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Um menino andava pela praia catando algumas estrelas do mar e jogando nas ondas. Um passante que viu aquilo disse: “Menino, que diferença faz você jogar 4 ou 5 estrelinhas no mar, quando há milhares pela areia?”. O menino respondeu: “Para essas 4 ou 5 faz muita diferença!” Quantas vezes ouvimos de políticos discursos inflamados e comovedores sobre a miséria, a fome, a necessidade de trabalhar pela inclusão social dos pobres. Contudo, quase sempre, sabemos que ficam somente no discurso. Por isso, é admirável ver pessoas de iniciativa e coragem que se levantam para aliviar o sofrimento do próximo. Vale lembrarmos aqui do enorme exército de voluntários que reservam suas horas para trabalhar em asilos, hospitais e instituições de caridade. Vale lembrar as ONGs empenhadas em matar a fome dos famintos, curar feridas e doenças, melhorando a qualidade de vida de tantos excluídos e ativando suas esperanças! Ao lado das entidades filantrópicas estão também empresários que se preocupam com o social e oferecem capacitação, assistência e investimentos em projetos sociais para seus funcionários e comunidades. Queremos congratular com todas essas iniciativas de pessoas que abrem os corações e as mãos para ajudar o próximo, apesar das dificuldades que sempre aparecem no caminho. Por favor, não desanimem! Lembrem-se sempre de uma palavra da Sagrada Escritura. “Há mais alegria em dar do que em receber” (At.20,35) Fiquem com Deus e parabéns por iniciativas como esta! Dom Silvestre Scandiam “Palavras comovem, exemplos arrastam” Este é o terceiro volume de uma série de relatos da vida empreendedora daqueles que estão mudando a cara do Estado do Espírito Santo. Desta vez, o livro conta os desafios dos empreendedores sociais e é considerado o pioneiro relato deste nível no Brasil, em sua área de atuação. O empreendedorismo social no Espírito Santo ganha força e reconhecimento com essas instituições, organizações não-governamentais e pessoas simples que em suas comunidades realizam trabalhos sociais de extrema importância para a recuperação e desenvolvimento de milhares de crianças e adolescentes em risco social. O empreendedor social, assim como o empresarial, trabalha com prazer em sua gestão. São sonhadores, determinados e têm um forte espírito de liderança e transparência. São pessoas energizadas que contagiam equipes para transformarem sonhos em metas, gerar empregos, transformar vidas e aumentar a esperança por melhores condições de vida. ACACCI - Associação Capixaba de Combate ao Câncer Infantil ACES - Ação Comunitária do Espírito Santo AFECC - Associação Feminina de Educação e Combate ao Câncer Agricultura Orgânica Avedalma - Abrigo à Velhice Desamparada Auta Loureiro Machado Apae - Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais Banco Bem - Artidéias (Bairro São Benedito) Casa Sagrada Família - Arquidiocese de Vitória Congregação Missionárias da Caridade Consórcio Caparaó Elias Lorenzutti Fazenda Espírita Velozo - Comunidade "Senhor dos Passos" Fundação Otacílio Coser Montanha da Esperança Mosteiro Zen Budista Obra Social Cristo Rei Pestalozzi Linhares Programa de Combate ao Câncer de Pele dos Pomeranos Projeto Vill'Agindo para ser Feliz Raimundo de Oliveira - Morro dos Alagoanos Rede Aica – Cáritas Arquidiocesana Roberto Anselmo Kautsky - Orquidófilo e Bromeliófilo Carolina Veiga, nascida em agosto de 1977, é capixaba, se formou em Jornalismo pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), no ano 2000. Tem especialização em Marketing pelo MBA da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e especialização em “Economia para Comunica- dores”, pela UFES. Começou sua carreira na Rádio CBN, passando pela TV Vitória e GTV (TV a cabo da Rede Gazeta) como repórter e apresentadora de um programa independente enquanto trabalhava como repórter na redação do Jornal A Gazeta. Em 2003 conquistou o prêmio Aberje na categoria “Repórter de TV” com a reportagem “Herzlich Willkommen”, sobre a imigração alemã no Espírito Santo. Atua como assessora de imprensa na área de marketing do Sistema Findes e é autora dos dois primeiros volumes do livro ES Empreendedor. Foto: Alê Cristão

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Um menino andava pela praia catando algumas

estrelas do mar e jogando nas ondas. Um passante

que viu aquilo disse: “Menino, que diferença faz

você jogar 4 ou 5 estrelinhas no mar, quando há

milhares pela areia?”. O menino respondeu: “Para

essas 4 ou 5 faz muita diferença!”

Quantas vezes ouvimos de políticos discursos

inflamados e comovedores sobre a miséria, a fome,

a necessidade de trabalhar pela inclusão social dos

pobres. Contudo, quase sempre, sabemos que

ficam somente no discurso. Por isso, é admirável

ver pessoas de iniciativa e coragem que se

levantam para aliviar o sofrimento do próximo.

Vale lembrarmos aqui do enorme exército de

voluntários que reservam suas horas para trabalhar

em asilos, hospitais e instituições de caridade. Vale

lembrar as ONGs empenhadas em matar a fome

dos famintos, curar feridas e doenças, melhorando

a qualidade de vida de tantos excluídos e ativando

suas esperanças!

Ao lado das entidades filantrópicas estão também

empresários que se preocupam com o social e

oferecem capacitação, assistência e investimentos

em projetos sociais para seus funcionários e

comunidades. Queremos congratular com todas

essas iniciativas de pessoas que abrem os corações

e as mãos para ajudar o próximo, apesar das

dificuldades que sempre aparecem no caminho.

Por favor, não desanimem! Lembrem-se sempre

de uma palavra da Sagrada Escritura. “Há mais

alegria em dar do que em receber” (At.20,35)

Fiquem com Deus e parabéns

por iniciativas como esta!

Dom Silvestre Scandiam

“Palavras comovem, exemplos arrastam”Este é o terceiro volume de uma série de

relatos da vida empreendedora daqueles

que estão mudando a cara do Estado do

Espírito Santo. Desta vez, o livro conta

os desafios dos empreendedores sociais e

é considerado o pioneiro relato deste

nível no Brasil, em sua área de atuação.

O empreendedorismo social no Espírito

Santo ganha força e reconhecimento

com essas instituições, organizações

não-governamentais e pessoas simples

que em suas comunidades realizam

trabalhos sociais de extrema importância

para a recuperação e desenvolvimento

de milhares de crianças e adolescentes

em risco social.

O empreendedor social, assim como o

empresarial, trabalha com prazer em

sua gestão. São sonhadores,

determinados e têm um forte espírito

de liderança e transparência. São

pessoas energizadas que contagiam

equipes para transformarem sonhos em

metas, gerar empregos, transformar

vidas e aumentar a esperança por

melhores condições de vida.

ACACCI - Associação Capixaba de Combate ao Câncer Infantil

ACES - Ação Comunitária do Espírito Santo

AFECC - Associação Feminina de Educação e Combate ao Câncer Agricultura Orgânica

Avedalma - Abrigo à Velhice Desamparada Auta Loureiro Machado

Apae - Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais Banco Bem - Artidéias (Bairro São Benedito) Casa Sagrada Família - Arquidiocese de Vitória Congregação Missionárias da Caridade Consórcio Caparaó

Elias Lorenzutti

Fazenda Espírita Velozo - Comunidade "Senhor dos Passos" Fundação Otacílio Coser Montanha da Esperança

Mosteiro Zen Budista Obra Social Cristo Rei

Pestalozzi Linhares Programa de Combate ao Câncer de Pele dos Pomeranos

Projeto Vill'Agindo para ser Feliz Raimundo de Oliveira - Morro dos Alagoanos

Rede Aica – Cáritas Arquidiocesana Roberto Anselmo Kautsky - Orquidófilo e Bromeliófilo

Carolina Veiga, nascida em

agosto de 1977, é capixaba, se

formou em Jornalismo pela

Universidade Federal do Espírito

Santo (UFES), no ano 2000.

Tem especialização em Marketing

pelo MBA da Fundação Getúlio

Vargas (FGV) e especialização

em “Economia para Comunica-

dores”, pela UFES.

Começou sua carreira na Rádio

CBN, passando pela TV Vitória

e GTV (TV a cabo da Rede

G a z e t a ) c o m o r e p ó r t e r e

apresentadora de um programa

i n d e p e n d e n t e e n q u a n t o

trabalhava como repórter na

redação do Jornal A Gazeta.

Em 2003 conquistou o prêmio

Aberje na categoria “Repórter de

T V ” c o m a r e p o r t a g e m

“Herzlich Willkommen”, sobre a

imigração alemã no Espírito

Santo. Atua como assessora de

imprensa na área de marketing

do Sistema Findes e é autora dos

dois primeiros volumes do livro

ES Empreendedor.

Foto: Alê Cristão

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espírito santoempreendedor

volume 3

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CARolINA veIGA

espírito santoempreendedor

volume 3

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Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio, desde que divulgadas as fontes.

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Veiga, Carolina. Espírito Santo Empreendedor/ Carolina Veiga. – Vitória: Sebrae-ES; Findes, Fecomercio, 2008. 300 p. il.

ISBN ___________________________978-85-7333-485-2

1. Empreendedorismo. 2. Responsabilidade Social. 3. Entidades Filantrópicas

CDU:

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SUMÁRIO

PREFÁCIO ..................................................................................................................................................................................... 9

INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................................................... 11

AGRADECIMENTOS DA ESCRITORA ....................................................................................................... 13

ACACCI ........................................................................................................................................................................................... 15

Aces ................................................................................................................................................................................................. 27

AFECC ............................................................................................................................................................................................ 37

Agricultura Orgânica ................................................................................................................................. 49

AVEDALMA ................................................................................................................................................................................ 65

Apae .................................................................................................................................................................................................. 83

Banco Bem ............................................................................................................................................................................ 97

Casa Sagrada Família - Arquidiocese de Vitória ............................................. 115

Congregação Missionárias da Caridade .................................................................. 131

Consórcio Caparaó .......................................................................................................................................... 141

elias lorenzutti ................................................................................................................................................... 159

Fazenda espírita Velozo ........................................................................................................................... 171

Fundação Otacílio Coser ....................................................................................................................... 181

Montanha da Esperança ........................................................................................................................ 193

Mosteiro Zen Budista ................................................................................................................................. 205

Obra Social Cristo Rei ............................................................................................................................... 223

Pestalozzi Linhares .......................................................................................................................................... 237

Programa de Combate ao Câncer de Pele dos Pomeranos ..... 251

Projeto Vill’Agindo para ser Feliz ............................................................................................ 261

Raimundo de Oliveira ................................................................................................................................. 269

Rede Aica – Cáritas Arquidiocesana ................................................................................. 281

Roberto Anselmo Kautsky ................................................................................................................. 289

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eSPÍRITo SANTo emPReeNDeDoR

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P R E FÁC I O

É com imensa satisfação que escrevo o prefácio deste li-vro, considerado o primeiro no Brasil dedicado exclusivamente a divulgar o trabalho social de Organizações Não Governa-mentais, fundações, instituições e pessoas simples do Espírito Santo que unidas num só pensamento conseguiram conquistar seus ideais grandiosos de amor ao próximo, proteção à nature-za, alimentação saudável e o equilíbrio mental e espiritual.

Os senhores leitores estão convidados para embarcar em uma viagem pelo mundo da solidariedade. Um mundo repleto de dificuldades, tropeços e provações, mas que não desanimam os obstinados em sua luta solidária em fazer o bem sem olhar a quem e que não prevê lucros ou ganhos materiais, mas, sim, aquele bem-estar em ver uma criança bem alimentada sorrir, um jovem saudável estudar ou a terra sendo utilizada de forma sustentável sem danificar a natureza.

Este é um livro, senhores leitores, que eu acredito que irá tocá-lo profundamente. Em algum capítulo, algum depoi-mento, uma frase, um desabafo ou com alguma mensagem de esperança, iremos nos identificar. E isso é extremamente posi-tivo porque somente o que toca a nossa sensibilidade, é capaz de nos fazer ativos para querer dar nossa contribuição para a mudança da realidade brasileira. Podemos sim, fazer a nossa parte com responsabilidade social.

Para que adianta um País crescer economicamente ten-do ao seu redor uma população sem estudo, sem qualificação profissional, sem amparo, sem casa, sem alimento, sem família, sem esperança, sem a noção de Deus em suas vidas. Que futu-ro podemos esperar para nossos filhos e netos? “O que queres que os homens façam por ti, faz igualmente por eles”, dizia Jesus na Terra.

A violência, fruto da desigualdade social que bate à nossa porta precisa ser controlada. Acreditamos que somente

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com a educação, dedicação, amparo e boas práticas de polí-ticas públicas e do terceiro setor com projetos sociais sérios e disciplinados como estes relacionados no livro, poderemos reverter este quadro. O caminho é longo e a jornada é árdua, mas estamos dando o pontapé inicial. Caminhemos juntos nos ensinamentos do Pai de Jesus Cristo, que nos enviou o maior de seus mandamentos: “Amarás a Deus de todo o teu coração e ao teu próximo, como a ti mesmo.”

José Lino SepulcriPresidente do Conselho Deliberativo do Sebrae-ESPresidente do Sistema Fecomercio-ES/Sesc/Senac

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i n t r o d u ç ão

Para mim é uma grande honra e prazer participar da apresentação do livro ES Empreendedor - Volume 3, que aborda a experiência de empreendedores que, como vo-luntários, atuando em organizações do terceiro setor, estão contribuindo para melhorar a qualidade de vida da popula-ção do nosso Espírito Santo.

Quando lançamos os volumes 1 e 2 nos anos de 2006 e 2007, na época uma iniciativa do Sebrae-ES e do Sistema Findes, pude constatar, no relato de todas as histórias dos em-presários citados, uma série de comportamentos que também são comuns aos protagonistas desta terceira edição.

Em todos eles, sejam empreendedores que a partir de uma idéia construíram empresas de sucesso ou cidadãos que resolveram se dedicar às causas sociais, percebe-se um sonho de querer transformar o mundo, independentemente dos enormes obstáculos a serem enfrentados.

Algumas características comportamentais empreen-dedoras são comuns à maioria deles no incessante traba-lho desenvolvido: ousadia, coragem, iniciativa, persistência, bom relacionamento, persuasão, comprometimento e, prin-cipalmente, muito, muito trabalho. Eles, simplesmente, não desistem de realizar os seus sonhos.

Eu já senti, muitas vezes, na “própria pele”, o que é querer mudar o mundo, começar uma Organização Não-Governamental do zero e levá-la até patamares que produ-zam, verdadeiramente, resultados efetivos. Deus deu-me a oportunidade, ao longo de minha vida, junto com vários companheiros, de fundar e administrar várias instituições e/ou parcela mais necessitada da nossa sociedade.

Foi assim com o Movive – Movimento Vida Nova Vila Velha, a Abapa – Associação Brasileira dos Amigos

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dos Passos de Anchieta, a AJA – Associação Junior Achie-vement, o Lions Clube de Vila Velha-Praia e muitos outros projetos. Foi um grande aprendizado!

Espero que os exemplos destes heróis, alguns quase anônimos e pouco conhecidos, possam estimular um maior número de pessoas a dedicar-se, como voluntários, a causas sociais, contribuindo, assim, para o desenvolvimento sus-tentável do nosso Estado e de nosso País.

As suas histórias de vida, registradas nas próximas páginas, merecem o aplauso de todos nós!

Lucas Izoton VieiraPresidente do Sistema Findes

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Agradecimentosda escritora

Quando o superintendente do Sebrae-ES, João Felício Scárdua me convidou para escrever este volume 3 do livro sobre os empreendedores do Espírito Santo, estávamos na noite do lança-mento do livro volume 2, em 2007, e, sinceramente, não imagina-va que este trabalho iria influenciar tanto a minha vida.

A idéia de Scárdua é reconhecer e divulgar o extenso serviço prestado por este batalhão de guerreiros voluntários e empreendedores que, com dedicação e muito amor, conseguem desbravar imensas dificuldades e conquistar metas que antes eram apenas sonhos.

O que mais me impressionou em todos os entrevistados foi o brilho nos olhos e a determinação incansável em ajudar o próximo. Carinho, ternura e compreensão com os menos favoreci-dos resumem a força desses empreendedores que não esperam por ninguém na hora de socorrer os necessitados.

A vida moderna e a tecnologia trazem conforto, mas percebemos a partir dessas histórias, que nossa essência de ser humano é a mesma. As desigualdades sociais, a insegurança, a ânsia pelo consumo e a correria cotidiana são incentivos ao nosso direito de cidadão de conseguir remanejar o tempo para prestar atenção à nossa volta.

Os empreendedores sociais são pessoas energizadas que contagiam equipes, transformam sonhos em metas, geram em-pregos e fortalecem a esperança. Podemos perceber que eles não perdem tempo reclamando das dificuldades, mas sim, estabelecem soluções com fé e trabalham muito.

Nós fazemos o nosso tempo e a compensação de se doar é emocionante e indescritível. Minha vida agora é mais completa, desde que conheci as pessoas deste livro.

Agradeço especialmente a toda equipe do Sebrae-ES, em especial ao João Felício Scárdua pela confiança e apoio. Obrigada ao Sistema Findes, ao presidente Lucas Izoton, diretor-gestor do

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Sesi, Ricardo Barbosa, Solange Siqueira, Benildo Denadai, Vitali-no Araújo, Heriberto Simões, Gustavo Tenório, Juliana Assunção e suas competentes equipes. Em especial, meu abraço aos amigos irmãos da equipe de Marketing. Sem vocês, não teria conseguido. Agradeço também a todo time da Artcom pelo carinho e paciência na reta final.

Obrigada aos meus pais, Wagner e Marlene, que muitas ve-zes acompanharam pessoalmente as entrevistas. Inclusive a ilustra-ção e as letras da capa do livro foram mantidas conforme a pintura original de Wagner, como se fazia na década de 70, quando não havia computador.

Obrigada aos queridos, irmão Luciano, primo Leandro Carmelini, Gustavo Mendonça, Maressa Moura, Simone Al-vim, Alice Moura, Valeria Semeraro e a toda minha família de amigos e parentes, incluindo os tios José Orlando, Itália, Marli e suas famílias.

Obrigada à revisora Fabíola Colares pela forte e incondicio-nal amizade, à dupla Gladston e Cláudia Dutra, e a todos que esti-veram ao meu lado e participaram deste trabalho de alguma forma. Como se percebe, escreveria, se pudesse, inúmeras páginas!

Esperamos que essas histórias emocionem você, leitor. Mas emocionar é tão pouco... Queremos mesmo que você comece a agir, pois sem ação, sonhos ficam esquecidos, escondidos no coti-diano atual, em que estamos sempre ocupados, com a desculpa de estar sem tempo para olhar para os lados.

Você é livre para ajudar e se sentir feliz por isso.

“Realmente não sei se os mais ajudados são as famílias necessitadas ou se somos nós, os voluntários.”

Doris AlmeidaCasa Sagrada Família

Carolina VeigaJornalista e escritora

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ACACCI – Associação Capixaba de Combate ao Câncer Infantil ESPÍRITO SANTO EMPREENDEDOR

“CADA CRIANÇA, AO NASCER, TRAZ-NOS A MENSAGEM DE QUE DEUS

NUNCA PERDE A ESPERANÇA NOS HOMENS”Martin Luther King

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Ao visitar o Núcleo de Apoio bem estruturado da Associa-ção Capixaba de Combate ao Câncer Infantil (Acacci), em Jardim Camburi, não é possível imaginar o quão longa e difícil foi a jornada de seus coordenadores para construir de maneira digna uma história de amor, dedicação, fidelidade e superação de obstáculos em prol de uma causa, em prol da saúde, que pode vencer o câncer infantil.

A saúde tende a ser a maior preocupação dos pais em relação ao nascimento de um filho. Quando exames e diagnósticos apontam para uma doença como o câncer, a notícia soa como fatal e sentencial. A família, muitas vezes, sente-se desamparada e aflita por falta de informações e auxílio sobre como lidar com a nova realidade.

Há 20 anos em atuação no Espírito Santo, a organização não-governamental Acacci realiza um trabalho dedicado à melhoria da saúde e qualidade de vida dos afetados pelo câncer infantil. É um trabalho cheio de carinho, atenção e paciência, que vê brotar a espe-rança de cura a cada dia, no brilho dos olhos das crianças.

A estrutura da organização está sempre em desenvolvimento para aprimorar esse atendimento, que tem como principal finalidade aumentar o enfrentamento da doença, minimizando as angústias e

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resgatando os valores de cidadania dos meninos e meninas que sofrem de câncer. Atualmente, a instituição cuida de cerca de 470 crianças.

A palavra câncer representa um conjunto de mais de 200 do-enças (patologias) que têm em comum um processo de crescimento desordenado de células anormais em diferentes partes do organismo e que pode ocorrer em qualquer idade, tanto em crianças quanto em adultos. O tipo de tecido corporal de onde essas células se originam e começam a se multiplicar determina o tipo de câncer e influencia o seu grau de gravidade, bem como a maior ou menor facilidade de tratamento.

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer re-presenta a terceira principal causa de morte no Brasil, com aproxima-damente 110.000 óbitos por ano. Em crianças, diferente dos adultos, o câncer afeta geralmente células do sistema sanguíneo e dos tecidos de sustentação, sendo que os atuais métodos de tratamento são mais eficientes e as chances de cura muito maiores do que em adultos.

O tipo de câncer mais comum na infância é a leucemia lin-fóide aguda (LLA), que é também um dos tipos de mais alto índice de cura, chegando à cura completa em cerca de 70% dos casos. Esses dados estatísticos, antes válidos apenas no exterior, desde a década de 80 são aplicáveis também para o Brasil. É importante ressaltar que os medicamentos que combatem o câncer infantil estão se tornando cada vez mais eficientes; na década de 60, menos de 30% dos casos de leucemia na infância eram curáveis.

Quando uma dificuldade gera oportunidadeA história bem-sucedida da Acacci começou a partir do caos.

As dificuldades encontradas no serviço público de saúde no Espírito Santo, na década de 80, principalmente em relação aos pacientes do Setor de Oncologia, motivaram um grupo de pais de crianças com câncer, médicos e outros profissionais envolvidos, além de membros da sociedade em geral, a se organizarem com o propósito de pelo menos minimizar os problemas que se acumulavam.

O Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória, em Vitória, havia iniciado os trabalhos do Setor de Oncologia em 1986, atenden-do pacientes de todo o Estado do Espírito Santo e dos municípios

ESPÍRITO SANTO EMPREENDEDOR ACACCI – Associação Capixaba de Combate ao Câncer Infantil

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limítrofes da Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Em pouco tem-po, seus profissionais e os muitos pacientes começaram a enfrentar dificuldades no atendimento, com as instalações não adequadas e um ambiente totalmente desumanizado.

“Além disso, os leitos permaneciam ocupados porque muitas famílias, por questões econômicas, não tinham como retirar dali os filhos em tratamento e, quando o faziam, isso gerava o abandono do processo. Porém, esta realidade não desanimou o grupo, produziu mais força e disposição”, conta a presidente da entidade, Suely Miran-da Có, voluntária da Acacci.

A partir de soluções testadas em outras regiões do País, e até no exterior, o movimento focou seu trabalho na busca por um am-bulatório voltado para o câncer infantil e na adaptação de uma enfer-maria com mais conforto. Porém, estas primeiras vitórias mostraram que ainda faltava muito para se conseguir a garantia de maior eficácia no combate à doença.

“Precisava-se de uma estrutura que pudesse ampliar a assis-tência e o apoio aos mais pobres, de forma que, além de manter o pa-ciente, permitisse que os parentes tivessem condições de acompanhar todos no caminho da cura”, conta a vice-presidente da Acacci, Elisa Maria Frechiani, que também é voluntária do projeto “Convivendo com a Arte”.

Foi com a força desse conjunto de objetivos que nasceu em 15 de março de 1988, a Acacci. Desde seu início, a entidade se mantém com doações em dinheiro, produtos ou serviços, vindos de governos em suas instâncias municipal, estadual ou federal, empresas públicas e privadas, associações da sociedade civil e de pessoas físicas. Adminis-trada por uma diretoria e um conselho fiscal de voluntários e também funcionários, desde sua Fundação, a entidade vem ampliando o leque de serviços de acolhimento que oferece às crianças e adolescentes e aos familiares que os acompanham durante a longa jornada.

“Eles recebem passagens para se deslocar de suas cidades de origem ou retornar a elas e hospedagem e alimentação no Núcleo de Apoio enquanto permanecerem em Vitória, e mais vales-transporte, medicamentos, roupas e ajuda de custo. E o que não é menos impor-

ACACCI – Associação Capixaba de Combate ao Câncer Infantil ESPÍRITO SANTO EMPREENDEDOR

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ESPÍRITO SANTO EMPREENDEDOR ACACCI – Associação Capixaba de Combate ao Câncer Infantil

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tante: assistência psicológica, participação em atividades para minimi-zar o impacto emocional provocado tanto pela enfermidade quanto o seu combate e programas de manutenção do rendimento escolar”, informa Suely.

O nome Acacci é, em toda a sociedade capixaba, sinônimo de carinho, amor, compreensão, gratidão, apoio, organização e discipli-na. Esse conjunto de qualidades impulsiona a qualidade dos serviços gerando tratamentos bem-sucedidos e credibilidade junto ao merca-do impulsionando a aprovação de novos projetos e patrocínios.

Além das atividades no Hospital Infantil, a Acacci possui o Núcleo de Apoio no bairro Jardim Camburi, em Vitória, onde funciona a sede da entidade. Criado em 1991, o Núcleo de Apoio é uma casa de passagem (albergue) com capacidade para hospedar e alimentar diariamente até 30 crianças, adolescentes e acompanhantes que residem no interior, em fase de tratamento quimioterápico ou radioterápico e que não é necessário hospitalização.

Organização da entidadeA diretoria da instituição, mirando na profissionalização dos

serviços do terceiro setor, organiza-se nos tópicos básicos de um pla-nejamento estratégico empresarial, como: Missão, Objetivos, Com-promissos, Visão e Valores. Foi definido que a missão da Acacci é promover o combate ao câncer infantil e juvenil no Espírito Santo, atuando em parceria com instituições públicas e privadas, por meio de ações psicossociais que propiciem adequado acolhimento aos en-volvidos e, por conseqüência, melhor enfrentamento da doença, de forma a minorar seu sofrimento e resgatar a sua cidadania.

Os objetivos da entidade são: Prestar assistência psicossocial às crianças e adolescentes portadores de câncer, bem como às suas famílias, propiciando lhes suporte físico e psicológico para melhor en-frentamento da doença. Articular esforços públicos e privados para o fortalecimento de uma política pública voltada para o atendimento de crianças e adolescentes com câncer. Implementar ações que propiciem o desenvolvimento e melhoria das competências dos profissionais de saúde, dos funcionários e dos voluntários, visando o adequado aten-dimento às crianças e adolescentes com câncer.

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A entidade definiu também os seguintes compromissos: contribuir para diagnósticos mais precisos e tratamentos adequados para obtenção de índices de cura compatíveis com os dos grandes centros de tratamento do País. Sua visão é tornar-se uma entidade de referência nacional nas ações que propiciem o combate ao câncer infanto-juvenil.

Condições dignas de tratamentoTodas as diretrizes organizadas da Acacci têm como base

importantes valores que envolvem o tratamento, tais como: Todos os pacientes devem ter condições dignas de tratamento, e o fortaleci-mento das políticas públicas é fundamental no combate ao câncer in-fanto-juvenil. O acolhimento e o atendimento às crianças, aos jovens e às suas famílias devem contemplar o estímulo ao desenvolvimento de suas potencialidades.

O apoio na busca de novas perspectivas para os pacientes e seus familiares, por meio da construção e solidificação dos valores e do resgate dos desejos, deve ser um esforço constante. É preciso lem-brar também que o respeito à cultura, à identidade e aos valores de cada paciente/família assistida devem ser preservados.

“Um dos pontos que chamamos a atenção é que o processo de tratamento deve ser humanizado e a doença deve ser desmistifi-cada: o câncer tem cura. A nossa organização e crescimento devem preservar a sensibilidade, a ternura e o amor pela causa. O envolvi-mento da família do paciente é de suma importância para o sucesso do tratamento: ela deve ser conscientizada sempre. Nossos voluntá-rios e os parceiros da Acacci são fundamentais para que a entidade atinja esses objetivos mencionados”, afirma a presidente da Acacci, Suely Miranda Có.

As normas e os planejamentos de uma associação não go-vernamental devem ser seguidos para que seja garantido um melhor rendimento, tanto nos tratamentos, quanto na administração. Uma gestão organizada, confiável e transparente é fundamental para o cumprimento da missão da entidade.

Para a ONG, a busca constante da cura do câncer infantil

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deve se dar por meio da união de múltiplos esforços. O compromisso com a garantia e o acesso aos direitos da criança e do adolescente é fundamental e, portanto, indispensável. O atendimento e a assistência aos pacientes e seus familiares devem ser indiscriminadas e de quali-dade, respeitadas as particularidades existentes. Por isso, valores como a solidariedade e a cidadania, são imprescindíveis.

“A promoção do desenvolvimento humano é fundamental para a superação das dificuldades afetivas, sociais e econômicas e o aperfeiçoamento e a profissionalização dos serviços oferecidos pela entidade deve ser um desafio permanente”, completa a vice-presiden-te da Acacci, Elisa Maria Frechiani.

Projetos que movimentam a AcacciSão cinco projetos de base realizados pela ONG: Prover,

Recrearte, Convivendo com a Arte, Classe Hospitalar e Apoio ao HINSG (Unidade de Onco-hematologia do Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória). Todas atividades são amplamente di-vulgadas no Jornal Acacci.

O projeto “Prover” foi criado para oferecer assistência social e apoio financeiro que ajudam as famílias carentes. Compõe-se de cesta básica, vale-transporte, medicamentos, fraldas descartáveis, ajuda de custo, auxílio financeiro, cesta escolar, alimentação e hospedagem.

Brincar é a melhor atividade para a criança, principalmente durante tratamentos de saúde. Por isso, a Acacci desenvolveu o “Re-crearte – Recreação infantil”. São ações de recreação infantil para mi-nimizar o impacto emocional provocado pela doença e seu tratamen-to. A ação é voltada para as crianças atendidas pelo Ambulatório do Hospital Infantil, que estejam esta internadas na enfermaria daquela instituição ou na Casa da Família, da Acacci.

Já a iniciativa do projeto “Convivendo com a Arte” impul-siona oficinas de artes manuais para crianças, adolescentes e acom-panhantes, que têm como objetivo atenuar o desgaste emocional de todos os envolvidos no processo de tratamento. Contribui também para aumentar a renda das famílias, já que são produzidas bonitas pe-ças, vendidas no Bazar da Acacci, loja localizada na sede da entidade,

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em Jardim Camburi.“Esse é um dos projetos mais queridos da equipe porque visa,

além do aprendizado, gerar rendas para as famílias e realizar a maior de todas as artes, que é conviver com o outro respeitando seus limi-tes e seus direitos, oferecendo-lhe a chance de crescer na desventura e se tornar um ser humano mais participativo. Nossos sonhos são ambiciosos, quando se trata do bem maior que é a vida”, comenta a vice-presidente.

A idéia do projeto “Classe Hospitalar” é oferecer acompanha-mento pedagógico a crianças e adolescentes em tratamento no Hos-pital Infantil, com atendimentos na Classe Hospitalar e nas enferma-rias para aquelas crianças/adolescentes impossibilitadas de se deslocar para a sala de aula, respeitando o currículo escolar de cada criança. O projeto presta apoio pedagógico às crianças internadas e hospedadas na Casa da Família, visando amenizar a evasão e o déficit escolar e manter o vínculo da criança com a escola de origem.

O Apoio ao HINSG (Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória) é para subsidiar financeiramente a Unidade de Onco-hema-tologia, para o desenvolvimento de ações que possam beneficiar a criança/adolescentes em tratamento e sua família. Capacitar recursos humanos para o atendimento da criança/adolescente com câncer e sua família, visando a integração social do usuário e qualidade dos serviços prestados.

Por conta do conjunto de projetos e diversas atuações da Acacci na sociedade capixaba, a entidade já recebeu diver-sos certificados que incentivam ainda mais a luta em manter a causa viva: Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social; Conselho Municipal de Assistência Social de Vitória — Comasv; Conselho Municipal da Criança e do Adolescente de Vitória — Concav; Conselho Estadual de Assistência Social — Coneas; Conselho Nacional de Assistência Social — CNAS; Declaração de Utilidade Pública Municipal — Lei nº 463/88, de 13 de setembro de 1988; Declaração de Utilidade Pública Estadual — Lei nº 4.437/90, de 25 de setembro de 1990 e De-claração de Utilidade Pública Federal — Portaria nº 2.276/02,

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de 17 de dezembro de 2002.

Voluntário – Peça fundamentalA maior parte das atividades da Acacci é desenvolvida por

voluntários e, atualmente, eles somam 112 pessoas, atuando regular-mente na recreação (42,86 %), oficinas de trabalhos manuais (25%), gestão de eventos (11,61%), assessoria à diretoria (10,71%), bazar (6,25%) e apoio geral (3,57%). A entidade mantém um programa de captação e de aprimoramento para aqueles que se disponham a ajudar que é dividido nas seguintes fases: primeiro é a triagem, realizada em fevereiro, junho e setembro, por cadastro, entrevista individual e capacitação específica. Depois vem o acompanhamento feito diaria-mente, pela Assessoria ao Voluntário e, mensalmente, por meio de reunião. Em seguida, a capacitação, oferecida duas vezes ao ano.

Como doar A Acacci consegue seus donativos através de várias maneiras:

telemarketing, que é aquele feito por operadores através de ligações telefônicas a pessoas da Grande Vitória buscando apoio compatível com a complexidade que o tratamento do câncer e doenças hema-tológicas infantis impõem. As doações também podem ser feitas de forma fixa, ou seja, destinadas a pessoas que se comprometem a doar mensalmente, um ou mais tipos de alimentos, gêneros de limpeza ou valor em dinheiro para os projetos de Assistência à Criança e a Família e de Núcleo de Apoio.

A entidade sempre espera também pelas doações esporádicas, que podem ser feitas de alimentos para serem utilizados nas cestas básicas do projeto de Assistência à Criança e a Família e na Casa da Família. Além dos alimentos básicos, são necessários: carnes, leite, achocolatados, ovos, Sustagem, Mucilon ou farinha láctea, creme de leite, leite condensado, gelatina, biscoitos, alimentos calóricos impor-tantes para os pacientes que fazem radioterapia ou quimioterapia, por ficarem inapetentes por tempo prolongado. E ainda, material de lim-peza em geral.

Outros itens importantes são: vales-transporte intermunici-

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pais para o projeto de Assistência à Criança e a Família. Importante para que a criança não deixe de comparecer ao tratamento nos dias marcados. Brinquedos - as crianças os recebem nas festas do Dia das Crianças, Natal e também no dia de seus aniversários. Necessários para repor os utilizados durante as atividades de recreação no hospital e na Casa da Família.

Sem esquecer, também, das guloseimas (balas, bom-bons, refrigerantes, bolos, doces e outros) nas grandes festas comemorativas: Páscoa, Dia da Criança, Festa Junina e Na-tal. Roupas, sapatos e acessórios (novos ou usados), toalhas de rosto e banho para serem bordadas, sacos alvejados para pano de prato, fios de meada e linhas de crochê, etamine e outros materiais para serem confeccionados peças que serão vendidas no bazar. Material escolar e de recreação- caderno, lápis preto, borracha, lápis de cor, canetas hidrocor, canetas esferográficas, cola, tesouras, tinta guache, papel Chamex e réguas para crian-ças que estão na escola e também para serem utilizados nas atividades de recreação.

Informações sobre como participar e ajudar:

Telefone: (27) 2125-2999E-mail: [email protected] ou cheque, quando não doado através do telemarketing deverá, preferencialmente, ser depositado em nome da Acacci, nas contas abaixo, ou entregues a um de seus membros contra recibo da Acacci (obrigatório). Banco do Brasil Conta corrente: 3007-4 Agência: 1082-3

Para doações através do telemarketing, depósito em nome da Acacci Caixa Econômica Federal Conta corrente: 636-4 Agência: 2042 (operação 003)

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Empresas parceirasParceiros empresariais que formam uma grande rede de soli-

dariedade em prol das crianças assistidas pela Acacci, através da ade-são ao Projeto Compromisso com a Criança.

Agrapex - Agra Produção e Exportação, ArcelorMittal Tubarão, Balãozinho - Monna Indústria do Vestuário, Bianco-grês, Boom, Brasil Quarries Importação e Exportação Ltda., Café Classe A, Cimol Móveis, Ativa - Indústria, Comércio e Importação, Autovil - Automóveis Vitória Ltda., Comercial Costa Gomes, Accor Instituto, EBR Net, Eletrovan, Embalart, Farmácia Santa Lúcia, Farma Derm, Fibra, 97,3 FM, Fortlev, Francisco Rocha Imóveis, Fricote, Garra, Gasperazzo, Gastro Advanced, Gráfica Espírito Santo, Gráfica Liderset, Gráfica São José, Gráfica Santo Antônio, Hi Tech, Hospital Metro-politano, IBEF, Ilha Azul, Imagine, Interação Centro de En-sino, Intercom, Intros, Iracema, José Neto, Kiara, Laborató-rio Bioclínico, Le Buffet, Lilica e Tigor, Medquimheo, Escola Monteiro Lobato, MP Publicidade, Moverama, Multiscan, Net Link, O Colatinista Jornal, Oncologistas Associados de Vitó-ria, Ortohead, Panan, Pão Chick, Pauta Seis, Pedra Azul, Per-fil Teen, PH, Pimpolho, Pointer, Politintas, Ponto, Presidium, Pretti, Psico Espaço, Rede Gazeta, Rei da Borracha, Renova, Rodosol, SH, Sherwin Williams, Sociedade, Soluções Info, Sudeste Farma, Tecnolav, Telejato, Telelistas, Site Terra, Total Móveis, TransJóia, Uniletra, Unimarka, Unimed Piraqueaçú, Unimed Vale do Rio Doce, Unimed Vitória, Unitel, VSG.

Na área de prestação de serviços, a Acacci possui os se-guintes parceiros: Agência TopVendas - Inteligência Comer-cial, Angiolab, Bandes - Banco de Desenvolvimento do Espíri-to Santo S.A., Banestes - Banco do Estado do Espírito Santo, Bios Editoração, Centro Educacional Charles Darwin, Cesan - Companhia Espírito Santense de Saneamento, CNA Inglês e Espanhol - Jardim Camburi, Colúmbia Marítima, Copisett Soluções Gráficas, Depran Manutenção Industrial, Via-i - Ne-gócios via Internet.

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“HÁ UM ABISMO QUE DISTANCIA AS OPORTUNIDADES ENTRE O POBRE E O RICO. É PRECISO ATENUAR ESSAS

DIFERENÇAS E MELHORAR A QUALIDADE DE VIDA DAS PESSOAS. É POR ISSO QUE EXISTE A ACES”

Helmut Meyerfreund

Empresário e um dos fundadores da Aces

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A expectativa em relação à conduta empresarial, atualmen-te, é mais evidente após a valorização do conceito de desenvolvi-mento sustentável que tomou forma no final dos Anos 80. Cada vez mais, administrar uma empresa envolvida em atitudes nobres, e que não vise unicamente o lucro imediato, aumenta suas opor-tunidades, seja para conquistar novos mercados ou para desenvol-ver produtos e serviços.

“A empresa moderna tem evoluído rapidamente neste sen-tido, impulsionada, em grande parte, pelos desejos e tendências dos consumidores, que cada vez mais recorrem a valores de ci-dadania, como ética, justiça e transparência para tomarem suas decisões de compra. Não é tarefa simples, pois exige mudança ra-dical de comportamento. Empresas que se portam socialmente responsáveis, tornam-se mais atraentes para novas parcerias, po-dem encontrar mais facilidades em atrair e manter funcionários indispensáveis para seu crescimento. E elas podem também ser vistas como amigas das comunidades nos locais onde querem se instalar.”

As palavras do empresário Camilo Cola, dono do maior

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conglomerado de empresas de transporte e logística da Améri-ca do Sul, o Grupo Itapemirim, definem alguns dos preceitos que incentivaram um grupo de empreendedores capixabas a criar, em novembro de 1994, uma entidade capaz de impulsio-nar projetos sociais transformadores da realidade cruel, violen-ta e marginalizada que estava crescendo na Grande Vitória por conta da baixa qualidade de vida, falta de acesso à educação e oportunidades de trabalho.

Estes são alguns preceitos técnicos porque muitos outros também permearam as intenções das empresas: A Madeira In-dústria e Comércio, Aracruz Celulose, Braspérola, Chocolates Garoto, Coimex - Companhia Importadora e Exportadora, Arce-lorMittal (na época Companhia Siderúrgica de Tubarão – CST), Grupo Buaiz, Real Café, Rede Gazeta, Viação Águia Branca e Viação Itapemirim. Destacam-se no quadro dos atuais parceiros da Aces, as empresas: Bandes, Banestes, Canexus, Cedisa, Escelsa Energias do Brasil, Grupo Dadalto e Visanet.

“O trabalho da Aces tem como base os princípios da so-lidariedade”, completa a empresária Maria Alice Lindenberg, da Rede Gazeta. “Basicamente, o ser humano veio ao mundo para fa-zer o bem ao seu semelhante. Essa disposição para a bondade se for exercida de forma constante, pode desencadear uma vontade gene-ralizada de praticar projetos sociais. Para a Aces, concretizar esses sonhos é o que vale”, afirma a empresária e atual vice-presidente da Aces, em seu depoimento no livro “Os 10 Anos da Aces”.

Apoiada nas parcerias com a iniciativa privada, instituições públicas, comunidades e instituições sociais, a Aces se tornou uma organização civil de caráter público do terceiro setor respeitada em todo o Espírito Santo por promover atividades filantrópicas, educacionais, comunitárias, de pesquisas científicas ou culturais, inclusive artísticas e cursos de capacitação em terceiro setor.

Na visão de Aylmer Chieppe, presidente do Conselho Dire-tor da Aces, “No Brasil a vanguarda do setor empresarial está atenta e tem proucurado corresponder, aprendendo a pensar e agir nas três dimensões da sustentabilidade (econômica, ambiental e social).”

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Empresários não querem perder tempo algum, portan-to, no mesmo instante em que foi fundada, a Aces com sua equipe técnica composta por pessoas comprometidas em favor da causa social começou a esboçar os primeiros projetos que contribuem para a formação cidadã, por meio da educação, es-porte, música e dança.

No primeiro ano de trabalho a Aces apoiou várias ações com a finalidade de melhorar a qualidade de vida de 1.352 mora-dores em diversas comunidades da Grande Vitória. “O problema exige urgência e todos sabemos que é preciso exercer a responsa-bilidade social”, afirmou o empresário Helmut Meyerfreund, no livro “Os 10 Anos de Aces”.

Após uma década em atividade, Aces apoiou centenas de projetos humanitários e incentivou ações sociais inovadoras e au-to-sustentáveis que envolveram comunidades inteiras e resgataram a cidadania de mais de 200 mil pessoas.

“A credibilidade conquistada pela Aces é refletida no au-mento de parcerias com as empresas do Estado. Os resultados po-sitivos alcançados em nossos projetos dão provas de que o sorriso e a felicidade são iguais em qualquer lugar do mundo. Educação, esporte, música e dança despertam sonhos de meninos e meninas. A cidadania de gente simples é resgatada por meio da arte”, afirma o atual presidente da Aces, Zuca Coser Teixeira.

“Nos subúrbios das cidades, devido à privação de políticas públicas oficiais, a criança se torna um alvo em potencial para o risco social. Há um abismo que distancia as oportunidades en-tre o pobre e o rico. É preciso atenuar essas diferenças por isso a Aces implementa suas ações em bairros da periferia em proveito da infância e juventude, envolvendo a família, a comunidade, a escola e a sociedade em geral. A credibilidade conquistada pela Aces nesses 10 anos, é refletida no aumento das parcerias com as mais expressivas e bem sucedidas empresas do Estado. Os esforços são feitos para que alcancemos os objetivos em menor espaço de tempo possível”, disse Meyerfreund.

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Programas da AcesOs projetos da entidade são desenvolvidos a partir de qua-

tro programas: Apoio à Organização Comunitária; Ensino Pro-fissionalizante e Iniciação Profissional; Educação e Saúde Comu-nitária e o Programa Sócio-esportivo Cultural.

“Cada projeto realizado em benefício a uma comunidade reflete resultados positivos para todos os envolvidos, seja na valo-rização dos moradores e seus bairros ou para a empresa que está investindo. Ver as entidades se desenvolvendo de forma ampla, segura e planejada é fundamental para o nosso trabalho”, afirma Domingos Azevedo, superintendente executivo da Aces desde sua Fundação em 1994. Azevedo é especialista em Desenvolvimento de Comunidades, ex-coordenador do Projeto Rondon no Espírito Santo, ex-pró reitor de Extensão da Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo) e professor aposentado da Ufes.

A ação social da Aces está baseada nos seguintes programas:

O Programa de Apoio à Organização Comunitária visa implantar e coordenar de forma articulada com as entidades so-ciais beneficiadas projetos de promoção das comunidades. Cursos, seminários e palestras são realizados com o objetivo de capacitar lideranças comunitárias para uma boa gestão de suas associações. Em 2007, esse programa envolveu 10.440 pessoas.

“Sabemos que quem é capacitado tem mais chance de ar-ranjar um emprego, pois a qualificação profissional é o fator mais importante na hora de conquistar uma vaga no mercado de traba-lho”, lembra Domingos Azevedo.

O Programa Ensino Profissionalizante e Iniciação Profis-sional engloba projetos capazes de ampliar os conhecimentos e enriquecer os currículos de quem não pode pagar um curso de qualificação. Em 2007, este programa beneficiou 3.673 jovens e adultos nessa situação.

“A Aces sabe que existe a necessidade de treinamento e aperfeiçoamento de dirigentes e funcionários das entidades sociais

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para a melhoria de sua gestão. Para isso, orientamos e oferecemos subsídios para cursos, além de assessoria às entidades, para a ela-boração de seus planos de ação e de projetos sociais”, orienta o superintendente.

O Programa Educação e Saúde Comunitária contempla projetos que contribuam na formulação de políticas públicas de saúde comunitária apoiando experiências inovadoras e esti-mulando aquelas emergentes. Famílias inteiras são envolvidas em ações no combate à pobreza, como cuidar das crianças e adolescentes, nos cuidados para evitar a Aids, no planejamento familiar, no pré-natal e atenção ao parto. Este programa aten-deu 692 pessoas em 2007.

“Entendemos a saúde como bem-estar social. Queremos ajudar a desenvolver uma nova atitude em relação ao valor da vida, tendo como base ações preventivas, criando um espaço de discus-são de questões relativas aos cuidados primários de saúde, nutrição e educação, e assessorando no planejamento e na implementação de programas de saúde, a Aces apóia as entidades cadastradas com equipamentos, assessoria técnica e repasse de recursos em favor do indivíduo, em família e na comunidade”, informa Domingos.

O Programa Sócio-esportivo e Cultural tem o objetivo de dinamizar o esporte e a cultura através da prática constante de ati-vidades que promovam liberdade, responsabilidade e comprome-timento do ser humano. Este programa envolveu 15.695 pessoas em 2007.

“Se fossem resumir em números, de 1994 até 2007, os projetos da Aces deram oportunidade para 112.931 pessoas rees-creverem suas próprias histórias de vida”, afirma o coordenador. Atualmente, cerca de 50 empresas dão suporte aos projetos da Ação Comunitária.

Projeto “Pequenos Talentos: O Balé ao alcance de todos”Um dos projetos de maior sucesso entre tantos da Aces é o

Projeto “Pequenos Talentos: O Balé ao alcance de todos”. Desde 1996, a iniciativa promove o Acesso de crianças e adolescentes

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pobres à dança clássica. Muitos dos talentos desenvolvidas neste projeto agora se apresentam em palcos de todo o Brasil.

“Queremos despertar os valores da arte e da cultura nos moradores da periferia, mostrando que a dança é uma expressão universal, rica para o desenvolvimento do ser humano e forte alia-da à educação. As comunidades carentes podem ser centros de efervescência intelectual e produtiva”, conta Domingos.

No projeto, o aluno que se destaca ganha bolsas e pode frequentar as melhores academias capixabas. Alguns alunos já prestaram exames para a Royal Academy os Dancing, de Londres e receberam notas maiores que seus colegas de classes mais favore-cidas. Quatro deles já participaram do maior festival de dança da América Latina, o Festival de Joinville, em Santa Catarina.

Inclusão digitalEscolas, igrejas, associação de moradores, qualquer espaço

pode virar uma Escola de Informática e Cidadania (EIC), iniciati-va de ensino da informática e ao mundo virtual da internet, além de cursos de montagem e manutenção de computadores e de rede. Os educadores e instrutores envolvidos no projeto de inclusão di-gital são jovens que moram nas próprias comunidades.

“Com isso, tanto os alunos como os professores envolvem-se num processo de conhecimento, compreensão e transformação da realidade de suas comunidades, contribuindo para a criação de um senso de pertencimento ao bairro.”

Projeto Educação e AmbienteEm oito anos de parceria, o Projeto Educação e Am-

biente evoluiu para a condição de programa composto por dois projetos e as relações entre o grupo empresarial como insti-tuição técnico-financeira (Coimex), como instituição gestora e as demais organizações sociais envolvidas realizaram-se como aliança estratégica.

Atualmente, a organização tem o seu próprio programa de capacitação para a realização de seus projetos. Através dessa

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aliança, cerca de 20 mil pessoas foram beneficiadas pelos proje-tos de arte-educação, música e cidadania, além das campanhas em favor da saúde e meio-ambiente.

Apoio à entidades cadastradasAs entidades cadastradas que apresentam projetos sócio-

esportivos e culturais, conseguem da Aces apoio para a realização de suas ações, visando o aperfeiçoamento técnico e físico, num tra-balho corporal com atividades esportivas, recreativas, expressivas e motoras, como auxiliares no desenvolvimento integral da criança e o adolescente.

A parceria é feita de forma transparente. Para associar-se, a entidade deve estar cadastrada na Aces há mais de um ano, ter realizado atividades em parceria com a instituição e ter, no mínimo um título de utilidade pública. Com as entida-des parceiras, a Aces está em permanente avaliação, adotando uma metodologia de intervenção, saneadora das doações pon-tuais, apoiando ações sociais mais centralizadas, consistentes e voltadas para o desenvolvimento sustentável.

“Trabalhamos em regime de co-participação e co-respon-sabilidade para a transformação de necessidades das comunida-des em formas concretas de acesso à cidadania. O que a entidade precisa deve ser traduzido em forma de projeto. Daí o projeto é enquadrado em um ou mais programas da Aces e é feito o repasse de recursos materiais, técnicos e pedagógicos”.

Para 2008 e os anos seguintes, novos convênios foram fir-mados com a Aces, destacam-se: Arte & Expressão, com a Funda-ção Interamericana (IAF), a ser realizado em 13 comunidades do município de Cariacica, valorizando a cultura popular.

Na linha de ensino profissionalizante, convênios com a Escelsa e Arcelor Mittal Tubarão vão proporcionar cursos de capa-citação profissional para diversos públicos, inclusive para pessoas portadoras de deficiências.

Para fortalecer a gestão social das organizações do terceiro setor, o “Programa de Comunicação com o 3º Setor” atenderá a

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20 instituições da Grande Vitória, por meio dos 100 representan-tes que participaram dos cursos.

Como as empresas e agências de financiamento podem investir na Aces

Os principais caminhos são: Através de investimento em projetos sociais, beneficiando atividades sociais de interesse da empresa; Estabelecendo parceria com a Aces para investimento sócio-empresariais, financiando projetos ligados a programas bá-sicos das entidades ou obtendo apoio de sua empresa na definição de política de assistência social, através de capacitação/sensibiliza-ção dos diferentes quadros da empresa.

Informações sobre como participar e ajudar:

Aces – Ação Comunitária do Espírito SantoTelefone: (27) 3222-1388E-mail: [email protected]: www.acaocomunitaria-es.org.br

Nota: Uma das fontes de informação deste texto foi o livro “Os 10 Anos da Aces”.

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AFECC - Associação Feminina de Educação e Combate ao Câncer ESPÍRITO SANTO EMPREENDEDOR

“MARIA É UM DOM, UMA CERTA MAGIA. UMA FORÇA QUE NOS ALERTA. UMA MULHER QUE MERECE VIVER E

AMAR COMO OUTRA QUALQUER DO PLANETA”Milton Nascimento

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Brasil, Espírito Santo, Anos 50. Época da urbaniza-ção das grandes capitais do Sudeste brasileiro, decorrente da industrialização e das migrações rurais urbanas. Na política, era o retorno de Getúlio Vargas, eleito presidente, que deu continuidade a uma política nacionalista, populista e pró-in-dustrialização: enviou ao Congresso o projeto para a criação da Petrobras, criou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), entre outras medidas.

Com o fim dos anos de guerra e do racionamento de tecidos, a mulher dos anos 50 se tornou mais feminina. Me-tros e metros de tecido eram gastos para confeccionar um vestido, bem amplo e na altura dos tornozelos. A cintura era bem marcada e os sapatos eram de saltos altos, além das luvas e outros acessórios.

