parte xxiv

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Quinta da Confusão – O nascimento de um império 116 Apesar de ter havido um touro a causar prejuízos na Quinta da Confusão, a vida dos animais prosseguia como normalmente. A economia monetária, bastante desenvolvida devido à Corrida ao Fogo, prosseguia com a sua existência. A feira acumulava já mais de 100.000 euros, e a Casa da Moeda reduzira o fabrico de dinheiro ao mínimo porque o seu director achou que já havia dinheiro suficiente em circulação. Os estragos que o touro tinha feito nessa economia em nada a abalaram. Mas uma outra coisa ameaçava abalar a economia monetária da Quinta da Confusão: a superprodução. O director da feira já antes se começara a aperceber de que havia muita gente a vender mercadorias e pouca gente a comprá-las, mas não deu importância ao facto. Mas, às 17:30, percebeu que algo estava a correr mal. O armazém estava cheio de mercadorias e cada vez ficava mais cheio, enquanto que as reservas de dinheiro da empresa, contrariando o que se verificara desde a criação da feira, estavam a descer. O director da feira, ao ver que a empresa estava a perder dinheiro, viu que, de facto, a feira estava com problemas. Porque motivo, após tanto tempo de crescimento económico, isso se sucedia? Após pensar um pouco, o director da empresa encontrou a resposta. Os animais da Quinta da Confusão produziam muitas mercadorias, e vendiam-nas constantemente para a feira. Os novos instrumentos, como o machado e o novo tipo de arado, aumentaram ainda mais a produção, mas a procura de mercadorias descia cada vez mais. A procura de barras de ferro aumentava, mas em compensação também aumentava o número de instrumentos de ferro que não eram vendidos. Os novos instrumentos deveriam dar ainda mais dinheiro à feira, mas apenas um certo número de animais precisava desses instrumentos. Quando a procura era saciada, esta caía para níveis bastante baixos (os animais passavam a comprar instrumentos só quando os seus se partiam). O director da feira percebeu que a única coisa que impedira a feira de perder dinheiro mais cedo fora a criação de novos instrumentos, que disfarçaram a falta de procura dos já existentes. O animal implementou medidas para tentar pôr a empresa a ganhar dinheiro: 1. Reduziu bastante o dinheiro a entregar por cada compra de mercadoria, fosse ela qual fosse; 2. Procedeu à destruição de mercadoria em excesso na feira. Toneladas de mercadorias foram destruídas neste processo; 3. Reduziu também os preços dos produtos para tentar atrair os animais a comprarem mais coisas As medidas fizeram efeito rapidamente. O director da feira conseguiu fazer com que a feira passasse a ganhar dinheiro, embora os lucros fossem apenas ligeiramente maiores do que as despesas, e pôs fim à crise que ameaçava a economia a Quinta da Confusão. Mas teria mesmo? O director da feira percebeu que não. Como a feira passava a pagar muito menos

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Parte XXIV de «O nascimento de um império»

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Page 1: Parte XXIV

Quinta da Confusão – O nascimento de um império

116

Apesar de ter havido um touro a causar prejuízos na Quinta da Confusão, a vida dos animais prosseguia como normalmente. A economia monetária, bastante desenvolvida devido à Corrida ao Fogo, prosseguia com a sua existência. A feira acumulava já mais de 100.000 euros, e a Casa da Moeda reduzira o fabrico de dinheiro ao mínimo porque o seu director achou que já havia dinheiro suficiente em circulação. Os estragos que o touro tinha feito nessa economia em nada a abalaram. Mas uma outra coisa ameaçava abalar a economia monetária da Quinta da Confusão: a superprodução. O director da feira já antes se começara a aperceber de que havia muita gente a vender mercadorias e pouca gente a comprá-las, mas não deu importância ao facto. Mas, às 17:30, percebeu que algo estava a correr mal. O armazém estava cheio de mercadorias e cada vez ficava mais cheio, enquanto que as reservas de dinheiro da empresa, contrariando o que se verificara desde a criação da feira, estavam a descer. O director da feira, ao ver que a empresa estava a perder dinheiro, viu que, de facto, a feira estava com problemas. Porque motivo, após tanto tempo de crescimento económico, isso se sucedia? Após pensar um pouco, o director da empresa encontrou a resposta. Os animais da Quinta da Confusão produziam muitas mercadorias, e vendiam-nas constantemente para a feira. Os novos instrumentos, como o machado e o novo tipo de arado, aumentaram ainda mais a produção, mas a procura de mercadorias descia cada vez mais. A procura de barras de ferro aumentava, mas em compensação também aumentava o número de instrumentos de ferro que não eram vendidos. Os novos instrumentos deveriam dar ainda mais dinheiro à feira, mas apenas um certo número de animais precisava desses instrumentos. Quando a procura era saciada, esta caía para níveis bastante baixos (os animais passavam a comprar instrumentos só quando os seus se partiam). O director da feira percebeu que a única coisa que impedira a feira de perder dinheiro mais cedo fora a criação de novos instrumentos, que disfarçaram a falta de procura dos já existentes. O animal implementou medidas para tentar pôr a empresa a ganhar dinheiro:

