participação social e desenvolvimento...
TRANSCRIPT
PROJETO APOIO AOS DIÁLOGOS SETORIAIS UNIÃO EUROPEIA - BRASIL
Participação social e desenvolvimento regional Relatório do workshop Brasil-União Europeia
Brasília, 21/11/2012
2
PROJETO APOIO AOS DIÁLOGOS SETORIAIS UNIÃO EUROPEIA - BRASIL
CONTATOS
Direção Nacional do Projeto
+ 55 61 2020.4906/4928/5082/4134
www.dialogossetoriais.org
3
PROJETO APOIO AOS DIÁLOGOS SETORIAIS UNIÃO EUROPEIA - BRASIL
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................... 4
1. ABERTURA .................................................................................. 5
1.1. COMPOSIÇÃO DA MESA............................................................. 5
1.2. COLOCAÇÕES ............................................................................ 5
2. APRESENTAÇÕES DO BRASIL .................................................. 6
2.1. PARTICIPAÇÃO SOCIAL NAS POLÍTICAS PÚBLICAS: UM NOVO
MÉTODO DE GOVERNAR ................................................................... 6
2.2. EXPERIÊNCIA DA SECRETARIA NACIONAL DE
DESENVOLVIMENTO REGIONAL SDR/MI ........................................... 8
3. PAINEL UNIÃO EUROPEIA-BRASIL ........................................... 13
3.1. PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLÍTICA REGIONAL DA UNIÃO
EUROPEIA .................................................................................. 13
3.2. A NOVA PNDR: COMO VIABILIZAR A PARTICIPAÇÃO EFETIVA
DA SOCIEDADE CIVIL NO MODELO DE GOVERNANÇA .................. 15
4. DEBATES .................................................................................. 18
4.1. COLOCAÇÕES .......................................................................... 18
4.2. RESPOSTAS............................................................................. 18
5. CONCLUSÕES E REFERÊNCIAS .............................................. 20
5.1. DESTAQUES ............................................................................. 20
5.2. PERSPECTIVAS ........................................................................ 22
5.3 REFERÊNCIAS .......................................................................... 22
4
PROJETO APOIO AOS DIÁLOGOS SETORIAIS UNIÃO EUROPEIA - BRASIL
INTRODUÇÃO
O workshop Brasil-União Europeia: Participação Social e Política Regional,
parte integrante do projeto de apoio aos diálogos setoriais União Europeia-Brasil,
foi realizado em um momento particular, tanto para o Brasil quanto para a União
Europeia.
O Brasil está conduzindo vários esforços de regionalização e Territorialização de
suas políticas, realizando, inclusive, a Primeira Conferência Nacional de
Desenvolvimento Regional (CNDR)
A União Europeia, por sua vez, no bojo da atual crise econômica, está avaliando
e questionando a pertinência de suas ações de desenvolvimento regional.
Diversos questionamentos estabelecem uma correlação entre os maiores volumes
de ajuda da União e maior gravidade da crise econômica em países como Grécia,
Portugal e Espanha.
A programação realizada comportou uma abertura, uma apresentação tratando
da experiência da SDR/MI e de “Participação social nas políticas”, finalmente um
painel seguido de debates, trazendo ensinamentos da “Participação social na
política regional da União Europeia” e discussão de “Como viabilizar a participação
efetiva da sociedade civil”.
Nos debates, mereceu destaque a associação de Participação com Controle e
transparência, envolvendo gestão e controle social. Em vários momentos do
workshop, foi relatada a atitude da Controladoria Geral da União (CGU), buscando
linhas de ação proativas e preventivas, em vez de punitivas a posteriori,
atendendo, inclusive, demanda do Ministério da Integração Nacional.
O evento foi realizado sob a responsabilidade da Secretaria de Desenvolvimento
Regional do Ministério da Integração Nacional (SDR/MI), no auditório do Edifício
Celso Furtado, na SGAN 906, em Brasília, no dia 21 de novembro, 2012, das
14:00 às 18:00 horas.