Mas nessa época não haviam apenas mulheres preo-cupadas com seus vestidos à la Grace Kelly. Havia também aquelas que queriam ser úteis e se juntaram a um grupo preo-cupado com a assistência ao câncer em Vitória, Espírito San-to. Um casal estava à frente desta idéia: Dr. Afonso Bianco e

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Ylza Bianco.Dr. Afonso Bianco prestava assistência aos pacientes

com câncer na Santa Casa de Misericórdia, única instituição que oferecia tratamento oncológico. Ele percebia a busca pelo tratamento crescer a cada dia e a Santa Casa não conseguia suprir a demanda. Diante disso, ele e sua esposa, Ylza Bian-co, começam a movimentar idéias empenhando-se em reunir senhoras da sociedade em favor da saúde capixaba. A mobi-lização avança e em 28 de abril de 1952 nasce a Associação Feminina de Educação e Combate ao Câncer, a Afecc.

Mas esse foi apenas o primeiro passo. Com união de esforços logo a Afecc, conseguiu construir um ambulatório. Para angariar recursos foram promovidos eventos sociais, jan-tares, bailes, desfiles, bazares e pedágios que tinham toda sua renda revertida para os atendimentos da Afecc. Pouco a pouco a obra da Associação cresceu e o sonho de ter uma infra-estrutura adequada, que pudesse prestar assistência de qualidade aos doentes com câncer, ficava mais próximo.

Em 1964, a Afecc recebeu uma importante ajuda da Central Evangélica da Alemanha e, finalmente, em 1967, o governo estadual doou definitivamente o terreno onde foi edificado o Hospital Santa Rita. Em 31 de março de 1970 o Santa Rita foi inaugurado. Nascia uma nova esperança para o tratamento de doentes com diagnóstico de câncer. Hoje, o Santa Rita é um hospital geral, referência no tratamento oncológico no Espírito Santo e considerado o mais completo e bem equipado do Estado.

Solidariedade e amor ao próximo sempre foram os principais eixos de sustentação do trabalho desenvolvido pela Afecc. Neste meio século de constante busca pela excelência a Afecc ganhou aliados e aos poucos ergueu o Hospital Santa Rita de Cássia (HSRC), reconhecidamente um dos melho-res do Espírito Santo. Fundamentado no trabalho voluntário e na competência dos profissionais do HSRC a instituição orgulha-se de ter conquistado a credibilidade e o respeito da

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sociedade tendo sempre como meta o atendimento digno ao paciente carente.

Os mais de 300 voluntários da Afecc, diariamente es-palham confiança e carinho nos setores de internação, qui-mioterapia, radioterapia, ambulatório e hemodiálise. São tan-tas as atividades que desenvolvem, que é difícil enumerá-las, mas a presidente da Afecc, Telma Dias Ayres nos ajuda:

“São muitos os campos de atividade dos voluntários, mas todos se unem em prol da missão da Afecc de “educar, prevenir, diagnosticar, tratar e reintegrar à comunidade o paciente com câncer. Para isso, promovemos atividades de entretenimento como bingo e pintura, salão de beleza para aumentar a auto-estima, massagem corporal, costuras, borda-dos, pinturas, trabalhar no bazar, fazer lanche reforçado para pacientes e acompanhantes do ambulatório, ajudar na higiene pessoal e alimentação do paciente internado, dar apoio espi-ritual, conversar, participar de ações de captação de recursos, atuar na gestão da Afecc, enfim, a Afecc está sempre aberta a novos voluntários”, informa Telma.

Projetos da AfeccA Afecc desenvolve ao todo 18 projetos. São eles: O Programa de Ressocialização dos Pacientes Larin-

gectomizados (Grupo Viva Voz), para os pacientes que per-deram a fala por causa do câncer e precisam de muita ajuda e orientação para voltarem ao convívio social. Uma equipe multidisciplinar, composta por psicólogo, assistente social e voluntários, acompanha os laringectomizados e suas famílias a passeios em locais públicos. Eles já foram ao cinema, shop-ping, reserva biológica, fábrica de chocolates, pesque-pague e vários lugares que eles mesmos escolhem.

O Projeto Viva Sorrindo partiu da observação de um voluntário que constatou ser a noite um período de maior melancolia e solidão entre os pacientes internados por causa do número reduzido de pessoas circulantes e acompanhantes.

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Para proporcionar momentos de lazer e alegria o Viva Sorrin-do organiza apresentações de músicos voluntários no auditó-rio do Hospital no horário noturno. A vibração dos pacientes e acompanhantes é garantida com o estímulo dos artistas que fazem os participantes cantarem, espantarem a solidão e até dançarem. A organização fica por conta de equipe formada por voluntários, assistentes sociais e da coordenação do vo-luntariado.

No Programa de Reabilitação da Mulher Mastectomi-zada os serviços oferecidos são das áreas de psicologia, enfer-magem do HSRC e acadêmicos da Ufes em que são atendi-das mulheres com câncer de mama que foram submetidas à cirurgia de mastectomia (retirada parcial ou total da mama). São realizadas reuniões multidisciplinares nas quais são dis-cutidos as experiências de vida das pacientes e ensinados exer-cícios para reabilitação física.

A experiência do Projeto Salão de Beleza surpreende os voluntários da Afecc. Com o objetivo de resgatar a auto-estima, a vontade de viver e assim ajudar no tratamento onco-lógico, foi criado um salão de beleza onde os pacientes podem cortar cabelo, fazer maquiagem, unha, escova, penteado e até massagem. Profissionais de diversos salões da Grande Vitória trabalham voluntariamente.

“Uma paciente que estava muito triste foi convidada para experimentar o salão, mas ela não queria de jeito ne-nhum. Até que um dia ela concordou e foi cuidar do cabelo, que estava muito mal tratado. O cabeleireiro além de hidratar, cortar e fazer uma escova, penteou o cabelo dela de uma for-ma que escondeu a ferida provocada pelo câncer, que ficava próxima à orelha da paciente. Quando ela se viu no espelho, foi uma alegria enorme! Ela ficou muito feliz e animada e isso ajudou e muito na evolução do tratamento dela. Serviu para nós de lição de como uma coisa tão simples pode fazer uma diferença tão grande”, conta a presidente Telma.

O projeto do salão de beleza tem a ver com o Projeto

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Novos Olhares, que realiza uma oficina de auto-maquiagem, contribuindo para elevar a auto-estima e melhorar a qualida-de de vida das pacientes e acompanhantes.

O Programa de Prevenção de Câncer de Boca é rea-lizado em convênio com a Secretaria Estadual de Saúde ofe-recendo atendimentos a pacientes com tumores na boca. O trabalho é interdisciplinar com a participação de médicos ci-rurgiões de cabeça e pescoço, assistente social, psicólogo e dentistas.

Já o Programa de Preparação Cirúrgica, feito em par-ceria entre o Serviço Social e Psicologia, reúne familiares e pacientes que vão se submeter à cirurgia. Em reuniões, com o apoio de recursos áudio-visuais, são fornecidas orientações sobre funcionamento institucional, infecção hospitalar, roti-nas, anestesia, etc. Os participantes expõem seus medos, fan-tasias e suspeitas para esclarecimento.

O Projeto de Prevenção é realizado por meio de pales-tras educativas. o Projeto tem o objetivo de levar informação à comunidade capixaba favorecendo o diagnóstico precoce da doença e a possibilidade de tratamento e cura. Essas palestras são realizadas em comunidades, empresas, órgãos públicos, escolas públicas e privadas.

Para promover a integração entre voluntários e empre-gados, e proporcionar melhoria no atendimento ao paciente oncológico, trabalhando as relações grupais, diferenças indi-viduais, percepção e valores no desenvolvimento das relações interpessoais, foi criado o Projeto de Integração entre Vo-luntários e Empregados. A idéia surgiu a partir de conflitos quanto aos papéis e funções que voluntários e empregados desempenhavam junto aos pacientes oncológicos.

O Programa de Assistência Integrada é realizado atra-vés de consulta social onde o assistente social estuda a histó-ria do paciente. Caso seja comprovada a carência, o paciente é incluído no programa para fornecimento de medicação, dieta protéico-calórica, vale-transporte, etc. Os pacientes são desliga-

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dos do programa quando não mais necessitam do benefício.Nada melhor do que repassar conhecimentos quando

se tem experiência de causa. O Grupo Ajuda, formado por ex-pacientes de câncer que hoje assistem aos pacientes com a doença repassando suas experiências, dúvidas sobre o trata-mento e, principalmente, a possibilidade de cura. Este traba-lho é coordenado pela psicologia e serviço social da Afecc.

Sempre colocando o bem-estar do paciente em pri-meiro lugar, a Afecc criou a “Clínica da Dor”, um programa desenvolvido por médicos, farmacêuticos, enfermeiros, assis-tentes sociais e psicólogos que, através de trabalho interdisci-plinar com o paciente oncológico, com a doença em estágio avançado, e também com sua família, buscam minimizar por meio de medicamentos a dor gerada pela enfermidade.

Por meio de reuniões em grupo e, se necessário, aten-dimentos individualizados, os pacientes renais crônicos têm oportunidade de esclarecer questões psicossociais, com o Grupo de Orientação aos Pacientes em Hemodiálise.

No Programa de Prevenção e Detecção Precoce de Cân-cer de Boca são feitos atendimentos a pacientes com tumores de boca realizados pela equipe multidisciplinar formada por cirurgiões de cabeça e pescoço, assistente social, psicólogo e dentistas. Já o Programa Multidisciplinar em Cirurgia de Ca-beça e Pescoço tem o objetivo de apoiar o paciente oncológico de cabeça e pescoço que, muitas vezes, passa por cirurgias de mutilação da face ou alterações funcionais na fala e na manei-ra de alimentar-se. O programa é desenvolvido por psicólogo, assistentes sociais, médicos e fonoaudiólogos.

O Projeto Querer Bem, de prevenção, diagnóstico e tratamento do câncer de mama, conta com a participação de médicos ginecologistas, radiologista, assistente social, acadê-micas de serviço social, além de profissionais administrativos e de enfermagem do Hospital Santa Rita de Cássia. O proje-to consta de quatro fases: palestras nos municípios parceiros, consultas realizadas no último sábado de cada mês no am-

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bulatório do Hospital Santa Rita de Cássia, mamografia no Centro Diagnóstico do Hospital Santa Rita de Cássia, ultra-sonografia, somente em casos com indicação médica, cirurgia e tratamento nos padrões dos protocolos do Hospital Santa de Cássia em caso de diagnóstico positivo.

No Programa de Atendimento Psicológico ao Ampu-tado, equipe de psicólogos preparam pacientes que são sub-metidos à cirurgia para amputação de membros superiores ou inferiores que são, em sua maioria, jovens e adolescentes. Também são apoiados os homens que têm amputação parcial ou total do pênis, preparando-os e suas companheiras para a nova realidade.

No Grupo de Atendimento Interdisciplinar na Ra-dioterapia, uma equipe formada por psicólogos, assistentes sociais e nutricionistas atende os pacientes em início de trata-mento radioterápico, visando orientá-los sobre o tratamento, os efeitos colaterais, alternativas para superar as dificuldades, informar sobre os benefícios oferecidos pela Instituição e di-reitos sociais, juntamente com os seus familiares.

Há mais de 50 anos a Afecc cumpre com esforço e dedicação sua missão de educar, prevenir, diagnosticar, tratar a pessoa com câncer e reintegrá-la na comunidade. A Asso-ciação é uma entidade filantrópica, sem fins econômicos, que por meio do Hospital Santa Rita de Cássia, sua mais impor-tante conquista, realiza anualmente mais de 280 mil atendi-mentos a pacientes oncológicos pelo SUS.

Para manter todas as suas ações e projetos, a Afecc precisa de sua ajuda. Somente com a união de esforços da população, entidades e empresas será possível melhorar a cada dia a qualidade no atendimento ao paciente carente. Abra o seu coração para esta causa!

EstatísticasConfira os atendimentos realizados pela Afecc, através

do HSRC, a pacientes do SUS em 2007.

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Você pode ajudar o paciente carente com câncer doando: • Dieta Protéico-calórica• Leite em caixa ou em pó• Açúcar• Pó de café• Sucos de caju, manga ou goiaba• Biscoitos em geral• Fraldas geriátricas nos tamanhos M e G• Produtos de higiene pessoal• Roupas, sapatos e acessórios usados ou novos

para o Bazar da Afecc• Produtos para o Salão de Beleza da Afecc• Equipamentos hospitalares e Serviços• Para garantir a continuidade dos programas

assistenciais a Afecc conta com: • Bazar da Afecc.

Internações (paciente/dia)

Atendimentos Ambulatoriais

Atendimentos na Radioterapia

Atendimentos na Quimioterapia

Sessões de Hemodiálise

Atendimentos no Serviço Social

Atendimentos na Psicologia

Exames nas Unidades de Diagnóstico

Exames de Patologia

Cirurgias

Atendimentos em Pronto Socorro

Endoscopia

Atendimento Total em 2007

54.976

52.167

141.234

39.800

13.295

16.453

5.769

38.337

43.712

8.894

63.344

2.300

436.569

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• Bazar de Bordados e Costura.• Estacionamento do HSRC.• Lanchonete da Afecc.• Doações voluntárias.• Mensalidade dos sócios.• Doação de empresas e entidades socialmente

responsáveis.

Recursos financeiros• Boleto bancário (mensal)• Depósito em conta da Afecc

Informações sobre como participar e ajudar:

A Afecc funciona no Hospital Santa Rita de Cássia em Vitória.Depósitos em dinheiro podem ser feitos na seguinte conta: Banco: Banestes Conta corrente: 1079300 Agência: 051

Mais informações: (27) 3334-8400

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Agricultura Orgânica, Agroecológica ou Bioagricultura ESPÍRITO SANTO EMPREENDEDOR

“AMARRA O TEU ARADO A UMA ESTRELA QUE AÍ TU SERÁS O LAVRADOR LOUCO DOS

ASTROS, UM CAMPONÊS SOLTO NO CÉU” Gilberto Gil

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São vários os motivos que levam o produtor rural a in-vestir na agricultura orgânica, a começar pela necessidade de se consumir produtos mais saudáveis (também pela própria família do agricultor) e a busca por uma agricultura que promova a saúde, longe dos venenos e agrotóxicos que são pulverizados nas plantações.

Atualmente já é de conhecimento pela mídia e publica-ções científicas, que o tratamento usual com agrotóxico e adu-bos químicos contamina e destrói a vida do solo, fragiliza as defesas naturais das plantas, polui rios e lençóis freáticos, mata os insetos benéficos, além de produzir alimentos de valor nu-tricional duvidoso, sem gosto, sem cheiro, causando uma série de doenças, principalmente nas crianças e idosos, como doenças pulmonares e câncer em muitas pessoas, tanto os que manu-seiam os produtos como os que consomem, além de produzir um lixo tóxico poluente.

A agricultura orgânica também é conhecida como alter-nativa, agroecológica, biológica, natural, bioagricultura, entre outros. De carona na maratona de se recusar o uso dos agrotó-

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xicos, este manejo desperta outros sentidos em relação à terra, como respeito, paciência e gratidão. Não é fácil ir contra a cor-rente que puxa para o lado tradicional do uso dos agrotóxicos, mas muitos estão conseguindo, o que se constata no aumento crescente do número de agricultores participantes, em todo o mundo.

No Brasil, a agricultura química (com os venenos) apor-tou na região do Vale do Itajaí (Sul do País, em Santa Catari-na), na década de 1960, com a chamada “Revolução Verde”. Os governos militares implantaram políticas agrícolas recheadas de subsídios e assistência técnica gratuita aos que adotassem méto-dos de plantio com sementes híbridas, adubos químicos e agro-tóxicos. Na década de 90, a maioria absoluta dos agricultores já estavam dependentes dos produtos químicos e haviam abando-nado os métodos tradicionais. Hoje ainda é comum encontrar pessoas aplicando venenos em hortas de escolas, jardins de in-fância e creches e muitos dizem estar aplicando “remédios”.

A agricultura convencional é muito simplista; se tem in-setos se usa os agrotóxicos que eliminam tudo.

“Os agricultores acreditam que os venenos e adubos quí-micos resolvem tudo, usam doses cada vez maiores ou agrotó-xicos mais fortes. Já não se observa mais as épocas corretas de produção e tudo é muito artificial; simplesmente se abandonou os métodos tradicionais de cultivo”, conta o gerente de agricul-tura orgânica da Secretaria de Agricultura, Alfredo Stange.

Para Stange, a agricultura agroecológica é a única saída para a produção de alimentos de uma forma que o meio ambien-te fique sustentável e se tenha recursos naturais, principalmente solo e água, para as gerações futuras. Além dos cuidados já men-cionados, este sistema produtivo propõe vários tipos de culturas em um só local (diversificação), cada planta com sua função es-pecífica, que contribui para o equilíbrio da terra, da água, ar e lençóis freáticos.

“Tem planta que tem função de proteção, de fixação de nitrogênio, de CO2, outras ajudam a dar sombra, algumas are-

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jam o solo. Porém, só o fato de não estar colocando adubos quí-micos e agrotóxicos na terra, melhora tudo. Solo doente, planta doente e suscetível ao ataque de pragas e doenças. Tudo que está doente tem a facilidade de piorar. Aí, naturalmente, a terra pro-duzirá pouco e obrigará o produtor a tentar salvá-la, então ele ficará tentado a usar cada vez mais “remédios” e venenos em cima de um solo que não tem mais nutrientes, que não tem mais porosidade, que muitas vezes a camada de matéria orgânica ou a camada superficial que se forma, onde existe uma microfauna importante, já foi embora, morta pelos venenos, pelos adubos químicos ou arrastada pela erosão, causada pelo mau uso do solo. Normalmente fica impermeável, compactado, com a fertilidade natural comprometida”, informa Stange, ressaltando que o pro-cesso para a agricultura orgânica é lento, pois o agricultor terá que praticamente reconstruir a base do plantio, que é a terra.

“Os nossos solos, do ponto de vista da origem, são muito fracos, com baixa fertilidade. O que a gente tem de muito bom na Mata Atlântica é a matéria orgânica encontrada. Esse material que cuida de adubar, dar a vida ao solo. Sem ela os solos são muito pobres. Aí, o agricultor convencional cultiva em cima des-se solo com muito adubo químico, com muita água, usa muito agrotóxico e daí vai surgir uma planta, digamos assim, quase que artificial, suscetível à pragas e doenças e para se controlar se usa mais produtos químicos e tem uma produção de alimentos de péssima qualidade, embora quase sempre bonitas no visual”, revela. Por isto é que sempre se procura novos desmatamentos para se aproveitar a fertilidade natural das terras “novas”, ricas em matéria orgânica.

No Espírito Santo, o movimento por uma agricultura alternativa começou em Santa Maria de Jetibá, na década de 80, com um grupo de produtores rurais vindos da chamada “Terra Quente”, como Laranja da Terra e Afonso Cláudio. Na época, era conhecida como agricultura alternativa, motivo de descon-fiança e até chacota pelos produtores convencionais.

Naquela época, algumas famílias de produtores haviam

Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – Apae ESPÍRITO SANTO EMPREENDEDOR

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se intoxicado gravemente e procurado as terras do município de Santa Maria de Jetibá em busca de oportunidades diferentes, longe da vida de meeiros. Com o apoio da Igreja Luterana e al-gumas ONGs, foi iniciado um tímido movimento de agricultura alternativa, com proposta básica de não usar agrotóxicos e adu-bos químicos ou qualquer substância que prejudicasse a saúde de quem estivesse trabalhando, ao mesmo tempo que gerasse uma produção de qualidade e não contaminasse os recursos naturais. Parecia um sonho, mas era possível.

“A participação de um grupo de técnicos e agricultores no Encontro Brasileiro de Agricultura Alternativa, a vinda da PTA-Fase (mais tarde Apta), a criação dos Ciers através de uma parceria Seag/Sedu e prefeituras, as pesquisas em olericultura orgânica desenvolvidas pela então Emcapa (hoje Incaper) na Es-tação de Pesquisa Mendes da Fonseca em Domingos Martins, as experiências do ‘Hortão’ de Cachoeiro de Itapemirim, foram algumas das iniciativas que deram apoio ao surgimento e desen-volvimento da agricultura orgânica capixaba”, conta Stange.

Um dos exemplos pioneiros no comércio da agricultura orgânica no Espírito Santo e na luta por uma plantação eco-logicamente responsável ocorreu nos anos 80 com o produtor Matias Ratunde, do município de Laranja da Terra.

O alerta para uma renovação na plantação veio da Ale-manha, através da viagem de um irmão do agricultor. “Lá ele viu o futuro”, diz Matias. Por lá, campanhas contra os agrotóxicos conscientizavam a população que começava a consumir (e pagar mais caro) por alimentos saudáveis, ou seja, este movimento na Europa já acontece há, no mínimo, 30 anos.

“O alimento da agricultura orgânica é diferente do con-vencional porque ele é completo. O convencional é cheio de nitrogênio para ficar inchado. As pessoas o acham bonito nos supermercados, mas é um produto oco, vazio de nutrientes, mas que carregam parte do veneno absorvido. Os órgãos públicos deveriam se interessar em ajudar os agricultores orgânicos. Os convencionais têm mais poder, conseguem mais subsídios, fi-

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nanciamentos, máquinas, carros para puxar a produção e para o comércio. Já o agricultor orgânico não tem apoio, tem é muita dificuldade para trabalhar”, conta Matias, que já foi ameaçado por atravessadores e agricultores, devido ao preconceito contra a agricultura que não usa venenos.

“A região tem déficit de água, mas a Fazenda Ventania está toda reflorestada, ocupada por plantações diversificadas, o que beneficia o solo, que responde com belas colheitas”, conta Stange. Mesmo no verão, ele colhe morangos. Planta café, feijão, arroz, hortaliças, diversos tipos de frutas que dão o ano inteiro, tem gado de leite, pequenos animais. Quem trabalha na proprie-dade é só gente da família.

“Eles chegavam a dizer que se nós nos aproximássemos deles, ele bateriam na gente e jogariam a produção no lixo”, con-ta um outro produtor, Martin Uhlig, do grupo dos precursores em Santa Maria de Jetibá, membro da Apsad - Vida (Associação dos Produtores Santamarienses em Defesa da Vida).

Vindo de família de pomeranos, em Afonso Cláudio, Martim e sua família quando chegaram em Santa Maria, a op-ção era trabalhar nas lavouras de café, pulverizadas, segundo ele, excessivamente por venenos para matar as pragas da época, ferrugem e broca. Um dia, num calor muito grande, Uhlig se sentiu mal no meio de uma pulverização, por conta do cheiro do “remédio” (ou do contato com a pele, não se sabe ao certo). Sua garganta parecia se fechar, apertada, e a respiração estava cada vez mais difícil e ofegante. Algumas horas depois, longe da lavoura e do herbicida, ele começou a melhorar. Nas reuniões da Igreja Luterana, onde começou a ter noção do que era a agricul-tura alternativa, Martin descobriu que não era o único agricultor a se sentir mal.

As dificuldades do inícioOs seminários realizados no salão da paróquia da Igreja

Luterana, em 1986, forneceram as primeiras informações sobre os males daquele tipo de química para o corpo humano.

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“Nós nem imaginávamos como seria plantar sem agrotó-xicos. No início, pensamos que não havia outra saída. Um agrô-nomo do Rio Grande do Sul (Duda) fez uma palestra e nos contou suas experiências com a nova agricultura e os malefícios causados pelos venenos. A gente ficou muito chocado! Eu voltei pra casa e disse à minha família que poderíamos estar contami-nados, mas se a gente quiser salvar nossos filhos e nossos netos e a população em geral, isso teria que ser mudado. Por causa disso a gente começou a batalhar”, conta Martin, com a humildade e doçura de um homem da roça.

“Quebramos a cara no início porque não existia nada, co-meçamos do zero. Começamos a fazer as experiências por con-ta própria, não tínhamos apoio, na época, não tínhamos apoio nem do governo, nem dos órgãos não-governamentais. As igre-jas tinham boa vontade, mas não tinha projetos. Então nós, um grupo de 5 ou 6 agricultores, começamos a fazer as experiências. Quebramos a cara várias vezes e chegamos num momento que pensamos: nós vamos desistir ou vamos em frente? Nós chega-mos quase a passar fome. Foi sinistro”.

Era plantar e não colher, por isso o uso da expressão “quebrar a cara”. A sobrevivência do grupo dependia da produ-ção. “O agricultor quando perde a roça, é realmente uma perda porque ele jamais a recupera, principalmente eu que gosto de mexer com tomate, e até hoje ainda estou mexendo. O tomate é uma cultura bem sensível e eu perdi muito com isso, mas resolvi não desistir”. Enquanto isso, a terra, sufocada por anos de vene-no e adubos químicos, não produzia nem 20% do que eles espe-ravam, de tão fraca e dependente, viciada nos remédios. Tomates era coisa rara de se ver. O solo só conseguia produzir hortaliças como repolho, alface e cenoura.

E lá se passaram três longos anos para a turma de seis agricultores se manterem na forma “alternativa” de plantar. Somente em 1989, após fundarem uma associação e elabo-rarem projetos que atraíam patrocinadores, tudo começou a melhorar. Nesse mesmo tempo, a terra começava a dar sinais

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de recuperação.E quando a primeira barreira, da produção, começava

a cair, apareceu o obstáculo do mercado, que até hoje Sr. Mar-tin não considera totalmente favorável. A produção era pequena, cerca de 12 caixas por semana. Mesmo assim, sofriam precon-ceitos dos outros agricultores e se viram forçados a pensar na co-municação daquele novo produto com o cliente. Como informar ao consumidor que aquele alimento era diferente?

A saída foi encontrada na mesma porta de entrada das informações pró-orgânicas. Aquele agricultor gaúcho que havia incentivado a comunidade a não utilizar agrotóxicos se mostrou um empreendedor engajado pela causa, vindo morar em Vitória para incrementar a luta dos agricultores. Além de ajudar a pro-curar novos pontos de venda, também comprava os produtos.

“Quando a produção começou a aumentar, mais agricul-tores entraram na associação, ficamos num total de 12 produ-tores. Tivemos que procurar mais mercado consumidor. Muitos amigos ajudaram. Naquela época, o presidente da Ceasa, que também era da Igreja Luterana, fez questão de abrir um espaço para nós em Vitória para vender nossos produtos com identifica-ção, com a placa, de que era sem agrotóxico. Só que esta parceria durou pouco porque os outros vendedores disseram que se a gente não saísse dali, nos tirariam na porrada. Eram os colegas que não acreditavam e não aceitavam. Eles achavam que se desse um fim no agrotóxico que todo mundo iria à falência. Até enfia-vam o nariz dentro das caixas para ver se tinham ou não cheiro dos venenos. Só que eles não pensavam que o orgânico seria a agricultura do futuro. Toda mudança é traumática”, define o agricultor.

Após serem praticamente obrigados a saírem da Ceasa, o grupo se sentiu sem chão, sem apoio, de perna bamba. Foi quando surgiu a idéia de abrir uma loja dentro do Hortomerca-do, em Vitória. “Eram os anos 80, e o Horto não era como hoje. Inclusive, atualmente está melhor e esperamos manter nossa loja por lá”.

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Com o tempo, foram abrindo pontos de feira livre, como no bairro de Santa Luzia, atrás da Emescam e espaços também nas estantes de alguns supermercados. Os projetos das associa-ções foram se profissionalizando, a rede de contatos e apoiadores aumentou e o Governo do Estado, recentemente, instituiu na Secretaria de Estado da Agricultura, a Gerência de Agricultu-ra Orgânica, para desenvolver um Programa Estadual, articular parcerias e motivar e apoiar grupos de agricultores a se inserirem nesse processo produtivo.

“Devemos destacar o pioneirismo desses grupos de agri-cultores na implantação de sistemas agroecológicos, preocu-pados com os casos de intoxicação por agrotóxicos utilizados nas lavouras, sobretudo os produtores de hortaliças da região Centro-Serrana. Ao aprofundarmos neste histórico, é importan-te que não omitamos personagens e instituições com papel rele-vante neste período, como é o caso do trabalho da Apsad - Vida (Associação dos Produtores Santamarienses em Defesa da Vida), pioneiro na produção comercial de alimentos orgânicos por agri-cultores familiares do Espírito Santo”, salienta Stange.

Ressalta ainda, que a formação do consórcio Santa Maria - Jucu, alertando para os problemas de poluição dos mananciais que abastecem a grande Vitória, em grande parte causada pelos agrotóxicos aplicados na produção de olerícolas na região serrana, também contribuiu para repensar o padrão agrícola adotado.

A Emcapa (atualmente Incaper) iniciou em 1990, os primeiros trabalhos de pesquisa em Olericultura Orgânica, no Centro Regional de Desenvolvimento Rural Centro-Serrano, através da implantação de um Sistema Integrado de Pesquisa em agricultura orgânica, o que resultou numa importante contri-buição para o desenvolvimento da agricultura orgânica capixaba. “É neste cenário que o Incaper - Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural vem atuando, através do trabalho de pesquisadores e extensionistas comprometidos com a agricultura orgânica”, informa Stange.

Da mesma forma, o cenário de instituições envolvidas

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na cadeia produtiva dos orgânicos e os circuitos de comerciali-zação foram se modificando, culminando com a criação de uma certificadora estadual: a Associação de Certificação de Produtos Orgânicos do Espírito Santo - Chão Vivo.

Há 20 anos, foi difícil começar a conscientização até mesmo entre os familiares dos agricultores, vizinhos e conheci-dos. Atualmente, com 54 anos, o produtor Matias (um dos pre-cursores) tem uma propriedade de nome interessante, chamada Fazenda Ventania, em Joatuba, distrito de Laranja da Terra.

A propriedade tem 104 hectares e mais de 50% é de área preservada, com matas e córregos. Atualmente ele usa a agricul-tura natural como uma atração para empreendimentos turísticos. Aos sábados e domingos ele fornece pizza para os visitantes. Em um galpão com mesas e cadeiras muitas reuniões e até casamen-tos são realizados. O ambiente da propriedade é um ambiente muito agradável, espaçoso e tem bastante água.

Entre as ações estratégicas da Gerência de Agricultura Orgânica da Secretaria de Estado da Agricultura, estão: au-mentar o número de propriedades certificadas e em transição agroecológica, articular e motivar os municípios para que or-ganizem Projetos Municipais para agricultura orgânica, am-pliar o número de pontos de venda, capacitar e treinar técnicos e agricultores, apoiar a implantação de agro-indústrias comu-nitárias, dentre outros, visando incrementar a produção, a or-ganização e a comercialização.

”Queremos também ampliar a distribuição regional da produção orgânica no Estado, estimulando outros mu-nicípios, fazer crescer o número de produtos ofertados no Espírito Santo, conforme aptidão regional, estimular a di-versificação de atividades e a integração animal-vegetal, ca-racterísticas dos sistemas agroecológicos, importantes tanto para a segurança alimentar das famílias produtoras, quanto para o mercado consumidor, além de, fundamentalmente, construir parcerias”, afirma Stange.

Alguns parceiros como o Sebrae, o Incaper, Prefeituras

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Municipais, a Fetaes (Federação dos Trabalhadores na Agricul-tura do Espírito Santo), a Associação Chão Vivo, a Fundação Luterana Sementes, Associações de Agricultores e o Colegiado Estadual de Agricultura Orgânica são lembrados como braços de apoio, além de diversas ONGs, empresas do agronegócio dos orgânicos, faculdades, etc, contribuem muito neste processo”, afirma Stange.

Pesquisa revela que a saúde é a principal preocupação do consumidor

Em Curitiba, onde a produção orgânica começou a pros-perar no Brasil, nem há preocupação com o meio ambiente, nem o sabor. A saúde é o motivo que leva 72% dos consumidores de produtos orgânicos de Curitiba a optar por alimentos livres de agrotóxicos na hora da compra. A constatação faz parte de uma pesquisa da Prefeitura de Curitiba junto a consumidores de produtos orgânicos da capital e produtores rurais da região metropolitana.

O diagnóstico da produção e comercialização orgânica, feito em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrá-rio, servirá para o planejamento do Mercado Permanente de Produtos Orgânicos, que será inaugurado naquela cidade.

A pesquisa, em que foram ouvidos 600 produtores e con-sumidores, revelou que o potencial de crescimento do mercado está na classe média, que representa apenas 19% dos consumido-res orgânicos. Atualmente, a maioria dos consumidores (71%) é de classe econômica mais favorecida.

A pesquisa também mostra que 64% das pessoas que compram orgânicos são mulheres, 35% têm mais de 50 anos e 68% possuem nível superior. Todo este público demons-trou insatisfação quanto à variedade de produtos existentes no mercado. Carnes, leites e derivados são alimentos ainda em falta quando se trata de orgânicos, de acordo com a pesquisa. A pesquisa revela que legumes (76%) são os alimentos orgânicos

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mais produzidos pelos agricultores, que têm nas feiras da capital o principal canal de comercialização. Entre os pontos de vendas, os supermercados aparecem com 1,8%. Assim como no Espírito Santo, o “boca-a-boca” é a principal estratégia de marketing para 32% dos agricultores.

Um exemplo de como a estratégia de marketing pode colaborar com a agroindústria parte da empresa catarinense Fa-zenda & Casa. A partir dos contatos feitos no Cenário Orgâni-co, evento organizado pela Prefeitura de Curitiba, a Fazenda & Casa entrou no mercado norte-americano e já engata seu terceiro lote de exportação de produtos orgânicos.

Agricultor, procure ajuda aos órgãos competentesEntre as dicas e sugestões de apoio para que os órgãos

públicos e a sociedade em geral possam apoiar a produção orgâ-nica, o Sr. Matias alerta: “Deveria ter uma linha de recursos para que pudéssemos pegar no banco e não tivesse juro exorbitante. Tinha que pegar um dinheiro, mas a longo prazo, pagando me-nos juros, pois, se não, como o pequeno produtor vai começar? Como é que ele vai pegar o produto e fazer uma experiência que ele não sabe como fazer, e ainda sem recursos? Ele precisa pagar as contas do dia-a-dia!”, alerta o agricultor.

E lá vão outras dicas colhidas dos agricultores entrevista-dos: Agrônomos e Técnicos com experiência na velha e boa agri-cultura devem ser mais corajosos e proporcionar aos pequenos proprietários de terra, conhecimentos e métodos de agricultura orgânica, reconhecendo, valorizando e divulgando as experiên-cias práticas. É preciso substituir o método que pode parecer uma alternativa no momento, mas com um futuro cruel. Voltar a plantar como antes, aproveitando as inúmeras tecnologias e conhecimento científico já existente, além de inúmeras experiên-cias práticas bem sucedidas e de custo baixo, desenvolvidas por inúmeros agricultores do Estado. Não é preciso se intoxicar e nem matar para ganhar mais dinheiro; aproveitar a vida enquan-to ela é saudável. Ampliar as experiências de agricultura ecoló-

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gica, diversificando as culturas, introduzindo diferentes tipos de adubos verdes e espécies para uso agro-florestal”, recomendam agricultores e técnicos ecológicos.

É preciso sempre promover o conhecimento e incentivar o debate entre os agricultores e proprietários de terra, sobre os problemas e conseqüências da utilização da agricultura químico-industrial, estimulando o trabalho em grupo e o associativismo, na busca do planejamento, organização e administração das pro-priedades rurais, com base nos princípios e práticas agroecológi-cas, enfatizando os princípios de conservação e valorização dos recursos naturais renováveis.

No mundo globalizado em que nos encontramos, a pro-dução e comercialização sofrem interferências que quase sempre estão fora do controle dos agricultores. Por ter seus produtos diferenciados no mercado, a produção orgânica pode usar a característica de inserção da qualidade ambiental e social, para agregar mais valor e, conseqüentemente, obter maior renda aos produtores. O trabalho considerado mais complexo é sem dú-vida o de gerenciar e veicular as informações de forma rápida e eficiente. “Para isso deve-se manter contatos com redes de super-mercados, empresas especializadas e prefeituras para a realização de feiras, etc. É muito importante dar ênfase maior para as feiras agroecológicas, pois estas possibilitam um amadurecimento do senso de união entre os agricultores e de comprometimento dos consumidores. Mas o trabalho não se limita a elas, pois com o crescimento da produção os volumes a serem comercializados facilmente excedem a capacidade de absorção destas”.

Para o sucesso da agricultura orgânica é fundamental que se tenha um solo sadio, vivo, pois este é também a base para a boa sanidade vegetal. Seguindo os princípios da Trofobiose, o equilíbrio bioquímico dos cultivos comerciais, possibilita uma redução do número de intervenções para corrigir eventuais dese-quilíbrios do metabolismo vegetal.

“Quando ocorrem estes desequilíbrios, manifestados na forma de doenças, ataque de insetos, etc., que vão além do limite

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do dano não-econômico, são realizadas pulverizações e polvilha-mentos com os produtos naturais e biológicos, muitas vezes em formulações preparadas na propriedade e com custo muito baixo. Há muitas receitas preparadas pelos próprios agricultores e muitas cartilhas com descrição de inúmeras experiências práticas.

Tem-se conhecimento, a partir da sociologia vegetal, de que as espécies vegetais possuem entre si antagonismos e siner-gismos, ou seja, há diferentes culturas que ao serem plantadas próximas uma da outra causam inibições as mais diversas, e ou-tros cultivos nas mesmas condições se beneficiam mutuamente.

Os conhecimentos científicos e acadêmicos, a tecnologia, as experiências práticas dos agricultores, a natureza nos mostran-do o caminho, estão aí à disposição de todos. É preciso compro-metimento, ousadia, persistência e muita disposição para enfren-tar obstáculos, afim de termos uma agricultura cada vez mais saudável e comprometida com o futuro das gerações que virão.

Mais informações:

Associação de Agricultura Orgânica do Brasilwww.aao.org.brPortal Orgânicowww.portalagricultura.com.brPlaneta Orgânicowww.planetaorganico.com.br/agriorgbi.htmPlaneta Naturalwww.planetanatural.com.brSecretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento e Pesca do Espírito Santo (Seag)www.seag.es.gov.br/setores/agriculturaorganica

Rua Raimundo Nonato, 116 - Forte São João - Vitória - ES - CEP: 29010-540Telefones: (27) 3132-1422/1433/1469 (Recepção)

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Abrigo à Velhice Desamparada “Auta Loureiro Machado” ESPÍRITO SANTO EMPREENDEDOR

“ABENÇOADOS SÃO AQUELES QUE COMPREENDEM MEUS PASSOS VACILANTES E

MINHAS MÃOS QUE TREMEM”Idoso anônimo

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Uma das maiores conquistas deste século foi a amplia-ção do tempo de vida. Agora é hora de se adicionar qualidade a estes anos a mais que serão vividos, promovendo a integra-ção e o respeito de toda a sociedade com o cidadão idoso. Essa é uma das principais propostas do Abrigo à Velhice De-samparada “Auta Loureiro Machado”, Avedalma, que funcio-na desde 1960, no município de Cariacica, Espírito Santo.

O cenário de idosos abandonados, vivendo nas ruas a troco de comida e mantimentos doados, sem nenhuma ex-pectativa de melhora de vida e sem esperanças, motivou um grupo de senhores e senhoras a fundarem uma casa de apoio a este público. Os antigos fundadores, já falecidos são Hugo Antônio da Silva e Willis Dias de Miranda Cunha.

O Sr. Hugo nasceu na Barra do Piraí, Rio de Janeiro e veio para o Espírito Santo ainda muito criança, com três anos de idade. Por isso, considera-se mais capixaba do que fluminense. Foi dentista prático e trabalhou na Polícia Militar durante mui-tos anos, atendendo a militares e seus familiares, além de um consultório do Centro de Vitória, na Escadaria Maria Ortiz.

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Sendo um cristão convicto, freqüentava constantemen-te uma reunião de Estudos Evangélicos, em Itaquari, Caria-cica, com um grupo de amigos. Ali estudavam as passagens bíblicas do Novo Testamento, quando da passagem de Jesus Cristo na Terra. Comentavam muito sobre a caridade pratica-da por Jesus e seus apóstolos, como a ajuda aos mais pobres e, portanto, os mais necessitados.

Foi em uma destas reuniões que um frequentador Sr. Willis Dias de Miranda Cunha, lançou a idéia: “Por que ao invés de só comentarmos sobre a caridade, não a pomos em prática como fizeram Jesus e seus apóstolos? Jesus nos disse: ‘A cada um, segundo suas obras?’ Será que só falar sobre a caridade sem colocar nossas obras em prática, nos basta?”.

E foi assim que o Sr. Willis exteriorizou a idéia de construir um albergue para os idosos sem lar, para aqueles que ficam dormindo pelas ruas, sem ninguém que os ajude. “Começará modestamente, visando possuir dez leitos iniciais. Mas nosso pensamento é dar-lhe amplitude, uma amplitude tamanha de nosso amor à causa dos que sofrem, os quais não são poucos”.

Todos ficaram pensativos. Alguns foram contra, men-cionando as dificuldades para a concretização desta idéia, como os poucos recursos financeiros disponíveis e a falta de tempo para a execução e manutenção do projeto.

Sr. Hugo ouviu a opinião de todos e depois que mui-tos falaram, ele concluiu: “Quando a idéia é boa e traz bene-fícios gerais, deve se dar apoio. Mas creio que não devemos fazer um albergue, mas sim um abrigo para idosos. Vamos fazer um abrigo para idosos!” falou em um tom mais alto, emocionando todos à sua volta. Quando o Sr. Hugo abraçou a causa, todos o acompanharam.

As primeiras reuniões eram realizadas ora na casa de um, ora de outro, pois ainda não possuíam uma sede. Com o decorrer das reuniões, com debates e entendimentos, den-tro de dois meses, o Sr. Hugo foi confeccionando o estatuto,

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com a ajuda de seus companheiros. Com o estatuto pronto e registrado, foi fundado a 25 de setembro de 1960 o Abri-go à Velhice Desamparada “Auta Loureiro Machado”. O Sr. Hugo, tomando as iniciais do nome formou a palavra Avedal-ma, como a casa é popularmente chamada.

Auta Loureiro Machado, também conhecida como Dona Mocinha, era uma senhora muito caridosa e dedicada às causas dos mais carentes. A homenagem partiu do Sr. Willis Cunha que manifestou a idéia de colocá-la como patrona da instituição. Para a presidência do Avedalma, Willis propôs o nome do Sr. Hugo, que acatou a decisão dizendo: “Quando assumo a responsabilidade de uma direção, sejam em evidên-cia ou subalterna, assumo com a consciência do mandato a que estou investido e a ela me proponho com o máximo de honestidade. Jamais me descurei das minhas obrigações. Se todos faltarem, estarei sempre presente no cumprimento do meu dever”.

“Para que a instituição seja bem dirigida, é necessário que todos os seus membros estejam conscientes de suas atri-buições e responsabilidades, e cada qual dê o seu esforço para o andamento da obra.”

Depois de fundado o Avedalma surgiram as primeiras doações. Toda ajuda era bem-vinda, seja em forma de comida, mantimentos, roupas. Ninguém esquece do Sr. Manoel Cor-rêa de Abreu, que doou um lote em Alto Lage, Itaquari e das doações dos vários exportadores de café de Vitória, amigos do Sr. Hugo e simpatizantes da causa. Até uma vaca leiteira foi entregue ao grupo, que foi de grande importância para a alimentação de idosos. Outra valiosa doação foi feita pelo estimado amigo José Lopes, de um terreno com uma área de 3.600 m².

Após verificar que o lote localizado em Itaquari não comportaria a construção em vista, começaram a levantar es-forços para a compra de um terreno maior. Foi então que o Sr. Willis soube de um terreno em Cariacica, de propriedade

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do Sr. João Coutinho de Siqueira, com uma área total de 26.344 m², situado na propriedade rural de Graúna, na região do Retiro Saudoso, em Flexal, Cariacica. O terreno foi ofe-recido ao Avedalma por João, por um preço bem abaixo do valor real, já que era para ajudar a instituição.

Daí começou um corre-corre para levantar o dinheiro necessário, aproveitando para vender os lotes já doados e jun-tar o montante. Em pouco tempo, o terreno foi comprado, em fevereiro de 1961 e funcionou como sede do Avedalma durante 15 anos, antes de mudar-se para o endereço atual.

Difícil começoO primeiro local onde situava o Avedalma, no Reti-

ro Saudoso, em Flexal, interior de Cariacica, era uma região rural de difícil acesso na época. A área possuía casas antigas e simples. Sem perder tempo, os voluntários da instituição começaram a construir uma casinha para que uma assistente pudesse morar no local e cuidar dos idosos.

Devido aos poucos recursos disponíveis, o Avedalma só pôde abrigar, primeiramente, nove idosos, sendo quatro homens e cinco mulheres. Eles estavam abandonados, dor-mindo pelas ruas e passando por inúmeras necessidades. Foram recolhidos pelo Sr. Willis e levados para o abrigo. Naquela época não havia nenhuma forma de lazer, atividade ou entretenimento para a “melhor” idade, como a mídia cos-tuma divulgar.

O dia da semana mais guardado era o domingo, quan-do ocorria a reunião da diretoria. Após discutirem sobre os procedimentos a serem adotados durante a semana, era o momento em que todos se confraternizavam e conversavam sobre os mais variados assuntos. Isto funcionava mais como uma terapia em grupo, pois os idosos conversavam sobre suas vidas e eram ouvidos por todos. Sentiam-se apoiados e queri-dos, com atenção e carinho do grupo.

No livro “Saudade Mandou Lembranças – Uma bre-

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ve história do Avedalma”, escrito por João Henrique Zanotti e Simone Aparecida Agrizzi, sobre a história do Avedalma, lançado em 2002, pela Lei Rubem Braga, os autores pergun-taram ao Sr. Hugo como foi o começo do abrigo no Retiro Saudoso. Ele, emocionado, confidenciou:

“As dificuldades iniciais que eu passei foram horas amargas. Eu morava em Itaquari, Cariacica. À noite, às vezes chovendo, recebia o recado que tinha algum velhinho pas-sando mal. Eu e minha senhora, que foi sempre minha com-panheira, corríamos para lá. Por vezes até a pé por falta de condução. Quando alguém passava mal à noite era quase im-possível conseguir atendimento porque não tínhamos médi-cos disponíveis! Apelávamos para todo mundo, mas ninguém se apiedava. Em alguns dias, minha saída era me recolher em um canto, rezar e chorar. Eu não tenho vergonha de dizer isso. Nossos gastos eram muitos e precisávamos de ajuda em todos os aspectos. A diretoria trabalhava voluntariamente, mas havia que pagar as pessoas que cuidavam do local”, con-tou Sr. Hugo.

Após um convênio com a Santa Casa de Misericórdia, em Vitória, os idosos que adoeciam eram levados pra lá. Em troca, o Avedalma traria um outro idoso da Santa Casa para o abrigo. Com essa troca de velhinhos, Sr. Hugo conseguiu resolver a situação. Porém, o número de idosos cresceu repen-tinamente porque “Quando o idoso era levado para a Santa Casa, ele melhorava e voltava para o abrigo, mas aquele que tinha ido para o abrigo, não voltava mais. E isso foi aumen-tando consideravelmente o número de idosos”.

Naquela época, Sr. Hugo trabalhava por conta própria como dentista e dava conta das tarefas do Avedalma. “A todo o momento tinha que pegar recursos financeiros de minha família e do meu sustento para colocar no abrigo. A gente chegou a passar necessidade por causa disso, mas minha fa-mília sempre compreendeu porque os velhinhos não tinham a quem recorrer. Para que a obra continuasse, tínhamos que

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nos esforçar, mas nunca medimos esforços para tal. Procurá-vamos sempre salvar a situação de alguma forma”.

Após recorrer a alguns órgãos públicos, o abrigo foi reconhecido como utilidade pública. A diretoria encaminha-va, de seis em seis meses um relatório ao Serviço Municipal de Assistência Social e conseguiu com isso o registro da casa no Serviço Social Nacional para ser reconhecido também em âmbito estadual e federal. O objetivo de todo este trabalho era conseguir verbas, que por sua vez, eram liberadas, mas nunca chegavam até o Avedalma. “Nunca recebemos um cen-tavo de nenhuma verba governamental”, dizia o Sr. Hugo, com revolta. E assim foi o cotidiano de muitas dificuldades do abrigo durante sua permanência na comunidade de Flexal. O que chamava a atenção era a resistência de todos. Ninguém se rendia aos empecilhos e embates que vinham ou os que estavam por vir.

Na Chácara Nova AuroraAinda no Retiro Saudoso, um velho amigo dos mem-

bros da diretoria, Sr. Enos Moreira, apareceu no abrigo em 1972 levando dois novos companheiros: Manoel Pedro do Rosário e Floriano Mendonça. Sr. Enos (já falecido), era al-faiate; Sr. Manoel Pedro do Rosário era tabelião de Cariacica (também falecido) e o Sr. Floriano Mendonça era proprietário da Viação Planeta (também falecido). Sr. Enos Moreira os apresentou informando que tinham vindo como voluntários para ajudar a tomar parte da organização do abrigo.

Sr. Hugo ficou muito entusiasmado com o trio, pois era mais um reforço para administrar a instituição, além de um novo vigor de força de vontade para vencer os desafios. Um dos maiores deles era conseguir um novo terreno para construir a sede do Avedalma, já que em Flexal, além de um local ermo e longe do centro urbano, a casa não comportava a quantidade de idosos que aumentava consideravelmente a cada mês.

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No mesmo ano de 1972, Floriano Mendonça desco-briu um terreno localizado em uma região de fácil acesso, perto da sede de Cariacica, o que facilitava a construção. O terreno foi comprado de Mário Lisandro Nicoletti e logo após transferiram-se para lá, vendendo a antiga propriedade em Retiro Saudoso. Nesta época, o Sr. Hugo desligou-se da presidência do Avedalma deixando o cargo para Enos e Flo-riano, que se alternavam na função.

O novo local era considerado excelente, bastante are-jado, muita área verde, mas não possuía casas para abrigar os idosos. Havia apenas alguns barracões abandonados que serviam como granjas. Estas construções passaram por uma grande reforma e transformaram-se em moradas, onde vive-ram 25 velhinhos.

Floriano Mendonça, proprietário da Viação Planeta, cuja frota faz a linha intermunicipal, era um homem de pos-ses, muito conceituado e influente na região. Isso facilitou a construção das moradias, inclusive na obtenção do recapea-mento asfáltico das alamedas do abrigo.

Com o passar dos anos as pessoas foram acompanhan-do o trabalho sério que era realizado no Avedalma e as contri-buições, financeiras e voluntárias, foram chegando com maior intensidade e freqüência. O local se transformou, foram feitas novas casas, melhorando cada vez mais a estadia e o conforto dos idosos.

Atualmente, o Avedalma é administrado por uma di-retoria composta de voluntários, assim constituída por: José Maria da Silva (presidente), João Batista Bragança (vice-pre-sidente), Vera Marlene Vicente Suzano (primeira-secretária), Shirley Garioli Celestino (segunda-secretária), Evaldo Blunck Bragança (primeiro- tesoureiro) e Conceição Apparecida Sil-va Penna (diretora administrativa).

Desde a Fundação da instituição, até o presente mo-mento, o trabalho voluntário é a base de sua sustentação e de seu crescimento. A diretoria é toda composta de voluntários

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que auxiliam na administração que conta, também, com 35 voluntários e com 40 funcionários.

Exemplo de abrigoNesses 48 anos de muito esforço, graças à generosi-

dade do povo capixaba através de doações, o Avedalma im-plantou uma infra-estrutura básica, favorável a um trabalho amplo e organizado. Possui atualmente uma área própria de 221.000 m² (duzentos e vinte e um mil metros quadrados), isto é, (22,1 hectares), onde se encontra um conjunto de seis casas residenciais, chamadas de casas-lares; das 6 casas-lares, três são destinadas aos idosos do sexo masculino (Fraterni-dade, União e Amizade) e três aos idosos do sexo feminino (Simpatia, Paciência e Esperança).

A casa conta também com uma enfermaria com 24 leitos e uma Central Administrativa onde funciona o setor de Secretaria e mais 18 setores de trabalho, a saber: Administra-ção, Secretaria, Informática, Tesouraria, Assistência Social, Evangelização, Enfermaria, Geriatria, Cozinha, Almoxarifa-do, Rouparia, Costura, Lavanderia, Portaria, Agro-pecuária, Bazar, Artesanato (AveArt) e Oficina.

Próxima à Central Administrativa “Tia Lulu”, home-nagem a uma ex-voluntária (já falecida), existe uma casa onde funciona um Centro de Vivência do Idoso, bem como um galpão de eventos e um necrotério.

Cada setor possui regulamento próprio e um voluntá-rio responsável, assim como também funcionários, fluindo a comunicação entre eles, através do contato pessoal e, princi-palmente, de formulários adequados de pedido, encaminha-mento e atendimento.

Ações desenvolvidasO abrigo fornece moradia para até 70 residentes, sen-

do que em 2006 a média foi de 71 idosos. Os idosos residem em “Casas-Lares” de quatro quartos, sala, dois banheiros, co-

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zinha e despensa. Em cada quarto são instalados dois a três residentes e existem critérios de seleção para recebê-los, afinal, é preciso manter um controle de qualidade dos atendimentos, respeitando os limites da instituição.

É muito interessante e importante destacar a filosofia de Casas-Lares implantada pelo Avedalma desde 1984, pois os idosos vivem como se em suas próprias casas estivessem. Observa-se todo um esforço para proporcionar uma assistên-cia individual, quase personalizada onde o gosto e as prefe-rências dos idosos, sempre que possível, são respeitadas, na alimentação, no vestuário, enfim, nos mais diferentes aspec-tos, embora isso resulte em um custo maior por idoso.

