papel dos transportes na saída da crise

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  • 8/6/2019 papel dos transportes na sada da crise

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    Artigo Cargo

    Papel dos Transportes na Sada da Crise

    Nesta fase complicada da vida do nosso Pas, os transportes esto a ter um duplo papel naeconomia, fortemente contraditrio. Por um lado, tm vindo a apoiar as nossas exportaes,

    ajudando a manter as empresas e os empregos acima da linha de gua, e por outro, em algunscasos tornaram-se um sorvedouro de dinheiro pblico que agora nos sai dos bolsos a todos, ajuros demasiado elevados e sem grandes benefcios visveis e impactos no crescimento do PIB.No entanto, quando falamos de portos, falamos normalmente de investimento de poucosmilhes de euros, pouco ou nada apoiados pelo Oramento de Estado, que so rentabilizadoscom concesses sem risco de mercado para o Estado.De portos que normalmente do lucros e distribuem dividendos para o Estado todos os anos.De portos onde normalmente s se investem pequenos montantes, quando h de factomercado, no se investindo mais at haver saturao das infra-estruturas existentes.De portos com fortssimo impacto econmico no apoio s exportaes e criao de emprego,onde cada euro investido reproduz muitos mais, servindo vastos tecidos empresariais demuitos milhes de toneladas e muitos postos de trabalho. Cerca de 3 a 5 mil postos de

    trabalho por cada milho de toneladas.Noutros casos, em alguns casos (no todos), temos infra-estruturas de milhares de milhes deeuros (MM), em nmeros acima da nossa compreenso e imaginao, onde no interessa aviabilidade, nem as taxas de utilizao ou os preos, mas apenas fazer e ter a infra-estrutura eos meios a funcionar, porque l fora tambm tm ou porque h empresas que precisam detrabalho ou porque algum empresta especificamente para isso ou porque algum quer ficarcom o nome eternizado numa placa de inaugurao. Por vezes, trata-se de infra-estruturasque se convencionou que todos devemos pagar para haver desenvolvimento. Mas h umlimite.Depois, em alguns casos, ver as auto-estradas vazias ou linhas de comboio sem ningum,com os riscos de mercado a correr para o Estado, e ver o dinheiro a correr do Estado para asempresas pblicas ou concessionrias, num desperdcio justificado com o desenvolvimento

    regional e o impacto econmico, que nunca ningum verificar ou pedir explicaes.Queningum compara com os custos. Se o projecto no for rentvel por si, tem pelo menos queser rentvel nos seus efeitos indirectos, designadamente em termos de efeitos na economiaque gerem acrscimo de impostos para o Estado que compense os seus custos ao erriopblico. Os seja o Estado tem que ganhar sempre com os projectos de investimento pblico,seja pelas taxas, seja pelos impostos da actividade que indirectamente a infra-estrutura geraou permite. Seno, torna-se invivel.E l se vo contratando pessoas e mais pessoas, comprando o melhor para haver qualidade esegurana, mais despesas, por vezes para meia dzia de utilizadores, com todos os restantescontribuintes a pagar. E quando muitos utilizam, baixa-se o preo bilhete ou retiram-se asportagens para no dar lucro, que pode parecer estranho.Isto era tudo muito bom se no se tivesse entrado nesta crise de dvida, acima do limite dedfice e de dvida, pelo que agora temos que fechar servios que at faziam sentido e tinhammesmo algum impacto regional e aumentar bilhetes que at se justificavam para as pessoas demenos posses poderem trabalhar. Todos pagam a crise.Tenho ouvido justificar o investimento pblico prioritrio nesta fase, numa nova ligaoferroviria em bitola europeia a Espanha para apoiar as exportaes e a ligao aos portos.Parece importante ligar Portugal aos restantes pases da Europa de forma adequada, mas seruma soluo nesta fase que justifique tal dimenso de investimento j? Viria a tempo deajudar a passar a crise ou vinha agrav-la? Esta questo deve ter resposta. Quanto custa defacto o projecto no seu investimento, manuteno, explorao e que riscos para o Estado?

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    Ser que custa mesmo menos construir a linha que abandonar o projecto? Quem paga oelevado investimento do privado na PPP se no houver carga e passageiros suficientes? OEstado, ou seja todos ns e os nossos filhos e netos. Aqui no h volta a dar.

    Os portos recebem uma quantidade de carga para Espanha que justifique tal novoinvestimento j (falamos de milhares de milhes de euros - MM)? A que custo ficaria cadatonelada? H que estudar a viabilidade e saber se vale a pena nesta fasepagarmos todos.O alargamento do hinterland os portos para Espanha importante, mas nesta fase pode serrealizado com recurso rodovia e ferrovia existente. Quando sairmos da crise, j poderemospensar outra vez em gastar.

