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Panizzi, A.R. - Uso de cultivar armldilha no controle de percevejos em soja 11
Uso de cultivararmadilha no controle depercevejos em soja
Antônio Ricardo Panizzi •
INTRODUÇÃO
A cultura da soja no Brasil temapresentado grande expansão nosúltimos anos, acompanhada poruma crescente incidência de inse-tos-pragas. Dentre os insetos queocorrem anualmente nessa cultura,o complexo de percevejos (parti-cularmente as espécies Nezara viri-dula (L), Piezodorus guildinii(Westwood) e Euschistus heras (F)é responsável por grandes preju í-zos no rendimento de grãos e naqualidade das sementes sendo con-sideradas as pragas ma is importan-tes da soja no Brasil.
Medidas de controle de perceve-jos, baseadas unicamente no usode inseticidas, como até agora temsido feito, podem causar o apareci-:mento de populações resistentesde pragas, ressurgência e surtos depragas secundárias, efeitos adver-
sos ao ambiente, além de nemsempre serem economicamentejustificáveis. Portanto, há necessi-dade de se investigar medidas al-ternativas de controle que permi-tam, ao menos, diminuir o uso dedefensivos na soja ou mesmo emoutras culturas.
O uso da técnica denominadacultura armadilha é mencionada,por muitos autores, como um mé-todo de grande potencialidade pa-ra reduzir popu lações de certaspragas. Consiste na semeadura, an-tecipada ou não, em áreas margi-nais da lavoura, de algumas fileirascom cultivar mais precoce ou comum outro hospedeiro preferencial,para atrair a praga e posteriormen-te eliminá-Ia com o uso de insetici-da restrito a essa área de atração.Já no início do século, alguns pes-qu isadores propuseram esse proce-dimento no controle de Anthono-
mus grandis Boheman em algo-doeiro (Malley 1901, Hunter1904, Sanderson 1907). Mais tar-de, Isely (1934) demonstrou o va-lor do uso da cultura armadilha nocontrole dessa praga em Arkansas,EUA. Recentemente, com os pro-blemas surgidos devido ao uso ex-clusivo de inseticidas no controlede pragas, essa metodologia des-pertou novamente o interesse dospesqu isadores, como demonstramos trabalhos de Hill & Mayo(1974), Scott et aI. (1974) e Pie-ters (1976).
Em soja, a semeadura antecipa-da de pequenas áreas tem sido uti-lizada com sucesso em Louisiana(EUA) para atrair o besouro Cero-toma trifurcata Foster (Newsom &Herzog 1977). Esses autores refe-rem-se também à utilização de cul-tivares precoces nas áreas margi-nais para atrair e controlar perce-vejos. Rust (1977) obteve boa pro-teção de campos de soja adjacen-tes a bordaduras semeadas comfeijão-vagem, que serviram paraatrair a geração de inverno do be-souro Epilachna varivestis Mul-santo
Neste trabalho são relatados osresultados obtidos em três camposde soja na safra 1978/79, situadosem diferentes locais no Estado doParaná, onde foi testado o métodode cultivares armadilhas, mais pre-coces que as semeadas na áreaprincipal, com o objetivo de atrairos percevejos para as mesmas e aícontrolá-Ios.
MATERIAL E METODOS
Campo 1. Em Arapongas, PR, ••
• Pesquisador do Centro Nacional de Pesquisa de Soja· EMBRAPA,Caixa Pona11061. 86.100· Londrina, PR
TRIGO E SOJA - Porto Alegre (n!l47) P.11-14 FEVEREIROIMARÇO DE 1980
Panizzi, A.R. - Uso da cultivar armadilha no controle de percevejos em soja 12foi semeada uma área de 5,5 hacom a cultivar 'Santa Rosa', de ci-cio semi-tardio para o Estado doParaná. Circundando essa cultivar,foi semeada, no mesmo dia, a cul-tivar 'Paraná', de ciclo precoce,ocupando cerca de 10% da área to-tal. Passados dois meses da semea-dura, foram feitos levantamentossemanais dos percevejos N. viridu-Ia, P. Guildinii e E. heras (adultose ninfas> 0,5 em), através dométodo do pano de batidas (She-pard et aI. 1974). Efetuaram-se, acada semana, dez amostragens aoacaso na área com a cultivar 'Para-ná' e dez naquela com 'Santa Ro-sa', até a maturação fisiológica,sendo anotado os estádios de de-senvolvimento da planta segundoo critério estabelecido por Fehr etaI. (1971). Foi aplicado inseticida(Nuvacron 400g La./ha) na áreacom a cultivar precoce após a in-festação da mesma pelos perceve-jos, porém antes da sua dispersãopara o restante da lavoura.