1. Reduziu bastante o dinheiro a entregar por cada compra de mercadoria, fosse ela qual fosse;

2. Procedeu à destruição de mercadoria em excesso na feira. Toneladas de mercadorias foram destruídas neste processo;

3. Reduziu também os preços dos produtos para tentar atrair os animais a comprarem mais coisas

As medidas fizeram efeito rapidamente. O director da feira conseguiu fazer com que a feira passasse a ganhar dinheiro, embora os lucros fossem apenas ligeiramente maiores do que as despesas, e pôs fim à crise que ameaçava a economia a Quinta da Confusão. Mas teria mesmo? O director da feira percebeu que não. Como a feira passava a pagar muito menos

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dinheiro pelas mercadorias vendidas do que antes, menos de metade do valor original, os animais responderam passando a produzir desenfreadamente mercadorias para não perderem dinheiro, e em breve o saldo económico da feira voltava a ser negativo. O director da feira não teve outra hipótese senão destruir ainda mais produtos e reduzir ainda mais o dinheiro a entregar aos vendedores, e a reacção era sempre o aumento da produção para fazer face a isso. Era uma situação aparentemente sem escapatória, pois tanto a feira como os animais se esforçavam para não perderem dinheiro. Até onde iria a já chamada Crise do Dia 5?

19:30 Habitantes: 270

Duas horas após o começo da Crise do Dia 5, a situação na Quinta da Confusão tinha estabilizado num patamar bastante mau. A feira reduzira ao máximo o dinheiro a entregar aos vendedores (davam 10 cêntimos por kg de erva, por exemplo), e mantivera os preços dos produtos como dantes. Os animais, afectados pela descida dos lucros que obtinham com a venda das suas mercadorias, tentavam desesperadamente produzir o máximo que conseguissem para ganhar mais dinheiro, e a feira não conseguia combater isso senão queimando o excesso de produção. O saldo económico da feira estabilizara numa péssima zona: de cada vez que se contava o dinheiro da feira, esta tinha uns milhares de euros a menos do que da última contagem. Os animais também perdiam dinheiro, e estavam agora a viver da quantia que tinham ganho nas horas anteriores. Era uma situação insustentável, quer para a feira quer para os animais, e ninguém sabia o que iria acontecer se a situação se mantivesse por mais umas horas. Mas a Crise do Dia 5 teria um fim, e a maneira de lá chegar foi descoberta pelo director da Casa da Moeda. Ao ver os donos a caçarem aves com os outros membros da SCCA, já com várias aves mortas ao pé de si, lembrou-se de que quantos mais animais a Quinta da Confusão tivesse, mais gente havia para comprar mercadorias, logo, a aumentar a procura. Mas os novos animais, para terem dinheiro para comprar coisas, primeiro teriam que criar algo, e era preciso outra táctica para se juntar à primeira e acabar com a crise. Foi o director da feira que deu a solução: negociar com os animais. O animal falou com os muitos clientes que se acumulavam à porta da feira para venderem os seus produtos, e acabaram por decidir o seguinte:

1. Os animais da Quinta da Confusão moderariam as suas desenfreadas produções de mercadorias, para diminuir a oferta;

2. A feira regularia o dinheiro a entregar aos vendedores e os preços das mercadorias de acordo com o nível de oferta e procura, de

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momento o dinheiro a entregar aos vendedores voltaria aos níveis antes da Crise do Dia 5;

3. A situação estava agora normalizada para os animais, mas continuava a ser insustentável para a feira. Por isso, iniciar-se-ia a captura de animais racionais no exterior da quinta, para haver mais gente a comprar mercadorias. Logo, a procura aumentaria.

