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O B 6 9 I U 9 U J f K K J ( J 9 f ./ & J 9 p 6 : J 3 Q ' M f t I tCNICA PODER JUDICIRIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTiA Wi ms INFORMATIVO JURDICO DA BIBLIOTECA MINISTRO OSCAR SARAIVA --ISSN- 0103 362X ~ c a r Saraiva I Superior Tribunal de - v.1,n.1- Braslia:STJ,1989 _. Justia.BibliotecaMinistroOscar CDU34Informativo Juridico da Bib. Min. Oscar Saraiva Copyright 1989 Superior Tribunal de Justia Superior Tribunal de Justia Secretaria de Documentao Biblioteca Ministro Oscar Saraiva SAFS - Quadra 6,Lote 01- Bloco "F",1 andar 70095-900 - Braslia - DF. Fone: (061) 319-9054 Fax:(061) 319-9554/319-9385 Capa Impresso:Diviso Grfica do Conselho da Justia Federal Impresso no Brasil. SUMRIO ia 1andar APRESENTAO7 DOUTRINA Adoo por Ascendente - Waldemar Zveiter11 Direito Penal e Poltica - Luiz Vicente Cemicchiaro18 O RecursoEspecial e o CdigoTributrioNacional- Ari Pargendler31 Reforma Administrativa:A Emenda nO19198 - Carlos Alberto Menezes Direito41 LIVROS Direito53 Direito Administrativo55 Direito Civil'"... ..56 Direito Comercial60 Direito Constitucional61 DireitoEconmico62 DireitoIntemacionalPblico63 DireitoPenal64 DireitoPrevidencirio66 DireitoProcessual66 DireitoProcessualCivil67 DireitoProcessualPenal69 DireitoProcessual do Trabalho..70 Direito do Trabalho71 Direito Tributrio73 ARTIGOS DE PERiDICOS Biotica e Biodiversidade77 Penas Alternativas82 Sonegao Fiscal84 INDICE DE ASSUNTOS (Monografias)93 '\ APRESENTAO Dandoprosseguimento aomister depromover adivulgao deestudosdoutrinrios,eiseditado,emmaisumaauspiciosaoportunidade,o presente volume do Informativo Jurdico daBiblioteca MinistroOscar Saraiva,cujocontedo,emsuaexcelsagrandeza,traduz comproficinciaaintenodeservir,levandoaoconhecimentodoleitor,osartigossobagidedosnclitosMinistros AriPargendler,"ORecurso Especial e oCdigoTributrioNacional";Carlos AlbertoMenezes Direito,"ReformaAdministrativa:aEmendanO19198':'LuizVicente Cernicchiaro,"Direitopenal epoltica";Waldemar Zveiter,"Adoopor ascendente",conspcuostratadistas,cujostrabalhosoraexpostos, transmitem de forma cogente e assim cristalinos a exatanoo do saber e do conhecimento doutrinrio dos temas expostos. Aforao suso,depara-se aindanopresente compndio,refernciasbibliogrficas,queporsuaimportnciaeprofundidade,contribuiroparaoconhecimentojurdico,atualizando-oeinserindo-ono contextodosdiascorrentes,pelomritodelevaraosconsulentesa descrioeadivulgaodelivrosenotciasarespeitodeobrasede seusautores,engrandecendopelaleitura,asapinciadoDireito,instrumento maior e essencial dos que labutam nesta Corte de Justia. Complementandopor fimapublicaoilustrativa,emergem algunsartigosdeperidicos,quemuitoconcorreronaelucidaode conceitos,vistoq u ~ os temas trazidos acolao,como "Bioticae Biodiversidade","Penasalternativas" e"Sonegaofiscal",inserem-sena discussodepleitos,vistoqueseapresentam,naformaexposta,em excepcional exegese. 7 ADOOPORASCENDENTE Waldemar Zveiter Ministro do Superior Tribunal de Justia suMRIO: I ADoO. NOTA INTRODUTRIAIIFINALlDADE DO INSTITUTO DA ADOOIII-ADoO DE NETOS. LEGISLAO ANTERIOR AO ECAIVADMISSIBILIDADE,DOUTRINAEJURISPRUDNCIAVINADMISSIBILIDADENADOUTRINAVI- AVEDAOLEGALE A INTERPRETAOTELEOLGICADOSISTEMAPARAADMITIRA ADOO PELO ASCENDENTE MEDIANTE O PRUDENTE ARBTRIO DO JUIZ. I-ADOO. Nota Introdutria Desdeosprimrdios,aadooconstitui-seeminstitutoutilizado para assegurar continuidade dolar,caracterizando-senasituao de fato pela qualserecebiaemfamliaumestranho,naqualidadede filho.Oadjetivoestranho significava algum no integrante da famlia de sangue. Emseuestgioevolutivo,aadoohojeinstitutoessencialmenteassistencial.Visadar proteoaoadotado,ajustando-onolardeuma novafamlia,adaptando-oaumoutroambiente domstico eigualizando-o em tudoaumfilholegtimodoadotante,comtodasasimplicaeshumanas,legaisesociaispertinentes.Aadoocaracteriza-seatualmentecomoinstituto de solidariedade social,comsingular contedohumano,impregnadoqueest de altrusmo,de carinho e de apoiamento'. No direitonacional,devidosexcessivasexignciasprevistasno CdigoCivilde1916,seusdispositivosnuncativeramgrandeaplicao.As Leisde n.os3133/57 e 4655/65bemtentaramaproximar a realidade de fato realidadede direito,modemizando-acomacriaoda chamadalegitimao adotiva. Comaediodo CdigodeMenores,entoLeinO6697n9,am1 Arnaldo Marmitt, Adoo, Aide Editora, pg.10. Informativo Jurdico da Biblioteca Ministro Oscar Saraiva, v. I I, D.I, p. 1-98, JaDJJul. Im - I I pliou-se o institutoatravsda adoo plena.Apartir de1990,coma publicao daLeinO.8069,de 13 de julho,novoimpulso se deua fimde modemiz-Io frente aos atuais conflitos vivenciados pela sociedade nacional. Otemacompedoutrinaejurisprudnciaconflitantes,comono poderiadeixar de ser,por envolversentimentosinatosespciehumana que busca sempre o ideal do bem-comum, paz e harmonia social. 11- FINALIDADE DO INSTITUTO DA ADOO Dendoleprotetiva,aado02vemsendoampliadaprogressivamente,na medida das exigncias do mundo moderno.Noincio,afirmavam os comentaristasdalei,afinalidadedoinstitutoerapropiciar filhosaosqueno podiamt-los- interessedoadotante-,depoispassouaserumamaneirade assistirnosmenores,masatadultos,porlaosdeparentescoouafetividade,assegurando-lhesumaformadesubsistncia- interessedoadotado-, atravs de penso ououtros meios3. Comopassardo tempo,asuaprimitivafinalidade,queeraade dar umfilhoaquemanaturezao negara(interesse do adotante),evoluiupara igualar oadotado,emtudo,aofilholegtimo,semaexignciadequeospais naturaisexistamepossamouno exercer optrio-poder (interessedo adotado). Nodizer deArnoldMarmitt4,agoraaratioessenditransmudouseparaser maisnobre emais humana,sublimesvezes,comcaractersticas eminentementeassistenciais,objetivandosempreampararoadotadocom liames afetivos e familiares,cercando-o de solidariedade humana e crist. AnovaregulamentaodadapeloEstatuto daCrianaedo Adolescenteconstitui-seconjuntodenormasdeordempblica,revogadorado CdigodeMenoresedasdisposiesquetratamdamatrianoCdigoCivil com elas incompatveis. 111- ADOO DE NETOS Legislao anterior ao ECAs At1965contvamosapenascomaadooprevistanosartigos 368a378doCdigoCivilelegislaocomplementar.Permitia-seaadoo mediante simples escritura pblica.Qualquer pessoa maior de 18 anos poderia 2Idem 3Paulo Lcio Nogueira - ECAComentado 4Ibidem 5Estatuto daCriana e do Adolescente - Lein.8.069, de13.07.90 12- Informativo Jurdico da Biblioteca Ministro Oscar Saraiva, v.lI, n.1, p. 1-98, JanJJuL 1m 7.90 partir de1990,com apublicaIse deu a fimde modemiz-Io jade nacional. jnciaconflitantes,comono inatos espciehumanaque 10nia social. sendoampliadaprogressivalemo.No incio,afinnavamos Ipropiciar filhosaosqueno ,assouaserumamaneirade osdeparentescoouafetivilcia- interessedoadotado-, litivafinalidade,queeraade se do adotante),evoluiupara n aexignciadequeospais 'io-poder (interessedo adota-a ratioessendi transmudousvezes,comcaractersticas reampararoadotadocom iedade humana e crist. statutodaCrianaedo Adojempblica,revogadorado n damatrianoCdigoCivil adooprevistanosartigos lentar.Pem1itia-seaadoo .oamaior de 18 anos poderia ser adotada,mesmo comfilhos.Tal como era,no correspondia s necessidades sentidas por muitos por no integrar completamente oadotando nafamlia doadotado.Davamargemaosmaioresabusos,dadaafaltadefiscalizao adequada. ALeinO.4655/65,complementouas regrasdo Cdigo Civilcomo instituto da legitimao adotiva.Estapreviaapossibilidade de se adotar menores de sete anos,que se encontrassememsituaoirregular,comtodos os direitosedeveresde filholegtimo,salvoocasode sucessohereditria.Era de carter irrevogvel. OCdigodeMenores(LeinO.6697/79)veiodesdobrar aadoo emtrstipos.6ForammantidosntegrososdispositivosLeiCivilrelativos adootradicional,neleregulamentada;ficoureservadaaadoosimplesao menor em situao irregular,que dependeria de autorizao judicial,efoialterada a denominao da legitimao adotiva, que passou a ser adoo plena. Tivemos,pois,ento, trs modalidades de adoo: a) Aadoo do Cdigo Civil elegislao Complementar; b) A adoo simples; 7 c) Aadoo plena (arts.29 a37 e107 a109). 8 Tocanteadoodedescendentesporascendentes,oCdigo Civilno avedava.Atendidosospressupostosobjetivosprevistos,nosepoderianegar a averbao da escriturapblica.Permitia-se que qualquer pessoa maior de dezoitoanospudesseser adotada,mesmocomfilhos.Somenteos maioresde30anospoderiamadotar,aindaquecasados,solteiros,desquitados,mesmo que j tivessem filhos de sangue.No era proibida a adoo pelos ascendentesepelosirmosdoadotando.Oscasados,porm,depoisde decorridoscincoanosacontardocasamento.Oadotantedeveriaser16anos maisvelhoqueoadotadoeningumpoderiaseradotadoporduaspessoas, somente sefossemmarido emulher.O tutor oucurador,enquantono desse contade suaadministrao,no poderiaadotar opupiloouocuratelado.No sepoderiaadotarsemoconsentimentodoadotadooudeseurepresentante legal.Pem1itia-se a adoo por escritura pblica,no se admitindo condio ou tenno. Osistemabrasileironosubordinavaavalidadedaadoo existncia do justo motivo,o que ocorre emnumerosas legislaes que inclusive,condicionavam-naaumaconvivnciaprvia.Amparoeoportunidadede integraodoadotadofamliaesociedade.Eraprecisamenteacausaeco6Antnio Chaves, Adoo, Del Rey,pg.69. 7Arts.20;27; 28;82;83, m; 96, I,107 a109, da Lei6.657. 8Regulada pela LeinO6.657, arts.29,37 e107-109. liva, v.U, o. 1, p. 1-98, JaoJJul. 1999 Informativo Jurdico da Biblioteca Ministro Oscar Saraiva, v.U, n.1, p. 1-98, JanJJuL 1999- 13 nmicaque,seno imediata,mas mediatamente,presidiaaadooosefeitos de naturezapatrimonial,produzidos peloestadode filiaoresultariamnatural e licitamente deste.9 IV - ADMISSIBILIDADE,DOUTRINA E JURISPRUDNCIA AdoutrinaanterioraoEstatutodaCrianaedoAdolescenteentendiaser possvelaadoodenetopeloav(arts.368e378doC.Civil). Correnteliberalsustentavaessaposioparaaqual,exceodosfilhos legtimos queno poderiam ser adotados pelos pais,outro graude parentesco no impediria a adoo. Numerosasforamasopiniesfavorveisnadoutrina,taisasde Munir Cury,queadereade PauloLcioNogueira;Aldo de AssisDias10;Joo FranciscoMoreira Viegas11 ;AntnioSatrnioFemandes12;PlanioleRipert13 e Massimo Bianca14. Ahiptesenoerameramenteterica.Noticiavamosjornaisdo dia 26/9/1962que,emSoPaulo,umcidado,av deumacriana,pretendia adot-Ia como filho,tendopara tanto tomado todos asmedidasnecessrias,e numerosa jurisprudncia admitia essa possibilidade. A ttulo de exemplo, podemos citar o acrdo da Sexta Cmara do TJRJ,de22/03/1993,naAp.3998,Relator,DesembargadorCludioViana (ADV 63.630),no qual decidiu-se que,sendo maior a adotanda,no seaplica, nemanalogicamente,oEstatuto da Criana edo Adolescente,e que o Cdigo Civil,regulador da adoo,no veda seja adotante o av matemo. t tAindaa83 Cmara,reg.em12/4/1994,Ap.2.861,RelatorDesembargador CarpenaAmorim,firmouentendimentonosentido de que,atendidosospressupostosobjetivos previstosnaleicivil,nohcomosenegar a averbaodaescrituradeadoodepessoamaior pelo avno cartriocompetente, inaplicando-se,ao caso,o Estatuto da Criana e do Adolescente. No TJSP,a 23 Cmara v.u.de 6/3/1975,Ap.234.102,Relator DesembargadorDiasFilho:~ perfeitamentepossvelaadoodenetopelos avs"(RT496/103).Analogamente,a43 Cmara,emacrdode2/12/1969, diantedosilnciodaleiconsidera"juridicamentepossvelaadoodosnetos pelosavs"(RJ11/96).Aindaoutro,de26/2/1970,noqueconsignou-se:~ A9Antonio Chaves, in Adoo, Del Rey,pg. 249. \0O Menor em face da Justia 11Adoo denetos por avs OESP 23/06/1985 12As trs formas de adoo OESP 18/02/1986 13Planiol e Ripert- Trait Elementaire de Droit Civil,v.I, P 572. 