As versões eletrônicas das apresentações, do painel e deste relatório estão
disponíveis no site dos diálogos www.dialogossetoriais.org
5
PROJETO APOIO AOS DIÁLOGOS SETORIAIS UNIÃO EUROPEIA - BRASIL
1. ABERTURA
1.1. COMPOSIÇÃO DA MESA
A Mesa foi presidida por Alexandre Navarro Garcia, Secretário Executivo do
Ministério da Integração Nacional, Ministro interino.
Os outros integrantes foram:
Sérgio Duarte de Castro, Secretário Nacional de Desenvolvimento Regional
do Ministério da Integração Nacional.
Valdir Agapito Teixeira, Secretário Federal de Controle Interno da
Controladoria Geral da União.
Pedro Carvalho Pontual, Diretor de Participação Social da Secretaria
Nacional de Articulação Social da Secretaria Geral da Presidência da
República.
1.2. COLOCAÇÕES
O Secretário Sergio de Castro, da SDR, afirmou ser muito oportuno o workshop,
considerando a importância da questão da Participação no novo momento político
brasileiro, marcado pela prioridade na inclusão. Também devido à realização,
neste momento, da Primeira Conferência Nacional de Desenvolvimento Regional-
CNDR.
O Diretor Pedro Pontual destacou a importância da Participação como temática
central da Gestão e Controle Social.
O Secretário Valdir Teixeira, da CGU, registrou a mudança de atitude na atividade
de Controle, onde se busca atuar de maneira proativa antes que punitiva, junto
aos órgãos de gestão, como é o caso com o Ministério da Integração.
O Ministro interino Alexandre Navarro Garcia afirmou o País ter se tornado mais
igual, inclusive graças à Participação, que permite chegar onde as ações de
governo não alcançam. “A participação supre uma lacuna”... “As políticas regionais
precisam ser identificadas para a localidade”.
Destacou também, a importância, nesta perspectiva, de (i) tornar mais flexível e
renovar o instrumento da Contribuição Corrente e (ii) promover o uso de
instrumentos que permitam agilidade de ação e controle eficiente, como o caso do
cartão da Defesa Civil, operado pelo Banco do Brasil, distribuído em situações de
emergência,
Finalmente, observou que a redistribuição de renda se dá também pela diminuição
dos juros e taxas de indexação como a SELIC.
6
PROJETO APOIO AOS DIÁLOGOS SETORIAIS UNIÃO EUROPEIA - BRASIL
2. APRESENTAÇÃO DA EXPERIÊNCIA DO BRASIL
A apresentação do Brasil teve a coordenação de Adriana Melo Alves, Diretora do
Departamento de Políticas de Desenvolvimento Regional da SDR/MI e teve duas
intervenções:
Pedro Carvalho Pontual, Diretor de Participação Social da Secretaria Nacional
de Articulação Social da Secretaria Geral da Presidência da República.
Sérgio Duarte de Castro, Secretário Nacional de Desenvolvimento Regional do
Ministério da Integração Nacional.
2.1. PARTICIPAÇÃO SOCIAL NAS POLÍTICAS PÚBLICAS REGIONAIS
Pedro Carvalho Pontual
O Secretário afirmou, inicialmente, dever tudo que aprendeu sobre Participação ao
Prefeito Celso Daniel, no ABC paulista, nos anos 80- 90, à experiência dos
primeiros consórcios de municípios e outros mecanismos análogos.
Prosseguiu com referência ao discurso de posse da Presidente Dilma Rousseff: “O
Brasil do futuro será exatamente do tamanho daquilo que, juntos, fizermos por ele
hoje”.
Destacou o fato que as formas, representativa e participativa, da democracia são
dimensões complementares.
A-1) Marco institucional e operacional da participação
Lembrou que o marco institucional da participação está: na Declaração Universal
dos Direitos Humanos (1948), na Constituição da República Federativa do Brasil
(1988) e na Carta Ibero-americana de Participação Cidadã na Gestão Pública
(2009).
