei juvenis

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diminuiriam a atividade motora como uma estratégia para tolerar mudanças rápidas de

salinidade até 10 ppm, tentando escapar de salinidades mais baixas.

Além do comportamento, a THC também é modificada em condições de estresse. Em

nossa pesquisa, encontramos um menor número de hemócitos em 2 e 50 ppm. Outros

pesquisadores também observaram uma diminuição da THC em função da salinidade da água

em que os camarões foram mantidos. Lu-Qing et al. (2005) verificaram que camarões L.

vannamei adultos transferidos de 30 ppm para as salinidades de 5, 10, 15, 20 ou 25 ppm,

exibiram uma queda progressiva no número de hemócitos em resposta à diminuição da

salinidade. Após o sexto dia de exposição a tais salinidades, a THC se estabilizou, embora o

menor número de hemócitos na salinidade mais baixa tenha persistido. Esses pesquisadores

sugerem que o declínio na contagem dos hemócitos nas salinidades baixas ocorre devido a um

aumento no volume da hemolinfa em tais condições. Perazzolo et al. (2002) também

observaram que quando camarões Farfantepenaeus paulensis adultos foram mantidos em 13,

22 ou 34 ppm por 28 dias, a THC foi significativamente maior em 34 ppm do que nas

salinidades mais baixas.

Alguns pesquisadores procuraram relacionar a THC com a suscetibilidade dos

camarões às doenças. Wang & Chen (2005) observaram uma redução significativa na THC de

L. vannamei após 12 h da transferência desses animais de 25 ppm para 5 ou 15 ppm, além de

uma maior suscetibilidade à bactéria Vibrio alginolyticus. Os mesmos resultados foram

obtidos quando P. monodon foi mantido em condições idênticas, sendo que essa espécie

tornou-se mais suscetível à bactéria Photobacterium damselae subsp. damselae (Wang &

Chen 2006). Ambos os trabalhos sugerem que mais pesquisas são necessárias para entender se

as mudanças na THC resultam da proliferação de células, do movimento de células dos

tecidos para a circulação ou da osmose entre a hemolinfa e o meio aquático.

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Assim, a observação do comportamento do animal aliada à análise da hemolinfa pode

ser vantajosa, uma vez que tais observações podem evitar prejuízos para os animais. Diante

do exposto, deve-se ter um cuidado maior ao cultivar camarões L. vannamei juvenis em

condições salinas tão diversas, uma vez que a salinidade pode ser prejudicial e modificar

determinadas atividades comportamentais, promovendo consequentemente diferenças no

crescimento e sobrevivência desses animais. O cultivo de L. vannamei em salinidades muito

baixas parece ser mais crítico para esses animais. Além disso, salinidades muito baixas ou

elevadas podem afetar os mecanismos de defesa dos camarões, facilitando o estabelecimento

de doenças. Nesse sentido, salinidades mais próximas àquelas do mar parecem ser menos

prejudiciais ao bem estar dos camarões que se encontram nessa faixa de idade.

6 - AGRADECIMENTOS

Ao Conselho de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ao Departamento de

Fisiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e à Fazenda de Cultivo de

Camarão CAMANOR pelo suporte dado para concretização dessa pesquisa.

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12 - DISCUSSÃO GERAL

Em nossa pesquisa, avaliamos o comportamento de camarões L. vannamei juvenis em

diferentes salinidades e temperaturas da água e procuramos relacioná-lo com a contagem total

dos hemócitos (THC), utilizando ambos os parâmetros como indicadores de estresse. Na

tabela I são apresentadas as hipóteses com suas respectivas predições e os resultados que

demonstram se elas foram corroboradas ou não.

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Tabela I – Hipóteses, predições e resultados obtidos.

HIPÓTESE 1: O comportamento de camarões L. vannamei é um indicador do estresse causado pela salinidade e temperatura da água.