14Massimo Bianca - Dirito Civile,vol 2,pag 269no 14- Informativo Jurdico da Biblioteca Ministro Oscar Saraiva, v.lI, n.I, p.1-98, JanJJul. 1999 Ipresidiaa adooosefeitos de filiaoresultariamnatural CrianaedoAdolescenteen(arts.368e378doC.Civil). aqual,exceodosfilhos lais,outro graude parentesco rveisnadoutrina,taisasde 'a;Aldode AssisDias10;Joo mandes12;PlanioleRipert13e ica.Noticiavamosjornaisdo IVdeumacriana,pretendia osasmedidasnecessrias,e je. acrdo da Sexta Cmara do :!sembargadorCludioViana lOra adotanda,noseaplica, Adolescente,e que o Cdigo e o av matemo. 994,Ap.2.861,RelatorDemtonosentidodeque,aten nohcomosenegara ior peloavnocartriocomiana e do Adolescente. 175,Ap.234.102,Relator Deveiaadoodenetopelos I,emacrdode2/12/1969, possvela adoodosnetos 70,noqueconsignou-se:"A 572. adoodeveserfacilitada.Admite-se,poisqueavsadotemneto"(RT 418/139 e RJ12/54). Reconhecendoqueotemapropiciadiscusses,comopiniesa favor econtra,invocouoRelator,Desembargador MdiciFilho,a situao dolorosadascriancinhasnascidasdemessolteiras,seguindoocritrioque, comexceodosfilhoslegtimos,nopodemseradotadaspelospais,qualqueroutrasituaodeparentesco,nonmalmente,nodeveriaimpediraadoo.Invoca,ainda,a opinio de Planiole Ripert;fazendo ver que,na prtica, freqente a adoo por parte dos avs oudos tios. A 6a CmaradoTJGB,emacrdode6/9/1974,entendeu,por maioria de votos,que embora incomum,nadaimpediriaa adoo danetapelo av(RT 473/205).Naquelaoportunidade,ressaltouoRelator,Desembargador WellingtonPimentel,que,salvoalgumasexcees (como ocorrena Argentina, naentoChecoslovquiaenaIugoslvia),segundoregistraGustavoBossert, aslegislaesmodernasnoprobemaadooentreparentes,e,quanto queles pases,a vedao limitada,apenas, adoo entre irmos. NoRE89.457-8GO,RelatorMinistroCordeiroGuerra,decidiu unanimidadea2a TunmadoSTF,aos17/11/1981(RT558/22):uAdoosimples,deneto,feitapelosavs,por escriturapblica,nonula.Recursoextraordinrio no conhecido. " Nestecontextonosepodeolvidarassituaesemqueav adotaneto,tioadotasobrinho,justamentecominteresseseconmicos,ou seja,paralhes deixar umapenso,emvirtude daassistnciaquelhe foidada peloparente,o querepresentaumato de gratido,oumesmomeraliberalidade. A jurisprudncia temreconhecido essa possibilidade. Eminteressante acrdo de 29/06/85,o Conselho daMagistratura do TJRJanalisoupedido de adoo plena,formuladopor avsnaturais,sendo jfalecidosospaisdoadotado.Frisou-se,ali,airrelevnciada existnciade filhos pr-havidos,tios do adotado,aos quais este equiparar-se-ia,pela ausnciadeprejuzo,emvirtudedo fatode que,por morte dosadotantes,receberia deigualfonmao adotado,por direito derepresentao,quinhoidnticoaode cadatio,emfunode suaorfandadepaterna.Interpretaodosarts.1.620, 1.621e 1.623 do CC.Mesmo se admitindo fosse o adotado filhoadulterino,por foradodispostonoart.51daLeidoDivrcio,quealterouoart.2daLei 883/49,recolheriaelequinhoidnticoaosdos filhoslegtimos dosadotantes. (RT611/171) Finalmente,valeressaltaraindaojulgamentodoREnO 85.457/GO,RTJ100/683,STF),noqualoeminenteMinistroCordeiroGuerra asseverousobre apossibilidade de avs adotaremnetos rfos oudesassistidospelospais.ProferidoantesdavignciadoECAreputo-o,contudo,sumaliva, v.ll, n.1, p. 1-98, JanJJuJ. 1999 Informativo Juridico da Biblioteca Ministro Oscar Saraiva, v.11, n. 1, p. 1-98, JanJJul. 1999- 15 mente ilustrativo diante da conciliaoque se h de fazer da regravedativa da adoopelosascendentescomoquedispeoexamedesuaaplicaono interesse da criana e do adolescente. Osbicescomumentelevantadostaiscomooeventualprejuzo nasucessoconcorrendooadotadocomseustios;aconfusoqueadvm como,verbi gratia,ser o"neto filhodosavs","irmosdos tios"eda "prpria me",ouaeventual fraude a beneficiar os adotantes compeclios epenses, no devamservir de bice aesseinstituto que objetivaessencialmenteproteger o interesse da criana e do adolescente. v- INADMISSIBILIDADE NA DOUTRINA OatualEstatutodaCrianaedo Adolescente,noseuart.42, 1,expressamente vedaa adoo de descendentes pelos ascendentes. AntnioChaves,doutrinacomveemnciaseraadoodoneto, do bisnetooudoirmodoadotante,por este,toincongruente quanto aadoodo filholegtimo oudo reconhecido.Aseuver,nohaveria sentido emum avadotar o seuneto como seufilho,ensejando confuso familiar,j que seu filhopassariaairmodo seuneto,ouopaiirmodoprprio filho,ouainda o filhocunhado da suame,semfalar nomarido mais velho que suamulher 16 anosadotando-acomofilha,ouvice-versa.Argumentaqueconsoanteobom sensoaque odireitonopodefugir,noserianecessrioque aleiescritao dissesse,comtodasasletras,queadoes,comoasenunciadas,noso permitidas. Sustenta-seafinalidadedanovalegislaodevedaratosilegtimos de fraude lei,como nahiptese de diversas qualidades de pessoas com relaescomaUnio,EstadoouMunicpio,autarquias,entidadesparaestatais,deeconomiamistae,ainda,sociedadesannimas,queadotamnetos comonicopropsitode faz-losseusdependentesparafinsdeassistncia mdico-hospitalar e,at,parapercepodepensoque,nahiptesedemilitar,nuncamaiscessar,nempelocasamento,seapessoaadotadafordo sexo feminino. Argumenta-se com o sentido da inconvenincia da admissibilidade daadoo de descendentespor ascendentes,oque quebrariaosistemaharmnico decorrente do parentesco natural,apoiado no fato da pr-existncia do parentesco entre avs enetos,por laos de sangue. Comopodese verificar,os fundamentosquealiceramocomandolegal,justificam,segundotaldoutrina,naincongrunciadesetransformar vnculo familiar preexistente e com caractersticasprprias emoutro,que,seria matriz de novos parentescos (problemtica genealgica e gentica). 16- Informativo Jurdico da Biblioteca Ministro Oscar Saraiva, v.H, n.1, p. 1-98, JanJJnL 1999 tia fazer da regravedativa da examedesuaaplicaono liscomooeventualprejuzo tios;aconfusoqueadvm rmosdos tios" e da "prpria ltes compeclios epenses, ~ t i v a essencialmenteprote10Jescente,noseuart.42, !Spelos ascendentes. 9nciaseraadoodoneto, . incongruente quanto aado, no haveria sentido em um ::onfuso familiar,j que seu ) do prprio filho,ouaindao ais velho que suamulher 16 nentaque consoanteobom ecessrioquealeiescritao noasenunciadas,noso islaodevedaratosilegitiqualidades de pessoas com ilrquias,entidadesparaestalnimas,queadotamnetos Itesparafinsdeassistncia oque,nahiptese de miliieapessoaadotadafordo venincia da admissibilidade luequebrariaosistemaharno fato da pr-existncia do ~ .tos que aliceramocoman19runciadesetransformar >rpriasem outro,que,seria gica e gentica). liva, v.lI, n.1, p.1-98, JanJJuL 1999 Embora pondervel emerecedora de todo orespeitopelo peso da autoridadedosTratadistasquesustentamtaldoutrina,coloco-meaoladodos que,comidnticaerudiosustentampossvelaAdoododescendentevisando o interesse do menor. VI- AVEDAOLEGALEAINTERPRETAOTELEOLGICADOSISTEMAPARA ADMITIR AADOOPELO ASCENDENTEMEDIANTE O PRUDENTE ARBTRIO DO JUIZ. Nesse estado de coisas,no quer nos parecer tenha mesmo onovel EstatutodaCriana,muitoemboraexpressamentevedandoaadoode descendentes por ascendente,liquidado com a possibilidadelegal que se quer ver reconhecida juridicamente. Taldesideratoencontraapoionoart.6,domesmoEstatuto,na interpretao teleolgica que oinforma dentro do sistema. No se pode vislumbrar inconcilivel a vedao imposta pelaregra do art. 42, , 1,com o texto do art. 6 da mesma lei. Emcarter excepcional,no prudente arbtrio do juiz,nainterpretao da leilevar-se-o em conta os fins sociais aque se destina,as exigncias do bem comum,os direitos e deveres individuais ecoletivos,e,notadamente, a condio da criana e do adolescente como pessoas em desenvolvimento. Essetextopraticamenterepeteoart.5do Cdigode Menores quando determina prevalecer o direito do menor acima de qualquer outro.So notriasascircunstnciasdecasosinmerosdepaisbiolgicosquedesconhecemporcompletoseusfilhosdeixando-osentreguesaoscuidadosdos avsquepassamaexercercomextremadoamorecarinhoasfunesde verdadeirospais,afigurando-seprofundamenteinjustoemesmoinjurdicoem face da norma do art.6 negar-lhes o direito de adoo plena dos netos,quando tanto se permite a estranhos. Nempor isso deixaro osnetos de seremnetos.Adquiremcoma adoo tambmacondiolegal de filhos de seusavs.Aproclamadaconfuso genealgica que disso provm no se constitui bastante para impedi-Ia. Assim,pensoque avedaocontidano 1do art. 42doEstatutoda Crianaedo Adolescentehdesermitigada eceder anteoprincpio geral,excepcionando-aemcadacasofrenteaspeculiaridadesqueapresentamemediante oprudente arbtrio dos juzes aver prevalente ointeresseeo direitodomenor,conciliando-seaslegtimaspretensesdosascendentesescoimados de quaisquer abusos - de adotarem seus netos. Informativo Jurdico da Biblioteca Ministro Oscar Saraiva, v.11, n.1, p.I-98, JanJJul.l999- 17 DIREITO PENAL E pOLTICA (*) Luiz Vicente Cemicchiaro Professor daUniversidadedeBraslia Ministro do Superior Tribunal de Justia 1- ODireitoreclamapluralidadedepessoas.relao intersubjetiva.ConhecidaaimagemdeRobisonCruso;enquantosozinhona ilhadeserta,no podiareclamar nada de ningum eningumdele exigiacoisa alguma.Comachegada deSexta-Feira tudomudou.Formou-sevnculoentre ambos.Surgiuo Direito. 2- DoDireitoprimitivo,cujasnormasresultavamdosusose costumes,a pouco e pouco,passou-separaa elaborao de lei.Formalizou-se a norma.Aformalizaodanormapenalevidenciaaprocednciadoargumento. Bettiol,"Em temade relaesentre a polticae oDireitoPenal"(Estudo deDireito e Processo Penal em Homenagem aNelsonHungria,Forense,Rio,1962,p.85) escreveu:"Emverdade,sepor alguns,especialmentenoperododo totalitarismo poltico,oDireitoPenalfoiconsideradosemfunoexclusivadedeterminada poltica,necessrioestarmuitoatento,paranocairnoequvocotofcilde considerarqueoDireitoPenalderivasomentedeumamatrizpoltica:seja complexo de regras polticas e tenda somente a finalidades polticas". Efetivamente,a sistematizao do Direito Penal,de que resultou o princpioda anterioridade da Lei Penalresponsvelpelarigidez daextenso dotipo.Oliberalismo,visandoaresguardarodireitodeliberdade,limita, restringeoconceitodocrime.Tudoemhomenagemaodireitodeliberdade. Repudiou-se,ento,aanalogiainmalampartem.Deixaram-sedelado, entretanto,maioresconsideraesarespeitodosujeitoativo,ouseja,ohomem.Nosebuscaramascausasda criminalidade,anoser partindodo pressuposto do livre-arbtrio.Dessa forma,o grande protagonista do delito no ganharaadevidaimportncia.Somentecomosurgimentodacriminologia (perodocientfico),conseqnciadeinvestigaes,dequesoilustraoa PsiquiatriadePinel(1745-1826),ateseda"Iocuramoral"docriminosode PichardeDespine,aAntropologiadeBroceeThompson,comreferncia obrigatriaaostrabalhosdeDarwin(1809-1882).CoubeEscolaPositiva (*)Palestra proferida durante o IV Seminrio Internacional do IBCCrim 18- Informativo Jurdico da Biblioteca Ministro Oscar Saniva, v.H, n.1, p. 1-98, JanJJul. 