parques urbanos - sua evolução histórica e importância para cidade

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Universidade Federal da Paraíba Centro de Tecnologia Coordenação de Arquitetura e Urbanismo Estágio Supervisionado PARQUES URBANOS: Sua evolução histórica e importância para cidade André Baltazar de Lima – 11111256 Orientadora: Prof.ª Marília Dieb João Pessoa Julho/2014

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Estágio Supervisionado a respeito de Parques Urbanos.

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  • Universidade Federal da Paraba Centro de Tecnologia

    Coordenao de Arquitetura e Urbanismo

    Estgio Supervisionado

    PARQUES URBANOS: Sua evoluo histrica e importncia para cidade

    Andr Baltazar de Lima 11111256 Orientadora: Prof. Marlia Dieb

    Joo Pessoa

    Julho/2014

  • SUMRIO

    1. INTRODUO .............................................................................................................. 2 2. EVOLUO DOS PARQUES URBANOS ................................................................... 3

    2.1. Antecedentes ........................................................................................................... 3 2.2. Contexto Internacional ............................................................................................ 5 2.3. Contexto Nacional ................................................................................................... 8 2.4. Contexto Local ........................................................................................................ 12

    3. TIPOLOGIA DOS PARQUES URBANOS ................................................................... 16 3.1. Parques Contemplativos .......................................................................................... 16 3.2. Parques Recreativos ................................................................................................ 17 3.3. Parques Ecolgicos ................................................................................................. 18 3.4. Parques Patrimoniais ............................................................................................... 20

    4. IMPORTNCIA DOS PARQUES URBANOS ............................................................. 21 5. CONSIDERAES FINAIS .......................................................................................... 22 REFERNCIAS .................................................................................................................. 23

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    1. INTRODUO

    Os parques urbanos so espaos pblicos destinados recreao e preservao de meios naturais e/ou culturais, com dimenses significativas e predominncia de elementos naturais, especialmente a cobertura vegetal, no sendo diretamente influenciados em suas configuraes por nenhuma estrutura construda em seu entorno, conforme conceituam KLIASS (1993, p. 19) e MACEDO; SAKATA (2002, p. 14).

    Com o reconhecimento de sua importncia para salubridade urbana e para qualidade de vida da populao, alm de seu papel fundamental nas questes de preservao ambiental e patrimonial, os parques urbanos tornaram-se objeto de interesse dos rgos administrativos e de estudos acadmicos, podendo-se observar sua difuso em diversos locais do mundo, como na Europa e nos Estados Unidos.

    Com o objetivo de embasar teoricamente uma futura proposta de parque urbano para cidade de Joo Pessoa, a ser desenvolvida nas disciplinas TFG I e II durante os perodos 2015.1 e 2015.2, o presente trabalho apresenta um breve histrico dos parques urbanos nos contextos internacional, nacional e local, identifica as principais tipologias e destaca a sua importncia para os centros urbanos e, especialmente, para populao.

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    2. EVOLUO DOS PARQUES URBANOS

    2.1. Antecedentes

    Na Antiguidade Clssica, a gora (Figura 1), praa grega, foi o primeiro local pblico de reunio, debate e lazer (LOBODA; DE ANGELIS, 2005, p. 127). Em Roma, conforme explica DIEB (1999, p. 22), os grandes espaos abertos presentes na malha urbana eram centros polticos e comerciais, como o Frum Romano (Figura 2), ou eram destinados a competies esportivas e manifestaes artsticas: os estdios e anfiteatros.

    Figura 1: Gravura da gora de Atenas Fonte: http://greekworldhistory.blogspot.com

    Figura 2: Gravura do Frum Romano Fonte: http://www.fotosimagenes.org/antigua-roma

    Aps a queda do Imprio Romano, o excedente populacional que no conseguiu se estabelecer no campo formou, sobre as runas romanas, as cidades medievais (Figura 3), cercadas por muralhas como estratgia de defesa (DIEB, 1999, p. 22-23). Devido s suas altas densidades populacionais, os espaos livres eram exguos e resultavam do encontro e prolongamento das ruas estreitas e tortuosas, enquanto os jardins eram privados, localizados no interior de edificaes, principalmente templos religiosos e residncias das classes mais abastadas, conforme explicam DIEB (1999, p. 23) e FLORES; GONZLEZ (2007, p. 917).

    Figura 3: Gravura de cidade medieval, com suas muralhas e poucos espaos livres Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Nuremberg_chronicles_-_Nuremberga.png

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    Apenas no Sculo XV, com a derrubada das muralhas, as cidades europeias expandiram-se por reas planas e amplas, onde foram construdos jardins e praas com fontes esculturais, esttuas, colunas e obeliscos (DIEB, 1999, p. 28), adornando principalmente os palcios reais, para usufruto apenas da nobreza.

