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ESCOLA E DIVERSIDADE CULTURAL Cultura Escolar e Assistente Técnico Pedagógico

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Page 1: Palestra FormaçãO Continuada   Cultura Escolar1

ESCOLA E DIVERSIDADE CULTURAL

Cultura Escolar e Assistente Técnico Pedagógico

Page 2: Palestra FormaçãO Continuada   Cultura Escolar1

Questão Crítica

Sob quais condições escolares tornou-se possível ou necessária a função do Assistente Técnico Pedagógico?

O que justifica, nas atuais práticas escolares, sua presença?

Poder-se-ia supor que há uma “incompletude” na formação pedagógica dos professores, o que requer a presença de um assistente?

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Para além da função do cargo

Pensá-lo criticamente é pensá-lo no limite dos saberes escolares e nas fronteiras do escolar com o social.

Pensar criticamente a razão de ser do Assistente Técnico Pedagógico é pensá-lo no âmago do fazer escolar. Não é pensar burocraticamente sobre as funções e atribuições do cargo.

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Um recorte crítico

Do complexo campo de intersecção escola-sociedade, propomos pensá-la a partir do tema da cultura.

A motivação nos vem do documento do MEC, de 2007, Idagações sobre Currículo, em cinco cadernos, com destaque dois deles:

Currículo e Conhecimento Cultural e Currículo e Diversidade.

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Escola e Sociedade: o ser do homem

Donde o Homem recebe seu ser? Desde o final do século XVII, a resposta que

mais tem feito sentido para as sociedades ocidentais diz que “o homem, para além de sua formação biológica (fisiologia), é alguém que deve dar a si mesmo seu próprio ser a partir de condições de liberdade” (KANT, E. Antropologia).

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O Ser do Homem: Sociedade e Escola

O Homem não recebe seu ser da natureza, nem das instâncias metafísicas. Nosso ser provém da cultura, é dela, na forma de Herança, que nos tornamos quem somos.

Desta noção é que Paulo Freire conclui: “O Homem é um ser de e da cultura”.

A partir disto perguntamos: qual a noção de cultura praticada na escola? Cultura não enquanto discurso, do que se diz sobre, mas enquanto práticas cotidianas do fazer escolar.

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A Cultura é aquilo que Faz o Homem

A expressão desse título é ambígua: Pode significar que a cultura é aquilo que é

feito pelo homem; Pode significar que o homem é aquilo que é

feito pela cultura. Com qual das duas devemos ficar para

compreender a função do Assistente Técnico Pedagógico na Escola?

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Noção de Cultura

O conceito de cultura tem uso complexo e, geralmente, restringe-se ao aparente, sem conhecer sua profundidade antropológica.

Nos interessa, nesse recorte crítico, um sentido muito preciso de cultura: é a condição de possibilidade para o ser do homem.

Sem a atuação produtiva da cultura sobre nós não nos tornaríamos seres humanos.

Isto quer dizer que não nascemos seres humanos: nos tornamos humanos através da cultura.

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Noção de Cultura

Cultura, portanto, não é o conjuntos dos artefatos produzidos pelo homem. Tais artefatos (música, pintura, utensílios domésticos, vestimentas, etc,) são o efeito externo da cultura.

Na sua essência, a cultura é produtora do ser do homem; o andar em dois pés, o modo de falar, o idioma que se fala, o pensamento teórico, abstrato, os pressupostos básicos acerca do mundo (nossas teorias sobre o real), o sistema de relações entre as pessoas (política) e os valores que fazem a mediação das relações (ética), tudo isso compõe a base de nossa cultura.

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Noção de Cultura

A pesquisa em Ciências Humanas visa trazer à consciência as estruturas elementares que funcionam em nosso cotidiano de modo inconsciente. São essas estruturas inconscientes que constituem nossa interioridade ou subjetividade a partir da qual nos tornamos o que somos.

Nossa subjetividade não é natural, mas construída pela cultura.

Quais são as estruturas inconscientes que atuam em nosso cotidiano escolar?

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A Diversidade

Se o ser do homem é um dos produtos da cultura, isso significa que diferentes culturas resultam em modos diferentes de o homem ser.

Tais diferenças calam muito fundo na alma dos indivíduos, elas determinam o que, do ponto de vista do indivíduo, fruto da cultura, é importante e o que não interessa; é a cultura que molda o modo como o indivíduo concebe a si mesmo, a realidade, os outros, seu destino, o mundo.

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Cultura e Escola

Diz o Documento do MEC na pág. 21: “Mudar mentalidades, superar preconceitos e

combater atitudes discriminatórias [...] lidar com valores de reconhecimento e respeito mútuo [...]. A Escola tem um papel crucial a desempenhar esse processo[...] porque é o espaço em que pode se dar a convivência entre crianças de origem e nível socioeconômico diferente, com costumes e dogmas [...] visões de mundo diversas [...] é um lugar onde são ensinadas as regras do espaço público para o convívio democrático com a diferença”.

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Cultura Escolar

Mas qual é a Cultura que predomina na Escola, também chamada de Cultura Escolar?

