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Educar no espaço virtual Fábia Kátia Pimentel Moreira, nº 1202062 Universidade Aberta Mestrado em Comunicação Educacional Multimédia 2012/2013 Unidade Curricular: Hiperespaços de Aprendizagem Docente: Professora Doutora Daniela Melaré Sim, por mais estranho e repugnante que possa parecer-vos, as novas máquinas de ensino capacitam o estudante a aprender tanto quanto antes. Além disso, os estudantes parecem ter mais confiança no novo método como meio de adquirir conhecimentos novos de toda sorte. Petrus Ramus (1515-1572), a respeito do livro impresso Resumo O presente trabalho busca avaliar as possibilidades do ambiente virtual como ambiente favorável para a prática educativa, percebida aqui como processo de ensino e aprendizagem. Para isso, será apresentado o conceito de virtual, suas características e possibilidades para a prática educativa. Palavras-chave: Virtual, Educação virtual, Ambiente virtual de aprendizagem, Hiperespaço de aprendizagem. A ideia de virtual Segundo Pierre Lévy, o virtual é mediado ou potencializado pela tecnologia; trata-se de um produto da externalização de construções mentais em espaços de interação cibernéticos. Ainda segundo o autor: "o virtual não se opõe ao real, mas sim ao atual. Contrariamente ao possível, estático e já constituído, o virtual é como o complexo problemático, o nó de tendências ou de forças que acompanha uma situação, um acontecimento, um objeto ou uma entidade qualquer, e que chama um processo de resolução: a actualização." (LÉVY, 1996, p.16) A ideia de virtual proposta por Lévy centra-se na comunicação virtual como elemento de um processo que abrange toda a vida social, com destaque para a dimensão econômica da comunicação, a desterritorialização e o aspecto da temporalidade associada ao movimento de virtualização. Para Lévy, a virtualização vale destacar - não é um fenômeno da atualidade. O autor considera que, antes mesmo dos dispositivos tecnológicos, já havia a imaginação, a memória, o conhecimento e a religião, que funcionavam como vetores de virtualização, os quais precediam a fase de concretização. Assim, o virtual pode ser entendido, portanto, como uma realidade do pensamento, ou seja, não existe no real, mas, no pensamento do ser humano.

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Page 1: Paper fabia moreira_1202062

Educar no espaço virtual

Fábia Kátia Pimentel Moreira, nº 1202062

Universidade Aberta – Mestrado em Comunicação Educacional Multimédia 2012/2013

Unidade Curricular: Hiperespaços de Aprendizagem

Docente: Professora Doutora Daniela Melaré

Sim, por mais estranho e repugnante que possa parecer-vos, as novas máquinas de ensino

capacitam o estudante a aprender tanto quanto antes. Além disso, os estudantes parecem

ter mais confiança no novo método como meio de adquirir conhecimentos novos de toda

sorte.

Petrus Ramus (1515-1572), a respeito do livro impresso

Resumo

O presente trabalho busca avaliar as possibilidades do ambiente virtual como ambiente

favorável para a prática educativa, percebida aqui como processo de ensino e aprendizagem.

Para isso, será apresentado o conceito de virtual, suas características e possibilidades para a

prática educativa.

Palavras-chave: Virtual, Educação virtual, Ambiente virtual de aprendizagem, Hiperespaço

de aprendizagem.

A ideia de virtual

Segundo Pierre Lévy, o virtual é mediado ou potencializado pela tecnologia; trata-se de um

produto da externalização de construções mentais em espaços de interação cibernéticos.

Ainda segundo o autor:

"o virtual não se opõe ao real, mas sim ao atual. Contrariamente ao possível,

estático e já constituído, o virtual é como o complexo problemático, o nó de

tendências ou de forças que acompanha uma situação, um acontecimento, um

objeto ou uma entidade qualquer, e que chama um processo de resolução: a

actualização." (LÉVY, 1996, p.16)

A ideia de virtual proposta por Lévy centra-se na comunicação virtual como elemento de um

processo que abrange toda a vida social, com destaque para a dimensão econômica da

comunicação, a desterritorialização e o aspecto da temporalidade associada ao movimento de

virtualização.

Para Lévy, a virtualização – vale destacar - não é um fenômeno da atualidade. O autor

considera que, antes mesmo dos dispositivos tecnológicos, já havia a imaginação, a memória,

o conhecimento e a religião, que funcionavam como vetores de virtualização, os quais

precediam a fase de concretização. Assim, o virtual pode ser entendido, portanto, como uma

realidade do pensamento, ou seja, não existe no real, mas, no pensamento do ser humano.

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O virtual e a aprendizagem

Quando o assunto é o cognitivo humano, Lévy acredita ser neste aspecto o maior impacto das

tecnologias de comunicação uma vez que a virtualização proporciona mudanças significativas

na inteligência das pessoas devido às redes de colaboração e às possibilidades potencializadas

pelo uso das chamadas tecnologias intelectuais. Segundo Lévy (1993) as tecnologias

intelectuais são os elementos capazes de promover a construção de novas estruturas

cognitivas modificando os hábitos e comportamento das pessoas, tanto nas suas relações

sociais como no contato com o mundo ao seu redor.

Essas mudanças, entretanto, geram conflitos, sendo necessário romper com velhos modelos

para construir (ou descobrir) novas formas de aprender.

