participação política: coisa de idiota?
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Participação política: coisa de idiota?
Indignados com a corrupção endêmica impregnada nos poderes executivo e legislativo, muitos cidadãos pseudocríticos vociferam que “só participa da política quem é idiota”. Segundo eles, quem gosta de ser roubado por essa elite corrompida torna-se participativo politicamente.
Devido a isso, eles se recusam a votar, pois não se consideram idiotas – logo, não participam da política. Esse raciocínio contém, no mínimo, um equívoco: ignora a etimologia do termo “idiota”.
“Idiótes”, do grego, significa “aquele que ignora ou desconhece os assuntos públicos”, ou seja, o que se preocupa meramente com problemas individuais. Além disso, não é só pelo voto que se participa da política: “politiké”, do grego, refere-se à arte de usar o poder – e esse permeia todas as relações humanas. Viver em uma época e país é estar imerso em influências políticas. Onde quer que se esteja e com quem se dialogue, há uma política – pelo menos – em jogo.
Escolher não participar da política é, portanto, paradoxalmente uma atitude política. Quem se acha muito esperto dizendo-se “apolítico” ignora o que seja de fato a política. Ignora o que está influenciando sua vida. Ignora os poderes em jogo. Assim, quem acaba sendo o verdadeiro idiota, etimologicamente, ao invés daqueles que ele chama de idiotas, é ele mesmo.