A escola é um local de rotinas institucionalizadas, rituais de enquadramento, gestos e condutas artificiais, linguagem padronizada, vigilância hierárquica pautada na suposta superioridade dos saberes dos professores e na inferioridade dos alunos.

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Cultura Escolar

A Escola é incapaz de perceber, compreender e valorizar a diversidade, em sentido mais profundo. A escola é etnocêntrica em todos os sentidos. Tudo o que não se adéqua a seu padrão é compreendido como inferioridade, incapacidade, patológico (chama o psicólogo, o psicopedagogo, o psiquiatra, o orientador educacional, o Assistente Técnico Pedagógico) e deve ser exterminado.

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Cultura Escolar

Segundo o documento do MEC, a escola deve ensinar o aluno a viver positivamente a diversidade cultural (Lembremos: diversos modos de ser do homem).

Mas de que forma ela pode fazê-lo, se sua cultura é monolítica e monológica: pautada num único padrão instituído e é incapaz de dialogar com o diferente, apenas sabe produzir o enquadramento?

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Cultura Escolar e Currículo

Ainda segundo o mesmo documento do MEC, “o conhecimento escolar, em decorrência de seus currículos conteudísticos, tende a ficar ‘asséptico’, ‘neutro’, despido de qualquer ‘cor’ ou ‘sabor’”.

É essa a sensação que nossas crianças e adolescentes têm na escola hoje, algo sem cor nem sabor, rotinas autoritárias, enquadramentos burocráticos, em que seu verdadeiro ser, aquele que se faz pela cultura a partir da qual são constituídos pessoas, fica de fora.

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Currículo e Saberes Escolares

A Cultura escolar constitui, igual à cultura em geral, modos específicos de o homem ser. A subjetividade dos professores (pelos longos anos em que foram alunos e agora professores) constituiu-se de modo ritualizado, com todas as sujeições impostas pelas rotinas burocráticas e autoritárias do fazer escolar.

Ao pensar a escola ele só consegue pensá-la a partir desses referenciais.

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Currículo e Saberes Escolares

Ao planejar seu programa de trabalho ele só consegue reproduzir a maquinaria burocrática.

Ao estabelecer seu relacionamento com os alunos ele só consegue fazê-lo a partir da idéia de que este é inferior, incapaz e deficiente, que necessita da generosa superioridade do professor.

A escola nos tornou “daltônicos culturais” (Docto do MEC), incapazes de compreendermos as diferenças reais, apenas vemos inferioridade onde há diferenças.

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O Assistente Técnico Pedagógico

Frente ao visível empobrecimento cultural dos saberes escolares, enquadrados, burocráticos, disciplinados, sem vida, incapazes de dar vida à diversidade, qual poderia ser o fundamental papel do Assistente Técnico Pedagógico?

Do ponto de vista da noção crítica que desenvolvemos até aqui, arrisco algumas sugestões:

A) Estudar muito sobre currículo e saberes escolares, bem como sobre cultura e diversidade cultural;

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O Assistente Técnico Pedagógico

B) Buscar conhecer, com pesquisas aprofundadas, o cotidiano escolar, suas rotinas e os entraves às relações interpessoais;

C) Conhecer, igualmente em profundidade, o modo como os professores praticam a cultura escolar, suas limitações e suas potencialidades para instaurar mudanças;

D) Conhecer, também em profundidade, a comunidade em que a escola está inserida, conhecer sua clientela, sua real condição de vida, suas famílias ou a falta dela.

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O Assistente Técnico Pedagógico

A partir disso: Acompanhar de perto os problemas que

surgem no cotidiano escolar; Buscar captar e compreender os conflitos e os

enfrentamentos culturais que aí se desenvolvem;

Elaborar, em conjunto com professores e alunos, projetos de trabalho que tragam para o interior do fazer cotidiano na cultura escolar as noções fundamentais da cultura e da diversidade.

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O Assistente Técnico Pedagógico

As diversidades são muitas. Sinalizemos, rapidamente, apenas dez delas: Diversidade econômica, div. De hábitos, religiosa, linguística, étnica, moral, estética, intelectual, afetiva, de gênero ou escolhas sexuais.

Estes elementos devem ser assumidos de modo consciente, explícito e crítico pela cultura escolar. Eles necessitam ser tematizados, em todas as aulas e disciplinas. Eles devem fazer parte do currículo oficial, não permanecendo no “currículo oculto”, silenciado e escamoteado. No silenciamento desses temas é que as grandes violências são praticadas pelos saberes escolares.

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O Assistente Técnico Pedagógico

Não adianta culpar os professores por serem limitados ou enquadrados. Tudo isso é parte do fazer escola, da cultura escolar que os constituiu.

Também não adianta ficar esperando que os professores mudem. Eles não tem como mudar por decreto.

São saberes ainda inexistentes na cultura escolar, mas que precisam ser produzidos. Creio que fazê-lo seria uma excelente missão para o Assistente Técnico Pedagógico, frente ao desafios dos novos tempos em nossa sociedade.