    O porto que serve Madrid, que principalmente Valncia, pouco usa a ferrovia, e o mesmo sepassa como porto de Barcelona que tambm serve aquela capital.O alargamento do hinterland porturio portugus a Espanha tem muito interesse para criarmassa crtica para os grandes navios escalarem Portugal, conferindo competitividade sempresas exportadoras, mas no a qualquer custo, em especial nesta fase. H que pesar bemas vantagens e os custos, bem como as alternativas e o timing. Se for demonstrada avantagem, avance-se, seno adie-se at passar a crise. O que digo que no se pode sercontra ou a favor, na actual crise, h que pesar com realismo o risco e decidir racionalmente seser melhor adiar, evitando contribuir para o caos financeiro.As barreiras no fsicas em Madrid/Espanha, a falta de massa crtica e alguma ineficinciaainda existente explicam em boa parte o porqu de a ferrovia ainda hoje no ser uma soluointernacional para as cargas. Por outro lado, nem o porto de Barcelona, nem os portos de Itlia

    esto a conseguir entrar nas linhas do Norte da Europa, quanto mais pensar nisso a partir dePortugal, um pas mais distante. Vale a pena pesar tudo muito bem nesta fase.O que vale certamente a pena, no caso das exportaes, juntar massa crtica e fazercomboios-bloco para Espanha utilizando a infra-estrutura existente j, organizando cargas esolues para o trfego que existe, respondendo aos pedidos das empresas portuguesas, como o caso da Autoeuropa. O futuro destas empresas pode depender destas solues e as linhasexistem j. E h que contar com a rodovia nas pequenas distncias (300/400 km), onde maisrentvel e tem flexibilidade.

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    E incentivar destinos alternativos noutros continentes por mar. Brasil, China, frica, EUA. Oporto de Sines deve ser aproveitado nestas ligaes intercontinentais. Ou criar novas ligaesmartimas para a Europa em alternativa rodovia. E o bom que no requer praticamenteinvestimento ou gasto do Estado. Basta ajudar a organizar os exportadores e transportadores eagilizar procedimentos nos portos, melhorar a eficincia e a flexibilidade da mo-de-obraporturia, ajudar a organizar servios inovadores martimos para a Europa como j existem em

    Espanha em sistema roll-on roll-off (as designadas auto-estradas do Mar), bem como articulara governao dos portos poupando e apoiando as empresas exportadoras.Um novo grande terminal de contentores num porto custa em torno de 50 a 100 milhes deeuros. Agilizar os portos pouco custa em dinheiro. Mas at os portos tm capacidade que podeser usada nesta fase, com o que est em construo. Uma nova ligao ferroviria paraEspanha custa certamente milhares de milhes de euros (MM).So cerca de 2MM no troo Poceiro-Caia, s infra-estrutura, do que consigo interpretar daadjudicao em http://www.rave.pt/tabid/253/Default.aspx?View=Details&ItemId=302 de12-12-2009, dos quais 1,36 MM do concessionrio e 0,64 MM de fundos comunitrios. Apreos de 2009, o Estado investe 0,2MM inicialmente, e pagar ao concessionrio cerca de 0,6MM nos primeiros 3 anos no mbito da PPP, cerca de 0,5MM nos 11anos seguintes, e depoispagamentos anuais que vo diminuindo gradualmente at 2049 (se estiver errado agradeo a

    correco).Temos que ver as dimenses diferentes das coisas e se no vale a pena rentabilizar primeiro oque est feito, face escassez de dinheiro. Se conseguirmos fazer a ligao s com fundoscomunitrios e privados, sem risco para o Estado, de avanar.Sei bem que esta uma questo controversa, mas tempo de sairmos todos do modelo depensamento de bolha, de podermos discutir livremente e deixarmos a ver a infra-estruturaapenas pela obra, mas tambm se de facto til, se vivel, que alternativas mais econmicasexistem para o mesmo servio, pensar o sistema integrado, se de facto se justifica que muitospaguem muito para poucos usufrurem ou se h outras prioridades nesta fase ou outra formade fazer o mesmo. No se trata de deixar de fazer tudo, mas sim seleccionar, escalonar e teruma estratgia, um plano inteligente para sair da crise, considerando as vrias variveis. Masse esta obra for de facto prioritria e reprodutiva com critrios racionais, avance-se.

    Vtor Caldeirinha