1999 I ICAM luizVICente cemicchiaro SSOI' do Universidade deBraslia , do Superior Tribunal de Justia IedepessoaS.relao enquantosozinhona 1 eningum dele exigia coisa :Iou.Formou-se vnculoentre nasresullavamdosusose DnIIo de lei.Formalizou-se a aprocednciadoargumento. reilDPenar (Estudo de Direito Ta.Forense,Rio,1962,p.85) 1leno perodo do totalitarismo j:Io exclusivade determinada cairnoequvocotofcilde deumamatrizpoltica:seja idades polticas. eito Penal,de que resultouo !velpelarigidez da extenso direitodeliberdade,limita, ;,emaodireitodeliberdade. lem.Deixaram-sedelado, sujeitoativo,ouseja,ojade,a noser partindodo le protagonista do delitono surgimentodacriminologia dequesoilustraoa Jramoral"docriminosode Thompson,comreferncia I.CoubeEscolaPositiva loIBCCrim estimularabuscadascausasdacriminalidade,realando-se,dentreoutras, obra de Lombroso,Ferri eDi Tul/io.Enquanto aEscola Clssica se preocupava emrealar "quem" criminoso,aEscolaPositiva voltava atenopara explicar "porque algum comete o delito". Ambas as colocaes tm seu mrito.De umlado,limita,at certo ponto,oarbtriodoEstado,deoutro,projetaadimensodohomempara melhor ajust-lo ao esquema do fato-infrao penal. Nosetocara,entretanto,nopontofundamental,decertomodo tratado por Garofalo ao enunciar o conceito de crime natural. Estouconvencido,qualquer raciocnioparaanalisar e,da,extrair asrespectivasconsequncias,fato- infraopenal,devepartirdoconceito material de delito para,em seguida,estabelecer areao social. 3- Hoje,apesar de todasasrecomendaes,fundamentalmente, prevaleceobrocardo- puniturutpeccatumest.H,infelizmente,quase sempreamerapreocupaodedefinirocrimeeidentificaroagente.Com isso.Aconscincia jurdica se tranqiliza,e,emnvelmeramente formalse faz a adequao - crime/pena. Desconsidera-se,emborasesaiba,queofenmeno- infrao penal socorrenasociedadeeganharelevodeinteressecoletivo.Asano criminal,aocontrriodasanocivil,nomeramentereparatria.Nose confundetambmcomasanoadministrativa,decunhoeexplicao disciplinar. Asano penal conjuga-se com ointeresse da sociedade. Asanocivildimensionaodanomaterial,oumoral.Asano disciplinar temolimitenobastanteparadesestimular oagentepblicoano repetir a falta. Ainfraopenalearespectivapenatm,comopressuposto, respectivamente,a- necessidade - erealizaro- interessepblico;deumlado, que no haja delitos, de outro,a sano corresponder tambm ao interesse social. 4- Aqui,urgeacentuarimportanteparticularidade.Observe-sea infraopenal.Retome-seaoquefoiobstculoantes- infraopenaldo ponto de vista material. Asnormasculturaisseparamascondutasemdoissetores: aprovadasereprovadas,conformeseadaptem,ouatritemcomosentido axiolgico.Semdvida,dispensamaioresanotaes,resultamdojuzode valor histrico. Todainfraopenalcondutarefutadapelasociedade.Mais,ou menos intensamente,poucoimporta.Da,enquantohouver divergnciaentreas iva, v.H, n. 1, p.1-98, JanJJuJ. 1999Informativo Jurdico da Biblioteca Ministro Oscar Saraiva, v.11, n. 1, p. 1-98, JanJJul. 1999- 19 pessoas,semprehavercomportamentocontrriodopermitido,outolerado(at queumdia- nosesabequando- deixardehaverdivergncias,conflito. Evidente,pelo menos hoje,numa sociedade utpica). O ilcito penal,dessa forma, constante nasociedade atual,como foinas sociedades anteriores. Gera,emconseqncia,reao.Aliteraturapenalapontao perododavinganapblica,davinganaprivada,intercaladaajustiade talio,e,hoje,o perodo cientfico. Aindapredominantesosprincpiosdaanterioridadedodelitoeda prviadefiniotambmdapena.Aconquistainalienvel.Oesquemapenal precisaser pr-estabelecido,a fimde evitar assoluescasusticas,registradas na histria, ensejando ao mais poderoso vingar-se do mais fraco. Conquistou-seapredeterminaodocrimeeapredeterminao dapena.Repita-se:presenadoiluminismo.Noseconquistou,entretanto,o que sepropecoma individualizao dapena.Toimportanteque elevadaa nvel de garantia constitucional. Maisumavez,necessriodistinguiroaspectoformaldoaspecto tmaterial.Oprimeirorestritoaoesquemanormativo.Osegundo,preocupa-se coma repercusso pessoal e social da individualizao da pena. t Nesse ponto,semdvida,reside o centro das consideraes.t ! O Juiz,resultante da preocupao formal,restapreso a esquemas normativose,comoregra,restringe-seaelaborarumsilogismomeramente (formal.Aqui,maisumavez,oiluminismosefazpresente."Lejugeestla bouche dela101',repetiaRousseau.Evidentea desconfiana ao juiz.Deveria, tos,reproduzirocomandodalei.AEscoladaExegeseinsiste, intransigentemente, a confundir o Direito coma lei.Da,a desconfiana comos juzes:poderiam,comainterpretao,criaroutralei,oqueseriaabuso. Chegou-se,nessalinha,aproibirainterpretao,comoresguardode arbitrariedades. FIGUEIREDODIAS(DireitoPenalPortugus,Aequitas,Editorial Notcias,Lisboa,1993,pg.192/197)analisaa"Discricionariedadee vinculaonadeterminaodapenan eregistraque,emPortugal"jurdicoconstitucionalmente vinculadan Literalmente,afirma: "Umaresponsabilizaototaldojuizpelastarefas dedeterminaodapenasignificariaumaviolaodoprincpio dalegalidadedapena(CRP,art.290,I)ou,quandomenos,do princpiodasuadeterminao(CRP,art.30,I).Apropsito, podesuscitar-seaquestodesaberseaindicaopelo legisladordeumaqualquermoldurapenal- mxime,daque 20- Informativo Jurdic:o da Biblioteca Ministro Oscar Saraiva, v.lI, n. 1, p. 1-98, JanJJul. 1999 dopennitido,outolerado(at thaverdivergncias,conflito. I). nte nasociedade atual,como "literaturapenalapontao Ida,intercaladaajustiade 1 anterioridadedodelitoeda inalienvel.O esquemapenal leScasusticas,registradas omais fraco. tcrimeeapredeterminao se conquistou,entretanto,o lio importante que elevadaa :>aspectoformaldoaspecto 'o.O segundo,preocupa-se ao da pena. rttro das consideraes. nal, restapreso a esquemas ir umsilogismomeramente z presente."Lejugeestla tSconfianaao juiz.Deveria, ;coladaExegeseinsiste, Da,a desconfiana comos :ralei,oqueseriaabuso. lO,comoresguardode )rtugus,Aequitas,Editorial 1a"Discricionariedadee ue,emPortugal"jurdicoI: ataIdojuizpelastarefas umaviolaodoprincpio I)ou,quando menos,do art.30,I).Apropsito, erseaindicaopelo oenal- mxime,daque oscileentreomnimoe omximolegaisdaespciedepena respectiva- cumprejaexignciajurdico-constitucionalde legalidadeedetenninaodapena.Emprincpio,noparece haverrazesdecisivasparaumarespostanegativa,salvo porventura quantoaumapenade priso cuja moldurafosse,p. ex.; de1 ms a 20 anos" (pg.193). Aqui,chega-seaoponto fundamental,decorrente destapergunta: a atividade jurisdicional,no aplicar a pena, vinculada oudiscricionria? O autor mencionado registra: "Ao juiz cabe umadupla(outripla)tarefa,dentro do quadrocondicionantequelheoferecidopelolegislador. Detenninar,por um lado,a moldura penal abstrata cabida aos factosdadoscomoprovadosnoprocesso.Emseguida, encontrar,dentrodestamoldura penal,o quantum concreto da penaem queoargidodeveser condenado.Aoladodessas operaes - ouemseguidaaelas - ,deveescolher aespcie ouotipodepenaaaplicarconcretamente,semprequeo legislador tenha posto mais do que uma disposio do juiz". 5 - Faz-se necessrio definir a - discricionariedade. Acominaodapenaestabeleceinabstratoaqualidadeea quantidade da sancto iuris.O art.59do CdigoPenalestabelece cumprir ao juizfixarapenainconcretodentreaqualidadeeespciesdassanes cominadas. Notocanteconfiguraodocrime,aatividadedojuizvinculada.Oagentenopoderesponder senopelainfraopenalpraticada, evidenciadapeloselementosdoconjuntoprobatrio.Omagistradonopode tratar como homicdio o que leso corporal seguida de morte, ouconsiderar o crime simples como se qualificado fosse. Aaplicaodapenareclama,noparticular,algumas consideraes prvias. Antesdemaisnada,deixaresclarecido,expressooconceito aplicado de - discricionariedade. Avinculaodomagistradodeveservistaemdoisplanos:num primeiromomento,comoocorrecomacaracterizaodoilcitopenal,o juizno temliberdade de deciso (opo normativa), como,atrs,restouesclarecido. Notocanteindividualizaodapena,cumpredistinguirdois momentos:emprimeirolugar,merc do - nullapoena sine lege - oruno podesersubmetidosenoaoesquemapreestabelecido,antesdaprticado va, v.lI, o.1, P.1-98, JaoJJul. 1999 Informativo Jurdico da Biblioteca Ministro Oscar Saraiva, v.li, o.I, P.1-98, JanJJul. 1999- 21 delito.Quandoomagistrado,noslimitesdacominaolegal,fixaoquantum definitivo,semdvida,atuadiscricionariamente.Nopodeultrapassaro quantummximo,nemimporsanomaissevera,sejarelativamente espciecomoquantidadecominada.Adiscricionariedade,contudoprecisa ficarbemdelimitada.Aleiaoregistraromximodacominaolimitaa discricionariedade; configura liberdade de ao nos limites da definio legal. Aindividualizaodapenaatividadecomplexa.Registradupla colocao. A extenso da pena preestabelecida,antecipadamente registradana lei. Todavia, a busca material (no pode ser simplesmente formal) deixada livre investigaodojuiz.Somenteassim,alcanar-se-,materialmente,a individualizao- projeo do fato delituoso in concreto. Nesteponto,oumelhordizendo,aextensodoinstituto,reclama algumasconsideraes.Antesdeenfrent-Iasdiretamente,porqueantecedente necessrio, cumpre vincular ao seu antecedente poltico. 6 - O princpio da anterioridade do crime e da pena,repita-se,decorre do iluminismo.Insista-se preocupado com o direito de liberdade. AEscolaPositivaeas ramificaescriminolgicas,notadamente de assento sociolgico,lanaram preocupao de interesse social. Alei penalprecisa compreender tambm o sentido social da lei.No basta a lei.Impe-se aferir o seu significadoepromover acrticadalegislaoparaindagar seoutrosdelitosno deveriam ser incorporadas lei penal.Nesse sentido,modemamente, a Escola de Chicago,comacentopragmtico,buscando,aolado dainvestigaodaetiologia do crime,oferecer a soluo adequada ao interesse social.Nesse contexto,surgiu a figura do crime do colarinho branco,recepcionado por todas as legislaes. ACriminologiamodemaoperatambmacrticadoquadrodas sanespenais.EoJuiz,quandodimensionaasanoaocasoconcreto, desenvolveraciocnioebuscasubsdiosemconclusescriminolgicas.Nesse quadrante,aoperaojudicialtambmdiscricionria,entretanto,distintada anterior.Opoder discricionrio,aqui,mais amplo eobedeceamtodo distinto. L,projeta-se um fato qualificado jurdico-penalmente.O fato,ademais, anterior aojulgamento,emboraparaaindividualizaodapena,comocircunstncia, possa ser ponderado tambm o comportamento posterior do delinqente. Adefinio eaquantidade dapena,aocontrrio,assentam,apesar dereferidosafatoacontecido,emjuzodeprobabilidade.Emais,oque importante: conjugado com o - interesse pblico. 7- Insista-se.Onullumcrimensinelegebuscadiretamenteo interesseindividuale,indiretamente,ointeressedasociedade.Onullapoena sinelege,aocontrrio,volta-se,diretamenteparaointeressedasociedadee, indiretamente,para ointeresseindividual.Alis,nessa linha,odispostono art.59 doCdigoPenal,referindo,explicitamente,queasanopenalsedestina 22- Informativo Jurdico da Biblioteca Ministro Osear Saraiva, v.lI, Do1, P.1-98, JanJJul. 1999 i1inaolegal.fIXaoquantum !te.Nilopodeultrapassaro severa.sejarelativamente :ionariedade,contudoprecisa lXimodacominaolimitaa os limites da definio legal. iIdecomplexa.Registradupla antecipadamente registradana ;mente formal) deixada livre Iar-se-,materialmente,a ereto. extensodoinstituto,reclama ~ m e n t e , porqueantecedente litico. la e da pena. repita-se,decorre Ie liberdade. riminolgicas.notadamente de esse social. A lei penal precisa ISCaa lei.Impe-se aferir o seu indagar seoutrosdelitosno J,modemamente, a Escola de loda investigaoda etiologia social.Nesse contexto,surgiu por todas as legislaes. macrticadoquadrodas Isanoaocasoconcreto, tusescriminolgicas.Nesse lnria,entretanto,distintada eobedeceamtododistinto. e.O fato,ademais, anterior apena,comocircunstncia, erior do delinqente. ) contrrio,assentam,apesar abilidade.Emais,oque !Jegebuscadiretamenteo Isociedade.Onullapoena ointeressedasociedadee, alinha,o dispostonoart.59 anopenalsedestina -reprovaodocrime e - prevenodocrime.Exigncia,alis,doprincpioda proporcionalidade. A - preveno - naespcie,especfica.Apreveno genricase efetiva com a publicao da lei penal. Prevenoimplica juzo de valor e juzo de probabilidade.O trabalho comobjetocerto,determinado,fixado,compormenoresnasentena condenatria.Trabalha-se,ento,comoesquemanormativo,odelinqente,a sociedade e o juzo de probabilidade. OJuiz(adianteserofeitasconsideraesespecficas),aofixara penarecomendada,trabalhacomcasoconcreto.Diferentedolegisladorque pensahipoteticamente.Olegisladorraciocinacomarroba;oJuiztrabalhacom gramas, quando no miligramas. O Juiz desenvolve - atividadediscricionria.Insista-se.Diferentede quandodefineocrime,limitadoadequaofticaaomodelolegal.Aqui,ao contrrio,porquedesenvolveraciocniodiferente,voltadoparaoutrafinalidade, devendo fazerasubsunodapenaaointeressesocialdeve,necessariamente, promover acrticadapenacominadaaofatosub judice emfunodo interesse da sociedade.O referencial,como assinalado, a - preveno da criminalidade. Oraciocnioencontraumlimite:apenaearespectivaquantidade no podem ser superior cominao legal. Assim impe o princpio poltico. 