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X Convibra Administração – Congresso Online de Administração –

adm.convibra.com.br - 7 a 9 de novembro de 2013

PARTICIPAÇÃO CIDADÃ E ORÇAMENTO PÚBLICO: UM ESTUDO SOBRE O MUNICÍPIO DE LIMOEIRO – PE

Gisele Tavares de Oliveira- Universidade Federal Rural de Pernambuco

José Arimatéia Dias Valadão- Universidade Federal de Pernambuco

RESUMO

A participação cidadã no controle dos gastos públicos é um assunto bastante recorrente, hoje, principalmente após Constituição de 1988. O estudo feito neste artigo visa ampliar essa temática vinculando-a ao conceito de município e sua autonomia com o advento da democracia e a participação da população no orçamento público. Com isso a participação popular nos mecanismos de controle social é hoje considerada com transparência e mudança na sociedade a partir da Constituição de 1988. Mais especificamente, o trabalho discute sobre o Orçamento Participativo do Município de Limoeiro do Agreste Pernambucano. Para isso, foi realizado um estudo para identificar as características peculiares desse Município bem como as novas propostas democráticas de controle social trazidas pela Constituição Federal e demais leis, identificando a relação da população com a Prefeitura no que diz respeito a divulgação das decisões do governo e a Gestão Orçamentária. Para isso utilizou-se de métodos qualitativos por meio de uma pesquisa de campo com entrevista e análise documental. Também foi trazida a concepção de Orçamento Participativo e o entendimento da sociedade do Município de Limoeiro diante desta concepção. Como conclusão, foi possível perceber que o Município de Limoeiro/PE ainda possui características atreladas às formas absolutistas de governo e nessa situação marcado pelo coronelismo.

Palavras- chave: Democracia, Coronelismo, Clientelismo, Participação popular, Gestão Pública Orçamentária, Transparência, Município, Autonomia.

ABSTRACT

Citizen participation in public spending control is a fairly frequent subject today, especially after the 1988 Constitution. The study in this article is to extend this theme linking it to the concept of the city and its autonomy with the advent of democracy and popular participation in public budget. In which popular participation in the mechanisms of social control is now considered with transparency and change in society from the 1988 Constitution. More specifically, the paper discusses about the Participatory Budget of the Limoeiro. For this, a study was conducted to identify the peculiarities of this city as well as new proposals democratic social control brought by the Constitution and other laws, identifying the relationship of the population with the City regarding the disclosure of government decisions and Budget Management. For this we used qualitative methods through a field research with interviews and documentary analysis. It was also brought to the design of participatory budgeting and understanding of society in the city of Limon on this design. In conclusion, it is noted that the Municipality of Limoeiro/PE still has characteristics tied to absolutist forms of government and in this situation marked by the Colonels.

Keywords: Democracy, Coronelismo, clientelism, Popular Participation, Public Management Budget Transparency, Municipality, Autonomy.

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1 INTRODUÇÃO

O presente estudo foi desenvolvido no município de Limoeiro, no Estado de Pernambuco. Limoeiro, quando ainda era território, no local onde hoje é a cidade, era ocupado por uma Sesmaria onde existia um aldeamento de índios. Pelos anos de 1730 e 1740 o Padre Ponciano Coelho era o missionário encarregado da catequese desses índios. Devoto de Nossa Senhora da Apresentação a tornou padroeira da Paróquia. Essa igreja é de grande importância para a história do lugar.

Pela Carta Régia de 16 de junho de 1786, Limoeiro tornou-se Distrito, 26 anos depois se tornou Vila. Pela Lei Municipal nº 2, de 19 de dezembro de 1892, Limoeiro passou a ser cidade. Só em 6 de abril de 1893 Limoeiro tornou-se município autônomo, data da sua Emancipação Política. Teve como primeiro prefeito o Coronel Antônio José Pestana, o primeiro juiz o Dr. Firmino Monteiro e o primeiro vigário o Pe. Bartolomeu Monteiro da Rocha.

Nesse contexto é que se tem o Município de Limoeiro-PE, que como muitas regiões brasileiras, estava ligado ainda às formas absolutistas de governo e nessa situação marcado pelo coronelismo. No contexto atual o Município de Limoeiro-PE é dirigido pela tendência trazida pela Constituição de 1988 que é a descentralização política e a autonomia municipal como forma de governar e tomar suas decisões.

Contexto esse trazido com a crescente busca por democracia e cidadania do fim do século XX e início do século XXI. Nesses panoramas históricos distintos, o trabalho discute sobre o Orçamento Participativo do Município de Limoeiro do Agreste Pernambucano. No qual a participação popular nos mecanismos de controle social é hoje tida com transparência e publicidade na sociedade a partir da Constituição de 1988.

O orçamento participativo dos entes municipais é uma das provas do novo modelo de gestão pública transparente e eficaz. Com a chegada de uma nova era de tecnologia atrelada às mudanças sociais, bem como a autonomia dos entes federativos tem se exigido a participação da população na gestão das despesas e receitas públicas. Dessa forma, subentende que é no Município, menor unidade administrativa da federação, que se encontram as condições mais adequadas para que seja formado um quadro nacional democrático, buscando alcançar os padrões mais compatíveis com os considerados ideais.