    De acordo com LOBODA; DE ANGELIS (2005, p. 128), com o Renascimento, no Sculo XVI, os jardins, especialmente na Frana, buscaram a concepo cenogrfica em grande escala, destacando-se aspectos como a perspectiva, a uniformidade simtrica e o refinamento esttico. A partir do Sculo XVIII, principalmente na Inglaterra, os jardins abandonam o rigor geomtrico do Classicismo (Figura 4) e buscam maior semelhana com a natureza (Figura 5), assumindo assim a configurao de parques, conforme explicam DIEB (1999, p. 30) e FERREIRA (2005, p. 22).

    Figura 4: Jardim Francs Renascentista, marcado pelo rigor geomtrico Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/fb/Chateau-Villandry-JardinsEtChateau.jpg

    Figura 5: Pintura de Jardim Ingls do Sculo XVIII, marcado pela paisagem buclica Fonte: http://charlesrangeleywilson.com/2014/02/23/the-rocks-beneath-us/hannan/

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    2.2. Contexto Internacional

    A principal fonte inspirao do parque urbano foi o modelo paisagstico dos jardins ingleses, que no Sculo XVIII, com a progressiva ascenso da burguesia, foram abertos paulatinamente ao pblico e incorporados malha urbana (Figura 6), tornando-se locais de reunio social, conforme explicam KLIASS (1993, p. 20), DIEB (1999, p. 30) e MELO (2013, p. 25). Alm da abertura dos jardins da Corte, os primeiros parques ingleses tambm surgiram com empreendimentos imobilirios promovidos pela iniciativa privada (Figura 7) (KLIASS, 1993, p. 20).

    Figura 6: Saint James Park, antigo jardim real londrino

    Fonte: http://www.grahamclarke.org.uk

    Figura 7: Buxton Pavillion Gardens, parque ingls construdo pela iniciativa privada

    Fonte: http://commons.wikimedia.org

    A partir de meados do Sculo XIX, especialmente na Europa, os efeitos negativos da industrializao no espao urbano (Figura 8), como a poluio do ar e dos rios, associados s pssimas condies de higiene das cidades (Figura 9), atingiram um ponto crtico, com grandes epidemias e inmeras mortes, conforme explicam DIEB (1999, p. 34) e FLORES; GONZLEZ (2007, p. 917).

    Figura 8: Gravura de Londres durante a Revoluo Industrial, destacando-se a intensa poluio

    Fonte: http://www.studyblue.com

    Figura 9: Gravura de bairro operrio em Londres, marcado pela insalubridade e doenas

    Fonte: http://www.studyblue.com

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    Estudos da poca, conforme explica VIGARELLO (1996, p. 172), apontaram a vida no campo como uma referncia de sade, devido ao baixo ndice de mortalidade e longevidade de sua populao, sendo sua atmosfera purificada o principal diferencial em relao vida urbana. Dessa forma, por intermdio da corrente dos mdicos higienistas, atribuiu-se cobertura vegetal o papel saneador, purificador e amenizador do clima nas cidades, destacando o papel de praas e parques como pulmes urbanos (DIEB, 1999, p. 35; FERREIRA, 2005, p. 22; MELO, 2013, p. 33).

    Na Inglaterra, essa preocupao com a salubridade das cidades, originou as Leis Sanitrias, primeiros instrumentos prticos do urbanismo moderno (OTTONI, 2002, p. 25), que fomentaram novos padres de planejamento urbano. Dentre os modelos desenvolvidos nessa poca, destaca-se o movimento Garden City, liderado por Ebenezer Howard, que pops cidades providas de amplos espaos verdes, as Cidades-Jardim (Figura 10) (FLORES; GONZLEZ, 2007, p. 918). Foram construdas incialmente duas cidades inglesas conforme esse modelo, Letchworth, de 1904 (Figura 11), e Welvyn, de 1920 (Figuras 12 e 13), que influenciaram o urbanismo por todo o mundo (OTTONI, 2002, p. 56).

    Figura 10: Diagrama para Cidade-Jardim, por Howard

    Fonte: http://www.city-analysis.net

    Figura 11: Vista area de Letchworth, Inglaterra, marcada pelas extensas reas verdes Fonte: http://www.letchworth.com

    Figura 12: Vista area de Welvyn, Inglaterra, marcada por sua arborizao e reas verdes

    Fonte: http://stock.jasonhawkes.com

    Figura 13: rea verde pblica em Welvyn Garden City, Inglaterra

    Fonte: http://www.homesandproperty.co.uk

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    Na Frana, Haussmann, com sua interveno na cidade de Paris entre 1853 e 1870 (Figura 14), aproveitou as grandes florestas que pertenceram Coroa e estabeleceu um sistema de parques urbanos (Figura 15) interligados por grandes avenidas, as Boulevards, conforme explicam KLIASS (1993, p. 22) e DIEB (1999, p. 33).

