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MUNICÍPIO DE ROLADOR/RS PROCURADORIA JURÍDICA MUNICIPAL Av. João Batista, nº. 700, Centro, CEP: 97.843-000 – Rolador/RS Fone/Fax: (55) 3614.7080 / (55) 3352.3231 1 Parecer 069/13/PJM Consulente: Departamento de Engenharia. Assunto: Certidão de localização de imóvel urbano. Referência: Processo Administrativo nº. 633/2013. EMENTA: ADMINISTRATIVO. CADASTRO IMOBILIARIO. CERTIDÃO DE LOCALIZAÇÃO DE IMÓVEL URBANO. 1. A certidão de localização de imóvel urbano deve ser expedida a partir dos dados existentes no Cadastro Imobiliário de que trata o artigo 14 do Código Tributário Municipal, a cargo do órgão responsável pelo referido banco de dados. 2. Não estando formalmente individualizado o imóvel que se pretende localizar, mas desde que indique uma situação jurídica consolidada, faz-se necessária sua prévia regularização perante o Cadastro Imobiliário em processo próprio, no qual deverá ser exigido, além de planta de localização, memorial descritivo e ART, também a anuência dos confrontantes e/ou condôminos, conforme o caso, submetendo-se o referido processo à avaliação técnica do Departamento de Engenharia, numa atuação conjunta deste com o órgão responsável pelo cadastro. PARCELAMENTO DO SOLO IRREGULAR OU CLANDESTINO. O Poder Público Municipal é responsável subsidiário pela regularização dos parcelamentos do solo realizados ao arrepio da lei, observado o interesse público nas ações a serem desenvolvidas e assegurado o direito de regresso em face do loteador faltoso. ORDENAMENTO TERRITORIAL. Deve o Poder Público Municipal elaborar um plano diretor e estudar a viabilidade de implantação de um programa de regularização fundiária, a fim de ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes, objetivos da política de desenvolvimento urbano prevista na Constituição da República e na Lei Orgânica do Município de Rolador. 1. DO RELATÓRIO Para exame e parecer desta Procuradoria Jurídica, o Departamento de Engenharia, através de sua responsável técnica, engenheira civil Fernanda Cattelan, encaminhou o processo administrativo em epígrafe, que versa sobre certidão de localização de imóvel urbano.

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Av. João Batista, nº. 700, Centro, CEP: 97.843-000 – Rolador/RS Fone/Fax: (55) 3614.7080 / (55) 3352.3231 1

Parecer 069/13/PJM

Consulente: Departamento de Engenharia.

Assunto: Certidão de localização de imóvel urbano.

Referência: Processo Administrativo nº. 633/2013.

EMENTA: ADMINISTRATIVO. CADASTRO IMOBILIARIO. CERTIDÃO DE LOCALIZAÇÃO DE IMÓVEL URBANO. 1. A certidão de localização de imóvel urbano deve ser expedida a partir dos dados existentes no Cadastro Imobiliário de que trata o artigo 14 do Código Tributário Municipal, a cargo do órgão responsável pelo referido banco de dados. 2. Não estando formalmente individualizado o imóvel que se pretende localizar, mas desde que indique uma situação jurídica consolidada, faz-se necessária sua prévia regularização perante o Cadastro Imobiliário em processo próprio, no qual deverá ser exigido, além de planta de localização, memorial descritivo e ART, também a anuência dos confrontantes e/ou condôminos, conforme o caso, submetendo-se o referido processo à avaliação técnica do Departamento de Engenharia, numa atuação conjunta deste com o órgão responsável pelo cadastro. PARCELAMENTO DO SOLO IRREGULAR OU CLANDESTINO. O Poder Público Municipal é responsável subsidiário pela regularização dos parcelamentos do solo realizados ao arrepio da lei, observado o interesse público nas ações a serem desenvolvidas e assegurado o direito de regresso em face do loteador faltoso. ORDENAMENTO TERRITORIAL. Deve o Poder Público Municipal elaborar um plano diretor e estudar a viabilidade de implantação de um programa de regularização fundiária, a fim de ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes, objetivos da política de desenvolvimento urbano prevista na Constituição da República e na Lei Orgânica do Município de Rolador.

1. DO RELATÓRIO

Para exame e parecer desta Procuradoria Jurídica, o

Departamento de Engenharia, através de sua responsável técnica, engenheira civil

Fernanda Cattelan, encaminhou o processo administrativo em epígrafe, que versa

sobre certidão de localização de imóvel urbano.

Charles
Realce
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Av. João Batista, nº. 700, Centro, CEP: 97.843-000 – Rolador/RS 2 Fone/Fax: (55) 3614.7080 / (55) 3352.3231

A consulta foi formulada nos seguintes termos, in verbis:

Venho, por meio deste, realizar consulta jurídica sobre emissão de

certidão de localização de terrenos situados neste Município. Cumpre informar que a prática até então existente consiste na

emissão de certidão de localização por parte deste Departamento de Engenharia, com base nos dados técnicos fornecidos pelo profissional contratado pelo solicitante, tais como planta de localização, memorial descritivo e ART mais a matrícula do Registro de Imóveis atualizada.

Entretanto, parece-me que o mais correto seria que essa certidão fosse extraída a partir dos dados existentes no cadastro imobiliário da Prefeitura.

A fim de dirimir a dúvida exposta encaminho a matéria para apreciação dessa Procuradoria.

É o sintético relatório.

2. DO PARECER

A matéria cinge-se ao procedimento para expedição da certidão

de localização de imóvel urbano, em especial ao órgão competente para sua

emissão, tema que está umbilicalmente relacionado à regularização fundiária.

2.1. Das certidões expedidas pelo Poder Público

Inicialmente, cumpre referir que a Constituição da República

Federativa do Brasil, em seu artigo 5º, XXXIV, b, assegura a todos,

independentemente do pagamento de taxas, a obtenção de certidões em repartições

públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse

pessoal.

Exercendo sua profícua função de Guardião da Constituição, o

Supremo Tribunal Federal, com base no citado dispositivo, já decidiu, litteris:

E M E N T A: DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS - SEGURADOS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL - CERTIDÃO PARCIAL DE TEMPO DE SERVIÇO - RECUSA DA AUTARQUIA PREVIDENCIÁRIA - DIREITO DE PETIÇÃO E DIREITO DE OBTENÇÃO DE CERTIDÃO EM REPARTIÇÕES PÚBLICAS - PRERROGATIVAS JURÍDICAS DE ÍNDOLE EMINENTEMENTE CONSTITUCIONAL - EXISTÊNCIA DE RELEVANTE INTERESSE SOCIAL - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - LEGITIMAÇÃO ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO - A FUNÇÃO INSTITUCIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO COMO

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"DEFENSOR DO POVO" (CF, ART, 129, II) - DOUTRINA - PRECEDENTES - RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO. - O direito à certidão traduz prerrogativa jurídica, de extração constitucional, destinada a viabilizar, em favor do indivíduo ou de uma determinada coletiv idade (como a dos segurados do sistema de previdência social), a defe sa (individual ou coletiva) de direitos ou o esclarecimento de situaç ões. - A injusta recusa estatal em fornecer certidões, não obstante present es os pressupostos legitimadores dessa pretensão, autorizará a utiliza ção de instrumentos processuais adequados, como o mandado de segurança ou a própria ação civil pública. - O Ministério Público tem legitimidade ativa para a defesa, em juízo, dos direitos e interesses individuais homogêneos, quando impregnados de relevante natureza social, como sucede com o direito de petição e o direito de obtenção de certidão em repartições públicas. Doutrina. Precedentes. (RE 472489 AgR, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 29/04/2008, DJe-162 DIVULG 28-08-2008 PUBLIC 29-08-2008 EMENT VOL-02330-04 PP-00811 RTJ VOL-00205-03 PP-01413 RT v. 97, n. 878, 2008, p. 125-130 LEXSTF v. 30, n. 358, 2008, p. 322-333 RMP n. 37, 2010, p. 257-265)

Dessa forma, cumpre anotar, que independentemente da

existência de lei para disciplinar a matéria, constitui obrigação constitucional dos

entes públicos fornecer certidão relativa a dados constantes de seus diversos

registros, até mesmo porque as normas definidoras dos direitos e garantias

fundamentais insculpidas no artigo 5º da Lei Maior têm aplicação imediata,

consoante §1º do referido dispositivo.

O saudoso doutrinador Hely Lopes Meirelles ensina que

certidões administrativas são “cópias ou fotocópias fiéis e autenticadas de atos ou

fatos constantes de processo, livro ou documento que se encontre nas repartições

públicas”, através das quais o Poder Público não manifesta sua vontade, limitando-

se a transladar para o documento a ser fornecido ao interessado o que consta de

seus arquivos1.

Em sua abalizada doutrina, ressaltando a presunção relativa de

veracidade de que gozam as certidões, bem como sua natureza meramente

declaratória, o professor Marçal Justen Filho aponta para o mesmo sentido, senão

vejamos:

A certidão consiste num ato administrativo de cunho declaratório,

que explicita a existência ou a inexistência de um fato ou de um ato,

1 Direito administrativo brasileiro. 26ª ed. São Paulo: Malheiros, 2001. p.184

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caracterizando-se pela presunção relativa de veracidade quanto aos seus termos.