O poder local, por estar mais próximo dos problemas e por ser suscetível ao controle da sociedade, mostra-se mais adequado para atender às demandas sociais. Mas considerando essas demandas emergentes, com os aspectos culturais e históricos de fé e coronelismo do Município é que se propôs discutir sobre: como ocorre a Participação da população nas decisões Orçamentárias no município de Limoeiro, no estado de Pernambuco? Em consequência, o objetivo do presente trabalho foi analisar como ocorre o orçamento participativo na gestão orçamentária do município de Limoeiro no Estado de Pernambuco. 2 DISCUSSÃO TEÓRICA

Durante muitas décadas perdurou, no Brasil, a política patriarcalista baseada no clientelismo e nas decisões centralizadas de governo. Desde o império passando pela República velha teve-se uma cultura pautada na troca de favores, bem como as decisões políticas eram sempre feitas pela minoria que detinha o poder. Com fim da monarquia optou-se pela República, porém com forma oligárquica marcada pelos donos do café em São Paulo e os proprietários do leite em Minas Gerais.

A partir de então se percebe que não havia espaço para democracia e nem tampouco para práticas descentralizadas de poder.

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A imagem de nosso país que vive como projeto e aspiração na consciência coletiva dos brasileiros não pôde, até hoje, desligar-se muito do espírito do Brasil imperial; a concepção de Estado figurada nesse ideal não somente é válida para a vida interna da nacionalidade como ainda não nos é possível conceber em sentindo muito diverso nossa projeção maior na vida internacional (BUARQUE, 1995, p.177).

Dessa forma, o que se tem ainda no contexto vigente são práticas voltadas para o “jeitinho brasileiro”, para concepção de que se deve votar naquele que faz algum favor na época das campanhas eleitorais, entre outros. O domínio da cultura, crenças e política, segundo DaMatta (1997, p. 56), sempre pertenceu aos pequenos grupos que possuem o poder,

Um ponto básico e contrastante, nesses rituais, é a consideração sobre os grupos responsáveis por sua produção. No dia da Pátria, a organização do ritual cabe aos poderes constituídos, sendo sua legitimação obtida por meio de instrumentos legais, os decretos. Esses ritos são organizados por grupos que controlam os meios de comunicação e de repressão- as Forças Armadas -, tendo, assim, não o patrocínio de um grupo social, um clube ou organização voluntária, mas de uma corporação perpétua, representativa do poder nacional.

Contudo, apesar das contradições, é com a Constituição de 1988, aqui entendida como marco pós-ditadura, que surge a participação do povo como protagonista das decisões políticas. Passa a existir a ampla democracia, cidadania e o povo começa a escolher por meio da democracia semi-direta seus representantes que irão tomar as decisões políticas do país.

Os entes federativos passam a ter autonomia administrativa, política e financeira bem como tomam suas próprias decisões, assim diz a Constituição da República Federal de 1988, no seu artigo 18, que “a organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição”. Nesse contexto se insere a importância dos Municípios, pois se trata do ente que está mais próximo da comunidade e entende seus anseios mais de perto.

O envolvimento do governo municipal, agindo como coparticipante no processo democrático, tornando-se um fator decisivo para integrar um ambiente de gestão democrática no dia a dia das cidades, uma vez que, o poder público não é o único responsável, precisa da participação da sociedade, para o crescimento das comunidades (OLIVEIRA, 2001).

O Orçamento Público, nesse sentido, torna-se um instrumento estratégico para que

haja um envolvimento entre administração e população. O Orçamento Público, em sentido amplo, é um documento legal aprovado por lei contendo a previsão de receitas e a estimativa de despesas a serem realizadas por um governo, em um determinado exercício, geralmente um ano, e tem sua origem, conforme descreve Oliveira (2005, p.40):

[...] Somente com a Magna Carta, na Inglaterra, começa a reação à busca incessante dos reis pelos recursos da população que podia pagar taxas. Os senhores e barões feudais se revoltaram com o poder absolutista dos reis e instituíram normas e limites a este poder, havendo passado o Parlamento a exercer poder sobre os gastos públicos.

Orçamento Público busca, também, planejamento, programação e alcance de

resultados. Enquanto que para Fortes (2006, p.73) o Orçamento é

Um processo de planejamento contínuo, dinâmico e flexível de que o Estado se utiliza para demonstrar seus planos e programas de trabalho, para determinado período. Ele abrange a manutenção das atividades do Estado, o planejamento e a execução dos projetos estabelecidos nos planos e programas de Governo.

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A concepção de Orçamento público atual é apontada por Fortes, pois o orçamento não é visto como apenas um instrumento, mas principalmente como um importante meio de alcançar resultados e de medir esses resultados. Na Constituição Federal existe um capítulo direcionado para o Orçamento público apontando as leis que constituem o Orçamento em cada ente da federação: lei de diretrizes orçamentárias, lei orçamentária anual e o plano plurianual. Estas leis apontam os limites que cada poder – executivo legislativo e judiciário – deverá ter para elaborarem seus respectivos orçamentos.

