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UFRJ PARA UMA DISTINÇÃO ENTRE RADICAL E PREFIXO: será não-composto um composto ou um derivado? Pâmella Alves Pereira Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Lingüística, Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Lingüística. Orientador: Prof. Doutor Maria Carlota Amaral Paixão Rosa Rio de Janeiro Janeiro de 2006

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UFRJ

PARA UMA DISTINÇÃO ENTRE RADICAL E PREFIXO: será não-composto um composto ou um derivado?

Pâmella Alves Pereira

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Lingüística, Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Lingüística. Orientador: Prof. Doutor Maria Carlota Amaral Paixão Rosa

Rio de Janeiro Janeiro de 2006

PARA UMA DISTINÇÃO ENTRE RADICAL E PREFIXO: será não-composto um composto ou um derivado?

Pâmella Alves Pereira

Orientador: Prof. Doutor Maria Carlota Amaral Paixão Rosa

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Lingüística, Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Lingüística.

Aprovada por:

_________________________________________________

Presidente, Prof. Doutor Maria Carlota Amaral Paixão Rosa

__________________________________________

Prof. Doutor Violeta Virgínia Rodrigues

__________________________________________

Prof. Doutor Humberto Peixoto Menezes

__________________________________________

Prof. Doutor Afrânio Gonçalves Barbosa

__________________________________________

Prof. Doutor Myrian Azevedo de Freitas

Rio de Janeiro Janeiro de 2006

Pereira, Pâmella Alves. Para uma distinção entre radical e prefixo: será não-composto um composto ou um derivado / Pâmella Alves Pereira. - Rio de Janeiro: UFRJ/ Programa de Pós-Graduação em Lingüística, 2006. xi, 80f.: il.; 31 cm. Orientador: Maria Carlota Amaral Paixão Rosa Dissertação (mestrado) – UFRJ/ Faculdade de Letras/ Programa de Pós-Graduação em Lingüística, 2006. Referências Bibliográficas: f78-80. . 1. Morfologia. 2. Estrutura interna da palavra. I. Rosa, Maria Carlota Amaral Paixão. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Programa de Pós-Graduação em Lingüística. III. Para uma distinção entre radical e prefixo: será não-composto um composto ou um derivado?

RESUMO

PARA UMA DISTINÇÃO ENTRE RADICAL E PREFIXO: será não-composto um composto ou um derivado?

Pâmella Alves Pereira

Orientador: Prof. Doutor Maria Carlota Amaral Paixão Rosa

Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Lingüística, Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Lingüística.

Este trabalho propõe uma distinção entre os processos morfológicos de derivação prefixal e composição, seguindo a proposta teórica de Matthews (1991) para a caracterização da estrutura interna do lexema. Para isso foram analisados os elementos mal, não e contra, em exemplos como MALFERIDO, NÃO-ALINHADO E CONTRA-REVOLUÇÃO.

Em princípio, a julgar apenas pelas definições encontráveis na literatura, distinguir ambos os processos não seria tarefa das mais difíceis. No entanto, entre gramáticos e lingüistas não há consenso em relação à distinção entre prefixação e composição, uma vez que elementos como não, mal e contra, quando em exemplos como os citados anteriormente, são considerados, por vezes, parte de formações derivadas, e outras vezes são tidos como parte de formações compostas.

Os resultados da análise de formações com os elementos negativos mal, não e contra mostraram que argumentos de âmbitos fonológico e semântico não foram suficientes para distinguir composição e derivação prefixal. Em termos morfológicos, tais formas foram classificadas como radicais, e não prefixos. As palavras MALFERIDO, NÃO-ALINHADO e CONTRA-REVOLUÇÃO foram analisadas como formações compostas, e não como derivadas.

Palavras-chave: radical; prefixo; composição; derivação

Rio de Janeiro Janeiro de 2006

ABSTRACT

FOR A DISTINCTION BETWEEN WORD AND PREFIX: Is não-composto a compound or a derived?

Pâmella Alves Pereira

Orientador: Prof. Doutor Maria Carlota Amaral Paixão Rosa

Abstract da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em Lingüística, Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Lingüística.

This work proposes a distinction between the morphological processes of prefixal derivation and compounding, following Matthews’ (1991) theoretical proposal for characterization of the internal structure of lexeme. For that, the elements mal, não and contra were analysed in examples as MALFERIDO, NÃO-ALINHADo and CONTRA-REVOLUÇÃO.

At first, judging just by definitions found in literature, distinguishing both processes would not be so difficult.However, among grammarians and linguists there is not consensus in relation to the distinction between prefixation and compounding, once that elements as não, mal and contra, when in examples as those above-mentioned, are considered, sometimes, part of derived formations, and other times they are considered part of compound formations.

The result of the analysis of formations with the negative elements mal, não and contra has shown that phonological and semantical arguments were not enough to distinguish compounding and prefixal derivation. In morphological terms, those elements were classified as words, and not as prefixes. MALFERIDO, NÃO-ALINHADO and CONTRA-REVOLUÇÃO were analysed as compounds, and not as derived.

Key-words: word; prefix; compounding; derivation

Rio de Janeiro Janeiro de 2006

À minha família

AGRADECIMENTOS

- à professora Maria Carlota Rosa, orientadora deste trabalho, pelos conhecimentos e capacidade demonstrados.

- aos professores Violeta Virgínia Rodrigues, Afrânio Gonçalves Barbosa, Humberto Peixoto Menezes e Myrian Azevedo de Freitas por terem aceito fazer parte da banca que julgou essa dissertação.

- a todos os professores do Departamento de Lingüística pelos conhecimentos transmitidos.

- à minha família, pelo apoio demonstrado em todos os sentidos para a conclusão da dissertação.

SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 – APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA

1.1 – Introdução

1.2 – A controvérsia da prefixação

1.2.1 – Prefixação como derivação

1.2.1.1 – Said Ali ([1931]1966)

1.2.1.2 – Rocha Lima (1957)

1.2.1.3 – E. Bechara (1966)

1.2.1.4 – Cunha & Cintra (2001)

1.2.1.5 – M. Basílio (1989)

1.2.2 – Prefixação nem sempre é derivação

1.2.2.1 – Eduardo Carlos Pereira ([1918]1940)

1.2.2.2 – A proposta de Mattoso Câmara Jr. (1976; 1977)

1.3 – Prefixação e Composição

1.4 – Prefixos e radicais

1.5 - Justificativa

CAPÍTULO 2 –FUNDAMENTAÇÃO E METODOLOGIA

2.1 – Introdução

2.2 – A estrutura interna do lexema

2.3 – A noção de processo gramatical

2.3.1 – Composição

2.3.2 – Prefixação

2.4 – O corpus

2.5 – Metodologia

CAPÍTULO 3 – ANÁLISE DE DADOS

3.1 – Introdução

3.2 – Análise fonológica

3.2.1 – O acento

3.2.1.1 – O acento primário e o acento secundário

3.3 – A interação entre palavra fonológica e palavra morfológica

3.4 – Análise morfológica e semântica

3.4.1 – mal

3.4.2 – não

3.4.3 – contra

3.5 – Considerações finais

CONCLUSÃO

APÊNDICE

BIBLIOGRAFIA

C A P Í T U L O 1

A P R E S E N T A Ç Ã O D O P R O B L E M A

1.1 – Introdução

Este trabalho retoma uma questão controversa no estudo da morfologia, no

âmbito da estrutura e da formação de palavras: a distinção entre derivação prefixal e

composição. Em outras palavras, busca-se aqui diferenciar formações prefixais de

formações compostas, uma vez que ambas levam em conta, em última análise, a noção

de um radical que é modificado, embora por processos morfológicos distintos. O

objetivo deste trabalho é duplo, portanto: por um lado, compreender o uso dos termos

radical e prefixo na morfologia baseada em lexemas; de outro caracterizar composição

face à derivação nessa proposta teórica.

Considera-se aqui a caracterização da estrutura interna de lexema conforme

proposta de Matthews (1991). Matthews (1991: 82) caracteriza a composição como um

processo de formação de um lexema a partir da reunião de dois ou mais lexemas

simples, ao passo que a derivação, ou melhor, a formação de palavras (Matthews, 1991:

61), é caracterizada como um processo que forma lexemas mais complexos do que

aqueles de que se formaram (Matthews, 1991: 37).

Os dados para a discussão do tema neste trabalho são formas portuguesas com

não, mal e contra, em exemplos como NÃO-SIMÉTRICO, MALCONTENTE e CONTRA-

Apresentação do problema 10

EMBOSCADA.1 As formações com não, mal e contra são apresentadas na literatura ora

como compostos, ora como derivados por prefixo, como aponta Alves (1993: 383).

Entre gramáticos e lingüistas da língua portuguesa não há consenso em relação à

distinção entre prefixação e composição para parte dos dados aqui focalizados, uma vez

que elementos como não, mal e contra, em exemplos como NÃO-SIMÉTRICO,

MALCONTENTE e CONTRA-EMBOSCADA, são considerados, por vezes, parte de formações

derivadas, e outras vezes são tidos como parte de formações compostas ____ e

acrescenta-se aqui: sejam ou não classificados como prefixos.

O trabalho encontra-se organizado como se segue:

No próximo capítulo, encontra-se a fundamentação teórica, apresentando o

modelo que será adotado neste estudo. Em seguida, uma apresentação dos processos

gramaticais, em especial os processos de derivação prefixal e de composição. E, ainda

neste capítulo, é feita a apresentação do corpus e a demonstração da metodologia

utilizada.

O capítulo 3 compreenderá a análise dos dados. Nessa parte, são levantadas

discussões fonológicas, morfológicas e semânticas a partir das palavras que compõem o

corpus.

E, por fim, a conclusão a respeito do estudo, mostrando que argumentos de

âmbitos fonológico e semântico não são suficientes para distinguir composição e

derivação prefixal. Em termos morfológicos, tais formas são classificadas como

radicais, e não como prefixos. Sendo assim, palavras em que entrem antepostas as

formas mal, não e contra são analisadas como formações compostas, e não como

derivadas.

1 os lexemas, conforme propõe Matthews (1991 : 26), são grafados com todas as letras em maiúsculas, diferindo-os de radicais e de morfemas.

Apresentação do problema 11

1.2 – A controvérsia da prefixação no português

Said Ali ([1931]1966: 249-64), Rocha Lima (1957: 179-217), Bechara (1966:

214-37), Cunha & Cintra (2001: 83-88) e Basílio (1989 : 26-35) classificam os prefixos

como elementos formadores de unidades lexicais derivadas; Câmara Jr. (1977: 76/92) e

Pereira ([1918]1940: 188), ao contrário, preferem incluir as formações prefixais no

âmbito da composição. O Quadro 1 a seguir, resume as posições desses autores (ênfase

acrescentada).

Apresentação do problema 12

(Quadro 1)

Def

iniç

ão d

e co

mpo

siçã

o

“Cha

ma-

se p

alav

ra c

ompo

sta

a to

da c

ombi

naçã

o de

vo

cábu

los

que

serv

e de

nom

e es

peci

al p

ara

certo

nero

de

se

res,

ou

com

qu

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ex

prim

e al

gum

co

ncei

to n

ovo,

dife

renc

iand

o do

sen

tido

prim

itivo

dos

el

emen

tos c

ompo

nent

es.”

(1

966

: 258

)

“Com

posi

ção

é o

proc

esso

pel

o qu

al s

e cr

ia u

ma

pala

vra

pela

reu

nião

de

duas

ou

mai

s pa

lavr

as d

e ex

istê

ncia

inde

pend

ente

na

Lín

gua,

de

tal s

orte

que

es

tas

perc

am s

ua s

igni

ficaç

ão p

rópr

ia e

pas

sem

a

form

ar u

m to

do c

om si

gnifi

caçã

o no

va.”

(195

7 : 1

79)

“A c

ompo

siçã

o co

nsis

te n

a cr

iaçã

o de

um

a pa

lavr

a no

va c

ompo

sta

por

mei

o de

dua

s ou

mai

s ou

tras

cu

ja s

igni

ficaç

ão d

epen

de d

as q

ue e

ncer

ram

as

suas

co

mpo

nent

es.”

(196

6 : 2

15)

Def

iniç

ão d

e de

riva

ção

“A d

eriv

ação

(...

) to

ma

pala

vras

exi

sten

tes

e lh

es

acre

scen

ta c

erto

s el

emen

tos

form

ativ

os c

om q

ue

adqu

irem

se

ntid

o no

vo,

refe

rido

cont

udo

ao

sign

ifica

do

da

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vra

prim

itiva

. Po

stos

es

tes

elem

ento

s no

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do

vocá

bulo

der

ivan

te (

gera

lmen

te

com

a s

upre

ssão

pré

via

da te

rmin

ação

des

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ham

am-

se s

ufix

os,

e o

proc

esso

de

form

ação

tom

a o

nom

e pa

rticu

lar d

e de

rivaç

ão su

fixal

. El

emen

tos

form

ativ

os e

xist

em d

ifere

ntes

des

tes,

que

se c

oloc

am a

ntes

da

pala

vra

deriv

ante

, e s

e ch

amam

pr

efix

os;

tal

proc

esso

é o

da

deri

vaçã

o pr

efix

al.”

(1

996

: 229

)

“Der

ivaç

ão é

pro

cess

o pe

lo q

ual

de u

ma

pala

vra

se

form

am o

utra

s, po

r m

eio

de a

greg

ação

de

certo

s el

emen

tos q

ue lh

e al

tera

m o

sent

ido

– re

ferid

o se

mpr

e,

cont

udo,

à s

igni

ficaç

ão d

a pa

lavr

a pr

imiti

va.

Tais

el

emen

tos

se c

ham

am p

refix

os o

u su

fixos

, seg

undo

se

colo

quem

an

tes

ou

depo

is

de

pala

vra

deriv

ante

.”