Um exemplo: Ficavam três idosos em cada quarto e, optou-se pela redução por dois idosos por quarto, para que sobrasse espaço para uma mesinha e cômodas, de maneira que os idosos pudessem melhor receber seus familiares, terem no próprio quarto (e poderem escolher) o vestuário, além de ser mais fácil a convivência com um do que com dois parcei-ros de quarto.

Com isso, houve redução de 90 para 70, os idosos abrigados. Mais conforto, melhor atendimento, mas custo maior.

Para acolhimento na Instituição, o idoso tem que ter acima de 68 anos e não pode ser acamado porque a proposta é a de que ele viva primeiro a experiência de um lar. Caso ele adoeça, aí sim, vai para enfermaria e melhorando ele volta para o seu lar.

É oferecida também assistência médica e geriátrica. Esta ação é realizada por médicos especializados, voluntários. Atualmente, o Abrigo conta com um geriatra, um cardio-logista, um otorrinolaringologista, dois oftalmologista e um neurologista. Conta, também, com uma enfermeira de nível superior voluntária.

Outra ação é a preventiva geriátrica, que consiste no acompanhamento periódico do idoso, objetivando a promo-

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ção da saúde, prevenção e tratamento das doenças na velhice. Há também a assistência ambulatorial para atendimento mé-dico realizado por quinzena, no consultório da Instituição ou nos consultórios dos próprios médicos, quando necessário. Em 2006, foram efetuadas, aproximadamente, 3.360 assis-tências.

Na assistência hospitalar, ocorre a internação por reco-mendações médicas, na enfermaria da Instituição. Em 2006, foram realizadas cerca de 8.395 atendimentos na enfermaria. Conforme a gravidade da doença, e havendo a impossibilida-de de atendimento adequado na Enfermaria da Instituição, é feita a gestão junto aos órgãos públicos de saúde. Os idosos que ingressam no Abrigo com plano de saúde, a família se encarrega de procurar atendimento médico/hospitalar.

Outra atividade desenvolvida no abrigo é a assistência fisioterápica, que objetiva o desenvolvimento do potencial de cada idoso, preparando-o fisicamente para mudanças compa-tíveis com o envelhecimento. Há também as caminhadas pelo terreno do Avedalma, que ocorrem três vezes por semana e são importantes para o estímulo à atividade física, afastando as dores da osteoporose, coluna e reumatismos.

O objetivo cristão é o que importaPara os serviços de enfermagem, o Avedalma conta

com cinco técnicas e uma atendente de enfermagem. Objeti-va-se, sempre, garantir a segurança, o conforto e o bem-estar do residente, melhorando sua qualidade de vida a cada dia. Os idosos também são atendidos por voluntários profissionais de Serviço Social, que fazem um acompanhamento para haver integração entre eles, suas famílias e o próprio Avedalma a fim de se conquistar uma estabilidade psicológica, biológica e social.

Muitos idosos foram abandonados por suas famílias, que nem sequer aparecem para fazer uma visita. Por isso, o carinho dos voluntários e, também, dos visitantes, é um im-

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portante lenitivo para eles. Conquanto o Avedalma seja de iniciativa espírita Kar-

decista, observa-se no Abrigo um total respeito pela iden-tidade religiosa de cada idoso. Respeito que também existe entre os voluntários e funcionários, de diferentes crenças. As atividades de natureza religiosa visam restabelecer a ligação dos idosos com Deus, segundo os ensinamentos de Jesus. O objetivo cristão é o que importa.

O setor de Evangelização promove, às terças e quin-tas-feiras, atividades evangelizadoras, onde os idosos recebem fundamentos cristãos, ouvem histórias, cantam hinos, fazem preces.

As diretrizes filosóficas do Avedalma são: Ter fé em Deus, em nós próprios e em outros. Respeitar e amar o idoso. Amparar o idoso (necessidades materiais e espirituais). Traba-lhar com amor, disciplina e harmonia. Franquear e valorizar o trabalho voluntário. Empregar criatividade e simplicidade. Evitar acidentes e desperdício e respeitar os colaboradores.

A idéia predominante é:• Idoso é quem tem o privilégio de viver uma longa vida, velho é quem perdeu a jovialidade; • A idade causa a degenerescência das células, a velhice causa a degenerescência do espírito;• Você é idoso quando sonha, você é velho quando apenas dorme; • Você é idoso quando ainda aprende, você é velho quando já nem ensina;• Você é idoso quando se exercita, você é velho quan do somente descansa; • Você é idoso quando tem planos, você é velho quando só tem saudades; • Para o idoso a vida se renova a cada dia que começa, para o velho a vida se acaba a cada noite que termina;

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• Para o idoso o dia de hoje é o primeiro do resto de sua vida, para os velhos todos os dias parecem o último de uma longa jornada; • Para o idoso o calendário está repleto de amanhãs, para o velho o calendário só tem ontens; • Que você, quando idoso, viva uma vida longa, mas que nunca fique velho, diz uma cartilha.

Ninguém fica parado no AvedalmaAs finalidades estatutárias da entidade são: Abrigar os

idosos desamparados de ambos os sexos, raça ou nacionali-dade, que não sofram de moléstias mentais ou infecto-conta-giosas, nem estejam necessitados de hospitalização. Criar ou-tros serviços assistenciais, desde que permitam suas condições sócio-econômicas e financeiras, sem qualquer prejuízo ou li-mitação da finalidade prevista no item anterior e promover a integração religiosa, com base nos ensinamentos cristãos, tendo como inspiração a Doutrina Espírita, através de reuni-ões destinadas à comunidade do Abrigo.

Nos serviços de apoio são desenvolvidas muitas ativi-dades, tais como a sala da costura, que confeccionou 508 pe-ças, 31 reformas e 1.209 consertos, em 2006. E há, também, a feira de artesanato, um evento semestral, onde são expostos os trabalhos manuais realizados pelos voluntários e idosos. A cozinha está sempre em pleno vapor, servindo 62.409 refei-ções e 47.502 lanches, durante o ano de 2006.

Para uma melhor qualidade de vida, os idosos partici-pam de variadas atividades, selecionadas, que estimulam sua independência, tais como a atividade pedagógica inclusive a alfabetização, efetuadas três vezes por semana. Os afazeres intelectuais ajudam a manter a auto-estima do idoso e sua re-socialização, por isso, às segundas, quartas e sextas, pro-fessores de pedagogia incentivam os idosos a fazer trabalhos manuais.

O lúdico também tem espaço reservado e valorizado

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no Avedalma. Duas vezes por semana ocorrem diversos jogos e recreações, deixando os idosos animados, sorridentes e es-perançosos. Uma vez por mês, recebem a visita de contadores de histórias e cirandas. A equipe de profissionais voluntários afirma que se sente honrada de prestar este serviço, pois vêem os idosos se sentindo apoiados e revigorados, fortalecendo os valores de amor e caridade.

Nas atividades lúdicas também se encontram os pas-seios externos às praias, parques e shoppings, além de filmes na sala de vídeo, serestas e comemoração de aniversários e datas cívicas. A Orquestra de Teclados da Escola de Música do Espírito Santo (Emes) também participa, voluntária e ocasio-nalmente. Isso sem falar nos diversos corais que se apresen-tam durante todo o ano aos idosos.

As serestas representam um capítulo à parte, pois são coordenadas pelo tecladista residente do Avedalma, Maestro Willy, como é conhecido. Quatro vezes por semana, embaixo de árvores, em um ambiente aconchegante, ele reúne-se com idosos e visitantes, durante as tardes, enchendo o abrigo de música, graça e, é claro, muita nostalgia.

“Eu me sinto muito bem neste abrigo porque aqui as pessoas nos tratam de igual pra igual. Há muito respeito e carinho nos olhos de cada um e eles nos estimulam a mos-trar nossos talentos, nossas histórias e aptidões. Isso faz com que eu e meus companheiros sejamos valorizados e apoiados. Graças a Deus!”, disse Sr. Willy.

Na área psicológica, o abrigo oferece uma oficina de memória, que tem como proposta os resgates emocionais, psicológicos e intelectuais felizes ajudando o idoso a compre-ender a vida através de focos mais positivos. Segundo os ins-trutores, este trabalho é muito interessante porque faz brotar novas sensações e esperanças dentro de cada um e estudos comprovam a eficácia dessas atividades, onde são reduzidos quadros depressivos e há melhora da auto-estima.

Quem acompanhou a história do Avedalma desde o

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início, com as dificuldades do Sr. Hugo em arranjar remédios e alimentos para aquele grupo de nove idosos, não imagina que atualmente o Avedalma, com 70 idosos residentes, ainda presta atendimento à comunidade carente de Cariacica. Se-gundo os dirigentes, é a contrapartida ao auxílio recebido. Segundo relatórios da instituição, foram feitos alguns atendi-mentos tais como: empréstimos de camas hospitalares, cadei-ras de rodas, muletas, bengalas. Ao todo, foram emprestadas aproximadamente 272 unidades. Além de colaborar ocasio-nalmente com suplementação alimentar e doação de equipa-mentos auxiliares conforme a necessidade da comunidade.

Durante o contato com a Instituição, um ponto bas-tante comentado foi a importância da visita da sociedade ao Avedalma para as pessoas conhecerem, de perto, o que é feito. A presença de pessoas carinhosas e interessadas, é fundamen-tal para os idosos. Eles se sentem amados e importantes. As doações para a instituição são muito bem-vindas visto que conta com a ajuda da sociedade para sua manutenção, porém, dizem os dirigentes e voluntários, “As visitas fazem brilhar os olhos de nossos idosos”.

Dedicação, carinho e muito amor A par da geral dedicação observada entre os voluntá-

rios, membros ou não da diretoria, dois exemplos, dos mais marcantes, de dedicação, carinho e muito amor aos idosos são dignos de destaque: Conceição Apparecida Silva Penna (diretora- administrativa), conhecida como Ciça, e Rogério Barbosa.

D. Ciça, voluntária desde 1972, quando o Abrigo ain-da se localizava em Flexal, há muitos anos ocupa o cargo de diretora-administrativa. Sua participação se dava, diretamen-te, no dias destinados ao trabalho voluntário e, indiretamen-te, monitorando a Instituição à distância, porquanto era mo-radora de Vitória.

Em 2001, tudo mudou. Sua irmã, também voluntá-

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ria, Maria de Lourdes Cordeiro, conhecida como “Tia Lulu” operou de catarata e, para que tivesse o descanso devido foi convidada por Ciça a passar alguns dias junto com ela, no Avedalma, inclusive, fazendo pernoite.

A experiência deu seus frutos. Somente vivenciando a realidade do Abrigo 24 horas e com a ajuda de “Tia Lulu”, foi que D. Ciça percebeu quanto havia a fazer para melhorar o atendimento aos idosos, principalmente à noite. E, foram ficando. Ambas. Depois destes dias, num gesto de renúncia pessoal e amor aos idosos, decidiram residir permanentemen-te no Abrigo.

Ainda hoje, D. Ciça permanece morando no Avedal-ma, dedicando tempo integral e muito amor aos idosos.

A história de Rogério, com algum diferencial, é se-melhante. Aproximadamente há 12 anos atrás, numa noite de terça-feira de Carnaval, Rogério apresentou-se a D. Ciça pedindo para fazer um “retiro” no Carnaval. Ficou uns dias, tomou-se de amores pelo Avedalma e seus idosos e lá perma-neceu como voluntário por uns tempos.

Sua dedicação, seu carinho e tempo disponível propor-cionaram um convite para que virasse funcionário, auxiliando em tempo integral o trabalho de administração.

Hoje, Rogério é peça-chave na engrenagem do Ave-dalma, estimado por todos, idosos, voluntários e funcioná-rios, pela dedicação e carinho no trabalho.

Como colaborar com o AvedalmaAs necessidades do Avedalma são muitas e o custeio

de suas atividades, é uma perene preocupação requerendo um permanente esforço de angariar recursos.

A maioria dos recursos vem das aposentadorias dos idosos, que a entidade administra para pagar os 40 funcioná-rios, além das contas de água (em torno de R$ 1.800) e luz (cerca de R$ 2.000), combustível, medicação e alimentação, tudo usado em prol dos idosos. O restante que falta, tem de

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ser buscado na forma de doações, feitas em boleto bancário ou em forma de mantimentos, alimentos não- perecíveis, re-médios, trabalhos voluntários, etc.

Recentemente, foi feita uma parceria com a Escelsa para que a pessoa possa doar através da conta de luz, sim-plificando muito. Basta a pessoa autorizar ao Avedalma que transmite a autorização à Escelsa e o valor autorizado passa a ser debitado na conta mensal de luz do doador, podendo ser suspensa quando ele o queira.

Para ajudar na obtenção de recursos, são realizadas duas grandes festas a cada ano: uma festa junina (junho) e outra, comemorando o aniversário do Avedalma e o dia dos idosos (setembro). Voluntários e comunidades fraternas espí-ritas oferecem barraquinhas de doces, salgados, jogos e arte-sanatos. As festas são de ótima aceitação, animam o abrigo e conseguem angariar uma quantia favorável de recursos.

Aos interessados em ajudar, seguem os dados sobre a entidade:

Abrigo à Velhice Desamparada “Auta Loureiro Machado” – AvedalmaCNPJ: 27.400.928/0001-10Endereço: Rua João Rodrigues Filho, 425 - Cariacica Sede/ES – CEP.: 29156-270Telefone: (27) 3254-1449 - FAX: (27) 3254-2777Site: www.caisnet.com.br/avedalmaE-mail: [email protected]

Presidente: José Maria da SilvaAdministradora: Conceição Apparecida Silva Penna.

Nota: Este texto obteve como uma das fontes de informação o livro “Avedalma”.

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Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – Apae ESPÍRITO SANTO EMPREENDEDOR

“AMIGOS SÃO AQUELES QUE AJUDAM A NOS COLOCAR DE PÉ QUANDO NOSSAS ASAS

ESQUECEM COMO VOAR”Hércules Falcão - Apae de Vitória

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Visitar ou participar de alguma atividade da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) é estar envolto em uma grande força de profissionais, voluntários e instituições públicas e privadas que defendem e promovem os direitos de cidadania da pessoa com deficiência e sua inclusão social. Mas acima de tudo, é estar entre pessoas de fibra, amigos com força de vontade, respeito, amor e carinho incondicionais à causa.

Atualmente, o movimento no Brasil congrega a Fede-ração Nacional das Apaes, com 23 federações estaduais e duas mil Apaes distribuídas em todo o País, que propiciam atenção integral para mais de 244 mil brasileiros portadores de defici-ência mental ou múltipla. O movimento apaeano é considerado a maior iniciativa filantrópica do Brasil e do mundo, em sua área de atuação. No Espírito Santo são 40 Apaes correspon-dendo a mais de 50% dos municípios do Estado.

Fundada no Rio de Janeiro em 1954, a associação conta com uma história de pioneirismo na prevenção, tratamento, ca-pacitação e inclusão. Atualmente, a Apae é reconhecida pela sua credibilidade, dedicação e qualidade na prestação dos serviços

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às crianças, adolescentes e adultos portadores da síndrome de Down e outras deficiências.

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Qualibest em 2006, a pedido da Federação Nacional das Apaes, mostrou que a Apae é conhecida por 87% dos entrevistados e tida como confiável por 99% deles. São resultados expressivos que refle-tem o trabalho e as conquistas da associação.

“É por causa de tanto trabalho e afeto que o nome Apae possui valores que só o tempo e muito empenho podem atribuir a uma marca. E é de fundamental importância que a percepção que a sociedade tem do nosso trabalho seja sempre renovada de acordo com a nossa missão e com ações de comu-nicação eficientes e criteriosas”, disse Hércules Falcão, presi-dente da Apae Vitória.

Nesse esforço destacam-se a incorporação do Teste do Pezinho na rede pública de saúde; a prática de esportes e a inserção das linguagens artísticas como instrumentos pedagó-gicos na formação das pessoas com deficiência, assim como a estimulação precoce dos bebês como fundamental para o seu desenvolvimento.

De acordo com o Censo Ibge 2000, o Brasil tem 24,5 mi-lhões de pessoas com deficiência, o que equivale a 14,5% da popu-lação do País. Dessas, 48,1% foram declaradas deficientes visuais, 22,9% com deficiência motora, 16,7% com deficiência auditiva, 8,3% com deficiência mental e 4,1% com deficiência física.

No início, a Apae era apenas uma escola com traba-lhos dedicados às crianças com deficiência mental. Alguns anos depois, a escola desenvolveu-se, seus alunos tornaram-se ado-lescentes e necessitaram de atividades mais criativas e profis-sionalizantes. Surgiu, assim, a primeira oficina pedagógica de atividades ligadas à carpintaria para deficientes no Brasil, que também abriu caminho para a criação de outros projetos.

Em menos de oito anos, em 1962, outras 16 Apaes fo-ram implantadas e iniciaram suas atividades em diferentes ca-pitais do Brasil. Pela primeira vez no País, se trazia à tona as

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dificuldades enfrentadas pela pessoa com deficiência. “Foi uma verdadeira revolução!”, comenta o presidente da Apae Vitória, Hércules Falcão. Apae de Vitória – Pioneirismo

No Espírito Santo, o movimento apaeano existe desde maio de 1965, quando se fundou a Apae Vitória, pioneira capi-xaba. Atualmente, 40Apaes funcionam em todo o Estado (em igual número de municípios) oferecendo atendimento especia-lizado a cerca de 7 mil crianças e adolescentes portadores de deficiência mental ou múltipla e empregando direta e indireta-mente mais de 1.200 profissionais entre professores, técnicos e pessoal administrativo.

Naquela década de 60, funcionava em Vitória o Instituto Educacional do Espírito Santo (Inedes), com objetivo de aten-der crianças excepcionais. Mas a demanda crescente, a necessi-dade de ampliação e de melhoria do atendimento forçaram os envolvidos a irem além. Com a referência do trabalho da Apae em outros Estados, todo o patrimônio do Inedes foi transferido para a criação de uma unidade apaeana em Vitória.

A instituição iniciou o atendimento a 50 crianças e jo-vens em meados de 1967. A equipe tinha professores, diretor, secretário e quatro pessoas de apoio. O atendimento era feito no setor pedagógico e no centro de reabilitação (fisioterapia), onde hoje é a sede, em Bento Ferreira, na Escola de Ensino Especial “Zezé Gabeira”.

Nesses 43 anos em atividade no Espírito Santo, é pos-sível verificar a evolução da instituição que saiu da condição de “pires na mão”, dependente de doações espontâneas e car-nês de contribuição para uma gestão profissional e moderna que elabora e realiza projetos especializados e planejamentos estratégicos, com um equipe técnica experiente em áreas dis-tintas. Toda essa evolução fortaleceu a ética, a transparência e a competência da Apae, tornando-a digna de uma entidade forte do terceiro setor, tornando-se uma referência nacional pelo seu

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modelo de gestão.Visitar as atividades da Apae é como entrar em uma

grande rede de estímulos, movimentos e criatividades em tor-no dos 990 alunos que recebem atendimento contínuo. São re-alizados dezenas programas nas áreas da educação, estimulação precoce, fisioterapia, educação para o trabalho, educação física, iniciação ao esporte, educação artística, atendimento odontoló-gico, médico e psicossocial, mantendo um quadro de profissio-nais qualificados e voluntários.

O nome da escola foi escolhido em homenagem à Dona Zezé Gabeira, idealizadora do “Grupo das Abelhinhas”. Im-possível falar da Apae sem lembrar deste grupo, exemplo de solidariedade que reúne na Apae de Vitória, há 10 anos, 35 mulheres da sociedade capixaba que confeccionam os mais lin-dos bordados, jogos de banho e panos de pratos, para serem vendidos na época do Natal todo os anos. O objetivo é arreca-dar fundos para a instituição. Só em 2007, o grupo conseguiu lucrar R$ 15 mil, sendo R$ 12 mil para a Apae e o restante para a compra de materiais.

Este recursos, entre outros necessários para a Apae, con-tribuem para a realização das principais ações da entidade que são: a defesa de direitos, o trabalho em comunidade, atenção a saúde, apoio o à família e a inclusão social.

“Faz parte da nossa luta propor e subsidiar as legisla-ções para garantir que os direitos das pessoas com deficiência estejam incluídos em todas as políticas públicas”, afirma Ro-dolpho Dalla Bernardina.

“O trabalho em comunidade é fundamental para criar-mos alianças estratégicas com vários setores e segmentos so-ciais. Aproximar a família também faz parte da nossa conquista porque todos precisamos estar bem informados para assumir nosso papel neste trabalho social”, completa Hércules, da Apae Vitória.

Na Apae, basta uma visita para certificar-se do quanto os trabalhos com a saúde merecem a atenção de todos os pro-

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fissionais envolvidos. O Projeto Refeitório, por exemplo, foi uma árdua conquista das equipes de Assistência Social, Terapia Ocupacional e Nutricionismo para desenvolver a autonomia dos alunos durante as refeições diárias.

No programa, os alunos aprender a manusear os talhe-res, montar seus próprios pratos e entender o que é alimentar-se de forma balanceada e nutritiva.

“Temos trabalhado muito para fazer valer o direito da pessoa com deficiência de ser produtiva e ter acesso à sua auto-nomia. Ter autonomia significa saber se comunicar, cuidar de sua higiene não só na escola, mas em locais públicos ou no am-biente de trabalho onde uma boa parcela deles, futuramente, se Deus quiser, poderão trabalhar”, diz Hércules.

O setor de odontologia da Apae Vitória é um dos mais procurados. O Centro Clínico dispõe de dois consultórios odontológicos totalmente estruturados, criados especialmente para promover a saúde bucal dos alunos com deficiência mental ou múltipla. É o único espaço no Estado que oferece esse tipo de serviço odontológico específico.

Uma média de 60 atendimentos odontológicos é rea-lizada por semana nos consultórios, que conta com cirurgiões dentistas cedidos pela Secretaria Estadual da Saúde, que pro-move semanalmente, restaurações, cirurgias, ações de preven-ção e orientações de escovação, além de aplicações de flúor nos alunos da Apae de Vitória.

Em 2006, a Coordenação Clínica ganhou um novo prédio na Apae Vitória, o que possibilitou a oferta de novos exames e serviços às pessoas com necessidades especiais, tais como: exames de audiometria, triagem auditiva (teste da ore-lhinha), eletroencefalograma e mapeamento cerebral. Toda a população pode usufruir deste serviço da Apae. O local está maior, mais confortável e ainda mais organizado. Os recursos foram conquistados junto à Prefeitura Municipal de Vitória.

A Apae de Vitória também implantou o Teste do Suor para pesquisa da Fibrose Cística, atendendo a uma carência

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do Estado. Participou também da elaboração do Programa de Anemia Falciforme que está sendo desenvolvido pelo Hemo-centro. A Apae conta também com convênios firmados com o Banco do Brasil, Unimed, Petrobras e ArcelorMittal para tria-gem neonatal e os atendimentos às pessoas com necessidades especiais. Para se ter uma idéia, a Apae Vitória atende a 90% da demanda de todo o Estado do Espírito Santo para a triagem neonatal, o Teste do Pezinho.

“Faz parte do nosso dia a dia trabalhar em parceria com a sociedade e tornar a vida dos nossos assistidos mais saudável e com os seus direitos respeitados. Queremos que o Poder Pú-blico torna-se cada vez mais nosso parceiro. Somos um braço deles e de grande importância porque atendemos, em determi-nados projetos, a toda a população, principalmente na área da saúde”, solicita Hércules.

Teste do Pezinho completa 32 anosAo completar mais de três décadas de existência, o

atendimento de triagem neonatal, conhecido como Teste do Pezinho, atinge a marca de 13 milhões de pessoas triadas em todo País.

O teste foi implantado pelo Laboratório Apae de São Paulo em 1976, centro pioneiro na prestação deste serviço na América Latina, e visa diagnosticar e impedir o desen-volvimento de doenças que, se não forem tratadas preco-cemente, poderão conduzir a graves prejuízos, inclusive a deficiência mental.

“O teste do pezinho é uma medida de segurança para garantir a saúde e qualidade de vida do bebê. O diagnóstico precoce é o primeiro passo para o sucesso de qualquer tra-tamento. Por isso, é fundamental realizar o teste na primeira semana de vida do bebê. Com apenas algumas gotinhas de sangue é possível detectar e prevenir uma série de doenças”, explica Hércules.

No Espírito Santo, o teste é coletado em todo o Estado,

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com cobertura de 100% dos 78 municípios abrangendo 92% dos recém-nascidos, com um total de 5 mil exames por mês.

Regulamentado pelo Ministério da Saúde, o teste teve sua aplicação transformada em lei no ano de 1990 e é dispo-nibilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Inclusão social nas escolas comuns e no mercado de trabalho

As Apaes do Espírito Santo têm como meta fortalecer o movimento social pela inclusão social dos alunos, respeitando o ritmo de cada um, as condições e as necessidades da deficiên-cia, de sua família e de sua comunidade.

A preparação para o trabalho, qualificação e inclusão no mercado de trabalho são as etapas básicas do Núcleo Peda-gógico Profissionalizante da Apae Vitória. Os alunos da escola contam com um espaço para aprenderem a desenvolver traba-lhos, de forma a se tornarem aptos para o mercado de trabalho formal. Em 2006, cinco alunos alcançaram essa vitória. Atual-mente, 690 alunos são beneficiados pelos cursos profissionali-zantes oferecidos pela entidade.

“É uma conquista pela garra e determinação dos pro-fessores e funcionários, empenhados no crescimento e desen-volvimento dos alunos. Precisamos cada vez mais impulsioná-los para descobrir os próprios potenciais nas atividades, como tapeçaria, mosaico, pinturas e trabalhos manuais em geral”, afirma Hércules.

Para inserir o aprendiz no mercado, a Apae desenvolve um trabalho prévio com a empresa para prepará-la e orientá-la no trato com o aluno especial. O aprendiz recebe acompanha-mento da Apae por um período de seis meses até que esteja adaptado à nova rotina e seja contratado.

“A Apae se tornou um elo de integração entre os alunos e o mercado, pois trabalhamos nas duas instâncias, a do aprendiz e a do trabalho. O resultado é a inclusão social que tanto desejamos”, completa Rodolpho Dalla Bernardina, presidente da Feapaes.

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A Apae de Vitória conta também com um espaço pró-prio para fabricação de móveis. São mesas, armários e cadeiras adaptadas, produzidos com muita dedicação e eficiência para a instituição e também feitos sob encomenda.

Outro tipo de inclusão social muito comentada na Apae e na mídia nacional, é a inclusão do aluno especial nas escolas tradicionais. Para os coordenadores da instituição, os pais devem cobrar das escolas a atenção que seu filho especial precisa, já que a Apae apenas complementa o aprendizado e o desenvolvimento da criança especial, mas não pode substituir a escola regular.

“Nós sabemos que o professor consegue dar atenção ao aluno especial e aos demais. Para isso, é preciso ter paciên-cia, compreensão, solidariedade e muito amor. E nem sempre a escola precisa investir em material didático diferenciado. O mais importante é que os professores se sensibilizem com a situação”, afirma Hércules.

Para a Apae, a interação da criança portadora de defi-ciência com os demais estudantes é fundamental para sua in-tegração na sociedade. Mas só isso não basta. Os pais também devem observar as características da escola. Segundo a direção da entidade, o ideal é que a criança não estude em uma institui-ção muito voltada para o vestibular. O colégio também deve ter programas que complementem o aprendizado, como oficinas de artes e natação.

Outra dica é levar a educação para casa. Para isso, é preciso definir papéis do filho especial na rotina da família. Quando a mãe for ao supermercado, por exemplo, pode levar a criança. Assim, ela terá contato com outras pessoas e aprende com as situações do dia a dia.

A síndrome de DownA síndrome de Down é causada pela existência de três

cromossomos 21 (um a mais do que o normal, trissomia do 21), uma das anormalidades cromossômicas mais comuns em nascidos vivos. É uma combinação específica de característi-

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cas fenotípicas que inclui retardo mental e uma face típica. É sabido, há muito tempo, que o risco de ter uma criança com trissomia do 21 aumenta com a idade materna.

Por exemplo, o risco de ter um recém-nascido com sín-drome de Down, se a mãe tem 30 anos é de 1 em 1.000, se a mãe tiver 40 anos, o risco é de 9 em 1.000. Na população em geral, a freqüência da síndrome de Down é de 1 para cada 650 a 1.000 recém-nascidos vivos e cerca de 85% dos casos ocorre em mães com menos de 35 anos de idade.

As pessoas com síndrome de Down costumam ser me-nores e ter um desenvolvimento físico e mental mais lento que as pessoas sem a síndrome. A maior parte dessas pessoas tem retardo mental de leve a moderado; algumas não apresentam retardo e se situam entre as faixas limítrofes e médias baixa, outras ainda podem ter retardo mental severo.

Existe uma grande variação na capacidade mental e no progresso desenvolvimental das crianças com síndrome de Down. O desenvolvimento motor destas crianças também é mais lento. Enquanto as crianças sem síndrome costumam caminhar com 12 a 14 meses de idade, as crianças afetadas geralmente aprendem a andar com 15 a 36 meses. O desenvol-vimento da linguagem também é atrasado. É importante frisar que um ambiente amoroso e estimulante, intervenção precoce e esforços integrados de educação irão sempre influenciar posi-tivamente o desenvolvimento desta criança.

Embora as pessoas com síndrome de Down tenham características físicas específicas, geralmente elas têm mais se-melhanças do que diferenças com a população em geral. As ca-racterísticas físicas são importantes para o médico fazer o diag-nóstico clínico. Porém, a sua presença não tem nenhum outro significado. Nem sempre a criança com síndrome de Down apresenta todas as características; algumas podem ter somente umas poucas, enquanto outras podem mostrar a maioria dos sinais da síndrome.

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Informações sobre como participar e ajudar:

A Apae precisa de voluntários de todas as especialidades. Você pode ajudar de inúmeras formas, associando-se, doando alimentos, roupas, mantimentos, material de limpeza como quantias em dinheiro. Importante também é doar o seu tempo e conhecer de perto a entidade, podendo ajudar nas oficinas de artesanato, música, dança e esportes. Na Apae de Vitória existe o “Desenvolvimento Institucional” (DI) que apresenta a instituição para visitantes e realiza projetos para a captação de recursos. Aproxime-se participe!

Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais

Federação das Apaes do Estado do Espírito Santo Endereço: Avenida Nair de Azevedo Silva, 450 - Loja 17 Mário Cipreste - Vitória - ES Telefone: (27) 3223-7035

Apae de VitóriaRua Aluysio Simões, 185 - Bento Ferreira - Vitória - ESTelefone: (27) 2104-4000

E-mails das Apaes do Estado do Espírito Santo: Apae de Afonso Cláudio: [email protected] Apae de Alegre: [email protected] Apae de Aracruz: [email protected] Apae de Baixo Guandu: [email protected] Apae de Barra de São Francisco: [email protected] Apae de Boa Esperança: [email protected] Apae de Brejetuba: [email protected] Apae de Cachoeiro de Itapemirim: [email protected] Apae de Cariacica: [email protected] Apae de Castelo: [email protected]

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Apae de Colatina: [email protected] Apae de Conceição do Castelo: [email protected] Apae de Domingos Martins: [email protected] Apae de Governador Lindenberg: [email protected] Apae de Guaçuí: [email protected] Apae de Guarapari: [email protected] Apae de Ibatiba: [email protected] Apae de Ibitirama: [email protected] Apae de Irupi: [email protected] Apae de Iúna: [email protected] Apae de Marataízes: [email protected] Apae de Marilândia: [email protected] Apae de Montanha: [email protected] Apae de Muniz Freire: [email protected] Apae de Muqui: [email protected] Apae de Nova Venécia: [email protected] Apae de Pinheiros: [email protected] Apae de Piúma: [email protected] Apae de Rio Bananal: [email protected] Apae de Santa Leopoldina: [email protected] Apae de Santa Maria de Jetibá: [email protected] Apae de São Gabriel da Palha: [email protected] Apae de São Mateus: [email protected] Apae de São Roque do Canaã: [email protected] Apae de Serra: [email protected] Apae de Venda Nova do Imigrante: [email protected] Apae de Viana: [email protected] Apae de Vila Valério: [email protected] Apae de Vila Velha: [email protected] Apae de Vitória: [email protected]

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Abrigo à Velhice Desamparada “Auta Loureiro Machado” ESPÍRITO SANTO EMPREENDEDOR

“NOSSO COMPROMISSO É COM A VIDA E COM A FELICIDADE DO SER HUMANO. A ESPÉCIE HUMANA É SOCIAL. SE HOUVESSE INDIVÍDUOS INDIVIDUAIS

ENTRE NÓS, ELES SERIAM INCAPAZES DE AMAR. SOMOS SERES CUJA SAÚDE E FELICIDADE

DEPENDE DO AMOR, JUSTAMENTE PORQUE SOMOS INDIVÍDUOS SOCIAIS. POR ISSO, NOSSA ECONOMIA TEM QUE SER REINVENTADA, PARA DAR CONTA

DO INDIVÍDUO SOCIAL QUE NÓS SOMOS!"Marcos Arruda

Escritor e pensador da Economia Solidária

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Dificuldade financeira, baixa escolaridade, falta de servi-ços básicos de saúde e segurança e baixa perspectiva de mudança social não foram obstáculos para que um grupo de mulheres e mães de família iniciasse, em 2002, uma verdadeira revolução de cidadania e participação comunitária no Morro São Benedito, na cidade de Vitória.

Tudo começou com um pequeno bazar de roupas e um curso na área da moda, em seguida surgiu uma marcenaria, depois um grupo de culinária, em seguida veio a produção de sabão e produtos de limpeza, vassouras de garrafa Pet, até chegar a um banco comunitário, o Banco Bem, com serviços de concessão de créditos e circulação de moeda própria, que fez brotar novos projetos como uma fábrica de tijolos ecológi-cos, uma cooperativa e até uma escola de economia solidária.

Esses empreendimentos citados são apenas algumas das inúmeras idéias transformadas em realidade pela comuni-dade do Morro São Benedito em parceria com a iniciativa pri-vada e pública, instituições de apoio ao terceiro setor e órgãos de incentivo às micro e pequenas empresas, como o Sebrae.

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Quando a psicóloga Leonora Mol iniciou suas ativida-des na ONG Secri (Serviço de Engajamento Comunitário), em 2001, ela não imaginava o impulso que daria àquela comunida-de carente. Especializada na área da psicologia social, a mineira sempre trabalhou em favelas e regiões de periferia desenvolven-do projetos de melhoria da qualidade de vida da população.

A primeira demanda repassada para a Leonora foi coordenar o projeto Ateliê de Idéias. O projeto era de cus-tomização, focado em adolescentes do Morro São Benedito e bairros do entorno, como Itararé e Bairro da Penha. Na época havia um bazar dentro do Secri, que recebia roupas que sobravam de lojas para fazer customização e consertar pequenos defeitos.

Durante a elaboração do projeto “Ateliê de Idéias” aproximadamente vinte adolescentes da comunidade foram contatadas, mas não se interessaram em participar. Porém, as mães destas adolescentes procuraram o projeto e manifesta-ram seu desejo em fazer parte, iniciando um empreendimen-to produtivo, hoje denominado “Bem Arte e Moda”.

“As mulheres foram ousadas, muitas não tinham o que comer em casa e estavam desempregadas quando entraram no grupo. Com o tempo, várias delas conseguiram trabalho no mercado formal e outras se mantiveram no grupo”, conta Leonora.

“Com essas mulheres começamos a descobrir um mundo que não tínhamos noção. Havia mulheres que sequer conheciam as cores. Existiam muitas dificuldades e as rela-ções familiares e sociais complicadas interferiam muito no trabalho. Vimos que o que existia ali não era só uma carência financeira. A carência era em todos os sentidos, precisávamos trabalhar o desenvolvimento em todas as suas dimensões: hu-mano, social, espiritual e todas as questões que formam um indivíduo”, conta a psicóloga Leonora Mol, coordenadora do Artidéias.

Em dezembro de 2002, estas mulheres foram convi-

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dadas a participar de uma feira promovida na comunidade, mas não tinham capital de giro para adquirir matéria-prima, nem meios para acessá-lo. O recurso veio através de uma em-presária, que emprestou informalmente R$ 300,00. Toda a produção foi vendida, rendendo um total de R$ 800,00 com um saldo positivo de R$ 500,00.

Discutindo o destino do dinheiro proveniente da sobra desta feira, o grupo decidiu utilizar o dinheiro para ampliar a produção, gerando mais renda. Todas elas tinham necessida-des imediatas, mas sabiam que este valor dividido pelo núme-ro de mulheres não supria todas elas. Assim, o grupo fez uma compra de matéria-prima no valor de R$ 200,00 e aplicou 300,00 na poupança, tomando como meta comercializar sua produção por mais um ano a fim de dividir as sobras somente em dezembro de 2003.

O segundo empreendimento solidário formado foi de marcenaria, conhecido hoje como “Bem Arte e Madeira”. O Secri mantinha uma escola de marcenaria para adolescentes, que por lei não poderia mais ensinar o ofício para os mesmos, porque o trabalho de marceneiro foi caracterizado como insa-lubre e periculoso, impedindo assim o acesso de menores de idade. Algumas mulheres do grupo de produção já existente, cujos filhos fizeram este curso, decidiram aproveitar o ma-quinário, organizando um grupo produtivo inicialmente com cerca de dez jovens (acima de 18 anos).

O espaço e os equipamentos foram cedidos pelo Secri em regime de comodato. A produção iniciou em setembro de 2003 com uma encomenda de 400 brinquedos educativos. E, assim como as mulheres, esses jovens não tinham capital de giro nem condições para acessá-lo via crédito ou financiamen-to formal. Desta vez, o empréstimo veio da comunidade, do próprio grupo Bem Arte e Moda. Neste momento aconteceu a primeira ação de um Banco Comunitário.

Em agosto de 2003, o Projeto Ateliê de Idéias foi fi-nalizado e em setembro, foi criada a Associação de Artesãos

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Ateliê de Idéias - Artidéias. Sua criação foi motivada pela ne-cessidade de condições legais (personalidade jurídica) princi-palmente, para captar recursos.

Durante o processo de criação da associação, os in-tegrantes conheceram a filosofia da Economia Solidária, e a Artidéias se integrou ao Fórum Estadual de Economia Soli-dária, em 2004.

O terceiro empreendimento solidário, o Bem Nutrir, é formado por mulheres que produzem alimentos, fornecendo coffe-break, lanches e buffet. Em setembro de 2003, uma das mulheres do grupo “Bem Arte e Moda” fez um curso de pa-netone e decidiu trocar o artesanato pela cozinha.

“Esta mulher, por ter vivenciado a experiência do tra-balho em grupo, enxergou a possibilidade de criação de mais um empreendimento, convidou mais três mulheres da comu-nidade e pediu ajuda à Artidéias, que conseguiu, em outubro de 2003, com o Secri, a concessão da cozinha para o período noturno. Como não tinham capital de giro mais uma vez o Bem Arte e Moda emprestou o dinheiro colaborando para o novo empreendimento”, conta Leonora.

Em janeiro de 2004, uma senhora da comunidade que produzia e comercializava individualmente sabão de álcool, procurou a Artidéias buscando parceria para comprar equipa-mentos e ampliar a produção a fim de atender a demanda. As-sim, formou-se o quarto empreendimento solidário, o “Bem Limpar”, que produz produtos de limpeza (sabão em barra, amaciante, desinfetante, detergente e vassouras com garrafa Pet). Para produzir as vassouras um grupo de empresários doou R$ 5.000,00 para compra de equipamentos, capacita-ção e matéria-prima.

Os produtos de todos os grupos são comercializa-dos na Loja Solidária da Artidéias, localizada em uma sala na Paróquia Santa Rita de Cássia, em um bairro nobre da cidade de Vitória, na Praia do Canto, desde julho de 2004, concedida em regime de comodato.

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O Banco Bem – Projeto inovador do Espírito SantoEm abril de 2005, o grupo de empresários que inves-

tiu no “Bem Limpar”, doou R$ 10.000,00 para a Artidéias. Os associados estavam discutindo como aplicar este dinheiro quando assistiram uma palestra ministrada pelo coordenador do Banco Palmas, Joaquim Melo, que participava do Semi-nário de Qualificação Profissional em Economia Solidária oferecido pela Prefeitura Municipal de Vitória, em maio de 2005.

“Eu já era uma entusiasta do Banco Palmas, lia os li-vros publicados por eles e meu sonho era replicar a idéia em Vitória. A palestra foi maravilhosa, mexeu com as moradoras do morro, e nos deixou encantadas com a oportunidade de fazer o mesmo que o Banco Palmas”, conta Leonora.

Após a palestra, Leonora procurou o Joaquim e no elevador, em menos de cinco minutos, contou a história do Artidéias. Joaquim começou com o Banco Palmas, em uma comunidade de 20 mil pessoas e com R$ 2.000. A comunida-de de São Benedito e seu entorno tinham 30 mil pessoas e os associados tinham R$ 19.000. O palestrante ficou animado com a idéia e incentivou Leonora, que pedia mais informa-ções sobre como começar.

“Eu ajudo vocês a estruturarem esse banco em três dias, basta conseguir um jeito para que eu venha à Vitória. Como chama mesmo a comunidade?”, disse Joaquim. Leono-ra respondeu: “São Benedito”. Joaquim então brincou dizen-do que o banco se chamaria Bené.

Mas ao dizer para as mulheres o nome dito pelo Jo-aquim, uma delas - Zilda Rodrigues Ferreira disse: “Não, o nosso banco chamará Banco Bem, pois vai trazer muitos bens para nossa comunidade”.

E assim, em julho de 2005, com o patrocínio da ini-ciativa privada, a comunidade recebeu o Joaquim e em três dias realizaram a Oficina de Estruturação do Banco Bem.

O Banco Bem foi inaugurado em outubro de 2005,

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atuando inicialmente nos bairros de São Benedito, Bairro da Penha e Itararé. A partir de março de 2007, ampliou o atendi-mento para mais três bairros: Consolação, Jaburu e Bonfim, e duas comunidades: Floresta, e Engenharia, num total apro-ximado de 31.000 habitantes (10% da população da cidade de Vitória).

O Banco Bem é um banco comunitário de desenvolvi-mento que funciona como um sistema integrado de crédito, produção, comércio e consumo, promovendo o desenvolvi-mento local, e buscando a melhoria da qualidade de vida, na perspectiva da Economia Solidária.

Com a inauguração do Banco Bem, projeto inovador no Espírito Santo, a Artidéias, através de projetos encami-nhados e convênios firmados, estabeleceu parcerias de funda-mental importância para seu desenvolvimento com a Prefei-tura Municipal de Vitória, ArcelorMittal, Unimed Vitória e Sebrae-ES.

O circulante local, ou seja, moeda social batizada de moeda Bem passou a circular nas comunidades em março de 2006, com o objetivo de fazer girar a riqueza produzida pela comunidade na própria região, promovendo o desenvolvimen-to local. “A moeda tem lastro em Real e é adquirida através de crédito para o consumo ou através de trocas da moeda Real no Banco Bem. Todo morador ao comprar no comércio lo-cal cadastrado tem um desconto estipulado pelo comerciante. Hoje temos pessoas que dizem que na comunidade o Bem é mais forte que o Real”, diz Leonora.

Em janeiro de 2007, a Artidéias, através do Banco Bem, passa a oferecer outro serviço importante à população, sendo cadastrada como Correspondente Bancário da Caixa Econômica Federal, onde moradores são beneficiados com serviços bancários tradicionais, na sede do Banco Bem, no alto do morro de São Benedito. O Correspondente permite que moradores e comerciantes utilizem a moeda Bem para pagar suas contas e permite ainda o recebimento de benefí-

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cios com um percentual em moeda social.Em visita ao Banco Bem em janeiro de 2006, período

de seleção dos projetos, o técnico da Brazil Foundation pôs a Artidéias em contato com um projeto de tijolos ecológicos, desenvolvido pela ONG Ação Moradia em Uberlândia-MG.

“A intenção da entidade financiadora era replicar a ex-periência que já havia sido premiada anteriormente. O projeto proposto à Brazil Foundation foi a formação do sexto em-preendimento - o “Bem Construir”. O prêmio foi liberado em junho de 2006 e dois meses depois o Coordenador do projeto de Uberlândia visitou a Artidéias”, afirma Leonora. A partir daí foi realizado um encontro para os convidados representantes das seguintes instituições: ONG Moradia e Ci-dadania, Caixa Econômica Federal, Centro Tecnológico da Ufes – Universidade Federal do Espírito Santo e o Secri, que passaram a ser parceiros do projeto.

Através de uma consultoria patrocinada pelo Sebrae-ES, em janeiro de 2007, oferecida pela empresa Dai Brasil, a equipe da Artidéias desenhou para a instituição uma nova estrutura organizacional. “Essa mudança garantiu a consis-tência e o crescimento dos projetos já existentes e possibilitou a criação de novos projetos”, informa a coordenadora.

O Bem Maior e o Bem AprenderComo todas as ações da Artidéias giram em torno do

desenvolvimento das oito comunidades da área de abrangên-cia, o esteio da instituição, é o Fórum de Desenvolvimento Comunitário, denominado Bem Maior, no qual os moradores vão se envolvendo nos processos decisórios do Banco Bem e exercendo o controle social. Este Fórum foi fomentado pela Artidéias, com o objetivo de contribuir para a organização comunitária da região.

O projeto Bem Aprender - Escola de Economia Soli-dária, iniciado em fevereiro de 2007, tem como princípio e, ao mesmo tempo como horizonte, os valores e práticas da

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Economia Solidária, e inspira-se na cooperação e autogestão no trabalho e em todas as instâncias de produção da vida.

O Bem Aprender juntamente com o Bem Maior, fo-mentou a partir de abril de 2007, a construção de um Projeto de Desenvolvimento Comunitário Solidário, incluindo lide-ranças formais e informais, das oito comunidades atendidas pela Artidéias, na perspectiva de capacitação destas lideranças para a execução de uma pesquisa de potencialidades locais, saberes e fazeres. Os resultados da pesquisa, que terá como pesquisadores as próprias lideranças, serão utilizados para a formatação de um projeto coletivo de geração de trabalho e renda para as comunidades envolvidas.

O Bem Aprender juntamente com o Bem Maior, fo-mentou a partir de abril de 2007, a construção de um Projeto de Desenvolvimento Comunitário, incluindo lideranças for-mais e informais, das oito comunidades atendidas pela Arti-déias. O início do projeto foi a Pesquisa de Potencialidades, Saberes e Fazeres. Com o apoio do Sebrae-ES e do Institu-to Marista de Solidariedade - IMS, 40 moradores tiveram uma formação para atuar como pesquisadores e realizaram a pesquisa em 907 domicílios dos 6950 existentes, terminando a mesma no final de 2007. Os dados consolidados servirão como base para a formatação do projeto.

Outra demanda do Bem Maior, atendida pelo Bem Aprender, no final de 2007, foi a estruturação de um projeto chamado Pré-Vest do Bem – um curso pré-vestibular popu-lar, que atenderá inicialmente 60 jovens. O curso tem caráter sócio-educacional e o objetivo de incrementar o ingresso da população de baixa renda na Universidade Federal do Espí-rito Santo (Ufes), no pós-médio do Cefetes, em faculdades particulares, através de bolsas do Prouni (Governo Federal) e Nossa Bolsa (Governo Estadual), através da revisão de conte-údos e demais informações necessárias à prova do Concurso Vestibular.

O Bem Aprender tem sua sede em cima do Banco

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Bem, construída com os tijolos ecológicos do Bem Cons-truir.

Bem Incubar - EmpreendedorismoO Bem Incubar, iniciado em março de 2007, é um

projeto de incubação de empreendimentos. “Tecnicamente, incubar um empreendimento é iniciar um processo estrutura-do e continuado de organização sócio-produtiva de um gru-po autogestionário, visando à participação dos cooperados/sócios e reinserindo-os enquanto trabalhadores e cidadãos na sociedade”, explica Leonora.

“O projeto tem como objetivos: Fortalecer a organiza-ção dos trabalhadores e trabalhadoras em torno de um projeto econômico-social que privilegia a valorização do trabalho (e não do capital). Facilitar o processo de construção de novas relações entre as pessoas e, também, entre elas e a natureza. Contribuir para a auto-estima do grupo de trabalhadoras e trabalhadores associados, estimulando o desenvolvimento de todas suas po-tencialidades”, disse a coordenadora. O projeto também ofere-ce ferramentas necessárias para a vivência do trabalho-criação, no qual homens e mulheres têm o controle sobre todo o pro-cesso (produção, administração, distribuição, troca e consumo ético/crítico/consciente dos frutos do seu trabalho) e integra o desenvolvimento local com Economia Solidária.”

O projeto colabora com os(as) trabalhadores(as), aju-dando-os(as) a formar seus próprios empreendimentos. E tem a função de articular e estudar, juntamente com os envolvi-dos, novas tecnologias que agreguem valor aos produtos e serviços os coletivos auto-gestionários já existentes: Bem Arte e Moda, Bem Arte e Madeira, Bem Nutrir, Bem Limpar, Bem Construir e Bem Decorar.

Em 2006, jovens, na faixa etária dos 19 aos 24 anos, participaram do Curso de Acabamentos Artísticos na Cons-trução Civil, através do Consórcio Social da Juventude - Pro-grama Primeiro Emprego, tendo o Secri com instituição

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formadora. Após o término da capacitação, que incluiu aulas teóricas, visitas pedagógicas agendadas em espaços de gera-ção de trabalho e renda, encontros participativos com outros jovens, e experiências práticas na ambientação e humanização de dois espaços físicos na própria comunidade, os jovens ti-veram o desejo de construir um empreendimento produtivo na área da Economia Solidária e demandaram a criação do empreendimento Bem Decorar, junto a Artidéias. Uma das atividades importantes deste empreendimento será a fabrica-ção de pisos artesanais, que será assentado nas obras que serão produzidas com os tijolos ecológicos do Bem Construir. Este empreendimento iniciou suas atividades em maio de 2007.

“Alguns dentre estes jovens foram integrantes do Bem Arte em Madeira, e trouxeram para o curso a experiência da arte da marcenaria. Outros, entre eles, vieram com a experi-ência na área da construção civil, na condição de biscateiros”, comenta a psicóloga.

A partir de janeiro de 2007, na perspectiva de legali-zar a questão da comercialização, começa o processo de cons-tituição da Cooperativa dos Bens da Artidéias- CoopBem, da qual são cooperados os integrantes dos empreendimentos solidários já existentes. “A Artidéias torna-se uma cooperada jurídica que entra com o principal capital social. A perspectiva é que com o crescimento da CoopBem, a cooperativa além de gerar trabalho e renda para os cooperados, possa colaborar com parte da sustentabilidade dos projetos da Artidéias”, diz Leonora.

Comunidades atendidasAs oito comunidades da área de abrangência da Ar-

tidéias formam a Poligonal I, divisão administrativa feita na cidade pelo Projeto Terra, da Prefeitura Municipal de Vitó-ria. Porém, é preciso ressaltar que moradores e Prefeitura no-meiam com alguns nomes diferentes algumas comunidades da Poligonal.

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As comunidades foram constituídas aproximadamente há 40 anos, através de invasões em morros de Vitória - Espíri-to Santo. Trata-se de uma área de encostas íngremes, de difícil acesso em vários pontos, num local onde a desigualdade so-cial é claramente visualizada. Do lado da cidade, avista-se do alto a linda ilha de Vitória com suas belíssimas construções à beira-mar. Do lado do morro, encontram-se barracos e cons-truções pobres em situações muito precárias. A população é de 31.000 habitantes e ocupa uma área de 1.763.649 m². O número aproximado de domicílios é de 6950, a maioria com pequeno número de cômodos, o que resulta em uma média de 4 hab/dom.

A renda média das famílias é de 1 a 3 salários mí-nimos, sendo pequeno o número de chefes de família que possuem renda até 5 salários. É alto o índice de mulheres chefes de família e quando não o são, necessitam colaborar eficientemente com o orçamento familiar. Do total de habi-tantes, estima-se que 7.000 vivem abaixo da linha da pobreza. (Os dados acima foram encontrados no documento geral do Projeto Terra, da Prefeitura Municipal de Vitória). As casas, principalmente no alto do morro, são muito precárias e não possuem satisfatória infra-estrutura ou urbanização, sendo al-gumas construídas com papelão e madeira.

No que se refere à educação básica, a demanda por vagas escolares fica além da oferta anual. O índice de repetên-cia é alto. Crianças e adolescentes encontram-se em situação de risco pessoal e social não só devido à desestruturação das famílias, mas também pelas condições de moradias precárias e pela ausência de amparos sociais como creches, unidades de atendimento à primeira infância e escolas públicas de qua-lidade. Entre os adultos, pais e mães de família, o índice de analfabetismo é grande, refletindo negativamente na forma de criar e educar os filhos.

“Quanto à área da saúde, há uma insuficiência de locais de atendimento, já que só existem duas Unidades de Saúde do

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serviço público para atender à comunidade. Quanto às opções de lazer, cultura e esporte, o que existe é bastante precário e construído por iniciativa própria, sem atender, por exemplo, às necessidades das crianças e adolescentes relativas a jogos, atividades lúdicas e esporte. As crianças e jovens brincam nas ruas, pois não tem uma só área de lazer, com o conseqüente perigo para as suas vidas”, conta Leonora.

“Vários fatores impedem o desenvolvimento local das comunidades citadas: o empobrecimento crescente do núcleo familiar, fruto da situação estrutural excludente, o baixo nível de empregabilidade na região, a desmotivação pela falta de perspectivas, a falta de alternativas locais, assim como a baixa escolaridade e a precária qualificação profissional”, explica a coordenadora.