O marco tem como formas institucionais do seu exercício os (i) conselhos, (ii)
conferências, (iii) ouvidorias, (iv) audiências e consultas públicas, (v) mesas de
diálogo e negociações e, (vi) plebiscitos e referendos. Estas, pouco utilizadas no
Brasil, enquanto as anteriores (mesas) vêm crescendo como instrumento de
referência normativa, por exemplo, no setor da construção civil e, mais
recentemente, na produção de cana de açúcar.
Entre os resultados dos processos participativos estão: o Sistema Único de Saúde
(SUS) o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), a Política Nacional de
Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, o Programa da Pessoa Idosa, o
Terceiro Programa Nacional dos Direitos Humanos, a Lei Orgânica de Segurança
Alimentar e Nutricional e, a Lei Maria da Penha.
A participação social no PPA envolve os mais de 30 conselhos nacionais por meio
de Fóruns Interconselhos. São mais de 300 conselheiros nacionais que
encaminharam cerca de 600 propostas, sendo 97% acatadas integral ou
7
PROJETO APOIO AOS DIÁLOGOS SETORIAIS UNIÃO EUROPEIA - BRASIL
parcialmente. Segue a apresentação de dados de participação segundo as
variáveis: gênero, renda familiar, região de residência, cor/raça e, grau de
escolaridade. (Ver em referência – item 5.3:publicações do IPEA, fontes dos
dados citados).
A-2) Desafios 2011-2014
Fortalecimento da Democracia Brasileira, tendo como método de governo a
Participação, formalizada e instrumentada em Política e Sistema Nacional de
Participação Social. Incluindo novas institucionalidades e espaços de participação.
Para tal, é preciso articular instrumentos e canais de participação intersetorial
qualificados, buscando-se maior interação.
A-3) Encaminhamentos da Secretaria Geral da Presidência da República
Destaca-se o potencial endógeno do desenvolvimento relacionado às
características territoriais (humanas e naturais) e a necessidade de uma política
institucional em todas as escalas, com incorporação da sabedoria e conhecimento
popular.
São referências desta abordagem os estados da Bahia e Sergipe, que adotaram e
aplicaram em seus territórios a sistemática de regionalização constituída pelos
Territórios da Cidadania e suas evoluções para dinâmicas de desenvolvimento
territorial sustentável. (Ver em referência – item 5.3): acesso à serie publicada pelo
IICA e DAS.
8
PROJETO APOIO AOS DIÁLOGOS SETORIAIS UNIÃO EUROPEIA - BRASIL
2.2. EXPERIÊNCIA DA SECRETARIA NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL
Sergio Duarte de Castro
O Secretário da SDR apresentou: os mecanismos de participação, as formas de
organização territorial regional e encaminhamentos para a nova PNDR, iniciando
por um quadro das dificuldades encontradas para a elaboração e implementação,
no Brasil, de uma política de Desenvolvimento Regional, aqui relacionadas;
Complexidade do sistema federativo brasileiro,
Escassez de mecanismos de coordenação e articulação entre União,
Estados e Municípios, assim como intragovernos,
Estrutura de repartição de recursos entre as instâncias de poder,
Lógica histórica de atuação setorial do governo federal,
Retomada recente da participação organizada da sociedade civil na
política pública brasileira.
A-1) Mecanismos de participação
Os mecanismos de participação são sistematizados em quatro grupos em função
de suas finalidades, como mostra o gráfico abaixo. Resgatando dados da
apresentação anterior se obtêm os seguintes resultados:
Conselhos e ouvidorias: 42%
Audiências e Consultas: 25%
Reuniões, Comitês, GTs e Mesas de negociação: 25%
Conferências e outros: 8%
Estes mecanismos são resultados de uma nova política de regionalização,
institucionalizada em 1999, com a criação do Ministério da Integração (MI), e, a
partir de 2003, com a elaboração da primeira Política Nacional de
Desenvolvimento Regional (PNDR), institucionalizada em 2007. Em 2012, foi
9
PROJETO APOIO AOS DIÁLOGOS SETORIAIS UNIÃO EUROPEIA - BRASIL
iniciada a primeira Conferência Nacional de Desenvolvimento Regional (CNDR),
com a finalidade de elaborar uma nova PNDR, mais participativa.
As Conferências Nacionais são eventos que ocorrem periodicamente e constituem
canal de comunicação entre diversos setores sociais e o Estado brasileiro. Foram
realizadas 12 conferências até 1988 e 74 entre 2003 e 2010. As finalidades das
conferências são apresentadas no gráfico a baixo.
No caso da CNDR os resultados, em termos de participação foram os seguintes:
27 Conferências Estaduais
5 Conferências Macrorregionais
Mais de 10 mil pessoas
10
PROJETO APOIO AOS DIÁLOGOS SETORIAIS UNIÃO EUROPEIA - BRASIL
A-2) Formas de organização territorial
Três formas de organização, com finalidades nitidamente diferenciadas começam
a caracterizar abordagens territoriais para a PNDR:
Núcleos estaduais da Faixa de Fronteira
Mesorregiões
A perspectivas das mesorregiões está se tornando uma das principais caminhos
de institucionalização da PNDR. Seu desempenho inicial foi prejudicado por falta
de recursos específicos, mas, principalmente, por conflito entre instâncias
federais, estaduais e municipais, por terem sido implantadas sem envolvimento
dos estados.
O quadro a seguir apresenta as mesorregiões existentes com indicações
11
PROJETO APOIO AOS DIÁLOGOS SETORIAIS UNIÃO EUROPEIA - BRASIL
caracterizando seu grau de institucionalização e vinculo institucional. Os Fóruns
de Mesorregiões constituem laboratórios de possíveis Conselhos Regionais.
Consórcios de municípios
Os consórcios de municípios e outros arranjos institucionais de cooperação
intermunicipal surgem nos anos 80 em são Paulo. Mas, somente em 2005/2007
será estabelecido o regime Jurídico dos Consórcios Públicos.
Na prática, começam habitualmente com um foco temático: Saúde em mais de um
terço dos casos. Meio Ambiente, Desenvolvimento Urbano e Social representam
outro terço. O último terço abrange, por ordem de importância, a metade para:
Educação, transporte e habitação e outra metade para múltiplas finalidades.
Outras formas de organização territorial
Outras formas de organização territorial para o desenvolvimento regional, fora do
âmbito da PNDR, existem mas não interagem. Trata-se essencialmente de:
Comitês e Agências de Bacia Hidrográfica, vinculados à Política Nacional
dos Recursos Hídricos (PNRH);
Arranjos Produtivos Locais (APLs), vinculados à Política do MDIC, com
apoio de um GTP-APL e 33 instituições envolvidas. São hoje 1359 APLs.
Destinos Turísticos resultado da política de regionalização do Ministério do
Turismo.
Territórios Rurais, organizados como Territórios da Cidadania (120), com
seus conselhos e apoio do Programa Nacional da Agricultura Familiar
(PRONAF), abrangendo 32% do território nacional.
12
PROJETO APOIO AOS DIÁLOGOS SETORIAIS UNIÃO EUROPEIA - BRASIL
A-2) Encaminhamentos para a nova PNDR
Cooperação horizontal, envolvendo:
o No nível federal: criação de Sistema nacional de Desenvolvimento
Regional (Governança), Conselho Nacional de Desenvolvimento
regional Câmara Nacional de Integração de Políticas Regionais e
Territoriais.
o No nível estadual: articulação de Plano e Projetos para a
macrorregião
o No nível municipal, estímulo à constituição de Consórcios Públicos.
Cooperação vertical: réplica da organização federal com secretarias e
conselhos estaduais de Desenvolvimento Regional.
13
PROJETO APOIO AOS DIÁLOGOS SETORIAIS UNIÃO EUROPEIA - BRASIL
3. PAINEL UNIÃO EUROPEIA-BRASIL
3.1. PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA POLÍTICA REGIONAL DA UNIÃO EUROPEIA
Manfred Beschel (UE)
Com formação jurídica, trabalha na Comissão Europeia desde1975. Em 1985,
passou a integrar a área de Política Regional da EU. Atuou, desde então, em
diversos países da EU como Portugal, Espanha, Inglaterra, Polônia, Finlândia,
Estônia e Lituânia.
A-1) Considerações iniciais
Manfred considera que os Diálogos EU-Brasil constituem uma oportunidade de
avançar juntos.
Lembra que o princípio de Participação não existia na origem da Comissão
Europeia, só vindo a ser incorporado em 1988, em decorrência da Política
Regional. Desde então, é considerada parte importante do processo de
desenvolvimento econômico.
Salienta que a participação social constitui um processo que nunca termina e
muda ao longo dos anos, sempre a recomeçar, “como Sísifo”
Trata-se de um princípio geral, sem nenhuma receita, adaptável ao marco jurídico
de cada um dos 27 estados membros da EU.
Em termos de mecanismos públicos, aplica-se o princípio da Subsidiariedade. Isto
é, só fazer pela EU o que não pode ser feito pelos estados. Da mesma maneira,
no caso dos estados e suas regiões autônomas. Entretanto, há exceções em
regiões autônomas como a Escócia, onde existe uma preferência em tratar
diretamente com a EU.
O princípio de Boa Governança implica ter metas comuns, não apenas defender
interesses próprios. Isto implica em contribuição de cada um. Mas ainda é uma
mudança de mentalidade a ser realizada.
Participação implica contrapartida, responsabilidade de todos.
A Participação requer recursos e tempo. Existem diversas maneiras de melhorar
uma mudança, mas é preciso que haja o compromisso em resolver problemas,
não apenas em cumprir metas.
14
PROJETO APOIO AOS DIÁLOGOS SETORIAIS UNIÃO EUROPEIA - BRASIL
A-2) Mecanismos de Participação
O que é:
o Participação ativa dos parceiros na elaboração, implementação,
monitoramento e avaliação das estratégias e ações da política regional.
o Acesso à informação e melhoria da transparência
o Busca de compromisso coletivo e apropriação da política regional.
o Ampliação do conhecimento disponível, experiência e diversidade na
elaboração e implementação da política regional.
Quais parcerias
o Organizações locais e regionais competentes e outras autoridades
públicas
o Parceiros econômicos e sociais
o Entidades representativas da sociedade civil, inclusive parcerias com
organizações ambientais e de defesa da igualdade e não discriminação
Como organizar
o Elaboração de documentos de estratégia, com consulta e cooperação
dos parceiros
o Participação ativa no monitoramento e na avaliação do processo.
Regras e prazos claros (quem em quanto tempo)
Capacitação e apoio aos parceiros, inclusive em termos de cobertura dos
custos de participação em reuniões.
Intercâmbio de boas práticas, entre as organizações da EU e outras redes. A
EU mantém vastos sistemas de informação e pessoas para sua manutenção.
A-3) Alguns exemplos
Liverpool
Grupo Técnico (GT) verifica que todos os projetos financiados pelo Fundo
Europeu de Desenvolvimento Regional (ERDF) foram previamente
examinados pelas autoridades locais. O mesmo GT emite parecer para o
ERDF e articula a constituição de consórcios locais para prestar os serviços
financiados pelo Fundo.
Áustria
Plataforma para o acompanhamento estratégico, disponibilizando processos
para aprendizagem e diálogo. Busca ampla parceria para desenvolver novas
15
PROJETO APOIO AOS DIÁLOGOS SETORIAIS UNIÃO EUROPEIA - BRASIL
estratégias.
Espanha
Reconhecimento da necessidade de integrar igualdade de gênero em todos os
fundos. Envolve monitoramento pelo instituto da mulher.