Dessa forma, a lei orçamentária que antes tinha caráter contábil agora é vista como uma lei que programa e planeja os resultados desejados. A lei orçamentária anual passou a ser chamada, por esse motivo, de Orçamento-programa. É uma modalidade de orçamento em que os recursos financeiros para cada unidade orçamentária vinculam-se direta ou indiretamente aos objetivos a serem alcançados. Assim entende-se que o Orçamento passa a se relacionar diretamente com os resultados. Para Pires (2001, p13),

O Orçamento Participativo nada mais é do que fazer o Orçamento-Programa (dominando, pois os conceitos e a técnica que lhe são inerentes), tomando por base as decisões políticas referenciadas em processo de discussão de prioridades com a população organizada (o que exige, por sua vez, o domínio de outros conceitos e técnicas).

Percebe-se que o Orçamento-Programa está intimamente ligado as novas formas de participação e nesse caso do Orçamento Participativo. Entendido, o Orçamento-Programa, como forma de atingir objetivos e não se restringir a números e unidades. O Brasil passou por mais de 20 anos de ditadura militar e opressão social. Com a Constituição de 1988, que preconiza o Estado como democrático de direito, bem como a autonomia dada aos entes federativos e a defesa de que o povo é dono do poder surge a participação popular no controle das ações públicas do governo, assim. Constituição de 1988 em seu artigo 1°§ diz que: “Todo poder emana do povo, que exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição” (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988).

A Constituição da República contempla tanto a democracia representativa como a democracia participativa. Dessa forma, têm-se os mecanismos da participação política direta dos cidadãos. Nos anos de 1980, perto de ocorrer à consolidação da Constituição de 1988, o Orçamento participativo teve novo enfoque, por meio dos movimentos comunitários existentes no período. Para Albuquerque (2004, p. 23) “[...] o Orçamento Participativo constitui- se em um processo de consulta e debates sobre o Orçamento público municipal, que tem se ampliado a cada ano”.

Para esse autor o papel primordial do Orçamento Participativo é saber a opinião da população sobre seus interesses na gestão pública. Já para Santos (2009),

O Orçamento Participativo nasce dessa ruptura de concepções hegemônicas de globalização. Surge com os processos de resistências, iniciativas de base, inovações comunitárias e movimentos populares que reagem à exclusão social, vindo abrir espaços para a participação popular e, consequentemente, a inclusão social.

Democracia é um modelo de governo no qual o poder e a responsabilidade cívica são

exercidos por todos os cidadãos, diretamente ou através dos seus representantes livremente eleitos. Democracia é um conjunto de princípios e práticas que protegem a liberdade humana. Em outras palavras é a institucionalização da liberdade. Para a Embaixada Americana:

Democracia vem da palavra grega “demos” que significa povo. Nas democracias, é o povo quem detém o poder soberano sobre o poder legislativo e o executivo. Embora existam pequenas diferenças nas várias democracias, certos princípios e práticas distinguem o governo democrático de outras formas de governo.

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Como já citado, anteriormente, a Constituição de 1988 traz a democracia como forma de agir do governo, pois o povo passou a fazer parte das decisões políticas e também a controlar a execução das decisões. A democracia participativa nada mais é do que a junção da execução desses direitos à participação popular por meio dos mecanismos constitucionalmente garantidos.

O país tem na contemporaneidade transformações crescentes em busca da vivência de uma sociedade justa e igualitária. A participação popular nas decisões políticas leva a uma maior eficácia no desenvolvimento das ações governamentais contribuindo para a nação em geral.

Este objetivo de inclusão social está relacionado com a inclusão política, o acesso ao processo decisivo estando tradicionalmente reservado a uma elite econômica. Eis a razão pela qual a segunda palavra de ordem relativamente aos Orçamentos participativos é a de democratizar radicalmente a democracia (GENRO; SOUZA, 1998, p.103).

2.1 Conceito de Município

O Município deve ser entendido como o espaço físico em que ocorre a produção de bens e serviços, e onde realmente são implementadas as ações, sejam de origem Federal, Estadual ou mesmo Municipal, ou ainda de origem privada. Conforme Ckagnazaroff (1989, p. 105), “[...] o Município é um espaço político aberto, articulado em uma rede de relações sociais, econômicas e políticas que vão constituir a sociedade política nacional, não obstante geograficamente delimitado”.

O Município ganha, então, papel de cogestor que está diretamente relacionado com as reais demandas da sociedade. É, portanto, o centro das atividades humanas, políticas, econômicas e sociais. Assim, nessa esfera é que nascem os interesses do povo e suas necessidades imediatas. Por isso, só o próprio Município é capaz de reconhecer suas necessidades e elaborar seus planos e metas de desenvolvimento de maneira eficaz. Diz a Constituição de 1988: Artigo 30 que compete aos Municípios “suplementar a legislação federal e a estadual no que couber”.

Nesse sentido, Campello e Matias (2000) apresentam a justificativa seguinte enfatizando a nova proposta trazida para os Municípios. “A tendência do Município em agregar competências que antes eram dos Estados e da União é devido à exaustão do modelo centralizado e à carência econômica destas esferas governamentais”. (CAMPELLO; MATIAS, 2000, p. 22).

