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Ficha catalográfica
Escola Terra Brasil. Palavras de origem africana no processo de letramento. Carolina Azevedo e Manuela Machado
Ribeiro Venancio (organizadoras). 2018. Atibaia – SP.
1. Alfabetização. 2. Letramento. 3. História e cultura afro-brasileira. 4. Palavras de origem africana. 5. Educação.
Título. Palavras de origem africana no processo de letramento.
Revisão textual: Silvia Piccioli e Andreia Lupianhe Peinado.
Editoração: Karen Moreira Venancio.
DEDICATÓRIA
Aos educadores que tenham o interesse em questionar concepções construídas pelo senso comum ao longo do
tempo, exercendo seu papel social de promover experiências e vivências escolares que garantam a aprendizagem
reflexiva do tema proposto “História e Cultura Afro-Brasileira e Africana”, cumprindo a Lei nº 10.639.
Aos alunos do 3º ano da Escola Terra Brasil (2016), que envolvidos com o projeto ampliaram a proposta inicial
engrandecendo-o ainda mais.
AGRADECIMENTOS
À Escola Terra Brasil que, por meio de sua visão humanista, propiciou que se concretizasse mais um projeto pelo
qual a aprendizagem se deu por meio de vivências, práticas pedagógicas e reflexões significativas.
À Manuela M. R. Venancio, cientista social e antropóloga, colaboradora e grande incentivadora deste e outros
projetos.
Grata,
Carolina Azevedo.
SUMÁRIO
PREFÁCIO: ..................................................................................................................................... 7
APRESENTAÇÃO: ........................................................................................................................... 8
Abadá .......................................................................................................................................... 10
Acarajé ........................................................................................................................................ 10
Agogô .......................................................................................................................................... 11
Angola ......................................................................................................................................... 11
Angu ............................................................................................................................................ 12
Axé .............................................................................................................................................. 13
Babá ............................................................................................................................................ 13
Bagunça ...................................................................................................................................... 14
Balangandãs ............................................................................................................................... 15
Bambambã .................................................................................................................................. 15
Bambolê ...................................................................................................................................... 16
Banzé ........................................................................................................................................... 16
Berimbau ..................................................................................................................................... 17
Bomba ......................................................................................................................................... 18
Borocoxô ..................................................................................................................................... 19
Bugiganga ................................................................................................................................... 20
Caçamba ..................................................................................................................................... 21
Caçula .......................................................................................................................................... 22
Cafundó ....................................................................................................................................... 23
Cafuné ......................................................................................................................................... 24
Camundongo .............................................................................................................................. 25
Canga .......................................................................................................................................... 26
Cangaceiro .................................................................................................................................. 27
Dengo / dengoso ........................................................................................................................ 28
Embalar ....................................................................................................................................... 29
Empacar ...................................................................................................................................... 30
Farofa .......................................................................................................................................... 31
Fofoca .......................................................................................................................................... 32
Fungar ......................................................................................................................................... 33
Fuxico .......................................................................................................................................... 34
Fuzuê ........................................................................................................................................... 35
Garapa ......................................................................................................................................... 36
Implicar ....................................................................................................................................... 37
Jagunço ....................................................................................................................................... 38
Lambuja ....................................................................................................................................... 39
Maluco ........................................................................................................................................ 40
Manha ......................................................................................................................................... 41
Nenê ............................................................................................................................................ 42
Orixá ............................................................................................................................................ 43
Quindim ....................................................................................................................................... 44
Sapeca ......................................................................................................................................... 45
Serelepe ....................................................................................................................................... 46
Tagarela ...................................................................................................................................... 47
CONSIDERAÇÕES FINAIS: ........................................................................................................... 48
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ................................................................................................. 50
PREFÁCIO
Apresentar o sensível e belo trabalho realizado por profissionais e crianças do terceiro ano da Escola Terra
Brasil, no ano de 2016, é em certa medida falar sobre as (pré) ocupações que norteiam as atividades e princípios
da Escola. É se referir igualmente à dedicação e do comprometimento da equipe que nos apoia e dá corpo ao
fazer pedagógico. Fazer pedagógico que extrapola as paredes da sala de aula e promove o olhar para o mundo
em toda sua diversidade e beleza; fazer pedagógico que objetiva o senso crítico, o olhar para o outro e para
outras culturas; um fazer pedagógico no qual a ética e a estética se fazem presentes.
