palestra:espaÇo de experiÊncia e horizonte de expectativa: passadoe futuro da ameb

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51 SESSÃO PLENÁRIA DA ACADEMIA DE MEDICINA DE BRASÍLIA – AMeB PALESTRA: ESPAÇO DE EXPERIÊNCIA E HORIZONTE DE EXPECTATIVA: PAS- SADO E FUTURO DA ACADEMIA DE MEDICINA DE BRASÍLIA. 6 PALESTRANTE: Acadêmico Marcus Vinicius Ramos (AMeB). E xperiências e expectativas interagem na academia des- de a fundação da primeira delas, nas cercanias de Ate- nas. Não há evidências históricas a respeito da data precisa de fundação da Academia por Platão, mas é geralmente aceito que seu início coincidiu com seu retorno da Sicília, no início do século IV a.C. A Academia não era aberta ao público nem repre- sentava uma “escola”, na medida em que não havia distinção entre alunos e professores, mas, sim, entre os mais jovens e os mais experientes. A Academia de Atenas tampouco tinha uma doutrina particular a ensinar – os problemas eram apresenta- dos para serem estudados e resolvidos diretamente pelos seus membros. Os temas discutidos provavelmente eram tópicos fi- losóficos e possivelmente incluíam também temas relacionados à matemática e à astronomia. Essa primeira Academia funcio- nou continuamente até 86 a.C. (quando foi destruída por Sila) 6 Palestra realizada em 7/6/2011 no Auditório Tito Figuerôa – SindMédico, situado no SGAS 607, Edifício Metrópolis, Cobertura 1, Brasília-DF, sede da AMeB.

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PALESTRA: ESPAÇO DE EXPERIÊNCIA E HORIZONTE DE EXPECTATIVA: PASSADO E FUTURO DA ACADEMIA DE MEDICINA DE BRASÍLIA. PALESTRANTE: Acadêmico Marcus Vinicius Ramos (AMeB).

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sessÃO PlenÁriA dA AcAdemiA de medicinA de BrAsíliA – AmeB

PAlesTrA: ESPAÇO DE EXPERIÊNCIA E HORIZONTE DE EXPECTATIVA: PAS-SADO E FUTURO DA ACADEMIA DE MEDICINA DE BRASÍLIA.6

PAlesTrAnTe: Acadêmico Marcus Vinicius Ramos (AMeB).

Experiências e expectativas interagem na academia des-de a fundação da primeira delas, nas cercanias de Ate-

nas. Não há evidências históricas a respeito da data precisa de fundação da Academia por Platão, mas é geralmente aceito que seu início coincidiu com seu retorno da Sicília, no início do século IV a.C. A Academia não era aberta ao público nem repre-sentava uma “escola”, na medida em que não havia distinção entre alunos e professores, mas, sim, entre os mais jovens e os mais experientes. A Academia de Atenas tampouco tinha uma doutrina particular a ensinar – os problemas eram apresenta-dos para serem estudados e resolvidos diretamente pelos seus membros. Os temas discutidos provavelmente eram tópicos fi-losóficos e possivelmente incluíam também temas relacionados à matemática e à astronomia. Essa primeira Academia funcio-nou continuamente até 86 a.C. (quando foi destruída por Sila)

6 Palestra realizada em 7/6/2011 no Auditório Tito Figuerôa – SindMédico, situado no SGAS 607, Edifício Metrópolis, Cobertura 1, Brasília-DF, sede da AMeB.

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e de forma intermitente nos séculos seguintes, até ser fechada definitivamente por Justiniano, no ano 529 de nossa era.

A restauração da Academia precisou esperar o Renascimen-to, período que corresponde, grosso modo, à transição entre a Idade Média e Moderna. A partir desse movimento surgiram “Academias” em Roma e Florença, que procuravam reproduzir, na medida do possível, as tradições da Academia de Platão. De um modo geral, não passavam de um pequeno grupo de pesso-as ligadas à hierarquia da Igreja que se dedicavam a discussões literárias, sem maiores preocupações em desenvolver uma aná-lise mais crítica desses textos.