Ela não é um instrumento de natureza constitutiva, visto que não cria diretamente direitos nem obrigações. A certidão apenas traduz aquilo que consta em documentos disponíveis nos arquivos a dministrativos. Isso significa que os direitos e as obrigações são produzidos em virtude dos fatos e eventos juridicamente relevantes, cuja existência ou inexistência se extrai dos arquivos ou documentos e statais. Assim, por exemplo, uma certidão de nascimento consiste num documento que reproduz informações contempladas em registros de natureza pública. A certidão é um acessório, uma decorrência de documentos, arquiv os e registros públicos, destinando-se a eliminar dúvida sobre o s eu conteúdo e a permitir que os interessados invoquem os efeitos ju rídicos daí decorrentes.

Assim, a função da certidão pode ser extremamente relevante para o reconhecimento de direitos e obrigações, especialmente porque os eventos nela referidos são presumidos como existentes (certidão positiva) ou inexistentes (certidão negativa). Costuma-se afirmar que a certidão goza de fé pública. Essa fórmula verbal indica precisamente essa presunção de veracidade. O conteúdo da certidão é presumido verdadeiro até prova em contrário, ou seja, trata-se de presunção “juris tantum”. A desconstituição de uma certidão envolve, por isso, formalidades especiais, destinadas a respaldar a segurança jurídica. Justamente por isso, a comprovação da falsidade das informações contempladas na certidão impõe a responsabilização do agente responsável e pode acarretar inclusive a responsabilização civil do Estado.2 (grifei)

Dito isso, forçoso concluir que a certidão, de natureza

meramente declaratória, tão-somente retrata uma informação constante dos

registros públicos em sentido amplo.

2.2. Da certidão de localização de imóvel urbano

In casu, resta identificar a fonte da qual se deve extrair a

certidão de localização de imóvel urbano em agito, cuja importância se relaciona

com o consagrado direito à propriedade.

Ora, não é de se olvidar que, com vista notadamente à cobrança

do imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana, de que trata o artigo 156,

I, da Constituição Federal, de regra, os municípios mantêm os denominados

cadastros imobiliários.

2 Curso de direito administrativo. 7ª ed. Belo Horizonte: Fórum, 2011. p.388

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No âmbito do Município de Rolador, o Código Tributário

instituído pela Lei nº 295, de 24 de dezembro de 2003, dispõe que “O prédio e o

terreno estão sujeitos a inscrição no Cadastro Imob iliário , ainda que

beneficiados por imunidade ou isenção” (grifei), consoante redação do seu artigo 14.

Portanto, deve a certidão de localização de imóvel urbano ser

expedida a partir do cadastro imobiliário de que trata o Código Tributário Municipal, a

cargo do órgão responsável pelo referido banco de dados.

Noutro giro, contudo, cumpre destacar que poderá o imóvel

objeto de eventual pedido de certidão não estar inscrito no cadastro imobiliário

municipal.

Nesses casos, partindo do pressuposto de que constitui

obrigação do município manter um cadastro imobiliário atualizado e de que não é

dado à Administração negar a expedição de certidões sobre dados constantes de

seus registros, consoante acima exposto, necessariamente deverá ser promovida a

prévia inscrição para viabilizar, posteriormente, a expedição da respectiva certidão

de localização de imóvel urbano, salvo se houver uma impossibilidade fática,

situação que adiante será analisada.

Nessa linha, por oportuno, insta ressaltar que a inscrição no

cadastro imobiliário encontra disciplina nos artigos 15 a 19 do Código Tributário

Municipal, litteris:

Art. 15 – A inscrição é promovida: I – pelo proprietário; II – pelo titular do domínio útil ou pelo possuidor a qualquer

título; III – pelo promitente comprador; IV – de ofício, quando ocorrer omissão das pessoas relacionadas

nos incisos anteriores e inobservância do procedimento estabelecido no artigo 19°.

Art. 16 – A inscrição de que se trata o artigo ante rior é

procedida mediante comprovação, por documento hábil , da titularidade do imóvel ou da condição alegada , o qual depois de anotado e feitos os respectivos registros, será devolvido ao contribuin te.

§ 1° - Quando se trata da área loteada, deverá a in scrição ser precedida do arquivamento, na Fazenda Municipal, da planta completa do

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loteamento aprovado, na forma da lei; § 2° - Qualquer alteração praticada no imóvel ou no loteamento

deverá ser imediatamente comunicada pelo contribuinte à Fazenda Municipal. § 3° - O prédio terá tantas inscrições quantas fore m as unidades

que o integram, observando o tipo de utilização. Art. 17 – Estão sujeitas a nova inscrição, nos termos desta lei, ou

à averbação na ficha de cadastro: I – a alteração resultante da construção, aumento, reforma,

reconstrução ou demolição; II – o desdobramento ou englobamento de áreas; III – a transferência da propriedade ou do domínio; IV – a mudança de endereço do contribuinte. Parágrafo Único: Quando se tratar de alienação parcial, será

precedida de nova inscrição para a parte alienada, alterando-se a primitiva. Art. 18 – Na inscrição do prédio, ou do terreno, serão observadas

as seguintes normas: I – Quando se tratar de prédio: a) com uma só entrada, pela face do quarteirão a ela

correspondente; b) com mais de uma entrada, pela face do quarteirão que

corresponder a entrada principal e, havendo mais de uma entrada principal, pela face do quarteirão por onde o imóvel apresentar maior testada, e, sendo estas iguais, pela de maior valor.

II – Quando se tratar de terreno: a) com uma frente, pela face do quarteirão correspondente a

sua testada; b) com mais de uma frente, pelas faces dos quarteirões

(quadras) que corresponderem as suas testadas, tendo como profundidade média uma linha imaginária eqüidistante destas;

c) de esquina, pela face do quarteirão de maior valor ou, quando os valores forem iguais, pela maior testada;

d) encravados, pelo logradouro mais próximo ao seu perímetro. Parágrafo Único – O regulamento disporá sobre a inscrição dos

prédios com mais de uma entrada, quanto estas corresponderem as unidades independentes.

Art. 19 – O contribuinte ou seu representante legal deverá comunicar, no prazo de 30 (trinta) dias, as alterações de que trata o artigo 17°, assim como, no caso de áreas loteadas, ou cons truídas, em curso de venda:

I – indicação dos lotes ou de unidades prediais vendidas e seus adquirentes;

II – as rescisões de contratos ou qualquer outra alteração. § 1 ° - No caso de prédio ou edifício com mais de u ma unidade

autônoma, o proprietário ou o incorporador fica obrigado a apresentar perante o Cadastro Imobiliário, no prazo de 30 (trinta) dias, a contar do habite-se a descrição de áreas individualizadas.

§ 2 ° - O não cumprimento dos prazos previstos nest e artigo ou informações incorretas, incompletas ou inexatas, que importem em redução da base de cálculo do imposto, determinarão a inscrição de ofício, considerando-se infrator o contribuinte.

§ 3 ° - No caso de transferência da propriedade imó vel, a inscrição será procedida no prazo de 30 (trinta) dias contados da data do registro do título no registro de imóveis. (grifei)

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Ademais, deve-se observar que a localização do imóvel urbano

a ser inscrito no cadastro imobiliário constitui requisito da própria matrícula,

conforme artigo 176, §1º, II, 3, b, da Lei 6.015/1973, que dispõe sobre os registros

públicos, senão vejamos:

Art. 176 - O Livro nº 2 - Registro Geral - será destinado, à

matrícula dos imóveis e ao registro ou averbação dos atos relacionados no art. 167 e não atribuídos ao Livro nº 3. (Renumerado do art. 173 com nova redação pela Lei nº 6.216, de 1975).

§ 1º A escrituração do Livro nº 2 obedecerá às seguintes normas: (Renumerado do parágrafo único, pela Lei nº 6.688, de 1979)

I - cada imóvel terá matrícula própria, que será aberta por ocasião do primeiro registro a ser feito na vigência desta Lei;

II - são requisitos da matrícula: 1) o número de ordem, que seguirá ao infinito; 2) a data; 3) a identificação do imóvel, que será feita com in dicação:

(Redação dada pela Lei nº 10.267, de 2001) a - se rural, do código do imóvel, dos dados constantes do CCIR,

da denominação e de suas características, confrontações, localização e área; (Incluída pela Lei nº 10.267, de 2001)

b - se urbano , de suas características e confrontações, localização , área, logradouro, número e de sua designação cadastral, se houver. (Incluída pela Lei nº 10.267, de 2001). (grifei)

Assim, deve a certidão de localização de imóvel urbano ser

expedida a partir do Cadastro Imobiliário de que trata o artigo 14 do Código

Tributário Municipal, pelo órgão responsável por esse banco de dados, mediante

prévia inscrição nos termos dos artigos 15 a 19 do CTM, se for o caso.

2.3. Dos imóveis não individualizados perante o Cad astro Imobiliário

De outra banda, porém, não se desconhece a realidade fática

que provavelmente motivará a maioria das situações envolvendo a expedição de

certidão de localização pela municipalidade.