O período de alfabetização nos remete a ideia da descoberta das letras, da escrita e das palavras, no
entanto quando o letramento norteia a alfabetização ou a ela se vincula, o que se descortina é o mundo. É isso
que se pode apreciar nesse e-book.
A escolha das palavras se deu pelo interesse das crianças durante as leituras de histórias africanas que
antecederam o trabalho propriamente dito.
A pesquisa feita para saber o significado dos vocábulos africanos exigiu novas pesquisas para visualizar
esses objetos tão belamente representados nos desenhos feitos pelas crianças.
Dando voz aos interesses e curiosidades das crianças envolvidas no projeto, observamos a seriedade,
amplitude e funcionalidade a partir das vivências, trocas de ideias, pesquisas e discussões a fim de saciar a
vontade de aprender que tanto fomentou o grupo, acerca da temática por elas escolhida.
O resultado permeia o aprendizado, por nós, adquirido.
Profª Doutora Magda M. R. Venancio
Doutora em Psicologia da Educação e do Desenvolvimento Humano PUCCAMP-SP
Diretora da Escola Terra Brasil
APRESENTAÇÃO
Palavras de origem africana no processo de letramento é resultado de um projeto pedagógico idealizado
pela pedagoga Carolina Azevedo, educadora na Escola Terra Brasil – Atibaia. Em 2016, esta professora do 3º ano
do Ensino Fundamental I, adotou como parte integrante da prática literária em sala de aula, o livro do escritor
Claude Blum – “O homem frondoso e outras histórias da África”, com o objetivo de despertar nos alunos o
interesse pelo gênero textual: “contos africanos”. Para isto, as crianças realizaram leituras coletivas e
individualizadas das histórias apresentadas no referido livro e compartilharam entre si suas interpretações. Além
disso, intencionou-se estimular a reflexão crítica em relação aos saberes africanos que carregamos até hoje, em
nosso dia a dia, e que podem ser utilizados no processo da aprendizagem escolar.
O processo de ensino-aprendizagem é uma longa trilha a ser percorrida, em que múltiplas formas de
conhecimento como: a Literatura, as Artes e as Ciências Sociais podem e devem se entrecruzar para possibilitar ao
aprendiz construção crítica, reflexiva e visões socioculturais e educativas plurais. Nesse processo, a professora
possibilitou aos alunos que participassem efetivamente do projeto e assim compreendessem a importância e a
influência da África e dos africanos na formação do Brasil.
A lei 10.639 sanciona a obrigatoriedade do ensino da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”, a qual
consideramos ser de suma importância, uma vez que aprender com seriedade sobre a formação social, cultural e
política do Brasil exige, sem sombra de dúvidas, reconhecer a presença africana em nosso país, as inúmeras
contribuições dos “povos africanos” que ao serem violentamente trazidos em navios negreiros trouxeram consigo
saberes próprios, apesar da tentativa do colonizador em apagá-los.
As línguas africanas são um modo de conhecimento, cuja influência no vocabulário do brasileiro é
significativa, mas pouquíssimo trabalhada em salas de aula. Aliás, muitos de nós sequer temos “consciência” de
que reproduzimos em falas cotidianas vocábulos de origem africana. Como afirma Kabengele Munanga:
“Algumas palavras da língua banto são correntemente utilizadas sem consciência por todos os brasileiros
(por exemplo: bunda, quitanda, caçula, marimbondo, quiabo, jiló e cachimbo)” (2009, p. 94).