É no município que se exercem, diariamente, nossa cidadania e os gestores municipais desempenham função primordial como elos entre os cidadãos e o poder público. A visão que os usuários dos serviços oferecidos pelas administrações municipais têm do papel do poder público na Democracia depende em grande medida da forma como a gestão municipal é conduzida nas atividades de interesse público.

A publicidade trata-se de um princípio orçamentário de grande importância no planejamento e execução orçamentária. Preconiza a necessidade de todos os atos dos governos a serem de conhecimento do povo. Uma gestão divulgada traz a garantia de que poderão ser feitas mudanças naquilo que não está coerente com a lei orçamentária anual e com as decisões da população. É também forma de punir as irregularidades com o dinheiro público para haver eficiência bem como economicidade nas despesas de cada gestão. Constituição federal em seu artigo 165§ 3° que “o poder executivo publicará, até 30 dias após o Encerramento de cada bimestre, relatório resumido da execução orçamentária”.

O princípio da Transparência ou Clareza indica que nenhum conteúdo orçamentário poderá ficar de fora, pois o legislador deve saber a real intenção do executivo na elaboração

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da lei orçamentária. Diz o artigo 165° da Constituição federal que “o projeto de lei orçamentária será acompanhado de demonstrativo Regionalizado do efeito, sobre receitas, despesas decorrentes de isenções, anistias, remissões, subsídios e benefícios de natureza financeira, tributária e creditícia”.

Por esse princípio o orçamento deve trazer com fidelidade e transparência ingressos e gastos Públicos. O orçamento não pode ser encoberto ou dissimulado. Dessa forma, cabe, também, à população utilizar-se desses mecanismos para conhecer a despesa pública e poder agir durante a execução dela. “Transparência também se refere à capacidade que a Administração Pública tem de apresentar informações, quando é questionada, tornando-se para os cidadãos e outros interessados em acessar estas informações municipais.” (TEIXEIRA, 2006, p. 206). 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Esta pesquisa é de natureza qualitativa. Para levantamento de dados foram usados documentos e entrevistas. Os documentos utilizados foram as leis federais, a Constituição Federal, as leis que elaboram o Orçamento Público como Planejamento plurianual (PPA), Lei de Diretrizes Orçamentárias e a Lei Orçamentária Anual. Também foram utilizadas as leis municipais como Lei Orgânica do Município e a Lei Orçamentária Anual do Município.

Para as entrevistas, foram escolhidos moradores do Município de Limoeiro-PE de faixa etária entre 25 a 65 anos de idade. A pesquisa foi feita tanto com homens como mulheres. O critério principal foi categoria profissional, pois dessa forma se teria diferentes perspectivas de acordo com a realidade e vivência de cada um. E também integrantes da gestão do Município que formam as pastas da Secretaria de Finanças e Secretaria de Administração do Município. As questões foram em algumas entrevistas reformuladas de acordo com a necessidade e também diante do desenrolar foram feitos alguns acréscimos. Para análise dos dados foi usada a análise de conteúdo envolvendo as fases de pré-análise, categorização, qualificação e interpretação dos dados.

As entrevistas foram elaboradas para entender questões sobre a relação da população com a Prefeitura Municipal de Limoeiro-PE. A escuta individual de pessoas residentes no município de diferentes categorias profissionais e escolaridade mostrou as diferentes opiniões e os diferentes olhares que a sociedade possui diante da vida orçamentária do ente Municipal. Para Bauer e Gaskell (2008, p.68) “a finalidade real da pesquisa qualitativa não é contar opiniões ou pessoas, mas ao contrário, explorar o espectro de opiniões, as diferentes representações sobre o assunto em questão”. As entrevistas foram realizadas entre as datas de 30 de novembro de 2012 a 02 de dezembro de 2012. Entre os selecionados estão: Psicólogo, Funcionários Públicos, Professor, Aposentado, Empregada Doméstica e também foram entrevistados alguns integrantes da gestão do Município que formam as pastas da Secretaria de Finanças e Secretaria de Administração do Município.

Para análise dos dados, a partir das entrevistas foram elaborados dois quadros para fazer uma análise dos pontos positivos e negativos do objeto estudado. Esses quadros são formados por palavras e frases de acordo com a proposta de Categorias e Codificação de Bauer e Gaskell (2008, p.199). Para esses autores, “a codificação e, consequentemente, a classificação dos materiais colhidos na amostra, é uma tarefa de construção, que carrega consigo a teoria e o material da pesquisa”. E ainda “embora o corpus de texto esteja aberto a uma multidão de possíveis questões, a Análise de Conteúdo interpreta o texto apenas à luz do referencial de codificação, que constitui uma seleção teórica que incorpora o objetivo da pesquisa” (BAUER; GASKELL, 2008, p.199).