A partir do século XVII, esse tipo de academia cedeu espa-ço a instituições mais modernas, abertas ao público e não mais constituídas por grupos homogêneos de pensadores. A Acade-mia passou a se interessar por outras esferas do conhecimen-to, estimulando debates nos campos da ciência e das artes, transformando-se em “instrumentos culturais” e influenciando diretamente a opinião pública. O exemplo clássico é a Academia Francesa, fundada pelo cardeal Richelieu em 1635. Esperava--se, contudo, que a Academia permanecesse apolítica e evitas-se discutir assuntos sociais e religiosos.

A mais antiga sociedade deste tipo a se dedicar exclusiva-mente à ciência foi a Real Sociedade Londrina para o Progres-so do Conhecimento Natural. A Real Sociedade foi fundada em 1660 para ser um foro de pesquisas e troca de ideias e atua, até hoje, como um órgão de assessoria científica ao governo britâ-nico, mas sem dele fazer parte. Foi, contudo, a Academia Nacio-nal de Medicina da França, criada em 1820 por Luiz XVIII, que inspirou a criação da primeira academia de medicina do Brasil.

Fundada em 1829 sob o nome de Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro, a atual Academia Nacional de Medicina tem o objetivo de “contribuir para o estudo, a discussão e o desen-

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volvimento das práticas da medicina, cirurgia, saúde pública e ciências afins, além de servir como órgão de consulta do Gover-no brasileiro sobre questões de saúde e de educação médica”. Seguiram-se muitas outras, hoje quase todas abrigadas sob o manto da Federação Brasileira das Academias de Medicina.

A Academia de Medicina de Brasília, a AMeB, nasceu no dia 18 de outubro de 1989 pelas mãos de um pediatra, o Doutor Antonio Márcio Lisboa, que juntamente com os doutores Fran-cisco Pinheiro Rocha, Laércio Moreira Valença, João da Cruz Car-valho e Ítalo Nardelli – à exceção dos dois últimos, os demais ainda participam ativamente das nossas atividades – redigiram, analisaram e aprovaram seu primeiro Estatuto. A AMeB tem 40 cadeiras, das quais os ocupantes das primeiras 20 são conside-rados seus membros fundadores.

Como se aplicam os conceitos mencionados no início desta palestra – experiência e expectativa –, à Academia? Espaço de experiência e horizonte de expectativa são categorias históri-cas utilizadas pelo pesquisador alemão Reinhart Koselleck que equivalem às de espaço e tempo. Não propõem uma alternativa entre eles, uma vez que não se pode ter um sem o outro: não há experiência sem expectativa. Essas categorias tendem a in-dicar a condição humana universal e são conceitos adequados para procurar se descobrir o que é um tempo histórico, pois en-trelaçam passado e futuro, dirigindo ações concretas no plano social e político. A coordenação entre experiência e expectativa deslocou-se e modificou-se ao longo da história.

Podemos definir experiência como sendo o passado atu-al, aquele no qual os acontecimentos já foram incorporados e podem ser lembrados. Devemos ter em mente que na experi-ência de cada um de nós, transmitida pelas gerações que nos antecederam, sempre estará contida uma experiência alheia. A expectativa, por sua vez, é também ligada às pessoas e cor-

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responde a um futuro presente, voltado para o que ainda não foi experimentado, para o que pode apenas ser previsto. Fa-zem parte de uma expectativa não só valores como esperan-ça, desejo e inquietação, mas também a análise racional dos fatos. Embora relacionadas, experiência e expectativa não são imagens especulares recíprocas – uma experiência, uma vez feita, está completa. Enquanto a experiência futura é anteci-pada como uma expectativa e decompõe-se em uma infinidade de pequenos momentos temporais, a experiência proveniente do passado representa um todo formado pela superposição de estratos de tempos anteriores simultaneamente presentes. As-sim, a experiência não pode ser cronologicamente mensurável.

Enquanto podemos esperar que a experiência que temos hoje se confirme no futuro, uma expectativa não pode ser expe-rimentada de igual forma. Uma não pode ser transformada na outra. Tanto erra aquele que formula suas expectativas baseado apenas na experiência quanto aquele que não o faz, uma vez que o imponderável, no primeiro caso e a falta de informação, no segundo, não devem e não podem ser desconsiderados quando tomamos uma decisão. Uma expectativa somente se confirma ou não, com o passar do tempo, pois o futuro não pode jamais ser considerado o resultado puro e simples do passado.