Campo 2. Em Rolândia, PR, foisemeada uma área de 5,4 ha com acultivar 'Bossier', de ciclo médio.Cerca de 9% dessa área foi semea-da com a cultivar 'Paraná' nasáreas marginais da lavoura. Para o
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Flutuação populacíonal de percevejos em duas cultivares de soja, Arapongas, PR, 1979.A flecha indica a data da aplicação de inseticida. NDC =nfvel de dano crftico.
levantamento da população dospercevejos procedeu-se como odescrito no experimento anterior,o mesmo ocorrendo para o contro-le dos percevejos presentes nasbordaduras do campo.
Campo 3. Em Assaí, PR, a áreasemeada foi de 5,3 ha com a culti-var 'Viçoja' de ciclo semi-tardio.
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DATAS DAS AMOSTRAGENS
Flutuação populacional de percevejos em duas cultivares de soja, Rolândia, PR, 1979.A flecha indica a data da aplicação de inseticida NDC = n{vel de dano crrtico.
Ao redor, foi semeada a cultivar'Paraná' ocupando 10% da área. Ametodo log ia empregada fo i a mes-ma que a descrita para os camposanteriores, Para a eliminação dospercevejos da bordadura da lavou-ra, foi aplicado Thiodan UBV(400g i.a.Zha).
RESULTADOS E DISCUSSAO
Campo 1. A ocorrência dos per-cevejos, englobando as espécies re-feridas, está ilustrada na Fig. 1,Observa-se que os primeiros exem-plares apareceram na cultivar ar-madilha 'Paraná' em 15/02, cercade três semanas antes do apareci-mento dos percevejos na área de'Santa Rosa'. No início de março,antes que ocorresse a dispersãodos percevejos para o centro da la-voura, foi aplicado inseticida nafaixa armadilha. Esse fato retar-dou o crescimento da populaçãona área com 'Santa Rosa' tendo ospercevejos ultrapassado o nível dedano crítico (NDC) no final do en-chimento de grãos (R6), pratica-mente fora do per íodo de susceti-bilidade da planta ao ataque dospercevejos.
Campo 2. Nesse campo, os per-cevejos apareceram na mesma épo-ca (20/02) tanto na cultivar arma-dilha 'Paraná' como na 'Bossier',
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Fig.3
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JANEIRO FEVEREIRODATASDASAMOSTRAGENS
porém em maior número na pri-meira. Nessa época aplicou-se in-seticida na área armadilha, ocor-rendo uma estabilização no cresci-mento da popu lação de percevejosna área principal de 20/02 a 01/03. Embora, uma semana depois, apopulação tenha ultrapassado oNDC, nessa época também a '80s-sier' já estava com os grãos duros(Fig.2).
Campo 3. Nesse campo, os per-cevejos ocorreram mais cedo nacultivar armadilha, a partir do apa-recimento das primeiras vagens,atingindo o pico máximo no finaldo enchimento de grãos, quandofoi feita a aplicação de inseticida(Fig. 3). Na área principal com acultivar 'Viçoja', a população depercevejos teve um crescimentomais lento, provavelmente devidoà sua diminuição na área armadi-lha. O NDC foi atingido no iníciode senescência das plantas (folhas
arnarelando}, fora, portanto, doperíodo crítico de ataque.
Esses resultados, embora preli-minares, demonstram a tendênciade as primeiras gerações de perce-vejos se localizarem nas bordas daslavouras e aí permanecerem pormais tempo nas plantas em frutifi-cação. Do mesmo modo, a aplica-ção de inseticidas somente nessafaixa de contorno, sobre uma cul-tivar armadilha, mostrou ser sufi-ciente no controle dessa praga,principalmente pelo fato de ter re-tardado e diminuído o pico popu-lacional dos percevejos.
Essa linha de pesquisa do Cen-tro Nacional de Pesquisa de Sojadeverá ser aperfeiçoada, visando aum melhor ajustamento das culti-vares quanto ao ciclo e testes deoutras plantas atrativas aos perce-vejos (por exemplo guandu - Ce-janus cajan L.), além de estudos deeconomicidade do uso da técnicada cultura armadilha. ~
15 23 28,MARÇO
Flutuação populacionalde percevejos em duas cul-tivares de soja, Assaí, PR,1979. A flecha indica adata da aplicação de inse-ticida. NDC = nível dedano crítico.
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AGRADECIMENTOS
O autor agradece aos engenhei-ros agrônomos Miguel Grassano,Alexandre Popia e Issao Sato daEMATER-PR, e aos agricultoresJoão Sartori. Henrique Splitzner eSadao Ho. ..0 pelas facilidadesoferecidas na condução dos expe-rimentos.
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