Latvia
Coalisão de 80% das entidades ambientais para negociar as metas nacionais
de aplicação dos recursos do Fundo Europeu. Abrangeu o estabelecimento de
mecanismo de diálogo com os ministérios e de cooperação setorial,
particularmente com as áreas de educação, gênero e problemas sociais.
Alemanha
Comitê de monitoramento das diversos mecanismos da EU, se reúne 5 a 6
vezes por ano e está se organizando como fórum, envolvendo também os
responsáveis pela execução das ações e comitês consultivos.
Dinamarca
O comitê de acompanhamento toma decisões unicamente por consenso
Irlanda
O comitê de acompanhamento e parceiros (da ordem de 50 pessoas) está
envolvido em todas as etapas, do planejamento à avaliação dos efeitos
passando pela execução, com forte participação e influência.
Rede Europeia de Autoridades Ambientais para a Coesão das Políticas -ENEA
Estabelecida como parte da política de coesão dos programas da EU para os
estados membros e países candidatos. A abordagem é de intercâmbio e de
boas práticas. Alguns estados membros implantaram redes semelhantes.
3.2. A NOVA PNDR: COMO VIABILIZAR A PARTICIPAÇÃO EFETIVA DA SOCIEDADE CIVIL NO MODELO DE GOVERNANÇA.
Pedro Silveira Bandeira (UFRGS)
Em sua palestra, o Prof. Pedro Bandeira abordou os seguintes aspectos (i)
continuidade da reforma da PNDR, (ii) requisitos para uma efetiva participação da
sociedade civil na governança da PNDR e, (iii) experiência de regionalização no
Rio Grande do Sul.
Caracterizou, inicialmente, (i) a política “tradicional” de regionalização: centralizada
e voltada para a distribuição da atividade industrial no território nacional, por meio
de incentivos e (ii) a tentativa de reforma da regionalização, conduzida entre 2003
e 2007, já concebida como de múltiplas escalas, com participação da sociedade
civil na governança, mas com déficit de institucionalização e recursos.
A-1) Na sequência da CNDR
Neste contexto, na opinião do palestrante, a atual Conferência Nacional de
16
PROJETO APOIO AOS DIÁLOGOS SETORIAIS UNIÃO EUROPEIA - BRASIL
Desenvolvimento Regional (CNDR) deveria, para viabilizar a participação da
sociedade civil na governança, incluir em suas diretrizes (i) institucionalizar a
escala mesoregional [entre estado e município] e (ii) aumentar a presença não
governamental nos colegiados.
Nesta perspectiva, para que a institucionalização cumpra sua função, precisaria
que houvesse identificação dos cidadãos com a região, por meio de experiência
de vida e visão de mundo compartilhada. As mesorregiões do IBGE que não
atendem estes requisitos não poderiam, portanto, ser utilizadas.
Entretanto, Pedro Bandeira observa que já existem processos estaduais e federais
que cumprem os requisitos e podem servir de referência para as mesorregiões da
PNDR. São aquelas onde existe identidade da população com o território, a
começar pela própria denominação da região. [Exemplos da palestra anterior:
Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Bico do Papagaio, Seridó].
A-2) Possíveis contribuições da experiência europeia
Ainda, a experiência europeia de regionalização, com suas três escalas, poderia
pautar a organização do processo de regionalização. Trata-se basicamente de
critérios populacionais [3 a 7, 0,8 a 3 e 0,15 a 0,8 milhões], que garantem à região
um patamar mínimo de densidade institucional e de relevância política, sem perder
coerência com as unidades estatísticas territoriais existentes.
O palestrante fez também referência, no caso europeu, à existência de
organizações (fóruns ou conselhos) que promovem a articulação e capacitação
dos atores regionais. Caso dos Conselhos Econômico e Social adotados em
países com a França e a Espanha, mas também em processos de regionalização
no Chile, Austrália, Canadá, Filipinas e países da Europa Oriental. Estas
organizações cumprem habitualmente o duplo papel de instâncias de articulação e
de representação.