    Figura 14: Plano de Paris, por Haussmann, destacando-se os parques urbanos interligados pelas Boulevards Fonte: http://www.flickr.com

    Figura 15: Bois de Boulogne, parque parisiense projetado por Haussmann Fonte: http://www.explorerparis.com/wp-content/uploads/2012/11/Bois-de-Boulogne.jpg

    Tambm em meados do Sculo XIX, desenvolveu-se nos Estados Unidos o Movimento dos Parques Americanos, cujo principal personagem foi Frederick Law Olmsted, que influenciou fortemente o desenho das cidades americanas com a insero de seus parques urbanos, como em Nova York (Figuras 16 e 17), Chicago (Figura 18) e Boston (Figura 19) (KLIASS, 1993, p. 22).

    Figura 16: Planta do Central Park, Nova York, por Olmsted Fonte: http://www.geographicus.com

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    Figura 17: Central Park, Nova York Fonte: http://commons.wikimedia.org

    Figura 18: Jackson Park, Chicago Fonte: http://www.vimbly.com/chicago/

    Figura 19: Boston Public Garden Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Boston_Public_Garden_panorama.jpg

    Nesse perodo, segundo FERREIRA (2005, p. 23) e FLORES; GONZLEZ (2007, p. 918-919), os parques urbanos desempenharam um importante papel social, buscando simultaneamente melhorar a qualidade de vida da populao e prover espaos para recreao, descanso e contemplao da natureza, demandas necessrias com o novo ritmo acelerado de vida e trabalho da cidade industrial.

    De acordo com KLIASS (1993, p. 24), aps a Segunda Guerra Mundial, com a crescente importncia das questes ambientais e de preservao dos patrimnios culturais e paisagsticos, introduziu-se um novo conceito mundial de urbanizao, baseado na maior valorizao e conservao das reas verdes dos centros urbanos, revigorando a necessidade e o valor dos parques urbanos para as cidades.

    2.3. Contexto Nacional

    No Brasil, diferentemente da Europa, os parques urbanos no surgiram como uma necessidade das massas urbanas da cidade industrial do Sculo XIX, mas como uma figura complementar ao cenrio urbano sendo desenvolvido pelas elites emergentes, com inspiraes internacionais, especialmente inglesas e francesas (MACEDO; SAKATA, 2002, p. 16).

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    Porm, assim como na Europa e em outros pases americanos, boa parte dos primeiros parques brasileiros tambm promoveu expanso urbana, ocupando reas anteriormente alagadas e infectas, imprprias ocupao humana (DIEB, 1999, p. 31).

    Um desses primeiros exemplares brasileiros o Passeio Pblico da cidade do Rio de Janeiro, criado em 1783, por ordem do vice-rei Lus de Vasconcelos de Souza, aproveitando uma rea alagadia, que permitiu a expanso da capital colonial na direo sul, conforme explica DIEB (1999, p. 31). Foi projetado por Mestre Valentim, com um traado geomtrico inspirado nos clssicos jardins franceses (Figura 20) (MACEDO; SAKATA, 2002, p. 18), sendo inicialmente aberto apenas s elites.

    Figura 20: Planta original do Passeio Pblico do Rio de Janeiro por Mestre Valentim Fonte: http://ashistoriasdosmonumentosdorio.blogspot.com.br/2011/12/o-passeio-publico-do-rio-de-janeiro.html

    Com a chegada da Famlia Real Portuguesa em 1808, so realizadas reestruturaes e modernizaes em diversas cidades brasileiras, principalmente o Rio de Janeiro, sede da Coroa na poca, para atender s novas funes administrativas, conforme explicam MACEDO; SAKATA (2002, p. 16) e FERREIRA (2005, p. 24).

    Nesse contexto, implantado no Rio de Janeiro um novo parque, o Campo de Santana, em 1873, de acordo com o novo padro europeu, de inspirao na natureza (Figura 21) (MELO, 2013, p. 43). Na mesma poca o Passeio Pblico totalmente reformado, perdendo o traado neoclssico para um projeto moderno, com gua serpenteante e caminhos orgnicos (Figuras 22 e 23) (MACEDO; SAKATA, 2002, p. 19).