(195

7 : 1

79)

“Der

ivaç

ão c

onsi

ste

em f

orm

ar p

alav

ras

de o

utra

pr

imiti

va p

or m

eio

de a

fixos

. Os

afix

os s

e di

vide

m,

em p

ortu

guês

, em

pre

fixos

(se

vêm

ant

es d

o ra

dica

l) ou

sufix

os (s

e vê

m d

epoi

s).”

(196

6 : 2

16)

Aut

ores

Said

Ali

Roc

ha L

ima

Bec

hara

Apresentação do problema 13

D

efin

ição

de

com

posi

ção

“A

com

posi

ção,

já s

abem

os, c

onsi

ste

em fo

rmar

um

a no

va p

alav

ra p

ela

uniã

o de

doi

s ou

mai

s ra

dica

is. A

pa

lavr

a co

mpo

sta

repr

esen

ta s

empr

e um

a id

éia

únic

a e

autô

nom

a,

mui

tas

veze

s di

ssoc

iada

da

s no

ções

ex

pres

sas

pelo

s se

us c

ompo

nent

es.

Ass

im,

cria

do-

mud

o é

o no

me

de u

m m

óvel

; m

il-fo

lhas

, o

de u

m

doce

(...)

” (2

001

: 105

) “

O

proc

esso

de

co

mpo

siçã

o se

ca

ract

eriz

a pe

la

junç

ão d

e um

a ba

se a

out

ra p

ara

a fo

rmaç

ão d

e um

a pa

lavr

a.

Ass

im,

dize

mos

qu

e um

a ba

se

é co

mpo

sta

sem

pre

que

esta

apr

esen

ta d

uas

base

s. Po

r ex

empl

o,

pala

vras

co

mo

guar

da-c

huva

(g

uard

a +

chuv

a),

luso

-bra

sile

iro

(luso

+

bras

ileir

o),

soci

olin

güís

tico

(sóc

io +

lin

güís

tico)

e a

gric

ultu

ra

(agr

i + c

ultu

ra) s

ão c

ompo

stas

, ist

o é,

form

adas

pel

a ju

nção

de

duas

bas

es, s

ejam

est

as f

orm

as p

resa

s –

isto

é,

form

as q

ue d

epen

dem

de

outra

s pa

ra s

ua

ocor

rênc

ia,

com

o ag

ri-

em a

gric

ultu

ra –

ou

livre

s, co

mo

chuv

a, b

rasi

leir

o, e

ass

im p

or d

iant

e.”

(198

9 :

27)

Def

iniç

ão d

e de

riva

ção

“Den

omin

am-s

e [p

alav

ras]

de

riva

das

as

que

se

form

am d

e ou

tras

pala

vras

da

língu

a m

edia

nte

o ac

résc

imo

ao

seu

radi

cal

de

um

pref

ixo

ou

um

sufix

o.”

(200

1 : 8

2)

“O p

roce

sso

de d

eriv

ação

se

cara

cter

iza

pela

jun

ção

de u

m a

fixo

(suf

ixo

ou p

refix

o) a

um

a ba

se p

ara

a fo

rmaç

ão d

e um

a pa

lavr

a. A

ssim

, di

zem

os q

ue u

ma

pala

vra

é de

rivad

a qu

ando

ela

se c

onst

itui d

e um

a ba

se

e um

afix

o.

Por

exem

plo,

as

form

as r

etra

tista

(re

trat

o +

ista

), liv

reir

o (li

vro

+ ei

ro),

(...)

rele

r (r

e +

ler)

e p

redi

spor

(p

re

+ di

spor

) sã

o fo

rmas

de

rivad

as:

em

toda

s ve

rific

amos

a

estru

tura

ção

base

+

afix

o,

que

se

conc

retiz

a em

bas

e +

sufix

o (c

omo

em r

etra

tista

) ou

em

pre

fixo

+ ba

se (

com

o em

rele

r).”

(198

9 : 2

6)

Aut

ores

Cun

ha &

Cin

tra

Bas

ílio

Apresentação do problema 14

D

efin

ição

de

com

posi

ção

“Com

posi

ção

é o

proc

esso

pel

o qu

al s

e fo

rmam

pal

avra

s no

vas

com

a u

nião

de

dois

ou

mai

s el

emen

tos,

com

o p.

ex

.: re

+ f

azer

, co

uve

+ flo

r, ág

ua +

ard

ente

= r

efaz

er,

couv

e-flo

r, ag

uard

ente

.” (1

940

: 187

)

. “C

ompo

siçã

o: F

orm

ação

de

uma

pala

vra

pela

reun

ião

de

outra

s, cu

ja s

igni

ficaç

ão s

e co

mpl

eta

para

for

mar

um

a si

gnifi

caçã

o no

va.

Os

vocá

bulo

s qu

e en

tram

na

co

mpo

siçã

o po

dem

ap

rese

ntar

-se

num

a fo

rma

varia

nte

daqu

ela

que

figur

a co

mo

form

a liv

re,

por

mor

fofo

nêm

ica

(frut

i- em

vez

de

frut

o em

fru

ticul

tura

), ou

pod

em s

ó ap

arec

er n

a lín

gua

com

o fo

rmas

pre

sas

em c

ompo

stos

(-fe

ro e

m f

rutíf

ero,

ag

r- e

–co

la e

m a

gríc

ola)

. D

este

últi

mo

tipo

são

os

pref

ixos

, qu

ando

não

coi

ncid

em c

om p

repo

siçõ

es n

a lín

gua.

” (1

977

: 76)

Def

iniç

ão d

e de

riva

ção

“Der

ivaç

ão,

em g

eral

, é

o pr

oces

so p

elo

qual

de

umas

pa

lavr

as s

e or

igin

am o

utra

s ch

amad

as D

ERIV

AD

AS.

Em

re

laçã

o a

esta

s cha

mam

-se

aque

las P

RIM

ITIV

AS.

H

á do

is

proc

esso

s de

de

rivaç

ão:

DER

IVA

ÇÃ

O

PRÓ

PRIA

, 2º D

ERIV

ÃO

IMPR

ÓPR

IA.

A D

ER

IVA

ÇÃ

O P

PRIA

faz

-se

por

mei

o de

suf

ixos

que

, ag

lutin

ados

ao

te

ma

das

pala

vras

pr

imiti

vas,

lhes

m

odifi

cam

a s

igni

ficaç

ão, d

eter

min

ando

-a, p

. ex.

: gue

rr +

ea

r, gu

err +

eir

o, g

uerr

+ il

ha.

(...)

Cha

ma-

se D

ERIV

ÃO

IM

PRÓ

PRIA

a m

udan

ça q

ue s

ofre

um

a pa

lavr

a no

sen

tido

ou n

a ca

tego

ria g

ram

atic

al s

em

inte

rven

ção

de su

fixos

. ” (1

940

: 177

-186

)

“Est

rutu

raçã

o de

um

voc

ábul

o, n

a ba

se d

e ou

tro, p

or m

eio

de u

m m

orfe

ma

que

não

corr

espo

nde

a um

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ábul

o e

intro

duz

no s

eman

tem

a um

a id

éia

aces

sória

que

não

m

uda

a si

gnifi

caçã

o fu

ndam

enta

l. E

m p

ortu

guês

, os

m

orfe

mas

seg

men

tais

nes

tas

cond

içõe

s sã

o os

que

se

posp

õem

ao

sem

ante

ma

e en

tram

poi

s na

cla

sse

de

sufix

o. O

s qu

e se

ant

epõe

m a

o se

man

tem

a, n

a cl

asse

de

pref

ixo,

salv

o no

s der

ivad

os p

aras

sint

étic

os, c

orre

spon

dem

a

prep

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(197

7 : 9

2)

Aut

ores

Pere

ira

Câm

ara

Jr

Apresentação do problema 15

As gramáticas de Said Ali ([1931]1966), Rocha Lima (1957), Bechara (1966)

Cunha & Cintra (2001) e de Pereira ([1918]1940) fizeram parte do ensino descritivo do

português durante todo o século XX. Elas são representativas das gramáticas escolares

do português, as quais tratam a morfologia de maneira mais independente em relação à

sintaxe. Na gramática de Said Ali, por exemplo, foi adicionada à segunda edição (1931)

uma parte apenas tratando da formação de palavras. Na de Bechara (1966) há duas

partes: “estudo das construções” e “estudo das formas”, em que esta constituiu a

morfologia e aquela a sintaxe. Da mesma forma organiza-se a gramática de Rocha

Lima (1957). Em ambas, a estrutura dos vocábulos e a formação de palavras são tópicos

pertencentes à morfologia. Em Cunha & Cintra, no entanto, a morfologia e a sintaxe se

fundem no que se denomina morfo-sintaxe, entretanto a estrutura e formação de

palavras são estudadas num capítulo à parte. Pereira (1918]1940) apresenta uma divisão

em lexicologia e sintaxe, esta responsável pelo “estudo das palavras combinadas para a

expressão do pensamento” e aquela responsável pelo “estudo das palavras isoladas,

consideradas em si.” Na lexicologia estão inseridos os estudos morfológicos, entre eles

a etimologia, em que se tratam a derivação e a composição.

Em Said Ali ([1931]1966), Rocha Lima (1957), Bechara (1966) e Cunha &.

Cintra (2001), a prefixação é definida como um processo de derivação que consiste na

formação de palavras pelo acréscimo de um prefixo. Ver Quadro 1. Nessas gramáticas,

os prefixos são definidos como morfemas que se antepõem ao radical, atribuindo-lhe

uma idéia acessória. Foi, ainda, apresentado o caráter independente dos prefixos,

quando tais gramáticos afirmam que eles originam-se, em geral, de advérbios ou de

preposições que têm ou tiveram vida autônoma na língua. Quanto ao processo de

composição, percebeu-se uma uniformidade nos conceitos trazidos em tais gramáticas.

Apresentação do problema 16

Todas consideram a composição a reunião de dois radicais em que é desfeito o

significado de cada um para dar lugar a um novo significado, único e autônomo, à

palavra composta.

Pereira ([1918]1940), no entanto, apresenta uma proposta diferente das

gramáticas citadas, ao trazer a prefixação entre os tipos de composição.

Quanto aos lingüistas Basílio (1989) e Câmara Jr., é de grande importância

para um estudo sobre a distinção entre radical e prefixo a apresentação das postulações

desses autores a respeito de derivação prefixal e de composição, visto que são lingüistas

respeitados e influentes nos estudos da língua. Como pode ser observado no Quadro 1,

Basílio (1989) classifica as formações com prefixo como formações derivadas,

consoante ao que Said Ali ([1931]1966), Rocha Lima (1957), Bechara (1966) e Cunha

& Cintra (2001) apresentam, ao passo que Câmara Jr (1977), assim como o gramático

Pereira ([1918]1940), prefere incluir as formações prefixais no âmbito da composição.

Em virtude dessa divergência nos estudos da língua quanto à classificação da

prefixação, é necessário, então, expor e comparar argumentos de âmbito lingüístico e

gramatical defendidos por esses autores. Nesse sentido, no tópico a seguir, será feito um

panorama do tratamento dado aos prefixos e ao processo de composição pela tradição

gramatical do português e pelos lingüistas Basílio e Câmara Jr., tendo como foco

principal a questão da controvérsia da prefixação. Logo após, o Quadro 2 apresenta uma

síntese dessa revisão bibliográfica.

1.2.1 - Prefixação como derivação

1.2.1.1 – Sail Ali ([1931]1966)

Apresentação do problema 17

Said Ali considera plausível, a princípio, a análise que exclui a prefixação do

processo de derivação quando considera partículas usadas como vocábulos

independentes na língua, mas, para o gramático, esse fato não sustenta a proposta ao se

analisar elementos formativos do tipo dis-, re-, in-, pré-, ob- que não são usados como

palavras isoladas, mas apenas atrelados a um radical, como em DISTENDER, REFAZER,

INFELIZ, PRÉ-VESTIBULAR, OBSTÁCULO. Embora alguns desses elementos já tenham sido

preposições ou advérbios no passado, este argumento torna-se inválido, a não ser que,

nesse mesmo sentido, sejam também analisados alguns sufixos que, claramente, já

foram usados como palavras independentes, como por exemplo o sufixo –mente. Em

latim só se usaram dizeres como fera mente, bona mente (ou feramente, bonamente,

pois se pronunciariam ligando as palavras), em que se combinava o substantivo com

qualificativos adequados à sua significação. Desse uso, a palavra MENTE perdeu a

significação e valor de substantivo e passou a funcionar como sufixo criador de

advérbios, como RAPIDAMENTE, RECENTEMENTE, FEROZMENTE. Deste modo,

desapareceria por completo o conceito de derivação.

1.2.1.2 – Rocha Lima (1957)

O gramático, no capítulo sobre formação de palavras, apresenta os processos

de derivação e composição, e inclui no primeiro a prefixação e a sufixação, no entanto o

autor cita a seguinte postulação de Said Ali ([1931]1966):

“Mas os prefixos são, na maior parte, preposições e advérbios, isto é, vocábulos de existência independente, combináveis com outras palavras, equivale isto a dizer que não está bem demarcada a fronteira entre a derivação prefixal e a composição” (Said Ali, 1966 : 229)

Apresentação do problema 18

Em seguida, Rocha Lima apresenta autores que consideram a prefixação um

tipo de composição e outros autores que preferem incluí-la entre as formações

derivadas, tal como ele segue em sua gramática.

1.2.2.3 – Bechara (1966)

Evanildo Bechara apresenta a prefixação como derivação, juntamente com a

sufixação e menciona o fato de que,

“Ao contrário dos sufixos, que assumem valor morfológico, os prefixos têm mais força significativa, podem aparecer como formas livres e não servem, como aqueles, para determinar uma nova classe de vocábulos.” (1966 : 206)

De fato, como afirma o gramático, os prefixos assumem, num primeiro

momento, a função de adicionar um significado à palavra, e não de determinar uma

classe gramatical, como os sufixos. No entanto, há casos em que um morfema anteposto

a uma base forma uma palavra que pode apresentar função diferente da categoria

gramatical da palavra de base, como no exemplo apresentado por Alves (1993 : 390)

“hoje, no Japão, quer dizer uma situação diferente daquele Japão pré-guerra, né?”.