Finalmente, foi indicado que a delimitação das regiões deveria observar aos
processos de polarização e dinâmicas de rede, como as redes de cidades, não
criando entraves para o processo de articulação dos atores regionais.
A-3) Ensinamentos dos Conselhos Regionais do Rio Grande do Sul - COREDEs
Os COREDEs surgiram em 1991 e abrangem todo o estado. A sociedade rejeitou
a proposta do governo de 8 regiões. A solução definitiva, com 20 unidades, teve
sua legitimidade articulada com base nas associações de municípios e nas
universidades privadas de caráter comunitário. A área de abrangência dos
Coredes é critério para regionalização do orçamento.
O Coredes tem assembleia geral, conselho de representantes, diretoria executiva
e Comissões setoriais. A articulação entre Coredes se dá por meio de reuniões
mensais do Fórum dos Coredes, encontros anuais de avaliação e planejamento,
publicações e declaração de princípios.
As principais atividades são a elaboração de orçamentos anuais, planos
17
PROJETO APOIO AOS DIÁLOGOS SETORIAIS UNIÃO EUROPEIA - BRASIL
plurianuais, planejamento estratégico e a realização de consultas populares.
Os resultados são limitados devido ao baixo volume de recursos que transitam
pelos Coredes, mas contribuem para a consolidação das identidades regionais.
18
PROJETO APOIO AOS DIÁLOGOS SETORIAIS UNIÃO EUROPEIA - BRASIL
4. DEBATES
4.1. INTERVENÇÕES
Profissional da área de saúde: A saúde é âncora de muitas ações territoriais,
como estabelecer uma base comum para a credibilidade do governo, como
organizar a participação, promover equidade, definir regiões com as quais a
população se identifica. Observei que, quando isto acontece, os efeitos são
muito diferentes.
Paulo BNB: Quanto maior a carência, maior a necessidade de políticas
públicas. Como motivar a população, como prestar conta para evitara falta de
credibilidade.
Técnico da CGU que atua junto ao MI, os nossos objetivos são de
o Melhoria da Gestão
o Bom andamento da política pública
o Identificação de gargalos antes da execução
o Transparência, por exemplo nos casos de situações de emergência,
desenvolvendo soluções do tipo do cartão de pagamento do BB,
estabelecendo link direto entre a fonte pagadora e o beneficiário.
Pró-reitor de extensão do Instituto Federal do Espírito Santo: Como ficam as
áreas entre as mesorregiões, os bolsões de pobreza nas regiões
metropolitanas, com altos índices sociais e econômicos médios?
4.2. RESPOSTAS
Pedro Bandeira:
A sociedade não tem expectativa que todas as ações anunciadas sejam
realizadas
Maior participação se obtém pelos resultados, é vinculada também ao capital
social / organizacional, menos ao grau de riqueza ou de pobreza da
população.
Cuidado com a participação que não é o que parece (objetivos subjacentes de
quem promove a ação)
Para as áreas fora das ações da política regional existe uma grande
diversidade de políticas. A política regional é parte de um conjunto.
Manfred Beschel:
A credibilidade não pode ser encomendada; depende de transparência e
19
PROJETO APOIO AOS DIÁLOGOS SETORIAIS UNIÃO EUROPEIA - BRASIL
coerência.
Saúde como âncora das políticas regionais já é fato, não precisa mais ser
demonstrada.
Você não mobiliza a população, mas grupos da população. Você precisa
saber como comunicar com esses grupos.
Auditoria: nunca está tudo 100% certo. A atitude precisa ser de acertar, não
de condenar.
Manchas de pobreza em cidades ricas: procurar desenvolver interações para
resolver por homogeneização.
Sergio Castro:
Melhorar a credibilidade é relacionado com (i) dar continuidade nas ações, (ii)
evitar ou reduzir o excesso de instâncias e a superposição das ações, (iii)
buscar soluções de controle que não engessem, como o cartão BB de
emergência.
As áreas fora das ações da política regional são consequência dos critérios de
elegibilidade. É parte integrante da política. Política regional não é política
social nem política industrial, apenas busca harmonização, interação.