A feira fez de imediato as alterações previstas nos preços e no dinheiro a entregar aos vendedores, enquanto que os animais pararam de produzir desenfreadamente mercadorias e voltaram aos ritmos de produção anteriores à Crise do Dia 5. Faltava era iniciar-se a captura animal, para que a feira também pudesse reerguer-se da crise que lhe levara uma parte considerável do seu dinheiro. Dez animais ofereceram-se para saírem da quinta em busca de animais para levarem para a Quinta da Confusão. Os dez partiram então, em 3 barcos a remos (se fossem em dois não haveria espaço para os novos habitantes da quinta), para sul da quinta. Levando consigo archotes acesos, pois estava a escurecer, os 10 afastaram-se da Quinta da Confusão com remadas vigorosas, até terem percorrido 200 metros. Estavam numa zona desconhecida para os animais da quinta, pois nunca nenhum deles estivera a sul da quinta. Os 10 animais acharam que já estavam suficientemente distantes da Quinta da Confusão, então remaram para a margem direita da ribeira, saíram dos barcos e arrastaram-nos para terra. Depois, segurando os archotes, avançaram pelo desconhecido em busca de algum animal, embora soubessem que havia a hipótese de não verem um sequer. Alguns minutos depois, passaram por um cão irracional. Percebia-se que era irracional, pois andava nas 4 patas e ladrou quando viu os 10 animais, em vez de falar. Estes deixaram o cão e continuaram a andar. Mas, pouco depois, viram duas vacas perfeitamente racionais, pois andavam com 2 patas e conversavam entre si. Os 10 animais perceberam que tinham encontrado o que pretendiam: animais racionais razoavelmente perto da Quinta da Confusão. Falaram com as duas vacas e ouviram a sua história: as duas estavam num pequeno terreno agrícola, algures, quando se tornaram racionais (possivelmente no Dia 1) juntamente com os outros animais desse terreno. O dono era uma boa pessoa e tratava os animais bem, mas tencionava vendê-los para o mercado. Então, na noite do Dia 1, os animais do terreno fugiram e cada um seguiu o caminho que quis. As duas vacas permaneceram juntas, e durante os dias seguintes seguiram pelo desconhecido sem destino certo, comendo ervas onde as achassem e dormindo onde quer que fosse. No caminho, haviam encontrado outros animais que tinham deixado os seus donos, quer por os donos os quererem vender ou matar quer por simples vontade de partir.

Um dos animais da Quinta da Confusão comentou «Portugal é um sítio que fervilha de vida. Nas cidades encontram-se imensas pessoas, e no

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campo encontram-se imensos animais. Não há sítios vazios». A verdade era que os 10 animais puderam constatar que existiam 3 tipos de animais racionais: aqueles que estavam dentro das quintas e que construíram as suas civilizações lá; aqueles que tinham deixados os donos e se haviam aventurado no desconhecido; e também aqueles que estavam presos em mercados ou matadouros, como tinham estado quase todos os animais da Quinta da Confusão. As duas vacas aceitaram ir viver para a Quinta da Confusão, depois de 4 dias a vaguear pelos campos portugueses. Importa dizer que as condições dos animais que tinham fugido dos donos e que viajavam pelos campos não eram das melhores, sobretudo em zonas frias. Nem sempre havia comida, e a cama era sempre a neve fria ou a terra e pedras incómodas. Os 10 animais deram nomes às vacas, explicaram-lhes resumidamente a história da Quinta da Confusão e a sua situação na actualidade e depois levaram-nas nos barcos para a quinta. As vacas tornaram-se madeireiras, e usando instrumentos emprestados em breve conseguiram arranjar dinheiro para comprar os seus. Com eles obtiveram madeira suficiente para, com o dinheiro da sua venda, comprarem uma carroça e um barco. Os 10 animais voltaram depois ao exterior da Quinta da Confusão em busca de mais animais viajantes, e conseguiram levar para a quinta mais 8. A população da quinta, pela primeira vez desde sempre, subia sem ser por intervenção dos donos, alcançando 270 animais. Mas outros animais também decidiram partir para a captura, não para trazerem animais racionais mas sim para apanharem animais irracionais. Com efeito, era árduo para os animais terem que rebocar eles mesmos as suas carroças carregadas de mercadorias. A captura animal possibilitava aos animais arranjarem cavalos para puxarem as carroças e acelerarem o seu transporte. Mas logo surgiu um problema: como atrelar as carroças aos cavalos? As cordas eram a solução, mas não havia couro para as fabricar. Até essa altura, pois a captura animal possibilitava o abate de animais irracionais para serem esfolados, e para se fazerem cordas com a sua pele. Um cientista partiu em busca de uma vaca ou de um cavalo para abater e esfolar. Quando encontrou o animal que procurava, matou-o, esfolou-o e fez duas novas invenções com a sua pele: a corda e a argola de couro.