    Figura 21: Campo de Santana, Rio de Janeiro, parque urbano de carter contemplativo Fonte: http://travelexperiencesreginahelena.blogspot.com.br/2010/12/rio-de-janeiro-16-parte.html

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    Figura 22: Planta da reforma do Passeio Pblico do Rio de Janeiro por Glaziou Fonte: http://ashistoriasdosmonumentosdorio.blogspot.com.br/2011/12/o-passeio-publico-do-rio-de-janeiro.html

    Figura 23: Passeio Pblico do Rio de Janeiro, marcado pelo traado orgnico Fonte: http://travelexperiencesreginahelena.blogspot.com.br/2010/12/rio-de-janeiro-16-parte.html

    A partir de meados do Sculo XVIII, foram instalados em diversos centros urbanos brasileiros, como Belm, Rio de Janeiro, Olinda, Ouro Preto e So Paulo, os Jardins Botnicos, inicialmente com a finalidade de investigar cientificamente a flora e conhecer suas propriedades, qualidades e potencialidades (DIEB, 1999, p. 37). Porm, durante o Sculo XIX, com a reduo do interesse na pesquisa, muitos deixaram de existir, enquanto outros se tornaram, parcial ou totalmente, passeios pblicos, como o Jardim Botnico do Rio de Janeiro (Figura 24), conforme explicam DIEB (1999, p. 38) e MACEDO; SAKATA (2002, p. 22-23).

    Figura 24: Jardim Botnico do Rio de Janeiro Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Jardim_Bot%C3%A2nico,_Rio_de_Janeiro

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    O parque urbano brasileiro durante o Sculo XIX um grande cenrio importado, alheio s necessidades da populao urbana da poca, que usufrua dos vazios urbanos, como terreiros e vrzeas de rios, os quais foram (...) por mais de cem anos, os verdadeiros antecessores das reas de lazer urbano formais (MACEDO; SAKATA, 2002, p. 24). Segundo MACEDO; SAKATA (2002, p. 24) e MELO (2013, p. 50), apenas com a reduo e desaparecimento desses vazios urbanos durante o Sculo XX, os equipamentos voltados ao lazer urbano pblico tornaram-se uma necessidade social.

    Nos anos 1950, o programa dos parques urbanos ampliado, com uma maior valorizao dos esportes e do lazer cultural, sendo ento gradativamente abandonados a composio romntica e os objetos pitorescos (MACEDO; SAKATA, 2002, p. 35). Nessa poca, conforme narra MELO (2013, p. 49), so inauguradas duas grandes referncias para os parques urbanos nacionais: o Parque do Ibirapuera (Figura 25), em 1954, em So Paulo, e o Parque do Flamengo (Figura 26), em 1962, no Rio de Janeiro.

    Figura 25: Parque do Ibirapuera, So Paulo Fonte: http://www.jornalcorrida.com.br/runbrasil/wp-content/uploads/2013/09/ibira.png

    Figura 26: Parque do Flamengo, Rio de Janeiro Fonte: http://www.institutolotta.org/o_parque.html

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    No entanto, de acordo com MACEDO; SAKATA (2002, p. 37) e MELO (2013, p. 50), a multiplicao dos parques urbanos pelo Brasil foi desencadeada apenas a partir do final dos anos 1960, quando diversos municpios estruturaram parte de seu marketing na criao de reas verdes pblicas, no mais voltadas apenas para as elites.

    A partir da dcada de 1980, conforme explicam MACEDO; SAKATA (2002, p. 43) e FERREIRA (2005, p. 25), a questo da preservao ambiental institucionalizada no Brasil, sendo criados diversos rgos pblicos municipais a fim de gerenciar parques e praas. Por outro lado, os projetos de parques pblicos tornaram-se gradativamente mais simples, em contraste com o requinte de seus antecessores, tanto devido poltica de conteno de custos pblicos como pela diversidade do pblico atendido, muito maior e menos exigente que as elites do Imprio e da Primeira Repblica. (MACEDO; SAKATA, 2002, p. 46).

    Segundo MACEDO; SAKATA (2002, p. 48), atualmente, a maioria dos parques urbanos resulta de adaptaes modestas de reas abandonadas, jardins anteriormente privados ou at mesmo parques antigos, sendo poucos os novos parques com projetos requintados e programas que realmente considerem as necessidades da populao.

    2.4. Contexto Local

    Em Joo Pessoa, o processo de urbanizao ocorreu a partir da regio central em direo ao litoral, gerando uma reduo considervel das reas vegetadas em decorrncia da ocupao residencial e da realizao de obras de infraestrutura (SEMAM, 2012, p. 27).

    Embora haja legislao ambiental nos mbitos municipal, estadual e federal, o patrimnio natural da cidade, que deveria estar sendo protegido, permanece sendo apropriado por ocupaes ilegais de grupos de baixa e de alta renda, principalmente em fundos de vale e encostas, e pela expanso urbana promovida pela especulao imobiliria, com suas edificaes de alto padro, especialmente no litoral Sul, a exemplo do Altiplano Cabo Branco (SILVA, 2012, p. 6).