PREDIÇÕES RESULTADOS CONCLUSÃO

Predição 1.1: A alimentação dos camarões é mais frequente

nas salinidades extremas (2 e 50 ppm) devido a um maior

gasto energético.

Em 30 e 50 ppm, a alimentação foi mais

frequente, enquanto que os camarões se

alimentaram menos em 2 ppm (Manuscrito

2).

Parcialmente corroborada

Predição 1.2: Para conservar energia, os camarões enterram-

se mais em 2 e 50 ppm.

O enterramento foi maior em 50 ppm

(Manuscrito 2). Parcialmente corroborada

Predição 1.3: A frequência alimentar é menor em 18 °C

devido ao metabolismo reduzido nessa temperatura.

Houve menor frequência de alimentação em

18°C do que em 28 e 33 °C (Manuscrito 1). Corroborada

Predição 1.4: A atividade locomotora é reduzida em 18 e 33

°C.

A natação foi mais frequente em 18 °C do

que em 28 ou 33 °C. O rastejmento foi

menos freqüente em 33 °C (Manuscrito 1).

Parcialmente corroborada

HIPÓTESE 2: O ciclo claro/escuro influencia o comportamento de L. vannamei, sendo independente da temperatura e da salinidade da água.

PREDIÇÕES RESULTADOS CONCLUSÃO

Predição 2.1: A natação e o rastejamento são maiores na fase

de escuro.

A natação e o rastejamento foram mais

frequentes na fase de escuro, independente

da salinidade ou temperatura da água

(Manuscritos 1 e 2).

Corroborada

Predição 2.2: Há predomínio do enterramento na fase de claro.

O enterramento foi maior na fase de claro

em todas as salinidades e temperaturas

testadas (Manuscritos 1 e 2).

Corroborada

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Tabela I – Hipóteses, predições e resultados obtidos (continuação)

HIPÓTESE 3: A contagem total dos hemócitos (THC), parâmetro indicador de estresse, é influenciada pela salinidade e temperatura da água.

PREDIÇÕES RESULTADOS CONCLUSÃO

Predição 3.1: Há uma redução no nº de hemócitos

em 2 e 50 ppm.

A THC foi menor em 2 e 50 ppm (Manuscrito 2).

Corroborada

Predição 3.2: O número de hemócitos é menor em

18 e 33 °C.

Em 18 °C, o número de hemócitos foi menor do que em

28 e 33 °C (Manuscrito 1) Parcialmente corroborada

HIPÓTESE 4: A sobrevivência e o ganho de peso de camarões L. vannamei sofre modificações devido à temperatura da água.

PREDIÇÕES RESULTADOS CONCLUSÃO

Predição 4.1: Há uma menor sobrevivência de L.

vannamei em 18 °C.

A sobrevivência dos camarões foi maior em 18 °C

(Manuscrito 1).

Não corroborada.

Predição 4.2: O ganho de peso dos camarões é

menor em 18 °C.

Em 18 e 28 ºC, o ganho de peso foi menor do que em 33

°C (Manuscrito 1). Parcialmente corroborada

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A influência da salinidade e temperatura foi mais evidente em alguns comportamentos,

aparentemente não sendo tão marcante ou mesmo presente nos demais. Entre os resultados

encontrados, destacamos:

Salinidades e temperaturas da água mais baixas parecem reduzir a alimentação

de camarões L. vannamei juvenis. Encontramos que a alimentação e o índice de enchimento

do trato digestivo foram reduzidos em 18 °C (escuro). Mesmo assim, a resposta à presença do

alimento registrada pela latência de consumo do alimento ou da muda foi menor nessa

temperatura (claro e escuro). Quanto à salinidade, a alimentação dos camarões foi menos

frequente em 2 ppm (escuro). Além disso, encontrou-se um índice de enchimento do trato

digestivo mais baixo e uma menor latência de consumo em 2 ppm (escuro) (Lima & Arruda,

não publicado). Isso indica que o cultivo de L. vannamei em 18 °C e 2 ppm é mais prejudicial

ao animal, com implicações diretas no comportamento alimentar desses animais, o que pode

resultar em menor crescimento. Além disso, a alimentação menos frequente em 18 °C e 2

ppm parece influenciar o início do consumo do alimento ou muda, uma vez que a latência de

consumo foi menor nessas condições.

