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PARECER JURIDICO Ementa: DIREITO PENAL. DIREITO PROCESSUAL PENAL. ERRO SOBRE A ILICITUDE. ABSOLVIÇAO DO RÉU. APROPRIACAO INDEBITA. ARTIGOS 168 E 21 DO CP. Relatório: Consta, no inquérito policial, que HÉVIO PARREIRA apropriou-se de uma carroça com pneu, caixa de madeira, sem pintura e ferragens pintadas de preto, pertencente à comunidade indígena localizada na região de Pedra Furada, município de Araguari, entre os dias 26 e 27 de maio de 2009, sendo impossível saber o exato momento em que se deu tal apropriação. O inquérito também afirma que durante tal ocasião, a carroça, propriedade do grupo indígena que havia recebido-a em razão do Programa Social MG Rural, se encontrava dentro de um galpão. O Réu teria ido até o galpão, engatado a carroça no reboque de seu automóvel, apropriando-se da mesma. Relatou, HEVIO PARREIRA, que o grupo indígena recebia diversas carroças devido a um projeto do governo estadual, embora não soubesse de qual projeto se tratava. Afirma, o réu, que cada integrante da comunidade indígena tomava para si uma carroça do projeto para desenvolver suas atividades no grupo indígena assim, quando chegou a ultima remessa de bens, apropriou-se da referida carroça por ser um membro do grupo. Porém, segundo HÉVIO, havia a conveniência de vender a carroça e trocar por uma menor, pois a carroça que se encontrava sob seus cuidados era muito grande para as suas atividades desenvolvidas. Ele negociara a carroça com um indivíduo chamado EDUARDO que, ao invés de entregar a carroça de menor porte, desapareceu com a carroça maior. EDUARDO negociou a carroça, propriedade da comunidade indígena, com LUIS LARAPIUS. HEVIO alega que desconhece LUIS e suas atividades negociais realizadas com EDUARDO. É o relatório. Fundamentaçao: Segundo o fato apresentado, é inegável que a conduta de HÉVIO configura um injusto penal pois, reúne todos os

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PARECER JURIDICOEmenta: DIREITO PENAL. DIREITO PROCESSUAL PENAL. ERRO SOBRE A ILICITUDE. ABSOLVIAO DO RU. APROPRIACAO INDEBITA. ARTIGOS 168 E 21 DO CP.

Relatrio:

Consta, no inqurito policial, que HVIO PARREIRA apropriou-se de uma carroa com pneu, caixa de madeira, sem pintura e ferragens pintadas de preto, pertencente comunidade indgena localizada na regio de Pedra Furada, municpio de Araguari, entre os dias 26 e 27 de maio de 2009, sendo impossvel saber o exato momento em que se deu tal apropriao.O inqurito tambm afirma que durante tal ocasio, a carroa, propriedade do grupo indgena que havia recebido-a em razo do Programa Social MG Rural, se encontrava dentro de um galpo. O Ru teria ido at o galpo, engatado a carroa no reboque de seu automvel, apropriando-se da mesma.Relatou, HEVIO PARREIRA, que o grupo indgena recebia diversas carroas devido a um projeto do governo estadual, embora no soubesse de qual projeto se tratava. Afirma, o ru, que cada integrante da comunidade indgena tomava para si uma carroa do projeto para desenvolver suas atividades no grupo indgena assim, quando chegou a ultima remessa de bens, apropriou-se da referida carroa por ser um membro do grupo. Porm, segundo HVIO, havia a convenincia de vender a carroa e trocar por uma menor, pois a carroa que se encontrava sob seus cuidados era muito grande para as suas atividades desenvolvidas. Ele negociara a carroa com um indivduo chamado EDUARDO que, ao invs de entregar a carroa de menor porte, desapareceu com a carroa maior. EDUARDO negociou a carroa, propriedade da comunidade indgena, com LUIS LARAPIUS. HEVIO alega que desconhece LUIS e suas atividades negociais realizadas com EDUARDO. o relatrio.

Fundamentaao:

Segundo o fato apresentado, inegvel que a conduta de HVIO configura um injusto penal pois, rene todos os elementos caracterizadores da tipicidade e da ilicitude. De acordo com Ronaldo Tanus Madeira a valorao de uma ilicitude como um injusto processa-se no instante em que o julgador considera que o agente realizou uma conduta tpica e no justificada (MADEIRA, Ronaldo Tanus. A estrutura jurdica da culpabilidade, p. 141)O ru agiu com o intuito de apropriar-se da carroa pertencente a comunidade indgena e sua conduta foi bem sucedida, verificando-se o resultado e o nexo de causalidade. A conduta de HVIO tipificada no artigo 168 do Cdigo Penal, que trata da apropriao indbita (apropriar-se de coisa alheia mvel de que se tem a posse ou deteno), cuja pena varia de 1 a 4 anos de recluso e multa. O artigo 168 difere-se dos artigos 155 e 157, que tratam, respectivamente, do furto e do roubo, pelo fato de que, no furto, a posse ou deteno da coisa mvel no se encontra com o autor, j no roubo, alm dos requisitos do furto, deve haver, ainda, emprego de violncia ou grave ameaa. indiscutvel, tambm, que o ru no agiu amparado por nenhuma das causas de excluso de ilicitude, de que trata o artigo 23 do cdigo penal, pois no agiu em estado de necessidade, legitima defesa, nem to pouco em seu estrito cumprimento do dever legal ou no exerccio regular de direito.A partir do reconhecimento do fato como um injusto penal, segundo a teoria analtica do crime, passa-se a se discutir a culpabilidade, que representa o juzo de reprovao pessoal que se faz sobre a conduta ilcita do agente (GRECO, Rogrio. Curso de Direito Penal Parte Geral, p. 145)A culpabilidade, segundo a concepo finalista, recepcionada pela maior parte da doutrina caracterizada por trs elementos, a saber: imputabilidade; potencial conscincia sobre a ilicitude do fato; exigibilidade de conduta diversa.Embora se considere a imputabilidade de HEVIO PARREIRA, a caracterizao do injusto como crime encontra barreira na analise da potencial conscincia sobre a ilicitude do fato, de que trata o artigo 21 do Cdigo Penal: O desconhecimento da lei inescusvel. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitvel, isenta de pena; se evitvel, poder diminu-la de um sexto a um tero. Diante do caso apresentado, possvel afirmar que HVIO PARREIRA, no possua, no tempo do fato ocorrido, potencial conhecimento sobre a ilicitude do seu ato, caracterizando assim, erro de proibio. sabido que o ru vivia em uma comunidade indgena que, por suas caractersticas particulares, consistia em uma sociedade paralela, regida por suas prprias normas e onde prevalecem a cooperao e confiana. Devido a esses propsitos de convivncia, cada membro da comunidade recebia uma carroa para o auxilio de suas atividades dirias em prol do grupo. Sabe-se tambm que a instruo sobre a ilicitude da conduta do ru era impossibilitada uma vez que, por se encontrar em regio rural, as resalvas da posse no eram conhecidas e nem poderiam ser conhecidas por ele, dada a dificuldade de instruo educacional e jurdica que essas comunidades enfrentam por serem isoladas parcialmente, porem suficientemente, da sociedade comum. Como a comunidade indgena entregava a posse de uma carroa, de forma livre, consciente e amparada na confiana, aos seus integrantes, o ru acreditou que ao trocar a carroa por uma que melhor lhe atenderia em suas necessidades, estaria assim agindo em beneficio da comunidade, caracterizando a boa f na sua atitude.Assim, agindo com o propsito de tornar suas atividades dirias mais eficiente e indiretamente beneficiar a comunidade, HEVIO PARREIRA negociou a mesma com EDUARDO. Este, por sua vez, sabendo da inexperincia do ru no campo das negociaes, agiu com dolo, no cumprindo sua parte da negociao, acabando por vender a carroa para um terceiro, de nome LUIS LARAPIUS, com a inteno de obter lucro, enganando o ru. inegvel, pois, que o ru no possua a potencial conscincia sobre a ilicitude do fato e nem poderia ter, dada as caractersticas tanto da comunidade quanto suas caractersticas pessoais.HEVIO PARREIRA, nas condies em que se encontrava, por ignorncia e por uma representao imperfeita da realidade, sups ser licita uma atividade que na realidade ilcita. Admitido esse fato, declara-se erro sobre a ilicitude. Pois sem esse elemento, caracterizador da culpabilidade, esta inexiste. E sem culpabilidade no h crime. Este o entendimento jurisprudencial adotado pelos tribunais em casos parecidos, onde se declara erro sobre o ilicitude devido a ignorncia do ru que age ilicitamente, acreditando agir licitamente. (ACORDAOS ANEXADOS)Embora reconhecido tanto a tipicidade quanto a ilicitude, o conceito de crime impossibilitado no estudo da culpabilidade e o ru no deve ser punido pelo injusto penal cometido.

Concluso:

A concluso corresponde a uma sntese de todas as concluses que foram tiradas na parte da fundamentao.A concluso simplesmente responde o que foi questionado pelo cliente/consulente.Caso tenha havido perguntas necessrio respond-las.Deve ser finalizada com a seguinte expresso: o parecer.E logo abaixo, a data, o local, nome e a assinatura do(a) advogado(a) e numero da OAB.Exemplo de concluso:Ante o exposto, respondendo a cada um dos questionamentos formulados na consulta, opino pela(opina-se pelo que foi perguntado). o parecer.(sempre concluir com essa frase, porque o cliente no est vinculado ao parecer)Local, data.Nome do(a)Advogado(a)OAB/XX n XXXXXX.