8 - Em arco genrico,pode-se,quanto preveno, entendida como polticadeeliminao,oureduodacriminalidade,distinguirodelinqenteem trscategorias:a)noevidenciaprobabilidadedereincidir;b)evidencia probabilidadederetomarcriminalidade;c)possibilidadederetomo delinqncia. Essas categorias mostram personalidades diferentes. A pena deve ajustar-se ao condenado. Caso contrrio,continuar-se- araciocinaretomar decisesmeramenteformais.Importa,issosim,decisode cunho material:pondera,leva em contao fato delituoso e a experincia.S assim, ter-se- sentena de contedo. Apenain abstrato temcomoreferencialanecessidade de evitar o retomo do delinqente ao crime. Se isso ocorrer, cumprir-se- a finalidade da pena.Caso contrrio, a sano aplicada restouno plano formal. Apenacominadarefernciaparaconcretizarafinalidadeda sano. Conseqncia lgica, dever,no caso concreto,alcanar esse propsito. Olegislador promoveoparmetroin abstrato;ojuiz orealizain concreto. iva, v.lI, 0.1, p. 1-98, JaoJJul. 1999 Informativo Jurdico daBiblioteca Ministro Oscar Saraiva, v. 11, n. 1, p.1-98, JanJJul. 199923 Colocam-se,aqui,doisproblemas:a)umdenaturezapoltica.de garantiaindividual,comoregistrado,conquistadoiluminismo.Apenadefinida em leiregistra,de modo absoluto,o mximo da restrio ao exercicio do direito de liberdade.Nopodeser acrescido de umdia sequiser.A penaaplicadana sentena,paraarespostajuridicanorestaremplanomeramenteformal, atendeasparticularidadesdocasosubjudice.Deduas,uma:a)apena cominada,emfunodahipteseemjulgamento,atendefinalidadeda sano;b)ocorre o contrrio:no atende a tal finalidade. Evidente,pelasrazesexpendidas,nopodeserbuscadasano mais grave,seja quanto a qualidade como quantidade. Ahipteseinversaencerraasconsideraesqueseguem:a)se idneas,prpriasparaalcanarofimproposto,tudobem.Se,aocontrrio, houver dissonnciaentreaespcieeoquantumcominado,repita-se,parao julgamentonosereduzirameroraciocnio,noplanoformal,legtimo(no sereduzaolegal)aomagistrado,respeitadootetodacominao,aplicara penarecomendadanahipteseemjulgamento,sejamudandoaespcie, como aplicando-a abaixodomnimolegal.Emborarepetio,insisto, a nica formadeasentenanosereduziraojogoburocrticodesilogismosem contedo.Emais.anicamaneiradeasanopenalalcanarsua finalidade:atenderinteressedasociedade,demodoaqueocrimenoseja repetido. 9- Certo,levantar-se-aobjeodeaseguranajurdicaser comprometida,deixando nas mos do juiz excessivo poder de deciso. Ainterrogaorelevante.Nenhumatese,noplanodaexperincia jurdica. poder ser acolhida,se,na prtica, revelar-se ineficaz, ou inconveniente. O temareclama algumas ponderaes. Emnossomomentohistrico,resultantedelutaseagruras, conferiu-seimportnciadivisodosPoderes.Formalmente,iguaise independentesentresi.Arealidade,porm,outra.Hevidente predominnciadoPoderExecutivo.Semmedodeerrar,procedeuma observao: tantomaispredominante.quantomaior a distinoeconmicasocialdaspessoas.OPoderLegislativo,nessecontexto,tambmprojetaa desigualdade.E,paraconcretiz-Iaegaranti-Ia,soelaboradasleis.Tantas vezes,ratificam,consolidama distino. 10- ODireito,entretanto,noseesgotanalei.ODireito sistemadeprincpios(valores);definem,orientamavida jurdica(interrelao de condutas).A lei,nemsempre,traduz,projeta esse comando.Noraro,a lei buscaimpedir,ou,pelomenos,retardar a eficciado princpio.Nemsempre, oconcretiza.Osalriomnimo,naConstituiodaRepblica(art.7,IV) enunciadocomocapaz de atender asnecessidadesbsicasdotrabalhadore 24- Informativo Jurdico da Bibliotec:a Ministro Oscar Saraiva, v.lI, n.1, p. 198, JanJJul. 1999 I)umde naturezapoltica,de )iluminismo.Apenadefinida tstrio ao exercicio do direito se quiser.A penaaplicadana tmplanomeramenteformal, t.Deduas,uma:a)apena m, atendefinalidadeda I8lidade. 110podeserbuscadasano Iade. dEtraesqueseguem:a)se tudobem.se,aocontrrio, "cominado,repita-se,parao plano formal,legtimo(no tetodacominao,aplicara ),sejamudandoaespcie, a repetio,insisto, a nica lUf'OCI'ticodesilogismosem sanopenalalcanarsua lOdoa queocrimenoseja deaseguranajurdicaser ivo poder de deciso. tese,noplanoda experincia le ineficaz, ou inconveniente. 15. Llltantedelutaseagruras, es.Formalmente,iguaise n,outra.Hevidente Idodeerrar,procedeuma naior a distinoeconmicacontexto,tambmprojetaa soelaboradasleis.Tantas esgotanalei.ODireito Ia vidajurdica(interrelao sse comando.No raro,a lei iado princpio.Nemsempre, daRepblica(art.7,IV) esbsicas do trabalhadore desuafamlia,"commoradia,alimentao,educao,sade,lazer,vesturio, higiene,transporteeprevidnciasociaL"Aleiordinriaquefixaovalor, evidente,noseajustaaocomandodaCartaPoltica.Observe-seomesmo quantoaosalrio-famliaparaatenderadescendentes(idem,XII).O funcionriopblico,todavia,recebe,a esse ttulo,menos de umreal! H,portanto,evidente,noraro,descompasso entreo princpio e alei. Insista-se.ODireitonoseconfundecomalei.Aleideveser expressododireito.Historicamente,nemsempreo.Alei,muitasvezes, resultadeprevalnciadeinteressesdegrupos,natramitaolegislativa. Apesar disso,a Constituio determina:" ningum obrigado a fazer oudeixar de fazer coisaalgumaseno emvirtudedalei".Aparentemente,alei(sentido material), seria o pice da pirmide jurdica.Nada acima dela!Nada contra ela! AConstituio,entretanto,registratambmvoltar-separa"asseguraro exerciciodosdireitossociaiseindividuais,aliberdade,asegurana,obem estar,odesenvolvimento,aigualdadeea justiacomovaloressupremosde umasociedadefraterna,pluralistaesempreconceitos,fundadanaharmonia sociaL.. " (Prembulo).Aindaquenooproclamasse,assimcumpriaser.No sepodedesprezar opatrimniopolticodahumanidade!Aleiprecisaajustarseaoprincpio.Emhavendodivergncia,urgeprevaleceraorientao axiolgica.ODireitovolta-separarealizarvalores.ODireitotrnsitopara concretizar o justo! 11- OJudicirio,vistocomo- Poder- nosesubordinaao Executivo,ouaoLegislativo.Noservil,nosentidodeaplicaralei,como algum que cumpreumaordem (Nesse caso,noseria - Poder).Impe-se-Ihe interpretaraleiconformeoDireito.Adotarposiocrtica,tomandocomo parmetro os princpios e a realidade social. A lei,tantas vezes,se desatualiza, para no dizer carente de eficcia,desde a sua edio. O Juiz o grande crtico dalei;seucompromisso como Direito! Nopodeater-seaopositivismoortodoxo.ODireitonosimplesforma!O magistradotemcompromissocomaJustia,nosentidodeanalisaraleie constatarse,emlugardetratarigualmenteoshomens,mantma desigualdadedeclasses.Ojuizprecisatomarconscinciadequesua sentena deve repousar emviso ontolgica. Tantasvezes,aleisedesatualiza,ouinadequadaparaconferiro equilbrio do contedo da relao jurdica. Quando isso acontece, afeta a eficcia. Emhavendodiscordnciaentreo- Direito- e a- lei- esta precisa ceder espao quele. Cumpre,ento,aoJuiz gerar a soluo - altemativa.Explique-se: criar anormaadequadaparaocasoconcreto.Aleideixaradeser expresso lIiva. v.n, n.I, p.I-98, JanJJul. 1999 Informativo Jurdico da Biblioteca Ministro Oscar Saniva, v.11, n.I, p. 1-98, JanJJuI. 1999- 2S doDireito.Aplic-Iaserinjustia.Impe-segeraranormajusta( proporcionalidade reclamada). Insista-se:o juiz temdeverde ofcioderecusaraplicao delei injusta. o juiz precisa tomar conscinciade seupapelpoltico;integrante de Poder.Impe-se-Ihevisocrtica.Aleimeio.O fimoDireito.Reclama-sedo magistrado, quando necessrio, ajustar a lei ao Direito. H, certo,exemplos dignificantes. Aredaoanterior daLeideIntroduo aoCdigoCivildispunha queasucessodebensobedecialeidocasamento.OBrasilrecebera imigrantesdevriasorigens,comoaItlia,Portugal,Japoepasesrabes. Quando o marido falecia,casado como regime daseparao de bens,a viva noparticipariadameao.OSupremoTribunalFederal,comnotvel sensibilidade,criou jurisprudncia de que,no tocante ao patrimnio constitudo, entrens,aplicar-se-iaaleibrasileira.Comisso,evitouflagranteinjustia. Vingou,na espcie, o regime da comunho universal. Ostribunais,outrossim,foramsensveisconcubina.Semlei. Rigorosamente:contraosentidoliteraldalei,apoucoepouco,quantoaos bens,reconheceramodireitodamulheraopatrimnio,consoantea colaborao dadapara constituir a fortuna. Maisrecentemente,sufragaramacorreomonetria(semlei) paraevitaroenriquecimentoinjustododevedorquenohonrassesua obrigao,no tempo e modo convencionados. Ainda.Autorizaramarevisodovalordealugueres,antesdo termo legal,para garantir o equilbrio econmico do contrato. Tem-se,ainda,de reconhecer o direito de cidadaniadereivindicar direitos inscritosnaConstituio,cuja concretizao legislativa,no entanto,cai no esquecimento e o Executivo no cumpre o seupapel. OJudicirioprecisareveraidiadenormasdaConstituiono auto-aplicveis,dependentesderegulamentao.Nafaltadeleiespecfica, invoquem-se os princpios.A soluo do caso concreto vir naturalmente.Para homenagear os positivistas,registre-se a viabilidade (postaemlei) de recorrersetambmanalogiaeaosprincpiosgeraisdodireito.Casocontrrio,a CartaPoltica se restringe a mero propsito. OJuizprecisatomarconscinciadequeaefetivaigualdadede todosperante a lei ummito.Arealidade comprova:a isonomiano serealiza sinteiras.Osrgos formais de controle da criminalidade,de ummodo geral, 26- Informativo Jurdico da Biblioteca Ministro Oscar Saraiva, v.lI, n. 1, p. 1-98, JanJJuL 1999 18geraranonnajusta( iaderecusar aplicaodelei eu papel poltico;integrantede !in oDireito.Reclama-sedo ito. Io ao CdigoCivildispunha 188I'nento.OBrasilrecebera Jg8I,Japoepalsesrabes. IseparaAo de bens,a viva NJn81Federal,comnotvel nte ao patrimnio constitudo, 10,evitouflagranteinjustia. sal. Jveisconcubina.Semlei. poucoepouco,quantoaos Ipatrimnio,consoantea orreomonetria(semlei) Iorquenohonrassesua Iordealugueres,antesdo contrato. :>de cidadaniade reivindicar lo legislativa,no entanto,cai :apel. 10nnas daConstituiono Nafaltadeleiespecfica, reto virnaturalmente.Para e (posta emlei) de recorrer:>direito.Casocontrrio,a queaefetivaigualdadede I:a isonomia no se realiza aliclade,de um modo geral, ... v.lI, 11.1, P. 198, JanJJuL 1999 alcanampessoassocial,econmicaepoliticamentedesprotegidas.Selas so presas pelas malhas da justia penal! OPoder Judicirio,urgeregistrar,precisa-seponderar,queno neutro.Fatoenormaestoenvolvidospelovalor.Traduzemsignificado. Indicamdireo.AsproclamaesdosDireitosHumanosnoacontecempor acaso,noserestringemasimplesenunciadoacadmico.Concretizam,isso sim,reivindicaes,exigncias emhomenagem ao - homem - parmetro para realizar o justo. Emais.OJudiciriotemimportantepapelpoltico.Asdecises precisamtraduziroDireitodahistria(ahistriadoDireitoorientanesse sentido,apesar das