4 RESULTADOS E ANÁLISE DOS RESULTADOS

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O território que era ocupado pela cidade de Limoeiro compreendia uma Sesmaria onde existia um aldeamento de índios. Pelos anos de 1730 e 1740, o Padre Ponciano Coelho era o missionário encarregado da catequese desses índios. Esse Padre cujos trabalhos principais foram a reforma da igrejinha que, toda de palha, teve suas paredes de taipa coberta de telhas. Devoto de Nossa Senhora da Apresentação a tornou padroeira da Paróquia. Essa igreja é de grande importância para a história do lugar.

Pela Carta Régia de 16 de junho de 1786, Limoeiro tornou-se Distrito, 26 anos depois se tornou Vila. Pela Lei Municipal nº 2, de 19 de dezembro de 1892, Limoeiro passou a ser cidade. Só em 6 de abril de 1893 Limoeiro tornou-se município autônomo, data da sua Emancipação Política. Teve como primeiro prefeito o Coronel Antônio José Pestana, o primeiro juiz o Dr. Firmino Monteiro e o primeiro vigário o Pe. Bartolomeu Monteiro da Rocha2.

Nesse contexto, é que se tem o Município de Limoeiro-PE, que como não poderia ser diferente, estava atrelado ainda as formas absolutistas de governo e nessa situação marcado pelo coronelismo. No contexto atual o Município de Limoeiro-PE é marcado pela tendência trazida pela Constituição de 1988 que é a descentralização política e a autonomia municipal como forma de governar e tomar suas decisões. Contexto esse trazido com a crescente busca por democracia e cidadania do fim do século XX e início do século XXI.

Dagnino (2002, p. 10), nesse sentido, diz que A redefinição da noção de cidadania, empreendida pelos movimentos sociais e por outros setores na década de 1980, aponta na direção de uma sociedade mais igualitária em todos os seus níveis, baseada no reconhecimento dos seus membros como sujeitos portadores de direitos, inclusive aquele de participar efetivamente na gestão da sociedade.

Limoeiro situa-se na Mesorregião do Agreste de Pernambuco, Microrregião do Médio Capibaribe, no Agreste. A sede do município está situada na bacia do Capibaribe e dista a 77 quilômetros da capital do Estado. As rodovias PE 90 e BR 408 ligam Limoeiro à capital. Sua localização geográfica Agreste, microrregião Médio Capibaribe, distante 77 km do Recife. Apresenta um território de 204km1. A população segundo fonte do IBGE é de 56.772 habitantes2. Sua economia é basicamente rural e no setor urbano boa parte é comércio. A população em sua maioria busca trabalhar e estudar fora da cidade por haver poucas oportunidades no Município.

4.1 Lei Orgânica e Leis Orçamentárias do Município de Limoeiro-PE.

A Constituição de 1988 trouxe em seu bojo a municipalização como fonte primária para a resolução das primeiras demandas apresentadas pela população. O Município é o ente federativo que vê de perto as reais necessidades do povo. Dessa forma cada ente possui uma Lei Orgânica que deve seguir as normas gerais da Constituição, mas que deve complementa-la se houver lacunas nas leis. Além disso, deve garantir autonomia ao Município para tomar decisões econômicas, financeiras de forma democrática e cidadã.

Para Guimarães Neto e Araújo (1998, p. 56), Os espaços locais têm, assim, ganhado crescente relevância. As cidades passam a ser concebidas como atores políticos relevantes, capazes de assumir a centralidade das ações de intervenções nas diferentes esferas da vida social e de atuar como elo [...] entre a sociedade civil, a iniciativa privada e as diferentes instâncias do Estado.

1 http://www.limoeiro.pe.gov.br/historia.aspx

2 http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm.

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Assim a cidade passa a ser protagonista de um cenário no qual tem se chegado perto dos objetivos concretos do povo. Sem falar que também é evidente a presença do setor privado e do terceiro setor na contribuição para os objetivos públicos. Diz a Lei Orgânica do Município de Limoeiro (2005),

Art. 2º - O município, como entidade autônoma e básica da Federação, será administrado: I - com transparência nos atos e ações; II - com moralidade administrativa; III - de forma descentralizada; IV - garantida a efetiva participação popular direta.

A autonomia consiste na busca do governo se posicionar na condição de não só tomar

suas decisões políticas bem como ser responsável pelas decisões, por meio da garantia à população de uma gestão digna, transparente e participativa. Assim diz a Lei Orgânica do Município de Limoeiro (2005)

Art. 1º - O Município de Limoeiro, do Estado de Pernambuco, integra, com autonomia político-administrativa, a República Federativa do Brasil, como participante do Estado Democrático de Direito, comprometendo-se a respeitar, valorizar e promover seus fundamentos básicos, estabelecidos no Art. 1º da Constituição Federal.

E ainda sobre a participação popular ressalta Art. 3º - O Município de Limoeiro reger-se-á pela Lei Orgânica, atendidos os princípios básicos vigentes na Constituição da República e do Estado, assegurando a soberania popular exercida: I - pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com igual valor para todos II - pelo plebiscito; III - pelo referendo; IV - pelo veto; V - pela iniciativa popular no processo legislativo; VI - pela participação popular nas decisões do Município e no aperfeiçoamento democrático de suas instituições; VII - pela ação fiscalizadora sobre a administração pública.