O substantivo GUERRA, ao receber o prefixo pré-, passa a adquirir uma função

adjetiva, como pode ser visto na frase acima. Assim como ocorre em ANTIÁCIDO:

ANTIÁCIDO (adjetivo) prefixo anti- + ÁCIDO (substantivo)

Apresentação do problema 19

1.2.1.4 - Cunha & Cintra (2001)

Cunha & Cintra (2001 : 84) a princípio afirmam que

“a rigor, poderíamos até discernir as formações em que entram prefixos que são meras partículas, sem existência própria no idioma (como des- em desfazer, ou re- em repor), daquelas de que participam elementos prefixais que costumam funcionar também como palavras independentes (assim: contra- em contradizer, entre- em entreabrir). No primeiro caso haveria DERIVAÇÃO; no segundo, seria justo falar-se em COMPOSIÇÃO."

Em seguida, porém, eles preferem não fazer essa distinção e consideram toda e qualquer

formação com prefixos um processo de derivação, e como justificativa para adotar essa

posição ele afirma que "nem sempre é fácil estabelecer tal diferença" (2001 : 84).

Tendo em vista que se trata de uma gramática escolar, entende-se que não é intenção de

tais gramáticos resolver todas as questões da língua.

1.2.1.5 – Basílio (1989)

Segundo Basílio (1989 : 26), o processo de derivação se caracteriza pela

junção de um afixo (sufixo ou prefixo) a uma base para a formação de uma palavra.

Assim, são formações compostas algo como reler (re + ler) e predispor (pre + dispor).

Para a lingüista, a derivação prefixal se estrutura a partir de um prefixo + uma base.

Essa base é, em geral, uma forma livre.

Para Basílio (1989 : 29), a derivação envolve um afixo, que é um elemento

estável, com função sintática ou semântica predeterminada. Segundo a autora,

“os prefixos nunca mudam a classe da palavra a que se adicionam. (...) De fato, a prefixação é utilizada para a formação de palavras quando queremos, a partir do significado de uma palavra, formar outra semanticamente relacionada, que

Apresentação do problema 20

apresente uma diferença semântica específica em relação à palavra-base.” (1989 : 9).

Nesse sentido, Basílio apresenta exemplos como o prefixo pré-, que indica

anterioridade em PRÉ-FABRICADO, PRÉ-DISSEMINADO, PRÉ-VESTIBULAR, PRÉ-

ADOLESCÊNCIA, etc; o prefixo re-, que indica repetição em REFAZER, RELER,

RELEMBRAR, RETOMAR, RECOMEÇAR. Em todos os casos, a palavra que se forma

mantém uma relação semântica fixa com a palavra-base.

A composição, por outro lado, envolve a junção de uma base a outra base, não

havendo elementos fixos. Essas bases são elementos semânticos de existência

independente no léxico que se juntam para formar apenas um elemento lexical. O

significado de um composto é, freqüentemente, desligado do significado de seus

componentes. Como exemplos, Basílio apresenta que

“em compostos do tipo substantivo + substantivo, o primeiro substantivo funciona como núcleo da construção e o segundo como modificador ou especificador: sofá-cama, peixe-espada, couve-flor; em composições de substantivo + adjetivo, o núcleo é o substantivo e o modificador é o adjetivo, independente da ordem de ocorrência: obra-prima, livre-arbítrio, caixa-alta, belas-artes. Ainda, em composições verbo + substantivo, o substantivo tem função análoga à de objeto do verbo: guarda-roupa, mata-mosquito, porta-bandeira.” (1989 : 29,30)

1.2.2 - Prefixação nem sempre é derivação

1.2.2.1 – Pereira (([1918]1940)

Segundo Pereira ([1918]1940) : 188), a composição é um processo de

formação de palavras a partir de dois elementos. Estes podem ser:

Apresentação do problema 21

1) um prefixo e uma palavra (prefixação)

INQUIETO (in- + QUIETO)

MALTRATAR (mal- + TRATAR)

2) duas palavras que conservam, cada uma, a grafia e a prosódia (justaposição)

PASSATEMPO (PASSA + TEMPO)

COUVE-FLOR (COUVE + FLOR)

3) duas palavras com a perda da autonomia prosódica (aglutinação)

AGUARDENTE (ÁGUA + ARDENTE)

FIDALGO (FILHO + de + ALGO)

O prefixo é definido como o afixo que se antepõe ao tema para modificar sua

significação. Segundo o gramático, como todo composto apresenta um elemento

principal (o determinado) e um elemento acessório (o determinante), numa formação

prefixal, o prefixo é o determinante, o qual acrescenta uma idéia acessória à palavra

simples, e esta é o elemento determinado.

Os prefixos, conforme Pereira ([1918]1940 : 188) classifica, podem ser:

expletivos (quando não acrescentam significado ao tema, como em a-

em ALEVANTAR = LEVANTAR; ACURVAR = CURVAR)

inexpletivos (quando acrescentam uma idéia acessória à palavra a que

se agrega, como o prefixo re- em REFORMAR; in- em INVERDADE)

separáveis (quando o prefixo pode também aparecer na língua de

maneira independente, isto é, sem está compondo outra palavra,

exemplos: COMPOR, CONTRADIZER, MALDIZER; com, contra e mal são

partículas que se usam na frase sem ser em composição de palavras).

Apresentação do problema 22

inseparáveis (quando o prefixo só aparece na composição de palavras,

como por exemplo INVERDADE e CIRCUNDAR; os prefixos in- e circum-

não aparecem isolados na frase).

O autor afirma, ainda, que são compostos perfeitos aqueles formados por

prefixação e por aglutinação, visto que, em ambos, “os elementos componentes se

fundem não só na forma, mas também na idéia, para expressarem um conceito único,

uma única imagem.” (1940 : 197)

Observa-se, portanto, que todo composto apresenta um elemento determinante

e outro determinado. Embora, segundo Pereira ([1918]1940), um prefixo seja sempre o

elemento determinante de uma composição, há aqueles prefixos (prefixos expletivos)

que não acrescentam significado algum ao tema. Este tipo de prefixo não é nem o

elemento determinante, nem o elemento determinado na formação.

1.2.2.2 – A proposta de Câmara Jr. (1976; 1977)

Para a criação de novas palavras, Câmara Jr. (1976 : 221) propõe dois

mecanismos distintos: a composição e a derivação. Esta constitui um processo em que

se formam palavras por acréscimo de sufixos, e aquela se caracteriza, basicamente, pela

“associação significativa e formal de duas palavras, e daí resulta uma palavra nova, em

que se combinam as significações das que a constituem.” A composição mais comum

do ponto de vista formal, segundo o lingüista, é aquela em que dois nomes se combinam

sem a perda de fonemas. Trata-se de uma justaposição em que há dois vocábulos

fonológicos, isto é, cada elemento da formação mantém seu acento. São desse tipo de

composição os exemplos:

Apresentação do problema 23

OBRA-PRIMA (substantivo + adjetivo)

MESTRE-ESCOLA (substantivo + substantivo)

BEIJA-FLOR (verbo + substantivo)

Câmara Jr. apresenta também, a respeito da composição, que a maior

tendência na língua é para a formação de apenas um vocábulo fonológico, nesse sentido

tem-se a união de duas palavras com a perda de fonemas, ou seja, a aglutinação. Como

exemplo, o lingüista apresenta:

PLANALTO (plano + alto)

AGUARDENTE (água + ardente)

O lingüista propõe, entretanto, que o genuíno mecanismo da composição em

português é a prefixação. O prefixo é definido por Câmara Jr. como “o afixo que vem na

parte inicial do vocábulo” (1977 : 315) e é a variante presa das preposições. O lingüista

considera três casos para a identificação dos prefixos:

1º) quando o prefixo é acrescentado a um radical que é uma forma livre.

Exemplo: PREDIZER.

2º) quando o prefixo é acrescentado a um radical que é uma forma livre numa

estrutura variante. Exemplo: PERMITIR, cf. METER.

3º) quando o prefixo é acrescentado a um radical que, embora seja apenas

forma presa na língua, aparece com prefixos diferentes. Exemplo:

COLISÃO, ELISÃO.

Apresentação do problema 24

Câmara Jr. sustenta a proposta da inclusão das formações com prefixos entre

os processos de composição com dois argumentos.

Um diz respeito ao fato dos prefixos serem variantes presas das preposições.

As preposições sofreram grande redução do latim vulgar, logo no português, com isso a

diferença que havia entre prefixos e preposições passou a ser menos visível. Muitas

preposições desaparecem e passaram a funcionar como prefixos.

O outro argumento refere-se à alteração da significação do semantema. “O

prefixo, como partícula adverbial em essência, modifica a significação primitiva, nela

introduzindo a sua significação adverbial” (1976 : 227). A derivação, ao contrário,

segundo o lingüista, se estrutura por meio de um afixo (sufixo) que apenas introduz no

semantema uma idéia acessória que não muda a significação fundamental.

Assim, segundo Câmara Jr., o sistema de prefixação em português pode ser

dividido em três grupos de partículas:

1º - as que também funcionam como preposições,

2º - as que são variantes (em forma erudita) das preposições,

3º - as que são exclusivamente prefixos.

Após esse panorama do tratamento dado aos prefixos e ao processo de

composição pela tradição gramatical e pelos lingüistas Basílio e Câmara Jr., o quadro 2,

a seguir, apresenta uma síntese dessa revisão bibliográfica.

Apresentação do problema 25

(Quadro 2) JU

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31]1

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6)

Apresentação do problema 26

JU

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Apresentação do problema 27

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1918

]194

0)

Câm

ara

Jr. (

1976

; 19

77)

Apresentação do problema 28

Pereira ([1918]1940) e Câmara Jr. (1976;1977) apresentam argumentos

semelhantes e se prendem à questão semântica da prefixação (o prefixo modifica a

significação da base a que se adjunge) que é parecida com a composição. Said Ali

(1931]1966), Rocha Lima (1957), Bechara (1966) e Cunha & Cintra (2001) chegam a

citar o argumento apresentado por outros autores como Pereira e Câmara Jr., mas, por

fim, optam pela análise da prefixação como tipo de derivação e não apresentam, de fato,

argumentos de base morfológica para justificar essa análise. Por outro lado, o critério

apresentado por Basílio (1989) a respeito da caracterização do prefixo como elemento

fixo na formação justifica bem a inclusão da prefixação entre os tipos de derivação.

1.3 – Prefixação e Composição

Uma derivação prefixal constitui-se na formação de uma palavra por meio de

um prefixo que se antepõe a um lexema (Matthews, 1991: 61) ou a uma palavra

(Laroca, 1994:84) ou base (Bauer, 1983:216) ou radical (Cunha & Cintra, 2001:79)

_______ e esta indefinição do elemento nuclear para a caracterização da formação já faz

antever os problemas de classificação _____, acrescentando-lhe um significado acessório

(vide Alves, 1992:101; Cunha & Cintra, 2001:80)

(1)

a. PRÉ-HISTÓRIA pré - HISTÓRIA

prefixo lexema/palavra radical base b. PRETÔNICA pré- TÔNICA

prefixo lexema/palavra radical base

Apresentação do problema 29

Em (1) acima, o prefixo pré- vem agregado aos lexemas ou palavras (ou às

bases, ou aos radicais) HISTÓRIA e TÔNICA, respectivamente, atribuindo-lhes a idéia de

anterioridade em relação ao ponto de referência neles levado em conta. Tanto num

quanto noutro exemplo há a expansão do radical pelo prefixo.

Uma composição, por sua vez, é a formação de uma palavra a partir da reunião

de mais de um radical (Sapir, 1921: 71), ou palavra (Fabb, 1998: 66), ou base (Basílio,

1989:29), como ilustrado em (2), a seguir.

(2)

a. BEIJA-FLOR BEIJA + FLOR

radical radical base base palavra palavra significado: Pequena e formosa ave americana, da família dos troquilídeos. (Ferreira, 1986)

b. LIQUEFAZER liqüe- + FAZER

radical preso radical base base palavra palavra

significado: reduzir a líquido; derreter.

(Ferreira, 1986)

Em geral, tomando por base sua fonologia, os compostos são classificados em

dois tipos, ilustrados em (2) acima. O item (2a) ilustra um composto formado pela

justaposição de dois elementos que funcionam, cada um, de maneira independente na

língua. São formas livres, segundo a definição de Bloomfield (1926: 27), que se

juntaram para formar uma nova palavra, uma vez que BEIJA-FLOR é o nome popular de

um pássaro. Em (2b), há um composto a partir da união de uma forma livre (fazer) e de

Apresentação do problema 30

uma forma presa, liqüe-. Trata-se de um composto por aglutinação, que se caracteriza

por juntar dois radicais com a perda de fonemas.

Tendo em vista aspectos semânticos, como apresentam Cunha & Cintra (2001

: 106), um composto se estrutura a partir de um elemento determinado, que contém a

idéia geral, e de um elemento determinante, que encerra a noção particular. Assim,

MANGA-ROSA é um composto em que MANGA é o determinado e ROSA, o determinante.

Fabb (1998 : 66) afirma que a composição ocorre por processos de caráter semântico,

incluindo a metonímia, como em REDHEAD, que significa uma pessoa que tem cabelo

vermelho. Ainda segundo este autor, há muitas possibilidades de relações semânticas

entre as partes de um composto, assim como há entre as partes de uma sentença, mas

diferentemente de uma sentença, em um composto, as relações de caso, preposições e

posições estruturais não são válidas para esclarecer a relação semântica.