5. CONCLUSÕES
5.1. DESTAQUES
Alexandre Garcia (MI)
Participação permite chegar onde as ações de governo não alcançam.
Participação requer confiança, inclusive com atuação preventiva e proativa
dos órgãos de controle, como o MI vem fazendo com a CGU, tornar mais
flexível e renovar o instrumento da Contribuição Corrente para o
financiamento decentralizado.
Promover o uso de instrumentos que permitam agilidade de ação e
controle eficiente, como o caso do cartão da Defesa Civil, operado pelo
Banco do Brasil, distribuído em situações de emergência.
Pedro Pontual (SG/PR)
Formas institucionais da participação são os (i) conselhos, (ii)
conferências, (iii) ouvidorias, (iv) audiências e consultas públicas, (v)
mesas de diálogo e negociações e, (vi) plebiscitos e referendos.
Destaca-se o potencial endógeno do desenvolvimento relacionado às
20
PROJETO APOIO AOS DIÁLOGOS SETORIAIS UNIÃO EUROPEIA - BRASIL
características territoriais (humanas e naturais) e a necessidade de uma
política institucional, em todas as escalas, com incorporação da sabedoria
e conhecimento popular.
A participação social no PPA envolve os mais de 30 conselhos nacionais
por meio de Fóruns Interconselhos. São mais de 300 conselheiros
nacionais que encaminharam cerca de 600 propostas, sendo 97%
acatadas integral ou parcialmente.
Sergio Castro (SDR/MI)
As mesorregiões estão se tornando uma das principais perspectivas de
institucionalização da PNDR
Três formas de organização, com finalidades nitidamente diferenciadas
começam a caracterizar abordagens territoriais para a PNDR:
o Núcleos estaduais da Faixa de Fronteira
o Consórcios de municípios
o Mesorregiões
Outras formas de organização territorial para o desenvolvimento regional,
fora do âmbito da PNDR, existem, mas não interagem. Trata-se
essencialmente de:
o Comitês e Agências de Bacia Hidrográfica,
o Arranjos Produtivos Locais (APLs),
o Destinos Turísticos
o Territórios da Cidadania
Manfred B (EU)
Participação implica contrapartida, responsabilidade de todos.
Participação requer recursos e tempo.
É preciso que haja compromisso de resolver problemas, não apenas
cumprir metas.
Estabelecer regras claras e prazos (quem em quanto tempo)
Capacitação e apoio aos parceiros, inclusive em termos de cobertura dos
custos de participação em reuniões.
Intercâmbio de boas práticas, entre as organizações da EU e outras redes.
A EU mantém vastos sistemas de informação e pessoas para sua
manutenção.
Pedro Bandeira (UFRGS)
Institucionalização de regiões na escala mesorregional, com criação de
organizações capazes de sustentar um processo permanente de
participação.
21
PROJETO APOIO AOS DIÁLOGOS SETORIAIS UNIÃO EUROPEIA - BRASIL
Aumento da presença não governamental nos diferentes colegiados
5.2. ENCAMINHAMENTOS
O workshop trouxe diversas contribuições para as formulações em curso na
CNDR, tanto em termos de cooperação horizontal quanto vertical, mas irá
subsidiar, particularmente, a questão da organização e institucionalização de uma
escala mesoregional, suas modalidades permanentes de participação e processos
de integração das outras formas de organização territorial, que são os comitês de
bacia hidrográfica (CBH), Arranjos Produtivos Locais (APLs), Destinos Turísticos e
Territórios da Cidadania.
5.3. REFERÊNCIAS
IPEA, Boletim de Análise Político Institucional 2, Conselhos Nacionais: perfil e
atuação dos conselheiros.
IPEA, Conferências de Políticas Públicas e Inclusão Participativa: Texto para
Discussão.
IICA-MDA Série Desenvolvimento Rural Sustentável (11 volumes).
Publicações disponíveis no site www.iica.org.br