Artidéias – Valorizando a economia solidáriaA missão da Artidéias é combater, utilizando os prin-

cípios e valores da Economia Solidária, a falta de alternativa de trabalho e renda, contribuindo para a diminuição dos ní-veis de pobreza e para a luta coletiva por melhor qualidade de vida. Sua visão é ser referência em projetos de geração de trabalho e renda, construídos de forma coletiva, participativa e decisória com os moradores da área de abrangência.

Deste modo, o Banco Bem foi criado para financiar as iniciativas e construir uma rede para promover o desen-volvimento sustentável nas comunidades onde atua, segundo os princípios da Economia Solidária. Os serviços e produtos oferecidos pelo Banco Bem foram construídos pela própria comunidade. São eles: linhas de crédito produtivo, crédito para reforma de moradia, crédito de consumo e moeda social circulante Bem e serviço de Correspondente Bancário da Cai-xa Econômica Federal.

Com o objetivo de desenvolver a autogestão de em-preendimentos solidários, buscando a cooperação, à gestão democrática, à solidariedade e o desenvolvimento local e sus-

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tentável das comunidades, a Artidéias busca parcerias que per-mitam a sustentabilidade e a continuidade dos seus projetos.

“A metodologia da Artidéias está construída sobre os princípios e valores da Economia Solidária, conceito amplo que visa construir um processo de autogestão, em que os tra-balhadores têm a propriedade efetiva dos meios de produção, o controle sobre esta e também sobre a venda.”

A Economia Solidária abrange os seguintes princípios: Solidariedade: cuidado com o bem-estar e dignidade de todos (gratuidade, reciprocidade, preocupação com o outro, respei-to à diversidade, complementaridade das ações). Democracia: gestão coletiva e igualitária das atividades econômicas. Pessoa Humana: sujeito e objeto da economia. Trabalho: expressão do saber, da capacidade e criatividade da pessoa humana. Na-tureza: suporte da nossa existência. Com ela temos que inte-ragir, intercambiar.

A Artidéias é integrante do Fórum de Economia Po-pular Solidária do Espírito Santo e da Rede Nacional de Ban-cos Comunitários.

Resultados do trabalho da ArtidéiasEntre os resultados alcançados pelo trabalho global da

Artidéias até o mês de maio de 2007, estão: a inclusão produ-tiva de 40 pessoas inseridas na CoopBem, a capacitação dos integrantes, somando aproximadamente, 2000 horas de carga horária, a formação de uma rede entre os empreendimentos e tomadores de crédito do Banco Bem.

Quanto ao Banco Bem, é preciso ressaltar: a formação de um Comitê de Análise de Crédito, com representação de moradores, a concessão de 79 créditos produtivos para fa-mílias e empreendimentos que precisavam abrir melhorar ou ampliar seu negócio, a concessão de 18 créditos habitacionais, para moradores que precisavam reformar suas residências com urgência, ou precisavam construir e a concessão de 44 crédi-tos de consumo. Estes últimos são feitos exclusivamente com

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a moeda Bem, para moradores que precisam fazer suas com-pras no bairro, sejam elas, de alimentação, gás, medicamento e outras necessidades.

Os créditos produtivos e habitacionais já criaram ou mantiveram mais de 200 postos de trabalho. No caso do ha-bitacional, ele gera trabalho e renda, pois é exigido que o morador utilize a mão-de-obra local e adquira o material em depósitos de material de construção do bairro.

O fomento do Fórum de Desenvolvimento Comu-nitário merece ser ressaltado pela promoção da organização comunitária e também porque “A comunidade tem se cons-cientizado, através do Fórum Bem Maior para o exercício do controle social importante para manutenção do Banco Bem, no que diz respeito às concessões e retorno dos empréstimos efetuados”, acrescenta Leonora.

Outro resultado importante é o início da conscientiza-ção comunitária para construção utilizando tecnologia limpa, como: tijolos ecológicos, aquecedor solar de baixo custo, sis-tema de captação de água de chuva e piso artesanal com ma-terial da construção civil e outros materiais, trazido pelo mais novo projeto chamado Bem Morar, um projeto habitacional, iniciado em novembro de 2007.

Também são contados como frutos de todo o progra-ma, o início do Projeto de Desenvolvimento Comunitário e do Pré-Vest do Bem e o fomento de uma rede de empreen-dimentos que fabricam produtos de limpeza, incluindo um grupo de São Benedito - Vitória, um grupo de Cariacica e um grupo de Vila Velha.

Segue também a formação de uma equipe de 10 pro-fissionais para a Artidéias. Destes, cinco são moradores da comunidade e os outros cinco são pessoas que antes de serem contratadas já eram voluntárias da Artidéias. “Esta equipe trabalha de forma integrada, nos princípios da Economia So-lidária e em consonância com o Fórum de Desenvolvimento Comunitário”, avisa a coordenadora.

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Prêmios e Seleção de projetosA Associação de Artesãos Ateliê de Idéias – Artidéias,

em atividade desde 2002, recebeu homenagens tais como: Menção Honrosa do V Concurso Latino-Americano de Em-preendimentos Exitosos Liderados por Mulheres em 2005, a homenagem concedida pelo Poder Legislativo do Estado do Espírito Santo e a menção honrosa D. João Batista da Mota e Albuquerque - dezembro/2006.

E teve os seguintes projetos selecionados, pelas insti-tuições : Brazil Foundation (Título do projeto: Banco Bem – Dignidade às moradias) em 2006, Fundação do Banco do Brasil, certificação como Tecnologia Social em 2007, Petro-bras - Ciranda Capixaba, ciclo 2008-2009 e Instituto HSBC de Solidariedade para 2008 à 2010.

Recebeu em 2007, o Prêmio Melhores Práticas em Gestão Local da Caixa Econômica Federal.

A coordenadora Leonora, foi homenageada com Co-menda da Paz Padre Alfonso Pastore – Concedida pela Câma-ra Municipal de Vitória/ES, em maio de 2007.

Metas e sonhosApós uma seqüência de projetos, criações, empreen-

dimentos bem-sucedidos e a sede pelo desenvolvimento local e comunitário, Leonora aponta para um futuro próximo as principais metas para a comunidade, tais como: desenvolver outros empreendimentos solidários autogestionários com ha-bilidades específicas; empreendimentos solidários no nível da sustentabilidade; comunidades com conhecimento dos seus saberes, fazeres e potencialidades, e executando um projeto comunitário solidário construído coletivamente; construção de noventa casas com tecnologia limpa.

O grupo quer também o aumento da renda dos 40 cooperados; a conscientização dos moradores com relação ao desenvolvimento local e comunitário, incluindo, princi-palmente, o tema do consumo responsável e local; colabo-

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rando assim para a sustentabilidade do Banco; promoção do desenvolvimento local; construção e divulgação de redes e de cadeias de produção e consumo; aumento da circulação da moeda Bem.

“Queremos que a comunidade seja capaz de recons-truir sua história, que tenha uma maior solidariedade entre elas, com integração. Planejamos a divulgação de fatos da Ar-tidéias e histórias comunitárias, com a criação da fotonovela: ‘Nossa Vida, Nosso Bem’; a divulgação das ações do Banco Bem para 100% da população das comunidades; ter no mí-nimo 50% da comunidade local engajada e motivada com os resultados do Banco Bem; e, no mínimo, 70% do comércio local recebendo a moeda Bem”, planeja a coordenadora.

Informações sobre como participar e ajudar:

Banco BemRua Tenente Setúbal, 93- São Benedito - Vitória - ESTelefone: (27) 3227-7235

Associação de Artesãos Ateliê de IdéiasCaixa Econômica FederalConta corrente: 662-3 Agência: 2503

Parceiros: Prefeitura Municipal de Vitória, ArcelorMittal Tu-barão Aços Planos, Brazil Foundation, Caixa Econômica Fe-deral, ONG Moradia e Cidadania, Unimed Vitória, Sebrae/ES, Universidade Federal do Espírito Santo - Ufes, Instituto de Solidariedade HSBC, Petrobras – ES, Instituto Marista de Solidariedade – IMS, Serviço de Engajamento Comunitá-rio - Secri, Instituto de Desenvolvimento A Ponte, Paróquia Santa Rita de Cássia, Associação de Educação Católica do Espírito Santo – AEC/ES, ONG Universidade para Todos, Programa Conexões de Saberes (Ufes - Secad/Mec).

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Casa Sagrada Família - Arquidiocese de Vitória ESPÍRITO SANTO EMPREENDEDOR

"TRABALHAMOS NO LIMIAR ENTRE A VIDA E A MORTE. SOMOS SOLDADOS, MEROS E PEQUENOS

INSTRUMENTOS DE DEUS EM SUA OBRA MAIOR DE AMAR E SERVIR AO PRÓXIMO"

Doris Almeida

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Segundo estudo realizado em 2007, pela Universidade Federal de São Paulo, a preocupação dos jovens com menos de 25 anos com a Aids diminuiu. Analisando um grupo de 485 portadores do vírus HIV, os pesquisadores descobriram que os novos casos de infecção concentravam-se na faixa etária mais jovem, abaixo dos 25 anos.

As possíveis explicações para o relaxamento dos jovens com a prevenção são: a falta de informações acessíveis sobre a contaminação, a falta de consciência dos jovens que insistem em não utilizar preservativos e a crescente eficácia dos novos medicamentos contra a doença.

A mudança da imagem da Aids de algo mortal para um mal crônico (os jovens não presenciaram as mortes quando do surgimento do vírus) poderia influenciar os mais novos a subestimar a gravidade da Aids e o alto risco de infecção. De acordo com os autores da pesquisa, os resultados sugerem que as campanhas de prevenção devem ser reforçadas entre a popu-lação jovem.

No Brasil, o último censo a respeito feito em 2000, cal-

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cula que haja uma incidência de 203.353 casos. No Espírito Santo, o número pode chegar a 3.232 casos. Para cada caso notificado, mais 50 são considerados contaminados. A previsão é a de que a cada dia, 1.600 crianças no mundo são infectadas. Até metade da década de 90, as taxas de incidência - número de casos novos - foram crescentes, chegando a alcançar, em 1998, cerca de 19 casos de Aids por 100 mil habitantes. Do total de casos, cerca de 80% estavam concentrados nas regiões Sudeste e Sul. O País acumulou cerca de 200 mil óbitos devido à Aids até dezembro de 2005.

De todos os trabalhos sociais escritos neste livro, este é o único dedicado às crianças e adolescentes portadores do vírus HIV. A Organização Não- Governamental Casa Sagrada Família completa 13 anos em 2008 e comemora o bom desen-volvimento do projeto “Pequenas Famílias”, que tomou forma de uma pequena comunidade chamada “Vila de Nazaré”, loca-lizada no Retiro do Congo em Vila Velha, Espírito Santo.

A Vila atende toda a Grande Vitória e interior do Es-tado com o objetivo específico de abrigar, cuidar e dar uma família às crianças e adolescentes contaminados, economica-mente carentes, órfãos ou cujos pais e familiares não possuam condições de permanecer com elas. O projeto recebe crianças encaminhadas por ordem judicial.

O “Pequenas Famílias” pretende inserir crianças e ado-lescentes em um ambiente constituído por uma mãe voluntária que manifesta este desejo dentre os membros da comunidade mantenedora, a Comunidade Católica Epifania, as quais são capacitadas e treinadas para a “missão”. A comunidade, nas for-mas de “Vida e Aliança” existe na Arquidiocese de Vitória des-de 1994, formada por homens e mulheres, casados, solteiros e celibatários, seguindo um modo particular de vida, com um carisma próprio, compromisso de vida evangélica, tendo como base a vida de oração, a partilha fraterna e a missão.

O termo epifania significa manifestação. É a manifes-tação do Filho de Deus a todos os povos e nações. Na festa da

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Epifania a Igreja celebra a manifestação do Filho de Deus ao povo pagão para levá-los a adorarem o Deus Único e Verdadei-ro na pessoa de Jesus Cristo. É um nome fecundo porque gera filhos para Deus e missionário porque a manifestação do Filho de Deus é para todos.

As famílias vivem em casas com toda a infra-estrutura e conforto, onde as crianças e adolescentes recebem afeto, cui-dados especiais com sua saúde, lazer e educação escolar. “Es-tamos obtendo bons resultados, comprovados pelo bem estar físico e emocional das crianças atendidas”, afirma uma das co-ordenadoras da ONG, Doris Almeida. Não há como não se empolgar com os ideais de Doris ao vê-la contando os avanços do projeto e as transformações pessoais na vida de cada mãe e criança atendida.

“Sinto-me uma gota de água dentro de um mar imenso porque o mar é Deus. Na verdade, esse trabalho não é pouco, não é pequeno, não é um trabalho simples. É um trabalho que você lida o tempo todo no limiar entre a vida e a morte. É tudo muito próximo. Hoje eu estou conversando com alguém e amanhã eu já sei que aquela pessoa morreu. Somos meros e pequenos instrumentos. Somos só isso, mais nada.”

O projeto que já conta com cinco unidades construídas e atende a dezesseis pessoas, tem a previsão de receber no má-ximo 20 crianças, de acordo com a construção de cada unida-de. A experiência complementa um trabalho que a ONG Casa Sagrada Família realiza com dezenas de crianças e adolescentes que vivem com HIV/Aids, cujos pais já faleceram com Aids, ou que não têm condições físicas para cuidar destas crianças. Muitas portadoras do vírus que moram nas ruas, não buscam o conhecimento sobre a doença e muitas vezes nem sabem que estão doentes, e acabam por contaminar os bebês na hora do parto ou amamentando.

“Nós lutamos para que a gestante seja acompanhada, faça o tratamento correto, o pré-natal para que possa ter a criança no hospital. Durante o parto elas recebem AZT endo-

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venoso. Depois, o bebê também recebe AZT durante 42 dias e faz exames específicos de acompanhamento durante todo o período que é acompanhado no Serviço de Infectologia. O tra-tamento continua até um ano e seis meses de vida quando aí sim, temos condições de confirmar se a criança é negativa (se ficou sem o vírus HIV), sendo ainda acompanhada no serviço de Infectologia por cinco anos”, explica Doris.

Logo que os bebes chegam na ONG, imediatamente a equipe agiliza a sua adoção. Todo o processo de adoção reali-zado na ONG passa pela autorização do Juizado da Infância e Juventude do Município de origem da criança e também com a participação dos Juizados dos municípios onde os futuros pais são cadastrados (estão na lista de espera para adotar criança).

“Temos casos de crianças recém-nascidas negativadas e que foram adotadas. Cinco foram para o exterior (França e Itá-lia) e temos cinco no Brasil. Quatro dessas crianças moram em Vitória. Isso é um grande incentivo para nós! Foram pessoas que adotaram tranqüilamente. A adoção para nós é o ideal e aqueles bebês que são mais difíceis de serem adotados, levamos para a Vila de Nazaré. Queremos que essas crianças que estão conosco se aproxime o máximo possível de uma situação fami-liar e que recebam e tenha essa vida mais próxima um dos ou-tros. Sabemos que é mais difícil crianças que estão entrando na adolescência serem adotadas e também crianças que possuem alguma doença crônica, seja qual for essa doença. Essa é a rea-lidade que vivenciamos. A nossa realidade é que nossas crianças dificilmente serão adotadas. Podem ser adotadas? Podem, mas é muito mais difícil.”

O resultado da experiência com a formação das famílias tem sido gratificante, segundo Doris. Por exemplo, na esco-la, na hora de preencher a árvore genealógica, pergunta-se às crianças sobre seus pais e irmãos. “As crianças sabem da ver-dade. Não escondemos a realidade delas. Os de maior idade sabem que têm o vírus, conhecem os cuidados, sabem como se pega e como não pega. E na hora de preencher a árvore gene-

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alógica, eles já optam por apontar como mãe e irmão aqueles que moram com eles. Alguns têm contato com a família de origem, outros não têm nenhum.”, informa Doris.

Segundo a ONG, hoje, como há 13 anos, a incidência de casos de adolescentes grávidas vem aumentando, sendo que muitas já vivem com o vírus HIV.

“Achei válida uma nova propaganda do Governo Fe-deral que pede aos pais para cuidarem dos seus filhos porque estão começando a vida sexual muito cedo e por começarem muito cedo, sem maturidade, responsabilidade, eles adquirem Aids, pois tem um namorado hoje, outro amanhã. Ficam com um hoje, no próximo sábado já estão com outro. Nós temos casos de meninas de 17 anos com Aids porque pegou do na-morado que conhecia há um mês. Não temos nada contra o namoro, o problema é que sem maturidade e sem responsa-bilidade, eles não usam camisinha! Não usam! O que a Igreja Católica quer é a volta dos valores familiares! Não queremos a promiscuidade para não precisar do uso da camisinha, que pode gerar ainda mais promiscuidade. Infância é infância, adolescência é adolescência e parece que agora o governo está acordando para isso. Ao invés de incentivar: usem camisinha, deveriam mesmo incentivar: Pais, cuidem dos seus filhos por-que eles ainda são crianças e adolescentes e não estão na hora de ter vida sexual ativa.”

De acordo com a última pesquisa de comportamen-to feita pelo Ministério da Saúde, a Aids tem afetado mais o sexo feminino entre 13 e 19 anos: para cada 6 meninos infectados, há 10 meninas. Considerando todas as faixas etá-rias, para cada 15 homens com Aids, há 10 mulheres. Além disso, o estudo mostra que pessoas entre 15 e 24 anos têm mais parceiros eventuais do que indivíduos de outras faixas etárias. Dados do Ministério também indicam que 87% dos homens de 16 a 19 anos usam camisinha nas relações sexuais eventuais, mas só 42% das mulheres usam preservativo com nesse tipo de relação.

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O “Pequenas Famílias”, além de prover o presente de crianças e adolescentes que vivem com o vírus HIV/Aids, pre-para-os para enfrentarem o futuro como cidadãos, com direi-tos e deveres iguais a quaisquer outros, buscando prepará-los também para enfrentarem possível discriminação e preconceito por parte da sociedade. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (artigo 4º): “É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com ab-soluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profis-sionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e convivência familiar e comunitária”.

Pedido do Arcebispo de VitóriaA origem do trabalho da Casa Sagrada Família come-

çou com um pedido do Arcebispo de Vitória Dom Silvestre Scandian que, assustado com o avanço da Aids, consumo de drogas e violência, solicitou que a Igreja se empenhasse mais nos trabalhos com as comunidades carentes. Em Vitória, havia uma atividade com adultos com Aids, na Casa da Esperança, mas não existia um trabalho específico para crianças.

“Na época, foi um susto, porque para nós, a Aids, era só a imagem do cantor Cazuza e a única forma de informações era através da televisão, com a mensagem: Use camisinha. Era só isso, mais nada. Nem da sigla Aids a gente tinha informa-ções do que era: ‘Sida’, que aqui no Brasil não se usa por causa do apelido que é dado ao nome Aparecida.”

Antes do Arcebispo fazer o pedido, o grupo (que con-tém cerca de 37 pessoas) trabalhava com palestras e ações dentro da igreja focadas na evangelização. “É como se tivéssemos um potencial que ainda não estava sendo explorado. O bispo viu, com seus olhos de pastor, que poderíamos fazer muito mais! A proposta nos assustou no início, mas Deus, quando quer, faz as coisas acontecerem rápido”, conta, emocionada, Doris.

O pedido foi feito em agosto de 1995 e a partir de duas

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semanas, o grupo teve “por um acaso de Deus”, um contato com médicas do Hospital Infantil, que trabalhavam especifica-mente com crianças com Aids. “Eram infectologistas que pe-diram para nós, que temos arquitetos dentro da comunidade, uma reforma para o setor de infectologia e começaram a falar de suas dificuldades com as crianças com Aids. Foi por essa porta que entramos”.

Os passos seguintes foram conhecer de perto o traba-lho que é feito no Hospital Infantil, por meio de visitas como voluntários, três vezes por semana, no setor de infectologia. “Lá, nós visitamos todas as crianças, não só as com Aids, mas todas que estavam lá. Levamos violão, música, diversão, co-nhecimento, levando conforto para as famílias, promovendo as festas de aniversário. Passamos o ano de 1995 inteiro conhe-cendo sobre Aids, estudando, tirando dúvidas, aprendendo e acompanhando o cotidiano do Hospital Infantil”.

Com o tempo, o grupo foi encaminhando aos mem-bros da Casa Sagrada Família, às famílias mais críticas, mui-to pobres, com Aids e que precisavam que a criança tivesse o acompanhamento em casa, por causa da reincidência de hos-pitalização. O interessante é que de tanto o grupo ir àquelas casas, levando carinho, motivação, palavras de conforto e in-centivo, diminuiu a reincidência das crianças no hospital. Na medida que o atendimento se intensificava, mais famílias eram encaminhadas.

“Foi crescendo o número de visitas domiciliares em Vi-tória, acompanhando o tratamento da criança em casa e ve-rificando se a mãe dava o medicamento corretamente. Cor-remos atrás também de cestas básicas, pois algumas famílias simplesmente não têm condições de trabalhar porque os pais são portadores já debilitados pela doença. Recorremos ao assis-tencialismo imediato quando não há jeito.”

Somente um ano depois que o grupo começou o pro-jeto da ONG é que contaram sobre as atividades com o Ar-cebispo Dom Silvestre. Nesta época, a Comunidade Epifania

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já almejava algo maior porque as crianças estavam ficando órfãs, já que seus pais morriam de Aids e elas não tinham para onde ir.

“As médicas começaram a pedir mais ajuda para nós nesse sentido. Tivemos a idéia de um projeto para a construção de uma casa. Levei o projeto para Dom Silvestre em janeiro de 1996 e ele nos incentivou a procurar recursos para começar a obra. Conseguimos junto a Vale do Rio Doce uma casa no centro de Vitória.”

A primeira paciente da ONG foi uma menina cega, sur-da, com Aids e que ainda sofria de hidrocefalia (acúmulo de líquor na cabeça), cuja avó, sua responsável mais próxima, ha-via falecido e o pai era viciado em cocaína. A recuperação do pai foi muito incentivada, mas ele não aceitava o tratamento. Com apenas 18 anos, usava cocaína injetável e a criança ficava abandonada. A mãe havia morrido no parto, também aos 18 anos. As condições da casa, descritas por Doris, são dignas de filme de terror. As paredes sujas de sangue eram testemunhas do abandono e a falta mínima de cuidados com a criança que não tinha nem as fraldas trocadas e o leite que era dado, o pai vendia para comprar a droga.

“A bebê era branca, mas estava quase que completamen-te negra, imunda, sem comer e totalmente muda. O conselho tutelar a pegou e a gente acompanhou tudo. Tentamos levar esse pai para o médico, para fazer um tratamento, mas ele fale-ceu. Não tem mais ninguém da família. O avô da menina, al-coólatra, foi internado numa clínica em Belo Horizonte porque também não tinha mais ninguém”, conta Doris.

Foi assim, com retratos cruéis da realidade social, que começou a história da Casa Sagrada Família, inaugurada em 1º de dezembro de 1996, Dia Mundial da Luta Contra Aids. A criança que abriu os trabalhos está com o grupo até hoje, tem 13 anos e segundo os médicos, só está viva porque recebeu muito amor e muitos cuidados.

Público-alvo: pessoas que vivem com HIV e Aids e ne-

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cessitam de ajuda material/emocional e espiritualAs visitas da equipe têm como público central, pesso-

as que vivem com HIV, carentes que estejam necessitando de ajuda para ter uma melhor qualidade de vida, aqueles que não têm ninguém, muito menos uma palavra amiga de conforto. “Atendemos a periferia de toda Grande Vitória. Em todas en-contramos casos de extrema necessidade e temos que manter o sigilo absoluto das identidades. Só entramos quando aceitam a visita. Até hoje, graças a Deus, nunca tivemos uma rejeição. É como se fossem pessoas visitando outras simplesmente. Com o tempo, as famílias cobram por mais visitas porque, muitas vezes, nós somos as únicas pessoas com quem elas podem falar abertamente sobre a doença. Estamos ali para levar uma pala-vra de conforto, de consolo e fazer orações para elas”.

Atualmente, já são quase 80 famílias cadastradas. Men-salmente elas visitam a Casa Sagrada Família (a primeira casa, no centro de Vitória), onde tem uma capela e que todas as fa-mílias, independente de religião, vão orar, fazer consultas mé-dicas, tirar dúvidas com os enfermeiros, agradecer os doadores de alimento e os voluntários que preparam lanches para todos. Na casa também acontecem reuniões para informar sobre hábi-tos de higiene, nutrição, assistência social, psicologia. “Depen-dendo da necessidade que a gente identifica dentro da casa das pessoas, a gente traz o profissional para ajudar. Muitas vezes a gente mesmo ajuda porque já recebemos a orientação de como fazer e aplicamos isso”, explica Doris.

Normalmente não se leva nada de material para as vi-sita. Se forem casos de emergência, como riscos de contami-nação por falta de higiene a equipe entra em contato com mé-dicos para fazer intervenção na casa e até se precisar, levamos membros do Conselho Tutelar. “Nós nunca levamos alimento, nem dinheiro na visita. Eles recebem uma cesta básica depois da oração na Casa Sagrada Família. Tudo o que ganhamos nas doações, como leite, eletrodomésticos, móveis, roupas e cal-çados, repassamos para eles. Fora isso, a gente tem o projeto

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de horta comunitária que é desenvolvido na Vila de Nazaré”, conta Doris.

Comprometimento é fundamentalPara a Casa Sagrada Família, a entrega para o trabalho

social é dever e direito de todo cidadão, independente de sua crença ou religião. Com garra e comprometimento, Doris e to-dos os voluntários envolvidos fazem crescer o desempenho de cada família em se refazer dos traumas, acreditar nas pessoas, em Deus e cuidar da principal doença que corrói seu organis-mo: A falta de esperança.

“Nossa idéia de lar começou nos enterros do Brasil e do mundo quando parentes e amigos perguntam-se: O que fazer com os filhos da Aids? Eles estão crescendo, com sobrevida maior, o que vamos fazer? Mandar embora? Depois de cresci-dos, abrir a porta e mandá-los para a rua? Nossa casa atende crianças de zero a 12 anos. E depois? Mandaremos para outra instituição? Não. Acolheremos em nossa casa, como uma fa-mília, na Vila de Nazaré, moradia fruto do projeto Pequenas Famílias”.

A casa, localizada na região do Retiro do Congo, mu-nicípio de Vila Velha, é uma boa moradia, com quartos, suítes, banheiros, sala, copa, cozinha, dispensa e o mais importante: Um membro da comunidade católica (em sua maioria mulher, orientada e preparada) que vai para essa casa, deixa tudo, em-prego e sua própria família e assume ser mãe de no máximo cinco crianças: Mães do coração! (Lc 18,28-30).

Para a comunidade, a trajetória da Vila de Nazaré foi construída de maneira rápida por contar com uma grande rede de fé, amigos e parceiros sensibilizados com a causa. Em 2001, foi adquirido um terreno em Ponta da Fruta com a parceria do Centro Comercial do Café, Instituto João XXIII e outros parceiros. Em 2002, foi construída a 2ª Casa em parceria com membros da Igreja da Alemanha e Rotary Internacional. Em 2003, foi construída a 3ª Casa em parceria com membros da

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Igreja Católica da Alemanha. Em 2004 foi a vez do Centro Pedagógico, parceria também com membros da Igreja Cató-lica da Alemanha. No local, as crianças têm aulas de reforço escolar, atividades lúdicas, aulas de música, arte, além de servir também como apoio para reuniões da comunidade local.

“Hoje a gente vê que cinco crianças é muito para uma casa. Nós já temos quatro casas, cinco mães. Uma mãe no centro de Vitória, na primeira casa e 4 mães na Vila de Naza-ré. A primeira mãe tem cinco filhos, a segunda também, a ter-ceira tem quatro filhos e a quarta tem três. Chamamos essas crianças de filhos. Não são mais crianças passíveis de adoção. Todas têm o vírus da Aids e já manifestaram a doença. Elas estudam, têm boa convivência com a vizinhança, a vizinhan-ça sabe que eles têm a doença, mas não tem preconceito, eles vão para as festas de aniversário, Natal, passeiam nos parques, vão ao shopping e etc. Queremos proporcionar momentos de dignidade para todos.”

A ONG aceita membros da comunidade que são consa-grados na Igreja Católica e que já têm uma caminhada de no mínimo quatro anos fazendo parte da comunidade católica. “São membros da comunidade porque é um projeto novo, a gente não pode aceitar que qualquer pessoa entre. Acompa-nhamos essas mães e, inclusive, estamos fechando parcerias com faculdades para que elas tenham, assim como as crianças, acompanhamento psicológico”.

Ao ser perguntada sobre o resultado desses trabalhos, Doris se emociona: “Para nós, é muito difícil falar porque é uma alegria. Começamos em 2002 com o projeto “Pequenas Famílias” e agora já vamos para o 6º ano. Pessoas do Ministé-rio da Saúde visitaram nossas casas e disseram que elas podem servir de modelo como opção para o Brasil!”.

Todo o trabalho desenvolvido pela ONG revela que es-tão conseguindo manter uma boa relação de confiança entre os pacientes. Cerca de 60 pessoas são reunidas todo dia 15 de cada mês, na Casa Sagrada Família, no Centro de Vitória. “Talvez te-

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nha sido esse o caminho: Não apontar erros, não julgar ou dizer que eles são pecadores porque todos nós somos! Mas dizemos sempre que Deus os ama e quer vê-los felizes e em paz”.

“Aprendemos muito com eles a ter paciência, a ouvir, a amar na limitação deles. São pessoas que usam drogas, come-tem outros tipos de atos não muito convencionais, mas também são mães que se contaminaram com o marido. Aprendemos a amá-los sem exigir que eles tenham que mudar de vida e de re-pente virar um santo. Não pedimos nada em troca. Acolhemos do jeito que eles são. Não julgamos, não apontamos. Apenas aconselhamos para que eles se cuidem para poderem cuidar dos filhos. Não entramos na área de pedir para que eles tenham que parar de usar drogas ou que vamos interná-los. Se eles pedirem essa ajuda a gente vai encaminhar. Mas não entramos nisso, aco-lhemos. Isso nos exige um autocontrole muito grande, porque de imediato, o que você quer? Arrancar a pessoa daquela vida, mudar, dizer o que não é bom. Damos o que temos de bom para auxiliar na luta contra a Aids e cobramos apenas quando não estão cuidando dos filhos. Em casos de negligência, acionamos hospitais e o Conselho Tutelar”, orienta Doris.

Informações sobre como participar e ajudar:

Sendo um sócio contribuinte, doando gêneros alimen-tícios, vestuários, remédios, brinquedos, móveis, material de construção e outros e/ou participando ativamente em uma de nossas frentes de trabalho, como voluntário.

BanestesConta corrente: 1.152.768Agência: 274

Banco do BrasilConta corrente: 105783-9Agência: 0021-3

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Caixa Econômica FederalConta corrente: 1064-1Agência: 2042

Casa Sagrada FamíliaRua Graciano Neves, 516 - Centro - Vitória – ES Telefone: (27) 9943-8496 E-mail: sagradafamí[email protected]

Comunidade Católica EpifaniaAv. César Hilal, 460 - Bento Ferreira - Vitória - ES CEP: 29052-230Telefone: (27) 3324-3426 E-mail: [email protected]: www.epifania.org.br

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Congregação Missionárias da Caridade ESPÍRITO SANTO EMPREENDEDOR

“QUALQUER ATO DE AMOR, POR MENOR QUE SEJA, É UM TRABALHO PELA PAZ. O QUE CONTA

NÃO É O QUE FAZEMOS, MAS O AMOR QUE COLOCAMOS NO QUE FAZEMOS. E O AMOR, PARA SER VERDADEIRO, TEM DE DOER. NÃO BASTA DAR O SUPÉRFLUO A QUEM NECESSITA, É PRECISO DAR MESMO QUE ISSO NOS MACHUQUE, POIS QUANDO

VEMOS UMA PESSOA SOFRENDO, É JESUS QUEM ESTÁ SOFRENDO NA NOSSA FRENTE”

Madre Teresa de Calcutá

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Falar da Congregação Missionárias da Caridade é fa-lar de Jesus Cristo. É sentir o amor da caridade atuando em sua forma mais pura e simples, terna e poderosa. É falar so-bre desapego e compreensão. É enxergar em seus trabalhos o respeito aos desamparados, o acolhimento aos aflitos, o perdão aos desesperados e a dignidade aos mais carentes. É assumir, sem receios, uma postura assistencialista de ajuda imediata e efetiva às urgências sociais.

A Congregação das Missionárias da Caridade vive da caridade e para a caridade. E, segundo as irmãs, não pode ser chamado de projeto social e sim de uma batalha diária e sistemática pelos ensinamentos de Deus Pai através de seu filho Jesus Cristo. É surpreendente o caminho de resigna-ção escolhido pelas irmãs da congregação, é de admirar a humildade e o infinito afeto com que conduzem a casa de amparo, que funciona há 21 anos, no Bairro Consolação, em Vitória.

A humildade e a consciência de seus serviços são tamanhos que elas afirmam fazer simplesmente o que

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Jesus tanto pregou: “Amai-vos uns aos outros como Eu Vos Amei”. Os trabalhos sociais, para elas, são consequ-ências do mandamento maior.

“A pior calamidade para a humanidade não é a guerra ou o terremoto. É viver sem Deus. Onde Deus não existe, se admite tudo”, dizia a criadora da Congregação das Mis-sionárias, uma moça simples nascida, em 1910, na Albânia e que aos 18 anos entregou sua vida aos desígnios de Deus pela caridade aos mais pobres.

Agnes Gonxha Bojaxhiu, nome dado pelos pais, foi batizada de Madre Teresa de Calcutá, pois foi nesta cidade da Índia, que a beata desembarcou direcionando seus esfor-ços às crianças abandonadas nas ruas.

“Não somos assistentes sociais. Somos contemplativas no coração do mundo, porque ‘rezamos’ o nosso trabalho. Somos mulheres consagradas a Deus no mundo de hoje. Entregamos a nossa vida a Jesus, com uma renúncia total e a serviço dos pobres, tal como Jesus nos deu a sua vida na Eucaristia. O trabalho que fazemos é importante, mas não é tanto a pessoa que o faz que é importante. Fazemos esse trabalho por Jesus Cristo, porque o amamos. É tão simples. Não temos condições de fazer tudo. Eu sempre rezo muito por todos aqueles que se preocupam com as necessidades e misérias dos povos. Muitas personalidades e gente rica se as-sociaram à nossa ação. Pessoalmente, não possuímos nada. Não ganhamos dinheiro. Vivemos da caridade e para a cari-dade”, afirma Madre Teresa de Calcutá em entrevista conce-dida à revista Sem Fronteiras (nº 247) em 1996. Talvez uma de suas últimas entrevistas.

“Venha, seja a minha luz”, foi a frase utilizada pela Madre para expressar o pedido de Jesus por sua missão. “Eu não posso ir só. Eles (os pobres) não me conhecem, por isso não me querem. Você, venha! Vá no meio deles. Leve-me com você.” Levar a luz e o amor de Cristo foi a base de sua vida e a força impulsionadora em tudo o que fez.

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Em 1950, funda a Ordem das Missionárias da Carida-de, hoje com missões em 111 países, entre eles o Brasil. Sob sua orientação, a Ordem constrói uma colônia para leprosos perto de Asanol, na Índia, que recebe o nome de Shantina-gar (Cidade da Paz). Em 1979, recebe o Prêmio Nobel da Paz em reconhecimento a seu trabalho. Madre Teresa, mes-mo doente, trabalhou incessantemente até falecer de ataque cardíaco, em Calcutá, aos 87 anos, sendo beatificada em 19 de Outubro de 2003.

Seu legado pode ser visto no trabalho diário das sete irmãs seguidoras que estão Vitória servindo incansavelmen-te a quem bate em suas portas. E elas também vão atrás levando a evangelização e amparo espiritual nos morros e bairros capixabas mais carentes.

“Ontem foi embora. Amanhã ainda não veio. Temos somente hoje, comecemos”. A frase de Madre Teresa reflete o cotidiano das missionárias. Elas não param um minuto, estão sempre atarefadas por todos os cantos da casa para dar conta das 20 pessoas que lá moram, entre senhoras, crianças com deficiência física e bebês à espera de adoção.

O serviço é imediato e efetivo e consiste em: Alimen-tar o faminto não somente com comida, mas com a palavra de Deus; Dar de beber a quem tem sede, não somente com água, mas com conhecimento, paz, verdade, amor e justiça; Vestir os que estão nus, não somente com roupa, mas com dignidade humana; Abrigar o desalojado não somente com uma moradia de tijolos, mas com um coração que compre-ende, cuida e ama; Cuidar dos enfermos, moribundos e in-válidos, não somente de corpo, mas também os enfermos de mente e espírito.

Discrição e devoçãoAs irmãs que integram a Congregação das Missioná-

rias da Caridade preferem não se identificar, não utilizam nenhuma espécie de propaganda para divulgar o trabalho e

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não gostam de dar entrevista. Se vestem como Madre Teresa e escolheram o anonimato e a extrema discrição. Percebe-se que muitas não são brasileiras, mas evitam o aprofundamen-to nas perguntas sobre elas.

No entanto, estão sempre prontas para ajudar, com um sorriso sincero e aberto e os olhos brilhantes, emanan-do paz e compreensão. Todas fizeram seus votos de pobre-za, castidade e obediência. Na entrevista, a coordenadora permitiu que fosse incluído o capítulo neste livro sobre a Congregação das Missionárias da Caridade sob a condição de deixar claro que a missão é trabalho espiritual em Jesus, mantendo de fora qualquer outra informação que fuja a este contexto, como por exemplo, os nomes e as histórias de vida das irmãs.

A discrição é característica comum aos que trabalham com a caridade. Madre Teresa, por exemplo, cresceu no seio de uma devota família católica. Sua mãe, Drana, era uma ge-nerosa mulher, que cuidava de um vizinho idoso que estava consumido pelo alcoolismo e coberto de feridas. “Quando fizer o bem”; Drana dizia à sua filha, “faça silenciosamente, como se jogasse uma pedra no mar”.

Madre Teresa seguiu fielmente os conselhos da mãe, porém não poderia imaginar que sua congregação fosse cau-sar tamanha comoção no mundo inteiro. A fama, inclusive, a perturbava. Costumava dizer que era um sacrifício e ao mesmo tempo uma benção ter que dar entrevistas ou tirar fotos. “Eu e Deus fizemos um contrato: para cada foto que tiram de mim, Ele liberta uma alma do Purgatório. Creio que, nesse ritmo, em breve, o Purgatório estará vazio”, brin-cava a irmã, em entrevista à revista Sem Fronteiras.

Em relação ao celibato, Madre Teresa afirma na entre-vista: “O celibato não é para quem se sente chamado ao matri-mônio. O sacramento do matrimônio é maravilhoso. Desde o momento em que um homem e uma mulher se amam verda-deiramente e rezam juntos, Deus transmite a eles o seu amor.

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A vida familiar merece muita atenção, é um dom de Deus. Não obstante, nós religiosas renunciamos a esse dom. Con-sagramos a nossa vida a Deus na castidade e no amor, sem di-visão. Nada nem ninguém nos poderá separar desse amor.”

Madre Teresa também costumava falar que não há amor e doação sem sofrimento. “O verdadeiro amor faz sofrer. Cada vida, e cada vida familiar, deve ser vivida honestamente. Isso supõe muitos sacrifícios e muito amor. Porém, ao mesmo tem-po, esses sofrimentos vêm sempre acompanhados de muita paz. Quando a paz reina em um lar, ali se encontram tam-bém a alegria, a unidade e o amor. Como se pode le-var uma vida familiar normal sem paz e sem unidade? Nesse sentido, a oração de São Francisco é muito atual. Não vivemos nas mesmas circunstâncias, mas o que Francisco pedia responde perfeitamente às necessidades da nossa épo-ca. Em Calcutá, rezamos essa oração todos os dias, depois da comunhão. Penso em todos os homens e mulheres que necessitam de amor: “Senhor, fazei-nos dignos de ser ins-trumentos da verdadeira paz, que é a vossa paz”.

As regras da congregação falam do trabalho em fa-vor dos “mais pobres dos pobres, tanto no plano espiritual quanto no plano material”. Mas o que podemos entender por “pobreza espiritual”? Daí, responde a Madre:

“Os pobres espirituais são os que ainda não desco-briram Jesus Cristo, ou que estão separados dele por causa do pecado. Os que vivem na rua também precisam ser aju-dados nesse sentido. Por outro lado, fico muito contente de ver que, em nosso trabalho, podemos contar também com a ajuda de gente acomodada, a quem oferecemos a oportu-nidade de fazer algo de bom para Deus. É desse modo que conseguimos abrir um centro onde acolhemos e assistimos a jovens que saem da prisão. Essa gente nos oferece material e dinheiro. Nesses dias chegou uma carta dos Estados Uni-dos. Pela letra dava para ver que era de uma criança. Ela me dizia: “Madre Teresa, eu gosto muito de você”. O envelope

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continha um cheque de 3 dólares. Na Congregação não há distinção de religiões entre

os necessitados. “Ninguém pode forçar ou impor a conver-são, que só acontece por graça de Deus. A melhor conversão é a que consiste em ajudar as pessoas a se amarem umas às outras. Nós, que somos pecadores, formos criados para ser-mos filhos de Deus, e temos que nos ajudar a chegarmos o mais perto possível Dele. Todos somos chamados a amá-lo. Ajudamos de muçulmanos, hinduístas, budistas e outros. Alguns meses atrás, um grupo de budistas japoneses veio conversar comigo sobre espiritualidade. Eu disse a eles que jejuamos todas as primeiras sextas-feiras do mês e que o di-nheiro economizado vai para os pobres. Quanto regressaram ao seu país, os monges pediram às famílias e comunidades budistas que fizessem o mesmo. O dinheiro que recolheram nos permitiu construir o primeiro andar do nosso centro “Shanti Dan” (Dom de Paz)”, conta.

Em 1965, o Papa Paulo VI pôs as Missionárias sob o controle direto do papado e autorizou Madre Teresa a ex-pandir a Ordem fora da Índia. Logo se abriram centros para cuidar e tratar de leprosos, cegos, inválidos, anciãos e mo-ribundos em todo o mundo. Os Missionários da Caridade, companheiros da congregação feminina, foram criados em meados dos 60 para dirigir os lares para moribundos.

A Congregação está formada, na atualidade, por mais de 3.604 irmãs. A Irmã Nirmala Joshi é, atualmente, a supe-riora geral das Missionárias da Caridade, e em declarações à imprensa, atribui este grande crescimento “A Graça de Deus e às orações de Madre Teresa no céu.”

Do total de 3.604 irmãs professas, 411 são noviças, em seis noviciados: Calcutá, Filipinas, Tanzânia, Polônia, Roma e Estados Unidos. As postulantes são em número de 260. No total, somos 4.275 Missionárias da Caridade, dis-tribuídas em 120 países. As nossas Irmãs pertencem a 79 nacionalidades. Contamos com 560 tabernáculos, ou casas.

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A palavra tabernáculo é utilizada porque Jesus está presente nessas casas. São casas de Jesus.

“A nossa congregação quer contribuir para que as pessoas sejam saciadas da sua sede de Jesus. Fazemos isso, tentando resgatar e santificar os mais pobres dos pobres. Como as outras congregações, fazemos os votos de castida-de, pobreza e obediência. Recebemos a autorização especial de fazer um quarto voto: o de nos colocarmos a serviço dos mais pobres dos pobres”, conta Madre Teresa na entrevista.

A superiora geral Irmã Nirmala Joshi recebeu seu ensinamento de missionários cristãos na cidade oriental de Patna, mas continou sendo hindu até os 24 anos quando conheceu a obra da Madre Teresa e se converteu ao cato-licismo. A irmã Nirmala obteve um mestrado em ciências políticas em uma universidade da Índia e também se formou como advogada. Encabeçou missões na América Central, Europa e Washington e dirigiu o ramo contemplativo da congregação.

Ao ser perguntada na entrevista porquê tantas jovens entram para a sua congregação, Madre responde: “Eu creio que elas apreciam, sobretudo, a nossa vida de oração. Reza-mos quatro horas por dia. Elas também conhecem e vêem o que fazemos pelos pobres. Não se trata de trabalhos impor-tantes e impressionantes. O que fazemos é muito discreto, fazemos pelos mais pequenos”.

Em 2003, Irmã Nirmala, recebeu na cidade de Madri, Espanha, o Prêmio Internacional Navarra à Solidariedade, ou-torgado pelo Governo da Comunidade Foral à Congregação fundada por Madre Teresa de Calcutá. Não é o primeiro prê-mio que recebe a Congregação, que teve sua primeira distinção em 1962, quando o governo de Índia lhe outorgou o Prêmio Padmashree (Loto Magnífico). Em 1971, o Papa Paulo VI concedeu à Madre Teresa o primeiro prêmio Jawaharlal Nehru da Compreensão Internacional, e em 1979 recebeu a mais alta distinção: O Prêmio Nobel da Paz.

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A Congregação depende exclusivamente da caridade. Podem ser doados qualquer tipo de roupa, mantimentos, brinquedos, alimentos como leite e cestas básicas e, princi-palmente, doando o seu tempo fazendo uma visita à casa. São bem-vindos voluntários desde médicos de todas as es-pecialidades até pessoas que queiram ajudar a cuidar dos bebês, doando carinho, atenção e afeto.

Congregação das Missionárias da Caridade

Endereço: Bairro Consolação, Vitória (em frente ao Posto de Saúde).Horário de funcionamento: diariamente, das 9h30 às 17hContato: (27) 3225-9413

Mais informações, visite o site: www.motherteresa.org

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ESPÍRITO SANTO EMPREENDEDOR - Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento Sustentável da Região do Caparaó (CONSÓRCIO cAPARAÓ)

“A SERRA DO CAPARAÓ ABRIGA O TERCEIRO PICO MAIS ALTO DO PAÍS, O PICO DA BANDEIRA. LUGAR ONDE O SOL BEIJA A TERRA, OLHOS D`

ÁGUA DÃO VIDA AOS RIOS DE ÁGUAS CRISTALINAS QUE DESCEM CANTANDO AO SONS DA

CACHOEIRAS MATANDO A SEDE DA POPULAÇÃO, VEM SALTITANDO E SUSSURRA, QUE SABE ATÉ

CHORANDO PEDINDO APENAS PARA CONTINUAR EXISTINDO”

Dalva Ringuier

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Uma imensidão verde, montanhas, águas límpidas que se transformam em rios e cachoeiras. Picos, cumes, cordilheiras que entre nuvens ou se contrapondo ao azul celestial, permitem vislumbrar distâncias proporcionais à imaginação de quem mira. Morada de gente simples, alegre, acolhedora, filhos de um cartão postal cujo pintor é o próprio Criador. Falar da Serra do Caparaó é se espantar com as obras naturais. Melhor ainda é quando ve-mos as obras do próprio homem em preservar, unificar e desen-volver sustentavelmente a principal serra capixaba, um dos poucos pedaços da Mata Atlântica que ainda resiste no Brasil.

“O Caparaó preserva sua originalidade e faz dos que vi-vem à sua volta, guardiões de sua essência e integridade. Recep-tivos, amáveis, calorosos e capazes de amar e cuidar deste lega-do único com o carinho e desprendimento necessário. Esta obra não nos pertence, fazemos parte dela, o que torna ainda maior a nossa obrigação de cuidar, reverenciar e preservá-la”, disse Pedro Miranda, morador de Iúna, um dos colaboradores da equipe do Consórcio Caparaó.

É de vasta divulgação, o quanto o modelo de crescimento

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econômico mundial gerou enormes desequilíbrios sociais e am-bientais. Se, por um lado, nunca houve tanta riqueza e fartura no mundo (para poucos), por outro lado, a miséria de muitos, a degradação ambiental e a poluição aumentam a cada dia. Diante desse cenário, as noções de desenvolvimento sustentável ganham eco em comunidades organizadas e preocupadas em conciliar o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental.

“A humanidade de hoje tem a habilidade de desenvolver-se de uma forma sustentável, entretanto é preciso garantir as necessi-dades do presente sem comprometer as habilidades das futuras ge-rações em encontrar suas próprias necessidades”, afirmou trechos da Agenda 21. Em resumo, a busca do desenvolvimento deve es-tar em harmonia com as limitações ecológicas do planeta para garantir um cenário viável às gerações futuras, com qualidade de vida e condições de sobrevivência”, explica a ambientalista Dalva Ringuier, secretária executiva do Consórcio Caparaó.

No Espírito Santo, desde o início dos anos 90, um grupo de moradores do Caparaó Capixaba uniram forças para “pensar globalmente e agir localmente” na serra, que abriga o Parque Na-cional do Caparaó, região com 31.800 hectares detentora do ter-ceiro ponto mais alto do Brasil, o Pico da Bandeira, com 2.890m de altitude.

O Caparaó capixaba apresentou nos últimos anos um qua-dro de regressão devido à baixa diversificação e produtividade de sua base econômica somada à escassez de recursos humanos e in-fra-estrutura. A superação deste quadro passa pelo fortalecimento de cadeias produtivas agropecuárias e urbanas e pelo desenvolvi-mento do capital humano regional.

Desenvolvimento limpo e cultura cidadãTudo começou a ser organizado em 1995 com a realização

de um fórum intitulado Pró-Caparaó para pensar, elaborar, desen-volver projetos e um Plano de Desenvolvimento Sustentável para a região. Desse Fórum, foi criado o Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento Sustentável da Região do Caparaó (Consórcio

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Caparaó), formado pelos Municípios da região e por Organiza-ções Não-Governamentais – ONGs - e moradores engajados.

Naquela época, Dalva era coordenadora de Educação Am-biental da Secretária de Meio Ambiente do Estado/Seama e após uma visita à região, fez uma proposta ao Governo do Estado de fazer um Protocolo de Intenções para criação do Fórum Pró- Ca-paraó objetivando a elaboração de um Plano de Desenvolvimento para o Caparaó, pois via-se uma potencialidade imensa, porém com uma economia estagnada. A proposta foi feita e aceita. No dia 5 de junho de 1995, Dia Mundial do Meio Ambiente, foi lançado o desafio através da assinatura do Protocolo de Intenções com o Governo do Estado e os municípios, com participação das ONGs.

“Inicialmente nós pensamos em trabalhar cinco municí-pios do entorno direto do parque, mas tivemos a adesão de mais 6 municípios com o objetivo de fazer um DRP (Diagnóstico Rá-pido Participativo) dos municípios para saber quais eram os prin-cipais problemas, quais eram as demandas, quais seriam as alter-nativas, as potencialidades em desenvolvimento. Uma das coisas que foram levantadas, é que nós tínhamos o Parque Nacional do Caparaó, e que 78% desse parque estava em território capixaba. O Pico da Bandeira fica no município de Ibitirama, mas que só o Estado de Minas Gerais explorava turisticamente e, automati-camente, economicamente, e aí nós começamos a pensar ‘Como é que nós vamos fazer com que a população dessa região comece a conhecer e a despertar para essa oportunidade?’. Isso porque as pessoas não conheciam a própria região e suas oportunidades de desenvolvimento! Os próprios livros de história e geografia mos-travam erroneamente que o parque ficava em Minas Gerais, na divisa do Espírito Santo.

Diante das informações levantadas, através do diagnóstico tivemos visões e descobertas que desencadeou a vinda do Minis-tro de Meio Ambiente, da época, Gustavo Krause, que autori-zou a abertura da Portaria Capixaba do Parque em Pedra Menina e delegou a vinda de uma equipe contratada pelo Ministério do

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Meio Ambiente que fez o estudo e no dia 22 de setembro de 1998 o ministro voltou e inaugurou com muita festa nossa primeira grande conquista.

“Mas paralelo a todo esse movimento nós fizemos um Programa de Educação Ambiental pra região porque entendíamos que só através de uma educação diferenciada, que é a Educação Ambiental, poderíamos estar levando esse conhecimento à popu-lação. Num esforço junto à Seama (Secretaria de Estado do Meio Ambiente), desenvolvemos vários cursos de formação na região do Caparaó, almejando o desenvolvimento sustentável, com o ob-jetivo de criar uma Região Ecológica Modelo”, frisa a secretária.

Com a inauguração da Portaria Capixaba, vimos que a região não possuía hotéis. Daí fomos até a Secretaria de Turismo do Estado e criamos o “Projeto Cama e Café”, com a hospedagem rural nas casas dos moradores da própria comunidade, propician-do trabalho e renda, com inclusão das mulheres rurais. Esse pro-jeto nasceu no Caparaó Capixaba, pioneiro na região, que depois foi levado para outras regiões do Estado e até para Santa Tereza, no Rio de Janeiro. O “Projeto Cama e Café”, começou em 1998, foi inaugurado em 1999 e incentiva o turismo rural que promove a aproximação do turista com a comunidade local por meio de hospedagens alternativas (casarios antigos ou as próprias casas dos moradores) nos municípios que não possuem sistema de hospe-dagem formal. O projeto começou a ser desenvolvido em Dores do Rio Preto com a abertura da Portaria do Parque. Em 2007, foram entregues as placas de identificação de estabelecimentos em seis municípios. Na região do Caparaó, no Sítio São Geraldo (Cir-cuito Caparaozinho), em Dores do Rio Preto, os proprietários de 19 casas e propriedades rurais receberem a placa.