Justaposição e aglutinação, no entanto, ao focalizarem aspectos fonológicos,

são termos que podem ser aplicados também às formações por prefixação. É o que faz

Câmara Jr (1976:228). Segundo o lingüista, o prefixo pode-se estruturar,

fonologicamente, como uma ou mais sílabas átonas no início do vocábulo (aglutinação),

ou pode apresentar um acento secundário na estrutura do vocábulo (justaposição).

A distinção entre composição e prefixação também não é tão simples mesmo

que se lance mão de critérios semânticos. Considera-se que o radical contém o

significado principal da palavra, e o prefixo acrescenta ao radical uma idéia acessória.

Conforme destaca Basílio (1974 : 90), na análise de uma palavra nem sempre é simples

distinguir o que é principal e o que é acessório. Em mesas, por exemplo, não há dúvida

de que mesa contém o significado básico, enquanto -s apresenta um significado

acessório. Já em cigarreira, equivalente a ‘caixa para cigarros’, o significado principal

Apresentação do problema 31

estaria no sufixo, que levaria à idéia do continente, ou no radical, que remeteria ao

conteúdo?

Quando se está diante de elementos como in-, des- e a- em INFELIZ, DESLEAL e

AMORAL, parece evidente que tais elementos acrescentam a idéia de negação a FELIZ,

LEAL e MORAL e também que nestas palavras está a idéia principal. No tocante a in-,

des- e a- , trata-se de formas átonas que funcionam na língua apenas quando conectadas

a um radical, isto é, são prefixos. Por outro lado, não é muito claro se será o caso de se

analisar a estrutura de uma palavra como CONTRA-REVOLUÇÃO como constituída de um

ou de dois radicais. Não é muito claro se o elemento contra-, nesse exemplo, poderia ser

um radical ou um prefixo. Há um acento em contra-, que permite a percepção de

independência dos dois elementos na formação.

1.4 – Prefixos e radicais

Nas formações DESNECESSÁRIO, ANORMAL, INFELIZ, os prefixos des-, a- e in-

apresentam a idéia “não tem as características de”, significado este que nega a idéia

expressa pelas bases adjetivas NECESSÁRIO, NORMAL e FELIZ, respectivamente. Os

prefixos apresentam, portanto, um significado lexical, assim como o radical.

Quando, então, um elemento deve ser classificado como radical e quando deve

ser considerado prefixo?

De acordo com a definição de Bloomfield (1926: 27) para forma livre e

forma presa, os afixos encontram-se entre as formas presas que, diferentemente das

formas livres, não funcionam como comunicação suficiente, isto é, funcionam apenas

quando associados a outro elemento. O prefixo seria, portanto, um constituinte de

Apresentação do problema 32

palavras. O radical, por sua vez, poderia ser uma forma livre indecomponível2, como

FLOR (em 2a), ou não, como BEIJA (também em 2a), ou ainda uma forma presa, como

liqüe- (em 2b).

Os afixos, os prefixos dentre eles, são definidos, basicamente, em relação à sua

posição face a um radical. A composição tem o caráter dúbio de ser caracterizada com

o resultado da união de radicais, ou da união de prefixos e radicais. Falta definir

radical/raiz/base.

Câmara Jr. (1977: 205), ao definir radical como “a parte lexical de vocábulo,

que se opõe à parte correspondente à flexão externa, a que se liga ou não pelo índice

temático”, afirma que esta parte lexical pode ser primária, isto é, quando o vocábulo é

primitivo, apresentando a raiz e mais a possibilidade de flexão, e também pode ser

secundária, ou seja, quando o radical é expandido por afixos. O elemento pré-

apresenta-se no exemplo (1b), aqui repetido por conveniência,

(1)

b. PRETÔNICA pré- TÔNICA

prefixo lexema/palavra radical base

como sílaba átona no início da palavra e é tido, sem dúvida, como um prefixo, ainda que

em (1a) ele possua um acento secundário e seja justaposto ao radical/raiz/base histórico.

1.5 – Justificativa

O tema deste trabalho justifica-se teoricamente porque retoma a questão da

controvérsia da prefixação, focalizando a fronteira entre radical e prefixo, isto é, trata de 2 Indecomponível caso não se leve em conta a proposta de morfema zero.

Apresentação do problema 33

noções que são fundamentais para o estudo do lexema. Os conceitos de radical e prefixo

são básicos para se estabelecer a diferenciação de processos morfológicos e para a teoria

lingüística é fundamental haver a distinção entre um processo e outro, na medida em

que línguas vivas, como o português, aumentam seu vocabulário a partir de mecanismos

gramaticais como derivação e composição, e estabelecer a diferença entre um

mecanismo e outro é bastante relevante para o entendimento de cada um.

Justifica-se o recorte imposto aos dados para este estudo: as formas

selecionadas, não-, mal- e contra- têm todas, de algum modo, a idéia de negação.

Apresentam-se como formas livres na língua e como constituintes de palavras. Tal fato

encontra-se na base da questão central deste trabalho, isto é, a diferença entre radical e

prefixo: as formas não, mal e contra ora são tidas como radicais, ora são analisadas

como prefixos. Ao proceder a esse recorte, a discussão da teoria passa a ter de revisar

análises prévias, propostas para o português.

Metodologicamente, como este trabalho não está voltado para questões

relacionadas com a produtividade ou com a freqüência de dados, foi possível recorrer

apenas ao dicionário para a coleta do corpus.

E, na medida em que se propõe tratar de questões a respeito da estrutura da

palavra, acredita-se, numa perspectiva prática, que este estudo possa ser aplicado, por

exemplo, no ensino de línguas. A questão abordada neste trabalho pode ser levada para

a sala de aula, preferencialmente de nível médio ou superior, e avaliada pelos alunos,

levando-os, a partir de suas próprias percepções, a estabelecer a definição e a distinção

de processos morfológicos como derivação prefixal e composição.

Apresentação do problema 34

C A P Í T U L O 2

F U N D A M E N T A Ç Ã O E M E T O L O D O G I A

2.1 – Introdução

Os objetivos deste capítulo são, primeiramente, expor a fundamentação teórica

do trabalho, que está centrado na caracterização da estrutura interna do lexema, em

acordo com Matthews (1991); em segundo lugar, tratar da prefixação e da composição

como dois modos possíveis de formalizar a relação entre o que se considera um conceito

básico e um conceito secundário do radical (Sapir, 1921:67), em outras palavras,

focalizar a prefixação e a composição como modos pelos quais as gramáticas das

línguas expressam as relações entre diferentes tipos de significados; em terceiro lugar,

apresentar o corpus e justificá-lo; e, por fim, descrever a metodologia utilizada no

desenvolvimento deste trabalho.

2.2 – A estrutura interna do lexema

Estudar a diferença entre um composto e um derivado por prefixo pressupõe

lidar com questões que dizem respeito à estrutura interna da palavra. Dentre as

propostas de análise, aqui se toma a de Matthews (1974; 1991), porque foi ela a fonte

Fundamentação e metodologia 35

das propostas de morfologia baseada em palavras que começaram a surgir na década de

1990, em contraposição à morfologia baseada em morfemas.

Matthews (1991 : 24-36) propõe três noções diferentes para o termo palavra.

A primeira (ou sentido 1, na s,ua exposição) está relacionada à idéia de uma palavra

descrita “em termos de unidades fonológicas: sílabas e, em última análise, letras ou

fonemas, considerados como seus primitivos ou elementos mínimos” (Mathews, 1991:

24). Nesse sentido, Matthews (1991: 30-31) substitui palavra por forma de palavra.

Caso se considere a noção de palavra nesse primeiro sentido e as formas tenho e tinha,

por exemplo, tem-se, então, duas formas de palavras, porque cada uma reúne conjuntos

diferentes de fonemas; assim sendo, enquanto elemento caracterizado fonologicamente,

nenhuma das duas é classificada como Verbo ou qualquer outra classe (Matthews 1991:

31) e tampouco tem significado. A noção de homonímia leva em conta a forma de

palavra.

Tenho e tinha são, no entanto, formas da mesma palavra TER. Esta noção

abstrata de palavra, o sentido 2 de Matthews (1991: 26), ele a denomina lexema, grafado

em caixa-alta, convenção proposta por Matthews e que vem sendo adotada na

morfologia. Assim, as palavras amo, amas, ama, amamos são formas do lexema AMAR,

como bicicleta e bicicletas são formas do lexema BICICLETA. E chega-se à terceira

noção para o termo palavra na proposta de Matthews, para a qual ele reserva o termo

palavra. Se forma de palavra analisa a unidade em termos de elementos mínimos

fonológicos (ou ortográficos), palavra no terceiro sentido de Matthews leva em conta o

nível gramatical, ou primeira articulação (Matthews, 1991: 29). Cada forma do lexema

AMAR (amo, amas, ama, amamos etc) é uma forma de palavra distinta, mas também

uma palavra gramatical distinta: diferem entre si em Número/ Pessoa, Tempo/ Modo.

Fundamentação e metodologia 36

Bicicleta e bicicletas são, respectivamente, Singular e Plural de BICICLETA, que é um

Nome. Por essa razão, embora reconheça três significados distintos para o termo

palavra, Matthews (1991: 30) mantém a distinção terminológica para, de um lado, os

sentidos 1 e 3 (a que se refere indistintamente, a não ser que seja necessário fazer a

distinção, como palavra) e, de outro, o sentido 2, a que se refere como lexema.

Em termos de sua estrutura, um lexema pode ser simples ou complexo. O

lexema simples, conforme define Matthews (1991: 37), é aquele cuja estrutura não pode

ser analisada em mais elementos morfológicos, como, por exemplo, o Adjetivo LEAL. O

lexema é complexo na medida em que pode ser analisado em mais de um elemento

morfológico, como DESLEAL, relacionado ao lexema simples LEAL. Por sua vez,

DESLEAL é um lexema complexo que se relaciona a outro lexema, mais complexo, que é

DESLEALDADE. Um composto, como por exemplo COUVE-FLOR, compreende o lexema

simples COUVE e o lexema simples FLOR. Por outro lado, TERCEIRO-MUNDISTA

relaciona-se a dois lexemas complexos. A composição e a formação de palavras por

prefixos pertencem, portanto, segundo Matthews (1991: 37), respectivamente, a uma

área da morfologia que diz respeito às relações entre um lexema complexo e dois ou

mais lexemas simples ou mais simples; e à relação entre um lexema complexo e um

lexema simples ou mais simples. Faz-se necessário, portanto, compreender essas

relações, bem como o que se entende por lexema e como ele se estrutura.

Matthews (1991: 63) analisa lexemas complexos como GENERATION ou

DIVERSION, derivados, respectivamente, de GENERATE e DIVERT, como derivações em

que há um elemento final –ion, que se liga a um radical. Em termos notacionais, tem-se

(3.1) [X]V → [X + ‘[jən]]N

Fundamentação e metodologia 37

A notação em (3.1) indica que Nomes em –ion derivados de verbos,

representados pela variável X na regra, são formações potenciais em inglês. Por esse

elemento fazer parte de uma formação lexical, ele é denominado formativo lexical.

GENERATION deriva de GENERATE e é uma relação entre lexemas, visto que

ambas as formas entram como palavras no dicionário. Por outro lado, Matthews

diferencia esse processo daquele que ocorre entre as formas corajoso, corajosa,

corajosos, corajosas, por exemplo.

O Adjetivo CORAJOSO assume diferentes formas de palavra, na dependência de

propriedades ou traços morfossintáticos específicos (Matthews, 1991: 40).

(3.2) Feminino

Singular → X + [a] X A

No caso de corajosa, o elemento [a] determina o traço feminino, isto é, trata-se

de um formativo flexional que se aplica ao radical /koRaʒozu/.

Raiz, como define Mathews (1991: 64), “é a forma que subjaz, no mínimo, um

paradigma ou um paradigma parcial, e é ela mesma morfologicamente simples”. Nesse

sentido, a raiz coraj- está presente nas formas corajosa, corajosas, por exemplo, com o

acréscimo do formativo lexical –oso e dos formativos flexionais -a e -s.

Como foi dito, uma forma como corajoso está na base do paradigma do

adjetivo corajoso, mas esta forma, por si só, não é simples, mas complexa, na medida

em que podemos fragmentá-la em duas outras formas menores: coraj- e –oso. Trata-se,

por esse motivo, não de uma raiz, mas de um radical. O radical é também uma forma

Fundamentação e metodologia 38

que serve como base para um paradigma ou parte de um paradigma, mas,

diferentemente da raiz, pode ser dividido em formas menores. Assim corajoso associa-

se à raiz coraj-, que também pode ser um radical. E corajosamente associa-se ao radical

corajoso.

2.3 – A noção de processo gramatical

Os processos gramaticais determinam padrões formais que exprimem funções

diversas na língua. São métodos formais presentes nas gramáticas das línguas e que,

através dos quais, é possível ampliar e renovar seu léxico em função das palavras já

existentes. Segundo Sapir (1921: 69), esses processos

[a]grupam-se em seis tipos principais: ordem vocabular; composição; afixação, que abrange o uso de prefixos, sufixos e infixos; modificação interna do elemento radical ou gramatical em referência quer a uma vogal, quer a uma consoante; reduplicação; e diferenças de acentuação, sejam elas dinâmicas (intensidade), sejam tônicas (altura, também clamada ‘tom’ e entoação). Há ainda processos quantitativos especiais quais o alongamento ou a abreviação de vogais e a geminação de consoantes, mas que podem ser consideradas como subtipos especiais do processo de modificação interna.

Também Anderson (1985) aborda os processos gramaticais. Voltado, porém,

para a flexão, Anderson procura demonstrar que flexão e derivação não se distinguem

em termos de processos gramaticais, e afirma que a

“ [d]erivation cannot be separeted from inflection in terms of their formal realizaton, since none of the grammatical processes of prefixation, vowel change, etc. which appear in grammar are confined to one or the other domain” (1985: 162).