inmeras resistncias).A jurisprudncia nopodereduzirseamerosomatriodejulgados.Asdecisescorretasdevemestar finalisticamente orientadas para o - justo. Casocontrrio,omagistrado,de juiz,passaaservidorburocrtico, mero fazedor de estatstica! NoBrasil,oproblemaganhaparticularimportncia.Oacessoao Judicirio no ensejado a todos. Alis, e com razo. se diz:O Cdigo Civil para orico;oCdigoPenalparaopobre!ComsingularsensibilidadeoMinistro SeplvedaPertence,comaresponsabilidade de Presidente do Supremo Tribunal Federal,afirmou:"opobrestemacessoJustia.comoru."Poucasvezes, com poucas palavras. foi enunciada to latismvel verdade! A sentenaprecisaponderar asconquistashistricas.Emparticular, numpas,que ostentalei(alienaofiduciria)impondo a prisocivildo devedor inadimplente! Ojuizagentedetransformaosocial.Leiinqua,impeditivade realizao plena do Estado de Direito Democrtico precisa ser repensada. O juiz,repita-se,deverecusar aplicaoleiinqua,injusta.Impese-Iheinvocarprincpios.Sassim,ainterpretaosersistemtica.Criar,se necessrio, a norma para o caso concreto. O chamadoDireitoAltemativo(denominaoimprpria),portanto, preocupao como Direito.Infelizmente, entre ns,impe-se utilizar o pleonasmo - Direito justo! Como se o Direito pudesse afastar-se da - Justia! Asoluoaltemativarompeoconservadorismoacomodado;enseja o tratamento juridicocorreto.Confere,semdvida,eficciavignciadanorma jurdica. Anormaalternativano aventura,opiniopessoaldo magistrado, discordar por discordar.Resultadaapreenso de conquistashistricas,acima de Informativo Jurdico da Biblioteca Ministro Oscar Saraiva, v. 11, n. 1, p. 1-98, JanJJuL 1999- 27 interessessubalternos.ProjetaorientaoreclamadapeloDireito.Concreoda justia! A trincheira de hoje ser o galardo de amanh! O juiz,portanto,comoagentepoltico,aopromoveracrticadalei, nose substituiaolegislador.Ao contrrio,ajustaanorma soluo do casoem julgamento. Seassimnofor,infelizmente,continuar-se-aprojetarsentenas restritasaoexamemeramenteformal.precisoreveromtodo.Asentena precisa (sem afrontar o Direito) expressar utilidade social. Aliteraturapenalmoderna,afinadacomaspostulaesdeste final desculo,batemveementementecontraassoluesmeramenteformais, lembrana ainda da Escola da Exegese. IgnacioMunagorri,in"SancinPenalYPolticaCriminaf',Instituto EditorialReus,SA, Madri,1977, pg. 213 escreve: "A sano penal se coloca mais como resposta que anormatividadepenalofereceparaapacificaosocial,que como retribuio abstrata,mais ou menos punitiva,em concreto, aumdelitocometido.Sua justificaosesituananecessidade paraconseguirosfinsjurdico-penais,sendopor issoapena uma instituio eminentemente dinmica e finalista." Apreocupao do papel dos juzes no mundo contemporneo tem conduzidoaprofcuasreflexes.Cumprereagiraopapeldesempenhadopela magistraturanamodernidade- semexagero,chanceladotrabalhodo legislador.Nesseperodo,comoconseqncia,preocupaodaexegesede buscadoselementoshistricosque conduziriaolegisladoraelaborarasleis. Ojuiz,ento,paraserfielsuafuno,precisariaauscult-losafimde traduzir,com preciso,a vontade veiculada pelo Poder Legislativo. 12- ODireitoPenal,nessecontexto,exerceimportantemisso social.Maisumavez:realizar ojusto,adaptar-senecessidadeefornecera soluo socialmente til. AsidiaspoHticas(tantossoosmatizes!)estopresentesna elaboraoeaplicaodasleis.Asleispenaisnoficamalheiasessa conotao. oDireitoPenal,partedotodo,recepcionaasrespectivas conseqncias. Ateno:na elaborao da norma,nasua aplicao e tambm naexecuo.Atodoinstante,orientaespolticassefazemevidentes.O DireitoestsempreligadoPoltica.Quandonohouvercoincidnciade orientaes,forma-seoatrito.Tantomaisprofundoquantosejaadistncia 28- Informativo Jurdico da Biblioteca Ministro Oscar Saraiva, v.H, n.1, p. 1-98, JanJJuL 1999 ::JapeloDireito.Concreoda amanh! , aopromovera crticadalei, normasoluo do caso em uar-se-aprojetarsentenas reveromtodo.Asentena >cial. JI1laspostulaesdeste final )Iuesmeramenteformais, YPolticaCriminal',Instituto ~ a mais como resposta que apacificaosocial,que 'nos punitiva,em concreto, :>sesituananecessidade S,sendopor issoapena ica e finalista. " Imundo contemporneo tem ) papeldesempenhadopela chanceladotrabalhodo reocupaodaexegesede egisladoraelaborarasleis. sariaauscult-losafimde >der Legislativo. ),exerceimportantemisso necessidadeefornecera atizes!)estopresentesna noficamalheiasessa recepcionaasrespectivas na sua aplicao e tambm :assefazemevidentes.O ohouvercoincidnciade Idoquantosejaadistncia iva, v.lI, n. 1, p.1-98, JanJJuL 1999 entreoDireitoeaPoltica.Impe-se,porisso,interpretaoconstantedas normasjurdicas.Nesseparticular,aatuaodoJudicirioedoMinistrio Pblico ganhamsignificativaimportncia.Semexagero,importnciaaindano percebida por um e por outro. APoltica,particularmenteempasesdeevidentecontrastede classes sociais,caminhalentamente.Assimo pelasuanatureza;modific-Ia significa tocar no mencionado contraste de classes sociais. Omagistrado,ento,deverexercer,concretizararazodesua atividade - conferir a - soluo justa - aocasoconcreto;paraisso,sea - leinoofertar arespostaadequada,comesteionoDireitodar asoluojusta hipteseemjulgamento.Especificamente,nombitodoDireitoPenal, aplicando a pena,conforme sua necessidade visando ao interesse pblico. 13- tilregistraraobservaodeELISASMITH,in"Las ideologias y el derecho" (Editorial ASTREA,Buenos Aires,1982,Pg.152): "7)Setodoatodenormatizaojurdicaqueexpressaa denominadavontadedoEstadorespondea umadeterminadaatitudepoltica- atitudepolticado grupoque oncleo dopoder estatal- deveinferir-seque as normas criadaspor esses atos emdeterminado momento histrico so,emmaior oumenormedida,oprodutodecertaconcepodavidasocialedesuas circunstncias histricas concretas. Enohavendo,nofundo,atonormativorealizadoporrgode Estadoquenopressuponhaumcertopontodevistapoltico,comsua concomitantedoutrina,afirmamosqueodireito,enquantosetraduzcomo sistema de atos estatais produtivos de normas jurdicas, uma tcnica polticasocial. Deve admitir-se,ento,a existncia deumfundo ideolgico, tanto na basedaestruturadetodaaordemjurdica,comoemcadainstituiointegrativa dessa ordem". A ideologia acompanha o jurista,mesmo que ele no sinta. Omagistrado,ento,precisasersensvelaessepormenor.Se assimno for,asentenasermero atoburocrtico.Esvazia-se,pois,de seu contedo.E para arrematar - como a sentena penalcondenatria temsentido teleolgico,evidente,sse justifica seo dispositivo for idneo a alcanar esse fim. Urge,ento,aoJuiz,sopesandooesquemanormativoea realidadedasociedade,expedirasoluoqueserevele- justa.Nofaz sentido uma sentena divorciada da realidade emque vai ser executada. Informativo Jurdico da Biblioteca Ministro Oscar Saraiva, v. 11, n.1, p.1-98, JanJJuL 1999- 29 Infelizmente,essedescompassoconduzaflagranteinjustia:o condenadosocialmenteprotegido(situaominoritria)cumpriraexecuo emsituao mais favorveldo que o determinado nasentena;por suavez,o condenadosocialmentedesprotegido(situaomajoritria)sersubmetidoa situao jurdica diversa da condenao. O fato nunca poder ser esquecido do juiz! 30- Informativo Jurdico da Biblioteca Ministro Oscar Saniva, v.H, D.1, p. 1-98, JaDJJul. 1999 onduzaflagranteinjustia:o toritria)cumpriraexecuo lona sentena;por suavez,o majoritria)sersubmetidoa jo do juiz! va, v.lI, DoI, P.1.98, JanJJuL 1999 o Recurso Especial e o Cdigo Tributrio Nacional Ari Pargendler Ministro do Superior Tribunal de Justia o tempodeduraodosprocessosmatriadegrandeimportncia.Trata-se,mesmo,de umapreocupao compartilhadapor todos os que militamnavidaforense.Achamada"crise do Judicirio" resideexatamente a, comoresultadodo grandenmerodeprocessos.EssacrisemaiornosTribunaisSuperiores,ondeseacumulamascausasvindasdetodooPas.O Supremo TribunalFederalfoivtimadessa crise,eumdos modospelosquais aConstituioFederalde1988pretendeuresolv-Iafoiaderetirar-lheparte dacompetncia,transferindoparaoSuperior Tribunalde Justiaas decises sobrequestesinfraconstitucionais.Noobstanteaalterao,osistemapermaneceria o mesmo: duas instncias ordinrias e uma instncia extraordinria. Asvsperasdecompletarumdecnio,aprticadosistemano temconfirmadoasuateoria.O estudoda jurisprudnciado Superior Tribunal de Justiarevelaque ele vem julgando matriasque,mais tarde,voltamaser examinadaspeloSupremo TribunalFederal emgrau derecurso extraordinrio. Pelomenos emalguns casos,passamos a ter,noumainstncia extraordinria,mas duas - comesse efeito negativo:uma demora de mais alguns anos at o desfecho final do processo. O Superior Tribunalde Justia vem,de fato,decidindo,emrecursoespecial,matriaestranhasuacompetncia,comoresultadodeque, nesses casos,temfuncionado comouma terceirainstncia,intermediria,no prevista no texto constitucional. certoque,no julgamentodo AgravoRegimental145.589-7,RJ, Relator o Ministro SeplvedaPertence (DJU,24.06.94),o Ministro Marco Aurliodefendeuoponto de vistadequeoSuperior Tribunalde Justia teriaessa funodeterceirainstncia;desdeessepontode vista,conhecidoorecurso especial,o acrdo nele proferido,confirmando-o oureformando-o,substituiria aqueleprolatado no Tribunala quo,por fora do artigo 512do Cdigo deProcesso Civil,a saber: "OjulgamentoproferidopeloTribunalsubstituirasentenaoua deciso recorridano que tiver sido objeto de recurso". Informativo Jurdico da Biblioteca Ministro Oscar Saraiva, v.lI, n.I, p. 1-98, JanJJuL 1999_ 31 MasoPlenriodoSupremoTribunalFederalfirmououtroentendimento,como seja,o de que "a deciso do recurso especial s admitirrecursoextraordinrio,seaquesto constitucionalenfrentadapeloSTJfordiversa da que j tiver sido resolvida pela instncia ordinria". Eistrechosde votosdealgunsMinistrosparaodevidoesclarecimento da questo: Ministro CarlosMrio Velloso: "Nocasosobexame,aquesto constitucionalque oSuperior Tribunalde Justiaventilou foiamesma decididapelo Tribunalde segundo grau. Emoutraspalavras:nocaso,oSuperior Tribunalde Justiaconfirmouadeciso,noquetocamatriaconstitucional,doTribunaldesegundograu.De sortequenohfalaremrecursoextraordinriocombasenessaquesto constitucionaldecidida peloTribunal de segundo grau e que no foiatacada,a tempo e modo, mediante recurso extraordinrio". Ministro Celso de Mello: "incabvelrecurso extraordinrio de deciso do Superior Tribunal de Justiaque no tenhaapreciado,originariamente,aquestoconstitucional. Secertoqueotemadedireitoconstitucionalfoiobjetode julgamentopela instnciaordinria,impunha-seaooraagravanteaobrigaojurdicoprocessualdeimpugnar,pelaviarecursalextraordinria,oacrdoproferido peloTribunallocal.Comano-interposio,porm,dorecursoextraordinrio daqueladecisoemanadadainstnciaordinria,restoupreclusoofundamento constitucional,a inviabilizar,por isso mesmo,a renovao do debate,na esferadoSuperior TribunaldeJustia,damatriaconstitucionaljapreciada pelo Tribunal local". Ministro Nri da Silveira: "Penso que,emhiptese comoa dosautos,houvea confirmao do fundamento de ordemconstitucionalnoSTJ,que apreciouentretanto matriajpreclusa,porquedeveriatersidoimpugnadaemrecursoextraordinrio nointerposto tempestivamente.Nomximooqueadmitiriacontraoacrdo doSTJ,semodificasseoacrdoanteriorpeloconhecimentodaquesto constitucional,seria recurso extraordinrio por ofensaao art.105,111,da Constituio,ouseja,porconhecerderecursoespecialeprov-losobrematria estranha a sua competncia,o que no sucedeu no caso concreto". Abro umparntese. 