Os estabelecimentos ficam localizados em Iúna (três), Ibi-tirama (seis) Muniz Freire (dois) Ibatiba (Caminhos Tropeiros). O “Cama e Café”, atualmente, é realizado em parceria com o Gover-no do Estado, por meio da Secretaria de Turismo (Setur), Sebrae/ES, prefeituras municipais e o Consórcio Caparaó.

“Potencializamos assim o desenvolvimento de diversos

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segmentos turísticos, o ecoturismo, o turismo rural e turismo de aventura. Isso é bom para geração de renda para as famílias rurais, além de diversificar a oferta turística, promover melhoria da auto-estima das famílias envolvidas, conhecimento e comercialização dos produtos rurais”, comenta Dalva.

O Fórum evoluiu tanto que em 1999 se fundiu com a criação do Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento Susten-tável da Região do Caparaó.

O passo inicial foi apontar os problemas e oportunidades dos dez municípios, pois depois passou para 11 municípios com a entrada de Jerônimo Monteiro, que formam a chamada “Região do Caparaó”, deixando de pertencer a região Sul. Esse entorno é divido em “Entorno Direto”, que abrange os municípios que pos-suem área no Parque Nacional do Caparaó: Iúna, Irupi, Ibitirama, Dores do Rio Preto, Divino de São Lourenço; e o “Entorno In-direto”, formado por Alegre, Guaçuí, Muniz Freire, São José do Calçado , Ibatiba e Jerônimo Monteiro.

O consórcio possui um presidente, um vice, uma secretá-ria executiva e um conselho fiscal, eleito pelos prefeitos e ONGs representantes, a cada dois anos.

“Nos empenhamos em criar um modelo de Integração Regional, Economia Limpa e Atitude Cidadã. No meio de to-das estas montanhas, visitando e conhecendo os municípios do Caparaó descobrimos muitas pessoas preocupadas com o futu-ro destas terras, de seus filhos e também com a preservação de suas riquezas naturais. Nosso ponto de partida foi este, reunir o saber e os sonhos destes cidadãos e traçar um caminho comum, compartilhando a mesma visão para a construção de um futuro sustentável”, conta Dalva Ringuier.

“O Consórcio se transformou em um canalizador de pro-jetos para a sustentabilidade do local a fim de inserir a sociedade num processo constante de cidadania. Nosso objetivo é a susten-tabilidade da região”, afirma Dalva.

“Somos todos chamados a exercer nossa cidadania como cidadãs e cidadãos da Serra do Caparaó. Todo ser humano tem

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direito e dever de exercer sua cidadania, mas na realidade são ra-ríssimas as pessoas que efetivamente a exercem. O que é exercer nossa cidadania? Para exercê-la, é preciso estarmos conscientes, antes de mais nada, de que todos fazemos parte de uma fantástica teia de relacionamentos com outros seres humanos e com o meio ambiente. É preciso estar consciente de que todos temos em co-mum o fato de estarmos aqui e agora, ligados por estas palavras; de que todos temos em comum o fato de a vida nos ter colocado vivendo numa região montanhosa, de passado e vocação integral-mente florestal; todos temos em comum o fato de todos nós, sem exceção, bebermos da mesma água, a água gerada na montanha. Temos consciência do estado em que se encontram nossas águas? Temos realmente consciência do que estamos bebendo?”, debate a ambientalista.

Plano Diretor Municipal - PDMUma das principais metas do fórum, realizado em 1995,

foi dar o ponto de partida para a realização de um diagnóstico so-bre a região, que deu origem ao Plano Diretor Municipal (PDM). A construção e implementação do PDM é um processo com algu-mas etapas que significam os diferentes momentos da construção coletiva em torno de um projeto de cidade, e que expressam as de-finições progressivas em torno da “cidade que temos”, da “cidade que queremos” e da “cidade que podemos ter”. As etapas foram divididas em termos de “leitura”, tais como:

A “Leitura Comunitária” é o momento para se ter a visão da cidade, de seus problemas e soluções, das qualidades e dos de-sejos dos diversos grupos da população são dados fundamentais para a construção do Plano Diretor. A “Leitura Técnica” é feita com base em informações e levantamento de dados referentes aos aspectos sociais, econômicos, ambientais e culturais do município. Ela deve começar pela sistematização dos dados, mapas e informa-ções disponíveis sobre o município, assim como pelo levantamen-to e identificação dos processos de planejamento existentes.

Através das reuniões públicas ocorre o cruzamento das in-

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formações obtidas das Leituras Comunitárias e Técnicas de forma que a população não esteja apenas informada sobre o PDM, mas que seja contemplada e se reconheça nas propostas. As propos-tas que se transformarão em um projeto de lei a ser aprovado na Câmara de Vereadores. O próximo passo é a implementação do PDM através da formação do Conselho da Cidade, com amplo controle da sociedade.

O PDM é o Plano Diretor da Cidade que define como as cidades devem desenvolver. É uma agenda de compromissos cole-tivos que todos os participantes deste processo selaram com o Ca-paraó Capixaba. Ele apresenta diagnósticos, define as estratégias e os temas comuns para uma gestão compartilhada na implantação das ações fundamentais para a região. Entre os parceiros na cons-trução do plano estão o Sebrae, Governo do Estado do Espírito Santo, Aderes (Agência de Desenvolvimento em Rede do Espírito Santo) e as prefeituras municipais do entorno da serra.

São diversos projetos propostos e já desenvolvidos pelo Consórcio, tais como: a Rede de Educadores Ambientais, Pro-jeto Cama e Café, Projeto Semente, Mostra de Desenvolvimento Sustentável da Região do Caparaó, Cursos de Artesanato, Mova Caparaó (Mostra de Vídeo Itinerante), Agenda 21 Regional, Pólo de Desenvolvimento de Práticas Sustentáveis da Região do Ca-paraó/Pronaf – Ibitirama/ES, Corredores Ecológicos da Mata Atlântica, Centro de Informações Turísticas e Comercialização dos Produtos da Agroindústria de Pedra Menina/ Pronaf/Dores do Rio Preto, Curso de Pronto-Socorrismo, Curso de Jardinagem e Paisagismo, Curso de Agro-indústria, Curso de Eco-turismo, Oficina do P.M.N.T.

“Sabemos que podemos crescer de forma limpa, aprovei-tando nosso maior ativo que é a natureza e, principalmente, pelo trabalho de nossa gente, nossa união. Sempre tivemos a agricul-tura como a atividade principal e agora temos também o turismo, sem deixar de nos lembrar que eles podem e devem caminhar de mãos dadas, com estratégias regionais de desenvolvimento econô-mico, social e urbano”, diz a organizadora.

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Entre os projetos já consolidados estão: a criação do Fó-rum Pró-Caparaó (1995), criação do Destacamento da Polícia Ambiental na Região, criação da Comissão de acompanhamento das questões fundiárias do Parna do Caparaó, Reserva Municipal Vale das Bromélias, em Ibitirama, Reserva Municipal Bica da Mata, em Dores do Rio Preto e participação com os 10 municí-pios no P.N.M.T., em Brasília.

O P.N.M.T. do Governo Federal, é o Programa Nacio-nal de Municipalização do Turismo, um processo de conscienti-zação, sensibilização, estímulo e capacitação dos vários agentes de desenvolvimento que compõem a estrutura do município, para que despertem e reconheçam a importância e a dimensão do turismo como gerador de emprego e renda, conciliando o crescimento econômico com a preservação e a manutenção do patrimônio ambiental, histórico e de herança cultural, tendo como fim a participação e a gestão da comunidade nas decisões dos seus próprios recursos.

Plano de Desenvolvimento Sustentável 2006 - 2026Em 2005, o Consórcio, em reunião com o governador

Paulo Hartung, apresentou em um evento em Guaçuí a pro-posta de elaboração de um Plano de Desenvolvimento Susten-tável da Região. O governador imediatamente fez contato com a Vale do Rio Doce ( Programa Vale Mais), que em parceria do Consórcio deu início aos trabalhos contratando uma empresa de Consultoria que junto à população organizada durante um ano elaborou o Plano com participação de mais de 3.000 (três mil) pessoas com contratação de 70 jovens para trabalhar nas áreas contempladas na fase de conhecimento estratégico, para realizar pesquisas e o levantamento de informações sócio-eco-nômicas de cada município. Foi criado então, o “Programa de Formação de Jovens Pesquisadores”.

Depois de passar pelo Programa de Formação, junto com outros 70 jovens dos 11 municípios, Cleidiane da Cunha, de Alegre, diz: “Fui a campo aplicar o que aprendi. Visitei lu-

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gares de que nunca tinha ouvido falar. Em um lugarejo no alto de um morro na zona rural conheci uma senhora muito simpá-tica e amorosa, comecei a fazer uma entrevista para conhecer os seus hábitos de vida. Ela me falou dos filhos, dos remédios naturais, da plantação, da criação de animais. Entendeu a pro-posta do nosso trabalho e fez questão de colar o nosso cartaz em sua própria casa. Naquele momento tive a certeza da im-portância do trabalho que estava realizando”.

Ao longo do trabalho, estes 70 pesquisadores receberam uma bolsa-auxílio e realizaram entrevistas com empresas, entida-des sociais, lideranças e mídias locais. Como resultado, ajudaram a elaborar um mapeamento do capital social, do perfil empresarial e das principais questões ligadas à qualidade de vida da popula-ção de cada localidade. Foram entrevistadas 442 entidades sociais, 265 empresas e 481 lideranças.

Após este ponto de partida, de reunir informações e co-nhecer a região para traçar um caminho comum, surgiu o Plano de Desenvolvimento Sustentável, um documento que represen-ta também uma agenda de compromissos coletivos que todos os participantes deste processo selaram com o Caparaó Capixaba. Ele é o resultado de mais de um ano de trabalho, a participação de 11 municípios, mais de 3.000 cidadãos, 1.600 empresas e entidades que elaboraram juntos o plano.

Ele apresenta diagnósticos, define as estratégias e os temas comuns que resultaram em um mapa de programas e projetos para os próximos 20 anos da região. Propõe ainda uma estrutu-ra de gestão compartilhada para implantação das ações definidas, tendo sempre como meta, um Caparaó modelo de integração re-gional, economia limpa e atitude cidadã.

“Nossa responsabilidade enquanto administradores públi-cos não termina agora, na entrega do Plano de Desenvolvimento Sustentável. Ao contrário, é neste momento que se inicia a etapa que exige maior comprometimento, não só nosso como também da sociedade civil e da iniciativa privada, de continuar caminhan-do de mãos dadas. Efetivar as ações definidas de forma coletiva e

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participativa exige que esta união e este compromisso se mante-nham. A integração regional já está incorporada ao espírito das nossas administrações municipais, e a partir de agora com a atitu-de de nossos cidadãos, vamos caminhar juntos a trilha do desen-volvimento sustentável”, define Dalva.

A economia da região do Caparaó capixaba ainda é pou-co expressiva dentro do Espírito Santo. Apesar da população do Caparaó capixaba representar 5% da população do Estado, a riqueza gerada na região representa apenas 2% da riqueza total (PIB) estadual. A riqueza gerada por habitante na região (renda per capita) é inferior à média estadual. De fato este valor é de R$ 3.088 no Caparaó capixaba, menos da metade do va-lor verificado no Estado, que chega próximo dos R$ 8.000. A economia da região tem uma forte base agrícola. Sete dos onze municípios da região têm no setor agrícola a fonte de mais de 60% da sua renda familiar. A dependência do setor primário e a pouca diversificação (basicamente café e pecuária) levam a uma maior instabilidade frente aos ciclos econômicos, quebras de safra e choques de oferta (redução/aumento nos preços des-tes produtos).

O setor agrícola é um importante gerador de empre-gos, ocupa 57% dos trabalhadores da região. A estrutura fun-diária é caracterizada por pequenas propriedades familiares na sua grande maioria com menos de 50 hectares. As prin-cipais atividades da região são o café (sobretudo nos municí-pios do norte do Caparaó), a pecuária leiteira (sobretudo nos municípios do Sul do Caparaó), a fruticultura e a criação ani-mal (gado de corte, suínos, piscicultura, avicultura). Apenas quatro municípios apresentam uma economia urbana com alguma expressividade: Alegre, Guaçuí, Jerônimo Monteiro e São José do Calçado. Estes municípios estão localizados no Sul da região. As atividades industriais são ainda incipientes e as principais atividades urbanas estão relacionadas aos ser-viços, comércio e a pequenas indústrias (móveis, confecções, alimentos, artesanato).

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O entorno do Caparaó e seus Municípios A proximidade com o Parque Nacional do Caparaó, co-

nhecido nacionalmente por abrigar o Pico da Bandeira, vêm fortalecendo a vocação turística dos municípios ao seu redor. O Parque Nacional do Caparaó foi criado em 24 de maio de 1961, pelo Decreto Federal nº 50.646. O Pico da Bandeira é o terceiro mais alto do Brasil com 2.890m de altitude. O Estado do Espírito Santo possui 78% dos 31.800 hectares da área do Parque. O acesso capixaba fica no distrito de Pedra Menina, a 27 km da cidade de Dores do Rio Preto. Uma caminhada mo-derada no início, e pesada no final, leva até o topo.

Nas áreas do Parque superior a 1.200m, há possibili-dade de ocorrências de geadas em mais de três meses ao ano. Temperatura média das máximas do mês mais quente (janeiro) é inferior ou menor do que 25,3º C. A temperatura média das mínimas do mês mais frio (julho) é menor do que 7,3º C. A possível encontrar inúmeras espécies vegetais típicas da Mata Atlântica de encosta como palmeiras, jequitibás, quaresmeiras, ipês, etc. Nas áreas mais elevadas, a flora é própria de altitu-de, prevalecendo mais as espécies de pequeno porte, como as bromélias e as orquídeas. Acima de 2 mil metros surgem os campos de vegetação rasteira quando são encontrados carque-jo, arnica do campo, samambaias, musgos, liquens, etc.

Predomina a silvestre e têm espécies em extinção como o mono-carvoeiro, o maior primata das Américas, onça pintada, anta e harpia. Neste santuário habitam também quati, capivara, tamanduá, jaguatirica; e aves como a maritaca, siriema, canário, jacu, gavião, papagaio, beija-flor, entre outros.

Rios perenes de pequeno e médio porte caracterizam as principais nascentes do Rio Itabapoana, Itapemirim e do afluente do Rio Doce e Rio José Pedro. As cachoeiras, casca-tas e corredeiras são comuns. O mês de agosto é o mais seco. Maio, junho, julho e setembro são parcialmente secos. Chuvo-so de outubro a abril.

Entre os parques nacionais situados na Mata Atlânti-

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ca, o Caparaó faz divisa com os Estados do Espírito Santo e Minas Gerais, sendo que 78% dele se encontra em território capixaba. O parque, de 31 mil hectares vem sofrendo em seu entorno, uma progressiva devastação por força dos desmata-mentos praticados inicialmente para a extração de madeiras e lenha seguida pela criação de pastos, e mais recentemente para implantação de culturas cafeeiras, com o efeito claramente veri-ficado de uma grande diminuição no volume anual de chuvas, mesmo nas localidades mais preservadas.

Projetos Cama e Café, Mova Caparaó, Mostra de Desenvolvimento, Encontro de Educadores Ambientais e tantos outros

A fertilidade das idéias que brotam dos integrantes do Consórcio Caparaó parece não ter fim. Mais de 20 projetos são realizados simultaneamente na região, tais como os já citados: Projeto Cama e Café, Mostra de Desenvolvimento Sustentável da Região do Caparaó, “Mova Caparaó” (Mostra de Vídeos Ambien-tais Itinerante) e o Pólo de Desenvolvimento de Práticas Sustentá-veis da Região do Caparaó.

Outro projeto que faz brilhar os olhos dos moradores da região é o “Mova Caparaó”, em parceria com a Secretária Estadual de Cultura, um trabalho itinerante de categoria re-gional, nacional e internacional que divulga vídeos de alunos locais e promove diversas oficinas de cinema, animação e arte. A finalidade é ampliar, através do audiovisual, as discussões ambientais promovidas pelo Consórcio Caparaó, na região ca-pixaba do entorno do Parque Nacional do Caparaó, e promo-ver as suas potencialidades eco-turísticas em todo o País. Em novembro de 2004, o município de Guaçuí foi escolhido para dar início à Mostra Nacional Competitiva de Vídeos Ambien-tais concorrentes ao Troféu Pico da Bandeira.

Os vídeos da amostra encantam o público e são selecio-nados para festivais internacionais, com o “Eco Cine São Paulo”, que recebeu a animação “Zé Caparaó”, um filme de animação

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feito por 25 crianças moradoras dos 10 municípios caparoenses, em parceria com o Instituto Marlin Azul, com o apoio cultural da Prefeitura Municipal de Alegre e do Consórcio Intermunicipal.

Já realizamos nos municípios de Guaçuí, Iuna, Irupi, Dores do Rio Preto, em Pedra Menina e Divino de São Lou-renço, na Comunidade de Patrimônio da Penha e este ano será em Muniz Freire.

“Eles aguardam o ano inteiro pelo festival. É muito gra-tificante ver a proposta sendo aceita e incentivando os jovens a pensar sobre o meio ambiente e na serra do Caparaó. Esse projeto formou cineastas, atores, cinegrafistas. Estruturamos uma ilha de produção dentro do Consórcio para facilitar e diminuir custos e fazer com que os jovens participem da edição final de seus vídeos. É preciso aumentar nossa estrutura para que o Brasil inteiro possa saber e participar conosco”, propõe a secretária executiva.

“Com o Bandes fechamos oficinas de capacitação do Pro-jeto ‘Banco Nosso Crédito’ em todos os municípios onde não o tinha, que é exatamente pra fazer empréstimo para pessoas que tem no fundo de quintal uma pequena fábrica de doces, uma pe-quena fábrica de biscoitos, ou uma costureira, ou um salãozinho, uma barbearia. Foram capacitados e escolhidos jovens que vão trabalhar dentro do Banco Nosso Crédito”.

Foi também realizado pelo Bandes um diagnóstico sobre a agricultura da região. O Bandes tem hoje 1/3 de sua carteira de crédito na região do Caparaó capixaba Educação Ambiental

Muito se debate sobre o momento atual do planeta, de-licado, em decorrência de séculos de depredação. Diversos pro-gramas vêm sendo desenvolvidos visando reparar os estragos da ação humana. Na região do Caparaó, professores estaduais, municipais e lideranças comunitárias dos dez municípios já fo-ram capacitados para atuarem como educadores ambientais nas escolas e comunidades promovendo a mudança de comporta-mento, atitudes, valores e cidadania com respeitos a todas as

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espécies de vida. Um total de 18.800 alunos estão recebendo orientações educativas de como preservar o meio ambiente em todas as disciplinas. Deste trabalho surgiu a proposta da cria-ção do “Centro Avançado em Educação Ambiental” que servi-rá como pólo de capacitação e aperfeiçoamento.

Os municípios que constituem a região da Serra de Capa-raó no lado do Espírito Santo, com poucas exceções, são os mais pobres economicamente do Estado. A base da economia local tem sido a cafeicultura e a pecuária, apesar do relevo acidentado. A vocação da Serra do Caparaó, contudo, segundo o Consórcio, é florestal. É servir como grande usina de renovação da vida. O único caminho coerente para o manejo de suas terras é conservar e recuperar e para sua economia o turismo e agroindústria com os produtos da região além da diversificação agrícola.

“Mas um turismo de qualidade só pode se desenvolver a partir de um trabalho de educação ambiental visando pre-venir o impacto provocado pela atividade, como também um trabalho junto à população residente, no sentido de minimizar o sentimento de desconfiança e medo com que são olhados os turistas, e prepará-la para beneficiar-se das inúmeras possibili-dades de criação de renda por meio de serviços de atendimen-to”, opina Dalva.

A Mostra de Desenvolvimento Sustentável do CaparaóEstá entre as ações mais eficazes do Consórcio neste senti-

do. A cada ano, em um município diferente é realizada uma expo-sição dos diversos produtos elaborados na região, tais como doces, quitutes, massas, queijos e alimentos em geral, para estimular o agroturismo, assim como palestras, oficinas e apresentações artís-ticas. “A mostra é sempre um sucesso e contribui para alavancar o turismo e o reconhecimento da própria comunidade com seus valores e produtos. Isso gera o senso de pertencimento que tanto procuramos”, afirma Dalva.

A região capixaba do Caparaó conta hoje com cerca de 170 mil habitantes, que representam 5% da população de todo o

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Estado do Espírito Santo. Desde a década de 1970, pode-se obser-var uma pequena diminuição da população rural e um aumento lento, mas significativo da população urbana, ou seja, no conjunto da região, as cidades cresceram e o campo não apresentou grande êxodo rural. Em média, a população total do Caparaó cresceu 1,14% ao ano durante a última década, um pouco mais que a metade do ritmo de crescimento da população do Estado. Já a população das cidades cresceu a uma taxa superior a do Estado e a do País.

Esse processo não aconteceu da mesma forma em todos os municípios. Embora todas as cidades da região tenham cres-cido, as mais recentes - Ibitirama (1988), Ibatiba (1981), Dores do Rio Preto (1963) e Divino de São Lourenço (1963) cres-ceram mais rápido. No Sul do Caparaó, onde estão as maiores cidades da região, Alegre e Guaçuí, ambas com mais de 19 mil habitantes, a população cresceu em ritmo moderado. Já no Norte do Caparaó onde a população rural é mais significati-va, alguns municípios perderam população na última década, como Iúna e Muniz Freire.

As cidades cresceram sem planejamento e a população ru-ral diminuiu.

No caso da estrutura etária da região, observa-se nas últimas décadas uma diminuição da razão de dependência, ou seja, do número de indivíduos predominante não ativos (crian-ças e idosos) em relação à população potencialmente ativa (15 a 65 anos). Em 1970, esta relação era de 91 pessoas em idade predominante inativa por 100 pessoas potencialmente ativas. Em 2000, diminuiu para 59. Isto indica uma oportunidade produtiva para a região, na medida em que há um número maior de adultos sustentando um número menor de crianças e idosos. Um dos desafios neste contexto é desenvolver a eco-nomia para que ela seja capaz de criar oportunidades para que essas pessoas participem das atividades produtivas.

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ONGs relacionadas ao movimento em defesa da Serra do Caparaó:

Amar Caparaó (Associação Pró-Melhoramento Am-biental da Região do Caparaó), Giaan, Kapi xawa (Grupo de Agricultura Ecológica), Águapan, Aguapa, Voldema, Assedai, Apratur, Adematur, MAC, Appa, Academa, Atuar, Amigos do Caparaó, Aproarte, Geaac, Gubaica , Associação de Monta-nhistas entre outras.

Outras informações:

Parque Nacional do Caparaó Visite o lado Capixaba do Parque Nacional do Caparaó! Faça sua reserva pelo telefone: (32) 3747-2555Consórcio do Caparaó: (28) 3553-0679E-mail: [email protected]: www.portaldocaparao.com www.consorciodocaparao.com.br

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ESPÍRITO SANTO EMPREENDEDOR Elias Lorenzutti

“GUARDAR UMA COISA É OLHÁ-LA E ADMIRÁ-LA, ISTO É, ILUMINÁ-LA OU SER POR ELA ILUMINADA.

ESTAR ACORDADA POR ELA, ESTAR POR ELA OU SER POR ELA”

Antônio Cícero - Poeta

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Sabe aquela inquietante pergunta que surge dentro de nós quando questionamos sobre a devastação do meio ambiente? É a consciência que nos cobra: “Você vai fazer o que?”. Em Linhares, Norte do Espírito Santo, ao conhecer o taxidermista Elias Loren-zutti encontramos alguém que levou essa pergunta muito a sério.

Ainda muito ativo aos 95 anos, Sr. Elias, quando me-nino, começou a pensar sobre o que fazer com aqueles pas-sarinhos que as crianças brincavam de matar e largavam no chão. Ou com aqueles animais que eram abandonados pelos caçadores. “Será que eu poderia preservar a pele, o corpo e os dentes deles?” perguntava-se. Dos primeiros questionamentos de criança surgiram as experiências químicas com formol e ál-cool para limpar e manter os animais intactos. “No futuro, vão saber que eles viveram por aqui, vivos”, imaginava.

E a imaginação deu certo, apesar da família não olhar com bons olhos aquele menino sempre sujo de sangue às vol-tas com vidros, facas, ferros e algodões, Elias seguia entretido com aquele hobby. Aquilo não parecia brincadeira de criança. “Sempre fui fascinado pelas florestas e os animais. Quando via

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as matas sendo derrubadas para dar lugar às lavouras de café, ficava incomodado com os animais sem casa, sem comida. Aí pensei: Vai acabar, tenho que guardá-los. Com o tempo fui percebendo que empalhar poderia ser um sinal para as futuras gerações conhecerem tudo o que eu vi”.

Tanto é que no museu, o gavião real, por exemplo, é uma das principais atrações. Sua imponência, beleza impressionam tan-to quanto à raridade da espécie. Só de gaviões, o museu comporta 40 tipos diferentes, sendo que, atualmente, na natureza não se en-contram mais de 10. No total, cerca de 3 mil animais taxidermi-zados compõem o Museu Elias Lorenzutti. Estima-se que 50% já não existem mais na natureza. A variedade de aves, mamíferos e peixes impressionam os visitantes. O trabalho além do papel edu-cativo, serve como material de pesquisa para estudiosos de diversas áreas. “Hoje agradeço a Deus por receber tantas crianças e jovens ao museu, interessados em conhecer a vida desses animais. O fato de estarem empalhados também exerce um fascínio porque eles parecem que estão vivos, mas não se mexem mais”, observa Elias.

A TaxidermiaA taxidermia (tax – organização e derm - pele) é a arte

de secar os animais mortos para conservá-los com a aparência de vivos. Em escavações arqueológicas do império egípcio, a cerca de 2.500 anos antes de Cristo, se encontraram os primeiros registros dessa técnica utilizada pelo homem, como uma tentativa de con-servar a vida, ou como dizem os taxidermistas “uma arte que per-petua emoções”. Ela surgiu também devido a um antigo costume de preservação de troféus de caça mas atende à diferentes públicos como donos de animais domésticos que não querem se desvenci-lhar dos bichos de estimação, pescadores e caçadores desportistas, criadouros de animais comerciais, bem como museus de história natural, entidades conservacionistas, zoológicos, universidades e mais recentemente o teatro e a televisão.

A partir do início do século 18 o conhecimento da química ajudou a melhorar o aprimoramento da técnica para a preservação

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da pele. Os detalhes do corpo e o tempo de preservação. O uso de palha ou capim foi responsável pela utilização do termo empalhar, que está em desuso. Não se usa mais a palha dentro dos animais, mas sim fibra de vidro e moldes de gesso.

No século 19 a taxidermia ficou denominada com um seg-mento artístico para museus. A técnica, segundo Elias Lorenzutti, consiste em retirar toda a carne, ossos e olhos do animal morto e fazer um pequeno corte, revirar pele, tratá-la com substâncias químicas, para que não apodreça e aí a seguir, fazer uma armação de arame para encher a cavidade recheando com paina, no caso de animais pequenos, ou palha de embalagem para os maiores. Assim dá-se uma forma ao espécime e, para finalizar o trabalho, ele é costurado. No lugar dos olhos é colocado um tipo de peça ar-tificial feita de acrílico, ouvido e pés são imunizado com formol.

A taxidermia é um procedimento exercido por biólogos, que envolve conhecimentos de diversas áreas além da biologia, como: química, anatomia, comportamento, ecologia, artes plás-ticas, entre outras. “Com tempo têm surgido substâncias que aju-dam, consideravelmente, e determinam a melhor aparência para os animais empalhados. Mas as técnicas são as mesmas ainda prati-cadas desde seu surgimento, ou seja, faz-se hoje da mesma forma que se fazia antigamente. Tomando o devido cuidado é possível preservar o animal por muitos anos mantendo suas características naturais, como a coloração de pele pena”, diz Elias.

A atividade é somente aplicada em animais vertebrados e prepara o enchimento da pele de animais mortos para res-gatar suas características reconstituindo seus aspectos físicos simulando seus gestos e posições e, às vezes, até seu habitat, o mais fielmente possível.

Ao ser perguntado qual foi o animal mais difícil de em-palhar, Sr. Elias não titubeia em lembrar do cação espadarte, que foi pego na foz do Rio Doce, em 1960, pesando 1 tonelada e 300 quilos. Era uma fêmea, que tinha 27 filhotes na barriga, cada um com dois quilos. “O peixe se embaralhou numa rede a ponto do pescador voltar para o acampamento e dizer que

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a rede tinha ficado presa numa pedra. Aí o dono da pescaria falou: pode ser uma pedra, mas também pode ser um peixe enorme. Eles foram com arpão e com arma, mas foi difícil de trazer à tona porque o peixe tinha muita força. Foram quatro dias de luta para empalhar ele, mas compensou. Comeram a carne e trouxeram o restante para mim. Eles fizeram questão de empalhar porque não queria que aquela história virasse mais um conto de pescador. Há uns tempos atrás vieram uns ameri-canos aqui que tiraram fotografias, abraçados com o peixe. Foi o maior sucesso nos Estados Unidos. Este peixe é da mesma fa-mília do tubarão, só que ele não tem dente. Aquela espada que ele tem no frente é que estraçalha o alimento”, conta Elias.

Na equipe do Museu Elias Lorenzutti estão os filhos do taxidermista, Ademar e Agnaldo, seus sucessores. Com o tempo, aprenderam com o pai todos os caminhos para um trabalho de qualidade. A missão de suceder o pai despertou nos dois filhos a admiração, devoção e respeito pela taxidermia. Sr. Elias teve nove filhos com sua Eleonor, mas também adotou mais 10 crianças ca-rentes que viviam pelo interior de Linhares.

O autodidataEra o início do século passado (1913), quando Elias Loren-

zutti nasceu em Boapaba, interior de Colatina, município também ao Norte do Estado. Quando começou a se interessar em conser-var os animais, ele mal completara os 15 anos. Foi puro instinto, iniciativa única e original de um menino que contava com uma sensibilidade além do comum. A conservação dos primeiros passa-rinhos foi feita na curiosidade, retirando todos os órgãos, sangue e deixando apenas a pele e costurando alguma parte defeituosa. Na década de 10 e 20, não havia jornal ou revista sobre o tema, muito menos se falava disso no rádio ou nas reuniões em família.

Antes de completar 20 anos, passou pela cidade um se-minarista paulista que se interessou pelo hobby do menino e lhe deu muitas dicas para aperfeiçoar a técnica. Dicas que ele havia aprendido com um padre italiano que morava em São Paulo. Com

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o tempo, Elias foi percebendo que sua técnica simples era bem me-lhor do que a aconselhada pelo padre, que gostava de enfaixar os animais com arsênico para acelerar o processo de secagem. Porém, o padre trouxe a tecnologia de uma mistura química que ajudava na preservação e na imunização da pele.

“Ele queria embalsamar e eu, taxidermizar. São coisas di-ferentes. Embalsamar é você aplicar o formol, mas ele fica por um período apenas. Taxidermia é diferente, pois ela tem a técnica de preservação da pele, das penas e dos pêlos dos animais. Depois é passado o produto para imunizar, o que faz com que a peça dure por anos a fio”, explica Elias.

Para fazer a taxidermia retiram-se os ossos, a carne e fica só com a pele. “Eu uso bisturi, faca, canivete, pinça, alicate e mais uma série de ferramentas. Dependendo da situação até tesoura e a gente vai tirando a carne com bastante cuidado para não rasgar. Daí usamos nosso produto manipulado, que é se-gredo, fazemos a armação com arame, enchemos com paina e damos a forma. Procuramos a posição mais próxima o possível do real. Temos que buscar as características de cada animal”. Os dentes são do próprio animal, mas os olhos são feitos arti-ficialmente. “Ainda não conseguimos aprimorar uma técnica para a preservação dos olhos. Mas a gente vê a cor de cada olho e coloca cada um de acordo com o que era”.

Já com 30 anos de idade e reconhecido como bom taxi-dermista, mas trabalhando como agricultor e nos pequenos co-mércios da cidade, Elias começou a chamar atenção do cientista Augusto Ruschi, que foi conhecer o acervo em Colatina. Ao ver aquela quantidade de animais taxidermizados com tanta qualida-de, principalmente as aves, Ruschi logo convidou Elias para traba-lhar com ele em Santa Teresa.

“Venha me ajudar no Museu Mello Leitão. Preciso de pessoas dedicadas e profissionais como o senhor”, disse Ruschi a Elias, que foi trabalhar por três anos com Ruschi, especializando-se em beija-flores, as paixões do cientista. Segundo Elias, todos os empalhamentos do museu são de sua autoria. Foi através dessa

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amizade, que ele conseguiu sua carteirinha de taxidermista, consi-derada uma vitória na época. “Precisava-se deste documento para ser respeitado”, lembra-se Elias.

Ruschi foi um dos primeiros a dizer que os bichos empa-lhados pelo amigo Lorenzutti era de aparência mais natural que ele já vira. O taxidermista confirma: “No Museu Mello Leitão, tudo que está lá fui eu quem fiz”. Lá ele trabalhou de duas manei-ras: tanto com os animais, que se chama de taxidermia artística, que predomina no seu próprio museu, usado principalmente para exposições de fins didáticos, como a científica, que permite que os animais sejam armazenados em gavetas somente com a pele preservada e sem enchimento, usados para pesquisas. O acervo de Lorenzutti também abriga animais desta forma, principalmente por falta de espaço para guardar tantos animais empalhados.

Apesar de ainda desconhecido para a maioria dos brasilei-ros, ele se tornou uma das maiores atrações de Linhares, cidade de quase 200.000 habitantes e com a economia baseada na indústria moveleira, exportação de mamão papaia para os Estados Unidos e, mais recentemente, uma das mais importantes bacias petrolífe-ras do Brasil, com produção de 21 milhões de m³ de petróleo na unidade de tratamento de Cacimbas, no litoral.

A pequena instituição recebe ainda visita de biólogos e estudiosos da fauna brasileira, especialmente da Mata Atlântica de todo mundo, sem falar de todos os estudantes da cidade de Linhares e dos municípios vizinhos e que os professores trazem em ruidosas excursões para passar o dia em uma aula prática sobre o meio ambiente. O animal de maior destaque é o cação espadarte, mas outros animais que também completam as atra-ções do museu são o gavião real, extinto no Estado e atualmente encontrado apenas nas áreas de preservação da região amazôni-ca, alguns exemplares de onças pintadas, também raríssimas no Estado, como jaguatiricas, suçuaranas, porcos-do-mato, além de antas e cobras diversas, como surucucu, bico de jaca, uma das vertentes mais venenosas do País, jararacas, jibóias e a sucuri. Sem falar nos tamanduás-bandeira, e nos pássaros de extinção

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como a jacutinga, pássaro preto de médio porte e arisco.A coleção de artes também é grande. Só de gaviões tem 40

variedades. “Hoje é capaz de se encontrar por aí apenas dez”, la-menta o taxidermista, que quando fala disso se revolta. Todos são vítimas da ganância e da irresponsabilidade dos homens. Para que seus trabalhos de anos não se percam, Elias transferiu seus conhe-cimentos aos filhos, mas somente dois, dos nove, aprenderam com ele a técnica da taxidermia, Ademar e Agnaldo Lorenzutti.

O Museu e a FundaçãoO Museu Lorenzutti foi criado de forma improvisada em

um galpão anexo à residência da família, em 1960. Sem qualquer apoio público oficial, o criador do Museu, Sr. Elias Lorenzutti, sempre manteve o acervo aberto ao público, recebendo turmas de alunos de todas as idades e de vários municípios do Estado. O Mu-seu, apesar de seu caráter estritamente didático, abriga um acervo significativo da fauna regional do Norte do Estado, com cerca de 1.000 exemplares, principalmente de aves e mamíferos, de um to-tal original de 2.000 peças colecionadas desde meados do século passado. Parte do acervo perdeu-se devido à falta de condições adequadas de armazenamento do material, e o restante carece de uma catalogação adequada, com grande parte dos exemplares não apresentando informações sobre sua procedência.

Porém, em 2007, com o apoio do Sebrae, o museu ganhou vida nova, foi reformado e estruturado. Todos os exemplares de mamíferos existentes no acervo do Museu Elias Lorenzutti foram examinados e etiquetados, recebendo uma numeração individual. Foram catalogadas 45 espécies de mamíferos, 39 das quais obtidas na região Norte do Espírito Santo, principalmente no município de Linhares. Destacam-se algumas espécies localmente extintas no ambiente natural, como o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) ou confinadas a um número decrescente de unidades de conservação, como a onça-pintada (Panthera onca) e o tatu-canastra (Priodontes maximus). Vários exemplares são originados de apreensões realizadas pela Polícia Ambiental ou encaminhados

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pelo Centro de Reintrodução de Animais Silvestres – Cereias.“Hoje em dia, devido ao pouco alimento que tem na flo-

resta, todos os dias os animais saem em busca de comida e acabam atropelados na estrada. Os próprios guardas florestais pegam aque-le animal que foi atropelado e trás para cá. Com dois ou três dias, o animal que morreu ali, vai ser comido por formiga e urubu. Se empalhar, ele fica pra sempre. Agradeço muito a um fazendeiro de Guarapari que me traz todos os tipos de passarinhos que morrem em suas terras: mutum, jacutinga, macuco, jaó, chorão.. quando morrem, ele não deixa perder, guarda no freezer e manda pra cá.”

Das aves mais coloridas, as que chamam mais atenção são as araras, principalmente a arara azul, em extinção e todo o País. As vermelhas encantam as crianças que visitam o museu. As per-guntas mais freqüentes são: “É de verdade, tio? Ela tá olhando pra mim? Ela ainda voa?” a curiosidade cresce ao ver cada animal por conta da qualidade do trabalho da taxidermia, tornando o animal com uma expressão quase real.

Os mamíferos como a onça pintada, jaguatirica, suçuarana e o gato morisco fascinam os visitantes. Isso sem falar na leoa, que era de um circo e quando faleceu, foi entregue ao Sr. Elias para empalhar. São inúmeras as lembranças de cada animal e Elias lembra-se de praticamente tudo! Sua curiosidade também o levou a investigar bichos com anomalia. No museu, há bezerros de duas cabeças e até filhote de porco com chifres.

“Inclusive essas peças servem para estudos porque geral-mente as anomalias acontecem por causa das inseminações artifi-ciais feitas de forma inadequada. Se você observar, entre bovinos a anomalia é comum, mas entre suínos é raro. O cientista que esteve aqui ressaltou a importância do nosso trabalho de taxidermizar o porquinho porque estamos contando uma história verdadeira, não é lorota. É só vir e ver.”

No início, o Museu Elias Lorenzutti foi itinerante e per-correu diversas cidades do Espírito Santo, Minas Gerais e Sul da Bahia. O velho galpão só foi substituído por uma construção mais nova, com 192 m², em 2005, com apoio da Prefeitura de Linha-

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res. Em 2006, a luta de Elias Lorenzutti para conservar aberto seu museu, encontrou eco em instituições de incentivo, como o Serviço Brasileiro de Pequenas e Médias Empresas – Sebrae - em parceria com o Centro de Estudos Ambientais do Espírito Santo.

Juntos, desenvolveram um trabalho destinado a transfor-mar o museu que existe, informalmente, em uma Fundação de modo a permitir a captação de recursos através de instituições pú-blicas e privadas. O Sebrae pretende também firmar convênio com universidades, transformando o projeto numa ponta de extensão universitária. A inauguração da Fundação aconteceu no final de 2007, para a alegria da família Lorenzutti. O local, agora, com infra-estrutura e todos os animais devidamente catalogados, orga-nizados e bem conservados, conta com uma área de 1.800 m².

Ali encontramos o Sr. Elias, sentado no centro do mu-seu fazendo o que mais gosta de fazer atualmente: esperar as crianças chegarem, barulhentas e carinhosas, para enchê-lo de perguntas sobre os animais. Exatamente como ele sonhou na-quele distante 1920, quando tomou consciência sobre o que sua arte poderia causar.

Informações sobre como participar e ajudar:

Telefone: (27) 3264-0883/1181

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Fazenda Velozo Comunidade

“Senhor dos Passos”Braz Veloso, coordenador

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ESPÍRITO SANTO EMPREENDEDOR Fazenda Velozo Comunidade “Senhor dos Passos”

“E DEUS, PELAS MÃOS DE PAULO, FAZIA MILAGRES EXTRAORDINÁRIOS, A PONTO DE LEVAREM AOS

ENFERMOS LENÇOS E AVENTAIS DO SEU USO PESSOAL, DIANTE DOS QUAIS AS ENFERMIDADES

FUGIAM DAS SUAS VÍTIMAS, E OS ESPÍRITOS MALIGNOS SE RETIRAVAM”

Atos, cap. 19 - 11 e 12

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É comum encontrarmos na oração o refúgio, confor-to e a paz interior que se precisa nos momentos de dor. In-dependente da religião, orar é estar com Deus, em conexão com uma energia maior, poderosa, bondosa e a postos para ajudar. Na Fazenda Velozo, em Nova Venécia, há 58 anos uma família se propõe a curar dependentes químicos (al-coólatras em sua maioria) tendo como base de tratamento, orações fervorosas.

Na verdade este trabalho começou bem antes, em 1893, com os ancestrais da família, na cidade de Lage de Muriaé, Rio de Janeiro. Atualmente, o trabalho é coorde-nado pelo Sr. Braz Veloso, filho do casal Agostinho Batista Velozo e Alexina da Silva Velozo, a dupla que começou com a idéia de abrir as portas de casa para receber pessoas caren-tes, necessitadas desde um prato de comida, uma atenção, orações e passes espíritas.

“A oração não é uma preparação para a guerra, tam-pouco uma arma para a guerra. A oração é a própria guer-ra. Toda vez que você está consciente da presença de Deus,

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você está orando. Dizia-se de São Francisco que ele ‘parecia mais a própria oração encarnada do que um simples homem orando’. Creio que não exista um modo de vida no mundo mais agradável e mais cheio de deleite do que a conversação contínua com Deus, fazendo do coração uma capela”, disse o pastor e escritor Ed René Kivitz em seu livro “Vivendo com Propósitos”.

Ao chegar na Fazenda Veloso, com 600 alqueires de terra, encontra-se um campo vasto de grama dividido entre o abrigo para os pacientes, o Centro Espírita “Senhor dos Passos”, a casa dos anfitriões, uma gruta que protege o pre-sépio em homenagem aos Reis Magos, e um templo seguido da Via Crucis, que termina com uma estátua de Jesus Cristo. “Queremos sempre lembrar a todos o nascimento de Cristo. A base de nossa casa são os ensinamentos de Jesus, através dos Evangelhos de Marcos, Lucas e João”, explica Braz. To-das as construções foram feitas pelos próprios membros da família, de oito irmãos. De dezembro a janeiro são feitas apresentações da Folia de Reis, passando de casa em casa da comunidade, conforme a tradição.

“Quando há a intenção de bem, não importa a re-ligião da pessoa. No entorno da fazenda temos vários mo-radores católicos e evangélicos, mas a maioria é espírita. E o espírita tem um enorme respeito em relação à escolha de cada um, pois cada um tem o livre arbítrio de escolher como desenvolver sua fé. O importante para nós, é cuidar dos pa-cientes, que chegam muito necessitados de conforto material e espiritual”, explica o coordenador.

Após a Fundação da fazenda, localizada no Córrego Barra da Peneira, a 33 km do município de Nova Venécia (23 km de Vila Pavão e 43 km de Ecoporanga), a região foi apelidada de “Senhor dos Passos”, com o objetivo de que o Senhor possa guiar os passos de todos os imigrantes que acompanhavam a família Velozo e aqui se estabeleceram na região, vivendo basicamente da extração de madeira na épo-

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ca, plantação de lavouras de café, mandioca e cereais, além da criação de gado e porco e outras culturas de subsistência.

Na época em que chegaram, encontraram a região toda em mata, não havia estradas, escolas e apoio na área da saúde. Aos poucos a própria família Veloso abriu várias estradas e em 1959, o patriarca Sr. Agostinho Veloso cons-truiu a primeira escola de 1ª a 4ª série atendendo um grande número de crianças da região sendo o primeiro professor o Sr. Agneu Aquino de Oliveira. O grupo familiar dedica-se a ajudar ao próximo sem remuneração de nenhuma natureza.

Dentro do centro espírita onde são realizados os en-contros de orações, encontram-se exemplos do sincretismo religioso presente em todo País. Lá estão as imagens de Nossa Senhora Aparecida, São João Batista, São Jorge, São Gabriel Arcanjo, Nossa Senhora do Rosário, São Mateus, São João, São Sebastião, Santo Antônio, Nossa Senhora das Graças e Nossa Senhora da Glória. Junto aos santos estão fotos de Chico Xavier, em homenagem ao renomado médium que concedeu por meio de seus esforços espiritu-ais inúmeras bênçãos e melhoras na qualidade de vida de milhares de pessoas.

Na Fazenda se lê muito, principalmente a Bíblia e Novo Evangelho. O Velho Testamento também é citado, as-sim como os livros de Allan Kardec, mas a Bíblia é a base de todos os estudos. “Buscamos na doutrina espírita entender e interpretar a Bíblia para explicar e abrandar os corações dos pacientes. Todo esse entendimento nos ajuda nas preces porque estamos cuidando também de espíritos sofredores e endurecidos”, informa Braz.

O lugar é de repouso, privacidade e solitude para que o paciente desligue-se da vida de antes da fazenda e reflita sobre suas condições de saúde de agora. Não há televisão, revistas, jornais, computador ou Internet. É um total de 104 aposentos, sendo 40 para mulheres e 64 para homens. Tudo é muito bem asseado e organizado pelo próprio Braz, sua

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esposa e os funcionários. Um deles, é a conhecida Maria Ma-dalena de Oliveira, que mora na fazenda há 27 anos e atende a cada paciente com um carinho maternal confortante. Seu maior desejo é ver os pacientes encontrando a cura e saindo da fazenda aliviados.

“Eu tenho entusiasmo em trabalhar aqui e muito pra-zer de poder ajudar as pessoas. Na verdade nem sei quem é o mais ajudado, o paciente ou nós. Aqui nós conhecemos o sofrimento de perto, as histórias de cada um. Eu posso até estar sofrendo por algo pessoal, mas eu quase não sinto porque vejo tantas pessoas sofrendo. Os meus dramas ficam pequenos, sabe?”, conta Maria Madalena.

A rotina de orações, aconselhamentos, passes espiri-tuais e novenas é diária. Segundo Braz quase todos os dias surge alguém com problemas alcoólicos, que foi indicado por amigos. Em alguns casos, a casa abriga os parentes do doente para que ele não se sinta muito sozinho e triste, o que pode atrapalhar o progresso do tratamento.

A casa também abre espaço para pessoas com proble-mas neurológicos. Ao lado de Braz e Maria Madalena du-rante a entrevista, estava uma senhora doente mental, cuja família a abandonou. “Estamos abrigando-a com os braços abertos. Idosos precisam de apoio, principalmente os que estão doentes. A cada dia sentimos uma melhora no astral dela, antes ela ficava só deprimida. A levamos para as ora-ções, conversamos com ela e escutamos o que tem a dizer. No fundo, eles precisam de atenção”, afirma Dalva.

Todos moradores permanentes ou não da fazenda, ajudam nos afazeres domésticos. Para eles, o trabalho diário preenche o vazio, cria uma rotina e incentiva a melhora a cada crise de abstinência dos pacientes. A horta é considera-da peça chave na criação de uma terapia. “Um senhor de 90 anos, cuida da plantação até hoje”, conta Braz em meio aos pés de tomate, cebola, alface, jiló, couve, almeirão.

Os pacientes atendidos na fazenda são oriundos de

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todo o Espírito Santo (principalmente da região Norte), Mi-nas Gerais e Bahia. Alguns vieram de Bom Jesus da Lapa, Jacobina e até de Salvador. “Recebemos algumas pessoas que chegam num dia e, no outro, morrem. Aqueles com tendência ao suicídio nos dão mais trabalho, principalmente os dependentes de drogas. Temos que ficar vigiando sempre. Nas crises de abstinência, ninguém segura. É triste de ver até que ponto pode-se chegar o ser humano perdido, sem rumo, sem fé em Deus. Mas estamos enfrentando, pois este é o nosso papel”, afirma Braz.

Os pacientes são hospedados em um abrigo especí-fico da fazenda e recebidos como se fossem amigos ou pa-rentes próximos em um clima de harmonia e compreensão. Os pacientes violentos que podem causar perturbação aos outros, são levados às instalações um pouco afastadas, com pequenos quartos.

Todos se reúnem nos dias estabelecidos no Centro Espírita “Senhos dos Passos” para o tratamento sob a ação da prece e do passe espiritual. São feitos em média 1.200 atendimentos anuais. Desses, segundo os diretores da casa, 80% são recuperados, principalmente os viciados em álcool. No dia que se despedem da fazenda para retornar aos seus lares, recebem fortes abraços em meio a sorrisos e votos de paz e felicidades.

Mas não é só de tratamento que vive a fazenda. A fa-mília também se dedica a louvar Nossa Senhora das Graças pela ajuda alcançada durantes tantos anos na possibilidade de amparar o próximo que procura a casa. Há 52 anos, é realizada na região a festa religiosa que aproxima a comu-nidade dos pacientes, incentivando a troca de experiências, em que todos brincam, dançam, falam sobre assuntos do cotidiano e sobre os benefícios do evento para a vida de cada um e, principalmente, sobre a importância da confraterniza-ção. A festa da Fazenda Veloso é considerada uma das mais tradicionais do Norte do Espírito Santo e acontece todo dia

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2 de julho.

O passe – O que é, como funcionaO passe é conhecido desde os tempos mais antigos. A

imposição das mãos é uma das fórmulas usadas pelas pessoas para auxiliar os enfermos ou afastar deles as más influências espirituais. Como se vê pelos versículos bíblicos citados, Je-sus e seus discípulos praticavam a imposição de mãos sobre os necessitados, rogando a Deus que os curassem. Segundo os espíritas, Jesus fez largo uso dessa prática e disse que, se quiséssemos, poderíamos fazer o mesmo. Jesus ensinou-nos o passe. Allan Kardec o decodificou.

Passamos muitos séculos entre os ensinamentos de Jesus e a decodificação de Kardec. Em 1814, o medico in-glês, Jaime Braid, identificou alguma propriedade fluídica que podia influir numa maior rapidez dos efeitos curativos puramente físicos. O fazia a partir dos conhecimentos do francês Charles Lafontaine. O resultado maior foi a cria-ção da hipnose. Mesmer, contemporâneo de Kardec, avan-çou mais e criou um tratado energético que leva seu nome: mesmerismo. E contribuiu para a explicação científica da energia psíquica.

Antes do advento do Espiritismo, quase nada mais se soube sobre a prática do emprego da energia em benefício da cura. Os esparsos fenômenos de curas eram envoltos em mistérios e tidos como acontecimentos sobrenaturais.

Para o espíritas, com o advento da Doutrina Espíri-ta, os Espíritos superiores explicaram o porquê das coisas. Ensinaram a existência do Fluido Universal, força organi-zadora de todos os universos macro e micro e a existência do Fluido Vital, encontrado em todos os seres animados. E que as mãos humanas servem como um instrumento para a projeção de fluidos magnetizados, doados pelo operador, e fluidos espirituais, trazidos pelos Espíritos como veículo transportador de mensagens de cura, geradas por princípios

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inteligentes. Segundo as mesmas fontes, os fluidos curativos são

absorvidos pela pessoa necessitada por meio dos centros vi-tais (chacras) localizados no perispírito, e pelo próprio corpo astral, que age como uma esponja. A distribuição dos flui-dos pelo corpo é tarefa dos chacras. Começaram a ser expli-cadas, teoricamente, as curas promovidas por Jesus e pelos curadores de todos os tempos.

A imposição de mãos sobre uma criatura com a in-tenção de aliviar sofrimentos, curá-la de algum mal, ou sim-plesmente fortalecê-la, é coisa natural entre os seguidores de Allan Kardec, conhecida pelo nome de “passe”. O passe é um dos métodos utilizados nos centros espíritas para o alívio ou cura dos sofrimentos das pessoas.

“Quando ministrado com fé, o passe é capaz de pro-duzir verdadeiros prodígios. Ele reequilibra o corpo físico e espiritual. Em nossa avaliação, cerca de 80% das pessoas que nos procuram, conseguem sentir-se mais esperançosas e protegidas, o que contribui para a cura das doenças”, afirma Braz.

Segundo a doutrina espírita, a eficiência do passe de-pende da capacidade do passista, da predisposição do pa-ciente e ao merecimento deste último. Deve ser considerado uma terapia de superfície. Os efeitos profundos dependem da reforma moral íntima daquele que necessita de ajuda.

Similar à transfusão de sangue, que atua na renova-ção das forças físicas, o passe é uma transfusão de energia, que atua na renovação das forças psíquicas. Se para a trans-fusão de sangue devemos procurar o médico, o enfermeiro, o especialista, também para a transfusão de energia deve-mos contar com o concurso do especialista em passe. Uma transfusão de sangue ou de energia, quando mal feita, pode ser prejudicial. Por isso, as casas espíritas devem tomar cui-dados de ordem a garantir a segurança dos trabalhos com vistas ao resultado final.

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O passista (ou médium) é aquele que ministra o pas-se. Ser um passista é uma tarefa de grande responsabilidade, pois se trata de ajudar e abençoar as pessoas em nome de Deus. Pessoas carentes e sedentas de melhoria, procuram no centro espírita o recurso do passe como forma de alívio das pressões psicológicas e sustentação para suas forças morais e físicas.