    Alm da ameaa a flora e fauna locais, o avano da ocupao dessas reas vegetadas tambm prejudica a qualidade de vida urbana, visto que reduz os benefcios do verde urbano para a cidade e sua populao. Para tentar conter essa situao, foram e permanecem sendo criados parques e unidades de conservao em Joo Pessoa. Atualmente, segundo levantamento realizado pela SEMAM (Figura 27), h dez parques municipais e dois parques estaduais em Joo Pessoa, porm a maioria ainda no est efetivamente implantada.

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    Figura 27: Levantamento de Parques no Municpio de Joo Pessoa Fonte: SEMAM, 2012

    O Parque Zoobotnico Arruda Cmara (Figura 28), o mais antigo da cidade, possui extenso de aproximadamente 26,8 hectares e insere-se num resduo de Mata Atlntica no bairro de Tambi, conforme explicam SILVA (2012, p. 8) e SEMAM (2012, p. 61). No Sculo XIX, essa rea foi desapropriada, sendo ento implantada em Joo Pessoa a primeira experincia para preservao de uma nascente, a Bica de Tambi, que na poca era responsvel pelo abastecimento de gua na parte alta da cidade (SILVA, 2012, p. 8).

    O parque foi inaugurado em 1922, nomeado em homenagem ao frade carmelita e naturalista Manuel Arruda Cmara, sendo oficialmente registrado pelo IBAMA como Parque Zoobotnico apenas em 1999 (SEMAM, 2012, p. 61). Atualmente, bastante visitado pela populao, apresentando remanescentes florestais significativos, alm de animais nativos e exticos, que podem ser observados em seu zoolgico (SILVA, 2012, p. 8).

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    Figura 28: Parque Arruda Cmara, Joo Pessoa Fonte: http://www.joaopessoa.pb.gov.br

    O Parque Slon de Lucena (Figuras 29 e 30) encontra-se no entorno da lagoa de mesmo nome, no Centro de Joo Pessoa, ocupando uma rea de 150.000 m. Conforme narra SILVEIRA (2004, p. 147), a lagoa era um charco envolvido por mata fechada e foco de malria at o incio da dcada de 1920, quando foi realizado o saneamento dessa rea, permitindo sua urbanizao e tambm a expanso da cidade em direo ao litoral.

    Figura 29: Vista area do Parque Slon de Lucena, Joo Pessoa

    Fonte: http://felipegesteira.com

    Figura 30: Vista do Parque Slon de Lucena, em Joo Pessoa, com seus ips floridos

    Fonte: http://www.joaopessoa.pb.gov.br

    Em 1924, o parque foi implantado, com nome em homenagem o governador da poca, Slon Barbosa de Lucena (SILVEIRA, 2004, p. 152). No entorno da lagoa, foram plantadas palmeiras imperiais, alm dos ips, que se tornaram smbolo da cidade de Joo Pessoa. Em 1980, o parque foi tombado pelo IPHAEP, servindo atualmente como anel virio central da cidade (SILVA, 2012, p. 8), o que compromete sua integridade e funo.

    Os outros dez parques levantados pela SEMAM permanecem ainda em fase de implantao. O Parque Cabo Branco, no Altiplano Cabo Branco (Figura 31), por exemplo, foi delimitado em 2005 com objetivo de recuperar e preservar suas fauna e flora, alm de desenvolver atividades de pesquisa cientfica e educao ambiental (SEMAM, 2012, p. 60).

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    A ideia de sua implantao surgiu com a construo da Estao Cabo Branco, obra assinada por Oscar Niemeyer, que alm de ter desmatado parte da vegetao existente, estimulou a expanso imobiliria para o setor sul da cidade, onde h grandes pores de Mata Atlntica (SILVA, 2012, p. 8).

    Figura 31: Estao Cabo Branco e o Parque Cabo Branco, Joo Pessoa Fonte: http://g1.globo.com/pb/paraiba

    O Parque Lauro Pires Xavier, com aproximadamente 22,3 hectares, foi criado em 2002, na confluncia do bairro Jardim Treze de Maio com o bairro de Tambi, prximo ao Parque Arruda Cmara, com objetivo de preservar a nascente do Rio das Bombas, alm de sua vegetao exuberante e suas encostas ngremes (SEMAM, 2012, p. 60). Atualmente, uma rea degradada pelo depsito de lixo e pela poluio de seu rio, alm de seu entorno est totalmente ocupado por residncias, comrcios e edifcios pblicos (SILVA, 2012, p. 9).