Com efeito, dificilmente a Administração se deparará com pedido

de expedição de certidão de localização relacionado a um imóvel regularmente

individualizado e registrado.

Invariavelmente, conforme o caso posto, essa demanda estará

vinculada a existência de prédios sem limites definidos, ainda que formalmente, e/ou

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situados em áreas em condomínio, os quais, embora sujeitos ao cadastro imobiliário

para fins de incidência do IPTU, podem não possuir suas localizações consignadas

nos registros da Administração.

Para esses casos, a princípio, a solução para o administrado

encontra-se nas ações de divisão e de demarcação de terras particulares, cujo

suporte legal reside no caput dos artigos 1.297 e 1.320 do Código Civil, in verbis:

Art. 1.297. O proprietário tem direito a cercar, murar, valar ou

tapar de qualquer modo o seu prédio, urbano ou rural, e pode constranger o seu confinante a proceder com ele à demarcação entr e os dois prédios , a aviventar rumos apagados e a renovar marcos destruídos ou arruinados, repartindo-se proporcionalmente entre os interessados as respectivas despesas.

[...]

Art. 1.320. A todo tempo será lícito ao condômino exigir a divisão da coisa comum , respondendo o quinhão de cada um pela sua parte nas despesas da divisão.

Aliás, o Código de Processo Civil prevê até mesmo a

possibilidade de cumulação dessas ações, senão vejamos:

Art. 946. Cabe: I - a ação de demarcação ao proprietário para obrigar o seu

confinante a estremar os respectivos prédios, fixando-se novos limites entre eles ou aviventando-se os já apagados;

II - a ação de divisão , ao condômino para obrigar os demais consortes, a partilhar a coisa comum.

Art. 947. É lícita a cumulação destas ações; caso e m que deverá processar-se primeiramente a demarcação tota l ou parcial da coisa comum, citando-se os confinantes e condôminos . (grifei)

Por outro lado, entretanto, não se pode deixar de considerar que

muitos dos prédios situados em áreas em condomínio possivelmente caracterizem

loteamentos irregulares ou clandestinos, constituídos a partir da omissão do

Município em sua missão constitucional de promover o adequado ordenamento

territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da

ocupação do solo urbano, nos termos do artigo 30, VIII, da Constituição da

República3.

3 Art. 30. Compete aos Municípios: [...] VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano;

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O parcelamento do solo urbano poderá ser feito mediante

loteamento ou desmembramento. Considera-se loteamento a subdivisão de gleba

em lotes destinados a edificação, com abertura de novas vias de circulação , de

logradouros públicos ou prolongamento, modificação ou ampliação das vias

existentes, enquanto desmembramento constitui a subdivisão de gleba em lotes

destinados a edificação, com aproveitamento do sistema viário existente , desde

que não implique na abertura de novas vias e logradouros públicos, nem no

prolongamento, modificação ou ampliação dos já existentes, nos termos dos artigos

2º, §§ 1º e 2º, da Lei Federal nº 6.766/79 e 5º, I e II da Lei Complementar Municipal

nº 01/2006, que dispõem sobre o parcelamento do solo urbano.

Em linhas gerais, para realizar um loteamento, consoante as

citadas leis, o interessado deverá submeter o respectivo projeto à aprovação do

Município, registrá-lo no Cartório de Registro de Imóveis e executá-lo de acordo com

os termos aprovados pela municipalidade.

Entretanto, caso o empreendimento não seja executado de

acordo com o projeto ou não seja levado a registro, tem-se um loteamento

irregular , ao passo que aquele realizado sem aprovação do Município caracteriza-

se como loteamento clandestino 4.

O artigo 46 da Lcp Municipal 01/2006 preceitua que o Poder

Executivo deve impedir, ou fazer demolir pelos meios legais, as edificações ou

construções em lotes que afrontam a legislação federal e municipal, promovendo

judicialmente o cancelamento das inscrições irregulares, bem como as

responsabilidades civil e criminal dos infratores.

Entretanto, obviamente, esse dispositivo, notadamente ao que

se refere à expressão “fazer demolir”, deve ser interpretado de forma integrativa

dentro do conjunto normativo que regula a matéria.

Com efeito, embora seja vedado vender ou prometer vender

4 Conceitos assentes na doutrina que podem ser verificados, v.g., no artigo Regularização fundiária: conceitos básicos de autoria da promotora de justiça Dra. Lisandra Demari, publicado na cartilha Regularização Fundiária: como implementar, elaborada e distribuída, em 2011, pelo Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul. p.9

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parcela de loteamento ou desmembramento não registrado, o que inclusive dá azo a

diversos tipos penais previstos nos artigos 50 a 52 da Lei 6.766/795, o artigo 38

deste diploma legal prevê que o loteador deverá ser notificado pelo adquirente ou

pela Administração Municipal para suprir a falta, senão vejamos:

Art. 38. Verificado que o loteamento ou desmembramento não se

acha registrado ou regularmente executado ou notificado pela Prefeitura Municipal, ou pelo Distrito Federal quando for o caso, deverá o adquirente do lote suspender o pagamento das prestações restan tes e notificar o loteador para suprir a falta.

[...]

§ 2º A Prefeitura Municipal, ou o Distrito Federal quando for o caso, ou o Ministério Público, poderá promover a no tificação ao loteador prevista no caput deste artigo. (grifei)

Adiante, o artigo 40 da referida lei estabelece que diante da

inércia do loteador notificado, para resguardar as diretrizes urbanísticas e os direitos

dos adquirentes, o Município “poderá” regularizar o parcelamento irregular ou

clandestino:

Art. 40. A Prefeitura Municipal, ou o Distrito Fede ral quando

for o caso, se desatendida pelo loteador a notifica ção, poderá regularizar loteamento ou desmembramento não autori zado ou

5 Art. 50. Constitui crime contra a Administração Pública: I - dar início, de qualquer modo, ou efetuar loteamento ou desmembramento do solo para fins urbanos, sem autorização do órgão público competente, ou em desacordo com as disposições desta Lei ou das normas pertinentes do Distrito Federal, Estados e Municipíos; II - dar início, de qualquer modo, ou efetuar loteamento ou desmembramento do solo para fins urbanos sem observância das determinações constantes do ato administrativo de licença; III - fazer ou veicular em proposta, contrato, prospecto ou comunicação ao público ou a interessados, afirmação falsa sobre a legalidade de loteamento ou desmembramento do solo para fins urbanos, ou ocultar fraudulentamente fato a ele relativo. Pena: Reclusão, de 1(um) a 4 (quatro) anos, e multa de 5 (cinco) a 50 (cinqüenta) vezes o maior salário mínimo vigente no País. Parágrafo único - O crime definido neste artigo é qualificado, se cometido: I - por meio de venda, promessa de venda, reserva de lote ou quaisquer outros instrumentos que manifestem a intenção de vender lote em loteamento ou desmembramento não registrado no Registro de Imóveis competente. II - com inexistência de título legítimo de propriedade do imóvel loteado ou desmembrado, ressalvado o disposto no art. 18, §§ 4o e 5o, desta Lei, ou com omissão fraudulenta de fato a ele relativo, se o fato não constituir crime mais grave. (Redação dada pela Lei nº 9.785, de 1999) Pena: Reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa de 10 (dez) a 100 (cem) vezes o maior salário mínimo vigente no País. Art. 51. Quem, de qualquer modo, concorra para a prática dos crimes previstos no artigo anterior desta Lei incide nas penas a estes cominadas, considerados em especial os atos praticados na qualidade de mandatário de loteador, diretor ou gerente de sociedade. Parágrafo único. (VETADO) (Incluído pela Lei nº 9.785, de 1999) Art. 52. Registrar loteamento ou desmembramento não aprovado pelos órgãos competentes, registrar o compromisso de compra e venda, a cessão ou promessa de cessão de direitos, ou efetuar registro de contrato de venda de loteamento ou desmembramento não registrado. Pena: Detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa de 5 (cinco) a 50 (cinqüenta) vezes o maior salário mínimo vigente no País, sem prejuízo das sanções administrativas cabíveis.

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executado sem observância das determinações do ato administrativo de licença, para evitar lesão aos seus padrões de dese nvolvimento urbano e na defesa dos direitos dos adquirentes de lotes. (grifei)

Contudo, por força do princípio da indisponibilidade do interesse

público, a expressão “poderá regularizar” tem sido compreendida como um poder-

dever da Administração Municipal.