Informações sobre como participar e ajudar:

A casa aceita qualquer tipo de ajuda desde alimentos não-perecíveis até quantias financeiras e agasalhos. O traba-lho voluntário também é muito bem-vindo.

Telefone: (27) 9978-1334 e fale com o Sr. Braz Veloso.

Nota: Foram utilizados como fontes para este capí-tulo os livros: “Conduta Mediúnica”, de André Luiz; “O Passe”, de Jacob Melo; Apostila “Estudo sobre o Passe”, de Clarice Seno Chibeni e o site do Grupo Espírita Bezerra de Menezes, de São José do Rio Preto/SP.

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“MUITO MAIS IMPORTANTE QUE REPASSAR CONHECIMENTO É DESENVOLVER NO ALUNO A

CAPACIDADE DE APRENDER”Ricardo Young - presidente do UniEthos

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A educação é a força motriz por excelência, a base por trás de qualquer desenvolvimento, seja ele social, econômico ou tecnológico. Por educação tratando do ato de educar, orien-tar, nortear, mas também o de trazer de “dentro para fora” as potencialidades do indivíduo e da comunidade onde ele está inserido. Cabe à educação a tarefa de transmitir e exercitar os direitos e deveres para o domínio da cidadania.

Acompanhar os projetos desenvolvidos pela Fundação Otacílio Coser no Espírito Santo e em São Paulo, é ter a certe-za da força deste pensamento na prática. São milhares de crian-ças e adolescentes envolvidos em iniciativas que vão desde pro-jetos de qualificação profissional, educação ambiental, geração de trabalho e renda, até descobertas de novos talentos e ações para o desenvolvimento da cidadania.

Como dedicação plena, seriedade, profissionalismo e muitas pitadas de emoção, Bernadette Coser de Orem, presi-dente do conselho curador da Fundação Otacílio Coser, e sua equipe de funcionários, voluntários, educadores, colaboradores e interessados impulsionam a Fundação, criada para gerir os in-

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vestimentos sociais privados do Grupo Coimex, constituído de empresas que atuam em comércio exterior, logística, energia, serviços financeiros e de concessão de rodovias no País.

A educação é, sem dúvida, o principal foco dos recursos destinados a projetos de responsabilidade social empresarial no País. E quanto mais nos informamos sobre os avanços da prá-tica de responsabilidade social empresarial, reforçamos a idéia de que a atividade tornou-se uma importante ferramenta para o desenvolvimento da sociedade e também para a sustentabili-dade das próprias organizações.

Atualmente, é nítido que os conceitos que norteiam uma gestão socialmente responsável trazem vários benefícios para a comunidade em que atua e para a empresa, tais como uma relação ética e transparente com todos os públicos com os quais se relacionam e a preservação de recursos ambientais e humanos para as gerações futuras.

“Conseguimos alinhar ações sociais com as visões es-tratégicas de negócios do Grupo. Atualmente, a Fundação é responsável, junto com instituições parceiras, pelo desenvolvi-mento e articulação de projetos em regiões de situação de risco social, prioritariamente localizadas no entorno das empresas do Grupo Coimex.”

A paixão pela atividade social, segundo Bernadette, fez com que a Fundação ultrapassasse as primeiras expectativas do Grupo, que sempre prezou pela realização de projetos de de-senvolvimento da sociedade e não com mero caráter assistencia-lista. “Quando a gente começou, pensávamos em viabilizar um caminho, um canal, uma estrutura de aporte de recursos do Grupo para a área social, mas que tivesse comprometido com o desenvolvimento da sociedade e não apenas com a distribuição de recursos para atender as demandas pontuais. E da mesma forma que se pensa em empresa, onde o negócio é investir para ter retorno, nossa idéia era que na área social isso também pu-desse prevalecer”, esclarece a presidente do conselho.

Visitando os projetos apoiados pela Fundação, perce-

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be-se o envolvimento dos profissionais que, com carinho e sensibilidade, contribuem para que as crianças entendam e interpretem melhor suas leituras, a incentivar alunos a serem professores e se orgulharem de adolescentes que conseguem ser bem-sucedidos no mercado de trabalho.

Os exemplos vencedores fazem parte da história da instituição, que completou oito anos de atuação em junho de 2007. “Nossa missão é promover a educação das novas ge-rações para o desenvolvimento sustentável por meio de uma transformação social comunitária. Após este tempo de atuação, só temos o que comemorar e ampliar nossos investimentos no Espírito Santo e em São Paulo, cidades onde estão localizadas as empresas do Grupo”, informa Bernadette.

As diretrizes seguidas pela Fundação são basicamente três: a valorização das riquezas comunitárias, a formação de ci-dadãos protagônicos e a transformação social. As ações devem contribuir para estimular o crescimento e o desenvolvimento das comunidades, através do aproveitamento das riquezas lo-cais, possibilitar o afloramento das capacidades física, intelec-tual e moral do ser humano e contribuir para o desenvolvimen-to de uma sociedade melhor, de forma sustentável.

Através da parceria com instituições operadoras de pro-gramas e projetos sociais, a Fundação atendeu ao longo desses oito anos a mais de 100 mil crianças, jovens e adultos, capi-xabas e paulistas, investindo, nesse período, cerca de R$ 5 milhões.

Programas macrosA Fundação Otacílio Coser trabalha atualmente com

três grandes programas: o PEV – Programa de Educação Vo-luntária; o Programa Verde Vida e o Programa Educação e Ambiente.

O PEV tem como objetivo a construção da comuni-dade escolar com a participação de professores, pais, alunos e voluntários para promover a melhoria do nível pedagógico da

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escola. Desde o início de 2005, o PEV está sendo replicado em escolas da rede pública de ensino, através de um convênio com a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo. Esse é o pri-meiro passo dado para que o PEV possa vir a ser uma política pública na área de educação. O parceiro operador do programa é o Modus Faciendi Agência de Responsabilidade Social.

Nesses anos de atividades, o PEV já atendeu a 6.505 adolescentes, jovens, familiares e professores. Em 2006, o Pro-grama contou com o trabalho de 32 voluntários em 22 oficinas e atividades educativas, atendendo a aproximadamente 2.618 crianças e adolescentes, além de seus familiares e da comuni-dade local.

São alguns dos resultados alcançados pelo PEV: fortale-cimento da participação de todos os segmentos da comunida-de educativa (pais, professores, alunos e associações vizinhas/empresas) na escola; aumento e consolidação de parcerias com empresas e associações do entorno escolar; pais mais atuantes e comprometidos com uma educação de qualidade; desenvol-vimento de capacidades relacionais e melhora das relações in-terpessoais entre alunos; melhora na qualidade dos conteúdos e aulas desenvolvidas pela escola; adolescentes e jovens atuando como protagonistas no processo de construção de uma escola cidadã; educadores escolares atuando para o fortalecimento da relação escola – comunidade e a sistematização e difusão da tecnologia social desenvolvida em outras escolas de São Paulo.

“Quantas vezes, até em escola particular, você ouve os pais falando que o problema de educação não é deles, e sim da escola. Como se delegassem a formação do seu filho e a qualidade de vida futura dele somente à escola. E não é assim. Podemos fazer muito mais. Queremos promover a inclusão de todos os responsáveis pela educação na formação das crianças e jovens que estão na escola pública. Falando em outras palavras, de forma mais simples, é desenvolver a comunidade escolar, da educação. O que é essa comunidade? São os pais, os pro-fessores, os próprios dirigentes das escolas, o corpo docente,

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discente, as empresas e instituições no entorno da escola... infe-lizmente, houve uma deterioração da sociedade como um todo no desempenho do seu papel de agente de educação”, explica Bernadette.

O Programa VerdeVida tem como objetivo contribuir para a promoção do desenvolvimento sustentável da Bacia do Rio Aribiri, em Vila Velha - ES. Como resultado da ação do programa, foi instituído o Fórum Permanente da Bacia do Rio Aribiri, formado por lideranças das 22 comunidades que com-põem a região, além de representantes do poder público e pri-vado.

“Nosso parceiro operador neste programa é a ONG Mo-vive, Movimento Vida Nova Vila Velha, com apoio da Com-panhia Portuária Vila Velha - CPVV, empresa que conta com participação societária do Grupo Coimex, e a Inter-American Foundation – IAF”, informa Bernadette.

Além do Fórum Permanente da Bacia do Rio Aribi-ri, fazem parte da proposta do Programa os projetos “Nossa Casa, Nossa Renda”, e “ReciclaIlha”. O Projeto “Nossa Casa, Nossa Renda” foi criado para fomentar unidades produtivas na Região da Bacia do Rio Aribiri e gerar oportunidades de tra-balho, renda e ações empreendedoras. Quem realiza este proje-to na comunidade é a instituição parceira Nossa Casa Senhora de Lourdes.

O Programa Educação e Ambiente é orientado para po-tencializar as riquezas e os talentos locais. Realiza ações sócio-educativas que promovem o desenvolvimento pessoal e social de crianças e jovens, educando-os para que desempenhem o papel de agentes de mudanças na comunidade.

Fazem parte do Programa Educação Ambiente, o “Pro-jeto Música e Cidadania”, que proporciona um ambiente de cul-tura e lazer através da música, e busca a melhoria da qualidade de vida e a construção da cidadania, e o “Projeto Ponte”, cujo objetivo é construir um ambiente propositor de socialização e produção do conhecimento, facilitando o Acesso ao mundo da

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arte e suas diversas linguagens, fundamentado no conceito de arte-educação como área de conhecimento, alicerce de toda a trajetória do trabalho desenvolvido. Esses projetos acontecem em Vitória e têm como parceiro operador, a Ação Comunitária do Espírito Santo (Aces).

Envolvimento com os parceirosFundamentais para a realização dos projetos, os parcei-

ros são tratados como “braços e pernas” da Fundação, e eles são muitos: órgãos públicos, empresas privadas, voluntários, orga-nizações não-governamentais e outras instituições filantrópicas. Todos fazem parte de uma rede que está sempre a se completar e a complementar cada novo projeto, cada nova idéia.

“Em se tratando de projetos, por exemplo, não nos li-mitamos somente à parte técnica de avaliação, como os recur-sos serão aportados ou como teremos retorno disso. É mais do que isso! A gente se envolve pessoalmente. Muitas vezes, nós reconhecemos uma necessidade da comunidade e se naquele momento não temos condições de oferecer uma solução, va-mos atrás dos parceiros e organizamos grupos de ajuda para conseguir resolver ou, ao menos, minimizar os problemas. Ou seja, nós não servimos somente de ponte, mas também faze-mos parte intimamente das questões da comunidade”, conta.

Em relação às outras organizações não-governamentais, a Fundação se coloca como mais um ponto de apoio e parceria na realização e fortalecimento dos projetos sociais, e não como concorrente na busca por recursos. “Ninguém pode trabalhar sozinho! São várias instituições que para nós merecem uma consideração especial, como a Aces (Ação Comunitária do Es-pírito Santo), o Movive (Movimento Vida Nova Vila Velha), a Modus Faciendi, pois têm um histórico maravilhoso, com equipes competentes e sérias”, explica.

Dentre as diversas organizações do Terceiro Setor, a Fundação participa do Grupo de Institutos Fundações e Em-presas – Gife - e da Rede Interamericana de Fundações e Ações

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Empresariais para o Desenvolvimento de Base - RedEAmerica. Essas relações potencializam o processo de conhecimento da Fundação e promovem a articulação com os demais setores da sociedade, o fortalecimento de conceitos e termos sobre de-senvolvimento sustentável e amplia as discussões sobre a ação social. O aprendizado adquirido é transformado em estudos dentro da Fundação para potencialização dos seus processos.

São alguns movimentos e organizações dos quais a Fundação participa, diretamente, ou através das empresas do Grupo Coimex:

Fórum DLIS no Espírito Santo - DLIS – Desenvolvi-mento Local Integrado e Sustentável é uma das metodologias mais modernas para a indução do desenvolvimento sustentável das comunidades. Aplicado em diversos estados brasileiros, o DLIS vem sendo discutido no Espírito Santo desde 2003. A Fundação Otacílio Coser foi a responsável pela implantação do Fórum DLIS no Estado e, desde o primeiro encontro, está à frente da sua Comissão Gestora.

Ação Comunitária do Espírito Santo – Aces - Com o objetivo de promover ações para a melhoria da qualidade de vida e a promoção da cidadania nas regiões periféricas da Gran-de Vitória, um grupo de empresários capixabas, dentre eles os acionistas do Grupo Coimex, criou, em 1994, a Aces. Desde então, a instituição apóia projetos de educação, esporte, músi-ca e dança e iniciativas sociais inovadoras e auto-sustentáveis que resgatam a cidadania de milhares de pessoas. A Fundação Otacílio Coser participa do Conselho Diretor da Aces e, por-tanto, possui co-responsabilidade nas ações desenvolvidas pela organização.

Conselho de Cidadania do Espírito Santo - O Conselho de Cidadania do Espírito Santo é um fórum de debate empre-sarial capixaba em torno da Responsabilidade Social Empresa-rial. Seu objetivo é desenvolver mecanismos de orientação das empresas, de intercâmbio entre elas e de divulgação dos traba-lhos desenvolvidos nessa área no Estado, com a participação e

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integração do primeiro, segundo e terceiro setores. Uma das ações do Conselho é a formação da Rede Ca-

pixaba de Desenvolvimento Sustentável, cujo objetivo é estabe-lecer um plano de ação que distribua os investimentos sociais entre todas as micro-regiões do Estado do Espírito Santo, de forma a atendê-las em suas demandas sociais e ambientais, dis-tribuindo o investimento social de forma mais justa e adequa-da. Essa ação partiu da consciência do empresariado de que as ações sociais acontecem ainda dentro da visão isolada de cada organização, fazendo com que algumas regiões do Estado re-cebam a maior parte dos investimentos sociais e outras perma-neçam sem assistência.

Instituto Ethos de Responsabilidade Social - O Grupo Coimex, mantenedor da Fundação Otacílio Coser, é membro associado do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, organização não-governamental criada com a missão de mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerirem seus ne-gócios de forma socialmente responsável, tornando-as parceiras na construção de uma sociedade sustentável e justa. Participam do Instituto Ethos organizações cuja característica principal é o interesse em estabelecer padrões éticos de relacionamento com todos os seus públicos estratégicos e com o meio ambiente

Desafios para o futuroUm dos principais desafios da Fundação, segundo Ber-

nadette, é assegurar que os projetos não estão “enxugando gelo”, ou seja, é preciso que eles estejam realmente focados na transformação social e no desenvolvimento das comunidades.

“Quando olho para trás, vejo um longo caminho per-corrido, com grandes resultados. Mas quando olho para frente, tenho um sentimento de ansiedade forte e ao mesmo tempo produtivo porque isso me move para frente. Eu nunca me satis-faço com o que já tenho. Isso não é defeito, é qualidade. Sempre estou procurando crescer, ir à frente, avançar, me desenvolver. Então, não olho muito para trás. Eu olho para frente e como

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vejo na frente muitas coisas por fazer, por desenvolver, então o sentimento que tenho em relação à Fundação é de ansiedade. Aliás, dedico à Fundação a minha vida inteira”, afirma.

Outra preocupação é em relação às Organizações Não-governamentais. “Até que ponto algumas ONGs estão atuan-do só como uma fachada que protege a comunidade? Implica também em ter uma firmeza para cobrar resultados, de ir lá no fundo para buscar onde aquilo está trazendo retorno de fato e como foi utilizado o recurso. Como avaliar isso? É um grande desafio. É uma coisa que me preocupa muito”, conta.

A terceira preocupação, mas não a menos importante, é em relação aos resultados em maior escala. A Fundação quer o maior número de pessoas abrangidas pelos projetos e compro-metidas com a transformação social. “Por isso, a questão da re-lação próxima aos parceiros, é fundamental para que possamos oferecer as melhorias de forma segura para um número cada vez maior de pessoas”.

Mais informações:

Telefone: (27) 3335-6246 Site: www.foco.org.br

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Montanha da Esperança Fundação Otacílio Coser

"O QUE SE FAZ AGORA COM AS CRIANÇAS É O QUE ELAS FARÃO DEPOIS COM A SOCIEDADE"

Karl Mannheim, sociólogo húngaro

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Ao falar de um projeto que já abriu caminhos, através de ações de amparo, educação e cidadania para mais de mil jovens no Estado do Espírito Santo, é inevitável lembrar do ditado popular “A fé move montanhas”, inspirado na passagem bíblica em que disse Jesus: “Se tiveres fé do tamanho de um grão de mostarda dirias a este monte “muda daqui para lá” e assim se dará e nada vos será impossível”.

Os trabalhos da ONG Montanha da Esperança come-çou em 1991, quando o já falecido empresário americano Jack Smith e seu filho Philip vieram ao Brasil para iniciar uma mis-são de salvamento de crianças cujas vidas estavam correndo grande risco nas ruas. Trabalhando junto com eles no planeja-mento estava David Swoap, um antigo oficial de alto escalão na administração do presidente Ronald Reagan. O instinto de so-lidariedade desse trio foi despertada por todas as notícias avas-saladoras sobre as crianças brasileiras, veiculadas na imprensa internacional durante a década de 90.

Não era a primeira vez que Jack fazia um esforço pes-soal em benefício dos outros. Metade de sua vida, ele passou

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na Etiópia, um dos países mais pobres do mundo, onde Philip nasceu. Lá, ele montou sua ONG Hope Unlimited (“Esperan-ça sem limite”) e a partir daí, uma maratona de ações em prol dos menos favorecidos contagiou o empresário, que buscava sistematicamente outros povos para receber suas propostas de socorro social.

Bem informado através de empreendedores engajados no Brasil, Jack conheceu um orfanato que estava abandona-do, na cidade paulista de Campinas, conhecido como “Cidade dos Meninos de Campinas” ou “Casa dos Menores de Cam-pinas”. Analisando que o orfanato era o local adequado para as metas do grupo, a casa foi entregue a Jack para ele começar seu trabalho.

No planejamento inicial, a idéia era tirar crianças das ruas e levá-las a um refúgio seguro. Uma vez que as crianças estives-sem seguras e num ambiente de amor, o longo processo de recu-peração teria início. O próximo passo seria oferecer treinamento profissional em áreas de demanda no mercado de trabalho por meio de programas de treinamento acompanhado de educação acadêmica, acompanhamento psicológico e formação cristã. “O projeto foi todo construído com o futuro da criança em mente. O importante não era dar à criança o que ela deseja, pois muitas não sabem o que querem. A intenção era dar o ne-cessário para que elas pudessem viver longos anos com digni-dade e auto suficiência”, esclarece o Pastor Derli, coordenador geral do Montanha da Esperança.

Este trabalho social foi batizado de “Esperança sem Limites”, pois a esperança era um sentimento raro naquelas crianças. O maior desejo da equipe coordenadora do projeto era que os alunos possuíssem não apenas um lampejo de espe-rança, mas uma esperança sem limites e que sentissem a capaci-dade de seu potencial criativo e transformador que mudariam a história de suas vidas. E se tornando assim, seriam produtivos e cooperadores membros da sociedade, com a possibilidade de usar suas vidas para salvar outras crianças, interagindo cada vez

ESPÍRITO SANTO EMPREENDEDOR Montanha da Esperança

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mais com a comunidade onde vivem.

Quando a idéia partiu para o Espírito SantoEm uma reunião do Rotary Internacional em India-

nápolis, nos Estados Unidos, o rotariano João César Faria conversava com Philip, filho de Jack e com o Pastor Uélide Roberto da Silva, sobre a cidade de Vitória, no Espírito Santo. João contava sobre os problemas de violência enfrentados pelas crianças e adolescentes em situação de risco social pelas ruas.

Com palavras motivadoras e o impulso de abrir uma nova casa como a dos meninos de Campinas, o Rotary Clube se mobiliza junto com o Governo do Espírito Santo e para oferecer a ONG americana Hope Unlimited o espaço de um antigo orfa-nato abandonado aos pés do Monte Moxuara, no município de Cariacica, um dos mais carentes da Grande Vitória.

“O projeto leva esse nome porque quando chegamos aqui para implantá-lo vimos que era um ponto elevado e pen-samos que ali era um local de esperança. E como era um mon-te, batizamos de “Montanha da Esperança”. Atualmente, após oito anos de funcionamento, realmente o trabalho se tornou uma montanha da esperança para muitos jovens e adolescentes capixabas”, revela o pastor Uélide Roberto da Silva, o fundador da ONG no Espírito Santo e recém ex-diretor.

Um total de 162 meninos estão inscritos no Mon-tanha da Esperança, sendo 42 residentes e 120 alunos das comunidades vizinhas ao projeto. Dos residentes, a maioria é encaminhada pela Vara da Infância e da Juventude e pelo Conselho Tutelar para o abrigo da entidade, onde ficam até os 18 ou 19 anos de idade. “Se vemos que o menino ainda não tem estrutura para sair do abrigo, ele continua conosco”, informa o Pastor Uélide.

Os bolsistas, com a faixa etária dos 15 aos 24 anos es-tudam durante o dia e voltam para casa no final do período. Vão por conta própria e se matriculam nos diversos cursos ofe-recidos para capacitação profissional, tais como: panificação,

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beleza, culinária, artes gráficas e plásticas e reparação automo-tiva, funilaria, mecânica e pintura de automóvel, informática, todos envolvendo entidades como o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e o Sindirepa (Sindicato da Indús-tria de Reparação de Veículos e Acessórios do Espírito Santo). Na área acadêmica, é oferecida educação fundamental de 1ª a 8ª série dentro da sede da ONG. As salas de aulas são pintadas de forma criativa, colorida e com frases de incentivo pessoal, para estimular os alunos.

“Fazer parte deste projeto, para mim, foi o melhor que pôde me acontecer. Uma vez que fui chamado por Deus para realizar sua obra ajudando outras pessoas e esse lugar me pro-porciona condições para que eu possa exercitar minha missão. Não encaro como trabalho, mas como uma vocação”, conta o Pastor Derli, o atual coordenador da Montanha da Esperança, que também coordena a Casa dos Meninos, em Campinas, des-de 2001, após ser voluntário de 1998 a 1999.

Orientação religiosaA Montanha da Esperança é uma organização única e

exclusivamente social, apolítica, sem vínculos políticos. Mas é uma organização cristã e os meninos recebem orientações so-bre a história de Jesus Cristo, como ponto de encontro entre homem e Deus.

“A palavra religião vem do verbo religar do Latim re-ligare, ligar outra vez. A Bíblia é bem clara, com as palavras do próprio Senhor Jesus: ‘Eu sou o caminho, a verdade e a vida e ninguém vai ao Pai a não ser por mim.’ Então, Ele é a religião, Ele é o religare, Ele deve ser nosso ensinamento”, diz Pastor Uélide.

O alvo da organização é a transformação das vidas de nossos jovens criando neles uma consciência de que são pessoas cheias de potencial e criatividade, criadas à imagem e seme-lhança de Deus e amadas por Ele. E por este motivo, podem se entregar inteiramente ao programa de aprendizagem e capaci-

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tação profissional sem se preocuparem com as adversidades da vida as quais serão com certeza vencidas se estiverem devida-mente preparados psicologicamente, espiritualmente e profis-sionalmente e socialmente auto suficientes.

“Com este encaminhamento, os meninos, começam ter mais noção sobre o amor ao próximo. Esse é o ponto principal da recuperação e da humanização desses jovens. Quando eles conhecem a Deus e começam a tomar consciência de que Deus é uma pessoa presente, que os ama e que quer manter um rela-cionamento com eles. Então os horizontes pessoais, espirituais e eles começam a se ver como pessoas de valor, fazendo crescer a auto-estima e a auto-confiança”, explica o Pastor Derli.

Desenvolvimento educacional básicoA entidade possui uma escola de primeiro grau própria,

reconhecida legalmente, funcionando em suas dependências, cujo objetivo geral é proporcionar ao educando a formação necessária ao desenvolvimento de suas potencialidades como elemento de auto-realização, preparação para o trabalho e para o exercício consciente da cidadania. Além disso, tem como ob-jetivos específicos:

Proporcionar início de aprendizado e alfabetização para aquelas crianças recebidas sem nenhuma (ou quase ne-nhuma) instrução e que, por isso mesmo, não teriam con-dições de freqüentar inicialmente uma Escola Pública de Primeiro Grau; Servir de complementação e reforço de apren-dizado para aquelas crianças abrigadas que freqüentam escola regularmente; Transmitir aos atendidos conhecimentos gerais extras curriculares não ministrados nas escolas públicas. Todo o programa do curso está perfeitamente de acordo com o pro-grama básico de Ensino para o Primeiro Grau, definido pela Secretaria Estadual de Educação e suas Delegacias de Ensino, sob a responsabilidade de profissionais e professores devida-mente habilitados, de forma a cumprir os objetivos gerais e específicos acima descritos.

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Iniciação ProfissionalParalelamente à formação e acompanhamento da Educa-

ção Básica, e voltado para alunos residentes e bolsistas, aconte-ce o desenvolvimento do “Programa de Iniciação Profissional”, direcionado para os tipos específicos de iniciação profissional por base nas necessidades do mercado de trabalho da cidade e região.

“Crê-se que a formação de serralheiros, funileiros, mar-ceneiros, padeiros e confeiteiros, cozinheiros, profissionais de agroindústria, esteticistas, costureiras, artistas plásticos e grá-ficos será muito útil. A entidade dispõe de grande área rural e algumas lagoas, pretende-se desenvolver treinamento em trato do solo, técnicas agrícolas, desenvolvimento de plantas, manu-tenção de hortas e a criação de peixes, suínos, bovinos e aves”, explica Pastor Derli.

Regime ResidencialA entidade funciona como residência admitindo-se, po-

rém com algumas variações para adaptar-se às necessidades dos alunos ali abrigados. Deverão ser enfatizados os seguintes pon-tos: preservação dos vínculos familiares: à família cabe o papel fundamental neste processo, visitando os abrigados, mantendo o contato com os filhos, parentes e/ou tutorados, bem como tomando conhecimento do trabalho que está sendo desenvol-vido; paralelamente, a entidade deverá envolver-se com a famí-lia dos abrigados, quando possível, de modo a tomar ciência da sua realidade, bem como prepará-la para o retorno de seu membro ao seu âmago e orientá-la nas áreas afins ao problema do menor carente;

Para aqueles que não possuem família, será desenvol-vido um programa especial a fim de que possam encontrar uma família substituta, principalmente, através do contato com outras Instituições que desenvolvam este tipo de trabalho, por meio do pessoal técnico da Instituição; Encaminhamento dos abrigados para que possam participar da comunidade, freqüen-

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tando cursos externos, atividades culturais, pedagógicas, de la-zer, dentre outras.

Escola Acadêmica e Iniciação ProfissionalO objetivo do programa é habilitar cada menor com as

ferramentas emocionais e educacionais que ele precisará para sustentar a si próprio e a sua família durante os muitos anos que se seguirão após deixar a Instituição. As atividades dos jovens estão divididas em duas áreas principais, que podem ser chamadas de Regime Escolar e Regime Educacional. O Regi-me Escolar refere-se às atividades que ocorrem durante a sema-na, entre 7h e 17h, diariamente.

O Regime Residencial refere-se a todas outras horas, à noite e nos finais de semana, que sejam considerados a vida doméstica de qualquer criança que não estivessem em situação de internato.

O Regime Escolar consiste de dois elementos essenciais que completam um ao outro, o Departamento Acadêmico e o Departamento de Iniciação Profissional. Diariamente todo jovem recebe quatro horas de treinamento acadêmico e quatro horas de treinamento na área de iniciação profissional.

Integração FamiliarQuando a criança e/ou o adolescente chega a Institui-

ção, o primeiro trabalho é tentar estabelecer os laços entre os mesmos e a família natural. Essa tarefa tem sido muito árdua, já que as crianças e adolescentes que chegam, muitas vezes, totalmente desvinculados de suas famílias.

As etapas são: “Fase Crescer”, período compreendido entre o ingresso do aluno na Instituição até sua inserção na Classe Conquistar. O Programa Classe Conquistar tem como objetivo levar os alunos com idade mínima de 16 anos a se comprometerem com o seu futuro, motivando-os a bus-carem a auto-suficiência, usando os métodos propostos pela Hope Unlimeted. Num período de 6 meses estão previstas

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diversas atividades como visitas às igrejas, estudos bíblicos, saídas programadas e supervisionadas, estágios, relação tu-tor e tutelado, processo seletivo para a república e a compo-sição da mesa orientadora. A fase seguinte é a República dos Graduados.

No setor da Classe de Graduandos, os alunos que estão em fase terminal de programa começam a ser trabalhados para atingirem a auto-suficiência pessoal e auto-confiança profissio-nal. Neste momento estes alunos estão sendo preparados para residir na República dos Graduados.

Na República dos Graduados é a etapa em que os alu-nos deixam o Projeto e passam a morar numa residência pre-parada com todo o carinho e conforto em um bairro próximo ao projeto onde eles são cuidados e orientados por um casal de pais sociais maduros e compromissados com o desenvolvimen-to pessoal deles. Ali residirão por um determinado tempo de no mínimo seis meses.

Nesta fase os jovens são coordenados por um profis-sional que os acompanha e os capacitam para começarem a caminhar sozinhos. São orientados e treinados em todos os aspectos, aprendem a administrar seu orçamento pessoal, sua conta bancária e são encorajados a olharem para frente em bus-ca de sua independência financeira, a se integrarem em uma comunidade cristã de sua preferência etc...

O Projeto adota o princípio de que somente em um lo-cal onde funcione uma unidade que venha caracterizar um lar mesmo que substituto temporariamente, cheio de amor, re-colhimento seguro, educação global e preparação para o mer-cado de trabalho, onde crianças e adolescentes em situação de risco social, através do Projeto “Esperança sem Limites”, poderão ver equacionados e minimizados seus sofrimentos injustos de outrora, bem como adquirirem auto-estima, auto-confiança profissional e pessoal, e acima de tudo, desenvolve-rem um relacionamento íntimo e curador com Deus, o amigo inigualável e Senhor da paz e do amor infinito.

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Desafios para o futuroOs principais desafios da ONG Montanha da Esperan-

ça é conseguir firmar as parcerias com a comunidade local para manter a estrutura a que se propõe, uma vez que eles ainda dependem da ajuda da entidade Hope Unlimited e têm passa-do por problemas devido às baixas taxas de câmbio. Por isso, toda ajuda é bem vinda, seja de doações em alimentos, manti-mentos, livros e objetos domésticos de modo geral e também doações em dinheiro.

“Atualmente, o projeto é a referência no atendimento da infância e da juventude, tendo respeito e admiração de juízes e promotores das Varas da Infância e da Juventude e Conse-lhos Tutelares. Isso nos alegra muito, pois sermos reconhecidos como uma organização séria e que dá resultados”, comenta o Pastor Uélide.

Na sustentação financeira da Montanha da Esperança, ONG americana Hope Unlimited mantém 95% do projeto. Porém, a questão central é que um dia a Hope pode sair para investir em outro local, por isso é preciso que a Montanha se torne a cada dia auto-sustentável em suas parcerias de apoio e patrocínios.

“É preciso que nossos governos estaduais e municipais acordem para a necessidade de se empenharem na manutenção deste projeto. Toda a comunidade capixaba precisa abrir o cora-ção e se conscientizar está sendo feito um trabalho sério e que precisa ser mantido”, afirma Pastor Derli.

A Montanha está de portas abertas a todas as empresas que queiram colaborar com o projeto, principalmente em rela-ção à capacitação profissional dos meninos, que os incluem no mercado de trabalho tirando-os da rua, do tráfico de drogas, devolvendo-lhes a dignidade. “É só nos procurar, precisamos de parceiros constantes e compromissados e confiamos em Deus, que a sociedade capixaba vai nos apoiar”, conclui o pastor.

O objetivo é que cada local se torne auto-sustentável com o decorrer do tempo, financiado e administrado por

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membros da comunidade local. “Nosso investimento é nas ge-rações futuras, nosso verdadeiro sucesso será medido através do desempenho dos alunos, anos após terem se formado e de seus próprios filhos. Nossa esperança é preparar líderes comu-nitários com uma visão real do potencial das crianças conside-radas por alguns como irrecuperáveis, incentivando este tipo de investimento”, afirma o Pastor Derli.

Informações sobre como participar e ajudar:

Toda ajuda é bem-vinda, seja de doações em alimen-tos, mantimentos, livros e objetos domésticos de modo geral, e também doações em dinheiro. Você pode também servir o seu tempo, visitando o projeto e realizando algum tipo de oficina de acordo com suas habilidades nas artes, no esporte, educa-ção, psicologia, entre outros.

Banco do Brasil Conta corrente: 20585-0Agência: 1.241-6

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Montanha da Esperança Mosteiro Zen Budista da América Latina

“ESTUDAR O ZEN É ESTUDAR A SI MESMO. ESTUDAR A SI MESMO É SE ESQUECER DE SI

MESMO. ESQUECER DE SI MESMO É ESTAR UNO COM TODAS AS COISAS”

Mestre Dogen

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Durante a subida de 350 metros entre rochedos e vege-tação exuberante do Morro da Vargem, no município de Ibira-çú, encontramos o mosteiro zen budista, o primeiro e único da América Latina. Referência mundial em formação de monges, a filosofia do mosteiro tem como base a secular escola Soto Zen, introduzida no Japão no século XIII pelo Mestre Dogen Zenji (1200-1253), fundador do mosteiro japonês Eihei-ji, em 1244.

Ao longo de sua vida, Mestre Dogen destacava a im-portância da simplicidade, disciplina e da prática do Zazen, a meditação sentada. Desde 1974, quando foi fundado pelo mestre Ryohan Shingu, o Mosteiro Zen Morro da Vargem tem como trabalho principal a formação de monges e a prática leiga segundo as tradições do Oriente.

“O mosteiro representa um importante diálogo entre o oriente e o ocidente. São culturas importantíssimas e tem tudo para serem complementares. O nosso trabalho está pautado no crescimento do ser humano e não no crescimento do budismo, que para nós é secundário. Não convertemos ninguém. O nos-so esforço é pelo fortalecimento da fé, independente o credo,

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que resultará em pessoas mais solidárias, íntegras e que com-preenderão a interdependência entre todas as coisas”, define o monge Daiju Bitti, brasileiro e coordenador do mosteiro há 25 anos.

Mas ao falar de meditação, não se deve pensar em cal-maria, subserviência ou alguma definição banalizada pela mí-dia sobre o zen. O zen é objetivo, dinâmico e a meditação não é só mental. No budismo, ela representa a harmonia entre o corpo e mente. Com o passar dos anos, o avanço tecnológico e a vida material valorizada ao extremo, nosso corpo está cada vez mais lento, cada vez mais sentado diante dos computadores. Isso cria um conflito de velocidades, já que a mente está mais ativa do que nunca. Como lidar com isso? Como harmonizar essas velocidades que geram conflitos, ansiedade e sofrimento? Por isso damos tanta ênfase à prática do zazen, que é a harmo-nia do corpo e mente, a harmonia dessas velocidades. Como diz um poeta zen, quando a água está turbulenta não podemos ver a lua refletida”, explica Daiju.

Segundo o monge, “vivemos num mundo cada dia mais veloz, onde os espaços estão sendo atropelados, chamo isso de excesso de vida. Falta uma compreensão da morte. As religiões não tiveram muito sucesso em explicar isso. A morte não é uma probabilidade, mas 100% real e deveria ser mais presente e compreendida. Com a falta dela, o que nos restou foi a vida, esse excesso de vida que tem resultado em seres hu-manos mais egoístas, vaidosos e egocêntricos. Se a morte fos-se mais compreendida e mais presente, o meio ambiente não estaria sendo tão destruído. Estamos criando uma geração de “gakis” (espíritos famintos), os que estão sempre com fome do que não sabem, insaciáveis. Temos avançado tecnologicamente nos últimos anos, mas espiritualmente continuamos muito pri-mitivos. Como dizia mestre Dogen, é preciso harmonizar vida e morte”, diz Daiju.

A vida no mosteiro é cercada por rigorosa disciplina, voltada para a leveza das posturas e a liberdade da mente, e

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não para a estagnação. Ainda assim, o bom humor é marca registrada no cotidiano dos monges. Brincadeiras, respostas inesperadas e vivacidade nos mínimos gestos são tradições no budismo. Longe de mitificar ou alimentar o temor a deuses poderosos e severos, o zen trata o Buda sem dogmatismos.

Freqüentemente, os ensinamentos são transmitidos com histórias engraçadas, à primeira vista sem sentido, mas sempre com um toque sutil. “Quando fazemos o gesto de cumprimen-to com as mãos sob o peito, fazemos para nós mesmos. Esta-mos cumprimentando o sagrado que temos em nós. Não faze-mos reverência a Buda. Ele não precisa disso”, afirma Daiju.

Toques de sinos, cantos de sutras e a rigorosa disciplina são semelhantes aos de qualquer centro monástico da Ásia. O primeiro mosteiro zen da América Latina também procurou adaptar-se à realidade brasileira abrindo-se para o treinamen-to de leigos. Durante os feriados prolongados, principalmente, homens e mulheres de Norte a Sul do País e muitos do exterior participam de retiros (sesshins), entrando em contato direto com a prática Zen.

“O nosso público mudou muito ao decorrer dos anos. São pessoas mais maduras, materialmente resolvidas, e que sentem que falta algo mais a ser compreendido. São pessoas de variados credos e outras que não querem religião nenhu-ma, mas todas querendo compreender melhor essa vida e um pouco mais de si próprio. Todas querendo saber qual o ca-minho, quando o zen simplesmente responde: Caminhe. O treinamento zen é a prática do cotidiano. Nós na maioria das vezes carregamos aquela falsa compreensão poética de que é preciso largar tudo, se recolher em uma montanha para nos realizarmos espiritualmente. Seria muita falta de compaixão e presunção achar que a nossa realização estaria condicionada ao budismo ou ao mosteiro. Nós temos que encontrar a nossa realização dentro do nosso dia a dia, seja aqui, no Paquistão, em Angola, na turbulência das metrópoles ou no silêncio das montanhas”, explica Daiju.

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Reflorestando matas e construindo casebresQuem visita o mosteiro, fica encantado com a beleza

de suas construções de madeira e vidro, de bom gosto arquite-tônico e decorativo, além da floresta exuberante em sua volta. Mas, naqueles últimos dias de inverno, em 1974, quando o mosteiro foi fundado, nada disso existia.

Na época, a região do Morro da Vargem tinha sua bele-za arranhada por um processo de devastação imenso que cau-sava grande desequilíbrio ecológico. Apenas algumas manchas de vegetação resistiam, num último esforço de lembrar aos ho-mens que aquelas terras um dia estiveram cobertas de rica Mata Atlântica. O trabalho dos monges é diário pela recuperação da área. Nos últimos 25 anos, eles já plantaram 200 mil mudas de jacarandás, jequitibás, vinháticos e outras espécies nativas de grande porte, que atraíram de volta animais expulsos pelo desmatamento.

As terras do mosteiro zen foram declaradas, em 1999, Posto Avançado da Reserva da Biosfera, pela MAB-Unesco (programa “O Homem e a Biosfera”, da Unesco). Atualmente, o mosteiro responde pelo Norte do Espírito Santo no corredor ecológico que compreende 15 estados brasileiros, e que faz par-te de uma rede de 440 reservas em 97 países.

Em 2002, o mosteiro foi ganhador do prêmio Muri-qui, concedido pelo Conselho Nacional da Reserva da Biosfera (MAB-Unesco). Já receberam também este prêmio: Sebastião Salgado, fotógrafo e fundador do Instituto Terra, a República Federal da Alemanha, o Programa Globo Ecologia e a Funda-ção S.O.S Mata Atlântica.

No início, muitas dificuldades tiveram que ser vencidas. Os templos funcionavam em casebres de madeira com telhados de lascas de árvores, cobertos com palha de palmeira. Tudo era feito à luz de lamparina e o acesso era difícil, por trilhas íngre-mes escorregadias e esburacadas. Levou anos para que a flor do lótus búdico plantada em 1974 florescesse com firmeza no alto do Morro da Vargem.

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“Tudo no Morro da Vargem é organizado para manter a mente concentradamente distraída ou distraidamente con-centrada. O tempo tem cheiro e voz. Os minutos de meditação são marcados com varinhas de incenso, sinos soam avisando os horários de despertar, comer, trabalhar e descansar. Cada pequena ou grande atitude é feita com mente e corpo unos, com consciência de que a vida está fluindo ininterruptamente em todos os lugares. O que o budismo chama de estar presente no aqui e no agora”, conta Daiju, enfatizando que a atividade monástica é cotidiana e ininterrupta, seguindo a tradição dos ancestrais mosteiros japoneses.

De lá pra cá, milhares de árvores foram plantadas no projeto de recuperação da Mata Atlântica e diversos grupos de estudantes visitam as trilhas ao redor dos templos em progra-mas de educação ambiental.

Meditação zenTodas as manhãs, monges e praticantes acordam antes

do sol para simplesmente ficar em silêncio. Sentados em posi-ção de lótus diante de uma parede branca, com a coluna ereta, respiração abdominal, dedos da mão esquerda pousados sobre os da mão direita e polegares unidos, formando um mudra num ponto um pouco abaixo do umbigo, pacientemente ob-servam o funcionamento da própria mente.

O zazen, ou meditação sentada, é praticado por cerca de 40 minutos e é um dos pilares centrais da vida do Mosteiro Zen Morro da Vargem e de todos os outros da linha Soto Zen ao redor do mundo.

“O zazen é praticado no Sodô, o Templo da Meditação, mas nada tem a ver com reverências ou pedidos ao Buda. O que se faz é um estudo de si mesmo, uma observação silen-ciosa da realidade. De acordo com os mestres Zen, a prática do zazen é fundamental para levar o estado de concentração e observação mental apurada para todas as atividades diárias”, conta o monge Daiju, que foi para o Japão em 1978, aos 20

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anos para complementar a sua formação. Em 1983, recebeu a incumbência de ser o abade (monge diretor) do Mosteiro Zen Morro da Vargem e voltou para o Brasil.

Ao contar de sua história, Daiju se lembra de quando tinha 17 anos e estava de viagem em Portugal. No início pen-sava em fazer medicina, mas sua missão de vida sempre o in-tuía para algo próximo a religiosidade. Sua descoberta como budista ocorreu no Marrocos após ver ocasionalmente um monge meditando dentro da capela de um cemitério. Naquele momento, a cena não teve muita importância, porém, não saiu de sua mente. Dias depois, em uma feira de livros em Lisboa, Christiano (era sou nome antes de ser ordenado) se deparou num stand de livros espirituais. Daí em diante tudo foi uma seqüência de acontecimentos que o levaram muito cedo à vida monástica. São trinta e quatro anos ininterruptos em mostei-ros, e são poucos os monges ou padres que na sua idade te-nham feito tão jovem suas bodas de prata.

“Foi quando me dei conta de que era isso que eu queria. O Budismo me deu sustentabilidade em todos os aspectos. Eu não era um adolescente em busca de respostas, eu queria as perguntas, os questionamentos. O budismo nos instiga aos questionamentos para que as perguntas sejam cada vez mais fortes e que a gente possa descobrir por si só as possíveis respostas. O mosteiro não é um oásis. Seria injusto dizer que as respostas estão no mosteiro. Na ver-dade, elas estão na vida! É preciso ter cuidado para que as religiões não freiem o avanço espiritual das pessoas porque podem limitar o raciocínio com respostas simplistas e pouco convincentes, muito teóricas, distantes de nossa realidade palpável. O que mais me espanta é o sectarismo e a intole-rância religiosa. É o fundo do poço. Aqui no mosteiro 90% do nosso público pertencem a outras religiões. Trabalhamos pelo fortalecimento da fé dos católicos, dos evangélicos, dos budistas e de todos os seres humanos”, acrescenta Daiju.

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Alimentação e trabalhoSe o Sodô, o templo da meditação, é considerado essen-

cial para a vida monástica, a cozinha é tida no mesmo nível de importância e também é considerado um templo, o Tenzoryo. Se no primeiro, alimenta-se a mente, no segundo alimenta-se o corpo. Para os budistas, um não existe sem o outro.

As refeições são realizadas sempre em silêncio e cada pessoa é responsável pela sua própria limpeza e organização. Ao final, não deve sobrar nas tigelas um grão sequer de comi-da. O zen abomina o desperdício. No budismo, o alimento, fornecido pela natureza, é tratado com profundo respeito.

O trato com o Oryoki (conjunto de tigelas) segue um código sofisticado, que chama a atenção do praticante para aquilo que está fazendo no momento. O agradecimento é ex-presso em sutras entoados antes: “Quando comemos e bebe-mos rezamos junto com todos os seres. Comer é a alegria do zen. E ficamos cheios da felicidade do Dharma”. E para depois da refeição: “Comida pura já comemos e rezamos junto com todos os seres para ficarmos cheios de virtudes e realizarmos os dez tipos de forças”.

Zen é vida. Portanto, comer é indispensável para o Zen. No que se refere ao ato de comer, devemos considerar três ele-mentos: os ingredientes, o modo de fazer e a pessoa que come.

Nas receitas do Mosteiro Zen Morro da Vargem, no entanto, as medidas não são precisamente determinadas. O fundamental para quem vai cozinhar é a liberdade de criar e se expressar na execução de cada prato. A harmonia entre os sabores é algo que o cozinheiro deve buscar, liberto de receitas com valores exatos. Dogen Zenji ensinou:

Se os seis sabores (amargo, azedo, doce, quente, salgado e suave) não estiverem em harmonia e à comida faltarem as três virtudes (suavidade, limpeza e formalidade), então a oferenda do Tenzo (monge cozinheiro) à congregação não estará com-pleta. “Primeiro, consideramos os inumeráveis esforços que nos trouxeram este alimento e lembramos como ele chegou até

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nós. Segundo, ao receber esta oferenda, examinamos se nossas virtudes e práticas fazem por merecê-la. Terceiro, somos cui-dadosos a respeito da ganância, do ódio e da ignorância, para proteger nossas mentes e nos libertarmos dos erros. Quarto, tomamos este bom medicamento para salvar nossos corpos do enfraquecimento. Quinto, comemos este alimento para conti-nuarmos no caminho de Buda.”

Diversos mestres destacam a necessidade da prática no treinamento zen. Existe um clássico provérbio, do mestre Hyakujyo que traduz com precisão a importância dada ao tra-balho na vida dos praticantes do budismo: “Um dia sem tra-balho, um dia sem comida.” Quando disse essas palavras, o mestre tinha 80 anos e trabalhava todos os dias. No mosteiro, todos devem trabalhar, sem hierarquias. As jornadas incluem a limpeza dos templos, o cultivo da terra para subsistência, pre-paro das refeições, extração de mel e recuperação e preservação das matas.

Educação ambiental“Apesar de as montanhas parecerem pertencer ao país,

na realidade pertencem àqueles que as amam”, dizia o mestre Dogen. Preservar as florestas nativas e proteger os seres que nelas vivem está em perfeita sintonia com a tradição budista de respeito por todas as formas de vida e por todas as coisas que nos cercam. A ação ambiental sempre foi uma das mais importantes atividades dos monges do Mosteiro Zen Morro da Vargem.

O mosteiro cuida de uma área de 150 hectares, 140 deles reservados exclusivamente para a preservação e recupera-ção da Mata Atlântica. Os 10 hectares restantes são ocupados com templos, jardins e com agricultura de subsistência. Esse modelo de ocupação foi destacado, em 1997, pelo Ministério do Meio Ambiente, como uma das mais bem-sucedidas experi-ências brasileiras de desenvolvimento sustentável.

Em 1992, a Seama (Secretaria de Estado de Meio Am-

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biente e Recursos Hídricos), instituiu no mosteiro um Pólo de Educação Ambiental, para apoiar as ações que os monges já realizavam em conjunto com visitantes, líderes e escolas da região. Desde então, se juntaram ao trabalho de educação am-biental, diversos parceiros como o Instituto Estadual de Meio Ambiente - Iema, Aracruz Celulose, Companhia Vale do Rio Doce e os quatro municípios do entorno do mosteiro e milha-res de visitantes que freqüentam os programas criados. Atual-mente, o mosteiro recebe regularmente diferentes grupos, para programas de curta duração.

“Chegamos à cerca de 15 mil estudantes por ano nos programas de educação ambiental. Para nós, é uma excelen-te oportunidade passar esse conhecimento da importância do meio ambiente em nossas vidas. É questão básica pensarmos o porquê de cuidar da natureza e o que ela tem a ver conosco”, conta Daiju. Desde o início de seu Programa de Educação Am-biental, na década de 1980, o mosteiro já recebeu a visita de mais de 300 mil estudantes.

Diariamente, o Mosteiro Zen Morro da Vargem abre suas portas para grupos de até 50 estudantes. As visitas devem ser agendadas com antecedência para que os monitores prepa-rem lições e passeios guiados pelas trilhas. Dentro da tradição zen, os ensinamentos são passados com exemplos simples, fre-qüentemente bem humorados e baseados na natureza. Dessa forma, os estudantes sentem-se mais interessados e desenvol-vem sua consciência ecológica, a sensibilidade às questões am-bientais e o senso estético dos espaços naturais.

O mosteiro também possui um programa de capacita-ção de professores para trabalhar com educação ambiental nas escolas, na tarefa de despertar a consciência ecológica nos mais jovens. O programa busca integrar escolas e órgãos ambientais dos municípios do entorno do mosteiro, para que todos façam parte da roda da preservação que gira no Pólo de Educação Ambiental.

O modelo de ocupação da propriedade do Mosteiro

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Zen Morro da Vargem é um exemplo para os agricultores da região. Por isso os monges recebem visitas de proprietários para apresentar a área de vegetação nativa recuperada, falar so-bre a história da região e debater sobre as melhores formas de aproveitamento do solo.

O programa direcionado aos agricultores permite a di-vulgação e troca de experiências entre os participantes e busca aumentar a diversidade de culturas e a rentabilidade das pro-priedades da região, com uso adequado do solo e dos recursos naturais.

ZenzinhoO Zenzinho é um programa que busca desenvolver

as relações interpessoais, o auto-conhecimento e o respeito à natureza em alunos do ensino fundamental. As crianças pas-sam dois dias no mosteiro aprendendo sobre meio ambiente, disciplina, solidariedade e respeito. Durante a estadia elas são despertadas para o sentido da vida em comunidade e para a necessidade de usufruir espaços comuns em plena harmonia. Elas também desenvolvem sua consciência ecológica a partir da compreensão da importância do meio ambiente para a vida humana. E como não poderia deixar de ser, em um mosteiro zen, as crianças praticam a meditação e aprendem sobre o bem-estar individual decorrente dessa prática.

“Sabemos que nessa correria em que vivem as pessoas, muitos pais deixam para a escola parte da educação que eles próprios deveriam dar e, a escola, por sua vez, muitas vezes despreparada, não consegue atender tamanha demanda. As crianças hoje são muito indisciplinadas, individualistas, mima-das, não respeitam os professores e, isso é muito preocupante porque elas são os adultos do futuro. De uma maneira lúdica, mas muito firme, esse programa, o Zenzinho, apesar de ser um programa curto de dois dias, tenta trabalhar tudo isso. Os resultados têm sido muito bons. Atendemos 1.200 crianças por ano, em grupos de trinta. Em algumas escolas o comporta-

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mento mudou tanto que diretoras nos procuram pedindo a capacitação dos professores”, acrescenta Daiju.

Grupos de terceira idade também visitam o mosteiro para conhecer os templos, os ensinamentos e o modo de vida dos monges do Morro da Vargem. São organizados passeios contemplativos e reflexivos pelos bosques e jardins, em bus-ca de relaxamento e despertar da importância do ambiente na qualidade de vida.

Policiais militaresGrupos de até 50 integrantes participam de três dias

de treinamentos sob a rígida disciplina oriental, praticada há 2.600 anos. O programa estimula o desenvolvimento da atenção e da não-ação, aviva a convivência respeitosa e aguça a sensibilidade necessária à prática policial. As atividades são divididas em módulos onde são abordados temas que visam incentivar a constante reflexão pelos policiais militares sobre o seu papel na dinâmica da sociedade e no ambiente em que está inserido; Favorecer a compreensão pelos policiais militares de uma nova maneira de perceber o ambiente; Vivenciar o próprio processo de formação numa outra modalidade de ensino; Re-fletir sobre os princípios éticos da declaração universal dos Di-reitos Humanos, a partir do cotidiano profissional; Construir, de forma coletiva, reflexões sobre a vida profissional, com base nos princípios da ética e da cidadania e contribuir com a cons-trução de uma cultura dos Direitos Humanos no interior da ação policial.

Tomando isso como referencial organizou-se um proje-to pedagógico para alunos policiais, de modo a contextualizar os valores éticos na vivência cotidiana e profissional, com o objetivo de possibilitar uma reflexão nas relações interpessoais e institucionais em que o policial está inserido. O treinamento aplicado no Mosteiro Zen Morro da Vargem, encontra um am-biente adequado a tal propósito.

Os participantes passam por um processo de integra-

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ção com palestras e ensinamentos sobre meio ambiente e ca-minhadas pelas trilhas do Morro da Vargem. São ensinadas técnicas de auto-conhecimento, integração e relaxamento aos participantes, lições valiosas para a prática da dura tarefa de policiamento.

“O curso que realizamos hoje a quatro mãos com a Po-lícia Militar teve um início informal e foi pensado para atender o 5º Batalhão de Aracruz. Do meu ponto de vista é um dos melhores trabalhos entre os tantos que realizamos nesses 34 anos, e tem tudo para ser ainda melhor. O programa deveria ser de no mínimo cinco dias. De todos os grupos que recebe-mos no mosteiro é o que melhor capta o espírito da disciplina e do treinamento monástico.