Na participação cidadã para Gohn (2000, p. 57)

[...] a categoria central deixa de ser a comunidade ou o povo e passa a ser a sociedade. O conceito de participação cidadã está baseado na universalização dos direitos sociais, na ampliação da cidadania e numa nova compreensão sobre o papel e o caráter do Estado, remetendo à definição das prioridades nas políticas públicas, a partir de um debate também público.

Com essa afirmação nota-se que a participação popular não se restringe a um ou mais

cidadãos, mas a toda sociedade e vai além de normas passa a ter uma valorização dos direitos sociais como também uma mudança no entendimento do papel do Estado e da sociedade civil.

O Município durante o mandato eletivo, assim como na esfera federal, desenvolve seu planejamento de governo durante cada mandato. A Lei Orçamentária Anual (LOA) é elaborada no ano anterior a sua execução e, portanto nela que está de fato a receita prevista e a despesa fixada para o exercício posterior. No município de Limoeiro-PE o período de votação ocorre até o dia 30 de novembro e a população pode participar da votação assistindo a mesma na Câmara Municipal da cidade. Diz em seu artigo 1°:

Esta Lei estima a Receita do Município para o exercício financeiro de 2013 no montante e fixa a despesa em igual valor, compreendendo, nos termos do art.165§5 da Constituição Federal de 1988 e a Lei Municipal que estabeleceu as Diretrizes Orçamentárias para o exercício 2013.

No entanto, as arrecadações feitas no Município objtivam manter os gastos públicos

necessários a manutenção da população. Diz o artigo 3° da LOA

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A Lei orçada será realizada mediante a arrecadação de tributos e demais receitas correntes e de capital, na forma da legislação em vigor, discriminada no anexo I, que integra e acompanha esta lei, distribuída por categoria econômica e origem, sendo: Receitas correntes, de capital, correntes intraorçamentárias, RPPS e deduções de receitas.

A LOA também aponta a fixação da despesa que se desdobra em Orçamento fiscal e da seguridade social, como aponta o artigo 5 ° da citada lei de 2012, “a despesa total é fixada nos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social, no mesmo valor da Receita, discriminada por Função, Poderes e Órgãos em R$”. O mais importante analisado até agora é que mais que um instrumento com valores, gastos e arrecadações a LOA é uma aliada do povo na garantia de seus direitos e no conhecimento do orçamento de seu município.

Por meio da lei a população encontra-se politicamente organizada para exigir direitos e benefícios para conseguir ganhos a sua cidade. Conforme isso ocorra haverá a emancipação dos cidadãos como protagonistas de direitos e deveres que se compreendem como atores sujeitos de opinião que buscam sua integração na sociedade de forma efetiva como cidadãos responsáveis e articulados na dinâmica da democracia.

4.2 Participação da População na elaboração e execução orçamentária

A população de Limoeiro-PE é de médio porte. Ainda existe uma falta de acompanhamento da população das decisões políticas de seus governantes. Talvez isso exista por uma característica histórica ainda evidenciada na cidade que é o comodismo. No entanto, realizadas as entrevistas com pessoas domiciliadas no Município, bem como com a gestão administrativa da cidade pode-se perceber aspectos diferentes no que diz respeito ao Orçamento Participativo.

A gestão informou o quanto a Prefeitura busca ter uma gestão democrática e participativa. Assim, foi afirmado que para cada projeto de lei orçamentário é averiguada a necessidade das comunidades, principalmente os distritos de Limoeiro-PE que são Cedro-Vila Urucuba, Mendes, entre outros. A consulta é feita no período que antecede a elaboração da LOA, em seguida são feitas algumas adaptações de acordo com a receita e as dotações orçamentárias para que se possa realizar as obras que o povo precisa.

Nem sempre são feitas por falta de recursos financeiros, mas quando realizadas o povo participa na inauguração e acompanha a execução, assim pode opinar a população no momento posterior a elaboração orçamentária, pois a gestão busca fazer perguntas para saber se os resultados foram satisfatórios. Em contrapartida as pessoas entrevistadas que se situam em categorias profissionais diferentes apresentam em sua maioria concepções divergentes da apontada pela gestão.

Eles afirmam que não há divulgação dessa consulta a população para elaborar a LOA e nem tão pouco são informados de quando haverá a votação do projeto de lei na Câmara. A justificativa para eles é de que não seja interessante para o governo esse tipo de divulgação, bem como a população se reserva apenas a condição de coadjuvante. Dessa forma, a sociedade não tem interesse por falta de informação e devido a uma cultura de “troca de favores” em vez de ir à busca dos direitos socialmente e historicamente construídos.

Quanto a isso, Pires (2001, p. 137) indica que Não é possível promover a participação popular na elaboração e execução do orçamento sem uma base de informações ampla e confiável. [...] E se o Orçamento Participativo constituir-se em pressão para que isso ocorra, estará dando uma contribuição para civilizar a gestão pública no país.

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No quadro 1 estão os aspectos positivos que demonstram a opinião da Gestão e também da população a respeito de como se tem dado a participação popular e a efetivação da democracia nas decisões políticas do ente Municipal. O referido quadro apresenta os pontos fortes que são levantados pela gestão e a sociedade. São os anseios do povo e também o modo como é visto nos dois lados da relação Prefeitura-população o estabelecimento da cidadania e participação.