As experiências adquiridas modificam-se com o tempo, seja porque continham recordações errôneas, passíveis de se-rem corrigidas, seja porque novas experiências abriram pers-pectivas diferentes. Expectativas, por sua vez, só surpreendem quando não são esperadas e quando acontecem nos colocam diante de uma nova experiência. É esta tensão permanente, mas sempre diferente, entre experiência e expectativa que sus-cita novas soluções e faz surgir um tempo que chamamos de histórico. Expressos em termos mais próximos à nossa área de

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atuação, podemos dizer que os dados da experiência, contidos num diagnóstico, estendem o horizonte de expectativa, libe-rando e orientando os prognósticos. Prognósticos, por sua vez, liberam expectativas e condições alternativas que também têm que ser levadas em consideração, pois podem abrir expectati-vas que não decorrem apenas de experiências anteriores, o que nos leva a concluir que um espaço de experiência jamais chega a determinar a totalidade de um horizonte de expectativa.

Durante milhares de anos a humanidade viveu em conso-nância com os ciclos da natureza e as habilidades que precisa-vam ser aprendidas eram transmitidas de uma geração para outra. As inovações técnicas se impunham com lentidão, per-mitindo que as pessoas se adaptassem sem precisar modificar de forma significativa seu estoque de experiências. Nos tempos antigos europeus, enquanto o mundo camponês se orientava pela eterna sucessão das estações, no mundo urbano dos arte-sãos eram as regras corporativas que garantiam que nada tam-bém se modificaria nas cidades. Nesse cenário, as expectativas eram inteiramente sustentadas pelas experiências dos antepas-sados e passavam praticamente sem modificações a seus des-cendentes. O tempo histórico não se superpunha exatamente ao cronológico, mas o acompanhava muito de perto.

Permitam-me ilustrar a “longa duração desse tempo” discor-rendo sobre uma notável obra de arte. Quem visita a Pinacoteca Antiga, em Munique, Alemanha, pode apreciar, numa pintura re-lativamente pequena, uma visão panorâmica da batalha de Issus, travada em 333 a.C., a qual abriu o mundo conhecido ao domínio das tropas de Alexandre Magno. Feita a pedido do duque Guilher-me IV da Baviera, seu autor, Albrecht Altdorfer, fixou na tela um episódio fundamental da história Antiga, a derrota persa diante dos gregos. Sob um olhar mais rigoroso, o quadro revela alguns

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detalhes notáveis: a figura que representa Alexandre, por exem-plo, tem as feições de Maximiliano I, Duque da Borgonha, Arqui-duque da Áustria e Imperador do Sacro Império Romano. Suas tropas estão vestidas e armadas de maneira exatamente igual à dos mercenários da infantaria germânica dos séculos XV e XVI. Se desviarmos um pouco o olhar, perceberemos que o figurino das tropas persas em fuga assemelha-se, dos pés aos turbantes, ao exército turco comandado por Suleiman, o Magnífico, que no mesmo ano de 1529, data da confecção dessa obra, sitiava Viena.

A batalha de Issus - Albrecht Altdorfer

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Altdorfer procurou “comprimir o tempo”, de forma a tra-zer para a sua contemporaneidade os mais de 18 séculos que separavam Alexandre e Dario de Maximiliano e Suleiman, igno-rando completamente a dimensão especificamente temporal da história. Como foi isso possível? Para o artista, essa impossibi-lidade simplesmente não se manifestava como tal e a referida “compressão do tempo” não tinha maior importância. Para ele sua obra estava perfeita e acabada, mesmo que contivesse ana-cronismos gritantes.

Mas os olhos do século XXI não têm dificuldade em distin-guir as diversas camadas temporais que se expressam no qua-dro, tanto as que se situam em seu próprio tempo quanto as da época que pretendiam representar. Posto de outra maneira, o tempo dos quase 500 anos que nos separam de Altdorfer tem uma natureza completamente diferente do tempo que trans-correu entre os anos que separam a batalha de Alexandre de sua representação em 1529. Com o advento da Modernidade, o tempo cronológico deixou de corresponder ao tempo histórico, que praticamente o acompanhou pari passu, como já vimos, ao longo de quase toda a Antiguidade e no Medievo.

Quais foram as qualidades que preencheram esse tem-po histórico a partir do século XVI e o caracterizam como um tempo específico, o tempo da modernidade, o nosso tempo? Para responder a essa pergunta, é preciso procurar entender como as gerações passadas concebiam o futuro, esclarecendo melhor esses vieses atemporais que percebemos no quadro de Altdorfer.

Numa época caracterizada por guerras religiosas como foi o século XVI, qualquer cristão educado, contemporâneo a Al-tdorfer, provavelmente entenderia que a vitória de Alexandre sobre os persas significava o cumprimento da profecia de Da-

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niel, narrada no Antigo Testamento. Babilônia, Pérsia, Grécia e Roma seriam segundo essa tradição, os quatro reinos que se sucederiam na terra antes do advento do quinto e último, o reino de Deus. Perceberia também que o quadro retratava, além das tropas em combate, forças celestiais e cósmicas, re-presentadas pelo Sol e pela Lua, significando a luz e as trevas, elementos relacionadas aos dois reis em luta. Este observador não teria dúvidas sobre o resultado final dessa batalha, pois o Sol nascente, simbolizando a alvorada de um novo tempo, sur-ge sobre um navio cujo mastro tem a forma da cruz, indicando a vitória final da cristandade.

Os contemporâneos de Altdorfer esperavam a ocorrência de acontecimentos análogos para que ocorresse o fim do mun-do, uma vez que todos os elementos de outro apocalipse, o de João, já se encontravam presentes no início do século XVI: o Anticristo (Lutero ou o Papa, dependendo de sua fé), a guerra civil que precederia o dia do Juízo (a revolta dos camponeses germânicos que ocorria naquele momento), o ataque do povo de Gog e Magog que viria das montanhas do Cáucaso (os tur-cos). A representação de um acontecimento passado, da forma apresentada pelo artista, era mais atual do que nunca, pois a luta entre Maximiliano e Suleiman podia ser perfeitamente rein-terpretada como uma metáfora do combate final que precederia e anunciaria a chegada do Juízo.

O mundo mostrado por Altdorfer, dominado pela Igre-ja e praticamente estático, passou a mudar com velocidade crescente a partir dos acontecimentos que marcaram o iní-cio da modernidade, entre eles o Renascimento, a crescente mobilização dos meios do poder, a descoberta e início de co-lonização do novo mundo, a Reforma e a revolução científica levada a efeito por Copérnico e Galileu. Nesses marcos ficava

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evidente o tamanho das tensões que começavam a surgir en-tre a experiência transmitida e as novas expectativas que se desenhavam no horizonte, estendidas a praticamente toda a sociedade.

O advento dos tempos modernos rompeu a corrente ge-renciada pela doutrina cristã de uma expectativa de um mundo vindouro de paz e harmonia, que atrelava o futuro ao passado. Como consequência imediata, esse novo horizonte adquiriu um coeficiente de mudança que “abriu o futuro” e o deixou incapaz de poder “ser previsto pela observação do passado”, como antes se acreditava. A aceleração do tempo passou a ser uma tarefa do ser humano, a quem, a partir de agora, caberia a responsa-bilidade exclusiva de introduzir os novos tempos de liberdade e felicidade, tão bem representados nos ideais da Independência americana e da Revolução Francesa.

Uma vez que não mais era possível projetar expectativas a partir somente das experiências passadas, a História deixou de ser considerada como “a mestra da vida” e passou a ter que ser explicada a cada nova geração que surgia. A percepção deste novo tempo se fazia tanto mais clara à medida em as expecta-tivas passavam a se distanciar cada vez mais das experiências sofridas. Esta diferença temporal entre experiência e expectati-va incorporou-se rapidamente no conceito de “progresso”, per-mitindo que o antigo e o novo entrassem em choque na experi-ência cotidiana.

Como funcionaria essa convivência entre experiência e expectativa, tempo e espaço, em uma Academia de Medicina como a nossa? Como pode ser aproveitada, diante do que foi dito, a enorme experiência de seus membros, cuja dedicação em servir a população da nossa cidade ao longo de tantos anos

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foi e ainda é reconhecida por todos, nesse “tempo novo” que nos aproxima, com velocidade crescente, do nosso horizonte de expectativa? Se não temos dúvidas que nosso espaço de expe-riência é amplo o suficiente para enfrentar esse desafio, quais são as armas que dispomos para enfrentá-lo?