Índice de Tecnologia:

Militar -1 (escudos de árvore) Transportes-2 (Aéreos-0) (Marítimos -1) (barco a remos de Modelo 1) (Terrestres-1) (carroça de 2 rodas) Civil -14 (arado, foice, madeira, caixa de madeira, ferro, pregos, balde, escada, botijas de ar, machado, banheira, canalizações, corda, argola de couro)

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Construções-5 (estufas, abrigo nocturno, Casa da Moeda, feira, altos-fornos)

A corda era o que os animais procuravam, e a argola era um complemento para se atrelarem cavalos às carroças. Punha-se a argola no cavalo, atava-se uma ponta da corda à argola, a outra à carroça e o veículo estava pronto para andar. Mas o ideal era atrelarem-se 2 cavalos à carroça, pois esta tinha largura suficiente para isso. E foi isso que numerosos animais da Quinta da Confusão fizeram. Foram para o exterior da quinta e capturaram vários cavalos selvagens, que depois atrelaram às suas carroças. Quem não tinha carroça apanhava cavalos para montar. Em breve, a maioria da população da Quinta da Confusão tinha cavalo, um meio de transporte útil para percorrer grandes distâncias ou para rebocar carroças carregadas. Só tinha uma desvantagem: não podia nadar com montadas ou atrelado a carroças. A solução era contornar a ribeira pela nascente, viagem que o cavalo completava rapidamente. Com efeito, se só levasse um animal podia atingir os 60 km\h. Uma carroça era mais lenta, a não ser que não tivesse carga e só levasse o condutor a bordo. De qualquer forma, a velocidade desses veículos bastava para os animais da quinta: contando com o desvio pela nascente da ribeira, um animal podia atravessar a Quinta da Confusão em 3 minutos ou menos.

A caçada na Quinta da Confusão rendera dezenas de aves à SCCA, que insistira ao máximo em continuar a actividade. Mas a noite ditou, por fim, o final da caçada de 2 horas. Os donos e os companheiros levaram então as aves para a casa dos Gomes, e lá começaram a preparar o jantar. Esfolaram as aves, tiraram-lhes as entranhas e acenderam o grelhador eléctrico para grelharem a carne. Essa tarefa ocupava alguns membros da SCCA, entre eles os donos. Outros descascavam as batatas para as porem a fritar, e os restantes punham a mesa, sem esquecer os copos com as bebidas que cada um queria. Os 15 membros do grupo estavam esfomeados, depois de uma tarde inteira de actividades (a caçada na Quinta da Confusão fora só o final), e o cheiro da carne grelhada ainda lhes aguçou mais o apetite. Por isso, os donos e os companheiros que juntamente com eles preparavam a carne apressaram-se a levar para a mesa as primeiras aves grelhadas. A mesa estava preparada para 8 pessoas, pelo que se teve de estender as abas da mesa para assim poder lá estar toda a SCCA (ainda assim, tiveram que se apertar as cadeiras para caberem todos). Mas a verdade era que não dava muito jeito grelhar as aves todas de seguida, pois assim as últimas a serem comidas já estariam frias. Então, grelharam-se apenas metade das aves de uma vez. O resto ficaria para quando a SCCA comesse a carne já grelhada. O jantar dera trabalho, pois não era muito fácil esfolar e tirar as entranhas às aves. Mas compensou bastante, pois o sabor das batatas fritas e da carne grelhada coberta de ketchup, mostarda e maionese era realmente bom.