papa francisco visita paÍses projeto do jrs … · • empoderando as mulheres nos centros arrupe...
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JESUTAS BRASIL
Em EDIO 41ANO 5JAN. / FEV. 2018INFORMATIVO DOSJESUTAS DO BRASIL
PAPA FRANCISCO VISITA PASES LATINO-AMERICANOS
pg. 10
PROJETO DO JRS PROMOVE O EMPODERAMENTO FEMININO
pg. 18
JESUTAS PARTICIPAM DE MISSO NA TRPLICE FRONTEIRA
pg. 21
especial pg. 12
O SILNCIOAo silenciarmos, nos damos a possibilidade de escutar a ns mesmos,
natureza, aos outros e, sobretudo, o Senhor
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4 5Em Em
SUMRIO EDIO 41 | ANO 5 | JAN. / FEV. 2018
EDITORIAL Silncio na sociedade do rudo
Maria Clara Bingemer
CALENDRIO LITRGICO
ENTREVISTA PEREGRINOS EM MISSO Um olhar de misericrdia e justia de Deus
Pe. Ronaldo Colavecchio, SJ
O MINISTRIO DE UNIDADENA IGREJA SANTA S Papa visita Chile e Peru O silncio na eucarstia
ESPECIAL O Silncio
MUNDO CRIA Empoderando as mulheres nos Centros Arrupe
do JRS
Acolher e integrar o migrante Jesutas da Espanha celebram 10 anos
de acolhida a imigrantes
Uma escola jesuta em um pas marcado pela guerra
Aplicativos pastorais para celulares Nomeao
AMRICA LATINA CPAL Palavras da CPAL Estudantes jesutas em misso
GOVERNO Jesutas do Brasil lanam vdeo institucional
PROMOO DA JUSTIA SOCIOAMBIENTAL Programa de Incluso Educacional e
Acadmica da RJE
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Encontrando a si e a Deus no silncio
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SERVIO DA F Exame de conscincia tema de estudo Livro conta a histria dos primeiros mrtires do Brasil
DILOGO CULTURAL E RELIGIOSO Colgios Jesutas no Brasil Colnia inspiram livro
EDUCAO Mestrado em Gesto Educacional
JUVENTUDE E VOCAES Programa MAGIS Brasil promove experincias pelo Pas
NA PAZ DO SENHOR Ir. Izidoro Loureno Freiberger Pe. Mrio Hisatugo
JUBILEUS / AGENDA
EmJESUTAS BRASIL
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INFORMATIVO DOSJESUTAS DO BRASIL
EXPEDIENTE
EM COMPANHIA uma publicao mensal dos
Jesutas do Brasil, produzida pelo Ncleo de
Comunicao BRA So Paulo.
COMUNICAO [email protected]
www.jesuitasbrasil.com
DIRETOR EDITORIALPe. Anselmo Dias
EDITORA E JORNALISTA RESPONSVELSilvia Lenzi (MTB: 16.021)
REDAOJuliana Dias
Luza Costa
DIAGRAMAO E EDIO DE IMAGENSHanderson Silva
rica Silva
ANNCIOSHanderson Silva
FOTOS DA CAPA E DA MATRIA ESPECIALrica Silva
Sara Oliveira
ESTAGIRIASara Oliveira
COLABORADORES DA 41 EDIOPe. Adelson Arajo dos Santos, Cristiana Pires,
Leila Pizzato, Pedro Risaffi, Tatiane SantAna, Pe.
Valrio Sartor e Ana Ziccardi (reviso). Um agrade-
cimento especial a todos que colaboraram com a
matria especial dessa edio.
TRADUO DAS NOTCIAS MUNDO + CRIA GERALPe. Jos Luis Fuentes Rodriguez
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6 7Em Em
EDITORIAL
SILNCIO NA SOCIEDADEDO RUDO
Maria Clara BingemerProfessora do Departamento de Teologia e decana do Centro de Teologia e Cincias Humanas da PUC-Rio (Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro).
Se os seres humanos so seres de palavra e linguagem, no h como negar que o silncio parte constitutiva da nossa identida-
de. Sendo uma opo livre, objeto
de desejo e no de necessidade. Trata-
-se de algo que no pode ser imposto,
mas deve, sim, ser conquistado por
todo aquele ou aquela que a ele se
abre voluntariamente.
Todo silncio desejado impli-
ca um processo longo, delicado. Sua
rea de pertena a disciplina, a asce-
se que faz o homem ou a mulher no
se contentar com estmulos externos
e superficiais, mas voltar-se para o
seu interior e ali procurar, para dila-
tar e ampliar, seus espaos interiores
e sua vida espiritual.
Porque somos seres de palavra,
frequentemente expostos a rudos,
comunicaes e estmulos diversos,
essa disciplina pode ser exigente, at
mesmo heroica, e ir fortemente con-
tra nosso gosto imediato. Aprender a
viver em silncio durante longos pe-
rodos condio de toda experincia
inicitica profunda, podendo con-
duzir experincia direta da auto-
transcendncia, que configura nossa
identidade de seres finitos chamados
infinitude.
O silncio, no entanto, no um
fim em si mesmo. Dentro do entendi-
mento da f e da espiritualidade cris-
ts, o silncio a condio necessria
para que acontea, em ns, o verda-
deiro dilogo e, a partir de ns, ressoe
no mundo a verdadeira palavra.
Os Exerccios Espirituais de Santo
Incio na sua modalidade completa
de 30 dias feitos em silncio rigoro-so, quebrado apenas pelas conversas
com o diretor do bem a medida
da importncia dessa prtica, pois o
que deseja o grande mestre espiritu-
al, fundador da Companhia de Jesus,
que o exercitante v, pouco a pouco,
libertando-se das vozes e rudos que
povoam e desorganizam seu interior,
a fim de que a voz de Deus ali possa
ressoar plenamente.
Ensinado e conduzido pelo siln-
cio, aquele que faz os Exerccios luta,
sobretudo durante os primeiros dias,
para calar as vozes interiores que o
distraem, dividem, desorientam. Mas
comear, progressivamente, a ouvir
melhor, a distinguir os movimentos
interiores e as moes do Esprito
Santo. , ento, que as palavras e os
rudos se calam e pode emergir a Pala-
vra luminosa, pacfica e forte que
inaugura mundos, engravida virgens
e transforma desertos em jardins.
Gestada no ventre fecundo do si-
lncio, essa Palavra tomar por inteiro
aquele ou aquela que medita e contem-
pla e o ir configurando ao Criador de
quem imagem e semelhana, ao Re-
dentor que deseja imitar e seguir. No
interior silenciado pelo Esprito, co-
mear, sempre com sabor de novida-
de imperecvel, a Nova Criao.
Boa leitura!
[...] O SILNCIO A CONDIO NECESSRIA PARA QUE ACONTEA, EM NS, O VERDADEIRO DILOGO[...]
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6 7Em Em
calendrio litrgicoPrprio da Companhia de Jesus JANEIRO
FEVEREIRO
DIA 1 DIA 3 DIA 19
DIA 2
DIA 6
DIA 4
DIA 15
Santa Maria Me de Deus Santssimo nome de Jesus
Apresentao
do Senhor
So Joo de Brito
Beato Rodolfo Acquaviva
e companheiros
So Paulo Miki
Beato Carlos Spnola
Beato Sebastio
Kimura e companheiros
So Cludio
La Colombire
So Joo Ogilvie
So Melchor Grodziecki,
So Marcos Krievcanin e
Santo Estevo Pongratz
Beatos Tiago Sals e Guilherme
Saultemouche
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8 9Em Em
ENTREVISTA PEREGRINOS EM MISSO
Pe. Ronaldo Colavecchio, SJ
Em 10 de junho de 2018, o padre Ronaldo Colavecchio celebrar 51 anos de Sacerdcio, praticamente o mesmo tempo em que se mudou para o Brasil. Nascido nos Estados Unidos, ele chegou
ao Pas apenas 15 dias aps sua ordenao. Aqui, sua primeira misso foi em Salvador (BA), mais precisamente no bairro dos
Alagados, construdo sobre o lixo da cidade, que os caminhes
despejavam a cada hora. A pastoral nos Alagados foi uma imerso
nas consequncias da injustia que gerava a misria e a morte
na sociedade daquela poca e que, at hoje, continua a faz-la,
ressalta o jesuta.
Mestre em Teologia e autor de cinco livros sobre os Evangelhos,
padre Ronaldo tambm professor de Novo Testamento e
Cristologia na Faculdade Diocesana So Jos (Fadisi), em Rio
Branco (AC), onde mora atualmente. Leia a seguir a entrevista
especial que ele concedeu ao informativo Em Companhia.
Conte-nos um pouco da sua histria.
Nasci em Providence, no estado
de Rhode Island (EUA). At o 9 ano do Ensino Fundamental, estudei em
escolas pblicas. Participava da Par-
quia do Santssimo Sacramento. Com
outros pr-adolescentes, fui catequi-
zado por Madre Clarissa, que, por
seu amor e sua bondade, conseguia
nos atrair a Deus e nos preparou bem
para a Primeira Comunho. Ao final,
ela nos perguntou: como vocs sa-
bero se fizeram uma boa confisso?
Silncio total! Mas, de sbito, uma
menina disse em voz baixa: Vamos
sentir paz!. E era isso mesmo a minha
primeira introduo ao discernimen-
to dos espritos!
Aos 15 anos, passei da escola pblica para o Instituto dos Irmos Lassalistas.
Entre os meus colegas dessa poca, al-
guns j esto no cu, mas outros ainda
encontro quando vou aos Estados Uni-
dos. Acredito que, j naquele tempo,
meus amigos suspeitavam que eu pensa-
va em ser padre. Por fim, no posso omitir
a contnua formao dada por meu pai e
minha me, muito dedicados aos trs fi-
lhos, com importantes valores e uma re-
ligiosidade no ostensiva, cada um com
sua personalidade rica e diferente.
Como conheceu a Companhia de Je-
sus? Por que decidiu ser jesuta?
Na verdade, no conhecia a Compa-
nhia, a no ser pela Novena de So Fran-
cisco Xavier, realizada a cada inverno na
parquia. Eu tambm tinha um amigo
que foi estudante jesuta e que me deixa-
va sentir admirao pela Ordem religio-
sa. Nessa poca, estudava na Faculdade
dos Dominicanos e participava do grupo
vocacional deles, porm, prximo do
ltimo semestre do curso, eu no sabia
se escolhia ser dominicano ou jesuta.
Finalmente, o frei que cuidava do grupo
vocacional me entregou uma cpia dos
Exerccios Espirituais de Santo Incio e
me disse: Leia isso. No li mais do que
algumas frases, porm deu para ver Santo
Incio agindo como Mestre da vida espi-
ritual. Senti: isso que quero. Fechei o
livro e nunca duvidei depois.
Como surgiu o desejo de vir
ao Brasil?
Quando estava na Teologia, durante
o Conclio Vaticano II, o Papa Joo XXIII
pediu a presena de mais missionrios
na Amrica Latina. A Provncia de Nova
Inglaterra (EUA) enviou quatro jesutas
para considerar qual o tipo de trabalho
que poderamos realizar. Entre esses je-
sutas, havia amigos meus. Ento, decidi
pedir para acompanh-los. Assim, fui or-
denado em 10 de junho de 1967 e, 15 dias depois, j estava em Salvador (BA).
A primeira misso escolhida pelos
jesutas da Nova Inglaterra foi o bairro de
Alagados, construdo sobre o lixo da ci-
dade de Salvador. Depois de dois meses
participando dessa pastoral, voltei aos
Estados Unidos para concluir os estudos
de Teologia. Em 13 de fevereiro de 1969, retornei ao Brasil.
UM OLHAR DE MISERICRDIA E JUSTIA DE DEUS
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8 9Em Em
Qual a sua avaliao desses 50 anos no Brasil?
Aqui, Deus me colocou numa
Igreja dinmica e me deu condies
de servir aos futuros sacerdotes e a
outros jovens. Tambm fiz contato,
nas parquias, com inmeros lei-
gos que estavam aprendendo a ser
participantes responsveis no traba-
lho das comunidades. Morar com os
membros da equipe de CEAS (Centro
de Estudos e Ao Social), passar um
tempo em Marab (PA) e, depois, du-
rante 28 anos, viver em Manaus (AM)
com jesutas admirveis, servia para
manter, diante de mim, a necessida-
de de olhar a tudo da perspectiva da
Misericrdia e Justia de Deus. Ideo-
logias mentirosas, espiritualidades
alienadas, religiosidade interessada,
tudo isso era para ser purificado pelo
conhecimento e o seguimento de Je-
sus de Nazar e um reconhecimento
dos valores do Reino a que a Igreja era
chamada a encarnar no meio dos ho-
mens. Ou seja, era ver a Igreja chama-
da por Jesus ao trabalho que ele mes-
mo desempenhava: de ensinar, curar,
reconciliar, libertar e conduzir ao Pai.
Uma Igreja que buscava o Pai de Je-
sus em tudo, na conscincia de que
era isso que mais caracterizava Jesus.
Finalmente, era a necessidade de um
contnuo discernimento daquilo que
o Esprito Santo est fazendo em mim
mesmo. Isso exige um silncio e asce-
se no sempre dado!
Estar em Rio Branco (AC), na
fronteira do pas, tambm estar
na fronteira dos problemas huma-
nos e ecolgicos. O que a Teologia
tem a dizer sobre essas realidades?
No somente aqui, mas em toda a
Amaznia, a Teologia, ao refletir sobre
a realidade que vemos, nos leva a con-
templar Jesus de Nazar com seu jeito
simples e cheio de compaixo pelas
pessoas. Todos ns nascemos dentro
de contextos sociais e histricos que
condicionam a nossa liberdade, mar-
cam a nossa afetividade e influem em
todas as nossas escolhas, numa ma-
neira que somente Deus pode avaliar.
Os Quatro Evangelhos colocam,
continuamente, diante de ns, a figu-
ra de Jesus de Nazar na sua presena
compassiva para com o povo sofrido
da Galileia e da Judeia. Chegamos a
entender que, assim, Jesus est viven-
do sua maneira de ser fiel ao seu Pai.
Teologicamente, isso nos faz ver, com
um olhar muito crtico, formas de re-
ligiosidade que omitem colocar o fiel
diante desse Jesus e optam por um
Salvador mais meigo ou um Jesus j
glorioso durante sua vida, cuja morte
na Cruz no foi consequncia inevit-
vel de sua maneira de viver. Nos Evan-
gelhos, um Jesus pobre e humilde,
mal-entendido tanto pelo povo quan-
to pelos discpulos. Era o Filho Ama-
do, indo resolutamente para o en-
contro com a Cruz, na certeza de que
seu Pai iria manifestar-se nele mesmo
e em todos que se abrem ao seu convi-
te. Jesus, que no nos fora, mas nos
atrai ao caminho de verdadeiros dis-
cpulos. Para mim, no mundo atual,
o prprio Papa Francisco o exemplo
mais forte de todas essas linhas de Te-
ologia sendo vividas na fidelidade de
um filho que conhece o Pai de Jesus
e que d tudo de si para conduzir os
fiis comunho com Ele. E sabemos
que, enquanto alguns escutam, amam
e acolhem a mensagem e o exemplo
desse Papa, outros o rejeitam e espe-
ram que saia da cena o mais rpido
possvel! a condio de um mundo
ainda em Salvao! uma Igreja cha-
mada a discernir a presena do Esp-
rito no mundo a fora e de colocar-se
a servio do Reino do Pai, que o Filho
Amado inaugurou.
Sendo o nico jesuta em Rio
Branco (AC), como enfrentar a soli-
do e a distncia dos companheiros?
Claro que a vida comunitria numa
casa de jesutas uma fonte contnua
de renovao da nossa vida na Compa-
nhia. Penso em quanto os colegas influ-
ram na minha maneira de pensar e de
viver a vocao durante os anos da for-
mao. Tambm h a solicitude daque-
les que tm o ofcio de zelar pelo bem
dos jesutas. Assim, sinto a falta dos
jesutas, mas no estou sozinho na ten-
tativa de viver no seguimento de Jesus,
com orao, Missa e a presena amig-
vel dos padres da Diocese, que moram
comigo. A Comunidade Jesuta qual
perteno tem sua sede em Assis Brasil
(AC), a uma distncia de cinco horas da-
qui de Rio Branco, onde moram os pa-
dres Emlio Magro Moreira e Francisco
Almenar Burriel, conhecido como pa-
dre Paco, e o irmo Gianfranco Zanelli.
O padre jesuta mais perto o Gilberto
Oliveira Versiani, proco da Parquia
Nossa Senhora das Dores, em Brasileia
(AC), situada a duas horas e meia daqui.
Tentamos nos reunir ao menos uma vez
por semestre e nos encontramos quan-
do um deles vem a Rio Branco. Esses so
momentos de muita graa.
AQUI, DEUS ME COLOCOU NUMA IGREJA DINMICA E ME DEU CONDIES DE SERVIR AOS FUTUROS SACERDOTES E A OUTROS JOVENS.
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10 11Em Em
O MINISTRIO DE UNIDADE NA IGREJA SANTA S
PAPA VISITA CHILE E PERU
CHILENo dia 15 de janeiro, noite, Fran-
cisco chegou a Santiago, capital chile-
na. No trajeto do aeroporto at a sede da
Nunciatura Apostlica, foi saudado por
centenas de fiis. Na manh seguinte,
em sua primeira celebrao, realizada
para uma multido no Parque OHiggins,
o Papa abordou os temas paz e justia. A
agenda de Francisco, na capital chilena,
foi intensa e incluiu encontro com de-
tentas do Centro Penitencirio Feminino
de Santiago, visita ao Santurio de So
Alberto Hurtado e reunio com religio-
sos da Companhia de Jesus, entre outros
compromissos.
Francisco esteve tambm com um
pequeno grupo de vtimas de abusos
sexuais cometidos por sacerdotes. Aps
o encontro privado, o Papa declarou:
No posso deixar de exprimir o pesar
e a vergonha que sinto perante o dano
irreparvel causado s crianas por mi-
nistros da Igreja. Desejo unir-me aos
meus irmos no episcopado porque
justo pedir perdo e apoiar, com todas
as foras, as vtimas, ao mesmo tempo
em que devemos nos empenhar para
que isso no volte a repetir-se.
No dia 17, o Pontfice seguiu viagem para Temuco, a mais de 600 quilmetros de Santiago, regio com maior ndice de
pobreza do Chile. A cidade abriga tam-
bm os povos indgenas Mapuche, que
reivindicam seus direitos e o reconheci-
mento de sua cultura. Durante a celebra-
o eucarstica, o Santo Padre frisou que
no se pode cansar de procurar o dilogo
para a unidade.
Na cidade de Iquique, no dia 18, Francisco cumpriu seu ltimo compro-
misso no Chile, com uma missa no Cam-
pus Lobito. Ao trmino da celebrao
eucarstica, o Papa fez uma saudao ao
povo chileno, manifestando seus votos
de paz ao pas.
A 22 Viagem Apostlica Internacional do Papa Francisco, entre os dias 15 e 22 de janeiro, teve como destino o Chile eo Peru. Leia, a seguir, como foi a 6 visita do Pontfice Amrica Latina:
Um episdio inusitado marcou a
viagem do Papa ao Chile: durante o voo
entre Santiago e Iquique, ele se ofereceu
para casar os comissrios Carlos Ciuffar-
di e Paula Podest Ruiz. Os dois j eram
casados no civil h sete anos, porm,
poca, no puderam fazer a celebrao
religiosa devido ao terremoto de 2010, que devastou o pas.
PERUNo final da tarde do dia 18, o Papa
chegou ao Peru, onde milhares de peru-
anos o saudaram pelas ruas da capital,
Lima. A programao comeou na ma-
nh seguinte, em Puerto Maldonado,
em um encontro com cerca de 4 mil membros dos povos da Amaznia.
Em seu discurso aos indgenas, o
Papa disse que desejou muito o encon-
tro e agradeceu. Obrigado pela vossa
presena e por nos ajudardes a ver mais
de perto, nos vossos rostos, o reflexo
desta terra. Um rosto plural, duma va-
riedade infinita e duma enorme riqueza
biolgica, cultural e espiritual. Ns, que
no habitamos nestas terras, precisa-
mos da vossa sabedoria e dos vossos co-
Foto
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Papa recebido na cidade de Temuco (Chile)
Fiis recepcionam Francisco em Lima (Peru)
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10 11Em Em
Fontes: Cano Nova, UOL, G1 e Veja.com
nhecimentos para podermos penetrar
sem o destruir no tesouro que encerra
[guarda] esta regio, ouvindo ressoar
as palavras do Senhor a Moiss: Tira as
tuas sandlias dos ps, porque o lugar
em que ests uma terra santa (Ex 3, 5). O Santo Padre ressaltou que nunca
os povos originrios da Amaznia esti-
veram to ameaados em seus territ-
rios como agora. E defendeu o respeito,
o reconhecimento e o dilogo com os
povos nativos, de forma a assumir e res-
O ltimo compromisso do Papa no
Peru foi a celebrao eucarstica na
base area Las Palmas, no dia 21. Ao fi-nal, Francisco deixou uma mensagem
de esperana sobre a certeza da pre-
sena de Deus, que se coloca em cami-
nho na vida do homem: Deus no se
cansa e nunca se cansar de caminhar
para alcanar os seus filhos
Em 10 de janeiro, em sua cate-quese, o Papa Francisco refletiu sobre a importncia do silncio na liturgia da celebrao eucarstica e
convidou os sacerdotes a cuidar desses
momentos, durante a Audincia Geral,
celebrada na Sala Paulo VI do Vaticano.
Recomendo vivamente aos sacerdotes
que observem o momento de silncio e
no tenham pressa. Oremos para que se
faa silncio. Sem ele, corremos o risco
de subestimar o recolhimento da alma.
O Papa destacou que, na liturgia, a
natureza do silncio depende do mo-
gatar sua cultura, linguagem, tradies,
direitos e espiritualidade.
No dia 20, Francisco celebrou a Santa Missa em Trujillo. A cidade, localizada ao
norte do pas, frequentemente atingida
por fortes chuvas que deixam, anualmen-
te, centenas de mortos e desabrigados.
Consequncias dolorosas, ainda se fa-
zem sentir em tantas famlias, especial-
mente naquelas que ainda no puderam
construir suas casas. Foi por isso que quis
vir aqui e rezar com vocs, disse o Papa.
O SILNCIO NA EUCARSTIA
NS, QUE NO HABITAMOS NESTAS TERRAS, PRECISAMOS DA VOSSA SABEDORIA E DOS VOSSOS CONHECIMENTOS PARA PODERMOS PENETRAR SEM O DESTRUIR NO TESOURO QUE ENCERRA [GUARDA] ESTA REGIO [...]Papa Francisco
mento especfico. Francisco explicou
que, durante o ato penitencial, esse si-
lncio ajuda ao recolhimento, enquan-
to, aps a leitura ou depois da homilia,
ele convida a meditar brevemente sobre
aquilo que se escutou. Do mesmo modo,
aps a comunho, o silncio favorece a
orao interior de agradecimento.
O Pontfice ressaltou a importn-
cia de escutar nossa alma e de abri-la
depois ao Senhor: Talvez tenhamos
tido dias de cansao, de alegria, de dor
e queremos compartilhar com o Senhor
e pedir sua ajuda, ou pedir-lhe que per-
Para um aprofundamento sobre a
importncia do Silncio em nossa
vida, leia, a seguir, a matria especial
sobre esse tema, na pgina 12.
manea perto de ns. E acrescentou:
O silncio no se reduz ausncia de
palavras, mas na disposio a escutar
outras vozes: a de nosso corao e, so-
bretudo, a voz do Esprito Santo.
Fonte: ACI Digital
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Pontfice se encontra com naes indgenas
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12 13Em Em
ESPECIAL
Em12
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12 13Em Em
SILNCIOENCONTRANDO A SI E A DEUS
omo definir o silncio? Se
folhearmos o dicionrio,
encontraremos ausncia de
rudo e estado de quem se cala ou
se abstm de falar como principais
definies. Mas, para aqueles acos-
tumados a vivenci-lo plenamente,
sua essncia transcende os signifi-
cados formais. O silncio a chan-
ce que uma pessoa pode dar a Deus
para que Ele se faa ouvir, afirma o
padre Ricardo Torri de Arajo, pro-
fessor do Departamento de Psicolo-
gia da PUC-Rio (Pontifcia Univer-
sidade Catlica do Rio de Janeiro),
acrescentando que fazer silncio
dizer a Deus: agora, a Sua vez,
pode falar.
O padre Haroldo J. Rahm, diretor da
Comunidade Teraputica de Campinas
(SP) e presidente emrito da Institui-
o Padre Haroldo, ensina que o siln-
cio um convite verdadeira liberdade
da alma, que pode se desvincular de to-
dos os apegos externos, do mundo ilu-
srio, inclusive do ego, e, portanto, de
todos os julgamentos. Ele ressalta que
o silncio interno, o silncio da mente,
mais difcil do que o silncio da boca,
das palavras e dos sons emitidos. Ape-
nas quando a mente silencia, podemos
entrar em contato com a essncia do Ser.
O silncio o nico caminho que conduz
a Deus. Quando nos calamos, Deus fala,
assegura o jesuta.
Segundo orienta padre Haroldo
Rahm, precisamos de silncio, da
pausa em nossas vidas, pois impor-
tante pararmos por alguns instantes
para estarmos tranquilos e ouvirmos
apenas a nossa voz interior. O con-
tato com o nosso interior despertar
sentimentos, equilibrar determina-
dos anseios, nos dar perspectivas e
promover o equilbrio emocional e
afetivo, afirma o jesuta.
Em seu texto O Valor do Silncio, o
padre Mrio de Frana Miranda, profes-
sor emrito do Departamento de Teolo-
gia da PUC-Rio, ressalta que s conse-
guiremos ser pessoas que sabem refletir
e agir responsavelmente quando souber-
mos valorizar devidamente o silncio
em nossa vida. [...] Temos de aprender
a descer ao fundo de ns mesmos, escu-
tar nosso corao, sentir seus anseios de
sentido, de paz, de felicidade, de Deus,
reconhecer que, apesar do que manifes-
tamos exteriormente e que a tantos en-
gana, estamos, no fundo, decepcionados
com nosso teor de vida, com a rotina
mecnica de nossos dias, com a su-
perficialidade das nossas conversas,
das nossas relaes, das nossas aspi-
raes. E completa: Naturalmente,
preciso ter coragem para chegar ao
nosso verdadeiro eu, mas a aventura
compensa.
Ainda em seu texto, padre Mrio
de Frana afirma que: O conheci-
mento prprio, a avaliao tranquila
e objetiva de nossa vida, o olhar no
ingnuo para a sociedade atual, nos
fazem descobrir outra dimenso da
realidade, com contedos e valores
prprios, elementos indispensveis
para fundamentar e construir perso-
nalidade madura e slida. Sem eles,
nos deparamos com pessoas frgeis,
instveis, indecisas, inseguras, inca-
pazes de compromissos consisten-
tes, de gestos corajosos, de renncias
conscientes e amadurecidas. o si-
lncio que nos possibilita escutar a
ns mesmos, natureza, aos outros e,
sobretudo, a Deus.
Para ler a ntegra do texto
O Valor do do Silncio acesse o link
http://bit.ly/2GVYCsT
Em 13
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14 15Em Em
SILENCIAR SEM MEDOGeralmente, o silncio defini-
do negativamente, como ausncia de
sons, ressalta o padre Luis Gonzlez-
-Quevedo Campo, conhecido como
Quevedinho, orientador de Exerccios
Espirituais. No entanto caberia dizer
que, na aparente ausncia, h uma
forma de presena mais profunda. O
filsofo Wittgenstein j dizia que
preciso calar a respeito daquilo que
no possvel falar*. As palavras so
incapazes de expressar o inefvel.
Nesse sentido, o silncio mais rico,
mais profundo do que as palavras,
destaca o jesuta.
Padre Quevedinho avalia que o
silncio, hoje, mais importante do
que no passado, por ser mais escasso:
vivemos em um mundo barulhento,
onde dispor de espaos e tempos de
silncio tornou-se um luxo. Ainda
sobre essa dificuldade, ele menciona
o pregador oficial do Vaticano, frei
Raniero Cantalamessa, que disse que
o ser humano, atualmente, capaz de
enviar uma sonda espacial at os con-
fins do Universo, mas no sabe son-
dar o prprio corao. Em sua Exor-
tao Apostlica Evangelii Gaudium,
o Papa Francisco tambm indica a
necessidade de espaos de silncio,
onde as pessoas possam recolher-se
e encontrar-se com Deus, ele lembra.
Segundo o jesuta, por falta de ex-
perincia, muitos associam o silncio
ao vazio, tristeza e solido. As pes-
soas chegam s Casas de Retiro com
medo de no aguentar passar um fim
de semana em silncio. Mas, quando
conseguem realmente silenciar, acal-
mar a mente e o corao, retornam s
suas casas com a impresso do quero
mais, afirma padre Quevedinho.
O jesuta ressalta que a ideia de va-
zio, porm, pode entender-se em sen-
tido simblico, potico e at religio-
so. Assim, podemos falar do silncio
de Deus na cultura contempornea e
os grandes msticos tornam-se enor-
memente atuais: Uma palavra falou o
Pai, que foi seu Filho, e esta fala sem-
pre em eterno silncio, e em silncio
h de ser ouvida pela alma (So Joo
da Cruz, Ditos de luz e amor, 99), diz padre Quevedinho, acrescentan-
do: Nesse sentido, os conceitos de
silncio e de vazio se aproximam. E
podemos falar de um silncio sereno,
proveitoso, e de um silncio agressi-
vo. Ou de um vazio positivo, cheio da
presena de Deus, e de um vazio ne-
gativo, fruto do abandono e da falta
de sentido.
Maria das Dores, diretora do Cen-
tro Loyola de F, Espiritualidade e
Cultura de Goinia (GO), conta que,
geralmente, o silncio nos leva para
um centro que no conhecemos e do
qual fugimos, um centro onde est o
nosso real, sem mscara. Fazer siln-
cio pode abrir caminho para que a ver-
dade se revele. naquele centro onde
existe o silncio que a vida borbulha e
pulsa em intensidade, ela afirma.
Padre Haroldo Rahm explica que
muitas pessoas fogem do silncio por
no tolerarem a falta de rudos e as pau-
sas. H quem no se permita viver a ex-
perincia da solido e tende a criar baru-
lhos e ocupaes por receio do silncio,
diz o jesuta. E acrescenta: A solido e o
silncio revelam o que somos, fazendo-
-nos entender a nossa singularidade e,
consequentemente, a singularidade da-
queles que nos acompanham. Quando
vivemos a solido e o silncio, aprende-
mos a compreender as diferenas que
nos caracterizam, assim como as de cada
pessoa. Ento, podemos reconhecer: o
outro no sou eu. Ele pensa, vive e ama
de outra forma e, desse modo, precisa ser
respeitado e acolhido.
Conforme ressalta padre Haroldo
Rahm, o silncio amedronta e enca-
rado por muitos como uma espcie de
castigo, de isolamento obrigatrio. E,
assim, presumem ser necessrio pre-
encher os espaos vazios com falas,
msicas ou quaisquer sons. Muitas
vezes, o silncio visto como um si-
nal de solido e sinnimo de tristeza.
Em vez disso, deveria ser encarado,
no mnimo, como uma grande opor-
tunidade de introspeco e reflexo,
ressalta, aconselhando que todo ser
humano deveria reservar um tempo
do seu dia para esse isolamento e us-
-lo para a sua transformao interior,
obrigando-se a ser sincero consigo
mesmo e predispondo-se sua pr-
pria transformao.
ESCUTANDO DEUSComo lembra o padre Ricardo Tor-
ri de Arajo, a palavra silncio no
aparece no livro dos Exerccios Espi-
rituais (EE) de Santo Incio de Loyola.
H um silncio sobre o silncio, diz
o professor do Departamento de Psi-
cologia da PUC-Rio. E ressalta: Em-
bora no se fale dele explicitamente,
o silncio est implcito e de suma
importncia. Com efeito, segundo
Incio, ao fazer os Exerccios Espiri-
tuais, a pessoa deve se afastar de to-
dos os amigos e conhecidos e de toda
preocupao terrena (EE 20). Ou seja, isso implica fazer silncio.
Padre Ricardo Torri diz ainda que o
objetivo ltimo dos Exerccios Espiri-
H QUEM NO SE PERMITA VIVER A EXPERINCIA DA SOLIDO E TENDE A CRIAR BARULHOS E OCUPAES POR RECEIO DO SILNCIO
Pe. Haroldo Rahm
*Concluso do Tractatus Logico-Philosophicus (Tratado Lgico-Filosfico), escrito pelo filsofo austraco Ludwig Wittgenstein (1889-1951).
ESPECIAL
14 14 Em
-
14 15Em Em
O SILNCIO DE JESUS CRISTO Em vrias passagens da vida de Je-
sus, o silncio se fez presente quando
ele buscava encontrar-se com o Pai.
Certamente, pelas lembranas que os
contemporneos de Jesus conserva-
ram dele, nos quatro Evangelhos ca-
nnicos, podemos afirmar que Cristo
viveu e ensinou, com o seu exemplo, o
silncio, conta Pe. Quevedinho.
Quando se menciona o silncio
de Jesus, imediatamente o pensamen-
to se volta para o silncio da Paixo. E,
na verdade, ali que o silncio atin-
giu o ponto mais alto de seu poder ex-
pressivo. s vezes, o silncio diz mais
do que as palavras, acrescenta padre
Haroldo Rahm, ressaltando: Na Pai-
xo, Jesus fala poucas vezes, nunca
para se defender, mas apenas para
explicar a sua identidade. O silncio
uma palavra importante para explicar
quem Ele .
Em 15
Fizemos um vdeo
exclusivo sobre o Silncio. Acesse o QR-code
ao lado e assista:
http://qrs.ly/226co3e
-
16 17Em Em
O BARULHO E O NOSSO CORPO Padre Haroldo Rahm explica que
o silncio uma completa ausncia
de pensamentos, um estado de pro-
funda quietude. Porm no um va-
zio, a plenitude. Quando silencia-
mos, podemos ouvir melhor e sentir
melhor, alm de nos permitirmos
banhar-nos por todos os sons e por
todas as formas, ele conta. Hoje, vi-
vemos em um mundo extremamen-
te agitado. Acordamos com o movi-
mento e o barulho em nossa casa e os
sons externos da cidade anunciando
o incio de mais um dia. Toda essa pa-
rafernlia sonora causa de estresse
para o nosso psiquismo e tambm
para a nossa espiritualidade.
O jesuta ressalta que temos ne-
cessidade de nos silenciar, embora
essa realidade esteja cada vez mais
distante de ns. Se at algum tem-
po atrs o barulho era sonoro, hoje,
ele psicolgico. Mesmo quando
no estamos ouvindo os sons ex-
ternos, nossa mente se ocupa com
outros afazeres e nossa conscincia
no consegue aquietar-se, diz padre
Haroldo Rahm, completando que
o barulho exterior nos atrapalha na
orao, mas o rudo interior como
preocupaes, medos, pecados, pen-
samentos negativos, inseguranas,
ansiedades e todas as situaes que
necessitam de resposta nos deso-
rientam em demasia.
tuais levar aquele que os faz a buscar,
a encontrar e a abraar a vontade de
Deus a seu respeito (cf. EE 1). Ocorre
que a vontade de Deus no exterior
ao sujeito. Pelo contrrio, a vontade
Dele encontra-se na interioridade da
pessoa: o prprio desejo, o seu desejo
mais profundo. Em outras palavras,
o que Deus plantou no corao do ho-
mem. Ora, para entrar em con-
tato com essa realidade,
preciso fazer silncio.
Por isso que, para a
espiritualidade
inaciana, o silncio fundamental,
comenta o jesuta.
Padre Quevedinho explica que, nos
EE, assim como na grande tradio
espiritual crist, o silncio no um
fim, mas um meio: O nico fim abso-
luto Deus. Todas as escolas de espiri-
tualidade coincidem em afirmar que o
silncio um meio muito importante
para escutar a Deus ou, na expresso
inaciana, buscar e encontrar a Deus.
Ele afirma ainda que a expresso si-
lncio absoluto no lhe agrada, por-
que afasta a maioria das pessoas. Con-
forme ressalta, Santo Incio, embora
se sentisse atrado pela vida monsti-
ca no tempo da sua converso, fundou
depois uma Ordem religiosa apost-
ESPECIAL
Em16
-
16 17Em Em
interior, sonoro, eloquente, fecundo e
reverente. um silncio povoado de
Deus, ela garante, completando: O si-
lncio exterior para tornar o ambien-
te propcio ao recolhimento. Um espa-
o de paz, tranquilidade e de ateno
amorosa s manifestaes de Deus, da
mesma forma como ocorreu com In-
cio de Loyola em sua experincia em
Manresa (Espanha).
O QUE FAZER PARA SILENCIAR? O Papa Francisco tem insistido
que, para encontrar o Senhor, preci-
samos entrar em ns mesmos e sen-
tir aquele fio de um silncio sonoro,
pois Ele nos fala ali. Mas como alcan-
ar esse silncio interior?
Para comear, importante en-
tendermos o que o chamado si-
lncio interior. Padre Quevedinho
nos ensina que o recolhimento
ou concentrao da nossa mente,
antes, dispersa em mil pensamen-
tos e, agora, unificada em uma s
direo. A maneira de ensinar e de
aprender tal silncio no pode ser
terica, mas prtica. E, como toda
aprendizagem, exige exerccio,
vontade decidida e perseverante,
afirma o jesuta, acrescentando
que a espiritualidade tem ajudado
e continuar ajudando muitas pes-
soas a crescerem na capacidade de
fazer silncio, especialmente pela
prtica dos Exerccios Espirituais,
que exigem silncio, tanto interior
como exterior.
Maria das Dores diz que o primeiro
passo para atingir esse silncio espiritu-
al desej-lo. O desejo uma fora que
move a pessoa a agir. A espiritualidade
inaciana, por meio da metodologia dos
Exerccios Espirituais, j um caminho
privilegiado que favorece o aprendizado
do silncio, pois valoriza o recolhimento,
o distanciamento dos rudos externos, a
tranquilidade dos espaos, a beleza dos
ambientes que convidam interioridade
e ao encantamento, os refros orantes, a
harmonizao do ser por meio de exerc-
cios de relaxamento corporal e mental, a
valorizao da dimenso corporal, entre
outros passos, conta a diretora do Centro
Loyola de Goinia (GO).
Padre Haroldo Rahm refora que a
procura pelo silncio s acontece quando
o desejamos, normalmente quando es-
tamos em busca de ns mesmos e/ou de
algo que d sentido nossa existncia.
Para isso, segundo ele, podemos ouvir
msica suave, entoar sons voclicos,
respirar profundamente, enfim utili-
zar recursos que elevem o nvel vibra-
trio do nosso corpo e do ambiente ao
nosso redor e que, ao mesmo tempo,
tirem nosso foco do mundo exterior.
Silenciar requer habilidade e f, as-
sim como tocar piano. possvel to-
car esse instrumento, mas, primeiro,
preciso treinar muito para que essa
habilidade se manifeste. Silenciar a
mesma coisa: precisamos reaprender,
redescobrir o caminho para silenciar
nossos corpos fsico e mental e, assim,
conseguir acessar nosso Eu Interior,
ensina o jesuta.
A multiplataforma Passo a Rezar
(goo.gl/r2bcQA), vinculada ao Apostolado da Orao de Por-
tugal, oferece orientaes para
rezar, com podcast. Aproveite!
TODAS AS ESCOLAS DE ESPIRITUALIDADE COINCIDEM EM AFIRMAR QUE O SILNCIO UM MEIO MUITO IMPORTANTE PARA ESCUTAR A DEUS
Pe. Quevedinho
*Rgle de Vie des Prtres du Sacr-Coeur de Jsus de Btharram, art. 65.*Citao n 640, do livro Toma e L Sntese Agostiniana, de Pedro Rubio.
17Em
lica que tem por finalidade ajudar s
almas. O que se busca, ao praticar os
Exerccios Espirituais, dispor-se para
estabelecer uma relao mais profun-
da com Deus. Buscar sua presena, es-
cutar sua palavra, acolher seu amor*,
diz o jesuta.
Maria das Dores tambm esclarece
que a prtica dos EE no se trata de um
silncio absoluto, mas de um silncio
Dizem que o silncio o repou-
so da mente em Deus. Ou seja, onde
acontece a comunho com Deus
Ele est em ns e ns estamos Nele,
finalmente somos UM. quando j
no somos e sim fazemos parte do
Todo, ressalta padre Haroldo Rahm
e acrescenta: Essa a Paz Profunda
que tanto ansiamos vivenciar. Nossa
tarefa como seres humanos cons-
truir pontes para transcender iluso
de estarmos separados de Deus e essa
ponte se d pelo silncio.
O padre Ricardo Torri conclui lem-
brando uma frase de Santo Agostinho:
A voz de Deus doura e suavidade.
D alegria e prazer. Mas no pode ser
ouvida a no ser que o homem silen-
cie, em seu corao, o rudo e a confu-
so deste mundo*.
-
18 19Em Em
COMPANHIA DE JESUS NO MUNDO CRIA GERAL
EMPODERANDO AS MULHERES NOS CENTROS ARRUPE DO JRS
JESUTAS DA ESPANHA CELEBRAM 10 ANOS DE ACOLHIDA A IMIGRANTES
ACOLHER E INTEGRAR O MIGRANTE
Na frica do Sul, um dos pases com maior populao de re-fugiados urbanos do mundo, o Servio Jesuta de Refugiados (JRS)
administra dois centros para mulhe-
res solicitantes de asilo e refugiadas.
Esses centros, localizados nas cidades
de Pretria e Johannesburgo, levam o
nome do fundador do JRS, padre Pedro
Arrupe, e desenvolvem projetos que
as empoderam com habilidades pro-
Em 2007, a comunidade jesuta de Durango (Espanha), consciente do nmero cada vez maior de refugiados e migrantes, realizou dis-
cernimento e decidiu comear o proje-
to de acolher e integrar migrantes. No
ano passado, a inciativa completou 10
Apesar do clima de diviso ret-rica e populismo xenofbico de parte de dirigentes polticos eu-ropeus, um trabalho do Servio Jesuta
de Refugiados (JRS) da Europa mostra
o surpreendente nmero de europeus
que oferecem boas-vindas ativas e in-
clui em suas prprias comunidades
os migrantes forados. Nosso estudo
anos e o objetivo principal continua
o mesmo: oferecer um espao de con-
vivncia, formao, integrao social
e apoio aos imigrantes e refugiados.
A maioria dos jesutas que atuam no
projeto passa dos 80 anos de idade, por isso j pensam em reestruturar a
comunidade nos prximos anos. Atu-
almente, a casa tornou-se morada de
49 africanos que chegaram para ficar
em seus coraes, o que os deixou ain-
da mais felizes. Eles tm sido amados
tanto quanto tm amado. Suas vidas
enriqueceram-se reciprocamente.
mostra que os polticos esto muito
atrs dos cidados comuns no que se
refere incluso social das pessoas
obrigadas a emigrar, afirma o diretor
do JRS da Europa, padre Jos Ignacio
Garca Jimnez. Est na hora de os
governos dos pases europeus suporta-
rem, investirem e apreenderem de ini-
ciativas da sociedade civil que facilitam
o caminho a comunidades dinmicas,
no qual todos os membros, antigos ou
recm-chegados, criam espaos para o
trabalho comum, afirma.
fissionais prticas. Os cursos de for-
mao oferecidos nos centros jesutas
vo desde estudo de ingls a cozinha.
Depois que elas concluem os estudos,
recebem kits para pr em prtica suas
iniciativas e tm oportunidade para
assistir a um seminrio de capacitao
empresarial, no qual aprendem como
utilizar suas habilidades recm-adqui-
ridas e, assim, gerar rendas para elas e
suas famlias.
Acesse http:// bit.ly/2DVukJ5 para ler os resultados do estudo
realizado na Europa.
-
18 19Em Em
UMA ESCOLA JESUTA EM UM PAS MARCADO PELA GUERRA
APLICATIVOS PASTORAIS PARA CELULARES
NOMEAO
O Instituto Loyola de Ensino Se-cundrio, localizado em Wau (Sudo do Sul), serve de san-turio para os alunos de um pas etni-
camente diverso. Apesar da violncia
contnua, o Instituto Loyola tem con-
seguido criar um espao nico onde
jovens de ambos os sexos podem so-
nhar com um futuro melhor e comear
a adquirir as habilidades que os ajuda-
ro a construir esse futuro, diz o dire-
tor do instituto, padre Beatus Mauki.
Embora o instituto tenha sido criado
pela provncia jesuta de frica Orien-
tal, em 1982, a guerra civil obrigou os jesutas a suspender as atividades por
dois anos, at o ano de 2008, quando reiniciaram as atividades escolares.
O escritrio digital da Provncia da Espanha, o Grupo de Comu-nicao Loyola, oferece algu-mas propostas pastorais por meio de
aplicativos, como parte da sua misso
a servio da promoo do Evangelho.
O escritrio comeou com a Rezando-
voy, proposta de orao on-line que se
O Superior Geral da Companhia de Jesus, padre Arturo Sosa, nomeou:
tornou presena familiar em muitas
reas religiosas do mundo de lingua
hispnica. No ano passado, foi lanado
o aplicativo Taco del Corazn de Jess,
que est disponvel em duas verses:
uma gratuita e outra paga. Agora, o Gru-
po de Comunicao Loyola lana o apli-
cativo Evangelio dirio 2018. Neste ano,
O padre Amrit Rai (NEP) para ser
o novo superior regional da Regio do
os comentrios so do jesuta Benjamin
Gonzlez Buelta. O Grupo de Comuni-
cao Loyola espera poder continuar
oferecendo o aplicativo para alcanar
mais pessoas que possam encontrar
um espao de f. As iniciativas dos je-
sutas da Espanha esto disponveis em
http://bit.ly/2BLuvRn
Nepal. Nascido em 1966, Rai ingres-sou na Companhia de Jesus em 1990 e foi ordenado sacerdote em 2001. Suas destinaes anteriores foram: diretor
de St. Xaviers School de Deonia; dire-
tor da St. Xaviers High School (ensi-
no mdio) de Godavari; diretor da St.
Xaviers School de Kathmandu. Ele
assume a funo no lugar do padre
Boniface Tigga.
Fonte: Boletim da Cria Geral dos Jesutas (n 18/Janeiro 2018)
-
20 21Em Em
A COMPANHIA DE JESUS NA AMRICA LATINA CPAL
PALAVRAS DA CPAL
Pe. Rafael Garrido, SJProvincial da Venezuela
Na Venezuela, estamos vivendo, talvez, a maior crise que nos tem ocorrido como pas. A di-nmica da economia atinge fortemente
o povo, especialmente os mais pobres,
com uma hiperinflao galopante. A
situao poltica e o mascaramento no
jogo de poder desespera os cidados. A
realidade social com insegurana, a falta
de emprego produtivo e os complexos
problemas das instituies educacio-
nais desanimam o esforo dos venezue-
lanos em favor de uma vida digna. Tudo
isso configura uma realidade muito
complexa e triste. Nenhum venezuelano
chegou a pensar que poderamos estar
neste contexto to catico.
Essa realidade nacional est expul-
sando venezuelanos para outros pases,
especialmente da Amrica Latina, e j co-
meam a chegar histrias de expulso
de venezuelanos, de pessoas que atraves-
sam as fronteiras e vo caminhando em
direo a cidades do Brasil e da Colmbia.
Enfim, estamos em um momento muito
crtico de nossa histria como pas.
Em meio a essa realidade, a Compa-
nhia de Jesus aposta na constituio de
um sujeito pessoal e coletivo que seja
capaz de construir um pas com demo-
cracia, produtivo e gerador de bem-estar,
priorizando os mais necessitados. Por
essa razo, nossos projetos esto direcio-
nados, em primeiro lugar, a atender, tanto
quanto possvel, as necessidades bsicas
das pessoas, alimentao e medicamen-
tos, mas olhando o horizonte dessa cons-
tituio pessoal e social.
Acreditamos que no podemos per-
manecer nos queixando de tudo o que est
ruim, do mal que faz o governo ou a opo-
sio, mas que, alm da crtica profunda e
construtiva, temos que oferecer propostas.
Nessa forma de assumir a nossa re-
alidade, so promovidos projetos e pro-
gramas como a Casa de los Muchachos,
apoiada pelo Movimiento Juvenil Huellas.
O atendimento a crianas em idade esco-
lar, feito por jovens formados no mesmo
movimento oferece, de maneira integral,
apoio nutricional, reforo escolar, aten-
o psicolgica, ateno pastoral e op-
es recreativas.
A construo da sociedade civil e o
tecido social so grandes desafios assu-
midos pelos projetos Reto Pas e Tapiz,
da Universidade Catlica Andrs Bello,
como contribuio para a viso de um
pas democrtico e construdo a partir
da liderana popular e social. Do mesmo
modo, a formao cidad, social e poltica
assumida pelo Centro Gumilla como uma
valiosa contribuio para o nosso povo.
Por conseguinte, hoje, o programa de for-
mao desse centro est presente em todo
o pas graas ao empenho de muitas pes-
soas, convencidas da importncia desse
trabalho e comprometidas com ele.
Nas parquias, h grande esforo para
acompanhar as pessoas mais necessita-
das. Ativa-se a solidariedade e realizam-se
projetos de alimentao que amenizem a
crise. F e Alegria se move entre as peque-
nas brechas que lhe permite a realidade
para promover proximidade, apoio, pos-
sibilidades, lutas, sonhos e vontade de
promover uma mudana na comunidade.
Em suma, cada uma das obras da Pro-
vncia e todas juntas fazem os melhores es-
foros para transmitir a Boa Nova em meio
desesperana e dor, no meio do povo
que tambm quer lutar, que no se resigna
e quer apostar em uma Venezuela mais
humana e solidria. importante dizer
que tudo isso feito por instituies que
lutam dia a dia para sobreviver em meio a
um complicado cotidiano, no qual a hipe-
rinflao desempenha papel determinan-
te. Resolver as dificuldades ordinrias e
cotidianas tem se convertido numa odis-
seia, pois j no se conseguem de manei-
ra regular os elementos necessrios para o
funcionamento. O que sustenta todo esse
trabalho a vocao pessoal, qual cada
membro de nossas instituies responde
com generosidade e gratuidade. Sabemos,
por experincia prpria, que este o caso,
porque, s vezes, encontramos pessoas
cujo salrio apenas consegue cobrir os
gastos de transporte para ir ao trabalho e,
no entanto, no pararam de trabalhar. Isso
possvel graas deciso de no ficar-
mos de braos cruzados. Temos que apos-
tar naquilo que consideramos que no s
vai nos fazer avanar na busca de um novo
pas, mas tambm porque, da maneira
como conseguirmos isso, vai depender
sua autenticidade e durabilidade.
Precisamos de todo o apoio possvel
e o agradecemos profundamente. Sabe-
mos que contamos com muitas pessoas
e instituies aliadas que se tornam soli-
drias, por isso agradecemos o empenho
com que nos ajudam. Sabemos que a luta
longa e que no h solues mgicas,
por isso insistimos em continuar aqui
com nossa convico de que a Palavra En-
carnada est no meio da nossa realidade,
gemendo junto aos mais necessitados,
inspirando os mais decididos e encora-
jando os mais desconsolados.
ACREDITAMOS QUE NO PODEMOS PERMANECER NOS QUEIXANDO DE TUDO O QUE EST RUIM, DO MAL QUE FAZ O GOVERNO OU A OPOSIO, MAS QUE, ALM DA CRTICA PROFUNDA E CONSTRUTIVA, TEMOS QUE OFERECER PROPOSTAS.
-
20 21Em Em
Articulado, em dezembro de 2017, com as parquias dos trs pases da trplice fronteira (Brasil, Peru e Colmbia), o Ser-vio Jesuta Pan-amaznico SJPAM acolheu 11 missionrios jesutas dos Centros Interprovinciais de Formao CIFs de Bogot (Colmbia), de Santiago (Chile) e de Belo Horizonte (Brasil).A experincia proporcionou aos missionrios o conhecimento da realidade amaznica. Durante o perodo que passaram
em misso, entre outras atividades, os jovens jesutas colaboraram com as novenas de preparao para o Natal. Ao chegarem
a Leticia (Colmbia), todos receberam uma orientao sobre o trabalho do SJPAM, sobre a realidade fronteiria e sobre as pa-
rquias com as quais iriam colaborar. Logo organizaram suas bagagens e se deslocaram para as demais localidades. No grupo,
estavam dois brasileiros, Alex Palmer e Rafael Furtado, confira como foi a experincia deles:
ESTUDANTES JESUTAS EM MISSO
PARQUIA DE TONANTINSOs estudantes jesutas Alex Palmer,
do Brasil, e Jesus Jimenez, da Bolvia,
viveram uma experincia de misso en-
tre as comunidades ribeirinhas do mu-
nicpio de Tonantins (AM), s margens
do Rio Solimes, sob a tutela do padre
Diego Arley. Para eles, a experincia
foi muito profunda. Ns ficamos um
dia em cada comunidade, demorando
um pouco mais onde foi possvel. Nes-
ses lugares, vivemos ao ritmo do povo,
acostumando-nos ao calor, a seus hbi-
tos e capacidade de espera paciente,
prpria de quem depende dos rios para
sobreviver e vencer distncias. Nos dias
23 e 24 de dezembro, de volta a Letcia, ainda pudemos colaborar com as ativi-
dades natalinas da parquia dos Freis
Capuchinhos, acompanhados pelo Fr.
Rodolfo. Ao longo desse tempo, nas ce-
lebraes, nas novenas de Natal e nas
visitas s famlias, falvamos de Deus e
do seu Reino, mas as pessoas nos fala-
vam de Deus por aquilo que eram elas
prprias: espera, acolhida e cuidado.
Estamos muito gratos por todo o vivido
e compartilhado!, afirmaram os jovens.
PARQUIA DE SO PAULO DE OLIVENAA experincia dos estudantes jesu-
tas Rafael Furtado, do Brasil, e David
Israel Ortiz, do Mxico, foi
na Parquia So Paulo de
Olivena, na diocese de Alto
Solimes (Brasil), onde visi-
taram algumas comunidades
indgenas e conheceram a
realidade social e eclesial da
Amaznia. Conforme relata-
ram, eles chegaram Ama-
znia com grande desejo de
conhecer esse mundo to
complexo e diverso, ou seja,
lnguas, culturas, sabores e
cores. A cada dia da experi-
Fonte: Carta Mensal Pan-Amaznia (n 45/Dezembro 2017) Acesse www.jesuitasbrasil.com/cartapanamazonia e leia a ntegra desta e de outras edies.
ncia, fomos encontrando um lugar onde
Deus se revela nos rostos amaznicos e,
principalmente, na acolhida calorosa das
pessoas. Acreditamos que o tempo cola-
bora bastante na vivncia da misso, pois,
segundo o padre Isaas, vigrio da Par-
quia, aqui boa parte da vida das pessoas
acontece no Rio, no sentido de que a vida
acontece lentamente e, assim, as coisas
so saboreadas intensamente. Foi uma ex-
perincia repleta de outras experincias,
em que as mais simples mostraram o olhar
de Deus que reforou a nossa identidade
como cristos e como jesutas. Viajamos
muitas horas em lancha, brincamos com
os jovens na chuva, nadamos nos igara-
ps, comemos vrios tipos de peixes e de
frutas exticas e nos deixamos abraar pe-
los povos indgenas das etnias Ticunas e
Kokamas e pelos colaboradores da Igreja.
Somos gratos aos jesutas do SJPAM pela
oportunidade que tivemos de visitar esse
lugar, compartilharam.
A misso de Alex foi em Tonantins (AM)
Rafael conheceu comunidades indgenas
-
22 23Em Em
COMPANHIA DE JESUS GOVERNO
17 Estados
29 Cidades visitadas
192 Entrevistas realizadas
105 Dias de gravao
27.000kmMais de percorridos
O VDEO INSTITUCIONAL EM NMEROS
JESUTAS DO BRASIL LANAM VDEO INSTITUCIONAL
So imensas as distncias do Brasil. Ento, quer pelas imagens, quer pelas vozes, quer pelos rostos, possamos partilhar o tanto de bem, tanta
beleza, tanta riqueza que se realiza nesse
nosso Pas, atravs do carisma inaciano.
Assim explica Pe. Joo Renato Eidt, pro-
vincial do Brasil, seu pedido para o vdeo
institucional que a Provncia dos Jesu-
tas do Brasil BRA acaba de lanar.
O projeto, idealizado no segundo
semestre de 2016 e desenvolvido no l-timo ano, foi um verdadeiro desafio,
conta Pe. Anselmo Dias, coordenador
UM CORPO REUNIDO EM MISSOInspirado no Plano Apostlico da
Provncia dos Jesutas Brasil, o vdeo
institucional apresenta as quatro
preferncias apostlicas a Expe-
rincia transformadora da f, a Su-
perao do abismo da desigualdade
socioeconmica, as Juventudes e
a Amaznia pelo olhar de quem
experimenta e vive cada uma delas,
nos diversos cantos do Brasil.
da equipe de Comunicao da BRA e
da produo audiovisual. Desenvolver
um vdeo institucional apresentar a
misso e os valores da instituio, mas
tambm contar a histria de quem faz
essa instituio. O desafio se encon-
trou, especialmente, em eleger algumas
belas histrias, entre as milhares espa-
lhadas pelo Pas, que nos deem esse sa-
bor da misso da Companhia de Jesus,
no Brasil, hoje.
Por trs dessas histrias, est uma
pequena equipe de produo apenas
quatro pessoas , da gravao edio.
A proposta de conhecer o Brasil por
meio da Companhia de Jesus me pa-
recia uma oportunidade nica de de-
senvolvimento profissional e pessoal.
Ao fim, foi uma das experincias mais
marcantes de Deus em minha vida, co-
menta Luiza Barbuto, editora e produto-
ra executiva do vdeo.
Como um pedido especial, Pe. Joo
Renato pontua: Espalhem essa men-
sagem! Que tenhamos a conscincia de
que somos todos jesutas, leigos e lei-
gas esse corpo apostlico em profun-
da unio com a Igreja de Deus.
http://qrs.ly/ya6co81
-
22 23Em Em
COMPANHIA DE JESUS PROMOO DA JUSTIA SOCIOAMBIENTAL
PROGRAMA DE INCLUSO EDUCACIONAL E ACADMICA DA RJE
O Programa de Incluso Educa-cional e Acadmica (PIEA), da Rede Jesuta de Educao (RJE), nasceu da necessidade de realizar um
trabalho mais efetivo de incluso dos
estudantes bolsistas. Alm das bolsas
de estudos, a iniciativa proporciona aos
alunos um apoio complementar com o
fornecimento de uniforme, transporte,
material didtico e alimentao. O pa-
dre Jos Ivo Follmann, secretrio para
a Justia Socioambiental da Provncia
dos Jesutas do Brasil BRA, ressalta
que muitas vezes, essas aes podem
acontecer por meio de atendimentos
assistenciais e outros apoios para o
bom desempenho escolar.
Para fortalecer o trabalho em rede
e a atuao do programa de incluso,
foi realizado, entre os dias 29 de ja-neiro e 1 de fevereiro, a 1 Reunio Nacional da Rede Jesuta de Educa-
o PIEA, que aconteceu na Casa de
Retiro So Jos, em Mar Grande, Vera
Cruz (BA). O encontro reuniu jesutas,
assistentes sociais das unidades edu-
cativas da RJE e as coordenadoras de
assistncia social das mantenedoras -
Cristiana Pires, Leila Pizzato e Tatiane
SantAna. Essa reunio foi um belo
momento para fortalecer a rede, dan-
do mais visibilidade e conscincia da
integrao da Rede Jesuta de Educa-
o com a Rede de Promoo da Justi-
a Socioambiental da Provncia BRA,
avalia padre Jos Ivo.
Na Companhia de Jesus, o trabalho
em rede de fundamental importn-
cia. Segundo o padre Joo Renato Eidt,
provincial da Provncia BRA, o pedido
para a articulao e organizao delas
ficou ainda mais forte a partir da 36 CG (Congregao Geral). Neste senti-
do, o encontro do PIEA mais um pas-
so salutar que a Provncia BRA d para
realizar as suas atividades apostlicas
em redes. Esse trabalho possibilita a
partilha e o conhecimento das muitas
atividades e experincias realizadas
no Pas, ressalta ele.
Hidelblane Sousa, assistente social
da Escola Padre Arrupe, em Teresina
(PI), concorda com o provincial sobre
a importncia dessa troca de conheci-
mento. O encontro possibilitou mo-
mentos de aprendizagens e reflexes.
Na ocasio, tivemos a oportunidade de
socializar o processo de trabalho que
realizamos nas obras com as quais cola-
boramos, diz. Para Ivana Rocha, assis-
tente social do Colgio Santo Incio, no
Rio de Janeiro (RJ), o trabalho integrado
em rede representar um salto de quali-
dade na gesto das bolsas de estudo, na
incluso educacional e no compromis-
so na superao das desigualdades.
O padre Geraldo Kolling, adminis-
trador da BRA, diz que essa primeira
reunio tem grande relevncia, pois
contribui na construo de conheci-
mentos e relacionamentos, alm de am-
pliar horizontes. Esse tipo de encontro
fortalece a sinergia entre as pessoas, os
programas e as buscas conjuntas de re-
alizao da misso, acredita.
O irmo Raimundo Barros, presi-
dente da RJE, ressalta que o PIEA uma
forma concreta da Provncia BRA aten-
der uma das prioridades do seu Plano
Apostlico, o combate s desigualdades
sociais. Por meio da incluso educa-
cional, possvel disponibilizar meios
e recursos para melhorar os indicadores
sociais de crianas e jovens em situa-
o de vulnerabilidade social. Ao fazer
isso, o PIEA coloca todos os colgios da
RJE em sintonia com essa prioridade e
mostra que os recursos podem e devem
chegar a quem mais precisa. o com-
promisso social pautando as atividades
de todos os colgio da RJE de forma ob-
jetiva e clara, afirma.
A assistente social do Colgio Dioce-
sano, em Teresina (PI), Juliana Viana, j
visualiza os resultados da reunio. Esse
encontro nos trar grandes responsabili-
dades e muitos aprendizados para o nos-
so dia a dia. A conscincia desse trabalho
em rede permitir que nossos processos
tcnicos sejam nicos em todas as unida-
des educativas da RJE, diz.
O padre Jos Ivo acredita que a me-
lhor forma de proporcionar uma edu-
cao de excelncia oferecer a todos
os educandos (pagantes ou bolsistas) o
contato vivencial com aes e prticas
sociais e socioambientais. Nesse sen-
tido, o PIEA e o trabalho em rede con-
tribuir significativamente. O desen-
volvimento conjunto de referenciais
comuns e a construo coletiva da uni-
dade conceitual e operacional dentro
do Programa de Incluso Educacional
e Acadmica so fundamentais para o
bom xito da misso, conclui.
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-
24 25Em Em
COMPANHIA DE JESUS SERVIO DA F
EXAME DE CONSCINCIA TEMA DE ESTUDO O exame de conscincia, ou me-lhor, o exame de si mesmo como padre Adelson Arajo dos Santos prefere chamar um tempo de
orao, de dilogo com Deus. Para o je-
suta, o momento em que o Esprito do
Senhor nos ajuda a olhar para dentro. O
exame de conscincia me ajuda a olhar o
meu corao (conscincia), percebendo e
discernindo a ao de Deus na minha vida
e a minha resposta a essa ao, afirma.
O interesse pelo exame de conscin-
cia acompanha padre Adelson desde a
poca do Noviciado na Companhia de Je-
sus. Nesse momento de formao, a n-
fase que se dava ao tema era muito signi-
ficativa, o que despertou, em mim, uma
curiosidade intelectual para adentrar nas
razes desse exerccio, dentro da experi-
ncia vivida por Incio e pelos primeiros
jesutas, relembra. Anos depois dessa
inquietao, o jesuta decidiu aprofun-
dar-se no tema durante suas pesquisas
de mestrado e de doutorado, na rea de
Teologia Espiritual. O resultado de toda
essa dedicao rendeu o livro O exame
de si mesmo - O autoconhecimento luz
dos Exerccios Espirituais (Edio Loyola),
lanado no final de 2017. Na obra, padre Adelson conta que
buscou concentrar-se no que prprio do
exame de si mesmo, ou seja, na experin-
cia espiritual feita e comunicada pelo ser
humano, nesse caso, tendo como perso-
nagem central Santo Incio de Loyola e os
Exerccios Espirituais. Incio viu e prati-
cou o exame como um verdadeiro exerc-
cio espiritual ideal para ordenar a prpria
vida, purificando os afetos, discernindo a
vontade de Deus a seu respeito e unindo-
-se cada vez mais a Ele e a seu Filho Jesus,
impulsionado pelo Esprito, conta. Se-
gundo o jesuta, nesse processo, Santo
Incio tambm descobriu como esse tipo
de orao era mais adaptada vida missio-
nria e apostlica que ele e os primeiros
jesutas adotaram para si, sendo por isso
escolhido como um dos sustentculos da
vida espiritual da Companhia de Jesus.
Durante a pesquisa, padre Adelson
descobriu muitas histrias interessantes,
entre elas, que a espiritualidade crist no
foi a nica, nem a primeira, a perceber a
importncia deste olhar introspectivo que
leva ao autoconhecimento, favorecendo o
verdadeiro conhecimento de si mesmo,
partilha. Apesar dessa constatao, em
seus estudos, o jesuta percebeu que, no
Cristianismo, o exame de si mesmo no
apenas um instrumento de autoconheci-
mento, mas tambm de conhecimento de
Deus, revelado na vida cotidiana.
NOVA MISSO Desde o incio do ano, padre Adel-
son faz parte do corpo docente da Pon-
tifcia Universidade Gregoriana (PUG),
em Roma (Itlia). Nesse perodo, ele
tem se dedicado a conhecer melhor a
comunidade jesuta. Alm disso, co-
meou a fazer os primeiros contatos
com o instituto de Espiritualidade,
onde colaborar como professor a
partir de outubro deste ano, quando
inicia o novo ano acadmico europeu
2018-2019. Porm, antes disso, o jesuta passar seis meses preparando-se, in-
telectualmente, para a nova misso, com
um tempo de estudos ps-doutorais na
universidade de Oxford, no Reino Unido.
Padre Adelson conta que, histori-
camente, o Brasil sempre colaborou
com a Gregoriana, uma das mais im-
portantes obras apostlicas da Com-
panhia de Jesus, fundada, em 1551, pelo prprio Santo Incio de Loyola.
Hoje, a PUG rene estudantes de mais
de 100 pases e os brasileiros so o
terceiro maior em nmero de alunos,
atrs da Itlia e dos Estados Unidos.
No ltimo captulo do livro, padre
Adelson prope uma ressignificao
do exame de si mesmo para os dias atu-
ais. Embora eu me detenha na ques-
to da formao para a vida sacerdotal
e religiosa hoje, creio que os pontos
que desenvolvo no livro podem ajudar
qualquer pessoa a encontrar, na prti-
ca do exame, um caminho eficaz para
crescer em trs direes:
1 - No autoconhecimento, necessrio para se alcanar a liberdade interior e
a maturidade humana;
2 - Na capacidade de discernimento, que leva a um senso crtico objetivo
da realidade;
3 - Na maior unio com Deus e adeso misso de seu Filho, por meio de uma
espiritualidade apostlica comprometi-
da com o Reino, conclui.
Ele conta que, devido ao falecimento
ou aposentadoria de alguns profes-
sores brasileiros nos ltimos anos,
no houve nenhum jesuta brasilei-
ro no corpo docente da universidade.
Agora, eu espero poder colaborar da
melhor forma possvel com a misso
da Companhia nesta universidade,
sobretudo a partir da minha forma-
o na espiritualidade inaciana e
trazendo tambm a riqueza da nossa
raiz cultural e eclesial latino-ameri-
cana e brasileira, afirma.
-
24 25Em Em
LIVRO CONTA A HISTRIA DOS PRIMEIROS MRTIRES DO BRASIL
Em 1612, o padre jesuta Andr de Soveral estabeleceu-se nas terras do Rio Grande do Norte. No esta-do, ele passou a atuar no Vale de Cunha,
junto Capela de Nossa Senhora das
Candeias, atual municpio de Cangua-
retama, localizado a cerca de 80 km da capital Natal. Na regio, grande parte da
populao era simples, humilde e vivia
da terra, um povo muito fiel e temente a
Deus. No contexto local, padre Soveral
foi um verdadeiro lder religioso, dando
assistncia aos moradores do Engenho
Cunha e demais habitantes. Ali, ele vi-
veu cerca de 30 anos at o dia do seu mar-
trio, conta o padre Jos Freitas Campos,
do Clero da Arquidiocese de Natal e autor
do livro O sangue dos mrtires - A histria
dos primeiros mrtires do Brasil.
A obra, recm-lanada pela Edies
Loyola, conta de forma mais detalhada
o contexto histrico, teolgico e eclesial,
no qual aconteceu o martrio de dezenas
de pessoas, em 1645, durante as invases holandesas. Entre as vtimas do massa-
cre, estavam o padre Soveral e outros 70 fiis que acompanhavam a missa domi-
nical, em Cunha, e foram cruelmente
mortos por protestantes calvinistas e n-
dios potiguares, em junho daquele ano.
Em outubro, quatro meses aps o
primeiro massacre, outro ataque acon-
teceria, agora em Uruau, comunidade
no atual municpio de So Gonalo do
Amarante, a 18 km de Natal. Na ofensiva, mais de 80 pessoas foram mortas, entre elas o padre Ambrsio Francisco Ferro e
o campons Mateus Moreira, que teve o
corao arrancado pelas costas, enquan-
to repetia a frase Louvado seja o Sants-
simo Sacramento. Padre Ambrsio era
proco da Parquia de Nossa Senhora da
Apresentao, a nica existente na ca-
pitania. O religioso sempre se mostrou
aberto ao dilogo com os holandeses,
explica padre Campos.
Para o autor do livro, a intole-
rncia religiosa aliada ambio de
poder poltico e econmico foram
os principais fatores que motivaram
os massacres. O Engenho Cunha
era situado em um dos vales mais
frteis da capitania e com extensas
reas de criao de gado. Alm disso,
a produo de acar, carne e fari-
nha era exportada para regies como
Pernambuco e Paraba. Tudo isso foi
alvo da ambio e da cobia dos ho-
landeses, na nsia de dominar toda
a regio e controlar sua economia,
afirma padre Campos, atualmente,
proco da Parquia de So Sebas-
tio em Natal, assessor da Comisso
Bblico-catequtica da Arquidiocese
e diretor Espiritual do postulantado
dos Frades Capuchinhos.
Ao saber que 30 daqueles mrti-res seriam canonizados pelo Papa
Francisco em 2017, padre Campos sentiu-se impelido a contar essa his-
tria. Eu vi que essa histria precisava
ser relembrada. Ento, pensei em co-
locar numa linguagem popular, para o
entendimento do povo de Deus, o texto
da Positio super Martyrio do Monsenhor
Assis, que fundamenta essa causa de
santidade, conta padre Campos, que
explica que o nmero de mrtires foi
menor do que o de vtimas, pois nem
todas as pessoas foram identificadas.
A Congregao para as Causas dos San-
tos exige no somente o nmero, mas
tambm a identificao de cada um, ou
pelo nome ou por uma referncia indi-
reta, como filiao, parentesco ou ou-
tro dado. O Monsenhor Assis chegou a
identificar apenas 30, porm os demais tambm so mrtires, pois a motivao
foi a mesma. O Papa Joo Paulo II teve
o cuidado de se referir a essa massa de
annimos como verdadeiros mrti-
res, ressalta.
No dia 15 de outubro do ano pas-sado, o Papa Francisco canonizou os
protomrtires brasileiros, que so
conhecidos assim porque so os pri-
meiros mrtires do Pas. Na obra, eu
apresento a figura dos mrtires e tam-
bm conto a contribuio da presena
da Companhia de Jesus e dos demais
protagonistas da misso primeira em
terras de alm-mar, conclui. O livro
de padre Campos nos conta um pouco
mais sobre a vida dessas pessoas e, com
ela, poderemos fortalecer a nossa f e
pedir a Santo Andr, Santo Ambrsio,
So Mateus e companheiros mrtires
que roquem a Deus por ns!
LEIA MAISOs exemplares dos livros citados na
editoria Servio da F podem ser ad-
quiridos no site da Edies Loyola
www.loyola.com.br.
-
26 27Em Em
A COMPANHIA DE JESUS NO MUNDO DILOGO CULTURAL E RELIGIOSO
COLGIOS JESUTAS NO BRASIL COLNIA INSPIRAM LIVROUma significativa parte do pro-cesso de ocupao do territ-rio brasileiro deve-se ao dos jesutas, que se prolongou de ma-
neira ininterrupta durante mais de dois
sculos (1549-1759). Durante esse pero-do, a Companhia de Jesus construiu co-
lgios, seminrios, fazendas, engenhos,
quintas e aldeamentos, conjugados a
igrejas e capelas, em pontos estratgi-
cos ao longo do litoral do Brasil. Foram
trs dessas construes que serviram de
inspirao e estudo para a historiadora
Anna Maria Fausto Monteiro de Car-
valho lanar o livro Brasil Colonial Os
reais colgios da Bahia, Rio de Janeiro e
Pernambuco (Versal Editores).
Na obra, vencedora do Prmio Ode-
brecht de Pesquisa Histrica Clarival
do Prado Valladares, Anna Maria enfoca
a atuao missionria da Companhia
de Jesus e destaca o papel de trs pro-
jetos que, por suas dimenses monu-
mentais, vinculam-se, com os proces-
sos de urbanizao das cidades onde
se situam. Segundo a autora, no Brasil
Colonial, o monumento Colgio/Igreja
foi a expresso mais relevante da idea-
lizao dos jesutas no Pas e participou
de forma significativa das mudanas
vividas pela sociedade naquele pero-
do. Como centro de ensino laico e de
formao religiosa, o destino dos co-
lgios esteve, necessariamente, vincu-
lado ao processo de ordenao urbana
do domnio portugus no Brasil, como
parceiros da fundao ou do desenvol-
vimento de vilas e cidades porturias
que, na verdade, eram os nicos centros
consumidores acessveis aos colonos
nos primrdios da ocupao, explica a
historiadora, que professora e pesqui-
sadora convidada do Departamento de
Histria da PUC-Rio (Pontifcia Univer-
sidade Catlica do Rio de Janeiro).
A obra apresenta esse processo jesuta
de ocupao, no qual os colgios funcio-
naram como espaos de centralidade e
desenvolvimento urbano, levando con-
solidao de certas vilas, fundao de
outras e de cidades nas terras brasileiras.
Nesse contexto, os colgios de Salvador
(BA), Rio de Janeiro (RJ) e Olinda (PE) esta-
vam localizados em pontos poltica e eco-
nomicamente estratgicos do territrio
brasileiro na poca. Esses locais constitu-
ram-se como os trs centros jurdico-ad-
ministrativos responsveis por todos os
demais empreendimentos da Companhia
de Jesus na colnia. Por isso receberam
dotao da Coroa Portuguesa e eram cha-
mados de Colgios Reais, afirma.
Na pesquisa, alm de estudos tc-
nicos, Anna Maria analisou os col-
gios do ponto de vista arquitetnico
e artstico, por meio de metodologias
especficas da Histria da Arte e da
Histria Social da Cultura. No livro,
a autora mostra que os colgios tam-
bm funcionaram como ncleos de
expanso do apostolado dos jesutas
para o interior do territrio colonial,
na forma de misses, que desenvol-
viam maneiras de proteo ao indge-
na, o que implicou um movimento de
oposio do Estado portugus.
Anna Maria conta que o desejo pelo
tema nasceu quando ainda era estudante
e que, posteriormente, ficou mais forte
quando se tornou professora do curso de
Especializao em Histria da Arte e da Ar-
quitetura no Brasil, na PUC-Rio. O tempo
passou e a historiadora decidiu aprofun-
dar a pesquisa sobre o tema durante sua
tese de doutorado. Foi com grande alegria
que, em 2014, vi esse percurso consubstan-ciado no livro e contemplado com o pr-
mio, expressa.
Ao longo desse processo, ela conta que
apresentou diversos trabalhos parciais so-
bre o assunto em colquios, seminrios e
congressos de Histria da Arte e Arquite-
tura, no Brasil e em Portugal. E afirma: no
dilogo com professores jesutas da PUC-
-Rio, adquiri conhecimentos enriquece-
dores sobre o modo nostro, notadamen-
te no que diz respeito importncia dos
Exerccios Espirituais para o desenvolvi-
mento das potencialidades artsticas. O
legado da atuao dos jesutas permanece
sensvel na cultura brasileira e o livro de
Anna Maria apresenta, de forma enrique-
cedora, os detalhes dessa histria.
Em breve, o livro estar disponvel
no site da Versal Editores:
versaleditores.com.br
LANAMENTO
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26 27Em Em
COMPANHIA DE JESUS EDUCAO
MESTRADO EM GESTO EDUCACIONAL
Em janeiro, a primeira turma do Mestrado em Gesto Educacio-nal oferecido pela RJE (Rede Je-suta de Educao) concluiu o ciclo de
disciplinas do curso. A iniciativa faz
parte do Programa de Formao Con-
tnua da RJE que, em parceria com a
Unisinos (Universidade do Vale do Rio
dos Sinos), contempla dois projetos: a
Especializao lato sensu em Educao
Jesutica, hoje com mais de 150 estu-dantes, profissionais de todas as uni-
dades educativas da RJE, e o Mestrado
em Gesto Educacional. Para Sandra
Vaiteka, professora do Colgio So Lus
e aluna do curso, as aulas do mestrado
foram um momento importante de tro-
ca de conhecimentos e experincias, de
crescimento profissional e pessoal e de
estreitamento dos laos entre educado-
res da Rede Jesuta de Educao.
Ao todo, os profissionais da RJE cur-
saram 13 disciplinas, que abordaram te-mas que vo desde histria, polticas e
legislao educacional at tecnologias
digitais aplicadas educao, totalizan-
do trs semestres letivos. Os estudan-
tes assistiram a aulas tericas, presen-
ciais no campus So Leopoldo (RS) da
Unisinos , e no presenciais, alm de
atividades prticas e visitas de campo
a outras instituies. Os mestrandos
passaram ainda pelo teste de proficin-
cia em lngua estrangeira e pelo exame
de qualificao de seus projetos, tendo
sido todos aprovados.
A primeira edio do Mestrado em
Gesto Educacional, com 20 vagas, sele-cionou candidatos entre profissionais de
todas as unidades da RJE. Segundo padre
Mrio Sndermann, que na poca da se-
leo dos alunos era delegado para a Edu-
cao bsica da RJE, o comprometimento
com a proposta educativa da Companhia
de Jesus, com foco na gesto escolar, e
o desejo de aprofundar conhecimentos
sobre a educao jesutica foram alguns
dos critrios utilizados na seleo dos
estudantes da primeira turma do curso.
O jesuta enfoca tambm a diversidade de
profissionais que participaram da inicia-
tiva. Alm da riqueza de ser um projeto
que rene e une educadores de diversas
unidades da RJE em torno de problema-
tizaes educativas relevantes e atuais,
o modelo configurou-se tambm uma
oportunidade de olhar, transversalmen-
te, a complexidade educativa de nossas
escolas, uma vez que, nesta primeira
edio, tivemos diretores gerais e acad-
micos, profissionais da Assistncia So-
cial, da Comunicao, coordenadores e
orientadores pedaggicos, responsveis
pela Formao Crist e professores. Uma
diversidade muito rica e que qualifica o
projeto, afirma padre Mrio.
Para a jornalista Dayse Lacerda, geren-
te de Comunicao do Colgio Loyola e
aluna do mestrado, o curso proporcionou
maior contato com as teorias da Educa-
o e da Gesto, o que tem ajudado a am-
pliar sua viso sobre a escola como lugar
privilegiado de transformao social. O
mestrado tambm vem me possibilitando
consolidar percepes provenientes da
experincia sobre a comunicao interna
como estratgica, capaz de levar as uni-
dades da RJE a alcanarem seus objetivos
educacionais e a realizar sua misso apos-
tlica, acredita. Dayse pretende aplicar os
conhecimento obtidos em sala de aula no
Colgio. Os prximos passos agora so a
aplicao da pesquisa no Loyola e a con-
cluso da dissertao. A mdio e longo
prazo, os desafios sero aplicar as propos-
tas de melhoria da comunicao interna
da escola e disseminar o conhecimento
adquirido entre os pares da rea de co-
municao da RJE e no meio acadmico,
tendo em vista que se trata de um campo
novo de estudo, afirma.
Padre Mrio conta que o curso re-
sultado do movimento sonhado e viven-
ciado pela RJE e pelas determinaes do
PEC (Projeto Educativo Comum). Segun-
do ele, o investimento na capacitao
dos colaboradores oferece uma formao
contnua e de qualidade em parceria com
as universidades presentes no Brasil. In-
vestir na formao qualificada de nossos
colaboradores o melhor caminho para
responder aos desafios educacionais da
atualidade. Tenho certeza de que o pro-
jeto seguir dando muitos frutos para
o apostolado educativo da Provncia do
Brasil, afirma. O jesuta ressalta ainda
que projetos como esse respondem com
qualidade ao complexo contexto educa-
cional no qual as escolas, colgios e uni-
versidades jesutas esto imersos, alm
de fortalecer o to necessrio trabalho em
rede. Ele conclui que a parceria estabele-
cida com a Unisinos mostra que poss-
vel materializar projetos e processos em
nvel de Provncia do Brasil, aproximando
educao bsica, universitria e tambm
popular. Certamente, muitos outros pro-
jetos nascero a partir desta exitosa expe-
rincia, finaliza.
Foto
: Col
gio
Loy
ola
(MG
)
-
28 29Em Em
COMPANHIA DE JESUS JUVENTUDE E VOCAES
PROGRAMA MAGIS BRASIL PROMOVE EXPERINCIAS PELO PASEntre os meses de dezembro de 2017 e janeiro de 2018, o Programa MAGIS Brasil promoveu mais uma edio das Experincias MAGIS, srie de
atividades realizadas em diversas regies
do Brasil e, em parceria com a Provncia
dos Jesutas do Paraguai, na cidade de As-
suno, capital do pas.
Organizadas por Centros, Casas
e Espaos espalhados pelo Brasil, as
atividades das Experincias MAGIS
so um chamado para ir ao encontro
do prximo e, consequentemente,
encarnar-se nas diferentes culturas
e realidades brasileiras e latino-ame-
ricanas, tendo como referncia a es-
piritualidade inaciana. Durante dois
meses, os jovens, entre 18 e 32 anos, vivenciaram experincias de despo-
jamento, simplicidade, gratuidade e
acolhida ao novo, por meio do volun-
tariado, da peregrinao, entre outras
experincias. A Convivncia Cardo-
ner foi uma delas.
Voltada para jovens rapazes inquie-
tos vocacionalmente, a Convivncia
Cardoner ofereceu aos participantes
momentos de formao sobre o caris-
ma da Companhia de Jesus, partilha de
vida, orao luz da espiritualidade
inaciana , trabalho voluntrio nas re-
gies perifricas da cidade de Braslia
(DF) e romaria. A atividade, que acon-
teceu entre os dias 19 e 28 de janeiro, reuniu cerca de 30 jovens de diversas regies do Brasil e contou com a coor-
denao do Centro MAGIS Burnier.
Outra atividade que integrou as Ex-
perincias MAGIS foi o II Simpsio Na-
cional Aproximaes com o mundo ju-
venil, promovido pela Rede Brasileira de
Institutos de Juventude, Centro MAGIS
Anchientanum e pela FAJE (Faculdade
Jesuta de Filosofia e Teologia). O evento
reuniu cerca de 300 pessoas, entre os dias 24 a 26 de janeiro, no campus da faculdade jesuta, em Belo Horizonte (MG).
Em 2018, o evento teve como tema Juventudes e Aes Coletivas Contempo-
rneas e, por meio da interlocuo en-
tre pesquisadores, profissionais, mo-
vimentos juvenis e jovens, contribuiu
para a compreenso das diferentes for-
mas de ao das juventudes no espao
pblico e seu impacto na sociedade.
A mesa de abertura do II Simp-
sio Nacional foi formada pelo padre
Geraldo Luiz De Mori, da FAJE; padre
Joo Renato Eidt, provincial da Pro-
vncia dos Jesutas do Brasil; Giovan-
na Costa, da Rede Brasileira de Cen-
tros e Institutos de Juventude; Juliana
Batista dos Reis, do Observatrio da
Juventude da UFMG (Universidade
Federal de Minas Gerais); e pelo padre
Jonas Caprini, coordenador do Progra-
ma MAGIS Brasil.
FIQUE POR DENTRO!Veja textos, vdeos e fotos do Sim-
psio na fanpage:
www.facebook.com/posjuventude
A programao do Simpsio con-
tou com conferncias, mesas de di-
logo, exposies, plenria de per-
guntas abertas aos conferencistas e
apresentao das comunicaes orais
de grupos de trabalho sobre temas
pautados no mundo juvenil.
-
28 29Em Em
NA PAZ DO SENHORIR. IZIDORO LOURENO FREIBERGERPor Pe. Carlos Henrique Mller
O Irmo Izidoro, como era conhe-cido, nasceu em Arroio Jaguar, So Sebastio do Ca, no Rio Grande do Sul, no dia 5 de setembro de 1938, filho de Fernando Freiberger e de Mathilde Elma Rockenbach.
Com 19 anos de idade, em 13 de agosto de 1957, ingressou na Compa-nhia de Jesus, em Pareci Novo (RS). Na
cidade, fez os votos, como irmo jesu-
ta, no dia 15 de agosto de 1959, na Capela do Sagrado Corao de Jesus, do Institu-
to So Jos, sendo mestre de Novios o
padre Francisco Fonseca.
No ano de 1971, sob a instruo do padre Lino Carrera, Ir. Izidoro fez a ter-
ceira provao, na cidade de Belo Hori-
zonte (MG) e emitiu os ltimos votos
no Colgio Santo Incio, em Salvador
do Sul (RS), no dia 22 de abril de 1972. Em agosto e setembro de 1979, partici-pou do curso do Centro de Renovao
Espiritual - CERNE, da Conferncia dos
Religiosos do Brasil CRB, no Rio de
Janeiro (RJ). No perodo de maro a ju-
nho de 2002, participou do 16 Curso de Formao Permanente para Jesutas na
Amrica Latina CURFOPAL, em So
Leopoldo (RS).
Irmo Izidoro trabalhou muitos
anos em Salvador do Sul, de 1964 a 1982, no Colgio Santo Incio, na ofi-cina tcnico mecnica. Atendia a mui-
tos pedidos de reparao mecnica de
PADRE PETER-HANS KOLVENBACH, EM SUA CARTA PELO JUBILEU DE OURO DE VIDA RELIGIOSA NA COMPANHIA DE JESUS, LEMBROU E ACENTUOU A FIDELIDADE CONSAGRAO DEMONSTRADA AO LONGO DE SUA VIDA COMO IRMO JESUTA [...]
pessoas da cidade gacha. No munic-
pio, havia oficina de automveis, mas,
quando eram necessrios servios de
solda e de ferraria mais pesada, recor-
riam oficina do Colgio, coorden