Quando levanta os processos gramaticais relevantes para a morfologia

flexional, Anderson apresenta os processos arrolados por Sapir, exceto ordem vocabular

Fundamentação e metodologia 39

e composição. Interessa para Anderson, na verdade, distinguir as categorias gramaticais,

tais como Número ou Tempo, e os processos que as realizam.

Está em discussão nesse trabalho a distinção entre derivação prefixal e

composição, isto é, a diferença entre dois métodos formais que várias línguas do mundo

dispõem “para indicar a relação de um conceito secundário com o conceito básico do

radical.” (Sapir, 1921:67). Nesse sentido, segue a descrição, primeiramente, da

composição e então da prefixação como processos gramaticais.

2.3.1 – Composição

A composição é definida por Sapir (1921: 71) como “a união em uma só

palavra de dois ou mais elementos radicais”. O lingüista usa para exemplo de

composição a formação em inglês TYPEWRITER (‘datilógrafo’), que apresenta um

significado que difere tanto do vocábulo TYPE (‘tipo de impressão’), quanto do vocábulo

WRITER (‘escritor’), que a compõem. Além disso, a unidade formada por esses dois

elementos pode ser ainda confirmada pela presença de apenas um acento primário, na

primeira sílaba, e por poder receber sufixos como o –s de plural (typewriter/

typewriters). Uma composição deste tipo no português é ilustrada com exemplos como

SEGUNDA-FEIRA ou BEIJA-FLOR. Trata-se, no primeiro exemplo, do nome de um dia da

semana, formado pelas palavras SEGUNDA e FEIRA. E, no segundo exemplo, do nome de

um pássaro, formado pelos vocábulos BEIJA e FLOR. Nesses exemplos, também há

apenas um acento primário na sílaba –fei- de SEGUNDA-FEIRA, e no termo flor de BEIJA-

FLOR, é importante ressaltar, porém, a presença de um acento secundário na sílaba –gun-

de SEGUNDA-FEIRA e na sílaba bei- de BEIJA-FLOR.

Fundamentação e metodologia 40

Sapir mostra ainda que a composição, um processo aparentemente simples,

não é universal. O nutka, por exemplo, é incapaz de composição tal como ele define este

processo. Nessa língua, uma palavra como “quando, segundo dizem, ele ficou ausente

por quatro dias” (Sapir, 1921: 73) que se poderia imaginar que haveria de ter, pelo

menos, três elementos radicais, relacionados, cada um, aos conceitos de “ausente”,

“quatro” e “dia”, é formada apenas por um radical, acrescido de sufixos que apresentam

“significação quase tão concreta quanto a do próprio radical” (Sapir, 1921: 73). Estes

sufixos são assim classificados pelo fato de estarem agregados ao núcleo da palavra e de

não funcionarem isoladamente na língua.

Em última análise, este é o mesmo argumento que leva Margarida Basílio

(1974) a deixar de lado o significado na distinção entre raiz e afixo. Isto porque a língua

portuguesa apresenta, também, formações em que o afixo traz significado lexical tão

concreto quanto ao do radical. Margarida Basílio (1974 : 90) apresenta como exemplo a

palavra CIGARREIRA, estruturada a partir do radical (cigarr-) mais o sufixo –eira: tal

sufixo carrega o significado principal da palavra, se a compreendermos como

equivalente a “caixa para cigarros”.

Existe, conforme Sapir (1921: 73), uma grande variedade de tipos de

composição, que dependem da função, da natureza dos componentes e da sua ordem. A

composição, em muitas línguas, apresenta o que o lingüista chama de função

delimitadora (Sapir, 1921: 73), isto é, um elemento da formação recebe qualificação

mais exata pelo contato com os outros elementos componentes; já em outras, a função é

a de representar relações gramaticais, como sujeito e objeto (Sapir, 1921: 73).

A variedade de tipos de composição depende, em segundo lugar, da natureza

dos componentes de uma composição: nome com nome, verbo com verbo, nome com

Fundamentação e metodologia 41

verbo, advérbio com verbo e assim por diante. Há certas línguas que admitem todos ou

quase todos os tipos de elementos, e há outras línguas que não permitem determinadas

composições.

E, por último, a ordem da composição varia conforma a língua. Em inglês, por

exemplo, o elemento que qualifica é sempre anteposto. Em outras línguas, no entanto,

esse elemento é posposto.

No português é possível apresentar composições de diferentes tipos. Cunha &

Cintra (2001; 106-7) listam como os elementos da composição as seguintes classes

gramaticais:

1. substantivo + substantivo:

MANGA-ROSA PORCO-ESPINHO TAMANDUÁ-BANDEIRA

2. substantivo + preposição + substantivo:

CHAPÉU-DE-SOL MÃE-D’ÁGUA PAI DE FAMÍLIA

3. substantivo + adjetivo:

AMOR-PERFEITO (adjetivo posposto ao substantivo) BELAS-ARTES (adjetivo anteposto ao substantivo)

4. adjetivo + adjetivo:

AZUL-MARINHO LUSO-BRASILEIRO TRAGICÔMICO

5. numeral + substantivo:

MIL-FOLHAS SEGUNDA-FEIRA TRIGÊMEO

Fundamentação e metodologia 42

6. pronome + substantivo: MEU-BEM NOSSA-AMIZADE NOSSO SENHOR

7. verbo + substantivo:

BEIJA-FLOR GUARDA-ROUPA PASSATEMPO

8. verbo + verbo:

CORRE-CORRE PERDE-GUANHA VAIVÉM

9. advérbio + adjetivo:

BEM-BOM NÃO-EUCLIDIANA SEMPRE-VIVA

10. advérbio (ou adjetivo em função adverbial) + verbo:

BEM-AVENTURAR MALDIZER VANGLORIAR-SE

Segundo Cunha & Cintra acima, formações como MAL-HUMORADO e NÃO-

ALINHADO estariam entre os compostos, visto que se trata da união de advérbio e

adjetivo.

Quanto à questão semântica de determinante (elemento que contém a noção

particular) e determinado (elemento que contém a idéia geral) nos compostos, a língua

portuguesa apresenta tanto casos em que o determinado está anteposto ao determinante,

como por exemplo ESCOLA-MODELO (ESCOLA é o termo determinado e MODELO é o

termo determinante), quanto o inverso, isto é, casos em que o determinado está posposto

ao determinante, como em MÃE-PÁTRIA (MÃE é o termo determinante e PÁTRIA o

determinado).

Fundamentação e metodologia 43

2.3.2 – Prefixação

A afixação é o processo mais freqüente nas línguas do mundo, mais freqüente

que todos os outros em conjunto (Sapir, 1921: 74). Este processo gramatical caracteriza-

se pela adição de algum afixo ao radical (Sapir, 1921: 74; Anderson, 1985 : 166). Esse

elemento pode estar antes do radical, no meio ou depois dele, sendo denominado em

acordo com a posição, respectivamente, prefixo, infixo ou sufixo. Os prefixos, porém,

perdem para os sufixos: há línguas que usam apenas dos sufixos, excluindo por

completo a prefixação.

Em algumas línguas, segundo Sapir (1921: 75), prefixos e sufixos têm funções

diferentes: cabe aos prefixos a função de expressar idéias que delimitam a significação

concreta do radical; quanto aos sufixos, têm a função de relacionar o vocábulo ao

restante da sentença. Para ilustrar, o lingüista apresenta uma forma latina como

remittebantur, que significa “eram mandados de volta” (Sapir,1921 : 75):

O prefixo re-, “de volta” apenas qualifica, até certo ponto, a significação inerente ao radical mitt-, “mandar”, ao passo que os sufixos –eba-, -nt- e –ur transmitem noções menos concretas, mais estritamente formais, de tempo, pessoa, pluralidade e passividade.

Por outro lado, há línguas, como as do grupo banto da

África e as línguas athabaskan da América do Norte, em que os elementos de sentido

gramatical apresentam-se como prefixos, e não como sufixos. Estes, por outro lado,

“constituem uma classe relativamente dispensável” (Sapir, 1921, : 75). O lingüista

exemplifica um verbo hupa te-s-e-ya-te ‘irei’, em que os prefixos trazem informações

que, ligadas ao radical, constituem a unidade do vocábulo, restando ao sufixo

acrescentar uma informação que não é mais necessária ao equilíbrio formal da palavra.

Fundamentação e metodologia 44

Essa oposição entre prefixo e sufixo não é constante. Sapir (1921 : 76) afirma

que “na maioria das línguas que utilizam os dois tipos de afixação, cada grupo tem

ambas as funções, a de delimitação e a de expressão formal ou relaciona.”

No português, os prefixos modificam o sentido do radical a que se adjungem.

Assim, a idéia transmitida pelo radical feliz é modificada pelo acréscimo do prefixo in-

(INFELIZ). Trata-se de um processo de criação de novos vocábulos, assim como a

composição. E os prefixos não apresentam, no português, a função de relacionar o

vocábulo ao restante da frase. Em outras palavras, não indicam as marcas flexionais.

O que diferencia a composição da prefixação, portanto, é o fato de a primeira

apresentar a união de elementos radicais, isto é, estabelecer a relação de um lexema

complexo e dois ou mais lexemas simples ou mais simples, e de a segunda se estruturar

a partir de um afixo mais um radical, ou seja, estabelecer a relação de um lexema

complexo e um lexema simples ou mais simples. A forma derivada por prefixo

estrutura-se, portanto, a partir de um formativo lexical (o prefixo) mais um lexema,

sendo que este pode ser simples ou complexo.

No português, no entanto, o afixo, isto é, o formativo lexical, pode se

apresentar como forma presa ou como forma livre. Nesse sentido, para caracterizar o

método formal em CONTRA-REVOLUÇÃO, MAL-AMADO e NÃO-ALINHADO é preciso

determinar se as formas contra, mal e não podem ser classificadas como afixos ou são

estritamente radicais.

Como já foi mencionado anteriormente neste capítulo, Cunha & Cintra (2001)

classificam formações com mal e não como compostos, visto que classificam tais

formas como radicais. As formações com contra, no entanto, são tidas como prefixação

(Cunha & Cintra, 2001: 85). Se o contra, além de ser uma palavra independente na

Fundamentação e metodologia 45

língua, ocorre também, indubitavelmente, como radical em CONTRÁRIO, o que

determina, então, a classificação do contra como prefixo, e de mal e não como radicais

em tal gramática?

2.4 – O corpus

Este trabalho centra-se na noção de negação para desenvolver o estudo dos

conceitos de composição e de derivação por prefixação. Deixam-se de fora formações

com des- ou in-, que nunca aparecem sozinhos como enunciado. Dentre os elementos

para a negação em português o recorte que este trabalho faz focaliza apenas aqueles

elementos que se apresentam na língua ora como formas livres, ora como constituintes

de palavras. Nesse sentido, estão presentes no corpus deste estudo formações que

entrem mal, não e contra, como MAL-AMADO, NÃO-ALINHADO e CONTRA-REVOLUÇÃO.

J. Payne (1985), T. Payne (1997) e Aronoff & Fuhrhop (2002) apresentam que

a negação na morfologia derivacional é representada a partir de elementos que carregam

a idéia negativa de contrário, como em MAL-ARRUMADO, e a idéia negativa de

contraditório, como nos exemplos MAL-ENGRAÇADO e NÃO-FICÇÃO. No exemplo MAL-

ARRUMADO a idéia negativa de contrário está relacionada ao fato de que MAL-

ARRUMADO é o contrário de arrumando, mas nem tudo que não está arrumado é MAL-

ARRUMADO, visto que também existe algo como DESARRUMADO.

Já a idéia negativa de contraditório está presente numa relação de exclusão

entre dois termos, como ocorre entre MAL-ENGRAÇADO e ENGRAÇADO ou entre NÃO-

FICÇÃO e FICÇÃO. Como ressalta Payne (1985: I, 241),

Fundamentação e metodologia 46

One important distinction is that negative derivational morphemes can create either contradictory or contrary terms; contradictory terms are mutually exclusive, like smoker and non-smoker, whereas contrary terms represent opposite poles along a given dimension and leave room for other possiblities in the area between them, as for instance with intelligent and unintelligent.

É importante ressaltar que as formas mal, não e contra em exemplos como

MAL-AMADO, NÃO-ALINHADO e CONTRA-REVOLUÇÃO, não ocorrem em número

considerável em jornais e revistas para estabelecer o estudo proposto. Por essa razão, o

corpus foi extraído de um dicionário da língua portuguesa e não de jornais ou outras

fontes. Este trabalho considera a análise de palavras existentes na língua que possuam as

formas iniciais mal, não e contra, e não está voltado para índices de freqüência com que

elas ocorrem em textos. Para um estudo que se interessa pela estrutura do lexema, e não

pela produtividade de determinadas formas, o dicionário apresenta um gama de

exemplos que são suficientes para a análise pretendida.

2.5 – Metodologia

Este trabalho conta com um corpus de 182 palavras retiradas do dicionário

Ferreira (1986)3 e encontram-se no apêndice listadas e separadas em três grupos. No 1º

grupo estão as formações que entrem o elemento contra, como CONTRA-REVOLUÇÃO,

CONTRA-ABERTURA e CONTRA-ATACAR. O 2º grupo compreende as formações com o

elemento mal anteposto, como MAL-AGRADECIDO, MALDIGNO e MALFELIZ. E no 3º grupo

encontram-se palavras formadas a partir da anteposição do elemento não, como por

exemplo NÃO-ALINHADO, NÃO-FICÇÃO e NÃO-ILUMINADO.

3 Conhecido popularmente como Dicionário Aurélio

Fundamentação e metodologia 47

O dicionário Ferreira (1986) foi escolhido porque se trata de uma fonte ampla

e respeitada dos vocábulos da língua portuguesa e forneceu uma gama de exemplos

suficientes para análise pretendida.