    O Parque Ecolgico Augusto dos Anjos, no bairro de Gramame, com 1,42 hectares foi criado em 2006, e embora esteja cercado, no houve ainda um projeto urbano implantado, servindo apenas de campo de futebol (SILVA, 2012, p. 9; SEMAM, 2012, p. 60). J o Parque Ecolgico Jaguaribe, criado em 2007, est localizado entre duas importantes avenidas da cidade, a Beira Rio e a Epitcio Pessoa, sendo uma rea atualmente utilizada para depsito de entulho e queima de lixo (SILVA, 2012, p. 9).

    Outros parques municipais ainda em fase de projeto so o Parque Municipal Bosque das guas, na nascente do Rio Cabelo, em Mangabeira, criado em 2008; o Parque Linear Parahyba, de 2010; e o Parque Natural do Cui, de 2011. Tambm ainda no esto efetivamente implantados os Parques Estaduais do Arat e do Jacarap.

    Portanto, as iniciativas recentes do poder pblico em Joo Pessoa tratam apenas de delimitar e, em alguns casos, cercar reas destinadas a parques, porm sem realmente prover espaos de lazer e convvio social para populao, de forma que, conforme explica SILVA (2012, p. 12), essas reas verdes no cumprem sua funo social e ambiental e permanecem sendo apropriadas ilegalmente.

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    3. TIPOLOGIA DOS PARQUES URBANOS

    3.1. Parques Contemplativos

    Os primeiros parques urbanos, que surgiram em meados do Sculo XIX como resposta aos efeitos negativos da urbanizao e industrializao, eram contemplativos. Segundo CRANZ (2000), apresentavam uma vasta paisagem de rvores, colinas onduladas, cursos de gua sinuosos e amplas lagoas, ou seja, um cenrio agrrio idealizado, normalmente localizado na periferia das cidades, onde a terra era mais barata, alm de ser a implantao mais adequada para se distanciar da vida urbana.

    Nos Estados Unidos, o principal designer desse tipo de parque foi Frederick Law Olmsted, sendo sua obra de destaque o Central Park (Figura 32), de 1858, em Nova York, primeiro parque urbano norte-americano, cujo estilo de paisagem pastoral serviu de modelo para outros grandes parques na Amrica (FERREIRA, 2005, p. 23; MELO, 2013, p. 28).

    Figura 32: Central Park, Nova York Fonte: http://talent.natgeocreative.com/assets/resources/michael-yamashita-landscape-travel-10.jpg

    De acordo com CRANZ (2000), um dos elementos mais marcantes desse modelo de parque urbano so suas vias de circulao sinuosas, em oposio s ruas retas e ortogonais da cidade. No Central Park, Olmsted separou o trfego de pedestres do de veculos para que uma criana pudesse usufruir do parque sem precisar prestar ateno aos carros, inovao que se tornou parte do planejamento urbano (CRANZ, 2000).

    No Brasil, os primeiros parques urbanos, como o Campo de Santa (Figura 21) e o Passeio Pblico na cidade do Rio de Janeiro (Figura 23), tambm surgiram no decorrer do Sculo XIX, influenciados pelos parques europeus, apresentando o mesmo carter contemplativo, com uma paisagem romntica e buclica que perdurou na maioria dos parques brasileiros at o final do Sculo XX (MACEDO; SAKATA, 2002, p. 64).

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    3.2. Parques Recreativos

    No Sculo XX, a recreao ativa torna-se uma necessidade em destaque, provocando grandes mudanas, tanto funcionais como morfolgicas, na estrutura dos parques urbanos, conforme explicam CRANZ (2000) e MACEDO; SAKATA (2002, p. 65).

    Nos Estados Unidos e na Europa, surgem nesse perodo os parques de bairro (Figura 33) e complexos recreativos (Figura 34), onde se destacam os playgrounds, as quadras esportivas e as piscinas (CRANZ, 2000).

    Figura 33: OConnor Neighborhood Park, parque de bairro norte-americano Fonte: http://www.dillondesignassociates.com/Oconnor2.jpg

    Figura 34: Park Spoor Noord, parque recreativo europeu Fonte: http://nieuwslijn.be/wp-content/uploads/2014/06/Cargo-zomerbar.jpg

    J no Brasil, o cenrio buclico e o lazer contemplativo permanecem, porm a valorizao das atividades recreativas diversifica o uso dos parques, no apenas com a introduo do lazer esportivo (Figura 35), com quadras e playgrounds, mas tambm o lazer cultural e educativo (Figura 36), com museus, anfiteatros, bibliotecas e teatros (MACEDO; SAKATA, 2002, p. 65), a exemplo do Parque do Flamengo, no Rio de Janeiro e o Parque do Ibirapuera, em So Paulo.