32- Informativo Jurdico da Biblioteca Ministro Oscar Saraiva, v.lI, n.1, p. 1-98, JanJJuL 1999 .IJFederalfirmououtroentenso especials admitirrecur'TentadapeloSTJ fordiversa ia". trosparaodevidoesclareci;titucionalqueo Superior Trilo Tribunalde segundo grau. de Justiaconfirmouadeciibunaldesegundograu.De ocombasenessaquesto Iraue que no foiatacada,a deciso do Superior Tribunal Ite,a questoconstitucional. liobjetode julgamentopela mteaobrigaojurdicodinria,oacrdoproferido n,dorecursoextraordinrio I,restoupreclusoofundaI,a renovao do debate,na Iconstitucionaljapreciada autos,houveaconfirmao e apreciouentretanto matIemrecursoextraordinrio ~ admitiriacontraoacrdo conhecimentodaquesto saao art.105,111,daConsIIeprov-losobrematria caso concreto". Pode acontecer,mesmo no exerccionormal desuacompetncia, emrecursoespecial,queoSuperiorTribunaldeJustiadevasepronunciar sobre matria constitucional. Exemplifico. Imagine-se que algum ajuzeuma ao pedindo a declarao de que determinada leino se lhe aplica,mas sustente,pelo princpio da eventualidade,que essaleiseriainconstitucionalseoalcanasse.SeoTribunallocal decide que aleino obrigao autor daao,ficaprejudicadaaquesto constitucional.Quid,seoSuperior TribunaldeJustiaafastaamotivaodo julgado,por entenderque alei,defato,obrigaoautor?Examinaosegundofundamentodopedido.Equalquer decisoaesserespeitopoderseratacada, emrecurso extraordinrio, perante o Supremo Tribunal Federal. O fato decorredo sistema,enocausaqualquer estranheza;decidindo,emrecursoespecial,sobre matriaconstitucional,oSuperior Tribunal de Justia est sujeito ao controle do Supremo TribunalFederal.Mas preciso queissofiqueclaro:emrecursoespecialoSuperiorTribunaldeJustias decidesobrematriainfraconstitucional,salvohipteseexcepcionalemque, duranteorespectivojulgamento,e m e ~ a questoconstitucionalnova,ainda no apreciada pelo Tribunallocal. Fecho o parnteses. Paraos efeitos aqui visados,interessamapenas os casos emque oSuperiorTribunaldeJustiatemexercidosuacompetnciadeformaanmala.Aquelasnas quais, julgando causas que no sosuas,o Superior TribunaldeJustiasetransformanumaterceirainstnciajudicial,aumentandoa duraodas demandas econtrariandoodevidoprocessolegal(areformade umjulgadocomfundamentoconstitucionalconstitui,aumtempo,manifesta usurpaodacompetnciadoSupremoTribunalFederaleusoimprpriodo recurso especial). OexercciodessacompetnciaanmalaprejudicaorecursoextraordinriointerpostonoTribunalaquo,obrigandoaparteainterpornovo recursoextraordinrioemfacedadecisodoSuperiorTribunaldeJustia acerca damesma questo constitucional,talcomo j decidiuo Supremo TribunalFederalnoAgravoRegimentalnoRecursoExtraordinrionO215.053-3, Cear,Relator o eminente Ministro Octvio Gallotti (DJU,02.10.98). L-se no voto condutor: riAdespeitodeformalmenteafastar aadmissibilidadedorecurso especial para o efeito deexame da alegao de infringncia daConstituio,a TurmadoSuperior Tribunal de Justia,deleconhecendo e julgando-Ihe o miva, v.lI, D.1, P.1-98, JanJJuL 1999 Informativo Jurdico da Biblioteca Ministro Oscar Saraiva, v. 11, D.1, p.1-98, JaDJJuL 1999- 33 ritoattulo dedirimir o dissdio jurisprudencial,claramenteabordou aquesto constitucional referente auto-aplicabilidade do art.202 daCarta Poltica". "Nohavendo o Instituto recorrido dadeciso proferida no recurso especial,invivelsetomaoconhecimentodoextraordinriointerpostocontra julgadoregional,atmesmo porque casoo SupremoTribunal"viesseareform-lo,nem por isso desconstituiriaoacrdodoSuperior Tribunal deJustia, queomanteve,comtrnsitoemjulgado,epor razesinclusivedeordem constitucional",comosabiamenteponderouoeminenteMinistroSydneySanches,nacondioderelator doprimeiroprecedentecitadonodespachoora agravado (RE189.710,DJ,de13.09.96 e Ementrio nO1.841-04). Pode-se,nessembito,o dascausasqueoSuperior Tribunalde Justia julga semseremde suacompetncia,identificar trs grupos de questes: 19LY.QQ- emque o desate dalide depende desaber se aleianterior Constituio Federal de 1988 foirecepcionada ourevogada por ela. Durantemuitotempo,oSuperiorTribunaldeJustiaconsiderou que o fenmeno da recepo,oude suacontrapartida,o darevogao vertical (pelaConstituio emrelaolei),poderiaser examinadoemrecursoespecial.Nacontrovertidaquestodesaberqualomomentodofatogeradordo ImpostoSobreOperaesRelativas Circulao deMercadoriasePrestao de Servios naimportao de mercadorias, decidiuinterativamente que,nesse tpico,oDecreto-LeinO406,de1968,forarecepcionadopelaConstituio Federal,no atribuindo validadeao que o ConvnioICMSnO66,de1988,dispsnoparticular.AtqueoSupremoTribunalFederal,reconhecendosua competncia sobre o tema,decidiu o contrrio. 29LY.QQ- emque o recursoespecial alega que o julgado contrariounormalegalquerepetenormaconstitucional(fenmeno a quemereferino EDREsp 71.964,SP,comohiptese de clone legal). NoDireitoPrivadosopoucasashiptesesqueseassimilam, puraesimplesmente,ao texto constitucional,v.g.,aquelas que dizemrespeito aodireitodepropriedade(CdigoCivil,art.524),aodireitoadquirido(Leide Introduo ao Cdigo Civil,art. 6, 2),entre outras. NoDireitoPblico,asituao menoscmoda,porquehmatriasque a ConstituioFederaldisciplinadetalhadamente e essamatriz copiadapelalegislaoordinria,incluindo-seaemdestaqueoImpostoSobre OperaesRelativasCirculaodeMercadoriasePrestaodeServios. Emcasoscomoeste,ainterposiosimultneadorecursoespecialedorecursoextraordinrio duplicaa discusso emsedes diferentes,umasdelas,o SupremoTribunalFederal,decidindodefinitivamenteacausa- ecomessa peculiarcircunstnciadequeorecursoespecialeorecursoextraordinrio, 34- Informativo Juridico da Biblioteca Ministro Oscar Saraiva, v.lI, n. 1, p. 1-98, JanJJuI. 1999 faramenteabordou a questo ri.202 da Carta Poltica". Ideciso proferida no recurso rtTaordinriointerpostocontra 'emoTribunal"viessea reforSuperior Tribunal de Justia, 'rrazesinclusivedeordem linenteMinistroSydneySanentecitadonodespachoora IriOnO1.841-04). s que oSuperior Tribunalde entificar trs grupos de quesepende de saber se aleianlada ourevogadapor ela. ibunaldeJustiaconsiderou rtida,o da revogao vertical !xaminado emrecursoespenomentodofatogeradordo de MercadoriasePrestao u interativamente que,nesse epcionadopelaConstituio lioICMSnO66,de1988,disFederal,reconhecendosua alega que o julgado contrarienmeno a queme referino I). liptesesqueseassimilam, aquelas quedizemrespeito aodireitoadquirido(Leide ClS. IScmoda,porquehmatlamente e essamatriz coIdestaque oImpostoSobre sePrestaodeServios. lorecursoespecialedoreidiferentes,umas delas,o mteacausa- ecomessa eorecursoextraordinrio, ento,versamsobre a mesma matria base de idnticas razes,que s diferemnainvocaodasnormasalegadamentecontrariadas;num,textosdelei, noutro, da Constituio Federal. AquiasituaomaisdifcilporquenemoSuperiorTribunalde Justia nem o Supremo TribunalFederal temposio unvoca a respeito. Apar de inmeros julgados queexaminam,por exemplo,aquesto de direito adquirido,hno Superior Tribunal de Justia outros que remetem seuexameparaoSupremoTribunalFederal.NoREsp2.309,SP,Relatoro eminente Ministro Barros Monteiro, a EgrgiaQuarta Turma decidiu:'Tratandose de alegao atinente ofensa de ato jurdico perfeito e do direito adquirido, a questo denaturezaconstitucional" (DJU,18.02.91).No mesmo sentido,a Egrgia18 Turmano REsp101.132, PRode que foiRelator o eminente Ministro Humberto Gomes de Barros (DJU,26.05.97). NoSupremoTribunalFederalaprticatemsidoadeenfrentar essetipodequestocomosefosseconstitucional.Todavia,hvozesdissidentes.No AgravoReg.em Agravo deInstrumento nO195616-1,RS,Relator o eminenteMinistro Sydney Sanches,aEgrgia18 Turma,reportando-se a deciso do eminenteMinistroCelso de Mello,decidiuque,"emboraaConstituio mencioneagarantiadodireitoadquirido,oconceito daexpressoregulado pelaLei deIntroduo.Nocabe,assim,recursoextraordinrio,postoquea alegada violao operaria por viareflexa" (STF - RDA200/162,Ag.NO135.632 - DJU,03.04.98). Nadeciso referida,oeminenteMinistroCelso deMello transcrevelio de Rubens LimongiFrana,o qual situou a questo nestes termos: ' ~ Constituiovigentedeterminasimplesmenteorespeitoaodireitoadquirido,ao ato jurdico perfeito e coisa julgada.Noapresenta,como se deu comaLei deIntroduoao CdigoCivil,bem assim a Lei nO3.238,de 1957,umadefiniodeDireitoAdquirido.Deondeaquesto:oconceitode Direito Adquirido constitui matriaconstitucional ou decarter ordinrio?" (DireitoIntertemporalBrasileiro,p.4031404,2a ed.,1968,RT)- RDAn.200,p. 164. ' ~ compreensodessa questo jurdica" - concluiu,ento,oeminenteMinistroCelsodeMello- "situa-se,pois,emnossosistemadedireito positivo,emsedemeramentelegislativa.Sendoassim,etendo-sepresente o contextonormativo que vigoranoBrasil,nalei,enestasomente- enquanto sedesmateriaesque dotemaoraemanlise - querepousaodelineamento dosrequisitosconcernentescaracterizaodoexatosignificadodaexpresso direito adquirido. ao legislador comum,portanto - sempre a partir deumalivre opodoutrinriafeitaentreas diversas correntestericas que buscam determiaiva, v.lI, n. 1, p.1-98, JanJJul. 1999 Informativo Jurdico da Biblioteca Ministro Oscar Saraiva, v.11, n. 1, p.1-98, JanJJul. 1999- 35 nar Osentidoconceitualdesseinstituto- quecompetedefiniroselementos essenciais configurao do perfil e da noo mesma do direito adquirido. deter presente,por isso mesmo - e tal como enfatiza o magistriodoutrinrio(CaioMriodaSilvaPereira,"InstituiesdeDireitoCivil",vol. 1/129-156,58ed.l38 tir.,1980,Forense;VicenteRo,"Direitoe aVidadosDireitos",vol.I,tomo 1//440-441,nota nO305,1952,Max Limonad) - a ampla discussoque,travadaentreosadeptos dateoriasubjetivaeosseguidoresda teoriaobjetiva,muito influenciou o legislador ordinrio brasileiro,em momentos sucessivos,naelaboraodaLei deIntroduoaoCdigoCivil(LICC),pois, comose sabe aLICC de1916 (queentrou emvigor em1917) consagrou em seutextoadoutrinasustentadapelossubjetivistas(art.30),enquantoaLICC de1942 prestigiou ateoriafonnuladapelos objetivistas(art.50),muitoembora o legislador,com a edio daLei nO3.328/57,que alterou a redaodoart.50 da LlCC/42 houvesse retomadoos cnones inspiradores dafonnulao doutrinria dendole subjetivista que prevaleceu,sob a gide dos princpios tradicionais,na vigncia da primeira Lei de Introduo ao Cdigo(1916). Essacircunstnciabastaparaevidenciar,apartir dedadosconcretosde nossaexperincia jurdica,que apositivaodoconceitononnativo dedireitoadquirido,aindaque suscetvel de ser veiculadoem sede constitucional,submete-se,no entanto,de lege lata,ao plano estrito daatividade legislativa comum. Dessemodo,eaindaquea proteoao direitoadquiridoassuma estaturaconstitucional- consagradaqueseachaemnonnadesobredireito que disciplinaos conflitosde leis notempo(CF,art.5,XXXVI)- irrecusvel queadefiniodosessentialiaque compemo prprioncleoconceitual de direitoadquiridosubsume-se,nodelineamentodeseusaspectosmateriaise estruturais,ao exclusivo domnio nonnativo da lei comum. Sendoassim,cumpreenfatizar que,noplanodadogmtica juridica brasileirapertinente aoconflitointertemporal deleis,a noodedireitoadquirido sempre emergir,no processo de reconhecimento de sua configurao conceitual, daanlise,prviaenecessria,dopreceitoinscritonoart.SO,20,daLlCC/42, que encerra,em seu contedo material,a prpria definio do instituto em causa. Conclui-se,portanto,queaalegadavulneraoaotextoconstitucional,acaso existente,apresentar-se-ia por viareflexa,eisque asua constataoreclamaria- paraque seconfigurasse- afonnulaode juzo prvio de legalidadefundadonavulneraoe infringnciadedispositivosdeordem meramente legal (LlCC/42,art.50,20 