É uma pena que o Governo do Estado ainda não o te-nha incluído na sua política de segurança pública. Muitas vezes existe a visão equivocada de que os policiais vêm para o mos-teiro meditar e relaxar, perder tempo, uma visão quase pejora-tiva. É lamentável. O curso tem tudo para ser um treinamento único, pois ele é complementar ao que a Polícia Militar aplica no seu treinamento. Damos ênfase ao que chamamos de desen-volvimento da ‘plena atenção’ e ao fortalecimento da ‘não-ação’. Uma ação para ser completa é necessário que tenha inserido nela uma quantidade de não-ação. Para o policial que trabalha na adversidade e que precisa de decisões muito rápidas, esse equilíbrio é fundamental. O excesso de ação nos deixa vulne-ráveis ao erro. Foi nisso que os samurais se inspiraram para as suas técnicas de lutas e onde a polícia japonesa, uma das melhores do mundo, baseia seu treinamento. Esse equilíbrio resulta no estado de ‘prontidão da mente’. O cenário, a mata atlântica, a questão ambiental, as atitudes cotidianas de cada um lavar seu prato, são os temperos de um curso que visa um policial mais humano, mais sensível e mais consciente da sua importância para a sociedade”, complementa Daiju.

Em se tratando de apoios, o mosteiro sabe que não pode fazer tudo sozinho, por isso busca se unir a parceiros da

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própria região, interessados na proposta de preservação e edu-cação ambiental. As empresas Aracruz Celulose e Companhia Vale do Rio Doce e as prefeituras municipais de Ibiraçu, João Neiva, Aracruz e Fundão apóiam o mosteiro de diferentes for-mas. O plano de manejo da área do mosteiro, hoje uma expe-riência premiada, foi realizado com apoio técnico e financeiro da Aracruz.

Arte e culturaNos povos orientais, a ligação entre o zen e as manifes-

tações artísticas é bastante intensa, desde os tempos feudais. Os ensinamentos, a visão de mundo e o modo de vida dos grandes mestres sempre despertaram o interesse de poetas, pintores e artistas de um modo geral. Todos buscaram no zen desenvol-ver a notável sutileza de percepção dos praticantes para criar seus trabalhos. No Japão, essa mistura foi tão intensa que aca-bou influenciando todas as expressões artísticas da cultura do povo, como pintura, poesia, jardinagem, caligrafia, culinária, escultura e arquitetura.

No verão de 1995 o Mosteiro Zen Morro da Vargem inaugurou sua Estação Cultural, um espaço voltado a artistas de todas as áreas. A estação é uma experiência pioneira no Bra-sil que mistura de ateliê, escritório e galeria de arte. Com uma visão panorâmica dos vales e montanhas da região do mos-teiro, os artistas podem desenvolver seus projetos em contato direto com a natureza e com o cotidiano de um mosteiro zen. A natureza exuberante, a tranqüilidade cotidiana do mosteiro e a funcionalidade do local oferecem condições ideais para o funcionamento da mente artística.

Cultura zenTrazidos para o Brasil, os elementos da cultura zen ja-

ponesa que se tornaram mais marcantes foram a culinária e a jardinagem. Ambos estão intimamente relacionados com o conceito zen da interdependência das coisas e com as atividades

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do mosteiro. A participação marcante na defesa da natureza encontra

bases artísticas e simbólicas tanto na culinária quanto na jardi-nagem. Na postura frente aos alimentos e na contemplação da arte da jardinagem, os monges dão lições de que é preciso agra-decer com reverência o que se recebe da natureza e do quanto podemos e devemos aprender com as manifestações naturais.

JardinagemNumerosas versões existem para explicar a origem desta

sutil arte, que é a jardinagem. As fontes mais confiáveis indi-cam que as primeiras manifestações surgiram na Índia, entre os budistas, depois de um episódio de Gautama, o Buda. Certa vez, vendo caído um galho de rosas, quebrado pelo vento, o mestre teve tanta piedade das flores que pediu a um discípulo que as colocasse num vaso com água, para que vivessem mais. “A vida é uma dádiva divina - disse Buda - e a suprema beleza das flores vivas deve ser prolongada o máximo possível”.

Desde então, tornou-se comum entre os budistas o hábito de coletar as flores encontradas caídas para fazer com elas arranjos em homenagem a Buda. As oferendas florais, ou Kuge, passaram a decorar com sua delicada beleza os altares dos templos e a fazer parte dos ritos religiosos do budismo indiano.

A exemplo do que aconteceu com outras manifestações artísticas, as práticas de jardinagem dos monges Zen, logo se espalharam pelas nações do oriente. Quando a prática chegou ao Japão, os arranjos tinham se tornado tão sofisticados que se dizia ser possível ouvir um riacho próximo. Os japoneses adi-cionaram, então, um novo elemento simbólico. Passaram a co-brir parte dos jardins com pedriscos, desenhada com padrões que imitavam águas onduladas.

O maior desses jardins hoje em dia fica na cidade de Kyoto, no Templo de Ryoan-ji, em Kyoto, também conhecido como o templo das 15 pedras. No Brasil, a arte da jardinagem

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é um dos seus pontos principais no Mosteiro Zen Morro da Vargem. De tamanho menor apenas que o de Ryoan-Ji, o jar-dim do mosteiro é fruto de anos de trabalho e do amor dos monges pela natureza da região.

“Quando não tiver mais nada, nem chão, nem escada, escudo ou espada, o seu coração acordará. Quando estiver com tudo: lã, cetim, veludo, espada e escudo, sua consciência adormecerá.

Quando se acabou com tudo... já então agora dá para dar amor. Amor dará e receberá! Hare Krishna Hare Krishna!”

Nando Reis e Arnaldo Antunes

Mais informações:

Mosteiro Zen Budista - Ibiraçu - ESTelefone: (27) 3267-1150Site: www.mosteirozen.com.br

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“JÁ ME HAVIAM DITO QUE EXISTIA NO BRASIL UMA PROVÍNCIA PRIVILEGIADA E ABENÇOADA POR DEUS. VEJO AGORA, QUE AQUI VIVO, QUE ESSA

PROVÍNCIA NÃO É OUTRA SENÃO O ESPÍRITO SANTO”

Padre Leandro Dello

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A vida parecia pacata na ilha de Vitória naqueles anos 20. O bonde que seguia a linha Jucutuquara - Vila Rubim, passando pelo Saldanha da Gama até a Capitania dos Portos, apresentava uma capital de rara beleza turística, ainda com pouca influência depredatória do homem. Porém, a desigual-dade social já dava sinais de forte avanço pelos bairros carentes, onde crianças viviam nas ruas, sem educação e com precária convivência familiar. Sem trabalho e conseqüentemente sem comida, pais empurravam os filhos para as ruas, fazendo cres-cer a turma de pedintes, principalmente no Centro de Vitória, considerado na época o bairro mais nobre da capital.

Para o Padre Leandro Dell Homo, nascido na Itália em 1880 e cidadão brasileiro desde a década de 10, ver crianças na rua era como uma vergonhosa derrota social. Inconformado, ele sentia que precisava fazer alguma coisa. Angariando recur-sos, voluntários e doações diversas, Leandro colocou sua vida a serviço dos meninos de rua a partir do dia 31 de outubro de 1924, quando fundou, em caráter experimental, a Obra Social Cristo Rei, conhecida na época como Orfanato Cristo Rei.

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Após um ano servindo abrigo, alimentação e oficinas pedagógicas, no dia 10 de Maio de 1925 a obra foi inaugurada oficialmente com um total de 12 crianças. Entre elas estava Síl-vio Pissiara, o primeiro menino acolhido. Até 1926, o Orfanato Cristo Rei funcionava na velha igreja de São Francisco, cedida pelo Bispo Dom Benedito de Paulo Alves de Souza. Naquele ano, os 30 internos foram transferidos para um prédio novo construído no antigo convento de São Francisco na Cidade Alta, onde atualmente funciona a Mitra Arquidiocesana de Vitória.

“O sonho do Padre Leandro ao fundar esta obra foi muito além do que abrigar crianças sob sua proteção. Sua in-tenção era proporcionar segurança, independência e cidadania. Para isso, providenciou alguns instrumentos de ajuda como: ensino religioso, estudo acadêmico, aulas de música, oficinas de sapataria e até uma gráfica. Os meninos cresciam aprendendo um ofício e o lucro do que vendiam ajudava a manter a casa”, conta Irmã Dalila Caetano, coordenadora atual da Obra.

Destaca-se também entre as atividades tradicionais do grupo, a tropa escoteira com 40 integrantes e uma banda de mú-sica formada com 33 componentes. Bem aceita pela sociedade ca-pixaba, a turma era chamada para tocar em várias festas religiosas da cidade e ainda fazia apresentações na Igreja São Gonçalo e pas-seatas todas as quintas-feiras pelas ruas da capital”, conta Dalila.

Como vemos, desde muito cedo, a Obra Social Cristo Rei demandou muitas atividades, principalmente porque à me-dida que o trabalho da casa foi sendo reconhecido socialmente, aumentava o número de crianças acolhidas. Com isso, cresciam as despesas e a necessidade de mais ajuda não só financeira, mas também humana. “Precisavam de braços, mãos e corações abertos para cuidar dos meninos. Naquela época não havia essa consciência do voluntariado no Brasil, então conseguiam pessoas dispostas a se entregar pela causa, nas igrejas e até no exterior”. Foi quando surgiu Dona Orminda Escobar Gomes, primeira professora primária da Obra Social e o Padre Ful-gêncio de Vinci. Da Itália, vieram seus sobrinhos Marcelino e

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Lamberto. Com o crescimento da entidade, a vida daquelas crian-

ças também começava a mudar. Faltavam roupas de cama, para vestir, material de limpeza e até alimentos. Em agosto de 1930, a turma foi convidada para uma importante celebração para autoridades políticas e católicas quando perceberam que não haviam calçados! Foi difícil aceitar o convite naquelas condi-ções. Mas o problema foi resolvido rapidamente pelas doações oriundas diretamente da empresa Rede Gazeta de Comunica-ção, por meio de seus diretores, amigos da instituição. “De-pendíamos, como ainda dependemos até hoje, da boa vontade de todas as pessoas”, diz Dalila.

Deus é Pai e ProvidênciaNoites sem dormir, privações diversas, estoques de ali-

mentos esgotando-se, falta de estrutura para comportar ade-quadamente as crianças, enfim, o cenário de precariedade da Obra Social Cristo Rei contrastava com a fé e a determinação de Padre Leandro, que aos poucos, presenciava o resultado de suas orações no recebimento de doações inesperadas, na boa vontade de empresas locais, no carinho das famílias das crian-ças e, principalmente, no olhar afoito e puro das crianças se-dentas de amor e educação que brincavam ao seu redor.

Em sua história, a Obra Social Cristo Rei passou por inúmeros momentos dificílimos. Poderíamos absorver muitas páginas deste livro contando as passagens, porém os principais desafios que deram impulso às mudanças fundamentais para a trajetória da casa, contamos a seguir.

Com 13 anos em atividade, a entidade perdeu os dois italianos, que resolveram dar conta de outros projetos na Itália. Ao mesmo tempo, as doações que chegavam não davam con-ta de manter as 200 crianças abrigadas pela casa. A máquina da fábrica de calçados teve que ser vendida para pagar contas atrasadas e as contribuições feitas pelo Governo do Estado, fa-lhavam na entrega. Para que as crianças não passassem fome,

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foi organizada a “Campanha do Quilo”. Famílias da região passaram a dar mensalmente um quilo de gênero alimentício. Também era doado o pão de Santo Antônio que os devotos levavam às terças-feiras, colocavam aos pés do santo, recolhiam e doavam para o orfanato.

Além dos problemas financeiros, outro entrave ameaça-va o futuro da obra social: o Padre Leandro estava muito do-ente e já não podia fazer suas viagens para o interior do Estado onde conseguia angariar mais recursos. Não é difícil imaginar o tamanho de sua angústia vendo-se na iminência da morte e com as dificuldades da obra a serem vencidas.

Mas Deus que é Pai e é providência, tinha outros planos para a casa. Havia em Cachoeiro de Itapemirim uma congre-gação religiosa feminina com apenas dez anos de Fundação, cuja fundadora era a irmã Gertrudes de São José que, entre as prioridades de seu trabalho missionário estava a assistência à criança e ao adolescente. Padre Leandro sabendo disso pediu à Gertrudes que desse continuidade a sua obra. Em 1937, foram para o orfanato as primeiras irmãs de Jesus na Eucaristia: Jose-fina do Sagrado Coração, Elizabete de Oliveira da Santíssima Trindade, Maria Wenceslau e Luzia do Verbo Divino. Depois destas, muitas outras foram encaminhadas, sempre somando forças para assumirem os trabalhos junto às crianças cujo nú-mero não parava de crescer.

Padre Leandro faleceu naquele mesmo ano, em de-zembro de 1937 e a congregação das Irmãs de Jesus na Euca-ristia assumiu a administração integral da casa. Começaram a chegar mais crianças, principalmente as mais pequenas, cujas famílias, sem condições, as deixavam no orfanato, al-guns pais não retornavam para buscar a criança. Isso sem falar nos problemas de saúde como as epidemias de sarampo, coqueluche, rubéola e tantas outras que naquela época, sem as vacinas preventivas, eram inevitáveis.

Os anos 60 estavam chegando e lá estavam as irmãs firmes e fortes à frente do Cristo Rei. O sentimento da turma

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era de agradecimento pela superação dos desafios. “Elas sen-tiam que esta obra era realmente um designo de Deus, aliás era benção em cima de benção porque ainda em 1957 chegou para reforçar a equipe, a Irmã Marcelina de São Luís, que marcou definitivamente a vida da obra sonhada pelo padre Leandro.

A chegada de Irmã MarcelinaPequenina, determinada, cheia de vida e durona quando

necessário, Irmã Marcelina trouxe um ar de renovação dentro da casa. Sua força de vontade chegou para reforçar os árduos trabalhos já realizados pelas irmãs Elizabethe da Cruz, Messias do Redentor e Clara Jesus Hóstia.

Juntas, as quatro irmãs e mais alguns funcionários, jun-tamente com as crianças, enfrentaram, em 1960, a primeira mudança da casa. A primeira de uma série que implicava diver-sas mudanças de endereços: A Arquidiocese de Vitória neces-sitava da casa onde funcionava o orfanato, no antigo Convento São Francisco, Cidade Alta, Centro de Vitória.

Após 36 anos naquele local, todos foram para outra casa também cedida pela Arquidiocese, no município de Via-na. Quando elas já estavam por se assentar no novo lar, após cinco anos, a Diocese novamente pediu a casa para que nela fosse construído um seminário. Dessa vez o endereço de desti-no das crianças foi um antigo seminário, localizado na Praia de Santa Helena, em Vitória. O grande problema enfrentado nes-ta época foi a falta de acomodação, pois em um espaço previsto para acomodar 60 pessoas, foram colocadas 160.

“Sem condições de higiene adequada, as crianças ado-eciam muito. Foram mais cinco anos muito sofridos, segundo relatos. Inconformadas com a situação, as irmãs e alguns ami-gos da instituição resolveram iniciar a construção de uma casa própria para abrigar as crianças”, Para isso, a Diocese comprou um grande espaço de terra, no bairro São Francisco, em Ca-riacica. O terreno foi pago depois, em pequenas e apertadas prestações, pelo orfanato.

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Foi neste momento que a Irmã Marcelina deixou trans-parecer toda sua força, determinação e amor às crianças. Ela teve a iniciativa de morar no terreno, naquela época muito ermo, repleto de um matagal, sem luz, sem água e que ainda escondia cobras. Numa pequena casa improvisada, Marcelina morou por quatro anos ajudando na construção da obra ao lado de 15 adolescentes do orfanato.

As crianças menores ficaram na praia de Santa Helena com as irmãs: Dorotéia de São Luís, Maria da Conceição Ima-culada, Maria Joana Maura, Edith de São Francisco e Maria Joana Luciana. “Essa última, merecia uma homenagem tam-bém pela dedicação às crianças. Sem exigir nada, gastou sua juventude em favor dessa obra, com a alegria de quem ama e com a simplicidade de quem tudo acolhe”, disse Dalila.

Encontrado nos pertences de Irmã Marcelina, este pe-queno testemunho anônimo dá conta de como era a rotina do trabalho durante os anos da construção: “Em 4 de dezembro de 1966 começamos as obras. No local, não existia nada ao redor apenas as empresas Metal Pen e Braspérola e a família Pe-droni. O resto era mato fechado com muitas cobras. Sentíamos que corríamos risco de vida a todo momento, mas Graças a Deus nunca houve nada de grave. Não havia luz elétrica e água era buscada no rio para o trabalho e para beber buscávamos no poço. Levantávamos às três horas da manhã para carregar água e iniciar os trabalhos e encher o depósito de água. Todos os tra-balhos eram iniciados e terminados com oração e os domingos eram respeitados religiosamente. Íamos à missa no Convento de Nossa Senhora da Penha e nas igrejas de Campo Grande e Jardim América”, diz a cartinha já amarelada pelo tempo.

“Provavelmente havia outras dificuldades não registra-das, inclusive a financeira. Era preciso que a obra criada pelo Padre Leandro retomasse de maneira mais intensa a sua voca-ção inicial de provocar entre o povo capixaba o valor e a expres-são da solidariedade”, afirma a Irmã.

Irmã Marcelina, além de pegar no batente da obra, ad-

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ministrava toda a construção e ainda saía pedindo ajuda, ci-mento, madeira e com isso foi ficando muito conhecida. “Ela era uma mãe para todos. Chamava atenção quando devia, mas dava muito amor e carinho também. As crianças têm muito amor por ela. Quando os meninos voltam para visitarmos, eles declaram um enorme amor por ela”, conta Dalila.

Impulsionada pelo amor às crianças e pelas necessi-dades, a própria Irmã Marcelina viajou muitas vezes de ca-minhão, sempre acompanhada por alguém, pelo interior do Espírito Santo para pedir ajuda, cuja generosidade nunca faltou. Na Grande Vitória, foram realizadas muitas campa-nhas em parcerias com rádios, programas de TV, pedágios e até um show do cantor Roberto Carlos foi realizado por conta de uma empresa que não quis se identificar, cuja bi-lheteria foi entregue ao orfanato. “Todos esses movimentos receberam a valiosa ajuda de inúmeros amigos e colaborado-res. Impossível enumerá-los, pois são tantos!”.

Ao lado destes grandes movimentos, outra ativida-de lançou raízes profundas que até hoje mantém essa casa: os carnês de contribuição. “Fazendo justiça a um nome, é bom lembrarmos de Irmã Tarcísia do Santíssimo Sacramen-to, que passou anos e anos de sua vida indo de casa em casa solicitando doações”, lembra-se Dalila.

Foi assim, enfrentando desafios e acreditando no va-lor da partilha que, finalmente, após três anos de trabalho intenso, as crianças, os funcionários e as irmãs puderam, em Janeiro de 1970, experimentar o gosto de morar em uma casa própria e definitiva. “Agradecemos também ao Dr. Ar-mando de Oliveira Santos, que colaborou, juntamente com outros amigos, na administração da parte legal, fiscalização e captação de recursos para a entidade”.

Foram muitas as pessoas que marcaram a vida dessa obra social iniciada em 1924, mas com certeza ninguém mar-cou tanto quanto a Irmã Marcelina de São Luís. Ela iniciou sua missão já na adolescência e só terminou no dia em que Deus

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a chamou para junto de si, em julho de 2001. Foram 44 anos dedicados ao orfanato. “Ela se foi, mas a missão continua, pois o sonho não acabou. Estamos nos adaptando às exigências de novos tempos e às leis que regulam as iniciativas voltadas para a criança e ao adolescente. Atualmente, atendemos aproxima-damente 200 crianças totalmente mantidas como no início pela solidariedade do povo e com nossos carnês de pagamento, com um contribuição de R$ 5 por pessoa. Precisamos do auxílio de pessoas que consigam patrocínio para os projetos para que a gente possa se modernizar e conseguir angariar recursos de outras formas, mais estável e segura”, solicita Irmã Dalila, que entrou na coordenação após o falecimento de Irmã Marcelina.

Em 2001, a diretoria da Arquidiocese de Vitória e da Obra Social Cristo Rei se sentiram sem rumo com a partida da freira mais reconhecida humanitariamente do Espírito Santo. Todos pensaram o quanto seria difícil encontrar uma equipe de irmãs capazes de carregar a pesada cruz de Irmã Marcelina à frente da entidade, que já comportava quase 150 crianças. Além da garra, firmeza e força de vontade de Marcelina, era preciso que a nova coordenadora tivesse disponibilidade integral para se dedicar à casa, o que dificultava ainda mais a escolha. Muitas freiras da congregação de Irmã Marcelina já estavam compro-metidas com outros projetos em todo o País. Mas, percebeu-se que a cidade de Belo Horizonte, bem assistida com várias congregações de freiras e com um amplo amparo às crianças, poderia ceder uma irmã de fibra para a missão em terras ca-pixabas. Foi quando o Estado recebeu Irmã Dalila, dedicada, amorosa e simpática senhora que desde 2001, cuida com muita firmeza do legado de Irmã Marcelina e Padre Leandro.

Irmã Dalila decidiu ser freira em 1964, aos 19 anos, quando morava em Colatina, município ao Norte do Espírito Santo. Foi para Cachoeiro de Itapemirim, ao Sul, para entrar na formação do celibato. Em seguida seguiu para o Rio de Janeiro já formada, andou um pouco pelo Brasil, trabalhando em projetos sociais em Sergipe, Bahia e Mato Grosso. “Atuei

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no processo de evangelização no interior dessas cidades, os lu-gares eram muito distantes, extremamente pobres, sem água e energia elétrica. Morávamos em barracos quase caindo. Nosso trabalho era de caridade e catequese. Foram anos difíceis, mas com o retorno de amor e aprendizagem muito grandes, que compensava nossos corações que buscavam os ensinamentos de Jesus”, conta Irmã Dalila.

Como funciona a Obra Social Cristo ReiConforme o sonho realizado de Padre Leandro, o obje-

tivo principal da Obra Social Cristo Rei continua o mesmo há 84 anos, quando foi fundado: abrigar, alimentar e educar, com oficinas de ensino religioso, arte, música, capoeira, artesanato, informática, atividades esportivas e reforço escolar às crianças e adolescentes em risco social, que possuem uma casa, mas a fa-mília não tem condições financeirasõ de sustentá-las. A maioria dos meninos abrigados possuem entre 3 e 14 anos.

A rotina na Obra Social Cristo Rei começa às 7h com a chegada das crianças. O grupo de 3 a 6 anos de idade vão para as suas salas para suas atividades após tomar o café da manhã. A turma de 7 a 14 anos, o período da manhã é todo dedicado às oficinas, principalmente as de tecelagem onde fazem bolsas, mochilas. Às 11h, tomam banho, almoçam e os maiores vão para a escola e de lá já vão para casa. Os pequenininhos ficam o dia inteiro na casa. O alimento de maior consumo na casa é o leite. Mas são feitas doações também de alimentos não-perecíveis em geral e até temperos de comida. O obra aceita todo tipo de doação.

A denominação Orfanato Cristo Rei já não é mais utilizado porque, na verdade, a obra realizada não se asse-melha a um orfanato, pois as crianças para estarem lá, não precisam ser órfãs. “Nosso trabalho é evitar que a criança vá para a rua, pois depois que isso acontece, ela sempre fica com sequelas. Nosso missão é de prevenção. Nós temos crianças aqui que começaram a ir para as ruas, mas retomaram e a

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gente vem sentindo que já abandonaram as ruas, viram que existem outras opções dignas de viver. Esse sempre foi o nos-so objetivo, desde à Fundação”.

Em se tratando de desafios, entre os mais urgentes, se-gundo a coordenadora, é a conscientização das pessoas em re-lação a causa. Para ela, não é possível que a população feche os olhos para este grupo enorme de crianças e adolescentes que são o futuro deste País. “Nossa missão é cuidar dessas crianças para que mais tarde se tornem homens e mulheres com digni-dade. Para que mais tarde não vá parar numa cadeia, que não aprenda a matar, a roubar porque em casa não teve comida, porque passou fome, porque teve que aprender a roubar por não ter em casa o básico para viver”.

O desafio prático que tira o sono da coordenadora é a falta de estabilidade financeira. “Nós precisamos agora de um professor de educação física, por exemplo, mas não temos condições de pagar. Estamos tentando ampliar o espaço de es-portes, que é um caminho saudável que salva a criança, mas es-tamos preocupados sobre como vamos fazer, quem vai ajudar nisso? Precisamos também de psicólogos e, principalmente, de voluntários que nos auxilie na realização de projetos para arre-cadarmos tais recursos. A gente não pode esperar que o Poder Público vá cuidar disso para nós. Eu sinto, tenho consciência de que eu não posso salvar todas as crianças. Mesmos as que es-tão aqui, dos que já saíram, que a gente não salva, que continu-am com dificuldades. Mas pelo menos tudo que nós podemos fazer, nós fazemos. Vejo que muitas crianças que estão saindo daqui, conseguiram dar a volta por cima. São meninos integra-dos, em harmonia, que já pensam no que vão fazer no futuro, que planejam a própria vida! Esse sentimento de satisfação é nosso combustível para continuar”, desabafa Irmã Dalila.

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Informações sobre como participar e ajudar:

Endereço: Rua Irmã Marcelina nº 15, Bairro São Francisco – Cariacica - ES E-mail: [email protected]: (27) 3336-1440/1234Fax: (27) 3343-1429

BanestesConta corrente: 1828078Agência: 099

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Pestalozzi Linhares ESPÍRITO SANTO EMPREENDEDOR

“A FAMÍLIA É CHAVE-MESTRA PARA A EDUCAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA. A ESCOLA

É UMA EXTENSÃO DA FAMÍLIA, SERVINDO DE COMPLEMENTO NA FORMAÇÃO DO INDIVÍDUO

PARA UMA VIDA AMPLA E DE CONQUISTAS INIMAGINÁVEIS”

Pestalozzi Pedadogo suíço (1746 – 1827)

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Os acontecimentos sociais, culturais e políticos que co-moveram a velha Europa durante a segunda metade do Século XVIII formam o ambiente histórico onde nasceu em 1746, a inteligência do suíço Johann Heinrich Pestalozzi. Influenciado na adolescência pelas leituras do filósofo francês Jean Jacques Rousseau (1712-1778), nome central do pensamento iluminis-ta, o jovem descobriu e passou a vida a difundir a importância da inclusão social através da educação, num tempo que nem se sonhava utilizar o termo “projetos sociais”. Estudiosos, peda-gogos e professores costumam dizer que ninguém acreditou mais no poder da educação para aperfeiçoar o indivíduo e a sociedade do que Pestalozzi.

A subida do capitalismo industrial como forma predo-minante da produção do homem, a exaltação dos nacionalis-mos étnicos, históricos e religiosos e a aspiração de liberdade do romantismo na cultura dos povos e a vertente revolucioná-ria capitalizada pela burguesia que desprezava o absolutismo feudal, entre outros fenômenos, orientaram a aventura educati-va deste humanista, cujo pensamentos e idéias ainda ocupam,

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nos nossos dias, a atenção de psicólogos, filósofos e estudantes de todo o mundo.

Com o seu entusiasmo, Pestalozzi influenciou reis e go-vernantes a pensarem na educação do povo. E complementava dizendo que a família era a melhor instituição de educação, base para a formação política, moral e religiosa que um alu-no poderia ter. Podemos dizer que Pestalozzi “psicologizou” a educação, pois um século antes do surgimento da psicologia infantil, ele já havia descoberto intuitivamente os princípios da educação “moderna”, que afirma que o ambiente familiar é decisivo no desenvolvimento da criança. Ainda hoje sabe-se que o destino afetivo e social do indivíduo é fruto da interação física e psíquica entre ele e sua família, principalmente entre as crianças excepcionais, cujo desenvolvimento requer ainda mais pesquisas e cuidados especiais.

Pestalozzi motivou o caminho da educação junto à família e milhares de pessoas entenderam o recado, multipli-cando suas ações através de ONGs, casas de apoio e pastorais no mundo inteiro. Muitas receberam o nome do próprio mes-tre, como ‘Sociedade Pestalozzi’ ou ‘Associação Pestalozzi’ e especializaram-se na educação das crianças e adolescentes com deficiência mental.

No Brasil, a primeira iniciativa partiu de Minas Gerais, em 1932, através dos esforços da psicóloga e educadora Helena Antipoff (1892-1974). Suas contribuições foram tão bem-suce-didas, que inspirou a criação de outras filiais em todo o Brasil. Após 46 anos em atividade de Minas, um grupo de jovens especializados em Educação Especial abrem a Associação Pes-talozzi de Campinas, em São Paulo, 1978, reforçando o desen-volvimento das milhares de crianças e adolescentes especiais.

No Espírito Santo, a Sociedade Pestalozzi existe há mais de 30 anos e uma das mais antigas é a de Linhares, que funcio-na desde 1984, com o nome popular batizado de ‘Escola Espe-cial Bem-me-quer’, no bairro Colina. Tudo começou quando um grupo de mulheres de alto poder aquisitivo da cidade re-

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solveu providenciar amparo e educação às crianças portadoras de deficiência mental que não encontravam espaço nas escolas comuns. A maioria ficava em estado de abandono dentro das próprias casas ou espalhadas pela rua, sem educação, amparo ou incentivo algum.

A Associação Pestalozzi de Linhares chama a atenção pelo grande desenvolvimento e respeito que conquistou junto à sociedade, por conta da dedicação extrema, amor incondicional e variedade de serviços qualificados a 311 alunos, diariamente, desde bebês recém-nascidos a adultos.

Podemos perceber na escola, um perfeito alinhamen-to aos ideais afetivos de Pestalozzi aplicados na educação dos alunos. Tudo é feito com muito cuidado e carinho e a equipe de funcionários e alguns voluntários surpreende a direção da escola pelo empenho e vínculo despertados pela vontade de ajudar. Marlene Felisberto Fiorot é a presidente da Pestalozzi de Linhares, Cacia Scuassante Bolzan é a diretora pedagógica, Edna Arduin Venturini é diretora administrativa e Terezinha Durão Costa, que foi presidente, atualmente é presidente de honra. Esse quarteto de mulheres lutadoras foi a base da entre-vista sobre o trabalho social da Pestalozzi.

“Pestalozzi afirmava que a função principal do ensino é levar as crianças a desenvolver suas habilidades naturais e inatas. Segundo ele, o amor deflagra o processo de auto-educação”, diz a escritora Dora Incontri, em seu livro “Pes-talozzi: Educação é Ética”, uma das poucas estudiosas do pensador suíço no Brasil.

“A escola idealizada por ele deveria ser não só uma extensão do lar como inspirar-se no ambiente familiar, para oferecer uma atmosfera de segurança e afeto. Ao contrário de muitos de seus contemporâneos, o pensador suíço não concor-dava totalmente com a eficácia da razão humana. Para ele, só o amor tinha força salvadora, capaz de levar o homem à plena re-alização moral. Isto é, encontrar conscientemente, dentro de si, a essência divina que lhe dá liberdade. Pestalozzi chega a ponto

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de afirmar que a religiosidade humana nasce da relação afetiva da criança com a mãe, por meio da sensação de providência”, diz Dora Incontri.

Pestalozzi em LinharesO primeiro passo da escola para receber uma criança

é encaminhá-la para a pré-triagem. Cerca de 10 atendimentos são feitos por semana pela assistente social a fim de avaliar as condições de saúde e psicológicas do aluno, do que mais neces-sita, qual a principal deficiência e as especificidades de sua edu-cação, enfim, é feito um roteiro de cuidados para aquele aluno. No Norte do Estado, as crianças que nascem com deficiência mental, os médicos já prescrevem o encaminhamento para a Pestalozzi de Linhares.

A área da escola é formada por três blocos, com 12 salas de aula e outras, para as oficinas pedagógicas, cada uma foi pintada de uma cor diferente para estimular a diferenciação entre as crianças. São 15 turmas em cada turno para distribuir os mais de 300 alunos. Na Pestalozzi, os professores trabalham os estímulos sensoriais, sensitivos e visuais. A alfabetização é a meta, porém muitos alunos não conseguem por conta das limitações. Os que conseguem, alçam vôo e vão embora da escola, estudar em escolas comuns ou atuar no mercado. Os que permanecem, continuam se exercitando nas tarefas para se tornar cada vez mais independentes.

A sala do Programa “Comunicação Alternativa Amplia-da” é uma das mais agitadas. A ação consiste em uma nova estra-tégica educacional e é feita em parceria com a Universidade de Linhares - Unilinhares - e seus estudantes de psicologia, desde 2007. A comunicação alternativa desenvolve habilidades de lin-guagem para deficientes mentais utilizando figuras icônicas para promover a comunicação entre a criança com severas dificulda-des na comunicação oral. Figuras icônicas são, por exemplo, de-senhos e fotografias de coisas reais para haver uma aproximação maior de identificação com o mundo.

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Além das figuras, futuramente serão utilizados trechos de vídeos para transferir efeitos visuais que só a imagem em movimento consegue passar, além de aumentar a motivação do aluno e enriquecer seu universo de referências.

“Temos muitos deficientes que entendem o que há em seu redor, que batem o olho e já sabem o que é que querem. Já outros possuem o sistema cognitivo do cérebro quase inativo ou são fisicamente imóveis, não mexem um dedinho, mas o cérebro sabe tudo o que está acontecendo. É exatamente para isso que serve a comunicação alternativa. O aluno aprende por meio das figuras e fotografias a se comunicar conosco, dizer o que quer, como quer. A primeira coisa que a pessoa aprende aqui é a ter independência”, explica Cacia Scuassante Bolzan, diretora da escola.

A Pestalozzi também mantém uma sala de enfermagem com voluntários para dar conta de pequenos acidentes que po-dem ocorrer, além de cuidados com ferimentos, micoses e co-ceiras. Alguns alunos, principalmente os autistas, são muito inquietos e têm seus momentos arredios e até agressivos, que podem machucar os outros colegas e a si próprio por não ter noção da própria força.

Um projeto interessante desenvolvido para os autistas pela Pestalozzi é o “Método Teach”, idealizado pelos norte-ame-ricanos. O objetivo é criar um ambiente seguro, regido por repe-tições de atos com uma rotina inalterada que acalme a sensação de pânico da criança. A Pestalozzi de Linhares possui cerca de 12 alunos autistas, sendo alguns com graus mais elevados.

“O processo básico da vida de um autista é a perda do contato emocional e interpessoal, gerando problemas de socia-bilidade, isolamento intenso e agressividade. Observa-se que as crianças não respondem as carícias, palavras e nem às atenções dos adultos. Há uma extrema preocupação para que o ambien-te fique conservado de forma inalterada. Eles passam muito tempo jogando com objetos repetitivamente. É indiferente às palavras e a qualquer som emitido por outras pessoas. Porém,

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podem dar atenção ao ruído de uma porta ou ao barulho de um avião. Possuem hipersensibilidade ao toque e aos sons, e algumas crianças autistas, entre 4 e 5 anos, são capazes de re-petir propagandas de TV, trechos de músicas populares, o que não significa um ato de comunicação, apenas foram absorvidas estruturas codificadas”, conta a coordenadora.

A filosofia de Pestalozzi auxilia a escola para que eles saibam lidar com todos os tipos de deficiência. O principal ensinamento é que os professores e todos os funcionários se-jam como uma família para os alunos, não apenas uma escola. “Nós visamos o ser humano por completo, trabalhamos seu desenvolvimento de forma integral, com ensinamentos do lado espiritual, material, educacional, psicológico e social”, comple-ta Cacia.

A noção da importância da reciclagem está sempre pre-sente na Pestalozzi. Todo o material considerado erroneamente como lixo, para eles é objeto de trabalho nas oficinas de recicla-gem. Tudo é reaproveitado na oficina de papel reciclado, onde são feitos bonitos enfeites para decoração, como peso de por-ta, embalagem para presentes, almofadas, porta-retratos entre outros. Tudo é vendido na Pestalozzi, na Casa do Artesão de Linhares, no Movive, para a loja do Shopping Praia da Costa, e no Bazar Social de Vitória, que trabalha com mais de 50 pro-jetos sociais só com a comercialização dos produtos.

A Pestalozzi de Linhares está sempre atenta às oportu-nidades de financiamento de seus projetos. Dentre os já firma-dos com grandes empresas, está a Oficina de Fraldas, finan-ciado pela Petrobras através do programa “Ciranda Capixaba”, em que a Pestalozzi concorreu em 2004. O Ciranda Capixaba é um programa de investimento social da Unidade de Negó-cio de Exploração e Produção da Petrobras no Espírito Santo, e integrante do Programa Petrobras Fome Zero. A iniciativa seleciona novos projetos sociais a cada ano e como contrapar-tida, as ações devem contemplar as áreas de geração de renda, comércio justo, capacitação profissional, meio ambiente e ga-

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rantia de direitos de crianças e adolescentes. “O propósito é o seguinte: eles financiam o projeto du-

rante dois anos, contribuem com tudo, compram máquinas, materiais, tudo mesmo. E após esses dois anos, o projeto deve se auto-sustentar. A Oficina de Fraldas superou nossas expec-tativas. Nossa meta, além de gerar renda, é profissionalizar os portadores de deficiência para encaminhá-los ao mercado de trabalho. Dos 41 alunos que tivemos, 17 já trabalham na cida-de”, conta Cacia.

Ao visitar a horta da Pestalozzi encontramos uma pre-sidiária que cumpria a pena semi aberta na escola e se dedicava inteiramente às plantações. Ela dormia no presídio e durante o dia trabalhava na escola. Da produção, parte era para consumo da merenda escolar e o restante era comercializado.

A Oficina de Massas é a pioneira da Pestalozzi de Linha-res, pois além de capacitar profissionalmente muitos alunos, a aceitação popular dos produtos é grande, as vendas crescem a cada ano e com um lucro significativo, ajuda a sustentar a casa. A venda das massas cobrem mais de 20% dos custos da escola. Redes de supermercados, cantinas de escolas, postos de gasoli-na, mercearias, todos compram a produção para a venda. “To-mamos cuidado também com o plágio, pois algumas pessoas fazem as massas e colocam nas embalagens que foram feitas na Pestalozzi porque sabem que têm credibilidade e as pessoas compram”, conta. Todo o trabalho oferecido pela Pestalozzi é gratuito aos 311 alunos, mas quem pode, contribui. Muitas vezes, os pagamentos são simbólicos, de R$ 1 ou R$ 2 reais.

Saúde na PestalozziDos 311 alunos matriculados na escola, cerca de 30%

dos alunos precisam de fisioterapia sistemática, pois possuem paralisia cerebral. A maioria não anda. Os exercícios são espe-cializados para cada criança e busca incentivar a mobilidade, as articulações e a independência de cada um.

Convênios foram fechados com universidades locais,

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que encaminham estudantes dos últimos períodos para estagiar na Pestalozzi, criando oportunidades e benefícios para todos. Inclusive, as faculdades doam equipamentos e aparelhos, como forma de montar uma clínica adequada para os universitários e para a Pestalozzi.

“A fisioterapia é fundamental na Pestalozzi, principal-mente para os alunos mais novos porque a deficiência mental interfere na sua linguagem, na visão e na audição também. O trabalho dos estagiários é intenso. Eles trabalham muito e às vezes não dão conta de realizar todo o serviço. Por isso, estamos sempre de braços abertos a novos parceiros”, avisa a diretora.

O consultório odontológico, por conta da qualidade dos serviços prestados, virou referência em número de atendi-mentos e agora recebe também todos os pacientes deficientes de Linhares, em parceria com a Prefeitura Municipal, que cede todo o material odontológico e duas dentistas. A demanda é enorme para a Odontologia, considerado um dos serviços mais caros para as comunidades carentes.

“Para nós, a educação e a saúde caminham juntas, prin-cipalmente em caso de crianças especiais. Trabalhamos com a ajuda de orientações de psicólogos, terapeutas e assistentes sociais capacitados e com muita boa vontade”, conta Cacia.

Educação IntegralAo contrário de Rousseau, cuja teoria é idealizada, o

pedagogo Pestalozzi, segundo a educadora Dora Incontri, ex-perimentava sua teoria e tirava a teoria da prática nas várias escolas que criou. Pestalozzi aplicou em classe seu princípio da educação integral, isto é, não limitada à absorção de informa-ções. Segundo ele, o processo educativo deveria englobar três dimensões humanas, identificadas com a cabeça, a mão e o coração.

O objetivo final do aprendizado deveria ser uma for-mação tripla: intelectual, física e moral. E o método de estudo deveria reduzir-se a seus três elementos mais simples: som,

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forma e número. Só depois da percepção viria a linguagem. Com os instrumentos adquiridos desse modo, o estudante teria condições de encontrar em si mesmo liberdade e auto-nomia moral. Como alcançar esse objetivo dependia de uma trajetória íntima, Pestalozzi não acreditava em julgamento ex-terno. Por isso, em suas escolas não havia notas ou provas, castigos ou recompensas, numa época em que chicotear os alunos era comum. Muitos escritos afirmam que o pedagogo foi um educador que incorporou o afeto à educação, lançando a semente do ensino libertário.

A criança assistida pela Escola de Educação Especial é comparada à uma flor, que precisa de cuidados especiais para se desenvolver. Por isso, a flor é o emblema das associações Pestalozzi em todo o Brasil.

A religião, assim como no tempo de Pestalozzi, tam-bém é desenvolvida na escola todas as manhãs, mas de forma ecumênica, não impondo nenhuma condição. Quando volta-mos para a história, percebemos que a vida e obra de Pestalozzi estão intimamente ligadas à religião.

Cristão devoto e seguidor do protestantismo, ele se preparou para o sacerdócio, mas abandonou a idéia em favor da necessidade de viver junto da natureza e de expe-rimentar suas idéias a respeito da educação. Seu pensamen-to permaneceu impregnado da crença na manifestação da divindade no ser humano e na caridade, que ele praticou principalmente em favor dos pobres.

A criança, na visão de Pestalozzi, se desenvolve de den-tro para fora, idéia oposta à concepção de que a função do ensino é preenchê-la de informação. Para o pensador suíço, um dos cuidados principais do professor deveria ser respeitar os estágios de desenvolvimento pelos quais a criança passa. Dar atenção à sua evolução, às suas aptidões e necessidades, de acor-do com as diferentes idades, era, para Pestalozzi, parte de uma missão maior, a de saber ler e imitar a natureza em que o mé-todo pedagógico deveria se inspirar.

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Na Pestalozzi de Linhares, a religião de cada aluno é respeitada por conta de sua história familiar. Todos os funcio-nários têm uma semana para conduzir a oração inicial do dia na capela e depois um professor de educação física faz alonga-mento com todos os 85 funcionários e alunos da escola.

“Temos 85 funcionários entre a área de educação, saúde e administrativo. Às vezes comentam que são muitos profissio-nais, mas não sabem o quanto é o tamanho do nosso trabalho. Dos 311 alunos, a maioria requer tudo da gente, somos os braços e as pernas desses meninos, para dar comida na boca, banho e cuidar de suas necessidades básicas.”

As atividades escolares não são limitadas ao giz e ao quadro negro. A cultura é o ponto forte e incentivado cons-tantemente. A sala de vídeo é o local para os momentos lúdicos, onde os alunos brincam, vêem filmes, desenham. A quadra de esportes também é palco das apresentações de dança, teatro, capoeira e até curso de skate. Durante a en-trevista, um grupo de adolescentes do bairro Colina visitou a Pestalozzi para pedir autorização para se apresentar e ensi-nar os alunos a andar de skate.

“É muita luta! Mas uma luta extremamente gratifican-te. Quem sobrevive e vive de projetos e convênios sociais, nada é fácil e nunca chega de uma vez só. É tudo com muito planejamento, muita busca e paciência. Muitas vezes recebe-mos uma verba para construir algo, mas o dinheiro dá para apenas começar. Então, primeiro temos que ter calma para depois conseguirmos os recursos para terminarmos a obra. E por aí vamos. Tudo é em pedaços. Mas nossos funcionários são ótimos e os alunos nos enchem de alegria e esperança. Todos deveriam experimentar um dia ter a experiência de se doar, de se entregar ao outro sem privações e com o coração cheio de amor e paz”, finaliza Cacia.

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Informações sobre como participar e ajudar:

Pode-se ajudar sendo voluntário em sua área específica de trabalho ou doando alimentos, agasalhos, roupas de cama e mesa ou depositando em dinheiro a quantia desejada.

Telefone: (27) 3264-2343

BanestesConta corrente: 10502607Agência: 124

Nota: A presidente de honra da Pestalozzi Linhares, Terezinha Durão Costa e a diretora pedagógica, Cacia Scuassante Bolzan e a diretora administrativa, Edna Arduin Venturini participaram como fontes deste capítulo.

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ESPÍRITO SANTO EMPREENDEDOR - Programa de Assistência Dermatológica aos Lavradores Pomeranos do Estado do Espírito Santo

“A PELE É O MAIOR ÓRGÃO DO CORPO HUMANO. DENTRO DELA VIVEMOS E PARA ELA DEVEMOS

TODO O CUIDADO E CARINHO. COM AJUDA DOS MÉDICOS, A VIDA SE SUPERA”

Dr. Carlos Cley

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Na lida diária do trabalho árduo nas lavouras, de sol a sol, ao longo de décadas sem nenhum tipo de proteção para a pele, como roupas ou filtro-solar (usavam no máximo um chapéu), os pomeranos residentes no Espírito Santo viram tornar comum em suas peles pequenos sinais aparentemente inocentes, como uma ferida que não sara ou uma pequena lesão endurecida, brilhante ou avermelhada, pintas e verru-gas que crescem ou mudam de cor. Por trabalharem de igual forma na lavoura, tais alterações da pele afetam igualmen-te ambos os sexos, principalmente nas áreas corporais não protegidas pelo vestuário como face, pescoço, colo, dorso, braços, antebraços e mãos.

Nesta época, década de 70, um capixaba recém-for-mado em medicina voltava do mestrado em dermatologia na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e atendia no ambulatório do Hospital Universitário Antônio Cassiano de Moraes – Hucam, também conhecido como Hospital das Clínicas, quando começou a reparar na alta incidência de lesões cancerígenas entre os pomeranos.

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Desde então, Dr. Cley, como é conhecido, voltava para casa com aquele pensamento latejante sobre o grande número de exames que detectavam o câncer, muitas vezes em estágio avançado, naquele povo de pele branquíssima, cabelos claros, quase brancos e uma força de trabalho braçal que lembrava os escravos do século 19.

O que mais o incomodava era a insuficiência na rede pública de saúde do Estado de serviços especializados para tratamento do grande número de pacientes portadores de câncer de pele, o que os obrigavam ao retorno para o inte-rior, sentindo serem progressivamente mutilados pela doen-ça. Levado pela emoção e instinto investigativo de médico, sua primeira providência foi procurar na própria universida-de, através de sua Pro-Reitoria de Extensão Universitária, caminhos para realizar campanhas de educação preventiva , exames dermatológicos e tratamento cirúrgico nas comu-nidades de lavradores pomeranos, distribuídos por diversos municípios do Estado do Espírito Santo.

Assim, em 1987, foi criado o Projeto de Assistência Dermatológica aos Lavradores Pomeranos do Estado do Es-pírito Santo, que completa 21 anos em 2008, numa parceria da Ufes com a Associação Albergue Martin Lutero da Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil (IECLB). No período de 02 anos, o Projeto constituído por uma equipe de 10 acadêmicos de medicina coordenado pelo Dr. Carlos Cley, atuaram em 20 paróquias Luteranas pelo interior do Estado. A equipe saía de Vitória na sexta-feira à tarde, pres-tava atendimento dermatológico nas comunidades no sába-do e domingo até às 12h, quando retornavam para Vitória. Tais viagens se repetiam um fim de semana de cada mês.

“Nas primeiras viagens a angústia da equipe era enor-me, pois eram realizados diagnósticos de câncer de pele em inúmeros pacientes e não havia local onde esses pudessem ser encaminhados para o respectivo tratamento cirúrgico, pois nem mesmo em Vitória era oferecido tal atendimento à

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população em número suficiente.O interesse dos estudantes somado à adrenalina de

verificar in loco as graves enfermidades até então escondidas nas comunidades pomeranas, fizeram surgir iniciativas que impulsionaram o trabalho. Um exemplo foi o da estudante de medicina Marta Cruz, que estagiava no ambulatório do Serviço de Cirurgia do Hucam, então coordenado pelo pro-fessor Olívio Louro. Marta perguntou ao Dr. Cley se poderia pedir alguns materiais do Hospital das Clínicas para adaptar salas nas paróquias e realizar pequenas cirurgias. Dr. Cley adorou a idéia e a coragem da estudante. Ele foi confirmar sua habilidade junto ao Dr. Olívio, que afirmou que aquela aluna era mesmo habilitada e que poderia fazer cirurgias sob a supervisão médica do coordenador do projeto. Assim, com apoio do Hucam, foi incluído no atendimento fornecido pelo projeto a população e também o tratamento cirúrgico com exerese e eletrocoagulação para os tumores diagnosticados precocemente. Os resultados do trabalho foram apresenta-dos nos congressos médicos e recebeu cobertura ampla pela impressa falada e escrita do Estado.

Ajuda da mídiaNo final de 1989, quando o programa completava

visitas a cerca de 20 paróquias, com viagens de fevereiro a dezembro, aconteceu um fato interessante. Uma reportagem do jornal A Gazeta sobre o câncer de pele em Santa Maria de Jetibá, publicou na capa, algo como: “Câncer destrói e apo-drece pele dos pomeranos”. Tal reportagem foi reproduzida por jornais de todo o País e do exterior, o que contribuiu muito para credenciar o trabalho junto à Secretaria de Saúde do Estado, e merecer o seu apoio para as etapas seguintes.

A partir de janeiro de 1990, agora com a parceria também da Secretaria de Saúde do Estado e das Secretarias Municipais de Saúde dos municípios envolvidos, foi iniciado o Programa de Assistência Dermatológica aos Lavradores

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Pomeranos, em caráter permanente e com estrutura muito mais ampliada, contando com cirurgião plástico, enfermei-ros e outros dermatologistas, colocados à disposição pela Secretaria de Saúde, além da participação de números bem mais elevados de acadêmicos de medicina.

Em 1991, Dr. Cley recebeu como prêmio pelo seu tra-balho, uma bolsa de 3 meses na universidade de Heidelberg, fornecida pelo governo alemão. Ocasião em que conseguiu junto ao Serviço de Dermatologia daquela Universidade es-tágio de 2 anos para o Dermatologista Dr. Roberto Pagung, também como bolsista do governo alemão. Após o retorno do Dr. Roberto Pagung, prevendo sua aposentadoria junto à Ufes, o professor Cley consegue que a Secretaria de Saúde contratasse o referido dermatologista, para que junto com o professor da Ufes, o cirurgião plástico Dr. Luiz Fernando de Barros, coordenassem o Programa em seu lugar.

Após se aposentar da Ufes, o professor Cley, idealizou e implantou por solicitação do professor João Basílio, chefe do Serviço de Dermatologia da Santa Casa de Misericórdia e da Secretaria de Extensão Universitária da Emescam, um Progra-ma de Extensão Universitária para a mesma, denominado Pro-grama Salve sua Pele, numa parceria da Emescam, Associação Albergue Martim Lutero da Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil, Secretaria Estadual de Saúde, Secretaria Municipal de Saúde de Vila Velha e Igreja Presbiteriana Unida do Ibes - Sede do Projeto. Tal programa atende à população da Grande Vitória, com risco para câncer de pele. Suas atividades ocorrem no primeiro sábado de cada mês, sendo atendido por etapa uma média de 180 pessoas, sendo oferecido gratuitamen-te consultas dermatológica, e procedimentos cirúrgicos como Crio-Cirurgia, eletro-cauterização e exerese com a participação de professores e alunos do Serviço de Dermatologia, dermato-logistas voluntários, como o próprio professor Cley, um grupo significante de Voluntários ligados às diversas Igrejas Cristãs, Presbiteriana, Luterana, Católica, etc.

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Os pomeranosAo Norte do Estado, as comunidades pomeranas con-

centram-se sobretudo em Vila Pavão, Pancas, Baixo Guandu, São Gabriel da Palha e Laranja da Terra, uma região, na época da colonização, dominada pela Mata Atlântica. A pecuária, a agricultura e a intensiva extração de madeiras nobres devas-taram a cobertura florestal, expondo os imigrantes pomera-nos, com sua pele branca e delicada, aos fortes raios solares. Agricultores sem terra na Europa, aqui, os pomeranos se tornaram pequenos proprietários e cuidaram de preservar pelo menos parte da floresta. De fato, era habitual entre eles manter intacta parte das árvores, criando uma área de som-bras que, com o passar dos anos, iria se mostrar extrema-mente importante para a proteção contra doenças de pele.

A aproximação do Dr. Cley com os pacientes não foi uma tarefa fácil. Em primeiro lugar, além do tabu que havia em relação ao câncer, os pomeranos se mostravam retraídos, tímidos e a maioria não sabia falar português e sentiam a discriminação social devido ao confinamento social que eles próprios se impuseram por meio do dialeto “pomerod”. Por muitos anos, os pomeranos viveram à margem dos proces-sos políticos e sociais do Espírito Santo.