Essa lista de palavras foi montada com o intuito de se conseguir um número

amplo de exemplos que ilustrem os mais diferentes tipos de formações com mal, não e

contra. Com isso, pode-se fazer um estudo mais amplo, abrangendo análises de palavras

ora bastante comuns no dia-a-dia de falantes do português, ora pouco ou até mesmo

nunca vistas.

O capítulo seguinte apresenta, então, essa análise dos dados listados (ver

apêndice). Essa análise segue critérios fonológicos, morfológicos e semânticos e busca

estabelecer a distinção entre radical e prefixo, composição e derivação.

Fundamentação e metodologia 48

C A P Í T U L O 3

A N Á L I S E D E D A D O S

3.1 – Introdução

O presente capítulo apresenta análises no âmbito fonológico, morfológico e

semântico das formações com mal, não e contra em exemplos como MALFELIZ, NÃO-

ALINHADO e CONTRA-REVOLUÇÃO e tem como objetivo verificar as diferenças e

semelhanças no âmbito fonológico entre palavras derivadas por prefixos e palavras

compostas, tendo em vista suas características prosódicas, em especial a questão do

acento; analisar, também, a estrutura interna dos vocábulos do corpus selecionado,

verificar o método gramatical que se realiza em cada formação e, assim, estabelecer a

diferença entre radical e prefixo.

O capítulo será divido em seções, nas quais serão analisadas as formas mal,

não e contra nos exemplos que compõem o corpus. Primeiramente essa análise colocará

em evidência a questão do acento primário e a identificação da palavra fonológica

segundo propostas da fonologia não linear, e também apresentará uma discussão a

respeito do acento secundário. Em seguida será apresentada a interação entre palavra

fonológica e palavra morfológica. Num terceiro momento a discussão centra-se em

questões morfológicas e semânticas, apresentando as análises necessárias para o

objetivo do capítulo.

Análise de dados 49

3.2 – Análise fonológica

3.2.1 – O acento

As teorias fonológicas são dividias em fonologia linear e fonologia não linear.

Dentre as teorias fonológicas não-lineares está a Fonologia Métrica. O acento, segundo

a Fonologia Métrica, é uma propriedade da sílaba, e somente esta pode ser portadora do

acento primário, ou seja, do acento mais forte de uma palavra (Hernandorena, 1996 :

74-79). Como o objetivo da análise fonológica é verificar a questão do acento em

formações prefixais e em formações compostas no português, esse modelo teórico

fornece informações pertinentes, na medida em que analisa o acento não como um

traço de uma vogal, como considera o modelo gerativo de Chomsky & Halle (1968),

mas como uma proeminência que nasce da relação entre os elementos prosódicos: sílaba

( σ ), pé ( Σ ), palavra fonológica ( ω ), e essa relação segue a seguinte hierarquia:

(4) Palavra ω pé + pé Σ sílaba forte + sílaba fraca σ

Para se saber o algoritmo acentual das palavras é preciso, portanto, saber como

se dá a organização de suas sílabas em pés métricos e qual a posição do elemento

dominante.

Análise de dados 50

Como propõem Liberman e Prince (1977), para a atribuição do acento com

base na relação entre constituintes prosódicos, utiliza-se um diagrama de “árvore” e

também uma “grade métrica”.

A “grade métrica” é constituída por linhas ou níveis em que as vogais são

numeradas. Como ilustra o diagrama (5) a seguir, na 1ª linha todas as vogais da palavra

INTERESSE são numeradas da esquerda para a direita; na 2ª linha a numeração continua e

somente as sílabas mais proeminentes recebem números; e na 3ª linha apenas a sílaba

mais forte da palavra recebe número, constituindo, assim, a grade. O diagrama (6) traz a

representação proposta por Halle e Vergnaud (1987), com o uso de asteriscos para

indicar as sílabas proeminentes e parênteses para limitar os pés e a palavra fonológica.

(5)

IN TE RES SE

1 2 3 4

5 6

7

(6)

IN TE RES SE

(* ·) (* ·)

( * )

Já a “árvore” é estabelecida a partir de sílabas que formam pés, sempre

binários, rotulados em termos de forte (“s” – strong) e fraco (“w” – weak), sendo o

elemento sempre rotulado forte o portador do acento primário. Observe no esquema (7)

que o acento primário da palavra INTERESSE é atribuído à sílaba –res- por ser a única

dominada exclusivamente por nós fortes.

Análise de dados 51

(7) S ω W S Σ S W S W σ IN TE RES SE

Neste esquema de “árvore”, a estrutura interna da palavra pode ser

representada em dois níveis: no primeiro, as sílabas são agrupadas em constituintes cujo

elemento à esquerda é o mais forte; no segundo nível os constituintes são organizados

numa árvore ramificante com cabeça à direita.

Segue, então, esquemas com as palavras CONTRAGOLPE, CONTRA-ARGUMENTO,

MALAZADO, MAL-COMPORTADO, NÃO-VERBAL e NÃO-LINEAR, com o intuito de verificar a

posição do acento principal desses vocábulos.

(8)

CON TRA GOL PE

1 2 3 4

5 6

7

(9)

CON TRA AR GU MEN TO

1 2 3 4 5 6

7 8 9

10

(11)

MAL COM POR TA DO

1 2 3 4 5

6 7

8

(10)

MAL A ZA DO

1 2 4 5

6 7

8

Análise de dados 52

(12)

NÃO VER BAL

1 2 3

4 5

6

(13)

NÃO LI NE AR

1 2 3 4

5 6

7

Para que uma forma seja considerada uma palavra fonológica (ω) é preciso que

ela apresente pés métricos isoladamente e que não possua mais que um acento primário,

ou seja, um acento principal (Nespor & Vogel,1986). Sendo assim, as palavras

CONTRAGOLPE, CONTRA-ARGUMENTO, MALAZADO, MAL-COMPORTADO, NÃO-VERBAL e

NÃO-LINEAR acima esquematizadas são, cada uma, uma palavra fonológica.

A palavra CONTRAGOLPE apresenta o acento primário, ou seja, o acento

principal na sílaba –tem- e, na palavra CONTRA-ARGUMENTO, o acento principal recai

sobre a sílaba –men, no entanto ambas as palavras são formadas a partir da anteposição

do elemento contra que constitui um pé métrico isoladamente, pois se trata de um

troqueu silábico, isto é, um pé métrico dissílabo com cabeça à esquerda. Esse fato

determina que a forma contra seja considerada uma palavra fonológica.

Nesse sentido podem ser analisadas as palavras MALCRIADO, MAL-ASSOMBRO,

NÃO-VERBAL e NÃO-LINEAR. Todas são palavras fonológicas, estando o acento principal

de MAL-AZADO na sílaba –za-, na palavra MAL-COMPORTADO o acento primário

encontra-se na sílaba –ta- e nas formações NÃO-VERBAL e NÃO-LINEAR os acentos

recaem, respectivamente, na sílaba –bal e na sílaba –ar. E, assim como o elemento

contra pode ser analisado como uma palavra fonológica, as formas mal e não também

podem. Embora sejam palavras monossílabas, ambas são denominadas troqueu mórico,

em outras palavras, são sílabas longas, com duas moras, que formam um pé métrico

isoladamente com cabeça à esquerda.

Análise de dados 53

Em contrapartida, os prefixos des-, in- e a- em exemplos como DESCUIDADO,

INCOMPLETO e ANORMALIDADE são monossilábicos e não apresentam acento, o que

permite caracterizá-los como sílabas átonas afixados à esquerda de uma base. Observe o

esquema (14) a seguir:

(14)

ω ω σ

des- (prefixo) CUIDADO (base)

w

Veja em (14) que o prefixo des- é uma sílaba pretônica que se alinha à

esquerda de uma base, formando uma única palavra fonológica com a mesma. O nó

mais baixo da árvore mostra que, juntos, esses dois elementos formam um único

vocábulo morfológico (w). E tendo o acento como definidor da palavra fonológica,

verifica-se que a base já era uma palavra fonológica antes da afixação, uma vez que o

acento já está atribuído, e o prefixo em nada altera o padrão acentual.

Ao se esquematizar a estrutura de formações por composição, é possível

verificar o seguinte:

(15)

GUARDA-CHUVA

1 2 3 4

5 6

7

(16)

TERÇA-FEIRA

1 2 3 4

5 6

7

Análise de dados 54

As palavras GUARDA-CHUVA e TERÇA-FEIRA constituem, cada uma, um único

vocábulo fonológico ao apresentarem um acento principal, respectivamente, sobre as

sílabas –chu- e –fei-, embora seja possível analisar cada membro desses compostos

como uma palavra fonológica distinta.

3.2.1.1 – Acento primário e o acento secundário

O acento, em português, apresenta certas regularidades, tais como:

o acento só pode incidir sobre uma das três últimas sílabas;

a grande maioria das palavras do português tem o acento na penúltima

sílaba;

quando a palavra for terminada por consoante, o acento marcado,

especial, é o paroxítono e o menos marcado é o oxítono.

Outro fato que deve ser levado em consideração a respeito do acento e que

merece especial atenção neste estudo é a interferência dos processos de formação de

palavras na posição do acento.

Quando um sufixo derivacional se acrescenta a uma palavra, normalmente a

palavra nova tem o acento em uma sílaba diferente daquela que recebia o acento na

palavra primitiva como em (17).

Por outro lado, não há mudança de acento quando ocorre prefixação ou quando

há formações compostas, como em (18).

Análise de dados 55

(17)

ÁRVORE > ARVOREDO

POLÍCIA > POLICIAL

(18)

INTELIGENTE > SUPERINTELIGENTE

CASCA + GROSSA > CASCA-GROSSA

Além do acento primário, que corresponde ao acento mais forte de uma

palavra, há também o acento secundário, que é aquele relativamente menos forte que o

acento primário. Em (18), há exemplos de formação prefixal e palavra composta que

apresentam, além do acento primário, um acento menos forte que, embora não seja o

acento principal da palavra, não pode ser descartado. Trata-se de um acento primário

que é preservado em tais formações como acento secundário.

Nas palavras compostas, os acentos primários de cada membro são mantidos,

assim como em algumas formações prefixais (RECÉM-CASADO, SUPERESTRUTURA, PRÉ-

SILÁBICO) em que o prefixo possui um acento próprio, da mesma maneira o acento

presente nos elementos mal, não e contra são preservados como acento secundário

quando em formações como MAL-AMADO, NÃO-ALINHADO e CONTRA-REVOLUÇÃO,

independente de se considerar tais elementos radicais ou prefixos.

Quanto aos prefixos não acentuados como des-, in-, a- , o seu comportamento é

típico de um afixo sem acento próprio, apenas anteposto à esquerda de uma base e

funcionando como uma sílaba pretônica.

3.3 – A interação entre palavra fonológica e palavra morfológica

Segundo Câmara Jr. (1976 : 38), “o vocábulo fonológico é uma entidade

prosódica, caracterizada por um acento e dois graus de tonicidade possíveis, antes e

depois do acento. Corresponde no plano mórfico à forma livre de Bloomfield.”

Análise de dados 56

Essa forma livre é também denominada vocábulo formal ou palavra

morfológica (Câmara Jr., 1971 : 37). A palavra morfológica é um conceito que diz

respeito aos Nomes, Adjetivos, Verbos e às palavras funcionais (como denomina

Câmara Jr.) como preposição, conjunção e determinantes. Palavra fonológica, por seu

turno, refere-se à distinção entre palavras com acento e sem acento.

Para identificar a palavra fonológica, Câmara Jr. (1971 : 35) propõe uma pauta

prosódica delineada em termos de algarismos. O lingüista indica os números 3 e 2 para

acentos fortes, 1 para a pretônica e 0 para átonas após o acento.Um vocábulo fonológico

será identificado pela presença das tonicidades 2 ou 3. Assim, uma palavra fonológica

pode ser identificada como em (19) abaixo:

(19) INTERESSE 1 1 3 0 No português, a palavra fonológica pode ser menor, igual ou maior que a

palavra morfológica. Em (19) temos a correspondência exata entre uma e outra, no

entanto a palavra fonológica pode ser menor que a palavra morfológica quando estamos

diante de seqüências como fala-se ou o livro, em que dois morfos formam uma só

palavra prosódica. E é maior em compostos por justaposição, por exemplo, em que dois

vocábulos fonológicos passam a constituir um só vocábulo formal. (Câmara Jr., 1971 :

36).

Justaposição é definida por Câmara Jr. (1977 : 151) como “a reunião de duas

formas lingüísticas num vocábulo mórfico, quando, ao contrário da aglutinação, cada

forma se conserva como um vocábulo fonético distinto, em virtude da pauta acentual.”

Análise de dados 57

Os prefixos, por exemplo, se comportam ora como palavra independente, ora

como uma típica forma presa. Observando os exemplos abaixo, verifica-se que em (20),

os prefixos des-, in-, pre- e pos- comportam-se como sílabas pretônicas da palavra, isto

é, juntam-se à palavra seguinte, formando com ela uma só palavra fonológica. Já em

(21), os prefixos pre-, pos, anti- e recém- mostram-se autônomos, como se fossem

membros de um composto.

(20) DESALINHAR 1 1 1 3

INFELIZ 1 1 3

PREFIXO 1 3 0

POSPOSIÇÃO 1 1 1 3

(21) PRÉ-VESTIBULAR 2 1 1 1 3

PÓS-GUERRA 2 3 0

ANTIDERRAPANTE 2 0 1 1 3 0

RECÉM-NASCIDO 1 2 1 3 0

A palavra composta por justaposição, formações prefixais como em (21) e

formações com mal, não e contra como MAL-AMADO, NÃO-ALINHADO e CONTRA-

REVOLUÇÃO são semelhantes no sentido de que cada membro do composto é um

domínio do pé que projeta seu acento individual, assim como o prefixo e o radical a que

ele se agrega e as formas mal, não e contra e a base a que elas se juntam. Em outras

palavras, são dois vocábulos fonológicos constituindo um só vocábulo formal.