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    Figura 35: Quadras Esportivas no Parque do Flamengo, de 1962 Fonte: http://www.sportspace.eu/en/project/parque-do-flamengo/

    Figura 36: Museu de Arte Moderna, de 1948, no Parque do Flamengo Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:MAM_-_Museu_de_Arte_Moderna_do_Rio_de_Janeiro_02.jpg

    3.3. Parques Ecolgicos

    O parque ecolgico possui como principal objetivo a conservao de um recurso ambiental especfico, normalmente um bosque e/ou curso dgua, sendo constitudo por algumas reas voltadas recreao ativa, como playgrounds, e reas maiores voltadas ao lazer contemplativo e educao ambiental, com trilhas para caminhadas (MACEDO; SAKATA, 2002, p. 13).

    Destacam-se os Parques Lineares, instrumento de planejamento e gesto das margens urbanas dos cursos dgua, cuja funo de destaque, alm da preservao ambiental, garantir a permeabilidade do solo dessas reas, auxiliando na drenagem urbana (FRIEDRICH, 2007, p. 58).

    Um dos primeiros parques lineares o Emerald Necklace (Figuras 37 e 38), conjunto de parques urbanos interligados, implantado por Frederick Law Olmsted em Boston, entre 1887 e 1895, s margens do Rio Muddy, desaguando no Rio Charles (FRIEDRICH, 2007, p. 47).

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    Figura 37: Mapa do Emerald Necklace, em Boston Fonte: http://www.hike4life.org/emerald-necklace-tours

    Figura 38: Vista area de trecho do Emerald Necklace, em Boston Fonte: http://www.hike4life.org/emerald-necklace-tours

    Atualmente, em diversos pases, como Estados Unidos, Canad e Espanha (Figura 39), a implantao de parques lineares busca recuperar rios e crregos urbanos degradados e/ou canalizados, reintegrando-os malha urbana atravs dos novos espaos pblicos de convvio e lazer (FRIEDRICH, 2007, p. 60).

    Figura 39: Parque Linear do Rio Turia, Valencia, Espanha Fonte: http://www.feetuphostelsblog.com/2012/03/river-turia-feetup-hostels.html

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    3.4. Parques Patrimoniais

    Segundo SABAT; LISTA (2001, p. 79), o Parque Patrimonial (Figuras 40 e 41) uma identidade complexa, com trs fundamentos principais: desenvolvimento econmico, interesse social e conservao ambiental. Os primeiros parques patrimoniais surgiram nos Estados Unidos e na Europa durante a dcada de 1970 (MARTINS; COSTA, 2009, p. 55), tendo como objetivo recuperar reas em crise econmica a partir da revalorizao de seu patrimnio cultural e ambiental.

    Figura 40: Parc Riu Llobregat, Barcelona, Espanha Fonte: http://www.parcriullobregat.cat/imatges/Carrussel_HOME/1338551378.jpg

    Figura 41: Parc Riu Llobregat, Barcelona, Espanha Fonte: http://www.parcriullobregat.cat/imatges/Carrussel_HOME/1338559914.jpg

    Nesse tipo de parque urbano, as atividades recreativas esto vinculadas identidade cultural do local, sendo fundamentais para recuperao e diversificao econmica da regio em crise (SABAT; LISTA, p. 55). Conforme explicam SABAT; LISTA (2001, p. 79) e MARTINS; COSTA (2009, p. 65), so realizadas atividades como excurses educativas e tursticas, passeios de bicicleta e de barco, eventos artsticos e festivais folclricos e gastronmicos, promovendo assim um contato com a paisagem natural e com o cotidiano e a cultural locais.

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    4. IMPORTNCIA DOS PARQUES URBANOS

    Os parques urbanos apresentam duas funes em destaque: a ambiental e a social. No aspecto ambiental, os parques tornam-se um smbolo de preservao das reas verdes urbanas e contribuem significativamente para amenizar a degradao ambiental decorrente da urbanizao acelerada, conforme explicam LOBODA; DE ANGELIS (2005, p. 129) e SILVA (2012, p. 5).

    Alm da preservao ambiental, os parques urbanos tambm desempenham um importante papel como antdotos aos males urbanos, auxiliando a regular o clima, reduzir a poluio do ar, prevenir desastres ambientais, como enchentes e deslizamentos de terra, alm de se contraporem ao excesso de aridez das massas edificadas (SILVA, 2012, p. 5; MELO, 2013, p. 45), de forma que, dentro das cidades, constituem-se os espaos mais semelhantes ao ambiente natural (LOBODA; DE ANGELIS, 2005, p. 134).

    J a funo social dos parques urbanos est diretamente relacionada oferta de espaos de lazer para toda populao (LOBODA; DE ANGELIS, 2005, p. 134), demanda decorrente da intensificao da expanso urbana e principalmente do ritmo acelerado da sociedade atual, conforme explicam KLIASS (1993, p. 19) e MELO (2013, p. 28).

    Portanto, os parques urbanos so importantes espaos amenizadores da vida urbana cotidiana, pois so ambientes propcios a uma maior socializao e um maior contato com a natureza (MELO, 2013, p. 54), influenciando diretamente na sade fsica e mental de seus usurios, de forma que se constituem elementos essenciais para melhorar a qualidade de vida da populao (LOBODA; DE ANGELIS, 2005, p. 131).

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    5. CONSIDERAES FINAIS

    Os parques urbanos desde seu surgimento, embora a maioria fosse voltada apenas s elites, desempenham um papel fundamental para melhorar a qualidade de vida de toda a populao urbana, reduzindo as consequncias negativas da industrializao e urbanizao, como a poluio, a insalubridade e degradao ambiental. No decorrer de sua evoluo histrica, especialmente durante o Sculo XX, tornaram-se efetivamente espaos pblicos de convvio social, lazer e descanso, diversificando suas funes e usos, como a implantao de atividades recreativas.

    Atualmente, independente de seu principal objetivo, seja recreao, preservao de recursos naturais e/ou patrimoniais ou simplesmente contemplao da natureza, os parques urbanos permanecem exercendo importantes funes ambientais e sociais na malha urbana, amenizando os efeitos negativos de sua expanso e seu ritmo de vida acelerados.

    Portanto, no contexto de Joo Pessoa, importante efetivar a implantao dos parques urbanos j criados pelo poder pblico e requalificar os existentes, especialmente o Parque Slon de Lucena, cuja funo de anel virio atualmente se sobressai de parque pblico, a fim de que melhor desempenhem seu papel na cidade, reduzindo e contendo a degradao ambiental e, principalmente, melhorando a qualidade de vida da populao com a maior oferta de espaos de convivncia, lazer, descanso e contato com a natureza.

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    REFERNCIAS

    CRANZ, Galen. Changing Roles of Urban Parks: From Pleasure Garden to Open Space. San Francisco: SPUR, 2000. Disponvel em: http://www.spur.org/publications/article/2000-06-01/changing-roles-urban-parks

    DIEB, Marlia de Azevedo. reas Verdes Pblicas da Cidade de Joo Pessoa: Diagnstico e Perspectiva. Joo Pessoa: Universidade Federal da Paraba, 1999.

    FERREIRA, Adjalme Dias. Efeitos positivos gerados pelos parques urbanos: o caso do passeio pblico da cidade do Rio de Janeiro. Niteri: Universidade Federal Fluminense, 2005.

    FLORES, Ramiro; GONZLEZ, Manuel de Jess. Consideraciones Sociales en el Diseo y Planificacin de Parques Urbanos. Cidade do Mxico: El Colegio Mexiquense, A.C., 2007.

    FRIEDRICH, Daniela. O parque linear como instrumento de planejamento e gesto das reas de fundo de vale urbanas. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2007.

    KLIASS, Rosa Grena. Parques Urbanos de So Paulo. So Paulo: Editora Pini, 1993.

    LOBODA, Carlos Roberto; DE ANGELIS, Bruno Luiz Domingos. reas Verdes Pblicas: Conceitos, Usos e Funes. Guarapuava: Editora Unicentro, 2005.

    MACEDO, Silvio Soares; SAKATA, Francine Gramacho. Parques Urbanos no Brasil. So Paulo: Editora da Universidade de So Paulo, 2002.

    MARTINS, Nuno; COSTA, Cludia. Patrimnio, paisagens culturais, turismo, lazer e desenvolvimento sustentvel: Parques temticos vs parques patrimoniais. Coimbra: Escola Superior de Educao de Coimbra, 2009.

    MELO, Mariana Inocncio Oliveira. Parques Urbanos: A Natureza na Cidade - Prticas de Lazer e Turismo Cidado. Braslia: Universidade de Braslia, 2013.

    OTTONI, Dacio Arajo Benedicto. Cidades-Jardim de Amanh. So Paulo: Editora Hucitec Ltda., 2002.

    SABAT, Joaquim; LISTA, Antoni. Designing the Llobregat Corridor: Cultural Landscape and Regional Development. Barcelona: Impressiones Generales, S.A., 2001.

    SEMAM. Plano Municipal de Conservao e Recuperao da Mata Atlntica. Joo Pessoa: F&A Grfica e Editora, 2012.

    SILVA, Ligia Maria Tavares da. Espaos Verdes em Joo Pessoa: Planejamento e Realidade. Joo Pessoa: Universidade Federal da Paraba, 2012.

    SILVEIRA, Jos Augusto R. da. Percursos e Processo de Evoluo Urbana: O Caso da Avenida Epitcio Pessoa na Cidade de Joo Pessoa-PB. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2004.

    VIGARELLO, Georges. O Limpo e o Sujo. So Paulo: Martins Fontes, 1996.