Nesse sentido, há muito vem apontando a jurisprudência do

Superior Tribunal de Justiça, consoante se verifica a partir das seguintes ementas:

ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. PARCELAMENTO DE SOLO. MUNICÍPIO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. 1. O Município, em se tratando de Ação Civil Pública para obrigar o proprietário de imóvel a regularizar parcelamento do solo, em face do modo clandestino como o mesmo ocorreu, sem ter sido repelido pela fiscalização municipal, é parte legítima para figurar no pólo passivo da demanda. 2. O Município tem o poder-dever de agir para que loteamento urbano irregular passe a atender o regul amento específico para a sua constituição. 3. O exercício dessa ativi dade é vinculada. 4. Recurso provido para que o Município, conforme chamamento feito na inicial pelo Ministério Público, autor da ação, figure no pólo passivo da demanda. (REsp 194.732/SP, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 23/02/1999, DJ 21/06/1999, p. 83) PROCESSUAL CIVIL - ADMINISTRATIVO - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - PARCELAMENTO DE SOLO - REGULARIZAÇÃO PELO MUNICÍPIO - PODER-DEVER - LEI 6.766/79, ART.40 - LEGITIMIDADE PASSIVA DO MUNICÍPIO. - O Município tem o poder-dever de agir no sentido de regularizar loteamento urbano ocorrido de modo clan destino, sem que a Prefeitura Municipal tenha usado do seu poder de po lícia ou das vias judiciais próprias, para impedir o uso ilegal do so lo. O exercício desta atividade é vinculada. - Recurso não conhecido. (REsp 124714/SP, Rel. Ministro FRANCISCO PEÇANHA MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 22/08/2000, DJ 25/09/2000, p. 84) RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. REGULARIZAÇÃO DO SOLO URBANO. ART. 40 DA LEI N. 6.766/79. MUNICÍPIO. COMPETÊNCIA VINCULADA. No que concerne à alegação de que a Lei n. 6.766/79 não se aplica aos conjuntos habitacionais de interesse social, o recurso não merece prosperar. Com efeito, como bem salientou o Ministério Público Federal, "a Lei 6.766/79 é aplicável a toda e qualquer forma de parcelamento do solo para fins urbanos (art. 1º da Lei), independentemente de haver vinculação ou não com os programas habitacionais de interesse social" (fl. 517). Por outro lado, nos termos da Constituição Federal, em seu artigo 3 0, inciso VIII, compete aos Municípios "promover, no que couber, ad equado ordenamento territorial, mediante planejamento e co ntrole do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano." Cumpre, pois, ao Município regularizar o parcelamento, as edificaçõe s, o uso e a ocupação do solo, sendo pacífico nesta Corte o ente ndimento segundo

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o qual esta competência é vinculada. Dessarte, "se o Município omite-se no dever de controlar loteamentos e parcelamentos d e terras, o Poder Judiciário pode compeli-lo ao cumprimento de tal de ver" (REsp 292.846/SP, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJ 15.04.2002). No mesmo diapasão, sustentou o Ministério Público Federal que "o Município não pode se furtar do poder-dever de agir vinculado e constitucionalmente previsto com vistas à regularização do solo urbano, sob pena de responsabilização, como sucedeu no caso por intermédio da via judicial adequada que é a ação civil pública" (fl. 518). Recurso especial improvido. (REsp 259982/SP, Rel. Ministro FRANCIULLI NETTO, SEGUNDA TURMA, julgado em 08/06/2004, DJ 27/09/2004, p. 287) PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LOTEAMENTO PARA FINS SOCIAIS IRREGULAR. RESPONSABILIDADE DO MUNICÍPIO. PODER-DEVER. ART. 40 DA LEI N. 6.766/ 79. LEGITIMIDADE PASSIVA DO MUNICÍPIO. 1. As exigências contidas no art. 40 da Lei n. 6. 766/99 encerram um dever da m unicipalidade de , mesmo que para fins sociais, regularizar loteamento urbano, visto que, nos termos do art. 30, VIII, da Constituição Federa l, compete-lhe promover o adequado ordenamento territorial mediant e planejamento, controle do uso, do parcelamento e da ocupação do s olo urbano. 2. Recurso especial parcialmente conhecido e não-provido. (REsp 131697/SP, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, SEGUNDA TURMA, julgado em 07/04/2005, DJ 13/06/2005, p. 216) ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LOTEAMENTO IRREGULAR. DANO AMBIENTAL. RESPONSABILIDADE DO MUNICÍPIO. ART. 40 DA LEI N. 6.766/79. PODER-DEVER. PRECEDENTES. 1. O art. 40 da Lei 6.766/79, ao estabelecer que o município "poderá regularizar loteamento ou desmembramento não autorizado ou executado sem obse rvância das determinações do ato administrativo de licença", fi xa, na verdade, um poder-dever, ou seja, um atuar vinculado da municip alidade. Precedentes. 2. Consoante dispõe o art. 30, VIII, d a Constituição da República, compete ao município "promover, no que c ouber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e co ntrole do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano". 3. Para evitar lesão aos padrões de desenvolvimento urbano, o Município não pode eximir-se do dever de regularizar loteamentos irregulares, se os loteadores e responsáveis, devidamente notificados, deixam de proceder com as obras e melhoramentos indicados pelo ente público. [...] (REsp 1113789/SP, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 16/06/2009, DJe 29/06/2009) ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL INTERPOSTO PELA MUNICIPALIDADE. INTEMPESTIVIDADE. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LOTEAMENTO IRREGULAR. PROVA CARREADA AOS AUTOS. RESPONSABILIDADE DO MUNICÍPIO E DO INSTITUIDOR. OBRIGAÇÃO DE FAZER. MULTA DIÁRIA. REDUÇÃO EM BUSCA DE PROPORCIONALIDADE. [...] (AgRg nos EDcl no AREsp 170.902/RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 07/03/2013, DJe 13/03/2013)

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Na mesma senda também aponta a firme jurisprudência do

Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, senão vejamos:

Ementa: APELAÇÃO. DIREITO PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO. AÇÃO CONDENATÓRIA C/C INDENIZAÇÃO. LOTEAMENTO IRREGULAR. DANO AMBIENTAL. RESPONSABILIDADE DO MUNICÍPIO. AUSÊNCIA DE PROCURAÇÃO. CABÍVEL O SUPRIMENTO NO PRAZO LEGAL. IMPOSSIBILIDADE DE ADICIONAR A MULTA POR DESCUMPRIMENTO ÀS PERDAS E DANOS. LOTEAMENTO IRREGULAR. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DO MUNICÍPIO. [...] III - O art. 30, VIII da Constituição Federal confere aos Municípios o dever de ordenar o espaço urbano. Por conta, então, do que dispõe a Carta da Repúblic a, as determinações constantes do artigo 40 da Lei 6.766/ 90 não constituem mera faculdade atribuída aos Municípios; antes, enc erram um dever da municipalidade de regularizar o loteamento ilegal o u clandestino. Assim, se o Município descurou do poder-dever de impedir o uso clandestino e ilegal do solo urbano, sem que tenha usado de seu p oder de polícia ou se valido das vias judiciais próprias, deve ser res ponsabilizado pelos prejuízos daí advindos ao ordenamento urbano e aos adquirentes dos lotes ilegais, e compelido pelo Poder Judiciário a regularizar o loteamento, assegurado o direito ao ressarcimento, nos moldes dos parágrafos 1.º, 2.º, 3.º e 4.º do artigo 40 . Sua responsabilidade é subsidiária, e resulta da lei. E como resulta da lei, a determinação por parte do Poder Judiciário a que regularize o loteamento por não tê-lo feito o "loteador", não importa "interferência no planejamento administrativo", tampouco afronta o princípio da independência e harmonia entre poderes. Preliminar acolhida e revogada a parte da sentença que extinguiu o processo em relação ao autor Fábio Cabral Silva, integrando-lhe à lide. Apelos desprovidos. Unânime. (Apelação Cível Nº 70035614536, Vigésima Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Genaro José Baroni Borges, Julgado em 25/05/2011)6.

Por outro lado, não se desconhece a recente decisão da colenda

Segunda Turma do STJ que restou assim ementada, litteris:

EMENTA: RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE DO MUNICÍPIO. LOTEAMENTO. OBRAS DE INFRA-ESTRUTURA. EXEGESE DO ART. 40 DA LEI N. 6.766/79. - O art. 40 da Lei n. 6.766/197 9 confere ao município a faculdade de promover a realização de obras de infr a-estrutura em

6 No mesmo sentido, entre outros, os seguintes precedentes do TJ/RS: Apelação Cível Nº 70049277221, Vigésima Segunda Câmara Cível, Julgado em 07/08/2013; Apelação Cível Nº 70043601202, Vigésima Segunda Câmara Cível, Julgado em 13/06/2013; Apelação Cível Nº 70029643020, Vigésima Primeira Câmara Cível, Julgado em 24/06/2009; Apelação Cível Nº 70027416353, Vigésima Segunda Câmara Cível, Julgado em 26/03/2009; Apelação Cível Nº 70028120921, Vigésima Segunda Câmara Cível, Julgado em 26/03/2009; Apelação e Reexame Necessário Nº 70023693633, Terceira Câmara Cível, Julgado em 06/11/2008; Apelação Cível Nº 70019468925, Vigésima Câmara Cível, Julgado em 29/08/2007; Apelação Cível Nº 70019783794, Vigésima Segunda Câmara Cível, Julgado em 21/06/2007; Apelação Cível Nº 70019399377, Vigésima Segunda Câmara Cível, Julgado em 21/06/2007; Apelação Cível Nº 70018812347, Vigésima Segunda Câmara Cível, Julgado em 12/04/2007; Agravo de Instrumento Nº 70013507249, Quarta Câmara Cível, Julgado em 07/06/2006.