Dito isto, o projeto pedagógico desenvolvido com e pelos alunos do 3º ano visou cobrir tal lacuna para
que as crianças soubessem a origem e o significado dos termos que dizem e/ou escutam. Como o léxico africano é
extenso foram selecionados vocábulos corriqueiros, isto é, amplamente difundidos na fala diária dos brasileiros:
“bagunça”, “bomba”, “caçula”, “cochilar”, “fofoca”, “nenê”, entre outros, tendo sido compilados em ordem
alfabética justamente com o intuito de confeccionar um dicionário ilustrado com palavras africanas utilizadas no
processo de alfabetização e letramento das crianças da Escola Terra Brasil.
As fontes consultadas para o desenvolvimento do projeto pedagógico foram livros voltados à temática
“história e cultura afro-brasileira e africana”, bem como sites específicos da área, a exemplo do Geledés – Instituto
da Mulher Negra.1
1 https://www.geledes.org.br/palavras-de-origem-africana-no-vocabulario-brasileiro/, último acesso em 20 de abril de 2018.
Esperamos que este e-book seja adotado por outras instituições de ensino que objetivam um trabalho
pedagógico sério que valoriza a “História e Cultura Afro-Brasileira”, bem como o combate ao racismo no âmbito
educacional que são urgentes. A lição de casa não é fácil, ainda mais em um país no qual o mito da democracia
racial ainda se famz presente nos bancos escolares. Porém, os educadores não podem fazer vista grossa a
assuntos de suma importância que envolvem o despertar da consciência e do respeito à diversidade étnico-racial.
Carolina Azevedo e Manuela Machado Ribeiro Venancio.
Axé
2
2 Conforme Juana Elbein dos Santos: o àse é “um poder sobrenatural”, “uma força propulsora” (1976, p. 36), “o conteúdo mais precioso do ‘terreiro’.” (1976, p. 39)
Orixá
3
3 Segundo definição de Juana Elbein dos Santos: “Os òrìsà, forças ou entidades sobrenaturais, princípios simbólicos reguladores
dos fenômenos cósmicos, sociais e individuais [...]”. (1976, p. 44-45).
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
A partir da leitura do livro paradidático “O homem frondoso e outras histórias da África”, de Claude Blum,
despertamos o interesse e a curiosidade de nossos alunos em ampliarem a aquisição do conhecimento da
temática inicialmente proposta: histórias e contos africanos.
Desse modo, a busca por conhecimento se deu por meio de uma pesquisa referente aos significados das
palavras africanas utilizadas em nosso dia a dia. A segunda etapa da pesquisa foi a confecção de um rico
dicionário ilustrado que é utilizado na Escola Terra Brasil como um banco de palavras no processo de alfabetização
e letramento nas séries iniciais.
O dicionário ilustrado compôs a exposição “Heróis Negros Brasileiros” na Semana Cultural da Escola Terra
Brasil, nos anos de 2016 e 2017, manifestando inúmeras reações de pais e alunos ao se depararem com as
palavras expostas e se darem conta da influência lexical africana no nosso cotidiano. Um projeto fascinante que
serviu como grande incentivador de outros na Escola Terra Brasil.