Planejamento Pagar tudo com

dinheiro e dotação Modelo de gestão por resultados.

Tem-se uma administração neoclássica e moderna.

O Prefeito dialoga com a população por meio da rádio e pergunta ao povo.

Governo Participativo

Democracia: Governo do povo, pelo povo e para o povo.

Estabelecer metas e buscar o cumprimento.

Gastos com responsabilidade.

A população se manifesta sim em busca de direitos.

Prefeitura Itinerante

Povo possa participar. Escutar a população.

Existe a lei que pede que se coloque os orçamentos a público.

As obrigações básicas que a gestão Municipal tem com o cidadão são cumpridas.

A prioridade das Comunidades.

O povo tem o direito de ser beneficiado.

Políticos técnicos. Bem-estar coletivo Participação

Demanda da necessidade da população

Obras para o povo: saneamento, calçamento, praça.

A Prefeitura pergunta se a comunidade está satisfeita.

Ganhos: Disciplina do trânsito e Padronização dos feirantes e acessibilidade.

Alguns distritos possuem maior dialogo com a Prefeitura devido a atuação de seus vereadores.

Quadro 1 – Pontos Positivos da Gestão Municipal de Limoeiro-PE. Fonte: Elaborado pelos autores.

No Quadro 2 são apresentado os fatores que impedem o desenvolvimento da participação popular na Gestão pública Municipal. E principalmente os obstáculos para que o povo participe da criação e execução do Orçamento Público do Município.

Recursos mínimos. As pessoas ainda

participam do jogo político.

A Gestão tem resistência em tomar sugestões.

A maioria não se preocupa com o que ocorre com os gastos públicos

A população não exige obras de imobilidade e planejamento urbano.

Emendas que dificultam o projeto de lei –LOA

Votação do Orçamento não é divulgado.

A Prefeitura ainda governada por figuras políticas tradicionais.

A Saúde quando procura-se, falta.

A cidade passa por um processo de favelização.

Crise com a seca no Município.

A população não é ativa junto à Prefeitura.

Ainda há a cultura do coronelismo.

È preciso melhorar a saúde e educação.

Limoeiro ainda tem muitas deficiências.

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Desinteresse da população.

Prefeitura não fornece transporte público para estudantes das Universidades Federal e Estadual (em Recife)

Existe uma ideologia muito forte.

Falta divulgação do Orçamento.

A cidade está sendo reformulada de uma maneira desordenada e arbitrária.

Não há relação próxima Prefeitura e a população.

Não existe na cidade uma biblioteca pública de qualidade.

Falta de informação não ajuda a população a cobrar seus direitos.

Não há crescimento, parece que tudo estacionou.

As pessoas simplesmente desconhecem seus direitos.

Quadro 2 – Pontos Negativos na Gestão Municipal de Limoeiro-PE. Fonte: Elaborado pelos autores.

O que se percebe é ainda um impasse. Esse impasse formado por opiniões divergentes

que deixa a população dividida entre alguns benefícios e antigas posturas ainda adotadas dentro do Município. Quando se fala em participação no Município percebe-se que já existem muitas reações da população em relação a isso e que a mesma busca seus direitos. Principalmente em aspectos como problemas de saneamento, de uma obra que está parada há muito tempo, dentre outros. Porém, a população ainda não conhece, em sua maioria, o objetivo do Orçamento Participativo.

Os relatos mostram que a administração municipal faz consultas em algumas comunidades sobre suas necessidades para colocar no Orçamento do Município. Mas não existe uma forma organizada e pragmática de fazer o Orçamento Participativo tendo em vista que não são todos os bairros que são beneficiados por um mesmo projeto. Outro ponto relevante é que muitos entrevistados colocam que a população ainda adormece diante de seus direitos e que por conta da cultura antiga de “troca de favores” se acomoda. No entanto, muitos deles assumem que não buscam se informar sobre a temática da Gestão Orçamentária do seu Município.

Vale ressaltar ainda que a democracia vista em seu sentido mais amplo não é concretizada na maioria dos segmentos da população, não só do Município, mas também do país. Entretanto, a democracia se estabelece de forma gradual desde o fim do período da ditadura até os dias de hoje, por meio de pequenas conquistas que a população adquiriu e ainda consegue nos dias de hoje.

Percebe-se que a população, de maneira geral, sabe o que é democracia e sabe também o que são direitos. Talvez ainda não saiba os meios de busca-los ou de efetiva-los. Isso ocorre infelizmente em muitos Municípios do país por ainda existir uma cultura de “apaziguamento”, na qual falta muito para se modificar.

Sobre a divulgação do Orçamento falta um maior entrosamento do ente Municipal com a sociedade. Só aqueles que se interessam é que ficam sabendo de algumas informações, ou seja, geralmente vão até a Prefeitura ou a Câmara para se informar ou ainda conhecem alguém que trabalha no meio político e passa as informações. As opiniões dos entrevistados são consensuais de não há divulgação da votação do projeto de lei. Nenhum dos meios de comunicação como panfletos, carro de som, rádio ou outros meios que socializem para todos que haverá votação da LOA do ano seguinte na Câmara Municipal.