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loteamento, sob seu o critério de oportunidade e co nveniência. Recurso especial não conhecido. (REsp 859.905/RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, Rel. p/ Acórdão Ministro CESAR ASFOR ROCHA, SEGUNDA TURMA, julgado em 01/09/2011, DJe 16/03/2012)

Contudo, cumpre elucidar que o texto acima transcrito não

reflete o resultado do julgamento, nos termos dos votos proferidos.

Conforme certificado nos autos do REsp 859.905/RS, após o

voto-vista do Sr. Ministro Castro Meira a Turma, por maioria, não conheceu do

recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha, vencido o Sr.

Ministro Mauro Campbell Marques. Votaram com o Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha

os Srs. Ministros Castro Meira, Humberto Martins e Herman Benjamin.

Com efeito, o voto-vencedor do Ministro Cesar Asfor Rocha, cujo

teor restou expresso na ementa acima por ele redigida, vai de encontro à

jurisprudência consolidada naquela Corte Superior sustentada no voto-vencido do

Ministro Mauro Campbell Marques.

Entretanto, embora o Ministro Humberto Martins não tenha

proferido voto-vista, importante observar que os Ministros Herman Benjamin e

Castro Meira, em verdade, não destoaram da jurisprudência edificada no Tribunal da

Cidadania, senão vejamos:

O EXMO. SR. MINISTRO HERMAN BENJAMIN: Discute-se a obrigação de o Município regularizar loteamentos, por força do disposto no art. 40 da Lei Lehmann (Lei 6.766/1999 – grifei):

Art. 40 - A Prefeitura Municipal, ou o Distrito Federal quando for o caso, se desatendida pelo loteador a notificação, poderá regularizar loteamento ou desmembramento não autorizado ou executado sem observância das determinações do ato administrativo de licença, para evitar lesão aos seus padrões de desenvolvimento urbano e na defesa dos d ireitos dos adquirentes de lotes.

(...)

A jurisprudência do STJ dispõe que o termo "poderá", utilizado no art. 40 da Lei 6.766/1999, indica, na verdade, um "dever-poder" do Município, a quem, sem prejuízo das obrigações pessoais dos sujeitos responsáveis pelo ilícito (inclusive os administradores públicos omissos), incumbe concluir as obras necessárias para a regularização de loteamento incompleto.

Não se pode conhecer do recurso, pois o acórdão recorrido tem

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por fundamento a interpretação da legislação local, conforme os votos divergentes proferidos pelos eminentes Ministros Cesar Asfor Rocha e Castro Meira.

De toda sorte, caso superada a fase do conhecimento, já apresento, desde logo, minha posição sobre o mérito, acompanhando o eminente Relator, com as observações e esclarecimentos que acrescento abaixo.

[...]

A rigor, mais importante do que discutir se há discricionariedade ou dever-poder de regularizar loteamentos (e, sem dúvida, dever-poder existe!) é reconhecer que a atuação da Prefeitura não serve para beneficiar o loteador faltoso. Sem falar que vai muito além de garantir os direitos dos adquirentes de lotes prejudicados pela omissão, pois incumbe ao Administrador, também por força de lei, considerar a cidade como um todo e os direitos dos outros munícipes à qualidade urbanístico-ambiental.

O que deve orientar a atuação do Município é, essencialmente, o interesse coletivo na observância aos "padrões de desenvolvimento urbano" (art. 40, caput, in fine, da Lei Lehmann), para atender às "funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes" (art. 182, caput, da CF).

Isso, como é fácil perceber, nem sempre é observada, ao se impor ao Município, simples e automaticamente, a imediata regularização de um dado loteamento, quando há situações mais graves e urgentes de degradação urbana e de dignidade da pessoa humana em outros bolsões de pobreza.

[...]

Assim, ainda que o acórdão recorrido deva ser refor mado, pois afasta peremptoriamente a responsabilidade do Município, confrontando a jurisprudência do STJ , é preciso devolver os autos para que as instâncias ordinárias prossigam no julgament o, examinando as provas e aferindo se há, efetivamente, obras essenc iais a serem implantadas, em conformidade com a legislação urban ística local (art. 40, § 5º, da Lei Lehmann) e, somente nesse caso, co ndenem o Poder Público local a realizá-las.

O Ministro Mauro Campbell consignou que o Município deve "proceder à regularização do loteamento, às expensas do loteador", atendendo, assim, ao pedido principal dos recorrentes.

Entendo, com a devida vênia, que, reconhecida a legitimidade passiva processual do Município, os autos devem retornar às instâncias ordinárias para que julguem o mérito da demanda, após produção de provas que eventualmente entendam necessárias, em relação à existência de obras não realizadas pelo loteador e sua natureza, acolhendo, assim, o pleito subsidiário dos particulares.

Reitero que faço essas considerações em caráter sub sidiário, considerando que não se pode conhecer do Recurso Es pecial, nos termos da Súmula 280/STF.

Diante do exposto, divirjo do eminente Ministro Mauro Campbell, sempre brilhante nas suas manifestações, para não conhecer

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do Recurso Especial. 7 (grifos originais)

O EXMO. SR. MINISTRO CASTRO MEIRA: [...]

Como se vê, o Tribunal de origem foi ao encontro do entendimento do magistrado de primeiro grau. O cerne do acórdão, que inclusive utilizou-se da sentença como fundamento, foi a interpretação da lei local, precisamente do artigo 32 da Lei Municipal nº 3.300/88.

Esse foi seu ponto central. A referência à lei fede ral 6.766/79 ocorreu apenas na transcrição do parecer do Exmo. P rocurador de Justiça Antônio Augusto Vergara Cerqueira, como mer o reforço de argumentação.

Todavia, não houve análise específica da legislação federal, ou seja, o Tribunal não avaliou a aplicação da norm a frente ao caso concreto decidindo por sua incidência ou não, isso foi feito apenas com relação à regra de direito local .

Desta forma, deve incidir, o óbice da Súmula 280/ST F: "Por ofensa a direito local não cabe recurso extraordinário".

Caso prevaleça o entendimento contrário, haverá outro óbice a considerar: O acórdão recorrido decidiu à luz da lei municipal que dali não se extrai a obrigação do Município de realizar as obras não executadas pela empresa loteadora. Esse entendimento, como é pacífico, não pode ser modificado, ante o obstáculo sumular. Ora, a conclusão pelo provimento do recurso com base na interpretação da lei federal colocará, evidentemente, esta última em conforonto (sic) com a lei municipal, matéria de competência do Supremo Tribunal (CF, art. 102, III, d).

Ademais, como já ressaltado, a leitura do acórdão recorrido evidencia que seu núcleo central é a ratiticação (sic) da sentença, plasmada exclusivamente na legislação do município, tendo-se referido à manifestação ministerial, meramente a título de reforço.

Ante o exposto, pedindo vênia ao eminente relator, acompanho a divergência e não conheço do recurso especial. 8 (grifei)

Dessarte, data venia, entendo que a redação da ementa acima

transcrita não traduz o entendimento majoritário dos ministros integrantes da colenda

Segunda Turma do STJ.

Portanto, por força do artigo 40 da Lei 6.766/79, interpretado sob

7 Note-se que o posicionamento do Ministro Herman Benjamin é cristalinamente oposto à ideia que se extrai da ementa do respectivo acórdão. O ministro de forma muito clara vota no sentido de não se conhecer do recurso, na medida em que o acórdão recorrido tem por fundamento a interpretação da legislação local (ou seja, não enfrenta a norma inserta no artigo 40 da Lei 6.766/79) e, por outro lado, entretanto, no mérito, acompanha o relator para reafirmar o poder-dever de o Município, na defesa do interesse público, regularizar os loteamentos ilegais. 8 Na mesma linha do Ministro Herman Benjamin, o Ministro Castro Meira, embora sem enfrentar o mérito, aduz categoricamente que o recurso não pode ser conhecido haja vista o aresto hostilizado ter por fundamento legislação local, não sendo possível avaliar a incidência da Lei 6.766/79 no caso concreto.

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a lens do artigo 30, VIII, da Constituição da República, nos termos da jurisprudência

acima delineada – não afetada pelo julgamento do REsp 859.905/RS –, o Município

de Rolador é responsável pela regularização dos parcelamentos do solo realizados

ao arrepio da lei, observado o interesse público nas ações a serem desenvolvidas.

Porém, conforme se depreende dos próprios arestos citados,

cumpre ressaltar que essa responsabilidade é subsidiária – incidente caso o loteador

notificado não proceda à regularização do loteamento –, tendo o Município amparo

legal para buscar o devido o ressarcimento pelas despesas realizadas, nos termos

dos §§ 1º a 4º do supracitado artigo 409.

Dessarte, uma vez identificada a responsabilidade – ainda que

subsidiária – do Município em proceder à regularização do loteamento irregular ou

clandestino, conclui-se que a disposição contida no artigo 46 da Lei Complementar

Municipal 01/06 deve ser reservada somente para casos em que não for possível

promover a regularização por força de limitações legais, a exemplo das contidas no

parágrafo único do artigo 3º da Lei 6.766/7910.