Assim, para o meio virtual, as estratégias da ação didática devem levar em consideração

algumas adaptações necessárias. A modalidade de ensino virtual, assim como ocorre no

presencial, carece de planejamento que preveja, no desenho educacional, as peculiaridades

dos fatores preponderantes e subsidie as etapas do processo de ensino e aprendizagem. Dessa

forma, Petters nos aponta que:

[...] o ambiente de ensino digital oferece novas possibilidades interessantes,

auspiciosas e inteiramente novas para o planejamento didático do preparo para o

estudo autônomo, em todo caso incomparavelmente mais do que o melhor curso

de ensino a distância impresso, mais do que o mais impressionante programa

didático na televisão e a mais intensiva assistência tutorial. (PETTERS, 2003, p.

260)

Conhecer os estilos de aprendizagem, as características socioculturais, necessidades e

potencialidades intelectuais dos alunos, pode ajudar no estabelecimento de metas, objetivos e

procedimentos didático-metodológicos mais adequados. Deve-se considerar, por outro lado,

as especificidades do meio virtual, presentes nas novas tecnologias de informação e

comunicação (as chamadas tecnologias intelectuais), as quais possibilitam contemplar, no

planejamento dos processos didáticos, dentre outras, as seguintes características:

flexibilidade de tempo e espaço do aprendente;

possibilidade de atualização constante do material didático;

modelo hipertextual de simultaneidade e não linearidade;

favorecimento da autonomia do aprendente;

acompanhamento individual e personalizado por parte do docente/tutor;

recursos de interação e de comunicação;

acesso a diferentes fontes de informação, em diferentes linguagens;

formação de redes sociais e de conhecimento;

uso de programas de realidade virtual, simulação, imersão.

As tecnologias da comunicação e da informação são cada vez mais determinantes na

configuração presente e futura da sociedade e também no seu desenvolvimento cognitivo.

Favorecem o processo de aprendizagem uma vez que possibilitam novas formas de acesso à

informação e também a ampliação e a exteriorização de algumas funções cognitivas humanas

como a percepção (por meio de realidades virtuais, da telepresença, da interação), a memória

(com o auxílio de hipertextos, de banco de dados), a imaginação (por meio de programas e

simulação e de realidade virtual), o raciocínio (por meio da inteligência artificial), sem contar

o incentivo à exploração, à investigação, à observação, à construção do conhecimento.

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O tempo e o espaço foram redimensionados, e a linguagem, os códigos e canais usados no

processo de comunicação também sofreram adaptações, tudo isso graças às novas tecnologias.

Os papéis do docente e do aprendente não ficaram alheios a essas mudanças e passaram

(ainda passam) por amoldamentos nesse processo contínuo de transformações e de incertezas.

Valente corrobora a importância das tecnologias ao afirmar que

As tecnologias da informação e comunicação estão criando circunstâncias para

que as pessoas possam se expressar como um todo, por inteiro, não só no aspecto

cognitivo, mas no emocional e social. (...) a possibilidade de formação de redes

de pessoas interagindo via Internet têm facilitado a exploração dessas outras

dimensões do ser humano, obrigando-nos a rever constantemente nosso papel

como aprendizes e nossas concepções sobre aprendizagem (VALENTE, 2002, p.

34).

Valente (2002) alerta ainda que tem sido enfatizado somente o aspecto cognitivo da

aprendizagem, quando se deveria levar em conta, também, outros aspectos como o estético e o

emocional, que estão ficando cada vez mais evidentes nos projetos desenvolvidos por

intermédio do computador.

Nesse contexto, destaca-se a formação de comunidades virtuais de aprendizagem, por meio

das quais se criam espaços que privilegiam a interação, a construção colaborativa e

participativa do conhecimento e, ao mesmo tempo, e a consciência da ética ao intervir no

conhecimento de outra pessoa, o que significa uma nova concepção de aprendizagem. As

comunidades virtuais permitem o desenvolvimento da capacidade dos indivíduos em superar

os monólogos e articular diálogos, com o objetivo de gerar ideias, dividir responsabilidades e

tarefas ou tomar decisões que se estendam à comunidade, indo além do virtual.

Conclusão

Os desafios que se colocam com o uso do ambiente virtual no processo educativo são grandes,

assim como também o são as possibilidades de uso das novas tecnologias de comunicação e

de informação no favorecimento do processo de ensino-aprendizagem. Como bem afirmou

Lévy (1993), as tecnologias intelectuais são os elementos capazes de promover a construção

de novas estruturas cognitivas transformando o comportamento das pessoas, tanto nas suas

relações sociais como no contato com o mundo ao seu redor.

Para que isso aconteça, há, de fato, necessidade de adaptação e mesmo de transformação

radical em alguns aspectos, pois a virtualização não pressupõe harmonia e consenso, já que

são reproduzidos no virtual os conflitos existentes no mundo real, sejam eles sociais,

econômicos ou educacionais.

Referências

Barros, D.M. (2010). O virtual como novo espaço educativo. Material de apoio.

Lévy, P. O que é o virtual? São Paulo: Editora 34, 1996.

PETTERS, Otto. Didática do ensino a distância. São Leopoldo: Unisinos, 2003.

VALENTE, José Armando. A espiral da aprendizagem e as tecnologias da informação e

comunicação: repensando conceitos. In: JOLY, Maria Cristina Rodrigues Azevedo

(Org). A tecnologia no ensino: implicações para a aprendizagem. São Paulo: Casa do

Psicólogo, 2002.