(22) GUARDA-CHUVA 2 0 3 0

PÓS-GUERRA 2 3 0

CONTRA-REFORMA 2 0 1 3 0

NÃO-ALINHADO 2 1 1 3 0

MAL-CUIDADO 2 1 3 0

Análise de dados 58

3.4 – Análise morfológica e semântica

3.4.1 – Mal

No dicionário Ferreira (1986), encontram-se 53 palavras iniciadas pela forma

mal, e esta carregando uma idéia negativa (ver apêndice). Esse elemento mal é

classificado por Pereira ([1918]1940 : 194) como prefixo que traz a idéia de mau êxito.

O gramático cita, entre outros exemplos, as palavras

(23)

a. MALTRATAR

b. MALFAZER

c. MALQUISTO

d. MALDIZER

O elemento mal nos exemplos (23a-d) é anteposto aos lexemas TRATAR, FAZER,

QUISTO e DIZER, adicionando uma nova informação à informação básica desses lexemas

mais simples. As formações MALTRATAR, MALFAZER, MALQUISTO, MALDIZER não

estabelece, a partir da anteposição do elemento mal, uma relação de oposição ou

contradição com as palavras TRATAR, FAZER, QUISTO e DIZER, mas apenas acrescenta

uma informação que especifica o significado dessas palavras. Assim, MALTRATAR não é

o oposto de TRATAR, mas é o mesmo que tratar mal, tratar com violência. MALDIZER não

é o contrário de DIZER, mas dizer mal, blasfemar, por esse motivo, tais palavras não se

encontram listadas no apêndice.

Ao se considerar, no entanto, os exemplos que compõem o corpus deste trabalho

Análise de dados 59

(24)

a) MAL-AMADO

b) MALFELIZ

c) MAL-ENGRAÇADO

verifica-se que a relação de sentido entre o elemento mal e a palavra a que ele se

adjunge é diferente, uma vez que se pode afirmar que MAL-AMADO é aquele que se diz

irrealizado, não correspondido no amor; MALFELIZ é o que não é feliz e MAL-

ENGRAÇADO é o mesmo que não ser engraçado. O mal nas formações de (24a-c)

apresenta a idéia negativa de contrário em MAL-AMADO e de contraditório em MALFELIZ

e MAL-ENGRAÇADO , conforme propõem J. Payne (1985), T. Payne (1997) e Aronoff &

Fuhrhop (2002). Verifica-se, nesses casos, que a posição do elemento mal é fixa, isto é,

a inversão amado mal, infeliz mal e engraçado mal não é aceita.

Em exemplos como (23a-d) citados por Pereira ([1918]1940 : 194) é possível

distinguir uma relação de determinante e determinado em que o elemento mal carrega

sempre a idéia subordinada, determinante da palavra. Trata-se da idéia acessória que

autores como Alves (1992:101) e Cunha & Cintra (2001:80), por exemplo, defendem a

respeito do prefixo numa derivação prefixal. Por outro lado, em formações como as

presentes nos exemplos (24a-c) o elemento mal carrega o significado principal da

palavra, enquanto AMADO, FELIZ e ENGRAÇADO apresentam uma significação secundária.

Conforme apresenta Basílio (1974 : 90), na análise de uma palavra, distinguir o que é

radical e o que é afixo não é simples ao se considerar, apenas, a questão do significado

principal e do significado acessório.

Num estudo sobre gramaticalização, Martelotta (2004 : 113) afirma que o

elemento mal pode ocorrer como prefixo quando ele se antepõe a particípios e adjetivos

Análise de dados 60

e, mais raramente, verbos. Nesses casos, a posição do mal é relativamente fixa, o que

possibilita o advérbio de modo a ser reanalisado como prefixo. Sendo assim, nos

exemplos apresentados por Pereira ([1918]1940)

(23)

a) MALTRATAR

b) MALFAZER

c) MALQUISTO

d) MALDIZER

a ordem pode ser invertida (tratar mal, fazer mal, quisto mal, dizer mal). Já nas

formações em que o mal apresenta uma idéia negativa de oposição ou contradição, essa

ordem é mais fixa, ou seja, não se aceita inversões como amado mal, feliz mal e

engraçado mal.

Na verdade o que torna difícil a classificação das formações com mal é,

principalmente, o fato de que esta palavra é assim definida no dicionário Ferreira (1986)

mal¹ [Do lat. Malu]. S. m. 1. Aquilo que é nocivo, prejudicial, mau; aquilo que prejudica ou fere: Não deseje mal ao próximo; “Maldita sejas pelo Ideal perdido! / Pelo mal que fizeste sem querer! / Pelo amor que morreu sem ter nascido!” (Olavo Bilac, Poesias, p. 221) 2. Aquilo que se opõe ao bem, à virtude, à probidade, à honra. (...) [Pl.: males. Antôn. : bem]

mal² [ Do lat. Male.] Adv. 1. De modo mau, irregular, ou diferente do que devia ser: Os negócios vão mal. 2. De modo imperfeito; erradamente, desacertadamente, incorretamente: falar, escrever mal. 3. De maneira que não satisfaz o gosto ou vontade, ou a necessidade: Jantou mal; Dormiu mal. 4. Rudemente, duramente: O delegado tratou-os mal. 5. De maneira desfavorável ou ofensiva: Falou mal de todos. 6. Pouco, escassamente: verdades mal sabidas. 7. A custo; dificilmente, dificultosamente: Abatidíssimo, mal conseguia dar alguns passos. 8. Contra a virtude, o bem, a justiça, o direito, a probidade, a moral, as boas normas: julgar mal; pensar mal; portar-se mal. 9. Rapidamente: apenas; de leve; Mal provou a comida. 10. Nunca, jamais: Mal pensava que o doente escapasse. 11. Gravemente enfermo: O interno está mal.

Análise de dados 61

12. Em desavença; em desacordo: Vive mal com os homens por amor de Deus. [ Antôn.: bem] (...)

Trata-se de uma palavra que pode ser classificada ora como substantivo, ora

como advérbio, ou seja, é um lexema, segundo Matthews (1991). Nesse sentido, a

forma de palavra males refere-se ao lexema simples MAL, que pode se estruturar como

lexema complexo, como por exemplo MALÉFICO, MALÍCIA, MALINIDADE.

Formações como DESLEAL, INFELIZ e AMORAL são, indubitavelmente, prefixais.

Des-, in- e a- são elementos que compõem a estrutura de lexemas complexos. Já as

formações MALCONFIAR, MALCHEIROSO e MALDISPOSTO se estruturam a partir de um

lexema simples (MAL) mais um outro lexema que pode ser simples (CONFIAR) ou

complexo (CHEIROSO). Essa estrutura refere-se ao que Matthews (1991 : 37) afirma ser a

estrutura das formações compostas, visto que cada formação nesses exemplos apresenta

a relação entre um lexema complexo com dois lexemas simples ou mais simples.

3.4.2 – Não

Na lista de formações com mal, não e contra (ver apêndice) as formações com

não são em menor número, apresentando 31 palavras em que o elemento não se antepõe

a uma base. Segundo Alves (1992;1993), essas formações compreendem o paradigma

dos prefixos negativos do português, ao negar o sentido expresso por uma base adjetiva

ou substantiva.

Análise de dados 62

(25) base substantiva

a) NÃO-AGRESSÃO

b) NÃO-ALINHAMENTO

c) NÃO-INTERVENÇÃO

(26) base adjetiva

a) NÃO-ILUMINADO

b) NÃO-VERBAL

c) NÃO-LINEAR

A autora classifica as formações com não como derivação, ao considerar o não

um prefixo e adotar a noção de derivação prefixal. Segundo Alves (1992 : 101), o não

deve ser analisado como prefixo derivacional porque constitui um morfema fixo e

recorrente, já consolidado na língua como elemento de formação de palavra. Assim, o

não tem o mesmo valor de elementos como des-, dis- e in- em exemplos como DESLEAL,

DISSEMELHANTE e INCULTO, em que des-, dis- e in- negam o sentido de LEAL,

SEMELHANTE e CULTO.

No entanto, no “Dicionário de affixos e desinências”, de Carlos Góes (1938), o

não é definido como um “elemento vernáculo de composição” (Góes, 1938:135). E, de

acordo com o dicionário Aurélio (1986), a palavra não é definida como um advérbio na

língua:

não. [Do lat. Non.] Adv. 1. Exprime negação. (...).

Ao se considerar que Cunha & Cintra (2001 : 106-7) apresentam entre as

classes gramaticais dos elementos de um composto advérbio mais adjetivo e advérbio

Análise de dados 63

mais verbo, pode-se, então, incluir formações como as dos exemplos (26) entre as

formações compostas. Mas tendo em vista essa informação dada pelos gramáticos, as

palavras dos exemplos (25) formadas por um advérbio (NÃO) mais um substantivo não

são classificadas como palavras compostas.

Independente da classe gramatical das palavras a que o elemento não se

agrega, a relação entre os lexemas

(27)

a) NÃO-GOVERNAMENTAL – NÃO + GOVERNAMENTAL

b) NÃO-MILITAR – NÃO + MILITAR

c) NÃO-VIOLÊNCIA – NÃO + VIOLÊNCIA

é a mesma relação existente numa composição, conforme apresenta Matthews (1991 :

37), ou seja, um lexema complexo que se relaciona à dois lexemas simples ou mais

simples.

É importante considerar, ainda, formações como

(28) NÃO-ME-DEIXES

(29) NÃO-EU

Em (28) a palavra se estrutura a partir do NÃO, mais um pronome, mais um

verbo. A união desses vocábulos forma uma palavra que significa o nome de uma erva.

Em (29) a palavra NÃO-EU, formada a partir da junção do advérbio NÃO e o pronome EU,

apresenta como significado algo de caráter filosófico, como o mundo externo; a

realidade objetiva. Ambos os exemplos apresentam um significado que se dissocia do

Análise de dados 64

significado de cada membro da palavra. Nesse sentido, tais formações são consideradas

palavras compostas, tendo em vista a idéia presente em Cunha & Cintra (2001 : 105).

3.4.3 – Contra

A palavra CONTRA é assim definida pelo dicionário Ferreira (1986):

Contra. prep. 1. Em oposição a; em luta com. 2. em contradição com. 3. em direção oposta à de. 4. Recebendo em troca. 5. Em direção a s.m. 6. Obstáculo. 7. Contestação, objeção.

Trata-se, portanto, de uma preposição que pode fazer parte de um processo de

formação de palavras ao ser anteposto a outra palavra, assim como as palavras MAL e

NÃO. No dicionário pesquisado foram encontradas 99 palavras antecedidas pelo

elemento contra, e este carregando a idéia negativa de oposição ou contradição.

(30)

a) CONTRA-ATAQUE

b) CONTRA-REVOLUÇÃO

c) CONTRADIZER

No “Dicionário de affixos e desinências”, de Carlos Góes (1938:44) encontra-

se:

CONTRA – prefixo vernáculo, exprime:

a) Superioridade: contrabaixo (voz de tom mais grave que a do baixo);

b) Inferioridade: contra-almirante (oficial de parente imediatamente inferior

a do almirante); contramestre (abaixo do gerente);

c) Porção, aumento: contraponto (audição harmoniosa e afinada de muitas

vozes ou instrumentos);

Análise de dados 65

d) Oposição: contradizer, contramarca, contraquente, seu homônimo,

controverso.

Alves (1992:107) apresenta o contra como morfema que se antepõe a bases

substantivas, adjetivas e verbais e classifica tais formações como derivação prefixal.

(31) bases substantivas

a) CONTRA-REVOLUÇÃO

b) CONTRAPLANO

c) CONTRAMÃO

d) CONTRA-INDICAÇÃO

e) CONTRA-GOLPE

(32) bases adjetivas

a) CONTRAPRODUCENTE

b) CONTRANATURAL

(33) bases verbais

a) CONTRADIZER

b) CONTRA-ARGUMENTAR

c) CONTRAPOR

d) CONTRA-FAZER

Nos exemplos (31), (32) e (33) acima, o elemento contra é anteposto a bases

substantivas, adjetivas e verbais, respectivamente, e carrega consigo a idéia de

“contrário a”. Assim, CONTRA-REVOLUÇÃO é uma revolução contrária à anterior;

CONTRADIZER é dizer algo contrário ao que foi dito anteriormente; CONTRAPRODUCENTE

é aquilo que prova o contrário daquilo que se pretendia ou aquilo cujo resultado é

contrário ao que se esperava.

Análise de dados 66

Na gramática de Cunha & Cintra (2001:85), o contra também aparece entre os

prefixos de origem latina com sentido de oposição ou de ação conjunta. As formações

com tal elemento, segundo os gramáticos, são formações derivadas.

Por outro lado, na proposta de Câmara Jr. (1977) e Eduardo Carlos Pereira

(1940), embora o contra seja classificado como prefixo por estes autores, as formações

com tal elemento são tidas como formações compostas. Segundo a definição de Câmara

Jr. (1977) para prefixo, este é uma variante presa das preposições, então o contra é um

prefixo quando presente em compostos como os exemplos (30) a (33) acima.

Margarida Basílio (1974 : 93) considera, também, formações como

CONTRACENAR, CONTRAPOR etc. como composição e não como derivação prefixal.

Segundo a autora, um composto caracteriza-se por apresentar dois núcleos. O núcleo é o

elemento central básico de uma construção morfológica. Contrário a ele estão os

elementos periféricos. Dessa forma, uma palavra como RACIONALIZAÇÃO, racionaliza-

será o núcleo e –ção a periferia; e na palavra RACIONAL, racion- será o núcleo e –al a

periferia. O núcleo mínimo, portanto, será também a raiz da palavra.