Antes de tudo, é necessário que confrades e confreiras continuem a atuar no âmbito interno da Academia. Somente a participação ativa nas atividades acadêmicas pode nos oferecer uma plataforma de discussão para os temas científicos e sociais que nos são tão caros e, ao mesmo tempo, nos proporcionar esse singular espaço de convivência.

Da mesma forma, a recente inserção da Academia de Me-dicina de Brasília, por meio da Federação Brasileira das Acade-mias de Medicina, no concerto das entidades médicas nacionais, abriu um novo espaço operacional em contextos muito mais amplos do que aqueles que estávamos acostumados a trabalhar. Participar da elaboração de políticas de saúde que prestigiem a pesquisa e o cuidado médico, assegurando que seus resultados reverterão em benefício da sociedade é uma oportunidade rara, da qual estamos aptos a desfrutar desde agora. Nesse mesmo contexto, nunca é demais lembrar que fazem parte da nossa Academia tanto o Presidente da FBAM, Acadêmico José Leite Saraiva, quanto o representante de Brasília no Conselho Federal de Medicina, o Acadêmico Emérito José Antonio Ribeiro Filho, a quem acabamos de homenagear. Além deles, muitos confrades e confreiras emprestam suas experiências às diversas entidades médicas de nossa cidade, entre elas as diversas faculdades de medicina, a Organização Pan Americana de Saúde, o Sindicato dos Médicos, o CRM e um sem número de sociedades de espe-cialidades.

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Não menos importante é a necessidade de prestigiar a ju-ventude, tomando cuidado para que este sentido não seja de mão única. É preciso ser capaz tanto de transmitir a nossa ex-periência quanto escutar a dos mais jovens. Na realidade, nos-sa Academia já vem procurando se aproximar daqueles que no futuro estarão sentados nessas mesmas cadeiras que hoje ocu-pamos. O recente ciclo de palestras reunindo representantes do corpo discente das escolas de medicina do Distrito Federal e a Secretária Executiva da Comissão Nacional de Residência Médi-ca mais uma vez trouxe à tona problemas que nos incomodam há décadas e que continuam sem solução. Os debates entre es-tudantes, autoridades e confrades mostraram que nesse cam-po existe um enorme espaço de interferência para a Academia semear suas ideias e propostas. O aproveitamento da nossa experiência na formulação de políticas para a educação médica me parece fundamental.

Mas esta palestra é sobre o tempo e creio que nela já me alonguei bastante. Gostaria, contudo, de encerrar minha apre-sentação citando um curto texto de Max Weber, publicado em 1919, intitulado “Ciência como vocação”. Weber escreveu que “em nossos dias, especialmente no meio da juventude, existe a noção disseminada que a Ciência se transformou em uma questão fria de cálculo, algo que se fabrica em laboratório ou se alcança por meio de estatísticas, que envolve apenas o intelecto e não o coração e a alma de uma pessoa. Nada mais falso. O desenvolvimento da Ciência precisa tanto do laboratório quanto do entusiasmo do pesquisador”.

Também a Academia de Medicina de Brasília precisa de ambos. Somente orientando o conhecimento que adquirimos no passado em direção ao futuro poderemos aproximar nosso

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espaço de experiência do nosso horizonte de expectativas. Só assim poderemos tentar fazer coincidir nosso tempo histórico com o tempo cronológico da Academia de Medicina de Brasília.

Só assim poderemos pretender a imortalidade.Muito obrigado.

Referências Bibliográficas

KOSELLECK, Reinhart. Futuro passado: contribuição à semânti-ca dos tempos históricos. Rio de janeiro: Contraponto – Ed. PUC Rio, 2006.

ROSSI, Paolo. Naufrágio sem espectador: a ideia do progresso. São Paulo: Editora UNESP, 2000.

WEBER, Max. A Ciência como vocação (trad. Artur Morão). Dis-ponível em http://www.lusosofia.net/textos/weber_a_ciencia_como_vocacao.pdf