RDAnO200,p.164/165). Nascausassituadasnessegrupo,ocorrefenmenoinverso queleacimareferido(o da cumulaodorecursoespecial e dorecurso extraordinrio),e aspartescorremo riscode no ter instncia extraordinria,o Su36- Informativo Jurdico da Biblioteca Ministro Oscar Saraiva, v.U, D.1, P.1-98, JaDJJuL 1999 Impetedefinir oselementos :ma do direito adquirido. tal como enfatiza o magistiesdeDireito vol. io,"Direitoe aVidadosDi Limonad)- a ampla disubjetivaeos seguidoresda irio brasileiro,em momentos o CdigoCivil(LICC),pois, ,or em1917)consagrouem (art.30),enquantoaLICC istas (art.6"),muitoembora alterou a redao do art.6" rdoresdaformulaodoutri dos princpios tradicio(1916). eiar,a partir dedadosconaodoconceitonormativo em sede constituci'lOestrito daatividade legisao direitoadquiridoassuma !emnormadesobredireito 1.5,XXXVI)- irrecusvel >rprioncleoconceitual de , seusaspectosmateriaise 'Jmum. plano dadogmtica juridica a noodedireitoadquirido sua configurao conceitual, no art.SO,2",daLlCC/42, rJiodo instituto em causa. ulneraoao textoconstiturtexa,eisquea suaconstarmulaode juzo prvio de , dispositivosdeordem me1641165). ocorrefenmenoinverso especiale do recurso extratnciaextraordinria,oSupremo TribunalFederaleoSuperior Tribunalde Justia,negando-se a examin-Ias. 3 9.!1!.QQ- em que se alegaincompatibilidadeentreleis ordinrias (federais,estaduaisoumunicipais)enonnasgeraisdedireitotributrioestabelecidas por lei complementar oupelo Cdigo TributrioNacional,que uma lei ordinria com fora de lei complementar. Como seresolveaeventualincompatibilidadede leiordinria(federal,estadualoumunicipal)comumaoumaisnonnas geraisdeDireitoTributrio? TalvezoTribunalquetenhadebatidomaisexaustivamentea questo tenhasido o TribunalFederal de Recursosno julgamento da Argio de Inconstitucionalidade na AMS nO89.825,RS (RTFR nO129, p.335/367). Seguindo adoutrina mais moderna,oRelator,Ministro CarlosMrioVelloso,defendeuopontodevistadequealeiordinria,nessecaso, inconstitucionalporqueusurpacompetnciaqueaConstituioreservoupara aleicomplementar. Votos vencidos,no entanto,sustentaram que se tratava de conflito queseresolviapelaprevalnciadaleicomplementar,porquealeiordinria no contrariava diretamente a Constituio Federal. Na ocasio, disse oMinistro Bueno de Souza: "luzdaorientaopropugnada,atmesmoasentenado juiz absolutamenteincompetenteseria,afinal decontas,inconstitucional...(e,afinaI,no deixa de ser,em to amplos termos" (p.350). J o Ministro Sebastio Reis aditou: "...reportando-meaossubsdiostrazidospeloMinistroBuenode Souza,embora,emprincpio,todoconflitoentreleisdehierarquianormativa diferente encerre uma infrao ou ilegitimidade constitucional,o certo que,no direitopositivobrasileiro,concessavenia,shdefalar-seemcontrovrsia constitucional,quandoacolisodaLei menor comaLeiMagnaseinstaura diretaeimediatamente,interpretaorestritivaqueseimpe,principalmente quandoseconsderanas cautelasconstitucionaisemtomodadecretaodo vciomximoe atradiodanossa jurisprudnciaedoutrinanosentidode evitar-se o confronto com aConstituio,quando adiscrepncia pode ser dirimida num cotejo de normas infra-constitucionais" (p.351). OSupremo TribunalFederal manteve o julgado no RE101.084,PR, ReI.Min.Moreira Alves,RTJnO122, p.394/398).De l para c nunca mais alterou tal entendimento, que ,portanto,anterior Constituio Federal de 1988. livl, v.11, 0.1, p.1-98, JaoJJuL 1999 Informativo Jurdico da Biblioteca Ministro Oscar Saraiva, v.11, n. 1, p. 1-98, JanJJuI. 1999- 37 NojulgamentodoRE172.058-1,SC(DJU,13.10.95),talvezna ocasioemquemaisrecentementeoSupremoTribunalFederalenfrentoua questo,o Ministro Marco Aurlio assim se manifestou a respeito: "Nesterecursoextraordinrio,aUnio,aliceradaemensinamentodeJosAfonsodaSilvaeolvidandoconflitodemaior envergadura, sustenta que a espcie resolve-se no campo dailegalidade - denominada pelo ilustreProfessor como"ilegitimidadeconstitucional".Anormadoart.35 daLei nO7.713/88teriaimplicado,quandomuito,ouseja,diantedaspremissasdo acrdoatacado,aincompatibilidadecomoartigo43doCdigoTributrio Nacional" ..."Ocasoresolve-senosobo ngulodaharmonia ouconflitodo citadoartigo 35 com o artigo43 doCdigoTributrioNacional,masem face regrainafastvel daalnea"a" doinciso111doartigo146 daCartaPoltica,segundo a qualcabe lei complementar a definio detributos e espcies,bem comoemrelaoaosimpostosdiscriminadosnaprpriaConstituio,ados respectivosfatosgeradores,basesdeclculoecontribuintes.Novinga,assim,o que articulado pelaUnio,muito emboraformalizadoa partir delio,a todaevidncia inadequada espcie,do inigualvel Jos Afonso da Silva". pocaemqueessajurisprudnciaseformou,isto,antesda Constituio Federal de 1988,decidir que a matria encerravainconstitucionalidade,enoilegalidade,s tinhareflexosnos tribunaislocais,que parareconhecer oconflitoentreasnormasestavamsujeitosaoprincpio dareservado Plenrio,previsto no artigo 97da Constituio Federal, a cujo teor s a maioria dos membros do Tribunal oudo rgoEspecial,onde houver,pode declarar a inconstitucionalidade de lei. Agora,essa jurisprudncia passoua definir orecurso cabvel,se o extraordinrioouoespecial,epor viadeconseqnciaqualoTribunalcompetente,oSupremo TribunalFederalouoSuperior Tribunalde Justia.E atribuiao Superior Tribunalde Justiaumpapelmuito pequeno em matria tributria. Inicialmente,oSuperior Tribunalde Justianocompreendeuou preferiuignorarosignificadodessajurisprudncia,constandodoseuacervo dezenasdecasosdiferentesemqueaquestoestavacentradaexclusivamentenacompatibilidadeouincompatibilidadeentreleisordinrias(federais, estaduaisoumunicipais)enormasgeraisdedireitotributriointegradasno CdigoTributrioNacional.AlgumasdecisesforamconfirmadaspeloSupremo TribunalFederal,outras no - em ambos os casos evidenciada aimpropriedade do recursoespecialeaincompetncia do Superior Tribunalde Justia. Tudoporque,ento,seu julgamentono foideltimainstncia,masde uma terceira instncia no prevista no texto bsico. Atualmente,o sintoma de que esto funcionando mal,porque no estodecidindoemltimainstncia,j foipercebidopelasTurmasdeDireito 38- Informativo Jurdico da Biblioteca Ministro Oscar Saraiva, v.II, n. 1, p. 1-98, JanJJuL 1999 ;(DJU,13.10.95),talvezna TribunalFederalenfrentoua stou a respeito: lio,aliceradaemensina7flitodemaior envergadura, ~ a l i d a d e - denominadapelo /".Anormadoart.35 daLei ia,diantedaspremissasdo igo43doCdigoTributrio ) daharmoniaou conflitodo rioNacional,mas em face 10146 daCartaPoltica,se, detributos e espcies,bem prpriaConstituio,ados 'XJntribuintes.Novinga,asrmalzadoa partir delo,a el Jos Afonso daSilva". seformou,isto,antesda iaencerrava inconstitucionalunaislocais,quepararecos aoprincpio dareservado eral,a cujo teor s a maioria nde houver,pode declarar a lefrnir o recurso cabvel,se o nciaqualoTribunalcomIr Tribunalde Justia.E atriJpequeno em matria tribuustianocompreendeuou I,constandodoseuacervo estavacentradaexclusivaItreleisordinrias(federais, eitotributriointegradasno ImconfirmadaspeloSupreI50S evidenciadaaimpropri>uperior Tribunalde Justia. Umainstncia,masdeuma Incionando mal,porqueno dopelasTurmasdeDireito Pblico(a1a e a 2a)- comreaesdiversas.A1a Turmatemsidocasusta; deixadeconhecerdosrecursosespeciais,tologoamatrianelesversada tenhasido decididaemrecursoextraordinriopeloSupremo TribunalFederal. Ja2a Turmatemprocuradoseorientarpelosprincpios;constatandoquea matriadenaturezaconstitucional,noconhecedorecursoespecial,tenha ouno sido objeto de deciso no Supremo TribunalFederal. Bemporisso,a2a Turmanuncaexaminou,porexemplo,a questo de saber se o artigo 3,inciso I,da Lei nO8.200,de 1991, compatvel com o artigo 43 do Cdigo Tributrio Nacional,enquanto aquela tem decidido a matria,que j estemcurso de julgamentonoSupremo TribunalFederalse pronuncie(RE201.465-6,MG,ReI.Min.MarcoAurlio).Porumoupor outro caminho,ficaclaroque,mantidaa orientao do Supremo TribunalFederal,o SuperiorTribunaldeJustia,commaioroumenorprazo,noconhecerde recursos especiais emque se discuta acompatibilidade de leisordinrias com normas gerais de direito tributrio. NemtodososartigosdoCdigoTributrioNacionalencerram normas gerais de Direito Tributrio,e mesmo algumas normas gerais de Direito Tributrio so aplicadaspelo juiz,sem ocontrastecomasleis ordinrias(v.g., arts.108e109),demodoque,nessescasos,orespectivoexamesedem recursoespecialnoSuperior Tribunalde Justia.Mas a tendncia,realmente,a de que a aplicao das normas gerais de Direito Tributrio,nisso sesubsumindo grande parte do Cdigo TributrioNacional,sejadecidida emrecurso extraordinrio perante o Supremo TribunalFederal. OSuperiorTribunaldeJustia,porexemplo,jnoconhecede recursosespeciais emquese discute se a TaxadeLimpezaPblicadoMunicpio de So Paulo (LeiMunicipalnO11.152, de 1991) atende aos requisitos de especificidade e divisibilidade previstos no artigo 77 do Cdigo TributrioNacional. Oefeitomaior de tudoissoseroagravamento dacrisepor que passaoSupremoTribunalFederal,svoltascomumaquantidadeinvencvel detrabalho.Decertomodo,umefeitoqueaomenosdepoisdaConstituio Federalde1988 elepoderiater evitadoseaplicassehipteseocritrioque seguenasdemais,isto,odequeorecursoextraordinrioscabvelpor ofensadiretaConstituio.Enquantonoscasosapontadosaofensas percebidaaps oconfronto da leiordinriacomaleicomplementar.Semdesmerecer a jurisprudnciaassentadaaindanavignciada ConstituioFederal de1988,fundadaemdoutrinadamelhorqualidade,talvezfosseocaso,no novoregime,defazerumadistinoirrelevantenoanterior,entrequesto constitucional equestoconstitucionalsujeitaarecursoextraordinrio;oconflitoentre lei ordinriaelei complementar noseria,ento,umaquesto constitucionalsujeita a recurso extraordinrio. liva, v.H, n.1, p.1-98, JanJJuL 1999 Informativo Jurdico da Biblioteca Ministro Oscar Saraiva, v.11, n.1, p. 1-98, JanJJul. 1999- 39 Aincompatibilidadedeumaleiordinriacomumaleicomplementar seriauma questo constitucionalparaos efeitos do artigo 97da Constituio Federal,isto ,o juzo de inconstitucionalidade da lei ordinria s poderiaserpronunciadopelamaioriado TribunaloudeseurgoEspecial,mas no seria uma questo constitucional paraos efeitos do recursoextraordinrio, porque,nesse caso,a leso Constituio Federal seria indireta. 40- Informativo Jurdico da Biboteca Ministro Oscar Saraiva, v.H, n. 1. p. 1-98, JanJJuL 1999 r'lriacomumaleicompie!feitos do artigo97daConsade da lei ordinria s podeleseurgoEspecial,mas os dorecursoextraordinrio, I seria indireta. REFORMA ADMINISTRATIVA: A EMENDA N19/98(*) Carlos Alberto Menezes Direito Ministro do Superior Tribunal de Justia Professor Titular da PUC/RJ. Como todos sabemos,o nosso pas temsidoreceptivo a uma alta rotatividade constitucional.Isso pode ser examinado pelo lado positivo,ouseja, apreocupaodeimporsemprelimites,muitasvezesamplssimos,aopoder do Estado,e pelo lado negativo,ouseja,pela falta de sedimentao cultural do valordaConstituio,alembrarLassallenasuaconhecidaequiparaoa uma folhade papel,frgilnamedidamesma daidentificao dos fatoresreais de poder. Nsvivemos,desdeosprimeirostemposrepublicanos,sobainflunciadosconstituintesamericanos,umregimedeconstituioracionalnOmr'lativa,para utilizamr'losuma velha,mas importante, tipologia fOmr'luladapor Garcia-Pelayo.Esse tipoconstitucional,quereservaaumcorporepresentativo a elaborao daConstituio,de umasvez,emdocumento escrito,guarda muitas vantagens e,tambm,no poucos inconvenientes. A vantagemmaior,semdvida,a explicitao de umpatamar legalsuperior,queimpeuma hierarquiacontroladapeladisciplinaconstitucional.Todasasleissubordinamse Constituio,como que o controle daconstitucionalidade das leis,a partir da supremacia daConstituio, a marca mais forte.O inconveniente visvel oagasalhodaConstituioparamatrias que,absolutamente,nada tmaver comaorganizaodoEstado,comadisciplinadospoderesdoEstado,da resultandouma freqente exausto daConstituio,a exigir mudanasrotineirasparaadaptarasmatriasaladasaopatamarconstitucionalaopadro atualizado de exigncias da sociedade. H,ainda,umaspecto quemerece destacadonoroldos inconvenientes,assimaqueledamediocrizaodasmatriasconstitucionais,apartir da faltade uma culturadacidadania.De fato,emnossopas,lamentavelmente,pretende-seresolveroproblemamoraldasociedadeporintemr'ldiodo direitopositivo.Osistemalegalserveparacriar freioscontramanobrasdesti(*)Conferncia pronunciada no Congresso de Direito Constitucional organizado pela Universidade Estcio de S e realizado na EMERJ, em 02.09.98. raiva, v.U, n. I, p.1-98, JanJJuL 1999 Informativo Jurdico da Biblioteca Ministro Oscar Saraiva, v.li, n.I, p. 1-98, JanJJul. 