Ao definir raiz, Margarida Basílio apresenta que “Em geral, a raiz é definida

como parte da palavra que contém o significado lexical ou o significado principal da

palavra” (Basílio, 1974: 89). Nesse sentido, a autora afirma que em formações como

CONTRACENAR, CONTRAPOR etc, o contra poderia ser considerado não-raiz, já que, como

preposição, teria um significado gramatical. Mas, comparando formas como CONTRÁRIO

e OPOSTO, Margarida Basílio afirma não haver motivo para considerar a existência de

raiz na segunda, e não considerar a existência de raiz na primeira.

Análise de dados 67

Então, segundo Margarida Basílio (1974 : 93-4), se o elemento contra é uma

forma livre na língua e pode ocorrer como raiz em construções como CONTRÁRIO, ele

deve ser considerado, então, membro de um composto, e não um prefixo.

3.5 – Considerações finais

Dada as análises acima, conclui-se que as palavras que apresentam os

elementos mal, não e contra antepostos, se classificadas como prefixais, em nada

diferem, do ponto de vista fonológico, das formações compostas como GUARDA-CHUVA

e BEIJA-FLOR: todas apresentam duas palavras fonológicas. Por outro lado, as formações

com des-, in- e a-, como por exemplo DESLEAL, INFELIZ e AMORAL, caracterizam-se

como uma palavra fonológica, apresentando apenas um acento primário, e os elementos

des-, in- e a- juntam-se como sílaba átona do início da palavra.

Há, ainda, as formas anti-, pré-, pós- em exemplos como ANTIINFLAMATÓRIO,

PRÉ-APROVADO, PÓS-GRADUAÇÃO que, assim como os elementos mal, não e contra,

apresentam um acento próprio quando antepostas à uma base. Contudo, quando os

gramáticos apresentam a problemática da prefixação, eles não citam essas formas anti-,

pré- e pós-, visto que são formas presas, assim como des-, in- e a-, e são facilmente

identificadas como prefixos..

Na abordagem morfológica e semântica, verificou-se que a derivação prefixal

e a composição são processos de formações de palavras que têm, primordialmente, uma

função semântica, e não sintática, ou seja, são processos que preenchem, em primeira

análise, necessidades semânticas de nomeação, e não utilizam o sentido de uma palavra

já existente em uma outra classe gramatical, como ocorre na derivação sufixal. Embora

Análise de dados 68

uma formação com prefixo possa mudar a classe gramatical do vocábulo, este não é um

fato comum e nem a função primeira das formações prefixais.

Nesse sentido, as formações prefixais e as compostas são semelhantes e

distinguir uma da outra não é uma tarefa fácil. Quando se analisam as formas mal, não e

contra em exemplos como MAL-AMADO, NÃO-ALINHADO, CONTRA-REVOLUÇÃO e se

considera a autonomia (no nível morfológico) desses elementos, chega-se a um

resultado ambíguo, pois ora tais formas são analisadas como prefixos, ora são

depreendidas como radicais membros de um composto.

Ao se estabelecer essa distinção em termos semânticos não se chega a um

resultado satisfatório. Mas ao se analisar as palavras do corpus tendo em vista a noção

de lexema e de formação de palavras trazida por Matthews (1991), a conclusão a que se

chega é que as formações em questão, segundo a proposta de tal lingüista, são

formações compostas.Trata-se de um tipo especial de composição em que os elementos

mal, não e contra são fixos na posição anterior.

Análise de dados 69

C O N C L U S Ã O

O objetivo deste trabalho centrou-se na retomada da questão da diferença entre

radical e prefixo, considerando as formas mal, não e contra em exemplos como NÃO-

LIGADO, NÃO-EUCLIDIANO, MAL-GALANTE, MAL-SISUDO, CONTRAFLOREADO, e CONTRA-

ORDEM. Gramáticos e lingüistas divergem quanto à classificação de tais formações. Uns

as consideram derivações prefixais, classificando, portanto, os elementos mal, não e

contra como prefixos. Outros as têm como composição, sendo tais formas, nessa visão,

analisadas como radicais nos exemplos do corpus deste trabalho.

O prefixo é semelhante ao radical quando se considera o significado lexical que

ambos apresentam. A diferença entre um e outro fica evidente no momento em que se

têm formações como PRÉ-HISTÓRICO, INFELIZ, DESFEITO, em que os prefixos são

facilmente identificados como formas as presas pré-, in- e des-, e os radicais são a parte

lexical de cada vocábulo, aqui, expandidos pelos prefixos. Essa diferença, no entanto,

anula-se quando o termo anteposto não é uma forma presa, mas uma palavra livre na

língua, como mal, não e contra.

Das análises feitas, podem-se estabelecer as seguintes conclusões:

1ª) Em se tratando da pauta acentual entre formações com mal, não e contra

em MALQUERIDO, NÃO-NULO e CONTRACORRENTE, comparada às formações

indubitavelmente prefixais (DESFAZER, INFELIZ, ANTI-ATAQUE, PRÉ-VESTIBULAR) e,

ainda, às formações compostas, verificou-se:

a) As formações com mal, não e contra assemelham-se às formações

compostas por justaposição com dois membros, no sentido de que

os dois tipos de processos morfológicos apresentam um acento

Conclusão 70

primário (presente numa sílaba do segundo membro nos

compostos e numa sílaba da palavra a que as formas mal, não e

contra se juntam) e preservam, também, um acento secundário

(este presente numa sílaba do primeiro membro das formações

compostas e, nas formações com mal, não e contra, o acento

secundário recai exatamente sobre tais elementos).

b) As formações com mal, não e contra também são semelhantes às

formações prefixais como PRÉ-VESTIBULAR, ANTIATAQUE, PÓS-

GRADUAÇÃO em que há a presença de prefixos acentuados.

c) Já as formações com prefixos não acentuados como DESLEAL,

INFELIZ e AMORAL não apresentam o acento secundário como em

formações com mal, não e contra em exemplos como

MALQUERIDO, NÃO-NULO e CONTRACORRENTE.

Esse critério fonológico, portanto, não foi suficiente para se classificar as

formações com mal, não e contra em análise como prefixais ou compostas.

2ª) O critério semântico também não foi suficiente, uma vez que os elementos

mal, não e contra classificados seja como radicais, seja como prefixos em MAL-

SUCEDIDO, NÃO-AGRESSÃO e CONTRA-REVOLUÇÃO, apresentam, numa classificação ou

noutra, uma função semântica de nomeação e acrescentam um significado à base a que

se adjungem.

3ª) Morfologicamente formações como MALSORTEADO, MALGRADO, NÃO-

ENGAJADO, NÃO-CONSERVATIVO, CONTRA-ESTÍMULO e CONTRA-COSTA foram analisadas

como palavras compostas. Segundo Matthews (1991), uma composição se estrutura a

partir da junção de um lexema a outro lexema. MAL, NÃO e CONTRA são lexemas

Conclusão 71

simples, logo, palavras como MAL-AMADO, NÃO-ALINHADO, CONTRA-REVOLUÇÃO

estruturam-se a partir da junção de dois lexemas, ou seja, são formações compostas, e

não derivadas. Nesse sentido os elementos mal, não e contra são classificados como

radicais, e não como prefixos.

Assim, após o resultado das análises e retomando o título deste trabalho, a

palavra NÃO-COMPOSTO é uma composição, formada a partir da junção das palavras NÃO

e COMPOSTO. Não se trata, portanto, de uma derivação prefixal, visto que o elemento

não, aqui, não é entendido como morfema, mas como um radical.

Conclusão 72

A P Ê N D I C E

1. Formações com contra:

1 CONTRA-ABERTURA 2 CONTRA-ALÍSIO 3 CONTRA-ARGUMENTO 4 CONTRA-ARRAZOADO 5 CONTRA-ARRAZOAR 6 CONTRA-ARRESTAR 7 CONTRA-ATACANTE 8 CONTRA-ATACAR 9 CONTRA-ATAQUE 10 CONTRA-AVISO 11 CONTRABANDA 12 CONTRABATERIA 13 CONTRABRACEAR 14 CONTRACEPÇÃO 15 CONTRACEPTIVO 16 CONTRACORRENTE 17 CONTRACOSTA 18 CONTRACULTURA 19 CONTRACURVA 20 CONTRADIÇÃO 21 CONTRADITA 22 CONTRADITADO 23 CONTRADITAR 24 CONTRADITÁVEL 25 CONTRADITO 26 CONTRADITOR 27 CONTRADITÓRIO 28 CONTRADIZER 29 CONTRA-EMBOSCADA 30 CONTRA-ENCOSTA 31 CONTRA-ESCRITURA 32 CONTRA-ESPIONAGEM 33 CONTRA-ESTIMULAR 34 CONTRA-ESTÍMULO 35 CONTRA-EXEMPLO

Apêndice 73

36 CONTRAFLOREADO 37 CONTRAFUGA 38 CONTRAGOLPE 39 CONTRAGOSTO 40 CONTRAGUERRILHA 41 CONTRA-IMPELIR 42 CONTRA-INDICAÇÃO 43 CONTRA-INDICADO 44 CONTRA-INDICAR 45 CONTRA-INFORMAÇÃO 46 CONTRALUZ 47 CONTRAMANDADO 48 CONTRAMANDAR 49 CONTRAMANIFESTAÇÃO 50 CONTRAMÃO 51 CONTRAMARCHA 52 CONTRAMARCHAR 53 CONTRAMARÉ 54 CONTRAMOVIMENTO 55 CONTRANATURAL 56 CONTRANATURALIDADE 57 CONTRA-OFENSIVA 58 CONTRA-OFERTA 59 CONTRA-OFERTAR 60 CONTRA-OITAVA 61 CONTRA-ORDEM 62 CONTRA-ORDENAR 63 CONTRAPALA 64 CONTRAPARTIDA 65 CONTRAPASSANTES 66 CONTRAPASSO 67 CONTRAPEÇONHA 68 CONTRAPELO 69 CONTRAPOR 70 CONTRAPOSIÇÃO 71 CONTRAPOSTO 72 CONTRAPRESSÃO 73 CONTRAPRODUCENTE 74 CONTRAPRODUZIR 75 CONTRAPROPAGANDA 76 CONTRAPROPOR 77 CONTRAPROPOSTA

Apêndice 74

78 CONTRAPROTESTO 79 CONTRAPROVA 80 CONTRAPROVAR 81 CONTRA-RAMPA 82 CONTRA-REFORMA 83 CONTRA-REPTO 84 CONTRA-REVOLUÇÃO 85 CONTRA-REVOLUCIONÁRIO86 CONTRA-ROTURA 87 CONTRA-RUPTURA 88 CONTRA-SELAR 89 CONTRA-SELO 90 CONTRA-SENSO 91 CONTRA-SIGNIFICAÇÃO 92 CONTRATORPEDEIRO 93 CONTRAVALOR 94 CONTRAVENENO 95 CONTRAVERSÃO 96 CONTRAVERTER 97 CONTRAVIA 98 CONTRAVIR 99 CONTRAVOLTA

2. Formações com mal

1 MAL-AFEIÇOADO 2 MAL-AFORTUNADO 3 MAL-AGRADECIDO 4 MAL-AJAMBRADO 5 MAL-AJEITADO 6 MAL-AMADA 7 MAL-AMANHADO 8 MAL-APANHADO 9 MAL-APESSOADO 10 MAL-APRESENTADO 11 MAL-ARRANJADO 12 MAL-ARRUMADO 13 MAL-AVENTURADO 14 MAL-AVINDO 15 MAL-AVISADO 16 MAL-AZADO 17 MALCHEIROSO 18 MALCOMPORTADO 19 MALCONCEITUADO

Apêndice 75

20 MALCONDUZIDO 21 MALCONFIAR 22 MALCONFORMADO 23 MALCONSERVADO 24 MALCONTENTADIÇO 25 MALCONTENTE 26 MALCUIDADO 27 MALDIGNO 28 MALDISPOSTO 29 MALDITOSO 30 MAL-ENGRAÇADO 31 MAL-ENSINADO 32 MAL-ENTENDIDO 33 MALFELIZ 34 MALGALANTE 35 MALGOSTOSO 36 MALGRADADO 37 MALGRADO 38 MAL-HUMORADO 39 MALJEITOSO 40 MALMANDADO 41 MALPROPÍCIO 42 MALPROPORCIONADO 43 MALQUERIDO 44 MALQUISTAR 45 MAQUISTO 46 MALSÃO 47 MALSATISFEITO 48 MALSEGURO 49 MALSISUDO 50 MALSOFRIDO 51 MALSORTEADO 52 MALSUCEDIDO 53 MALTRABALHADO

3. Formações com não:

1 NÃO-AGRESSÃO 2 NÃO-ALINHADO 3 NÃO-ALINHAMENTO 4 NÃO-BELIGERÂNCIA 5 NÃO-COMBATENTE 6 NÃO-CONFORMISMO 7 NÃO-CONFORMISTA 8 NÃO-CONSERVATIVO 9 NÃO-CONTRADIÇÃO 10 NÃO-ENGAJADO

Apêndice 76

11 NÃO-ENGAJAMENTO 12 NÃO-ESSENCIAL 13 NÃO-EUCLIDIANO 14 NÃO-FICÇÃO 15 NÃO-HOLÔNOMO 16 NÃO-ILUMINADO 17 NÃO-INTERVENÇÃO 18 NÃO-INTERVENCIONISTA 19 NÃO-LIGADO 20 NÃO-LINEAR 21 NÃO-LOCALIZADO 22 NÃO-NULO 23 NÃO-PARTICIPANTE 24 NÃO-PERIÓDICO 25 NÃO-SATURADO 26 NÃO-SER 27 NÃO-SIMÉTRICO 28 NÃO-SINGULAR 29 NÃO-VERBAL 30 NÃO-VICIADO

Apêndice 77

R E F E R Ê N C I A S B I B L I O G R Á F I C A S

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