Deve-se ressaltar ainda, que a aclimatação de L. vannamei à salinidade de 2 ppm foi

difícil, uma vez que a mortalidade foi bastante elevada em tal condição. Para manter os

animais vivos, essa aclimatação precisou acontecer bem lentamente, numa proporção

aproximada de 4-5 ppm a cada 24 h. Dessa forma, acredita-se que há um custo extremamente

grande para que os animais consigam se manter em 2 ppm. Isso deve ocorrer porque no

ambiente natural desses animais, a salinidade da água dificilmente chegará a valores tão

baixos.

Li et al. (2007) também encontraram uma menor sobrevivência e um crescimento

reduzido de L. vannamei em 3 ppm. Além disso, Ponce-Palafox et al. (1997) e Wyban et al.

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(1995) observaram que o consumo do alimento por camarões L. vannamei foi menor em 20 e

23 °C, respectivamente.

Houve predomínio das atividades que requerem um menor gasto energético nas

salinidades e temperaturas extremas: 2 e 50 ppm e 18 e 33 °C. A inatividade foi

preponderante na salinidade mais baixa (2 ppm – fases de claro e de escuro) e menor

temperatura (18 °C – fase de escuro), enquanto que o enterramento foi maior em 50 ppm e 18

°C (claro) e 33 °C (escuro).

O rastejamento também foi menor nas salinidades e temperaturas extremas: 2 e 50

ppm (escuro) e 33 °C (escuro). Entretanto, a salinidade da água não foi um fator determinante

para a natação dos camarões, visto que não foram encontradas diferenças nessa atividade

entre as salinidades testadas. Por outro lado, a atividade natatória foi influenciada pela

temperatura da água, sendo mais frequente em 18 °C (fase de escuro). Tanto o rastejamento

como a natação são atividades relacionadas com o deslocamento dos camarões e,

consequentemente requerem mais energia para sua realização. Visto que a alimentação foi

menos frequente em 18 °C, a maior atividade natatória nessa temperatura pode ser

considerada um indicativo de estresse.

Villarreal et al. (2003) observaram que os camarões cultivados em 55 ppm ficaram em

geral letárgicos. A diminuição na atividade de camarões nas temperaturas mais baixas

também foi observada por Ocampo et al. (2000), com camarões Farfantepenaeus

californiensis se apresentando letárgicos em 19 °C. Além disso, Fox et al. (2001) verificaram

que em temperaturas abaixo de 25 °C, L. vannamei tende a se enterrar. Em nossa pesquisa, o

enterramento elevado, bem como a redução no rastejamento em 33 °C (escuro) indicam que

embora essa temperatura aparentemente não seja tão prejudicial para os camarões, os animais

buscaram economizar energia para compensar o aumento no metabolismo. Diante disso, o

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crescimento dos camarões foi favorecido em 33 °C, uma vez que o ganho de peso e a taxa de

crescimento específico foram mais elevados nessa temperatura.

O comportamento de camarões L. vannamei juvenis é influenciado pelo ciclo

claro/escuro do período de 24 h, com os animais exibindo maior atividade na fase de escuro.

A natação e o rastejamento foram mais frequentes na fase de escuro, independente da

salinidade ou temperatura em que os animais foram mantidos. A alimentação também foi

preponderante na fase de escuro, não havendo variações entre as fases apenas em 2 ppm, 18 e

33 °C, condições em que os camarões se alimentaram menos. Por outro lado, o enterramento

foi maior na fase de claro em todas as salinidades e temperaturas testadas. Apenas a

inatividade não variou em relação às fases do período de 24 h, sendo frequente tanto no claro

como no escuro nas salinidades e temperaturas avaliadas.

Esses resultados são coerentes com o padrão apresentado pela maioria dos camarões

peneídeos, os quais são ativos à noite e se enterram durante o dia (Fuss 1964; Hindley 1975;

Moctezuma & Blake 1981; Wassenberg & Hill 1994).

A contagem total dos hemócitos (THC) é modificada em função da salinidade e

da temperatura da água em que os camarões são cultivados. A THC de L. vannamei foi menor

em 2 e 50 ppm, bem como em 18 °C.

Uma vez que a diminuição da THC ocorre em animais mantidos sob condições

estressantes (Perazzolo et al. 2002), pode-se sugerir que os camarões em 2 e 50 ppm e 18 °C

estavam expostos a um nível maior de estresse, que provocou alterações no comportamento

alimentar e na inatividade desses animais, especialmente na salinidade e na temperatura mais

baixa. Camarões L. vannamei mantidos nessas condições estão, consequentemente, mais

susceptíveis às doenças e predação.

Além da contagem total dos hemócitos (THC) ao final dos experimentos para

avaliação do comportamento (30 dias), procuramos desenvolver outro experimento em que a

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contagem dos hemócitos seria feita durante os primeiros cinco dias de cultivo de L. vannamei,

realizando a extração da hemolinfa a cada 24 h, para posterior comparação do número de

hemócitos a curto e longo prazo. Entretanto, a transferência direta dos animais para as

salinidades ou temperaturas testadas (choque salino ou térmico) provocou a mortalidade dos

animais já nas primeiras 24 h, impossibilitando a continuidade deste experimento.

Procuramos, então, aclimatar os animais às condições desejadas de salinidade (2, 30 e 50

ppm) e temperatura (18, 28 e 33 °C) conforme foi feito para o experimento de 30 dias.

Entretanto, dessa forma, não foram encontradas diferenças significativas no número de

hemócitos ao longo dos primeiros cinco dias de cultivo. Isso provavelmente ocorreu porque

os camarões já foram se adaptando às novas condições de salinidade e de temperatura durante

o processo de aclimatação. Dessa forma, tal comparação não pode ser realizada.

De uma forma geral, com esse trabalho procurou-se mostrar a importância da etologia

aplicada como uma ferramenta que pode contribuir para melhoria do manejo praticado nas

fazendas de cultivo de camarão, particularmente em função dos principais fatores abióticos:

salinidade e temperatura da água. Ferramentas simples e de fácil aplicação nos locais de

cultivo, como a observação da distribuição das atividades ao longo das fases do ciclo de 24 h,

em particular o enterramento e o comportamento alimentar; através da análise do índice de

enchimento do trato digestivo e da THC podem ajudar na identificação de animais saudáveis e

estressados, podendo reduzir a mortalidade e prevenir doenças, sendo isso vantajoso tanto

para o animal como para os produtores de camarão.

Indicativos de estresse foram observados a partir do comportamento exibido por

camarões L. vannamei juvenis em relação à salinidade e temperatura da água, encontrando-se

que salinidades e temperaturas muito baixas ou elevadas foram mais críticas para o cultivo

dessa espécie. Nessas condições foram observadas modificações na sobrevivência,

alimentação, locomoção e crescimento, bem como na resposta imune de L. vannamei. A

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avaliação do estresse através da THC dos camarões permitiu a obtenção de resultados mais

concretos, de modo que tanto aspectos do comportamento como da imunidade dos camarões

foram relevantes. Assim, sugere-se que o cultivo de L. vannamei juvenis seja realizado em

salinidades mais próximas àquelas do ambiente natural e temperaturas mais elevadas, de

modo que o bem estar desses animais seja favorecido, o que vai consequentemente contribuir

para a obtenção de animais mais saudáveis.

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