Assim, inegável que o município assume um papel

extremamente relevante nesse processo de regularização fundiária, do qual não

pode simplesmente se furtar sob o argumento de que o loteamento é irregular ou

clandestino.

9 § 1º A Prefeitura Municipal, ou o Distrito Federal quando for o caso, que promover a regularização, na forma deste artigo, obterá judicialmente o levantamento das prestações depositadas, com os respectivos acréscimos de correção monetária e juros, nos termos do § 1º do art. 38 desta Lei, a título de ressarcimento das importâncias despendidas com equipamentos urbanos ou expropriações necessárias para regularizar o loteamento ou desmembramento. § 2º As importâncias despendidas pela Prefeitura Municipal, ou pelo Distrito Federal quando for o caso, para regularizar o loteamento ou desmembramento, caso não sejam integralmente ressarcidas conforme o disposto no parágrafo anterior, serão exigidas na parte faltante do loteador, aplicando-se o disposto no art. 47 desta Lei. § 3º No caso de o loteador não cumprir o estabelecido no parágrafo anterior, a Prefeitura Municipal, ou o Distrito Federal quando for o caso, poderá receber as prestações dos adquirentes, até o valor devido. § 4º A Prefeitura Municipal, ou o Distrito Federal quando for o caso, para assegurar a regularização do loteamento ou desmembramento, bem como o ressarcimento integral de importâncias despendidas, ou a despender, poderá promover judicialmente os procedimentos cautelares necessários aos fins colimados. 10 Art. 3º [...] Parágrafo único - Não será permitido o parcelamento do solo: I - em terrenos alagadiços e sujeitos a inundações, antes de tomadas as providências para assegurar o escoamento das águas; Il - em terrenos que tenham sido aterrados com material nocivo à saúde pública, sem que sejam previamente saneados; III - em terrenos com declividade igual ou superior a 30% (trinta por cento), salvo se atendidas exigências específicas das autoridades competentes; IV - em terrenos onde as condições geológicas não aconselham a edificação; V - em áreas de preservação ecológica ou naquelas onde a poluição impeça condições sanitárias suportáveis, até a sua correção.

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Entretanto, a par das medidas que devem ser adotadas com

vista à regularização fundiária de uma forma geral no âmbito do Município, que

serão abordadas mais adiante, insta retomar a questão especificamente posta sob

análise, qual seja, a certificação da localização de imóvel urbano.

Conforme dito alhures, se o imóvel está formalmente

individualizado e inserido no cadastro imobiliário do Município a expedição da

certidão de localização não encontra óbice algum.

Caso contrário, entendo que deverá o Município, a despeito da

adoção de medidas administrativas e/ou judiciais visando à regularização de

determinado conjunto de imóveis, verificar se aquele cuja localização se pretende

certificar possui limites materialmente definidos que, aliados a outros fatores, tais

como o prazo de ocupação da área e a existência de confrontantes identificáveis,

indiquem a irreversibilidade do status quo, o que caracteriza uma situação jurídica

consolidada, nos termos do Projeto More Legal instituído por provimento da

Corregedoria-Geral de Justiça do Poder Judiciário do Estado do Rio Grande do Sul,

que alterou a Consolidação Normativa Notarial e Registral (CNNR).

Simone Somensi, procuradora do Município de Porto Alegre,

coordenadora da Gerência de Regularização de Loteamentos, bem sintetiza a

importância desse instrumento jurídico na regularização do parcelamento do solo:

A grande contribuição deste Provimento é que ele diminui

significativamente as exigências documentais para a aceitação do registro do parcelamento do solo, valorizando, em especial, os documentos emitidos pela municipalidade. Assim, tratando-se de situação consolidada na qual: a) não haja litígio sobre a propriedade e posse; e b) exista vínculo entre o adquirente e o proprietário ; haverá a possibilidade de regularização com a exigência documental reduzida11. (grifei)

Com efeito, o artigo 512 da CNNR, com a redação dada pelo

Provimento nº 21/2011-CGJ, que instituiu o Projeto More Legal IV, dispõe que em

situações jurídicas consolidadas poderá a autoridade judiciária competente autorizar

ou determinar o registro de loteamento, desmembramento, fracionamento ou

11 Instrumentos para realização da regularização fundiária (urbanísticos e jurídicos), publicado na cartilha Regularização Fundiária: como implementar, elaborada e distribuída, em 2011, pelo Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul. p.35

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desdobro de imóveis urbanos ou urbanizados, senão vejamos:

Art. 512 – Nas comarcas do Estado do Rio Grande do Sul, em

situações consolidadas , poderá a autoridade judiciária competente autorizar ou determinar o registro acompanhado dos seguintes documentos:

I – título de propriedade do imóvel ou, nas hipóteses dos §§ 3º e 4º deste artigo, apenas a certidão da matrícula;

II – certidão de ação real ou reipersecutória, de ônus reais e outros gravames, referente ao imóvel, expedida pelo Ofício do Registro de Imóveis;

III – planta do imóvel e memorial descritivo, emiti dos ou aprovados pelo Município.

§ 1º – Considera-se situação consolidada aquela em que o prazo de ocupação da área, a natureza das edificaçõ es existentes, a localização das vias de circulação ou comunicação, os equipamentos públicos disponíveis, urbanos ou comunitários, dent re outras situações peculiares, indique a irreversibilidade da posse ti tulada que induza ao domínio;

§ 2º – Na aferição da situação jurídica consolidada , serão valorizados quaisquer documentos provenientes do Po der Público, em especial do Município;

§ 3º – O título de propriedade será dispensado quando se tratar de parcelamento popular, destinado às classes de menor renda, em imóvel declarado de utilidade pública com processo de desapropriação judicial em curso e imissão provisória na posse, desde que promovido pela União, Estado ou Município, ou suas entidades delegadas, autorizadas por lei a implantar projetos de habitação;

§ 4º – No caso de que trata o § 3º, supra, o pedido de registro do parcelamento, além do documento mencionado no art. 18, inc. V, da Lei nº 6.766, de 19-12-79, será instruído com cópias autênticas da decisão que tenha concedido a imissão provisória na posse, do decreto de desapropriação, do comprovante de sua publicação na imprensa oficial e, quando formulado por entidade delegada, da lei de criação e de seu ato constitutivo;

§ 5º – Nas regularizações coletivas poderá ser determinada a apresentação de memorial descritivo elaborado pelo Município, ou por ele aprovado, abrangendo a divisão da totalidade da área ou a subdivisão de apenas uma ou mais quadras. (grifei)

Adiante, o artigo 526-B do mesmo diploma legal trata

especificamente da localização de áreas em condomínio, in verbis:

Art. 526-B – Em imóveis situados nos perímetros urbanos, assim

como nos locais urbanizados, ainda que situados na zona rural, em cujos assentos conste estado de comunhão, mas que, na rea lidade, se apresentam individualizados e em situação jurídica consolidada, nos termos deste provimento , o Juiz poderá autorizar ou determinar a averbação da identificação de uma ou de cada uma das frações, observado o seguinte:

I - Anuência dos confrontantes da fração do imóvel que se quer localizar, expressa em instrumento público ou particular , neste caso

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com as assinaturas reconhecidas, entendidos como confrontantes aqueles previstos no § 10 do art. 213 da Lei nº 6.015/7312;

II - A identificação da fração de acordo com o disposto nos arts. 176, inciso II, nº 3, letra b, e 225 da Lei n º 6.015/7313-14, por meio de certidão atualizada expedida pelo Poder Público Mun icipal .

Note-se que esse valioso instrumento jurídico para regularização

fundiária atribuiu elevado valor aos documentos emitidos pelo Município.

Dessa forma, não obstante a obrigação constitucional de

promover o adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do

uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano, entendo que o Projeto More

Legal, nos termos do citado artigo 526-B, II, corrobora o dever de o Município

sempre que possível certificar a pretendida localização de imóveis situados em sua

área urbana, o que somente poderá ser recusado mediante despacho fundamentado

da autoridade competente.

Isso porque usufruir da moradia em sua plenitude não encerra

um direito individual, mas constitui verdadeiro direito social consagrado pelo artigo 6º

da Constituição da República15.