Exceto pelas relações comerciais estabelecidas com o meio onde vive, esse povo de origem germânica, que na Europa mantinha-se segregado por causa dos seus costu-mes peculiares, preservou intactas não só suas mais caras tradições como o dialeto pomerano, ainda hoje o idioma predominante em Santa Maria de Jetibá, pequena cidade da região de montanhas do Espírito Santo, e nas comunidades do Norte do Estado.

O braço social que contribui para a gradativa cons-cientização política foi a Igreja da Confissão Luterana no Brasil, que incentivou a comunidade a participar de elei-ções, conseguindo eleger para o Executivo e o Legislativo representantes para defender seus interesses. Esse processo

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intensificou-se especialmente depois da eleição do pomera-no Helmar Potratz, aos 28 anos, para a prefeitura de Santa Leopoldina, em 1982.

Os pomeranos são hoje os maiores produtores de hortifrutigranjeiros do Espírito Santo e estão entre os principais produtores de café. Com 734 km², o território pomerano na região de montanhas é formado por um con-junto de vilas e núcleos rurais que tem como eixo principal a cidade de Santa Maria, antigo distrito que se emancipou de Santa Leopoldina em 1988. A região, com população de 23.057 habitantes, é cortada pelo Rio de Santa Maria da Vitória.

“A minha aproximação com os lavradores foi através da Igreja Luterana e isso facilitou enormemente porque, no início, eles tinham muita reserva, eram desconfiados e rís-pidos. Mas com o tempo, com carinho e paciência, fomos entrando na rotina de suas vidas. Eu aprendi a falar algu-ma coisa em alemão e alguns termos do dialeto pomerano para facilitar nossa comunicação. Tudo foi ajustando-se e conseguimos grande adesão das comunidades. Hoje temos grandes amigos. Criou-se laços afetivos enormes”, conta Dr. Cley, que complementa informando que antes dele, o cientista Augusto Ruschi também chamava a atenção para o câncer de pele dos pomeranos, por conta do desmatamento desenfreado das reservas florestais.

Segundo o médico, o contato com os imigrantes do campo e suas enfermidades humanizou os acadêmicos da medicina para a prática do programa dentro dos hospitais. “Depois deste trabalho, ficou mais fácil conseguir interna-mento para os imigrantes, não só no Hospital das Clínicas, mas em todos os hospitais da Grande Vitória. Isso porque existia em cada hospital pelo menos um médico que já havia passado pelo projeto e que mostrava grande interesse em ajudar na internação e no acompanhamento do tratamento”, informa.

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O câncerSegundo Dr. Cley, 50% da população branca possui

genes cancerígenos. Entre os de pele negra, essa porcenta-gem cai para 1%. Se a pessoa mora em um país de clima frio, esses genes passam a vida adormecidos. Muitas vezes, apenas na idade avançada que aparece um câncer. Porém, em um país tropical, a incidência do sol e pouca roupa desper-ta os genes e quem mora no interior e não têm assistência médica, vai desenvolvendo esse tipo de câncer lentamente, que se não tratado no início, atinge enormes proporções, causando grandes mutilações, mesmo com o tratamento, se este for tardio.

A pele é o maior órgão do corpo humano. É dividida em duas camadas: uma externa, a epiderme, e outra interna, a derme. A pele protege o corpo contra o calor, a luz e as in-fecções. Ela é também responsável pela regulação da tempe-ratura do corpo, bem como pela reserva de água, vitamina D e gordura. “Embora o câncer de pele seja o tipo de câncer mais freqüente, correspondendo a cerca de 25% de todos os tumores malignos registrados no Brasil, quando detectado precocemente este tipo de câncer apresenta altos percentuais de cura”, informa o médico.

Câncer de pele é mais comum em indivíduos com mais de 40 anos sendo relativamente raro em crianças e negros, com exceção daqueles que apresentam doenças cutâneas prévias. Como a pele é um órgão heterogêneo, esse tipo de câncer pode apresentar neoplasias de diferentes linhagens. Os mais freqüentes são: carcinoma basocelular, responsável por 70% dos diagnósticos de câncer de pele, o carcinoma epidermóide com 25% dos casos e o melanoma, detectado em 4% dos pacientes. Felizmente o carcinoma basocelular, mais freqüente, é também o menos agressivo. Este tipo e o carcinoma epidermóide são também chamados de câncer de pele não melanoma, enquanto o melanoma e outros tipos, com origem nos melanócitos, são denomina-

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dos de câncer de pele melanoma.“Atualmente, vemos que aumentou a consciência em

relação ao câncer de pele graças também às campanhas do go-verno e ao aumento da incidência da doença no cotidiano das pessoas. Precisamos pensar na nossa pele como nosso maior órgão e um dos mais frágeis também”, orienta o médico.

Informações sobre como participar e ajudar:

Ligue para a Associação Albergue Martin LuteroTelefone: (27) 3229-7448

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ESPÍRITO SANTO EMPREENDEDOR Projeto Vill’Agindo para ser Feliz– Cachoeiro de Itapemirim

“TRABALHAMOS EM NOME DAS MILHARES DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EMPOBRECIDOS

NO MEIO DA RIQUEZA CRESCENTE DO NOSSO BRASIL POIS ASSIM DISSE JESUS:

‘QUEM ACOLHE O MENOR, A MIM ACOLHE’”Irmã Rita

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Imagine você leitor chegando em um bairro onde to-dos pedem para você não ir. No caminho, ao pedir infor-mações, as pessoas te olham assustadas como se quisessem dizer: “Tem certeza que quer ir para lá?”. Pois este lugar des-prezado por tantos foi escolhido há 10 anos por um grupo de irmãs de caridade para recuperar crianças e adolescentes reféns das ruas, entregues à marginalidade, aos maus tratos da família e ao tráfico de drogas.

O bairro é o Village, com cerca de 10 mil habitan-tes, na periferia do município de Cachoeiro de Itapemirim. Daí surgiu o nome do Projeto “Vill’Agindo para ser Feliz”, vinculado à Inspetoria Nossa Senhora da Penha. É um pro-jeto da Pastoral do Menor (NNBB), integrada às pastorais sociais da Paróquia de São Sebastião e à Rede Salesianas, fundada por Dom Bosco, todos da Igreja Católica.

Em sua essência, o projeto é vinculado aos ensina-mentos de Jesus Cristo, firmado na fé à luz do Evangelho que prevê o amor, amparo e atenção aos desamparados, esti-mulando a sensibilização e a mobilização por melhores con-

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dições de vida. Os eixos fundamentais da prática do projeto são: a mística, a solidariedade, a justiça e a organização.

“A mística é o espírito agindo em nós, que dá en-tusiasmo e ânimo ao nosso trabalho. A solidariedade é a resposta ativa da Igreja na sociedade de exclusão. É a fé con-cretizando-se em obras. A justiça é a virtude que regula as relações pessoais permitindo que cada pessoa seja tratada com dignidade. E a organização é a ação que busca superar medidas puramente técnicas, assistencialistas e paternalistas, estimulando as potencialidades das crianças e adolescentes”, esclarece a Irmã Rita, que toca o projeto ao lado da Irmã Maria das Graças.

Amparadas por uma fé inabalável e uma base legal prevista na Constituição Federal (Artigo 227) e no Estatuto da Criança e do Adolescente, as irmãs começaram, em 1998, a fazer pequenas oficinas na praça do bairro à vista dos mo-radores. “No início, alguns se incomodaram, principalmen-te os chefes do tráfico. Mas a comunidade, devagarzinho, começou a se interessar pelo trabalho, pois reuníamos as crianças, conversávamos, rezávamos, fazíamos oficinas de teatro, dança, brincadeiras, aulas de canto, enfim, fomos conquistando a simpatia da comunidade que, na época, não acreditava em ajuda alguma. Eram arredios e desconfiados de tudo”, conta Irmã Rita.

Na semana que foi realizada a entrevista para este livro, as irmãs e suas colaboradoras estavam super ocupa-das com a formação dos novos educadores que realizarão as dezenas de oficinas pedagógicas ao longo do ano. Também, pudera, são muitas as demandas e carências que afligem a comunidade de Village. As crianças se aproximam da pe-quena casa-sede do projeto, para pedir qualquer coisa que mate sua fome física, como pão, uma fruta ou a sede de conhecimento para saber mexer na Internet ou escrever seu nome em um pedaço de papel.

São muitas as atividades sócio-educativas que per-

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meiam a luta diária do Projeto Vill’Agindo. Ao lado de um grupo de moradoras do bairro e os educadores que se for-mam sob a supervisão das irmãs, são realizadas cerca de 20 diferentes atividades, tais como as aulas de leitura, italiano, bordado, vídeo, matemática, biscuit, violão, capoeira, infor-mática, dança e manicure, são realizados sistematicamente na sede do projeto, na praça do bairro, no terraço da casa de algum morador, nas salas da Igreja ou na associação de moradores. “Não existe dificuldade que fará a gente parar”, comenta a irmã Rita. Só nas aulas de informática foram for-mados cerca de 200 alunos por semestre.

Como resultado alcançado deste trabalho, podemos citar a inclusão dos menores no mercado de trabalho, sen-do que 13 deles já trabalham na Caixa Econômica Federal, Tribunal Regional do Trabalho e Banco do Brasil. Todas as crianças e adolescentes também recebem atendimento psico-lógico, participam das comemorações de datas festivas e das manifestações populares nas ruas contra a violência, abuso e exploração sexual da criança. São ao todo 570 crianças ca-dastradas no Projeto Vill’Agindo (de 6 a 20 e poucos anos) e cerca de 25 voluntários (50% com menos de 30 anos de idade).

Graças ao Ministério dos Esportes, todas os parti-cipantes recebem alimentação nutritiva a cada dia. A ver-ba destinada faz parte do Programa Segundo Tempo, do Governo Federal em parceria com a CIB (Conferência das Filhas de Maria Auxiliadora do Brasil) e atende a crianças e adolescentes de 5 a 18 anos para democratizar o acesso aos esportes.

Moradores do bairro, educadores formados pelo pro-jeto e estagiários do Centro Universitário São Camilo pres-tam serviço como voluntários neste programa realizando diversas atividades esportivas, como futebol, vôlei, capoeira, natação (com uma piscina alugada de um clube próximo ao bairro), entre outros esportes.

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Outros projetos em destaque na instituição é o “Pa-drinhos Solidários”, formado por moradores e voluntários que contribuem com o aluguel da sede. “Todos os recursos que temos para fazer compras, privilegiamos o comércio lo-cal, dividindo as demandas entre todos os comerciantes. Isso ajuda no reconhecimento do trabalho da casa e sensibiliza o microempresário a também colaborar conosco. Muitos já doam cerca de R$20 a R$50 ao mês”, conta Irmã Rita.

O projeto “Agente Jovem” incentiva os jovens que participam como educadores do Vill’Agindo a realizar al-gum tipo de ação ou intervenção em suas comunidades de bairros vizinhos ao Village, todas as quartas-feiras, levando idéias para a realização de oficinas e cursos que estimulem a cidadania local.

“Precisamos explicitar mais a nossa fé. Fazer mais e falar menos. Não temos uma evangelização sistemática com os alunos, apenas nas datas especiais religiosas. Na verdade, os valores cristãos tentamos passar na prática, com o nosso trabalho. As oficinas com o agente jovem devem ser reali-zadas bem perto do povo, ou seja, dentro das comunidades para que todos possam ver. A criança se sente realizada quan-do os familiares e amigos acompanham suas atividades, elas se sentem mais confiantes. É muito comum ver uma criança gritando: ‘mãe, olha isso que eu fiz!’”, conta Irmã Rita.

O projeto “Formação Humana e Cristã” também recebe uma atenção especial de todos na casa. “Ele é uma reflexão de nossa prática. Discutimos temas voltados para a solidariedade, ações coletivas, auto-estima, relações inter-pessoais, responsabilidade, e como não poderia faltar, o Es-tatuto da Criança e Adolescente”, conta a Irmã Rita. Este projeto também promove encontros anuais em Belo Hori-zonte voltados para a formação dos agentes atuantes na Pas-toral do Menor.

“Vivemos em comunidade a serviço da educação da juventude. Juntas, unindo nossas forças e vivendo do mesmo

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ideal, somos a expressão do amor de Deus, sendo missioná-rias. Valorizamos a vida, a base familiar de cada criança e seu desenvolvimento com saúde e consciência para que ela cresça com segurança e fé no futuro. Os fundamentos de Jesus nos anima, revigora nossas forças e não desanimamos um segundo sequer desta missão”, afirma a Irmã Maria das Graças.

Este trabalho iniciou-se nas ruas, terraços de casas e hoje estão instalados em uma casa cujo aluguel é pago por moradores da comunidade. Os outros parceiros da entidade são Inspetoria Nossa Senhora da Penha, Caritas Diocesana de Cachoeiro, Regional Leste II, Cesan (Centro Salesiano do Menor), Banco do Brasil, São Camilo, CIB (Conferência Inspetorias das Filhas de Maria Auxiliadora do Brasil) e Sesi (serviço Social da Indústria).

Com o Sesi, por exemplo, foi realizado em 2007 um contrato de três meses para o ensino da informática gratui-to, sem nenhum custo para o projeto Vill’Agindo. Como padrinho, o projeto conseguiu o apoio da empresa Natura que, em sorteios beneficiou a entidade com uma televisão, um liquidificador industrial e uma quantia em dinheiro.

DesafiosUm dos principais desafios do Projeto Vill’Agindo

é manter o envolvimento de parceria com o Poder Públi-co. “Gostaríamos que eles entendessem que cuidar do social é dever deles, não somente em anos eleitorais”, comenta a Irmã. Outro desafio ainda mais penoso é incentivar os me-ninos a não abandonar a educação formal, nas escolas. “Por mais que realizamos as oficinas, o mercado de trabalho pri-vilegia o currículo da pessoa que tenha formação de base educacional tradicional. Pedimos ao Poder Público que dê mais atenção ao trabalho escolar porque as crianças perdem o interesse facilmente se não houver estímulo. Outro pro-blema é que os pais não incentivam o aprendizado e sim, a

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matrícula para comprovar ao Governo Federal e receber o Bolsa-Família”.

A compra de um terreno para construir a sede do projeto foi o grande sonho realizado em 2007. Os recursos vieram da Fundação Italiana “Associazione Carlo Marchi-ni. A próxima meta é fazer uma grande reforma na antiga casa que existe no terreno criar um espaço exclusivo para o laboratório de informática com internet, que é o curso mais procurado pelos adolescentes.

“Mas o maior desafio nosso é conquistar o envolvi-mento da família na vida de seus filhos. Alguns chegam a assistir a morte de seus pais pelas ruas por conta das dívidas com o tráfico. Estamos acompanhando o surgimento de uma geração criada pelas avós! Outros não conseguem ficar em casa por causa das brigas e alguns são trazidos aqui porque a mãe quer ficar longe deles, enfim, as famílias são tão ca-rentes quanto seus filhos. Nosso grande desafio é trabalhar a formação dos pais, mas não está sendo fácil. A família é o leito de base para a formação de qualquer indivíduo. Quere-mos contribuir para a preparação de sua vida, seu caminho, sua esperança. Não medimos esforços nessa luta e nunca ire-mos desistir de melhorar nosso bairro, nossa cidade e nosso País e o mundo, assim como fez nosso Pai com o exemplo de Jesus na terra”, finaliza a Irmã Maria das Graças.

Informações sobre como participar e ajudar:

Endereço: Bairro Village, Cachoeiro de Itapemirim – ESTelefones: (28) 3522 8950 ou 3521 5524

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Raimundo de Oliveira ESPÍRITO SANTO EMPREENDEDOR

“MUNDO VASTO MUNDO. SE EU ME CHAMASSE RAIMUNDO SERIA UMA RIMA, MAS NÃO A

SOLUÇÃO. MUNDO, VASTO MUNDO. MAIS VASTO É O MEU CORAÇÃO”

Carlos Drummond de Andrade

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Samba, poesia, música de botequim e Morro dos Alagoanos. Palavras como essas fazem qualquer pessoa bem informada em cultura no Espírito Santo lembrar-se de Rai-mundo de Oliveira, o agitador cultural mais atuante, queri-do e reconhecido no Estado. Seu empenho, dedicação e ca-rinho em fazer conhecida a arte musical e literária brasileira desperta admiração e alegria que vão além das ladeiras do morro. Transborda vibração em todo o País, atraindo mi-lhares de adeptos e grandes nomes da música nacional para a ilha de Vitória.

Há 30 anos, após admitir para si mesmo que sua mis-são era fazer algo pela cultura, Raimundo, que trabalhava há 14 anos na Rede Gazeta passando de contínuo a contato comercial, resolveu montar um festival de samba. O título veio inspirado nas madrugadas ao lado de amigos e músicos de botequins do Morro dos Alagoanos, bairro em que nas-ceu, vive e nunca pretende deixar.

“Pensei: Por que não fazer um festival de música de botequim? Nesse País há festivais para tudo! Montei a sigla

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com as iniciais e se formou o Femusquim, que caiu no gos-to popular e já faz parte do calendário oficial de festas da cidade e tem apoio da mídia nacional. Nós já fomos capa do Caderno B do Jornal do Brasil!”, comenta, com alegria, o comerciante.

Nos referimos a “Seu” Raimundo, como comerciante porque há um tempo atrás ele abriu o se próprio botequim “Femusquim”, que conta com um repertório musical de fino requinte embalando os clientes ao som de Cartola, Pixingui-nha, Jacob do Bandolim, Vinícius de Moraes, entre outros grandes nomes do samba e MPB. O bote quim foi fechado, segundo Raimundo, porque houve dificuldades de admi-nistrar o papel de empresário, sempre confundido com a imagem do grande amigo.

O ano de 2007 foi o marco de 10 anos de aniversá-rio do festival, que realizou sua 11ª edição, já que em 1997 Seu Raimundo inaugurou o evento número 1 e não o zero, como ele mesmo diz. “São dez anos de resistência, de luta pela história da música popular brasileira”, afirma.

O começo da trajetória desse entusiasta no festival começou agrupando apenas um grupo musical (do Sr. Mes-tre Flores, já falecido), uma pequena aparelhagem de som, pouco público e tímida divulgação na imprensa local. O lo-cal escolhido foi a calçada em frente a Igreja Católica de São Sebastião, onde todos sentavam no chão ou em bancos im-provisados para ouvir, principalmente, os chorinhos entoa-dos pelas cordas do cavaquinho. Atualmente, o Femusquim recebe em média 23 grupos musicais e atrai cerca de 20 mil pessoas distribuídas em três dias.

Sempre com uma surpresa na cartola, Seu Raimundo apronta a cada edição, novas homenagens aos imortais da mú-sica. A primeira edição abriu os caminhos abençoando a obra de Cartola e teve a ilustre presença de sua viúva, Dona Zica. A segunda edição homenageou Joãozinho Trinta, que se fez presente, sendo agraciado por toda a comunidade. Dona Zica

ESPÍRITO SANTO EMPREENDEDOR Raimundo de Oliveira

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acabou voltando várias vezes para participar dos mutirões de limpeza do morro e para o lançamento do livro “Morro dos Alagoanos, Sim, Senhor”, escrito por Raimundo.

“Todas as edições foram muito importantes, mas al-gumas me marcaram profundamente por conta da adrenali-na, como por exemplo, a 2ª edição. Joãozinho Trinta estava na Europa e me ligou dizendo que não poderia vir porque estava atrasado para a produção do Carnaval do Rio. Eu in-sisti com ele, disse que ele iria me arrebentar se não viesse, fiquei desesperado. Um tempo depois o telefone toca e é secretária dele dizendo que ele iria sim, participar do Fe-musquim. Joãozinho chegou no último vôo da França para o Brasil e voltaria no primeiro vôo de Vitória para o Rio de Janeiro. Eu dei pulos de alegria! Aquele festival foi um sucesso”, conta Raimundo, que completa, em 2008, 61 anos de idade.

A disputa por apoio e incentivoHá 10 anos, quando começou a batalhar por apoio ou

patrocínios, Raimundo lembra que foi até mal interpretado por suas idéias de proteção ao meio ambiente e de promoção da cultura, pois muitos acreditavam que ele era oportunista ou tinha ambições políticas. A disputa por apoio é grande até hoje, porém tem como base a credibilidade de 10 anos de batalha. Durante todo o ano, em cada esquina, cada porta de comércio, cada órgão público ou instituição de incentivo a cultura e educação, lá está Raimundo a postos com algum projeto na mão.

“É claro que não foi nada fácil. Naquela época nin-guém acreditava que eu queria um trabalho sério, ninguém dava confiança, aliás meu primeiro patrocinador foi meu cartão de crédito, ou seja, meu próprio bolso. Mas, graças a Deus, com o tempo, esse cenário mudou e as empresas es-tão apoiando mais os projetos esportivos, sociais e culturais e o Poder Público, a Prefeitura de Vitória e o Sebrae vêm

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apoiando nosso trabalho também. Isso nos ajuda muito e incentiva a continuar revigorados”, agradece o organizador, que no último festival conseguiu patrocínio para pagar 95% dos cachês dos músicos. “Costumo dizer que, como eu não tenho patrocinador, eu não tenho limites.”

É um trabalho de formiguinha incansável, como ele mesmo diz, e a própria dificuldade alimenta sua luta, tor-nando-o ainda mais sonhador. O interessante é que todos os lucros obtidos com os eventos são revertidos para outros projetos. Raimundo continua com sua vida simples, pacata, quase espartana.

“Nosso trabalho cultural, segundo a Polícia Militar, já vem causando efeitos no dia-a-dia da comunidade. O Mor-ro dos Alagoanos é considerado um dos bairros menos vio-lentos de Vitória e isso se deve muito ao movimento cultural que fazemos aqui. Seja pintando casa, fazendo festival de música, de pipoca, de chorinho, feira de livro... Sempre tem movimento cultural e isso movimenta a economia do bair-ro! Também aumenta a auto-estima, a paz e o sentimento de pertencimento dos moradores. Eu fico muito feliz por ser, me permita dizer, o mentor intelectual. Que me chamem de doido, do que quiserem só não me chamem de acomodado”. O Morro dos Alagoanos possui cerca de 4.500 moradores e localiza-se próximo à rodoviária de Vitória.

São nas madrugadas que pipocam as idéias mais ou-sadas em Raimundo. Um dia dormiu pensando em algo para comemorar os 100 anos de Músicas de Ary Barroso. Acordou com um projeto de jardins musicais. Transformou dois depósitos de lixo em jardins musicais. Um se chama Jardim “As rosas não falam”, de Cartola e o outro Jardim “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso.

“As pessoas não jogavam mais lixo lá. Foi uma di-ficuldade para conseguir as mudas do Poder Público. Me deram barro e eu fui numa casa de plantas e comprei as espécies. A comunidade passou a preservar aqueles jardins e

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sempre os reformo com a chegada do Femusquim.”

Mente inquieta e inconformadaEmpreendedores, de um modo geral, dormem pouco.

Tem um espírito elétrico, impulsivo, dinâmico, alto-astral e confiante no futuro. Geralmente, enquanto todos dormem, é na madrugada que a inspiração bate à porta. São sonhares e sabem transformar seus sonhos em metas com planeja-mento e organização. É claro que para chegar a este nível de disciplina é preciso amadurecimento e experiência de vida. Mas nem o tempo lhes tira a característica principal de se-rem inconformados.

“Eu quero provocar mudanças, ser provocado e me-xer com as pessoas. Eu não consigo me ver parado. A todo instante, na minha cabeça, surgem idéias. Agora vamos pin-tar as escadarias do Morro, que levam as pessoas ao Femus-quim. As pessoas que estacionam os carros lá embaixo, vão subir pelas escadarias pintadas, com caricaturas nos muros. Paralelamente, vamos pintar algumas casas. A todo momen-to tenho idéias e corro para colocá-las em prática. Nunca quero me aposentar. Quero contribuir para que nosso País seja próspero e solidário.”

Quando Raimundo nasceu, o Morro era pura flores-ta de Mata Atlântica. Brincava de soltar pipa, bola de gude e pique-esconde. Aos 11 anos de idade começou a se ocupar em melhorar a vida dos seus vizinhos. Na época, a rede pú-blica de ensino contava com ensino de alta qualidade e ele aproveitava para dar aulas de reforço aos colegas de classe. “Eu sempre pensei primeiro no próximo. Já teve época de eu estar com dois talões de luz vencidos e eu usar o dinheiro para comprar lápis e caderno pras crianças do Morro. Isso provocou problemas com minha família, mas eu sabia que na hora H eu teria como pagar aquela luz. Me virava em 4, mas pagava”, conta.

Em 9 de abril de 1991, o mundo lembrava os 200

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anos da morte de Mozart. Raimundo pensou: E Vitória não vai fazer nada? E o Morro dos Alagoanos não vai fazer nada? Pois então ele convidou a Orquestra Filarmônica do Espírito Santo, que nunca havia subido num morro, para fazer uma apresentação na rua, em frente a Igreja Católica de São Sebastião.

“Quando apresentei a idéia muitos ficavam com medo da falta de segurança ou até mesmo da inusitada proposta da orquestra tão chique e erudita, subir o morro. Mas, graças a Deus, deu tudo certo e foi lindo. Eu, chorando de emoção!”, conta Raimundo, que em 13 de maio de 1988, nas come-morações dos 100 anos da Abolição da Escravatura, trouxe ninguém menos que o ator Grande Otelo.

“Este foi um momento inesquecível porque todos adoraram conhecer Otelo e ele foi muito simpático com to-dos. Era época da novela Mandala e ele estava em um dos papéis principais. Conseguimos apoio da grande mídia e de muitos amigos. Ainda tenho muitos projetos que estão guardados aqui na minha mente e que serão realizados na hora certa”, relata. No ano 2000, próximo às comemorações dos 500 anos do Brasil, Raimundo convidou a cantora lírica Natércia Lopes para fazer uma apresentação com o Hino Nacional em uma das ladeiras do morro, à luz do dia.

Festival Nacional de Chorinho e ChorõesSempre costurando um projeto em outro, além do Fe-

musquim, o empreendedor também criou o Festival Nacio-nal de Chorinho e Chorões, que acontece todo 23 de Abril, no Dia Internacional do Chorinho, data de nascimento de Pixinguinha. O evento é uma data consolidada no calendá-rio da cidade de Vitória e já recebeu representantes ilustres como a filha de Jacob do Bandolim, Elena Bittencourt, vice-presidente do Instituto Jacob do Bandolim (IJB).

“Há quem diga que eu sou o precursor da valorização do chorinho em Vitória porque antes do festival, o choro

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não tinha o seu devido valor”, afirma Raimundo que nos conta um pouco da história do gênero musical.

Segundo ele, o “choro” é o único som genuinamente brasileiro, influenciado, é claro, pela mistura de elementos das danças de salão européias (como o schottisch, a valsa, o minueto e, especialmente, a polca) e da música popular por-tuguesa, com influências da música africana. De início, era apenas uma maneira mais emotiva, chorosa, de interpretar uma melodia, cujos praticantes eram chamados de chorões.

Tudo começou nos anos 20, no Bairro da Saúde, Rio de Janeiro. Com o tempo, muitos músicos se destacaram nas composições, porém Pixinguinha foi um dos mais célebres por sua riqueza melódica e criatividade musical.

Anos depois veio a artista plástica Acássia Brazil, filha do cientista Vital Brazil. “Todas as pessoas que vêm aqui, ficam encantadas com o Morro dos Alagoanos, pois antes eles têm a idéia de que é como as favelas cariocas. Eu sempre digo que aqui é morro, não favela”, define.

Foco na educaçãoAlém de nascer e ser criado no Morro dos Alago-

anos, Raimundo sempre foi conhecido por conta de seu carinho, atenção e cuidado com os moradores. Nunca fal-tou medicamento, esparadrapo, agasalho, uma lata de óleo, leite, pão ou caronas para hospitais. Até sua família já reclamou de sua intensa doação ao próximo, estranhando que às vezes tirava alimento do sustento de casa para dar aos vizinhos. Com jogo de cintura, ele consegue se desdo-brar para atender a todos. Porém, seu foco é a educação das crianças do bairro. Em 1996, reuniu um grupo de alunos para reformar uma escola pública Mauro Braga, na época, abandonada e transformada em depósito de lixo e moradores de rua. Raimundo e os voluntários passaram um ano dentro da escola limpando-a aos sábado, domingos e feriados. “O assistencialismo limita as pessoas. Você é ajudado, mas con-

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tinua no mesmo lugar. Ensinando as pessoas a pensar, dá-se a elas uma perspectiva de vida”, conta.

“As salas tinham números, então passamos a dar nomes de personagens, como ‘Sala Augusto Ruschi’, ‘Sala Monteiro Lobato’, e dentro das salas, em cima do quadro negro escrevíamos ‘Eu amo a minha escola’ ou ‘Não jogo papel no chão’. Transformamos a escola! Um professor me falou, que apostava todas as fichas dele, que no ano seguin-te eu seria um vereador. Aí eu falei: você acha que se eu fosse um candidato a vereador eu reformaria uma escola? Pagaria uma caixa de cerveja que é muito mais barato”, co-menta o agitador, que a cada ação torna-se mais valorizado. Atualmente, é convidado para dar palestras e entrevistas a universitários que sobem o morro para fazer trabalhos de monografia.

“Nunca me prendi à coisas materiais. Não me fasci-na uma BMW, uma cobertura, mas sim, uma planta, uma criança indo pra escola, uma escola sendo erguida... Isso me causa uma satisfação! Eu consigo dormir melhor. Eu acre-dito muito numa vida espiritual, nas nossas missões. Tive a oportunidade de ser um homem rico de dinheiro, mas me perguntam o que eu fiz e eu disse que dei tudo, transferi tudo o que eu tinha.”

Raimundo já teve 300 crianças estudando sob sua responsabilidade. Ele não podia ver uma criança na rua que ia conversar com os pais, dava caderno, roupa, material, sa-pato, fazia a matrícula. “Comecei a trabalhar com essa coisa de educação por volta dos anos 70. Tem uma menina, que hoje já está casada, que todo ano eu dava os cadernos dela. O pai dela falou que eu fazia a mesma coisa por ele quando era criança”.

Em 1994, com um grupo de amigos, criou uma esco-la de alfabetização para adultos que eram analfabetos e tira-va do bolso o salário da professora. As aulas aconteciam no porão da igreja Católica São Sebastião. Para a surpresa, no

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final do ano a evasão de alunos foi zero. “Começamos o ano com 11 alunos e terminamos com 13. E não ensinávamos somente o beabá, não. Era uma escola de conhecimento, em que passávamos informações sobre a nossa cidade, cultura, noções de cidadania e etc. A educação é o caminho, não há melhor saída! Eu sempre digo à minha família, que no dia que eu falecer, peço que coloque uma faixa no meu caixão, escrita: Eu tentei”.

Informações sobre como participar e ajudar:

Telefone: (27) 3222-0285

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Rede Aica – Cáritas Arquidiocesana ESPÍRITO SANTO EMPREENDEDOR

“BUSQUE A PRESENÇA DE DEUS DENTRO DE VOCÊ MESMO, RENDA-SE A ELE, AGRADEÇA POR TUDO E

SEJA UMA PESSOA DE AÇÃO”Padre Xavier

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A experiência do trabalho social em rede é considerada missão para a maioria das organizações filantrópicas para tentar atender a todas as necessidades que a comunidade onde estão pos-sam apresentar. Como o próprio nome diz, a Rede Aica é exem-plo e uma das principais referências desta ação no Espírito Santo.

O Atendimento Integrado à Criança e ao Adolescente (Aica) é uma entidade ligada a Cáritas Arquidiocesana de Vi-tória, que já possui em sua rede seis projetos amplamente de-senvolvidos que operam cerca de 2 mil atendimentos diretos e cerca de 6 mil indiretos nos bairros Novo Horizonte, Planalto Serrano, Central Carapina, Portal de Jacaraípe e Chácara Parrei-ral na Serra e na região de Santa Teresa e adjacências.

O trabalho social da Rede Aica começou em 1997, no bairro carente de Novo Horizonte a partir de um gesto de ação da Paróquia de São José Operário de Carapina. A comunidade estava inconformada com tantas crianças nas ruas pedindo es-molas. Era necessário realizar algum tipo de atendimento social, mas não apenas dar comida de modo assistencialista. Precisava realizar ações que promovessem a cidadania contando também

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com o apoio da Associação de Moradores de Novo Horizonte.Os membros da comunidade conseguiram, primeira-

mente, um espaço no Centro Comunitário de Novo Horizonte para atender de segunda a sexta-feira, um total de 60 crian-ças. Aos poucos, por meio de carnês de doações feitas por mo-radores e comerciantes locais, foram juntando recursos para construir a sede Aica, em 1998. Mas os recursos ainda eram poucos. Padre Xavier, italiano radicado no Brasil, através de seus contatos na Itália, conseguiu uma verba considerável da Fundação Danilo e Luca Fossati. O dinheiro serviu também para a construção de um quadra poliesportiva para as centenas de crianças já participantes do projeto.

“A felicidade da população em ver a união dos esforços nossos com o da Fundação se transformar na realização do so-nho mútuo de construir este projeto foi algo surpreendente para nós. Começamos, com isso, a ampliar nossa oferta de reforço escolar e a realização de oficinas de artesanato, dança, teatro, desenho, pintura, manicure, cabeleireiro, informática, além de vários esportes como natação, capoeira, karatê, entre outros”, conta Padre Xavier.

Esta foi a conquista do primeiro grande desafio da co-munidade, batizado de “Projeto Cidadão”. A sede da entida-de se transformou em realidade e poderiam finalmente abrigar provisoriamente cerca de 200 crianças e adolescentes que viviam nas ruas e estavam com os vínculos familiares fragilizados e em extremo risco pessoal e social.

A partir daí, surgiu o segundo grande desafio da Aica, diante daquelas crianças e adolescentes desamparados pela família, que não tinham para onde ir ou sem condições de voltar a morar com os pais por conta de problemas com o trá-fico de drogas ou violência doméstica. Foi quando se criou o “Projeto Nossa Casa”, em 2000, abrindo 12 vagas de abrigo. O objetivo era acolher em regime de “abrigo” por cerca de um ano, crianças e adolescentes para receberam tratamento psicológico e terapêutico, além da educação fundamental. A

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intenção era que este tempo servisse como uma reaproxima-ção do aluno com sua família, caminhando lentamente para uma integração progressiva.

“Tudo tem que ser feito com planejamento e paciência. Estamos tratando de pessoas com sérios problemas familiares, sem esperança e sem auto-estima. Aos poucos, vamos reto-mando as alegrias e a confiança no futuro o que permitem um aprendizado rápido e uma transformação pessoal para uma vida mais digna de possibilidades.”

O terceiro desafio apresentado à Rede Aica foi uma per-gunta que não saía da cabeça da equipe que trabalhava com Padre Xavier: O que fazer com os adolescentes que não podiam voltar para as suas famílias? O que fazer com aqueles cuja apro-ximação realmente não aconteceu? A solução foi construir duas casas-lares, uma no bairro Chácara Parreiral, na Serra, batizada de Casa Lar Padre Rafael Dimiccoli (para meninos e meninas) e outra no município de Santa Teresa, batizada de Casa Lar Da-nilo e Luca Fossati (somente para meninos). Doze adolescentes moram em cada casa.

“Nosso objetivo com as casas-lares é oferecer um ambiente acolhedor e seguro, para os adolescente com dificuldade de re-construir seus vínculos familiares e de ser inseridos em família substituta até a conquista da autonomia”, explica o Padre Xavier.

Entre os resultados alcançados com as casas estão o res-gate da auto-estima das crianças e dos adolescentes atendidos, o envolvimento da comunidade e da família nas atividades da casa, a profissionalização dos adolescentes, parceria com as es-colas para acompanhamento dos alunos, formação de grupos de dança, a reintegração familiar e a documentação formal de cada um, pois muitos não possuíam certidão de nascimento, muito menos carteira de identidade.

Mas as metas futuras também são grandes para as ca-sas-lares. Algumas delas são ampliar o quadro de voluntários, aumentar o atendimento aos problemas familiares, inserir os adolescentes em programas de estágio e expandir o acesso dos

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adolescentes a cursos profissionalizantes.“Um dos melhores resultados é ver a melhora no apro-

veitamento escolar e no relacionamento com a comunidade, a consolidação dos vínculos familiares, os estágios e o atendimen-to psicológico dando base para os meninos enfrentarem uma nova realidade de vida, entendendo o passado e se preparando para o futuro”, diz o Padre.

Após muito trabalho nas casas, logo adiante o quarto de-safio se apresentou. A dúvida era o que fazer com os adolescen-tes que tiveram algum tipo de delito como roubo ou tráfico, ou que já tinham práticas infracionais mais frequentes? Foi quando surgiu a idéia do “Projeto de Liberdade Assistida Comunitária”, prevista no Artigo 118 do Estatuto da Criança e do Adolescente e em parceria com o Juizado da Infância e da Juventude, que acompanha os adolescentes por meio de cinco medidas sócio-educativas: a internação por até três anos; a liberdade assistida; a semi-liberdade; a prestação de serviços e a remissão.

Para encarar este desafio foi inaugurado o projeto “Casa Sol Nascente”, no bairro Carapina, na Serra, que em 2007 aten-deu 150 adolescentes que cumprem de seis meses a três anos de liberdade assistida por conta de seus atos infracionais. A Cáritas e a Pastoral do Menor, em parceria com o Ministério da Justiça, Juizados da Infância e da Juventude e prefeituras, desenvolvem o Programa de Liberdade Assistida Comunitária nos municí-pios de Serra e Vila Velha.

O quinto desafio não tardou em aparecer. A questão era: O que fazer com os adolescentes já crescidos de 16 a 18 anos? Além de todos os serviços prestados pela Rede, eles também precisariam um dia sair da instituição para entrar no mercado de trabalho e viver de forma independente. O “Programa Banco de Talentos” veio solucionar ou, ao menos, minimizar, de for-ma considerável, esta questão. Os resultados têm-se mostrado bem-sucedidos, atingindo diretamente cerca de 2 mil alunos da Rede Aica. O desafio para o futuro é a ampliação do espaço físico para o projeto “Banco de Talentos”.

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As parceiras com o Senac (Serviço Nacional de Apren-dizagem Comercial) e o Senai (Serviço Nacional de Aprendiza-gem Industrial) oferecem vagas para cursos profissionalizantes para impulsionar a ida dos adolescentes da Rede para os cursos de soldador, pedreiro, pintura, mecânico, eletricista de automó-veis, eletricista predial, camareira, frentista, entre outros. Todos funcionam durante o dia e também no período noturno para possibilitar a participação daqueles que trabalham

“Abrimos também as vagas para a comunidade a fim de envolver as famílias na luta dos adolescentes. Para se ter uma idéia, para o curso de soldador, com 40 vagas, tivemos 186 ins-crições. A cada ano, formamos cerca de mil pessoas, todos com os devidos certificados.”

Para a Rede Aica, sem o envolvimento da família, fica mais difícil a recuperação das crianças e adolescentes com ex-periência de vida nas ruas. Por isso, expandimos nossos servi-ços com a Programa de Jornada Ampliada, também conhecido como “Projeto Legal”, que funciona no bairro Central Carapi-na, com 250 participantes. Outra unidade, com mais 200 alu-nos está no bairro Planalto Serrano, onde é conhecida como “Meninos e Meninas do Mestre”.

As parcerias empresarias e de órgãos públicos com a Rede Aica são fundamentais para o contínuo funcionamento das atividades. São parceiros da Rede: Associação Ricórbo-li Solidale, Associação Padre Rafael, ArcelorMittal Tubarão, Fundação Danilo e Luca Fossati, Fundação Vale do Rio Doce, Grupos e Amigos da Itália, Missionárias e Missionários Com-bonianos, Prefeitura Municipal da Serra, Paróquia São José Operário (bairro Carapina, Serra) e Paróquia Nossa Senhora da Penha (bairro Jardim Limoeiro, Serra), além da ajuda inces-sante e diária da comunidade moradora dos bairros vizinhos a Novo Horizonte, onde funciona a sede principal da rede, que possui 70 funcionários e cerca de 150 voluntários. “Para nós é uma alegria ver que atualmente 80% dos nossos recursos são brasileiros”, revela o Padre.

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“Este projeto é a realização dos ensinamentos de Jesus e é a minha missão de vida. Queremos não só oferecer os aten-dimentos, mas que os adolescentes tomem para si mesmos este trabalho como seu, tornando-se responsáveis por todo esse mo-vimento em prol de sua recuperação. Há muita dor no mundo, é preciso cuidar do futuro! Chega de dependências, clientelismo e assistencialismo sem visão de futuro. Seguimos a filosofia da Pastoral do Menor, não somos ligados a nenhum partido po-lítico e sim, ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. Trabalhamos segundo a lógica da garantia do direito e não pela ótica do favor. Não estamos fazendo favor a ninguém, estamos cumprindo nosso dever de garantir a todos uma vida digna”, completa o Padre Xavier.

Informações sobre como participar e ajudar:

Participe como voluntário ou fazendo qualquer tipo de doação à Rede Aica.

Rede Aica - Atendimento Integrado à Criança e ao AdolescenteEndereço: Rua J, nº 144 - Bairro Novo Horizonte – Serra - ESTelefone: (27) 3338-5575

Banco do Brasil Conta corrente: 3747-8Agência: 0021-3

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Roberto Anselmo Kautsky ESPÍRITO SANTO EMPREENDEDOR

“SOMOS PARTE DA NATUREZA. NÃO VIVEMOS SEM ELA. VOCÊ TEM QUE COMPREENDER ISSO O MAIS

RÁPIDO POSSÍVEL”Kautsky

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Todos os estereótipos de timidez e introversão vincu-lados à imagem de um cientista caem por terra ao conhecer o pesquisador capixaba Roberto Anselmo Kautsky. Extrovertido e brincalhão, o cientista (que completa 84 anos, em 2008) des-perta bem cedo todas as manhãs para cuidar de suas maiores paixões da natureza: as orquídeas e bromélias.

Sua casa, no alto de Domingos Martins, é um santuá-rio das mais raras espécies preservadas em todo o planeta, re-cebendo constantemente visitas secretas de ilustres cientistas, celebridades, jornalistas e curiosos de todo o mundo. O que mais chama a atenção, além da beleza indescritível das flores, é a dedicação de Kautsky.

Dono de uma energia vital que parece ser alimentada diariamente pela natureza, Kautsky caminha, vigia, planta, cui-da, rega e estuda suas matas desde pequeno, quando ia buscar madeira na floresta com o pai. A cada minuto de conversa, ele se revela ao mesmo tempo sábio e dono de uma invejável memória capaz de lembrar de detalhes de toda a sua trajetória de vida, palavras em latim que nomeiam suas plantas, a língua alemã

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de sua descendência natal e o funcionamento do organismo e rotina das plantas.

Aliás, o fato de descobrir, registrar, pesquisar e catalogar plantas lhe deu o rótulo de “aquele que dá cidadania às plan-tas”. E além das atividades desenvolvidas com a flora, Kautsky começou a estudar os batráquios, lepidópteros e coleópteros. Já teve classificados alguns sapos com o seu nome: Phyllodytes kautskyi e Scinax kautskyi. Em sua casa pode-se visitar também uma vasta coleção de insetos e muitas fotos que documentam o meio ambiente e a cultura da região. Grande parte do mate-rial foi doado à Casa da Cultura de Domingos Martins, a qual Kautsky ajudou a fundar.

Há pouco tempo, Kautsky também descobriu e registrou uma nova (e rara) espécie de perereca que apareceu no quintal de sua casa. Ele foi atraído pelo som estridente do anfíbio que parecia uma buzina de Fusca.

“Não me canso de aprender com a natureza. Pesquisei em todos os anuários, mandei foto e o som dela para institutos de vários países e não há em nenhum lugar do mundo outro bi-cho igual a ela. Mais uma prova da diversidade da fauna e flora do Espírito Santo”, comenta o cientista.

Quando Kautsky fala da diversidade do Espírito Santo não é papo bairrista. O Estado é realmente referência interna-cional em espécies de orquídeas, contendo o maior e mais varia-do número e espécies do mundo. O principal motivo é posição geográfica, cujas altitudes variam de 100 a 2.000 metros, em comparação com as cidades litorâneas com a Serra do Caparaó, no Sul do Estado. A região serrana está a 542 metros de altitude e possui um clima considerado o terceiro melhor do mundo, segundo pesquisa de técnicos norte-americanos.

Autodidata, Kautsky nasceu em Santa Isabel, município de Domingos Martins, no Espírito Santo, em 23 de maio de 1924, onde viveu até 1933, quando a família transferiu-se para Campinho, cidade no qual reside até hoje. A paixão e o respeito ao meio ambiente são hereditários. Ao retratar a natureza, suas

ESPÍRITO SANTO EMPREENDEDOR Roberto Anselmo Kautsky

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palavras são de extrema beleza e conhecimento, consagrando-o como o “poeta da natureza”, dentre tantos outros méritos que vem recebendo.

Ele tem seu nome ligado a mais de cem espécies regis-tradas, graças ao envio permanente de plantas e animais para serem estudados, contribuindo para que o número de orquídeas brasileiras passassem de 110 para mais de 700. Já as bromélias, registravam em 1974, 60 espécies classificadas para o Espíri-to Santo. Atualmente, são mais de 340. Além dessas, Roberto Kautsky tem seu nome relacionado a outras descobertas da flora e fauna brasileiras. Ele as define como colheita dos “verdadeiros louros da vitória”, símbolos de suas conquistas, que faz absoluta questão de dividir com os especialistas que o ajudaram em seu trabalho.

Esse pesquisador, tão conhecido além das fronteiras locais, é filho do austríaco Roberto Carlos Kautsky, de quem herdou a paixão pelas orquídeas, e da brasileira Elisabeth Schwambach. O pai, que fora agricultor, tropeiro, fotógrafo, farmacêutico, enfermeiro, hoteleiro, juiz de paz, vereador, presi-dente da Câmara, orquidófilo, foi para ele um exemplo de vida, graças ao patriotismo e à dedicação ao trabalho. Enfrentando situações adversas, Roberto Carlos começou suas experiências com a fabricação de “vinho de laranja” de forma rudimentar. Muito trabalho e abdicação tornaram-no um industrial bem-sucedido, com as marcas Refrigerantes Coroa e Água Mineral Campinho. (Confira a história completa sobre a fábrica no livro Espírito Santo Empreendedor Volume 1).

Aos nove anos, Kautsky teve o primeiro contato com as “jóias da natureza”, quando seu pai, ao vê-las floridas sobre as árvores que haviam sido tiradas das matas do sogro, Augusto Schwambach, para a construção da indústria, acabou desper-tando-lhe o gosto por elas. A partir daí, o Sr. Roberto Carlos dedicou-se ao estudo e cultivo de orquídea, tornando-se um dos pioneiros no Espírito Santo, com o incentivo por parte de outro precursor, seu compadre Wandelino Schunk.

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Uma pessoa também de extrema importância na traje-tória de Roberto A. Kautsky foi dona Maria Stella de Novaes, ilustre e emérita filóloga que lhe forneceu os primeiros ensina-mentos no cultivo de orquídeas.

“Eu sentia um impulso em cuidar daquelas plantas. É preciso prestar mais atenção à natureza. Somos parte e depen-dentes dela”, alerta Kautsky.

Flores belas e sedutorasO fascínio que as orquídeas exercem sobre as pessoas é

imbatível. Nenhuma outra planta agrega em torno de si um nú-mero tão grande de apaixonados e adeptos. As flores são muito valorizadas e consideradas símbolos de requinte e sedução.

Elas podem ser encontradas em montanhas, pântanos, florestas e locais rochosos. Seus diferentes gêneros e espécies apresentam características próprias que refletem no tamanho, forma, textura e colorido das flores. A maioria delas se adapta bem a viveiros e muitas podem ser cultivadas dentro de casa, quando garantidas as condições mínimas para seu desenvolvi-mento.

Tornar-se orquidófilo é considerado um desafio coroado de êxito, pois as orquídeas, apesar de exigentes, são as plantas mais adaptadas do globo, sobrevivendo de acordo com cada es-pécie, sob condições de frio intenso, vento forte, sol ou sombra em excesso, grande umidade ou falta d’água durante meses. No Brasil, encontramos 15% das espécies das orquídeas conheci-das, dado que incentiva muitos a se deixarem seduzir e colecio-nar essas plantas.

“Ao contrário do que muitos pensam, o cultivo das or-quídeas não é um privilégio de especialistas. Para se começar uma coleção é preciso adquirir apenas quatro ou cinco exempla-res diferentes e ficar observando o desenvolvimento das plantas durante um ano. Isso permite a familiarização com suas neces-sidades básicas”, revela o cientistas.

Nesse período, a filiação a alguma sociedade de orqui-

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dófilos é recomendável para que se obtenha informações úteis para esclarecer dúvidas. “Para conseguir, já no início da coleção, maior recompensa, escolha espécies que floresçam em diferen-tes épocas do ano”, aconselha Kautsky. Lembrando que manter as condições ambientais sob controle é fundamental para o cul-tivo das orquídeas.

“Embora algumas espécies suportem um tratamento er-rado, essas plantas só prosperam e florescem abundantemente sob condições similares às do seu habitat natural, observando quatro fatores básicos: luminosidade, umidade, temperatura e ventilação”, ensina Kautsky.

Entre os dias 15 e 17 novembro de 1957, foi realizada a 1ª exposição Estadual de Orquídeas em Vitória, pela Sociedade Capixaba de Orquidófilos, que Kautsky ajudou a fundar e cujo primeiro presidente foi o capitão Nicanor Paiva. Nela, conseguiu o prêmio máximo. Daí em diante passou a receber constante atenção da mídia e da comunidade científica, além de inúmeros prêmios e homenagens pelas pesquisas desenvolvidas.

“Quando se trabalha com dedicação, o trabalho lhe de-volve para o empenho investido. Ainda mais quando se trata de um estudo tão raro quanto o das orquídeas. Todo mundo acha lindo, mas estudá-las exige paciência e paixão. Seria bom se mais pessoas escolhessem a natureza como objeto de trabalho”, comenta o cientista.

Em 18 de outubro de 1963, iniciou um trabalho de taxonomia vegetal junto aos botânicos Guido Pabst e Fritz Dungs. Das mais de mil plantas que já envio para classificação, orgulha-se de já ter nome ligado às mais de cem descobertas. Desdde então, vem recebendo em sua reserva botânica a visita de admiradores, orquidófilos e autoridades. Uma data marcante foi o dia 11 de março de 1980, no qual recebeu o paisagista e naturalista Roberto Burle-Marx e o bromeliófilo Luiz Corrêa Araújo. Destaca-se também a visita do naturalista alemão Wer-ner Rauh, um dos maiores especialistas mundiais em bromeliá-ceas, que pela primeira vez presenciou uma coleção tão vasta na

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natureza, sem o uso de estufas.As pesquisas de Kautsky já foram publicadas na Alema-

nha, Japão, Estados Unidos, Inglaterra, Suíça e França, estando eternizado pelo trabalho prestado, principalmente à natureza.

Um pouco de históriaEm 1938, Kautsky mudou-se para Vitória, capital do

Estado, para cursar o ginasial. Estudou entre 1941 e 1943 na Escola Agrotécnica de São João de Petrópolis, no município de Santa Teresa (ES), conhecida como “terra dos colibris”. Na Es-cola Superior de Agronomia de Viçosa, Minas Gerais, fez curso de aprimoramento, em 1944.

Kautsky começou, nos anos 50, as experiências com re-frigerantes, junto à sua família. No dia 3 de fevereiro de 1951, seguiam para Vitória as primeiras 70 grades de Guaraná Co-roa. No ano seguinte, o Sr. Roberto Carlos admitiu os filhos Roberto Anselmo e Elberto Carlos como sócios. A razão social da fábrica passou a Roberto Kautsky & Filhos. Com a morte do pai, em 13 de junho de 1953, Roberto Anselmo, então com 29 anos, assumiu a direção da empresa junto ao seu irmão El-berto. Hoje, os negócios estão sob administração dos filhos e sobrinhos, para que o pesquisador possa dedicar-se com maior afinco às suas pesquisas.

Casou-se com Mercedes Effgen Majevsky, em 1956. Da união nasceram Roberto Anselmo Júnior e Antônio Carlos. Atu-almente, com cinco netos: André, Roberto, Raul, Elisa, e Milena. Esta última, companheira nas caminhadas mata dentro.

A preocupação com a preservação levou o cientista a criar uma reserva em sua propriedade, com 300 mil metros quadrados e cerca de 100 mil plantas, muitas aves e animais. Kautsky destaca que, das 2.350 espécies de orquídeas classifica-das no mundo, em 1977 (publicadas no livro “Orchidaceae Bra-silienses”), 30% ocorreram no Espírito Santo, onde Domingos Martins ocupa lugar de destaque, com 500 descobertas.

O amor de Roberto Kautsky à natureza transcende a

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vida. Após a morte, ele já tem em mente planos para a sua re-serva biológica: gostaria que fosse criada a “Fundação Roberto Carlos Kautsky”, com o objetivo que se continue a preservar e estudar a fauna e flora da região. E manifesta o desejo de ser enterrado no Cemitério de Campinho, tendo em sua lápide a seguinte inscrição: “Amei a Deus e a natureza que Ele criou”, o que sintetiza toda uma vida dedicada ao estudo e preservação das orquídeas, bromélias, animais e todo o meio ambiente que nos circunda.

Instituto Roberto Carlos Kautsky

Endereço: Avenida Senador Jefferson de Aguiar, 27- Shopping Agrotur - Centro - Domingos Martins - ES - CEP: 29260-000 Telefone: (27) 3268-2300

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