Desse modo, ainda na Semana Cultural, alunos e professores da Terra Brasil contaram com a presença do
PH Côrtes, jovem negro idealizador de um canal no Youtube, intitulado “Meus heróis negros brasileiros” que
serviu de referência nas aulas do quarto ano, uma vez que pudemos ensinar às crianças sobre heróis negros e
heroínas negras, comumente apagados dos livros didáticos infanto-juvenis. No entanto, sabemos que a história
do movimento negro é secular, de luta e resistência contra o sistema racista e opressor da sociedade brasileira. Os
alunos fizeram uma catalogação dos principais heróis e heroínas afrodescendentes, bem como a produção de
desenhos, cuja autoria é dos próprios alunos para ilustrarem imageticamente esses ícones negros. A saber:
Carolina de Jesus, Luiza Mahin, Maria Felipa, Dandara, Laudelina Campos, Chiquinha Gonzaga, Teresa de
Benguela, Antonieta de Barros, Cruz e Sousa, Luís Gama, Machado de Assis, Solano Trindade, Teodoro Sampaio,
Abdias dos Nascimento, Zumbi dos Palmares, João Cândido, André Rebouças, entre outros. Como resultado final
desse projeto pedagógico, tais produções imagéticas foram utilizadas para a construção de um painel permanente
na Escola, sobre ilustres personalidades negras que não podem ser esquecidas, afinal, são parte da nossa história
nacional.
Na esteira dos trabalhos pedagógicos da Escola Terra Brasil em torno da temática afro-brasileira, no ano
de 2018, as professoras Carolina e Manuela desenvolvem o projeto “Ko, Kàwé”. Ambas as palavras são de origem
yorubá, sendo que Ko significa escrever; e Kàwé: “ler um livro ou uma carta”, conforme o Dicionário Yorubá-
Português, de José Beniste (2011). Este projeto é uma troca de cartas entre os alunos do quarto ano da Terra Brasil
e as crianças do Quilombo Brotas de Itatiba, em parceria com o quilombola Alessandro Nunes, da Associação
Cultural Quilombo Brotas.
Por fim, compartilhamos nossas ideias, propostas e resultados pedagógicos para interessados em
desenvolver, na área da Educação, trabalhos sérios com intuito de fazer valer o que nos é dever: cumprir a lei
10.639/03, a qual estabelece a obrigatoriedade do ensino da “História e Cultura Afro-Brasileira e Africana” nas
escolas públicas e privadas do Ensino Infantil, Fundamental I e II e Ensino Médio. Entretanto, consideramos que
independente da obrigatoriedade da lei, nós enquanto educadoras e educadores devemos abordar de modo inter
e transdisciplinar as histórias da África e sua pluralidade sociocultural, bem como tratar sobre a história e a cultura
afro-brasileira. Afinal, como procuramos mostrar, a contribuição africana no Brasil é gigante, o que implica afirmar
que é impossível pensar o Brasil sem uma correlação ao continente africano.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BENISTE, José. Dicionário Yorubá-Português / José Benites. – Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.
BLUM, Claude. O homem frondoso e outras histórias da África / reunidos por Claude Blum; ilustrações de Grégoire
Vallancien ; tradução de Hildegard Feist – São Paulo : Companhia das Letrinhas, 2011. Título original: Contes
africains.
MUNANGA, Kabengele. Origens africanas do Brasil Contemporâneo: histórias, línguas, culturas e civilizações.
Kabengele Munanga – São Paulo: Global, 2009.
SANTOS, Juana Elbein dos. Os Nagô e a morte: Pàdè, Àsèsè e o culto Égun na Bahia; traduzido pela Universidade
Federal da Bahia. Petrópolis, Vozes, 1976. (Mestrado, v. 4). 2ª edição.
SITES CONSULTADOS:
Geledés Instituto da Mulher Negra:
https://www.geledes.org.br/palavras-de-origem-africana-no-vocabulario-brasileiro/, último acesso em 20 de abril
de 2018.
https://www.geledes.org.br/palavras-de-origem-africana-usadas-em-nosso-vocabulario/, último acesso em 04 de
junho de 2018.
https://www.geledes.org.br/palavras-de-origem-africana-no-vocabulario-brasileiro/, último acesso em 04 de junho
de 2018.
Escrito e Falado:
http://dicasdeportugues.com/palavras-brasileiras-de-origem-africana/, último acesso em 04 de junho de 2018.
Norma Culta. Língua Portuguesa em bom Português:
https://www.normaculta.com.br/palavras-de-origem-africana/, último acesso em 04 de junho de 2018.