Nesse sentido, a fim de reforçar a demonstração do interesse

público envolto ao tema, oportuno trazer à baila a lista de “considerandos” que

motivou a terceira edição do referido Projeto More Legal, instituída pelo Provimento

nº 28/2004-CGJ, in verbis:

12 Art. 213 - [...] § 10. Entendem-se como confrontantes não só os proprietários dos imóveis contíguos, mas, também, seus eventuais ocupantes; o condomínio geral, de que tratam os arts. 1.314 e seguintes do Código Civil, será representado por qualquer dos condôminos e o condomínio edilício, de que tratam os arts. 1.331 e seguintes do Código Civil, será representado, conforme o caso, pelo síndico ou pela Comissão de Representantes. 13 Art. 176 - O Livro nº 2 - Registro Geral - será destinado, à matrícula dos imóveis e ao registro ou averbação dos atos relacionados no art. 167 e não atribuídos ao Livro nº 3. [...] II - são requisitos da matrícula: [...] 3) a identificação do imóvel, que será feita com indicação: [...] b - se urbano, de suas características e confrontações, localização, área, logradouro, número e de sua designação cadastral, se houver. 14 Art. 225 - Os tabeliães, escrivães e juizes farão com que, nas escrituras e nos autos judiciais, as partes indiquem, com precisão, os característicos, as confrontações e as localizações dos imóveis, mencionando os nomes dos confrontantes e, ainda, quando se tratar só de terreno, se esse fica do lado par ou do lado ímpar do logradouro, em que quadra e a que distância métrica da edificação ou da esquina mais próxima, exigindo dos interessados certidão do registro imobiliário. 15 Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

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CONSIDERANDO que a integridade das normas de legislação ordinária sobre aquisição, perda e função da propriedade imóvel devem ser vistas, para a preservação da unidade interna e coerência do sistema jurídico, através do prisma dos objetivos constitucionais;

CONSIDERANDO que a inviolabilidade do direito à propriedade merece ser dimensionada em harmonia com o princípio, também constitucional, de sua função social;

CONSIDERANDO que a construção de um Estado Democrático de Direito, em que a plenitude do exercício da cidadania, com o resguardo dos valores mínimos da dignidade humana, avulta com um de seus autênticos objetivos fundamentais;

CONSIDERANDO que a moderna função do Direito não se limita apenas à clássica solução conceitual de conflitos de interesses e de geração de segurança jurídica, mas deve propiciar condições para a valorização da cidadania e promover a justiça social;

CONSIDERANDO que um dos objetivos das regras legais regulamentadoras do solo urbano sempre visou à proteção jurídica dos adquirentes de imóveis, especialmente quando integrantes de loteamentos ou parcelamentos assemelhados;

CONSIDERANDO que a Carta Magna, ao consagrar o Direito de Propriedade, não estabeleceu limitações outras, assegurando ao cidadão, além do acesso e da posse, a decorrente e imprescindível titulação, porque só com a implementação deste requisito torna-se possível seu pleno exercício;

CONSIDERANDO que a Organização das Nações Unidas (ONU), da qual o Brasil é integrante, estabeleceu convenção no sentido de que a moradia constitui-se em direito social fundamental do cidadão;

CONSIDERANDO que a Emenda Constitucional nº 26, de 14 de fevereiro de 2000, incluiu entre os preceitos da Constituição Federal do Brasil a moradia como direito social fundamental;

CONSIDERANDO que os fracionamentos, mesmo quando não planejados ou autorizados administrativamente de forma expressa, geram, em muitas hipóteses, situações fáticas consolidadas e irreversíveis, adquirindo as unidades desmembradas autonomia jurídica e destinação social compatível, com evidente repercussão na ordem jurídica;

CONSIDERANDO que o Estatuto da Cidade (Lei 10.257, de 10 de julho de 2001) estabelece, em seu artigo 2º, inciso I, que a política urbana tem, entre suas diretrizes básicas, o direito do cidadão à terra urbana e à moradia, para as presentes e futuras gerações, no intuito de ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana;

CONSIDERANDO que o referido Estatuto da Cidade, em seu artigo 2º, incisos VI e XIV, estabelece, ainda, como diretrizes da política urbana a ordenação e controle do uso do solo urbano, o estabelecimento de normas especiais de urbanização, uso e ocupação do solo e edificação, para a regularização fundiária e urbanização de áreas ocupadas por população de baixa renda;

CONSIDERANDO que eventual anomalia no registro pode ser alvo de ação própria objetivando a anulação em processo contencioso (artigo 216 da Lei 6.015, de 31 de dezembro de 1973 – Lei dos Registros Públicos);

CONSIDERANDO o peculiar interesse dos Municípios Gaúchos em regularizar a ocupação de áreas situadas em seu

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perímetro urbano ou periferia, sem violação ao meio-ambiente, para provê-las de infra-estrutura necessária a uma vida digna;

CONSIDERANDO a motivação inserida na mensagem “Juiz, Tutor da Cidadania”, desta Corregedoria, publicada no Diário da Justiça do dia 10 de agosto de 1995;

CONSIDERANDO seja imprescindível assegurar a participação do Ministério Público, como instituição em si essencial e defensora constitucional dos interesses sociais, garantindo-se, com a efetividade de sua participação, a solução para grande número de situações existentes;

CONSIDERANDO o empenho de Notários e Registradores de Imóveis, demonstrado pelos respectivos Colégios e Associações, para que, com segurança jurídica possam ser alcançadas as soluções exigíveis;

CONSIDERANDO a edição da Lei 9.785, de 29 de janeiro de 1999, que alterou o Decreto-Lei 3.365, de 21 de junho de 1941, as Leis 6.015, de 31 de dezembro de 1973 (Lei dos Registros Públicos), 6.766, de 19 de dezembro de 1979 (Lei do Parcelamento do Solo Urbano), 10.257, de 10 de julho de 2001 (Estatuto da Cidade) e 10.931, de 02 de agosto de 2004, que alterou o procedimento de retificação no Registro Imobiliário;

CONSIDERANDO que o artigo 53 da Lei 9.785, de 29 de janeiro de 1999, expressou ser do interesse público o parcelamento do solo, bem assim sua regularização, vedando exigências outras que não a documentação mínima necessária ao registro;

CONSIDERANDO que o artigo 2º, inciso XV, do já referido Estatuto da Cidade, estabelece a simplificação da legislação de parcelamento, uso e ocupação do solo e das normas edilícias, com vistas a permitir a redução dos custos e o aumento da oferta dos lotes e unidades habitacionais;

Entretanto, cumpre observar que não se tratando de situação

jurídica consolidada, impossível socorre-se do projeto More Legal a fim de

regularizar determinado imóvel, conforme já decidiu o egrégio Tribunal de Justiça

deste Estado, litteris:

Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. PROCEDIMENTO DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA. PEDIDO DE AUTORIZAÇÃO PARA ESCRITURAÇÃO DE IMÓVEL. PROVIMENTO N. 28/2004 - CGJ. "PROJETO MORE LEGAL 3". SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA MANTIDA. A regularização de lote individualizado é procedimento administrativo regul ado pelo Provimento n. 28/2004 da Corregedoria Geral de Justiça. Sendo uma das exigências do caput do art. 2.º a caracterização de "situação consolidada", a indicar "irreversibilidade da posse" e, não havendo prova s equer acerca ocupação e/ou seu período sobre o imóvel, dado hábi l e necessário para tal, incabível o acolhimento do pleito. Sentença confirmada. NEGARAM PROVIMENTO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70043255348, Décima Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Nelson José Gonzaga, Julgado em 15/09/2011). (grifei)

Dessarte, não poderá o Município, v.g., certificar a localização

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de fração de uma área que sequer esteja ocupada, situação que necessariamente

deverá ser solvida na via judicial ou mediante a apresentação de projeto para

parcelamento do solo que contemple a totalidade do imóvel, nos termos da lei.

Contudo, entendo que para fins de expedição da certidão de

localização não compete ao Município aferir todos os requisitos exigidos para a

regularização através do Projeto More Legal – o que deverá ser feito nos autos do

respectivo procedimento –, bastando aferir a ocupação da área e a existência de

limites materiais bem definidos no imóvel que se pretende ver localizado, que

indiquem uma situação jurídica consolidada.

Caso o imóvel indique uma situação jurídica consolidada sem

possuir limites bem definidos, mas com identificação precisa dos respectivos

confrontantes, creio ser igualmente possível certificar a pretendida localização

mediante a anuência destes através de instrumento público ou particular com firma

reconhecida, utilizando-se por analogia o artigo 526-B, I, da CNNR, com a redação

dada pelo Provimento nº 21/2011-CGJ, que instituiu o Projeto More Legal IV.

Por fim, caso o imóvel indique uma situação jurídica consolidada

sem possuir limites bem definidos nem identificação precisa dos confrontantes, a

certificação da localização somente será possível mediante a anuência de todos os

condôminos e de eventuais confrontantes não inseridos na mesma matrícula

imobiliária.

De outra banda, cumpre anotar que em qualquer dessas

situações poderá o interessado valer-se da via judicial para satisfazer suas

pretensões.

Pelo fio do exposto, não estando formalmente individualizado o

imóvel que se pretende localizar, faz-se necessária sua prévia regularização perante

o Cadastro Imobiliário em processo próprio para viabilizar a emissão da certidão de

localização, no qual deverá ser exigido além da documentação anunciada no

expediente de fl. 12 (planta de localização, memorial descritivo, ART), conforme o

caso, também as anuências acima referidas (confrontantes, condôminos).

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Além disso, entendo que a fim de bem identificar o imóvel a ser

cadastrado deverá a Administração exigir os documentos necessários, bem como

submeter o processo para avaliação técnica do Departamento de Engenharia, numa

atuação conjunta deste com o órgão responsável pelo Cadastro Imobiliário.

Assim, uma vez concluído o processo de individualização do

imóvel perante o Cadastro Imobiliário, competirá ao órgão responsável por esse

banco de dados emitir a competente certidão de localização, na qual deverá restar

consignada as anuências exigidas, se for o caso.