1999- 41 nadas a lesar o Estado,paraburocratizar a administrao pblica com o intuito deimpedir osadministradoresde fraudar o errio,parainibir comportamentos escusos.Mas,tambm,serveparaguiarinteressesdedeterminadosgrupos oucategorias profissionais,sempre atuantes na elaborao legislativa. O cenrio,como evidente,alcana a Constituio, medida que asleisordinrias,muitasvezes,soelaboradasaosabor depresses vigorosascapazesdeinfluenciar olegislador ordinrio,comoacontece emtodasas partes do mundo. Ocorre que,comisso,fica esquecida umaindagao fundamental, qualsejaaquelasobre que tipo deEstado desejamos parareger a nossa vida. No bom esquecer que ns,muito rapidamente,passamos de ummodelo de altoteordeintervenoestatalparaoutromenosintervencionista,aindaque estejampreservados,dopontode vistalegal,muitos mecanismos deinterveno.Veja-se o segmento econmico que vivemomento deamplaspossibilidades de importao,vivificandoo mundo globalizado que tanto se propala,mas, ainda,subordinadoacontrolesseverosque,deumahoraparaoutra,podem alterar o quadro logstico e impor novo fechamento. Semdvidaalguma,nomaispossvelconstruiroEstadona suadimensoeconmicaeempresarial,naqualosmecanismosdisponveis estoconcentradosemcorporaespoderosas.EssascorporaesenvolveramoaparelhodoEstadodetalmaneiraquepassaramarepresentaroseu perfilmaissignificativo,comumaexuberanteprosperidadediantedapobreza dadimensosocial.Veja-se,somentea ttulode exemplo,asempresas estataiseseusfuncionriostcnicos,comsuasempresasdeprevidnciaprivada dispondo de ricopatrimnio,e os nossos hospitais e escolas,coma baixssima remuneraodemdicoseprofessores,emumasociedadequeaindatem analfabetos e doenas endmicas que perduramat mesmonos grandes centrosurbanos,semfalarnosenormesespaosdaAmazniaedoNordeste. Essaradiografiasimples j demonstra que onossoEstadorequer urgente mudana qualitativa,voltadapara o fortalecimento da cidadania,o que quer dizer, concretamente, voltada para a satisfao dos interesses bsicos da populao. claroqueorigorosocontroledoprocessoinflacionrioteverepercussoextremamentepositiva,comumainauguraldistribuiodariqueza nacionalemfavordosestratosquevivemderendimentosfixosousalrios, aliviandoa gula especulativa,prpria deuma economia de mercado globalizada,que interliga as crises em qualquer ponto do planeta. Todavia,oqueareformadoEstadodevebuscar ,exatamente, umalinhaque,assimcomofoipreservadaamoedapelocontroledainflao, elejaadimensosocialcomopontofundamentalparaapresenadoEstado nasociedade.Entreumaricaempresadeprevidnciaprivadaestataleum hospitalouumapequenina escolaprimria,estaltimadeveser considerada, 42- Informativo Jurdico da Biblioteca Ministro Oscar Saraiva, v.n, D.1, p. 1-98. JanJJuL 1999 listrao pblica comointuito >,parainibir comportamentos iSeSdedeterminadosgrupos laborao legislativa. a Constituio,medida que aosabor depressesvigoro-comoaconteceemtodasas uma indagao fundamental, mos parareger anossa vida. , passamos de um modelo de ISintervencionista,aindaque itos mecanismosde intervenmento de amplaspossibilida:10que tanto sepropala,mas, umahoraparaoutra,podem o. )ssvelconstruiroEstadona los mecanismosdisponveis Essascorporaesenvolve-assaramarepresentaroseu lsperidadediantedapobreza exemplo,as empresas estaIresasdeprevidnciaprivada s e escolas,coma baixssima lasociedadequeaindatem at mesmonos grandes ceniaAmazniaedoNordeste. lOEstadorequer urgente muSIcidadania,o que quer dizer, resses bsicos da populao. recessoinflacionriotevereJguraldistribuiodariqueza mdimentosfixosousalrios, Inomiade mercadoglobalizalaneta. devebuscar ,exatamente, lda pelo controle dainflao, I paraapresenadoEstado dnciaprivadaestataleum ltimadeve ser considerada, raiva, v.lI, D.1, P. 1-98, JanJJull999 efetivamente,oobjeto da ao estatal.Nessesentido,busca-seuma administrao pblica eficiente,comaprestao deserviospblicos essenciaiscom qualidade.JoCdigo de Defesado Consumidorincluicomo direitobsicoa "adequada eeficaz prestao de servios pblicos em geral" (art.6,X). Areformaadministrativa,queobjetodenossostrabalhoshoje, deve ser examinada comessa perspectiva. Comosabemos,areformaadministrativa comeoucomuma proposta de emendadoPoder Executivo.E orelator dareforma,naCmara dos Deputados,oSr.DeputadoMoreiraFranco.recordouemseurelatrioqueo BrasilteveasuaprimeirareformaadministrativacomoPresidenteGetlio Vargas,quepadronizouaadministraodematerial,introduziuaconcepo de oramentocomoplano de administrao emudoua administrao depessoal,criandoofamosoDASP,coma finalidadede fomentar critriosderecrutamentoeaprimoramentodopessoal.NoGovernodoPresidenteCastello Branco,elaborou-seumanovareformadaadministraopblica,tendocomo eixo o Decreto-leinO200/67. Destafeita,areformaalcanou,basicamente,oCaptuloVIIda ConstituioFederal,alterando,fundamentalmente,osprincpiosgeraisda administrao pblica,com apreocupao de expurgar do texto limitaes que seriaminadequadas para agilizar amquina do Estado emelhorar a qualidade dos servios prestados. Diantedotempodisponvel,vamosrepassar,apenas,alguns pontosmais expressivosdareformaadministrativa, j emvigor coma promulgao da Emenda Constitucional nO.19, de 1988. Oprimeiroponto quemerecedestacadoequereputode grande alcance aintroduo de comando para a elaborao de uma leipara disciplinarasformasdeparticipaodousurionaadministraopblicadiretae indireta,regulandoespecialmente:I- asreclamaesrelativasprestao dosserviospblicosemgeral,asseguradasamanutenodeserviosde atendimentoaousurioeaavaliaoperidica,externaeinterna,daqualidade dos servios;li - oacessodosusuriosaregistrosadministrativos e a informaes sobre atos de governo,observado odisposto noart.5,X e XXXIII; 111- adisciplinada representaocontraoexerccionegligente ouabusivo de cargo,emprego ou funo na administrao pblica. Naminhaavaliao,estecomandoconstitucionalpodeterum efeitotopoderosoquantooCdigo deDefesadoConsumidor.Naverdade, trata-sedeelaborarumaLeideDefesadoUsuriodosServiosPblicos. Como todossabemos,oCdigodeDefesadoConsumidor alcanouumatal dimenso que hoje,na lio de mestres comoRuy Rosado de Aguiar e Srgio Cavalieri,a suapresenasocial mais importante do que a do prprio Cdigo Informativo Jurdico da Biblioteca Ministro Oscar Saraiva, v. 11, n.1, p. 1-98, JanJJuL 1999- 43 44 Civil.E isso porque cuida diretamente de direitos dacidadania,to pouco valorizados,at aedio do Cdigo,no que serefereao povo consumidor.Ora,o que se poder dizer de uma leigarantindo ao usurio do servio pblico direito derepresentaocontraoexerccionegligenteouabusivo de cargo,emprego oufunonaadministraopblica?evidente que estnas mosdo CongressoNacionalumaresponsabilidademaior,medidaqueaConstituio criouummecanismodecontroledaqualidadedoserviopblico.EoCongressoNacionaldispedoprazodecentoevintediasparaelaboraraleide defesa do usurio de servios pblicos,a teor do art.27 da Emenda. O segundoponto aser destacado diz coma controvertidadisciplina da estabilidade,regulada no art.41.A reformaadministrativa no destruiu a estabilidade,como muito se alardeou,sema devida leitura do textoreformado. O que areformaincorporoufoiapossibilidadedaperdadocargoemcircunstnciasmuitoespeciais,ademaisdasentenajudicialtransitadaemjulgado e doprocessoadministrativoemquesejaasseguradaampladefesa,jconstantes da anterior redao. Primeiro,submeteuaaquisiodaestabilidadeaumacondio, assima obrigatria avaliao especialde desempenho por comissoinstituda para essa finalidade,considerando no mais o prazo de dois anos,mas,sim,o prazodetrsanos.Oservidor,agora,aprovadoemconcursopblico,no maistorna-seestvelporinrcia.Dependedaavaliaoobrigatriadoseu desempenho.Isto significa,ameujuzo,queosimplesdecurso do tempono bastaparaque oservidor adquira a estabilidade.E assimmepareceporque o texto determinaqueacondioparaaaquisiodaestabilidade,ademais do prazo de trs anos, a avaliao especial de desempenho na forma do 4 do art. 41. Segundo,leicomplementar estabeleceromecanismode avaliaoperidicade desempenho do servidor,comoque,umavez promulgadaa leicomplementar,oservidorpoder,senomantiverumdesempenhosatisfatrio,perder oseu cargo.Como fcilverificar,esse ditame da Constituio casa-secomaqueloutrosobrearepresentaodousuriocontraoexerccio negligenteouabusivode cargopeloservidor.Estapostoumfreiocontraa m qualidade dos servios prestados pelo Estado. Terceiro,imps areformaumrigorosocontroleda despesapblicacompessoalativoeinativodaUnio,dosEstadosedosMunicpios,que nopoderser superior alimitesfixadosemleicomplementar.Assim,autorizouonovo texto,desobedecido olimitelegislado,desde logo,a suspenso de todososrepassesdeverbasfederaisouestaduaisaosEstados,aoDistrito Federal e aos Municpios e,ainda,estabeleceu uma linha de providncias para ocumprimentodo limiteantesreferido,assimareduoempelo menos vinte por centodas despesascomcargosemcomisso e funesde confianaea Informativo Jurdico da Biblioteca Ministro Oscar Saraiva, v.lt, n. 1, p. 1-98, JanJJuL 1999 ja cidadania, to pouco valo, ao povo consumidor.Ora,o rio do servio pblico direito J abusivo de cargo,emprego que estnasmos do ConmedidaqueaConstituio loserviopblico.EoCone diasparaelaboraraleide Irt. 27 da Emenda. : coma controvertidadiscipliadministrativa no destruiu a ja leitura do texto refonnado. Iperdado cargo emcircunsIicialtransitadaemjulgado e radaampladefesa,jconslStabilidadeaumacondio, enho por comissoinstituda lZo de dois anos,mas,sim,o :>emconcursopblico,no avaliaoobrigatriadoseu nples decurso do tempo no E assim me parece porqueo daestabilidade,ademaisdo lmpenho na fonna do 4 do ::eromecanismodeavaliaque,umavezpromulgadaa ltiverumdesempenhosatisesse ditame daConstituio lousuriocontraoexerccio apostoumfreiocontraa o controledadespesapbliladosedosMunicpios,que omplementar.Assim,autoridesde logo,a suspenso de aisaosEstados,aoDistrito lalinha de providncias para !duo empelomenos vinte demissodeservidoresnoestveis.Se,contudo,taismedidasnoforem suficientesparaassegurarocumprimentodadetenninaolegal,oservidor estvelpoderperder o cargo,desde que atonormativo motivado de cadaum dosPoderes especifique aatividade funcional,orgoouunidade administrativaobjeto da reduo de pessoal,comoprescrito no 4 do art.169,assegurando,no5,indenizaocorrespondenteaummsderemuneraopor anode servio,dispondoaleifederalordinriasobreaaplicao domecanismodereduodepessoalcomademissodeservidoresestvei