Os entrevistados também responderam que os motivos para não haver essa divulgação é simplesmente o desinteresse dos governantes na participação da população. Pois, haveria muitas cobranças e isso para o governo não seria interessante. Além de não existir uma relação mais próxima da Prefeitura com a população nesse sentido. Em consequência, a população sem a divulgação termina por não conhecer seu papel na fiscalização do

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Orçamento. Além disso, fica mais difícil a população fazer exigências daquilo que não sabe, sem falar que a democracia participativa deixa de ser concretizada.

Um questionamento surge a partir desse fato: Por que é difícil conseguir informações que deveriam ser disponíveis em Municípios como Limoeiro-PE? Por que isso ocorre? A resposta é que Municípios, como Limoeiro, ainda jovens têm uma política ainda marcada pelo antigo coronelismo. No decorrer das entrevistas foi citado que ainda existe a política “do pão e circo” que o povo se conforma com algumas festividades e segue em frente.

Por outro lado, os governantes ainda marcados por figuras políticas tradicionais se preocupam com inaugurações de praças as quais estão retirando as árvores da cidade. E não se importam com a ampla divulgação dos gastos públicos e de publicar para o povo o que é feito na cidade. Limoeiro é um Município autônomo dotado de direitos e deveres notórios na Constituição Federal bem como em sua Lei Orgânica. Depois de tantas lutas por democracia infelizmente ainda é possível perceber a falta de informação que impede a sociedade de exercê-la. Assim, fica uma reflexão: se o povo soubesse a força política social que tem, com certeza as mudanças já estariam acontecendo. 5 CONCLUSÕES

Este trabalho teve o propósito de ampliar o debate a cerca das novas concepções democráticas na Gestão Pública Municipal. Dessa forma, foi procurado focalizar a participação cidadã nas decisões políticas do Município e principalmente na Gestão Orçamentária anual. Compreendeu-se, a partir da pesquisa, a necessidade de se implantar pela Gestão Municipal mecanismos que ampliem a participação popular na Administração financeira e orçamentária do ente municipal. Ou seja, ações que incentivem a população a participar ativamente da Gestão Pública.

Com isso, serão reduzidas as falhas existentes nos gastos públicos e se terá gestores realmente comprometidos com o ajustamento de recursos para melhorar a distribuição de renda e ainda evitar fraudes nos cofres públicos. Para assim, cumprir-se o que preconiza a Constituição Federal, as leis orçamentárias, a Lei de Responsabilidade Fiscal- LRF bem como a Lei Orgânica municipal no que diz respeito à transparência, publicidade e participação democrática.

Partindo da perspectiva de que a participação cidadã é um direito coletivo, que é garantido constitucionalmente a partir da trajetória da democracia na história política brasileira. As dificuldades dos cidadãos do Município em encontrarem informações sobre gastos públicos e outras que são de relevância, pois se apresentam no cotidiano devido às práticas tradicionais de governar.

Contudo, torna-se inegável as conquistas que a população já tem conseguido ao longo dos anos, sobretudo no que diz respeito a fazer algumas cobranças e exigir direitos nos meios de comunicação que possuem acesso. De acordo com isso, foi procurado expor a garantia ao direito de participação democrática nos mecanismos de controle social que a população possui para compreender até que ponto a população sabe o que se passa no governo de seu Município e mais precisamente com seu dinheiro público.

O material utilizado para pesquisa e principalmente as entrevistas feitas a população bem como a gestão da cidade, trouxe a tona a necessidade cada vez mais emergente de se consolidar a participação cidadã em torno das decisões políticas. Pois, diante dos problemas enfrentados para acompanhar a Gestão Municipal foi verificado a necessidade de envolvimento de todos.

Compreende-se que a ausência da implantação do Orçamento Participativo feito de forma organizada e planejada além de um controle social eficaz e permanente formam as dificuldades de se preservar a democracia e garantir uma Gestão transparente. Para que essa

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seja executada sem desvios, fraudes, e comprometida com as metas e resultados para a população.

Nesse sentido, percebe-se que o trabalho de um Gestor vai além de cumprir pastas na Prefeitura. Deve ser pautada numa postura democrática e cidadã que garanta ao povo serem transmitidos seus anseios e que o povo se reconheça como agente de direitos e obrigações. Para poder exigir melhorias para sua cidade, pois é seu direito ter melhores condições de vida e saber o que se passa com os recursos provenientes do Estado.

Assim, percebe-se que a participação cidadã ganha espaço e o povo começa a ter mecanismos de controle social determinados na Constituição e garantidos pela Administração pública. No entanto, na prática o que ainda se vê é que a sociedade em muitos municípios não utiliza de tais mecanismos para garantir seus direitos. Ainda existe o comodismo e a espera de favores para poder escolher seus governantes. Além de que a população não busca se informar da política de seu Município se dedica apenas na votação nos dias de eleição. Mas, não buscam direitos, não se informam de suas garantias que estão preconizadas constitucionalmente.

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