2.4. Do caso concreto: localização de parcela de um a fração de imóvel urbano inserida em área em condomínio

No caso concreto, o requerente ÉDER MARLON BRUM DE

FREITAS é proprietário de uma fração de 2.847,00m2, em condomínio com uma

área total de 7.847,00 m2, conforme registrado na matrícula imobiliária inserida nos

autos (fl.07, R.13-27708). No entanto, postula localizar apenas 471,55m2, ou seja,

menos de 20% da área de sua propriedade.

Com efeito, o que pretende o requerente é parcelar o solo

urbano, o que deve observar os critérios legais acima já referidos.

Assim, para atingir seu intento, deverá o loteador requerente ser

notificado para proceder à localização da totalidade de sua área para, somente

depois dessa etapa, realizar o desmembramento ou, caso necessária a abertura de

novas vias, o loteamento, nos termos da Lei Federal 6.766/79 e da Lei

Complementar Municipal 01/2006.

2.5. Das políticas públicas para promoção do adequa do ordenamento territorial

Conforme já dito acima, o Município possui a missão

constitucional de promover o adequado ordenamento territorial, mediante

planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano,

nos termos do artigo 30, VIII, da Constituição da República.

Charles
Realce
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Além disso, a Lei Maior reserva um capítulo próprio16 para tratar

da Política Urbana a ser executada pelo Poder Público Municipal, senão vejamos:

CAPÍTULO II DA POLÍTICA URBANA Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, exe cutada

pelo Poder Público municipal , conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento da s funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitante s.

§ 1º - O plano diretor , aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habi tantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana.

§ 2º - A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.

§ 3º - As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa indenização em dinheiro.

§ 4º - É facultado ao Poder Público municipal, medi ante lei específica para área incluída no plano diretor , exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edifica do, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitame nto, sob pena, sucessivamente, de:

I - parcelamento ou edificação compulsórios; II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana

progressivo no tempo; III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida

pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais.

Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.

§ 1º - O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil.

§ 2º - Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.

§ 3º - Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião. (grifei)

No mesmo sentido são as normas que emanam da Lei Orgânica

do Município de Rolador, in verbis:

CAPÍTULO VII Da Política Urbana Art. 145. A política de desenvolvimento urbano , executada

pelo poder público municipal, conforme diretrizes g erais fixadas em lei,

16 Inserido no Título VII – Da Ordem Econômica e Financeira

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tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento da s funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes .

§ 1º - o plano diretor, aprovado pela Câmara Munici pal, é instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana.

§ 2º - A propriedade urbana cumpre a sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade, expressas no plano diretor.

§ 3º As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa indenização em dinheiro.

Art. 146. O Município poderá, mediante lei específi ca para área incluída no plano diretor , exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subtiliz ado ou não utilizado, que promova o seu adequado aproveitamento, sob pena , sucessivamente, de:

I - parcelamento ou edificação compulsória; II - imposto sobre propriedade predial e territorial urbana

progressivo no tempo; III - desapropriação, com pagamento mediante título da dívida

pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, com parcelas anuais, iguais, e sucessiva, assegurada o valor real da indenização e os juros legais.

Parágrafo único. Poderá também o Município organizar fazendas coletivas, orientadas ou administradas pelo poder público, destinadas à formação de elementos aptos às atividades agrícolas. (grifei)

Note-se que alinhada com a Constituição da República a Lei

Orgânica de Rolador expressa que a política de desenvolvimento urbano, executada

pelo Poder Público Municipal, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das

funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes, sendo o plano

diretor o instrumento básico dessa política .

Por outro lado, compete destacar que, inobstante o citado artigo

182, §1º, da Constituição não obrigar os municípios com população inferior a vinte

mil habitantes a possuir um plano diretor, situação na qual se encontra Rolador, a

Lei Orgânica deste incorpora a regra geral ao reafirmar que “o plano diretor,

aprovado pela Câmara Municipal, é instrumento básico da política de

desenvolvimento e expansão urbana” (145, §1º).

Além disso, somente com base em um plano diretor poderá o

Poder Público Municipal se valer de meios coercitivos, tais como o parcelamento

compulsório, para exigir do proprietário do solo urbano não edificado, subtilizado ou

não utilizado, que promova o seu adequado aproveitamento.

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Assim, a elaboração de um plano diretor para o Município de

Rolador constitui evidente imposição legal, não se inserindo no poder discricionário

da Administração.

De outra banda, visando assegurar o já abordado direito

fundamental à moradia digna, deve o Poder Público Municipal estudar a viabilidade

de implantar um programa de regularização fundiária, seja de interesse social, seja

de interesse específico, conforme diretrizes previstas na Lei Federal 11.977/09, que

dispõe sobre o Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV) e a regularização

fundiária de assentamentos localizados em áreas urbanas, cujo artigo 46 traz o

seguinte conceito:

Art. 46. A regularização fundiária consiste no conjunto de medidas

jurídicas, urbanísticas, ambientais e sociais que visam à regularização de assentamentos irregulares e à titulação de seus ocupantes, de modo a garantir o direito social à moradia, o pleno desenvolvimento das funções sociais da propriedade urbana e o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

Portanto, entendo que somente com a elaboração de um plano

diretor e a implantação de um programa de regularização fundiária terá o Poder

Público Municipal reais condições de ordenar o pleno desenvolvimento das funções

sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes, objetivos da política de

desenvolvimento urbano prevista na Constituição da República e na Lei Orgânica do

Município de Rolador.

3. DA CONCLUSÃO

Ante todo o exposto, nos termos da fundamentação, opino no

seguinte sentido:

a. para defesa de direitos e esclarecimento de situações de

interesse pessoal, constitui obrigação do Município fornecer certidão, instrumento de

natureza meramente declaratória, relativa a dados constantes de seus registros;

b. a certidão de localização de imóvel urbano deve ser

expedida a partir dos dados existentes no Cadastro Imobiliário de que trata o artigo

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14 do Código Tributário Municipal, a cargo do órgão responsável pelo referido banco

de dados;

c. caso o imóvel urbano a ser localizado não esteja inscrito

no cadastro imobiliário municipal, necessariamente deverá ser promovida a prévia

inscrição, nos termos dos artigos 15 a 19 do Código Tributário Municipal, para

viabilizar a posterior expedição da respectiva certidão, salvo impossibilidade

devidamente demonstrada;

d. não estando formalmente individualizado o imóvel que se

pretende localizar, mas desde que indique uma situação jurídica consolidada, faz-se

necessária sua prévia regularização perante o Cadastro Imobiliário em processo

próprio para viabilizar a emissão da certidão de localização, no qual deverá ser

exigido além de planta de localização, memorial descritivo e ART, também a

anuência dos confrontantes e/ou condôminos, conforme o caso, submetendo-se o

referido processo para avaliação técnica do Departamento de Engenharia, numa

atuação conjunta deste com o órgão responsável pelo Cadastro Imobiliário;

e. não poderá o Município, v.g., certificar a localização de

fração de uma área que sequer esteja ocupada, situação que necessariamente

deverá ser solvida na via judicial ou mediante a apresentação de projeto para

parcelamento do solo que contemple a totalidade do imóvel, nos termos da lei;

f. no caso concreto, deverá o requerente ÉDER MARLON

BRUM DE FREITAS ser notificado para proceder à localização da totalidade de sua

área para, somente depois dessa etapa, realizar o desmembramento ou, caso

necessária a abertura de novas vias, o loteamento, nos termos da Lei Federal

6.766/79 e da Lei Complementar Municipal 01/2006;

Além disso, embora não se refira especificamente à

consulta formulada, importante ressaltar os seguint es aspectos objeto do

estudo jurídico:

g. por força do artigo 40 da Lei 6.766/79, interpretado sob a

lens do artigo 30, VIII, da Constituição da República, o Município de Rolador é

Charles
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responsável pela regularização dos parcelamentos do solo realizados ao arrepio da

lei, observado o interesse público nas ações a serem desenvolvidas;

h. entretanto, a responsabilidade do Município é subsidiária

– incidente caso o loteador notificado não proceda à regularização do loteamento –,

tendo aquele amparo legal para buscar o devido o ressarcimento pelas despesas

realizadas, nos termos dos §§ 1º a 4º do artigo 40 da Lei 6.766/79; e

i. deve o Poder Público Municipal elaborar um plano diretor

e estudar a viabilidade de implantação de um programa de regularização fundiária, a

fim de ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o

bem-estar de seus habitantes, objetivos da política de desenvolvimento urbano

prevista na Constituição da República e na Lei Orgânica do Município de Rolador.

É o parecer.

Rolador, RS, 29 de outubro de 2013.

RODRIGO VELEDA MARTINSRODRIGO VELEDA MARTINSRODRIGO VELEDA MARTINSRODRIGO VELEDA MARTINS

Procurador Procurador Procurador Procurador do Município de Roladordo Município de Roladordo Município de Roladordo Município de Rolador

OOOOAB/RS AB/RS AB/RS AB/RS 77777777....964964964964 –––– Matrícula 617Matrícula 617Matrícula 617Matrícula 617