para vender sabonete - colegiosantanna.com.br fileisso acontecia na casa ... pula corda, perna...
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1
Mario Pirata
A MAGIA
DO
BRINCADEIRO
Poesia
2
Para a minha filha Tayhú, pela delicadeza,
pelo amor.
3
BRINCADEIRO
Aprendi a fazer rima
com a minha prima.
Uma menina de perna fina
chamada Ana Cristina.
Isso acontecia na casa
da minha tia Catarina.
O que a gente mais gostava
era tomar banho de piscina.
Mas lá não havia piscina
e a gente tinha que inventar
uma rima depois da outra
para não parar de brincar.
4
ESPERTINHO
Eu devo ter feito
a primeira poesia
para ganhar beijo
de alguma guria.
Aprendi a lição,
lição de carinho:
escutar o coração
e fazer versinho.
5
FLOR
A palavra dia,
tão quietinha.
Cheia de manha,
veio como vinha.
Canção pequeninha,
passarinha.
Com a mania
de espalhar alegria.
Coitadinha,
toda rimadinha.
6
DITADO
O peito do pé do Pedro,
o prato preto do padre.
Galinha botando ovo,
o galo fazendo alarde.
Todo bicho que eu vejo
tem um rabo preso atrás.
O bico do sapato do pato,
o cotovelo da comadre.
Todo verso que eu faço
vira poema mais tarde.
Quem diz que sabe menos
é quem conhece mais.
7
PEQUENO ROMANCE
O pão francês, quentinho,
diz para a manteiga:
— Queres o meu carinho?
A manteiga, toda derretida,
não dá bola ao atrevido.
Ela quer o presunto para marido.
O presunto não quer assunto
e manda a manteiga
ir falar com o queijo.
O queijo sussurra comovido
ao ouvido da goiabada:
— Quer ser a minha namorada?
A goiabada, enternecida,
responde ao filho do leite:
— Estou comprometida com o salame.
O salame não havia
entrado ainda na história
e nada vai exclamar:
No último verso do poema
o coitado é devorado
pelo leitor esfomeado.
8
PEQUENO CAUSO
Era uma vez três amigos:
Quem, Outro, Alguém.
Certa manhã, antes da aula,
Quem dá um abraço em outro,
Outro abraça Alguém.
Alguém faz a pergunta:
— Quem merece abraço?
Vocês diriam: — Todo mundo!
Mas todo mundo não está na história.
Outro, então, responde:
— Deve ganhar abraço
quem está perto da gente.
Eu agora quero saber:
— Quem fica feliz?
9
PEQUENA NOVELA
Isabela e Gabriela
moram na linda casa amarela
com flores nas janelas.
A mais velha, Isabela,
adora comer feijão na panela.
Gabriela quer é panqueca
recheada com mortadela.
Mas o prato preferido delas
é a sopa de berinjela
feita pela mamãe Manoela.
Isabela e Gabriela
conheceram na escola uma colega
chamada Rafaela.
Essa menina tagarela
nunca come a merenda dela,
porisso é magricela
pois o prato preferido dela
é a lazanha de mussarela
feita pela vovó Genoveva.
Eu paro aqui a novela,
quem quiser querendo
guarde-a na memória.
Ou então, quem sabe,
pode mexer mexendo,
continuando a história.
10
CIRANDEIRO
Mestre Sol nasceu
no barrigão do céu.
Não me pega, cabra cega!
Sabiá canta
na laranjeira do quintal.
Pula corda, perna torta!
Os guris correm
atrás das gurias.
Feio és tu, cara de tatu!
Oito, nove, dez...
lá vou eu, cara de pneu!
Quem não leu, azar o seu!
11
CANÇÃO
No meio do caminho
tem um caminhão,
um caminhão bem grandão
parado no meio do caminho.
O motorista João,
deitado na rede,
dorme sonhando
com um prato de feijão.
Mas o caminhão
parado no meio do caminho
com o pneu furado
não carrega feijão.
O caminhão grandão
carrega um monte de caixas
cheias de frutas:
abacaxi, laranja, melão.
12
PÃO DE LÓ
Para entrar na roda,
virar criança,
eu faço cantiga,
canto ciranda.
O luar é o fermento
da noite faceira.
Poesia e farinha
toando brincadeira.
Mamãe é padaria,
papai é padeiro.
No forno da cama,
filhinho é pão de ló.
13
RADICAL (versão)
O rato Rodolfo rasgou
a roupa de seda roxa
do rei Roberto de Roma.
A rata Rafaela roeu
o roupão cor-de-rosa
da rainha Renata da Rússia.
E na floresta de Roraima
a Rita Ramos Ramalho
ria da raiz quadrada do poema.
14
CANÇÃO PARA UM QUINTAL
Liberdade é uma menina
de cabelos cacheados,
neta do Bom Senso e da Serenidade,
filha da Sabedoria e do Amor.
No mercado da cidade vende
bolinhos de açúcar mascavo,
confeitados com mel e carinho.
Ainda cuida dos irmãozinhos:
Alegria, Bom Humor e Felicidade.
Nos fundos da casa de duas peças,
Vila Esperança, rua Sentimento,
Liberdade brinca de boneca
e corre de patinete
pelos corações do mundo.
15
GALOPE Para Ailton Krenak
O poema sai da palavra
O aluno é maior que o professor
O espinho é o anjo da rosa
A montanha nasce da pedra
O frio é irmão do calor
O sol é a morada da luz
O oceano principia na gota
A senhora vive com o senhor
O homem é maior que a cidade
E a floresta começa na flor
O rio namora a lagoa
O universo não tem cor
A natureza é o riso do tempo
A alegria é irmã da tristeza
A beleza é a mão do criador
O velho é dono da história
O índio é dono da aldeia
A felicidade é filha do amor
A criança é dona do mundo
E a floresta começa na flor
Quem planta vira colhedor
Bom cabrito não é berrador
A dor ensina ao gemedor
Carro-de-boi pesado é rangedor
Nada duvida quem de nada é sabedor
Quem afia a faca sabe o servidor
Olho-grande sai com rezador
Cotia ficou sem rabo de tanto fazer favor
A vida segue traçado superior
E a floresta começa na flor
16
BOLETIM
Ninguém será reprovado,
está todo mundo matriculado,
inclusive a Direção.
Não tem livro,
não tem tema de casa,
nem mesmo professor.
Ela é diferente,
mexe no fundo da gente,
já está incluída na mensalidade.
Na escola, este ano,
vai ter matéria nova:
o nome dela é AMOR.
17
SABIDO
Saber que o gesto ler
rima com prazer.
Todo mundo deve ter
o que beber e comer.
Saber que viver
rima com crescer.
Quem tem poder
é a palavra querer.
Sempre saber ver:
escutar é mais que dizer.
Falar, menos que
imaginar, podem crer.
18
UNIVERSO
O poeta maior
fez um verso.
19
LADAINHA
Canarinho amarelo,
Sabiá e Curió...
Aprendi a rezar
com meu avô e minha avó!
Canarinho amarelo,
da poeira nasce o pó...
Eu faço cantoria,
o meu Mestre faz melhor!
Canarinho amarelo,
fá, fé, fi, fu, forofó...
Vou m'embora agora
mas eu sei que não vou só!
20
JARDIM
para Taniele
A magia da poesia
é plantar alegria
no coração da gente,
podando a tristeza,
colocando no lugar
a flor da beleza.
21
A tua magia: