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IX ENGEMA - ENCONTRO NACIONAL SOBRE GESTÃO EMPRESARIAL E MEIO AMBIENTE

CURITIBA, 19 a 21 de novembro de 2007

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GESTÃO AMBIENTAL E PRODUÇÃO MAIS LIMPA O CASO DE UMA INDÚSTRIA DE ALIMENTOS CEARENSE Resumo Este trabalho analisa o processo de gestão ambiental em uma indústria alimentícia verificando sua abrangência, procedimentos de transformação industrial e o uso de práticas ambientais relacionadas à Produção Mais Limpa. Analisa ainda a postura ambiental da indústria e ações hostis e/ou amigáveis ao meio ambiente. O estudo justifica-se pela preocupação em estabelecer parâmetros compatíveis com as diretrizes do desenvolvimento sustentável. A pesquisa é um estudo de caso descritivo, qualitativo, aplicado mediante entrevista pessoal e observação com o auxílio de roteiro estruturado aos gestores da produção de 3 plantas de uma grande indústria de alimentos cearense, que atua na extração da castanha de caju. O marco teórico utiliza os conceitos de posicionamento ambiental de (North (1992); Produção Mais Limpa (CTNL – Centro Nacional de Tecnologias Limpas do SENAI/RS) e sistema “fim-de-tubo” (Christie et al apud Lemos, 1998). Os resultados revelaram a existência de processo poluente, ocorrência de insalubridade de altas temperaturas e aspectos agressivos ao meio ambiente quanto à transformação e beneficiamento da castanha-de-caju. Observou-se posicionamento amigável ao meio ambiente quanto à poluição da atmosfera e redes públicas, pelo descarte responsável de resíduos perigosos. A abrangência da gestão ambiental foi pontualmente identificada no inicio do processo até a disposição de resíduos em armazéns porém não se verificou o uso sistemático e estruturado de um sistema de gestão ambiental. As práticas de fim de tubo evidenciaram alto desperdício de água e energia no processo produtivo e ausência de controle estruturado. Devido à especificidade do produto não existe reciclagem da matéria prima, contudo observou-se o reuso de resíduos em fornos e caldeiras com reciclagem externa do excedente. As práticas de produção mais limpa foram observadas nos níveis da minimização de resíduos e emissões pela reciclagem externa e redução na fonte; e na reutilização de resíduos captados ao longo do processo, por lavadores de gases e estações de tratamento de efluentes líquidos, não sendo identificados ciclos biogênicos. Palavras-chave: Gestão Ambiental; Produção mais Limpa; Preservação ambiental na Indústria Introdução A discussão sobre temas relacionados ao meio ambiente e sua articulação com a gestão de organizações tem deixado de ser tratada como questão emergente para se tornar pauta prioritária dos dirigentes de segmentos estruturais da economia, setores políticos, governamentais e, mais que isso, passou a ser objeto de accountability junto à sociedade organizada, elemento de governança fator crítico do desenvolvimento sustentável. Nesse contexto, o presente trabalho analisa o processo de gestão ambiental em uma grande indústria alimentícia localizada no estado do Ceará, verificando a abrangência do processo, os procedimentos de transformação industrial e o uso de práticas ambientais relacionadas à Produção Mais Limpa. Analisa ainda a postura ambiental da indústria e ações hostis e/ou amigáveis ao meio ambiente. O estudo justifica-se pela preocupação em estabelecer parâmetros compatíveis com as diretrizes do desenvolvimento sustentável. A pesquisa é um estudo de caso descritivo, qualitativo, aplicado mediante entrevista pessoal e observação com o auxílio de roteiro estruturado aos gestores da produção de 3 plantas de uma grande indústria de alimentos cearense, que atua na extração da castanha de caju. O marco teórico utiliza os conceitos de posicionamento ambiental de (North (1992); Produção Mais

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Limpa (CTNL – Centro Nacional de Tecnologias Limpas do SENAI/RS) sistema “fim-de-tubo” (Christie et al apud Lemos, 1998). O paper está estruturado em quatro seções, iniciando pela revisão da literatura sobre o tema, seguindo-se dos procedimentos metodológicos. A seguir apresentam-se os resultados e conclusão. Gestão Ambiental e posicionamento ambiental A Gestão Ambiental representa um conjunto de medidas e procedimentos bem definidos e adequadamente aplicados com o fim de reduzir e controlar os impactos introduzidos por um empreendimento sobre o meio ambiente (GIORDANO ET ALII, 2000). A gestão ambiental empresarial está essencialmente voltada para organizações e pode ser definida como um conjunto de políticas, programas e práticas administrativas e operacionais que levam em conta a saúde e segurança das pessoas; a proteção do meio ambiente pela eliminação/minimização de impactos e danos ambientais decorrentes do planejamento, implantação, operação, ampliação, realocação e desativação de empreendimentos ou atividades, em todas as fases do ciclo de vida de um produto. (DONAIRE, 1999). A abrangência da gestão ambiental contempla uma visão sistêmica e se dá desde a concepção do projeto até a eliminação efetiva dos resíduos gerados pelo empreendimento durante toda a sua vida útil. Dessa forma visa a garantir a melhoria contínua das condições de segurança, higiene e saúde ocupacional de empregados e estabelecer um relacionamento sadio com os segmentos da sociedade que inter-relacionam com esse empreendimento e com a empresa (GIORDANO ET ALII, 2000). O objetivo maior da gestão ambiental deve ser a busca permanente de melhoria da qualidade ambiental dos serviços, produtos e ambiente de trabalho de qualquer organização pública ou privada. Essa busca é, portanto um processo de aprimoramento constante do sistema de gestão ambiental global de acordo com a política ambiental estabelecida pela organização (REIS, 2002). A gestão ambiental pode assumir importância estratégica, no contexto empresarial, a depender do grau de sensibilidade demonstrado pela alta administração para com o meio ambiente, daí decorrendo o potencial para que uma gestão ambiental efetiva possa ser implantada. De acordo com North (1992 apud DONAIRE, 1999) pode-se avaliar a partir de aspectos inerentes à gestão de recursos, produtos e processos, caracterizando posicionamento agressivo ou amigável ao meio ambiente. O autor explica que para uma correta avaliação ambiental da empresa devem ser considerar as seguintes variáveis: a) O Ramo de Atividade como a mais importante ameaça que pode ser causada pela empresa ao meio ambiente, bem como os custos necessários para a regularização de acordo com normatização ambiental, não sendo, contudo, suficiente conhecer apenas o ramo de atividade, devido à variação nos níveis de tecnologias.

b) O Produto em especial oriundo de matérias primas renováveis ou recicláveis, que não agridem o meio ambiente tem a preferência de empresas que respeitam a causa do meio ambiente.

c) Os Processos de trabalho, considerando também todas as entradas e saídas, os padrões ambientais estabelecidos são relevantes para avaliar se a empresa está longe ou perto dos objetivos capazes de enquadrá-la ambientalmente como amigável ou hostil.

d) A Consciência Ambiental dos stakeholder, pois a falta de consumidores conscientizados ambientalmente pode ocasionar falsa impressão no mercado de bens e serviços, de que não existem ameaças pela crescente alteração de produtos amigáveis; e assim, devem-se acompanhar as reivindicações ambientais.

e) Os Padrões Ambientais representam indicadores relevantes. Quanto maior a conscientização social mais restrita será a legislação ambiental. Nos países onde o uso

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de padrões é crescente, maiores as oportunidade de novos negócios relacionados à questão ambiental.

f) O Comprometimento Gerencial sinaliza uma das mudanças no nível interno da organização com relação a questão ambiental e representa a conscientização do nível gerencial. Este comprometimento dissemina um clima propício na qualidade ambiental.

g) O Nível de Capacidade do Pessoal requer investimentos em tecnologia e equipamentos além de treinamento e qualificação para todos os envolvidos para poder transformar projetos em ações eficazes, o que pode gerar compromisso com a questão ambiental

Tais aspectos foram estruturados por North (1992, apud Donaire 1999) de modo a permitir a avaliação do posicionamento ambiental de organizações conforme quadro 1.

Empresas agressivas (Alta poluição) Questão ambiental como ameaça

1 2 3 4 5 Empresas amigáveis (Baixa poluição) Questão ambiental como oportunidade

1. Ramo de atividade 2. Produtos � Matérias-Primas Não renováveis � Não há reciclagem � Não há aproveitamento de resíduos

poluidores � Alto consumo de energia

� Matérias-primas renováveis � Reciclagem � Reaproveitamento de resíduos não

poluidores � Baixo consumo de energia

3. Processo � Poluente � Resíduos perigosos � Alto consumo de energia � Uso ineficiente dos recursos � Insalubre aos trabalhadores

� Não poluentes � Poucos resíduos � Baixo consumo de energia � Uso eficiente dos recursos � Não afeta trabalhadores

4. Consciência Ambiental � Consumidores não conscientes

� Consumidores conscientes

5. Padrões ambientais � Baixos padrões � Desobediência às restrições

� Altos padrões � Obediência às restrições

6. Comprometimento Gerencial � Não comprometido

� Comprometimento

7. Nível de capacidade do pessoal � Baixo � Acostumado a velhas tecnologias

� Alto � Voltado para novas tecnologias

8. Capacidade de P & D � Baixa criatividade � Longos ciclos de desenvolvimento

� Alta criatividade � Curtos ciclos de desenvolvimento

9. Capital � Ausência de capital � Pouca possibilidade de empréstimos

� Existência de capital � Alta possibilidade de empréstimos

Quadro 1: Avaliação do posicionamento ambiental. Fonte: North (1992, apud Donaire 1999). Environmental business management A Produção Mais Limpa A Produção mais Limpa significa a aplicação contínua de uma estratégia econômica, ambiental e tecnológica integrada aos processos e produtos, a fim de aumentar a eficiência no uso de matérias-primas, água e energia, através da não-geração, minimização ou reciclagem de resíduos gerados em um processo produtivo. Esta visão é oriunda do Centro Nacional de Tecnologias Limpas – CTNL – do SENAI/RS, que relata que a prática conduz ao

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desenvolvimento econômico sustentado e propicia competitividade às organizações. Além disso, o CTNL SENAI/RS aponta que as tecnologias ambientais convencionais trabalham principalmente no tratamento de resíduos e emissões gerados em um processo produtivo. São as chamadas técnicas de fim-de-tubo. Já a Produção mais Limpa busca a integração dos objetivos ambientais aos processos de produção para reduzir os resíduos e as emissões em termos de quantidade e periculosidade (http://www.rs.senai.br/cntl/cntl.htm). A prioridade da Produção mais Limpa está no primeiro nível do fluxograma e visa a evitar a geração de resíduos e emissões. No caso da ocorrência de resíduos que não podem ser evitados passa-se ao nível 2 e dessa forma, tais resíduos devem, preferencialmente, ser reintegrados ao processo de produção da empresa. A CTNL aponta ainda que na sua impossibilidade, devem ser adotadas ações em terceiro nível, que contemplam a utilização de medidas de reciclagem fora da empresa, bem como aos ciclos biogênicos que promovem transformações no sistema buscando retornar ao estado inicial. Nesse sentido a entidade registra a aplicabilidade de várias estratégias visando à Produção mais Limpa e a minimização de resíduos, o que pode ser visualizado na figura 1 a seguir.

Figura 1: estratégias visando a Produção mais Limpa e a minimização de resíduos. Fonte: CTNL – Centro Nacional de Tecnologias Limpas do SENAI/RS (http://www.rs.senai.br/cntl/cntl.htm).

O Greenpeace reeport (1997 declara que os governos tradicionalmente abordam o gerenciamento ambiental pelo estabelecimento de padrões de cargas de poluição admissíveis para água, ar e terra. A indústria reage instalando equipamentos — como filtros — só nos dispositivos de final de processo para manter esses padrões de emissão. A contínua degradação do ambiente é prova de que essa abordagem tem falhas graves. Em primeiro lugar, ela supõe que o ambiente pode tolerar certa quantidade de poluição. Além disso, como água, ar e terra em geral são regulamentados por autoridades diferentes, essa fragmentação resulta na troca de substâncias tóxicas entre ar, água e solo. Contudo, a estratégia mais bem-sucedida para eliminar substâncias tóxicas de processos de produção foi a introdução de proibições e reduções progressivas em âmbito nacional e regional. Um exemplo dessa prática diz respeito ao uso de materiais mais limpos ao tempo em que ocorreram proibições ao uso de pesticidas e embalagens de PVC, bem como por estratégias governamentais de âmbito nacional para eliminação gradativa defendida por alguns governos locais da Europa. http://www.greenpeace.org.br/toxicos/pdf/producao_limpa.doc

Outras normas físicas que os governos podem impor para a eliminação gradativa da produção e do uso de substâncias químicas perigosas podem ser Leis de planejamento

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obrigatório para a redução do uso de substâncias tóxicas, bem como a definição de prazos limites do uso de poluentes cujas permissões estabeleçam reduções progressivas até zero nas emissões de substâncias perigosas. Para impedir que tecnologias e produtos em fase de eliminação gradativa em um país sejam transferidos para outro, há necessidade de acordos internacionais em algumas áreas, tais como:

a) Responsabilidade pelo ciclo de vida útil, conjunta, particular ou estrita, por danos ambientais, tanto para investidores como banqueiros, independente do país de origem;

b) Proibição da transferência de tecnologias e produtos perigosos; c) Adoção de padrões comuns para avaliação e auditoria de impactos ambientais.

O Greenpeace reeport (1997) estabelece uma analogia entre atitudes relacionadas ao aspecto tradicional, que enfoca o controle da poluição e o desenvolvimento de práticas de produção mais limpa (quadro 2). O enfoque do controle de poluição O enfoque da produção mais limpa

Poluentes são controlados por filtros e métodos de tratamento do lixo

Poluentes são evitados na origem, através de medidas integradas

O controle de poluição é avaliado depois do desenvolvimento de processos e produtos e quando os problemas aparecem

A prevenção da poluição é parte integrante do desenvolvimento de produtos e processos

Controles de poluição e avanços ambientais são sempre considerados fatores de custo pelas empresas

Poluição e rejeitos são considerados recursos potenciais e podem ser transformados em produtos úteis e sub-produtos desde que não tóxicos

Desafios para avanços ambientais devem ser administrados por peritos ambientais tais como especialistas em rejeitos

Desafios para avanços ambientais deveriam ser de responsabilidade geral na empresa, inclusive de trabalhadores, designers e engenheiros de produto e de processo

Avanços ambientais serão obtidos com técnicas e tecnologia

Avanços ambientais incluem abordagens técnicas e não técnicas

Medidas de avanços ambientais deveriam obedecer aos padrões definidos pelas autoridades

Medidas de desenvolvimento ambiental deveriam ser um processo de trabalho contínuo visando a padrões elevados

Qualidade é definida como ‘atender as necessidades dos usuários’

Qualidade total significa a produção de bens que atendam às necessidades dos usuários e que tenham impactos mínimos sobre a saúde e o ambiente

Quadro 2: Atitudes De Controle Da Poluição e Produção Mais Limpa Fonte: adaptado do Husingh Environmental Consultants Inc. 1994 De acordo com o Greenpeace reeport (1997) a abordagem da Produção Limpa envolve as seguintes etapas (quadro 3): Etapas especificação

1. Identificação da substância perigosa a ser gradualmente eliminada com base no Princípio Precautório. 2. Execução de análises química e de fluxo de material. 3. Estabelecimento e implementação de um cronograma para a eliminação gradual da substância nociva

do processo de produção, bem como de correspondente tecnologia de gerenciamento de resíduos. 4. Implementação de processos de produção limpa para produtos existentes e pesquisa de novos. 5. Treinamento e fornecimento de apoio técnico e financeiro. 6. Ativa divulgação de informações para o público e garantia de sua participação na tomada de decisões. 7. Viabilização da eliminação gradativa da substância poluente através de incentivos normativos e

financeiros. 8. Viabilização da transição para a Produção Limpa com planejamento social, envolvendo trabalhadores

e comunidades afetados. Quadro 3: etapas da produção limpa. Fonte: Greenpeace reeport (1997).

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O instituto Brasileiro de Produção Sustentável e Direito Ambiental – IBPS (http://www.ibps.com.br/index.asp? idmenu=producaomaislimpa) assinala que a Produção mais Limpa é uma Ação Preventiva que busca evitar a geração dos resíduos pelo aproveitamento máximo das matérias-primas utilizadas no processo produtivo. Já técnicas de fim- de- tubo são ações que apenas ajudam a diminuir o impacto ambiental de determinados resíduos e não solucionam o problema, principalmente nos casos de efluentes líquidos e emissões gasosas sendo válidas para tratar resíduos que não puderam ser evitados no processo, sendo considerada uma opção paliativa enquanto a Produção mais Limpa é uma proposta de solução. Desse modo, a introdução de técnicas de Produção mais Limpa em um processo produtivo, pode utilizar várias estratégias, considerando as metas ambientais, econômicas e tecnológicas da organização, que definirá suas diretrizes, políticas e prioridades. A PML baseia-se em novas tecnologias especializadas e abordagens de desenho, projeto e gestão da produção; assim como, em novas maneiras de pensar e agir dos gestores em relação à questão ambiental (Christie et al. 1995 apud Lemos, 1998). Os autores acrescentam que a implementação da P+L também pode determinar uma nova trajetória tecnológica na empresa. São necessárias novas tecnologias gerenciais, que possibilitem um novo relacionamento com a natureza. Uma trajetória tecnológica é o “caminho da inovação no qual uma empresa, cadeia de valor e setor são estabelecidos através de escolhas feitas pelos empresários, consumidores e legisladores. Nesse sentido, a escolha de implementação também pode estar relacionada à conformidade com as regulamentações ambientais e à responsabilidade social e ética da empresa Christie et al. (1995 apud Lemos (1998).. A mudança “do paradigma “fim-de-tubo” ou “end-of-pipe” para o paradigma de P+L, mas isso envolve o repensar dos sistemas, conforme podemos visualizar na figura2.

Figura 2: Sistema “ fim-de-tubo” e Sistema de PML. Fonte: Christie et al. Apud Lemos (1998) Metodologia

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A pesquisa caracteriza-se no tocante à abrangência como estudo de caso aplicado em uma empresa da indústria de alimentos do Ceará, mais especificamente da castanha de caju. É descritiva quanto ao objetivo e grau do problema e qualitativa quanto à natureza das variáveis. Um estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não são claramente definidos (YIN, 2001: 32). No tocante à Abrangência a pesquisa é um estudo de caso aplicado em uma empresa da indústria de alimentos do Ceará, mais especificamente da castanha de caju. A pesquisa descritiva é aquela que observa, analisa e correlaciona fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los, buscando conhecer as diversas situações e relações que ocorrem na vida social, política, econômica e demais aspectos do comportamento humano, tanto do indivíduo tomado isoladamente como de grupos e comunidades mais complexas (CERVO E BERVIAN, 2002). Malhotra (2001:155), afirma que a pesquisa qualitativa proporciona uma melhor visão e compreensão do contexto do problema, enquanto a pesquisa quantitativa procura quantificar os dados e aplica alguma forma da analise estatística. A investigação contemplou uma pesquisa de campo em três unidades fabris da indústria estudada e teve como foco o corpo de lideranças da empresa, perfazendo três representantes funcionais envolvidos com o sistema de gestão e operacionalização das práticas de controle ambiental, que atuam como coordenadores de produção das três plantas. A coleta dos dados compreendeu a consulta de dados primários e secundários. Segundo Cervo, Amado (2002), a coleta de dados ocorre após a escolha e delimitação do assunto, a revisão bibliográfica, a definição dos objetivos, a formulação do problema e as hipóteses. A coleta dos dados primários ocorreu no período de outubro a novembro de 2005, sendo realizada por meio de entrevistas pessoais com os representantes da instância gerencial da área de produção das unidades fabris estudadas. Utilizou-se como instrumento de pesquisa um questionário semi-estruturado, que foi entregue a cada respondente escolhido para roteiro de apoio e acompanhamento durante as entrevistas. O instrumento foi elaborado com base nos modelo teóricos que tratam da Avaliação do posicionamento ambiental de North (1992, apud Donaire, 1999) no Environmental business management, nas estratégias visando à Produção mais Limpa e a minimização de resíduos do CTNL – Centro Nacional de Tecnologias Limpas do SENAI/RS (http://www.rs.senai.br/cntl/cntl.htm). Os dados secundários foram obtidos pela consulta às fontes bibliográficas, referentes a livros, artigos e dissertações, bem como mídia eletrônica e consulta à internet. A análise dos dados foi realizada pela avaliação qualitativa dos posicionamentos manifestados pelos representantes da organização à luz dos modelos teóricos de posicionamento ambiental e produção mais limpa. CARACTERIZAÇÃO DO AMBIENTE E OBJETO DA PESQUISA

A empresa pesquisada é do segmento econômico da indústria, do setor privado, no ramo de atividade de beneficiamento de castanha de caju. A empresa foi fundada na década de 1940 voltada a produção de Líquido da Castanha de Caju LCC destinado à fabricação de insumo para a indústria automobilística. Nesta época, surpreendentemente as castanhas de caju eram descartadas como parte do processo de extração. A indústria mudou de controle algumas vezes, de uma multinacional para outra, sendo a última mudança ocorrida recentemente em 2004.

Localizada no estado do ceará, emprega cerca de 2.700 funcionários, distribuídos em três plantas fabris e em três turnos, durante as 24 horas diárias e 06 dias por semana, com uma produção estimada em 3.800 toneladas de amêndoas. Possui um parque industrial dividido em três plantas, cujos equipamentos e tecnologias configuram-se adequados e necessários para o

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desempenho de seu processo. A empresa possui um faturamento em torno de US$ 20.000.000,00, opera com um fluxo de caixa que preza pela margem de lucro, tendo em vista que o giro não é possível, pois, depende diretamente da safra que ocorre apenas uma vez por ano. O financiamento da matéria prima é totalmente feito por instituições financeiras privadas não havendo investimentos de capital próprio. A empresa, além de beneficiar a castanha de caju, também embala outros produtos, entre estes a castanha do Pará, o amendoim, o pistache e doces de caju e goiaba. A indústria tem origem no próprio estado, contudo, hoje pertence a grupos internacionais. Tem uma administração direta do presidente, o qual possui grandes habilidades em negociações com clientes e fornecedores. Uma de suas estratégias de negócio é comprar o máximo possível podendo, para tanto, negociar melhores preços e garantir uma produtividade ao longo de todo o ano. Como uma empresa líder de mercado, prima por seus valores humanos, possuindo uma estrutura de recursos humanos para gerenciar seus valores intelectuais e a área de desenvolvimento, garantindo assim que todos os funcionários independentemente dos níveis hierárquicos, passem por vários tipos de treinamentos.

A história da cajucultura cearense é dividida em dois ciclos. O primeiro teve origem durante a colonização, com plantio desorganizado, sem nenhum cuidado e em forma de exploração extrativista. Na década de 60, com o início da expansão do setor agroindustrial, iniciou-se o segundo ciclo. Este é marcado pelo favorecimento do mercado consumidor de amêndoa de castanha de caju e do líquido da castanha, que foi apoiado pela existência de incentivos fiscais e de subsídios. A indústria de castanha de caju no estado do Ceará tem grande importância para a economia regional, especialmente no tocante às exportações, assumindo posição relevante, o que pode ser ilustrado pelo volume de 16,9% das exportações cearenses em 2004 equivalentes a US$145.623.482 e que lhe garantiu a posição ocupada de 2º lugar no período, além do incremento de 29,8% entre os exercícios de 2003 a 2004.

Gráfico I – Balança Comercial Cearense do Setor de Castanha de Caju de 1996 à 2006. Fonte: SECEX/MDIC Elaboração: Centro Internacional de Negócios/FIEC. Dados disponíveis até dezembro de 2006. Um ponto relevante a ser destacado é o decréscimo sistemático da participação do Ceará nas exportações brasileiras de castanha de caju nos últimos 10 anos, mesmo com a manutenção dos volumes históricos de exportação de 2004 para o momento atual (tabela 1). Tabela 1: Exportações Cearenses Setor de Castanha de Caju. Participação das Exportações Cearenses nas Exportações Brasileiras. Período: 1996 à 2006¹ Valores em US$ FOB

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Fonte: SECEX/MDIC. Elaboração: Centro Internacional de Negócios/FIEC (2006).

A partir dos dados coletados pôde-se identificar o perfil de cada respondente, tendo sido feito a pesquisa em três plantas de uma empresa de alimentos e identificou-se o perfil a seguir (quadro 4).

Perfil do Respondente Planta 1 Planta 2 Planta 3 Nível hierárquico Coordenador Coordenador Coordenador Tempo de Empresa De 1 a 5 anos De 1 a 5 anos Mais de 10 anos Formação Superior Pós Graduado Superior Quadro 4: Perfil dos respondentes. Fonte: Coleta de dados primários

Avaliação do Posicionamento Ambiental Com relação aos produtos utilizados pela empresa observou-se que a matéria prima utilizada é reconhecida como uma matéria prima renovável, a castanha de caju. De conformidade com os respondentes das plantas fabris 1, 2 e 3, pesquisadas, verificou-se que não existe reciclagem do produto, pois este constitui alimento, e uma vez utilizado não há como reaproveitá-lo. Observou-se, ainda, que a empresa faz reaproveitamento de resíduos poluidores em todas as plantas e que estes resíduos são: A casca da castanha, o líquido da castanha de caju (L.C.C) e a película da castanha. Foi possível identificar que existe um alto consumo de energia no setor mecanizado na planta 1, baixo consumo de energia na planta 2 e alto consumo na planta 3 (quadro 5).

Tipo de matéria prima Planta 1 Planta 2 Planta 3 Matéria prima Renovável Renovável Renovável Qual a matéria Castanha de caju Castanha de Caju Castanha de caju Reaproveitamento de Resíduo Poluidor

Reaproveitável Reaproveitável Reaproveitável

Tipo de resíduo Casca, LCC, Casca da castanha Casca da castanha Consumo de energia Alto Baixo Alto Setor Mecanizado Todos os setores Reciclagem de produto Não existe Não existe Não existe

Quadro 5: Avaliação do posicionamento ambiental. Fonte: Dados primários.

A análise dos dados do produto permite identificar características de biodegradação, reaproveitamento de resíduos poluidores e um alto consumo de energia em duas das 3 plantas e torna possível afirmar que o posicionamento do produto, com referência ao meio ambiente, mostra tendências mais amigáveis que hostis. No que se refere ao processo de transformação e conforme os respondentes das plantas 1, 2 e 3 pode-se caracterizar o processo industrial como poluente, pois segundo estes, existem vapores que são lançados na atmosfera, os quais contribuem para o aumento da poluição. Com isto identificou-se que neste processo industrial existe produção de resíduos perigosos, que são a casca da castanha de caju e o liquido da casca da castanha (L.C. C).

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Notou-se que as plantas 1 e 2 identificaram como baixo o consumo de energia para o processo, contudo o respondente da planta 3 identificou como alto este consumo de energia, sendo considerado que todos os recursos disponíveis são eficientemente usados. Além disso, todos os respondentes a consideram que todos os recursos disponíveis são eficientemente usados. Um ponto a ressaltar diz respeito às altas temperaturas existentes em setores do processo industrial, o que foi declarado na percepção dos respondentes. Existe adicional de insalubridades para os trabalhadores o que pode ser mais claramente percebido no quadro 6 e com bases nesses dados pode-se perceber que o processo industrial desenvolvido pela empresa mostra-se hostil ao meio ambiente.

Processo Planta 1 Planta 2 Planta 3 Poluente Sim Sim Sim Qual Poluente Vapores Vapores Vapores Resíduo perigoso Sim Sim Sim Qual resíduo Casa e LCC Casca Casca Consumo de energia Baixo Baixo Alto Uso dos recursos Eficiente Eficiente Eficiente Insalubridade Sim Sim Sim Qual insalubridade Alta temperatura Alta temperatura Alta temperatura Quadro 6: Práticas ambientais no Processo de transformação. Fonte: Dados primários

No tocante à consciência ambiental os respondentes afirmam que os consumidores dos produtos são conscientes ambientalmente, e por considerarem a empresa comprometida com o meio ambiente, registram sua percepção de que sua indústria mantém altos padrões ambientais, mantendo obediência a todas as restrições legalmente estabelecidas. Nesse sentido, parece existir um posicionamento amigável ao meio ambiente, mas cabe uma ponderação acerca da natureza de tal posicionamento, pois uma vez que existe a pressão legal não é possível afirmar a condição amigável como posição deliberada da indústria investigada (quadro 7). Situação ambiental Planta 1 Planta 2 Planta 3 Padrões ambientais Alto Alto Alto Consumidores Conscientes Conscientes Conscientes Comprometimento/Obediência Sim Sim Sim Quadro 7: Consciência ambiental. Fonte: Dados Primários

No que se refere à capacidade do pessoal pode-se perceber a partir da percepção dos respondentes das três plantas que o nível de capacidade do pessoal envolvido no processo é considerado alto e que estão voltados para novas tecnologias, tais como os sistemas de lavadores de gases, sistemas de tratamento de efluentes e outros processos similares. No que diz respeito à capacidade de planejamento e desenvolvimento, o respondente da planta 1 considera baixo o grau de criatividade da empresa, com longos ciclos de desenvolvimento, e segundo este o fato se deve a dificuldade de locação de recursos. Já os respondentes das plantas 2 e 3 apontam que existe alta criatividade e longos ciclos de desenvolvimento. Assim parece haver a percepção da capacidade do pessoal e do planejamento e desenvolvimento da capacidade como um aspecto amigável ao meio ambiente o que se retrata no quadro 8.

Pessoal / P&D Planta 1 Planta 2 Planta 3 Capacidade do pessoal Alto Alto Alto Ciclo de desenvolvimento Longo Longo Longo Capacidade de P& D Baixo Alto Alto Visão Tecnológica Nova tecnologia Nova tecnologia Nova tecnologia Quadro 8: Capacidade do pessoal envolvido / Planejamento e desenvolvimento. Fonte: Dados Primários

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Para os respondentes das três plantas, a possibilidade de investimentos é baixa devido a ausência de capital e poucas possibilidades de empréstimos pelas instituições financeiras, contudo o respondente da planta 3 acredita que exista perspectivas (quadro 9).

Investimentos Planta 1 Planta 2 Planta 3 Capital Ausência Ausência Ausência Possibilidade Empréstimos Baixa Baixa Alta Quadro 9: Investimentos. Fonte: Dados Primários.

No aspecto da abrangência do processo de gestão ambiental observou-se entre os respondentes a percepção de que existe alto grau de preocupação manifestada pela empresa acerca dos impactos ambientais nas etapas de produção, desde o momento que a matéria prima chega às plantas até o momento da disposição dos resíduos gerados neste processo que passa pelos controles de qualidade. Aqui cabe ressaltar um fator relevante, que se refere à infra-estrutura das plantas industriais. Os respondentes mencionaram que as plantas são consideradas antigas, e que na época de sua construção não se levava em conta a gestão ambiental. Contudo, enfatizaram a preocupação com as etapas do processo de transformação, e a atenção com a emissão de efluentes sejam estes líquidos, sólidos ou gasosos que é considerada prioridade pela administração da empresa, fazendo parte das ações nas várias instâncias. Os gestores da produção mostram-se convictos de que a empresa procura minimizar ou reduzir os seus efluentes e sinaliza o posicionamento amigável ao meio ambiente na amplitude do processo de produção. Produção Mais limpa Na análise das práticas de produção mais limpa, os resultados revelaram, de acordo com a declaração dos respondentes de todas as plantas fabris investigadas, que a empresa desenvolve a produção mais limpa em seus três níveis. Na verificação das práticas de produção mais limpa e segundo os gestores de todas as plantas observou-se que a redução de poluição nas fontes ocorre de forma sistemática por meio da lavagem de gases, estação de tratamento de efluentes. Existe disponibilidade de novas tecnologias para buscar a minimização das emissões no meio ambiente, mas não existe mudança de produto e nem de processo. Além disso, não existe substituição da matéria prima que é única para esta atividade. Assim, há evidências de execução das práticas de produção mais limpa no nível 1 do processo de produção mais limpa na empresa, ilustrado no quadro 10 a seguir:

Minimização de resíduos e emissões

Planta 1 Planta 2 Planta 3

Redução da poluição na fonte

Sim Sim Sim

Como reduz Lav. de gases/ETE Lav. de gases/ETE Lav. de gases/ETE Produto/Processo Não há mudança Não há mudança Não há mudança Subst. Matéria prima Não existe Não existe Não existe Nova tecnologia Sim Sim Sim Motivo da mudança Melhoria da qualidade

e custos Melhoria da qualidade e custos

Melhoria da qualidade e custos

Quadro 10 - Produção Mais Limpa – Nível 1 Minimização de resíduos e emissões. Fonte: Dados Primários

Na seqüência da avaliação das práticas de produção mais limpa relacionadas à reciclagem interna, que compreende o nível 2 do modelo de produção mais limpa observou-se

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que devido ao ramo de atividade da empresa alimentos, verificou-se que não existe reciclagem interna conforme posicionamento ilustrado no quadro 11. Produção mais limpa Planta 1 Planta 2 Planta 3 Reciclagem interna Não Não Não Quadro11: Produção Mais Limpa – Nível 2 Minimização de resíduos e emissões. Fonte: Dados Primários

Por outro lado, todos os respondentes apontaram que o maior resíduo produzido, a casca da castanha, é reutilizada em grande escala nos fornos e nas caldeiras da empresa para geração de energia calorífica, sendo que o excedente produzido é vendido para outras empresas que possuam o mesmo sistema de produção de energia. No quadro 12 a seguir observa-se melhor como se comporta a empresa, segundo seus respondentes: Reutilização de resíduos e emissões

Planta 1 Planta 2 Planta 3

Reciclagem externa Sim Sim Sim Ciclos biogênicos N/A N/A N/A Quadro 12 - Produção Mais Limpa – Nível 3 Reutilização de resíduos e emissões. Fonte: Dados Primários

Modelo de controle Fim de tubo Considerando as práticas de fim de linha, ou fim de tubo, que determinam ações posteriores à ocorrência de emissões poluentes, observou-se, conforme a declaração dos respondentes das plantas fabris, que existe desperdício no processo produtivo com relação a energia e recursos renováveis. Nesse sentido, o maior desses desperdícios ficou identificado claramente que é a água, muito utilizada na atividade de lavagem da matéria prima antes de ser beneficiada. Com relação à captação da poluição dentro da empresa, todos os representantes foram unânimes em afirmar que ela acontece antes dos vapores serem lançados na atmosfera, sendo captado e lavados em sistemas que os respondentes denominaram de sistemas de lavadores de gases. Além disso, ficou consignado que existe captação de poluição nos sistemas de tratamento de efluentes líquidos, estação de tratamento de efluentes bem como se verificou a existência de um programa de coleta seletiva desenvolvido pela empresa. No tocante ao controle de desperdícios, os respondentes das plantas 1 e 3 apontaram que não existe um sistema de controle de desperdícios desses recursos, que é sem dúvida a água e o vapor super aquecidos, contudo o representante da planta 2 informou que já se aproveita parte dessa água do sistema de lavagem da amêndoa em sua planta, para ser reutilizada na lavagem da matéria prima antes de ser beneficiada. No que tocante aos resíduos, cujos volumes são produzidos em grande escala, estes são dispostos em grandes armazéns cobertos. Já os resíduos como as embalagens ou restos de materiais são dispostos em baias, que consistem em locais cobertos e separados por paredes para acondicionar os plásticos, papelão, papeis, sucatas de metais. Apesar da casca da castanha representar o maior, resíduo produzido, este é bastante reutilizado como combustível para gerar calor e vapor que são utilizados no processo industrial. Isto acontece em suas caldeiras e fornos. Além disso, verificou-se que o excedente desse resíduo produzido (casca) é vendido em grande escala para todas as indústrias que utilizam o mesmo processo de produção de energia (vapor e calor), ou seja, indústrias que possuem caldeira e fornos. Isto conforme os respondentes. Fatores básicos como o tipo de atividade, o processo desenvolvido, a consciência ambiental, os padrões ambientais utilizados, o comprometimento gerencial, o nível de capacidade das pessoas envolvidas, a capacidade de planejamento e desenvolvimento da

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empresa, o capital disponível para novos investimentos, as tecnologias emergentes (Produção mais limpa), tudo isto configura no comprometimento e consciência ambiental. No que toca aos resíduos produzidos no processo industrial verificou-se a partir dos respondentes que existem procedimentos diversificados. O principal resíduo é a casca da castanha e cujos volumes são produzidos em grande escala e são dispostos em grandes armazéns cobertos. Já os resíduos como as embalagens ou restos de materiais, estes são dispostos em baias, que consistem em locais cobertos e separados por paredes para acondicionar os plásticos, papelão, papeis, sucatas de metais. Apesar de se produzir bastantes resíduos, principalmente a casca da castanha, este é bastante reutilizado como combustível para gerar calor e vapor para o processo industrial. Isto acontece em suas caldeiras e fornos. O excedente desse resíduo produzido (casca) é vendido em grande escala para todas as indústrias que utilizam o mesmo processo de produção de energia (vapor e calor), ou seja, indústrias que possuem caldeira e fornos. Segundo os respondentes não existem regras para disposição dos resíduos gerados, ou seja, na proporção que são gerados encaminha-se para os armazéns. Verificou-se, ainda, que nesse processo industrial é gerado como subproduto o líquido da castanha de caju (L.C. C) (quadro 13).

Fim de tubo Planta 1 Planta 2 Planta 3 Desperdício Sim Sim Sim Tipo de desperdício Água Água Água Controle desperdício Não há Não há Existe Captação da poluição Lavador de gás/ETE Lavador de gás/ETE Lavador de gás/ETE Disposição de resíduos Armazéns/Baias Armazéns/Baias Armazéns/Baias Reuso de resíduos Sim Sim Sim Tipo de resíduo Casca Casca Casca Sub-produto L.C.C L.C.C L.C.C Quadro 13: Práticas de fim de tubo. Fonte: dados primários

A pesquisa realizada evidenciou que para uma gestão ambiental eficiente torna-se necessária a utilização de técnicas que possibilitem a minimização ou eliminação dos resíduos ou partes deles durante o processo, utilizando para isto tecnologias emergentes, como por exemplo, a Produção mais limpa. A utilização ou não de novas tecnologias pode produzir maiores redução dos impactos ambientais, como tem mostrado a pesquisa, com a empresa que utiliza sistemas de tratamento de vapores antes lançá-los na atmosfera. Deve-se ressaltar que esta redução de impactos ambientais pode aumentar ou diminuir de acordo com o grau de conhecimento dos profissionais envolvidos e os gestores do sistema ambiental. Isto mostra que os resultados podem ser diferentes dependendo da forma que gestores e colaboradores encaram os conceitos. Conclusão A pesquisa teve como objetivo geral analisar o processo de gestão ambiental de uma indústria de alimentos verificando o uso de práticas ambientais relacionadas à Produção Mais Limpa. Além disso, analisou o processo de gestão ambiental na empresa, verificando sua abrangência; a postura ambiental da indústria investigada verificando ações hostis e/ou amigáveis ao meio ambiente; e o processo de transformação industrial da empresa, verificando o grau de implementação da Produção Mais Limpa. Os resultados revelaram fortes evidências de que existem práticas de gestão ambiental relacionada à produção mais limpa, tanto na minimização como na reutilização de resíduos e emissões, pela redução na fonte, porém, devido à especificidade do produto não existe

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reciclagem da matéria prima, que uma vez beneficiada é consumida e não existe retorno, contudo a empresa faz reciclagem externa. A empresa também utiliza processo de boas praticas de fabricação como forma de melhorias de qualidade. Os resultados apontaram, ainda, que a empresa adota práticas amigáveis ao meio ambiente e à sua preservação no tocante a poluição atmosférica e poluição das redes públicas, evitando jogar resíduos perigosos sem o devido tratamento. Contudo, foram detectados aspectos agressivos ao meio ambiente no que se relaciona a própria atividade que foi considerada poluidora, bem como o desperdício de água ao logo do seu processo. Conclui-se que, o fato de a empresa desenvolver uma atividade considerada poluidora, decorrente de peculiaridades inerentes ao próprio produto não lhe retira o mérito de ser amigável ao meio ambiente, uma vez que existe alto comprometimento em minimizar todo o impacto gerado por sua atividade. Quanto à abrangência da gestão ambiental, os resultados mostraram que existe uma preocupação desde o inicio do processo até a disposição de seus resíduos em seus armazéns, não se verificando ações voltadas ao produto em si, após sua comercialização já que é alimento e biodegradável. Quanto às práticas de fim de tubo, que determinam ações posteriores à emissão de poluentes, os resultados evidenciaram desperdícios de energia e/ou recursos no processo produtivo, sendo a água o maior dos desperdícios encontrados. Os resultados evidenciaram que existe a preocupação com a captação dos resíduos ao logo do processo, o que se identificou nos lavadores de gases e nas estações de tratamento de efluentes líquidos. Além disso, no armazenamento de resíduos constatou-se que a empresa possui um local certo para a disposição dos resíduos ao longo do seu processo. Finalmente pôde-se observar, diante dos resultados apresentados, que a empresa faz uso da gestão ambiental sem um sistema de gestão estruturado, utiliza práticas ambientais identificadas com a produção mais limpa, em seus diversos níveis, porém de modo pontual, pois não possui o processo efetivamente implantado. Nesse sentido, o estudo permite questionar o aspecto do comprometimento gerencial e corporativo quanto ao meio ambiente sinalizado pela ausência de perspectiva de implementar um modelo de gestão ambiental estruturado, nos moldes do SGA ISO 14000 e o uso de tecnologias limpas como diretrizes estratégicas. Cabe ainda uma reflexão sobre os prováveis condicionantes de ações pontuais desencadeadas por indústrias de grande porte e com tempo significativo de atuação na atividade e a recomendação de avaliar tais medidas como prioridade do modelo de gestão e o uso de estratégia ambiental como perspectiva de sustentabilidade de empreendimentos. Referências < http://www.portalga.ea.ufrgs.br/arquivo.shtm>. Acesso em: Julho de 2001. CERVO, Amado; BERVIAN, Pedro. Metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Prentice Hal, 2002. DEMO, Pedro. Metodologia científica em ciências sociais. São Paulo: Atlas, 1995. ____________. Metodologia do conhecimento científico. São Paulo: Atlas, 2000. ____________. Pesquisa: princípios educativos. São Paulo: Cortez, 1997. DONAIRE, Denis, Gestão Ambiental na Empresa – 2 ed. São Paulo : Atlas 1999 ECO, Umberto. Como se faz uma tese. 12 ed. São Paulo: Perspectiva, 1995. GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1996. ________________. Métodos e técnicas da pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999. GIORDANO, Samuel Ribeiro, Gestão Ambiental no Sistema Agroindustrial.In: ZYLBERSZTAJN, Décio,: NEVES, Marcos Fava (organizadores). Economia & Gestão dos Negócios Agroalimentares – SP Pioneira, 2000.

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